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SALVADOR DOMINGO 23/1/2011
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#147 / DOMINGO, 23 DE JANEIRO DE 2011 REVISTA SEMANAL DO GRUPO A TARDE
MARCELO COLLET MARISCOS PINOT NOIR DESIGN
BEATRIZ FRANCO MODA «
Tempo
REI
Gilberto Gil fala dos efeitos da passagem dos anos sobre sua vida e sua arte
ÍNDICE
23.1.2011
CAPA Gilberto Gil faz balanço da carreira
MODA Combine peças inusitadas do seu
e da vida e fala sobre música e política
guarda-roupa para cair nas baladas
PERFIL Os novos desafios do para-atleta Marcelo Collet, na água e no cinema
6
34
16 TATI FREITAS / DIVULGAÇÃO
28
BIO A advogada Renata Brandão sai em defesa de quem promove ações ecologicamente corretas
33
ATALHO Franquia cearense, a pizzaria Vignoli chega à Bahia com massas e molhos artesanais
36
THIAGO TEIXEIRA / AG. A TARDE/ 18.12.2009
GASTRÔ Os segredos do preparo de mariscos, como o vôngole baiano, o popular chumbinho
40
VINHOS A versátil uva pinot noir é usada tanto para brancos espumantes quanto para tintos
EDITORIAL
G
ilberto Gil apresenta em Salvador, no próximo dia 30, na Concha Acústica do TCA, o show do CD e DVD Fé na Festa. O novo trabalho, como ele conta à repórter Emanuella Sombra, reflete o momento que vive. “Meu habitat original é a música nordestina, a vida na caatinga. É a velhice me levando para a infância”. Aos 68 anos, Gil diz que as limitações da idade estão sendo transformadas por ele numa nova juventude, já que é preciso muito jogo de cintura, ânimo e disposição para encarar esta fase sem lamentações. Além da vida pessoal, do amor por Flora, com quem está casado há quase três décadas, e da relação com os filhos, ele fala sobre o estresse que viveu durante o período em que esteve à frente do Minc, a eleição presidencial e a administração municipal. Esta edição traz, ainda, uma matéria sobre a comercialização e popularização de réplicas de clássicos do design modernista e um perfil do nadador baiano Marcelo Collet, que envereda agora pelo cinema. Boa leitura. Kátia Borges, editora-coordenadora (interina)
O cantor e compositor Gilberto Gil em sua casa, no bairro do Horto Florestal, em foto de Fernando Vivas
» MAKING OF, VÍDEOS E FOTOS EM REVISTAMUITO.ATARDE.COM.BR SUGESTÕES, CRÍTICAS: REVISTAMUITO@GRUPOATARDE.COM.BR SIGA A MUITO EM: TWITER.COM/REVISTAMUITO
FERNANDO VIVAS / AG. A TARDE
ÍNDICE
23.1.2011
CAPA Gilberto Gil faz balanço da carreira
MODA Combine peças inusitadas do seu
e da vida e fala sobre música e política
guarda-roupa para cair nas baladas
PERFIL Os novos desafios do para-atleta Marcelo Collet, na água e no cinema
6
34
16 TATI FREITAS / DIVULGAÇÃO
28
BIO A advogada Renata Brandão sai em defesa de quem promove ações ecologicamente corretas
33
ATALHO Franquia cearense, a pizzaria Vignoli chega à Bahia com massas e molhos artesanais
36
THIAGO TEIXEIRA / AG. A TARDE/ 18.12.2009
GASTRÔ Os segredos do preparo de mariscos, como o vôngole baiano, o popular chumbinho
40
VINHOS A versátil uva pinot noir é usada tanto para brancos espumantes quanto para tintos
EDITORIAL
G
ilberto Gil apresenta em Salvador, no próximo dia 30, na Concha Acústica do TCA, o show do CD e DVD Fé na Festa. O novo trabalho, como ele conta à repórter Emanuella Sombra, reflete o momento que vive. “Meu habitat original é a música nordestina, a vida na caatinga. É a velhice me levando para a infância”. Aos 68 anos, Gil diz que as limitações da idade estão sendo transformadas por ele numa nova juventude, já que é preciso muito jogo de cintura, ânimo e disposição para encarar esta fase sem lamentações. Além da vida pessoal, do amor por Flora, com quem está casado há quase três décadas, e da relação com os filhos, ele fala sobre o estresse que viveu durante o período em que esteve à frente do Minc, a eleição presidencial e a administração municipal. Esta edição traz, ainda, uma matéria sobre a comercialização e popularização de réplicas de clássicos do design modernista e um perfil do nadador baiano Marcelo Collet, que envereda agora pelo cinema. Boa leitura. Kátia Borges, editora-coordenadora (interina)
O cantor e compositor Gilberto Gil em sua casa, no bairro do Horto Florestal, em foto de Fernando Vivas
» MAKING OF, VÍDEOS E FOTOS EM REVISTAMUITO.ATARDE.COM.BR SUGESTÕES, CRÍTICAS: REVISTAMUITO@GRUPOATARDE.COM.BR SIGA A MUITO EM: TWITER.COM/REVISTAMUITO
FERNANDO VIVAS / AG. A TARDE
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SALVADOR DOMINGO 23/1/2011
SALVADOR DOMINGO 23/1/2011
MUITO INDICA
VFÉ NA FESTA Veja vídeos com trechos
ARTE Conheça o trabalho da artista
do novo show de Gilberto Gil, que será apresentado no dia 30, em Salvador
visual e fotógrafa Beatriz Franco, selecionado para o acervo do MAM-BA
COMENTÁRIOS
GASTRÔ Confira a receita da moqueca de chumbinho (vôngole baiano) com mamão verde do restaurante Mary Mar
Mande suas sugestões e comentários para revistamuito@grupoatarde.com.br «
_Cores do Oriente
Gostei muito da matéria sobre Petúnia Maciel, publicada na revista Muito nº 145, de 9/1/11, de autoria do repórter Ronaldo Jacobina. Conheço Petúnia há muitos anos, desde os tempos da D&E Publicidade, de Sérgio Amado, Sydney Rezende e do saudoso Geraldo Walter, e sempre a enxerguei como uma mulher inteligente, descolada e corajosa. A matéria me trouxe uma nova dimensão de Petúnia. A artista, que fez cinema, trabalhou com Gal Costa no Café das Estrelas e, depois, se reinventou como criadora no mundo empresarial. Parabéns à equipe da revista. Vera Rocha
_Trilhas 1
GILDA MIDANI / DIVULGAÇÃO
FERNANDO VIVAS / AG. A TARDE
FERNANDO VIVAS / AG. A TARDE
MARCOS HERMES / DIVULGAÇÃO
MUITO MAIS NO PORTAL A TARDE ON LINE REVISTAMUITO.ATARDE.COM.BR
5
Como faço todos os domingos, li a revista Muito (publicada no primeiro domingo deste ano) e o texto de Aninha Franco, ao qual eu peço licença para acrescentar – entre tantos bons e acertados votos – que 2011 a mantenha saudável e firme, nas suas boas lutas, e que, aos nossos governantes, lhes seja
FERNANDO VIVAS / AG. A TARDE
_Trilhas 2
Acordo todo domingo ansioso para ler a coluna de Aninha Franco na Muito, porque ela não só me faz refletir sobre nossa situação como também me faz ter vontade de escrever cada vez mais. Que as palavras dela, tão bem escritas e colocadas, ganhem um 2011 terno – mesmo que tenham de ser um pouco mais afiadas. Thiago Mourão
_Ainda Imbassaí
A empresária Petúnia Maciel
claro que, além de implantar o transporte de massa eficiente e de baixo custo, também é preciso “plantar” a semente que fará crescer a autoestima do nosso povo. Mas, que semente é esta? É a que nos torna uma nação, exatamente a árvore do nosso idioma! Antonio José Pinheiro Rivas
Como leitora inaugural e fiel da Muito, venho parabenizar toda a equipe pelas edições, mas, particularmente, pela capa nº 143 – “O destino é Imbassaí” – do fotógrafo Fernando Vivas e do repórter Ronaldo Jacobina: luminosa, colorida e tão bela que dói. As fotos de Vivas são pura arte, poesia, produzidas com um olhar singular. Sinto saudade da seção Satélite, onde os leitores tinham uma participação maior na revista. Porém a qualidade se mantém, ainda que certos números tragam um excesso de propagandas. Kátia Regina Conceição
Adriana para adultos Após o sucesso das duas edições do infantil Partimpim, ao qual passou a se dedicar após o lançamento e a turnê do álbum Maré, em 2008, e de uma incursão pela literatura (o livro Saga Lusa, editado pela Cobogó e lançado em 2009), a cantora e compositora gaúcha Adriana Calcanhotto volta a Salvador com show de voz e violão, especialmente preparado para o encerramento do Acústico TCA, projeto que, nesta edição, trouxe à Bahia Bebel Gilberto e Edu Lobo. O repertório, além de hits inevitáveis – como as canções Vambora e Mais Feliz –, incluirá músicas dos CDs Partimpim 1 e 2. O espetáculo terá participação especial do músico Davi Moraes. Quinta (27/1), às 21h, Sala Principal do TCA. Ingressos: de R$ 120 a R$ 50 (inteira). KÁTIA BORGES « JAMISON PEDRA / DIVULGAÇÃO
TRIBUTO AO COTIDIANO Lançamento do livro – 67 imagens feitas pelo artista Jamison Pedra ao longo de 30 anos. Sábado (29/1), às 19h, Saraiva Iguatemi. Grátis
ANDRÉ FOFANO / DIVULGAÇÃO
ESCREVER-ME, ENVELHECER-ME, ESQUECER-ME Messias, acompanhado por andré t, Jô Estrada e Mark Mesquita, faz show na Livraria Cultura (Salvador Shopping). Sábado (29/1), 19h. Grátis.
CADERNO 2 PRODUÇÕES / DIVULGAÇÃO
NA PONTA DO LAPSO Festa do cartunista e designer Nildão, que lança o 14º livro. Quinta, 27/1, às 21h, Bar Santa Maria (Rio Vermelho). R$ 25
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SALVADOR DOMINGO 23/1/2011
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MUITO INDICA
VFÉ NA FESTA Veja vídeos com trechos
ARTE Conheça o trabalho da artista
do novo show de Gilberto Gil, que será apresentado no dia 30, em Salvador
visual e fotógrafa Beatriz Franco, selecionado para o acervo do MAM-BA
COMENTÁRIOS
GASTRÔ Confira a receita da moqueca de chumbinho (vôngole baiano) com mamão verde do restaurante Mary Mar
Mande suas sugestões e comentários para revistamuito@grupoatarde.com.br «
_Cores do Oriente
Gostei muito da matéria sobre Petúnia Maciel, publicada na revista Muito nº 145, de 9/1/11, de autoria do repórter Ronaldo Jacobina. Conheço Petúnia há muitos anos, desde os tempos da D&E Publicidade, de Sérgio Amado, Sydney Rezende e do saudoso Geraldo Walter, e sempre a enxerguei como uma mulher inteligente, descolada e corajosa. A matéria me trouxe uma nova dimensão de Petúnia. A artista, que fez cinema, trabalhou com Gal Costa no Café das Estrelas e, depois, se reinventou como criadora no mundo empresarial. Parabéns à equipe da revista. Vera Rocha
_Trilhas 1
GILDA MIDANI / DIVULGAÇÃO
FERNANDO VIVAS / AG. A TARDE
FERNANDO VIVAS / AG. A TARDE
MARCOS HERMES / DIVULGAÇÃO
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Como faço todos os domingos, li a revista Muito (publicada no primeiro domingo deste ano) e o texto de Aninha Franco, ao qual eu peço licença para acrescentar – entre tantos bons e acertados votos – que 2011 a mantenha saudável e firme, nas suas boas lutas, e que, aos nossos governantes, lhes seja
FERNANDO VIVAS / AG. A TARDE
_Trilhas 2
Acordo todo domingo ansioso para ler a coluna de Aninha Franco na Muito, porque ela não só me faz refletir sobre nossa situação como também me faz ter vontade de escrever cada vez mais. Que as palavras dela, tão bem escritas e colocadas, ganhem um 2011 terno – mesmo que tenham de ser um pouco mais afiadas. Thiago Mourão
_Ainda Imbassaí
A empresária Petúnia Maciel
claro que, além de implantar o transporte de massa eficiente e de baixo custo, também é preciso “plantar” a semente que fará crescer a autoestima do nosso povo. Mas, que semente é esta? É a que nos torna uma nação, exatamente a árvore do nosso idioma! Antonio José Pinheiro Rivas
Como leitora inaugural e fiel da Muito, venho parabenizar toda a equipe pelas edições, mas, particularmente, pela capa nº 143 – “O destino é Imbassaí” – do fotógrafo Fernando Vivas e do repórter Ronaldo Jacobina: luminosa, colorida e tão bela que dói. As fotos de Vivas são pura arte, poesia, produzidas com um olhar singular. Sinto saudade da seção Satélite, onde os leitores tinham uma participação maior na revista. Porém a qualidade se mantém, ainda que certos números tragam um excesso de propagandas. Kátia Regina Conceição
Adriana para adultos Após o sucesso das duas edições do infantil Partimpim, ao qual passou a se dedicar após o lançamento e a turnê do álbum Maré, em 2008, e de uma incursão pela literatura (o livro Saga Lusa, editado pela Cobogó e lançado em 2009), a cantora e compositora gaúcha Adriana Calcanhotto volta a Salvador com show de voz e violão, especialmente preparado para o encerramento do Acústico TCA, projeto que, nesta edição, trouxe à Bahia Bebel Gilberto e Edu Lobo. O repertório, além de hits inevitáveis – como as canções Vambora e Mais Feliz –, incluirá músicas dos CDs Partimpim 1 e 2. O espetáculo terá participação especial do músico Davi Moraes. Quinta (27/1), às 21h, Sala Principal do TCA. Ingressos: de R$ 120 a R$ 50 (inteira). KÁTIA BORGES « JAMISON PEDRA / DIVULGAÇÃO
TRIBUTO AO COTIDIANO Lançamento do livro – 67 imagens feitas pelo artista Jamison Pedra ao longo de 30 anos. Sábado (29/1), às 19h, Saraiva Iguatemi. Grátis
ANDRÉ FOFANO / DIVULGAÇÃO
ESCREVER-ME, ENVELHECER-ME, ESQUECER-ME Messias, acompanhado por andré t, Jô Estrada e Mark Mesquita, faz show na Livraria Cultura (Salvador Shopping). Sábado (29/1), 19h. Grátis.
CADERNO 2 PRODUÇÕES / DIVULGAÇÃO
NA PONTA DO LAPSO Festa do cartunista e designer Nildão, que lança o 14º livro. Quinta, 27/1, às 21h, Bar Santa Maria (Rio Vermelho). R$ 25
ABRE ASPAS GILBERTO GIL CANTOR E COMPOSITOR
«Envelhecer
implica uma outra arte de viver» Texto EMANUELLA SOMBRA esombra@grupoatarde.com.br Fotos FERNANDO VIVAS fvivas@grupoatarde.com.br
Sentado à beira da piscina, Gilberto Gil se despede aos poucos da casa onde mora quando está na Bahia. A partir do segundo semestre, a residência do Horto Florestal – das festas e das reuniões de petit-comité promovidas pela esposa Flora – deixará de ser o tranquilo e confortável refúgio em Salvador. A mudança para um apartamento amplo no Corredor da Vitória acompanha o caminho natural de toda e qualquer família. “A casa esvaziou, os meninos já estão grandes, se criaram. Em geral passavam férias aqui, e não mais”, sorri o patriarca, com a leveza e a simplicidade que lhe são característicos. Aos 68 anos, Gilberto Passos Gil Moreira quase nunca sai. Desde o Natal na capital baiana, onde fará show de lançamento do CD e do DVD Fé na Festa, dia 30, na Concha Acústica do TCA, tem uma rotina extremamente caseira. Nas poucas vezes em que põe os pés na rua, vai dirigindo o próprio carro até a Barra Avenida, onde vive a mãe. Se a rotina permite, acorda por volta das dez da manhã, lê os principais jornais do Brasil e do mundo, rende-se ao barulho dos netos pequenos, fala ao telefone. De sandália e bermuda, anuncia que fica aqui até o Carnaval. Foi-se embora a postura formal de ministro da Cultura, cargo exercido de 2003 a 2008, durante o governo Lula. Gil mudou o disco. Ícone da MPB, corresponsável pelo movimento tropicalista e dono de uma carreira antológica, o senhor elegante de cabelos brancos transforma o tempo como na música que empresta título à capa desta edição. Como premonição transformada em melodia em 1984, Tempo Rei nunca foi tão apropriada.
