Revista
Voz&Vida
Edição Especial| Novembro - 2016
Quando os grandes sonhos nascem
Conheça a história de como a escola formal Casa de Vovó Dedé se transformou em escola de música P.08
Projeto Social
Mansueto Barbosa
No último sábado de cada mês, a Casa recebe os idosos assistidos para a entrega das cestas básicas, com direito a café da manhã, música e festa. P. 16
Profissional dedicado, altruísta, pai e esposo amoroso, eram algumas de suas virtudes. P. 06
Oficinas
Oficinas nas áreas de música, da dança, das artes em geral, enriquecem o trabalho social que a Casa vem desempanhando. P. 22
Perfis
Alunos que fazem a Casa de Vovó Dedé contam como o dia a dia na instituição mudou as suas vidas. P. 24
Editorial “A caridade é um exercício espiritual... Quem pratica o bem, coloca em movimento forças da alma. Quando os espíritos nos recomendam, com insistência a prática da caridade, eles estão nos orientando no sentido de nossa própria evolução; não se trata apenas de uma indicação ética, mas de profundo significado filosófico.”
Existir e viver, duas palavras pequenas, mas que carregam consigo grande valor e amplo significado em sua forma mais simples e pura.
Quando penso em algo que existe, remeto essa palavra a algo que está ali, no presente momento, algo que respira, se mexe, mas sem ter nenhum valor, cercado pelo medo, incapaz de agir, de mudar uma planta de lugar, de uma fragilidade absurda. E assim é o existir: em uma fração de segundos uma vela se apaga, o suspiro se encerra, e a existência se finda.
Quando penso em algo que vive, imagino grandes pulsações de espírito, pequenas ações, grandiosos feitos, alguém que viveu, que retém memória, que deixou história e tentou até seu último instante fazer valer a pena.
O se importar, o ter empatia é umas das formas mais singelas e reais de viver. Alcançar o entendimento sobre as diversas formas de praticar o bem ao próximo, e compreender o significado e a essência da caridade, transforma meras existências em vidas eternas.
Expediente A Revista Voz & Vida é uma publicação apresentada ao curso de graduação em Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo, do Centro Universitário Estácio do Ceará, em cumprimento à exigência para obtenção do grau Bacharel em Comunicação Social.
Edição: Especial Tiragem: 1.000 exemplares Orientador: Prof. Esp. Lauriberto Braga Banca Examinadora: Profª. Drª. Geórgia Feitosa Prof. Ms. Valente Júnior Orientada: Marilene Nascimento Fotos: Marilene Nascimento e Acervo Casa de Vovó Dedé Redação e Reportagem: Marilene Nascimento Projeto Gráfico e Diagramação: Marilene Nascimento Fortaleza, Novembro de 2016
Sumário
06 Quando os grandes 08 sonhos nascem Mais que negócios de família 15 Projeto Social para 16 Idosos Curso de Audiovisual 18 A Arte de Aprender 22 Perfis 24 Mansueto Barbosa
Voz&Vida
Mansueto Barbosa Homem de bem, profissional dedicado, altruísta, pai e esposo amoroso, eram algumas das virtudes do fundador da Casa de Vovó Dedé
“A palavra é simples, pequenina, formada por quatro letras ‘AMOR’.” 06 | MASUETO BARBOSA
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qual se integrou a Seleção Cearense. Apaixonado pelos estudos inicia sua vida acadêmica na Escola Técnica Federal do Comércio, onde se graduou em 1966. Em seguida concluiu sua pós-graduação em Administração pela Escola de Administração do Ceará. E em 1972 fez sua segunda graduação em Direito, pela Universidade Federal do Ceará. Sua trajetória no mundo da comunicação inicia em 1962, quando aceita o convite do amigo e empresário, Edson Queiroz, para dirigir a Rádio Verdes Mares. A partir de 1970 assume também a direção da Televisão Verdes Mares (Afiliada da Rede Globo no Ceará) e daí por diante foi figura importante na consolidação do Sistema Verdes Mares de Comunicação que incluía a Rádio FM 93, Rádio Tamoio do Rio de Janeiro, Rádio Palmares de Maceió, Rádio Tamandaré AM e Recife FM em Recife, Jornal Diário do Nordeste e por fim a TV Diário.
