Educomunic@ndo Revista produzida pela ECOSBRASIL. Novembro de 2016, Ano 3, nº 10
Educomunicação... Uma proposta para a Educação do Séc. XXI
“
“A criação é a primeira Comunicação que Deus faz de si mesmo!”
Editorial Caros (as) Leitores (as) As Filhas de Maria Auxiliadora do Brasil, seguindo as orientações do Instituto das FMA, vêm fortalecendo o trabalho educomunicativo, graças ao estudo e empenho das comunidades educativas. É um processo conjunto, em que se busca concretizar o ideal de uma “Cultura Comunicacional” em favor da vida e da comunhão. As experiÊncias apresentadas ilustram o esforço e o comprometimento das comunidades educativas. Uma boa leitura! Ir. Marcia Koffermann comunicacao@salesianasbpa.com.br
Educomunicando, Novembro de 2016, Ano 3, nº 10. Revista produzida pela ECOSBRASIL- Equipe de Comunicação Social do Brasil das Filhas de Maria Auxiliadora
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Encontro Salesiano de Integração e Cultura Experiência realizada em Fortaleza- CE pág. 06
Contadoras de história Experiência realizada em Campo Grande- MS pág. 10
Grupo Educomunicativo Experiência realizada em Guaratinguetá-SP pág. 14
Artigo: Culturas Juvenis na Pós-Modernidade Pág. 19
Educomunic@ndo ExperiĂŞncias Educomunicativas bem sucedidas no Brasil
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Educomunic@ndo Experiência Educomunicativa 1
INSPETORIA MARIA AUXILIADORA- BRE
1) Nome da Experiência:
ESIC – Encontro Salesiano de Integração e Cultura 2) Nome da Cidade: Fortaleza / Ceará
3) Nome da Instituição em que se realiza a experiência: Colégio Juvenal de Carvalho
4) Nome do responsável pela experiência: Toda Comunidade Educativa e Pastoral
5) Grupo participante: Alunos da Educação Infantil ao Ensino Médio
6) Justificativa
Em uma sociedade cada dia mais globalizada e diversificada, em que as mais variadas competências e habilidades são exigidas das crianças,
adolescentes e jovens, se faz necessário possibilitar aos alunos a vivência de atividades onde o protagonismo estudantil possa ser favorecido e exercitado. Desta forma, a
escola oportuniza que todos sejam atores responsáveis e críticos, aprendendo, ensinando, construindo e compartilhando ações comunicativas.
7- Objetivos: Objetivo Geral: Desenvolver nos educandos habilidades e competências nas dimensões espiritual, afetiva, esportiva e cognitiva, num autêntico protagonismo infanto-juvenil.
Objetivos Específicos: • Promover meios e procedimentos que viabilize atividades transdisciplinares; • Articular atividades que envolvam pesquisas, conceitos, procedimentos e atitudes, fazendo uso das mais variadas linguagens e métodos didáticos; • Possibilitar uma intensa socialização de conhecimentos, descobertas e experiências humanizantes; • Cultivar o protagonismo estudantil em variadas situações cotidianas 06 e acadêmicas; • Incentivar ações solidárias e de cidadania;
Educomunic@ndo • Promover a autonomia dos educandos; • Fortalecer as relações interpessoais.
8) Descrição da Experiência: A experiência é desenvolvida ao longo do ano letivo, onde diversas atividades são desenvolvidas, em várias etapas, à luz de um tema central gerador e de um lema. Nesse ano de 2016, vivenciamos o ESIC em sua 24ª edição com o tema: “Cuidar da casa comum, nossa responsabilidade” e o lema: “Tudo que Semearmos, Colheremos”.
Abordagem extremamente necessária nos dias de hoje e também um convite à reflexão proposto pela Igreja do Brasil. A partir das atividades desenvolvidas durante o ESIC, o futuro é construído no Colégio Juvenal de Carvalho, a partir de experiências cotidianas, pensando e agindo na ótica dos processos. O ESIC é um grande projeto que enriquece a nos-
sa missão educativo-pastoral; é uma proposta construída por todos. É um projeto pensado, elaborado, animado e avaliado com a participação de todos. É a expressão de um processo educativo que busca, esclarece e identifica a proposta pedagógica para a qual somos chamados, a fim de enriquecer o mundo com entusiasmo, esperança e protagonismo.
