SAÚDE-ALCOOLOGIA-PROJECTO-2008

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Projecto “Copos – quem decide és tu” O projecto “Copos – quem decide és tu”, resulta de uma parceria protocolada entre a Cruz Vermelha Portuguesa (CVP), através da Juventude Cruz Vermelha (JVC), e o Instituto da Droga e da Toxicodependência (IDT, IP). Inserido na área geral de Promoção e Educação para a Saúde, área privilegiada do trabalho da Juventude Cruz Vermelha, trata-se de um projecto de prevenção universal que visa sensibilizar e informar os jovens entre os 14 e os 20 anos de idade, para os riscos inerentes ao abuso de álcool. Enquanto projecto de prevenção dirigida a um grupo específico da população escolar visa resultados a médio e longo prazo, pressupõe uma actividade contínua no tempo e a necessária colaboração dos docentes e da comunidade educativa. Neste sentido a edição de 2008 do projecto “Copos – quem decide és tu”, da qual se ocupa o presente relatório, vem na sequência da edição piloto do projecto, aplicada em 2007, e terá continuidade na edição de 2008/09, que se encontra já em fase de preparação. Tratando-se de um projecto de âmbito nacional, foi aplicado por diversas Delegações da CVP em vários pontos do território nacional e coordenado pelo Gabinete de Juventude da CVP, em estreita colaboração com o Núcleo de Prevenção dos serviços centrais do IDT e pelos CRI envolvidos nas acções locais. Desde o início o projecto contou com a colaboração da Direcção-Geral da Saúde, nomeadamente no apoio científico à produção dos materiais, através do Dr. João Breda. O Ministério da Educação, através do NESASE da DirecçãoGeral de Inovação e Desenvolvimento Curricular, acompanhou também a implementação e o alargamento do projecto.

DIAGNÓSTICO/ANTECEDENTES A pertinência de um projecto de prevenção do consumo abusivo de bebidas alcoólicas entre a população jovem portuguesa encontra a sua fundamentação em diversos factores, designadamente, o aumento significativo do nível 1

de consumo de bebidas alcoólicas na população juvenil portuguesa e a precocidade dos primeiros consumos, sendo que a idade média em que se ingere pela primeira vez bebidas contendo álcool tem seguido, nos últimos 2

anos, uma tendência para diminuir.

Tendo em conta estas premissas, a missão da CVP em geral e a especificidade do trabalho da JCV, justifica-se um projecto de prevenção universal, destinada a adolescentes e jovens adultos, educando para uma maior responsabilização em matéria de consumos de álcool, e promovendo a saúde enquanto resultado ou efeito de decisões individuais. Nestas questões, os adolescentes e jovens constituem um grupo com comportamentos de risco 1

Cf. Matos, M., Carvalhosa, S., Reis, C., & Dias, S. (2002). Os jovens portugueses e o álcool. FMH/PEPT/GPT; Inquérito Nacional em Meio Escolar, 2006; European School Survey Project on Alcohol and other Drugs, 2003 2 Ibidem, pp. 12.


ao nível do consumo nocivo de bebidas alcoólicas, associado ou não a outras substâncias psicoactivas e como tal, um grupo sobre o qual a intervenção se torna imperiosa e prioritária. Assim, o projecto “Copos – quem decide és tu” é direccionado para a prevenção do consumo abusivo de bebidas alcoólicas na população juvenil portuguesa, considerando os seus actuais padrões de consumo e os contextos em que tais consumos ocorrem, ao invés da prevenção da dependência do álcool, que tem sido o paradigma dominante deste tipo de intervenções em Portugal. Trata-se portanto de um projecto em que se substitui a aproximação repressiva e paternalista do “não podes e não deves”, pela responsabilização individual do “tu decides”. Tal opção está na linha das mais recentes estratégias preventivas em matéria de consumos de substâncias psicoactivas, que, superando o velho pendor repressivo do trabalho de prevenção em geral, muitas vezes ineficaz, assentam na disseminação por entre as comunidades e os grupos de risco, de uma informação científica, imparcial e científica, que esclareça decisões e fundamente comportamentos mais responsáveis, não em conteúdos morais que procurem moldar, determinar e inculcar esses mesmos comportamentos e decisões, como “correctos”, “bons” e “justos”. Do ponto de vista interno ao Movimento Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho, o projecto em questão, procura cumprir as respectivas directrizes técnicas e políticas da Federação Internacional da Cruz 3

Vermelha e do Crescente Vermelho (FICV) , baseando-se em boas práticas referenciadas, na área específica da prevenção do consumo de substâncias psicoactivas, dentro da área geral da promoção e educação para a saúde.

