Poesia insone e outras frases

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Poesia insone e outras frases M.Muller


Copyright Š 2014 Maria Muller - Todos os direitos reservados.


A todos os que serviram de inspiração e aos que ainda hão de servir.


SUMÁRIO

I - bálsamo para a angústia... II - o acaso foi pego em flagrante... III - a nitidez muitas vezes... IV – me flagro em prantos noturnos... V - pereço em um sentimento... VI - venha se for pra curar... VII - você pode até desejar... VIII - com os olhos semifechados... IX - serpenteia ao meu redor... X – me cative pela mão... XI – danço colado os pensamentos... XII - era um misto de ... XIII - cartas a um destinatário ausente XIV - entre os goles no vinho tinto... XV - com o dicionário em punho... XVI – queria ter escrito mais cedo... XVII - o rei dos girassóis XVIII – o foco destoa... XIX - Carlos me avisou... XX – quem atrai olhares... XXI – de todas as melodias... XXII - quadro de Lautrec... XXIII - enquanto tento adivinhar... XXIV – entre todos os pontos... XXV – sentimentos... XXVI – sou o que sou... XXVII – intensa volúpia... XXVIII – o corvo de Poe XXIX – que negativa mais fugaz XXX – o coração... XXXI – me equivoquei nos últimos beijos... XXXII – um conto seria muito breve... XXXIII – não lembro dos detalhes...


XXXIV – as suas últimas palavras... XXXV – no ínterim de goles rápidos... XXXVI – o propósito era te acarinhar... XXXVII – não posso me esconder do fato... XXXVIII – te deixo a cama... XXXIX – o desejo tem pressa... XL – gritante veracidade... XLI – truculento acaso... XLII – a razão gorjeia... XLIII – eu duvido... XLIV – peça pra musicar minhas poesias... XLV – o poeta tem fases... XLVI – no mais leve dos toques... XLVII – alternava empecilhos ... XLVIII – o Amor deveria vir com salário mínimo...

Sobre a autora:


I- bálsamo para a angústia que rasga e atordoa e que alcança sua plenitude antes da alvorada...

II- O acaso foi pego em flagrante Delatou meus desejos insanos Implorou certo beijo singelo Com um quê de algoz leviano

Assinou minha pele com seu cheiro Invadiu meus sonhos sem maldade Imaculado semblante sorrateiro Precursor do que viria a ser saudade

Sua voz ainda reverbera Os anseios de outrora E perante tal sortilégio Flerto com a simples memória

O encanto no tempo presente Resquício do verbo querer Que já não ouso conjugar Sem ao menos ter você


Pura sina, eu diria Da sombra que ficou Tornando-se um fado inebriante Parte essencial do que sou.

III- A nitidez muitas vezes se torna ficcional. Uma estratégia obscura do claro.

IV - me flagro em prantos noturnos em mais uma mera " histeria em massa comigo mesma" suspendo sonhos antigos transformando em Technicolor a realidade presente puramente caprichosa melindrosamente sádica duramente diária. absurdos relances de déjà vu constantes recordam somente o contorno do que um dia já foi um todo.


V- pereço em um sentimento que nem ao menos sei o nome

pereço em uma memória onde não acho o caminho de volta

pereço na sobriedade voluntária e no entorpecimento da vontade de te ter

pereço na música que não finda em cada acorde que envolve essa ânsia ritmada do querer.

VI- venha se for pra curar senão prefiro que fique onde está venha se for pra acalmar senão deixe-me quieta na minha agitação

traga se vier, paz porque tenho meu próprio caos traga se vier, conforto porque de desolação basta


adicione se puder, afagos entremeados com sorrisos e se possível, a palavra certa no meio da noite, sem espera...

VII- você pode até desejar mais de um corpo eu prefiro conectar com uma só alma e ser pensamento recorrente de uma só mente.

VIII- com os olhos semifechados tento resgatar teu cheiro através de recentes lembranças na pele e da marca d'agua na alma.


IX- Serpenteia ao meu redor Simplório comedor de vertigem alheia Que incomoda e chateia Com seu intrépido odor de perversão És sina A imagem preferida quando estou em solidão

Serei entregue a sonhos e afins Revolto-me por causa de ti Debocha, ri, sapateia Marca minha pele com mordidas brejeiras

Afogaria teu sarcasmo Guilhotinaria teu saber Matar-me ias de prazer Sei disso e me angustio Por quê?

Porque não posso te comprar Nem com ouro, almíscar ou chá Um convite lhe faria Porém, suportar um não Seria como pisar em cacos de vidro no chão

Então, me retiro do ato Ciente e grata Mas faça constar:


Nada e nem um pouco farta.

X - me cative pela mão com um pensamento inesperado provocando risos sem aparente razão

me liberte estando ao seu lado mesmo calados, quietos apreciando noturna vastidão

me acarinhe sem pressa de ser e seduza meus olhos pra só te querer juro que me basto em você.

