Jornal Medicina - Ed. 212

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ANO XXVII • Nº 212• SETEMBRO/2012

18 de outubro

No Dia do Médico, temos motivos para comemorar Além do reconhecimento ppela ela sociedade sociedade, categoria contribui para o fortalecimento da assistência e aperfeiçoamento ético e técnico do exercício profissional. Págs. 6 e 7

Tensão com planos de saúde gera novo protesto nacional. Pág. 5 Recursos para a Saúde

Terminalidade da vida

Cai número de leitos

CNBB e CFM vão trabalhar juntos

Vontade dos pacientes será respeitada

Quase 42 mil foram desativados no SUS

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EDITORIAL

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Outubro cinzento

Não estimular o diálogo e tentar cercear o direito dos médicos de protestar com medidas desproporcionais sinaliza outro vício de origem: o de favorecimento dos empresários

Nuvens de preocupação pairam sobre o Conselho Federal de Medicina (CFM) e, por extensão, sobre toda a nossa categoria. Os motivos são velhos conhecidos: de um lado, a falta de políticas públicas que sucateiam a rede pública de assistência; de outro, o descaso das autoridades e dos empresários com a situação de desequilíbrio estabelecida entre as operadoras de planos de saúde com respeito aos pacientes e aos prestadores de serviços médicos. Ambos os temas são abordados nesta edição do jornal Medicina. O levantamento realizado e divulgado pelo CFM a partir de informações do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Ensino (CNES) mostra a forte tendência de desativação de leitos no país: ao longo de sete anos, 42 mil deixaram de atender a população. Na avaliação do Conselho Federal, este movimento penaliza o paciente e também os profissionais, que restam de mãos atadas ante a crescente demanda. O governo insiste que este movimento acompanha uma tendência mun-

dial de foco na assistência preventiva e na promoção da saúde. Não somos contrários a isso, desde que o Estado assegure o pleno funcionamento da rede de atenção básica – o que não ocorre no país, salvo em raras e honrosas exceções. No fim das contas, os pacientes e os médicos, além de outros profissionais, pagam seus pecados no limbo dos hospitais superlotados. Outro assunto de destaque nesta edição é o informe repassado pelas entidades médicas regionais sobre novo protesto dos médicos contra os abusos praticados pelas operadoras de planos de saúde. Será o quarto em menos de 24 meses. Ou seja, urge uma resposta efetiva dos poderes constituídos à forma como as empresas se comportam: com foco prioritário ao cubo no lucro, sem considerar as necessidades de quem os contrata e nem dos que para eles prestam serviços na forma de atendimento médico. O silêncio diante deste caos não é bom: pode ser entendido como omissão ou, pior, como consentimento. Não estimular o diálogo e tentar cercear

o direito dos médicos de protestar com medidas desproporcionais sinaliza outro vício de origem: o de favorecimento dos empresários. Esperamos uma solução para este impasse que, a cada ano, toma proporções maiores, do tamanho dos 48 milhões de usuários dos planos. Mas nem tudo é tensão e nuvens carregadas. Nesta edição, também apresentamos nossa homenagem ao médico brasileiro, tão cansado de suas lutas, mas que ainda conta com a confiança da sociedade. Este é nosso maior patrimônio, que deve ser protegido com zelo e carinho. Este é também o maior pagamento pelo desvelo diário dos cerca de 371 mil médicos espalhados de Norte a Sul, em consultórios, ambulatórios, hospitais, prontos-socorros e residências. Por tudo o que têm feito, fazemos coro: obrigado, doutores!

Desiré Carlos Callegari Diretor executivo do jornal Medicina

Cartas*

Publicação oficial do Conselho Federal de Medicina SGAS 915, Lote 72, Brasília-DF, CEP 70 390-150 Telefone: (61) 3445 5900 • Fax: (61) 3346 0231 http://www.portalmedico.org.br imprensa@portalmedico.org.br

Diretoria Presidente: 1º vice-presidente: 2º vice-presidente: 3º vice-presidente: Secretário-geral: 1º secretário: 2º secretário: Tesoureiro: 2º tesoureiro: Corregedor: Vice-corregedor:

Roberto Luiz d’ Avila Carlos Vital Tavares Corrêa Lima Aloísio Tibiriçá Miranda Emmanuel Fortes Silveira Cavalcanti Henrique Batista e Silva Desiré Carlos Callegari Gerson Zafalon Martins José Hiran da Silva Gallo Frederico Henrique de Melo José Fernando Maia Vinagre José Albertino Souza

Conselheiros titulares Abdon José Murad Neto (Maranhão), Aloísio Tibiriçá Abdon NetoAntônio (Maranhão), Alceu José MirandaJosé (Rio Murad de Janeiro), Gonçalves Pinheiro Peixoto (Alagoas), (Pará), Pimentel Cacilda Pedrosa deAldemir OliveiraHumberto (Goiás), Soares Carlos (AMB), Aloísio Tibiriçá Miranda (Rio de Janeiro), Vital Tavares Corrêa Lima (Pernambuco), Celso Murad Cacilda de Oliveira (Goiás), (EspíritoPedrosa Santo), Cláudio Balduíno Souto Carlos FranzenVital (Rio Tavares Corrêa (Pernambuco), Celso Murad Grande do Sul), Lima Dalvélio de Paiva Madruga (Paraíba), (Espírito Santo), Cláudio Balduíno Souto Franzen Desiré Carlos Callegari (São Paulo), Edevard José(Rio de Grande do Sul), Emmanuel Dalvélio de Paiva Araújo (AMB), FortesMadruga Silveira (Paraíba), Cavalcanti Desiré Carlos Callegari (São Paulo), Gerson Zafalon (Alagoas), Frederico Henrique de Melo (Tocantins), Martins Henrique Batista eHenrique Silva (Sergipe), Gerson (Paraná), Zafalon Martins (Paraná), Batista Hermann Alexandre Vivacqua Von Vivacqua Tiesenhausen e Silva (Sergipe), Hermann Alexandre Von (Minas Gerais), Jecé Freitas (Bahia), José Tiesenhausen (Minas Gerais),Brandão Jecé Freitas Brandão Albertino Souza (Ceará), José Antonio Ribeiro Filho (Bahia), José Albertino Souza (Ceará), José Antonio (Distrito Federal), JoséFederal), FernandoJosé MaiaFernando Vinagre (Mato Ribeiro Filho (Distrito Maia Grosso), José Hiran da Silva (Rondônia), Júlio Vinagre (Mato Grosso), JoséGallo Hiran da Silva Gallo Rufi no Torres Júlio (Amazonas), Luiz Nogueira Filho (Rondônia), Rufino T orresNódgi (Amazonas), Luiz (Piauí), Maria das Graças Creão (Amapá), Nódgi Nogueira Filho (Piauí), MariaSalgado das Graças Creão Mauro Luiz de Britto Ribeiro (Mato Grosso do Salgado (Amapá), Mauro Luiz de Britto Ribeiro (Mato Sul), Paulo Ernesto Coelho de Oliveira Grosso do Sul), Paulo Ernesto Coelho (Roraima), de Oliveira Pedro Eduardo Nader Ferreira (Tocantins), Renato (Roraima), Renato Moreira Fonseca (Acre), Roberto Moreira Fonseca (Acre), Roberto Luiz d’ Avila Luiz d’ Avila (Santa Catarina), Rubens dos (Santa Santos Catarina), Rubensdodos Santos Silva (Rio Grande do Silva (Rio Grande Norte) Norte), Waldir Araújo Cardoso (Pará).

Conselheiros suplentes Ademar Carlos Augusto (Amazonas), Alberto Carvalho de Almeida (Mato Grosso), Aldair Novato Silva (Goiás), Alexandre de Menezes Rodrigues (Minas Gerais), Ana Maria Vieira Rizzo (Mato Grosso do Sul), Antônio Celso Koehler Ayub (Rio Grande do Sul), Antônio de Pádua Silva Sousa (Maranhão), Ceuci de Lima Xavier Nunes (Bahia), Dílson Ferreira da Silva (Amapá), Elias Fernando Miziara (Distrito Federal), Glória Tereza Lima Barreto Lopes (Sergipe), Jailson Luiz Tótola (Espírito Santo), Jeancarlo Fernandes Cavalcante (Rio Grande do Norte), Lisete Rosa e Silva Benzoni (Paraná), Lúcio Flávio Gonzaga Silva (Ceará), Luiz Carlos Beyruth Borges (Acre), Makhoul Moussallem (Rio de Janeiro), Manuel Lopes Lamego (Rondônia), Marta Rinaldi Muller (Santa Catarina), Mauro Shosuka Asato (Roraima), Norberto José da Silva Neto (Paraíba), Renato Françoso Filho (São Paulo), Wilton Mendes da Silva (Piauí)

Comentários podem ser enviados para imprensa@portalmedico.org.br Conselho editorial

