os lugares e as liçþes guia de espaços cotidianos da zona central de belo horizonte
mariana lima
os lugares e as lições guia de espaços cotidianos da zona central de belo horizonte
MARIANA LIMA Julho de 2019 Escola de Arquitetura Universidade Federal de Minas Gerais Graduação em Arquitetura e Urbanismo Trabalho de Conclusão de Curso Orientado por Carlos Alberto Maciel
OS LUGARES E AS LIÇÕES
índice apresentação 05 introdução 09 reflexões sobre cidade e arquitetura zona central de belo horizonte seleção dos lugares as lições dos lugares
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parte 1. resposta à grelha 70 esquinas de belo horizonte 74 edifício niemeyer 86 rainha da sucata 92 edifício khronos 100 escola de arquitetura da ufmg 106 conjunto sulacap-sulamérica 114 parte 2: condensadores sociais 122 conjunto jk 126 cine brasil 140 parte 3. ruas aéreas 154 edifício arcângelo maletta 158 edifícios helena passig e joaquim de paula 166 edifício acaiaca 174 parte 4. galerias 180 galeria ouvidor 184 mercado central 192 mercado novo 200 shopping cidade e galeria tratex 208 parte 5. seções urbanas 216 terminal rodoviário 220 parque municipal e palácio das artes 232 conjunto da praça da estação 240 considerações 253 bibliografia 258
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apresentação
OS LUGARES E AS LIÇÕES
Será que percebemos os lugares por onde passamos todos os dias? Será que conhecemos a cidade que habitamos? Os lugares e as lições é uma tentativa de fortalecer a nossa relação com o ambiente vivenciado através do reconhecimento e do estudo de locais que fazem parte do cotidiano da vida na cidade. Direcionando o olhar para os lugares existentes de Belo Horizonte, são apresentadas pequenas lições sobre arquitetura e urbanismo para você, habitante ou visitante. O guia surge do desejo de revelar espaços de uso recorrente que, além de cumprir necessidades ordinárias e habituais, se mostram de grande valor por indicar novas possibilidades de habitar a metrópole - novas não no sentido de recém criadas, mas de significar uma alternativa aos modos consolidados de se ocupar a cidade. É uma tentativa de se dedicar ao ambiente construído, corriqueiro - e, por isso mesmo, talvez banalizado - em busca de lições a partir do que já existe e se tornou invisível ou apenas não tem sido encarado como referencial apropriado. Percebendo a cidade como um campo complexo, diversificado e em constante transformação, o intuito é instigar o olhar para o espaço vivenciado, favorecer a interação com a realidade construída, colaborar para o entendimento de temas relacionados à arquitetura e ao urbanismo, para o enriquecimento do repertório projetual, excitar questionamentos sobre a prática de produção de espaço contemporânea e assim fundamentar reflexões futuras.
A decisão pelo formato de guia devese ao interesse em buscar respostas através de estudos reais de caso e, assim, despertar e fomentar a possibilidade de que os locais identificados sejam visitados – por leitores que os desconheçam - ou revisitados – por quem já os utilize - sob um novo olhar, mais aguçado para as espacialidades existentes, sua relação com o contexto, suas formas de apropriação e suas potencialidades. Como recorte espacial para esta investigação foi definida a Zona Central de Belo Horizonte, devido a três aspectos principais: em primeiro lugar, trata-se de uma resposta à força dessa região como centralidade metropolitana, marcada por intensidade de fluxos, variedade de usos e diversidade de usuários. Devese ainda à necessidade de se estudar locais de fácil acesso e bem inseridos na malha urbana, para que esses possam ser constantemente visitados ao longo do período de análise e experienciados pelos leitores deste guia. Além disso, é uma tentativa de se contrapor aos tradicionais roteiros turísticos, os quais costumam apresentar uma seleção extremamente consolidada e atenta aos objetos icônicos da zona central, mas que pode se esquecer de riquezas ordinárias e, por conseguinte, da sua capacidade de traduzir e retratar a cidade. Em contrapartida, evitei um recorte temporal, por considerar que a cidade é palco de distintos momentos da vida urbana, que a sobreposição de períodos históricos é uma das grandes virtudes da
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O acervo deste guia não é homogêneo, coeso e nem terminado. Na realidade, é fundamentalmente inacabado e uma forma de incentivo ao leitor, que poderá reconhecer novos valores nos espaços que visitar, experiênciá-los de diferentes formas e transpor suas ideias para quaisquer outras localidades. Devo ressaltar ainda que os espaços selecionados não retratam, um a um,
Tratando-se de um guia para explorar e aprender com o espaço construído, não cabe definir um roteiro a ser percorrido e logo finalizado. A ideia é que a assimilação das ideias possa ser feita de maneira perene, a tempo e gosto do leitor.
cotidiano
cidade
O trabalho é estruturado da seguinte maneira: inicialmente trato sobre o tema das cidades por meio de um apanhado geral de estudos que levantam conceitos e problemáticas. Em seguida, há o entendimento do espaço em questão, através de uma breve perspectiva histórica e evolutiva sobre a Zona Central. Tais questões levam ao desenvolvimento de critérios e pressupostos do que seriam “boas práticas” nesse contexto, para, por fim, atingir uma gama de estudos de caso – objetos do roteiro de visitas – com a qual podemos interagir e aprender. Essa última parte é a que dá vida ao Guia de Espaços Cotidianos da Zona Central de Belo Horizonte, podendo ser lida separadamente como um roteiro visitável, mas que não existiria sem as reflexões desenvolvidas ao longo dos textos iniciais, os quais tendem a enriquecer as lições apresentadas por cada um dos lugares.
todas os critérios de análise e tampouco respondem a eles da mesma maneira. Todavia, fundamentalmente, todos eles podem, cada um à sua maneira, nos ensinar lições sobre as formas de lidar com o espaço urbano e com a vida nele presente.
arquitetura
Zona Central e que seus espaços devem ser entendidos para além do momento em que foram construídos, abarcando ainda suas transformações ao longo do tempo e as suas inter-relações.
lições
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introdução
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reflexĂľes sobre cidade e arquitetura
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De forma breve, traduzimos a noção de “república” para o mundo da arquitetura e do planejamento urbano como sendo o critério que nos leva a conceber os edifícios em sua relação com o contexto e a totalidade a qual se referem, tanto quanto ou mais do que a função arquitetônica a eles atribuída. (BRANDÃO, 2008, p.71)
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A METRÓPOLE: DESIGUAL
DIVERSA
E
Richard Sennett em seu mais recente livro01 propõe que as cidades são campos de heterogeneidade e de encontro das diferenças, estando constantemente marcadas por contradições e raramente por harmonia. A diversidade apontada por Sennett já havia sido descrita desde o século IV a.C. por Aristóteles: “uma cidade é formada por diferentes tipos de homens; pessoas semelhantes não podem dar vida a uma cidade”02. Walter Benjamim, em sua célebre obra “Paris, Capital do Século XIX”03 , também nos remete a essa mesma compreensão ao retratar os contrastes entre espaço privado e espaço público, indivíduo e multidão e individualidade e impessoalidade. Belo Horizonte além de “nascer” como uma cidade moderna, tornase metrópole04 . Isto é, local de importante posição econômica, cultural e política, que exerce força enquanto uma centralidade a qual outras se conectam, através do fluxo de pessoas, serviços, informações e mercadorias, por exemplo. Se a cidade é marcada por contradições, diversidade e desigualdade, é na metrópole – no encontro de duas ou mais cidade - que esses aspectos se intensificam e se complexificam. O entendimento das cidades como campo complexo é uma ideia defendida por Jane Jacobs05 . A cidade – e a metrópole ainda mais - é maior do que a soma de suas partes, as quais estão
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constantemente em processo de interrelação. Segundo Carlos Antônio Leite Brandão06 , “a metrópole é o lugar da impossibilidade de qualquer síntese e conclusão, e o transbordamento dos limites da avenida do Contorno o demonstra.” De acordo com Sennett, uma maneira pertinente de lidar com tal complexidade - inerente e inevitável é a abertura. “Em termos éticos, uma cidade aberta naturalmente toleraria as diferenças e promoveria a igualdade; mais especificamente, porém, ela libertaria da camisa de força do fixo e do familiar, criando um terreno para a experimentação e a expansão das experiências”01. Nesse sentido, será possível encontrar lugares - dentro de um espaço urbano já consolidado como a Zona Central de Belo Horizonte - que, além de atender aos interesses particulares de quem promoveu sua existência, conseguem compreender a sua posição diante de um conjunto maior e mais complexo? E, consequentemente, atingir o sentido de “coisa pública”07 para o qual a cidade foi imaginada ao final do século XIX? IMAGEM, COLAGEM E ÍCONE Vivemos em uma época de intensa veiculação imagética nos meios de comunicação. No campo da arquitetura e urbanismo, são inúmeros os sites que se propõe a divulgar fotografias e representações virtuais de lugares projetados. Se por um lado isso favorece a assimilação de uma extensa gama da
01. SENNET, Richard. Construir e habitar: ética para uma cidade aberta. Rio de Janeiro: Record, 2018. p.40. 02. ARISTÓTELES. The Politics. Londres: Penguin Books, 1992. 03. BENJAMIM, Walter. Passagens. 1892-1940. Belo Horizonte: Editora UFMG; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2007, 1ª reimpressão. 04. Termo de origem grega metropolis, que diz respeito à junção das palavras mãe e cidade. 05. JACOBS, Jane. Morte e vida de grandes cidades. 3 ed. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2011. 06. BRANDÃO, Carlos Antônio Leite. Vestígios de uma utopia urbana. Revista do Arquivo Público Mineiro, Belo Horizonte, Julho – Dezembro, 2008. p. 77. 07. República, do latim res publica, em português “coisa pública”.
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produção e facilita a leitura de algumas qualidades visuais, o contato puramente imagético com os espaços achata a assimilação completa do objeto e, sobretudo, de seu contexto. No livro “Rio Metropolitano: Guia para uma arquitetura” a mesma preocupação é apresentada através da ideia de que a produção e a experimentação arquitetônica nos dias atuais são marcadas por um “glaucoma”: “A sedução pela imagem vem sendo cada vez mais anestesiada pela própria atrofia da nossa capacidade perceptiva. Em outras palavras, a grande saturação de imagens acabou por nos cegar completamente[...]”08. Em decorrência desse processo, parte da produção arquitetônica passa a resultar da colagem de referências visuais desconexas. Como sintomas dessa preponderância imagética, temos a reprodução de soluções inadequadas a determinados contextos09 e o risco de se adotar como único foco válido de investigação, valoração e produção o caráter icônico dos objetos arquitetônicos, ou seja, o afastamento do cotidiano, do comum, do ordinário, em prol de uma representação, de um símbolo, de uma imagem desconectada de um contexto10. No que se refere a guias turísticos, focar apenas em objetos ícones gera o risco de veicular e externalizar uma cidade diferente da vivenciada por seus habitantes, o risco de se distanciar dos lugares realmente frequentados pela população, dos edifícios-tipos11 , para
se aproximar do que é discrepante, de contraponto a um grande conjunto de edifícios ordinários. No entanto, é importante fazer um paralelo com a ideia de que o icônico e o monumental podem, na realidade, surgir em decorrência da vivência cotidiana. Segundo Carlos Antônio Leite Brandão, “o monumento do mundo moderno, tal como o vê Le Corbusier [ao eleger a casa como nosso monumento], parte do presente e do homem real e visa ao comum, ao cotidiano, e não à exceção, à raridade, ao excepcional, ao que é apartado do cotidiano” e ainda “surge do nosso modo de habitar o mundo, de nossa experiência ativa dele, de nossos gestos e ações no mundo público”12. Por isso, a busca pelo cotidiano também pode percorrer o que é considerado icônico, mas por meio de outro olhar, que busca novas perspectivas.
ESPAÇOS RESPONSIVOS Belo Horizonte tem hoje a terceira maior concentração urbana do Brasil13 , a sétima maior aglomeração urbana da América Latina14 e sua Região Metropolitana conta com quase 6 milhões de habitantes15 . Atuar em um cenário tão potente requer profundo entendimento da realidade e virtuosa capacidade de especular sobre o futuro. Contrariamente ao que se vê em objetos desvinculados de contexto, isolados de uma realidade e fechados em si, as intervenções na metrópole - e em prol da vida na metrópole - deveriam ser orientadas pelo real, pela conjuntura
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08. LASSANCE, Guilherme; VARELLA, Pedro; CAPILLÉ, Cauê Costa. Rio Metropolitano: Guia para uma arquitetura. Rio de Janeiro: Rio Book’s, 2012. 09. Como exemplo é possível citar a disseminação dos edifícios inteiramente revestidos em vidro, mesmo em locais de clima tropical. O material por si só carrega uma força imagética tão forte que, mesmo com os gastos gerados por sistemas de climatização e iluminação artificial constantemente ligados, o saldo econômico final continua sendo positivo – caso contrário, não seria uma prática corriqueira dentro do contexto capitalista. 10. A exibição de arquitetura na Bienal de Veneza de 2010, de curadoria da arquiteta Kazuyo Sejima, é vista como um exemplo de antídoto à produção de objetos-ícones. Sob o tema “People Meet in Architecture” (Pessoas se Encontram na Arquitetura), a arquiteta colocou em foco discussões sobre relações entre as pessoas, visando instigar abordagens plurais para o tema. 11. Termo – cunhado por Aldo Rossi em “A arquitetura da Cidade” - que, em oposição aos monumentos, diz respeito à grande massa de edifícios comuns responsáveis por conformar a cidade. 12. BRANDÃO, Carlos Antônio Leite. Monumentalidade e cotidiano: a função pública da Arquitetura. MDC Mínimo Denominador Comum: Revista de Arquitetura e Urbanismo. Belo Horizonte, mar., 2006 p.03. 13. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo Demográfico de 2010.
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presente e pela possibilidade de variação no tempo, através de abordagens sensíveis, conectadas e híbridas. Por definição, contexto é um conjunto de circunstâncias inter-relacionadas que circundam e caracterizam uma situação, as quais podem ter caráter material ou ser da ordem do subjetivo. A partir disso, é possível afirmar que um espaço físico sempre se insere em um conjunto de circunstâncias já dadas, ou seja, em um contexto. Partindo dessa percepção, este guia se volta a exemplos de casos em que o olhar atento para o cenário circundante e um diálogo com ele permitiu concretizar espaços mais coerentes e potentes, e para além disso, capazes de amenizar as dificuldades de se atuar em uma conjuntura demasiadamente urbana, em constante transformação e, sobretudo, desigual. Em defesa de cidades mais diversas, justas e adequadas ao cotidiano, o intuito é exemplificar espaços capazes de reconhecer, entender, valorizar, modificar e tirar proveito das condições em que se localizam, ou seja, do seu contexto. Essas são as características do que aqui arrisco denominar como espaços responsivos16 – sejam eles frutos de uma proposta projetual ou resultantes de processos que se fizeram presentes. Propõe-se, portanto, estudar a arquitetura não como ação autônoma, isolada no mundo e determinada por seu autor, mas sim como abrigo de acontecimentos que estabelecem
múltiplas relações com o seu contexto, cuja condição é marcada, fortalecida e modificada pela vivência dos seus usuários e pelo transcurso do tempo. Para isso, serão objetos de estudo os espaços que fazem parte do cotidiano da cidade e se colocam à prova diariamente, que reconhecem a metrópole belohorizontina, suas diversidades e suas particularidades e que são marcados por qualidades que extrapolam a ordem imagética e icônica por vezes disseminada no campo arquitetônico.
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14. UNITED NATIONS DESA, Department of Economic and Social Affairs, Population Division (2018). World Urbanization Prospects 2018. Prospects: The 2018 Revision, Online Edition. 15. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo Demográfico de 2010. Brasil: IBGE, 2010. (População residente, por situação do domicílio e a localização da área, segundo as Regiões Metropolitanas, as Regiões Integradas de Desenvolvimento rides, os municípios e o sexo). 16. Termo este que não se refere à noção de Arquitetura Responsiva cunhada por Nicholas Negroponte, que diz respeito à utilização de sensores, atuadores robóticos e da cibernética para a adaptação e modificação do espaço em prol da criação de condições ambientais desejáveis.