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Foto: Acervo Casa de Vovó Dedé
rancisco de Paula Barbosa – (Mansueto Barbosa), nasceu em Quixeramobim - CE, no dia 20 de fevereiro de 1938. Fazia parte de uma família numerosa, era o caçula de onze irmãos. Aos sete anos de idade ficou órfão de pai. A família migrou para Fortaleza, onde deu continuidade aos estudos no Colégio 7 de Setembro. Tinha paixão pelos esportes, em especial pelo basquetebol, modalidade pela
Homem conhecido por ter personalidade forte, marcante, dedicado a família, ao trabalho e aos amigos, teve destacada atuação na defesa da sociedade e de suas instituições. Essas ações se materializaram quando fundou em 1993 a Casa de Vovó Dedé, entidade sem fins lucrativos de assistência as crianças, aos adolescentes, idosos e aos carentes. Foi conselheiro do Lar Antônio de Pádua, entidade de assistência as crianças e da Sociedade de Assistência aos Cegos. Teve a oportunidade também de prestar ajuda a inúmeras outras instituições tais como: Lar Francisco de Assis, Lar Torres de Melo, Iprede, Instituto do Câncer, Desafio Jovem. Essa é uma descrição breve da história de Mansueto Barbosa, diante da amplitude que foi sua passagem na terra. A Barra do Ceará, Fortaleza, o Ceará, o Nordeste, o Brasil e o Mundo necessitam de mais Mansuetos.
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08 | QUANDO OS GRANDES SONHOS NASCEM
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Quando os grandes sonhos nascem De escola formal a escola de música, pelos moldes do tempo a Casa ganhou forma, identidade e se consolidou
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Foto: Acervo Casa de Vovó Dedé
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Em 1992, na Barra do Ceará, bairro de Fortaleza, funcionava uma única escola de ensino fundamental e médio - EEFM Estado de Alagoas, com vagas limitadas o números de crianças e adolescentes fora das salas de aula eram crescentes.
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ansueto Barbosa possuía um terreno no bairro, umas de suas atividades era a construção de casas populares para locação. Nesse terreno foi construído um escritório de Engenharia para o seu filho Wagner Barbosa realizar suas atividades profissionais. Wagner trabalhava cercado pela pobreza, e a latente falta dos quesitos básicos, que regem uma vida digna, como direito a educação, saúde, cultura e moradia.
nica a decisão a Wagner, que tem uma reação imediata. “De jeito nenhum! Tenho planos para aquele lugar, vou construir uma escola!”. Era setembro de 1992.
Mansueto surpreendido com a revelação, pede que o filho discorra sobre a ideia, e traga o projeto para avaliação. Ao examinar, Mansueto exige que a obra comece imediatamente, “...pois em janeiro começa as aulas dos meninos! Avia, doutor!”, relembra Wagner, entre risos. Em janeiro de 1993 a Escola de Primeiro Grau José Ao presenciar diariamente situações, Bueno estava aberta, registrada conforcom idosos e crianças pedintes, sur- me os parâmetros legais e efetuando as ge a ideia de fundar uma escola, “uma matrículas para o início do ano letivo. geração tinha sido negligenciada, mas a próxima poderia ser salva’’. Wagner usa suas habilidades de engenheiro civil para projetar a escola e com a ajuda de sua irmã, pedagoga, pós-doutora em pedagogia e professora pela USP - Universidade Pública de São Paulo, Christine Barbosa, que ficou responsável pelo o planejamento educacional, começam a arquitetar o plano de construir uma escola de ensino fundamental.
Inicio do Projeto: Escola Formal Naquele ano, muitos terrenos no bairro estavam sendo invadidos, inclusive o do lado do escritório de engenharia, situado à rua Jerônimo de Albuquerque, 445. Homem experiente, Mansueto Barbosa decide vender o seu terreno, e comuFoto: Marilene Nascimento
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Foto: Acervo Casa de Vovó Dedé
Pioneira no método de aceleração escolar A Escola de Primeiro Grau José Bueno - Casa de Vovó Dedé foi a pioneira no método de aceleração. Como a grande maioria das crianças e adolescentes estavam fora da faixa, o método foi utilizado para resolver o problema de desigualdade escolar, em séries e idade.
mesmos que lecionavam no Colégio 7 de Setembro. O corpo docente se reversava entre as duas escolas. A ideia era preencher todos os horários dessas crianças, para que elas ficassem longe das ruas, e consequentemente da marginalização. A escola chegou a ter 450 alunos em período integral. A escola funcionou do ano de 93 a 2002, data do falecimento do fundador, Mansueto Barbosa.
