Revista Quasar #1

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ANO 01 - EDIÇÃO 0- JAN/FEV/MAR 2015

Revista de divulgação científica da Astronomia

Afinal, o que é Matéria Escura? ?

ENTREVISTA

Dermeval Carneiro e o desenvolvimento da Astronomia no Ceará

SATÉLITE

Qual o limite das teorias científicas dos filmes?

HISTÓRIA

A história do Carnaval e a relação com a Astronomia

ASTROLÁBIO

Já pensou em montar um telescópio só seu? A Quasar te ensina!



EDITORIAL

O desafio da divulgação da Astronomia no Brasil Elaborar uma revista de Astronomia não é uma ideia nova. Muitos astrônomos amadores, na ânsia de con­

sumir publicações confiáveis sobre o assunto, se engajaram vo­luntariamente em diversas tentativas de elaborar periódi­

cos que suprissem essa falta no mercado jornalístico. Em 2006, surgiu a Astronomy Brasil, uma replicação brasileira da Astronomy americana, com um forte movimento de divulga­ ção científica da Astronomia. No entanto, a revista encerrou as atividades um ano depois devido a diversos problemas, desde a distribuição até a falta de interesse de anunciantes e baixa adesão de assinantes. Problemas como esses não são incomuns no merca­ do edi­torial, ainda mais para nichos. É necessário, no entanto, insistir em iniciativas que buscam visibilizar a área, sobretudo por causa do desenvolvimento tecno­ lógico e profissional que o Brasil passou na última década. A Revista Quasar nasce da missão de incentivar jo­vens amantes das estrelas, dos astros e, principalmente, da ciência, na incansá­ vel jornada para responder as mais velhas das questões: de onde viemos? Para onde vamos? Voltada especialmente para estudantes de 14 a 18 anos, poten­ ciais participantes da Olimpíada Brasileira de Astronomia (OBA), embora possa atender a interesses de ou- tros, a revista preten­ de estimular esses jovens para que, posteriormente, possam ampliar os estudos para dentro das universidades, desen­ volvendo pesquisas na área de Astronomia e Astronáutica. Quem sabe assim seja possível mobilizar governos, entida­ des e empresas a investir mais recursos neste ramo que tem grande potencial de crescimento no Brasil. Amanda Alboino, editora-chefe

EXPEDIENTE Editor: Amanda Alboino Ilustrações: Amanda Alboino, Débora Santos, Márcio Moreira, Ramon Cavalcante (Capa). Projeto gráfico: Amanda Alboino e Márcio Moreira Textos: Alissa Carvalho (Curtas), Amanda Alboino, Andressa Bittencourt, Gabriela Alencar, Karol de Souza, Nina Ribeiro, Márcio Moreira Revisão: Luís Carlos Sousa Aline Moura Nina Ribeiro Gabriela Alencar Tiragem: 30 exemplares Revista QUASAR quasar.com revistaquasar@gmail.com Instagram: @revistaquasar Facebook: Revista Quasar



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Mapa de Pág ina s ENTREVISTA Dermeval Carneiro Neto

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TECNOLOGIA Top 4: Melhores aplicativos de Astronomia

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HISTÓRIA Feriados astronômicos

AS RT CU

|

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6 -0

| ÁBIO ROL AST 38 | ASTROFOTOGRAFIA40

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Desvendando a Matéria Escura

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SISTEMA SOLAR 2015: o ano do Hubble

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UNIVERSO Medindo a Imensidão

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TERRA Tudo e mais um pouco

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SATÉLITE Ficção quase científica?

AR T I GO S-

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34 40

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CURTAS

Textos científicos do islamismo online Cerca de mil anos da história científica islâmica podem ser acessados online, graças a uma iniciativa de pesquisadores do Qatar e da Grã-Bretanha. São 500 mil imagens, entre mapas, manuscritos, gra­ vações sonoras e fotografias digitaliza­ dos com explicações em inglês e árabe. Além de astronomia, o arquivo contém documentos sobre medicina, filosofia, matemática e inteligência militar, entre outros, organizados na Biblioteca Digital do Qatar: www.qdl.qa/en.

Alunos do ITA lançam satélite

Observação de Plutão teve início em janeiro

Foi colocado em órbita o primeiro satélite de pequeno porte totalmente desenvolvido no Brasil. Ele foi lançado dia 5 de fevereiro a partir da Esta­ ção Espacial Internacional. A Agência Espacial Brasileira (AEB) investiu cerca de R$ 250 mil no desenvolvimento do mo­ delo. O equipamento “cubesat Aesp-14” vai transmitir dados na frequência de rádio amador, mas o objetivo de sua fabri­ cação foi ter um modelo para outras plataformas e capacitar mão de obra para desenvolver outros equipamentos do gêne­ ro. O satélite, que transmitirá imagens relacionadas à ciên­ cia, tecnologia, engenharia e matemática, vai ser testado por integrantes do Clube de Radio­ amadores de Americana (SP). O experimento possui vida útil de três meses e possui formato de um cubo de 10 centímetros de laterais.

Depois de uma jornada de nove anos e cerca de 4,9 bilhões de quilôme­tros, a sonda robótica New Horizons começou a obser­ vação científica de Plutão e dos outros corpos do Cinturão de Kui­ per no dia 15 de janeiro. A distân­ cia mais próxima ao planeta anão será de 13.700 quilômetros, em 14

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de julho. Muitos dados importan­ tes são esperados até lá: em maio, a NASA deve receber imagens melho­res do que as proporciona­ das pelo Telescópio Hubble. Na velocidade da luz, a transmissão da sonda leva pouco mais de qua­ tro horas para chegar a Terra.

NASA

Simulação da New Horizon sobre Plutão


AEB

Unicamp e INPE vão desenvolver atividades conjuntas

Montagem do satélite CBERS-3, lançado em dezembro de 2013

Imagens do CBERS-4 disponíveis em março Lançado em dezembro de 2014, o satélite de sensoriamento re­ moto passa agora por testes que devem durar três meses. Após o fim desse período, as imagens estarão disponíveis gratuita­ mente no site www.dgi.inpe.br/ CDSR. As fotos têm aplicações

em diversas áreas, como moni­ toramento ambiental e agríco­ la e planejamento urbano. O CBERS é fruto de uma parceria entre Brasil e China, que funcio­ na desde 1988 e já lançou cinco equipamentos do tipo.

Assinado pelas duas ins­ tituições no fim de 2014 e com vigência de cinco anos, o protocolo de inten­ ções tem como objetivo promover ativi­dades de pesquisa e a disseminação de seus resultados, além de intercâmbio de docen­ tes, estudantes e pesquisa­ dores. A parceria é voltada principalmente para a área de política e gestão da inovação no setor aeroes­ pacial. INPE e Unicamp já realizaram em conjunto outros estudos sobre aná­ lise espacial. Quasar 7


FOTOS: LUIZA CAROLINA FIGUEIREDO

ENTREVISTA

Incentivo à Astronomia cearense O diretor do planetário Rubens de Azevedo falou à QUASAR sobre a importância de equipamentos públicos para popularizar a Astronomia no Brasil.

N

atural de Massapê (CE), Dermeval Carneiro Neto sempre foi apaixonado pelo céu e pelos astros. Formou-se em Física pela Universidade Federal do Ceará e se rendeu de vez à Astronomia ao ver os anéis de Saturno pelo telescópio de Rubens de Azevedo, astrônomo de destaque internacional o qual foi sua grande fonte de conhecimento. Os anos de con­ vivência com o ídolo transformaram Dermeval em professor de Astronomia e logo formou clubes de curiosos pelo tema, projetou cúpulas em colégios de Fortaleza e, em sua corrida para difundir a ciência no Ceará, foi um dos responsáveis por convencer a gestão de Ciro Gomes (1991-1994) a incluir um planetário no projeto arquitetônico do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, em vez de um aquário, e é lá onde está até hoje, como diretor do equipamento. Ao todo, são mais de 30 anos de carreira, promovendo congressos aca­ dêmicos, palestras e oportunidades para reunir amantes da Astronomia, de crianças a adultos. Lembrando que vendeu um fusca para comprar seu primeiro telescópio, Dermeval Carneiro diz o que você, leitor, pode fazer para se tornar um astrônomo.