ABRE ASPAS GILBERTO GIL CANTOR E COMPOSITOR
«Envelhecer
implica uma outra arte de viver» Texto EMANUELLA SOMBRA esombra@grupoatarde.com.br Fotos FERNANDO VIVAS fvivas@grupoatarde.com.br
Sentado à beira da piscina, Gilberto Gil se despede aos poucos da casa onde mora quando está na Bahia. A partir do segundo semestre, a residência do Horto Florestal – das festas e das reuniões de petit-comité promovidas pela esposa Flora – deixará de ser o tranquilo e confortável refúgio em Salvador. A mudança para um apartamento amplo no Corredor da Vitória acompanha o caminho natural de toda e qualquer família. “A casa esvaziou, os meninos já estão grandes, se criaram. Em geral passavam férias aqui, e não mais”, sorri o patriarca, com a leveza e a simplicidade que lhe são característicos. Aos 68 anos, Gilberto Passos Gil Moreira quase nunca sai. Desde o Natal na capital baiana, onde fará show de lançamento do CD e do DVD Fé na Festa, dia 30, na Concha Acústica do TCA, tem uma rotina extremamente caseira. Nas poucas vezes em que põe os pés na rua, vai dirigindo o próprio carro até a Barra Avenida, onde vive a mãe. Se a rotina permite, acorda por volta das dez da manhã, lê os principais jornais do Brasil e do mundo, rende-se ao barulho dos netos pequenos, fala ao telefone. De sandália e bermuda, anuncia que fica aqui até o Carnaval. Foi-se embora a postura formal de ministro da Cultura, cargo exercido de 2003 a 2008, durante o governo Lula. Gil mudou o disco. Ícone da MPB, corresponsável pelo movimento tropicalista e dono de uma carreira antológica, o senhor elegante de cabelos brancos transforma o tempo como na música que empresta título à capa desta edição. Como premonição transformada em melodia em 1984, Tempo Rei nunca foi tão apropriada.
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SALVADOR DOMINGO 23/1/2011
SALVADOR DOMINGO 23/1/2011
«No Minc, mesmo enquanto dormia, permanecia sempre a situação de sobressalto, a expectativa sobre o dia seguinte. Era uma vigília permanente» Quando o senhor saiu do MinC, sua mulher, Flora Gil, disse que a política lhe tirava o sono. Já consegue dormir? Hoje em dia eu já durmo (risos). No tempo do ministério, eu acordava no máximo às sete da manhã e dormia tarde, havia viagens constantes, um tempo que, do ponto de vista físico, já era demasiadamente ocupado. E tinha a questão psíquica mesmo, da preocupação. Mesmo enquanto dormia, permanecia sempre a situação de sobressalto, a prontidão absoluta, a expectativa sobre o dia seguinte, se as coisas iam andar, o que a imprensa ia publicar. Era uma vigília permanente. Agora, não. Com exceção dos períodos de gravação, hoje em dia eu acordo às dez horas da manhã. O que o senhor faz durante esse tempo? Raramente saio. Eu leio jornal todo dia. Jornais de São Paulo, jornais daqui, do Rio, do mundo. Com a facilidade da internet, você pode ler El País, Le Monde, The New York Times... Leio tudo, não com a preocupação do acompanhamento da notícia, mas pelo sentido que eles têm, de cobrir o existencial. Tanto que eu leio mais os segundos cadernos, cadernos esportivos. Os primeiros cadernos também, mas não para me referir à notícia de ontem, relacionada à primeira notícia de amanhã.
Então o senhor deve estar acompanhando a crise por que passa hoje a Prefeitura de Salvador. As administrações municipais são sempre muito cobradas. Elas que cuidam da limpeza pública, do transporte coletivo, da questão urbanística. A questão recente das barracas (de praia), que vários governos adiaram por ser uma decisão complicada, a prefeitura acabou resolvendo. De certa maneira, entra na conta positiva desse governo. Mas há também a diferença de tônus administrativo. Há governos que têm mais tônus, mais força e vibração. Outros são mais claudicantes, e isso vai muito da personalidade dos gestores, da qualidade técnica dos auxiliares, dos secretários. E, num certo sentido, vai cada vez mais do próprio modo de ser da população. Como assim? As populações estão cada vez mais responsáveis por uma série de problemas. No caso de Salvador, as encostas, o tratamento das invasões, o modo equivocado com que se trata a questão do lixo e o transporte, essa tentativa de substituição do transporte público pelo automóvel. É um ciclo vicioso, mas aí é que está. Não se pode somente responsabilizar a autoridade. É uma questão cultural, não é uma questão política só.
Mas há problemas que são exclusivamente administrativos, como, por exemplo, a incapacidade de concluir a primeira fase do metrô. Tenho impressão de que, se fosse possível uma inversão de cultura em relação a vários desses problemas, se transporte coletivo fosse uma coisa almejada, desejada pela população, ela adquiriria uma capacidade maior de pressão. E quando eu digo a população, eu digo setores que têm capacidade de pressão política. As classes médias – e não é um problema brasileiro, mas mundial – tendem a ser as que mais desprezam o sentido da responsabilidade pública, e por isso estimulam o desprezo, a negligência por parte do poder público. O sonho da classe média é ter o carro, não o metrô. É um sonho fáustico, ligado a uma ideia abstrata de bem-estar. É assim com o transporte e é assim com uma série de coisas, com o consumo, a alimentação... Houve mudanças na postura da população, como a de eleger, sem que isso fosse uma bandeira, uma mulher presidente. A eleição impõe respeito nesse sentido. Isso é uma coisa importante, valia tanto para Dilma como para Marina Silva. No caso de Dilma, existe a responsabilidade de prosseguir, deslocar um processo relativamente exitoso do Lula e interesses próprios dela, de afirmação. Existem questões de competência gerencial, de gosto pela tomada de decisão que, embora se alegue que não são conhecidas do grande público, de mim são conhecidas, eu, que convivi com a Dilma seis anos. Eu sei que ela é hábil e preparada.
Mas, embora tenha dito que votou em Dilma no segundo turno, o senhor declarou apoio a Marina Silva no primeiro. Marina já é outra coisa. Marina é o deslocamento para uma visão nova de sociedade, uma visão mais crítica de modelo civilizacional da qual eu participo. Tenho impressão de que Dilma também participa dessa visão, mas a mensagem política dela ainda se coloca num campo relativamente clássico de civilização. Marina tem outro deslocamento, preocupações mais universais, mais adiante. Houve impasses entre a política proposta pelo senhor e a gestão de Antônio Grassi
à frente da Funarte, que volta agora no ministério de Ana de Hollanda. Eu não tive impasse com o Grassi. O que eu tive com o Grassi foi a necessidade de optar pela desistência do trabalho dele, por uma questão de avaliação de desempenho geral do ministério. Naquele momento, o mais importante era trocar. Dizem que a política envelhece as pessoas. Como ex-ministro, o senhor sentiu este processo? Eu não sei. As pessoas têm uma espécie de elemento de teste com os cabelos. “Ah, porque o exercício político embranquece os cabelos” (ri-
9
sos). Não sei se foi isso, os meus já estavam ficando brancos. Os governantes estão submetidos a situações aflitivas o tempo todo, a saias justas, potenciais de escândalos, de críticas, de rejeições e menosprezos. É um fator psicossomático muito grande esse peso de reflexos sobre o físico e o psíquico. Por outro lado, o homem público é talhado e vocacionado para isso, o sistema imunológico dele é mais forte. Eu não sou vocacionado, não sou político, não sou nem mesmo um gestor público como outros são. Eles, em geral, têm uma carreira política. Eu não tinha, não tenho e não terei (risos).
onodera.com.br
Mais que combinar tratamentos, OnoSlim® combina com você. A Onodera sabe que, assim como seu corpo, seus compromissos são únicos. Por isso, criamos o OnoSlim®, um programa de tratamentos elaborado sob medida para tratar a gordura localizada e a celulite em 1, 2 ou 3 meses. Assim, você melhora o contorno corporal e auxilia a circulação, a oxigenação local e a redução das células de gordura. Para potencializar seu tratamento você ganha 25% de bônus no programa OnoSlim® adquirido. Marque hoje mesmo uma avaliação personalizada gratuita do OnoSlim®.
Cada centímetro de você quer curtir de corpo inteiro.
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3353 8884 Unidade Salvador
Av. Paulo VI, 438
A realização dos tratamentos somente ocorrerá após consulta médica, e os eventuais resultados dependerão das condições físicas e reações de cada cliente. Os tratamentos somente serão realizados em mulheres acima de 18 anos. *Avaliação realizada por consultora. Promoção válida até 28/02/2011. Os descontos e bônus não se referem a tratamentos médicos.
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SALVADOR DOMINGO 23/1/2011
SALVADOR DOMINGO 23/1/2011
«No Minc, mesmo enquanto dormia, permanecia sempre a situação de sobressalto, a expectativa sobre o dia seguinte. Era uma vigília permanente» Quando o senhor saiu do MinC, sua mulher, Flora Gil, disse que a política lhe tirava o sono. Já consegue dormir? Hoje em dia eu já durmo (risos). No tempo do ministério, eu acordava no máximo às sete da manhã e dormia tarde, havia viagens constantes, um tempo que, do ponto de vista físico, já era demasiadamente ocupado. E tinha a questão psíquica mesmo, da preocupação. Mesmo enquanto dormia, permanecia sempre a situação de sobressalto, a prontidão absoluta, a expectativa sobre o dia seguinte, se as coisas iam andar, o que a imprensa ia publicar. Era uma vigília permanente. Agora, não. Com exceção dos períodos de gravação, hoje em dia eu acordo às dez horas da manhã. O que o senhor faz durante esse tempo? Raramente saio. Eu leio jornal todo dia. Jornais de São Paulo, jornais daqui, do Rio, do mundo. Com a facilidade da internet, você pode ler El País, Le Monde, The New York Times... Leio tudo, não com a preocupação do acompanhamento da notícia, mas pelo sentido que eles têm, de cobrir o existencial. Tanto que eu leio mais os segundos cadernos, cadernos esportivos. Os primeiros cadernos também, mas não para me referir à notícia de ontem, relacionada à primeira notícia de amanhã.
Então o senhor deve estar acompanhando a crise por que passa hoje a Prefeitura de Salvador. As administrações municipais são sempre muito cobradas. Elas que cuidam da limpeza pública, do transporte coletivo, da questão urbanística. A questão recente das barracas (de praia), que vários governos adiaram por ser uma decisão complicada, a prefeitura acabou resolvendo. De certa maneira, entra na conta positiva desse governo. Mas há também a diferença de tônus administrativo. Há governos que têm mais tônus, mais força e vibração. Outros são mais claudicantes, e isso vai muito da personalidade dos gestores, da qualidade técnica dos auxiliares, dos secretários. E, num certo sentido, vai cada vez mais do próprio modo de ser da população. Como assim? As populações estão cada vez mais responsáveis por uma série de problemas. No caso de Salvador, as encostas, o tratamento das invasões, o modo equivocado com que se trata a questão do lixo e o transporte, essa tentativa de substituição do transporte público pelo automóvel. É um ciclo vicioso, mas aí é que está. Não se pode somente responsabilizar a autoridade. É uma questão cultural, não é uma questão política só.
Mas há problemas que são exclusivamente administrativos, como, por exemplo, a incapacidade de concluir a primeira fase do metrô. Tenho impressão de que, se fosse possível uma inversão de cultura em relação a vários desses problemas, se transporte coletivo fosse uma coisa almejada, desejada pela população, ela adquiriria uma capacidade maior de pressão. E quando eu digo a população, eu digo setores que têm capacidade de pressão política. As classes médias – e não é um problema brasileiro, mas mundial – tendem a ser as que mais desprezam o sentido da responsabilidade pública, e por isso estimulam o desprezo, a negligência por parte do poder público. O sonho da classe média é ter o carro, não o metrô. É um sonho fáustico, ligado a uma ideia abstrata de bem-estar. É assim com o transporte e é assim com uma série de coisas, com o consumo, a alimentação... Houve mudanças na postura da população, como a de eleger, sem que isso fosse uma bandeira, uma mulher presidente. A eleição impõe respeito nesse sentido. Isso é uma coisa importante, valia tanto para Dilma como para Marina Silva. No caso de Dilma, existe a responsabilidade de prosseguir, deslocar um processo relativamente exitoso do Lula e interesses próprios dela, de afirmação. Existem questões de competência gerencial, de gosto pela tomada de decisão que, embora se alegue que não são conhecidas do grande público, de mim são conhecidas, eu, que convivi com a Dilma seis anos. Eu sei que ela é hábil e preparada.
Mas, embora tenha dito que votou em Dilma no segundo turno, o senhor declarou apoio a Marina Silva no primeiro. Marina já é outra coisa. Marina é o deslocamento para uma visão nova de sociedade, uma visão mais crítica de modelo civilizacional da qual eu participo. Tenho impressão de que Dilma também participa dessa visão, mas a mensagem política dela ainda se coloca num campo relativamente clássico de civilização. Marina tem outro deslocamento, preocupações mais universais, mais adiante. Houve impasses entre a política proposta pelo senhor e a gestão de Antônio Grassi
à frente da Funarte, que volta agora no ministério de Ana de Hollanda. Eu não tive impasse com o Grassi. O que eu tive com o Grassi foi a necessidade de optar pela desistência do trabalho dele, por uma questão de avaliação de desempenho geral do ministério. Naquele momento, o mais importante era trocar. Dizem que a política envelhece as pessoas. Como ex-ministro, o senhor sentiu este processo? Eu não sei. As pessoas têm uma espécie de elemento de teste com os cabelos. “Ah, porque o exercício político embranquece os cabelos” (ri-
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sos). Não sei se foi isso, os meus já estavam ficando brancos. Os governantes estão submetidos a situações aflitivas o tempo todo, a saias justas, potenciais de escândalos, de críticas, de rejeições e menosprezos. É um fator psicossomático muito grande esse peso de reflexos sobre o físico e o psíquico. Por outro lado, o homem público é talhado e vocacionado para isso, o sistema imunológico dele é mais forte. Eu não sou vocacionado, não sou político, não sou nem mesmo um gestor público como outros são. Eles, em geral, têm uma carreira política. Eu não tinha, não tenho e não terei (risos).
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A realização dos tratamentos somente ocorrerá após consulta médica, e os eventuais resultados dependerão das condições físicas e reações de cada cliente. Os tratamentos somente serão realizados em mulheres acima de 18 anos. *Avaliação realizada por consultora. Promoção válida até 28/02/2011. Os descontos e bônus não se referem a tratamentos médicos.
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SALVADOR DOMINGO 23/1/2011
Em 2008, o senhor teve um problema de calo nas cordas vocais que incentivou a sua saída do Ministério da Cultura. Isso foi um dos problemas, eu tinha de usar muito a fala, que é um uso mais exigente do que o canto. Tive problemas para cantar que eram agravados pelo fato de eu não ter o descanso, que é a solução do problema das cordas vocais. O ministério prejudicou sua voz? Acho que sim, um pouco. Tive de fazer cirurgia, a remoção do calo, me submeter à fonoterapia. E acresce-se a isso a queda do desempenho vocal por conta do envelhecimento. Um músculo velho não é o mesmo de um jovem, ainda mais um músculo afetado pelo cansaço. A rotina mudou por conta disso? Mudou. Eu cantava muito mais intensivamente do que hoje. Antigamente, eu não tinha a menor preocupação com a programação, fazia uma semana de shows consecutivos, três, quatro por semana. Eventualmente, ficava mais rouco, mas o desempenho da voz não era afetado. Hoje em dia, não. Eu tomo cuidado nas excursões, seja no Brasil ou no exterior, de me permitir mais descanso, não ter que sair correndo, pegar avião no dia seguinte para fazer show à noite noutra cidade.
