Memória e Narrativa: o tempo-espaço dos livros de artista 2015

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MEMร RIA E NARRATIVA o tempo-espaรงo dos livros de artista



APRESENTAÇÃO

Memória e Narrativa: o tempotempo-espaço dos livros de artista

Nessa exposição, o livro de artista é apresentado e discutido como linguagem que busca expressão a partir dos conceitos de memória e narrativa. A visão integrativa da narrativa está presente em Benjamin, quando este afirma que o narrador, nas histórias que conta, recorre ao acervo de experiências de vida, tanto as suas como as experiências relatadas por outros. Ao narrar, ele as transforma em produto sólido e único, tornando-as experiências daqueles que estão ouvindo. Assim ocorre a transmissão de conselhos e conhecimentos, o que afirma o papel constitutivo do discurso na vida social, em uma concepção de “literatura como prática social”. Ao enfatizar a conexão entre narrar e lembrar, o artista expõe a ligação intrínseca que há entre memória, narrativa oral e ação social. A história é construída socialmente, através de uma interação, nos momentos de espacialização, por desenhos de próprio punho, folhas soltas, documentos, poemas próprios e de outros autores, dados extraídos de meio da voz, do corpo e de inscrições. Numa tentativa de dilatação, de se jogar para fora, de se expandir. Nos livros de artista e/ou livros-objetos, há o entrelaçamento dos mais diversos elementos: são adesivos, figuras, colagens, definições de


verbetes, pesquisas em jornais ou na internet, agendas de contatos, folhas avulsas de anotações, relatos de reuniões e oficinas, brochuras, convites, programações, projetos e assim por diante. Pode-se apontar diferentes maneiras de se “criar” e/ou “ler” um livro de artista: a partir das palavras e/ou das imagens, seja através da sua combinação ou fusão. Nos trabalhos proposta nessa exposição, palavras e imagens se relacionam de diferentes maneiras, porém, todas elas contribuem para criar novos sentidos. A exposição “Memória e narrativa: o tempo-espaço dos livros de artista” traz novas intersecções e possibilidades ao estudo e à divulgação do livro de artista e/ou livro-objeto. Com a apresentação de obras inéditas busca-se não apenas mostrar parte da produção contemporânea dessa linguagem, mas também como forma de criarmos uma troca cultural, uma ampliação e difusão do livro de artista e seus desdobramentos, aproximando sua prática ao cotidiano das pessoas.

Sobre o Grupo de Estudos “Livros de artista, livros objetos: entre vestígios e apagamentos”

“Pegar um livro e abri-lo contém a possibilidade do fato estético. Que são as palavras impressas em um livro? Que significam esses símbolos mortos? Nada, absolutamente. Que é um livro, se não o abrimos? É, simplesmente, um cubo de papel e couro, com folhas. Mas, se o lemos, acontece uma coisa rara: creio que ele muda a cada instante” (BORGES. Cinco Visões Pessoais, 1985, p. 11).


O Grupo de Estudos “Livros de artista, livros objetos: entre vestígios e apagamentos” iniciou suas atividades na Fundação Ema Klabin em 2013 com a participação da Profª. Drª Luise Weiss. Em 2014, os encontros e atividades do grupo aconteceram em dois espaços independentes: AJA_Artes Visuais, ateliê coletivo localizado na Vila Madalena e Casa Contemporânea, espaço multidisciplinar que realiza exposições, encontros e debates sobre arte localizada na Vila Mariana, com orientação da Profª. Me. Fabiola Notari. Um dos principais objetivos do grupo é desenvolver pesquisas, leituras e reflexões sobre a presença do livro de artista e do livro-objeto na Arte Contemporânea em paralelo à produção artística individual e coletiva de cada participante. Entre a teoria e a prática, todos são provocados a desenvolver livros de artista e livros-objetos a partir de diversas linguagens, entre elas, as que mais se destacam são: fotografia, gravura, desenho, colagem, escultura e pintura. Como o universo do livro de artista e livro-objeto é muito abrangente, optou-se por estudá-los a partir dos conceitos de tempo, memória e esquecimento.

Fabiola Notari





APRESENTAÇÃO

Entre dois lados

É com grande satisfação que realizo a ponte entre estes dois importantes espaços onde tenho experimentado significativas vivências artísticas: a Fundação das Artes de São Caetano do Sul e o Grupo de Estudos “Livros de artista, livros objetos: entre vestígios e apagamentos”, sediado na Casa Contemporânea, em São Paulo. Há 47 anos a Fundação das Artes é um pólo cultural no Grande ABC proporcionando formação artística e marco da resistência à fomentação e divulgação cultural na região. Vários nomes que se destacam no cenário artístico brasileiro e até, internacional, estudaram na Fundação. O Grupo de Estudos tem-se solidificado no decorrer desses últimos anos, como um grupo inovador no estudo da linguagem do livro de artista resultando na produção de um volume significativo de obras e gerando colaborações distintas entre seus participantes.