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zona central de belo horizonte
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Com o decorrer do tempo, a cidade passou a apresentar vários lugares significativos, localizados principalmente na área central, os quais passaram a constituir pontos de referência que definiram todo um modo de vida ao belohorizontino, bem como a identificação dos moradores com tais lugares. A Praça Sete de Setembro, por exemplo, no início do século, era o lugar dos encontros, das festas e dos carnavais. Naquela época, foi inaugurada a estação de bondes, localizada entre a avenida Afonso Pena e a rua da Bahia, onde passavam, controlados por relógio, todos os bondes da cidade [...] O Centro reunia uma grande variedade de atividades e serviços, que vieram se avolumando ao longo da evolução urbana da cidade. Grande parte dos serviços localizados naquela área eram considerados exclusivos, e isso submetia as demais áreas da Região Metropolitana a sua total dependência. Aqui, confirma-se a idéia inicial do plano de Aarão Reis e da Comissão Construtora de erigir uma cidade radiocêntrica, dotada de um pólo referencial, dos pontos de vista socioeconômico e simbólico. (LEMOS, 2007, p. 95)
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BREVE HISTÓRICO Com o objetivo de substituir Ouro Preto por uma capital mais compatível com os ideais republicanos e modernos almejados ao fim do ciclo do ouro, em 1897 inaugurou-se Belo Horizonte. A cidade nasce e cresce sob a justificativa da transformação e da modernidade, com grandes e triunfais avenidas, pontos focais rigorosos e edifícios cuja arquitetura deveria atuar como referencial símbolo da então nova ordem. O plano para construir Belo Horizonte, no sítio onde se inseria o Arraial Curral del Rei, previa uma população de 300 mil habitantes para a zona urbana, cujos limites foram preestabelecidos pelo desenho da então Avenida 17 de Dezembro, atual Avenida do Contorno. Todavia, ainda nos primeiros anos a ocupação já se dava fora desse eixo e adentrava os cinturões suburbanos, em decorrência do alto custo da terra urbanizada e do crescente contingente populacional. Ainda assim, a zona demarcada pela avenida se consolidou como uma centralidade, como demonstrado por Celina Borges Lemos17. Ao longo dos anos seguintes, o Centro passou a dar sinais de saturação - em decorrência de sua excessiva capacidade agregadora - ao passo que as demais regiões da capital e da sua região metropolitana passaram a desenvolver um setor terciário mais independente. Ainda assim, pode-se afirmar que a zona central é a mais antiga e dinâmica
porção belo-horizontina, marcada pela movimentação de pessoas de diferentes classes sociais, em diversos períodos do dia e movidas por variadas razões. Diz respeito a uma localidade irrestrita da cidade, onde a diversidade e a desigualdade se mostram presentes de maneira intensa e cotidiana. Para melhor entendimento deste contexto, foi elaborado um breve diagnóstico a partir de três aspectos fundamentais para demonstrar como evoluiu a zona central, desde o momento em que foi planejada até os dias atuais. O objetivo é reconhecer o passado e o presente do local em estudo, instigando assim possibilidades de explorações futuras.
MALHA URBANA O desenho urbano proposto pela Comissão Construtora da Capital em 1895, sob coordenação do engenheiro e urbanista Aarão Reis, previa um arranjo de vias para Belo Horizonte que à primeira vista em muito se diferenciava do existente em Ouro Preto. Era clara a intenção de se opor à cidade colonial, seu crescimento espontâneo e seus problemas de salubridade. A nova capital deveria simbolizar um novo regime político e, portanto, representar a racionalidade, o êxito científico e as perfeitas condições de uma vida moderna. Na antiga capital mineira, de crescimento espontâneo e não planejado, as ruas haviam adquirido formas variadas
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Esquema simplificado de trechos das malhas urbanas das atuais cidades de Ouro Preto e Belo Horizonte, respectivamente.
17. LEMOS, Celina Borges. Uma centralidade belo-horizontina. Revista do Arquivo Público Mineiro. Belo Horizonte, Julho – Dezembro, 2007.
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e tentavam acompanhar o terreno existente, de muita complexidade e com zonas de grande inclinação. As ruas conformaram assim trajetos repletos de curvas e de certo modo imprevisíveis, em um traçado “orgânico” que reflete diretamente as tentativas de adequação ao contexto. Já em Belo Horizonte, a única rua de trechos curvos seria a Avenida 17 de Dezembro18 , responsável por contornar toda a zona urbana da cidade e separá-la da área não projetada. Sua construção se deu de modo fragmentado durante as primeiras décadas da cidade, ocorrendo uma alteração significativa no traçado original devido à existência de uma região pantanosa no trecho a sudoeste. A relocação resultou na supressão de treze quadras da zona urbana, que teve sua área reduzida nas proximidades do atual Bairro Lourdes. Ainda assim, tal opção mostrava-se vantajosa, pois, caso contrário, haveria considerável aumento de custo e tempo de obra para realizar a drenagem das áreas brejosas da antiga Fazenda do Leitão19 , nas redondezas da atual Avenida Prudente de Morais, uma região que sofre até hoje com problemas de drenagem. Na área circundada pela grande avenida, o projeto propunha um desenho rigidamente ortogonal para as demais vias, gerando assim os quarteirões retangulares. Sobre essa malha, foi implantada uma segunda a 45 graus, reservada às vias de maior importância, acarretando na conformação triangular de algumas quadras. A cidade nasce através de uma dupla trama ortogonal,
claramente hierarquizada e racionalizada por princípios geométricos. Poderíamos dizer que a malha urbana de Ouro Preto e Belo Horizonte são totalmente distintas, sendo a primeira heterogênea e reflexo direto do seu contexto, enquanto a segunda seria homogênea e desconectada do seu local de inserção. Todavia, um segundo olhar para o desenho de Aarão Reis nos permite reconhecer diversos pontos em que a uniformidade é quebrada e são propostas atipicidades na própria ordem estabelecida, em prol de objetivos maiores, como criar pontos de encontro de vias, desenvolver um caráter paisagístico marcante e criar vazios próximos a pontos simbólicos para a República, em uma perfeita junção entre as ordens espacial e social. Por essas razões, ainda que exista um partido geométrico claro e expressivo - marcado pelo traçado ortogonal e hierarquizado -, podemos afirmar que ele carrega consigo, desde o início, certa heterogeneidade e diálogo com seu contexto: não surge diretamente das condições preexistentes - e inclusive previa a substituição completa do Curral Del Rey - mas faz uso de alguns atributos naturais do sítio em favor dos objetivos motores da construção da cidade. O principal exemplo disso é fato da zona urbana ser delimitada por dois elementos naturais: no plano inferior o vale do Ribeirão Arrudas e na porção superior a Serra do Curral – que deveria ser vista de diversos pontos da cidade e é responsável pelo “belo horizonte”
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que dá nome à cidade. Não é por acaso a Avenida Afonso Pena é a via principal: em relação direta com a topografia, deveria ser um eixo norte-sul da cidade, do rio à serra, conectado em perspectiva as porções baixa e alta da cidade. De maneira geral, a organização da malha urbana prevista para a cidade em 1895 permanece até os dias atuais, sobretudo no que diz respeito à conformação das quadras. Ainda assim, existem zonas com alterações consideráveis, especialmente na porção nordeste, reflexo da supressão de áreas do Parque Municipal, e nas grandes vias, como nas avenidas Barbacena, Amazonas e Álvares Cabral. Já a Avenida Afonso Pena não foi alvo de muitas modificações, ao passo que nas quadras próximas é possível notá-las, sobretudo no encontro com a Avenida do Contorno e nas proximidades do Parque Municipal.
VAZIOS Outro aspecto estruturante da Zona Central de Belo Horizonte são os vazios gerados pela malha urbana. Muitos deles se devem às interrupções inseridas sobre o desenho geometrizado e carregam consigo objetivos paisagísticos fortes, como indica Carlos Teixeira ao dizer que “Aarão iniciou, ele mesmo, a mutilação dos ideais da cidade positivista”20 ao interromper as avenidas João Pinheiro, Álvares Cabral e Augusto de Lima para alocar três edifícios do centro cívico em frente a espaços vazios de modo a
18. O nome dado à via faz referência à data de promulgação da Lei que definiu o Curral del Rei como o sítio escolhido para construção da nova capital mineira. Já as demais ruas foram batizadas com nomes dos estados brasileiros no sentido norte-sul e com nomes de tribos de índios e de Inconfidentes Mineiros no sentido leste-oeste. 19. O casarão sede da antiga Fazenda do Leitão é o único exemplar arquitetônico remanescente do Curral del Rei e abriga hoje o Museu Histórico Abílio Barreto. A edificação havia sido desapropriada pela Comissão Construtora, mas devido à alteração do traçado da Avenida 17 de Dezembro, que passou a deixá-lo de fora da zona urbana, o casarão se viu livre da demolição.
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enfatizar sua imponência. Grande parte das atipicidades existentes na malha de Aarão Reis corresponde ao local reservado ao Parque Municipal e à porção de terreno localizada acima dele. Tendo em vista que se trata de uma área de depressão e com a presença de diversas nascentes, é possível entender a locação do parque naquele local como uma opção não-intervencionista, que decide pela preservação de parte do sítio; ainda que possa existir a justificativa mais direta da dificuldade de se construir vias naquele local. De qualquer maneira, a ideia de se implantar uma grande área verde em local privilegiado da zona urbana é mais um reflexo das preocupações paisagísticas da Comissão Construtora. O parque é inserido na malha urbana de forma a integrar natureza e urbanidade, sendo, assim como a Serra do Curral, um ponto de referência para a ocupação. “A cidade poderia ser moderna, mas sua localização afirmava o apego a um tipo de paisagem que, de algum modo, é vista como constitutiva da identidade mineira [...]”21 . Comparando a mancha de espaços livres de cada um dos mapas, pude constatar que a somatória de áreas de espaços livres existente hoje corresponde a cerca de 36% do que havia sido planejado pela Comissão Construtora. Em metros quadrados aproximados são os atuais 357,6 mil m2 contra os quase 980 mil m2 planejados. O local de supressão mais impactante é o Parque Municipal, que passou de 600 mil metros quadrados
para os atuais 182 mil, vendo seu notável vazio dar espaço a construções públicas, privadas e a duas vias - curiosamente denominadas “alamedas”, talvez na tentativa de nos fazer lembrar da sua relação com o verde. O plano de 1895 previa pequenas praças em todas as esquinas do parque, bem como nos eixos das atuais avenidas Álvares Cabral e Pasteur, os quais foram completamente suprimidos. O segundo maior vazio previsto destinava-se ao Zoológico da cidade, onde há hoje o Minas Tênis Clube e uma parcela do bairro de Lourdes. A rede hidrográfica foi representada nos desenhos de Aarão Reis, mas não acarretou em alterações significativas no traçado das quadras, ainda que esse fosse um fator decisivo durante a escolha do sítio que abrigaria a nova capital. Apenas o Ribeirão Arrudas foi realmente incluído e preservado na proposta elaborada pela Comissão Construtora, ora servindo como delimitador da zona central e ora percorrendo a maior área verde de cidade. Nos últimos anos, a maneira de se encarálo tem sido pautada em ostensivas canalizações e tamponamentos. Há na Zona Central dois trechos canalizados abertos e dois trechos canalizados fechadas. Essa última situação é a que se repete em todos os demais cursos da região em análise, conjuntura essa que, podemos dizer, já havia sido prevista e demonstrada por Aarão Reis ao sobrepor duas distintas camadas da cidade - vias e cursos d’água - sem nenhum diálogo claro entre elas.
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Nas equivocadas e repetitivas tentativas de domar os cursos d’água por meio da construção de canais impermeáveis e de pisos responsáveis por ocultar sua presença, Belo Horizonte sofre até os dias atuais com problemas de extravasamento: as águas que são impedidas de infiltrar no lençol freático passam a percorrer os canais impermeáveis com maior velocidade. Em certos momentos, esses fatores somados a outros problemas de drenagem urbana fazem com que cursos d’água ultrapassem seu nível usual e extravasem em pontos críticos, causando inundação e demonstrando dramaticamente um problema de planejamento urbano e de saúde pública.
OCUPAÇÃO No século XIX, a Comissão Construtora da Capital também se ocupou de lotear os terrenos da zona urbana e lhes dar destinaçã0. A porção a norte, mais baixa, foi reservada aos serviços e comércios pela proximidade com a estação de trem, caracterizando-se como uma zona popular. Em contrapartida, a parcela mais alta corresponderia à localização mais privilegiada da cidade e em seu topo deveriam existir residências e a catedral municipal, projetada em 1895, mas não construída. Aarão Reis definiu ainda o local de implantação dos principais equipamentos da cidade, como escolas, quartel, hotel e um grande hospital na porção oeste da cidade. Foram locados
20. TEIXEIRA, Carlos. Em Obras: História do Vazio em Belo Horizonte: Cosac Naify, 1999. 21. ARRUDA, Rogério Pereira de. Belo Horizonte e La Plata: Cidadescapitais da modernidade latinoamericana no final do século XIX. Revista de História Comparada. Rio de Janeiro, v. 6, n.1, p. 85-123. 2012. p.113 e p.117.
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diversos espaços governamentais, como a quadra destinada ao Palácio e a região das Secretarias Municipais, ambas próximas da zona reservada para servir de moradia aos funcionários públicos – atual Bairro Funcionários. Uma avenida de quarteirão único funcionaria como eixo de ligação entre a Praça José Bonifácio e as Secretarias Municipais, correspondendo hoje à Avenida Pasteur e as quadras ocupadas pela Escola Estadual Pedro II e pelo Colégio Arnaldo, respectivamente. A mobilização de recursos, materiais e simbólicos, para a locação dos pontos de poder do governo pode ser entendida como reflexo da preocupação civilizatória e de manutenção das estruturas de poder ao construir a “nova” cidade. Neste sentido, o plano demonstrou sua “face conservadora e excludente”21 . Ao analisarmos à ocupação existente nos dias atuais, é possível perceber uma forte diversificação da estrutura imaginada no plano. Há uma massiva presença do uso não residencial e misto na Zona Central, o que demonstra seu caráter diverso e heterogêneo e se reflete no grande fluxo de pessoas, comércios e serviços. Já as poucas zonas de concentração de moradia correspondem a bairros nobres da cidade, marcado majoritariamente por edificações de alto padrão. Considerando a conjuntura atual da região central, percebemos que o assentamento de usos se complexificou para muito além do previsto no plano inicial da cidade, sendo possível afirmar
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que a racionalização no desenho não impediu o desenvolvimento de uma ocupação de conformações múltiplas, explodindo os padrões previstos por Aarão Reis. Em termos de ocupação, a Zona Central experienciou ao longo dos anos processos múltiplos e ambíguos, como valorização e degradação, convergência e descentralização, adensamento e abandono. Todavia, no que se refere à questão das moradias reservadas às classes mais abastadas, a exemplo do Bairro Funcionários, houve consolidação do plano. Por fim, deve-se destacar que a cidade que vemos hoje também é resultante das diferentes legislações urbanísticas aplicadas ao longo dos anos. Ora com maior restrição e ora com maior liberdade, os critérios para se construir vão moldando a forma da cidade e um exemplo disso é a própria Avenida Afonso Pena, que teve seu skyline alterado em decorrência do surgimento de uma lei que em 1922 permitiu maior verticalização dos prédios ali inseridos ao relacionar a altura das edificações com a largura das vias.
LIMITE DA ZCBH com base nos dados da prefeitura de belo horizonte, 2012.
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LIMITE DA ZCBH com base na proposta da comissĂŁo construtora, 1895.
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MALHA URBANA com base na proposta da comissão construtora, 1895.
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ESPAÇOS LIV CURSOS D’ÁG
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ESPAÇOS LIVRES CURSOS D’ÁGUA com base na proposta da comissão construtora, 1895.
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USO RESIDENCIAL USO NÃO RESIDENCIAL USO MISTO EQUIPAMENTOS URBANOS com base nos dados da prefeitura de belo horizonte, 2012.
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COMISSÃO CONSTR
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USO RESIDENCIAL USO NÃO RESIDENCIAL USO MISTO EQUIPAMENTOS URBANOS com base na proposta da comissão construtora, 1895.
250
1325m
1200m
1050m
900 m cruzamento com av. getúlio vargas
cruzamento com av. brasil
parque municipal
parque municipal
cruzamento com av. amazonas
av. do contorno + ribeirão arrudas
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serra do curral
praça do papa
av. contorno
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Perfil da cidade passando pela Avenida Afonso Pena no inteiror da Avenida do Contorno e extrapolando seus limites atĂŠ chegar Ă Serra do Curral.
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seleção dos lugares
OS LUGARES E AS LIÇÕES
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Vivemos um momento de retração da esfera pública e de perda de identidade da polis, um momento em que se atrofia o bem comum como critério norteador das ações e da conformação física e mental da cidade, subordinada a pressões particularistas e corporativas cada vez mais fortes e pensada como um lugar de satisfação do gozo ilimitado e imediato. Vista assim, a cidade deixa de ser um projeto de construção cívica onde abrigar a memória e a identidade coletivas e onde construir um sentido de permanência, um futuro e uma origem compartilhados. E essa perda do valor simbólico da cidade vem ocorrendo em todo o restante do país. (BRANDÃO, 2008, p.77)
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PRESSUPOSTOS DE ANÁLISE A impossibilidade de síntese levantada por Brandão, a complexidade desorganizada identificada por Jane Jacobs e a abertura defendida por Sennett se alinham na medida em que partem da compreensão da cidade enquanto campo comum para tempos, pessoas e interesses que, embora individuais e distintos, fazem parte de um conjunto maior e, por isso, diversificado. Nesse contexto, a ideia de bem comum nortearia a construção do coletivo a partir das peças individuais – as quais têm naturalmente nas cidades repercussão coletiva. A noção de compartilhamento e do coletivo em detrimento do individual são buscadas neste trabalho a partir da maneira com que os espaços se abrem e interagem com seu contexto, com os diferentes interesses, com as mudanças ao longo do tempo e com seus distintos usuários. A rigor, integração diz respeito à incorporação de um elemento num conjunto. A integração espacial, por sua vez, pode ser vista como o diálogo de um determinado espaço com um conjunto maior e mais complexo que pode ser seu entorno imediato, a cidade de maneira geral ou até algo de escala ainda maior como todo um país visando, sobretudo, o “bem comum”. A integração espacial pode se dar tanto através da articulação urbana (arquitetura com cidade), quanto através da articulação arquitetônica (entre diferentes elementos arquitetônicos).