PRESSUPOSTOS Os pressupostos que justificam e orientam o modelo de intervenção adoptado neste projecto assentam em três pilares fundamentais: • Educação inter paris, ou intervenção pelos pares: a JCV enquanto “braço” jovem da CVP, constituído por voluntários jovens, é uma estrutura privilegiada para a prossecução de projectos de promoção da saúde cujos públicos destinatários sejam crianças e jovens, precisamente os pares dos nossos voluntários. É nesta paridade, no facto do portador da mensagem, o “educador”, ser reconhecido como membro do grupo que se pretende alcançar, como “um de nós”, que reside a eficácia desta opção metodológica. A intervenção pelos 4

pares vem sendo reconhecida, inclusivamente pela FICV , como estratégia eficiente em várias áreas da intervenção social e em particular, no trabalho de prevenção do consumo de substâncias psicoactivas; • Intervenção em meio escolar: o espaço escolar torna-se um ponto de excelência para atingirmos os nossos destinatários, deste projecto em particular, do trabalho da JCV em geral. Deste modo, na linha daquilo que é 5

a missão da CVP enquanto auxiliar dos poderes públicos , é possível complementar uma intervenção na instituição escola através de uma componente de educação informal, neste caso, na área da Promoção e Educação para a Saúde, contribuindo assim para um projecto educativo global e ecléctico, que, acontecendo no espaço físico da escola, vai muito para do ensino institucionalizado. A intervenção educativa de organizações exteriores, leia-se à instituição escola, é inclusivamente preconizada por directrizes do próprio 6

Ministério da Educação ; • Flexibilidade territorial: é apanágio dos projectos da JCV de âmbito nacional, a preocupação com a diversidade dos contextos de eventual aplicação destes mesmos projectos. Torna-se necessário que o modelo de intervenção do projecto seja susceptível de se adaptar ao polimorfo conjunto das realidades territoriais do nosso país. No entanto, esta flexibilidade não pode significar uma desvirtuação, uma distorção dos pilares dos respectivos projectos. Numa palavra, o que se procura é que os projectos se adeqúem e 3

International Federation Red Cross and Red Crescent, “Spreading the light of science”, Geneva, 2002, pp. 8 Ibidem, pp.24. 5 Estatutos da CVP, Cap. I, art. 5, decreto-lei n.º 281/2007 de 7 de Agosto 6 Para o que concerne em particular a área da Promoção da Saúde cf. vv., coord. M. Isabel Machado Baptista e Ângelo Sousa, Consumo de substâncias psicoactivas e prevenção em meio escolar, Ministério da Educação, Lisboa, 2007, pp. 9 e ss. 4


respondam às necessidades locais de cada território, heterogéneas, conservando a essência daqueles: objectivos, metodologias e acções. Por exemplo, no caso do presente projecto, a intervenção em meio escolar é a forma privilegiada da aplicação do projecto, no entanto não é a única, atendendo a sinergias, parcerias, contextos locais, é susceptível de ser aplicado em outros âmbitos que não o escolar, como associações juvenis, centros recreativos, etc.

OBJECTIVOS Objectivo geral • Sensibilizar os jovens para a problemática do consumo nocivo de bebidas alcoólicas. • Promover estilos de vida e comportamentos saudáveis entre os jovens. Objectivos específicos • Aumentar nos jovens os conhecimentos sobre as consequências associadas ao consumo nocivo de bebidas alcoólicas. • Prevenir o consumo nocivo de álcool entre a população jovem portuguesa. • Aumentar os níveis de percepção dos riscos associados ao consumo de álcool. • Fomentar comportamentos e hábitos de consumo de bebidas alcoólicas mais responsáveis. • Capacitar os jovens de modo a que possam actuar como agentes de mudança, na qualidade de “educadores informais”, dentro das comunidades e/ou grupos em que estão inseridos.

PLANO DE INTERVENÇÃO • Sessões de prevenção / sensibilização Estas acções consistiram na realização de encontros de informação/prevenção dirigidos, por um a dois voluntários da JCV, preferencialmente em meio escolar, acerca das questões relacionadas com os consumos de álcool nos jovens, com especial enfoque para os riscos associados ao consumo nocivo desta substância, fornecendo informação de cariz científico de forma a fundamentar a tomada de decisão. As sessões foram, por inerência, pouco expositivas, fazendo uso de metodologias activas. • Questionário Foi aplicado um pequeno questionário de respostas fechadas, com a dupla função de instrumento de recolha de dados e de dispositivo didáctico, abordando vários preconceitos e/ou “ideias pré-formadas” acerca do consumo de bebidas alcoólicas. • Site Foi criado um site específico do projecto no sentido de acompanhar e registar o seu desenvolvimento a nível nacional, através de foto-notícias e/ou de pequenas reportagens sobre as actividades organizadas no âmbito do próprio projecto e outras que com ele se relacionem directamente. Foram também introduzidos no site outros conteúdos, sempre subordinados à temática do projecto, tal como jogos e actividades interactivas, informação, espaço de debate, etc. • Desafio / Concurso Através das acções de sensibilização do projecto os jovens que nelas participam, foram desafiados a exprimir os seus pareceres e reflexões sobre “álcool e juventude”, um assunto premente na sociedade civil. Deste modo, e através do envolvimento e participação dos jovens neste desafio, procurou-se que a participação dos jovens não estivesse reduzida à mera presença numa sessão de informação/prevenção acerca do consumo de álcool, promovendo-se um posterior empenho pessoal, do ponto de vista intelectivo e grupal. Foi proporcionada aos jovens envolvidos nas acções de sensibilização uma forma de participação directa no projecto, através da elaboração de