Ao apresentar a produção do Grupo de Estudos no espaço expositivo da Fundação das Artes, produzindo uma exposição única com a linguagem do livro de artista, confirmamos a visão multifacetada da instituição aberta às possibilidades intrínsecas da contemporaneidade; que a arte transpõe qualquer limite geográfico preestabelecido, destacando que o grupo é formado por integrantes advindos da capital, de cidades vizinhas e de outro estado; e que compartilhar só é possível quando as pessoas envolvidas acreditam que formar parcerias sérias com o objetivo de disseminar a criação artística eleva o caráter essencial da função da arte.

Marcia Rosenberger




O livro,

“[...] Olhei uma paisagem velha a desabar sobre uma casa. Fotografei o sobre. Foi difícil fotografar o sobre [...]”1. Manoel de Barros

Durante a leitura das obras que compõem a exposição “Memória e narrativa: o tempo-espaço dos livros de artista”, tornou-se evidente este sobre do qual fala o eu lírico na epígrafe. Fotografar sobre é registrar além de, acima de, segundo a etimologia da palavra latina2 super. É nessa esfera de transbordar o óbvio, de tentativa de rompimento do signo, que me parece estar situados os livros de artista apresentados nesta exposição. Estamos em um espaço intersemiótico em sua essência, não apenas por contemplarmos a convergência entre duas artes – Artes Visuais e Literatura -, mas por ser-nos permitido penetrar em uma amplitude de interferências e interrelações entre várias linguagens que almejam ir adiante de si mesmas, provocar um outro espaço criativo que apenas se completa com a participação ativa do ‘leitor-espectador’ da obra. Por isso, não me senti à vontade para fechar o título e cometi um ato de tímida ousadia (parafraseando Clarice Lispector) ao deixar uma vírgula e sua continuidade virtual pressuposta.

1 2

Versos extraídos do poema “O Fotógrafo”. In. BARROS, Manoel de. Ensaios Fotográficos. 2. ed. Rio de Janeiro: Record, 2000. p. 12. Cf. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa.


Como afirma Octávio Paz, “a linguagem é uma condição da existência do homem3”, portanto, ao se preocuparem com dois conceitos vitais para o ato de existir – memória e narrativa –, os artistas pesquisadores que compõem esta exposição instalam um jogo difícil e abundante de significações estabelecendo um elo entre os suportes escolhidos para a exposição da matéria artística que é transformada <converter a forma> em objeto de arte. É pertinente perceber que este jogo estende-se ao ato de esgarçar o conceito de sequencialidade, um dos atributos fundadores da narrativa, ao propor formas de apresentações que permitem diversas maneiras de leitura, tanto no aspecto cognitivo quanto simbólico. Outro conceito desafiado nas obras apresentadas é a noção de livro. Distante de ser um conjunto de folhas, criteriosamente organizadas em sequência lógica, envoltas por uma capa que unifica o conteúdo, os livros de artista são transformados <nova forma> em um veículo de registros e anotações que vão além da forma. Não se trata de meramente destruir o conceito de livro pré-estabelecido, mas antes revelar uma tentativa de linguagem que ultrapasse os limites do convencional.

Transformar, este é o verbo de ação que parece perpassar a discussão do grupo de artista e todas as suas ações diante de cada matéria do mundo referencial que é apropriada e recolocada em um novo contexto. Aliás, princípio artístico preconizado por Viktor Chklóvski (1893-1984), o estranhamento. Diante dos livros de artistas apresentados, a sensação do ‘leitor-espectador’ é de reconhecimento dos suportes escolhidos para concretizar os temas propostos: conchas, fotografias, folhas, linhas e tantos outros recursos usados no processo de produção. Todavia esse sentimento momentâneo de intimidade e reconhecimento superficial é rompido ao se adentrar no universo estético. E o termo

3

PAZ, Octávio. O arco e a lira. Trad. Ari Roitman e Paulina Wach. São Paulo: Cosac Naify, 2012.p. 39.


suporte retorna a seu sentido primitivo <carregar, transportar>, agora dentro de outra esfera semântica: dar perenidade a uma ideia, a um conceito. Dentro dessa leitura, não posso deixar de reafirmar a importância da produção do livro de artista como uma forma de expressão das Artes Visuais que traz pungentes possibilidades significativas. O prestígio desse espaço também assevera a relevância dessa exposição para situar e conduzir a proposta de discussão sobre os atos de construir o livro de artista e difundir essas obras para o público, em um espaço aberto e reflexivo sobre as diversas artes, assim como ocorre no Grupo de Estudos: livros de artistas, livros objetos: entre vestígios e apagamentos, sediado na Casa Contemporânea.

