Trilogia das Sombras - Volume 2 - Essências

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Determinada a esquecer Caspian, o menino misterioso por quem se apaixonou – e que está morto –, Abbey tenta se concentrar nos deveres de casa atrasados, na criação de seus perfumes e em sua amizade com Ben. Mas Caspian não tem outra escolha a não ser voltar para sua amada, pois eles estão ligados não só um ao outro, mas também à cidade de Sleepy Hollow e a uma famosa lenda que selou suas sinas, e cujos significados obscuros eles estão apenas começando a entender.


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Prefácio Eu estava tão perdida quando Kristen saiu. Quando ela morreu. Então Caspian me encontrou. Eu tinha que conhecê-lo. Me apaixonei por ele. Ele me ajudou a lidar com o fato de que minha melhor amiga nunca mais iria voltar. E quando eu descobri que ela estava se mantendo muito bem escondida de mim, ele me ajudou a tentar entender. Mas ele tinha um segredo também. Um segredo que ele deveria ter me dito desde o começo. Agora eu nem mesmo sei se ele é real, ou se eu sonhei com ele para me ajudar a processar a dor. Eu não posso ficar longe de Sleepy Hollow para sempre. Ele estará esperando por mim?


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Capítulo Um NÃO PRONTA

Além disso, não há incentivo para fantasmas na maioria das nossas aldeias... – A lenda de Sleepy Hollow, por Was Hington Irving.

Pronta para voltar. — Posso apenas ficar aqui para sempre? — eu coloquei a minha cabeça contra o assento do carro da tia Marjorie. — Eu não como muito, e realmente, quem precisa se formar no ensino médio? Tia Marjorie riu. — Você precisa se formar, para uma coisa. E você não sente saudades de casa? Seus pais? Amigos? Eu olhei pela janela. Eu sentia falta de Sleepy Hollow. Mas não muito mais. Eu perdi minha melhor amiga, mas Kristen não estava mais lá. Somente o seu túmulo estava. — Eu acho que viver na fazenda é a vida para mim. Mamãe e papai podem vir visitar, e eu apenas ficarei aqui. Ainda há muito que eu preciso aprender sobre pilotar seu avião. Seus olhos castanhos brilharam. — Nós devemos levá-la novamente amanhã. Nós só temos um par de semanas restantes até que você tenha que ir para casa. — Tia Marjorie, isso é sobre o que estou tentando não pensar — eu gemi. — Ajude-me aqui. — Ok, ok — ela disse. — Você não pensa sobre como não está preparada para voltar para casa, e eu não vou mencionar quantas chances nós temos deixado para tomar o avião juntas para cima. De acordo? — De acordo.


JESSICA VERDAY — Então, como foi à visita com o Dr. Pendleton hoje de manhã? — Foi bom. Realmente bom. — Um grande celeiro vermelho apareceu. Nós estávamos quase de volta a casa de tia Marjorie. Ela virou para uma estrada esburacada, e nós colidimos nosso caminho pela pista de grama. — Ele acha que tenho feito muitos progressos, e eu concordo. — Você estará vendo algum médico quando voltar para casa? — Acho que não. Eu sinto como se finalmente conseguisse um controle sobre... As coisas. Bem, tanto de controle, que você pode ter pensando que estava apaixonada por um garoto morto, e que você teve um chá da tarde com Katrina Van Tassel e o Cavaleiro Sem Cabeça de A Lenda de Sleepy Hollow. — Eu sinto que posso lidar com tudo isso e colocá-lo em seu lugar. Chegamos à velha casa da fazenda com suas desbotadas persianas, e tia Marjorie estacionou o carro em uma garagem de metal ao lado da porta da frente. — E que lugar seria esse? Eu soltei o cinto de segurança e encolhi os ombros para sua pergunta antes de sair. Tia Marjorie ainda não sabia a estória inteira, apenas as partes sobre como eu precisava de tempo longe de Sleepy Hollow e ajuda profissional porque eu não podia lidar com a morte de Kristen. O que era tecnicamente de certa forma, verdadeira. Tudo o que tinha acontecido comigo começou no dia do funeral de Kristen. — Apenas... No seu lugar — eu disse. — A cabeça agarrando os fatos, coração lidando com as emoções. Morte é uma parte natural da vida, e eu não tenho que sentir culpa por viver porque Kristen não está mais aqui para compartilhar isso. — Eu estava jorrando psico-baboseiras que eu tinha plagiado quase palavra por palavra do Dr. Pendleton, mas soava bem. E às vezes eu quase podia me convencer que isso era verdade. Tia Marjorie assentiu e segurou a porta aberta para mim enquanto eu a seguia para casa. — Ele parece um cara inteligente. Eu acho que gostaria dele. — Eu acho que você gostaria também, tia Marj. Me chame para descer pro jantar? — ela concordou, e eu me dirigi ao meu quarto. Ele fazia parte do sótão, uma seção que tinha sido convertida e confinada em um canto de leitura minúsculo. Eu implorei para tia Marjorie me deixar tê-lo no instante que eu vi. Ela queria me dar um quarto de hóspede embaixo, maior e mais confortável, mas eu disse a ela que esse quarto era perfeito. Tinha um assento na janela, como meu


JESSICA VERDAY quarto em casa, e uma janela redonda de vidro com chumbo com uma vista que se estendia por toda a fazenda. Era o paraíso absoluto para enrolar e ler lá enquanto o sol quente inclinava em meus ombros, me fazendo sentir como um gato gordo e preguiçoso. Gatos não têm quaisquer preocupações. Joguei minha bolsa de carteiro para baixo na cama bem feita e cruzei para a solitária estante de livros que estava diretamente em frente à janela, encostada ao lado de um arco da janela. Lendo as prateleiras de madeira como eu tenho feito pelo menos uma dúzia de vezes durante os últimos três meses, eu puxei Jane Eyre. Virando-me para a faixa que marcava a página no livro, eu chutei meus sapatos e subi na cadeira, enfiando os pés debaixo de mim. Onde eu poderia encontrar um Mr. Rochester? De preferência um que não tivesse uma esposa louca escondida em seu sótão... Mas um herói sexy e misterioso para chamar de meu? Inscreva-me. Você encontrou um herói sexy e misterioso para chamar de seu, meu subconsciente sussurrou. Mas eu impiedosamente empurrei o pensamento para longe. Um que não está morto e uma invenção das minhas alucinações, por favor. Encontrando meu último ponto de parada, eu comecei a ler... e fui prontamente afastada da página com o som do meu celular tocando. Eu olhei para ele deitado na pequena mesa de cabeceira ao lado da cama. Algo me disse para não pegá-lo. Nem para ir lá e ver quem era. Mas eu fiz. — Alô? — Oi, Abbey, é o papai. Como você está querida? — Ondas de saudade tomaram conta de mim ao som de sua voz. Eu realmente sinto falta da minha cama. E do meu quarto, e do resto dos meus suprimentos de perfume. — Estou bem, papai. Estou indo bem. — Sim, e bem, talvez eu sentisse saudades da mamãe e papai um pouquinho também. — E aí? — Bem... — ele hesitou. — Sua mãe e eu queremos conversar com você sobre algo. — Eu podia ouvir mamãe ao fundo lhe dizendo para dar a ela o fone. — O que é isso, papai? — meu estômago deu voltas nervosas. — Apenas me diga. — Eu odiava as longas ligações telefônicas. Especialmente esses tipos de ligações telefônicas. — Eles terminaram o trabalho na Ponte de Washington Irving — ele disse. — Está tudo feito.


JESSICA VERDAY Eu tive um rápido flashback de uma memória de sentar com Kristen embaixo daquela ponte antes que o trabalho de construção tinha sequer começado. Antes de ela cair no rio Crane. — Isso é ótimo, papai. — Mas porque é significativo o suficiente para me ligar e me dizer sobre isso? Mamãe pegou a outra linha. — Abbey, o que o seu pai está tentando dizer é que a Câmara Municipal vai realizar uma cerimônia lá em breve, para comemorar o projeto acabado. Eu disse a eles que eu ia tomar as providências para que você seja uma parte disso. Para dizer algo sobre Kristen e dedicar a ponte em sua homenagem. Um toque alto encheu meus ouvidos, e por um segundo pensei que vinha do telefone. Segurando o receptor longe do meu ouvido, balancei a cabeça para parar o barulho. Papai falou agora. — Sua mãe e eu achamos que isso seria realmente bom para você, querida. Para ajudar você a superar suas... Questões. O zumbido foi crescendo mais fraco, mas meu estômago ainda estava dando voltas. — Eu não posso — deixei escapar. Pensando tão rapidamente quanto eu pude, acrescentei — Eu não deveria voltar para casa até o final de junho. — Nós sabemos que está mais cedo do que o esperado, mas você fez um progresso notável — mamãe disse. — Os relatórios semanais do seu terapeuta têm mostrado essa melhoria. — Seu tom era entusiasmado, mas eu não poderia dizer se ela estava tentando convencer a mim, ou a si mesma. Mamãe nunca chamou o Dr. Pendleton de meu psicólogo. Ele era sempre meu — terapeuta. Ela estava obviamente onde eu tinha meus problemas de evasão. — Papai, eu... Eu... Não posso. Diga a mamãe que eu não posso fazer isso. Não estou pronta. Preciso de mais tempo. — Eu sei, eu sei. — Ele suspirou profundamente. — É apenas que a Câmara Municipal quer que você seja uma parte disso, e isso realmente agradaria sua mãe... — Eu estive trabalhando nisso por semanas. Nós já temos isso claro com seu médico — mamãe disse. — A cerimônia de inauguração será no dia doze. O que? — Você falou com o Dr. Pendleton sobre isso antes de falar comigo? — Bem, nós não queríamos impedir o seu progresso. Nós queríamos ter certeza de que algo assim não seria prejudicial.


JESSICA VERDAY — Você não acha que eu tenho direito de ser perguntada primeiro? Uma vez que eu sou a pessoa a ser convidada a fazer isso? — Você não acha que é apropriado para você estar lá por Kristen? Ela era sua melhor amiga. — Viagem pela cidade da culpa. Mamãe estava retirando as grandes armas agora. Mas dois podiam jogar nesse jogo. — Mas a minha terapia não é mais importante, mãe? — eu perguntei docemente. — Você está me dizendo para voltar pra casa e não terminar todas as minhas sessões arranjadas com o Dr. Pendleton? Se sobrancelhas fizessem barulhos, eu juro que as dela estavam fazendo agora mesmo enquanto se levantavam. — Eu não acho que vir pra casa um par de semanas mais cedo é pedir muito — Mamãe bufou. — Seu médico. — Papai? — eu a interrompi. — Papai, por favor? Por favor, não me faça fazer isso. Não me faça voltar para o lugar onde minha melhor amiga morreu. Eu preciso de mais tempo para ter certeza de que eu estou melhor. — Eu sei que isso é difícil para você, mas sua mãe... — Papai suspirou novamente. — Apenas pense sobre isso, ok, querida? Isso é tudo o que estamos pedindo agora. — Mamãe começou a dizer alguma coisa, mas ele a parou. — Apenas tome essa noite para pensar, e nós iremos discutir novamente de manhã. Eu funguei. Tentei segurar de volta, mas as lágrimas estavam saindo de qualquer maneira. Kristen... O rio... A ferida ainda estava muito fresca. A dor em meu coração ainda tão insuportável. — Ok, papai. Eu irei pensar — minha voz se quebrou. — Eu irei pensar sobre isso. — Isso é bom, Abbey. Realmente bom. Conversaremos amanhã — ele murmurou. Eu forcei um rápido tchau e desliguei o telefone. Pouco antes da luz de fundo ficar escura, eu peguei a data na tela minúscula abaixo de mim. Nove de junho. O mesmo dia que Kristen sumiu no ano passado. O mesmo dia em que minha vida mudou para sempre. E aqui estava, mudando novamente quando eu não queria isso. Nove de junho estava realmente começando a ser um saco.


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Eu peguei o telefone novamente e liguei para o escritório do Dr. Pendleton antes que eu perdesse a coragem. Sua secretária atendeu e me colocou em espera. Meio segundo depois a saudação do seu correio de voz começou a tocar. Esperei pelo bipe e então falei com pressa. — Oi, Dr. Pendleton, aqui é Abbey... Hum, Abigail Browning. Eu estava ligando para falar com você sobre meus pais. Eles querem que eu vá para casa mais cedo, e eles disseram que você disse a eles que eu posso. Porque isso não veio a tona em nossa sessão de hoje? Por favor, me ligue de volta... — deixei meu nome novamente e o número do meu telefone, e então desliguei. Como eles podiam fazer isso comigo? Eu estava pronta? E se eu não pudesse voltar? E se eu não pudesse ser uma parte daquela cerimônia? E se eu não estivesse melhor? Eles ainda estariam lá? Ele estaria? Deixei o telefone em cima da cama e fui para a porta. Eu precisava falar com a tia Marjorie sobre isso. Ela saberia o que fazer. Eu a encontrei na parte externa no balanço da varanda, se movendo lentamente para frente e para trás. Ela parou por um momento ao meu pedido silencioso e eu me sentei. Não levou muito tempo para ela começar a balançar novamente, e as correntes nos suportando guincharam enquanto nos movemos em silêncio. Nos grandes campos de girassóis, com talos de folhas verdes enroladas com as cabeças vergadas pelo peso, balançavam ao vento que dançava ao redor delas. O sol iluminava tudo que tocava, e uma névoa de ouro se estabeleceu como um fino manto drapeado encobrindo através da terra. Um ruído súbito chamou minha atenção, e a enorme luz do sol, sobre o grande celeiro vermelho começou a recuar. Não estava escuro ainda. Nem mesmo o crepúsculo, mas estaria. Em breve. A luz se firmou e queimou brilhante, e o zumbido diminuiu. Tudo estava seguro aqui. Normal. Eu não queria admitir a mim mesma que algo estava faltando. Havia um pequeno buraco dentro de mim. Mas ao contrário do buraco negro que havia sido deixado para trás quando Kristen morreu, esse espaço vazio se sentia como se pudesse ser preenchido novamente. — Recebi uma ligação de mamãe e papai — contei a tia Marjorie, olhando para os meus pés descalços. — Atualização semanal? — Não.


JESSICA VERDAY Tracei uma rachadura no chão da varanda com meus olhos, seguindo-a até desaparecer embaixo do meu calcanhar. — Eles querem que eu vá para casa mais cedo. — Ela não disse nada, e eu sabia que ela estava me esperando para levar a conversa. — Eles querem ter essa cerimônia de inauguração na ponte, onde Kristen... Morreu. E eles jogaram isso em mim no último minuto. — Eu mudei meu corpo então para poder ver seu rosto. — Você acha que estou pronta? Ela me olhou também, e eu podia ver anos de sabedoria em seus olhos. — Você acha que está pronta? — Eu não sei. — Quais seriam alguns dos benefícios? Pensei sobre isso por um minuto. — Bem, eu estaria em casa, por um lado. De volta ao meu próprio quarto. Capaz de trabalhar com todos os meus suprimentos de perfume novamente. — Ela assentiu. — E? — Eu conseguiria ver mamãe e papai e o Senhor e a Sra. M. — E você deve ter um pouco de encerramento — ela disse. — Você estaria rodeada pelo o amor e suporte da família e amigos enquanto você honra a memória de Kristen. — Agora foi a minha vez de assentir. — Bom. Agora quais seriam alguns dos inconvenientes? Eu tinha toda uma lista de respostas para essa. — Eu poderia quebrar novamente. Ter pesadelos. Perder o sono. — Ela colocou sua mão na minha e apertou gentilmente. Eu continuei. — Eu poderia ficar completamente insana. Assustar meus pais. Ter cada pessoa na cidade começando a falar sobre mim. Perder isso em frente aos Maxwells. Eu apenas pensei que teria mais tempo. Ela apertou minha mão mais forte, e eu parei. — Isso é bastante na lista de negativos. — Sim, mas todas as coisas que poderiam possivelmente acontecer — eu pontuei. — Se isso aconteceu antes, pode acontecer novamente.


JESSICA VERDAY — É verdade — ela disse. — Mas se acontecer, você estaria melhor preparada para lidar com isso agora. Você tem seus pais, Dr. Pendleton, eu... Então, o que o seu coração está dizendo a você? Você acha que está pronta para voltar? Eu me sentei quietamente, contemplando sua pergunta. Meu coração me disse que mais cedo ou mais tarde eu teria que voltar para casa. Eu não poderia ficar longe para sempre. Também me dizia que eu precisava estar lá por Kristen. Primeiro e principalmente, ela era mais importante do que eu. E Caspian... Eu tinha que encarar essa verdade também. — Eu tenho que voltar — eu disse calmamente. Ela assentiu. — Achei que seria sua escolha. O assento embaixo de nós mudou em um ritmo fácil, e havia um empurrão gentil atrás dos meus músculos da panturrilha cada vez que meus joelhos esticavam para nos impulsionar para frente. O movimento era reconfortante, um tipo relaxante de dor que me fez pensar em andar de bicicleta pela primeira vez depois que a neve do inverno tivesse derretido. — Aconteceram muitas coisas nas profundezas esse ano — tia Marjorie comentou, e eu virei minha cabeça em direção a linha escura de árvores que engoliam a parte de trás do celeiro. Uma floresta pantanosa estava dentro de uma dúzia de pés de árvores, e os sapos que viviam lá cresciam em uma sinfonia, coaxando em uma cacofonia de sons que começava e acabava em um borrão de sílabas que dava a eles seus apelidos. — Ótimo — eu respondi. — Acho que estarei dormindo com fones de ouvido de novo essa noite. Ela riu. — Na verdade eu gosto deles. Eles me lembram as noites quentes de verão com seu tio. Brisas frescas, a rapadeira de um ventilador de teto, lençóis amarrotados. — ela sorriu para mim, e eu senti minhas bochechas queimarem. — E mudando para outros assuntos… obrigada por me deixar ficar com você, tia Marjorie. Estar aqui... Longe de tudo... Era exatamente o que eu precisava. — Plantei meus pés firmemente no chão, e o balanço parou. Então eu alcancei e coloquei meus braços ao redor dela.


JESSICA VERDAY Ela me abraçou de volta e descansou seu queixo no topo da minha cabeça. — Você é bem vinda para vir e assistir Murder1, comigo a qualquer hora, Abbey. Pegarei os outros episódios em DVD. Fechei meus olhos e apreciei o conforto simples de seu abraço. Nós nos sentamos lá em silencio por alguns minutos antes de eu começar a me afastar. — Eu acho que preciso ir ligar para o papai. Deixá-lo saber sobre a minha decisão. Ela se levantou também. — Vou para a cozinha. O jantar deve estar pronto logo. Eu a segui para dentro da casa e inalei profundamente. O aroma de frango frito que pairava no ar, e avistei duas caixas de papelão com listras em cima da mesa. — O frango é do restaurante do Frankie? — Sim. Estará pronto em cerca de dez minutos. Tia Marjorie nunca cozinhava. Ela tinha me dito uma vez que ela preferia deixar os profissionais fazerem seus trabalhos, e ela estaria agradecida de pagá-los lindamente por isso. Eu subi apressadamente as escadas e fui para o meu quarto. Encontrei o telefone nas cobertas e o abri. Havia uma ligação perdida do Dr. Pendleton. Eu a ignorei e apertei o botão para ligar para casa. Papai pegou no terceiro toque. — Oi, querida. Pensei que não estaríamos conversando até amanhã. Como você está? Eu estava tão aliviada de ouvir sua voz ao invés da mamãe que eu deixei uma respiração sair que eu nem mesmo percebi que estava segurando. — Ei, papai. Eu apenas queria te deixar saber que eu pensei sobre o que você disse e... Estou pronta. Estou pronta para ir para casa. — Você tem certeza? Não quer dormir com isso? Você não tem que tomar sua decisão agora mesmo, você sabe. — Agora ele soava incerto. — Não quero que você lamente isso, Abbey. Porque você não me liga amanhã e nós discutiremos isso mais um pouco. — Não, papai. — Eu disse. — Minha cabeça está feita. Vocês podem vir me pegar amanhã? — A última coisa que eu precisava era de tempo para reconsiderar. 1

Murder, She Wrote é uma série americana de televisão estrelada pela misteriosa Ângela Lansbury como escritora de mistério e detetive amadora. A série foi ao ar por doze temporadas 1984-1996 na rede CBS, com 264 episódios transmitidos.


JESSICA VERDAY — Eu acho que sim. Então você terá um dia ou dois para se ajeitar antes da cerimônia. Irei dizer a sua mãe. Desliguei o telefone e soltei um suspiro de frustração. Primeiro ele estava tentando conversar comigo para voltar, e agora ele quase soou como se estivesse tentando conversar comigo para sair disso? Eu não entendi. Mas pelo menos a decisão estava feita agora. Eu estava voltando. A música estava me mantendo acordada. Suave e fraca, um punhado nu de música flutuava, e eu mal podia me concentrar. Pensei que estava sonhando. Fiquei imóvel e abri meus olhos arregalados. Eu não sei por que eu pensei que não piscar me ajudaria a ouvir melhor, mas parecia fazer algum tipo de sentido quando segurei minha respiração naquela escuridão silenciosa. Lá está ela novamente. Era um som antiquado, como algo que tocaria durante uma cena de amor épica de um filme preto e branco. Distorções prateadas deslizavam pela fresta embaixo da minha porta, e eu esperei em antecipação. Era lindo e assustador. Mas ainda muito fraco. Joguei as cobertas para trás, deslizei meus pés para o chão, e fui na ponta dos pés para a porta. Talvez eu possa ouvi-la melhor assim. Com uma mão na maçaneta eu a virei gentilmente, facilitando a porta aberta. Eu segui o som até que ele parou. Houve uma pausa, uma mudança, e a música mudou para uma canção Cat Power. Sua voz doía de saudade e tristeza. Fechei meus olhos, vencida pela emoção que a música evocava. Um suave tilintar de vidros interrompeu o momento, e eu me encontrei movendo para frente novamente, espiando pela fresta da porta aperta do quarto de tia Marjorie. Estava aberta o suficiente para que eu pudesse ver dentro sem ter que pressionar meu rosto perto, mas não amplo o suficiente para que ela me ver se acontecesse dela olhar para cima. Tia Marjorie estava parada em frente uma cômoda, derramando uma bebida de uma garrafa de vidro. O líquido âmbar salpicou no fundo de um copo, enchendo-o quase um centímetro. Então ela o pegou e fechou uma grande moldura do tio Gerald que pairava sobre o espelho da cômoda. Um instante depois ela inclinou a cabeça para um lado e colocou o copo de volta. Um murmúrio baixo e um riso escaparam dela, e ela colocou os braços para cima como se estivesse se preparando para valsar com alguém. A voz de Cat subiu, e as palavras — oh, oh, eu acredito... — preencheu o quarto assim como tia Marjorie começou a dançar.


JESSICA VERDAY Uma, duas, três vezes ela se moveu lentamente para trás e para frente em um padrão de triangulo. Ela usava uma camisola longa, branca e fluída, e eu notei que seu cabelo estava para baixo. Eu nunca o tinha visto dessa maneira antes. Ela normalmente o usava preso em um coque, mas agora as ondas castanhas escuras delicadamente cortadas ao redor de seus ombros enquanto ela balançava no ritmo da música. Eu sorri. Então é daqui que eu peguei os genes da minha louca dança-com-parceirosimaginários. Era tipo bom saber que isso veio dela. Então a musica terminou. A sala ficou quieta. Tropeçando a uma parada abrupta, ela ficou em pé, braços congelados no lugar. À espera de um parceiro que não estava lá. Que nunca estaria lá. Seus ombros sacudiram, e um soluço duro ecoou pela sala. Em poucos segundos se multiplicaram, e ela começou a chorar como seu coração estava quebrando. Movi-me para ir para ela, e meu dedo esbarrou na parte inferior da porta. Eu congelei ao som. E se ela não queria que eu a visse assim? Ela olhou para cima, seus olhos encontrando os meus. Segurei minha respiração, esperando para ver o que ela diria, ou faria. Mas ela apenas colocou os braços ao redor de si e caiu no chão, uma mulher solitária tentando fazê-la através da vida com um pedaço do seu coração ausente. De certa forma eu sabia exatamente o que ela estava sentindo. Por mais que eu tentasse esquecer, havia um buraco em forma de Caspian dentro de mim, também. Lentamente, eu recuei. Seus soluços ecoaram em meus ouvidos todo o caminho de volta, e mesmo quando eu fechei a porta, eu não podia escapar deles. Eles me seguiram nos meus sonhos. Atirei-me para frente, sentando na cama. Eu não sei por quanto tempo eu estive adormecida, mas um pesadelo me acordou. Meus olhos procuraram os cantos escuros, voaram para o relógio piscando 3:12 da madrugada, e examinaram o teto. Procurando pelo o que quer que fez meu coração disparar. Minha mente tentava freneticamente remontar as peças desordenadas do meu sonho. Eu estava… Correndo? Não. Mais como tropeçando, na verdade. Mãos estendidas na escuridão. Havia coisas ao meu redor, e eu podia dizer pelas suas formas e sentir que elas eram lápides. A borda fina, e as peças recortadas que deixaram os meus joelhos desajeitados e as canelas machucadas, meus dedos arranhados. Balancei minha cabeça, procurando pelas cenas perdidas.


JESSICA VERDAY Tropeçando... Tropeçando... Quase caindo, sempre me movendo. Eu sabia que tinha que continuar me movendo. O que estava atrás de mim? Do que era que eu estava correndo? Eu me vi tentando olhar para trás, mas ainda estava muito escuro. Eu não conseguia entender o que estava lá. O sonho começou a se desvanecer, e eu sabia que o estava perdendo. Os fragmentos de memória nua já estavam escorregando pelos meus dedos. Com um último olhar na sala ao meu redor, eu escorreguei de volta para baixo nos lençóis e travesseiros, fechando meus olhos. Sonhos estúpidos. Eu não deveria ter bebido aquela Mountain2 Orvalho no jantar. Isso sempre me deixou tensa. E então eu me sentei assustada novamente. Eu sabia. Eu sabia o que o sonho significava. Eu não estava correndo de alguma coisa. Eu estava correndo para alguém.

