reflexos mariana canet
reflexos de mariana canet
reflexos de mariana canet
© 2014 MARIANA CANET | LEI ROUANET Artista: Mariana Durães Canet Texto: Benedito Costa Captação de Projeto: Daniel Liviski Designer: Amauri Vale Junior Revisão: Paola Marques Impresso em Curitiba-PR | Edição I Publicado em Curitiba-PR por Mariana Canet fotografia@marianacanet.com www.marianacanet.com
VI A B I LI zA D o Po R
conteĂšdo
mariana Por mariana 06 re + flectere 10 REFLEXOS: moVimentos 15 REFLEXOS: PaintinG of tHe sea 101 oBras no amBiente 150
aGradecimentos
dE MaRiana
Aos meus pais, que sempre estiveram comigo, desde o início da mudança de minha carreira, da passagem do Marketing para a Fotografia. Tia Faninha, que sempre me ajudou na parte mais intelectual dos projetos e das exposições, com textos, idéias, livros e um super conhecimento... Sem contar os puxões de orelhas. Larissa, que me ajudou muito na minha carreira em Londres. Londres foi um grande passo para a minha carreira... Talvez o mais difícil. Amauri, que está comigo desde a primeira exposição, nos acontecimentos do dia dia. Quando preciso é ele que está por perto e me ajuda, quando estou no fundo do buraco me motiva. Uma pessoa eficiente e ágil! Ele é o designer desse livro, ou seja, as obras são minhas mas o livro é um “filho dele”. É uma das pessoas mais importante em toda a minha carreira.
“a essência do tema é o espelho de água cuja aparência muda a cada momento.” Claude Monet
mariana Por mariana
INíCIO dE MINhA vIdA NA FOTOgR AFIA Iniciei minha carreira trabalhando em Marketing, com relacionamento e estatísticas de satisfação do cliente. Mas, depois de algum tempo de trabalho nesta área, decidi ir atrás de meu sonho que é a fotografia.
INTEREssE EM vIAjAR E FOTOgR AFAR Em minhas férias sempre procurei viajar e fotografar como hobby. Este hobby foi se tornando muito intenso e então resolvi aprender e estudar fotografia para entender um pouco mais, e, assim, poder registrar melhor minhas viagens.
ExpOsIçãO “A FACE FAL A” No meio do curso de Fotografia, em 2010, fui viajar com uma colega de classe, Nikolle, para fazer fotografia documental no Sirilanca, Camboja, Laos e Vietnan. Nossas fotos ficaram muito interessantes e que voltamos ao Brasil, resolvemos fazer uma exposição no Shopping Crystal em Curitiba. A exposição teve o nome de “A Face Fala”, pois demos ênfase para a fisionomia das pessoas fotografadas e adicionamos frases de grandes filósofos que tinham alguma relação com o fotografado. O último quadro da exposição continha um espelho e a pergunta: “e a sua face o que fala?”. Esta exposição fez um tour pelo Brasil, em mais de cinco localidades.
EsTUdOs E vIdA EM LONdREs Depois do sucesso da exposição “A Face Fala”, em 2012 fui me aprimorar em Londres. Estudei diferentes técnicas de fotografia e revelações, mas o maior registro foi eu ter feito uma exposição na Debut Contemporary Gallery em Notting Hill. Apresentei aí algumas fotos de minha coleção “Reflexos” e assim deu-se início à brincadeira com os espelhos: na vitrine da Galeria de Arte coloquei cubos de espelhos e minhas fotografias que se refletiam em vários ângulos, ou seja, um verdadeiro jogo de reflexos! O real refletido era ao mesmo tempo reproduzido, distorcido, desviado, dobrando-se sobre si mesmo.
6
“as fotos se apresentam em aberto, totalmente disponíveis para os olhos de quem as vê. o espectador pode imaginar, ou melhor, criar os resultados que deseja.”
ExpOsIçõEs EM LONdREs E AMsTERdAM Depois de Londres (Março, 2012), voltei para o Brasil e fiz duas viagens para expor novamente minhas fotografias. Em Londres (Junho, 2012) expus algumas fotos da coleção “Abstrato” na exposição Roots & Rifts da Espacio Gallery; e em Amsterdam (Dezembro, 2012) apresentei algumas fotos da coleção “Reflexos” na Exposição Amsterdam Showcase.
