CASA DE CULTURA CAPÃO REDONDO
Mariana Batista da Silva 2021
CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC SANTO AMARO BACHARELADO EM ARQUITETURA E URBANISMO
MARIANA BATISTA DA SILVA
CASA DE CULTURA CAPÃO REDONDO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
SÃO PAULO 2021
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário Senac Santo Amaro.
Orientador: Prof. Dr. Felipe de Souza Noto Coordenadora: Prof. Dra. Valéria Cássia dos Santos Fialho
SÃO PAULO 2021
“Quando você não democratiza a cultura e concentra as políticas culturais para apenas um setor da elite da sociedade, na prática, o que está dizendo é que não quer levar para o conjunto da sociedade, em especial para os trabalhadores, mecanismos de análise crítica da realidade”. (SAMPAIO, Américo. Rádio Brasil Atual. 2018)
SÃO PAULO 2021
_ RESUMO
O trabalho analisa a importância da cultura para o desenvolvimento local de um determinado lugar, levanta dados relacionados à falta de investimentos das autoridades públicas direcionadas a espaços e equipamentos de cultura e lazer em regiões periféricas, mostra a dificuldade de acesso e opções para os moradores dessas regiões, e faz um comparativo com as atividades culturais paulistanas como um todo. A partir disso, é feito um levantamento de dados que resulta na elaboração do projeto Casa de Cultura Capão Redondo – distrito localizado no extremo sul da cidade de São Paulo – levando em consideração suas necessidades Palavras-chave: Cultura. Espaços culturais. Equipamentos. Periferia.
_ ABSTRACT
The work analyzes the importance of culture for the local development of a given place, raises data related to the lack of investments by public authorities directed to spaces and equipment for culture and leisure in peripheral regions, shows the difficulty of access and options for the residents of these regions, and makes a comparison to cultural activities in São Paulo as a whole. Based on that, a data survey is carried out that proceeds in the elaboration of the Casa de Cultura Capão Redondo project - district located in the extreme south of the city of São Paulo taking into account your needs. Keywords: Culture. Cultural spaces Equipment. Periphery.
_ LISTA DE FIGURAS
Figura 01 – Mapa dos espaços culturais em São Paulo......................20
Figura 16 – Fotos do terreno.........................................................................39
Figura 02 – Gráfico de frequência em atividades culturais...............21
Figura 17– Mapa zoneamento do terreno................................................40
Figura 03 – Gráfico de fatores determinantes........................................22
Figura 18 – Quadro 3 da Prefeitura de São Paulo ..............................40
Figura 04 – Localização do distrito em São Paulo................................23
Figura 19 – Quadro 3A da Prefeitura de São Paulo.............................40
Figura 05 – Mapa de uso e ocupação do solo........................................25
Figura 20 – Corte geral do entorno............................................................41
Figura 06 – Mapa de mobilidade e transporte ......................................26
Figura 21 – Modelagem 3D do entorno em planta.............................42
Figura 07 – Fábrica de Cultura Capão Redondo....................................28
Figura 22 – Vista modelagem 3D do entorno........................................43
Figura 08– Localização Fábrica de Cultura Capão Redondo.............29
Figura 23 – Atividades dos coletivos culturais.......................................44
Figura 09 – Centro Cultural El Tranque.....................................................32
Figura 24 – Tabela das atividades no Capão Redondo ......................45
Figura 10 – Plantas do Centro Cultural El Tranque..............................33
Figura 25 – Tabela programa de necessidades .....................................46
Figura 11 – Edifício Projeto Viver..................................................................34
Figura 26 – Tabelas de agrupamentos.......................................................47
Figura 12 – Perspectiva isométrica do Edifício Projeto Viver............35
Figura 27 – Setorização volumétrica ........................................................48
Figura 13 – Definição da localização do projeto ..................................38
Figura 28 – Tabela da metragem quadrada do projeto.......................49
Figura 14 – Hipóteses de terreno ...............................................................38
Figura 29 – Tabela comparativa de parâmetros do zoneamento...49
Figura 15 – Localização do terreno.............................................................39
_ SUMÁRIO
_ INTRODUÇÃO _ 16
_ A CASA DE CULTURA _ 50 Situação
Segundo pavimento
Implantação
Cobertura
Térreo
Subsolo
Primeiro pavimento
Estrutura
Levantamento de dados
Corte A
Corte D
Atividades culturais no distrito
Corte B
Corte E
_ DIAGNÓSTICO _ 18 Panorama dos espaços culturais em São Paulo Situação cultural nas periferias
Corte C
_ ESTUDOS DE CASO _ 30 Centro Cultural El Tranque
_ MAQUETE ELETRÔNICA _ 66
Edifício Projeto Viver
_ REFERÊNCIAS _ 82 _ O PROJETO _ 36 Terreno Topografia
Programa de necessidades Setorização
_ INTRODUÇÃO
A cultura é um conceito difícil de se explicar. Por ter
seus moradores possam desenvolver o seu próprio modo de expressão
significações variadas, a sua definição vai depender da forma como
artística e cultural; incentivar a participação da comunidade e dar
cada indivíduo a concebe. No entanto, isso não anula a sua
suporte para as necessidades das atividades já existentes na região.
importância para a sociedade, pois é a partir dela que se pode promover transformações sociais em uma comunidade.
Para isso, foi desenvolvido um projeto de uma casa de cultura em umas das regiões periféricas da cidade de São Paulo, o Capão
“(...) todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte,
Redondo. O processo do projeto foi divido por etapas: a princípio foram
moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos
realizadas pesquisas referentes à espaços culturais dentro da cidade
adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade.”
de São Paulo, apontando a grande desigualdade de distribuição de
(TYLOR, E. Primitive Culture. 1871).
