Yuri Novel

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Capas anteriores...

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Yuri Novel 

 Sinopse de Yuri Novel

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Yuri Novel conta as confusões de Luiza Luz uma adolescente que sempre sonhou em encontrar seu príncipe encantado, no entanto ela encontra alguém melhor que um príncipe, o seu verdadeiro amor. Por que o maior preconceito é o que está dentro de nós! 

Yuri Novel (1° Edição) Publicação Original: Março de 2010 Impressão: Dezembro de 2010 brasilzine.blogspot.com e-mail: mara-momo@hotmail.com

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Prefácio Este livro que você agora cara leitora ou leitor tem em mãos é uma obra escrita por mim Elba Mara Mendonça contando uma história de amor homossexual entre duas adolescentes, chamado de Yuri. Como é definido o gênero abordado no mundo animes e mangás. Essa história será melhor apreciada por maiores de doze anos, e que tenham simpatia pelo tema. Eu escrevi esse livro porque acredito em todas as formas de amar pode ter seu espaço no mundo e a tolerância possa ser o caminho para a fraternidade para com todos.

Outros trabalhos como fanfics, fanzines, tiras, desenhos nos mais variados temas:

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Agradecimento especial ao Paulo Ferreira pela a impressão dessas folhas. Aos leitores do Nyah que sempre incentivaram a conclusão dessa obra e ao mundo dos Animes e Mangás que sempre me inspira...

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Escola Colorado segundo semestre, semana de provas e tudo que Luiza Luz queria é um lugar quieto para se concentrar nas equações de matemática. Ela tentara a biblioteca, mas estava cheia, o refeitório que era muito barulhento não dava para se concentrar, nos bancos da entrada era desconfortável. Depois de reclamar para um colega, ele dá a mais brilhante das idéias: -Porque você não vai para a escadaria do campo de futebol, a essa hora ninguém fica lá? Luiza não pensou duas vezes, pegou seu fichário de usinho, sua bolsa totalmente kawaii e lá foi prevendo uma tarde produtiva enquanto seu pai não a buscava. A matemática a derrubara no semestre passado, mas não, ela não ia permitir isso agora. Nem que tivesse que abrir a cabeça e jogar essas equações, ia passar com nota máxima! Não seria derrotada por umas equaçõezinhas. Toda decidida ela desceu para o campo, sentou no topo da escadaria, abriu seu fichário, pegou a lapiseira da Pucca e antes que o grafite tocasse o papel, ela escutou um grupinho chegando para jogar, isso porque o seu colega de classe garantiu que não ia ter ninguém. -Calma, é só um bando de moleques jogando, tenho mais que me preocupar, não posso pegar recuperação. –Disse para si mesma tentando acalmar os ânimos antes que viesse uma enxaqueca.

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Com o tempo Luiza emergiu nas contas e cálculos que nem se lembrava dos garotos que jogavam no campo, a brisa era refrescante e dava uma sensação de paz. Depois de quase uma hora, Luiza olhou para aquele por do sol lindo tirou seus óculos e com um suspiro, fechou os olhos e esticou os braços para traz e então... Bem em seguida tudo que ela lembrava era de uma bola enorme vindo em direção ao seu rosto e acertando em cheio. Luiza tinha esquecido a principal lei que regia sua vida “toda bola num raio de 50 metros tende a acertá-la” e se lembrou da pior maneira possível. Tudo o que pode sentir, foi a cabeça doer tanto que não podia abrir os olhos, nem que quisesse. -Desculpe-me eu não tinha a intenção. –Um rapaz se desculpava e certamente se tivesse forças diria mais do que “Hum, ok”. Luiza tentou sentar reta mais sua cabeça girou, via tudo embaçado e tentando ficar de pé quase caiu, sobre o rapaz. -Tá tudo bem eu não vou cair. -Segurava a cabeça, como se isso melhorasse a dor. -Tudo bem, a culpa foi minha. Vou levar-la a enfermaria. -Espera! Eu não sou tão maneira assim. Em vão o protesto, o rapaz que apesar da estatura média pegou a adolescente de 42 quilos no colo com ligeira destreza. E em passos cuidadosos se dirigiu a enfermaria. Enquanto era carregada Luiza tentou olhar o rosto do seu malfeitor-bemfeitor, mas não conseguia. Estava sem óculos e o crepúsculo deixava o rosto do rapaz e meio as sombras. Luiza não vira quando chegaram à enfermaria, só se lembrou do incidente quando a dor veio à cabeça assim que sentou. -AiAih- Ela segurou a cabeça. -Não, não aperte, pode piorar. -Disse uma enfermeira colocando a mão no ombro de Luiza. A garota então olhou de relance para o espelho que estava pendurado logo a sua frente na parede branca e quando viu sua aparência disse sarcástica: -Piorar mais do que isso? –Havia um enorme galo em sua testa, além de um corte coberto com um curativo junto à sobrancelha. -Há aqui estão suas coisas, quer que eu pegue seus óculos? Luiza não respondeu só esticou a mão e quando colocou seus óculos viu que sua aparência estava pior do que vira, estava parecida com um alien que vira no cinema. Vira a enfermeira bem de perto, foi quando notara o quanto ela era jovem e bonita, tinha uma expressão alegre e vivaz. Seu jaleco branco até parecia uma fantasia, pois em nada combinava com aquela mulher moleca. -Já liguei pro seu pai, ele já está a caminho. – Disse enquanto ajudava Luiza a calçar os sapatos. -Quê?! –Fez ela uma cara de espanto incrédulo. -Fiz mal?

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Nesse instante entrou um homem alto de terno risca de giz, com os cabelos desalinhados parecia que o mundo estava acabando e parecia que o homem estava correndo para os braços da mulher amada. -Filhinha, ai meu Deus filhinha! –Dizia ele quase chorando, seu estado era lastimável e exagerado. -Pai foi só uma bolada. –Disse Luiza sem emoção imóvel nos braços largos do pai amoroso. Logo que o pai se acalmou, notou a enfermeira jovem e bonita ao lado da sua filha amparando-a com doçura. Como dramático que era em tudo que relacionava sua única filha e mulheres, em tom de sedução disse: -Muito obrigado por cuidar de minha filha, posso?- Ele pegou a mão da enfermeira e a trouxe junto a si para beijá-la– Espero algum dia poder lhe recompensar a altura de sua ação tão nobre. Antes que ele tocasse seus lábios carnudos na pele chocolate da enfermeira (que por sinal estava quase sendo conquistada) a filha o puxou pela orelha. -Vamos pai já está tarde, preciso jantar. Como que um click o jovem empresário mudou sua face sedutora para uma carinhosa e com voz afetada que só usamos com bebês. E juntos foram se afastando da enfermaria. -Está bem vou pedir seu prato preferido. -Não pai eu vou comer o frango grelhado, pizza engorda. -Também, mas de sobremesa duas bolas de sorvete. -Nem pensar você quer me engordar? Quando chegaram ao carro e o pai abria a porta para a filha se sentar, a enfermeira veio ao encontro com o fichário de ursinho as mãos. -O fichário da Luiza, ela estava esquecendo-se de levar. –Mostrou o objeto para o pai. -Definitivamente você é a mulher ideal, sempre se preocupando comigo. –Sedução ON. -Pai, o fichário é meu! –Indignou-se a adolescente. -Ora, e você não é minha? Logo, tudo que é seu é meu, e toda mulher bondosa e afetuosa (Lê-se jovem e bonita) que se preocupe com a minha linda filha merece tooooda minha atenção. Não concorda Kátia ? Corada ela apenas perguntou: -Como sabe meu nome? -Eu sempre sei o nome de quem eu aprecio. –Disse ele enquanto passava a mão no ombro da enfermeira suavemente. A enfermeira se derreteu de amores. -O senhor é tão galante. -Vamos paiii. – Luiza cortou o clima e o homem sedutor parecia ter despertado de um encanto, com um sorriso franco apenas entregou seu cartão de visita, deu a volta para entrar no carro e antes que sentasse disse alto:

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-Qualquer coisa que eu possa fazer “pela” senhorita. Estou a seu dispor. –A entonação do pela soou algo mais atrevido do que deveria. A enfermeira assentiu boba e corada, mesmo não sendo nada tímida. -O meu fichário. - Luiza esticou os braços, e como seu pai a enfermeira parecia ter sido acordada de um conto de fadas entregando-lhe o fichário. E observada pela enfermeira eles deixaram o estacionamento da escola no carro vermelho-sangue de Michel. A volta pela casa foi como sempre animada, pois o pai de Luiza adorava conversar e mesmo com a cabeça explodindo recostada no vidro ela respondia: -Ok. -Está certo. -Você tem razão. -É verdade, os garotos de hoje em dia são assim. Finalmente ela pisara em casa, assim que vira Lola a sua empregadagorvenanta-mãe a jovem desabou nos ombros maternais. -Ai Lola hoje foi um dia de cão. -É verdade Lola, acredita que tiveram a coragem de acertarem uma bola no rosto da minha princesinha? Sendo totalmente ignorado, a jovem senhora falou para sua protegida. -Certo, vamos para o seu quarto vou preparar um banho quente e enquanto relaxa vou preparar sua comida. Consegue subir? Luiza dispensara a ajuda pediu apenas que levasse o fichário e sem olhar para tráz ela subiu até seu quarto e desabou na cama. Lola arrumava o banho de espuma que Luiza tomava em dias como esse, quando saiu para preparar a comida da patrozinha, deixara a camisola separada e um analgésico. A estudante foi se arrastando até o banheiro, tirou uniforme, desfez as tranças, tirou os óculos olhou a aparência abominável no espelho oval. Por fim desabafou: -Parece que tive um encontro com Chuck Norris.

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2 O dia amanheceu dourado e Luiza Luz só percebeu a hora quando o sol tocou-lhe a face adormecida.Colocou os óculos que estava na sua frente em cima do fichário aberto, vislumbrou o relógio digital 7:30.Céus! Luiza com uma agitação impressionante colocou o uniforme, amarrou o cabelo num rabo de cavalo simples, e quando já estava colocando os sapatos a sua empregadagovernata-mãe chegou. -Você vai ao colégio? Pensei que fosse ficar pelo menos hoje de repouso. -Disse surpresa Lola. Luiza sentada com o pé esquerdo junto ao corpo enquanto respondia rapidamente: -É claro que vou, hoje é a prova de matemática do Aulicio!! Ele é uma mala, quando se trata de provas, não importa se eu tiver morta e enterrada. Para ter a chance de passar de ano com ele, tem que sempre estar no dia da prova, nem que em forma de zumbi! -Então eu vou preparar um sanduíche pra você comer no caminho querida. Lola correu para a cozinha para preparar algo enquanto Luiza terminava de se arrumar. Pegou o fichário fechando de qualquer jeito, correu em direção à porta do quarto, mas antes de um passo tropeçou no tapete rosa e caiu de joelhos. O fichário foi ao chão abriu-se e guspiu um envelope. Luiza o pegou curiosa, estava atrasada não podia perder seu tempo, apenas levou-o consigo. -Vamos Lola não posso mais esperar tenho que chegar a tempo! -Pronto querida. Boa sorte na prova. - a empregada-governanta-mãe entregou o sanduíche ali mesmo enquanto a adolescente descia a escada apressada.

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Ainda correndo quando chegou ao hall já gritou pelo motorista enquanto abria a porta da frente. -James!James!! James que na verdade se chamava Antônio do Santos, desceu a escadaria da entrada logo atrás dela. Antes que desse qualquer explicação a menina, entrou no carro de passeio, e enquanto o motorista se preparava pra sair Luiza abriu o envelope em forma de dobradura. “Desculpe-me pela bolada. Não pude ficar. Prova de matemática. Espero que melhore. Atenciosamente Dani” Escrita numa letra simplificada e clara, com as letras maiúsculas cheias de curvas dando um contraste interessante não sabia porque, mas aquele bilhete simples dera uma boa impressão. Luiza sorriu para si mesma, tinha pensado que o garoto apenas fugira depois que a deixara na enfermaria, estava enganada. Decidira naquele momento agradecer ao garoto pela gentileza, afinal tinha que pegar leve, ele também ia enfrentar uma prova de matemática provavelmente também do senhor Aulicio, que tinha o costume de aplicar suas provas num mesmo dia em várias salas. Luiza correu escadaria acima, mal notando quando a vice-diretora saiu da sua sala repreendendo-a pela correria. Apressada Luiza disse apenas a frase mágica “Desculpa, prova do senhor Aulicio” esse era o único argumento que os diretores aceitavam, afinal, todo mundo daquele lugar já conheciam a fama do professor. Que todos diziam estar lá desde a inauguração em 1949, outros iam mais longe elaboravam teorias conspiratórias de vários graus como: Dominar o mundo com sua matemática. Ser lembrado por todos nem que fosse uma lembrança ruim. Distribuir seus amargos zeros, por simples prazer de fazer o mal. A estudante já estava quase lá só mais um lance de degraus e uma curva, ela ia conseguir em tempo recorde chegar a sua sala. A última do andar a direita. Depois de pular um gato preto (o que ele fazia ali?) e de bater seu pé num vaso, depois de tudo... -Está atrasada. –Falou seco o velho Aulicio, fechando a porta bem na sua cara, um segundo antes dela chegar à porta. Parecia feito de propósito, devia estar se vingando da vez em que o mestre deu nota errada, ela havia acertado uma a mais, foi um acontecimento, pois o cizudo professor nunca errava nada. Sabia que não adiantara insistir, reza a lenda que o velho carrancudo em seus tempos áureos barrou um aluno, ele insistira e após isso o estudante sumiu. Ninguém sabe ninguém viu.

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Ela se encostou à porta bruscamente, soltou um alto “aff ninguém merece” e escorregou vagarosamente até o chão. A porta se abriu no minuto seguinte, sem esperar a jovem caiu deitada sobre os sapatos lustrados do velho professor. -Fora, está me atrapalhando. - Curto e grosso, o professor despachou a moça. Ela foi, mas não porque ele pedira (mandara) e sim porque não podia ficar para sempre deitada sob os pés do professor de matemática. Foi só por isso, a adolescente tentava se convencer. Quando a porta bateu (outra vez), Luiza se encolheu, justo dessa fez que ela tinha estudado tanto. Andando sem rumo pelo corredor lentamente e em ziguezague, a garota se lembrou da carta. Pegou ela entre os dedos e leu para si mais uma vez, e sorriu encantada com o carinho do garoto. Não era só porque era a primeira carta que recebera durante toda sua vida. Bem... Traída pela sua consciência, Luiza lembrou que uma vez recebeu um cartão escrito eu te amo e assim que seu colega de classe e melhor amigo lhe entregou isso e declarou enfim os seus sentimentos, ela simplesmente voou para cima dele e não foi para abraçálo. Luiza Luz sentiu muito ódio, como o seu melhor amigo a traíra desse jeito e agora o que sobraria da amizade cultivada desde o jardim de infância? Parecendo ou não no começo da adolescência, Luiza era bastante digamos impulsiva. Na ocasião quando seu pai foi chamado, ele ainda a parabenizou com um tapinha nas costas. Quando o repreenderam o pai se defendeu dizendo que o culpado era o assanhado do garoto. Tudo terminou bem quando Michel se responsabilizou pelo custo do tratamento do dentista e Luiza foi matriculada na aula de judô para aprender controle e disciplina. Na época a pré-adolescente achou apropriada sua reação, uma semana depois sentiu culpa, um mês depois estava arrependida, dois meses ele mudara de escola. Ela nunca soube por que (ninguém imagina né?). Como não pode mais consertar a burrada que fez, prometeu a si mesma tratar o próximo pretendente de forma mais amena (leia-se de forma a não desbocar alguém só porque se apaixonou por ela). O bilhete não tinha uma assinatura apenas um apelido Dani, que podia ser Daniel ou Danilo. Quantos teriam em toda a escola com esses nomes, impossível achá-lo só com essa pista. Bem lembrara que ele estava jogando futebol, talvez se perguntassem aos jogadores do clube quem foi que lhe tacou uma baita bolada na cara... Não eles nunca diriam. Luiza foi andando até que passou em frente da enfermaria, e como um click lembrou-se que concerteza Kátia teria visto o garoto. Animada Luiza entrou na sala, sem bater, apenas se anunciando sonoramente “Tô entrando”. Uma vez na sala a colegial viu uma terrível cena, Kátia fazia um curativo no dedão de um rapaz, possivelmente do terceiro ano. -Desculpa querida, estou ocupadíssima, parece que hoje a bruxa está solta. - Riu de sua própria piada (?)- O Nico aqui ralou o dedão, a outra menina está passando

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mal, sem falar de um garoto que caiu mais cedo na porta do colégio enquanto brincava com skate. -Não, é só uma pergunta. Antes que a enfermeira pudesse ouvir, a jovem na outra maca no fundo começara vomitar. Passando por Luiza e depois de consolar a jovem doente a enfermeira gritou: -Tem um envelope encima da minha mesa, achei hoje quando cheguei, tem o seu nome! Luiza ficou surpresa, achou o cartão em cima da mesa facilmente. Era roxo, a sua cor favorita. Seu nome estava escrito com a mesma letra do outro cartão em tinta preta, para não confundir havia a especificação “PS: A garota da bolada de ontem” logo abaixo. Contentando-se com o cartão, saiu da sala para poder ler longe das lamúrias e gemidos de dor que não combina nada com uma carta escrita por um futuro pretendente, escrita pelo seu salvador e sem esquecer algoz. Sentada na escadaria do pátio principal, leu a segunda carta assinada por Dani. “Espero que esteja bem. Queria me desculpar. Se for aceitar deixe um bilhete no mural do primeiro andar a esquerda. Escreva apenas sim ou não a pergunta: -Quer tomar um sorvete depois da última aula no Sym’s?” Luiza sorriu encabulada olhando a sua volta. Será que ele está me vendo agora? Mesmo excitada com a idéia de um encontro as escuras, a jovem exitou. Primeiro escreveu um grande sim todo redondo e com um coraçãozinho no pingo do i, depois um sim simples em letra de forma, por fim um sim com sua letra cursiva. Nunca pensou em escrever um não. Como era complicado escrever apenas um sim no papel! Até parecia que estava aceitando um noivado ou algo assim. Ela passara a manhã toda na biblioteca se decidindo, a cinco minutos do recreio, correu em disparada para primeiro andar a esquerda, bem na hora deu o sinal. Todos os alunos de todas as salas começaram a sair em conversa animada e risadas. Como uma ninja, Luiza não foi vista pelos alunos porque entrou numa porta das vassouras. Não queria ser vista, por que, ela não sabia. Só que a incomodava ele a reconhecer entre as alunas e ela não. Cada carinha que passava ela pensava: podia ser este, não, esse nunca... Só após todos desceram, é que Luiza tomou coragem para descer as escadas rumo à lanchonete do colégio. No meio de sua eterna divagação Kátia a interrompeu: -E então o que estava escrito? Kátia pareceu surgir do nada. -No quê? –Fez de desentendida tomando seu suco de laranja com canudinho.

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-Ah, não seja má! Segurei-me a manhã toda para não abrir. –Debruçou a enfermeira sobre a mesa do refeitório desanimada. Vendo a cara de jaburu da amiga, ela contou bem não exatamente tudo, omitiu a parte de se encontrar e do “sim” que deixara no mural. -Ooh! – Kátia apenas balançou a cabeça entendendo a situação. -Não me diga que você não sabe quem é ele? – Indagou a estudante. - É claro que não, ontem quando cheguei à enfermaria você já estava lá com aquela bola de golfe da cabeça.- Kátia fez um sinal imitando o calombo na própria testa. -Quer dizer que você também não o viu nem quando entregou o segundo envelope? -Não, eu não disse que encontrei quando cheguei para trabalhar? As duas cruzaram os braços pensativas. Nenhuma pista, de qualquer forma, até o fim da aula ela o conheceria. Depois de muito pensar a enfermeira lembrou-se de um detalhe do dia do acidente. -O quê?! Lembrou de algo? -Sim, olha ontem eu estava tomando um cafezinho na sala dos professores, daí apareceu um aluno se não me engano era Daniel Vargas do terceiro ano A. Foi ele que me avisou, que tinha uma aluna que levara uma bolada. -Então é claro que é ele! O cartão está assinado Dani, Daniel é claro! – Disse Luiza animada como se tivesse resolvido o maior dos enigmas. Quando Luiza tomou noção do que havia dito, ficou iluminada pela luz da esperança. Vou explicar os sentimentos de uma pobre CDF fashion (Lê-se esquisita), por qual ninguém mais ninguém menos que o galã mais rico da escola fora notada, a ponto de querer um encontro apenas para se desculpar. É fato que ele também era o mais galinha da escola, o que mais se acha, mas ser vista com ele... Melhor, tirar uma foto, isso seria um máximo! Imagina gabar-se de ter saído com o melhor partido da escola? Definitivamente ela deixaria de ser a CDF fashion e petulante para se tornar “A garota do momento”. Luzia respirou apaixonada, imaginando tal coisa virando realidade. Ela só voltou a si quando viu a vice-diretora plantada a sua frente com a mão na cintura, fuzilando-a com o olhar em seu terninho justo que a deixava ainda mais esguia. -Senhorita Luz, a senhorita não devia estar na sala de aula? -Ãh? Ah!! É. – Saiu num risco só. - Da próxima vez será detenção hein?! –Apontou para Luiza que naquele momento ia longe. Todos morriam de medo da detenção, os bons alunos não sabiam o que era e quando vinham à saber, não gostavam da experiência e nunca mencionavam o que haviam passado.Agiam como se fossem um ex-combatente de guerra. 12h10min... 12h12min... 12h14min Eeeeeeeeee Déééééééééeééhhh!!!!! Um sonoro sinal ecoa por todos os corredores do Colorado e Luiza Luz voou para o banheiro. Nem sequer esperou seu amigo Rúlio (esse nome existe?) que cá entre nós era um fofoqueiro de plantão e não conseguia guardar nada para si, por muito tempo. Por isso achou melhor evitar vê-lo antes do grande ‘encontro’. O dia em