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QUASAR - De onde veio seu interesse pela Astronomia? Quando eu tinha seis anos, eu tinha aque­ le atlas que hoje não se encontra mais por aí, a não ser em museus ou bibliotecas an­ tigas, chamado Melhoramentos, e nele eu vi desenhos de planetas. Eu dizia “eu que­ ro ser cientista, astrônomo”, porque eu gostava daquelas coisas. O tempo passou e, com 17 anos aproximadamente, eu li no jornal a notícia “Rubens de Azevedo volta para o Ceará”, e eu lembrei que os dese­ nhos que eu via no atlas tinham a assina­ tura “R. Azevedo”. Certa vez o Rubens de Azevedo foi dar uma palestra na Juvenal Galeno, vizinho ao Theatro José de Alen­ car. Como eu queria conhecê-lo, fui assis­ tir à palestra. Nessa noite, eu fiz algumas perguntas e nós começamos a conversar, conversar, conversar, e descobrimos que


ele morava a poucas quadras de onde eu morava. Fomos para a casa dele. Ele pegou um telescó­ pio ao lado de outro telescópio que apontava para outro lugar no céu e apontou (o primeiro) para a lua. Ele me disse que eu não me­ xesse nesse segundo telescópio e saiu para pegar um café. Eu já ti­ nha visto a lua antes e, como sou curioso, enquanto ele foi pegar o café eu olhei pelo outro teles­ cópio. Fiquei uns minutos sem voz porque eu vi Saturno com seus anéis, e a partir daí nunca mais larguei a Astronomia. Ele (Rubens de Azevedo) foi meu mestre, meu tutor, meu segun­ do pai, orientador, foi tudo pra mim. Ele tinha mais de mil livros de Astronomia, de Geografia, de História, e telescópios. Com ele me aproximei da Astronomia, me tornei astrônomo amador. Por isso que quando o Governo do Estado (do Ceará) me chamou pra ins- talar o planetário do Ce­ ará, eu quis colocar o nome dele como patrono, mas porque ele foi o primeiro a ter a ideia de um planetário no Ceará, na década de 1980, e eu fui assistente dele nesse projeto.

QUASAR - Como tem sido sua atuação? Eu me tornei astrônomo amador, depois me inscrevi em cursos e palestras, escrevi artigos, partici­ pei de congressos fora do Brasil, porque aqui não tem curso de As­ tronomia, por isso nós somos as­ trônomos amadores. Existem asso­ ciações e encontros de Astronomia pelo Brasil ligados à USP (Universi­ dade de São Paulo) e UFRJ (Univer­ sidade Federal do Rio de Janeiro), que oferecem cursos, mas não são de graduação. Na maioria das vezes se faz um curso em Física ou Matemática e mestrado e douto­ rado em Astronomia. Na minha época, fiz curso de Física e estudei Astronomia à parte, porque eu tive um mestre com mais de 2.000 livros de Astronomia (o astrônomo Rubens de Azevedo). Ele (Azevedo) me dava a parte cultural, concei­ tual e eu tinha a base científica. Hoje eu falo, escrevo, publico, dou curso, dou palestra, ensino sobre qualquer assunto da Astronomia, mas o que eu aprendi foi de cursos e leituras. Depois eu passei a dar cursos e montar clubes em escolas da cidade. Se você viajar pelo Cea­ rá vai encontrar nove cúpulas. Eu

“Foi com o advento dos planetários no Brasil que a coisa tomou um rumo na popularização da ciência e da tecnologia, mais especificamente da Astronomia”.

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montei observatório em vários colégios da cida­ de. Montei também em Sobral e em Limoeiro a partir de parceria com empresários. Eu fiz pro­ jetos de cúpulas para residências também. Promovi difusão do ensino e popularização do ensino de Astrono­ mia no Estado. Rubens e eu viajávamos para o interior com telescópio, passando por agremia­ ções, clubes. Tínhamos essa rotina, fizemos vários trabalhos juntos. Hoje já se vão 37 anos de atuação na área. QUASAR – Que avaliação o senhor faz do interesse pela Astronomia aqui no Ceará e no Brasil atualmente? Houve uma melhora muito grande porque naquela época (anos 1980 e 90) estudar As­ tronomia no Brasil era algo raríssimo. Poucas pessoas iriam querer. A primeira dificuldade estava em pensar no mercado de trabalho, porque não existia. Ain­ da hoje é complicado, mas houve uma evolu­ ção nos últimos 15 anos. Basicamente eu posso dizer que foi com o advento dos planetários no Brasil que a coisa tomou um rumo na po­ pularização da ciência e da tecnologia, mais especificamente da As­ tronomia. Por causa de 10 Quasar

muita luta. Eu organizei vários encontros nacionais, por exemplo.

“O Brasil está se destacando em pesquisas em Astrofísica, mas só pra empatar com os Estados Unidos nós precisamos de 64 mil doutores.” QUASAR - O que um jovem deve fazer para se tornar astrônomo? Precisa ter muito inte­ resse, porque é neces­

sário ter muita cultura. Aqui (Brasil) ele tem que cursar Física, Matemá­ tica ou alguma Enge­ nharia e depois fazer mestrado em Astrono­ mia na UFRN (Univer­ sidade Federal do Rio Grande do Norte), ou cursar graduação em Astronomia na UFRJ ou USP. Depois de forma­ do, ele pode ser acadê­ mico ou fazer pesquisa, mas normalmente a pessoa tem que ir até o doutorado ou pósdoutorado para isso. Outros países investem bilhões e bilhões de dólares no setor. Hoje já temos grandes grupos de pesquisa brasileiros que integram o ESO, um dos maiores observató­ rios do mundo. O Brasil está se destacando em pesquisas em Astrofísi­ ca (ramo da Astronomia

que lida com a Física do Universo), mas só pra empatar com os Estados Unidos, nós precisamos de 64 mil doutores. QUASAR – O que podemos esperar para o futuro da Astronomia no Ceará? Há algum projeto em vista? Vamos inaugurar mais um planetário por volta de fevereiro deste ano, em Sobral. Temos também um projeto para Caucaia, mas para esse planetário ainda falta muito, será instalado nos próximos anos. A minha ideia é fazer uma capilaridade no Estado: se você traçar uma linha de Fortaleza cruzando o Ceará até a metade dele, mais ou menos até Crateús, na parte de cima está bem abastecido, porque vai


ter planetário em Sobral, tem ob­ servatório em Tianguá, tem em Caucaia, montado por mim. Mas no centro do estado, no centrosul, não tem. Tem movimento, tem clubes, mas precisa de teles­ cópios, precisa de planetários. Minha ideia é colocar pelo me­ nos mais três planetários. Se eu colocar um planetário no centro do estado, para atingir regiões como Qui­xeramobim, Quixadá, Sertão Central e Inhamuns, eles não precisam vir à Fortaleza. Se­ ria um na região leste, pegando todo o vale do Ja­gu­aribe e outro no sul, próximo ao Geoparque do Ara- ripe, em Santana do Cariri, um dos maiores geoparques do mundo de fósseis. Então, nin­

guém precisaria vir de Barbalha a Fortaleza para ir a um plane­ tário. A gente sabe que o Estado (CE) tem outras prioridades e pla­netários são caros, têm manutenção... Mas também não é por isso que nós vamos dei­ xar de crescer. Porque isso traz crescimento, traz turismo, traz mais educação, mais desenvolvi­ mento. Afasta a possibilidade da criança se envolver com drogas, por exemplo, porque ela pode ser monitora no equipamento. Há uma importância social muito grande, não é só espetáculo. Planetário é educação, difusão, entretenimento, museu, mas ele promove inclusão sócio-educati­ va, tem uma importância social. Nina Ribeiro

Visite o Planetário Sessões de quinta a domingo, a partir das 17h. Confira a programação em dragaodomar.org.br/planetario Mais informações: (85) 3488-8639 planeta@dragaodomar.org.br

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TECNOLOGIA

Top 4: Melhores aplicativos de Astronomia Há todo tipo de apps, desde os que ajudam a localizar um objeto no céu, até quizes para testar os conhecimentos na ciência.

