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UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO CENTRO DE EDUCAÇÃO ABERTA E A DISTÂNCIA ESPECIALIZAÇÃO EM MÍDIAS NA EDUCAÇÃO

MARCELO DA SILVA PENNA

CAPACITAÇÃO TÉCNICA E TEÓRICA DOS ALUNOS PARA PRODUÇÃO DE “PODCASTS” COMO ALTERNATIVA DE DISCUSSÃO ASSÍNCRONA E COLETIVA DE TEMAS E IDEIAS RELATIVOS AOS TCAS ( TRABALHOS DE CICLO AUTORAL) DA EMEF OLEGÁRIO MARIANO/SP

Ouro Preto 2015


MARCELO DA SILVA PENNA

CAPACITAÇÃO TÉCNICA E TEÓRICA DOS ALUNOS PARA PRODUÇÃO DE “PODCASTS” COMO ALTERNATIVA DE DISCUSSÃO ASSÍNCRONA E COLETIVA DE TEMAS E IDEIAS RELATIVOS AOS TCAS ( TRABALHOS DE CICLO AUTORAL) DA EMEF OLEGÁRIO MARIANO/SP Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Especialização em Mídias na Educação do Centro de Educação Aberta e a Distância da Universidade Federal de Ouro Preto, como requisito parcial para obtenção do título de Especialista.

Ouro Preto 2015


UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO CENTRO DE EDUCAÇÃO ABERTA E A DISTÂNCIA

CAPACITAÇÃO TÉCNICA E TEÓRICA DOS ALUNOS PARA PRODUÇÃO DE “PODCASTS” , COMO ALTERNATIVA DE DISCUSSÃO ASSÍNCRONA E COLETIVA DE TEMAS E IDEIAS RELATIVOS AOS TCAS ( TRABALHOS DE CICLO AUTORAL) DA EMEF OLEGÁRIO MARIANO/SP

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado por Marcelo da Silva Penna, em 17 de outubro de 2015, ao Curso de Especialização em Mídias na Educação, aprovado pela banca examinadora constituída dos professores:

_____________________________________________ Prof. Dr. Anelise Fonseca Dutra Universidade Federal de Ouro Preto

_________________________________________ Prof. Dr. Débora Cristina Lopez Universidade Federal de Ouro Preto

__________________________________________ Prof. Ms. Lídia Gonçalves Martins Universidade Federal de Ouro Preto


DEDICATร RIA Dedico este trabalho aos meus pais, melhores professores que eu jรก tive.


AGRADECIMENTOS À minha esposa pelas horas que amargou minha ausência, mas que deu suporte para que meus estudos acontecessem de maneira aproveitável e sossegada. Agradeço ainda aos meus alunos que participaram ativamente do processo e que, sem os quais, não haveria razão para este aperfeiçoamento. À professora Anelise Fonseca Dutra, que contribuiu com a estrutura deste trabalho, alternando entre críticas e sugestões que sempre serão bem-vindas. À UFOP e à Prefeitura de São Paulo, que por meio do programa Universidade Aberta do Brasil (UAB), proporcionaram a oportunidade de estudos tão importantes.


RESUMO Este estudo tem como objetivo a promoção do uso de um espaço de interação como alternativa para discussões de assuntos relevantes para os alunos dentro e fora da escola. Como método de trabalho, escolhemos a pesquisa-ação, na qual o professor atuou como mediador e proponente das ações interventoras do processo de construção de uma rádio escolar via internet, viabilizando um diálogo entre os conceitos prévios que as crianças traziam consigo e os conceitos sobre a rádio que desejamos construir. Para tanto, foram feitas discussões com os alunos sobre o papel da rádio dentro e fora da escola e como este aparato tecnológico poderia servir ao propósito de discussões dos trabalhos escolares, enriquecendo diálogos e desvendando pontos de vista. A partir dessas ideias, vimos a necessidade de trabalhar questões técnicas e textuais para que todo o processo pudesse ser finalizado. Entendemos, em uma abordagem sócio-interativa que os alunos podem se apoderar de instrumentos comunicativos para dialogar com seus pares sobre assuntos que promovem o currículo local e as necessidades de um grupo heterogêneo e multifacetado. Palavras-chave: Uso do Rádio, Podcast , Ensino Fundamental.


ABSTRACT This study aims at promoting the use of an interaction space as an alternative to relevant matters of discussion for students inside and outside the school. As working method, we chose action research, in which the teacher acted as a mediator and proponent of intervening actions of the process of construction of a school radio via internet, enabling a dialogue between the previous concepts that children bring with them and the concepts on the radio that we want to build. To this end, discussions were made with the students about the role of radio in and out of school and how this technological apparatus would serve the purpose of discussion of schoolwork, enriching dialogues and revealing views. From these ideas, we saw the need to work techniques and textual issues so that the whole process could be finalized. We believe in a social interactive approach that students can get hold of communicative instruments for dialogue with their peers on issues that promote local curriculum and the needs of a heterogeneous and multifaceted group.

