Jornal Crescendo - nº 02

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ANO 1 * Nº 1

FUNDADORA: MIRIAM HANNA DAHER

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23 DE SETEMBRO DE 2017

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

Lamparina Acesa, quando ouvir é ver Projeto Lamparina Acesa: Literatura Acessível

por CLEÓPATRA MELO

Na feira do livro deste ano de 2017, vi uma senhora guiando uma pessoa com deciência visual, com tal maestria e desenvoltura na apresentação do ambiente, que quei curiosa e passei a acompanhá-los de mais perto. Ela não só o conduzia como também descrevia o ambiente, os objetos, lia os títulos e trechos dos livros sugeridos pelo deciente visual, era algo tão completo de informações que me vi atenta ao ponto de perceber que eu “enxergando normalmente” deixava passar certos detalhes... eu estava presenciando a audiodescrição. Foi uma experiência incrível, desde então co a imaginar a transformação que um projeto como esse pode causar na vida dessas pessoas, de suas famílias e toda uma comunidade.

Joana Célia Martins que é professora, pedagoga, mestra, atua na Unidade Educacional Especializada José Álvares de Azevedo (UEEs JAA), da SEDUC, escola referência na área da deciência visual no estado do Pará e no Centro de Referência em Inclusão Educacional Gabriel Lima Mendes (CRIE), da SEMEC, é responsável pela inclusão educacional dos alunos matriculados nas escolas municipais de Belém. Faz parte da coordenação do Projeto Lamparina Acesa: Literatura acessível, no Núcleo de Pesquisa Culturas e Memórias Amazônicas (CUMAUEPA). Como surgiu essa ideia de trabalhar com a audio-descrição? Faço parte de um grupo de contadores de histórias, Ayvu Rapta, termo indígena que signica palavra habitada, somos um

coletivo cultural, amantes da literatura. Entre os vários integrantes do grupo, tenho um amigo deciente visual, devido a deciência ele quase nada sabia das fábulas e muitas outras histórias infantis, então me dispus a fazer-lhe uma surpresa, passei a gravar essas leituras para que ele conhecesse e aprendesse. Nas reuniões de conversas literárias do grupo, conheci o escritor Daniel da Rocha Leite e quei encantada com seu relato sobre uma leitura em Soure, Iluminada por Lamparinas, onde surgiu a inspiração para seu livro “A História das Crianças que Plantaram um Rio”. Pois bem, eu já tinha o motivo, que era a necessidade de ter algo a mais que o braile para esse grupo de pessoas mergulharem na literatura; o livro, nosso primeiro livro-falado, foi do Daniel. Qual o papel da UEPA no desenvolvimento do projeto? O projeto é do CUMA-UEPA sem ele dicilmente sairia do papel e tomaria essa proporção, as ocinas que oferecemos é que nos permite ter Leia mais Página 2 ENTREVISTA COM O ESCRITOR Alfredo Garcia: 31 anos de literatura!!! Página 3 PRODUÇÕES MIRINS Gustavo Quadros fala de seus desejos e da paixão pelos livros Página 4 Ainda nesta edição... QUE ISSO? (Parlendas e trava-linguas) LENDAS & MITOS (Os Centauros) MINHA HISTÓRIA Pirentinho por Clarisse Albuquerque

e MUITO MAIS...


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2_ ANO 1 Nº1 23 DE SETEMBRO DE 2017 EDITORIAL

por MIRIAM HANNA DAHER

Caros amigos. Nesta edição, a de número Um, já que a passada foi o Zero, da homenagem ao Humberto Eco e da experiência de um grupo de quatro que muito luta pelo jornal. No geral camos satisfeitos com a edição. O público gostou mas achamos que ainda falta muito para o formato a que nos propomos. Escutamos muito bem as críticas, por serem de boa fé e estamos nos empenhando mais e ganhando experiência. Infelizmente nossa diagramação e formatação tiveram que ser feitas por outra pessoa, por força de motivos muito pessoais, mas que não deixa nada a desejar. Aprovamos e esperamos que a próxima seja melhor que a presente. Nesta edição teremos o Projeto Lamparina, muito bem explicitado pela Cleópatra Melo, a entrevista com o escritor e intelectual Alfredo Garcia Bragança, feita pelo Gigio Ferreira, a narrativa de Marcos Samuel Costa de Descobrindo Cores. Brincadeiras para as crianças, caçando palavras e o desenho de um detalhe da praça Batista Campos para colorir, feito pelo nosso colaborador Dr. Sebastião Piani Godinho, advogado, historiador, membro das