SALVADOR DOMINGO 23/1/2011
Estar próximo dos 70, e com estas limitações, impacta psicologicamente? Muda o sentido de atenção, de cuidado. O desempenho físico é outro, as tarefas, os afazeres são afetados. E isso também afeta o desempenho psíquico. A memória é uma coisa que é afetada drasticamente, ela começa a ter menos resposta do que antes. Envelhecer implica uma outra maneira de viver, uma outra arte de viver, novas autorresponsabilidades. Você passa a ter que responder a si próprio de maneira diferente, a dizer sim de maneira diferente, a dizer não mais severo, com mais intensidade, mais frequência. Passa a aceitar o sentimento da renúncia com mais resignação. O senhor pode explicar melhor? Renunciar a muita coisa que você não pode fazer mais, como subir uma escada, que era um ato inconsciente e irresponsável. Hoje em dia, envolve todo um desempenho e um empenho, um cuidado ao subir ou descer uma escada que me obriga a renunciar a tudo aquilo, à espontaneidade, ao desleixo, a uma impetuosidade. Uma série de coisas que eram características da fase jovem da vida e que agora têm de ser renunciadas porque, se não forem, podem incorrer em grandes riscos para a minha integridade (risos). Dirigir é
«A juventude para mim agora é outra história, ela tem que se dar no sentido espiritual, da disposição para o encontro permanente com a resignação»
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outra coisa. Eu dirijo em qualquer lugar, aqui em Salvador, no Rio, e hoje em dia o cuidado é muito maior. Não só o cuidado, mas a necessidade de intensificar a atenção por causa da inibição dos reflexos. Isso cria uma tensão psicológica maior, que, por sua vez, cria uma tensão física que a gente precisa se livrar para recompor a condição de relaxamento. Tem todo um trabalho novo. A velhice é uma nova infância no mesmo sentido dos cuidados específicos. Isso tem a ver com o fato de o senhor não se submeter mais ao desgaste físico de cantar num trio elétrico? Eu parei com o trio por causa da voz, do cansaço. Impossível na minha idade, na minha configuração de disposição e estado físico, enfrentar sete, oito horas de trio, isso duas, três, quatro vezes no Carnaval. Em matéria publicada semana passada em O Dia, Ney Matogrosso é colocado como “um jovem senhor de 69 anos” que não se deixa intimidar pela idade. Cada pessoa é uma pessoa (risos). A juventude, para mim, agora é outra história, ela tem que se dar no sentido espiritual, da disposição para o encontro permanente com as instâncias de bem-estar, com a resignação, a capacidade de renúncia. Nesse sentido, o senhor continua rigoroso com a dieta macrobiótica e a ioga, que já vinha praticando? Elas continuam. E são responsáveis por esse plano de consciência e de aceitação da velhice, de constatação da diferença do desempenho do homem velho que eu começo a ser em
relação ao homem jovem que eu fui. É preciso a compatibilidade com essa noção, o não lutar contra, o não se angustiar, o não se entristecer, o “ah, que horror que eu não sou mais jovem”, essa autopiedade. É preciso substituir o não poder pelo não querer, configurar o não poder com essas outras semânticas. O não poder tem que estar bem-vestido, trajado com outras dimensões da vontade. Em entrevista à Veja, em 2004, o senhor disse que estava se tornando um agnóstico. Esse processo continua? Houve um processo, geralmente inverso ao das pessoas quando envelhecem, de constatar que eu já não era crente como antes, isso até eu substituir a crença pela descrença. Depois, cheguei a uma outra instância de neutralidade, à anulação des-
sa polaridade do crer ou descrer. Hoje eu nem creio nem descreio, não sinto necessidade da eleição dos objetos da crença, o Deus, os entes externos que habitam este mundo da transcendência. Nem preciso deles nem preciso do ateísmo. E não preciso achar, como eu achava antes, que quem acredita é melhor do que o incréu. Ou achar, hoje, que o incrédulo é melhor. Quem escolhe uma polaridade tende a achar que o outro não está certo, que ele é menor. É isso que autoriza o processo catequético. Eu não quero ter essa necessidade, me tornar missionário, discriminatório, juiz de nada. Flora, por outro lado, é muito religiosa. Como foi a reação dela? Flora é de origem católica, acredita fortemente no Deus e tem uma de-
voção muito grande pelos orixás. Ela é muito inteligente no sentido da percepção intelectual, na capacidade que a linguagem acadêmica chama de exegese. Ela faz a exegese, a leitura do meu modo de ser de uma forma muito tolerante e cordial. E até entende, acaba chegando ao mesmo nível que o meu, da indiferença entre crer e não crer. Ela sabe que a diferenciação qualitativa dessa questão está no uso que se faz da crença e da descrença. É mais uma questão moral e ética do que propriamente religiosa. Nesse sentido, nós somos afinados. Na letra de Flora, composta em 1979 (ela tinha 19 anos), o senhor descreve justamente a mulher de hoje: “Imagino-te futura/ Ainda mais linda, madura/ Pura no sabor de amor e/ De amora”.
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SALVADOR DOMINGO 23/1/2011
Em 2008, o senhor teve um problema de calo nas cordas vocais que incentivou a sua saída do Ministério da Cultura. Isso foi um dos problemas, eu tinha de usar muito a fala, que é um uso mais exigente do que o canto. Tive problemas para cantar que eram agravados pelo fato de eu não ter o descanso, que é a solução do problema das cordas vocais. O ministério prejudicou sua voz? Acho que sim, um pouco. Tive de fazer cirurgia, a remoção do calo, me submeter à fonoterapia. E acresce-se a isso a queda do desempenho vocal por conta do envelhecimento. Um músculo velho não é o mesmo de um jovem, ainda mais um músculo afetado pelo cansaço. A rotina mudou por conta disso? Mudou. Eu cantava muito mais intensivamente do que hoje. Antigamente, eu não tinha a menor preocupação com a programação, fazia uma semana de shows consecutivos, três, quatro por semana. Eventualmente, ficava mais rouco, mas o desempenho da voz não era afetado. Hoje em dia, não. Eu tomo cuidado nas excursões, seja no Brasil ou no exterior, de me permitir mais descanso, não ter que sair correndo, pegar avião no dia seguinte para fazer show à noite noutra cidade.
SALVADOR DOMINGO 23/1/2011
Estar próximo dos 70, e com estas limitações, impacta psicologicamente? Muda o sentido de atenção, de cuidado. O desempenho físico é outro, as tarefas, os afazeres são afetados. E isso também afeta o desempenho psíquico. A memória é uma coisa que é afetada drasticamente, ela começa a ter menos resposta do que antes. Envelhecer implica uma outra maneira de viver, uma outra arte de viver, novas autorresponsabilidades. Você passa a ter que responder a si próprio de maneira diferente, a dizer sim de maneira diferente, a dizer não mais severo, com mais intensidade, mais frequência. Passa a aceitar o sentimento da renúncia com mais resignação. O senhor pode explicar melhor? Renunciar a muita coisa que você não pode fazer mais, como subir uma escada, que era um ato inconsciente e irresponsável. Hoje em dia, envolve todo um desempenho e um empenho, um cuidado ao subir ou descer uma escada que me obriga a renunciar a tudo aquilo, à espontaneidade, ao desleixo, a uma impetuosidade. Uma série de coisas que eram características da fase jovem da vida e que agora têm de ser renunciadas porque, se não forem, podem incorrer em grandes riscos para a minha integridade (risos). Dirigir é
«A juventude para mim agora é outra história, ela tem que se dar no sentido espiritual, da disposição para o encontro permanente com a resignação»
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outra coisa. Eu dirijo em qualquer lugar, aqui em Salvador, no Rio, e hoje em dia o cuidado é muito maior. Não só o cuidado, mas a necessidade de intensificar a atenção por causa da inibição dos reflexos. Isso cria uma tensão psicológica maior, que, por sua vez, cria uma tensão física que a gente precisa se livrar para recompor a condição de relaxamento. Tem todo um trabalho novo. A velhice é uma nova infância no mesmo sentido dos cuidados específicos. Isso tem a ver com o fato de o senhor não se submeter mais ao desgaste físico de cantar num trio elétrico? Eu parei com o trio por causa da voz, do cansaço. Impossível na minha idade, na minha configuração de disposição e estado físico, enfrentar sete, oito horas de trio, isso duas, três, quatro vezes no Carnaval. Em matéria publicada semana passada em O Dia, Ney Matogrosso é colocado como “um jovem senhor de 69 anos” que não se deixa intimidar pela idade. Cada pessoa é uma pessoa (risos). A juventude, para mim, agora é outra história, ela tem que se dar no sentido espiritual, da disposição para o encontro permanente com as instâncias de bem-estar, com a resignação, a capacidade de renúncia. Nesse sentido, o senhor continua rigoroso com a dieta macrobiótica e a ioga, que já vinha praticando? Elas continuam. E são responsáveis por esse plano de consciência e de aceitação da velhice, de constatação da diferença do desempenho do homem velho que eu começo a ser em
relação ao homem jovem que eu fui. É preciso a compatibilidade com essa noção, o não lutar contra, o não se angustiar, o não se entristecer, o “ah, que horror que eu não sou mais jovem”, essa autopiedade. É preciso substituir o não poder pelo não querer, configurar o não poder com essas outras semânticas. O não poder tem que estar bem-vestido, trajado com outras dimensões da vontade. Em entrevista à Veja, em 2004, o senhor disse que estava se tornando um agnóstico. Esse processo continua? Houve um processo, geralmente inverso ao das pessoas quando envelhecem, de constatar que eu já não era crente como antes, isso até eu substituir a crença pela descrença. Depois, cheguei a uma outra instância de neutralidade, à anulação des-
sa polaridade do crer ou descrer. Hoje eu nem creio nem descreio, não sinto necessidade da eleição dos objetos da crença, o Deus, os entes externos que habitam este mundo da transcendência. Nem preciso deles nem preciso do ateísmo. E não preciso achar, como eu achava antes, que quem acredita é melhor do que o incréu. Ou achar, hoje, que o incrédulo é melhor. Quem escolhe uma polaridade tende a achar que o outro não está certo, que ele é menor. É isso que autoriza o processo catequético. Eu não quero ter essa necessidade, me tornar missionário, discriminatório, juiz de nada. Flora, por outro lado, é muito religiosa. Como foi a reação dela? Flora é de origem católica, acredita fortemente no Deus e tem uma de-
voção muito grande pelos orixás. Ela é muito inteligente no sentido da percepção intelectual, na capacidade que a linguagem acadêmica chama de exegese. Ela faz a exegese, a leitura do meu modo de ser de uma forma muito tolerante e cordial. E até entende, acaba chegando ao mesmo nível que o meu, da indiferença entre crer e não crer. Ela sabe que a diferenciação qualitativa dessa questão está no uso que se faz da crença e da descrença. É mais uma questão moral e ética do que propriamente religiosa. Nesse sentido, nós somos afinados. Na letra de Flora, composta em 1979 (ela tinha 19 anos), o senhor descreve justamente a mulher de hoje: “Imagino-te futura/ Ainda mais linda, madura/ Pura no sabor de amor e/ De amora”.
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SALVADOR DOMINGO 23/1/2011
SALVADOR DOMINGO 23/1/2011
Colégio Mediterrâneo agora com Eu acho engraçado, fico olhando para ela. Essa música talvez seja a única que eu compus em que a dimensão profética era adequada, correta. Ela é uma pessoa que o tempo passou nela, por ela e com ela da forma que passou na canção. Farta, forte, bela (risos). Tem muito a ver com a firmação do nosso pacto de união. É uma música a quem eu atribuo muito valor para além do estético. Curioso, porque para o público há uma relação muito mais intensa com Drão (feita para a ex-mulher Sandra Gadelha). Quando você falava da música Flora eu também fiquei pensando em Drão. Claro que ali não é a mesma questão, não é uma música descritiva de um futuro, é de um passado. Mas também é uma música fiel ao desejo de preservação do amor, da intensidade, da profundidade do compromisso afetivo. Tudo isso se deu no mesmo grau. Hoje eu sou, em relação a Sandra, aquilo que eu queria passar a ser depois que eu me afastei dela como companheiro. E esse companheirismo foi se dando em outros planos. Nesse sentido da intensidade contida nas duas canções, acho que elas são verdadeiras e extrapolam a profundidade estética, poética. No caso meu, de Flora e de Sandra, nós sabemos o que está sendo falado ali. Está para além do plano captado pelas pessoas. Em casa, como o senhor vê a vocação artística de alguns de seus filhos? Há pais que sonham com a continuidade, investem. Osmar Macedo, por exemplo, criou um ambiente especial para o desenvolvimento artístico
dos filhos, cuidou do Armandinho. Moraes (Moreira) também se dedicou a acompanhar o talento do Davi (Moraes). Eu tenho impressão de que Caymmi não fez isso com os filhos, eu também não fiz com os meus (risos). É outra maneira de ver, é deixar espontaneamente. Eu me lembro que Pedro, meu filho que morreu e que era baterista, só foi demonstrar algum interesse por música com 14, 15 anos. O Bem, que hoje é músico, também. A Preta começou a cantar com 20 e tantos anos, Nara também. Agora, isso é uma coisa. Outra é o meio ambiente. Estas pessoas crescem em entornos saturados de vida estética, de música, de artistas. A propensão é muito maior de estarem envolvidos.
«Meu habitat original é a música nordestina, a vida na caatinga, no interior da Bahia, saturada de sanfoneiros, e serviços de alto-falante»
Cinquenta e sete álbuns gravados, 8 Grammys. Há lacunas que o senhor percebe na sua trajetória como artista? Sempre fica. Eu nunca fiz um disco dedicado ao samba, que é uma coisa que eu queria fazer e que talvez ainda faça. A dificuldade é que os outros gêneros são mais configurados dentro de rótulos e de elementos estéticos mais efetivos. O samba é uma coisa imensa, uma gama enorme, existem sambas de todos os tipos. O que fez o senhor voltar ao forró agora, com o Fé na Festa? Isso se deve à impregnação da infância. Meu habitat original é a música nordestina, a vida na caatinga, no interior da Bahia, saturada de sanfoneiros, de serviços de alto-falante tocando Luiz Gonzaga. Eu sou desse mundo aí. É a velhice me levando para a infância (risos). «
Lousa Eletrônica Interativa em
13
1anos VILA LAURA
SALVADOR - BAHIA
todas as salas a partir do 6º ano.
erientes Pedagogas exp ções com especializa fantil em educação in
ental Ensino Fundam e do 1º ao 9º anotil Educação Infan
TIMÍDIA • SALA DE MUL A • BIBLIOTECA LA AU LOUSA INTERATIV DE S • SALA OSTRA CULTURAL AUDITÓRIO • M S IVA T SPOR QUADRAS POLIE ÓRIO DE CLIMATIZADAS • LEIBOL RAL • LABORAT O C • AS CI DE FUTSAL E VO ÊN CI DE IO ÓR T RA VENIL • ESCOLA JU LABO UE RQ PA • SALÃO DE JOGOS INFORMÁTICA •
S • TEATRO DANÇA • INGLÊ TECA INFANTIL O I BL BI • KARATÊ IL • CAPOEIRA PARQUE INFANT OJETOS AUDITÓRIO • PR AULA DE MÚSICA
eliz! f r e s e r a c in r b nder, e r p a a r a p o ç URA, a p Es RIA NA VILA LA DO A SUA HISTÓ NSTRUIN HÁ 18 ANOS CO AÇÃO. ILIDADE E DEDIC B A S N O P S E R COM
atu, Salvador/Ba , Vila Laura - Mat e rd Ve la Vi , 6 59 , Salles 345 Rua Dr. Genésio 34-1592 / 3011-7
71 32
eo colegiomediterran com.br
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SALVADOR DOMINGO 23/1/2011
Colégio Mediterrâneo agora com Eu acho engraçado, fico olhando para ela. Essa música talvez seja a única que eu compus em que a dimensão profética era adequada, correta. Ela é uma pessoa que o tempo passou nela, por ela e com ela da forma que passou na canção. Farta, forte, bela (risos). Tem muito a ver com a firmação do nosso pacto de união. É uma música a quem eu atribuo muito valor para além do estético. Curioso, porque para o público há uma relação muito mais intensa com Drão (feita para a ex-mulher Sandra Gadelha). Quando você falava da música Flora eu também fiquei pensando em Drão. Claro que ali não é a mesma questão, não é uma música descritiva de um futuro, é de um passado. Mas também é uma música fiel ao desejo de preservação do amor, da intensidade, da profundidade do compromisso afetivo. Tudo isso se deu no mesmo grau. Hoje eu sou, em relação a Sandra, aquilo que eu queria passar a ser depois que eu me afastei dela como companheiro. E esse companheirismo foi se dando em outros planos. Nesse sentido da intensidade contida nas duas canções, acho que elas são verdadeiras e extrapolam a profundidade estética, poética. No caso meu, de Flora e de Sandra, nós sabemos o que está sendo falado ali. Está para além do plano captado pelas pessoas. Em casa, como o senhor vê a vocação artística de alguns de seus filhos? Há pais que sonham com a continuidade, investem. Osmar Macedo, por exemplo, criou um ambiente especial para o desenvolvimento artístico
dos filhos, cuidou do Armandinho. Moraes (Moreira) também se dedicou a acompanhar o talento do Davi (Moraes). Eu tenho impressão de que Caymmi não fez isso com os filhos, eu também não fiz com os meus (risos). É outra maneira de ver, é deixar espontaneamente. Eu me lembro que Pedro, meu filho que morreu e que era baterista, só foi demonstrar algum interesse por música com 14, 15 anos. O Bem, que hoje é músico, também. A Preta começou a cantar com 20 e tantos anos, Nara também. Agora, isso é uma coisa. Outra é o meio ambiente. Estas pessoas crescem em entornos saturados de vida estética, de música, de artistas. A propensão é muito maior de estarem envolvidos.
