PgDip Urban Cultural Identity: Landscape Analysis of Distinct Brazilian Metropolises [Monograph]

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AVM FACULDADE INTEGRADA_

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PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU PROJETOS DE ARQUITETURA E URBANISMO EM ÁREAS DE INTERESSE CULTURAL

Arq. MARCO ANTONIO ZOCH SOUZA

IDENTIDADE CULTURAL URBANA: Análise da Paisagem de Distintas Metrópoles Brasileiras

Brasília, DF. 2015


Arq. MARCO ANTONIO ZOCH SOUZA

IDENTIDADE CULTURAL URBANA: Análise da Paisagem de Distintas Metrópoles Brasileiras

Monografia apresentada à AVM Faculdade Integrada como exigência parcial à obtenção do título de Especialista em Projetos de Arquitetura e Urbanismo em Áreas de Interesse Cultural. Orientadora: Prof. Arq. Livia Goes Lemos Martins

Brasília, DF. 2015


Arq. MARCO ANTONIO ZOCH SOUZA

IDENTIDADE CULTURAL URBANA: Análise da Paisagem de Distintas Metrópoles Brasileiras Monografia apresentada à AVM Faculdade Integrada como exigência parcial à obtenção do título de Especialista em Projetos de Arquitetura e Urbanismo em Áreas de Interesse Cultural. Orientadora: Arq. Livia Goes Lemos Martins Aprovado pelos membros da banca examinadora em __/__/___, com menção ___(_________)

BANCA EXAMINADORA

______________________________________ Faculdade AVM ______________________________________ Faculdade AVM ______________________________________ Faculdade AVM Brasília, ____ de Maio de 2015.


DEDICATÓRIA

☺ Dedico este trabalho aos meus sobrinhos, Yasmin, Markus e Thomas.


AGRADECIMENTOS

Ao Grande Arquiteto do Universo, por devolver à minha vida. À minha família, por abençoá-la. À faculdade, pela oferta do conhecimento. À orientadora pelos ensinamentos. Aos meus médicos. Ao Brasil. ☺


Referência Bibliográfica ZOCH SOUZA, Marco Antonio. IDENTIDADE CULTURAL URBANA: Análise da paisagem de distintas metrópoles brasileiras. 2015. 72 folhas, Monografia (curso de pós-graduação em Projetos de Arquitetura e Urbanismo em Áreas de Interesse Cultural) – Faculdade Integrada AVM, Brasília, 2015. Identidade Cultural; Planejamento Urbano; Metrópole; Paisagem; Salvaguarda; Arquitetura.


RESUMO

A rápida expansão das cidades brasileiras, que logo constituem-se em metrópoles, é um fenômeno recorrente no século XXI, abre uma série de questionamentos que procurou-se investigar neste estudo. A perda da identidade cultural, a falta de empatia entre os citadinos e cidades cada vez mais homogêneas pela globalização, foram analisados. Com a sanção do Estatuto da Metrópole, e a ainda recente Chancela da Paisagem Cultural, estes grandes centros urbanos ganham amparo para a preservação da cultura e aprimoramento da qualidade de vida de seus citadinos, estes por sua vez, tão diversos como a diversidade de seu país, mas que pouco conhecem a sua própria raiz. Para o processo de investigação, necessitou-se de um procedimento bibliográfico: dados do IBGE, MinC, UNESCO e IPHAN, foram importantes para traçar o perfil do brasileiro e das metrópoles. Para a aplicação de novos instrumentos, consultas a lei no13.089 e a portaria 127/09, bem como estudiosos, como Georges Benko e Weissheimer foram necessários. Estudos e pensamentos quanto ao citadino e a metrópole demandaram diversas fontes, como Aziz Ab’Sáber, Oswald Spengler e Jane Jacobs. Durante a análise evolutiva das metrópoles, é perceptível a perda da herança cultural na paisagem, com o intuito de desvencilhar-se do conceito de província, e o claro desconhecimento da população de sua cultura e origem.

Palavras-chave:

Identidade

Salvaguarda; Arquitetura.

Cultural;

Planejamento

Urbano;

Metrópole;

Paisagem;


ABSTRACT

The quick expansion of Brazilian cities, that soon constitute in metropolises, is a recurring phenomenon in the XXI century, opens a series of questions that sought to investigate in this study. The loss of cultural identity, a lack of empathy between citizens and cities more and more homogeneous by globalization, were analyzed. With the sanction of the Metropolis Statute, and the still recent Cultural Landscape Seal, these great urban centers gain support for the preservation of the culture and improvement of the quality of life of its citizens, those that are as diverse as its country, but little do they know of their own roots. For the research process, a bibliographic procedure was needed: data from Brazilian Institute of Geography and Statistics, Ministry of Culture, UNESCO and the National Historical and Artistic Heritage Institute, were important to profile the Brazilians and the metropolises. For the application of new instruments, consultations to the Law no13.089 and the decree 127/09, as well as scholars like Georges Benko and Weissheimer were necessary. Studies and thoughts about the citizen and the metropolis demanded various sources such as Aziz Ab’Såber, Oswald Spengler and Jane Jacobs. During the evolutionary analysis of the metropolises, it is perceptible the loss of cultural heritage in the landscape, in order to disengage of the concept of province, and the clear unawareness of the population towards their culture and origin.

Keywords: Cultural Identity; Urban Planning; Metropolis; Landscape; Safeguarding; Architecture.


LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 01 – Planta de Salvador no início do século XVI ...................................................................................... 08 Figura 02 – Desenho da Paisagem de Salvador de 1600 ....................................................................................... 09 Figura 03 – Ilustração e ampliamento da Paisagem de Salvador de 1696 ............................................................ 10 Figura 04 – Ilustração e ampliações da Paisagem de Salvador em 1830 .............................................................. 10 Figura 05 – Desenho de Salvador visto do mar em 1837 ...................................................................................... 11 Figura 06 – Foto e ampliações do Panorama de Salvador entre 1923-1929 ........................................................ 11 Figura 07 – Foto aérea de Salvador em 1969 ....................................................................................................... 12 Figura 08 – Fotografia aérea e ampliação de Salvador em 2012 .......................................................................... 13 Figura 09 – Desenho do Pátio do Colégio já reformado, em São Paulo de Piratininga ........................................ 14 Figura 10 – Planta da cidade de São Paulo em 1810 ............................................................................................ 15 Figura 11 – Desenho de Debret da Paisagem de São Paulo em 1827 ................................................................... 15 Figura 12 – Foto do Largo da Memória em São Paulo, em 1862 ......................................................................... 16 Figura 13 – Foto de Santa Ifigênia em São Paulo, em 1887 ................................................................................. 16 Figura 14 – Foto de São Paulo em 1911 ............................................................................................................... 17 Figura 15 – Foto do Parque Ibirapuera em São Paulo em 1954 ............................................................................ 17 Figura 16 – Foto área da Avenida Paulista em São Paulo, em meados de 1960 ................................................... 18 Figura 17 – Foto aérea de São Paulo, em 2014 ..................................................................................................... 18 Figura 18 – Mapa do Rio de Janeiro em 1574 ...................................................................................................... 19 Figura 19 – Ilustração da Paisagem do Rio de Janeiro em 1710 ........................................................................... 20 Figura 20 – Ilustração da Paisagem do Rio de Janeiro em 1817 ........................................................................... 20 Figura 21 – Litografia do Rio de Janeiro em 1861, de Charles Bachelier ............................................................ 21 Figura 22 – Foto do Jardim da Glória, no Rio de Janeiro em 1906 ...................................................................... 21 Figura 23 – Ilustração de Copacabana, no Rio de Janeiro em 1927 ..................................................................... 22 Figura 24 – Ilustração de Copacabana, no Rio de Janeiro em 1957 ..................................................................... 22 Figura 25 – Foto aérea do Rio de Janeiro, entre 1965 a 1970 ............................................................................... 23 Figura 26 – Foto aérea do Rio de Janeiro em 2012 ............................................................................................... 24 Figura 27 – Ilustração de Manaus em 1669 .......................................................................................................... 25 Figura 28 – Mapa de Manaus em 1852 ................................................................................................................. 26 Figura 29 – Ilustração da Avenida Eduardo Ribeiro de Manaus em 1902 ............................................................ 27 Figura 30 – Foto da Avenida Eduardo Ribeiro de Manaus no século XIX .......................................................... 27 Figura 31 – Foto de Manaus em 1910 ................................................................................................................... 27 Figura 32 – Foto aérea de Manaus em 1970 ......................................................................................................... 28 Figura 33 – Foto do Teatro Amazonas em 1970 ................................................................................................... 28 Figura 34 – Foto aérea de Manaus em 2014 ......................................................................................................... 29 Figura 35 – Desenho da Paisagem de Curitiba em 1827, de Debret ..................................................................... 31 Figura 36 – Aquarela da Paisagem de Curitiba em 1855 por John Henry Elliot .................................................. 31 Figura 37 – Desenho da Paisagem de Curitiba em 1910 por Adolpho Volk ........................................................ 32 Figura 38 – Plano Agache de Curitiba em 1943 ................................................................................................... 33 Figura 39 – Foto aérea de Curitiba em 1970 ......................................................................................................... 33 Figura 40 – Foto UFPR em 1975 .......................................................................................................................... 34 Figura 41 – Foto Rua XV em 1975 ....................................................................................................................... 34 Figura 42 – Foto Catedral Metropolitana em 1975 ............................................................................................... 34 Figura 43 – Foto aérea de Curitiba em 2014 ......................................................................................................... 35 Figura 44 – Foto da Pedra Fundamental de Brasília, em Planaltina D.F. ............................................................. 37 Figura 45 – Planta de Brasília, de Lúcio Costa, em 1957 ..................................................................................... 37 Figura 46 – Demarcação (constr. da capital) ......................................................................................................... 38 Figura 47 – Congresso (constr. da capital) ............................................................................................................ 38 Figura 48 – Eixo Monumental (constr. da capital) ................................................................................................ 38 Figura 49 – Catedral (constr. da capital) ............................................................................................................... 38 Figura 50 – Foto aérea da Paisagem de Brasília em 1960 .................................................................................... 39 Figura 51 – Foto aérea da Rodoviária de Brasília em 1970 .................................................................................. 40 Figura 52 – Foto aérea dos bairros Sudoeste e Cruzeiro de Brasília. .................................................................... 41 Figura 53 – Foto aérea do bairro Noroeste de Brasília em 2012 ........................................................................... 42 Figura 54 – Foto aérea de Brasília a partir do Estádio Mané Garrincha, em 2014 ............................................... 43 Figura 55 – Mapa mundial de elementos Imateriais da UNESCO ....................................................................... 63 Figura 56 – Print screen da Tabela nacional de atividades artesanais ................................................................... 68 Figura 57 – Print screen da Tabela de atividades artesanais por Unidade Federativa. ......................................... 68


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 01 1.1 TEMA ............................................................................................................................... 01 1.2 PROBLEMA ..................................................................................................................... 01 1.3 OBJETIVOS...................................................................................................................... 01 1.3.1 OBJETIVO GERAL ...................................................................................................... 01 1.3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ......................................................................................... 01 1.4 JUSTIFICATIVA .............................................................................................................. 01 2 DESENVOLVIMENTO .................................................................................................... 03 2.1 REVISÃO DE LITERATURA ........................................................................................ 04 2.2 METODOLOGIA ............................................................................................................ 04 2.3 CRONOGRAMA DE PESQUISA ................................................................................... 05 2.4 RESULTADOS ESPERADOS ........................................................................................ 05 3 CAPITULO I- EVOLUÇÃO DA PAISAGEM DAS METRÓPOLES ......................... 06 3.1 – SALVADOR BA MARÇO 1549 – 2015 ....................................................................... 07 3.2 - SÃO PAULO SP JANEIRO 1554 – 2015 ...................................................................... 14 3.3 - RIO DE JANEIRO RJ MARÇO 1565 – 2015 ................................................................ 19 3.4 – MANAUS AM OUTUBRO 1669 – 2015 ...................................................................... 24 3.5 – CURITIBA PR MARÇO 1693 – 2015 .......................................................................... 30 3.6 – BRASÍLIA DF ABRIL 1960 – 2015 ............................................................................. 36 4 CAPITULO II – NOVOS INSTRUMENTOS LEGAIS NAS METRÓPOLES .......... 44 4.1 - ESTATUTO DA METRÓPOLE .................................................................................... 44 4.2 - CHANCELA DA PAISAGEM CULTURAL ................................................................ 48 5 CAPÍTULO III – IDENTIDADE CULTURAL DAS METRÓPOLES ........................ 52 5.1 – A INFLUÊNCIA DA GLOBALIZAÇÃO NAS METRÓPOLES ................................ 55 5.2 – REFLEXÕES SOBRE A IDENTIDADE CULTURAL FEDERATIVA ..................... 58 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 69 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................ 70


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1 INTRODUÇÃO 1.1 TEMA: IDENTIDADE CULTURAL URBANA: Análise da Paisagem de Distintas Metrópoles Brasileiras Em abril de 2015, Brasília completou 55 anos de sua fundação, e o Brasil completou 515 anos da chegada dos europeus. A paisagem aqui encontrada, era quase intacta, se não fosse as poucas aldeias das várias tribos indígenas. Logo mais os portugueses estabeleceram-se e começaram a deixar sua marca. Com o passar do tempo, uma série de outras culturas começou a interferir no cenário brasileiro, os espanhóis do outro lado do Tratado de Tordesilhas, a chegada de escravos africanos que trouxe consigo uma cultura distinta, os franceses e holandeses que disputaram territórios, e as várias outras imigrações posteriores antes e depois da segunda guerra mundial, de japoneses, italianos, alemães, poloneses, árabes e ingleses, dentre outros, sempre em busca de melhores oportunidades. Esta diversidade delineou a cultura brasileira, trazendo consigo estigma socioculturais que determinaram as culturas preponderantes, deixando as outras a própria sorte. Aos poucos, a globalização e a massificação vem dominando o cenário urbano e as paisagens das metrópoles continuam perdendo sua identidade cultural em passo acelerado. Dentro deste contexto tornase inevitável uma análise das metrópoles brasileiras a nível nacional, para que com os novos instrumentos do Estatuto da Metrópole e Chancela da Paisagem Cultural, possam vir a estancar feridas na cultura brasileira e restituir a identidade do citadino. 1.2 PROBLEMA: Como resguardar a identidade cultural das metrópoles brasileiras em tempos de globalização? 1.3 OBJETIVOS: •

1.3.1 Objetivo Geral: Estudar a evolução das metrópoles brasileiras definidas (São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Curitiba, Manaus e Salvador), e a afinidade com seus citadinos, e antecipar aplicações do Estatuto da Metrópole e Chancela da Paisagem Cultural.

1.3.2 Objetivos Específicos: 1. Traçar a evolução das metrópoles. 2. Verificar a aplicabilidade do Estatuto da Metrópole. 3. Relatar os conceitos e aplicações da Chancela da Paisagem Cultural. 4. Descrever a relação do citadino brasileiro com a metrópole e sua cultura.


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1.4 JUSTIFICATIVA: A cultura brasileira recebeu uma série de influências distintas, transformando o Brasil em um país multicultural, cuja população possui uma maneira própria de pensar e agir. Essa adaptação representa uma evolução da paisagem onde uma cultura sobrepõe a outra, transformando a paisagem. Nesse processo a perda do patrimônio cultural é inevitável e com o chegada da globalização a cultura e paisagem de cada lugar vem perdendo sua distinção rapidamente, revelando um intenso desgaste cultural. A globalização interfere diretamente nas metrópoles visto a alta concentração de pessoas, sua importância econômica para o país, e a forte presença de grandes corporações. O trabalho vem a observar de modo sucinto as diferenças e evolução de distintas metrópoles brasileiras que possuem características próprias e estão em constante influência da massificação, traçando o panorama cultural federativo para uma melhor preservação da identidade cultural. Com o aparecimento do Estatuto da Metrópole, lei no13.089 aprovada em 12 de Janeiro de 2015 e a Chancela da Paisagem Cultural, portaria IPHAN no127 sancionada em 30 de abril de 2009, novos instrumentos entram em voga, que podem ajudar a preservar a paisagem das metrópoles, seja através do direcionamento para consolidar a paisagem, ou pelo planejamento interfederativo, onde uma metrópole é pensada em seu todo, sem lacunas. O trabalho vem a observar a eficácia destes instrumentos e sua possível aplicação. Foram definidas seis metrópoles com base em suas regiões de influência (IBGE 2007), importância histórica e conhecimento adquirido através de viagens do autor: São Paulo, grande metrópole nacional, de grande importância econômica global. Rio de Janeiro, metrópole nacional, cuja paisagem cultural foi a primeira no mundo a receber este titulo pela UNESCO. Brasília, metrópole nacional de importância governamental, classificada patrimônio mundial pela UNESCO por seu conjunto arquitetônico e urbanístico. Curitiba, metrópole regional, considerada a capital ecológica do Brasil, cuja paisagem é resultado de sua floresta de araucárias e a diversidade cultural provinda de seus imigrantes. Salvador, metrópole regional, núcleo da cultura afro-brasileira e com um belo centro histórico tombado pela UNESCO. Manaus, metrópole regional, de grande importância industrial, situada entre dois rios, na floresta amazônica, com uma forte herança cultural indígena. Para efeito de análise, foi selecionado ao menos uma metrópole por região do Brasil, salvo o caso do Sudeste, por possuir duas metrópoles de importância nacional. Com a análise destas metrópoles, será possível observar o amplo espectro cultural brasileiro, as perdas com o advento da globalização e as novas possibilidades de salvaguarda e estruturação das metrópoles em prol da sociedade.


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2 DESENVOLVIMENTO 2.1 REVISÃO DE LITERATURA A paisagem das metrópoles brasileiras, revela o caos cultural recorrente na sociedade brasileira. Apesar das metrópoles constituírem o mais elevado centro cosmopolita, o que se transmite pela sensação de liberdade por sua diversidade, é outrora prisão pelas obrigações do cotidiano. As metrópoles passam a idéia de constante movimento e evolução. Com a globalização a diversidade nas metrópoles ultrapassa os limites da identidade cultural, é possível ver nelas a história do mundo como Françoise Choay descreve na introdução da teoria de Oswald Spengler no livro O Urbanismo: Utopias e realidades, uma antologia: “O aparecimento das metrópoles marca o envelhecimento das civilizações. Lê-se a história do mundo na história de suas cidades”. No entanto, o que a metrópole ganha na troca de informações perde na sua própria identidade, onde a história de seu povo encontra-se em colapso. Diferente das pequenas cidades, onde sua população é capaz de ver sua identidade na paisagem, e por isso, tanto a imagem da cidade quanto de cada um de seus habitantes é clara, resguardada da perda cultural que, o estigma cultural confere as metrópoles um certo desprezo, como ressalta Oswald Spengler, 2013: “...estas cidades gigantescas e muito pouco numerosas banem e matam, em todas as civilizações, mediante o conceito de província, a paisagem íntegra que foi mãe de sua cultura.” Este estigma cultural, que julga a troca de informações superior a todo um legado inscrito na paisagem, para não recair sobre o conceito de província, demonstra uma carência patriota. Quando investigado a perda cultural nas metrópoles, que são os grandes centros de influência e concentração populacional (importantes ao menos para uma região), pressagia-se a necessidade de resguardar a herança cultural, visto que a história de um povo é superior a experiência de uma única geração, que com o tempo também ficará resguardada na história, como descreve Georg Simmel, 2013: A metrópole se revela como uma daquelas grandes formações históricas em que correntes opostas que encerram a vida se desdobram, bem como se juntam às outras igual direito. (...) tais forças da vida se estenderam para o interior das raízes e para o cume do todo da vida histórica a que nós, em nossa efêmera existência, como uma célula, só pertencemos como uma parte, não nos cabe acusar ou perdoar, senão compreender.

No instante onde se compreende a importância da preservação da paisagem, não só novos meios de se planejar e visualizar a metrópole surgem, mas a busca pela identidade


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cultural encontra subsídio em suas raízes, para uma produção genuína e nova. Após a inauguração de Brasília, Lucio Costa, 1995, confirma que o movimento moderna já chegou a seu auge e traça novos paradigmas para uma produção da arquitetura brasileira, que nada mais é, do que estar conivente com nossas raízes, dentro da sua diversidade: Assumir e respeitar o nosso lastro original - luso, afro, nativo. Reconhecer a grande importância para o Brasil de hoje do aporte da imigração europeia - mediterrânea e nórdica - bem como a do oriente - próximo e distante. Aceitar como legítima e fecunda a resultante desse entrosamento, mas reputar fundamental a absorção, nesse aporte, da nossa maneira peculiar, inconfundível - brasileira - de ser.

É importante preservar a história, um povo deve ser capaz de reconhecer sua origem, circunscrita na paisagem de suas cidades, independente da imensidão que esta representa quando atinge nível de metrópole. A ausência da percepção do local, leva seus habitantes a excessos de autoafirmação da sua própria identidade, por perderem o senso cultural, uma cidade, quando descentralizada e bem preservada, permite ver claramente a evolução da sociedade. Quando seus habitantes conseguem ler a história de suas raízes na paisagem, estabelecem valor de pertencimento de forma dinâmica, pois compreendem a própria identidade, como versa Theodor Adorno, 2011: “A história como sua expressão e a continuidade histórica como forma incrustaram-se nas paisagens culturais e integram-nas dinamicamente, como acontece or-dinariamente com as obras de arte.” [sic] Resguardar a história não é apenas cultuar o passado nem tão pouco somente observar a evolução da sociedade, mas compreender e identificar sua própria existência na paisagem, garantindo subsidio para um futuro condizente. 2.2 METODOLOGIA A abordagem teórico qualitativa será utilizada no trabalho contíguo a pesquisa bibliográfica, visto seu caráter de liberdade teórico-metodológica, o tema não pode ser quantificado de maneira eficaz, é de natureza social e cultural, tendo um resultado mais sensitivo e contemplativo, pois surge da observação da história e análise de dados, sendo o processo superior ao produto, onde o pesquisador interpreta a realidade. Informações de acordo com Patton, 1980, Glazier, 1992 e Bradley 1993. Para dar início ao trabalho necessitar-se-á de uma pesquisa bibliográfica, trazendo referências tanto em livros quanto artigos acadêmicos, websites e periódicos. Os autores citados, servirão de base para uma investigação criteriosa, buscando traçar a evolução das


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metrópoles em cada caso, o perfil do citadino e sua assimilação do meio urbano, e possíveis aplicações do Estatuto da Metrópole e Chancela da Paisagem Cultural, que serão citados como possível solução. Como resultado, identificar-se-á através da interpretação, o panorama cultural federativo e soluções plausíveis para a salvaguarda.

