Artigo publicado em 16

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(ARTIGO PUBLICADO EM 16/10/2012 NA PÁGINA DE OPINIÃO)

Respeito devido Osias Wurman O mundo civilizado encontra-se, atualmente, numa encruzilhada onde uma via flui na direção do respeito aos dogmas religiosos, e na outra transitam os valores mais intocáveis do direito à liberdade de expressão. É muito difícil traçar a linha divisória entre estes dois valores pétreos da humanidade: religião e liberdade. Os últimos acontecimentos relacionados ao desrespeito religioso nos trouxeram turbulência, pânico e frustração. O desqualificado filme sobre o profeta Maomé, bem como o banimento da liberdade da prática da circuncisão, são exemplos recentes. No caso do filme, não podemos aceitar que se produza uma obra em desrespeito a uma religião que hoje agrega mais de 1,4 bilhão de seguidores. Também não podemos endossar as demonstrações violentas contra o filme, irracionais, como o assassinato de um diplomata americano na Líbia, que foram orquestradas e estimuladas por uma minoria de radicais. A provocação merece o total repúdio de todos que prezam os valores religiosos sagrados dos povos, bem como as demonstrações de fanatismo suicida. A liberdade de cada um termina onde começa a do próximo. No caso da película, os produtores ultrapassaram o direito de criticar, escalando o indesejável terreno da blasfêmia e da heresia. Na polêmica provocada pela prática da circuncisão, atualmente uma rotina religiosa guardada pelos judeus e pelos islâmicos, mais parece uma provocação do que um zelo com a saúde pública. É trágica a coincidência de ter sido na Alemanha, num tribunal provincial de Colônia, a origem da legislação proibitiva e criminalizadora do ato. A circuncisão é evento sistemático e milenar, praticado pelos judeus no oitavo dia do nascimento dos seus filhos homens, há mais de 3800 anos ininterruptamente, e pelos islâmicos com a idade de 13 anos. Muitos homens são circuncidados, independente da crença religiosa, por motivos médicos ou profiláticos. De acordo com pesquisa do Johns Hopkins Medicine, atualmente, cerca de 55% dos 2 milhões de bebês do sexo masculino que nascem nos EUA são circuncidados, independente da religião dos pais. Este mesmo estudo relata que a circuncisão tem claros benefícios médicos que incluem uma diminuição significativa em doenças sexualmente transmitidas como: HIV, HPV, herpes e câncer peniano. Por que, então, violar o direito à prática religiosa milenar judaico-islâmica?


O mundo caminha, lamentavelmente, por estreitas vielas da tolerância e do diálogo religioso, com frágil respeito às liberdades democráticas individuais. Não é desejável, se queremos manter abertas estas já diminutas vias, que sejam promovidos atentados aos dogmas de qualquer religião. Osias Wurman é cônsul honorário de Israel no Rio de Janeiro.


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