R$20 ,00
ed. n º 01
GIRLS OF COMICS POR QUE PRECISAMOS DE MAIS SUPER-HEROÍNAS?
Vingadores - Guerra Infinita: O que esperar da continuação?
A sexualização das personagens femininas nos games
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isto que o patriarcalismo ainda se faz fortemente presente nos demais âmbitos da sociedade atual, a representatividade feminina se torna indispensável para que a cultura misógina se nulifique gradualmente. Porém, no contexto cultural, especialmente nos games, filmes e nas HQs, boa parte das personagens é sexualizada e estigmatizada, em detrimento da participação ativa e do reconhecimento das figuras femininas. Nos dias atuais, as mulheres têm ganhado cada vez mais espaço na indústria gamer. Entretanto, o respeito ainda há de ser conquistado, visto que muitas vezes, adeptas de jogos online omitem suas verdadeiras identidades por receio do tratamento que recebem por parte de jogadores homens. Paralelamente, às personagens insubmissas de histórias em quadrinhos e filmes são atribuídas preconcepções de rebeldia ou vulgaridade. Portanto, a partir da percepção da problemática vigente, a Revista Lith, voltada ao público jovem, apresenta, em sua primeira edição, Girls of Comics (“Garotas dos Quadrinhos”, tradução livre) e cinco outras matérias divididas em quatro seções relacionadas aos ícones femininos em ascensão no universo Geek. A proposta da revista consiste em conscientizar leitores e empoderar leitoras através de uma abordagem dinâmica, sensível e feminista. Afinal, o que se espera é que mulheres cis, trans, brancas, negras e reais no geral se sintam identificadas e valorizadas em essência. Que saibam, sobretudo, que podem ser protagonistas fortes.
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SUMÁRIO Vingadores - Guerra Infinita: O que esperar da continuação?
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GAL GADOT - Maquiagem, feminismo e mudança cultural
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EXPEDIENTE Diretor de Redação: William Bonner Editor-Chefe: Fátima Bernardes Consultoria Editorial: Pedro Andrade Editores: Ana Sofia e Rafael Réporteres: Ana Sofia, Rafael e Bruno de Souza Direção de Arte: Júnior Melo e Marcelo Cavalcanti Designers: Júnior Melo e Marcelo Cavalcanti Fotografia: Valtair Farias Revisores:
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GIRLS OF COMICS - ‘Por que precisamos de mais heroínas?’
a sexualiza;’ao das personagens femininas
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Lupita Nyong’o lamenta racismo no Brasil: ‘Vocês podem mais’
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THOR: Revelado o final de Jane Foster
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cinema
VINGADORES – GUERRA INFINITA: O QUE ESPERAR DA CONTINUAÇÃO?
Enquanto o final de “Guerra Infinita” deixou o universo Marvel destruído e com uma grande baixa de personagens principais, muitas dicas também ficaram para a continuação do filme, a ser lançada no ano que vem.
Os novos Vingadores A cena pós-créditos de “Guerra Infinita” deixou no ar o óbvio: com tantos heróis indo embora, novos personagens terão que aparecer para continuar a luta. É de se esperar que a Capitã Marvel (Brie Larson) aparecerá com outros personagens que estiveram ausentes de Guerra Infinita, incluindo o Homem Formiga (Paul Rudd), Hawkeye (Jeremy Renner) e Valkyrie (Tessa Thompson). Será que veremos uma terceira geração de Vingadores para o próximo filme?
A volta dos mortos Sendo Pantera Negra um dos maiores sucessos da Marvel e uma continuação de Spider-Man: Homecoming já tendo sido anunciada para 2019, é justo considerar que nem todos que viraram poeira no final de Guerra Infinita continuarão por muito tempo. A Marvel tem filmes programa dos para quase todos que viraram poeira (não esquecendo de Guardiões da Galáxia 3), é evidente que, senão todos, a maioria deles voltará a vida nos próximos filmes. Mas como?
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A revelação do plano do Doutor Estranho Stephen Strange não pareceu muito chateado de dar a joia do tempo para o Thanos, né? É quase como se ele tivesse olhado nas múltiplas possibilidades do futuro e planejou uma maneira de ganhar no final. Pera, mas ele viu! Vamos assumir que o Doutor Estranho sabia exatamente o que aconteceria se ele desse a Thanos a jóia do tempo, e tenha um plano para salvar o dia no final das contas. Qual é esse plano e quando descobriremos?
