A Caravana da Esperança Contra o Monstro do Fascismo

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Organização: Frei Sérgio Görgen ofm Marcos Antonio Corbari



Sérgio Antônio Görgen Marcos Antonio Corbari (Organizadores)

A CARAVANA DA ESPERANÇA CONTRA O MONSTRO DO FASCISMO

1ª Edição

Candiota - RS Ins tuto Cultural Padre Josimo 2019


Ins tuto Cultural Padre Josimo - ICPJ CNPJ/MF 06942198000109 Rua Assis Freitas, 90 - Bairro Lassance Candiota - RS - CEP 96495000 Este ebook reproduz matérias, reportagens, ar gos opina vos, crônicas e fotos assinados por jornalistas, fotojornalistas, intelectuais comunicadores populares, militantes e a vista sociais. Organização: Frei Sérgio Görgen ofm e Marcos Antonio Corbari Textos e fotos: Conforme créditos Publicações originais disponíveis em: <www.redesoberania.com.br> <www.sul21.com.br> <www.lula.com.br> Este ebook não tem fins lucra vos. Venda Proibida. A reprodução total ou em partes é permi da, desde que preservados os créditos dos autores em textos e imagens. A edição ou alteração do conteúdo aqui publicado somente deve ser processada com autorização dos autores e organizadores. Para contribuir com a comunicação popular, acesse:

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Organização: Frei Sérgio Görgen ofm Marcos Antonio Corbari

A caravana da esperança contra o monstro do fascismo No cias, ar gos, crônicas e imagens veiculadas pela Rede Soberania, Sul21 e site Lula.com.br durante a passagem da Caravana Lula pelo Brasil no Rio Grande do Sul, entre os dias 19 a 23 de março de 2018.



Para começo de conversa O ano de 2018 iniciou com a democracia em cheque. Depois do golpe executado contra Dilma Roussef em 2016, derrubando uma presidenta legi mamente eleita e sem que se caracterizasse nenhum po de crime pra cado, nada deveria nos surpreender. Mas ainda assim, subes mamos os setores que sustentaram o golpe e, como começamos a ver nos dias em que seguimos a Caravana Lula Pelo Brasil em sua passagem pelo Rio Grande do Sul, ainda estava em gestação a pior das crias destes dias sombrios: o fascismo. Se, por um lado, nós fomos surpreendidos pelo monstro criado pela extrema direita e pelos setores conservadores da sociedade brasileira – cite-se sistema financeiro, elites historicamente privilegiadas, grandes coorporações midiá cas e seus comparsas integrados aos sistemas legisla vo e judiciário -, por outro eles não imaginavam que sob o chamado do maior líder popular que este país já teve em sua história, o povo simples daria sua resposta com força e voz. Junto com os comunicadores populares da Rede Soberania, portal Sul21, jornal Brasil de Fato e colegas dos demais veículos de comunicação progressitas, acompanhamos Luis Inácio Lula da Silva no início de uma jornada que, infelizmente, culminaria alguns meses depois no cárcere polí co de Curi ba (PR). Es vemos com ele em sua jornada passando por Bagé, Santana do Livramento, São Borja, Santa Maria, Cruz Alta, Panambi, Palmeira das Missões, Ronda Alta, Passo Fundo e São Leopoldo. Foi um privilégio fazer parte deste momento histórico e testemunhar como o amor do povo simples foi vencedor frente a insensatez provocada pelos poderosos. Esses são recortes guardados destes dias, que procuram guardar a memória de como a Caravana da Esperança começou a vencer o monstro do fascismo.

Frei Sérgio Görgen ofm Marcos Antonio Corbari

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Cinco dias para a história O roteiro previa originalmente a chegada de Lula no aeroporto em Bagé na segunda-feira, 19 de março de 2018. Ainda na cidade, pela manhã, foi realizada visita e ato público informal no campus da Universidade Federal do Pampa. No mesmo dia a Caravana deslocou-se para Santana do Livramento onde à tarde foi realizado ato com a par cipação dos expresidentes Pepe Mujica (Uruguai), Rafael Corrêa (Equador) e Dilma Roussef (Brasil). Na terça-feira, 20, a comi va deslocou-se para Santa Maria, onde Lula par cipou de reunião com reitores de Universidades e Ins tutos Federais na Universidade Federal de Santa Maria e, à noite, de ato público na ocupação urbana de Nova Santa Marta. Na quarta-feira, 21, realizou visita ao Ins tuto Federal Farroupilha em São Vicente do Sul, depois seguindo para São Borja, onde visitou o túmulo de Getúlio Vargas e fez pronunciamento público na principal praça da cidade. Na quinta-feira, 22, teve encontro com povos indígenas e visita ao sí o arqueológico de São Miguel Arcanjo, na cidade de São Miguel das Missões. No mesmo dia deslocou-se para Palmeira das Missões, realizando paradas para pronunciamentos públicos em Cruz Alta e Panambi. À noite foi realizado grande ato público em diálogo com a agricultura camponesa e familiar. Na sexta-feira, 23, deslocou-se para Ronda Alta onde novamente par cipou de atos com agricultores camponeses e familiares, seguindo depois em direção à Passo Fundo, onde a a vidade prevista foi cancelada. De Passo Fundo seguiu para Sâo Leopoldo, já na reigão metropolitana de Porto Alegre, onde a noite encerrou a caravana pelo RS.

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Viagem vai começar com ato na Unipampa, em Bagé, Rio Grande do Sul, passa por Santa Catarina, e segue até Curi ba, no Paraná A caravana do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que vai percorrer os três estados da região Sul do Brasil começa no dia 19 de março em Bagé, no Rio Grande do Sul. A data inicial, que seria em fevereiro, foi adiada para ajustar roteiro ao calendário das universidades que receberão o ex-presidente. “Vamos começar a quarta caravana em Bagé na Unipampa e em seguida com uma conversa pública em Santana do Livramento entre o presidente Lula e o presidente Pepe Mujica sobre o desenvolvimento da América do Sul na divisa entre o Brasil e o Uruguai”, comentou o coordenador das Caravanas, Márcio Macedo. “As caravanas do presidente Lula vão con nuar acontecendo por todo país”, garan u. O projeto “ Lula pelo Brasil”, que já percorreu o nordeste e o sudeste do Brasil, chega agora a sua quarta etapa, passando pelo Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina durante nove dias. O percurso, que será todo feito de ônibus por Lula, passará por pelo menos 19 cidades e se encerra no dia 28 de março em Curi ba. O projeto Lula Pelo Brasil é uma inicia va do PT com o obje vo de perscrutar a realidade brasileira, no contexto das grandes transformações pelas quais o país passou nos governos pe stas e o deliberado desmonte dos programas e polí cas públicas de desenvolvimento e inclusão social, que vem sendo operado pelo governo golpista desde 2016. Viajar pelo Brasil, conversando com as pessoas, não é novidade para Lula. Ele percorreu o país nos anos 1970, para organizar o novo movimento sindical; nos anos 1980, para construir o PT; nas Caravanas da Cidadania, de 1992 a 1994, para construir um programa de governo de baixo para cima. Na presidência, recusouse a ficar encastelado no Planalto e con nuou percorrendo o Brasil. Esse modo de atuar na polí ca junto com o povo diferencia Lula de outras lideranças nacionais. E agora sua caravana percorre o sul do país.

Texto publicado pelo Ins tuto Lula.

Caravana de Lula vai percorrer a Região Sul a par r do dia 19

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Bagé, 19 de março Considerada a a cidade de referência na região da Campanha gaúcha, Bagé é formada e circundada por fortes contrastes sociais. Convivem lado a lado representantes das an gas oligarquias rurais, grandes pecuaristas e descendentes dos an gos coronéis, com agricultores camponeses assentados da reforma agrária, em sua maioria originários do Movimento dos Trabalhadores rurais Sem-Terra. A esse cenário já volá l, acrescente-se milhares de estudantes universitários que vem ali estudar em uma unidade da Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA), originários não apenas dos arredores, mas dos quatro cantos do Brasil e até do exterior. Inicialmente a organização da Caravana não previu uma parada na cidade, a não ser o pouso do avião que traria Lula para iniciar o roteiro. Ele não aceitou essa logís ca e exigiu ter um momento de encontro com o povo de Bagé, visitando a universidade que foi criada em seu governo e descor nou um novo movimento de desenvolvimento econômico e inclusão social na cidade. Os ruralistas, apoiados por polí cos locais com postura de extrema direita, mobilizaram-se para tentar impedir a visita de Lula e o sue encontro com o povo. Colocaram máquinas agrícolas, faixas e guindastes no caminho da Caravana, também mobilizando algumas centenas de peões e militantes de direita para provocar conflito com os milhares de homens e mulheres que aglomeraram-se desde cedo para acolher seu ex-presidente. Os atos foram realizados, Lula foi abraçado e envolvido pelo povo e conheceu as instalações da universidade que implantou na cidade. A mão violenta do fascismo, a intolerância e o preconceito começavam a mostrar as caras. O monstro estava, finalmente saindo das sombras. A esperança, porém, soou mais forte. Brilhou a estrela de Lula, iluminando o povo à sua volta.

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Foto BagĂŠ

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Alexandre Garcia


Ar go de Frei Sérgio Görgen, publicado na Rede Soberania.

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Antes de tudo, um forte! ‘‘O sertanejo é antes de tudo, um forte!’’ Com esta frase Euclides da Cunha, em seu clássico “Os Sertões”, descreve os sertanejos que encontrou no nordeste brasileiro durante a cobertura jornalís ca dos momentos finais da Guerra de Canudos, onde cinco expedições do exército brasileiro perpetraram o crime de destruir Belo Monte e assassinar Antônio Conselheiro. O autor de “Os Sertões” era um pico filho da classe média do centro do país e foi para o nordeste relatar a guerra desigual entre o Exército bem armado e o heroísmo sertanejo defendendo seu mundo de suficiência e liberdade. Aos poucos, no contato com a realidade brutal e com a vida dura do povo sertanejo, foi mudando sua visão de mundo. As pechas de “jagunços”, “faná cos”, “bárbaros” e outras tantas comuns na elite intelectual, foram desabando na compreensão do escritor. Sua indignação sobe às alturas quando descreve a localização do corpo do Conselheiro pelo exército, desenterrado para cortar a cabeça e exibir em praças públicas para delírio das elites da época. Euclides classificou-os de loucos e criminosos. Apesar do grande impacto do clássico, esta visão odiosa e preconceituosa con nuou ao longo da história do Brasil e con nua ainda hoje. Este preconceito e ódio são contra o povo, pobres, negros, índios, mulheres, moradores das periferias, camponeses, contra todos os que não se enquadram nos esquemas mentais da elite e de parte da classe média idio zada. E, ao longo da história, a elite escolhe um alvo para atacar, um símbolo representa vo para destruir. Quebra este, quebra todos. No passado os “alvos símbolo” foram Zumbi, Tiradentes, Antônio Conselheiro, Getúlio Vargas. Hoje é Luiz Inácio Lula da Silva. O plano é fazer com Lula o que fizeram com os outros e expor, com métodos midiá cos do século XXI, a cabeça na praça como fizeram com Zumbi, Tiradentes e Conselheiro. Mas o povo pobre e trabalhador não parou no tempo, não se abateu com as derrotas do passado e seguiu aprendendo e se organizando como classe, enfrentando a exploração, a exclusão, o preconceito e o ódio das elites. E Lula transformou-se no principal símbolo cole vo desta luta histórica no período recente. Por isto alvo de tanto ódio. Não é


ele, somos todos os que não cabemos no projeto das elites. São todos os oprimidos e trabalhadores deste país. É pelo que representa que Lula tem que ser rado de cena, humilhado, preso, des tuído de direitos polí cos. É o mau exemplo da atualidade para o projeto entreguista das elites econômicas e parte da classe média ambiciosa e idio zada. Quando iniciou a perseguição a Lula, o aparato judicialpolicial-midiá co nha uma teoria: “Lula é uma estátua de gelo, se chegar fogo, derrete”. Enganaram-se. Lula é uma estátua de granito. Chamusca, mas con nua de pé. É que Lula foi forjado na têmpera sertaneja, nas agruras do povo brasileiro em suas lutas por sobrevivência e dignidade. Parafraseando ainda o autor de “Os “Sertões”, Lula é parte da rocha viva do povo brasileiro. Este o grande engano dos perseguidores. Lula fosse só ele, era de gelo. Lula é o povo, é granito. Lula transformou-se na condensação das melhores virtudes e das mais genuínas esperanças do povo brasileiro. Representa a retomada da esperança e de um Projeto de Nação. Caso Lula fosse um vendido, um traidor do povo, vesse virado as costas aos seus e negado de onde veio e suas origens, já estaria destruído. Lula tornouse um símbolo grandioso, muito maior que ele mesmo. Talvez no período recente da história da humanidade, só dois semelhantes: Gandhi e Mandela. Cito Gandhi e Mandela por dois mo vos. Primeiro, porque é a escala de grandeza que a história de lutas do povo brasileiro projetou Lula. Segundo, porque Tiradentes, Zumbi, Conselheiro e Vargas foram inocentes perseguidos e derrotados em seu período de vida biológica. Gandhi e Mandela foram vitoriosos. Chegou o tempo da virada na história do Brasil. Lula vencerá, não importa o que tentem fazer com ele. E iniciaremos um novo ciclo de respeito, dignidade e jus ça com o protagonismo dos trabalhadores organizados. O povo brasileiro tem energia e tenacidade forjada na luta e no sacri cio, por isto, é forte. Uma missão cabe agora ao povo com Lula: tomar as ruas e o quo diano para fazer valer o que interessa às maiorias. Então as elites saberão e o mundo saberá que Lula é, antes de tudo, um forte.

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Ricardo Stuckert


Texto de Marcos Corbari, publicado na Rede Soberania.

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Pe sta enfrentou protestos, respondeu à altura e foi saudado por mul dões de apoiadores Ônibus da Caravana de Lula Pelo Brasil foi literalmente abraçado pela população na chegada a UNIPAMPA. Não se tratou de um simples ato público. Desde o amanhecer do dia na região do pampa gaúcho se desenhava um enfrentamento de narra vas. De um lado os movimentos sociais, as forças progressistas, lideranças populares envolvidas em projetos de desenvolvimento e inclusão, estudantes, gente do povo que veio de toda a região para par cipar do abraço cole vo que mais de 3 mil pessoas construíram para acolher Luís Inácio Lula da Silva em sua visita à Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA), uma das obras de que ele mais se orgulha de ter construído em seu governo, entre dezenas de outras referências que dizem respeito à região nos 8 anos de seu governo e nos 5 anos em que Dilma Roussef governou. Do outro lado a representação da elite do atraso, os representantes da parcela mais reacionária do setor ruralista, não mais do que 500 pessoas, muitos homens e algumas mulheres sem obje vo prá co e sem manifestar postura cidadã nem no momento de se pronunciar ao microfone, ao lado destes um prefeito impopular e desgastado, vereadores e deputados ligados aos par dos de linha conservadora que estão destruindo o Brasil. Lula subiria ao palanque após a visita e cerimoniais fes vos realizados na UNIPAMPA, confirmando as expecta vas já manifestadas na sua chegada ao aeroporto local, em entrevista exclusiva para a Rede Soberania, quando enalteceu os inves mentos em educação e demonstrou o orgulho legí mo de pai um pai que visita o filho que alcança sucesso ao retornar à universidade que ele implantou e hoje é um dos mais atuantes agentes de transformação na região. Saudado aos gritos de “Lula Guerreiro


do Povo Brasileiro” e “Olê, olê, olá... Lula lá, Lula lááá”, deu uma resposta à altura aos detratores: “A direita fascista deveria ter vindo protestar quando criei a Unipampa, porque a elite nunca quis que o pobre vesse acesso à universidade”, e ainda acrescentou: “Quem hoje grita contra, amanhã vai bater palma porque nós vamos consertar esse país outra vez”. Diferente do que chegou a ser no ciado por fakenews (compar lhadas inclusive por sites vinculados a revistas e jornais de grande circulação) provocações do campo adversário não faltaram, pequenas confusões foram fomentadas, mas a boa organização da segurança da caravana, construída por representantes dos movimentos populares, deu conta do recado de tal forma que não se soube de qualquer ruralista que vesse coragem de chegar perto da UNIPAMPA. "Se tem alguém que não gosta de mim aqui, vai me es mular a voltar muitas vezes. Se existe alguém que aprendeu a respeitar os outros fomos nós, toda vez que perdemos uma eleição e soubemos aceitar o resultado", ressaltou. "Eu vou visitar 26 cidades até Curi ba pra mostrar que nós queremos e sabemos cuidar desse país". Lula também foi recebido hoje pela administração da Unipampa, que o presenteou com uma placa de agradecimento pela fundação da primeira federal da região. Lula repe u em diversos momentos a sua sa sfação em ter seu nome marcado na história como o torneiro mecânico que chegou a presidência da república e tornou-se o presidente que mais abriu universidades e ins tutos federais na história do Brasil. Confrontos e prisões: Um manifestante contrário à presença de Lula na cidade a rou uma pedra e provocou rachaduras no ônibus que levava o expresidente. O portal Sul 21 apurou o fato e no ciou que a Brigada Militar teria efetuado a prisão do homem que jogou a pedra. Posteriormente, quando ocorreram princípios de confrontos e trocas de xingamento entre os manifestantes contrários e apoiadores do ex-presidente, um jovem iden ficado como pró-Lula também foi de do.

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Alexandre Garcia


Texto de Marcos Corbari, publicado na Rede Soberania.

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Lula é ovacionado pelo povo em visita à universidade Unipampa acolhe o torneiro mecânico que se tornou o presidente que mais abriu universidades e ins tutos federais na história do Brasil O olhar de um pai, brilhando de orgulho ao testemunhar o sucesso e a virtude de um filho. Essa alegoria textual retrata bem o que se observou através do olhar de Luis Inácio Lula da Silva durante a visita realizada na sede da Universidade Federal do Pampa (Unipampa) em Bagé. O complexo universitário que se expande com sedes ainda em Alegrete, Caçapava do Sul, Dom Pedrito, Itaqui, Jaguarão, Santana do Livramento, São Borja, São Gabriel e Uruguaiana, foi criado em 2008 e amplo apoio e mobilização popular quando de sua projeção. No caso de Bagé, a Unipampa foi fundamental no processo de minimizar a estagnação econômica da região, tornando-se fator preponderante do desenvolvimento local. Em dez anos, o polo educacional incrementou o movimento econômico e social do município, que se tornou culturalmente mais diversificado, beneficiando os negócios e proporcionando uma troca entre alunos de diferentes estados em uma região eminentemente rural. Já na chegada ao aeroporto local, Lula foi homenageado com uma placa entregue por professores e representantes da gestão da universidade. Na sequência a visita ao campus movimentou uma mul dão de pessoas, levando o ex-presidente a optar pela troca do pronunciamento que faria dentro da universidade para uma fala pública sobre um caminhão de som que foi disponibilizado pelos organizadores da caravana ao final da visita. Ali, Lula relembrou o momento em que veio a Bagé em 27 de julho de 2005 para anunciar a criação da Unipampa e refle u sobre o momento presente, onde retorna até a universidade hoje composta por 11 campi e com mais de dez mil alunos de graduação e outros mais de mil na pós-graduação, oferecendo quase 70


Alexandre Garcia

Alexandre Garcia

cursos de graduação, quatro doutorados, cerca de vinte mestrados e mais de 30 especializações. A nota 4 de 5 no índice Geral de Cursos do MEC é mo vo de orgulho tanto quanto as histórias de vida que são impulsionadas pela comunidade acadêmica.

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Texto de Luís Eduardo Gomes, publicado no Sul21.