Keywords: Radio's use. Podcast. Elementary School.


SUMÁRIO Introdução .................................................................................................

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Capítulo 1: Fundamentação teórica ...........................................................

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Capítulo 2: Relato da intervenção realizada ........................................

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Capítulo 3: Análise da intervenção realizada..........................................

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Considerações finais ................................................................................

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Referências Bibliográficas .......................................................................

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INTRODUÇÃO A EMEF Olegário Mariano, assim como muitas escolas dentro do município de São Paulo, tem vários espaços de interação dos diversos agentes envolvidos no processo educacional. Contudo, evidencia-se também nesta escola a carência de espaços de comunicações legítimas entre os principais agentes da escola: professores e alunos. A escola tem um projeto de rádio que não serve a todos os alunos, sendo apenas um mero reprodutor dos modelos tradicionais de transmissão em massa em escala menor. O objetivo deste trabalho é promover a capacitação técnica e teórica dos alunos para a produção de “podcasts”, pois esta capacitação pode proporcionar um espaço de comunicação com um grau maior de interatividade por parte dos seus participantes, “o conceito de interação em geral ressalta a participação ativa do beneficiário de uma transação de informação. De fato, seria trivial mostrar que um receptor de informação, a menos que esteja morto, nunca é passivo.” (LEVY, 1999, p.79). A interação surge como elemento essencial do processo e ela acontece de forma gradativa à medida que os agentes comunicativos se apropriam do conteúdos e os modificam. Todos os anos, a escola tem um trabalho instituído pela secretaria municipal de educação de São Paulo (SME) denominado TCA (trabalho de ciclo autoral) e que faz parte do programa Mais Educação São Paulo, sendo obrigatória sua apresentação por meio de projetos de intervenção por parte dos alunos. Contudo, os alunos não estão acostumados com trabalhos desse tipo, que exigem autonomia e mais liberdade, inclusive na promoção de diálogos e tomadas de decisões. Surgiu a necessidade de se fazer um trabalho prévio, proporcionando mais autonomia com alunos de séries anteriores ao 9º ano, principalmente com os 8 os anos. A hipótese é que os alunos podem adquirir mais autonomia para produzir materiais radiofônicos como alternativa de discussão dos TCAs, servindo como registros dos trabalhos e espaços de interações mútuas, alternado pela transmissão e recepção assíncrona aumentando o grau de interatividade por meio de podcasts e blogs. Isso cria um ambiente propício para aquilo que Levy (2000, p,79) afirmou como “A possibilidade de reapropriação e de recombinação material da mensagem por seu receptor é um parâmetro fundamental para avaliar o grau de interatividade do produto.” Assim, a interatividade nasce da materialidade vocal impressa no 8


programa de rádio, não somente os sons, mas, também o envolvimento dentro do processo, parte tão importante quanto o produto final. Os alunos participaram de oficinas para aquisição de conceitos simples sobre produção de “podcasts”, direitos autorais, gênero textual - neste caso a lauda radiofônica, produção de rádio por meio do programa “Audacity” e transmissão para o site da escola para que sejam comentados servindo de base para novos programas. Para a realização deste trabalho nos pautamos nas teorias sóciointeracionistas de Vygotsk, concretizada na ideia de interação social; nas ideias sobre rádio tão bem difundidas por Brecht e na contribuição de Pierre Levy acerca da cibercultura, estrutura fundamental para que as ideias do mestre alemão tivesse possibilidade técnica de ser fundamentada. Dessa forma, com este trabalho esperávamos que depois da

capacitação técnica e teórica dos alunos para

produção de “podcasts” como alternativa de discussão assíncrona e coletiva de temas e ideias relativos aos TCAs desenvolvessem maior

da Emef Olegário Mariano/SP, os alunos

autonomia com relação a produção de conteúdos

radiofônicos, aprimorando seu desenvolvimento contínuo, aprender a aprender. Assim,

os alunos poderiam se

apropriar dos recursos radiofônicos para uso

pedagógico e produção de conteúdos pessoais dessa mídia. Difundir o uso de tecnologia assíncrona fora e dentro da escola como alternativa de tempo e espaço discussões, pois ao produzir programas de rádio com discussões e que fiquem abertos à comunidade escolar , os educandos permitem o acesso democrático a todos, inclusive com possibilidades de intervenção no conteúdo por meio de fóruns e comentários. E partir desse ponto inicial, difundir a cultura da transmissão dos conhecimentos técnicos por meio dos trabalhos para que sejam usados por outros alunos. A escola possui inúmeros espaços de integração e projetos, contudo os alunos ficam isolados dentro desses contextos e, muitas vezes, limitados pela programação dos projetos, acabam não exercendo a liberdade criativa e autônoma no seu processo educativo. Não basta visar à capacitação dos estudantes para futuras habilitações em termos das especializações tradicionais, mas antes trata-se de ter em vista a formação dos estudantes em termos de sua capacitação para a aquisição e o desenvolvimento de novas