2.3 CRONOGRAMA DE PESQUISA ETAPA

MARÇO 1

2

3

ABRIL 4

1

2

3

Maio 4

Sem. Sem. Sem. Sem. Sem. Sem. Sem. Sem. Pré Projeto Referencial

X

1 Sem.

X X

X

X

Teórico 1/3 Referencial

X

X

X

X

X

Teórico 2/3 Referencial

X

Teórico 3/3 Introdução Considerações

X X

Finais Correção Entrega Final

X

X X

Obs.: Sem. = Abreviação para semana.

2.4 RESULTADOS ESPERADOS Ao final do trabalho espera-se conhecer melhor as aplicações do Estatuto da Metrópole e Chancela da Paisagem Cultural, identificar marcas da diversidade cultural brasileira deixadas nas metrópoles brasileiras e entender o processo de consolidação das cultura brasileira a nível nacional.


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3 - CAPITULO I - EVOLUÇÃO DA PAISAGEM DAS METRÓPOLES O Brasil é composto de uma rica diversidade cultural que aflora por todo o seu vasto território. Conforme Ab’Sáber...[et al], 2007: “O Brasil é, antes de tudo, um grande território tropical de face leste, refletindo em seus tipos de climas, como em seus grandes domínios paisagísticos (...), todas as consequências dessa tropicalidade.” O que faz do Brasil, um território agraciado com a umidade provinda do atlântico em grande parte de seu território, uma relativa homogeneidade paisagística e pouco árido. Este fato resultou em uma elevada diversidade vegetativa e de microrganismos, uma maior degradação rochosa e em doenças típicas dos trópicos. Ab’Sáber...[et al], 2007, também ressalta: “...há que salientar o fato de se tratar de um país de velhas montanhas rejuvenescidas, de planaltos cristalinos, planaltos sedimentares e grandes planícies continentais.” Ou seja, O Brasil não é composto de montanhas, mas de áreas planas pela maioria de seu território, com poucas exceções de topografias acidentadas, o caso do Sudeste. Este mesmo autor descreve o povoamento brasileiro: “Nos meados do século XVI, a população europeia do Brasil era composta de portugueses e espanhóis, provenientes dos dois setores da vida ibérica: o agrário e o citadino.” E Ab’Sáber...[et al], 2007, prossegue descrevendo: ...em todos os momentos em que se fez sentir a falta de mão-de-obra, ninguém teve pejo de adotar a grande fórmula escravagista da época, forçando a transplantação do elemento negro para os focos de trabalho recém-criados no Brasil. Quem não se dobrou aos interesses dos colonizadores foram os ameríndios, que só muito discretamente puderam ser enquadrados aos padrões de trabalho...

Essas diversas etnias, de distintas origens, constituíram a cultura brasileira, e abrangem a maioria da população brasileira, que só posteriormente com outras imigrações, europeias e asiáticas, consolidou o panorama atual.

A respeito da economia agrícola

desenvolvida ao longo da história do Brasil Ab’Sáber...[et al], 2007, aborda: Aqui se revezou, no tempo e em áreas geográficas das mais diversas, toda aquela série de plantas de maior ou menor importância que caracterizam a economia das terras intertropicais úmida: cana-de-açúcar, café, borracha, cacau e fumo. (...) Em outro setor, na economia agrícola de subsistência (...) o milho, a mandioca, o feijão, a banana e diversos tipos de abóbora...

Estes alimentos, dentre outros, caracterizam a fonte de renda do período Brasil Colônia

e

constituem

a

matéria

prima

da

culinária

tradicional

brasileira.

Quando questionados em reportagem pela revista Arquitetura e Construção em seu Anuário de Revestimentos, louças e metais: tendências 2015/2016, se já estiveram no Brasil outras


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vezes, o escritório SANAA ganhador do prêmio Pritzker em 2010 fez uma comparação: “visitamos a Amazônia, Brasília, Belo Horizonte e o Rio de Janeiro. Tudo muito bonito. Também adoramos a comida de vocês. Ryue: sim, a comida tem essa mistura de feijão com arroz, molho. É como a diversidade da população.” A rica variedade de referências culturais brasileira, permitiu novos, costumes, saberes e celebrações, tão diversos quanto a própria biodiversidade do país. Diversidade esta que tenderá a crescer, dados da Polícia Federal fornecidos para oestrangeiro.org , conforme Rodrigo Lima, 2012, revelam 940 mil imigrantes atualmente no Brasil, dos quais 277.727 portugueses, 91.042 japoneses, 73.126 italianos, 59.985 espanhóis, 50.240 bolivianos, 42.202 argentinos dentre outras menores imigrações como Haiti, China e Estados Unidos. As metrópoles aqui citadas, ressaltam claramente este panorama brasileiro, diverso e ainda assim contíguo ao jeito brasileiro de ser, estão ordenadas por data de fundação e discorrem do processo evolutivo. 3.1 SALVADOR BA MARÇO 1549 – 2015 “Na Europa, chamam-me de mestre, mas é caminhando pelas ruas de Salvador que eu me sinto à vontade.” (JORGE AMADO) Situada no Nordeste, 12.9° latitude sul e 38.4° longitude oeste, clima tropical atlântico litorâneo, quente e úmido, está a 8 metros acima do nível do mar, em áreas remanescente da mata atlântica, com presença forte de palmeiras, coqueiros e áreas recobertas por florestas tropicais. Localizada em uma península entre a baía de Todos os Santos e o Oceano Atlântico, o que garante uma vista deslumbrante das belas praias da metrópole. Possui relevo acidentado composto por vales afundados, a cidade é cortada por uma escarpa que divide a cidade em uma parte alta (85 metros mais elevada) e outra baixa, por toda a cidade existem diversas dunas que compõe a paisagem protegidas pelo estado e consideradas como posto avançado da reserva da mata atlântica pela UNESCO, a beleza do recôncavo baiano é inigualável (AB’SÁBER, 2007). O nome Salvador tem sentido literal referente a uma das várias maneiras cristãs de denominar Jesus Cristo. Salvador foi a primeira capital brasileira, a área onde Salvador se situa, foi alvo de disputa muito antes da chegada dos portugueses, sendo primeiro terra dos índios tapuias que posteriormente foram expulsos tornando-se solo tupi. Francisco Pereira Coutinho recebeu a região como capitania hereditária do rei Dom João III em 1536. Por ter perfil arrogante e grosso, causava várias revoltas indígenas e acabou morto por canibalismo (OLIVEIRA, FREIRE, 2006). Em 1549 as ordens da corte portuguesa, a cidade-fortaleza de São Salvador foi fundada, por um vasto número de portugueses, fidalgos, jesuítas, médicos dentre outros, com intuito de firmar uma cidade portuária para escoamento de pau-brasil, tora abundante na


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época, de coloração avermelhada escassa em outras partes do mundo. Os primeiros traços do urbanismo português no Brasil, começam a surgir, com uma marcante ortogonalidade, conforme Baeta e Cardoso (2014), “(...) é possível observar na sua configuração urbana uma clara transposição de parâmetros ou elementos de estético-construtivos de viés metropolitano.” Sua localização foi escolhida, por motivos estratégicos, como apontam: “(...) escolheram uma área situada mais para o interior da baía, onde a tranquilidade das águas e a existência de um amplo platô, (...) atenderiam de modo mais pleno às prescrições do Regimento, além de possibilitarem a construção da cidade em dois níveis (...), reproduzindo um modelo comum à tradição urbanística portuguesa. ”

Ainda conforme Baeta e Cardoso, 2014, excetuando-se a parte Oeste, voltada ao mar, era murada com apenas dois acessos, um ao norte e outro ao sul, para maior proteção a ataques dos índios. O surgimento de uma nova muralha na segunda metade do século XVI, expandia amplamente o urbanismo de Salvador agora mais ortogonal, trazendo consigo o Terreiro de Jesus e o colégio dos jesuítas, que gera uma nova maneira de urbanismo onde a praça ganha maior importância do que os edifícios principais. A cidade revela um esforço em busca da ortogonalidade, em uma topografia complexa, que deixa marcas no traçado urbano: “(...) resultando não apenas na definição de quarteirões quadrados ou retangulares de dimensões mais ou menos padronizadas, mas também de outros com formas trapezoidais ou mesmo seguindo polígonos mais complexos(...)”(BAETA, CARDOSO, 2014). As dificuldades do assentamento requeriam uma adaptação das ideias, resultando em algo distinto, cujo valor cênico é espetacular. Figura 1 – Planta de Salvador no início do século XVI

Fonte: http://www.cidade-salvador.com/seculo16/salvador-1549.htm


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Figura 2 – Desenho da Paisagem de Salvador de 1600

Fonte: http://www.cidade-salvador.com/seculo16/salvador-1600.htm

A cidade sofreu invasão holandesa de 1624 a 1625, com o objetivo de controlar o mercado do açúcar, onde permaneceu domínio holandês por pouco tempo, até ser derrotada na Jornada dos Vassalos, expedição luso-espanhola. A produção de açúcar no Brasil começa sua atividade no final deste século, tornando-se o principal produto exportado da época. Outros produtos como o plantio de tabaco começam a ser exportados, como aponta Baeta e Cardoso, 2014: “O plantio de tabaco (...)e sua exportação, a partir do século XVII, dará ainda mais dinamismo ao porto da capital que, a essa altura, era também um grande centro importador dos mais variados produtos.” É nesta mesma época, que a importação de produtos e mão-deobra escrava, começa a ser importada ao Brasil. Todo esse dinamismo, é refletido no traçado da cidade, que constantemente expande-se, conforme o autor: “(...)a cidade ultrapassou esses limites em direção ao norte, ocupando novas áreas em torno do Terreiro de Jesus, (....) uma malha urbana aproximadamente três vezes maior que a da mancha matriz construída por Luís Dias”. Estas áreas adicionais também foram muradas, com alguns baluartes e dois fortes, Monte Serrat e Santo Antônio da Barra, nelas encontram-se o Pelourinho, onde escravos eram castigados, e as Portas de São Bento. O autor descreve: (...) na Cidade Baixa, ou Bairro da Praia, praticamente em uma única via ao longo do mar, entre a Preguiça e a parte baixa da Ladeira do Taboão, concentrava-se o grosso das edificações destinadas às atividades comerciais, distribuídas em armazéns, trapiches e similares; na Cidade Alta, em outro eixo também paralelo ao mar, articulavam- se os principais edifícios relacionados às atividades religiosas e administrativas.

Apesar disto, ambas as áreas, possuíam residências e edifícios religiosos, como a Basílica de Nossa Senhora da Conceição da Praia na parte baixa, e residências e comércios na parte alta.


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Figura 3 – Ilustração e ampliamento da Paisagem de Salvador de 1696

Fonte: http://www.bahia-turismo.com/salvador/seculo-17.htm

Em 1763 Salvador deixa de ser capital, e em 1798 é marcada pela Conjuração Baiana, onde almejava-se a libertação dos escravos, igualdade governamental tornando-se também uma república e liberdade comercial, representava o desejo de ascensão social impedido pela coroa portuguesa (ALBUQUERQUE, 2006). Essa revolta gerou resultados só em 1823, finalizando a reacendida revolta em 1821, que culminou na guerra pela Independência da Bahia. A cidade já possuía desde 1812 o teatro São João, que ajudou a concretizar a cultura soteropolitana, já uma mescla de portugueses, indígenas e afrodescendentes. A revolta dos malês ocorre em 1835, escravos muçulmanos que tinham como objetivo expressar sua religião lutando diretamente contra o catolicismo que lhes era imposto, assassinato e saque dos bens das classes dominantes e implantação de uma monarquia islâmica, com inclusive, a escravidão de não muçulmanos. Foram derrotados por oficiais portugueses e sentenciados a duras penas, desde pena de morte a trabalhos forçados (ALBUQUERQUE, 2006). Com a crise de exportação de açúcar neste mesmo século, Salvador cai em declínio. Figura 4 – Ilustração e ampliações da Paisagem de Salvador em 1830

Fonte: http://www.cidade-salvador.com/seculo19/salathe.htm


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Figura 5 – Desenho de Salvador visto do mar em 1837

Fonte: http://www.cidade-salvador.com/seculo19/vanderburch.htm

Em 1852 Salvador recebe a Companhia de Abastecimento de Água do Queimado, a primeira do país, captando, tratando e distribuindo água encanada. Funcionava através de chafarizes, casas de vendagem e penas d’água em belos chafarizes marcando as praças de Salvador. Em 1860 é inaugurada a via férrea de Salvador existente até os dias de hoje. Em 1872, o Elevador Lacerda é inaugurado, resolvendo então um problema topográfico da cidade, ligando a cidade alta com a cidade baixa. Em 1896, o segundo elevador, o elevador do Taboão surge com a mesma premissa, ligar a cidade alta a cidade baixa, em 1889 começa a funcionar o plano inclinado Gonçalves, um bondinho/funicular e logo após o Plano inclinado do Pilar surge em 1897, solucionando assim o problema topográfico de Salvador. Percebe-se o claro desenvolvimento da cidade onde sua mobilidade e qualidade de vida recebem uma série de avanços tecnológicos. Em 1912 durante a República Velha, as disputas políticas das oligarquias resultaram no Bombardeio de Salvador, constituindo grande perda do acervo da Biblioteca e arquivo. Figura 6 – Foto e ampliações do Panorama de Salvador entre 1923-1929

Fonte: http://www.cidade-salvador.com/seculo20/panorama.htm

Em 1930 o Elevador Lacerda é reformado e adquire um estilo Art Déco. De 1940 a 1950 a população quase dobrou e a partir de 1960 atingiu seu pico de crescimento. De 1958 a 1964 as obras de restauração de Lina Bo Bardi chamam a atenção revigorando a cidade. Em 1981 O Plano Inclinado Liberdade-Calçada é inaugurado na Ladeira do Inferno. De 1960 até 1970 a população soteropolitana passou de 649.453 para 1.007.195 habitantes. O centro histórico e o


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pelourinho de Salvador são considerados Patrimônio da Humanidade em 1985 pela UNESCO, ganhando destaque internacional. Figura 7 – Foto aérea de Salvador em 1969

Fonte: http://www.cidade-salvador.com/seculo20/porto-anos-60.htm

A partir dai a corrente modernista vem se expandindo até os dias de hoje, as obras do arquiteto João Filgueiras Lima (Lelé), são marcos notáveis da atualidade, como a sede da prefeitura (1986), hospital Sarah (1994), centro administrativo da Bahia (1973), foi também importante na companhia de renovação urbana de salvador RENURB (1978-1981), fábrica de equipamentos comunitários FAEC (1982-2002), Instituto brasileiro do habitat IBH (20102014), desenhando uma nova Salvador baseada na arquitetura de pré-fabricados e argamassa armada, levando em consideração o conforto ambiental das edificações. Em 2014 é reinaugurada o Plano Inclinado Liberdade-Calçada, que apôs anos sem funcionar, agora reformado tanto quanta a praça onde situa-se. A cidade possui um aeroporto internacional por consequência do forte turismo, com voos internacionais para Buenos Aires, Madrid, Santiago do Chile, Miami, Frankfurt e Lisboa, possui considerável quantidade de residências de veraneio e hotéis, o surgimento da globalização trouxe as novas tendências de shopping centers, fachadas de vidros, outdoors como em qualquer outra cidade brasileira. A região metropolitana (RM) de Salvador é uma das maiores do país com 3.574.804 habitantes, sendo a cidade com maior número de descendentes de africanos no mundo, 51,7% da população de cor parda, 27,8% negra, 18,9% branca, 1,3% asiáticos e 0,3% ameríndios (IBGE 2010), por isso é considerada o centro da cultura afro-brasileira, onde o samba de roda, a roda e o ofício de capoeira (Tombados pela UNESCO em 2014), o acarajé, a Festa do Senhor Bom Jesus do Bonfim, dentre outros continuam definindo a paisagem soteropolitana e hoje já se expandiram


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para todo o Brasil (IPHAN). Sua RM Possui doze munícipios somada a própria cidade de Salvador: Camaçari, Candeias, Dias D’Ávila, Itaparica, Lauro de Freitas, Madre de Deus, Mata de São João, Pojuca, São Francisco do Conde, São Sebastião do Passé, Simões Filho e Vera Cruz. (IBGE 2010). Já a sua região de Influência atinge 486 municípios, um total de 16.335.288 habitantes (IBGE 2007). Possui uma forte desigualdade social, sendo uma grande região de analfabetismo, favelização, violência e degradação ambiental, já em alguns poucos bairros como em Itaigara o IDH chega a 0,971, revelando uma forte desigualdade. Possui um forte herança cristã com uma recente expansão de evangélicos, possui também alguns grupos de espíritas e ateus, e é o berço do candomblé no Brasil sendo este intimamente ligado a população baiana, que ainda mantêm alguns de seus costumes como as oferendas as entidades, jogo de búzios, rituais e celebrações. A mistura entre o candomblé e a igreja cristã é a grande marca da cultura baiana. A cidade também conta com transporte rodoviário ligando-a ao interior e aos outros estados do Brasil, aquaviário que conecta com as ilhas e cidades litorâneas como também exporta cargas, e ferroviário apenas na própria malha urbana. O PIB de sua RM representa 4,8% do PIB nacional, sendo o PIB per capita em Salvador de R$ 12.6mil e R$ 4.6mil nos demais municípios. (IBGE 2007) Figura 8 – Fotografia aérea e ampliação de Salvador em 2012

Fonte: http://www.cidade-salvador.com/panoramica-2012.htm


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3.2 SÃO PAULO SP JANEIRO 1554 – 2015 “São Paulo recebe terráqueos de todas as partes do universo. Quem sobrevive em Sampa tira Bagdá de letra. É uma cidade tão caótica quanto eu...”(RITA LEE) Situada na região concentrada, Sudeste, 23.5° latitude sul e 46.6° longitude oeste, na fachada atlântica composta por mares de morros cobertas por florestas tropicais , no entanto, a mata atlântica foi ao longo da história intensamente desmatada, e hoje pouco perceptível na paisagem de São Paulo (AB’SÁBER, 2007). Clima temperado úmido esta localizada junto a bacia do rio tietê a 792 metros acima do nível do mar e com apenas 6m2 de área verde por habitante (metade do recomendo pela OMS) o que não ajuda a reduzir a forte poluição do ar, é a maior região de influência do país, de importância global. O nome São Paulo foi dado pelos jesuítas porque a fundação do colégio se deu no mesmo dia do batizado do apóstolo Paulo de Tarso, anteriormente chamada de São Paulo de Piratininga. Surgiu no alto de uma colina escarpada, com a construção de um colégio jesuíta, de arquitetura modesta e simples de pau a pique, que tinha como objetivo catequisar os índios de Piratininga. Em 1556 foi construído em taipa de pilão um novo prédio e a Igreja do Bom Jesus, posteriormente passando por algumas reformas descaracterizando-o . Figura 9 – Desenho do Pátio do Colégio já reformado, em São Paulo de Piratininga

Fonte: http://ipco.org.br/ipco/noticias/1554-2014-460-anos-da-fundacao-de-sao-paulo#.VSrE2VyURcd

Em 1560 recebeu o povo da vila de santo André da Borda do Campo por ser uma área mais segura e adequada, pertencendo assim a capitania de São Vicente, sendo um dos poucos povoamentos no interior do Brasil, e por isso, pouco próspero. Em 1681, Marquês de Cascais transferiu a capital da capitania para São Paulo, a partir dai o surgimento de bandeirantes se tornou comum, visto a pobreza dos paulistas que não possuíam riquezas para comprar escravos africanos, e por isso, buscavam pedras preciosas e indígenas (OLIVEIRA, FREIRE, 2006). Em 1690 descobre-se ouro em Minas Gerais o que deu destaque a São Paulo que em 1709 vira a nova Capitania de São Paulo e Minas do Ouro, logo após em 1711 São Paulo é


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elevada a cidade. Essa continua expansão em busca do ouro pelos bandeirantes expandiu o território brasileiro além do Tratado de Tordesilhas. Com o declínio da extração do ouro uma nova fase surge com o plantio da cana-de-açúcar, exportada pelo porto de Santos através da primeira estrada, a calçada de Lorena. Figura 10 – Planta da cidade de São Paulo em 1810.

Fonte: http://smdu.prefeitura.sp.gov.br/historico_demografico/img/mapas/1810.jpg

A independência da república traz a São Paulo o titulo de imperial cidade, foi onde hoje é o Monumento do Ipiranga onde foi proclamada a independência. Em 1827 surgem cursos jurídicos que dão origem a Faculdade de Direito do Largo do São Francisco, gerando maior crescimento a cidade. Figura 11 – Desenho de Debret da Paisagem de São Paulo em 1827.