O Brasil precisa de maior número de médicos em municípios de menor população, e da criação da carreira de Estado de médico nos moldes do Ministério Público e do Poder Judiciário. Sim, este deve ser nosso foco. Assim, teremos médicos que dediquem 40 horas semanais em condições dignas e necessárias ao bom exercício da Medicina, como infraestrutura, equipe de apoio e acesso a exames. Essa garantia deve vir dos gestores, que precisam ter responsabilidade com o brasileiro. Magnolia Rocha CRM-RR 148 magadoni@uol.com.br Apresentam-se projetos/propostas relevantes; porém, os planos/convênios continuam dominando a Medicina brasileira. Os atendimentos pelo SUS e a extrema insuficiência dos atendimentos em serviços públicos de saúde só tendem a piorar. A minha grande decepção é que, apesar das bem intencionadas “soluções”, encontram-se sempre em tramitação no Congresso Nacional. Acredito que posturas mais

determinadas e “levadas a cabo” de verdade possam determinar soluções definitivas. Não devemos ceder ou contemporizar. Marcelo Fernandes Rangel CRM-PB 1665 marcelofrangel@gmail.com É preciso lutar pela valorização dos médicos que atuam em emergência. Entre outros pontos, eles aguardam por melhores condições de trabalho, mais investimento na saúde e estímulo para continuarem a se especializar. Eu sou um exemplo dessa dificuldade: trabalho no interior do Tocantins e quero fazer estágio em anestesiologia e obstetrícia, mas não consigo por conta da carga horária e pela falta de médicos interessados em trabalhar no interior. Ricardo Maciel Catuladeira Miranda CRM-TO 1794 drmacielcatuladeira@hotmail.com CFM Responde: Situações assim mostram a importância da carreira de Estado para o médico do

SUS: somente com ela, o médico que atua em área distante contará com estímulo para prosseguir sua jornada e as prefeituras conseguirão atrair e fixar profissionais. Nunca pensei em ser médica. Meu sonho era ser cientista e inventar coisas mirabolantes. Cheguei a cursar Engenharia Química, mas no meio do caminho passei no vestibular de Medicina. Achei que essa profissão tinha mais a ver com meu espírito idealista e livre. E agora? Já inventaram tudo, e estou aqui vendo uma profissão autônoma ser escravizada. E o pior de tudo: vendo o povo brasileiro morrer desassistido. Maria do Socorro Mendonça de Campos CRM-BA 7509 camposmsm@gmail.com CFM Responde: Escolhas como a sua ajudaram milhares a ter vida e saúde. Neste momento, precisamos unir nossas forças para buscar a valorização da Medicina e uma assistência de qualidade para o cidadão.

* Por motivo de espaço, as mensagens poderão ser editadas sem prejuízo de seu conteúdo

Abdon José Murad Neto, Aloísio Tibiriçá Miranda, Cacilda Pedrosa de Oliveira, Desiré Carlos Callegari, Henrique Batista e Silva, Mauro Luiz de Britto Ribeiro, Paulo Ernesto Coelho de Oliveira, Roberto Luiz d’Avila Diretor-executivo: Editor: Editora-executiva: Redação:

Copidesque e revisor: Secretária: Apoio: Fotos: Impressão:

Desiré Carlos Callegari Paulo Henrique de Souza Vevila Junqueira Ana Isabel de Aquino Corrêa Nathália Siqueira Thiago de Sousa Brandão Napoleão Marcos de Aquino Amanda Ferreira Amilton Itacaramby Márcio Arruda - MTb 530/04/58/DF Esdeva Indústria Gráfica S.A.

Projeto gráfico e diagramação: Mares Design & Comunicação Tiragem desta edição: 350.000 exemplares Jornalista responsável: Paulo Henrique de Souza RP GO-0008609

Mudanças de endereço devem ser comunicadas diretamente ao CFM pelo e-mail cfm@portalmedico.org.br Os artigos e os comentários assinados são de inteira responsabilidade dos autores, não representando, necessariamente, a opinião do CFM


POLÍTICA E SAÚDE

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II Congresso de Políticas Médicas

Avaliação dos egressos em debate Antes de definir o formato, os conselhos querem aprofundar a discussão e ouvir representantes de outras profissões

Avaliação: conselheiros analisam propostas para avaliar os futuros médicos

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avaliação dos egressos dos cursos de medicina foi um dos principais temas do II Congresso Brasileiro de Políticas Médicas, que aconteceu de 12 a 14 de setembro, no Rio de Janeiro (RJ), e contou com a presença de 180 representantes do Conselho Federal de Medicina (CFM) e dos 27 CRMs. Para o presidente do CFM, Roberto Luiz d’Avila, processos desse tipo podem contribuir para a qualificação do ensino médico e para trazer mais segurança aos pacientes. Contudo, em sua avaliação, ainda é preciso avançar nos debates para a definição do formato ideal e do momento de sua implementação. Durante o fórum, or-

ganizado pelo CFM em parceria com o Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj), houve o entendimento de que a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) poderá contribuir para as discussões, partilhando a experiência com seu tradicional Exame de Ordem. A implantação no Brasil do chamado teste de progresso, baseado na aplicação de exames ao longo do curso com foco no estudante, no corpo docente e na estrutura das escolas, também é outra possibilidade em discussão no âmbito dos conselhos. Futuro da saúde – Os rumos da saúde pública também ocuparam

espaço importante nas discussões. A professora Ligia Bahia, conferencista convidada, abordou os problemas do subfinanciamento da saúde, dos leitos indisponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS) e do deficit da tabela de remuneração da saúde suplementar. Para ela, a alegada falta de médicos no Brasil não existe de forma absoluta, como tem sido defendido por setores do governo, mas de forma específica: em determinadas regiões, no setor público e em algumas áreas de atuação e especialidades. Segundo a presidente do Cremerj, Márcia Rosa de Araújo, o II Congresso foi um momento enriquecedor para a medicina ao estabelecer parâmetros importantes para o desenvolvimento de ações dos conselhos e outras entidades pela defesa da saúde e valorização do médico. “As pesquisas mostram que a maior preocupação da população é a saúde, o que nos traz maior responsabilidade”, alertou, ao relembrar a importância do tema para a sociedade.

Temas polêmicos em discussão O encontro no Rio de Janeiro foi rico em abordagens sobre aspectos polêmicos da saúde e da medicina. Entre os tópicos, análises sobre o aborto e a reprodução assistida. Os conselhos apontaram a necessidade de se posicionarem sobre esses temas, oferecendo nortes definitivos para a sociedade. O ex-ministro da Saúde, José Gomes Temporão, afirmou que o aborto e suas consequências assumem peso de um problema de saúde pública. Para ele, as

discussões devem abranger o acesso a métodos contraceptivos e de planejamento familiar, além da assistência em caso de interrupção da gravidez. No entendimento do 1º vice-presidente do CFM, Carlos Vital, não apenas como problema de saúde pública, o aborto também envolve questões legais e éticas relacionadas à autonomia e aos direitos individuais. Ele defende que todos esses aspectos sejam vistos em função de limites e critérios claros, de forma a con-

templar a maior amplitude em sua descriminalização. Com relação ao uso de técnicas de reprodução assistida, os participantes concluíram que as regras definidas em resolução do CFM devem ser analisadas e passar por nova revisão para aperfeiçoamento. “A medicina é uma ciência magnânima, mas limitada e de verdades efêmeras. Temos em seu exercício a oportunidade de fazer um mundo melhor para as gerações presentes e futuras”, aponta Vital.

JORNAL MEDICINA - SET/2012

PALAVRA DO PRESIDENTE Roberto Luiz d’Avila

Neste outubro médico, volto os olhos para o futuro. Do passado levo as lições hipocráticas recebidas dos vários mestres que ajudaram a moldar minha trajetória. Não renego os percalços e dificuldades. Aprendi com eles. Afinal, somos todos feitos assim: dessa equação ilógica que soma tempestades às calmarias, multiplica sonhos bons em detrimento dos ruins, eleva à enésima potência nossos projetos concretizados com suor. A medicina é uma paixão, é entrega. Surge como vocação orientada pela solidariedade e compromisso com a equidade, a justiça e a ética. Nestes tempos sombrios, de um século que dá seus primeiros passos, cabe aos médicos arrebatados por esse ofício exercê-lo sem se curvar às pressões e à indiferença. O desafio é defender a fé naquilo que nos move: a busca do diagnóstico, a oferta do tratamento e a promessa de consolo a quem está fragilizado pela doença. Em tempos de crise, devemos ser médicos. Não somos mercadores da saúde, garotos propaganda ou vassalos de quem quer que seja. Somos homens e mulheres preparados para salvar vidas. Não se comportar à altura de tão importante missão significa pactuar com a mediocridade de interesses outros, que se postam quilômetros distante de onde estamos. Acompanhamos atentamente – e com preocupação – o comportamento errático de setores diretamente ligados ao trabalho médico. O momento é de tensão. Gestores públicos anunciam medidas sem se preocupar com consequências para a qualidade da medicina praticada no país. Ignoram as necessidades de pacientes e profissionais. O lucro político fala mais alto que a responsabilidade técnica e ética. Na saúde suplementar, as operadoras de planos de saúde querem ganhar mais e mais, sem cumprir as promessas feitas aos 48 milhões de clientes do sistema suplementar e nem valorizar os quase 200 mil médicos que lhes prestam serviços, sem os quais não existiriam. Eles deturparam seu papel e transformaram o bem-estar em produto à venda. O pior é que nem comerciantes confiáveis são, daqueles a quem estendemos as mãos de olhos fechados. Para eles, a vida é menos importante que percentuais e taxas de risco. Colegas, neste outubro vamos mirar no que nos espera. Somos muitos e contamos com o respeito e credibilidade da sociedade. A população espera uma reação da categoria ante essas pressões, pois sabe que nossa luta implica em melhores condições de assistência onde quer que seja. O brasileiro, atendido pelo Sistema Único de Saúde (SUS) ou dono de uma carteirinha de convênio, sabe que o esforço dos médicos para mudar essa realidade trará, finalmente, o atendimento que espera. As bandeiras devem se manter no alto. Nada de esmorecer. Continuaremos a exigir um ensino médico de qualidade, o aumento dos investimentos públicos em saúde, a melhoria das condições de trabalho, a criação da carreira de médico no SUS, um basta aos abusos praticados por planos de saúde e a valorização da medicina como atividade profissional. Uniremos nossas vozes em um grito único, forte, poderoso e capaz de mover montanhas. O futuro nos chama. Para lá devemos ir. Os médicos – estou convicto – estão prontos para mais essa batalha em defesa da medicina, da sociedade e do paciente.