O trabalho do astrônomo exige precisão, concentração e cálculos para medir angulações e distâncias de estrelas, co­ metas, constelações, planetas etc. Entretanto, na atual era de smartphones e tablets, essas tarefas puderam ser facilitadas graças ao desenvolvimento de aplicativos (apps) que auxiliam nos afazeres do dia a dia. Por isso, listamos aqui os quatro melhores aplicativos gratuitos e em português de Astronomia que possam ajudar nas observações celestes em casa.

Star Chart/Carta Celeste

Google Sky Map

Software: Android e iOS Esse aplicativo é um dos mais completos em termos de recursos. Através da função de GPS do seu celular ou tablet, o programa consegue localizar para quais constelações o usuário está apontando o dispositivo e, assim, é possível visualizar a localização de objetos celestes. Nele também é possível encontrar informações sobre planetas, nebulosas, galáxias, constelações. Há ainda uma versão paga do aplicativo que envia informações sobre chuvas de meteoros, passagem de satélites, entre outros.

Software: Android O Google desenvolveu um aplicativo para visualizar objetos celestes à medida que apontamos o celular na direção do céu, tal como o app Star Chart. A principal diferença entre eles é que o Google Sky Map possui funções mais limitadas, embora funcione bem para quem só deseja saber a localização e o nome de astros. As principais vantagens do aplicativo é que ele é leve, possui design intuitivo e modo nortuno para evitar ofuscamento dos olhos enquanto o usuário observa o céu à noite.

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Para fazer download desses e outros aplicativos, acesse a App Store (iOS)e o Google Play.

Simulado OBA

SkEye

Software: Android e iOS O aplicativo da Olimpíada Brasileira de Astronomia (OBA) é um quiz de perguntas que já caíram em provas passadas. Ao acessar o app, o usuário se depara com questões de múltipla escolha e uma contagem de tempo regressiva para dar a resposta correta. Existe também versões do aplicativo de acordo com os níveis das provas da OBA, sendo o Nível I voltado para estudantes do 1º ao 3º ano do ensino fundamental; Nível II para os que estudam do 4º ao 5º ano; Nivel III, destinado aos alunos do 6º ao 9º ano; e o Nivel IV para alunos do Ensino Médio. Apesar de ter como público-alvo estudantes da olimpíada, o app também serve para testar os conhecimentos em Astronomia de qualquer usuário.

Software: Android e iOS Para quem observa os astros utilizando telescópios, esse app pode ser bastante útil. O SkEye foi desenvolvido para auxi­liar astrônomos a alinhar equipamentos com os objetos observados. Para isso, basta fixar o celular ou tablet no equipamento e direcionar para onde quiser, já que ele localiza a posição do usuário também por GPS. Na tela do programa, há círculos que facilitam o alinhamento do “alvo” a ser observado. Outra vantagem é que o app informa dados importantes de localização para estudo dos astrônomos como tamanho, distância e coordenadas. Nele também é possível ativar o “modo noturno”, assim como pode-se observar o deslocamento de objetos através da função “máquina do tempo”. Amanda Alboíno

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HISTÓRIA

Feriados astronômicos Se você nunca ligou para Astronomia, ou acha uma ciência muito distante do dia a dia, saiba que ela tem tudo a ver com os feriadões.

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A

ssim que terminam os fogos de artifício, celebrando o ano novo, os foliões de carteirinha já procuram o calendário mais próximo para saber a data do Carnaval. Isso porque, diferente de outros feriados do ano, ele não tem data fixa para acontecer. Pensando melhor, nem mesmo a Páscoa tem data programada. O que a Astronomia tem a ver com isso? Bem, a chave do mistério está na Lua. Breve história do calendário Um dos primeiros calendá­ rios que se tem notícia veio da Mesopotâmia com doze meses lunares (um mês lunar é contado do primeiro dia da Lua Nova até o primeiro dia da próxima Lua Nova), de 29 ou 30 dias. O ano tinha então 354 dias, ficando atrasado em relação ao calendá­ rio solar (que leva em considera­ ção o movimento aparente do sol pela linha do Zodíaco), por isso os mesopotâmicos acrescentavam um mês extra para acertar a de­ fasagem. O primeiro calendário solar com 365 dias é atribuído aos egípcios, feito em 3.000 anos a. C.


com esses 10 dias do calendário. Então, por determinação da bula papal, quem foi dormir no dia 5 de ou­tubro de 1582 acordou dia 14 do mesmo mês.

Em nosso calendário, o gregoriano, um ano dura exatamente 365 dias, 5 horas, 49 minutos e 12 segundos. Assim, pelo atual calendário gregoriano, o ano passou a ter 365 dias, 5 horas, 49 minutos e 12 se­ gundos. Essa pequena diferença também tem outras implicações, que não cabe mencionar agora.

Muitos calendários foram feitos influenciados também pela religião e costumes, motivo pelo qual alguns países, como a China, comemoram o ano novo em data diferente do dia 1º de ja­ neiro. Lá os astrônomos não dor­ mem no ponto, já que o ano novo é calculado na noite da Lua Nova mais próxima do dia em que o sol passa pelo décimo quinto grau da constelação de Aquário (ufa!). Assim o primeiro dia do ano chinês não tem data fixa, assim como o nosso Carnaval. E o Carnaval? O Carnaval, na verdade, está intrinsicamente ligado à Páscoa, que é comemorada na primeira Lua Cheia depois do dia 21 de março. Esse dia marca o início do equinócio (outono no hemisfério

DOMÍNIO PÚBLICO

Nosso atual calendário tem forte influência romana com os pitacos do imperador Júlio César, motivo pelo qual esse calendário também é conhecido como juliano. Foi César quem determinou que o primeiro mês seria janeiro, uma derivação de Janus, deus associado à origem do universo e comandante das portas dos ciclos do tempo. Outros nomes de meses do ano, aliás, também advêm de deuses romanos e imperadores, como março (Marte, o Deus da Guerra) e Julho (homenagem ao próprio César). Mas foi o papa Gregório XIII que se debruçou sobre o calendário juliano, junto de astrônomos, para corrigir al­ guns defeitos, como a defasagem de 10 dias do início da primave­ ra. Para isso, era preciso sumir

Calendário egípcio nas paredes do templo de Kom Ombo, no Nilo.