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Esse conjunto de relações pode potencializar o lugar, ao favorecer que os espaços que servem de abrigo e as atividades abrigadas se beneficiem de maneira mutualística. Um simples exemplo é a mistura de diferentes usos num mesmo local: quando um comércio se insere no térreo de um edifício residencial, ele é capaz de levar mais movimentação e, consequentemente, segurança ao local; ao mesmo tempo, ele pode cativar uma clientela localizada nos pavimentos acima. Nesse ponto, é interessante fazer um contraponto com três termos constantemente utilizados no campo da arquitetura e do urbanismo: a tríade vitruviana22. Em “De Architectura”, do século I a.C., Vitruvius propõe que a arquitetura se baseia no equilíbrio entre três princípios básicos e condicionantes da sua existência. Um deles, denominado “Venustas”, seria atingido “quando o aspecto da obra for agradável e elegante e as medidas das partes corresponderem a uma equilibrada lógica de comensurabilidade”. Tal defesa da boa harmonia visual como elemento essencial em muito se assemelha ao apelo imagético arquitetônico há pouco questionado, dada sua inerente capacidade de achatar a percepção por outros sentidos e desatentar-se do contexto. Em segundo lugar, temos a “Utilitas” que se refere à adequação do espaço à função que ele se propõe a cumprir. Essa noção traz consigo o risco da limitação da prática arquitetônica e urbanística a uma gama de necessidades programadas,
22. VITRUVIUS, Marcus. Tratado de Arquitetura. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
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ignorando o transcurso do espaço no tempo e a variação de necessidades ao longo dos distintos períodos e dos seus diferentes usuários. Seria, portanto, um esquecimento da diversidade e da mutabilidade. Por fim, temos a “Firmitas”: caráter material da obra, seus aspectos construtivos e a escolha de materiais feita “diligentemente e sem avareza”. Mesmo nos dias atuais, o âmbito material dos lugares ainda se mostra essencial, sem os quais não podemos imaginar os espaços físicos. A análise dessas antigas relações é fundamental pois permite perceber duas mudanças: que a riqueza espacial enquanto equilíbrio formal já vem sendo há muito desmistificado, assim como a ideia da determinação de funções específicas para os objetos, combatida por exemplo desde 1991 por Herman Hertzberger23 . Todavia, perdura ainda a importância e o peso da materialidade daquilo que é construído. Se pensarmos agora sob a ótica da integração espacial, a chave para uma boa arquitetura estaria no entendimento, na resposta e na abertura do espaço ao lugar, ao contexto, ao transcurso do tempo e às mudanças da sociedade. Tais fatores ganham relevância na medida em que partem do entendimento de uma situação preexistente que é diversa, desigual e inconstante, ao invés de se colocar como uma imposição de fatores particulares e específicos, características de determinado momento, em prol de um “bem individual” mutável e questionável.
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Isso ganha ainda mais relevância ao considerarmos que a cidade é feita, em sua maior parte, de edifícios ordinários demandados pela vida cotidiana e que, conforme demonstrado na evolução histórica, os espaços livres tem perdido cada vez mais lugar. Por isso, as ações arquitetônicas bem orientadas são hoje uma das poucas possibilidades de se construir uma cidade mais democrática, com ampliação da oferta e da qualidade dos espaços que se prestam à sociedade.
CRITÉRIOS DE ESTUDO Considerando a importância da integração espacial – tanto para o objeto edificado quanto para o local em que ele se insere -, e do encontro entre boa articulação urbana e arquitetônica, proponho a seguir algumas características capazes de indicar sua presença nos espaços.
23. HERTZBERGER, Herman. Lições de arquitetura. Tradução de Carlos Eduardo Lima Machado. 2ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
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1. ARTICULAÇÃO URBANA Capacidade do edifício de se conectar com o contexto onde está inserido – seja físico, temporal, social, econômico-, o transformar positivamente e se apropriar de suas qualidades. Pode ser analisada a partir dos seguintes aspectos: a) Diversidade de acessos: possibilidade de se chegar a um lugar por meio de diferentes pontos; b) Permeabilidade visual com o espaço público: capacidade de um edifício de ver e ser visto da rua ou de algum outro local público; pois qualificam as zonas de interseção entre arquitetura e cidade. c) Relação de densidade: quantidade de pessoas que dividem um mesmo espaço ou infraestrutura; d) Relação com a topografia: diálogo entre uma construção e o terreno em que se insere, considerando suas diferentes alturas e inclinações; pois podem demonstrar o entendimento e a sensibilidade da proposta para com o contexto.
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2. ARTICULAÇÃO ARQUITETÔNICA Capacidade de conciliar e potencializar os diferentes interesses que promovem a existência de uma edificação. Pode ser identificada, por exemplo, através de: e) Diversidade de usos: possibilidade de um mesmo espaço abrigar diferentes atividades, como residencial, comercial ou institucional; f) Conectividade de fluxos: capacidade dos fluxos gerados pelos diferentes usos se encontrarem no interior da edificação; pois os diferentes interesses, quando bem articulados, podem colaborar mutuamente e se potencializar. g) Existência de uma ordem construtiva: racionalização da estrutura necessária para a construção de um lugar, de modo a concentrá-la em pontos específicos e coerentes; h) Flexibilidade e polivalência: possibilidade de um mesmo espaço abrigar diferentes necessidades, precisando ou não ser modificado para isso; pois podem permitir que o lugar se adapte a diferentes necessidades ao longo do tempo.
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as liçþes dos lugares
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linha do tempo por data de projeto
Cine Teatro Brasil 1928
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1895 Plano de Aarão Reis Praça 7 de Setembro Praça ABC Praça da Estação Parque Municipal
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1941 Edifício Acaiaca Conjunto Sulacap-Sulamérica
1947 Escola de Arquitetura da UFMG 1952 Conjunto JK
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1957 Edifício Maletta Edifício Helena Passig Edifício Joaquim de Paula
1982 Edifício Khronos
1959 Mercado Novo
1962 Galeria do Ouvidor
955
Palácio das Artes
1954
Edifício Niemeyer
1988 Shopping Cidade
1975
1985 Rainha da Sucata
1967 Terminal Rodoviário Mercado Central
2000
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linha do tempo por data de inauguração
Cine Teatro Brasil 1932
1900
1925
1950
E 1897 Plano de Aarão Reis Praça 7 de Setembro Praça ABC Praça da Estação Parque Municipal
1943 Edifício Acaiaca
1946 Conjunto Sulacap-Sulamérica
19 E
1959 Edifício Helena Passig Edifício Joaquim de Paula
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1961 Edifício Maletta 1963 Mercado Novo 1964 Galeria Ouvidor 1971 Palácio das Artes Terminal Rodoviário 1975
1960 Edifício Niemeyer
2000
1985 Edifício Khronos
1970 Conjunto JK 1992 Rainha da Sucata
1973 Mercado Central
954 Escola de Arquitetura da UFMG
1991 Shopping Cidade
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parte 1. resposta à grelha
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resposta Ă grelha
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Certamente o primeiro patrimônio de Belo Horizonte é o seu traçado urbanístico. A ortogonalidade das duas malhas das ruas e avenidas giradas a 45 graus faz de Belo Horizonte um exemplo mundialmente conhecido por esse tipo de urbanismo. [..] Essa geometria está pousada sobre o relevo montanhoso da Serra do Curral, propondo uma característica do espírito da cidade e de sua gente, onde a racionalidade do projeto se associa à sensualidade da geografia, definindo o caráter pluralista e complementar de sua paisagem urbana e social. (DINIZ, 2004)
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O desenho da cidade é o tema deste tópico. Com a proposta de Aarão Reis, Belo Horizonte nasce a partir da lógica de ruas verticais e horizontais que se cruzam. Sobre esse traçado, são lançadas as grandes avenidas a 45o. Com isso, quebra-se a rigidez da retícula, dinamizando o sistema e criando novas possibilidades e perspectivas. Ruas se cruzando em diferentes angulações geram praças nos entroncamentos viários e, além disso, conformam a típica situação do lote triangular. As primeiras lições deste guia dizem respeito a lugares cujas disposições espaciais respondem de maneiras variadas e virtuosas a sua localização de esquina e a um traçado urbano preexistente, transformando nossa relação com a cidade.
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esquinas de belo horizonte
Belo Horizonte é a cidade das esquinas. [...] A esquina é o ponto de encontro, por excelência, das ruas e das pessoas. Nelas, uma nova perspectiva e um novo caminho são propostos como alternativas de percurso e como possibilidade de mudança, divergência e confluência de rotas. Nelas, nos deparamos com o outro, repentinamente. Nelas, detém-se, conversa-se e se bebe [...]. Nelas, o movimento horizontal cotidiano interrompe-se, verticaliza-se e insinua um rito, que a arquitetura a ele atento tende a celebrar através de uma cúpula, de um detalhe decorativo ou de um agudo senso de composição [...] Com os prédios nelas situados aprendemos lições de um pensamento republicano onde as partes e os edifícios são desenhados não apenas para abrigar as necessidades intrínsecas que os motivam, mas – ao contrário do que vemos em bairros recentes, como o Belvedere e o Buritis – para compor também o todo da cidade, pensada como construção e obra de arte coletiva para a qual devemos direcionar o melhor de nossos esforços. (BRANDÃO, 2008, p.72)
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A conhecida Praça Sete de Setembro é um local por onde milhares de pessoas passam diariamente, é palco de manifestações populares, ponto de compra, venda, encontro e um nó disputado no sistema viário da cidade. É um local consolidado, de ocupação histórica e de grande impacto até os dias atuais. Ali o encontro de duas importantes avenidas com duas ruas conformam oito pontos de acesso e quatro eixos de visadas. As ruas, em caráter de quarteirão fechado naquele trecho desde 1971, caracterizam respiros para os pedestres em meio a tanto trânsito. Nas esquinas, os edifícios dão ritmo ao vazio deixado pelo entroncamento viário. As oito construções que circundam a praça são notáveis, apresentam variadas altimetrias e retratam diferentes movimentos arquitetônicos. Elas situam nas esquinas grandes aberturas, áreas de acesso ou até mesmo pontos de transformação do edifício, como nos brises da antiga sede Banco Mineiro da Produção (Oscar Niemeyer, 1953). A conformação triangular dos edifícios acompanha o formato do lote e é essencialmente uma resposta à malha urbana em que se inserem, tendo cada qual a sua geometria gerada pela criação de planos paralelos às ruas adjacentes, que se conectam nos fundos por um grande plano fechado e na frente por uma ponta em curva ou chanfro, que se projeta para o centro da praça.
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Os “cheios” que circundam e delimitam o vazio, acabam por reforçá-lo, dirigindo as atenções para o centro da praça e gentilmente colaborando para a intensificação de seu caráter. Colabora para isso o monumento inserido no ponto focal do espaço24 e o desenho de piso circular que parte do centro do cruzamento das vias e atinge as quadras25 . Já a Praça Benjamin Guimarães, ou Praça ABC26 , surgiu como um reduto de intelectuais e boêmios que aproveitavam a vida ao ar livre sob as sombras das árvores. Assim como a Praça Sete, ela é conformada pelo encontro de duas avenidas com duas ruas e, portanto, oito esquinas. Mas ao contrário da praça do hipercentro, onde a metrópole urge e se insinua, na Praça ABC a movimentação de pessoas é menor, ainda que intensa. Nela a verticalização das esquinas não se fez de maneira tão forte como na Praça Sete. Há dois edifícios de maior altimetria: – o Edifício Panorama, de 1960, e o Edifício ABC, de 2015. Os demais, ainda que circundem a praça, não o fazem de maneira a marcar e contornar um vazio central para quem olha para cima. Em alguns casos, é a vegetação que se destaca dos prédios, colaborando para a composição e a ambiência. A praça conta com exemplos das diferentes possibilidades de ocupação e conformação das esquinas, apresentando para o mesmo contexto soluções recentes e antigas - como a residência tombada pelo patrimônio
cultural, que atualmente abriga a Padaria Casa Bonomi. Para além da forma dos edifícios, o que mais colabora para o carácter de “praça pública” é a penetrabilidade das construções ali inseridas. Ainda que os dois casos apresentem caracterísiticas rigososamente distintas, isso é válido para ambos, assim como para as demais praças existentes na zona central da cidade. O fato é que a maior parte do edifícios inseridos nesses contexto, implantam em seu térreo usos de livre acesso ao público, como lojas, bancos, bares, equipamentos públicos, instituições de uso coletivo. Dessa maneira, eles estabelecem um diálogo com a movimentação de pedestres e com as áreas livres, potencializando a praça ao permitir que seu movimento adentre o edifício.
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24. O monumento conhecido como “Pirulito da Praça Sete” foi implantado ali em 1924. Em 1962 foi levado para as proximidades do Museu Histórico Abílio Barreto e em 1963 transferido para a Praça Diogo de Vasconcelos, na Savassi. Somente da década de 1980 ele retornou ao seu ponto de origem. 25. Este desenho de piso surge em conjunto com outras propostas no contexto do concurso de projetos para a revitalização da Praça Sete, realizado em 1991, que englobava intervenções em todos os quarteirões fechados e somente foi implantado 12 anos depois. 26. A Praça Benjamin Guimarães foi denominada Praça Sete de Setembro até 1922, quando a antiga Praça Doze de Outubro no encontro das avenidas Afonso Pena e Amazonas - passou a receber o nome, em motivos das comemorações do centenário de Independência do Brasil. Atualmente é conhecida como Praça ABC devido a extinta padaria de mesmo nome que ali se instalou entre 1959 e 2010.
ru ar io
de ja ne iro
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Praça Sete de Setembro
ós rij ca os ad ru
avenida afonso pena
avenida amazonas
ru ac ea rá
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l oe an m
Praça ABC
o di láu ac ru
avenida afonso pena
avenida getúlio vargas
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Praça Sete de Setembro
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Praรงa ABC
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PRAÇA SETE DE SETEMBRO E PRAÇA ABC Projeto: 1895 Inauguração: 1897 (inauguração da cidade) Desenho: Comissão Construtora / Aarão Reis Para saber mais SANTOS, Angelo Oswaldo de Araújo. Praça 7: o coração da cidade.
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edifício niemeyer O edifício Niemeyer é o mais alto dos localizados no entorno da Praça da Liberdade - cartão postal da cidade que conta com exemplares arquitetônicos de variados momentos. O residencial se destaca por apresentar uma resposta distinta e valiosa ao contexto em que se insere: ao invés de se colocar como uma extrusão do terreno triangular, o edifício usa um artifício da legislação para se projetar ora pra fora do terreno e ora pra dentro do lote, formando assim as curvas que dão identidade ao volume e conforto aos seus usuários. Essa solução promove maior perímetro de fachada para as unidades habitacionais, de modo que a localização privilegiada do edifício possa ser ainda mais aproveitada. Niemeyer foge ao mesmo tempo das soluções modernistas internacionais ortogonais e das soluções triangulares dadas localmente pelos arquitetos em resposta à malha urbana belo horizontina. Ao criar um volume sem nenhuma fachada de fundos, o edifício demonstra sua autonomia e ao mesmo tempo sensibilidade ao contexto, funcionando como um referencial àqueles que se dirigem à Praça da Liberdade através da Avenida Brasil e como um importante elemento da composição que circunda o vazio urbano. No térreo o edifício é visualmente permeável e funciona como uma
continuação da rua na medida em que a calçada penetra no pilotis, atualmente utilizado como estacionamento dos moradores. Assim, a transição entre o público e o privado é marcada apenas pela diferença de cor das pedras portuguesas que revestem os pisos e pela sombra gerada pela pavimento técnico imediatamente acima.
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av
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praça da liberdade
rua cláudio manoel
limite do lote circulação de pedestres circulação de veículos
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terraรงo
casa de mรกquinas
apartamento hall de serviรงo hall de social apartamento
escada elevadores estacionamento
lixo estacionamento
zeladoria estacionamento
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demarcação público - privado no chão: faixa de ardósia e mudança de cor da pedra portuguesa
demarcação público - privado no alto: cobertura do pilotis
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EDIFÍCIO NIEMEYER Projeto: 1954 Inauguração: 1960 Arquitetura: Oscar Niemeyer Endereço: Praça da Liberdade, 450 - Savassi Funcionamento: 24h - uso residencial Para saber mais MACEDO, Danilo Matoso. Da matéria à invenção: as obras de Oscar Niemeyer em Minas Gerais, 1938-1955.
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rainha da sucata Além do exemplar moderno Edifício Niemeyer, a Praça da Liberdade conta também com uma das mais importantes obras da arquitetura pósmoderna brasileira: o antigo Centro de Apoio Turístico Tancredo Neves, mais conhecido como Rainha da Sucata27. Em um ambiente marcado pela presença de exemplares ecléticos e neoclássicos, construídos para abrigar Secretarias o Governo do Estado de Minas Gerais, ele se destaca e causa estranhamento. Partindo de uma leitura tipológica dos edifícios do entorno, Éolo Maia e Sylvio de Podestá criam um diálogo e ao mesmo tempo uma dissonância com o contexto preexistente. São reproduzidos aspectos como a altimetria e o frontão dos prédios vizinhos, mas de maneira inusitada e singular, com o uso de cores fortes e geometrias incomuns, resultantes da sobreposição de diferentes elementos e materiais. Assim como o edifício modernista, a Rainha da Sucata se insere em um terreno triangular resultante da malha urbana traçada por Aarão Reis. Sua solução espacial relativamente simples propõe um volume simétrico gerado por duas formas geométricas elementares: o retângulo – revestido em aço patinável, é onde se concentram as infraestruturas do prédio - e o triângulo – onde se distribui o programa.