«Meu habitat original é a música nordestina, a vida na caatinga, no interior da Bahia, saturada de sanfoneiros, e serviços de alto-falante»
Cinquenta e sete álbuns gravados, 8 Grammys. Há lacunas que o senhor percebe na sua trajetória como artista? Sempre fica. Eu nunca fiz um disco dedicado ao samba, que é uma coisa que eu queria fazer e que talvez ainda faça. A dificuldade é que os outros gêneros são mais configurados dentro de rótulos e de elementos estéticos mais efetivos. O samba é uma coisa imensa, uma gama enorme, existem sambas de todos os tipos. O que fez o senhor voltar ao forró agora, com o Fé na Festa? Isso se deve à impregnação da infância. Meu habitat original é a música nordestina, a vida na caatinga, no interior da Bahia, saturada de sanfoneiros, de serviços de alto-falante tocando Luiz Gonzaga. Eu sou desse mundo aí. É a velhice me levando para a infância (risos). «
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eliz! f r e s e r a c in r b nder, e r p a a r a p o ç URA, a p Es RIA NA VILA LA DO A SUA HISTÓ NSTRUIN HÁ 18 ANOS CO AÇÃO. ILIDADE E DEDIC B A S N O P S E R COM
atu, Salvador/Ba , Vila Laura - Mat e rd Ve la Vi , 6 59 , Salles 345 Rua Dr. Genésio 34-1592 / 3011-7
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SALVADOR DOMINGO 23/1/2011
SALVADOR DOMINGO 23/1/2011
MUITÍSSIMO RONALDO JACOBINA
Licia Fabio e Iemanjá
Zeca de Abreu estreia em monólogo
Depois de um pequeno recesso, Licia Fabio volta a comandar suas elogiadas festas de verão. Para marcar o retorno, a promoter resolveu homenagear a rainha das águas em dose dupla. No dia 2 de fevereiro, a orixá ganha duas festas com a assinatura D’Licia. Uma superfeijoada no Hotel Pestana, para 1,5 mil pessoas, e um churrasco privê, no Hotel Zank, para seletos 150 convidados. A feijoada será produzida pelo chef interino do hotel, Paulo Vilela. O churrasco do Zank, pelo Boi Preto.
Quem se acostumou a ver a atriz Zeca de Abreu fazendo comédia vai se surpreender com sua performance no espetáculo As Cartas Portuguesas, que entra em cartaz no dia 4 de fevereiro no Teatro Gamboa Nova. Na sua primeira investida em monólogos, Zeca não muda só de gênero, mas passa a assinar Maria José de Abreu, seu nome de batismo. A atriz de Volpone e Comédia do Fim foi buscar inspiração além-mar em cinco epístolas seculares sobre o amor. A peça, que tem texto de autoria atribuída à freira Mariana Alcoforado (1640-1723), fica em cartaz até 26 de fevereiro.
Falando em gente festeira, Marta Góes temestadomaisagitadadoquejáé.Desde o começo do ano, a promoter tem cumprido uma agenda de executiva, fechando parceriasparaoseubadaladocamaroteno Circuito Barra-Ondina. Este ano, o espaço, que continuará no Barra Flat, terá um palco para apresentações musicais e cenografia assinada por Almir Júnior e Marcelo Gomes. Com o samba como tema, ela já batizou o espaço: Boteco de Marta Góes.
O Club Social, marca de biscoitos do grupo Kraft Foods Brasil, está apostando nos fãs de Carlinhos Brown para divulgar seu produto na Bahia. A empresa fechou parceria com o Sarau do Brown e mandou confeccionar milhares de latinhas de alumínio com imagens do artista impressas na tampa. A distribuição acontecerá na próxima edição do evento, no dia 30. A ação promocional não ficará restrita ao camarote. A galera da pista também vai ganhar.
Lázaro ataca de diretor Lázaro Ramos começa o ano dividido entre a TV, onde interpreta André Gurgel em Insensato Coração, e o teatro. O acúmulo de trabalho, no entanto, não tem preocupado o artista, que realiza o sonho de dirigir. Isso mesmo, o baiano vai estrear na direção da peça Namíbia, não!, de Audri Anunciação. O elenco, formado entre outros, pelo próprio Audri e Flávio Bauraqui, passou os primeiros dias deste mês ensaiando no Rio, em função das gravações da novela. Em fevereiro, Lázaro desembarca em Salvador para se dedicar ao espetáculo, que estreia nodia17demarço,naSaladoCorodoTCA. A peça, que fica em cartaz até 17 de maio, discute a condição do negro no Brasil e tem trilha sonora de Arto Lindsay.
Marta Góes em ação
Brown na lata
MÁRCIO LIMA / DIVULGAÇÃO
MÁRCIO NUNES / TV GLOBO
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Lázaro Ramos (acima) se divide entre a TV e a estreia como diretor teatral. (Abaixo) Claudia Giudice faz seu último camarote no carnaval baiano
Em clima de despedida Este será o último ano de Claudia Giudice à frente do Camarote Contigo! Daniela Mercury. A executiva será a nova diretora-superintendente da Unidade de Negócios II da Abril, que reúne as áreas Casa, Homem, Motor e Esporte, Infantil e Turismo. A partir de 2012, quem dividirá o comando do espaço com a promoter Licia Fabio será o atual diretor de redação da revista, Felix Fassone, que pretende dar continuidade ao trabalho desenvolvido pela colega. Giudice, que levou a marca da revista para as mais importantes festas do Brasil, deixou mais uma cria por aqui. No domingo passado, ela inaugurou um disputado espaço no Sarau do Brown, no Museu du Ritmo.
PRESSTEXTO / DIVULGAÇÃO
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SALVADOR DOMINGO 23/1/2011
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MUITÍSSIMO RONALDO JACOBINA
Licia Fabio e Iemanjá
Zeca de Abreu estreia em monólogo
Depois de um pequeno recesso, Licia Fabio volta a comandar suas elogiadas festas de verão. Para marcar o retorno, a promoter resolveu homenagear a rainha das águas em dose dupla. No dia 2 de fevereiro, a orixá ganha duas festas com a assinatura D’Licia. Uma superfeijoada no Hotel Pestana, para 1,5 mil pessoas, e um churrasco privê, no Hotel Zank, para seletos 150 convidados. A feijoada será produzida pelo chef interino do hotel, Paulo Vilela. O churrasco do Zank, pelo Boi Preto.
Quem se acostumou a ver a atriz Zeca de Abreu fazendo comédia vai se surpreender com sua performance no espetáculo As Cartas Portuguesas, que entra em cartaz no dia 4 de fevereiro no Teatro Gamboa Nova. Na sua primeira investida em monólogos, Zeca não muda só de gênero, mas passa a assinar Maria José de Abreu, seu nome de batismo. A atriz de Volpone e Comédia do Fim foi buscar inspiração além-mar em cinco epístolas seculares sobre o amor. A peça, que tem texto de autoria atribuída à freira Mariana Alcoforado (1640-1723), fica em cartaz até 26 de fevereiro.
Falando em gente festeira, Marta Góes temestadomaisagitadadoquejáé.Desde o começo do ano, a promoter tem cumprido uma agenda de executiva, fechando parceriasparaoseubadaladocamaroteno Circuito Barra-Ondina. Este ano, o espaço, que continuará no Barra Flat, terá um palco para apresentações musicais e cenografia assinada por Almir Júnior e Marcelo Gomes. Com o samba como tema, ela já batizou o espaço: Boteco de Marta Góes.
O Club Social, marca de biscoitos do grupo Kraft Foods Brasil, está apostando nos fãs de Carlinhos Brown para divulgar seu produto na Bahia. A empresa fechou parceria com o Sarau do Brown e mandou confeccionar milhares de latinhas de alumínio com imagens do artista impressas na tampa. A distribuição acontecerá na próxima edição do evento, no dia 30. A ação promocional não ficará restrita ao camarote. A galera da pista também vai ganhar.
Lázaro ataca de diretor Lázaro Ramos começa o ano dividido entre a TV, onde interpreta André Gurgel em Insensato Coração, e o teatro. O acúmulo de trabalho, no entanto, não tem preocupado o artista, que realiza o sonho de dirigir. Isso mesmo, o baiano vai estrear na direção da peça Namíbia, não!, de Audri Anunciação. O elenco, formado entre outros, pelo próprio Audri e Flávio Bauraqui, passou os primeiros dias deste mês ensaiando no Rio, em função das gravações da novela. Em fevereiro, Lázaro desembarca em Salvador para se dedicar ao espetáculo, que estreia nodia17demarço,naSaladoCorodoTCA. A peça, que fica em cartaz até 17 de maio, discute a condição do negro no Brasil e tem trilha sonora de Arto Lindsay.
Marta Góes em ação
Brown na lata
MÁRCIO LIMA / DIVULGAÇÃO
MÁRCIO NUNES / TV GLOBO
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Lázaro Ramos (acima) se divide entre a TV e a estreia como diretor teatral. (Abaixo) Claudia Giudice faz seu último camarote no carnaval baiano
Em clima de despedida Este será o último ano de Claudia Giudice à frente do Camarote Contigo! Daniela Mercury. A executiva será a nova diretora-superintendente da Unidade de Negócios II da Abril, que reúne as áreas Casa, Homem, Motor e Esporte, Infantil e Turismo. A partir de 2012, quem dividirá o comando do espaço com a promoter Licia Fabio será o atual diretor de redação da revista, Felix Fassone, que pretende dar continuidade ao trabalho desenvolvido pela colega. Giudice, que levou a marca da revista para as mais importantes festas do Brasil, deixou mais uma cria por aqui. No domingo passado, ela inaugurou um disputado espaço no Sarau do Brown, no Museu du Ritmo.
PRESSTEXTO / DIVULGAÇÃO
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SALVADOR DOMINGO 23/1/2011
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remix MODA ACERVO
O verão ferve com ruas lotadas e muita badalação. Todos querem ver e ser vistos. A solução? Criatividade e um mergulho no guarda-roupa para testar peças e acessórios muitas vezes esquecidos. Em recortes espontâneos, capturamos figuras da noite que nos contaram o que vestem
PERSIE diretora de arte, usa camisa Drosofila (2000) customizada por ela, flor comprada na Avenida Sete (2010); óculos, anel e pulseira da feira da Benedito Calixto (São Paulo, 2009); brinco comprado na Liberdade (São Paulo, 2010). A luva cortada de uma meia-calça e a maquiagem foram feitas por ela
Fotos TATI FREITAS flickr.com/photos/tatipfreitas Texto e produção JOSÉ EDUARDO CARVALHO funhouze.org
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SALVADOR DOMINGO 23/1/2011
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remix MODA ACERVO
O verão ferve com ruas lotadas e muita badalação. Todos querem ver e ser vistos. A solução? Criatividade e um mergulho no guarda-roupa para testar peças e acessórios muitas vezes esquecidos. Em recortes espontâneos, capturamos figuras da noite que nos contaram o que vestem
PERSIE diretora de arte, usa camisa Drosofila (2000) customizada por ela, flor comprada na Avenida Sete (2010); óculos, anel e pulseira da feira da Benedito Calixto (São Paulo, 2009); brinco comprado na Liberdade (São Paulo, 2010). A luva cortada de uma meia-calça e a maquiagem foram feitas por ela
Fotos TATI FREITAS flickr.com/photos/tatipfreitas Texto e produção JOSÉ EDUARDO CARVALHO funhouze.org
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SALVADOR DOMINGO 23/1/2011
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CAROLINA FALCÃO dançarina e produtora, usa vestido comprado em brechó (São Paulo, 2008) e tênis Nike (2010)
BÁRBARA PESSOA dramaturga e professora de teatro, usa blusa da multimarcas Cardiff (2010), saia de brechó (2009), pulseira produzida por uma amiga e brincos da feira do Saara (Rio de Janeiro, 2011)
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CAROLINA FALCÃO dançarina e produtora, usa vestido comprado em brechó (São Paulo, 2008) e tênis Nike (2010)
BÁRBARA PESSOA dramaturga e professora de teatro, usa blusa da multimarcas Cardiff (2010), saia de brechó (2009), pulseira produzida por uma amiga e brincos da feira do Saara (Rio de Janeiro, 2011)
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JOLINE ANDRADE dançarina, usa vestido Zara (2011) JERÔNIMO SODRÉ DJ, usa camisa de feira comprada em Jacobina (Bahia), camiseta da marca carioca Acorda Alice (2000), boné da Vans (2007) e óculos vintage trazido de Londres
AGRADECIMENTOS Aos modelos Tati Freitas (tatipfreitas@hotmail.com), Hebert Valois (arte) (hvalois@cinzoo.com.br) e San Sebastian Salvador (www.sansebastiansalvador.com.br) ONDE COMPRAR Cardiff – Av. Sta Luzia, Horto Empresarial, Lj. 2-B, Horto Florestal Nike – www.nike.com Drosofila – www.drosofila.com.br Vans – www.vans.com Zara – www.zara.com
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JOLINE ANDRADE dançarina, usa vestido Zara (2011) JERÔNIMO SODRÉ DJ, usa camisa de feira comprada em Jacobina (Bahia), camiseta da marca carioca Acorda Alice (2000), boné da Vans (2007) e óculos vintage trazido de Londres
AGRADECIMENTOS Aos modelos Tati Freitas (tatipfreitas@hotmail.com), Hebert Valois (arte) (hvalois@cinzoo.com.br) e San Sebastian Salvador (www.sansebastiansalvador.com.br) ONDE COMPRAR Cardiff – Av. Sta Luzia, Horto Empresarial, Lj. 2-B, Horto Florestal Nike – www.nike.com Drosofila – www.drosofila.com.br Vans – www.vans.com Zara – www.zara.com
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NÉCESSAIRE COZINHA
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1 RELÓGIO DE PAREDE RAY CENTRE CLOCK Etna (www.etna.com.br)/ R$ 54,99 2 JOGO DE PETISCO MODELO PIMENTAS Casambiente (www.casaambienteud.com.br)/ R$ 59,90 3 JOGO DE PANELAS RED VICTORIA (www.etna.com.br)/ R$ 239,90 4 TAMPA DE GARRAFA PARA VINHO CAPACETE Casambiente (www.casaambienteud.com.br)/ R$ R$ 59,90 5 SUPORTE PARA UTENSÍLIOS DE COZINHA Casambiente (www.casaambienteud.com.br)/ R$ 49,90 6 JOGO DE POTES PARA MANTIMENTOS Casambiente (www.casaambienteud.com.br)/ R$ 119,90 7 SALADEIRA CASAMBIENTE FEITA EM BAMBU Casambiente (www.casaambienteud.com.br)/ R$ 239,90 8 ESCORREDOR DE PRATOS EM AÇO/PARA 16 PEÇAS Etna (www.etna.com.br)/ R$ 169,90 9 CENTRÍFUGA JUICER EXTRACTOR Etna (www.etna.com.br)/ R$ 299,90 PRODUÇÃO: REVISTA MUITO
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1 RELÓGIO DE PAREDE RAY CENTRE CLOCK Etna (www.etna.com.br)/ R$ 54,99 2 JOGO DE PETISCO MODELO PIMENTAS Casambiente (www.casaambienteud.com.br)/ R$ 59,90 3 JOGO DE PANELAS RED VICTORIA (www.etna.com.br)/ R$ 239,90 4 TAMPA DE GARRAFA PARA VINHO CAPACETE Casambiente (www.casaambienteud.com.br)/ R$ R$ 59,90 5 SUPORTE PARA UTENSÍLIOS DE COZINHA Casambiente (www.casaambienteud.com.br)/ R$ 49,90 6 JOGO DE POTES PARA MANTIMENTOS Casambiente (www.casaambienteud.com.br)/ R$ 119,90 7 SALADEIRA CASAMBIENTE FEITA EM BAMBU Casambiente (www.casaambienteud.com.br)/ R$ 239,90 8 ESCORREDOR DE PRATOS EM AÇO/PARA 16 PEÇAS Etna (www.etna.com.br)/ R$ 169,90 9 CENTRÍFUGA JUICER EXTRACTOR Etna (www.etna.com.br)/ R$ 299,90 PRODUÇÃO: REVISTA MUITO
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Móveis com desenho modernista – alguns com quase 100 anos de criação – estão cada vez mais acessíveis
M MESA SAARINEN Eero Saarinen nasceu na Finlândia e emigrou para os Estados Unidos na década de 1920, onde formou-se arquiteto. No final dos anos 1930, iniciou uma sociedade com Charles Eames para produzir móveis mais funcionais. Criada em 1956, a mesa tulipa, inspirada nas formas orgânicas de uma flor, tinha como objetivo aproveitar o espaço, possibilitando o uso de várias cadeiras ao redor do pé central.
Texto LUDMILA CARVALHO lud2046@gmail.com Foto FERNANDO VIVAS fvivas@grupoatarde.com.br
uitos decoradores e arquitetos costumam dizer que nenhum ambiente está completo sem, pelo menos, uma peça clássica, seja uma mesa Saarinen, uma poltrona EamesouumachaiseLeCorbusier.Maisdo que simples cadeiras, mesas e poltronas, esses ícones do design são verdadeiras obras de arte. Mas se, antes, parecia impossível levar um destes para casa, o sonho está ficando cada vez mais acessível. Há uma explicação simples. Criados no início do século 20, esses móveis estão agora em domínio público. Segundo o Instituto Nacional de Propriedade Industrial, móveis e outros objetos de design são registrados em território nacional como desenhos industriais, e este documento tem uma duração de 25 anos. Depois disso, qualquer um pode produzi-los. Antes de o período expirar, as empresas precisavam de uma licença especial para produzir os móveis, o que, ao mesmo tempo em que garantia total fidelidade às especificações do fabricante, também eleva-
CLÁSSICOS DO DESIGN
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Móveis com desenho modernista – alguns com quase 100 anos de criação – estão cada vez mais acessíveis
M MESA SAARINEN Eero Saarinen nasceu na Finlândia e emigrou para os Estados Unidos na década de 1920, onde formou-se arquiteto. No final dos anos 1930, iniciou uma sociedade com Charles Eames para produzir móveis mais funcionais. Criada em 1956, a mesa tulipa, inspirada nas formas orgânicas de uma flor, tinha como objetivo aproveitar o espaço, possibilitando o uso de várias cadeiras ao redor do pé central.