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DOMÍNIO PÚBLICO

Durante a Revolução de 1793, os franceses criaram seu próprio calendário, que seria usado até 1805. A ilustração de Philibert-Louis Debucourt adorna a edição de 1794.

sul e primavera no hemisfério norte), quando os dias e as noites possuem a mesma duração. Não é coinci­ dência que a palavra Páscoa venha do judaico pesah, que significa “passagem ou travessia”, em referência à história bíblica da fuga dos hebreus do Egito e, por isso, um novo começo. Antes disso, povos antigos do hemisfério norte já cele­bravam essa data como uma comemoração do fim do inverno e chegada da primavera. O Carnaval em si não tem origem certa, então o que temos são hipóteses. Acredita-se que era feste­ jado desde a antiguidade para celebrar o solstício de inverno (21 de dezembro) e anunciar a vinda da primavera, início da fecundidade. O fato é que os romanos realizavam festas durante o mês de dezem­ bro em homenagem ao deus Saturno, as chamadas saturnálias. Tais comemorações se assemelhavam ao Carnaval que conhecemos, já que, nesse período, os papéis sociais eram invertidos e distinções sociais não eram levadas em conta. Essa tradição persiste até hoje quando vemos, na folia, homens vestidos de mulheres e pessoas comuns fantasiadas de políticos 16 Quasar

ou artistas, independente de classe social. Todo esse festejo era tão popular que, no advento do Cristianismo, a Igreja Católica se viu obrigada a abraçar a saturnália, ao mesmo tempo em que buscou santificá-la. Com o objetivo de redirecionar os fiéis das festas pagãs, o nascimento de Cristo foi fixado no dia 25 de dezembro a partir do século IV e a festa, que ganhou o nome de Carnaval (do latim Carnevale, ou “adeus à carne”), passou a ser comemo­ rada nos últimos dias antes da quaresma, período de penitência e restrições que precede a Páscoa. E você achando que Carnaval era só uma festi­ nha à toa, hein? Amanda Alboíno

Para saber mais O Livro de Ouro do Universo Autor: Ronaldo Rogério Freitas Mourão. Editora Ediouro.


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PRINCIPAL

Decifrando a

matĂŠri a escura

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Embora nunca tenha sido observada diretamente, não dá dúvidas sobre a atuação da matéria escura no cosmo, um dos maiores mistérios do universo

G

aláxias são compostas por incontáveis estrelas, que giram a uma velocidade gigantes­ ca. A rapidez com que as estrelas orbitam o centro da nossa queri­ da Via Láctea, por exemplo, é tão grande que elas já deveriam ter vencido a atração gravitacional do núcleo da galáxia e terem sido “jogadas” universo afora. Para isso não ocorrer, é preciso haver massa suficiente para gerar um campo gravitacional forte o bastante. O problema é que as galáxias apresentam pouca mas­ sa em comparação à veloci­dade com que se movem. Os cálculos não batem. A descoberta foi feita nos anos 1930 pelo cientista suíço Fritz Zwicky (1898 –1974). “Ele observou que para que os aglo­

merados estelares tivessem de fato aquela velocidade deveria haver uma massa maior,” expli­ ca o professor do Ins­tituto de Física da Universidade Fe­deral do Rio de Janeiro (UFRJ), Miguel Quartin. Onde estaria então a mas­ sa res­ponsável por manter as galáxias coesas? Zwicky concluiu que deveria haver algo mais no espaço. Esse “algo mais” era uma espécie de “massa faltante” e não podia ser visto. “Como essa mas­ sa nem reflete, nem emite luz, foi dado a ela o nome de matéria escura, mas também poderia ser chamada de matéria invisível, ou transparente. Se a matéria escu­ ra absorver luz, provavelmente é uma fração infinitesimal”, completa Quartin. Quasar 19


Objeto

Fonte de gravidade

A matéria escura pode estar aqui

Trajetória da luz sofre desvio, possivelmente causado por Matéria Escura. Você, eu e esta revista somos matéria “normal”, ou bariônica: formada por átomos, mas ainda não se sabe do que é constituída a matéria escura. Consegue-se detectar a existência dela indi­ retamente, por meio da gravi­ dade que exerce sobre a matéria bariônica. De acordo com o professor do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), Martín Makler, a matéria escura pode ainda pos­ suir a chamada interação nuclear fraca. “Nessa forma de interação, uma partícula de matéria escura pode ‘colidir’ com um núcleo atô­ mico, por exemplo, e fornecer energia a ele. Esse processo a tor­ na detectável em experimentos de laboratório”, explica. Segun­ do ele, as pesquisas baseadas na interação nuclear fraca da matéria escura avançaram nos últimos anos. “Existem diversos ‘detectores de matéria escura’ 20 Quasar

Observador

Trajetória da luz desviada em laboratórios espalhados pelo mundo,” diz. O Brasil não possui tecnologia para buscar matéria escura em laboratório, mas há pesquisa­ dores brasilei­ros participando de experimentos liderados por outros países. “Essa área de pes­ quisa tem sido extremamente ativa, especialmente nos EUA e em países da Europa. Têm sido feitos desde estudos teóricos até observações astronômicas, além de experimentos”, diz Makler. Mas nem mesmo o LHC (Large Hadron Collider ou Grande Colisor de Hádrons, na tradução), mais podero­so colisor de partículas já desenvolvido, foi capaz de observar diretamente a matéria escura. Outra forma de buscar evi­ dências se baseia no fenômeno das lentes gravitacionais previs­ tas pela Teoria da Relatividade de Albert Einstein (1879 –1955).

Lentes gravitacionais são um fenômeno que ocorre quando a luz passa por um campo gravitacional e é desviada


ILUSTRAÇÕES: MÁRCIO MOREIRA

Do que é feito o

Lentes gravitacionais são um fe­ nômeno que ocorre quando a luz é desviada por um corpo massi­ vo. Funciona assim: a luz emitida por uma estrela segue uma traje­ tória, mas, se essa luz é desviada, é possível estimar a quantidade de matéria res­ponsável pelo desvio entre o observador e o objeto avistado. Todos os obje­ tos dotados de massa exercem força gravitacional, logo, se há gravidade causando desvio na luz, existe massa naquele espaço observado. Se a massa causadora da distorção não pode ser vista, possivelmente trata-se de maté­ ria escura. Mas de que a matéria escura é constituída? Os candidatos mais famosos a serem partículas dela são os Wimps (Weak Interacting Massive Parcticle) – partícu­ las massivas subatômicas que interagem fracamente – e os axions. Estes podem estar sendo produzidos no interior do Sol. Já foi registrada interação de axions com o campo magnético da Terra. “Wimps e axions são um nome geral, são mais categorias de partículas do que partículas em si. A di­ferença entre ambos é que o segundo é leve e o primei­ ro é massivo, pesado”, detalha Quartin. A maior parte do universo é desconhecida Por muito tempo, acredi­tou-se que a força gravitacional da maté­ ria que constitui o universo esta­ ria impedindo-o de se expandir.

UNIVERSO

70% Energia escura

26% Matéria escura 4% Nós

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ILUSTRAÇÃO: RAMON CAVALCANTE

Matéria escura e Buraco negro, nada a ver... De parecido, eles só têm o nome. Enquanto a gravidade do buraco negro é capaz de puxar tudo que se aproxima dele – inclusive a luz, razão pela qual não pode ser visto no espaço – a matéria escura não “engole” corpos ou partículas, mas é responsável por mantê-los coesos, por meio da gravidade que exerce. Como não emite, nem absorve luz ou radiação eletromagnética, a matéria escura não é vista.