O Brasil é um país eclético, de cultura vasta e crenças religiosas sincréticas, pelo fato de sua formação étnica ter surgido a
partir da miscigenação de muitos outros povos. Porém, essa origem diversificada resulta, muitas vezes, um entendimento preconceituoso da produção cultural periférica, filtrado pela lente do elitismo cultural e pelo racismo. A desigualdade é uma característica marcante de nosso país, e é
evidente a supremacia de uma classe social nos processos de divisão dentro da cidade, como o trabalho e renda, e fatores como o acesso à saúde, educação, saneamento, segurança e cultura. Levando em consideração a grande desigualdade, e sabendo que a identidade cultural constrói a consciência de uma comunidade, o objetivo do trabalho é buscar a democratização da cultura, aumentando o seu acesso na periferia, possibilitando que
equipamentos para cada região da cidade. Na segunda etapa, a partir da análise e identificação das regiões da cidade que mais carecem de suporte para a prática cultural, foi feita a escolha do distrito do projeto. Na terceira etapa foram levantados os dados sobre o distrito, onde acontece o entendimento da região em diversos setores e são estabelecidas algumas diretrizes para escolha do terreno. A quarta etapa acontece a escolha do terreno e seu estudo aprofundado, é possível identificar seus dados, suas características, inserção no bairro e a relação com o entorno próximo. Por fim, a quinta e última etapa se trata da consolidação desses materiais com o desenvolvimento das primeiras aproximações de projeto para a casa de cultura, partindo do planejamento do programa
de necessidades e estudos de volumetrias, por meio de representações gráficas, como desenhos e modelagem 3D.
_ DIAGNÓSTICO
_
PANORAMA DOS ESPAÇOS CULTUAIS EM SÃO PAULO São Paulo é uma cidade com muitas opções para atividades
culturais. A vida cultural está muito presente no dia a dia de –
Para realização do levantamento foram considerados cinco tipos de equipamentos culturais, entre públicos e privados, classificados como: •
quase – todo o público, com uma grande diversidade de seguimentos como teatros, museus, cinemas, casas de espetáculos
mantida pelos poderes públicos, de porte maior;
•
e centros culturais.
Casas de cultura: centro cultural de pequeno porte, situado em regiões periféricas para os moradores das comunidades,
A SPTuris, empresa municipal de turismo e eventos, realizou
voltadas para a divulgação de uma modalidade específica,
em 2015 por meio do seu núcleo de estudos e pesquisas, um levantamento sobre a quantidade de espaços culturais disponíveis
Centros culturais: habitualmente ligados a uma instituição
normalmente administrado pela Subprefeitura da região; •
na cidade.
Fábricas e oficinas de cultura: programas da Secretaria de
Estado da Cultura que tem como objetivo ampliar o Figura 01 – Mapa dos espaços culturais em São Paulo.
conhecimento cultural do jovem, por meio da interação com a sua própria comunidade e da participação em oficinas e atividades artísticas; •
Sesc
(Serviço
Social
do
Comércio):
compromisso
de
empresários em colaborar com o cenário social, por meio de ações que proporcionassem melhores condições de vida a seus empregados e familiares, e o desenvolvimento das comunidades onde vivem. O resultado dessa pesquisa mostra que as zonas norte,
leste e sul são as que possuem menos espaços culturais, sendo 54 Fonte: Observatório de Turismo e Eventos http://www.observatoriodoturismo.com.br/pdf/infografico_centrosculturais.pdf
no total, e as zonas oeste e central são as que mais concentram
concentram esse tipo de espaço, com 61. Isso nos faz entender
anos ou mais não frequentou nenhuma atividade cultural em 2017,
que, mesmo com diversas opções e sendo bem reconhecida por
sendo que 36% dos que não vão a nenhum ambiente cultural,
suas atividades culturais, a cidade de São Paulo sofre um grande
recebe até dois salários mínimos. Figura 02 – Gráfico de frequência em atividades culturais.
déficit na distribuição equilibrada desses espaços.
_ SITUAÇÃO CULTURAL NAS PERIFERIAS Um relatório do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – mostrou as desigualdades de acesso à cultura no país, e apontou que não é oferecido amplo acesso na área da cultura para toda sua população. De acordo com a Rede Nossa São Paulo, esse é o setor mais prejudicado pela falta de investimentos públicos,
sendo
que
estes
baixos
recursos
são
alocados
principalmente em regiões centrais. A pesquisa da Rede Nossa São Paulo – 2019 – também aponta que mesmo a média de equipamentos públicos de cultura na cidade sendo de 2,09, São Paulo possui 18 distritos que não têm nenhum tipo de equipamento, seja municipal ou estadual; 70
Fonte: Ibope https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/24-dos-paulistanos-nao-frequentanenhuma-atividade-cultural-na-cidade-aponta-pesquisa.ghtml
que não têm nenhum centro cultural, casa ou espaço de cultura;
Os índices significativos de pessoas que não têm acesso a
81 não têm museu; 73 não têm salas de show e concertos; 53
práticas culturais (24%) são essencialmente pela desigualdade de
não têm cinemas; e 58 não têm teatros.
renda, que além de impossibilitar que paguem por um ingresso,
De acordo com uma pesquisa realizada pelo Ibope Inteligência em 2018, cerca de um quarto dos paulistanos de 16
muitas
vezes
moram
impossibilitando o acesso.
distantes,
o
que
dificulta
ou
até
Figura 03 – Gráfico de fatores determinantes
_
LEVANTAMENTO DE DADOS O Capão Redondo é um distrito pertencente à subprefeitura
do Campo Limpo, no extremo sul do município de São Paulo – umas das regiões com menos equipamentos culturais presentes, como citado anteriormente –, localizado a cerca de 16km do marco zero da cidade e considerado uma região periférica. Em sua
área de 13,6 km² com 62 bairros, ele abriga uma população de Fonte: Ibope https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/24-dos-paulistanos-nao-frequentanenhuma-atividade-cultural-na-cidade-aponta-pesquisa.ghtml
275.230
habitantes,
que
possui
uma
renda
média
de
R$ 1.400,00.