A escola funcionava em período integral, os alunos recebiam 4 refeições ao dia, procedimentos de higiene pessoal, atendimento médico com pediatras, dentistas, e psicólogos, atividade esportiva, laboratórios de informática - que na época só os colégios particulares do bairro Aldeota possuíam.
Com o falecimento do principal provedor, a escola é fechada. Mantida exclusivamente pela família, se torna inviável a continuação do projeto. O custo para manter a escola era muito alto. Na época outras escolas municipais já tinham sido construídas no bairro. Os alunos foram encaminhados para essas instituições.
Os professores contratados eram os QUANDO OS GRANDES SONHOS NASCEM | 11
Nasce a Escola de Música
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Diante da perda da família, a Casa de Vovó Dedé teve que se reinventar, já que não conseguiriam manter o mesmo tipo de trabalho social, era hora de iniciar um novo ciclo. E assim, entre uma conversa e outra, a decisão foi tomada. Dona Regina, esposa do senhor Mansueto, que na juventude era professora de música, no Conservatório de Música Alberto Nepomuceno, passa a ministrar o curso de piano na Casa de Vovó Dedé, e tem como primeira aluna Michelle Lucena. O contato de Michelle com a Casa de Vovó Dedé aconteceu quando a aluna tinha cinco anos, idade com que veio se alfabetizar na Escola de Primeiro Grau José Bueno - Casa de Vovó Dedé.
pente a Casa estava alcançado um patamar que até pouco tempo, nem ousariam imaginar. A instituição oferecia curso de piano, de flauta doce e violão. A escola começou a crescer, e mostrar o seu trabalho. Em 2012, dez anos após a escola ter recomeçado do zero como escola de música, a Casa já estava muito grande, com um trabalho de música fantástico. Wagner ao ver a dimensão em que a Casa se encontrava, abriu o leque da imaginação e deu início a um novo projeto: a criação de cursos profissionalizantes e oficinas. O plano era inserir naquele contexto os estudantes que não possuíam aptidão para a música. A escola precisava direcioná-los para outras áreas de atuação, para adquirirem conhecimento e técnicas necessárias para se formarem profissionais qualificados para o mercado e o mundo.
Como todas as histórias mágicas, de re- O primor sempre foi posto em primeiro
Foto: Acervo Casa de Vovó Dedé
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Foto: Acervo Casa de Vovó Dedé
lugar na Casa de Vovó Dedé. E através da música, da disciplina e amplitude que ela oferece, a escola investe para que o aluno se torne apto a realizar com perfeição qualquer área que ele escolha.
de Vovó Dedé envolve as famílias em projetos que desenvolvem suas habilidades profissionais, através de cursos profissionalizantes os participantes são preparados para diversos nichos de mercado.
Para Wagner nada acontece por acaso. “Não acredito em coincidências, tudo tem uma razão de ser e estar. Papai costumava dizer que se alguém bate essa porta é porque precisa. Não é pra fazer pergunta, não interessa a cor ou do que gosta. A escola não é nossa, é de quem precisa”, ressalta Wagner.
A integração das famílias dos assistidos é essencial para o desenvolvimento intelectual do aluno. “É preciso estender à assistência a essas famílias, só assim, esses jovens terão tranquilidade e condições de absorver toda a carga horária de estudos.”
Fator social, como diferencial A questão social que rege a Casa, parte de um entendimento de que para a realização plena do plano de ensino, e que para todo o esforço de ambas as partes deem frutos, é necessário que seja executado um trabalho em conjunto. A Casa
Das famílias dos assistidos pela Casa de Vovó Dedé, 99% são de núcleo matriarcal. São gerações de mulheres que carregam toda a responsabilidade pelo sustento e educação dessas crianças. A figura paterna é praticamente nula, e quando existe, são casos que requerem maior observação. Em sua maioria, são usuários de drogas, com casos frequentes de violência contra a mulher e os filhos.
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“(...) Não é pra fazer pergunta, não interessa a cor ou do que gosta. A escola não é nossa, é de quem precisa”, ressalta Wagner.