Fonte: http://www.al.sp.gov.br/noticia/?id=355000

Com a expansão da cafeicultura São Paulo começa a receber cada vez mais importância e o início dos barões de café, logo em 1869 recebe a Estrada de Ferro Santos-Jundiaí, ligando São Paulo a Santos para uma rápida exportação da iguaria. A partir dai a malha ferroviária de São Paulo começa a expandir rapidamente por ser o ponto de convergência. Neste período São Paulo recebe uma forte imigração italiana em busca de uma nova oportunidade de vida mais


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próspera, o que marca o início das indústrias em São Paulo e o surgimento de cortiços (IPHAN/COPEDOC,2007). Figura 12 – Foto do Largo da Memória em São Paulo, em 1862.

Fonte: http://veja.abril.com.br/blog/sobre-imagens/brasileiros/militao-augusto-de-azevedo/

Com o início da República São Paulo teve uma rápida expansão, especialmente beneficiada pela política do café com leite, que manteve o poder nas mãos de São Paulo e Minas Gerais por um bom tempo, o que acarretou em consequências a federação vistas até hoje, onde o polo econômico continua concentrado e reduzido nas outras regiões. O cenário de São Paulo na época era marcado por um enorme número de imigrantes, tanto da Europa quanto da Ásia (IPHAN/COPEDOC,2007), a inauguração da grandiosa Estação da Luz em 1867, as muitas mansões na Avenida Paulista em 1900 e os casarões dos barões de café no bairro Campos Elísios. Figura 13 – Foto de Santa Ifigênia em São Paulo, em 1887.

Fonte: http://veja.abril.com.br/blog/sobre-imagens/brasileiros/militao-augusto-de-azevedo/

O vale do Anhangabaú começa a ser caracterizado por áreas ajardinadas e praças, e a sua esquerda surge o centro novo de São Paulo. Em 1920 um processo de condução do Rio Pinheiros com o intuito de alimentar a Usina Hidrelétrica Henry Borden, permitiu o surgimento do bairro de alto padrão Jardins. Em 1922, a semana da arte moderna marca a história do Brasil, trazendo novas vertentes e correntes de pensamento que mudam o panorama intelectual do país.


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Figura 14 – Foto de São Paulo em 1911.

Fonte: http://www.faap.br/hotsites/panoramas/

Logo em 1928 São Paulo já possuía uma população de um milhão de habitantes, constituindo a primeira metrópole brasileira. Logo em 1929 surge o edifício Martinelli, primeiro arranha céu de São Paulo, que marca um período onde São Paulo começa a corromper sua história com a evolução, pouco daquele tempo sobrevive a modernização de São Paulo e sua constante urbanização, chácaras dão lugar para bairros residenciais. Em 1930 Prestes Maia apresenta o plano de avenidas para a cidade de São Paulo, que mudou profundamente o traçado urbano da metrópole. A crise na cafeicultura foi o precursor da expansão industrial, que durante a segunda guerra mundial tornou-se extremamente necessário visto as restrições do comércio internacional. Em 1934 é fundada a Universidade de São Paulo, com a união de várias faculdades já existentes, hoje a maior do país. Em 1950 São Paulo era considerada a cidade que mais cresce no mundo, isto acarretou com que a Avenida Paulista, agora considerada o centro financeiro do país, tivesse suas mansões derrubadas para o surgimento de arranha-céus. Logo em 1954 é inaugurado o Parque Ibirapuera, de grande importância para a metrópole. Figura 15 – Foto do Parque Ibirapuera em São Paulo, em 1954.

Fonte: http://acervo.estadao.com.br/noticias/acervo,como-era-sao-paulo-sem-o-parque-do-ibirapuera,9193,0.htm

Posteriormente o desenho urbano recebeu as marginais do rio Tietê e o metrô em 1963, garantindo a mobilidade, que ainda permanece caótica. Edifícios como o Copan de Oscar Niemeyer em 1966, o edifício sede da FAU-USP, o estádio do Morumbi em 1952 de Villanova Artigas e o MASP em 1958 e posteriormente o SESC Pompéia em 1990 de Lina Bo Bardi começam a definir a arquitetura moderna da metrópole, sempre buscando projetos arrojados.


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Figura 16 – Foto aérea da Avenida Paulista em São Paulo, em meados de 1960.

Fonte: http://www.abril.com.br/especial450/materias/lorca/foto4.html

Nos últimos anos São Paulo, uma metrópole global com a maior rede de influência do país tem sido palco de diversos acontecimentos e ideias. O aparecimento de ciclo faixas, a ponte Octávio Frias e a atual crise hídrica demonstram problemas de uma grande metrópole, a sustentabilidade é colocada em foco. São Paulo possui dois grandes aeroportos, sendo o aeroporto de Guarulhos o mais importante do país com a maior quantidade de rotas domésticas e internacionais. O traçado de Ruy Ohtake, Paulo Mendes da Rocha, Rosa Kliass, dentre outros vêm reforçando a arquitetura moderna da metrópole. A expansão desordenada da cidade, causada pela oferta de empregos centralizada na capital, fez com que a região metropolitana de São Paulo tomasse proporções gigantescas, abocanhando cidades em uma só área, é impossível ver nesta, sua modesta origem. Figura 17 – Foto aérea de São Paulo, em 2014.

Fonte: http://fotospublicas.com/virada-cultural-2014-fotos-aereas-mostram-a-cidade-durante-a-virada/


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3.3 RIO DE JANEIRO RJ MARÇO 1565 – 2015 “(...) As praias e os morros do Rio desempenham o mesmo papel que os monumentos em Paris ou em Nova York” (ZAHA HADID - Tradução de Fernanda Pontes) Situada na região concentrada, Sudeste, 22.9° latitude sul e 43.2° longitude oeste, clima tropical atlântico litorâneo apenas a 10 metros acima do nível do mar, localizada em estreitas planícies aluviais entre morros, a bacia de Guanabara e diversas ilhas, foi a primeira cidade a receber o título de paisagem cultural pela UNESCO. Ao longo do litoral da metrópole o terreno tem alternâncias consideráveis, possui também algumas lagoas e vegetação considerável remanescente da mata atlântica, são seus morros como o pão de açúcar, corcovado e dois irmãos que trazem a exuberância cênica da metrópole (AB’SÁBER, 2007). O nome Rio de Janeiro, tem sentido literal, foi descoberto em 1 de Janeiro pelos portugueses, que pensaram ser a Baía de Guanabara a foz de um rio. A região da baía de Guanabara era ocupada pelos tupinambás muito antes da chegada dos portugueses, que descobriram a baía em 1502 mas ocuparam-na posteriormente. Os franceses em 1555 alojaram-se na ilha de Villegagnon erguendo um forte, aliando-se aos tupinambás. Com vistas a expulsão dos franceses, os portugueses aliaram-se a uma tribo rival e reconquistaram o território, tendo completo domínio do território só em 1567. Com intuito de domínio territorial, Estácio de Sá, fundaram a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, entre o Morro Cara de Cão e o Morro do Pão de Açúcar em 1565, com a construção do Forte de São João. Figura 18 – Mapa do Rio de Janeiro em 1574.

Fonte: http://www.pensario.uff.br/node/246


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Posteriormente foi refundada no alto do Morro do Castelo, onde começou o desenvolvimento urbano, um desenvolvimento lento mas que no final do século alcançou 30 mil habitantes, tornando-se a mais populosa do Brasil, com a extensa população a necessidade de captação de água fez-se necessário os Arcos da Lapa, primeiro aqueduto brasileiro, inaugurado em 1723, após um longo período de construção e posteriormente expandido. Logo em 1723 Com a descoberta do ouro em Minas Gerais, Rio de Janeiro ganha maior importância escoando a preciosidade para a Europa, e em 1764 torna-se capital do Brasil, o que beneficiou a expansão da cidade. Figura 19 – Ilustração da Paisagem do Rio de Janeiro em 1710.

Fonte: Coleção Estudos Cariocas 2009 – website: portalgeo.rio.rj.gov.br

A chegada da corte portuguesa em 1808 marcou os traços da cidade, que tornou-se a única a sediar um governo Europeu fora do continente. A partir daí, logo recebe a Academia Militar, Academia Imperial de Belas Artes e a Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios, que trariam a arquitetura europeia no Rio de Janeiro. Em 1822, com a independência do Brasil, Rio de Janeiro agora torna-se capital do Império do Brasil, enriquecida com a cafeicultura e cana-de-açúcar do país. Como capital do império, carrega até hoje órgãos públicos de administração federativa em uso. A cidade era provida dos melhores serviços devido sua importância política, recebia belos jardins e parques, equipamento urbano e em 1864 recebe o primeiro esgoto do Brasil e terceiro do planeta. Eletricidade, iluminação pública e mobilidade aos poucos vão sendo alojadas na capital. Figura 20 – Ilustração da Paisagem do Rio de Janeiro em 1817.

Fonte: Coleção Estudos Cariocas 2009 – website: portalgeo.rio.rj.gov.br


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Com a proclamação da república,

o Rio de Janeiro entra em declínio, com

crescimento desordenado da cidade, excesso de imigrantes, aumento da pobreza e a queda do trabalho escravo, já em 1890 possuía pouco mais de meio milhão de habitantes, o excesso de pessoas se dava pela procura de novas oportunidades, com o advento do trabalho assalariado. Figura 21- Litografia do Rio de Janeiro em 1861, de Charles Bachelier.

Fonte: O Rio de Janeiro visto pelos artistas franceses parte V http://www.kufs.ac.jp/Brazil/03docentes/sumida/ORiopelosfrancesesV.pdf

O surgimento de cortiços era inevitável, e com eles a insalubridade causando uma série de epidemias de doenças como a febre amarela e varíola. A partir disto, o governo estabelece uma série de politicas para erradicação das doenças, como as vacinas, que causaram a revolta da vacina em 1904 e as reformas urbanas e sanitárias do centro, que removiam a população pobre do centro, fadadas a habitar as encostas dos morros e a zona portuária. Este deslocamento urbano deu início ao processo de favelização existente até os dias de hoje. A mudança da imagem de um Rio de Janeiro sujo e insalubre desaparece dando lugar ao Belle Époque, tendência da época, como o Teatro Municipal a Avenida Rio Branco e seus edifícios e em 1908, surge um marco na paisagem, o Bondinho do Pão de Açúcar, em comemoração aos 100 anos da abertura dos portos. Figura 22 – Foto do Jardim da Glória, no Rio de Janeiro em 1906.

Fonte: http://veja.abril.com.br/multimidia/galeria-fotos/exposicao-panoramas


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Em 1892 surge o Túnel Real Grandeza, que posteriormente passou a chamar de Túnel Alaor Prata após sua reforma em 1925, permitiu a ocupação da Zona Sul do Rio de Janeiro, que vinha com a premissa de um novo estilo de vida, mais moderno. Logo em 1923 surge o Copacabana Palace, que marca a expansão demográfica da área. Figura 23 – Ilustração de Copacabana, no Rio de Janeiro, em 1927.

Fonte: Coleção Estudos Cariocas 2009 – website: portalgeo.rio.rj.gov.br

Em 1931 foi inaugurado o Cristo Redentor no Morro do Corcovado, monumento construído com doações arrecadadas pelo Circulo Católico do Rio de Janeiro, é um marco do estilo Art Déco da época. A antiga Estação Central do Brasil é demolida em 1936, por motivos de ampliação e elétrica, e em 1943 é inaugurada a nova estação, em estilo Art Déco, que permanece até os dias de hoje, sendo um marco na paisagem carioca. O Art Nouveau e Art Déco tiveram forte presença nesta época, ainda restam alguns edifícios como o Cine Iris, o Palácio do Comércio, edifício Ipu, dentre outros. Figura 24 – Ilustração de Copacabana , no Rio de Janeiro, em 1957.

Fonte: Coleção Estudos Cariocas 2009 – website: portalgeo.rio.rj.gov.br

Em 1960, com a inauguração da nova capital federal Brasília, o Rio de Janeiro torna-se uma cidade-estado e só em 1975 funde-se com o estado do Rio de Janeiro. Em 1970 Burle Marx deixa sua marca no calçadão de Copacabana, deixando-o mais curvilíneo e utilizando a pedra portuguesa, tão apreciada pelos brasileiros, herança luso-cultural, outras marcas do paisagista


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são o paisagismo do Aterro do Flamengo e do Museu de Arte Moderna – RJ, projeto audacioso do arquiteto racionalista Affonso Reidy. Outros grandes arquitetos modernistas como Oscar Niemeyer e Lúcio Costa também deixaram sua marca na cidade, com o Palácio Gustavo Capanema e a Passarela Professor Darcy Ribeiro. Figura 25 – Foto aérea do Rio de Janeiro, entre 1965 a 1970.

Fonte: http://www.blogdoims.com.br/ims/o-cristo-redentor

Mais atualmente foi inaugurada em 2013 a Cidade das Artes, projeto do renomado arquiteto Christian de Portzamparc, iniciado em 2003 sediando a Orquestra Sinfônica Brasileira, na Barra da Tijuca, com uma arquitetura mais contemporânea. A partir daí a cidade é sede de uma série de eventos como a Rio-92 e os jogos Pan-Americanos em 2007, que acarretou na construção do Estádio Nilton Santos e alguns jogos da Copa do Mundo em 2014, ainda sediará as Olimpíadas 2016, estes recentes eventos esportivos, impulsionaram uma alteração no planejamento urbano, propondo melhorias e adequações as normas, no entanto, algumas áreas, como algumas escolas de samba, tiveram de ser realocadas, e dispersaram-se ao longo da cidade. A violência organizada nos últimos anos fez com que o governo tomasse medidas mais ofensivas junto ao BOPE e fuzileiros navais, que melhoraram o nível de segurança, pacificando algumas favelas, como a favela do Alemão, reduto de narcotraficantes. A cidade é agraciada pela UNESCO em 2012, elevada à categoria de Patrimônio Cultural da Humanidade, sendo a primeira no mundo, o que coloca em foco a preservação da cidade e abre para discussões os caminhos de elaboração da paisagem e sua preservação. A rede de influência do Rio de Janeiro é uma das maiores do país, tendo grande influência de emissoras de televisão, a proximidade com a maior rede influência do país (São Paulo) importância turística internacional a ponto de possuir dois aeroportos, Galeão (internacional) e Santos Dumont (que leva o nome do pai da aviação, que habitou a metrópole algumas vezes), e ainda


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permanece com importância política, por possuir a herança de seu tempo como capital federal. As áreas de proteção ambiental são várias e bem protegidas, com exceção das que porventura se tornaram favelas pela invasão das classes menos favorecidas são fortes vítimas da erosão, e as praias, cada vez mais necessitam de constante cuidado com o avanço do mar sob a areia e os resíduos industriais que tornam o mar impróprio para o banho. O processo de favelização atingiu um panorama caótico, e a constante ocupação desordenada da metrópole é recorrente, sendo a segunda maior região metropolitana do país. Figura 26 – Foto aérea do Rio de Janeiro em 2012.

Fonte: http://www.alittleviewoftheworld.co.uk/all-eyes-on-brazil/

3.4 MANAUS AM OUTUBRO 1669 – 2015 “Manaus é uma cidade diferente; ao invés de morarmos nela, é ela que mora dentro da gente.” (ANÍBAL BEÇA) Situada na Amazônia, ao longo da faixa do equador, 3.1° latitude sul e 60° longitude oeste, em área plana, clima quente e úmido de monções, com elevada umidade do ar durante o ano e alto índice pluviométrico, localizada na maior floresta tropical e bacia fluvial do mundo, composta pela maior diversidade de plantas no planeta e importante fauna, com presença de bacias e igarapés e árvores geralmente de copa densa e alta. Manaus recebe forte impacto dos fenômenos la niña e el niño, a natural cheia e seca dos rios afeta diretamente a metrópole que está apenas a 21 metros acima do nível do mar, em área de planície. Manaus é localizada no encontro das águas do rio Negro e rio Solimões, que juntos formam o rio Amazonas (AB’SÁBER, 2007). O Nome Manaus provêm da tribo dos manaós, localizada no Rio Negro e Solimões, que ali vivia muito antes da chegada dos europeus.


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É importante ressaltar que Manaus localiza-se no lado espanhol do Tratado de Tordesilhas, entretanto, o período em que a região amazônica começou a ser explorada de 1580 a 1640, trata de um período onde a Espanha e Portugal estavam sob uma mesma coroa, logo, uma exploração portuguesa em território de exploração espanhol sem infrações. No entanto, a real ocupação foi tardia, visto que não representava os interesses da coroa, sem contar na dificuldade de viabilidade causada pela dificuldade de acesso da região. A primeira tentativa de ocupação da área em 1657 fixou-se no rio tarumã e a segunda em 1658 tinha como intuito a procura de índios para escravização e das drogas do sertão, saqueavam aldeias e assassinavam aqueles que resistiram, ambas as tentativas provindas do Maranhão. Em 1668, com o intuito de resguardar a região da ocupação espanhola e holandesa, surgiu a idéia de construir um forte na área, e em 1669 a primeira fortaleza na área foi estabelecida, feita de pedra e barro, o Forte de São José da Barra do Rio Negro, por razões táticas de colonização. A tribo Manaós, que ali estava assentada, entrou em confronto com os portugueses, se opunha a ser subjugada por estes. As lutas persistiram por um longo período, até que a forte miscigenação e o casamento entre europeus e indígenas, cessou os confrontos. A partir dai, o domínio português partiu de um pressuposto de estigma social, onde buscou-se apagar a herança histórica dos povos indígenas (OLIVEIRA, FREIRE, 2006). Figura 27 – Ilustração de Manaus em 1669.

Fonte: http://ooutroladodamoeda.com.br/2012/03/ha-257-anos-o-amazonas-era-elevado-ao-titulo-de-estado/

Em 1695 foi erguida uma capela pelos missionários para o catecismo visto o crescimento populacional. Em 1791 a Capitania de São José do Rio Negro por ordens do governador Lobo D’Almada transfere a sede para a Barra, na confluência dos Rio Negro e Solimões, com receio de invasões espanholas no território. Em 1798 a sede volta a ser Barcelos sob ordens do capitão-geral do Grão Pará. Logo em 1808 a sede volta a ser o Lugar da Barra (antiga Manaus), e logo em 1832 atinge status de vila sendo chamada de Vila de Manaus. Em 1850 a província do Amazonas é criada, como consequência do processo da


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Cabanagem, onde índios e mestiços tomam o poder das mãos da elite política (OLIVEIRA, FREIRE, 2006). Logo em 1852, uma série de melhorias surgem, sua primeira Biblioteca Pública e jornal. Em 1856, já com o desenvolvimento de sua cultura consolidado, Manaus eleva-se a cidade. Figura 28 – Mapa de Manaus em 1852.

Fonte: http://manausantiga.blogspot.com.br/2007/01/essa-planta-da-cidade-de-manaus-olha.html

Com o advento da era industrial no mundo, a borracha tornou-se extremamente requisitada, material abundante na região, logo Manaus começa a focar na extração e exportação da matéria-prima, dando início ao ciclo da borracha, que marcou profundamente a história da cidade que ganhou importância internacional. Com as oportunidades a vista, a imigração para Manaus se intensificaram, muitos nordestinos e até imigrantes portugueses, ingleses, italianos e franceses se deslocaram em busca de trabalho na extração de borracha. Com o excesso populacional, em 1892 planos governamentais foram elaboradas para o planejamento da cidade, e até 1910 deu-se a fase áurea da borracha, ganhando a cidade uma série de melhorias inigualáveis, como por exemplo, foi a primeira capital a receber energia elétrica no país, recebeu serviços de agua encanada, telefonia, um porto flutuante, bondes elétricos dentre outras formas de transporte coletivo. Em 1896 é inaugurado o Teatro Amazonas, marco da cidade em estilo eclético que marca a paisagem da cidade, demonstra a riqueza da época, onde a cidade era conhecida como a Paris dos Trópicos, e seus habitantes muito abastados, chegavam a importar mármore da Europa bem como mandar suas roupas para lavar em Portugal. Em 1900 Manaus já possuía 20 mil habitantes, marcada por ruas retas, longas calçadas feitas de pedra importada de Portugal, praças muito bem projetadas, palacetes, fontes dentre outros monumentos, demonstrando a exuberância da cidade, já muito avançada para seu tempo.


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Figura 29 - Ilustração da Avenida Eduardo Ribeiro de Manaus em 1902.

Fonte: http://www.bauvelho.com.br/?p=193 Figura 30 - Foto da Avenida Eduardo Ribeiro de Manaus no século XIX

Fonte: http://www.bauvelho.com.br/?p=193

Estudos internacionais sobre doenças tropicais ajudaram a erradicar as crises de febre amarela já em 1913 em Manaus, onde uma série de políticas de saneamento estava a tona. Manaus recebia os mesmo benefícios de equipamento urbano da capital federal, Rio de Janeiro. Em 1910, com o surgimento da concorrência asiática no mercado internacional da borracha, o declínio da cidade teve inicio, e aos poucos a cidade foi abandonada pelos mais abastados. Figura 31 – Foto de Manaus em 1910

Fonte: http://manaus-sua-historia.blogspot.com.br


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Durante o Regime Militar a idéia de descentralizar o polo industrial e a economia do país estava em voga, também o era uma estratégia de povoamento nas áreas menos habitadas do país. O que resultou no surgimento da Zona Franca de Manaus, e em 1960 a cidade volta a crescer economicamente, e seu processo de urbanização acelera desproporcionalmente, expandindo a periferia. As condições de vida e empregabilidade geraram um fluxo migratório elevado o que causou uma elevada expansão urbana e demográfica em 1970, o que degradou muitas áreas de preservação com as invasões, para apaziguar esta situação o governo gerou uma série de novos loteamentos, mas a poluição e degradação ambiental permaneceu. As antigas obras do arquiteto Severiano Mario porto datam desta época, como antigo Estádio Vivaldo Lima de 1965 e o restaurante chapéu de palha de 1967, ambos demolidos. Algumas obras no entanto ainda persistem como, a sede do SUFRAMA e o sítio da preguiça de 1971 e o Campus da Universidade da Amazônia, 1973, suas obras revelam diálogo direto com o meio onde se encontra, tentando resgatar as raízes culturais e adequar-se ao clima intenso da região. Figura 32 – Foto aérea de Manaus em 1970 / Figura 33 – Foto do Teatro Amazonas em 1970.