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Recebido com protesto de ruralistas em Bagé, Lula ironiza: ‘Deviam ter protestado quando criamos a universidade’ A primeira parada da caravana do ex-presidente Lula pelo Rio Grande do Sul combinou momentos de tensão e emoção em Bagé. Após desembarcar no aeroporto da cidade, por volta das dez horas, a comi va do pe sta, formada por três ônibus, se encaminhou para a Unipampa onde era esperada, de um lado, por mul dão de alunos e simpa zantes e, de outro, por um protesto de ruralistas contrários à presença dele na cidade. O protesto, patrocinado por ruralistas, mobilizou dezenas de pessoas desde cedo em Bagé. Nas primeiras horas da manhã, cerca de 50 tratores, acompanhados de ônibus e caminhões, fizeram uma carreata pela zona central antes de se deslocarem para um dos acesso à Unipampa. Ali, com o apoio de um guindaste carregando um simulacro de cela com o ex-presidente em roupas de presidiário, tentaram impedir o acesso de Lula ao campus. O clima hos l ao ex-presidente foi antecedido por uma moção de repúdio assinada no início de março por 14 dos 17 vereadores locais e por uma campanha dos ruralistas, que espalharam outdoors pela cidade e chegaram a pedir ao Ministério Público que barrasse a visita. As ações, contudo, não a ngiram o seu obje vo. A caravana chegou à Unipampa por um acesso secundário por volta das 11h. Nesse momento, porém, um dos manifestantes a rou uma pedra e provocou rachaduras no ônibus que levava o expresidente. Segundo a Brigada Militar, o homem que jogou a pedra foi de do. Posteriormente, quando ocorreram princípios de confrontos e trocas de xingamento entre os manifestantes e apoiadores do ex-presidente, um jovem iden ficado como próLula também foi de do. Mas, se nos arredores do campus o clima era de tensão, dentro, era de euforia. Nem bem desceram do veículo, Lula e a ex-


presidenta Dilma Rousseff foram cercados por uma mul dão. Inicialmente, a passagem de Lula por Bagé deveria se resumir a uma visita ao campus da Unipampa e a uma conversa com a reitoria. Contudo, o ônibus da caravana foi, logo ao chegar no local, cercado por uma mul dão de alunos e apoiadores. Com isso, a visita acabou se transformando em uma ida ao saguão e a tenta va frustrada de chegar ao auditório, sempre seguido por um amontoado de gente. Uma das alunas que se emocionou com a visita de Lula foi Leilane Castro Guedes , estudante do sé mo semestre de Engenharia de Produção, na Unipampa. Com a cara pintada de vermelho e um adesivo do ex-presidente no peito, ela disse que considerava a visita como muito importante especialmente dado o atual cenário polí co no Brasil. “Depois de sofrer um golpe, depois de perder a nossa primeira mulher presidenta, a presença do Lula e da Dilma aqui, por ele ter vindo da base e tudo mais, é muito importante eles estarem aqui com a gente, ainda mais porque ela foi criada no governo dele”, disse Leilane, que, mesmo com a possibilidade de Lula ser impedido de concorrer e de ser preso após a condenação pelo TRF4, defendeu o direito de o pe sta concorrer à presidência nas eleições de outubro. “Devido às outras opções do momento, seria muito importante se ele conseguisse ser candidato à presidência”, disse. Diante da mul dão que o cercou dentro da Unipampa, o ex-presidente resolveu então trocar a reunião inicial por uma fala pública fora de roteiro – o primeiro ato público estava marcado para a tarde, em Santana do Livramento, juntamente com o expresidente do Uruguai Pepe Mujica -, do lado de fora da universidade, onde também aguardavam apoiadores e militantes de movimentos sociais. Foi antecedido por uma breve fala da ex-presidenta Dilma, que destacou que foram os governos pe stas os que mais des naram recursos para os produtores rurais do País, fossem eles grandes produtores, agricultores familiares ou assentados da reforma agrária. “Não houve ninguém nesse País que vesse tanto compromisso com o setor da agricultura, que coloca o alimento na nossa mesa e gera recursos com as exportações, como o presidente Lula”, disse Dilma.

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Joceli Machado: “Eu queria ver ele de perto”. (Foto: Guilherme Santos/Sul21) Vindo de Hulha Negra para acompanhar a visita de Lula, o agricultor Joceli Machado, assentado na reforma agrária, corroborou a fala da presidenta eleita. “Eu queria ver ele de perto porque depois que entrou esse presidente [Temer], nós estamos cada vez mais sofridos. Esse não faz nada por nós”, disse Joceli, que planta milho, feijão e “tudo que é miudeza” como pequeno agricultor. “Depois que re raram a Dilma, enfeiou. Tivemos uma es agem braba e o governo não está nem aí”. Em uma fala de poucos minutos, Lula destacou tanto a universidade quanto o protesto dos ruralistas. Ele iniciou lembrando que nha vindo a Bagé em 27 de julho de 2005 para anunciar a criação da Unipampa e agora retornava com a universidade já sendo composta por 11 campi e tendo formado 13 mil alunos. Por outro lado, lamentou o que chamou de tenta va da direita fascista de impedir a sua visita ao campus por meio de uma ação do Ministério Público, mas ironizou os manifestantes. “Essas pessoas deveriam ter feito o protesto quando a gente criou a universidade, porque a elite desse País nunca quis que a população vesse acesso à educação”, disse o ex-presidente. “A nossa primeira universidade só foi criada no século XX. A elite desse país mandava os seus filhos para estudar na Europa e o povo pobre mal e porcamente terminava o segundo grau”. Falando para uma plateia que também era formada por integrantes de movimentos sociais, Lula lamentou ainda o fato de que a pobreza voltou a crescer nos úl mos anos e que as medidas econômicas do atual governo vão sempre na direção de re rar direitos ou impor sacri cios aos mais pobres e não demostrou preocupação de não par cipar da disputa eleitoral. “O único medo que eles têm é que, se eu for candidato, eu vou ganhar e vamos outra vez diminuir a pobreza no Brasil”, disse, voltando a se referir ao protesto. “Não tenho nenhuma preocupação com esse protesto, as pessoas que estão protestando contra nós, amanhã estarão batendo palmas para a gente”.

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Guilherme Santos

Guilherme Santos


Santana do Livramento, 19 de março Na fronteira com o Uruguai, na praça que divide duas cidades e une dois países, um encontro de gigantes. No local exato onde qualquer um a passo seco atravessa da brasileira Santana do Livramento para a uruguaia Rivera, uma mul dão assi u um manifesto vivo pela democracia, pela liberdade e pela paz. Quatro ex-presidentes la no-americanos sentaram à mesma mesa para conversar entre si e com uma mul dão que aglomerou-se em volta. Luis Inácio Lula da Silva e Dilma Roussef, ao lado do uruguaio Pepe Mujica e do equatoriano Rafel Correa. Um encontro simbólico, relembrando os tempos áureos de soberania e evocando ao povo a força necessária à resis r e retomar o processo de unidade la no-americana. A Pátria Grande foi colocada em pauta nesta Segunda parada da Caravana Lula pelo Brasil em sua passagem pelo Rio Grande do Sul. Em meio a um período de negação dos estados soberanos, de rateio entre os vis impérios estrangeiros de nossas soberanias mais caras, as mãos unidadas de quatro guerreiros e as vozes consoantes em direção aos povos encheu nossos corações de alento e coragem.

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Texto de Marcos Corbari, publicado na Rede Soberania.

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Nova esperança para a Pátria Grande Lula, Dilma, Mujica e Correa debatem os rumos da América La na e projetam reconstrução da unidade iniciada outrora A segunda a vidade da Caravana de Lula pelo Brasil era para ser uma conversa entre dois ex-chefes de estado que desenvolveram uma relação de amizade e respeito mútuo ao longo de seus mandatos como presidentes comprome dos com o desenvolvimento e a união da América La na. Com a adesão de mais duas figuras de vulto no cenário la no, Dilma Roussef (presidenta legí ma do Brasil, afastada por golpe parlamentar) e Rafael Correa (ex-presidente do Equador), a conversa ganhou contornos de um manifesto vivo em defesa da américa, carinhosamente chamada de Pátria Grande pelos laços de unidade que atrelam as pautas históricas dos países que a compõem tanto pelo viés de uma necessária iden dade comum, quanto pelo enfrentamento à influência imperialista que tem ar culado a nos úl mos anos a derrocada dos governos populares e nacionalistas em detrimento de mandatários subservientes aos interesses neocolonizadores. Mujica fez um apelo às forças populares que estavam presentes, para que não personalizem em apenas uma figura de referência, mês estejam dispostos a cada um fazer a sua parte na construção de um modelo social mais justo e humano. “Hoje vocês tem Lula e isso é muito bom, mas ele não é eterno e novas lideranças precisam surgir do meio popular, precisamos renovar a militância para con nuar o protagonismo desses valorosos companheiros que lutaram até aqui e seguirão lutando até onde suas forças permi rem”, falou o líder uruguaio para a reportagem da Rede Soberania. O contexto de uma iden dade que reúna os países la nos em torno de pautas comuns foi relembrado: “Não somos nada se não nos juntarmos na América La na. Eles nos querem pulverizados e divididos. Nós precisamos entender nossas diferenças e termos polí cas comuns”, arrematou o carismá co ex-presidente uruguaio.


Rafael Corrêa, ex-presidente equatoriano, também concedeu uma breve entrevista com exclusividade para nossa reportagem, relembrando o escritor Eduardo Galeano e sua famosa citação à utopia, onde descreve que apesar de muitas vezes parecer impossível de ser alcançada, ela tem essa virtude sagrada que é a de nos fazer sempre caminhar. Ques onado se está disposto a empreender novas instâncias de luta no âmbito da reconstrução da soberania popular sobre as instâncias de poder no con nente la no americano, Corrêa foi enfá co ao relembrar outra citação famosa, desta vez de Bertold Brecht: “Há homens que lutam um dia e são bons, há outros que lutam um ano e são melhores, há os que lutam muitos anos e são muito bons. Mas há os que lutam toda a vida e estes são imprescindíveis”. Para Correa, porém, todos devemos nos desafiar a lutar todos os dias, para alcançar o norte da utopia, para reconstruir a soberania popular, para fazer jus ça à nossa pátria grande. Dilma Roussef citou o golpe parlamentar que sofreu em 2016 como o passo inicial de um golpe que foi sendo desenvolvido e con nuado em diversas instâncias no Brasil, par ndo do campo polí co e chegando ao meio judiciário. Para ela, o exercício de lawfere que está sendo executado sobre o presidente Lula é um ato criminoso que visa atender esse segmento conservador e extremista que ganhou visibilidade a par r do evento do impeachment, a que ela denominou como “direita facista”. Dilma foi requisita inúmeras vezes por populares para rar selfies e foi saudada por palavras de ordem que vem sendo repe das em atos públicos desde que retomou as a vidades públicas. Lula, por fim, exerceu com desenvoltura e descontração a função de mestre-de-cerimonias no ato, dialogando com os outros três interlocutores e em diversos momentos ins gando o público a reações calorosas e demonstrações de carinho. Apesar do clima animado, também não fugiu aos temas polêmicos e relembrou o risco de ser preso pela condenação proferida por Sérgio Moro e com firmada em segunda instância pelo TRF4. “O meu problema par cular não deve atrapalhar a necessidade de resolvermos o problema cole vo de milhões de brasileiros e brasileiras que hoje estão desempregados e passando necessida-

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Guilherme Santos

des”, expressou. “Eu tenho obrigação de provar que estou falando a verdade, mas não é para eles que me condenaram, é para amigos como vocês Pepe e Rafael, e para os milhões de trabalhadores e trabalhadoras que confiam em mim e depositam no nosso projeto a sua expecta va de melhorar de vida, de recuperar direitos, de alcançar novamente as condições de uma vida digna para si e para sua família”, emendou. Assim encerrou o primeiro dia de caravana no RS. Na terça-feira, 20, a comi va de Lula segue para Santa Maria com duas a vidades previstas na cidade. Até o final do mês serão cerca de 24 cidades visitadas no RS, SC e PR. Acompanhe pela fanpage da Rede Soberania a cobertura e as transmissões ao vivo das principais a vidades da caravana.

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Texto de Luís Eduardo Gomes, publicado na Rede Soberania.

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‘‘As derrotas da esquerda são filhas de suas divisões’’, diz Mujica em conversa com Lula Foi um encontro de quatro ex-presidentes la noamericanos em uma praça que marca o encontro entre Brasil e Uruguai. Com direito a um intervalo por falta de luz, Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff, Pepe Mujica e Rafael Correa, que apareceu no final, veram na divisa entre Santana do Livramento e Rivera uma conversa de cerca de 1h30 sobre os desafios da esquerda e da América La na no período posterior aos governos de orientação social que marcaram a primeira década do século XX. Foi o segundo evento da caravana do ex-presidente Lula pela região sul do País, que começou nesta manhã com uma visita ao campus da Unipampa em Bagé. Ao contrário de Bagé, onde foi organizado um protesto de ruralistas para tentar bloquear a visita de Lula à Unipampa, o evento de Santana do Livramento foi rechaçado apenas por um pequeno grupo de apoiadores da direita brasileira, enquanto milhares de pessoas, brasileiros e uruguaios, pe stas e apoiadores da Frente Amplia de Mujica, envolveram o palco montado na Praça Internacional para a conversa entre os dois ex-presidentes e a todo o momento gritavam palavras de apoio. Inicialmente, estavam posicionadas duas cadeiras, para Lula e Mujica, mas foi adicionada mais uma, para Dilma. Em seguida, contudo, juntaram-se a eles os ex-governadores Tarso Genro e Olívio Dutra, além do senador chileno Marco Enríquez-Ominami. Estava montado o que Lula ao final brincou ser o “Caldeirão do Mujica e de Lula”. Primeiro a falar, o ex-presidente brasileiro destacou que a América La na teve, entre 2000 e 2014, uma série de governos de esquerda que implementaram polí cas sociais bem sucedidas, segundo ele, como em nenhum momento depois da Segunda Guerra Mundial. E então perguntou a Pepe: “O que mudou no Uruguai e na América do Sul?” Mujica foi breve em sua primeira fala, destacando que dois grandes desafios se impõem aos governos la no-americanos e aos


par dos de esquerda. O primeiro deles é ter uma polí ca econômica que não vise apenas o crescimento do PIB, mas também a distribuição de renda e a alegria do povo. “Já não se pergunta como vai o povo na América La na, esse é o problema”, disse Mujica. O segundo problema apontado foi a divisão interna dentro dos países, que, de acordo com o uruguaio, se encontram em situação de confronto “a todo momento”. Mas foi em sua segunda intervenção, quando respondeu a um ques onamento sobre “o que fazer”, que Mujica foi mais incisivo na crí ca à esquerda la no-americana. “Nós da esquerda também nos equivocamos. Não quisemos aprender que as derrotas das esquerdas são filhas de suas divisões”, disse. E fez então um resgate histórico para afirmar que desde a Revolução Francesa, passando pelo Franquismo, na Espanha, e pela ascensão do nazi-fascismo, que a esquerda está mais comprome da com brigas internas do que em confrontar as polí cas de direita. “Sem unidade não há poder. Ninguém tem a verdade total”, disse. “Eles [a direita] nos querem divididos, pulverizados, atomizados”. Foi interrompido pela falta de luz quando afirmava que aqueles que lutam pela igualdade precisam resis r às tentações do poder, que levam muitos de seus polí cos a viver como uma minoria privilegiada, e sim manter um modelo de vida semelhante ao da maioria do povo. “Quando a burguesia nos convida para uma festa, essa é a festa deles, não a nossa. Se lutamos pela igualdade, devemos conservar um modelo de vida que expresse o compromisso por aqueles que lutamos”, disse. Além de fazer a defesa da unidade e da busca de pautas que unam as esquerdas, e não daquelas que as dividem, Mujica saudou a intenção de Lula concorrer a um novo mandato, mas ressalvou que os par dos e as mudanças sociais não podem depender de uma pessoa só. “Amanhã essa pessoa não estará mais e a luta con nua. Sorte que o Brasil hoje tem o Lula, mas amanhã não terá mais. Temos que produzir gerações de militantes sociais”, defendeu. Em suas falas, o ex-presidente Lula destacou que em seu governo buscou formar uma aliança com os demais países da América La na para que a região não mais fosse uma área de total influência dos Estados Unidos. Contudo, destacou que foi um trabalho di cil, primeiro porque os governos americanos sempre

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teriam incu do nos nossos vizinhos a ideia de que o Brasil era um inimigo a ser enfrentado, e também pelas resistências internas dos países a deixarem a área de influência americana. Mas, destacou que isso acabou se concre zando, com o fortalecimento do Mercosul, a criação da Unasul (União das Nações Sul-Americanas), da Celac (Comunidade de Estados La no-Americanos e Caribenhos) e com a derrota das Alca (Área de Livre Comércio das Américas), proposta pelos EUA. Contudo, essa maré virou, segundo Lula, também por dedo dos americanos. “Lamentavelmente, as coisas começaram a degringolar. Não temos mais a unidade que nhamos. Se con nuarmos separados, sendo serviçais dos EUA, não teremos futuro”, disse. “O dado concreto é que todos os países, com exceção do Uruguai e da Bolívia, mudaram os governo. A verdade é que o Brasil hoje tem um governo golpista que está atendendo a tudo que o mercado financeiro pede”, complementou Lula. Dialogando com a manifestação inicial de Mujica, salientou que o Brasil está retomando agora polí cas da metade do século XX, quando, apesar de ser um dos países que mais cresceu no mundo, não conseguiu distribuir renda e viu a desigualdade apenas aumentar. Diante desse quadro, Lula colocou-se como o candidato que pode reverter esses quadros de afastamento dos países la noamericanos e de aumento da desigualdade. Assim como nha feito pela manhã em Bagé, Lula minimizou o processo judicial que o ameaça de prisão após ser condenado em segunda instância pelo Tribunal Regional Federal da 4ª região em janeiro. “O meu problema pessoal é pequeno diante do problema que a nge milhões de brasileiros que já perderam o emprego e estão perdendo o direito de cursarem uma universidade”, disse, ainda ironizando a possibilidade de cruzar a praça e fugir para o Uruguai. “Eu poderia dar um pulo pro Uruguai e não dou, porque mais dia e menos dia quem vai sair do país são meus acusadores, no Ministério Público, na Polícia Federal e no Judiciário, porque ele inventaram a meu respeito e eu só tenho a meu favor a tranquilidade de um homem inocente”. Em sua fala, Dilma disse que o Brasil, infelizmente, se tornou um líder na região ao introduzir um novo modelo de golpe militarmidiá co, com apoio de setores financeiros e algumas corporações de classe, como a do Judiciário. Assim como havia dito em entrevista

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recente ao Sul21, salientou que o seu impeachment foi apenas o passo inaugural do golpe, que seria um processo. A presidenta eleita destacou que, após um primeiro momento em que discu a-se se foi golpe ou não, comprovou-se que, sim, tratava-se de um, quando o governo adotou a “agenda golpista que nha sido derrotada quatro vezes”, com polí cas da priva zações de estatais e desregulamentação do mercado de trabalho. “Impuserem o mais sombrio neoliberalismo”. Agora, o Brasil estaria em um terceiro momento, de promoção do ódio, em que o governo se encontra sem candidato próprio após alimentar o “monstro” da extrema-direita. “O monstro saiu da caixa. A extrema-direita não nha cara, agora tem. O golpe se auto derrotou e o único candidato que se opõe a esse crescimento da extrema-direita, de fazer oposição ao retrocesso e à venda de patrimônio e de terras, vocês sabem quem é. Lula tem a missão de fazer o Brasil se encontrar consigo mesmo. Nós queremos lavar e enxaguar a alma do nosso país, acabar com a dor profunda que abala o povo brasileiro. Temos que liderar um movimento pela construção da felicidade ampla”, disse. Em uma breve aparição ao final do evento, o ex-presidente do Equador Rafael Correa cri cou o seu sucessor, Lenin Moreno, a quem acusou de ser o “Temer equatoriano” por ter, segundo ele, traído a “revolução cidadã” do país e entregado seu governo “totalmente para a direita”. “Foi uma traição profunda, a entrega total do país aos poderes de sempre e à imprensa corrupta”, disse. Correa, que hoje vive na Bélgica e veio à Santana do Livramento para gravar entrevistas com Lula, Dilma e Mujica para o canal russo RT, também concordou que a América La na vive um retrocesso de aumento da pobreza e no qual setores da elite e da imprensa tentam deslegi mar os governos de esquerda com a acusações de corrupção, judicialização da polí ca, rompimento com os direitos humanos e com a regra cons tucional, mas ressaltou que, diante disso, não se pode perder a disputa moral. “O governo honesto não é o que não tem casos de corrupção, porque todos têm, mas o que não tolera”.

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Guilherme Santos


Ar go de Marcos Corbari, publicado na Rede Soberania.