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Planejamento a curto, médio e ao término dos anos de ensino o aluno receberá um certificado de Técnilongo prazo A equipe formada por Dona Regina, mãe, professora, administradora e coração da Casa, Wagner Barbosa - conselheiro, Jonab Fernandes - coordenador geral, Augusto Lessa - coordenador dos cursos de rádio e TV, juntamente com um corpo docente altamente qualificado fazem da Casa de Vovó Dedé uma referência de qualidade. Atraindo cada vez mais notoriedade e reconhecimento no mundo da música clássica.
co com habilitação na área estudada. O projeto do Instituto já está sendo gestado, passando pela parte burocrática, e será usado como base para a criação da faculdade - Escola de Belas Artes. Segundo o planejamento do conselheiro, Wagner Barbosa, no final de 2016 a Casa será reconhecida como escola técnica, e poderá emitir certificados de seus cursos.
No ano 2017, as bases para a Escola de Belas Artes serão consolidadas. Para que em 2018 sejam iniciadas as atividades. A ideia é que a Faculdade seja dividida em 50% pagantes e 50% bolsistas. Esse projeto está sendo criado com a parceria e consultoria do Ministério Público, atendendo todos os requisiEnquanto o Instituto Casa Verde terá tos necessários para um projeto bem uma formalidade, uma sequência de estruturado, e sem margens de erros. estudos e séries a serem realizadas, e A Casa se prepara para uma nova fase, com a criação do Instituto Casa Verde. A Casa da Vovó Dedé irá continuar com o trabalho social em prol da comunidade, acolhendo quem precisa. “Será o lar para os meninos pelo tempo que eles precisarem, a Casa não perderá sua essência.”
Foto: Marilene Nascimento
14 | QUANDO OS GRANDES SONHOS NASCEM
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Mais que negócios de família Foto: Marilene Nascimento
Referência de qualidade e excelência em seus serviços, a Casa de Vovó Dedé hoje tem 800 matrículas
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em no coração da Barra do Ceará, bairro que possui maior população jovem na cidade de Fortaleza, está localizada a Casa de Vovó Dedé. Ao passar pela porta a sensação de bem estar é instantânea, o clima de acolhimento e esperança vibram pelo verde da casa, que se mistura as árvores e invoca o sentimento de justiça e a expertise para o crescimento. Hoje, a Casa possui 800 matrículas, a maioria dos alunos realizam mais de uma atividade. A instituição oferece diversas oficinas como: música, dança e canto, clube literário, artes visuais, audiovisual. Todas as oficinas interagem entre si. Os alunos recebem instruções técnicas de alto nível. Na idealização e construção de todos os projetos da Casa,
os saberes se unem formando o todo. A proposta da Casa de Vovó Dedé vai além de simplesmente formar profissionais, isso é consequência de treinamento e repetição de técnicas. O objetivo maior é formar cidadãos para o mundo, pessoas instruídas para a vida, com capacidade intelectual e valores humanos sólidos. É nessa missão que a Casa se engaja. A preocupação com qualidade e excelência nos serviços permeia a base do trabalho sólido que a Casa vem realizando. A escola trouxe para dentro não apenas os estudantes: as famílias dessas crianças e adolescentes também foram inseridas e amparadas. Os resultados positivos adquiridos ao longo desses 23 anos colocam em cheque todo um sistema educacional.
MAIS QUE NEGÓCIOS DE FAMÍLIA | 15
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Projeto Social para Idosos Foto: Acervo Casa de Vovó Dedé
No último sábado de cada mês, a Casa recebe os idosos assistidos para a entrega das cestas básicas.
“Eu tenho uma veneração muito grande pelas pessoas idosas, por toda a sua contribuição dada à sociedade, em respeito a vida e ensinamentos que só os idosos com sua experiência de vida podem passar”, ressalta Wagner. 16 | PROJETO SOCIAL PARA IDOSOS
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Naquele momento, Wagner toma uma decisão: a partir daquele dia ele irá doar uma cesta básica para aquela senhora toda semana. No próximo sá bado, conforme combinado a senhora volta à sua porta. Dessa vez acompanhada por uma amiga, que vive a mesma situação de necessidade. Dessas duas se transformaram em três, quatro e cinco. Essas cinco senhoras passam a receber uma cesta básica. A carência daquelas senhoras era o retrato da realidade do bairro. Diante daquela situação, ele sentiu a necessidade de amenizar um pouco a vida dessas pessoas. Com o apoio e ajuda da família, especialmente do seu pai, nascia um dos projetos da Casa.