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competências, em função de novos saberes que se produzem e demandam um novo tipo de profissional, preparado para poder lidar com novas tecnologias e linguagens, capaz de responder a novos ritmos e processos. Essas novas relações entre conhecimento e trabalho exigem capacidade de iniciativa e inovação e, mais do que nunca, “aprender a aprender”. Isso coloca novas demandas para a escola. A educação básica tem assim a função de garantir condições para que o aluno construa instrumentos que o capacitem para um processo de educação permanente. (BRASIL, 1997, p.28)

A construção do próprio conhecimento passa pela autonomia dos alunos para construir e se corresponsabilizar pela sua própria aprendizagem, ou seja, aprender a aprender. Este trabalho visa, assim, criar espaços além da escola onde os professores e alunos possam interagir e produzir materiais que sejam relevantes para determinados objetivos em comum. Ainda neste campo, introduzir uma cultura de autonomia por meio da qual os aprendizes, além de produzirem seus conteúdos, são responsáveis por tudo aquilo que estão produzindo, deixando um legado para os anos posteriores.

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CAPÍTULO 1: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA “O tempo não passa, ele gira em círculos”. Com essa frase da personagem Úrsula em Cem anos de solidão de Gabriel Garcia Marquez (1967, p.186) fica clara a ideia de como repetimos ideologias e práticas sem nos darmos conta de que não estamos inovando. De fato, muitas experiências não são inéditas. Embora não usem a mesma roupagem, passam pelos mesmos processos de criação e articulação e demonstram que são revividas e reeditadas com novos rostos. Para fazer a apreciação do que está exposto acima devemos comparar duas épocas e pensarmos nas suas relações, estabelecendo um paralelo ideológico. Em primeiro lugar, pensemos na Alemanha dos anos 20 do século XX, quando Brecht elabora a “Teoria sobre o rádio”. As condições artísticas da época faziam emergir novos pensamentos e as condições políticas um novo público. Neste entorno, o rádio era concebido como uma forma de arte buscando um novo público, que carecia de um caráter de comunicação bidirecional segundo o que expõe Frederico (2007, pág. 3):

O ativismo cultural do período deve-se à formação de um novo público, produtor e consumidor de arte, que exige a renovação do fazer artístico. Quando se fala da arte na República de Weimar, a atenção volta-se exclusivamente para as expressões da "alta cultura", o expressionismo e a nova objetividade, e tende-se a ignorar o movimento cultural subterrâneo que se desenvolveu em torno do movimento operário.

A constatação de que isso é verdade, repetindo o que aconteceu anteriormente, está dentro das relações sociais de poder que estão enraizadas dentro da nossa sociedade e que ficam evidentes dentro das nossas instituições, dentre elas a escola. Esta com sua função social de ajudar a formar cidadãos críticos e atuantes acaba muitas vezes por menosprezar alguns dos seus agentes, seja pela cultura que está estabelecida ou pelos contrastes de ideias que lutam entre si para serem as dominantes neste espaço. 11


Neste âmbito, temos professores que impõem conteúdos ainda de maneira verticalizada sem levar em consideração a opinião e o ponto de vista dos seus alunos, como expõe Assumpção (2008, p.25):

Infelizmente, em algumas escolas predomina ainda, a comunicação vertical, o “discurso pedagógico” sedimentado no saber do professor como poder, autoridade e detentor do conhecimento científico. Muitos não aceitam que o educando possua ou traga na sua bagagem experiencial, a cultura e o conhecimento não-sistematizado, adquirido pelas novas tecnologias da comunicação e da informação ( rádio, televisão, Internet…) e se impõem com o poder absoluto e vigilância na sala de aula. Tal postura impede a comunicação dialógica e bidirecional entre o educador e educando, fazendo com o processo ensino aprendizagem aconteça de forma mais prazerosa e motivada.

O discurso dialógico muitas vezes é prejudicado pelo espaço de difusão e tempo para sua realização. “O dialogismo é sempre entre discursos. O interlocutor só existe enquanto discurso. Há, pois, um embate de dois discursos: o do locutor e do interlocutor, o que significa que o dialogismo se dá sempre entre discursos.” (Fiorin, 2006, p.166). Muitas vezes, este embate é mascarado pela falsa sensação de conforto que existe nas salas de aulas, encoberto pela organização uniforme que delineia um caminho a ser percorrido, pensando sempre no produto final e não no processo, o que pode levar a frustrações quando este não for concretizado da maneira como fora idealizado. Entende-se que nem todas as escolas agem da mesma forma e que nem todos os espaços e tempos são tão limitados, mas contando com a realidade da maioria das escolas brasileiras, torna-se difícil o dialogismo constante dentro deste ambiente, seja pelo mecanicismo que perdura nessas instituições ou pela cultura acomodada de uma sociedade paternalista. Assim, se o tempo e o espaço da escola são limitados, devemos pensar em alargar essas duas dimensões de forma a permitir o debate e um espaço autêntico de produção por parte dos agentes envolvidos. Torna-se necessária a criação ou aproveitamento de espaços para a prática dialógica com caráter próprio e bidirecional, que leve em consideração os agentes envolvidos e que promova de fato o diálogo. Para Brecht (1992, p.184, apud Frederico 2007) “A concentração de meios mecânicos, assim como a especialização 12