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que ela viraria a “Garota do Momento” (Leia em um letreiro colorido bem acima de sua cabeça). Luiza passou um leve gloss sabor uva, soltou os cabelos do laço vermelho, trocou os óculos fashion por um simples de aro negro que deixava mais visíveis seus olhos cor de mel (usados em momentos como esse, guardado no seu fichário cheio de bolsos internos, concerteza presente da CIA) E antes de sair treinou umas caretas sexys, cômicas e kawais. Por fim jogou o cabelo de lado deixando-a mais interessante. Com a roupa, pouco pode fazer. Se soubesse teria ido com seu macacão-saia que adorava, porém convenhamos não era sexy, mas a deixava muito fofa. E em vez dos sapatos simples pretos, colocaria aquela sapatilha que ganhou mês passado do pai, era delicada em um tom roxo combinaria bem com esse tempo quente. Fazendo então milagre, vestindo o uniforme da escola, uma blusa branca com dizeres em preto e vermelho no peito e uma bermuda jeans que estava a dois dedos do joelho (porém tinha uma dobra para poder enganar a diretora fazendo ficar a quatro dedos do joelho se assim desejasse) Luiza então se encheu de coragem e desceu como uma diva da moda pela escadaria, andou a passos rítmicos até o Sym’s, a alguns passos da sorveteria ela já visualizara o rapaz; Daniel Vargas, sentado na mesa em frente a sorveteria tomando um refrigerante de limão, de calça Jeans, blusa pólo e All Star nada mais básico e ao mesmo tempo nada mais belo em sua beleza latina. Luzia não pensou meio segundo, mesmo com as pernas bambas a boca seca, ela chegou de modo mais casual possível. -Oi Danny, demorei muito? –Falou em tom amigavelmente débil. Ele fez uma cara de surpreso. Ela sentou mesmo sem obter a resposta, estava com as pernas bambas demais para esperar. Daniel olhou para os lados esperando ser uma brincadeira dos rapazes do clube de futebol. -E então estou aqui. -Sorriu Luzia desajeitada tentando mostrar uma falsa segurança. -É você está aqui. – Completou ele a frase em tom confuso-surpreso. Um segundo se passou e ele tentando não ofender, mas já ofendendo falou baixinho pendendo-se para frente apoiando em ambos os braços. -Só uma pergunta, por que está aqui? -Por quê?! – Ela devolveu a pergunta, confusa. Antes que a jovem conseguisse formular uma resposta coerente, Daniel pareceu ofendido e saiu como se uma louca tivesse apenas sentado em sua mesa agindo como se o conhecesse, na verdade foi exatamente isso o que acontecera, mesmo não fazendo sentido algum para ambos. Luiza Luz esborrachou na cadeira fofa, com a mão em frente ao rosto, tentava entender o que aconteceu. Que vergonha passara. Que esnobada foi aquela? Será que ela se enganara?Não podia ser, só podia ser ele. Luzia não entedia o que

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tinha errado, revisou mentalmente todos os motivos porque achara ser Daniel, que mandara os bilhetes e não via nenhum erro. -Oi desculpe a demora. Uma voz suavemente rouca entrou em seus ouvidos acordando-a de seus traumas para mais uma enxurrada de novos traumas fresquinhos para lidar. Quando ela olhou não acreditou, nunca pensou que poderia ser justo... Justo uma garota?!! Dani sim era uma garota, e apesar de sua aparecia ambígua era muito bonita. Tinha belos olhos negros, cabelos curtos e desfiados, com um aplique azul do lado esquerdo, que por sinal era bem fashion. Vestia a blusa do colégio no modelo regata e uma bermuda-calça que terminava no começo de tornozelo. Usava um tênis para praticar esportes, com detalhes em azul bebê, sua mochila não devia nada a de um garoto. Chaveiro de bola de futebol, caveiras: azuis, roxas e rosas, um hominho jogando bola, além de broches de animes. Ela não usava brincos, nem relógio, mas carregava seu celular no bolso com um pingente de olho que ficava para fora do bolso. Nem precisava falar que ela não usava nenhuma maquiagem e para a admiração e indignação de Luiza mesmo assim ela era muito bonita, pele perfeita, olhos expressivos, boca bem talhada com lábios sensualmente finos. Mesmo sem ser convidada, a jovem jogou sua mochila ao pé da mesa e se sentou na frente de Luiza que olhava-a de maneira estupefata. A jovem sorriu encabulada e olhando por um momento para o chão para achar coragem para encarar Luiza se apresentou: -Oi eu sou Dani. -Foi você que acertou aquela bola na minha cara?!! -Perguntou sentindo uma pontada de dor na testa. -É, eu mesmo. –Disse apertando os lábios, tensa. Luzia apenas a olhava com uma cara de então-você-é-o-culpado-digo-aculpada-? Se não fosse pelo garçom que as atendera, era bem provável que naquele instante Luiza pularia em fúria em cima da garota, que apesar de ter um corpo de atleta não era muito maior que nossa protagonista. Luiza não sabia se estava com raiva de ter levado uma bolada ou por suas fantasias de romance no colegial têrem sido jogadas ao vento. Ela ainda estava na defensiva quando Dani se explicou. -Desculpe por ter acertado a bola em você, eu não pude ficar até alguém chegar porque eu tinha reforço marcado e sabe eu sou péssima em matemática. Semestre passado eu tirei 55 pode acreditar? -55? Nossa eu também!-Luiza se animou ao saber que o infortúnio de ser péssima em contas não afetava somente ela, mas lembrando que estava com raiva, frustrada e envergonhada ela calou-se abruptamente. Deixando a garota encabulada alisando a mesa.

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3 Queria se levantar; sair correndo daquela sorveteria e esquecer que tudo isso acontecera. A bolada, a prova que não pode fazer e principalmente essa, esse, isso... Luiza se continha, pois apesar de ser impetuosa ela sempre pensava nos outros, não queria ofendê-la deixando-a na mesa, e muito menos criar qualquer laço com ela. Vamos à realidade: Brasil+Cristianismo= homofobia, essa era a matemática da realidade e mesmo que achasse kawaii histórias de mangás e animes yuris, a realidade brasileira era muito diferente! A cinco segundos de tentar enfim dispensar Dani eis que surge como que por mágica. Adivinha quem? Seu papai. Muitas vezes Luiza desconfiava se seu pai era mesmo um empresário bem sucedido, por dois motivos: 1. Ele era totalmente sem noção. (Denominação dada a qualquer um que usa ternos caros, chamativos e bregas. Sua aparência se assemelhava a um gigôlo de filme e seu perfume era tão másculo que se tornava selvagem) 2. Ele não podia ser tão inteligente. (Como alguém como ele não pode perceber quando não é bem-vindo? E principalmente como não nota quando a está fazendo passar vergonha?!) - Ainda bem que te achei. – Ele vinha vindo!! Ele vinha vindo!!

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-Pai. –Disse ela em tom de “O-que-você-está-fazendo-aqui?” disfarçado de “que bom te ver”. -Você não deve fugir do motorista sabia mocinha? É pra eu te dei aquele celular último tipo? Concerteza não foi pra deixar ele desligado sabia? – Mesmo parecendo frases coerentes com a realidade, a cena ficava cômica, porque Michel simplesmente parecia jovem demais para ser pai. -Desculpe senhor, foi minha culpa... -Culpa? –Virou ele para Dani, confuso e ao mesmo tempo interessado, como um mafioso que escuta seu subordinado se confessar antes de uma misericordiosa bala. -Essa é a Dani papai, ela precisava de uma ajuda em biologia pra ontem, desculpe foi uma emergência. – Falou atropelando a garota antes que houvesse um banho de sangue, seu pai ficaria louco de ver sua filha confraternizando com seu algoz. Como se não houvesse a diferença entre tomar tiro ou levar uma bolada. O rosto sério e másculo de Michel se transformou num rosto alegre e feliz por sua menininha ser tão bondosa. Uma boa característica que vocês deveriam saber quando cruzar com Michel pelo caminho é que, é muito fácil deixá-lo feliz, mas também tão fácil é fazê-lo enraivecer, principalmente se o assunto for sua filhinha. Sabendo disso habilmente a jovem salvou Dani de grandes problemas, mesmo não sabendo bem porque de seu ato, assim o fez. Talvez fosse sua bondade de devoção ao próximo, pensou ela com a alma leve de quem acabou de fazer uma boa ação. Enfim os sorvetes de uva e de creme chegaram, e como se Michel tivesse pedido foi logo atacando o de uva com cobertura de chocolate. -Uhhhhh!!! Que delícia!!!-Gritou ele feito criança. Dani e principalmente Luiza ficou olhando para Michel espantadas com a falta de elegância e bom senso. Porque raios ele havia pegado o sorvete que era de Dani?! -Pai?!! –Tentou chamá-lo a realidade. Quando ele a fitou, Luzia fez sinais de “Esse-é dela-pai”. E retornando a si depois de surrupiar o sorvete alheio Michel pediu desculpas, havia se esquecido da garota. E para se desculpar, como sempre ele fazia, (só com garotas) convidou Dani para jantar em sua casa. Daniela ficou sem graça, esfregou as mãos nas coxas ao mesmo tempo fitando a cara feliz de Michel e o rosto cadavérico de Luiza, mas sem ter muito o que fazer aceitou. Oito e meia, Condomínio sul, casa rosa com duendes no jardim, bem especifico não? Parecendo fugir de uma tempestade Daniela foi embora, se despedindo educadamente. Na sorveteria e já passando da hora de Luiza Luz ir para o cursinho de inglês, ela indaga o pai irritada: -Pai por que você a convidou para ir lá em casa?- Ela fez uma cara de indignada e completou- Não me diga que você...

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Dito nas entrelinhas Michel entendeu e abanado a mão como que querendo amenizar esse pensamento ridículo, e por fim falou calmo: -Não é nada disso, eu só acho que deveria estreitar amizades com suas colegas de classe. Sem falar que ela me parece uma boa menina. Quem não conhecesse Michel como sua filha o conhecia diria “Nossa que bom pai”, mas sua ação não era nada fraterna, ele apenas queria afastar os amigos de Luiza o máximo possível, principalmente Rúlio (definitivamente esse nome não existe) que era o amigo mais chegado, tão chegado que passava mais tempo com sua filha que com os próprios pais. -Sei. –Disse Luiza Luz com aquele tom de “eu-te-conheço-quer-enganar-quem?”. Assim sendo a conversa não se estendeu muito, porque seu pai atendeu o celular que sempre tocava em momentos oportunos, sempre. -Alô? Como? Onde? Deixa comigo vou resolver isso agora. –Michel olhou para filha só a tempo de dizer um tenho-que-ir-querida, Luiza assentiu conformada e aliviada, porque por mais que amasse seu pai ele era como uma mulata de carnaval no meio da avenida todo mundo olhava. E o anonimato pelas ruas daquela cidade sempre a animava depois de um dia do cão que ainda nem havia terminado.

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4 A noite chegara, trazendo aquele vento suavemente frio como Luiza gostava, depois de um dia quente daqueles. A lua refletia no canto do espelho da penteadeira placidamente, espiando-a se maquiando, algo simples e luminoso enfeitava seus olhos combinando perfeitamente com o seu tom de pele morenabronzeada. Prendeu o cabelo de lado, acima da orelha esquerda com uma presilha de estrela. Vestia um vestido branco, sandálias com salto baixo com enfeites em prata assim como a presilha do cabelo. Estava linda, não é preciso nem dizer. Deslizando os dedos longos pelo corrimão Luiza Luz descia pela escada principal com desenvoltura de uma jovem princesa. Iluminada pela luz do luar através da janela central, ela parecia um anjo. A capainha soou tão logo Luiza Luz levou os pés ao terceiro degrau da escada coberta de veludo. Lola saiu da sala de jantar correndo em seus passos miúdos, abrindo logo a porta para a visita. Como era de se esperar Dani estava ali, mas ao contrário do que Luzia esperava, ela parecia realmente uma dama agora. Com os cabelos alinhados num negro perolado e um vestido azul-marinho a dois palmos do joelho, seria discreto se não fosse por deixar mostra a pele alva da jovem.

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Esculpida pela prática de esportes Dani tinha um corpo perfeito. Luiza sentiu uma pontada de inveja, e demorando mais a cada passo aproveitou para observa - lá tentando encontrar a garota-menino que encontrara pela manhã. Daniela educada pediu licença, entrou e logo vislumbrou a figura de Luiza vestida com um vestido tubo totalmente colado, ressaltando as curvas femininas enquanto descia a escadaria. Chegando ao pé da escada esperou a amiga para lhe dar a mão e se tocaram amigavelmente. Daniela sorriu encantadoramente, Luz enrubesceu, não sabia bem porque, mas sentiu vergonha do que pensou que Daniela queria dizer com aquele sorriso. Talvez um “Você está especialmente linda está noite” como nos livros de romance quando o mocinho encontrava sua amada em uma noite de gala. Mas nada assim ouviu e quando se pegou lamentando viu que era a coisa mais estranha que já pensara, por que raios ela iria querer um elogio vindo de... Lola cortando esse silêncio descomunal disse que estava quase pronto o jantar e como sempre seu pai ligara dizendo que se atrasaria um pouco, que aqui quer dizer: muito mesmo. Com um suspiro resignado Luzia convidou a visita para se sentar na sala de estar, mobiliada com móveis antigos com detalhes modernos. Assim que se pôs de frente para a garota, Daniela por sua vez se explicou: - Está achando estranha minha roupa, não é? –Sem reposta continuou. - Quando a minha mãe soube que fui convidada para jantar com o Sr. Michel ela vez questão que eu me vestisse “adequadamente”. Depois de uma pausa enfim com uma pontada de inveja Luz confessou. -Não, você está linda, realmente este modelo combinou com você. -Acha mesmo? –Sorriu encantadoramente Dani, fazendo Luiza abaixar os olhos fugindo do estranho fascínio que ela exercia sobre si. -Oooahhhhh! – Fez Dani entusiasmada. Quando Luiza levantou os olhos viu Dani sentada a seu lado com uma expressão de deslumbramento, a jovem de branco enrubesceu uma vez mais. Daniela tocou os cabelos lisos da amiga especialmente na presilha semi-jóia. -È linda essa estrela, é da coleção semi-jóias da Larry, não é?-Com pesar completou- Pena que era exclusivíssima, eu queria ter comprado a da caveirinha, mas minha mãe comprou só a da maça e do coração pra mim. -E porque sua mãe não comprou logo todas? -Porque minha mãe odeia tudo que é caveira, despojado ou eu vestida com tudo isso! –Disse ela em tom de deboche. Ambas riram juntas baixinho como garotas rindo do mico de outras amigas. Despretensiosamente Dani passou a mão sobre a da nova amiga, parecia tão natural que Luz não fugiu ao toque, ao contrário do que imaginou, Daniela era muito gentil. Com esse primeiro contato, sentadas uma de frente para outra, tão próximas que podiam sentir seus joelhos se tocarem, pareciam ser amigas há anos. Luiza Luz

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logo começou a conversar animadamente, ela não podia acreditar em quantas coisas tinham em comum. Ambas gostavam de filmes de comédias. Ambas eram ruins em Matemática. Ambas tinham pais estranhos. Também ficou sabendo que Daniela era órfã de pai, que sua mãe era uma atriz de sucesso, que herdou uma imensa herança do pai. Seu sobrenome era Moraes Neves e estudava no 3° grau sala A. E que nunca tinha tido uma amiga, só amigos, assim como Luz que só tinha um amigo e zero de amigas. Em suma essas duas colegiais se completavam assim como sorvete e chantili. A conversa rendeu tanto que quando olharam o relógio já estava perto das dez e o anfitrião? Nem sombra dele!! Mas isso já não importava mais, estava se dando muito bem com sua nova melhor amiga, era ótimo confessar com uma menina, porque tinha coisas que os meninos simplesmente não entendiam. -O seu perfume é da Winton Teens, certo? –Estreitou os olhos sensualmente a jovem de vestido azul-marinho. - Você conhece? Eu amo os cosméticos dessa marca. -Minha mãe usa, ela se recusa a ser uma adulta, ela tem quase trinta e quer se portar como 15... È hilário. -As meninas da minha classe não gostam falam que de meio de pré-adolescente. – Disse chorosa. - Nada, esse perfume é perfeito para você. Jovem e Fashion... –Sussurrou sedutora com sua voz meio rouca. Como alguém podia conseguir ser tão despretensiosa e ao mesmo tempo tão... -CHEGUEIIIIIIIIIIIIII!!!!!!!!!!!!!!!! – Um grande grito ecoou pela espaçosa sala de visita. Era Michel em seu terno vinho, cabelos alinhados e como sempre animado, apesar de ter passado o dia todo revisando papeis na empresa, parecia viver no 220. -OOOh! Vejo que nossa visita já chegou. –Disse ele sedutoramente cômico. -Olá senhor M. - Cumprimentou educadamente a visitante. Nesse momento Luiza percebeu o quanto eles se pareciam, agora entendia de onde vinha a familiaridade que sentia, enquanto conversavam a instantes atrás a única diferença evidente seria que Daniela era ponderada em seus atos e até um tanto tímida enquanto seu pai era muito extravagante e sem-vergonha, mas algo eles tinham em comum, ambos emanavam uma sensualidade natural. Como esperado o jantar fora normal, bem se agüentar o interrogatório de Michel a mesa, suas declarações de amor a filha, assim como ressaltar infindáveis vezes como Daniela estava linda fosse algo normal, então fora um jantar perfeito regado a muita salada e grelhados. Perto da meia-noite, assim como nos contos de fadas, em frente a mansão Dani se despedia de Luz. -Acho melhor me apressar. Depois da meia-noite eu volto a ser eu mesma. –Riu Daniela de seu próprio comentário.

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Luiza deu meia risada, sabia o que a amiga queria dizer. E depois tentou se despedir, primeiro estendeu mão de longos dedos que foi apertado com delicadeza e ao mesmo tempo de modo firme, pelas mãos de dedos curtos e redondos de Dani. Era só um aperto de mão e ambas pareciam encabuladas, no fundo elas queriam se beijar como qualquer garota faria, mas elas não sabiam por que isso pareceria íntimo demais para as duas. Por fim assim que soltaram as mãos Daniela, afastou-se de costas em passos miúdos, acenando, sofrendo por partir. -A gente se vê na segunda!! –Gritou Luz quando a jovem estava já estava no meio do caminho até o portão. Dani se virou e acenou em resposta. Assim que Dani entrou no táxi, Luz suspirou e entrou resignada de braços cruzados satisfeita por ter conhecido melhor Daniela Moraes Neves e pensar que a achava tão estranha quando a conheceu. Talvez ter uma amiga lésbica não seria assim tão ruim.Até poderia ter mais chances com os garotos dos time de futebol, pensou animada enquanto adentrava sua casa. Michel estava descendo a escada em seu traje de dormir, um pijama vermelho com losangos riscados em linhas finas e preenchidos no centro de vinho. - Já foi? -A-han. -Ela é uma boa garota, acho que vão se tornar ótimas amigas. -Acha? –Perguntou desconfiada ao pé da escada. -Claro, porque não. Ela é uma menina gentil, simpática. Viu como ela estava linda no jantar, acho que a única coisa que lhe falta é mais vaidade. -É. – Disse Luz enquanto subia os degraus ficando de costa para seu pai. Luiza Luz riu baixinho, ele nem sabia a metade da missa. A segunda coisa que Michel mais odiava depois de aprontarem com sua filhinha, era sem dúvida alguma fu-te-bol. Tudo porque em sua adolescência quando depois de pedir, implorar e por subornar o professor de Educação física. Michel se tornara o capitão da Sala e simplesmente eles perderam para todas as outras salas. Depois desse acontecido, seu pai ainda garoto abandonou o gosto pelo esporte, jogou fora as camisas do Brasil, deixou sua bola mofando na garagem e foi em busca de um novo destino. Luiza Luz não sabia como ele reagiria ao saber que a bolada que levou, foi dada por Dani, uma jogadora de futebol. No entanto, isso a meia-noite e meia não tinha muita importância, então ela nada falou até porque tivera uma boa impressão da garota, só uma coisa realmente a chateava: Daniela tinha mais peito do que ela! Luiza Luz era realmente linda, cabelos castanho-sedosos, olhos de vitrais verdesclaros, um corpo curvilíneo e tudo o que faltava eram seios maiores! Seu maior sonho era colocar um silicone e apesar de pirado, seu pai não o era o suficiente para deixá-la fazer uma operação. Queria tanto ter seios maiores pensou Luz, colocando as mãos sobre eles se lamentando com um suspiro.

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-Filha quer que leve um leitinho quente, pra você? -Pai eu já tenho 15 anos, tenho que manter meu peso! -Tá, ta já sei “o peso”. - Fez ele com os dedos. E mudando completamente de assunto Michel correu até a filha deu um abraço quebre-osso e um beijo forte na bochecha e disse aquele “Boa noite filhinha” com a voz docemente enjoativa, de modo infantil.

5 A semana começou mais uma vez... O professor Áulicio estava especialmente inspirado, logo pela manhã de segunda. Um sermão ponderado e ao mesmo tempo tedioso foi feito em relação ao fato da CDF mais fashion que existe, ter tirado um lindo e redondo zero. Mesmo sabendo que todos ali presentes virão a cena da semana passada, pois todos estavam ali nos mesmos lugares esperando a derradeira prova Senhor Áulicio, um velho bem velho mostrou a prova em branco e como um profeta anunciava: -Viu é isso que acontece quando não se chega no horário! Vocês acham que numa oferta de emprego eles vão esperar vocês, ou numa prova para entrar em uma faculdade? Luiza Luz massageava as têmporas, isso era muito para sua personalidade forte, olhou-o com puro ódio e como salva pelo gongo, uma mão amiga surgiu pousando pesada no seu ombro esquerdo. -Num liga não eu também tirei zero, óh.- Era Rúlio (é isso mesmo, não é Túlio) ele como de praxe tirava sempre notas baixas em todas as matérias. Ser igualada a ele era péssimo, mas poder sentir seu companheirismo era tudo que ela precisava para sorrir e se acalmar.