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O que aprendi em dois dedos de prosa com Jose Alberto Mujica Cordano, o Pepe Há personagens e personagens. Alguns entram pela história através das portas da infâmia, outros são conduzidos pelo abraço do povo. Alguns passam a vida e legam a memória a defender verdades extremas, outros compreendem logo que a vida é dinâmica e as verdades de hoje podem rapidamente se transformar nas contestações do amanhã. Pepe Mujica, expresidente e atual senador no Uruguai pertence ao segundo grupo, em ambos apontamentos. Em março, pouco antes dele par cipar de um ato público em Rivera/Santana do Livramento, onde conversou com os ex-presidentes Lula e Dilma (do Brasil) e Rafael Corrêa (do Equador), ve uma oportunidade ímpar de trocar dois dedos de prosa informalmente com Pepe, assim mesmo, sem pronome de tratamento, como ele solicitou. Nada de chamá-lo de “presidente” e muito menos de “don”. Onde foi que erramos? Indaguei ao complementar uma explanação de um colega uruguaio que o acompanhava e recém relembrara a ascensão do conservadorismo em boa parte dos países la no-americanos. “Ninguém acerta sempre”, respondeu, com a humildade que lhe é caracterís ca. “Precisamos aprender com nossos erros e evitar errar de novo”. Por alguns minutos ele nos falou da necessidade de se projetar governos de matriz popular, de reaproximar as pessoas que se apresentam como líderes da vida co diana de suas bases, de romper o isolamento das ins tuições e o aparato do poder. Em nenhum momento se apresentou como modelo, mas era impossível olhar para aquele homem pequeno, idoso, aparentemente frágil, que percorreu o caminho da luta e do cárcere até alcançar o cargo de maior importância no seu país, implementando medidas ousadas que colocaram seu Uruguai em uma espécie de vanguarda progressista.


Voltou à palavra “erro” e nos surpreendeu ao inverter as posições e colocar os dois jornalistas na condição de entrevistados: “as pessoas estão felizes?”, indagou. Silêncio e constrangimento. “Não!” – arrisquei responder. A maior parte, pelo menos não. Assim fechamos o primeiro dedo de prosa. O segundo, traria a sua réplica, que em seguida seria também proferida para alguns milhares de atentos admiradores, uruguaios e brasileiros, na sua fala pública. Primeiro me explicou que a ideia de antever que uns estão menos felizes enquanto outros estão mais é um dos erros que cometemos. Ou aprendemos a conviver e desenvolvemos empa a uns pelos outros, ou seguiremos nesse ciclo de conflitos que parece nunca ter um norte final. – Não posso acreditar que o embate seja a resposta, que viver con nuamente em choque seja a resposta, isso não pode ser bom para qualquer sociedade -, disse. “A resposta eu acredito que está em aprender a tolerar, a conversar, a negociar o que for preciso, compreender o que é necessário”. Para Mujica o principal é ter em mente a possibilidade de se viver com tranquilidade. É a saída para o seu Uruguai? Para o nosso Brasil? Bandeiras nessa conversa são desnecessárias. “É o grande desafio para toda nossa América La na”. Sim! Ainda há quem creia na Pátria Grande! Antes de rabiscar a assinatura em minha camiseta, onde o desenho de uma flor rompe a firmeza do ferro de uma bigorna para brotar cor onde só havia tons cinzentos, ele ergue os olhos e sorri: “Não acredito em avanços com ódio. Com ódio só retrocedemos”. Não foram mais do que cinco minutos de conversa, mas não pude ainda, passado alguns meses, ponderar o tamanho do aprendizado. Gracias, Pepe.

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Santa Maria, 20 de março Enquanto Lula conversava com reitores e diretores de Universidades e Ins tutos Federais no prédio da Reitoria da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), um momento de forte tensão foi protagonizado pela militância pró e contrária ao ex-presidente. A selvageria dos grupos facistas seria descor nada, mostrando mais um pouco do monstro que a extrema direita brasileira foi cons tuindo sob a cumplicidade de par dos polí cos que sustentaram o golpe, setores sociais historicamente privilegiados e até mesmo instâncias do judiciário que se omi ram à sua missão de resguardar as liberdades individuais e o princípio democrá co.


Possivelmente a imagem mais chocante e mais reproduzida de toda a Caravana Lula Pelo Brasil em sua passagem pelo Rio Grande do Sul foi captada pelas lentes do fotojornalista Guilherme Santos, do Sul21, onde se vê um rapaz jovem, trajado em es lo campeiro, agredindo com um relho a um dos camponeses que acompanhavam a caravana e, de mãos limpas, esforçavam-se para fazer a segurança do ex-presidente Lula e de sua comi va. Uma imagem triste, que a par r de sua divulgação fez notar ainda mais os setores e personagens decrépitos que fomentaram o ódio entre a população brasileira.

Alexandre Garcia

Se por um lado, no pá o da universidade, pela manhã a violência foi o personagem em destaque, ao cair da noite o povo simples reassumiu o protagonismo e, em meio a maior ocupação urbana da América La na, no bairro de Santa Marta, Lula seria acolhido com carinho e festejado por milhares de trabalhadores, trabalhadoras e estudantes em um dos atos mais emocionantes e bonitos de todo o roteiro.


Texto de Marcos Corbari, publicado na Rede Soberania.

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Enquanto alguns cães ladram a caravana passa e Lula segue nos braços do povo O segundo dia da Caravana de Lula pelo RS foi demarcado por protestos de alguns representantes da extrema direita à tarde e pela resposta de uma mul dão de apoiadores à noite A licença poé ca u lizada no tulo do texto foi citada em muitos momentos durante o segundo dia da Caravana de Lula pelo Brasil em sua passagem pelo RS, quarta-feira, 20. Representa de forma concreta o que se pôde ver ao longo do deslocamento do grupo até os locais onde foram realizadas as a vidades previstas para o dia: reunião com o reitor Paulo Burman e representantes de outras universidades federais na UFSM à tarde e ato público aberto na ocupação urbana Nova Santa Marta. A interpretação de lideranças vinculadas ao campo progressista é de que os acontecimentos que ameaçaram tumultuar as a vidades da caravana são resultado de uma sociedade tensionada, onde dois campos dis ntos estão postos e protagonizam o enfrentamento préeleitoral: de um lado a esquerda, centro esquerda e movimentos de matriz popular e progressista defendendo o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva ou outros candidatos iden ficados com suas ideias; do outro a extrema direita, violenta e reacionária, representando um candidato de discurso simplista e sectário, incapaz de diálogo ou debate que se estabeleça a par r do campo das ideias e não da agressão ou da ofensa, deixando um vácuo no espaço que antes era ocupado pelos sociais-democratas e demais segmentos simpá cos ao posicionamento de centro ou centrodireita que não foram capazes de produzir uma liderança sequer com viabilidade eleitoral. No caminho de Santana do Livramento para Santa Maria, na manhã de quarta-feira, 20, já se podia prever um pouco do que


seria o cenário repleto de momentos antagônicos que aguardava Lula e sua delegação na cidade que se considera o coração do estado. Fazendeiros iden ficados com a extrema direita e simpá cos ao fascismo enfileiraram na RS 158 cerca de uma dezena de caminhonetes para tentar in midar o grupo que conduz o ex-presidente em sua passagem pelo estado. Além de não conseguir alcançar seu obje vo, os milicianos ainda sofreram o constrangimento de ser dispersados pelas forças policiais e veram que se deslocar de volta à cidade atrás do grupo de apoio do presidente Lula. Segundo o comando Rodoviário da Brigada Militar informou a uma emissora de rádio da capital do estado, um carro foi abordado na via de acesso à cidade e apreendidas duas caixas de morteiros de posse de manifestantes an -Lula que foram conduzidos à jus ça. Também circularam comentários sugerindo que haveria também a detenção de um indivíduo com arma de fogo, mas a Brigada não confirmou essa informação até o início desta manhã. Na primeira a vidade oficial do dia, nova tenta va de impedir a agenda prevista de ser man da em estado de normalidade. Reuniram-se nas imediações da UFSM e depois deslocaramse até a proximidade da reitoria cerca de 200 manifestantes, muitos deles ves ndo roupas que lembram fardas militares, pilchas gaúchas e um grande número de camisetas alusivas a um pré-candidato que defende o ultraconservadorismo, a misoginia e o preconceito. Não contavam era com a atuação firme e decidida de estudantes, trabalhadores e trabalhadoras urbanos, pequenos agricultores e assentados da reforma agrária que defenderam o prédio da reitoria onde Lula reuniu-se com representações de universidades federais para debater os problemas reais que o ensino público tem enfrentado desde que o golpe parlamentar afastou Dilma Roussef da presidência e reorientou o rumo ao encontro dos anseios das classes mais altas em detrimento das necessidades do povo pobre e da classe trabalhadora. Até que a Polícia Militar chegasse à UFSM e novamente obrigasse o recuo dos manifestantes de extrema direita que já haviam provocado pelo menos uma dezena de momentos de tumulto e principiado agressões sicas e verbais, foram os próprios apoiadores de Lula

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que estavam no local para saudar o melhor presidente da história do Brasil que impediram com um cordão humano que se consumasse qualquer po de agressão à delegação. A a vidade pública da noite, marcada para a ocupação urbana Nova Santa Marta, a maior da América La na, representou a resposta mais simbólica que o povo de Santa Maria poderia oferecer aos crí cos de Lula: uma reunião onde seguramente mais de 7 mil pessoas marcaram presença para literalmente abraçar o palco onde Lula, a equipe que o acompanha e as lideranças locais se pronunciaram. Ali foi realizada uma verdadeira festa da democracia, reunindo pessoas da localidade e também muita gente que se deslocou de outros bairros, do centro da cidade e mesmo da região. Momentos de muita alegria e de extrema emoção foram captados pelas câmeras dos meios de comunicação alterna vos e de correspondentes internacionais que se dedicam à cobertura da caravana. Os veículos tradicionais, de linha conservadora aparentemente não estavam presentes para registrar o ato.

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Guilherme Santos

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Texto de Marcos Corbari, publicado na Rede Soberania.

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A Educação como legado e como projeto futuro Reunião realizada na UFSM reforça histórico de inves mentos dos governos Lula e Dilma pela educação e aponta para futuro projeto de governo que voltará a atender as demandas do setor Já escrevemos aqui, mas nunca é demais repe r: ninguém na história do Brasil inves u tanto em educação, desde a pré-escola até a pós-graduação, quanto os expresidente Luis Inácio Lula da Silva. O reconhecimento pela transformação e desenvolvimento do setor durante o período de governos populares foi destacada na reunião que colocou em volta da mesma mesa Lula, Dilma Roussef, o reitor da Universidade Federal de Santa Maria, Paulo Burmann, diretores da ins tuição e reitores de outras universidades federais do RS, entre outras lideranças do meio polí co e educacional. - O saldo do encontro é posi vo, vemos liberdade de apresentar uma pauta recorrente das universidades e ins tutos federais que visa garan r que tenhamos o compromisso dos futuros candidatos em garan r a con nuidade dos inves mentos que estão sendo feitos”, declarou Burman a um jornal local após o encontro. “Pelo que vi, é estratégia do expresidente Lula manter recursos importantes na área da educação, ciência e tecnologia”, completou. As reivindicações do segmento foram apresentadas ao ex-presidente e hoje précandidato em uma carta assinada em conjunto pelos presentes. O site do Par do dos Trabalhadores destacou na manhã de hoje que o encontro foi especialmente marcante para o líder do par do na Câmara, Paulo Pimenta, que percorreu quase toda sua trajetória acadêmica polí ca dentro


da UFSM. Já com 15 anos, era presidente do grêmio do colégio agrícola, foi presidente do DCE e atuou firmemente na luta para conquistar eleições diretas para reitor. “Estou muito feliz por ter esta oportunidade de acompanhar o presidente Lula e a presidenta Dilma em nossa universidade, que tem uma história de coragem, resistência e luta”, afirmou o deputado federal. “Tenho certeza de que nossa presença aqui hoje tem o obje vo de reafirmar nosso compromisso com o ensino público e gratuito nas universidades, o que acreditamos ser o caminho para construir o país que nós sonhamos.” Presente, a presidente legi mamente eleita Dilma Rousseff, lembrou dos inves mentos feitos pelos governos do PT e o profundo compromisso em construir um Brasil soberano e autônomo a par r dos inves mentos em educação. Em sua fala, o ex-presidente Lula declarou sen r orgulho de ter ajudado a criar o par do polí co de esquerda mais importante da América La na, e também o que mais fez pela educação. Na oportunidade, reiterou o que diz já há alguns meses de que, se for candidato e retornar à Presidência da República, irá também federalizar o Ensino Médio. Ao deixar a universidade o ex-presidente agradeceu aos estudantes, trabalhadores e trabalhadoras e representantes dos movimentos sociais que o acolheram e realizaram a defesa da delegação frente as agressões propostas pelos manifestantes da extrema-direita fascista. Lula inspirou os presentes a seguir em luta. “Nós temos que levantar a cabeça. Não há como ficar de cabeça baixa num país que não tem mais soberania, em que o presidente não representa nada!”. Após o encontro, o ex-presidente seguiu para um ato na fazenda Santa Marta no início da noite. (Texto editado com informações do jornal Diário de Santa Maria e do site do Par do dos Trabalhadores)

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Em pronunciamento na ocupação urbana de Nova Santa Marta, em Santa Maria, RS, o ex-presidente não u lizou de meias palavras para contrapor seus detratores e firmar compromisso com a classe popular Conduzido ao palco nos braços do povo, o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva fez um pronunciamento público forte no ato realizado no assentamento urbano de Nova Santa Marta, na cidade de Santa Maria, região central do RS. Relembrando os tempos de militância sindical e afastando a figura do “Lulinha paz e amor” caracterís cos de momentos mais recentes, o pré-candidato não usou de meias palavras para contrapor seus adversários no campo polí co, os representantes do judiciário que o expõem ao sistema de lawfere (técnica de perseguição judiciária que criminaliza lideranças do campo polí co) ou os representantes de segmentos sociais que foram beneficiados em seus governos e hoje demonstram ingra dão ao não reconhecer as transformações sociais que haviam conduzido o Brasil uma nova realidade econômica e social. A reação efusiva da plateia, aplaudindo e saudando com palavras de ordem e cantos de apoio que relembram as campanhas em que o pe sta foi candidato a presidente, comprovam a aprovação do povo trabalhador a essa nova postura, mais incisiva, de seu maior representante. - Quando a gente dá R$ 10 para uma pessoa humilde, ela fica eternamente agradecida -, citou, em seguida contrastando com o mau exemplo dos grandes: “Quando viabilizamos milhões para grandes fazendeiros financiarem equipamentos mais modernos e caminhonetes do úl mo po eles não só são mal agradecidos, como passam a vida inteira falando mal dos nossos governos”. E ainda disse mais: “Por mais que a gente financiasse a agricultura no Rio Grande do Sul, em todas as eleições eles se colocavam contra nós", disse o ex-presidente, afirmando que não se surpreende com as

Texto de Marcos Corbari, publicado na Rede Soberania.

Lula responde com posicionamento claro e discurso forte as ações de crí cos que tentam impedir a agenda da caravana

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reações truculentas dos mais abastados. Lula ressaltou ainda que, durante o seu governo e o da presidenta eleita Dilma Rousseff, mais de 51 milhões de hectares de terra foram disponibilizados para a Reforma Agrária. "O que significa que 52% de tudo que foi desapropriado em 500 anos desse país, foi feito em 12 anos por mim e pela Dilma". Ainda enumerou os mo vos pelos quais a elite não quer que ele volte a governar o Brasil. "Eles não querem porque nos nossos governos o salário mínimo aumentou e vemos a coragem de criar o piso salarial dos professores. Porque criamos o ProUni, o Fies e colocamos o filho do pobre na universidade. Eles não querem que a gente volte porque nós conseguimos aprovar as cotas para que negros e negras pudessem entrar na universidade. Porque nós criamos o Programa de Aquisição de Alimentos para comprar o alimento do pequeno produtor e distribuir para quem mais precisa. E porque, pela primeira vez, a empregada domés ca passou a ser tratada como cidadã e não como escrava", afirmou o ex-presidente, garan ndo que vai provar novamente que um torneiro mecânico tem mais capacidade para governar o Brasil do que a elite que está no poder.

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Arte sobre foto de Guilherme Santos

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A história (re)contada por uma imagem A foto do repórter Guilherme Santos, colaborador do portal Sul21, talvez seja a imagem mais reproduzida e que melhor representa a simbologia histórica que está por trás das agressões pra cadas por extremistas de direita e fazendeiros do Rio Grande do Sul contra a Caravana de Lula e aqueles que lhe são simpá cos. A cena capturada, onde um filho de fazendeiro agride um sem-terra com golpe de relho, convertese em uma imagem narra va, que serve para ilustrar um fato, mas também para contar uma história. A imagem, ao mesmo tempo que retrata uma contemporaneidade assustadora, onde a prá ca do jogo democrá co perde espaço para o protagonismo de figuras asquerosas que fomentam a violência e o fundamentalismo contra aqueles que pensam e militam de forma contrária, relembra um passado


sombrio que deveria ser lamentado por todos e rememorado apenas para fins pedagógicos de modo que os crimes de ontem não se repitam nos dias de hoje. Mas, infelizmente, a disciplina de história já não parece ter o mesmo pres gio de outrora. A propriedade que excede a necessidade e a instância de mando que estabelece o exercício de poder de alguém sobre outrem – como se um de vesse algum po de superioridade sobre o outro – são os dois pilares desse raciocínio tosco que se perpetua de geração a geração, fundando a condição desde os senhores de escravos do passado aos que se apresentam como “produtores de divisas” no presente. Transmutou-se a expressão, man veram-se as posições. O chicote havia dado lugar aos expedientes de dominação simbólica que se construíram através do domínio do campo social e da anulação de qualquer discurso contestatório. Agora ele está de volta em fotos, em relatos, em ameaças que não se preocupam mais em soar veladas. O chicote que abre vergões na pele daquele que apanha, açoita muito mais do que o corpo do mais fraco, fere de morte o sen do de humanidade que tanto precisamos recuperar. Os grilhões de antes haviam sido subs tuídos pelas cadeias ideológicas do nosso tempo, onde o bombardeio de informação condiciona muitos trabalhadores e trabalhadoras à condição de neo-escravos, traindo a própria classe em defesa daquele que lhe explora. A pergunta que cabe fazer é sobre quanto tempo estes que resgataram o chicote, vão demorar para resgatar também as correntes, o tronco, as senzalas… Uma imagem. Uma foto. Um grito que se cala no ar, preservado no tempo, entre o ontem e o hoje. Um zunido de couraça cortando o ar, que ecoa incomodamente como se a qualquer momento pudesse a ngir pelas costas a mim, a , a qualquer trabalhador e trabalhadora que ainda não despertou sua consciência de classe e não teve coragem de dar seu próprio grito de alforria.

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Ar go de Frei Sérgio Görgen, publicado na Rede Soberania.