De acordo com o IBGE, 44% dos pretos e pardos vivem em
De acordo com a Infocidade, entre Campo Limpo e Vila
cidades sem cinemas, contra 34% da população branca; 37%, em
Andrade – os três distritos pertencentes à subprefeitura do Campo
cidades sem museus, contra 25% dos brancos; e que predominam
Limpo – o distrito do Capão Redondo é o que mais possui
mulheres brancas mais velhas entre os que frequentam todas, já
habitantes
entre os que não vão à nenhuma, o perfil é de mulheres mais
19.759 hab/km².
velhas negras ou pardas. As variáveis que diferenciam o perfil daqueles que frequentam todos e nenhuma das atividades avaliadas são a escolaridade, classe social, raça e renda. Isso nos mostra quem são os maiores prejudicados com isso: a população de baixa renda,
população jovem, pessoas negras e moradores de locais periféricos menos privilegiados.
e
maior
densidade
demográfica,
sendo
ela
de
Isso se dá pelo fato de que durante o período dos anos 60 e 70, o Capão passou por um grande aumento populacional. A
classe menos favorecida, que sofria com a queda do poder aquisitivo e os baixos salários, não teve outra opção a não ser ir para a periferia, onde os terrenos eram mais baratos e às vezes até de graça, assim formando as diversas favelas e vilas, que se transformaram mais tarde em bairros.
Figura 04 – Localização do distrito em São Paulo
Fonte: Geosampa
O livro “São Paulo: 450 Bairros, 450 Anos” (2004), mostra
Essa imagem é causada pelo descontrole da ocupação urbana e
que o distrito possui um número respeitável de favelas e vilas – já
habitacional que se instalou na cidade de São Paulo por volta da
consideradas bairros –, sendo um total de 58 delas.
década dos anos 50, e se reproduz até os dias atuais.
Para um primeiro entendimento das áreas do distrito do
• ZM (Zonas Mistas): porções do território, localizadas na
Capão Redondo, foi realizada uma análise de uso e ocupação de
Macrozona de Estruturação e Qualificação Urbana, em que se
todo território.
pretende promover usos residenciais e não residenciais, com
Como mostra o mapa a seguir, as zonas predominantes do
predominância do uso residencial, com densidades construtiva e
distrito são:
demográfica baixas e médias, com o objetivo de viabilizar a
• ZEU (Zonas Eixo de Estruturação da Transformação Urbana):
diversificação de usos;
usos
• ZC (Zonas de Centralidades): porções do território localizadas
residenciais e não residenciais com densidades demográfica e
fora dos eixos de estruturação da transformação urbana
construtiva altas, e promover a qualificação paisagística e dos
destinadas à promoção de atividades típicas de áreas centrais, de
espaços públicos de modo articulado ao sistema de transporte
subcentros regionais ou de bairros, em que se pretende promover
público coletivo;
majoritariamente os usos não residenciais, com densidades
porções
do
território
em
que
pretende
promover
• ZEIS – 1 (Zonas Especiais de Interesse Social): porções do território destinadas, prioritariamente, à recuperação urbanística, à regularização fundiária e produção de HIS – Habitações de Interesse
Social
–,
incluindo
a
recuperação
de
construtiva e demográfica médias e promover a qualificação paisagística e dos espaços públicos. É possível notar no mapa que a área onde está inserida a
imóveis
Estação Capão Redondo da Linhas Lilás do Metrô, se consolidou
degradados, a provisão de equipamentos sociais e culturais,
uma centralidade com uso bastante heterogêneo. A população que
espaços públicos, serviço e comércio de caráter local. Dentre as
reside nessa área tem um padrão de renda maior se comparado com
4 ZEIS existentes, a ZEIS – 1 é composta por favelas,
o restante do distrito, isso acontece pelo fato de essa região ser a
loteamentos irregulares e HIS, nos quais podem ser feitas
mais atendida em termos de transporte e, consequentemente, tendo
intervenções de recuperação urbanística, regularização fundiária,
acesso mais fácil às áreas centrais, com isso, terá maiores
produção e manutenção;
infraestruturas e equipamentos que valorizam e atraem uma rede
de comércio e serviços, e empreendimentos residenciais para
Quanto mais afastado da estação do metrô e mais próximo das
apenas a classe média.
divisas do distrito, é possível identificar a presença de uma
Ao se afastar dessa área, podemos observar a mudança
gradual do cenário, obtendo um padrão residencial horizontal de
população mais carente, que moram em favelas e habitações
informais.
baixo padrão e habitações unifamiliares. Figura 05 – Mapa de uso e ocupação do solo
LEGENDA
ZEU ZEIS-1 ZM ZC METRÔ LIMITE DO DISTRITO
Fonte: Geosampa
No levantamento de dados sobre mobilidade e transporte, é
Estrada de Itapecerica na região da estação do metrô, elas fazem a
possível identificar a última estação da Linha Lilás, a Estação Capão
distribuição do trânsito para bairros mais afastados pelas vias
Redondo, o Terminal EMTU - que faz integração com a estação do
coletoras e dão acesso às áreas centrais da cidade. São elas:
metrô -, o Terminal Urbano Capelinha, o e Santo Amaro como a
Avenida Comendador Sant'Anna, Avenida Ellis Maas, Avenida Carlos
estação da CPTM mais próxima.
Lacerda, Avenida Carlos Caldeira Filho e Estrada de Itapecerica.
De acordo com o Geosampa, existem cinco vias principais – arteriais – que passam pela extensão do distrito e se unem na Figura 06 – Mapa de mobilidade e transporte.