NOvAMENTE NO BRAsIL Minha segunda fase no Brasil foi começar a estudar a arte e sua história profundamente. Procurei aprofundar meus conhecimentos estudando e praticando as técnicas de arte (desenho, pintura, argila, dentre outras) para acabar reconhecendo que minha maior aptidão é com a fotografia. Utilizo em minha arte as relações formais entre cores, linhas e superfícies. Prevejo múltiplos aspectos como contrastes, relevos, diferenças de luminosidade e várias nuâncias de cores. As fotos se apresentam em aberto, totalmente disponíveis para os olhos de quem as vê. O espectador pode imaginar, ou melhor, criar os resultados que deseja. A interação ente artista e espectador se dá e a comunicação se realiza de maneira efetivamente abstrata. Para compor a realidade das fotos, de uma maneira não representacional, não me prendo à realidade tangível. Inspiro-me no instinto, no inconsciente e na intuição para construir uma arte imaginária. Procuro mostrar em minhas fotos uma multiplicidade de realidades, assim deixo em aberto a reflexão: Como cada um de nós interpreta a realidade?
vIdA ATUAL NO MUNdO dA ARTE Hoje minhas fotos já têm um reconhecimento maior por parte do público em geral. Em 2013 tive a oportunidade de compartilhar minha arte no Museu Alfredo Andersen em Curitiba e em São Paulo no Salão de Outono Paris-São Paulo. Considero que uma obra abstrata é uma janela para a liberdade. No abstrato não há nada para “entender” no sentido literal da palavra. Interpretação e imaginação é o que faz de nós seres humanos únicos e capazes de ampliar nossos horizontes. O abstrato em minhas fotos representa uma provocação. Quero instigar a sensibilidade e os sentimentos de forma ilimitada. Assim percebo que muitas pessoas se interessam pelas fotos em si, pelo belo, mas outras pelos temas jogados e interpretados de várias maneiras.
7
Benedito costa
RE+FLECtERE
Há um mistério revelado e não revelado a um só tempo no trabalho de Mariana Canet. Não revelado porque não se exibe abertamente a origem do objeto fotografado; revelado porque a imagem está aí, aos olhos do espectador, pronta para ser apreciada e também avaliada, investigada. É bem-vindo à artista o pensamento de como o espectador interpreta esses trabalhos, assim como é bem-vinda a liberdade que ele tem em fazer isso — essas leituras possíveis com que a arte se torna mais instigante, porque justamente aberta a um território do possível. Isso não é exatamente um jogo, mas cai muito bem tanto para a técnica utilizada nesses trabalhos quanto para o discurso da artista-fotógrafa, em que a questão da ref lexão tem presença fundamental. O verbo “refletir” em português tem pelo menos duas acepções básicas: refletir algo e refletir sobre algo. Igualmente, o substantivo “reflexo” tem regência múltipla: reflexo de algo, reflexo a algo. Curiosamente, é como se verbo e substantivo (ambos com a mesma raiz) vivessem eles mesmos a condição ambígua do reflexo: 1. uma superfície que ref lete a outra, por um jogo de luz, ou pela condição mesma da luz, pois o reflexo não ocorre no mundo das sombras; 2. uma superfície que ref lete sobre a outra, que analisa a outra, que pode pensar a outra ou pensar sobre a outra, sobreposta a esta outra. Este jogo verbal – e imagético – encontra respaldo nesses trabalhos de Mariana Canet. Com algumas complexidades. Não bastasse a existência de per si do reflexo (natural ou pensado), a fotografia capta um instante do reflexo. Faz uma leitura dele, edita-o, capta o reflexo numa condição de, ao mesmo tempo, efemeridade e extensão de sua existência. Tanto a questão do reflexo e da reflexão surgem nesses trabalhos — daí o nome geral para as duas séries. Muito já foi falado sobre os espelhos e seus reflexos: uma antiga tradição mística afirma que são malditos, uma vez que multiplicam os seres. Os espelhos, sim, multiplicam os seres, mas curiosamente de forma invertida (ou alterada). Quem se admira no espelho olha para um autorretrato. O espelho nos dá uma falsa Ideia do que somos porque o que vemos é uma imagem do exterior e da vontade da luz, das possibilidades da luz, e das possibilidades da superfície. Povos antigos utilizaram vidro vulcânico como espelho ou metal polido e hoje temos incríveis possibilidades de um reflexo muito nítido, com alta tecnologia, que “não deforma” o que é refletido. Mas aqui, nesses trabalhos, não há o temor do turvo, da distorção, tampouco da multiplicação. Poderíamos pensar numa história do reflexo, de como os povos foram se vendo ao longo dos tempos, a si mesmos e aos demais objetos, foram se localizando como pessoas e 11
como seres de uma comunidade, vendo-se num espelho, inclusive utilizando o espelho como uma ferramenta para a representação (na pintura, por exemplo). Mas aqui é a distorção que ganha papel central, fundamentalmente no elemento água. Valeria lembrar que a natureza tem papel fundamental para a apreciação desses trabalhos. O reflexo, por vezes, é turvo. Então, aqui, não se trata de um espelho tecnologicamente perfeito. O objetivo não é captar um instante ideal ou um instante inusitado. A despeito de a técnica ser a fotografia, muitos dirão que os trabalhos lembram pinturas abstratas, por vezes impressionistas. No entanto, não ocorreu uma busca nesse sentido. Os trabalhos de Mariana Canet são como as citações: retiram de um lugar e colocam no outro um enunciado, uma forma, um modo, uma estrutura, inflada de novos sentidos. Assim, essas imagens devem ser vistas. O reflexo por si, o reflexo captado, o reflexo montado na REFLEXOS “MOViMEntOS”
exposição, o reflexo do espectador: da natureza, o olhar do fotógrafo, o fotografado, a montagem num espaço segundo, e por sua vez o
espectador – o caminho desses reflexos é longo e complexo. Voltamos à acepção primitiva da palavra: re+flectere = redobrar, que também carrega a ideia de “desviar”. O trabalho de Mariana Canet é o resultado de múltiplos e fantásticos desvios.