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A fotografia do agronegócio Durante a Caravana Lula pelo Rio Grande do Sul, uma foto rodou o mundo. Capturada em Santa Maria, quando ruralistas tentaram impedir o Presidente Lula de chegar à Universidade Federal, a foto é uma síntese do que há de pior no agronegócio brasileiro. A foto é emblemá ca. Na cabeça o ruralista carrega um chapéu com a marca da “Bayer”, maior mul nacional de venenos agrícolas do mundo, tendo recentemente adquirido a Monsanto, maior empresa de sementes transgênicas viciadas em venenos fabricados por ela mesma. Na cabeça, mente tomada e colonizada pelas mul nacionais da comida envenenada. Na mão o chicote escravocrata. Precisa submeter pela força a rebeldia dos que não concordam e não se submetem. O chicote é o símbolo de um poder que construiu e manteve o la fúndio até hoje, desde a escravidão até às formas atuais de exploração do trabalho e submissão das pessoas. Necessário ressaltar, para evitar superficialidades que a nada servem, que há os que “são do” agronegócio – mercado financeiro, mul nacionais da indústria química, tradings comercializadoras de grãos, indústria de máquinas, grandes la fundiários – e os que “estão no” agronegócio, por necessidade, por falta de outras oportunidades, por ganância, por ilusão de serem grandes. Neste segundo me, médios e até pequenos, empurrados pela onda, pela propaganda e pela falta de opções. Estes são também ví mas do “chapéu da bayer” e do “chicote escravocrata”, embora nem sempre o percebam. A foto é emblemá ca do que há de pior neste modo de modernizar o la fúndio atrasado. Suposta modernidade tecnológica colada no atraso cultural e social, unidos no mundo real, e agora, eternizado nesta fotografia. Neste momento da história brasileira, é o agronegócio la fundiário, cabeça de ponte do fascismo em terras brasileiras, alinhados cegamente a Bolsonaro. E que não se esqueça também que a tal “bayer”, que “usa e faz a cabeça” do fascismo ruralista, foi um dos sustentáculos da Alemanha Nazista fornecendo munição ao exército de Hitler. Os Movimentos Camponeses responderão ao “chicote” com mais e mais firmes mobilizações pela Reforma Agrária Popular e pela implantação do Plano Camponês.e excede a necessidade e a instância de mando que estabelece o exercício de poder de alguém sobre outrem – como se um de vesse algum po de superioridade sobre o outro – são os dois pilares desse raciocínio tosco que se perpetua de geração a geração, fundando a condição desde os senhores de escravos do passado aos que se apresen-


Arte sobre foto de Guilherme Santos

tam como “produtores de divisas” no presente. Transmutou-se a expressão, man veram-se as posições. O chicote havia dado lugar aos expedientes de dominação simbólica que se construíram através do domínio do campo social e da anulação de qualquer discurso contestatório. Agora ele está de volta em fotos, em relatos, em ameaças que não se preocupam mais em soar veladas. O chicote que abre vergões na pele daquele que apanha, açoita muito mais do que o corpo do mais fraco, fere de morte o sen do de humanidade que tanto precisamos recuperar. Os grilhões de antes haviam sido subs tuídos pelas cadeias ideológicas do nosso tempo, onde o bombardeio de informação condiciona muitos trabalhadores e trabalhadoras à condição de neo-escravos, traindo a própria classe em defesa daquele que lhe explora. A pergunta que cabe fazer é sobre quanto tempo estes que resgataram o chicote, vão demorar para resgatar também as correntes, o tronco, as senzalas… Uma imagem. Uma foto. Um grito que se cala no ar, preservado no tempo, entre o ontem e o hoje. Um zunido de couraça cortando o ar, que ecoa incomodamente como se a qualquer momento pudesse a ngir pelas costas a mim, a , a qualquer trabalhador e trabalhadora que ainda não despertou sua consciência de classe e não teve coragem de dar seu próprio grito de alforria.


Terceira parada, São Borja Seguimos nosso caminho, colhendo flores e abraços por onde passávamos. Mas também enfrentando o ranço dos que não sabem conviver com a divergência de opinião. A caminho de São Borja, uma parada em são Vicente do Sul, uma cidade pequena em tamanho, mas gigante na importância. Ali, professores, funcionários, técnicos administra vos, estudantes e familiares vinculados ao Ins tuto Federal Farroupilha, que ali implantou um de seus 11 campi. O monstro facista tentou impedir Lula de conhecer mais essa obra de seu governo: ofensas, ameaças e palavrões contra a Caravana de Lula, porém agredindo muito mais os próprios estudantes que então vivenciavam o ápice da inclusão através do ensino público gratuito e de qualidade. No acesso a São Borja, terra natal de Getúlio Vargas e João Goulart, vemos a certeza de que o contraponto deixaria de se dar no campo democrá co. O monstro mostrava-se com toda sua pustulência de público: tratava-se não de um movimento de contraponto ao que Lula e as pessoas que o apoiam representam, mas sim de uma milícia violenta e disposta a extremismos. Sugeriu-se alterar o roteiro, mas ao saber que milhares de pessoas o esperavam na Praça Central e lá já haviam enchotado os agressores mais cedo para proteger o túmulo de Getúlio e o palco preparado a fala pública das autoridades que acompanhavam a Caravana, Lula foi veemente em afirmar que seguiria em frente. De lenço no pescoço, ali seriam proferidas as palavras mais fortes de todo o roteiro pelo Rio Grande do Sul. Já estava iden ficado que a milícia organizada para tentar coagir a liberdade de deslocamento da Caravana e amedrontar o povo que aguardava em cada parada, era formada pelos mesmos criminosos que iniciaram as agressões em Bagé. O monstro estava posto, grunhindo e raspando as garras no chão, mas mais uma vez a força do povo lhe cortava o rabo e fazia a esperança vencer o medo.

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Ricardo Stuckert


Ar go de Frei Sérgio Görgen, publicado na Rede Soberania.

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Lula responde opositores em São Vicente do Sul: “Não tenho tempo para ódio, dá azia” Ex-presidente e sua caravana ignoram ofensas e agressões de pequeno grupo de manifestantes contrários para ter oportunidade de conversar cara a cara com alunos e alunas do Ins tuto Federal Farroupilha A educação pública, gratuita e de qualidade tem sido uma das principais bandeiras da Caravana de Lula pelo Brasil, assim como foi uma prioridade nos 13 anos de governos pe stas comandados por ele ou pela presidenta legí ma, Dilma Roussef. Nesta quarta-feira, 21, depois de deixar Santa mAria, onde par cipou de reunião realizado na Universidade Federal e de ato público na maior ocupação urbana da América La na, seguiu em direção à São Borja, deixando a região central e par ndo para o extremo oeste do estado. No caminho, porém, uma parada especial foi inserida no roteiro, para visitar o Ins tuto Federal implantado em seu governo no pequeno município de São Vicente do Sul. Com pouco mais de 8 mil habitantes, São Vicente recebeu a implantação de um dos 11 campi do Ins tuto Federal Farroupilha, que em sua totalidade atende a mais de 11 mil alunos. Alertado de que milicianos adeptos do extremo conservadorismo e pra cantes de atos facistas estavam postados nas imediações do local, Lula foi enfá co: “Não vemos medo de combater a ditadura, agora acham que vamos ter medo de cara feia? Eu vou ir lá sim, eu quero visitar e ver essa unidade do ins tuto, eu quero conversar com os alunos e professores olhando no olho de cada um”. E novamente Lula estava certo, pois se havia pouco mais de 50 pessoas fazendo barulho do lado de fora e in midando a comunidade local e escolares com palavrões e discursos repletos de ódio e preconceito, dentro do Ins tuto centenas de estudantes e professores lotavam as instalações do auditório da casa para ouvir os pronunciamentos da reitora Carla Jardim, da presidenta legí ma Dilma Roussef e do ex-presidente Lula. No ato, os dois ex-presidentes receberam da reitora e de diretores da


Alexandre Garcia

ins tuição moções de agradecimento e reconhecimento público, assinadas em nome da ins tuição e da comunidade local. Profundamente iden ficado com o tema, Lula relembrou que teve oportunidade de estudar poucos anos, depois recebendo formação complementar de curso profissionalizante para atuar como torneiro mecânico, sendo muitas vezes ironizado pelos adversários por ser o único presidente na história do Brasil que não de nha diploma de curso superior. “Hoje é um orgulho tão grande para mim chegar aqui e dizer para vocês que eu sou o presidente que mais tem tulos de doutor honoris causa e que os nossos governos são responsáveis por um número maior abertura de novas universidades, novos campis universitários avançados e novos ins tutos federais em 13 anos do que nossos adversários foram capazes de fazer em um século”, explicou. Para ele o setor da Educação é diretamente responsável pela melhoria da qualidade de vida do povo e pelo desenvolvimento do país, por isso proibiu que a gestão do Ministério da Educação em seus governos denominasse os recursos repassados ao setor como “gastos” e sim foram sempre considerados “inves mentos”. A inserção dos filhos do trabalhador e da trabalhadora mais humildes dentro da formação profissionalizante e do ensino público superior foram citados como um

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dos maiores orgulhos pelo pe sta. Entre outros assuntos tratados pelo ex-presidente no Ins tuto Federal Farroupilha, manifestou sua contrariedade com a intenção do governo Temer de que até 40% das aulas do Ensino Médio sejam ministradas na modalidade Ensino à Distância (EAD), o que, para ele, significa mias um passo para a priva zação do ensino. A resposta ao cenário atual veio em forma de uma proposta ousada: “Quero dizer que, se nós voltarmos, vamos federalizar o Ensino Médio nesse país”. E emendou: “Nenhum país do mundo pode se desenvolver sem inves mento em educação, que é o inves mento mais barato e mais promissor, porque ele nunca se perde. Com a educação, o país tem mais capacidade de se desenvolver”, disse. Sobre a questão de gastos, ques onou que “quanto custou ao Brasil não fazer as coisas certas na hora certa”. Um alerta foi compar lhado com os estudantes a respeito da derrubada dos direitos trabalhistas: “o mercado de trabalho hoje é precarizado, vocês vão ter que conviver com o trabalho intermitente”. Para Lula, o próximo governo tem o dever histórico de contrapor os retorcessos impostos por Temer e seus representantes na câmara e senado e realizar um referendo revogatório ou até mesmo uma nova

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cons tuinte para derrubar as an -reformas feitas pelo governo atual. Voltou a afirmar que “não há exemplo na história da humanidade de um país que tenha se desenvolvido sem antes inves r na educação. A educação nos dá compe vidade em preços no mercado exterior, nos dá a possibilidade de deixar de ser exportador apenas de matéria-prima para sermos exportadores de conhecimento e inteligência”, concluiu. Sobre os crí cos, em especial aos representantes do agronegócio que colocaram tratores às margens das ruas, lula respondeu que “preconceito sempre exis u, mas o que essa gente tem é ódio” e sugeriu que esses agricultores “consultassem a consciência” sobre em que período veram maior reconhecimento e ganhos mais consideráveis enquanto setor produ vo, se foi nos 13 anos de governos do Par do dos Trabalhadores, ou se é agora em que representantes do conservadorismo mais retrógrado estão dando as cartas nas instâncias de poder. Fato concreto é que, ao encerrar a a vidade e se despedir só alunos e professores, Lula mostrava-se feliz e os par cipantes da caravana levavam a certeza de que no enfrentamento de narra vas mais uma vez aqueles que se colocam com posturas inclusivas derrotaram os representantes das ideias excludentes.

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(Com informações de Rede Brasil Atual, Brasil de Fato, Sul21 e Lula.com.br)

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Texto de Marcos Corbari, publicado na Rede Soberania.

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Em São Borja mais uma vitória da Caravana de Lula contra discurso de ódio dos opositores Apesar de ruralistas fomentarem clima de ofensa e agressão contra militância de esquerda, apoiadores do ex-presidente novamente vencem as barreiras e realizam seu ato em plena praça central da cidade Fomentados principalmente por um pré-candidato que se estabeleceu à extrema direita, um grupo de ruralistas formou uma espécie de milícia e tentou de todas as formas impedir a passagem da Caravana de Lula pelo Brasil através da cidade de São Borja. A chegada do pré-candidato pe sta e seus apoiadores até a praça central da cidade, onde está instalado o mausoléu do saudoso presidente Getúlio Vargas representou mais uma derrota para esse grupo de índole facista – a sexta derrota em três dias – que não apenas fracassou em seu obje vo de atrapalhar a passagem do grupo, como incendiou o sen mento de militância no povo trabalhador que aglomerou-se nas imediações do caminhão de som que serviu de palco para Olívio Dutra, Dilma Roussef e Luís Inácio Lula da Silva se manifestarem. - Estamos aqui para prestar nossa homenagem, para reafirmar o reconhecimento e nos animar a seguir o aprendizado através do legado de Getúlio Vargas, João Goulart e Leonel Brizola , relembrou o ex-governador do RS, Olívio Dutra. O líder popular está na caravana desde o seu ponto de par da e promete seguir acompanhando seu amigo e contemporâneo de militância sindical e depois de fundação do Par do dos Trabalhadores, Lula. “Nosso companheiro está sendo acusado injustamente, assim como no passado acusaram Getúlio; está sendo perseguido injustamente, assim como no passado perseguiram Jango”, citou em entrevista concedida após o ato. Dilma Roussef, presidenta legí ma afastada de seu mandato por


Alexandre Garcia


um golpe ar culado por parlamentares da oposição, disse notar muitas semelhanças entre aqueles que perseguiram Getúlio e Jango e os que hoje demonstram tanto ódio contra todos os que se colocam ao lado do povo mais simples ou que ousam defender o interesse do trabalhador e da trabalhadora em detrimento da vontade das elites patronais. No discurso mais forte pronunciado desde o ponto de par da da caravana, realizado em Bagé, na segunda-feira, Lula contagiou o povo presente e fez reascender a chama de uma militância que nos úl mos anos passou por uma fase de certo recolhimento. “Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam; e não me dão o direito de defesa”, destacou. “Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não con nue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os mais humildes”, acrescentou, enumerando ações que incomodam os mais conservadores, incapazes que são de aceitar a ascensão dos direitos da classe trabalhadora. Relembrou as vitórias de Getúlio na defesa ao trabalhador, materializadas na criação da Consolidação das Leis de Trabalho (CLT) e cri cou com energia a postura recente daqueles que com as an -reformas rasgaram o documento e re raram direitos históricos conquistados pelo povo. Os ideais do trabalhismo também foram citados com emoção pelo pré-candidato pe sta ao citar o amigo Leonel Brizola, com quem dividiu a chapa nas eleições de 1998. - Estou com vergonha de uma parte da população do Rio Grande do Sul que, como fascistas, queriam impedir que a gente viesse prestar essa homenagem a Getúlio Vargas em São Borja -, falou Lula. “Eu vim aqui num gesto de paz. É uma vergonha as pessoas destruírem todo o esforço que Getúlio fez pela dignidade do trabalhador neste país", afirmou. "Fico pensando qual o mo vo do ódio dessa gente e chego à conclusão que a elite deste país nunca entendeu a necessidade da evolução das pessoas mais pobres, não aceitam que a filha de uma empregada possa frequentar a mesma faculdade de seu filho", resumiu o ex-presidente, perante uma praça lotada de homens, mulheres

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e crianças de todas as idades que a todo instantes interrompiam os discursos com palavras de apoio e gra dão à Lula. Ao encerrar a fala, garan u aos presentes a sua inocência e desafiou àqueles que o cri cam ou que o perseguem a provar concretamente as acusações que fazem, pois até aqui não apresentaram nenhuma materialidade. "Eu quero que eles saibam: a gente vai voltar e quando voltar vamos revogar as desgraceiras que eles estão fazendo neste país", avisou. “Nós vamos consertar esse país, nós já fizemos uma vez e vamos fazer de novo, porque sabemos como fazer e porque temos o povo do nosso lado, caminhando junto”, concluiu. Ao descer do palco, acompanhado por autoridades locais e regionais, além de deputados estaduais e federais, Lula prestou homenagem em frente ao mausoléu de Getúlio Vargas, onde a mul dão de forma espontânea cantou o Hino Nacional Brasileiro.

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“Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam, e não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não con nue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os mais humildes.” O terceiro dia da etapa Sul da caravana Lula pelo Brasil foi carregado de simbolismo. Acompanhado da presidenta eleita Dilma Rousseff, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitou nesta quarta-feira (20) o Mausoléu de Getúlio Vargas, na cidade de São Borja, no Rio Grande do Sul. Em meio ao ato, impossível não traçar um paralelo entre as histórias de Lula e Dilma à de Getúlio e, posteriormente,

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Texto de Luis Eduargo Gomes, publicado nSul21.

Em passagem histórica por São Borja, Lula revisita legado de Getúlio, Jango e Brizola

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Jango. Todos ví mas da perseguição de uma elite inconformada com a ascensão dos direitos da classe trabalhadora. Tanto Lula quanto Dilma lembraram em seus discursos as vitórias de Getúlio na defesa ao trabalhador, materializadas na criação da Consolidação das Leis de Trabalho (CLT). A perseguição a Jango e a resistência de Brizola contra a tenta va de golpe também foram relembradas pelos ex-presidentes. Na chegada à cidade, a caravana foi hos lizada por uma minoria fascista, que logo se dispersou em meio a uma mul dão aglomerada para receber os ex-presidentes. “Estou com vergonha de uma parte da população do Rio Grande do Sul que, como fascistas, queriam impedir que a gente viesse prestar essa homenagem a Getúlio Vargas em São Borja. Eu vim aqui num gesto de paz. É uma vergonha as pessoas destruírem todo o esforço que Getúlio fez pela dignidade do trabalhador neste país”, afirmou Lula. “Fico pensando qual o mo vo do ódio dessa gente. E chego à conclusão que a elite deste país nunca entendeu a necessidade da evolução das pessoas mais pobres. Não aceitam que a filha de uma empregada possa frequentar a mesma faculdade de seus filho”, resumiu o ex-presidente, perante uma praça lotada por gaúchos de todo o estado. A presidenta eleita Dilma Rousseff destacou que os golpistas de ontem e de hoje se confundem entre si. “Os golpistas da época de Getúlio são os mesmos que hoje usam os tratores que eu e Lula financiamos, usam recursos do povo brasileiro, para protestar contra nós”, ressaltou. Resistência à con nuação do golpe: Lula destacou que seguirá resiliente na luta em defesa do direito de ser candidato e que não abre mão de “consertar o país” outra vez. “Eu quero que eles saibam: a gente vai voltar e quando voltar vamos revogar as desgraceiras que eles estão fazendo neste país”, avisou.

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Ricardo Suckert

Ricardo Suckert


Ar go de Maister F. da Silva, publicado na Rede Soberania.

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Sobre liberdade e capitães do mato O Brasil realmente não é para amadores, um país complexo, sua gênese escravista, assassina e sanguinária evoluiu para um conservadorismo arcaico e sem nenhum compromisso com a nação, acostumado a ser sustentáculo e provedor de bem-estar de meia dúzia de barões e capitalistas comprome dos com a polí ca econômica e cultural europeia e norte-americana. No entanto o Brasil conseguiu um feito do qual não devemos nos orgulhar, mas que gera um efeito devastador ainda hoje na construção da iden dade de povo enquanto nação, o racismo velado. O racismo brasileiro é um caso peculiar que tem vencido com a narra va esdrúxula de democracia racial. O Brasil pós-escravista não enfrentou um racismo ins tucional como os casos dos EUA e África do Sul, para citar os mais conhecidos. Em outras palavras, não teve no estado capitalista/racista o inimigo claro, tal qual ele é, que elevaria o debate ao extremo e poderia eclodir uma revolta capaz de alterar a correlação de forças no interior do estado. Pelo contrário, venceu a narra va de que ao fim do sistema escravocrata o negro iria galgar as mesmas posições que o branco, na mesma velocidade, apesar da discriminação racial e do preconceito de cor. Invisibilizou-se com a ajuda da mídia monopolista a verdade dos fatos, que a reprodução da desigualdade racial tem pé no projeto econômico e cultural do estado brasileiro, na submissão do negro como raça a exploração econômica, sujeitos aos piores empregos e acesso limitado ao ensino. Essa fotografia de democracia racial endossada por alguns dos maiores intelectuais do país durante anos, criou um paralelo exposto agora, no momento em que o fascismo avança no país, um con ngente significa vo de negros bolsonaristas. Não há nada mais fru fero para o avanço do fascismo do que um povo desinformado e que não se iden fica com a luta de seus antepassados. Tenho acompanhado a


Caravana do Presidente Lula pelo Estado do Rio Grande do Sul, por mais insignificantes que sejam os atos fascistas dos promotores do ódio, acabei por vivenciar o que os olhos não querem ver, negros saudando a intervenção militar e usando camisetas de Jair Bolsonaro, tal qual os capitães do mato, pouquíssimo ou nenhum pres gio entre a comunidade negra e serviçal do patronato. Para um negro não há nada mais triste. Ver que hoje no Brasil de seus 518 anos, ainda con nuamos a nos dividir, ainda não temos o entendimento cole vo que para o capital seguir nos controlando é necessária essa lógica da exploração, o mito do “todos somos iguais”, inclusive perante a lei...ainda falta uma longa marcha até a liberdade, parafraseando Nelson Mandela.

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São Miguel das Missões, 22 de março Nem mesmo o solo sagrado da an ga catedral jesuí ca de São Miguel Arcanjo, hoje sí o arqueológico homônimo, foi respeitado pelos ruralists e sua milícia. Mais uma vez os mesmo cartazes e banners que perseguiam a caravana desde Bagé estavam ali presentes, bem como repe das as mesmas palavras de ódio por centenas de homens e mulheres bem ves dos. Mas o encontro de Lula com os herdeiros e herdeiras de Sepé Tiarajú e seus guerreiros nha mais força de ser do que o ódio que circundava aquele chão sagrado. E envolto em uma áura repleta de mís ca e história, o expresidente foi abraçado e homenageado pelos indígenas dos povos Guarani e Kaigangue. Lula ouviu seus relatos, emocionou-se com as lembranças, conheceu sua arte e aplaudiu seu cantar. Comungou da existência de povos que há mais de 500 anos vivem o desafio da resistência, desde que essa terra passo ua ser habitada também pelos brancos europeus. Ali ficou marcado um reencontro. Entre lula e os indígenas. Entre o presente do nosso tempo e a história que lhe compõe o legado.