LEGENDA METRÔ CPTM TERMINAL URBANO TERMINAL EMTU
CORREDOR VIAS ARTERIAIS
Fonte: Geosampa
Porém, essas poucas estruturas de mobilidade presentes, por
produção artístico-cultural local.
estarem concentradas apenas na ponta norte do Capão, não
No ano de 1990 o movimento hip-hop/rap influenciou toda
conseguem atender às demandas dos moradores, principalmente
uma geração, principalmente de jovens moradores das regiões
dos bairros restritos no extremo.
periféricas, e contribuiu para o surgimento de uma intensa
O único corredor de ônibus presente, que vem da Estrada
produção cultural até os dias de hoje. Essas expressões culturais
de Itapecerica, não dá continuidade distrito adentro, tendo seu
produzidas, endossam representações artísticas sobre a realidade
término na estação do metrô.
que a população enfrenta no seu dia a dia, compondo um conjunto
Essa questão do difícil deslocamento, não acontece somente para
de ações como saraus, literatura, produções audiovisual, músicas,
trajetos com destinos centrais na cidade, mas também dentro do
grafites, danças, cortejos e batucadas, e têm se caracterizado
próprio distrito, de bairro para bairro.
como um movimento político muito forte, com o objetivo de
_
denunciar e combater a desigualdade urbana e ressignificar a
ATIVIDADES CULTURAIS NO DISTRITO O Capão Redondo é reconhecido, há muito tempo, como
imagem da comunidade, dando visibilidade às suas lideranças para mostrarem o que mais acontece naqueles locais.
um dos lugares mais perigosos na cidade; a concepção de muitos
No Capão Redondo, nasceu no final dos anos 80 um dos
sobre o distrito ainda remete questões da criminalidade e violência,
maiores grupos de referência do rap nacional: o Racionais Mc's.
isso porque, a cidade de São Paulo deixa de contar com a inclusão
Com um discurso que apontava questões sociais, raciais, políticas,
da periferia no seu desenvolvimento socioeconômico. A falta de
violência policial e o sistema capitalista, o grupo conseguiu dar voz
suportes educacionais e culturais para a população de baixa renda
a uma classe que nunca foi ouvida, e se tornou uma referência
que reside em regiões periféricas, está diretamente relacionado a
para diversas pessoas – principalmente jovens negros – que
esses altos índices indicadores. Mas isso não significa que não há
consumiam suas letras. Racionais Mc's transformou algo que era
interesse pela parte dos moradores. Nas duas últimas décadas,
motivo de vergonha e omissão, em sentimento de orgulho e
outro aspecto vem trazendo novas concepções para as periferias: a
autoestima, levando aos moradores do distrito a vontade de lutar
artisticamente contra a realidade.
e criação, artesanato afro brasileiro, pintura, desenho, escultura,
Desde então o Capão Redondo se tornou um grande polo
xilografia e estêncil e a moda pelo olhar LGBTQI+; tecnologia:
de interesse do movimento artístico cultural, que ultrapassa as
técnico de streaming, marketing digital estratégico, fotografia,
barreias da região. Após pesquisas, é possível citar alguns coletivos
criação e publicação de podcast, cinema e vídeo popular; circo:
culturais presentes no distrito que disponibilizam, de forma
equilibrismo, malabares e palhaço.
autônoma, atividades de lazer e educação para a comunidade:
Figura 07 – Fábrica de Cultura Capão Redondo.
Slam Capão, Sarau do Capão, Sarau do Binho, Sarau na Varanda, Cooperifa, Ateliê Vivo Capão, Associação Capão Cidadão, Instituto Projeto Sonhar, Instituto 1 da Sul, Perifacon, Capãonu. Na maioria das vezes, os encontros dos coletivos acontecem
em espaços públicos como praças, ruas e bares, em lugares improvisados pelos próprios usuários ou no único espaço cultural disponibilizado pelo governo, a Fábrica de Cultura Capão Redondo. A Fábrica possui um ateliê de criação que oferece atividades de iniciação artística de longa duração destinados às crianças e
jovens entre 8 e 21 anos, e são ministradas por educadores ou artistas experientes. São elas: teatro; música: violão, cavaquinho, baixo, ukulelê, guitarra, produção musical: criação de beats, percussão: construção de instrumentos, composição e diversos ritmos e canto; dança
brasileiras, afro brasileiras, contemporânea, urbanas e balé; literatura/sarau: escrituras negras; artes visuais - costura, moda
Fonte: Fábricas de Cultura http://www.fabricasdecultura.org.br/fabrica/capao-redondo
Como podemos observar no mapa, a Fábrica de Cultura
Campo Limpo – ao norte do Capão Redondo– que possui uma
Capão Redondo fica localizada quase no centro do distrito, no Jardim
população de 216.098 habitantes em seus 12,8 km² e fornece
São Bento, com 3,3km de distância do Metrô Capão Redondo – a
cinco espaços culturais, sendo eles: um SESC, um espaço cultural,
cerca de 43 minutos a pé, além disso, o equipamento é o único para
uma casa de cultura municipal e duas bibliotecas públicas.
toda a população, o que o torna incapaz de suprir às altas demandas
Comparado ao Capão Redondo, que possui 275.230 habitantes,
do público.
13,6 km² e apenas um equipamento, a Fábrica de Cultura Capão
Para melhor entendimento do desequilíbrio entre espaços
Redondo.
culturais e demanda da população, temos como exemplo o distrito do Figura 08 – Localização Fábrica de Cultura Capão Redondo.
LEGENDA METRÔ FÁBRICA DE CULTURA CAPÃO REDONDO
Fonte: Geosampa
_ ESTUDOS DE CASO
Figura 09 – Centro Cultural El Tranque.
Para escolha dos seguintes estudos de caso, foram considerados os critérios: •
Programa;
•
Escala;
•
Interação com a região;
•
Necessidades do espaço no bairro. Ambos possuem programas pensados nas necessidades do
local, de acordo com as atividades mais frequentes nos bairros próximos; a escala busca atender a demanda de cada público, mas, independente dela, os edifícios proporcionam aos visitantes a interação com os espaços, especialmente em seus térreos livres. Os dois projetos também foram criados a partir da falta de espaços culturais em bairros carentes localizados em periferias.