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Luiza Luz não respondeu ao amigo, no entanto sorriu divertida com uma expressão de “só você mesmo”. -Vejo que a senhorita Luz e o senhor Rúlio, não estão preocupados com o fato de ficarem de recuperação nas férias de fim de ano. –Disse o velho roucamente fuzilando-os com o olhar. -Senhor? Não, pode me chamar só de Rúlio, chefia!-Disse o aluno com camaradagem. O velho pareceu ficar de todas as cores do arco-íris, tamanha sua raiva. Áulicio, um velho austero abominava gírias, para ele era o mesmo que palavrão. Rúlio como sempre, não se intimidava com nada, matinha sempre a expressão leve, o que deixava o professor louco da vida. O rapaz não tinha medo de nada; não tinha medo de expulsão (sua mãe era a maior benfeitora do Colorado), não tinha medo de Áulicio ( Como não tinha medo de ninguém) e nem ligava para as notas vermelhas, em todas sem exceção. Rúlio para Luz era uma figura; era amigo de todos, desde valentões a nerds. Simplesmente existia uma coisa naquele garoto, mesmo sem nenhuma habilidade para a vida escolar, ele conquistava as pessoas pelo seu modo simplista de ver vida. Sempre tranqüilo e risonho. Ele era amado por todas os professores por sua despretensão, pena que isso não acontecia com Áulicio, que odiava puxa-sacos e amava gênios latentes da matemática.. E mais uma vez, precisamente pela 45° vez o garoto foi “convidado a se retirar” como dizia o professor, que nada mais é do que expulsá-lo da sala de aula. E dessa vez Luz foi de companhia, após dar uma risadinha quando Rúlio passou perto dela e imitou o jeito do professor dizer “Você está convidado a se retirar”. Era só a primeira aula de uma segundona e lá estava eles segurando “baldes d’gua” no corredor do terceiro andar, pouco ainda iluminado pelo sol da manhã, pertos das réplicas de Monalisa e de Estudo de Nenúfares, obras de pintores distintos e famosos, (bem é o que diziam os livros de arte). -Aff, que velho pé no saco! –Desabafou Rúlio, jogando as mãos atrás da nuca. -Nem me fale, a vontade era de lhe dar um chute bem naquele lugar, por causa dele eu nem vou poder participar do teatro de Natal desse ano. –Luiza misturava ódio e tristeza na face redonda. Rúlio então do nada brincou: -Ei Luzinha, que tal a gente dar uns beijinhos pra matar o tempo? -Como você é baka.Pare de me zuar. – O empurrou amigavelmente o amigo que se jogava para cima dela. Mesmo assim achou estranho, Rúlio nunca falara algo assim, bem, ele estava mesmo meio estranho desde o dia que fugira dele para encontrar Dani, o seu príncipe, ou melhor, para encontrar Dani uma menina-macho. Pensou que seria bom esclarecer, não isso seria como uma confissão de amor do tipo “não fique com ciúme não fiz nada de errado”. Então foi que Rúlio tomou postura e perguntou tentando parecer desinteressado:

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-Ooooh... Né por nada não, mas por que você fugiu de mim naquele dia? -Hum... –Era uma longa história, e ela não queria explicar tudo, principalmente a parte de levar um fora de Daniel Vargas, então apenas disse que foi encontrar seu pai no Syn’s o que não deixou de ser verdade. Rúlio acenou a cabeça em positivo, como que entendesse. No instante em que ela encostou-se à parede do corredor aliviada, ele a olhou daquele jeito “Por que mentiu para mim?”.

6 A semana após isso correu como água, prova de Física, de Português, de Biologia, de Política, História etc. Luiza mal teve tempo de respirar e mesmo assim, hora e outra procurava um momento para olhar as ligações não atendidas do celular. Por que ela estava tão ansiosa? Não sabia, só porque você dá o número do seu celular para alguém não quer dizer que ela vá ligar, afinal, aquele jantar foi apenas por compromisso, talvez até tenha odiado aquele jantar ou quem sabe até odiado sua companhia. Sua memória a censurou “Não foi bem assim querida”. É verdade foi pior, Luz chegou a ver Dani no intervalo na segunda feira, só que em vez de abrir um sorriso e dizer “oi” ela colocou seu livro de História enfrente ao rosto, colado a testa pedindo a Deus que ela não a notasse . O único que notou a cena esquisita foi seu melhor amigo, que vinha chegando pela porta do refeitório atrás dela. -Ei que isso? De quem está se escondendo? -Eu? – Gaguejou surpresa, fazendo bico de mentira completou- Eu estava tentando ler a legenda dessa foto aqui.

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-Hum?-Respondeu tipo com o tom de “mais uma mentira”. E o pior das mentiras é que pessoas desavisadas podem achar o que quiser, e uma pessoa desconfiada, principalmente a que tem motivos para desconfiar, sempre tiram as piores conclusões. E foi uma dessas piores conclusões que Rúlio tirou. Naquele exato momento em que cruzou a porta do refeitório com um suco em mãos para Luz, ele vira a jovem olhando nervosamente para o grupo de jogadores da equipe vencedora da competição de Salas pela vaga “De melhor time do colegial da cidade” o 3° A. E entre eles lá estava o queridinho da escola Daniel Vargas, alto, bronzeado, com aquele sorriso de propaganda de pasta de dente. Era óbvio, pelo menos para Rúlio que Luz estava escondendo-se dele por que era muito tímida para olhar para o jogador depois daquele encontro. Sim aquele encontro equivocado, que olhando de longe parecia ser um belo de um encontro!Rúlio se enfureceu, odiava esses boybands que ficava com todas as garotas só porque era bonito e invejava-o agora mais do que nunca. Com esse espírito de ciúmes o amigo de Luz “jogou” a garrafinha de laranjada na mesa, mal-humorado. Luiza Luz fez que não notou, não queria tentar explicar porque se escondera a atrás de um livro, para não olhar para uma garota. Simplesmente ela mesma não entendia o magnetismo que Daniela exercia sobre ela, a ponto se ver pensando nos momentos desde que se conheceram até o “a gente se vê na segunda”. Nunca sentira isso por ninguém, nem pelos seus milhões de amores platônicos da época da 5° série do fundamental. Então resumindo, ela ignorou Dani. Que devia ter ficado chateada e deixou Rúlio mal-humorado por não dizer a verdade, ou seja, das três pessoas mais importantes em sua vida (e uma delas não é seu pai) duas estavam chateadas com ela. Luz nunca deixava transparecer, mas ela se importava muito com seus amigos, tanto que ligou umas mil vezes tentando explicar para Rúlio que achava que estava apaixonada por uma garota. Era essa sua conclusão até aquele momento, veja os sintomas: -Pernas bambas. - Vergonha em apenas dar um oi. -Ansiedade por encontrá-la outra vez. -Satisfação só de vê-la. -Coração disparado. -Corava quando a olhava. - Sonhos românticos. Depois de listar os sintomas tocando em seus dedos marcando todos os que sentia, Kátia a enfermeira, ouvindo tudo sentada em sua cadeira soltou um suspiro de “Eu sinto muito sua doença é grave”. -O quê? Você acha que é grave?- Perguntou assustada a colegial inexperiente.

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-Sim, Gravíssimo!! –Falou em voz grave e notória de um cientista-Baseado em meus estudos, isso é... –A enfermeira vez suspense. -É... –Imitou Luz a todo ouvidos. -Paixonite aguda. –Terminou por fim com uma expressão cômica. Luiza inclinou-se para o lado como se caísse. Assim que se recobrou levantou-se brandindo: -Eu venho aqui te pedir ajuda e você zoa comigo? Kátia fechou o cenho, séria disse: -Não estou zoando! O que quer que eu diga, “parabéns você descobriu que é lésbica!”? Luz se amuou na cadeira, ouvir a palavra lésbica tornava as coisas ainda mais complicadas e confusas, o que fazer agora? Para iluminar as trevas da dúvida que pairava em torno de Luiza, como uma aura negra, Kátia pensou em algo. -Ei não é tão mal assim, talvez você só esteja enganada. -Enganada?! – Uma esperança surgiu na face triste de Luz. -É sabe, a adolescência é tempo de descobertas, às vezes por falta de experiência interpretamos mal nossos sentimentos, talvez o que você senti é apenas afeição sem nenhum cunho sexual. Você deve ter se identificado com ela, ter descoberto mais coisas em comum do que imaginava e acha que pelo fato de querer estar junto a ela a faz pensar que é lésbica. O rostinho de Luz iluminou-se a perspectiva de ter interpretado mal seus sentimentos, que era meio absurda, mas para ela era mais fácil de aceitar do que a idéia de estar apaixonada por uma garota. Então se levantou animada livre de seu sofrível problema como que deletados, deu um tchau alegre e agradeceu a conversa, ia saindo esfuziante pronta para encarar Dani como só mais uma amiga, foi quando a voz de advertência ecoou igualzinha aquela que escutamos quando, achamos a solução, mas que antes há uma condição.Antes de sair da sala, junto a porta escutou ainda: -No entanto se você ficar em dúvida, faça o teste. -Falou Kátia ainda sentada em sua cadeira. -Que teste? -De um beijão nela, se você não gostar é porque você não é lésbica. -Disse como se fosse algo tão simples assim como testes de personalidade. -E se você gostar... –A enfermeira nem precisou completar. Luiza Luz não disse nada apenas se despediu, mas mais do que queria admitir aquilo que a enfermeira disse a tocou fundo. Um beijo. Apenas um beijo e saberia se gostava de Dani, e tudo o que separava entre ser lésbica ou não estava em apenas um sentindo, o de gostar de beijá-la.

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7 Sexta feira última prova e na primeira aula livrou do peso de estudar todos os dias naquele ultimo mês, podia descansar tranqüila. Mesmo sem fazer a prova de matemática Luiza já teria média para passar. Tudo estaria bem naquele final de ano escolar, se não fosse aquilo que martelava em sua mente. Ser lésbica ou não ser, eis a questão? Depois de um recreio animado, junto aos colegas de classe que comentavam como ia ser aquele fim de ano. Naturalmente o 1° Ano não tinha formatura por isso a escola organizava uma festança no salão do Colorado, com músicas comidas e enfadonhos discursos dos melhores alunos. Esse era o ápice da vida escolar no Colorado, quando calouros do primeiro eram olhados pelos seus senpais com outro ar, era hora de estreitar laços, planejar viagens em grupos e por que não começar a paquerar aquele gatinho que você olhou o ano todo? O que perderiam? Provavelmente na primavera do ano novo esqueceriam os foras e beijos para se concentrarem de novo nos estudos ou com os novos calouros.

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Essa época sempre fora muito especial para Luiza Luz, mas agora?Sentia uma pontada amarga no peito, com o fim das aulas provavelmente estaria ainda mais distante de Dani. Como sempre, apesar do fim do ano, professor Aulicio lá estava com seus problemas e questões, era o ó ter que fazer revisão da prova, principalmente quando ela já fora impedida de fazê-la antes, tinha certeza que fora aprovada mesmo tirando nota vermelha em matemática. Não tinha porque não o ser, teve um ano impecável participou de aulas extracurriculares de canto, dança e teatro. Quem em sã consciência lhe negaria passá-la? Mesmo assim, com tanta convicção nada mudava o fato que se não prestasse atenção a aula e fizesse os exercícios poderia perder pontos na média final e assim correr um grande risco. Uma cópia da prova era passada na lousa pelas mãos velhas do professor, que fazia isso com maestria sem precisar olhar na prova. Era só mais uma aula tediosa e contas difíceis, mas por incrível que pareça milagres acontecem (mesmo ainda não sendo natal) e um rapaz franzino com sua fantasia costumeira de mascote do time de futebol, chegou correndo com todo pique parando junto à porta, e detalhe sem parar de correr. O velho professor apenas relanceou os olhos em direção ao mascote mais gay do mundo. E como que por telepatia Aulicio assentiu, e assim lá se foi a águia que mais parecia uma franga avisar a outras salas. -Bem, caros alunos como devem saber –Aulicio esfregava as mãos feliz- Hoje é a penúltima partida para a taça de melhor time escolar regional, por isso peço que torçam por vossa escola. Então sem algazarra... Todos então desceram animados juntos em coro brandindo o grito de torcida com as outras salas, se não fosse pelo futebol (segunda paixão de Aulicio) eles todos estariam encrencados. Para Luiza Luz fora uma surpresa saber que hoje era a penúltima partida para a taça T.M.T.E.R, isso porque todos deixaram de vir de uniforme para colocar as cores do time vinho-branco, sem falar que três das garotas de sua sala eram da torcida organizada e passaram o dia vestidas a caráter prontas para torcer. Realmente Luz estava no mundo da lua, pouco se importou com o jogo até que lembrou: Dani está lá !! Sim ela se informara que Dani era o coringa do time, que desde o 1° Ano jogava como titular no time, muitas línguas maldosas diriam que sem ela e provavelmente Daniel e o time Colorado não seriam nada. -Ei Luz ficou legal? –Rúlio apontava para o rosto tingido de vermelho e branco pela feiosinha pintora da sala, que sorria mostrando sua obra de última hora. Luz apenas olhou com cara de “ãhr” vindo de Rúlio nada era mais brega e chamativo o suficiente. -É melhor corrermos, a apresentação já está pra começar. –Disse a pintora olhando para seu relógio vermelho assim como seu vestido, sapatos, laços de cabelo e as letras C nas bochechas (ela odiava branco, porque engorda).

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Luz não pensou em se mover, ainda estava perturbada com seus sentimentos. Rúlio no entanto, vivaz como de costume a puxou pelo braço, correndo pelo corredor arrastando-a e em coro com a pintora feiosa cantavam o hino da escola. Quando lá chegaram a arquibancada, pegaram o terceiro lugar da fila, guardado por um dos trilhares de amigos de Rúlio, assim que se postaram diante da cadeira ao contrário de todos que cantavam o hino escolar, Luz sentou entediada. Nunca gostara de esportes e não pretendia gostar agora. Com uns dez minutos que pareceram horas teve ínicio o jogo, os jogadores se posicionavam enquanto as pessoas acomodavam-se em suas cadeiras. Foi nesse momento que Luz vislumbrou pequena e forte a atacante do time, Dani. Que ao contrário dos garotos ficava especialmente bem de uniforme de futebol, seu sutiã aparecia através da blusa branca (único item que mostrava sua feminilidade). Usava um short justo debaixo do leve tecido da bermuda, suas meias até os joelhos contornavam suas pernas firmes, o cabelo curto caia na testa displicentemente. Dani esperava o apito soar apoiada ao pé esquerdo. Longe assim poucos notariam que ela era uma garota, Luz se lembrou da história mais interessante que ouviu a de que em seu primeiro ano Daniela jogara como menino e que quando descobriram queriam desclassificar o Colorado, porém nas leis do campeonato escolar de futebol nada dizia que uma mulher não podia competir, foi ai que Dani se tornou um ícone do Colorado. Luiza sem perceber já estava de pé divagando, olhando a figura esguia da atacante, suas bochechas estavam rosadas e seus olhos brilhavam apaixonados. -Ei Luz senta! –Disse Rúlio chateado puxando a blusa da garota que desabou na cadeira- Controle-se! Quer que todo mundo note? Notar? Não, jamais!Luz zangou-se consigo mesmo, onde já se viu dar tanta bandeira. Haaaa! Como estava tensa, só de olhá-la assim de tão longe seu coração batia forte pela jogadora. Rúlio dentre todos era o único que notara a expressão de boba alegre dela, ele se sentia ferido, mas como pessoa generosa que era, não conseguia ficar chateado com ela por muito tempo porque como tantas outras e até a feiosa ali muitas eram, as que amavam Daniel. E quem não o amaria, aquela beleza latina, aquele sorriso de cinema, aquelas... Coxas! (coxas?!) A feiosa dizia na cara dura com olhos vidrados interrompendo o fluxo dos pensamentos de Rúlio, ‘Aquelas coxas são lindas não são?’ Seja como for, ele era perfeito e Rúlio, ele era só um garoto comum, que teve a infelicidade de se apaixonar por sua melhor amiga desde o maternal e que não tinha coragem de se declarar. Se ao menos ela demonstrasse algo, tudo seria diferente pensou ele com pesar. O jogo estava rolando, a bola correu pelo campo e rapidamente chegou aos pés de Daniel, que com a euforia dos torcedores tocou a bola majestosamente para

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Dani, está por sua vez atropelou dois jogadores, mas foi levada ao chão pelo terceiro. Falta!! Dani sentiu o tornozelo esquerdo, seu rosto delicado expressava dor. Luz ficou apreensiva, depois ficou com raiva do imbecil que fizera isso, porra era só uma bola!!! Assim que Dani se levantou, ajudada por Daniel, demonstrava que superara a dor e decidida estava pronta para a cobrança de pênalti. Luz se encantava com a força daquela menina, que apesar da feição doce, o porte pequeno, ela tinha muita garra. Luz torceu e torceu com fé para que ela fizesse o gol naqueles mulecotes do Tatuí. O jogo foi sofrido, no primeiro tempo houvera três batidas para o gol, uma a bola chutada por Dani aos vinte e cinco minutos do primeiro tempo entrara raspando, mas a torcida do Colorado não festejou muito, pois antes que o primeiro tempo viesse ao fim, o Tatuí goleou o Colorado. Na pausa do primeiro tempo enquanto todos cantavam, apesar de duro o jogo, o Colorado chegou até ali e não podia perder agora. E embalados na música das líderes de torcida todos gritavam e pulavam. Luz era a única que prestara mais atenção em Dani que naquele momento conversava com o treinador, enquanto jogava seu corpo de um lado para outro, ela ainda sentia um pouco o tornozelo, sabia disso assim como sabia que era dia. Luz se preocupou, como amiga e mesmo que não quisesse admitir como... -Ei, Luz!!! –Berrava Rúlio. (já se acostumaram com o nome?) -Quê?!!!-Berrou de volta o barulho em volta era ensurdecedor. -Quer um sanduíche?!! –Ele mostrava um sanduíche muito bem servido. - Foi ela (pintora) que fez. A pintora sorriu sentada com uma lancheira de sanduíches e suco no seu colo, exibindo aquele sorriso que mostrava até as suas gengivas. -Está uma delícia, é uma receita de família!!Tem cem sabores!!- Riu a pintora da piada sem-graça que ela própria contou. Luiza recusou educadamente, não queria saber o que seria esses cem sabores, só eles mesmos para terem estômago para aquela monstruosidade gastronômica. O segundo tempo pareceu passar ainda mais rápido que o primeiro, foram várias tentativas de desempates, vários ohhhhhhssssssssss e put..q..pa..iu!!! O jogo foi disputado, estava quase em seu termino parecia que não daria e quando milagrosamente a bola cai nos pés de Daniel, que como o raio dispara em correria para o gol. Então neste momento se vê cercado pelos adversários e em numa presença de espírito juta a bola para Dani que vêm em corre-corre, está embalada na adrenalina, parte para o gol dribla o goleiro e com bola e tudo entra no gol. E todos juntos formando um só corpo gritam goooooooooLLLLLLLLLL!!!!! E o time adversário vai ao chão, silenciosos choram a derrota e nada puderam fazer para mudar isso. E então, o apito declara o fim da partida. Sorridentes, porém solidários os vencedores apertam as mãos de

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seus adversários, que sem exceção saudão Daniela, um em especial aperta forte a mão pequena e diz para não perder para o Lins, a escola que era dois anos campeã do T.M.T.E.R. Vitoriosos e suados todos saem aos abraços e vivas para o vestiário, Dani é elevada pelos amigos ao alto que em coro cantam vivas para sua princesa, como assim a chamavam antes menosprezando, agora a título de honra. -Princesinha!!! -Princesinha!!! Até Daniel, o capitão da equipe, saudava a amiga com orgulho e satisfação, que ninguém acreditaria que isso um dia seria possível, se lembra-se que por um ano e meio eles eram como cão e gato.

8 A tarde caia sobre o campo de futebol, minutos depois que acabara a partida. Na arquibancada todos já deixavam seus lugares contentes com o resultado da partida, até Professor Aulício estava feliz tecendo elogios aos jogadores, lembrando que Dani e Daniel foram seus alunos em 2007. Tudo em volta estava tingido de branco e vermelho, confetes estava por todo o chão, a alegria imperava pelo campo. Só Luiza Luz estava amuada e miúda em sua cadeira na terceira fileira, tinha uma expressão sofrida. Remoendo cada lance, cada minuto que torcera por Dani, percebeu que algo mais quente do que uma admiração estava nascendo, por mais que quisesse pensar diferente... Uma coisa denunciava suas intenções, ficara mexida com o jeito companheiro e diria até carinhoso com que Daniel, colega de campo, tratava Dani. Ajudava-a se levantar como um príncipe faria se viesse ao socorro da amada, o jeito cheio de ternura que depositava sobre a amiga era mais do que evidente. Daniel estava apaixonado por Daniela, concerteza! E Daniela será que já notara isso? Será que era recíproco? Isso criou um sentimento forte e continuo de ciúmes, não queria amá-la, mas também não queria perdê-la para outro.