Coincidência ou não, o projeto de Éolo e Sylvio torna-se emblemático da reconquista de uma liberdade perdida, ainda mais quando se considera sua inserção no coração do poder político do Estado. Juntamente com o edifício Niemeyer, são os únicos edifícios de fronte à Praça da Liberdade que não exaltam o poder, mas a própria liberdade de criação arquitetônica, do que resulta seu caráter excepcional. (SANTA CECÍLIA, 2004, p.174)
27. O impacto visual causado pelo prédio na época de sua inauguração foi tamanho que estudantes de um colégio vizinho o apelidaram de “Rainha da Sucata”, em referência a uma telenovela popular no período, devido ao revestimento em aço patinável da fachada, material oriundo de um processo controlado de corrosão superficial.
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praça da liberdade
triângulo: disposição do programa e anfiteatro
retângulo: infraestrutura (circulações, escada e i.s.)
limite do lote eixo de simetria eixo a 45° acesso de pedestres
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28. Fotografias de maquete eloborada pelos arquitetos, incluindo a Praça da Liberdade e seus edifícios. Fonte: PODESTÁ, Sylvio Emrich de. Projetos institucionais: [escolas, museus, centros culturais, edifícios sede, centros administrativos, habitação popular, hotéis, clubes]. Belo Horizonte: AP Cultural, 2001.
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“Virou capa de livro, virou tese estudantil, museu de mineralogia. Tentou-se fechar o anfiteatro, foi colocado o newtoniano gradil, sumiu o ar condicionado do burocrata, a flor do vaso da secretária foi trocada, nunca fizeram as grandes palmeiras metálicas localizadas junto às testadas (medo do Ibama e dos ecologistas, diziam). Construiu-se uma tímida rampa paraplégica na entrada, o elevador nunca saiu do papel e os ótimos banheiros no andar semi-enterrado, públicos, nunca foram usados.” (PODESTÁ, 2008).
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O único acesso é situado na esquina, por onde se tem maior visibilidade do volume. Há ainda um anfiteatro coberto que busca estender o espaço público da praça para dentro do edifício30. O prédio nasce de uma análise cuidadosa da Praça da Liberdade e dos edifícios que a contornam e foi pensado para representar o pluralismo dos anos 1980 em meio a prédios como a Antiga Secretaria de Estado de Viação e Obras Públicas, de 1897, a Antiga Secretaria de Estado de Segurança Pública - atual Centro Cultural Banco do Brasil - de 1926, o Edifício Mape, da década de 1950, e o IPSEMG - atual Escola de Design da UEMG - dos anos 1960. 29. À esquerda: croqui vislumbrando o potencial do anfiteatro e a conexão entre o edifício e a rua no pavimento térreo. Cortesia: Bruno Santa Cecília. 30. O anfiteatro que deveria funcionar como espaço de uso público tem carregado consigo o problema dos cercamentos, que visam impedir a livre apropriação do espaço, tornando-o vazio e sem uso. E não é de hoje que isso vem sendo adotado pelos responsáveis pelo do prédio, que já até solicitaram um projeto de gradil fixo no passado. Foi feito e posteriomente retirado, quando se permitiu por ali a realização de eventos abertos, mas infelizmente por um breve período.
Rainha da Sucata e Edifício Niemeyer nos permitem compreender como dois lotes iguais e de mesma localização podem resultar em propostas tão distintas, que se aproximam cada qual de um movimento arquitetônico, das premissas colocadas por cada arquiteto e de um contexto histórico específico. Ainda assim, ambos tentam criar aberturas para o exterior no nível térreo e apresentam volumes que reconhecem o seu contexto de esquina. São, portanto, distintos e valiosos exemplos de como os espaços - mesmo com carácter icônico - podem, para além de cumprir com as suas necessidades individuais, dialogar com o entorno, com a vida cotidiana e colaborar para a construção da cidade.
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RAINHA DA SUCATA Projeto: 1985 Inauguração: 1992 Arquitetura: Éolo Maia e Sylvio de Podestá Endereço: Av. Bias Fortes, 50 - Lourdes Telefone: (31) 3500-8983 Funcionamento: segunda a sexta de 9 às 21h sábados de 9 às 18h (visitas mediante agendamento prévio) Para saber mais: PERROTTA-BOSCH, Francesco. O edifício maldito. SANTA CECÍLIA, Bruno Luiz Coutinho. Complexidade e contradição na arquitetura brasileira: a obra de Éolo Maia.
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edifício khronos Contemporâneo da Rainha da Sucata, o Edifício Khronos31 também demonstra forte relação com a malha urbana da cidade: ainda que se localize em um lote que não é exatamente o da esquina, se relaciona diretamente com ela. Seu volume pode ser entendido em duas porções: um embasamento quadrado de três pavimentos mais um subsolo - e um pórtico de sete andares em diagonal que assinala volumetricamente a implantação a 45°.
preocupação com o entorno e seu potencial de transformação da esquina. Não por acaso, em 1993 o relógio foi um dos ganhadores do Prêmio de Gentileza Urbana, oferecido pelo IABMG (Instituto de Arquitetos do Brasil – Minas Gerais.
O edifício ganha visibilidade através desse pórtico, conformado por um retângulo do qual se projeta uma geometria triangular com quina chanfrada opaca, que parece puxar todo o volume e ressaltar sua verticalidade. Os catetos do triângulo marcam a paisagem horizontalmente, através de uma faixa opaca e outra de janelas em cada pavimento. Além disso, nas palavras do arquiteto Júlio Araújo Teixeira, “o projeto não se esgota nas torres e incorpora o passeio”, onde foi implantado o famoso relógio de sol. Ele se apropria da extensão da calçada para inserir um objeto escultórico e funcional que, além de dar identidade ao lugar, funciona como ponto de referência para os belo horizontinos. Nesse sentido, o conjunto (prédio + relógio de sol) demonstra sua
31. Na mitologia grega, Cronos era o deus do tempo.
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a id en av o vã
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r. tomé de souza
bo instalações sanitárias circulação vertical salas / lojas relógio solar
limite do lote eixo de simetria eixa da avenida eixo a 45° acesso de pedestres
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32. Croqui do relógio do sol projetado por Júlio Teixeira. Fonte: GUIMARÃES NETO, Euclides. Desenho de Arquiteto. Belo Horizonte: AP Cultural, 1994.
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EDIFÍCIO KHRONOS Projeto: 1982 Inauguração: 1985 Arquitetura: Júlio Araújo Teixeira Endereço: R. Tomé de Souza, 1065 Telefone: (31) 3225-8707 Para saber mais PODESTÁ, Sylvio Emrich de; BRANDÃO, Carlos Antônio Leite; ALENQUER, Carlos. Arquitetura vertical.
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escola de arquitetura da ufmg Após ocupar diversos endereços provisoriamente, em 1945 a Escola de Arquitetura recebeu da Prefeitura um imóvel localizado à Rua Paraíba, 697. O Mercadinho ali existente foi adaptado ao uso da escola, mas logo precisou ser substituído, devido ao aumento do número de atividades e alunos. Assim teve início a elaboração da sede definitiva, aliando aspectos estéticos e tecnológicos compatíveis com o espírito arquitetônico da época: o Modernista. Dentre as soluções utilizadas, destacamse os grandes vãos em vidro e os brises soleil. Considerando que a escola em funcionamento no Mercadinho ocupava apenas a esquina do lote, o projeto da nova sede definia um partido em L, de modo a ocupar os espaços deixados ao longo das laterais. Essa decisão permitiu que, ao fim da construção, o antigo edifício fosse demolido e a esquina transformada em um importante vazio. As obras foram concluidas em 1954 e já no ano seguinte foi apresentado o projeto da primeira expansão, que previa a aquisição de terrenos adjacentes, no centro do quarteirão. Entre 1964 e 1967, com a inclusão de outros lotes, a constução atingiu a Rua Cláudio Manoel, do outro lado da quadra.
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1945 - Mercadinho
1954 - Sede de esquina
1955 - Expansão para o interior
1967 - Expansão para o exterior
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Além de ser um importante exemplar da arquitetura modernista em Belo Horizonte, a Escola de Arquitetura da UFMG apresenta um processo de implantação notável: nasce na esquina e aos poucos vai crescendo para o interior da quadra, até atingir a rua posterior. Assim, a Escola engloba ao mesmo tempo três situações distintas de ocupação do terreno: volta-se para a esquina, cria um vazio no miolo da quadra e permite o atravessamento do quarteirão ao conectar duas ruas. Todavia, há um potencial inexplorado nesse sentido, dado que o acesso secundário somente é utilizado para carga e descarga. É na esquina que a edificação demonstra grande generosidade com o entorno: graças à sua implantação em L, em duas laterais recuadas da rua, foi possível enquadrar e gerar um grande vazio, uma praça pública que funciona como extensão da calçada e conta com áreas de sombra. O local costuma receber eventos organizados pelos alunos e vem abrigando feiras abertas ao público. No nível de acesso, o fechamento do volume é todo em vidro, o que visualmente expande o espaço público e gera maior sutileza na transição entre exterior e interior. Nem mesmo no interior da quadra o prédio se desliga do contexto, se abrindo para ele por meio de um pátio central um respiro em meio à verticalização dos residenciais multifamiliares vizinhos e um importante local de sociabilidade dos alunos.
Já no terceiro bloco, correspondente à última fase de expansão do edifício, a implantação acontece no alinhamento da calçada, deixando desocupados apenas os afastamantos laterais. Ao contrário do volume inicial, nesse caso predomina a preocupação com o aproveitamento máximo do solo. Nessa zona, a interface entre interior e exterior acontece apenas através de um grande pano de vidro no segundo e no terceiro andar. Se ainda existisse um acesso à escola por aquela rua, a movimentação de pessoas poderia quebrar a rigidez do térreo e levar mais vida à rua.
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rua paraíba
rua rio grande do norte
rua gonçalves dias
rua cláudio manoel
limite do lote eixo a 45° acesso de pedestres acesso de veículos
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33. Construção da sede da Escola de Arquitetura da UFMG, de onde ainda se via a Serra do Curral emoldurando a cidade. Fonte: Laboratório de Fotodocumentação Sylvio de Vasconcellos, 2018.
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ESCOLA DE ARQUITETURA DA UFMG Projeto: 1947 Inauguração: 1954 Arquitetura: Eduardo Mendes Guimarães Jr. e Shakespeare Gomes Endereço: R. Paraíba, 697 - Savassi Telefone: (31) 3409-8801 Funcionamento: segunda a sexta de 6 às 23h sábado de 8 às 14h Para saber mais LEMOS, Celina Borges; DANGELO, André Guilherme Dornelles; CARSALADE, Flávio de Lemos. (org.). Escola de arquitetura da UFMG: Lembranças do passado, visão do futuro.
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PARTE 1. RESPOSTA À GRELHA OS LUGARES E AS LIÇÕES
conjunto sulacap-sulamérica O conjunto Sulacap-Sulamérica é um importante exemplo de como a evolução da cidade foi ocorrendo de modo a ocupar os vazios urbanos previstos. A quadra triangular delimitada pela Avenida Afonoso Pena e pelas Ruas da Bahia e dos Tamôio - assim como a sua vizinha de frente delimitada pela ruas Espirito Santo e Tupis - deveria corresponder a uma das praças relativas ao entorno do Parque Municipal. Todavia, foi o próprio poder público que decidiu edificá-la no início do século XX. Algumas décadas depois, com a necessidade de expansão do simbólico edifício dos Correios, este foi demolido e o lote vendido à iniciativa privada. Um projeto cuidadoso efetivou a ocupação da quadra de modo a cumprir com as demandas programáticas, mas resguardando porção do terreno a uma praça pública. Essa área, além de funcionar como um vazio articulador de todo o conjunto, era responsável pela conexão da Avenida Afonso Pena com o Bairro Floresta e por criar um forte enquadramento do Viaduto Santa Tereza, resgatando assim parte do valor paisagístico contido no plano de Aarão Reis. Todavia, na década de 1970 deuse a ocupação desse último respiro em prol da criação de algumas áreas de lojas, consolidando o preenchimento total do antigo vazio. Hoje, o edifício que abriga uma grande diversidade de usos e faz parte do cotidiano de muitos
que percorrem o centro da cidade pode até passar despercebido, mas, um segundo olhar permite perceber que o desenho do conjunto materializa uma sensível resposta ao contexto em que se insere, com primorosa atenção ao valor paisagístico e dinâmico daquela localização. As duas torres de 15 andares acompanham o traçado das ruas dos Tamoios e da Bahia, que se encontram a 45o com o Viaduto Santa Tereza. Os demais blocos, de menor altimetria, são colocados de modo a se conectarem às torres e liberarem o centro do quarteirão triangular, criando um portal simétrico que enquadra a Avenida Assis Chateaubriand e conecta o bairro Floresta ao fluxo de pedestres da Avenida Afonso Pena – artéria principal do centro da cidade. Em diferentes níveis, o edifício conecta as duas vias e, consequentemente, permite a existência de uma quarta esquina em seu terreno triangular. Não fossem os posteriores anexo comercial e grades de proteção, tais ideais se fariam ainda mais presentes. Ainda assim, o conjunto permanece se colocando em prol da vida urbana, ao abrigar uma grande diversidade de usos, permitir que o fluxo público urbano se aproprie dele durante o dia, fortalecer a conexão visual entre duas paisagens distintas da cidade e ao se consolidar como uma referência simbólica na metrópole.
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OS LUGARES E AS LIÇÕES
DO VAZIO AO CHEIO
DO VAZIO AO CHEIO
1987 . praça tiradentes
1987 . praça tiradentes
1906 . prédio dos correios
1946 . edifício sulacap-sulamérica
1906 . prédio dos correios
1946 . edifício sulacap-sulamérica
1942 e 1972. construção de anexos
1942 e 1972 - Construção de anexos no pátio, no embasamento e acréscimo de andar
1906 . prédio dos correios
1942 e 1972. construção de anexos
1946 - Conjunto Sulacap-Sulamérica
1987 . praça tiradentes
1946 . edifício sulacap-sulamérica
1942 e 1972. construção de anexos
1906 - Sede dos Correios
1906 . prédio dos correios
1946 . edifício sulacap-sulamérica
1897 - Praça Tiradentes
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OS LUGARES E AS LIÇÕES
os
ad ru ta m os oi
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v. santa tereza
vazios térreo
pavimentos iniciais
torres
circulação de pedestres eixo de simetria eixo a 45°
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casa de máquinas
unidade residencial ou sala comercial
pav. corrido comercial casa de máquinas do anexo
salas anexo comercial
salas sobrelojas
anexo lojas de rua
portaria sulamérica lojas de rua subsolo
escadaria
portaria sulacap portaria anexo
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CONJUNTO SULACAP-SULAMÉRICA Data: 1946 Projeto: Roberto Capello Endereço: Av. Afonso Pena, 981 – Centro Telefone: (31) 3224-3721 Funcionamento: segunda a sexta de 7 às 21 horas sábado de 7 às 13 horas 24h (residencial ed. sulamérica)
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OS LUGARES E AS LIÇÕES
parte 2: condensadores sociais
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2
condensadores sociais
OS LUGARES E AS LIÇÕES
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O conceito de Condensadores Sociais tem origem com os construtivistas russos à época da Revolução Bolchevique e se refere a edifícios que deveriam ensinar um novo modelo de vida à população, marcado pela coletivização das atividades cotidianas34 . Nesse sentido, eram duas as tipologias de edificações possíveis: os clubes – locais com diferentes equipamentos de lazer e cultura, como auditórios e bibliotecas – e as casas comunais – complexos residenciais com espaços de serviços integrados e compartilhados, como as cozinhas comunitárias -. Na história de Belo Horizonte, é possível fazer um paralelo desse conceito com dois lugares marcantes que carregavam, ou carregam até os dias atuais, grande potencial de transformação do cotidiano na cidade.
34. COHEN, Jean-Louis. O futuro da arquitetura desde 1889: Uma história mundial. 1949. Tradução de Donaldson M. Garschagen. São Paulo: Cosac Naify, 2013.
OS LUGARES E AS LIÇÕES
conjunto jk A Praça Raul Soares foi construída em 1936, alavancando o crescimento e a valorização do seu entorno. Ali está o lote escolhido para abrigar centenas de moradias em um edifício que deveria simbolizar o progresso mineiro e ser “a ‘marca registrada’ de Belo Horizonte, ou seja, o que é a Torre Eiffel para Paris ou o Rockefeller Center para Nova York”35 . Mas o transcurso do tempo demonstrou que a “construção do progresso” pode ser sinuosa. Ainda assim, o Conjunto Juscelino Kubitschek que se fez real se destaca nos mais diversos pontos da paisagem belo-horizontina e suas proporções o fizeram um importante referencial espacial na cidade.