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m setembro de 1992, na rua Jerônimo de Albuquerque, número 445, na barra do ceará, funcionava um escritório de engenharia. Era sábado de manhã, e o engenheiro civil, Wagner Barbosa, é surpreendido por uma batida no portão: eis em sua frente uma senhora a lhe pedir dinheiro para a compra de um remédio. Após examinar a situação e comprovar através da receita médica, que se trata de um pedido genuíno, Wagner acompanha a senhora até a farmácia mais próxima. Durante o percurso, a senhora discorre sobre sua dura realidade.
Atualmente, a instituição assiste 70 idosos que são presenteados no último sábado de cada mês com cestas básicas, café da manhã e muita festa. É um dia de comemoração. A assistência e responsabilidade por esses idosos fazem parte do serviço social que a instituição presta à comunidade. Para Wagner, contribuir para que essas pessoas tenham um pouco de dignidade e alegria em suas vidas, é uma honra. ‘‘Eu tenho uma veneração muito grande pelas pessoas idosas, por toda a sua contribuição dada à sociedade, em respeito à vida e aos ensinamentos que só os idosos com sua experiência de vida podem passar’’, diz Wagner. E assim começa uma grande história de sucesso. Parte de um sonho, que vira uma ideia. E uma ideia sólida que se enraíza no consciente ganha poder. Ideias são alimentadas, não podem ser destruídas. E foi assim, de uma ideia fixa, centrada no apelo social, com o propósito de realizar um trabalho transformador na vida de uma comunidade que nasceu a Casa de Vovó Dedé.
PROJETO SOCIAL PARA IDOSOS | 17
“Ideias são alimentadas, não podem ser destruídas.”
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Curso de Audiovisual
18 | CURSO DE AUDIOVISUAL
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Alunos do curso de audiovisual preparam vídeos que serão apresentados como produto final do curso.
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Fotos: Marilene Nascimento
Casa de Vovó Dedé se prepara para formar sua segunda turma do curso de audiovisual em dezembro de 2016. O curso foi iniciado em agosto de 2015, quando a Casa montou o seu próprio estúdio de TV e de Rádio. O curso foi idealizado pelo conselheiro da Casa, Wagner Barbosa, que após muita pesquisa e visitas a estúdios de TV, inclusive o da TV Verdes Mares, chegou ao modelo ideal para a realidade da Casa: um estúdio de TV para a internet. Como forma de seleção para o curso, Wagner abriu uma oficina de audiovisual, com duração de três meses, nesse processo, de forma bem natural, os próprios alunos se segmentaram nas áreas em que mais se identificaram. O cinegrafista, Wilson Júnior, que tinha experiência como operador de câmera na TV Verdes Mares, ministrou a oficina. Como todos os projetos da Casa, o curso de audiovisual foi planejado de forma bem sólida. Os alunos envolvidos, aprendem técnicas das mais básicas às mais complexas. Plantada a semente, o segundo passo foi formar a equipe que iria ficar a frente do projeto. Ewelter Rocha, pesquisador da USP (Universidade Pública de São Paulo), Coordenador da UECE (Universidade Estadual do Ceará), premiado no Festival de Cannes na categoria Melhor Trilha Sonora, faz a primeira visita à Casa no dia da CURSO DE AUDIOVISUAL | 19
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apresentação dos trabalhos dos alunos que participaram da oficina de Audiovisual. E ao presenciar o evento decide naquele momento fazer parte do time.
duzidos pelos próprios alunos em seus próprios estúdios. ”A arte me emociona, trabalhar com esses jovens e compartilhar experiências é o que faz valer a pena. Compartilhar no sentido mais amplo, porque assim como eu passo algo que eu, por ter vivido mais, adquiri, eles também me passam uma lição de vida todos os dias”, ressalta Lessa.
Augusto Lessa é o coordenador das oficinas de rádio e TV Vovó Dedé. Profissional experiente com 47 anos de TV, é responsável pela produção dos dois veículos, desde a programação, cobertura e direção da equipe. Hoje todos os pro- Para Caio Fernando (15), aluno de audutos da Casa de Vovó Dedé são pro- diovisual, violão e integrante da equipe
20 | CURSO DE AUDIOVISUAL
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“A carência está em diferentes formas, cabe a nós percebê-la”,diz Jonab.