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Vendo o sofrimento da amiga, Rúlio acima de tudo queria ver Luz feliz e aconselhou baixinho no seu ouvido. -Você deve lutar pelo seu amor. Luz, você é a menina mais forte que conheci, eu sei que você consegue! O apoio do melhor amigo foi um estopim para uma força colossal saísse de dentro de seu peito pequeno, transformando em ação. Luiza desceu as escadarias da arquibancada em rompante, sem olhar para tráz. Ela tinha que ir e lutar por seu amor, lutar por Daniela!! Rúlio se levantou pensando em detê-la, no entanto respirou fundo vendo sua amiga afastar sem hesitação, por um momento perguntou pra si mesmo o que estava fazendo. Jogando a mulher que amava nos braços de outro? Ele riu amargo de seu estúpido destino. -Ei Ru aonde ela vai? Calmamente ele respondeu a feiosa que segurava seu braço. -Ela vai lutar pelo seu amado: Daniel Vargas!!- Gritou-lhe o nome do rival tentando exorcizá-lo de sua mente. A pintora apenas assentiu comovida, ela como toda artista era sensível, mas não o bastante para sentir os sentimentos do amigo. Ignorando isso apenas chamou-o para irem, quase o puxando-o de onde não queria sair na esperança de que talvez, Luz à segundos de se declarar percebesse que seu verdadeiro amor era ele. A caminho de sua felicidade, Luiza corria determinada para o vestiário do time, desceu as escadas e virou à esquerda, entrou na porta enorme chegando à quadra iluminada. Sua expressão determinada e feliz veio então ao chão, a cinco passos da porta da qual adentrou. Luiza viu Dani ainda suada com a toalha no pescoço e junto a ela, melhor, unido a ela por um beijo doce, estava Daniel. Tudo pareceu estar em câmera lenta, Luiza chegando, sua expressão de surpresa, sua feição de tristeza e por fim suas lágrimas caindo pelo canto da boca que sorria amarga.O baque foi tanto que ela perdeu o chão, não sabia se corria ou chorava, se gritava ou parabenizava a amada. Então Luz só pensou em uma alternativa: fugir. Que vergonha, que raiva, que tristeza, como podia o amor doer tanto!? Segundos antes Daniela se desvencilhou da boca bem feita de Daniel, desconsertada e pior foi saber que Luz viu aquela cena. Droga! Pensou ela, olhou para o amigo com raiva, falaria umas poucas e boas por tê-la agarrado mais agora, agora tudo que importava era alcançar seu amor, dizer que não era bem aquilo que viu e que... E que o amor da vida dela era ela !! Pensara em deixar isso para a festa do fim de ano, para que se caso Luz a esbofeteasse e a chama-se de pervertida quando ela se declarasse, pelo menos elas não iam precisar conviver com Luz na mesma escola depois de tomar o fora. Daniela pensara que essa era sua melhor escolha, mesmo parecendo que o amor era recíproco, sabia muito bem que admitir isso era outra coisa. Agora ela via que errara em seu julgamento, que não ter definido seus interesses complicara

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ainda mais a relação. A medida que corria seu tornozelo doía e quando vislumbrou no horizonte a silhueta de Luz, já era tarde não agüentou a dor e parou, apertando o osso-do-vintém inchado tentando segurar a dor, tudo em vão. Luiza Luz, a menina que algumas semanas atrás ela acertara com a bola, naquele fim de tarde se fora, quem sabe até para sempre. E talvez não houvesse mais nenhum remédio para curar um coração traído, e assim ali no chão, Dani lamentou seu destino, amar e não poder amar, ser amada sem poder amar esse parecia ser seu destino. A frustração e a amargura tomaram conta de Dani fazendo-a chorar. Como um único dia podia dar tantas reviravoltas, como? Assim que escutou passos logo atrás, Dani se levantou tentando dissimular a dor, de seu tornozelo, mantendo-se de costas ainda olhando o horizonte, ela não se virou, mesmo assim sabia que era Daniel. Não queria vê-lo, estava pê da vida com ele, se tivesse notado, se tivesse previsto, mas ele a pegou de surpresa com um ashiteru beijou-a de surpresa. Não deu pra reagir. Daniel sorriu amargo, não sabia dos sentimentos que envolvia as duas, mas sabia que passara dos limites. Percebia que sua relação com Dani fora por água abaixo ao tentar se declarar. Devia ter esperado uma confirmação qualquer, um sorriso de felicidade, um “eu também”. Droga! Sua ansiedade o fez se precipitar, arruinando tudo. -Dani...- A voz saia falha. -Me deixa. –Disse fria, indo em direção a que Luz foi, bem devagar tentando não mancar. -Espera Dani! – Ele a segurou pelo cotovelo como um mocinho másculo de romance de banca, quando a mocinha tenta ir embora. -Me Larga! Você me traiu. Traiu a nossa amizade!! -Não era minha intenção, eu te amo. Ela riu com raiva tocando o cenho, se virou e disse sarcástica. -Você é meu amigo desde o primeiro ano e ainda não notou? -... – Daniel olhou-a sem saber do que ela falava. -Eu sou lésbica, Daniel! Como pode imaginar que algo entre nós poderia acontecer? Daniel Vargas ficou quieto, pela primeira vez não sabia o que dizer. È ele havia notado que ela dispensara todos os meninos do time de futebol, que não se vestia como toda menina e que principalmente no primeiro ano havia roubado sua namorada. Mas em sua arrogância e ignorância fez com que tirasse outras conclusões na época. Que isso era um jogo dela, que estava com ciúmes e por isso fez aquilo. Que no fundo ela sentia algo por ele e que bastava um beijo e tudo se desenrolaria em uma história de amor. Daniela andava de um lado para o outro tentando se acalmar, rindo da idiotice de quem julgara ser seu melhor amigo, como podia ele não ter notado qual era a dela? Tá certo que ela não levantava nenhuma bandeira, nem usava broches bregas de “I Love girls”, mas mesmo assim se até a perua de sua mãe já tinha

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notado... Ela estava decepcionada com Daniel, mais do que isso, pretendia não vêlo pelo resto do mês pra começo de conversa e depois da festa do fim do ano letivo para o resto da vida!! Sem um tchau ou qualquer coisa assim, Dani saiu caminhando devagar enxugando o suor e mesmo que não querendo, mancando. E isso seu ex-melhor-amigo notara, se preocupou como sempre, porém sabia que ela precisava ficar sozinha.

9 Luiza Luz nem percebeu, correu em disparada pelo centro da cidade até a sua casa pouco mais de 4 km em um piscar de olhos. Suas lágrimas negras, manchadas pelo rímel, corriam pela face pálida, os soluços lhe impedia a fala, os cabelos em desalinho, era uma cena de horror quando Lola abriu a porta da mansão. Não houve tempo para perguntar, em segundos, Luiza subia as escadas como se estivesse ferida mortalmente por uma bala, ignorando os olhos de preocupação da emprega-governanta-mãe. Na cama junto aos lençóis rosa e almofada da Hello Kitty, Luiza Luz continuava a chorar, lamentando a cena que vira, nem no seu pior pesadelo podia ter previsto isso, eles, os dois, ambos... Ela nem conseguia completar o pensamento estava acabada, nada podia ser pior naquele fim de tarde. A noite chegou e Luiza continuava na cama letárgica, enfim, depois de litros de lágrimas derramadas e já mais calma ia se conformando. Era fato o que ela

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vira lá na quadra de basquete Dani e Daniel de lábios colados, em cara de choro pensou que eles até combinavam. Merda!! O que ela estava pensando Dani e Luiza, nada a ver! Começando pelo nome, sem rima terminando pelas personalidades opostas. Maldito dia em que aquela bola lhe atingiu. Não! Maldito Rúlio que falou pra ela ir estudar lá, é verdade é tudo culpa do Rúlio! Desde o começo e até hoje ele fora o culpado, se não a tivesse encorajado a ir se declarar... Vejam só, se declarar para uma garota! No mundo de Luiza isso era loucura! E mesmo assim e mesmo que parecesse loucura, era o que do fundo do coração desejou fazer. Chorando de novo pensou que era a última coisa que ia poder fazer, quando visse Dani de novo. O frescor da noite entrava pela janela-porta secando suas lágrimas, que caiam pela face sem nenhum resquício de maquiagem, estaria tudo silencioso se não fosse pelas cigarras e tudo estaria escuro se não fosse as estrelas que brilhavam como sempre desde que o mundo nascera a 4,6 bilhões de anos. Nessa noite morta, Luiza ouviu o rangido da porta ás suas costas não teve forças nem para olhar. De prontidão pensara ser Lola, lhe trazendo um chá que provavelmente ela ia recusar baixinho e depois como sempre com a insistência da empregada-mãe-governanta, ela gritaria como uma doida um “Me deixe em paz!”. Mas não era Lola, mesmo assim, o fato de gritar um “Me deixe em paz” tão sonoro como uma sirene logo viu a face faceira do seu melhor e odioso amigo ali bem a sua frente. -Calma Luzinha eu vim em paz! –Tentou dizer enquanto se protegia das almofadas que ela lhe tacava com toda a força. -É sua culpa, é sua culpa!!! –Gritava ela cheia de fúria. -Desculpe, mas antes de apanhar eu gostaria de saber, o que foi que eu fiz!? Ela parou, seus olhos encheram de lágrimas ao lembrar, abaixou a cabeça e silenciou-se, sua respiração estava agitada, doía demais para dizer... Então Rúlio ligou A+B e tirou sua conclusão e pesaroso sentou do lado da amiga, colocando a mão em sua cabeça com carinho, e disse: -Você levou um fora, não é? Não foi preciso dizer mais nada para a amiga se desmanchar nos braços do melhor-amigo em prantos. Rúlio por sua fez docemente a acalentou em seus braços largos, a medida que as mãos gentis alisava as costas de Luz vagarosamente, ela foi se acalmando, já não mais chorava quando os dois se afastaram. Rúlio sorriu amigo e ela retribuiu chorosa. Crente que a tempestade passara ele propôs: -Sabe o que devíamos fazer? -Não eu... -Sim, depois de um fora, a única coisa a fazer é sair e se divertir! Nós podemos ir ao shopping comer algo muito gorduroso, tomar muito sorvete e comprar a coisa mais cara que nos der na telha com o cartão de crédito dos nossos pais! –Rúlio dizia animado só de imaginar as todas as possibilidades.

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Luz riu reagindo o jeito cômico de Rúlio que sempre tinha uma solução, uma idéia nova para transformar dias ruins em dias legais. -E ai,vamos?-Estendeu ele a mão convidando-a. -Não eu estou horrível, não quero que ninguém me veja assim. - Choramingou Luiza Luz. -Ei e pra que serve maquiagem, vá tomar banho e deixa que o resto eu cuido, esqueceu minha mãe é modelo e meu pai maquiador!! O mundo fashion está no meu sangue!! Como ela podia esquecer a família dele era totalmente fashion e cômica, ele era o único garoto da escola que mudava o visual todo o mês! Empurrada por Rúlio, Luz foi para o banho, lavou-se e saiu apenas de toalha, para ver o que o amigo escolhera. Ela estava ali, com os cabelos escorridos e úmidos, os ombros nus, tal como suas pernas bem delineadas e sensuais. Daniel só podia ser um gay por dispensá-la, ela era perfeita!Pensara maravilhado o melhor amigo. Por um momento Rúlio ficou vermelho, mas como Rúlio é Rúlio a única coisa que ele não ficava por muito tempo era encabulado, e Luz não estava na condição de perceber, nem que ele tivesse uma ereção na sua frente! Ele então lhe mostrou duas opções de vestuário, um vestido turquesa com um generoso decote em v ou uma blusa frente única esvoaçante, junto a um short de cetim vermelhíssimo. -AHH seu hentai, escolheu as roupas mais decotadas e curtas!! –Surpreendeu-se ela, não pela ousadia e sim porque descobrira que seu amigo tinha muito bom gosto. -Não me diga que não vai com nenhum? - Choramingou cômico segurando os dois cabides a sua frente deixando apenas aqueles olhinhos azuis-esmeraldas a vista. Parecendo ceder ao amigo, apontou para a blusa com o short sem titubear. -OOAAHHH você vai ficar uma gata assim, até eu vou querer namorá-la!! – Exclamou Rúlio, como se já não estivesse de quatro pela amiga. Luz sorriu com o elogio, sem notar uma pontada de verdade no que o amigo dizia. A jovem então foi atrás do biombo transparente fosco, para colocar a roupa. Rúlio estava atento engolindo em seco ao ver ela despindo-se da toalha e visualizando a silueta cheia de curvas de Luz , parecia hipnotizado que só escutou quando Luiza o chamou pela segunda fez: -Rúlio eu me esqueci de pegar a calcinha, pode ir no closet buscar uma ? Mas tem que ser brana! –Pediu ela inocente. Por um momento ele ficou ali sem fala processando o que a amiga dissera, só quando a Luiza colocou o rosto para fora apressando-o foi que Rúlio largou o vestido turquesa, e meio perdido foi até o closet. E sem errar ele abriu a segunda gaveta logo na entrada, Rúlio nunca se lembrava onde punha seus tênis, mas se lembrar qual era a gaveta de calcinhas de sua melhor-amiga isso ele não esquecia nunca!Desde o fundamental, quando fora a casa de Luz e ficara sozinho no quarto dela por alguns minutos, por mera curiosidade juvenil começou a bisbilhotar um

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pouco, senão muito, no closet da amiga e assim acabou encontrando a gaveta de calcinhas, assim como sua masculinidade e ele nunca mais pode esquecer. Segunda gaveta logo na entrada... A única diferença daquele dia longínquo para hoje é que Luz já tinha o corpo de mulher e também agora tinha as lingeries mais sexy desse mundo! Nada mais de bichinhos e cores berrantes, todo o vestuário de moda íntima tinha mudado, dando lugar as mais lindas, fofas e até provocantes lingeries!!Por um instante Rúlio ficou ali mesmo vislumbrando o paraíso, sua expressão era tão perva, que até podia ver seu nariz começando a sangrar. E com muito cuidado, como um velho pervertido escolheu a menor calcinha e como um amigo gay faria entregou a lingerie do modo mais despreocupado do mundo. Enquanto ela se vestia Rúlio pensava, como seria idiota se deixasse Luz escapar, seria um asno!! Ela era legal e linda o que mais um adolescente cheio de testosterona precisa? Por outro lado, seria péssimo levar um fora e de quebra estragar a relação de amizade que tinha desde o fundamental. É... Infelizmente era uma decisão complicada! Antes que notasse o tempo passar, Luz surgiu trajando a roupa escolhida, que ficava mil vezes mais sensual do que imaginara no belo corpo da adolescente, sem palavras ele só pode dizer entusiasmado “Linda! Linda!” como um fotográfo em frente a uma musa. Luiza se encantou com os elogios e até se animou um pouco, escolhendo os melhores sapatos e acessórios. Em meia hora desciam felizes as escadas. Perto da porta da sala de jantar, Lola via a jovem descer revigorada e iluminada, aliviada sorriu e perguntou aonde iriam e recomendou voltar antes das onze e também levar o celular. Em alguns minutos Rúlio e Luz foram deixados em frente shopping pelo motorista de Luz, após um pequeno suborno de cemzinho para trabalhar depois da seis. No shopping a jovem não muito a fim de andar e Rúlio muito a fim de comer, foram para a primeira lanchonete que vendia quites de lanches com brinquedinhos.

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10 Na lanchonete tudo ia bem, Rúlio tentava descobrir utilidades para o macaquinho que vinha de brinde, logo encontrou e exibiu sua descoberta animado, pegar as batatas entre os braçinhos gordo do animal. Quando já tinha acabado o lanche e estavam cada um com seu bichinho, brincando de teatrinho com aquelas voezinhas afetadas eis (como sempre) surge um conhecido de Rúlio. Com um sorriso largo se apresentou e chamou o casal para irem para uma danceteria ali perto. Luz titubeou e por fim depois da insistência do rapaz o casal de amigos aceitou. Rúlio comentara que seriam só uns minutos, tinha que cumprimentar o pessoal, gente conhecida do mundo da moda. A noite fora do shopping estava estranhamente gelada, por sorte o rapaz que Luz nem deu trabalho de guardar o nome, estava de carro uma Ferrari belíssima e lustrada. Não levou nem dois minutos e lá estavam eles na sala vip com a

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pulseirinha luz de neon abóbora no pulso. Luiza Luz nunca tinha ido numa boate, detestava lugares escuros e aquelas malditas luzes que atrapalhavam ainda mais sua vista. Rúlio distribui comprimentos às meninas, deixando a amiga de lado. Praticamente indefesa as investidas do garoto da Ferrari, em outros tempos Luiza já estaria nos braços daquele cara, que era tedioso, mesmo assim era lindo! Pelo menos em comparação aos que já dera bola para ela. Em menos de dez minutos Luz já sabia mais dele do que sabia sobre tintura de cabelo. Seu nome era Pietro tinha alguns anos a mais que ela, trabalhava com seu pai na empresa da família, e o de sempre ia herdar tudo e blá blá... Como Luiza deteve a apenas dizer “nossa” e “é” a tudo que ele dizia, o rapaz não ficou sabendo que ela era filha de Michel Luz o empresário com 35 anos mais bem sucedido de todo o estado, talvez mais até que a empresa de automóveis de que ele tanto se gabava. Para se ter uma idéia da diferença gritante de poderio econômico, o seu pai de Luiza podia comprar mais de dez iguais ao do entediante playboy. Luiza odiava garotos que queriam impressionar garotas com sua conta bancária, tanto que já estava sentindo náuseas e então usou aquela velha tática. -Pietro, será que você poderia pegar uma bebida para mim? -Claro! O que prefere água com gás, um Martini ou algo mais forte tipo... Interrompeu-o tocando-lhe o braço, então disse de modo mais sensual possível para trazer o que achasse melhor. Luiza não bebia bebidas alcoólicas, naquela altura esse detalhe nada importava, ele não iria achá-la mesmo quando voltasse. Assim que Pietro se virou para o bar, a jovem desceu a escada oposta da ala vip e foi direto para o banheiro, tentar conter a dor de cabeça que começa surgir. O banheiro estava desértico e limpo, podia sentir o cheiro de limpeza, não era o que imaginava encontrar, bem ainda era cedo pra alguém vomitar por ali. O espelho pegava toda a parede em frente às seis pias. Luz optou por usar a última que ficava perto de secador de mãos, quando calmamente se dirigia a pia alguém sai do último banheiro. E de todas as pessoas que esperava no mundo, quem saia era justamente Dani, que não posso deixar de lhe dizer estava linda! Usava um jeans e uma blusa de alcinha com um decote provocante, que deixava pelo menos metade de seu busto a mostra. Ambas congelaram, se encararam uma não acreditando ver a outra a sua frente, mais belas e tristes do que nunca. Quando o choque inicial passara, Luz saiu na mesma hora do banheiro, em passos largos com os olhos marejados, ela não estava afim de explicações, nem sequer tinha o direito de pedir explicações. Afinal não eram nada além do que recentes amigas, no fundo ela sabia que era descabida sua mágoa, mas que foi que disse que o amor é racional? No meio da pista com dificuldade Dani a alcançou segurando-a pelo pulso fino. A música corria alta e frenética mesmo assim ambas se escutavam como se tivessem sozinhas naquela pista. -Luz, aquilo não teve nada a ver!-Falou Daniela em tom apaziguador.

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-Não tem nada a ver você me dar explicações! -Como?! Isso não é verdade! -Dani! –Luiza tentou repreender a colega. -Luz!!Me escuta eu.... Como que adivinhando, repentinamente apareceu Pietro logo atrás de Luz e passando o braço por cima do seu ombro lhe entregou a bebida azul de modo provocante. -Aqui está querida, uma bebida bem forte do jeito que queria. Dani ficou vermelha de raiva quando viu aquela intimidade toda, que nem notou a cara surpresa de Luiza quando recebeu a bebida. -Oi, quem essa Luiza? Sua amiga de colégio? Essa foi a gota d’água, aquele jeito de falar como se já se conhecessem a séculos, Dani não agüentou, se sentiu pequena tão pequena quanto quando levou seu primeiro fora em público da ex de seu ex-amigo. Engolindo em seco, não esperando resposta ou explicações ela saiu batida, Luz não pode fazer nada e talvez nem quisesse. Ora em primeiro lugar, porque sua mágoa não passara, em segundo, que se Dani tivesse algo a dizer, teria dito pra quem quisesse ouvir! Teria falando em alto e bom som que de quem ela gostava mesmo era dela!Se quisesse poderia ter a defendido daquele encosto, se quisesse nada disso estaria acontecendo! A culpa não era sua! E como uma menina mimada curtiu a festa com o mauricinho, parecia que nada havia acontecido. Que o amor de sua vida não tinha saído mordida de ciúme pela primeira porta que viu e que provavelmente estava tudo acabado, antes mesmo de começar...

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11 Depois da cena que vira Dani só pensava em sair daquela situação, pensava o quanto se enganara com Luiza, agora entendia quando disse “Não tem nada a ver você me dar explicações”. Realmente não tinha mesmo, Luz já estava em outra, tão rápido quanto pode, ela pensara erroneamente que ferira o coração de seu amor, mas na verdade seu coração é que fora ferido. Daniela correu até o estacionamento só parou uns instantes para tomar fôlego, assim que encostou na moto BMR R1200 ST. Foi quando lágrimas silenciosas caíram pela sua face delicada. Dani nunca fora de chorar, todavia a frustração, a tristeza e a vergonha a derrubara naquela noite fria. A jovem motoqueira saiu dali para um caminho sem destino, não queria ir para lugar nenhum, escolheu ruas aleatórias, correndo pela cidade tentando deixar a tristeza para trás, acelerando mais e mais. O vento chegava a gelar os braços nus. As lágrimas já não eram mais visíveis, pois o vento gélido as secou sem demora. Dani não colocara o capacete, que se dane pensou ela, que se danem tudo e todos!! Foi quando correndo por uma avenida, onde avistou um chafariz enorme bem no centro daquela praça deserta, ela então parou a moto e sem demora correu para perto da bela fonte. Dani adorava chafarizes, achava-os maravilhosos, o movimento da água, o barulho que acalmava sempre seus nervos a encantava não importava o momento. A jovem de cabelos negros respirou fundo o ar dali que parecia mais limpo e reconfortante. As estrelas,como sempre, brilhavam no céu e ela Daniela como sempre sofria a dor do amor, a dor da rejeição... Chegou a rir de sua vida estúpida de sua péssima sorte no

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campo do amor. Pensou que tudo se resolveria se gostasse de garotos, eles sempre se apaixonavam por ela, seria tão mais fácil pensou. Poder amar Daniel assim como ele a amava. Não existia nenhum casal de amigos mais entrosados do que eles, do tipo que é para a vida toda, mesmo depois do que houve nada de pior poderia destruir a relação deles, que apesar de tudo era forte e resistente. Como seria fácil, como seria bom amá-lo! Abraçou-se tentando em vão aquecer-se. Dani que aquele momento estava sentada na beirada do chafariz escorregou para o chão, se encolhendo e chorando agora pra valer. Com o celular desligado ninguém pode manter contato, nem sua mãe histérica e famosa, nem ninguém que valesse a pena ouvir. A noite se arrastou silenciosa aos embalos do choro sofrido de Daniela. E então sem perceber alguém veio em sua direção e se prostrou em sua frente, Dani só pode ver os sapatos, um tênis da marca Nike. Foi quando Daniel entrou em seu campo de visão agachando-se junto à amiga. Com um ar aliviado tocou-a com a mão quente e disse: -Até que enfim eu te encontrei garota. Sua mãe está louca atrás de você, sabe que horas são? Ela nem se moveu, fingindo que ele não existia. -Tá legal, ainda não me perdoou... Vou ligar para sua mãe então? Ele apertou o botão de ligar depois de selecionar o nome na agenda do celular e a jovem ainda ressentida não fez menção em se mexer. Dani podia ouvir os gritos histéricos da mãe feliz e irada ao mesmo tempo ao ouvir a boa nova. Passaram-se vinte minutos até a mãe de Dani aparecer, vinte minutos esses silenciosos. Daniel queria dizer algo bonito que a fizesse ficar bem, mas ele não era um poeta, nem um sábio por isso apenas ficou ali plantado com as mãos nos bolsos encostado naquele chafariz, que para seu azar o molhava com o chafariz. Quando a mãe de Dani surgiu no horizonte, acenava e gritava escandalosamente no meio da noite eliminada pelos postes de luminárias ovais. Mesmo de salto altíssimo correu rapidamente até a filha, e com seu batom vermelho deixou várias marcas na testa da filha. De repente como nunca fizera antes, Daniela abraçou forte sua fútil mãe que retribuiu abraçando-a ainda mais forte contra o peito de silicone. A famosa atriz, mãe de Dani, a levou para o carro, não sabia o que causara tanta tristeza na filha, apenas, com seu extinto de mãe sabia que tinha a ver com Daniel, este por sua vez indagado não disse coisa com coisa. Mesmo assim agradeceu a ajuda do rapaz, disse que ele podia ir embora na moto da filha e garantiu que logo Dani estaria melhor. E mais tarde, em outro dia poderiam resolver os desentendimentos, afinal eram grandes amigos, não eram? Daniel entendeu e pediu que desse notícias. A mãe de Dani (já lhe disse que ela é muito famosa?) como sempre fazia, deu uma fotografia autografada em agradecimento, abraçouo com toda a sua voluptuosidade e se despediu. Ele agradeceu a foto por educação, na verdade ele já recebera umas dúzias dessas, esse era o jeito dela agradecer, não podia ser mais fútil e narcisista. É claro, só podia ser a atriz Miranda Ávila!! Na boate a coisa rolava quente, Rúlio havia se irritado com o comportamento “amigável” da amiga com Pietro e CIA, depois de Luz freneticamente ter ingerido muitas margaritas a garota já não tinha pudor algum, por isso Rúlio ele então ir embora depois de fracassar em repreendê-la. Luiza nem se abalou, nada a abalaria, estava tão alta que se pudesse se ver não se reconheceria. Bebeu os mais diferentes drinks, dançou junto com as