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Texto de Marcos Corbari, publicado na Rede Soberania.

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Lula em São Miguel das Missões: acolhida de herdeiros de Sepé cala grito raivoso de ruralistas Na capital dos Sete Povos das Missões, ex-presidente é abraçado por indígenas Guaranis e Kaigangs e renova o espírito de luta onde se realizou a primeira experiência de socialismo real da humanidade Em meio as ruínas que compõem o sí o arqueológico de São Miguel das Missões, Luis Inácio Lula da Silva teve a oportunidade de encontrar-se com indígenas e missioneiros que simbolicamente representam o legado do Sepé Tiaraju, herói libertário e santo popular. Na visita, realizada no final da manhã de quinta-feira, 22, junto com a delegação que compõe sua caravana, Lula foi homenageado por guaranis e kaigangues, conversou com lideranças das aldeias e garan u um pacto de respeito com as pautas propostas pelos indígenas em um novo governo popular. - Para nós é importante abraçar Lula pela primeira vez. Por quê? Para nós indígenas, Lula ajudou muito”, disse Tereza Fernandes, guarani de Erval Seco ao repórter Luís Eduardo Gomes, do portal Sul21. “A gente espera que quando der Lula de novo ele ajude mais ainda os indígenas”, emendou, citando a esperança dos povos excluídos em voltar a ter um homem do povo na presidência da república. No local que demarca o apogeu e o massacre de povos que ousaram criar um sistema de convívio social igualitário, contrariando os interesses do imperialismo colonial, Lula e sua caravana testemunharam a renovação da luta entre os invasores e os povos tradicionais. No novo embate, porém, um momento de forte carga mís ca, os gritos e ofensas proferidos pelos representantes do neocolonialismo que se manifestavam do lado de fora das cercas do parque foram calados pelo canto gen l e sereno dos guaranis e kaigangues que homenagearam os visitantes através de sua língua original. Mas nem só de indígenas se fez o público presente: estudan-


tes, camponeses, trabalhadores rurais e urbanos, aposentados, professores e muitas crianças também es veram no local. Em destaque, muitos agricultores que contrariaram a orientação das organizações ruralistas e se separaram da milícia que se formou no lado de fora das cercas do sí o. Um deles, Jair José Rochemback, carregava um cartaz onde se lia a inscrição “sou agricultor, não sou traidor” e explicava com orgulho que graças a programas como o “Mais Alimento” criado no governo pe sta ele e a família conseguiram desenvolver e equipar a unidade produ va onde estão instalados, mantendo consigo, no campo, os dois filhos. Na passagem por São Miguel das Missões Lula não fez discursos, mas se deteve dezenas de vezes para conversar com as pessoas presentes, antes, durante e após a visita. “Esse contato renova as forças, conversar com as pessoas olhando no olho, isso é que mo va a caravana e que me mo va a seguir em frente com muita força e vontade de fazer mais e fazer melhor para todo esse povo, especialmente para os mais humildes, para os que mais precisam”, comentou. Os mestres de cerimônia na visita foram o ex-governador Olívio Dutra, polí co de origem missioneira, e o militante social Frei Sérgio Görgen, um relatando os fatos históricos e relembrando a construção de um modelo de convívio considerado por muitos como a primeira experiência real de socialismo, o outro conduzindo o expresidente ao meio dos indígenas que prepararam homenagens e lhe presentearam com obras de artesanato pico, sempre fazendo referência ao legado heroico de Sepé e seus companheiros. Ao final da visita, Lula recebeu das mãos de Görgen, um rosário de sementes produzido pelos guaranis, trazendo na extremidade uma cruz trançada em palha, simbolizando o lema da Campanha da Fraternidade deste ano: “Em Cristo somos todos irmãos” (Mt 23,8). Sobre Sepé, Frei Sérgio explicou: “Ele se transformou na condensação histórica da luta, dos sonhos, dos feitos, do projeto, do heroísmo de um povo”. Aba do em combate, torna-se um mito fundador e transforma-se num símbolo. “É o símbolo maior de um projeto de civilização que foi brutalmente interrompido, mas que con nua vivo como sonho cole vo de uma sociedade de irmãos e de iguais”, citou, relembrando o texto de um ar go recentemente publicado no site da Rede Soberania.

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Texto de Luís Eduardo Gomes, publicado no Sul21.

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‘Sou agricultor, não sou traidor’: Nas Missões, Lula recebe mensagens de apoio e novos protestos A primeira parada da Caravana de Lula pelo Rio Grande do Sul desta quinta-feira (22) foi para visitar o sí o arqueológico de São Miguel das Missões, as ruínas em que Sepé Tiaraju ousou criar uma sociedade diferente daquela do período colonial e onde viu seu povo ser massacrado. Diferentemente das úl mas paradas, a visita de Lula às ruínas ocorreu com tranquilidade e dentro do previsto. O expresidente visitou o museu local que reúne objetos históricos, símbolos religiosos e ícones da época. Das mãos de Olívio Dutra, recebeu o livro “Sepé Tiaraju, a Saga de um Herói”, que conta a história do indígena mais famoso do Rio Grande do Sul. Indígenas receberam Lula nas missões | Foto: Guilherme Santos/Sul21 “Para nós é importante abraçar Lula pela primeira vez. Por quê? Para nós indígenas, Lula ajudou muito”, disse Tereza Fernandes, guarani de Erval Seco. “A gente espera que quando der Lula de novo ele ajude mais os indígenas”. Diante das ruínas, o ex-presidente foi recebido por um grupo de guaranis, que o homenagearam cantando uma música em sua língua materna e entregaram uma cesta de presentes com produtos artesanais, um arco e flecha e instrumentos musicais. Lula perguntou como andava a vida dos indígenas de hoje em dia, ouviu seus relatos. Em seguida, visitou as ruínas acompanhado de Frei Sérgio, que lhe contou histórias de outrora. Após cerca de duas horas de visitação, deixou o local e embarcou no ônibus, sem pronunciamentos. Professora viajou de Santo Ângelo para ver Lula | Foto: Guilherme Santos/Sul21 Antes e durante a visita, apoiadores e polí cos pe stas realizaram um ato do lado de fora das ruínas. Sem a garan a de


que o ex-presidente iria fazer uma fala – o que acabou de fato não ocorrendo -, este foi o ato com menor público da caravana até agora. Ainda assim, mais de 100 pessoas compareceram ao local e cercaram Lula, tentando conseguir uma foto, um aperto de mão ou um abraço. A professora Dânia Hannel, com 42 anos de sala de aula, viajou de Santo Ângelo para ter a chance de ver o ex-presidente, que diz considerar um ídolo. “Eu aprendi a ser um ser humano melhor quando eu aprendi que a gente tem que respeitar qualquer ser humano, qualquer animal, qualquer planta, qualquer forma de vida, e isso aprendi com as bandeiras do Lula. Ele é símbolo da nossa liberdade como cidadãos”, diz. Dânia também torcia por conseguir a oportunidade de agradecer ao ex-presidente por suas duas filhas, que conseguiram terminar a universidade par cular graças ao ProUni, programa criado no governo Lula. “Se você olhar na minha boca, vai ver que eu não tenho dentes. Esses dentes eu perdi porque eu preferi, em vez da minha saúde, aplicar na faculdade das minhas filhas. Como elas não nham condições de fazer cursinho, elas foram fazer a faculdade par cular. E eu me endividei até novembro deste ano para tentar manter elas na universidade par cular. E eu não consegui. Chegou num ponto que eu ve que rar elas da faculdade”, conta, sobre as dificuldades enfrentadas antes que as filhas ingressassem no programa do governo federal. “Hoje as duas estão formadas. Como? Pelo ProUni”, complementa Dânia, que ainda conta com orgulho que tem centenas de alunos que hoje são bombeiros, policiais, engenheiros que se formaram graças ao programa. Uma delas, formada em Medicina Veterinária, a acompanhou no ato. Pe sta há 30 anos, a professora diz que lamenta os erros que o PT cometeu, diz até que se envergonha, mas não está convencida de que Lula cometeu os crimes dos quais é acusado. “O que eu tenho dito é mostrem para mim provas concretas. Eu quero uma mala, uma escritura, eu quero um número de conta, uma gravação, um vídeo. Eu vou pegar um megafone, vou subir

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no Cristo Redentor e vou pedir desculpas. Até não mostrarem isso, me desculpem, o Lula é inocente. Não quero que não julguem, mas eu quero uma jus ça imparcial. Não essa jus ça parcial”, diz. “Me arrependo, las mo nossos erros, mas tenho orgulho de ser pe sta porque nós do PT temos uma visão de mundo diferente da que eles têm. Eu quero que todo ser humano tenha casa, tenha comida, tenha dignidade e tenha liberdade, que é o mais importante”. Também de Santo Ângelo, mas do campo, como frisa, Jair José Rochemback levou a esposa e as filhas para o ato para agradecer ao ex-presidente pelos programas voltados ao pequeno agricultor. “Ele me ajudou no Mais Alimentos a comprar o primeiro trator, que foi o meu começo, quando o Lula assumiu a presidência. Consegui trabalhar, adquirir. Dois anos depois, já consegui comprar outro. Fiz um armazém pelo Mais Alimentos, a semeadeira pelo Mais Alimentos, um pulverizador, sala de ordenha, carretão, muitas coisas que já estão quitadas. Há um ano e meio, consegui comprar o terceiro trator”, conta Rochembak. Jair se destacou no ato ao carregar uma faixa em que se lia: “Sou agricultor, não sou traidor. PT, Lula 2018”. Perguntando por que achava que muitos agricultores traíram o ex-presidente, respondeu: “Eu acho que quem pegou dinheiro do Mais Alimentos e comprou maquinário, a 2% de juros, há 10 anos, eu acho que está traindo. Dizem que Lula roubou? Eu não tava junto. Os outros também roubaram. Eu não vim por isso, eu vim para agradecer. Se não fosse ele, de repente eu não nha trator e os meus dois filhos estavam na cidade. Assim eu consegui segurá-los”. Mais protesto de ruralistas: A visita a São Miguel das Missões transcorreu com tranquilidade e sem confrontos, como em paradas anteriores, mas também houve protesto. Pela primeira vez, os contrários estavam em número consideravelmente maior, mas man veram-se para além do cordão de isolamento feito pela Brigada Militar.

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Claudio Duarte, presidente do Sindicato Rural de Santo Ângelo, diz que o ato foi organizado em conjunto com outros sindicatos rurais de Bossoroca, São Luiz Gonzaga, São Nicolau, São Borja, Entre-Ijuís, Giruá e outras localidades, além de en dades empresarias ligadas ao comércio e à indústria. Lá estavam com tratores, caminhões e um guindaste, com faixas que era possível reconhecer das outras paradas da caravana. Ele explica que os produtores estavam ali para repudiar as falas que Lula tem feito em todas as paradas, sempre destacando que os agricultores pegaram muito dinheiro de financiamentos federais para modernizar a produção. “Os produtores rurais do município, de São Miguel e da região resolveram apoiar o ato para repudiar as a tudes que esse ex-presidente tem colocado por onde tem passado. Ele citou em alguns lugares que produtor rural é sem vergonha, que não paga as contas, que é caloteiro, não pagou as máquinas, mas se tu não pagar a prestação de um trator, a tua terra que está garan ndo o financiamento vai pro pau. Nós estamos fazendo o nosso papel, produzindo da porteira para dentro”. Ao contrário da professora Dânia, Cláudio tem certeza de que Lula é culpado. “Esse homem ladrão, a gente está consciente que ele tem a culpa dele e tem que cumprir a condenação dele, assim como em outros casos já foi feito”, disse. Ques onado sobre quem é o candidato preferido dos produtores, em primeiro momento disse que não havia ninguém, mas depois admi u que Jair Bolsonaro tem muito apoio na região. “Se você pegar o resto, quem é que nós temos?”. Outra figura a par cipar do protesto foi o prefeito de São Miguel das Missões, Hilário Casarin, que fez um discurso inflamado contra o ex-presidente e o PT, bem como nha feito para uma rádio de Santo Ângelo, o que levou o deputado federal Dioniso Marcon (PT) a cobrar dele quem seriam “os ladrões” de quem falava e por que não dizia isso quando pedia apoio para a região. Em conversa com a reportagem, Hilário adotou um tom apaziguador, defendeu o direito de dois lados se manifestarem,

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salientou que a cidade conta com cinco assentamentos de pequenos agricultores rurais – que compõem a base de apoiadores locais do ex-presidente – e que até já esteve coligado com o PT no passado, antes de dizer esperar que tudo terminasse em paz. “Eu como prefeito hoje represento as 8 mil pessoas que moram no município. Nós temos que olhar os dois lados, a gente tem que receber bem as pessoas que vêm aqui, mesmo sendo o ex-presidente. Essa questão jurídica não nos diz respeito, acho que é questão da Jus ça decidir. Todas as pessoas do Brasil, do mundo, tem direito a fazer a visita ao sí o, que é um patrimônio mundial, o que nós não concordamos é com o ato polí co dentro do patrimônio, acho que isso é um desrespeito à própria comunidade e à sociedade. Uma pena que o presidente não veio aqui em São Miguel na época do governo”.

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Ricardo Stuckert

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Ar go de Frei Sérgio Görgen, publicado na Rede Soberania.

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O Símbolo Sepé Tiaraju Por ocasião da passagem da Caravana Lula Pelo Brasil pelo sí o arqueológico de São Miguel Arcanjo, me parece justo trazer à memória a história e a marca de um símbolo da luta pela soberania dos Povos, o Índio Guarani Sepé Tiaraju, hoje parte do Panteão da Pátria, Herói da Nação Brasileira. Recordá-lo em tempos de entreguismos e injus ças é reforçar a dignidade dos pobres e a luta em defesa da soberania do povo e da nação brasileira. Sepé é o símbolo vivo das ruínas vivas, das gentes excluídas, pobres, exploradas, esquecidas, desprezadas, teimando em buscar seu lugar ao sol, em um pedaço de terra repar da, em um emprego digno, em uma infância decente, em uma velhice respeitada, em sua dignidade reconhecida. As ruínas de pedras estão em São Miguel das Missões. As ruínas de gente estão nas favelas, nos campos, nas fazendas, nas matas, nas cadeias, nas ruas, embaixo das pontes, nas fábricas, nas vilas, nos barracos de lonas pretas dos acampamentos, nas áreas indígenas, nas beiras de rios e nas beiras de estradas. E con nuam vagando pelo sul da América grupos guaranis, herdeiros de etnia e de sangue dos massacrados em Caiboaté, o corpo muitas vezes cambaleante, mas o olhar sempre firme e fixo no horizonte, farejando e intuindo os sinais da utopia que não morre, de um dia chegar na terra sem males. Utopia tantas vezes crucificada, mas que sempre ressuscita do meio dos escombros. As ruínas de pedras são visitadas, fotografadas, filmadas, admiradas, transformadas em patrimônio da humanidade. As ruínas de gente são escondidas, negadas, ignoradas, difamadas, reprimidas, condenadas, desprezadas, temidas. A catedral existe. Não há como negar a imponência daquelas paredes de pedra. É ponto turís co. Patrimônio cultural da humanidade. Para muitos historiadores, Sepé não existe. É uma lenda. É fruto da imaginação popular. É criação da literatura. Mas ambos povoam nossa memória e marcam presença em nosso imaginário social e em


nosso inconsciente cole vo. A catedral é memória visual repleta de beleza plás ca. Sepé é memória perigosa carregada de sonhos revolucionários. Desenvolveu-se enorme habilidade em d o m e s c a r c a te d ra i s . Utopias revolucionárias são indomes cáveis. Por isto, melhor transformar seus símbolos em lendas e desacreditá-los. Ainda não se encarou de frente este nosso mal-estar civilizatório. Há no inconsciente cole vo de nossa sociedade um sen mento de culpa mal resolvido. Por isto, para muitos, é mais fácil dizer que Sepé é uma lenda do que reconhecer que só exis mos por conta do assassinato de um projeto civilizatório infinitamente melhor que o nosso, pois mais justo e mais alegre. E que o nosso só pode ser construído sob as patas dos cavalos e o rastro dos canhões dos impérios de Portugal e Espanha pisoteando o sangue de Sepé e de sua gente, derramado em defesa de seu povo, de sua terra, de

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sua dignidade, de sua felicidade, de seu projeto civilizatório. Na terra de todos, cravou-se o la fúndio. No trabalho feliz, cravou-se a escravidão e a exploração. Em vez de pão nas mesas de todos, luxo nas mesas de alguns, fome e miséria nos lares de muitos. Em vez de dignidade de todos, humilhação das grandes massas que precisam do favor alheio para sobreviver. Sepé morreu lutando. O General português Gomes Freire venceu. A fúria expansionista dos impérios europeus, abençoados por uma Igreja aliada aos poderosos, fez sen r o peso de suas espadas. O massacre brutal destruiu milhares de lares e milhares de sonhos. Outro projeto de sociedade ganhava corpo. Sobre os destroços da civilização guarani plantaram-se os la fúndios das sesmarias, que fizeram crescer injus ças, desigualdades, ódios, dores e mortes. E este projeto, com as adaptações dos tempos, impera até nossos dias. As ruínas de pedras são intocáveis e, como estão, permanecerão, se fielmente conservadas. São a prova visível da destruição promovida pelos impérios europeus. As úl mas cenas da tragédia registram aventureiros bandidos, saqueando o que restou dos sete povos em busca dos pretensos tesouros enterrados dos jesuítas. Estes sim, lenda. As ruínas de gente podem con nuar sendo ofendidas, pisadas, esquecidas, desprezadas, feridas, reprimidas, dilaceradas, destruídas, vilipendiadas, mas sempre conservarão a possibilidade de reerguer-se, superar-se, ressurgir, até chegar o dia em que o sonho deixe de sê-lo, e se transforme em realidade viva. E o povo gaúcho e brasileiro, reencontrando-se com suas raízes mais profundas, cravadas no chão fér l da cantante civilização guarani, retome em suas mãos a construção do projeto de sociedade justa e feliz interrompido a canhonaços nas coxilhas de São Gabriel do Rio Grande do Sul no fa dico fevereiro de 1756. Mas, de tempos em tempos, renasce e ressuscita das entranhas da terra, na organização e nas lutas dos pobres, na resistência popular, o sonho e o projeto de um mundo de irmãos, uma sociedade de iguais, uma terra de jus ça, uma vida com dignidade.

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Cruz Alta e Panambi, 22 de março A caminho de Palmeira das Missões, onde par ciparia de ato público da Agricultura Familiar e Camponesa, Lula foi saudado pelo povo das cidades de Cruz Alta e Panambi. Abraçado pelas lideranças locais da cidade governada pelo Par do dos Trabalhadores e aplaudido pelo povo que aglomerou-se em uma das vias de acesso da terra natal do imortal escritor Érico Veríssimo, Lula voltou a ocmprometer-se com a causa do povo, com a atenção para com os mais pobres e com a resposta de muito trabalho e perseverança frente aos que lhe agridem. Pamambi não foi diferente, construindo um encontro entre Lula e seus admiradores nas proximidades da rodovia, em frente a uma associação dem oradores. O povo simples vendo seus anseios projetados com vez e volz na figura do homem público que mais fez pelo seu país. A nota trite foi a violência das milícias fascistas em Cruz Alta, onde homens arquitetaram tocaia contra mulheres, uma delas inclusive em meio ao tratamento contra um câncer severo, e as agrediram covardemente. O mosntro estava em campo aberto e agora já mostrava as garras e as presas.

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Texto de Marcos Corbari, publicado na Rede Soberania.

