Universo particular
beleza Conforto e
no trabalho
O relógio na parede não é apenas um objeto de decoração. Ele separa simbolicamente a rotina cansativa e o prazer do fim do expediente. Mas há aqueles que não se importam em fazer ‘hora extra’, e o relógio torna-se, de fato, mais um ornamento. Para melhorar a imagem da empresa e o desempenho dos funcionários, arquitetos apostam em projetos que mesclam conforto e funcionalidade. A arquiteta Kleyne Rondelly dedica a maior parte de seu tempo na concepção de espaços corporativos. “Nesses projetos, é preciso ouvir o cliente e traduzir o pedido respeitando a função do local”. A disponibilização do espaço, ergonomia dos móveis, até a iluminação precisam ser condizentes com a funcionalidade do ambiente, eliminando o risco de lesões e aumentando o bem-estar”. Para Kleyne, além de proporcionar comodidade ao ambiente de trabalho, a arquitetura funciona como ferramenta na criação da identidade da empresa. Em um escritório de advocacia idealizado pela profissional, o espaço ganhou o sincronismo das linhas retas de estilo moderno, conservando o tom sóbrio do espaço apenas nas cores da mobília. A escolha por objetos de arte como parte da decoração tem uma finalidade terapêutica. “É uma fuga para o olhar em um momento de descanso”, completa.
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Fotos: Alex Fernandes
Verde e CIA
Raízes da terra
O saudosismo de Gonçalves Dias, em Canção do Exílio, traduz em versos a memória cativa de uma paisagem. “Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá”. Entre palmeiras, bougainvilles, cactos e bromélias, as lembranças de um lugar são transformadas em cheiro e tato, por meio do paisagismo. Conservar ou recriar uma paisagem é cultivar os laços com as próprias raízes. A arquiteta-paisagista, Melissa Sales, lembra muito bem dos jardins que cultivava quando criança, ao lado de sua madrinha. “Isso despertou meu interesse pela profissão. Com o tempo me dediquei em aprofundar os conhecimentos nessa área”. Hoje, ela acredita que as lembranças do cliente podem ser um estímulo para seu trabalho. Além disso, a terra-pátria serve como fonte de material 28 | NATALDECOR
Pablo Pinheiro
Pablo Pinheiro Alex Fernandes
O Brasil tem a maior biodiversidade vegetal do planeta e minha inspiração vem justamente dessa variedade Melissa Sales
em seus projetos. “O Brasil tem a maior biodiversidade vegetal do planeta e minha inspiração vem justamente dessa variedade de cores, tamanhos e formas”. Para Melissa, utilizar a vegetação nativa em jardins, além perpetuar as características do terreno, pode ajudar na conservação do meio ambiente. Em uma área desprovida de plantas e terreno arenoso, a arquiteta buscou recriar um ambiente com vegetação rasteira – mesclando também plantas perenes – e que se adequasse ao solo pobre. A sensibilidade de conciliar o projeto com o que a área tem para oferecer é o diferencial de seu trabalho. “Acho imprescindível participar de todas as etapas. Evita desperdícios”. E para quem busca inspiração em terras distantes, Melissa sugere plantas ornamentais de fácil adaptação ao nosso clima como as Ixorias das Índias, as Cycas da China e as palmeiras Rabo-de-Raposa da África do Sul.
Alex Fernandes
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Fotos Pablo Pinheiro
casa & Arte
Mosaico, sensibilidade
e firmeza Por Maria Clara Lima
O quebra-cabeça é um problema para ser resolvido. Uma figura que precisa ser pensada, montada e representada por fragmentos unidos. A arte do Mosaico é como um quebra-cabeça pincelado em pedacinhos de cerâmica que fazem do conjunto uma pintura para a eternidade. Mas não pense que o trabalho do mosaicista é apenas juntar as peças. É preciso ter técnica sim, mas também, muita sensibilidade. É justamente esse elo que une o trio Claudio Leite, Regina Leite e Sérgio Pantoja, cariocas radicados em Natal. Eles fizeram do mosaico uma nova página em suas vidas. “Pantoja desenha o projeto, e nós executamos”, explica Regina, entre um corte e outro de cerâmica. Ela e Claudio, parceiros também no matrimônio, realizam o trabalho no atelier alojado no jardim de sua própria casa. Aposentados, encontraram na arte o recomeço de uma nova vida profissional. “Nunca pensei em
Divulgação
ser artista, queríamos algo para complementar a renda”, conta Claudio. Os quadrados de cerâmica chegam ao atelier separados apenas por cores. Eles são cortados manualmente com um alicate e polidos ao fino gosto do casal. As peças grandes precisam ser montadas por etapas, e a parceria com Pantoja garante uma execução precisa. O mosaico é largamente empregado na decoração de ambientes internos e externos, podendo ser imensos painéis ou delicados objetos, como mesas, vasos e até cinzeiros. Utilizado por artistas como Cândido Portinari, Di Cavalcanti e Tomie Ohtake, o mosaico é versátil e embeleza qualquer ambiente, transcendendo as galerias. Os projetos arrojados de Pantoja e a delicadeza do corte de Claudio e Regina garantem ao trio prestígio e reconhecimento. O trabalho deles pode ser visto em hotéis, prédios residenciais, piscinas, igrejas e até em caixa d’agua. “Fizemos um grande mosaico para uma caixa d’água de um hotel em Tibau do Sul. Dá para ver de longe e tem a vantagem da durabilidade e resistência”, explica Regina. Estas características são atrativos para quem busca esse tipo de arte. “A gente morre, mas o mosaico fica”, resume.
Nunca pensei em ser artista. Queríamos algo para complementar a renda Claudio Leite
Pablo Pinheiro
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