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DE DISTINGUIBILIDADE

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E PARÂMETROS

E PARÂMETROS

Para entender as intervenções em áreas históricas, é importante conhecer os teóricos que estudaram e tiveram seus estudos e práticas voltados para essas intervenções. Os teóricos abordados são Camillo Boito e Cesare Brandi, que defendiam o respeito às pré-existências e uma intervenção caracterizada, diferenciando os materiais originais da obra.

Primeiramente, Cesare Brandi nasceu em 1906 em Siena, Itália. Era palestrante, crítico e escritor, e graduou-se em Direito e Ciências Humanas. Brandi era responsável pela fiscalização de monumentos e galerias, e ocupou cargos importantes no Instituto Central do Restauro. Nesse contexto, após a Segunda Guerra Mundial, o patrimônio histórico foi amplamente destruído e era necessário utilizar técnicas simplificadas para recuperar o cenário.

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Brandi desenvolveu sua Teoria da Restauração em paralelo ao trabalho no Instituto. Essa teoria utilizava preceitos aplicados na prática pelo restaurador. O primeiro preceito é que a restauração deve ser um ato crítico, rejeitando a cópia ou réplica e evitando intervenções contemporâneas que entram em conflito com a obra original, o caráter artístico e histórico da obra original devia ser preservado em conjunto, visando a preservação da história e estética da obra, a intervenção deveria considerar a preservação da paisagem e o contexto do sítio, por último a restauração deveria ser um processo coletivo.

O segundo preceito é sobre os axiomas que se referem aos limites da intervenção restauradora. Brandi critica a recriação do estado original de obras que se deterioram com o tempo. A restauração deve visar o restabelecimento da unidade potencial da obra de arte, sem cometer um falso artístico ou histórico e sem cancelar a passagem do tempo na obra.

O último preceito refere-se aos fundamentos do restauro, nos quais Brandi lista cinco pontos essenciais que devem ser considerados em um restauro. O primeiro é a consolidação de lacunas, que aborda a substituição de partes faltantes da obra de forma harmoniosa e que respeite todas as partes. O segundo ponto é a unidade potencial, que deve ter cuidado para não ocorrer um falso artístico, mantendo a passagem do tempo na obra. O terceiro ponto é a distinguibilidade, que valoriza o objeto original e destaca o restauro, celebrando o momento histórico. O quarto ponto é a reversibilidade, que exige que todas as intervenções restauradas sejam reversíveis, sem danificar o material original. E, por último, a intervenção mínima, que defende intervenções justas e necessárias à estética da obra, evitando sua deterioração ao máximo e mantendo seu caráter histórico documentado.

Em seguida, temos Camillo Boito nascido em Roma em 1836, foi arquiteto, restaurador, historiador e professor. Seu trabalho de maior desta- que foi apresentado no Congresso de Engenheiros e Arquitetos Italianos em 1883, no qual apresentou os 7 princípios para o restauro sendo eles:

1. Ênfase no valor documental dos monumentos;

2. Evitar acréscimos e renovações;

3. Utilização de material diferenciado do original para realizar complementos de parte deterioradas ou placas indicando os anos da mudança;

4. Obras de restauro devem ser facultativas e limitar-se ao necessário;

5. Respeitar as várias fases do monumento, sendo retirado todo o novo;

6. Registrar as obras de diversas formas, antes, durante e depois da intervenção;

7. Colocar uma lápide contendo a origem e as obras de restauro que foram realizadas.

No ano seguinte, em 1884, o arquiteto realiza na Exposição de Turim um congresso chamado “Os restauradores”, onde apresentou diversos fatores, entre eles, pode se encontrar os 8 princípios da distinguibilidade, que foram descritos por Beatriz Kuhl (responsável por narrar o livro “Os restauradores”) mas que vem do discurso de Boito fez na exposição.

1. Diferença entre o novo e o antigo;

2. Diferença entre os materiais da construção;

3. Supressão de linhas ou ornatos;

4. Exposição de peças removidas próximos ao monumento;

5. Incisão das datas de restauração em cada nova peça renovada;

6. Epígrafe descritiva gravada sobre o monumento;

7 Descrição e fotografia de diversos momentos das obras, expostas no edifício ou em local próximo a ele, ou ainda descrições em publicações;

8. Notoriedade.

Camillo Boito defende convictamente a conservação, só em casos realmente necessários que deveriam acontecer a restauração, e com essa restauração não incluir ornatos que não tivessem anteriormente na edificação, evitando o desvio da arquitetura presente no monumento. Além disso, defendeu a utilização de materiais diferenciados de forma que adições necessárias não fossem confundidas com elementos originais das edificações.

Diante do exposto, pode-se concluir a necessidade da abordagem desses teóricos na via a ser intervinda, uma vez que o contexto que se dará o estudo preliminar envolve diversos elementos históricos e patrimoniais como os trilhos de bonde e os revestimentos utilizados nas calçadas e rua. A importância do princípio da distinguibilidade bem como da intervenção mínima vem em forma a evitar intervenções desnecessárias na área, o respeito pelos materiais pré-existentes e proposição da melhoria da via, a fim de criar espaços mais caminháveis sem a perda de elementos históricos.

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