Texto LUDMILA CARVALHO lud2046@gmail.com Foto FERNANDO VIVAS fvivas@grupoatarde.com.br
uitos decoradores e arquitetos costumam dizer que nenhum ambiente está completo sem, pelo menos, uma peça clássica, seja uma mesa Saarinen, uma poltrona EamesouumachaiseLeCorbusier.Maisdo que simples cadeiras, mesas e poltronas, esses ícones do design são verdadeiras obras de arte. Mas se, antes, parecia impossível levar um destes para casa, o sonho está ficando cada vez mais acessível. Há uma explicação simples. Criados no início do século 20, esses móveis estão agora em domínio público. Segundo o Instituto Nacional de Propriedade Industrial, móveis e outros objetos de design são registrados em território nacional como desenhos industriais, e este documento tem uma duração de 25 anos. Depois disso, qualquer um pode produzi-los. Antes de o período expirar, as empresas precisavam de uma licença especial para produzir os móveis, o que, ao mesmo tempo em que garantia total fidelidade às especificações do fabricante, também eleva-
CLÁSSICOS DO DESIGN
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CHAISE LONGUE LE CORBUSIER Um dos grandes nomes da arquitetura mundial do século 20, o suíço Le Corbusier liderou o movimento modernista da década de 1930. Uma de suas criações mais famosas, a chaise longue LC4 foi exposta pela primeira vez em Paris em 1929. Inspirada nos divãs do século 18, segue a linha do corpo e tem várias possibilidades de inclinação. Integra a coleção do Museu de Arte Moderna de Nova Iorque.
CÓPIA FIEL Uma dessas lojas é a paulista Modernidade Móveis, que faz vendas pela internet e entrega em todo o País. “Também vendemos móveis contemporâneos, mas os designers consagrados são os que têm mais saída”, revela o assistente de marketing Rafael Gustavo. Para fazer as reproduções, a loja adquire os modelos originais e os desmonta, criando cópias fiéis. A Tok & Stok, uma das maiores lojas do ramo, também tem uma linha exclusivamente de clássicos. “Nossa proposta é vender móveis a preços mais acessíveis”, explica o gerente de design e tendências da rede, Ademir Bueno. “Temos como regra reproduzir peças que tenham mais de 50 anos, que estejam em domínio público e que tenham os mesmos padrões de estilo dos nossos móveis originais”. Comoessas réplicas sãoproduzidas com
POLTRONA EAMES O arquiteto Charles Eames e sua mulher, a artista plástica Ray, formaram o casal de ouro do design norte-americano. Desenvolveram técnicas inovadoras para moldar compensado e fibra de vidro, criando as linhas curvilíneas e orgânicas que influenciaram o mobiliário dos anos 1960. Criada como presente para o cineasta Billy Wilder, a poltrona Eames tornou-se um clássico.
FERNANDO VIVAS / AG. A TARDE
va os preços às alturas. Depois que a autorização deixou de ser exigida, multiplicaram-seaslojasefábricasespecializadasem réplicas cada vez mais baratas.
CADEIRA PANTON O designer dinamarquês Verner Panton passou boa parte da vida pesquisando como criar móveis mais simples e baratos. Produzida a partir de uma única peça de plástico, a cadeira Panton chegou ao mercado em 1967. Além de fácil de ser empilhada e produzida em massa, seu formato arrojado e ergonômico provocou uma verdadeira revolução no design.
POLTRONA BARCELONA Nascido na Alemanha, Ludwig Mies Van Der Rohe foi um dos criadores da Escola de Design Bauhaus, que prezava por linhas simples e futuristas. Incumbido de projetar o pavilhão da Alemanha na exposição mundial de 1929, na Espanha, ele criou duas cadeiras largas e profundas especialmente para o casal real espanhol – que, por sinal, nunca se sentou nelas.
DIAGRAMA/ DIVULGAÇÃO
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FOTOS DIAGRAMA / DIVULGAÇÃO
material e mão-de-obra diferentes dos originais, os preços terminam sendo menores. Para se ter uma ideia, uma cadeira Barcelona, criada pelo alemão Van Der Rohe para a realeza espanhola, não sai por menos de R$ 7.600 na revendedora internacional. Já a versão made in Brazil sai por R$ 1.300. Uma autêntica chaise longue C4, criação do arquiteto Le Corbusier, é arrematada por R$ 10 mil, enquanto as reproduções chegam a custar até R$ 1.900.
GATO POR LEBRE A possibilidade de democratizar peças até então inacessíveis parece um bom negócio, mas especialistas alertam para o perigo de se levar gato por lebre. “Na realidade, hoje em dia todas as peças fabricadas são reproduções. Acontece que existem cópias boas e ruins, e, em geral, o preço reflete essa diferença de qualidade”, diz Tatiana Amorim, diretora comercial da loja Toque da Casa. “O cliente pode não notar a olho nu, mas existem diferenças no
material, no acabamento e nas medidas”, explica a empresária Marlene Fockink, ex-presidente do Núcleo de Decoração da Bahia e proprietária da Diagrama. “Além disso, um bom móvel dura a vida inteira. Tenho clientes que deixam de comprar comigo para levar o modelo mais barato e se arrependem”. Segundo a empresária, alguns fabricantes se preocupam em seguir rigorosamente os padrões originais e oferecem selos de garantia e procedência. Na dúvida, é bom pesquisar, prestar atenção na qualidade e perguntar. No fim das contas, o mais importante é ajustar a expectativa em relação ao móvel ao orçamento disponível. E se o dinheiro não der, existe a possibilidade de simpática miniatura, à venda por R$ 45 na butique Jezebel.
ATEMPORAIS Quando se trata de móveis, o que se convenciona chamar de “clássico moderno” corresponde ao período no início do século 20, que fervilhou com inovações criativas e tecnológicas. “Antes deste período havia uma carência de design muito grande. Os móveis eram muito quadrados, pesados e pouco funcionais”, diz o empresário Paulo Coelho, sócio da loja Básica. O movimento modernista revolucionou o setor com materiais pouco convencionais para a época, como aço, ferro e plástico. Influenciados pela primeira escola de design do mundo, a alemã Bauhaus, os móveis passaram a ter inspiração nas formas da geometria, na estrutura da arquitetura e na natureza. Criadores como o italiano Harry Bertoia, o casal norte-americano Charles e Ray Eames e o dinamarquês Verner Panton foram alguns dos principais nomes do período, criando obras-primas
ONDE ENCONTRAR Básica Home: Al. das Espatódeas, 206. Fone: 3342-9177 Toque da Casa: Al. das Espatódeas, 355. Fone: 3503-7474 Diagrama: Al. das Espatódeas, 393. Fone: 3272-0990 Tok & Stok: Av. Tancredo Neves, 1801. Fone: 3444-3000 Jezebel: Rua do Barro Vermelho, 32, loja 101, Rio Vermelho. Fone: 3013-3018 Modernidade Móveis: www.modernida demoveis.com
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como a cadeira Bertoia, a poltrona Eames e a cadeira Panton. “São bonitas, práticas e, o mais importante, confortáveis. Foram feitas para ser usadas, não apenas para enfeitar”, garante Marlene Fockink. Tanto que continuam sendo objeto de desejo. Mas o que faz esses móveis resistirem tão bem ao tempo? “É uma combinação de beleza plástica, praticidade e conforto. Não existe nada novo que os ultrapasse”, reforça Marlene Fockink.
OBRAS-PRIMAS Uma dessas obras-primas atemporais é a mesa Tulipa, criada pelo designer finlandês Eero Saarinen em 1956 e, até hoje, favorita absoluta do público – tanto que possui um site dedicado exclusivamente aos seus vários modelos (www.mesasaarinen.com). “Combina com qualquer cadeira. É a mesa perfeita”, elogia Tatiana Amorim, que confessa ter três versões em tamanhos diferentes. A possibilidade de ter uma delas na sala foi o que conquistou a professora de marketing Márcia Bittencourt, 30, quando começou a montar seu apartamento na Graça. “Me atraiu a ideia de adquirir uma obra de um designer consagrado. Além disso, a mesa encaixou-se perfeitamente no ambiente contemporâneo que eu queria”. Aliás, se ninguém falasse, pouca gente seria capaz de dizer que a mesa de linhas orgânicas e pé delgado tem mais de 50 anos, já que combina com qualquer ambiente, do mais futurista ao mais retrô. “É como uma bolsa Chanel, um clássico que nunca sai de moda”, diz Márcia. E tal como um Chanel, também é passível de ser copiado. “A diferença é que, na moda, os plagiadores copiam os últimos lançamentos. No design, essas peças já caíram em domínio público. Original mesmo, só o protótipo criado pelo artista”. «
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CHAISE LONGUE LE CORBUSIER Um dos grandes nomes da arquitetura mundial do século 20, o suíço Le Corbusier liderou o movimento modernista da década de 1930. Uma de suas criações mais famosas, a chaise longue LC4 foi exposta pela primeira vez em Paris em 1929. Inspirada nos divãs do século 18, segue a linha do corpo e tem várias possibilidades de inclinação. Integra a coleção do Museu de Arte Moderna de Nova Iorque.
CÓPIA FIEL Uma dessas lojas é a paulista Modernidade Móveis, que faz vendas pela internet e entrega em todo o País. “Também vendemos móveis contemporâneos, mas os designers consagrados são os que têm mais saída”, revela o assistente de marketing Rafael Gustavo. Para fazer as reproduções, a loja adquire os modelos originais e os desmonta, criando cópias fiéis. A Tok & Stok, uma das maiores lojas do ramo, também tem uma linha exclusivamente de clássicos. “Nossa proposta é vender móveis a preços mais acessíveis”, explica o gerente de design e tendências da rede, Ademir Bueno. “Temos como regra reproduzir peças que tenham mais de 50 anos, que estejam em domínio público e que tenham os mesmos padrões de estilo dos nossos móveis originais”. Comoessas réplicas sãoproduzidas com
POLTRONA EAMES O arquiteto Charles Eames e sua mulher, a artista plástica Ray, formaram o casal de ouro do design norte-americano. Desenvolveram técnicas inovadoras para moldar compensado e fibra de vidro, criando as linhas curvilíneas e orgânicas que influenciaram o mobiliário dos anos 1960. Criada como presente para o cineasta Billy Wilder, a poltrona Eames tornou-se um clássico.
FERNANDO VIVAS / AG. A TARDE
va os preços às alturas. Depois que a autorização deixou de ser exigida, multiplicaram-seaslojasefábricasespecializadasem réplicas cada vez mais baratas.
CADEIRA PANTON O designer dinamarquês Verner Panton passou boa parte da vida pesquisando como criar móveis mais simples e baratos. Produzida a partir de uma única peça de plástico, a cadeira Panton chegou ao mercado em 1967. Além de fácil de ser empilhada e produzida em massa, seu formato arrojado e ergonômico provocou uma verdadeira revolução no design.
POLTRONA BARCELONA Nascido na Alemanha, Ludwig Mies Van Der Rohe foi um dos criadores da Escola de Design Bauhaus, que prezava por linhas simples e futuristas. Incumbido de projetar o pavilhão da Alemanha na exposição mundial de 1929, na Espanha, ele criou duas cadeiras largas e profundas especialmente para o casal real espanhol – que, por sinal, nunca se sentou nelas.
DIAGRAMA/ DIVULGAÇÃO
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FOTOS DIAGRAMA / DIVULGAÇÃO
material e mão-de-obra diferentes dos originais, os preços terminam sendo menores. Para se ter uma ideia, uma cadeira Barcelona, criada pelo alemão Van Der Rohe para a realeza espanhola, não sai por menos de R$ 7.600 na revendedora internacional. Já a versão made in Brazil sai por R$ 1.300. Uma autêntica chaise longue C4, criação do arquiteto Le Corbusier, é arrematada por R$ 10 mil, enquanto as reproduções chegam a custar até R$ 1.900.
GATO POR LEBRE A possibilidade de democratizar peças até então inacessíveis parece um bom negócio, mas especialistas alertam para o perigo de se levar gato por lebre. “Na realidade, hoje em dia todas as peças fabricadas são reproduções. Acontece que existem cópias boas e ruins, e, em geral, o preço reflete essa diferença de qualidade”, diz Tatiana Amorim, diretora comercial da loja Toque da Casa. “O cliente pode não notar a olho nu, mas existem diferenças no
material, no acabamento e nas medidas”, explica a empresária Marlene Fockink, ex-presidente do Núcleo de Decoração da Bahia e proprietária da Diagrama. “Além disso, um bom móvel dura a vida inteira. Tenho clientes que deixam de comprar comigo para levar o modelo mais barato e se arrependem”. Segundo a empresária, alguns fabricantes se preocupam em seguir rigorosamente os padrões originais e oferecem selos de garantia e procedência. Na dúvida, é bom pesquisar, prestar atenção na qualidade e perguntar. No fim das contas, o mais importante é ajustar a expectativa em relação ao móvel ao orçamento disponível. E se o dinheiro não der, existe a possibilidade de simpática miniatura, à venda por R$ 45 na butique Jezebel.
ATEMPORAIS Quando se trata de móveis, o que se convenciona chamar de “clássico moderno” corresponde ao período no início do século 20, que fervilhou com inovações criativas e tecnológicas. “Antes deste período havia uma carência de design muito grande. Os móveis eram muito quadrados, pesados e pouco funcionais”, diz o empresário Paulo Coelho, sócio da loja Básica. O movimento modernista revolucionou o setor com materiais pouco convencionais para a época, como aço, ferro e plástico. Influenciados pela primeira escola de design do mundo, a alemã Bauhaus, os móveis passaram a ter inspiração nas formas da geometria, na estrutura da arquitetura e na natureza. Criadores como o italiano Harry Bertoia, o casal norte-americano Charles e Ray Eames e o dinamarquês Verner Panton foram alguns dos principais nomes do período, criando obras-primas
ONDE ENCONTRAR Básica Home: Al. das Espatódeas, 206. Fone: 3342-9177 Toque da Casa: Al. das Espatódeas, 355. Fone: 3503-7474 Diagrama: Al. das Espatódeas, 393. Fone: 3272-0990 Tok & Stok: Av. Tancredo Neves, 1801. Fone: 3444-3000 Jezebel: Rua do Barro Vermelho, 32, loja 101, Rio Vermelho. Fone: 3013-3018 Modernidade Móveis: www.modernida demoveis.com
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como a cadeira Bertoia, a poltrona Eames e a cadeira Panton. “São bonitas, práticas e, o mais importante, confortáveis. Foram feitas para ser usadas, não apenas para enfeitar”, garante Marlene Fockink. Tanto que continuam sendo objeto de desejo. Mas o que faz esses móveis resistirem tão bem ao tempo? “É uma combinação de beleza plástica, praticidade e conforto. Não existe nada novo que os ultrapasse”, reforça Marlene Fockink.