Fonte: http://cidadesempostais.blogspot.com.br/2013/01/165-manaus-am-dec-de-1970.html

Em 1991 Manaus já contava com 1 milhão de habitantes, logo em 1992 a Ponta Negra, bairro de prestígio com vista privilegiada para a floresta amazônica situado ao longo do Rio Negro, passou por um processo de reurbanização, que revitalizou a área, no entanto a poucos anos atrás o bairro continuava passando por novas reformas urbanas, muito visado pela beleza cênica, é composto de vários condomínios fechados e hotéis de luxo que revelam mal uso do solo, pois pouco se adequam a paisagem, muitas vezes removendo mata nativa e cercando as áreas de acesso ao rio, deixando estas apenas para as classes mais abastadas, inclusive, o transporte coletivo é de baixa qualidade, com poucos pontos de acesso, o bairro tornou-se excessivamente residencial possuindo poucos estabelecimentos comerciais para suprir esta população. A Ponta Negra não é exceção a regra, muitos outros bairros de alto padrão de Manaus vêm segregando a metrópole da Amazônia e expulsando as classes sócias inferiores para áreas muitas vezes degradadas. A continua normatização da cidade vem removendo maneiras de fazer arquitetura muito antigas como o porto flutuante e as palafitas, que apesar


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de insalubres, demonstravam um tipo especifico de arquitetura muito comum na Amazônia, onde o projeto adequa-se bem as cheias e secas do rio. Por outro lado, Manaus vem requalificando seus Igarapés e começa a implantar os BRT’s (Bus Rapid Transit – Trânsito rápido de ônibus), que podem vir a melhorar a mobilidade da extensa metrópole. Já em 2007 a Região Metropolitana de Manaus foi criada, sendo a maior do país, dado a sua extensão de 101.475 km2, conta com uma população de 3.480.028 em toda a sua região de influência, sendo a menos densa do país mas a área mais adensada do Amazonas, seu PIB per capita revela concentração da renda, sendo R$ 16,5mil no centro e R$ 4,8mil nos arredores. Compõe a região de influência de Manaus os munícipios: Careiro da Várzea, Iranduba, Itacoatiara, Manacapuru, Novo Airão, Presidente Figueiredo e Rio Preto da Eva. Em 2014 a metrópole de Manaus sozinha já possuía uma população de 2.020.301 habitantes. Com o advento da Copa em 2014, Manaus foi escolhida como sede, o que resultou na catástrofe da demolição do antigo Estádio Vivaldo Lima, onde hoje se encontra a Arena da Amazônia Vivaldo Lima, projeto do escritório internacional GMP, as empresas internacionais vêm definindo a arquitetura da cidade o que descaracteriza a metrópole, como as novas paradas de ônibus que pouco se adequam ao sol escaldante e recorrentes chuvas, muito visada por sua proximidade com os Estados Unidos, possui voos diários para Miami, rota que dura pouco mais de 5 horas, dentre outras rotas internacionais como Panamá, Aruba, Venezuela, e Lisboa, a venda de imóveis para turistas tornou-se uma constante na metrópole. Figura 34 – Foto aérea de Manaus em 2014.

Fonte: http://www.portalamazonia.com.br/editoria/files/2014/07/manaus-vista-aérea-foto-chico-batata-agecom-am.jpg


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3.5 CURITIBA PR MARÇO 1693 – 2015 “A maior atração de uma cidade é a qualidade de vida de seus moradores.” (JAIME LERNER) Situada na região concentrada, Sul, 25.4° latitude sul e 49.2° longitude oeste, em floresta ombrófila mista, composta por bosques de araucárias, a paisagem fortemente agrária (geralmente agrícola) compete com a mata nativa atualmente, onde a proteção da floresta de araucária faz-se necessária. De clima temperado úmido com verão temperado, é conhecida como a cidade de quatro estações em um dia, localizada no primeiro planalto do Paraná a 934m do nível do mar, sendo a parte mais alta ao norte da metrópole com 1021m e o mais baixo a 865m próximo ao rio Iguaçu, passando a sensação de declividade acentuada. Composta de pequenas colinas recebe ventos fortes de todas as direções, as massas de ar seco do centro-sul garantem um inverno frio e seco causando geadas, possui também 6 bacias hidrográficas que desaguam no rio Iguaçu que por sua vez desagua no rio Paraná, esta ambientação garante a Curitiba alto índice pluviométrico durante o ano todo, e ocasionais cheias já canalizadas pelo estado. Este cenário garante a capital paranaense maior desconforto térmico por frio o ano todo entre as capitais brasileiras. Possui inclusive incidência de neve uma vez a cada 10 anos aperiódica, sendo o granizo comum todos os anos na metrópole (AB’SÁBER, 2007). O nome Curitiba, vêm do tupi, onde Curi é pinheiro e tiba muitos, logo, um pinheiral, referente a abundância de araucárias na região. O planalto onde Curitiba se situa foi habitado pelos índios muito antes da colonização tardia que ali surgiu (OLIVEIRA, FREIRE, 2006). Em 1668 Gabriel de Lara acresceu um pelourinho ao povoado Nossa Senhora da Luz dos Pinhais de Curitiba (Atual Curitiba), no entanto o povoado não possuía nenhum registro histórico documentado. Em 1693 o povoado eleva-se a vila, seu surgimento é dado a descoberta

do ouro em

Paranaguá pelos bandeirantes, a partir dai a cultura de subsistência agrônoma e pecuária desenvolveu-se no local para suprir os mineradores. Após a rápida extração do minério na região, muitos mineradores mudaram para Minas Gerais abandonando o local. Em 1730 Curitiba pertencia a rota do gado provinda do Rio Grande do Sul e direcionada a Minas Gerais, mas com o passar do tempo uma nova rota surgiu isolando a vila por um longo período. Em 1842 Curitiba é elevada a cidade com 5.819 habitantes, e logo após o Paraná foi separado do estado de São Paulo, em 1853, tornando-se então capital da província do Paraná.


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Figura 35 – Desenho da Paisagem de Curitiba em 1827, de Debret

Fonte: http://www.curitiba-parana.net/historia.htm

A emancipação paranaense deu-se após sucessivas tentativas que agora eram apoiadas pelos momentos conturbados no país, como a guerra dos farrapos e a revolução liberal, a província que era de pouco interesse econômico para o país, beneficiou-se da exportação de erva-mate e madeira para a Argentina e Chile, bem como outras áreas do Brasil. O Paraná foi foco imigratório desde 1829, a partir dai, por possuir um solo rico propício ao plantio e uma forte cultura rural, teve em 1867 o surgimento de 35 núcleos coloniais nos arredores de Curitiba, uma extensa imigração de alemães, italianos, poloneses, ucranianos dentre outras nações inclusive japoneses, que impulsionaram a agricultura, silvicultura e uma industrialização inicial, de fato uma iniciativa progressista de desenvolver o estado (IPHAN/COPEDOC,2007). Essa diversidade de nacionalidades deixou marcas expressivas, monumentos, praças e bairros com traços oriundos de seus países. Figura 36 – Aquarela da Paisagem de Curitiba em 1855 por John Henry Elliot.

Fonte: Acervo BPP http://commons.wikimedia.org/wiki/File%3AAquarela_de_Curitiba_em_1855_de_John_Henry_Elliot.png

Em 1886 o parque Passeio Público foi inaugurado, sendo o primeiro da cidade Após a proclamação da república, tropas revolucionárias invadiram Curitiba com a revolução federalista em 1894, só após os conflitos foram retomadas a gestão governamental. Em 1893 a


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Catedral Metropolitana de Curitiba foi inaugurada em estilo neogótico, permanecendo até os dias de hoje, construída onde antes foram duas outras variantes da mesma, a primeira em 1668 era uma pequena igreja de pau a pique que logo em 1721 foi derrubada e construída uma maior de pedra e barro, que por sua vez também deu lugar a atual catedral. Figura 37 – Desenho da Paisagem de Curitiba em 1910 por Adolpho Volk

Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Curitiba-view.jpg

Em 1910 os bondes elétricos trazidos da França foram implantados na cidade. Em 1912 foi inaugurada a Universidade Federal do Paraná, a mais antiga instituição de ensino a ser titulada de Universidade no Brasil. Durante e após a segunda guerra mundial, ocorreu outra forte imigração para a cidade, oriunda de fugitivos da guerra, que impulsionou a produção de café no norte do Paraná e outras formas de agricultura ao Oeste (IPHAN/COPEDOC,2007). Em 1916 é concluída a construção do Paço Municipal, com estilo Art Nouveau e alguns detalhes neoclássicos, atualmente tombado pelo IPHAN. Outro projeto importante para a paisagem curitibana é o Palácio da Avenida que data de 1929, empreendimento do comerciante síriolibanês Feres Merhy, que hoje pertence ao HSBC e desde 1991 possui um belíssimo espetáculo natalino, o coral infantil. Em 1930 surge o primeiro projeto modernista, do arquiteto Frederico Kirchgässner, sua própria residência, que por ser coberta de laje chocou a sociedade curitibana que arrecadou verbas para que o arquiteto pudesse construir um telhado bem inclinado em sua casa, que evidentemente não era de interesse do mesmo. Posterior a ele, Villanova Artigas, natural de Curitiba apesar de residir boa parte de sua vida em São Paulo, também deixou alguns projetos modernistas na cidade como o Hospital São Lucas de 1945 e a residência Bettega de 1953. Em 1943 o arquiteto urbanista francês Alfredo Agache, entrega o plano urbanístico para cidade de Curitiba, baseado em um sistema radial, propunha, grandes avenidas, recuo de obrigatório de 5 metros, galerias pluviais da rua XV de novembro, o mercado municipal e a zona industrial, o projeto deixou marcas nítidas na cidade, rasgando-a e trouxe qualidade de vida e elegância a Curitiba. O novo prédio do Centro Cultural Teatro


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Guaíra foi inaugurado em 1948, projeto moderno que possui em sua fachada um grandioso mural do artista Poty Lazzarotto, o projeto construído tinha ficado em terceiro lugar, mas foi definido como o projeto a ser construído pelo governador por se tratar de uma arquitetura moderna, condizente com as novos ideias da paisagem de Curitiba. Figura 38 – Plano Agache de Curitiba em 1943.

Fonte: http://www.gazetadopovo.com.br/caderno-g/os-desenhos-de-curitiba-ee64b5kc2zotz1haskcigzyvi

Durante a ditadura militar, um fato surpreendente colocou Curitiba em destaque, em 1969 entre 24 a 27 de março, Curitiba foi capital do Brasil por três dias, por questões de marketing governamental, visto que a cidade não se opôs ao regime militar e a esposa do presidente da época, Costa e Silva, era natural da cidade. Figura 39 – Foto aérea de Curitiba em 1970.

Fonte: http://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/colunistas/nostalgia/curitiba-caotica01zyh755mm5622ckgfv0ych1q


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Em 1972 a cidade começou um plano humanizador, visando melhorias na qualidade de vida da população como meio de desenvolvimento, iniciado pelo prefeito arquiteto e urbanista Jaime Lerner (que futuramente se reelegeu prefeito mais duas vezes, tornou-se também duas vezes governador do Paraná e presidente da União Internacional de Arquitetos) e recorrente em todos os outros gestores da cidade e do estado. A malha urbana da cidade recebeu uma série de melhorias, o que Jaime Lerner cunhou de Acupuntura Urbana. Data desse período as ruas apenas para pedestres, visto na rua XV de novembro , primeiro calçadão deste tipo no país (conhecida como rua das flores, que também abarca a Boca Maldita) e também o projeto do parque Barigui. Sem dúvida o transporte público de Curitiba ganhou destaque internacional, os famosos tubos e ônibus bi-articulados, o “ligeirinho”, com canaletas preferenciais de trânsito viraram referência mundial em mobilidade, o fato de pagar o bilhete nas paradas de ônibus, a acessibilidade do passageiro ser viabilizada logo na parada, acelerou o processo de embarcação no ônibus, e tratar-se de um sistema integrado. Outras políticas implantadas foram a coleta seletiva e a educação ecológica. Em 1975 Curitiba surpreende o Brasil mais um vez, a cidade recebeu uma intensa nevasca que recobriu a cidade inteira com neve durante todo o dia de 17 de julho, apesar de bela garantindo fotos exuberantes da cidade, ficou conhecida como geada negra, pois destruiu as plantações de café do norte do Paraná, o que foi catastrófico para a economia do estado. Figura 40 – Foto UFPR em 1975 / Figura 41 – Foto Rua XV em 1975 / Figura 42 – Foto Catedral Metropolitana em 1975.

Fonte: http://www.jws.com.br/2014/12/a-neve-de-1975-em-curitiba/

Em 1991, continuando os ideais de melhoria urbana da cidade, a Rua 24 horas é inaugurada, um ponto comercial recoberto tipo galeria aberto 24 horas por dia, também é inaugurado o Jardim Botânico de Curitiba, projeto inspirado no Palácio de Cristal de Londres de Joseph Paxton, e a Torre Panorâmica de Curitiba, localizada no bairro Mercês . Logo em 1992 também é inaugurado a Ópera de Arame, um teatro projeto do arquiteto Domingos Bongestabs, feito em tubos de aço cuja obra foi realizada em apenas 75 dias. Em 1993 data a reforma da Praça do Japão, que adicionou ao projeto anterior o memorial de imigração japonesa, o portal japonês, a biblioteca municipal da praça, a casa de chá, e casa da cultura.


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Um memorial ucraniano em homenagem aos imigrantes ucranianos é erguido em 1995, no Parque Tingui, durante a páscoa acontece a tradicional cerimonia de benção dos alimentos típica da Ucrânia e a pintura de ovos de páscoa. Em 2002 Oscar Niemeyer deixa sua marca na cidade, readaptando o antigo Instituto de Educação para um museu, o Museu Oscar Niemeyer e adicionado um anexo, conhecido como “museu do olho”, sendo o segundo maior vão livre do Brasil de 65 metros, e sem dúvida o mais complexo de ser executado, por sua forma curvilínea, impressiona pelo acabamento que não deixou trincas, do mesmo período da reforma data o projeto do mobiliário urbano da metrópole, inspirado na Araucária, símbolo do Paraná, atualmente o Museu Oscar Niemeyer, está abrigando obras de Salvador Dali e Miró dentre outros grandes artistas, fruto de lavagem de dinheiro da Operação Lava Jato . A metrópole conta com um Aeroporto Internacional localizado no município vizinho de São José dos Pinhais, com destinos internacionais para Miami, Buenos Aires e Montevideo. A linha férrea é um grande atrativo do turismo paranaense, que liga Curitiba a Paranaguá, e a linha de ônibus turismo registrou em 2011, 604.656 usuários. A capital ecológica possui 64,5m2 de área verde por habitante, 5 vezes maior que o mínimo recomendado pela OMS, e é considerada pela lista da Forbes a terceira cidade mais sagaz do mundo, pela suas iniciativas ecologicamente sustentáveis, qualidade de vida, boa infraestrutura e dinamismo econômico. Também possui o menor índice de analfabetismo entre as capitais. Figura 43 – Foto aérea de Curitiba em 2014.

Fonte: Michel Wilian http://www.miriangasparin.com.br/wpcontent/uploads/2014/03/Curitiba_aérea4_Foto-MichelWillian.jpg


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3.6 BRASÍLIA DF ABRIL 1960 – 2015 “Eu sinto como se tivesse aterrissado na superfície de outro planeta.” (YURI GAGARIN - Tradução nossa) Situada no Centro Oeste, 15.7° latitude sul e 47.8° longitude oeste, no Cerrado brasileiro, que possui a menor densidade hidrográfica do país, florestas galerias com árvores de raízes compridas, por isso geralmente baixas visto a lentidão de seu crescimento, porém de grande valor estético como os ipês e paineiras. Composta por relevos ruiniformes e clima tropical com estação seca. A paisagem de Brasília, localizada no Planalto Central a 1100m do nível do mar, é um exemplo de interferência humana sobre o meio natural, visto que boa parte de suas árvores e plantas, assim como o Lago artificial Paranoá, foram inseridas pelo homem, por isso algumas de suas árvores nativas do cerrado ainda possuem estatura média ou baixa, visto que a cidade surgiu apenas a 55 anos atrás (AB’SÁBER, 2007). O nome Brasília é a tradução da palavra Brasil em latim, nome cunhado por José Bonifácio em 1823. O centro do Brasil já era ocupado por tribos indígenas muito antes da chegada dos europeus (OLIVEIRA, FREIRE, 2006). A região do Distrito Federal, embora não existente como atualmente já foi habitada, o povoado de São Sebastião de Mestre d’Armas foi fundado no século XVIII, estava na rota de garimpeiros que iam para o Mato Grosso e Goiás. Atualmente este mesmo povoado é parte da região administrativa de Planaltina, no entorno de Brasília. A idéia de mudar a capital para o centro do país é antiga, em 1761 Marquês de Pombal foi quem propôs inicialmente a transferência para o interior, por questões estratégicas de domínio da colônia, abrindo espaço para que vários outros discutissem a respeito do tema ao longo da história. O padre São João Bosco em 1883 teve um sonho premonitório que expôs em uma assembleia salesiana, relatando um área rica e próspera próxima a um lago entre os paralelos 15 e 20 do hemisfério sul, onde posteriormente Brasília foi fundada de fato, tornando-se assim, Padroeiro de Brasília. Outro fato interessante, causado especialmente pela ambiguidade do nome Brasília, foi a descoberta do asteroide 293 em maio de 1890 pelo astrônomo francês Auguste Charlois, que homenageou o Brasil, dando a ele seu nome em latim, Brasília, primeiro asteroide a homenagear a federação (NASA). Já na primeira constituição republicana em 1891, versava-se sobre uma área no Planalto Central onde estabelecer-se-ia a futura Capital Federal, neste mesmo ano nasceu a Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil, liderada por Luís Cruls, um astrônomo, e composta por diversos profissionais, o território chamou-se de “Quadrilátero Cruls” e o ponto onde Brasília foi demarcada de “Vera Cruz” apresentado em 1894.


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Figura 44 – Foto da Pedra Fundamental de Brasília, em Planaltina D.F.

Fonte: http://noticias.uol.com.br/album/2013/05/30/conheca-a-brasilia-real-da-musica-faroeste-caboclo.htm

Em 1922 uma caravana partiu ao local, situado no Morro do Centenário, para assentar a Pedra Fundamental de Brasília, concretizando-a em setembro deste mesmo ano. (OLIVEIRA; ANJOS; LEITE, 2008) No entanto em 1954, a localização exata de Brasília foi redefinida para onde hoje encontra-se a metrópole, a 9 quilômetros da pedra fundamental. Durante a candidatura a presidência da república, em 1955, Juscelino Kubitschek foi inquirido sobre a construção da nova capital federal, no interior do Brasil. O então candidato afirmou a construção da capital e após eleito, pronunciou sobre seu Plano de Metas, que propunha Brasília como a meta-síntese, realizando 50 anos em 5. Em 1956 o coronel Ernesto Silva, secretário da Comissão de Planejamento da Construção e Mudança da Capital Federal, é nomeado presidente da mesma pelo presidente Juscelino Kubitschek e posteriormente Diretor da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (NOVACAP), publica o Edital do Concurso do Plano Piloto neste mesmo ano em 30 de setembro. O anteprojeto do arquiteto Lúcio Costa, ex-Diretor da Escola Nacional de Belas Artes em 1931 e Diretor da Divisão de Estudos e Tombamentos do Sphan (Atual IPHAN), é o escolhido, apesar do desenho encontrar-se a nível de esboço, com poucos detalhes comparado as outras propostas. Sua proposta era simples e de fácil leitura, baseado no cruzamento de dois eixos, cardo e decumanus. Figura 45 – Planta de Brasília, de Lúcio Costa, em 1957

Fonte: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/11.125/3629


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Os edifícios públicos de maior importância, concentrados no Eixo Monumental são de autoria do arquiteto Oscar Niemeyer, ex-aluno e estagiário de Lúcio Costa e neto do exMinistro do STF Antônio Augusto Ribeiro de Almeida, Niemeyer foi convidado por Juscelino Kubitschek para tal função, que já anteriormente o conhecia tendo projetado o Conjunto Arquitetônico da Pampulha para Juscelino. O projeto da primeira residência oficial do presidente em Brasília, o Catetinho, foi inaugurado em 1956. A cidade foi inaugurada no mesmo dia e mês da morte de Tiradentes em 21 de abril, no ano de 1960, apesar de seu Aeroporto datar de 1957, chamado de “Aeroporto Vera Cruz”, foi construído em 1955 pelo governo goiano, a súplica da Comissão de Localização da Nova Capital Federal, era localizado onde hoje é a antiga rodoferroviária de Brasília. Figura 46 – Demarcação / Figura 47 – Congresso Figura 48 – Eixo Monumental Figura 49 – Catedral (Constr. da capital)

Fonte: http://noticias.uol.com.br/album/100415brasilia50_album.jhtm#fotoNav=54

A capital ganhou destaque internacional como apontam Oliveira; Anjos; Leite, 2008: “Em decorrência, a Capital do Brasil foi o primeiro núcleo urbano construído no século XX a ser incluído na lista de bens de valor universal, recebendo em 1987 o titulo Patrimônio Cultura da Humanidade pela UNESCO”. Foi a primeira cidade modernista já projetada e de rápida construção apenas um mandato à presidência, baseado nos conceitos de Le Corbusier, trazia inovações que marcam, como as quatro escalas: residencial, bucólica, gregária e


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monumental, a setorização da cidade, o conceito de superquadras, o pilotis, planejada para apenas meio milhão de habitantes, foi projetada para o automóvel e seu estilo moderno impressiona (OLIVEIRA; ANJOS; LEITE, 2008). A cidade no projeto era baseada na justiça social, dentro dos conceitos de esquerda de Lúcio Costa, no entanto isto nunca aconteceu na história de Brasília, que sempre pertenceu a elite, os próprios bairros residências circundantes ao lago Paranoá possuíam venda exclusiva apenas para as classes mais abastadas deixando as classes menos favorecidas a própria sorte, a grande maior parte dos candangos era de baixa classe social e acabou por habitar os arredores. A cidade de Brasília e entorno possuía cerca de 141.742 habitantes, mais de 2 mil estabelecimentos comerciais, pouco menos de 700 estabelecimentos de prestação de serviço, 349 indústrias de médio e pequeno porte e um jornal o Correio Braziliense já em 1960. Figura 50 – Foto aérea da Paisagem de Brasília em 1960.