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Acho que é algum tipo de isotônico.


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Capítulo Dois Fora do lugar

Girar e voar era agora muito tarde... – A lenda de Sleepy Hollow

Tarde da manhã seguinte, eu esperei impacientemente com minhas malas na porta da frente por mamãe e papai vir me pegar. O tempo estava arrastando. Eu dei um chute na minha mala e a cutuquei para o lado antes de me sentar sobre ela. Tia Marjorie estava na cozinha aquecendo uma torta comprada, de modo que pareceria que tinha acabado de sair do forno. Ela queria impressionar a mamãe. Eu escaneei a distância através da porta de vidro por trezentas e trinta e sete vezes. Quando eles chegariam aqui? Uma buzina soou. Eu pulei e esperei que eles entrassem. Assim que eles alcançaram a casa, as portas do carro começaram a balançar abertas e depois bateram fechadas. Mamãe me pegou primeiro. Eu corri para os braços dela também, e a abracei por tudo que valia a pena. Claro, eu ainda estava um pouco brava por ela me empurrar a questão que eu vim para casa mais cedo, mas ela era a minha mãe. E eu senti saudades dela. Papai veio e colocou seus braços ao redor de nós, e eu me virei para apertá-lo firmemente. — Oi, querida, sentimos saudades — ele disse.


JESSICA VERDAY — Eu senti saudades de você também, papai. — Onde está tia Marjorie? — mamãe perguntou. — Eu quero falar oi. — Ela está na cozinha. Acho que ela quer que vocês fiquem para uma torta. — Ooh, torta! Que legal. Mamãe entrou na casa, e papai se inclinou para pegar as minhas coisas. De repente me senti tímida e desajeitada ao redor dele. Ele achava que eu ainda estava louca? — Então como o jogo de futebol foi na semana passada?— eu perguntei. — A temporada de futebol ainda não começou — ele replicou. — Mas a temporada de basebol sim, e na semana passada os Yankees bateram no Sox. — Eu peguei minha mochila e a coloquei no banco de trás. — Eu sabia totalmente disso. Eu estava apenas te testando. Nós sorrimos um para o outro, e naquele momento eu sabia que tudo estava bem. Muito embora tivesse sido para ele que eu fui quando precisei de ajuda, papai não pensava que eu era uma aberração. Ele fechou a porta de trás e então se virou para mim. — Então, sua tia fez uma torta, huh? — Fez, não tanto. Comprou é mais parecido com isso. Eu acho que é de cereja. Seu sorriso aumentou. — Bem então, não vamos deixá-la esperando. Uma hora depois nós estávamos de volta ao carro novamente, dessa vez dizendo tchau. Eu abracei tia Marjorie uma última vez, fingindo que eu não notei o modo como seus olhos estavam ficando todo marejado. — Eu voltarei e visitarei novamente em breve — prometo. — Você ainda me deve mais um par de passeios de avião. Ela assentiu. — Pode apostar que sim. Ligue-me se você precisar de qualquer coisa. — Ela baixou a voz e me olhou diretamente nos olhos. — Qualquer coisa, ok, Abbey?


JESSICA VERDAY — Ok — eu disse. E eu prometo, seu segredo da meia-noite está seguro comigo. Eu não disse isso em voz alta, mas ela me deu um aceno quase imperceptível, e então estávamos subindo na van, acenando como apoio para a rua e puxamos para a estrada aberta. Eu inclinei minha cabeça para trás e me sentei triste por deixar tia Marjorie para trás. Ansiosa por tudo o que eu estaria retornando. E nervosa sobre o que meu futuro poderia trazer. Mamãe tagarelava na frente. — Nós estamos tão empolgados de ter você de volta em casa, Abbey! Não posso esperar para mostrar a você as cores novas que eu pintei a sala de jantar. E na semana passada eu troquei as cortinas do corredor da frente... — eu a desliguei. Eu não me importava sobre as cores de pintura ou cortinas novas para sala. Eu só me preocupava sobre como o resto do meu verão seria. Tinha saído palavra sobre a crise que eu tive? Alguém sabia onde eu estive esse último par de meses? O que eles estavam falando sobre mim? Árvores zuniram, e assim também vários carros. As nuvens mudaram acima da cabeça, e eu as espiava. As sombras que elas lançavam pareciam se estender por quilômetros, e por enquanto eu me divertia com o jogo com o que-aquela-nuvem-se-parece. Por alguma razão eu continuava vendo hipopótamos. Então meus pensamentos mudaram de curso. Escola estava fora agora. O que todo o mundo esteve fazendo durante o verão? Pegando empregos de meio período? Se divertindo em festas na piscina? Indo na praia? Dirigindo por aí em seus carros? Será que eu estaria fazendo alguma dessas coisas? Eu não sabia o que esse verão traria, mas eu não achava que estava indo para ser como "um para se lembrar" . Não com Kristen tendo ido. Não comigo sendo... Eu. Eu me perguntei o que Ben está fazendo... Ele tinha ligado no meu celular uma ou duas vezes enquanto eu estava na tia Marjorie, mas eu ainda não tinha ligado para ele de volta. Eu não sabia o que dizer ou como agir. Não só o tinha abandonado no meio do nosso projeto da feira de ciências, mas então eu tive que ir, e tive um colapso mental em cima disso. Como você explica isso? Confusa sobre o que fazer em relação ao Ben, pensei sobre isso ate que estávamos quase em casa. Papai teve que dizer meu nome três vezes para chamar minha atenção, e eu acho que ele se divertiu com o meu óbvio sonhar acordado. — Nós vamos cruzar a ponte nova — ele me disse. — Em cerca de dez minutos.


JESSICA VERDAY Virei-me para olhar pela minha janela, agradecida pela distração dos meus pensamentos. Eu mantive meu pescoço esticado e não tive que esperar muito tempo. Papai puxou para a estrada do cemitério principal, e mesmo à distância eu podia ver a estrutura enorme se aproximando. A parte coberta da ponte parecia ter pelo menos vinte metros de altura, e foi feita para parecer como cem anos de idade. Eu não conseguia entender porque era tão grande até que nós a atravessamos e um caminhão de dezoito rodas passou por nós. Claro, caminhões precisariam de um quarto extra. Vigas grossas de madeira atravessavam cada lado, e um som estrondoso ecoou debaixo de nós. Foi à experiência surreal da ponte coberta... E eu a odiei. Parecia feia e fora do lugar. Um lembrete grande, dissonante do que tinha acontecido para minha melhor amiga nesse local. — Então?— mamãe se virou em seu assento para ver o meu rosto. — O que você acha? — É, hum, nova. E enorme. E parece tipo… como que vai demorar algum tempo para se acostumar. Mamãe agitou sua mão. — Você não vai se acostumar com isso em nenhum momento. E já aumentou o tráfego turístico em treze por cento. Eu retornei para olhar pela minha janela. Ótimo. Como se eu estivesse realmente no humor de estar rodeada de mais estanhos. Tudo o que eu queria para Sleepy Hollow é estar exatamente do jeito que era quando eu a deixei. Menos o louca. Chegamos a nossa casa, e papai estacionou em frente à caixa de correio. Subi lentamente para fora do carro e fiquei olhando para o tapume branco. Parecia... Menor do que eu me lembrava. As venezianas não eram tão escuras quanto tinham sido tampouco. Na verdade a maioria delas parecia como se pudessem usar uma camada de tinta fresca. Mamãe veio e colocou um braço ao meu redor. — Você não está contente de estar em casa, Abbey? Nós temos uma surpresa especial para você. Está lá em cima no seu quarto. Eu assenti, e nós começamos a andar em direção da casa. Dentro, tudo parecia esquisito. Eu tinha a sensação mais estranha de alguma coisa não estar muito certa... Ou fora do lugar... E uma suspeita afundando de que a coisa-não-muito-certa era eu.


JESSICA VERDAY Mas eu balancei minha cabeça e tentei resistir à vontade de ficar em um lugar por muito tempo. Eu peguei o corrimão da escada como apoio. Meus joelhos sentiam engraçados. Mamãe estava sorrindo para mim, e eu comecei há ficar um pouco nervosa. Oh Deus, e se ela transformou meu quarto ou algo assim? Era isso a surpresa? Quando eu cheguei ao topo das escadas e fiquei em frente da porta fechada do meu quarto, eu me encontrei fechando os olhos. Eu fiquei lá por um momento antes de sentir mamãe se mover para longe de mim e então eu ouvi a porta se abrir. — Vamos, Abbey — mamãe disse, rindo. — Você não tem que fechar os seus olhos. — Sim. Sim eu sei, eu queria dizer a ela. Ao invés, eu dei um passo à frente e abri um olho ao mesmo tempo. Tudo parecia ok. Com a exceção do meu chão estando limpo. Que não era como eu o tinha deixado. Mas se tudo o que ela tinha feito foi pegar minha roupa suja, então estava tudo bem para mim. Eu disparei um olhar para minha cama acabada de fazer. Não como eu a tinha deixado, também. Oook... Então talvez ela trocou os lençóis , também? Mamãe ainda estava sorrindo, então eu coloquei um sorriso falso. — Você limpou meu quarto. Obrigada, mamãe. — Eu tentei parecer genuinamente feliz. — Você ainda não vê isso, não é? — Claro que eu vejo — eu parei e meu queixo caiu enquanto eu me virei para a direita e olhei para minha mesa de trabalho. Sentado no chão perto estava o gabinete de curiosidades mais incríveis que eu já vi. Parecia um catálogo gigante de moda antiga. — Oh. Meu. Deus. — Eu corri em direção. — Mamãe! Onde vocês conseguiram isso? Eu amo! Eu não achava que seu sorriso poderia ter ficado ainda maior. — Tio Bom o encontrou em pedaços, eu um dos lugares de abastecimentos que ele pega suas caixas de armazenamento. Então ele ligou para o seu pai e perguntou se nós queríamos. Nós fomos e o pegamos, papai colou novamente e concertou todas as extremidades. Então eu o pintei. Corri meus dedos sobre as bordas douradas. Elas eram de uma cor creme pálida e lixado em pontos para parecer desgastado com a idade. O gabinete era pelo menos três pés de altura, e havia fileiras e mais fileiras de pequenas gavetas, todas empilhadas uma em cima da outra. Cada gaveta tinha uma alça pequena cor de ouro retangular, com um espaço


JESSICA VERDAY de duas polegadas acima da alça para adicionar uma placa de identificação. Quando eu abri uma das gavetas, eu vi que tinha sido pintada de ouro no fundo de dentro. — Eu adicionei um pouco de ouro descamando na parte inferior de cada um — mamãe disse. — Eu queria que isso tivesse um sentido especial. É para todos os seus suprimentos de perfumes. Atordoada em gratidão e admiração pura tomou conta quando me dei conta de quantas horas meticulosas ela deve ter colocado nisso. — Mamãe, eu não posso sequer... Eu não sei o que dizer. Obrigada. — Eu me inclinei e a envolvi em um abraço gigante. Ela me apertou de volta, e por um momento eu fingi que tudo estava normal de novo. Então ela se afastou e eu vi um olhar desesperado nos olhos dela. Ela tentou esconder isso. Tentou colocar um sorriso, mas eu pude ver o que ela estava pensando. Ela ainda não tinha certeza se eu estava melhor. — Vou deixar você se instalar e desempacotar suas coisas — ela disse. — Jantar em uma hora. Estou fazendo o seu favorito — lasanha. — Obrigada, mamãe — eu disse novamente. — Parece bom! Ela me deu uma ultima olhada e então deixou meu quarto. Deixei meu sorriso cair logo que ela foi embora, e rapidamente fechei a porta. Era tão estranho estar de volta aqui. De volta pra casa. Movi-me lentamente ao redor do quarto, pausando na minha escrivaninha para embaralhar através de uma velha pilha de notas de perfumes. Correndo minhas mãos sobre a tela do computador. Pegando um pequeno peso de papel de vidro e o rolando em círculos. Minhas tralhas. Minhas coisas. Cada pedacinho que me fizeram estava representado aqui. De alguma forma. Então me movi para minha cama. Sentando-me cuidadosamente para que eu não amassasse os lençóis, descansei as mãos no edredom, palmas para baixo. Foi legal sob as minhas mãos, e eu me perdi nos pensamentos lá por um tempo. Eu olhei para as paredes vermelhas listradas, a lareira com a moldura prata em redemoinho, meu telescópio em um canto... A voz da mamãe quebrou meus pensamentos, chamando que o jantar seria em trinta minutos, e me levantei para ir para janela. Afundando no assento da janela, eu peguei Sr. Hamm, um urso de pelúcia descansando perto de Jolly o pingüim e Spots, a girafa, meditando que eu não os tinha deixado dispostos ordenadamente, e o abracei ao meu peito.


JESSICA VERDAY Meus olhos viajaram para a porta do armário fechado. Ainda está ai o vestido preto de baile da mamãe? Eu nunca verifiquei para ver se ela tinha consertado todas as minúsculas lágrimas de quando eu o usei pela última vez, na noite de Halloween. Quando eu fui ao cemitério e dancei na chuva. Naquela noite eu deitei no rio e Caspian tinha me levado para casa e então nós — não! Ele não é real. Caspian está morto. Um grito do lado de fora chamou minha atenção para longe da porta do armário, e eu me virei para olhar pela janela. Na rua, debaixo de mim um garotinho estava correndo atrás de um cachorro pequeno, branco e macio e gritando para ele parar. O cachorro continuou trotando junto a direita, arrastando uma coleira azul atrás dele. Eu sorri e os assisti por um minuto até que algo chamou minha atenção. Coração batendo forte, me sentei reta e coloquei uma mão no vidro. Uma figura vestida toda de preto disparou na direção das árvores que ficavam ao lado de nossa casa. O sol brilhava em seus cabelos loiros branco. — Não — eu sussurrei. — Não! — minha mão se transformou em um punho e eu bati uma vez na janela. Mas ele estava se movendo rápido, e um instante depois eu o perdi de vista. Me levantei e corri para fora do quarto. Clamando ao descer as escadas, eu abri a porta da frente e corri para fora. Meus olhos procuraram de um lado ao outro, tomando as árvores, a calçada e a cerca até a estrada. Forcei-me a caminhar calmamente até a borda do nosso quintal. Depois de tomar uma respiração profunda, eu chamei baixinho — Caspian? Não houve resposta. Tentei novamente, mas dessa vez me movi para mais perto das árvores quando disse seu nome. O resultado foi o mesmo. Reunindo toda a minha coragem, empurrei meu caminho por entre a folhagem e acabei no quintal de alguém. Uma porta bateu, e o Sr. Travertine acenou para mim. Ele começou a rodar em seu cortador de gramas para fora de sua garagem, e eu acenei de volta, olhando ao redor. Não havia nada além de casas e jardins vazios tanto quanto eu podia ver. Mas eu poderia jurar que o vi... Casualmente mudando de direção, eu voltei através das árvores e comecei a andar em direção a caixa de correio. Fazendo um grande show de atuação como se estivesse


JESSICA VERDAY checando isso, eu vasculhei dentro, esperando estar vazio. Para minha surpresa, e um pouco de alívio, havia um par de envelopes lá, e eu os agarrei para levar comigo. Voltei para casa, parando na cozinha para depositar a correspondência na mesa. Mamãe se virou para mim. — Pensei que era você, Abbey. Porque você saiu estourando pela porta da frente como aquilo? Porque eu vi a pessoa que supostamente não devo ver, que realmente não estava lá afinal? Yeah, isso não funcionaria. — Eu, uh, vi um garotinho lá perseguindo seu cão. Pensei que eu podia ajudá-lo a pegá-lo. — Então me lembrei da correspondência em minhas mãos e as ergui. — E eu trouxe isso. Ela sorriu para mim. — Está bem. Quer pôr a mesa para mim? — Ok. — Qualquer coisa para fazer as coisas parecerem normais de novo. Depois que coloquei a mesa, mamãe chamou papai da sala de estar, e nós todos sentamos para o jantar. Eu mantive minhas respostas para a conversa de mamãe nuncatermina clara e feliz, esperando silenciosamente durante todo o tempo para o porto seguro do meu quarto. Nada nem remotamente perto do tópico do meu tempo fora, recente veio à tona, e foi apenas como qualquer outro jantar chato de família. Então porque eu quero gritar? Felizmente, o jantar terminou rapidamente, e eu só tive que fazer isso através de uma tigela de sorvete de massa de bolacha, porque eu sei que é o seu favorito — mamãe disse — antes que eu implorei e disse a eles boa noite. Enquanto eu subia as escadas para meu quarto, eu fiquei impressionada com aquele sentimento de fora-do-lugar novamente. Quando fui para cama, estava com medo de dormir. Com medo daquele sentimento de não pertencer completamente nunca ir embora. Com medo de que todos na cidade descobririam onde eu estava e o que estava errado comigo. Com medo do que eu tinha visto e com quem eu tinha conversado. Mas principalmente... Com medo do que eu tinha sonhado. Neve dura rangia sob meus pés, embalada e gelada, e eu pisei cuidadosamente. A sensação de andar em água congelada me pareceu absurdamente engraçada, mas eu sufoquei meu riso. Algo me disse que não era o momento ou lugar para risos. Uma única sepultura estava na minha frente. Meu destino. E parecia familiar, mas eu sabia que nunca a tinha visto antes. O anjo de pedra perfeitamente


JESSICA VERDAY esculpido descansando em cima disso tinha traços delicados e asas arqueadas. Um lado do seu rosto estava lançado nas sombras, e havia uma capa vermelha caída sobre os ombros. Meus lábios fizeram o som antes que minha voz o travasse. — Kristen. Esticando uma mão, eu toquei o rosto dela. Seu cabelo. Suas asas. A semelhança era impressionante. Ela estava presa para sempre na pedra e na poeira. Gravada em linhas duras de granito impossível. — Você está esperando por mim? — eu sussurrei. — Você disse que sempre estaria aqui. De repente a estátua ficou fria. Congelando. Tão dura como qualquer vento de inverno, e eu temi que meus dedos ficassem presos no lugar. — Não! — eu chorei. — Por favor... — suas asas quebraram. A pedra suspirou. E de seus olhos uma lágrima caiu. Eu rolei e soquei meu travesseiro, sabendo que eu teria dificuldade para voltar a dormir de novo depois do sonho. Eu não tinha sonhado com Kristen em todo tempo na tia Marjorie. Agora eu sabia que estava realmente em casa. Depois de me trazer um lanche (dez minutos depois do almoço) e encontrar meia dúzia de outras razões para vir me checar, mamãe me interrompeu mais uma vez na tarde seguinte. Eu suspirei e empurrei minha cadeira para longe da tela do computador, tentando esconder minha irritação quando ela bateu na moldura da porta. — Abbey, há uma ligação para você. Bem, eu certamente não estava esperando isso. — Quem é? Ela tinha uma mão sobre o receptor do telefone e o estendeu para mim. — É o Ben. Ele ligou aqui enquanto você estava — ela baixou a voz — longe, e eu disse a ele que você ligaria de volta assim que você tivesse uma chance. Eu acho que você deveria conversar com ele agora. Meu estômago caiu para meus pés, e eu balancei minha cabeça veementemente. Ele tinha ligado para casa, também? — Eu realmente não estou a altura disso, mamãe. — Eu forcei meu tom para manter a calma e o equilíbrio.


JESSICA VERDAY Ela empurrou o telefone para mim novamente. — Apenas converse com o pobre garoto, Abbey. Ele não vai morder. — Não, eu — Ben?— mamãe pegou o telefone de volta e falou nele. — Aqui está ela, apenas um segundo. — Ela o colocou com força na minha mão, então se virou para sair do quarto e fechou a porta atrás dela. Em parte para acalmar meus nervos e em parte para dar a mamãe tempo suficiente para se afastar então ela não me ouviria, eu contei até cinco antes de responder. — Alô? — fechei meus olhos e esperei em suspense horrorizada pela a voz dele. — Ei, Abbey? É, uh, é o Ben. Ben Bennett. — Oi, Ben… hum, como você está? — meu punho se abriu, e eu flexionei meus dedos doloridos. Eu estava mantendo-os fechados tão apertadamente que toda a cor tinha escoado para minhas digitais. — Estou bem. Parece que você está indo muito melhor também. — Isso me fez voltar instantaneamente em alerta. O que ele sabe? — Sim, eu acho que estou... — deixei aquela declaração se arrastar para fora, e um silêncio constrangedor encheu o espaço entre nós. — Meu primo pegou mono (N.T.: mononucleose) uma vez. Isso o arruinou por quatro meses seguidos — ele disse. Mono? Ele acha que eu tive mono? — É muito ruim que você perdeu a feira de ciências, no entanto. Nós ficamos em segundo lugar. — Bem, isso é ótimo! — eu disse. — Estou muito feliz por você. — E eu estava surpresa por perceber que eu estava realmente feliz por ele. — Desculpe que eu tive que perder também. Mas você sabe... Mono e tudo aquilo. — Eu dei uma tosse fraca. Será que as pessoas que tinham mono tossiam? Eu não tinha idéia. — Paul Jamison e Ronald Howers ficaram em primeiro lugar. Eles construiram um kit de conversão que se transformava em um composto de fonte de energia. Eles na verdade gerenciaram o poder em uma lâmpada com isso. — Aposto que foi fraudado — eu ofereci. Ele riu. — Ou eles são apenas gênios com a maneira de muito tempo em suas mãos.


JESSICA VERDAY Eu ri com ele, e foi bom. Me lembrou das tarde que nós passamos juntos na escola trabalhando nos materiais para a feira de ciências. Ben sempre podia me fazer rir. — Eu liguei antes — ele admitiu de repente. — E seu celular, também. Eu queria você sabe parar e lhe mostrar o troféu que nós ganhamos. Mas sua mãe me disse que você estava dormindo muito. — É... Desculpe por isso. A… mono fez certamente um número em mim. Mas pelo menos eu fiquei recuperando o atraso em todos os meus sonos de beleza. Que eu precisava — eu brinquei. Mas a observação pareceu cair plana, e outro momento de silêncio desconfortável esticou entre nós. Tentei pensar em alguma outra coisa para falar sobre. Bem veio para o resgate nessa. — Você vai estar naquela coisa da ponte? — ele perguntou. — Sim, estarei falando alguma coisa sobre a Kristen. — Mais silêncio. — Você sabe, eu realmente sinto saudades dela — ele disse calmamente. — Eu também. — Suspirei. — Estou um pouco nervosa sobre a coisa toda. Como, e se eu fracassar? Ou dizer alguma coisa estúpida? Ou… — eu não queria dizer quebrar, então ao invés eu disse — Esquecer o nome dela, ou algo completamente idiota como isso. Além disso, eu odeio multidões. — Estarei lá para torcer por você — ele disse. — E você sempre pode fazer o truque retratando-os-em-suas-roupas-íntimas. Com exceção de mim. Não me retrate em minhas roupas de baixo, ou isso seria apenas embaraçoso. Eu ri novamente, agradecida por ele não poder ver minha cara avermelhada. — Você não me deixará esquecer o nome dela, vai? — perguntei. — Não. Eu trarei uma placa de sinalização e a segurarei para você nas costas. Alguns minutos depois eu estava desligando o telefone com um sorriso no rosto. Pelo menos algumas coisas não tinham mudado.


JESSICA VERDAY Retornando para minha escrivaninha, me sentei e tentei voltar ao que eu estava fazendo antes que a ligação tivesse me interrompido. Mas eu não estava mais com vontade de estar no computador. Apagar e-mails, spam e capturar fofocas de celebridades podiam esperar. Caminhei para o meu novo gabinete e pensei brevemente sobre transferir todas as minhas coisas de perfumes, mas eu não senti vontade de fazer isso, tampouco. Catalogar e rotular garrafa após garrafa de óleos essenciais era uma tarefa melhor deixar para um dia quando eu não estivesse tão distraída. Eu pendurei um par de camisas da minha mala ainda empacotada e então arrumei um par de sapatos. Ben tinha trazido Kristen a tona... Eu ainda não tinha ido vê-la desde que estava em casa. Que tipo de melhor amiga eu era? Deixei meu quarto e desci as escadas para contar à mamãe que eu estava indo caminhar. Ela me fez prometer manter meu celular comigo e não me deixaria sair até que eu contasse a ela que eu — ficaria segura. Pacientemente outro de seus abraços sufocados, eu tentei não me contorcer para fora de seus braços. Isso não duraria muito tempo, eu disse a mim mesma. Isso tudo é porque você acabou de voltar para casa. Eu morrerei (N.T: die down) eventualmente. Esperançosamente. Finalmente, eu fui para fora. Mesmo que eu não tive que andar nessas ruas durante meses, meus pés sabiam onde eles estavam indo. Quando cheguei aos grandes portões de ferro que marcavam a entrada principal do cemitério de Sleepy Hollow, eu não me permiti hesitar. Se eu parasse agora, eu poderia não entrar. Esse era o lugar onde eu tinha brincado com Kristen, conhecido Nikolas e Katy, passado o tempo com Caspian... Caminhando devagar, eu segui os caminhos como eles sangravam um no outro. Havia muitas pessoas no cemitério hoje. Mais do que eu já tinha visto antes, e isso me deixou desconfortável. Eles estavam me observando? Algum deles iria começar a sussurrar sobre a garota pálida vagando entre as lápides? E se algum deles tentasse conversar comigo? O cemitério estava diferente. Não parecia mais como meu paraíso seguro. Passei pela cadeira vazia de ferro forjado onde me sentei no dia do funeral da Kristen. Ela ainda


JESSICA VERDAY estava descansando ao lado da sua parcela, a grama agora já crescida e recém-cortada. Lançando um olhar sobre meu ombro, eu pausei e sussurrei um oi para ela. Mas eu não disse nada mais do que isso, e não fiquei. O próximo lugar que eu parei foi no local do sepultamento de Washington Irving. Havia poucas pessoas nesse lado do cemitério, e ninguém estava à vista quando eu finalmente o alcancei. Eu me ajoelhei, cavando meus dedos na grama bem aparada ao longo da borda inferior de sua lápide. — Estou de volta — eu disse. Assim como prometi. — O marcador parecia ter sido limpo recentemente: todos os pedaços de musgos e sujeiras anteriores se foram, e uma bandeira americana pequena foi plantada perto disso. — Minha… viagem… foi bem — eu disse. Uma vez eu tinha me sentido confortável falando com ele aqui assim, mas as coisas estavam diferentes agora. — Foi bom sair para longe de tudo, e apenas tomar algum tempo para lidar com tudo isso. Eu peguei uma lâmina de vidro do chão e a rolei por entre meus dedos. — A casa da tia Marjorie foi ótima. Ela vive em uma fazenda, e é realmente legal lá. Ela me levou em seu avião, também, e me deixou voar nele. Vozes ecoavam à distância, e eu me levantei. Pessoas estavam vindo, e a última coisa que eu precisava era ser pega conversando em voz alta com uma lápide. — Tentarei passar por aqui em breve — eu disse. Toquei a pedra brevemente e depois me virei para descer os degraus, longe do seu jazigo de família. Um grupo pequeno de pessoas vieram ao redor da esquina e esperaram para eu passar. Eu fui em direção ao túmulo de Kristen, mas correu para mais dois grupos no caminho até lá. Um deles parou na pedra a direita próxima da de Kristen, e eu tentei segurar a volta, para dar a eles tempo suficiente para eles se moverem então eu poderia estar sozinha. Mas eles não pareciam estar se movendo. Depois do que pareceu, pelo menos, vinte minutos, eu finalmente me aproximei da pedra dela. A primeira coisa que notei foi que a área imediatamente em torno de sua lápide parecia bem cuidada. Embora a grama no cemitério fosse geralmente mantida curta, muitos túmulos tinham esqueletos de ervas daninhas que cresciam perto delas. O túmulo de Kristen estava obviamente sendo cuidado. A segunda coisa que notei foi um trevo de quatro folhas recém depenado sentado no fundo da pedra. Foi a primeira vez que eu já vi um trevo de quatro folhas na vida real, e eu o


JESSICA VERDAY toquei, contando todas as quatro pétalas para ter certeza que não era apenas um truque de luz ou algo assim Olhei para baixo na grama ao redor da lápide e em seguida, esquadrinhei a área ao redor dela. Não havia nenhum fragmento de trevos nas proximidades. De fato não havia nenhum fragmento de trevos em nenhum lugar. Deve ter sido encontrado em algum outro lugar e colocado aqui. Arrepios se levantaram ao longo dos meus braços, e eu sussurrei um tchau para Kristen.