de produção da TV Casa de Vovó Dedé, atribui à Casa a sua melhora nos estudos e a melhor convivência com sua família. “Aqui eu aprendi a dar mais valor a minha educação, hoje tenho muitos sonhos e sei que estou no caminho certo para conseguir realizá-los. A Casa provoca isso na gente”, disse Caio. O coordenador geral da Casa de Vovó Dedé, Jonab Fernandes, formado em administração e direito, faz parte do time desde 2014. Juntamente com Wagner, é peça chave no trabalho social que a Casa desempenha. Além da
parte administrativa e burocrática, Jonab desempenha um papel de grande responsabilidade, pois é com ele o primeiro contato dos que buscam fazer parte da instituição. É ali que toda sua experiência de vida é posta em prova. A linha tênue entra a objetividade e subjetividade são colocadas lado a lado. “As aparências enganam, aqui todo dia recebo uma lição. A carência está em diferentes formas, cabe a nós percebê-la, e assim acolher quem realmente precisa.”, disse Jonab.
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A Arte de Aprender Oficinas na área da música, da dança, das artes em geral, enriquecem o trabalho social que a Casa vem desempenhando
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alunos. A inspiração que ela provoca, a disciplina que ela exige e a sensibilidade que aflora em quem a aprecia, são utilizadas como ferramentas na construção do produto humano.
O fator social é o motor que sustenta a Casa. A música, que é considerada a mais sublime das artes, é usada como um divisor de águas na vida dos
Cada oficina da Casa de Vovó Dedé (nas áreas de música, canto, dança, artes visuais e tecnologia), atua como agente de especialização em um determinado segmento artístico. E todas se complementam. É uma dança que necessita da
Casa respira arte, basta adentrar o ambiente para emergir em uma dimensão onde a cultura reina. A apreciação pela boa música, pelos instrumentos clássicos fazem da Casa de Vovó Dedé um oásis no meio do deserto.
22 | A ARTE DE APRENDER
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música, que precisa ser cantada com a É nesse universo de oportunidades que os sensibilidade de uma criança e com a alunos se especializam e escrevem a sua força de quem luta por uma vida melhor. história. “Cada vida transformada com a ajuda da Casa de Vovó Dedé fortalece A Casa de Vovó Dedé, por meio da nossa missão que é e sempre será a de música, leva os seus assistidos a de- ajudar os que precisam. Saber que estasenvolverem tanto a sensibilidade mos contribuindo para que nossos assisquanto a parte científica, a técnica tidos tenham a chance de ter um futuro em si, e ajuda na construção dos va- diferente de seus pais e avós, nos dá forlores humanos, para a formação de ça para seguir”, declara Wagner Barbosa. uma sociedade mais justa e igualitária. A ARTE DE APRENDER | 23
Foto: Acervo Casa de Vovó Dedé
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Perfis Cada aluno tem sua história pessoal com a Casa. Mais uma coisa todos têm em comum: Gratidão! A escola de artes Casa de Vovó Dedé tem um “Q” a mais que as outras. Ela quebra a barreira instituição-aluno, e transforma a relação profissional numa convivência familiar. A Casa de Vovó Dedé é o segundo lar para os seus assistidos. A maioria dos alunos passam muito mais tempo na escola do que em sua própria casa. A relação aqui é de AMOR.
24 | PERFIS
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PERFIS | 25
Foto: Acervo Casa de Vovó Dedé
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Michelle Lucena 23 anos - Pianista
26 | MICHELLE LUCENA
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ichelle teve seu primeiro contato com a Casa de Vovó Dedé aos cinco anos de idade, quando a Casa funcionava como Escola de Ensino Fundamental. Foi a primeira aluna de piano a estudar com Dona Regina. (esposa de Mansueto Barbosa, fundador da Casa).
preparou o repertório que Michelle usou em seu teste de aptidão. Logo no início da graduação, foi convidada para participar da Orquestra Sinfônica da UECE - (OSUECE). Michelle já concluiu sua graduação e desde o ano passado se integrou ao quadro de professores da Casa de Vovó Dedé. E como um ciclo que nunca se fecha, hoje ela passa a outros alunos tudo o que aprendeu sobre piano. E assim a história continua.
No início Michelle não tinha a pretensão de se tornar uma pianista, mas com o passar dos anos o desejo surgiu, e com ele uma força de vontade regada a muito esforço e dedicação fizeram de uma me- Michelle participa do Programa nina, uma profissional respeitada. de Extensão de Música na Casa de Vovó Dedé, ministrada pelos proAo concluir o ensino médio, fez ves- fessores, Vitor Duarte, pianista e tibular para bacharelado em música professor na Universidade Federal na Universidade Estadual do Ceará do Ceará - UFC, e Nelma Dáhas, - UECE. Dona Regina sempre ao professora de música na Universeu lado incentivando nos estudos, sidade estadual do Ceará - UECE.