A vingança de Gamora A ideia de que a história de Gamora terminou com seu assassinato em Vormir seria muito mais pesada se não tivesse acontecido em frente a um outro personagem morto, que foi mantido por lá pela joia da alma. - Adicionado ao fato de que nos quadrinhos, os personagens vivem depois da morte dentro da joia em si. Dado o fato que Thanos acordou na água depois da morte de Gamora, não é demais assumir que alguma coisa aconteceu e nós ainda não sabemos o que. E se Gamora não está morta assim como Thanos pensa?
O porquê do Hulk não ter aparecido Talvez o grande mistério de Guerra Infinita foi o porquê do Hulk ter se recusado a aparecer quando Banner tentava se transformar. Não é como se o Banner tivesse perdido a habilidade em si, a aparição parcial do Hulk que claramente dizia “não”, é uma outra ocasião que nos faz pensar que algo está acontecendo, e independente do que seja, será resolvido nas sequências. Será que Hulk estava com medo de Thanos ou tem algo a mais acontecendo? Será que o Hulk está guardando o segredo de como combater Thanos para a hora certa? 5
FEMINISMO
gal gadot
Maquiagem, feminismo e mudanรงa cultural 6
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A maquiagem tem lugar no feminismo? Se você perguntar para a estrela de Mulher-Maravilha, a resposta é “com certeza”.
“Qualquer coisa que te faça sentir mais confiante, mais bonita e melhor quanto a você mesma tem a ver com isso [feminismo],” ela disse durante uma entrevista sobre seu último trabalho como a Embaixadora Global da Revlon. “Há uma grande interpretação errada do modo como as pessoas veem o termo do feminismo. Eu tenho amigas, mulheres, que têm carreiras e são mães e fazem de tudo e têm medo de dizer que são feministas.”
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adot, uma modelo, atriz e mãe que competiu em concursos de belezas e serviu no exército israelense, atingiu o estrelato em 2017 com o lançamento de Mulher-Maravilha. O contrato com a Revlon é o primeiro grande contrato de beleza dela.
A primeira vez que eu realmente comecei a entender o valor e realmente entender a maquiagem foi quando eu comecei a ser modelo Gal Gadot
melho), o rímel Mega MultiplierMascara e a base ColorStay Foundation como os itens para todas as horas. Para a Revlon, Gadot, que é israelense, dá uma perspectiva mais global para a mais recente iniciativa de marketing da empresa, chamada Live Boldly (Viva Corajosamente).
“A primeira vez que eu realmente comecei a entender o valor e realmente entender a maquiagem foi quando eu comecei a ser modelo,” ela disse.
“É aí que Gal realmente entra,” disse Anne Talley, a presidente global da marca da Revlon. “Ela é um símbolo global de força feminina e beleza, mas ela também é uma mulher moderna, multiface… Ela é uma grande defensora das mulheres, reconhecida por usar a voz e a plataforma dela para encorajar a indústria do entretenimento a lutar pela igualdade. Realmente a vemos abraçando o poder feminino e o que uma mulher pode realizar com a sua própria força especial.”