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Porém, desde 1929, sabe-se que o cosmo está se expandindo. Em 1998, descobriu-se que essa expansão está ocorrendo acelera­ damente. Acredi­ta-se que a energia escura, uma forma de energia não luminosa, é a força res­ponsável pela aceleração. Enquanto a matéria está associada a uma força gravitacional atrativa, que tende a tornar a expansão mais lenta, a energia acelera esse processo, afastando as galáxias umas das outras. Não se sabe, porém, a que velocidade ou se em algum momento essa expansão vai acabar ou retroceder (Big Crunch). “A energia escura é algo totalmen­ te diferente da matéria escura. Trata-se de um nome genérico para a possível força causadora da expansão acelerada do uni­ verso, mas não se sabe ainda o que exata­ mente ela é”, diz o físico Miguel Quartin. Calcula-se que o universo seja cons­ tituído de 69% de energia escura, 26% de matéria escura, e aproximadamente 5%, de matéria “normal”. “A razão entre matéria normal e escura varia de uma galáxia para outra. Em geral, há sempre mais matéria do que se vê”, comenta Quartin. De acordo com o físico Martín Makler, a forma como se entende o Universo hoje depende muito da existência da matéria e da energia escura. “Observá-las de forma direta seria ao mesmo tempo uma revo­ lução – pela detecção de formas novas de matéria e energia – e uma corroboração de nosso modelo atual de Universo”, aponta. O fato é que ainda estamos bem longe de saber de que é constituído o universo. Tudo que conhecemos são apenas 5% do cosmo. Além de sermos um pontinho no universo, não sabemos quase nada sobre ele. A ciência contemporânea tem um gigantesco desafio a travar. Gabriela Alencar

Matéria x Energia Tudo que ocupa espaço e tem massa é chamado de matéria. Incluem-se nessa definição todos os materiais que constituem o universo, estejam eles em estado sólido, líquido ou gasoso. Já a energia não ocupa espaço, não possui massa e pode provocar transformações na matéria ou causar sensações. Nossos corpos, por exemplo, são capazes de perceber formas de energia sonora, térmica, entre outras. Energia e matéria não podem ser criadas ou destruídas, seguem um ciclo sem princípio ou fim. Quasar 23


SHUTTERSTOCK

SATÉLITE

e s a u Q o ã ç c i F Científica? sim como os filmes as e, il as Br no ou tre es ar Interestel , nos , Uma Odisseia no Espaço 01 20 e 13 lo ol Ap o, at nt Co tre ciência e ficção? en r ia lim o al qu r: na tio es fazem qu

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contam histórias (1968), Apollo 13 (1995) e Interstellar (2014). Os filmes De cima para baixo: 2001, uma odisséia no espaço s científica teorias em explorando o espaço, com roteiros inspirados

F

erramenta que materializa a ima­ginação e a compartilha com o mundo, o cinema frequen­ temente é escolhido por rotei­ ristas e diretores aficionados em ciência para pôr em prática estudos e teorias na área. Ou pelo menos tentar. Em muitos os casos, com o apoio de estudiosos da física, química e astronomia, os efeitos especiais alcan­çam resultados bem próximos à realidade. Livros e filmes de distopias estão aí para saciar a sede exis­ tente sobre o desconhecido e especulado mundo futurístico. Mas o questionamento é: será que eles “viajam” demais? Qual o limite entre ficção e ciência? Po­ demos aprender com filmes de ficção científica? Até que ponto? Imagens de buracos negros, postulados da teoria da relativi­ dade e da constância da velocida­ de da luz, exoplanetas, buracos de minhoca e outros fenômenos físicos fizeram parte do filme In­ terestelar, lançado em novembro do ano passado. Com sequências de efeitos especiais e uma rotei­ rizarão quase sem furos, o longa trouxe um conteúdo que não é

do ser humano

tão claro para o grande público, e foi bem sucedido. Sem gravidade Apesar da liberdade criativa, há quem afirme que é possível en­ sinar ciência por meio das telas cinematográficas. Segundo o físico e professor Carlos Eduardo Fiolhais, amante da sétima arte, em sua maioria, essas obras não abandonam a lado verídico. “A brincadeira com o possível existe e, se eu não me engano, com ajuda de astrônomos e físicos renomados. É como se trocas­ sem o ‘e se isso fosse possível?’ pelo ‘isso é possível, mas e se acontecesse?’”. O professor crê que, devido a essa lógica, o lado educativo se torne mais forte. “Com uma grande carga de con­ teúdo, explicados em sequências de imagens de alta qualidade e com um enredo fácil de digerir, permitem também que o grande público assimile conteúdos den­ sos e básicos da física”, comenta Carlos Eduardo. A obra tenta seguir a ciência sempre que possível, ainda que se baseie em um enredo fictício. Em Interestelar, o diretor Chris­

topher Nolan conta com imagens elegantes para mostrar a viagem épica de um grupo responsável por localizar possíveis planetas habitáveis para tentar salvar a população do planeta, que se encontra entregue ao caos. Com a ajuda do físico Kip Thorne, que também participou na produção de Contato, o longa explica, em 2h49 minutos, a Relatividade Geral de Einstein, Buraco Negro em Rotação (Kerr), Exoplanetas e Cilindro de O’Neill, por exem­ plo. O que já é muita coisa para quem não está acostumado com a temática. Para a estudante de Astro­ nomia da UFRJ, Ana Carolina Posses, os filmes possuem liber­ dade de criação, mas, por serem uma forma de educar, podem contribuir para mistificar temas facilmente explicados para a so­ ciedade sem instrução. “ No caso de Nolan, ultrapassou a barreira de enredo limitado pela ciência. O filme é rico e cientificamen­ te não está errado. E um dos pontos mais notáveis do filme é a ausência de seres alienígenas, monstros ou criaturas exóticas”, diz a estudante. Karol Rodrigues Quasar 25


Um pouco da física por trás do filme Interestelar Buracos-minhocas foram previstos teoricamente, mas nunca observados na prática pela ciência. O fenômeno é um desdobramento da teoria da relatividade especial de Albert Einstein (1879-1955), uma ruptura no espaço-tempo que criaria um túnel ligando dois pontos afastados do universo.

Eletro­dinâmica é a parte da física que estuda a energia elétrica em movimento.

Gravidade

é a força de atração que existe entre todas as partículas com massa no universo. Do ponto de vista prático, é o que confere peso aos objetos e faz com que caiam ao chão quando são soltos.

Relativitidade é a teoria em que os efeitos da gravitação são integrados, surgindo a noção de espaço-tempo curvo. Em suma, a ação da gravidade na dilatação no tempo.

Exopla­netas são plane­tas que orbitam outras estrelas e não o sol.

26 Quasar DIVULGAÇÃO (WARNER)


Quasar 27


TERRA

TUD

em

28 Quasar


ILUSTRAÇÕES:DÉBORA SANTOS

DO

mais um pouco O papel dos astrônomos e da Astronomia no dia a dia da área

Quasar 29


A

s estrelas sempre causaram fascínio. Desde o tempo das cavernas, o homem olha para o céu. Entender os astros, além de deslumbrante, sempre foi uma questão de sobrevivência. Na pré-história, por exemplo, o conhecimento sobre o comporta­ mento do sol e da lua levou as tribos a determina­ rem direções a seguir e perceberem as estações do ano, o que posteriormente influenciou o sedentaris­ mo, uma vez que ia se descobrindo a melhor época de plantar e colher os alimentos. Mas, como a Astronomia influencia a con­ temporaneidade? “Em praticamente tudo” é o que diz o professor Tasso Augusto Napoleão, 65, engenheiro químico pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo e astrônomo amador. Para ele, embora o estudo dos astros não pareça assunto do dia a dia, ele está presente em quase toda a rotina do ser humano. “O tempo sempre foi estipulado em dados astronômicos. Os celulares, computadores e dis­ positivos de comunicação dependem de satélites que estão em órbita, graças às leis de movimento astronômico descobertas por [Johannes] Kepler”. A Astronomia é a ciência mais antiga que se tem registro. Os primeiros astrônomos surgiram há cerca de 12 mil anos nas regiões da Mesopotâmia 30 Quasar