Deixando o cemitério para trás, eu me perguntei o que aquele trevo de quatro folhas significava. E quem o havia colocado ali...


JESSICA VERDAY

Capítulo Três DEDICAÇÃO

Cruzar esta ponte foi a pior provação. – A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça

Não consegui dormir na noite seguinte. Estava quente demais, depois muito frio. O colchão ora encaroçado demais, ou então muito firme. Eu amassava os lençóis em um minuto e no próximo os jogava para o lado. Às 06h54min, finalmente desisti e me arrastei para fora da cama e desci as escadas. Hoje parecia um daqueles dias em que somente o café iria me animar. Felizmente já havia alguns grãos na cafeteira, então tudo o que eu tive que fazer foi enchê-la com água. Ela escorreu para a jarra de vidro, seu fluxo constante de um marrom escuro e rico. As primeiras gotas chiaram e respingaram até que o café começou e encher o fundo da jarra. Balancei a cabeça e me virei para pegar uma caneca vazia. O sabor era acentuado e amargo, e adicionei outra colherada de açúcar. Então derramei um pouco de leite para ajudar. Não adiantou muito. Caminhei em direção a uma ampla janela na sala de estar, pegando uma cadeira acolchoada no caminho e arrastando-a atrás de mim. O céu estava sem graça e nublado. Não parecia que ia chover, mas o sol também não estava à vista. Afundando na cadeira, olhei para fora, bebericando enquanto observava vários pássaros bicando o solo em busca de minhocas.


JESSICA VERDAY Os pássaros mais adiantados pegaram a minhoca. Segurei minha caneca e fiz saudação aos pássaros. Então me ajeitei e fiquei confortável. Nem mesmo notei quando minha cabeça pendeu e meus olhos começaram a se fechar. Quando mamãe me acordou duas horas mais tarde, sem entender por que eu estava dormindo na cadeira, eu me espantei ainda mais por ter conseguido colocar no chão perto de mim a xícara de café pela metade, sem me lembrar de como havia feito isso, e sem derramar sequer uma gota. Aparentemente eu era algum tipo de malabarista sonâmbula ou algo do gênero. Cambaleei de volta ao meu quarto, esfregando os olhos por todo o caminho. Você não pode voltar para a cama, eu disse a mim mesma, a cerimônia é daqui a menos de seis horas e você tem que pensar no que vai dizer. Pegando um caderno espiral e uma caneta na escrivaninha, me sentei perto da janela. Mas a caneta não funcionava, e levou uns bons cinco minutos até que eu finalmente desistisse e pegasse outra. Colocando a caneta no papel, tentei ordenar meus pensamentos. Kristen Maxwell, que teve um afogamento trágico... Risquei aquilo. Todos os que estariam na ponte provavelmente sabiam o que acontecera ali. Não havia necessidade de declara o óbvio. Hoje estamos aqui para celebrar... Outra linha rabiscada. Aquilo soava muito alegre. Isso precisava ser mais... Sombrio. O Bom Livro diz que há um tempo para nascer e um tempo para morrer... Parecia um sermão. Fiz uma bola de papel e recostei. O que eu estava realmente tentando dizer? Tratava-se de sua morte? Ou de sua vida? Tentando um ângulo diferente, me inclinei sobre o caderno e anotei algumas coisas que eu admirava em Kristen. Sua risada. Seu sorriso. Sua bondade. Sua lealdade. Sua proteção feroz à nossa amizade. Se as pessoas ao menos pudessem ver esse lado dela, minha missão estaria cumprida. Ela havia sido uma pessoa fácil de amar.


JESSICA VERDAY Satisfeita com o que havia escrito, tirei outra curta soneca e acordei com bastante tempo para me aprontar. Soube imediatamente o que vestir. Parecia certo usar o corpete vinho, aquele que eu havia pego em seu quarto depois de encontrar os diários, e uma saia preta. Ela teria aprovado aquela roupa. — Botas ou sapatos baixos, Kirsten? — debatia comigo mesma enquanto remexia em meu armário. Uma pesada bota caiu a meus pés com um baque sólido, e eu olhei para baixo. — Tudo bem, botas, então. Amarrei os cadarços e fui ao banheiro arrumar o cabelo. Dez minutos depois, estava pronta. Quase esqueci meu caderno ao entrarmos na van, mas corri de volta ao meu quarto e o peguei. O terror fazia meu estomago dar nós, e a breve viagem até a ponte foi curta demais. — Quantas pessoas estarão lá? — perguntei a minha mãe, enquanto papai parava no estacionamento da velha igreja holandesa. A igreja ficava próxima à ponte e parecia que era onde todos estavam estacionando. — Cinqüenta, cem. Não tenho certeza. Não creio que passe disso. Engolindo em seco, juntei minhas mãos e as apertei até que ficassem brancas. A pressão feroz era uma distração bem vinda do medo que ameaçava embotar minha mente À idéia de "cinqüenta, cem" pessoas, todas ouvindo o que eu tinha para dizer. — Tem certeza de que eu tenho de fazer isso? — perguntei. — Por que tem de ser eu a dizer algo sobre ela? Mamãe abriu a porta de seu lado e saiu, alisando a barra de seu terninho preto à prova de rugas. Fazendo uma pausa momentânea para retribuir meu olhar, ela disse suavemente: — Porque você era a melhor amiga dela, Abbey. Você a conhecia melhor que ninguém.


JESSICA VERDAY Libertando minhas mãos, soltei o cinto de segurança e saí do carro. Agarrei as laterais de minha saia. O estacionamento estava cheio. Me fez lembrar o funeral de Kirsten. Só havia lugar para ficar de pé naquele dia. E estava chovendo. Se eu relanceasse o olhar para o mausoléu na colina, ele estaria parado lá? Observando-me? Cabelo louro-prateado, olhos verdes e sorriso fácil. Caspian… Expulsando aqueles pensamentos, segurei a saia com mais força. Uma gota de suor escorreu pelas minhas costas e me remexi, desconfortável. Varias pessoas estavam paradas perto de seus carros, a maioria fumando e conversando, enquanto uma equipe de TV local permanecia parada perto dali. Uma repórter prendia algum tipo de aparelho eletrônico por baixo do blazer. Mamãe me disse alguma coisa, mas não ouvi. Estava concentrada em acabar com aquilo. Tudo em que conseguia pensar era em quanto eu não queria estar ali. Atravessamos a rua e passamos por um policial que orientava o tráfego que carregava um sinal de DEVAGAR. Quando nos aproximamos das imensas vigas que compunham o principal arco da nova ponte, olhei para cima. Não havia nenhuma janela nas laterais da ponte e isso pareceu estranhamente inoportuno e errado. Todos os ângulos pronunciados e junções brutas. Nada do que eu imaginava sobre a lenda do Cavaleiro sem Cabeça. Estava fora de lugar... Como eu. Um palco havia sido montado na calçada ao lado da entrada da ponte, e o homem parado atrás dele acenou para nós. Tivemos que abrir caminho entre os vários grupos muito juntos. Não havia muito espaço para ninguém mais no pequeno espaço de concreto. O homem se apresentou como Robert, o mestre de cerimônias, e então ele e mamãe começaram a conversar. Até onde pude entender, ele não faria nada durante a cerimônia, mas parecia gostar do título. Apoiando-me com uma das mãos na extremidade de uma trave da ponte, olhei para o Rio Crane. Estava calmo e claro. Pequenos bolsões de corrente rodopiavam e dançavam enquanto se afastavam com a correnteza.


JESSICA VERDAY Meus dedos encontraram cada rachadura e fenda que compunham a madeira e acompanharam os rabiscos aleatoriamente dispersos e entrelaçados uns aos outros. Enquanto seguia os traços na madeira, meu dedo mindinho esbarrou em um pedaço frio de metal. Madeira e metal. Firme e forte. Coisas que poderiam suportar o teste do tempo. Coisas que não estavam aqui há alguns meses. E se estivessem? As coisas teriam sido diferentes? Kristen não teria caído no rio? Estas vigas grossas a teriam segurado? Parado sua queda? Eu pensava naquilo sem parar, correndo meu dedo mindinho ao redor da cabeça do parafuso, até que senti algo agarrando. Rapidamente afastando a mão da viga. Olhei para baixo. A pele se havia aberto, bem no meio do dedo. Prendendo o fôlego em antecipação, esperei pela gota vermelho escura brotar. Por algum sinal de vida pulsando em mim. Nada. Eu certamente sangraria. Eu havia me cortado. Mas o sangue não vinha. Ao invés disso meu dedo apenas começou a latejar. O ergui e observei enquanto ele pulsava, cada movimento em sintonia com as batidas de meu coração, como se houvesse um fio ligando meu coração à minha mão. O ruído do tráfego e o burburinho das pessoas começou a diminuir. Apenas a estática preenchia meus ouvidos, e eu não podia me desviar. — Abigail! O som de meu nome abalou minha concentração e eu pisquei uma vez. Mamãe estava parada à minha direita, a mão estendida em um gesto que me convidava a acompanhá-la, e percebi como deveria parecer esquisita parada ali com um dedo erguido no ar. Pisquei novamente. Os ruídos começaram a retornar, e eu voltei para onde eu deveria estar, e para o que deveria estar fazendo. O zumbido baixo das pessoas recomeçou e eu baixei minha mão. Secando rapidamente minhas palmas nas laterais de minha saia, me peguei repetindo os gestos de minha mãe e alisando uma ruga inexistente. Componha-se, Abbey. Você está em público. Caminhei em direção a minha mãe. Ela acenava a cabeça e sorria, falando com uma repórter, enquanto também enviava olhares do tipo ―você está bem?‖ em minha direção.


JESSICA VERDAY Agarrei a mão de minha mãe e a apertei com força, tentando lhe enviar a minha melhor vibração ―estou bem‖. Seu aperto aumentou e então relaxou, e percebi que ela captou a mensagem. Tentei ficar fora do caminho da repórter, mas então ela deve ter notado que eu era outra pessoa com quem ela poderia falar. Sua linguagem corporal mudou e ela começou a afastar o microfone do rosto de minha mãe. Mamãe compensou sorrindo mais amplamente e movendo sua cabeça para frente a cada vez que o microfone se afastava. Mamãe detestava abandonar os holofotes. Quando ela terminava de responder uma pergunta sobre como o conselho da cidade havia organizado a cerimônia, seu pescoço estava inclinado em um ângulo que fazia com que ela parecesse uma girafa. Seria cômico se eu não estivesse tão concentrada em manter meu sorriso e decidir o que dizer se ela me perguntasse sobre Kristen. Não tive muito tempo para ensaiar. — E pelo que entendi você era amiga de Kristen Maxwell? Um grande pedaço redondo de espuma foi colocado perto de meu rosto, e a repórter se virou em minha direção simplesmente com um movimento dos ombros. Foi realmente impressionante. — Vocês estudaram juntas, não é verdade? Visualizando a pequena legenda com meu nome escrito incorretamente que poderia aparecer na tela caso essa matéria fosse transmitida, me inclinei para frente para falar diretamente para a cobertura de espuma. — Sim. — eu disse, um pouco alto demais. O rosto da mulher pareceu se comprimir ao redor dos olhos, e ela inclinou o microfone para baixo e para longe de mim. Mamãe rapidamente entrou em cena e pôs um braço em volta da mim, em um gesto de simpatia.


JESSICA VERDAY — Abbey e Kristen eram as melhores amigas desde quando tinham sete anos. Acho maravilhoso que Kristen seja lembrada dessa forma. Seu abraço ficou mais firme, e eu tentei manter o sorriso. — E como você se sente a respeito do fato de que essa tragédia aconteceu? Você acha que a cidade de Sleepy Hollow poderia ter feito mais para evitar isso? Ela não fez uma pausa para que eu pudesse responder. — Você acha que a segurança em locais de obras deveria se tornar uma prioridade em nossa cidade? Eu congelei. Ela redirecionou a espuma para mim e eu fiquei ali parada com um sorriso inexpressivo nos lábios. O que deveria eu dizer agora? Ela queria que eu respondesse a todas aquelas perguntas? Ou somente última? O aperto de minha mãe se transformou em um aperto de anaconda, e eu recebi a dica de que ela queria que eu ficasse quieta. — Tenho certeza de que todos nos perguntamos, ―poderíamos ter feito mais?‖, quando a tragédia nos atinge. — mamãe disse — como cidadãos conscientes, sempre queremos aprender a evitar que algo assim aconteça novamente. Temos apenas que fazer o melhor que pudermos para nos assegurar de que as regras de segurança sejam cumpridas à risca e pressionar para que melhores leis sejam votadas para proteger nossa comunidade. Mamãe era uma verdadeira profissional. O câmera fez um sinal indicando que o tempo estava se esgotando, e a repórter — Palavras mais verdadeiras jamais foram ditas. Eu sou Cara Macklyn do Canal Oito de Notícias, falando da cerimônia de dedicação na Ponte Washington Irving. Permanecemos com os sorrisos fixos em nossos rostos até que o câmera disse: — Eeeee corta!


JESSICA VERDAY Então mamãe cumprimentou a repórter por seu adorável traje, a repórter cumprimentou minha mãe por sua adorável filha e eu fiquei no meio disso tudo, sem saber quando seria a hora certa de parar de sorrir. Finalmente nos apertamos às mãos e mamãe me arrastou para o pódio. O prefeito Archer estava lá agora, estudando vários cartões de notas, mas ergueu os olhos quando nos aproximamos. Eu disse ‗olá‘ e passei por outra rodada de apertos de mão. Mamãe permaneceu ao meu lado, parecendo tão orgulhosa de mim. Mas tudo em que conseguia pensar era: ‖Por que eu concordei em fazer isso? E se eu estragar tudo?" Mais suor desceu por minhas costas, e imediatamente eu queria tomar um banho. Estava quente e pegajoso e a crescente multidão aumentava minha sensação de sufoca mento. Então aquilo me atingiu. ―Não posso fazer isso! È muita gente. Não consigo falar para uma multidão!‖ Respirando profundamente, tentei não respirar rápido demais. Mas podia ouvir pequenas rajadas de ar sendo inspiradas e expiradas enquanto comecei a respirar cada vez mais rapidamente. Mamãe se virou para mim, e eu a vi empalidecer. — Você está bem? — perguntou. — Parece que vai vomitar. — Multidões... Não posso fazer isso... Estou doente... — Sim, você pode Abbey. — disse ela — Vai acabar antes que você perceba. Apenas diga algumas palavras sobre Kristen e então estará terminado. Balancei a cabeça. — Não… consigo. Olhei ao redor. Precisava sair dali. Tinha que sair dali. Mamãe deve ter percebido minhas intenções, porque se agarrou ao meu braço e o apertou gentilmente. A pressão de fato ajudou a me distrair de minha respiração curta... Um pouco.


JESSICA VERDAY — Você escreveu seu discurso, não? Assenti. Então você se sairá bem. Assim que o prefeito chamar você, apenas leia o que escreveu. Eu estarei bem perto de você para lhe dar apoio, está bem? Assenti novamente, e então o prefeito Archer começou a falar. Ele cumprimentou a multidão e agradeceu a todos pela presença. Nomeando todos os membros da Câmara Municipal e do comitê de construção que haviam ‗trabalhado incansavelmente neste projeto e mostrado verdadeiro serviço e orgulho comunitário‘ ele encorajou uma salva de palmas e anunciou que eu faria a dedicação. Mamãe teve que me dar um impulso em direção ao pódio, mas, fiel à sua palavra, permaneceu perto de mim. O prefeito Archer me apresentou como a melhor amiga de Kristen, e então tudo ficou em silêncio. Baixei os olhos para o pedaço de papel que trazia fechado em um punho, então o coloquei sobre o púlpito e desamassei uma borda. Tudo o que eu queria dizer estava ali à minha frente. Tudo o que precisava fazer era abrir a boca e ler as palavras. Eles estavam esperando por mim. — Kristen Maxwell era… — fiz uma pausa e tentei novamente. — Ela era uma...] Alguém nas fileiras da frente se moveu e me distraiu, e senti vontade de cerrar os punhos. Tentei localizar Ben, mas não consegui. Então decidi tentar seu truque. Olhei para a multidão, visualizando todos em roupas de baixo ridículas. Isso me ajudou um pouco. — Eu poderia lhes dizer… todas as coisas boas que Kristen Maxwell era. — li com hesitação. — Uma boa filha. Uma boa aluna. Boa pessoa. Mas isso é o que vocês esperariam ouvir. Quem falaria mal de uma pessoa logo após sua morte? Minha voz vacilou, mas continuei. — Mas o que era realmente importante sobre Kristen era que ela amava a vida. Ela amava viver, sorrir e apenas desfrutar de tudo o que surgisse em seu caminho. Essa era sua melhor característica. Olhei para a ponte.


JESSICA VERDAY — Nós costumávamos vir aqui antes de a construção começar. Ficávamos olhando para a água. Apenas conversando e rindo. Passando tempo juntas. Ela realmente gostava daqui. Comecei a me emocionar, e lutei para manter o controle. — Mesmo que ela não possa mais aproveitar as coisas simples da vida, decidi fazer isso por ela. Viver cada dia ao máximo, e sempre tentar encontrar felicidade nas pequenas coisas. Como Kristen fazia. Várias pessoas tocavam os cantos dos olhos, e então os aplausos trovejaram. Eles continuavam aplaudindo, e eu olhei para o céu coberto de nuvens. Estas pessoas estão aplaudindo você, Kris. O prefeito Archer voltou ao pódio e os aplausos cessaram. — Gostaria de agradecer a Abigail Browning por suas comoventes palavras — disse — e a todos pela presença. Esta ponte fica assim declarada Ponte Washington Irving, e é dedicada à memória de Kristen Maxwell. O prefeito sorriu para a multidão, mas as pessoas já estavam se dispersando. Prontas para seguir adiante. Elas se separaram em dois grupos distintos: aqueles que vinham em nossa direção, sem dúvida em busca de conversa, e aqueles que se dirigiam para o estacionamento em uma debandada educada. Eles trabalhavam uns contra os outros e pareciam estar em um engarrafamento. Mamãe e eu ficamos ali, esperando pela próxima maré, até que papai nos alcançou. Eu estava eu uma espécie de névoa, apertando cegamente as mãos que me eram estendidas e dizendo ‗Obrigada‘ a todos que me diziam que eu havia feito um grande trabalho, ou como eles me eram solidários. Assim que pude, me encostei em meu pai e pus meu braço ao redor dele. Foi bom sentir algo sólido em que me segurar, e o gesto imediatamente me ajudou a sentir mais segura. Papai apertou algumas mãos também, e ele podia fazê-lo mais rápido do que eu. Finalmente as pessoas começaram a se retirar e aproveitei o momento para examinar as que haviam ficado. Não vi os Maxwells ou Ben, mas consegui atrair a atenção de mamãe por um segundo. — Os Maxwells vieram?


JESSICA VERDAY Ela balançou a cabeça. — Eles devem ter decidido que não suportariam. Ela pôs a mão em meu braço. — Você foi ótima, Abbey. Sorri para ela. — Obrigada, mãe. E obrigada por ficar lá comigo. Éramos os últimos na ponte agora, exceto pelo prefeito Archer, e eu imaginei que meus pais gostariam de falar com ele antes de partirmos. — Vou esperar perto do carro. — disse — Não demorem OK? — Claro — ela disse, mas eu sabia que seus pensamentos já estavam em outro lugar. O guarda de trânsito já se fora, e tive que esperar que vários carros passassem antes de atravessar a rua para a Velha Igreja Holandesa. Entrando no estacionamento, notei que havia apenas alguns carros ali, e parecia não haver ninguém por perto. Caminhei para o lado da igreja que ficava escondido da estrada principal e saltei para uma mureta de pedra baixa que se projetava da fundação. Era silencioso ali, e eu tinha uma boa visão das velhas lápides que compunham esta parte do cemitério. Elas eram artisticamente esculpidas e belamente decoradas com uma fluida letra cursiva que se destacava em relevo contra o granito. Muitas delas eram duplas, o lugar do descanso final de maridos e esposas, e sempre faziam meu coração doer um pouquinho. O sol espiava por entre as nuvens, e as rochas estavam agradavelmente aquecidas. Estiquei as mãos para trás, sentindo a lisura da pedra contrastando com a aspereza da argamassa das bordas. Erguendo o rosto, fechei os olhos. Estava finalmente sozinha e confortável. Um mosquito zumbiu perto de minha orelha e o espantei. Virei a cabeça, pensando que era só isso. Nada mais que um inseto. Mas então eu os vi. Um sentimento estranho, um tremor percorreu o meu corpo, como se arrepios subitamente cobrissem meu corpo inteiro.


JESSICA VERDAY Meus dedos se fecharam por reflexo ao redor das pedras, e me forcei a relaxar. Era apenas um casal. Nada demais. Eles caminhavam entre as sepulturas no lado mais distante do cemitério. Ziguezagueando entre elas. Quando eles se aproximaram, pude ver o que eles estavam usando. Era... Estranho. Mesmo para uma cidade que tinha sua cota de Góticos e candidatos a vampiros, eles definitivamente se destacavam. Ele vestia bermudas pretas de skatista com uma corrente pendurada, várias camadas vermelhas e pretas de blusas de mangas compridas que pareciam muito quentes para se usar no verão, e um cordão cuidadosamente manchado no melhor estilo Johnny Depp. O corte moicano nos cabelos negros era o toque final. A garota vestia uma minissaia xadrez preta e roxa, meias arrastão rasgadas e botas de motociclista amarradas com cadarços verde-azulados que combinavam com sua pequena sacola. Seu cabelo caía na altura dos ombros, roxo neon, com um pálido tom de louro nas raízes. Eu não conhecia nenhum deles, então permaneci sentada, esperando que eles continuassem andando. Mas meus instintos diziam que eles não continuariam. Fixando em meu rosto o mesmo sorriso falso que tinha me servido tão bem na cerimônia, esperei por eles. Eles chegaram à distância de um braço e então pararam. Os dois eram extremamente pálidos. Sua pele era quase translúcida. E possuía aquele brilho estranho. Como pergaminho. E eu achei que tinha algum problema com o sol. Seus olhos eram estranhos também. Muito grandes e claros. Se havia algum indício de cor neles, era o tom mais claro de cinza. Eles tinham que ser irmãos. — Você sabe onde fica o posto de gasolina mais próximo? — perguntou a garota — estou morrendo de vontade de tomar uma Coca-cola. Sua voz era incrível. Absolutamente cristalina. Tive a estranha impressão de que ela havia cantado sua pergunta para mim, e senti aquele arrepio novamente. Então minha mente clareou, e tentei esconder meus sentimentos de admiração e estranheza.


JESSICA VERDAY — É, hmm..., tem um hmm... — parecia que meu senso de direção havia desaparecido. Sentia meu cérebro nebuloso. Tentei outra vez. — Tem, hmm, um posto de gasolina alguns quarteirões adiante, à direita. Apenas continuem por esta calçada... Acho... O garoto sorriu para mim, e a garota cantou seu agradecimento. Ambos me encararam até que eu baixasse o olhar. — Você mora por aqui? — a cantora me perguntou. — Sim. Sou Abbey Browning. — as palavras fluíram de minha boca antes que eu pudesse impedi-las. Ela sorriu, revelando uma perfeita fileira de delicados dentes brancos. — Eu sou Cacey, e este é Uri. Assenti, imaginado se deveria tipo, apertar as mãos deles ou algo parecido. Os dois me observavam com seus olhos pálidos, e isso era incrivelmente enervante. — Vocês não querem mesmo uma Coca, não é? — eu disse, nem mesmo percebendo porque estava dizendo isso. Uri lançou um olhar para Cacey, então disse: — Talvez. Talvez não. Sua voz tinha um tom baixo, com um belo timbre. Como chocolate quente escorrendo em veludo. Meu couro cabeludo explodiu em arrepios. Parecia que dúzias de filhotes de aranhas pululavam em minha cabeça e sapateavam em minha espinha. Não era uma sensação agradável. — Bem, foi um prazer conhecer vocês — me levantei — Mas tenho que ir. Meus pais estão à minha espera.


