A arte rupestre do guadiana portugues

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A ARTE RUPESTRE DO GUADIANA PORTUGUÊS NA ÁREA DE INFLUÊNCIA DO ALQUEVA

MEMÓRIAS d’ODIANA 2.ª Série

UNIÃO EUROPEIA

Empresa de Desenvolvimento

EDIA e Infra-Estruturas do Alqueva S.A.

Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional

1 MEMÓRIAS d’ODIANA 2.ª Série

A ARTE RUPESTRE DO GUADIANA PORTUGUÊS NA ÁREA DE INFLUÊNCIA DO ALQUEVA António Martinho Baptista André Tomás Santos

MEMÓRIAS d’ODIANA 2.ª Série Estudos Arqueológicos do Alqueva


A ARTE RUPESTRE DO GUADIANA PORTUGUÊS NA ÁREA DE INFLUÊNCIA DO ALQUEVA


FICHA TÉCNICA

MEMÓRIAS d’ODIANA - 2.ª Série TÍTULO

A ARTE RUPESTRE DO GUADIANA PORTUGUÊS NA ÁREA DE INFLUÊNCIA DO ALQUEVA

AUTORES

António Martinho Baptista André Tomás Santos EDIÇÃO

EDIA - Empresa de desenvolvimento e infra-estruturas do Alqueva DRCALEN - Direcção Regional de Cultura do Alentejo COORDENAÇÃO EDITORIAL

António Carlos Silva Frederico Tátá Regala FOTOGRAFIAS

Autores e Manuel Almeida DESIGN GRÁFICO

Luisa Castelo dos Reis / VMCdesign PRODUÇÃO GRÁFICA, IMPRESSÃO E ACABAMENTO

VMCdesign / Ligação Visual TIRAGEM

500 exemplares DEPÓSITO LEGAL

Memórias d’Odiana • 2ª série

356 090/13 FINANCIAMENTO

EDIA - Empresa de desenvolvimento e infra-estruturas do Alqueva INALENTEJO QREN - Quadro de Referência Estratégico Nacional FEDER - Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional


António Martinho Baptista André Tomás Santos

ARTE RUPESTRE DO GUADIANA PORTUGUÊS NA ÁREA DE INFLUÊNCIA DO ALQUEVA



MEMÓRIAS D’ODIANA - 2.ª SÉRIE — PALAVRAS PRÉVIAS

A excepcional dimensão territorial, económica e social subjacente ao projeto de construção de uma grande barragem no Guadiana, com todas as previsíveis consequências sobre a paisagem e o ambiente decorrentes da inevitável submersão de uma parcela tão significativa das terras alentejanas, implicou desde a sua concepção, o envolvimento de pessoas e entidades preocupadas com a salvaguarda do património histórico-cultural da região. Se numa primeira e já distante fase, esse envolvimento se traduziu sobretudo por manifestações de reservas e preocupações, como aconteceu há meio século atrás com as intervenções públicas de Afonso do Paço, enquanto presidente da Associação dos Arqueólogos Portugueses, após a criação das novas instituições de protecção do património cultural português, no pós-25 de Abril, seriam entidades como o IPPC e os seus serviços regionais de arqueologia, a acompanhar no terreno o desenvolvimento dos sucessivos estudos e projectos. Ao longo da década de 80, o Serviço Regional de Arqueologia do Sul, com sede em Évora e embrião das futuras estruturas desconcentradas da Administração Pública da área da cultura para o Alentejo, promoveria ou acompanharia sucessivos estudos patrimoniais relacionados com o Alqueva, ainda que sem grandes resultados concretos, por limitação de meios e indefinição política quanto ao próprio desenvolvimento do empreendimento.

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Só com a tomada de decisão inequívoca e objectiva quanto à concretização da obra da Barragem assumida em 1996, seriam finalmente criadas as condições para pôr em marcha, já com prazos apertados, o maior programa de arqueologia jamais realizado em Portugal. Nesse mesmo ano, a Direção Regional de Évora do IPPAR, instituição que entretanto sucedera ao IPPC, promoveria novas prospeções na zona da barragem com a colaboração do Campo Arqueológico de Mértola. No ano seguinte, em 1997, o recém-criado Instituto Português de Arqueologia, herdeiro das competências arqueológicas do IPPAR, assinaria com a EDIA, sob o patrocínio dos Ministros da Cultura e do Planeamento e Território, o protocolo de enquadramento e financiamento dos amplos trabalhos de arqueologia que seria necessário promover antes do fecho das comportas da nova barragem, então previsto para o ano 2000. Realizadas centenas de escavações, prospeções e levantamentos, tomadas no terreno as medidas de salvaguarda e proteção adequadas, no quadro de um programa que se prolongaria praticamente até 2003, quando as águas represadas começaram a formar o grande lago de Alqueva, restava aos arqueólogos e às instituições de enquadramento ou tutela, concretizarem os compromissos assumidos no que respeitava à necessária divulgação pública dos resultados arqueológicos obtidos. De facto, o protocolo de 1997 identificava


de forma clara, como objectivo a concretizar na sequência do processo de “salvamento arqueológico”, a publicação dos resultados científicos da grande operação arqueológica então desencadeada. As alterações entretanto verificadas nas estruturas da administração pública, com o desaparecimento do IPA em 2007 e a redistribuição das suas atribuições pelo IGESPAR e Direcções Regionais de Cultura, não facilitaram uma resolução expedita dos compromissos assumidos uma década antes. Foi preciso esperar por 2010 para, graças ao comprometimento e teimosia de ambas as partes, EDIA e Cultura, se encontrar a fórmula que permitisse a plena concretização daquele propósito que justificaria socialmente a justeza e interesse de tamanho projeto arqueológico. Em 2010, a EDIA e a Direcção Regional de Cultura do Alentejo, assinaram o protocolo que criou as condições de parceria necessárias à formulação de uma candidatura aos fundos comunitários proporcionados através do programa INALENTEJO. A EDIA, garantiria a componente financeira nacional do projecto e a Direcção Regional de Cultura do Alentejo, herdeira das competências arqueológicas do antigo Serviço Regional de Arqueologia do Sul, das extintas Direções Regionais do IPPAR e do IGESPAR e até do próprio IPA, assumiria a responsabilidade de promover a candidatura e a coordenar editorialmente o projeto. Com a edição deste volume, o primeiro de um total previsto de 14 monografias, retomando e completando anterior iniciativa editorial da EDIA, inicia-se pois a disponibilização a investigadores e outros interessados, de toda uma série de dados até agora inéditos, que certamente muito contribuirão para uma nova aproximação ao conhecimento do passado histórico do Alentejo.

A Direção Regional de Cultura do Alentejo

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Alicerçado num extenso programa de prospeções de campo realizado principalmente nas décadas de 80 e 90 do século XX, viria a ser elaborado o Plano de Minimização de Impactes sobre o Património Arqueológico de Alqueva, aprovado em 1997 pelo então Instituto Português de Arqueologia e homologado pelos Ministérios da Cultura e do Planeamento, Equipamento e Administração do Território. Embora pensado para o Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva (EFMA) como um todo, as suas preocupações incidiam então de uma forma muito evidente sobre a grande albufeira a criar. Este plano viria a dar lugar à implementação de um complexo trabalho de investigação e salvaguarda do património cultural, cuja dimensão, claramente inédita a nível nacional, decorria da própria dimensão da albufeira a criar. Os trabalhos arqueológicos na área a submergir pela albufeira, promovidos e financiados pela EDIA, entre 1997 e 2003, permitiram obter toda uma nova perspetiva sobre a ocupação humana daquele território ribeirinho, colocando à vista inúmeros vestígios de épocas passadas. Tal resultou assim no acumular de um vasto manancial de conhecimento científico. No entanto, desde cedo se teve a clara noção que estes trabalhos de registo e salvaguarda teriam de ser complementados com estudos mais aprofundados e a consequente publicação dos resultados obtidos. Também nesta vertente, os trabalhos de minimização de impactes promovidos pela EDIA acabaram por se revelar inéditos ao promover o desenvolvimento de estudos adicionais e a preparação de monografias de síntese dos diversos trabalhos efetuados. Pretendia-se assim que o trabalho desenvolvido e a informação produzida não ficasse apenas circunscrito às centenas de relatórios técnicos arquivados em prateleiras de institutos públicos e arquivos de acesso limitado, mas que se tornasse do conhecimento geral e acessível a um público mais vasto. É neste contexto que, dando continuidade à divulgação de resultados científicos dos trabalhos do EFMA, surgem as publicações agora editadas, no âmbito da coleção Memórias D’Odiana, fruto da parceria entre a EDIA e a Direção Regional de Cultura do Alentejo. Cumpre-se, desta forma, o objetivo de, para além de fazer prova do trabalho efetuado, dar-se a conhecer uma nova perspetiva da ocupação humana do vale do Guadiana e contribuir para a promoção do património cultural como parte fundamental da identidade das gentes do Alentejo.

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João Basto Presidente do Conselho de Administração da EDIA


O segundo fôlego das “Memórias d’Odiana” “A EDIA, S.A. criará condições de arquivo para toda a documentação e registos produzidos no âmbito dos trabalhos (arqueológicos) de minimização (do Alqueva), promovendo, em cooperação com o IPA e em função dos prazos acordados com os responsáveis pelas diferentes intervenções, a sua publicação” Artigo 6.1 do Protocolo assinado entre a EDIA e o IPA em 4 de Junho de 1997

A edição que agora sai a público concretiza, ainda que tardiamente, o retomar de um solene compromisso assumido pelas entidades públicas responsáveis pela construção da Barragem de Alqueva, o grande empreendimento hidráulico do Alentejo, concebido ainda nos anos 60 do século passado. Reconhecido desde logo, dada a colossal extensão de território a inundar, como um projecto com consequências muito severas para a salvaguarda do património histórico-arqueológico existente no vale do Guadiana, as diferentes fases por que passou o seu longo historial, foram sempre acompanhadas pela percepção, ainda que algo difusa, da necessidade de reconhecimento e estudo, tão exaustivo quanto possível, do património ameaçado pela futura inundação. Para tal entendimento, numa época em que a legislação era omissa em matéria de avaliação e minimização dos impactes negativos das obras públicas, terão certamente contribuído as notícias sobre a grande operação internacional de salvamento de monumentos egípcios promovida pela UNESCO a quando da construção da mega Barragem de Assuão no Rio Nilo. Mesmo assim e apesar dos alertas de alguns arqueólogos portugueses, com destaque para Afonso do Paço, então presidente da Associação Portuguesa de Arqueólogos, as obras da Barragem do Alqueva iniciar-se-iam em meados dos anos 70, sem que quaisquer medidas preventivas tivessem sido tomadas neste domínio, felizmente sem consequências de maior, uma vez que os trabalhos seriam interrompidas pouco tempo depois.

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De facto, aquela inquietação com o “salvamento arqueológico”, para usarmos o conceito comum à época, apenas se viria a traduzir de forma explícita em Novembro de 1980, numa Resolução aprovada num dos últimos Conselhos de Ministros presidido por Sá Carneiro, imputando os custos dos trabalhos arqueológicos que viessem a se considerados necessários, às entidades responsáveis pela futura construção da Barragem. Durante bastante tempo, porém, esta inédita Resolução apenas se materializaria através das sucessivas prospeções realizadas no âmbito das avaliações de impactes ambientais a que o empreendimento foi sujeito e nas quais a análise da vertente patrimonial esteve sempre representada. E de facto, a concretização de medidas concretas de arqueologia no terreno, apenas aconteceria em 1997, num momento em que a retoma da construção da Barragem estava já decidida e em marcha irreversível. Data de então, o estabelecimento de

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um protocolo entre a empresa pública responsável pelo empreendimento (EDIA) e o Instituto Português de Arqueologia (IPA), estabelecendo as condições para a concretização de um ambicioso plano de trabalhos arqueológicos preparado por um gabinete de arqueologia entretanto criado pela própria EDIA. A assinatura desse protocolo teve lugar em Évora no dia 4 de Junho de 1997 nas instalações da Comissão Coordenadora da Região do Alentejo e, reconhecendo o significado e importância daquele compromisso, seria testemunhado por dois Ministros do primeiro Governo de António Guterres, João Cravinho e Manuel Maria Carrilho. O facto de ambos estarem ligados à inédita e corajosa decisão que, apenas dois anos antes, estivera na origem do abandono do projecto hidroeléctrico do Côa perante a descoberta arqueológica de um excepcional complexo de arte rupestre nas margens daquele rio, mostrava que o Governo se preocupava sinceramente com a minimização dos impactos patrimoniais identificados no Alqueva. Em contrapartida, porém, representava também um claro aviso de que esses impactos, por maiores que fossem, jamais poderiam vir a ser determinantes numa decisão que inviabilizasse o projecto. Essa era uma realidade subjacente ao projecto arqueológico do Alqueva que não era ignorada por nenhum arqueólogo português, por muito ingénuo que fosse.

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Para além de definir as formas de articulação entre as várias entidades envolvidas no processo e de propor o modelo de organização e financiamento da maior operação de arqueologia jamais lançada em Portugal, o protocolo de 1997 aprovava também o plano de escavações arqueológicas a serem realizadas no vale do Guadiana antes do fecho das comportas da nova barragem, então previsto para o ano de 2000 mas que apenas se concretizaria em Fevereiro de 2002. Para além disso, e uma vez que a “escavação” representa apenas uma etapa do processo de construção do conhecimento histórico-arqueológico, afinal o verdadeiro objecto da Arqueologia, o protocolo acautelava desde logo, de forma objectiva, a necessidade de futuro processamento e divulgação pública da informação que viesse a ser recuperada no âmbito daquela vasta operação de campo. Afinal, só a disponibilização desses dados ao público em geral e em particular à comunidade científica, daria sentido social ao enorme esforço, financeiro, técnico e organizativo que a concretização do plano arqueológico implicava. Quase uma década passada sobre o fim dos trabalhos no inundado vale do Guadiana, é ainda para dar resposta àquele desiderato que se retoma a edição das “Memórias d’Odiana”, uma colecção expressamente criada para esse efeito mas interrompida há meia dúzia de anos. Tão grande intervalo não pode deixar de ser considerado excessivo, retirando actualidade ou mesmo desvalorizando alguma da informação só agora publicada. Essa é uma circunstância que penaliza o projecto arqueológico no seu conjunto e que chegou a fazer ponderar a hipótese de abandono da presente


iniciativa editorial. Justifica-se por isso enunciar, ainda que de forma sucinta, as múltiplas razões, de ordem técnica, administrativa e financeira que estão por trás de tão grande atraso.

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O fecho das comportas da Barragem do Alqueva no início de 2002 não significou o fim do processo de salvamento arqueológico na área de inundação. Enquanto o nível das águas o permitiu, foi ainda possível prolongar no terreno, sobretudo em cotas mais elevadas, alguns trabalhos de escavação, a par da concretização de um invulgar plano de protecção e selagem das principais estruturas arqueológicas que seriam inundadas. Paralelamente, a EDIA, dando cumprimento a uma das cláusulas mais inovadoras do protocolo de 1997, encetaria entre 2002 e 2003 negociações com as várias equipas intervenientes no programa de escavações entretanto concluídas, visando proporcionar-lhes condições materiais para uma fase de estudos de gabinete. Com a colaboração da Comissão Científica que acompanhara o anterior processo de selecção e contratação, foi possível acordar com quase todas as equipas intervenientes no programa arqueológico do Regolfo, o financiamento do estudo do espólio e dos dados recolhidos com vista à preparação da respectiva publicação. Infelizmente, ao contrário do que sucedera nos trabalhos de campo que decorreram de forma quase exemplar, quanto ao cumprimento de objectivos e prazos, esta nova fase, com algumas honrosas excepções, arrastar-se-ia para além de todas as datas acordadas e apenas viria a ser considerada encerrada em 2008. Essa circunstância viria a ter implicações no previsto planeamento editorial, situação entretanto agravada pelas crescentes dificuldades na obtenção do indispensável financiamento. Apenas em Abril de 2010 seria encontrada uma solução financeira através da apresentação de uma candidatura ao programa INALENTEJO (QREN) pela Direcção Regional de Cultura do Alentejo com o apoio da EDIA, e a coberto de um Protocolo entretanto estabelecido entre ambas as entidades. Enquanto sucessora da ex-Direcção Regional do IPPAR e do antigo Serviço Regional de Arqueologia do IPPC, a DRCALEN herdara responsabilidades de tutela do projecto arqueológico de Alqueva, assumindo desta forma a sua quota-parte no presente compromisso de editorial. Infelizmente novas dificuldades burocráticas associadas quer ao processo da candidatura, só aprovada em finais de 2011, quer ao do concurso público a que a sua concretização obrigava, viriam arrastar até 2013 a materialização da respectiva edição. Felizmente, a divulgação de resultados arqueológicos das investigações em Alqueva, nunca esteve refém destas circunstâncias negativas. Para além de um esforço continuado de informação e divulgação de natureza cultural que acompanhou todo o projecto, reflectido em múltiplas e diversificadas iniciativas, em vários casos a divulgação científica propriamente dita iniciou-se ainda com os

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trabalhos de campo em curso, quer por interesse dos próprios arqueólogos quer por iniciativa da entidade promotora. Em 1999, em pleno de desenvolvimento no terreno das acções de minimização, a EDIA com a publicação de um volume dedicado aos antecedentes do projecto e à divulgação da informação arqueológica até então coligida no âmbito do projecto, inaugurou a série monográfica intitulada Memórias d’Odiana_ Estudos Arqueológicos do Alqueva. No ano 2000 seria editado um 2º volume, já com a apresentação dos resultados das primeiras escavações realizadas no regolfo, nomeadamente as investigações sobre o Cromeleque do Xerez, precedendo a sua desmontagem e trasladação, e as escavações preventivas realizadas na zona de construção da nova aldeia da Luz. O 3º volume, publicando um estudo sobre os moinhos do Guadiana, apenas seria editado em 2004, seguindo-se em 2006, a publicação do 4º e último volume desta primeira série, com a publicação monográfica do grande conjunto rupestre do Molino Manzánez. A célere publicação deste fantástico sítio localizado no final de 2000 próximo de Cheles em território espanhol e objecto de levantamento e registo sistemático entre 2001 e 2002 sob a direcção de Hipólito Collado, representaria um dos exemplos mais eficazes e produtivos no conjunto da grande operação arqueológica do Alqueva. No entanto, aquele esforço de divulgação, não ficaria limitado à colecção monográfica, interrompida há sete anos. Entre 1996 e 2002 foram produzidas e distribuídas junto das escolas da região, numerosas brochuras dedicadas ao Património e Ambiente do Alqueva. Em 2002, pouco tempo depois do encerramento das comportas da Barragem, o Centro de Arqueologia de Almada, com o directo apoio da EDIA, dedicou um número da revista “ALMADAN” à divulgação de um dossier especial muito alargado sobre a Arqueologia do Alqueva, acrescido de um CDROM temático, conjunto editorial que constitui ainda hoje, a síntese mais completa sobre este projecto. Ainda que num registo mais local, o pequeno mas muito premiado Museu da Luz, inaugurado no final de 2003, deu lugar na sua já significativa actividade editorial, à presença da arqueologia da sua área de influência. Quer por esse motivo quer pela publicação do monumental estudo sobre o sítio romano do “Castelo da Lousa” coordenado pelo Professor Jorge Alarcão e editado em 2010 pelo Museu Nacional de Arte Romana de Mérida, com financiamento da EDIA, as terras da freguesia da Luz, são já hoje no contexto do território afectado pelo Alqueva, as que disporão de um mais completo registo arqueológico e patrimonial. Também no campo do património “imaterial”, o trabalho de recolha e levantamento realizado junto da população da velha Aldeia da Luz pode ser considerado um exemplo e uma excepção, graças à sabedoria e experiência de Benjamim Pereira e ao dinamismo do Museu cujo programa aquele etnólogo concebeu e onde hoje se expõem e divulgam, a par dos vestígios materiais, as memórias dos habitantes da sacrificada aldeia. Com efeito, reconhecemos hoje que o programa de intervenção patrimonial no território do Alqueva, acabou excessivamente centrado na cultura material mais arcaica, re-


metendo para segundo plano a cultura viva dos seus últimos habitantes, com as suas vivências e memórias, profundamente alteradas pela grande barragem. Esta situação resulta certamente da profunda desertificação rural aqui verificada na segunda metade do Século XX mas também terá sido condicionada pelo papel especialmente preponderante assumido pela Arqueologia e pelos arqueólogos, na invulgar e mediática polémica em torno da Barragem de Foz Côa.

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Em todo o caso, como já se referiu, a fase complementar que agora se encerra com a publicação de dezena e meia de monografias, ficou aquém dos objectivos inicialmente traçados. O inicial Plano Arqueológico do Alqueva, enquadrou dois grandes grupos de intervenções. Um primeiro, congregando projectos específicos desenvolvidos por equipas ou arqueólogos convidados por motivos curriculares ou organizacionais, e nos quais se incluíram também as acções desenvolvidas em território espanhol. Um segundo grupo, dividido em16 blocos, cronológica e geograficamente definidos e sumetidos a concurso público. Com a edição do presente volume dedicado à arte rupestre da margem portuguesa do Guadiana e a publicação nesta mesma série do volume dedicado ao estudo do povoado calcolítico do “Porto das Carretas”, concluiremos a plena edição dos projectos englobados no primeiro daqueles grupos e desenvolvidos no território português, uma vez que estão já editadas as monografias referentes ao Castelo da Lousa, Cromeleque do Xerez, ou à arqueologia da zona da Nova Aldeia da Luz. Já no que se refere aos projectos desenvolvidos em território espanhol, está apenas publicada a referida monografia sobre a Arte Rupestre, ainda que esteja também disponível alguma bibliografia sobre outros sítios, com especial destaque para o povoado calcolítico de San Blás, Cheles. No que respeita aos dezasseis blocos colocados a concurso, a situação mostra-se menos bem sucedida. Ainda assim todos os projectos, sem excepção, cumpriram os objectivos de campo contratualizados, incluindo a entrega dos respectivos relatórios científicos, hoje disponíveis para consulta nos arquivos da EDIA e da tutela, havendo alguma bibliografia disponível sobre todos eles. O mesmo não se passa, porém, com o tratamento monográfico dos respectivos dados. Um terço dos projectos ficou pelo caminho, em diferentes fases e por diferentes motivos, não havendo para já edição das respectivas monografias. Um desses casos, no entanto, exige uma especial e sentida referência, justificada pelo precoce desaparecimento do respectivo director científico. Falamos do malogrado arqueólogo João Carlos Faria que com grande profissionalismo realizou escavações num importante conjunto de sítios de época romana localizados ao longo do Vale do Degebe e que faleceria de doença súbita em 2006, com 46 anos de idade. Apesar da documentação e espólio do projecto em causa ter sido ainda tratada pelo malogrado arqueólogo, a respectiva publicação está dependente de um trabalho editorial que não foi possível ainda realizar. Aproveitamos esta evocação, para também aqui recordarmos outros dois colegas ligados ao projecto do Alqueva

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e que entretanto deixaram o nosso convívio: a arqueóloga Teresa Gamito, também falecida no ano de 2006, especialista da ocupação proto-histórica do Vale do Guadiana e que fez parte da mesa do 1º Colóquio de Arqueologia do Alqueva, realizado em Moura no final de 1996; e o arquitecto Pedro Fialho, desaparecido em 2008, estudioso da arquitectura romana do território português e que integrou desde 1997 a Comissão Científica que apoiou e credibilizou o desenvolvimento do projecto arqueológico do Alqueva. Esta nota introdutória à nova série das “Memórias d’Odiana” ficaria incompleta sem uma referência especial a este primeiro volume, dedicado à arte rupestre identificada nas margens portuguesas do Guadiana, temática especialmente mediatizada a quando do anúncio público da sua descoberta. Naturalmente, a confirmação no final do ano 2000 de tão inesperada lacuna no registo arqueológico do Alqueva e todas as circunstâncias que rodearam a sua intempestiva divulgação mediática, desencadeando enorme controvérsia entre os próprios arqueólogos, representou um revés muito significativo no normal curso do projecto, então particularmente sentido por mim próprio, enquanto seu responsável máximo e pelo meu colega António Martinho Baptista, na altura Director do Centro Nacional de Arte Rupestre, a quem por inerência do cargo e reconhecida competência na matéria, seria dada a incumbência do registo e estudo daqueles vestígios. Tive já oportunidade de enunciar as circunstâncias que poderão explicar aquela lacuna nos sucessivos levantamentos feitos na região, felizmente rapidamente colmatada pela eficácia e rapidez da resposta que, com o total apoio da administração do EDIA, foi possível colocar no terreno, primeiro em Espanha, depois em Portugal. Mas julgo que a presente edição, que vem completar em termos de divulgação científica, o “corpus” dos vestígios rupestres registados no Alqueva, oferece ocasião para um breve regresso ao assunto.

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Embora os primórdios arqueológicos do Alqueva remontem à transição dos anos 70 para os anos 80 do século passado, através de diligências conduzidas em Évora pelos falecidos arqueólogos Caetano Melo Beirão, do Serviço Regional de Arqueologia do Sul e Jorge Pinho Monteiro, da Universidade de Évora, a concretização de efectivos trabalhos de prospecção no terreno só viria a acontecer alguns anos depois, no âmbito dos estudos de avaliação de impactes patrimoniais já referidos, dirigidos por Carlos Tavares da Silva e Joaquina Soares. Apesar da experiência daqueles arqueólogos e da qualidade do trabalho então produzido, ainda hoje referência obrigatória neste campo disciplinar, não foram então referenciados nas áreas abrangidas pelos seus estudos, vestígios rupestres que indiciassem as descobertas ocorridas no Vale do Guadiana quase duas décadas depois. A vastidão das áreas a prospectar e a fraca expectativa relativamente a esta temática, explica aquela ausência de dados, apesar de uma notícia datada dos anos


setenta, da responsabilidade de António Martinho Baptista e Manuela Martins, dando conta de um pequeno conjunto de gravuras, localizado na zona do Pulo do Lobo, muito a jusante da actual barragem. Alguns anos mais tarde, no final da década de 80, já na qualidade de Director do Serviço Regional de Arqueologia do Sul, eu próprio promovi novos trabalhos de prospecção no Alqueva visando o adensamento da informação arqueológica disponível, num processo que, face à imensidão do território ameaçado, sabíamos estar sempre em curso e sempre inevitavelmente incompleto. As indefinições em torno da retoma da construção da Barragem e a indisponibilidade de recursos adequados, não facilitaram no entanto especiais desenvolvimentos em relação ao essencial do quadro de referência anteriormente estabelecido por Tavares da Silva e Joaquina Soares. No domínio da arte rupestre, as poucas referências disponíveis, para além dos vestígios do Pulo do Lobo, continuavam a limitar-se ao fenómeno muito comum das chamadas “covinhas”, símbolos de significado e cronologia muito imprecisa.

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Parecendo confirmar aquele vazio de vestígios rupestres, os trabalhos de prospecção que, já no quadro da EDIA, dirigimos no Alqueva entre 1996 e 1997 no sentido de completar tanto quanto possível o quadro de referência disponível, apenas lograram detectar um conjunto de gravuras em cotas não ameaçadas e relacionadas com conjuntos já conhecidos na região de Monsaraz, associados a habitats proto-históricos de altitude. Esta continuada ausência de resultados, numa altura em que as descobertas do Vale do Côa originavam novas expectativas neste campo, precisam também de ser avaliadas à luz de circunstancialismos específicos que, na altura, não controlávamos. Com as obras da Barragem licenciadas por estudos de impacto já validados em várias instâncias, as novas prospecções, por alguns consideradas redundantes, concentraram-se preferencialmente no sector meridional do futuro lago de Alqueva, zona em que a amplitude do território a inundar, contrastava com a franca densidade do registo cartográfico disponível. Acontece, como se viria a confirmar mais tarde no âmbito do projecto dirigido por Martinho Baptista, que os núcleos rupestres do Guadiana português, se localizavam essencialmente nos sectores setentrionais do futuro regolfo, quase sempre no leito inundável do próprio Guadiana e fora dos sectores revisitados em 1996-97. Pela sua natureza e implantação, aqueles pequenos núcleos parecem ter funcionando como satélites do grande complexo rupestre que se viria a revelar no final do ano 2000 na envolvente do Molino Manzánez, na margem espanhola do Guadiana, uma zona que, por razões de soberania territorial, esteve até bastante tarde fora do alcance das equipas de arqueólogos que trabalharam no Alqueva. Com efeito, havendo consciência de que os reduzidos dados constantes de anteriores estudos sobre o território espanhol, resultavam apenas de alguma informação documental, desde 1996 que a EDIA tentava concertar com as autoridades espanholas a realização de trabalhos de campo, à imagem do que acontecera na

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parte portuguesa. Apenas no ano 2000, após aturados esforços diplomáticos, foi finalmente possível promover esses trabalhos e o seu arranque acabaria por coincidir, por mero acaso, com a divulgação das primeiras notícias sobre a arte rupestre do Molino de Manzánez, entretanto reconhecida e revelada às autoridades espanholas por arqueólogos amadores. Algum paralelismo entre os factos verificados no Alqueva e as circunstâncias ocorridas poucos anos antes, a quando da descoberta de importantes vestígios rupestres na construção da Barragem do Côa, pesem embora as especificidades evidentes de cada caso, acabaram por se reflectir de forma muito negativa no mediatizado debate que teve lugar a propósito da arte rupestre do Guadiana, entretanto muito alimentado por correntes ambientalistas que se opunham à construção da Barragem. Ao contrário, porém, do que sucedera no Côa, uma vez reconhecida a existência da arte rupestre em zonas inundáveis do Alqueva, foi possível garantir com rapidez, transparência e eficácia, as necessárias operações de reconhecimento e registo sistemático as quais, apesar do contexto especialmente difícil, apresentaram resultados de elevada qualidade técnica e científica. Não era, no entanto possível aos arqueólogos nem sequer fazia sentido, quer pela reconhecida diferença material e contextual entre os complexos rupestres do Côa e do Guadiana, quer pelos custos sociais, económicos e políticos em causa, defender, novamente, uma solução de abandono do projecto. E, salvo raríssimas excepções, os arqueólogos portugueses compreenderam e assumiram essa diferença.

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Já realçamos na introdução ao volume IV da primeira série desta colecção, a propósito da publicação da monumental monografia sobre a Arte Rupestre do Molino de Manzánez, da autoria de Hipólito Collado Giraldo, a competência científica e a eficácia técnica demonstrada pela equipa que aquele arqueólogo dirigiu em circunstâncias tão desfavoráveis. Por idênticas razões, não podemos deixar de o fazer também em relação a António Martinho Baptista e a toda a sua equipa, quando finalmente se divulgam também os resultados dos levantamentos que realizaram no sector português do Vale do Guadiana uma década atrás. Porque tive a oportunidade de acompanhar, no dia a dia, o ciclópico esforço físico da equipa de Martinho Baptista e a sua voluntariosa, competente e responsável entrega a uma tarefa que, como sabíamos, não teria uma segunda oportunidade, sempre fui particularmente sensível a certa incompreensão, se não mesmo declarada hostilidade, com que alguns meios brindaram estes projectos e os seus responsáveis. Mesmo que o tempo não apague certas injustiças, a publicação da presente monografia, abrindo a nova série das Memórias d’Alqueva, acabará por perdurar como testemunho do papel essencial destes arqueólogos, na leitura e registo para memória futura, destes testemunhos da arte rupestre do Guadiana, infelizmente hoje submersos. Permita-se-nos uma especial palavra de apreço para


o colega e amigo António Martinho Baptista, um alentejano de Alter do Chão, reputado especialista internacional na temática rupestre. Um quarto de século depois de ter identificado as primeiras gravuras nas margens do Guadiana junto ao Pulo do Lobo, este arqueólogo veria confirmada a hipótese desde logo por si avançada, da possibilidade de se virem a encontrar novos núcleos no vale do Guadiana, provavelmente relacionados com o conhecido Complexo Rupestre de Vila Velha de Ródão, descoberto nas margens do Tejo no início dos anos 70 e a cujo estudo e divulgação dedicou grande parte da já sua longa carreira de arqueólogo.

António Carlos Silva Director de Serviços dos Bens Culturais da Direcção Regional de Cultura do Alentejo, coordenador do Projecto Arqueológico do Alqueva entre 1996 e 2002.

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MEMÓRIAS D’ODIANA-2.ª SÉRIE – PALAVRAS PRÉVIAS


NOTA INTRODUTÓRIA

NOTA INTRODUTÓRIA

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Memórias d’Odiana • 2ª série

Em Maio de 2001, a pequena equipa do Centro Nacional de Arte Rupestre (CNART), que então se ocupava fundamentalmente do estudo da arte do Côa, foi chamada ao Guadiana para, in extremis, tentar salvar para a arqueologia um conjunto de sítios rupestres que inapelavelmente seriam submersos poucos meses volvidos pelas águas presas no Alqueva, o que de facto aconteceu. Acabámos assim envolvidos, sem o desejarmos, num redemoinho de interesses díspares e a gerir um trabalho arqueológico por entre um turbilhão de emoções que em muito lembrava o que poucos anos antes se passara no vale do Côa. Talvez por isso mesmo, desde o início da nossa participação no salvamento arqueológico da arte rupestre do Guadiana, não quisemos que este fosse tão-só mais um trabalho “institucional” do CNART, ainda que o fosse também. Até porque, mais uma vez, estavam em campo aparentes interesses contraditórios entre uma barragem em construção e novos sítios arqueológicos rupestres, cuja antiguidade e real valia científica eram também eles objecto de alguma (ainda que infundada) controvérsia. Procurámos assim que as nossas opiniões públicas e publicadas, logo desde o início de todo o processo de descoberta e estudo, mantivessem toda a objectividade possível e se pautassem por um máximo de transparência, em particular nas inúmeras situações em que jornalistas dos mais diversos órgãos de comunicação social nos solicitavam informações e entrevistas. O que a todos foi concedido sem nada se escamotear. E bem assim, aos muitos colegas de ofício que em diversas ocasiões acorreram ao Guadiana. Mas continua a ser difícil compatibilizar o salvamento do nosso património rupestre com a magnitude de algumas grandes obras públicas que, por natureza, destruirão inevitavelmente vastas regiões com grande importância arqueológica. E as opções políticas nem sempre são bem explicadas, o que torna o diálogo ainda mais difícil. Perante a vastidão do território em apreço e a grande disseminação dos testemunhos rupestres por toda essa região, sabíamos que iríamos encontrar aqui e ali alguma incompreensão (chegou a falar-se em 70 quilómetros de gravuras!), até porque estavam ainda muito vivos na memória recente os diversos episódios, alguns delirantes, da polémica do Côa, que se desenrolara ao longo de todo o ano de 1995. Os paralelos entre as duas histórias eram irresistivelmente inevitáveis e apelativos, como o seriam as incompreensões e a falta de serenidade e objectividade na análise deste caso enquanto fenómeno arqueológico, mas também político, já que a arte rupestre era então uma espécie de (quase) universo paralelo da arqueologia nacional. Este livro é a prova decisiva de como as nossas públicas opiniões e as do Instituto Português de Arqueologia (IPA), organismo do Minis-


tério da Cultura e à data o nosso organismo de tutela, foram totalmente objectivas e pertinentes desde o primeiro momento. E mais de 10 anos após a conclusão dos trabalhos de campo, o relatório monográfico do projecto desenvolvido pelo CNART na região do Alqueva, durante alguns meses de 2001 e em finais de 2002, é finalmente dado á estampa. E desde logo, pela persistência de António Carlos Silva, que nunca desistiu de trazer a lume esta monografia, quando nós próprios acreditávamos que isso já só seria possível em edição unicamente electrónica. Com efeito, este trabalho está redigido e concluído graficamente há vários anos, tendo sido actualizado por André Tomás Santos, a quem devemos igualmente agradecer a dedicação enquanto empenhado colaborador da primeira hora e até ao fim nesta tarefa. Entretanto, não duvidamos que a importância desta publicação em livro, que assinala o início da segunda série das Memórias d’Odiana, será elucidativa a vários títulos. E desde logo porque aqui se revela a verdadeira realidade rupestre do sector nacional do Guadiana afectado pelo enorme regolfo do Alqueva. Este trabalho será assim como que um complemento à importante monografia de Hipólito Collado Giraldo sobre as gravuras de Molino Manzánez (Alconchel - Cheles), na margem espanhola do Guadiana, publicada em 2006. Nestes dois volumes será assim possível ter um verdadeiro (e derradeiro) balanço da arte rupestre submersa no Alqueva e da sua real e indiscutível valia arqueológica. Face à descoberta tardia da arte rupestre do Guadiana, o que aconteceu já com a barragem quase finalizada, e ao pouco tempo e à reduzida equipa de que se dispunha para todo o trabalho de campo, podemos afirmar, relativamente ao sector nacional, que todas as rochas historiadas que foram descobertas e que se revelaram com interesse arqueológico, foram convenientemente documentadas. Infelizmente, grande parte da nossa arte rupestre, particularmente a gravada em conjuntos mais monumentais, está normalmente localizada nas margens xistosas de alguns dos nossos principais rios, que nas últimas décadas foram sendo sucessivamente submersas devido à construção de uma série de empreendimentos hidro-eléctricos, sendo já hoje muito poucos os grandes vales fluviais livres de uma tão devastadora intervenção (no que ao património arqueológico diz respeito). Antes do Alqueva, o caso mais significativo e penoso para a arqueologia portuguesa foi a submersão em 1974 de grande parte do complexo de arte rupestre do vale do Tejo (Vila Velha de Ródão e Nisa), cujas gravuras, em muito maior número, partilham muitas afinidades com as do Guadiana. E se no vale do Tejo foi apesar de tudo possível recolher uma abundante documentação arqueológica, já no caso do vale do Douro, haverá para memória futura muita arte rupestre a descobrir em anos vindouros, submersa pelas várias barragens construídas décadas atrás.

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NOTA INTRODUTÓRIA


António Martinho Baptista (Maio de 2013)

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Se até à integração de Portugal na Comunidade Europeia, todas estas obras eram feitas sem a realização de grandes estudos de impacto patrimonial, será a partir da polémica do Côa e com os resultados conhecidos, que os estudos de impacto arqueológico e patrimonial (em paralelo com os restantes estudos de impacto) passam a ter uma outra profundidade e sistemática, como foi já o caso no Alqueva, onde várias equipas de arqueólogos trabalharam durante vários anos, e é também o caso mais recente no Baixo Sabor, onde se processa ainda um trabalho arqueológico verdadeiramente notável e bastante exaustivo no que à arte rupestre diz respeito, com alguns resultados científicos surpreendentes. Entretanto, sedimentada já convenientemente a mediatizada polémica que correu em paralelo com o trabalho arqueológico propriamente dito no Guadiana e ao qual sempre imprimimos o habitual rigor metodológico que era apanágio do CNART e que nos permitiu coligir uma grande documentação sobre uma vasta série de sítios rupestres (de valor desigual, é certo) que rapidamente seriam submersos, será agora tempo de, com outra serenidade, se aquilatar do infundado das acusações que na altura foram feitas quer ao IPA, quer ao CNART. Matéria que deixamos ao cuidado do leitor. Recorde-se, no entanto, que, como é apanágio do nosso país sempre que há alterações de ciclo político, quer o IPA quer o CNART foram entretanto extintos. Primeiro o IPA (que seria englobado no IGESPAR, também já entretanto extinto/anexado na actual DGPC, que um próximo governo se encarregará também de erradicar ou alterar) e logo depois o CNART, em 2007, na leva do 1º pacote de fusões e extinções (PRACE) de organismos da administração central na vigência do primeiro governo de José Sócrates. Será, também por isso, de louvar, que este trabalho, realizado por um organismo extinto já há 6 anos, tenha ainda tido a oportunidade de ser publicado. Para além da equipa do CNART e dos restantes elementos que connosco trabalharam em campo e a quem justamente se nomeia e agradece mais adiante, não queremos aqui deixar de agradecer a João Zilhão, na altura Director do Instituto Português de Arqueologia, e à direcção do IPA, todo o apoio e empenho com que souberam ultrapassar as quezílias mediáticas e as nuances políticas que à época chegaram a toldar a serenidade que deve pautar este tipo de trabalhos de campo. E bem assim, congratularmo-nos pela mesma serenidade que sempre marcou as diferentes intervenções de António Carlos Silva em todo este processo. E finalmente agradecer também a Ulf Bertilsson, pela objectividade que soube imprimir ao relatório de visita que, em nome e enquanto presidente do Comité de Arte Rupestre do ICOMOS, realizou no verão de 2001 ao Guadiana. Cada um à sua medida, foram determinantes para o apaziguar das paixões que envolveram as nossas tarefas nos meses que passámos no Guadiana.



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INTRODUÇÃO

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1. METODOLOGIAS 2. A REGIÃO 3. DESCRIÇÃO DAS ROCHAS 3. ALGUMAS PRECISÕES CONCEPTUAIS 3. 1. SENHORA DA AJUDA 3. 1. 1. Senhora da Ajuda I 3. 1. 2. Senhora da Ajuda II 3. 1. 3. Senhora da Ajuda III 3. 2. S. RAFAEL 3. 3. MOINHO DO RODETE 3. 4. PERDIGOA 3. 5. FOZ DE PARDAIS 3. 5. 1. Foz de Pardais I 3. 5. 2. Foz de Pardais III 3. 5. 3. Foz de Pardais IV 3. 5. 4. Foz de Pardais V 3. 5. 5. Foz de Pardais VI 3. 5. 6. Foz de Pardais VII 3. 6. MOINHO DA ABÓBADA 3. 7. SANTO ILDEFONSO 3. 7. 1. Santo Ildefonso I 3. 7. 2. Santo Ildefonso II

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3. 7. 4. Santo Ildefonso IV 3. 7. 5. Santo Ildefonso V 3. 7. 6. Santo Ildefonso VI 3. 8. RETORTA ÍNDICE

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3. 7. 3. Santo Ildefonso III


3. 9. MOCISSOS 3. 10. MOINHO DOS CLÉRIGOS 3. 11. BEATAS 3. 11. 1. Beatas I 3. 11. 2. Beatas II 3. 12. LAMEIRA 3. 13. AZENHAS D’EL REI 3. 13. 1. Azenhas d’el Rei I 3. 13. 2. Azenhas d’el Rei II 3. 13. 3. Azenhas d’el Rei III 3. 14. MOINHOLA 3. 15. MOINHO DA VOLTA 3. 16. MALHADA DAS TALISCAS 3. 17. RONCANITO 3. 17. 1. Roncanito I 3. 17. 2. Roncanito II 3. 17. 3. Roncanito III 3. 18. MALHADA DOS GAGOS 3. 19. POÇO DE ALCARIA 3. 20. PORTO PORTEL 3. 21. MOINHO DO LURICO 3. 22. COOPERATIVA AGRÍCOLA 3. 22.1. Cooperativa agrícola I 3. 22. 2. Cooperativa agrícola II 3. 23. MONTE TOSCO

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4. BREVE DISCUSSÃO EM TORNO DAS CRONOLOGIAS DE UM SANTUÁRIO 5. PEQUENO ESBOÇO DA PRÉ-HISTÓRIA REGIONAL 6. O PRIMEIRO MILÉNIO A. C. NA REGIÃO: ALGUMAS REFLEXÕES ÍNDICE


7. DISCUSSÃO FINAL 7. 1. PALEOLÍTICO SUPERIOR: ALGUMAS ACHEGAS DA ARTE RUPESTRE DO GUADIANA PARA O CONHECIMENTO DAS MANIFESTAÇÕES GRÁFICAS PRÉ-HOLOCÉNICAS 7. 2. PRÉ-HISTÓRIA RECENTE: A ARTE RUPESTRE DO GUADIANA ENQUANTO MECANISMO IDENTITÁRIO 7. 3. PROTO-HISTÓRIA: A ARTE RUPESTRE DO GUADIANA ENQUANTO MECANISMO GERENCIADOR DE CONFLITOS 7. 4. DOS DIAS DE ONTEM: A ARTE RUPESTRE HISTÓRICA 8. ANEXO: ARTE RUPESTRE NA ÁREA DE INFLUÊNCIA DO REGOLFO DO AÇUDE DO PEDRÓGÃO 8. 1. MOINHO DOS BILORES 8. 2. ABRIGO DO BUFO 8. 3. MOINHO DO CARNEIRO 8. 4. MOINHOS DA BARCA 8. 5. RIBEIRA DO SOBROSO 8. 6. AZENHAS DA RABADOA 8. 7. ABRIGO DOS GALEADOS 9. BIBLIOGRAFIA CITADA

ÍNDICE

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INTRODUÇÃO



0. INTRODUÇÃO1

mente a região e apresentar os resultados dos trabalhos de campo (descrição das rochas), seguidamente discute-se a sua cronologia, só no ponto seguinte se constroem as narrativas dos “tempos” que nos importam (com base nos dados fornecidos pelos restantes trabalhos da região) e finalmente apresentamos a discussão final centrada sobre a relevância da arte rupestre nas comunidades passadas. Entretanto, e já após a conclusão de uma primeira versão deste texto entregue entretanto à EDIA na forma de relatório, saiu do prelo a importante obra de Hipólito Collado (2006) referente à estação extremenha de Molino Manzánez. Vimo-nos desta forma obrigados a ter em conta esse mesmo trabalho, em particular no que se refere a alguns pontos da proposta cronológica nele contida. Como se pode verificar contrastando o presente texto e o relatório referido, pouco se alterou em relação ao que escrevemos previamente. Na verdade, e como será apontado em devida altura, as nossas grandes alterações prendem-se com a discussão de alguns pontos relativos à proposta cronológica de Collado, nomeadamente no que se refere a uma pretensa existência de uma fase epipaleolítica e à excessiva diacronia da sua fase III. Relativamente aos aspectos interpretativos, algumas conclusões da equipa extremenha vão até ao encontro das nossas, aspectos esses que também relevaremos no lugar adequado. Finalmente, será ainda de referir que em forma de anexo serão publicadas também nesta edição as rochas estudadas no âmbito dos trabalhos do

Este texto corresponde na íntegra à sua versão de 2007. Apenas algumas alterações foram feitas no que respeita à actualização de citações de obras que na altura estavam no prelo ou sob a forma de trabalho académico e que entretanto foram publicadas.

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INTRODUÇÃO

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Pretende-se neste texto, não só apresentar os resultados decorrentes dos trabalhos de campo do Centro Nacional de Arte Rupestre (CNART) na área a afectar pelo regolfo do Alqueva, como também as reflexões em torno da arte rupestre que aí se encontrava e da sua relevância nos “tempos” em que foi criada e vivida. Como em qualquer trabalho de emergência, o objectivo primordial deste não seria a discussão de uma dada problemática mas essencialmente o registo de determinados vestígios antrópicos que se encontravam em risco de desaparecer do nosso campo perceptual. Contudo, o arqueólogo, enquanto cientista social, tem também como obrigação ética a interpretação do “objecto” sobre o qual trabalha, neste caso, da arte rupestre das margens do Guadiana. Existiu, portanto, da nossa parte uma necessidade grande de nos debruçarmos sobre o que se conhecia da Pré-história Recente e Proto-história regional. Fomos obrigados a construir uma narrativa no seio da qual se pudesse entender o fenómeno aqui em causa. Condicionado pela própria genealogia do trabalho, a organização deste texto foge um pouco à habitual em obras de carácter monográfico. Assim, estas últimas costumam seguir um esquema que grosso modo, segue o seguinte eixo: descrição da região, metodologia utilizada, contexto arqueológico da mesma, apresentação do case study respectivo e conclusões finais. O texto presente, após explicitação das metodologias aplicadas, começa por descrever sucinta-


CNART na área a submergir pelo açude do Pedrógão. Como se verificará posteriormente, uma parte substancial dessas estações apresenta uma identidade muito própria, facto esse que se poderia diluir se tudo fosse apresentado em bloco. Os trabalhos de campo na área a afectar pelo regolfo do Alqueva tiveram lugar em duas campanhas distintas. Uma desenvolvida entre 14 de Maio e 15 de Agosto de 2001 e uma última entre 8 de Outubro e 7 de Dezembro do mesmo ano. Foram programadas no seguimento da revelação da existência de gravuras rupestres em finais de Abril de 20012, facto que levou o Instituto Português de Arqueologia (IPA) a encarregar o CNART de analisar os achados e a programar o seu levantamento e estudo imediato. Assim, uma primeira visita realizada em 30 de Abril daquele ano veio a confirmar a presença de um importante conjunto de gravuras esquemático-simbólicas de cronologia neo-calcolítica, com uma situação de jazida muito

semelhante às do Tejo. Resultante dessa visita foi a elaboração de um relatório circunstanciado que ficou disponível on-line no site do IPA-CNART, e a programação de uma campanha com vista a realizar o levantamento integral da arte rupestre da zona. O projecto de trabalho foi aprovado pelo IPA tendo sido suportado financeiramente pela Empresa de Desenvolvimento e Infra-estruturas do Alqueva (EDIA). Nos trabalhos coordenados por António Martinho Baptista, participaram Anabela Mesquita dos Santos, André Tomás Santos, António Fernando Barbosa, Áurea Celeste dos Santos, Carla Natividade Magalhães, Carla Magro Dias, Dalila Susana Correia, Ivone Canavilhas, João Carlos Félix, Lara Bacelar Alves, Lília de Jesus Barradas, Manuel Calado, Manuel Fernandes Almeida, Manuel João Barradas, Maria da Conceição Roque, Pedro Alvim, Rebeca Nores González, Rosa Catarina Jardim e ainda Maria Zulmira Martins que assegurou todo o trabalho de secretariado.

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E após a descoberta de gravuras no outro lado da fronteira (Cerrato e Novillo, 2000). Por outro lado, gravuras mais para jusante são conhecidas já desde 1979 (Baptista e Martins, 1979).

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INTRODUÇÃO




1. METODOLOGIAS



1. METODOLOGIAS

Dois objectivos estiveram subjacentes às escolhas efectuadas quanto à metodologia a utilizar: por um lado, havia que assegurar o registo efectivo e rigoroso da arte rupestre e por outro, havia que aproveitar a excelente oportunidade de formar uma nova geração de investigadores da matéria. Deste modo foram utilizadas várias metodologias que pudessem cumprir aqueles objectivos. Dados os condicionalismos do tempo, do clima e de outros ainda menos controláveis, como o foi o aproveitamento político da situação, nem todas as rochas foram alvo do mesmo tratamento. As formas de registo utilizadas foram o decalque directo sobre plástico polivinilo, as moldagens, a fotografia, a topografia e a estereofotogrametria laser. Previamente a estes trabalhos, as áreas a intervencionar foram alvo de limpeza (Foto 3) e trabalhos mais específicos tais como levantamentos de coberturas (Foto 2) ou construção de andaimes. Todo este trabalho foi evidentemente efectuado após e durante as prospecções que foram efectuadas ao longo de toda área ribeirinha a submergir pelo empreendimento (Foto 1).

Foto 2: Preparação do terreno para os trabalhos sequentes em Mocissos.

Foto 3: Aspecto dos trabalhos de limpeza na rocha 8 de Mocissos.

METODOLOGIAS

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Foto 1: Trabalhos de prospecção e registo no sítio das Taliscas.

O primeiro método foi aplicado, sobretudo durante o dia (Fotos 4 a 8), tendo algumas rochas sido desenhadas à noite (Fotos 12 a 14). Contrariamente à política habitual do CNART, a preferência pelo horário diurno deveu-se essencialmente à incomportabilidade da sua execução nocturna devido, por um lado às próprias e duríssimas condições climatéricas e, por outro, aos milhões de mosquitos no Verão e à extrema humidade do Outono. De forma a procurar-se um máximo de rigor durante o dia, foi utilizado o


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actualmente muito criticado método bicromático (Fotos 9 e 10). Devido à polémica em torno deste método, será de toda a conveniência debruçarmo-nos um pouco sobre ele. Este é conseguido através da utilização de duas tintas contrastantes (no nosso caso, negro e branco) facilmente removíveis após terminado o trabalho. Este método

METODOLOGIAS

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Desenho diurno na rocha 1 da Moinhola

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Trabalhos de desenho na rocha 1 da Moinhola.

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Trabalhos de desenho diurno na rocha 10 da Moinhola.

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Trabalhos de desenho diurno na rocha 10 da Moinhola.

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Trabalhos de desenho no sector jusante da Moinhola.

permitiu ao longo das últimas quatro décadas um estudo muito aprofundado de alguns dos grandes sítios de arte rupestre gravada europeia, nomeadamente em Valcamónica (onde aliás, foi desenvolvido por Emmanuel Anati), mas também no Vale do Tejo e em muitas outras jazidas rupestres. Foi utilizado durante décadas sem qualquer res-


Foto 12: Trabalhos nocturnos de desenho (rocha 1 de Mocissos). Note-se a quantidade de insectos junto ao foco.

Foto 13: Trabalhos de desenho nocturno na rocha 8 de Mocissos.

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Foto 14: Outro pormenor dos trabalhos nocturnos na rocha 8 de Mocissos.

METODOLOGIAS

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trição e, quando bem aplicado, nomeadamente em painéis lisos, revelou-se bastante eficiente, permitindo quer o desenho rigoroso das gravuras, quer o estudo fundamentado das sobreposições. No entanto, especialmente ao longo dos últimos 15 anos, com a ascensão dos métodos experimentais de datação directa, passou a ser considerado como altamente destrutivo por vir a poder comprometer futuras datações directas dos compostos orgânicos eventualmente encapsulados no interior das ablações lascadas. Objecções idênticas se levantam para as moldagens, em especial quando se utilizam produtos adesivos. Aceitamos, evidentemente, que em condições de estudo normais e onde não há o perigo da destruição ou submersão das rochas, o método não seja utilizado, como é o caso do Vale do Côa. Deste modo, o método foi utilizado no Guadiana com plena consciência desta problemática e tendo em atenção os seguintes factores: estávamos perante um sítio ameaçado de submersão e cujo levantamento era urgente realizar num curto lapso de tempo; as condições de jazida em painéis grauváquicos lisos dispostos na horizontal facilitam a utilização deste método e o seu registo diurno; só uma pequeníssima parte dos painéis foi objecto de visualização bicromática, em especial aqueles de grandes dimensões ou nos que havia necessidade de aclarar alguns pormenores das gravações (rochas 1, 2, 10, 60, 61, 63, 73, 74, 77 e 83 da Moinhola e 8 de Mocissos); o levantamento da arte rupestre do Guadiana foi também uma “escola”, impondo-se assim a necessidade de explicar aos nossos colaboradores as reais potencialidades e fraquezas de um dos mais carismáticos métodos de levantamento. As moldagens foram executadas sobre látex e silicone. A maior parte das rochas moldadas foi-o com o primeiro produto (em número de 34). Este é aplicado em diversas camadas sobrepostas às quais se aplica tarlatana ou outro


)RWR 7UDEDOKRV GH IRWRJUDÀD VREUH ELFURPiWLFR URFKD 1 da Moinhola).

Foto 10: Aplicação de bicromático (rocha 60 da Moinhola).

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pano do mesmo tipo antes das últimas três camadas, assegurando-se assim a estabilidade do molde e a fixação muito aproximada da escala real (sem a tarlatana, o látex pode encolher até percentagens da ordem dos 4 ou 5%)3 (Fotos 19 a 29). O silicone foi aplicado a nível experimental em três rochas da Moinhola (Foto 30), situação possível graças à colaboração do Dr. Vítor Hugo do Museu D. Diogo de Sousa (Braga), do Dr. José Sá Dantas e de Henrique de Barros da empresa Silicem.

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Trata-se, igualmente, de um método bastante preciso, tendo as vantagens de uma maior espessura e melhor controlo da moldagem assim como uma maior manutenção da escala real em relação ao látex sem tarlatana. No entanto, a sua aplicação é bastante mais complicada num sítio como o Guadiana. Os custos materiais são, por outro lado, bastante maiores, razão pela qual julgamos que o látex é ainda a melhor solução para sítios como o Guadiana. A fotografia foi feita tanto de dia como de noite (Fotos 15 a 18), tendo-se utilizado tanto o suporte digital como o analógico (35 mm e médios formatos). Tratou-se da única forma de registo aplicada a todas as rochas identificadas. Na verdade, uma parte substancial das rochas, dadas as limitações atrás referidas e a pouca relevância das mesmas, não foram desenhadas. Correspondem estas a painéis onde se encontravam maioritariamente manchas de picotados e traços filiformes de intencionalidade humana duvidosa. A topografia centrou-se nos sítios com maior aglomeração de rochas gravadas. Alguns núcleos de rochas que apresentavam relações espaciais de proximidade com possível interesse arqueológico foram objecto de levantamento topográfico detalhado. Este trabalho foi executado por Pedro Alvim. As coordenadas por ele recolhidas foram por nós enquadradas no levantamento oro-hidrográfico do Alqueva gentilmente cedido pela EDIA. Este processo foi feito em Arcview, tendo o tratamento gráfico final sido executado com o programa Adobe Illustrator CS. As estações não topografadas foram georreferenciadas através de GPS, tendo estas coordenadas sido integradas, de igual modo, no levantamento geral atrás referido.

Sobre a aplicação deste método em rochas historiadas, remetemos para Angeles Querol et alii, 1975.

METODOLOGIAS


Foto 19: Aplicação de látex na rocha 4 de Mocissos.

Foto 20: Aplicação de látex na rocha 1 da Moinhola.

Foto 21: Aplicação das primeiras camadas de látex na rocha 1 da Moinhola.

Foto 22: Aplicação da tarlatana durante a moldagem com látex da rocha 1 da Moinhola.

Foto 23: Pormenor da fase de aplicação da tarlatana ao molde (rocha 1 da Moinhola).

Foto 24: Outro pormenor da mesma fase da moldagem.

METODOLOGIAS

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Foto 25: Aplicação das últimas camadas de látex no molde da rocha 1 da Moinhola.

Foto 26: Outra imagem da mesma fase.

Foto 27: Retirada do molde da rocha 1 da Moinhola.

Foto 28: Pormenor da mesma fase.

)RWR ,GHQWLÀFDomR GR PROGH QHVWH FDVR GD URFKD 1 da Moinhola).

Foto 30: Moldagem em silicone da rocha 36 da Moinhola.

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METODOLOGIAS


A esterefotogrametria laser foi utilizada apenas na rocha 1 da Malhada das Taliscas, tendo sido Eng. JosĂŠ Cabrita Freitas do INETI o responsĂĄvel pelos trabalhos (Foto 31). Trata-se de um mĂŠtodo que ainda nĂŁo atingiu o nĂ­vel

de rigor exigido no estudo da arte rupestre e Ê ainda muito caro. As aplicaçþes que permite são, no entanto, múltiplas, devendo relevar-se as que têm que ver com a musealização e mesmo com o merchandizing4.

)RWR 7UDEDOKRV QRFWXUQRV GH IRWRJUDĂ€D QD URFKD 1 de Mocissos.

)RWR 7UDEDOKRV QRFWXUQRV GH IRWRJUDĂ€D QD URFKD 1 da Moinhola.

)RWR 7UDEDOKRV GH IRWRJUDĂ€D QD URFKD GH 0RFLVVRV

Foto 31: Aspecto dos trabalhos de recolha de dados para tratamento estereofotogramĂŠtrico da rocha 1 de Malhada das Taliscas.

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)RWR 7UDEDOKRV QRFWXUQRV GH IRWRJUDĂ€D QD URFKD 109 de Moinhola.

Sobre o assunto, consultar Freitas et alii, 2004.

METODOLOGIAS

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2. A REGIÃO



2. A REGIÃO

Figura 1: Localização da área de estudo na Península Ibérica.

as mais violentas dos grandes rios peninsulares, fruto provável de depressões de latitude subtropical que circulam sobre a própria bacia (Daveau, 1997, 515-518). Trata-se de um rio, que como grande parte da rede hidrográfica do sul de Portugal, é relativamente moderno, sendo possível que o seu percurso actual não vá muito além do Quaternário (Ribeiro, 1997, 194). Do ponto de vista da Geomorfologia, o rio atravessa “a mais extensa e monótona unidade do nosso relevo, a peneplanície do Sul de Portugal, que se prolonga pela Extremadura espanhola, [e] é, como a Meseta, uma superfície poligénica, formada durante o Terciário, pela adição de sucessivos retoques à sua aplanação principal” (Ribeiro, 1997, 187). O aspecto ondulado desta superfície de aplanamento na zona que agora nos ocupa deve ser procurado, por um lado em fenómenos de rejuvenescimento lento, e por outro na própria natureza geolóA REGIÃO

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O eixo estruturante da nossa região de estudo é, como não podia deixar de ser, o Guadiana. Trata-se do terceiro rio ibérico, nascendo na Mancha e desembocando em Vila Real de Santo António (Fig. 1). Na parte que nos interessa tem um orientação norte-sul, apresentando genericamente um traçado regular mas com alguns meandros (as raquettes). Corresponde a nossa área de estudo a um dos acidentes locais que, nas palavras de Suzanne Daveau, contrariam a regularidade do perfil longitudinal do rio: um “vale encaixado [...] com o declive médio de 0,8 m/km desde a fronteira, onde o rio corre a 158 m, até ao Pulo do Lobo, a 26 m de altitude” (Daveau, 1997, 516) (Fig. 2). Apresenta um fraco caudal específico de cerca de 2,7 l/s km2, fruto da fraca drenagem com origem tanto na Meseta sul como no Alentejo oriental, parte da Extremadura espanhola e vertente NE da serra do Caldeirão. No entanto, as cheias ocasionais contam-se entre


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Figura 2: Relação espacial entre as estações estudadas. Os números correspondem aos subcapítulos relativos aos sítios referidos no ponto da “Descrição das rochas”.

A REGIÃO


proporção de plantas mediterrânicas. Entre estas contam-se a azinheira (Quercus ilex L.), o sobreiro (Quercus suber L.), o piorno (Retama), as giestas (Genista e Cytisus) o tomilho (Thymus) e a alfazema (Lavandula) (Lautensach, 1997, 552) Já em relação à Fitossociologia, a região integra-se no Superdistrito Alto Alentejano, Subsector Araceno-Pacense, Sector Marianico-Monchiquense, Província Luso-Extremadurense, Superprovíncia Mediterrânica Ibero-Atlântica, Sub-região Mediterrânica Ocidental da Região Mediterrânica (Costa et alii, 1998, 33). Em relação às actividades produtivas, dever-se-á destacar a relevância da agricultura, em particular do montado do sobreiro, do olival e da cerealicultura de sequeiro. De extrema pertinência económica local é também a pastorícia, nomeadamente de ovi-caprinos e suínos, se bem que algumas manadas de bovinos pontuam também a região. Junto ao rio, algumas barcaças e chatas demonstram que a pesca é, pelo menos, uma actividade presente. Já os moinhos e estruturas anexas que ocorrem a espaços nas margens do Guadiana e afluentes ( Jerónimo et alii, 2003) teriam que ver certamente com as actividades transformadoras do produto da cerealicultura regional num momento em que a economia era ainda muito familiar e dispersa. A imigração por um lado e a concentração de actividades como a moagem e farinação em fábricas explica porque nenhuma destas estruturas funcionava já6. Após esta curta introdução debrucemo-nos pois sobre o assunto que aqui nos traz: as rochas historiadas do Alqueva...