OBRAS-PRIMAS Uma dessas obras-primas atemporais é a mesa Tulipa, criada pelo designer finlandês Eero Saarinen em 1956 e, até hoje, favorita absoluta do público – tanto que possui um site dedicado exclusivamente aos seus vários modelos (www.mesasaarinen.com). “Combina com qualquer cadeira. É a mesa perfeita”, elogia Tatiana Amorim, que confessa ter três versões em tamanhos diferentes. A possibilidade de ter uma delas na sala foi o que conquistou a professora de marketing Márcia Bittencourt, 30, quando começou a montar seu apartamento na Graça. “Me atraiu a ideia de adquirir uma obra de um designer consagrado. Além disso, a mesa encaixou-se perfeitamente no ambiente contemporâneo que eu queria”. Aliás, se ninguém falasse, pouca gente seria capaz de dizer que a mesa de linhas orgânicas e pé delgado tem mais de 50 anos, já que combina com qualquer ambiente, do mais futurista ao mais retrô. “É como uma bolsa Chanel, um clássico que nunca sai de moda”, diz Márcia. E tal como um Chanel, também é passível de ser copiado. “A diferença é que, na moda, os plagiadores copiam os últimos lançamentos. No design, essas peças já caíram em domínio público. Original mesmo, só o protótipo criado pelo artista”. «
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SALVADOR DOMINGO 23/1/2011
BIO RENATA BRANDÃO
SALVADOR DOMINGO 23/1/2011
Direito ao verde Quando decidiu entrar para a Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia há 11 anos, a advogada Renata Brandão, 29, contrariou uma tendência familiar, cuja predileção por diplomas recaía sobre os emitidos pelas escolas de medicina. A atração pelo universo das leis e querelas jurídicas,sisudoeconservadorporfeitio,nãoa impediu de continuar a contestar a ordem das coisas com ideias que carregam a tiracolo a busca pela justiça. Depois de concluir um mestrado na Ufba, no qual defendeu a existência de limites constitucionais para o aumento exagerado de tributos, e coordenar um curso de pós-graduação em direito processualtributário,Renatacolocounaincubadeira uma proposta que, além de criativa, é ecologicamente correta. Esmiuçada na tese de doutorado que desenvolve na Universidade de São Paulo, a ideia é tornar a tributação uma aliada na defesa do meio ambiente, mostrando ser possível reduzir impostos para induzir os contribuintes a adotarem condutas “limpas” e investirem no desenvolvimento sustentável. A advogada explica: “Nossa Constituição estipula princípios que são diretrizes para a ordem econômica e, dentre eles, está a defesa do meio ambiente. Se há estímulo fiscal às atividades e bens que diminuem o impacto ambiental, esse setor vai se desenvolver, aumentando-se a produção de uma riqueza limpa e propiciando um meio ambiente mais saudável”. A natureza e os bolsos agradecem. «
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Texto VITOR PAMPLONA vpamplona@grupoatarde.com.br
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Foto FERNANDO VIVAS fvivas@grupoatarde.com.br
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BIO RENATA BRANDÃO
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Direito ao verde Quando decidiu entrar para a Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia há 11 anos, a advogada Renata Brandão, 29, contrariou uma tendência familiar, cuja predileção por diplomas recaía sobre os emitidos pelas escolas de medicina. A atração pelo universo das leis e querelas jurídicas,sisudoeconservadorporfeitio,nãoa impediu de continuar a contestar a ordem das coisas com ideias que carregam a tiracolo a busca pela justiça. Depois de concluir um mestrado na Ufba, no qual defendeu a existência de limites constitucionais para o aumento exagerado de tributos, e coordenar um curso de pós-graduação em direito processualtributário,Renatacolocounaincubadeira uma proposta que, além de criativa, é ecologicamente correta. Esmiuçada na tese de doutorado que desenvolve na Universidade de São Paulo, a ideia é tornar a tributação uma aliada na defesa do meio ambiente, mostrando ser possível reduzir impostos para induzir os contribuintes a adotarem condutas “limpas” e investirem no desenvolvimento sustentável. A advogada explica: “Nossa Constituição estipula princípios que são diretrizes para a ordem econômica e, dentre eles, está a defesa do meio ambiente. Se há estímulo fiscal às atividades e bens que diminuem o impacto ambiental, esse setor vai se desenvolver, aumentando-se a produção de uma riqueza limpa e propiciando um meio ambiente mais saudável”. A natureza e os bolsos agradecem. «
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Texto VITOR PAMPLONA vpamplona@grupoatarde.com.br
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Olhos da NATUREZA No próximo sábado, Beatriz Franco faz sua primeira individual fora do País. Em Milão, a artista plástica e fotógrafa baiana inaugura a exposição Il Mare que Resta, sobre o processo de salinização do mar
Texto EMANUELLA SOMBRA esombra@grupoatarde.com.br Foto FERNANDO VIVAS fvivas@grupoatarde.com.br
P Beatriz Franco: aos 34 anos, ela é a mais jovem artista a figurar no livro A História da Fotografia na Bahia, 1839-2006
rocurar o melhor ângulo e disparar a câmera. Beatriz Franco repete o mesmo ritual inúmeras vezes. Não costuma olhar imediatamente aquilo que fotografou, prefere partir para o próximo clique. Deixa para depois–diantedocomputador–atarefadatriagem, tãointensaquantoadepararotempodentrodaimagem. Estão lá as flores, o processo de salinização do mar, uma libélula, o peso de um grão sobre a formiga. “Não sei fotografar gente”, diz. “Brincadeira”, ri. “Claro que sei, mas natureza é o que me interessa. Raríssimas vezes fotografo pessoas”. Num desses poucos momentos, está congelado o autorretrato Ovos que não deitei, exposto na mostra Novas Aquisições, do MAM-BA, e que agora faz parte do acervo do museu. Em recente passagem pela Itália, onde ficou quatro meses graças a um edital do Fundo de Cultura, a artista plástica e fotógrafa registrou o processo de salinização do mar no ensaio intitulado Il Mare que Resta, quedevevirparaacapitalbaiananumamostraindividualesteano. “Um trabalho como esse é um momento de trégua. O mundo está
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Olhos da NATUREZA No próximo sábado, Beatriz Franco faz sua primeira individual fora do País. Em Milão, a artista plástica e fotógrafa baiana inaugura a exposição Il Mare que Resta, sobre o processo de salinização do mar
Texto EMANUELLA SOMBRA esombra@grupoatarde.com.br Foto FERNANDO VIVAS fvivas@grupoatarde.com.br
P Beatriz Franco: aos 34 anos, ela é a mais jovem artista a figurar no livro A História da Fotografia na Bahia, 1839-2006
rocurar o melhor ângulo e disparar a câmera. Beatriz Franco repete o mesmo ritual inúmeras vezes. Não costuma olhar imediatamente aquilo que fotografou, prefere partir para o próximo clique. Deixa para depois–diantedocomputador–atarefadatriagem, tãointensaquantoadepararotempodentrodaimagem. Estão lá as flores, o processo de salinização do mar, uma libélula, o peso de um grão sobre a formiga. “Não sei fotografar gente”, diz. “Brincadeira”, ri. “Claro que sei, mas natureza é o que me interessa. Raríssimas vezes fotografo pessoas”. Num desses poucos momentos, está congelado o autorretrato Ovos que não deitei, exposto na mostra Novas Aquisições, do MAM-BA, e que agora faz parte do acervo do museu. Em recente passagem pela Itália, onde ficou quatro meses graças a um edital do Fundo de Cultura, a artista plástica e fotógrafa registrou o processo de salinização do mar no ensaio intitulado Il Mare que Resta, quedevevirparaacapitalbaiananumamostraindividualesteano. “Um trabalho como esse é um momento de trégua. O mundo está
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SALVADOR DOMINGO 23/1/2011
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«Ela é 100% contemporânea, não tem o ranço do modernismo. Pode ser destacada em qualquer lugar do mundo» Paulo Darzé, galerista
extremamente veloz, acho que a gente precisa de um pouco de tempo”, explica, para depois deixar escapar uma palavra essencial na sua concepção como artista: desaceleração. “Talvez eu queira imprimir isso. Tempo em que eu olho para a natureza e faço um recorte abstrato”.
EM CONSTRUÇÃO A primeira exposição de Beatriz fora do Brasil, cuja abertura está previstaparaopróximosábado,29/1,naGaleriaCarlaSozzani,em Milão,dá sequênciaaumatrajetóriainiciada comoautodidataainda criança, aos 7 anos. Beatriz fotografava numa câmera rudimentar o ambiente que cercava a sua infância, especialmente os bichos de estimação da família. “Existe um percurso enorme de lá para cá, mas existe uma coisa em comum, uma maneira de olhar o mundo que foi se transformando. Eu não saberia dizer onde há a abstração, o não-figurativo, mas eles sempre existiram”, diz a baiana de 34 anos, a mais jovem a figurar no livro A História da Fotografia na Bahia, 1839-2006. Justamente num livro em que predomina a força da Bahia folclórica – ora documental e religiosa, ora exuberante e urbana –, o trabalho de Beatriz Franco surge intimista, quase desobrigado a
Time Past and Time Present, montagem de 2003
seguir a corrente. “É delicado dizer isso, até para não ser mal interpretada, mas eu não compactuo com a ideia de uma Bahia estereotipada”, diz, enquanto passeia entre asárvoresdojardimdoMAM,emumapassagem rápida por Salvador. O galerista Paulo Darzé, que representa o trabalho dela em Salvador, concorda por outras razões: “Ela é 100% contemporânea, não tem o ranço do modernismo”, diz. “Pode ser destacada em qualquer lugar do mundo. E isso é muito bom”. No espaço que leva o nome do galerista, no Corredor da Vitória, está a montagem intitulada Time Past and Time Present, parte de um trabalho de 2003 no qual Beatriz compõe pequenos enredos visuais. De malas prontas para a Itália, a fotógrafa ainda não colheu os frutos de uma carreira relativamente curta, mas nem por isso incipiente. De 2001 até hoje, foram várias mostras individuais e coletivas em galerias da cidade, além de uma passagem pelaBienaldo RecôncavoepelaMônicaFilgueiras Galeria, em São Paulo. A experiência na Itália a estimula a prosseguir. “O fato de ter ido graças a uma bolsamemotivaatrazeresse retorno,uma exposição em Salvador”. « REPRODUÇÃO / FERNANDO VIVAS / AG. A TARDE
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ATALHO VIGNOLI PIZZAS
Uma aposta no artesanal Por essa nem os sócios da Vignoli – dois administradores de empresas, um farmacêutico e uma fisioterapeuta – esperavam, confessa Adriano Araújo, que toca o negócio, na linha de frente, ao lado de Juliana Lobo. Sem investir em propaganda, eles têm visto as mesas sempre cheias desde que abriram as portas, no fim do ano passado. Franquia cearense, a pizzariaveioparaSalvadorporsugestãodeAnaMenendez,quemoraem Fortaleza.Ostrês juntaram-se a Clóvis Filho e encararam o desafio de entrar no mercado sem experiência. “É como organizar uma festa diária. Dá trabalho, mas é prazeroso”, resume Adriano. O prazer vem da receptividade do público às delícias da casa. Experimente o caneloni de camarão com molho de tomate (R$ 34,80) e não saia de lá sem provar a pizza de carne-de-sol com coalho (R$ 37,90). As massas e molhos são caseiros, e a pedida é comer com as mãos – há luvinhas plásticas numa charmosa caixinha sobre as mesas. «
Texto KÁTIA BORGES kborges@grupoatarde.com.br
VIGNOLI PIZZAS E MASSAS: Avenida Paulo VI, 1.659, Pituba – 71 3018-2111 DESTAQUE: Experimente o caneloni de camarão com molho de tomate e a pizza de rúcula com tomate seco. Pode comer com as mãos
Foto FERNANDO VIVAS fvivas@grupoatarde.com.br
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«Ela é 100% contemporânea, não tem o ranço do modernismo. Pode ser destacada em qualquer lugar do mundo» Paulo Darzé, galerista
extremamente veloz, acho que a gente precisa de um pouco de tempo”, explica, para depois deixar escapar uma palavra essencial na sua concepção como artista: desaceleração. “Talvez eu queira imprimir isso. Tempo em que eu olho para a natureza e faço um recorte abstrato”.
EM CONSTRUÇÃO A primeira exposição de Beatriz fora do Brasil, cuja abertura está previstaparaopróximosábado,29/1,naGaleriaCarlaSozzani,em Milão,dá sequênciaaumatrajetóriainiciada comoautodidataainda criança, aos 7 anos. Beatriz fotografava numa câmera rudimentar o ambiente que cercava a sua infância, especialmente os bichos de estimação da família. “Existe um percurso enorme de lá para cá, mas existe uma coisa em comum, uma maneira de olhar o mundo que foi se transformando. Eu não saberia dizer onde há a abstração, o não-figurativo, mas eles sempre existiram”, diz a baiana de 34 anos, a mais jovem a figurar no livro A História da Fotografia na Bahia, 1839-2006. Justamente num livro em que predomina a força da Bahia folclórica – ora documental e religiosa, ora exuberante e urbana –, o trabalho de Beatriz Franco surge intimista, quase desobrigado a
Time Past and Time Present, montagem de 2003
seguir a corrente. “É delicado dizer isso, até para não ser mal interpretada, mas eu não compactuo com a ideia de uma Bahia estereotipada”, diz, enquanto passeia entre asárvoresdojardimdoMAM,emumapassagem rápida por Salvador. O galerista Paulo Darzé, que representa o trabalho dela em Salvador, concorda por outras razões: “Ela é 100% contemporânea, não tem o ranço do modernismo”, diz. “Pode ser destacada em qualquer lugar do mundo. E isso é muito bom”. No espaço que leva o nome do galerista, no Corredor da Vitória, está a montagem intitulada Time Past and Time Present, parte de um trabalho de 2003 no qual Beatriz compõe pequenos enredos visuais. De malas prontas para a Itália, a fotógrafa ainda não colheu os frutos de uma carreira relativamente curta, mas nem por isso incipiente. De 2001 até hoje, foram várias mostras individuais e coletivas em galerias da cidade, além de uma passagem pelaBienaldo RecôncavoepelaMônicaFilgueiras Galeria, em São Paulo. A experiência na Itália a estimula a prosseguir. “O fato de ter ido graças a uma bolsamemotivaatrazeresse retorno,uma exposição em Salvador”. « REPRODUÇÃO / FERNANDO VIVAS / AG. A TARDE
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ATALHO VIGNOLI PIZZAS
Uma aposta no artesanal Por essa nem os sócios da Vignoli – dois administradores de empresas, um farmacêutico e uma fisioterapeuta – esperavam, confessa Adriano Araújo, que toca o negócio, na linha de frente, ao lado de Juliana Lobo. Sem investir em propaganda, eles têm visto as mesas sempre cheias desde que abriram as portas, no fim do ano passado. Franquia cearense, a pizzariaveioparaSalvadorporsugestãodeAnaMenendez,quemoraem Fortaleza.Ostrês juntaram-se a Clóvis Filho e encararam o desafio de entrar no mercado sem experiência. “É como organizar uma festa diária. Dá trabalho, mas é prazeroso”, resume Adriano. O prazer vem da receptividade do público às delícias da casa. Experimente o caneloni de camarão com molho de tomate (R$ 34,80) e não saia de lá sem provar a pizza de carne-de-sol com coalho (R$ 37,90). As massas e molhos são caseiros, e a pedida é comer com as mãos – há luvinhas plásticas numa charmosa caixinha sobre as mesas. «
Texto KÁTIA BORGES kborges@grupoatarde.com.br
VIGNOLI PIZZAS E MASSAS: Avenida Paulo VI, 1.659, Pituba – 71 3018-2111 DESTAQUE: Experimente o caneloni de camarão com molho de tomate e a pizza de rúcula com tomate seco. Pode comer com as mãos
Foto FERNANDO VIVAS fvivas@grupoatarde.com.br
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SALVADOR DOMINGO 23/1/2011
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Conquistador DOS MARES É o cinema que tem dividido as atenções do nadador Marcelo Collet com os desafios no mar. Este ano, ele já tem engatilhados os lançamentos de dois projetos
Texto PEDRO FERNANDES pfernandes.com.br Foto THIAGO TEIXEIRA txtphoto@gmail.com
A
água gelada, a 16 graus, do Canal da Mancha, que separa a Inglaterra da França, não permite que se pense em nada. A cabeça precisa vencer a vontade que o corpo tem de desistir. O objetivo, por ora, deixa de ser o final do percurso e passa a ser cada uma das paradas para alimentação e hidrataçãoqueacontecemde30em30minutos. Assim, Marcelo Collet, 30, casado e pai de uma filhinha de 3 anos, conseguiu se tornar o primeiro atleta paraolímpico a cruzar os 39,3 km do canal. “Você entra em um transe, desvia a cabeça para outras coisas, uma música, água quente. Depois de sete horas, quando comeceiaveraFrança,sabiaquechegaria”.A conquista lhe rendeu a indicação à Perfor-
mance do Ano em natação pelo site Open Water Source. A estratégia para vencer a travessia bem pode resumir o modo como o paulista, que mora desde os 11 anos em Salvador, leva a vida. Collet vive um dia de cada vez. Ele põe uma ideia na cabeça e ela fica por lá até vir à superfície e, aos poucos, se torna palpável. Com seu jeito metódico, avalia, se prepara bem e conquista. A paixão pelo esporte é tão grande, que voltou a treinar três meses depois de ter sido atropelado, aos 17, quando se preparava para o mundial de triatlo na Suíça. Perdeu parte dos movimentos da perna esquerda, mas não se fez de coitado. O acidente o tirou daquela competição, mas não do esporte. No final daquele ano, já estava fazendo travessia. Logo passou a integrar a seleção
paraolímpica de natação com a qual conquistou um ouro, duas pratas e um bronze no Parapan de Mar del Plata. No Parapan do Rio, levou um ouro e três bronzes. Além disso, participou dos Jogos de Atenas, em 2004, e Pequim, em 2008.