9) Avaliação: Ao longo dos anos, a experiência tem sido cada vez mais significativa, conquistando a participação dos alunos, bem como a credibilidade junto à Comunidade Educativa e Pastoral. A ampliação dessa participação é um desafio, pois quando as pessoas sabem o que está acontecendo, tendem a participar mais.
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Educomunic@ndo 10) Perspectivas de futuro: Perceber, que ao término dos estudos escolares, os alunos egressos continuem exercendo ações de protagonismo salesiano, nas mais amplas instâncias de sua vida adulta, seja ela acadêmica, profissional ou familiar.
11) Depoimentos: ota, Diretor PedaPara Francisco José Azevedo Mlho, “O ESIC é um rva gógico do Colégio Juvenal de Ca favorece o protagonismix de atividades, que em muitoColégio. Em sua XXIV mo infantil e juvenil em nosso processo educacional, edição continua sendo um ótimo de grande expressão de cheio de energia, entusiasmo e ltiplos saberes adquirivida. Vida que culmina com múializadoras , através de dos a partir de experiências soc linguagens variadas, conteúdos significativos e interdisciplinando as diversas áreas do conhecimento.”
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Inspetoria Imaculada Auxiliadora- BCG
1) Nome da Experiência:
Contadoras de história
2) Nome da Cidade: Campo Grande, MS
3) Nome da Instituição em que se realiza a experiência: Escola São José, conveniada com o Estado
4) Nome do responsável pela experiência:
Fabiana Muniz do Carmo- diretora Coordenador Pedagógico: José Rone Rabelo da Silva. Auxiliar de Coordenação: Vanja Regina Chauke Alves Sanches. Professoras responsáveis: Nereci Silva Daré Monteiro e Fabiana Santana.
5) Grupo participante: 1º ao 5º Ano.
6) Tempo de duração da Experiência:
De junho a dezembro de 2016
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7) Justificativa: Contar histórias é um precioso auxílio, enquanto prática pedagógica nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, pois instiga a imaginação, a criatividade, a oralidade, incentiva o gosto pela leitura, contribui na formação da personalidade da criança envolvendo o social e o afetivo. A principal função da Escola, que é de formar sujeitos sociais, implica garantir uma ação educacional voltada para o desenvolvimento da competência comunicativa do aluno, da sua capacidade de interpretar e produzir, para que ele se torne capaz de ler e pronunciar o mundo. Para tanto, é imprescindível que a ação pedagógica se desenvolva segundo uma prática que contemple a utilização de uma metodologia de leitura diversificada. A educação para a comunicação e expressão é uma das linhas da Educomunicação, e é um aspecto de extrema importância a ser potencializado pela escola. Neste sentido a prática educomunicativa se manifesta no cotidiano escolar em projetos como este de Contação de Histórias.
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Educomunic@ndo 7- Objetivos: Objetivo Geral: Aproximar a criança do universo letrado, estimular a oralidade.
Objetivos Específicos: • Ampliar repertórios, aprender os diversos gêneros literários; • Desenvolver a imaginação, a capacidade de ouvir o outro e de se expressar; • Melhorar a comunicação, atenção, iniciativa e, principalmente, a segurança.
8) Descrição da Experiência Primeiro passo: Estimular a compreen- sidade é fundamental
Escolha de uma história para ser contada quinzenalmente; Trabalho interdisciplinar com as diferentes matérias em sala de aula, por exemplo, a língua portuguesa, a matemática, as ciências, a história, os direitos humanos, etc.. Além de explorar os aspectos lúdicos ao máximo em cada conto ou texto escolhido.
são da história com trabalhos em sala de aula. É muito importante a criatividade para o trabalho semanal ou quinzenal, do contrário tornará cansativo e sem significado.
para o despertar dos meninos e meninas. Associar a história contada ao vídeo, assim farão paralelo da semelhança ou não da história contada.