“Visto de longe ou de perto o CJK dá a impressão de miniatura de uma sociedade. Seu cotidiano encerra os mesmos problemas de uma cidade ou de um país: dificuldades financeiras, deterioração, criminalidade e corrupção, além de sonhos, desejos e medos. Um microcosmos, enfim, onde as pessoas vivem, trabalham e experimentam suas emoções.” (PIMENTEL, 1992, p.18)
Inspirado nas Unidades de Habitação de Le Corbusier36 , é um dos primeiros exemplos dos pensamentos modernistas sobre as moradias: estas deveriam ser em larga escala, verticalizadas, com pilotis livre e acompanhadas de serviços necessários ao dia a dia. Na Belo Horizonte de 1951, com cerca de 350.000 habitantes que em sua maioria morava em casas com quintais, o CJK representava uma revolução: apartamentos pequenos em um condomínio com lojas, cinema, lavanderia, museu, hotel, padaria, restaurante, salão de beleza, piscina e até uma rodoviária. Tudo isso tinha como público alvo a classe média alta emergente da época.
35. TEIXEIRA, Carlos. Em Obras: História do Vazio em Belo Horizonte: Cosac Naify, 1999. 36. Arquiteto modernista francosuiço responsável também pelos conceitos de “máquina de morar”e “cinco pontos da arquitetura modernista”.
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praça raul soares
avenida olegário maciel
rua rio grande do sul
rua dos guajajaras
rua dos timbiras
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Mas a realidade do conjunto foi diferente da planejada pelo arquiteto Niemeyer, pelo incorporador Joaquim Rolla e pelo governador Juscelino Kubitschek. A construção teve início em 1954 e só entregou os primeiros apartamentos em 1970, quando o Bloco B ainda era um grande canteiro de obras. O teatro, cinema, hotel e clube foram arquivados. O conjunto era uma cidade em miniatura grande demais para Belo Horizonte. Era desproporcional, monumental e descabido em uma cidade quase sem edifícios. Tanto estranhamento e distanciamento do real se revelou quando os planos começaram a não sair do papel e a realidade passou a se impor para o conjunto, a começar pela mudança de público.
acesso de pedestres acesso de veículos acesso de ônibus terminal fachada comercial/serviço fachada uso institucional
Ainda assim, a ideia da grande densidade de moradores em um único local se concretizou e sempre marcou a imagem do edifício. Isso esteve ainda mais em pauta no contexto da ditadura militar: a existência de amplas áreas de convívio e reduzidos espaços privados era visto com maus olhos pelos militares, que viam dificuldade em controlar o “subversivo” conjunto. Onde deveria ser instalado o Museu de Arte, a polícia implantou a Secretaria de Segurança Pública do Estado. Militares tiveram suas moradias transferidas para apartamentos do complexo, de modo a observarem de perto o cotidiano dos moradores. Era uma tentativa de controlar de perto o conjunto - era o medo do potencial guardado em um legítimo condensador social.
OS LUGARES E AS LIÇÕES
O espírito da época retratado no material de divulgação do empreendimento:
“Jardim da sobre-loja Este jardim encantado, onde se poderão realizar festas, aberto para a praça, dando para a futura unidade onde se erguerão a boite, o teatro e o cinema, é o prolongamento do Museu de Arte, com o qual Belo Horizonte se alinhará ao lado das avançadas capitais sul-americanas.”
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“O novo sistema de vida lançado pelo Conjunto Governador Kubitschek reduziu ao mínimo as necessidades no interior de cada unidade residencial. O problema da criadagem desapareceu, praticamente, com os serviços da organização hoteleira. Uma empregada de emergência, uma babá para sair com as crianças ou com elas ficar à noite, podem ser contratadas à hora. Um solteiro ou um casal terão, neste apartamento simples, o essencial para morar. As área comuns, os espaços comuns ao Conjunto, completarão o seu apartamento. E a organização dos serviços hoteleiros simplificará sua vida.”
“Num setor do Conjunto você poderá adquirir um tipo também interessante de apartamento, o chamado semi-duplex, que dá para as duas fachadas do edifício, sem os inconvenientes do tipo duplex, que coloca o quarto a 3 metros do piso das salas. E está mais isolado e mais independetes que toda a vida do Conjunto. Terá sala, quarto, banheiro, kitchenete, duas varandas.”
37. Desenhos e textos retirados do material elaborado para divulgação do empreendimento. Fonte: CONJUNTO Governador Kubitschek. (Material de divulgação do empreendimento). Belo Horizonte: [S.I.], 19?.
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38. Maquete representando o projeto original. Fonte: FRACALOSSI, 2012. 39. MORAIS, Pedro H. A. de. Cidades Verticais: habitação de grande escala na América Latina: 1929-1979. 2016. Tese (Doutorado) - Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Arquitetura, Belo Horizonte, 2016.
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O CJK é formado por dois blocos, ambos de uso misto, com comércio e instituições no embasamento e moradias nas torres. O Bloco A tem o máximo de comprimento permitido pela malha urbana da cidade (120 metros), conta com 23 andares e cinco tipos de unidades habitacionais diferentes. Já o Bloco B se insere em um fragmento de quadra decorrente do cruzamento de quatro avenidas e é mais alto, com 36 andares - que contrapõem a horizontalidade do outro edifício - e abriga três variações de apartamentos previstas e uma outra adaptada. O complexo tem 16 mil metros quadrados e abriga 1067 apartamentos39 . Há uma forte ordenação estrutural do conjunto em uma modulação rigosa. Nos pavimentos superiores, de uso residencial, o espaçamento entre apoios é reduzido. Nos níveis próximos à rua, esses apoios são concentrados em poucos pontos de contato com o chão, gerando vãos maiores que favorecem a multiplicidade de ocupação por ali. Um dos locais mais amplos, onde funcionava uma boate, foi comprado e abriga um templo da Igreja Universal do Reino de Deus. O terminal rodoviário funciona como um terminal turístico, de caráter secundário e sem utilidade direta para os moradores. O mesmo ocorre com as diversas lojas vazias instaladas na galeria comercial, que não se articulam ao fluxo residencial. O pilotis virou uma grande área cimentada onde certas vezes são arremessados lixos dos apartamentos. Com o conjunto, os ideais modernistas foram colocados à prova e tiveram de se adaptar ao contexto
urbano real belo horizontino da época. Hoje são massivas as construções de conjuntos residenciais nas cidades. Eles, – assim como CJK- tentam aglomerar todos os serviços no seu interior e “facilitar” a vida dos moradores ao extingir a necessidade de deixá-los. Mas as atuais aglomerações de moradias parecem mais retrógrados que o conjunto do século passado: este ao menos associava à simples atividade de morar a necessidade de uma reforma social e revolucionária na construção e no cotidiano nas cidades a começar pela coletivização de espaços de serviço, preocupação com atividades culturais, liberação de boa parte do térreo para implantação de espaços livres comuns em detrimento de áreas privativas. O conjunto, que tem em seu passado um estigma decadente e foi visto com desdém e preconceito pela população, está passando por um processo crescente de valorização. Aos antigos moradores se misturam os novos, atraídos pela localização no hipercentro da cidade e pela experiência de morar em uma “cidade dentro da cidade”. Foi na dificuldade de concretização do plano projetado que o CJK encontrou grandes virtudes: o fracasso comercial da iniciativa acabou por viabilizar a existência de um conjunto de habitação de grande porte, marcado pela densidade e pela diversidade, em um endereço privilegiado da metrópole, com a disponibilidade de infraestruturas e serviços característica do centro.
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apartamentos (tipo C) apartamentos (tipo B) apartamentos (tipo A)
apartamentos adaptados (projeto previa espaço para repartições públicas)
pilotis livre
lojas circulação de moradores
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núcleo de circulação vertical bloco B
espaço livre lojas
bloco A
atual vazio, projetado como museu de arte moderna térreo (lojas, delegacia e igreja) terminal rodoviário
lojas jardim elevado lojas
espaço livre hall principal rampa de acesso estacionamento
40. Esquemas tridimensionais do projeto original. Adaptado de FRACALOSSI, 2012.
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ร esquerda: unidade habitacionais previstas para o bloco A Acima: unidades habitacionais previstas para o bloco B e parte do bloco A 1. quarto 2. instaรงao sanitรกria 3. sala 4. cozinha 5. serviรงo 6. depรณsito
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TIPO A
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CONJUNTO JK Projeto: 1952 Inauguração: 1970 Arquitetura: Oscar Niemeyer Endereço: Bairro Santo Agostinho Bloco A - Rua dos Timbiras, 2500 Bloco B - Rua dos Guajajaras, 1268 Telefone: (31) 3272-7466 Funcionamento: 24h (residencial) Para saber mais PIMENTEL, Thais Velloso Cougo. A Torre Kubistschek: Trajetória de um projeto em 30 Anos de Brasil. MORAIS, Pedro H. A. de. Cidades Verticais: habitação de grande escala na América Latina: 1929-1979
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cine brasil O Cine Theatro Brasil foi inaugurado em 1932 para ser o principal cinema e maior teatro da capital. Com seus onze andares, era o prédio mais alto de Belo Horizonte e permitia uma vista panorâmica da cidade e da Serra do Curral em um terraço visitável, acessado por um dos primeiros elevadores da capital. Além do teatro com 1.860 lugares41 , ele abrigava salas comerciais, bar e restaurante popular. Simbolizava, portanto, o desenvolvimento e a cultura em um espaço de uso coletivo onde se aglomeravam pessoas ao longo de todo o dia. Um verdadeiro condensador social. O cinema funcionou por décadas, mas o teatro de ópera ficou em atividade por pouco tempo após sua inaguração. A popularização da televisão e do videocassete acabou levando à decadência dos cinemas de rua a partir da década de 1980. Muitos deles foram fechados, demolidos, transformados em casas noturnas, lojas, igrejas, bancos e até em estacionamentos42. Em setembro de 1999 o Cine Brasil foi fechado. Entretanto, o tombamento aprovado pelo IEPHA-MG no mesmo ano impediu que ele acabasse demolido como outros cinemas de rua. A estratégia de disposição de usos merece ser destacada: nos pavimentos superiores as salas comerciais - que demanda contato direto com o meio externo para iluminação, ventilação e visadas - envolvem o volume
41. Em 1927, quando o edifício começou a ser construído, este número significava quase 5% de toda a população da cidade, que contava com cerca de 40.000 habitantes. 42. Resistem hoje em Belo Horizonte apenas dois cinemas de rua: o Cine Belas Artes, localizado na regional centro sul, e o Cine Santa Tereza, na regional leste da cidade. Ambos costumam colocar em cartaz produções cinematográficas que extrapolam o tradicional roteiro comercial.
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OS LUGARES E AS LIÇÕES
necessariamente fechado e controlado do teatro. É um recurso inteligente que concilia as demandas que se diferem em termos de uso, escala e ambiência com a largura excessiva do lote. Além disso, a existência de um teatro de ópera no projeto original foi fundamental para que o espaço pudesse ser transformado décadas depois, pois já contava com a infraestrutura de um grande teatro e não apenas de um cinema. Em termo estruturais, isso foi viabilizado por meio de um telhado com grandes treliças de concreto, que atualmente podem ser vistas no interior do espaço de exposições. Hoje, o edifício está restaurado e seu uso é inteiramente voltado para atividades culturais. Abriga o Cine Theatro Brasil Vallourec: um centro cultural onde acontecem espetáculos de música, dança e teatro, exposições de arte, sessões de cinema, entre outros eventos culturais. A transformação ocorreu de 2006 com o início do projeto de restauraçã0 - a 2013, quando foi inagurado. As salas comerciais foram transformadas em um espaço de exposições e sobre elas foi construído um amplo espaço de eventos. No térreo, permanecem as lojas voltadas para a rua que garantem o caráter de fachada ativa a boa extensão do pavimento. As demais áreas integram o equipamento cultural que oferece diversas atividades a moradores e turistas.
É possível perceber que em dias de eventos maiores, o local ajuda na ativação do espaço urbano ao seu redor, promovendo movimentação no entorno mesmo durante a noite e aos finais de semana, quando o ritmo do centro da cidade tende a desacelerar.
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avenida amazonas
s
ijรณ
r ca
avenida afonso pena
os ad ru
acesso de pedestres fachada ativa
OS LUGARES E AS LIÇÕES
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43. Vista do edifĂcio no perĂodo em que se encontrava fechado. Cortesia de Arquitetos Associados, sem data.
OS LUGARES E AS LIÇÕES
cobertura lateral
vazio descoberto
terraço/avarandado
acesso ao terraço vazio descoberto vazio do palco da casa de ópera
cabine de projeção cobertura da plateia salas comerciais
plateia do cinema
salas comerciais
vazio do palco da casa de ópera
administração
área técnica vazio do palco da casa de ópera
vazio
acesso ao cinema foyer
escada elevadores acesso lojas
acesso lojas
circulação de pedestres
restaurante popular
ocupação original
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nova cobertura
espaço de eventos camarim
cozinha
vazio do palco do grande teatro
estrutura preservada
galeria
galeria vazio do palco do grande teatro
plateia do teatro camarim
administração
vazio do palco do grande teatro
vazio
acesso ao grande teatro foyer
circulação vertical acesso ocupação atual
lojas
acesso hall cafeteria teatro de câmara
OS LUGARES E AS LIÇÕES
Que fim levou Lista dos cinemas de rua belo horizontinos
Cine Art Palácio Rua Curitiba, 601, Centro 1,2 mil lugares Fechado em 5 de janeiro de 1992 Hoje funciona no local uma loja de eletrodomésticos. Cine Acaiaca Avenida Afonso Pena, 867, Centro 818 lugares Hoje funciona no local a Igreja da Graça de Deus. Cine Alvorada Avenida do Contorno, 3.239, Santa Efigência 1,6 mil lugares Fechado em 31 de agosto de 1983 Hoje funciona no local a casa noturna Music Hall. Cine Amazonas Av. Amazonas, 3.583, Barroca 1,2 mil lugares Fechado em 29 de junho de 1983 Hoje funciona no local a Igreja Batista da Barroca. Cine Candelária Praça Raul Soares, 315, Barro Preto 2 mil lugares Fechado em 2000 Funcionou no local um estacionamento, hoje está interditado. Cine Eldorado Rua Platina, 1.467, Prado 828 lugares Fechado em 1980 Hoje funciona no local uma oficina mecânica. Cine Floresta Avenida do Contorno, 1.665,Floresta
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1,4 mil lugares Fechado em 3 de março de 1980 Funciona no local a Igreja Pentecostal Portas Abertas e uma agência do Banco Bradesco. Já abrigou também a Lojas Elmo, que recentemente foi fechada. Cine Guarani Rua da Bahia, 1.189, Centro Fechado em 31 de março de 1980 Foi restaurado e no local funciona hoje o Museu Inimá de Paula. Cine Horto Rua Pitangui, 3.612, Horto 1,1 mil lugares Fechado nos anos 1970 Hoje é sede do Grupo Galpão. Cine Independência Avenida Silviano Brandão, 2.453, Horto 1,3 mil lugares Fechado em 31 de agosto de 1983 Prédio demolido. Cine Jacques Rua Tupis, 317, Centro 1,8 mil lugares. Foi demolido para a construção do Shopping Cidade. Cine México Rua Oiapoque, 194, Centro 1,1 mil lugares Fechado na década de 1990 Hoje funciona no local um estacionamento e uma loja de festas. Cine Nazaré Rua Guajajaras, 41, Centro 846 lugares Fechado em 31 de janeiro de 1994
OS LUGARES E AS LIÇÕES
Foi demolido. Era a única sala de BH com Cinemascope. Cine Odeon Avenida do Contorno, 1.328, Floresta 1,2 mil lugares Fechado em 16 de dezembro de 1995 Hoje funciona no local uma sauna masculina. Cine Palladium Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro 1,3 mil lugares Fechou em setembro de 1999 Transformado no espaço multifuncional Sesc Palladium. Cine Pathé Avenida Cristovão Colombo, 1.328, Savassi 750 lugares Fechado em 18 de abril de 1999 Imóvel tombado pelo patrimônio histórico, atualmente usado como estacionamento. Cine Pax Rua Coronel Alvez, 171, Cachoeirinha 300 lugares Imóvel fechado. Cine Progresso Rua Padre Eustáquio, 2.545 1,4 mil lugares Fechado em 23 de fevereiro de 1980 No local já funcionou a noturna Phoenix e hoje existe uma academia. Cine Regina Rua da Bahia, 484, Centro Hoje funciona como local de exibição de filmes pornográficos Tela de cinema desativada, usa projetores de vídeo. Cine Roxy Avenida Augusto de Lima, 1.213, Barro Preto 700 lugares Fechado em 1995 Hoje funciona no local lojas de vestuário.
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Cine Royal Avenida Afonso Pena, 381, Centro 1,2 mil lugares Funciona hoje no local templo da Igreja Universal. Cine Santa Efigênia Rua Álvares Maciel, 312 980 lugares Fechado em 22 de fevereiro de 1981 Funcionou no local a casa noturna Lapa Multishow e hoje há um estacionamento. Cine Santa Tereza Praça Duque de Caxias, 39 1,1 mil lugares Fechado em 12 de fevereiro de 1980 Foi restaurado e voltou a abrigar o Cine Santa Tereza e um museu - Museu da Imagem e do Som. Cine São Carlos Rua Padre Eustáquio, 75, Padre Eustáquio 780 lugares Fechado em 9 de fevereiro de 1980 Hoje funciona no local uma gráfica. Cine São José Rua Platina, 1.827, Prado 780 lugares Fechado em 14 de fevereiro de 1980 Hoje funciona no local um teatro. Cine Tamoio Rua Tamoios, 502, Centro 710 lugares Fechado na década de 1990 Hoje funciona no local uma loja de roupas.