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Caravana é acolhida com atos de apoio em Cruz Alta e Panambi Resistência de apoiadores do ex-presidente Lula supera truculência de contrários e renova esperança de protagonismo do povo para reconstruir um governo popular com respeito a democracia e cidadania reafirmada Na Cruz Alta de Érico Veríssimo, a caravana da esperança e liberdade seguiu com sua jornada levando o melhor presidente da história do Brasil ao encontro do seu povo que tem se reunido aos milhares para acolhê-lo e fortalecê-lo. A parada, em uma das vias de acesso à cidade nesta quarta-feira, 22, mais uma vez registrou a truculência dos opositores organizados em milícias fascistas que tentaram com violência impor a sua vontade contra a vontade do povo, sendo superada pela força cole va dos trabalhadores e trabalhadoras que fizeram valer seu direito de lutar. No palco, novamente a voz rouca de Lula enunciou verdades que animam os lutadores do povo e enfurecem a elite conservadora: - Essa terra não se curvará a fascistas, a nazistas. Eles têm ódio de mim porque sabem que queremos voltar pra fazer o Brasil crescer de novo, pagar salário, distribuir renda, colocar mais jovem na universidade -, ressaltou. "Tem uma parcela da sociedade brasileira que não consegue compreender como o filho de pedreiro, de empregada domés ca e de pequeno agricultor pode chegar onde os filhos dos mais ricos chegaram. Não consegue admi r que um pobre possa viajar de avião, que a filha de uma empregada domés ca possa ser doutora e até estudar no exterior. Não compreenderam que ramos 15 milhões de pessoas das trevas, levando luz para todos de graça", falou aos moradores, seguindo a ideia de um resgate do legado dos governos populares exercidos por ele e por Dilma Roussef.


PANAMBI - No deslocamento para Palmeira das Missões, uma parada não programada, em Panambi, às margens da rodovia, para a acolhida de populares que se aglomeraram em espera a caravana. “Eles sabem que nós vamos voltar e querem nos destruir antes de a gente chegar no governo", afirmou do alto do carro de som que o aguardava em frente a associação de moradores do bairro Pavão. Como em todos os pontos de parada do grupo, a recepção foi intensa e os presentes festejaram muito a oportunidade de acolher Lula, Dilma Roussef e toda a delegação que par cipa da Caravana. VIOLÊNCIA: A informação triste do dia veio de Cruz Alta, confirmada após a par da da caravana. As milícias de extrema direita atuantes na cidade agrediram covardemente mulheres que se deslocavam até o ato para pres giar Lula. No final, novas cenas de covardia e violência contra mulheres foram pra cadas por indivíduos caracterizados como apoiadores do pré-candidato Jair Messias Bolsonaro.

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Texto de Luís Eduardo Gomes, publicado no Sul21.

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Lula segue agenda pelo RS sem falar em julgamento no STF: ‘Não se preocupem comigo’ Enquanto o STF julga a ação que pode definir se Lula irá preso ou não pela condenação em segunda instância no caso do triplex, o ex-presidente seguiu a sua agenda de atos públicos da Caravana pelo Sul, com paradas nas entradas das cidades de Cruz Alta e Panambi. Junto ao trevo de acesso a Cruz Alta, Lula falou para centenas de apoiadores, grande parte com bandeiras do PT. “Não se preocupem comigo. Sofrendo mais do que eu tem 14 milhões de desempregados. Tem milhões de pessoas querendo oportunidade pra trabalhar. E é pra essas pessoas que nós precisamos dedicar o nosso esforço co diano”, disse Lula, na única alusão ao processo que corre contra ele na Jus ça. Em uma breve parada, o ex-presidente preferiu manter a tom das falas que vinha fazendo nas demais paradas da caravana, isto é, defendendo os programas dos anos pe stas de governo federal e ironizando adversários polí cos e os manifestantes que organizam, desde Bagé, uma espécie de caravana paralela para protestar contra a passagem de Lula pelo Rio Grande do Sul. “Eles não conseguem compreender como uma menina negra da periferia, filha de uma empregada domés ca, pode passar no Enem, ter bolsa do ProUni e virar doutora”, disse. “Eles falam inglês, falam espanhol, tem graduação, mestrado, a única coisa que eles não sabem é entender a alma do povo”. Após deixar Cruz Alta, a caravana fez uma nova parada no bairro Pavão, em Panambi. Diante da sede da associação de moradores do bairro, localizada em uma encosta às margens da estrada, Lula, Dilma Rousseff, Olívio Dutra e Miguel Rosse o subiram em uma kombi conver da em carro de som e falaram para um público de dezenas de pessoas, muitas das quais estacionaram seus carros e cavalos pra escutar os pe stas. Ali, diante do menor público que o ouviu falar na passa-


gem pelo RS, Lula fez talvez o seu discurso mais inspirado até agora. Mais solto, se debruçou na grade da kombi, brincou com os gremistas e colorados, interagiu com a plateia, chamou os “burocratas” do Banco Mundial de “cre nos” e voltou a falar que as polí cas de seu governo permi ram que os mais pobres do Brasil ascendessem um degrau na escala. Isso, como brincou, sem perguntar onde eles iriam gastar o dinheiro dos ganhos salariais e dos financiamentos facilitados. “Me cri caram que os aposentados iriam gastar com presente para os netos. Eu não quero saber onde vão gastar. Se os veinhos queriam comprar Viagra, deixa eles comprar Viagra”, disse. Entre o público, Mauri Padilha Nascimento, morador do bairro Paraíso, vizinho ao Pavão, concordou. “Nós não nha nada antes do Lula, tomava cachaça e comia dorso de galinha, sabe o que é? É a carcaça. Agora, a gente come picanha e toma chope. Mas agora o dinheiro tá diminuindo, esse homem tem que voltar”, disse.

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Marcos Corbari

Machistas, fascistas... Não passarão! PT emite nota sobre violência pra cada contra mulheres por extremistas de direita em Cruz Alta O Par do dos Trabalhadores (PT) emi u nota repudiando a violência pra cada por extremistas de direita contra mulheres em Cruz Alta, antes e após a passagem da Caravana de Lula pelo Brasil na cidade. Confira a íntegra do texto assinado pelo presidente da execu va do par do no RS, deputado federal Pepe Vargas, e pela coordenadora da bancada do par do na Assembleia Legisla va, deputada estadual Estella Farias. Bandidos e covardes Um grupo de extremistas de direita do Rio Grande do Sul vem organizando protestos contra a caravana Lula, desde Bagé, incitando o ódio e as agressões. Agem como bandidos ao atentarem contra a integridade sica da militância e da população que

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par cipa das a vidades. Ou alguém acha que esses sujeitos jogam pedras sem a intenção de machucar? Ontem (quinta-feira), em Cruz Alta, este grupo mostrou que além de bandidos são covardes, ao agredirem mulheres que se deslocavam na ida e na saída do ato e que estavam com bandeiras do PT. Ieda Alves e Daniele Mendes, no começo do ato, foram agredidas. Arrancaram a bandeira da Daniele e queimaram. Ieda foi derrubada no chão e só não foi espancada porque a Brigada chegou e agiu. Elas fizeram Bole m de ocorrência. Suzana Machado Ri er foi atacada quando estava indo para a manifestação. Ela estava sozinha foi cercada, arrancaram sua bandeira. Eles roubaram a bandeira e a derrubaram. Suzana conta que maior que a dor das escoriações é a dor de ver destruída a bandeira que nha desde 1989 e que era autografada pelo presidente Lula. Deise Miron voltava do ato para casa. Foi espancada e teve que ser hospitalizada. Lutando contra um câncer e fazendo radioterapia, teve que lutar também contra bandidos covardes. O Par do dos Trabalhadores do RS e a Bancada do PT RS manifestam seu repúdio à violência que vem sendo pra cada por esta minoria que tem agido na chegada da caravana nas cidades. Uma minoria que não representa a maioria da população que quer Lula presidente e que rejeita o ódio e a violência. Conclamamos a todas pessoas que tenham registrado estas agressões a nos enviarem as imagens para que os responsáveis sejam iden ficados e punidos. Não podemos permi r que esta minoria bandida e covarde ameace a vida das pessoas. Não vão nos in midar. Toda força à Ieda, Daniela e Deise que representam as valorosas mulheres militantes do PT e dos movimentos sociais. A caravana Lula vai passar. Machistas, facistas, não passarão. Pepe Vargas - Execu va Estadual do PT-RS Stela Farias - Bancada do PT na ALRS

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Ar go de Paulo Pimenta, publicado na Rede Soberania.

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Nosso caminho é o da democracia e dizemos não às milícias da direita fascista! As disputas polí cas e culturais na passagem da caravana do ex-presidente Lula pelo Sul do Brasil não seriam um fato preocupante se es mulassem o diálogo e não o ódio entre os diversos setores. Em uma nação efe vamente democrá ca, os entes educacionais, a mídia, os movimentos sociais e outros atores polí cos da sociedade civil deveriam estar empenhados em promover a reflexão sobre os par dos, sobre as ins tuições e sobre o contexto polí co e, assim, poderíamos avançar no pensamento crí co cole vo. Infelizmente, não foi isso que ocorreu no Rio Grande do Sul durante esta semana. Em vez de primar pela liberdade e assegurar o exercício da cidadania a todos, as ins tuições do Estado não impediram que a milícia de ruralistas armados fechasse as estradas e agredisse pessoas na tenta va de impedir o debate com Lula, Dilma Rousseff e os demais integrantes da nossa comi va. A milícia rural também atuou para tentar barrar a entrada da caravana nos campi de universidades e ins tutos federais, violando a autonomia universitária e desrespeitando direitos fundamentais. Com patas de cavalo, tratores, armas e relhos em punho, os milicianos não engrandeceram o Rio Grande do Sul ou qualquer tradição de honra e dignidade. Na verdade, o que estas pessoas fizeram foi empunhar a bandeira do fascismo, fenômeno polí co que impôs na Itália uma imigração forçosa de dezenas de milhares de pessoa para o Novo Mundo, inclusive para o nosso estado. Vale lembrar que o fascismo faz da violência e do ódio estratégias para que as pessoas passem a rejeitar a polí ca e o diálogo democrá co e, a par r disso, naturalizem o arbítrio e o


poder autoritário. A democracia requer o reconhecimento da diversidade em todos os aspectos da vida humana: polí ca, social e cultural. E a difusão da convivência democrá ca deve ser pra cada e promovida pelas escolas, pela mídia, pelos entes da jus ça e da segurança pública, enfim, por todos. É preciso rechaçar com veemência os métodos fascistas. É necessário se consolidar a concepção de que nenhuma pessoa pode ser perseguida, excluída ou impedida de discu r polí ca por suas convicções e ideias. O que aconteceu no Rio Grande do Sul esta semana é um imenso equívoco. Mais do que isso, é um abuso e uma violação da lei. E são criminosas as ameaças – inclusive de morte – que o expresidente e toda a sua comi va vêm recebendo desses herdeiros da casa grande que se vangloriam de chicotear escravos e agora batem em mulheres, trabalhadores e estudantes que manifestam suas preferências polí cas. Esse cenário de guerra, para nossa tristeza e indignação, parece se repe r também em Santa Catarina, quando trabalhadores que montam a estrutura do palco que receberá o ato público da caravana foram violentamente atacados, na manhã deste sábado (24), por milicianos que não respeitam os princípios básicos da democracia. O quadro torna-se ainda mais grave quando as ameaças à caravana de Lula feitas ao longo da semana se repetem e quando se descobre que a milícia ruralista planeja um ataque contra o avião que leva Lula e Dilma a Chapecó. Diante disso, defenderemos ainda com mais disposição a democracia e exigiremos ainda com mais vigor que as nossas ins tuições estejam abertas ao debate polí co e, assim, promovam o respeito e a valorização da diversidade e da cultura de paz. Esse é o caminho que escolhemos, o caminho da democracia! O outro é o da milícia, o da beligerância, o do conflito. Todas as autoridades competentes por garan r a segurança pública e a harmonia social foram avisadas e serão responsabilizadas por qualquer tragédia que eventualmente ocorra nos próximos dias.

*Paulo Pimenta é deputado federal pelo PT do Rio Grande do Sul e líder da Bancada do par do na Câmara em 2018.

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Ar go de Laura Sito, publicado na Rede Soberania.

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Não podemos permi r que o Brasil perca a capacidade de sonhar! Mas eu sei que vai, que o sonho te traz Coisas que te faz prosseguir Vai, levanta e anda, vai, levanta e anda (Emicida) Sonhar com a liberdade acompanha a história da humanidade, pois a luta por jus ça, contra senhores e amos, move a história. A América foi forjada sobre o sangue desta luta, da afirmação da iden dade de seu povo, na luta contra a escravidão, assim como posteriormente na luta por direitos civis. A Revolução do Hai talvez seja o mais importante exemplo de força e resistência na formação histórica destas terras. Sua revolução durou de 1791 a 1804, sendo um reflexo da Revolução Francesa. A Revolta de São Domingos resis u contra a corte francesa durante 12 anos, assim como contra os ataques da Espanha e da Inglaterra. A Revolução Hai ana foi a primeira revolta de escravos a culminar com a formação de um Estado independente, um Estado negro. As grandes revoluções são movidas pelos sonhos, e estes são movidos pela busca da felicidade plena. A felicidade é tema deba do e estudado nos mais diferentes campos, como nas artes e ciências humanas, como na filosofia. Trata-se de uma noção indefinível, tamanha sua amplitude e complexidade. Sendo um conceito individual, é dever do Estado, com a evolução das gerações de Direito, garan r o mínimo essencial para que o indivíduo possa buscar a sua felicidade, por meio da concre zação dos Direitos Sociais. Sendo assim, o direito à busca da felicidade surge como decorrência dos Direitos Fundamentais. No Brasil vivemos sob a interdição destes direitos, o desmonte do Estado, das polí cas sociais e a entrega de nossas riquezas fragiliza as condições para que o cidadão possa buscar sua felicidade. Resultado: uma legião de cidadãos sem perspec va para com seu futuro. Mas as milhares de pessoas que tomam as ruas em defesa de Lula representam uma parcela da população que mantém aceso um sopro de esperança. Pois diferente daqueles que saem as ruas para defender a manutenção das desigualdades e de seus privilégios, esta


legião saí as ruas com o coração cheio de esperança de tomar seu futuro nas mãos, com a esperança de voltar a sonhar com uma vida digna, a esperança de ver seu país soberano e não de joelhos ao mercado internacional. As mul dões de apoio ao Lula são compostas por muitos jovens, negros, mulheres, pequenos agricultores e movimentos sociais. Lula é um dos maiores patrimônios da esquerda mundial e sua caravana pelo país, abaixo de uma perseguição ferrenha de caráter fascista, demonstra a força popular que jamais um líder polí co gozou na história do Brasil. O que move a luta polí ca no país não cabe dentro dos tradicionais cálculos da polí ca, em 500 anos foram poucas as oportunidades de liberdade real ao povo brasileiro. 13 anos de governos populares construíram um legado profundo, ainda que não estrutural. Cada beneficiário das mudanças ocorridas no país representa milhões, e são prova de que distribuição de renda e jus ça social podem vocacionar novos lutadores sociais na construção de um novo ciclo para o Brasil. O Brasil ainda é um país estruturado racialmente e de abismal desigualdade socioeconômica. Os conflitos sociais do presente tornam mais ní da esta realidade, com a diferença de que as camadas populares entenderam que são detentoras de direitos, ainda que tenham sido marginalizados do processo de cidadania estabelecido até aqui. Para metade (negra) deste país é reservado prioritariamente o direito ao encarceramento em massa, o genocídio de sua juventude, ao feminicídio e outras violações da dignidade humana. A execução da Vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco, é o maior símbolo na atualidade dos desafios enfrentados pela população negra e periférica deste país. É necessário um olhar mais amplo sobre os conflitos que marcam o co diano da população brasileira, pois a realidade é que a maioria negra e pobre está à margem do conjunto das elaborações de alterna va de desenvolvimento nacional apresentadas pela esquerda e setores progressistas ao país. Só assim manteremos acesa a chama dos sonhos de liberdade do povo brasileiro, só assim construiremos um novo ciclo polí co para o Brasil sob hegemonia dos setores progressistas e democratas, no qual o direito à busca da felicidade possa ser novamente efe vado.

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Marcos Corbari

Texto de Tarso Genro, publicado na Rede Soberania.

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Seremos caliças escavadas pelo medo? A saga brasileira se assemelha hoje a do ex-operário Franz Biberkopf, po criado por Alfred Döblin, que no seu imponente “Berlin Alexanderplatz”, é o personagem recém saído da cadeia, que busca o caminho da recuperação e da reinserção na vida comum, o que o faz de forma infru fera, face às novas adversidades que a vida lhe impõe. As trapalhadas do co diano, a situação polí ca do país – corroído pelo rancor da derrota na Primeira Grande Guerra – o vírus latente do nazismo e uma situação econômica à beira da catástrofe, bloqueiam tudo que de bom poderia acontecer na vida de Franz. Na saga brasileira, o ambiente polí co que já era putrefato – e se acentuou com a derrubada ilegal da presidenta Dilma e a sele vidade de “exceção” contra Lula – agora já se torna ódio, violência armada, agressões a mulheres indefesas, ocupação de estradas e apedrejamento de caravanas polí cas. São atos ilegais e picamente fascistas, que tentam bloquear a única saída à vista, para os impasses de hoje, que é a normalidade no pleito eleitoral de 18. Franz Biberkopf é o Brasil de hoje, à deriva, que quer se


reinserir na vida democrá ca para curar-se do golpismo paraguaio e não consegue. A comparação, desta ação organizada pela direita fascista com os movimentos sociais – feitas por jornalistas sequiosos para mostrar simpa a com os fascistas – não pode ser mais primi va e manipulatória. Primeiro, porque quando os movimentos sociais se “excedem” – na visão de quem é encarregado de manter a ordem – eles são reprimidos pelo Estado, que detém o monopólio da força legí ma. Tal par cularidade torna o jogo de responsabilidades visível, pois nele as pessoas envolvidas -cidadãos integrantes do movimento e agentes públicos – “rendem contas” ao que fizeram, num devido processo legal. Segundo, porque estes atos de violência – inclusive come dos por pessoas armadas – foram encetados diretamente contra Par do polí co, de forma ar culada e conspira va, numa dimensão de gravidade que jamais ocorrera, até hoje, no Rio Grande. É certo que nem todas as pessoas que estavam nos “protestos” contra Lula, par ciparam da violência privada des nada a atacar, fisicamente, adversários polí cos. Também nem todos os adversários do PT e da esquerda, apoiam espancamentos de mulheres, apedrejamento de ônibus e formação de milícias. O que aconteceu, todavia, aqui no RS – nesta úl ma semana – vai deixar marcas profundas, que podem mudar radicalmente nosso ambiente polí co e envenenar, ainda mais, todo o país, se não vermos inves gações com resultados claros. Não foram “confrontos”, como dizia generosamente boa parte da imprensa tradicional (para discretamente proteger os agressores), mas ataques feitos por uma facção polí ca contra outra facção, que estava realizando um movimento legal, inclusive protegido pelas autoridades policiais, como faculta a Lei e a Cons tuição. A semelhança foi com as “blitz” que faziam as SA, nazistas, contra os judeus, socialdemocratas ou comunistas, no crepúsculo de Weimar, não com ações contra a legalidade, eventualmente realizadas por corporações públicas ou movimentos sociais. O grau de fana smo e insanidade destas pessoas ficou

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vários vezes claro, quando – por exemplo – acusaram a RBS de ser “comunista”, certamente porque seus controladores são integrantes de uma família judia – o que faz um claro elo dos ideólogos “educadores” do movimento com os originais hitlerianos do século passado – ou quando quiseram espancar uma jornalista desta empresa, que estava lá trabalhando para ganhar seu pão; ou ainda quando agrediram duas militantes do PT que portavam uma bandeira do Par do, sem nenhuma piedade e muita covardia. Ou, finalmente, quando jogavam paralelepípedos nos ônibus da Caravana, arriscando a vida do ex-Presidente e dos que o apoiam e o acompanhavam. É importante que as forças polí cas da esquerda, juntamente com os demais setores progressistas da sociedade, ins tuições democrá cas da sociedade civil, intelectuais e humanistas de toda a ordem preparem, de comum acordo, um “dossiê” técnico: um relatório formal e isento – factual mesmo – sobre o que aconteceu nos úl mos dias, aqui no Estado, passando – este documento – para ins tuições internacionais adequadas, para as autoridades superiores de Polícia, para Comissões per nentes do Congresso, para as autoridades do Ministério Público, para que sustemos a violência golpista, que está se insinuando agora- no co diano da polí ca par dária de forma muito grave. Comparemos nosso país com uma cidade para sen r, no fundo da nossa alma, os versos de Benede , para ajudar nossos filhos a escolherem onde não queremos viver: Há cidades que são capitais de glória e outras que são cidadelas de asco. Há cidades que são capitais de audácia e outras só caliças escavadas pelo medo.