Do ponto de vista geológico, as estações a que nos referiremos situam-se todas na Zona de Ossa-Morena, maioritariamente em xistos que apresentam, no entanto, diversas fácies. Dado este aspecto, a descrição das mesmas será feita estação a estação. A excepção relativa à natureza geológica é a estação de Malhada de Gagos onde o substrato é outro, embora WDPEpP GH RULJHP PHWDPyUÀFD D FRUQHDQD 6 Foi nos inícios dos anos oitenta que os últimos moinhos da região que nos importa foram abandonados (Jerónimo et alii, 2003, 83). 5

A REGIÃO

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Memórias d’Odiana • 2ª série

gica do substrato5 bastante susceptível de forte dissecamento provocado pela rede hidrográfica. O Guadiana, por exemplo, corre a cerca de 100 m abaixo da cota média superior da referida unidade de aplanamento (Feio, 1983, 11-12). Relativamente ao clima, este é quente e seco, sendo a pluviosidade baixa. O Verão é muito longo, não chovendo praticamente entre Junho e Setembro. Os meses de Julho e Agosto são mesmo de seca total. Os dias atingem temperaturas da ordem dos 40º, arrefecendo um pouco somente ao fim da tarde. Já as noites são mais frescas e podem chegar a ser bastante húmidas (razão pela qual aparecem tantos mosquitos junto aos rios durante este período). Em Setembro os dias são ainda muito quentes mas pode chegar a chover. Já Outubro é considerado por muitos como o mais agradável dos meses: “beau temps sans chaleur excessive, sérénité imcomparable, ciel lumineux, calme mélancolie du chant dês mésanges le long des sillons ensemencés.” (Feio, 1983, 26). Embora o bom tempo se possa prolongar, Novembro e Dezembro são meses pluviosos, sendo o primeiro aquele em que mais chove ao longo do ano. O Inverno é ameno, pluvioso e húmido. Março é um mês irregular em que pode chover pela manhã e estar um tempo maravilhoso pela tarde. Abril é o único mês verdadeiramente primaveril, ocorrendo aqui e ali alguma chuva. Em Maio volta o calor, podendo ocorrer uma ou outra trovoada (Feio, 1983, 23-27). A região que agora nos ocupa é de carácter acentuadamente continental. Do ponto de vista da Fitogeografia é a região que apresenta maior



3. DESCRIÇÃO DAS ROCHAS



Quando descrevemos uma rocha estamos necessariamente a interpretar. Ora, este processo implica concomitantemente a existência de conceitos que será de toda a conveniência explicitar. Pretende-se desta forma expor o porquê da utilização de certas “palavras” na medida em que temos consciência que estas tanto abrem como fecham o Mundo. Deste modo, desde já referimos que na descrição dos motivos, optámos por, sempre que nos pareceu razoável, adoptar a terminologia comum neste tipo de estudos (v. g. arboriforme, escutiforme, antropomorfo, etc.). Denominações existem, contudo, que tendo sido já criadas por outros autores (v. g. Acosta, 1968; Bécares, 1983) não foram por nós utilizadas na medida em que as consideramos, por demais, redutoras (v. g. os motivos da rocha 1 de Beatas I tipificadas por Acosta como “ramiformes de tipo arborescente” – Acosta, 1968, 126-128, 131, Fig. 39). Quanto às superfícies, trabalhámos com três conceitos: painéis, campos compositivos e sectores. Individualizamos painéis sempre que existe uma interrupção evidente da superfície da rocha, seja esta conseguida pela distância, pela orientação, pela cota ou pela quebra da geometria das faces historiadas das rochas. Quando num painel os acidentes naturais separam grupos de figuras em que se verifica uma certa homogeneidade consideramos aí existir um campo compositivo. Os sectores correspondem a diferentes partes das rochas que são separadas por uma questão de maior precisão na descrição da dispersão dos motivos. Qualquer alteração destes conceitos ao

longo do texto será devidamente ressalvada e explicitada. Quanto às orientações dos painéis, estas não serão referidas em texto no caso das superfícies horizontais na medida em que neste caso, aquelas se encontrarão representadas no desenho. Finalmente, refira-se que todas as estações se encontram na margem direita do Guadiana. As excepções serão oportunamente ressalvadas.

3. 1. SENHORA DA AJUDA Administrativamente integra-se nas freguesias de Ajuda, Salvador e Santo Ildefonso, concelho de Elvas, distrito de Portalegre. Desenvolve-se ao longo de cerca de 1200 m. Trata-se de um dos locais onde o vale é mais aberto, correspondendo a uma zona de aluvião do rio (Figs. 2 e 3). É limitado a oeste por pequenas elevações onde a ocupação pré-histórica se encontra evidenciada, nomeadamente por monumentos megalíticos. Todo o vale é preenchido por afloramentos e blocos de xisto de cronologia câmbrica (Gonçalves e Assunção, 1970, 9-12) muito boleados pela água. A vegetação caracteriza-se por uma densa cobertura herbácea assim como juncos e outras plantas de carácter hidrófilo de maior porte. É possível individualizarem-se três sectores.

3. 1. 1. Senhora da Ajuda I

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Encontra-se cartografada na Carta Militar de Portugal, escala 1: 25 000, folha 428, nas seguintes coordenadas Greenwich: 38º 46’ 40,78’’ N, 07º 10’ 08,89’’ O, altitude de 150 m (Figs. 2 e 3).

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

Memórias d’Odiana • 2ª série

3. 0. ALGUMAS PRECISÕES CONCEPTUAIS


Figura 3: Carta de pormenor onde se observam as localizações da Senhora da Ajuda e S. Rafael.

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Rocha 1 (Fig. 4): Situa-se na margem direita do Guadiana, para montante da velha ponte da Ajuda. Corresponde a uma superfície horizontal onde se identificam dois campos compositivos separados por uma fissura natural paralela à xistosidade do suporte. No campo leste individualizam-se cinco figuras: dois círculos (nºs 1 e 4); uma linha sub-rectilínea paralela à xistosidade, formada por picotados não muito concentrados (nº 2); um arco de círculo que se desenvolve a partir do lado direito daquele motivo (nº 3); uma fossette à direita do círculo 4. No campo oeste identificam-se outras cinco figuras: quatro círculos (nºs 6, 7, 8 e 10) e uma covinha (nº 9). Refira-se a existência de dois picotados no interior do círculo 6 que lhe conferem um “ar oculado”. O motivo 7 apresenta, de igual modo, alguns picotados dispersos no seu interior. DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

O 8 é apenas esboçado. Todos os motivos foram executados por picotagem directa. Rocha 2 (Fig. 5): Trata-se de um painel horizontal onde se identificou uma concentração de picotados de contorno indefinido.

3. 1. 2. Senhora da Ajuda II Encontra-se cartografada na Carta Militar de Portugal, escala 1: 25 000, folha 428, nas seguintes coordenadas Greenwich: 38º 46’ 36,03’’ N, 07º 10’ 25,03’’ O, altitude de 150 m (Figs. 2 e 3). Rocha 1 (Fig. 6): Situada já para jusante da velha ponte da Ajuda na margem direita do rio. Painel vertical orientado para este. Identifi-


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Figura 4: Rocha 1 do sector I da Senhora da Ajuda.

Figura 6: Rocha 1 do sector II da Senhora da Ajuda.

cam-se três campos compositivos limitados por fissuras naturais. O da esquerda é constituído por um grupo de picotados dispersos (nº 1). À sua direita encontra-se uma composição filiforme (nº 2) que se pode descrever como uma série de linhas transversais paralelas entre si que se interceptam por um feixe de sulcos orientados na direcção oposta. Estas convergem no seu limite superior e são limitadas na base por uma linha perpendicular, características que conferem a este elemento um aspecto “corniforme”. Finalmente, a última figura apresenta um aspecto “foliforme” (nº 3). Caracteriza-se pela presença de uma forma sublosângica disposta na horizontal e preenchida por nervuras que grosseiramente convergem para o limite direito do motivo, prolongando-se uma daquelas para o exterior deste. Trata-se também de um motivo filiforme.

Figura 5: Rocha 2 do sector I da Senhora da Ajuda.

Rocha 2 (Fig. 7): Trata-se de um painel subvertical. Identificam-se treze fossettes já muito gastas pela água; no sector direito do painel observam-se várias formações de natureza geológica de contorno circular ou oval que poderão ser confundidas com covinhas. DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

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Figura 7: Rocha 2 do sector II da Senhora da Ajuda.

nas seguintes coordenadas Greenwich: 38º 46’ 33,75’’ N, 07º 10’ 32,79’’ O, altitude de 150 m (Figs. 2 e 3).

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Figura 8: Rocha 2 do sector III da Senhora da Ajuda.

3. 1. 3. Senhora da Ajuda III Encontra-se cartografada na Carta Militar de Portugal, escala 1: 25 000, folha 428, DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

Rocha 1 (Fig. 8): Situada a jusante da ponte da Ajuda, na margem direita. Painel sub-horizontal. Pode ser grosso modo dividido em dois campos separados por uma fissura natural que se desenvolve paralelamente à xistosidade do suporte. No campo esquerdo identifica-se, de cima para baixo, uma figura subcircular (nº 1) e um conjunto de picotados dispersos, parecendo parte destes formar um círculo. À direita encontra-se um conjunto de motivos que aparentam formar uma composição estruturada. Assim, no sector inferior direito do painel encontra-se um antropomorfo de cabeça circular, corpo bastante curto e pernas em forma de V invertido; A mão direita encontra-se erguida e a esquerda desenvolve-se para baixo; Ambas apresentam a figuração dos dedos (nº 5). Junto à mão erguida deste antropomorfo encontra-se a cabeça de um outro que se prolonga na direcção oposta do primeiro; este, tal como o anterior, apresenta a cabeça circular, uma mão erguida, outra deitada e as pernas em forma de


atravessando-a horizontalmente, identificam-se quatro linhas, a primeira formando uma diagonal e as restantes subcurvilíneas. Entre as duas últimas incisões verticais encontra-se ainda um pequeno sulco transversal. Rocha 3 (Fig. 10): Trata-se de um painel horizontal onde se identificam três covinhas e alguns picotados dispersos.

Figura 9: Rocha 1 do sector III da Senhora da Ajuda.

V invertido; o seu corpo é, no entanto, inusitadamente desenvolvido, terminando num falo. Na mão erguida é também possível verificar-se a existência de dedos (nº 4). A figura 3 encontra-se à esquerda do último motivo descrito. Grosso modo, pode ser descrito como um motivo subtrapezoidal seccionado no interior. De cima para baixo e da esquerda para a direita pode-se individualizar nesta figura um elemento subtriangular adossado a um outro do mesmo género que se orienta na direcção oposta. Abaixo do primeiro triângulo encontra-se uma forma subtrapezoidal seccionada por uma cruz; à direita, e adossada a esta composição e ao segundo triângulo descrito, encontra-se um motivo subcircular. Todas as figuras foram efectuadas por picotagem. Rocha 2 (Fig. 9): Trata-se de um painel horizontal. Nesta rocha foi possível identificar-se uma composição filiforme muito simples. Trata-se de cinco linhas rectilíneas verticais, apresentando a segunda a contar da esquerda uma inflexão para a direita. Do limite inferior da primeira incisão referida arranca uma linha diagonal que segue até pouco depois do quarto sulco. Finalmente, a meio da composição, e

Rocha 4 (Fig. 11): Na mesma zona das rochas anteriores identifica-se ainda esta. Apresenta uma superfície horizontal onde se observam quatro covinhas e várias concentrações de picotados soltos.

Figura 10: Rocha 3 do sector III da Senhora da Ajuda.

Figura 11: Rocha 4 do secor III da Senhora da Ajuda.


3. 2. S. RAFAEL Localiza-se a 500 m da estação anterior, imediatamente a jusante do ribeiro de S. Rafael (Figs. 2 e 3). Administrativamente pertence à freguesia de Juromenha, concelho de Alandroal, distrito de Évora. Na Carta Militar de Portugal, escala 1: 25 000, folha 428, encontra-se cartografada nas seguintes coordenadas Greenwich: 38º 46’ 22,21’’ N, 07º 10’ 58,59’’ O, altitude de 150 m. Corresponde a uma pequena reentrância da margem em forma de pequena península. Trata-se de uma zona muito acidentada e pedregosa onde abunda a vegetação arbustiva. O vale aqui é mais encaixado que na estação atrás descrita. O substrato geológico corresponde a xistos câmbricos (Gonçalves e Assunção, 1970, 9-12). Nas elevações situadas a oeste localizam-se as bens conhecidas antas de S. Rafael (Leisner e Leisner, 1959, 68).

Figura 12: Rocha 1 de S. Rafael.

Figura 13: Rocha 2 de S. Rafael.

Rocha 1 (Fig. 12): Corresponde a um painel horizontal onde se observa uma concentração de picotados de contornos incaracterizáveis e vários agrupamentos dispersos de picotados. Rocha 2 (Fig. 13): Trata-se de um painel subvertical orientado para este. Observam-se dois ténues círculos e um antropomorfo de corpo largo sem braços. As pernas são arqueadas.

3. 3. MOINHO DO RODETE

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Situa-se uns metros para jusante do sítio anterior (Figs. 2 e 14), na freguesia de Juromenha, concelho do Alandroal, distrito de Évora. Na Carta Militar de Portugal, escala 1: 25 000, folha 441, encontra-se cartografado nas seguintes coordenadas Greenwich: 38º 41’ 48,57’’ N, 07º 16’ 00,97’’ O, altitude de 148 m. A rocha

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

situa-se junto do moinho epónimo. Trata-se de uma construção em xisto, muito tosca, que aproveita a linha de água que limita pelo norte o monte Perdigoa. Do ponto de vista geológico encontramo-nos em xistos de cronologia silúrica (Perdigão, 1976, 10-11). Abunda a vegetação herbácea e arbustiva de características hidrófilas. Rocha 1 (Fig. 15): Trata-se de um painel horizontal. Encontram-se quatro covinhas picotadas e alguns picotados dispersos.

3. 4. PERDIGOA Localiza-se na freguesia de Juromenha, concelho de Alandroal, distrito de Évora. Segundo a Carta Militar de Portugal, escala 1: 25 000, folha 441, apresenta as seguintes co-


Figura 14: Carta de pormenor onde se observam as localizações das estações de Moinho do Rodete, Perdigoa e Foz de Pardais.

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

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ordenadas Greenwich: 38º 35,83’’ N, 07º 15’ 59,09’’ O, altitude de 140 m. Situa-se a 500 m para sul da estação anterior (Figs. 2 e 14), num local em que a margem é definida pelo declivoso sopé leste do monte Perdigoa, o que muito dificulta o acesso por terra ao sítio. Deve-se este facto à diferença litológica entre o topo da elevação de natureza calcária (Perdigão, 1976, 7-8) e a base já constituída por xistos silúricos (Perdigão, 1976, 10-11). No topo desta elevação encontra-se um importante sítio calcolítico associado a, pelo menos, duas sepulturas. O rio é, nesta zona, muito encaixado. A vegetação é densa, observando-se muitos arbustos e árvores de espécies próprias destes ambientes ribeirinhos. Rocha 1 (Fig. 16): Trata-se de uma formação rochosa onde se podem individualizar quatro painéis horizontais distribuídos de sul para norte. Apenas foram gravadas fossettes. No painel situado mais a sul (nº 1) identificam-se 14, parecendo onze destas estarem grosseiramente alinhadas com o eixo maior do painel.

Memórias d’Odiana • 2ª série

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Figura 15: Rocha 1 do Moinho do Rodete.

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

O painel 2 situa-se a pouco menos de 1 metro para norte do anterior. Foram gravadas 21 fossettes no sector sudeste do suporte. O painel 3 encontra-se a leste do anterior, sendo separado deste por uma fissura natural. Neste painel, as fracturas mais representativas parecem definir diferentes campos compositivos. O primeiro situa-se no sector sudeste; nele identificam-se 49 covinhas, situando-se as maiores junto ao limite do painel, diminuindo estas de tamanho à medida que avançamos para o interior da rocha (nº 3a). No segundo, situado a oeste do anterior, foram gravadas seis covinhas aparentemente de forma aleatória (nº 3b). A oeste deste situa-se outro campo onde se executaram 3 motivos muito concentrados (nº 3c) O campo 3d encontra-se a nordeste do 3a. Aqui só se localizam 4 fossettes dispersas entre si. O painel 4 localiza-se a norte do terceiro e é separado deste por uma fissura natural. Tal como no caso referido atrás, também aqui se podem individualizar 3 campos compositivos limitados pelas fracturas mais relevantes. O campo 4a


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Figura 16: Rocha 1 da Perdigoa.

Rocha 2 (Fig. 17): Situa-se um pouco para norte da anterior, ainda na base do sopé da elevação referida acima. Trata-se de um enorme painel vertical orientado para sul (perpendicular ao curso do rio). Também aqui as fracturas mais relevantes (orientadas de cima para baixo e da direita para a esquerda) parecem ter delimitado diferentes campos compositivos que serão descritos seguidamente da esquerda para a direita. No primeiro dos campos apenas encontramos uma série de traços filiformes que convergem para a direita (nº 1). Abaixo deste feixe foram incisos outros três traços, sendo o último ladeado por escassos picotados dispersos. Por cima da figura 1 foram incisos dois traços. No campo seguinte identificam-se de cima para baixo: uma fossette (nº 2) e uma concentração de picotados que não apresenta nenhuma

forma definível (nº 3). À direita desta figuração é possível individualizar-se uma outra concentração de picotados de forma sub-rectangular (nº 4). Abaixo dos dois últimos motivos identifica-se um outro conjunto de picotados de forma genericamente circular (nº 5), acima do qual se observam duas linhas filiformes. No campo à direita, foi gravado no sector superior esquerdo um antropomorfo fálico de braços e pernas em arco de círculo. Os sulcos são bastante largos. O mesmo sulco vertical define a cabeça, o tronco e o falo, não havendo uma distinção clara para além das impostas pelas segmentações produzidas pelos braços e pernas (nº 6). Abaixo e à direita deste motivo encontra-se uma “covinha” (nº 7). Num plano inferior, à esquerda, é perceptível um conjunto de picotados de difícil caracterização (nº 8). A este nível e para a direita dos motivos 6 e 7 observam-se os restos de um possível círculo (nº 9) mutilado por um lascamento que terá danificado, de igual modo, um antropomorfo do qual só restam a cabeça, parte do tronco, o braço e a perna direitas (nº 10). No espaço lascado foi posteriormente gravado um conjunto de picotados de forma incaracterizável. À direita encontram-se vestígios de um antropomorfo cujas pernas se identificam perfeitamente assim como a parte inferior do tronco que seria bastante largo (nº 11). Entre estes dois motivos DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

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Memórias d’Odiana • 2ª série

situa-se no sector mais a sudeste, encontrando-se aqui apenas 2 covinhas. O seguinte situa-se a oeste daquele. São identificáveis 8 motivos (nº 4b). O último dos campos localiza-se a norte do 4a, encontrando-se aí apenas 2 fossettes de tamanhos muito díspares entre si (nº 4c). Todas as figuras foram picotadas tendo sido, posteriormente, alvo de abrasão. Apenas no maior dos motivos do campo 4c se identificam ainda restos de picotado.


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Figura 17: Rocha 2 da Perdigoa.

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foi executada uma série de pequenos traços filiformes transversais e paralelos entre si. Traços do mesmo género foram gravados por cima do que resta do antropomorfo 11. Vários conjuntos de picotados dispersos existem por todo o campo compositivo, destacando-se a concentração (nº 12) existente abaixo do nível onde se situam os motivos 8 a 11. No sector inferior direito destaque-se a existência de 4 covinhas (nºs 13 a 16). Dispersos por todo o sector inferior encontram-se vários traços filiformes. No campo seguinte encontra-se, no sector superior esquerdo, uma fossette picotada. Ao centro do painel, e sensivelmente ao mesmo nível, foram gravados quatro antropomorfos. O da esquerda apresenta uma cabeça muito bojuda, um tronco muito largo e os membros superiores e inferiores em arco de círculo (nº 17). À direita encontra-se um outro (nº 18) com uma cabeça definida por uma “covinha”, um corpo alongado e braços e pernas em arco de círculo. Os memDESCRIÇÃO DAS ROCHAS

bros superiores encontram-se a meio do corpo, o que confere a esta figura um pescoço inusitadamente desenvolvido. Por sua vez, entre os membros inferiores foi gravado um sulco vertical que, embora separado do resto do motivo, corresponderá ao falo da figura. O antropomorfo situado à direita do último apresenta características muito semelhantes àquele; no entanto, entre os membros inferiores foi gravada uma covinha em vez de um sulco vertical como no caso anterior (nº 19). Temos, deste modo, razões para interpretar esta figura como feminina. O último antropomorfo encontra-se muito apagado, sendo possível observar-se um corpo longo e restos dos membros inferiores (nº 20). À direita identificam-se vários traços filiformes. Abaixo destes motivos, as únicas figuras passíveis de caracterização correspondem a fossettes (nºs 21 a 30). Por toda a superfície identificam-se vários picotados dispersos, sendo a sua concentração mais densa no nível inferior da parte historiada.


Figura 18: Rocha 1 do sector 1 de Foz dos Pardais. 1

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Foto 32: Motivos 31 e 32 da rocha 2 da Perdigoa.

No campo seguinte apenas se individualizam dois antropomorfos (nºs 31 e 32) de características muito semelhantes ao par constituído pelas figuras 18 e 19 (Foto 32). Simplesmente os pescoços são agora menos desenvolvidos e não há neste caso definição sexual dos personagens. Em volta das figuras identificam-se vários picotados dispersos. No campo à direita, ao centro, foi picotado um antropomorfo de tipo ramiforme (nº 34).

Este apresenta um corpo longo e algo largo, uma cabeça circular, os membros superiores em arco de círculo e os inferiores em forma de V invertido, pese o facto da perna direita se encontrar um tanto esbatida; entre os “braços” e as “pernas” foi gravado um terceiro par de membros também em arco de círculo, se bem que mais anguloso nos cantos (Foto 33). Esta figura antropomórfica sobrepõe um motivo subovóide (nº 35) e é ladeaDESCRIÇÃO DAS ROCHAS

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Figura 19: Rocha 2 do sector 1 de Foz dos Pardais.


Foto 33: Motivos 34, 35 e 37 da rocha 2 da Perdigoa.

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Foto 34: Motivo 39 da Moinhola

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

da ao nível dos membros intermédios por duas gravuras muito simples: a da esquerda consiste numa fossette provida de um pequeno sulco vertical na base (nº 33); a da direita pode ser descrita como uma pequena “barra” vertical com a base um pouco mais larga (nº 36). Abaixo das pernas do antropomorfo identifica-se uma covinha (nº 38). O mesmo tipo de motivo pode ser encontrado num nível inferior à esquerda (nº 37). Mais uma vez se volta a verificar a existência de vários picotados dispersos em torno dos motivos deste campo compositivo. Seguidamente encontra-se um campo em que apenas se identificam um antropomorfo de tipo halteriforme com os membros superiores em arco de círculo (nº 39) (Foto 34); À direita identifica-se uma covinha (nº 40) e um sulco vertical com as terminações mais largas, facto que nos conduz à hipótese de nos encontrarmos perante um motivo semelhante ao 39, se bem que sem braços. Tal como nos casos referidos previamente, também aqui se localizam vários picotados dispersos. Refira-se que todos estes motivos foram gravados num nível abaixo da covinha 38, do campo compositivo descrito anteriormente. No campo compositivo seguinte, ao centro do mesmo, foi picotado um antropomorfo com o corpo desenvolvido, a cabeça circular e curtos membros inferiores que ladeiam uma fossette (n.º 42). Estamos portanto, no seguimento do raciocínio exposto acima, em presença de uma figura feminina. Em volta e, em menor escala, em níveis superiores do painel foram gravados vários picotados dispersos. Nos três campos compositivos que restam apenas se identificam vários picotados dispersos (nºs 43 a 45). À excepção dos traços filiformes referidos, a técnica utilizada na execução dos motivos restringe-se ao picotado.


3. 5. FOZ DE PARDAIS

3. 5. 1. Foz de Pardais I Encontra-se cartografada na Carta Militar de Portugal, escala 1: 25 000, folha 441, nas seguintes coordenadas Greenwich: 38º 40’ 56,24’’ N, 07º 15’ 55,46’’ O, altitude de 135 m (Figs. 2 e 14). Rocha 1 (Fig. 18): Painel horizontal constituído, por dois campos compositivos separados por uma fissura natural paralela ao seu eixo maior e à xistosidade do suporte. No campo leste apenas se identifica uma concentração de picotados sem forma aparente (nº 1). Um pouco em baixo e à esquerda observa-se um outro conjunto mais disperso.

Figura 20: Rocha 3 do sector 1 de Foz dos Pardais.

No campo oeste observa-se uma figura geométrica que se poderá descrever como um motivo sub-rectangular maior a que se adossou um outro menor no seu canto superior direito; O interior desta figura encontra-se totalmente preenchido (nº 2). Em seu torno identificam-se várias concentrações de picotados, dois destes com uma forma subcircular (nºs 3 e 4), sendo que um deles (nº 3) é claramente sobreposto pelo motivo 2. Num nível inferior à direita foram gravados uma covinha (nº 5) e alguns picotados soltos. Rocha 2 (Fig. 19): Painel sub-horizontal orientado para oeste onde se identifica uma concentração de picotados de contorno ovóide, várias covinhas e diversos conjuntos de picotados dispersos.

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

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Memórias d’Odiana • 2ª série

Situa-se 1 km para jusante da estação anterior e a montante do Moinho da Abóbada. Administrativamente pertence à freguesia de Juromenha, concelho de Alandroal, distrito de Évora. Trata-se de uma zona em que o rio corre relativamente encaixado. A topografia é bastante ondulada, devendo-se este facto ao bom sistema de irrigação da margem direita onde abundam as linhas de água sazonais e outros cursos de maior relevância, destacando-se entre estes a ribeira de Pardais (Figs. 2 e 14). O grosso das rochas aparece junto das margens do Guadiana e seus subsidiários. Correspondem estas a xistos de cronologia silúrica (Perdigão, 1976, 10-11). A vegetação arbórea é esparsa, sendo mais abundantes as herbáceas e arbustivas, estas últimas sobretudo junto das rochas. Individualizam-se sete sectores, os três primeiros a montante da ribeira de Pardais e os últimos a jusante.


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do apenas se vislumbram escassos picotados (nº 1). À direita deste pequeno conjunto observa-se um outro composto de maior número de pontos e de contorno genericamente circular (nº 2). Mais em baixo, junto ao limite esquerdo do painel identifica-se uma figura subquadrangular aberta no canto superior direito (nº 3). Um pouco à direita reconhece-se um motivo circular (nº 4). No terço inferior do painel observa-se à esquerda um conjunto formado por um círculo (nº 5), uma figura em arco de elipse (nº 6) e um outro círculo (nº 7). Num nível inferior à direita identificam-se dois círculos adossados verticalmente e mutilados no seu lado direito por uma fractura natural (nºs 8 e 9). O 9 é provido de um apêndice vertical na base e encontra-se vagamente picotado no interior.

Figura 21: Rocha 4 do sector I de Foz de Pardais. 1 10

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Rocha 3 (Fig. 20): Painel horizontal onde apenas se define um motivo que se pode caracterizar por um longo traço vertical encimado por um sulco transversal (nº 1). Em volta observam-se vários picotados dispersos. Destacam-se, entre estes, os que parecem seguir para a esquerda um eixo definido pelo último sulco referido.

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Rocha 4 (Fig. 21): Painel horizontal, picotado no seu sector sul. Consegue-se definir à esquerda um sulco subvertical (nº 1) e à direita uma figura subtrapezoidal (nº 2). Rocha 5 (Fig. 22): Painel sub-horizontal orientado para norte. No sector superior esquerDESCRIÇÃO DAS ROCHAS

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Figura 22: Rocha 5 do sector I de Foz de Pardais.


Figura 23: Rocha 6 do sector I de Foz dos Pardais.

No sector superior direito localizam-se de cima para baixo: um círculo subtilmente esboçado por alguns picotados (nº 10) e duas concentrações de picotados de forma ovóide, uma mais densa (nº 11) sobrepondo a outra (nº 12). Por baixo deste conjunto observa-se uma outra figura circular (nº 13). Como é recorrente aqui, encontram-se de igual modo alguns picotados dispersos pelo painel. Rocha 6 (Fig. 23): Painel horizontal onde se verifica a existência de várias concentrações de picotados de contornos indefinidos.

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Localiza-se a jusante da estação anterior, cartografando-se na mesma folha da Carta Militar de Portugal. As coordenadas Greenwich são as seguintes: 38º 40’ 42,92’’ N, 07º 15’ 59,14’’ O, altitude de 145 m (Figs. 2 e 14).

Figura 24: Rocha 1 do sector II de Foz de Pardais.

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

Memórias d’Odiana • 2ª série

3. 5. 2. Foz de Pardais II


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Figura 25: Rocha 2 do sector II de Foz de Pardais.

em arco de círculo e os “pés” virados para o exterior (nº 2). Imediatamente por cima encontramos um pequeno sulco transversal de perfil sinuoso (nº 1). À direita do antropomorfo, por baixo do seu braço, foi picotada uma fossette (nº 3). Ainda mais à direita identifica-se uma linha vertical com uma quebra para a esquerda no seu limite inferior (nº 7). Sobre os membros inferiores do antropomorfo referido encontramos um sulco curvo (nº 4) à direita do qual se observa outra covinha (nº 5). Por baixo desta foi gravado, um arco de elipse (nº 6). Num nível inferior, ligeiramente à esquerda, identifica-se outra linha quebrada (nº 8); à direita deste motivo observa-se uma concentração de picotados de forma genericamente circular (nº 9). Bem mais em baixo encontramos três sulcos verticais paralelos entre si, sendo que o da direita se encontra um pouco mais elevado; por cima existe uma concentração razoável de picotados; poderá este conjunto corresponder aos últimos vestígios de um antro-

Figura 26: Rocha 3 do sector II de Foz de Pardais.

Memórias d’Odiana • 2ª série

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Rocha 1 (Fig. 24): Situa-se um pouco a jusante das anteriores. Trata-se de um painel horizontal. Apenas a metade direita do painel se encontra profusamente gravada. Neste sector a figura que melhor se define é um antropomorfo de tipo cruciforme com os membros inferiores DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

Figura 27: Rocha 4 do sector II de Foz dos Pardais.


Rocha 2 (Fig. 25): Neste painel horizontal a única figura definível corresponde a um círculo picotado (nº 1). Por cima existe um conjunto de pequenos traços filiformes. Para a direita destes, e junto do limite oeste do painel, encontra-se nova concentração de traços filiformes sobrepostos por alguns picotados dispersos. Rocha 3 (Fig. 26): Painel horizontal onde se identifica uma composição definida por picotados muito dispersos entre si e que, grosso modo, se pode descrever como um círculo atravessado por um sulco vertical, aproximando-a de um antropomorfo em ĭ. Por cima foram incisos vários traços filiformes. Rocha 4 (Fig. 27): Painel horizontal. Reconhecem-se duas concentrações de picotados de contorno tendencialmente oval.

pomorfo (nº 10)? À esquerda identifica-se uma linha vertical com uma ligeira inflexão para a esquerda no seu limite inferior. Esta linha encontra-se ladeada por duas pequenas covinhas (nº 14). Entre os últimos quatro motivos descritos encontramos vários picotados formando conjuntos, uns mais densos que outros. Para a esquerda do sector descrito, ao nível da base deste, e sensivelmente a meio do painel, encontramos outra concentração de gravuras. Entre estas individualizam-se um círculo esboçado por escassos pontos (nº 13) e um conjunto denso de picotados de contorno ovóide (nº 11) que sobrepõe outra concentração menos densa e de contorno mais indefinido. A única técnica utilizada nesta rocha foi a picotagem.

Rocha 5 (Fig. 28): Painel horizontal onde no seu sector inferior se identifica uma concentração muito densa de picotados que apresenta uma forma muito recortada e de difícil caracterização. Rocha 6 (Fig. 29): Painel horizontal onde se picotou uma barra vertical rematada por um pequeno rectângulo. Rocha 7 (Fig. 30): Compõe-se de dois painéis historiados. Dispõem-se ambos na horizontal. Em cada um deles, observa-se uma concentração de picotados de contorno grosso modo circular. Rocha 8 (Fig. 31): Painel horizontal onde se identifica uma concentração de picotados de contorno subovóide.

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

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Memórias d’Odiana • 2ª série

Figura 28: Rocha 5 do sector II de Foz de Pardais.


3. 5. 3. Foz de Pardais III Situa-se escassos metros a sul do núcleo anterior, encontrando-se na mesma folha da Carta Militar de Portugal, nas seguintes coordenadas Greenwich: 38º 40’ 37,70’’ N, 07º 16’ 01,40’’ O, altitude de 145 m (Figs. 2 e 14). Rocha 1 (Fig. 32): Trata-se de um painel horizontal. Identificam-se duas concentrações de picotados de contorno genericamente circular. Rocha 2 (Fig. 33): Trata-se de um painel horizontal onde se verifica a existência de traços filiformes de carácter indefinido. Rocha 3 (Fig. 34): Painel horizontal onde se pode observar uma concentração de picotados de contorno grosso modo circular.

Memórias d’Odiana • 2ª série

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Figura 29: Rocha 6 do sector II de Foz de Pardais.

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

Figura 30: Rocha 7 do sector II de Foz dos Pardais.


cha genericamente semelhante a um 8 (nº 3). Ainda mais em baixo foram executados vários picotados dispersos. Rocha 2 (Fig. 36): Painel horizontal. Reconhece-se uma concentração de picotados de contorno romboidal. Rocha 3 (Fig. 37): Painel horizontal. Observam-se cinco covinhas e duas manchas de picotados; uma destas apresenta um contorno circular e outra, elíptico.

Figura 31: Rocha 8 do sector II de Foz dos Pardais.

3. 5. 4. Foz de Pardais IV Estação cartografada na folha da Carta Militar de Portugal anterior. Apresenta as seguintes coordenadas: 38º 40’ 34,19’’ N, 07º 16’ 00,47’’ O, altitude de 145 m (Figs. 2 e 14).

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Figura 32: Rocha 1 do sector III de Foz dos Pardais.

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

Memórias d’Odiana • 2ª série

Rocha 1 (Fig. 35): Situa-se esta rocha já a jusante da ribeira de Pardais. Trata-se de um painel horizontal. No topo foi gravado um círculo definido por um picotado muito denso em quase toda a sua extensão; apenas parte do seu lado esquerdo apresenta um picotado mais diluído (nº 1). Esta figura sobrepõe outro círculo, também picotado de forma pouco marcada (nº 2). Abaixo destes motivos encontra-se um conjunto de picotados que conformam uma man-


samente, uma composição muito semelhante encontra-se no sector inferior direito (nº 4). Rocha 2 (Fig. 39): Painel horizontal composto por dois campos compositivos separados por uma fissura natural. No situado mais a norte reconhece-se um antropomorfo fálico em posição de orante. A cabeça, de forma circular, encontra-se algo mutilada por um pequeno lascamento (nº 1). Uns centímetros para leste desta figura existem alguns picotados dispersos. Para baixo destes reconhece-se uma figura sub-rectangular lascada na base (nº 2). No campo compositivo a sul apenas se gravaram duas fossettes (nºs 3 e 4).

Figura 33: Rocha 2 do sector III de Foz dos Pardais.

3. 5. 5. Foz de Pardais V Encontra-se a montante do núcleo I (Figs. 2 e 14), nas seguintes coordenadas Greenwich: 38º 41’ 02,44’’ N, 07º 15’ 56,72’’ O, altitude de 145 m. A folha da Carta Militar de Portugal correspondente é a mesma dos núcleos anteriores.

Memórias d’Odiana • 2ª série

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Rocha 1 (Fig. 38): Corresponde a um painel vertical. Muito dificilmente se conseguem individualizar motivos nesta rocha. Apenas são observáveis incisões modernas de carácter não figurativo. Entre as formas passíveis de descrição encontramos um esteliforme (nº 1), um reticulado (nº 2) e uma forma lunular disposta na horizontal de onde arranca um sulco vertical por sua vez cortado por um outro transversal no seu topo, características que fazem esta figuração aproximar-se de um barco (nº 3). CurioDESCRIÇÃO DAS ROCHAS

Figura 34: Rocha 3 do sector III de Foz dos Pardais.


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Figura 36: Rocha 2 do sector IV de Foz dos Pardais.

Rocha 1: Trata-se de um painel onde se reconhecem alguns picotados dispersos. Dado encontrar-se submerso, não se procedeu ao seu registo. Rocha 2 (Fig. 40): Painel sub-horizontal onde se identifica uma concentração de picotados de contorno oval.

3. 5. 7: Foz de Pardais VII

3. 5. 6. Foz de Pardais VI

Situa-se a montante do núcleo anterior sensivelmente à mesma altitude (Figs. 2 e 14). As coordenadas geográficas são as seguintes, de acordo com a folha 441 da Carta Militar de Portugal: 38º 41’ 11,97’’ N e 07º 16’ 01,46’’ O.

Localiza-se para montante do núcleo prévio (Figs. 2 e 14) à altitude de 148 m. As coordenadas geográficas são, segundo a folha da Carta Militar de Portugal a que nos temos vindo a referir: 38º 41’ 08,10’’ N e 07º 15’ 59,04’’ O.

Rocha 1 (Fig. 41): Painel sub-horizontal orientado para este. Observa-se uma concentração de picotados de contorno elíptico. DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

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Memórias d’Odiana • 2ª série

Figura 35: Rocha 1 do sector IV de Foz de Pardais.


Figura 37: Rocha 3 do sector IV de Foz dos Pardais.

Figura 38: Rocha 1 do sector V de Foz de Pardais.

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Memórias d’Odiana • 2ª série

3. 6. MOINHO DA ABÓBADA Situa-se a 1 km para jusante do sítio anterior. Pertence à freguesia de Juromenha, concelho de Alandroal, distrito de Évora. Encontra-se cartografado na Carta Militar de Portugal, DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

escala 1: 25 000, folha 452, apresentando as seguintes coordenadas geográficas: 38º 40’ 11,82’’ N, 07º 16’ 08,02’’ O, altitude de 148 m (Fig. 42). Situa-se junto do moinho que dá nome à estação (Foto 35). Trata-se de uma zona altamente antropizada, situação advinda da cria-


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Figura 40: Rocha 2 do sector VI de Foz de Pardais.

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Figura 39: Rocha 2 do sector V de Foz de Pardais.

ção de acessos e outras estruturas de apoio ao moinho. A rocha historiada encontra-se num dos afloramentos xistosos de época silúrica (Perdigão, 1976, 10-11) que afloram em crista, perpendicularmente ao rio, e que ladeiam pela esquerda o acesso para o edifício. Junto das margens observa-se a usual vegetação hidrófila. No entanto, a paisagem de montado começa a verificar-se a escassos metros para oeste. Rocha 1: É composta por dois painéis verticais orientados para sul (Foto 36). No primeiro (Fig. 43 e Foto 37) identificam-se DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

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Memórias d’Odiana • 2ª série

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Figura 41: Rocha 1 do sector VII de Foz de Pardais.

Memórias d’Odiana • 2ª série

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Figura 42: Carta de pormenor da localização do Moinho da Abóbada.

Foto 35: Moinho da Abóbada.

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS


Foto 36: Rocha 1 do Moinho da Abóbada.

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Figura 43: Rocha 1a do Moinho da Abóbada.

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Foto 37: Pormenor do painel A da rocha 1 do Moinho da Abóbada (Figuras 1, 2 e 6).

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

Memórias d’Odiana • 2ª série

de cima para baixo: uma “covinha” (nº 3), um pequeno cruciforme de braços iguais (nº 4), um outro cujo braço maior (vertical) apresenta uma inflexão para a esquerda na sua base (nº 5), uma cruz de braços dissimétricos sobre base semicircular (nº 1) que por sua vez é interceptada pelo longo sulco de um antropomorfo em ĭ invertido (nº 2). À direita destes motivos encontra-se ainda a base triangular do que aparenta ser o arranque do braço vertical de uma cruz (nº 6). Entre os últimos três motivos descritos identificam-se alguns picotados dispersos. Todos os motivos são picotados e de cronologia histórica, pese o facto de algumas figuras se assemelharem a gravuras pré-históricas. O segundo painel (Fig. 44) situa-se imediatamente atrás e à direita do anterior. Também de cronologia histórica, apresenta também uma série de motivos, todos picotados. No topo reconhece-se uma figura antropomórfica com as pernas em forma de V invertido, e corpo em forma de arco definido por escassos picotados (nº 1). Um pouco em baixo à esquerda encontra-se uma figura que formalmente se aproxima de um “escutiforme” (nº 2). À direita deste foi gravada uma provável custódia seccionada no interior (nº 3). À esquerda, e arrancando da base daquele motivo, identifica-se uma linha quebrada (nº 4). Adossados entre si, e por baixo da base do motivo 3, encontram-se duas figuras subcirculares (nºs 5 e 6). Adossada à direita foi picotada uma figura sub-rectangular. Por baixo, uma cruz (nº 8) encima um motivo em duplo ĭ (nº 9). À esquerda da última cruz descrita identifica-se uma concentração de pontos que conformam um motivo ovóide (nº 10). Esta concentração sobrepõe, por sua vez, uma outra de contorno circular (nº 11).


3. 7. SANTO ILDEFONSO Situa-se a 2,5 km para jusante do sítio anterior. Administrativamente, pertence à freguesia de Alandroal, concelho de Alandroal, distrito de Évora. Desenvolve-se entre a margem sul do ribeiro de Províncios (apenas o sector I) e o ponto onde se localiza o sector mais a jusante, a cerca de 750 m para sul daquele curso hidrográfico. Nesta zona, o terreno é bastante recortado por pequenas linhas de água (Figs. 2 e 45). Trata-se de uma área muito pedregosa onde afloram aqui e ali algumas cristas de xisto de época silúrica (Perdigão, 1976, 10-11). Outros blocos e afloramentos de diferentes morfologias ajudam a acidentar a paisagem. O coberto vegetal é constituído junto às margens por arbustos e alguma vegetação herbácea. A poucos metros para oeste observa-se já o montado.

3. 7. 1. Santo Ildefonso I Localiza-se na Carta Militar de Portugal, escala 1: 25 000, folha 452, nas seguintes coordenadas Greenwich: 38º 38’ 59,10’’ N, 07º 16’ 08,30’’ O, altitude de 140 m (Figs. 2 e 45). Rocha 1 (Fig. 46): Painel vertical virado para este. Reconhecem-se vários traços filifor-

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Figura 44: Rocha 1b do Moinho da Abóbada.

Figura 45: Carta de pormenor da localização das estações de Santo Ildefonso.


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Figura 48: Rocha 2 do sector II de Santo Ildefonso.

mes, na sua maioria de carácter não figurativo. Entre as excepções é possível individualizar-se um escaleriforme (nº 1) e um reticulado (nº 2).

Figura 47: Rocha 1 do sector II de Santo Ildefonso.

3. 7. 2. Santo Ildefonso II Situa-se a jusante do núcleo anterior, à altitude de 148 m (Figs. 2 e 45). De acordo com a folha da Carta Militar de Portugal referida previamente, encontra-se nas seguintes coordenadas Greenwich: 38º 38’ 51,83’’ N, 07º 16’ 12,25’’ O. Rocha 1 (Fig. 47): Painel sub-horizontal orientado para sul. Observam-se sete covinhas e uma mancha de picotados de contorno suboval. DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

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Memórias d’Odiana • 2ª série

Figura 46: Rocha 1 do sector I de Santo Ildefonso.


Figura 49: Rocha 3 do sector II de Santo Ildefonso.

Figura 51: Rocha 5 do sector II de Santo Ildefonso.

Rocha 2 (Fig. 48): Painel horizontal onde se verifica a existência de covinhas e manchas de picotados de difícil caracterização. Rocha 3 (Fig. 49): Painel horizontal onde se observam duas concentrações de picotados, uma de contorno elíptico e outra subcircular. Rocha 4 (Fig. 50): Painel horizontal onde foi picotada uma mancha de contorno circular. Rocha 5 (Fig. 51): Superfície horizontal. Verifica-se a existência de uma concentração de picotados de contorno elíptico.

Memórias d’Odiana • 2ª série

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Figura 50: Rocha 4 do sector II de Santo Ildefonso.

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

Rocha 6 (Fig. 52): Painel horizontal. Observa-se uma concentração de picotados de contorno circular.


3. 7. 3. Santo Ildefonso III Situa-se a jusante do núcleo anterior, à altitude de 148 m (Figs. 2 e 45). De acordo com a mesma folha da Carta Militar de Portugal, o núcleo apresenta as seguintes coordenadas Greenwich: 38º 38’ 45,03’’ N e 07º 16’ 13,74’’ O. Rocha 1 (Fig. 54): Constituída por dois painéis subverticais orientados para este e separados entre si por uma fissura natural. No situado mais a norte identificam-se três “covinhas”, uma delas de configuração sub-rectangular (nºs 1 a 3). Outra (nºs 2) sobrepõe traços filiformes, alguns dos quais alfabetiformes (nº 9). Observa-se ainda ziguezagues, por vezes com sulcos verticais longitudinais (nºs 4 e 10), e vários tipos de figuras rectangulares: seccionadas verticalmente, fechadas (nº 8) ou não (nº 6); seccionadas horizontalmente e com um

sulco vertical (nº 5), com o interior em espinha (nº 15) ou com uma faixa de losangos (nº 13). Identificam-se ainda reticulados (nºs 7 e 14) e linhas verticais com traços transversais do lado direito (nºs 16 e 17). Aparece ainda uma série de motivos não figurativos. Refira-se que a maior parte das gravações se concentra junto do limite sul do painel. No painel remanescente, para além de uma série de motivos não figurativos, conseguem-se individualizar dois conjuntos de alfabetiformes: o nº 18 e um outro (nº 19) sobreposto por uma figura sub-rectangular reticulada não limitada, e por sulcos sub-horizontais e outros que se desenvolvem em sentidos diferentes.

3. 7. 4. Santo Ildefonso IV Situa-se para jusante do núcleo anterior à altitude de 140 m (Figs. 2 e 45). De acordo com a Carta Militar de Portugal, escala 1: 25 000, folha 452, encontra-se nas seguintes coordenadas geográficas: 38º 38’ 44,75’’ N e 07º 16’ 13,74’’ O.

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Figura 52: Rocha 6 do sector II de Santo Ildefonso.

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

Memórias d’Odiana • 2ª série

Rocha 7 (Fig. 53): Painel horizontal onde se observa uma concentração de picotados de contorno indefinido.


Figura 53: Rocha 7 do sector II de Santo Ildefonso.

Figura 54: Rocha 1 do sector III de Santo Ildefonso.

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Rocha 1 (Fig. 55): Situa-se para jusante do núcleo anterior. Trata-se de um painel horizontal onde se identificam duas concentrações de picotado de contorno circular.

3. 7. 5. Santo Ildefonso V

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Memórias d’Odiana • 2ª série

Rocha 4 (Fig. 58): Painel horizontal onde, para além de vários picotados dispersos, se identifica uma concentração de configuração elíptica.

Rocha 2 (Fig. 56): Painel horizontal onde se observam covinhas e alguns picotados dispersos. Rocha 3 (Fig. 57): Painel horizontal onde se verificam duas concentrações de picotados, uma de contorno subelíptico e outra subcircular. DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

Situa-se um pouco para jusante do núcleo anterior à altitude de 140 m (Figs. 2 e 45). De acordo com a folha 452 da Carta Militar de Portugal apresenta as seguintes coordenadas Greenwich: 38º 38’ 44,07’’ N e 07º 16’ 13,92’’ O.


Figura 56: Rocha 2 do sector IV de Santo Ildefonso.

Figura 55: Rocha 1 do sector IV de Santo Ildefonso.

Rocha 2 (Fig. 60): Painel horizontal onde se observam duas concentrações de picotados, uma de contorno oval e outra circular; à direita destas observa-se um traço de cerca de 30 cm. Rocha 3 (Fig. 61): Painel horizontal onde foram picotadas duas manchas, uma de contorno genericamente oval e outra circular. Rocha 4 (Fig. 62): Painel horizontal. Apenas se identificou uma concentração de picotados de contorno subcircular.

Rocha 5 (Fig. 63): Painel horizontal onde se identificou uma concentração de picotados de contorno subcircular. Rocha 6 (Fig. 64): Painel horizontal onde se observa uma concentração de picotados de contorno oval. Rocha 7 (Fig. 65): Painel horizontal onde se identifica uma concentração de picotados de contorno oval e alguns picotados dispersos. Rocha 8 (Fig. 66): Painel horizontal onde se define uma concentração de picotados de contorno suboval e vários picotados dispersos. DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

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Memórias d’Odiana • 2ª série

Rocha 1 (Fig. 59): Situada para jusante do núcleo anterior. Trata-se de um painel horizontal onde se identificam duas concentrações de picotados de contorno subcircular.


Figura 57: Rocha 3 do sector IV de Santo Ildefonso.

Figura 59: Rocha 1 do sector V de Santo Ildefonso.

Memórias d’Odiana • 2ª série

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Figura 58: Rocha 4 do sector IV de Santo Ildefonso.

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

Figura 60: Rocha 2 do sector V de Santo Ildefonso.


3. 7. 6. Santo Ildefonso VI Situada para jusante das anteriormente descritas à altitude de 135 m (Figs. 2 e 45). Na folha 452 da Carta Militar de Portugal apresenta as seguintes coordenadas Greenwich: 38º 38’ 37,19’’ N e 07º 16’ 14’’ O. Rocha 1 (Fig. 67): Corresponde a um bloco solto bastante boleado pelo rio. Na face que actualmente se encontra numa posição subvertical observam-se alguns picotados dispersos. Sob dois destes observa-se uma figura subquadrangular executada mediante incisão. Rocha 2 (Fig. 68): Painel vertical orientado para norte. Apenas se identificam figuras filiformes, na sua maioria de carácter não figu-

Figura 62: Rocha 4 do sector V de Santo Ildefonso.

rativo. Entre as excepções conta-se uma figura situada no canto inferior direito que se pode descrever como um motivo subquadrangular seccionado no interior por duas linhas horizontais e duas verticais. Nas duas colunas da esquerda foi gravado um X (nº 1). Rocha 3 (Fig. 69): Painel horizontal onde se reconhecem seis covinhas.

Figura 61: Rocha 3 do sector V de Santo Ildefonso.

Rocha 4 (Fig. 70): Painel horizontal onde se reconhece uma concentração de picotados de contorno subcircular. DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

Memórias d’Odiana • 2ª série

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Figura 63: Rocha 5 do sector V de Santo Ildefonso.

Figura 65: Rocha 7 do sector V de Santo Ildefonso.

Figura 66: Rocha 8 do sector V de Santo Ildefonso.

Figura 64: Rocha 6 do sector V de Santo Ildefonso.


Figura 67: Rocha 1 do sector VI de Santo Ildefonso.

Figura 68: Rocha 2 do sector VI de Santo Ildefonso.

Figura 70: Rocha 4 do sector VI de Santo Ildefonso.

3. 8. RETORTA

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

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Memórias d’Odiana • 2ª série

Figura 69: Rocha 3 do sector VI de Santo Ildefonso.

Situa-se a cerca de 250 m para oeste do Monte de Mocissos, estando integrada na freguesia de Alandroal, concelho de Alandroal, distrito de Évora. De acordo com a folha 452 da Carta Militar de Portugal, escala 1: 25 000, encontra-se nas seguintes coordenadas Greenwich: 38º 37’ 42,81’’ N 07º 15’ 29,51’’ O


(Figs. 2 e 71). A zona é aqui mais acidentada, em particular junto às margens onde se verifica a existência de várias bancadas de xistos silúricos muito recortadas pela passagem das águas. A sul observa-se a existência de minas de cobre (Perdigão, 1976, 14). Para além do montado observável nos cabeços para sul, pontua aqui e ali a vegetação arbustiva. Rocha 1 (Fig. 72): Trata-se de um painel horizontal. Identifica-se uma figura quadrangular rebaixada com picotados fundos, e uma concentração de picotados de contorno oval.

3. 9. MOCISSOS Situa-se a 1, 5 km para jusante do núcleo descrito previamente (Figs. 2 e 71). Localiza-se na freguesia de Alandroal, concelho do Alandroal, distrito de Évora. Encontra-se cartografado na folha 452 da Carta Militar de Portugal. Estende-se por uma área ampla entre as seguintes coordenadas: 38º 37’ 16,89’’ N 07º 14’ 52,10’’ O e 38º 37’ 78’’ N 07º 15’ 16,40’’ O. A altitude varia entre os 133 e os 138 m. Situa-se junto de uma importante inflexão do rio para oeste. Corresponde a uma zona de

Figura 71: Distribuição das rochas de Retorta e Mocissos.

Foto 41: Rocha 1 de Mocissos.

Memórias d’Odiana • 2ª série

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DESCRIÇÃO DAS ROCHAS


Foto 38: Sector jusante de Mocissos. Figura 72: Rocha 1 da Retorta.

razoável declive onde as rochas se encontram dispersas pelas margens a diferentes cotas. Estas tanto aparecem enquanto superfícies verticais como em amplas bancadas horizontais dispostas em degraus (Fotos 38 a 40). Tratam-se de xistos de cronologia silúrica (Perdigão, 1976, 10-11). De referir ainda a existência de um importante filão de quartzo leitoso para oeste e sul da estação (Perdigão, 1976, 12) e de minas de cobre muito perto (Perdigão, 1976, 14). A vegetação circundante é a característica dos montados. Rocha 1 (Figs. 71 e 73 e Foto 41): Trata-se de um painel vertical orientado para sudeste (na direcção do rio), situado junto à margem. Individualizam-se vários campos compositivos separados por importantes fissuras naturais. Todas os motivos foram executados por picotagem. No da esquerda apenas se identifica no sector inferior direito um antropomorfo acéfalo de braços em asa, pernas em arco de círculo muito curtas e falo evidenciado (nº 1). No campo da direita, situado num nível superior ao antropomorfo anterior e junto ao limite esquerdo do campo, localiza-se um outro

Foto 39: Sector central de Mocissos.

Foto 40: Sector montante de Mocissos: aspecto das limpezas na rocha 10.


Figura 73: Rocha 1 de Mocissos. 3

4 6 8 5 9

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Foto 42: Foto diurna do par de antropomorfos 10 da rocha 1 de Mocissos.

Foto 43: Foto nocturna da mesma composição.

antropomorfo também sem cabeça, braços em arco de círculo e sem representação dos membros inferiores (nº 2). O campo central é o mais gravado. Junto do topo, ao centro do painel, foi gravado um par de antropomorfos já muito erodidos (nº 3), correspondendo o da esquerda a um com braços duplos em arco de círculo e pernas do mesmo género muito pouco desenvolvidas. Tal como o da direita, é acéfalo. Este último apresenta os membros superiores (apenas um par) e inferiores em arco de círculo e o que parece identificar-se como um pequeno falo. À direita deste par encontra-se prováveis vestígios de um outro (nº 4). Neste caso, do antropomorfo da esquerda parece apenas restar o membro superior esquerdo, parte do direito e o corpo desenvolvido. Do da direita ainda restam ambos os membros superiores e o corpo. Abaixo do par 3 localiza-se outro antropomorfo acéfalo, de braços superiores em arco de círculo e curtas pernas em forma de V


invertido (nº 6). Sobre este foi gravado outro par, sendo ambos os antropomorfos acéfalos (nº 7). O da esquerda apresenta os braços em posição de orante, as pernas em forma de V invertido e um pequeno falo; O da direita “aconchegado” sob o braço do antropomorfo anterior também não tem cabeça, apresenta os braços em arco de círculo e as pernas em forma de V invertido. Bastante para a esquerda desta composição foi gravada uma barra vertical (nº 5). À direita daquela individualiza-se um círculo (nº 9) situado sobre um antropomorfo acéfalo de corpo desenvolvido, braços em arco de círculo e curtos membros inferiores (nº 8). Num nível inferior foi picotado outro par. Correspondem a dois antropomorfos

Figura 74: Rocha 2 de Mocissos. Foto 44: Rocha 2 de Mocissos.

2

1

Foto 45: Antropomorfos da rocha 2 de Mocissos.

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

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Foto 47: Cervídeos 1, 2 e 3 da rocha 3 de Mocissos.

32 33

34

Figura 75: Rocha 3 de Mocissos.

Foto 48: Cervídeo 1 da rocha 3 de Mocissos.

Memórias d’Odiana • 2ª série

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Foto 46: Rocha 3 de Mocissos numa fase prévia à limpeza.

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DESCRIÇÃO DAS ROCHAS


Foto 50: Cervídeo 3 da rocha 3 de Mocissos.

em ĭ e membros inferiores em arco de círculo, sendo um deles fálico (nº 10 e Fotos 42 e 43). No mesmo eixo, mais em baixo, identificam-se restos do que se parece reconhecer como um novo par (nº 12), sendo que pelo menos o antropomorfo da esquerda aparenta ter dois pares de membros superiores em arco de círculo. À esquerda encontra-se um antropomorfo com aquele número de membros superiores e do mesmo tipo. Neste caso, as pernas são em V e é reconhecível o falo (nº 11). À direita do par 12 identifica-se o que parecem ser vestígios de um antropomorfo (nº 13). Sobre o 11 aparece uma figura deste tipo, acéfala, fálica e membros em arco de círculo (nº 14). No extremo inferior direito deste campo parece formar-se um círculo (nº 15). Entre os dois motivos descritos existem alguns picotados que não formam qualquer figura reconhecível. No último campo compositivo foram picotados dois antropomorfos, um sobre o outro. São ambos acéfalos e de membros em arco de círculo (nºs 16 e 17) No de cima não se reconhece, no entanto, a representação dos membros inferiores.

Foto 54: Pormenor do cavalo 12 da rocha 3 de Mocissos.

Foto 55: Friso 14 da rocha 3 de Mocissos.

Foto 56: Zoomorfo 16 da rocha 3 de Mocissos.


Rocha 2 (Figs. 71 e 74 e Foto 44): Painel vertical orientado para sudeste (na direcção do rio), situado junto à margem. Identifica-se um par de antropomorfos de tipo arboriforme (Foto 45). Não existe qualquer distinção de género entre estes. Ambos os motivos são picotados. Rocha 3 (Figs. 71 e 75 e Foto 46): Painel vertical orientado para sudeste (na direcção do rio), situado numa cota superior à das rochas anteriormente descritas, já a meia-encosta. Encontra-se profusamente gravada, exclusivamente com traços filiformes. Grande parte destes formam composições de carácter não figurativo.

Foto 57: Cervídeo 28 da rocha 3 de Mocissos.

Memórias d’Odiana • 2ª série

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Foto 51: Banda superior do friso 6 da rocha 3 de Mocissos.

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

É, no entanto, possível individualizar-se alguns motivos. A parte mais densamente gravada corresponde ao sector superior direito do painel. Aqui, no topo identificam-se três veados (Foto 47). Curiosamente, todos apresentam características que os individualizam. O primeiro (Fotos 48 e 49) apresenta no limite inferior dos membros (apenas definidos por linhas) pequenos sulcos diagonais. Por sua vez, o segundo apresenta cada um dos membros definidos por duas linhas ligadas em baixo; um dardo de ponta e regatão atravessa-o no tronco; junto aos membros posteriores localiza-se o que parecem ser fios de sangue a correr de uma ferida. O terceiro (Foto 50) apresenta a cabeça, pescoço e corpo preenchidos por traços diagonais; no tronco, junto às patas dianteiras, encontra-se cravada uma lança. Sobre este último animal foi incisa uma enorme figuração humana (nº 5). Esta apresenta-se armada com um escudo redondo e dardo com ponta e regatão, objectos que transporta na mão direita que se encontra levantada. O braço direito, por seu lado, encontra-se flectido na direcção da estreita cintura bem demarcada por um cinturão. A veste que cobre a figura parece ser uma peça única sem mangas, longo decote triangular e terminação em jeito de saiote. As pernas encontram-se flectidas, a direita um pouco mais que a esquerda. Em particular as posições dos membros ajudam a provocar um forte dinamismo ao personagem. Este apoia-se sobre um cavalo definido por um longo pescoço, orelhas compridas, os membros bem desenvolvidos (reconhecendo-se nos anteriores a figuração dos cascos), um corpo genericamente sub-horizontal e cauda curta (nº 12) (Foto 54). A enquadrar praticamente todo o equídeo encontra-se um friso emoldurado de alguma complexidade (nº 6). O interior é seccionado horizontalmente. A banda mesial (Fotos 51 e 52) é preenchida por


Foto 52: As duas bandas superiores do friso 6 da rocha 3 de Mocissos.

três cisnes em fila, de asas levantadas, os corpos seccionados (representação de penas?); os olhos dos animais encontram-se bem marcados. A banda inferior é composta por traços transversais que se orientam da direita para a esquerda (Foto 53). O lado superior da moldura corresponde a uma estilização dos cisnes do interior (Foto 51). Destes ainda restam os pescoços, cabeças e olhos. Esta observação permite-nos levantar a hipótese de que a composição de cariz geometrizante presente no lado inferior da moldura corresponder a uma estilização ainda mais radical daqueles mesmos motivos; o lado

esquerdo da moldura é composto por uma série de traços transversais que se orientam da esquerda para a direita; o lado oposto repete esta organização, desta vez no sentido inverso. No espaço entre o friso, a figura humana e o veado 2 encontra-se representada uma figura zoomórfica que nos olha de frente (nº 4); apresenta uma face subpentagonal com o vértice menor orientado para baixo, uns olhos bem delineados e umas protuberâncias no topo que poderão ser identificadas como as orelhas do animal; o pescoço é longo, assim como o corpo que forma um ângulo recto com aquele; não se vislumbram quaisquer membros. No centro do friso foi gravado um peixe de olho almendrado, boca aberta e cauda bem individualizada (nº 7). A ladearem pela esquerda o friso foram gravados três animais: junto ao topo encontra-se uma pequena cerva com o corpo preenchido por triângulos e os membros definidos por simples linhas, apresentando ainda as patas dianteiras individualizadas (nº 7); mais abaixo foi gravado um animal de corpo fusiforme preenchido por sulcos verticais, membros lineares providos de dedos, uma cabeça também preenchida por sulcos verticais, um par de armações e duas linhas que parecem corresponder a dois dentes (nº 9). Este animal parece “atacar” a cerva que se encontra por bai-

Foto 53: Banda inferior do friso 6 da rocha 3 de Mocissos.

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

Memórias d’Odiana • 2ª série

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xo; esta apresenta o corpo seccionado por traços verticais, os membros definidos por linhas e cascos traseiros individualizados em forma de Vs invertidos (nº 10). Um pouco afastada, na direcção do canto inferior do friso encontra-se uma figura subquadrangular dividida por seis bandas (nº 11). A primeira encontra-se vazia, a quarta tem a metade direita preenchida por uma composição semelhante à presente no lado inferior da moldura do friso referido acima, e a esquerda, tal como as bandas restantes, preenchida por losangos; Destas, apenas a segunda se distingue das outras devido ao tamanho dos motivos que a preenchem. Sensivelmente a meio do limite inferior deste motivo arranca uma figura de forma subtriangular que se poderá identificar como uma ponta de lança. Ligeiramente acima e para a esquerda da figura 11 encontra-se a figura estilizada de um veado, reconhecível pela representação muito simples das hastes, pela presença de um membro posterior e por parte do corpo seccionado por linhas transversais (nº 13). Junto do limite esquerdo do painel encontra-se também uma série de motivos passíveis de descrição. Assim, no alinhamento do último

veado descrito identifica-se um friso emoldurado onde se gravou no interior o que grosso modo se pode descrever como dois conjuntos de triângulos concêntricos afrontados, dispostos na horizontal (nº 14) (Foto 55). Imediatamente por baixo encontram-se três linhas curvilíneas relacionáveis entre si. Separada desta composição encontra-se uma figura zoomórfica deitada. As suas características remetem-nos para um felídeo ou para um canídeo do género vulpes (nº 16) (Foto 56). A figura apresenta uma cabeça subtriangular e orelhas da mesma forma; o vértice inferior daquela é individualizado por um pequeno traço definindo-se assim o nariz da figura; os olhos são circulares; O corpo tem perfil em forma de 8 e os membros encontram-se bem diferenciados, assim como os dedos; a cauda orienta-se para cima; uma certa ideia de volume é transmitida por pequenos traços nos quartos traseiros, no pescoço e nas orelhas. À esquerda desta figura encontram-se dois motivos escaleriformes, um ligeiramente acima (nº 15), outro abaixo (nº 17). Sobre este último encontra-se um pequeno veado reduzido às suas linhas essenciais (nº 18). À direita deste, duas linhas horizontais limitam um pequeno ziguezague (nº 19).

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1

3

Figura 76: Rocha 4 de Mocissos.


Num nível abaixo foi gravada uma larga faixa horizontal preenchida grosseiramente com losangos (nº 20). À direita desta encontra-se uma figura subquadrangular reticulada (nº 21) cujo limite superior se alonga para a esquerda como que se esta figura fosse um prolongamento da faixa anterior. Imediatamente abaixo observa-se um pentagrama (nº 22), motivo que praticamente se repete um pouco mais à direita

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Foto 58: Pormenor da rocha 5 de Mocissos.

Figura 79: Rocha 7 de Mocissos.

Figura 77: Rocha 5 de Mocissos.

Figura 78: Rocha 6 de Mocissos.

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Memórias d’Odiana • 2ª série

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(nº 26). Entre estes dois foi gravado um motivo que poderá ser interpretado como uma ponta de lança de alvado (nº 23). À direita do motivo 26 observa-se uma série de linhas horizontais cortadas em parte por outras transversais. Acima desta composição encontram-se outras linhas, algumas delas conformando uma figura de base subtriangular e um topo sublosângico aberto numa das faces. Sob a faixa 20 foram gravados dois veados com o corpo seccionado por linhas verticais, apresentando ambos uma orelha bem marcada. O de cima tem cada um dos membros posteriores definidos por duas linhas paralelas entre si e os anteriores por linhas simples (nº 24); no de baixo o desenho das patas foi mais naturalista (nº 25); Este apresenta ainda uma lança sobre o dorso. Um pouco abaixo do friso 6 descrito atrás encontra-se uma figura cuja forma geral se assemelha a uma guitarra (nº 27). Formalmente pode ser descrita como um motivo sub-rectangular aberto em baixo com um estrangulamento no lado direito; a meio do topo arranca uma forma sub-rectangular muito longa. No centro do primeiro motivo sub-rectangular descrito foram gravados dois círculos concêntricos. No sector superior direito do painel individualiza-se um veado (nº 28). Os membros são definidos por linhas simples, encontrando-

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

Figura 80: Rocha 8 de Mocissos.