Fonte: Bellini Andrade em 2012 - cineasta e roteirista, diretor do documentário Metrópoles. Atualizado pela autora em 2019.
OS LUGARES E AS LIÇÕES
CINE THEATRO BRASIL Projeto: 1929 Inauguração: 1932 Arquitetura: Ângelo Alberto Murgel Endereço: Rua dos Carijós, 258 – Centro Telefone: (31) 3201-5211 Funcionamento: seg. a sab. de 12h às 21h domingo de 15h às 20h Conversão em cine theatro brasil vallourec Projeto: 2006 Inauguração: 2013 Arquitetura: Alípio Pires Castello Branco Para saber mais METRÓPOLES. Direção: Bellini Andrade.
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OS LUGARES E AS LIÇÕES
parte 3. ruas aéreas
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3
ruas aĂŠreas
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44. Acima: painel apresentado pelos arquitetos no 9o CIAM. Fonte: COHEN, Jean-Louis. O futuro da arquitetura desde 1889: Uma história mundial. 1949. Tradução de Donaldson M. Garschagen. São Paulo: Cosac Naify, 2013. p.320. 45. A obra mais significativo desse pensamento foi o complexo de habitação social Robin Hood Gardens em Londres, desenhando em 1960 por Alison e Peter Smithson. Por decisão do governo, o local foi demolido entre os anos de 2015 e 2017, após passaram por longos períodos de precariedade e falta de manutenção. Arquitetos como Richard Rogers, Zaha Hadid, Robert Venturi e Toyo Ito se posicionaram contra a demolição e lideraram uma campanha de protesto contra a decisão governamental, sem sucesso.
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Alison e Peter Smithson foram ingleses que fizeram parte dos últimos CIAMs – Congresso Internacional de Arquitetura Moderna – e representavam a nova geração de arquitetos, que ia contra os pensamentos universalistas, maquinicistas e higienistas que até então dominava a lógica urbanista dos modernistas. Indo contra a corrente, foi em 1953, no nono congresso do CIAM, que o casal propôs o conceito de “reidentificação urbana”, através de um painel ilustrativo que mostrava o funcionamento hierarquizado das relações humanas com o mundo: casa – rua – bairro - cidade44 . Apontaram assim para um fundamento do contato entre pessoas e o mundo: as ruas, zonas de extensão das casas e locais de convívio e lazer. Partindo do entendimento de que nos edifícios em altura se perdia esse contato essencial, passaram então a introduzir o conceito de ruas nos edifícios de apartamento, através dos corredores laterais. Nasce então o conceito de “streets in the sky”, ou ruas aéreas45 . No nosso contexto, são exemplificados alguns casos em que tais ruas áreas se fazem presente em Belo Horizonte, mas em edifícios comerciais. Nesses lugares, os corredores, além de serem ponto de contato visual com o mundo exterior, também se tornam espaços de uso coletivo, onde podem ocorrer encontros,
trocas, vendas e atividades de lazer, entre tantas outras inimagináveis. O entendimento dos acontecimentos urbanos em diferentes níveis, extrapolando o nível das ruas planejadas por Aarão Reis, nos leva a visão da cidade a partir de diferentes camadas. Nas varandas - movimentadas dia e noite a vida urbana se faz presente do alto e, ainda assim, em contato com a rua.
OS LUGARES E AS LIÇÕES
edifício arcângelo maletta O conhecido Maletta também é um importante condensador social: abriga salas comerciais, lojas, moradias, restaurantes e bares em números significativos. São 31 andares residenciais, que totalizam 319 apartamentos e cerca de 1.300 moradores. Já os 19 andares comerciais dão lugar a 642 salas, 72 lojas e 74 sobrelojas, que garatem o caráter de fachada ativa a toda extensão do edifício no nível da rua. Além de seus moradores, o edifício atrai milhares de pessoas diariamente, em busca das atividades ali concentradas46.
garantindo o acesso dos moradores e permitindo que os frequentadores cheguem aos bares sem passar por uma portaria controlada. Após a meia noite, vigias são contratados para impedir que não moradores cheguem à portaria do residencial.
Mas hoje boa parte da fama do edifício vem da boemia que ali se espalhou nos últimos anos. Bares e restaurantes presentes no térreo incentivaram a difusão para o alto e hoje o avarandado do prédio é inteiramente ocupado por estabelecimentos do tipo. Da varanda os frequentadores conseguem ter, além da diversidade de oferta de serviços, uma boa vista do centro da cidade - mesmo quando assentados - graças ao peitoril amigável e à inserção de esquina do prédio, no cruzamento entre a Avenida Augusto de Lima com a Rua da Bahia. A esta rua aérea o acesso se faz pelo hall principal do edifício. A entrada pela Rua de Bahia tem horário de funcionamento focado em atender o uso das salas comerciais, já a entrada pela Avenida Augusto de Lima fica aberta 24 horas,
46. BELO HORIZONTE. Prefeitura Municipal. BH em Cantos: Maletta, um Patrimônio Democrático. Junho de 2018.
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rua dos guajajaras
avenida augusto de lima
rua espírito santo
rua da bahia
acesso de pedestres rua aérea
avenida augusto de lima
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rua da bahia
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rua aĂŠrea
sobrelojas
lojas
avenida augusto de lima rua da bahia
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EDIFÍCIO ARCÂNGELO MALETTA Projeto: 1957 Inauguração: 1961 Arquitetura: Oswaldo Santa Cruz Nery Endereço: R. da Bahia, 1148 - Centro Telefone: (31) 3224-3806 Funcionamento: residencial 24h comercial de 6h às 21h Para saber mais ASSUNÇÃO, Paulinho. Maletta.
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OS LUGARES E AS LIÇÕES
edifícios helena passig e joaquim de paula Na Praça Sete de Setembro, duas construções chamam a atenção pela semelhança de seus volumes. Os edifícios Helena Passig e Joaquim de Paula apresentam silimaridades quanto à altimetria, geometria e ocupação de seus pavimentos. Ao serem simétricos e equivalentes, eles se misturam à paisagem de modo fortalecer o eixo da avenida que os separa. Em ambos, o pavimento térreo é em toda a sua extensão ativo, com comércios e serviços acessados diretamente pela rua. Imediatamente acima localizase a rua aérea de cada um deles: uma circulação avarandada que interliga diferentes estabelecimentos comerciais. No Edifício Joaquim de Paula o acesso à varanda se faz por meio de um estreito corredor que se revela por trás da banca de um chaveiro. Assim, a entrada é desvinculada da portaria principal do edifício e permanece aberta após o fim do expediente, até por volta da meia noite. Na varanda é possível encontrar lojas de fotografia, livraria, restaurante e bar. Esses dispõem mesas que se apropriam do corredor avarandado, utilizando-o como um espaço de permanência de onde mesmo sentado é possível ver o exterior.
Já no Edifício Helena Passig, o acesso se dá exclusivamente por meio da portaria do prédio, que conta com porteiros e catracas. O avarandado é amplo porém apresenta um peitoril mais alto, que dificulta a vista do exterior. A maioria das lojas do pavimento está desocupada. Os dois edifícios nos permitem compreender como os acessos podem interferir na apropriação dos espaços. Tratando-se de lojas voltadas para uma circulação avarandada, é natural que essas atraiam usos que possam se apropriar da varanda como forma de expandir o espaço locado. Além disso, a conexão com a rua favorece a existência de uma clima de descontração, que bem se relaciona com comércios como bares e restaurantes. No caso do Edifício Joaquim de Paula, tal apropriação se faz possível devido à existência de uma entrada não controlada. Por outro lado, o Edifício Helena Passig tem seu avarandado condicionado ao horário comercial e a uma portaria. Assim, atividades que ali poderiam funcionar em horários alternativos acabam impossibilitadas e, consequentemente, se desperdiça o potencial de espaços avarandados localizados no centro da cidade, com vista privilegiada para a vida urbana.
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acesso de pedestres acesso Ă varanda rua aĂŠrea
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salas comerciais (22 pavimentos) rua aérea acesso à torre e à varanda
lojas + sobrelojas avenida afonso pena edifício helena passig
rua da bahia
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salas comerciais (21 pavimentos) rua aérea
acesso à torre edifício joaquim de paula
rua dos carijós
acesso à varanda
lojas + sobrelojas avenida afonso pena
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EDIFÍCIO HELENA PASSIG Projeto: 1957 Inauguração: 1959 Arquitetura: Raphael Hardy Filho Endereço: Rua Rio de Janeiro, 462 – Centro Telefone: (31) 3212-3568 Funcionamento: segunda a sexta de 7h às 19h
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EDIFÍCIO JOAQUIM DE PAULA Projeto: 1957 Inauguração: 1959 Arquitetura: Ulpiano Nunes Muniz Endereço: Rua dos Carijós, 424 - Centro Telefone: (31) 3271-9419 Funcionamento: segunda a sexta de 7h às 21h sábados de 7h às 20h varanda: 7h às 24h
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edifício acaiaca O Edifício Acaiaca chama atenção de quem passa no centro de Belo Horizonte pela presença de duas efígies de índios em sua fachada. Os seus 29 andares foram pioneiros da verticalização da cidade e por eles percorrem hoje milhares de pessoas diariamente. Existem salas comerciais ocupadas pelos mais variados usos e no térreo as lojas se abrem diretamente para a rua. O edifício já abrigou até uma boate e o famoso cinema Acaiaca, onde hoje funciona uma igreja evangélica. No segundo pavimento, há um grande corredor avarandado que percorre todo o perímetro frontal, permitindo uma visão panorâmica da Avenida Afonso Pena no encontro com as ruas Espírito Santo e Tamoios. Por ali existem lojas de diversos tipos, como imobiliária, clínica e serviços de crédito. Assim como no Edifício Helena Passig, o uso é condicionado ao horário comercial, pois o acesso à varanda depende da portaria principal do prédio. A varanda do Edifício Acaiaca guarda o grande potencial de uma rua aérea ampla, conectada com o exterior e bem localizada, que a exemplo do Edifício Arcângelo Maletta poderia se tornar um lugar frequentado dia e noite, movimentando a região em horários alternativos, por um público variado e oferecendo ainda maior variedade de
comércios. Para facilitar isso, um simples reposicionamento da portaria poderia permitir que o acesso da varanda se tornasse independente, dado que o hall de elevadores se encontra recuado em relação à entrada do prédio. Essa alteração inclusive está prevista no Plano Diretor do edifício, elaborado em 2017. Tendo em vista que o prédio carrega consigo um pouco da história da cidade, faz parte do cotidiano de muitos, conta com uma vista privilegiada do centro e uma extensa área útil, sua importância é inquestionável. Nesse sentido, a alteraçao de acessos poderia facilitar ainda mais a apropriação dos espaços e, quem sabe, permitir que o Edifício Acaiaca se coloque como um centro da cultura belo-horizontina.
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avenida afonso pena
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salas comerciais
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lojas + sobrelojas
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rua espĂritio santo avenida afonso pena
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EDIFÍCIO ACAIACA Projeto: 1941 Inauguração: 1943 Arquitetura: Luiz Pinto Coelho Endereço: Av. Afonso Pena, 867 - Centro Telefone: (31) 3213-7688 Funcionamento: 7h às 23 horas Para saber mais MIRANDA, Antônio Rocha. Edifício Acaiaca: o colosso humano e o concreto.
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parte 4. galerias
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4
galerias
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[...] As galerias – lugar do intercâmbio e da ligação – que cortam transversalmente a cidade oferecem percursos alternativos e não previstos dentro da cidade planejada: Galeria do Ouvidor, a da Praça Sete e a do Edifício Arcângelo Maletta. Caminhando por essas galerias, percebemos uma miríade de ofícios que compõe a polis, com suas possibilidades e atividades as mais diversas, dentre as quais nos exercitamos na escolha e na liberdade. Nelas, ao contrário dos shoppings atuais, descortina-se a cidade que não é feita de um pensamento único, mas de uma linguagem que se estrutura, compartilha e se abre para vários usos, falas e rearticulações, com a constituição e o dinamismo de uma res publica viva. (BRANDÃO, 2008, p.74)
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Segundo Walter Benjamin47 as galerias surgem como centros comerciais de luxo da indústria têxtil no século XIX e são, cada qual, uma cidade em miniatura onde as passagens são abrigadas do mau tempo. Nas metrópoles atuais, em que os trajetos são em sua maioria motorizados, valorizar e fortalecer os percursos de pedestres tem se mostrado um importante meio de conectar habitante e cidade. Ao romper com a ocupação maciça do solo para permitir a existência de percursos alternativos, atravessamentos de quadra, mistura e encontro com a diversidade, as galerias que resistem e reanimam a vida urbana são lugares de grande valor. Nelas, a circulação pode se fazer livremente e se apropriar de abrigos do tempo, ao mesmo tempo em que o próprio comércio e serviço se favorece pelo incessante percorrer dos pedestres. Em Belo Horizonte, são inúmeras as galerias que ativam interiores de quadras. São apresentadas a seguir algumas das mais visitadas do centro, por onde passam milhares de pessoas diariamente, estejam elas a passeio, a trabalho, buscando cortar caminho ou até mesmo por acaso.
47. BENJAMIM, Walter. Passagens. 1892-1940. Belo Horizonte: Editora UFMG; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2007, 1ª reimpressão.
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galeria ouvidor A Galeria do Ouvidor é um importante centro comercial que se destaca por apresentar grande variedade de produtos destinados a setores específicos. Às lojas de artesanato se misturam inúmeras relojoarias, vendas de artigos para festa, conserto de roupas, sex shop, cabelereiro, entre outros. São mais de 350 unidades comerciais, por onde passam em média 40 mil frequentadores por dia. Quando inagurada, a galeria contava com quatro pavimentos destinados ao comércio e dois superiores exclusivos para escritórios. Contudo, o aumento da demanda fez com que diversas salas fossem transformadas em lojas. Inclusive a própria infraestrutura de circulação do prédio foi modificada para abrigar o crescente movimento: foram construídas novas escadas para melhorar a conexão com os dois últimos pavimentos, nos vazios já existentes no prédio. Os vazios das lajes promovem uma importante ligação entre os diferentes pavimentos da galeria, além de permitirem ao usuário maior facilidade de leitura do espaço e melhor visualização dos estabelecimentos. Nas extremidades esses vazios inclusive se estendem até atingir as fachadas, tanto na Rua Curitiba quanto na Rua São Paulo: assim o prédio estabelece uma conexão visual em altura com o exterior, criando
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rua curitiba
rua são paulo
rua dos carijós
rua dos tamoios
circulação no interior da quadra circulação de pedestres
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um importante ponto de contato entre espaço comercial e cidade, tal qual as varandas urbanas. A Galeria do Ouvidor é um ambiente extremamente urbanizado, ainda que seja um centro comercial fechado. A movimentação intensa e conflituosa do centro da cidade penetra em seus corredores. Ao conectar as ruas Curitiba e São Paulo o edifício configura uma nova possibilidade de trajeto na cidade: a travessia no miolo de uma quadra. Por isso, seus dois primeiros pavimentos são os mais movimentados e diversificados. Nos superiores concentram-se lojas focadas em atividades específicas, sobretudo artesanato. No térreo, existem lojas de outro prédio que se acoplaram à própria galeria, usando uma unidade de cada edifício e assim criando duas entradas diferentes. É o caso da Loja Elmo e da Drogaria Clara que conseguem atrair clientes pelo corredor da Galeria e pela Rua Carijós, configurando assim mais uma possiblidades de travessia na mesma quadra. Pela sua importância comercial, hoje o prédio pode ser acessado por três ruas diferentes, sem precisar ocupar a quadra inteira. Isso demonstra e fortalece seu potencial atrator e sua capacidade de promover modificações no seu entorno. Ao aumentar seus pontos de contato com o exterior, o edifício se urbaniza ainda mais. A travessia de quadra linear que foi projetada pode
estar se transformando naturalmente em um percurso rizomático, graças a modificação das construções vizinhas que reconhecem a potência da Galeria do Ouvidor.
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loja
escada (acréscimo) área técnica escada (acréscimo)
escada (acréscimo)
loja
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escada rolante loja
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escada rolante loja
acesso rua curitiba
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loja
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loja acesso rua são paulo escada rolante depósito
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GALERIA DO OUVIDOR Projeto: 1962 Inauguração: 1964 Arquitetura: Henri Friedlaender Endereço: Rua São Paulo, 656 - Centro Telefone: (31) 3201-0943 Funcionamento: segunda a sexta 9h às 19h sábados de 9h às 14h Para saber mais BENJAMIM, Walter. Passagens.