academias de Letras e Geográca do Pará, que principalmente é um exímio desenhista com obras já expostas. Nesse espaço temos ainda umas tiras de desenho animado de dois personagens que viviam escondidos mas que agora resolveram aparecer: o Capitão Livro e seu ajudante, o Pequeno Dicionário. Eles aparecem para esclarecer o signicado das palavras e aos poucos contarão também de sua tristeza porque as crianças já não os manuseiam como antigamente. O papel do jornal cou mais adequado para o desenho das crianças. Apresentamos também algumas Parlendas e Trava-línguas, alguns agrantes de pequenos leitores de Ponta de Pedras, se divertindo com o jornal. Há produções mirins pois criança também escreve histórias, desenha, dança e etc. Lendas e Mitos, fala dos centauros, leiam.

FUNDAÇÃO E EDITORIAL MIRIAM HANNA DAHER

EDIÇÃO E DESIGNER GRÁFICO EDUARDO SANTOS MELO

CONSELHO DE EDITORIAL CLEÓPATRA MELO GIGIO FERREIRA MARCOS SAMUEL COSTA MIRIAM HANNA DAHER

NOSSO CONTATO contatojornalcrescendo@gmail.com

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esse retorno do exemplo dado na feira do livro. Temos médicos, advogados, pais, professores, enm, todos da comunidade em geral têm como encaixar na sua rotina benefícios vários, com seu aprendizado em nossas ocinas para toda essa mesma comunidade não só para pessoas de deciência visual, porque o cerne do projeto é a inclusão, seja qual for a seara de exclusão. Lembro do depoimento de um educador que disse que ele não tinha decientes visuais na sua escola mas tinha cegos literários. Uma outra situação é a questão dos ledores, que são os que leem o livro para fazer o livro falado. Nas ocinas vemos pessoas se emocionarem quando se percebem já ledores eventuais, lembram que alguma vez leram pelo menos uma placa de informações de transporte para alguém com diculdade para lê-la... e aí volto lá pro inicio, onde eu era uma ledora eventual, quando me propus a ler para meu amigo. O projeto alcança o publico infantil? Com certeza, eu mesma no meu trabalho habitual de professora de crianças aplico todo o conhecimento que adquiro na minha pesquisa. Temos também, depoimentos recompensadores de pais, prossionais vários, que atendem crianças com deciência visual e que zeram nossas ocinas e passaram a aplicar neste público o que aprenderam. Lembro-me, de uma observação que zeram em uma de nossas ocinas, a pessoa dizia que o pediatra ao observar a baixa visão ou mesmo a cegueira numa criança, este médico tendo conhecimento do projeto lamparina acesa, teria condições de amenizar o susto dos pais, os informando que tem sim como a criança se desenvolver na sua rotina e seus estudos, assim se tornando um adulto capaz. QUER CRESCER COM A GENTE? ANUNCIE AQUI. VEM! comercialjornalcrescendo@gmail.com

ESTAMOS LHE ESPERANDO!


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3_ ANO 1 Nº1 23 DE SETEMBRO DE 2017 GIGIO FERREIRA

QUEM É ALFREDO GARCIA?