JESSICA VERDAY — Tudo bem — Cacey disse. Parecia que ela não piscava. — temos apenas mais uma pergunta para você. Eu deveria ter ido embora. Deveria tê-los deixado para trás e caminhado para mamãe e papai e lhes dito que me levassem dali o mais rápido que pudessem. Mas não fiz isso. Eu fiquei. — Você era amiga de Kristen Maxwell? — Uri perguntou — A garota que se afogou no rio? Fiquei petrificada. Isso estava além do assustador. Mesmo que tivesse acabado de discursar sobre a morte de Kristen, aquilo pareceu errado. Muito, muito errado. Como se eles não devessem saber disso. — Por que vocês querem saber? — minha voz era quase um sussurro. — Ouvimos falar do que aconteceu. Só isso. — ele disse. De repente, um sentimento de despreocupação, de que tudo estava bem, tomou conta de mim. Tive a vontade quase insana de rir de tudo aquilo. Mas parecia... Forçado. Eu sabia que não deveria me sentir toda faceira. O que estava acontecendo? Tudo em que pude pensar para dizer foi: — Certo. Eu realmente tenho que ir. A gente se vê. Sentia um gosto engraçado na boca, e engoli com força. Alguém deveria estar queimando folhas ou algo parecido, porque podia senti o gosto em minha língua. — Tchau, Abbey. — Cacey disse em sua voz vibrante — Nos vemos mais tarde. As aranhas voltaram, e dançaram em dobro em minha espinha, e me afastei o mais rápido que pude.


JESSICA VERDAY

Capítulo Quatro NOVOS PLANOS

Daqui em diante o murmúrio baixo das vozes de seus pupilos... será ouvido em um dia sonolento de verão... – A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça

Eu queria visitar o cemitério no dia seguinte, mas tive que viajar para Hollow High para devolver meus livros da escola. Quando deixei a escola em fevereiro para ficar com tia Marjorie, todos os professores me deram tarefas para levar comigo, para que eu não tivesse que compensar tudo quando voltasse. Mas Ciências havia sido um problema. Tive muito trabalho para cumprir minhas tarefas, e não obtive muito boas notas. Meus pais haviam sido muito calmos, uma vez que eu passara por circunstâncias extenuantes e tudo, mas agora eu e o Sr. Knickerbocker teríamos que conversar. Eu não queria repetir Química no último ano. Era esquisito estar na escola sem alunos. O vazio pendia nos corredores. Fileiras de armários prateados permaneciam vazios e à espera da próxima leva de adolescentes que os chamariam de ‗lar‘ pelos próximos nove meses. O piso de madeira rangia sob meus pés, e olhei para baixo, percebendo que ele havia sido recentemente encerado e polido.


JESSICA VERDAY Erguendo minha mochila, caminhei para a secretaria. Era uma sala pequena, pintada em um acolhedor tom de baunilha, com um monte de fotografias nas paredes. A Sra. Frantz se sentava à mesa com um lápis preso atrás da orelha e óculos escorregando da ponta do nariz. Ela ergueu os olhos da tela do computador e me deu um sorriso fácil. — Olá, querida. O que posso fazer por você? Abri minha mochila e retirei uma pilha de livros. — Só preciso devolver esses livros. Os empilhei sobre a mesa, onde eles ocuparam quase toda a superfície. Ela me deu um olhar sarcástico e suspirou. — Eu cuido deles. Virei-me para sair. — Espere — ela disse — deixe-me preparar o comprovante de entrega. Ela abriu a gaveta da escrivaninha e remexeu ali por um minuto, então retirou uma folha de papel. Após recortar um lado da folha, ela rabiscou se nome e me entregou o papel. Enfiei o recibo em meu bolso traseiro. — Obrigada. A senhora sabe se o Sr. Knickerbocker ainda está aqui? — Hum-hum — ela já retornara ao trabalho no computador — Procure no ginásio. Às vezes ele ajuda a treinar a equipe de atletismo. Eles têm treino hoje. Deixando a secretaria para trás, me apressei em direção ao ginásio para encontrá-lo. Ao me aproximar, pude ouvir sons saindo pelas portas abertas. Pus a cabeça para dentro do ginásio e vi um grupo de garotos alongando as pernas em um canto. Cada um deles vestia roupas em azul e dourado com o logotipo do mascote Cavaleiro sem Cabeça estampado na lateral. Mas o Sr. Knickerbocker não estava ali.


JESSICA VERDAY Entrei assim mesmo, imaginando que poderia perguntar a algum dos atletas se eles sabiam onde encontrá-lo, e fiquei surpresa ao ver uma garota que reconheci da aula de Inglês. Ela estava separada do grupo principal, curvando-se para tocar os dedos dos pés. Seu longo cabelo castanho escuro estava preso em um rabo de cavalo, e sua pele macia brilhava como tivesse um bronzeado permanente. Esperei que ela percebesse minha presença, o que levou uns cinco segundos. — Abbey? Ela se ergueu e veio até mim. — Você está se juntando ao time de atletismo? — Eu? Não. Estou procurando pelo Sr. Knickerbocker. Você sabe onde ele está? Ela se inclinou em um alongamento lateral. — Não. Por quê? — Tenho que falar com ele. Meu cérebro trabalhava febrilmente para lembrar o nome dela. Beth. Era isso. Beth se virou e, com as mãos em concha ao redor da boca, chamou: — Lewis! Ei! Venha aqui! Um garoto alto de cabelo preto desgrenhado e com o maior sorriso que eu já vira deixou o grupo de alongamento de pernas e se aproximou de nós. — O que foi? — então ele se voltou para mim — Ei, eu pensava que você havia sido transferida ou algo parecido. Eu podia sentir meu rosto corar. — Você sabe onde está o Sr. Knickerbocker? — Beth perguntou — Ela está procurando por ele. — Em seu escritório — respondeu Lewis — Ou estava, há uns dez minutos.


JESSICA VERDAY — Certo obrigada. Vou para lá. — Ei, Abbey — Beth disse de repente — Estou feliz que você esteja de volta. — Eu também — eu disse — Vejo vocês em setembro. Encontrei o Sr. Knickerbocker em seu escritório, exatamente como Lewis dissera. Ele tinha duas pilhas bem organizada de papel à sua frente e as estava re arrumando metodicamente. Ele ergueu os olhos para mim quando limpei a garganta. — Abigail. Entre. Sente-se. — ele apontou para uma cadeira próxima à mesa, e eu sentei. — Como você está se... Sentindo? O Sr. Knickerbocker não estava vestido com sua usual camisa de poliéster e gravata horrível, ao invés, ele usava uma camiseta e jeans que o faziam parecer um completo estranho. Eu nem sabia que os professores tinham permissão de usar tais roupas. — Estou bem. Quer dizer, melhor. Sentindo-me melhor. Ele cruzou as mãos à sua frente e olhou para mim por trás das lentes de seus óculos com aro de tartaruga. — Estou certo de que você ouviu falar da feira de ciências. Seu parceiro, o Sr. Bennet, ficou em segundo lugar. — Sim, eu ouvi. Fiquei feliz por ele. Eu mexia o pé incessantemente contra a borda da cadeira. Como entrar no assunto? — Na verdade, estou feliz que você tenha vindo aqui hoje, Senhorita Browning — disse ele — Precisamos discutir suas notas em Química.


JESSICA VERDAY — Bem, hmm, veja, é por isso que estou aqui, Sr. Knickerbocker — disparei — sei que tive um momento difícil e queria saber se talvez eu pudesse fazer algum trabalho extra, ou algo parecido? Eu realmente não quero ter Química no próximo ano. Ao invés de responder, ele perguntou: — quais são suas metas para o futuro? Faculdade? Uma carreira? O que você quer fazer da vida? Pensei em dizer apenas que não sabia, ou ainda não tinha certeza, mas algo me fez ser sincera. — Sou uma perfumista. Eu crio perfumes, e quero ter meu próprio negócio e criá-los para as pessoas. Os olhos dele se iluminaram. — É mesmo? Que interessante. Então você deve ter um interesse particular em Química, e talvez em Botânica? Balancei a cabeça em concordância. — Certo. Gosto mais de experimentar do que de seguir uma receita ao pé da letra quando faço novos perfumes, mas a ciência é fascinante. — Sacudi a cabeça — Fascinante, mas totalmente irresistível. Eu tenho bastante dificuldade em compreender toda a mecânica por trás do processo. — Tudo o que você precisa é paciência e disposição para aprender, Srta. Browning eu descobri que o verdadeiro problema para a maioria dos alunos é que eles não estão dispostos a se aplicar. Você está disposta a se dedicar? Será que ele estava falando dos créditos extras agora? — Hmm, acho... Talvez. Tudo dependeria do quanto isso afetaria minhas férias de verão. Exalando ruidosamente, ele ajustou os óculos.


JESSICA VERDAY — Eu esperava que não chegássemos a esse ponto, porque você é a única aluna que precisa de atenção extra este ano, mas levando em conta suas aspirações profissionais, e sua... Ausência... Durante o ano letivo, não temos como evitar isso. Agora eu estava ficando nervosa. — Estou falando de curso de verão, Srta. Browning. O quê? Sem chance. — Mas, Sr. Nickerbocker… Eu não posso. Estou… — pense, pense, pense, Abbey. Ajudando os pobres? Saindo em uma viagem missionária? Servindo sopa aos sem-teto? — Com certeza deve haver outro jeito... — protestei — Curso de verão? Ele franziu a testa. — Eu também não estou feliz com a idéia. Você acha que eu quero passar meu único tempo livre aqui? Eu planejava passar o verão inteiro boiando em minha piscina, com um drinque na mão. Imagem mental: o Sr. Knicker em trajes de banho. ECA! — E se... Mas e quanto ao… Ben! — eu disse — Ben é muito bom com essas coisas. E se ele me der aulas particulares? E então no final do semestre eu posso fazer outra prova. Como uma prova final. Será que funcionaria? Ele olhou para mim. — Você acha que ele faria isso? Ben? Com certeza. — Sim. — Eu teria que fornecer algumas anotações, é claro, sobre o que deverá cair na prova — ponderou o Sr. Knickerbocker — assim saberei que você cobriu todas as matérias. Ele estendeu a mão para que eu a apertasse.


JESSICA VERDAY — Você terá que passar nesse exame, Srta. Browning. Se não, terei que reprová-la e você será obrigada há repetir o ano inteiro. Temos um acordo? Como se não houvesse certa pressão em seu tom. Mas pelo menos consegui escapar do curso de verão. Apertei a mão dele. — Temos. Cinco minutos mais tarde eu entrava no carro de minha mãe, tentando dizer a mim mesma que havia feito a coisa certa. Algumas aulas particulares com Ben eram infinitamente melhores que o curso de verão com o Sr. Knickerbocker. Agora tudo o que eu teria que fazer era convencer Ben a desistir de parte de suas férias... Assim que entrei em casa, fui para o meu quarto para ligar para ele. Disquei seu número, deixei tocar uma vez, e desliguei. Batendo de leve com o telefone contra minha testa, respirei fundo, e disquei novamente. E rapidamente desliguei outra vez. Joguei o telefone sobre a cama e comecei a andar de um lado para o outro. Era apenas uma pergunta. Um simples ―Você fará isso?‖. Ele não negaria. Ou negaria? Preparando-me, peguei o telefone novamente. Eu... Precisava de um lance primeiro. Fui para o andar de baixo e me dirigi à geladeira. Meu telefone tocou, e olhei para ele. O número de Ben aparecia no identificador de chamadas. Talvez eu devesse… Não, nada de pensar. Apenas fale. — Alô? — Oi, Abbey — ele disse — Você estava tentando ligar para mim? — Hmm, é. Desculpe, acho que a linha não está muito boa. A ligação caía sempre. Distraindo-me com a comida à minha frente, afastei uma garrafa de suco e peguei uma lata de refrigerante. — Tudo bem. O que houve?


JESSICA VERDAY Fui em direção ao armário e olhei para uma fila de pacotes de salgadinhos. — Eu queria pedir uma coisa, Ben. Fez silêncio, e eu puxei um pacote de palitinhos. O abri e rapidamente comi um, tentando pensar na melhor maneira de pedir aquele favor. — Você… quer comer uma pizza comigo no centro? Daqui a uma meia hora? — Claro. Você está em casa? Eu pego você. — Certo. Eu… vejo você em meia hora, então. Então eu era uma covarde. Mas eu vou pedir durante a pizza, jurei a mim mesma. Só esperava que sua resposta fosse sim. Na hora marcada, Ben encostou seu maltratado Jeep Cherokee, Candy Christine. Eu o havia provocado por causa desse nome na primeira vez em que ele o disse, mas agora o achava bonitinho. Ele buzinou uma vez, e entrei no carro com um tímido — Oi. — Não esqueça o macete. — me lembrou Ben. Sorri para ele. — Não vou. O cinto de segurança tinha que ser puxado até certo ponto e então travado. Assim que ouviu o clique, Ben pôs o carro em movimento e nos afastamos da calçada. Virando-me levemente para ele, eu o medi. Ele parecia... Diferente. Mais alto, talvez? Embora fosse difícil dizer estando ele sentado. E estava muito bronzeado. Ele obviamente passara muito tempo ao sol. Sua pele escurecida ressaltava os olhos castanhos. — Então… quais são seus planos para o verão? — céus, aquilo era chato demais, mas eu tinha que perguntar alguma coisa. Se eu continuasse a encará-lo por mais tempo, ele podia ter uma idéia errada.


JESSICA VERDAY — Ainda trabalho no Horseman‘s Haunt. Mas também vou ajudar meu pai. Ele teve essa grande ideia de plantar árvores para o Natal do ano que vem, e estou preso ao trabalho escravo. — ele sorriu, mostrando seus dentes brancos e brilhantes. Uma faísca de consciência percorreu meu corpo. Eu não me lembrava de ele ser tão bonito. Descemos a Rua Principal, e ele manobrou para estacionar próximo a um parquímetro em frente à Pizzaria do Tony. Quando saímos do carro, ele pescou do bolso uma porção de moedas e as colocou no parquímetro. — Pronta? — Pronta. O próprio Tony nos saudou quando entramos, e fomos para uma mesa ao fundo. A mesa de plástica laranja já vira dias melhores, e o banco de madeira artificial rangeu quando nos sentamos. — O que você vai querer? — perguntou Ben — algumas fatias, ou uma pizza inteira? — Estou com fome. Uma pizza inteira parece boa para mim — Deixe-me adivinhar, você é o tipo de garota que gosta de pepperoni. Neguei com a cabeça. — Eu gosto da minha completa. — Sério? — É. Ele pareceu não acreditar em mim. — Você acha que eu não dou conta? — ergui uma sobrancelha.


JESSICA VERDAY Ele riu. — Não, não. Eu gosto completa, também. É o que vamos comer. Ele foi fazer o pedido, e eu peguei uma garrafa de refrigerante de um refrigerador próximo. — O que você quer beber? — perguntei a ele. — O mesmo que você. Peguei outro refrigerante, abri o meu e esperei que Ben retornasse. Ele se sentou um segundo depois. — A pizza está a caminho. Grande, com acompanhamentos. Assenti e dei um gole na minha bebida. Agora que estávamos ali, eu estava perdendo a coragem outra vez. — Então — disse ele, abrindo seu refrigerante — quais são os seus planos para o verão? — Não sei. Como demorou muito para eu me recuperar da... Mono, não tenho certeza do que vou fazer. Certo, aquilo não era tecnicamente verdade. Eu sabia de uma coisa que eu faria se Ben concordasse. — Vai trabalhar na sorveteria do seu tio outra vez? Dei de ombros. — Não sei. Ainda não falei com ele sobre isso. — Será que não vai ter... Problema? Alguém não vai ficar doente se você ainda não estiver curada? Quase espirrei refrigerante pelo nariz.


JESSICA VERDAY — Não, não — gaguejei, procurando por um guardanapo — o médico me liberou. Estou... Bem. — Oh, legal — disse ele — Isso é bom. — Ei, eu não o vi na ponte. Resolvi mudar de assunto. Muita conversa sobre mono e eu poderia estragar tudo. — Pois é. Desculpe-me por isso. Chamaram-me do trabalho. Tentei escapar… Tony apareceu trazendo nossa pizza e o interrompeu, colocando a bandeja redonda de alumínio à nossa frente. — Grande, com acompanhamentos! Comam logo, okay? — Parece ótima, Tony — Ben falou. Ele fez deslizar uma fatia fumegante para um prato de papel e o estendeu para mim, e fez o mesmo para si. Minha fatia ainda estava muito quente para comer, mas Ben parecia não ver problema. — Então, como foi? — perguntou. — Foi tudo bem. O prefeito falou um pouco, eu falei um pouco, e então fomos embora. — Queria poder estar lá — disse ele, suavemente. Ele tirou uma casquinha de sua pizza e comeu o restante em duas mordidas. — Fiquei triste porque você não estava lá para segurar o cartaz com a minha deixa, conforme prometeu — eu o provoquei — Mas, hmm, existe algo que você pode fazer para me ajudar. Baixei o olhar e despejei o resto: — Eu talvez tenha que fazer o curso de verão, mas convenci o Sr. Knickerbocker a me liberar se você me der aulas particulares para eu passar em uma prova no fim do verão.


JESSICA VERDAY Ben estendeu a mão para pegar outra fatia. — O quê? Isso foi uma rajada louca de — Abbeynês. — Você tem que fazer o curso de verão? Assenti. — Porque não passei em Química. — Mas você convenceu o Sr. Knickerbocker do contrário? — Ele disse que se você concordar em me dar aulas durante o verão, eu posso fazer somente uma prova no fim do verão. — Olhei para ele — Sei que é pedir muito, Ben, já que você vai ter dois empregos e tudo. Mas eu realmente preciso de ajuda. — Bem, eu sou bom em ciências. — falou devagar, e eu sorri para ele. — Isso quer dizer que você vai me ajudar? O Sr. Knicekerbocker vai lhe entregar anotações e tudo o mais. Ele fez uma pausa, como se tivesse que pensar sobre aquilo. — Com certeza, vou ajudá-la. Eu quase saltei e o abracei ali mesmo. — Mesmo? Mesmo? Mesmo? Sério, eu não tenho idéia de como recompensá-lo. Os olhos dele brilharam maliciosamente, e ele deu um sorriso perverso. — Tenho certeza de que vou pensar em alguma coisa. Parei a meio caminho de pegar uma fatia de pizza, e dei uma suspiro zombeteiro. — Eu sei. É disso que tenho medo.


JESSICA VERDAY

Capítulo Cinco ASSOMBRADA

Uma influência sonolenta, como de sonho, parece pairar sobre a terra, e permear a própria atmosfera. – A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça

Eu não sabia o que havia me despertado, mas num minuto eu dormia pacifícamente, e no outro eu jazia ali, olhando para a parede escura. Me virando de costas, joguei as cobertas para o lado e cobri os olhos com o braço. Tudo o que eu queria era voltar a dormir. Por que eu estava acordada? Fechei os olhos e tentei relaxar. Forçando cada músculo do meu corpo a ficar parado, inspirei e expirei profundamente. Mas sentia um desconforto no pescoço, e sabia que não conseguiria ficar daquele jeito. Dobrei o travesseiro e senti o lado macio e fresco da fronha que estivera em contato com o lençol. Era celestial, e enterrei meu rosto nela. O perfume de roupa lavada permanecia ali, e o cheiro estava quase me fazendo sentir sonolenta outra vez. Agarrei meu segundo travesseiro para fazer o mesmo com ele, mas parte dele estava preso entre o colchão e a cabeceira da cama. Tive que puxar forte. Ele se soltou, e eu deslizei uma das mãos para dobrá-lo também. Havia alguma coisa fria e dura ali. Meus dedos seguraram o pequeno quadrado, e minha mente recuou com o reconhecimento do que era


JESSICA VERDAY aquilo. Um dos colares que Caspian fizera para mim. Quase compulsivamente, afaguei as placas macias de vidro e encontrei a fita de seda negra presa a elas. O puxei para fora e o segurei na palma da mão, o horror tomando conta de mim. Como isso pode ser real? Ele não era real. Isso não faz o menor sentido. Uma vontade espantosa veio em seguida e sussurrou em meu ouvido "Ponha-o…" minha mão tremeu levemente com a força de vontade que foi necessária para não ouvir. Eu não sabia como o colar fora parar ali, mas deveria haver outra explicação. O segurei contra minha face. O vidro era suave e gentil. Como o beijo de um amante moribundo. Atirei-o ao chão. Estava me deixando louca. Esses pensamentos e sentimentos eram irracionais. O que eu estava fazendo? Aquilo estava me assombrando. Enroscando-me sobe as cobertas, fechei os olhos bem apertado. Durma. Durma. Tudo estará melhor pela manhã. Eu só precisava dormir. Minha cabeça se aninhou no travesseiro e eu deslizei para um sonho. O vento jogava meu cabelo sobre meu rosto, e eu ria alto enquanto tentava afastar os cachos negros. O rádio explodia em um ritmo ensurdecedor das batidas de um baixo acorde de guitarra enquanto corríamos pela estrada. De olhos fechados, inclinei a cabeça para trás e senti as vibrações correndo por meu corpo inteiro. Meus dedos se encolheram dentro das botas e se arrepiaram de prazer. Abrindo os braços, senti a brisa. Não haviam barreiras entre eu e o céu. Éramos um. Um grito de pura alegria escapou de meus lábios, e me senti leve como o ar. Eu poderia flutuar para fora do carro a qualquer momento, se assim o quisesse. A música era única coisa que me prendia ali. A única coisa prendendo minha alma. Uma mão segurou a minha. Nossos dedos se pegaram e se entrelaçaram. Virei a cabeça e segurei aquela mão perto de meu rosto. Quando meus olhos se abriram, não foi surpresa registrar a visão de olhos castanhos. Cabelos castanhos encaracolados. Nenhuma surpresa… e nenhum calor também.


JESSICA VERDAY Ben sorriu para mim, e a música selvagem falhou. Somente por um segundo, mas aconteceu. — Vamos dar uma parada, amor — ele falou. Fiz que sim. A música continuava a tocar. Uma canção diferente agora, mas com a mesma urgência por trás dela. O carro diminuiu a velocidade e parou. Olhei ao redor, surpresa em ver que não estávamos mais no Jeep verde de Ben, mas em um carro esporte vermelho. O cenário em torno de nós estremeceu e mudou de um deserto alaranjado sem fim para uma lanchonete ao estilo dos anos cinqüenta. Estávamos em seu interior e reparei na decoração. Cardápios com capas cobertas de plástico, com suas bordas engorduradas e salpicadas de migalhas secas de comida descansavam em mesas cobertas de vinil vermelho. O piso era forrado com linóleo xadrez branco e preto com as beiradas descascadas. Uma jukebox3 estava ligada, e a canção ―I only have eyes for you‖4 ecoava pelo pequeno salão. Ben segurou minha mão outra vez e abriu, coma palma voltada para cima. Ele começou a acompanhar seus traços com os dedos, seguindo as linhas que se entrecruzavam. Uma sensação de déjà vu tomou conta de mim, e meu estomago deu um nó e foi parar no chão. Puxei a mão. Eu deveria lhe dizer para não... para não... alguma coisa. Eu tinha que dizer alguma coisa. Mas ele sorriu para mim e todas as minhas dúvidas desapareceram. — Você quer dançar? É claro. Isso era felicidade. Era divertido... certo? Ele me puxou para perto, e de repente a música ficou mais alta, nos envolvendo completamente. Olhei ao redor e notei que a lanchonete estava vazia. Sem garçonetes, empregados, nem mesmo outros clientes.

3

Máquina de tocar música acionada por moedas

4

Só tenho olhos para você


JESSICA VERDAY Ele nos guiou para um canto. Escondido do caixa, do balcão, e até mesmo da cozinha, estava nosso palco particular. A música nos invadia, nos envolvendo e preenchendo meus ouvidos. Minha cabeça doía com aquele som. Vezes sem conta, a música tocava. Ben me fez girar uma vez e eu fui parar encostada à parede. Tonta e sem fôlego. Ele chegou mais perto. — Você é tão linda, Abbey. Eu já lhe disse isso? Não sei... Aquelas palavras levaram um arrepio por minha espinha abaixo, e fechei os olhos. Era por esse sentimento que eu estava esperando? Seus pés encostaram nos meus quando ele aproximou uma perna. Pressionei minas costas contra a parede e arquei a coluna. Não sei por que fiz isso, mas era bom... certo. Ele aceitou meu convite silencioso e veio diretamente para mim. Corei quando olhei para baixo e percebi que tinha a perna dele entre as minhas. Comecei a me afastar… — Não — ele sussurrou, pegando minhas mãos e as prendendo na parede, uma de cada lado. — Fique... Eu estava impotente em seu abraço. Não me sentia impotente, apesar de ele me manter no lugar. Se curvando, ele começou a beijar meu pescoço, e meus joelhos amoleceram. — Abbey, Abbey... — ele disse. A música aumentou e então se reduziu a um zumbido baixo. Era como se houvesse uma trilha sonora tocando diretamente em meu cérebro. O ciclo se repetia várias vezes sem conta: ―Só tenho olhos... para você…para você... para você ...‖ Seus murmúrios se fundiam aos meus, e fechei os olhos outra vez, sentindo meu coração bater no mesmo ritmo de suas palavras. — Abbey... Abbey... Abbey… "Astrid". Meus olhos se abriram subitamente, e permaneci desesperadamente imóvel. O que ele disse? Do que me chamou? Ben deve ter sentido a rigidez de meu corpo, porque ergueu sua cabeça também.