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-se as patas diferenciadas. O pescoço e o corpo é atravessado por uma linha horizontal cruzada por traços transversais paralelos entre si; o animal encontra-se atingido no dorso e no ventre por duas lanças. Sobre as patas dianteiras do cervídeo encontra-se um motivo semelhante a uma pá. Abaixo das figuras descritas, uma fissura horizontal divide o painel em dois. O sector inferior só se encontra gravado no seu lado direito. No topo encontram-se um cervídeo e outros dois zoomorfos, possivelmente da mesma espécie. O primeiro é o mais pequeno desta concentração, apresenta um corpo alongado, uma cabeça subtriangular, as hastes apenas definidas por um V invertido, cada um dos membros definidos por duas linhas unidas em baixo e cauda conseguida pela incisão de dois pequenos traços paralelos entre si (nº 29). Logo abaixo vislumbra-se um corpo bastante bojudo, a pata posterior direita com o casco demarcado e os dois membros anteriores; a cauda apresenta uma configuração

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Figura 82: Painel B da rocha 8 de Mocissos.

95

foliforme (nº 30). Sensivelmente ao nível do ventre do animal anterior encontra-se o corpo de outro preenchido por losangos (nº 31); Os membros apresentam-se em forma de V invertido, imprimindo uma grande sensação de dinamismo à figura. DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

Memórias d’Odiana • 2ª série

Figura 81: Painel A da rocha 8 de Mocissos.

19


Foto 59: Motivos 3 e 4 do painel B da rocha 8 de Mocissos.

Foto 62: Motivo 26 do painel B da rocha 8 de Mocissos.

Foto 60: Sector central do painel B da rocha 8 de Mocissos.

Memórias d’Odiana • 2ª série

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Foto 61: Motivos 13 e 14 da do painel B da rocha 8 de Mocissos.

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

Foto 63: Motivos 16, 17 e 18 do painel B da rocha 8 de Mocissos.


1

2

Rocha 4 (Figs. 71 e 76): Painel vertical orientado para sudeste (na direcção do rio) situa-se a cerca de 1, 5 m da rocha anterior. Apenas se reconhecem traços filiformes, na sua maioria de cariz não figurativo. Entre as excepções contam-se duas figuras espiraliformes (nºs 1 e 2) e alguns alfabetiformes (nº 3) sobre a maior concentração de linhas, no sector inferior direito do campo historiado. Rocha 5 (Figs. 71 e 77): Painel sub-horizontal orientado para norte. Identificam-se vários motivos picotados, alguns deles aproveitando fissuras naturais da rocha. No lado esquerdo do painel, sensivelmente a meio do mesmo, localiza-se uma figura subcircular com um apêndice no canto inferior direito (nº 1). No sector superior direito encontra-se um círculo que rodeia o que parecem ser restos de um motivo do mesmo tipo (nº 2). Na metade sul do painel localiza-se uma figura ovóide (o sulco que a define pela direita é executado sobre uma fissura natural) com um apêndice no canto inferior esquerdo (nº 4). Imediatamente sobre este motivo foi gravada uma pequena linha horizontal. À direita identificam-se uma série de seis círculos concêntricos (nº 5) (Foto 58) sobrepostos por uma longa linha efectuada sobre uma fractura natural (nº 3). Entre esta e o limite do painel foram gravados, de cima para baixo: dois círculos concêntricos (nº 6), duas figuras subcirculares

Figura 83: Painel C da rocha 8 de Mocissos.

adossadas (nºs 7 e 8) situadas à esquerda de uma outra isolada (nº 9), um conjunto de picotados de forma indefinida (nº 10) e uma barra vertical (nº 11). Rocha 6 (Figs. 71 e 78): Painel sub-horizontal orientado para sul. Nesta rocha foram gravados junto ao limite oeste da mesma dois motivos por picotagem: uma barra vertical (nº 1) e uma figura subovóide.

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

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Memórias d’Odiana • 2ª série

Bem mais em baixo encontra-se um escaleriforme (nº 32) e logo a seguir um veado reduzido aos seus atributos essenciais: apresenta uma cabeça subtriangular, um longo pescoço, o corpo definido por duas simples linhas praticamente unidas, as pernas em V e uma linha que identificará o falo. Uma lança atinge o animal no ventre. Este mesmo motivo aparece isolado junto ao canto inferior esquerdo (nº 34).


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Foto 64: Sector esquerdo do painel D da rocha 8 de Mocissos.

Figura 84: Painel D da rocha 8 de Mocissos.

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Rocha 7 (Figs. 71 e 79): Painel horizontal. No sector sudeste localiza-se um conjunto concentrado de picotados de forma subquadrangular. Identificam-se ainda 24 covinhas (2 a 25), algumas delas parecendo formar conjuntos definidos. Destaque-se o grupo formada pelas 2 a 6, pelas 7 a 11 e pelas 19 a 25. Rocha 8 (Fig. 71): Enorme superfície sub-horizontal orientada para leste (virada para o rio). Se definirmos um painel como uma superfície historiada delimitada que obedece a determinados critérios de harmonia tais como orientação, cota altimétrica ou ausência de queDESCRIÇÃO DAS ROCHAS

Foto 65: Pormenor do mesmo sector acima referido.


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Figura 85: Painel E da rocha 8 de Mocissos.

bras na sua geometria, muito dificilmente se encontraria nesta rocha mais que três ou quatro painéis (um definido por A e B que se encontram a uma certa distância dos restantes, um outro por G por quebrar a harmonia geométrica da rocha, um por C, D, E, F, H2, I e K1 por se encontrarem num degrau superior, e um último constituído pelos elementos restantes existentes no patamar inferior). No entanto, optou-se por uma divisão “mais artificial” de forma a

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

99

Memórias d’Odiana • 2ª série

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proceder-se a uma mais exequível e rigorosa descrição da rocha (Fig. 80). Painel A (Fig. 81): Trata-se da superfície que se situa mais a norte. Para além de alguns picotados dispersos, apenas se identificam dois conjuntos de picotados de contorno indefinido (nºs 1 e 2), e restos de uma linha paralela à xistosidade do suporte (nº 3). Painel B (Fig. 82 e Fotos 59 a 63): Situa-se imediatamente a sudeste do anterior, separado daquele por uma fissura natural. Apartado da maior parte do painel, encontra-se a sul um campo compositivo onde apenas se identificam seis círculos (nºs 1 a 5), os quatro primeiros aos pares e os últimos concêntricos (nº 5). Refira-se que os nºs 1 e 2 apenas se encontram esboçados e que os 3 e 4 são definidos por duas fiadas de picotados (que parecem, no entanto, não corresponder a círculos concêntricos). No painel principal localizam-se no sector superior esquerdo quatro círculos dispostos nos vértices de um quadrilátero imaginário (nºs 6, 7, 9 e 10). Um quinto círculo parece definir-se sobre uma concentração de picotados de forma genericamente circular (nº 8). Abaixo dos motivos 9 e 10 localizam-se duas concentrações de picotados, uma subquadrangular (nº 11) e outra de contorno indefinido (nº 12). No sector superior direito foram picotados dois círculos (nºs 13 e 14). A superfície historiada prolonga-se para sudeste em forma de “língua”. Aqui, junto ao limite esquerdo, define-se um semicírculo (nº 17). À direita deste localiza-se um ziguezague que se desenvolve paralelamente à xistosidade da rocha (nº 16). No eixo definido por este, foram gravados, de cima para baixo: dois círculos concêntricos (nº 18), uma figura ovóide (nº 20), outra


Foto 66: Sector central do painel E da rocha 8 de Mocissos.

Foto 68: Pormenor do sector superior do painel E da rocha 8 de Mocissos.

Foto 67: Motivo 42 do painel E da rocha 8 de Mocissos.

Memórias d’Odiana • 2ª série

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série de dois círculos concêntricos (nº 21), um sulco em arco de círculo (nº 23) e um último par de círculos concêntricos (nº 26). À direita deste conjunto de motivos identifica-se, de cima para baixo e a partir da altura do topo do motivo 16: um semicírculo (nº 15), dois círculos (nºs 19 e 22), um conjunto de dois círculos concêntricos (nº 24), um círculo simples (nº 25), outros dois círculos concêntricos (nº 27) e um último círculo simples (nº 28). DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

Sobre o motivo 26 apenas aparecem um conjunto de picotados de forma genericamente oblonga (nº 30), um círculo (nº 29) e três conjuntos de picotados concentrados sem forma definida (nºs 31 a 32). Painel C (Fig. 83): Situa-se a cerca de 1,5 m para sudoeste do painel A, sendo dividido em dois campos compositivos por uma fractura paralela à xistosidade geral. O repertório figurativo é maioritariamente constituído por picotados dispersos ou formando contornos indefinidos. As excepções são um serpentiforme (nº 1) e uma covinha (nº 2), situadas ambas no campo compositivo da direita. Painel D (Fig. 84 e Fotos 64 e 65): Situado imediatamente a sudeste do anterior, caracteriza-se este painel por o seu repertório figurativo ser constituído essencialmente por antropomor-


fos. Um primeiro de corpo muito alongado, fálico e praticamente acéfalo ladeia pela esquerda toda a composição (nº 1). Apresenta dois pares de membros superiores em que se individualizam os dedos. Tanto estes como os membros inferiores são em arco de círculo (os últimos mais fechados). À sua direita foi gravado um outro antropomorfo, também de corpo alongado e praticamente acéfalo mas bastante mais pequeno que o anterior (nº 2). Apresenta os membros em arco de círculo. Os inferiores ladeiam uma

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covinha. Mais à direita encontra-se uma figura humana com a cabeça bem definida, os braços em posição de orante e pernas em arco de círculo (nº 3). Sobre este foi gravado um motivo semelhante, mas com os braços em arco (nº 4). Os dois últimos motivos desenvolvem-se à esquerda de um antropomorfo arboriforme acéfalo (nº 5). Apresenta um falo e aparentemente seria oculado. Entre os dois membros superiores deste motivo, à sua direita, encontra-se o que parece corresponder a um zoomorfo esquemático (nº 6). Sob as pernas daquele motivo, também à direita, aparecem duas barras verticais (nºs 7 e 8). Num nível abaixo foram gravados um antropomorfo acéfalo, de braços em arco e sem pernas

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Figura 86: Painel F da rocha 8 de Mocissos.

Foto 69: Antropomorfo 1 do painel F da rocha 8 de Mocissos.

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

Memórias d’Odiana • 2ª série

4


Foto 70: Motivo 11 do painel F da rocha 8 de Mocissos.

Memórias d’Odiana • 2ª série

102

Foto 71: Motivo 33 da painel F da rocha 8 de Mocissos.

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

(nº 9) e um outro em que apenas se identificam os membros do lado direito (nº 10). No sector superior direito do painel encontram-se um antropomorfo acéfalo de corpo longo e sem pernas (nº 11), três fossettes (nºs 14 a 16) e dois grosseiros círculos concêntricos (nº 12), sendo o exterior sobreposto por uma covinha. Painel E (Fig. 85 e Fotos 66 a 68): Situado imediatamente a sudeste do anterior, o painel encontra-se dividido em diversos campos compositivos por fracturas naturais que se desenvolvem no sentido noroeste – sudeste. De forma a facilitar a compreensão passaremos a descrever o painel por estes mesmos campos, da esquerda (sudoeste) para a direita (nordeste). No primeiro identifica-se junto ao limite direito no sector superior uma figura sub-reniforme (nº 1). No segundo identificam-se, de cima para baixo: uma barra vertical encimada por um sulco transversal (nº 2), um círculo (nº 3), um possível “bucrânio” (nº 4), dois círculos concêntricos em que o interior é raiado (nº 5), e um antropomorfo de membros muito abertos (nº 6). À direita destas figuras desenvolve-se uma linha ao longo de praticamente todo o eixo maior do campo (nº 7). No campo seguinte identifica-se um sulco de perfil semiliriforme (nº 7), um sulco curvo que poderá corresponder a um círculo mutilado (nº 8), uma linha quebrada para a esquerda (nº 9), dois antropomorfos de membros rectos (nºs 10 e 11), sendo que a cabeça do primeiro não é preenchida no interior (nº 10). Todos estes motivos se concentram no topo. Sobrepondo o motivo 11, e desenvolvendo-se paralelamente ao eixo maior do painel até ao fim do mesmo, foi gravada uma longa linha (nº 12). A meio do painel à direita da linha foi gravada uma fossette (nº 13). No sector inferior ocorrem outros dois motivos semelhantes (nºs 14 e 15). No campo seguinte, junto ao limite esquerdo, uma linha vertical foi gravada ao longo


Figura 87: Painel H da rocha 8 de Mocissos.

versal (pernas) (nº 27). Em baixo, à esquerda, encontra-se uma concentração de picotados de contorno circular (nº 28). À direita deste motivo, num plano inferior, define-se um círculo (nº 30). À esquerda aparece um círculo (nº 29) e à direita um semicírculo (nº 32). Um motivo do mesmo tipo, mas de maiores dimensões, foi gravado mais em baixo (nº 33). À esquerda define-se uma linha (nº 34) que se prolonga pela mancha de picotados de contorno ovóide situada abaixo (nº 35). Esta é, aliás, atravessada por outros sulcos e covinhas. Ao nível do topo da mancha 35, junto ao limite esquerdo do painel, encontra-se outro círculo (nº 31). Abaixo daquela parecem definir-se um semicírculo (nº 36) e um círculo (nº 37). No último quarto do campo define-se um antropomorfo de braços abertos, e pernas apresentando um ângulo muito aberto (nº 38), um serpentiforme encimado por um sulco transversal (nº 39), um círculo associado a uma barra vertical (nº 40) e um antropomorfo de membros rectos, apresentando-se os inferiores transversalmente (nº 41). Este motivo encontra-se associado a um círculo (nº 42). À esquerda deste foi gravado um círculo (nº 43) e à direita do motivo 41 um outro (nº 44). Ao longo do painel verifica-se ainda a existência de várias covinhas, em particular sobre e em volta da composição 35. No topo do painel, entre os motivos 27 e 33, localizam-se quatro sulcos filiformes, associados aos pares e de orientações divergentes (nºs 48 e 49) No campo da direita apenas se definem uma covinha (nº 45) e um círculo (nº 46). No campo mais afastado observa-se uma barra vertical (nº 47). Neste, como nos anteriormente descritos, ocorrem vários picotados dispersos ou concentrados sem que se consigam, contudo, obter quaisquer formas. Painel F (Fig. 86 e Fotos 69 a 71): Situa-se imediatamente a leste do primeiro. Stricto sensu

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

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Memórias d’Odiana • 2ª série

do primeiro terço do painel (nº 16). Junto à base deste motivo, à sua direita, foi gravado um antropomorfo de braços rectos (nº 17). Mais em baixo encontramos um grande cruciforme cujo braço esquerdo se prolonga pelo campo anterior (nº 18). No topo do terço inferior define-se um “bucrânio” (nº 19). À direita destas gravuras foram executadas algumas fossettes (nºs 20-22). No campo seguinte define-se uma composição à base de figuras subcirculares, oblongas e arcos de círculo adossada a uma longa linha vertical (nº 24) e várias covinhas (nºs 25 e 26). O campo à direita é o maior. No topo foi gravado um antropomorfo definido por um círculo (cabeça), um sulco vertical (corpo) e limitado inferiormente por um traço trans-


Foto 78: Motivos 1, 2, 4 e 6 do painel H2 da rocha 8 de Mocissos.

Memórias d’Odiana • 2ª série

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faz ainda parte deste painel o sector mais a norte do painel H (que denominámos H2) uma vez que ao contrário da restante superfície daquele, este sector se encontra na mesma cota (o restante está um “degrau” abaixo) do painel que agora nos interessa. Deste modo procederemos à descrição daquele sector imediatamente a seguir à exposição deste. Tal como na situação verificada entre os anteriores, este painel pode ser dividido em unidades mais pequenas definidas pelas fracturas naturais do suporte. Assim, no campo mais à esquerda apenas se identificam um antropomorfo de corpo largo e membros arqueados (nº 1), dois esboços de círculo (nºs 2 e 3), uma covinha (nº 4) e vários picotados dispersos. O limite direito do campo seguinte é não só definido por fracturas mas, de igual modo, por um longo sulco de contorno sinuoso, mas genericamente subvertical, que atravessa todo o painel no sentido Noroeste – Sudeste (nº 16). Curiosamente, as únicas figuras que se encontram directamente associadas a esta linha são dois círculos, um junto DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

do topo (nº 17) e outro já no seu terço inferior (nº 18). No campo que agora nos ocupa, no topo superior, encontramos um antropomorfo arboriforme e oculado com os braços em posição de orante (nº 5). À sua esquerda identifica-se um outro antropomorfo de características mais naturalistas (nº 6) que sobrepõe uma figura subcircular provida de apêndice no seu canto inferior esquerdo (nº 7). Mais abaixo, junto à linha que limita o campo foram esboçados dois círculos (nºs 8 e 9). Ao mesmo nível do último círculo, junto ao limite esquerdo do painel, ocorre uma covinha (nº 14). Bem abaixo, já junto do limite direito do campo, foi gravado um serpentiforme (nº 10). Sob este identifica-se um antropomorfo de corpo e falo definido por uma linha algo sinu-

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Figura 88: Painel G da rocha 8 de Mocissos.

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Foto 74: Motivo 6 do painel G da rocha 8 de Mocissos.

Foto 72: Sector direito do painel G da rocha 8 de Mocissos.

Foto 75: Motivo 8 do painel G da rocha 8 de Mocissos.

Foto 73: Antropomorfo 7 do painel G da rocha 8 de Mocissos.

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Memórias d’Odiana • 2ª série

osa, cabeça em forma de círculo e membros quase rectos (nº 11). Junto do braço esquerdo deste pende uma figura subtrapezoidal com os cantos esquerdos arredondados (fazendo com que este motivo se assemelhe a um arco) (nº 12). Entre as duas gravuras encontra-se uma fossette. Ao nível da figura 12, encontra-se um círculo (mutilado

pelo limite esquerdo do painel) associado a uma figura de “gancho” (nº 13). O campo seguinte é delimitado pela fractura que limita pela direita o painel anterior e pelo sulco 16 referido acima. No seu topo encontramos uma mancha de picotados de contorno circular (nº 19). Logo abaixo identifica-se um serpentiforme ocupando toda a largura do campo (nº 21). Sob este identifica-se uma


Foto 76: Motivo 12 do painel G da rocha 8 de Mocissos.

Memórias d’Odiana • 2ª série

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Foto 77: Motivos 17 e 18 do painel G da rocha 8 de Mocissos.

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

figura de características antropomórficas. Caracteriza-se esta por um sulco vertical rematado por umas “pernas” arqueadas bastante longas. A partir do limite superior desenvolve-se um serpentiforme (nº 23). Entre os dois últimos motivos localiza-se uma pequena composição definida por um semicírculo provido de um apêndice horizontal no seu remate superior esquerdo (nº 22). Abaixo da Figura 23 identifica-se um antropomorfo de braços arqueados, corpo longo e sem pernas (nº 25). Este termina junto da cabeça (definida por um círculo) de um segundo antropomorfo de braços rectos, corpo muito alongado e pernas formando um ângulo muito aberto. À esquerda do motivo 25 localiza-se um círculo a partir do qual nascem quatro sulcos rectos (nº 24). O campo seguinte é definido à esquerda pelo sulco 16. No topo superior esquerdo foi gravado um zoomorfo cuja espécie é de difícil identificação (nº 28). Dois antropomorfos com os membros em v invertido aparecem à direita do motivo prévio (nºs 29 e 38). O esboço de um terceiro parece ainda reconhecer-se junto dos anteriores (nº 40). Associada a estes motivos encontra-se uma mancha de picotados de contorno circular (nº 39). Sob o antropomorfo 28 foi gravada uma covinha (nº 41) e uma barra vertical (nº 27), motivo que parece corresponder a um prolongamento de um longo sulco vertical existente mais abaixo (nº 34). Entre esta linha e a 16 encontram-se quatro antropomorfos. Os dois primeiros encontram-se no topo, sensivelmente alinhados. O da esquerda apresenta o corpo e o falo definidos pelo mesmo sulco, e membros rectos (nº 31). O da direita tem as pernas arqueadas e os braços em posição de orante. A fossette entre os membros inferiores leva-nos a supor estarmos perante uma figura feminina (nº 30). Os dois últimos antropomorfos deste conjunto encontram-se alinhados ver-


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Figura 89: Painel I da rocha 8 de Mocissos.

ticalmente junto ao sulco 34. O de cima é de tipologia cruciforme, encontrando-se a cabeça definida por um semicírculo a partir de onde se desenvolve um apêndice de tipo gancho (nº 35). O outro antropomorfo apresenta as pernas em forma de rectângulo aberto em baixo, os braços em posição de orante e uma cabeça circular (nº 33). Entre as pernas situa-se uma covinha. A sobrepor praticamente todo o motivo 35 e parte do 33 encontra-se uma mancha de picotados de contorno circular. À direita do motivo 34, ao nível do seu topo, localiza-se uma figura humana de braços rectos e pernas arqueadas (nº 32). Um pouco abaixo da perna direita encontra-se outra linha vertical (nº 42). À esquerda situa-se um círculo definido por algumas covinhas (nº 43). À direita define-se uma figura antropomórfica acéfala com as pernas definidas por um

sulco horizontal e os braços por um pequeno arco (nº 37). Um motivo semelhante situa-se à direita da figura 33. Painel H2 (Fig. 87 e Foto 78): Como se disse atrás, este sector ainda se deve incluir no painel anterior. Aquele encaixa no ângulo formado pelos primeiros campos descritos no ponto prévio. No sector superior localiza-se um sulco serpentiforme (nº 1). À direita deste foi gravado um antropomorfo de membros rectos (nº 2). Motivos semelhantes voltam a aparecer em baixo, tanto à esquerda (nº 3) como à direita (nº 4). Um quarto encontra-se representado um pouco abaixo do motivo 3 (nº 5). Acima do primeiro antropomorfo descrito situa-se uma mancha de picotados de contorno circular (nº 6). No sector superior direito apenas foram gravados um círculo (nº 7) e uma covinha (nº 8). Ao nível e à direita do motivo 5 encontra-se uma mancha de picotados de contorno indefinido (nº 9), uma barra vertical (nº 10) e um círculo (nº 11). Painel G (Fig. 88 e Fotos 72 a 77): Situa-se a cerca de 1 metro para nordeste do painel F. Também esta superfície se pode dividir em vários campos compositivos. Assim, no primeiro campo aparece uma covinha (nº 1) que sobrepõe um círculo muito esbatido. O sector central do campo seguinte é o que se encontra mais gravado. Aqui identificam-se em cima um sulco horizontal (nº 2) e uma pequena barra vertical (nº 3). Mais em baixo encontra-se uma composição estruturada por uma figura subquadrangular (nº 4). A partir do lado inferior desenvolve-se um longo sulco vertical. Um círculo adossa-se ao canto superior esquerdo, nascendo daquele uma linha horizontal interrompida pelo limite do painel. No sector inferior esquerdo a única figura definível é um círculo (nº 5).

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Memórias d’Odiana • 2ª série

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O campo seguinte é o maior. No topo situa-se uma figura reniforme que rodeia um círculo (nº 6). Um pouco em baixo identifica-se uma figura antropomórfica de características arboriformes (nº 7). No sector central localiza-se um círculo rodeado por uma figura ovóide provida de uma saliência no lado superior esquerdo (nº 8). Imediatamente em baixo encontram-se duas manchas de picotados associadas verticalmente. A primeira apresenta uma forma ovóide e parte do interior não preenchido, definindo-se assim uma figura subelíptica (nº 9); A segunda tem uma forma circular (nº 10). À direita dos últimos três motivos

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Figura 91: Painel J da rocha 8 de Mocissos. Foto 79: Motivo 3 do painel H1da rocha 8 de Mocissos.

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Figura 90: Painel K da rocha 8 de Mocissos.


da esquerda parece individualizar-se também. No campo seguinte a figura que se encontra mais perto do topo é um círculo (nº 23). Sob este encontra-se uma mancha de picotados de contorno circular (nº 26) ladeada por dois serpentiformes (nºs 24 e 25). A terminação inferior do da esquerda foi posteriormente reaproveitada na execução de um círculo provido de apêndice horizontal à direita (nº 27). Sob este encontra-se um círculo em volta de uma covinha (nº 28). Em baixo a única figura definível é uma linha quebrada (nº 29). No último campo existe apenas um antropomorfo de tipo arboriforme (nº 30). Painel I (Fig. 89): Propositadamente adiámos a descrição do sector 1 do painel H. Como se disse atrás, este encontra-se num degrau inferior, enquanto que o que agora nos ocupa é um prolongamento das superfícies que temos vindo a descrever, superfície esta que, aliás, se prolonga pelo sector oeste do nosso painel K (K1) que descreveremos seguidamente. O painel I é composto por sete campos compositivos. O topo do primeiro situa-se imediatamente para leste do painel F, separando-se deste por uma fractura natural. No sector superior direito foi gravada uma longa linha vertical que apresenta na terminação inferior uma quebra para a esquerda (nº 1) Acima desta quebra localiza-se uma mancha de picotados de contorno ovóide (nº 2). Outra mancha de picotados aparece no sector direito do campo, apresentando um contorno superior ondulado (nº 3). Ao centro, junto do limite inferior, identifica-se um pequeno sulco (nº 5). Outro encontra-se já no sector esquerdo, este apresentando uma ondulação (nº 4). Para além de vários picotados dispersos, apenas se identificam fossettes distribuídas um pouco por todo o campo (nºs 6-11), destacando-se a última por sobrepor um círculo muito ténue (nº 12).

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Memórias d’Odiana • 2ª série

descritos foi gravada uma covinha (nº 14) e diversos sulcos e picotados dispersos de difícil caracterização. Abaixo do motivo 10 foi gravada uma composição estruturada em torno de um cruciforme (nº 12). Este é encimado por um círculo, motivo que volta a aparecer no espaço definido pelos braços superior e direito da cruz, sob o último braço referido e à esquerda da base do motivo estruturante. Do círculo superior à esquerda nasce um sulco que se prolonga na direcção do braço horizontal desse lado. À esquerda desta figura encontram-se três manchas de picotados sem forma definida, mas associadas em arco de círculo (nº 13). Sob estas encontram-se dois círculos muito ténues associados entre si (nº 11). À direita do sector superior deste campo encontra-se outro cujo repertório figurativo se restringe a picotados dispersos (nº 15). À direita deste último encontra-se um em que para além desses mesmos picotados dispersos ainda se identifica uma figura elíptica (nº 16). O campo seguinte situa-se à direita do maior e sob o previamente descrito. Na metade inferior, junto ao limite esquerdo, foi picotado um sulco vertical (nº 19). Em cima, à direita deste motivo, encontra-se um antropomorfo fálico com cabeça definida por um círculo, membros inferiores horizontais e superiores algo abertos (nº 17). Este sobrepõe uma mancha semelhante à 9 (nº 18). No sector superior direito junto ao limite do painel localiza-se uma figura sub-rectangular muito alongada e de terminação superior ovóide (nº 22). No canto inferior esquerdo da mesma encontra-se um círculo que remata um serpentiforme (nº 21). À esquerda destes motivos situa-se uma figura que poderá ser interpretada como antropomórfica (nº 20): trata-se de uma barra vertical de onde nasce à direita um “braço” em posição de orante. O arranque do equivalente


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gura anterior (nº 21). Várias fossettes distribuem-se pela superfície (nºs 22-25). No campo da direita observa-se, arrancando do seu limite esquerdo, uma linha horizontal terminada em S invertido (nº 26). À direita situa-se uma mancha de picotados de contorno circular (nº 27). Mais em baixo, à esquerda, localiza-se um cruciforme cuja base inflecte para a esquerda prolongando-se pelo campo anterior (nº 29). Para baixo foi grava-

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Figura 92: Painel L da rocha 8 de Mocissos.

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O segundo campo situa-se sob o anterior, à esquerda. Nele apenas se percepcionam vários picotados incaracterizáveis (nº 13). No campo seguinte, localizado à direita do anterior, foi gravado no sector superior um serpentiforme. Mais para baixo, por entre picotados de difícil interpretação distinguem-se um arco de círculo (nº 14) e algumas covinhas (nºs 15-17). O limite direito do campo seguinte define-se por uma fractura natural e pelo prolongamento “imaginário” desta. Entre as figuras definíveis, observa-se sensivelmente ao centro uma enorme mancha de picotados de contorno ovóide (nº 18). À sua esquerda localiza-se um arco de círculo (nº 46). Já no sector inferior encontram-se, da esquerda para a direita, uma linha curva (nº 19), um grosseiro serpentiforme (nº 20) e um círculo em parte definido pela fiDESCRIÇÃO DAS ROCHAS

Figura 93: Rocha 9 de Mocissos.

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da uma concentração de picotados de contorno grosseiramente circular (nº 28). A partir do seu canto superior direito desenvolve-se um sulco subvertical que parece, em conjunto com alguns picotados existentes à sua direita, formar um semicírculo (nº 31). Sobreposto pela mancha atrás citada encontra-se um semicírculo que rodeia um círculo com “covinha” ao centro (nº 30). À direita da mancha, junto da sua base, foi gravado um antropomorfo cujas características dos membros lhe conferem um dinamismo raro na arte do Guadiana (nº 32). No sector superior foi executado um número razoável de fossettes (nºs 33-39), motivo que volta a aparecer isolado no sector inferior (nº 40). Os únicos motivos caracterizáveis do campo da direita resumem-se a três sulcos (nºs 4143). No último apenas se encontram picotados que não definem qualquer forma (nº 44). Painel K1 (Fig. 90): Trata-se do prolongamento para sul do painel anteriormente descrito. A figura mais relevante é um motivo oblongo disposto na vertical e aberto em baixo (nº 1). O sulco da esquerda inflecte ligeiramente para esse lado. O da direita tem a seu lado um sulco

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Figura 94: Rocha 10 de Mocissos.

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Figura 95: Rocha 11 de Mocissos.

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Figura 96: Carta de pormenor da distribuição das estações de Moinho dos Clérigos e Beatas.

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paralelo. No sector superior apenas se encontram duas covinhas (nºs 2 e 3). Identificam-se ainda vários picotados dispersos. Painel H1 (Fig. 87): Como se disse atrás, este e os painéis seguintes encontram-se num “degrau” abaixo dos restantes. No sector esquerdo apenas se identificam picotados dispersos. No sector central encontra-se um cruciforme (nº 1). Sob este observam-se duas figuras oblongas concêntricas (nº 2). Para a direita do motivo 1 define-se um antropomorfo fálico com a cabeça definida por um círculo, braços rectos e pernas arqueadas (nº 3) (Foto 79). Em volta deste foi picotada uma mancha de contorno ovóide (nº 4). Identificam-se ainda algumas covinhas (nºs 5 e 6). Painel J (Fig. 91): Situa-se para sul do paiDESCRIÇÃO DAS ROCHAS

nel H. No campo compositivo superior (a oeste) identificam-se um antropomorfo de pernas arqueadas e sem braços (nº 1), e uma barra vertical situada à sua direita (nº 2). No campo gravado situado mais à esquerda (sul) apenas se identifica uma “covinha” (nº 13). No campo à sua direita, para além de um motivo do mesmo tipo (nº 14), só se vêem picotados dispersos. O último campo é o mais complexo. No sector superior esquerdo encontra-se um antropomorfo de membros arqueados (nº 3) sobreposto por uma fossette (nº 29). Outros antropomorfos do mesmo tipo identificam-se à sua direita, um num plano superior (nº 4), outro mais em baixo (nº 5) e sobreposto por uma “covinha (nº 28). Ainda do mesmo tipo, foi gravado um antropo-


morfo no sector superior direito (nº 11). À sua direita foi gravado um outro de braços rectos e pernas em V invertido (nº 12). À esquerda do motivo 11 localiza-se um sulco em forma de C invertido (nº 9). Junto da base deste observa-se a terminação superior de uma longa linha subvertical (nº 10) Para a esquerda, num plano ligeiramente superior, vêem-se duas manchas, uma de contorno circular (nº 8) parecendo sobrepor outra de picotado menos concentrado e de forma mais indefinida (nº 7). Neste painel encontra-se ainda um cruciforme (nº 6) situado à direita do

Figura 98: Rocha 2 de Moinho dos Clérigos.

motivo 5 e sobreposto por duas covinhas (nºs 31 e 32). Neste campo, ao todo, contabilizaram-se 31 covinhas dispersas pelo painel. Painel K2 (Fig. 90): Enorme painel situado para leste do descrito anteriormente. O seu tamanho não tem, contudo, equivalência na quantidade e qualidade dos motivos presentes. Na verdade, por entre os vários picotados dispersos apenas se podem definir quatro fossettes (nºs 1 a 4). Painel L (Fig. 92): Trata-se do prolongamento sudeste do painel J. Apenas se definem cinco covinhas (nºs 1 a 5) e um serpentiforme (nº 6). Rocha 9 (Fig. 93): Painel sub-horizontal, muito recortado, orientado para este (na direcção do rio). Para além de alguns picotados dispersos, identificam-se um círculo simples (nº 1) e outros dois concêntricos (nº 2).

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

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Memórias d’Odiana • 2ª série

Figura 97: Rocha 1 do Moinho dos Clérigos.

Rocha 10 (Fig. 94): Painel horizontal. Apresenta um grande campo compositivo. Sob este (para sudeste) a rocha encontra-se bastante recortada, sendo possível identificar-se quatro pequenos campos historiados. No maior identificam-se no sector superior esquerdo uma figura oblonga (nº 1), um semicírculo (nº 2) e um sulco vertical que inflecte, na sua terminação superior, para a direita (nº 3). Um pouco abaixo identifica-se um sulco horizontal (nº 13).


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desenvolvem independentemente (nº 7). Para a direita deste motivo encontra-se uma linha vertical (nº 11). Dos campos inferiores, o que se situa mais à esquerda tem picotado um círculo muito ténue (nº 12), o seguinte só apresenta alguns picotados dispersos, o que se situa no extremo direito, assim como o situado à sua esquerda, têm como figuras um círculo cada um (nºs 10 e 11 respectivamente). Rocha 11 (Fig. 95): Neste painel horizontal observa-se um serpentiforme (nº 1) que se desenvolve paralelamente ao eixo maior da superfície historiada, um pequeno sulco horizontal (nº 2) e vários picotados dispersos.

Figura 99: Rocha 1 do sector I de Beatas.

Figura 100: Rocha 2 do sector I de Beatas.

Memórias d’Odiana • 2ª série

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No sector inferior esquerdo identifica-se uma linha muito sinuosa (nº 4) que parece prolongar-se para uma outra que apresenta uma terminação em gancho (nº 5). À direita da figura 4 identifica-se um círculo (nº 8). No sector direito foi gravada uma longa linha vertical que, na sua extremidade inferior, inflecte para a esquerda (nº 6). Esta parece prolongar-se dando origem a um motivo meandriforme composto por três sulcos que se DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

Figura 101: Rocha 3 do sector I de Beatas.


Figura 102: Carta de pormenor da localização do sítio de Lameira.

Localiza-se a 3 km para sul do sítio anterior. Pertence à freguesia de Alandroal, concelho de Alandroal, distrito de Évora. Na mesma folha da Carta Militar de Portugal referida previamente encontra-se nas seguintes coordenadas Greenwich: 38º 35’ 59,18’’ N 07º 15’ 37,17’’ O, à altitude de 130 m. Trata-se de uma zona do rio muito assoreada, o que facilitou a emergência de moinhos nestas margens. Aquele que nos interessa situa-se num pequeno plateau (Figs. 2 e 96) em que se identifica um pequeno conjunto de bancadas de xistos silúricos intercalados com quartzitos (Perdigão, 1976, 10-11). A vegetação dominante são as herbáceas, pese o facto de se observarem alguns arbustos hidrófilos e um ou outro quercus, espécie esta que vai

aumentando progressivamente a sua densidade à medida que nos deslocamos para oeste. Rocha 1 (Fig. 97): Superfície vertical orientada para este. Situa-se junto à entrada do moinho epónimo. Identificam-se várias composições filiformes de difícil caracterização e uma concentração de picotados de tendência circular. Rocha 2 (Fig. 98): Não se trata propriamente de uma rocha mas de uma superfície historiada, neste caso existente no parapeito da janela do moinho referido acima. Situando-se o observador no interior do moinho que se localiza na margem direita do rio (que nesta zona corre da norte para sul), observamos neste painel, à esquerda, uma figura subquadranguDESCRIÇÃO DAS ROCHAS

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Memórias d’Odiana • 2ª série

3. 10. MOINHO DOS CLÉRIGOS


lar cujo lado superior apresenta uma pequena interrupção (nº 1). À sua direita define-se um motivo quadrangular seccionado em quatro, sendo que cada um dos quadrados menores se encontra dividido em oito partes e pontuado por uma covinha ao centro (nº 2).

3. 11. BEATAS Localiza-se a 1 km para jusante da estação anterior e a cerca de 250 m para sul do moinho de Beatas. Pertence à freguesia de Alandroal, concelho de Alandroal, distrito de Évora. Trata-se de um sítio bastante acidentado, constituído por grandes blocos e afloramentos de xistos silúricos intercalados com quartzitos (Perdigão, 1976, 10-11). A ladear a estação encontramFigura 103: Rocha 1 da Lameira. Figura 104: Carta de pormenor da localização das estações de Azenhas d’El Rei.

Memórias d’Odiana • 2ª série

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DESCRIÇÃO DAS ROCHAS


-se duas minas de ferro (Perdigão, 1976, 14). O rio é aqui muito encaixado. A vegetação é muito densa, sendo composta essencialmente por árvores de médio porte e arbustos próprios de ambientes ribeirinhos. É possível individualizarem-se dois núcleos.

3. 11. 1. Beatas I Segundo a folha 452 da Carta Militar de Portugal, encontra-se nas seguintes coordenadas Greenwich: 38º 35’ 31,87’’ N 07º 15’ 48,04’’ O. A altitude varia entre os 130 m da rocha 1 e os 165 m da rocha 3 (Figs. 2 e 96).

Figura 106: Rocha 1 do sector II de Azenhas d’El Rei.

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

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Memórias d’Odiana • 2ª série

Figura 105: Rocha 1 do sector I de Azenhas d’El Rei.

Rocha 1 (Fig. 99): Situa-se esta rocha para jusante do moinho dos Clérigos. Trata-se de um painel vertical virado para sul. Nele observa-se um conjunto de figurações filiformes cujos paralelos pintados nos permitem inferir que nos encontramos frente a um contexto inserível no mundo da arte esquemática. Deste modo, estamos perante um raro exemplo em que a técnica referida atrás se encontra presente ao ar livre no contexto daquela manifestação artística pré-histórica. No sector superior observam-se duas figuras que podem ser interpretadas como pares de cervídeos estilizados afrontados em perspectiva frontal (nºs 1 e 2). O mesmo motivo repete-se mais em baixo (nº 3). À esquerda deste encontra-se uma figura semelhante que, no entanto, apenas apresenta a cabeça inferior. Sobre esta foi incisa uma linha horizontal paralela a outra existente na terminação superior da gravura (nº 4). Um pouco em baixo observa-se uma figura losângica raiada (nº 6). Junto ao limite direito do painel foi incisa uma figura oblonga seccionada verticalmente. Quatro linhas subperpendiculares ao eixo maior da figura desenvolvem-se para o lado direito. As características do motivo


Figura 107: Rocha 1 do sector III de Azenhas d’El Rei.

permitem-nos pensá-lo como um zoomorfo (nº 5). Para além destas figuras, observam-se ainda outros traços que não definem qualquer forma descritível. Rocha 2 (Fig 100): Painel sub-horizontal; identifica-se uma concentração de picotados e três composições filiformes de carácter não figurativo. Rocha 3 (Fig. 101): Painel horizontal onde se gravou uma concentração de picotados de contorno subcircular.

3. 11. 2. Beatas II

Memórias d’Odiana • 2ª série

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Situa-se a jusante do núcleo anterior (Figs. 2 e 96). Encontra-se cartografada na mesma folha da Carta Militar de Portugal, nas seguintes coordenadas Greenwich: 38º 35’ 20,63’’ N 07º 15’ 55,04’’ O. A altitude é de 135 m. Rocha 1: Situa-se a jusante do núcleo anterior. Trata-se de um painel horizontal. Identificam-se três concentrações de picotados de DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

contorno circular. Dado já se encontrar submersa, não se efectuou qualquer registo.

3.12. LAMEIRA Localiza-se a 2,250 km para jusante do núcleo anterior, pertencendo à mesma circunscrição administrativa. Encontra-se cartografada na folha 483 da Carta Militar de Portugal, escala 1: 25 000, nas seguintes coordenadas Greenwich: 38º 34’ 39,44’’ N 07º 16’ 58,15’’ O, altitude de 125 m. Entre a estação anterior e esta o rio inflecte para oeste e posteriormente para sul. É neste último ponto que se situa a rocha que constitui esta estação (Figs. 2 e 102). Trata-se de um amplo plateau com as margens preenchidas por alguns afloramentos de perfis sinuosos. Tratam-se de xistos silúricos intercalados com quartzitos (Perdigão e Assunção, 1971, 9). Rocha 1 (Fig. 103): Painel subvertical orientado para sul. Identificam-se treze covinhas picotadas e várias figurações filiformes de cariz geométrico: reticulados, motivos subtriangulares, foliformes, etc.


Figura 108: Distribuição das rochas pela estação da Moinhola.

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

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A

B

F E

D

Figura 109: Rocha 1 da Moinhola.

C

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Foto 80: Sector jusante da Moinhola.

7

Figura 110: Painel A da rocha 1 da Moinhola.

Foto 81: Outro aspecto da mesma รกrea.


Foto 82:Vista geral da rocha 1 da Moinhola.

Foto 85: Figura 6 do painel A da rocha 1 da Moinhola.

3. 13. AZENHAS D’EL REI Foto 83: Motivos 3 e 4 do painel A da rocha 1 da Moinhola.

Localiza-se a 3, 5 km para sul. Pertence à freguesia de Capelins, concelho de Alandroal, distrito de Évora. Desenvolve-se ao longo de 625 m. Situa-se a meio quilómetro para jusante da foz da ribeira de Lucefece (Figs. 2 e 104). Apresenta declives acentuados. Aparecem algumas rochas em forma de crista. Correspondem a xistos de idade silúrica (Perdigão e Assunção, 1971, 9). O coberto vegetal corresponde a uma mata de quercus e algumas arbustivas.

Encontra-se cartografada na mesma folha da Carta Militar de Portugal referida acima, nas seguintes coordenadas Greenwich: 38º 33’ Foto 84: Figura 1 do painel A da rocha 1 da Moinhola.

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

Memórias d’Odiana • 2ª série

3. 13. 1. Azenhas d’el Rei I

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Figura 111: Painel B da rocha 1 da Moinhola.

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Figura 112: Painel C da rocha 1 da Moinhola.

57

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Foto 86:Vista geral do painel C da rocha 1 da Moinhola.

Foto 97: Figuras 126 e 127 do painel C da rocha 1 da Moinhola.

3. 13. 2. Azenhas d’el Rei II Situa-se a jusante da rocha anterior, sensivelmente à mesma altitude. De acordo com a folha 463 da Carta Militar de Portugal encontra-se nas seguintes coordenadas: 38º 32’ 56,83’’ N 07º 17’ 57,11’’ O (Fig. 104).

00,80’’ N 07º 17’ 54,09’’ O. A altitude é de 125 m (Fig. 104). Rocha 1 (Fig. 105): Painel subvertical orientado para este. Apenas se identificam sulcos filiformes de carácter não figurativo.

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

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Memórias d’Odiana • 2ª série

Foto 87: Outra perspectiva do mesmo painel.

Rocha 1 (Fig. 106): Painel vertical orientado para este. Situa-se muito perto do rio. No lado direito da superfície encontra-se uma figuração feminina moderna definida por traços filiformes. A figura apresenta-se-nos de frente; tem vestida uma saia de contorno subtriangular. O braço direito da figura segura um recipiente apoiado sobre a sua cabeça, enquanto que o outro se apoia na cintura. O motivo assemelha-se a peças cerâmicas da zona de Estremoz. Vários traços soltos cobrem e ladeiam a figura.


3. 13. 3. Azenhas d’el Rei III Localiza-se para jusante do núcleo anterior, sensivelmente à mesma altitude. De acordo com a folha 463 da Carta Militar de Portugal, encontra-se nas seguintes coordenadas Greenwich: 38º 32’ 46,71’’ N 07º 18’ 06,68’’ O (Fig. 104). Rocha 1 (Fig. 107): Trata-se de um painel vertical orientado para leste. Situa-se para sul da rocha descrita atrás. Observa-se uma Figura triangular sobreposta por um X. Foi tudo executado mediante incisão. Foto 88: Sector superior do mesmo painel.

3. 14. MOINHOLA

Memórias d’Odiana • 2ª série

124

Localiza-se a 3, 5 km do núcleo anterior (Fig. 2). Administrativamente integra a freguesia de Capelins, concelho do Alandroal, distrito de Évora. Encontra-se cartografada na folha 463 da Carta Militar de Portugal, ocupando uma área entre as seguintes coordenadas Greenwich: 38º 30’ 18,12’’ N 07º 18’ 50,71’’ O e 38º 29’ 45,70’’ N 07º 18’ 53,68’’ O. As altitudes variam entre os 117 e os 122m. Corresponde à maior das estações do Guadiana. Situa-se no leito de cheia do rio (Fig. 108), encontrando-se por isso coberta em parte por aluviões modernos constituídos essencialmente por lodos e alguns calhaus dispersos (Perdigão e Assunção, 1971, 6). Se considerarmos esse caudal, situar-se-á mais perto da margem esquerda. No Verão, contudo, o acesso só é possível a partir da margem direita. Trata-se de uma zona altamente acidentada. Tanto afloram os xistos em crista como em painéis horizontais (Fotos 80 e 81) . Aqueles são de cronologia devónica, acompanhados frequentemente por veios de quartzo (Perdigão e Assunção, 1971, 7-8). A topografia é muito recortada, penetrando no rio em vários pontos, originando deste modo po-

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

Foto 89: Pormenor do sector referido acima.

Foto 91: Motivo 12 do painel C da rocha 1 da Moinhola.


ças e canais que mesmo no Verão não chegam a secar. A vegetação é de carácter hidrófilo, abundando as arbustivas e as herbáceas. Para efeitos de uma melhor descrição da distribuição das rochas, falaremos da sua localização em relação ao moinho que aí se encontra. As que se seguem encontram-se para montante daquele.

Foto 92: Pormenor do motivo 19 do painel C da rocha 1 da Moinhola.

Foto 93: Figura 25 do painel C da rocha 1 da Moinhola.

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

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Memórias d’Odiana • 2ª série

Rocha 1: Enorme rocha constituída por vários campos compositivos separados por fracturas paralelas à xistosidade geral (sensivelmente orientadas na direcção oeste – este). Deste modo, aqueles aparecem-nos como longas faixas perpendiculares ao rio (Foto 82). As superfícies são sub-horizontais, descendo progressivamente de este para oeste. No entanto, por força de uma descrição mais eficaz, a rocha foi dividida em painéis artificiais (Fig. 109) que passaremos a descrever. A ordem seguida será da direita para a esquerda, ou seja, de norte para sul. Painel A (Fig. 110 e Fotos 83 a 85): De cima para baixo e da esquerda para a direita encontramos um semicírculo (nº 2), um pequeno sulco transversal (nº 5), outro semicírculo (nº 3) e um círculo seccionado em dois (nº 4). Abaixo deste conjunto localizam-se dois antropomorfos. O da esquerda (nº 5) é definido por um círculo (cabeça) e dois sulcos menores (braços) que ladeiam um maior (corpo); À esquerda deste último uma pequena linha curva parece representar um dos membros inferiores. O motivo da direita é definido por um círculo, corpo longo, dois pares de membros superiores rectos e pernas arqueadas (nº 6). No sector inferior foi gravado um círculo (nº 7). Numa pequena superfície situada à esquerda dos motivos atrás descritos identifica-se um motivo “baculiforme” (nº 8). Painel B (Fig. 111): Na superfície mais a oeste foi gravado um semicírculo (nº 1), motivo que se repete no campo compositivo situado


Foto 94: Figura 51 e 52 do painel C da rocha 1 da Moinhola.

Memórias d’Odiana • 2ª série

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Foto 95: Pormenor do painel C da rocha 1 da Moinhola. Ao centro encontra-se o antropomorfo 77.

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

um pouco abaixo (nº 2). Aqui encontramos ainda um círculo simples (nº 3), dois círculos com apêndice (nºs 4 e 5) e um último com apêndice e sulco transversal a este, características que parecem antropomorfizar o motivo (nº 6). Identificam-se também vários picotados dispersos, situação que voltamos a verificar em torno do círculo gravado mais abaixo (nº 7). Na superfície inferior, identificam-se em cima três figuras subcirculares providas de apêndice (nºs 8 a 10), encontrando-se as duas últimas associadas. O motivo 10 apresenta ainda um pequeno círculo no interior. À direita deste conjunto foi gravada uma composição de características antropomórficas, definida por três círculos e dois sulcos (nº 11). Para baixo, à direita, encontra-se um grande círculo, motivo que se repete com e sem apêndices no sector inferior (nºs 13 a 16, 18 e 21). Para além destes foram gravados um antropomorfo de braços sub-rectilíneos e pernas em V invertido (nº 20), e um semicírculo (nº 17), figura que se repete por duas vezes à direita deste conjunto (nºs 19 e 22). Painel C (Fig. 112 e Fotos 86 e 87): A distribuição das figuras aliada à divisão imposta pelas fracturas naturais permite-nos falar em dois campos compositivos distintos. Um à esquerda cujo repertório figurativo não se distingue do das restantes superfícies historiadas das rochas, e outro à esquerda que será seguramente um dos mais barrocos de toda a estação. Assim, no primeiro encontramos no sector superior um círculo (nº 1). Mais em baixo foram gravados um motivo subovóide (nº 2), um semicírculo (nº 3), um círculo simples (nº 5), um com apêndice (nº 4) e duas covinhas (nºs 6 e 7). À direita deste conjunto localizam-se um sulco horizontal (nº 8), um ténue círculo e uma fossette (nº 10). No sector central, à direita, distinguem-se, de cima para baixo: um círculo (nº 125), uma figura subovóide com algumas


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Foto 96: Outro pormenor da mesma zona. O antropomorfo 77 encontra-se em baixo Ă esquerda. 11

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Foto 98: Motivo 138 do mesmo painel.

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Figura 113: Painel D da rocha 1 da Moinhola.


Foto 99: Figuras 131 e 132 do painel C da rocha 1 da Moinhola.

Memórias d’Odiana • 2ª série

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fossettes no interior (nº 126) (Foto 97) e outros dois círculos (nºs 127 e 128). No sector inferior observam-se um círculo com um semicírculo no interior (nº 129), um baculiforme (nº 130), duas figuras subcirculares associadas entre si (nºs 131 e 132) (Foto 99) e uma barra vertical (nº 133). O campo da direita é, como referimos atrás, o mais preenchido da estação. Na superfície superior (Fotos 88 e 89) foram gravados um semicírculo (nº 11) e uma composição passível de ser descrita como um círculo provido de um apêndice que secciona uma figura elíptica (nº 12) (Foto 91). Na diminuta superfície situada imediatamente abaixo identificam-se quatro

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

figuras circulares (nºs 13 a 16), uma figura subovóide (nº 17), dois círculos com apêndice (nºs 18 e 19) (Foto 92), dois semicírculos (nºs 20 e 21), uma barra horizontal (nº 22) em aparente associação com o motivo 20, um sulco transversal (nº 24) e uma covinha (nº 24). À direita desta concentração encontra-se um círculo com três apêndices orientados na mesma direcção (nº 25) (Foto 93), composição semelhante ao motivo 1 do painel A descrito atrás. Mais em baixo encontramos nova concentração de motivos. Individualizam-se nove figuras circulares ou subcirculares (nºs 26 a 34). O motivo 27 tem um círculo no interior e o 34 apresenta-se associado a uma pequena figura triangular. Para além destes, identificam-se um bucrânio (nº 35), um semicírculo (nº 36), dois antropomorfos de braços arqueados e pequenas pernas em V invertido (nºs 37 e 38). À direita deste conjunto foram gravados dois sulcos curvos (nºs 39 e 40) e uma figura subovóide com apêndice (nº 41). Sob aquele, individualizam-se dois círculos simples (nºs 42 e 43) e outro com apêndice (nº 44). Imediatamente abaixo identificam-se quatro motivos subcirculares (nºs 45 a 48). O 46 tem um semicírculo no interior e adossa-se a um círculo mais pequeno. Parte do motivo 47 foi reaproveitado para a execução de um antropomorfo do qual só resta a metade esquerda (nº 49). Tem o membro superior arqueado e o inferior em V invertido. À sua direita foi gravado um outro de tipo cruciforme e pernas em V invertido (nº 50). Junto do limite direito do painel encontra-se um outro antropomorfo de tipologia muito excêntrica (nº 52) (Foto 94). Consiste este num enorme círculo a partir de onde se desenvolvem para baixo dois sulcos verticais paralelos entre si (as pernas). Por sua vez, cada um destes é provido de um apêndice horizontal exterior (os braços). Sobre o esquer-


Foto 101: Figuras 14 a 19 do painel D da rocha 1 da Moinhola.

do foi gravado outra figura humana de pernas arqueadas e desproporcionadas em relação ao resto do corpo de tipologia cruciforme (nº 51). Sob estes motivos, à esquerda, observam-se dois círculo (nºs 53 e 54). Adossado ao último motivo foi gravado um antropomorfo de corpo longo e membros em V invertido (nº 55). À direita deste encontra-se uma concentração de picotados de contorno genericamente circular (nº 56). Junto ao limite do painel observa-se o que parecem ser restos de um antropomorfo de pernas arqueadas (nº 57). Sob estes, à esquerda, observam-se dois pares de círculos concêntricos (nºs 59 e 60). Para a direita foram gravados oito círculos simples (nºs 61 a 69) e um com apêndice (nº 70). Para baixo, junto ao limite esquerdo do campo, foi gravado um semicírculo (nº 71). Num nível abaixo foi gravada uma figura subcircular com apêndice (nº 72). À direita do anterior encontra-se um círculo (nº 73) adossado

a um par destes motivos concêntricos (nº 74). Sob estes, um par de círculos (nºs 75 e 76) ladeiam um antropomorfo de membros arqueados (nº 77) (Fotos 95 e 96). Em baixo encontramos, da esquerda para a direita: um círculo (nº 78), um círculo com apêndice (nº 79), um círculo com covinha ao centro (nº 81) e três círculos com apêndice (nºs 82 a 84). Logo abaixo verifica-se a existência de dois círculos (nºs 80 e 85). Este último ladeia uma fractura que quebra um par de círculos concêntricos situado abaixo (nº 88). Aproveitando em parte o círculo mais exterior foi gravado uma antropomorfo (nº 87) em posição invertida. À direita da figura observam-se um círculo (nº 89), um baculiforme (nº 90) e outro círculo (nº 91). Entre os motivos 88 e 91, em baixo, foram gravados quatro círculos simples (nºs 92 a 96), os três últimos em associação. À esquerda destes encontram-se um círculo com apêndice curvo e um enorme círculo simples (nºs 97 e 86, respectivamente).

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

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Memórias d’Odiana • 2ª série

Foto 100: Figura 2 do painel D da rocha 1 da Moinhola.


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Sobre estes vêem-se oito figuras subcirculares (nºs 98 a 105). Sob esta superfície individualiza-se uma outra ocupada apenas por figuras subcirculares e semicirculares, na sua maioria de grande tamanho. Uma situada no sector superior direito e outra no sector inferior do mesmo lado têm um sulco vertical no interior (nºs 106 e 123). Seis figuras encontram-se associadas (nºs 111 a 116). Uma apresenta um apêndice e um semicírculo no interior (nº 117). Três são abertas (nºs 121, 122 e 124) e as restantes fechadas (nºs 107 a 110 e 118 a 120). A superfície inferior é dividida em dois por uma fractura natural transversal à xistosidade geral. Na de cima identifica-se uma figura oblonga com apêndice (nº 134) e um enorme círculo (nº 135). Na de baixo observa-se um motivo elíptico (nº 136), uma possível figura antropomórfica da qual só restam um corpo e duas prováveis pernas (nº 137), um bucrânio (nº 138) (Foto 98) e um conjunto de picotados que parecem corresponder a vestígios de outra figura humana (nº 139). Painel D (Fig. 113): No que considerámos como painel D contam-se três faixas paralelas entre si. Na superfície superior da direita identificam-se duas figuras circulares providas de apêndices terminados em Vs invertidos, características que as antropomorfizam [nºs 1 e 2 (Foto 100)]. Na superfície inferior observam-se, de cima para baixo: um círculo com apêndice (nº 3), um círculo (nº 4), uma covinha (nº 5), um semicírculo (nº 6), outra fossette (nº 7), outro círculo com apêndice (nº 8) e um círculo simples (nº 9). Na superfície central superior verifica-se a existência de um círculo (nº 10), uma covinha (nº 11) e uma enorme figura circular (nº 12) associada a um semicírculo (nº 13). Na mesma faixa, em baixo, foram gravados quatro círculos com apêndice (nºs 14 a 18) e um simples (nº 19) (Fotos 101

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

Foto 102: Figuras 14 e 15 do mesmo painel.

e 102). O motivo situado mais em baixo trata-se de um círculo com apêndice (nº 20). Na faixa da esquerda todos os motivos foram gravados alinhados entre si. Assim, de cima para baixo individualizamos uma covinha (nº 21), dois semicírculos (nºs 22 e 23), dois círculos (nºs 24 e 25), uma barra vertical com uma ligeira inflexão para a esquerda (nº 26), um círculo com apêndice associado a uma barra transversal (nº 27) (Foto 103) e uma figura subcircular associada a um triângulo (nº 28) (Foto 104). Painel E (Fig. 114): Na superfície que agora descrevemos podemos, de igual modo, distinguir dois sectores separados por uma fractura natural. Apenas a da direita se encontra historiada. De cima para baixo e da direita para a esquerda identificam-se: um círculo (nº 1), dois possíveis semicírculos (nºs 2 e 3), uma covinha (nº 4), um círculo (nº 5), uma barra horizontal (nº 6) e uma covinha (nº 7).


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Foto 103: Figura 27 do painel referido.

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Foto 104: Figura 28 do painel D da rocha 1 da Moinhola.

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

Memórias d’Odiana • 2ª série

Figura 114: Painel E da rocha 1 da Moinhola.


Painel F (Fig. 115): Também neste painel se distinguem dois sectores alongados e paralelos entre si. No da direita individualizamos na superfície superior uma figura ovóide (nº 1). Na inferior identificam-se quatro círculos (nºs 2, 4 a 6) e um serpentiforme (nº 3) que arranca a partir do motivo 4 (que, diga-se, é aberto). Na faixa da esquerda observam-se, de cima para baixo: um semicírculo (nº 7), uma figura subelíptica (nº 8) (Foto 105), uma grande figura circular onde no interior foi gravado um motivo oblongo ladeado por dois motivos

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Foto 105: Figura 8 do painel F da rocha 1 da Moinhola.

Figura 115: Painel F da rocha 1 da Moinhola.

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Foto 106: Figura 9 do painel F da rocha 1 da Moinhola.

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS


centro da superfície foi picotado um círculo definido por um sulco muito sinuoso.

Figura 116: Rocha 2 da Moinhola.

elípticos (nº 9) (Foto 106), dois círculos (nºs 10 e 11), uma barra horizontal (nº 12), uma figura elíptica (nº 13) e um antropomorfo de corpo longo, braços arqueados e pernas em V invertido (nº 14).

Rocha 5 (Fig. 119): Painel sub-horizontal orientado para este. No topo observa-se uma figura filiforme. Trata-se de uma composição estruturada em torno de duas linhas sub-horizontais (nº 1). Sob estas identifica-se uma terceira mais curta. Sobre as mesmas foram executados ziguezagues. O limite esquerdo da figura é definido por um curto ziguezague vertical. Num plano inferior ao da composição descrita identifica-se uma fossette picotada (nº 2). No sector inferior do painel foi gravado um conjunto de picotados de contorno subovóide (nº 3).

Rocha 2 (Fig. 116): Painel sub-horizontal orientado para oeste. Identifica-se apenas uma figura zoomórfica picotada (Foto 107). O corpo é representado por uma oval. As patas traseiras são arqueadas e as dianteiras rectas. As armações parecem indicar-nos estarmos em presença de um capríneo. Rocha 3 (Fig. 117): Painel sub-horizontal orientado para este. Sensivelmente ao

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Foto 107: Zoomorfo da rocha 2 da Moinhola.

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

Memórias d’Odiana • 2ª série

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Rocha 4 (Fig. 118): Painel horizontal orientado para este. Encontram-se dois círculos picotados associados verticalmente, estando o de cima tenuemente definido.


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Figura 118: Rocha 4 da Moinhola.

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1

2 3

Figura 117: Rocha 3 da Moinhola. Figura 119: Rocha 5 da Moinhola.

Rocha 6 (Fig. 120): Painel sub-horizontal orientado para oeste. No sector superior identificam-se, da esquerda para a direita (de norte para sul), os seguintes motivos picotados: um círculo (nº 1), um círculo provido de dois apêndices exteriores verticais (nº 2), um báculo (nº 3) e um arco de círculo (nº 4).

Memórias d’Odiana • 2ª série

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Rocha 7 (Fig. 121): Painel horizontal. É possível dividi-lo em diversos campos compositivos de formato alongado e separados entre si por fracturas naturais. Passaremos agora à sua descrição individual. No situado mais à esquerda apenas foi picotado um círculo (nº 1). À direita deste apenas se identifica uma covinha (nº 2). Na DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

superfície seguinte observa-se um círculo mutilado pelo limite esquerdo do campo e cinco círculos à direita (nºs 4 a 8) alinhados verticalmente, encontrando-se os quatro últimos em associação directa. No campo situado à direita identificam-se, também alinhados verticalmente, os seguintes motivos: dois círculos (nºs 8 e 9), uma Figura ovóide seccionada verticalmente (nº 11), outro círculo (nº 12), um sulco transversal (nº 13) e um semicírculo (nº 14) em associação directa com um círculo (nº 15), motivo que se repete mais abaixo (nº 16). No campo seguinte foram gravados no sector superior direito dois círculos (nºs 17 e 18); à direita destes observa-se um pequeno


Rocha 8 (Fig. 122): Superfície sub-horizontal orientado para leste. Individualizam-se dois painéis. No que se situa mais a sul identificam-se uma figura sub-rectangular (nº 1) e mais em baixo, à direita de uma cavidade de formato circular (natural), um círculo (nº 2).

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Figura 120: Rocha 6 da Moinhola.

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Figura 121: Rocha 7 da Moinhola.

No painel norte identificam-se no sector superior esquerdo dois círculos (nºs 3 e 4). O mesmo motivo repete-se logo abaixo (nº 5). À direita deste, um pouco mais em baixo, observa-se um semicírculo cujo limite esquerdo é prolongado por um sulco vertical (nº 6). À direita foi gravado outro círculo (nº 7). No sector inferior foi gravada uma composição constituída por um círculo adossado a um triângulo (nº 8). Este, de cada lado do seu vértice inferior, apresenta uma figura subcircular. À direita da composição encontra-se um último círculo (nº 9). Rocha 9 (Fig. 123): Painel sub-horizontal orientado para leste. Aí foram picotados um semicírculo (nº 1), uma fossette (nº 2) e uma pequena concentração de pontos sem forma definida (nº 3). DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

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Memórias d’Odiana • 2ª série

sulco transversal (nº 19). Mais em baixo vê-se um motivo baculiforme (nº 20) entre alguns picotados dispersos; as restantes figuras aqui existentes resumem-se a dois círculos (nºs 21 e 22) situados num plano inferior. No último campo observam-se um semicírculo (nº 23) e dois círculos (nºs 24 e 25), o último dos quais situado no sector inferior da superfície historiada. Finalmente, no sector superior direito encontra-se uma figura antropomórfica constituída por picotados soltos mas muito concentrados (nº 26). Define-se a cabeça, um corpo sub-rectangular, a perna esquerda e o braço direito. Os membros restantes encontram-se muito diluídos, observando-se perfeitamente, no entanto, os seus arranques.


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Figura 122: Rocha 8 da Moinhola.

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Memórias d’Odiana • 2ª série

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Figura 123: Rocha 9 da Moinhola.