Fonte: https://www.studyblue.com/notes/note/n/lecture-13-latin-america-andjapan/deck/6637179

A segregação com o tempo foi dominando o Distrito Federal, e o cinturão verde que circunda Brasília tornou-se mais uma maneira de discriminação, pois separava a classe elevada habitante de Brasília, da menos favorecida, muitos acabaram morando em áreas irregulares. Em 1963 é inaugurado o santuário Dom Bosco, padroeiro de Brasília, um belíssimo projeto modernista com um detalhado trabalho de vitrais é um lustre de 2500 quilos, projeto do arquiteto Claudio Naves. A Torre de TV de Brasília, projetada por Lúcio Costa, localizada no Eixo Monumental, foi inaugurada em 1967 com 224 metros de altura, e ainda continua sendo a torre de TV mais alta do país, é rodeada por uma feira que com o tempo passou por reformas, perdendo um pouco da vida que anteriormente possuía. Com o final do governo J.K. a dívida pública era bem elevada, a carência de empregos e a


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dificuldade imobiliária para as classes inferiores acarretou em sucessivas greves. O governo iniciou um processo de transferência populacional, devolvendo candangos a sua terra natal ou enviando para a região Sul do país, onde havia mais oportunidades de emprego, estes sucessivos problemas causaram a ditadura militar. Apesar da rápida construção da cidade, a transferência governamental só se deu em 1970 durante a ditadura. Pouco antes de 1970 nos arredores de Brasília uma economia de subsistência já surgia, com pequenas plantações e pecuária, a integração do Centro Oeste demarcou a expansão da cidade e aos poucos foi degradando o Cerrado. Foram construídas diversas barragens para o abastecimento de água e as cidades dormitórios cada vez mais se expandiam, o que acarretou em uma população de 546.015 habitantes já em 1970, passada uma década em 1980 a população de Brasília atingiu a marca de 1.203.333 habitantes, a grande maior parte habitando as cidades satélites e boa parte do plano piloto já consolidado, e aos poucos o setor de serviços tornou-se a principal renda da unidade federativa, boa parte ainda ligada a servidores públicos, que aos poucos foi se diluindo tornado menos da metade. Em 1973 o Quartel General do Exército localizado no SMU é inaugurado. Figura 51 – Foto aérea da Rodoviária de Brasília em 1970.

Fonte: http://cidadesempostais.blogspot.com.br/2012/12/126-brasilia-df-dec-de-1970.html

Atualmente a paisagem de Brasília é composta de cidades-dormitório e favelas interfederativas, boa parte existe para suprir a população economicamente ativa e as elites que moram no centro do Distrito Federal. Em 1992 foi aprovada a lei que permitia a construção da região administrativa de Águas Claras, próxima a cidade-satélite de Taguatinga, por ser situada dentro do afastamento da área tombada, esta, possui prédios extremamente


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verticalizadas, um projeto urbano estreito, com baixa quantidade de áreas comerciais, e em pouco tempo tornou-se o maior canteiro de obras da América Latina. Projeto do arquiteto urbanista Paulo Zimbres, é uma área extremamente adensada, onde prédios excessivamente verticalizados possuem pouca integração com seu meio, e só teve melhorias no trânsito com o surgimento do metrô, estação Arniqueiras, em 2002, o que configura como outra cidade dormitório extremamente adensada no Distrito Federal. Com o advento do projeto “Brasília Revisitada” em 1989, Lúcio Costa demarcou áreas onde a expansão urbana de Brasília poderia acontecer, apesar de não concordar com a sua execução. A partir disto, os Bairros Sudoeste e Octogonal, próximos a região administrativa do Cruzeiro, começaram a surgir em 1993, incialmente como bairros mais modestos, rapidamente com a especulação imobiliária tornaram-se bairro de classe média alta, seu traçado urbano e desenho dos blocos de Superquadra seguem a linha do Plano Piloto, com 6 pavimentos, mas agora muitos já surgindo com cobertura útil, com piscinas dentre outras formas de lazer, e uma pequena diferença urbana, desenhada pelo arquiteto urbanista Paulo Zimbres, onde antes era um cruzamento direto foi colocado uma rotatória entre as quadras, o que acarretou em um fluxo elevado de tráfego, e o comércio voltado para as superquadras como nas primeiras propostas de Lúcio Costa. Já o bairro Octogonal, possui desenho diversificado em forma de octógonos, mas não caiu ao gosto da população, permanecendo este um bairro pouco visado. A proximidade dos bairros supracitados com o Parque da Cidade, gerou melhor qualidade de vida e um forte atrativo para habitar. Figura 52 – Foto aérea dos bairros Sudoeste e Cruzeiro de Brasília.

Fonte: http://www.superbrasilia.com/misc/sudoeste_e_cruzeiro.jpg


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Possui um Aeroporto Internacional projeto renovado do arquiteto Sérgio Parada entre 1990 e 1994 e depois passou por outra reforma em 2012 quando começou a pertencer a iniciativa privada, com voos internacionais para Buenos Aires, Paris, Miami, Panamá, Atlanta, Punta Cana e Lisboa, e é o segundo maior em movimentação de passageiros no Brasil. O setor Noroeste é a última área do Plano Piloto a ser construída, seguindo a mesma linha do setor Sudoeste, começou a venda de imóveis em 2009 e iniciou a construção em 2011, atualmente já existem vários imóveis construídos na região, seguindo a mesma simetria do bairro Sudoeste, apesar de seus habitantes não terem recebido o habite-se. Figura 53 – Foto aérea do bairro Noroeste de Brasília em 2012.

Fonte: http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/cidades/2012/06/22/interna_cidadesdf,308630/votacao-aprovasegunda-etapa-de-construcao-do-noroeste-por-15-votos-a-tres.shtml

O bairro teve venda reduzida, surgiu por pressão política, sem a real necessidade de imóveis para as classes alta e média, os imóveis residenciais surgiram antes do mobiliário urbano na área, até o Parque Ecológico Burle Marx, previsto para ser executado, até hoje não saiu do papel. Peculiar do bairro, é o fato de cunhar o termo “Superquadra Ecológica”, inclusive aplicando normas similares as previstas pela LEED nos Estados Unidos, no entanto, é localizado onde antes era uma área de preservação ambiental, onde situava-se o Santuário dos Pajés, parte do terreno era terra indígena (ARAÚJO, 2006). Atualmente os imóveis apresentam queda no valor do imóvel. Outras áreas em Brasília e entorno surgiram ao longo do tempo, quanto mais próximo do Plano Piloto, maior o custo. Algumas Zonas de Especial Interesse Social, também surgiram, o processo de favelização de Brasília vem se agravando. No último governo, foram implantadas faixas exclusivas para ônibus e ciclo faixas na cidade, no entanto, a má elaboração, fez com que sumissem áreas de calçada de pedestre ao invés de


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surgir novas faixas, como no caso do Lago Norte, ciclo faixas dividem o mesmo espaço com as faixas exclusivas de ônibus, o que pode causar acidentes de trânsito. A respeito de trânsito, Brasília tem história automobilística, o nome do automóvel Brasília foi dada em homenagem a metrópole, outros dois carros, como o Candango e o Itamaraty também aludem Brasília, atualmente a metrópole é a única a possuir um Cine Drive In ativo em toda a América Latina. Em 2007, Brasília já constava como Metrópole Nacional, com uma região de influência de 298 municípios, e uma população de 3.278.649 só no núcleo da rede (IBGE 2007). Em 2012, o PIB per capita do Distrito Federal foi o mais elevado dentre as unidades federativas, R$ 64.653, quase o dobro do PIB per capita de São Paulo, a segunda colocada, com R$ 33.624, e oito vezes maior que o PIB per capita do Piauí, o menor do país com R$ 8.137, sendo grande parte deste PIB concentrado nas mãos de poucos, inclusive visto que a Metrópole Brasília é de influência interfederativa, neste cálculo, não consta os municípios da RIDE, que dependem do Distrito Federal (IBGE 2012). O PIB per capita do Distrito Federal é tão elevado que em 2012 a Região Centro-Oeste, foi também o maior PIB per capita do país com R$ 29.843, ultrapassando o Sudeste por pouco que ficou com R$ 29.718. Nesta mesma época Torre de TV Digital de Brasília foi inaugurada, localizada em Sobradinho, foi o último projeto de porte monumental-escultural do arquiteto Oscar Niemeyer. Este PIB elevado causou estranhamento na população, que no início de 2014 não teve o pagamento de seu servidores públicos e uma série de gastos cortados para conter a dívida do Distrito Federal. A unidade federativa possui atualmente 31 regiões administrativas e uma Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno com 3 municípios de Minas Gerais e 19 municípios do Goiás, sendo que 93,58% do PIB da RIDE é concentrado no Distrito Federal (IBGE 2008). Figura 54 – Foto aérea de Brasília a partir do Estádio Mané Garrincha, em 2014

Fonte: http://www.canalabertobrasil.com.br/wpcontent/uploads/2015/03/brasilia_aerea_estadionacional1305_5573.jpg


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4 - CAPITULO II - NOVOS INSTRUMENTOS LEGAIS NAS METRÓPOLES Nos últimos anos a importância de planejar cidades e proteger o patrimônio da humanidade resultou no surgimento de diversas, leis, portarias e decretos, ainda não versadas anteriormente no século XX, como a lei no10.257, de 10 de Julho de 2001, o Estatuto da Cidade, o Decreto no3.551 de 04 de agosto de 2000 do IPHAN, que institui o registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial, bem como o Decreto-Legislativo 22, 08 de março de 2006 , que aprova a Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial da UNESCO. Com a constante mudança e novas influências, fez-se necessário o surgimento do Estatuto da Metrópole, lei no13.089, de 12 de janeiro de 2015, que soluciona lacunas que o Estatuto da Cidade não conseguia anteriormente solucionar com novos instrumentos, e a Chancela da Paisagem Cultural, portaria no127, de 30 de abril de 2009, que vai além do conceito de patrimônio material e imaterial, e do conceito de cultural e natural. 4.1 ESTATUTO DA METRÓPOLE O Estatuto da Metrópole, lei número 13.089 sancionada em 12 de janeiro de 2015, pela presidente Dilma Rousseff com alguns vetos polêmicos, vem a remediar dificuldades da governança interfederativa, onde uma metrópole, região metropolitana (RM) e aglomeração urbana (AU), são analisada como um todo. É sabido que o Estatuto da Cidade possuía algumas limitações que somente com o Estatuto da Metrópole poderão ser solucionadas. A lei aplica-se também as microrregiões, desde que haja interesse por parte do estado em executar funções públicas de interesse comum (FPIC), como destaca Moura e Hoshino, 2015, “...além das RMs e AUs, suas disposições se aplicam às microrregiões instituídas pelos Estados com fundamento em funções públicas de interesse comum com características predominantemente urbanas.” A única regra específica, é que a área de influência deve ser superior a uma capital regional, dado estabelecido pelo IBGE. Esta maior abrangência é positiva visto o grande território brasileiro, onde áreas menos concentradas, cidades de menor porte, possuem maior influência dada a baixa população. Estes mesmos autores apontam: “Se é verdade que o transporte coletivo, o saneamento, entre outros, podem ser mais eficientes e inclusivos se planejados e geridos em nível regional ou metropolitano, o novo modelo, em certa medida, coloca em xeque o arraigado municipalismo nas politicas setoriais.” Pois estes estão fadados a compatibilização de Planos Diretores com as diretrizes do Plano de Desenvolvimento Urbano Integrado (PDUI), excetuando-se os planos de saneamento básico, mobilidade urbana, gestão de resíduos sólidos, habitações dentre outros (MOURA e HOSHINO). O Estatuto prevê então o interesse comum sobre o local, buscando o equilíbrio de responsabilidades e o desenvolvimento sustentável, sem teoricamente ferir na autonomia.


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Para isto, requer, conforme o estatuto: “...a implantação de processo permanente e compartilhado de planejamento e de tomada de decisão, observado o imperativo de gestão democrática das cidades.” Garantindo rateio de cursos e alinhamento orçamentário entre os entes participantes (MOURA E HOSHINO). São adicionados novos instrumentos para uma melhor gestão urbana: planos setoriais interfederativos, plano de desenvolvimento urbano integrado, fundos públicos, consórcios públicos, contratos de gestão, operações urbanas consorciadas interfederativas, convênios de cooperação e parcerias público-privadas interfederativas. No que diz respeito ao Plano de Desenvolvimento integrado, este será instituído por lei e com constante renovação (no máximo 10 anos ) conforme o art. 12, nesta estão inclusos funções públicas de interesse comum, macrozoneamento da unidade territorial urbana, diretrizes de uso e ocupação do solo urbano, diretrizes intersetoriais de politicas públicas, delimitação de áreas com restrições à urbanização (patrimônio ambiental ou cultural) e de controle especial por riscos de desastres e sistema de acompanhamento e controle de suas disposições. Sendo por este assegurados promoções de audiências públicas e debates com representante da sociedade civil e da população de todos os municípios afetos, publicidade das informações e documentos e acompanhamento do Ministério Público. Medidas que fortalecem a justiça social e garantem estabilidade a governança interfederativa, bem como protegem os interesses da população. Como Moura e Hoshino, 2015 relatam: “De inaudito, o dispositivo insere expressamente o acompanhamento do Ministério Público na elaboração do Plano, aproveitando o protagonismo que a instituição tem provado, em inúmeras oportunidades.” A obrigatoriedade da lei, elaboração e vigor, é o que mais a fortalece, garantindo plena gestão urbana: “...será exigido que a unidade territorial urbana possua gestão plena, nos termos da lei, que pressupõe: a) formalização e delimitação mediante lei complementar estadual; b) estrutura de governança interfederativa própria; e c) plano de desenvolvimento urbano integrado aprovado (art.2, III)” (MOURA E HOSHINO)

Quanto a esta gestão plena, é antecipado conforme o estatuto da metrópole, no Art. 21, que incorre improbidade administrativa ao governador e agente público que não cumprir com o disposto no art. 10, em um prazo de 3 anos da instituição da RM ou AU, bem como na não elaboração e aprovação em três anos do PDUI destas áreas. A mesma improbidade administrava pode recair sobre o prefeito que também não tomar as providências necessárias nestes 3 anos da aprovação do PDUI. A responsabilidade da tomada de decisões agora recai não somente aos prefeitos, mas também aos governadores. Como relata Moura e Hoshino


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2015, o advento do Sistema Nacional de Desenvolvimento Urbano (SNDU) conforme o Capítulo VI da lei, o identifica como: ...coordenador da implementação da lei, assegurando-se a participação da sociedade civil (art. 20). Genericamente, alude-se a um subsistema de planejamento e informações metropolitanas que reunirá dados estatísticos cartográficos, ambientais, geológicos e outros relevantes para o planejamento, a gestão e a execução das FPICs.

Os vetos ao projeto de lei, dificultam a aplicação e diminuem a força da lei. Um dos vetos mais polêmicos é os artigos 17 e 18, que estabeleceriam o Fundo Nacional de Desenvolvimento Urbano Integrado, no entanto de acordo com Moura e Hoshino: “Difícil mesmo é imaginar que Estados e Municípios, com toda a frustração que a repartição de receitas já acarreta, deixariam de aplicar recursos diretamente em suas unidades territoriais para transferi-los a um fundo nacional (art. 18, §4o).” O que de fato, poderia o veto, representar uma burocracia a menos, se também não representasse a redução de verba para a possível governança interfederativa. Os autores ainda ressaltam: “Sob a ótica da transparência e do controle social, contudo, é inquestionável que o caminho dos fundos de finalidade específica é o mais recomendável. Pelo vetado art. 18, §1º, representantes da sociedade civil teriam assento no conselho deliberativo destinado a supervisionar o FNDUI.” O veto ao inciso II do §1 do artigo 1o referente a criação de região metropolitana que se situem em território de apenas um município, não possuía ressonância em território brasileiro (MOURA E HOSHINO). No entanto, o veto ao art. 19 que possibilitaria a inclusão do Distrito Federal, é um claro erro por parte do veto, a confiança de que a RIDE possui similaridade com a atual lei, ou de que a mesma é tão efetiva, é um grave equivoco por parte da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República. Conforme o veto: Em relação ao Distrito Federal, o instrumento de cooperação federativa adequado é a Região Integrada de Desenvolvimento Econômico - RIDE, prevista no art. 43 da Constituição. Está já foi, inclusive, criada pelo Decreto n 2.710, de 4 de agosto de 1998 - substituído pelo Decreto n 7.469, de 4 de maio de 2011 - que regulamenta a Lei Complementar n 94, de 19 de fevereiro de 1998.

Conforme Moura e Hoshino, 2015: “...o objetivo constitucional de uma RIDE (art.43, II, CF/88), isto é, a alavancagem do desenvolvimento econômico-social de determinada região, não se sobrepõe nem dispensa a função das RMs ou AUs (art.25, §3o ) ou seja, o exercício das FPICs.” Até porque, o que é visado no projeto de lei é a integração, tanto que microrregiões


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que configuram por influência como capitais regionais podem adentrar a lei, relembrando que Brasília configura pelo IBGE 2007 como metrópole nacional, dada a sua importância governamental. A própria lei versa no art.22 a aceitação de “...regiões integradas de desenvolvimento que tenham características de região metropolitana ou de aglomeração urbana”. O veto acaba então, por dificultar a justiça social necessária ao Distrito Federal, que com a RIDE, não possuí força judicial para estabelecer acordos entre as unidades federativas, visto a falta de interesse por parte das outras unidades federativas (Goiás e Minas Gerais). É sabido que alguns municípios tem sua qualidade de vida prejudicada visto que municípios adjacentes degradam seus meio ambientes, é previsto na lei um ressarcimento a estes conforme o Art. 7o, VII, “compensação por serviços ambientais ou outros serviços prestados pelo Município à unidade territorial urbana, na forma da lei e dos acordos firmados no âmbito da estrutura de governança interfederativa.” A perda de espaço nas cidades, com a constante expansão do perímetro urbano e cada vez mais edifícios adensados de pessoas reduz a possibilidade de interações, como descreve Lewis Munford, 2013: “As filas de edifícios altos, ainda que estejam bastante isolados entre si para não projetar sombras uns nos outros, criam um meio ambiente desprovido de atrativos, visto que roubam o sol e destroem a escala humana, cuja intimidade e familiaridade são vitais...”. O artigo 7o do Estatuto da Metrópole, representa um alívio as metrópoles, que rapidamente vem perdendo qualidade de vida, como Lewis Mumford , 2013, aponta: Devemos dar mais importância à função biológica dos espaços livres, hoje que a cidade está ameaçada pela poluição radioativa e que, dentro do perímetro dos centros urbanos, o ar formiga de substâncias cancerígenas. Mas não é tudo: aprendemos que os espaços livres também tem um papel social, frequentemente negligenciado em benefício único de sua função higiênica.

As operações urbanas consorciadas, agora podem estender-se além de um município, e outros instrumentos urbanísticos do Estatuto da Cidade que estejam definidos: “V – zonas para aplicação, compartilhada dos instrumentos urbanísticos previstos na Lei no 10.257”. Também outros instrumentos inclusos a governança interfederativa são os consórcios públicos, convênios de cooperação, PDUI, planos setoriais interfederativos, fundos públicos, parcerias público-privadas interfederativas, contratos de gestão e a compensação por serviços ambientais supracitada. O Estatuto da Metrópole, surge como um alívio para dificuldades de integração anteriormente vividas pelo Estatuto da Cidade, promulga a justiça social e traz maior vigor ao planejamento urbano, visto sua obrigatoriedade de execução.


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4.2 CHANCELA DA PAISAGEM CULTURAL A Chancela da Paisagem Cultural, portaria no127, de 30 de abril de 2009, estabelecida pelo presidente do IPHAN, Luiz Fernando de Almeida, representa a interação do indivíduo com o seu meio. A Chancela é um título dado a uma determinada área, que atende o interesse público de proteger a identidade cultural desta por sua importância nacional, como destaca Weissheimer, 2012 sobre o disposto na portaria 127/09 pelo IPHAN: “…a Paisagem Cultural Brasileira passou a ser definida como ‘uma porção peculiar do território nacional, representativa do processo de interação do homem com o meio natural, à qual a vida e a ciência humana imprimiram marcas ou atribuíram valores’.” Estabelece-se então, um plano de gestão que é um pacto entre investidores, sociedade e o poder público, como aponta a mesma autora: “Até o momento, parece residir aí um dos principais pontos nevrálgicos de aplicação da chancela – a definição das ações e atribuições de cada signatário e a assinatura de um pacto entre parceiros.” Este título pode ser cancelado pelo IPHAN, que acompanhará através de relatórios a conservação da paisagem, caso aja degradação da paisagem perde-se o título. Para assegurar a proteção de uma paisagem cultural, diversas medidas, dependendo da paisagem a ser salvaguardada, podem vir a calhar, como surgimento de museus ou casas de cultura. Assim como em outros instrumentos do IPHAN, qualquer brasileiro pode pedir ao IPHAN para o reconhecimento de um território que considerar digno do título. Quanto as definições da portaria 127/09, estas são de maior abrangência que as definições da UNESCO, que são divididas em três grandes grupos como aponta Weissheimer, 2012: ...procede a UNESCO ao definir três categorias de paisagens culturais: paisagens claramente definidas, paisagens organicamente evoluídas e paisagens culturais associativas. Ao abordar o conceito de forma ampla, intencionou-se permitir a aplicação da chancela no maior número de contextos culturais possíveis, considerando a dimensão, a riqueza e a diversidade de manifestações e de contextos geográficos do território brasileiro.