(com os sumerianos e os babilônicos), Egito, Euro­ pa e Ásia (Índia e China). Amador x profissional Nos primórdios, qualquer pessoa que estudasse o céu podia ser considerado astrônomo. Hoje em dia, o título passa pela divisão entre profissional e amador. O professor Tasso explica que a diferença é baseada, essencialmente, pelo critério acadêmi­ co. Profissionais têm diploma universitário em Astronomia, enquanto amadores desenvolvem seus estudos ao longo dos anos através de leituras, cursos, observações e discussões. Embora teoricamente difere­ntes, os astrôno­ mos profissionais e amadores trabalham de forma complementar. Como os fenômenos estelares precisam de cobertura o ano inteiro para que as medidas dos cálculos sejam coletas, e os observató­ rios têm um enorme fila de espera, os profissionais se utilizam dos dados coletados pelos astrônomos amadores, que geralmente são donos dos equipa­ mentos que utilizam. Seguindo essa dinâmica, vários astrônomos amadores já participaram de importantes desco­ bertas, como no caso do trio mineiro que descobriu


o primeiro cometa “brasileiro”, o C/2014 A4 Sonear, em janeiro de 2014*. De acordo com o professor de História e tam­ bém astrônomo amador George Yure de Andrade Castro, 40, outra dife­rença entre os astrônomos é o alcance das varreduras espaciais. “Devido, principalmente ao equipamento, os amadores se restringem mais aos fenômenos próximos à Terra, enquanto os profissionais observam além do Siste­ ma Solar”. Para Yure, é também mérito dos astrônomos amadores as primeiras descobertas, a criação de equipamentos científicos e de entretenimento sobre Astronomia. “Por exemplo, no Ceará, o res­ ponsável pela criação do planetário foi o Rubens de Azevedo e os observatórios tiveram a colaboração de Dermenval Carneiro”. Luiza Carolina Figueiredo *Cristóvão Jacques, Eduardo Pimentel e João Ribeiro estavam em um observatório particular em busca de objetos próximos à Terra quando se depararam com algo que parecia um asteróide. Tiraram fotos do evento e encaminharam para o Minor Planet Center (Centro de Planetas Menores) da União Astronômica Internacional (IAU, na sigla em inglês) para que fosse confirmada a existência por outros astrônomos.

Como se tornar um astrônomo amador Para se tornar um astrônomo amador é preciso bastante determinação e paciência. Antes mesmo de se estar apto a pegar em um telescópio e apontar para o céu, são necessários também muita leitura e estudo sobre o assunto. Com um conhecimento básico sobre Astronomia, é chegada a hora da observação, primeiramente a olho nu, para reconhecer constelações. Em seguida, faz-se o uso de binóculos para só então começar as observações a partir de um telescópio pequeno.

Curiosidade O patrono da Astronomia brasileira foi D. Pedro II. Devido ao seu entusias­mo à ciência, o dia de seu aniversário, dia 2 de dezembro, foi instituído como Dia Nacional do Astrônomo. Quasar 31


SISTEMA SOLAR

2015 O ano do Hubble

Com o objetivo de visualizar e entender as origens do Universo, o Telescópio Hubble foi lançado ao espaço na década de 1990. Em 2015, o Hubble completa 25 anos em órbita e está prestes a se aposentar A visualização das primeiras galáxias do Universo, a evi­dência de buracos negros e o descobri­ mento do ainda inexplicável fenô­ meno chamado “energia escura” são algumas das contribuições tra­zidas pelo Telescópio Espacial Hubble, que completa, em 2015, 25 anos. Lançado ao espaço em 24 de abril de 1990, a uma altitude de cerca de 600 km da Terra, o teles­ cópio ganhou o nome em home­ nagem ao astrônomo americano Edwin Hubble, que mostrou que as manchas difusas de luz no céu à noite eram, na verdade, outras galáxias distantes da nossa e provou que o Universo estava se expandindo. Logo em seguida ao lançamen­ to, entretanto, descobriu-se uma falha no polimento do espelho principal do Hubble, que causava distorção nas imagens captadas.

32 Quasar

Em 1993, astronautas instalaram lentes corretivas e só então as ima­gens do Universo puderam ser captadas com clareza. Conheça algumas das des­ cobertas feitas pelo Telescópio Hubble:


A idade do Universo

Expansão do Universo

Hubble realizou o estudo de 31 cefeídas (estrelas pulsantes com brilho inerente), ajudando a determinar a taxa de expansão em curso e a idade do Universo. O telescópio, com o estudo do brilho das estrelas, fixou a idade em 13,7 bilhões de anos, com uma margem de erro de algumas centenas de milhões de anos.

Com a observação da distância das galáxias por meio das Supernovas, foi possível infe­rir que a expansão do Universo está cada vez mais acelerada, como se algo a estivesse impulsionando – a chamada “energia escura”. Os cientistas, porém, ainda não sabem o que isso significa.

Planetas extra-solares

Hubble foi capaz de aprofundar os estudos sobre o movi­mento dos planetas fora do sistema solar. O telescópio fez as primeiras medições da composição dos planetas em torno de outras estrelas, encontrando atmosferas contendo sódio, carbono e oxigênio, e constatou a primeira molécula orgânica em um extrasolar: metano na atmosfera de um planeta do tamanho de Júpiter.

Visualizações profundas

Em 1995, o Hubble foi capaz de captar imagens de cerca de 3 mil galáxias, em uma faixa do espaço da constelação de Ursa Maior. A imagem foi chamada de Campo Profundo do Hubble. O Campo Ultra Profundo do Hubble é a imagem mais profunda do Universo tirada em luz visível, vendo o passado de mais de 13 bilhões de anos atrás em cerca de 10 mil galáxias.

Descobertas

Para saber mais Hubble: Segredos do Espaço Documentário: Discovery Channel Link: http://bit.ly/1BQoFgb

Hubble descobriu que quase todas as galáxias com centros ativos e brilhantes (os “quasares”) têm buracos negros supermassivos alimentando-se de sua matéria. Além disso, a massa do buraco negro está relacionada com a massa do bojo de estrelas em torno do centro da galáxia, indicando que a formação desta está intimamente ligada à formação do seu buraco negro. Andressa Bittencourt

Quasar 33


UNIVERSO

Medindo a dimensidão Não existe uma “régua” única para medir as distâncias do Universo. Ao longo do tempo, os astrônomos desenvolveram formas distintas que se complementam. Quando se trata das distâncias do Universo, as medidas que usamos no dia a dia já não dão mais conta. É preciso falar em milhares, milhões, bilhões e até trilhões de quilômetros que separam o planeta Terra dos demais corpos celestes. Tal como acontece com o sistema métrico, cujo uso depende do que está sendo medido, as unidades e medidas utilizadas na Astronomia também depen­ dem dos objetos e das próprias distâncias. Para o Sistema Solar, a medida mais apropriada é a Unidade Astronômica (UA), a distância entre a Terra e o Sol, equivalente a cerca de 150 milhões 34 Quasar

de quilômetros – uma viagem e tanto. Além de facilitar na hora das contas, essa padronização nos ajuda a ima­ginar melhor as distâncias imensas: é mais fácil assimilar que Plutão está a pouco mais de 31 UA da Terra do que se dissermos que ele está a cerca de seis trilhões de quilômetros de nós. Para medir a distância entre a Terra e a Lua, por exemplo, os astrônomos enviam feixes de luz para o satélite, que refletem em espelhos deixados por lá durante as missões da NASA. Assim, é possível determinar o tempo exato que a luz leva para fazer o percurso (1,2 segundos) e a distância percorrida