No entanto, esse não é o caso para a filha dela de seis anos, Alma. “Ela adora brincar com isso, ela adora passar maquiagem em mim, adora passar maquiagem nela e apenas brincar com isso e se sentir adulta, enquanto tenta andar com os meus saltos,” Gal Gadot disse. “Devo confessar que quando eu era pequena eu nunca fazia isso. Eu era um moleque.” Atualmente, Gadot mantém a sua rotina de maquiagem relativamente simples. Em um dia normal, usa uma leve base, bronzer, blush e rímel, ela disse. “Sou dessas que melhoram as coisas certas. Eu não gosto de usar muita maquiagem, eu não gosto quando mostra muito. Mas sou uma mãe que trabalha, então eu gosto de cobrir as olheiras em torno dos meus olhos, e quando eu saio, gosto de ter lábios ousados e rímel.” Para o Globo de Ouro do domingo, ela partiu para o caminho dos lábios ousados, combinando com um look todo preto de Tom Ford. Da Revlon, ela mencionou o Super Lustrous Lipstick (em ver-
As últimas duas campanhas de marketing da Revlon – Choose Love e Love Is On – se centraram em torno do amor. Live Boldly, que será lançado em várias partes com embaixadores adicionais ao longo de janeiro, é uma saída intencional dessa mensagem. “Definitivamente estamos mudando a forma como nos comunicamos, como parte da nossa campanha Live Boldly e tendo uma representação mais ampla das mulheres, pois somos uma marca que representa mulheres em todo o mundo “, disse Talley. 7
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os anos 1980, a atriz americana Whoopi Goldberg, famosa por ser a médium de Ghost, falou sobre a importância de ter assistido quando era criança à tenente Nyota Uhura na série de ficção científica Star Trek. A artista, que tinha 9 anos de idade à época, chamou todos da família para ver pela primeira vez a personagem de Nichelle Nichols. “Eu corri pela casa gritando ‘mãe, venha rápido, venham todos! Tem uma moça negra na televisão e ela não é uma empregada’”. Depois disso, a atriz disse que descobriu que poderia “ser o que quisesse”. A história de Whoopi mostra a importância de ver alguém parecido consigo na TV, nos quadrinhos, no cinema: estar representado ali abre uma infinidade de possibilidades. Quando os personagens fogem dos padrões mais comuns (que costuma ser homembrancos-jovem-hétero-com-todos-os-membros-intactos) muita coisa pode mudar. É esse o ponto de partida para descobrir por que precisamos de mais super-heroínas. “Uma menina que cresce com representações de mulheres reduzidas às funções de mãe, dona de casa ou objeto sexual, sempre dependente de um homem, aprende que é isso que se espera dela, e termina restringindo suas possibilidades como pessoa”, explica a ilustradora e quadrinista Ana Luiza Koehler, autora da HQ Beco do Rosário e co-curadora do Festival Internacional de Quadrinhos.
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Dar visibilidade para outros grupos em quadrinhos, filmes e séries não só contempla um público ignorado por muito tempo, como amplia a fatia de mercado que pode se interessar pelas produções.
de de namoradas que o Homem Aranha teve. Só que o machismo não se manifesta apenas nas frases ditas pelos autores ou nas opiniões leitores. Até hoje persiste a ideia de que, em vez de estarem nas páginas das revistas para representar as mulheres, as figuras femininas de uma forma geral, servem para enfeitar e nunca devem roubar a cena. “As personagens muitas vezes são desenhadas com proporções irreais e em posições que desafiam a anatomia”, constata Lady Sybylla, a criadora do site de ficção científica Momentum Saga e uma das responsáveis por organizar a coletânea de sci-fi feminista Universo Desconstruído. O caso recente que ganhou mais destaque foi o da capa alternativa para a revista da Mulher-Aranha, desenhada pelo italiano Milo Manara.
Um dos primeiros ícones apresentados ao público foi a Mulher Maravilha, lançada em 1941. Segundo o criador da heroína, William Moulton Marston, ela era “o tipo de mulher que deveria governar o mundo”. A boa intenção ao criar a personagem, por outro lado, não impediu Marston de fazer comentários machistas sobre ela. Em uma de suas cartas para Maxwell Charles Gaines, responsável por fundar o que se tornaria a DC Comics, o autor afirmou que “o encanto das mulheres é que elas gostam da submissão”. Mesmo com o surgimento de mais heroínas no mercado, novos nomes como Batwoman (de 1956), She-Hulk (dos anos 1980) e Mulher Gavião (de 1940) também tiveram de aturar vários comentários machistas. Eles não vêm só dos grandes autores, mas de outros artistas — como na entrevista recente dada por Chris Evans (que interpreta o Capitão América) e Jeremy Renner (o Gavião Arqueiro). Eles se referiram à Viúva Negra, encarnada por Scarlett Johansson nos cinemas, como uma “vadia”, graças ao seu envolvimento com personagens masculinos. Para variar, eles sequer se lembraram da quantida-
Se, por um lado, não falta esforço para retratar a anatomia da ala feminina, não se pode dizer o mesmo da atenção dada às histórias delas — mesmo quando escapam do clichê de serem namoradas dos heróis. Prova disso foi o descontentamento da DC Comics com o casamento da Batwoman e sua namorada Maggie Sawyer, que seria a primeira união gay dos quadrinhos. O episódio acarretou, inclusive, o pedido de demissão dos roteiristas J.H. Williams III and W. Haden Blackman, que se viram impedidos de 10
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desenvolver a personagem pela DC. Esse receio em investir nas histórias sobre as personagens fortes nos quadrinhos também barra as adaptações para as telas. Foi o caso da histórica Mulher Maravilha (2017), e dos poucos flashes sobre a Viúva Negra que entraram para o filme Os Vingadores: A Era de Ultron, ainda em cartaz. Mesmo para as moças que já têm legiões de fãs, ter um filme próprio parece o maior desafio. Enquanto isso, Batman e Homem Aranha nadam no dinheiro investido nas megaproduções, com direito a reboot e remake dos filmes.