Mais recursos para a saúde

CNBB apoiará CFM em abaixo-assinado

Vevila Junqueira

Dioceses de todo o país podem participar da coleta de assinaturas para Projeto de Lei de Iniciativa Popular

Compromisso humanitário: Callegari agradeceu apoio da CNBB

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Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) declarou apoio ao Movimento Nacional em Defesa da Saúde Pública, pelo Projeto de Lei de Iniciativa Popular sobre o repasse de 10% das receitas correntes brutas da União para a saúde pública brasileira. Durante reunião na sede da CNBB, em Brasília (DF), o secretário-geral Dom Frei Leonardo Ulrich Steiner afirmou que as dioceses do Brasil – mais de 270 – podem participar da mobilização pela coleta de assinaturas do abaixo-assinado em prol do projeto.

Em nome do Conselho Federal de Medicina (CFM), Desiré Callegari, 1º secretário, ressaltou que o apoio é fundamental, bem como a participação da CNBB na discussão de temas que envolvem ética, bioética e compromisso humanitário. Discussões – A Resolução CFM 1.995/12, que estabelece os critérios para que os pacientes possam definir com o seu médico os limites terapêuticos que desejam na fase terminal (saiba mais na pág. 9), também foi tema do encontro. Callegari entregou a Steiner docu-

mento no qual o CFM esclarece os principais pontos da chamada diretiva antecipada de vontade. Para ambos, a sociedade precisa estar esclarecida sobre a diferença entre a eutanásia, que é crime e considerada antiética na prática da medicina, e a ortotanásia. “A eutanásia é um ato criminoso que deve ser combatido e punido. A ortotanásia, por sua vez, é a morte natural. É evitar a adoção de medidas desproporcionais que prolongam o sofrimento do doente em estado terminal, sem trazer benefícios. A resolução possibilita que essas medidas possam ser antecipadamente rejeitadas pelo paciente”, explicou Callegari. Para aprofundar os debates, o CFM convidou o presidente da CNBB, Dom Raymundo Damasceno Assis, para comparecer a uma plenária da entidade.

Iniciativa ressurge no Senado Apontado como uma iniciativa que soma esforços ao pleito por 10% dos recursos da União para a saúde, o Projeto de Lei do Senado (PLS) 156/07 foi aprovado pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE). O PLS integra um conjunto de iniciativas – como o Projeto de Lei de Iniciativa Popular (veja acima) – que surgiram desde que a regulamentação da Emenda Constitucional 29, sancionada em 13 de janeiro, em essência manteve as regras quanto aos percentuais de receitas vinculadas para o setor, contrariando a expectativa das entidades médicas e da sociedade de um maior financiamento,

estável e previsível, da saúde pública. O texto do PLS obriga a União a elevar, no prazo de quatro anos, os gastos com saúde pública até atingir o percentual mínimo. A matéria aguarda designação do relator na Comissão de Assuntos Sociais (CAS) e passará ainda pelo plenário do Senado e pela Câmara dos Deputados. As entidades médicas apostam no Projeto de Lei de Iniciativa Popular, mas acompanham a tramitação do PLS, por tratar de matéria relevante para o financiamento da saúde. Para o conselheiro federal Aloísio Tibiriçá, coordenador da Comissão Nacional Pró-SUS, o baixo

gasto público em saúde no país é um problema crônico que está se agudizando: “É fundamental a participação e o comprometimento da união, por meio da aplicação de seus recursos, para garantirmos uma política eficaz de presença do Estado”, avalia. Para o conselheiro federal Alceu Pimentel, coordenador da Comissão de Assuntos Políticos (CAP), o texto acolhido representa um passo importante, mas alerta: “Essa é uma vitória parcial, o PLS foi aprovado em uma comissão e é preciso que a sociedade, as entidades e os médicos continuem mobilizados e atentos à sua tramitação”.

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DIÁLOGO PARLAMENTAR Deputado federal João Ananias O Projeto de Lei de Iniciativa Popular tem sido recebido de maneira positiva no Congresso Nacional. Diversos deputados apresentaram discursos favoráveis à matéria. É o caso do deputado João Ananias (PCdoB-CE), que afirmou não ver outra maneira se não a de transferir as expectativas à iniciativa popular. Ao jornal Medicina, o deputado conversou sobre os problemas do setor. Para o senhor, o que trava o crescimento do SUS? O SUS cresceu demais em apenas 20 anos. Estamos invertendo o modelo de atenção à saúde, saindo do hospitalocêntrico, que prevaleceu por muito tempo, para um modelo que prioriza a Atenção Básica. Houve a descentralização, com o PSF para todos os municípios brasileiros, o que impactou positivamente na melhoria substancial nos indicadores de saúde, desde sua criação. Acho, portanto, que o problema não é qualquer trava ao seu crescimento. Temos graves e crônicas dificuldades no financiamento, que estabelecem uma desregulação imensa entre demanda e oferta de serviços, comprometendo, em parte, nossos célebres princípios norteadores: universalidade, equidade e integralidade. As entidades médicas apontam como problemas no SUS a falta de financiamento, recursos humanos e gestão. A avaliação está correta? Concordo, enfatizando o subfinanciamento, já que a carência de recursos humanos, que é real e grave, também resulta disso. Em relação ao Ceará, quanto à gestão, que muitos exaltam como o mais grave problema, eu discordo peremptoriamente. Os avanços que tivemos em vinte e poucos anos por si só derrubam por terra essa injusta rotulação, que é utilizada para não aportar mais recursos públicos na saúde. Em sua opinião, como os profissionais podem ser inseridos em regiões longínquas? Foi criado um estigma negativo em relação à Atenção Primária, ao PSF, se levarmos em conta a formação médica, mais voltada para outras especialidades, e a pouca oferta e procura de residência médica em Saúde da Família e Comunidade. Um exemplo, para contrastar, é o Canadá, que tem 52% de seus médicos especialistas em Saúde da Família e Comunidade. Juntando-se a isso as baixas remunerações do PSF e a precarização do vínculo de trabalho, gerando insegurança quanto à permanência, além das condições de trabalho difíceis nos locais mais distantes, principalmente tratando-se de municípios pequenos, são fatores decisivos na dificuldade de manter profissionais médicos nessas áreas. O senhor tem feito pronunciamentos em favor do Projeto de Lei de Iniciativa Popular que garantiria mais recursos para o setor. Qual a importância do tema para o Congresso Nacional? Um projeto como esse tem muito mais força que outro qualquer. No momento, não vejo outra alternativa para que se garanta mais dinheiro para minimizar a crise. Não podemos continuar a gastar apenas 3,8% do PIB com a Saúde, como temos hoje. Transferimos nossas expectativas para o Projeto de Lei de Iniciativa Popular.

Alexandra Martins / Agência Câmara.

POLÍTICA E SAÚDE

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Movimento contra planos de saúde

Médicos fazem protesto em outubro E

ntre os dias 10 e 25 de outubro, os médicos de todo o país participarão de protesto nacional contra os abusos cometidos pelos planos e seguros de saúde. A organização do movimento, que pode incluir a suspensão do atendimento por tempo determinado, está sendo coordenada pelas entidades regionais, com apoio institucional do Conselho Federal de Medicina (CFM), Associação Médica Brasileira (AMB) e Federação Nacional dos Médicos (Fenam). Além de reivindicarem remuneração justa e regras claras de reajuste e de periodicidade nos contratos com as operadoras, os médicos pedem o fim da interferência antiética

das empresas na relação médico-paciente. Para marcar o início do protesto em nível nacional, os profissionais realizarão atos públicos (assembleias, caminhadas, concentrações etc.) nos estados em 10 de outubro. A partir de então, a categoria pode suspender consultas e outros procedimentos por meio de guias dos planos de saúde, de acordo com deliberação das assembleias coordenadas pelas comissões estaduais de honorários médicos. Os pacientes serão previamente informados da suspensão do atendimento pelos convênios, podendo ter suas consultas e procedimentos eletivos reagendados. Os casos