JESSICA VERDAY — O que você... — umedeci os lábios que ficaram instantaneamente secos — disse? — Abbey — ele replicou, claramente confuso — Eu chamei você de Abbey. Mantive seu olhar preso ao meu e busquei em seus olhos por alguma coisa... qualquer coisa. Ele sorriu novamente para mim e se inclinou até que seus lábios estivessem a milímetros dos meus. — Você prefere Deusa? Luz da minha vida? Tudo o que eu desejo? Eu a chamarei com prazer de todas essas coisas. Aquele arrepio voltou. Isso era o que eu queria. Era real eu queria… a ele. Escorreguei as mãos de sob as dele e as coloquei em volta de seu pescoço. — Gosto de Deusa. — sussurrei de volta. Ele sorriu, um sorriso muito sexy. — Então será Deusa. — E então seus olhos se tornaram verdes. Bati contra a parede ao me afastar dele. O horror abriu seu caminho a partir de meu estômago e se alojou em minha garganta. Olhos castanhos me observavam com preocupação. — Abbey, o que... — Por que você fez isso? — guinchei. — Fiz o quê? — ele perguntou. Mudar seus olhos para verde, minha mente gritou. Você mudou seus olhos! Mas ao fui capaz de forçar as palavras a passarem pelo nó em minha garganta


JESSICA VERDAY Examinei cada centímetro de seu rosto. Era o rosto dele. Não o de Caspian. Éramos apenas eu e Ben. Aqui. Juntos. Eu não queria isso? Isso era normal. Eu estava sendo normal. Me aproximei um passo e o abracei outra vez. — Esqueça. — sussurrei em seu ouvido — Uma lembrança ruim. Agora, onde estávamos? Estendendo as mãos, corri meus dedos pelo cabelo dele. Mas ao invés de encaracolado, era longo e liso. Ele brilhava diante de mim. Mudando do castanho escuro para aquele chocante louro pálido. Gemi por causa da confusão e frustração que tudo aquilo me causava, e Ben gemeu em resposta. Então aprofundou o beijo. Eu estava congelada no lugar quando seus olhos mudaram outra vez. Olhos verdes, cabelo louro. Um fio preto apareceu, e meu estômago afundou. Minha pressão arterial subiu. Eu estava com calor, dolorida e febril. Caspian. Ele era o que eu queria. Perdi o controle. Apenas por um Segundo, mas eu queria senti-lo. Sentir o gosto dele. Esmaguei minha boca na dele e provoquei a borda de seus lábios com minha língua. Instantaneamente ele me concedeu acesso. Meu cérebro explodiu com o prazer. Não havia como confundir. Esse era o alívio que eu buscava tão desesperadamente. Meus olhos se abriam e fechavam enquanto Caspian aparecia e desaparecia. Olhos castanhos, cabelos castanho. Ben… Olhos verdes. Cabelo louro. Caspian… Verde… castanho… Caí em mim. Isso era errado? Usar Ben desse jeito? Sim. Eu sabia que a resposta para essa pergunta era cem vezes sim.


JESSICA VERDAY Afastando-me, dessa vez em definitivo, saí de seus braços e fui para longe da parede. — Não posso... me desculpe. E então eu estava correndo. Para fora da lanchonete, para o carro. Pulei para o banco do carona e pus a cabeça entre os joelhos. Eu estava enlouquecendo... outra vez. Ben irrompeu da lanchonete e chamou meu nome. Ergui a cabeça e levantei a mão — para lhe pedir que se aproximasse ou para avisá-lo para ficar longe, eu não sabia. Mas subitamente o carro estava em movimento. Caspian estava sentado no banco do motorista. Olhei duas vezes para ter certeza de que não era Ben outra vez fazendo aquele truque, mas Ben ainda estava perto da lanchonete. Nos afastamos da entrada para carros, espalhando cascalhos enquanto o fazíamos, e notei que minha mão ainda estava erguida. Agora ela recebia o vento novamente... — O que está acontecendo? — falei, a voz sufocada. Minha garganta estava seca e áspera. — Por que isto está acontecendo comigo? Caspian não respondeu, em vez disso, ligou o rádio. Um violino chorava de tristeza. ―você não sabe, meu amor?‖ Uma voz feminina cantava, macia e cheia de emoção. ―Você morreria, meu amor? Estou esperando, esperando por você. Estas cinzas se tornaram ossos. Esperando, esperando por você. Esperando… esperando por você.‖ Quando o violino ecoou as últimas palavras da cantora, Caspian voltou seu olhar para o meu e olhou diretamente em meus olhos. — Estou esperando, esperando por você. Sentei-me ereta, o peito arfando, a respiração difícil. Afastando pesados punhados de cabelo úmido de meu rosto, tentei desacelerar tudo. Meu pulso estava acelerado e eu sentia como se estivesse com febre. Então tive um pensamento louco.


JESSICA VERDAY Joguei as pernas para for a da cama, fui até o banheiro e acendi a luz. É claro que meu cabelo não estava agitado pelo vento. Meus lábios não estavam inchados e com a aparência de que haviam acabado de ser beijados. Mas meus olhos estavam bem abertos, e minhas bochechas estavam pálidas. Belisquei-as para dar alguma cor e Me inclinei sobre a pia, repassando aquele sonho louco. Estaria eu tendo outro colapso? Ou era meu subconsciente tentando me dizer algo? Fiquei ali parada por mais um minuto e então voltei para o quarto. Mas um olhar para meus lençóis amarfanhados me fez perceber que eu não seria capaz de dormir novamente em um futuro próximo. Meu pé se chocou com o colar no chão, mas eu o chutei para baixo da cama. No que me dizia respeito, ele não existia. Acendi a luz da escrivaninha e me dirigi ao meu novo armário de perfumes. Abrindo a gaveta da escrivaninha, tirei de lá uma caneta, uma tesoura e alguns papeis sem uso que pareciam velhos pergaminhos. Então abri minha maleta de suprimentos. Começando pela fileira do fundo, fiz um rótulo para cada pequeno vidro a fim de que ele tivesse sua própria gaveta no armário. Enquanto copiava os nomes, a assombrosa melodia de um violino ecoava em meus ouvidos, e comecei a pensar nas amostras de notas de um perfume que combinasse com a melodia. Lavanda. Madressilva. Jasmim. Violetas selvagens. Algo com apenas um toque de saudade e mágoa. Velhas rosas sobre o túmulo de um amante. Um cravo pressionado entre as páginas de um programa de baile. Hálito de bebê rapidamente descartado com o buquê de papel cera verde... Anotando possíveis fórmulas num pedaço de papel pergaminho, pensei em um nome perfeito para essa nova fragrância. Eu a chamaria de Cinzas Transformadas em Osso. Mais tarde naquela manhã, enchi minha tigela de cereal e bebi um grande copo de suco juntamente com uma xícara de chá. Eu não voltara para a cama desde o sonho, mas me sentia estranhamente eufórica apesar de minha exaustão. Meus dedos coçavam para retornar para meus perfumes no andar de cima. Mamãe entrou na cozinha e fez uma parada na cafeteria antes de se sentar perto de mim. — Está com fome?


JESSICA VERDAY Sorri para ela. — Estou trabalhando em um novo perfume. Ela sorriu de volta, um sorriso genuinamente feliz, e pude ver em seus olhos o alívio por eu estar trabalhando com meus perfumes outra vez. — Qual a inspiração? Cinzas, ossos, música assombrosa, amor perdido. Provavelmente não era a resposta que ela buscava. — Violinos. — mordi um pedaço de torrada e mastiguei ruidosamente. — Oh, entendo. Cordas, madeira antiga e lustra móveis? — Certo. Hmm… na verdade, agora que pensava nisso, aquela não era uma combinação ruim. Eu deveria fazer aquele perfume também. — Ei, adivinhe — eu disse, me lembrando de repente de minha recente conversa com o Sr. Knickerbocker. — se lembra de que tive que devolver meus livros da escola? Mamãe assentiu. — Enquanto estava lá, conversei com o Sr. Kickerbocker sobre o que eu poderia fazer para melhorar minhas notas em Química. Agora ela parecia intrigada. — Meu amigo Ben, aquele que era meu parceiro na feira de ciências que é super inteligente, se ofereceu para me dar aulas particulares. Então eu farei uma prova no fim do verão, e isso deve ajudar a aumentar minha média. Deixei de fora toda a conversa de dependem-desse-teste.

á-propósito-minhas-notas-do-ano-inteiro-


JESSICA VERDAY — Então será apenas você e Ben? — mamãe perguntou — Onde essas aulas particulares acontecerão? Eu não havia pensado nisso. — Hmm, aqui, eu acho. Talvez fosse mais facíl. Sua expressão se tronou desaprovadora. — E com que freqüência? — Umas duas vezes por semana? Pensei que ela ficaria feliz com a notícia, mas ela parecia decididamente insatisfeita. Hora de algum controle de danos. — Foi realmente gentil da parte de Ben dizer que me daria aulas particulares. Ela já tem um emprego no Horseman‘s Haunt, e ainda vai ajudar o pai com algum trabalho na fazenda. Ela pareceu impressionada. — Ele era um rapaz muito educado quando seu pai e eu o conhecemos. — Então ela assentiu — E você já tem quase dezessete anos. Dificilmente precisará de uma babá. Sorri para mim mesma. Eu era boa.


JESSICA VERDAY

Capítulo Seis Ele era uma espécie de criatura agradecida ... quem é espirito se levantou para comer ... – A lenda de Sleepy Hollow

Quando Ben chegou três dias depois para nossa primeira sessão de ciências, seus braços estavam carregados de jornais. Ele me cumprimentou e entrou na sala de estár. — Ei ... Ben — eu disse. Infelizmente, todas as partes sexys do meu sonho recente escolhem aquele momento para vir à tona nos mínimos detalhes, e meu rosto queimou. — Pronta para começar? — Perguntou. Foi apenas um sonho, apenas um sonho estúpido. — Sim, claro. O que é tudo isso? Ele olhou para baixo. — Eu trouxe algumas das minhas antigas anotações para que você possa se informar mais. — Soltando a pilha no chão, ele se sentou e ergueu um dedo em uma imitação morta do Sr. Knickerbocker. — É hora de ciências. Sente-se, Miss Browning. Eu revirei meus olhos, mas fiz como ele instruiu. Serpenteando uma mão para a frente, eu peguei um livro de composição que estava em cima da pilha. As páginas internas foram cobertas com sua caligrafia. Eu gemi. Temos que olhar tudo isso? — Sim. Está dividido em diferentes seções. — Ele pegou o livro das minhas mãos e começou a ler. — Ácidos dês de sua base química, os elementos, a estrutura atômica básica, a teoria quântica, CHNOPS...


JESSICA VERDAY — CHNOPS? O que é isso? — Os seis elementos que compõem toda a matéria viva. Carbono, hidrogênio, nitrogênio, oxigênio, fósforo e enxofre. CHNOPS é um acrônimo. Eu enterrei meu rosto em minhas mãos. Ele estava falando grego. — Por que não podemos simplesmente fazer algo simples, como fazer uma réplica de LEGO do sistema solar ou algo assim? Deus, eu odeio química. Ben sorriu e começou a fazer aquela coisa de pulos excitados que tinha feito uma vez antes na biblioteca quando estávamos pesquisando projetos para a feira de ciências. — Você sabe, na sexta série eu fiz um daqueles de almôndegas. Foi ótimo. Todo o sistema solar era comestível. O olhar no rosto de Ben era tão ridículo que eu tive que rir. Ele estava muito satisfeito consigo mesmo. — Por que não me surpreende? — Me levantei. — Antes de começarmos, eu quero lhe mostrar uma coisa. Venha aqui. Ele me seguiu até a cozinha. — Pense nisso como meu jeito de lhe pagar de volta. — Deixando aberto um dos armários em cima da pia, eu revelei que estava recheado com Doritos, rodas de queijo, biscoitos, pipoca de microondas, e uma dúzia de outros snacks5. — Eis o Gabinete de Ben. Seus olhos cresceram ficando enormes — Eu acho que eu te amo. São aqueles Funyuns6? — Ele pegou um saco amarelo e verde. — Estes são os salgadinhos dos deuses. — Eles são todos seus. Eu odeio Funyuns. Voltamos para a sala e me sentei no chão ao lado dos papéis. Ben colocou o saco de Funyuns entre nós e o abriu. Ele pegou um punhado e começou a mastigar ruidosamente. — Eu gostaria que Kristen estivesse aqui — eu disse. — Ela era muito melhor em ciências do que eu. Ben parou de comer e olhou para cima. Pensei por um momento que ele ia dizer alguma 5

Aqueles biscoitos amarelos tipo cheetos

6

Igual aos snacks mais só que é de cebola


JESSICA VERDAY coisa sobre como ele perdeu Kristen também, mas então ele disse: — Você se lembra quando tínhamos que debater sobre evolução versus criacionismo na biologia? Você estava nessa aula comigo e Kristen, certo? É claro que me lembrei daquele dia. Eu não poderia esquecê-lo. Dois botões no topo da minha camisa tinham pulado para fora, quando eu estava me preparando para discutir o meu lado do debate. Felizmente, graças à Kristen em pé na minha frente e, literalmente, cobrindo para mim ninguém mais viu. — Sim, eu estava — eu disse. — Kristen foi incrível. Eu nunca vi alguém pensar tão rápido. — Ela era muito boa nisso — acrescentou. — Quando ela mudou para a minha equipe e só tinha uns cinco minutos para se preparar, ela tinha uma lista de pontos já preparados. Mesmo que ela deveria estar debatendo contra o criacionismo, ela tinha feito argumentos para ambos os lados. Eu sorri para ele. — Isso era Kris. Sempre preparada. — Ela já lhe disse, que a única razão para que eu tivesse tantos pontos foi porque ela me deixou ter a maioria dos argumentos sua lista? — Não. — Mesmo eu podia ouvir a surpresa na minha voz. — Ela nunca me disse isso. — Yup. Ela disse que desde que eu era o capitão, suas respostas estavam lá para beneficiar toda a equipe, e eu era o "líder do barco." Eu nunca vou esquecer essa frase. Eu sempre pensei que isso era engraçado. Liderar o barco... Seus olhos ganharam um olhar distante. — Depois disso, eu soube que ela não era apenas alguma cabeça de vento que confiava em sua aparência, ou que copiava a lição de casa de outra pessoa na manhã da aula, para sobreviver. Ela realmente levava isso a sério, sabe? Olhei para o chão e puxei uma fibra do tapete solto. Eu era culpada por copiar a lição de casa de Kristen na sala de aula em mais de uma ocasião. — E quando ela finalmente fez um argumento — ele continuou — cara, isso apenas me surpreendeu. Ela disse algo sobre fé versus ciência, que até mesmo os cientistas tinham que ter fé de vez em quando.


JESSICA VERDAY Eu sorri e ficamos sentados em silêncio por um tempo. Por fim, Ben limpou a garganta. — Ok, vamos realmente começar ainda hoje. — Eu concordei e, em seguida, começamos a trabalhar. A próxima vez que Ben voltou passamos duas horas fazendo diagramas de átomos, prótons e nêutrons, e parecia que meu cérebro ia começar a derreter. — Eu não posso fazer isso — eu disse. — Quer fazer uma pausa? — Sim — respondi ansiosamente. — Vamos sair da casa. Deixamos tudo onde estava e caminhamos na direção do centro da cidade. Eu guiei ele até o final do quarteirão, onde a frente da minha loja estava esperando, e passamos por uma loja de antiguidades ao longo do caminho. Ben olhou para a janela e então se virou para mim. — Se você entrar lá, não compre a urna gigante azul. Okay. Embora eu não estivesse pensando em comprar uma urna a qualquer hora em breve... — Por que não? — Porque eu fui lá uma vez com minha mãe, e eu tinha acabado de comer este cachorro quente de milho apimentado na frente da rua Fair. Deve ter sido mal cozido, ou estava muito calor, ou algo assim ... Assim que ele disse as palavras "deve ter sido mal cozido" , eu percebi que não queria ouvir o final desta história. — Mas eu sabia que ia vomitar, e a única coisa em torno era a urna. — Ninguém viu, então eu só coloquei a tampa novamente e não disse nada. Eu balancei minha cabeça, sentindo um pouco enjoada. — Isso não está certo. Isso não está nada certo, Ben. Então veio a minha loja, e eu apontei para a janela de vidro, feliz por ter algo mais para falar a respeito. — Olha lá. Não é lindo?


JESSICA VERDAY Eu pressionei meu rosto contra o vidro e as minhas mãos em concha em torno de meus olhos para bloquear o brilho do sol. Parecia... diferente. — Este lugar parece limpo para você? Você acha que eles vão limpar? Eu perguntei a ele. Ele andou ao meu lado e olhou para dentro — Umm, meio que parece velho e ruim para mim. Dando um passo atrás, tentei olha-la como ele olhava. Sim, o vidro estava quebrado. E havia teias de aranha em um canto da sala. Além disso, várias lâmpadas precisavam ser substituidas. Mas a janela estava realmente limpa, não suja como da última vez que estive aqui, durante o Natal. O piso parecia recém limpo e polido demais. Alguns frascos de spray e trapos estavam colocados perto da porta dos fundos. Eu apontei um dedo em sua direção. — Olha, ali! — Eu disse. — Alguém está definitivamente limpando. De repente, algo se moveu dentro da loja. — Você viu isso? — Eu perguntei. Ben assentiu, e nós dois chegamos mais perto, tentando descobrir o que era. A figura se moveu para dentro e fora da luz, e depois desapareceu em um quarto. — Vamos. — Eu sinalizei para Ben me seguir. — O quê? O que é, Abbey? Por que importa quem seja? — Porque esta é a minha loja! Quer dizer, a loja que eu vou abrir um dia para o meu negócio de perfume. E eu quero ter certeza de que ninguém a está alugando. Ele me seguiu relutantemente para o beco. A porta estava travada aberta com um engradado de plástico, e eu pisei até olhar para dentro da loja. — Olá Eu fui cortada quando uma grande pessoa veio atropelando fora da loja e quase colidiu comigo. Ele estava segurando uma pilha de caixas. — Desculpe — eu disse, pulando para fora do caminho. Ele pulou também, mas conseguiu segurar as caixas.


JESSICA VERDAY — Oh, meu Deus. Eu nem sequer a vi aí. Apenas me deixe colocar isso no chão. O homem colocou as caixas perto da parede e depois voltou para mim. — Agora, o que posso fazer por você, Senhorita? Ele tirou o alto chapéu preto que usava, e se curvou. A jaqueta curta vermelha esticada sobre os ombros, e notei que sua calça preta era estranhamente brilhante. Ele parecia como uma espécie de apresentador de um circo. — Eu percebi que alguém estava limpando a loja, e eu perguntei se iria ser ocupado. Eu simplesmente adoro as lojas do centro. — Eu ampliei meu sorriso e olhei para ele. O homem riu. — Ela ainda está vaga por enquanto. Eu estava apenas a embelezando um pouco. — Você precisa de alguma ajuda com isso? — Eu coloquei minha voz Eu-sou-umaadolescente-muito-educada. — Você não é uma graça — ele disse. — Obrigado pela sua oferta, mas eu acredito que posso administrar isso. — Você é dono desta loja? — Oh, é meu. — Ele me deu um sorriso calculista, revelando um grande conjunto de dentes brancos. — Adorável — eu disse. — Então, já que estará disponível por um tempo, você estaria disposto a oferecer um desconto para a próxima pessoa que alugar? — Eu pensei que ouvi Ben bufar, mas eu ignorei. — Bem, eu não posso prometer nada, já que certos termos teriam que ser discutidos. Mas eu sou um senhor generoso. — Eu vou estar formada em breve, assim você poderá ouvir de mim se os termos são aceitáveis. — Você é uma coisinha inteligente — ele disse. — Eu acho que eu gosto de você. — Colocando a mão no bolso de trás, ele tirou um cartão de visita e me entregou com uma


JESSICA VERDAY piscadela. — Aqui está meu cartão. Eu aceitei e olhei para baixo. — Obrigada, senhor. — Milcom — ele forneceu. — Prazer em conhecê-lo, Mr. Milcom. Sou Abbey Browning. — Eu estiquei a mão, e nós balançamos. — Boa sorte com sua loja. — Me virei para Ben, que tinha ficado surpreendentemente tranquilo o tempo todo. — Pronto para ir? Ele balançou a cabeça. Uma vez que estávamos fora de vista da entrada dos fundos, Ben se inclinou para mim e falou lentamente: — Você é uma beldade não é. — Oh, por favor. Eu estava apenas sendo gentil. Ben zombou. — Você estava totalmente falando doce com ele! Eu estava esperando que você batesse seus cílios. — Isso chamo de usar o charme que Deus lhe deu, Ben. Você nunca viu o Vento Levou? Ele apenas balançou a cabeça para mim. — Filme para garotas.— Então ele congelou a meio passo. — Espere um minuto. — O quê? Ele se inclinou e inspecionou meu cabelo. — Um pouco de palha do celeiro preso exatamente aí — ele disse, arrancando um fiapo imaginário. Eu não poderia segurar o riso que borbulhava dentro de mim. — Você? É um idiota.


JESSICA VERDAY

Capítulo Sete UMA VERGONHA

Todavia totalmente acordados que eles pudessem ter sido antes de entrar naquela região sonolenta, eles com certeza, em pouco tempo, vão inalar a influência das bruxas do ar... – A Lenda de Sleepy Hollow

Eu sentei grogue enquanto a mamãe batia na porta, e então olhei para o relógio. 09h34min da manhã. — Você sabe que nessas horas, há dezessete anos no dia primeiro de junho, você chegou depois de um parto de quatorze horas? — ela disse. Resmungando, eu puxei as cobertas para cima da minha cabeça. Eu tinha esquecido totalmente que dia era. — Não a história do parto de quatorze horas, mãe. Ela se sentou na cama, e eu tirei minha cabeça para fora. Em suas mãos estava uma bandeja que continha pratos de torradas, panquecas com gotas de chocolate, um waffle belga, e uma pequena tigela de uvas. Ela a colocou na manta de lã ao meu lado. — Feliz aniversário, querida. — Ela beijou minha bochecha antes de olhar animada nos meus olhos. — Minha bebezinha. Tão crescida.


JESSICA VERDAY — Mãe, por favor. — Eu sentei e mergulhei no waffle, demorando um momento para espalhar um pouco das uvas no topo primeiro. — Eu sei, eu sei. Desculpa. O que você quer fazer hoje? Eu pensei sobre isso por um minuto, então disse — Manicure, pedicure, almoço no Callenini, e então uma ida até a loja de suprimentos perto da cabana, A Thyme e Reason. — Parece bom — ela disse. — Termine o seu café da manhã, se vista, nós vamos pegar a estrada. Eu engoli e então perguntei — Você e o papai vão fazer um jantar de aniversário para mim esta noite? — Este era o costume habitual da mamãe, antes de tudo o que aconteceu com a Kristen. — Claro que nós vamos. — Nada muito exagerado, mãe — eu implorei. — Por favoooor? — E aqui estava eu ansiosa por fazer uma apresentação de slides e uma banda. Eu cortei um pedaço pequeno da panqueca e acenei para ela. — Obrigada, mãe. Agora vá, para que eu possa comer em paz.

Três horas depois, mamãe e eu havíamos acabado de pintar as unhas das mãos e dos pés (sua cor: Linda de Rosa, a minha: Vermelho Balanço), nossos estômagos estavam cheios de deliciosas comidas italianas, e nós estávamos a caminho do A Thyme and Reason. — Eu não posso acreditar que faz tanto tempo desde a última vez que paramos aqui — eu disse. — Tempo demais. — Foi ano passado, certo? — mamãe perguntou. — Sim. Você queria que eu fizesse um perfume natalino para você. Mamãe sorriu. — Ahhh, eu amei aquele. Você capturou as essências do inverno perfeitamente. Você é uma perfumista tão boa, Abbey. — Você só está dizendo isso porque é o meu aniversário.


JESSICA VERDAY Mantendo uma mão no volante, ela se virou e me ofereceu um olhar sério. — Não. Eu não estou somente dizendo isso. Os seus perfumes são incríveis. Eu sei que eu não te digo isso freqüentemente, mas você me deixa orgulhosa. — Ela troca de pista. — E eu estou feliz que você já decidiu o que você quer fazer com a sua vida. Apesar de que eu espero que você repense sobre todo aquele negócio sobre a faculdade, eu não vou pressionar. Eu quero que você seja feliz. Eu olhei pela janela para que ela não pudesse ver eu ficando engasgada. — Obrigada, mãe. Você me deixa bastante orgulhosa também. Nós chegamos ao estacionamento, onde um sinal verde luminoso proclamava o nome da loja. Eu saí do carro e só olhei tudo por um minuto. A loja estava localizada dentro de uma linda casa antiga que estava pintada em tons maravilhosos de verde e carmesim. Uma pitoresca placa de ferro forjado havia sido adicionada na varanda com um banner de BEM VINDOS pendurado nela. — Eu já mencionei o quanto eu amo este lugar? — eu suspirei feliz. — Eu mal posso esperar para ter a minha própria loja. Mamãe me seguiu para dentro. — Algo em particular que você está querendo estocar? Talvez alguns óleos para o seu perfume de violino? — Sim — eu disse automaticamente. — E eu preciso de mais alguns óleos para preencher o meu armário de suprimentos. — Quantos são mais alguns? — mamãe perguntou suspeitosamente enquanto ela olhava o grande corredor de óleos de essência. Ela me conhece tão bem. — Aniversariante — eu a lembrei. Ela colocou ambas as mãos para cima se entregando. — Eu te deixarei com as compras. Ligue-me quando você estiver pronta. — Ok. — Eu peguei uma cesta vazia de uma prateleira próxima e comecei no A. Amyris, angélica, anis, pimenta, manjericão preto, cardamono, madeira de cedro, coentro, sálvia, sementes de endro, abetos Douglas, eucalipto... Minha cesta começou a se encher e rapidamente se tornou super pesada. Eu parei com um profundo suspiro. Eu teria que voltar para pegar o resto outra hora. Eu provavelmente já tinha muito. Passando um momento pelas garrafas e frascos, eu olhei para o que eles tinham, mas não peguei nada. Eu já tinha garrafas o bastante em casa. Então eu levei cesta até a caixa registradora e a deixei lá enquanto eu ligava para a mamãe. Mas ela já estava lá, falando com a senhora atrás do balcão, e os seus olhos se arregalaram quando ela viu o que eu tinha.