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

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Rocha 10 (Fig. 124 e Fotos 108 e 109): Painel sub-horizontal orientado para oeste. No sector superior esquerdo observa-se uma Figura triangular (nº 1) e um círculo (nº 2), motivo este que se repete mais à direita, tanto isolado com ponto central (nºs 4 e 6) como associados por meio de um traço sub-horizontal (nº 3). Os três últimos motivos encontram-se alinhados verticalmente. À direita destes observam-se duas pequenas concentrações de picotados de contorno circular (nºs 5 e 7). Mais à direita identifica-se uma figura subovóide picotada no interior (nº 8). Ao lado foi picotada uma composição estruturada em torno de um cruciforme (nº 10). A partir do braço esquerdo desenvolve-se um serpentiforme. O braço direito encontra-se ligado ao superior através de um sulco ovóide. Este é, por sua vez, atravessado por outro serpentiforme rematado à direita por um círculo provido de apêndice. À direita foi gravado um par de círculos concêntricos (nº 11). Entre a figura 10 e o limite superior do painel encontra-se um motivo ancoriforme associado a um báculo (nº 9). No canto inferior esquerdo identificam-se duas barras verticais (nºs 12 e 13). À direita destas foi gravado um grande sulco subvertical com inflexão para a direita no seu limite inferior (nº 14). Este sulco parece prolongar-se pelo topo com um outro sulco subvertical com inflexão curva para a direita. Associado a este, por cima, encontra-se um semicírculo (nº 15). O motivo 14 ladeia pela esquerda um círculo picotado no interior (nº 16) e um par de círculos concêntricos a partir de onde se desenvolvem dois sulcos horizontais para a esquerda (nº 17). À direita observa-se um serpentiforme (nº 18). Este conjunto de figuras é delimitado por uma composição composta por dois motivos elípticos, encontrando-se o de cima associado a uma linha subvertical e a dois semicírculos, e o de


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Figura 124: Rocha 10 da Moinhola.

Foto 109: Sector central da rocha 10 da Moinhola.

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

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Memórias d’Odiana • 2ª série

Foto 108: Sector esquerdo da rocha 10 da Moinhola.

baixo a um semicírculo por intermédio de um sulco (nº 19). Para a direita individualiza-se um antropomorfo de tipo arboriforme constituído por quatro pares de membros arqueados (nº 20). À direita do motivo 11, situados um pouco abaixo daquele, encontram-se: um antropomorfo fálico e acéfalo com os dois pares de membros arqueados (nº 21) e dois círculos associados a sulcos subverticais (nºs 22 e 25). Sob estes foram gravados um círculo (nº 23), um semicírculo (nº 24) e um serpentiforme associado a dois sulcos (nº 26). Sob este observa-se um motivo do mesmo tipo (nº 27). O limite inferior do campo é preenchido por uma interessante composição (Foto 110) constituída por três ancoriformes ligados entre si (nº 28). Os das pontas encontram-se associados a serpentiformes e os dois da esquerda a um círculo. Para além destes motivos, todos picotados, observa-se ainda alguns sulcos filiformes de carácter indefinido (nº 31). No campo compositivo inferior apenas foi gravado um antropomorfo fálico de tipo arboriforme (Foto 111) com três pares de membros subarqueados (nº 29). No campo superior direito encontra-se uma interessante composição de seis ancoriformes, dispostos de


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Foto 110: Composição 28 da rocha 10 da Moinhola.

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Figura 125: Rocha 11 da Moinhola.

Foto 111: Figura 29 da rocha 10 da Moinhola.

uma forma que lhes concede um grande dinamismo (nº 30).

Memórias d’Odiana • 2ª série

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Rocha 11 (Fig. 125): Painel sub-horizontal orientado para oeste. No sector noroeste encontra-se um serpentiforme (Foto 112) cujo topo atravessa um outro que se desenvolve perpendicularmente ao primeiro (nº 1). Aquele é rematado no seu limite inferior por um sulco transversal. À direita foi picotada uma fossette. No canto inferior direito encontram-se uma série de traços filiformes de cariz não figurativo (nº 2). DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

Foto 112: Figura 1 da rocha 11 da Moinhola.


Figura 126: Rocha 12 da Moinhola.

Rocha 12 (Fig. 126): Painel sub-horizontal orientado para este. Apenas encontramos no seu sector oeste uma concentração de picotados de contorno genericamente oval. Rocha 13 (Fig. 127): Pequeno painel sub-horizontal orientado para oeste. Identifica-se um bucrânio picotado (Foto 113).

1

Figura 127: Rocha 13 da Moinhola.

No campo à direita parece observar-se um ténue esboço de círculo (nº 12), um antropomorfo fálico de membros arqueados e corpo ovóide (nº 13) e um círculo (nº 14) No campo superior direito observa-se uma pequena figura subquadrangular preenchida (nº 16). Entre os dois últimos campos desDESCRIÇÃO DAS ROCHAS

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Memórias d’Odiana • 2ª série

Rocha 14 (Fig. 128): Rocha composta por vários campos compositivos sub-horizontais, encontrando-se cinco destes historiados. Orientam-se para leste. No superior esquerdo observa-se uma figura ovóide associada a uma linha quebrada (nº 1) e um motivo subcircular (nº 2). No campo de baixo encontram-se dois serpentiformes dispostos na vertical (nºs 4 e 6) afrontados entre si e separados por um grande sulco vertical (nº 5) (Foto 114). O da esquerda está em associação com um motivo do mesmo tipo (nº 3). Sob esta composição foi gravado um círculo provido de um curto apêndice inferior (nº 7). No sector inferior observa-se um antropomorfo oculado de membros arqueados, associado a uma figura triangular aberta em baixo (nº 9). À direita foi picotada uma forma em S invertido definida por duas fiadas de picotados (nº 10) (Foto 115). Num plano inferior identifica-se um pequeno motivo baculiforme (nº 11).


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Figura 128: Rocha 14 da Moinhola.

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Foto 113: Bucrâneo da rocha 13 da Moinhola.

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

Foto 114: Composição formada pelos motivos 4, 5, 6 e 7 da rocha 14 da Moinhola.


critos encontra-se um outro onde foi picotado um grande serpentiforme (nº 15) (Foto 116). Rocha 15 (Fig. 129): Painel sub-horizontal orientado para norte. Encontram-se picotados três círculos (nºs 1 a 3). 2

Rocha 16 (Fig. 130): Rocha composta por dois painéis sub-horizontais orientados para oeste. No situado mais a sul apenas identificamos um serpentiforme disposto na vertical (nº 1). No situado mais a norte começamos por encontrar à esquerda dois serpentiformes dispostos na horizontal e paralelos entre si (nºs 2 e 3) (Foto 117). Para a direita identificam-se

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Figura 129: Rocha 15 da Moinhola.

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Foto 115: Motivos 8, 9 e 10 da rocha 14 da Moinhola.

Figura 130: Rocha 16 da Moinhola.

Foto 116: Figura 15 da rocha 14 da Moinhola.

Foto 117: Motivos 2 e 3 da rocha 16 da Moinhola.

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

Memórias d’Odiana • 2ª série

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três antropomorfos: o primeiro de braços rectos e pernas arqueadas (nº 4) e os dois últimos com ambos os membros arqueados (nºs 5 e 6). Os dois primeiros têm corpos muito longos. O terceiro, embora mutilado por uma fractura, apresenta-o de forma oval (nº 6).

Rocha 17 (Fig. 131): Painel horizontal onde apenas foi picotado um círculo. Rocha 18 (Fig. 132): Superfície sub-horizontal orientada para este. No painel situado mais a oeste identifica-se uma figura subovóide.

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Figura 131: Rocha 17 da Moinhola.

Figura 132: Rocha 18 da Moinhola.


Figura 133: Rocha 19 da Moinhola. 10

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Rocha 19 (Fig. 133): Painel sub-horizontal orientado para oeste e dividido em vários campos por fracturas naturais. No canto superior esquerdo observa-se um arco de elipse (nº 1), um sulco vertical com inflexões à direita em cima e em baixo (nº 2) e uma Figura ovóide. Em baixo, à sua direita encontra-se outro campo onde apenas se identifica uma fossette (nº 4). No terceiro campo à direita a contar do primeiro observa-se outra oval (nº 5). Abaixo deste campo encontra-se outro onde foram pi-

cotados quatro círculos (nºs 6 a 9) assim como alguns sulcos e picotados dispersos. Finalmente, no último campo, no sector superior direito observam-se um semicírculo (nº 10) e dois círculos associados (nºs 11 e 12), sendo o último provido de um apêndice. Alinhadas segundo o eixo central vertical do campo observam-se quatro covinhas (nºs 14 a 17). No sector inferior individualizam-se uma covinha de contorno sub-rectangular (nº 18) e um esboço de círculo (nº 19) para além de outros picotados de difícil caracterização. 143

Rocha 20 (Fig. 134): Painel horizontal. Identificam-se duas concentrações de picotados de contorno indefinido (nºs 1 e 2), se bem que a primeira parece estar associada a um círculo. À direita identifica-se ainda uma barra vertical (nº 3). DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

Memórias d’Odiana • 2ª série

No localizado a este observa-se uma figura circular (nº 2) com três sulcos exteriores sub-horizontais no seu lado esquerdo, um no topo, o mesmo número na base e três que a ligam a um círculo à direita (nº 3). Ao lado individualiza-se outro motivo circular (nº 4).


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Figura 134: Rocha 20 da Moinhola.

Rocha 21 (Fig. 135): Painel sub-horizontal orientado para norte. Para além de alguns picotados dispersos, observam-se vários traços filiformes, na sua maioria de carácter não figurativo. As duas excepções consistem em dois peixes (nºs 1 e 2). Destaque-se o 2 pelo seu elevado grau de pormenor anatómico, encontrando-se aí representadas mais que um par de barbatanas (em número de três) e a espinha central (Foto 118).

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Rocha 22 (Fig. 136): Painel horizontal. Nesta superfície, a única figura caracterizável trata-se de um círculo picotado (nº 1). Para além desta apenas se vislumbram alguns picotados dispersos. Figura 135: Rocha 21 da Moinhola.

Memórias d’Odiana • 2ª série

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Rocha 23 (Fig. 137): Painel horizontal. Para além de alguns picotados dispersos situados no sector esquerdo do painel, encontram-se dezoito círculos, aparentemente organizados em três grupos: um primeiro definido pelos motivos 1 a 5, um segundo definido pelas figuras 7 a 11 e um terceiro pelas gravuras 12 a 18. O motivo 6 é o que se encontra mais isolado. DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

Rocha 24 (Fig. 138): Painel horizontal. Identificam-se apenas um círculo (nº 1) e uma concentração de picotados de contorno genericamente circular (nº 2).


Figura 136: Rocha 22 da Moinhola.

pares de membros rectos (nº 2). Encontra-se este assente sobre o quarto superior esquerdo de um antropomorfo oculado de membros rectos (nº 3). Parece ainda observar-se um esboço de círculo no topo da superfície (nº 4). Para além destes motivos, observam-se vários picotados dispersos.

Rocha 25 (Fig. 139 e Fotos 119 e 120): Painel sub-horizontal orientado para oeste. À esquerda, em baixo, observa-se um círculo com o interior picotado (nº 1). À sua direita, em cima, vê-se um antropomorfo com quatro

Rocha 27 (Fig. 141): Painel subvertical orientada para este. Observa-se à esquerda uma figura sub-rectangular aberta na zona do seu vértice inferior direito (nº 1). Encontra-se asDESCRIÇÃO DAS ROCHAS

145

Memórias d’Odiana • 2ª série

Foto 118: Peixe 2 da rocha 21 da Moinhola.

Rocha 26 (Fig. 140): Painel sub-horizontal orientado para leste (Foto 121). À esquerda observa-se um antropomorfo acéfalo, fálico e de braços arqueados (nº 1) (Foto 122). À direita observam-se oito motivos deste tipo, todos fálicos e de braços rectos (2 a 9) (Foto 117). Dois destes apresentam as pernas arqueadas (nºs 2 e 5), aparecendo os restantes com os membros inferiores em V invertido. Encontram-se todos associados entre si. O motivo 8 apresenta um sulco associado à sua perna esquerda. Uma barra (nº 10) foi picotada à direita do conjunto.


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Figura 137: Rocha 23 da Moinhola.

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Figura 138: Rocha 24 da Moinhola. 1 3

sociada a um círculo com picotados no interior, situado à sua direita (nº 2).

Memórias d’Odiana • 2ª série

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Rocha 28 (Fig. 142): Trata-se de uma superfície horizontal. As únicas figuras definíveis encontram-se no sector esquerdo. Correspondem a um sulco curvo (nº 1) e a uma figura oblonga aberta no topo, de onde arranca a partir do seu limite superior direito uma linha curva provida de dois sulcos transversais (nº 2). Um pequeno círculo parece esboçar-se em baixo (nº 3). Para a direita identificam-se ainda vários picotados dispersos. DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

Figura 139: Rocha 25 da Moinhola.


Rocha 29 (Fig. 143): Painel sub-horizontal orientado para norte. Apenas se reconhecem duas concentrações de picotados, uma de contorno genericamente ovóide (nº 1) e outra grosso modo circular (nº 2). À direita reconhece-se uma covinha.

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Rocha 30 (Fig. 144): Superfície sub-horizontal orientada para norte. No topo reconhece-se uma agrupação de traços de ca-

Figura 140: Rocha 26 da Moinhola.

Foto 119: Rocha 25 da Moinhola.

Foto 121: Sector direito da rocha 26 da Moinhola.

Foto 120: Rocha 25 da Moinhola.

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

Memórias d’Odiana • 2ª série

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Figura 141: Rocha 27 da Moinhola.

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Figura 143: Rocha 29 da Moinhola.

Figura 142: Rocha 28 da Moinhola.

Memórias d’Odiana • 2ª série

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rácter não figurativo (nº 1). Mais abaixo, à esquerda, observam-se pelo menos, quatro feixes de linhas filiformes (nºs 2 a 5). Sob a que se encontra mais em baixo reconhece-se o que parece corresponder ao corpo e membros de um quadrúpede esquemático (nº 6). O corpo é de tendência rectangular e constituído por quatro linhas paralelas entre si; o membro traseiro é de tendência curvilínea e formado por duas linhas; a pata dianteira é definida por uma linha apenas. Sob os feixes 2 e 3 observa-se um cavalo virado para a direita (nº 7); não se encontra completo; a cabeça é de forma sub-rectangular DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

e o focinho recto (Foto 123); apenas a definição da linha fronto-nasal, parece não se ter efectuado com um traço apenas – corresponde ao cruzamento de dois: um que parte do focinho e outro que arranca do final da nuca; não foi individualizada a crina; a passagem da nuca para o dorso é suave, sendo praticamente recta; aquele é incompleto terminando em fractura da rocha; o peito é recto tornando-se côncavo junto da passagem para a pata dianteira; esta é definida por duas linhas paralelas rectas e termina na mesma fractura que o dorso; o interior do animal apresenta-se parcialmente estriado; encontra-se representado em perfil absoluto. Rocha 31 (Fig. 145): Painel sub-horizontal orientado para norte. Divide-se em vários


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campos compositivos separados por fracturas naturais. No situado mais a norte foi picotado um antropomorfo acéfalo, fálico e com os membros arqueados (nº 4). No localizado logo abaixo foi gravado um motivo do mesmo tipo, se bem que com cabeça (nº 5) (Foto 124). No campo situado mais a oeste encontram-se picotados: um antropomorfo sem braços e pernas em V invertido (nº 1) e uma linha curva (nº 2). Em cima observa-se uma estrela de cinco pontas filiforme (nº 6). No campo abaixo individualiza-se, no topo, um antropomorfo acéfalo de membros arqueados (nº 3). No sector inferior foram incisos

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Figura 144: Rocha 30 da Moinhola.

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Foto 123: pormenor da cabeça do cavalo da rocha 30 da Moinhola. 7

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Figura 145: Rocha 31 da Moinhola.

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

Memórias d’Odiana • 2ª série

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braços rectos e pernas arqueadas (nº 2). No campo à direita apenas se picotou um antropomorfo de membros arqueados (nº 3) situado numa posição invertida em relação ao anterior. Rocha 34 (Fig. 148): Painel horizontal onde se picotou um círculo. Rocha 35 (Fig. 149): Painel horizontal. Apenas se observa uma concentração de picotados de contorno genericamente oval.

Foto 124: Figura 5 da rocha 31 da Moinhola.

dois escaleriformes (nºs 7 e 8). Com a mesma técnica foram executados alguns traços de carácter não figurativo (nº 9) no campo à direita. Rocha 32 (Fig. 146): Painel sub-horizontal orientado para este. Aí picotou-se uma grande figura oval e alguns pontos dispersos (Foto 125).

Memórias d’Odiana • 2ª série

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As próximas rochas situam-se para jusante do moinho da Moinhola. Rocha 33 (Fig. 147): Painel horizontal dividido em dois campos compositivos separados por uma fractura natural. No situado a oeste, encontra-se junto do topo uma concentração de picotados de contorno genericamente oval (nº 1). Num plano inferior identifica-se um antropomorfo de DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

Figura 146: Rocha 32 da Moinhola.


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Figura 147: Rocha 33 da Moinhola.

Rocha 36 (Fig. 150): Painel horizontal. No sector esquerdo (situado a oeste) foram picotados quatro antropomorfos. O primeiro situa-se

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Foto 125: Rocha 32 da Moinhola.

junto do topo. É fálico, apresenta um corpo muito longo e membros arqueados (nº 1). O segundo localiza-se mais abaixo (nº 2). Apresenta uma morfologia semelhante ao anterior, se bem que DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

Memórias d’Odiana • 2ª série

Figura 148: Rocha 34 da Moinhola.


Figura 149: Rocha 35 da Moinhola.

Figura 150: Rocha 36 da Moinhola.

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Memórias d’Odiana • 2ª série

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DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

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te ao primeiro, apresenta no entanto, como se depreende da leitura atrás, um falo evidente (nº 10). Posiciona-se na horizontal. O último destes motivos tem também um corpo desenvolvido e membros arqueados (nº 13). Entre este e os anteriores foram gravadas uma barra vertical (nº 11) e uma figura de difícil caracterização (nº 12). Entre este sector e o anteriormente descrito encontra-se uma barra (nº 6). À direita do painel observa-se uma pequena concentração de picotados semelhante a uma tosca fossette (nº 14) e, mais em baixo, duas barras horizontais (nºs 15 e 16). A próxima rocha encontra-se ainda a montante do dito moinho. Rocha 37 (Fig. 151): Painel sub-horizontal orientado para norte. Apenas se reconhecem alguns picotados incaracterizáveis. Voltemos agora para jusante do edifício. Rocha 38 (Fig. 152): Painel horizontal. No sector esquerdo (este) gravou-se um antropoFigura 151: Rocha 37 da Moinhola.

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DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

Memórias d’Odiana • 2ª série

com um corpo menos desenvolvido. Posiciona-se praticamente na horizontal. À sua direita encontra-se uma barra transversal (nº 3). Junto ao limite esquerdo do painel, e desenvolvendo-se paralelamente a este, individualiza-se a terceira figura humana (nº 4). Como a primeira, apresenta um corpo muito desenvolvido, falo e membros arqueados. À sua direita localiza-se o último motivo deste tipo (nº 5). Destaca-se dos restantes pela escala dos membros e do falo. Encontra-se na horizontal, se bem que numa posição inversa relativamente ao motivo 2. No sector central foram gravados outros quatro antropomorfos. O primeiro situa-se junto do limite superior do painel. Apresenta um corpo desenvolvido, braços rectos e pernas arqueadas (nº8). Parece ser o único em que a representação fálica não é evidente. O segundo foi picotado mais em baixo à esquerda. Apresenta os membros arqueados. Posiciona-se transversalmente e de cabeça para baixo (nº 9). À esquerda parece definir-se um ténue círculo (nº 7). Imediatamente sob o antropomorfo anterior localiza-se o terceiro deste sector. Semelhan-


Rocha 39 (Fig. 153): Painel horizontal. Reconhecem-se apenas alguns picotados indefinidos e uma concentração de contorno dificilmente caracterizável. Rocha 40 (Fig. 154): Painel sub-horizontal orientado para este. Ao centro do mesmo, identifica-se à esquerda um ténue círculo (nº 1). À direita deste observa-se uma fossette (nº 2) e uma barra vertical (nº 3). Seguidamente individualiza-se um antropomorfo fálico de membros arqueados (nº 4). Junto do limite direito do campo historiado foi gravada uma linha horizontal de onde arrancam para cima dois sulcos verticais (nº 5). Entre estes dois vê-se uma

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Figura 152: Rocha 38 da Moinhola.

Memórias d’Odiana • 2ª série

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morfo de braços semi-rectos e pernas arqueadas (nº 1). À direita deste observa-se uma figura indefinida (nº 2). Ainda mais à direita encontra-se um motivo baculiforme (?) e um antropomorfo de braços arqueados e pernas rectas (nº 4). No sector superior direito identifica-se uma covinha (nº 5). DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

Figura 153: Rocha 39 da Moinhola.


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Figura 154: Rocha 40 da Moinhola.

covinha. Será de salientar o ar antropomórfico desta composição. Rocha 41 (Fig. 155): Painel horizontal. No sector superior esquerdo (oeste) observa-se um antropomorfo fálico de braços em V invertido e pernas arqueadas (nº 1). À direita deste foi gravada um pequena barra vertical (nº 2). No sector superior direito encontra-se uma barra horizontal (nº 3). Sensivelmente ao centro do painel, à direita, foi picotado um antropomorfo sem pernas e braços em posição de orante (nº 4). Do braço direito deste arranca uma barra vertical (nº 5).

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Retornemos para montante do moinho. Rocha 42 (Fig. 156): Painel sub-horizontal orientado para oeste. As únicas figuras que se reconhecem são quatro círculos picotados (nºs 1 a 5 e 7-8) e uma linha vertical com inflexões para a esquerda nas terminações (nº 6). O círculo 3 tem um curto apêndice curvo e encontra-se associado ao 4 através de um sulco.

Figura 155: Rocha 41 da Moinhola.

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

Memórias d’Odiana • 2ª série

Rocha 43 (Fig. 157): Painel sub-horizontal orientado para sul. Identificam-se uma série de figuras filiformes. Ao centro encontra-se

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Figura 156: Rocha 42 da Moinhola.

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Memórias d’Odiana • 2ª série

156 Figura 157: Rocha 43 da Moinhola.

Figura 158: Rocha 44 da Moinhola.

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS


Rocha 44 (Fig. 158): Painel sub-horizontal orientado para norte. Identifica-se uma fossette de contorno oval e vários picotados dispersos. Rocha 45 (Fig. 159): Painel sub-horizontal orientado para oeste. No topo à esquerda foi incisa uma figura sub-rectangular seccionada por uma linha paralela ao seu lado maior e por duas transversais (nº 1). À sua direita uma série de sulcos formam um motivo de silhueta sinuosa (nº 2). Em baixo, uma figura sub-rectangular apresenta no interior dois quadrados concêntricos (nº 3). Esta é ainda seccionada por uma linha paralela ao seu lado maior e por duas transversais. Rocha 46 (Fig. 160): Painel sub-horizontal orientado para este. No sector oeste definem-se três círculos bem definidos (nºs 1 a 3) e um mais ténue (nº 4). Em cima observa-se uma figura triangular preenchida no interior (nº 5). Para a esquerda individualizam-se duas barras horizontais (nºs 6 e 7). Rocha 47 (Fig. 161): Painel horizontal. Identifica-se um motivo em forma de U com

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Figura 159: Rocha 45 da Moinhola.

uma inflexão para o exterior no topo esquerdo. Paralelamente a este lado desenvolve-se um sulco. Em cima, à direita, observam-se vários traços filiformes (nº 2). Rocha 48 (Fig. 162): Ampla superfície horizontal. No sector superior direito observa-se um concentração de picotados de contorno oval (nº 1). Em baixo, uma barra (nº 3) encontra-se sobre um motivo definido por dois serpentiformes verticais unidos no topo (nº 2) (Foto 127). Para a esquerda define-se um ténue círculo (nº 4) e uma figura ovalada (nº 5). Continuando

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

157

Memórias d’Odiana • 2ª série

um motivo sub-rectangular seccionado por três sulcos assimétricos e com um apêndice vertical superior (nº 1). Em baixo observa-se um motivo morfologicamente semelhante e seccionado por duas linhas centrais perpendiculares entre si e por duas transversais àquelas (nº 2). Mais em baixo vê-se outra figura sub-rectangular com o canto superior esquerdo arredondado (nº 3). Esta é seccionada por duas linhas paralelas ao seu eixo menor. Duas linhas transversais identificam-se no interior. À direita da figura vêem-se duas linhas convergentes à esquerda (nº 4). No sector inferior direito duas figuras subtriangulares são cortadas por vários sulcos transversais e paralelos entre si (nº 5).


Figura 160: Rocha 46 da Moinhola.

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Memórias d’Odiana • 2ª série

158

para a esquerda, observamos um serpentiforme longo (nº 6) (Foto 128) e outro mais curto (nº 7) situado um pouco abaixo. No limite inferior do painel, neste sector, encontra-se uma concentração de picotados de contorno indefinido (nº 9). Para a esquerda do motivo 7 foi picotado outro serpentiforme definido por dois sulcos (nº 8). Em baixo, à esquerda, evidencia-se um arco de círculo (nº 10). Continuando nesta direcção, é possível observar-se outro serpentiforme (nº 11). Em cima, localiza-se outra figura do mesmo tipo (nº 12). No sector inferior esquerdo foi gravada uma pequena espiral (nº 16), motivo que se repete para a direita do anterior, se bem que de forma mais desenvolvida (nº 14) (Foto 126). Este é, por sua vez, ladeado à esquerda e em baixo por um sulco (nº 15). Entre os últimos DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

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Figura 161: Rocha 47 da Moinhola.


Rocha 49: Rocha constituída por dois painéis sub-horizontais separados 1,5 m entre si. Orientam-se para norte. O primeiro (Fig. 163) encontra-se dividido em vários campos compositivos separados por fracturas naturais. No inferior esquerdo (sudoeste) observam-se três figuras circulares alinhadas verticalmente (nºs 2 a 4) (Foto 129). As duas da base apresentam cada uma um apêndice exterior. A terceira, para além desse, apresenta outros de difícil definição. No campo situado acima apenas se reconhece uma figura que, grosso modo, pode ser descrita como se fossem dois motivos subcirculares de tamanhos díspares abertos na zona de junção (nº 1). À direita do primeiro campo descrito localiza-se um outro onde se gravaram um círculo (nº 5) e uma figura oblonga (nº 6). No campo da direita reconhece-se um grande círculo (nº 7). No último identificam-se de cima para baixo: um antropomorfo fálico de membros arqueados (nº 8), um círculo (nº 9) e um grande sulco com uma ligeira quebra para a direita no topo do último terço (nº 10). Esta característica permite-nos levantar a hipótese de estarmos perante uma representação metonímica da figura humana reduzida ao corpo e à sua perna direita. Esta suposição sairá reforçada se tivermos em conta a fractura existente à esquerda do motivo em causa, fractura essa que estará pela perna desse lado. O segundo painel (Fig. 164) situa-se para noroeste, individualizando-se aí dois campos historiados. No primeiro identifica-se uma concentração de picotados de forma genericamente oblonga (nº 11) e uma estrela de cinco pontas incisa (nº 12). No campo superior tam-

bém só se identificam traços filiformes, na sua maioria de carácter não figurativo. A excepção é uma composição estruturada em torno de dois ziguezagues verticais, sendo cada um destes atravessado por uma linha (nº 13). As próximas rochas situam-se junto do moinho da Moinhola. Rocha 50 (Fig. 165): Ampla superfície sub-horizontal orientada para norte. Divide-se em vários campos compositivos separados por fracturas naturais. Apenas se identificam figuras filiformes. No canto superior identificamos um conjunto de pequenas figuras geométricas agrupadas que lembram um silabário (nº 24), um grupo de linhas paralelas (nº 25), um ziguezague horizontal (nº 26) e dois conjuntos individualizáveis mas dificilmente caracterizáveis (nºs 27 e 28) (Figs. 166 e 167). No campo mesial encontramos em cima uma figura subtrapezoidal com alguns sulcos incaracterizáveis no interior (nº 1). Em baixo verifica-se a existência de duas linhas curvas convergentes à esquerda (nº 2). À direita observa-se um ziguezague horizontal seccionado por uma linha (nº 3). Para a direita e para baixo encontram-se vários motivos do mesmo tipo ou variantes (nºs 4 a 19) (Figs. 168 e 169). No campo situado em baixo à direita, para além de algumas figuras dificilmente definíveis, identificamos uma do mesmo género das referidas atrás (nº 20) e um conjunto de pequenas figuras geométricas (triângulos, losangos, trapézios, etc.) que formam um conjunto grosseiramente rectangular (nº 21) (Fig. 170). No campo situado à direita deste, em cima, observam-se duas linhas constituídas por este género de motivos e alguns sulcos soltos (nº 22) (Fig. 171).

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

159

Memórias d’Odiana • 2ª série

três motivos descritos, num plano superior, verifica-se ainda a existência de uma figura incaracterizável (nº 13).


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Figura 162: Rocha 48 da Moinhola.

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS


À direita deste situa-se o últimos campo gravado. É possível observar-se aí uma composição do mesmo tipo das duas últimas descritas. Apresenta esta uma forma genericamente rectangular (nº 23) (Fig. 172). Rocha 51 (Fig. 173 e Foto 130): Painel sub-horizontal orientado para este. A superfície historiada é limitada inferiormente (a este) por um serpentiforme posicionado na vertical (nº 2). À direita deste localiza-se uma composição estruturada em torno de uma imensa figura oval (nº 1) (Foto 121). Esta apresenta três sulcos verticais na base e um horizontal em cada um dos lados maiores. No interior reconhece-se um sulco sub-horizontal que quase secciona a figura em duas partes e um motivo subtriangular. As suas características concedem-lhe um ar antropomórfico. Para a esquerda da figura reconhece-se um semicírculo (nº 3), motivo que foi também picotado acima da anteriormente descrita (nº 4). Para cima deste último encontra-se uma barra vertical.

Foto 126: Figura 14 da rocha 48 da Moinhola.

Rocha 52 (Fig. 174): Painel horizontal. Aparece picotado um antropomorfo de corpo largo, braços algo curvos e pernas verticais. Rocha 53 (Fig. 175): Ampla superfície horizontal onde foram gravados apenas dois sulcos em S (nºs 1 e 2) e alguns picotados dispersos. Rocha 54 (Fig. 176): Superfície sub-horizontal orientada para sul. Nela picotou-se um círculo que foi sobreposto por uma covinha. As rochas seguintes encontram-se para jusante do moinho. Rocha 55 (Fig. 177): Painel vertical orientado para norte. Aparece um círculo mutilado pelo limite inferior da superfície historiada.

Foto 127: Figura 2 da rocha 48 da Moinhola.

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

Memórias d’Odiana • 2ª série

161


Rocha 56 (Fig. 178): Painel sub-horizontal orientado para este. Reconhece-se uma concentração de picotados de contorno genericamente oblongo. Rocha 57 (Fig. 179): Painel subvertical orientado para oeste onde foi picotada uma figura genericamente ovóide. A base, contudo, é algo afilada e o topo direito. Rocha 58 (Fig. 180): Superfície horizontal onde se reconhece uma figura subtrapezoidal e alguns picotados dispersos. Rocha 59 (Fig. 181): Neste painel sub-horizontal orientado para norte reconhece-se Foto 128: Figura 6 da rocha 48 da Moinhola.

Figura 163: Painel A da rocha 49 da Moinhola.

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Memórias d’Odiana • 2ª série

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DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

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um círculo definido por picotados não muito concentrados (nº 1), uma covinha (nº 2) e uma Figura de difícil definição (nº 3). Rocha 60 (Fig. 182): Amplo painel horizontal. No sector superior direito (norte) define-se uma figura ovóide (nº 1), motivo que se repete mais em baixo (nº 3). À direita deste encontram-se alguns picotados dispersos que parecem formar três figuras deste tipo associados entre si (nº 2). Sensivelmente a este nível, junto do limite esquerdo do painel, observa-se uma figura oblonga com um círculo no interior (nº 4) (Foto 132). Para baixo, à direita, foi picotado um círculo (nº 5). Neste plano, sob o motivo 3, vêem-se duas figuras subcirculares (nºs 6 e 8) separadas por uma barra horizontal (nº

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Figura 164: Painel B da rocha 49 da Moinhola.

Foto 129: Figuras 3 e 4 da rocha 49 da Moinhola.

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

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Figura 165: Rocha 50 da Moinhola. Figura 166: Pormenor da rocha 50 da Moinhola.

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Memórias d’Odiana • 2ª série

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27 Figura 167: Pormenor da rocha 50 da Moinhola.

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Figura 168: Pormenor da rocha 50 da Moinhola.

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS


7). Uma vertical foi picotada sob o motivo 8. Sob este, junto ao limite inferior do painel neste sector, define-se um círculo com um sulco no interior (nº 11). Num plano intermédio entre os dois últimos motivos referidos, à esquerda, encontra-se uma barra horizontal (nº 10). Para baixo desta, uma linha subvertical (nº 15) ladeia pela direita três figuras subovóides (nºs 12 a 14) e encontra-se sobre outras duas do mesmo tipo (nºs 16 e 17). Já no sector inferior, um círculo (nº 18) encontra-se associado a uma Figura elíptica (nº 19). Para a direita vê-se um semicírculo (nº 20). Observam-se ainda algumas concentrações de picotados de contornos circulares ou subcirculares (nºs 21 a 24). Entre os motivos 19 e 22 reconhecem-se alguns traços filiformes.

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Rocha 61 (Fig. 183 e Fotos 133 e 134): Painel horizontal constituído por diversos campos compositivos delimitados por fracturas na-

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Figura 169: Pormenor da rocha 50 da Moinhola.

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Figura 170: Pormenor da rocha 50 da Moinhola.

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

Memórias d’Odiana • 2ª série

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Figura 171: Pormenor da rocha 50 da Moinhola.

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Figura 172: Pormenor da rocha 50 da Moinhola.

Memórias d’Odiana • 2ª série

166

turais. No situado mais a norte apenas se definem dois motivos subcirculares (nºs 1 e 2). Abaixo deste, à esquerda (sul) localiza-se o segundo campo. No sector superior direito reconhece-se um círculo com dois apêndices em S situados em posições opostas, e um terceiro vertical (nº 3). Este corta uma das duas figuras circulares que se encontram por baixo (nºs 4 e 5) (Foto 135). No sector inferior foi picotado um enorme motivo oblongo com um apêndice curvo na base (nº 6). No campo à direita do anterior apenas se observa uma barra horizontal (nº 7). DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

Figura 173: Rocha 51 da Moinhola.

Rocha 62 (Fig. 184): Painel horizontal constituído também por diversos campos compositivos. No sector superior esquerdo (oeste) observa-se uma círculo (nº 1) e uma linha horizontal atravessada por uma vertical com uma inflexão para a esquerda junto da base (nº 2).


Foto 130: Rocha 51 da Moinhola. 1

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Figura 175: Rocha 53 da Moinhola.

Figura 174: Rocha 52 da Moinhola.

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

Memórias d’Odiana • 2ª série

167


Figura 176: Rocha 54 da Moinhola.

Figura 178: Rocha 56 da Moinhola.

Memórias d’Odiana • 2ª série

168

Figura 177: Rocha 55 da Moinhola.

Figura 179: Rocha 57 da Moinhola.

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS


No campo da direita reconhece-se uma figura antropomórfica de corpo longo e membros rectos (nº 3). Um semicírculo apoia-se sobre os membros superiores. No campo leste identifica-se um antropomorfo deste tipo. Pelo prolongamento do corpo admite-se que seria provido de mais que dois pares de membros (nº 4). Rocha 63 (Fig. 185): Painel horizontal. Identificam-se uma barra vertical (nº 1) e um zoomorfo (nº 2) (Foto 136). Este apresenta um corpo oblongo, cauda, e uma cabeça sub-rectangular. Sobre esta e arrancando do corpo parece definir-se o par de hastes que permitem identificar a Figura como um cervídeo. As patas encontram-se muito juntas e aparecem representadas como simples sulcos quase rectos. Rocha 64 (Fig. 186): Painel horizontal. Identifica-se uma Figura oval picotada. Rocha 65 (Fig. 187): Superfície horizontal. Observa-se um pequeno círculo com um sulco exterior associado, para além de alguns picotados dispersos. Rocha 66 (Fig. 188): Superfície horizontal. No sector superior esquerdo (oeste) observa-se um semicírculo (nº 1). À direita reconhece-se uma figura oval (nº 2). Rocha 67 (Fig. 189): Painel horizontal onde foi picotada uma espiral. Rocha 68 (Fig. 190): Superfície horizontal. Apresenta alguns picotados que não formam qualquer figura e um motivo subtriangular (nº 1). Rocha 69 (Fig. 191): Painel horizontal onde se picotou um báculo.

Figura 180: Rocha 58 da Moinhola.

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

Memórias d’Odiana • 2ª série

169


Figura 181: Rocha 59 da Moinhola.

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Rocha 70 (Fig. 192): Superfície horizontal. Identificam-se, de cima para baixo, os seguintes motivos picotados: uma figura subtriangular (nº 1), uma oval (nº 2) e uma subcircular (nº 3). Rocha 71 (Fig. 193): Painel sub-horizontal orientado para norte. Identifica-se um antropomorfo bastante naturalista (nº 1). Apresenta um corpo sub-rectangular, braços arqueados e pernas rectas. À sua direita vê-se uma barra vertical ligeiramente espessada no topo (nº 2).

Memórias d’Odiana • 2ª série

170

Rocha 72 (Fig. 194): Superfície horizontal. A única figura definível é um círculo picotado. Rocha 73 (Fig. 195 e Foto 137): Painel sub-horizontal orientado para norte. No sector superior direito observam-se oito figuras entre DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

o circular e o oblongo (nºs 1 a 8). As duas últimas destacam-se pelo seu tamanho diminuto. No sector esquerdo observam-se dois sulcos curvos (nºs 21 e 22), podendo o primeiro corresponder a parte de um círculo destruído (nº 21). No sector central identificam-se, no primeiro terço superior, e de cima para baixo: um círculo simples (nº 9), um par de círculos concêntricos (apresentado o exterior um ligeiro estrangulamento) (nº 10) e dois círculos simples (nºs 11 e 12). Em baixo quatro motivos circulares ladeiam o limite esquerdo do painel (nºs 13 a 17). Sob o último observa-se uma barra subvertical (nº 18). O espaço central deste painel é dominado pela composição 15 (Foto 138). Esta é limitada por uma figura subcircular ligeiramente esbatida no canto superior esquerdo (caracte-


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Foto 132: Figura 4 da rocha 60 da Moinhola. 11

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rística que terá sido certamente condicionada pela prévia existência do motivo 13). No interior observam-se seis figuras subcirculares, duas destas concêntricas e uma com ponto central. Esta última encontra-se associada a um motivo sub-rectangular alongado e a uma barra vertical. Abaixo da composição observa-se uma pequena oval (nº 19) e uma grande figura oblonga com um sulco vertical no topo (nº 20). Acima desta observa-se um outro círculo (nº 23).

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Figura 182: Rocha 60 da Moinhola.

Rocha 74 (Fig. 196 e Foto 140): Superfície horizontal. No sector superior direito (oeste) observam-se dois sulcos curvos (nºs 1 e 3) que poderão corresponder a restos de um círculo. Entre estes verifica-se a existência de outro bem mais curto (nº 3). DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

Memórias d’Odiana • 2ª série

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Foto 133: Rocha 61 da Moinhola.

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Foto 134: Rocha 61 da Moinhola. 6

Figura 183: Rocha 61 da Moinhola.

Memórias d’Odiana • 2ª série

172

Foto 135: Motivos 3, 4 e 5 da rocha 61 da Moinhola.

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS


Mais em baixo, à esquerda foi picotada uma barra vertical (nº 4). Avançando para a direita observamos consecutivamente um arco de elipse (nº 5) e dois círculos simples (nºs 6 e 7), o último dos quais com um curto apêndice exterior. Mais em baixo, à esquerda, encontra-se um sulco vertical com um apêndice horizontal para a direita e a base bifurcada (poderá corresponder a restos de um antropomorfo ?) (nº 8). Sob este observa-se uma oval com um apêndice exterior no topo (nº 9). À direita dos dois últimos motivos descritos foi picotado um par de círculos concêntricos (nº 10) (Foto 139). Ainda mais para a direita foi gravado um grande bucrânio (nº 11). Em baixo reconhecem-se uma fossette (nº 12), uma figura subtriangular com

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Figura 185: Rocha 63 da Moinhola.

Foto 136: Zoomorfo da rocha 63 da Moinhola.

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um apêndice exterior na base (nº 13), um círculo (nº 14), uma barra vertical (nº 15) e uma concentração de picotados de contorno sub-rectangular (nº 16).

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Rocha 75 (Fig. 197): Painel horizontal onde se gravou um báculo.

4

Figura 184: Rocha 62 da Moinhola.

Rocha 77 (Fig. 199): Painel sub-horizontal orientado para este onde se reconhecem dois círculos com picotados no interior (Foto 141). DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

173

Memórias d’Odiana • 2ª série

Rocha 76 (Fig. 198): Painel sub-horizontal orientado para sul. Aí picotaram-se uma barra (nº 1) e um círculo (nº 2).


Figura 186: Rocha 64 da Moinhola.

Rocha 78 (Fig. 200 e Foto 142): Superfície sub-horizontal constituída por dois painéis separados entre si cerca de 40 cm. Orientam-se para norte. No situado mais a norte identifica-se um círculo. No outro reconhecem-se doze círculos, dois deles associados (nºs 9 e 10). Saliente-se o picotado mais fino e menos concentrado dos cinco últimos. Para além destes motivos, observa-se no sector norte deste painel uma barra horizontal (nº 14) e no campo compositivo imediatamente abaixo uma concentração de picotados de contorno oval (nº 15). Rocha 79 (Fig. 201): Superfície horizontal dividida em dois painéis separados entre si cerca de 0, 5 m. No situado mais a norte identifica-se um báculo (nº 1). No outro observa-se um círculo (nº 2) que parece conter outro no interior. Um motivo deste tipo distingue-se mais em baixo (nº 3) e outros dois à direita (nºs 4 e 5).

Memórias d’Odiana • 2ª série

174

Rocha 80 (Fig. 202): Neste painel sub-horizontal orientado para sul, para além de alguns picotados dispersos, só se distingue uma figura subtriangular. Rocha 81 (Fig. 203): Painel horizontal. Apenas se reconhece um sulco curvo (nº 1), uma covinha (nº 2) e alguns picotados dispersos. DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

Figura 187: Rocha 65 da Moinhola.


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Figura 188: Rocha 66 da Moinhola.

Rocha 82 (Fig. 204): Painel horizontal onde, entre vários picotados dispersos, se reconhece um círculo. Rocha 83 (Fig. 205): Superfície sub-horizontal constituída por dois painéis separados entre si cerca de 30 cm. No que se situa mais a noroeste apenas foi picotado um círculo (nº 1). No outro (Foto 143), aparecem no sector superior três motivos circulares (nºs 2 a 4),

Figura 190: Rocha 68 da Moinhola.

Figura 189: Rocha 67 da Moinhola.

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

Memórias d’Odiana • 2ª série

175


sendo que o último contém no seu interior um círculo mais pequeno associado a uma figura sub-rectangular, um semicírculo e um báculo (Foto 144). Mais em baixo observa-se uma figura antropomórfica de carácter idoliforme (nº 5) (Foto 145). Apresenta um corpo almendrado com um topo subtriangular cujos prolongamentos exteriores definem os braços; apresenta um pescoço longo e uma cabeça representada por um círculo. Em torno desta composição foram picotados cinco círculos (nºs 6 a 10), tendo o motivo 9 um apêndice exterior. Sob este conjunto aparece outra figura antropomórfica (nº 11); o corpo aparece representado como um par de círculos concêntricos, os braços por dois sulcos horizontais e as pernas por dois verticais (Foto 146). Estas sobrepõem um círculo (nº 12). Para a esquerda do motivo 11 observa-se uma figura ovóide (nº 13). No sector inferior esquerdo foi picotada uma figura sub-rectangular (nº 14) (Foto 147).

Figura 191: Rocha 69 da Moinhola.

1

Rocha 84 (Fig. 206): Painel horizontal onde se observam apenas dois serpentiformes picotados (nºs 1 e 2). 2

Rocha 85 (Fig. 207): Superfície horizontal. Identificam-se alguns picotados dispersos. 3

Rocha 86 (Fig. 208): Superfície horizontal constituída por cinco campos compositivos separados por fracturas naturais. Estes serão desFigura 192: Rocha 70 da Moinhola. Figura 193: Rocha 71 da Moinhola.

Memórias d’Odiana • 2ª série

176

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DESCRIÇÃO DAS ROCHAS


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Figura 194: Rocha 72 da Moinhola.

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critos da esquerda para a direita (de sudoeste para nordeste). No primeiro observa-se uma figura sub-rectangular (nº 1). No segundo foram picotados um semicírculo (nº 2) e um círculo (nº 3). No seguinte observa-se um círculo (nº 4) e em baixo um conjunto de picotados sem forma definível. No campo à direita só se reconhece um círculo (nº 5) e algumas concentrações de picotados incaracterizáveis. Finalmente, no último alguns pontos parecem definir um semicírculo (nº 6). Rocha 87 (Fig. 209): Painel horizontal onde foi picotado um antropomorfo fálico de corpo longo, braços arqueados e pernas curtas em forma de U invertido.

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Rocha 88 (Fig. 210): Superfície horizontal onde se picotaram dois Us concêntricos. Rocha 89 (Fig. 211): Painel horizontal. Em cima reconhece-se uma figura sub-rectangular de cantos arredondados (nº 1) associada a um motivo

Figura 195: Rocha 73 da Moinhola.


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Foto 137: Rocha 73 da Moinhola.

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Foto 138: Composição 15 da rocha 73 da Moinhola.

Figura 196: Rocha 74 da Moinhola.

Memórias d’Odiana • 2ª série

178

oblongo (nº 2). Sob estas vêem-se alinhados verticalmente dois círculos (nºs 3 e 4), uma figura quadrangular (nº 5) e um semicírculo (nº 6).

queadas e uma cauda com a mesma forma. O pescoço é longo e a cabeça pouco definida. Sob esta figura observa-se um pequeno sulco curvo (nº 2).

Rocha 90 (Fig. 212): Ampla superfície horizontal onde apenas se reconhece um pequeno báculo.

Rocha 93 (Fig. 215): Painel horizontal. Observam-se duas concentrações de picotados de contorno sub-rectangular.

Rocha 91 (Fig. 213): Painel horizontal onde se define uma concentração de picotados de contorno genericamente circular.

Rocha 94 (Fig. 216): Painel horizontal onde se reconhece uma concentração de picotados de contorno oval assim como alguns pontos dispersos.

Rocha 92 (Fig. 214): Painel horizontal. Sensivelmente a meio observa-se um zoomorfo (nº 1). Apresenta um corpo circular, quatro patas arDESCRIÇÃO DAS ROCHAS

Rocha 95 (Fig. 217): Painel horizontal onde se picotou um par de círculos concêntricos.


Foto 139: Figura 10 da rocha 74 da Moinhola.

Foto 140: Rocha 74 da Moinhola.

Figura 197: Rocha 75 da Moinhola.

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

Memórias d’Odiana • 2ª série

179


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Figura 198: Rocha 76 da Moinhola.

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Figura 199: Rocha 77 da Moinhola.

Rocha 96 (Fig. 218): Superfície horizontal. Encontra-se uma figura de contorno amendoado com um ligeiro estrangulamento no seu lado norte. Rocha 97 (Fig. 219): Painel horizontal onde se encontra uma concentração de picotados de contorno genericamente oblongo.

Foto 141: Pormenor da área historiada da rocha 77 da Moinhola.

Rocha 98 (Fig. 220): Painel horizontal. Observam-se dois círculos associados entre si (nºs 1 e 2) e duas concentrações de picotados, uma de contorno sub-rectangular (nº 3) e outra de perfil oval (nº 4).

Memórias d’Odiana • 2ª série

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Rocha 99 (Fig. 221): Painel horizontal. À esquerda vê-se uma figura subcircular com um ponto central (nº 1), um círculo simples (nº 2), um sulco curvo (nº 3) e duas fossettes (nºs 4 e 5). No sector direito definem-se dois motivos subcirculares associados entre si (nºs 6 e 7). DESCRIÇÃO DAS ROCHAS


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14 2 4 3

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Foto 142: Rocha 78 da Moinhola. 9 10 11

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Figura 200: Rocha 78 da Moinhola.

Rocha 100 (Fig. 222): Painel horizontal constituído por dois campos compositivos. No situado a noroeste observa-se um grande serpentiforme (nº 1) (Foto 148) e, à sua esquerda, um pequeno círculo (nº 2). No campo da direita reconhece-se também um serpentiforme (nº 3) e um círculo (nº 4). Refira-se, no entanto, que o motivo 3 foi em parte reaproveitado para a execução de um outro motivo subcircular. Rocha 101 (Fig. 223): Painel horizontal. Encontramos, da esquerda para a direita, um pequeno serpentiforme vertical definido por duas linhas picotadas (nº 1), uma forma em U também picotada (nº 2) e um serpentiforme de grande tamanho de igual modo definido por duas linhas (nº 3) (Foto 149). Foi utilizada na sua execução a mesma técnica que nos motivos anteriores. Parte desta gravura foi reaproveitada na gravação de um motivo suboval. DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

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Memórias d’Odiana • 2ª série

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Figura 202: Rocha 80 da Moinhola.

Memórias d’Odiana • 2ª série

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Figura 201: Rocha 79 da Moinhola.

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS


Neste painel identificam-se ainda quatro fossettes (nºs 4 a 7) e vários sulcos filiformes, a maior parte deles formando composições de carácter não figurativo. A excepção trata-se de uma figura zoomórfica efectuada em traço múltiplo com o corpo semiamendoado, as pernas traseiras em V invertido e uma pata traseira ladeada à direita por vários sulcos transversais (nº 8). Rocha 102 (Fig. 224): Painel horizontal. No sector inferior esquerdo observa-se uma barra vertical (nº 1). Em cima, uma linha vertical é prolongada em cima à esquerda por outra horizontal (nº 2). No topo vê-se uma concentração de picotados (nº 3) onde se reconhecem

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Figura 204: Rocha 82 da Moinhola.

Figura 203: Rocha 81 da Moinhola.

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

Memórias d’Odiana • 2ª série

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Foto 143: Sector inferior da rocha 83 da Moinhola. 2

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Foto 144: Composição 4 da rocha 83 da Moinhola. Figura 205: Rocha 83 da Moinhola.


algumas fossettes (nº 3). Um motivo deste tipo encontra-se também à direita (nº 4). Rocha 103 (Fig. 225): Painel horizontal onde se picotou um serpentiforme (nº 1) (Foto 150). Perto do topo deste, em cada um dos seus lados, foi gravada uma covinha (nºs 2 e 3). Rocha 104 (Fig. 226): Painel horizontal. A única figura definível trata-se de um círculo picotado (nº 1). Uma mancha executada com esta técnica foi executada mais em baixo (nº 2). Traços filiformes horizontais e sub-horizontais identificam-se no sector inferior esquerdo (sul).

Foto 146: Motivos 11 a 13 da rocha 83 da Moinhola.

Rocha 105 (Fig. 227): Painel horizontal. Observam-se três figuras subcirculares. Duas encontram-se no sector superior direito (norte) (nºs 1 e 2), apresentando-se a primeira com alguns picotados no interior. A remanescente localiza-se no sector inferior direito (sudeste), observando-se um sulco vertical no interior (nº 3). Rocha 106 (Fig. 228 e Foto 151): Painel horizontal. Ao centro, em cima, observam-se dois sulcos que poderão corresponder a um círculo mutilado (nº 1). Mais em baixo encontra-se um motivo deste tipo interrompido pelo limite direito da superfície (nº 2). Duas figuras do género, praticamente, juntas marcam o limite inferior do campo historiado (nºs 3 e 4) (Foto 152). À direita dos motivos descritos (ao nível do 2) localiza-se um pequeno sulco vertical (nº 5). Rocha 107 (Fig. 229): Painel horizontal onde se encontra uma fossette picotada.

Foto 147: Figura 14 da rocha 83 da Moinhola.

Rocha 108 (Fig. 230): Painel horizontal onde se identifica uma concentração de picotados de contorno oval.

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

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Memórias d’Odiana • 2ª série

Foto 145: Motivos 5 a 10 da rocha 83 da Moinhola.


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Figura 206: Rocha 84 da Moinhola.

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Figura 208: Rocha 86 da Moinhola.

Memórias d’Odiana • 2ª série

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Figura 207: Rocha 85 da Moinhola.

Figura 209: Rocha 87 da Moinhola.

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS


pontos dispersos. Uma figura circular foi também picotada no sector inferior direito do último campo (nº 4). No segundo campo observa-se uma pequena representação filiforme de um veado (nº 5). O corpo é definido por uma linha, as patas são em forma de V invertido e a cabeça subtriangular e seccionada segundo o seu eixo maior (Foto 153). Apresenta também o par de orelhas. No terceiro campo aparece outro cervídeo filiforme (nº 106). É muito semelhante ao anterior. Não apresenta, contudo, orelhas e a cabeça é muito esguia (Foto 154). Rocha 110 (Fig. 232): Painel horizontal. Apresenta uma figura oval com alguns pico-

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Figura 210: Rocha 88 da Moinhola.

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Rocha 109 (Fig. 231): Painel sub-horizontal orientado para sul. É constituído por quatro campos compositivos separados por fracturas naturais. No primeiro foram picotados três círculos (nºs 1 a 3) assim como alguns

Figura 211: Rocha 89 da Moinhola.

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

Memórias d’Odiana • 2ª série

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tados no interior, destacando-se um pelo seu tamanho (nº 1). À direita desta observam-se outros picotados, aparentando alguns destes formar uma pequena covinha (nº 2). Voltemos para montante do moinho. Rocha 111 (Fig. 233): Painel horizontal. Reconhece-se um círculo (nº 1) e alguns picotados dispersos, parecendo alguns corresponder a uma fossette (nº 2). Rocha 112 (Fig. 234): Painel horizontal. Observam-se duas concentrações de picotados: uma no topo, apresentando um contorno circular (nº 1) e outra no sector inferior de perfil ovóide (nº 2).

Figura 212: Rocha 90 da Moinhola.

Rocha 113 (Fig. 235): Painel horizontal constituído por quatro campos compositivos. No primeiro (situado mais a oeste) observa-se um grande círculo (nº 1). No segundo apenas se reconhece uma covinha (nº 2) e uma concentração de picotados de difícil caracterização (nº 3). No seguinte reconhece-se um grande sulco subvertical (nº 4) e um antropomorfo (nº 5). Este apresenta os braços rectos e as pernas em V invertido. A direita, no entanto, encon-

Figura 213: Rocha 91 da Moinhola.

Memórias d’Odiana • 2ª série

188

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS


Rocha 114 (Fig. 236): Painel horizontal onde, em baixo ao centro, se picotou um círculo. Rocha 115 (Fig. 237): Nesta rocha localizam-se vários painéis verticais orientados para este. Correspondem estes a superfícies individualizadas devido a processos que têm que ver com a laminação da rocha. Destes painéis, oito encontram-se historiados.

Figura 214: Rocha 92 da Moinhola.

tra-se ligeiramente flectida, o que proporciona um grande dinamismo à figura (nº 5). No último campo observam-se uma linha quebrada (nº 6), uma concentração de picotados de contorno oval (nº 7) e uma outra de perfil subcircular (nº 8).

Figura 215: Rocha 93 da Moinhola.

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

Memórias d’Odiana • 2ª série

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Figura 216: Rocha 94 da Moinhola.

Memórias d’Odiana • 2ª série

190

Painel A: Situa-se no canto inferior esquerdo. Observa-se apenas um sulco curvo picotado (nº 1). Painel B: Localiza-se à direita do anterior. Aqui só se picotou um círculo. Painel C: É separado do anterior por vários painéis não historiados. Trata-se de uma grande superfície. Contudo, apenas se observa um semicírculo picotado no sector inferior (nº 3). Painel D: Situa-se à direita do anterior, em cima. Para além de alguns picotados dispersos observam-se três figuras de contorno elíptico (nºs 4 a 6), duas destas associadas. Painel E: Situa-se sob o anteriormente descrito. Em baixo, da esquerda para a direita, DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

Figura 217: Rocha 95 da Moinhola.


Figura 218: Rocha 96 da Moinhola.

Figura 219: Rocha 97 da Moinhola.

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Figura 220: Rocha 98 da Moinhola.

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

Memórias d’Odiana • 2ª série

observam-se: um círculo (nº 7), um U invertido (nº 8) e um semicírculo com alguns picotados no interior (nº 9). Sobre a Figura 8 observa-se outro círculo (nº 9). À direita deste foi picotado um sulco horizontal (nº 11). Painel F: Encontra-se à direita do anterior. Trata-se da mais historiada das superfícies. No limite esquerdo encontra-se um grande círculo (nº 20). À direita deste observa-se uma grande figura ovóide (nº 22) separada da anterior por uma fiada de quatro pequenos círculos (nºs 21 e 23 a 25). Outro motivo semelhante prolonga

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Figura 221: Rocha 99 da Moinhola.

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Memórias d’Odiana • 2ª série

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pela direita aquela fiada (nº 26). Sensivelmente ao centro do painel encontra-se um grande motivo subovóide (nº 31). Este apresenta no interior uma pequena oval e é ladeado pela esquerda e em baixo por quatro círculos (nºs 27 a 30). Por cima e à direita da grande figura central observam-se vários sulcos soltos (nºs 32 a 37). À direita destes foi picotado um círculo provido de três apêndices exteriores (nº 38). Uma fractura natural separa os motivos anteriores de duas grandes figuras subovaladas situadas junto do limite direito do painel. A primeira destas apresenta no interior um U invertido (nº 39) e a segunda uma oval (nº 40). Painel G: Situa-se acima do anterior. ObDESCRIÇÃO DAS ROCHAS

servam-se duas figuras ovóides associadas entre si (nºs 12 e 13). A primeira tem uma covinha ao centro e a segunda alguns picotados dispersos. Painel H: Localiza-se à direita do referido previamente e também por cima do F. Identificam-se três figuras circulares associadas entre si (nºs 14 a 16), sendo as duas primeiras maiores e melhor definidas. Painel I: Sobre o painel F e à direita do anterior. Encontram-se dois círculos (nºs 17 e 18) e um par de covinhas (nºs 19). Rocha 116 (Fig. 238): Painel horizontal constituído por três campos compositivos separados por fracturas naturais. No situado mais a


oeste observa-se um círculo (nº 1). No sector inferior direito do campo situado a este observa-se uma figura suboval (nº 2) associada a um círculo (nº 3), motivo que se repete de forma mais diluída no campo a norte (nº 4). Rocha 117 (Fig. 239): Painel horizontal onde se observam três fossettes (nºs 1 a 3) que após picotadas foram alvo de abrasão. Rocha 118 (Fig. 240): Painel horizontal onde se verifica a existência de um antropomorfo fálico de membros arqueados.

3. 15. MOINHO DA VOLTA

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4

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1

Figura 222: Rocha 100 da Moinhola.

Rocha 1: A rocha encontra-se subdividida em dois painéis sub-horizontais orientados para este. No primeiro identificam-se picotaDESCRIÇÃO DAS ROCHAS

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Memórias d’Odiana • 2ª série

Foto 148: Figura 1 da rocha 100 da Moinhola.

Localiza-se a 2,125 km para sudeste da Moinhola. Administrativamente pertence à freguesia de Capelins, concelho do Alandroal, distrito de Évora. De acordo com a folha 474 da Carta Militar de Portugal, escala 1: 25 000 encontra-se nas seguintes coordenadas geográficas: 38º 28’ 56,53’’ N 07º 18’ 04,40’’ O, altitude de 112 m. A jusante da Moinhola o rio inflecte para sul, em seguida para oeste, posteriormente para norte, retomando então a direcção sul. Neste último ponto situa-se a estação em causa (Figs. 2 e 241). Corresponde a uma zona de suave declive onde na margem afloram bancadas de xisto de idade devónica (Perdigão e Assunção, 1971, 7-8) que oferecem ao sítio um ar quase lunar. Estas bancadas prolongam-se pelo leito do rio. A vegetação é de montado, pontuando aqui e ali, em particular junto às rochas, o coberto hidrófilo. Situa-se este sítio em frente à estação extremenha de Manzanares.


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Figura 223: Rocha 101 da Moinhola.

dos no sector inferior esquerdo um círculo (nº 1) e alguns pontos dispersos (nº 2) (Fig. 242). No segundo painel observam-se dois círculos picotados. Rocha 2 (Fig. 243): Painel horizontal. Junto ao limite inferior, sensivelmente a meio da superfície, identificam-se dois semicírculos concêntricos (nº 1). À direita observa-se uma concentração de picotados de forma indefinida (nº 2). Rocha 3 (Fig. 244): Painel sub-horizontal orientado para norte onde apenas foi picotado um círculo.

3. 16. MALHADA DAS TALISCAS Foto 149: Figura 3 da rocha 101 da Moinhola.

Memórias d’Odiana • 2ª série

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DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

Situa-se a 12,5 km para jusante do conjunto de rochas referido atrás. Situa-se na freguesia de Capelins, concelho de Alandroal, distrito de Évora. Segundo a Carta Militar de Portugal, folha 474, encontra-se nas seguintes coordenadas Greenwich: 38º 28’ 07,76’’ N 07º 17’ 50,25’’ O, altitude de 112 m (Figs. 2 e 245). Desenvolve-se ao longo de um quilómetro. Trata-se de uma zona ampla e relativamente plana


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1 3 2

Figura 224: Rocha 102 da Moinhola.

onde os xistos devónicos afloram em cristas que dificultam a mobilidade. Apenas junto ao rio se observam algumas bancadas horizontais. A vegetação é, predominantemente, de pequeno e médio porte. O coberto arbóreo é mais esparso. Figura 225: Rocha 103 da Moinhola.

círculo simples (nº 8). Para além deste, apenas se vislumbram picotados mais ou menos dispersos e sulcos soltos, assim como um conjunto de traços filiformes que não definem qualquer forma (nº 14). A meio do painel, junto ao limite superior do mesmo, observa-se uma figura zoomórfica de corpo subtriangular alongado, patas traseiras em arco de círculo e dianteiras definidas por DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

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Memórias d’Odiana • 2ª série

Rocha 1: A rocha subdivide-se em quatro painéis sub-horizontais. Situa-se muito perto do rio. Painel A (Fig. 246): Longo painel muito ondulado. Junto ao seu limite esquerdo (lado noroeste) encontramos, de cima para baixo, dois círculos simples (nºs 1 e 3), dois círculos concêntricos (nº 2), um círculo simples (nº 4), uma figura oblonga aberta em baixo (nº 5) (Foto 155), um círculo simples (nº 6) e um último já perto do canto inferior esquerdo (nº 7). Para a direita da concentração de motivos situados entre 1 e 5 a única figura definível é um


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Foto 150: Figura 1 da rocha 103 da Moinhola.

Memórias d’Odiana • 2ª sÊrie

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dois traços transversais. O pescoço Ê alongado e parece verificar-se a existência de um corno (nº 9) (Fotos 156 e 157). Para a direita localiza-se um båculo (nº 10). Mais abaixo situa-se uma cabra1 (nº 11) (Foto 156 e 158) cujo corpo e patas o aproximam do motivo 9. O pescoço Ê mais curto e a cabeça triangular. As hastes ligam-se no topo, confundindo-se assim com um círculo. A cauda aparece figurada. Este animal encontra-se numa posição invertida em relação ao anteriormente descrito. Para a sua direita encontramos uma barra vertical (nº 12). Junto ao limite inferior do painel foi picotado um sulco sub-horizontal (nº 13).

Paralelos com algumas rochas do vale do Tejo podem OHYDU QRV D FRQVLGHUDU WDO ÀJXUD FRPR XP YHDGR &RQWXGR no caso presente não se observam quaisquer hastes que nos permitam uma inferência precisa.

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DESCRIĂ‡ĂƒO DAS ROCHAS

Figura 226: Rocha 104 da Moinhola.


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Figura 227: Rocha 105 da Moinhola.

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Figura 228: Rocha 106 da Moinhola.

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

Memórias d’Odiana • 2ª série

Painel B (Fig. 247): Neste painel, para além de vários picotados dispersos, apenas se observam três círculos (nºs 1 a 3). Painel C (Fig. 248 e Foto 159): Na superfície em questão identifica-se uma grande figura genericamente circular mutilada no topo pelo limite do painel e aberta no canto inferior di-


Memórias d’Odiana • 2ª série

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Foto 151: Rocha 106 da Moinhola.

Foto 152: Motivos 3 e 4 da rocha 106 da Moinhola.

reito (nº 1). No seu interior foi gravada uma covinha. Mais abaixo encontra-se uma figura zoomórfica de corpo almendrado e patas em arco de círculo (nº 2) (Foto 160). Da parte da cabeça apenas resta vestígios de um corno, elemento este que nos permite inferir estarmos frente a um capríneo. A cauda aparece também figurada. Para além destes motivos foram gravados apenas picotados dispersos. Painel D (Fig. 249): Aqui apenas se vislumbram três sulcos que parecem relacionar-se entre si. Não é suficiente, contudo, para possibilitar a identificação do motivo.