Parabólica Preenchimento da CID– Em processo do Ministério Público Federal (MPF) contra dez operadoras de saúde e a Agência Nacional de Saúde (ANS), o Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF 2) considerou abusiva a exigência do preenchimento da CID (Classificação Internacional de Doenças) em guias para exames e honorários médicos. Em acórdão, o TRF 2 negou recurso de operadoras que queriam manter essa condição antes apoiada pela ANS. Para o MPF, não é razoável negar um direito garantido por lei (o sigilo) sob o fundamento de coibir fraudes. “A exigência [do CID] expunha a privacidade do paciente. Ninguém quer que nos pedidos de exames conste o nome da doença da qual a pessoa sofre. Isso é absurdo”, destacou a presidente do Cremerj, Márcia Rosa de Araújo. PL 6.964/10 - Após ter sido aprovado por unanimidade na Comissão de Seguridade Social e Família (CSSF) da Câmara dos Deputados, o PL 6.964/10 segue para a Comissão de Constituição de Justiça. No dia 2 de agosto, o deputado Fábio Trad (PMDBMS) foi designado novo relator. O PL torna obrigatória a existência de contratos escritos entre as operadoras de planos de saúde e os profissionais ou os estabelecimentos de saúde. O texto aprovado na CSSF prevê a periodicidade anual para reajuste dos valores dos serviços prestados. Articulação política - Membros do CFM e Associação Médica Brasileira (AMB) reuniram-se, no dia 19 de setembro, com o deputado Sebastião Bala Rocha (PDT-AP), presidente da Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público da Câmara dos Deputados. Na pauta, projetos de interesse da categoria médica que tramitam naquela comissão.

de urgência e emergência não serão prejudicados. As autoridades do setor também serão notificadas sobre a mobilização. “O movimento médico brasileiro tem buscado incessantemente o diálogo com as empresas da área de saúde suplementar. E este ato se insere num contexto de insatisfação crescente de pacientes e profissionais”, afirma Aloísio Tibiriçá, 2º vice-presidente do CFM e coordenador da Comissão Nacional de Saúde Suplementar (Comsu). Desequilíbrio – Com o atendimento das reivindicações, os profissionais da medicina acreditam ser possível dar equilíbrio à relação das operadoras de

Osmar Bustos

Contra abusos praticados pelas operadoras, entidades informam que mobilização começará dia 10, em todo o país

Em SP: a exemplo do que ocorrerá no país, categoria mostrou insatisfação

planos com profissionais e pacientes. Consecutivos reajustes autorizados pela Agência Nacional de Saúde (ANS) acima do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) consolidam o cenário criticado pelas entidades médicas, no qual onera-se o usuário e os honorários médicos continuam defasados. Em nove anos (de 2003 a 2011) os planos mé-

dico-hospitalares tiveram 197,8% de crescimento no faturamento em todo o país. No período, a receita anual deste mercado passou de R$ 28 bilhões para R$ 83,4 bilhões. Por sua vez, o valor médio da consulta médica, no mesmo período, subiu apenas 64,7%. Em 2012 as entidades têm registros de planos que ainda pagam menos de R$ 30 a consulta.

Bandeiras do movimento • Reajuste dos honorários de consultas e outros procedimentos, tendo como referência a Classificação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos (CBHPM) • Inserção, nos contratos, de critério de reajuste com índices definidos e periodicidade • Inserção de critérios de credenciamento e descredenciamento • Fim da intervenção antiética na autonomia da relação médico-paciente Saiba mais sobre os planos de saúde • 48 milhões é o número de usuários de planos no Brasil • 170 mil médicos atuam na saúde suplementar • Planos de saúde realizam, anualmente, 223 milhões de consultas e 4,8 milhões de internações • 92% dos médicos afirmam que sofreram pressão ou interferência das operadoras em sua autonomia profissional

Atendimento interrompido em SP Cerca de 70% dos médicos do Estado de São Paulo aderiram à paralisação do dia 6 de setembro, encampada pela Associação Paulista de Medicina (APM), Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp), sindicatos locais, Academia de Medicina e sociedades de especialidades médicas. Durante todo o dia, os médicos suspenderam o atendimento eletivo aos planos e seguros-saúde, em protesto contra as práticas abusivas das empresas. Entre mobilizações nacionais e estaduais, esta foi a quarta nos últimos dois anos. O presidente da

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APM, Florisval Meinão, afirmou que este foi mais um alerta para que os planos apresentem propostas mais consistentes: “É a oportunidade de dar visibilidade a um problema que existe e explicar o que está se passando com o atendimento nos planos”. Em todo o estado, o protesto atingiu as consultas em clínicas e as cirurgias eletivas – os profissionais que trabalham nos hospitais ficaram de fora. “É um instrumento de pressão sobre as empresas do setor para buscar soluções. No passado, os planos diziam que cobravam caro porque pagavam

um valor alto aos médicos, mas hoje as pessoas sabem que o médico é mal remunerado”, afirma Meinão. Na véspera da paralisação do atendimento, as lideranças médicas trajadas de verde e amarelo em plena Semana da Pátria realizaram um ato de cidadania em passeata da sede da APM até a câmara municipal. Remuneração – Segundo a APM, os valores pagos por consulta pelos planos estão entre R$ 25 e R$ 60. A classe médica exige pagamento mínimo de R$ 80, procedimentos remunerados conforme a CBHPM e inclusão de índice de reajuste nos contratos.


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PLENÁRIO E COMISSÕES

18 de outubro

Balanço confirma êxito dos médicos Os médicos têm razões, sim, para celebrar o seu dia (18 de outubro). Nos últimos anos, a categoria mostrou força com grandes mobilizações em todo o país. Unidos, buscam melhorias nas condições de trabalho, financiamento adequado para o setor e qualificação da assistência. São reconhecidos pela forma inovadora como se dedicam à análise de temas complexos, dando parâmetros importantes para todos. Nestas duas páginas, relembramos parte dessa trajetória de avanços e conquistas, ainda longe do fim

Profissão caracterizada pela credibilidade

Confiança: os brasileiros têm avaliação positiva do atendimento no país

As pesquisas dos últimos anos revelam a credibilidade da categoria. A maioria dos brasileiros avalia o atendimento do último médico visitado como excelente ou muito bom (57%). Na rede pública de assistência, 50% dos pacientes con-

sideraram o atendimento excelente ou muito bom. No grupo dos que consultam médicos credenciados a planos de saúde, 70% sustentam essa avaliação. Quando o atendimento é particular, o índice sobe para 73%. Estes são os núme-

ros indicados no relatório final de pesquisa realizada no Brasil pelo Ibope Inteligência entre agosto e setembro de 2011, em parceria com a Worldwide Independent Network Research (WIN). Sobre a confiança, o médico está na terceira profissão com mais credibilidade no mundo (84%), atrás apenas dos bombeiros e carteiros – dados coletados de pesquisa realizada pelo instituto alemão GFK em 19 países. No Brasil, os médicos apontaram uma média ainda melhor: 87% dos brasileiros dizem confiar no seu médico.

Ofício: curar doenças e salvar vidas são as missões do médico

Contribuições para todos Atentos aos anseios da sociedade, inclusive preenchendo lacunas do Judiciário e do Legislativo, os médicos têm dado respostas importantes para diversas demandas – caso da reprodução assistida, por exemplo. Muito aclamada, a categoria definiu critérios relevantes para possibilitar a gravidez de mulheres com problemas de fertilização e está atenta a problemas sociais como o uso do crack, o desaparecimento de crianças e a discriminação de portadores de deficiências.

Outro exemplo é que o CFM também publicou a Resolução CFM 1.995/12, estabelecendo as diretivas antecipadas de vontade como conjunto de desejos manifestados pelos pacientes. O novo instrumento determina que a vontade do paciente em estágio terminal deve ser conhecida, registrada e respeitada por seu médico (leia mais na pág. 9). Na cirurgia plástica, os protocolos de tratamentos a queimados também foram pontos de trabalho nos últimos anos.

Campanha exige melhor assistência

Valorização: conselhos alertam para a necessidade de mudanças no SUS

Chamar a atenção da sociedade, em especial dos gestores e dos tomadores de decisão, para a importância de valorizar a medicina e a assistência em saúde no Brasil. Este é o mote da campanha preparada pelo CFM e pelos conselhos regionais

para marcar o mês de outubro, no qual se comemora o Dia do Médico. A iniciativa é mais uma etapa na luta em busca de maior reconhecimento para o trabalho realizado por cerca de 380 mil profissionais em todo o país. A campanha deste

ano inclui a instalação de peças publicitárias em aeroportos, ônibus urbanos e outdoors. Também estão previstas inserções em emissoras de rádio e TV com spots e vídeos especialmente produzidos sobre o tema. A veiculação ocorrerá durante todo o mês de outubro. Mas a ação dos médicos não ficará restrita à publicidade. Ao longo do mês, os líderes da categoria em nível federal e nos estados conduzirão ações que pretendem colocar a valorização da medicina e da saúde no foco das atenções. No tocante à qualidade da assistência as entidades chamarão atenção por meio da imprensa. JORNAL MEDICINA - SET/2012

Lacunas: plenário do CFM normatiza temas complexos

CRMs planejam atividades para a data Em comemoração ao Dia do Médico estão previstas diversas atividades nos estados. Vários organizarão confraternizações, bailes, homenagens e entregas de prêmios para a categoria. Alguns CRMs apostam na realização de audiências públicas, com a participação de autoridades locais, para que os tomadores de decisões sejam envolvidos nos debates. Outros organizarão assembleias e atos públicos, nos quais os próprios médicos serão os protagonistas, denunciando obstáculos enfrentados no dia a dia.