JESSICA VERDAY — É só uns dois... — eu disse defensivamente. Duas dúzias. — É realmente um grande armário. Houve meio segundo quando eu pensei que ela iria se recusar a pagar, mas então ela assentiu e gesticulou para a atendente começar a passar tudo. Eu dei um suspiro silencioso de alívio. Por que os aniversários não podem ser todos os dias? — Eu me lembro de você — a senhora atrás do balcão disse. — Você veio aqui antes e gostou da nossa seleção porque você somente tinha uma loja pequena perto da sua casa. — Ela começou a olhar os itens e calcular o total. Eu sorri. — Sim, sou eu. Ela começou a embalar o óleo em papel de seda e colocou em vários pacotes pequenos em um saco de papel marrom com alças. — Bem, eu espero que você ainda esteja feliz com os nossos produtos. — Oh, definitivamente. Apesar de que eu queria te perguntar sobre esse óleo com essência de mel puro. É só uma mudança na embalagem, ou ele foi reformulado também? — Ahhh. — Ela pareceu satisfeita. — Você é a primeira freguesa a notar isso. A embalagem foi atualizada porque eles a reformularam. Pessoalmente, eu acho que é uma grande melhora em comparação a versão anterior. É mais apimentado. Mais em realidade com o favo de mel verdadeiro. Eu assenti ansiosamente. — Eu sempre tive problema para o mel segurar a sua essência verdadeira. Ele se degradava muito rapidamente. — Eu aposto que este aqui funcionará melhor para você — ela disse. A pobre mamãe estava lá parada olhando como se nós estivéssemos falando em alguma língua estrangeira, mas pelo menos ela estava levando tudo na esportiva. A caixa registradora continuou funcionando, o total subindo cada vez mais alto, e eu assisti tudo com um crescente malestar. Não havia jeito que a mamãe iria me deixar ficar com tudo. Eu comecei a priorizar o que eu achava que não conseguiria viver sem. A qualquer segundo agora ela estaria prestes a traçar uma linha.


JESSICA VERDAY — O que você acha do novo destilador E151? — a atendente perguntou. — Foi redesenhado para deixar menos óleos vegetais para trás. — O que é um destilador E151? — É para colher os seus próprios óleos essenciais. — Ela se vira para o balcão atrás dela. Quando ela se vira para nos encarar novamente, uma caixa grande e quadrada estava em suas mãos. Meus olhos se arregalam, e ela riu. — Você quer dizer que você não usou nenhum de seus óleos? Eu balanço minha cabeça. — Não. Eu já considerei isso uma vez ou outra, mas sempre pensei que seria muito caro. Ela segura a engenhoca mais próxima para a minha inspeção. — Normalmente, isso é verdade. As máquinas grandes de destilação podem custam milhares de dólares. Mas este bebê é para o uso caseiro, e foi desenhado para tornar o processo dez vezes mais rápido. Você somente coloca as flores ou plantas dentro da caixa umidificadora e acrescente um pouco de água neste vidro aqui. — Ela se vira para que eu possa ver lá atrás. Um labirinto de tubos corre de um lado para o outro, todos se conectando e se cruzando entre si. Uma maçaneta pequena de bronze estava no final do tubo. — Vire esta maçaneta para aumentar o calor e ferver a água; então os óleos das plantas são liberados e afunilados em um tubo de ensaio. Fazer seus próprios óleos realmente acrescenta aquele toque especial extra. Muitas pessoas juram que é a única maneira de se fazer isso. Oh, cara. Eu estava vendida. Tentando muito não olhar para a mamãe com olhos de cachorro sem dono, eu perguntei — Quanto custa? — Normalmente é noventa e nove, mas esta semana nós estamos tendo um desconto de quarenta por cento. Então o preço seria apenas dezenove. Apenas. Eu não conseguia evitar, eu cedi. Eu liguei com toda a minha força o meu olhar OMG eu tenho que ter isso para a mamãe. Ela suspira. — Vá em frente; acrescente na conta.


JESSICA VERDAY — Tudo bem, então — a atendente fala. — O seu total será duzentos e vinte e cinco e oitenta e sete. Eu quase engasguei. Duzentos dólares por alguns suprimentos para perfume? Mas a mamãe somente me dá o menor dos olhares antes de alcançar sua bolsa e tirar um cartão de crédito. Eu alegremente pego minhas sacolas e sussurro — Amo você, mãe — enquanto ela paga. Eu estou quase certa que eu escuto ela murmurar — Graças a Deus que o seu aniversário não é todo dia — e eu sorrio o caminho inteiro até o carro. Algumas vezes ela podia ser uma mãe muito boa.

Dez minutos antes de supostamente eu ter que estar lá embaixo para o meu jantar de aniversário, eu ainda estava tentando achar uma roupa para vestir. Eu não queria parecer muito arrumada, mas a mamãe havia me suplicado que eu usasse alguma coisa legal. Procurando pelo meu guarda-roupa pela milionésima vez, eu finalmente escolho um vestido branco de algodão e o visto. A barra está decorada com fita de cetim negra, e pequenas margaridas dançavam pelas alças. Era legal, mas não exagerado. Então eu entrelacei uma fita branca nos meus cachos negros e puxei o meu cabelo em um rabo de cavalo baixo. Duas mechas imediatamente escaparam, mas eu as enfiei seguramente atrás das minhas orelhas. Sandálias pretas de tiras foram às próximas e, em seguida, a última coisa que eu precisava era de algumas jóias. Mergulhando no suporte sobre a minha mesa, eu escolhi por colar após colar. Mas nenhum deles parecia se encaixar com o meu humor. Eu apenas vou sem. Então meu dedo mindinho ficou preso em uma corrente emaranhada, e eu tentei soltar o meu dedo. Uma estrela de prata em uma delicada corrente de prata se derramou, e eu parei por um segundo. Eu só havia usado-o uma vez antes que fosse perdido nas profundezas do poço das jóias. Parecia perfeito para esta noite, no entanto. Kristen havia me dado um colar com formato de estrela no meu aniversário de quinze anos. — Tudo bem, Kristen — eu sussurrei,


JESSICA VERDAY alisando os pequenos emaranhados e o prendendo ao redor do meu pescoço. — Eu posso perceber a dica. Olhando-me novamente pela última vez, eu arrumo o colar, puxo a bainha da minha saia, e bagunço o meu cabelo um pouco. Hora de ir. Eu me senti estranhamente nervosa enquanto eu fazia o meu caminho para as escadas. É só um jantar. Não é grande coisa, eu disse a mim mesma. Mas isso não me preveniu daquela sensação de enjôo que estava subindo. Eu esperava que a mamãe e o papai não fizessem nada muito vergonhoso. Forçando-me a colocar um pé na frente do outro, eu congelei a meio passo quando eu escutei vozes. Soava como se eles estivessem falando com alguém. Quem está aqui? Mamãe disse que seria apenas nós esta noite. Ela pensou em convidar a tia Marjorie e o Sr. e a Sra. M. mas havia decidido não convidar para que nós pudéssemos ter um pouco de "tempo em família". Descendo lentamente o resto do caminho, eu dou uma olhada na sala de estar. Era o Ben. Ben estava aqui, sentando no lado oposto da mamãe e do papai no sofá. Ele estava vestido com uma camisa de botões e uma gravata. Eu estava horrorizada. A mamãe me viu primeiro e veio me cumprimentar. — Aqui está ela. A aniversariante. Eu usei um sorriso falso e sussurrei através de dentes entrecerrados — Mãe! O que o Ben está fazendo aqui? — Eu queria te surpreender, Abbey. — Ela abaixou sua voz. — Ele é um menino tão bom. Ben se levantou, e o papai também. — Ei, Abbey. Feliz aniversário. Eu espero que você não se importe que eu esteja aqui. — Claro que não — eu disse. — Estou feliz em te ver. — Ben estava aqui nos contando sobre os planos dele para a faculdade — papai disse. — Isso não é maravilhoso, Abbey? — A mamãe acrescentou. — Ele tem a vida toda dele planejada.


JESSICA VERDAY Eu olho ela de perto. Algo estava... Estranho. — Sim, isso é legal, mãe. Estou certo que ele tem um futuro brilhante pela frente. — Então eu mudei de assunto. — O jantar está pronto? Mamãe assentiu e foi até o Ben, colocando seu braço pelo dele. — Por que você não me acompanha até a sala de jantar? — ela disse para ele com um sorriso. — Eu ouvi dizer que você tem muito boas maneiras. Oh. Meu. Deus. A mamãe estava bêbada. Eu ofereci um olhar de desculpas para o Bem, mas ele jogou bem. — Eu ficaria honrado, Sra. Browning. — Ele a guiou para a sala de jantar, e o papai veio me acompanhar. — A mamãe está bêbada? — eu silvei para ele. Pelo menos ele teve a decência de parecer levemente envergonhado. — Ela não está... É só que... Ela estava tão animada depois que vocês duas vieram das compras, e ela continuou falando sobre como havia sido uma ótima experiência de vínculo... Então eu sugeri um drink para celebrar. Uma bebida se transformou em duas, bem... Ela realmente não deveria ter bebida a última. Legal. Isso ia ser divertido. — Você pode cuidar dela, pai? — eu implorei. — Tenta não deixá-la fazer nada muito embaraçoso, ok? Nós entramos na sala de jantar, e mamãe estava rindo de algo que o Ben estava dizendo. Eu suspirei, e o papai me lançou um olhar impotente antes de nós nos sentarmos. A mamãe havia se superado com as decorações. O cômodo inteiro parecia como algo saído da revista da Martha Stewart7. Prata cintilando, candelabros altos com velas vermelhas, taças marrons de vinho, e uma toalha de mesa damasco preto e branco todos fazia parte da decoração. Confete estava espalhado ao longo da mesa, e cartões chiques de Martha Stewart (Nova Jérsei, 3 de Julho de 1941) é uma apresentadora de televisão e empresária estadunidense. 7


JESSICA VERDAY extremidades desiguais que marcavam o lugar de cada um estavam posicionados em cima de cada prato. Uma grande tigela de cristal cheia de morangos estava no centro, e a minha animação aumentou quando eu vi os denunciantes garfos de cabo longo perto. Eu posso ser capaz de perdoar a bebedeira da mamãe pelo fondue. Talvez. — Oh, e por falar nisso, eu te trouxe um presente — Ben disse. — Mas eu o deixei na sala de estar. A mamãe trouxe uma bandeja de prata carregada com alguns copos de papel plissado. — Amor, isso não é legal da sua parte? — ela disse. — Isso foi muito atencioso. Ben estava sentando na minha frente, e ele se inclinou para frente conspiratoriamente. — É uma Barbie. Barbie médica. Eu procurei, mas eles não tinham a Barbie perfumista, ou nem mesmo a Barbie Artista. Eu pensei em comprar para você uma Barbie Hippie, mas eu não queria que você tivesse a ideia errada. Pelo menos a Barbie Médica é uma mulher de negócios. Eu ri. — Obrigada, Bem. Esse é um ótimo presente. O papai parecia consternado pela coisa toda. — Você não é um pouco velha para Barbies, Abbey? — ele disse. — É uma piada interna, pai. Algo que o Ben me disse na biblioteca quando nós estávamos trabalhando no nosso projeto para a feira de ciências no ano passado. Era sobre a irmã dele e as Barbies. — Oh tudo bem. Ele totalmente não entendeu, mas eu entendi. Foi carinhoso. A mamãe passou a bandeja para mim, e eu peguei um dos copos de papel. Nele havia um disco redondo marrom cheio de coisa verde dentro dele. — O que é isso? — eu perguntei. — É portobello com recheio de espinafre — ela disse com um sorriso esperançoso. Eu coloquei a coisa melequenta de volta no lugar. — Mas... Eu não gosto de cogumelos, mãe. Você sabe disso.


JESSICA VERDAY Seu rosto caiu, e ela parecia devastada. — Você não gosta? Eu podia jurar que você gostava deles. Um momento de silêncio atordoado preencheu a sala de jantar, e todos esperaram para ver o que eu iria fazer. — Não se preocupe. — Eu passei a bandeja para o Ben. — Deixa mais espaço para... — verificando a mesa e vi ponta de um nó de alho espreitando de um prato coberto com um pano de prato. — Nós de alho! Hummm, eu amo nós de alho! Passem-me eles, por favor. Ben pegou os três dos cogumelos recheados, e logo que o papai me passou os nós de alho, eu enchi o meu prato. Dentro de segundos nós estamos todos mordendo e mastigando e discretamente limpando nossos dedos nos nossos guardanapos. Em seguida, passamos para uma sopa gelada de tomate e majericão (que na verdade eu gostei), e a mamãe se serviu com uma taça de vinho. Eu lancei um olhar preocupado para o papai, mas ele não pareceu notar. — Então Ben, por que você não conta para os meus pais sobre os seus empregos de verão? — eu disse. Algo para manter a conversa de se virar para mim e as minhas fotos nuas de bebê, ou algo igualmente vergonhoso. Bem corajosamente se juntou. — Eu sou um ajudante de garçom no Horseman‘s Haunt. Nada importante sobre isso, mas eles me deixam levar para casa o especial do dia depois de cada turno. Ótimos benefícios, lá. — Ele parou de falar enquanto a mamãe trouxe o prato principal, lasanha, e serviu um pedaço para cada um de nós. — Continue — ela disse para ele, com a espátula na mão — estou escupando. — Ela sorriu. — Opss! Quer dizer, estou escutando! Agarrei um punhado da saia debaixo da mesa e mandei uma oração aos deuses da lasanha para que ela não deixasse cair acidentalmente o jantar no colo do Ben. Por sorte, o papai entrou em ação. — Por que você não se senta querida? — ele disse para ela. — Você trabalhou tanto neste jantar, deixe-me te ajudar.


JESSICA VERDAY A mamãe sorriu abertametne para ele e tocou o seu rosto. — Tudo bem. Obrigada, oh, deuses da lasanha. — Então, o hum, outro trabalho... — Ben disse. — Sim, sim, continue — a mamãe encorajou, com a taça de vinho na mão. Queridos deuses do vinho... — Eu vou ajudar o meu pai. Ele quer plantar algumas árvores de Natal, e eu vou trabalhar para ele. Um pedaço de lasanha chegou ao meu prato, e eu agradeci ao papai. Parecia realmente bom, e eu mal podia esperar para começar. — O que envolve uma plantação de árvores de Natal? — papai perguntou. Ele se sentou e levantou seu garfo. Eu mordi a minha comida enquanto eu esperava pela resposta do Ben. E dois segundos depois eu quase cuspi tudo novamente para fora. Bom Deus, isso estava nojento. — Eu não tenho muita certeza — Ben disse. Ele deu uma grande mordida na sua lasanha e mastigou entusiasmado. — Eu estou achando que vão acontecer muitas escavações de buraco e plantio de árvores. E então aguar, e talvez fertilizá-las? Papai assentiu, e eu demorei um segundo para olhar o meu prato. Algo branco escorria do recheio que eu havia mordido, e o meu estômago se revirou. Ótimo. Outra coisa que a mamãe havia estragado. Eu olhei para ela, mas ela parecia alegremente inconsciente de seu erro. — Eu acho que é muitooo excitaaaante ter uma fazenda de árvores de Natal aqui. Será um ativo para a nossa comunidade! Ahhh, ela não estava bêbada o bastante para parar de pensar em seu precioso conselho municipal, no entanto. Um caroço se formou na minha garganta, e eu tive que


JESSICA VERDAY piscar para evitar as lágrimas. Muito bem, mãe. Este aniversário é uma droga... minha comida é uma droga... — Eu sei que o meu pai está ansioso para isso — Ben disse. — Eu só espero que ele seja capaz de dividir suas árvores com o resto da cidade... De repente, a mamãe sentou reta. — Oh, não! — ela gemeu. — Não, não, não! Ben, papai, e eu trocamos olhamos. — O que está errado agora? — Nisso aqui tem queijo ricota! — mamãe segurou seu garfo com um pedaço da comida ofensiva nele. — Abbey odeia queijo ricota! E ela prontamente explodiu em lágrimas. Todos os meus sentimentos de raiva e mágoa imediatamente se esvaíram, e eu estava cheia de vergonha ao invés. — Mãe, não. — Eu estiquei uma mão, mas o papai já estava a alcançado. — Olha, mãe, eu amei. Com um esforço herculiano, eu ergui outra garfada para a minha boca. Não faça careta, não faça careta... eu a despejei e arranhei a unha do meu polegar na minha perna debaixo da mesa ao mesmo tempo. Concentre-se na dor. Alguma outra coisa para pensar... Mastigue, mastigue, engula... pronto. Eu alcancei o copo de água, dei um gole bem grande, e sorri abertamente para ela. — Viu? Ela parou de chorar e olhou para mim através de olhos molhados. — Você tem... Certeza? — Ela fungou uma vez. — Você realmente gostou? Eu assenti. — Está ótimo, mãe. Ela se levantou desajeitadamente e veio me dar um abraço.


JESSICA VERDAY Quando ela se sentou, eu olhei para o que restava no meu prato. É nessas horas que nós realmente poderíamos ter um cachorro. Depois de cortar o pedaço restante em pedacinhos menores, eu mexi neles bastante, os movendo de um lado para o outro para parecer que havia comido mais do que eu realmente havia comido. Eu acho que funcionou. A mamãe nem pareceu notar. Misericordiosamente, todos comeram rapidamente, e então papai sugeriu que eu abrisse os meus presentes. Eu concordei de todo o coração. Ele veio e recolheu os pratos, começando com o meu primeiro, e eu balbuciei um silencioso Obrigado. Então ele mandou a mamãe pegar os presentes. Eu me inclinei na mesa até o Ben. — Eu sinto muito. — Eu tive que segurar as lágrimas. — Minha mãe não é nada assim. É só que hoje foi um dia emocional para ela, e... Ele balançou a cabeça. — Está legal, Abbey. Não se preocupe com isso. — Parecia que ele iria dizer mais, mas então mamãe voltou com uma pequena pilha e se sentou na minha frente. — Aqui vamos nós — ela anunciou, sorrindo de orelha a orelha. — Feliz aniversário, Abbey! Papai terminou os pratos e veio ficar de pé ao lado dela. Discretamente, ele empurrou a taça quase cheia dela de vinho para fora do alcance dela. — Feliz aniversário, Abbey — ele disse. — Vá em frente e abra a pequena caixa primeiro. Deixe a grande por último. Eu alcancei o presente no topo, uma caixa plana e retangular envolta em um papel azul e vermelho lustroso. Foi à cereja no sundae em um aniversário estranhamente colorido, adornado com fitas em uma infinidade de cores cuidadosamente enroladas. Eu rasguei um lado, e puxei uma caixa menor marrom, e deslizei a tampa. Aninhado no quadrado fofo de algodão branco estava um cartão de presente para uma loja de roupas no shopping. — Eu escolhi esse — papai disse orgulhosamente. — Obrigada, pai. É ótimo.


JESSICA VERDAY O próximo era um cartão de presente do iTunes, uma nova mochila, um par de sapatos... E então eu cheguei à grande caixa no final. Era quadrada e meio pesada, e embrulhada em um papel de bolinhas verde. Enquanto eu rasgava o embrulho, eu estava absolutamente chocada de encontrar um novíssimo notebook me encarando. — Uau, gente! Eu nem sei o que dizer. Obrigada, obrigada! — Eu pulei de pé e dei um abraço nos dois. Mamãe me segurou um tempo a mais, e eu estava com medo de que ela fosse começar a chorar de novo, mas ela não começou. — É verrrmelho — mamãe disse. — Sua cor favorita. Papai entrou no meio. — Isso deve ajudar com os seus planos de negócio. — Você vai me deixar ter mais tempo? — Eu pensei que o nosso trato havia acabado já que eu não o terminaria até o final do ano letivo. — Sim. Já que coisas... — ele deu uma olhada para o Ben — surgiram... Eu imaginei que nós podíamos fazer um novo trato. Os mesmos termos de antes. Termine o plano, e eu te darei um pouco de dinheiro para começar, mas vamos deixar a data limite para primeiro de setembro. Está bom? — Sim — eu disse, sorrindo de volta. — Está. Mamãe jogou seus braços ao meu redor de novo. — Isso pede por um brinde! — Não, mãe... Sério, está bem... — Eu pego as taças! Dennis, você vá pegar o bolo. Ela se moveu mais rápido do que eu pensei que ela fosse capaz, e não esperou pelo papai, ao invés disso ela trouxe o bolo ela mesma. Enquanto ela o colocava na mesa, eu assisti as bordas douradas de uma seda creme tremulando com a força de seu movimento. Aqui vamos nós... Em seguida ela foi para a garrafa de vinho.


JESSICA VERDAY — Um pouco para mim, um pouco para o seu pai, e aqui... — Ela pegou a minha taça, e então a do Ben, para perto dela. — Um pouco para vocês dois. Não muitooo agora. Eu fiz uma careta e estava extremamente grata quando ela finalmente largou a garrafa. Eu olhei para o papai, mas ele não parecia saber o que fazer. Mamãe pegou a sua taça e esperou que o resto de nós a acompanhasse. — Vamos, vamos, — ela encorajou. — Um brinde. Eu ergui a minha taça e Ben fez o mesmo. Aquela sensação de enjôo estava de volta, e eu rezei para que isso acabasse logo. — Há dezessete anos — mamãe começou — minha preciosa garotinha nasceu. E eu não poderia estar mais feliz. Minha linda filha, Abigail Amélia... — eu me encolhi quando ela disse o meu nome do meio. Ninguém sabia o meu nome do meio. Ben, risquei isso. Agora uma pessoa sabia. — Desde o seu primeiro passo, até a sua primeira palavra. O seu primeiro dia de aula, e o seu primeiro dente perdido... — Ela perdeu sua linha de pensamento e encarou o nada. Um momento depois ela voltou e deu um gole de seu vinho. — E agora olhe para você — ela disse de repente. — Toda crescida. Fazendo planos de negócios. E planos para a vida. Aqui no seu aniversário, com um garoto... — Ela sorriu para o Ben. Oh Deus, isso está indo para o brejo rápido. Eu limpei minha garganta. — Eu somente estou feliz que você está de volta com nósss de novo, Abbey — ela disse, virando o seu olhar para mim. — Estou tão feliz que você está em casa. E não vendo um médico. Eu realmente senti a sua... — O que eu acho que a sua mãe está tentando dizer é que claro que nós estamos orgulhosos da garota que você costumava ser, mas nós estamos ainda mais orgulhosos da mulher que você está se tornando. Tim, Tim! Graças a Deus papai se intrometeu e a cortou. Eu estava começando a suar balas.


JESSICA VERDAY — Tim, Tim! — disse mamãe, erguendo a sua taça de vinho. Eu ergui a minha também, e tomei o pouco que tinha em um gole. Eu notei que o Ben fez a mesma coisa. — E agora eu vou cortar o bolo — mamãe cantou. Papai se esticou e tirou a taça da mão dela. — Está tudo bem, querida. Por que nós não deixamos a Abbey e o Ben ter algum tempo juntos? Eu preciso de sua ajuda com algo na... Sala. Mamãe assentiu e colocou um dedo na frente de seus lábios. — Shhh, é hora de algum tempo a sós. — Ela deu uma risadinha. — Eu entendo. Oferecendo-nos uma piscadela não tão sutil, ela deixou papai guiá-la para fora do cômodo. Desesperada por algo para desviar a atenção da situação, eu me agarrei a primeira coisa que veio a minha mente. — Você quer ir lá fora tomar um ar fresco? — eu perguntei ao Ben. — Deus, eu realmente poderia utilizar um pouco de ar fresco agora. Ben assentiu e baixou sua taça. Eu fiz a mesma coisa e me virei para ir para fora. Então meu estômago rosnou escandalosamente. — Por que você não traz o bolo? — Ben sugeriu. — Nós comemos lá fora. Eu alcancei o bolo e o peguei. — Garfos? — Foi para isso que Deus criou os dedos — ele respondeu. O bolo balançou em minhas mãos, pequenos pedaços de recheio de limão ao redor do prato, e Ben segurou a porta aberta. Com uma respiração profunda eu dei um passo para fora para o ar quente e úmido da noite. E me perguntei se estava noite poderia ficar pior.


JESSICA VERDAY

Capítulo Oito CÓDIGO MORSE

Todos os sons da natureza, naquela hora das bruxas, vibrou em sua imaginação animada... Os vaga-lumes, também, que brilhavam mais intensamente nos lugares mais escuros, uma vez ou outra o assustavam...‖ – A Lenda de Sleepy Hollow

Nós nos sentamos nos degraus da varanda — Ben no primeiro e eu no terceiro. Eu coloquei o bolo no degrau entre nós e o encarei, vendo os lados lustrosos no brilho difuso de uma lâmpada acima de nós. Insetos pairavam e flutuavam ao redor da luz, suas asas fazendo sombras de tamanho maior na parade ao nosso lado. Eu nem sabia por onde começar, o que oferecer como uma desculpa porque a mamãe havia dito o que ela havia dito como explicar... Então eu somente fiquei sentada lá, correndo o meu polegar e o indicador de um lado para o outro ao longo do meu colarinho. O que eu falo? O que ele está pensando? Eu cutuquei um dedo no bolo e roubei um pouco de creme que estava espalhado. Talvez o açucar me desse coragem. Lambendo a ponta do meu dedo, eu me sentei para trás e me preparei para bolar algo inteligente. Ben, eu... — Você não tem que explicar os seus pais, Abbey. Os meus são doidos o tempo inteiro. Eu acho que é um efeito colateral de ficar velho ou algo assim — ele disse.