crescente na educação [...] requerem uma espécie de rebelião por parte do ouvinte, sua ativação e reabilitação como produtor". É necessário que tenhamos uma produção crescente por parte dos alunos. A liberdade de expressão vem do fato de poder produzir material e de maneira livre, além de modificar o conteúdo que lhe é oferecido, ou seja, interagir com um grau maior. O que houve na Alemanha dos anos 20 foi justamente a apropriação de algo que deveria servir para que os homens se comunicassem, mas que foi deturpado em formato comercial para fins lucrativos. Parece que as ideias de Brecht sobre a apropriação de algo novo como projeto de comunicação com alto grau de interatividade encontrou um empecilho nos ideais políticos e aparatos técnicos da época , entra em campo o Zeitgeist:

Mesmo os maiores intelectos (talvez especialmente os maiores intelectos) foram constrangidos por um fator contextual chamado Zeitgeist, o espírito ou clima intelectual de uma época. A aceitação e aplicação de uma descoberta pode ser limitada pelo padrão dominante de pensamento de uma cultura, de uma região ou de uma época, mas uma ideia demasiado nova para ser aceita num período pode sê-lo prontamente uma geração ou um século depois. A mudança lenta parece ser a regra do progresso científico. ( Schultz, 2009, p.27)

O legado das ideias é transmitido pelo tempo e encontra ressonância na época ideal, assim, aquilo que fora pensado por Brecht em sua teoria sobre o rádio, tem a possibilidade do intercâmbio com a chegada da internet. Nela, a transmissão e comunicação alcançam o ambiente propício para a recepção e produção de programas de rádio, melhorada é claro, pois não está apenas no campo da sincronização, mas na assincronicidade, ou seja, rompe-se também a prisão do tempo. A era da internet contribuiu muito para a transformação das relações humanas e , principalmente, na produção de conteúdos e transmissão dos mesmos por meios que extrapolam o poder das empresas de mídia tradicionais como o rádio comercial e a televisão. A partir da criação de conteúdos assíncronos dispostos em sites como o You tube e o programa de transmissão de músicas Napster, o mundo percebeu um novo perfil de consumidor de mídia, ou seja, não somente como expectador passivo, mas como consumidor produtor de conteúdos que normalmente não são 13


encontrados no dial ( modo de transmissão em faixas de AM e FM pelas rádios comerciais). Assim,como aponta Kischinhevsky (2009) a portabilidade do rádio para o podcast aconteceu como consequência de uma série de transformações na produção dessa mídia, ou seja, adquiriu uma nova roupagem, diferente do seu propósito

inicial,

mas

que

alcança

dimensões

maiores

por

proporcionar

possibilidades diversas, embora, em muitos casos ainda sejam mero reprodutores, na forma e conteúdo de estações comerciais. O podcast, nome dado devido ao mais popular tocador de arquivos mp3, o Ipod, da empresa Apple, popularizou-se em meados dos anos 2000. Neste tipo de produção, os interlocutores podem criar arquivos mp3 e disponibilizá-los em portais, que podem ser assinados por usuários e compartilhados de maneira livre e seguem muitas vezes a ideia de livre produção, difusão, reutilização , contanto que seja referenciado o autor da obra. A produção de conteúdo não depende de padrões de transmissão, nem modelos preexistentes.

Certamente, um fator de sedução é a ausência de regras rígidas nos podcasts. Não há padrões de locução ou restrições em termos de linguagem e temas abordados. A principal hierarquização se dá por meio dos diretórios, que, muitas vezes, classificam as emissoras a partir de rótulos preexistentes, com ancoragem nas rádios convencionais. (HERSCHMANN; KISCHINHEVSKY , 2008, p. 103)

Tendo uma época propícia, com aparatos técnicos e meios para produção de conteúdos resta-nos considerar as interações que serão geradas por meio da liberdade de produção e lembrar que o produto dessas relações podem não estar no fim, mas no processo, na aquisição de instrumentos para o futuro. A relação do homem com o mundo é dada por mediações. Segundo Vygotsky (Rego, 2000, p.50), é “o instrumento que tem a função de regular as ações sobre os objetos e o signo, que regula as ações sobre o psiquismo das pessoas”. Dada a capacitação técnica podemos concluir que, neste sentido os alunos podem adquirir mais que uma ferramenta, mas também um aparato para toda a vida.