PLENÁRIO E COMISSÕES

7

18 de outubro

Categoria reafirma compromisso social

Mobilização: unidos, médicos cobram aperfeiçoamento da assistência

“No Dia do Médico reafirmamos nosso compromisso com a sociedade que nos acolhe: lutar pela qualidade da atenção à saúde”, aponta Roberto Luiz d’Avila, presidente do CFM. A participação da categoria médica foi especialmente expressiva no debate junto à sociedade e ao poder constituinte no cenário de elaboração da Constituição Federal de 1988. A criação e o estabelecimento do SUS foi o ápice de uma luta para a conquista, pelo povo bra-

sileiro, de um sistema que encerra os princípios da universalidade, equidade e integralidade. Ainda são muitos, porém, os problemas e os desafios do setor. Mas os médicos brasileiros seguem tendo papel importante na busca de soluções para tais questões. Entre os maiores entraves, estão a desigual distribuição de profissionais pelo território brasileiro e entre os setores privado e público, além do subfinanciamento do SUS e

sua falta de infraestrutura (leia mais na pág. 10). Médicos de 19 estados foram às ruas em 25 de outubro de 2011 por melhores condições de trabalho no SUS. Este ano, também os médicos federais de todas as regiões do país paralisaram suas atividades para protestar contra a MP 568/12, que diminuía quase pela metade o salário do profissional. Na área da saúde suplementar, os médicos também lutam por regras claras para a fixação de contratos entre as operadoras. A organização do Dia Nacional de Advertência aos Planos de Saúde resulta da mobilização permanente dos médicos que ao longo de 24 meses convocaram quatro grandes protestos: no ano passado, em 7 de abril e em 21 de setembro; em 2012, em 25 de abril, e o previsto para outubro (veja na pág. 5).

Entidades elogiam profissionais O trabalho médico tem o respeito de diferentes segmentos da sociedade. No dia a dia, o exercício da medicina, a postura ética e a dedicação conquistam reconhecimento, expresso por líderes de algumas instituições brasileiras:

Desde os primórdios de sua atividade, os médicos constituem um segmento essencial para o conjunto da sociedade, pela contribuição que oferecem aos seres humanos antes mesmo de seu nascimento, numa dedicação que se estende pela vida afora. Seja na assistência a cada indivíduo, seja nos consultórios e complexos hospitalares ou na pesquisa científica, o médico é fundamental para a proteção da saúde, o prolongamento da vida e a busca da felicidade. Por tudo isso, merece o mais alto apreço das pessoas e dos poderes públicos Maurício Azêvedo – presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI)

“Amar ao próximo como a si mesmo.” Nenhum profissional desempenha com tanto rigor este mandamento como os médicos, a quem confiamos nossas vidas nos momentos mais difíceis. Por isso, assim como o magistrado, o exercício da Medicina deve ser exercido por profissionais capacitados, pois se trata de uma das profissões mais nobres e requisitadas por nossa população. A todos, os cumprimentos e o respeito da magistratura brasileira Nelson Calandra – presidente da Associação Nacional dos Magistrados (ANM)

É impossível pensar numa sociedade sem médicos. Trata-se de ofício nobre, que agrega ciência, técnica e arte. Em nome da indústria nacional, parabenizo os mais de 370 mil médicos brasileiros que, cotidianamente, se dedicam ao atendimento de milhões de pessoas. É preciso garantir a formação adequada desses profissionais e lhes garantir boas condições de trabalho para o relevante desempenho de seu papel social Robson Braga de Andrade, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI)

Saiba mais sobre o perfil e distribuição da população médica no país Quantos somos? Onde estamos? O que fazemos? Identificar o perfil da população médica é efetiva necessidade para o desenvolvimento de estratégias e propostas que beneficiarão a categoria e a sociedade. É também importante para os próprios médicos se reconhecerem enquanto peças-chave para a assistência. Abaixo, alguns indicadores ajudam a encontrar essas respostas.

mil médicos

O número de médicos tem crescido em percentual cinco

vezes maior que o da população

24,46% 41% 59%

Hoje, o Brasil conta com cerca de 371

A presença de médicos nas capitais é duas

75,54%

maior que a média nacional Homens

Pediatras e ginecologistas/obstetras

Mulheres

Outras 51 especialidades

vezes

Norte, Nordeste e Centro-Oeste contam com a metade dos médicos disponíveis no Sul e Sudeste Os usuários do SUS contam com quatro vezes menos médicos que os usuários do setor privado

34,33%

45% 55%

45% dos cursos de Medicina estão no Sudeste

35,67%

Especialistas

(1)

(2)

Generalistas

Generalistas e especialidades básicas

(3)

Das vagas disponíveis, 58,7% são oferecidas por instituições privadas e 41,3% por escolas públicas

Outros especialistas (48 especialidades)

Pesquisa “Demografia médica no Brasil, 2011”/Consulta ao banco de dados do CFM em 21/9/2012. 1 Especialista é o médico que possui título oficial em uma das 53 especialidades médicas reconhecidas no Brasil; 2 Generalista é todo aquele que não possui título formal de especialista; 3 Cirurgia Geral, Clínica Médica, Pediatria, Ginecologia e Obstetrícia, Medicina de Família e Comunidade. JORNAL MEDICINA - SET/2012


PLENÁRIO E COMISSÕES

8

Crise no Rio Grande do Norte

Entidades levarão denúncia à OEA A

situação da saúde no Rio Grande do Norte será denunciada à Organização dos Estados Americanos (OEA) pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e Federação Nacional dos Médicos (Fenam). Em vistoria ao maior hospital público potiguar (Hospital Walfredo Gurgel), uma comissão formada por representantes de entidades nacionais identificou problemas que ferem os princípios da ética e da dignidade humana. Pacientes em macas e sem previsão de atendimento, corredores servindo de quarto de internação, falta de medicamentos e lixo espalha-

do foram alguns dos problemas apurados durante a visita em 18 de agosto. A situação será exposta em relatório, em fase final de elaboração, a ser entregue ao Ministério da Saúde e à OEA. No documento, os conselheiros requisitarão a intervenção federal no sistema público de saúde local, tendo em vista que o próprio governo estadual declarou estado de calamidade pública na saúde há mais de dois meses e o quadro de caos não foi alterado. Após a visita, os representantes federais foram convidados pela governadora Rosalba Ciarlini (DEM-RN) para uma reunião. No encontro,

ela relatou dificuldades financeiras e solicitou que a situação fosse analisada novamente antes que o pedido de intervenção federal seja protocolado. No entanto, para o 2º vice-presidente do CFM, Aloísio Tibiriçá, a intervenção federal na saúde do estado é uma solicitação que, a partir de agora, passará a integrar a pauta das entidades regionais de medicina. “O que encontramos é uma incapacidade local de resolver o problema. O governo municipal está em processo de fechamento das unidades de saúde, de não ter hospitais para dar resposta a essa crise. O governo estadual decretou estado

Sinmed RN

Em vistoria a hospital público potiguar, comissão identificou problemas que ferem princípios da dignidade humana

Encontro: governadora alega dificuldades financeiras e pede nova análise

de calamidade pública na saúde. Então, precisamos que o governo federal faça uma cogestão da resolução dos problemas”. “Já esgotamos todas as medidas administrativas e até jurídicas para resolver a questão. Agora vamos buscar uma solução fora”, afirmou Jeancarlo Fernandes, pre-

sidente do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio Grande do Norte (Cremern). Como parte das ações da comissão, está prevista, em Brasília, uma coletiva com correspondentes estrangeiros para comunicar oficialmente a situação encontrada nos hospitais públicos potiguares.

Urgência e Emergência

Exigência para admissão é inaceitável

CFM aponta falhas na formação de profissionais

Elza Fiúza / ABr

Monitoramento de drogas

Testes toxicológicos: CFM aponta fragilidade e caráter antiético

A solicitação de exames de urina ou sangue para saber se o candidato a uma vaga de emprego faz uso de drogas ilícitas foi considerada eticamente inaceitável pelo plenário do CFM. O assunto é tema do Parecer 26/12, apresentado pelo conselheiro representante de Minas Gerais, Hermann von Tiesenhausen. A opinião baseou-se em princípios do Código Civil, da Constituição Federal e do Código de Ética Médica (CEM). Na Carta Magna, o parecer do conselho aponta o artigo 5º, que diz: “Ninguém

será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei” e que “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas”. Já o CEM, em seu artigo 22, veda ao médico “deixar de obter consentimento do paciente ou de seu representante legal após esclarecê-lo sobre o procedimento a ser realizado, salvo em caso de risco iminente de morte”. O documento aprovado pelo CFM diz ainda que “os exames exigidos pela empresa devem ser aqueles previstos na le-

gislação específica, visando sempre a avaliação da capacidade laborativa do empregado, caracterizando-se discriminatória qualquer exigência que extrapole os requisitos técnicos para a função a ser exercida”. O parecer lembra também “a fragilidade dos testes para substâncias canabinoides, opiáceos e outras que têm seus testes toxicológicos, tanto sanguíneos como urinários, com resultados negativos após a suspensão da droga por cerca de três a trinta dias, o que demonstra cabalmente a fragilidade desses testes toxicológicos”. Quanto à seleção de candidatos para atuação em áreas de risco, tanto públicas quanto privadas, o CFM orienta: “A alternativa é um exame pré-admissional rigoroso, com exame psicológico e testes específicos, além de avaliação psiquiátrica”. Saiba mais consultando a íntegra do documento em http://bit.ly/PzUI72.