A proposta do Rio de Janeiro: Paisagens Cariocas entre a Montanha e Mar, conforme o Comitê Técnico de Candidatura do Rio a Patrimônio Mundial, apresentada em 2009, é uma proposta brasileira aprovada na UNESCO. Esta preenche os critérios i, ii e vi da UNESCO: (i) Representar uma obra-prima de um gênio criativo humano, (...) (ii) Ser testemunho de um intercâmbio de influências considerável, durante um dado período ou numa determinada área cultural, sobre o desenvolvimento da arquitetura ou da tecnologia, das artes monumentais, do planejamento urbano ou da criação de paisagens. (...) (vi) Estar direta ou materialmente associado a acontecimentos ou tradições vivas, ideias, crenças ou obras artísticas e literárias de significado universal excepcional.


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A beleza cênica da cidade do Rio de Janeiro, foi palco da produção de diversos artistas, garantindo assim a característica hedonista da cidade. Obras de Valentim da Fonseca, Glaziou, Affonso Eduardo Reidy e Burle Marx, garantem a cidade o preenchimento do requisito (i). A colonização portuguesa por motivos econômicos ligados a extração da natureza , foi consolidando a paisagem. Com o tempo desastres ambientais resultaram em uma maior preocupação com a preservação do meio ambiente, promovendo reflorestamentos, que ganharam destaque com visitações e a disseminação da flora brasileira pelo mundo pelo paisagista Burle Marx. Ao longo da história da cidade, músicas, literatura, fotos, cinemas e diários de viajantes trouxeram variadas perspectivas sobre o Rio de Janeiro., preenchendo assim o critério (ii) (IPHAN). Estas experiências individualizadas revelam uma variedade de olhares como descreve, Kevin Lynch, 2013: “Cada habitante teve relações com partes definidas de sua cidade e a imagem que tem dela está banhada de lembranças e significações.” Quanto ao critério (vi), indubitavelmente, o Rio de Janeiro possui fortes tradições ainda vivas, como o samba, futebol, carnaval, bossa nova e celebrações de caráter religioso (IPHAN). Mas de fato, o que mais impressiona, na paisagem do Rio de Janeiro, é ser uma metrópole em constante expansão, que ainda mantêm os traços claramente expressivos de sua cultura ainda vivos e circunscritos na paisagem, isto é um reflexo da percepção de seus habitantes, em ressonância com o descrito por Kevin Lynch, 2013: “Para situar corretamente o meio ambiente, não devemos considerar a cidade simplesmente como uma coisa em si, mas tal como seus cidadãos a percebem.” Esta percepção que torna-se uma constante maneira de viver, celebrar, habitar e interagir, é extremamente peculiar. Weissheimer, 2012, aponta a importância de contexto, onde o território chancelado em questão deve representar uma parcela “peculiar” dentre as outras áreas, visto a ampla abrangência do termo: “A rigor, qualquer ambiente que possua alguma interferência humana pode ser definido como paisagem cultural. Neste caso, cabe à ciência estabelecer ou polemizar sobre os limites desse entendimento.” Para isto, é observado que a chancela é um instrumento complementar, e em muitos casos, o tombamento ou o registro isoladamente são mais efetivos, excetuando-se em casos específicos , como descreve Weissheimer, 2012: Nos sítios onde as manifestações culturais, materiais ou imateriais, forem indissociáveis do seu contexto natural ou geográfico, aí então caberá a chancela da Paisagem Cultural Brasileira, que poderá estar ou não associada à aplicação do tombamento, do registro ou ainda do cadastro do patrimônio arqueológico.


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A partir disto, a clara relação da interação do indivíduo com a geografia do local, é o que dará o direcionamento ao que deve ser chancelado ou não, trata-se de uma relação de pertença como relata Oswald Spengler, 2013: ”Criamos raízes no solo que cultivamos. A alma humana descobre uma alma na paisagem; uma nova ligação do ser à terra anuncia-se, representando um novo modo de sentir. De hostil, a natureza passa a ser nossa amiga, nossa mãe.” A importância dada a ela, vai além de um simples título, pois é um processo constante de preservação, assemelha-se então a instrumentos de gestão territorial compartilhados, e como complementa a autora: “...é preciso atuar em processos complexos que vão muito além dos temas tradicionalmente tratados pelo patrimônio cultural, por isso a necessidade de envolvimento de parceiros diversos.” Para garantir a salvaguarda da paisagem, torna-se necessário a proteção da interação do indivíduo com seu meio, o que geralmente vai além dos órgãos de preservação, por isto um pacto de gestão deve ser firmado, onde as dificuldades de proteção residem. Um exemplo válido é o processo da paisagem das imigrações no sul, ocorridas antes da portaria, onde algumas colônias de Santa Catarina ainda preservavam seu estilo de vida rural, pessoas na melhor idade ainda mantinham seus dialetos alemães, a existência de produção artesanal e culinária própria da terra. Várias edificações em estilo enxaimel e tijolos aparentes foram tombados bem como as várias celebrações religiosas e saberes de artesanato e culinária, bem como o próprio trabalho na terra (WEISSHEIMER, 2012). Destes bens, 63 foram tombados a nível federal em 2007. Logo neste processo foi proposta a idéia de reconhecimento de paisagem cultural. Neste mesmo período foi oficializado o projeto Roteiros Nacionais de Imigração, acordo com a cooperação do IPHAN, MinC, Ministério do Turismo, Ministério do Desenvolvimento Agrário, o governo do estado, a representação catarinense do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas e dezesseis municípios que possuíam os bens supracitados. As paisagens dos núcleos rurais de Testo Alto e Rio da luz também foram adicionadas a esta proposta. Onde diversos bens foram tombados e em 2011, já com a portaria 127/09 do IPHAN estabelecida, o devido reconhecimento da paisagem cultural com a aprovação (WEISSHEIMER, 2012). A partir daí, os problemas iniciaram, é fato que a própria paisagem em si, já corre o natural desgaste, visto a constante migração de pessoal de áreas rurais para centros urbanos e a também constante expansão dos centros urbanos reduzindo o território rural, adicionadas a esta a desvalorização da produção tradicional. vivo a herança cultural circunscrita na paisagem, pois requer empenho de todos (WEISSHEIMER, 2012). O rural e o campo estão em constante contrassenso como descreve Oswald Spengler, 2013: “A paisagem confirma o campo e realça sua imagem, que só será desafiada pela cidade tardia. O perfil da cidade contradiz as linhas da


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natureza. Ele nega qualquer natureza. Quer distinguir-se dela, superá-la.” A de salientar-se também a grande problemática quanto as restrições legais da vigilância sanitária que acabam por inviabilizar a produção artesanal em muitos casos. A polaridade em Santa Catarina, desde a imigração do século XIX de dois grandes grupos, um rural e outro urbano, gerando um processo simultâneo polarizado, onde atualmente o grupo mais enfraquecido, o rural, agora sofre riscos de perder sua herança cultural (WEISSHEIMER, 2012). A perda da ligação do indivíduo com seu solo, sob domínio urbano, perde sua característica cultural como descreve Oswald Spengler, 2013: “O ser isolado das forças da paisagem, cortado, por assim dizer, pela calçada onde pisa, enfraquece-se à medida que a sensação e a inteligência se reforçam.” A solução encontrada, que ainda assim permanece com grandes dificuldades, são os pactos para preservação, voltados para o estabelecimento de um planejamento urbano compatível, com controle da expansão urbana e ordenamento, e para o desenvolvimento de ações e programas que permitam o sustento econômico das áreas rurais, com medidas reguladoras e desenvolvimento de outros mecanismos geradores de renda (que não rurais), como o turismo. O que é uma boa maneira de manter bens históricos ainda vivos, como aponta Eugenè Emmanuel Viollet-le-Duc, 2000: “Ademais, o melhor meio para conservar um edifício é encontrar para ele uma destinação, é satisfazer tão bem todas as necessidades que exige essa destinação, que não haja modo de fazer modificações.” Mas logo após estes processos, com pouco sucesso, muitos municípios deixaram de efetuar o acordado no pacto, deixando de inventariar, registrar e restaurar, até mesmo permitindo loteamentos de áreas consideradas protegida, porém zonas de expansão urbana de seus municípios, como nas áreas de Testo Alto e Rio da Luz, até mesmo asfaltamento sem consulta ao IPHAN, cometendo irregularidades. Para conter estas irregularidades, em 2012 o IPHAN, elaborou normas de preservação para estas áreas. As dificuldades de interação positiva entre os diversos agentes do pacto, revelam a dificuldade em encontrar soluções de comum acordo, visto que muitos desvalorizam os valores de patrimônio. Quanto maior a área chancelada, maior a quantidade de agentes, e também maior a dificuldade da salvaguarda (WEISSHEIMER, 2012). A Chancela da Paisagem portanto, apesar das várias dificuldades, por representar um pacto e de responsabilidade de todos, é um meio mais eficaz de manter viva a herança cultural.


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5 - CAPÍTULO III - IDENTIDADE CULTURAL DAS METRÓPOLES A rápida expansão urbana iniciadas desde o final do século XX, põe em questionamento a interação do citadino ao meio e a qualidade de vida de todos, cujo o espaço ideal vê-se cada vez mais reduzido e voltado para o lucro. No final do século XX, Oswald Spengler, 2013, já predizia: “Vejo chegar o tempo em que – depois dos anos 2000 – construiremos cidades urbanas para dez ou vinte milhões de almas, distribuídas por imensas paisagens (...) e com teorias econômicas que para nós pareceriam loucura.” Em pleno 2015, a quantidade de agrupamentos urbanas com 10 a 20 milhões, certamente é uma realidade. Mesmo com o caos urbano e stress da vida de uma metrópole, esta parece mais atrai-lo do que cidades menores ou o campo, a metrópole provoca no urbanita um fascínio pela múltiplas possibilidades, como descreve Georg Simmel, 2013, pensador do século XX: “...as grandes cidades concedem ao indivíduo uma forma e um grau de liberdade de que não há exemplo em nenhum outro lugar.” Esta liberdade só é conseguida com a grande especialização dos citadinos, que, com sua forte intelectualidade, buscam profissionalizar-se para garantir sua própria sobrevivência, o que é representado como liberdade também o é como clausura, Georg Simmel, 2013, descreve: “Por um lado, a vida do indivíduo torna-se infinitamente fácil(....). Mas, por outro lado, a vida compõe-se cada vez mais desses elementos, desses espetáculos impessoais que rechaçam os traços verdadeiramente individuais e distintivos...”. Embora a metrópole possua uma liberdade aparente, a falta de laços afetivos, típico das pequenas cidades, a falta de empatia entre seus habitantes, leva a uma sensação de isolamento como aborda Georg Simmel, 2013: ...dentro da agitação das grandes cidades; a promiscuidade física faz com que apareça nela de modo mais evidente a distância moral entre os indivíduos; o fato de nela nos sentirmos às vezes mais solitários, mais abandonados que em qualquer outro lugar é evidentemente apenas o reverso dessa liberdade, já que neste, como em outros casos, de modo algum é necessário que a liberdade do homem se reflita em seu bem-estar.

Esta perda de bem estar resulta em constante stress e cansaço, característico do urbanita, como aborda Georg Simmel, 2013: “Não existe fenômeno mais exclusivamente próprio da grande cidade que o homem enfastiado.” Este, que regido pelo intelecto, que necessita sempre produzir e especializar-se para garantir sua sobrevivência, perde uma característica importante de percepção da vida, tornando-se em um ser mecânico, como continua Georg Simmel, 2013: “O que define o homem enfastiado é que ele se tornou insensível às diferenças entre as coisas; não é que não as perceba, não é que seja estúpido, é que a significação e o valor dessas diferenças e, pois, das próprias coisas, para ele resulta negligenciável.” Esta perda de


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individualidade, não é ao todo negativa, pois este, agora compreende sua existência como parte de um todo, de um maior grupo, mais lúcido, como descreve Oswald Spengler, 2013: O ‘espírito’ é a forma citadina específica do ser despertado e inteligente. Todas as artes, todas as religiões, todas as ciências, espiritualizando-se pouco a pouco, tornam-se estranhas à paisagem incompreensíveis para o servo da gleba. O civilizado, nômade intelectual, torna-se de novo puro microcosmo, absolutamente apátrida e espiritualmente livre, como o eram corporalmente o caçador e o pastor.

O urbanita, a partir daí, é incapaz de ver-se desvencilhado da metrópole, percebe a sua pequena parcela de responsabilidade perante todos, como prossegue descrevendo Oswald Spengler, 2013: “O que torna o morador da cidade mundial incapaz de viver fora desse terreno artificial é a regressão do tato cósmico de seu ser, enquanto as tensões de seu ser despertado se tornam a cada dia mais perigosas.” Apesar da individualidade causada pela metrópole, muitos cidadãos percebem-se como parte integrante de um bairro, onde constituem seus laços afetivos, claramente analisado no caso dos guetos e favelas, onde um grupo de pessoas, mesmo que com pouca qualidade de vida, agrupam-se, como descreve o psiquiatra Leonard Duhl, 2013: “...o fato de que os grupos populacionais de baixa renda queiram viver de modo mais confortável não implica necessariamente de que desejem mudar de forma de vida, de estilo de vida. (...)Os guetos não são só obra dos opressores, mas também dos próprios oprimidos.” O pensamento de Duhl demonstra que a transferência de pessoas para fora de seu “habitat”, causa um choque muitas vezes pouco positivo, como descreve: “Para muita gente, o plano de uma cidade higiênica, nova em folha, pode não significar paz e segurança, mas aborrecimento e saudade da cor e da vida que abundavam no caos das cidades antigas.” A falta de identidade e corte abrupto em seus laços afetivos, é similar ao choque do camponês com a metrópole, evidenciando que habitações sociais, podem não ser uma real solução e devem seguir uma pesquisa cultural mais aprofundada, como continua Leonardo Duhl, 2013: “...não queremos dizer que temos de conservar as favelas e as ilhotas insalubres das grandes cidades mas, simplesmente, que precisamos encontrar os meios pelos quais as cidades novas possam satisfazer as aspirações de todas as camadas da população.” Este pensamento seria melhor se acompanhado de uma solução prática, pois é sabido que estas ocupações irregulares afixam-se em lugares de risco, como descreve Yasmine Moura da Cunha, 2008: “A ocupação irregular ou informal dá-se em áreas de risco – como encostas de morros com declividade acentuada ou planícies de inundação – ou em áreas sem infraestrutura urbana ou ainda em áreas com edificações em condições precárias.” As oportunidades de emprego geradas pela metrópole, resulta em um maior contingente


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populacional, sendo fadada esta, a habitar onde encontrar espaço, no entanto, qualquer ocupação, mesmo que regular gera impactos, como aborda Yasmine Moura da Cunha, 2008: “A intensificação da ocupação regular ou formal também acarreta impactos, pois promove o aumento da impermeabilização do solo, não permitindo a infiltração das águas pluviais, que ocasionarão alagamentos nas áreas mais baixas.” Alerta também que este adensamento, ora regular ou irregular, resulta em degradação ambiental: “Com o aumento da densidade de ocupação urbana ocorre o aumento do uso de água tratada, e a consequente geração de maior volume de efluentes domésticos; há ainda um aumento na geração de resíduos sólidos.” Este adensamento urbano, mesmo com sua grave degradação, gera maior diversidade, que é considerada positiva como aborda Jane Jacobs, 2013: “A estrutura de uma cidade funda-se em uma mistura de funções e nunca nos aproximamos mais de seus segredos estruturais do que quando nos ocupamos das condições que geram sua diversidade”. Quanto maior a diversidade, melhor a qualidade de vida de seus moradores, como prossegue descrevendo: Quanto mais uma cidade consegue misturar em suas ruas funções diversas e cotidianas, mais ela aumenta suas probabilidades de poder, naturalmente e com poucos gastos, animar e manter parques bem localizados; reciprocamente, estes se convertem então para a vizinhança em fonte de prazer e de beleza, deixam de ser lugares vazios e aborrecidos.

Este pensamento é visível em Brasília, onde as superquadras, apesar de possuírem extensas áreas verdes entre elas, possuem pouca interação entre seus moradores, fato comum em cidades grandes como descreve Georg Simmel, 2013: “...em uma grande cidade, a vida é mais intelectual que em uma pequena cidade, onde a existência é fundada sobretudo nos sentimentos e nos laços afetivos...”. Um ponto a ser observado, é que muitos urbanitas possuem pouco interesse em interagir com seus vizinhos como, ressalta Jane Jacobs, 2013: “Nas pequenas aglomerações, todo mundo conhece nossos assuntos. Na grande cidade, só sabem deles as pessoas em quem confiamos. Esta é, para a maior parte de seus habitantes, uma das características mais preciosas da grande cidade.” No entanto, deve-se observar que o adensamento de cidades resulta em maior verticalização, trazendo consigo, redução da qualidade de vida, como descreve Yasmine Moura da Cunha, 2008: “A verticalização da cidade conduz a alterações no microclima urbano, com geração de ilhas de calor ou intensificação do vento em cânions, que pode ocasionar poluição sonora e atmosférica, pela dificuldade de dispersão de poluentes atmosféricos ao longo dos cânions.” Isto levou urbanistas a criar novas cidades, próximas a uma metrópole, uma solução sem resultados como demonstra Jane Jacobs, 2013: “A partir do momento em que as novas cidades se veem


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absorvidas pela economia complexa de uma região metropolitana, com todas as possibilidades de escolha que esta comporta(....), elas perdem sua individualidade social, econômica e cultural.” Apesar dos danos ambientais, Yasmine Moura da Cunha, 2008, observa que com o tempo conceitos de sustentabilidade mudam: “O conceito de área degradada muda com o tempo, e o que é hoje visto como uma área em condições adequadas pode ser amanhã entendido como uma área degradada.” Apesar do ordenamento urbano possuir grande importância, este não deve ser enrijecido, o citadino necessita de expressar seu tempo na paisagem, por isto, tanto medidas higienista quanto proteção do patrimônio, devem visar os interesses de todos. Essa suscetibilidade é descrita por Kevin Lynch, 2013: Um meio ambiente organizado até em seus mínimos detalhes pode inibir qualquer possibilidade de novas estruturações. Uma paisagem em que cada pedra tenha sua história pode tornar difícil a criação de novas histórias. Se bem que não estejamos ameaçados dentro do atual caos urbano, estas observações demonstram que a nossa procura não é absolutamente uma ordem definitiva, mas uma ordem aberta, suscetível de desenvolvimento indefinido.

Embora necessário uma maior liberdade no ordenamento, é importante que a paisagem das cidades permitam a legibilidade do citadino, para que crie vínculos de pertença e possa orientar-se, como descreve Kevin Lynch, 2013: “Orientar-se é uma operação cujo elo estratégico é a imagem do meio ambiente. Esta imagem é o produto simultâneo da sensação imediata e da experiência passada recolhida pela memória; é ela que permite interpretar a informação e dirigir a ação.” E continua a descrever: “Além do mais, um meio ambiente bem individualizado e legível não oferece apenas segurança, mas aumenta a profundidade e a intensidade potenciais da experiência humana.” Para elaborar cidades vivas, é necessário pensar em todos estes aspectos, garantir a segurança, a significação, a pertença, contrário a muito do que já foi planejado. O foco deve ser o intercâmbio, como expõe Jane Jacobs, 2013: A atração exercida sobre os homens pela visão de outros seres humanos é um fato que, por mais estranho que pareça os urbanistas e arquitetos desconhecem. Estes partem, pelo contrário, da idéia apriorística de que os habitantes da cidade buscam a contemplação do vazio, da ordem e da calma. Nada é menos verdadeiro. Uma rua viva sempre possui simultaneamente usuários e observadores.

5.1 – A INFLUÊNCIA DA GLOBALIZAÇÃO NAS METRÓPOLES Não há dúvidas que quanto maior um centro urbano, maior é sua influência no mundo globalizado, a globalização está em constante expansão. As cidades possuem marcas claras da globalização, como as empresas internacionais, os bancos, as grandes incorporadoras, produtos dentre vários outros exemplos que pertencem ao cotidiano do citadino. Theotonio


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dos Santos, 1998, revela que esta globalização teve um caráter negativo quanto a cultura, pois recebeu predominância de algumas culturas sobre as outras: “A Europa e os EUA têm que compreender que essa hegemonia europeia não tem porque prolongar-se indefinidamente, aliás pelo contrário, está em franca decadência.” O autor relata o caso do Japão onde a cultura, tão antiga, não se adaptou aos conceitos da atualidade “...o Japão não se identifica realmente com um conceito iluminista de universalidade.” O autor ainda relata que muitas outras grandes economias, como as da Ásia, demonstram papel importante e que a globalização não deve influenciar questões culturais de uma civilização: “...o processo de globalização e universalização não pode ser identificado com o processo de formação civilizacional europeu (apesar da Europa ter tido um papel protagônico num certo momento).” Estas outras culturas não devem ser excluídas mas devem também influenciar a formação desta “civilização planetária” igual direito. O autor descreve o mercado na atualidade: “Não se pode pensar mais em mercados locais. Temos que pensar em escalas de produção realmente planetárias. (...)Mas esta universalização não pode ser entendida como a negação das particularidades e, particularmente, desses grandes processos civilizatórios.” Um produto na atualidade, é comercializado muito além de sua região e algumas empresas, como as aéreas, praticamente não existiriam se não possuíssem um acesso maior a rede, isto acaba gerando uma homogeneização em todos os processos produtivos. O autor observa três níveis de espaço na atualidade: O primeiro nível nos poderemos chamar de local (...) esse nível local é hoje de caráter metropolitano, de caráter submetropolitano, rural urbano, e como poucos casos situações tipicamente rurais (...) Esse espaço regional mantêm uma irredutibilidade porque os outros espaços o nacional e global, não podem substituir estes processos regionais.(...) Estes espaços nacionais ainda são produtos de imposição e da hegemonia de algum setor local ou de alguma parte deste nacional sobre as outras línguas nacionais. (...) Este processo de constituição de nação se opõe, de um lado, ao local, mas ele também, de outro, se opõe ao global porque este tende sempre a destruir as bases desta construção nacional...