ESCRITOR

Toda escolha merece uma escrita? Escolhas em literatura, como na vida, tem suas consequências. Em poesia trabalho – sim, escrever é uma atividade laboral – com a chamada poética do cotidiano. Tudo (ou quase) que interage comigo eu transformo, sublimo em arte poética. Isso vai na contramão dos que teorizam sobre a inutilidade de se poetizar sobre as circunstâncias. Eu quero mais é fazer da poesia uma arte viva! Em sua opinião o diálogo é o elemento que mais suscita dúvidas quando o ccionista utiliza seu alter ego? A tua pergunta remete ao que chamam hoje de autocção. Não acho que eu faça esse gênero em prosa. Sempre criei cção fundada nas minhas memórias. Eu ccionalizo as lembranças desbotadas e as torno palpáveis, até para meu consumo pessoal. Nesse caso o diálogo ui ao sabor do texto. No relativismo da pósmodernidade a poesia épica desapareceu. Na sua opinião as covas se multiplicaram ou foram os coveiros que se especializaram? Os coveiros da poesia esqueceram de se deitar. Estão todos mortos. Falta atirá-los nas catacumbas. Muitos deles estão por aí nas feiras de livros Brasil afora. A poesia épica não desapareceu. Ela é polimorfa, hoje se traduz no romance. O que há é muito poema chinfrim, poetas sem projetos estéticos e inanição da crítica literária no Pará. Quando você produz um texto interiorizado você já sabe qual é o seu gênero? Ou isso surge após o lapso de tempo? A experiência de quase quarenta anos em literatura já me induz a saber o que fazer com as ferramentas e o material que disponho

mais um espaço aos produtores de conteúdo cultural em Belém? Reputo excelente tal iniciativa. Jornais impressos da região raramente abrem espaço para nossa literatura. Precisamos nos conhecer, autores, antes de nos darmos a conhecer ao público.

BIOGRAFIA

na minha carpintaria literária. Essa maturidade é fruto de um exercício diário com a palavra. Hoje posso até criar textos sob encomenda, o que não faria há uma década atrás. A história come de boca aberta... Em sua opinião a cção regionalista é aquela que melhor obtém seus resultados a partir das expressões idiomáticas? Volto na questão dos projetos estéticos. Escrever no “paraensês” não te torna um autor regionalista. No máximo um arremedo de folclorista. Essa é outra praga regional. Como a subtilização das lendas amazônicas. Posso usar as expressões idiomáticas, claro, mas essas devem estar a serviço do texto, não o contrário. Se a densidade não é a extensão...a profundidade será aquela que exigirá exímias sutilezas? Ser denso não é ser extenso, mas sim intenso. Há sutilezas em microcontos que nunca seriam ditas em romances. Qual a sua opinião a respeito dessa iniciativa do Jornal CRESCENDO ao proporcionar

Alfredo Guimarães Garcia é o nome literário de Joaquim Alfredo Guimarães Garcia, paraense nascido em Bragança em 1961. Há trinta e um anos (1986-2017) o escritor vem construindo sua história na literatura brasileira com livros de contos, poesia e crônicas, além de diversos títulos em literatura infanto-juvenil com mais de quarenta livros já publicados. É bacharel em Comunicação Social, especialista em Teoria Literária e Mestre em Estudos Literários pela Universidade Federal do Pará. Atua como professor do ensino superior no curso de Comunicação Social/ Jornalismo da Estácio Fap, em Belém do Pará.


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4_ ANO 1 Nº1 23 DE SETEMBRO DE 2017 PRODUÇÕES MIRINS

por CLEÓPATRA MELO

Gustavo Quadros, menino de 7 anos, lho de escritor e de toda uma família de artistas, desde tenra idade demonstrava gostar de ler e ouvir as historias dos livros de seu pai Jorginho Quadros e outros autores. Mas recentemente manifestou a vontade de fazer um livro, já que criara o habito de escrever e assim, acumulara varias historinhas de sua autoria. Gustavo tu achas a leitura algo importante pra criança? Uma pausa longa pensando... porque ajuda a descobrir novas coisas. Fora teu ambiente familiar, na escola, entre amigos tu tens estímulo para leitura?

Sim, na biblioteca da escola escolho livros de aventuras pra ler.

Tu lembras o primeiro livro que leste ou outro que tenhas gostado muito?

Não! Mas, o livro que mais gostei de ler foi “Os Piratas Azulaine” de autoria de meu pai Jorginho Quadros.

Essa tua vontade de publicar um livro como surgiu e como esperas que ele seja recebido pelo publico infantil?

Porque tenho vontade de ver um livro meu pronto com ilustrações, gosto do objeto livro. Eu acho que as crianças vão gostar do meu livro porque serve para crianças e adultos, livros servem para quem quer ler independente de ser criança ou adulto.

MINHA HISTÓRIA

A primeira edição do Jornal Crescendo invadiu a Ilha de Marajó, sendo distribuído em duas escolas públicas do município de Ponta de Pedras, na E. M. Jarbas Passarinho através da pedagoga Patrícia Raquel e na E.M. Zeferina Vieira através do professor Jones Vieira. Conra nas fotos essa experiência.