JORNAL MEDICINA - SET/2012

Um ambiente caótico, em que muitas vezes os pacientes são atendidos no chão do hospital; falta de preceptores preparados para o ensino; falta de infraestrutura adequada e equipamentos, além de honorários defasados. Este é o diagnóstico dos principais problemas que afetam a formação de especialistas em urgência e emergência no país. O tema foi motivo de debate durante o simpósio Ensino de Urgência e Emergência, realizado em setembro. O evento foi promovido pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), em parceria com a Associação Brasileira de Ensino Médico (Abem) e a Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM). Os debatedores apontaram as deficiências encontradas na formação dessas modalidades de atendimento, como a necessidade de mais hos-

pitais de ensino, em condições adequadas para a atividade didática. O coordenador da Câmara Técnica de Urgência e Emergência do CFM, Mauro Luiz de Britto Ribeiro, considerou relevantes as discussões. Para o conselheiro, um dos nós do ensino nesta área é a curta carga horária reservada à urgência e emergência nas faculdades de medicina: “São apenas, em média, 300 horas, num curso que tem 10 mil horas/aula. É muito pouco”. Segundo ele, outra limitação é a falta de programas de residência específicos. “Não existe a especialidade de emergência. Então, o médico que trabalha em pronto-socorro é o mesmo que faz cirurgia geral, clínica médica, cardiologia, anestesiologia, ou seja, outras especialidades”, alertou, apontando a necessidade também de avançar neste aspecto.


PLENÁRIO E COMISSÕES

9

Terminalidade da vida

Reforçada autonomia do paciente Médicos e sociedade aprovam resolução do CFM que estabelece os limites de tratamento a pacientes terminais

A

Resolução CFM 1.995/12, que estabelece critérios para que pacientes possam definir com o seu médico os limites terapêuticos na fase terminal de vida, foi bem recebida pela comunidade médica e despertou interesse de diversos setores da sociedade. As regras que instituem o chamado testamento vital – já lei

em países como Espanha, Alemanha, Argentina, Estados Unidos e Japão – foram consideradas históricas no Brasil. O pilar da diretriz é o reforço da autonomia do paciente. “Vive-se uma época de respeito à autonomia que modificou a relação médico-paciente. No passado – e estou falando de pouco tempo

CNBB apoia ortotanásia “A morte não é uma doença para a qual devamos achar cura. É necessário que o homem reconheça e aceite a própria realidade e os próprios limites”, defendeu o arcebispo de Aparecida e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Raymundo Damasceno Assis, em entrevista ao jornal Medicina sobre a Resolução CFM 1.995/12, na qual abordou a ortotanásia. Confira: Este termo ‘ortotanásia’ ganhou popularidade na mídia brasileira muito recentemente e muita gente ainda o confunde com ‘eutanásia’. O termo ortotanásia não é utilizado em documentos da Igreja, nem no novo Código de Ética Médica (2010). Nestas questões éticas delicadíssimas em que estamos navegando em cima de ‘um fio de navalha’, é preciso antes de tudo esclarecer os conceitos que estão em jogo, senão acabamos gerando confusão mental e atrapalhando a vida das pessoas. Em nosso país fala-se praticamente de eutanásia, muito pouco de distanásia e quase nada de ortotanásia. Uma discussão frutuosa somente é possível se entendermos, corretamente, o sentido ético exato de cada terminologia utilizada. Entende-se por ortotanásia como a morte no tempo e momento ‘certos’, sem abreviações de um lado (que seria eutanásia) e muito menos intervenções inúteis e fúteis que somente prolongam o processo do morrer (que é a obstinação terapêutica ou distanásia). Entre os dois extremos, deixar a natureza seguir seu curso natural. É a proposta dos cuidados paliativos. O papa Bento XVI, por ocasião do Dia Mundial do Enfermo de 2007, disse que ‘é necessário promover políticas que criem condições em que os seres humanos possam suportar as doenças incuráveis e enfrentar a morte com dignidade’. Neste sentido, enfatiza que é necessário criar centros de cuidados paliativos que proporcionem assistência integral, garantindo aos enfermos ajuda humana e acompanhamento espiritual. A medicina brasileira está de parabéns com este último código ao oficializar a prática de cuidados paliativos frente a situações de terminalidade, evitando-se, assim, a prática da distanásia. No fundo, a ortotanásia é morrer digno e saudável, cercado de solidariedade, amor e carinho, amando e sendo amado. A morte não é uma doença para a qual devamos achar cura. É necessário que o homem reconheça e aceite a própria realidade e os próprios limites. Temos que viver com sabedoria a nossa dimensão de seres mortais e finitos. Para nós, cristãos, estamos nos preparando para a páscoa definitiva, a passagem desta vida para a vida em plenitude, junto de Deus. Acesse http://bit.ly/PfVw1H para conferir a íntegra da entrevista, na qual Dom Raymundo Damasceno Assis também fala acerca da evolução histórica do entendimento da Igreja sobre tratamentos extraordinários e os conflitos entre ciência e religião.

atrás – a relação era um tanto paternalista”, avalia o presidente do CFM, Roberto Luiz d’Avila. Para a presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), Nezilour Lobato Rodrigues, outro papel importante da resolução foi nortear os médicos em seus dilemas éticos relativos à terminalidade. “Muitas vezes temos que usar recursos considerados fúteis e isso para nós é um dilema no dia a dia”, explica. A geriatra ressalta outro aspecto relacionado à diretriz: o papel do médico em esclarecer o quadro de saúde do paciente, a possibilidade de agravamento da doença e as decisões a serem tomadas em seus diversos estágios. Nesse sentido, é importante que o paciente esteja plenamente lúcido e tenha refletido antes de decidir sobre os métodos terapêuticos que pretende recusar ou aceitar. O ideal é que a condução do tratamento seja definida antes do estado terminal da doença. Desafios – De acordo com especialistas, entre os desafios a serem considerados está o fluxo de comunicação entre os

Papel do médico: esclarecimento é essencial para a tomada de decisões

profissionais de saúde. Os prontuários dos pacientes no Brasil não são unificados, e uma das consequências disso, por exemplo, é que um intensivista pode não saber o desejo do paciente expresso a outro médico em uma clínica. Daniel Forte, membro do comitê Terminalidade da Vida e Cuidados Paliativos da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib), opina que: “O fluxo de informação é sempre desafiador e exige às vezes uma forma de organização e energia para que consiga ser pleno, mesmo em países onde as diretivas antecipadas são praticadas há muitos anos”. Para facilitar a comunicação entre os profissionais de saúde a Amib sugere que o paciente sempre porte uma carta elaborada em conjunto com seu médico, explicando sua situação clínica, prefe-

rências de tratamento e outros pontos acertados. Os desafios, no entanto, se apresentam como parte de um processo de amadurecimento. O grande mérito da resolução, destacado por especialistas, é a visibilidade que o CFM deu a questões éticas que permeiam o fim da vida. Para Nezilour Lobato Rodrigues, “a resolução motiva importantes reflexões sobre a finitude da vida e a importância da autonomia e do respeito à pessoa humana”. Para Daniel Forte, abordar a terminalidade é essencial: “Há alguns anos este era um assunto restrito aos leitos de hospitais de forma muito velada. Um dos maiores avanços que o CFM consegue é trazer essa discussão para a sociedade inteira. Esse tipo de debate é um debate da sociedade; ele é necessário”.

Discussão é multiprofissional Diversos setores da sociedade estão envolvidos nas discussões sobre terminalidade e autonomia presentes na Resolução CFM 1.995/12. Na área da saúde, esta discussão é predominantemente multiprofissional. Para o presidente do Conselho Federal de Psicologia (CFP), Humberto Verona, as diretrizes abrem espaço para a discussão dos limites e interseções relativos aos direitos in-

dividuais e coletivos. A questão é crucial para as relações que o profissional estabelece com a sociedade, com os colegas de profissão e com os usuários dos seus serviços. “Os principais dilemas éticos não se restringem a práticas específicas e surgem em quaisquer contextos de atuação do profissional de saúde”, destaca. Autonomia também é um tema importante para os enfermeiros. O Conselho Federal de

Enfermagem (Cofen) declarou que está aprofundando as discussões sobre a ortotanásia e é possível que este tema seja tópico de uma plenária da entidade. O Código de Ética da categoria, em seu artigo 18, preconiza que o enfermeiro deve “respeitar, reconhecer e realizar ações que garantam o direito da pessoa ou de seu representante legal, de tomar decisões sobre sua saúde, tratamento, conforto e bem-estar”.