Terceiro momenProcedimentos: to: Apresentação do Primeiro momento: livro escolhido estimu-
A professora fantasiada como a principal personagem interagindo com as crianças por meio de sacos, caixas e fantoches.
lando a vontade de ler para conferir a história, montar grupinhos de teatros, com pessoas convidadas, como outros professores, alunos Segundo momento: de séries maiores, são Segundo passo: Instigar e causar curio- bons atrativos.
9) Avaliação:
Desde o início do Projeto, entram como quesitos de avaliação: . Participação e envolvimento dos professores e alunos nas atividades; . Interação entre os elementos do grupo; Quanto à avaliação do professor, acontece a partir dos resultados obtidos em sala de aula, como o favorecimento das condições para que as crianças leiam mais e busquem maior interação com o universo dos livros, e, também, nas relações intra e interpessoais, que gerenciam a construção do processo educomunicacional. 12
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10) Perspectivas de futuro: Pretende-se expandir o projeto para outras Escolas e realizar oficinas com os alunos e pais da Escola. Os alunos contando a história para os pais”.
11) Depoimentos:
“Atrav és de His do Projeto “C tó coisas rias”, estou ontadoras legais apren de e por ex emplo interessante ndo , s aparên nunca como ju c xão B ias”. Aluna: lgar pelas enites, A 10 ano manda Pa is , 5º ano “Este p A rojeto q ensina r de m uer ser uma aneira dificul forma da lú d geral é des na disc dica. Uma e das iplina contar de his tas vez histór tór ia e conseg s dominam s. Os aluno ia em sm o u Profes em expressá conteúdo, m uisora: F a abiana lo verbalme s não nte”. Cristin e F. Ro cha
o obje m o c l rojeto ra infanti p e t s tu ie litera brace histó“Eu a resgatar a de contar resse te e a tivo d da prátic iança se in o s r ã é atrav ra que a c presentaç tua a ei p a l l rias, te pe tudo pela aré n e m o e não s mas sobr reci Silva D , l a N r : e teat ssora e f o r ra”. P ro. ei Mont
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Educomunic@ndo Inspetoria Santa Catarina de Sena
Experiência Educomunicativa 3
1) Nome da Experiência:
Grupo Educomunicativo-Pastoral “Jovens Comunicadores 2) Nome da Cidade: Guaratinguetá/SP
3) Nome da Instituição em que se realiza a experiência: Instituto Nossa Senhora do Carmo (Colégio do Carmo)
4) Nome do responsável pela experiência:
Luiz Fernando Miguel-Assessor de Comunicação do Instituto Nossa Senhora do Carmo, de Guaratinguetá/SP, professor de Filosofia e Sociologia e Acadêmico em Comunicação Social (Jornalismo).
5) Grupo participante: Grupo de comunicação da AJS
6) Faixa etária: Alunos do 6º e 7º Ano
7) Tempo de duração da Experiência: Existe há 2 anos
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Educomunic@ndo 7) Justificativa: O projeto educomunicativo “jovens comunicadores” faz parte da dimensão pastoral do Instituto Nossa Senhora do Carmo, caracterizando-se por ser um grupo unido sob o carisma salesiano. O atual contexto da educação, bem como sua relação com os paradigmas comunicativos levam-nos ao reconhecimento da necessidade de plasmarmos uma afinidade construtiva entre esses campos do saber e da prática. A comunicação por si é capaz de auxiliar os adolescentes e jovens em suas buscas diversas e, muitas vezes, inquietas. Assim, percebeu-se necessidade dessa experiência educomunicativa pelos anseios dos próprios jovens e adolescentes, especialmente no que se relaciona aos meios de comunicação e a utilização das novas tecnologias. Percebe-se também que a Educomunicação coloca-se como forte aliada no processo de criação de um ambiente harmônico, um verdadeiro ecossistema comunicativo, pautado em valores concretos, que expressam nosso “jeito salesiano” de ser.