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garotas mais velhas e como era moda, deu muitos selinhos nas amigas. Depois dançou com Pietro noite adentro, o provocou a todo o momento, testando seu poder de seduzir, quando notou já estava só de calcinha na cama redonda de um motel. Estava totalmente entorpecida de bebida, para que notasse o que estava prestes a fazer. Perder sua virgindade!! Com a voz embargada ria quanto Pietro tocava-lhe um corpo, sentia tantas cócegas que não parava de rir e se mexer. O restante nem ela saberia dizer como aconteceu, apenas aconteceu, eles realmente fizeram, a prova seria a camisinha usada sobre a cama e a dor estranha que sentia no meio das pernas. Quando se levantou as dez da matina e se deu conta, sua ressaca era o menor de seus problemas. Droga! O rapaz nem para ter esperado ela acordar, nem para deixar um bilhete e ser carinhoso, como sempre sonhara que poderia ser. Não havia nada ali naquele quarto de motel, além de uma adolescente que se ferrou feio. Depois daquela ducha, e de usar mais sabonete líquido que uma baleia tomando banho, ela saiu do quarto com os cabelos molhados a roupa amassada e aquela carinha de quem comeu e não gostou. Deixou a chave no balcão e ia saindo quando a recepcionista educadamente lhe informou que a conta não foi paga. -Quê!!! Aquele filho da....-Vociferou ela, com os pulsos cerrados bateu no balcão com força. Ligaria para aquele mauricinho se tivesse o número, e faria vir pagar a droga da conta!!O que era isso ele a desvirginara e ainda tinha que pagar por isso?!! Mesmo assim apesar de para Luz parecer ter todo o sentido se sentir revoltada, a realidade era outra, se quisesse sair tinha que pagar e pagou... Vendo-se livre da conta saiu pela porta esperançosa, seu sossego durou pouco, bem menos do que imaginara. Olhando a sua volta podia ver que estava no meio do nada!! Isso mesmo não havia nada naquele lugar, além do motel! Luz sentiu que ia morrer sua cabeça rodava como um carrossel, fazendo seu estômago parecer uma montanha russa que poderia caracterizá-la como um parque de diversões ambulante! Bem era isso que foi, diversão na mão de um mauricinho. Resumindo, estava perdida. Não poderia chamar seu pai senão ele ia ter um treco, iria processar o motel, Pietro e as margaritas. Se chamasse Lola, seu pai concerteza saberia. Talvez o motorista o que provavelmente resultaria em chantagem pelos próximos 20 anos. Sobrara apenas ele, seu melhor amigo com que discutira e mandara para aquele lugar, na boate. Merda! Teria que pedir mil desculpas e dizer o quanto precisava de sua ajuda. Dito e feito. Ligando para Rúlio ficou sabendo que seu pai estava louco atrás dela, e que passara a noite toda na delegacia com seu melhor advogado tentando tirá-lo da cadeia por ter agarrado o policial que se recusara a sair para procurá-la, pois não fazia 24 horas. Depois foi a vez dela de falar quando Rúlio pediu o endereço para buscá-la. Quando ele ouviu a palavra motel o celular emudecera por instantes e seco disse que logo estaria lá e desligou rapidamente nome dando tempo para qualquer agradecimento da adolescente encrencada. Luiza já deu muita mancada com seu amigo desde que se conheceram, já colocou a culpa nele, já o afogara, já o queimara, mas dessa fez seria muito mais difícil voltar às pazes. Por um momento ela pensou que isso era loucura, eles não eram nada mais do que amigos. O que ele tinha a ver com sua vida sexual? Pelo visto quando ele chegou no táxi e a olhou magoado ela vira que Rúlio tinha muito a ver, talvez tivesse ciúmes dela, eram praticamente irmãos, era isso concerteza conclui por fim antes de subir no carro.

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No caminho eles nada conversaram mesmo estando lado a lado, o clima era tenso e pior ficaria mais tenso ainda, quando chegasse em casa....Tudo o que pensava era que tinha que inventar qualquer desculpa. Aliens me abduziram, eu dormir na casa de uma amiga,perdi a hora... Qualquer coisa!! Menos, dizer que perdera a virgindade com um carinha que conhecera na noite passada.

12 Luiza Luz desceu na porta de casa junto ao amigo que até aquele momento sequer a olhava nos olhos. Assim que fitou a porta, a mesma se abriu e de lá saiu um homem magro, com roupas amassadas, todo despenteado, barba por fazer e enormes olheiras, além de chorar de modo compulsivo. Luiza se assustou ao ver o quanto preocupara o pai ao vê-lo de joelhos se abraçando a sua cintura. Logo depois incitado por dona Lola, começou a chuva de perguntas. Onde estava? O que aconteceu? Você está bem?Foi um seqüestro? Você queria fugir de casa? Nada disso, ela apenas se embebedara, (lembrando que Luz não é maior de idade) e tranzara com o primeiro infeliz que apareceu, tudo porque brigara com uma garota que mal conhece. Mas vendo seu pai ali destruído nunca poderia dizer a verdade. Luiza era a princesinha do papai e por sua causa, seu pai, nunca cogitou sequer se casar outra vez ou ir para o exterior mais do que uma semana, ou dormir fora ou levar mulheres para dormir no seu quarto. Ele fizera tudo isso por ela, e mentir era a única coisa que Luiza podia fazer por seu Michel agora. Só tinha um problema, não conseguia pensar em nada convincente, estava desesperada e cansada, pronta para despejar a verdade nua e crua.

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-Luiza estava na minha casa Sr. M. - Disse de supetão Rúlio sem emoção. -Quê?! Como assim? Quando eu te liguei você disse que ela não estava com você!- Michel de um pobre pai abatido, passou para um homem irado- Porque você mentiu? Não me diga que você... -Não pai! Ele não sabia que eu estava lá -Um minuto para pensar- Nós nos desencontramos no shopping e como a casa dele era a mais perto fui para lá, ai como não tinha ninguém eu dormi na casa da piscina. -E o celular porque não me ligou?Por que não atendeu quando te liguei!?- Inquiriu o pai aflito. -Pai, a bateria tinha acabado não tinha como te ligar, estava esperando Rúlio aparecer e aí eu peguei no sono. Luiza ficou surpresa como pode mentir tão bem. Fora fácil porque no fundo também queria acreditar que foi isso que acontecera. Apenas adormecera inocentemente na casa da piscina de Rúlio. E como esperado o amigo não desmentira e ainda ajudou completando: -E eu só a encontrei hoje de manhã e como meu motorista só chega às sete e meia, então pegamos um táxi. -Respirou fundo, concluindo a idéia e com um suspiro resignado e expressão de tédio perguntou- Será que agora o senhor pode me soltar? Michel então notou que ainda apertava o colarinho do rapaz, e sem graça soltou com um sorriso dizendo que o importante era que estava tudo bem afinal de contas. Já que não poderia ser mentira, pois Rúlio passara toda a noite com ele pelas ruas e por isso só a encontraram de manhã e a trouxera sã e salva assim que se encontraram. E isso era tudo que importava, estava aliviado e agradecido que nem ligou para o fato de ter sido indiciado naquela noite, convidou a todos até o taxista para tomarem café da manhã e com fartura serviram-se todos; o advogado, a empregada-governata-mãe, o taxista, Rúlio, Luz e Michel que sem ligar para sua aparência de pai de família de classe baixa, tomou um café da manhã merecido. O café da manhã foi regado a muita festa e alegria. Todos pareciam felizes, outros o estavam realmente e apenas Luz e Rúlio estavam fingindo enquanto sorriam para os outros e comiam, mas quando se olhavam por um segundo, o clima era tenso. Luiza queria mesmo se desculpar, ainda sabendo que não tinha sentido, não queria ser olhada assim pelo seu melhor amigo. Na despedida de todos Rúlio foi o primeiro a por o pé para fora e sem cerimônia foi embora no mesmo táxi que veio. Luiza esquivou dos abraços do pai, e se conteve em apenas dar respostas curtas e diretas a Lola. Tudo que ela queria agora era subir, deitar na sua cama cheia de almofadas e apagar, acordar quem sabe daqui só daqui um milênio. No entanto ao deitar na cama fofa, passou a maior parte do tempo rolando para lá e para cá. Relembrando suas burradas da noite passada, sempre se julgara tão madura e centrada, agora deitada ali no lençol de cetim percebeu o quanto ainda era criança e precisava de colo, alguém para dizer que iria ficar tudo bem, tudo bem... Enfim adormeceu exausta, uma expressão aflita a procura de descanso. De tardezinha Lola veio ao quarto de Luz, levou-lhe iogurte e morangos. A adolescente ainda dormia com uma expressão tão suave que a empregada-mãe-governanta poderia acreditar que nada de ruim acontecera. Lola delicada como sempre, sentou-se a beirada da cama e balançou o ombro de sua quase filha-patroa. -Lola, que foi?- Falou sonolenta a jovem.

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-Trouxe algo para comer. Não pode virar a bela adormecida e dormir para sempre, não é? -Verdade... –Disse Luz com a voz apagada e obedientemente começou a tomar seu iogurte enquanto com a mão direita levava a boca os morangos maduros. Foi quando entre uma colherada e outra Luz notou sua governanta-mãe-empregada estava com um olhar inquisidor e silencioso. Como ela odiava quando fazia isso, olhando-a com cara de “eu sei o que você fez”. Sabendo o que sua velha empregada-mãe-governata queria ela disse: -Eu sei o que está pensado. Não é nada disso, tá bom. -Eu não disse nada querida. -Eu sei você é que quer que eu diga. Pois, estou dizendo; eu dormi na casa da piscina da casa do Rúlio. Foi só isso. Lola suspirou e tocando a mão jovem da quase filha-patroa. -Está bem, mas saiba você não me engana. Rúlio me parecia muito magoado, seja o que for ele não merece isso, não é? Amigos não devem ficar brigados, não é? -Eu sei Lola, eu sei... - Respondeu de cabeça baixa, tentando não mirar aqueles olhos bondosos. -E você sabe que sempre estarei aqui, certo querida? Caso queira conversar, eu sempre estarei aqui, para te apoiar. A voz doce de sua mãe-empregada-governanta a quase vê-la chorar e contar, contar que já não era mais virgem, que dormira com um rapaz que além de não amar, mal o conhecia, tudo porque estava magoada com a pessoa que amava e que não era Rúlio! Mas não podia, simplesmente não dava, ela mesma não acreditara que isso era a verdade. Lola vendo a carinha desolada da sua menina a abraçou com amor e beijou sua cabeça, consolando-a mesmo Luz não pedindo. E gentil disse: -Agora tome um banho bem demorado, ainda está cheirando a margaritas e mais um sem tipo de drinks se não me engano. Luiza Luz ficou rubra, como Lola notara? Luiza tinha medo até onde a atenção de sua quase mãe poderia chegar, teve medo de pensar que Lola pudesse ter deduzido que ela... Não, não tinha como, riu de si mesma. Lola não é tão esperta assim. O banho fora maravilhoso e refrescante estava usando seu roupão favorito, com desenhos de bichinhos fofos por todo ele. Sua pantufa completava o visual de menininha, mas agora olhando no espelho do closet, vira que algo mudara o roupão e as pantufas que antes caiam tão bem, agora não parecia combinar com o ar adulto que existia no fundo dos seus olhos claros. Naquele momento foi que percebera que dali em diante nada seria como antes, e poderia ser bem mais difícil esquecer seu grande erro do que pensava. O sábado terminou assim como começou, ruim e triste, ninguém ligou para ela e no fundo agradeceu por isso. Na cama fofa a jovem mulher queria dormir e sonhar que tudo aquilo não era mais do que um pesadelo. Michel depois de convencido por sua mãe-empregada-governanta de não perturbála passou o dia descansando, lendo livros na biblioteca e contemplando um lindo quadro a óleo de sua jovem mulher que morrera aos 21 anos de problemas do coração. Com um sorriso saudosista depois de levantar o olhar para sua esposa, disse: -Nossa filhinha está crescendo não é amor? A pintura não respondeu, no entanto se pudesse diria: -É verdade meu amor. Só que Michel, nem Lola sabiam a quão rápido isso acontecia.

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13 O domingo não fora melhor. Rúlio não telefonara, nem atendera ao telefone. Luiza deixara inúmeros recados com todos os empregados e nada. Acabou se sentindo pior ainda, não queria e não podia perder seu único amigo. O que ela podia fazer para evitar? Na manhã de segunda, como sempre, se arrumou, mas dessa fez mais simplória e foi para o colégio. Cabisbaixa rezando para que nenhum conhecido tenha visto na boate ou pior; a visto sair com Pietro ou ainda pior; que sabia que ela já perdera virgindade. A vida é engraçada,quando temos algo a esconder parece que cada olhar, cada palavra, está nos acusando e nos revelando. A escola não parecia mais a mesma, os alunos pareciam que sabiam, e a olhava com repúdio. Será que era apenas impressão?

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Para sua surpresa quando chegou à sala parecia tudo normal, os mesmos rostos felizes a cumprimentaram como sempre, as mesmas colegas contaram sobre seu fim de semana. Só uma coisa, não duas não estavam bem; Rúlio e Dani ambos a olhavam de lado fingido não notar a sua presença quando se cruzavam. Daniel e Daniela estavam mais próximos, talvez até podiam terem iniciado o namoro. Rúlio com seu jeito alegre conversava com todos, como se nada de anormal tivesse ocorrido. Luz se sentiu isolada como um bandido sentenciado a morte, na sala durante as aulas enfadonhas, por duas vezes teve vontade de chorar e por uma vez não resistiu pedindo licença a professora de português. Fora da sala ela foi para o lugar mais arejado, com o vento mais fresco que conhecia, o térreo. Onde ficava um lindo orquidário e onde daria para se matar sem ser interrompida quem sabe. Quando com suas mãos finas tocou a mureta de proteção do térreo foi a única solução que lhe ocorrera, não queria ter magoado ninguém, mas acontecera. Imaginou que a vida poderia ser mais fácil e que morrer era a única coisa que podia fazer por todos, assim tudo morreria com ela; o amor, a tristeza e a verdade. A mureta era um pouco alta de fato, mas bastava uma cadeira... A ali uma cadeira velha junto a mangueira. Luz fora até lá em passos agonizantes de infelicidade e pegou a velha cadeira de madeira, antigamente usada nas sala de artesanato. Com a cadeira em mãos levou silenciosamente junto à mureta, e quando lá pôs uma voz soou alegre atrás da estudante. -Espero que esteja usando a cadeira para ver melhor a vista!! Era Kátia com sua alegria vibrante e despreocupada, usava um jaleco que escondia suas curvas de mulata e saltos altos para valorizar ainda mais seus 1,70. Kátia para Luz era mais que uma amiga, quase uma irmã mais velha que sempre tem a resposta para tudo, consegue fazer das coisas mais tristes algo engraçado. E foi o que fez, quando Luiza em sua tristeza contou o que ocorrera, sobre ter perdido a virgindade. Kátia apenas riu ignorando a dor da jovem, que se sentiu ofendida e ia se retirando até que Kátia a segurou pelo braço. -Calma morena. – É assim que a chamava quando a jovem ficava brava- Desculpe não foi delicado da minha parte, eu sei, só que você me lembra eu quando tinha sua idade. Nossa isso me faz parecer tão velha, não é? Luiza não respondeu. Kátia sentindo o clima tenso, ficou mais séria com aquele ar saudoso de quando se fala do passado, com aquele sorriso amarelo ao lembrar das coisas ruins, que no final não era tão ruins assim. - Sabe Lu quando eu tinha dezesseis anos em perdi minha virgindade, e fiquei mal. Não foi como eu imaginei, nem com quem imaginei, apenas fiz por pressão. Queria deixar de ser o monstrinho da minha turma. -Por que você fez isso? Isso é idiotice fazer só porque meia dúzia fez. – Vociferou Luz mal humorada.

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-Bem não é pior do que fazer isso por birra é? – A enfermeira pegou no calo da jovem que cruzou os braços defensivamente, engolindo com amargor seu comentário anterior. Kátia sorriu compreensiva e então continuou a falar ali em pé, enquanto olhava para o céu azul da manhã. - Realmente eu fiz uma burrada naquele dia, você também fez. Apesar disso existem mais coisas na vida do que uma relação sexual mal sucedida. E agora você pode estar triste, mas logo passará. Bem veja assim, a gente continua a viver para corrigir erros que podem ser corrigidos como curar um coração magoado, como pedir desculpas ou se declarar ao seu amor. Viver é agir, Luz não a como fugir disso e, por favor, não fuja. Todos esperam que você de o seu melhor e não que os abandone fazendo a única coisa que você diz não querer... -O quê? –Luz ficou confusa. -Fazendo-os sofrer, é isso que acontece quando fugimos da vida. Pensando só em nossa tristeza, esquecemos que outras muitas pessoas ficaram tristes por nós se desistirmos agora. Não importa quão difícil esteja a vida, não desista!! E não se preocupe seu anjo da guarda está aqui para te ajudar. – Sorriu de modo angelical a enfermeira Kátia que se usasse a imaginação veriam até asinhas nas costas largas de Kátia e uma aureola reluzente acima de sua cabeça. Luiza fez uma cara cômica de desconfiada depois do discurso emocionante de Kátia. E perguntou sem remorso ou pudores: -Você pensou isso sozinha ou copiou de algumas daqueles animes escolares? Kátia ficou branca e com uma cara de surpresa se defendeu: - Importante é a mensagem, certo!Então gambare! Abusando da expressão Kátia aparentava irritante animação que em anime é legal, mas na vida real, aqui desse lado do oceano é muito idiota. Pelo menos o jeito como Kátia se colocou a fez rir, no fundo apesar de ser um clichê, era uma boa mensagem, o de se esforçar e ser perseverante naquilo que se acredita. Então o sorriso sumiu outra vez da face estranhamente não maquiada de Luz. Ela pensara que apesar de se esforçar já não era mais da vontade dela, afinal Rúlio a ignorava totalmente, desde aquele dia, assim como Dani. -O que foi? –Perguntou preocupada a enfermeira, quando viu de novo a amiga estudante cabisbaixa. -É que você disse para me esforçar, só que... Já não depende mais de mim. Acredita que até de lugar Rúlio mudou? -Hum... –Kátia colocou o polegar junto à boca pensando- Assim fica difícil... Um segundo depois lá veio a idéia. -Háá!- estalou os dedos no ar. -Você teve uma idéia para ele me perdoar? –Indagou Luiza esperançosa. -Não, mas... - Kátia olhou o relógio e deu um salto- Nossa deixei um aluno na enfermaria medindo a temperatura há 40 minutos!!!

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E assim num risco deixando Luiza comendo poeira, a mulata foi para a enfermaria onde concerteza se o garoto estiver mesmo com febre já estará alcançando a casa dos 40 graus. Luiza não se sentia menos triste mesmo porque nada melhorara, mas conversando com Kátia sentia esperança de que ficaria tudo bem. E o vento batendo em seus cabelos castanhos dando-lhe uma sensação boa reforçava a idéia. A hora do recreio chegou sem Luz sentir, tinha perdido as três aulas, no entanto nem se preocupava, pois acreditara que já tinha passado de ano e além do mais não estava com saco de ficar sendo ignorada por seu melhor amigo. Então decidiu passar a manhã junto as flores que ela descobrira ter várias outras espécies além das orquídeas, dos quais metade nem sabia o nome. Lendo algumas etiquetas, aprendeu que existem vários tipos de orquídeas tão diferentes umas das outras que nem pareciam o mesmo tipo de flor. Luiza se sentia bem dentro da estufa, até pensou no próximo ano fazer parte do clube de floricultura. Quando já ia se despedindo do sossego do térrio, sabendo que não podia ficar lá para sempre eis que a porta de metal se abre. É Rúlio!! Ele entra, dá três passos a porta misteriosamente fecha, o rapaz tenta abrir, mas a porta está trancada. Seus ombros abaixam desconsolado com o trote, o rapaz sem querer correndo os olhos pelo local vê Luz dentro da estufa. Ela sem-graça tenta contato acenando para o rapaz esboçando um sorriso de canto de boca, ele por sua vez sem surpresa disse: -Você. Luiza Luz aproveitando a deixa, aproximando-se cuidadosa tentando conversar. -...- Assim que abriu a boca Rúlio a interpelou ríspido, de um jeito que nunca fizera antes. -Eu não estou a fim tá? Foi mal. – O rapaz cruzou os braços inflexível. Fora para outro lado do térreo, olhar a vista da manhã que já se ia dando lugar ao calor do meio-dia e aproveitar para não encarar mais Luz. -Rúlio. –Disse a jovem baixinho, com os olhos marejados em quase súplica. Parecia que não tinha jeito, não dava nem para tentar conversar. Como Rúlio podia ser tão egoísta? Ela também sofria e não se orgulhava nada do que acontecera, era a primeira admitir isso. Será que ela não merecia nem se explicar? Será que isso era maior que a amizade de anos? Foi nessa hora em que Luz se irritou, poxa estava ali de coração aberto para pedir desculpas por ter-lhe dito aquelas coisas horríveis e tudo o que ele sabia fazer era dar uma de ofendido?! Ofendida estava ela por ter dado tanto crédito a amizade dos dois!!! Suas mãos se fecharam tentando segurar sua raiva. Estava tudo acabado entre eles, assim que aquela porta se abrir pretendia nunca mais vê-lo! O plano cuidadosamente criado pela enfermeira parecia que não estava dando certo, e pelo visto poderia piorar, se Luz perdesse a paciência agora adeus amizade. Como Kátia sabia o quão importante era as amizades tentou aconselhá-la por detrás da porta pela janela quase fosca de poeira. -Pedi desculpas. –Gritava a plenos pulmões a enfermeira para a jovem. Só que do outro lado tudo o que Luz ouvia era “vendi Lupas”. Luz até se esforçou para ouvi-la quando a viu saltitar do outro lado da janela, indo para perto da porta discretamente enquanto Rúlio olhava o horizonte. Com gestos loucos Luz disse que não conseguia ouvi-la e com gestos mais loucos ainda Kátia tentou retrucar e apesar de ser mais fácil abrir aquela porta a fazer aquele show de mímicas, ninguém pensou nisso na hora.