Saiba mais sobre a Resolução 1.995/2012, inclusive com respostas para as principais dúvidas sobre o tema, no site do CFM. O endereço é http://bit.ly/OCzwjx

JORNAL MEDICINA - SET/2012


INTEGRAÇÃO

10

Infraestrutura no SUS

Em 7 anos, Brasil perde 42 mil leitos Análise do CFM aponta redução de leitos e falta de recursos para a saúde como obstáculos para o exercício da medicina

Q

uase 42 mil leitos da rede pública de saúde foram desativados nos últimos sete anos. A conclusão integra uma análise do Conselho Federal de Medicina (CFM) sobre os aspectos que dificultam o trabalho do médico, como a falta de investimento e de infraestrutura. Dentre as especialidades mais atingidas no período estão a Psiquiatria (- 9.297 leitos), Pediatria (- 8.979), Obstetrícia (- 5.862), Cirurgia Geral (- 5.033) e Clínica Geral (- 4.912) – confira abaixo a queda de leitos disponíveis no Sis-

Região

Centro-Oeste

Nordeste

Norte

Sudeste

Sul Total

UF

tema Único de Saúde (SUS) em cada estado. Para o presidente do CFM, Roberto Luiz d’Avila, grande parte dos problemas do SUS passa pelo subfinanciamento e falta de uma política eficaz de presença do Estado. “Os gestores simplificaram a complexidade da assistência à máxima de que ‘faltam médicos no país’. Porém, não atentam para aspectos como a falta de infraestrutura física, de políticas de trabalho eficientes para profissionais de saúde e, principalmente, de um financiamento comprometido com o futuro do

Quantidade de leitos no SUS

SUS”, ressalta d’Avila. Para o Ministério da Saúde (MS), a queda de leitos representa uma tendência mundial devido aos avanços em equipamentos e medicamentos que possibilitam o tratamento sem necessidade de internação do paciente. Além disso, argumenta ser preciso levar em consideração os leitos remanejados, programas de qualificação profissional, aumento de atendimentos ambulatoriais e programas de centros substitutivos. Apesar da nova tendência, a pasta alega que tem investido na criação

Variação

Variação (%)

2005

2012

MS

5.510

4.042

-1.468

-26,6%

GO

14.399

12.814

-1.585

-11,0%

MT

5.945

5.356

-589

-9,9%

DF

5.022

4.954

-68

-1,4%

PB

10.366

8.380

-1.986

-19,2%

MA

15.697

13.007

-2.690

-17,1%

SE

3.979

3.551

-428

-10,8%

PI

8.042

7.371

-671

-8,3%

RN

7.199

6.781

-418

-5,8%

BA

28.152

26.521

-1.631

-5,8%

PE

19.571

18.498

-1.073

-5,5%

AL

6.050

5.783

-267

-4,4%

CE

16.475

15.925

-550

-3,3%

TO

2.395

2.279

-116

-4,8%

AC

1.366

1.393

27

2,0%

AM

5.365

5.725

360

6,7%

PA

10.787

11.580

793

7,4%

AP

937

1.023

86

9,2%

RO

2.634

3.256

622

23,6%

RR

663

885

222

33,5%

RJ

38.940

31.924

-7.016

-18,0%

SP

75.921

65.643

-10.278

-13,5%

MG

39.690

34.513

-5.177

-13,0%

ES

6.513

5.886

-627

-9,6%

PR

25.331

22.274

-3.057

-12,1%

SC

13.736

12.142

-1.594

-11,6%

RS

25.249

22.715

-2.534

-10,0%

395.934

354.221

-41.713

-10,5%

JORNAL MEDICINA - SET/2012

Demanda: sem leitos, pacientes demoram a ter respostas no SUS

de novos leitos hospitalares, como a meta de criar 1.783 novos leitos para o SUS em 2012 – ante 1.296 habilitados em 2011. Segundo o MS, o Brasil tem hoje 504.229 leitos, dos quais 354.177 pertencentes ao SUS. O levantamento teve por base os dados apura-

dos com o Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), nos meses de outubro de 2005 e junho de 2012, e considerou ainda os chamados leitos complementares (unidades de terapia intensiva e unidades intermediárias).

Relatório da Opas/OMS põe CFM em alerta O fortalecimento e a eficácia do Sistema Único de Saúde (SUS), com impacto direto na melhoria dos indicadores sanitários e de qualidade de vida, estão ameaçados pelo baixo financiamento público. A preocupação do CFM dialoga com as conclusões do relatório “Saúde nas Américas 2012”, divulgado em setembro. No mês anterior, a entidade manifestou sua ponderação quanto ao tema em reportagem publicada no jornal Medicina. O relatório mostra, dentre outras, a realidade das doenças crônicas não transmissíveis e das causas externas. Apesar dos avanços alcançados nas últimas décadas, demonstra um cenário de desigualdade no Brasil. Para o CFM, os dados confirmam ainda a timidez do investimento público em saúde no Brasil, além do consequente reflexo nos resultados alcançados pelo modelo de atenção nos campos do cuidado, prevenção e promoção.

“As doenças da modernidade – neoplasias, problemas cardíacos e a violência – já são as principais causas de mortalidade no país. Contudo, perguntamos: será que estamos preparados para essa onda, que exigirá cada vez mais do SUS? Não seria o momento de refletir o atual modelo com rigor, mantendo-o e oferecendo condições para sua sobrevivência?”, indaga Roberto d’Avila, presidente da entidade. As doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) representam significativo desafio. Em 2009, de acordo com o relatório da Opas/OMS, 72,4% do total de óbitos no Brasil decorreram delas. O documento aponta aumento da proporção de óbitos por neoplasias (de 11,4% em 1996 para 15,7% em 2010), doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas (de 0,4% para 6,2%) e doenças do aparelho circulatório (de 27,5 % para 28,7%).


INTEGRAÇÃO

11

Eleições 2012

CRMs sediam debates

Elza Fiúza/ABr

Bahia, Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais, Paraíba, Piauí e Rio de Janeiro promovem encontros e iniciativas cívicas

Poder do voto: com debates, CRMs querem ajudar as escolhas

O

s conselhos regionais de medicina (CRMs) de todo o país estão engajados em iniciativas que despertem o voto consciente. Bahia (Cremeb), Goiás (Cremego), Mato Grosso (CRM-MT), Minas Gerais (CRM-MG), Paraíba (CRM-PB), Piauí (CRM-PI) e Rio de Janeiro (Cremerj) são exemplos de estados que pro-

moveram encontros entre médicos e candidatos para prefeito e vereador, e outras iniciativas em prol do debate democrático. As articulações políticas das entidades acontecem também por meio de visitas, do estabelecimento de compromisso mútuo pela saúde e da publicação de documentos com orientações para a socie-

dade. As eleições serão em 7 de outubro, com segundo turno, onde houver, no dia 28. Para o conselheiro federal Dalvélio Madruga, membro da Comissão de Assuntos Políticos (CAP), iniciativas como essas fortalecem a democracia e o papel cívico dos médicos: “É importante que estejamos conscientes da importância do voto. O médico, por estar muito próximo da sociedade, comumente se envolve com a política e suas discussões – seja como eleitor ou como postulante (o CRM-PB editou uma cartilha para médicos candidatos – veja abaixo). É preciso o nosso envolvimento e compromisso”. Confira o que aconteceu nos estados:

Em Salvador (BA), em setembro, o Cremeb participou de uma série de debates promovidos pelo Instituto de Saúde Coletiva (ISC) da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e pelo Centro Brasileiro de Estudos em Saúde (Cebes), nos quais os candidatos à gestão municipal apresentaram à população suas propostas para a saúde. “É de extrema importância que estejamos à frente de debates com prefeituráveis para mostrarmos nossas necessidades e contribuirmos para a escolha de um candidato que priorize a saúde pública”, avalia o presidente José Abelardo Garcia de Meneses. Com dez minutos para a apresentação de propostas, os postulantes em Cuiabá (MT) falaram à comunidade médica local na sede do CRM-MT, em 19 de setembro. Ao final, responderam perguntas elaboradas pelos médicos presentes na plateia. “Esta também é a oportunidade para os candidatos firmarem seus compromissos para melhorar a saúde pública”, destacou a presidente Dalva Alves das Neves. Em Goiânia (GO), uma candidata visitou a sede do Cremego, em 27 de julho, e reuniu-se com o presidente Salomão Rodrigues Filho. De acordo com este, o Departamento de Fiscalização do CRM tem uma radiografia do sistema de saúde em Goiânia. “O conselho está disponível para oferecer aos candidatos a prefeito sugestões que visem a melhoria das condições de trabalho dos médicos e de assistência à população”, disse. O CRM-MG promoveu, em 21 de setembro, debate entre os dois principais candidatos de Belo Horizonte (MG). Como em outros estados, a atividade ocorreu em parceria com outras entidades médicas locais. Na oportunidade, compareceram médicos, estudantes de medicina, representantes de sociedades de especialidades e cooperativas, além dos médicos servidores de saúde da capital. Para o presidente João Batista Gomes Soares: “Os conselhos têm o poder de julgar, mas não devem ficar restritos a isso. Devem também ter participação política”. Em Teresina (PI), as entidades médicas locais realizaram um debate entre os candidatos a prefeito no dia 23 de agosto. Na primeira rodada, as perguntas foram feitas por representantes das entidades médicas. Em seguida, os candidatos responderam perguntas da plateia. “A intenção é conhecer as propostas de governo de cada candidato e buscar o seu compromisso com a melhoria da saúde pública da cidade, pois Teresina, considerada um ‘polo-saúde’, está sobrecarregada com o atendimento de pacientes do interior do Piauí e estados vizinhos, dentre eles Maranhão, Pará e Tocantins”, disse o presidente do CRM-PI, Fernando Correia-Lima. O Cremerj também realizou plenárias temáticas do conselho com os candidatos em agosto e setembro, na cidade do Rio de Janeiro (RJ). “Gosto de deixar claro que o Cremerj está sempre aberto ao diálogo. O conselho conta com 47 câmaras técnicas, comissões e grupos de trabalho que podem ser consultadas pela prefeitura. Criticamos quando é necessário, mas nosso interesse maior é uma saúde pública de qualidade”, disse a presidente Márcia Rosa de Araújo. Para os médicos candidatos às eleições municipais em João Pessoa (PB), o CRM relançou uma cartilha com orientações éticas e jurídicas. O documento alerta quanto à necessidade de obediência à legislação e ao Código de Ética Médica (CEM) durante o período de campanha. De acordo com o presidente do CRM-PB, João Medeiros Filho, “uma publicação que norteie a conduta médica é fundamental”.