trabalhos de grupo, em que fossem estimuladas as faculdades de criatividade, investigação, sociabilidade e espírito crítico. O funcionamento do concurso/desafio foi especificado em regulamento.

• Actividades “Espaço Copos” Foram ainda propostas às escolas aderentes a execução das várias actividades que constituíram o “Espaço 7

Copos” , estas actividades lúdico-pedagógicas foram pensadas e planificadas de modo a permitir aos jovens uma aprendizagem informal e divertida e são susceptíveis de serem aplicadas em contexto escolar.

• CD -ROM Começou-se a trabalhar num CD-ROM do projecto de modo a fornecer às próprias escolas e respectivas comunidades mais um recurso didáctico sobre esta problemática. Este dispositivo constituiu um material didáctico com maior densidade e consistência relativamente aos panfletos e postais. Não obstante ter ficado inacabado na presente edição do projecto, pensamos contar com este instrumento para o próximo ano. Reformulação em 2008 A edição de 2007 do projecto “Copos – quem decide és tu”, edição piloto, foi implementada em 4 Delegações com 8

estruturas de JCV , em articulação com os CRI locais do IDT, no sentido, não só de testar a funcionalidade, como de melhorar o projecto partindo da experiência no terreno. Numa descrição muito breve, o projecto em 2007 consistia numa visita das escolas a um espaço montado, concebido e gerido pela JCV, em que os alunos, divididos em 9

grupos, percorriam um “circuito” de actividades lúdico – pedagógicas nos quais tomavam contacto com os conteúdos cognitivos do projecto. Com o intuito de aligeirar o aparato logístico do projecto, de difícil implementação, as actividades do primeiro ano do projecto foram substituídas por sessões de prevenção/sensibilização, dirigidas por voluntários da JCV nas próprias escolas. As sessões foram agendadas com as escolas, de acordo com as respectivas disponibilidades. 10

Com esta alteração, não se correram riscos de alteração dos materiais de comunicação que já existiam , ou de desperdício de trabalho, visto que os fundamentos e objectivos do projecto se mantiveram intactos. Quanto à planificação do “Espaço Copos”, foi usada como um pacote de actividades, mais um recurso do projecto, disponibilizado às escolas, de modo a que as interessadas poderiam, obviamente em estreita colaboração com as respectivas estruturas de JCV, implementar as actividades “Espaço Copos”. • Divulgação do projecto Nesta fase de preparação, a divulgação do projecto foi feita a três níveis: i) Interno à CVP – o Gabinete de Juventude da sede nacional da CVP procedeu à divulgação do nas Delegações CVP de Amadora, Aveiro, Braga, Bragança, Castelo Branco, Estremoz, Évora, Figueira da Foz, Leiria, Lisboa, Portalegre, Porto, Setúbal, Vila Real, Alijó, Cadaval, Caldas da Rainha, Covilhã, Elvas, Ermidas do Sado, Fafe, Faial, Fuzeta, Guimarães, Matosinhos, Ovar, Pereira, Sabrosa, Santar, Sobreira, Vale de Cambra e Vilela; ii) interno ao IDT – através de informação do DIC/NP dos serviços centrais para as Direcções Regionais do Instituto e respectivas unidades Locais -CRI; iii) externo (apresentação e convite às escolas) – as Delegações que responderam afirmativamente ao apelo do Gabinete de Juventude, procederam à apresentação e convite à participação no projecto às escolas das respectivas áreas de influência. • Formação

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Braga, Guimarães, Fafe e Lisboa, sendo aquelas estruturas que mostraram maior interesse e que reuniam melhores condições para uma implementação piloto do projecto. 9 Para a descrição e planificação das actividades do “Espaço Copos” vide Dossier de Avaliação “Actividades do Espaço Copos”. 10 Vide Dossier de Avaliação “Materiais de comunicação”