Gustavo Quadros


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5_ ANO 1 Nº1 23 DE SETEMBRO DE 2017 PARLENDAS E TRAVA-LÍNGUA

QUE ISSO?

por CLEÓPATRA MELO

Minha avó materna faziame dormir cantando antigas canções versadas e populares. Um elefante amola muita gente... Dois elefantes... amola, amola muita gente... Três elefantes... amola, amola, amola muita gente...Quatro elefantes amola, amola, amola, amola muito mais... Nas minhas brincadeiras com coleguinhas na rua, naquele tempo podíamos, não era tão perigoso, eu também usava essas canções.

de crianças e por adultos também para embalar, entreter e distrair as crianças. Possuem uma rima fácil e, por isso, são populares entre as crianças. Algumas parlendas são usadas em jogos para melhorar o relacionamento entre os participantes ou apenas por diversão. Muitas parlendas são antigas e, algumas delas, foram criadas, há décadas, fazem parte do folclore brasileiro, pois representam uma importante tradição cultural do nosso povo. Sofrem alterações, dependendo da região do país, havendo variações entre suas versões, as vezes trocam uma palavra por termos regionais, facilitando a assimilação pelas crianças, até porque elas são passadas às gerações oralmente, não havendo uma forma engessada, estática da sua forma, não é sabido, nem mesmo, seus autores. Entre essas brincadeiras da vizinhança, tínhamos também aquelas que funcionavam como um desao, quem falava um verso rimado mais rápido sem enrolar a língua ou errar a pronúncia.

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Um, dois, feijão com arroz. Três, quatro, feijão no prato. Cinco, seis, chegou minha vez. Sete, oito, comer biscoito. Nove, dez, comer pastéis. Cala a boca! Cala a boca já morreu. Quem manda em você sou eu! Enganei um bobo. Na casca do ovo.

Esses são exemplos de Parlendas, que nada mais são do que versinhos com temática infantil, recitados em brincadeiras

No vaso tinha uma aranha e uma rã. A rã arranha a aranha. A

aranha arranha a rã. O rato roeu a roupa do rei de Roma. Eram as trava-línguas que podemos denir como frases folclóricas criadas pelo povo com objetivo lúdico (brincadeira). Apresentam-se como um desao de pronúncia, ocorrem quando uma pessoa passa uma frase difícil para um outro indivíduo falar. Estas frases tornam-se difíceis, pois possuem muitas sílabas parecidas (exigem movimentos repetidos da língua) e devem ser faladas rapidamente. Estes trava-línguas já fazem parte do folclore brasileiro, porém estão presentes mais nas regiões do interior do Brasil. Parlendas e trava-líguas são brincadeiras antigas que permanecem até hoje no cotidiano das crianças apesar de serem pouco conhecidas por suas nomenclaturas e são usadas de forma pedagógica nas escolas para incentivo à literatura e, exercício da língua e leitura. À titulo de informação/ relação de algumas parlendas e trava-línguas; www.portal.educação.salvador.ba.gov.br/ parlendastravalinguas

MINHA HISTÓRIA

por CLARISSE ALBUQUERQUE

Minha tia Adna foi ao supermercado fazer compras e encontrou na calçada um cachorro todo pelado, abandonado e cheio de feridas. Ficou com muita pena dele, comprou carne moída e deu-lhe na boca. Ele comeu tudo muito rápido. Depois ela o pegou no colo e o levou para sua casa. Quando ele casse bom, ganharia uma família para cuidar dele, mas assim ninguém ia querer. Não lhe deu nenhum nome até que fosse adotado. Depois de três meses, Pirentinho, era

PIRENTINHO assim que ela chamava foi cando bom e criou muitos pelos. Seu rabo estava bem peludo. Tia Adna disse que ele cou parecendo uma raposa, muito bonito! Pirentinho cou gostando muito da tia e ela também. Não teve coragem de se afastar dele. Hoje Pirentinho cou se chamando assim até hoje e é o defensor da casa da tia e dela também. Eu gosto muito do Pirentinho.