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-Está certo só tem um jeito. – Disse firme e sussurrante como se estivesse rouca. A enfermeira ficou desesperada não sabia o que Luiza havia entendido quando fizera aquela pose de “está decidido”. E para piorar a vice-diretora apareceu na ponta da escada e estranhou quando viu a enfermeira segurando a porta como se ela fosse fugir. -Hei Kátia, o que está fazendo? –Gritou do começo da escada. A enfermeira virou-se de supetão tentando esconder a porta atrás de si. No térreo Luz estava decidida, ela andou até Rúlio pronta para fazer aquilo que não queria fazer, mas que dava muito certo na ficção, quem sabe com ela não dava certo também. -Rúlio! – Chamou ela com a voz possante, digna de uma sargento de exército. O rapaz se virou, mais de susto do que por interesse. Quando a olhou respirou fundo com ar de tédio, encostou na mureta e colocando as mãos nos bolsos perguntou arrogante: -Que é?! Luiza Luz tinha uma expressão tensa, algo decisivo estava prestes a acontecer, era a última cartada, o golpe final ... -GOOOMENAAAAASAIIIIII!!! –Ajoelhou-se no chão a garota, como os japoneses faziam quando queriam se desculpar, ou mesmo não morrer. Rúlio se surpreendeu que por reflexo, chegou perto da amiga e a levantou gentil. Assim que viu o rosto dela contraído quase chorando não se conteve, como um mocinho de anime abraçou a amada de modo carinhoso e protetor. O clima ficou tão romântico (para ele pelo menos) que com Luz nos braços não se conteve, emocionado se declarou enfim. Nesse mesmo instante depois de as duas mulheres guerrearem verozmente,a vicediretora conseguiu abrir a porta de metal, com a enfermeira a seu tira-colo. E a cena que todos virão foi dois adolescentes ajoelhados se beijando. A vice-diretora não mudou sua expressão talvez até se impressionara, mas as muitas plásticas que fez não a deixava se expressar. Por isso enfatizou “o que significa isso” e “Meu deus” mostrando que estava estarrecida, porém no controle como uma vicediretora responsável. E tudo o que aconteceu depois virou lenda, ninguém sabe ao certo o que acontecera aos dois adolescentes ou a enfermeira que os acobertava. Mas era fato o fim do ano chegou mais cedo para o trio, foi o que souberam. Mas a verdade nunca é aquela que queremos acreditar e para desgosto da ViceDiretora ela não pode se livrar dos dois beijoqueiros. Não sem antes comprar uma briga com os figurões, aqui lê-se os pais do casal de beijoqueiros. Assim a vice-diretora foi “aconselhada” a desistir de suspender-lhes as aulas, o que no fundo Rúlio e Luiza sentiram um certo pesar. Rúlio entendeu depois de uma longa conversa que Luiza Luz não podia corresponder a esse amor e nem transar com ele como fez com Pietro e que apesar disso continuavam amigos forever!! Kátia a enfermeira ganhara misteriosamente umas férias. Tudo ficou em paz, como tudo começou... Pelo menos era o que a vice-diretora achava.

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14 Estavam enfim na última semana de aula. Viva!!!! Férias!! Férias!!! Férias do professores, dos testes, das pessoas chatas, da vice-diretora! Nesse ano aconteceram muitas coisas com Luiza Luz, apaixonara-se, perdera a virgindade, brigara e chorara mais do que em todos os anos anteriores. Agora ela poderia respirar aliviada, nada de se esconder na sala para não ver Dani, talvez tudo tenha sido só uma fase pensava nostálgica. No próximo ano encontraria seu príncipe encantado, rirá dos dias que pensou que era lésbica e viverá rica e feliz como sempre. Viajando para lugares exóticos fazendo cursos estranhos e inúteis, um lindo futuro nascia para Luz no horizonte. E tudo seria assim, como ela planejara se não fosse... O destino.

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Quis ele que Luiza Luz visse pela última vez seu primeiro amor, achando-se salva de todos no depósito da escola na companhia de um bom livro, que nem percebera que a vice-diretora entrara na sala para pegar alguma coisa. Nas pontas dos pés a vice-diretora puxou uma caixa que estava no alto da estante, essa por sua vez caiu para o outro lado onde silenciosamente escondia-se a aluna e seu livro. O barulho da caixa caindo da cabeça não foi nada em comparação ao grito de Luz, um grito estridente e inconfundível. -Quem está ai? – Perguntou a vice-diretora morrendo de medo, mesmo que não expressasse isso em sua face cheia de botox, ninguém sabia, mas seu maior temor eram fantasmas de depósito de colégios. Usando de sua mais alta técnica, que aprendeu em tenra infância em um canal de TV qualquer, Luz imitou um gato tentando despistar a vice-diretora. Infelizmente em vão, minutos depois estava no campo de futebol da escola carregando uma caixa cheia tem bandeirinhas, pompons e cornetas, isso tudo para que todos os professores pudessem torcer em grande estilo no jogo decisivo entre Colorado x Lins. Porém, ainda foi pior Luiza que teve que ficar o tempo todo na primeira fileira ao lado da vice-diretora para que como a vice-diretora disse: para que não fugisse. Não importava o quanto Luiza Luz não queria ver o último jogo, o destino a estava obrigando. Depois de minutos que pareceram séculos, os times entram em campo para o começo do cerimonial da final do Campeonato Colegial. Todos em posição, primeiro hino foi da escola Lins, hino que respeitosamente todos escutaram mesmo com a maioria sendo do Colorado. Quando começou o hino da sua escola instintivamente Luiza olhou para frente e enquanto cantava, seu olhar foi justamente de encontro a de Dani. A jogadora quando a viu ficou surpresa, mas continuou como se nada tivesse acontecido, apenas tentando se concentrar na música então fechou os olhos. Luiza Luz não teve a mesma força para se negar a olhar para Daniela, justo no momento que se achava curada desse amor, sentia seu coração quente e galopante. A estudante tinha quase esquecido de como a jogadora era linda, tinha um rosto de feições suaves que contrastava com as roupas masculinas. Com aquela expressão séria Daniela parecia tão madura que Luz corava só de olhar. Admirava a força de sua amada, que mesmo com aquele corpo delicado podia praticar um esporte de igual para igual junto aos homens. Dani é mesmo incrível, disse para si mesma respirando apaixonada. A vice-diretora escutando o suspiro da colegial, disse amigável: -Daniel é mesmo bom rapaz. Luiza foi desencantada pela voz estridente da vice-diretora, acabou olhando por um instante para Daniel que nem tinha notado, bem ali do lado de seu amor. Isso a fez fechar a cara em amargura, lembrando-se dos tristes fatos que a separava de Dani e por nada no mundo isso mudaria. Aquele era o último dia do ano letivo, quando a partida encerrar e estiver em casa arrumando as malas para ir para Nova York, esse amor estudantil nada significaria. Será como se nada tivesse mudado dentro dela, já que de fato nada de concreto aconteceu mesmo entre elas. Era isso que a jovem do primeiro colegial nos seus 16 anos de vida acreditava, porém repito que o destino é forte, pois nós podemos renegar o amor, mas ele não nos renega. Onde quer que esteja, em qualquer ano, em dias claros ou chuvosos, o verdadeiro amor é inalterável e inabalável. Pois ao contrário da paixão o amor não se apaga, não diminui e não cresce, ele apenas existe, ali no canto esquerdo do peito. Batendo forte

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somente quando vislumbra o objeto ao qual se dedica esse amor, ou quando se lembra dos doces momentos em que as suas almas se tocaram no momento em que se olhavam. O jogo começou, foram quinze minutos de toque sem margem para o gol, a platéia estava atenta. Lins era um time muito forte duas vezes vencedor da competição

T.M.T.E.R. E não fazia feio, mostrava ser um time forte e olhando para o seu treinador casca-grossa dava para entender o porque. Tinha até um de seus jogadores que iria jogar profissionalmente no próximo ano! Luz apesar de não se importar com jogos estava entretida com a partida, torcendo baixinho por Daniela, que estava estranhamente contida em suas jogadas, sem arriscar, parecia que estava poupando forças. A torcida fazia sua parte, mesmo depois de uma chance perdida contra duas chances de gol do Lins, eles torciam firmes sem titubear acreditando no Colorado. E como um banho de água gelada a gol de Lins veio sem dó aos 35 minutos do primeiro tempo. A expressão de Dani era séria e triste ao mesmo tempo, Luz se compadeceu da dor da amada e como ela estava tão próxima gritou: -Você consegue! Dani olhou surpresa procurando a dona da voz que torcia, mesmo sabendo que era Luiza, teve que olhar para crer. Assim que os olhares se cruzaram, Luz sorriu como uma mocinha dando apoio para o seu amado na última hora do jogo, dando força para ele vencer a partida. Dani retribuiu a torcida da amada com um sorriso largo, como que dizendo com aquele pequeno gesto “Eu vou vencer por você”. E realmente o jogo melhorara para o Colorado. Daniela passou dar força para o time quando começou a jogar com garra e sem medo, dando tudo de si. Fazendo os companheiros acreditar que eles podiam vencer! O juiz apita os times se retiram do campo para uma pausa. Os jogadores tomam água e se cumprimentam, escutam as observações do treinador atentos. Dani está agitada se apóia em umas das pernas, isso passava despercebidos por todos menos por Luz que observava cada gesto chegando à conclusão de que a amada estava sentindo o tornozelo. Ali tão perto e nada podia fazer além do que só olhar, ansiava para que o jogo acabasse para assim poder estar um pouco mais perto de Dani quem sabe... Nada a impedia de dar-lhes uns parabéns pela vitória ou consolo, assim como qualquer colega de escola faria. A torcida recomeça a vibrar quando o Colorado entraram em campo. O toque da bola começou lento, se acelerando a cada minuto. Todos se esforçavam, dando tudo de si correndo e ambicionando o gol. Daniel está lá suado e forte corria para o gol estava na hora, daquela velha tática infalível... Desvia um, depois outro e passa para Dani que para delírio de todos na arquibancada marca um gol belíssimo. Dando empate ao jogo. Os jogadores dos Lins pareciam surpresos, o treinador linha dura gritava mais ainda na linha do campo enquanto gesticulava com os braços. Agora todo o estádio ganhara confiança, em coro clamavam a vitória que podia acontecer. Dani e Daniel se abraçaram, assim como todo o time, que juntaram em cima do casal

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festejando, como se já estivesse ganho a partida. Até Luiza Luz pulava e abraçada a vice-diretora como duas torcedoras fanáticas por futebol vibrava em uma só sintonia. Agora era a hora. Tinham treinado muito e iriam vencer concerteza!! O jogo recomeçou com energia o Colorado avançou fazendo o campeão Lins sentir-se pressionado. O jogo se tornou mais competitivo que uma final de copa do mundo! A torcida gritava a favor do Colorado. Dani e Daniel como todo o time, mesmo esgotados lutavam pelo título. Estava a poucos minutos da final, Daniel teve uma chance estava passando para Dani que iria bater concerteza, porém um baque. O jogador do Lins, tentando impedir o lance empurrou ou fez-se cair por cima da jogadora Daniela. Que num instante foi ao chão, com um baque feio lesionou de vez o tornozelo. Quando o juiz correu para junto dela para marcar falta do Lins, Luiza viu Dani sentada no chão segurando justamente o tornozelo que já parecia machucado. A dor era grande podia ver na expressão no rosto redondo de Daniela. O juiz lhe disse algo, ela balançou a cabeça em negativa e sozinha como uma guerreira ferida se levantou. De pé disse que estava bem e iria continuar, tinha que continuar sem ela não tinha jogo, sem ela não teria vitória. Mais forte que a dor é o coração de um vencedor que aposta tudo, que até mesmo com dor continua a lutar com garra! Superando a dor, o desconforto a jogadora Dani ficou mais forte e junto com ela seu time. Com tudo, foram para cima em um só coração, lutando por cada minuto, por cada chance, e... Num suspense sem tamanho, na improvável derradeira jogada do Colorado. Dani vai em disparada par o gol, ela parece voar e ao mesmo tempo dançar no campo driblando os adversários. Perto, bem perto do gol, o que parecia uma certeza não acontece, Dani tropeça em seus próprios pés e antes de cair, em um último movimento passa para Daniel que sem vacilar munindo-se do esforço da amiga e não esperando manda um canhão em direção ao... GOOOOOOOOOOOOOOLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLL!!!!!!!!!! Nem dava para acreditar, nem os jogadores do Lins esperavam isso, por um minuto todos comemoravam, o próprio Daniel vibrava juntos aos colegas que vinham abraçá-lo. Logo atrás de Daniel algo anormal tinha ocorrido o treinador do Colorado corre para o campo. Dani está caída semi-desacordada, rapidamente Kátia ( ela não tinha viajado?) e atrás dela dois médicos, juntos socorrem a jovem. Ela sai na maca de mão dadas com Daniel, que no momento em que a viu no chão tentando se mover, com todo carinho a manteve segura segurando sua mão enquanto o socorro chegava. Luz se preocupa, pensa em ir até a ambulância ver o que ocorreu. Estar ao lado de Daniela agora que era o melhor a fazer, mas segurada pela vice-diretora ela fica. Em uma confusão e a vice-diretora era a única que tinha que estar lá. Então a vice-diretora assim que chegou ao gramado rapidamente se apresentou e entrou na ambulância com um dos para-médicos e se dirigiram para o hospital conveniado o mais rápido possível.

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Lágrimas silenciosas brotam nos olhos claros de Luz deixando a vista momentaneamente embaçada. Ela tinha que ir atrás de Daniela, mas como? Não tinha carro, até chamar seu motorista ou mesmo um táxi poderia demorar. Ela precisava de uma solução agora!! Na verdade uma solução naquele instante! Olhando para os lados procurando alguém para ajudá-la, Luiza se depara com a bolsa preta e social de vice-diretora. Como em desenhos infantis sua expressão ficou maléfica, suas mãos coçaram e de supetão, naquela confusão surrupia a bolsa e leva junto ao seu corpo. Vai para o estacionamento, lá em frente ao carro verdelimão da vice-diretora, procura a chave no meio de várias bugigangas. Quando a encontra coloca-a na porta e certificando que ninguém a vê adentra o automóvel. Enganada, Rúlio e Pintora estavam logo ali, no pé da escada atrás de uma árvore frondosa. Rúlio estranha, porque Luz estaria roubando o carro da vice-diretora? -Vem, vamos atrás dela. – Disse Rúlio conspirador. -E vamos de quê? –Perguntou a feiosa pintora tensa Olhando em volta, além de carros com alarme só tinha uma bicicleta motorizada velha e foi nela mesmo que eles montaram, não sei como, mas em segundos lá estavam eles pela rua da cidade de São Paulo, o porteiro do colégio pouco pode fazer além de espernear, esgoelar e aceitar: Haviam lhe roubado! -Mas outra vez, poxa vida. –Reclamou. Luiza Luz seguindo a ambulância usando o carro da vice-diretora e Rúlio acompanhado da pintora na garupa, seguiam atrás Luiza Luz usando a bicicleta motorizada e nessa correria toda lá logo em seguida vinha a polícia para completar o desfile. Agora só fico em dúvida, aonde chegaram primeiro, na cadeia ou no hospital?

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15 Logo que ambulância pisou no hospital (ignorando o desfile que vinha atrás) os enfermeiros levaram a jovem jogadora para dentro. Diferente do que Luz pensava não era nada muito grave. Dani não corria risco de morte, só o diretor e a vice-diretora, caso ficasse uma seqüelinha que seja na atleta. Colorado era a escola mais cara de todo o estado e os pais exigiam o melhor tratamento para seus filhos, em geral eram super protetores e qualquer mal podia causar uma briga na justiça e conseqüentemente uma má popularidade para o colégio. Quando a vice-diretora viu seu carro adentrando o estacionamento do hospital quase a atropelando e esbarrando feio na ambulância, ela parou estupefata. Tinha que ir acompanhar a aluna, mas não pode. Instantes depois antes de piscar, uma motocicleta passou voando pelo seu lado direito, quase a derrubando e para completar a polícia chegou logo atrás com cara de poucos amigos. A vice-diretora não estava entendendo nada. O que seu carro fazia ali?! O que a motocicleta do porteiro fazia ali? E o que Luiza, Rúlio e aquela menina pintora fazia ali? Quando percebeu estava se explicando para os policiais mesmo

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sem ter tido nenhuma explicação dos colegiais até o momento. A última coisa que a escola precisava era de alunos indiciados pela polícia!Como ficaria a reputação do colégio? O diretor a mataria se soubesse que deixara isso acontecer. E munida de mil e um argumentos, sem precisar de suborno, ela conseguiu livrar os seus alunos. Fora da visão dos policiais, já dentro do hospital a vice-diretora dava seu sermão em voz baixíssima, mas nem por isso menos autoritária. Disse que fariam recuperação mesmo se passassem, falou ainda que pagariam todos os estragos e que ficariam fichados para sempre no Colorado e caso isso se repetisse, era expulsão!Por que disso? Bem o Colorado é uma escola com um nome a zelar e três alunos não podem estragar um colégio todo. Por isso, por hora, ninguém podia comentar um A sequer sobre o ocorrido nem com a sua sombra. Mesmo com a monumental bronca com direito a ameaças e cara feia. Luz pouco se importava com que lhe aconteceria, queria ver Daniela e enquanto a vicediretora em pé de frente para eles os advertia, ela esquadrinhava o hospital e nada de Daniela, nada de Kátia, que ela jurara que vira no campo. Nem sequer um médico para perguntar, aquilo estava tão calmo que Luiza até chegou a desconfiar que aquilo fosse realmente um hospital. Seja como for, Luz só tinha uma coisa em mente “ver Daniela” só assim poderia aquietar seu coração, que estava apertado. Seu medo era que a demora em lhe dar informações fosse porque ocorrera algo mais grave. Tinha que dar um jeito de sair da recepção para procurá-la, se fosse pelos corredores uma hora a acharia. Então bolou seu plano e executou: -Eu sinto muito senhora diretora, eu só estava querendo ajudar a senhora. –Disse com voz chorona e arrependida, quase como uma santa, que convencera até Rúlio. -Me ajudar? –Perguntando em tom de desconfiança, pondo a mão no peito enfatizando o ‘me’. Sem titubear com a cara de coitada Luz continuou a mentira. -Sim senhora. A vice-diretora tinha esquecido a bolsa e eu pensei que fosse precisar. -Claro... Por que não, hoje em dia está comum fazer boa ação. –Disse a vicediretora doce- Principalmente roubando o carro dos outros, passando dois faróis e batendo numa ambulância estacionada em frente a um hospital!!!! A diretora que já era seca ficou ainda mais, como se todo o ar de seus pulmões tivessem saído. A veia no pescoço saltava enquanto gritava, esquecendose que estava num hospital. A vice-diretora, uma mulher esguia e com muitos anos de vida já conhecia todas as artimanhas adolescentes. A cada ano eles se reinventam, mas sempre a subestimam, é onde erram feio. Luiza Luz afundou no sofá bege do hospital, não conseguira seu intuito, a vicediretora era osso duro de roer. Por alguns instantes ficaram assim os três no sofá, e a vice-diretora em pé perto do corredor, esperando alguma notícia andando de um lado para o outro com seu salto de agulha. Estava preocupada, precisava de um parecer antes de ligar para a doida da mãe da Daniela, famosa por seu lado

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dramático. E seria péssimo avisá-la que sua filhinha está no hospital sem saber dizer em que estado se encontra. Concerteza Miranda Ávila ia achar que a filha estava em coma, ia fazer um monte de ameaças pelo telefone e essa seria a parte boa de todo o drama. Melhor seria esperar o médico concluiu abatida e resignada. Outra coisa, pra onde Kátia fora? Jurara que a vira ajudando a socorrer Daniela no campo?Seria apenas impressão sua?Não como seus olhos de águia de vidro poderia ser enganado de tal forma?! Foi a conta de a vice-diretora suspirar com o pepino que tinha em mãos, que um elegante médico de meia idade (o tipo dela) aparecesse. Em seu jaleco branco e com sua prancheta ele veio comunicar o estado da garota. Todos se puseram de pés atentos. -Não foi nada grave. –Disse ele com um sorriso tranqüilo, em por menores o doutor explicou para a diretora, o que ocorrera o tornozelo de sua aluna. Aproveitando essa distração Luiza Luz andou reto, passando por detrás da vicediretora indo pelo corredor da esquerda logo após o balcão de atendimento. Fazendo um U ela chegou até o quarto 03, onde achou Dani deitada dormindo com uma bela adormecida, tranqüila tinha o pé enfaixado e ainda estavam com o uniforme de futebol do Colorado. Luiza entrou rápido no quarto, para não ser vista nos corredores por algum transeunte. Foi chegando de mansinho para não acordar a amada e sussurrando confessou a ela: -Que bom que você está bem. Tive medo que algo muito ruim lhe acontecesse. Não havia resposta, mesmo assim Luz tinha a necessidade de falar. -Sabe... Eu gosto muito de você, gosto mesmo de você! Mais do que talvez seja certo. Isso ainda é meio confuso... Mas acho que te amo... –Sua voz saiu quase inaudível. Luiza Luz se declarou perto do leito da amada, segurando a mão de Dani. A jovem pediu desculpas pelo que ocorrera também dissera que Pietro nada significava para ela. E que fizera muitas burradas, mas naquele dia quando a viu caída no campo, percebeu o quanto a amava. Contara até que roubara um carro para ir até ali. E por fim cessou as declarações, os pedidos de desculpas e as explicações, agora se sentia mais aliviada. Luz estava ali sozinha com Daniela que dormia placidamente, por um minuto não conteve suas fantasias, lembrara o que Kátia disse: que para ter certeza de que era lésbica tinha que beijar Dani e gostar! Luiza se emplumou corajosamente, era sua chance! Era só beijar Dani, e descobriria caso gostasse, não haveria dúvida de seu amor. Não poderia mais ser confundido com admiração, deslumbramento ou curiosidade. A colegial então umedeceu seus lábios vermelhos de boneca e bem delicadamente para não acordar a amada, beijo-a. No primeiro instante fora estranho tocar os lábios macios de Dani, mas quando fechou os olhos pode sentir melhor. A boca de Daniela era suave e doce ao contrário que era o de Pietro, era algo tão gostoso que por minutos Luz não pode se desfazer desse contato. Sentiu como se mil volts percorressem seu corpo, uma emoção indescritível tomou conta de seu coração, indiscutivelmente era amor! Rúlio também conseguira despistar a vice-diretora deixando a pintora para trás que não tivera a mesma sorte, fez o mesmo caminho de Luz e espiou a porta número três, a única que estava meio aberta e a luz iluminava o corredor. Quando os olhos castanhos e redondos de Rúlio viram, o que viram, perdeu o ar. Luz estava beijando Daniela!!! Sentiu as pernas faltarem e a vista escurecer, Rúlio teve que espiar pela segunda vez para ver se não estava sonhando, até beliscou seu braço dando um gritinho involuntário.