_
CENTRO CULTURAL EL TRANQUE Localizado em Santiago do Chile, aos pés da Cordilheira dos
Andes de Lo Barnechea, em uma zona residencial em crescimento que até então possuia pouco equipamento e comércio, o projeto é do ano de 2015 feito pelo escritório BiS Arquitectos. Fonte: Archdaily https://www.archdaily.com.br/br/887710/centro-cultural-el-tranque-bisarquitectos
No terreno de 3.600m² de uma comunidade, o edifício de 1.458m² foi construído como parte do programa estatal de Centros Culturais e Infraestrutura para as comunidades do Chile que, possuindo mais de 50.000 habitantes, não possuem infraestrutura pública deste tipo. Figura 10 – Plantas do Centro Cultural El Tranque.
LEGENDA 1º PAVIMENTO 6 – ARTES CÊNICAS
9- MÚSICA
7- ARTES PLÁSTICAS
10- ADMINISTRAÇÃO
8 - CULINÁRIA
Foi criado um vazio de caráter público para integração do
centro do edifício e os visitantes, cercado por dois volumes opostos LEGENDA TÉRREO 1 – ADMINISTRAÇÃO
4- CAFÉ
2- AUDITÓRIO
5 - PRAÇA
3 - EXPOSIÇÕES
que formam o edifício: o primeiro no térreo com programa mais público – auditório, sala de exposições, cafeteria; e o segundo no primeiro pavimento, suspenso por pilares, com as áreas de formação – oficinas de artes musicais, plásticas, cênicas, culinárias
Fonte: Archdaily https://www.archdaily.com.br/br/887710/centro-cultural-el-tranque-bis-arquitectos
_
EDIFÍCIO PROJETO VIVER Localizado em São Paulo, o projeto é do escritório FGMF
Arquitetos e foi realizado no ano de 2006. Em um terreno de 1.500m², com área construída de 1.000m², o edifício hospeda diversas atividades da Associação Viver em Família – uma ONG assistencial que promove o reforço escolar para jovens, atuando no desenvolvimento humano. Figura 11 – Edifício Projeto Viver.
O programa foi dividido em dois blocos: um próximo ao limite do terreno e o outro suspenso no sentido transversal, Fonte: Galeria da Arquitetura https://www.galeriadaarquitetura.com.br/projeto/fgmfarquitetos_/edificiosede-do-projeto-viver/1206
dividindo a praça pública da quadra poliesportiva. O bloco suspenso possibilitou a criação de um pátio coberto que abriga atividades e faz a transição entre a quadra e o restante da praça.
Figura 12 – Perspectiva isométrica do Edifício Projeto Viver
Fonte: Galeria da Arquitetura https://www.galeriadaarquitetura.com.br/projeto/fgmf-arquitetos_/edificiosede-do-projeto-viver/1206
No térreo do edifício principal está implantada a
produtos, assim sendo possível gerar renda para o edifício.
recepção, casa do zelador e oficina interdisciplinar que se abrem para
No bloco elevado estão as salas de capacitação profissional,
o espaço público através de uma grande porta basculante.
Já no
biblioteca e sala de informática, além de sanitários e depósito. No
andar superior ficam a sala de espera, salas de atendimento médico,
subsolo estão os vestiários que atendem a quadra, e também aos
odontológico, psicológico e jurídico, e uma cozinha experimental para
banhos coletivos organizados pela associação de moradores. A porção
treinamento aberta para a rua, com espaço para a venda de
deste volume que nasce do piso, serve de palco para festividades.
_ O PROJETO
Figura 13 – Definição da localização do projeto
A partir dos estudos de todas as informações coletadas e da escolha do distrito do Capão Redondo como sede do projeto, foi possível iniciar o desenvolvimento da Casa de Cultura Capão Redondo, com a escolha do terreno, levantamento legislativo, análise topográfica, definição do programa de necessidades e
setorização volumétrica
_
TERRENO Fonte: Geosampa
A busca pelo terreno foi guiada por algumas diretrizes que
Foram pré-selecionados oito possíveis terrenos que estão
pudessem se encaixar melhor ao que os estudos mostravam. Então,
presentes nessa área de 500m, cada um deles com suas
para a sua escolha, foi considerado o fácil acesso para os
características físicas, prós e contras:
moradores de todos os bairros do distrito e visitantes, ficando entendido que o local precisaria estar próximo ao metrô, corredores e pontos de ônibus. Um
outro
aspecto
interessante
Figura 14 – Hipóteses de terreno.
LEGENDA PRÉ-SELEÇÕES
seria
estar
próximo
ao
ESCOLHIDO
comércio – o que daria um suporte maior ao projeto. Sendo assim, a melhor região que atende a esses requisitos, seria o norte do distrito do Capão Redondo. Como podemos observar no mapa a seguir, foi determinada uma área de 500m de distância da Estação Capão Redondo. Nessa área foram analisados os terrenos de melhor acesso, visibilidade e, incialmente, priorizados os que fossem vazios e/ou sem uso.
Fonte: Geosampa
O terreno escolhido fica localizado na esquina da Estrada
de Itapecerica, n° 4.015, com a Rua Paulino Vital de Morais. Têm distância de 220m da estação do metrô Capão Redondo – cerca de 3 minutos a pé – e possui uma área de 2.260m². Figura 15 – Localização do terreno
Ele foi escolhido, primeiramente, por cumprir os requisitos definidos anteriormente, por estar em uma das avenidas principais do distrito, o que faz com que esteja em um bom eixo de acesso e
visibilidade, e por estar de esquina com uma rua onde acontece feiras livres em um determinado dia da semana. Essa presença da feira livre é muito importante para a região de diversas formas – economicamente e socialmente –, e fez com que surgisse a oportunidade de criar, posteriormente, uma integração com o térreo do projeto. Figura 16 – Fotos do terreno.