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mercado central O Mercado Central talvez seja o espaço do cotidiano dos belo horizontinos que mais se aliou ao turismo. É ponto de encontro, compra e venda para quem mora e um grande espaço de descoberta para os que vem de fora. A decisão de concentrar produtos locais e necessários ao abastecimento da população, além de facilitar a rotina dos habitantes, acabou por gerar um símbolo da cidade e uma forma de expressão cultural de seu povo. Um grande espaço destinado a diferentes comerciantes já existia desde 1900, quando foi instalado o primeiro mercado onde hoje se localiza a rodoviária da cidade. O crescimento gerou necessidade de expansão e em 1929 surgiu o Mercado Municipal Central, unindo as feiras da Praça da Estação e da Rodoviária, no local onde havia a Sede do América Football Club. Ocupando um terreno de quatorze mil metros quadrados, o mercado permaneceu descoberto e sem fechamentos até 1963, quando o então prefeito Jorge Carone optou pela privatização do espaço, alegando impossibilidades administrativas. Isso acabou fortalecendo a articulação dos comerciantes, que se organizaram e arremataram o mercado em leilão no ano seguinte. Por obrigação legal, deveria ser providenciada a pavimentação, o fechamento e a cobertura do espaço.
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rua curitiba
rua santa catarina
rua dos goitacazes
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circulação no interior da quadra acesso de pedestres acesso de veículos
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Desde então, a gestão é realizada de maneira democrática, com a eleição de conselheiros, diretores e presidente, que cumprem mandatos de quatro anos. Isso tem resultado no engajamento dos comerciantes, que se organizam em prol de intervenções para adequações do espaço. Tendo sobrevivido ao nascimento de supermercados de bairro e shoppingcenters, o mercado precisou se adaptar, tanto espacialmente quanto comercialmente. Foi assim que surgiram, por exemplo, áreas de estacionamento no nível acima das lojas, infraestrutura sanitária e de circulação. Esse modelo de gestão tem resultado na setorização não tradicional dos espaços e na ocupação heterogênea, constratante e, por vezes, conflituosa. Hoje o Mercado Central é palco da diversidade, seja pela variedade de produtos e serviços ofertados, seja pela movimentação heterogênea de consumidores ou seja pelas múltiplas formas de apropriação que permite. Dentre várias atividades, há bares e restaurantes, venda de artesanatos, produtos naturais, casa lotérica, farmácia, salão de beleza, espaço de exposições, igreja, espaço de eventos e uma cozinha escola. À primeira vista, a implantação das lojas pode parecer completamente aleatória, mas um segundo olhar permite reconhecer a existência de certa setorização, que inclusive colabora na leitura do espaço e orientação dos usuários. Os bares, por exemplo, sempre se inserem relativamente próximos
às entradas, mas longe das esquinas e fora da circulação principal, dado que seus clientes tendem a transformar o espaço de circulação em um espaço de permanência. Nos corredores labirínticos do mercado convivem movimentação intensa de compradores e transeuntes, pessoas sentadas, carga e descarga de mercadorias nas lojas, exposição de produtos variados e cheiros dos mais diversos produtos. Sua interface com o espaço urbano é limitada aos cobogós do volume, às portas de acesso e às lojas voltadas para a rua. Mas a aparente limitação no diálogo com o exterior é compensada pela existência de um interior rico, diverso, integrado e em constante transformação, que se coloca como um espaço privado com alto grau de urbanidade, complementar ao espaço urbano. Trata-se de um lugar onde a heterogeneidade e a transformação ao longo do tempo são fundamentos da viabilidade econômica e da vitalidade comercial, social e cultural. Onde contrastes e conflitos coexistem e enriquecem a experiência cotidiana. Além de um símbolo, o Mercado Central é um equipamento que tem suportado diversas modificações ao longo do tempo, que mantém relação direta com as pessoas, é palco de apropriações, estabelece relação afetiva com seus usuários e é um organismo dinâmico e pertinente no centro da capital.
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administração mezanino estacionamento
vagas estacionamento área técnica
vazio
cozinha escola agência bancária loja
estacionamento ou eventos temporários
área de descontração
igreja
acesso de pedestres
acesso de veículos
acesso de pedestres
acesso de pedestres elevador panorâmico
acesso de pedestres
bancas dos comerciantes
acesso de pedestres
acesso de pedestres
carga e descarga de mercadorias lojas banheiros depósito
acesso de pedestres caminhões acesso de pedestres lojas
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MERCADO CENTRAL Projeto: 1967 (desde 1929 como feira) Inauguração: 1973 (cobertura e fechamentos) Arquitetura: Márcio Gomes dos Santos Endereço: Av. Augusto de Lima, 744 - Centro Telefone: (31) 3274-9434 Funcionamento: segunda à sábado 7h às 18h domingos e feriados 7h às 13h Para saber mais BRANT, Fernando. Mercado Central.
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mercado novo O Mercado Novo foi inaugurado em 1964 pelo então prefeito Jorge Carone como forma de oposição ao já estabelecido Mercado Central. O objetivo era criar um novo ponto comercial com grande número de bancas e lojas. Todavia, tendo surgido depois e oferecendo produtos e serviços similares, por muito tempo ele esteve à margem do tradicional mercado48. Sua ocupação nunca foi totalmente efetiva, existindo grande número de bancas desocupadas, sobretudo nos pavimentos superiores. Em 2004, um incêndio atingiu o edifício, impactando fortemente na sua imagem e dificultando ainda mais a ocupação. Após o acidente, o terceiro pavimento permaneceu desocupado até 2010, quando tiveram início apropriações espontâneas por artistas. No mesmo ano, surgiu o Mercado das Borboletas, um espaço de artes e eventos que foi fundamental no ressurgimento do Mercado Novo. Desde então, o espaço tem se colocado como palco de eventos e manifestações culturais. O ano de 2019 parece ser promissor, com comerciantes se organizando para fazer dele um pólo cultural belo horizontino.
48. PAULA, Mariana Gonzaga de. Reabilitação do Mercado Novo. 2012. Monografia (Graduação) - Centro Universitário de Belo Horizonte, Belo Horizonte, 2012.
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avenida olegário maciel
rua rio grande do sul
rua dos tupis
rua dos goitacazes
circulação no interior da quadra acesso de pedestres acesso de veículos
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Assim como no Mercado Central, a interface do Mercado Novo com o exterior se limita aos cobogós da fachada e às lojas e acessos no térreo. É no interior que ele revela sua riqueza espacial, com vazios centrais que permitem a conexão entre diferentes pavimentos e circulações que abrem possibilidades de apropriação. Hoje, a existência de um estacionamento no terceiro andar vai contra o imaginado para o edifício. O térreo - inicialmente projetado com pé direito inferior para abrigar tal uso - ganhou força a partir da sua relação mais direta com o exterior, e, por isso, concentra a maior movimentação do edifício, seja nos bares e lojas voltados para a rua, seja no interior da feira, que conta com restaurantes a preços populares e bancas de hortifruti, temperos e carnes. Já os pavimentos superiores, apesar de terem ambiências mais qualificadas, apresentam dificuldade de ocupação, permanecendo com grande número de lojas vagas. Com isso, boa parte da movimentação diária nos níveis de cima provém do estacionamento, que exerce o papel de uma atividade atratora no edifício. Enquanto em algumas circulações carros e pedestres disputam espaço, em outras o desuso toma conta, refletindo o mau estado de conservação, a falta de iluminação natural nos finais dos corredores e a necessidade de articulação e requalificação do espaço de modo geral.
Talvez pela relação menos direta com o exterior nos andares superiores, a ocupação precise ser impulsionada por atividades de maior porte ou exclusividade, capazes atrair pessoas para o interior da edificação. Nesse sentido, suas lojas de dimensões modulares podem contribuir, permitindo a junção e reorganização de conjuntos maiores. É o que vem sendo feito atualmente por novos comerciantes que estão se instalando no Mercado Novo, como parte de um conjunto de iniciativas para fortalecer e efetivar a ocupação do mercado. Ao lado das antigas gráficas e serralherias começam a surgir marcenaria, barbearia, laboratório de fotografia, doceria, restaurantes, bar e distribuidora de bebidas. Esses inclusive prezam por comprar seus ingredientes no próprio térreo do edifício. Esta tentativa de adensamento do Mercado Novo pode ser vista como maneira de reabilitar uma porção do centro da cidade, que apesar de bem servida de infraestrutura, passou por um processo de degradação nos últimos anos. Hoje, o edifício que por décadas esteve subutilizado e com a existência ameaçada começa a apresentar sinais de maior ocupação e diversificação de atividades e usuários.
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iluminação zenital cobertura elevada
lojas camarim/palco banheiros espaço de eventos mercado das borboletas banheiros
lojas vazio vazio bancadas
lojas estacionamento circulação compartilhada
circulação compartilhada lojas
acesso de pedestres acesso compartilhado acesso de pedestres bancas dos comerciantes carga e descarga acesso de mercadorias
lojas vazio
lojas
acesso de pedestres lojas de rua acesso de pedestres acesso compartilhado acesso de pedestres
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MERCADO NOVO Projeto: 1959 Inauguração: 1963 Arquitetura: Fernando Graça e Sandoval Azevedo Filho Endereço: Avenida Olegário Maciel, 742 - Centro Telefone: (31) 3271-9078 Funcionamento: seg. a sáb. das 6h às 18h e dom. das 6h às 12h (1º pav.) seg. a sex das 7h às 19h sáb. das 7h às 15h (2ºpav.)
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shopping cidade e galeria tratex O Shopping Cidade está localizado em uma das zonas mais movimentadas da capital mineira e sabe como aproveitar isso. O edifício conta com acessos de pedestres por meio de três ruas diferentes, em níveis distintos. Desse modo, é como se existissem três pavimentos térreos, que são capazes de atrair boa parte da movimentação das ruas para o seu interior. Graças à diversidade de acessos, o edifício se torna mais penetrável e seu espaço interno acaba funcionando como uma extensão da malha urbana. Assim, o shopping insere novas possibilidades de trajeto no interior da quadra em que se localiza. Isso favorece os comerciantes - que têm seus produtos expostos para um maior número de pessoas -, os consumidores - que conseguem encontrar grande diversidade de serviços concentrados em um mesmo lugar - e os transeuntes - que podem cortar caminho e desfrutar de um espaço coberto e climatizado.
Neste centro comercial menor, uma circulação central acessada pela Rua Rio de Janeiro nos leva até a última loja, que têm saída para a Rua dos Goitacazes. Por ali, é comum ver pessoas fazendo do prédio um corta caminho coberto. E esse trajeto se extende naturalmente até o Shopping Cidade, que abriga um percurso interno à quadra ainda maior. Assim, os dois edifícios estabelecem uma relação de mutualismo na qual a capacidade de atrair pessoas é fortalecida, ao se apropriarem dos pontos de contato com a rua um do outro. A Rua Rio de Janeiro é o ponto de contato entre os dois prédios. Em 2007, um trecho da rua foi alvo de requalificações por parte da prefeitura, com o objetivo de priorizar a circulação de pedestres. Como resultado, neste quarteirão o fluxo de veículos é desacelerado e há bancos na calçada.
Como resultado dessa implantação que se aproveita do entorno, por ali cerca de 80 mil pessoas circulam diariamente e o número de vendas por metro quadrado é um dos maiores do país49 . Além de aproveitar os diferentes pontos de contato com a rua, o Shopping Cidade estabelece uma relação não planejada com outro edifício, a Galeria Tratex.
49. Dados retirados de pesquisas divulgadas no site do próprio estabelecimento. Fonte: SHOPPING CIDADE. Sobre o shopping. [s.d.].
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rua são paulo
rua rio janeiro
rua dos tupis
rua dos goitacazes
circulação no interior da quadra acesso de pedestres acesso de veículos
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acesso shopping
bancos
acesso galeria
faixa de pedestre com traffic calming
passagem no interior da loja
Conexão entre os dois edifícios pela Rua Rio de Janeiro
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circulação de pedestres circulação de veículos
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shopping cidade
galeria tratex
circulação no interior da quadra acesso ao estacionamento
circulação no interior da quadra
acesso rua rio de janeiro acesso rua goitacazes acesso rua tupis
acesso rua são paulo
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SHOPPING CIDADE Projeto: 1988 Inauguração: 1991 Arquitetura: István Farkasvölgyi Endereço: Rua dos Tupis, 337 - Centro Telefone: (31) 3279-1200 Funcionamento: seg à sab 9 às 22h dom e feriados 10 às 22h GALERIA TRATEX Projeto: Data não identificada Inauguração: Data não identificada Arquitetura: Autor não identificado Endereço: Rua Rio de Janeiro, 927 - Centro Telefone: (31) 3273-1615 Funcionamento: seg à sex 9 às 20h sábados 09 às 15h
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parte 5. seções urbanas
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seçþes urbanas
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Neste último grupo de lugares, predomina a busca por espaços que se articulam como um conjunto maior e funcionam como continuação de um percurso urbano em diferentes níveis, apresentando tanto quebra de rigidez e mudança de rotas e perspectivas – como nos exemplos das galerias - quanto dinamismo e aberturas para diferentes usos e interações. Os casos apresentados são exemplos não apenas de edifícios que se relacionam com o contexto, mas de uma forte integração entre edificação, desenho urbano e infraestrutura urbana. São exemplos em que esses três aspectos não apenas coexistem, mas também se sobrepõem, interpenetram e interagem.
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terminal rodoviário Em 1971, Belo Horizonte recebeu o maior e mais moderno espaço destinado a centralizar o serviço rodoviário intermunicipal, cuja localização – onde existia a Feira de Amostras – foi proposta pelo então governador Israel Pinheiro e pelos arquitetos Lúcio Costa e Oscar Niemeyer50. O edifício de três pavimentos e ocupação extensiva do terreno está centralizado no final do eixo da Avenida Afonso Pena, logo após a Praça Rio Branco – um vazio que se insere em cota mais elevada que a rodoviária e permite sua visualização ao fundo, em meio a diversas camadas de pessoas e veículos em movimento. O caráter de seção urbana deve-se à conexão que o edifício cria entre as avenidas Afonso Pena e do Contorno, em cotas de nível diferentes, passando pelo Ribeirão Arrudas. A estratégia de implantação da Rodoviária resulta em um espaço conectado com o entorno e capaz de conciliar distintos fluxos. Seu partido pode ser resumido em um grande redesenho da topografia, de modo acomodar os níveis e conectá-los ao chão. A laje intermediária se estende para o exterior do edifício e percorre o vazio onde coexistem estacionamento e circulação de pedestres, até atingir a Praça Rio Branco, gerando um percurso contínuo desde a rua até o interior da rodoviária. Sob esse nível ocorre a movimentação de ônibus e o desembarque de passageiros.
50. BELO HORIZONTE. Prefeitura Municipal. Rodoviária de BH, palco de emoções, encontros e despedidas. Diário Oficial do Município. Belo Horizonte, ano XIX, n. 4224, Janeiro, 2013.
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acesso de pedestres acesso de veículos particulares
acesso de ônibus de viagem acesso táxi
acesso carros de aplicativos eixo de simetria
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No interior da Rodoviária, a construção de vazios e articulação em níveis também é uma premissa: sob uma única cobertura em concreto armado encontram-se o pavimento térreo e um mezanino, que alocado nas bordas gera um vazio em altura capaz de qualificar o espaço mais movimentado - nele estão a área de espera e as plataformas de acesso ao nível inferior, onde acontece o embarque. Além disso, o térreo é circundado por outro vazio: um terraço com jardineiras e bancos configura uma área de permanência ao ar livre, com vista para o centro da cidade. Dentre as diversas articulações, há algumas complicações: não há conexão direta entre desembarque e interior da rodoviária. Existe uma infraestrutura própria do desembarque, com banheiros e lanchonetes, mas que é inferior à existente no pavimento de cima. Para acessá-lo, os passageiros precisam subir escadas carregando bagagens até chegar ao estacionamento descoberto e por meio dele passar pela entrada principal. Há outras duas saídas laterais, mas que também implicam em um desembarque desconectado da infraestrutura do andar superior da rodoviária. Uma dessas saídas leva à estação de metrô por meio de uma passarela ao ar livre. Diferente do que acontece em outras cidades, no caso de Belo Horizonte a ligação entre esses equipamentos é indireta e descoberta. O entorno imediato do equipamento é degradado e as inúmeras intervenções
viárias dos últimos anos tem colaborado para isso, gerando áreas residuais em decorrência da implantação de grandes viadutos. A circulação de pedestres tem sido tratada em segundo plano e por consequência a insegurança acompanha quem passa por ali. O fato do edifício estar localizado em um grande entroncamento rodoviário e sua movimentação causar reflexos na Avenida Afonso Pena são os principais motivadores da construção de uma nova rodoviária. O projeto realizado há dez anos ainda não foi implementado e sua localização também é alvo de críticas. Em 2018 foi iniciada a reforma da atual rodoviária, melhorando suas infraestruturas de atendimento. Percebem-se também ostensivas intervenções focadas no gradeamento dos espaços: canteiros são cercados, plataformas de embarque são contornadas por pedestais com fitas separadoras e guarda corpos desnecessários impedem a livre circulação. De maneira geral, a rodoviária é um equipamento vivo e bem resolvido em si, capaz de se apropriar dos desníveis para se conectar com o exterior. Todavia, existem algumas precariedades e contradições na articulação do seu entorno. Tal problemática foi abordada pelos arquitetos Mariza Machado Coelho e Álvaro Hardy em 1989 e suas proposições até hoje nos permitem vislumbrar novas possibilidades para a área51 .