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Sua presença fora descoberta, assim que a porta se abriu Luz estava bem ali de pé parecendo zangada com a intromissão do amigo. Mas, na verdade estava era com medo, medo do que seu melhor amigo podia dizer. Será que ele iria entendê-la ou repudiá-la? Ela não sabia, muito menos Rúlio sabia como agir, foi uma revelação e tanto. E ele nem desconfiava, todo o tempo. Então que era por Daniela que Luiza Luz estava apaixonada?! Sentiu-se meio feito de tonto, meio posto de lado, porém estava feliz depois de muito tempo era a primeira vez que via os olhos de Luz brilhar por amor, mesmo que esse amor não estava dirigido a ele, estava feliz, pois era, seu melhor amigo. Mas naquele momento era difícil dizer tudo isso, não pode ficar. Então correu pelo hospital fugindo da saia-justa. Luiza quis correr atrás do amigo no mesmo instante, contudo quando escutou a voz débil de Dani pedindo para que não fosse não pode resistir. Daniela havia despertando, estava tão feliz que não pode negar um pedido de sua amada. Virou-se imediatamente para olhar aquele rosto delicado da amada, era Dani ali sentada na cama meio sonolenta e séria. -Por favor, não vá, não agora. A face de Luz ficou quente, ficou vermelha com o modo sexy que Dani pediu para não ir. Tentou disfarçar com a pergunta mais óbvia que encontrou: -Seu tornozelo ainda dói? -Oh –Daniela olhou para ele como se tivesse se esquecido- Não nada. A feição doce de Luiza Luz então mudou, as sobrancelhas arquearam-se e boca torceu para o lado, em sinal de que ai vinha a bronca. -Você não devia ter se esforçado tanto. Poderia ter ocorrido uma lesão ainda maior ou... Dizia enquanto se aproximava do leito. Ela não pode mais falar desenfreadamente, Daniela havia puxado a amada um pouco mais perto e olhando bem nos olhos de Luiza, disse sem rodeios: -Eu te amo também Lu. O rosto de Luz ficou mais rubro que o uniforme da jogadora. Daniela acabara de se declarar sem romantismo e decididamente sexy! É isso mesmo Dani não estava dormindo, isso quer dizer que escutara tudo e principalmente a sua declaração de amor. Isso também queria dizer que... Ela estava acordada quando a beijou para ter certeza dos seus sentimentos. Luiza Luz sentiu seu coração bater forte, estava envergonhada e feliz, tudo ao mesmo tempo. -Me ama? Dani sorriu sensual. -Sempre te amei, desde o dia em que coloquei os olhos em você. Amei o jeito como tentou brigar comigo e como reclamou quando eu te carreguei, mas se o amor já é complicado imagina o nosso amor. Foi difícil ir até você e foi muito mais difícil vê-la me ignorar, eu não quero mais sofrer, a gente só está andando em círculos, por isso antes que um raio caia na minha cabeça... Luiza Luz segurou o ar, a pergunta mais importante de sua vida estava vindo ai, uma pergunta que sempre esperou ouvir de seu príncipe. E quem disse que Daniela Ávila não era? Isso mesmo Dani era tão linda quanto um, com suas madeixas negras, e muito mais sensual que muitos deles, além disso. Era a melhor jogadora do time, seu corpo era perfeito esculpida pelo esporte, como com tais qualidades, ela não poderia ser seu príncipe?

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- Luiza Luz, Lu.. –Dani tomava coragem segurando ambas as mãos da amada- Quer... quer ... Suspense tomou conta, Luiza tinha suas mãos junto a de Dani com aquela expressão de quando se espera o melhor presente do mundo, por fim a pergunta foi feita Com as bochechas róseas Dani disse: -Quer ir ao baile da escola comigo? Doing!Quê?Baile? Então era só isso?! Pensou Luz decepcionada, e ao mesmo tempo tentando manter o sorriso amarelo. Luiza foi pega de surpresa, nem se lembrava do tal baile, nem tinha vestido!!O convite fora uma surpresa, não diria ruim, todavia fora menos do que esperava depois de ter se declarado. Em outros tempos ela diria não, faria biquinho e diria algo assim: -Eu me declarei te beijei e tudo que você tem de importante para dizer é: se eu quero ir a um baile idiota de fim de ano?!! Definitivamente Luiza Luz diria isso, contudo devido ao estado da amada não arriscou e disse: -Claro, eu não podia querer ninguém além de você. -Falou de modo romântico e gentil que pela primeira vez deixou Dani vermelha e com um sorriso envergonhado. As duas se abraçaram por fim meio sem jeito, seria bem mais quando se Dani estivesse fingindo dormir. Luiza feliz apertou forte Dani que retribuiu com afeto, estava realizada apesar do tornozelo ferido. Iria para o baile pela primeira vez com alguém de quem gostava. Luz estava adorando sentir Dani de pertinho, podia até sentir os seios da amada de encontro ao seus, um toque macio como almofadas.Ela achou muito gostosa a sensação, tanto que se demorou mais um pouco no abraço amoroso. Segundos depois Dani pergunta: -Posso e perguntar uma coisa? – A voz da jogadora era séria, até preocupante. Viria bomba por ai? -Diga. –Falou Luz receosa afastando da amada para olhá-la nos olhos. De supetão com uma cara de curiosa e muito fofa Dani indagou à namorada: -Nós vencemos o jogo? Luz deu um suspiro, e com um empurrãozinho falou: -Baka claro, você venceu!! O rosto da Daniela se iluminou como uma criançinha quando ganha o melhor presente do mundo e comemorou. -Isso!! Eu sabia!!! Eu sabia que Daniel conseguiria chutar pro gol!!!!! ÉÉ!! -Ei não precisa ficar tão agradecida assim com Daniel. –Disse enciumada. Daniela sentada na cama olhou para amada, que estava em pé ao seu lado no quarto de hospital. Olho-a com uma carinha matreira e em tom de brincadeira disse: - Sabia que você fica muito fofa quando fica bravinha? Luz ficou vermelha, apenas encostou-se na cama e olhou para o nada querendo disfarçar o quanto Dani a afetava. Nesse momento ela sentiu a mão quentinha de Daniela sobre a sua e de rabo de olho se olharam apaixonadas e sorriram. Era evidente a felicidade de ambas, e com as mãos unidas sacramentavam a afinidade como um casal. E naquele momento Luz teve a certeza, não importaria o que dissesse os amigos ou os pais de ambas, nem a sociedade. Iria viver esse amor em todo seu esplendor e glória!

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16 Há trancos e barrancos o ano letivo chegou ao fim no Colégio Colorado, toda a atenção estava voltada para os preparativos da festa. Luz passara os últimos dias muito feliz ao lado de Dani, fizeram passeios como namoradas, tomaram sorvete na praça, andaram juntas debaixo do mesmo guarda-chuva abraçadinhas, viram filmes melosos no cinema. Tudo perfeito e não fosse o seu melhor amigo ter sumido do mapa, quando ligava para Rúlio era sempre atendida e com uma desculpa (uma pior do que a outra) se negava a vê-la e jurava não ter nada a ver com o fato de ela ter começado a namorar uma garota. Quando indagado sobre a festa de fim de ano, dissera que estava ocupado que iria viajar com os pais para um evento de moda onde iria desfilar. Disse que manteria contado, que eram amigos que até mandaria uns presentinhos para ela no Natal. -É Lu, ele está te evitando mesmo. –Sentenciou Dani pelo telefone. -Eu não disse? -Não esquenta, Daniel ficou meio distante comigo também no começo, agora é como se nada tivesse acontecido. -Não tem nada a ver, porque Rúlio não me ama, a gente é só amigos. -Você acha? -O que você quer dizer com isso?

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Daniela riu. -Não estou querendo dizer nada. -Acho que ele está me evitando porque não aprova o nosso namoro e não quer me magoar dizendo isso. - Então porque não o coloca contra a parede? Vocês são amigos desde o fundamental isso tem que significar alguma coisa? -Como? -Deixa comigo, preocupes-se só em estar pronta para sair às sete. Você já decidiu qual dos nove vestidos você vai usar para ir ao baile? -Hum estou entre dois... Mas é surpresa. Agora tenho que desligar já estou chegando no cabeleireiro.Beijo Dá! -Beijo Lu. A noite chegou tão rápida e fresca, que Luiza ainda não estava pronta. Ajudada por Lola, Luz a adolescente excitada, tentava fazer os últimos toques na maquiagem. Como sempre optava por uma maquiagem leve que ressaltava seus belos traços, lábios carnudos, olhos claros e nariz arrebitado. No meio desse campo de guerra fashion com um monte de vestidos, sandálias, sapatos, jóias... Michel resolveu se aventurar, como que se trouxesse um rei nos braços, foi até a filha que havia terminado de colocar as lentes, para lhe mostrar algo. -A pai não vêm não, estou ocupadíssima, só tenho dez minutos até a Dani chegar. Com cara de ofendido choramingou: -Pensei que minha princesa fosse gostar de usar um colar caríssimo que foi de sua mãe. – Disse com falsa humildade, abrindo o estojo negro de veludo.- Mas deixa pra lá, vou guardar no cofre. -Nossa pai, é lindo!!! Há pai vai me deixar usar ele mesmo?!! – Luiza Luz mudou completamente o tom. Os olhinhos de Luz brilhavam diante de uma jóia tão bela e cara, e quando sentiu ela em seu pescoço nu, quase entrou em êxtase, seu pai nunca a havia deixado usar as jóias de sua mãe. -Papai é lindo! - Luz tocava o colar enquanto se deslumbrava olhando no espelho. Michel com seu ar de galã tocou os ombros finos e nus da filha dizendo satisfeito: -Sempre o melhor para minha filha querida. Lola sabia que Michel havia abrindo uma exceção porque estava muito contente por Luz não estar indo com nenhum garoto aproveitador caçador de dotes, com o qual ela sempre ia às festas (lê-se Rúlio Bastos) e sim estava indo com sua nova amiguinha do peito Daniela Ávila. Por isso foi generoso o bastante para presenteá-la com tal mimo. Michel elogiou-a e beijou-lhe o alto da cabeça desejando boa sorte. Logo soou a campainha Luiza Luz sabia que era sua amada, estava ansiosíssima para vê-la não tinha a mínima idéia de como estaria, talvez um terninho vinho e negro super fashion. Dani foi recebida por Michel que se apresou em cumprimentar a amiga de Luz. Luiza então se apresou colocou uma sapatilha super kawaii levemente rosado, não queria ficar mais alta do que Daniela, caso ela não usasse salto. Passou o gloss rosado que deixava a sua boca muito sensual, colocou um anel que combinava magicamente com o colar. Pronto, respirou fundo e como uma noiva indo para o altar desceu enlaçada a Lola, sorrindo animada e nervosa.

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-Você está feliz não é minha filha? -Sim Lola, esse será o melhor fim de ano da minha vida! Com uma expressão conformada e doce Lola disse: -Então estarei sempre ao seu lado, ouviu querida? Ela acenou para mãe-empregada-governanta a única que percebera o que Daniela Ávila significava para ela. Lola era impressionante, podia lê-la como se fosse um livro, sabia só de olhá-la que estava apaixonada por Dani, porém não disse nada a Michel, isso que teria quem dizer seria a própria filha. A velha mãe-governanta-empregada se preocupava com a reação do patrão, mas naquele momento era tempo de festa, não de preocupações. Luz estava na flor da idade, estava de férias e merecia uma festa inesquecível como toda garota. Quando Luz e Lola chegaram a escada não viram nem Michel nem Dani, ambos estavam na sala de visita, podia ouvir o som de suas vozes. Chegando a porta Luz pode ver seu pai e sua amada conversando sobre uma taça que seu pai ganhou em um torneio de xadrez quando estava no terceiro ano. Luiza Luz entrou sozinha, Lola sabia que era a hora de Luz brilhar, assim como dizia seu sobrenome.E deste modo entrou na sala iluminada por lindos castiçais, feito uma modelo de passarela, Luz parou junto ao sofá e disse: -Demorei muito? Ambos viraram para trás, ambos sorriam, mas só Dani caminhou para perto de sua amada deslumbrada. Segurou-lhe a mão e a girou, fazendo o vestido rodar. Luz parecia uma bailarina. Estava linda em um vestido de fada bege e com brilhos singelos, com aquele colar que vestia seu pescoço fino, com aquele penteado cheio de cachos, e sem óculos deixando ainda mais leve seus contornos faciais. Dani não teve palavras para expressar o quanto sua amada estava deslumbrante, e realmente qualquer palavra seria pouco para a beleza real de Luiza Luz. -Você está lindíssima. –Sussurrou rouca Daniela. -Mentira você é que está maravilhosa! –Luz abria os braços da amada olhando para o modelito super fashion um smoking estilizado, a blusa branca abaixo do paletó vinho de cetim eram só um top, com pequenos detalhes nos bustos, a calça de corte reto e negra, a bota também de um negro brilhante fechava o look. Dani não usava jóias e seus cabelos estavam intencionalmente desalinhados, a mecha azul tão presente no seu visual desaparecera, dando lugar a uma vinho-vermelho. Daniela parecia uma pop star, simplesmente ela chamaria toda a atenção para si tanto por sua beleza sedutora, como por sua roupa deslumbrante e original. Afinal enquanto todas as meninas estariam de vestidos, ela usaria uma roupa típica masculina, mas sem deixar de lado um toque feminino. Daniela estava simplesmente exótica e Luz amou isso. -Nós duas estamos lindas. –Sentenciou por fim Dani, sorrindo para a amada trazendo junto a si como se fosse beijá-la. -E então está tudo pronto para irem meninas? –Disse o pai de Luz interrompendo as amigas. -Sim a limusine já está nos esperando lá fora. –Falou Daniela para Michel, fazendo claramente o papel de namorado. –Não se preocupe Senhor M. eu trarei sua filha sã e salva até a meia-noite. -Fico muito feliz e tranqüilo, que minha filha esteja protegida. –Michel se aproximou e colocando a mão no ombro das duas dizendo por fim:

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-Divirtam-se garotas, a juventude não espera! -Sim!! –Disse as duas como escoteirinhas. Michel sorri e por último faz suas recomendações: nada de álcool, drogas e rapazes. Com um riso entre os lábios as namoradas acenam concordando. E quando dão as costas, saindo pela porta frente juntinhas, Daniela Ávila comenta: -Você ainda não contou ao seu pai, não é? -Não. As duas explodem-se em risos, Michel não fazia a mínima idéia que quem saia com sua filhota não era apenas uma amiga, era mais que uma amiga, era sua namorada! Michel estava feliz em não precisar lidar com garotos, que não notou quando sua filha se apaixonou por uma garota! -E você o que fez para sua mãe te deixar se vestir assim e não com um vestido? -Minha mãe se torna bem mais flexível quando acontece algo comigo, e machucar o tornozelo no último jogo foi ótimo, pois ela se sentiu culpada de não está presente o tempo todo. Então por hora, ela aceitou esse meu capricho. Minha mãe no fundo sabe quem eu sou, só precisa de um tempo para aceitar que sou uma menina digamos diferente. Luz admirava o jeito racional e sereno como a sua amada resolvia questões tão difíceis. A sua determinação, a sua confiança fazia se sentir segura e de mãos dadas naquele momento desejou forte, que para sempre ela pudesse ficar ao lado de Dani. Esse alguém tão especial, que do qual não queria se afastar nunca. Seus olhos se iluminaram apaixonados e no final sorriu com confiança acreditando que Daniela faria o melhor por ambas. Já dentro da limusine a caminho da festa, Luiza se deslumbrava como uma garotinha com os mil e um utensílios dentro do luxuoso automóvel, que era muito confortável e espaçoso em seu estofado acinzentado. Trocando confidências assim tão próximas e completamente apaixonadas, Luiza nem percebeu quando a limusine parou. -Já chegamos à festa? –Se surpreendeu Luiza. -Não, você tem uma coisa pendente a resolver, pensei que essa seria sua última chance. Lu, o seu amigo Rúlio está indo embora do país está noite, essa é sua última oportunidade que vocês têm para resolver isso. Daniela abriu a porta e Luz viu a mansão Bastos logo a sua frente, rosa e branca com esculturas enormes e nuas em seu jardim. Estava ali, essa era última noite do amigo no país, de acordo com Dani ele embarcaria às dez horas. -Tem muitas coisas que a gente não pode deixar para amanhã e essas é uma dessas coisas. –Filosofou Daniela já em pé estendendo a mão para a namorada para que se apóia-se e descesse da limusine. Luzia desceu mecanicamente e quando de fora do veículo olhou a amada toda insegura, Dani por sua fez sorriu algo como “vá enfrente, você consegue” e a jovem deu alguns passos e munida de muita coragem se dirigiu a porta principal. Dizia a si mesmo que não estava com medo, mas concerteza no mínimo estava receosa, seria a primeira vez que olharia seu amigo de infância nos olhos depois daquela cena. Tinha medo de como a olharia, o que ouviria de alguém que tinha tanto apreço, pois não a nada pior do que desapontar um ente querido, mesmo quando tudo que ela quer é ser feliz ao lado de quem escolheu.

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Esta havia chegado à imensa porta branca e aristocrática, depois de subir um lance de escadas. Respirou fundo e... Nem precisou tocar a campainha, o mordomo abrira a porta mostrando que sabia que estava ali. Como todo mordomo de mansões, ele era exatamente igual aos outros cabelos grisalhos e penteados de lado, olhos pequenos para só ver o necessário, bigode bem aparado, pele enrugada e alva, todo pomposo em seu terno de grife. -Pois não?-Mesmo a conhecendo desde pequena o mordomo sempre a tratava com gélida distância, como se nunca a tivesse visto na vida e como se nunca ela tivesse estado ali apenas para falar com seu melhor amigo. -O Rúlio está? –Perguntou passando o olhar pelo saguão da mansão. -Sim está. –Um mordomo só responde aquilo que é perguntado. -Posso vê-lo? –Indagou Luiza sentindo como se falasse alguma blasfêmia a um padre. -Sinto muito, o patrãozinho está ocupado com os preparativos da viagem. Não pode atender no momento. O rosto de Luz se apagou em ressentimento, comprimiu os lábios e ia dizer “obrigado por nada” quando viu uma cabeçinha com luzes apontando no alto da escada, nesse momento ela percebeu que tinha uma chance e com um sorriso magistral disse ao mordomo: -Então, por favor, diga ao meu melhor amigo, que eu passei o ano todo fugindo e não fui muito longe e que ELE também não irá!! O mordomo parecia impressionado com a atitude da jovem, de todas as ameaças que já tivera que repassar, essa sem dúvida o metera medo por sua determinação e pela expressão maléfica-angelical de Luiza Luz. Rúlio tremeu diante do aviso, isso queria dizer que para sair dali para o aeroporto só de helicóptero. Droga justo hoje o helicóptero foi para inspeção!Ele percebeu que não havia outra saída, teria que ter uma conversa definitiva. Antes que Luz desses as costas ele surgiu firme no alto da escada como a jovem previra. O olhar dos dois se cruzaram, mostrando que ambos temiam aquela conversa e ao mesmo tempo precisavam tê-la mais do que nunca. Luz seguiu Rúlio até o escritório no andar de cima, dentro da sala ricamente mobiliada, com móveis de muito bom gosto da época colonial, muitas prateleiras cheias de louças e cadeiras macias. Quando adentraram o amigo ficou olhando para o jardim, parecia que nem notava sua presença. Ela sabia que tinha que ser forte e começou a explicação que por mais descabida que possa ser de se dar a um amigo, era a única que ela tinha. -Não foi nada planejado, aconteceu. –Aquela velha frase de gente arrependida. -Eu acredito em você.- Aquela mesma resposta para as quais não quer discutir. -Rúlio para de ser tão infantil!! Sempre fomos amigos!! –Luz tinha o pavio curtíssimo nunca ficava na posição de julgada por muito tempo. -Acho que esse sempre fora o problema. – Disse Rúlio estranhamente depressivo, como ela nunca vira. Luiza foi até ele e se prostou de frente, e olhando nos redondos olhos castanhos a todo ouvidos. -O problema é que sempre fui covarde. Não tive coragem para falar o que eu realmente sinto. –Declarou por fim o amigo com o olhar baixo.

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-E o que você sente, diga agora então. –Nunca dê essa ordem se não quer se pego em uma saia justa, esquecendo-se disso Luz mergulhada no sentimentalismo não pode prever o que vinha a seguir. Rúlio tentou colocar todos seus sentimentos em palavras, não conseguiu, por fim em um ato de desespero resumiu tudo isso em um único gesto. Tão perto de Luiza fora fácil, apenas jogara o corpo para frente mirara a boca desejável da amiga e um terno beijo se fez presente na sala iluminada apenas pela lua cheia. Luiza Luz se afastou, parecia ter sido queiamda por fogo. Rúlio se entristeceu com a reação da amiga, conformado apenas sorriu. Não havia o que fazer, Luz nunca o amaria. -É esse meu problema, eu sempre te amei desde a época em que vi você batendo naquele garoto que se declarou a você. No começo estar perto de você me bastava. Depois em nome de uma amizade que eu jurava existir, eu afoguei esses sentimentos. Eu te apoiei quando achava que estava apaixonada por Daniel... -E qual é a diferença por quem eu esteja apaixonada? -Perguntou já sabendo a resposta. Ele diria naquele momento que não podia ter uma amiga lésbica, que estava ferido por sido trocado por uma mulher. -A diferença... –Riu triste – É que você mentiu o tempo todo. - Espera, eu nunca disse que estava a fim de Daniel!! –Advogada do diabo ON. -É você nunca me disse nada... Fico pensando quantas coisa você já me escondeu. O que fiz para merecer ser posto de lado assim? Não a ninguém que te quer tão bem quanto eu, e um dia acordo e descubro que nada sei de você! Porque não me contou?! Eu não merecia saber?! Rúlio ao fim de seu discurso já estava com a voz embargada, os olhos marejados se apoiou na mesa atrás de si tentando se controlar. Nunca chorara assim na frente de ninguém, a verdade nunca teve tantos motivos para chorar como agora. Luiza Luz sentia culpada, não havia percebido o quanto excluira o seu grande amigo de sua vida. Pensando só em si, não percebeu o quanto seu amigo sofria, escondendo seus sentimentos, sorrindo e dando força em momentos que queria chorar. Ele fora como um anjo, sempre a disposição e tudo que ela deu a ele foi indiferença e meiasverdades. Ela compreendia que enquanto se sentia ferida, quem estava mais ferido era seu melhor amigo. Luiza Luz não era muito amorosa, só que naquele momento não tinha outra coisa a fazer a não ser abraçar Rúlio bem forte. O rapaz se pendurou no ombro da amiga, não mais chorava, mas podia sentir seus soluços e suas lágrimas molhando eu ombro caindo silenciosamente à conta gotas. Uma coisa que você querido leitor já sabe é que Luiza Luz é péssima em admitir que errou, e pior em pedir desculpas, por isso o mais próximo que Rúlio poderia ter de uma desculpa era os braços finos envolta de si aquecendo-o e amparando não exatamente como desejava, mas o único possível, como um abraço de uma irmã.