O instrumento [rádio] é provocador de mudanças externas, pois amplia a possibilidade de intervenção na natureza […] os homens não só

produzem

seus

instrumentos

para

realização

de

tarefas

específicas, como também são capazes de conservá-los para uso

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posterior, de preservar e transmitir sua função aos membros de seu grupo, de aperfeiçoar antigos instrumentos e de criar novos. (Ibidem, p 51)

O instrumento é o objeto concreto de transformação e os signos agem como instrumento de intervenção psicológica. Para Vygotsky (Ibidem, p.52) a linguagem adquire papel essencial visto que pode trabalhar em três dimensões: possibilitar lidar com objetos do mundo exterior mesmo quando não estão presentes, lidar com abstrações por meio da imaginação e promover a função da comunicação que trata da preservação e transmissão de experiências acumuladas pela humanidade. Do mesmo modo que o homem transforma a sociedade, ele acaba transformando a si mesmo, pois a relação do homem com a sociedade, segundo o pensador russo, “resultam da interação dialética do homem e seu meio sociocultural […] Em outras palavras, quando o homem modifica o ambiente através do seu comportamento, essa mesma modificação vai influenciar seu comportamento futuro” (Ibidem, pag. 41). A linguagem falada e a linguagem escrita adquirem grande importância no processo de desenvolvimento das crianças, embora esta última não anule a existência da primeira é primordial para a aquisição de representações simbólicas mais sofisticadas da realidade dos alunos. Todavia, o rádio dá a oportunidade inclusiva para que alunos que ainda não desenvolveram a linguagem escrita possam ter alto grau de interação, principalmente porque a fala é inerente ao ser humano no espaço cultural e histórico que é a sociedade e acaba sendo difundida mesmo antes de as crianças entrarem na escola, salvo os casos em que fisicamente o aluno é impossibilitado de se expressar, seja por fatores biológicos ou de estrutura de amparo social. A internet e a cibercultura são inerentes das novas gerações, que crescem e se desenvolvem com uso de computadores e máquinas. Por meio de suas redes e interconexões, os homens podem se ajudar mutuamente e modificar conteúdos, interagindo, modificando a obra, atuando como coautores e se “[…] o autor e a gravação garantem a totalização das obras, asseguram as condições de uma compreensão globalizante e de uma estabilidade de sentido.” (Levy, 1999, p.151), por outro lado a construção por vários atores de uma obra que não está acabada deixa a condição de autoria em xeque e o melhor uso é sugerido pelo autor: 15


O melhor uso que possa ser feito dos instrumentos de comunicação com suporte digital é, a meu ver, a conjugação eficaz das inteligências e das imaginações humanas. A inteligência coletiva é uma inteligência variada, distribuída por todos os lugares [ inclusive na escola], constantemente valorizada, colocada em sinergia em tempo real [ ou assíncrono] que engendra uma mobilização otimizada das competências.(Ibidem, p.199)

A capacitação técnica dos alunos para os meios embora pareça que vá desembocar em um caos, deve ser compreendida como um movimento de manutenção da autonomia do aluno como ator de sua própria identidade estudantil. Além dos pressupostos temos projetos que já deram sua contribuição e servem como base para o uso da rádio escolar em ambiente virtual, como é o caso do Projeto Podescola que nos faz refletir sobre a necessidade de ampliar o repertório dos nossos alunos por meio de trabalhos que lhes permitam ser responsáveis pelas suas produções inclusive com respeito aos direitos autorais (Barros 2011).

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CAPÍTULO 2: RELATO DA INTERVENÇÃO REALIZADA A pesquisa-ação foi realizada dentro da EMEF Olegário Mariano, situada na capital paulista, zona sul, região de Interlagos. A escola atende a 1.214 alunos com 14 salas de aula e divididos em 3 turnos. Os dois primeiros turnos atendem ao Ensino Fundamental e o último ao público da EJA (Educação de Jovens e Adultos). Além das salas convencionais, a escola conta com quadra poliesportiva, sala de leitura, parque, uma sala para rádio escolar e laboratório de informática. Este está equipado com computadores e periféricos que permitem a gravação e transmissão dos dados para internet. A escola está situada numa região carente, embora o centro do bairro seja comercial e bem desenvolvido. Os contrastes culturais e sociais da região formam um público diferenciado e multifacetado. Os alunos não têm um espaço de interação adequado, com tempo e recursos adequados para as discussões dos temas e trabalhos de TCAs, nos quais os aprendizes ficam responsáveis por um trabalho de intervenção e precisam agir com autonomia. Muitas vezes, os recursos disponíveis não estão na escola ou são inexistentes, assim ficando isolados apenas dentro do laboratório de informática. A implementação do projeto teve por objetivo proporcionar mais autonomia para aprender e aprender praticando. Os alunos tiveram a oportunidade de usufruir de um nível de liberdade que normalmente não é comum dentro da escola, produzindo seu próprio material e discutindo ações que muitas vezes não são vistas pela escola como essenciais, mas que num contexto mais amplo podem fazer a diferença entre aprender e escolher o que se quer aprender de fato. A pesquisa ação visou a capacitação técnica e teórica dos alunos para a produção de “podcasts”, como alternativa de discussão assíncrona e coletiva de temas e ideias relativos aos TCAs da EMEF Olegário Mariano/SP. É um meio pelo qual a comunidade escolar pode interagir e participar do processo de construção da identidade local, fermentando ideias e delineando um currículo escolar dentro da realidade local. O primeiro passo foi definir um grupo inicial, tendo em vista a quantidade de alunos atendidos pela unidade. Os alunos do 9º ano seriam a alternativa mais 17