JORNAL MEDICINA - SET/2012

Giro médico Ética em Roraima – O Conselho Regional de Medicina do Estado de Roraima (CRM-RR), promoveu, em 5 de setembro, o I Fórum de Ética Médica. Um dos temas discutidos foi “Responsabilidade médica versus influências da Justiça na saúde”, abordado pelo presidente do CFM, Roberto Luiz d’Avila. De acordo com o presidente do CRM-RR, Wirlande da Luz, o objetivo do fórum foi orientar os médicos e alunos de medicina acerca da necessidade de conhecerem as normas contidas no Código de Ética Médica e das consequências éticas, civil e criminal de seu descumprimento. As palestras abordaram ainda a relação do médico com pacientes e familiares, pesquisa e publicidade, e repercussão penal no exercício da medicina, entre outras temáticas. Academia de Medicina – A Academia de Medicina de Brasília abordou, em sessão plenária de 18 de setembro, o tema “Estratégias para ampliar a Atenção Primária em Saúde em áreas pouco assistidas”. Participaram dos debates médicos, acadêmicos e representantes do Ministério da Saúde, Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e Associação Nacional dos Médicos Residentes (ANMR). Novo Código Penal – A comissão especial de senadores que analisa o projeto do novo Código Penal (PLS 236/12) terá mais tempo para debater e votar as inovações propostas. O plenário do Senado aprovou, no final de agosto, requerimento pedindo a duplicação do prazo para a conclusão dos trabalhos. Pelo cronograma original, elaborado pelo relator da matéria, senador Pedro Taques (PDT-MT), o parecer final da comissão deveria ser concluído até o início de outubro. Taques admitiu que o cronograma era curto para o exame de um projeto que classificou como vasto e complexo. Alguns temas abordados se relacionam com a prática médica. O texto prevê a descriminalização da ortotanásia (consolidando entendimento defendido pelo CFM na esfera ética) e atenuantes no caso da prática da eutanásia. Etnias do Brasil – A Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), comemorando seu primeiro centenário, produziu uma expedição na qual fotógrafos renomados registraram a pluralidade étnica do país em diversos estados. A iniciativa rendeu a mostra fotográfica Laços de Família – Etnias do Brasil, exibida de 10 a 23 de setembro no Museu Brasileiro da Escultura, em São Paulo (SP). Também foi publicado um livro homônimo, distribuído para mais de seis mil médicos, membros da SBD. O objetivo era registrar imagens e traçar um perfil etnográfico dos brasileiros. Homenagem - Em sessão plenária extraordinária o Conselho Federal de Medicina (CFM) prestou homenagem ao colaborador João Batista Cavalcante de Negreiros, falecido em 17 de setembro. Negreiros integrava o quadro da entidade há 24 anos e exercia a função de assistente administrativo no Setor Jurídico. No CFM, era reconhecido pela dedicação ao trabalho e companheirismo expresso em todos os momentos. A Associação de Funcionários (ASCFM) divulgou nota onde também manifestou solidariedade e pesar pela perda: “Ninguém morre, enquanto permanece vivo no coração de alguém”, lembraram os colegas.


ÉTICA MÉDICA

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Humanidades em Medicina

Congresso tem inscrições abertas Na pauta, temas como ética, educação, expectativas para o futuro e relação entre profissionais e pacientes

Novo perfil: o médico do futuro deve conjugar técnica e humanidade

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ntre os dias 9 e 11 de outubro, médicos de todo o país discutirão na cidade de São Paulo (SP) a interface da prática médica com temas humanos como ética, educação, expectativas para o futuro e relação entre profissionais e pacientes. Os debates ocorrem no âmbito do II Congresso Brasileiro de Humanidades

em Medicina, promovido pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). As inscrições são gratuitas e podem ser realizadas em http://www.eventos. cfm.org.br – as vagas são limitadas e têm como público-alvo médicos, professores e estudantes de medicina. O encontro busca provocar reflexões sobre

a formação humanística de médicos, em um momento histórico marcado por rápido avanço tecnológico e mecanização da assistência em saúde. Entre os assuntos que serão tema de conferências e paineis estão: humanismo e inovações tecnológicas em saúde, determinação social da saúde e sua repercussão no ensino médico, dimensão do humanismo nas práticas sociais da saúde, desafios éticos das novas tecnologias e perspectiva humanística da prática assistencial do futuro. O congresso será aberto no dia 9 com a conferência “Medicina: a construção do futuro”, presidida pelo médico

Desafios da profissão em debate Disposto a contribuir com o desempenho ético da medicina, os conselhos promovem diversos encontros para discutir desafios da atividade. Em outubro, dois eventos serão realizados. No dia 3, será a vez da atenção básica, no I Encontro Internacional das Câmaras Técnicas de Medicina de Família e Comunidade e III Fórum da especialidade. “A finalidade é o intercâmbio de informações sobre os programas ibéricos”, explica Celso Murad, coordenador da câmara técnica do CFM que trata deste tema. Nos dias 15 e 16, os desafios do atendimento nas emergências serão tema do Fórum Nacional de Urgência e Emergência, no Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio Grande do Sul (Cremers). O fórum dará continuidade a eventos como o Fórum Sul/Sudeste de Urgência e Emergência, que aconteceu nos dias 23 e 24 de agosto, no Rio de Janeiro (RJ). Promovido pelo conselho regional de medicina local (Cremerj), o evento discutiu a situação nos prontos-socorros no SUS e foi encerrado com a redação de uma carta de intenções. O documento será conhecido no fórum nacional, em Porto Alegre (RS).

Luiz Roberto Londres e proferida pelo presidente do CFM, Roberto Luiz d’Avila. “Trata-se de um espaço de resgate da humanidade e de crítica ao uso de recursos tecnológicos sem critério”, antecipa d’Avila “O congres-

so é da maior relevância no momento atual em que importância maior está sendo dada à parte empresarial e financeira; o grande risco da medicina é se transformar em um negócio”, diz Londres.

Personagem médico

O médico geriatra Celso Matias de Almeida, 84 anos, nascido na cidade de Simão Dias, em Sergipe, e formado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), adotou o Rio Grande do Norte como segundo estado. Nessa trajetória acumulou amigos e admiradores, tornando-se exemplo para muitos colegas potiguares por dois motivos: sua dedicação ao exercício da medicina e os valores que exprime no contato com amigos, familiares e pacientes. O dr. Celso Matias, como é mais conhecido, formou-se em 1952 e aposentou-se em 1995, mas não abandonou o estetoscópio e continuou clinicando, voluntariamente, até 2008. A decisão de não parar de trabalhar comprova seu efetivo compromisso para com o próximo. Segundo ele, não poderia deixar de lado seus pacientes de mais idade, que dele continuavam a precisar no Hospital Universitário

Onofre Lopes, em Natal. O contato diário com os estudantes de medicina neste hospital, mantido pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), lhe serviu como estímulo. “O trabalho como voluntário me dava tanto prazer que muitas vezes nem lembrava que havia me aposentado”, argumenta. O fim desse proveitoso período ocorreu quando a escola passou a oferecer o curso de Medicina Geriátrica e contratou três médicos para o hospital universitário. Nosso personagem começou sua vida profissional no interior do Rio Grande do Norte, na cidade de Currais Novos, logo após receber o diploma pela UFBA. “No interior fiz de tudo um pouco. Fui pediatra, ginecologista, clínico geral e até anestesista. Naquele tempo o médico não tinha muita escolha e o jeito era tratar os pacientes como era possível”, relembra. Ao longo dos seus 60

anos de medicina, duas difíceis situações não saem de sua lembrança. “A primeira aconteceu na época em que eu era solteiro e estava de prontidão para dançar o São João. Estava todo animado, quando fui chamado para prestar assistência a uma mulher que estava para parir em um sítio, onde só havia acesso se eu fosse montado em lombo de burro. Mas fui. Fiz o parto à luz de velas, uma intervenção muito séria. No final deu tudo certo. Deus ajuda muito a quem trabalha no interior”, conta dr. Matias. A segunda foi durante um dos vários invernos de sua longa vida. Na oportunidade, teve que atender a uma paciente que sofria hemorragia depois de um aborto natural. Para chegar até a paciente, precisou ser carregado nas costas de um agricultor, que atravessou um rio para levar socorro a sua mulher que estava em

JORNAL MEDICINA - SET/2012

Arquivo pessoal

“A medicina não é igual e nem melhor que outras profissões. Só é diferente por que cuida da vida”

Dr. Celso Matias: paixão pelos pacientes sob qualquer circunstância

uma fazenda distante de Currais Novos – realidade de um Brasil não tão distante no tempo assim. Formado em Clínica Médica e especialista em Geriatria pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, depois de passar 13 anos trabalhando voluntariamente dr. Matias ainda permanece na ativa. De segunda a sexta-feira não falha no atendimento de seus pacientes no consultório que mantém para a alegria dos que nele confiam. “Não

consigo parar de trabalhar, pois me sinto bem exercendo minha profissão. Tenho 84 anos, mas me sinto como se tivesse 40”, comemora. Tanto empenho se justifica no amor por essa profissão, que mescla ciência, técnica, conhecimento, ética e arte. A respeito, dr. Celso Matias bem define o que tanto o encanta: “A medicina não é igual e nem melhor que outras profissões. Só é diferente por que cuida da vida. É a que mais se aproxima do Criador”.


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