ILUSTRAÇÕES: AMANDA ALBOINO

(384.403 quilômetros, em média) entre nosso pla­ neta e seu satélite natural. Graças a esse método, descobriu-se que a Lua se afasta de nós alguns centímetros a cada ano – o que ajuda a provar que o Universo está mesmo em expansão. O ano luz, que tem o valor aproximado de dez trilhões de quilômetros, é a medida mais conhe­ cida e equivale à distância que a luz percorre no espaço de um ano. A estrela mais perto da Terra, a Proxima Centauri, está a 4,3 anos luz – significa di­ zer que, se você quiser fazer as malas e se mandar para lá na velocidade da luz, levará cerca de quatro

anos para chegar. O astrônomo amador Heliomárzio Moreira, professor de física e coordenador do observa­ tório astronômico de um colégio de Fortaleza (CE), explica que, mesmo sendo uma medida de comprimento, o ano luz também ajuda a deter­ minar a idade dos corpos: “Quanto mais distante observamos o Universo, mais no passado os corpos que vemos vão ficando. Por exemplo, o sol está a 8,3 minutos luz de distância. Ou seja, se alguém conseguisse ‘desplugar’ o sol, só o veríamos apagar depois desse tempo”. Quasar 35


que significa a paralaxe, um dos métodos para determi­ nar distân cias, que consiste em uma mu­ dança aparente na posição de um objeto, causada pela mudança na posição do observador. É des­ sa forma que se mede a distância das estrelas mais pró­ximas à Terra: utilizando imagens tiradas com seis meses de diferença (portanto, quando a Terra está em posições opos­ Entendendo o Parsec tas da órbita), os astrônomos Os astrônomos, porém, prefe­ marcam as distâncias aparentes rem utilizar o chamado parsec de uma estrela usando como (pc), uma medida de ângulo que referência outras estrelas que combina dois termos: paralaxe estão muito mais longe. e segundo de arco (parallax e Quando as duas imagens arcsecond, em inglês). Um parsec são comparadas, as estrelas de corresponde a 3,26 anos luz, o fundo, mais distantes, aparecem equivalente a 30,8 trilhões de na mesma posição, enquanto quilômetros, e também admite as mais próximas parecem ter derivados como o quiloparsec se movido. Com esses dados, a (kpc), que vale mil parsecs, e o trigonometria aparece, como megaparsec (mpc), que corres­ mostra a ilustração: os astrôno­ ponde a um milhão de parsecs. mos medem o ângulo formado, a Para explicar o parsec é tal da paralaxe, que, se for igual a necessário primeiro entender o

As estrelas de fundo, mais distantes, aparecem na mesma posição, enquanto as mais próximas parecem ter se movido. 36 Quasar

um segundo de arco, correspon­ de a um parsec. Segundo o pro­ fessor Moreira, o parsec é uma forma de padronizar as medidas: “Quando as estrelas são colo­ cadas nessa distância padrão, é possível saber qual é a maior ou a mais brilhante, por exemplo”. Mas o cálculo de paralaxe não é tão seguro e preciso para as medidas mais distantes, e outros métodos precisam entrar em cena. Nes­ses casos, uma das formas de fazer a estimativa é através do fluxo de energia das variáveis Cefeidas, estrelas que podem ser milhares de vezes mais luminosas que o Sol. Como elas apresentam períodos de variabilidade no brilho, é pos­ sível estimar sua luminosidade e, consequentemente, o quão longe estão de nós. Por isso são chamadas de velas-padrão. Foi assim que ficamos conhecendo as distâncias até as galáxias de Andrômeda e da Grande Nuvem de Magalhães. Espectroscopia Telescópios, telescópios ópticos, radiotelescópios e radares detec­ tores de comprimentos de onda


Podemos medir as distâncias pela variação de brilho das Cefeidas, estrelas que podem ser milhares de vezes mais luminosas que o Sol.

são as ferramentas dos astrôno­ mos profissionais para realizar as medidas. Esses equipamentos geram dados em formato de grá­ ficos, o que, segundo o professor Heliomárzio Moreira, facilita o estudo da energia emitida pelos astros. Utilizando a espectrosco­ pia, o astrônomo pode determi­ nar, através do Efeito Doppler, se os corpos luminosos estão se afastando, quando o gráfico mostra um desvio da luz para o vermelho, ou se aproximando, quando esse desvio é para o azul. “Na galáxia de Andrôme­ da o desvio é para o azul. Em todas as outras o desvio é para o vermelho. Ou seja, enquanto

Andrômeda se aproxima de nós, as demais estão se afastando”, exemplifica o professor. Para Moreira, determinar as distâncias de objetos mais além da Terra e de forma cada vez mais precisa é uma das manei­ ras para conhecermos melhor o Universo: “Um mapa tridimen­ sional das galáxias mais próxi­ mas e até as re­lativamente mais distantes nos permite uma visão mais realista da formação da estrutura do universo. Com essa estrutura montada, é possível conferir as teorias existentes, como a do Big Bang”. Andressa Bittencourt

Quão longe os corpos celestes estão de nós? (distâncias estimadas) Lua: 1,2 segundos luz ou 384.403 km. Marte: 1,5 UA ou 225 milhões de km. Proxima Centauri: 4,2 anos luz ou 14pc. Andrômeda: 2,54 milhões de anos luz ou 788kpc. Grande Nuvem de Magalhães: 165 mil anos luz ou 50kpc. Quasares: entre 2,4 e 12,9 bilhões de anos luz. Quasar 37


ASTROLÁBIO

Construa seu telescópio Vamos apresentar para você um passo-a-passo para a contrução de um telescópio ótico, ou seja, que utiliza lentes de óculos. Os materiais necessários podem ser encontrados em lojas de material de construção e óticas convencionais. Então, mãos à obra!

Materiais A. Lente de óculos de um grau positivo. B. 2 monóculos de fotografia. C. Disco de cartolina preta de 50mm de diâmetro com um furo interno de 20mm. DE. 70 cm de tubo branco de esgo­ to de 50mm (ou 2”).

FG. 70 cm de tubo branco de esgo­ to de 40mm (ou 1 ½”). H. Luva simples branca de esgoto de 40mm (ou 1 ½”). I. Luva simples branca de esgoto de 50mm (ou 2”). J. Bucha de redução curta marrom de 40x32 mm.

Lentes

L. Plug branco de esgoto de 50mm (ou 2”). . Lata de tinta spray preta fosca. . Rolo de esparadrapo de aproxi­ madamente 12mm de largura por 4,5mm de comprimento. . Lata pequena de vaselina em pasta. . Durepox ou similar.

A lente maior pode ser comprada em qualquer oculista. Procure por uma lente com 1 grau positivo, ou seja, para ver de longe. Esse grau significa que a distância focal da lente é de um metro. Peça o menor diâmetro disponível, geralmente 60 ou 65 milímetros, em seguida peça ao oculista que diminua para 50 mm, para que ela se encaixe na luva de PVC. A segunda lente é chamada de ocular e pode ser encontrada em monóculos de fotografia, aqueles pequenos porta-retratos onde você observa fotos contra a luz. Eles podem ser encontrados em lojas de material fotográfico.

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Para encaixar o monóculo no telescópio, precisamos primeiro fazer duas coisas: revestir as paredes do interior do monóculo com papel camurça preto e ser­ rar a pequena alça de chaveiro que eles costumam ter. Desmonte a peça e cole o papel com cuidado nas paredes inter­ nas, para impedir que a luz vaze.

Encaixe o monóculo dentro da bucha de redução curta marrom (peça J na figura abaixo) que você deve ter comprado na loja de materiais de construção. O monóculo deve encaixar perfei­ tamente na abertura da bucha. Para manter as peças encaixa­ das, preencha a área ao redor do monoculo com durepox ou massa de modelar.

Agora, vamos à montagem do cor­ po do telescópio. Antes de qual­ quer coisa, separe todas as peças e pinte as paredes interiores (e, se quiser, as exteriores) com a tinta preta. Enquanto pinta, proteja as extremidades dos canos usan­do esparadrapo. Depois que termi­ nar, use quanto esparadrapo for necessário para fazer com que as peças encaixem uma dentro da outra com firmeza.

Esquema de montagem

Com este telescópio, é possível observar as crateras lunares e as maiores luas de Júpiter. Lembre-se, a imagem se forma a cerca de 4,5 centímetros da lente ocular, por isso não encoste o rosto no monóculo.