XI - danço colado aos pensamentos que incendeiam na madrugada nesse escarcéu interno de solitude clamada.


XII- era um misto de gozo e liberdade com sobressaltos de algo promissor que se perdeu em meio a tanta insônia.

XIII - Cartas a um destinatário ausente

Escrevo-te sem saber porquê ou exatamente o quê pra uma ausência sentida em nós nós que não somos ainda

Talvez fiquem estas cartas ao léu afinal sem endereço certo fica inviável saber porém teimo e continuo a escrever tentando abdicar de medos vindouros

Mas me sinto leve em conceder uma chance dentre tantas perdidas sem pensar por demais em que mãos este envelope irá parar


ou quais olhos ele irá seduzir quando a hora certa chegar

Torno-me noturna por esta razão acompanhada de uma solidão guiada pela mais forte crença que nenhuma das palavras escritas aqui serão em vão...

XIV- entre os goles no vinho tinto de safra desconhecida ela concedia sorrisos por uma boa causa e ele aguardava do outro lado da sala o exato minuto em que a garrafa ecoasse ação para assim, poder entrar em cena. . .

XV- Com o dicionário em punho tento achar uma palavra que caiba em algo que foi muito em tão pouco tempo.


XVI - queria ter escrito mais cedo pra de repente te fazer entender mas não deu tempo

o meu acanhado garrancho acabou sendo mais legível que seus confusos sentimentos

e o papel que até então tinha como destino você acabou amassado para sempre junto com os nossos poucos, porém bons momentos.

XVII - O Rei dos Girassóis

idílico mambembe que larga apaixonadas moças mundo afora que joga buraco na praça que toma banho de balde que gosta da mata


meio hostil sem custos leva debaixo do braço um Alcorão achado um Sertão Veredas um prato fundo capenga e folhas de aspecto rosado

as ceroulas puídas seu charme não tira é um fidalgo de alma a procura de não sei o quê sem parar nunca

grita ao sete cantos que são oito ameça o vento mas respeita a chuva meu desbravador implora-me uma história disse pra não enfeitar e só escrever os causos que contar prepare a sela, vamos trotar.

XVIII - o foco destoa quando você aparece em cena

a trilha perde o ritmo

um roteiro é desconstruído


quero te dirigir

sem cortes

em plano sequencia

inteira.

XIX- Carlos me avisou da pedra no caminho, eu só não sabia que pesava tanto.

XX - quem atrai olhares com um decote não sabe a força que as palavras têm em despir.

XXI - de todas as melodias vindas de qualquer instrumento o som do seu passo em direção a mim


é o que mais meus ouvidos almejam escutar.

XXII- quadro de Lautrec fim de tarde olhares cruzados

parisiense, alto olhos azuis cabelos bagunçados

cabaré meia arrastão batom borrado

meia-luz inverno, vinho amaldiçoado

pernas, costas encharcados movimentos nada ajuizados

cama, desordem "um café s’il vous plaît"


apago o cigarro, mais um dia nublado...

XXIII - Enquanto tento adivinhar o que pensas, esqueço as minhas próprias dúvidas.

XXIV - entre todos os pontos impostos dentre escuro e claro sobrepostos nuances e relances te vejo entre aspas, entre farpas te desejo entre lençóis , faróis à beira-mar, ao luar quero segurar tua nuca e mostrar como faço teu traço em diversos ângulos em cada abraço.

entre cada promessa e cada mentira há uma verdade confundo e enlouqueço


iludo mas reconheço um semblante num instante parte de um sonho constante sou solidão, tu multidão e não somos somente o"x" mas todo o "abc" da questão.

XXV - Sentimentos: meramente piegas subitamente falsos explicitamente disconexos loucamente reais.

XXVI - sou o que sou pela fúria que possuo ao ver retalhos de vida que poderiam ser uma coisa só

sou o que sou pela dor dor procurada , dor achada


ou dor que veio do nada

sou o que sou pela raiva contida despejada aos poucos derramada aos muitos

sou o que sou por mim diferente do que os outros acham sou o que vejo , não o que me façam.

XXVII - intensa volúpia tu e eu de quartos fechados lençóis perfumados focados , suados olhamos para os lados o vazio segue seu rastro porque tudo não passou de um truculento acaso.


XXVIII - O corvo de Poe

o corvo de Poe ainda se faz notar mas em vez de "nunca mais" ele, em tom irônico, anuncia: " deixe estar "

voa rasante tentando surdinamente apontar para o lado de lá não posso negar mais uma vez escuto: " deixe estar "

todavia, quando me viro só vultos, é o que há decido ao pássaro perguntar: "por que tens medo de perto de mim repousar?" e ele: " deixe estar "

começo a me intrigar, a me irritar: "mas que diabos esta maldita ave faz a me rodear?" perto do velho carvalho, camuflado, ele jaz: " deixe estar "

"se meu gato não fosse vegetariano o deixava abocanhar" ele agora desata a gargalhar


vou armar a arapuca agora de uma vez por todas, hei este corvo capturar meu pesâmes Edgar.