Houve dois momentos de formação: o primeiro a nível central, em que se procurou prover às exigências, a nível nacional, da implementação do projecto, e o segundo, de carácter local, impôs-se pela necessidade de resposta de algumas delegações à adesão das escolas nos respectivos territórios de influência. • Central A formação central decorreu no dia 19 de Janeiro de 2008, nas instalações da Delegação de Lisboa, tendo sido ministrada por técnicos do Núcleo de Prevenção do IDT, e do Gabinete de Juventude da CVP. Os formandos voluntários foram seleccionados pelas coordenações locais para a implementação do projecto. Estiveram representadas 20 delegações, perfazendo um total de 56 formandos; • Local As sessões de formação de carácter local realizaram-se mediante solicitação das respectivas delegações, tendo sido ministradas a 59 formandos por um técnico do Gabinete de Juventude da CVP. Com vista à aplicação do projecto “Copos – quem decide és tu”, foi ministrada formação específica a um total de 115 membros da CVP, entre técnicos e voluntários. • Distribuição dos materiais durante as sessões O Gabinete de Juventude procedeu à distribuição, a nível nacional, do material informativo da campanha às Delegações que o solicitaram. Estas solicitações eram feitas mediante uma estimativa do número de jovens que iriam ser abrangidos pelo projecto nas respectivas áreas de influência destas Delegações, tendo em conta a adesão das escolas convidadas à participação. Os materiais informativos destinam-se a ser distribuídos aos jovens envolvidos nas sessões de prevenção / sensibilização, sob a forma de “kits”, cada um destes contendo um copo, três 11

postais e um panfleto . Foram distribuídos 4438 “kits”. • Implementação O arranque oficial do projecto foi dia 25 de Fevereiro do ano corrente, com uma sessão de prevenção / sensibilização que decorreu na Escola Secundária Martins Sarmento do concelho de Guimarães. A última destas sessões decorreu na Covilhã, na Escola Sec. de S. Domingos, no dia 18 de Junho do mesmo ano. Foi portanto este o arco temporal correspondente à fase de implementação do projecto, tendo sido acolhido por um total de 17 Delegações, e implementado em 23 escolas, num total de 134 acções. • Desafio / Concurso Copos Foram recebidos, a nível nacional, de 40 trabalhos para o Desafio / Concurso Copos, nas Delegações CVP de Alijó, Guimarães e Leiria, tendo sido seleccionados, pelas respectivas coordenações JCV locais, 5 trabalhos a serem submetidos à final nacional, 1 de Alijó, 3 de Guimarães e 1 de Leiria. O júri foi constituído por 2 membros do Gabinete de Juventude da CVP, 1 representante do IDT e 1 representante do Barclays Bank. Foi esta última instituição que patrocinou o concurso, através da doação dos respectivos prémios. • Actividades “Espaço Copos” Na presente edição do projecto houve duas escolas que mostraram interesse e dinamizaram as actividades do “Espaço Copos”, a Escola Sá de Miranda de Braga e a Escola EB 2/3 Luís Sttau Monteiro de Lisboa (concelho de Loures), o que demonstrou um elevado grau de envolvimento e interesse pelo projecto. As respectivas estruturas locais da JCV acompanharam o desenvolvimento destas actividades, prestando apoio logístico e técnico, através da presença de voluntários durante a realização das actividades.

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Ver Dossier de Avaliação “Materiais de comunicação”


AVALIAÇÃO • A avaliação desenvolveu-se de forma contínua nos diferentes momentos do projecto. Foi realizada pelo Gabinete da Juventude e pelos técnicos do IDT associados ao projecto, através da informação prestada pelas Delegações locais, que estavam a trabalhar no terreno, e também pelas escolas, que, na sua maioria, acolheram com muito agrado este projecto. • Os dados recolhidos através dos questionários permitiram também avaliar, junto de uma amostra significativa, os níveis de informação e percepção de risco em matéria de consumos de álcool dos jovens portugueses, e consequentemente, a pertinência e o grau de necessidade de projectos de prevenção como o “Copos – quem decide és tu”.

Documentos de referência: • Carta de Missão • Relatório Anuais - A Situação do País em Matéria de Drogas e Toxicodependências • Relatório de Actividades do IDT • Cf. Matos, M., Carvalhosa, S., Reis, C., & Dias, S. (2002). Os jovens portugueses e o álcool. FMH/PEPT/GPT. • International Federation Red Cross and Red Crescent, “Spreading the light of science”, Geneva, 2002, pp. 8 • coord. M. Isabel Machado Baptista e Ângelo Sousa, Consumo de substâncias psicoactivas e prevenção em meio escolar, Ministério da Educação, Lisboa, 2007, pp. 9 e ss • Inquérito Nacional em Meio Escolar, 2006 • European School Survey Project on Alcohol and other Drugs, 2003


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