8- Objetivos: Objetivo Geral:
Oferecer aos adolescentes e jovens, alunos do Instituto Nossa Senhora do Carmo de Guaratinguetá/SP, a possibilidade de exercerem seu protagonismo por meio da Educomunicação e proporcionar um ambiente Educomunicativo, no qual eles possam desenvolver suas habilidades, relacionarem-se e expressarem seus anseios.
Objetivos Específicos: • Favorecer uma convivência pautada em valores que sejam vivenciados e propagados, pelos meios de comunicação e pelas novas mídias; • Fortalecer o protagonismo juvenil e fomentar o espírito de liderança e leitura crítica da realidade e da informação como nos é apresentada pelos meios; • Auxiliá-los no processo de ensino-aprendizagem das disciplinas escolares, por meio da utilização de novas ferramentas de estudo e a exploração de novos métodos de ensino, especialmente os que utilizam as plataformas digitais; • Proporcionar o contato dos participantes com as ferramentas de comunicação, especialmente no que toca ao audiovisual, imagens e aos aparatos digitais; • Produzir conteúdos Educomunicativos, pastorais e formativos, a partir da experiência e conhecimentos adquiridos pelos próprios estudantes; • Valorizar a riqueza da pastoral, espiritualidade e carisma salesianos, como pressupostos para promover momentos de evangelização e propagação dos valores apreendidos e compartilhados.
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Educomunic@ndo 10) Descrição da Experiência Os encontros realizados têm estrutura padrão: - Oração; - Formação; - Trabalhos em grupos; - Finalização em conjunto; - Oração final. Essa estrutura auxilia o grupo a perceberem-se como um grupo da PASTORAL e a transmitir toda a mensagem da pedagogia e espiritualidade salesiana aos demais companheiros. Os grupos de trabalho são: Rádio, TV/Entrevistas, Fotografia/Filmagem e Redes Sociais. Eles se agrupam por afinidade aos temas e, em cada encontro, têm um tempo para discutir as ações seguintes com o seu grupo. É um processo que tem sido percebido como positivo, pois os auxilia no desenvolvimento de suas potencialidades e especialmente na abertura ao protagonismo, um dos principais objetivos do projeto.
10) Avaliação: As grandes conquistas diárias são o envolvimento dos participantes nas atividades realizadas em sala de aula, o protagonismo e o desenvolvimento de habilidades que antes se percebia com certa timidez. Os participantes manifestam uma boa desenvoltura em vários aspectos.
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11) Perspectivas de futuro: Queremos que os jovens sejam cada vez mais protagonistas e construtores de um ambiente mais saudável para vivermos. Eles podem ser uma peça fundamental para a conscientização dos demais, especialmente aqueles que estão na mesma faixa etária. O projeto nos ajuda a compreendermos que o futuro reserva muitas coisas boas para estes adolescentes e jovens.
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Educomunic@ndo 11) Depoimentos: Confirma o depoimento dos educandos no Link: https://www.youtube.com/watch?v=Yre70y51tws&feature=youtu.be
“Acredito que a Educomunicação conseguiu oferecer aos jovens uma dinamicidade, porque os jovens dessa geração nascem com aptidão em conciliar a educação e a comunicação” Isadora Prudente, 18 anos, voluntária do projeto.
“Apesar de minha mãe ser fotógrafa e praticamente ter crescido no meio das câmeras, eu ainda não tinha me encontrado. Agora posso dizer que sou um fotógrafo. (...) Fazemos várias coisas que não imaginávamos, como lidar com câmeras e microfones”. Gabriel Barbosa, 7º ano.
“No projeto eu também aprendi a utilizar corretamente a Internet e a procurar corretamente informações no meio de tanta coisa que possui nela”. João Luís de Toledo, 7º ano.
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Educomunic@ndo Culturas Juvenis e Pós-Modernidade Ir. Marcia Koffermann
Diante de um mundo complexo como o que vivemos, muitas vezes, é um desafio compreender o universo juvenil. A linguagem, os hábitos, o modo de pensar e agir podem parecer distantes demais daqueles que nasceram um pouco de tempo antes. Assim, torna-se necessário buscar elementos que auxiliem e favoreçam um diálogo entre as diferentes gerações. O presente artigo traz alguns elementos que permitem refletir sobre a Sociedade Pós-Moderna, enquanto resultado de um processo histórico, e, a partir, desta, uma releitura das Culturas Juvenis, identificando suas principais problemáticas e dificuldades.