XXIX - que negativa mais fugaz e que tormenta me provocou você que dizia sentir meu cheiro madrugada adentro

que negativa mais inapropriada para um rapaz que supostamente sabe o que faz mas que ao meu olhar ainda se curva para trás

e que negativa mais doída me pegou desprevenida vou laçar o destino com suas peripécias imorais e esculpir sua lápide: aqui jaz.


XXX - o coração é feito de barro rosé.

XXXI - me equivoquei nos últimos beijos que dei percebi em mim esse eu que só sossega com você.

XXXII - um conto seria muito breve e um romance muito extenso. fico então com a página em branco somente imaginando...

XXXIII - não lembro os detalhes só do desejo aturdido apagando lembranças de um coração que com paixão foi deveras sofrido.


XXXIV - as suas últimas palavras foram: "eu errei" mas não se preocupe o erro maior foi meu quando me permiti acreditar em você.

XXXV - No ínterim de goles rápidos Em um canto de um bar qualquer Confissões em tom sépia Entre dois corpos sovados Afortunados pelo simples fato De estarem lado a lado.

XXXVI - o propósito era te acarinhar por um bom tempo iluminar teu olhar com um breve toque


te fazer entender de longe tal absoluto desejo surgido do nada e que agora se esvai com ternura

o cheiro absorvido quando estavas perto guardo na memória para acalentar a madrugada para servir-me de companhia quando precisar e só eu sei o quanto dele preciso

nunca percebi se suas palavras foram verdadeiras ou somente frutos do que fantasiei ser real nunca nossos corpos estarão na mesma cama sem a preocupação com o depois de amanhã

por fim deixo aqui ecos de sentimentos órfãos e abandono em definitivo, mesmo com certo receio o atalho promissor que pegamos juntos voltando assim para o caminho piegas que deixei em mim.

XXXVII - não posso me esconder do fato de que sou instantes cavalgo na mais estrondosa certeza do que ainda está por vir e virá, assim como tudo que foi.


XXXVIII - te deixo a cama como lembrança o espelho, os desenhos os sonhos e o sossego as cinzas no cinzeiro

deixo também a rede embalando pensamentos cultuando a lua cheia sendo acariciada pelo vento

me separo das fotos em vermelho do prazer, dos chamegos das velas e das muitas margaridas na janela

me despeço de nós mas te deixo eu que sem tu fica difícil ser.


XXXIX - o desejo tem pressa, me encontro esbaforida.

XL - gritante veracidade que acomete minha mente provocando lágrimas e consolando a inocência que se encontrou degradada após encarar tão densas palavras de outrora . me guio agora por tais imortais cujas faces não são familiares , mas cujas obras me confortam quando deitada só e em lamuriante estado de insônia.

XLI - truculento acaso sem volta trota em direção ao precipício resquício de outrora malefício agora orgásmico vício.


XLII - a razão gorjeia na tentativa de atrair a insanidade mas ela só aparece quando o amor chama.

XLIII - eu duvido que esse amor vá desvanecer bem que eu queria vê-lo desaparecer em meio ao entardecer de repente, do nada, sem aviso prévio de tédio...

XLIV- peça pra musicar minhas poesias menos minha mão em casamento não concedo divórcio a solidão.

XLV - o poeta tem fases: algumas de amor, outras de torpor.


XLVI - no mais leve dos toques dos teus dedos em qualquer parte aparente do meu corpo

no mais doravante pensamento que acomete meu sono

na mais singela palavra que descreves a sensação narcótica de quando estamos juntos

na mais insana sede de ser tua sem ninguém por perto

mora a intransponível clareza amedrontadora da possibilidade de estar verdadeiramente mais que te estimando como um simples ser.

XLVII - alternava empecilhos com música e rebeldia com cochilos vespertinos.


XLVIII - o Amor deveria vir com salário mínimo décimo terceiro vale-alimentação e vale-transporte

não acompanha manual, ou nenhuma outra instrução não há mãos calejadas de enxada mas pode largar o coração em frangalhos sem aviso prévio

nas eventuais cartas de demissão a esperança é que o Sr. Amor te admita mais uma vez no emprego árduo porém recompensador que ele oferece

e nem ouse pedir aposentadoria, porque quando menos se espera ele bate na porta pedindo para voltar e digo, com experiência de quem já o teve como chefe: em vão resistir a tão agradável labuta.


Escrevo pra cicatrizar o que o tempo n達o foi capaz de fazer sozinho...

FIM.


Sobre a autora: Nascida em 10 de fevereiro de 1982, M. Muller é poeta e escritora, prestes a finalizar seu primeiro romance. Raramente escreve de dia, deixando pra noite a função de guia das palavras. Foi uma das selecionadas em 2012 do TOC 140 - "Os cem melhores poemas do TOC140, Poesia no Twitter".


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