DOCUMENTÁRIOS Descanso não é uma palavra que ele usa muito. Quando tem uma folga, anda de bicicleta ou veleja. Já a palavra projeto está sempre no plural. Paralelamente aos esportes, começa a investir no cinema, com a produção de dois documentários que pretende concluir e lançar este ano. O primeiro é o projeto de conclusão do curso de cinema, na FTC, no qual registrou a participação nos Jogos de Pequim. O segundo é Diários do Canal, dirigido por Felipe Kowalc-
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zuk. “É um filme de aventura. Mostra o desafio do canal de modo intimista”. Ex-colega de Marcelo no curso de publicidade da Ucsal, Felipe, 30, reencontrou-o no início de 2010. “Foi a parceria entre dois sonhadores. O projeto me fez ter outro olhar sobre a vida”, diz o cineasta, hoje produtor-executivo do longa Raul, o início, o fim e o meio, de Walter Carvalho. Entre as próximas aventuras estão os Jogos Parapan Americanos de Guadalajara, que acontecem este ano, e a travessia do Estreito de Gibraltar, que separa o continente europeu do africano. São 23 km só de ida. A volta de Manhattan (EUA) também está em seus planos, assim como o retorno ao triatlo. “Estou com a ideia no fundo da cabeça”. Provavelmente à espera do momento certo para emergir. «
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Conquistador DOS MARES É o cinema que tem dividido as atenções do nadador Marcelo Collet com os desafios no mar. Este ano, ele já tem engatilhados os lançamentos de dois projetos
Texto PEDRO FERNANDES pfernandes.com.br Foto THIAGO TEIXEIRA txtphoto@gmail.com
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água gelada, a 16 graus, do Canal da Mancha, que separa a Inglaterra da França, não permite que se pense em nada. A cabeça precisa vencer a vontade que o corpo tem de desistir. O objetivo, por ora, deixa de ser o final do percurso e passa a ser cada uma das paradas para alimentação e hidrataçãoqueacontecemde30em30minutos. Assim, Marcelo Collet, 30, casado e pai de uma filhinha de 3 anos, conseguiu se tornar o primeiro atleta paraolímpico a cruzar os 39,3 km do canal. “Você entra em um transe, desvia a cabeça para outras coisas, uma música, água quente. Depois de sete horas, quando comeceiaveraFrança,sabiaquechegaria”.A conquista lhe rendeu a indicação à Perfor-
mance do Ano em natação pelo site Open Water Source. A estratégia para vencer a travessia bem pode resumir o modo como o paulista, que mora desde os 11 anos em Salvador, leva a vida. Collet vive um dia de cada vez. Ele põe uma ideia na cabeça e ela fica por lá até vir à superfície e, aos poucos, se torna palpável. Com seu jeito metódico, avalia, se prepara bem e conquista. A paixão pelo esporte é tão grande, que voltou a treinar três meses depois de ter sido atropelado, aos 17, quando se preparava para o mundial de triatlo na Suíça. Perdeu parte dos movimentos da perna esquerda, mas não se fez de coitado. O acidente o tirou daquela competição, mas não do esporte. No final daquele ano, já estava fazendo travessia. Logo passou a integrar a seleção
paraolímpica de natação com a qual conquistou um ouro, duas pratas e um bronze no Parapan de Mar del Plata. No Parapan do Rio, levou um ouro e três bronzes. Além disso, participou dos Jogos de Atenas, em 2004, e Pequim, em 2008.
DOCUMENTÁRIOS Descanso não é uma palavra que ele usa muito. Quando tem uma folga, anda de bicicleta ou veleja. Já a palavra projeto está sempre no plural. Paralelamente aos esportes, começa a investir no cinema, com a produção de dois documentários que pretende concluir e lançar este ano. O primeiro é o projeto de conclusão do curso de cinema, na FTC, no qual registrou a participação nos Jogos de Pequim. O segundo é Diários do Canal, dirigido por Felipe Kowalc-
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zuk. “É um filme de aventura. Mostra o desafio do canal de modo intimista”. Ex-colega de Marcelo no curso de publicidade da Ucsal, Felipe, 30, reencontrou-o no início de 2010. “Foi a parceria entre dois sonhadores. O projeto me fez ter outro olhar sobre a vida”, diz o cineasta, hoje produtor-executivo do longa Raul, o início, o fim e o meio, de Walter Carvalho. Entre as próximas aventuras estão os Jogos Parapan Americanos de Guadalajara, que acontecem este ano, e a travessia do Estreito de Gibraltar, que separa o continente europeu do africano. São 23 km só de ida. A volta de Manhattan (EUA) também está em seus planos, assim como o retorno ao triatlo. “Estou com a ideia no fundo da cabeça”. Provavelmente à espera do momento certo para emergir. «
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GASTRÔ CHUMBINHO
VÔNGOLE
Texto DANIELA CASTRO dcastro@grupoatarde.com.br Fotos FERNANDO VIVAS fvivas@grupoatarde.com.br
BAIANO
U Penne ao frutos do mar, da Cantina Cortile
ns preferem chamar de sarnambi. Mas boa parte sabe, desde sempre, que o nome certo é papa-fumo. Já um cientista diria que é mais correto honrar a iguaria com nome e sobrenome oficiais: Anomalocardia brasiliana. Informações ainda mais precisas dão conta de que trata-se de um molusco bivalve marinho da família dos venerídeos. E é comestível, que é o que interessa mesmo. Seja como for, baiano que se preze sempre saberá qual é o babado toda vez que alguém falar em chumbinho, mesmo levandoemcontaainfelizcoincidênciacomo nome do veneno usado como raticida. Dizem, na verdade, que esses homônimos
Esqueça os nomes e apelidos pouco nobres. Nas mãos de chefs experientes, este molusco oferece uma gama de sabores
guardam mesmo uma certa semelhança entre si. Mas qual será? “Quem não estiver forte e comer chumbinho fica tonto. É o tipo da coisa que você tem que comer e descansar”. O conselho é de Mary Menezes, que comanda as panelas do Recanto Mary Mar, em frente à praia de São Tomé de Paripe. Nem precisa dizer que ela é uma privilegiada quando o assunto é o marisco. “Esses aí eu mandei pescar ainda hoje”, diz, ao receber a reportagem da Muito, no fim da tarde de uma terça-feira. Não é que ela seja exibida, é que por lá se acha chumbinho até sem procurar. “É só passar a mão, assim, na beira da água”. Comoingredientebatendoàportatodo dia, é claro que uma cozinheira de mão
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GASTRÔ CHUMBINHO
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Texto DANIELA CASTRO dcastro@grupoatarde.com.br Fotos FERNANDO VIVAS fvivas@grupoatarde.com.br
BAIANO
U Penne ao frutos do mar, da Cantina Cortile
ns preferem chamar de sarnambi. Mas boa parte sabe, desde sempre, que o nome certo é papa-fumo. Já um cientista diria que é mais correto honrar a iguaria com nome e sobrenome oficiais: Anomalocardia brasiliana. Informações ainda mais precisas dão conta de que trata-se de um molusco bivalve marinho da família dos venerídeos. E é comestível, que é o que interessa mesmo. Seja como for, baiano que se preze sempre saberá qual é o babado toda vez que alguém falar em chumbinho, mesmo levandoemcontaainfelizcoincidênciacomo nome do veneno usado como raticida. Dizem, na verdade, que esses homônimos
Esqueça os nomes e apelidos pouco nobres. Nas mãos de chefs experientes, este molusco oferece uma gama de sabores
guardam mesmo uma certa semelhança entre si. Mas qual será? “Quem não estiver forte e comer chumbinho fica tonto. É o tipo da coisa que você tem que comer e descansar”. O conselho é de Mary Menezes, que comanda as panelas do Recanto Mary Mar, em frente à praia de São Tomé de Paripe. Nem precisa dizer que ela é uma privilegiada quando o assunto é o marisco. “Esses aí eu mandei pescar ainda hoje”, diz, ao receber a reportagem da Muito, no fim da tarde de uma terça-feira. Não é que ela seja exibida, é que por lá se acha chumbinho até sem procurar. “É só passar a mão, assim, na beira da água”. Comoingredientebatendoàportatodo dia, é claro que uma cozinheira de mão
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cheia não iria se fazer de rogada. Pois o chumbinho é uma das vedetes do menu de Mary, que impõe aos visitantes o sacrifício de comer uma moqueca do marisco com ovos e camarão defumado.
DE FAMÍLIA A história ajuda o prato a ficar mais saboroso ainda. A tal moqueca foi a primeira que ela aprendeu a fazer, aos 9 anos, seguindo os ensinamentos da avó. Com o pai, Mary teve outras lições. Pescar em Salinas da Margarida, município localizado a 250 km de Salvador, no sul do Recôncavo baiano, onde passava férias com os nove irmãos, foi uma delas. Vale dizer que lá o chumbinho é cidadão ilustre, tanto que a região tem como marca registrada a moqueca gigante (são 250 quilos do marisco, 100 quilos de temperos e 15 litros de azeite de dendê e leite de coco) que é distribuída todos os anos durante o tradicional Festival do Marisco. Mas voltemos à infância de Mary. Havia um bom incentivo para retornar para casa todo dia com chumbinhos a mancheias. A pescaria era quase uma condição para jantar, caso contrário, naquele tempo, menino pequeno ficava só no café com pão.
SEM CROCÂNCIA Da combinação de lições familiares com experimentos próprios nasceram outros tantos pratos para o cardápio do recanto, que atende somente a reservas. Ainda na categoria das moquecas, uma opção igualmente imperdível é a de chumbinho com camarão fresco e mamão verde. A fruta entra na receita para substituir o chuchu,sabecomoé?Eolhequeaindatem salada, frigideira e um caldo que, ao contrário do veneno, “levanta qualquer defun-
SALVADOR DOMINGO 23/1/2011
MOQUECA DE CHUMBINHO COM OVO 500 g de chumbinho 150 g de camarão defumado 2 dentes de alho 1 tomate médio maduro 1 cebola média 50 g de coentro 200 ml de azeite de dendê 200 ml de leite de coco 8 ovos 2 colheres de sopa de azeite de oliva 1 limão médio Sal a gosto PREPARO Amasse o alho com sal, depois acrescente o coentro, a cebola e o tomate picados, amassando sempre. Envolva o marisco no tempero com o suco do limão e, em seguida, junte o camarão defumado. Ponha o azeite de dendê e leve ao fogo. Quando ferver, acrescente o leite de coco. Estale os ovos sobre a moqueca, com cuidado para não quebrar as gemas. Tampe e deixe cozinhar por mais 10 minutos ou até que os ovos estejam cozidos. Regue com o azeite de oliva e sirva com arroz branco
Moqueca de ovo com chumbinho, do Mary Mar
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to”. E como invenção pouca é bobagem, no cardápio, ainda tem lugar para o chumbiabo – acertou quem imaginou uma junção de chumbinho com quiabo. Mas o segredo para agradar à mesa não está apenas na criatividade do chef e no tempero caprichado. O primeiro cuidado a se tomar é com a higiene, a limpeza do marisco, já que as conchinhas ficam em contato direto com a areia. Qualquer ser humano sabe o quanto é decepcionante morder o negócio e sentir aquela crocância indesejada, hein?
INTERNACIONAL Uma vez bem tratado, o chumbinho tem vocação para agradar até aos paladares habituados a sabores internacionais. Se você já pediu o molho de frutos do mar para acompanhar alguma massa da Cantina Cortile, por exemplo, entendeu o recado. “Quem não conhece a origem acha que é um prato tipicamente baiano, até porque é um pouco apimentado. Mas é completamente italiano”, assegura o chef Carlos Augusto, que combina o chumbinho com ingredientes como mexilhão e camarão. A massa fica ao gosto do freguês: fettuccine, espaguete, farfalle, penne. O molho vermelho ainda ganha o reforço de ervas aromáticas como o manjericão, o que colabora para a boa acolhida da clientela. “Tem grande saída aqui, talvez por conta dessa mistura da Itália com a Bahia”, sugere. Quem ainda não está “ligando o nome à coisa” pode fazer um teste: experimente pedir vôngole num restaurante trés chic e aguarde para ver do que se trata. Sim, vôngole é chumbinho e vice-versa. Até lá pelos “estates” o marisco anda dando seus bordejos, graças a profissionais como a chef baiana Adriana Assemany, que registrou sua afeição pelo ingrediente no blog chefadriana.blogspot.com, com direito até a texto bilíngue. É claro que não deu para traduzir o nome muito bem, mas os gringos e conterrâneos são capazes de compreender a carga de afetividade que as recordações carregam. Lembrando que passava férias na região de Maraú, a chef cita a beleza do trabalho das marisqueiras. Só depois de adulta, ela conseguiu compreender o quanto aquelas mulheres davam duro para obter um quilo do marisco sem casca. «
ONDE COMER Mary Mar Rua Benjamim de Souza, 135, São. Tomé de Paripe. Telefones: 3521-7582 e 8819-8161. Cantina Cortile Rua Adelaide Fernandes da Costa, s/nº – Parque Costa Azul. Telefone: 3533-3666. www.cortile.com.br.
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cheia não iria se fazer de rogada. Pois o chumbinho é uma das vedetes do menu de Mary, que impõe aos visitantes o sacrifício de comer uma moqueca do marisco com ovos e camarão defumado.
DE FAMÍLIA A história ajuda o prato a ficar mais saboroso ainda. A tal moqueca foi a primeira que ela aprendeu a fazer, aos 9 anos, seguindo os ensinamentos da avó. Com o pai, Mary teve outras lições. Pescar em Salinas da Margarida, município localizado a 250 km de Salvador, no sul do Recôncavo baiano, onde passava férias com os nove irmãos, foi uma delas. Vale dizer que lá o chumbinho é cidadão ilustre, tanto que a região tem como marca registrada a moqueca gigante (são 250 quilos do marisco, 100 quilos de temperos e 15 litros de azeite de dendê e leite de coco) que é distribuída todos os anos durante o tradicional Festival do Marisco. Mas voltemos à infância de Mary. Havia um bom incentivo para retornar para casa todo dia com chumbinhos a mancheias. A pescaria era quase uma condição para jantar, caso contrário, naquele tempo, menino pequeno ficava só no café com pão.
SEM CROCÂNCIA Da combinação de lições familiares com experimentos próprios nasceram outros tantos pratos para o cardápio do recanto, que atende somente a reservas. Ainda na categoria das moquecas, uma opção igualmente imperdível é a de chumbinho com camarão fresco e mamão verde. A fruta entra na receita para substituir o chuchu,sabecomoé?Eolhequeaindatem salada, frigideira e um caldo que, ao contrário do veneno, “levanta qualquer defun-
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MOQUECA DE CHUMBINHO COM OVO 500 g de chumbinho 150 g de camarão defumado 2 dentes de alho 1 tomate médio maduro 1 cebola média 50 g de coentro 200 ml de azeite de dendê 200 ml de leite de coco 8 ovos 2 colheres de sopa de azeite de oliva 1 limão médio Sal a gosto PREPARO Amasse o alho com sal, depois acrescente o coentro, a cebola e o tomate picados, amassando sempre. Envolva o marisco no tempero com o suco do limão e, em seguida, junte o camarão defumado. Ponha o azeite de dendê e leve ao fogo. Quando ferver, acrescente o leite de coco. Estale os ovos sobre a moqueca, com cuidado para não quebrar as gemas. Tampe e deixe cozinhar por mais 10 minutos ou até que os ovos estejam cozidos. Regue com o azeite de oliva e sirva com arroz branco
Moqueca de ovo com chumbinho, do Mary Mar
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to”. E como invenção pouca é bobagem, no cardápio, ainda tem lugar para o chumbiabo – acertou quem imaginou uma junção de chumbinho com quiabo. Mas o segredo para agradar à mesa não está apenas na criatividade do chef e no tempero caprichado. O primeiro cuidado a se tomar é com a higiene, a limpeza do marisco, já que as conchinhas ficam em contato direto com a areia. Qualquer ser humano sabe o quanto é decepcionante morder o negócio e sentir aquela crocância indesejada, hein?
INTERNACIONAL Uma vez bem tratado, o chumbinho tem vocação para agradar até aos paladares habituados a sabores internacionais. Se você já pediu o molho de frutos do mar para acompanhar alguma massa da Cantina Cortile, por exemplo, entendeu o recado. “Quem não conhece a origem acha que é um prato tipicamente baiano, até porque é um pouco apimentado. Mas é completamente italiano”, assegura o chef Carlos Augusto, que combina o chumbinho com ingredientes como mexilhão e camarão. A massa fica ao gosto do freguês: fettuccine, espaguete, farfalle, penne. O molho vermelho ainda ganha o reforço de ervas aromáticas como o manjericão, o que colabora para a boa acolhida da clientela. “Tem grande saída aqui, talvez por conta dessa mistura da Itália com a Bahia”, sugere. Quem ainda não está “ligando o nome à coisa” pode fazer um teste: experimente pedir vôngole num restaurante trés chic e aguarde para ver do que se trata. Sim, vôngole é chumbinho e vice-versa. Até lá pelos “estates” o marisco anda dando seus bordejos, graças a profissionais como a chef baiana Adriana Assemany, que registrou sua afeição pelo ingrediente no blog chefadriana.blogspot.com, com direito até a texto bilíngue. É claro que não deu para traduzir o nome muito bem, mas os gringos e conterrâneos são capazes de compreender a carga de afetividade que as recordações carregam. Lembrando que passava férias na região de Maraú, a chef cita a beleza do trabalho das marisqueiras. Só depois de adulta, ela conseguiu compreender o quanto aquelas mulheres davam duro para obter um quilo do marisco sem casca. «
ONDE COMER Mary Mar Rua Benjamim de Souza, 135, São. Tomé de Paripe. Telefones: 3521-7582 e 8819-8161. Cantina Cortile Rua Adelaide Fernandes da Costa, s/nº – Parque Costa Azul. Telefone: 3533-3666. www.cortile.com.br.