Erivoneide Barros





ARTISTAS E OBRAS


LUISE WEISS (São Paulo/SP) sem título 2009





NORMA VIEIRA (Campinas/SP) Tempo Imemorial 2015

MAGALI MEDINA (São Paulo/SP) O álbum dos outros 2015

MARISA GARCIA SOUZA (São Paulo/SP) a memória é infinita... 2015




MARCIA ROSENBERGER (Santo André/SP)

BIANCA PARIZI (São Paulo/SP)

Lugares da memória 2014

Sem título, em dois volumes 2014




MARCIA ROSENBERGER (Santo André/SP)

ROSANE VIEGAS (São Paulo/SP)

Quando a noite se junta ao meido-dia [da série Histórias contadas ao vento] 2014-2015

Vitrais do passado 2014

LUISE WEISS (São Paulo/SP) sem título 2009



RENATA DANICEK (S達o Paulo/SP) De uma ponto a outra 2015

IRENE GUERREIRO (S達o Paulo/SP) Serra da Cantareira 2014





ARLETE FONSECA (São Paulo/SP)

NERY (Vila Velha/ES)

Sem título 2014

Sabores de mãe 2014


CLAUDIA COLAGRANDE (São Paulo/SP) A Perda da Auréola (Baudelaire) 2015





LILIAN ARBEX (Cotia/SP) Andanรงas & Colagens 2014

Estate 2004

RENATA SALGADO (Santos/SP) Linhas Poligonais Abertas Simples 2/2 2015



LUISE WEISS (S達o Paulo/SP) sem t鱈tulo 2014

T達o perto, t達o longe 2015





MARGARIDA HOLLER (Jacareí/SP)

RENATA DANICEK (São Paulo/SP)

Liber, Librum, Livro 2015

Duplare 2015

CLARICE VASCONCELOS (São Paulo/SP)

Rotulu 2015

Livro de Fendas 2006-2007 confecção do livro: Mai Fujimoto




FABIOLA NOTARI (Peruíbe/SP) Qual é o tamanho do seu segredo? da série pequenos segredos 2011-2015

IRENE GUERREIRO (São Paulo/SP) horizonte paulistano 2014

LUISE WEISS (São Paulo/SP)

FABIOLA NOTARI (Peruíbe/SP)

sem título 2014

cartas quais.quer 2015



FABIOLA NOTARI (Peruíbe/SP) Qual é o tamanho do seu segredo? da série pequenos segredos 2011-2015

IRENE GUERREIRO (São Paulo/SP) horizonte paulistano 2014

LUISE WEISS (São Paulo/SP)

FABIOLA NOTARI (Peruíbe/SP)

sem título 2014

cartas quais.quer 2015




Contato da artistas

Arlete Fonseca arletefonseca@hotmail.com

Magali Medina medina_ml@hotmail.com

Bianca Parizi biancanicolielo@yahoo.com.br

Marcia Rosenberger marcia_atelie@hotmail.com

Clarice Vasconcelos clavasconcelos@uol.com.br

Margarida Holler margoholler@yahoo.com.br

Claudia Colagrande claucolagrande@gmail.com

Marisa G. Souza marisa.gs@icloud.com

Erivoneide Barros mariamutema@gmail.com

Nery mb.nery@uol.com.br

FabĂ­ola Notari bionotari@gmail.com

Norma Vieira normaleaovieira@gmail.com

Irene Guerreiro mirenepg@hotmail.com

Renata Danicek renatadanicek@terra.com.br

Lilian Arbex lilian.arbex@uol.com.br

Renata Salgado repapel@gmail.com

Luise Weiss luiseweiss2@gmail.com

Rosane Viegas rosane.viegas@yahoo.com.br



EXPOSIÇÃO Memória e Narrativa: o tempo-espaço dos livros de artista CURADORIA Marcia Rosenberger Fabíola Notari TEXTO Erivoneide Barros COORDENAÇÃO Valdo Rechelo DESIGN/LOGO Fabíola Notari PROJETO GRÁFICO Marcia Rosenberger REGISTRO FOTOGRÁFICO Fabíola Notari Marcia Rosenberger MONTAGEM Equipe de monitores da FASCS FUNDAÇÃO DAS ARTES DE SÃO CAETANO DO SUL Exposição Memória e Narrativa: o tempo-espaço dos livros de artista - 30 de maio a 28 de junho de 2015 De segunda a sexta das 9:00 às 21:00 horas Sábado das 9:00 às 17:00 horas





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