Ampliando o olhar sobre a Pós-Modernidade Dentre os pensadores da modernidade, Alvin Toffler (1928-2016) fornece alguns elementos significativos que se relidos numa ótica das culturas juvenis e da Educomunicação podem dar pistas para uma maior compreensão do mundo juvenil. Em seu livro a Terceira Onda, Alvin Toffler ressalta que a humanidade passou por três grandes ondas. A primeira onda, é marcada pela agricultura, o capital é a terra, e era em torno dela que se formavam as relações sociais. Não havia neste período grandes possibilidades de mudança social, o estudo era apenas para algumas pessoas e o saber passava de pai para filho, pois geralmente o filho seguia a profissão do pai. Neste tipo de sociedade a escrita e a leitura não eram muito comuns, de modo que eram consideradas sábias as pessoas idosas, afinal, puderam viver muito tempo, e neste longo tempo adquiriram muita experiência e conhecimento. O ancião nesta sociedade é respeitado e ouvido. As grandes narrativas fazem parte do imaginário popular e toda a sociedade, os ritmos, as festas, a vida gira em torno delas. A fé é um elemento que faz parte da vida das pessoas, e com ela, as tradições e costumes, a religião é o eixo central que conduz a vida das pessoas em detrimento da razão e da emoção. Na primeira onda, o olhar se volta para o passado, por que é olhando para os erros e acertos daqueles que já viveram que se pode pensar o presente. Na segunda onda, toda a sociedade passa por grandes mudanças, com o surgimento da indústria, o capital passa a se
concentrar na fábrica, as pessoas migram do campo para a cidade. Agora quem dita o ritmo da vida, é a sirene da fábrica, para poder trabalhar nelas, as pessoas precisam passar pela escola. Esta já é um “treinamento para a vida na fábrica”, uma escola de massa, de disciplina e de respeito à autoridade. Ao mesmo tempo, passam a fazer parte do cotidiano os Meios de Comunicação de Massa: jornal, rádio, TV, a grande imprensa se forma neste período. Neste contexto, o ideal de vida passa a ser o adulto produtor, pois é aquele que está em condições de produzir, e, por conseguinte, de consumir. O olhar das pessoas se volta para o futuro, a ideia é estudar para trabalhar, trabalhar para comprar, se instaura a lógica capitalista. A religião e a fé passam para um segundo plano, e a razão se torna o eixo norteador da sociedade. As grandes utopias são a esperança de mudança social, surgem grandes movimentos como: iluminismo, marxismo, comunismo, fascismo, nazismo, e outros tantos “ismos”... Porém, o excesso de razão se mostra tão ou mais cruel que o excesso de religião da Idade Média, basta olharmos para as duas grandes guerras mundiais. Com o advento das tecnologias da Informação, novas mudanças acontecem, agora o capital se concentra nas mãos de quem tem o conhecimento, a informação. Se antes a escola precisava formar o indivíduo para trabalhar na fábrica, agora terá que formar a pessoa para trabalhar num ambiente totalmente diferente, em que o conhecimento muda com rapidez. Portanto, aquela escola onde se decorava saberes perenes, não tem 19 mais sentido, é preciso apren-
der a aprender, por que em apenas dois anos, o conhecimento que se tem hoje, talvez, já estará obsoleto. Além disso, há um volume tão grande de informações que é impossível para qualquer ser humano aprender tudo, neste sentido, o jovem, a criança, precisam aprender a filtrar, a selecionar, mesmo que para isso, muitas vezes, seja necessário, manter uma certa superficialidade. Neste mundo as mídias se pulverizam, ao invés de trabalhar com meios de massa, se investe em nichos de mercado, ou em diferentes públicos alvos. A World Wide Web permitiu que pessoas de diferentes lugares conversem de forma instantânea, quebrando barreiras de tempo e de espaço, surge o mundo virtual como extensão do real. Neste contexto o ideal de vida não é mais o ancião, nem o adulto, mas sim o jovem. O jovem passa a ser o modelo em todos os sentidos, ele é capaz de compreender com facilidade o uso das novas tecnologias, portanto, é aquele que está na ponta de todas as inovações. No imaginário popular, todos querem ser jovens e ilustram isso na forma de vestir, de levar a vida, no vocabu-