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1. estação de metrô: lagoinha 2. avenida do contorno 3. ribeirão arrudas canalizado 4. rodoviária 5. encontro das avenidas paraná e santos dumont 6. praça rio branco 7. escultura “Monovolume Liberdade em Equilíbrio”, de Mary Vieira 8. avenida afonso pena
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a. terraço b. sanitários c. administração, bancos e lojas d. lanchonetes e restaurantes e. circulação de pedestres f. escada rolante g. área de espera,caixas eletrônicos e auditório h. guiches de companhias de viação i. elevadores j. acesso principal k. escada l. estacionamento de veículos m. interface com a praça rio branco n. plataforma de embarque o. circulação de ônibus p. plataforma de desembarque q. serviços de conveniência r. ponto de táxi
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51. Proposta de Mariza Machado Coelho e Ă lvaro Hardy desenvolvida em 1989 para o concurso BH CENTRO. Fonte: BELO HORIZONTE. Prefeitura Municipal. BH Centro: Novos Horizontes para um Centro Urbano. Belo Horizonte, 1989.
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TERMINAL RODOVIÁRIO Projeto: 1967 Inauguração: 1971 Arquitetura: Fernando Graça, Francisco Espírito Santo, Luciano Passini, Mardônio Guimarães, Marina Wasner, Mário Berti, Raul Costa da Cunha, Ronaldo Massotti, Suzy de Mello e Walter Machado. Paisagismo do escritório de Roberto Burle-Marx Endereço: Praça Rio Branco, 100 - Centro Telefone: (31) 3271-3000 Funcionamento: 24h
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parque municipal e palácio das artes O Parque Municipal Américo Renné Giannetti é o único localizado na Zona Central de Belo Horizonte. Diferente do que havia sido proposto no projeto da cidade, um dos seus limites é a própria Avenida do Contorno. No local onde deveria existir o parque e um curso d’água preservado, há um dos principais eixos do sistema viário da cidade e o Ribeirão Arrudas encontra-se canalizado e fechado. Embora sua área tenha sido ostensivamente reduzida ao longo dos anos, ele ainda é um dos principais equipamentos da cidade e faz parte do cotidiano de muitos belo-horizontinos, graças à sua capacidade de acolher duas importantes e distintas dinâmicas: aos finais de semana, o local é muito procurado para atividades de lazer e descanso da população; durante a semana seus espaços se transformam em um corta caminho arborizado e tranquilo em meio à toda movimentação do centro. A distribuição de acessos ao longo de toda sua extensão permite que o parque se conecte com o entorno em diferentes porções da cidade, se tornando um eixo de ligação de níveis e usos variados.
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acesso de pedestres perímetro original do parque municipal
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Boa parte da área antes planejada para compor o parque deu lugar a equipamentos públicos. Alguns deles estão inseridos no seu próprio interior. É o caso do Palácio das Artes, que apesar de estar dentro dos limites do Parque Municipal, tem acesso exclusivo e direto pela Avenida Afonso Pena. Ambos equipamentos abrigam importantes atividades culturais e de lazer e, nesse sentido, poderiam atuar em conjunto e de maneira mais potente. Todavia, são vários os entraves existentes nessa ligação. A começar pela fachada do Palácio das Artes, há alguns signos que prejudicam sua conexão com o entorno imediato. A existência de um espelho d’água na zona transição entre interior e exterior, por exemplo, acaba por afastar o transeunte do edifício, assim como faz a implantação do acesso em nível mais elevado e com material diferenciado da calçada. Já nos fundos do prédio, a relação com o entorno é limitada, pois o gradil que separa Parque e Palácio não permite a ligação entre os dois equipamentos. Por si só, o Parque Municipal é capaz de conectar distintas porções da cidade, ligando duas vias de grande importância e passando pelo Ribeirão Arrudas, o que justifica seu carácter de seção urbana. Já o Palácio das Artes é um equipamento bem inserido, mas que poderia se colocar ainda mais em prol da vida cotidiana na cidade, caso permitisse mais possibilidades de conexão com o exterior, podendo se tornar por exemplo mais uma porta de acesso ao parque.
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1. linha férrea 2. galpões 3. avenida dos andradas 4. ribeirão arrudas tamponado 5. parque municipal américo renné giannetti 6. palácio das artes 7. avenida afonso pena
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PALÁCIO DAS ARTES Projeto: 1955 Inauguração: 1971 Arquitetura: Hélio Ferreira Pinto sobre projeto inicial de Oscar Niemeyer Endereço: Avenida Afonso Pena, 1537 – Centro Telefone: (31) 3236-7400 Funcionamento: seg a sábado 9h às 21h PARQUE MUNICIPAL Projeto: 1895 Inauguração: 1897 Desenho: Paul Villon Endereço: Avenida Afonso Pena, 1377 Centro Telefone: (31) 3277-4161 Funcionamento: terça a domingo 6h às 18h Para saber mais TEIXEIRA, Carlos. Em Obras: História do Vazio em Belo Horizonte.
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conjunto da praça da estação Assim como o Parque Municipal, a Praça da Estação acompanhou todo o processo de transformação da cidade e hoje carrega consigo fortes marcas do passado em meio às demandas do presente. O grande vazio, em conjunto com a estação ferroviária, imaginado por Aarão Reis era a porta de entrada da capital mineira, por onde desembarcavam pessoas e mercadorias. Desde então, o espaço já enfrentou distintas realidades, passando à situação de abandono à época da ascensão do rodoviarismo, tendo sido recuperado com a implantação do metrô nos anos 1980 e inclusive utilizado como estacionamento até 2004, quando se inaugurou uma grande obra de revitalização de todo o conjunto, incluindo a restauração de esculturas e jardins e a instalação de fontes secas e pontos de iluminação lateral. Desde 2005, no principal prédio do conjunto funciona o Museu de Artes e Ofícios. Ao conjunto de vazios ali implantados dá-se o nome de Praça Rui Barbosa. Metade se insere dentro dos limites da Avenida do Contorno e é marcada pelo expressivo ajardinamento. Já a porção localizada entre a avenida e a linha de trem é conhecida como Praça da Estação.
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1. praça rui barbosa (o conjunto) 2. restaurante e centro de cultura, antiga companhia industrial belo horizonte e 104 tecidos 3. avenida dos andradas 4. ribeirão arrudas tamponado 5. praça da estação 6. centro de referência da juventude 7. museu de artes e ofícios, antiga estação da rede ferroviária federal 8. estação de trem vitória-minas e trem de carga, antigo armazem da rede ferroviária 9. estação central do metrô 10. escadaria 11. viaduto da floresta 12. museu de artes e ofícios, antiga estação ferroviária oeste de minas 13. rua sapucaí 14. galpões e edifícios comerciais/institucionais
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Trata-se de grande vazio livre de obstáculos, com possibilidade de receber diversas intervenções efêmeras. Esse desenho faz da praça um importante campo de apropriação popular e símbolo da luta pelo direito à cidade. Ali acontecem, por exemplo, encontros de grupos organizados, movimentos socias, manifestações, rodas de música, blocos de carnaval e a famosa “praia da estação”. Sua localização atrelada à estação do metrô e à uma importante via da cidade potencializa toda a dinâmica. Além disso, a Estação Central insere ali um percurso alternativo ao conectar a Avenida dos Andradas - implantada sobre o Riberão Arrudas - até a Rua Sapucaí, através de um túnel que passa pelo interior da estação e chega a uma escadaria. O conjunto é, portanto, uma valiosa seção urbana, capaz de ligar dois bairros diferentes, cada qual com uma dinâmica específica e que pode ser favorecida pela conexão. O próprio Museu de Artes e Ofícios configura uma transposição semelhante: sua primeira porção é conectada à segunda por meio de um túnel de pedestres sob a linha férrea. Isso seria ainda mais potente caso o equipamento inserisse nas suas áreas juntas à rua um uso mais efetivo e um acesso direto a ela. Por fim, a Rua Sapucaí é mais um espaço de transformação no entorno: desde o início da década, tem sido foco de apropriação de pessoas, que por ali podem desfrutar ao ar livre de uma vista privilegiada da cidade. Com a
instalação de novos estabelecimentos, surgiu um importante polo cultural e gastronômico, capaz de receber diferentes movimentos e públicos. Cada vez mais, a rua se mostra viva e dinâmica.
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1a década do século xx
a partir da década de 1960
situação atual
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52. Estudo evolutivo desenvolvido a partir de CARSALADE, 2016.
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1. praça rui barbosa (o conjunto) 2. restaurante e centro de cultura, antiga companhia industrial belo horizonte e 104 tecidos 3. avenida dos andradas 4. ribeirão arrudas tamponado 5. praça da estação 6. centro de referência da juventude (ao fundo) 7. museu de artes e ofícios, antiga estação da rede ferroviária federal 8. estação de trem vitória-minas e trem de carga, antigo armazem da rede ferroviária 9. estação central do metrô 10. escadaria 11. viaduto da floresta (ao fundo) 12. museu de artes e ofícios, antiga estação ferroviária oeste de minas (ao fundo) 13. rua sapucaí 14. galpões e edifícios comerciais/institucionais 15. transposição na estação central
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1. praça rui barbosa (o conjunto) 2. restaurante e centro de cultura, antiga companhia industrial belo horizonte e 104 tecidos 3. avenida dos andradas 4. ribeirão arrudas tamponado 5. praça da estação 6. centro de referência da juventude (ao fundo) 7. museu de artes e ofícios, antiga estação da rede ferroviária federal 8. estação de trem vitória-minas e trem de carga, antigo armazem da rede ferroviária 9. estação central do metrô 10. escadaria 11. viaduto da floresta (ao fundo) 12. museu de artes e ofícios, antiga estação ferroviária oeste de minas (ao fundo) 13. rua sapucaí 14. galpões e edifícios comerciais/institucionais 15. transposição na estação central
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Projeto: 1895 Inauguração: 1904 Desenho: Comissão Construtora / Aarão Reis Requalificação de 2004 Arquitetura: Eduardo Beggiato, Edwirges Leal e Flávio Grillo. ESTAÇÃO FERROVIÁRIA – ATUAL MUSEU Inauguração: 1922 estação / 2005 museu Arquitetura: Caetano Lopes e Luiz Olivieri Endereço: R. Aarão Reis, 423 - Centro Telefone: (31) 3248-8600 Funcionamento: terça a sábado 9h às 17h Para saber mais CARSALADE, Flávio de Lemos. Estação em movimento.
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consideraçþes
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O espaço é acumulação desigual de tempos. (SANTOS, 1982).
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A esta altura, a exploração de cada um dos lugares, por si só, me parece ser campo de reflexões o suficiente - tanto em termos de investigação pessoal, quanto para o leitor que chegou até aqui. Desde o princípio, a proposta era de que as tais lições - sobre cidade, arquitetura e urbanismo - surgissem a partir desse olhar atento para os lugares. Nesse processo, são várias as ideias que podem aparecer; pontos, contrapontos e costuras inteiras que não me cabe prever. Por isso, creio que não seja o caso de propor algum tipo de conclusão, que arremate todas as ideias e finalize o assunto. Mas talvez convenha demonstrar que com essa investigação é possível chegar em algum lugar. Opto então por deixar algumas considerações que surgiram e animaram o período de desenvolvimento deste material: 1. Olhar para o presente, para a realidade construída e para um espaço específico se mostrou uma ótima maneira de abrir perspectivas para diferentes campos e para distintas temáticas, para a busca por respostas dentro da área de estudo, mas também fora dela, no tempo presente, mas também no passado. Nesse sentido, as transformações ao longo dos anos foram centrais em cada uma das análises. 2. Tal olhar para o presente somente ganha relevância na medida em que for capaz de permitir a construção de uma realidade futura mais consciente dos processos e decisões que gerou a atual. Sem a intenção de saudar o passado,
uma obra ou arquiteto específico, toda essa exploração somente fará sentido se alimentar o que diariamente é feito hoje e o que será feito amanhã. 3. Em se tratando de uma busca por lições a partir de lugares existentes, amparado por critérios de articulação urbana e arquitetônica, gostaria de finalizar fazendo paralelos entre alguns deles: No Conjunto Sulacap-Sulamérica fica o exemplo de como uma edificação é capaz de criar novas articulações em uma malha urbana já existente ao inserir nela um novo ponto de conexão; aliando isso à existência de uma ordem geométrica clara, capaz de criar vazios e dialogar com o contexto, o edifício se mostra ainda mais potente; Com o Edifício Niemeyer, a lição de permeabilidade para com o espaço público se mostra possível mesmo em um contexto residencial e privado; O Mercado Central é um exemplo de como a polivalência de um lugar pode ser fundamento de sua viabilidade e que a mistura de diferentes usos pode fortalecer todo um equipamento; Com o Conjunto JK, a densidade se mostra como um dos aspectos mais fundantes e transformadores do espaço; Nele e no Cine Brasil, a diversidade de usos se coloca à prova e aponta para a possibilidade de transformar um edifício monofuncional em algo maior: de residência e cinema a centros de
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convivência, comércio e cultura; O Shopping Cidade e a Galeria Ouvidor, por exemplo, clarificam como a diversidade de acessos pode fortalecer um lugar e aumentar sua importância no dia a dia da cidade, a tal ponto do entorno se transformar para também tirar aproveito disso; Sobre a importância da boa relação entre diferentes fluxos e usos, se destaca o Edifício Acângelo Maletta, assim como as demais varandas urbanas, que além disso também se qualificam ao colocar áreas de permanência em contato direto com a rua; Com a Rodoviária, assim como nas demais Seções Urbanas, é comprovada a importância do entendimento da topografia como parte essencial na construção do espaço habitado, sobretudo no que diz respeito ao estabelecimento de conexões entre distintas localidades; Com cada um dos espaços estudados, aprendi que há um grande distanciamento entre plano e realidade, que as transformações ao longo do tempo são fatos de fundamental relevância e que olhar para o contexto existente deve ser o ponto substancial de qualquer atuação sobre um lugar. Conhecidos os estudos de caso deste guia, fica a certeza de que ele é fundamentalmente inacabado. Tratase de uma busca por bons exemplos de intervenções nas cidades - neste caso em específico, uma pequena porção de
Belo Horizonte -, que não começa e nem termina aqui. Espero ser capaz de trazer alguma inspiração neste sentido, como tantos outros referenciais já têm feito até aqui.
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OS LUGARES E AS LIÇÕES
agradecimentos
Este livro não existiria sem o apoio de Carlos Alberto Maciel, que abraçou prontamente o pedido de orientar pela primeira vez uma monografia e foi imprescindível no desenvolvimento de todas as reflexões aqui apresentadas. Ao Marcos Vinícius Lourenço, agradeço pelo companheirismo e por compartilhar comigo suas observações sobre o assunto, sua paixão pela profissão e sua vida. Agradeço aos professores André Luiz Prado e Bruno Santa Cecília pelos valiosos apontamentos durante as avaliações intermediárias. Aos professores Ana Paula Baltazar, Eduardo Moreira e Rejane Magiag Loura, agradeço pela troca de ideias antes mesmo de iniciar o trabalho. À Izabela Baiense e ao Filipe Gonçalves, agradeço por terem dedicado parte do seu tempo para refletir comigo sobre o projeto gráfico. Meus sinceros agradecimentos à Tatiane Quintino, a anja da tipografia, que com muita agilidade, empenho e cuidado fez nascer a capa deste livro.
Ao Portal ARQBH, obrigada por ser fonte de inspiração e, sobretudo, por dedicar o olhar para a nossa cidade. Aos meus pais, sou imensamente grata por todo amor, cuidado e empenho voltado para a minha educação. Aos amigos, muito obrigada por cada incentivo e encorajamento recebido. À Escola de Arquitetura da UFMG - pública, de qualidade e crítica por excelência - obrigada por ter me transformado. A todas as oportunidades de iniciação científica e estágio, agradeço pela confiança e estímulo. Por fim, sou imensamente grata às instituições, escritórios e colegas de profissão que com muita generosidade me cederam bases importantes para o desenvolvimento deste trabalho. São eles: Arquitetos Associados; Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte, especialmente Círlei Aparecida Rocha; Bruna Montes Souza; Cine Teatro Brasil Vallourec, sobretudo Keu Freire e Marina Clara que por lá me receberam; Eduardo Beggiato;
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Júlio Araújo Teixeira; Luiza Salomé; Mariana Gonzaga de Paula; Mariza Machado Coelho ; Mateus Moreira Pontes; Paula Barros; Pedro Azevedo Queiroz; Pedro Henrique Lopes; Ricardo Lobato; Thomaz Yuji Baba. A todos que de alguma maneira fizeram parte da minha formação, muito obrigada.
OS LUGARES E AS LIÇÕES
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organização, pesquisa, desenhos, fotografias e projeto gráfico MARIANA LIMA orientação CARLOS ALBERTO MACIEL revisão textual ADRIANA SOUZA
OS LUGARES E AS LIÇÕES
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As fotografias sĂŁo referentes ao perĂodo de agosto de 2018 a junho de 2019.
OS LUGARES E AS LIÇÕES
Exemplar único composto nas tipografias Corbel e Orkney, impresso sobre papéis Alaska (miolo) e Clear Plus (vegetal) na Aster Graf e capa em impressão tipográfica sobre Cartão Horlle, no TipoLab/UEMG, no solstício de inverno de 2019.
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