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á sabemos que existem super-heroínas fortes e incríveis no mundo do cinema e dos quadrinhos. Além da Mulher-Maravilha, a Supergirl é uma das grandes apostas da DC para o ano de 2015.
Reverter esse quadro, claro, não acontece da noite para o dia. Mas há esperanças – e demanda – para uma mudança. Uma pesquisa de mercado baseada em dados do Facebook revelou que metade dos leitores de histórias em quadrinhos são mulheres. Isso só mostra como um dos maiores argumentos para o espaço reduzido que as super-heroínas ocupam, o de que elas simplesmente não se interessam por esse universo, é infundado.
Mas não é só a DC que está atenta ao universo feminino. Sua principal concorrente vai lançar, no fim de 2018, o filme da Capitã Marvel, o primeiro que conta a trajetória de uma super-heroína da franquia. Além disso, o selo vai publicar a A-Force, primeira HQ com a equipe de Os Vingadores totalmente feminina. Mesmo assim, o tão cobrado filme da Viúva Negra aparentemente não vai sair da imaginação dos esperançosos. Após um e-mail vazado, que gerou muita polêmica, a Marvel disse que não se arrisca em filmes do tipo devido ao fracasso de Mulher-Gato e Elektra. Isso tudo sem cogitar que o investimento nos dois filmes ficou bem abaixo das multimilionárias sequências dos heróis.
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GAMES
Intitulada “Sexy, Strong, and Secondary: A Content Analysis os Female Characters in Video Games across 31 Years”, a pesquisa mostra que nos últimos dez anos, observa-se uma queda na sexualização de personagens femininas.
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inda existem muitos problemas de representatividade das mulheres na indústria de games e dentro dos jogos. A sexualização foi, por muito tempo, enfatizada nos videogames, mas isso está diminuindo nos últimos dez anos, de v acordo com um estudo realizado na Indiana University. Nessa pesquisa, foram analisados os conteúdos de 571 títulos lançados entre 1983 e 2014, que trazem personagens femininas jogáveis. “O que minhas colegas e eu decidimos fazer era ver se a tendência de sexualizar personagens femininas se estabilizou com o tempo, se isso sempre existiu e se poderíamos ver mudanças como consequência das repercussões nas mídias sociais e das críticas vindas da indústria dos games”, explica Teresa Lynch, doutoranda na The Media School na Universidade de Indiana. 12
De acordo com as pesquisadoras, esse é o primeiro estudo a avaliar as personagens femininas dentro dos jogos e durante toda a história da aparição delas. Intitulada “Sexy, Strong, and Secondary: A Content Analysis of Female Characters in Video Games across 31 Years” (“Sexy, fortes e secundárias: Uma análise de conteúdo das personagens femininas nos videogames durante 31 anos”, numa tradução livre), a pesquisa traz que o primeiro título a trazer uma personagem jogável foi Dishaster para Atari, em 1983. Embora as capas dos primeiros games salientassem os atributos físicos das mulheres, a qualidade gráfica dos videogames da década de 80 e começo dos anos 90 não permitiam que os personagens fossem sexualizados. “Quando avançamos para a próxima geração de consoles, o que aconteceu entre o começo e meados da década de 90, vimos a transição para os gráficos 3D, e é quando observamos um grande aumento na sexualização das personagens femininas. A trajetória de
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Gráfico da pesquisa de Lynch. Na vertical, o indice de sexualização e na horizontal, os anos estudados.
crescimento continuou pelo começo dos anos 2000 e, de repente, vimos uma queda”, disse Lynch.
“As secundárias não têm muitas características importantes incorporadas a elas, como a personalidade, uma história ou interações significativas com outros personagens”, desenvolve Lynch. “Como consequência, pelo fato de estarmos vendo que elas são sexualizadas, isso dá-lhes o status de objeto sexual. Não são mais uma pessoa completa com sentidos e uma gama de emoções. Elas estão ali por que são ‘colírio para os olhos’ ”.