A partir disto, fica claro os problemas culturais da atualidade, onde uma pequena cultural local é sobrepujada por uma maior cultural nacional que por sua vez também o é pela cultura global. Este jogo de influências é o que vem descaracterizando desde as pequenas cidades até mesmo países, onde uma cultura mais forte toma conta e deixa as outras ao esquecimento. Quanto a esse panorama atual, Georges Benko, 1998, afirma: De um lado, a economia global pode ser vista como um mosaico de sistemas de produção regionais especializado, possuindo cada qual sua própria rede densa de acordos de trocas (...). De outro, o mesmo mosaico se insere no entrelace planetário de ligações interindustriais, de fluxos de investimentos e de migrações de população.


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Apesar de observado que a globalização influência toda uma grande rede, o autor descreve o conceito de cidade global: “...existência de uma hierarquia funcional entre as cidades no contexto da economia capitalista mundial(...). As mais importantes dentre essas grandes cidades são as que exercem funções de comando transnacionais de alto nível...”. E ainda confirma que é nestas cidades onde empresas internacionais fixam-se, consolidando assim, uma rede internacional, independente de sua localização geográfica ou regional. O autor observa que estas cidades globais estão em constante desenvolvimento, pouco importando-se com questões de salubridade e qualidade de vida das cidades: “...o meio ambiente imediato é concebido como reserva de espaço que pode servir para o desenvolvimento de escritórios e centros de negócios...”. Outro fator negativo nesse processo de globalização que deve ser observado é seu caráter regional, onde EUA e Europa detêm da hegemonia, como Georges Benko, 1998, aponta: ...a maioria das firmas, incluindo as maiores, conservam hoje um caráter etnocêntrico muito acentuado; e finalmente, porque assiste mais à formação, ainda frágil e incerta, de entidades e mercados regionais (mercado único europeu, livre-troca americana) do que a uma verdadeira unificação do mercado mundial.

Isto revela uma perda cultural a nível global, onde até mesmo pequenas economias locais são influenciadas. E também uma constante homogeneidade entre países, regiões e locais. Para suprir esta demanda capitalista destas economias globais, a população paga um grande preço, onde a desigualdade social predomina e muitos estão fadados a prestar serviços de baixo custo, conferindo-lhes uma vida pobre que obrigam muitas pessoas a assentar-se em favelas. Após este inicial processo da globalização, um segundo processo chamado de mercado pósindustrial começa a definir novas diretrizes como aponta João Batista Bitencourt, 2008: “A valorização do turismo, notadamente o turismo de identidades e tradições, está dentro da tendência atual do chamado mercado pós-industrial, no qual o capitalismo tem mudado seu eixo da produção para o consumo.” Esta valorização do turismo é direcionada para o exótico, como prossegue descrevendo o autor: Com a emergência do setor de prestação de serviços com grande lucratividade, a indústria do lazer se expande por outros meandros; mesmo sendo uma vertente de um mundo globalizado, de mundialização da cultura, faz paralelamente surgir um maior interesse pelo diferente e autêntico em contraposição a um mundo idêntico. É nesta conjuntura que o turismo ganha sua vertente cultural, com a venda das identidades.


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Esta venda de identidades, está em ressonância com o processo de valorização da cultura, versado anteriormente quando descrito do instrumento da Chancela da Paisagem Cultural, onde mais de um órgão torna-se necessário para manter a herança cultural viva. No entanto, até estes bens “seletos” possuem perdas, como aponta João Batista Bitencourt, 2008:“As tradições locais passam por um processo de seleção para adequá-las a um mercado de comercialização da cultura; ocorre um processo de simplificação e invenção de culturas próprias, de identidades inequívocas, colocadas na vitrine um mundo global.” Isto de acordo com o autor, é fruto de uma busca interior da própria identidade, como relata: “Talvez a sensível virada para valorização do patrimônio tenha uma relação com a questão da autenticidade procurada na mercantilização das identidades; a procura por um lazer que está no conhecimento do que é local.” 5.2 – REFLEXÕES SOBRE A IDENTIDADE CULTURAL FEDERATIVA Segundo o IBGE 2010, a população brasileira já atingindo 190.755.799 de habitantes residentes, quanto a pesquisa por cor ou raça, 90.621.281 habitantes declaram-se brancos, 14.351.162 de cor preta, 2.105.353 de cor amarela, 82.820.452 de cor parda, 821.501 indígena e apenas 36.051 sem declaração. Sendo assim a população brasileira constituída de 47.5% brancos, 43.42% pardos, 7.52% pretos, 1,1% amarelos, 0.43% indígenas e 0.02% sem declarar. Número um tanto controverso de acordo com a história do Brasil, onde a colonização foi feita por uma maioria de homens que aqui se reproduziram com mulheres ameríndias e afrodescendentes. Uma pesquisa realizada por conceituados pesquisadores da UFMG liderada por Sérgio Pena, 2010, voltada para a genética brasileira revela números diversos, mais coerentes com a realidade brasileira, visto que o brasileiro é caracterizado pela miscigenação. De acordo com ele: Os primeiros imigrantes portugueses não trouxeram suas mulheres, e registros históricos indicam que iniciaram rapidamente um processo de miscigenação com mulheres indígenas. Com a vinda dos escravos, a partir da segunda metade do século 16, a miscigenação estendeu- se às africanas. (...)A coroa portuguesa, que tolerava relacionamentos entre portugueses e índias desde o início da colonização, passou a estimular casamentos desse tipo oficialmente por um Alvará de Lei emitido em 4 de abril de 1755 pelo marquês de Pombal.” Acerca dos imigrantes do século XIX, aprofunda: “Embora muitos imigrantes tenham vindo com suas famílias (em especial os alemães), havia um excesso significativo de homens em outros grupos. Como os imigrantes eram em geral pobres, casavamse com mulheres também pobres, o que no Brasil significava mulheres de pele escura…

Isto demonstra a variada diversidade genética brasileira, invalidando inclusive o senso comum de que outras correntes imigratórias brasileiras não se misturaram. A pesquisa revela que a matrilinhagem em brasileiros brancos era composta de 33% ameríndios, 28% africanas,


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39% europeias. O número de ameríndios mistura-se com os asiáticos, visto que a matrilinhagem é retratada pelo DNA mitocondrial, e os ameríndios vieram da mesma matrilinhagem da Ásia, por isso a mesma mitocôndria. Já o número de afrodescendentes é decorrente dos escravos trazidos ao Brasil da costa oeste da África (Senegal e Angola). Ainda conforme a pesquisa, 90% da patrilinhagem dos brancos brasileiros é de origem europeia, na maioria de colonizadores portugueses, com forte variabilidade, visto a diversidade genéticas dos povos ibéricos, que conforme o autor: fruto de muitas invasões e imigrações: celtas, fenícios, gregos, romanos, suevos, visigodos, judeus, árabes e berberes. A maior mistura gênica certamente ocorreu nos 700 anos de ocupação por mouros (até 1492), e está expressa na alta frequência do haplótipo 21 (do norte da África) em portugueses e, através deles, nos brasileiros.

O que revela também, que a própria genética portuguesa já o era diversa muito antes. O estudo genético demonstra-se condizente com o processo histórico que é claramente marcada pela miscigenação, a predominância genética regional também é observada, com presença ameríndia mais expressiva na região Norte, europeia no Sul e africana no Nordeste, mas em todas as regiões os variados tipos de miscigenação foram encontrados. Numa sociedade extremamente patriarcal, o choque cultural foi capaz de gerar novas maneiras de fazer que refletem na cultural imaterial brasileira. Os modos de fazer, as celebrações, a gastronomia dentre outros bens culturais revelam a adaptação dos costumes de uma diversidade de culturas. A polenta, adaptada pelos imigrantes italianos, o uso da mandioca no lugar da farinha de trigo, a associação de santos cristãos aos orixás, costuras e trançados, técnicas e materiais de construção dentre outros revelam a clara adaptação que gera as raízes culturais brasileiras. É fato inquestionável que o não conhecimento e estigmas socioculturais vêm dificultando o processo da identidade cultural brasileira, de acordo com Sérgio Pena, 2000: “...se os muitos brancos brasileiros que têm DNA mitocondrial ameríndio ou africano se conscientizassem disso valorizariam mais a exuberante diversidade genética do nosso povo e, quem sabe, construiriam no século 21 uma sociedade mais justa e harmônica.” Outro ponto que deve ser observado são os dados do IBGE 2010 quanto a acessibilidade, 45.606.048 de brasileiros possuem alguma deficiência (visual, auditiva ou motora) de uma população residente de 190.755.799, quase 24% da população, número que revela a importância de acessibilidade nos projetos, para que uma cidade cumpra sua função social, esta deve visar a acessibilidade, suscitando em uma cidade mais justa a todos. A religião é outro ponto importante a ser destacado, de acordo com o IBGE/CENSO 2010, a maior religião do país é a católica com 123.280.172 de adeptos, tornando-se a maior


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quantidade de católicos do mundo. O segundo maior grupo, o de evangélicos é separado em outras denominações: Igreja Assembleia de Deus com 12.314.410 adeptos, Evangélica não determinada 9.218.129 de adeptos, Outras Igrejas Evangélicas de Origem Pentecostal 5.267.029 de adeptos, Igreja Evangélica Batista 3.723.853 de adeptos, Igreja Congregação Cristã do Brasil 2.289.634 de adeptos, Igreja Universal do Reino de Deus 1.873.243 de adeptos, Igreja Evangelho Quadrangular 1.808.389 de adeptos, Igreja Evangélica Adventista 1.561.071 de adeptos e Igreja Evangélica Luterana 999.498 de adeptos. O terceiro grande grupo é representado por pessoas sem religião, 14.595.979 pessoas. Os espíritas aparecem como o quarto maior grupo com 3.848.876 de adeptos. Outras religiosidades cristãs somam 1.461.495 de adeptos, e Testemunhas de Jeová com 1.393.208 de adeptos. A Umbanda com 407.331 de adeptos, o Budismo com 243.966 de adeptos, Igreja de Jesus dos Santos dos Últimos Dias com 226.509 de adeptos, Candomblé com 167.363 de adeptos, Novas Religiões Orientais com 155.951 de adeptos, Judaísmo com 107.329 de adeptos, Igreja Messiânica Mundial com 103.716 de adeptos, Tradições Esotéricas com 74.013 de adeptos, Tradições Indígenas com 63.082 de adeptos, Espiritualista com 61.739 de adeptos, outras novas religiões orientais 52.235 de adeptos e Islamismo com 35.167 de adeptos. Estes números demonstram um forte grupo cristão e um grande crescimento nos variados grupos evangélicos. As diversas missões religiosas diminuíram a quantidade da diversidade religiosa, tornando o quadro mais homogêneo do que nos primórdios do Brasil, onde crenças indígenas e religiões provindas da África representavam números mais expressivos. O Brasil possui 19 bens inscritos na lista de patrimônio mundial da UNESCO, sendo 7 patrimônios naturais e 12 culturais. O patrimônio cultural inscrito é composto de: Brasília, Rio de Janeiro, Ouro Preto, os centros históricos de Salvador, São Luís, Diamantina, cidade de Goiás, Olinda, Missões Jesuítas Guaranis (em São Miguel das Missões), Santuário do Bom Jesus de Matosinhos (Congonhas - MG), Praça de São Cristóvão (São Cristóvão - SE) e o Parque Nacional Serra da Capivara (Piauí). Já na lista de bens naturais constam: As reservas da Floresta Atlântica no Sudeste, as ilhas de Fernando de Noronha e Atol das Rocas, o complexo de conservação central da Amazônia, a Chapada dos Veadeiros e o Parque Nacional das Emas no Cerrado, a Costa do Descobrimento nas Reservas da Mata Atlântica, o Parque Nacional do Iguaçu e as áreas de conservação do Pantanal. Em 2004 a Paisagem Cultural da Rota de Ouro de

Paraty

entrou na lista de tentativas para inscreve-la na

UNESCO. Em 2014 outros três bens entram na lista de tentativas: o Mercado Ver-o-Peso em Belém, o Sítio Arqueológico do Cais do Valongo no Rio de Janeiro e a Paisagem Cultural de Paranapiacaba: Vilarejo e sistema ferroviário na Serra do Mar em São Paulo. Em 2015 foram


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adicionados outras 6 tentativas: o Teatro Amazonas em Manaus, o conjunto de fortalezas brasileiras existentes nos estados de Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraíba, Amapá, Rondônia e Mato Grosso do Sul, o Açude do Cedro nos monólitos de Quixadá no Ceará, os geoglifos no Acre, Itacoatiaras do Rio Ingá na Paraíba e o Sítio Roberto Burle Marx no Rio de Janeiro. Todos estes na categoria cultural com exceção da Paisagem Cultural de Paranapiacaba, na categoria mista. Até agora o Brasil que aceitou a convenção em 1977 apresentou um total de 43 propostas de inscrição de bens a lista, sendo seu primeiro bem tombado a cidade histórica de Ouro Preto em 1980 por sua grande importância e preservação, a cidade a partir dai ganhou reconhecimento internacional, seu nome foi dado ao asteroide 10771 em 1990 (MPC-IAU). Em 1996 a tentativa para inscrever o patrimônio natural de Atol das Rocas não foi bem sucedida, tendo sucesso em 2001 quando adicionado junto a Fernando de Noronha, outro bem com duas tentativas é o Parque Nacional da Serra da Capivara aprovado em 1991 e que posteriormente em 1998 tentou adicionar junto a este sua área de preservação permanente, não sendo esta acatada. Pode-se observar que 25% de todas as tentativas ocorreram de 2010 até o início de 2015 o que revela um crescimento na valorização e salvaguarda do patrimônio brasileiro. Apesar do traçado de Brasília possuir ideias fortes de Le Corbusier, deve-se observar que Brasília, projetada por Lúcio Costa, pertence a lista do patrimônio mundial da UNESCO, enquanto a cidade de Chandigarh na Índia, projetada por Le Corbusier, está na sua terceira tentativa de inscrever o bem junto a UNESCO. Outras cidades recentes, como as famosas Dubai, Abu Dhabi, Cingapura, Putrajaya, Canberra dentre outras, apesar de muito conhecidas e de grande importância, não receberam o mesmo reconhecimento de Brasília, não pertencendo a lista da UNESCO. Para pertencer a esta, não é apenas necessário produzir o excepcional, mas ir além. Observando-se assim a importância, sua preservação torna-se um dever constante dos planejadores e gestores brasileiros, tanto quanto da população. Outro exemplo similar é o Rio de Janeiro, de geografia exuberante e uma maneira carioca de ser que é possível visualizar na paisagem. Esta mesma beleza geográfica e urbana, é similar a da Cidade do Cabo na África do Sul, que não possui o título. O Patrimônio cultural imaterial do Brasil possui atualmente 30 bens registrados pelo IPHAN, em quatro livros do registro: Livro de Registro dos Saberes, Livro de Registro das Celebrações, Livro de Registro das Formas de Expressão e Livro de Registro dos lugares. De acordo com a lista do patrimônio imaterial do IPHAN: Estão inscritos no Livro de Registro dos Lugares dois registros: Cachoeira de Iauaretê – Lugar sagrado dos povos indígenas dos Rios Uaupés e Papuri (2006) e a Feira de Caruaru (2006).


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No Livro de Registro das Celebrações constam oito registros: o Círio de Nossa Senhora de Nazaré(2004), Festa do Divino Espírito Santo de Pirenópolis – Goiás(2010), Ritual Yaokwa do Povo Indígena Enawene Nawe(2010), Festa de Sant’Ana de Caicó(2010), Festa do Divino Espírito Santo de Paraty(2013), Festa do Senhor Bom Jesus do Bonfim(2013), São Sebastião na Região do Marajó(2013) e Complexo Cultural do Bumba-meu-boi do Maranhão(2011). No Livro de Registro das Formas de Expressão constam dez registros: Arte Kusiwa – Pintura Corporal e Arte Gráfica Wajãpi(2002), Samba de Roda do Recôncavo Baiano(2004), Frevo(2007), Tambor de Crioula do Maranhão(2007), Matrizes do Samba no Rio de Janeiro: Partido Alto, Samba de Terreiro e Samba-Enredo (2007), Roda de Capoeira (2008), o toque dos Sinos em Minas Gerais (2009), Rtixòkò: expressão artística e cosmológica do Povo Karajá (2012), Jongo no Sudeste (2005) e Fandango Caiçara (2012). Constam no Livro de Registro dos Saberes dez registros: Modo artesanal de fazer Queijo de Minas, nas regiões do Serro e das serras da Canastra e do Salitre (2008), Ofício das Paneleiras de Goiabeiras (2002), Modo de Fazer Viola-de-Cocho (2005),Ofício das Baianas de Acarajé (2005), Ofício dos Mestres de Capoeira (2008), Modo de fazer Renda Irlandesa – Sergipe (2009), Ofício de Sineiro (2009), Sistema Agrícola Tradicional do Rio Negro (2010), Saberes e Práticas Associados aos Modos de Fazer Bonecas Karajá (2012) e Produção Tradicional e Práticas Socioculturais Associadas à Cajuína no Piauí (2014). Esta rica variedade de patrimônio imaterial revela que a grande herança brasileira está em seus costumes, tanto as celebrações, saberes, lugares e formas de expressão trazem consigo uma significação importante para a sociedade, e provêm de diversas ascendências, especialmente ameríndias, portuguesas e afrodescendentes, mas também ultrapassam estes a algo que pode ser considerado a criação de uma própria cultura brasileira, pois até a adaptação é a criação de algo novo. O reconhecimento desta herança vai além do solo nacional, a UNESCO já reconheceu oito elementos imateriais, são eles: Samba de roda do Recôncavo Baiano(2008), As expressões orais e gráficas dos wajapis(2008), Museu Vivo do Fandango (2011), Chamada de Projetos do Programa Nacional de Patrimônio Imaterial(2011), Yaokwa, ritual do povo Enawene nawe para a manutenção da ordem social e cósmica(2011), Frevo: arte do espetáculo do carnaval de Recife(2012), Círio de Nazaré: procissão da imagem de Nossa Senhora de Nazaré na cidade de Belém(2013) e Roda de Capoeira(2014). A valorização internacional destes bens é importante para a própria afirmação do brasileiro, que muitas vezes desconhece de sua própria cultura. Ao falar de bem imaterial, deve-se relembrar que estes representam uma cultura ainda viva, diferente do bem material, que representa as marcas deixadas no tempo, estes bens estão em constante execução. A partir disto, é


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interessante analisar que a Europa, continente com maior quantidade de bens materiais tombados pela UNESCO, possui uma grande queda quanto a elementos imateriais, e majoritariamente a maioria localizado no Leste Europeu. Países como a China e o Japão, que pouco participam da consolidação dos ideais da “metrópole global”, possuem maior representatividade. Figura 55 – Mapa mundial de elementos Imateriais da UNESCO

Fonte: http://www.unesco.org/culture/ich/index.php?pg=00559

De acordo com o IBGE 2003, os eventos esportivos realizados com maio frequência na federação, foram o futebol (95,5%), o futsal (66%), o vôlei (60.5%) e o atletismo (43.6%). Outros esportes tiveram menor participação como o handebol (32.5%), o ciclismo (28.7%), o basquete (23.9%), o vôlei de praia (16.9%), o futebol society e o tênis de mesa (16.4%), a capoeira (16%) e a bocha (13.9%). Observa-se a importância do futebol e vôlei para a sociedade brasileira, em todas as regiões do Brasil estes esportes aparecem com quantidade de eventos expressivos, sendo o futebol o principal esporte em todas as regiões. Entre as regiões do Brasil, a região Norte apresentou o índice mais alto de eventos esportivos de atletismo, ciclismo, futebol, vôlei, vôlei de praia, o único esporte abaixo foi a bocha com 1%. A região Nordeste apresentou índices elevados de futebol, futsal e vôlei, no entanto permaneceu abaixo da maioria em muitos esportes, como bocha, tênis de mesa, vôlei de praia, futebol society, basquete, capoeira e handebol. A região Sudeste, apresentou elevados índices de futebol, futsal, vôlei e o mais alto índice entre as regiões de capoeira, a região não apresentou nenhum esporte abaixo de 14%. A região Sul também apresentou alto índice de futebol, futsal e vôlei, e o índice mais elevado entre as regiões de bocha e tênis de mesa, a capoeira foi o único esporte abaixo com 8.7%. O Centro-Oeste, apresentou alto índice de futebol, futsal e vôlei, possui o maior índice de basquete, handebol, futsal e futebol society, seu menor índice foi a bocha 4.5%. Outros esportes não entraram na pesquisa por apresentarem menor frequência. Dados da cultura de fontes como IBGE e IBOPE organizados pelo Ministério da Cultura em, Cultura em Números: Brasil, em 2006, traçam o perfil cultural do brasileiro. De acordo com o