3. 17. RONCANITO

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

Localiza-se a 750 m para jusante de Taliscas. Administrativamente, situa-se na freguesia de Capelins, concelho de Alandroal, distrito de Évora. Trata-se de uma das zonas onde o rio corre mais apertado (Figs. 2 e 245). Os xistos afloram tanto em forma de amplas bancadas horizontais como em cristas de altitude considerável, sobretudo a partir do núcleo 3 onde aquelas se observam já no leito do rio. O substrato geológico de Roncanito I é de idade devónica, enquanto os xistos dos dois restantes


sectores são de cronologia silúrica (Perdigão e Assunção, 1971, 7-9). A paisagem é a típica do montado, observando-se alguns arbustos junto às rochas. Identificam-se três sectores.

Figura 230: Rocha 108 da Moinhola.

3. 17. 1. Roncanito I O sítio encontra-se cartografado na Carta Militar de Portugal, escala 1: 25 000, folha 474, nas seguintes coordenadas Greenwich: 38º 27’ 54,29’’ N 07º 18’ 01,36’’ O, variando a altitude entre os 112 e os 114 m (Figs. 2 e 245).

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

Memórias d’Odiana • 2ª série

Figura 229: Rocha 107 da Moinhola.

Rocha 1 (Fig. 250): Trata-se de um grande painel sub-horizontal orientado para leste. Para além de vários picotados dispersos e alguns traços filiformes identificam-se três concentrações de picotados. De cima para baixo: uma de con-

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Figura 231: Rocha 109 da Moinhola.

torno genericamente elíptico (nº 1), uma circular (nº 2) e outra de difícil caracterização (nº 3). Rocha 2 (Fig. 251): Painel horizontal onde apenas se identificam alguns picotados dispersos.

Foto 153: Cervídeo 5 da rocha 109 da Moinhola.

Rocha 3 (Fig. 252): Painel horizontal. Neste painel só se identificaram traços filiformes que na sua maioria são de carácter não figurativo. A excepção é um esteliforme situado no extremo direito da superfície historiada. Rocha 4 (Fig. 253): Painel horizontal. Identificam-se motivos filiformes, na sua maioria de carácter não figurativo, assim como alguns picotados dispersos no sector inferior do pai-

Foto 154: Cervídeo 6 da rocha 109 da Moinhola.


Figura 232: Rocha 110 da Moinhola.

quebrada. Um sulco sub-horizontal arranca pela direita junto ao topo da figura sub-rectangular. Rocha 7 (Fig. 256): Painel horizontal onde se identifica uma concentração de picotados de forma genericamente ovóide.

1

Figura 233: Rocha 111 da Moinhola.

nel. Entre as gravuras definíveis contam-se uma “rosa dos ventos” (nº 1) e uma figura oblonga de base recta e topo individualizado (nº 2). Rocha 5 (Fig. 254): Painel horizontal. Para além de alguns picotados dispersos, observa-se apenas um círculo situado no sector direito do painel (nº 1). Rocha 6 (Fig. 255): Painel horizontal. Composição picotada estruturada em torno de uma figura sub-rectangular alongada com a terminação superior em forma de cunha. Esta assenta sobre um sulco horizontal. A partir do ângulo superior esquerdo desenvolve-se uma linha

Rocha 8 (Fig. 257): Painel horizontal. No sector superior encontram-se alguns picotados dispersos (nº 8). Em baixo, à esquerda, observam-se dois serpentiformes (nºs 1 e 2). Cada um destes é definido por duas fiadas de picotados muito ténues. No sector direito foram também gravados, com picotados do mesmo tipo, outros três serpentiformes, dois deles muito pequenos (nºs 4 e 6), e um mais longo e rematado por um pequeno sulco horizontal (nº 3). À direita do motivo 5 encontra-se um círculo (nº 5), e adossado ao serpentiforme 6 uma linha vertical (nº 7).

3. 17. 2. Roncanito II Situa-se a jusante do núcleo anterior, localizando-se na mesma folha da Carta Militar de Portugal (Figs. 2 e 245). As coordenadas geográficas são as seguintes: 38º 27’ 42,01’’ N 07º 18’ 35,86’’ O. A altitude varia entre os 109 e os 111 m. Rocha 1 (Fig. 258 e Foto 161): Superfície sub-horizontal orientada para oeste. Identificam-se no centro do painel duas interessantes figuras de características antropomórficas. A do DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

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Memórias d’Odiana • 2ª série

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Figura 235: Rocha 113 da Moinhola.

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Figura 234: Rocha 112 da Moinhola. Figura 236: Rocha 114 da Moinhola.


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16 4

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B

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Figura 237: Rocha 115 da Moinhola.

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Figura 238: Rocha 116 da Moinhola.

lado esquerdo (nº 1) (Foto 162) ocupa praticamente toda a altura do campo historiado. Apresenta um corpo em forma de machado na base do qual nasce um sulco vertical interrompido pelo limite do painel. Ainda na base surgem, um sulco horizontal para a direita e dois pequenos apêndices para a esquerda. No interior do corpo foi gravada uma figura que parece simular aquele. Neste caso, contudo, o “machado” encontra-

Figura 239: Rocha 117 da Moinhola.

39


-se invertido e tem dois sulcos verticais na base, um maior que outro. A cabeça é definida por um círculo. Os braços são definidos por duas linhas horizontais inflectindo o da esquerda para cima e o da direita para baixo. O antropomorfo da direita é sensivelmente mais pequeno (nº 2). O corpo é sub-rectangular com os cantos superiores arredondados, a cabeça é definida por um círculo, os braços encontram-se junto à base e são muito curtos. O falo encontra-se representado, a perna esquerda termina no braço direito do outro antropomorfo e a direita junto da base daquele. No painel encontram-se ainda uma “covinha” (nº 3), um pequeno sulco vertical junto ao limite inferior do painel (nº 4) e alguns picotados dispersos.

Memórias d’Odiana • 2ª série

204

Figura 240: Rocha 118 da Moinhola.

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

Rocha 2 (Fig. 259 e Foto 163): Trata-se de um painel sub-horizontal orientado para sul. Encontra-se dividido em dois campos por uma fractura natural. No da esquerda encontramos um antropomorfo (nº 1) do mesmo tipo dos descritos atrás: corpo em forma de machado, cabeça definida por um círculo e pernas rectas. Apenas o braço esquerdo está figurado. Em cima à direita parece esboçar-se um círculo (nº 2). Em baixo uma mancha de contorno indefinido (nº 3) e outra circular (nº 4) completam o repertório caracterizável do campo. Para além destes vêem-se dispersos pelo painel diversos picotados dispersos. No campo da direita, ao centro, observa-se uma outra figura antropomórfica de características semelhantes às anteriores (nº 5) (Foto 164). Apresenta um corpo ovóide e uma cabeça oblonga. As pernas são representadas por curtos sulcos verticais. Da mão esquerda reconhecem-se três dos dedos. Imediatamente acima deste motivo vê-se um círculo (nº 6), motivo que se repete perto do limite superior da rocha (nº 7). Para além destes identificam-se vários picotados dispersos.


Figura 241: Carta de pormenor da localização das rochas da estação de Moinho da Volta.

Figura 242: Painel A da rocha 1 de Moinho da Volta.

1

2

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

Memórias d’Odiana • 2ª série

205


Rocha 5 (Fig. 262): Painel horizontal onde se picotou um círculo. 2

3. 17. 3. Roncanito III

1

Figura 243: Rocha 2 de Moinho da Volta.

Situa-se para jusante do núcleo anterior, praticamente no leito do rio, encontrando-se cartografado na mesma folha da Carta Militar de Portugal (Figs. 2 e 245). Ocupa as seguintes coordenadas geográficas: 38º 27’ 12,41’’ N 07º 18’ 42,50’’ O. A altitude é de 122 m. Rocha 1 (Fig. 263): Situa-se para jusante da anterior. Pequena superfície horizontal situada num afloramento que se destaca pela sua altura e difícil acesso; situa-se já no leito do rio. Observa-se aí uma figura sub-rectangular. No seu interior encontramos uma figura serpentiforme que pela forma do seu remate superior poderá corresponder a um verdadeiro ofídeo. À direita deste e ainda no interior do rectângulo encontramos uma linha genericamente paralela ao eixo maior daquele. No espaço definido pelo lado esquerdo do rectângulo e pela linha referida atrás foi inciso um ziguezague. É exclusiva a utilização da incisão.

3.18. MALHADA DOS GAGOS

Figura 244: Rocha 3 de Moinho da Volta.

Memórias d’Odiana • 2ª série

206

Rocha 3 (Fig. 260): Neste painel horizontal apenas foi picotado um círculo. Rocha 4 (Fig. 261): Painel subvertical orientado para sul. Apenas foi picotado um motivo espiraliforme.

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

Situa-se a 10 km para sudeste da estação anterior, já na freguesia de Monsaraz, concelho de Reguengos de Monsaraz, distrito de Évora, para jusante da ponte de Mourão (Figs. 2 e 264). Trata-se de uma estação em que o substrato corresponde a corneanas “geralmente pelíticas ou quartzo feldspáticas com cordierite, andaluzite e silimanite” (Perdigão, 1980, 15). Os afloramentos e blocos são de tamanho variável, destacando-se, no entanto, os de grande


Figura 245: Dispersão das rochas historiadas pelas estações de Malhada das Taliscas e Roncanito.

tamanho. As formas são boleadas, facto que se explica pelo intenso polimento a que foram sujeitas pela passagem do rio. Esta situação aliada à própria natureza do suporte explica o picotado fino e pouco profundo existente nesta estação. A vegetação caracteriza-se essencialmente

pela presença de arbustivas de pequeno e médio porte assim como algumas arbóreas (Foto 165). Rocha 1 (Fig. 265): Neste caso encontramo-nos frente a um painel vertical orientado para oeste. Foram gravados quatro antropomor-

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

Memórias d’Odiana • 2ª série

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1

14

3

2

10 8

4

9 12

5 11 6

13 7

Figura 246: Painel A da rocha 1 de Malhada das Taliscas.

Foto 155: Motivos 1 a 5 do painel A da rocha 1 da Malhada das Taliscas.

Foto 157: Zoomorfo 9 do painel acima referido.

Memórias d’Odiana • 2ª série

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Foto 156: Zoomorfos do painel A da Malhada das Taliscas.

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

Foto 158: Zoomorfo 11 do painel acima referido.


2

1 3

Foto 159: Painel C da rocha 1 da Malhada das Taliscas.

Foto 160: Zoomorfo do painel acima referido. Figura 247: Painel B da rocha 1 de Malhada das Taliscas.

Figura 248: Painel C da rocha 1 de Malhada das Taliscas.

Rocha 2 (Fig. 266): Painel vertical orientado para sul. Observa-se uma concentração de DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

209

Memórias d’Odiana • 2ª série

fos (Foto 166). O da esquerda é acéfalo, tem um corpo extremamente alongado e membros arqueados. À sua direita localiza-se um outro, fálico, com três pares de membros arqueados e cabeça individualizada (nº 2) (Foto 167). Os membros superiores são raiados. Ao lado foi gravada outra Figura fálica com os membros em arco de círculo (nº 3). Sobre esta, encontra-se o último motivo, também fálico, com os braços em forma de V invertido e pernas definidas por um quadrado aberto em baixo. Para além destas figuras observam-se ainda vários picotados dispersos.


1

2

Figura 249: Painel D da rocha 1 de Malhada das Taliscas.

picotados bastante alongada mas de difícil caracterização, para além de outros pontos mais dispersos.

Memórias d’Odiana • 2ª série

210

Rocha 3 (Fig. 267): Nesta rocha individualizam-se dois painéis subverticais que se opõem. No maior, orientado para este, identificam-se quatro antropomorfos. O primeiro situa-se perto do topo. Trata-se de uma figura fálica, acéfala de membros arqueados (nº 1). Mais abaixo localiza-se um par destes motivos. O da esquerda é acéfalo, tem dois pares de membros arqueados e pernas em V invertido (nº 2). O outro encontra-se um pouco mais esbatido. É possível, no entanto, a definição dos membros superiores em arco e das pernas em V invertido (nº 3). Junto do limite direito do painel foi gravado o último antropomorfo. Este apresenta a cabeça individualizada e membros em arco (nº 4). DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

3

Figura 250: Rocha 1 do sector I de Roncanito.


O outro painel orienta-se para oeste. Junto do limite esquerdo encontra-se um antropomorfo fálico, com braços em V invertido e pernas em arco de círculo (nº 5). Um círculo define a cabeça. Entre esta Figura e o limite do painel observa-se ainda um pequeno motivo sub-rectangular. Rocha 4 (Fig. 268): Painel vertical virado para este. Uma fractura divide-o em dois campos compositivos. No de cima identifica-se um antropomorfo acéfalo com três pares de membros em arco de círculo (nº 1). À sua direita encontra-se um motivo do mesmo tipo, se bem que com apenas dois pares de membros e gravado numa posição invertida (nº 2). À esquerda da Figura 1 reconhece-se os restos de um antropomorfo do género dos descritos atrás (nº 3). A Figura 2 liga-se através de linhas tanto ao motivo 1 como ao 3. Para além destes motivos, observa-se ainda uma linha curva no canto superior esquerdo (nº 4). No campo inferior, um conjunto de picotados parece definir um outro antropomorfo (nº 5). Rocha 5 (Fig. 269): Painel sub-horizontal orientado para este. O picotado presente é muito

Figura 251: Rocha 2 do sector I de Roncanito.

Figura 252: Rocha 3 do sector I de Roncanito.

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

Memórias d’Odiana • 2ª série

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1

2

Figura 254: Rocha 5 do sector I de Roncanito.

Figura 253: Rocha 4 do sector I de Roncanito.

Memórias d’Odiana • 2ª série

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DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

fino e gasto, razão pela qual as figuras se definem tão mal. De qualquer modo, no sector superior direito (noroeste) distinguem-se dois antropomorfos orientados em direcções diferentes (nºs 1 e 2). Mais para a direita, a meia altura do painel, distinguem-se outras cinco figuras deste tipo (nºs 3 a 7). Apresentam diferentes características: uns com pernas arqueadas (nºs 2 a 4), outros com pernas em V invertido (nºs 1, 5 e 7); uns são acéfalos (nºs 2,3 e eventualmente 7), apresentando os restantes uma cabeça definida. Para além destes motivos, observam-se várias concentrações de picotados dispersos pelo painel, podendo alguns deles corresponder também a figurações humanas como é o caso da mancha 8.


Figura 255: Rocha 6 do sector I de Roncanito.

Figura 256: Rocha 7 do sector I de Roncanito.

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

Memórias d’Odiana • 2ª série

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8

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Foto 161: Rocha 1 de Roncanito II.

2 3

5

4 6

7

Figura 257: Rocha 8 do sector I de Roncanito.

Foto 162: Figura 1 da rocha 1 de Roncanito II.

Memórias d’Odiana • 2ª série

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Figura 258: Rocha 1 do sector II de Roncanito.

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

Rocha 6 (Fig. 270): Neste painel vertical orientado para sul observam-se apenas duas figurações: uma no sector superior esquerdo que parece definir uma forma sub-rectangular disposta na horizontal (nº 1) e uma outra no sector superior oposto cuja forma é de difícil caracterização (nº 2).


7

2

1 6

5

Figura 260: Rocha 3 do sector II de Roncanito. 3 4

Figura 259: Rocha 2 do sector II de Roncanito.

Foto 163: Rocha 2 de Roncanito II.

Figura 261: Rocha 4 do sector II de Roncanito.

Foto 164: Figura 5 da rocha 2 de Roncanito II.

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

Memórias d’Odiana • 2ª série

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Figura 262: Rocha 5 do sector II de Roncanito.

Memórias d’Odiana • 2ª série

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Rocha 7 (Fig. 271): Painel vertical orientado para este. No sector inferior direito localizam-se um conjunto de três figuras antropomórficas que parecem em conexão. Uma primeira tem os braços arqueados e não tem pernas (nº 1). Apresenta, no entanto, uma protuberância para a direita que, com algumas reservas, poderemos interpretar como um falo visto em perfil. À direita desta situa-se uma outra acéfala, fálica e com três pares de membros arqueados (nº 2). Entre os dois primeiros membros foi gravado um pequeno apêndice. A última figura encontra-se deitada; apresenta os membros inferiores em V invertido e os braços em posição de orante (nº 3). Um pequeno sulco perpendicular ao corpo foi gravado a meio deste. Para a direita deste conjunto foi gravado

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

um antropomorfo em ĭ (nº 4). No sector inferior esquerdo encontra-se uma figura genericamente semicircular (nº 5). Identificam-se ainda dois pequenos conjuntos de picotados concentrados (nºs 6 e 7). Rocha 8 (Fig. 272): Painel vertical orientado para oeste. As fracturas mais relevantes dividem-no em quatro campos compositivos. No superior esquerdo identifica-se uma figura zoomórfica em posição invertida. Apresenta um corpo elíptico, dois membros e o que parecem ser as representações das orelhas (nº1). No campo abaixo distinguem-se uma figura semicircular ( nº 2) e um antropomorfo acéfalo de membros arqueados (nº 3). No campo superior direito observa-se


uma figura humana acéfala de braços arqueados e pernas em V invertido (nº 4). Bastante à direita distingue-se um pequeno sulco sub-horizontal. No campo abaixo, no seu sector inferior direito situam-se duas figuras antropomórficas. A da esquerda tem um corpo desenvolvido, os braços em posição de orante e os dois pares de membros restantes arqueados (nº 6). A da direita tem os três pares de membros arqueados e é oculada (nº 7). Esta última parece apoiar-se numa figura zoomórfica de tipo pectiniforme (nº 8). Rocha 9 (Fig. 273): Pequeno painel sub-horizontal orientado para oeste. Identificam-se duas figuras antropomórficas dispostas uma sobre a outra. A de cima é de dimensões mais modestas. Apresenta uma cabeça praticamente imperceptível, braços semi-rectos e pernas arqueadas (nº 1). A figura de baixo é de maior tamanho. A cabeça e o pescoço encontram-se bem individualizados e os membros são em arco de círculo (nº 2). Entre as pernas foram gravados dois sulcos: um mais pequeno que pela sua posição poderá corresponder ao falo e outro de mais difícil interpretação.

3. 19. POÇO DE ALCARIA

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

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Memórias d’Odiana • 2ª série

Figura 263: Rocha 1 do sector III de Roncanito.

Localiza-se na margem direita do Guadiana junto do caminho que da Herdade das Devesinhas segue para o rio. Pertence à freguesia de Monsaraz, concelho de Reguengos de Monsaraz, distrito de Évora. Encontra-se cartografado na folha 482 da Carta Militar de Portugal, escala 1: 25 000 ocorrendo nas seguintes coordenadas Greenwich: 38º 22’ 05,48’’ N 07º 26’ 20,42’’ O, altitude de 150 m (Figs. 2 e 274). Corresponde a uma laje integrada num poço construído em zona alagadiça


Figura 264: Distribuição das rochas de Malhada dos Gagos.

Figura 265: Rocha 1 de Malhada de Gagos.

Memórias d’Odiana • 2ª série

218

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS


Foto 165: Sítio da Malhada dos Gagos visto de sul.

Foto 167: Antropomorfo 2 da rocha 1 de Malhada dos Gagos.

Foto 166: Antropomorfos da rocha 1 de Malhada dos Gagos.

Rocha 1 (Fig. 275): Trata-se de uma laje de xisto cinzento-escura integrada num poço onde se encontram incisos uma série de motivos de cronologia contemporânea. Observam-se automóveis (nºs 1 e 2), um barco (nº 3), vários canivetes, um destes fechado (nºs 4 a 8), um esteliforme (nº 9), uma cruz grega seccionada

(nº 10), uma figura cruciforme de braços encurvados (nº 11), dois falos, um deles em associação com uma vulva e em acto de ejaculação (nºs 12 e 13), um símbolo do Benfica (nº 13) e um outro do PCP (nº 14). Observa-se ainda a face de um diabo ou de um palhaço (nº 15) e a possível representação de uma narrativa relacionada com o Banco de Portugal e uma quantia de 5000$ (nº 16). Para além das figuras referidas verifica-se também a existência de datas, nomes e outras inscrições.

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

219

Memórias d’Odiana • 2ª série

onde a vegetação se caracteriza pela densa presença de herbáceas e pela pontual ocorrência de quercus.


3. 20. PORTO PORTEL Localiza-se a 2,750 km para jusante de Malhada dos Gagos, pertencendo à freguesia de Campinho, concelho de Reguengos de Monsaraz, distrito de Évora. Na folha 483 da Carta Militar de Portugal, escala 1: 25 000 encontra-se cartografada nas seguintes coordenadas geográficas: 38º 21’ 52,79’’ N 07º 23’ 51,99’’ O. A altitude é de 125 m (Figs. 2 e 276). Situa-se na margem direita do Guadiana numa zona onde o rio inflecte para oeste. Corresponde a uma zona de acentuado declive e cortada por várias linhas de água que promovem uma certa ondulação da topografia. O substrato geológico corresponde a xistos de cronologia silúrica (Perdigão, 1980, 15). A vegetação caracteriza-se pela densa presença de arbustivas e um ou outro quercus.

Figura 266: Rocha 2 de Malhada de Gagos.

Memórias d’Odiana • 2ª série

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DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

Rocha 1 (Fig. 277 e Foto 168): Trata-se de um painel vertical situado sob uma pequena pala localizada perto do limite superior da encosta que ladeia pela direita o vale do Guadiana nesta zona. Orienta-se para sul (na direcção do rio). Na sua maioria apenas se encontram traços filiformes de carácter não figurativo, tais como barras verticais ou reticulados. No entanto, o painel é dominado pela figuração de um veado situado sensivelmente ao centro do mesmo e virado para a direita, representado em perfil absoluto. A técnica utilizada na sua gravação é a mesma referida atrás. Apenas a metade dianteira do animal está figurada; a cabeça (Foto 169) é passível de ser descrita da seguinte maneira: a linha fronto-nasal é arredondada na zona da fronte tornando-se tendencialmente recta até ao focinho que é também arredondado; o queixo é recto e a ganacha convexa; apenas se observa uma haste, reconhecendo-se o estoque, o


5

1

4

2

3

Figura 267: Rocha 3 de Malhada de Gagos.

1 4 2 3

5

Figura 268: Rocha 4 de Malhada de Gagos.

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

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7 6

8

Figura 269: Rocha 5 de Malhada de Gagos.

Figura 270: Rocha 6 de Malhada de Gagos.

2

1

Memórias d’Odiana • 2ª série

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DESCRIÇÃO DAS ROCHAS


Figura 271: Rocha 7 de Malhada de Gagos.

4 7

1 3

6

2

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4

5

3 2

6

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DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

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Figura 272: Rocha 8 de Malhada de Gagos.


1

2

contraestoque, a ponta intermédia e uma coroa de três pontas; apenas o tronco e duas pontas da coroa são definidos perimetralmente; atrás da haste observa-se uma orelha de tendência foliforme; o pescoço é longo e a passagem deste para o dorso é nítidamente marcada por uma inflexão; o dorso não se encontra completo, apresentando uma tendência côncava; a passagem do pescoço para o peito é marcada por uma ligeira quebra; este último é recto e encontra-se interrompido em zona de fracturas; a pata dianteira encontra-se projectada para a frente em forma de arco; a passagem desta para o ventre é triangular; este último não se encontra completo e apresenta-se pronunciadamente curvo. Atrás da figuração que temos vindo a descrever encontra-se um conjunto de traços que parece corresponder aos quartos traseiros de um animal virado para a direita; por hipótese, podemos admitir que pertence ao veado que temos vindo a descrever; apenas se observa uma pata recta, definida por duas linhas paralelas, e a zona da garupa arredondada.

3. 21. MOINHO DO LURICO

Memórias d’Odiana • 2ª série

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Figura 273: Rocha 9 de Malhada de Gagos.

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

Pertence à freguesia da Granja, concelho de Mourão, distrito de Évora. Situa-se na margem direita da ribeira de Guadalim (subsidiária da ribeira de Alcarrache). Encontra-se na folha 483 da Carta Militar de Portugal, escala 1: 25 000 nas seguintes coordenadas Greenwich: 38º 19’ 27,17’’ N 07º 15’ 26,59’’ O, altitude de 130 m (Fig. 278). Corresponde a uma zona de bancadas xistosas de cronologia devónica (Perdigão, 1980, 10-11) situadas no sopé de uma vertente de declive acentuado. Predomina a vegetação rasteira e arbustiva.


Figura 274: Localização do Poço de Alcaria na folha 482 da Carta Militar de Portugal, escala 1: 25 000.

13 17 12

3 18

8

9 6 7 10

4

2 11

5 15 1

16

Figura 275: Laje do Poço de Alcaria.

1 e 6), uma semelhante mas seccionada com linhas paralelas aos lados menores (nº 3) e duas vazias (nºs 4 e 5). Observa-se ainda um círculo com uma cruz no interior e motivos genericamente sub-rectangulares em três dos sectores (nº 2), uma tesoura estilizada (nº 7) (Foto 170) e uma figura triangular seccionada vertical-

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

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Memórias d’Odiana • 2ª série

Rocha 1 (Fig. 279): Encontra-se junto da nova ponte de Mourão. Trata-se de um painel horizontal onde se identificam várias figurações filiformes. Entre as passíveis de descrição contam-se vários motivos sub-rectangulares, duas destas com um X inscrito e seccionadas com linhas paralelas aos seus eixos maiores (nºs


Figura 276: Carta de pormenor da localização de Porto Portel.

Figura 277: Rocha 1 de Porto Portel.

Memórias d’Odiana • 2ª série

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Foto 168: Rocha 1 de Porto de Portel.

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

Foto 169: Pormenor da cabeça e armação do veado da rocha rocha 1 de Porto Portel.


Figura 278: Localização do Moinho do Lurico na folha 483 da Carta Militar de Portugal, escala 1: 25 000.

1

2

7

3

4

5

6

Foto 170: Figura 7 da rocha 1 do Moinho do Lurico.

Figura 279: Rocha do Moinho do Lurico.

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

Memórias d’Odiana • 2ª série

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Figura 280: Os dois sectores de Cooperativa Agrícola na Carta Militar de Portugal, escala 1: 25 000 (montagem composta pelas folhas 483 e 492).

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6 2

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19 20 24 21 17

23 18

22

26 25

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Figura 281: Rocha 1 do sector I de Cooperativa Agrícola.

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS


mente (nº 8). Para além destes e de outros motivos de carácter não figurativo, identificam-se ainda inscrições cursivas sobre as linhas da xistosidade. 4

3. 22. COOPERATIVA AGRÍCOLA Tal como a estação anterior, situa-se na margem direita da ribeira de Guadalim, pertencendo à mesma circunscrição administrativa (Figs. 2 e 280). Trata-se de uma zona de margens irregulares e fortemente antropizadas pela emergência de diques e moinhos. O substrato geológico corresponde a xistos de época devónica (Perdigão, 1980, 10-11). Predomina a vegetação hidrófila junto ao rio. À medida que dele nos afastamos vão ganhando relevo as herbáceas e arbustivas de médio porte. Identificam-se dois sectores:

15 14

13 12

10

11

6

3 8 7

3. 22.1. Cooperativa agrícola I

2 1

Figura 282: Rocha 1 do sector II de Cooperativa Agrícola.

Encontra-se cartografada na folha 492 da Carta Militar de Portugal, escala 1: 25 000 nas seguintes coordenadas Greenwich: 38º 18’ 49,77’’ N 07º 14’ 50,43’’ O, altitude de 140 m (Fig. 280). Rocha 1 (Fig. 281): Trata-se de um painel sub-horizontal orientado para norte. Embora todos os motivos tenham sido executados por picotagem, parece verificar-se uma distinção técnica entre um mais concentrado e largo e outro mais diluído e fino. Este facto aliado às sobreposições observadas permitem-nos supor a existência de dois momentos distintos: um de cronologia moderna e outro mais antigo, provavelmente pré-histórico.

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

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Memórias d’Odiana • 2ª série

5


Figura 283: Localização de Monte Tosco na folha 483 da Carta Militar de Portugal na escala 1: 25 000.

Figura 284: Rocha de Monte Tosco.

Memórias d’Odiana • 2ª série

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Entre as gravuras mais recentes encontramos alfabetiformes – um H e um A e V ou A e N contraídos (nºs 1, 2 e 19), círculos com cruz inscrita (nºs 3, 4 e 12), dois círculos simples (nºs 5 e 26), um com dois apêndices (nº 9), dois apenas com um (nºs 21 e 25), dois pares

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

de círculos associados ( nºs 6 e 16), ambos com um curto apêndice recto no círculo da esquerda e o último par com um no da direita rematado por um sulco perpendicular. Um último par encontra-se ligado por um sulco mais longo (nº 8). Identificam-se ainda dois semicírculos


3. 22. 2. Cooperativa agrícola II Encontra-se representada na mesma folha da Carta Militar de Portugal que o sector anterior. As coordenadas geográficas são as seguintes: 38º 18’ 50,61’’ N 07º 14’ 53,14’’ O, altitude de 140 m (Fig. 280). Rocha 1 (Fig. 282): Painel horizontal situado também nas margens da ribeira de Guadalim. Observa-se no sector inferior à direita uma figura preenchida no interior, de contorno elíptico e mutilada à esquerda por uma fractura (nº 1). À sua esquerda verifica-se a existência de uma concentração de picotados de contorno subcircular (nº 2) sobreposta por uma “covinha” (nº 5). Mais em cima uma concentração de picotados de contorno ovóide (nº 3) é sobreposta por duas “covinhas” (nºs 9 e 10), motivos que foram também gravados à volta daquele (nºs 7,

8 e 11 a 15). No topo verifica-se outra concentração de picotados de forma indefinida (nº 4).

3. 23. MONTE TOSCO Localiza-se na freguesia de Mourão, concelho de Mourão, distrito de Évora. Identifica-se no topo de uma elevação situada junto à margem esquerda do Alcarrache, afluente do Guadiana. Na folha 483 da Carta Militar de Portugal, escala 1: 25 000, encontra-se nas suas seguintes coordenadas Greenwich: 38º 20’ 05,48’’ N 07º 14’ 45,69’’ O, altitude de 166 m (Fig. 283). O substrato geológico corresponde a xistos de idade devónica (Perdigão, 1980, 10-11). Predomina a vegetação arbórea de tipo quercus, observando-se aqui e ali algumas arbustivas. Rocha 1 (Fig. 284): Painel vertical orientado para este. Localiza-se numa crista de xisto. No seu sector direito foi gravada uma figura feminina em pose de pin up. Está vestida apenas com um biquíni. Foi nomeada “Miss Rocha”. O seu autor identifica-se como [ J]uel Lima (?), tendo datado a composição de 2/10/1966. Ao longo do painel identificam-se ainda várias inscrições de nomes, alguns associados a números de companhia da Guarda Florestal ou da Guarda Nacional Republicana. Aparecem ainda um nome solto (“João”) e alguns números.

231

DESCRIÇÃO DAS ROCHAS

Memórias d’Odiana • 2ª série

(nºs 11 e 20) e barras (nºs 7, 14 e 15), sendo que as duas últimas se encontram associadas a cruciformes rematados por um círculo na base (nºs 10 e 13). Outros dois cruciformes aparecem no sector inferior direito do painel (nºs 22 e 24), o último dos quais encima uma figura subovóide provida de dois apêndices. Os dois últimos motivos ladeiam um triângulo (nº 23). Observa-se ainda uma figura subtriangular estrangulada no topo e dois sulcos horizontais na base (nº 17). À sua direita encontra-se uma composição que poderá corresponder a uma tosca custódia (nº 18). Entre as figuras mais antigas apenas se observam círculos (nºs 27, 28, 31 e 32), os dois últimos sobrepostos por figuras mais recentes, manchas de picotados de contorno genericamente circular (nºs 29 e 30) e outros picotados soltos dispersos pelo painel.



4. BREVE DISCUSSÃO EM TORNO DAS CRONOLOGIAS DE UM SANTUÁRIO



4. BREVE DISCUSSĂƒO EM TORNO DAS CRONOLOGIAS DE UM SANTUĂ RIO

PerĂ­odo I: Este fase encontra-se representada apenas pelas rocha 30 da Moinhola e 1 de Porto Portel descritas no ponto anterior. No texto de 2003 citado anteriormente, uma das rochas que integramos neste perĂ­odo foi atribuĂ­da a um “tempoâ€? localizado entre o NeolĂ­tico antigo e mĂŠdio (Baptista, 2002, 160). ApĂłs cuidada reflexĂŁo julgamos poder assumir ambas as rochas como pleistocĂŠnicas. Tanto a temĂĄtica como o estilo ou a tĂŠcnica a isso nos impelem. Assim, as caracterĂ­sticas das mesmas levam-nas a integrĂĄ-las no Magdalenense final. A isso nos impele tanto os paralelos com os motivos que temos vindo a integrar na Ăşltima fase da arte paleolĂ­tica do CĂ´a (Baptista et alii, 2006, 158-159), como os resultados advindos do estudo das placas do ParpallĂł (Villaverde, 1994). Em relação a este Ăşltimo referente, hĂĄ que ter em conta no cavalo da rocha 30 da Moinhola: o focinho fechado recto, a queixada recta e o uso do gravado estriado2. Em relação ao focinho fechado recto, diz-nos o autor que os focinhos abertos dominam atĂŠ ao seu Solutrense evolucionado, vindo a perder para os fechados a

partir daĂ­, se bem que no Magdalenense antigo B esta caracterĂ­stica se inverta conjunturalmente (Villaverde, 1994, 94-96); jĂĄ a queixada recta parece ser largamente dominante no Solutrense, se bem que mesmo no Magdalenense ĂŠ sempre superior a outras formas de definir o animal (Villaverde, 1994, 96-98); quanto ao gravado estriado, este estĂĄ atestado no ParpallĂł a partir do Solutrense mĂŠdio mas dado o seu aparecimento em “conjuntos magdalenenses no estrictamente finales, o de transiciĂłn, impide otorgale una posicion cronolĂłgica precisaâ€? (Villaverde, 1994, 144). Quanto ao veado, ĂŠ de ter em conta o naturalismo da cabeça e em particular das suas terminaçþes, sobretudo no que toca Ă s hastes e Ă orelha. Ora, todas estas sĂŁo caracterĂ­sticas que se integram em momentos plenamente magdalenenses (Villaverde, 1994, 96, 104). Finalmente, serĂĄ tambĂŠm de ter em conta o estudo de Molino ManzĂĄnes. Desta estação, sĂŁo paralelos bastante evidentes para as nossas figuras o cavalo de Esquinera e o veado mais completo da mesma rocha, ambos atribuĂ­dos pelo investigador da estação ao Magdalenense superior/final (Collado, 2006, 282-283). Por outro lado, somos forçados a referir que discordamos da longa diacronia proposta para a fase paleolĂ­tica de Molino ManzĂĄnez. Por um lado, este autor valoriza motivos como pleistocĂŠnicos apenas pela tĂŠcnica com que foram efectuados. Como se verĂĄ seguidamente, temos nas margens portuguesas motivos filiformes de plena fase esquemĂĄtica, pelo que esta tĂŠcnica nĂŁo terĂĄ

2 A ausĂŞncia do desnĂ­vel da crina nĂŁo pode per se ser considerado como um bom referente cronolĂłgico (Villaverde, 1994, R PHVPR VH SRGH GL]HU GDV SDWDV GHĂ€QLGDV SRU GXDV OLQKDV SDUDOHODV DEHUWDV 9LOODYHUGH

BREVE DISCUSSĂƒO DAS CRONOLOGIAS DE UM SANTUĂ RIO

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Uma primeira proposta de atribuição cronolĂłgica da arte do Guadiana portuguĂŞs foi jĂĄ apresentada (Baptista, 2002, 160-161). SerĂĄ essa mesma que serĂĄ aqui parcialmente defendida, aprofundada e especificada nalguns aspectos e alterada noutros. Como se verificou jĂĄ naquele texto, discutir os “Temposâ€? em que se gravou na ĂĄrea do actual regolfo do Alqueva implica ter sempre presente a(s) periodização(Ăľes) do Ciclo ArtĂ­stico do Vale do Tejo.


sido abandonada no Paleolítico (ou Epipaleolítico, na visão de Collado). Por outro lado, e como veremos seguidamente, discordamos da existência de uma fase epipaleolítica neste sítio, pelo que as únicas sobreposições que poderemos valorizar são as que envolvem morfotipos claramente paleolíticos e estes existem em apenas 15 rochas. Por outro lado, o autor valoriza manifestações gráficas cuja existência como signos (ou seja, grafias com significado intrínseco) não é clara. Poderão determinados destes traços corresponder a resultados de uma acção de interactividade entre quem observava as rochas e estas mesmas num potencial contexto ritual (do género de marcação de presença de um determinado indivíduo que ali tivesse estado). Finalmente, será de ter em conta que o gravado estriado, e tal como dissemos atrás, poderá ser plenamente Magdalense. Do mesmo modo, valorizar um animal como Solutrense apenas porque tem o focinho aberto parece-nos um argumento que per se não colhe.

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Período II: Como foi já referido, trata-se do “tempo” melhor representado na arte rupestre do Guadiana, devendo reportar-se aos IV e III milénios A. C (Baptista, 2002, 160-161). Como veremos no ponto seguinte, estes dois milénios apresentam importantes diferenças estruturais que importa verificar se se observam no contexto do santuário ou não. Deste modo, e com base somente em paralelos estilísticos é premente averiguar que rochas e que motivos terão sido gravados ainda no IV milénio e quais os(as) que, potencialmente, deverão ser já integrados(as) no Calcolítico regional. Tal como é observado no artigo supraci-

tado, o repertório é muito homogéneo, correspondendo basicamente a círculos e figuras derivadas, assim como a antropomorfos (no geral, muito esquemáticos), alguns raros zoomorfos e demais figuras geométricas. É premente não só perguntar se será possível uma maior afinação cronológica, como também se será relevante. Na verdade, motivos como o círculo (o motivo mais difundido ao longo das margens do terceiro rio peninsular) aparecem em contextos de diferente cronologia. Contudo, se esta figura e outras de igual feição geométrica correspondem a signos cujo significado per se é praticamente (se não, de todo) inalcançável, outros existem que podem reflectir interpretações do Mundo e do Ser. Referimo-nos, por exemplo, às figurações humanas. Se consideramos haver uma transformação estrutural na passagem do IV para o III milénio, será interessante averiguar, por exemplo, em que medida aquela se relacionará com uma diferente forma de o Homem e, consequentemente, das comunidades coevas se olharem. Uma tentativa de atribuição cronológica às figuras antropomórficas do Tejo foi já tentada (Gomes, 2001). No entanto, na nossa opinião, aquela dispersa-se por um demasiado longo espectro temporal, espectro esse que convém afinar e consequentemente encurtar3. Será precisamente esse um dos objectivos a cumprir por este ponto. Abordaremos, no entanto, alguns dos outros motivos presentes no Alqueva que nos possam ajudar a precisar a cronologia do santuário. Comecemos pelo círculo. Como referimos, trata-se de uma figuração bastante difundida no tempo. Em contextos megalíticos encontramo-la tanto a norte como a sul. A título de exem-

3 Na verdade, o grande busílis daquele trabalho é assentar sobre um paradigma bastante discutível: a longa diacronia que aquele autor defende para as manifestações rupestres da arte do Tejo (v. g. Gomes, 1987).

BREVE DISCUSSÃO DAS CRONOLOGIAS DE UM SANTUÁRIO


Uma das variantes compositivas circulares representadas no Alqueva corresponde aos círculos concêntricos, presente em 11 rochas, normalmente em grupos de 2. Tal como no caso anterior tambÊm encontramos esta variante em monumentos megalíticos, se bem que em menor quantidade. Assim, a norte conhecemos os esteios de Espiùaredo 11, Carapito e Mota Grande referidos acima, assim como o segundo esteio à esquerda da cabeceira do monumento 2 da Portela do Pau. A sul conhecemos este tipo de representaçþes no menir de Vale-de-Rodrigo (Gomes, 1994, 322) ou no referido menir 58 de Almendres. Por outro lado, encontra-se bastante melhor representado na arte rupestre de feição atlântica, sendo mais rara na de dispersão continental ou na Beira Alta, raridade que se verifica tambÊm no mundo da pintura esquemåtica. Nesse contexto encontra-se, por exemplo, em Puerto Alonzo (Breuil, 1933a, Pl. XXII, Fig. II) ou no abrigo de El Estanislado (Breuil, 1933a, Pl. XXIII, Fig. B). TambÊm presente em 6 rochas do Alqueva encontram-se os semicírculos, em quatro casos simples (Moinhola 1, 9, 10 e 47); nos restantes, concêntricos em grupos de dois (Moinhola 88 e Moinho da Volta 2). Na arte megalítica o primeiro caso ocorre no segundo esteio à direita da cabeceira de Santa Cruz (Shee, 1981, Fig. 14) ou no esteio C da Barrosa (Shee, 1981, Fig. 27)5. A sul, encontramos este tipo na laje de separação entre o corredor e a câmara (na face exterior) do tholos do Barranco da Nora Velha (Viana, 1960, 187, Fig. 23). Concêntricos, co-

4 Este com uma decoração muito prĂłxima do esteio de ChĂŁo Redondo referido atrĂĄs. Curiosamente, tambĂŠm na rocha 1 da Moinhola aparece uma composição que lembra algo daquela gramĂĄtica Figurativa (motivo nÂş 5 do painel A). 5 É ainda referido no esteio Ă esquerda da cabeceira de ChĂŁo Redondo 1 (Albuquerque e Castro, 1960, 151, Fig. 3; Shee, )LJ FRQWXGR DSyV UHFHQWH UHYLVmR GDV JUDĂ€DV SUHVHQWHV QHVWH PRQXPHQWR WDLV PRWLYRV QmR QRV SDUHFHP de origem antrĂłpica (Santos et alii, 2010-2011).

BREVE DISCUSSĂƒO DAS CRONOLOGIAS DE UM SANTUĂ RIO

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plo, citemos entre os monumentos do noroeste peninsular o esteio decorado de EspiĂąaredo 11 (Shee, 1981, Fig. 23), o esteio Ă esquerda da cabeceira da Mota Grande (Baptista, 1997, 199), o esteio de cabeceira do monumento 2 da Portela do Pau (Baptista, 1997, 205), o esteio 2 da mamoa de BraĂąa (Carballo e VĂĄzquez, 1984, 253), o terceiro esteio para a esquerda da cabeceira de Madorras I (Gonçalves e Cruz, 1994, 219), o segundo esteio a partir da cabeceira do dĂłlmen de ChĂŁ de Parada (Shee, 1981, Fig. 30), o primeiro esteio Ă direita da cabeceira do monumento 2 de ChĂŁo Redondo (Albuquerque e Castro, 1960, 151, Fig. 3; Shee, 1981, Fig. 36), o fragmento do segundo esteio Ă direita da cabeceira do Carapito 1 (Cruz e Vilaça, 1990, Fig. 3) e a estela-menir da Caparrosa (Gomes e Monteiro, 1974-1977; Gomes, 1993, 12). A sul encontramos os exemplos dos esteios 4, 5, 7 e 9 da Granja de ToniĂąuelo (Bueno e BalbĂ­n, 1997, 105-108), os menires 48 e 584 dos Almendres (Gomes, 1994, 337, Fig. 11) ou a estela-menir do Monte da Ribeira (Gonçalves et alii, 1997, 240). Aparece ainda ao ar livre, tanto na “arte atlânticaâ€? clĂĄssica (PeĂąa e VĂĄzquez, 1979, 17; Baptista, 1983-1984, 73; Baptista, 1986, 47) como na de dispersĂŁo mais continental (Baptista, 1983-1984, 75; Baptista, 1986, 50). Ocorre ainda na Beira Alta, desempenhando, por exemplo, um importante papel estruturante no Fial (Santos, 2008). Na arte esquemĂĄtica pintada, nĂŁo sendo muito relevantes, encontram-se tambĂŠm em sĂ­tios como o Cerro Estanislao (Breuil, 1933a, Pl. XXIII) ou o abrigo 6 da Sierra de San Servan (Breuil, 1933a, Pl. XXXVII, Fig. IId).


nhecemo-los no terceiro esteio da esquerda do monumento 1 do Taco (Silva, 1992, est. XI) e no menir de Vale-de-Rodrigo. O semicírculo Ê particularmente comum na arte atlântica e sobretudo no grupo II da Arte do Noroeste (Baptista, 1983-1984, 75, Baptista, 1986, 50) ou na Beira Alta (Santos, 2008, 98-99). Na pintura esquemåtica conhecemos motivos deste tipo em sítios como o abrigo 3 de Puerto de Las Gradas (Breuil, 1933a, Pl. V, Fig. IIc), Cueva de La Solana del Puerto de Las Viùas (Breuil, 1933a, Pl. VI, Fig. III) ou no abrigo 3 de El Raton (Breuil, 1933a, Pl. XLII, Fig. IIB), sendo que neste último caso, os semicírculos são concêntricos. Contrariamente ao que seria de esperar, a espiral tão representada na arte do Tejo, desempenha aqui um papel residual, sendo conhecida apenas em três rochas (Moinhola 48, Moinhola 67 e Roncanito II 4). Trata-se de um motivo não representado na arte megalítica ibÊrica. Por outro lado, a sua relevância aumenta no seio do grupo clåssico da arte do noroeste (Peùa e Våzquez, 1979, 26-32) e em particular na Beira Alta, em estaçþes como na Pedra dos Pratos (Santos, 2000) ou na Cårcoda (Silva e Correia, 1977). Ultimamente este motivo tem vindo tambÊm a ser identificado nas serras da cordilheira central, como sejam na do Açor (trabalhos do CNART, actualmente em fase de tratamento laboratorial) ou na Sertã (Batata, 1997, 167; Batata e Gaspar, 2000, 577). TambÊm na pintura esquemåtica não Ê um motivo muito difundido. Encontra-se, por exemplo no abrigo 1 de Peùalsordo, igual-

mente denominado Posada de los Buitres (Breuil, 1933a, Pl. XV, Fig. A). TambÊm os serpentiformes se encontram largamente representados na margem direita do Guadiana, dispersando-se por catorze rochas (treze destas no sítio da Moinhola; a outra corresponde a Roncanito I 8). Trata-se de um motivo sobejamente conhecido da arte megalítica6. Esta representatividade jå não Ê tão evidente na arte do noroeste ou mesmo na Beira Alta. Contudo, nas serras da Cordilheira Central referidas acima volta a ser um dos motivos mais representados. Jå na pintura esquemåtica não sendo um tema preponderante, reconhece-se em sítios como no abrigo 10 de Peùalsordo (Breuil, 1933a, Pl. XVIII) ou no abrigo da Lapa dos Gaivþes (Breuil, 1917, 18, Fig. 1) Todos os motivos a que nos temos vindo a referir, pelo que atrås fica dito, poderão, per se, pertencer a vårias Êpocas da PrÊ-História. No entanto, como veremos seguidamente, em associação correspondem a um período muito preciso da arte do vale do Tejo. De qualquer modo, para alÊm das figuras que temos vindo a referir, outras hå cujos paralelos nos permitem uma maior afinação na altura da adscrição cronológica. Entre estas, contam-se os båculos, presentes em oito rochas do Alqueva (em Moinhola nas rochas 1, 6, 38, 53, 69, 75 e 90; em Malhada das Taliscas na rocha 1). Trata-se de um motivo bastante representado na arte megalítica do sul (em particular, nos menires), assim como no Tejo ou na arte esquemåtica. Motivos seme-

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6 Estar aqui a enumerar todos os exemplos que se conhecem tornar-se-ia demasiado fastidioso para o leitor. Deste modo, UHPHWHPRV SDUD DV SSV GH 6KHH 3RVWHULRUPHQWH D HVWD REUD IRUDP DLQGD LGHQWLĂ€FDGRV RV VHJXLQWHV VtWLRV RQGH aparece este motivo: mamoa da BraĂąa, ChĂŁo de Brinco I (Silva, 1993, 23), Lameira dos Pastores I (Pinho et alii, 1999, 7-8) ou Forno dos Mouros (Criado, 1991, 136 e lĂĄm. 5). Ao nĂ­vel dos menires, para alĂŠm dos ali referenciados, dever-se-ĂĄ destacar o da Herdade das Vidigueiras (Gomes, 1997a) assim como alguns dos que tĂŞm vindo a ser estudados no Algarve (v. g. Gomes et alii, 1978; Gomes, 1997b).

BREVE DISCUSSĂƒO DAS CRONOLOGIAS DE UM SANTUĂ RIO


lhantes foram identificados na estação beirã do Fial, na rocha 21 do núcleo II (Santos, 2008, Fig. 42). Este tipo de gravura reveste-se da maior importância, na medida em que conhecemos o seu modelo “tridimensional”, porquanto são um achado comum no interior dos megálitos alentejanos, hipogeus ou grutas naturais do sul de Portugal. Estes aparecem em contextos que não devemos, como se verá em seguida, afastar da segunda metade do IV milénio A. C.. Mário Varela Gomes admite mesmo que poderão ter começado a ser utilizados ainda no Neolítico Médio, isto é, durante a primeira metade daquele milénio (Gomes et alii, 2000, 146)7. De um período coevo serão os bucrânios, identificados em quatro rochas do Guadiana (na rocha 1 de Mocissos e nas rochas 1, 13 e 74 da Moinhola8). Motivos formalmente idênticos aparecem no vale do Tejo, na face A da rocha 5 de Meal da Dona (Santos, 2008, Fig. 16) ou na rocha 33 do núcleo II do Fial (Santos, 2008, Fig. 61). São também comuns na pintura esquemática, nomeadamente em Puerto Alonzo (Breuil, 1933a, Pl. XXII, Fig. II), no abrigo de El Estanislado (Breuil, 1933a, Pl. XXIII, Fig. B) ou no abrigo 7 da Sierra de San Servan (Breuil, 1933a, Fig. IIe). Na arte megalítica não são, até ao momento, conhecidos quaisquer exemplos. É no Escoural que estes motivos adquirem uma relevância fora do comum, não só pela quantidade como pelos dados cronológicos que daí poderemos retirar (Gomes et alii, 1983;

Gomes et alii, 1994). Na verdade, parte daqueles motivos encontravam-se sob níveis e estruturas datadas pelo 14C da primeira metade do III milénio A. C. (Gomes et alii, 1994, 97-98). Se tivermos em conta, como defendem os escavadores do sítio, que aquelas figuras terão sido propositadamente destruídas ou retiradas da vista, é extremamente pertinente a ideia de um terminus ante quem para estes motivos situável ainda na segunda metade do IV milénio A. C. Outra composição cujos paralelos no vale do Tejo permitem um certo consenso quanto à cronologia são as que se convencionou denominar como “faces oculadas”. No Alqueva reconhecemos uma destas composições na rocha 1 da Moinhola (motivo nº 9 do painel F) e eventualmente uma outra na rocha 73 (motivo 15) desta estação. Trata-se de composições delimitadas por uma forma circular ou subcircular. No seu interior apresentam dois círculos de menores dimensões que corresponderiam aos olhos. Podem ter outros atributos secundários. No caso do nosso primeiro exemplo encontramos uma figura ovóide entre os dois “olhos” (nariz?)9. No segundo caso, para além dos globos “oculares”, encontramos outros elementos de tendência circular (entre eles, dois círculos concêntricos)10. A cronologia deste tipo de figurações é, qualquer que seja a proposta diacrónica que utilizemos, já considerada do Neolítico final, seja integrada num “horizonte megalítico” (Baptista, 1981, 41), ou num “período meridional” (v. g. Gomes,

Aquele autor admite também que os báculos poderão corresponder a cópias de pedra dos artefactos manipulados quotidianamente e que seriam manufacturados em materiais perecíveis (Gomes et alii, 2000, 140). A este nível é pertinente lembrar a exumação de um elemento deste tipo em madeira no átrio do dólmen de Seixas na Beira Alta, contexto datado da primeira metade do IV milénio A. C. (Cruz, 2001, 147). 8 Com algumas reservas, podemos também considerar como tal o motivo nº 3 da rocha 49 da Moinhola. 9 Fazendo-a aproximar-se, de facto, das estátuas-menires alentejanas (Gomes, 1997b), situação que Varela Gomes já havia observado (Gomes, 2001, 24). 10 Também o motivo nº 4 da rocha 83 da Moinhola poderia ser interpretado como uma “face oculada”. Contudo, nesta composição, que de facto é delimitada por um círculo, nem os olhos podemos individualizar com clareza.

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2001, 24-25). Se tivermos em conta que este tipo de composições não foi identificado, até ao momento, no interior das câmaras megalíticas, não poderemos recuar a gravação daqueles à primeira metade do IV milénio A. C.. Se nos lembrarmos que o único possível exemplo na pintura esquemática poderá ser o representado no Abrigo Pinho Monteiro (Gomes, 1989, 232-235), dificilmente poderemos avançar pelo III milénio. Voltamos, portanto, à segunda metade do IV milénio A. C.... Outra classe de figurações que nos poderá oferecer importantes indicações cronológicas é a que corresponde à fauna representada. No Alqueva português conhecemos 9 representações de animais distribuídos por seis rochas (Na rocha 1 da Malhada das Taliscas encontramos 3, na 8 de Malhada de Gagos identificamos 1, em Mocissos 8 observam-se 2 e em Moinhola contabilizou-se um animal em cada uma das seguintes superfícies: 2, 63 e 92). Como se depreende da leitura anterior, apenas cinco destas gravuras permitem a identificação da espécie. Assim, o motivo nº 2 da rocha 63 corresponderá a um veado. A ter em conta os paralelos com figuras do vale do Tejo, também assim seria com o motivo nº 11 do painel A da rocha 1 da Malhada das Taliscas. Contudo, a ausência de ramificações das hastes leva-nos a levantar a hipótese de tal como os motivos nº 9 daquele painel, nº 2 do painel C da mesma rocha e nº 1 da rocha 2 da Moinhola, nos encontrarmos perante um capríneo. Estilisticamente, podemos individualizar os motivos 6 do painel D da rocha 8 de Mocissos, 28 do painel F da mesma rocha e 1 da rocha 8 da Malhada dos Gagos. Os paralelos para estes motivos encontramo-los na fase II de S. Simão (vale do Tejo), nomeadamente na rocha 286/287 daquela estação (Baptista et alii, 1978, 95, Fig. 5) ou no painel 175 de Fratel

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(Baptista, 1981, 35, Fig. 5). Ora, como se sabe, esta fase é plenamente megalítica (Baptista et alii, 1978, 109-110). Esta situação é, aliás, perfeitamente corroborável pelos paralelos em câmaras megalíticas para o motivo 6 do painel D da rocha 8 de Mocissos. Encontramos representações semelhantes no esteio de cabeceira da Arquinha da Moura (Cunha, 1995, est. X), ou no segundo esteio à esquerda da cabeceira de Juncais (Leisner e Leisner, 1956, Pl. 18). Como se discutirá seguidamente, esta asserção implicará aceitar uma cronologia situável ainda na primeira metade do IV milénio A. C. Em particular, aquele primeiro animal encontra também vários paralelos no mundo do esquematismo pictórico. Se bem que cada vez mais se vá encarando o III milénio como o período por excelência da pintura esquemática (v. g. Acosta, 1968, 184-186; Ripoll, 1983; Jordá, 1987, 20-21; Bécares, 1987, 92; Martínez e Collado, 1997, 160-162; García, 1997, 127128), ninguém discute que a origem daquela é seguramente anterior. Por outro lado, as restantes Figurações zoomórficas integram-se perfeitamente na fase III da rocha F155, destacando-se aqui o fortíssimo paralelo com o motivo nº 44 daquela rocha (Baptista, 1981, Fig. 3). Por tudo o que foi dito atrás, é pertinente olharmos de novo para a segunda metade do IV milénio A.C.. Antes de iniciarmos a discussão sobre os antropomorfos, debrucemo-nos sobre dois outros motivos em particular que poderão reforçar a atribuição cronológica que temos vindo a propor. Abordemos primeiro o motivo nº 4 do painel G da rocha 8 de Mocissos. O paralelo mais evidente para esta composição corresponde à identificada na rocha 35 do núcleo II do Fial (Santos, 2008, Fig. 63). Como se discute no texto citado, estas composições não se afastam muito da figura que coroa a cena de caça


Guadiana antropomorfos com as mesmas características mas providos de cabeça (em Malhada dos Gagos 1, 3, 5, 7 e 9; em Mocissos 8; na Moinhola 1, 14, 16, 26, 31, 33, 36, 38, 40, 41, 49, 86, 87, 113 e 118; na rocha 2 da Perdigoa, na superfície 1 do sector III da Senhora da Ajuda e na rocha 1 do sector II de Foz de Pardais). Paralelos encontramo-los também no vale do Tejo, na já citada F155 ou, por exemplo na F175 (Baptista, 1981, 35, Fig. 5) ou ainda em C.AL69 (Baptista, 1981, 55). Na pintura esquemática é por demais difundida. Só para citarmos o caso mais perto, refiramo-nos novamente aos abrigos da Esperança (apenas aos dos Gaivões, Louções e Igreja dos Mouros). Na arte megalítica, encontramos representações semelhantes aos nossos exemplares mais pequenos, por exemplo, no esteio de cabeceira da Arquinha da Moura (Cunha, 1995, est. X) ou no sexto da esquerda do corredor da Lobagueira 4 (Shee, 1981, Fig. 39). Outro tipo de antropomorfos que individualizamos no Alqueva são aqueles que apresentam os membros superiores orientados para cima, adquirindo assim uma posição de “orante” (encontramo-los na rocha 2 do sector V de Foz de Pardais; em Malhada dos Gagos 7 e 8; em Mocissos 8 e na rocha 1 da Moinhola). Trata-se de um tipo de representação também identificada no vale do Tejo, por exemplo nas rochas F190 (Baptista, 1981, 37, Fig. 6), FIC121 (Baptista, 1981, 38, Fig. 7) ou F95B (Baptista, 1981, 39, Fig. 8). O antropomorfo da primeira rocha citada tem a particularidade de tal como o “orante” da rocha 1 da Moinhola ter os membros superiores em forma de círculo. No seio da pintura esquemática, embora não tão comuns como as figurações humanas anteriores, encontramos também importantes paralelos, nomeadamente no abrigo 2 de Puerto de las Gradas (Breuil, 1933a, Pl. V, Fig. IIB) ou em Puerto

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do dólmen de Juncais. Outros dados próprios da estação do Fial levam-nos, no entanto, a concluir que aquela estação se deverá datar da segunda metade do IV milénio A. C. (Santos, 2008, 92), período esse, que como temos vindo a perceber é perfeitamente concebível para grande parte da arte rupestre do Guadiana português. O outro motivo sobre o qual nos pretendemos debruçar é o presente na rocha 1 do sector I de Beatas. Trata-se de uma figuração bastante peculiar mas com bons paralelos na arte esquemática, nomeadamente no abrigo do Reboso de Nuestra Señora del Castillo (Breuil, 1933a, Pl. XII). Abordemos então os antropomorfos. Estes são geralmente muito esquemáticos, devendo os seus paralelos serem procurados precisamente na pintura assim denominada. Alguns deles formam composições que parecem ter sido reproduzidas directamente de algumas dessas paredes. Enumerar os paralelos que podemos encontrar para os antropomorfos do Alqueva na arte esquemática tornar-se-ia bastante entediante. Assim, encontramos no Alqueva antropomorfos acéfalos, corpo linear e membros em semicírculo ou V invertido (em Malhada dos Gagos 1, 3, 4, 5, 7 e 8; em Mocissos 1, 2 e 8; em Moinhola 10 e 31). Para não ir mais longe, paralelos para este género de figuras identificam-se nos abrigos da não muito distante serra da Esperança (Breuil, 1917, 18, Fig. 1, 22, Fig. 3; Castro e Ferreira, 1960-1961, est. III; Gomes, 1989, 234, Fig. 5). Também no Tejo aparecem, desde logo na rocha F155 (Baptista, 1981, Fig. 3) ou na F84 (Baptista, 1981, 41, Fig. 10). O motivo nº 2 da rocha 1 de Malhada dos Gagos parece apresentar um “toucado” na cabeça, aproximando-se assim das figuras do mesmo tipo de Penas Róias (Almeida e Mourinho, 1981). Registam-se também nas margens do


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Palácios (Breuil, 1933a, Pl. V, Fig. IIIª). Identificam-se, de igual modo, antropomorfos de tipo ancoriforme (na rocha 10 da Moinhola). Pouco representativos na arte megalítica, são, no entanto, extremamente comuns na pintura esquemática. Na primeira, estão documentados no sul peninsular, como seja no dólmen de Soto (Shee, 1981, Fig. 71) ou em Vega de Guadancil I (Bueno e Balbín, 1997, 99, Fig. 3). Na arte esquemática estão documentados, por exemplo, no abrigo 3 de Puerto de Las Gradas (Breuil, 1933a, Pl. V, Fig. IIC) ou no abrigo 2 de Puerto de Las Ruedas (Breuil, 1933a, Pl. XIX, Fig. II) Em Mocissos 8 observou-se um tipo de antropomorfos cujos membros são quase perpendiculares ao corpo. No vale do Tejo identificam-se, por exemplo, em CVJ (Gomes, 2001, 75, Fig. 10), F203A (Gomes, 2001, 77, Fig. 11), SS168B, SS286, SS287 ou SS346. Na pintura esquemática encontramos figurações do mesmo tipo, por exemplo no grande abrigo de Nuestra Señora del Castillo (Breuil, 1933a, Pl. IX, Fig. 5) ou na Cueva de las Vacas del Retamoso (Breuil, 1933b, Pl. XII). No seio da arte megalítica, o paralelo mais próximo corresponde à grande figuração humana que domina o esteio de cabeceira do dólmen de Afife (Silva, 1993, 24). Dois outros antropomorfos do Guadiana poderão ainda ser integrados nestes tipos, embora não se encontrem completos. Referimo-nos ao motivo nº 1 da rocha 31 da Moinhola e ao nº 42 da rocha 2 da Perdigoa (a ambos faltam os membros superiores). Também antropomorfos com vários mem-

bros (arboriformes) foram identificados no Alqueva (em Mocissos 8; em Moinhola 1, 10, 25 e 62). Trata-se de um motivo não só presente na pintura esquemática (desde logo, nos abrigos da Esperança) como também no vale do Tejo, por exemplo, na rocha F11B ou na C.AL58 (Gomes, 2001, 73, Fig. 9). Também comuns na pintura esquemática11 e em menor quantidade no vale do Tejo12 são os antropomorfos em ĭ, presentes no Guadiana nas rochas 3 do sector II de Foz de Pardais, 7 e 8 da Malhada dos Gagos, 1 de Mocissos e 62 da Moinhola. Antropomorfos de tipo cruciforme são reconhecíveis nas margens do Guadiana nas rochas 3 do sector I da Foz de Pardais, 5 da Malhada dos Gagos, 8 de Mocissos e 41 e 62 da Moinhola. Olhados de soslaio por alguns pré-historiadores que neles pretendem ver motivos de raiz cristã, aparecem contudo em vários contextos claramente do IV e/ou III milénio AC. A nível da arte megalítica, aparecem, por exemplo, no esteio de cabeceira do dólmen de Escariz (Shee, 1981, Fig. 34). No mundo da pintura, esquemática, e só enumerando os sítios referidos pelo abade Breuil encontramos os seguintes: Cueva de La Cumbria del Canchal del Cristo (Breuil, 1933, 26, Fig. 17), Puerto de Vistalegre (Breuil, 1933a, Pl. X Fig. Ic), grande abrigo de Nuestra Señora del Castillo (Breuil, 1933a, Pl. VII, Fig. IIa), abrigo 5 de Los Buitres (Breuil, 1933a, Pl. XVI, Fig. D1), abrigo 2 de Puerto de Las Ruedas (Breuil, 1933a, Pl. XIX, Fig. II), no abrigo 1 de Peñon Grande (Breuil, 1933a, Pl. XXIV, Fig. Ia), grande abrigo de Las

Por exemplo, em Puerto de Vistalegre (Breuil, 1933a, Pl.VII, Fig. I), no abrigo 3 de Nuestra Señora del Castillo (Breuil, 1933a, Pl. X) ou no abrigo 7 de Peñalsordo (Breuil, 1933a, Pl. XV, Fig. C). 12 Aqui não são seguros. Contudo é de referir os exemplos da rocha 324 de S. Simão (Baptista et alii, 1978, Abb. 9) ou da 129 de Fratel (Gomes, 1983, Fig. 7). 11