JESSICA VERDAY Eu ri, e ele sorriu. — A coisa realmente importante aqui é onde os seus dedos estiveram. — O quê? — eu olhei para ele confusa. — Você acabou de pegar um pouco de cobertura — Ben disse. — Eu vi você. Você sabe quantos germes existem na sua mão? — Mas eu pensei que você não quisesse usar um garfo. Ele se esticou e tirou um pegou um pedaço do bolo. — Eu não quero. Eu só queria o primeiro pedaço. Mas então ele graciosamente ofereceu o seu prêmio para mim, e eu aceitei. Sorrindo, ele enfiou um pedaço menor em sua boca e começar a mastigar. — Isso — Ben disse, chupando um pouco de cobertura de seus dedos — é um bolo bom. Eu mordi o meu pedaço. Nós o pegamos em uma pequena padaria ótima lá na Rua DeWalt. Eles têm as melhores sobremesas lá. Ben deu outra mordida e me ofereceu metade. Eu tive que me aconchegar para mais perto para pegar dele. — Então o que você fez no seu aniversário no ano passado? — ele perguntou. Eu sentei lá por um minuto. Vaga-lumes piscavam intermitentemente no quintal de grama perto de nós. — Ano passado eu realmente não fiz nada. Kristen estava... Desaparecida, e eu não estava com humor para celebrar. — Olhando para o meu colo, eu tirei uma migalha. Aquelas memórias eram tristes, e eu não queria pensar nisso. Então eu disse — Mas no ano anterior, Kristen e eu fomos para a cidade ver Rent8. Os meus pais arrumaram uma limusine para nós, e nós a levamos até Manhattan. Nada como ver as paisagens enquanto você está preso no tráfego na hora do rush. Nós vimos um monete de becos e partes traseiras de prédios. — Eu aposto que você se divertiu um monte, no entanto — Ben disse. Rent é uma obra de teatro musical, composta por Jonathan Larson. Conta a história de um grupo de amigos que vivem em New York nos anos 80. Aborda alguns temas que marcaram aquela época, como o desemprego, o uso de drogas, a homossexualidade, a liberação sexual e a AIDS. 8


JESSICA VERDAY — Sim, nós realmente nos divertimos. — Eu acariciei o meu colar de estrela. Eu queria que ela pudesse estar aqui para este aniversário. Eu queria ter conseguido dividir isso com ela. Os vaga-lumes brilharam, e eu fechei um olho. Quase pareciam como se elas estivessem piscando em código Morse. — Você sabe Código Morse? — Eu pensei alto. Ben devia estar distraído, porque ele parecia desconcertado. — O quê? — Você sabe Código Morse? — eu repeti, ficando de pé. — Olha. Os vaga-lumes estão piscando em código Morse. É algum tipo de mensagem secreta. — Eu fui para o quintal e olhei de volta para ele. — Me ajude a pegar um. Ele me olhou com um sorriso divertido. — O que é isso? O seu aniversário de oito anos? — Não me faça fazer biquinho. Ou chorar. Por que é a minha festa, e eu vou chorar se eu quiser. Ben riu e se levantou. Então e se lançou até mim. — Quase peguei um ali. — Não pegou. — Eu dei um soco leve em seu braço. — Você só queria me assustar. Ele deu de ombros e se virou. — Talvez. Eu vi um voando em direção às árvores e comecei a ir atrás dele. Com as minhas mãos juntas em formato de concha, eu varri o ar e então rapidamente fechei as mãos. Movendo-me de volta para a luz, eu abri as mãos para ver se eu havia pegado o prêmio cintilante. Mas minhas mãos estavam vazias. — Ahhh, eu pensei que tinha pegado um. — Um movimento repentino no canto dos olhos me fez virar novamente, e eu passei minhas mãos pelo ar. Eu as senti pegando algo pequeno. — Eu peguei um! Eu peguei um!


JESSICA VERDAY Ben veio para perto, e eu abri mais minhas mãos para que ele pudesse ver lá dentro. Um pequeno inseto de asas negras se rastejava firmemente em minhas mãos. — Traga aqui, fora da luz, para que nós possamos vê-lo piscando — ele sugeriu. Segurando o meu pequeno prisioneiro cuidadosamente para que eu não o amassasse, eu segui o Ben na direção das árvores. Minhas mãos se acendiam a cada dois segundos. Ben se inclinou para mais perto e cobriu suas mãos em cima da minha. — Espere, ele está dizendo algo. Eu me inclinei para frente também e segurei minha respiração. Ele realmente conhece Código Morse? — Feliz... Aniver... Sário... Feliz Aniversário... Abbey. — Ben olhou para cima para mim e sorriu. — O vaga-lume te deseja um feliz aniversário. Nossas mãos estavam se tocando, mas agora nossas cabeças estavam quase se tocando também. Meus olhos estavam finalmente se ajustando à escuridão, e eu podia ver o contorno de seus olhos, seu nariz, e os seus lábios. Ele estava me encarando, e eu podia notar que ele estava notando também a falta de espaço entre nós. Mudando o meu peso, eu movi para mais perto. Isso é...? Nós vamos...? Uma sensação de zumbido atraiu minha atenção para longe do Ben, e eu percebi que o vaga-lume estava tentando escapar. — Oh! — eu movi minhas mãos para longe das dele. O bater de asas do minúsculo inseto contra a minha pele estava me dando uma sensação estranha. Ben parecia confuso. — Desculpa — eu disse. — Ele queria se soltar e estava se movendo contra a minha mão. Meio nojento. — Meio nojento, hein? — ele riu. Eu assenti. O que eu devo fazer agora? Então eu senti as pontas quentes dos dedos dele roçando contra a minha clavícula.


JESSICA VERDAY Ele deu um passo para frente, e estava praticamente me tocando. Estando tão próximo, eu tinha que olhar para ele para ver o seu rosto. — A sua estrela está torta — ele sussurrou. Mas ele havia ajeitado ela... E sua mão ainda estava lá. Uma sensação estranha me inundou, e imediatamente eu soube o que iria acontecer depois. Naquele meio segundo eu vi tudo acontecer na minha frente. Como uma cena de filme. Deveria ser um momento de calafrios e falta de ar, no entanto eu senti... Traição? Espere. Isso não pode estar certo. Ben inclinou sua cabeça, e eu disse a primeira coisa que me veio na cabeça. — Foi um presente. Ele pausou, e sorriu. — Oh, sim? De quem? — Kristen. Logo que eu disse o nome dela, eu sabia que era de lá que o sentimento estava vindo. Eu estava traindo a Kristen. Ou mais ainda, eu estava traindo o fato que o Ben uma vez havia estado a fim da Kristen, provavelmente ainda estava de alguma forma, e se eu o beijasse agora seria como beijar o quase namorado da minha melhor amiga morta. Não é legal. Ben ficou duro e afastou sua cabeça para trás, quase como se ele estivesse pensando a mesma coisa. Então ele correu seus dedos pelo cabelo dele, um gesto que eu achei ser estranhamente familiar, mas não consegui identificar. — Abbey — ele disse de repente. — Está ficando tarde. Eu devo ir. Ele podia notar como eu estava me sentindo? — Tudo bem — eu disse. — Ben, hum, obrigada por ter vindo e tudo. — Agora iria ficar estranho.


JESSICA VERDAY Claramente, ele não sabia o que fazer também, porque ele meio que inclinou para um meio abraço e me deu um tapinha nas costas. — Então, feliz aniversário. E eu acho que eu te vejo na nossa próxima aula de ciências. — Sim. Obrigada por ter vindo, Ben. Ele assentiu uma vez e então se virou em direção à casa, desaparecendo para dentro. Eu segui para a varanda e me sentei novamente no segundo degrau perto do que restava do meu bolo de aniversário. — Isso foi estranho — eu disse em voz alta. — Realmente estranho. Acima, o som distinto do estrondo de um trovão rompeu ao longe, e segundo depois um pedaço entrecortado de relâmpago esverdeado iluminou o céu. O estouro alto que veio depois do relâmpago me fez pular, mas eu fiquei onde estava. Eu não estava pronta ainda para ir para dentro. Eu tinha mais bolo para terminar.

*** Eu olhei para fora da janela do meu quarto, vendo lençóis de cascatas de chuva cair pelo vidro. Mamãe e papai disseram boa noite há uma hora atrás, com mamãe se inclinando levemente para um lado, e eu estava me aprontando para me arrumar para ir para a cama quando o relâmpago me atraiu. Havia algo estranhamente lindo sobre a tempestade. As árvores do lado de fora estavam se balançando com o vento, mergulhando baixo enquanto se inclinavam uma para a outra. Uma dispersão de folhas estava espalhada nas ruas, e de vez em quando uma se prendia na corrente superficial de escoamento e saía dançando alegremente ao longo do caminho. Apesar de estar uma total escuridão lá no quintal abaixo, eu podia quase ver as lâminas pontiagudas molhadas de grama e novos botões de flores virando seus rostos para cima, ansiosas para se imergir na água. Eu precisava criar um perfume que evocava uma tempestade de verão. Grama cortada, vento frenético, um cheiro inebriante de chuva... com só um toque de folhas frescas secando ao vento. E eu precisava de algo poderoso e forte, um cheiro seco para imitar o trovão. Talvez vetiver ou funcho?


JESSICA VERDAY Um bocejo interrompeu meus pensamentos, e eu estiquei meus braços acima da minha cabeça. A batida suave da chuva no telhado era como uma melodia calmante, algo rítmico e primitivo. Eu juntei vários travesseiros, os movi para o final da cama, e deitei com a minha cabeça onde os meus pés deveriam ficar. Eu podia ver a tempestade melhor desse jeito. Eu me senti segura e quente no meu pequeno casulo. E quando eu fechei os meus olhos, o relâmpago ainda repassava atrás das minhas pálpebras. Dançando e pulando em padrões estranhos e entrecortados... O trovão rolou e ecoou ao meu redor, mas eu sabia que estava sonhando, porque a tempestade estava dentro do meu quarto. Garfos brancos de relâmpagos crepitavam e se espalhavam pelo teto, e subiam as paredes como vinhas.Toda hora quando o trovão soava, se espalhava pelas vinhas com pequenos pulsos de eletricidade. Então eu notei uma figura encoberta sentada na beirada da minha cama. Era a Kristen. — Ande comigo, Abbey. — Eu podia ouvir sua voz tão clara como o dia, mas seus lábios não estavam se movendo. — Vamos andar. E de repente nós estávamos no cemitério. Lá do outro lado. Bem longe dos portões principais. Meus pés estavam se movendo mesmo enquanto eu tentava parar. As pontas dos meus dedos do pé se arrastavam ao longo do piso duro enquanto eu flutuava. Pairando, apenas um pouco acima da terra batida, mesmo assim tocando. — Onde nós estamos indo, Kristen? — eu perguntei. Ela virou seu rosto encoberto para mim e aponto para frente. Eu reconheci o caminho tortuoso imediatamente. Levava até a casa de Nikolas e Katy. Eu segurei a respiração. Nikolas e Katy não eram reais. Tomar chá com o Cavaleiro Sem Cabeça e Katrina Van Tassel da ―Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça‖ era só algo que eu havia inventado. Nós tínhamos que estar indo para outro lugar.


JESSICA VERDAY Nós seguimos em frente. Parecia ter passado horas, e gradualmente eu notei que tudo ao meu redor estava encharcado. O chão, as árvores, as samambaias que se esticavam até as nossas pernas. Estava chovendo, mas eu não estava ficando molhada. E nem a Kristen. Chegamos a um monte de pedras antigas e telhas podres. Glicínias mortas se agarravam ao que restava da chaminé de pedra caída, e arrepios percorreram a minha espinha. O que havia acontecido com a casa deles? Kristen parou e virou, empurrando o capuz de seu rosto. Seu cabelo estava encharcado. — Vá — ela disse. Eu balancei minha cabeça. — Não sem você, Kristen. Venha comigo. Por favor, venha comigo? — Eu não posso Abbey. Eu não posso ir contigo. Você está sozinha. Um trovão me acordou desta vez de verdade, e eu estava a segundos de gritar. Este é o meu quarto. O trovão está no meu quarto! O relâmpago iluminou o contorno da minha cama por um momento, claramente mostrando que a tempestade era lá fora onde deveria ser. Eu olhei ao meu redor. Não é aqui. Foi só um sonho. Nada para ter medo. Em alguma hora durante a noite, a chuva havia se tornado mais suave. Ao invés de soar como uma frota de soldados marchando pelo telhado, agora era apenas uma batida contínua ao fundo. Eu liguei a lâmpada da minha mesa de cabeceira e levantei para olhar pela janela. Os arbustos perto das árvores se mexiam um pouco, e eu assisti, esperando para ver o que estava lá. Então eles se moveram novamente. Eu agarrei uma coberta da beirada da minha cama e comecei a descer para o andar de baixo. O balanço da varanda estava coberto, então estaria seco, e eu tinha uma visão melhor. Eu podia sentar lá e ver o que era. Logo que eu pisei para fora da minha porta da frente, uma brisa fresca me lembrou que tudo o que eu estava vestindo era o meu fino vestido de verão, e eu enrolei a coberta ao meu redor.


JESSICA VERDAY Eu me sentei na balança e coloquei meus pés embaixo de mim. Gradualmente, eu fui capaz de distinguir cada árvore e arbusto separando o nosso quintal do quintal do Sr. Travertine. Dentro de dois minutos os arbustos se mexeram de novo, e então um veado se aproximou. Ele tinha pernas finas e manchas brancas e mostrava um pescoço fino enquanto ele mordiscava um pouco de grama molhada. Um coelho pulou ao lado dele, e eu não pude evitar um pequeno ‗ahhhh‘ que escapou de mim enquanto ele mordiscava a grama também e eles comiam lado a lado. Era como assistir teatro em tempo real de Bambi. Mas algo deve ter assustado o veado, porque de repente ele olhou para cima e então correu para longe. Eu inclinei a minha cabeça levemente para vê-lo. O veado estava com medo de outro veado? Exceto... A sombra que se movia não era um veado. Parecia ter mais... Um formato de humano. Eu fiquei bem parada. Alguém está lá fora? Talvez eles não tenham me notado. Mas eu sabia quem era. Com cada fibra do meu ser, eu sabia que era ele. Caspian. Ele deu um passo para frente, e eu juro que eu senti os olhos dele fazer buracos em mim. Mesmo na escuridão eu podia ver o seu cabelo loiro esbranquiçado. A sua silhueta se destacava contra as árvores, e de alguma forma eu sabia que isso não era um sonho ou uma alucinação. Ele estava aqui. A coberta foi deixada para trás, eu me levantei e me movi pela grama. Com cada passo que eu dava, eu enfiava o meu pé descalço na terra molhada, me forçando a sentir. Cada movimento que eu estava fazendo era real. Isso era real. Ele desapareceu novamente, de volta para as sombras, mas eu o vi logo que eu alcancei as árvores. Ele estava inclinado contra um grosso tronco de um carvalho sólido. Apertando os meus olhos até fechá-los, eu tentei engolir as lágrimas. Isso significava que eu ainda estava louca? Que eu sempre fui? — Caspian... — eu me escutei sussurrar. Ele não respondeu, mas houve um som de farfalhar, e eu abri meus olhos novamente.


JESSICA VERDAY Ele se moveu para mais perto, e na escuridão eu pude ver os seus brilhantes olhos verdes. A cor chocante deles me perfurou, e o meu mundo se inclinou loucamente. Eu estou caindo... Agarrando na árvore para me dar suporte, eu parei a mim mesma de cair. Eu xinguei enquanto eu via tudo claramente. Estava acontecendo de novo. — Eu senti sua falta, Abbey — Caspian disse baixinho. — Eu sei que é errado. Que eu não deveria estar aqui... — ele parou e passou suas mãos desajeitadamente pelo seu cabelo. — Deus, Abbey, eu senti a sua falta. Meu coração deu um pulo, e eu queria voar para os braços dele. Comecei a fazer isso, e então eu me parei. Lembrando-me. — Eu nem sei se você é real. Como eu posso te ver? Você está morto. — Eu não sei por que você pode me ver. Nós só estamos ambos... Aqui. — Mas por que você está aqui? Eu tive que deixar a cidade. Eu tive que ir ver um especialista. Eu pensei que estava louca. Vendo coisas que não estavam lá. Você, e Nikolas e Katy... — Era lá onde você estava? Eu pensei que você apenas tinha parado de ir ao cemitério. — Claro que eu parei de ir ao cemitério. Da última vez que eu fui lá, o garoto que eu pensei que estava namorando me disse que ele não conseguia me amar porque ele estava morto! Eu não sei se estou mais brava com você por ter me feito pensar que eu estava louca ou por me fazer pensar que você estava vivo. — Eu pensei que você ficaria brava que eu menti sobre não te amar — ele disse suavemente. — Você mentiu sobre... Não... Me... Amar? Ele assentiu, e a mecha de cabelo preto que normalmente se angulava pela testa dele caiu em cima de um olho. — Você me ama? — eu sussurrei.


JESSICA VERDAY Ele olhou para mim e disse muito claramente — Eu acho que te amei desde o primeiro momento que eu te vi, ano passado no cemitério. Eu encarei as minhas mãos. Uma vez, eu teria ficado feliz de ouvir estas palavras. Agora elas me deixavam sentindo ainda mais confusa. — Mas você... Eu... Você disse que... — Se você está brava, fique brava — Caspian disse. — Eu prefiro isso a... — Ele balançou a cabeça. — Da última vez que eu te vi, eu pensei que eu... Tinha quebrado você, Abbey. — Sua voz veio em um sussurro. — Você quebrou. Seus olhos estavam horrorizados, e eu queria explicar, fazer tudo ficar melhor... Mas eu não podia. — Você realmente bagunçou a minha cabeça, Caspian. — Eu ri silenciosamente. — Obviamente, você ainda está bagunçando a minha cabeça se eu posso te ver de novo. Eu não sei o que está errado comigo. Alguma parte do meu cérebro está estragada. — Talvez não seja uma coisa tão ruim — ele ofereceu. — Como pode não ser uma coisa tão ruim? Eu vejo pessoas mortas. Caspian desviou o olhar, e enfiou suas mãos nos bolsos. — Quem era aquele cara que estava aqui mais cedo? — ele perguntou, mudando de assunto. — Aquele com quem você estava ficando bem à vontade. Ele quase parecia com ciúmes, e eu queria rir do absurdo daquilo. — Eu não estava ficando a vontade. E o nome dele é Ben. Ele é só um amigo. — Eu corei com a memória do que quase tinha acontecido. — Ele estava aqui para o meu jantar de aniversário. — Hoje é o seu aniversário? Eu dei de ombros. — Foi. — Feliz aniversário, Astrid.


JESSICA VERDAY Suas palavras me encheram de uma calidez, mas eu tentei tampar o sentimento. — Então agora o quê, você está me perseguindo? Se escondendo nos arbustos, assistindo? — Eu pensei sobre o dia que eu voltei para casa, com o garoto e o cachorro. — Você já esteve aqui antes? De dia? — Algumas vezes eu passo por aqui quando eu estou andando — ele admitiu. — De primeira era para te procurar. Mas então eu pensei que você estava me evitando, então eu tentei ficar longe. Ele chutou um galho solto com o seu pé. — Eu acho que não consegui ficar longe esta noite. Um latido alto de repente nos fez levantar a cabeça juntos. Ali perto, o Sr. Travertine se mexia sonolento ao longo do perímetro de sua varanda, claramente infeliz sobre a tarefa de levar o seu cachorro para caminhada de manhã cedo. O cachorro latiu de novo, e soava como se estivesse se aproximando. — Eu vou embora — Caspian disse. — E você deveria voltar para dentro. Você ficará doente se você ficar aqui fora por muito tempo. Ele se afastou de mim e me deu um olhar final e triste. — Onde isso nos deixa, Caspian? — eu falei suavemente. — O que nós faremos agora? — Eu não sei Abbey — ele respondeu. — Mas o que quer que seja, eu acho que não é para nós fazermos juntos.


JESSICA VERDAY

Capítulo Nove ABRIGO

Olhar para o seu jardim de grama crescida, onde os raios de sol parecem dormir tão calmamente, alguém poderia pensar que, pelo menos, os mortos poderiam descansar em paz. – A Lenda de Sleepy Hollow

Na manhã seguinte eu acordei cheia de confusão. Ontem a noite realmente havia acontecido. Eu lavei lama e grama debaixo dos meus pés. Caspian era real. E ele havia dito que me amava... mas isso significa alguma coisa? Poderia significar alguma coisa? Ele estava morto. Isso jogava um pouco de complicação na mistura. Eu saí da cama e me ajoelhei, tateando embaixo dela procurando pelo colar. Olhando para ele na luz do dia, eu tracei as letras cursivas vermelhas, soletrando o nome Astrid, presas para sempre embaixo de pequenos quadrados de vidro. As beiradas eram soldadas em toda a sua volta com um metal brilhante, e uma fita preta de cetim pendurava o pequeno anel em formato de O na parte superior. O outro colar que ele havia me dado estava preso no fundo da minha gaveta de meias. Bem lentamente, eu o coloquei. Parecia como se pertencesse ali. Como se tivesse sido feito para estar ali.


JESSICA VERDAY A casa estava curiosamente silenciosa quando eu desci as escadas. Eu não podia notar se a mamãe ou o papai haviam saído, ou só dormindo para esquecerem a noite passada. Eu comi rapidamente uma tigela de cereal e então rabisquei um ‗Saindo. Volto mais tarde. ‘ em um caderno próximo à geladeira. Eu não precisava que a mamãe tivesse um ataque se ela acordasse e não conseguisse me encontrar. Eu tampei a caneta e a deslizei de volta para o clipe que a segurava no lugar, então fiz o meu caminho até a porta. Eu segui colina acima e comecei a andar em direção ao cemitério. Eu queria ver o Caspian de novo. Eu tinha tantas perguntas. O calor do sol era gostoso a princípio, mas não levei muito tempo para começar a sentir calor e ficar grudenta. Eu puxei a minha camiseta molhada para longe das minhas costas e usei a minha mão para ventilar o meu pescoço. Quase lá. Não demorará muito agora. Eu só esperava que eu fosse capaz de encontrá-lo, ou pelo menos um sinal dele. Os portões do cemitério ficaram a vista, e eu dei um suspiro de alívio. Salgueiros, cerejeiras, e grandas carvalhos alinhavam o caminho. Uma profusão de botões verdes frescos, e flores explodindo com vida nova preenchiam o terreno. Eu fui checar perto do rio primeiro. Nós nos encontramos lá tantas vezes que parecia que lá poderia ser onde ele estaria. Eu verifiquei embaixo da ponte, e em cima dela também, mas ele não estava lá. Eu andei devagar pelo cemitério, checando atrás de cada tumba vertical, de qualquer de espaço que dava para se arrastar ou cubículo que ele poderia ser encontrado. Diversos mausoleós estavam próximos, e eu tentei cada trinco. Mas eles não estavam revelando os seus segredos, ou os seus mortos, e eu fui forçada a seguir em frente. Os sons do cortador de grama ficaram mais próximos, e eu sentei em uma clareira de grama para esperar enquanto ele passava. Mantendo meus olhos abertos, eu verifiquei a encosta procurando por ele. Um lampejo de roupa, ou cabelo... Caspian tinha que estar aqui em algum lugar. Claro, ele tem acres e acres de terreno para rondar, e eu nunca poderia encontrá-lo... Eu deixei esse pensamento de lado. Algo me disse para seguir em direção à Antiga Igreja Holandesa, então fui para lá. Havia um antigo galpão atrás dela. Talvez ele estivesse lá.


JESSICA VERDAY Estava acorrentado, mas uma das portas estava solta e balançou para trás e para frente quando eu a empurrei. Eu enfiei o meu rosto pela fresta e olhei para dentro da semiescuridão. Havia algumas ferramentas lá dentro, e alguns montes de coisas cobertas mais atrás. Se eu pudesse ver um pouquinho mais. Eu mexi na dobradiça da porta, e ela cedeu em uma nova posição. A luz do sol entrou na direção do fundo, revelando... Um monte de carrinhos de mão e um cortador de grama enferrujado que parecia estar fora de serviço há um longo tempo. Eu não sabia o que fazer depois. Eu deveria perambular um pouco mais? Ir para o outro lado? Ou talvez eu devesse voltar para o portão principal. Ele poderia estar lá... Um movimento repentino chamou minha atenção, e eu ergui minha cabeça. Foi um lampejo de cabelo loiro esbranquiçado. Uma figura estava de pé próximo a um mausoléu gigante construído na colina perto do túmulo de Washington Irving. Tentando muito duro não ficar com muitas esperanças, eu o assisti andar em direção ao outro lado do cemitério. Depois que ele se transformou em apenas uma partícula no horizonte, eu comecei o caminho para o mausoléu. Excitação guerreava com o nervosismo quando eu cheguei ao topo da colina e fiquei cara-a-cara com a cripta. Era uma familiar. Eu passava por aqui toda ver que eu ia ver o túmulo do Washington Irving. Olhando em volta para ter certeza que ninguém estava vendo. Eu me movi para mais perto da porta e coloquei a minha mão no trinco. Ele cedeu, e a porta abriu para frente com uma surpreendente pouca resistência. Eu me encontrei em uma grande câmara de rocha sem janelas. Vários tocos de velas preenchiam as paredes e queimavam continuamente. A mudança de temperatura foi palpável, e instantaneamente o suor que se acumulou nas minhas costas secou. Eu tive um lampejo repentino de medo quando eu imaginei a cripta crescendo e se fechando ao meu redor, me engolindo para as entranhas da terra enquanto eu gritava por ajuda... Não pense assim! Eu sacudi para longe a imagem mental e estiquei uma mão para me equilibrar. As paredes estavam cheias de teias de aranha e eu arranquei meus dedos cobertos de fios de filamentos de aranha. Eu tentei limpá-las no jeans áspero do meu short, mas elas pareciam grudar em tudo. Eu olhei uma das velas mais de perto. Elas estavam empoeiradas e amareladas por causa do tempo. Claramente de uma época anterior. Traçando meu dedo ao longo da trilha de gotejamento de cera, eu notei que ela possuía uma sensação mais pesada, mais robusta,


JESSICA VERDAY do que os resíduos macios que pingavam das velas que eu queimava. Do que elas eram feitas? Banha? Sebo? Nem todas as velas estavam acesas, mas elas se alinhavam no cômodo de cima a baixo, e eu percebi que elas marcavam lugares. Uma para casa pessoa que estava enterrada aqui. Esta deve ter sido uma grande família. Uma pedra gigante retangular repousava perto de mim, e eu soltei uma das velas. Movendo-me para mais perto, eu vi que era laje de mármore negro. Mesmo embaixo das grossas camadas de poeira, veias brilhantes de ouro atravessavam a pesada pedra e brilhavam para mim. Eu passei uma mão em cima da placa suja com o nome incrustado e li MONTGOMERY ABBOTT 1759 —1824. Com um monumento tão grande, ele deve ter sido o patriarca da família. Acenando minha cabeça em respeito, eu pausei por um momento. Eu deveria fazer uma oração ou algo? Pedaços de bençãos católicas divagaram pelo meu cérebro, mas eu testei as palavras na minha língua, elas pareciam estrangeiras e fora de lugar. Eu fiz o sinal da cruz ao invés disso e sussurrei — Descanse em paz. Espero que o Sr. Abbott não se importe muito que eu esteja fuçando no lugar de descanso final de sua família. Claro, se ele decidsse me visitar do além, o que era mais um fantasma? Um pequeno banco de metal estava ao lado da pedra e espalhado em um canto estava um... Casaco? Tinha que ser do Caspian. A vontade de colocá-lo veio sobre mim, e eu quase o coloquei... Mas então eu vi os quadros. Eles eram desenhos de mim. Dezenas deles. Quase cobrindo toda a parede ao lado do banco. Desenhos em preto-e-branco feitos com carvão que me mostravam de pé, sentada, sorrindo, franzindo, fazendo careta, chorando... Eles eram incríveis. Eu ergui um dedo e gentilmente tracei o contorno de um deles. Quem era essa garota? Ela era triste e linda tudo de uma vez. Não podia ser eu. Eu não era bonita. Um pouco de cera de repente pingou no meu dedo, deixando uma trilha ardente. A luz caiu e oscilou, lançando sombras pelo local. Diversas caixas estavam empilhadas por perto, e eu meu virei para elas, curiosamente excitada.