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IBGE/MUNIC 2005, entre estações de radio FM, estações de rádio AM, geradoras de TV e provedores de internet, a rádio FM era o meio de comunicação mais presente nos municípios brasileiros, seguidos pela internet, radio AM e por último geradoras de TV. Quanto a preferência da rádio analisada pelo IBOPE, o ouvinte brasileiro tende a sintonizar em Sucesso/ As mais pedidas (nacionais) e noticiários locais majoritariamente (34%), seguidos pelo sertanejo (32%), samba/pagode (29%), MPB (28%), notícias do trânsito e do tempo (26%), sucesso/ as mais pedidas em inglês(25%), forró(24%), axé, rock nacional, noticiários internacionais e policiais(21%), entrevistas(20%), música religiosa e rock em inglês(19%), música eletrônica (17%), esportes ao vivo(16%), esportes comentários(14%), funk(12%), comédia e conselhos(11%), música country (em inglês 7%), sucesso/ as mais pedidas em espanhol(6.7%), música clássica (6.1%), folclórica(4.2%), jazz/blues(4.1%), rock em espanhol(3.8%) e radionovelas(2.7%). Os números revelam um gosto musical superior para músicas nacionais à internacionais, e números expressivos quanto a busca de informações. Outros dados do IBOPE desta mesma pesquisa, a preferencia por programas de televisão revela uma predominância por noticiários locais e nacionais(72%), seguido pelas telenovelas (60%), noticiários internacionais, ação/aventura e filmes de comédia(54%), esportes ao vivo (48%), programas de comédia e policial(45%), suspense(43%), comédias românticas e notícias

esportivas(41%),

meteorológico(39%),

romance(38%),

desenhos

animados,

programas de auditório e comentários esportivos (35%), programas de entrevista(34%), drama (33%), documentários(32%), seriados nacionais, saúde e medicina e filmes de ficção científica(31%), horror/terror e filmes recentes de Hollywood(30%), shows musicais, natureza, infantis/desenhos animados e esportes radicais(29%), shows de realidades(25%), vídeos musicais(24%), economia(22%), clássicos de hollywood(21%), esportes pré-gravados (20%), seriados estrangeiros, política, cozinha e programas educativos(19%), negócios, show de variedades, jogos e concursos de talentos, programas infantis e religiosos(18%), moda (17%), ciência e tecnologia(17%), telenovelas de outros países da América Latina(14%), teatro/musicais/ópera e turismo(12%), decoração(11%), biografias(9.5%), eróticos(9.4%), atuações/concertos musicais(7.7%), programas de compras (5.8%) e telenovelas estrangeiras excetuando-se da América Latina(4.5%). A pesquisa demonstra que boa parte da população usa a televisão para notícias e telenovelas. Revela um forte interesse da população por programas de ação, comédia e esportes, e baixo interesse para programas de origem estrangeira, biografias, compras, eróticos, decoração e turismo. Quanto ao consumo de cinema, a predominância é por filmes de Hollywood 19% seguido por filmes brasileiro 3.9% e demais filmes estrangeiros apenas 2.7%. O gênero de filme mais assistido nos cinemas é


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Ação/aventura 15% seguido por comédia 14% e suspense 10%, os demais gêneros de filme apresentaram 8.4% ou menos. Quanto ao acesso à internet por escolaridade a pesquisa do IBOPE revela um forte aumento de acesso quanto ao nível de escolaridade elevado, 86% de doutorado/mestrado/pós-graduado/MBA, 69% superior completo, 31% segundo grau completo, apenas 11% primeiro grau completo, 8.2% primeiro grau incompleto e diminutos 0.17% da população sem estudos. Entre as atividades mais acessadas na internet o IBOPE revela 22% para correios eletrônicos, 19% para pesquisas, 12% para ler notícias nacionais e mensagens instantâneas, 10% para notícias internacionais, 9.1% outras atividades, ouvir música 8.8%, baixar músicas 8.5%, ler jornais 8.2%, salas de bate-papo 8% e outras utilidades de 7.6% para baixo. Quanto a leitura de jornais por semana, a pesquisa demonstra também que os números se elevam quanto a escolaridade, onde 73% de doutorados/mestrados/pósgraduados/MBA leem pelo menos um título por semana enquanto apenas 10% dos sem estudos. Quanto as páginas mais lidas são: 41% notícias locais, 39% primeira página, 35% notícias nacionais, 27% esportes, 25% notícias internacionais, 20% classificados e saúde, 18% empregos, 17% arte/cultura/literatura e cinema, 16% horóscopo e guia de televisão, 15% para guia de lazer, família e negócios, 14% educação, quadrinhos, palavras cruzadas e culinária. As demais modalidades de leitura apresentaram 13% ou menos. Estes dados demonstram que a população brasileira tem baixo hábito de leitura que reduz de acordo com a classe social, entre os leitores é perceptível uma predominância por notícias, esportes e classificados, o que demonstra uma baixa busca por informações culturais, de negócios e saúde. Quanto a leitura mensal de revistas a pesquisa revela a mesma evolução de leitores quanto a escolaridade, onde 13% representam pessoas sem estudos e 79% doutores/mestres/pós-graduados/MBA. No entanto, a pesquisa mostra uma maioria de leitores com faixa etária entre 12 a 19 anos com 52% de leitores, superior a de leitores de 55 a 64 anos com 34%. Ao todo, a pesquisa revela que a maioria das pessoas que busca informação de variadas formas é de classe elevada. As classes A e B representam59% dos leitores de jornais, enquanto as classes C34% e D e E18%. Quanto a leitura de revista 64% de leitores da classe A e B, 43% da classe C e apenas 25% da classe D e E. A rádio é o índice que representa a parcela mais igualitária de ouvintes, sendo baixa as diferenças percentuais por classe social, 63% são da classe D e E, 62% da classe C e 61% da classe A e B. Quanto a TV aberta a classe C é superior com 92% seguida pela classe D e E 89% e por último as classes A e B com 88% que por ventura representam o índice mais elevado da TV por assinatura 32% enquanto as classes C 7.7% e a classe D e E não pontuaram. Os dados da televisão aberta também representam um índice equânime quanto as classes sociais. Já a busca por cinema também revela predominância das classes mais


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elevadas com 29%, apenas 8.7% são da classe C e somente 3.3% das classes D e E. O uso da internet é predominantes dos mais abastados com 61% para classes A e B, apenas 21% da classe C e 5.4% das classes D e E. A pesquisa demonstrou claramente que a variedade do acesso a cultura e informação é limitado para as classes menos abastadas, provavelmente relacionado ao alto custo, o que representa que para buscar conhecimento no Brasil, deve-se pagar, não constituindo em uma isonomia de direitos. Dados da Fundação Biblioteca Nacional, elaborados pelo MinC quanto a Oferta da Cultura, demonstram que Curitiba é a capital com maior índice de habitantes por Biblioteca Pública, uma biblioteca pública para cada 26.000 habitantes, já Manaus é a mais alarmante com 1.689.000 habitantes por biblioteca pública. De acordo com IBGE/MUNIC elaborado pelo MinC, o Ceará é o estado que mais realizou concursos de cordel por unidade federativa com20.11%, os piores foram o Acre, Roraima e Amapá que não realizaram nenhum. Entre as unidades federativas das metrópoles analisadas o que mais realizou foi a Bahia com9.11% atrás do Pernambuco com 12.43%, a unidade federativa que menos realizou foi o Paraná com 1%. Dados da Funarte elaborados pelo MinC, mostram que Vitória é a capital com a melhor quantidade de teatros por habitante, um teatro para cada 24.000 habitantes, já a com pior índice é Palmas, com um museu para cada 221.000 habitantes. Entre as metrópoles analisadas a que mais dispunha de teatros foi o Rio de Janeiro, logo atrás de Porto Alegre e Vitória, com 39.000 habitantes por teatro. A metrópole que menos dispunha de teatros era Manaus com 154.000 habitantes por teatro. A pesquisa ainda revelou a concentração de teatros nas capitais das unidades federativas, sendo o melhor índice de Santa Catarina com apenas 20% de concentração, os piores índices foram Acre, Amapá, Mato Grosso, Roraima e Tocantins com 100% de concentração. Entre as unidades federativas das metrópoles analisadas, o melhor índice é o do Paraná de 48.05% e o pior do Distrito Federal com expressivos 93.33%. De acordo com o IBGE/MUNIC dados elaborados pelo MinC, Ceará é a unidade federativa que apresentou melhor percentual de municípios que realizaram festivais ou mostras de manifestação tradicional popular com 49.2%, o menor foi de Tocantins com 29.5%. Entre as unidades federativas das metrópoles analisadas, o melhor foi o Amazonas com 66.13% atrás do Pará com 74.83% e Rio Grande do Norte com 71.26%, a unidade federativa que menos pontuou entre as analisadas nesta monografia foi o Paraná com 35.09%. Dados do IBGE/MUNIC elaborados pelo MinC revelam o porcentual de municípios que realizaram festivais ou mostras de música por Unidade Federativa, o Acre foi o de maior incidência com 68.18% e o Roraima o menor com apenas 6.67%, a média nacional dos municípios brasileiras é de 38.7%. Dados do Ancine elaborados pelo MinC 2007, apontam que Vitória é a capital com maior quantidade de


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cinemas por habitante, um cinema para cada 18.000 habitantes. A pior foi Rio Branco com 175.000 habitantes por cinema. Entre as metrópoles analisadas, Brasília foi a cidade com melhor índice, 30.000 habitantes por cinema e Manaus o pior índice, com 77.000 habitantes por cinema. Quanto a concentração de cinemas nas capitais das unidades federativas, Santa Catarina possuía a menor concentração com 25% e os estados do Amazonas, Alagoas, Amapá, Acre e Roraima os piores com 100% de concentração. Entre as metrópoles analisadas o melhor índice foi de São Paulo com 36% de concentração. O Estado de São Paulo é também o de maior quantidade de salas de cinema, com expressivos 722 cinemas seguido pelo Rio de Janeiro com 280 salas, o pior índice foi de Roraima e Acre com apenas 2 salas de cinema. Entre as metrópoles analisadas o menor índice foi do estado do Amazonas com 22 salas. Quanto ao índice da habitantes por Museu, pesquisa realizada pelo Demu/IPHAN e elaborada pelo MinC, o Rio Grande do Sul é o estado com maior incidência um museu para cada 31.000 habitantes, já em Maranhão o menor índice com 387.000 habitantes por museu. A pesquisa revela menor quantidade de Museus nas Regiões Norte e Nordeste. Entre as unidades federativas das metrópoles analisadas nesta monografia, o Amazonas possuiu o menor índice com 127.000 habitantes por museu e o maior foi o Distrito Federal com um museu para cada 42.000 habitantes. Ainda analisando dados do IPHAN, Rio de Janeiro é o estado com maior quantidade de bens tombados na pesquisa de patrimônio de 2006, um total de 223 bens tombados, seguido por Minas Gerais 204 bens e a Bahia com 175 bens. Os estados com a menor quantidade foi Roraima, sem nenhum bem tombado, Tocantins, Amapá e Acre com apenas um bem tombado. O Rio de Janeiro é a unidade federativa que mais realizou feiras de modas de acordo com o IBGE/MUNIC 2006, com 15.22%, o Amapá foi a única unidade federativa que não realizou. Esta mesma pesquisa revela que o Rio de Janeiro é a unidade federativa com maior porcentual de municípios com grupos artísticos de artes plásticas e visuais e maior porcentual de municípios que realizaram exposições de artes plásticas e visuais bem como feiras de arte e artesanato. Estes dados revelam que apesar de o Rio de Janeiro deixar de ser a capital do Brasil a 55 anos, ao longo da história grande parte dos investimentos do país centralizarem-se neste estado, visível na alta incidência cultural do estado. O Paraná é o que possui menor incidência de analfabetismo coincidindo com sua maior incidência de bibliotecas públicas entre as capitais. Quanto ao artesanato no Brasil, dados do IBGE/MUNIC elaborados pelo IPEA/DISOC de 2009, o bordado tem sido o maior agente, possuindo pouco mais de duas vezes a quantidade de atividades da Madeira, o segundo mais importante com 1900 atividades. Os artesanatos com menor atividades são os de pedras preciosas, metais e vidro. Apesar de algumas atividades artesanais possuírem maior


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representatividade em cada região, o bordado continua sendo a atividade artesanal principal em todas as regiões. A unidade federativa com a menor representatividade no artesanato, é o Distrito Federal com apenas três atividades. Figura 56 – Print screen da Tabela nacional de atividades artesanais.

Fonte: http://www.desenvolvimento.gov.br/arquivos/dwnl_1338578535.pdf

A unidade federativa com a maior quantidade de atividades artesanais é Minas Gerais com 2286 atividades, seguido por São Paulo com 1541 atividades e o Rio Grande do Sul com 1302 atividades. Entre as unidades federativas das metrópoles analisadas ainda não citadas, o Amazonas possuiu maior representatividade no artesanato de madeira (42) e frutas e sementes (34), a Bahia com o bordado (305), barro (154), madeira (126) e culinária típica (121), o Rio de Janeiro com o bordado (77) e a madeira (28), São Paulo com o bordado (461), madeira (222), material reciclável (148), culinária típica (129) e barro (102), e o Paraná com o bordado (309), madeira (145) e material reciclável (96). Estes dados comprovam que o artesanato no Brasil ainda existe com 14.408 atividades no país, que a produção artesanal no Distrito Federal ainda está iniciando, e que existe uma predileção pelo bordado, madeira, culinária típica e barro em todo o país, possuindo também outras produções mais regionalizadas, condizentes com a cultura local. Figura 57 – Print screen da Tabela de atividades artesanais por Unidade Federativa.

http://www.desenvolvimento.gov.br/arquivos/dwnl_1338578535.pdf


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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS O estudo apresentado, veio com o objetivo de analisar maneiras eficazes, de resguardar a identidade cultural, nestes grandes centros urbanos, que estão em constante interação com a globalização. Para isto uma série de temas foram analisados. Para efeito de análise, foi necessário analisar a evolução de distintas metrópoles, sendo definida uma por região, excetuando-se os casos das metrópoles de porte nacional ou global, isto permitiu, traçar a evolução das metrópoles. A partir disto, observou-se uma diversidade de resultados: Salvador, apesar das dificuldades de renda comparada as outras metrópoles, ainda possui uma cultura viva, e o fato geográfico de dividir-se em cidade alta e baixa, ajudaram a leitura da paisagem. São Paulo por outro lado, é um reflexo de seus habitantes, é praticamente impossível ler o processo histórico em sua paisagem, apenas fragmentos amorfos espalhados pela cidade, o lucro é o ponto de partida, que pode-se observar até em suas áreas verdes. Rio de Janeiro faz jus ao título de Paisagem Cultural, pois esta vem consolidando um amor de seus citadinos pela cidade, que repercute em sua cultura, manifestações e patrimônios, bem como a representação da interação entre o indivíduo e o meio ambiente e a beleza cênica, garantem a cidade uma tonalidade hedonista, presente em seu todo. Manaus por sua vez, por estar tão arraigadas a estigmas, não fez-se digna de sua belíssima paisagem, o fato de seus citadinos desejarem a todo custo desvencilhar a cidade do conceito de província, perdeu o que a de mais importante em sua paisagem, a sua identidade, poucos remanescentes, como o Teatro Amazonas e residências antigas, revelam a grandiosidade que um dia a “Paris dos Trópicos” possuía, agora aparenta mais como uma “Miami da Floresta”, internacionalizada. Curitiba é um bom exemplo de que, quando gestão e planejamento andam juntos, uma cidade pode construir sua marca pessoal, os constantes processos de reurbanização e higienização da cidade, desde o Plano Agache, a gestão do Arquiteto Jaime Lerner e as demais decisões políticas voltadas a sustentabilidade, garantiram a Curitiba, um ambiente de alta qualidade de vida, e uma possível linguagem urbana, que no caso, apenas necessitaria uma integração com seus valores imateriais, a cidade é próxima do litoral de seu estado, litoral este onde a cultura do Fandango Caiçara, já tombado pela UNESCO, é ameaçada de desaparecimento. Por fim, Brasília, o melhor exemplo do modernismo mundial, a cidade é destaque internacional, símbolo de respeito, mas vive em constante luta para manter-se intacta, em apenas 55 anos, já é uma metrópole de rápida expansão, com forte pressão de investidores, no entanto agraciada com uma população culta, que não permite o aniquilamento da cidade do automóvel. Logo após, fez-se necessário examinar as possibilidades de novos instrumentos, onde observou-se suas aplicabilidades e conceitos: A governança interfederativa do Estatuto da Metrópole, pois com esta, é possível haver coesão em uma maior parcela do território, onde a proteção cultural e ambiental, bem como a justiça social atingem melhores resultados, e por possuir regras mais intensas, resultará em um método mais efetivo, e como pode-se constatar, a rede de influências de uma metrópole é superior a seu caráter físico, o citadino de seu entorno direto, logo adapta-se ao estilo cosmopolita destes grandes centros, estando este intimamente ligado a metrópole. Também foi analisado os conceitos da Chancela da Paisagem Cultural, onde pode-se observar, que para a real proteção da cultura, é necessário que essa mantenha-se viva, e para isto, uma maior quantidade de entidades devem estar atentas bem como a população deve conscientizar-se de sua cultura, constatou-se que, apesar das dificuldades observadas, a Chancela é um meio mais efetivo de proteger a herança cultural. Observado estes, necessitou-se também, analisar o perfil do citadino e como este interage com sua cidade e cultura. Com isto, percebe-se claramente que quanto mais o citadino esta vinculado a estas grandes cidades, mais é regido pelo intelecto, onde os laços afetivos pouco importam. O citadino pouco percebe a importância de sua herança cultural, resultando em cidades onde princípios de inovação, expansão, lucro e diversidade são mais


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importantes que sua própria cultura, a cidade é reflexo de seus habitantes. No entanto, para que possa sentir-se seguro, a memória do lugar deve ser assegurada, onde o processo de significação, diverso em cada citadino, atribui valores a determinados elementos de sua cidade, como morros, prédios, parques, dentre outros. Esta memória em nenhum instante, deve tirar-lhe o direito de manifestar-se na paisagem, pois este, necessita de ver as marcas de sua geração circunscritas nesta, planejadores e gestores, devem passar pelo árduo trabalho de definir o que deve-se ou não proteger, tendo a consciência de que, como supracitado, sempre haverá algum citadino onde a significação de tal elemento é superior ou inferior ao definido. Para aprofundar, foi apresentado diversos questionamentos quanto aos efeitos da globalização. A primeiro instante, o que já era sabido, foi confirmado, cidades tendem a receber uma homogeneização baseado em correntes estadunidenses e europeias, e posteriormente observou-se que outros países (todos), especialmente aqueles onde o patrimônio imaterial é forte, também deveriam participar deste conceito de idealização de uma “cidade planetária”. Outro fato observado, é o segundo período da globalização, onde esta, começa a dar valor ao exótico/nacional, onde as peculiaridades, começam a definir novos eixos para a globalização, a diversidade da globalização, define o que lhe é útil, simplifica-o e reproduz ao mundo, no caso das cidades, com rotas turísticas e produções artesanais, onde o “marketing” de uma cidade, é superior a sua real herança cultural, valores de origem, fazem-se necessários, para os citadinos, que agora procuram pela sensação d pertencimento. Por fim, reflexões quanto a estigmas da sociedade brasileira, conscientização de sua cultura e captação de informação foram analisados. A diversidade constatada, é reflexo da população brasileira e do meio ambiente onde esta adapta-se. No entanto, o brasileiro desconhece suas origens, e por fim não as valoriza. A salvaguarda de bens imateriais, por mais que importante, seria mais eficaz com a educação da população e maior participação nos meios de comunicação, meios estes que por sua vez, deveriam ser de livre acesso a todos, não exclusivo das classes mais abastadas como pode-se observar. O estudo ainda revelou que, quanto maior o nível de instrução de um citadino, mais este deixa de interessar-se pela sua cultura, o que reforça a perda de laços com esta quanto maior o intelecto (maior a busca por filmes, músicas, leitura, dentre outros, de origem estadunidense ou europeia). Ao final do estudo, pode-se observar que a melhor maneira de resguardar a identidade cultural, é com a conscientização populacional, mesmo com instrumentos rígidos, a herança cultural, para manter-se viva, necessita de, estabelecer laços com seus citadinos, onde estes a aprovam, para isto uma série de entidades devem interagir em prol do mesmo objetivo, e novos meios, mais condizentes com a atualidade devem ser utilizados para conhecimento da população. Para a identidade cultura sobreviver a globalização, esta deve estar em constante adaptação, inovar com a sua maneira própria de ser. 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS LIVROS, TESES E ARTIGOS ADORNO, Theodor. Teoria Estética. Segunda Edição. Lisboa: Edições 70, LDA, 2011. AB’SÁBER, Aziz N...[et al]; introdução geral de Sérgio Buarque de Holanda. História Geral da Civilização Brasileira: Do descobrimento à expansão territorial. 15a Edição. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007. ALBUQUERQUE, Wlamyra R.; FILHO, Walter F. Uma história do negro no Brasil. Salvador: Centro de Estudos Afro-Orientais; Brasília: Fundação Cultural Palmares, 2006. ARAÚJO, Ana Valéria. et alii. Povos Indígenas e a lei dos “Brancos”: o direito à diferença. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria da Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade; LACED/Museu Nacional, 2006. BAETA, Rodrigo E.; CARDOSO, Luiz A. F. O Frontispício de Salvador e seu impacto na paisagem urbana da cidade no século XIX. Brasília, 2014. BENEVOLO, Leonardo. História da Cidade. Quinta Edição. São Paulo: Editora Perspectiva S.A, 2011. BENKO, Georges. Organização econômica do território: algumas reflexões sobre a evolução no século XX. In: SANTOS, Milton (Org.) [et al] Território: Globalização e Fragmentação. São Paulo: Editora Hucitec, 1998. BITENCOURT, João Batista. Sob o Domínio do Passado. In: NASCIMENTO, Dorval do (Org.); BITENCOURT, João Batista (Org.). Dimensões do Urbano: Múltiplas facetas da cidade. Chapecó: Argos, 2008.


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