Fonte: Google Earth
LEGENDA TERRENO
FEIRA LIVRE
ESTRADA DE ITAPECERICA
METRÔ
AV. CARLOS CALDEIRA FILHO
PONTOS DE ÔNIBUS
AV. ELLIS MAAS
TERMINAL EMTU
Fonte: Google Maps
Como vimos no levantamento de dados sobre uso e
De acordo com o Quadro 3 da Prefeitura de São Paulo,
ocupação do solo do distrito, que foi feito no início das pesquisas
essa é uma zona que permite um coeficiente de aproveitamento
(figura 05), essa região onde o terreno está situado é classificada
máximo de 4, taxa de ocupação máxima de 0,7 para lotes iguais
como ZEU.
ou maiores a 500m², e recuos mínimos de 5 metros na frente e 3 Figura 17 – Mapa zoneamento do terreno.
metros nos fundos e laterais para edificações com altura superior a 10 metros. Figura 18 – Quadro 3 da Prefeitura de São Paulo.
Fonte: Prefeitura de São Paulo https://gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/wpcontent/uploads/2016/03/005-QUADRO_3_FINAL.pdf
Também de acordo com a Prefeitura de São Paulo, foi possível identificar a taxa de permeabilidade dessa área, sendo ela de 0,15 para regiões onde se encontram no PA 9 – perímetro de qualificação ambiental 9 –, que é o caso do terreno escolhido. Figura 19 – Quadro 3A da Prefeitura de São Paulo. Fonte: Geosampa
LEGENDA
ZEU
TERRENO
ZEIS – 1
METRÔ
TERMINAL EMTU Fonte: Prefeitura de São Paulo https://gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/wpcontent/uploads/2016/03/006-QUADRO_3A_FINAL.pdf
_
TOPOGRAFIA
Para melhor entendimento do terreno, sua topografia e
Podemos observar a relação do terreno com os pontos de ônibus,
relação com o entorno, foi feito um corte longitudinal onde é possível
principalmente da Estrada de Itapecerica, e a boa visibilidade da
observar duas das avenidas principais – Estrada de Itapecerica e
Estação Capão Redondo. Isso acontece principalmente pelo fato da
Avenida Carlos Caldeira Filho -, a Estação Capão Redondo e o
topografia ser pouco íngreme em toda extensão do entorno; e como
Terminal EMTU, que faz integração com o metrô.
consequência, a topografia do terreno escolhido também. Figura 20 – Corte geral do entorno
TERRENO
ESTAÇÃO DO METRÔ
ESTRADA DE ITAPECERICA TERMINAL EMTU
760 756
AV. CARLOS CALDEIRA FILHO 755 751
Figura 21 – Modelagem 3D do entorno em planta
TERRENO
FEIRA LIVRE
METRÔ
TERMINAL EMTU
Na modelagem 3D do entorno, é notório a predominância de
perímetro, como citado anteriormente, o local é composto
um gabarito baixo, com média de 3 pavimentos, e a presença de
majoritariamente por comércios e serviços, e residências para a
algumas torres residenciais com mais de 8 pavimentos espalhadas
classe média.
pelas quadras.
Na imagem abaixo é perceptível a relação do terreno com a estação
Essa característica é resultante do uso e ocupação do solo desse
do metrô e com a rua onde acontece a feira livre.
Figura 22 – Vista modelagem 3D do entorno.
TERRENO
_
PROGRAMA DE NECESSIDADES Para dar início ao programa de necessidades da Casa de
expressarem ou se manifestarem artisticamente (dança, poesia,
Cultura Capão Redondo, foi levado em consideração as atividades
leitura de livros, música acústica, pintura, teatro e comidas típicas);
culturais mais praticadas no distrito. Essas atividades foram definidas
grafite; música; dança; fotografia; produção audiovisual; moda;
com base nos coletivos culturais citados anteriormente, e com
teatro.
referência à Fábrica de Cultura Capão Redondo. São elas: slam competição de poesia falada; sarau - encontros para pessoas se Figura 23 – Atividades dos coletivos culturais.
Fonte: Composição autoral. (links nas referências).
Também foi levado em consideração uma pesquisa que mostra quais espaços culturais o distrito possui ou não, e qual distância eles teriam da Estação Capão Redondo. Ela foi baseada
• Sala multiuso: reuniões, eventos, encontros e estudo em grupos ou individual; • Sala de exposições: exposições de obras de fotografias, vídeos,
no gráfico de frequência em atividades culturais (figura 02),
projeções,
adaptada às atividades culturais do distrito e representada por
prioritariamente dos artistas locais;
meio de uma tabela: Figura 24 – Tabela das atividades no Capão Redondo.
pinturas,
vestuários
e
objetos
–
para
obras
• Pátio: eventos informais que pedem espaços abertos e maiores, como sarau, slam, grafite, apresentações de danças e músicas; • Auditório: eventos mais formais como peças, consertos, musicais, apresentações de dança e música, e cinema; • Biblioteca: leituras, pesquisas e estudos em grupo ou individual;
• Salas de atividades: música, dança, moda, artes, literatura, informática e estudos; • Estúdios: musical e fotográfico. Baseando-se nessas informações, foi concluído que o
A partir da definição dos espaços das atividades culturais, o
projeto deveria ter em seu programa de necessidades cultural,
seguinte passo foi elaborar uma tabela com esses ambientes, suas
ambientes pensados nessas atividades coletivas e que gerassem
quantidades e áreas.
uma integração do edifício com o público e do público entre si.
Essa
Com cada um dos ambientes projetados de acordo com seu uso, seria possível criar um aproveitamento dos espaços, sem deixar de cumprir nenhuma das suas necessidades. Foram determinados os seguintes ambientes para cada uma das suas atividades:
elaboração
acontece
também
para
o
programa
necessidades administrativo, técnico e de convivência:
de
Figura 25 – Tabela programa de necessidades
_
SETORIZAÇÃO Após a elaboração do programa de necessidades das áreas
forma organizada, setorizada e com bom fluxo de circulação.
cultural, administrativa, técnica e de convivência, e a definição das
Esses nove agrupamentos dividem os ambientes levando em
metragens e quantidades de cada um desses ambientes, foram
consideração seus usos semelhantes, a necessidade de estarem
criados nove agrupamentos para os programas serem implantados de
próximo um ao outro e se a área é pública ou restrita.