(*) Tarso Genro foi Governador do Estado do Rio Grande do Sul, prefeito de Porto Alegre, Ministro da Jus ça, Ministro da Educação e Ministro das Relações Ins tucionais do Brasil.

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O obscuro desejo de ser fascista Decepcionado porque Maria Schneider não quis concluir sua par cipação no magistral filme “Esse obscuro objeto do desejo” (1977), Luis Buñuel decidiu u lizar duas atrizes, Angela Molina e Carole Bouquet, para o mesmo papel de Conchita, mulher que ama Mathieu, vivido por Fernando Rey, porém que não aceita fazer sexo antes do casamento. Ao fazer a personagem Conchita ser interpretada por duas atrizes simultaneamente, cria uma situação onde o personagem de Rey é obrigado, a cada troca de atriz, a reiniciar sua luta pela paixão de sua vida, adaptando-se as mudanças de traços que cada atriz impôs ao personagem. Dois personagens lancinados pela luta entre seus desejos e seus valores e pelas regras sociais. A emergência, no Brasil pós golpe de 2016, de uma direita fascista é a expressão da crise da democracia, no mundo, como mecanismo de pactuação social e igualdade. Em grande medida, é a crise dos valores liberais democrá cos e humanistas, suplantados e derrotados, no percurso do capitalismo em sua globalização, pela hegemonia neoliberal autoritária. Trata-se de uma concessão infundada a manutenção do termo liberal à esse modelo teórico e polí co de capitalismo. O único vínculo remanescente entre o neoliberalismo e o liberalismo clássico é a ideia de livre mercado, também um vínculo em vias de superação pela dinâmica concentracionista do capitalismo do século XXI. No interior desta crise da democracia, ampliada por um golpe

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de ruptura contra o pacto democrá co de 1988, que floresce o desejo das classes dominantes brasileiras pelo fascismo. Essas classes dominantes se viram forçadas por uma hegemonia, ainda que frágil, de ideias democrá cas que se seguiu ao fim do regime autoritário brasileiro, a se comportar nos limites da cons tuição federal. Seu verdadeiro desejo, entretanto, era o de rompimento de uma incipiente democracia que, a despeito da manutenção dos mecanismos que lhe permi ram em momento algum deixar de acumular capital, lhe impunha distribuir alguma propriedade e riqueza para os pobres. O aprofundamento da crise econômica internacional e a erosão da democracia no mundo, se materializaram como uma espécie de “orgia no bunker de Hitler”, onde os desejos obscuros foram libertados e os freios é cos e polí cos de uma sociedade democrá ca foram removidos. As classe dominantes, os ricos, não sabem ainda exatamente com qual ‘atriz” irão finalmente realizar o amor pleno por Conchita de Buñuel, se a versão democrá ca ou autoritária. Enquanto esse desfecho não vem, a direita reacionária e fascista vai organizando e, agora mais do que ensaiando, executando uma direção polí ca para as classes dominantes que, fruto da manipulação de informações no país, vem seduzindo os setores médios, historicamente conservadores. A apologia da Senadora Ana Amélia Lemos, do PP do RS à violência, a ideia de eliminação do outro, da submissão sica do contrário, feita em reunião de seu par do quando se referia a horda de criminosos que, armados, atacou a caravana do Lula, é a interpretação bufa, trágica, daquele personagem de Buñuel, Mathieu, o qual se esmera em conquistar o amor total de duas personalidades dis ntas con das em um mesmo objeto do desejo. Parece que o conservadorismo está se definindo por amar a alterna va fascista e autoritária para o capitalismo brasileiro. A úl ma vez que esta opção foi feita pelas elites brasileiras, o desenlace da trama foi trágico. Mortes, torturas, desemprego, inflação galopante, crescimento econômico nega vo, falências, desindustrialização, desnacionalização da economia e um mergulho profundo em uma dívida externa imensa, foram os resultados da opção dos ricos pelo rompimento da democracia no Brasil.

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Ricardo Stuckert

O Ã N S A T S I C S A F ! O Ã R A PASS


Palmeira das Missões e Ronda Alta, 22 e 23 de março Atravessando o estado, a Caravana Lula pelo Brasil em sua passagem pelo Rio Grande do Sul, chegou a Palmeira das Missões. Um ato emblemá co, onde milhares de pessoas acumularam-se para assis r ao ato público de Lula com a Agricultura familiar e camponesa. Os pequenos dariam ali a resposta defini va aos ruralistas que fomentaram o ódio e armaam as mãos das milícias que desde Bagé, onde começou a jornada, acompanharam o roteiro em paralelo semando ódio e violência. Os pequenos deram, na avenida principal de Palmeira, um espetáculo de democracia e reafirmaram a esperança contra o medo, o amor contra o ódio, a orça de trabalho contra a violência. Mais do que falar, ali Lula ouviu o povo. Foram apresentados depoimentos, relembradas conquistas, manifestada a gra dão do povo que em seus governos sen u o salto posi vo que representou a criação de oportunidades e os inúmeros caminhos abertos para a inclusão. Estudantes, mulheres, camponeses, portadores de necessidades especiais, familias, beneficiários de programas sociais, enfim, todos veram vez e voz no palco que se abriu para colocar o povo junto do seu sempre presidente.

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Em Palmeira das Missões, povo camponês reafirma seu apoio a Lula e o desejo de um novo governo popular Assim como em Santa Maria - onde o protagonismo foi dos movimentos urbanos de luta por trabalho, direito e moradia - em Palmeira quem teve vez e voz no palco da caravana foram os camponeses e camponesas representantes dos movimentos da Via Campesina Uma mul dão de aproximadamente 12 mil pessoas esperava a chegada da Caravana de Lula pelo Brasil na cidade gaúcha de Palmeira das Missões. Cumprindo compromisso assumido com os movimentos do campo ainda durante o período que antecedeu ao julgamento do


recurso em segunda instância junto ao TRF4, Lula trouxe sua delegação até o norte do estado para par cipar de um ato organizado pelas forças que representam a agricultura familiar e camponesa. Diversos movimentos sociais es veram presentes e o tom dos pronunciamentos ganhou jeito de povo ao abrir espaço para as pessoas simples se pronunciarem. Ao lado de dirigentes camponeses, da presidenta eleita Dilma Rousseff, do ex-governador Olívio Dutra e de quadros do Par do dos Trabalhadores no RS, o ex-presidente relembrou as polí cas públicas sociais que transformaram o país nos úl mos 12 anos e afirmou que está pronto para voltar a governar o Brasil. - A única razão pela qual eu quero ser candidato é que eu tenho certeza que posso consertar de novo esse país -, anunciou do alto do palanque montado junto ao largo Alfredo Westphalen, no centro da cidade. “Se preparem porque eu tenho uma energia que vocês não imaginam. Estou muito mais mo vado agora", anunciou Lula, sob os aplausos da população palmeirense e regional. O dirigente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Pedro Stédile, projetou o período eleitoral como um momento decisivo para superar a hos lidade dos grandes fazendeiros que produzem apenas para exportação, hoje privilegiados em relação


aos pequenos que são os que de fato produzem o alimento que chega às mesas do povo. "Temos de arregaçar as mangas e não vamos fazer outra coisa que não seja trabalhar dia e noite para eleger o Lula", disse Stédile. "Eleger o Lula é eleger outro modelo, para salvar a agricultura, produzir alimentos e preservar nossos recursos naturais, sem agrotóxico, que só produz câncer. Esse alimento só pode ser cul vado com base na agroecologia." A posição do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) também é semelhante, conforme expressou Plínio Simas, ao desafiar Lula a fazer ainda mais que já fez durante os dois mandatos de governo popular: “Crie mais universidades públicas para deixar os ricor furiosor, conclua o Hospital Público Regional e cuide da saúde do povo, faça um programa de habitação maior e ainda mais popular do que foi o Minha Casa Minha Vida, lembre-se que o povo precisa de emprego e você já provou que sabe como conduzir a economia para gerar mais postos de trabalho”. Para arrematar, Simas deixou o pedido mais especial: “Lula, quando você voltar a ser presidente, desaproprie todos os la fúndios e de ao povo que precisa de terra, e nós camponeses vamos produzir alimento saudável para a nação brasileira”. Em sua fala, a ex-presidenta, Dilma Roussef agradeceu a acolhida e relembrou ai mportância do campesinato: “Estamos muito agradecidos pelo que estamos vendo aqui e também pelo que vocês fizeram nos nossos governos, ajudando a construir polí cas públicas de

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apoio aos camponeses. Graças à agricultura familiar o Brasil alcançou um fato histórico: saiu do mapa da fome da ONU” relembrou. “Os brasileiros passaram a comer melhor e mais barato porque a agricultura familiar é responsável por mais de 70% dos alimentos consumidos pelo povo”, con nuou ela, saudada pelos presentes como “Dilma guerreira da pátria brasileira”. No palco Lula fez um discurso forte e assumiu compromisso de seguir em frente com sua candidatura e enfrentar todas as dificuldades que encontrar pelo caminho para voltar ao Planalto e fazer ainda mais e melhor que fez nos seus dois primeiros mandatos. A respeito da perseguição que e do processo de lawfere que vem sofrendo, foi enfá co: "Eu não sou melhor do que ninguém. Não estou acima da lei. O que eu quero é só jus ça. Se eu ver uma mínima culpa, eu direi ao PT: 'eu não mereço ser candidato'. Agora, já estão há quatro anos cutucando a minha vida e não acharam nada", disse. Sobre as medidas para que o Brasil retome o crescimento, Lula destacou que a inclusão do povo pobre na economia é a principal saída. "Quando o povo tem emprego, um salário um pouquinho melhor, ele começa a comer melhor, a comprar um imóvel novo, a ajeitar a casa", explicou o ex-presidente, lembrando que em seu governo o país teve um crescimento de 7,5% no PIB e 12,5% no varejo. "A coisa estava tão boa, que descobrimos o Pré-Sal, não por sorte, mas por fruto de trabalho e pesquisa. E decidimos que o Pré-Sal seria o passaporte para o futuro deste país, com os royal es inves dos na educação", declarou Lula, orgulhoso por ter se dedicado para resolver o problema da educação no Brasil e incluir o filho do pobre na universidade. "Colocamos 4 milhões de jovens nas universidades em 12 anos, contra 4 milhões em todo século 20", reforçou Lula, que citou também a importância de programas como o Minha Casa Minha Vida e Bolsa Família. Embora não tenham sido registrados problemas mais graves no centro da cidade, se registrou um pequeno grupo contrário instalado nas proximidades do campus da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) que foi criada no governo do próprio Lula. A movimentação porém foi pequena e incapaz de impedir a passagem da caravana ou in midar a par cipação massiva do maior público que se registrou até ali no roteiro, só sendo superado pela a vidade final, realizada em São Leopoldo. (Com informações de Sul21, Brasil de Fato e Rede Brasil Atual)

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Texto publicado pelo site www.lula.com.br.

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“Estou muito mais mo vado e tenho certeza que posso consertar o Brasil” O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi recebido por uma mul dão na cidade de Palmeira das Missões (RS) na noite desta quinta-feira (22), encerrando o quarto dia da etapa sul da caravana Lula pelo Brasil. Ao lado de representantes de movimentos sociais, da presidenta eleita Dilma Rousseff e demais dirigentes do PT, o ex-presidente relembrou as polí cas públicas sociais que transformaram o Estado e o país nos úl mos 12 anos e afirmou que está pronto para voltar a governar o Brasil. “A única razão pela qual eu quero ser candidato é que eu tenho certeza que posso consertar de novo esse país. Se preparem porque eu tenho uma energia que eles não imaginam. Estou muito mais mo vado agora”, anunciou Lula, sob os aplausos da população palmeirense que lotou a praça Alfredo Westphalen. Durante o ato, Lula voltou a pedir que os juízes se debrucem sobre o mérito de seu processo e exigiu jus ça. “Eu não sou melhor do que ninguém. Não estou acima da lei. O que eu quero é só jus ça. Se eu ver uma mínima culpa, eu direi ao PT: ‘eu não mereço ser candidato’. Agora, já estão há quatro anos futucando a minha vida e não acharam nada”, disse. Sobre as medidas para que o Brasil retome o crescimento, Lula destacou que a inclusão do povo pobre na economia é a principal saída. “Quando o povo tem emprego, um salário um pouquinho melhor, ele começa a comer melhor, a comprar um imóvel novo, a ajeitar a casa”, explicou o ex-presidente, lembrando que em seu governo o país teve um crescimento de 7,5% no PIB e 12,5% no varejo. “A coisa estava tão boa, que descobrimos o Pré-Sal, não por sorte, mas por fruto de trabalho e pesquisa. E decidimos que o Pré-Sal seria o passaporte para o futuro deste país, com os royal es inves dos na educação”, declarou Lula, orgulhoso por ter se dedicado para resolver o problema da educação no Brasil e incluir o filho do pobre na universidade.


Marcos Corbari

Educação em Palmeira das Missões Os inves mentos em educação durante os governos do PT refletem diretamente na vida da população de Palmeira das Missões. Graças à expansão da rede federal dos governos Lula e Dilma, a cidade ganhou o campus Palmeira das Missões da Universidade Federal de Santa Maria, inaugurada pelo expresidente. No total, foram 426 bolsas do ProUni concedidas, 484 contratos pelo FIES e 923 matrículas no Pronatec. No transporte escolar, foram 19 ônibus para área rural e 1 para alunos com deficiência. “Por tudo isso colocamos 4 milhões de jovens nas universidades em 12 anos, contra 4 milhões em todo século 20”, reforçou Lula, que citou também a importância de programas como o Minha Casa Minha Vida e Bolsa Família, que atendeu 1.771 famílias de Palmeira das Missões, um total de 7,1 mil pessoas beneficiadas.

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Ricardo Stuckert


Texto de Luís Eduardo Gomes, publicado pelo Sul21.

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Ronda Alta A Há 30 anos Vilson Pasque tem uma pequena propriedade no município de Ronda Alta, onde mora e trabalha junto com outros quatro membros de sua família. Ali, eles produziam soja, milho e outros grãos. Era uma vida simples e boa, mas sen a a necessidade de “girar mais dinheiro”. Queriam entrar no ramo leiteiro. “Então eu acessei o programa Mais Alimentos, que nha juro de 2% o ano e podia pagar em 10 anos. Adquiri assim o gado leiteiro, caminhonete, trator. Fomos adquirindo e crescendo a propriedade”, conta. Na manhã desta sexta-feira (23), a propriedade da família Pasque recebeu a visita dos ex-presidentes Lula e Dilma, e da comi va que acompanha a caravana pelo sul do País, e serviu a eles um café colonial com os produtos da agricultura familiar. “A gente nem acreditou, mas é uma alegria para a família Pasque receber a visita dos presidentes. Isso é uma coisa inédita”, disse. Além da comi va, também recebeu centenas de pequenos e médios agricultores e trabalhadores de Ronda Alta que foram ao local para ver o ex-presidente. Rui Valença, coordenador-geral da Fetraf, en dade que representa trabalhadores da agricultura familiar, lembrou que Lula esteve em Ronda Alta há 17 anos, quando fez, em 2001, uma caravana pelo Rio Grande do Sul e Santa Catarina para visitar justamente o trabalho da agricultura familiar. “Dezessete anos depois, muita coisa mudou”, disse. “Mudou a paisagem, mudou a vida. Os filhos dos agricultores veram o direito de ir para a universidade, pelo ProUni e nas federais, inclusive os meus”, complementou Valença, que entregou ao ex-presidente um documento com sugestões da categoria para o plano de governo do PT, incluindo polí cas que permitam a pequenos e médios compe r em melhores condições com os grandes agricultores e com o mercado. “Não dá para largar um tubarão junto com um lambari na piscina. O que nós queremos é condições para produzir alimentos, polí cas públicas, não destruir as polí cas como esse governo golpista têm feito”.


Prefeito de Ronda Alta, Miguel Gaspare o (PT), afirmou que, nesse período, graças ao fortalecimento do Pronaf, milhares de pessoas ascenderam à classe média. No ato, Lula destacou que, quando chegou ao governo, o orçamento do Pronaf des nado a financiaentos era de R$ 2,2 bilhões. Quando Dilma concluiu seu primeiro mandato, em 2014, já superava os R$ 30 bilhões. Uma das famílias que ascendeu foi justamente os Pasque , mas Vilton não se tornou um daqueles agricultores que Lula vinha citando nas suas paradas anteriores da caravana, que pegaram dinheiro a juros subsidiados nos governos pe stas e hoje des lam ódio contra ele e Dilma. E a prova disso vinha no trator que ajudou a levar o ex-presidente do ônibus da caravana para o palco, que exibia o nome do programa que o ajudou a ascender. Marli Maria Kramer, que veio de Lajeado Bonito, cidade próxima na região, para ver a caravana passar, também viu as condições de vida melhorarem após a criação de programas de financiamento da agricultura familiar. “Melhorou muito coisa, porque a gente conseguiu financiar um trator pelo Mais Alimentos, a gente conseguiu reformar a casa, construir uma nova pelo Minha Casa, Minha Vida. Tá muito bom na agricultora familiar. A gente não troca Dilma e Lula por nada”, disse. Antônio Pereira não é agricultor, mas, como morador de Ronda Alta há 45 anos, viu a cidade melhorar com o crescimento da agricultura familiar e, para a família dele, viu programas educacionais de acesso à universidade permi rem que sua filha se formasse assistente social e sua neta enfermeira. “Eu agradeço muito que foi através do Lula que eu tenho uma filha e uma neta formadas na universidade, pelo ProUni. Não gastamos um pila, porque nós não nha para gastar. Só tenho a agradecer”, afirmou. Ao final do ato, antes de tomar o café na casa dos Pasque , Lula fez uma promessa de campanha. “Se nós voltarmos, vamos terminar a reforma agrária defini vamente”.

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Ar go de Frei Sérgio Görgen, publicado pela Rede Soberania.

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Agricultura Camponesa Agricultura camponesa não é só um jeito de produzir no campo. É um modo de viver. É uma cultura própria de relação com a natureza. É uma forma diferenciada de vida comunitária. Na agricultura camponesa o trabalho é familiar, não assalariado, não capitalista. A família camponesa vive e sobrevive com pouca terra. Esta agricultura sempre se fez, ao longo da história, em pequenas áreas de terra. Nisto se dis ngue da agricultura la fundiária, feita em grandes áreas e com trabalho alheio. A agricultura camponesa prima pela diversificação na produção. Não é monocultora. Combina produção animal com produção vegetal. A produção para o autoconsumo, para a subsistência familiar, tem um papel decisivo na agricultura camponesa. É um dos elementos fundamentais da cons tuição do espaço de liberdade proporcionado por esta forma de produzir e de viver. Os laços de família são fortes componentes do modo de exis r e da cultura camponesa. Alguns teóricos veem na reprodução da família camponesa e dos obje vos que ela própria se coloca,


o grande motor da a vidade econômica da agricultura camponesa. A comunidade é um elemento central no modo de vida camponês. Destruir suas comunidades é destruí-lo por inteiro. Na comunidade há o espaço da festa, do jogo, da religiosidade, do esporte, da organização, da solução dos conflitos, das expressões culturais, das datas significa vas, do aprendizado comum, da troca de experiências, da expressão da diversidade, da polí ca e da gestão do poder, da celebração da vida (aniversários) e da convivência com a morte (ritualidade dos funerais). Tudo adquire significado e todos têm importância na comunidade camponesa. Nas comunidades camponesas as individualidades têm espaço. As que contrastam com o senso comum encontram meios de exis r. Os discretos são notados. Não há anonimato na comunidade camponesa. Todos se conhecem. Uma marca forte da agricultura camponesa no Brasil é a diversidade. Diversidade cultural a par r de raízes culturais diferentes e de jeitos diferentes de se relacionar com a natureza, pois em contato com mundos naturais diferentes. O Brasil é grande e diverso. Os camponeses brasileiros são muitos e têm na diversidade uma de suas riquezas. Soube adaptar-se ao mundo local onde fincou o pé. É por isto que o campesinato brasileiro faz de tudo, produz de tudo, de várias formas, nos diversos biomas, nos inúmeros agroecosistemas, nos centenas de microclimas, de forma integrada, convivendo com as especificidades de cada local. A diversidade cria iden dades locais e ambientais. Liga territórios, prá cas sociais, ambientes e culturas. Cimenta iden dades culturais que se transformam em trincheiras de resistência, de planos e utopias. Produz sujeitos polí cos cole vos que lutam por direitos, por tradições, por sobrevivência e por perspec vas de futuro. A diversidade cultural e produ va, própria da vida camponesa, é a melhor maneira de lidar com a biodiversidade. Por isso os camponeses são os melhores guardiães da mãe natureza na arte necessária de produzir alimentos para sustentar a humanidade.