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rocha 8 de Mocissos, nas rochas 7, 52 e 71 da Moinhola e na 2 da Perdigoa. Trata-se de gravuras que se assemelham aos que encontramos no interior dos monumentos megalíticos. Com alguns destes, como o motivo nº 17 da rocha 2 da Perdigoa, as semelhanças com os antropomorfos da arte megalítica são mesmo escandalosas. Lembremo-nos, por exemplo do motivo do esteio de cabeceira do dólmen de Vilarinho da Castanheira (Shee, 1981, Fig. 33), das figurações do esteio à direita da cabeceira da orca do Tanque (Leisner, 1934, Pl. 14) ou da figura tutelar do segundo esteio à esquerda da cabeceira da Arquinha da Moura (Cunha, 1995, est. XI). Escandalosa é também a semelhança com o motivo nº 92 da rocha F155 (Baptista, 1981, Fig. 3), situação que nos demonstra que também no Tejo estes antropomorfos estão presentes, ao contrário do que se verifica, por exemplo, na arte esquemática. Este último dado é bastante pertinente na medida em que nos aponta para uma maior antiguidade relativa destes motivos, situando-os ainda na primeira metade do IV milénio A. C. Finalmente, encontramos ainda figuras antropomórficas ou de cariz antropomórfico que, até ao momento, parecem ser exclusivas do Guadiana. Referimo-nos aos seguintes motivos do Roncanito: o que aparece na rocha 6 do sector I daquela estação, os nºs 1 e 2 da rocha 1 do sector II e os nºs 1 e 5 da rocha 2 do mesmo sector. Já o motivo nº 1 da rocha 51 da Moinhola, não se assemelhando em rigor a nenhuma outra figura, parece poder ser integrada, pela sua morfologia geral, no grupo dos idoliformes do III milénio A. C.. Até agora, temos vindo a ver que será muito difícil dilatar a diacronia desta fase para lá dos IV e III milénios A. C., evidenciando-se assim a contemporaneidade com as fases II e III do Tejo (proposta de AMB). Corresponde

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Viñas (Breuil, 1933a, Pl. XXXI, Fig. C), abrigo 2 daquele sítio (Breuil, 1933a, , Pl. XXXI, Fig. D), rocha 3 do Prado del Azogue (Breuil, 1933b, 27, Fig. 14), abrigo 3 de Barranco de La Cueva (Breuil, 1933b, 30, Fig. 16), Cueva de Las Vacas del Retamoso (Breuil, 1933b, Pl. XII), Cueva de Los Puercos (Breuil, 1933b, Pl. LIX, Fig. 3), Rodriguero (Breuil, 1933b, Pl. XVII, Fig. 2) e Cueva Meliton (Breuil, 1933b, Pl. XXVI, Fig. 4). Mesmo no Tejo, sendo um motivo particularmente raro, não deixa de se encontrar presente, por exemplo na rocha 11 do Ocreza ou na SSR305. No Alqueva português encontramos também um antropomorfo de tipo halteriforme (motivo nº 39 da rocha 2 da Perdigoa). Trata-se de figuração bastante difundida na arte esquemática, correspondendo o nosso exemplar à variante E dos halteriformes de Pilar Acosta (1968, 82). No vale do Tejo existem gravuras que não sendo exactamente iguais, poderão integrar o mesmo mundo. Referimo-nos àquelas que Mário Varela Gomes denomina antropomorfos de forma bitriangular (Gomes, 2001, 79, Fig. 12). Outros antropomorfos existem que, pese o facto de apresentarem formas bastante peculiares, são paralelizáveis com gravuras do vale do Tejo. Referimo-nos aos seguintes motivos da Moinhola: nº 1 do painel A da rocha 1, nº 2 da rocha 6, nº 3 da rocha 61 e nº 11 da rocha 83. Os dois primeiros e o último assemelham-se a um dos antropomorfos da rocha 127-C de S. Simão (Baptista et alii, 1978, Abb. 9, primeira figura da linha inferior); o terceiro a um outro da mesma superfície (Baptista et alii, 1978, Abb. 9, quarta figura da linha inferior). No Alqueva identificamos ainda um tipo de antropomorfos com o corpo cheio (isto é, não se reduzindo a uma linha). Estes observam-se na rocha 1 do sector II de Foz de Pardais, na


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a primeira àquela em que os motivos e respectivas associações denotam maior proximidade com a arte megalítica (primeira metade do IV milénio A. C.). No Guadiana, é particularmente pertinente nesta fase a prática ausência de animais, podendo os identificados em Mocissos 8 corresponder à totalidade da excepção. É pertinente verificar, contudo, que nenhum daqueles dois permite a identificação da espécie. A espiral que no Tejo é, neste período, ainda um elemento preponderante, vê-se aqui reduzida a um papel residual. Por outro lado, os serpentiformes, tão comuns no interior dos dólmenes, certos antropomorfos e mesmo algumas figuras geométricas que pelas suas relações se relacionam com os anteriores ajudam a caracterizar este primeiro momento. De realçar nos antropomorfos a ausência de indicadores de género. A grande “explosão” rupestre no Guadiana, dá-se contudo num momento contemporâneo da fase III do Tejo, quando as composições com base no círculo (círculos simples, concêntricos, etc.) se tornam maioritárias. É nesta fase que se deverão situar a maior parte dos zoomorfos do Guadiana, assim como grande número dos antropomorfos. É também neste momento que se devem ter gravado os bucrânios, báculos, faces oculadas e outros idoliformes. Correspondem a motivos cujos paralelos figurativos ou materiais se encontram maioritariamente na arte esquemática, em contextos próprios dos finais do fenómeno megalítico e do Calcolítico regional. Poderemos pois localizar este momento num intervalo situado entre os finais do IV milénio e os inícios do III A. C.. Deve destacar-se em relação aos antropomorfos a distinção do género em grande parte deles, assim como a frequente associação em pares, situação já observada em texto anterior (Baptista, 2002, 161). Também neste momento

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são já reconhecíveis as espécies animais representadas, correspondendo estas a cervídeos e capríneos. Tudo o que escrevemos até agora corresponde à transcrição literal do que se encontra no relatório entregue à EDIA. Convem agora tecermos algumas considerações que se tornam pertinentes após a publicação de Collado (2006). Como se pode depreender do contraste entre o que escrevemos acima e a leitura da obra do investigador extremenho, é claro que a este nosso Período II correspondem as suas Fases II (Epipaleolítico) (Collado, 2006, 287-383) e III (Neolítico – Idade do Bronze) (Collado, 2006, 387-439). Comecemos por discutir a existência de uma fase epipaleolítica. Considera aquele autor como integráveis nesta fase motivos como os nossos zoomorfos das rochas 2, 63 e 92 da Moinhola ou dos painéis A e C da rocha 1 da Malhada das Taliscas [Figuras que integrariam o seu grupo de “Zoomorfos Esquemáticos de Corpo Circular” (Collado, 2006, 290-291)]; incluídos também nessa fase encontrar-se-íam os antropomorfos de corpo circular e de corpo circular compartimentado (Collado, 2006, 292-295); caberiam nessas categorias os nossos motivos 11 da rocha 83 da Moinhola, 1 da rocha 51 da Moinhola, 24 do painel F da rocha 8 de Mocissos, os antropomorfos das rochas 1 e 2 de Roncanito II; eventualmente poderiam integrar também este grupo o motivo 2 da rocha 18 da Moinhola. A primeira ressalva que queremos fazer é que, como se percebe da leitura anterior, nem todos estes motivos foram considerados por nós antropomorfos. Procuremos agora discutir os argumentos que Collado utiliza para atribuir uma cronologia epipaleolítica a estes motivos. Utilizando a seriação dos mesmos efectuada por aquele autor, comecemos pelo argumento estratigráfi-


sições valorizadas dão-se entre estes motivos e figuras tais como nuvens de pontos, esquemas ondulados, formas ovais de grande tamanho, círculos, traços picotados e filiformes e um reticulado da Idade do Ferro (Collado, 2006, 364). Parece-nos, mais uma vez que este autor exagera quanto à precisão cronológica dos motivos que sobrepõem. Por outro lado, parece não ter em conta o conceito de associação por sobreposição sincrónica (Leroi-Gourhan, 1984, 113-115); a título de exemplo, citemos apenas o caso da sua estação Grilling. A sobreposição aí encontrada entre “esquemas ondulados” e um zoomorfo deve ser interpretada como fruto de um intervalo temporal ou de uma associação por sobreposição? Por outro lado, há ainda que ter em conta as sobreposições e estratigrafias de outros sítios e se bem que no Guadiana português não temos situações dessas, o caso muda de Figura no Tejo, desde logo na rocha F155. Na verdade e, tal como acima referido, estes zoomorfos encontram um forte paralelo no motivo 44 daquela rocha integrável na sua fase III (ver supra). Por tudo o que dissemos, julgamos pois que o argumento estratigráfico por si só não é passível de atestar uma cronologia epipaleolítica para estes motivos. Passemos agora ao argumento morfológico-estilístico. Já que o autor (e bem) apenas tem em conta os zoomorfos porque admite não existirem paralelos para os antropomorfos, debrucemo-nos também só sobre os primeiros. E quanto a isso, a primeira observação que devemos fazer é que a atribuição cronológica feita sobre o bovídeo subnaturalista (Collado, 2006, 365367, 374-375) é bastante pertinente. Por outro lado, o carácter epipaleolítico desta figura isolada impõe-nos alguma cautela. Como é sabido, e como o próprio autor refere, o estilo do bovídeo aproxima-se da Fase estilizado-estática

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co. Como o próprio refere trata-se de um argumento objectivo. O que discutimos não é a existência das sobreposições mas a relevância das mesmas para que se infira uma cronologia epipaleolítica. Assim, em relação aos antropomorfos, poderá uma figura em ângulo ser de uma precisão cronológica tal que qualquer coisa que esteja por baixo possa ser considerada epipaleolíica (El Tortuguino)? De algo que esteja sob incisões da Idade do Ferro (?) não poderemos dizer apenas que é anterior a esse período (El Rojo)? Em Lanzadera, o motivo 16 será um antropomorfo de corpo circular ou um de corpo linear associado a uma oval? Se tivermos isto em conta, o que diferencia o motivo 16 do 17 é a existência de mãos e o que o último sobrepõe é uma simples figura oval. O mesmo raciocínio pode ser aplicado em Heineken. A sobreposição aí valorizada é entre um antropomorfo e uma oval (observe-se de onde arrancam os membros superiores do suposto antropomorfo sobreposto!). Também em El Carro, a sobreposição é demasiado ligeira para que não seja possível pensar-se numa relação compositiva que não envolvesse somente os antropomorfos sobrepostos como também o que se situa à esquerda do sobreposto. A única situação em que parece observar-se uma efectiva sobreposição “não acidental” entre antropomorfos corresponde a El Cieno. Mas, implicará tal sobreposição um salto de milénios? Finalmente, será de referir que o que dissemos em relação aos traços em ângulo se aplica com toda a propiedade a traços picotados, círculos e grafemas ondulados (Collado, 2006, 363). Aliás, do lado português, a única sobreposição que se dá que envolva o tipo de motivos que se tem vindo a tratar é na rocha 83 da Moinhola onde um antropomorfo de corpo circular sobrepõe um círculo (Foto 146). Vejamos agora os zoomorfos. As sobrepo-


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de Varela Gomes que este último autor atribui à passagem do Epipaleolítico para o Neolítico. Por outro lado, cabe também na Fase IB da proposta cronológica de Martinho Baptista (1981, 34), por este autor também atribuível ao Neolítico Antigo. Deste modo, não será de excluir terminantemente a hipótese neolítica para esta figura, mesmo tendo em conta que, e como refere Collado, o bovídeo esteja fora da temática de ambas as propostas. Dito isto, voltemo-nos para os zoomorfos mais “característicos”. Como já se disse, em relação ao Tejo, estes integram-se perfeitamente na Fase III pelo que quanto a isso nos ficamos por aqui. Vejamos as restantes estações que Collado refere na sua argumentação. Este autor, valorizando o corpo oval destas Figuras pretende encontrar paralelos nas Figuras de Cueva Palomera. Esquecendo-nos por momentos que apenas está a valorizar um aspecto formal em detrimento dos restantes, podemos perguntar: e para além do veado cujo autor apresenta o desenho? Os restantes motivos aí presentes têm o mesmo tipo de corpo? Quanto a nós, não. A maior parte dos animais apresentam, desde logo, dorsos curvilíneos de tendência convexa; Apenas alguns, como os veados 1 ou 30 apresentam estas mesmas características formais se bem que mais atenuadas (Corchón et alii, 1996, 48-49, Fig. 8). Ou seja, o corpo de um animal é apresentado como evidência de paralelismos entre os zoomorfos do Guadiana com o “grupo de Figuras de la Sala de las Pinturas de la burgalesa Cueva Palomera” (Collado, 2006, 368). Seguidamente, Collado compara os zoomorfos do Guadiana com os que se encontram nas placas provenientes do Magdaleno-Aziliense do Sudoeste francês, nomeadamente com as provenientes de Murat, Pégourié, Boire del Rey e Pont d’Ambor (Collado, 2006, 368).

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Presumimos pela sua citação que se refere às republicadas por D’Errico (1994, 254-259, Figs. 294-296). Ora, para além de em ambas as situações nos encontrarmos perante zoomorfos, que outros paralelismos podemos encontrar: os temas? as técnicas? os famigerados corpos de tendência oval? as cabeças? as terminações? o esquematismo notório dos exemplos do Guadiana? Uma coisa é certa, nenhum destes factores que referimos é seguramente paralelizável. Já quanto à comparação das hastes dos veados com as composições não figurativas daquele horizonte, o autor dá ele próprio a resposta – de facto, não lhe falta atrevimento (Collado, 2006, 368). Se se podem comparar as armações desses motivos filiformes a que se refere Collado é, por exemplo, com as figuras da rocha 1 do sector I de Beatas e com as provenientes do mundo da arte esquemática pintada a que atrás aludimos. Em relação ao Côa, continuamos não só sem encontrar quaisquer bases seguras de paralelização como também não concordamos com algumas das atribuições cronológicas por aquele autor propostas. Em relação ao primeiro ponto, Collado procura comparar animais de corpos ovais, patas arqueadas, cabeças e armações sumamente esquemáticas (nestas últimas valoriza também a perspectiva torcida) com zoomorfos de corpos tendencialmente rectangulares, patas estáticas e cabeças subnaturalistas. Neste sentido, apenas temos em comum a perspectiva torcida das armações, mas este trata-se de um recurso utilizado desde o Paleolítico até à Idade do Ferro. Quanto às atribuições cronológicas, se bem que tal assunto ultrapasse largamente o âmbito deste trabalho, não podemos deixar de tecer algumas curtas observações. Assim, em relação aos motivos das rochas 3, 4 e 36 da Canada do Inferno e ao veado da rocha 1 de Vale de Cabrões, a cronologia referida por Collado


encontram os cervídeos e uma inferior onde se dispõem os arqueiros e, por outro lado a estranheza da atitude do veado frente aos arqueiros, admitindo que a cabeça erguida daquele se pode dever ao sobressalto causado pelo descobrimento dos últimos (Utrilla e Villaverde, 2004, 61). Será mesmo assim ou estaremos perante uma actualização “levantina” de uma composição pleistocénica? Trata-se de uma mera hipótese académica que pretende, no entanto, demonstrar que não pode esta estação por si colocar em causa “la atribución cronológica de una buena parte de los grabados filiformes del conjunto portugués” (Collado, 2006, 370). Esta estação é, por outro lado, um caso paradigmático dos problemas que se levantam quando se comparam motivos provenientes de diferentes contextos. Mas voltando ao Guadiana, continuamos sem verificar qualquer paralelismo entre os motivos das estações referidas atrás e os zoomorfos alentejano-extremenhos. Cedemos, contudo, na forma oval do corpo do veado de Barranco Hondo, mas olhemos para as suas patas, para a sua cabeça, para as hastes... Poderá tal subnaturalismo comparar-se com o esquematismo dos animais que agora discutimos? O mesmo se passa com os paralelos que seguidamente Collado apresenta (Abrigo del Castillo e Paso del Pablo). Se bem que, como refere o autor, estes motivos demonstrem uma fase artística prévia à arte esquemática clássica (Collado, 2006, 273) não podemos por isso querer ver essa fase em todos os sítios, nomeadamente no Guadiana, especialmente se essas fases se afastam estilisticamente do que temos. É este, quanto a nós, um dos grandes males da Pré-história da Arte, a saber – a transposição acrítica de ciclos e fases artísticas de uns locais para os outros, mesmo que todos os dados nos impeçam de o fazer. Em relação aos motivos da Faia que

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corresponde à por um de nós já proposta (Baptista e Gomes, 1997, 222; Baptista, 1999, 82, 138); quanto ao “atípico” auroque da rocha 32 da Canada do Inferno julgamos não possuir de momento qualquer argumento que nos permita considerar com a precisão necessária a sua cronologia; o veado da rocha 33 se bem que não paralelizável com as gravuras paleolíticas mais antigas (Baptista et alii, 2006, 158; Baptista et alii, 2008) apresenta recursos estilísticos comparáveis aos cervídeos de traço estriado datáveis do Magdalenense final (ver supra). Já o capríneo da rocha 6 de Vale de Cabrões apresenta notáveis paralelos com os motivos existentes nas placas provenientes da camada 4 do Fariseu, camada essa que contém uma indústria do Magdalenense final confirmada pelas datações absolutas entretanto obtidas que se integram num intervalo situável entre os 11000 e os 10000 BP (Aubry, 2002; Aubry, 2006; Mercier et alii, 2006). Por esta mesma razão, julgamos ser prematuro fazer avançar a cronologia das gravuras de uma estação como o Abric d’En Melia para tempos epipaleolíticos, hipótese que os autores do estudo da estação também levantam (Martínez et alii, 2003, 285-289). Já o Barranco Hondo levanta problemas mais complexos; na verdade, o veado aí gravado apresenta alguns paralelos com os cervídeos estriados da Cantábria e com outros do Côa; contudo, será legítimo que a partir de um caso em que um veado com estas características aparece integrado em conjunto de clara natureza levantina se ponha em causa outras manifestações que todas as evidências (incluindo datações absolutas) apontam para cronologias pleistocénicas? Por outro lado, há que ter em conta que se bem que os autores se inclinem para uma “cierta unidad compositiva” não deixam de relevar, por um lado a divisão da composição entre uma parte superior onde se


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Collado traz à liça (bovídeos da rocha 1 e antropomorfo da rocha 3), queremos referir que admitimos que a cronologia por nós proposta anteriormente possa de facto ser recuada. Se o argumento do paralelismo do antropomorfo com os de “tipo Centelles” do Levante (Villaverde et alii, 2006) parece ser válido, não consideramos de tal maneira o que admite que sociedades de caçadores-recolectores prévias à introdução do “mundo simbólico esquemático” sejam necessariamente epipaleolíticas (Collado, 2006, 374). Na verdade se, como referiremos adiante, no Sul de Portugal não existem evidências que nos permitam falar de sociedades essencialmente produtoras durante o Neolítico, tal situação no Norte e Centro da Península é ainda mais provável ( Jorge, 1999, 13-47). A restante argumentação de Collado refere-se ao bovídeo subnaturalista e como já referimos acima, é de elevada pertinência. Quanto ao argumento contextual, tanto existem na região sítios epipaleolíticos como, sobretudo, do IV e III milénios A.C., pelo que não nos alargaremos sobre o assunto. Em jeito de resumo, pensamos não ser possível ver nos zoomorfos esquemáticos de corpo circular uma manifestação epipaleolítica pelas seguintes razões: os únicos paralelos evidentes para estes motivos encontram-se no Tejo em fases plenamente produtoras; os paralelos que Collado vai buscar não são viáveis porque não comparáveis formalmente; parte dos que utiliza são de cronologias bastante mais recuadas ou de difícil precisão (Magdaleno-Azilienses). Se até aqui pretendemos demonstrar que dificilmente se poderá aceitar a fase II de Collado, procuremos agora explicitar porque não pensamos que a sua Fase III se estenda até momentos avançados da Idade do Bronze (Collado, 2006, 436). Na verdade, os motivos que este autor apresenta para definir o final

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deste fase correspondem a círculos concêntricos, espirais e um “carro”. Ora, em relação aos primeiros dois, como referimos atrás, são elementos que integram a fase II e III (os círculos concêntricos) do Tejo. Em relação à espiral é de fundamental importância para que este assunto seja cabalmente resolvido a leitura atenta do estudo referente à rocha F155 (Baptista, 1981). Em relação ao motivo interpretado como carro, é de ter em conta o aparecimento de semelhante figuração na rocha 9 do santuário exterior do Escoural (Gomes et alii, 1983, 295), sob as camadas datadas dos inícios do III milénio (ver supra). Deste modo, dificilmente poderemos pensar numa longa diacronia para esta fase do ciclo artístico do Guadiana. Período III: Tal como foi já referido, corresponde à arte da Idade do Ferro (Baptista, 2002, 162-163), podendo integrar-se nesta fase cerca de 10 rochas do Guadiana: três ou quatro da Moinhola (n.os 5, 21, 109 e, eventualmente, 50), uma de Mocissos (n.º 3) e outra de Roncanito III (rocha 1). Trata-se de figuras incisas, maioritariamente de carácter geométrico e não figurativo, pese o facto de existirem também figurações humanas armadas (apenas na rocha 3 de Mocissos) e animais (na rocha anterior e na 109 da Moinhola), formando estes motivos, no caso da rocha 3 de Mocissos, composições narrativas de marcado carácter bélico e/ou venatório. Para além das figurações claramente zoomórficas, existem outras que poderão corresponder a visões míticas da família dos ofídios (a composição da rocha 5 da Moinhola e da rocha 1 de Roncanito III). Situam-se tanto em locais bastante acessíveis como em sítios em que a visualização é mesmo perigosa (como é o caso da rocha 1 de Roncanito III). A maior parte dos paralelos rupestres para


racterização que poderá, como se observará seguidamente corresponder a um punhal (n.º 23). Inferir tipologias de armas a partir de figurações rupestres levanta problemas óbvios, sendo o mais manifesto o da estilização dos objectos. Contudo, algumas das gravuras aqui presentes permitem-nos tecer algumas considerações. Referimo-nos às armas transportadas pelo antropomorfo n.º 5 e ao motivo 23. Lanças de ponta e regatão são conhecidas na Península Ibérica, pelo menos desde o Bronze final. Contudo, estas diferenciam-se claramente das da Idade do Ferro que começam a aparecer a partir dos séculos VII-VI A. C. (Quesada, 1997, 427-428). Se, no caso presente, o regatão representado parece corresponder a mais uma situação de estilização, a ponta integra-se perfeitamente na variante Ca do tipo VII da tipologia de Quesada Sanz para as lanças ibéricas (Quesada, 1997, 358, Fig. 209, 377379). Segundo aquele autor dever-se-ão datar de um período compreendido entre os séculos IV e II a. C.. Não podemos, no entanto, deixar de ressalvar que, até ao momento, os exemplares conhecidos são provenientes da Meseta Oriental, da zona abulense, do Alto Ebro e em menor medida do sudeste peninsular, localizações bastante afastadas da região que agora nos importa. Também o nosso motivo 23 padece de um problema semelhante, se bem que não tão “grave”. Embora se encaixe no tipo IIB da tipologia de Quesada para os punhais (Quesada, 1997, 280, Fig. 164, 283) e, pese o facto dos exemplares conhecidos serem provenientes da Alta Andaluzia, o certo é que, até ao momento, só se conhecem dois exemplares. De acordo com Quesada, o seu tipo II (com todas as variantes) no sul peninsular dever-se-á datar de um intervalo temporal situável entre a primeira metade do século IV e o final do século III a. C (Quesada, 1997, 285). Já quanto ao escudo do personagem

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estas manifestações encontram-se a norte do Tejo. Contudo, convém não esquecer as gravuras da Fase 5 de Molino de Manzanares, sita já na margem extremenha do Guadiana (Collado, 2002, 198; 2006, 443-473). Por outro lado, há ainda que contar com os paralelos materiais (nomeadamente as armas e a decoração das cerâmicas), estas últimas com alguma representação no sul peninsular, inclusivamente na zona que mais directamente nos interessa. Quanto ao primeiro grupo de paralelos (situados a norte do Tejo) devemos destacar as estações da bacia do Douro, nomeadamente parte das rochas do Vale da Casa (Baptista, 1983) e um conjunto importante das existentes no Vale do Côa (Baptista, 1999, 173-181). Constituem estas rochas um evidente paralelo, em particular para a rocha 3 de Mocissos. Por outro lado, o mesmo tipo de gravuras poderá ser encontrado nas serras da cordilheira central, tanto em Espanha como em Portugal. No primeiro país será de destacar algumas estações de Las Hurdes que apresentam repertório semelhante, em particular no que toca às figurações geométricas e às armas (Sevillano, 1983; 1991; Sevillano e Bécares, 1997). Do lado português será de destacar a estação de Molelinhos (Cunha, 1991) ou a Pedra Letreira de Góis (Nunes et alii, 1959). Todas estas estações partilham em maior ou menor grau as mesmas técnicas, figurações e cronologia (Baptista, 1983-84, 78-81; Baptista, 1986, 52-53), devendo esta última, como nos indicam as armas figuradas, integrar-se na Idade do Ferro. No caso concreto do Alqueva, encontramos armas apenas na rocha 3 de Mocissos: uma lança de ponta e regatão e um escudo na mão do personagem n.º 5; javalinas ou lanças sobre o veado n.º 33, sobre e sob o veado n.º 28, sob o veado 25 e ainda uma outra isolada (n.º 34). Observa-se ainda uma outra arma de difícil ca-


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n.Âş 5, este corresponde Ă famosa caetra de face cĂ´ncava cujas fontes literĂĄrias (nomeadamente EstrabĂŁo) atribuem aos povos do ocidente peninsular. Trata-se da mesma arma figurada em algumas das estĂĄtuas dos guerreiros galaico-lusitanos13, aparecendo tambĂŠm na escultura ibĂŠrica, na cerâmica pintada daquela “culturaâ€?, na ourivesaria, etc. Por outro lado, conhecem-se tambĂŠm manĂ­pulos de escudos cujas formas remetem para aquele tipo de arma de defesa activa (Quesada, 1997, 527-528). A partir da datação da cerâmica de Liria onde estas peças se encontram figuradas e de alguns manĂ­pulos, Quesada propĂľe como terminus post quem para estes artefactos o sĂŠculo IV a. C. (Quesada, 1997, 531), chegando a atingir a ĂŠpoca romana como nos demonstram as estĂĄtuas do noroeste peninsular referidas acima. Como por vĂĄrias vezes jĂĄ referimos ao longo deste ponto, importantes paralelos para estas figuraçþes sĂŁo passĂ­veis de ser encontrados nas decoraçþes das cerâmicas. Em relação ao mundo ibĂŠrico e especificamente quanto ao armamento, remetemos para o anexo VI da obra de Quesada Sanz (1997, 943-962). Por outro lado, e como tambĂŠm jĂĄ escrevemos acima, outras peças cerâmicas da regiĂŁo remetem para as rochas a que nos temos vindo a referir, em particular para a 3 de Mocissos. Assim, por exemplo, a banda inferior do friso n.Âş 6 daquela rocha apresenta uma gramĂĄtica figurativa em tudo semelhante a um fragmento cerâmico da Herdade da Sapatoa (Mataloto, 2004, 90 e est. L), situação que o responsĂĄvel pela investigação do sĂ­tio tinha jĂĄ apontado. Refere tambĂŠm aquele autor a semelhança com um fragmento

proveniente da camada 1 dos Alegrios (Vilaça, 1995, 188 e est. CLXXXV-6). Como nos referiremos posteriormente, o primeiro sĂ­tio ĂŠ tido como da primeira metade do I milĂŠnio. Quanto ao segundo, ĂŠ datado do Bronze final, embora seja de ter em conta que na camada donde provĂŠm o fragmento que nos ocupa “foram recolhidos [...] materiais cerâmicos de cronologia posterior ao Bronze final.â€? (Vilaça, 1995, 200). Contudo, as bandas mais significativas deste friso sĂŁo as compostas por ornitomorfos. Estes encontram-se bem representados em estampilhas cerâmicas, tanto no sul de Portugal (Arnaud e Gamito, 1974-1977, 169, Fig. 3-53 e 56 e Fig. V-53 e 56) como no noroeste. Se nesta Ăşltima regiĂŁo, este tipo de decoração deverĂĄ ser datado da segunda metade do IÂş milĂŠnio A. C. (Silva, 1986, 124; Martins, 1987; 5514), existem evidĂŞncias, como veremos no ponto seguinte, para no norte do Alentejo devermos recuar a cronologia ainda para a primeira metade daquele. Encontramos, deste modo, uma grande coerĂŞncia interna a nĂ­vel da datação do friso. Por outro lado, devemos ainda ter em conta a relação estratigrĂĄfica entre este motivo e o personagem 5 que, como vimos, transporta armas que se deverĂŁo datar da segunda metade do milĂŠnio. Ora, a este nĂ­vel, e pese existirem alguns cruzamentos de traços que oferecem algumas dĂşvidas, parece-nos que ĂŠ o antropomorfo que sobrepĂľe o friso, reforçando-se assim a nossa ideia da anterioridade do Ăşltimo. Outra classe de motivos que podem ajudar-nos a fundamentar a cronologia destas rochas sĂŁo os zoomorfos. Quanto ao cavalo (motivo n.Âş 6), este ĂŠ montado pelo personagem 5

V. g. Campos (Silva, 1986, est. CXXI-1), Refojos de Basto (Silva, 1986, est. CXXII-1), Santo Ovídio de Fafe (Silva, 1986, est. CXXIII) ou S. Jorge de Vizela (Silva, 1986, est. CXXIII-2). 14 Integra-se tanto na fase II de Silva como na de Martins. De acordo com o faseamento desta última autora, aquela fase VLWXD VH HQWUH RV LQtFLRV GR VpFXOR 9, 9 D & H RV ÀQDLV GR VpFXOR ,, D & 0DUWLQV 13

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figuração destes animais na zona que nos interessa em placas de ouro repuxadas (nomeadamente em La Martela) atribuíveis ao século V a. C. (Berrocal, 1993, 144-146). Finalmente, será de destacar a composição constituída pelos motivos nºs 9 e 10 de Mocissos 3. Aparentemente, corresponde a uma cerva que é acometida por um animal de difícil caracterização, possivelmente de natureza mítica. Trata-se de uma associação que nos remete para um tipo de associação presente em algumas estampilhas do sudoeste peninsular, exumadas nomeadamente no depósito A de Capote. As estampilhas a que nos referimos foram interpretadas como “pégasos” ou “grifos” (Berrocal, 1993, 102 e lam. 5). Contudo, parece-nos que em particular o fragmento DepA2752 poderá ter que ver mais com a situação que aqui reconhecemos, correspondendo as estampilhas do fragmento DepA4604 a uma estilização da mesma narrativa. De acordo com Berrocal Rangel, estas cerâmicas integram-se na fase de apogeu das “culturas do sudoeste”, localizando-se esta num intervalo temporal situável entre o segundo quartel do século IV e a primeira metade do II a. C. (Berrocal, 1993, 277-278). Outro paralelo para a associação a que nos temos vindo a referir encontramo-lo em Albacete (sudeste ibérico), na Cueva da Camareta, sendo tais gravuras interpretadas como um capríneo atacado por um possível canídeo (González et alii, 1993, 425, Fig. 9). Estas gravuras são dadas pelos autores que as publicam como modernas. Não explicam, contudo, o porquê de tal atribuição cronológica. Como se verificou até ao momento, todas as pistas que temos evidenciam a cronologia sidérica de, pelo menos, três das rochas mencionadas no início deste ponto (3 de Mocissos,

Desenho parcial desta rocha (onde não se encontra ainda o peixe) pode ser consultado em Baptista, 1999, 167, Fig. 3.

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referido atrás. Trata-se de uma associação já identificada no Vale da Casa e em determinadas rochas do Côa e que reflecte “una relación entre hombre y caballo frecuente en las sociedades guerreras de la Meseta y del mundo ibérico” e que também se verifica a outros níveis na zona que agora nos importa na segunda metade do milénio (Berrocal, 1993, 145). É disso, seguramente, testemunho a placa decorada de Cancho Roano onde no anverso se identificou um par de quartos traseiros de cavalos insertos em cartela sub-rectangular, e no inverso um cavalo completo, a metade traseira de um outro e um bovídeo (Maluquer, 1985). O autor da publicação interpretou tais motivos como um esboço (Maluquer, 1985, 66) mas o achado recente no Vale do Côa de uma placa mais complexa e ainda inédita, alerta-nos para a possível existência deste tipo de ex-votos. Da mesma maneira, os cervídeos que são gravados nas margens do Guadiana (os de Moinhola 109 e de Mocissos 3, estes últimos em claro contexto de caça) espelham também uma situação já evidenciada no Vale da Casa e, sobretudo, na cerâmica pintada ibérica (v. g. Pericot, 1979; Aranegui, 1997, 76-87). Já quanto aos peixes (presentes nas rochas 21 de Moinhola e 3 de Mocissos), se representações noutros suportes não existem na zona em causa, encontram-se contudo noutras paragens em contextos próprios da segunda metade do I milénio A. C. Referimo-nos ao gravado na rocha 3 da Vermelhosa15 e, de novo, às cerâmicas pintadas ibéricas onde o número de representações deste animal é bastante considerável (v. g. Pericot, 1979; Aranegui, 1997, 53). Também o possível felídeo da rocha 3 (motivo 16) nos remete para um problema semelhante. No entanto, será de ter em conta a


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21 e 109 da Moinhola). Outras duas rochas existem que apresentam um certo ar de família, razão pela qual as discutiremos em conjunto. Referimo-nos às rochas 5 da Moinhola e 1 do sector III de Mocissos. Em ambas encontramos o que parecem ser ofídios delimitados o primeiro por ziguezagues e o segundo por uma cartela sub-rectangular onde no interior também se gravou um ziguezague. Tecnicamente, pertencem ao mesmo mundo das gravuras referidas até aqui. Por outro lado, se é difícil encontrar paralelos na zona que mais directamente nos interessa, a ligação dos ofídios gravados com contextos da Idade do Ferro no noroeste peninsular é bastante evidente (Gomes, 1999, 227-228). Finalmente, uma última observação, desta vez em relação à rocha 50 da Moinhola, precisamente aquela sobre a qual levantámos dúvidas quanto à sua cronologia sidérica. Na verdade, o tipo de traço que aí encontramos é bastante semelhante ao dos que enformam as gravuras que temos vindo a tratar até aqui. No entanto, não pode ser esse o nosso único critério na altura de adscrição de cronologias. Como vimos em relação ao repertório do nosso período 1 e aos motivos presentes na rocha 1 do sector I de Beatas (Período II) e tal como se verá seguidamente, a técnica da incisão fina não pode per se ser indicadora de um período cronológico. Do mesmo modo, não existem, de momento, quaisquer paralelos bem contextualizados para os motivos sobre os quais agora nos debruçamos16. Contudo, existe algo que pode ser considerado como factor indicativo. Como se depreende da leitura da descrição e do desenho da rocha agora em causa, algumas das composições aqui presentes

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assemelham-se muito a um qualquer sistema caligráfico. Não correspondendo essas figurações a nenhum alfabeto conhecido, podemos interpretá-las como uma tentativa de imitação de algum. Podendo o modelo real tratar-se de qualquer silabário conhecido, existem algumas semelhanças formais com os da Idade do Ferro que poderão, como discutiremos mais à frente, revestir esta rocha de particular importância no contexto daquele período. Período IV: Um número considerável de rochas pode ser integrado nesta fase que cronologicamente se integra em épocas plenamente históricas, sendo grande parte delas seguramente já de idade contemporânea (Baptista, 2002, 163). Do ponto de vista técnico, tanto encontramos gravuras picotadas como incisas. Com esta última técnica predominam os motivos não figurativos, correspondendo por vezes estes às composições únicas dos painéis, como são os casos de Senhora da Ajuda III-1 (2ª fase), Senhora da Ajuda III-2, Retorta 1, Beatas I-2, Lameira 1, Azenhas d’El Rei I-1, Azenhas d’El Rei II-1, Azenhas d’El Rei III-1 ou Moinhola 30. Para além destes, identificamos também executados com esta técnica: esteliformes (Roncanito I-3 ou Moinhola 49), reticulados e outras figuras de carácter trapezoidal de cariz mais ou menos complexo (Santo Ildefonso I-1, Santo Ildefonso III-1, Santo Ildefonso VI-2 ou Moinho do Lurico 1), letras ou sinais de natureza letriforme (Santo Ildefonso III-1 ou Moinho do Lurico 1), objectos do quotidiano como tesouras (Moinho do Lurico 1) ou canivetes (Poço de Alcaria), meios de transporte

5HFHQWHPHQWH IRL LGHQWLÀFDGD QR YDOH GR &{D HVWDomR GD )R] GR &{D XPD URFKD FRP ÀJXUDo}HV EDVWDQWH VHPHOKDQWHV

BREVE DISCUSSÃO DAS CRONOLOGIAS DE UM SANTUÁRIO


tre os motivos picotados, observam-se jogos (Moinho dos Clérigos), letras (Cooperativa Agrícola I-1), manifestações de religiosidade popular (Moinho da Abóbada 1 e Cooperativa Agrícola I-1), de afectos desportivos (Poço de Alcaria) ou de exaltação sexual do género feminino (Monte Tosco 1), assim como, de igual modo, nomes, datas e até identificações militares (Monte Tosco). 17

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como barcos (Foz de Pardais V-1 e Poço de Alcaria) ou automóveis (Poço de Alcaria), mulheres que lembram as representadas na cerâmica de Estremoz (Azenhas d’El Rei II-1), marcadas manifestações de desejos sexuais (Poço de Alcaria) ou económicos (Poço de Alcaria) e símbolos como a rosa dos ventos (Roncanito I-4), o do Partido Comunista Português (Poço de Alcaria), para além de nomes e datas. En-



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Agora que se definiram as diversas fases de gravação do santuário, será de toda a pertinência procurarmos as narrativas possíveis que possam integrar tal fenómeno antrópico. Tentaremos neste e no próximo ponto, e com base nos dados disponíveis, perceber os Mundos que originaram as manifestações rupestres no Guadiana. Uma vez que aquele no seio do qual nasceu a mais recente é-nos ainda bastante familiar, debruçar-nos-emos apenas sobre a Pré e Proto-história. Se bem que vestígios de ocupação do Paleolítico inferior na área do regolfo não estejam suficientemente documentados na área em estudo (Silva, 1994, 85; Almeida et alii, 2002), e que os do Paleolítico médio sejam bastante escassos (Cunha-Ribeiro e Cura, 2004) a verdade é que a presença antrópica durante o Paleolítico superior veio a aumentar a sua representatividade ao longo dos trabalhos advindos da construção da barragem. Entre estes, dever-se-á destacar um horizonte Magdalenense presente no Xarez (Gomes et alii, 2000), quatro sítios do mesmo período nas plataformas aluvionares e coluvionares do Alcarrache e a zona Sudoeste da Malhada do Mercador I (Almeida et alii, 2002, 97-98). Perto da área em questão situam-se a gruta do Escoural, em Montemor-

-o-Novo (Araújo et alii, 1995) e a estação Solutrense do Monte de Fainha em Évoramonte (Silva, 1994, 78). Já a presença humana durante o Epipaleolítico parece encontrar-se reflectida, pelo menos em parte, pelos conjuntos macrolíticos que ocorrem por todo o vale do Guadiana, como parece ter ficado demonstrado pelas escavações da Barca do Xarez, estação de que já se conhece uma datação radiocarbónica da primeira metade do VIII milénio A. C.18 (Almeida et alii, 1999; Araújo e Almeida, 2003). Parece, portanto, cada vez mais improvável a existência de uma indústria Languedocense com cronologias pré-holocénicas, facto para o qual já vários autores têm vindo a chamar a atenção (v.g. Raposo e Silva, 1984; Silva, 1994). Dada a existência deste substrato populacional parece-nos pouco razoável aceitar uma neolitização da região com um único foco no litoral e representada pelos menires e santuários a eles ligados (v.g. Calado, 2001, 128-129). Na verdade, não só as indústrias macrolíticas continuam presentes nos sítios de habitat identificados, como as cerâmicas publicadas têm mais que ver com os espólios neolíticos da Andaluzia que com os do litoral (Diniz, 1996, 687), situação esta que, aliás, se verifi-

Obviamente, este “ponto da situação” é feito com base em textos publicados até à data da entrega do relatório que a este trabalho deu origem. Os últimos trabalhos (alguns ainda inéditos) na área do regolfo do Alqueva deverão, por certo, alterar ou reforçar algumas das ideias que seguidamente serão expostas. 18 A data publicada (Beta-120607: 8640+ 50 BP) após calibração com o Radiocarbon Calibration Program, ver. 5.0 (fornecido pelo Quaternary Isotope Laboratory, University of Washington) através do método da distribuição de probabilidades apresenta para 1 sigma os intervalos: 7705 - 7698 (5%) e 7681 – 7591 (95%), 7680 – 7656 (19,3%). Para 2 sigma, os intervalos são: 7782 – 7773 (1%) e 7755 - 7579 (99%).Ver, quanto à calibração, Stuiver et alii, 1998. Trata-se de uma datação estatisticamente semelhante (a 95% – teste estatístico t’= 2.10; Xi2 (.05)=3.84) à data GX-16414 de Palheirões do Alegra (8802+100 BP) e muito próxima da ICEN-136 (8400+70 BP) da mesma estação, apresentando os materiais algumas similitudes (Raposo, 1994). Todas as calibrações de datas que se apresentarão seguidamente foram feitas com o programa referido atrás, segundo o mesmo método apresentado precedentemente. 17

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ca em zonas mais distantes como Ê o caso da Beira Alta (Valera, 1998, 140-143). A presença de cerâmica cardial estå, contudo atestada na região, nomeadamente na estação de Xarez 12 (Gonçalves, 2002b, 182). Não nos repugna, no entanto, que os menires e santuårios por eles constituídos tenham começado a ser erigidos por esta altura e constituam, deste modo, os primeiros monumentos com que as paisagens alentejanas começam a ser pontuadas, provavelmente jå no VI milÊnio A. C. como parecem apontar os estudos de Varela Gomes (1994; Gomes et alii, 2000). De relevar, entre os argumentos de M. V. Gomes, os materiais exumados nas escavaçþes que tem realizado, a anterioridade dos menires quando em relação com tumuli que envolvem antas (caso da Granja de S. Pedro em Idanha-a-Nova)19 ou câmaras de falsa cúpula (caso de Vale Rodrigo) e finalmente, a existência de duas datas de 14C a partir de amostras recolhidas numa lareira do sítio do Padrão (Vila do Bispo, Algarve), onde se identificaram dois menires. Estas datas situam-se na segunda metade do VI milÊnio A. C20. TambÊm uma amostra recolhida no al-

A acreditar nas descriçþes dos escavadores (Almeida e Ferreira, 1971). ICEN-645: intervalo a 2 sigma de 5480-5242 A. C. e ICEN-873: intervalo a 2 sigma de 5580-5350 AC (Gomes, 1994, 331). Posteriormente, JoĂŁo ZilhĂŁo diz-nos que escavaçþes mais recentes demonstraram que os menires cortaram a camada GH RQGH DV DPRVWUDV GDWDGDV IRUDP UHFROKLGDV 1mR QRV GL] FRQWXGR R SRUTXr GHVVD DĂ€UPDomR =LOKmR 21 Referimos passagem do VI para o V devido a 19 anos do primeiro que a calibragem a 2 sigma ainda admite – Utc-4452 – 6022 + 40. A 1 sigma obtemos o intervalo compreendido entre 4960 e 4848 AC. A 2 sigma, os intervalos sĂŁo: 5019 – 4825 (97%) e 4817 – 4800 (3%). 22 Para jĂĄ, a Ăşnica datação absoluta de um contexto de habitat do NeolĂ­tico antigo na regiĂŁo ĂŠ proveniente do sĂ­tio de Valada do Mato em Évora (Diniz e Calado, 1997; Diniz, 2001; 2003). A data (Beta-153914: 6030 + 50 BP), apĂłs calibração, apresenta para um sigma os intervalos: 4992 – 4881 AC e para 2 sigma o intervalo 5053 – 4793 AC. 23 6HJXQGR R HVFDYDGRU RV IRUQRV GLVWULEXHP VH SRU XPD GLDFURQLD HQWUH R 1HROtWLFR DQWLJR H R 1HROtWLFR Ă€QDO 6HUi GH WRGD D UHOHYkQFLD VDEHU D GLVWULEXLomR GDV HVSpFLHV SRU HVWHV IRUQRV 'H PRPHQWR DSHQDV VDEHPRV TXH QR 1HROtWLFR Ă€QDO QD estrutura I) hĂĄ presença de Bos taurus (Gonçalves, 2003c, 99). 19 20

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vĂŠolo de implantação do menir da Meada em Castelo de Vide forneceu uma datação correspondente Ă transição do VI para o V milĂŠnio A. C.21 (Oliveira, 1997). Na regiĂŁo que mais directamente nos interessa devem destacar-se os menires e recintos da zona de Reguengos de Monsaraz (v. g. Gonçalves, 1970). Os sĂ­tios de habitat coevos22 e mesmo do NeolĂ­tico mĂŠdio (Soares e Silva, 1992; Gonçalves, 2002b; Silva e Soares, 2002, 176; Diniz, 2003), pelas descriçþes dos trabalhos aĂ­ realizados, apresentam estruturas muito frustes e uma dispersĂŁo espacial que nĂŁo sĂŁo muito compatĂ­veis com a ideia de uma sedentarização plena, parecendo corresponder antes a locais recorrentemente visitados. De determinante importância para a problemĂĄtica da adopção de uma economia produtiva na regiĂŁo serĂĄ certamente a publicação exaustiva dos resultados provenientes dos restos orgânicos dos “fornos culinĂĄriosâ€? de Xarez 1223 (Gonçalves, 2002b, 179-188; 2003c). NĂŁo deixa de ser curiosa a associação destes sĂ­tios a conjuntos de afloramentos que terĂŁo certamente funcionado como importantes marcos na paisagem para a localização das

PEQUENO ESBOÇO DA PRÉ-HISTÓRIA REGIONAL


prĂłprias estaçþes. PoderĂĄ esta ligação entre afloramentos e sĂ­tios de habitat denunciar jĂĄ as relaçþes entre pessoas e grandes pedras evidenciadas no megalitismo? Se vimos jĂĄ que os menires poderĂŁo ser genericamente contemporâneos destes sĂ­tios, a relação deles com o megalitismo funerĂĄrio ĂŠ mais imprecisa. Deve-se este facto Ă falta de dataçþes carbĂłnicas daquelas estaçþes e Ă quase ausĂŞncia de cronologias absolutas das fundaçþes e encerramentos dos monumentos megalĂ­ticos, situação que a “chuva de dataçþesâ€? (Gonçalves e Sousa, 2000, 69) do Norte e Centro de Portugal veio clarificar naquelas regiĂľes. Na verdade, a maior parte das dataçþes existentes no contexto do Sul de Portugal reportam-se a momentos da utilização dos monumentos que nĂŁo podemos precisar se sĂŁo muito ou pouco posteriores Ă fundação dos monumentos24. De qualquer modo, pelo menos dĂłlmenes de vestĂ­bulo25 como Poço da Gateira 1 (Leisner e Leisner, 1985, 212-221) e Gorginos 2

(Leisner e Leisner, 1985, 308-309) parecem encontrar-se em utilização jĂĄ no V milĂŠnio, como se podem verificar pelas seguintes datas: OxTL169b – 4510 A. C. (+ 110, + 360) e OxTL169c – 4440 A. C. (+ 285, + 360)26, respectivamente (Whittle e Arnaud, 1975, 18). É tambĂŠm jĂĄ conhecida uma data de um encerramento de uma câmara de um monumento deste tipo (anta 2 de Santa Margarida, em Reguengos de Monsaraz) que situa aquele acto no Ăşltimo quartel do IV milĂŠnio, eventualmente na primeira centĂşria do seguinte27 (Gonçalves, 2001, 172). Esta data ĂŠ compatĂ­vel com uma outra efectuada sobre ossos provenientes de um dĂłlmen do mesmo tipo situado mais a norte (anta da Bola de Cera em MarvĂŁo)28 (Oliveira, 1997, 234) e um pouco mais antiga (embora os intervalos se cruzem) que uma sĂŠrie da datas atribuĂ­das Ă primeira utilização da anta 3 de Santa Margarida (tambĂŠm de vestĂ­bulo)29 (Gonçalves, 2003b, 45-47). Neste Ăşltimo detectou-se uma utilização de finais do III milĂŠ-

Como referem Delibes e Rojo, “en cuanto a la opciĂłn de muestrear en el interior del megalito propriamente dito [‌] a nadie se le oculta que el gran problema reside en que el habitual caos del depĂłsito, osario o no, impide generalmente conocer con exactitud quĂŠ hito concreto del devenir del yacimiento o quĂŠ materiales arqueolĂłgicos se verĂĄn implicados, GLOX\pQGRVH OD HĂ€FDFLD GH OD GDWDFLyQ FRPR HOHPHQWR UHIHUHQFLDO SDUD HO UHVWR GHO PRQXPHQWR VH DFFHGH Vt D FRQRFHU TXH HO VHSXOFUR VH KDOODED HQ XVR HQ XQ GHWHUPLQDGR PRPHQWR SHUR VLQ PD\RU SUHFLVtRQ VREUH OR TXH HVWH VLJQLĂ€FD GHQWUR de su trayectoria.â€? (1997, 394). Lamentavelmente, a larga maioria das dataçþes do sudoeste sofre deste problema. 25 Por este tipo de monumentos, entendem-se os que sĂŁo providos de um corredor constituĂ­do por um par de esteios dispostos longitudinalmente. 26 Temos consciĂŞncia do amplo intervalo de tolerância destas datas, contudo a sua localização no V milĂŠnio nĂŁo levanta dĂşvidas. 27 Beta-153911 – 4410 + 60 BP. Calibração a um sigma: 3264 – 3241 AC (9%) e 3103-2918 (91%); a dois sigma: 3334 – 3212 AC (23%), 3190-3153 (5%) e 3135-2906 (72%). 28 ICEN-66 – 4360 + 50. Calibração a um sigma: 3077 – 3075 (1%) e 3023-2909 (99%); a dois sigma: 3264-3241 (2%) e 3104-2887 (98%). 29 Quatro das cinco datas (Beta, 176897, 166416, 166422 e 176896) atribuĂ­das pelo escavador Ă primeira utilização do monumento sĂŁo estatisticamente semelhantes a 95% (teste estatĂ­stico t’ – 5.5; Xi2 (0.05) – 7.81). A calibração da mĂŠdia ponderada a um sigma fornece-nos os intervalos: 2877-2849 (19%), 2841-2841 (0,5%), 2813-2741 (51%) e 2688-2679 (0,5%); a dois sigma os intervalos: 2886-2830 (22%) e 2822-2628 (78%). AC. 24

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nio30, situação que se verifica tambĂŠm na anta da Cabeçuda em MarvĂŁo31 (Oliveira, 1997, 234). TambĂŠm a anta 1 da Farisoa (Leisner e Leisner, 1985, 284-287) apresenta uma utilização datada pela termoluminiscĂŞncia situada grosso modo entre 2700 e 2100, como se observa pela data OxTL169i – 2405 (+ 278, + 260) (Whittle e Arnaud, 1975, 19). Uma utilização ainda mais recente num monumento deste tipo estĂĄ documentada na anta das Castelhanas em MarvĂŁo, reportando-se a meados do II milĂŠnio AC32 (Oliveira, 1997, 234). A Ăşnica data que temos para a fundação de um dĂłlmen de corredor desenvolvido trata-se de um terminus ante quem para a construção do monumento 2 de Vale Rodrigo. Esta data remete-nos para a primeira metade do IV milĂŠnio A. C. (Larsson, 2000, 450), muito provavelmente para os seus momentos iniciais33. Deste monumento temos tambĂŠm um terminus ante quem para o encerramento do monumento que se situa na segunda metade do III milĂŠnio34 (Larsson, 2000, 451). TambĂŠm da segunda metade do III milĂŠnio ĂŠ a mĂŠdia

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ponderada de duas datas35 que correspondem ås últimas deposiçþes da anta 2 dos Cebolinhos de Reguengos de Monsaraz (Gonçalves, 2003a, 157-158). Uma datação proveniente do corredor da Anta dos Coureleiros apresenta um intervalo muito amplo (Oliveira, 1997, 234). No entanto, a leitura dos resultados advindos da calibração a dois sigma permite-nos dizer que existe 91% de hipóteses da amostra se situar entre a última centúria do IV milÊnio e a primeira metade do III AC36. Jå em Cedillo (Espanha), da anta da Joaninha (uma anta de corredor indiferenciado em planta e alçado) foram publicadas duas datas com intervalos demasiado amplos (Oliveira, 2000a, 147). De qualquer modo, uma vez que são tão escassas as datas para o megalitismo do sudoeste peninsular, convÊm referi-las. Assim, uma primeira amostra foi recolhida sob o lajeado do monumento permitindo inferir um terminus post quem situåvel num intervalo entre a última metade do V milÊnio e a primeira do IV AC37. Uma recolha de carvþes proveniente do topo do lajeado situa-se entre a primeira metade do

30 &RPR VH SRGH YHULĂ€FDU SHOD PpGLD SRQGHUDGD GH TXDWUR GDWDV %HWD H HVWDWLVWLFDPHQWH semelhantes entre si a 95% (teste estatĂ­stico t’ – 1.40; Xi2 (.05) – 7.81). Calibração a um sigma: 2200-2139 (100%); a dois sigma: 2275-2254 (5%), 2209-2128 (83%) e 2088-2046 (12%). 31 MĂŠdia ponderada das datas ICEN-977 e ICEN-979 estatisticamente semelhantes a 95% (teste estatĂ­stico t’ – 0.35; Xi2 (.05) – 3.84). A um sigma: 2192-2179 (9%) e 2142-2035 (91%). A dois sigma: 2272-2258 (1%) e 2207-1976 (99%). 32 OXA-5432: 3220 BP. Calibração a um sigma: 1605-1583 (11%) e 1535-1421 (89%); a dois sigma: 1664-1649 (1%), 16431382 (98%) e 1333-1324 (1%). 33 Trata-se da data Ua-10830 – 4905+ 70 BP. A calibração a 1 sigma dĂĄ-nos o intervalo 3766-3639 e para 2 sigma os intervalos 3937-2872 (6%), 3810-3625 (84%) e 3600-3525 (9%). 34 Ua-10831 – 3905 + 75 BP. Calibração a um sigma: 2480 – 2285 (96%) e 2247-2235 (4%); a dois sigma: 2577-2195 (98%) e 2172-2145 (2%). 35 Beta-176899 e Beta 177471, estatisticamente semelhantes a 95% (teste estatĂ­stico t’ – 1.13; Xi2 (.05) – 3.84). Calibração da mĂŠdia ponderada a um sigma: 2455-2419 (27%), 2406-2377 (24%) e 2350-2293 (49%); a dois sigma: 2465-2281 (95%), 2249-2232 (4%) e 2218-2213 (1%). 36 ICEN-976: 4240 + 150. Calibração a um sigma: 3022-2618 (96%) e 2609-2582 (4%); a dois sigma: 3338-3207 (7%), 31943148 (2%) e 3142-2471 (91%). 37 Sac-1380 – 5400 + 210. Calibração a um sigma: 4448-4415 (6%), 4405-4032 (87%) e 4028-3990 (7%); a dois sigma: 4691-3721 (100%).

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III milénio e a primeira do II38. Finalmente, a média ponderada das três datas da Fase I de utilização do tholos b de Olival da Pega 2 (Gonçalves e Sousa, 2000, 66, quadro 3) remete-nos para um intervalo situado entre 2889 e 2626 AC39, momento cujo escavador considera contemporâneo do encerramento do monumento ortostático (Gonçalves, 1999, 90)40. Inúmeros pensamentos nos assaltam quando olhamos para este conjunto de datas (cfr. Tabela 1), sendo que os mais impositivos são a exiguidade do seu número e o amplo espectro temporal que elas ocupam, situação esta que contrasta com o que se passa em outras regiões mais a norte (Galiza, norte de Portugal, Beira Alta e Meseta) onde o fenómeno megalítico parece, na sua maioria, ser um fenómeno de curta duração que arranca na segunda metade do V milénio, se centra na primeira metade do IV, prolongando-se a utilização de alguns monumentos de corredor até à segunda metade daquele e às primeiras centúrias do seguinte, existindo intrusões posteriores documentadas a partir dos finais do III milénio41 (Cruz, 1995; 1998; Alonso e Bello, 1997; Delibes e Rojo, 1997). Desvalorizar este facto [“que leituras críticas mais atentas se encarregariam de

desmentir rapidamente”?? (Gonçalves e Sousa, 1997, 630)] é não querer ver a elevada coerência evidenciada por 27 datas de 9 monumentos megalíticos galegos (Alonso e Bello, 1997, 510), 38 datas de 13 monumentos da serra da Aboboreira (Cruz, 1995, 87, Fig. 2), 7 datas para três monumentos de Castro Laboreiro ( Jorge e Alonso, 1997), 10 datas de quatro monumentos de Trás-os-Montes (Nunes, 2003, 63-83), 15 datas de 10 monumentos da Meseta (Cruz, 1995, 106) e 37 datas de 14 monumentos da Beira Alta (Cruz, 1998, 157, Fig. 4)42!!! Tentar construir uma sequência do megalitismo alentejano somente a partir das datações absolutas provenientes de monumentos dessa região é uma tarefa de momento impossível porquanto, como dizíamos atrás, a maior parte das amostras reportam-se a momentos de utilização dos monumentos que dificilmente podemos ligar à história dos mesmos (ver nota 24). Contudo, o cruzamento das datas absolutas com as sequências das regiões referidas atrás poderá ajudar a, pelo menos, proceder à leitura daquelas de forma mais crítica. Assim, tal como nas regiões em cima referidas, os dólmenes de vestíbulo são construídos a partir de meados do V milénio (como se ve-

Sac-1381 – 3840 + 170. Calibração a um sigma: 2561-2536 (4%), 2491-2112 (84%) e 2102-2036 (12%); a dois sigma: 2866-2804 (2%), 2761-1878 (97%), 1840-1785 (1%). 39 As datas (ICEN-955, 956 e 957) são estatisticamente semelhantes a 95% (teste estatístico t’ – 1.89; Xi2 (.05) – 5.99). Calibração da média ponderada a um sigma: 2879-2849 (20%), 2841-2841 (0,5%), 2813-2741 (51%), 2730-2693 (24%) e 2688-2679 (o,5%); a dois sigma: 2889 – 2829 (22%) e 2823-2626 (78%). 40 Devemos ainda referir-nos à data obtida por termoluminiscência OxTL169f proveniente da Anta Grande da Comenda da Igreja. Devido ao seu amplo espectro não foi referida no corpo do texto: 3235 (± 82, ± 310) (Whittle e Arnaud, 1975, 19). 41 A estas havíamos que juntar uma data proveniente da anta de Ansião (Beira Litoral) e outra de Cabeço da Arruda I que nos dá conta da sua utilização na primeira metade do IV milénio (Silva, 2002, in Gonçalves, 2003b, 298, quadro 56). 42 Não nos deteremos sobre as pretensas faltas de contexto das amostras aqui referidas, porquanto o assunto se encontra mais que explicitado em trabalhos de Domingos Jesus da Cruz (1995), Fernán Alonso Matthías e José Maria Bello Diéguez (1997) e Germán Delibes Castro e Manuel A. Rojo Guerra (1997). Por outro lado só nos referimos a monumentos megalíticos stricto sensu (entre os quais não se incluem seguramente os pequenos tumuli como os da Casinha Derribada). A única excepção nesta contabilização é uma data de Pena Mosqueira 3 que não apresentando estrutura central megalítica é, no entanto, contemporânea destes. Por outro lado, só se valorizaram as datas que se reportam indubitavelmente à construção ou à condenação. 38

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rifica em Poço da Gateira 1 e Gorginos 2). A datação da anta 3 de Santa Margarida poderá levar-nos a pressupor que nos inícios do III milénio ainda se construiriam monumentos desta tipologia. No entanto, como se verificou atrás, o que aqui se data é uma utilização. O escavador admite que terá sido a primeira mas podemos admitir que uma anterior terá sido apagada pelos responsáveis desta última. Este facto verifica-se sob uma outra forma, por exemplo, no “fogo ritual ou de higienização” da câmara ortostática de Olival da Pega 2 (v. g. Gonçalves, 1999, 98-99). De qualquer forma, a utilização destes monumentos até pelo menos os finais do IV milénio parece ser testemunhada pelas datações da anta 2 de Santa Margarida (sobre amostras provenientes da base do encerramento) e do monumento da Bola de Cera. Já a datação da anta da Farisoa deverá relacionar-se com modificações aí realizadas quando da construção do tholos anexo, modificações essas que se encontrarão arquitectonicamente testemunhadas no prolongamento do corredor ortostático do monumento mais antigo. Todos os monumentos escavados na área a afectar pelo regolfo do Alqueva, à excepção de Monte Novo do Piornal (trata-se aparentemente de um dólmen simples) se integram nesta tipologia (Oliveira, 2000b; Gonçalves, 2002a; Gonçalves e Sousa, 2003; Antunes et alii, 2003). As antas de corredor longo terão começado a ser erigidas ainda na primeira metade do IV milénio como se verifica pelo terminus ante quem de Vale Rodrigo (compatível com o terminus post quem de Joaninha). Como se verifica em outras regiões, estes monumentos devem ter permanecido em utilização até finais do IV e/ ou princípios do III milénio (datações de Olival da Pega, Joaninha e terminus ante quem para o encerramento de Vale Rodrigo). Intrusões de finais do III milénio são reconhecíveis em

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ambos os tipos de monumentos nas datas mais tardias de Santa Margarida 3, anta da Cabeçuda, Cebolinhos 2 e Coureleiros. Uma “violação” ainda mais recente evidencia-se em Castelhanas (reportando-se a meados do II milénio). Pela leitura do que atrás se disse, fica claro que consideramos a sequência do megalitismo alentejano semelhante à das regiões acima referidas, arrancando ainda no V milénio, centrando-se no IV, prolongando-se a utilização de alguns destes monumentos pelo III. No entanto, a partir de, pelo menos, a primeira metade deste ou eventualmente ainda mais cedo, outros tipos de cultos funerários aparecerão, mas a isso voltaremos mais tarde. Se a fase final do megalitismo não se encontra ainda aceitavelmente definida, as suas origens são ainda mais nebulosas. Existe um certo unanimismo em considerar que estas se encontram representadas por um certo número de sepulturas fechadas muito simples e cujos exemplos mais representativos no Alentejo serão, no litoral, a sepultura de Marco Branco (Silva e Soares, 1983) e, mais no interior, alguns dos monumentos de Montemor-o-Novo escavados por Manuel Heleno (Savory, 1969, 98) ou o monumento 2 do Cabeço do Torrão em Elvas (Lago e Albergaria, 2001, 44-48). Para além da simplicidade arquitectónica destes monumentos refira-se o espólio exclusivamente lítico e de carácter arcaizante. Se admitirmos que serão anteriores aos dólmenes de vestíbulo onde a cerâmica já se encontra presente, podemos, no actual estado dos nossos conhecimentos, propor uma cronologia ainda dentro da primeira metade do V milénio AC, cronologia esta que, portanto, não se distancia da datação absoluta do sítio de habitat de Valada do Mato (ver nota 22). Ora, este aspecto levanta importantes problemas, nomeadamente ao nível do papel desempenhado pelos monumentos megalíticos na adopção de uma economia produtora. Na


refere que a relação de causalidade terá sido inversa (Thomas, 1999, 7-33)! E se assim foi, terá sido intenção dos primeiros construtores de megálitos a mudança de mentalidades das suas comunidades de forma a poderem estas praticar plenamente a agricultura e a pastorícia? Ou por outro lado, despoletaram um processo que não estava nos seus planos iniciais? Ou dito de outro modo, quais as razões que levaram a que a paisagem fosse pontuada por pequenos e grandes montículos artificiais? Na nossa perspectiva, seguramente as mesmas que levaram a que as margens do Guadiana fossem também elas transformadas por meio da gravação de figuras e que se prenderão, essencialmente, com uma necessidade de controlar a interpretação de determinados lugares, da paisagem e, consequentemente, do Mundo. Tal como determinadas antas que verão a sua utilização prolongar-se pelo III milénio AC, o vale do Anas continuará a ser gravado por este período, reconhecendo-se agora novas figurações, destacando-se entre estas as antropomórficas. Esta continuidade da ocupação de certos monumentos (embora com novos ritos e elementos da cultura material) e da gravação no vale do Guadiana (se bem que com novos motivos) acompanhará outras “aparições” no registo arqueológico: a existência de sítios de habitat que aparentam uma plena neolitização (sedentarismo e economia produtiva), a ocorrência de outras formas de tratar os mortos e a construção de sítios plurifuncionais delimitados por fossos ou estruturas positivas monumentais (cfr. Tabela 2). Pelo menos, parte destas “inovações” evidenciam-se já na segunda metade do IV milénio AC. Comecemos por nos debruçar sobre os sítios de habitat e recintos plurifuncionais. Se agora os juntamos numa só oração é porque grande parte do discurso arqueológico dos in-

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verdade, o que se parece verificar na região é uma correspondência temporal entre o aparecimento dos primeiros megálitos e os primeiros sinais de adopção de um modo de vida em que, pelo menos, certos aspectos do que se chama Neolítico se encontram presentes no registo arqueológico. Por outro lado, os testemunhos directos ligados à adopção da agricultura e da pastorícia ainda não estão cabalmente demonstrados. Mais uma vez reforçamos a importância da publicação exaustiva de Xarez 12 para o esclarecimento destes aspectos. Como referimos atrás, apenas sabemos que no Neolítico final, já está documentada a presença de Bos taurus (ver nota 23). Há ainda que relevar algumas particularidades “pouco funcionais” do sítio, tais como a elevada concentração de fornos em determinados sítios ou a presença de ossos humanos no interior de um deles. Numa fase precoce da adopção das práticas produtoras, julgamos estas particularidades sumamente relevantes. Susana Oliveira Jorge chamou já a atenção para a anterioridade das sepulturas fechadas em relação à adopção de um modo de vida produtivo, correlacionando este último com o aparecimento dos monumentos abertos ( Jorge, 1999, 66). Na linha de Bradley (1998, 63-67) defende que a arquitectura destes últimos reflecte já uma ideia de ciclicidade (porque a estes se pode voltar, ao contrário dos anteriores) que é essencial na prática agrícola. No entanto, como atrás se verificou, mesmo monumentos abertos e de dimensões consideráveis como Vale de Rodrigo 2 terão sido construídos em momentos anteriores à plena consolidação do modo de vida agro-pastoril. Na verdade, ao contrário do discurso mais tradicional que considera o aparecimento das grandes sepulturas megalíticas como uma consequência do modo de vida plenamente neolítico (no sentido económico), perguntamo-nos se não terá Julian Thomas razão quando


vestigadores que trabalham nesta zona ainda considera todos estes sítios como locais onde as pessoas viveriam, passe a redundância, a sua vida quotidiana. Na verdade, pese a variedade de situações e a multiplicidade de contextos identificados em sítios cercados (por fossos e/ ou “muralhas”) demonstradas por Susana Jorge no seu artigo seminal em torno dos “povoados fortificados” (1994) e das hipóteses interpretativas levantadas por Alisdair Whittle (1996, 334-338), ainda se continua a defender a inserção destes sítios num contexto de guerra generalizado (Kunst, 2000), seja esta explicada no quadro do desenvolvimento das forças produtivas (v. g. Soares e Silva, 2000, 220221), seja pela típica explicação processualista da conjugação do aumento populacional com uma maior necessidade de controlo dos recursos, situação originada por uma pretensa “revolução dos produtos secundários” (v. g. Calado, 2001, 62-63). No entanto, quando começamos a comparar sítios coevos numa região limitada, verificamos que as diferenças entre as diversas estações tidas como povoados não são de descurar. Estas não se verificam apenas ao nível das arquitecturas mas também das áreas funcionais e dos materiais exumados. Compare-se, para a área que mais directamente nos interessa (a bacia do Guadiana), os casos de Perdigões (Gomes, 1994, 327; Lago et alii, 1998; Valera et alii, 2000), Juromenha 1 (Calado, 2002, 124), Malhada das Mimosas 1 (Calado, 2002, 124), Torrão (Lago e Albergaria, 2001), Igreja

Velha de S. Jorge (Soares, 1996), Santa Vitória (Dias, 1996 in Lago e Albergaria, 2001, 54), La Pijotilla (Hurtado, 1986; 1991; 1995), Torre do Esporão 3 (Gonçalves, 1990-1991), San Blas (Hurtado, 2002; 2004), Porto das Carretas (Silva e Soares, 2002), Palacio Quemado (Hurtado e Enríquez, 1991), Monte Novo dos Albardeiros (Gonçalves, 1988-1989), Moinho de Valadares 1 (Valera, 2000b; 2002, 119-120), Monte do Tosco 1 (Valera, 1999; 2000b; 2002, 121), Mercador (Valera, 2001; 2002, 120-121), Cerros Verdes 4 (Valera, 2002, 119), ou já mais a sul, Sala 1 (Gonçalves, 1987). Os primeiros sete e, provavelmente, Torre do Esporão 3 caracterizam-se pela existência de fossos. Até agora os dados publicados não nos permitem grandes considerações. No entanto, algumas observações são não só possíveis como desejáveis. A primeira diz respeito à cronologia. De momento, apenas se encontram publicadas datas absolutas para o sítio de La Pijotilla. Deste modo, na maior parte dos casos somos forçados a socorrer-nos das atribuições cronológicas dos investigadores responsáveis pelos trabalhos com base na cultura material. Assim, aparentemente estes sítios ocorrem, pelo menos a partir de uma data próxima de 4000 AC como parece ocorrer no concelho de Alandroal em Juromenha 1 e Malhada das Mimosas 1 (Calado, 2002, 124)43. Contudo, a maior parte dos que se conhecem começam a ser utilizados a partir da segunda metade do IV milénio AC. Referimo-nos a Perdigões

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(PERUD QR WH[WR FLWDGR DSDUHoD D & MXOJDPRV TXH R DXWRU VH UHIHUH D XPD GDWD FDOLEUDGD FRPR VH YHULÀFD SHOD IUDVH “Na Malhada das Mimosas 1 foi escavado um conjunto de silos-fossas de cronologia mais tardia (Neolítico Final/Calcolítico) […]” (Calado, 2002, 124).