O estudo aponta que a popularidade de Lara Croft, de Tomb Raider, em 1996, talvez tenha sido o catalisador para que os desenvolvedores de games começassem a criar mais mulheres sexualizadas nos games, para aumentar a venda entre o público masculino, a principal audiência dos videogames na época. No entanto, o reboot de 2013 de Tomb Raider é apontado como um exemplo positivo. “Mas há um monte de personagens que mantém noções mais feministas do que uma mulher poderosa e não objetificada se parece”, continua a doutoranda. “O remake da série e a remodelação de Lara Croft é umexcelente exemplo do jeito que a indústria está humanizando as personagens femininas”.
Em termos de gênero de jogo, os títulos de luta são os que mais possuem personagens sensuais sem vínculo com o contexto. Games de ação também um índice alto, enquanto nos RPGs e nos jogos de plataforma e de tiro a tendência é ter menos desse tipo de representação. “Não estamos tentando sugerir que as personagens não devam ser sexy”, diz a pesquisadora. “A sexualidade e a atratividade física são partes importantes da identidade feminina, e muitas mulheres e homens gostam de jogar com personagens sexy contanto que o contexto faça sentido. Mas quando você tem um personagem masculino de armadura e uma feminina de biquíni lutando lado a lado, é difícil para as mulheres não se sentirem trivializadas e objetificadas”.
O que não melhorou foi a quantidade de personagens mulheres com papel primário nos games. Nos últimos anos, apenas 42% de todas as personagens eram principais, contra 52% entre os títulos mais velhos do universo analisado. As que têm papeis secundários são mais propensas a serem sexualizadas. 13
REPRESENTATIVIDADE
Criada no Quênia, atriz vencedora do Oscar interpreta a espiã Nakia no histórico ‘Pantera Negra’
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antera Negra é um filme histórico por muitas razões. É a primeira produção dos estúdios Marvel com um super-herói negro (o rei T’Challa/Pantera Negra, vivido por Chadwick Boseman) e dirigida por um negro, Ryan Coogler (de Fruitvale Station – A Última Parada), com um elenco majoritariamente negro (à exceção de Martin Freeman e Andy Serkis), celebrando a cultura africana em figurinos e cenários. Wakanda pode ser um país fictício e futurista, mas suas raízes estão bem fincadas nas tradições do continente.
Lupita Nyong’o lamenta racismo no Brasil: ‘Vocês podem mais’ Sua personagem é uma espiã. Qual a coisa de que mais gosta nela? Amei o fato de ela ser uma mulher independente, loba solitária e ainda assim leal a seu país. Ela tem esse senso profundo de responsabilidade com sua nação e luta pelo que acredita. Tem um poder silencioso, como espiã tem de ser camaleão-fêmea e passar despercebida. E isso foi legal de ver, especialmente no contexto das outras mulheres em Pantera Negra, por exemplo a general Okoye, que é mais durona.
Além disso, é um longa-metragem em que as mulheres, normalmente relegadas a segundo plano nas adaptações de quadrinhos, ganham tanto destaque quanto os homens. Lupita Nyong’o, vencedora do Oscar por 12 Anos de Escravidão, é a espiã Nakia. Criada no Quênia e apoiadora de movimentos feministas como #MeToo e Time’s Up, Lupita Nyong’o sabe da importância de Pantera Negra e da existência de racismo no Brasil, o que lamenta em entrevista: 14
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Shuri é brincalhona, tem a mente como arma. E a rainha (Angela Bassett), que é o legado de Wakanda. Foi maravilhoso ver as cores do poder, como elas se complementam e como apoiam um rei que precisa descobrir o caminho para a sua nação.
algo relacionado à tecnologia. T’Challa dá espaço a ela para liderar nessa área. Nakia, minha personagem, é uma espiã. Sua responsabilidade é informar Wakanda sobre o que se passa no mundo. E o rei T’Challa recorre a ela quando precisa tomar decisões, porque ela vê as coisas de maneira diferente, e os dois discutem. No fim, eles querem o melhor para seu povo. É uma imagem poderosa e idílica de se ter e de buscar.