lário, enfim, a eterna juventude é o padrão a ser seguido, inclusive por aqueles que ainda não são, ou já deixaram a idade da juventude. Ao mesmo tempo, contrapondo-se às ondas anteriores, que viam na religião ou na razão, a referência para suas vidas, as pessoas da terceira da onda têm a centralidade nas emoções. Ao decretar-se a morte das grandes narrativas e das grandes utopias, o desejo de viver o presente, tudo junto e ao mesmo tempo, faz com que a vida seja pautada a partir do próprio eu, “as minhas emoções”, “os meus sonhos”, o que “eu quero”. Embora muitos autores discordem desta divisão histórica das ondas, ela traz muitos elementos que permitem compreender melhor a complexidade do mundo de hoje, especialmente, se pensarmos que estas ondas não formam uma evolução uniforme, na verdade, elas convivem e mesclam-se entre si. Numa mesma cidade encontramos pessoas com modos de ser e agir pertencentes às três ondas. Neste sentido, a juventude não é alheia ao que acontece ao seu redor, todos estes aspectos refletem diretamente sobre o modo de ser jovem.
Compreendendo as Culturas Juvenis no contexto de Pós-Modernidade Ao pensarmos em “Culturas Juvenis”, precisamos contextualizá-las nesta dinâmica, os paradigmas que estabelecem o modo de ser e agir em sociedade não são uma escolha dos próprios jovens, mas é uma construção sociocultural que se estabelece a partir de uma série de processos vivenciados pela humanidade. Certamente também os jovens criam e espalham tendências, mas de um modo geral, acabam sendo produto desta sociedade. Nesta sociedade líquida, a vida dos jovens é marcada pela fluidez das relações, pela inconstância e descontinuidade. As relações afetivas são frágeis, com a mesma facilidade com que podem se casar, também se separam, a tranquilidade com que mudam de emprego, param, retomam ou mudam a área de estudos são algumas expressões que indicam uma identidade em contínua construção, ou melhor, contínua mudança. A própria identidade pessoal é fluída, relativa. Este aspecto é reforçado pela tendência da pós-modernidade de viver desesperadamente o presente. Diante de um mundo com passado insignificante e futuro incerto, há uma necessidade de viver o presente, de provar todas as experiências possíveis, de modo que suscitem
as mais fortes emoções neste momento. Aí se explica o uso cada vez maior de drogas, alucinógenos e jogos virtuais, enquanto tentativa de parar o tempo naquela experiência vivida de altas emoções, como uma fuga da sociedade dromocrática que vivemos. A velocidade com que as coisas mudam, geram uma relação de superficialidade, de laços fracos, o que se pode perceber nitidamente nas redes sociais. As pessoas possuem um grande número de “amigos”, que seriam, na verdade, conexões, mas são relações pouco profundas, num universo de muitas relações qualquer elemento que desagrade, que provoque uma divergência, pode ser um motivo para a retirada desta pessoa da rede de relações de quem se vê atingido pelo pensamento diferente. A vivência de fortes emoções ainda é reforçada pelo uso de hipérboles, pela linguagem agressiva, em tom provocativo e transgressor, quase como um grito desesperado de quem quer ser visto e ouvido. Junto ao excesso manifestado na linguagem, faz-se perceptível o desejo de “aparecer”, como se a vida fosse uma grande vitrine. Na sociedade do espetáculo, não existe anonimato, a barreira entre público e privado é cada vez mais tênue, mas para se fazer presente nes-