Figura 26 – Tabelas de agrupamentos
1 PAVIMENTO:
TÉRREO:
2 PAVIMENTO:
AGRUPAMENTO 1
AGRUPAMENTO 4
AGRUPAMENTO 6
PÁTIO
SALAS DE ATIVIDADES
BIBLIOTECA
AGRUPAMENTO 5
AGRUPAMENTO 7
ADMINISTRAÇÃO
MULTIUSO
PALCO AGRUPAMENTO 2
HALL
CAFÉ
EXPOSIÇÃO AGRUPAMENTO 8 AGRUPAMENTO 3
TERRAÇO
AUTIDÓRIO
AGRUPAMENTO 9 CIRCULAÇÃO
Figura 27 – Setorização volumétrica
AGRUPAMENTO 8
AGRUPAMENTO 6
AGRUPAMENTO 7
AGRUPAMENTO 4
AGRUPAMENTO 5 AGRUPAMENTO 3
AGRUPAMENTO 2 AGRUPAMENTO 1
AGRUPAMENTO 9
Podemos observar na composição volumétrica que no térreo
Figura 28 – Tabela da metragem quadrada do projeto
se encontram os três primeiros agrupamentos, ou seja, o pátio
METRAGEM QUADRADA DO PROJETO
externo com palco, a área de exposições e o auditório; esses
TERRENO
2.260
TÉRREO
828
PRIMEIRO PAVIMENTO
1.040
SEGUNDO PAVIMENTO
1.040
ÁREA PERMEÁVEL
480
ÁREA CONSTRUÍDA
2.908
espaços possuem características em comum por serem de uso
coletivo para eventos específicos. O
primeiro
pavimento
abriga
os
dois
seguintes
agrupamentos, com as salas de atividades e administração; são espaços que se complementam e devem ter fácil acesso para alunos e professores.
A integração dos espaços terraço, café e sala multiuso no segundo pavimento, foi pensando para criar uma interação entre os visitantes e torna-lo mais atraente com áreas de convivência, descanso e contemplação. Nesse último pavimento, na parte posterior, está também a
Nessa
segunda
tabela
abaixo
podemos
identificar
comparativo dos parâmetros da taxa de ocupação, coeficiente de aproveitamento, e taxa de permeabilidade que a legislação define para local e os números finais resultantes do projeto.
biblioteca; esse posicionamento faz com que ela fique mais afastada
Figura 29 – Tabela comparativa de parâmetros do zoneamento.
da Estrada de Itapecerica, uma via movimentada com muitos ruídos,
LEGISLAÇÃO
PROJETO
TO MÁX.
0,7
0,4
CA MÍN./MÁX.
0,5/4
1,2
TP MÍN.
15%
20%
e assim, proporcionando melhor qualidade sonora. A volumetria final possui térreo com área de 828m² e o primeiro e segundo pavimento de 1.040m². O que significa que ela
possui uma taxa de ocupação de 0,4, coeficiente de aproveitamento de 1,2 e 480m² de área permeável (20%).
o
_ A CASA DE CULTURA
_
SITUAÇÃO
Figura 27 – Planta situação.
R.
PAULINO
VITAL
DE
MORAIS
R.
A
A
LANDOLFO
DE ANDRADE
0
10
20
50
METRÔ CAPÃO REDONDO
TERRENO
TERMINAL URBANO EMTU
FEIRA LIVRE
_
IMPLANTAÇÃO Na implantação da Casa de Cultura Capão Redondo temos
duas praças de convivência que estão localizadas nas duas extremidades do terreno, deixando o meio para a construção.
Esse posicionamento permite a criação de dois acessos à casa e dois ambientes externos de descanso; o primeiro - ao lado da Rua Paulino Vital de Morais – pensado principalmente na integração com a feira livre, e o segundo - que dá acesso a entrada secundária do edifício – como um foyer aberto que abriga artes de
grafite nos muros. A área do pátio com palco também conta com duas paredes que expõem grafites e cria um plano de fundo expressivo do projeto para os eventos que forem acontecer nele.
LEGENDA 01
PRAÇA
ACESSO
02
PÁTIO
FEIRA LIVRE
03
PALCO
_
TÉRREO A entrada principal - que vem do pátio externo - dá
acesso ao hall com o balcão de informações, e ao lado uma área livre e ampla para ser capaz de promover qualquer tipo
exposições. No térreo também se encontra o auditório com capacidade de aproximadamente 100 pessoas, e uma área atrás do palco com camarins e banheiros para suporte dos usuários. É válido mencionar o bloco de elevadores, escada de
emergência e de banheiros e bebedouros que se repete nos demais pavimentos, formando um eixo técnico. O acesso ao primeiro pavimento acontece pelos elevadores nesse eixo citado e por uma escada localizada atrás do balcão de informações. LEGENDA 04
HALL
05
EXPOSIÇÕES
06
AUDITÓRIO
_
PRIMEIRO PAVIMENTO Neste
primeiro
pavimento
temos
dois
setores:
pedagógico e administrativo. Possui um total de 8 salas de atividades que são acessadas
por dois corredores paralelos, sendo um deles voltado ao pátio externo; esse corredor dá continuidade ao setor administrativo, à passarela de circulação e por fim, à escada lateral que leva até o segundo pavimento. A parede cega desse pavimento serve como mural artístico de
grafite que chega até o próximo nível – o corredor da biblioteca.