13
reflexos
MOViMEntOS
reflexos
MOViMEntOS
A água como elemento da natureza, mas mística, por assim dizer, uma mística própria da artista, que respeita os movimentos da água, mas sem o interesse de apenas registrar o movimento. Há espaços mais fechados nessa série — em comparação com o mar, por exemplo — locais que lembram contemplação ou que guardam um segredo a ser revelado, como fossem um local mágico, a ser descoberto, primeiro, para depois ser desvendado. A dualidade entre movimento e espelho é nítida: espera-se de um espelho que ele mostre o verdadeiro, o correto, o igual (embora invertido). Mas a água em movimento turva o que deveria refletir, ou seja, é como se mostrasse outras possibilidades do real — ou do que nosso senso comum chama real. Nessa série, temos um diálogo com outros trabalhos da artista, notadamente alguns elementos, como as folhas. Porém, aqui, as folhas são coadjuvantes. Migram silenciosamente, ou esperam um destino que não saberemos qual. Ocorre que um único espelho se transforma em milhares e por isso vemos o aspecto quebradiço da imagem. Mas o que mais chama a atenção é a placidez desses espelhos aos milhares. Há calma nesse ambiente que poderia ser monótono. Há beleza nesses vermelhos, amarelos, azuis e verdes. Curiosamente, eles são como um pensamento da água. Como se a água não os refletisse, mas refletisse sobre eles.
17
19
20
21
22
23
24
25
“mas a água em movimento turva o que deveria refletir, ou seja, é como se mostrasse outras possibilidades do real.”
27
28
29
30
31
32
33
34
35
36
37
38
39
40
41
42
43
45
46
47
48
49
“Uma superfície que reflete sobre a outra, que analisa a outra, que pode pensar a outra […]”
51
53
55
56
57
58
59
60
61
62
63
64
65
67
“ocorre que um único espelho se transforma em milhares e por isso vemos o aspecto quebradiço da imagem. […] eles são como um pensamento da água. como se a água não os refletisse, mas refletisse sobre eles.”
69
70
71
72
73
74
75
76
77
79
80
81
82
83
84
85
86
87
88
89
90
91
“o reflexo, por vezes, é turvo. então, aqui, não se trata de um espelho tecnologicamente perfeito. o objetivo não é captar um instante ideal ou um instante inusitado.”
93
94
95
96
97
98
99
reflexos
painting OF thE SEa
105
106
107
109
“Há o movimento, marcado pela ondulação, pelo objeto refletido e turvado, mas também há o instante, eternizado.”
111
112
113
116
117
“a artista diz apreciar o natural, dar voz à natureza por ela mesma. o que se ressalta, então, é a natureza com sua força.”
119
120
121
122
123
124
125
126
127
128
129
131
132
133
“os trabalhos […] são como as citações: retiram de um lugar e colocam no outro um enunciado, uma forma, um modo, uma estrutura, inflada de novos sentidos.”
134
135
136
137
138
139
141
142
143
144
145
146
147
149
reflexos
ObRaS nO aMbiEntE
150
– obr a no ambiente
– casa cor pr, 2012
– mostr a artefacto, 2013
151
ObRaS nO aMbiEntE – loja artefacto, 2014
– obr a no ambiente
– obr a no ambiente
152
– residência em curitiba, 2011 e 2012
– residência em curitiba, 2014
– casa cor pr, 2012
– residência em curitiba, 2012
153
+ m a r i a n a c a n e t.c o m
reflexos mariana canet