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03 – OS CAMINHOS DA CHÁCARA...
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qui em Itabira, para a maioria dos filhos dos operários, o vislumbrar novos horizontes começava pelos “Caminhos da Chácara Minervino Bethônico” isto porque, quando entrávamos nas aulas do Senhor José Sérgio Rosa, participando de uma espécie de cursinho preparatório, era para fazer o exame de Admissão ao Ginásio ou era porque já tínhamos uma busca e uma escolha imediata – A ESCOLA DO SENAI.
Descer pela estrada de terra batida e chão vermelho de cascalho da mineração ali colocado, era a melhor opção de acesso. No início estrada havia um “Mata-burro”, delimitava a era área de pastagem. Quando alguém, em tom de brincadeira, dizia para tomarmos cuidado caso contrário não passaríamos dalí: - Retrucávamos: - “O mata-burros, é para evitar a fuga dos que já estavam lá, e não, para coibir a entrada de outros, CRÔNICAS URBANAS Claudionor Pinheiro – 2009 03 – OS CAMINHOS DA CHÁCARA
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retrucávamos”. (fig. acima). Estrado feito de trilhos de ferrovia para evitar a passagem de animais. O caminho, digo, a Estrada poeirenta de uma cor vermelha, ia dar em várias nascentes de água, que o povo chamava de (mina d’àgua) onde nós parávamos para pegar cambebas, girinos ou jogar pedras nos quatis (coatis) perto do “bambuzal” e nas saracuras do brejo, ou matar anu-branco, anu-preto e galo-docampo, só para abrir o papo dos bichinhos e ver quantos carrapatos reduleiros eles tinham comido ao catá-los dos cavalos, vacas e bois lá do pasto.
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Bambuzeiro Outra estripulia da turma era quando nós sujávamos a água do rego que abastecia as casas que existiam lá embaixo na Chácara, quando isto acontecia nós dávamos volta subindo pelo pasto para sair lá na Pedreira “desativada”, evitando-se assim a bronca dos moradores estrada abaixo, que lá moravam no caminho da chácara: (Sô Ataliba, Dona Eleonora, os irmãos João da Chácara e Nega da Chácara, João Viera e Seu Euclides Rodrigues...) chegando pela mais baixa, próximo do Matadouro. Neste caminho, havia riscos que ninguém levava em conta, era uma área de cangas e cascalhos e com muitas pedras de minério de baixo teor de ferro, de onde naquela época a Companhia Vale do Rio Doce, retirava daquele lugar, tão somente cascalho para manutenção de estradas. Além de cascalho e pedras tinha também, muitas lagartixas, coelhos e cobras que habitavam as tocas das pedras e nos emaranhados de cipó São João. (Era lindo avistar aquela área toda colorida na época da floração, coberta por uma cor de intenso alaranjado!).
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Cipó São João Neste local onde há casas residenciais no prolongamento da Avenida Cauê, abundava o cipó São João era assim, como um celeiro para os curandeiros que faziam garrafadas de remédio para curar tosse, bronquite e outros (ites). Lembro-me bem que o próprio Zé Sérgio o Sr. Alípio Hilário e João do Andaime coletavam ali material para seus preparados de xaropes, chás etc. Levantar pedras de pequeno porte era certeiro encontrarmos escorpiões e aranhas de todo tipo e tamanho. Desta forma, éramos alertados pelos nossos pais para que tivéssemos o maior cuidado quando íamos buscar esterco e lenha naquela área. Informações ao leitor: Esta história completa compõe-se de oito outros textos: 01- Futebol no Campestre um caso... 02- A Galera 03- Os caminhos da Chácara. 04- A Chácara Minervino Bethônico CRÔNICAS URBANAS Claudionor Pinheiro – 2009 03 – OS CAMINHOS DA CHÁCARA
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5- As aventuras 6- Como disciplinar 07- A Espera 08- Campestre, O bairro, um caso de amor 09- Das belezas naturais COMENTÁRIOS Claudionor, Ler os seus textos é voltar, literalmente, a uma Itabira deliciosa, há um tempo feliz que tinha que existir, não só para a felicidade da meninada, mas para que um deles pudesse, um dia, tirar tudo de novo do seu baú de lembranças e trazer, palmo a palmo daquele chão, de volta à cena novamente... E a gente volta mesmo, e com muita vontade de encontrar uma Itabira assim, desse jeitinho que você a retrata, linda, pura, vibrante, uma Itabira onde a vida sorri, canta, e se dá o direito de ser feliz... E parece que se está vivendo tudo de novo mesmo... Dá até pra sentir o cheirinho do mato, da poeira, sentir os pingos da chuva, o frio de tantas madrugadas... Dá pra rever a vida se desenrolando sob o apito do trem da Vale, e no silêncio do pó de minério de ferro que cai num ritual interminável, sobre tantas cabeças... Você é muito feliz ao retratar tudo isso, e com toda essa riqueza de detalhes. Chega-se quase à certeza de estar vendo os caminhos por onde andou, as peraltices de sua turma, a vida de moleque que tanto enriqueceu a vida desse senhor que hoje brinda os amigos com tantas lembranças de um tempo tão feliz. Tudo muito bonito, Claudionor. E digno de ser revisto, relido, repensado. Ah, que saudade que dá de tudo que se viveu um dia, de tudo que se aprontou nessa fase bonita da vida, aqui retratada com tanta naturalidade e pureza em suas crônicas! CRÔNICAS URBANAS Claudionor Pinheiro – 2009 03 – OS CAMINHOS DA CHÁCARA
6 É muito bom ler você Claudionor. Obrigada. Ainda haveremos de agradecê-lo pessoalmente. Um grande abraço. OTAVIO & ELZA
Toninhobira Muito bom ler e relembrar deste espaço infelizmente devorado pela Vale. São historias e mais historias desta área, como os assombrações do mata burro. É mesmo muita saudade Nô. Um abração. Mandou para Zé da Paz?
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