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6_ ANO 1 Nº1 23 DE SETEMBRO DE 2017 BRINCADEIRA DE CRIANÇA

Caçando as palavras

Capitão Livro e o seu ajudante o Pequeno Dicionário Ilustrações Márcio Pinho

CORETO • GRAMA • BATISTA • LAGO ÁRVORES • PRAÇA • CAMPOS • PONTE

PRAÇA BATISTA CAMPOS Praça Batista Campos localiza-se na cidade de Belém, no estado do Pará, no Brasil. No século XIX, o terreno pertencia a Maria Manoela de Figueira e Salvaterra, sendo por isso conhecido como “Largo da Salvaterra”. Com a morte da proprietária, as terras

passaram a pertencer à Câmara Municipal de Belém, passando a chamar-se “Praça Sergipe” em homenagem à nova província brasileira. Em 1897, durante o governo do intendente Antônio Lemos, a praça passou a homenagear um dos principais personagens da Cabanagem: Cônego Batista Campos, morto em 1834.

Ilustração: Sebastião Godinho


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DESCOBRINDO CORES

7_ ANO 1 Nº1 23 DE SETEMBRO DE 2017 MARCOS SAMUEL COSTA ESCRITOR

Comecei a estudar numa escola anexa à igreja, onde minha família congregava-se. Havia um hábito da paisagem geográca em mim, conhecia as professoras que por ventura também eram irmãs. Meus primeiros dias de aula foram meu maior terror. Eu não sabia dizer o que era tão ruim lá, mas sabia dizer para mim mesmo, queria car em casa vendo TV. Na sala de minha casa havia um tapete de retalhos de pano e saco de trigo, deitava-me nele quase a manhã inteira, a minha mãe achou de mandar-me para escola, poderia car sem estudar mesmo, mas tive de ir. Acordei cedinho, lembro-me de minha mãe ter falado “olha, vai te acostumando, tu vais ter de acordar cedo todos os dias”. Algo impensável naquele momento, a água muito fria e meu corpo pedindo... cama, cama, cama! Sou um dos únicos marajoaras que prefere dormir em cama a dormir em rede. Na rede eu co insone, sem nunca achar de fato uma posição acolhedora. Minha irmã levou-me então para essa aterradora experiência, e eu chorava, chorava, chorava! Lembro que tudo aquilo era gradeado, e eu nas grades gritando,

queria ter de volta as palavras pela manhã de minha mãe, a companhia do meu cachorro de estimação, Leão, minha manha ao escovar os dentes lentamente na beira do igarapé, ter a companhia dos meus amigos para brincar. Sem eu nem perceber, tudo aquilo era início de um treino para o que vida viria a ser de fato.

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Estava tão aito, e não percebi quem eram os meus colegas de turma, não olhei para eles, não pensei se iriam dizer “olha lá o chorão”, queria que o tempo passasse logo, minha casa de volta, voltar ao meu mundo, e mais que isso, quando o dia amanhecesse novamente, tudo voltasse ao normal. Mas o dia seguinte chegou, e vi que minha mãe falava sério quando disse sobre eu ter de me acostumar com aquele ritmo.

ESCOLAS SEM GRADES As professoras, que tínhamos como obrigação de chamar de “tias” faziam de tudo para que eu e outros alunos parassem de chorar, z a que a mim era cabível naquela situação, chorei muito novamente, gritei, subi nas grades, gritei pela mamãe, e depois que minha irmã foi embora, tive de parar, pois percebi que estava sendo vencido, lembro que passaram tinta em meus dedos e mandaram eu pintar sobre um papel, aquilo chamou-me a atenção, não o fato de poder dar cor ao papel, mas sim pelos meus dedos em si terem sido pintados, eu não podia imaginar que podia dar vida a cor. Não sabia que na vida poderia dar cor às coisas, olhava para meus dedos como quem via uma grande descoberta, e aquilo para mim foi uma grande descoberta. Não lembro quantas manhãs a mais eu segui em meu ritmo de choros e gritos, entre o sobe e desce das grades da sala de aula, não guardei lembranças em minha mente, e nem como eram as professoras. Aquela manhã foi diferente de tudo.