adequada levando em consideração que eles estão no ano de apresentação dos TCAs. Contudo, pensando no tempo de adequação do projeto e ainda na implementação da pesquisa-ação ao mesmo tempo em que as pesquisas dos trabalhos de TCA estavam sendo feitas, decidiu-se que isso poderia acarretar prejuízo pela sobrecarga de tarefas para os alunos da faixa etária em questão. Porém, com os alunos dos 8os anos na escola, a pesquisa-ação pode ser uma alternativa de gerar uma cultura de autonomia e permitir que eles entrem no 9º ano com ideias e mais autonomia para realização dos seus trabalhos. Feita a escolha pelo 8º ano D, uma classe que tem um grupo heterogêneo e trabalha com outros projetos da escola, o que poderia facilitar o trabalho. Além disso, a aplicação do trabalho com este grupo foi facilitado pois a sala faz parte das turmas regulares do professor pesquisador dentro do laboratório. Foi aplicado um instrumento de pesquisa1 em formulário específico entre os dias 9 e 21 de março de 2015 com a intenção de identificar as adequações dos meios técnicos entre os alunos e se eles usavam o podcast como alternativa radiofônica. Além disso, foi necessário reformular a ideia de podcast, pois muitos pensavam que era somente um tipo de rádio online. No atual estágio de desenvolvimento, uma web radio não difere substancialmente de uma analógica quanto às formas de produção e ao conteúdo, já que a programação é veiculada em broadcast, ou seja, de forma sincrônica, para todos os ouvintes.Em contrapartida, o podcasting, surgido em 2004, é uma radiodifusão sob demanda, de caráter assincrônico. Com ele, pode-se assinar determinada “estação”, numa página da internet, e a partir daí um programa agregador busca automaticamente, sempre que o computador estiver conectado,

toda

transmissão

veiculada

naquele

endereço.

(KISCHINHEVSKY, 2008, pág, 130)

A segunda ação, depois de detectar os níveis de adequação teórica , foi desenvolver com os alunos a capacitação para o uso do programa Audacity. Ele foi escolhido tendo em vista que está disponível para as gravações dentro do laboratório da escola e por ser uma alternativa gratuita para que os alunos pudessem usar em casa. Durante a etapa de aperfeiçoamento técnico, os alunos Disponível em:<https://docs.google.com/forms/d/1L2FbXavGqpbGEx4DZ1wUYxrlnCD2eygNwGK_i6bKQM/viewanalytics> 1

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tiveram a oportunidade de se escutar, ouvindo sua própria voz dentro do programa, percebendo-se enquanto sujeitos de uma ação. Esta etapa aconteceu nas aulas de informática nos dias 5,12,19 e 26 de maio de 2015. Muitos alunos desconheciam a ferramenta, por isso foi necessário trabalhar de maneira síncrona dentro do laboratório de informática com todos os alunos, mostrando funcionalidades e potencialidades do programa para que pudessem se apoderar adequadamente do instrumento. Nas aulas dos dias 2 e 9 de junho, os alunos elaboraram os temas a serem abordados nos programas. Ficaram responsáveis pela produção dos primeiros materiais livres e roteiros. Além disso, conversarmos sobre direitos autorais e sobre como referenciar os autores de conteúdos como músicas e outras produções dentro dos programas de rádio. Todas as ações foram feitas dentro do laboratório de informática, com a contribuição de alguns professores: português, projeto de rádio e professor de informática, este último o pesquisador. Nos dias 16 e 23 de junho fizemos as gravações dos programas de rádio dentro do laboratório de informática. Os alunos leram os roteiros e começaram a fazer as suas gravações. Usaram músicas conhecidas e armazenadas previamente no laboratório de informática, pois a internet da escola passou por problemas e muitos alunos não conseguiram as gravações das músicas estipuladas nos roteiros.

Foto 01: Gravação do programa de rádio em 16 de junho de 2015, no laboratório de informática da escola. Fonte: registro fotográfico do cursista.

Depois desse processo alguns alunos conseguiram fazer e terminar seus programas. Alguns programas estão localizados dentro do endereço online olegario.educapx.com/podcasts.html. Dentre eles surgiram temas diferenciados 19


como o uso de outros espaços dentro da escola durante o intervalo, excursões, grêmio estudantil e alguns programas falando sobre temas não diretamente ligados aos TCAs, mas ligados à realidade dos educandos, como roupas, cantores, dentre outros temas. Seguem (Fotos 2 e 3) exemplos de temas sugeridos pelos alunos.