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(Reguengos de Monsaraz) (Gomes, 1994, 327), Torrão (Elvas) (Lago e Albergaria, 2001, 5758), Igreja Velha de S. Jorge (Serpa) (Soares, 1996) ou La Pijotilla44 (Badajoz) (Hurtado, 2000, 390). Santa Vitória (Campo Maior) parece ter arrancado apenas no III milÊnio. Por outro lado, Juromenha 1, Malhada das Mimosas 1, Torrão e Igreja Velha de S. Jorge (?) não revelaram ocupação calcolítica. A verificar-se a cronologia antiga de Juromenha 1 e Malhada das Mimosas 145, somos forçados a admitir a contemporaneidade destes sítios com os primeiros monumentos megalíticos. Contudo, de momento, todo o cuidado Ê pouco46. Podemos afirmar com mais segurança que estes sítios começam a ser vividos quando os últimos monumentos megalíticos são construídos (vide supra). Outro aspecto refere-se ao tamanho. As dimensþes variam entre os 20 metros de diâmetro de Santa Vitória e os 1000 metros de Pijotilla, ocupando Perdigþes o meio da escala (450 metros) (Valera e Filipe, 2004, 58). No seu interior observam-se maioritariamente estruturas negativas, algumas delas com evidente caråcter ritual, como se verifica, por exemplo no Torrão (Lago e Albergaria, 2001, 56-57) ou em La Pijotilla (Hurtado, 2003, 245-248). A associação com monumentos funerårios Ê provåvel no Torrão47 e evidente em La Pijotilla e Perdigþes48. Outro aspecto que tem vindo a ser salientado em relação a estes sí-

tios ĂŠ a quantidade e variedade do “material de excepçãoâ€?, ora “directamente relacionados com prĂĄticas mĂĄgico-religiosasâ€?, ora denotando uma forte “interacção transregionalâ€? (Valera e Filipe, 2004, 58). Referimo-nos a sĂ­tios como La Pijotilla, PerdigĂľes ou Porto TorrĂŁo. De salientar ainda ĂŠ tambĂŠm a associação com conjuntos de menires, situação que se verifica no TorrĂŁo (Lago e Albergaria, 2001, 48-52) e em PerdigĂľes (Gomes, 1994, 327). Para alĂŠm destas estaçþes identificam-se tambĂŠm na bacia do Guadiana sĂ­tios delimitados por “muralhasâ€? e outras estruturas tradicionalmente interpretadas como de funcionalidade defensiva, como por exemplo “bastiĂľesâ€?. Entre estes sĂ­tios contam-se Porto das Carretas em MourĂŁo (Silva e Soares, 2002), Palacio Quemado em Alange (Hurtado e EnrĂ­quez, 1991), Monte do Tosco I em MourĂŁo (Valera, 1999; 2000; 2002, 121) e possivelmente Monte Novo dos Albardeiros em Reguengos de Monsaraz (Gonçalves, 1988-89). Contudo, se nos debruçarmos um pouco mais sobre estes sĂ­tios verificamos que as diferenças entre si sĂŁo de toda a relevância. Assim, a presença de um “complexo defensivoâ€? no Monte Novo dos Albardeiros ĂŠ inferida a partir de restos de uma estrutura circular interpretada como uma torre oca utilizada como casa (Gonçalves, 1988-89, 55-56). Entre

A data mais antiga de La Pijotilla corresponde a 4360 + 50 BP. A calibração a um sigma dĂĄ-nos 3077-3075 (1%) e 30232909 (99%); a dois sigma obtemos os intervalos 3264-3241 (2%) e 3104-2887 (99%).. Por outro lado, a colmatação . dos fossos estĂĄ representada pela data 3860 + 70 BP. A calibração a 1 sigma resulta em 2459-2280 (88%), 2250-2230 (9%) e 2219-2212 (3%). A dois sigma chegamos aos intervalos 2562-2535 (1%), 2492-2135 (98%) e 2067-2066 (1%). 45 $JXDUGDPRV D DĂ€QDomR ´TXH D DEXQGkQFLD GH YHVWtJLRV RUJkQLFRV VREUHWXGR RVVRV LUi FHUWDPHQWH SHUPLWLUÂľ &DODGR 46 Pese o facto de em ValĂŞncia se detectarem sĂ­tios com fossos datados do VI milĂŠnio AC (Barnabeu AubĂĄn e Orozco Kohler, 2003 in Valera e Filipe, 2004, 55). 47 Trata-se da anta 2 do TorrĂŁo, um monumento cuja arquitectura e espĂłlio nos permite situĂĄ-lo no que tradicionalmente se designa como protomegalitismo (Lago e Albergaria, 2001, 44-48). 48 Tratam-se de monumentos de tipo tholos. No primeiro caso situam-se no interior do sĂ­tio. No segundo, a necrĂłpole HQFRQWUD VH QXP HVSDoR REORQJR GHĂ€QLGR SHOR DODUJDPHQWR SURQXQFLDGR H ORFDOL]DGR GR IRVVR H[WHULRU 2 VHJXQGR IRVVR (a contar do exterior) separa-a do resto do sĂ­tio. 44

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o espólio recolhido refira-se a cerâmica, “por vezes de excelente qualidade” (onde se devem incluir dois fragmentos de cerâmica simbólica), um furador de cobre, uma ponta de seta em xisto jaspóide e parte de um dormente. O escavador refere ainda que “micro-quantidades de carvão estavam dispersas por todo o solo não violado” (Gonçalves, 1988-89, 56). Esta estrutura foi datada pelo 14C da primeira metade do III milénio AC49. Pouco depois terá sido abandonada e desmoronou. O solo foi regularizado, tendo sido construída nova estrutura de planta genericamente circular. No seu interior identificaram-se peças cerâmicas, incluindo com decoração simbólica (algumas inteiras), uma figura antropomórfica, um vaso “queijiforme” em calcário, um cadinho de fundição, utensílios em cobre, um pingo de fundição, pesos de tear e ossos humanos e animais (Gonçalves, 1988-89, 57). A partir de ossos de ovis e bos foi possível obter-se uma datação genericamente situável na segunda metade do III milénio AC50. Após abandono e derrube desta estrutura o local foi alvo de enterramentos no Bronze antigo (Gonçalves, 1988-89, 57-58). Saliente-se a total ausência de recipientes campaniformes. Quanto a Monte do Tosco I, as ditas estruturas defensivas parecem relacionar-se mais com a contenção e a delimitação do espaço habitado (Valera, 2000b, 37). A cultura material e a fauna recolhida parecem indicar um carácter “eminentemente doméstico” em que a pastorícia desempenharia um importante papel, assim

como a pesca. Estão documentadas também a tecelagem, o fabrico de cerâmica, a indústria lítica talhada sobre seixos e a metalurgia (Valera, 2000b, 46). A partir da análise da cultura material, o autor do estudo do local situa esta fase na primeira metade do III milénio. Uma fase mais recente encontra-se representada por uma cabana e novos tipos de materiais, devendo-se destacar o campaniforme que o escavador integra no complexo de Ciempozuelos, propondo uma cronologia correspondente à passagem do III para o II milénio AC (Valera, 2000b, 42-43, 48-50). Em Palacio Quemado encontramo-nos frente a um exemplo clássico de sítio deste tipo. A área é de apenas 1 ha. Os investigadores responsáveis pelo seu estudo identificaram duas fases no local. Uma datada da primeira metade do III milénio AC51 e uma outra situável entre o último século daquele milénio e o primeiro quartel do seguinte52. Da primeira fase identificam-se muros, um “bastião”, uma “cabana” de planta oval e restos de uma outra. Uma estrutura circular aparecida no sector oriental foi também interpretada como residência. Contudo esta dever-se-á situar já na segunda fase. Nesta identificou-se, de igual modo, uma outra “muralha” e vestígios de estruturas também interpretadas como casas. De realçar neste segundo momento o aparecimento da cerâmica campaniforme (Hurtado e Enríquez, 1991, 85). O Porto das Carretas é também ele um sítio típico. Foram também identificadas duas fases divididas por sua vez em duas subfases

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ICEN-530: 4060 + 80 BP (Gonçalves, 1988-89). Calibração a um sigma: 28482813 (13%), 2739-2730 (3%), 2693-2688 (1%) e 2679-2478 (83%); a dois sigma: 2881-2456 (99%) e 2418-2352 (1%). 50 ICEN-529: 3760 + 100 (Gonçalves, 1988-89). Calibração a um sigma: 2339-2321 (4%) e 2309-2028 (96%); a dois sigma: 2468 – 1927 AC. 51 Atestada pela data 4050 + 100 BP (Hurtado, 2003, 258, nota 17). A um sigma fornece-nos os intervalos 2856-2812 (14%), 2747-2725 (6%) e 2698-2471 (80%); a dois sigma obtêm-se o seguinte: 2884-2339 (100%). 52 Representada pela data 3570 + 100 BP (Hurtado, 2003, 258, nota 17). A calibração a um sigma fornece-nos o intervalo 2034-1767 AC; a dois sigma os intervalos correspondem a 2200-2158 (3%) e 2155-1666 (97%).

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cada uma (os respectivos níveis de utilização e abandono). É na primeira fase, adscrita ao Calcolítico “pré-campaniforme”, que se encontram as “muralhas”. Identificaram-se três linhas. Uma primeira de planta poligonal com um bastião, uma segunda que integra uma torre oca circular e um terceiro troço. “As poucas cabanas identificadas na fase I apresentam planta circular” (Silva e Soares, 2002, 178). A segunda fase caracteriza-se por um complexo de “cabanas circulares” organizadas em torno de uma torre oca de planta interna circular e externa poligonal. Do ponto de vista dos materiais saliente-se o aparecimento da cerâmica campaniforme de “estilo internacional” e a ausência de taça carenada (Silva e Soares, 2002, 178-179). O restante material não sofre grandes alterações ao longo das duas fases. A nível cerâmico predominam as formas lisas, sendo predominantemente abertas, devendo destacar-se os vários tipos de pratos. A indústria lítica sobre seixo é a mais numerosa (destacam-se os “pesos de rede”), embora também apareçam algumas pontas de seta de base côncava” e lâminas retocadas em sílex e xisto jaspóide. Entre a pedra polida devem destacar-se as mós. Os pesos de tear aparecem de igual modo (os “crescentes” em ambas as fases, dominando os paralelepipédicos na fase I). A metalurgia do cobre está atestada apenas na fase II (onde se identificou

também um forno). Os materiais “ideotécnicos e sociotécnicos” assim como os elementos exógenos estão ausentes (Silva e Soares, 2002, 179-180). Em San Blas (Cheles, Badajoz), por outro lado, existem fossos e “muralhas”, situação esta que se verifica também em Monte da Ponte (Évora) (Kalb e Höck, 1997), Marroquíes Bajos ( Jaen) (Zafra et alii, 1999) e Marinaleda (Sevilha) (Caro et alii, 2004 in Hurtado, 2003). No sítio de que nos ocupamos agora conhecem-se duas muralhas: uma mais exterior virada para o rio e interrompida exactamente onde seria mais necessária se a sua função fosse a de defesa53 e uma outra que define uma “cidadela” com cerca de 1 ha e com forte cariz “político-religioso” (Hurtado, 2003, 252). Um dos fossos, com cerca de oito metros de largura e quatro de profundidade rodeia esta “cidadela”. O outro encontra-se adossado ao pano sul da muralha exterior, tendo apenas um metro de profundidade e cinco de largura. Uma necrópole de tholoi encontra-se imediatamente a sul e sudeste da muralha exterior. Quanto à diacronia do sítio, sabemos que a primeira ocupação remonta à última metade do IV milénio54. O terminus post quem para a construção da muralha da cidadela é da passagem do IV para o III milénio55. A colmatação do fosso interior dá-se na segunda metade do III milénio56. Sabemos

Isto é, para leste, onde o terreno continua a subir. Da cidadela provém a data 4570 ± 40 BP (Hurtado, 2003, 252, nota 11). A calibração a um sigma dá-nos os intervalos 3487-3473 (8%), 3372-3330 (45%), 3215-3182 (25%) e 3157-3124 (22%); a dois sigma: 3496-3460 (10%), 3376-3265 (42%) e 3241-3103 (48%). Da casa F5 (situada fora da cidadela foi exumada amostra cuja datação é 4430 ± 40 BP (Hurtado, 2004, 151, nota 6). A calibração a um sigma dá-nos os intervalos 3310-3296 (5%), 3284-3275 (3%), 3265-3240 (13%), 3105-3009 (62%) e 2982-2935 (17%); a dois sigma: 3330-3215 (27%), 3185-3156 (5%) e 3126-2922 (68%). 55 Demonstrado pela data 4340 ± 40 BP (Hurtado, 2003, 252, nota 11). Calibração a 1 sigma: 3011-2977 (37%), 2966-2948 (16%) e 2944-2904 (47%); a dois sigma: 3086-3062 (6%) e 3029-2890 (94%). 56 Evidenciado pela data 3820 ± 40 BP (Hurtado, 2003, 252, nota 11). Calibração a um sigma: 2340 – 2314 (14%), 2310 – 2200 (85%) e 2157 – 2155 (1%); a dois sigma: 2457 – 2118 (6%), 2408 – 2374 (7%), 2368 – 2191 (78%) e 2180 – 2141 (9%). 53

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tambĂŠm que a muralha exterior estĂĄ jĂĄ construĂ­da no segundo quartel da primeira metade do III milĂŠnio AC57. A presença do campaniforme estĂĄ atestada, pelo menos na “acrĂłpoleâ€? (Hurtado, 2003, 252). Identificaram-se no fosso exterior deposiçþes de recipientes cerâmicos que o investigador responsĂĄvel considera de carĂĄcter ritual (Hurtado, 2002, 209). Foram tambĂŠm identificadas estruturas circulares ou semicirculares construĂ­das com diferentes tĂŠcnicas e interpretadas como cabanas58, assim como silos, a maior parte no exterior daquelas estruturas (Hurtado, 2002, 209-210). Finalmente encontramos sĂ­tios nĂŁo delimitados por estruturas negativas ou positivas. Referimo-nos a trĂŞs dos sĂ­tios restantes referidos supra: Moinho de Valadares 1 (MourĂŁo), Mercador (MourĂŁo) e Cerros Verdes 4 (Moura). Começando pelo Ăşltimo, de Cerros Verdes 4 sabemos ainda muito pouco: “[‌] os contextos preservados evidenciaram restos de estruturas em xisto (muito arruinadas) e um conjunto artefactual que remete para uma ocupação calcolĂ­tica, com um aparelho cerâmico caracterizado pela presença de pratos, tigelas e um campaniforme liso.â€? (Valera, 2002, 119). Estes materiais e a presença de taças carenadas e potes mamilados tambĂŠm referidos pelo autor citado permitem-nos supor, pelo menos,

Testemunhado pela data 4030 Âą 40 BP (Hurtado, 2003, 252, nota 11). Calibração a um sigma: 2616-2616 (1%) e 2580-2468 (99%); a dois sigma: 2835-2817 (3%), 2665-2644 (3%) e 2639-2468 (94%). 58 De acordo com Hurtado podem-se distinguir dois tipos de casas. O tipo A que seriam construĂ­das com ramagens e cobertas de barro, cujas paredes seriam contidas por lajes de xisto em seu redor (Hurtado, 2004, 147); o tipo B seria GHĂ€QLGR SRU SDUHGHV SpWUHDV FREHUWDV SRU UDPDJHQV +XUWDGR $V SULPHLUDV VHMD SHOD DQiOLVH HVWUDWLJUiĂ€FD VHMD pelas dataçþes carbĂłnicas aparentam ser anteriores. Daquelas conhecemos a datação jĂĄ referida na nota 61. Do segundo tipo conhecemos duas dataçþes provenientes das casas H22 e K7 (Hurtado, 2004, 151, nota 6). A primeira (3950 Âą 40 BP) apĂłs calibração fornece os seguintes resultados a um sigma: 2567-1520 (39%), 2498-2456 (45%), 2418-2407 (6%), 2375-2367 (4%) e 2363-2351 (6%); a dois sigma: 2575-2340 (99%) e 2313-2310 (1%). Da casa K7 ĂŠ proveniente a data 3990 Âą 40 BP. Calibração a um sigma: 2568-2518 (63%) e 2499-2471 (37%); calibração a dois sigma: 2620-2451 (96%), 2444-2439 (1%), 2420-2405 (1%) e 2378-2350 (1%). 57

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uma ocupação situĂĄvel entre o NeolĂ­tico final e o CalcolĂ­tico inicial e uma outra jĂĄ nos finais deste perĂ­odo. Moinho de Valadares I trata-se tambĂŠm de um sĂ­tio de habitat que, a partir da anĂĄlise ceramolĂłgica, ĂŠ possĂ­vel dizer que foi “vividoâ€? no NeolĂ­tico final / CalcolĂ­tico inicial e no CalcolĂ­tico pleno, nĂŁo parecendo ter existido uma ruptura entre estas duas fases. Em ambas identificaram-se estruturas habitacionais de planta circular e alguns muros rectos (parte destes interpretados como de sustentação). Entre as actividades econĂłmicas, o investigador responsĂĄvel enumera como as mais representativas: a pastorĂ­cia, a caça, a pesca, seguidas pela tecelagem e pela metalurgia (apenas na segunda fase) (Valera, 2000a). No sĂ­tio do Mercador foram identificadas vĂĄrias estruturas negativas de plantas circulares e subcirculares, lareiras e cabanas de planta circular construĂ­das em xisto e quartzo (Valera, 2001, 46-48 e nota 3). Entre as cerâmicas predomina o prato (79%), encontrando-se tambĂŠm presentes as taças, as tigelas e os esfĂŠricos. Duas placas perfuradas e um fragmento de crescente atestam a tecelagem. Um fragmento de bojo perfurado pode indicar a transformação de lacticĂ­nios. A indĂşstria lĂ­tica ĂŠ maioritariamente macrolĂ­tica, tendo-se identificado

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também pontas de seta (3), lâminas (2), percutores, bigornas, machados (3), dormentes (2) e um movente. Em cobre identificaram-se uma lâmina, um gume de machado plano e um pingo de fundição. De igual modo, três fragmentos de cadinho confirmam a prática da metalurgia no sítio. A partir da fauna infere-se a caça, a pastorícia e a pesca (Valera, 2001, 49-51). A presença predominante do prato, a prática da metalurgia e a ausência ou pouca frequência da taça carenada e da cerâmica mamilada levou o responsável do estudo a propor uma cronologia dentro do Calcolítico pleno (primeira metade do III milénio) (Valera, 2001, 52). Propositadamente deixámos o sítio de Sala 1 (Vidigueira) para o final. Na verdade, este local apresenta características muito próprias. Embora não se lhe conheça qualquer tipo de delimitação (positiva ou negativa) forneceu material que seria mais usual num destes sítios (em particular, nos cercados por fossos). Encontra-se a estação no topo de um cabeço sobranceiro ao Guadiana, estendendo-se os materiais de superfície por uma área até 50 metros em direcção a Pedrógão e por um “grandioso anfiteatro, com cerca de 600 metros de largo” que se desenvolve até ao Guadiana59 (Gonçalves, 1987, 7). Sabemos que do topo do cerro

provém uma grande quantidade de cerâmica decorada (com motivos simbólicos e campaniforme). No único local intervencionado (locus 1) foram identificadas pelo menos duas fases de ocupação: uma inserível na última metade do IV milénio, correspondente aos níveis 4, 5 e 660 e outra na primeira metade do III, evidenciada no nível 361. O aparecimento do fragmento campaniforme referido atrás documenta uma ocupação mais tardia. A utilização do sítio no Bronze final é também demonstrada pelos materiais de superfície. Quanto à intervenção arqueológica, esta é particularmente relevante na medida em que permitiu a recolha de inúmeros materiais ligados ao “sagrado”. Assim, ídolos de cornos aparecem em níveis do IV milénio e na camada 2. Na camada 3 (primeira metade do III milénio) recolheu-se um pé e duas figurinhas masculinas em terracota, cerâmica simbólica, placas de xisto (uma delas por gravar), falanges desbastadas e polidas. Em todos os níveis os pratos estão bem representados. As taças carenadas são comuns no segundo e no terceiro, os recipientes mamilados no quinto. A indústria é predominantemente sobre seixo. A pedra polida é igualmente abundante. Os instrumentos em osso estão também bem representados. Um cadinho “duvidoso” e escória no

Repare-se como é uma situação semelhante à de sítios cercados por fossos, nomeadamente La Pijotilla, San Blas ou Perdigões (Hurtado, 2003, 249-251). 60 De cada um destes níveis provém uma datação carbónica a partir de ossos de fauna (Gonçalves, 1987, 15). Nível 6: ICEN-444 – 4490 ± 100 BP. Calibração a um sigma: 3350-3087 (91%) e 3060-3030 (9%); a dois sigma: 3497-3450 (4%) e 337-2908 (96%). Nível 5: ICEN-445 – 4490 ± 90 BP. Calibração a um sigma: 3348-3089 (95%) e 3049-3032 (5%); a dois sigma: 3492-3469 (2%) e 3374-2915 (98%). Nível 4: ICEN-447 – 4490 ± 110 BP. Calibração a um sigma: 3355-3082 (88%) e 3068-3026 (12%); a dois sigma: 3509-3426 (6%) e 3382-2901 (94%). Embora provenientes de diferentes são estatisticamente semelhantes a 95% (Teste estatístico T’: 2.532; Xi2(.05): 5,99). Uma média ponderada dá-nos a data 4490 ± 57. Calibração a um sigma: 3337-3261 (36%), 3259-3208 (24%), 3193-3150 (20%) e 3140-3097 (20%); a dois sigma: 3364-3011 (99%), 29772971 (0,5%) e 2948-2944 (0,5%). 61 De onde provem a data ICEN-448: 4140 ± 110 BP, também ela feita a partir de amostra osteológica de fauna. Calibração a um sigma: 2876-2618 (94%), 2608-2599 (3%) e 2594-2584 (3%); a dois sigma: 3011-2977 (1%), 2973-2948 (1%), 2944-2457 (98%). 59

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nível 5 atestam a metalurgia (Gonçalves, 1987, 13-14). A presença de elementos materiais ligados ao mundo do simbólico, de provável actividade metalúrgica num nível datado da segunda metade do IV milénio e a imponência do local levam-nos, pese a não identificação de fossos ou “muralhas”, a considerar que talvez não nos encontremos num mero sítio de habitat (como os últimos três referidos atrás). Seria de toda a relevância a prossecução dos trabalhos na estação. Como vimos, muitos destes sítios são contemporâneos (cfr. Tabela 3) e, no entanto, substancialmente diferentes. Não só ao nível das suas áreas, diacronias, e funcionalidades (referimo-nos às necrópoles indubitavelmente situadas no interior de alguns destes sítios) mas também ao nível do material recolhido. Como refere António Valera (2003, 136), ao lado de sítios como La Pijotilla ou Perdigões onde uma percentagem considerável do espólio se liga indubitavelmente ao “sagrado” e denota um nível elevado de interacção transregional, na maior parte dos outros este tipo de elementos é residual. Quanto às “fortificações” é interessante verificar que mesmo autores que mantêm um discurso mais “tradicional” insinuam que entre a “funcionalidade” principal destes sítios não se encontrará a residencial, senão vejamos: “Em um cenário de contemporaneidade, poderíamos supor a existência de complementaridade e interdependência entre eles, cabendo, no quadro de um mesmo território, ao Porto das Carretas […] funções defensivas, e ao sítio do Mercador, funções essencialmente residenciais” (Silva e Soares, 2002, 180). Se as diferenças entre os vários sítios começam a ser valorizadas, a explicação dos mesmos não sai, no entanto, de uma perspectiva processual. Neste sentido criam-se “lugares centrais” (La Pijotilla ou Perdigões), lugares dependentes daqueles e essencialmen-

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te produtivos (Mercador, Moinho de Valadares) e lugares que defenderiam os territórios por aquele explorados (Porto das Carretas ou Palacio Quemado) (v. g. Hurtado, 2003, 254262). Deve-se isto ao facto de se continuar a encarar o espaço como um “cenário vazio” que os Homens vão habitar e explorar. Parte-se do princípio da existência de uma “revolução dos produtos secundários” que terá levado ao elevado crescimento demográfico e consequente instabilidade social que desembocaria nos sítios defendidos por fossos ou muralhas. Mas, perguntamos, que evidências arqueológicas temos nós para pressupor uma revolução daquele tipo nesta zona? Onde estão os sinais de intensificação agrícola? Não certamente nos sítios escavados. Na verdade, em Mercador realça-se a “escassez de indicadores relativos à actividade agrícola” (Valera, 2001, 52), em Moinho de Valadares I refere-se também “uma economia onde a actividade produtiva não teria um peso determinante” (Valera, 2000a, 34), assim como no Monte do Tosco I se salienta “a escassez de indicadores relativos à actividade agrícola” (Valera, 2000b, 46). Pelo contrário, a pastorícia e a caça-recolecção continuam a desempenhar um papel fundamental. A tecelagem e a produção de lacticínios parece estar atestada “se aceitarmos a classificação como cinchos das cerâmicas sem fundo e paredes perfuradas” no caso do Monte do Tosco I e de Mercador (Valera, 2000b, 46; 2001, 52). A metalurgia está presente mas sem grande impacto. Já nos grandes sítios como Perdigões “os vestígios da actividade metalúrgica do cobre são os mais numerosos de todo o Sul de Portugal, estando documentadas as várias etapas da cadeia operatória metalúrgica” (Valera, 2000a, 35). Quanto às práticas produtivas não sabemos ainda o que se passa na medida em que apenas a necrópole foi objecto de mais aprofundadas publicações (Lago


tre objectos, corpos e lugares se criam Mundos, entendendo-se estes como um plexos de relações de significação (Heidegger, 1998, 103). Daí a “promiscuidade” entre o mundo dos mortos, as actividades ditas domésticas e as ditas sagradas em sítios como Perdigões. O que no século XXI separamos, relacionar-se-ia concerteza entre si por meio de comportamentos que agora desconhecemos. E era dentro destas relações de significação (ou seja, do Mundo) que as pessoas se perceberiam como pessoas, ou por outras palavras, se entendiam enquanto identidades. Da importância dos lugares específicos, é necessário ter em conta que ao contrário do que se toma como indiscutível, isto é, que o espaço é algo vazio que os indivíduos exploram e dão significado, o que se passa é o inverso. Temos uma noção de espaço porque apreendemos lugares, na medida em que estes nos aparecem enquanto significantes (porque integrados no sistema de relações significativas a que chamámos Mundo)63. Existem lugares que pelo seu posicionamento no Mundo têm uma importância fundamental na construção de identidades, tanto colectivas como individuais, isto porque se conectam com mitos, histórias ou acontecimentos particulares na vida de pessoas e grupos. Facilmente se percebe que deste modo alguns destes sítios sejam manipulados, não só através das acções aí desenvolvidas mas igual modo, através da sua monumentalização, que poderá passar não só pela arquitectura mas também pela arte rupestre… Numa perspectiva territorial mais alargada, o que se verifica é uma complexificação dos mecanismos que condicionam a interpretação do

Da importância do movimento do corpo e da sua manipulação pela arquitectura, veja-se Bourdieu, 2002, 37-55, Pearson e Richards, 1994 ou Richards, 1993. 63 Ou seja, o espaço procede do lugar e não o inverso (Heidegger, 2001, 43). 62

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et alii, 1998; Valera et alii, 2000). Na verdade, se apenas nos basearmos nos dados arqueológicos verificamos que não estamos em condições de supor uma intensificação das actividades produtivas ao nível de uma pretensa “revolução dos produtos secundários”. O raciocínio tradicional é cíclico: a “revolução dos produtos secundários” explica a emergência dos sítios cercados e estes demonstram a existência daquela. Na verdade, o que podemos afirmar peremptoriamente é uma maior sedentarização das comunidades no III milénio. Uma maior sedentarização provoca uma maior ligação ao território (Sanches, 2000, em particular 133137) e consequentemente, uma maior necessidade de o marcar e deste modo controlar a sua interpretação. Este controlo interpretativo é efectuado mediante rituais e comportamentos executados em lugares específicos, lugares esses que são muitas vezes monumentalizados. Monumentalidade essa que não só permite um maior controlo do próprio movimento do corpo62 como torna mais impressivos os actos aí realizados. Mas porquê esta necessidade de ritualização? E porquê em lugares específicos? Em relação à primeira pergunta, “julgamos que a sedentarização e o incremento das actividades produtivas obrigou a uma mais forte divisão do trabalho e a uma maior rigidez na definição dos papéis que cada indivíduo desempenharia no grupo. Ora, isto implica também uma maior definição da posição dos indivíduos na malha social” (Santos, 2008, 139). Essa definição é conseguida precisamente através de comportamentos específicos em contextos específicos onde através de conexões metafóricas en-


Mundo e das comunidades que nele estão. Assim, a par de sítios que vindos de um Neolítico mÊdio ou final se complexificam (os sítios cercados por fossos ou alguns monumentos megalíticos) surgem algumas novidades, como sejam os recintos murados (os tradicionais povoados fortificados) e os monumentos de falsa cúpula64. Estes últimos tanto aparecem isolados (v. g. Huerta Montero65) como em necrópoles (Vale Rodrigo66, por exemplo) ou mesmo no seio das mamoas de antigos monumentos megalíticos (Olival da Pega 267 ou Farisoa68, entre outros). Como se depreendeu atrås, ocorrem de igual modo no interior de sítios cercados por fossos (La Pijotilla ou Perdigþes). Se variam quanto ao contexto de localização, variam tambÊm ao nível da arquitectura. Na verdade, só num plano muito genÊrico se pode comparar, por exemplo, o monumento de Vale Rodrigo com os de Perdigþes! O primeiro tem a estrutura base própria de um monumento megalítico clåssico (isto Ê, com esteios) e Ê envolto por uma monumental mamoa, os segundos são semiescavados no solo, a estrutura de base Ê constituída por pequenas lajes de xisto fincadas que formam uma planta circular, sendo praticamente invisíveis à superfície. Frente a esta variabilidade, a cronologia

Existem autores que recentemente tĂŞm vindo a colocar a hipĂłtese da cobertura de alguns destes monumentos nĂŁo ter sido em falsa cĂşpula (Valera et alii, 2000, 92-93). 65 Em Almendralejo, Badajoz (Blasco e Ortiz, 1991). 66 Em Évora (Kalb e HĂśck, 1995). 67 Em reguengos de Monsaraz (entre outras publicaçþes, veja-se Gonçalves, 1999). 68 Em Reguengos de Monsaraz (Leisner e Leisner, 1951, 287-294). 69 Grn-17628: 4650 Âą 250 BP. A calibração a um sigma fornece-nos os intervalos 3654-3081 (95%) e 3068-3026 (5%); a dois sigma: 3969-2850 (98%), 2813-2742 (1%) e 2728-2695 (1%). Neste caso, dado o amplo intervalo a dois sigma, serĂĄ de valorizar o facto de existirem 95% de hipĂłteses (1 sigma) do monumento ter começado a ser utilizado grosso modo na segunda metade do IV milĂŠnio AC. 70 Corresponde a 4130 Âą 40 BP, sendo proveniente de um nĂ­vel intermĂŠdio de deposiçþes (Hurtado et alii, 2000, 265). Calibração a um sigma: 2861-2828 (20%), 2824-2807 (9%), 2757-2718 (23%) e 2706-2625 (48%); a dois sigma: 2872-2798 (27%), 2795-2617 (65%) e 2611-2581 (7%). 71 Grn-16955: 4220 Âą 100 BP (Blasco e Ortiz, 1991, 131). Calibração a um sigma: 2915-2832 (32%), 2820-2658 (62%) e 26532633 (6%); a dois sigma: 3089-3049 (2%), 3032-2563 (96%) e 2534-2493 (2%). 72 &RPR VH YHULĂ€FD SHOD GDWD *UQ “ %3 HIHFWXDGD VREUH DPRVWUD SURYHQLHQWH GR LQtFLR GR HVWUDWR D TXH correspondem as Ăşltimas deposiçþes (Blasco e Ortiz, 1991, 131). Calibração a um sigma: 2283-2248 (10%), 2233-2007 (82%) e 2004-1975 (8%); a dois sigma: 2459-2416 (3%) e 2411-1887 (97%). 64

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centra-se no III milĂŠnio, pese o facto do intervalo da datação Grn-17628 proveniente de um momento mĂŠdio das primeiras deposiçþes em Huerta Montero englobar grande parte do IV milĂŠnio (Blasco e Ortiz, 1991, 133). Esta datação apresenta, no entanto, um intervalo muito amplo pelo que tem que ser lida com muitas reservas69. Por outro lado, tanto as datas provenientes do tholos B de Olival da Pega 2 referidas atrĂĄs como a do tĂşmulo 3 de Pijotilla70 parecem confirmar a hipĂłtese do III milĂŠnio. Huerta Montero voltou tambĂŠm a ser utilizado na primeira metade do III milĂŠnio71, utilização esta que perdurou atĂŠ ao final daquele milĂŠnio ou primeiras centĂşrias do seguinte72. Pretendeu-se com estas linhas traçar um quadro regional genĂŠrico do perĂ­odo entre o fim do PlistocĂŠnico e os inĂ­cios do II milĂŠnio AC, perĂ­odo esse em que gradualmente, e adaptando um tĂ­tulo feliz de Susana Jorge (1999), se “domesticou a Terraâ€?. Mas este perĂ­odo corresponde, de igual modo, ao “tempoâ€? em que se gravou nas margens do Guadiana. Da necessidade de compreender quem gravou ali nasceu este texto. Que o estudo das gravaçþes do Guadiana ajude a compreender melhor aqueles que viveram os sĂ­tios a que nos referimos atrĂĄs‌

PEQUENO ESBOÇO DA PRÉ-HISTÓRIA REGIONAL


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7DEHOD 5HSUHVHQWDomR JUiÀFD GD FDOLEUDomR GDV GDWDV SURYHQLHQWHV GH VtWLRV ´PRQXPHQWDOL]DGRVµ GR 6XO GH 3RUWXJDO referidas em texto.



6. O PRIMEIRO MILÉNIO A.C. NA REGIÃO: ALGUMAS REFLEXÕES



6. O PRIMEIRO MILÉNIO A. C. NA REGIÃO: ALGUMAS REFLEXÕES73a

376). Não se confirmando a existência de qualquer necrópole deste período na região, todos os sítios referenciados são interpretados como povoados. Estes situam-se tanto em locais altos e com boas condições de defesa como em sítios de baixa altitude e abertos, mantendo-se sem confirmação a possibilidade de sincronia entre ambas as soluções. Aventa-se, no entanto, a hipótese destes últimos serem ligeiramente mais antigos (Alarcão, 1996a, 15-16; Calado et alii, 1999, 376)74. Por outro lado, a existência de muralhas em alguns destes sítios levou alguns investigadores a suporem uma hierarquização do povoamento em que estes subordinariam os povoados ditos abertos (Calado et alii, 1999, 377). Julgamos, no entanto, que a existência de muralhas em certos sítios não implicaria necessariamente esta hierarquia. Na verdade, como é sabido, na vizinha Beira Baixa (em Idanha-a-Nova), embora aí exista um sítio muralhado – Monte do Trigo (Vilaça e Cristóvão, 1995), as evidências apontam para um tipo de inter-relações entre sítios que não passaria por aquela forma específica de relacionamento (Vilaça, 1995, 408-412). Deste período foram escavado três sítios na área do Alqueva: Rocha do Vigio 2, Cocos 12 e Outeiro 2 (Calado, 2002, 124). Se a última das estações referidas não forneceu novidades dignas de nota, no sítio de baixa altitude e aberto de Cocos 12 foram identificados uma série de buracos de poste que denotam um tipo

O que se escreveu na nota 17 aplica-se aqui com toda a propriedade. Não discutimos aqui a importância destes temas. Apenas julgamos que, se não forem cuidadosamente trabalhados, poderão levar-nos a becos sem saída e a discursos cerrados sobre si próprios. 74 Situação semelhante à que se passaria junto do estuário do Tejo (Vilaça e Arruda, 2004, 27). 73a 73

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Elucubrarmos sobre o tema exposto acima é, seguramente, um desafio substancialmente maior que o que esteve na base da feitura do ponto anterior. Na verdade, na região de que nos ocupamos, até aos trabalhos de emergência decorrentes da construção da barragem de Alqueva muito pouco se fez no âmbito das problemáticas deste período. Por outro lado, se olharmos para a bibliografia veremos que grande parte das questões aí levantadas eram de cariz eminentemente histórico-culturalista: problemas de materiais, cronologias ou filiações étnicas73. Felizmente, nos últimos tempos, este panorama começou gradualmente a modificar-se. Pretende-se neste ponto construir um discurso que, ao mesmo tempo que faça um ponto da situação da investigação, forneça pistas para a compreensão e explicação da relevância da arte rupestre da Idade do Ferro identificada na área submersa pela albufeira do Alqueva. Dos finais da Idade do Bronze o que conhecemos na região é extremamente escasso. Sendo até ao momento poucas as escavações, praticamente tudo o que podemos aventar é baseado em materiais de superfície. Estes correspondem a “bordos simples, formas de perfil em “S”, frequentemente com mamilos alongados, e fundos planos, em todos eles e, apenas em alguns, as taças com carenas de ombro, as superfícies brunidas ou escovadas (cepilladas) e a aplicação, sempre relativamente pouco abundante, de ornatos brunidos.” (Calado et alii, 1999,


de arquitectura bastante precária. Já o sítio da Rocha do Vigio 2, a confirmar-se a sua cronologia, veio a revelar-se uma estação da máxima importância. Trata-se de um sítio provido de condições excepcionais de defesa, localizando-se num esporão junto à confluência do Álamo com o Guadiana. Entre os elementos que lhe conferem a importância referida refira-se a coexistência de muros de tendência circular com edifícios de planta rectangular. Para além deste aspecto, identificaram-se também cerâmicas executadas a torno, assim como vestígios de metalurgia do ferro (Calado, 2002, 124). Se a existência deste metal em contextos do Bronze final não é inédita75, já o mesmo não se poderá dizer da sua manipulação. A grande relevância deste sítio prende-se com vários factores: por um lado poderá ajudar a resolver o problema da transição entre os finais do Bronze e os inícios do Ferro; por outro, reveste-se de extrema importância a existência de edifícios de planta rectangular numa data tão precoce. Mas antes de nos voltarmos para este problema tentemos perceber que “finais do Bronze” encontramos aqui. Que rupturas ou/e continuidades conseguimos nós discernir entre aquele período e os inícios da Idade do Ferro? Como atrás referimos, existem investigadores que consideram a existência de um povoamento hierarquizado no Alentejo Central durante os finais da Idade do Bronze. Na verdade, ao olharmos para o inventário dos povoados

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coevos76 verificamos que três destes têm áreas extremamente amplas: Coroa do Frade (Évora) com cerca de 2 ha77, Calvinos (Alandroal) com uma área entre 1 e 2 ha e S. Bartolomeu (Sousel) que se estende por 8 a 10 ha. Como se depreende, o sítio que se encontra mais perto da área que nos interessa é Calvinos (cuja área, se é grande não é desmesurada) e eventualmente Pero Lobo (se é que logo no Bronze final a área de 1 a 2 ha é ocupada). Poderemos assim falar com segurança de uma hierarquia a nível local? Talvez o modelo que aqui encontramos seja mais próximo do proposto por Raquel Vilaça para a Beira Interior (1995, 408-412). Isto é, podemos admitir a existência de uma rede de sítios que funcionariam em coordenação entre si e estariam semidependentes de um poder político situado mais longe. Seria objectivo desta rede o controlo das vias de comunicação entre o Norte rico em estanho e a Andaluzia dele necessitada. Explicar-se-ia assim a existência de objectos de prestígio nos “frustes” sítios identificados. Isto não colocaria de parte a existência de pequenas elites que poderiam, no caso da Beira Baixa, ostentar o seu poder através de rituais realizados nos próprios ambientes domésticos onde aqueles materiais e outros elementos (como a carne) desempenhariam um papel fundamental (Vilaça, 1995, 419). Sítios como o Monte do Trigo (Vilaça e Cristóvão, 1995), Monte do Frade (Vilaça, 1997) ou eventualmente Cachouça (Vilaça e

Por exemplo na Moreirinha ou no Monte do Frade na Beira Interior (Vilaça, 1995, 348-349), na Quinta do Marcelo em Almada (Barros, 2000 in Vilaça e Arruda, 2004, 32) ou em Baiões na Beira Alta (Almagro, 1993, 6). 76 Publicado em Calado et alii, 1999, 365-375. Não contabilizámos os sítios com ocupação também da Idade do Ferro, uma vez que não sabemos se a ampla área ocupada por estes sítios o terá sido desde o Bronze Final ou se apenas na Idade do Ferro os sítios se expandem. Entre estes encontramos: Coroados (Vila Viçosa) e Pero Lobo (Alandroal) com áreas entre 1 e 2 ha, Alto do Castelinho da Serra (Montemor-o-Novo) e S. Gens (Estremoz/Redondo) com cerca de 2 ha, Evoramonte (Estremoz) e Castelo (Redondo) com áreas compreendidas entre os 8 e os 10 ha. Havia ainda que juntar Pardieiros (Portel), referido no primeiro Estudo de Impacto do Alqueva, com 4 ha. Este não foi, no entanto, relocalizado. 77 Jorge Alarcão refere para este sítio uma área de 13 ha (Alarcão, 1996a, 16). 75

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tricas dos locais estudados por Teresa Gamito (1992)] ou mesmo antes, levantando Jorge AlarcĂŁo a hipĂłtese destas populaçþes terem chegado com os Lusitanos no sĂŠculo VIII a. C. (AlarcĂŁo, 1996b, 24). A “celticidadeâ€? destas comunidades era materialmente manifestada pelos seus castros fortificados, por alguns bronzes e em particular pela cerâmica estampilhada. No entanto, como foi referido por Ana Arruda, mesmo nestes sĂ­tios de precoce “celtizaçãoâ€? nĂŁo faltavam elementos que se conectavam mais com o mundo “orientalizanteâ€? (Arruda, 1996, 39-40). Mas poderemos, Ă luz dos Ăşltimos resultados que tĂŞm vindo a lume, aceitar uma leitura tĂŁo linear do registo arqueolĂłgico? Na verdade, os sĂ­tios da I Idade do Ferro que tĂŞm vindo a ser escavados no âmbito do Alqueva e de outros projectos regionais (Calado e Rocha, 1997; Calado, 2002, 124-126; Albergaria e Melro, 2002, 130; Mataloto, 2004) trouxeram Ă luz tipos arquitectĂłnicos que se assemelham inusitadamente com os existentes mais a sul, nomeadamente nas ĂĄreas melhor conhecidas de Ourique (v. g. BeirĂŁo, 1986; Correia, 1988-89; BeirĂŁo e Correia, 1991; Dias e Coelho, 1983) e Castro Verde (v. g. Maia e Correa, 1985; Maia, 1986; Maia e Maia, 1996), se bem que os materiais atĂŠ agora publicados nĂŁo demonstrem uma tĂŁo clara ligação ao mundo dito “orientalizanteâ€? (Mataloto, 2004, 58-94). Diferenças importantes em relação ao mundo mais meridional serĂĄ a ausĂŞncia de necrĂłpoles e de escrita. Em curtas palavras caracterizemos os sĂ­tios da I Idade do Ferro no Alentejo Central. AtĂŠ agora todos os locais que tĂŞm vindo a ser escavados sĂŁo interpretados como sendo de ha-

Se bem que este sĂ­tio levanta outro tipo de problemas que, no entanto, nĂŁo abordaremos aqui por fugirem ao âmbito deste trabalho. 79 9HULĂ€FDGDV DR QtYHO GRV PDWHULDLV LPSRUWDGRV GDV IRUPDV H SDVWDV FHUkPLFDV GDV DUTXLWHFWXUDV IXQHUiULDV H FLYLV H HP particular da escrita (v. g. BeirĂŁo e Gomes, 1980, 6-7; BeirĂŁo, 1986, em particular pp. 147-148). 78

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BasĂ­lo, 2000)78 revelaram indĂ­cios da sua importância enquanto locais onde poderiam residir e manifestar-se essas elites. No caso que agora nos interessa este parece ser o caso. Poderiam as referidas elites viverem nos sĂ­tios de maiores dimensĂľes a que atrĂĄs aludimos ou mesmo em locais como Rocha do Vigio 2 onde determinados elementos deverĂŁo ser lidos tambĂŠm eles como objectos ou “conhecimentos tĂŠcnicosâ€? de prestĂ­gio, nomeadamente a cerâmica de torno, a metalurgia do ferro ou a arquitectura ortogonal? Se Raquel Vilaça levanta a hipĂłtese da rede de sĂ­tios do sul da Beira Interior se encontrar semidependente de um poder polĂ­tico localizado provavelmente no Alto Alentejo (Vilaça, 1995, 421; Vilaça, 1998, 211), mais razĂŁo vemos nĂłs para ser esse o caso dos locais sobre os quais agora nos debruçamos. NĂŁo deixa de ser tentadora a ideia de um sĂ­tio como a Coroa do Frade corresponder a um desses locais. E na Idade do Ferro, o que se passa? Que rede de povoamento podemos identificar? Que tipo de relaçþes entre sĂ­tios entrevemos? Como podemos relacionar locais cujos paralelos arquitectĂłnicos e materiais se encontram no Sul “orientalizadoâ€? com outros, situados tĂŁo perto, onde a influĂŞncia continental ou “celtizanteâ€? parece ser tĂŁo precoce? AtĂŠ hĂĄ bem pouco tempo defendia-se que na regiĂŁo onde nos encontramos, ao contrĂĄrio do restante sul peninsular imbuĂ­do de influĂŞncias “orientalizantesâ€?79, poderĂ­amos encontrar populaçþes jĂĄ fortemente “celtizadasâ€? (AlarcĂŁo, 1996b, 23-24; Arruda, 1996, 39-40), pelo menos desde os sĂŠculos VII ou VI a. C [como apontavam os materiais e dataçþes radiomĂŠ-


bitat. Correspondem a pequenos aglomerados de edifĂ­cios (um ou dois) de compartimentos rectangulares, usualmente estruturados em torno de um pĂĄtio. Aparentemente sĂŁo todos de vocação agrĂ­cola, pese o facto de em alguns destes se terem identificado tambĂŠm fornos cerâmicos (Mataloto, 2004, 54) ou eventualmente metalĂşrgicos (Calado et alii, 1999, 374, 384). Entre os materiais deve destacar-se a existĂŞncia de certos tipos que denotam ligaçþes com o litoral e o mundo mediterrânico, como sejam as cerâmicas cinzentas ou de engobe vermelho (Mataloto, 2004, 90-92). Pelo que atĂŠ ao momento podemos saber, a grande maioria de sĂ­tios deste perĂ­odo localiza-se em locais de baixa altitude, amplos e sem preocupaçþes defensivas, tambĂŠm neste aspecto se aproximando do tipo de povoamento que se verifica nas regiĂľes mais meridionais referidas acima. Contudo, ao contrĂĄrio destas, encontramos tambĂŠm no Alentejo Central, pelo menos, duas estaçþes providas de estruturas defensivas, se bem que implantados em sĂ­tios que nĂŁo apresentam grandes condiçþes de defesa. Referimo-nos concretamente ao CastelĂŁo das Nogueiras em Borba e a Nossa Senhora de Machede em Évora (Calado et alii, 1999, 378; Mataloto, 2004, 169). Como poderemos entĂŁo interpretar tal malha de povoamento? Uma primeira tentativa de compreender o fenĂłmeno no concelho do Alandroal foi dada Ă estampa nos finais da dĂŠcada passada (Fernan-

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des e Neto, 1997; 1998). Independentemente da nossa concordância ou nĂŁo com os pressupostos teĂłricos que enformavam esse trabalho, a base material do mesmo, para alĂŠm de se ter visto desactualizada pelas recentes descobertas de nĂŁo poucos sĂ­tios, nĂŁo teve em conta as possĂ­veis “des-sincroniasâ€? entre estaçþes. Na verdade, em relação Ă I Idade do Ferro da regiĂŁo o que se tem vindo a verificar ĂŠ a existĂŞncia de um sem nĂşmero de sĂ­tios de clara vocação agrĂ­cola. Se bem que uns possam parecer arquitectonicamente mais complexos que outros80 ou apresentar materiais que denotam um maior grau de interacção com outras regiĂľes (nomeadamente de ambiĂŞncia mediterrânica) tais como ânforas de pasta clara81 ou anforiscos de pasta vĂ­trea82, talvez seja prematuro pensarmos que alguns destes sĂ­tios se subordinariam a outros. Como atrĂĄs referimos este tipo de povoamento assemelha-se muito ao da regiĂŁo de Ourique. Ora, tambĂŠm nesta zona nĂŁo se pode comparar arquitectonicamente, por exemplo, um sĂ­tio como o Porto das Lajes (Correia, 1988-89) com FernĂŁo Vaz (BeirĂŁo, 1986, 103-122; BeirĂŁo e Correia, 1991). No entanto, com algumas nuances parece começar a ser consensual que o tipo de relaçþes entre os povoados de Ourique se basearia mais na coordenação que na subordinação (AlarcĂŁo, 1996b, 30-33; Arruda, 2001, 284)83. Julgamos tambĂŠm que ĂŠ difĂ­cil defender um tipo de relaçþes entre os sĂ­tios que temos vindo a falar baseados em qualquer tipo de su-

Como parece ser o caso de Espinhaço de CĂŁo (Calado, 2002, 126). Caso do sĂ­tio do Gato (Calado, 2002, 125). 82 Em Malhada das Taliscas 4 (Calado, 2002, 125). 83 NĂŁo implicaria tal situação que nĂŁo existissem “[‌] indivĂ­duos que, por razĂľes vĂĄrias, como por exemplo a sua idade, se destacavam, e que assumiriam algumas funçþes particulares, nomeadamente aquelas que se relacionavam com as relaçþes intergrupais e, mesmo, rituais.â€? (Arruda, 2001, 285). Em praticamente todos os contextos de relação humana existe alguĂŠm que se destaca, ou melhor, que exibe poder, atĂŠ mesmo numa situação dialĂłgica (Santos, 2008, 29, nota 18). Entre essas razĂľes vĂĄrias de que falava Ana Arruda na sentença atrĂĄs referida, devemos contar certamente com a escrita. Esta deve ser HQFDUDGD FRPR PDWHULDOL]DomR GH XP FRQKHFLPHQWR H HVWH p VHJXUDPHQWH XPD GDV PDLV VXEWLV H DR PHVPR WHPSR HĂ€FD]HV ferramentas que alguĂŠm pode utilizar para se investir de poder (Santos, 2008, 32). 80 81

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palavras, a estrutura relativa às relações entre sítios não se alterou. Se esta estrutura não mudou, o que levou estas comunidades a baixarem dos montes onde se encontravam instaladas e a adoptarem as novidades tecnológicas que definem a Idade do Ferro? Na altura de responder a esta pergunta, a primeira evidência que há que ter em conta é que, como nos pode demonstrar a escavação de Rocha do Vigio 2, as alterações não foram bruscas. Por outro lado, antes de procurar uma resposta à questão colocada, interroguemo-nos sobre a fonte de “poder” das comunidades antes instaladas no topo dos montes. De acordo com Raquel Vilaça (1995, 420), os elementos de prestígio presentes nos sítios de cumeada da Beira Baixa deviam a sua existência ao controlo das vias de comunicação exercido por esses locais. Com os dados que dispomos não temos razões para não vermos no Alentejo Central a mesma situação. Partindo deste pressuposto, somos forçados a assumir que por alturas da Idade do Ferro, este modelo em que o “poder” estaria dependente do controlo das vias de comunicação se esgotou. Não queremos com isto dizer que essas ditas vias tenham deixado de existir. Dizemos é que a relevância daquelas (enquanto geradoras de poder) foi decaindo em favor de outros aspectos do social. Na verdade, como referimos mais acima, certos elementos ou conhecimentos devem ser encarados como de prestígio e consequentemente como fonte de poder. É sintomático, neste aspecto, o aparecimento de alguns destes elementos no contexto de Bronze Final da Rocha do Vigio 2. Provavelmente alguns destes aspectos estariam certamente dependentes da instalação das comunidades em locais de mais baixa altitude. Entre eles, e para além das novidades técnicas propriamente ditas como as referidas já (arquitectura, cerâmica a torno,

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bordinação. Não podemos, no entanto, ignorar os singulares sítios de Castelão das Nogueiras os Nossa Senhora de Machede, referidos atrás. Poderão desempenhar funções semelhantes às dos “palácios-santuários” da Extremadura, como intuem os investigadores que têm trabalhado na zona que mais directamente nos interessa (Calado et alii, 1999, 377-378; Mataloto, 2004, 177)? Admitimos que é uma proposta coerente e até tentadora. No entanto, e como aliás defendem os autores atrás referidos, só escavações poderão ajudar a resolver este problema. Mas ainda assim, será necessário perguntarmo-nos que tipo exacto de funções seriam exercidas por estes sítios. Efectivo domínio político e/ou económico? Desempenhariam funções de gestão e coordenação sobre um imenso território que controlariam? Parece-nos que talvez seja incongruente extrapolarmos este género de valências para o período em causa. Na verdade, estes sítios poderiam ter desempenhado um papel ao nível das identidades e da coordenação entre as comunidades de um território sem estas perderem com isso uma certa independência. Admitirmos esta rede de povoamento e este sistema de relações entre sítios é o mesmo que considerarmos que entre o Bronze final e os inícios da Idade do Ferro, a estrutura básica se manteve. Isto é, pese o facto de no Bronze final ser no topo das elevações que encontramos o maior número de sítios (inversamente ao que se verifica no período posterior) o certo é que, como referimos atrás, também nesse período admitíamos uma rede de sítios que funcionariam em coordenação, eventualmente articulados por determinados locais (como os sítios de Coroa do Frade, Calvinos e S. Bartolomeu). Na verdade, o que agora observamos é a mesma situação, se bem que com sítios situados maioritariamente em cotas mais baixas. Por outras


tecnologia do ferro), podemos ainda referir a existência de excedentes ou mesmo o cultivo de novas espÊcies84. Outra destas manifestaçþes de poder poder-se-ia ligar com a existência de uma escrita ou de algo que a imitasse85. Ganha particular relevo, neste sentido, a rocha 50 da Moinhola, como se adiantou jå previamente. Por tudo o que dissemos atrås, admitimos portanto que não existiu uma clara ruptura social entre o Bronze final e a Idade do Ferro. Houve necessidade, isso sim, de outros cenårios onde o poder se legitimasse de forma mais adequada. E entre a I e a II Idade do Ferro? Que alteraçþes verificamos que possam fundamentar tal periodização? Tradicionalmente e como referimos atrås, a II Idade do Ferro era caracterizada pela chegada de povos celtas ao sudoeste peninsular. Com eles traziam novas formas de tratamento dos mortos (generalizando-se a incineração), novos materiais tais como armas, jóias e em particular a cerâmica estampilhada. Ao nível do povoamento haveria um retraimento, voltando as pessoas para os montes que desta vez se fortificariam. Por outro lado, a escrita desapareceria (v. g. Beirão e Gomes, 1980). Para alÊm destes aspectos, estas movimentaçþes populacionais encontravam ainda confirma-

NĂŁo passando de uma suposição na zona de que nos ocupamos, o que ĂŠ certo ĂŠ que noutros locais do paĂ­s como seja junto a Alpiarça, no Paul dos Patudos, estas novas espĂŠcies estĂŁo documentadas. Entre elas, encontramos a vinha (Leuwaarden e Jansen, 1985). Relacionado com este aspecto e com a prĂłpria transição Bronze-Ferro, deveremos aqui UHIHULU R SRYRDGR GH 6 *HQV H[LVWHQWH QD YL]LQKD 6HUUD G¡2VVD $TXL IRL LGHQWLĂ€FDGD XPD RFXSDomR DWULEXtGD SHOR HVFDYDGRU DR VpFXOR 9,, YLVWR TXH SDUD DOpP GH VH VLWXDU QXP VtWLR WRSRJUDĂ€FDPHQWH PDLV SUySULR GR %URQ]H Ă€QDO JUDQGH SDUWH das cerâmicas aĂ­ exumadas sĂŁo paralelizĂĄveis com materiais desse perĂ­odo. Aparecem jĂĄ, no entanto, vĂĄrias ânforas “de grande qualidade e dimensĂŁo que, muito provavelmente, transportariam produtos novos ou escassamente conhecidos nestas paragensâ€? (Mataloto, 2004a, 159). 85 O valor de uma coisa nĂŁo ĂŠ intrĂ­nseco. NĂłs ĂŠ que a valorizamos. Se algo ĂŠ realmente uma escrita ou algo que a imite ĂŠ meramente irrelevante para quem nĂŁo conheça o alfabeto. Quantos pretensos sĂĄbios nĂŁo andam por aĂ­ a pavonearem-se com uma ciĂŞncia que lhes ĂŠ outorgada apenas pela ignorância da audiĂŞncia a que se dirigem? 86 Onde sĂ­tios de habitat, dataçþes radiocarbĂłnicas, materiais e necrĂłpoles (Gamito, 1992;Viana e Deus, 1950; 1958) quando DQDOLVDGRV GHQWUR GH GHWHUPLQDGRV SDUDGLJPDV KLVWyULFR DUTXHROyJLFRV QRV LPSHOHP D LQWHUSUHWDo}HV PXLWR HVSHFtĂ€FDV 84

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ção nas fontes escritas de ĂŠpoca clĂĄssica (v. g. Berrocal-Rangel, 1993, 29-51; 2004, 327-329). Contudo, pelo menos desde hĂĄ pouco mais de 10 anos para cĂĄ que alguns investigadores começaram a pĂ´r em causa a linearidade de tal processo, procurando antes acentuar diversidades regionais que mostravam, em determinadas zonas, contĂ­nuas influĂŞncias mediterrânicas ao longo de todo o primeiro milĂŠnio enquanto em outras os influxos continentais se evidenciavam com alguma precocidade (v. g. Arruda et alii, 1995, 249-254). Precisamente entre estas Ăşltimas regiĂľes encontrava-se o nordeste alentejano. NĂŁo sendo nosso objectivo discutir o que se passa na regiĂŁo de Elvas86, nĂŁo podemos, por tudo o que atrĂĄs escrevemos, deixar de discordar desta “celticidadeâ€? prematura na zona concreta sobre a qual nos debruçamos. Mas poderĂĄ este nosso “discordarâ€? contribuir para um reforço da tese tradicional? Pensamos que nĂŁo, na medida em que os paradigmas sobre os quais assentamos possibilitam leituras alternativas dessa realidade a que, por questĂľes de facilidade e discurso, chamamos dados arqueolĂłgicos. Vejamos entĂŁo que leituras sĂŁo essas. Comecemos por olhar para os mapas publicados nas estampas LXVI e LXVII de Rui

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pla visibilidade sobre o percurso da ribeira de Alcarrache. Para além da muralha propriamente dita foi identificado um edifício com quatro compartimentos cujos escavadores interpretam como celeiro. Entre os materiais identificados refira-se a cerâmica comum (numa das peças – um pote – encontra-se um graffiti pré-romano), cerâmicas campanienses, elementos de funda e moedas romanas. Contudo, a ocupação do sítio é mais precoce, não sendo possível por agora aferir e caracterizar com precisão esse momento devido ao estado bastante alterado dos níveis correspondentes (Albergaria et alii, 2000; Albergaria e Melro, 2002, 131-132). Na margem direita foram intervencionados os seguintes sítios: Castelo Velho de Lucefécit, Casa da Moinhola 3, Malhada das Mimosas, Monte da Tapada 39 e Outeiro do Castelinho. O primeiro dos sítios corresponde a um sítio fortificado construído sobre um esporão rochoso. Entre os materiais adscritos à Idade do Ferro contam-se cerâmicas a torno, estampilhadas e pintadas (Calado, 1993, 63-64; Mataloto, 2004, 226-227); da Casa da Moinhola 3 sabemos que foi aí posto a descoberto um edifício de compartimentos rectangulares. Entre os materiais encontra-se cerâmica a torno com estampilhas (Calado, 2002, 125; Mataloto, 2004, 232-233). Malhada das Mimosas corresponde a um sítio aberto de que sabemos da existência de níveis da segunda metade do primeiro milénio pelo referido mapa da estampa LXVII da publicação de Mataloto (2004). Contudo, apenas se encontra sumariamente publicado o referente à primeira metade (Calado, 2002, 125, 126; Mataloto, 2004, 234-235).