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17 O tempo havia decorrido depressa, quando Luz olhou para o relógio antigo que ficava logo acima da poltrona, um objeto de contar horas lindíssimo para quem gostasse de coisas velhas. E como todo bom relógio não mentia, era exatamente nove e meia. Preocupada com a companheira, Luiza foi até a janela para ver se Dani ainda esperava esse tempo todo. Quanto foi sua surpresa, a limusine já não estava lá. Luz ficou estupefata, bem no dia do baile sua namorada resolvera deixá-la na casa de Rúlio e agora sumira?! Será que Daniela chegara a entrar e se deparara com ela nos braços de outro? O rosto belo de Luz fechou-se, Rúlio como sempre notou, chegou a perguntar o que acontecera e como sempre Luz não disse. Dirigindo-se a porta da frente com urgência, Rúlio nada pode fazer além de acompanhá-la. Abrindo a porta pesada Luiza saiu na frente da casa, não havia mesmo uma limusine. Seu coração já estava pequeno quando finalmente o viu adentrar o jardim da mansão Bastos. Já próxima Dani e a pintora que a naquela noite estava até atraente, apareceram no teto da limusine e acenavam animadas. Assim que a enorme limusine parou Daniela gritou: -E aí tudo pronto para a melhor festa do colegial? E olha só quem eu achei!! (como se Dani não tivesse ido buscá-la) Luz e Rúlio foram pegos de surpresa, então esse era o plano de Dani? O tempo todo ela planejava levar Rúlio para festa de qualquer jeito, por isso contara com a segunda

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mais fiel amiga do rapaz, a pintora feiosa que repito estava muito bem arrumada naquela noite, com os cabelos presos e o vestido vermelho que chamava toda a atenção para seu busto volumoso. Quando as meninas desceram da limusine e a pintora foi direto no amigo, lançando-o pelo braço pronta para lavá-lo. -Tenho que viajar essa noite. –Disse com a de “hoje não moça” - Nada que não possa marcar para amanhã. Quer que eu ligue para o aeroporto? –Disse Dani mostrando o celular com impetuosidade. -Não estou vestido apropriadamente. –Tentou outra desculpa o pobre rapaz. -Aqui patrãozinho já separei a roupa que o senhor tinha escolhido. –Surgiu do nada o fiel mordomo, com suas roupas em mãos. -Não vai dar tempo de me vestir. –Reclamou outra vez. -Que isso, a limusine é grande. Você vai vestindo no caminho. -Falou Daniela em resposta. -O quê?! –Rúlio ficou chocado, ele nunca fora tímido, mas daí a se despir na frente de três mulheres, seria praticamente um pervertido! -Você não vai fazer carreira de modelo, não devia se envergonhar de trocar de roupa na nossa frente. –Falou Dani divertindo-se com o embaraço do rapaz. -Isso vai ser desconcertante. –Suspirou ele desanimado. -Vai nada, aproveita e mostra aquela tatuagem que você fez no começo do ano. - Dedurou Luiza Luz entrando na brincadeira. -Não sabia que você tinha uma, essa eu quero ver. –Falou a pintora curiosa. -Até você ?! –Chocou Rúlio com até então sua quase recatada amiga. A jovem sorriu zombeteira, e como uma confusão de braços e vozes, Rúlio foi levado sem direito a se negar para dentro da limusine luxuosa, onde se trocou enquanto se dirigiam para a festa, na verdade ele foi quase abusado pelo trio que não deram nem tempo para ele sentir vergonha. Em dez minutos, estavam descendo do carro luxuoso, pisando no tapete vermelho que levava ao salão de festas do Colorado. Quando os quatros desceram tão produzidos quanto estrelas de Hollywood, foi grande o alvoroço. Rúlio aquele garoto simpático e carismático estava parecendo um galã de TV, com um terno moderno, a pintora sempre com suas roupas apertadas, usava um vestido que modelava suas formas sinuosas, os cabelos levados para traz mostrava seu rosto que surpreendentemente era belíssimo! Já o casal de meninas, estavam de tirar o fôlego, foram muitas as garotas que as invejaram e muitos os garotos que se apaixonaram, estavam lindas, estonteantes. Luz sem óculos se transformava em uma mulher incrivelmente sensual, Daniela naquele terninho fashion parecia ter saído de uma passarela. Muitos flashs iluminaram os quatro que posavam para as fotos com desenvolturas de astro de TV, esse era sem dúvida o melhor momento do ano escolar, quando todos se vestiam impecavelmente para arrasar na festa. No interior do salão iluminado magicamente pelos globos, o grupo se sentou à mesa já reservada para o eles, pediram um refrigerante e uns petiscos finos. Não passara nem dez minutos e Rúlio já arranjara o que fazer, foi cumprimentar todos os conhecidos e junto como que colada ao rapaz estava a pintora que ganhara muitos elogios dos colegas. Luz e Dani ficaram sentadas namorando, o tornozelo de Daniela já estava quase curado só que ainda não estava forte o suficiente para ficar muito tempo em pé. Mas elas não ficaram a sós por muito tempo, logo os jogadores do time de Dani vieram

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cumprimentá-la . Todos contentes, nem pareciam que aquele era o último ano deles no Colorado, conversaram sobre o jogo e sobre a loucura de Luz roubando o carro da vicediretora, era algo memorável que ficaria para a história do Colorado assim como aquele jogo final. O último a se aproximar foi Daniel, educadíssimo cumprimentou o casal de meninas com beijos nas bochechas. Conversara amenidades e sobre o futuro, o único ponto tenso foi quando o rapaz pediu que Dani dançasse com ele, persuasivo disse que ela não podia negar um último pedido de um amigo, que provavelmente nunca mais veria depois que fosse para o exterior estudar administração. Dani iria aceitar se não fosse o gênio possessivo da amada segurando-a e com a desculpa do tornozelo disse: -Desculpe a Dani ainda não se recuperou, por isso se não for incômodo eu me ofereço para dançar. Sem remédio, Daniel galante encaminhou a jovem para o centro do salão, e dançaram uma música calma lenta e romântica. Dani se divertia com o ciúme da amada, apesar de estarem apenas dançando pareciam estarem travando uma luta de rivais. Luiza altiva encarava o jogador de 1,80 sem medo, de modo que ela se fez respeitar. -E então já faz quase um mês que vocês estão juntas? –Falou Daniel ao pé do ouvido de Luz, fitando o horizonte. -E porque o interesse? Daniel sorriu e mentiu: -Nada em especial. -Sei. Uma pausa, por fim sem receio o rapaz expôs suas idéias. -Vocês pretendem dar uma festa? -Festa? -Sim para comemorar o namoro de um mês. Dani fez isso quando fez um mês de namoro com Beatriz, foi uma festa e tanto sabia? Só não foi melhor para mim porque Beatriz era minha ex., só pensei que Daniela faria algo semelhante, pelo visto... -É claro que vamos fazer!- Interrompeu Luiza Luz não agüentando mais aquele cinismo de Daniel. Na verdade disse isso somente para calá-lo. Daniela nunca tinha mencionado uma festa para comemorar o namoro, sequer tinha perguntado se aceitava namorá-la, tudo ocorreu muito depressa e natural, sem formalidades. Pela primeira fez Luz sentiu-se mal, parecia não ser tão importante quanto a ex. Luiza não era romântica, nem fazia questão disso, mas lembrara que durante todo esse tempo Dani nunca dissera o quanto a amava, ou demonstrava qualquer interesse no o tempo decorrido desde o hospital, a jovem ficou insegura. O que ela significava para Dani? Apenas uma relação de fim de ano que terminaria no carnaval? Luiza Luz engoliu em seco, assim que a música acabou se desvencilhou dos braços de Daniel e se sentou atacando logo em seguida uns salgadinhos que tentava engolir junto a eles as dúvidas e amarguras que Daniel havia plantado em seu íntimo. De qualquer jeito mesmo com Dani perguntando não podia estragar a noite com suposições, calou-se por hora principalmente porque era isso que Daniel fatalmente queria, desestabilizar sua rival. A noite se arrastou negra e úmida, uma chuva torrencial que caía impedia que as pessoas se dissipassem do local. Rúlio e pintora se divertiam na pista de danças, pareciam

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dois pombinhos. Essa foi a única alegria da noite, ver seu melhor amigo feliz ao lado de alguém que poderia lhe retribuir o amor. Como previsto apesar de ser paquerado todo o tempo pelas colegiais, Daniel se mantinha ali firme forte ao lado esquerdo de Daniela, aparentemente distraído com a música. Luz fuzilou-lhe com o olhar cheio de ódio, graças a ele aquela noite agradável de formatura já era para ela. Dani começou a sentir desconfortável, o silêncio na mesa a assustara, sabia que algo ocorrera, mas nenhum dos dois se atreveria a dizer o que houve, nesse momento quis que seu tornozelo já estivesse bom para tirar Luz para dançar e assim descobrir com discrição o que a chateava no momento. Mas o médico a proibira de fazer esforço excessivo e mesmo que quisesse a dor não deixaria. O clima só fora amenizado com a chegada de Rúlio e a pintora à mesa, contentes rindo de algo que ninguém fazia idéia. Puxando a cadeira para a pintora Rúlio educado ofereceu para que sentasse, essa se afastou e disse feliz: -Não eu vou ao toalete, retocar a maquiagem. -Eu te espero aqui então. Ainda temos que dançar aquela música – Falou Rúlio dando uma requebrada cômica, incrível parecia que a história deles era mais longa do que parecia, tinham até uma música especial. A jovem feiosa pintora (hoje já não tão feia) sorriu assentindo, e surpreendendo Luiza Luz que naquele momento olhava maldosa para Daniel, chamou-a para acompanhála. -Quem eu? – Uma pergunta idiota que fazemos quando somos surpreendidos por algo e não sabemos o que dizer, além do óbvio, “quem eu?”. -É. –Disse a pintora querendo saber qual parte ela não entendera. Incentivada por Dani ela acaba indo, até porque não tinha uma boa desculpa mesmo. No banheiro feminino e cheio, a pintora retocava sua maquiagem com maestria de uma verdadeira artista enquanto contava que a colega que pretendia ser maquiadora profissional. Luiza Luz ouvia tudo de cabeça baixa sem prestar muita atenção, ela só pensava o que estariam os três conversando naquele momento. -Luiza, Luiza. Ela só atendera ao segundo chamado. -Hã? -Você não me parece bem, o que houve? Ela sorri desanimada se abrir a boca. -Não se preocupe, não é nada. -Algum problema entre você e a Dani? Luiza queria muito tirar isso da cabeça que acabou contando, mesmo não sendo muito amiga da jovem, sentiu que podia confiar. -Sabe, acho que Dani não me ama muito, pelo menos não tanto quanto amava Beatriz. Beatriz é a ex dela. - Especificou. -Oh sei, porque você acha que a Dani a amava mais? -Por quê?! Porque Dani deu uma festa de comemoração de um mês de namoro quando estava com a outra!! E já passou um mês e ela nem falou sobre isso, concerteza nem se deu conta. –Luiza Luz derramava lágrimas sentidas.

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Tentando consolá-la a pintora abraçou-a como uma amiga. Ninguém notava o sofrimento de Luiza naquele momento, naquela muvuca de meninas-mulheres retocando a maquiagem, arrumando os cabelos conversando sobre homens. -Luiza, acho... –Antes que a pintora começasse a defender Dani, a jovem chorona se precipitou. -Nem pense em defendê-la só porque ela armou o encontro de você e Rúlio. Isso não tem desculpa! –De um segundo a outro, antes com fala dura e com seu dedinho apontado a pintora, mudou para outro ataque de choro e como nos filmes, saiu correndo do banheiro com a mão na boca tentando contes as lágrimas (só não me pergunte como). A pintora ficou sem ação, com aquela expressão de “perdi alguma coisa?”. Quando suas pernas recobraram o movimento já era tarde, a jovem já tinha sumido na multidão de colegiais. E sem jeito voltou pra mesa sozinha, logo foi indagada pela falta da presença de Luiza Luz ao seu lado, explicou em palavras curtas e diretas “Ela apenas começou a chorar e saiu correndo...”, não quis contar exatamente, pois não tinha o direito de expor a garota. A boca de Dani secou e com decisão levantou da cadeira estofada, e pisando firme mesmo com o tornozelo doendo, foi procurar a amada intempestiva. Os rapazes junto com a pintora partiram para outras bandas para procurá-la também sem que tivessem sido solicitados, esse é um dos momentos que é melhor fazer algo inútil do que não fazer nada. A pintora no seu vestido vermelho belíssimo ficou na mesa beliscando salgadinhos, na desculpa que ela poderia voltar ali. A noite estava quase chegando ao seu clímax, enquanto isso eles apenas ficavam procurando a destemperada Luiza, que até Rúlio comentou quando se encontrou com Daniel: -Ela deve estar de TPM, mulheres nessa época são irracionais. -Será que Dani teve mais sorte?-Perguntou ignorando o comentário. Enquanto isso Dani andava decidida, olhando para ambos os lados, procurando Luiza em todo o canto, preocupada e meio sem querer acabou saindo pelo porta dos fundos. E acabou se deparando com o corpo cheio de curvas de Luiza iluminada pelo luar da noite, parecia um anjo tristonho. Luiza só notou Daniela quando esta segurou- a pelo ante-braço de maneira forte, mas não o bastante para machucá-la. -O que houve Luiza? Que destempero é esse? Hoje ia ser nossa melhor noite, lembra-se? -Até seria se você não tivesse tido noites melhores. –Falou magoada cruzando os braços, com aquele bico de moça mimada, fingindo olhar o chão úmido. -Não entendo do que você está falando Lu? –Dani não entendia onde ela queria chegar, Luiza não fugia a regra de toda mulher, fala por enigmas quando algo a chateiam ou as fazem sofrer, nunca diziam o que queriam dizer de verdade. Apesar de Daniela ser tão mulher quanto a companheira, ela era mais racional e não podia compreender o que ‘banheiro+choro+ ela ter dias melhores’ significava. A única coisa que vinha mente seria um mal estar ou alguém com o mesmo vestido que o de Luz na festa. E como a regra máxima da vida é quando não entender apenas sorria, foi isso que Dani fez,sorriu e ficou na sua. O silêncio se tornou lei, Luiza nada mais disse só se debruçou sobre a grade da escada frustrada. Dani queria alegrá-la e só pode pensar em uma coisa que tinha em mãos, não parecia o momento mais ideal, no entanto... A jovem jogadora colocou a mão no bolso, sentiu o veludo da caixinha, sorriu e tentando entrar no campo de visão da namorada disse:

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-Lu olha pra mim- Ela olhou com aqueles olhos inchados- Lu tenho uma coisa para dizer. O pequeno objeto se escondia na mão de Dani, que estava agora para trás junto a outra mão esperando o momento de ser visto. -Me poupe de suas explicações, eu não quero saber, afinal o que passou, passou! –E atropelando-a com a exasperação com o corpo, Dani foi jogada de lado com uma cara de “Quê foi isso?”. É claro que mesmo Luiza tendo agido assim Dani foi atrás da amada, havia decidido e a cabeça dura de sua namorada não ia impedi-la de fazer o gol, entretanto o salão estava mega-cheio, o espaço que antes era enorme naquele momento parecia um cubículo e Dani não podia andar muito bem dado as circunstâncias, então ela acabou perdendo a namorada de vista. E pior no momento não tinha nem para onde andar. Nesta hora subia ao palco a vice-diretora, vestida de verde-cetim, parecida com uma princesa em seu vestido longo reto e seus característicos cabelos presos. Ela tinha em mãos um envelope, iria revelar o casal homenageado da festa, o momento mais esperado da noite, quando todos conhecem enfim o casal real. Ser esse casal era uma honra com direito a discurso coroa e faixas, algo para ficar para sempre na memória de qualquer adolescente. O momento de dizer estava chegando, depois das piadas intragáveis da vicediretora que ninguém riu a não ser ela mesma, em tom de seriedade tornou público o que vinha escrito no papel em letra cursiva. A vice-diretora corre os olhos pelos dizerem “O casal da noite é...”, ela sorri para todos e desconcertada revela: -O casal homenageado da noite do ano de 2009, no Colégio Colorado é... Um segundo antes de tudo acontecer, Dani enfim achou Luiza que estava a um passo a sua frente, assistindo a vice-diretora e com um esforço descomunal assim que tocou o ombro da companheira um feixe de luz posou em cima das duas. Todos deram espaço as duas, que olharam ambas surpresas. Luiza Luz apontava para si e a vice-diretora confirmou sorridente. -Isso mesmo o casal desse ano é Luiza Luz e Daniela Ávila!!!! Queiram subir ao palco para receberem ambas suas coroas!!! As colegiais se sentiram em um show, todos olhavam felizes, alegres e cheios de energia, a maioria aplaudia as garotas e como se Luiza tivesse o poder de Moisés o caminho foi-se aberto até o palco. Ainda surpresas não puderam fazer nada além de subirem ao palco, Luz caminhou com estilo até o palco, tão deslumbrante que nem parecia ter chorado e Daniela andava tão levemente que nem parecia que seu tornozelo doía. Já no palco, uma do lado da outra puderam ver a imensidão de pessoas todas olhando para elas, parecia que eram celebridades, alguns até gritavam declarações e falas de incentivos. Ambas ficaram um pouco envergonhadas, mas só Dani deixara transparecer, com suas bochechas rubras. No palco como duas estátuas sorridentes, receberam coroa e a faixa na qual a vicediretora se desculpou por estar escrito príncipe na faixa de Dani, um detalhe que para ela não fazia diferença. Luiza Luz acenava como uma Diva, sorridente ostentando sua coroa de princesa, para finalizar a vice-diretora veio com seu microfone perguntar se elas gostariam de dizer algumas palavras. Luz estava toda entusiasmada que foi a primeira a falar, em um silêncio breve a jovem discursou, agradeceu a todos, aos amigos, aos professores, falou de como esse ano fora cheio de surpresas e que esperava ver pelo menos a maioria deles de novo no ano que

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vem. Por fim um agradecimento especial ao melhor amigo Rúlio, a pintora, até Daniel entrou na lista, menos Daniela que estava bem a seu lado, de sua namorada nada disse como se nada significasse. Dani até ficaria triste, mas sabia que amada era difícil e ainda estava uma fera com ela mesmo sem nem saber o motivo. Quando foi a vez de Daniela falar, um coro de jogadores gritaram seu nome, Daniel então fez questão de gritar o mais alto com sua voz altiva. Assim que à pedido da vice-diretora o salão ficou um pouco mais silencioso, Dani começou seu discurso, simples, agradecia aos professores a todos que votaram nela , aos amigos e por fim numa breve pausa olhando enfim para a amada disse para Luz na frente de todos: -Esse dia vai se tornar a lembrança mais especial em minha vida, tanto por estar aqui (eu realmente não esperava) tanto por algo muito importante que eu queria dizer a uma pessoa... Luz ficou estática, que pessoa seria essa tão importante? Seria Daniel? Seria a ex? Ela até pensou que fosse o treinador, não passara em sua mente o que vinha a seguir. -Eu gostaria de dizer que apesar dos desencontros desse ano, dos nossos ainda freqüentes desentendimentos, quero dizer a essa pessoa... –Daniela olhava a todo momento para Luiza que nem se tocara embriagada com seus ciúme doentio pensando apenas “quem? Quem é essa pessoa?”. -Quero dizer a você LU –Luz olhou surpresa- Que a amo muito e mais... Daniela Ávila tirou um pequeno objeto quadricular negro e ajoelhando como um príncipe e ainda com a coroa de um, de braços estendidos ela abriu a caixinha expondo um lindo anel de compromisso, o mais caro dos mais caros, com diamantes incrustados com maestria, nem dava para saber como Daniela conseguira comprar algo tão caro sem sua mãe impedir. Mas era fato ali estava ele deslizando pelo seu dedo tremulo, Luz não cabia em si de tanta alegria que abraçou e beijo a namorada realizada, nunca esperaria algo tão lindo tão surpreendente quanto firmar seu compromisso na frente da escola toda! Nesse instante qualquer desentendimento se desfez, ainda abraçadas de modo apaixonado, uma chuva de papeis dourados caíram sobre suas cabeças sacramentando o ato e com a aplauso de todos a maioria como Rúlio, a vice-diretora e até a enfermeira Kátia que apareceu perto a mesa de salgados, todos se emocionaram, como se ali estivesse ocorrendo uma cerimônia de casamento. Porque nada pode ser mais belo e especial do que o amor entre duas pessoas... Não é mesmo?

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Comentários feitos por aqueles que já leram Yuri Novel no NyahFanfiction: “simplesmente ADOREI!! Você escreve super bem,consegue me fazer rir e me emocionar na mudança de parágrafos,isso é incrível!...Tudo muito bom,diferente,muito show! Até parece estranho eu não ter algo pra reclamar,mais quando é bom é bom não tem jeito!! Curti muito!!!!!!” Lishaw “A historia é muito boa, e a forma que ela é escrita realmente prende o leitor. Os acontecimentos inesperados, os amores não correspondidos, concerteza muitas pessoas se identificam com as situações. Simplesmente amei!” Soulless “Uma fic bem gostosa de ler, com muitas aventuras e muitas confusões também. Você pensa que matou a charada, mas acaba vindo uma coisa completamente diferente, completamente imprevisível. Não de modo ruim, mas de um modo ainda mais emocionante. Os personagens foram muito bem criados e os detalhes muito bem escritos. Algo realmente incomparável!” Swann “Foi a primeira fic yuri que li aqui no NyahFanfiction, me encantei com a historia que é de fácil leitura e compreensão. Na parte final prendendo bastante a atenção do leitor com um final surpreendente. É um projeto realmente adorável na minha opinião.” Ianebr

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2°Edição -2010/2011

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