Foto 02: Roteiro de programa de rádio elaborado por duas alunas nos dias 2 e 9 de junho de 2015, no laboratório de informática da EMEF Olegário Mariano. Fonte: registro fotográfico do cursista.

Foto 03: Roteiro de programa de rádio elaborado por dois alunos nos dias 2 e 9 de junho de 2015, no laboratório de informática da EMEF Olegário Mariano. Fonte: registro fotográfico do cursista.

As maiores dificuldades encontradas para a implementação da pesquisa-ação estava na implementação de uma cultura de autonomia, em que os alunos ficaram completamente livres para discutir e implementar seus temas. Muitos ficaram perdidos tanto na hora de produzir os roteiros como no momento de elaborar seus 20


temas. A liberdade que foi experimentada dentro da implementação deixa claro que a escola carece não só de espaços adequados, mas de tempos adequados e da assunção por parte dos alunos da responsabilidade da sua própria autonomia, de um agir político e de posicionamentos claros sobre ações dentro da comunidade escolar.

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CAPÍTULO 3: ANÁLISE DA INTERVENÇÃO Para realizar a análise da intervenção é necessário relembrar os objetivos e entender como o processo foi realizado e se alcançou, total ou parcialmente, as propostas, promovendo de fato um espaço autêntico e legítimo para que os alunos pudessem discutir assuntos relevantes para sua realidade. É necessário, também, dizer que embora o projeto tenha objetivos, isso não quer dizer que eles não podem também ser revistos e revisados durante o processo de intervenção. Os alunos produziram seus programas de rádio e se envolveram em discussões durante a realização dos roteiros. Dessa forma, além de produzir os próprios textos, começaram a admirar, também, a maneira como se faz rádio, não da maneira convencional, pois perceberam que o ato de produzir e escrever um programa de rádio passa por aquilo que Brecht considerava essencial para essa nova arte, “a concentração de meios mecânicos, assim como a especialização crescente na educação [...] requerem uma espécie de rebelião por parte do ouvinte, sua ativação e reabilitação como produtor”.(Frederico, 2007, p.222). O ato de criar algo impõe desafios que muitas vezes podem não ser entendidos de imediato: era de se esperar que os alunos passassem por um processo de transformação gradual e demorado. A escolarização de ideias faz o sentido da própria escola se perder no cotidiano. A rebelião por parte do ouvinte, proposta por Brecht e que os alunos experimentaram, acabou impondo-lhes limites e desvendando problemas que antes, por eles, eram desconhecidos, sejam relativos à autonomia ou a consciência política e de que para produzir algo é necessário ter ferramentas, intelectuais ou materiais, como fora proposto anteriormente pelas ideias de Vygotisk, no que tange o desenvolvimento de aparatos de suporte para a realização de atividades, como por exemplo, uma vara para derrubar frutas de árvores. Neste caso, precisamos voltar na escrita, suporte básico para a construção desse novo aparato. Um dos maiores problemas encontrados pelos alunos, de fato, não foi o uso do suporte tecnológico, mas o suporte básico que é o objetivo fundamental de qualquer escola, promover o acesso à escrita e à leitura. Os roteiros que deveriam ser elaborados para fazer os programas de rádio deveriam ser realizados mobilizando diversas formas de conhecimentos, tais como o conhecimento de 22


mundo, trabalho em grupo e contextualização dos programas para um público específico, neste caso, a comunidade escolar. Um ponto positivo deste trabalho relacionado à dificuldade dos alunos com a escrita, é que eles tiveram a oportunidade de escrever sem o rigor da norma culta o que acabou gerando segurança. Eles também puderam desfrutar da desordem de fazer um programa sem a formalidade rigorosa de um roteiro que pode não orientar, mas sim prender. Outro grande problema encontrado, oriundo da liberdade da escrita é sobre o que escrever. Os alunos foram expostos às suas fraquezas e no confronto dessa nova realidade tiveram que lidar com a ideia de que não tinham que seguir ordens de um condutor, mas planejar um caminho e executá-lo, assim uma tomada política sobre o seu próprio espaço e sobre as relações que nele se estabelecem. Neste momento, dúvidas sobre assunto, de que maneira deveriam expor suas ideias, se seriam ouvidos começavam a pulular dentre eles. Neste caso ,os roteiros de rádio passaram mais segurança, pois serviram como base e raiz para as produções. No entanto, isso não significa que os alunos não puderam agir de maneira descontraída, até mesmo porque uma atividade que não seja divertida e interessante cairia no mesmo equívoco de tantas outras atividades que são impostas dentro das salas de aula. Os roteiros merecem considerações à parte, pois revitalizam o poder da palavra escrita antes de ser traduzida para a verbalização radiofônica. Neste âmbito, os alunos começaram a reconsiderar e revalorizar conhecimentos adquiridos na sala de aula convencional e a usar a mediação do professor para chegar a um objetivo, saber escrever para aquele gênero textual tornou-se uma necessidade e não um fim em si mesmo, assim, a situação de enunciação requisitou dos alunos um novo tipo de textualidade, o roteiro radiofônico. “O enunciado reflete as condições específicas e as finalidades de cada uma dessas esferas” (BAKHTIN, 1997,p.280). A partir desse momento o gênero do discurso que nasce da composição do momento e da situação insere a utilidade como fator essencial para a capacitação na criação de roteiros. Com os roteiros prontos, os alunos foram capacitados também no uso dos “softwares” de autoria que estão disponíveis no laboratório. Perceberam que não são somente programas, mas principalmente ferramentas para a efetivação do roteiro. É evidente que depois de tanto tempo na escola, os alunos tiveram 23