te mundo, é preciso mascarar um pouco a realidade, que passa a ser escondida por trás do simulacro. E aqui se volta à questão da identidade, por que na sociedade do espetáculo, a identidade não é fixa, nem sólida, mas é construída, descontruído, produzida, editada, como se a pessoa fosse um produto que é apresentada com embalagens diferentes. Conforme Eliton Fernando Felczak: “A forma de planejar e organizar a vida na modernidade líquida é antagônica à da modernidade sólida. As relações devem ser estabelecidas a curto prazo, aproveitando as chances que a vida oferece, abandonando as anteriores como quem troca de roupa. Planejamentos para a vida toda parecem ridículos, pois sacrificam os desejos momentâneos em vista de algo posterior no futuro.” Portanto, pensar num projeto de vida é um desafio, especialmente, se o jovem não consegue perceber criticamente este contexto em que está in-
serido. Estes elementos não devem ser vistos como um “mal” do mundo de hoje, até por que nos outros momentos históricos em que vivemos não estivemos imunes a outras formas de manipulação, paradigmas, preconceitos e processos que talvez tenham sido tanto quanto, ou mais nocivos ao ser humano e, por conseguinte, à juventude. É preciso sim, conhecer as dinâmicas que levam as juventudes a pensar, ser e agir de determinada forma e não de outra. Isso permite perceber as singularidades, as angústias, os desejos, aquilo que é dito e aquilo que não é dito. Ao mesmo tempo, um olhar aprofundado sobre a realidade permite formular algumas pistas de ação que podem ser elucidativas quanto ao trabalho educativo pastoral com a juventude. Eis alguns elementos que podem trazer uma possibilidade com a juventude deste mundo pós-moderno em que vivemos:
1. Uma juventude mais aberta para viver intensamente cada momento, manifesta a potencialidade para aprofundar: • •
A contemplação; O silêncio;
• •
A oração; A lógica do encontro.
2. Uma juventude disposta a sempre experimentar coisas novas, manifesta a oportunidade para: • Uma experiência vital de encontro com Deus; • Mais que abraçar uma ideologia, transformar-se pelo encontro com uma pessoa
3. car:
Num mundo globalizado as distâncias se encurtam, isso pode signifi-
• Preocupação com a Casa Comum; • Iniciativas concretas na linha da preocupação ecológica, solidária, com as desigualdades sociais... • Voluntariado e engajamento em causas sóciais;
4. Uma sociedade que se fundamenta na beleza, na superficialidade pode oferecer a possibilidade de uma educação para: • •
A beleza da criação; A beleza da arte;
• •
A sensibilidade; A inteligência do sentir;
5.
Uma juventude fragmentada, ferida, desestruturada, pede:
• •
Uma pastoral integradora; Um olhar sobre “a pessoa”;
6.
Uma juventude hiperconectada permite:
• • • •
Entrar em contato com muitos jovens ao mesmo tempo; Criar tendências, formar opinião por meios alternativos; Acompanhar os jovens, mesmo estando muito distantes fisicamente; Buscar formas de participação alternativa...
7.
Uma juventude que se distingue pelas inúmeras minorias, sobressai-se:
• • • •
A consciência da dignidade humana; O desejo de conquistar a igualdade; A quebra de preconceitos e visões excludentes; A acolhida do outro...
• Acompanhamento sistemático e personalizado.
Conclusão Este artigo trouxe alguns olhares e reflexões, que não bastam para compreender a realidade, mas provocam para continuarmos aprofundando tanto a nossa sociedade, enquanto espaço concreto de ação em que estamos inseridos, quanto o universo das culturas juvenis, que é múltiplo, plural, descontínuo e, por vezes, uma incógnita para quem tentar tecer um diálogo educativo. Não existem receitas, nem verdades, mas o estudo e o aprofundamento, aliados à uma prática fundamentada na escuta, no respeito e na acolhida
podem ser elementos fundamentais para um diálogo fecundo. O humanismo cristão também propõe um olhar positivo sobre a realidade, que não quer dizer a ausência de um olhar crítico, mas sim, a abertura para acolher as sementes do Verbo que se fazem presentes em todas as sociedades. Esta premissa traz uma perspectiva positiva e propositiva sobre a realidade, que do ponto de vista educomunicacional será fundamental para a transformação social e a construção da cidadania.