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Foto: Marilene Nascimento
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Rivaldo Pereira 22 anos - Locutor,Músico e Produtor
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ivaldo chegou a Casa de Vovó Dedé aos cinco anos de Idade, como aluno da alfabetização da Escola de Ensino Fundamental José Bueno - Casa de Vovó Dedé. É aluno do Curso de Audiovisual, locutor da Rádio Casa de Vovó Dedé, faz parte da produção da TV Casa de Vovó Dedé e dá monitoria no Curso de Violão. O aluno recebe uma bolsa da Casa. A Casa de Vovó Dedé se tornou a sua segunda família, toda a sua história de vida é entrelaçada à Casa. Para o aluno, a Casa é um refúgio do mundo lá fora. “Eu fui um dos que foram salvos”, diz Rivaldo Pereira.
28 | RIVALDO PEREIRA
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Foto: Marilene Nascimento
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Karina Toledo 22 anos - Pianista
30 | KARINA TOLEDO
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Dedé fazendo dança renascentista, ao ver o piano se apaixonou, e queria aprender a tocá-lo, devido ao seu tamanho, dona Regina recomendou que ela iniciasse com a flauta. Algum tempo depois, um pouco maior, iniciou as aulas com o piano. Muito perfeccionista, Karina devorava as lições, aprendendo a tocar Karina, muito observadora, notava o instrumento com muita rapidez. pelos os uniformes e mochilas que os alunos usavam que se tratava Aluna de Bacharelado na Univerde uma escola muito boa, chegan- sidade Estadual do Ceará - UECE, do a comentar com sua mãe sobre se apresenta em concertos pela estudar lá, e em seguida desmo- cidade de Fortaleza, umas três vetivada pelo pensamento que uma zes por mês, em diversos espaescola daquele nível seria parti- ços culturais que a capital dispõe. cular. O que na verdade não era. Karina participa do Programa de Pouco tempo depois a escola fe- Extensão de Música na Casa de chou no ramo de ensino de educa- Vovó Dedé , ministrada pelos proção formal e se transformou em uma fessores, Vitor Duarte, pianista e escola de música. Karina não resis- professor na Universidade Fedetiu e juntamente com sua irmã fo- ral do Ceará - UFC e Nelma Dáhas, ram conhecer a Casa de Vovó Dedé. professora de música na UniverA aluna iniciou na Casa de Vovó sidade estadual do Ceará - UECE. asceu em São Paulo, e por obra do destino sua família veio morar no bairro da Barra do Ceará, Fortaleza CE. A Casa que a família veio morar, ficava em frente a Casa de Vovó Dedé ( na época, escola de ensino fundamental).
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Foto: Marilene Nascimento
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luno dos cursos de Audiovisual e Violão, e integrante da equipe de produção da TV Casa de Vovó Dedé. Caio passa a maior parte do tempo na Casa, é lá que ele alimenta o sonho de se tornar um fotógrafo conceituado. O aluno atribui à Casa o seu melhor desempenho tanto nos estudos, como na convivência com a sua família. Hoje ele vê a vida com muito mais entusiasmo. O desejo de ser um profissional no ramo de audiovisual, o transforma em um aluno aplicado e interessado, fazendo-o absorver todos os saberes disponíveis. ”A Casa provoca isso na gente, aqui eu passei a acreditar que tudo é possível”, diz Caio Fernando.
32 | CAIO FERNANDO
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Caio Fernando
15 anos - ViolĂŁo e Audiovisual
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Foto: Marilene Nascimento
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Tielle Martins 18 anos - Pianista
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az parte da Casa de Vovó Dedé desde os quatro anos de idade, começou as atividades na Casa participando de uma oficina de Moral Cristã. Aos doze anos iniciou a oficina de flauta doce e piano, o segundo instrumento a conquistou. Tielle fez vestibular para licenciatura em música na Universidade Estadual do Ceará - UECE. Aluna do primeiro semestre, Tielle se encanta e reforça a certeza do que quer para o resto de sua vida, “Ser uma pianista famosa”.
34 | TIELLE MARTINS
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Foto: Marielene Nascimento
R e v i s t a V o z & Vi d a | E d i รง รฃ o E s p e c i a l | N o ve m b r o - 2 0 1 6