momentos de confusão e medo, providos pelo despreparo de enfrentar situações nas quais são totalmente livres para se expor, acontecendo por meio das ideias e o registro oral delas. Liberdade total, não significa libertinagem, mas uma nova via de integração entre professor e aluno. “O que se precisa ponderar é que, se, por um lado, a autonomia não pode ser outorgada, mas se desenvolve com a participação do próprio educando, por outro lado, ela não nasce do nada, mas exige a mediação do educador.” (PARO, 2011, p. 200). No processo de intervenção há também a ressignificação do papel do professor na própria escola. Ela não é uma via de mão única, mas dialógica, fazendo jus ao que era objetivo também da intervenção, a prática do diálogo dentro da escola. A intervenção não acontece somente dentro do espaço, mas nos indivíduos que nele estão presentes, neste ambiente o professor não é exceção. Os alunos conseguiram se apropriar dos recursos e foram além, distorcendo um dos objetivos, dar retorno no site da escola. Assim, o que era previsto como uma maneira de retorno e de interação para outros usuários ficou revitalizado pela ideia que os próprios alunos deram: deixar os arquivos originais junto com os arquivos gravados em formato final naquela data para serem incrementados dentro do laboratório ou na internet. Durante as aulas, os alunos reconheceram a importância de compartilhar suas ideias e também de permitir que outros alunos pudessem fazer parte do processo, instigados pela possibilidade de gravar faixas sem que o interlocutor

estivesse

presente,

de

maneira

assíncrona.

Aproveitando

a

oportunidade, e a autorização dos alunos, o professor e pesquisador resolveu promover a interação entre o material deixado no laboratório com as turmas da educação de jovens e adultos do período noturno, gerando discussões e novas gravações por parte destes. Além de se apropriarem da ferramenta, os alunos começaram a promover discussões que ultrapassaram os limites de horário da própria escola, passaram a ser um novo modo de integração entre os estudantes de todos os horários. O projeto não só alcançou o principal objetivo, que era promover um novo espaço, mas promoveu também novos modos de ver esse aparato. A riqueza de temas e a diversidade mudaram também o comportamento dos alunos dentro do laboratório de informática, assim como em outros espaços dentro da escola, assumindo novas posturas e começando a interagir com seus 24


professores de maneira mais autêntica e confiante, promovendo mudanças também no espaço predial, com novos acessos e confiança. Durante o trabalho os alunos começaram a gozar de maior liberdade para o uso dos itens de informática, que antes ficavam trancados dentro de armários, ficando também responsáveis pelo cuidado com o equipamento.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS Os trabalhos dos alunos começaram a gerar a curiosidade para novos aprofundamentos, principalmente na esfera jornalística, promovendo mais acesso aos projetos da escola, como a rádio escolar e projetos como jornal mural. Além disso, os alunos assumiram a ideia de que podem promover discussões e criar espaços onde podem se expressar e gerar conteúdos, noticiando e divulgando ações de suas próprias comunidades. Os objetivos foram alcançados: capacitação técnica e teórica para produção de “podcasts” como alternativa de discussão coletiva e ainda promoveu a autonomia necessária para a apropriação do recurso radiofônico e produção de conteúdos significativos para os próprios alunos. Os programas podem ser revisados por outros alunos dentro da própria escola e ficaram disponíveis para incrementações ou melhorias, criando a cultura da transmissão dos conhecimentos técnicos por meio dos trabalhos para que sejam usados por outros alunos. Neste campo, os alunos se apropriaram dos recursos, embora nem todos tenham participado ativamente, o grupo participou de debates e se apoderou dos recursos tecnológicos para questionar e intervir no seu espaço escolar. A maior ação pedagógica em todo o processo é a intervenção dos alunos como agentes de transformação do espaço e de ressignificação das suas ações, agindo politicamente e intervindo em assuntos do cotidiano da escola. Buscando dialogar com seus pares, encontrando-se em redes que não dependem especificamente do direcionamento do professor, cabendo a este último no processo o papel de mediador e de mais um ponto do emaranhado que se constituí um novo pano de interações e possibilidades.

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