O filme mostra a cultura africana de maneira positiva. Acha que num momento em que o presidente dos Estados Unidos chama os africanos de “países de m…” isso ganha ainda mais relevância? Como africana, sempre soube que o continente tem muito a oferecer. Sempre tive orgulho das minhas origens. É muito bacana ter um filme que enxerga isso. A hora de tratar a África com respeito foram e são todas. É sempre. Porque realmente somos um continente incrivelmente rico, de muita diversidade e bastante intrincado, e esse filme mostra isso. Embora Wakanda seja uma nação africana fictícia, sua estética, sua identidade, suas culturas derivam de países africanos. Espero que o filme demonstre isso e deixe as pessoas curiosas sobre essa diversidade cultural — também com mais respeito por ela, com certeza.
Que exemplo gostaria de ser para meninas? Escrevi um livro infantil que sai em 2019 que é meu sussurro para menininhas tentando influenciar seu senso de auto aceitação. É um presente estar numa posição, como atriz, de ajudar garotas que sentem que ninguém as vê nem as escuta, e que não se acham bonitas, se sentirem melhor sobre si mesmas. Sinto um privilégio ser para as garotas essa pessoa que eu não tive quando era pequena. No Brasil, cerca de 50% da população negra nem sempre se acha bonita. Eu sei! Fiquei sabendo da miss criticada por sua pele escura. Vocês podem ser melhores que isso!
O filme discute a importância da representação, as diferentes identidades existentes. E isso num momento em que os movimentos de empoderamento feminino estão com toda a força. Como acha que Pantera Negra se encaixa nessa discussão? O cinema tem esse potencial de nos mostrar quem fomos um dia, quem somos agora e quem podemos nos tornar. Wakanda é quem podemos nos tornar. Porque é um país autodeterminado, uma nação africana isolada, protegida do ataque que foi o colonialismo, uma nação que pôde evoluir sob seus próprios termos. Vemos que isso criou uma sociedade em que as mulheres têm permissão de desenvolver seu potencial pleno. Elas podem exercer seu poder ao lado dos homens, e esse poder não os diminui. Ambos podem ser poderosos ao mesmo tempo, tudo bem. E as mulheres são diferentes, então elas têm poderes distintos. Shuri é a chefe da tecnologia. Ela é inteligente e tem só 16 anos, e seu irmão, o rei, a convoca quando precisa de
O cinema tem esse potencial de nos mostrar quem fomos um dia, quem somos e quem podemos nos tornar. Lupita Nyong’o
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REPRESENTATIVIDADE
Thor: revelado o final de Jane Foster
Jane sacrifica a própria vida ao prender o vilão Mangog dentro do martelo Mjonir. Sem o poder da arma, volta a forma humana e sucumbe ao câncer terminal.
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uando anunciado que Jane Foster, a atual Thor, sucumbiria ao câncer, muitos acreditaram que seria o fim definitivo da personagem, que morreu há algumas edições da revista. Contudo, a morte não é o fim, como normalmente ocorre nos quadrinhos Marvel. A edição 706 da revista The Mighty Thor trouxe a conclusão daquela que pode ser considerada a saga de Jane Foster, sob comando de Jason Aaron. Após morrer, a heroína se encontra com Odin no além-vida. Lá, depois de muito tempo discutindo e quebrando a cabeça ao não aceitar Jane Foster, ele vê que sua jornada foi valorosa e digna, a ponto de oferecer um lugar para a heroína no Valhalla, o paraíso nórdico.
“Jane Foster de Midgard, você conquistou seu lugar ao lado dos mais venerados guerreiros que tombaram em combate. Sua recompensa eterna a aguarda”, diz Odin, em um dos quadros. “Quando ninguém mais em todos os céus se manteve perante a ameaça, quando toda a esperança pereceu, você lutou. Mesmo que isso tenha custado sua vida”, adicionou. Vale lembrar que a transformação em Thor custava, literalmente, a vida de Jane Foster. Cada vez que ela se tornava a Deusa do Trovão, o câncer avançava e consumia seu corpo mortal. Ainda assim, ela não aceita o convite e hesita perante os portões de Valhalla. Odin nota que Jane Foster ainda precisa resolver assuntos pendentes no mundo real e, ao lado de Thor Odinson, ele 16
consegue trazer a heroína de volta à vida. No final da história, Jane se encontra com Thor, que está com um curto pedaço do martelo Mjolnir despedaçado. Porém, Thor ainda não é digno e por isso tem dificuldades para carregá-lo. Jane entrega-o para o herói, para que novas armas sejam originadas e que a esperança continue valendo para o mundo. Recentemente, a Marvel chegou a comentar que “mil novos martelos” surgirão em seus quadrinhos. É possível que a ideia venha a partir deste pequeno fragmento.