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ASTROFOTOGRAFIA

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Marcelo Moreira, 49, mora na Região dos Lagos (RJ) e trabalha com propaganda. À noite, no entanto, o empresário se dedica à astronomia amadora. “Como astrofotógrafo e astrônomo amador eu tento partilhar a infinita beleza do universo através das fotos. Quando fiz minha primeira foto da Lua com uma simples webcam, eu parecia uma criança, dançando sozinho de madrugada feliz da vida”, conta. Aos poucos, com a ajuda de outros astrônomos amadores, ele foi aprimorando sua técnica. “A dedicação talvez seja a melhor definição para uma boa astrofotografia, por isso, para aque-

les que estejam começando e que realmente são apai­xonados pelos encantos do universo, a minha dica é: tente, faça de novo. Não desanime, não pense que perdeu uma noite, porque, no final, todo o esforço que você fez vai te contemplar com uma linda imagem captada do céu”, conclui. Para tirar essas fotografias, Marcelo utiliza um telescópio 150mm F/D 4 ATM, câmera Canon T1i modificada por ele. Também faz uso de uma montagem CGEM com autoguider e software DSS, PhotoShop CS 6, BackyardEOS. Para mais informações: marcelo.vivamidia@gmail.com

Nebulosa Cabeça de Cavalo e Nebulosa da Chama. Grande Nebulosa de Orion

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O brasiliense Leonardo Caldas, 39, é professor de Educação Física e Ciências e se interessa por astronomia desde os 10 anos, quando ganhou o primeiro telescópio. Com o surgimento de câmeras cada vez mais potentes em termos de aproximação e quali­dade de imagem, ele começou a unir suas observações astronômicas com a fotografia e passou a se dedicar à astrofotografia. O maior fascínio de Leonardo são os encontros celestes entre planetas, luas e satélites e já captou trânsitos da Estação Espacial Internacional. A especialidade dele é o nascer e o pôr da Lua. Para as fotografias, ele utiliza apenas uma câmera Nikon D5300 ou Canon SX50, usando o telescópio só para observações oculares. Para conhecer mais o trabalho de Leonardo Caldas, acesse: https://www.facebook.com/fotografiaeastronomia Nascer da lua na Esplanada Lua Crescente e avião Nascer da Super Lua em Brasília

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Lua Saturno Júpiter Marte

Desde cedo, o alagoano Flávio Fortunato, 20, teve interesse pelas maravilhas do universo, mas foi aos 16 anos, ao ingressar em um curso de introdução a Astronomia, que ele iniciou a fundamentação teórica necessária para tornar-se astrônomo amador. No curso ele conheceu melhor o cosmo e os equipamentos necessários para registrá-lo. Em 2012, Flávio comprou o primeiro telescópio e começou a fazer as primeiras astrofotografias, que tinham como enfoque os planetas do Sistema Solar. Um ano depois, comprou equipamentos mais potentes que o permitiram regis­trar fotografias de planetas em alta definição. Tal é a qualidade das fotografias de Flávio que suas imagens já fizeram parte de matérias no jornal Folha de São Paulo e alguns artigos científicos no Japão. Para as astrofotografias o jovem utilizou um Telescópio newtoniano 254mm e câmera ASI120MC. Para mais informações: flaviocrb@hotmail.com

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ARTIGOS

As crianças e o jornalismo científico

P GISELE SOARES Giselle Soares é graduada em Jornalismo e possui especialização em Jornalismo Científico pela Universidade Federal do Ceará (2010). Atualmente é mestranda em Divulgação Científica e Cultural da Unicamp.

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or volta dos três anos, as crianças entram na fase dos porquês. Nenhuma resposta parece satisfatória à curiosida­ de dos pequenos, sedentos de conhecimento. Cabe aos adultos terem paciência e tentarem res­ ponder de maneira simples, de fácil compreensão, ainda que a tarefa seja árdua. Mas o que isso tem a ver com jornalismo cien­ tífico? Nada...Ou tudo, se pen­ sarmos que também o jornalista está em uma eterna busca por respostas. No caso do jornalista de ciência, que em um dia escre­ ve matérias sobre microbiologia e no outro está cobrindo o pouso de uma sonda espacial em um cometa, a curiosidade é fator primordial, ainda que a fonte não tenha paciência para simplificar a pesquisa ou diga que é im­ possível falar sobre o tema com poucas palavras. Fabíola de Oliveira, autora do livro “Jornalismo Científico”, afirma que o jornalista de ciência pode atuar como um facilitador na cons­trução da cidadania, uma vez que a maioria da população

não conse­gue ter boa compreen­ são de temas relacionados à ciên­ cia e tecnologia, como mostram pesquisas elaboradas pelo Mi­ nistério da Ciência, Tecnologia e Inovação, além de exames como o PISA, em que os estudantes brasileiros figuram nas últimas colocações (no exame de 2012, ficamos com a 59a. posição em ciências, em um ranking com­ posto por 65 países). Quando comecei no jornalis­ mo científico, ainda como esta­ giária, por um “tropeço” do des­ tino, em 2007, achava que seria uma tradutora do conhecimento transmitido por pesquisadores para a sociedade. Apesar de esse papel ter alguma importância, o jornalista de ciência jamais deve limitar-se à tradução do conheci­ mento, sendo ele um produtor de informações. A capacidade crí­ tica, o cruzamento de informa­ ções e, sobretudo, a curiosidade, devem prevalecer. Se eu tivesse que escolher uma definição para os jornalistas de ciência, diria que são eternas crianças na fase dos porquês.


FREEPIK

Pesquisas sobre a esfera celeste

E NAELTON MENDES DE ARAÚJO Astrônomo da Fundação Planetário da Cidade do Rio de Janeiro

ntendemos pesquisa espa­ cial como o uso de veículos espaciais para estudar a Terra e o Universo. Para fazer pesquisa espacial, de forma autônoma, um país precisa ser capaz de construir, lançar e operar veícu­ los espaciais. O Instituto Nacional de Pes­ quisas Espaciais (INPE), fundado em 1961, tem desempenhado o papel de cons­truir e operar saté­ lites artificiais. O primeiro satéli­ te construído no país foi o SCD 1 (Satélite de Coleta de Dados) e foi lançado por uma empresa ame­ ricana em fevereiro de 1993. O pequeno satélite ainda está ope­ racional e em órbita. Em 1998 o SCD 2, também construído pelo INPE, foi lançado e ainda está em funcionamento. No ano seguinte, com o lançamento de um satélite de observação terrestre por um foguete Longa Marcha 4B, o INPE deu um passo notável. O satélite era chamado CBERS, sigla para China-Brazil Earth-Resources Satellite; que em português seria: Satélite Sino-Brasileiro de Recur­ sos Terrestres. Foram 3 satélites

feitos em colaboração com a China até 2007 com parcelas cada vez maiores de participação brasileira no projeto e confecção do equipamento. Está previsto o lançamento de mais um CBERS para 2015. Apesar de sermos capazes de cons­truir e operar satélites, não temos ainda a capacidade de lançá-los. Precisamos de um foguete lançador próprio. O pro­ jeto do VLS (Veículo Lançador de Satélites) foi iniciado a 1985. Os dois primeiros protótipos iniciais, movidos a combustível sólido, não foram bem-sucedidos nos lançamentos de 1997 e 1999. Em 2003, o último protótipo explodiu, destruindo a torre de lançamento. Recentemente, foi lançado o foguete VS-30 adap­ tado para usar etanol e oxigênio líquido. Temos colaboração tecnológica com a Ucrânia para incluir um estágio a combustível líquido no VLS. Se estes projetos seguirem em frente teremos todas as etapas de pesquisa espa­ cial ao nosso alcance.

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