LEGENDA 07 SALA DE INFORMÁTICA
13 SALA DE ARTES
19 SALA DE TRABALHO
08 ESTÚDIO MUSICAL
14 SALA DE MODA
20 LOCKER
09 ESTÚDIO FOTOGRÁFICO
15 ALMOXARIFADO
21 COPA
10 SALA DE MÚSICA
16 RECEPÇÃO ADM
22 VESTIÁRIOS
11 SALA DE DANÇA
17 COORDENAÇÃO
12 SALA DE LITERATURA
18 SALA DE REUNIÕES
_
SEGUNDO PAVIMENTO O segundo pavimento tem a mesma linha de raciocínio
para a distribuição dos ambiente, possuindo dois corredores paralelos que dão acesso à biblioteca, um deles também
voltado ao pátio externo e o outro ao vão da laje recortada. A continuidade do primeiro corredor citado, leva à sala multiuso, café e terraço. A integração desses ambientes faz com que um seja extensão do outro, criando espaços para refeições mas também de descanso, contemplação e
convivência.
LEGENDA 23 RECEPÇÃO BIBLIOTECA
29 SALA MULTIUSO
24 LOCKER
30 CAFÉ
25 ESPAÇO LEITURA
31 COPA
26 ACERVO
32 VESTIÁRIO
27 SALAS DE ESTUDO
33 TERRAÇO
28 ALMOXARIFADO
_
COBERTURA A laje de cobertura possui dois recortes para os vão
do edifício - do pátio externo e do corredor. Os vãos tem como objetivo levar iluminação natural para dentro do
edifício, especificamente o vão do corredor, que não teria luz natural sem ele. A cobertura metálica possui fechamento envidraçado, permitindo proteger o pátio e o corredor sem perder o objetivo principal.
Esse nível tem apenas acesso técnico pela escada de emergências.
LEGENDA 34 LAJE
35 COBERTURA METÁLICA
_
SUBSOLO O subsolo abriga o depósito geral, um espaço criado
para todo o edifício, principalmente à área de exposição mesmo para o primeiro e segundo pavimento que possuem
almoxarifado como suporte. É possível chegar à ele pela escada de emergência e elevadores programados para acesso restrito, fazendo com que facilite o transporte de itens técnicos por todos os pavimentos, mas inviabilizando o acesso aos visitantes.
LEGENDA 36 DEPÓSITO GERAL
_
ESTRUTURA A Casa de Cultura Capão Redondo possui
lajes
nervuradas
com
caixão
perdido
de
45
centímetros de altura. Essa modelo estrutural
possibilita que o projeto tenha maior espaçamento entre pilares por ser mais leve, e mesmo assim, ter aparência e passar a sensação de uma laje pesada como uma maciça. Os pilares possuem 9.70m e 8.35m de
distância entre si, deixando a laje em balanço em alguns ponto – como a passarela de circulação e o terraço. Para conseguir fazer a cobertura da escada lateral externa, foi necessário colocar uma viga
vagão na estrutura metálica.
_
CORTE A Como mostrado anteriormente – desta vez com o edifício
As passarelas voltadas para a Estrada de Itapecerica e para a
implantado – podemos perceber a relação da Casa de Cultura com o
Estação Capão Redondo, cria uma boa visibilidade tanto para quem
entorno.
está no edifício, quanto para quem está no metrô, principalmente
pelo gabarito de altura semelhante.
CASA DE CULTURA CAPÃO REDONDO
ESTAÇÃO DO METRÔ
ESTRADA DE ITAPECERICA TERMINAL EMTU
760 756
AV. CARLOS CALDEIRA FILHO 755 751
_
CORTE B Neste
primeiro
corte
transversal
podemos
observar
Nele também vemos com mais proximidade, a relação que a
principalmente o vazio do pátio externo e dos corredores internos do
passarela e o terraço cria com a Estrada de Itapecerica.
edifício, e a cobertura metálica.
A integração do pátio com a calçada gera uma continuidade “convidando” os pedestres para o edifício de forma imperceptível.
765 ESTRADA DE ITAPECERICA 761
758 756 755
754
_
CORTE C O segundo corte transversal mostra o auditório no térreo, a
Podemos mencionar também sobre a cota em que o edifício
escada que leva ao primeiro pavimento atrás do balcão no hall e os
esta implantado, a 755, isso faz com que ele fique aterrado, em
corredores de circulação voltados para o pátio.
certos pontos, na cota 756.
765
ESTRADA DE ITAPECERICA
761
758 756 755 754
752
_
CORTE D No corte longitudinal podemos ver a Rua Paulino Vital de
Podemos identificar o eixo do bloco técnico com os
Morais, onde acontece a feira livre, e as duas praças nas laterais do
banheiros, elevadores e escada de emergência que se repete em
edifício, com uma delas se integrando a feira.
todos os níveis; e as salas de atividades e a biblioteca em vista.
R. PAULINO VITAL DE MORAIS (FEIRA LIVRE)
765
761
758
755
755
_
CORTE E O segundo corte longitudinal se assemelha ao primeiro, mas
nele conseguimos ver o vão do pátio coberto pela estrutura metálica, o palco, a entrada principal e o auditório no térreo, a escada lateral,
R. PAULINO VITAL DE MORAIS (FEIRA LIVRE)
a sala multiuso e o café nos pavimentos seguintes. O terreno nesse sentido tem pouco desnível, se mantendo na mesma cota de 755 em todo seu comprimento.
765
761
758
755
755
_ MAQUETE ELETRÔNICA
_
FACHADA
_
LATERAL ESQUERDA
_
PRAÇA
_
HALL
_
EXPOSIÇÃO
_
ACESSO PRIMEIRO PAVIMENTO
_
PÁTIO COBERTO
_
ACESSO SEGUNDO PAVIMENTO
_
ACESSO SEGUNDO PAVIMENTO
_
CORREDOR BIBLIOTECA
_
BIBLIOTECA
_
TERRAÇO
_
TERRAÇO
_
CAFÉ
_ REFERÊNCIAS
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Nossa
São
Paulo.
“Mapa
da
Desigualdade
2020
revela
diferenças
entre
os
distritos
da
capital
paulista”.
2020.
Disponível
em:
<
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“Dados
demográficos
dos
distritos
pertencentes
às
Subprefeituras”.
2021.
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Dj.
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mostra
os
bastidores
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Mc’s”.
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