LEITURINHA

por CLEÓPATRA MELO

Jorginho por Jorginho Meu nome é Jorge Wellington Quadros. Um nome muito grande. Prero ser chamado de Jorginho, acho que aproxima as pessoas e eu gosto de gente. Eu nasci em Bragança, cidade litorânea e muito rica culturalmente. A minha bragantinidade no entanto foi interrompida aos meus 4 anos, quando meus pais decidiram morar em Paragominas. Não tive tempo de criar raízes ali. Elas vieram a se ncar aqui, onde fui matriculado pela primeira vez numa escola, o Educandário Irmã Beatriz. Depois de aprender a rascunhar as primeiras palavras, passei a estudar na Fundação Bradesco, de onde saí somente para ingressar num curso

Nessa edição a nossa dica de leiturinha, são os livros : Noca, a minhoca; Quando eu era grande; O Pirata Azulaine; Dois Manolitos (bilíngue). Todos do escritor Jorginho Quadros

URINHA Corrêa

universitário. Desde cedo desenvolvi um gosto pelas artes, especialmente pela música e pela literatura. Talvez sejam heranças de meu avô que era rabequeiro, gaitista e violonista, e do meu pai, que é

autor de vários livros. Gosto muito de ler e escrever, escrevi alguns livros, recebi prêmios literários, e contribuo com a minha sociedade através da promoção de leitura.


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8_ ANO 1 Nº1 23 DE SETEMBRO DE 2017 EU CONTO...

por MIRIAM HANNA DAHER

Araquinha é uma lhote de aranha prata que vive com sua mãe, dona Aráquia embaixo de uma cadeira velha, estufada. Elas tecem e costuram roupas para as vizinhas. São belos os e belas roupas,mas ai de quem se aproxime da cadeira velha para ameaçá-las, suas teias traçoeiras se encarregam de prender o invasor que depois vai direto para a panela. Viravam comida gostosa. Nesta casa, moravam umas garotas adolescentes e muito vaidosas. Elas amavam pintar as unhas com esmaltes de várias cores. Certo dia, quando acabaram de fazer as unhas, esqueceram em cima da mesa todos os esmaltes coloridos. Quando anoiteceu, Araquinha não resistiu, subiu na mesa e começou a pintar as

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ARAQUINHA patinhas, uma de cada cor. Ficou tão entretida que não percebeu que suas patas haviam colado na mesa já que o esmalte secara. Quando se deu conta da gravidade da situação, começou a chorar e a gritar chamando pela mãe. A encrenca estava armada. Araquinha chorando e dona Aráquia se desesperando porque não conseguia soltá-la. Ela estava presa pelo esmalte seco que nem cola. Na parede já havia uma osga só observando o movimento para pensar em atacar e comer a Araquinha. Observando todo esse desespero, eis que o jovem Aranhão, que mora num canto do teto e passeia pelo o de luz, resolve descer pelo mesmo, pular na mesa e com jeitinho, salvar Araquinha. Mãe e lha caram

muito agradecidas ao jovem e o convidaram para comer formigas torradas, que é o prato especial de dona Aráquia. Conversam daqui, conversam dali e Aranhão confessa que já conhecia Araquinha e na verdade era apaixonado por ela. Aproveitou então a oportunidade e a pediu em namoro. Três meses depois eles se casaram. Quem ociou o casamento foi o Sr. Besouro, amigo da família. Construíram uma casa de teia no quintal, que já era verão e outra que abriram uma loja de os preciosos. Algum tempo depois, nasceram seis araquinhos e araquinhas que também passeavam com seus pais pelo jardim. Todos muito felizes, como a vovó Aráquia.

LENDAS & MITOS

por MIRIAM HANNA DAHER

Os centauros são seres mitológicos. Eles viviam na região das montanhas da Tessália, região central do território grego. Possuíam o tronco e a cabeça de um ser humano no corpo de um cavalo. Dotados de muita força física, eram

DR. ANTÔNIO MAKSUD HANNA Cardiologia e Clínica Médica SOCOR: Tel.: (91) 3230-3822 (Manhã) PORTO DIAS:Tel.: (91) 3084-3000 horário 16h às 19hs

espécie de monstros com características humanas. A parte humana era mais racional, com capacidade de reetir. Eles representavam conitos típicos dos seres humanos: Razão, Emoção e Violência. Aparecem em vários mitos e lendas.

OS CENTAUROS


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