Mesmo se tivermos em conta que grande parte desta integração cronológica tem como base materiais de superfície (Mataloto, 2004, 226-237). Por outro lado, há ainda que acrescentar àquela lista os sítios proto-históricos da margem esquerda do Guadiana, entre estes os publicados por Albergaria, Melro e Ramos (2000) e pelos primeiros dois autores (2002, 130-133). 87

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Mataloto (2004) referentes aos sítios que aquele autor integra, respectivamente, na primeira metade e na segunda do I milénio A. C. Da visualização dessas cartas, duas observações nos parecem pertinentes quanto à segunda metade do primeiro milénio87: por um lado, o efectivo aumento dos sítios fortificados e, por outro, a existência também de sítios abertos que aquele autor interpreta como “montes” e que, portanto, são uma marca de continuidade em relação ao período precedente. No entanto, poucos destes sítios foram intervencionados arqueologicamente ou publicados exaustivamente, pelo que o que podemos dizer deles é muito reduzido. É de tal maneira assim que valerá a pena passarmos em revista o que deles sabemos. Assim, da margem esquerda do Guadiana podemos referir Monte das Candeias 3, Monte da Pata 1, Monte do Judeu 6 e Castelo das Juntas. Os três primeiros correspondem a sítios abertos localizados em plataformas reduzidas, de visibilidades bastante restritas e sempre associados a discretas linhas de água. No primeiro dos sítios identificaram-se duas fossas e restos de dois edifícios, um deles com um pavimento lajeado (Albergaria e Melro, 2002, 130); do segundo dos sítios nada sabemos para além da existência de um nível coevo do período a que nos reportamos (Albergaria e Melro, 2002, 130-131); finalmente, do último foram exumados restos de três edifícios (Albergaria e Melro, 2002, 131). Quanto ao Castelo das Juntas, trata-se de um sítio fortificado já tardio no contexto da II Idade do Ferro (séculos II – I A. C.). Encontra-se no topo de uma colina com boas condições de defesa e am-


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Monte da Tapada 39 é interpretado por Rui Mataloto como uma “pequena instalação rural”. Entre os materiais contam-se a cerâmica a torno, com decoração pintada e estampilhada (Calado, 2002, 125, 126; Mataloto, 2004, 236-237). Finalmente, do Outeiro do Castelinho apenas sabemos da existência de frustes estruturas sob níveis romanos associadas a materiais de tradição indígena, entre os quais dois fragmentos com grafitos pré-romanos (Gomes et alii, 2002, 13, 136; Mataloto, 2004, 230-231). Pelo que se vê é extremamente reduzida a informação de que dispomos. No entanto, algumas observações são-nos impostas. A primeira que salta à vista é a de que na área que nos importa, os sítios fortificados intervencionados (pelo menos publicados) não são maioritários. Ainda mais, um destes é de fundação tardia e relacionar-se-á, como aliás propõem os responsáveis pela intervenção, com as primeiras interacções com os romanos (Albergaria et alii, 2000, 50-51). Deste modo, ao nível do povoamento local o que encontramos é uma clara continuidade. Mesmo a existência de sítios fortificados já vem, como vimos atrás, da primeira metade do milénio. Deste modo, a grande “novidade” que, à primeira vista, vemos existir na região é, de facto, a ocorrência de cerâmica estampilhada. Como foi já referido, até há bem pouco tempo a abordagem feita a este tipo cerâmico levava sempre ao mesmo resultado: tratava-se de mais uma evidência da presença céltica no Sul de Portugal (v. g. Arnaud e Gamito, 1974-1977). Mais recentemente, contudo, alguns autores começaram a valorizar esta técnica como mais um meio de criar, reforçar e expressar as identidades das comunidades que manipulariam estes recipientes (v. g. Berrocal-Rangel, 2004, 330). Isto é particularmente relevante na medida em que uma técnica é vista como um meio para

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algo e não como um reflexo de uma qualquer raíz étnica. A relevância torna-se ainda mais impositiva quando cada vez mais se começa a valorizar os materiais que parecem denotar mais influências ibéricas que propriamente célticas, nomeadamente as cerâmicas de bandas pintadas (v. g. Arruda, 1996, 46; Arruda, 2001, 287; Mataloto, 2004, 170-171). Se tivermos em conta que a arte rupestre da Idade do Ferro que até agora se encontrou tem, tal como a do Côa, paralelos bastante evidentes na decoração figurativa da cerâmica ibérica não podemos deixar de colocar em causa a teoria evolutiva tradicional da Idade do Ferro regional. As intervenções nos sítios acima referidos vem, por outro lado, demonstrar que na região, se não existe escrita na primeira metade do milénio, esta é usada na segunda metade, em particular na forma de grafitos sobre cerâmica (nos sítios de Castelo das Juntas e Outeiro do Castelinho). Em resumo, o que temos na segunda metade do milénio: aumento dos sítios fortificados (existindo, no entanto, poucos intervencionados), continuidade de alguns locais abertos e de vocação agrícola, divulgação de uma técnica decorativa tradicionalmente ligada aos povos da Meseta, materiais e arte rupestre de aparente filiação ibérica, continuidade (ou até ver, aparecimento) da escrita pré-latina até épocas próximas da romanização. Mesmo tendo em conta a existência de um mesmo fundo linguístico como é aparente a partir da análise de topónimos, teónimos, antropónimos ou outros (Berrocal-Rangel, 1993, 51-69), podemos postular a chegada de povos novos à Península por esta altura? Na verdade, pensamos que as evidências são poucas para aceitarmos isso sem discussão. Na verdade, pensamos que o paradigma histórico-culturalista que equacionava uma língua e uma dada cultura material a um povo é algo que hoje dificilmente


se sustem. Como vimos pelo que dissemos atrás, a partir da cultura material tínhamos dois e não um povo na mesma região o que nos parece bastante implausível. Com os dados que dispomos que discurso se torna possível? Pensamos que na região sobre a qual nos debruçamos existiria um povo cuja língua seria de raíz indo-europeia como se pode verificar a partir das análises onomásticas. Não podemos é, desde logo, afirmar que a adopção desta língua data deste período. A existência de uma grande densidade de povoados fortificados parece contradizer a ideia de que por esta altura estas comunidades já se sentiriam como fazendo parte do mesmo povo, isto é, que teriam consciência étnica88. Este facto aliado à disseminação da cerâmica estampilhada leva-nos a supor uma certa conflitualidade entre as comunidades, conflitualidade que seria, no entanto,

negociada em determinados pontos e através de comportamentos particulares. Daí podermos admitir a existência de santuários comuns a diferentes comunidades: tanto urbanos como por exemplo Garvão (Beirão et alii, 1985) ou, mais perto de nós, Capote (Berrocal-Rangel, 1993, 194-201), como “selvagens”. Entre estes encontramos a Rocha da Mina (Calado, 1996) e possivelmente o santuário de S. Miguel da Mota, pese o facto de até agora não se conhecer a ocupação pré-romana (Guerra et alii, 2003). É neste contexto que temos que compreender a arte rupestre deste período: uma arte figurativa claramente evocadora de valores violentos onde se geria também a conflitualidade destas épocas. É por isso que neste caso, como no do Côa, podemos com propriedade falar, tal como já referiu um de nós (AMB) do primeiro feudalismo ibérico.

Ou etno-consciência. Que esta é tardia e poderia ter sido precedida por uma integração política, é uma tese defendida por Jorge Alarcão para o Noroeste peninsular (Alarcão, 1992, 59).

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7. 1. Paleolítico superior: Algumas achegas da Arte Rupestre do Guadiana para o conhecimento GDV PDQLIHVWDo}HV JUiÀFDV pré-holocénicas Talvez o grande contributo para a problemática da arte paleolítica de ar livre que possa ser fornecido pelas manifestações gráficas das margens portuguesas do Alqueva é o da existência na Península Ibérica de rochas isoladas com um repertório exclusivamente filiforme, situação essa que era até ao momento exclusiva dos Pirinéus Franceses89. Como se sabe, na Península Ibérica as rochas isoladas que se conhecem são historiadas com motivos picotados ou pintados (num caso). Referimo-nos às estações do Ocreza (Baptista, 2001a), da Barroca90 (Baptista, 2004a; 2008, 216-223), da Fraga do Gato (Baptista e García, 2002, 188; Baptista, 2008, 226-229), de Mazouco ( Jorge et alii, 1981; Baptista, 2008, 194-195), das do Alto Sabor91 (Baptista, 2001b, 202; 2004b; 2008, 196-207) e de Piedras Blancas (Martinez, 1986-1987). À partida, o que esta situação nos indica é que do ponto de vista técnico encontramo-nos perante duas situações que perceptivamente têm importantes implicações. Assim, é evidente que as figuras picotadas são muito mais facilmente “descobertas” que as filiformes. Ora, este aspecto é bastante pertinente porquanto no Vale do Côa temos vindo a apercebermo-nos de uma diferença fundamental entre a arte da primeira fase (pré-magdalenense) e a das mais

recentes (Magdalenense), mormente no que concerne à potencialidade de visualização das rochas (onde muito influi a técnica do picotado), à possibilidade de grandes audiências e ao acesso às rochas (Baptista e Santos, 2010). Tendo estes aspectos em conta, torna-se evidente que as rochas da primeira fase são revestidas de um carácter muito mais público que as da segunda. Ora, olhemos para as cronologias das rochas referidas acima: o cavalo do Ocreza poderá ser datado de um momento Gravettense ou Proto-Solutrense (Baptista, 2001a, 171); quanto aos animais da Barroca, os cavalos foram datados “já do Magdalenense”, ou seja de um Magdalenense Antigo, enquanto as cabras o foram de um período anterior (Baptista, 2004a, 10-11); Mazouco foi situado em período Magdalenense ou mesmo anterior ( Jorge et alii, 1981, 9; Balbín e Alcolea, 1994, 118), ou por outras palavras – a cavalo entre o estilo III e IV de Leroi-Gourhan. As rochas do Alto Sabor foram comparadas à fase antiga do Côa e consequentemente integráveis num momento entre o Gravettense e o Solutrense (Baptista, 2001b, 202; 2004b). Piedras Blancas foi datada do Solutrense (Martínez, 1986-1987, 54). Em relação à Fraga do Gato, a própria temática aí presente (um mustelídeo e um bufo) não nos permite a afinação cronológica desejável para a problemática que agora discutimos. Em suma, parece existir uma relação entre técnica (e consequentes implicações ao nível da percepção) e cronologia das rochas paleolíticas isoladas ou que formam pequenos grupos (caso

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Referimo-nos à estação de Fornols-Haut (Sacchi et alii, 1988). Esta estação, na verdade, não correponde a uma rocha isolada mas a três. Duas destas encontram-se muito próximas entre si e uma terceira na margem oposta. Incluímos aqui o sítio devido à proximidade das rochas. 91 São estas: Ribeira da Sardinha, Pousadouro, Sampaio e Pedra Escrevida. 89 90

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dado no Magdalenense do Ocidente peninsular e que, entre outros aspectos, terá influído na forma como a arte rupestre seria vivida pelas populações, mormente nos vectores que se prendem com o controlo do acesso à informação aí contida...

7. 2. Pré-História recente: a Arte Rupestre do Guadiana enquanto mecanismo identitário Os painéis desta fase levantam uma problemática bastante mais complexa que será conveniente aprofundar. Como referimos atrás, acreditamos que grande parte das gravuras do Guadiana foi executada no IV e III milénio A. C., muito provavelmente na passagem entre os dois. Como foi discutido também, este momento corresponde a um período em que grandes transformações são visíveis no “registo arqueológico”: os monumentos megalíticos começam gradualmente a serem substituídos por outros cenários de “concertação social”, nomeadamente os recintos cercados; outros materiais começam a circular e a criar identidades. Evidencia-se cada vez mais a necessidade de “uniformizar” as visões do Mundo e do Ser. Não só os rituais e os seus cenários se complexificam como estes últimos se dispersam muito mais pela paisagem, aqui se incluindo as margens dos rios, em particular naqueles pontos que pelas suas características “perceptivas” fossem potenciais fontes de metáforas, aqui encaradas como tropos que relacionam ou evidenciam relações de coisas aparentemente distintas (Tilley, 1999, 25-27). Já referimos que algumas das gravuras do Guadiana podem ter sido criadas numa fase plenamente megalítica (isto é, durante a primeira metade do IV milénio A. C.). Entre

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da Barroca). Assim, as rochas mais antigas são de mais fácil visualização que as mais recentes. Ora, em relação ao Côa referimos já que frente ao carácter público das manifestações gráficas mais antigas encontrávamos no Magdalenense evidências que apontavam para a existência de um mediador entre as rochas e quem as observa pela primeira vez (Baptista e Santos, 2010). Ora, isto é o que se passa nas margens portuguesas do Guadiana; vários factores concorrem para que isto aconteça: o carácter discreto das rochas que permitem a sua diluição no ambiente em que se encontram (caso da rocha 30 da Moinhola), o acesso às mesmas (caso de Porto Portel) e a técnica utilizada em ambas. Ora, este aspecto não nos pode fazer esquecer que em Molino Manzánez a própria quantidade de rochas aí presentes pode contrariar o que dissemos. Contudo, e tal como referimos em relação ao Côa, admitimos que mesmo em momentos magdalenenses se tenham mantido as encenações sociais de marcado caráter público, como naquela região poder-se-ía reflectir pelas deposições de placas no Fariseu. No caso concreto do Guadiana, o sítio de Molino Manzánez pode corresponder a esse sítio de carácter mais público que existiria a par de outros de acesso mais restrito como seriam os existentes nas margens portuguesas. Este carácter mais público de Molino Manzánez, se bem que potencialmente contrariado pela técnica utilizada na execução das gravuras, torna-se evidente pela concentração de rochas. Deste modo, discordamos da sentença de Collado que nega o carácter público do sítio (Collado, 2006, 530). Julgamos que tal concentração num ambiente muito regular (ao contrário, por exemplo, das íngremes vertentes do Côa) seria bastante conhecido. Deste modo, consideramos que a arte paleolítica no Guadiana deve ser vista no contexto de profundas modificações sociais que se terão


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estas contam-se alguns dos motivos de Foz de Pardais II1, 2 da Perdigoa, 8 de Mocissos, 8 de Malhada de Gagos, 7, 52 e 71 da Moinhola. Evidentemente, a base argumentativa desta suposição ĂŠ bastante fraca, consistindo apenas nas similitudes formais entre estas figuras e as que aparecem nos monumentos megalĂ­ticos e restringindo-se este exercĂ­cio aos zoomorfos e antropomorfos. Possivelmente algumas destas rochas nĂŁo serĂŁo tĂŁo antigas e, possivelmente tambĂŠm, outras que apenas mostram figuraçþes geomĂŠtricas terĂŁo sido historiadas jĂĄ no NeolĂ­tico megalĂ­tico. Uma situação parece ser certa: o nĂşmero destas rochas serĂĄ seguramente menor que as que foram gravadas na transição do milĂŠnio. Isto ĂŠ particularmente pertinente, na medida em que ĂŠ no NeolĂ­tico megalĂ­tico que pela primeira vez as arquitecturas perenes começam a pontuar a paisagem condicionando a percepção, e consequentemente a interpretação da mesma de uma forma atĂŠ aĂ­ nĂŁo vista92. Seguramente que desde que o Homem se reconhece como tal que certos lugares93 terĂŁo sido vividos de uma forma especial. Com a construção dos primeiros monumentos megalĂ­ticos, esses lugares sĂŁo nĂŁo sĂł marcados de uma forma que se pretende eterna como o prĂłprio modo de os experienciar ĂŠ fortemente marcado pelas imposiçþes prĂłprias da arquitectura. É nesta fase que, podemos tambĂŠm marcar o advento do perĂ­odo II do Alqueva. Certos sĂ­tios sĂŁo marcados de uma forma discreta mas precisa. Se nalguns destes se torna difĂ­cil perceber o porquĂŞ da escolha, outros apresentam caracterĂ­sticas que nos permitem perceber a razĂŁo

de opção, nomeadamente no que se refere aos últimos quatro sítios. A Perdigoa situa-se, como referimos, na base de um relevo que se destaca de sobremaneira na paisagem local, devido às diferenças do substrato geológico. Trata-se, portanto, tambÊm de um sítio cujo solo seria perceptualmente singular na paisagem circundante (ao nível da visão, mas tambÊm das texturas, esforço ao nível da manipulação, etc.). Sendo a geologia uma ciência historicamente recente, que explicaçþes criariam os nossos antepassados da região para tal fenómeno? Não sendo acessível tal explicação podemos, no entanto, aventar a hipótese de que esta se relacionaria com esta diferença litológica aliada à proeminência na paisagem. Que, pelo menos, durante o Calcolítico, o sítio seria simbolicamente relevante demonstra-o a existência aí de um sítio que poderå corresponder a um dos recintos cercados que começam a pontuar a região. Não sendo possível confirmar esta situação precisa, o facto de aí se encontrarem tambÊm sepulturas reforça a sua pressuposição. A rocha 8 de Mocissos corresponde a uma das maiores superfícies da região. Por outro lado, localiza-se numa zona de certa amplitude num ponto onde o rio apresenta uma importante inflexão. Mais ainda, muito perto observa-se um importante veio de quartzo leitoso. Como se pode depreender, encontra-se aqui um conjunto de características que tornavam este local particularmente significativo. Jå a Moinhola corresponde a um complexo caótico de bancadas e cristas xistosas ciclicamente submerso pelas åguas. Um sítio que Ê

92 Evidentemente, pelo menos a partir do PaleolĂ­tico superior que a percepção da paisagem começou a ser condicionada de forma perene pela arte rupestre. Contudo, a forma como esta condiciona a interpretação do Mundo apresenta diferenças VLJQLĂ€FDWLYDV HP UHODomR j DUTXLWHFWXUD 6DQWRV 93 3DUD XPD SUREOHPiWLFD JHUDO HP WRUQR GRV OXJDUHV UHPHWHPRV SDUD 7LOOH\ 3DUD XPD DQiOLVH HVSHFtĂ€FD GH XP case study em territĂłrio nacional de tempos neolĂ­ticos veja-se Santos, 2000a. Em relação a uma estação de arte rupestre da SDVVDJHP GR ,9 SDUD R ,,, PLOpQLR $ & UHĂ€UD VH 6DQWRV

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para jusante) e em Malhada de Gagos (o último sítio), encontrando-se o motivo aí presente em posição invertida. Curiosamente portanto, animais e humanos só se encontram num local que na sua relação com as restantes estações se encontra no centro e que apresenta as características sui generis que referimos anteriormente. Por outro lado, em Malhada de Gagos verificamos que animais sem humanos aparecem numa posição invertida (mortos?). Com os dados de que dispomos de momento, podemos salientar alguns aspectos: – A presença humana em todos os contextos excepto na Malhada de Gagos. Prender-se-á este facto com, por um lado a tentativa de humanização das diversas características físicas dos locais acima referidos, e por outro com a separação entre humanos e o sítio de Malhada de Gagos? – Os animais aparecem com os antropomorfos em Mocissos, correspondendo este sítio ao que hoje em dia oferece melhores condições de pastagens, encontrando-se por outro lado junto de uma importante inflexão do rio. Poderá esta inflexão ter sido interpretada como equivalente à que terá ocorrido quando os animais começaram a ser domesticados, tornando-se estes tão dependentes que sem os seus pastores acabam por sucumbir como se observa em Malhada de Gagos, precisamente o mais “inóspito” dos sítios? – Também os animais, mas significativamente os Homens não apresentam qualquer carácter distintivo. Esta situação é particularmente relevante uma vez que, como foi referido em devida altura e tal como se discutirá seguidamente, na passagem dos milénios não é essa a situação. Pode-se prender este facto com uma relativa homogeneização da sociedade, não se evidenciando materialmente qualquer diferenciação no seio das comunidades coevas.

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tanto margem como leito, uma estação a que nem sempre se acede totalmente, um local onde o Tempo se manifesta fisicamente. E onde, para além de tudo isto, é difícil andar porquanto, sobretudo na zona interior do leito, a topografia é particularmente acidentada. Também o sítio de Malhada de Gagos é um local que se destaca geologicamente. Como referimos atrás, o local corresponde a uma mancha de corneanas no seio dos xistos silúricos da região. Este aspecto em abstracto é apenas observável pelos geólogos ou por quem lê os seus trabalhos. Contudo, perceptualmente, qualquer pessoa verifica que aqui os blocos e afloramentos são mais majestáticos, que a pedra é mais dura ou que é mais escura. Para além disso, o próprio local é em si mais grandioso, caótico e constrangedor, na medida em que a natureza litológica do substrato o torna mais resistente à erosão, “aparecendo-nos” assim os blocos de um tamanho maior que o habitual. Para lá destes sítios que pelas suas características sensoriais são excelentes cenários onde se criariam relações entre o Mundo, o Tempo e os corpos que por ali deambulavam, os próprios motivos presentes são bastante significativos. Como referimos, os antropomorfos são assexuados, nada têm que os individualize, para além talvez de um certo encorpamento que os aproxima das figuras tutelares presentes no interior dos megálitos. Da mesma maneira, os zoomorfos não são passíveis de serem identificados. Poderá este excessivo esquematismo dos animais corresponder a uma generalização do mundo animal onde a sua diferenciação não é pertinente? A um estádio em que esta não existe ainda? Particularmente pertinente parece-nos o facto de os antropomorfos se distribuírem por todas as estações desta subfase excepto em Malhada de Gagos e dos animais se encontrarem apenas em Mocissos (a terceira estação, de montante


Todos estes sĂŁo aspectos que se revestem de particular pertinĂŞncia no “tempoâ€? de que agora nos ocupamos. A transformação do Mundo e das relaçþes que com ele mantĂŞm as comunidades que nele se inserem ĂŠ agora, fruto do emergir das actividades produtivas, substancialmente diferente da que mantinham no perĂ­odo subsequente. De uma relação consubstanciada fundamentalmente na partilha e na dĂĄdiva, passa-se a uma atitude desta vez mais interventiva. A partir do momento em que as comunidades deixam de se alimentar das plantas que a terra lhes dĂĄ ou dos animais que a elas se oferecem e começa a regular o crescimento, comportamento e atĂŠ o direito de vida e morte das espĂŠcies, a partir do momento em que ĂŠ preciso revolver e “ferirâ€? os solos, em que os ciclos temporais ganham outro tipo de relevância, os grupos humanos tiveram previamente de mudar as suas estruturas simbĂłlicas relativas ao Mundo, tendo existido certamente necessidade de se criarem outras formas de nele estar. Independentemente da forma especĂ­fica como se despoleta a neolitização94 da regiĂŁo, os monumentos megalĂ­ticos e as novas formas de pensar o Mundo neles intrĂ­nsecos, se nĂŁo foram um importante “gatilhoâ€?, foram, pelo menos, um mecanismo importante na criação de um habitus95 que possibilitou aquele processo. Da mesma forma que aquelas estruturas prĂłprias

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da primeira metade do IV milÊnio materializaram ligaçþes específicas das comunidades a locais específicos e significativamente relevantes da paisagem, da mesma forma que condicionaram a percepção96 e consequentemente interpretação desses locais e, por arrasto, do Mundo e das comunidades que nele se escrevem, outros mecanismos existiram que para isso contribuíram. Entre estes, conta-se a arte rupestre, nomeadamente a do Guadiana. Tal como no caso dos tumuli, as gravuras são executadas em sítios de potencial relevância simbólica. Tal como nos monumentos são abrigados corpos que em si não passam de mais um prop de uma encenação, de outro objecto litúrgico, os antropomorfos gravados não apresentam nada para alÊm do globalmente humano. Se num monumento se exalta e humaniza o Tempo, na Moinhola ele Ê tambÊm um importante interveniente. No entanto, algumas diferenças estruturais são de salientar. Para alÊm do que intrinsecamente separa uma estação de arte rupestre de uma arquitectura ao nível perceptivo97, Ê interessante notar que os animais estão ausentes das câmaras megalíticas do sul98, enquanto aparecem gravados junto ao rio. Esta situação pode encontrar a sua explicação no contexto de tabus que agora nos escapem. A domesticação dos animais implica a sua dominação, relação só possível porque se admite a sua diferença perante o gÊnero humano (Ingold, 2000, 72-75).

Conceito aqui encarado fundamentalmente como o processo de adopção das prĂĄticas produtivas. Conceito que se refere aos comportamentos “naturaisâ€? e inconscientes que os elementos de dada comunidade desenvolvem e que contribuem para a criação, reprodução e exaltação de determinada forma de estar no Mundo (Bourdieu, 2002, 37-55). 96 Processo aqui encarado nĂŁo sĂł como dependente dos sentidos como tambĂŠm dos movimentos de quem percepciona (Casey, 1996, 18). 97 (QWUH HVWDV FRQVLGHUDPRV FRPR PDLV VLJQLĂ€FDWLYDV DV VHJXLQWHV PDLRU YLVLELOLGDGH GDV DUTXLWHFWXUDV HVWDV VmR WDPEpP mais impositivas; maior intimidade perceptual das gravuras (estas exigem a proximidade de quem percepciona); nĂŁo existĂŞncia de fronteiras fĂ­sicas numa estação de arte rupestre (Santos, 2007). 98 Mesmo no Noroeste e Beira Alta, o Ăşnico animal domĂŠstico representado trata-se do cĂŁo. 94 95

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de singular maneira no Sudoeste. Entre as novidades mais representativas contam-se a expansão dos recintos cercados99, o aparecimento de novas formas de tratamento dos cadáveres (nomeadamente tholoi) e de novos materiais (cerâmicos, líticos, etc.). Temos, portanto, evidências para crer que todos estes fenómenos se correlacionam e que a estrutura simbólica que lhes subjaz é a mesma. Vejamos primeiro o que se passa nas margens do Guadiana. A nível da arte rupestre, para além do aumento substancial de motivos gravados, observa-se também o aumento dos sítios onde se grava. Que o que se grava em cada um destes sítios está dependente da posição destes junto ao rio não parece ser discutível. Assim, por exemplo, observa-se que é nas estações mais a montante que a variedade de motivos é muito mais reduzida. É também aí que se encontra o maior número de concentrações de picotados. Observa-se, de igual modo, que os animais gravados neste período o são apenas em Monte das Taliscas e Moinhola. Em relação a este último sítio já vimos o que o faz tornar tão particular. Não é por acaso que corresponde à maior concentração de rochas historiadas da margem direita do Guadiana. Já o Monte das Taliscas não apresenta qualquer particularidade física que o diferencia. Contudo, este sítio situa-se mesmo em frente de Molino de Manzanares, relacionando-se certamente com ele. Com estas observações pretendemos demonstrar que continua e complexifica-se a estrutura que subjaz à organização do santuário. Ora, isto implica que existe agora um multiplicar de possibilidades inter-relacionais entre os signos e os referentes aludidos. Deste modo, se

Tanto por estruturas positivas como por negativas, sendo aparentemente alguns destes últimos mais antigos. No entanto, não parece existirem dúvidas que é a partir de agora que se disseminam de forma mais clara.

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As câmaras megalíticas na sua origem podem ter sido uma das estruturas que veicularam esta ideia, nomeadamente através da presença exclusiva de “material humano”. É, neste sentido, curioso notar que no Guadiana os animais só aparecem em estações precisas: em relação com antropomorfos apenas em Mocissos e numa posição invertida e sem associações em Malhada de Gagos. Mais uma vez, esta última situação se pode interpretar como num contexto em que um lado domina o outro (dependendo a existência do dominado da associação com o dominador). Obviamente, tudo isto só faz sentido se admitirmos que neste período a actividade produtiva ainda se estava a impor, situação que não nos parece incongruente quando nos debruçamos sobre o chamado “registo arqueológico”. Mesmo sítios como Xarez 12 (do qual não sabemos o desejável) poderá corresponder a um local onde esses “fornos” terão jogado um papel tão simbólico quanto “culinário”, correspondendo a importantes elementos de um cenário em que as relações entre Homens e animais se jogariam. Assim se compreenderiam algumas das particularidades pouco funcionais da estação, estação essa, aliás, cujas características geomorfológicas, tais como a abundância de afloramentos, poderão ter contribuído para a construção de significados muito próprios ou, pelo menos, para revestir o sítio de qualidades mnemónicas. Contudo, é na passagem do IV para o III milénio que, como vimos, ocorre a grande “explosão rupestre” do Guadiana, momento esse em que, como vimos também, grandes modificações são observáveis em toda a Península e


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observa que, por exemplo, os báculos só aparecem, como os animais, em Monte das Taliscas e Moinhola; as faces oculadas apenas na Moinhola, os bucrâneos nesta última estação e em Mocissos, etc. Ou seja, a liberdade interpretativa sobre os sítios e a consequente liberdade performativa nos mesmos diminuiu de forma considerável. Que isto implica também um maior condicionamento da interpretação do Mundo é, não só um dos paradigmas que sustentam este trabalho, como é, de igual maneira, sustentado por alguns aspectos do repertório figurativo, em particular no que toca aos animais e antropomorfos. Na verdade, os primeiros não são já indiferenciados, identificando-se agora claramente as espécies (correspondendo estas a cervídeos e capríneos). Já em relação ao segundo tipo de motivos observamos uma série de características bastante particulares. Por um lado, em grande número deles existe diferenciação sexual, situação que nos pode indicar uma maior distinção ao nível do género. Não só é pertinente esta diferenciação como o é também a evidência das relações que se estabelecem entre eles (em pares opostos). Outro tipo de comportamento que se identifica também entre os antropomorfos é a gravação de alguns em posição de orante, posição essa que poderá, eventualmente, corresponder a determinadas formas de estar nos sítios onde se encontram ou nos contextos a que se referem. Da mesma maneira, algumas das figuras humanas aparecem a andar (v. g. Foz de Pardais II1, Mocissos 8 ou Moinhola 113), situação que se pode explicar da mesma forma. Voltemos agora aos restantes elementos que compõem o “registo arqueológico” do período. Como referimos em devida altura, encontramo-nos no “tempo” em que os monumentos megalíticos, embora alguns deles continuando

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em utilização, começam gradualmente a deixarem de ser construídos. Outros cenários começam a ser criados e difundidos. Entre eles, contam-se os recintos cercados, sítios que se destacam pela sua plurifuncionalidade, como parecem indicar as estruturas e materiais neles exumados. Como dissemos atrás, esta plurifuncionalidade pode ter que ver com um controlo interpretativo efectuado mediante rituais e comportamentos específicos levados a cabo em lugares bastante concretos, lugares esses onde são criadas conexões metafóricas entre objectos, corpos e os próprios sítios. Deste modo se explicaria a “promiscuidade” entre as actividades interpretadas como “domésticas”, as que se ligam ao mundo dos mortos e as que remetem para o sagrado, sendo os exemplos mais paradigmáticos desta situação os sítios de Perdigões e La Pijotilla. Esta necessidade de maior complexidade das relações entre o Ser o Mundo explicámo-la no contexto de uma maior divisão social do trabalho e de uma maior rigidez na definição do papel que cada individuo desempenharia no grupo. Tal situação adviria de um maior grau de sedentarização e de um incremento das actividades produtivas, fenómenos que se evidenciam a partir deste momento no “registo arqueológico”, como o demonstra a análise dos sítios coevos efectuada no ponto relativo ao contexto arqueológico. Contudo, mesmo essas ditas “actividades produtivas” que se intensificam são muito concretas. Na verdade, como escrevemos, os sinais de intensificação da actividade agrícola são ténues para não dizermos inexistentes, continuando a pastorícia e a caça-recolecção a desempenharem um papel bastante relevante. A primeira releva-se até pela presença de objectos cerâmicos que se podem interpretar como ligados ao processo de fabrico dos lacticínios, objectos esses que, aliás,


tar em força em sítios como Perdigões levanta outros problemas. Entre os aspectos a ter em conta há que contar com o valor intrínseco do metal e com a novidade técnica que representava os actos conducentes à sua transformação. Há que relevar-se também o próprio impacto perceptivo (ou cenográfico) que representaria a própria cadeia operativa assim como as potenciais conexões metafóricas passíveis de serem conseguidas a partir de um processo que “molda” algo tão resistente como o metal. E que é isso da criação e reforço das identidades se não a configuração do indivíduo ao molde de uma dada realidade social? Se tivermos presentes estes aspectos compreendemos porque ocorrem eles em sítios como Perdigões. Referimos acima que este processo de diferenciação social advinha da progressiva sedentarização e incremento das actividades produtivas. Se já abordámos o segundo aspecto, convém lembrar que também o primeiro aspecto se verifica quando comparamos os sítios de habitat precedentes com os que encontramos agora, sítios esses onde as estruturas exumadas são de carácter muito mais perene. Este aspecto da sedentarização, para além de condicionar o incremento produtivo e a consequente diferenciação social, provoca também uma maior ligação ao território (Sanches, 2000, em particular 133-137), situação que promove a sua marcação (e consequente controlo interpretativo) de forma muito mais consistente. Daí a expansão da antropização monumentalmente perceptível das paisagens. Onde anteriormente só os monumentos megalíticos seriam sinais impositivos da presença humana, dispersam-se agora para além destes e de outros tumuli (nomeadamente os tholoi), os recintos cercados, algumas aldeias em que a pedra parece ter um papel mais que estruturante (v.g. Mercador) e os santuários rupestres ao longo das margens

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só se identificam em dois sítios – Monte do Tosco I e Mercador. Já em relação à metalurgia é particularmente pertinente que ela não pareça ter grande impacto em qualquer dos sítios à excepção de Perdigões, sítio que paradoxalmente apresenta o maior número de vestígios de actividade metalúrgica, sendo possível aí identificar-se todas as fases da cadeia operativa da redução do cobre. Outro aspecto a ressalvar é a evidente proeminência “material” da tecelagem que se verifica não só nesta região como em toda a Península. Alguns destes aspectos são, quanto a nós, bastante sugestivos no contexto de um quadro de reforço de uma maior definição dos papeis de cada um no seio de um grupo. Passemos a explicar porquê. O primeiro tem que ver com a importância da tecelagem. Na verdade, em vários contextos peninsulares deste período os pesos de tear parecem ser portadores de uma elevada carga simbólica, para além da meramente utilitária. Verifica-se isto não só nas decorações destes materiais em muitos sítios, destacando-se aqui os provenientes de Vila Nova de S. Pedro (Paço, 1940; Arnaud e Gonçalves, 1995,27, Fig. 30). Observa-se também em determinados contextos de clara “funcionalidade” ritual como seja a estrutura funerária de Castelo Velho ( Jorge et alii, 1998-1999). Esta última reveste-se de particular importância na medida em que fragmentos de pesos de tear aparecem associados a um enterramento e ossos soltos de animais e humanos. Julgamos que a importância da tecelagem tem que ver com a relevância que o vestuário teria (e tem) na distinção de uma pessoa. Na verdade, as vestimentas de um indivíduo são o mais quotidiano e evidente sinal exterior da sua identidade. Daí a importância simbólica que podem ter os materiais que estão na sua origem. Já o facto da metalurgia do cobre só se ates-


dos rios e não só neste ou naquele ponto mais relevantes significativamente. Um sítio que pode ilustrar a forma como todos estes aspectos se relacionam é o da Perdigoa. Na verdade, no cimo da elevação localiza-se um sítio que pelas suas características e pelos materiais nele exumados poderá corresponder a mais um dos recintos cercados a que nos referimos. Ainda no topo, mas mais virado para o rio observam-se duas estruturas de tipo cistóide. Já junto ao Guadiana foram identificadas duas rochas – uma onde apenas foram gravadas covinhas (rocha 1) e outra muito mais complexa em que abundam os antropomorfos (rocha 2). Se um destes pode ser, como referimos atrás, considerado ainda neolítico, a tipologia dos restantes remete-os já para a nossa segunda subfase. Não será à toa que esta rocha, encontrando-se estreitamente relacionada com um possível recinto cercado e duas estruturas funerárias, será dos mais claros exemplos da definição sexual dos antropomorfos e respectivo relacionamento entre si. Todo o sítio da Perdigoa aparece-nos assim como um complexo em que vários “recursos” de criação, legitimação e reforço identitário de um dado período nos aparecem em clara associação relacional. A arte rupestre do antigo Anas deve ser compreendida neste contexto. Ela mais não é que outro produto de uma época em que a definição do papel de cada um na sociedade era ferramenta essencial para a sua manutenção, como hoje, aliás...

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7. 3. Proto-História: a Arte Rupestre do Guadiana enquanto mecanismo JHUHQFLDGRU GH FRQÁLWRV Se durante o período anterior admitimos que a tónica principal da arte rupestre (e de

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outros elementos do registo arqueológico) tem que ver com processos de criação, reforço e legitimação das identidades, já na Proto-história, embora de algum modo também relacionado com este aspecto, a palavra-chave deve ser Poder. Manifestações de Poder verificam-se, pelo menos, desde o Bronze final em contextos variadíssimos: nos sítios de habitat (Vilaça, 1995; 1998), na arte rupestre (Santos, 2006), nos depósitos de metal ou mesmo nas necrópoles como parece ler-se dos dados provenientes de algumas escavações que denotam alguma plurifuncionalidade daqueles espaços (Vilaça e Cruz, 1999). Como referimos anteriormente, não se observam grandes diferenças estruturais entre as comunidades do Bronze final e da I Idade do Ferro, devendo as diferenças encontradas no registo arqueológico serem explicadas no quadro da necessidade de novos cenários onde as relações de Poder seriam (re)negociadas. Assim, quando anteriormente essas negociações seriam feitas nos múltiplos contextos atrás referidos, são criados agora lugares mais específicos como o seriam os “palácios-santuários” extremenhos ou sítios como Castelão das Nogueiras ou Nossa Senhora de Machede dos quais pouco se sabe ainda. Para esta situação certamente terá contribuído a generalização de determinados produtos e técnicas (que terão por isso perdido o seu carácter de prestígio) assim como a perda de relevância do controlo das vias de comunicação em detrimento de outros factores como poderão ter sido a acumulação de excedentes. Já na II Idade do Ferro são claras as marcas de continuidade ao mesmo tempo que se observa o aparecimento de algumas novidades que se revestem de significativa relevância para a compreensão do fenómeno rupestre coevo.


acima. Por um lado, apresenta características de um santuário e por outro a iconografia representada remete-nos também para a exaltação do Poder bélico e de outros comportamentos associados como a caça. Aprofundemos a questão. O lado de “santuário” está claramente vinculado às localizações das rochas. Por um lado, encontramo-las em sítios previamente gravados, como sejam Mocissos ou Moinhola. É evidente que a existência anterior de outras gravações, cujas origens escapavam já à memória colectiva, terá influído de uma maneira muito firme na interpretação destes sítios. Para além de tudo isto, devemos ainda ter em conta que o repertório figurativo precedente é de marcado carácter esquemático. Este facto implicou que, para além das origens se terem perdido, também os significados das figuras não eram já conhecidos. Para alguém da Idade do Ferro, estes sítios eram evidências da existência de outras entidades (os antepassados? Os deuses?) que seguramente terão desempenhado um relevante papel no discurso social da época. A apropriação desses sítios (através da adição de novos motivos ou da gravação de novas rochas) era pois particularmente importante. Para além destes sítios, outro existe que é a sua dificuldade de acesso e visualização que o aproxima dos “santuários”, em particular dos que designámos como selvagens. Referimo-nos à rocha 1 de Roncanito III. Esta, como referimos precedentemente, corresponde a um pequeno painel situado no topo de um imponente “pico” xistoso localizado no leito do rio. A sua situação topográfica é não só extremamente escondida como de difícil e perigoso acesso. Já parte da iconografia sidérica tem realmente que ver com a referida exaltação das actividades bélicas, nela se encontrando represen-

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Assim, a continuidade é revelada pela maioria dos sítios conhecidos. Estes são abertos, evidenciando um marcado carácter agrícola. Por outro lado, no entanto, o número de sítios fortificados aumenta também. A partir deste facto e do aparecimento da cerâmica estampilhada, cujos particularismos decorativos a tornam um óptimo meio de criar, reforçar e expressar identidades específicas, podemos inferir um certo antagonismo entre as comunidades da altura. Por alguma razão, o modelo sócio-político anterior em que o Poder era negociado em lugares bastante específicos ter-se-á esgotado. Este período, como vimos, parece mais aberto ao antagonismo e ao conflito. Não pensamos, no entanto, na existência de uma guerra aberta. Admitimos que esses conflitos seriam geridos em contextos e de forma também muito específicos. Neste sentido, ganham particular relevância os sítios de cariz religioso, que por essas mesmas características deveriam ser encarados como locais neutros. Não é assim, de estranhar a proliferação de santuários neste período, sejam eles urbanos ou rurais. Estes últimos talvez sejam, por vezes, melhor caracterizados com o adjectivo selvagem do que rural. Na verdade, a sua localização em sítios como a Rocha da Mina a isso nos impele. Também a própria exaltação do Poder bélico poderá ser interpretada como outra forma de gestão de conflitos. Daí o aparecimentos de impressivas estruturas defensivas como muralhas, torreões, portas imponentes, etc. Não querendo colocar de parte a sua funcionalidade primeira (a ideia de conflitualidade terá sempre presente pelo menos a possibilidade da agressão), não podemos também deixar de sublinhar a vertente “propagandística” destes elementos. Ora, a arte rupestre sidérica aparece-nos como um “misto” das duas situações referidas


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tado não só o guerreiro como o seu equipamento: a caetra, a lança de ponta e regatão e o cavalo. Para além deste aspecto mais belicoso, outras actividades encontram-se também representadas, destacando-se aqui a venatória. Esta devia ser exclusiva de parte da sociedade, pelo menos no que se refere ao veado. A importância simbólica deste animal é aliás atestada pela sua gravação noutros contextos que não de caça como é o caso da rocha 109 da Moinhola. A simbologia de outros motivos escapa-nos, mas poderão ter que ver com o mundo mítico-religioso destas populações. Pode ser este o caso do possível felino da rocha 3 de Mocissos, e do estranho animal do mesmo painel que acomete o que parece ser uma cerva. Observamos, portanto, uma certa “promiscuidade” entre relatos míticos e exaltação guerreira e venatória. O Poder não só se “exalta” como tem necessidade de se legitimar. Legitimação não só conseguida pela apropriação de sítios mais antigos mas também por esta mistura entre o mito e as actividades próprias de quem detém esse Poder. Quanto ao culto dos ofídios que parece manifestar-se na rocha 1 de Roncanito III é um fenómeno que está bem atestado para esta época em vários pontos da península. A associação entre estes animais e os valores ctónicos é bastante evidente, sendo este um aspecto que poderá ajudar-nos a relacionar este tipo de Figurações com os cultos a Endovélico de que o santuário de S. Miguel da Mota será o mais expressivo exemplo. Também a rocha 50 da Moinhola merece aqui algumas palavras. Como vimos, se na I Idade do Ferro não se conhecem quaisquer vestígios de escrita, na II está documentada a presença de alguns grafitos pré-romanos. Não correspondendo os sinais representados a qualquer silabário daquele período, poderemos, no entanto, estar frente a uma tentativa

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de imitação de em daqueles. Como se verificará para tempos já modernos, admitimos que em contextos em que a escrita não está difundida, o seu conhecimento pode em si ser encarado como um “bem de prestígio”. Uma vez que a veracidade do que se expõe é condicionada, por outro lado, pelos próprios conhecimentos da audiência, poderemos admitir que aqui nos encontramos perante o produto de alguém que, sabendo da existência de um alfabeto, terá deste modo procurado confirmar que o conheceria, sendo assim valorizado num contexto social em que os restantes elementos não teriam forma de confirmar ou infirmar tal pretensão. Julgamos ser esta uma das narrativas possíveis que nos podem ajudar a compreender a arte rupestre sidérica do Guadiana. Outras serão, por certo, exequíveis. Contudo, de momento, esta parece-nos a que melhor se conforma às referências que vamos tendo de um Mundo tão ou mais separado de nós quanto aquele do dos gravadores que a estes precederam...

7. 4. Dos dias de ontem: a Arte Rupestre Histórica As rochas deste período encontram-se maioritariamente associadas a sítios onde imperava a solidão: moinhos, poços no meio das devesas ou postos de observação florestal. O contexto sócio-económico dos gravadores é passível de ser inferido, correspondendo estes a moleiros, pastores (ou eventualmente outros elementos do campesinato local) e guardas florestais. Grande parte destes não saberia ler nem escrever e os que o sabiam exaltavam tal capacidade, facto que não se poderá desassociar da pouca frequência de pessoas alfabetizadas. Deste modo, se explica, por um lado a existência de letriformes que imitam claramente o


O sítio do Monte Tosco é um outro local sintomático. Localiza-se no topo de um morro cuja visibilidade certamente o tornava propício para os longos turnos de vigília florestal e venatória (confirmado por algumas inscrições aí presentes). No painel observa-se, para além das inevitáveis referencias à terra de origem ou de aquartelamento, uma manifesta exaltação do género feminino, sendo este representado por uma figura de mulher em pose de pin up dos anos 50, que no “Portugal profundo” certamente só se terá começado a divulgar a partir dos anos 60, como se infere das datas representadas.

Vila Nova de Foz Côa, Junho de 2007

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alfabeto latino e por outro, o extremo cuidado caligráfico denotado, por exemplo, em Moinho do Lurico 1. Sumamente expressivo é o caso da laje presente no poço de Alcaria. Localiza-se numa zona de devesa (o topónimo do local é Defesinha) em plena no man’s land em sítio maioritariamente frequentado por pastores que ali iriam dar de beber ao gado. O repertório da laje é em si um retrato sócio-político do campesinato da zona. Na laje manifestam-se os seus anseios sexuais, as suas aspirações politicas (a foice e o martelo), os seus afectos clubísticos (a sigla FCP e o emblema do Benfica), os seus desejos de uma vida melhor (a nota de 5 000 escudos ou os automóveis), os objectos que povoavam o seu quotidiano (canivetes, uma possível peça de dominó ou um barco) e mesmo figuras próprias do imaginário popular como um diabo (ou palhaço).



8. ANEXO: ARTE RUPESTRE NA ÁREA DE INFLUÊNCIA DO REGOLFO DO AÇUDE DO PEDRÓGÃO



8. ANEXO: ARTE RUPESTRE NA ÁREA DE INFLUÊNCIA DO REGOLFO DO AÇUDE DO PEDRÓGÃO

cimento de um sítio com arte esquemática pintada (Abrigo do Bufo). O aparecimento destas estações que temática e tecnicamente se afastam dos painéis coevos situados rio acima, devem compreender-se no âmbito do controlo interpretativo referido acima que tem como consequência mais evidente a aposição de motivos específicos em contextos também eles específicos. Deste modo, os trabalhos no Pedrógão não vieram fazer mais que reforçar tudo o que dissemos nas últimas linhas. Não existindo, quanto a nós, necessidade de maiores elocubrações, passemos à descrição das estações.

8. 1. Moinho dos Bilores Sítio com duas rochas com picotagens dispostas na horizontal e localizadas junto ao moi-

Figura 285: Localização de Moinho dos Bilores na folha 501 da Carta Militar de Portugal na escala 1: 25 000.

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Posteriormente aos trabalhos realizados na área do regolfo do Alqueva, o CNART procedeu a trabalhos de prospeção e levantamento na área a inundar pelo açude do Pedrógão (entre 15 de Outubro e 13 de Novembro de 2002). Estes trabalhos não vieram a alterar nada a problemática por nós discutida acima. Os painéis historiados que seguidamente se apresentarão correspondem a claros exemplos de manifestações gráficas executadas na área limítrofe da grande concentração rupestre situada mais a montante. Assim, na zona do Pedrógão encontramos rochas que se integram cronologicamente em duas das fases referidas acima: a da Pré-história Recente e a Histórica. Deve destacar-se, contudo, duas situações: a ocorrência de estações com grande concentração de covinhas (Moinhos da Barca, Ribeira de Sobroso e Abrigo dos Galeados) e o apare-


Figura 286: Rocha 1 do Moinho dos Bilores.

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Figura 287: Rocha 2 do Moinho dos Bilores.

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nho fluvial epónimo. Este situa-se na margem direita do Guadiana, a ele se acedendo através de um caminho vicinal com origem no Monte das Galinhas. Administrativamente pertence à freguesia de Pias, concelho de Serpa, distrito de Beja. Na Carta Militar de Portugal, escala 1: 25 000, folha 501, aparece nas seguintes coordenadas Greenwich: 38º 10’ 00’ N e 07º 32’ 61’’ O, com uma altitude de 80 m (Fig. 285). A área onde se encontram as duas rochas corresponde a uma zona muito acidentada, onde abundam os afloramentos xisto-grauváquicos dispostos horizontalmente. A rocha nº 1 apresenta uma superfície com uma forma subtriangular, uma cor negra e as seguintes dimensões: 1,10 m de comprimento, por 0,60 m de largura. Nela pode apreciar-se apenas uma pequena concentração de picotados de forma genericamente ovalada e sem contorno definido (Fig. 286). A rocha nº 2 é da mesma cor, apresenta uma forma subtrapezoidal e tem como medidas máximas 0,85 m de comprimento, por 0,90 m de largura. Aqui pode identificar-se uma outra


8. 2. Abrigo do Bufo Este sítio, que é um dos mais interessantes descobertos nesta campanha por apresentar restos de pintura rupestre tão a sul de Portugal, não tinha qualquer topónimo antigo que o individualizasse no contexto desta região. O nome com que agora aparece nesta descrição foi-lhe atribuído durante os nossos trabalhos por nele estar anichado um ninho de bufo real, precisamente na parte superior do painel decorado com pinturas.

Corresponde a uma ampla superfície vertical de xisto quartzítico com incrustações calcárias e de quartzo, semi-abrigado por uma pala (actualmente em acelerada desagregação), mas que não forma verdadeiramente um abrigo. É uma rocha com uma superfície de coloração amarelada / avermelhada. Localiza-se numa encosta de alguma pendência na margem direita do Ardila, um curso de água subsidiário da margem direita do Guadiana. Em frente mas já no lado oposto do rio, situa-se o importante povoado proto-histórico da Azougada. Administrativamente, integra-se na freguesia de S. João Baptista, concelho de Moura, distrito de Beja. De acordo com a Carta Militar de Portugal, situa-se pouco acima de 90 m de altitude e apresenta as seguintes coordenadas Greenwich: 38º 10’ 19’’ N e 07º 28’ 32’’ O (Fig. 288). O acesso faz-se por caminho vicinal a partir do Monte de Entre-Águas, junto à foz do Ardila. No “abrigo”, individualizam-se três painéis: No primeiro, um grande paredão orientado verticalmente, de configuração sub-rec-

Figura 288: Localização do Abrigo do Bufo na folha 501 da Carta Militar de Portugal, escala 1: 25 000.

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concentração de picotados de forma globalmente oblonga e também sem contorno definido (Fig. 287). Estas pequenas concentrações de picotados, que também apareciam disseminados pelas margens do Guadiana mais a montante, não apresentam aqui grande interesse arqueológico por não terem outro contexto que não o de estarem junto a moinhos fluviais.


caliza-se acima desta composição e outra abaixo já da fractura acima referida, junto do limite inferior direito do painel. Estas pinturas, embora inteiramente expostas ao ar livre, são ainda bem visíveis. O conjunto está bastante alteado no painel relativamente ao nível do solo actual. Na segunda superfície, também de configuração sub-rectangular, observa-se uma “composição” em técnica filiforme delimitada por uma forma losangular e reticulada no interior, do tipo escutiforme (Fig. 290). No terceiro painel, observam-se apenas três conjuntos de traços filiformes paralelos entre si e não figurativos (Fig. 291). Este tipo de pintura, ainda que com um carácter não figurativo (abstracto-simbólico),

Figura 289: Painel 1 do Abrigo do Bufo.

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tangular e que é o mais interessante arqueologicamente, evidencia-se um pequeno conjunto de pinturas com uma coloração de tonalidade homogénea de um vermelho quase vinhoso (ocre), embora de carácter não figurativo (Fig. 289). As pinturas assentam directamente sobre a superfície rochosa sem qualquer preparado de base. Possivelmente estruturada por uma fractura mesial e aproveitando a superfície mais lisa do painel, observa-se uma composição central constituída por 10 barras verticais e paralelas, sendo a terceira e a oitava a contar da esquerda de dimensões bastante reduzidas. Por outro lado, a quarta e a quinta encontram-se unidas superiormente por uma pequena barra horizontal. Outra barra horizontal atravessa longitudinalmente a quinta, sexta, sétima e oitava barras verticais. O conjunto estrutura-se quase que em grelha. Outra barra de menores dimensões lo-

ANEXO

Figura 290: Painel 2 do Abrigo do Bufo.


fornecer-lhe um contexto arqueológico mais preciso. As pinturas enquadram-se na temática mais comum da arte esquemática (há bons paralelos, por exemplo, nos abrigos portugueses de Vale de Junco, mais a norte) e pertencerão a um período entre o Neolítico final e a antiga Idade do Bronze. Aqui poderão ter um significado de carácter topográfico. As incisões, com uma pátina antiga, não sendo de carácter figurativo, são de difícil enquadramento cronológico, embora aparentemente posteriores às pinturas.

8. 3. Moinho do Carneiro

integra-se na ambiência do chamado esquematismo ibérico pintado, onde são comuns este género de motivos, embora na sua generalidade em contextos mais ricos pictoricamente. Aqui aparecem isolados, ao lado (mas não em aparente associação) de motivos incisos, estes pouco vulgares nos abrigos decorados da arte rupestre esquemática pintada. Esta particular aliança, ainda que com uma gramática figurativa relativamente pobre, tornam este sítio no mais interessante de quantos foram referenciados nesta campanha de trabalhos e em toda a área de influência do regolfo de Pedrógão. Por outro lado, o facto de se localizar frente ao povoado do Castelo da Azougada, separados apenas pelo magro curso do Ardila, poderá

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Figura 291: Painel 3 do Abrigo do Bufo.

Em ampla e aberta zona de rio está o mais interessante dos painéis historiados com gravuras detectados nesta campanha. Corresponde a um bloco xistoso apainelado, disposto na vertical, com uma superfície de forma genericamente triangular, localizado em terreno bastante acidentado, onde se observa um grande caos de afloramentos e blocos xistosos boleados por acção das águas. Localiza-se numa pequena península da margem esquerda do Guadiana, um pouco a jusante do Moinho do Carneiro, já relativamente perto do paredão da barragem do Alqueva, que se situa cerca de 500 m para montante. Integra-se administrativamente na freguesia de S. João Baptista, concelho de Moura, distrito de Beja. Cartografa-se na Carta Militar de Portugal, escala 1: 25 000, folha 501 nas seguintes coordenadas Greenwich: 38º 10’ 06’’ N e 07º 28’ 72’’ O; altitude de 80 m (Fig. 292). O acesso consegue-se através do caminho vicinal que a partir do Monte de Entre-Águas, segue sempre paralelo ao rio, localizando-se a rocha à esquerda daquele. Corresponde a uma superfície de cor acinzentada quase enegrecida e apresenta as


Figura 292: Localização do Moinho do Carneiro na folha 501 da Carta Militar de Portugal, escala 1: 25 000.

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seguintes dimensões máximas: 2,10 m de comprimento, por 1,40 m de largura. Aqui foram identificadas três figuras isoladas, todas de pequenas dimensões e marteladas por picotagem fina. A representação no sector esquerdo da rocha é a mais interessante e figura um antropomorfo esquemático ictifálico com os membros em forma de arco de círculo e uma cabeça bem definida, inteiramente preenchida com picotados. É uma figura muito patinada, com uma tipologia muito idêntica aos antropomorfos da Malhada dos Gagos. Mais à direita desta representação humana, já noutra dobra da superfície rochosa, observa-se outro possível antropomorfo de tipo ancoriforme, este com dimensões bastante mais modestas, mas com a mesma técnica de execução por picotagem fina. Mais baixo observa-se ainda uma mancha de picotados sem forma definida (Fig. 293). São gravuras de clara morfologia pré-histórica, o que é acentuado pela pátina envelhecida e pela técnica de execução. Tipologicamente enquadram-se na ambiência da arte esquemática da pré-história recente, com inúmeros paANEXO

Figura 293: Rocha 1 do Moinho do Carneiro.

ralelos peninsulares, de que os mais significativos serão quer os diversos achados no próprio Guadiana, em especial nos sítios de Mocissos, Moinhola e da citada Malhada dos Gagos, quer na arte gravada do Vale do Tejo. Há também inúmeros exemplos idênticos na arte esquemática pintada dos abrigos peninsulares, quer da Extremadura e Andaluzia espanholas, quer nos portugueses do distrito de Portalegre. A cronologia deste tipo de motivos é ampla, podendo ser classificados entre o Neolítico antigo e a antiga Idade do Bronze. Mas a particular técnica


de execução destes antropomorfos do Moinho do Carneiro, uma picotagem fina quase em forma de bago de arroz é mais característica da arte antropomórfica do Calcolítico (genericamente 3º milénio a.C.), momento cronológico ao qual devem ser atribuídas estas representações.

Figura 295: Rocha 1 de Moinhos da Barca.

8. 4. Moinho da Barca Junto aos moinhos com este nome, este achado corresponde a um afloramento de xisto com uma superfície disposta na horizontal, de cor negra acinzentada, forma subtrapezoidal e com as seguinte dimensões: 3,50 m de comprimento, por 2,5 m de largura. Situa-se na margem direita do Guadiana, em zona muito acidentada, onde abundam os afloramentos e blocos de xisto bastante boleados pela acção das águas. Encontra-se em zona de fraco declive. Administrativamente pertence à freguesia de Pedrógão, concelho da Vidigueira, distrito de Beja. Apresenta, de acordo com a Carta Militar de Portugal, escala 1: 25 000, folha 501,

Figura 294: Localização de Moinhos da Barca na folha 501 da Carta Militar de Portugal, escala 1: 25 000.

ANEXO

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Figura 296: Localização da estação de Ribeira do Sobroso na folha 500 da Carta Militar de Portugal, escala 1: 25 000.

as seguintes coordenadas Greenwich: 38º 09’ 37’’ N e 07º 30’ 19’’ O (Fig. 294), encontrando-se à altitude de 85 m. Localiza-se a 75 m para oeste da estrada n.º 538. Trata-se de uma ampla superfície muito irregular e polida pelas águas onde se identificam apenas uma série de covinhas, em número de 43, todas obtidas por picotagem e polimento. A maior parte destas covinhas concentra-se no quadrante sudoeste da rocha, distribuindo-se todas elas duma forma aparentemente aleatória (Fig. 295).

8. 5. Ribeira do Sobroso

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Trata-se de um afloramento xistoso de forma subtrapezoidal, cor acinzentada, disposto na horizontal, situado na margem direita do Guadiana em pleno leito de cheia do rio e em área de platitude acentuada. Administrativamente, pertence à freguesia de Baleizão, concelho e distrito de Beja. Segundo a Carta Militar de Portugal, escala 1: 25 000, folha 500, apresenta as seguintes coordenadas Greenwich: 38º 10’ 32’’ N, 07º 35’ 13’’ O (Fig. ANEXO

296), situando-se à altitude de 80 m. Localiza-se a cerca de 100 m para montante da ribeira do Sobroso e a 125 m para sul da estrada n.º 538. Corresponde a uma superfície bastante irregular e boleada pelas águas, com cerca de 1,20 m de comprimento máximo, por 0,60 m de largura, nela se identificando apenas covinhas, em numero de 12 e de tamanhos variáveis. Também a sua distribuição parece orientar-se de uma forma aleatória, sem um padrão definido. Todas elas foram abertas por picotagem e polimento, encontrando-se actualmente muito patinadas (Fig. 297).

Figura 297: Rocha 1 da Ribeira do Sobroso.


As rochas historiadas deste sítio, todas marteladas por picotagem, correspondem a quatro lajes de xisto de cor azulada, que integram o pavimento exterior de uma das azenhas da Rabadoa. A gravação destas lajes terá sido processada antes da sua integração no pavimento. Situa-se esta estrutura na margem direita do Guadiana, em zona de planura mas algo pedregosa. O local é de grande beleza paisagística. Administrativamente integra-se na freguesia de Baleizão, concelho e distrito de Beja. De acordo com a Carta Militar de Portugal, escala 1: 25 000, folha 511, apresenta as seguintes coordenadas Greenwich: 38º 07’ 75’’ N e 07º 36’ 13’’ O, localizando-se à altitude de 80 m (Fig. 298). O sítio é acessível através de um caminho vicinal que da povoação de Pedrógão segue até esta margem do Guadiana. A laje situada mais a oeste apresenta uma forma genericamente quadrangular onde se observam vários sulcos sem forma definida, mui-

tos picotados soltos profundamente martelados e um motivo com uma tipologia esteliforme no sector superior esquerdo. Mais abaixo (para leste) situa-se outra das lajes, de forma globalmente sub-rectangular. Aqui pode observar-se uma figura reticulada sobre a qual foram gravados em jeito de banda uma série de triângulos sem base. Para alem desta composição apenas se observam sulcos de forma indefinida. Para leste, à esquerda, encontra-se outra laje de forma sub-rectangular com uma composição reticulada e à direita desta uma outra, também genericamente sub-rectangular, onde se observa apenas uma grande concentração de picotados (Fig. 299).

8. 7. Abrigo dos Galeados Afloramento que corresponde a uma superfície granítica de grão fino a médio disposta na horizontal, ligeiramente boleada e resguardada

Figura 298: Localização das Azenhas da Rabadoa na folha 511 da Carta Militar de Portugal, escala 1: 25 000.

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ANEXO

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8. 6. Azenhas da Rabadoa


Figura 299: Lajes das Azenhas da Rabadoa.

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por um abrigo natural formado por uma pesada e impressiva mole granítica de forma oblonga que assenta directamente sobre a superfície historiada. Encontra-se numa encosta virada a oeste, numa zona bastante acidentada, onde pontuam os afloramentos e blocos daquela natureza geológica. Infelizmente, trata-se também de uma área onde a exploração de pedra deixou marcas importantes que feriram (e continuam a agredir) a paisagem. No momento do nosso trabalho, aproveitámos para comunicar ao responsável da pedreira a existência das covinhas, que desconhecia, pedindo-lhe que este sítio não fosse destruído! ANEXO

Administrativamente o sítio localiza-se no Monte dos Galeados, freguesia de Brinches, concelho de Serpa, distrito de Beja. Na Carta Militar de Portugal, escala 1: 25 000, folha 511, apresenta as seguintes coordenadas Greenwich: 38º 05’ 53’’ N e 07º 38’ 29’’ O. A altitude é de 110 m (Fig. 300). A superfície historiada apresenta uma configuração geomorfológica bastante irregular, convexa e abaulada, encontrando-se dividida por um acidente micro-topográfico da rocha. No sector noroeste individualizam-se 43 covinhas bem polidas, todas agrupadas ao redor de uma covinha


Figura 301: Rocha do interior do abrigo dos Galeados.

interior de um grande monólito em granito” (Lopes et alii, 1997, 25). Ora, estas encontram-se na superfície do afloramento que está por debaixo do grande monólito e onde só se chega rastejando. O abaulamento inferior do grande monólito deixa por seu lado no interior uma superfície bastante ampla, com c. de 4,30 metros de profundidade por c. de 0,70 m de altura no interior.

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Figura 300: Localização da estação de Galeados na folha 511 da Carta Militar de Portugal, escala 1: 25 000.

ANEXO

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maior e mais profunda, que é central e estrutura significativamente este conjunto. No sector sudeste apenas foram marteladas e polidas duas covinhas. Todo o conjunto, embora protegido pela singular formação granítica que lhe está sobreposta, está bastante erosionado e evidencia uma aparente antiguidade, podendo atribuir-se hipoteticamente à Pré-história recente (Fig. 301). Está erradamente descrito na bibliografia, apontado-se aí a existência das covinhas “na face



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INTRODUÇÃO

Memórias d’Odiana • 2ª série

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A ARTE RUPESTRE DO GUADIANA PORTUGUÊS NA ÁREA DE INFLUÊNCIA DO ALQUEVA

MEMÓRIAS d’ODIANA 2.ª Série

UNIÃO EUROPEIA

Empresa de Desenvolvimento

EDIA e Infra-Estruturas do Alqueva S.A.

Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional

1 MEMÓRIAS d’ODIANA 2.ª Série

A ARTE RUPESTRE DO GUADIANA PORTUGUÊS NA ÁREA DE INFLUÊNCIA DO ALQUEVA António Martinho Baptista André Tomás Santos

MEMÓRIAS d’ODIANA 2.ª Série Estudos Arqueológicos do Alqueva


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