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TRILHAS ANINHA FRANCO
VINHOS REGINA BOCHICCHIO
aninha.franco@grupoatarde.com.br
Os encantos da Pinot Noir
D
epois de longos invernos e tenebrosos verões, o governo da Bahia decidiu por outro secretário de Cultura. Visto que o secretário anterior indispôs o governo com os artistas e demoliu, em nome de uma interiorização incomprovada, o pouco de política pública que existia, construída a duras penas nos anos 1990, a sociedade deve estar curiosa: mas para que serve um secretário de Cultura? Se é para brigar e demolir, melhor apostar em briga de galo, porque custa pouco e dura menos.
CRÉDITO DA IMAGEM
S
MERLOT POR PINOT Como pude esquecer de citar um fato clássico no assunto “Pinot Noir e cinema”? Impossível não lembrar o fleumático Miles (Paul Giamatti) de Sideways (Alexander Payne, 2004), cujo vinho preferido era o Pinot Noir. Na famosa cena em que defende sua preferência, ele faz uma analogia entre esta uva e sua personalidade: ambas precisam de “atenção e cuidado constantes”. Para se ter uma ideia do alcance da cena, Sideways provocou a explosão de vendas de Pinot noir nos EUA. E teve até produtor francês que acabou exportando Merlot e Syrah como se fosse Pinot... A farsa foi descoberta e, nos autos da polícia, constava que a produção não atendia à demanda, e, por essa razão, começaram a fraudar os rótulos. Mas, calma, aqui no Brasil a fúria consumista não parece alcançar tal dimensão. Vá de Pinot Noir tinto, como o nacional Miolo Seleção, por exemplo, ou algum espumante razoável para os dias alegres e tranquilos de verão. «
VINHO DA SEMANA Espumante Aurora 100% Pinot Noir R$ 29,20 (www.vinicolaaurora. com.br)
» EVENTOS, PERGUNTAS, CRÍTICAS, SUGESTÕES: REGINAB@GRUPOATARDE.COM.BR
Quem assistiu ao sensível e dionisíaco A Festa de Babette (Gabriel Axel, 1988), pelo óbvio, se lembrará da cena do banquete oferecido pela chef francesa Babette e do prato principal, Cailles em Sarcophage (Codornas no Sarcófago) – a ave recheada com trufas e foie gras assada em massa folhada –, servido para puritanos comensais com um soberbo tinto Pinot Noir Clos Vougeot (Louis Jadot). Nada mais adequado para tal sofisticação. O vinho produzido pela versátil e aromática Pinot noir é, de fato, intrigante: de cor pouco intensa quando tinto – sim, a Pinot Noir é uma uva tinta, também usada na produção de brancos (basta que o mosto não entre em contato com a casca) –, aromas sedutores e um sabor elegante, marca pela diferença. É usada no fabrico dos autênticos champanhes franceses e, por aqui, ganhou versão 100% Pinot Noir no espumante da Aurora (charmat), ao lado. Dizem também que passou a ser o preferido de Napoleão, após eleterdegustadoumChambertin,daBorgonha,numatemporada na Côte D’Or. Até Felipe, O Atrevido, duque da Borgonha, emitiu um documento, em 1395, que proibia o plantio da uva Gamay, na Côte D’Or, para beneficiar o cultivo da Pinot.
Os artistas são a voz do lugar
ociedade, estimada, quem não tem voz não fala, não é ouvido e corre o risco de desaparecer. E os artistas são a voz de um lugar, a voz de Amy Winehouse dizendo “no, no, no” às clínicas de reabilitação, discurso atual da Inglaterra; a música dos Beatles nos anos 1960; a poesia-prosa de Oscar Wilde nos 1880; a prosa de Anthony Burgess nos 1960; e a dramaturgia de William Shakespeare sempre. Glauber Rocha, a voz de um Brasil que está se revendo, graças aos orixás. As histórias de Jorge
Amado e as canções de Caymmi replicadas no mundo contando de uma Bahia mítica que as imagens de Voltaire Fraga e Carybé pincelaram. O sabor resgatado por Manuel Quirino, Hildegardes Vianna, Darwin Brandão degustado em Dadá.
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pesar disso, o Ministério da Cultura e as suas secretarias adquiriram autonomia há pouco, anteriormente ligados à educação, ao turismo, até os anos 1980, porque o Brasil, convenhamos, até os 80 depois dele, e ainda agora, é este continente selvagem, de natureza e cultura exuberantes, desconhecidas e maltratadas.
M
as ministério e secretarias de Cultura, estaduais e municipais chegaram para fomentar a criação e a disseminação artística e preservar o que é significativo o suficiente para integrar o patrimônio da humanidade. Se a Bahia, que estava rouca em 2006, emudeceu em 2007, sob o comando daqueles que falaram em liberdade por tantos, tantos anos, é hora de ampliar a música, imprimir a escrita, expor a interpretação e a dança e limpar o som dos grunhidos. É hora de propagar as falas dos que dotaram e dotam este lugar de uma voz de tonalidade única. «
«O Brasil é este continente selvagem, de natureza e cultura exuberantes»
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SALVADOR DOMINGO 23/1/2011
SALVADOR DOMINGO 23/1/2011
TRILHAS ANINHA FRANCO
VINHOS REGINA BOCHICCHIO
aninha.franco@grupoatarde.com.br
Os encantos da Pinot Noir
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epois de longos invernos e tenebrosos verões, o governo da Bahia decidiu por outro secretário de Cultura. Visto que o secretário anterior indispôs o governo com os artistas e demoliu, em nome de uma interiorização incomprovada, o pouco de política pública que existia, construída a duras penas nos anos 1990, a sociedade deve estar curiosa: mas para que serve um secretário de Cultura? Se é para brigar e demolir, melhor apostar em briga de galo, porque custa pouco e dura menos.
CRÉDITO DA IMAGEM
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MERLOT POR PINOT Como pude esquecer de citar um fato clássico no assunto “Pinot Noir e cinema”? Impossível não lembrar o fleumático Miles (Paul Giamatti) de Sideways (Alexander Payne, 2004), cujo vinho preferido era o Pinot Noir. Na famosa cena em que defende sua preferência, ele faz uma analogia entre esta uva e sua personalidade: ambas precisam de “atenção e cuidado constantes”. Para se ter uma ideia do alcance da cena, Sideways provocou a explosão de vendas de Pinot noir nos EUA. E teve até produtor francês que acabou exportando Merlot e Syrah como se fosse Pinot... A farsa foi descoberta e, nos autos da polícia, constava que a produção não atendia à demanda, e, por essa razão, começaram a fraudar os rótulos. Mas, calma, aqui no Brasil a fúria consumista não parece alcançar tal dimensão. Vá de Pinot Noir tinto, como o nacional Miolo Seleção, por exemplo, ou algum espumante razoável para os dias alegres e tranquilos de verão. «
VINHO DA SEMANA Espumante Aurora 100% Pinot Noir R$ 29,20 (www.vinicolaaurora. com.br)
» EVENTOS, PERGUNTAS, CRÍTICAS, SUGESTÕES: REGINAB@GRUPOATARDE.COM.BR
Quem assistiu ao sensível e dionisíaco A Festa de Babette (Gabriel Axel, 1988), pelo óbvio, se lembrará da cena do banquete oferecido pela chef francesa Babette e do prato principal, Cailles em Sarcophage (Codornas no Sarcófago) – a ave recheada com trufas e foie gras assada em massa folhada –, servido para puritanos comensais com um soberbo tinto Pinot Noir Clos Vougeot (Louis Jadot). Nada mais adequado para tal sofisticação. O vinho produzido pela versátil e aromática Pinot noir é, de fato, intrigante: de cor pouco intensa quando tinto – sim, a Pinot Noir é uma uva tinta, também usada na produção de brancos (basta que o mosto não entre em contato com a casca) –, aromas sedutores e um sabor elegante, marca pela diferença. É usada no fabrico dos autênticos champanhes franceses e, por aqui, ganhou versão 100% Pinot Noir no espumante da Aurora (charmat), ao lado. Dizem também que passou a ser o preferido de Napoleão, após eleterdegustadoumChambertin,daBorgonha,numatemporada na Côte D’Or. Até Felipe, O Atrevido, duque da Borgonha, emitiu um documento, em 1395, que proibia o plantio da uva Gamay, na Côte D’Or, para beneficiar o cultivo da Pinot.
Os artistas são a voz do lugar
ociedade, estimada, quem não tem voz não fala, não é ouvido e corre o risco de desaparecer. E os artistas são a voz de um lugar, a voz de Amy Winehouse dizendo “no, no, no” às clínicas de reabilitação, discurso atual da Inglaterra; a música dos Beatles nos anos 1960; a poesia-prosa de Oscar Wilde nos 1880; a prosa de Anthony Burgess nos 1960; e a dramaturgia de William Shakespeare sempre. Glauber Rocha, a voz de um Brasil que está se revendo, graças aos orixás. As histórias de Jorge
Amado e as canções de Caymmi replicadas no mundo contando de uma Bahia mítica que as imagens de Voltaire Fraga e Carybé pincelaram. O sabor resgatado por Manuel Quirino, Hildegardes Vianna, Darwin Brandão degustado em Dadá.
A
pesar disso, o Ministério da Cultura e as suas secretarias adquiriram autonomia há pouco, anteriormente ligados à educação, ao turismo, até os anos 1980, porque o Brasil, convenhamos, até os 80 depois dele, e ainda agora, é este continente selvagem, de natureza e cultura exuberantes, desconhecidas e maltratadas.
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as ministério e secretarias de Cultura, estaduais e municipais chegaram para fomentar a criação e a disseminação artística e preservar o que é significativo o suficiente para integrar o patrimônio da humanidade. Se a Bahia, que estava rouca em 2006, emudeceu em 2007, sob o comando daqueles que falaram em liberdade por tantos, tantos anos, é hora de ampliar a música, imprimir a escrita, expor a interpretação e a dança e limpar o som dos grunhidos. É hora de propagar as falas dos que dotaram e dotam este lugar de uma voz de tonalidade única. «
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CARTUM BRUNO AZIZ baziz@grupoatarde.com.br
FUNDADO EM 15/10/1912 FUNDADOR ERNESTO SIMÕES FILHO PRESIDENTE REGINA SIMÕES DE MELLO LEITÃO SUPERINTENDENTE RENATO SIMÕES DIRETOR-GERAL EDIVALDO M. BOAVENTURA EDITOR-CHEFE FLORISVALDO MATTOS EDITORA-COORDENADORA NADJA VLADI EDITORA KÁTIA BORGES EDITORES DE ARTE PIERRE THEMOTHEO E IANSÃ NEGRÃO EDITOR DE FOTOGRAFIA CARLOS CASAES DESIGNER ANA CLÉLIA REBOUÇAS. TRATAMENTO DE IMAGEM ROBERTO ABREU. FALE COM A REDAÇÃO WWW.ATARDE.COM.BR/MUITO E-MAIL: REVISTAMUITO@GRUPOATARDE.COM.BR, 71 3340-8800 (CENTRAL) / 71 3340-8990 (ALÔ REDAÇÃO) CLASSIFICADOS POPULARES 71 3533-0855 / ATARDE@ATARDE.COM.BR / WWW.ATARDE.COM.BR VENDAS DE ASSINATURAS BAHIA E SERGIPE (71) 3533-0850 REPRESENTANTE PARA TODO O PAÍS PEREIRA DE SOUZA E CIA. LTDA. / RIO DE JANEIRO 21 2544 3070 / SÃO PAULO 11 3259 6111 PROPRIEDADE DA EMPRESA EDITORA A TARDE / SEDE: RUA PROF. MILTON CAYRES DE BRITO, Nº 204 - CAMINHO DAS ÁRVORES, CEP 41822-900 - SALVADOR - BA. REDAÇÃO: (71) 3340-8800, PABX: (71) 3340-8500. FAX: (71) 3340-8712/8713. PUBLICIDADE: (71) 3340-8757/8731. FAX 3340-8710. CIRCULAÇÃO: (71) 3340-8612. FAX 3340-8732. REPRESENTANTES COMERCIAIS / SÃO PAULO (SP) RUA ARAÚJO, 70, 7º ANDAR, CEP 01200-020. (11) 3259-6111/6532. FAX (11) 3237-2079 SERGIPE E ALAGOAS GABINETE DE MÍDIA & COMUNICAÇÃO LTDA. RUA ÁLVARO BRITO, 455, SALA 35, BAIRRO 13 DE JULHO, CEP 49.020-400 - ARACAJU - SE - TELEFONE: (79)3246-4139 / (79)9978-8962 BRASÍLIA(DF) SCS, QD. 1, ED. CENTRAL, SALAS 1001 E 1008 CEP 70304-900. (61) 3226-0543/1343 A TARDE É ASSOCIADA À SOCIEDADE INTERAMERICANA DE IMPRENSA (SIP), AO INSTITUTO VERIFICADOR DE CIRCULAÇÃO (IVC) E É MEMBRO FUNDADOR DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS JORNAIS (ANJ) IMPRESSÃO QUEBECOR WORLD RECIFE LTDA
CARTUM BRUNO AZIZ baziz@grupoatarde.com.br
FUNDADO EM 15/10/1912 FUNDADOR ERNESTO SIMÕES FILHO PRESIDENTE REGINA SIMÕES DE MELLO LEITÃO SUPERINTENDENTE RENATO SIMÕES DIRETOR-GERAL EDIVALDO M. BOAVENTURA EDITOR-CHEFE FLORISVALDO MATTOS EDITORA-COORDENADORA NADJA VLADI EDITORA KÁTIA BORGES EDITORES DE ARTE PIERRE THEMOTHEO E IANSÃ NEGRÃO EDITOR DE FOTOGRAFIA CARLOS CASAES DESIGNER ANA CLÉLIA REBOUÇAS. TRATAMENTO DE IMAGEM ROBERTO ABREU. FALE COM A REDAÇÃO WWW.ATARDE.COM.BR/MUITO E-MAIL: REVISTAMUITO@GRUPOATARDE.COM.BR, 71 3340-8800 (CENTRAL) / 71 3340-8990 (ALÔ REDAÇÃO) CLASSIFICADOS POPULARES 71 3533-0855 / ATARDE@ATARDE.COM.BR / WWW.ATARDE.COM.BR VENDAS DE ASSINATURAS BAHIA E SERGIPE (71) 3533-0850 REPRESENTANTE PARA TODO O PAÍS PEREIRA DE SOUZA E CIA. LTDA. / RIO DE JANEIRO 21 2544 3070 / SÃO PAULO 11 3259 6111 PROPRIEDADE DA EMPRESA EDITORA A TARDE / SEDE: RUA PROF. MILTON CAYRES DE BRITO, Nº 204 - CAMINHO DAS ÁRVORES, CEP 41822-900 - SALVADOR - BA. REDAÇÃO: (71) 3340-8800, PABX: (71) 3340-8500. FAX: (71) 3340-8712/8713. PUBLICIDADE: (71) 3340-8757/8731. FAX 3340-8710. CIRCULAÇÃO: (71) 3340-8612. FAX 3340-8732. REPRESENTANTES COMERCIAIS / SÃO PAULO (SP) RUA ARAÚJO, 70, 7º ANDAR, CEP 01200-020. (11) 3259-6111/6532. FAX (11) 3237-2079 SERGIPE E ALAGOAS GABINETE DE MÍDIA & COMUNICAÇÃO LTDA. RUA ÁLVARO BRITO, 455, SALA 35, BAIRRO 13 DE JULHO, CEP 49.020-400 - ARACAJU - SE - TELEFONE: (79)3246-4139 / (79)9978-8962 BRASÍLIA(DF) SCS, QD. 1, ED. CENTRAL, SALAS 1001 E 1008 CEP 70304-900. (61) 3226-0543/1343 A TARDE É ASSOCIADA À SOCIEDADE INTERAMERICANA DE IMPRENSA (SIP), AO INSTITUTO VERIFICADOR DE CIRCULAÇÃO (IVC) E É MEMBRO FUNDADOR DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS JORNAIS (ANJ) IMPRESSÃO QUEBECOR WORLD RECIFE LTDA
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SALVADOR DOMINGO 23/1/2011
SALVADOR DOMINGO 23/1/2011
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#147 / DOMINGO, 23 DE JANEIRO DE 2011 REVISTA SEMANAL DO GRUPO A TARDE
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BEATRIZ FRANCO MODA «
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REI
Gilberto Gil fala dos efeitos da passagem dos anos sobre sua vida e sua arte