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Guilherme Santos

Guilherme Santos


Passo Fundo, 23 de março O monstro tentou de todos os jeitos interromper a jornada de lula e de seu povo até ali. Chingamentos, ameaças, ovos, pedradas, obstrução de estradas, agressão a militantes. Mas enquanto os câes ladravam, a caravana passava. Em Passo Fundo o monstro teve sua primeira e única vitória nessa jornada. Como as ameaças contra Lula e à Caravana não sur ram efeito, as milícias voltaram seu ódio contra o povo e fizeram ressoar a ameça de violência contra os milhares de pessoas que aguardavam o seu presidente no centro da cidade. Não poderia seguir adiante. A opção foi dolorosa, mas necessária. Em vista da nega va das forças de segurança de garan r a integridade do povo que estava nas ruas, Lula escolheu seguir adiante. Antes de par r, porém, confidenciou aos que estavam próximos: ‘‘Eu volto aqui, eu ainda vou olhar nos olhos dessa gente toda, eu vou retribuir a cada trabalhador e trabalhadora que saiu de casa para me ouvir e teve a sua liberdade interrompida pela violência e pelo facismo. Digam ao povo de Passo Fundo que hoje nãos não vamos conversar olho no olho, mas que eu levo cada um que me esperava nas ruas junto comigo’’. São Leopoldo seria a próxima parada e, lá, os Passo-funenses seriam lembrados com carinho por Lula. O monstro ficaria na estrada, urrando de forma grotesca pela voz dos ruralistas e suas milicias, enquanto a Caravana seguia em frente, cada vez mais sendo abraçada pelos braços do povo.

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Ricardo Stuckert


Ar go de Luís Eduardo Gomes, publicado pelo Sul21.

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Manifestantes an -Lula impedem chegada do ex-presidente em Passo Fundo O quinto dia da caravana do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo Rio Grande do Sul foi marcado pela primeira vitória dos manifestantes contrário à presença de Lula no Estado. Depois de horas de tenta vas sem sucesso de liberação do tráfego no trevo de acesso à cidade de Passo Fundo, os organizadores da caravana decidiram desis r do evento marcado para a cidade e par r para a próxima parada, em São Leopoldo. A Caravana pelo Sul começou o dia em Sarandi, onde a comi va passou a noite. De lá, par ram para o primeiro ato desta sexta-feira (23), marcado para as 9h30 no município de Ronda Alta. Ali, Lula, Dilma Rousseff, Olívio Dutra, Miguel Rosse o e o restante da comi va foram recebidos por centenas de agricultores familiares e trabalhadores locais na propriedade da família Pasque , em um ato que tratou da situação dos pequenos e médios agricultores da região noroeste do Estado.


Após tomar café com a família anfitriã, a caravana par u para uma parada rápida em Pontão, onde foi realizado um pequeno ato com assentados do movimento sem terra da região, um dos berços da reforma agrária no Estado – a cidade tem suas origens na fazenda Annoni, ocupada pelo MST em 1985. O encontro acabou por volta das 12h30 e a caravana deveria seguir para Passo Fundo, onde estava marcado um novo ato às 13h, na região central da cidade. Contudo, desde a manhã, uma manifestação organizada por sindicatos rurais da região bloqueava o trevo de acesso à cidade. Segundo informações da rádio Uirapuru, entre 800 e mil pessoas se encontravam no local. A Brigada Militar foi mobilizada, mas não liberou a via. Agricultores organizaram bloqueios em diversos pontos da rodovia queimando pneus. Segundo a organização da caravana, os manifestantes estavam armados com pedras preparadas para a rar nos ônibus, assim como ocorreu na passagem por São Borja e Santa Maria. Por mais de quatro horas, os ônibus permaneceram em Pontão, no local do ato com o MST, esperando que a BM liberasse o acesso a Passo Fundo, o que não ocorreu. Por questões de segurança, decidiu-se então que o ex-presidente Lula e uma parte dos membros da caravana seguiriam de carro até Chapecó, onde pegariam avião para Porto Alegre e de lá se dirigiriam para São Leopoldo, onde se encerra a caravana no RS. Também segundo a Rádio Uirapuru, após a confirmação de que a caravana não seguiria para Passo Fundo, os manifestantes an -Lula organizaram uma carreata pelas ruas centrais de Passo Fundo em comemoração. Nesse mesmo momento, apoiadores do ex-presidente, que chegaram a somar cerca de 800 pessoas no centro da cidade, se desmobilizaram.

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Nota oficial publicada pelo site www.pt.org.br.

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O estado democrá co não admite violência fascista “O país não pode conviver com a violência de setores autoritários, que usam métodos fascistas para calar e interditar aqueles de quem discordam” Diante da violência das milícias fascistas e da omissão do governo do Rio Grande do Sul, que não conteve esta violência, a caravana do ex-presidente Lula não par cipou do ato público realizado na tarde desta sexta-feira (23) na cidade de Passo Fundo, noroeste do Estado. A rodovia na entrada da cidade foi tomada por grupos que portavam armas de fogo e barras de ferro e que a ravam pedras e rojões contra os veículos. Chegaram a fechar a estrada, ateando fogo a pneus. Na praça onde se realizou o ato, o público foi agredido com ovos, paus e pedras. Mesmo alertado com antecedência e oficialmente sobre a violência programada contra a caravana, o governo do Rio Grande do Sul não impediu que os grupos se formassem nem mobilizou o efe vo policial necessário para conter os agressores. O comando da Brigada Militar simplesmente se declarou incapaz de garan r a integridade sica do ex-presidente Lula, da ex-presidenta Dilma Rousseff, que o acompanha, e dos integrantes da caravana. Diante desta situação, Lula seguiu para São Leopoldo (Grande Porto Alegre), para par cipar do úl mo ato público da caravana em sua passagem pelo estado. O governo do Rio Grande do Sul não garan u, como era sua obrigação, o direito de ir e vir dos ex-presidentes. Não impediu tampouco outros atos violentos, como a covarde agressão contra quatro mulheres que par ciparam de um ato na cidade de Cruz Alta, na quinta (22). O país não pode conviver com a violência destes setores autoritários, que usam métodos fascistas para calar e interditar aqueles de quem discordam.


E o estado não pode se omi r perante estes atentados, que não a ngem apenas o PT, mas agridem a democracia e a liberdade. Depois de encerrar vitoriosamente sua passagem pelo Rio Grande do Sul, a caravana de Lula segue agora para Santa Catarina e Paraná, levando, pacificamente, sua mensagem de esperança no Brasil. Gleisi Hoffmann Presidenta Nacional do PT Márcio Macedo Coordenador da Caravana Lula pelo Brasil

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São Leopoldo, 23 de março

Ricardo Stuckert

Ao encerrar a jornada pelo Rio Grande do Sul, muitos esperavam um Lula raivoso no palco em São Leopoldo, na região metropolitana de Porto Alegre. Depois de ser impedido pelos ruralistas e suas milícias de encontrar o povo em Passo Fundo, não seria de se estranhar um discurso pon agudo, direto e radicalizado. Mais uma vez Lula responderia em alto e bom som demonstrando porque ele é diferente daqueles que o atacam. Lamentou o ocorrido, conclamou o povo a responder, mas sem u lizar os mesmos meios. Lula não quer mais o país dividido dessa forma e lembrou que se havia muita gente expondo seu jeito fascista de ser, exis a muito mais gente disposta a seguir lutando pela democracia a construindo uma sociedade livre e igualitária para todos.

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Abraçado por uma mul dão - a maior de todo o roteiro - Lula garan u estar sereno, cantarolou trechos de músicas do cancioneiro gaúcho e relembrou passagens marcantes de suas andanças pelo país afora. E reafirmou que ninguém vai o impedir de seguir caminhando com seu povo. A próxima parada seria Santa Catarina e depois Paraná, onde novas cenas de agressão seriam pra cadas. Em São Leopoldo, porém, o povo gaúcho respondeu com milhares de rostos sorridentes e braços abertos dispostos ao abraço. Ali, Luís Inácio Lula da Silva alimentou seu espírito de guerreiro com a força e o carinho do povo gaúcho, dos homens e mulheres que no seu co diano honram os ideias de igualdade e fraternidade que estão alinhavados em sua bandeira. Lula disse, naquele palco, que a grande luta estava apenas começando. Parecia profe zar os acontecimentos que viriam a seguir.

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Texto de Fernanda Canofre, publicado no Sul21.

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Lula canta ‘Gaúcho de Passo Fundo’ e diz que termina caravana em Curi ba: ‘quem não deve não teme’ No meio da fala pública que realizou na noite desta sextafeira (23), diante de 15 mil pessoas no centro de São Leopoldo, Rio Grande do Sul, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva puxou versos do cantor Teixeirinha. A música era Gaúcho de Passo Fundo. Ele arrematou: “…e trato todo mundo com o maior respeito”. “Não é assim? Era só isso que eu queria cantar lá hoje”. A referência foi à movimentação de sindicatos rurais e polí cos de direita da cidade da região norte do Estado que barraram a chegada da caravana pe sta. A primeira vez desde que Lula começou suas viagens pelo Brasil, no ano passado. Os problemas na região norte atrasaram os planos da viagem. Por questões de segurança, recomendação da própria Brigada Militar, o ato na cidade teve de ser cancelado. Lula disse não ter se surpreendido. “Eu sou um cidadão bem informado. Eu nha bastante conhecimento da situação do Rio Grande do Sul, sabia dos resultados eleitorais e venho acompanhando os discursos e comentários. Veja que eu resolvi fazer uma caravana não-eleitoral. Senão, eu teria escolhido as dez maiores cidades do Estado e fazer atos como esse. Escolhi a região menos habitada demograficamente”. A decisão de concorrer à Presidência este ano, segundo ele, também estaria embalada em não aceitar “a raiva e o ódio” que estariam estabelecidos na sociedade brasileira. E que se conseguir se registrar como candidato, sem medo de ser ufanista, ganha no primeiro turno. “Será que eles não aprendem a jogar o jogo democrá co? Eles acham que são bons? Ora, disputem as eleições. Coloquem um monte de candidatos e elejam. É o [Michel] Temer (MDB)? Que seja o Temer, não tem problema. É o [Geraldo] Alckmin (PSDB)? É o Bolsonaro (PSL)? Não tem problema. Só não pode ser a Manuela [D’Ávila, PC do B] e o [Guilherme] Boulos (Psol) que nós vamos estar


juntos em algum momento. Indiquem quem quiserem e vamos para a disputa”. Sem comentar o julgamento do habeas corpus no Supremo Tribunal Federal (STF) ou o acordo de adiar uma decisão a respeito dele até o dia 4 de abril, Lula ironizou sobre o fim da sua caravana na região Sul do país. “Vou terminar minha caravana na Boca Maldita, no centro de Curi ba. Vou fazer isso porque aprendi desde pequeno: quem não deve não teme. Quem é honesto, não baixa a cabeça”. A capital paranaense é a origem dos processos da Lava Jato contra ele e onde boa parte dos polí cos presos é man da. Inclusive o exdeputado e ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha (MDB). Na fala em São Leopoldo, uma das cidades gaúchas onde o PT conquistou prefeitura em 2016, com Ary Vannazi, Lula deu uma amostra de que pretende seguir o slogan do governo interrompido de Dilma Rousseff (PT), com foco na educação. “Quero voltar a ser candidato para provar que é possível fazer mais educação, que é possível fazer mais saúde. Eles que se preparem porque eu vou federalizar o ensino médio nesse país. Se vai custar dinheiro, ó mo. Eu tenho dito todo dia que educação não é gasto, é inves mento. Eles sabem que vamos voltar a gerar emprego”. Direita volver A manifestação no norte do Estado repercu u nas falas de vários deputados e do senador Paulo Paim (PT). Para Dionísio Marcon (PT), deputado federal que vem do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST), a luta de classes ficou evidente no episódio de Passo Fundo. “Para mim, o agronegócio atrasado, raivoso, o bolsonarismo está se ar culando no Estado. Isso mostra que a luta de classes está cada vez mais em evidência no Rio Grande do Sul e no Brasil. Aquilo que aconteceu em Passo Fundo, São Borja, Santa Maria, Palmeira das Missões e Bagé são os que financiaram suas máquinas com programas do governo Lula e Dilma, não pagaram e sabem que Lula vai fazer eles pagar”, disse ao Sul21.

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Olívio Dutra, ex-governador do Estado e primeiro pe sta a governar no RS, que acompanhou Lula durante a semana, disse que “a caravana acendeu um ras lho de cidadania”. Ele voltou a defender a candidatura do ex-presidente, de quem foi ministro. “Quem tem que decidir e povo, somos nós, com o voto direto. Esses que deram o golpe, que chamam pelo nome de impeachment, querem prosseguir e querem uma democracia mendiga. Eles têm medo do voto como o diabo tem da cruz”, disse ele sob aplausos. “Estão tentando tudo com vilania polí ca, com descaracterizar o processo cole vo”. Dilma defendeu que o golpe que terminou com seu governo foi dado para “destruir o PT e suas lideranças”. “PSDB golpista e PMDB golpista não têm voto nesse país. Criaram o monstro da extrema-direita. Monstro que, votando pelo meu impeachment, defendeu um torturador e a tortura. Crime inafiançável em qualquer lugar do mundo”, lembrou ela citando o voto de outro presidenciável, Jair Bolsonaro. Na tenta va de inviabilizar uma candidatura de Lula, segundo ela, “inventaram o lawfare”. Manobras jurídicas para atacar alguém. “Não queremos privilégio, mas não aceitamos perseguição. Apartamento não é de Lula”, afirmou, se referindo ao processo que condenou o ex-presidente a 12 anos de prisão, em janeiro. Os canudos de diploma A educação, aliás, foi a polí ca mais lembrada no ato, pelas pessoas que foram ao ato “para agradecer” ao ex-presidente. Um jovem, professor do Estado, filho de metalúrgico, contou que depois de estudar em um Cefet – atualmente os Ins tutos Federais, estabelecidos por Lula em seu segundo mandato – chegou em casa decidido a fazer uma faculdade. O pai pediu que ele não pensasse assim, que se preparasse para entrar no chão de fábrica. Nesta sexta, o rapaz entregou de presente para Lula o diploma, que conseguiu graças ao ProUni. Outra professora da rede estadual, Aline Bernardes da Silva, foi ao ato com a mãe, que sempre militou no Par do dos

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Fernanda Canofre

Trabalhadores. Aline levou os dois canudos e um cartaz onde agradecia a chance a Lula. No caso dela, o Fies foi o que garan u a chance de estudar numa ins tuição privada. “Graças aos programas de democra zação da educação que eu consegui meus dois diplomas. O que me traz aqui é esperança que a gente consiga fazer as pessoas enxergarem que precisamos parar de excluir. Precisamos incluir a todos. Todas as pessoas têm direitos”.

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Lula reúne mul dão em São Leopoldo no encerramento da passagem pelo Rio Grande do Sul O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva encerrou nesta sexta-feira (23) sua passagem pelo estado do Rio Grande do Sul. Agora, a caravana segue para Santa Catarina. Rodeado por uma mul dão reunida no centro da cidade de São Leopoldo, na região metropolitana de Porto Alegre, Lula agradeceu a todos os gaúchos que se somaram à caravana. “Não fiquem de cabeça quente com essas manifestações. Não fiquem com ódio. A gente não pode fazer o jogo rasteiro que eles estão fazendo. Não vamos ser ignorante com eles. Nós vamos é dar exemplo. Vou enfrentar eles de cabeça erguida.”, disse. “Quando eu escolhi o Rio Grande do Sul pra fazer a caravana eu sabia que esse estado estava tomado por um conservadorismo muito grande. Eu sabia do cenário, mas a caravana não é eleitoral”, afirmou Lula, ao reiterar que o propósito da caravana é dialogar com a população e pensar projetos que atendam os atuais anseios da sociedade brasileira. Mais cedo, o ex-presidente precisou cancelar sua passagem pela cidade Passo Fundo, após um grupo fascista interditar a estrada que levaria a caravana ao município. Antes do bloqueio, Lula visitou a cidade de Ronda Alta, onde foi ver de perto um conjunto construído pelo Minha Casa Minha Vida Rural. A região também foi beneficiada com programas de incen vo à produção de alimentos. Por conta do bloqueio e da alteração na agenda, Lula seguiu diretamente para São Leopoldo, onde encerrou sua passagem pelo estado. Ao chegar no evento, o ex-presidente ouviu o depoimento de dois jovens formados pelo ProUni. “Quando eu ouço depoimentos como esses que ouvi aqui desses jovens prounistas eu sinto que nem precisaria falar. Sinto que posso ir pra casa dormir tranquilo”, declarou.

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Lula também falou sobre a possibilidade de ser preso e afirmou não estar preocupado com o tema. “O sonho de consumo do Moro e da elite brasileira era entregar minha cabeça. A Globo não vai descansar enquanto não me ver preso. E eu quero dizer: não vou ser preso porque não come nenhum crime e haverá jus ça”, afirmou. Ao encerrar o ato, o ex-presidente ressaltou a possibilidade de vir a ocupar o mesmo cargo em 2019. Para ele, se as eleições fossem hoje, ele venceria em primeiro turno. “Se eu for candidato nós vamos ganhar as eleições no primeiro turno. Porque esse país não pode mais esperar”. exclamou.

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Na estrada, o plan o de sonhos Foram 5 dias na estrada, acompanhando Lula e sua caravana. Período onde descor nou-se o melhor e o pior do Rio Grande do Sul. Expusemos ao país um estado que se divide entre a esperança e o terror, o anseio por mais democracia e a viuvez dos períodos autoritários. Foram dias que ficam guardados na memória e que inscrevem algumas linhas nas páginas da nossa história. Não poderíamos imaginar o que ainda estaria por vim, desde o agravamento das agressões até a formalização de atentados concretos. Em poucos dias Lula seria de do pela Polícia Federal, se tornando o primeiro preso polí co em nosso país desde a redemocra zação. Seríamos desafiados a iniciar um novo ciclo em defesa da democracia, denunciando ao mundo os desmandos de uma ditadura vela, que impediu o maior líder popular que este país já teve de andar em meio ao seu povo e retornar ao lugar que lhe é legado por este mesmo povo como sendo de direito: a Presidência da República. A luta estava, de fato, apenas começando. Havia muito a ser feito e muito a ser dito. Novas caravanas. Marchas. Greve de fome. Protestos. Atos públicos das mais diversas matrizes. Lula deixaria de ser apenas um homem e de fato se tornaria uma ideia. Uma ideia capaz de mover milhões. Há quem nos pergunte o porque desta andança, o que ficou de legado destes dias de estrada. Nada do que vimos ou fizemos seria capaz de deter as forças opressoras que - amparadas pelo império do capital e pela ditadura da mídia - apropriaram-se dos poderes do estado e ins tucionalizaram seus crimes. Nossa resposta se resume ao exemplo da semente, que precisa ser jogada à terra, depois romper a si mesma para explodir em um broto novo.

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Em nososs dias de Caravana com Lula nas estradas do Rio Grande do Sul foram um constante semear. Sonhos e ideias foram sendo semeados ao longo do caminho, plantados não no chão mas sim nas pessoas, essas sim terreno fér l para para que surjam novos e vigorosos brotos e, logo mais adiante, flores e frutos de toda ordem. Reencontramos nosso espirito de luta, relembramos os exemplos dos grandes lutadores que nem sempre veram seus nomes guardados pela história, mas deixaram seu legado incrustrado em cada letra da palavra Democracia. O monstro foi obrigado a sair para fora, mostrou sua cara e todo seu ódio. Urrou horrivelmente, espumou de raiva, lançou-se contra qualquer um que lhe fosse contrário. Foi derrotado pela esperança, pela cara limpa de quem não teme o povo e por isso não tem mo vo para temer ninguém. Os cães ladraram, a caravana passou. Muito havia a ser feito. Muito ainda há a ser feito. Como dizia Lula, ao final dos grandes atos com seus companheiros metalúrgicos nas greves em pleno Regime Militar, ‘‘A luta con nua, companheiros’’.

Marcos Antonio Corbari Frei Sérgio Görgen, ofm

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A luta con nua!

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Ricardo Stuckert

Ricardo Stuckert


Alexandre Garcia

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