JESSICA VERDAY Duas delas foram derrubadas e estavam sendo usada como mesas, mas dois menores tinham coisas dentro. Eu larguei a vela e me ajoelhei para dar uma olhada. Havia um despertador, uma moldura de um retrato com uma antiga foto do colégio nela, dois livros, e algumas roupas. Eu peguei a moldura, sentindo uma emoção me percorrer. Era quase como estar no quarto dele. Eu sorri quando vi uma cópia de ‗A Lenda de Sleepy Hollow‘ perto do despertador. Acho que ele finalmente começou a lê-lo. Na próxima caixa virada estava um caderno de desenho, um conjunto de carvões, e outro livro. Era um dos presentes de Natal que eu havia dado a ele. Eu o abri, folheando pelas ilustrações de estrelas. Um ruído abrupto de raspagem fez eu me levantar atrapalhadamente, e a porta abriu. Eu deixei cair o livro e a vela. A vela rolou e crepitou uma vez antes de se apagar. Caspian parecia surpreso ao me ver. — Abbey? Eu não sabia o que dizer. Olhando para baixo para os meus pés, eu vi um livro deitado aberto com várias páginas para fora em um ângulo estranho. Eu me inclinei para pegá-lo e colocá-lo de volta na caixa. Eu esperei que ele me confrontasse, mas ele só se virou. — Como você encontrou esse lugar? — ele perguntou. — Eu... Eu vi você. Eu, hum, meio que vim te procurar. — Por quê? — Eu não sei. Eu acho que só... Depois de ontem à noite, eu queria te ver novamente. — Então você veio aqui e mexeu nas minhas coisas? Eu pude sentir o meu rosto ficando vermelho, mesmo na semi-escuridão. Então eu fiquei brava. — Bem, você estava rondando ao redor da minha casa. E... — eu olhei para os desenhos. — E você esteve me perseguindo!


JESSICA VERDAY Caspian olhou para os desenhos também. — Você viu aqueles? O que... o que você achou? — O olhar esperançoso em seus olhos me desequilibrou totalmente. — Eu... Hum... Eu achei que os desenhos ficaram muito bons. Quer dizer, não tem jeito de eu parecer daquele jeito. Tão bonita, tipo... — eu fiquei vermelha. Então eu decidi ser sincera. — Foi meio estranho, na verdade. — Eu não estou te perseguindo — ele disse. Eu ergui uma sobrancelha para ele. — Eu não estou! — ele protestou. — Tudo o que eu desenhei, eu desenhei pela memória. É meio como ter você aqui comigo. Naquele momento eu desejei desesperadamente que eu ainda estivesse segurando a vela. Eu queria ver o rosto dele mais claramente. Ele estava falando a verdade? Ele os desenhou para que eu estivesse ‗aqui‘? Eu não sabia se isso era totalmente assustador ou totalmente lindo. — Eles são muito bons — eu disse novamente. Eu não sabia o que dizer, além disso, então eu esperei que ele falasse. Ao invés disso, ele se moveu para o banco e se sentou. Eu só esperei. Pelo que, eu não sabia, mas agora eu estava aqui. Ele tinha que fazer algo. O ‗algo‘ que ele fez foi me ignorar. Finalmente eu não consegui aguentar mais. — Você está esperando que se você não falar comigo por tempo suficiente, eu vou me transformar em uma pilha de ossos como esses aqui? — Eu abri meus braços exasperada. — Sinto muito, mas não vai acontecer. — Não, eu estava esperando que se eu ficasse quieto o bastante, você entenderia a dica e iria embora — ele disse. Uau. Isso doeu. — Se você quer que alguém vá embora, só fale para ele. — Eu me virei e comecei a sair brava, e então parei. — Oh, e já que nós estamos falando sobre pessoas indo embora, isso é uma tumba, se você não notou. Não um lugar para posseiros. Você também não deveria estar aqui. Eu estava respirando rápido e ficando estressada. O espaço ao meu redor parecia que estava ficando a cada segundo mais pequeno e quente.


JESSICA VERDAY — Eu sei — ele disse baixinho. — Eu não deveria estar aqui. Mas eu não tenho outro lugar para ir. A solidão que eu ouvi atrás daquelas curtas palavras fez o meu coração doer. — Sinto muito. Eu não deveria ter dito isso. — Só vá, Astrid. Por favor. — Por quê? — eu perguntei para ele. — Eu quero ficar. Caspian balançou sua cabeça. — Nós discutimos isso ontem à noite, lembra-se? Sua voz era tão vazia. Ele já havia desistido. Impulsos precipitados me preencheram, e eu me ajoelhei na frente dele. Nós estávamos cara-a-cara, e eu podia ver seus olhos na sombra. — Não faça isso, Caspian. Não desista de si mesmo. — Não desista de si mesmo? — Ele riu fracamente. — O que é isso, um especial da sessão da tarde? Eu não tenho nada para desistir. Eu sou nada. — Isso não é verdade. Se eu posso te ver, isso significar que você é algo. Nós só temos que descobrir o quê. — Eu já joguei esse jogo, Abbey. Quando eu te conheci. Não deu muito certo, lembra-se? Eu quebrei você. Eu bati a minha mão com força contra o chão duro, surpreendendo nós dois. — Não jogue isso em cima de mim. Eu tinha todo o direito de estar chateada. — E eu não? — Sim! Você tem. Esse é o ponto. Fique chateado. Fique bravo. Grite comigo por ter vindo à tua casa e mexido nas tuas coisas. Sinta as emoções. Se você tem isso, então você não é nada. Caspian de repente se inclinou para frente. Assustada, eu fiquei de pé. Ele ecoou meu movimenoto, colocando ambas as mãos no banco e se colocando de pé. Nós estávamos a centímetros de distância, e eu dei um passo nervoso para trás. Eu não sei por que eu fiz isso, mas seus olhos estavam estranhos. Selvagens. Meu estômago se agitou. O que ele iria... Fazer?


JESSICA VERDAY Ele deu um passo para frente. Eu dei um segundo passo para trás. Ele avançou, e eu recuei, até que eu senti uma parede atrás de mim. Ele deu outro passo para frente e deslizou suas mãos em cada lado meu. Apoiado contra a parede, ele havia me prendido. Minha garganta ficou seca, e eu engoli. Minhas pernas se transformaram em água, e a minha roupa parecia que estava grudando em mim. Eu engoli de novo, ardendo em todos os lugares. Era tão quente aqui. Caspian se inclinou para frente e colocou seus lábios ao lado do meu ouvido. Eu lutei muito para não me arrepiar. — Você quer que eu tenha sentimentos? — ele disse. — Eu já te disse que eu te amo. O que mais eu deveria dizer? Que eu quero tanto estar próximo de você a cada segundo do dia? Eu vejo cores, somente ao seu redor... Eu sinto perfume, somente ao seu redor. Deus é como... É como se eu estivesse vivo de novo. Algumas vezes eu fico louco só me perguntando se eu imaginei tudo isso, e eu espero para ver quando isso... Você... Vai ser tirada de mim. Uma vela se apagou próximo a nós o distraiu, e então nós estávamos imersos na escuridão em um canto do nosso mundinho. O som de sua voz em meu ouvido e a suave escuridão nos cobrindo fez eu morder meu lábio para segurar um gemido. Minha pele estava ficando mais quente. Desejando o toque dele, que qualquer parte de se fundisse comigo e fizesse essa necessidade terrível desaparecer. Como eu podia fazer isso? Como eu podia me sentir assim, sabendo que nada podia ser feito sobre isso? — Eu sinto todas estas coisas, Abbey — ele continuou. — Raiva que eu não possa passar meus dedos pelo seu cabelo. Pesar que eu não posso deitar meu rosto próximo ao seu. Agonia que eu não posso roubar o fôlego de seus lábios. Eu não posso comer ou respirar por querer te tocar, e mesmo assim, eu não como ou respiro ou durmo. Eu só estou aqui. Preso no meio. Uma lágrima deslizou pela minha bochecha e eu fechei os meus olhos, desviando a minha cabeça dele. Isso era muito. Eu não podia aguentar esse desejo e essa emoção. Isso era muito dolorido. Eu quebraria muito facilmente. — Eu anseio a sua companhia, sua amizade, sua conversa — ele disse. — Você tem alguma ideia de como é em um momento ter todo mundo podendo te ver e conversando contigo, e depois todos eles te ignorando? Não te resta mais nada a não ser seus pensamentos e um monte de tempo livre.


JESSICA VERDAY Ele moveu seus braços, e a prisão se ergueu. Eu limpei minha garganta e tentei encontrar a minha voz. — Eu quero que você sinta todas estas coisas, Caspian. Sentir significa que você é humano. Se segure nisso. Segure e não deixe escapar. Ele estava se afastando de mim. Eu senti, e eu estava desesperada para fazê-lo ficar. — Eu não sei se eu posso — ele disse, murmurando. — É muito difícil fingir. Eu fico muito bravo... — ele parou de falar, e eu estava perdida. — O que você quer dizer? Algo... Acontece? Caspian riu amargamente. — Sim, chama-se meu humor. Quando eu descobri o que aconteceu comigo, eu estava realmente bravo sobre isso. Com raiva de todo mundo. E eu fiz coisas. Coisas que eu não me orgulho. Não é como se eu tivesse machucado alguém, mas eu danifiquei propriedades e coisas. Eu só não quero ficar daquele jeito de novo. Eu não quero me tornar... Destrutivo. Meu cérebro estava sobrecarregado. Eu oscilava de confusão para raiva para luxúria e agora de volta para confusão. Eu me inclinei contra a parede e massageei as minhas têmporas. Ele estava me assistindo. — Eu não sei como processar nada disso — eu disse. — Então eu só vou embora agora e pensar sobre isso. Eu posso... Você... Estará aqui amanhã? Eu posso voltar? — Sim — ele disse. — Se você quiser. — Eu quero. — Minha voz se quebrou, e eu tentei de novo, falando firmemente — eu quero voltar


JESSICA VERDAY

Capítulo Dez LOUCAMENTE LINDA

Ele iria deliciar-los igualmente por suas anedotas sobre feitiçaria, e os presságios terríveis e visões portentosas e sons no ar... – A Lenda de Sleepy Hollow

Quando eu dei o primeiro passo para fora do mausoléu, o sol brilhante me assustou, me deixando temporariamente cega. Mas agora a escuridão estava sumindo, e eu de repente me senti cansada. Eu coloquei minhas mãos na parte de trás do meu pescoço e massageei os músculos. Eles estavam tensos e com nós, e minha cabeça doía. Eu parei por um momento para soltar meu cabelo do rabo e corri meus dedos pelos cachos embaraçados. Eu não passei por ninguém enquanto eu saía do cemitério. Nem mesmo um paisagista. Tudo estava parado e silencioso, e eu me perguntei onde eles haviam ido. A casa, no entanto, não estava silenciosa quando eu cheguei lá. Mamãe estava falando alto no telefone, com a TV aos berros ao fundo. Eu deixei a porta bater atrás de mim e então fui em direção ao sofá. Caindo nele, eu estiquei os meus pés. Eles estavam doendo também. Eu peguei o controle remoto e zapeei por todos os canais duas vezes mas não tinha nada passando. A televisão no verão é uma droga. A mamãe veio para a sala, e eu desliguei a TV. Ela estava com aquele olhar em seu rosto que dizia que ela queria ‗conversar‘.


JESSICA VERDAY — Onde você foi? Eu dei de ombros. — Fui andar. Ela se sentou ao meu lado. — Abbey, eu queria me desculpar contigo por ontem à noite. Sinto muito que o seu jantar de aniversário não estivesse do seu gosto. — Você está se desculpando comigo por causa da comida? E quanto ás outras coisas? Ela parecia pasma. — Que outras coisas? — Bem... E quanto ao fato que você me envergonhou completamente e ficou bêbada na frente do meu amigo? — Eu não estava bêbada — ela falou rapidamente. — Eu só dei uns dois goles — não o bastante para qualquer dano. — Você poderia ter me enganado — eu murmurei. — O que foi? Eu me levantei. — Nada, mãe. Eu vou para o meu quarto. — Mas você não quer ouvir o que mais eu... — Não. Não estou interessada. Isso foi claramente a coisa errada a dizer. — Tudo bem então... Tudo bem. Se você não está interessada, eu não vou perder o meu fôlego. — Ok, mãe. — Que seja. Eu não posso acreditar que ela não via nada errado com a maneira que ela estava agindo. Eu deixei a sala e subi as escadas, balançando a minha cabeça o caminho inteiro. Uma vez que eu cheguei ao quarto, eu chutei para fora as minhas sandálias e me arrastei


JESSICA VERDAY para a cama. Rolando a minha cabeça de um lado para o outro, eu deslizei até a beirada e fechei meus olhos. Senti minha pele tensa e coçando. Eu não podia dizer o que eu estava sentindo por dentro.

*** Um bipe suave soou, e eu abri um olho. Meu telefone estava na mesa, sua luz vermelha piscando para mostrar que a bateria estava morrendo. Levantando-me, eu peguei o telefone e o coloquei no carregador. E então eu o abri e vi que tinha uma mensagem de voz. Apertando o botão para me conectar a caixa de mensagens, eu o coloquei na orelha para ouvir. — Ei, Abbey, é a Beth. Eu acabei de voltar de ficar de babá para as crianças dos Wilson, e eu escutei que você é babá deles algumas vezes também. Eu queria que você soubesse que eles têm esse novo truque de trancar a pessoa no banheiro. O que quer que você faça, não deixe o Eli te mostrar o jogo dos números mágicos dele. — Houve uma pausa, e então — Então, uh, é isso. Eu só queria te dizer isso. Você pode me ligar depois... Beth recitou seu número, e o telefone solicitou para que eu pressionasse nove se eu quisesse salvar, ou sete se quisesse apagar. Eu apertei o nove, olhando para o teclado. Como ela conseguiu o meu número? Eu coloquei o telefone de volta no carregador e afastei minha mão, mas eu acidentalmente acertei uma grande garrafa de óleo de semente de damasco que estava na mesa. Eu tentei alcançá-lo a tempo, mas não consegui. Ele caiu, e a tampa frouxa caiu para fora. O líquido zaiu sobre os papéis que estavam espalhados lá. — Droga! — Aquelas eram minhas anotações para o perfume Cinza que virara Osso — eu disse. Empurrando para tirar os papéis do meu caminho, eu acertei um tubo de teste, e eu o senti também, se quebrar em dezenas de pedaços. Rapidamente ajeitando a garrafa de


JESSICA VERDAY óleo de damasco, eu segurei as anotações encharcadas junto ao peito com uma mão e alcancei até o chão com a outra, tateando cegamente por algo que eu pudesse utilizar para limpar a bagunça. Minha mão roçou em algo que parecia ser uma camiseta amassada, e eu a joguei no topo da poça lentamente limpando a minha mesa. Eu carreguei os papéis para a minha cama e usei o canto de um travesseiro para limpar o excesso de óleo enquanto eu os espalhava para secar. Então eu voltei para limpar o vidro quebrado. Eu peguei a minha lata de lixo ao longo do caminho e cuidadosamente depositei os vidros quebrados dentro dela. Não parecia haver nenhum fragmento pequeno para se preocupar, mas enquanto eu pegava o último pedaço, ele deslizou pelo meu polegar. Imediatamente, sangue se acumulou, e eu enrolei o meu dedo no final da blusa para parar o sangramento. Somente após minha mão começar a ficar branca de tanto aplicar pressão que eu olhei para baixo para ver o estrago. Minha blusa ficou grudada no machucado, e quando eu finalmente soltei, estava marcada com brilhantes manchas de sangue. Muito sangue. Eu senti uma curiosa sensação de desapego enquanto eu olhava para a blusa. Sangue nunca me incomodou antes, e era quase como se eu estivesse olhando para o machucado de outra pessoa. Mais pontos brilhantes se acumularam na superfície do meu polegar, e eu me movi para o banheiro. O kit de primeiros socorros estava lá. Eu abri o armário de remédios com uma mão e tirei um pequeno recipiente plástico, e então abri a tampa e peguei uma pomada antibiótica e um grande curativo quadrado. Eu apliquei uma linha grossa de pomada ao longo do corte. A pomada coagulou com o sangue, tingindo a mistura de rosa. Depois de retirar as tiras de plástico do curativo, eu envolvi as pontas adesivas em uma ponta do meu polegar e então na outra. Satisfeita com o meu trabalho de remendo, eu coloquei a pomada antibiótica de volta no kit e o coloquei no armário de remédios novamente. Eu peguei um reflexo meu no espelho e então eu encarei o meu reflexo. Eu estava uma bagunça. Sangue salpicava toda a parte de baixo da minha blusa, enquanto o óleo de damasco manchava a parte de cima. Meu cabelo estava maltrapilho e emaranhado, e as minhas bochechas estavam vermelho vivo. Eu virei para a esquerda e olhei os meus ombros


JESSICA VERDAY expostos. Eles estavam vermelhos também. Queimadura de sol. A depressão deixada para trás pelo meu polegar ficou branco e então vermelho. Ai. Isso vai descascar. Sentindo-me grudenta e suja, eu tirei as minhas roupas e pulei no chuveiro. Machucou meus ombros de primeira, mas depois de uns dois minutos, eles ficaram amortecidos e sem a sensação de ardência. Eu alcancei o xampu e o virei, preparando para esguichar um pouco na minha mão. Meu polegar havia sangrado pelo curativo em um pequeno círculo carmesim, mais escuro nas beiradas e mais claras no meio. O borrifo de água estava o deixando ensopado, e eu me perguntei se sangraria de novo quando eu o substituísse o curativo depois do chuveiro. Minha mente pulou para Caspian. Ele sangrava? Ele estava morto, então a resposta lógica seria não. No entanto ele era sólido de algumas maneiras. A sua pele poderia rachar ou descascar? O que estaria embaixo? Ele sentia frio ou calor? Ele tomava banho? Água tamborilava na borda do frasco de xampu, forçando a minha atenção de volta para o que eu estava fazendo. Eu tinha tantas perguntas para ele. Quais ele iria responder? Quais ele poderia responder? Eu desliguei a água, me enrolei na toalha, e peguei um short de ginástica e uma nova camiseta. A sensação era tão boa de estar limpa novamente. A luz do sol no meu quarto estava mudando e se transformando, se inclinando para longe de mim e indo em direção às paredes. Eu parei na minha mesa para terminar de limpar o resto da bagunça. Pressionando a camiseta amassada mais uma vez em cima dos lugares onde o óleo havia derramado, eu notei que diversas manchas escuras haviam aumentado. As manchas estavam lisas e escorregadias, não úmidas, sob o meu dedo, e eu sabia que a madeira havia absorvido o óleo. Suspirando, eu joguei a camisa arruinada no lixo. Por impulso eu peguei o telefone e decidi discar o número da tia Marjorie. Ela atendeu imediatamente. — Ei, tia Marjorie, sou eu. — Eu olhei para o relógio. — Eu espero que eu não tenha interrompido o jantar. — Você não interrompeu nada que não pode ser requentado mais tarde. Você sabe disso. É bom te ouvir. Como foi a cerimônia na ponte?


JESSICA VERDAY — Foi tudo bem. Havia muitas pessoas lá, mas eu consegui passar pela coisa toda. Fora isso eu estou apenas fazendo uns trabalhos de ciências com um amigo da escola que está me ensinando. — Eles estão fazendo você fazer mais deveres de casa? — Ela soava ultrajada, e eu sorri. — Mas todo o tempo que você esteve aqui, praticamente tudo o que você fazia era coisas da escola. — Eu sei. Mas as minhas notas em ciências são realmente péssimas. Eu tenho que fazer esta grande prova no final do verão e passar, senão eu vou repetir o ano. — Você consegue — ela disse. — Eu tenho completa confiança em você. — E então ela ficou séria. — O verão é para se divertir. Você está se divertindo, Abbey? Eu olhei pela janela da minha mesa, pensando bastante sobre a minha resposta. — Eu não sei. Sábado foi o meu aniversário, e foi difícil não pensar na Kristen aqui, sabe? Mas o meu amigo Ben veio, isso foi meio estranho. E eu só... Eu não sei. Eu tenho muito no que pensar. — Oh! Eu tenho o seu cartão de aniversário aqui em algum lugar. Sinto muito que é atrasado! — Shhh — eu disse. — Você não precisa se preocupar com isso. — Então qual é o verdadeiro motivo para esta ligação? — Tia Marjorie perguntou. — Eu queria falar com você sobre algo. Você não perguntou o motivo de eu ter ido ficar contigo, e você acreditou em mim, você nunca saberá o quão grata eu estou por isso. Mas e se a razão pela qual eu tive que ir embora não seja mais válida? E se eu não estou tão quebrada quanto eu achei que estava? Isso é possível? — Eu não tenho certeza que eu entenda o que você está dizendo, Abbey. Quaisquer que as razões tenham sido, eu tenho certeza que elas foram válidas. Isso não significa que as coisas não mudam, ficam melhores. Talvez parte de perceber onde você está agora é tudo por causa de onde você estava a três meses atrás. — Então você acha... O quê? Que eu tinha que... Passar por tudo o que eu passei para ficar melhor?


JESSICA VERDAY — Eu não sei — ela disse. — Só não seja muito dura consigo mesma, por resolver o que fosse preciso resolver. Você não tem que carregar nada contigo para sempre, sabia. — Como você ficou tão inteligente, Tia Marjorie? Ela riu. — Eu não posso te contar todos os meus segredos. Qual é a graça disso? — Ok, ok. Eu vou me curvar perante a sua sabedoria e esperar aprender os seus métodos um dia. — É disso que eu estou falando — ela disse. Eu ri tanto com isso, que eu tive que afastar o telefone da minha boca por um segundo. — Onde você ouviu isso? — De um filme. Claro. — Ei... Tia Marjorie... Como foi para você? — Eu perguntei. — Hum... Se apaixonar? Ela pegou minha mudança repentina de tópico no tranco. — Foi emocionante. E amedrontador. A coisa mais apavorante que eu já fiz na minha vida inteira. Eu não sabia como eu podia ter tanta certeza. — E se você nunca teve um namorado antes? — Eu me apressei. — Como você pode saber então? — Ahh — tia Marjorie disse. — O seu amigo, humm? — Eu acho que estou apenas confusa sobre um monte de coisas no momento. — Tipo, como eu posso estar apaixonada por alguém que está morto? — Eu sempre pensei que talvez seja diferente para cada um — ela disse. — Mas para mim, eu tive que confiar no meu instinto. Um instante eu estava vendo o sei Tio Gerald como só esse rapaz bonito, e então bam! Era quase como se tudo ao meu redor ficasse mais lento. E eu sabia.


JESSICA VERDAY Eu sabia exatamente o que ela estava descrevendo. Eu sentia a mesma parada de tempo ao redor do Caspian, também. — Se você tivesse tido a chance de passar uma hora com o Tio Gerald, sabendo que a dor de perdê-lo aconteceria novamente, você faria? — Sem dúvidas — ela disse. — Eu daria qualquer coisa para ter mais um minuto com ele. Eu pegaria a mão dele, olharia nos olhos dele, e diria para ele que eu o amo. — Sua voz se quebrou na última palavra, e eu senti a dor das lágrimas se acumulando. Piscando rapidamente, eu tentei não deixá-las caírem. — Obrigada, Tia Marjorie. — Eu limpei minha garganta. — Você é a melhor tia-avó que eu poderia ter. — De nada, querida. Qualquer hora que você precisar de mim, me ligue. E você é a melhor sobrinha-neta que eu poderia ter também. Ela disse o seu adeus, e eu desliguei o telefone. Eu estava com a cabeça cheia e um coração pesado.

***

Eu esperei pacientemente no dia seguinte, querendo que duas e meia chegasse mais rápido. Por alguma estranha razão eu decidi que duas e meia seria a hora perfeita para seguir para o cemitério, e eu estava contando até os segundos. Finalmente, às duas da tarde, coloquei um vestido xadrez vermelho e branco e gastei uma quantidade excessiva de tempo no meu cabelo. Era precisamente 14h32min quando eu deixei a casa, e eu disse a mim mesma para tentar andar em uma velocidade normal. Mas quando aqueles portões do cemitério ficaram a vista, meu coração pulou descompassadamente no meu peito, e eu apressei o meu passo. Meus pés voaram enquanto eu seguia o percurso, e eu me encontrei de pé na frente do mausoléu do Caspian. Ajeitando nervosamente o meu vestido, eu fui para a porta e a abri. Então eu percebi o que eu me esqueci de fazer, e parei para olhar atrás de mim. Ninguém estava a vista, então eu deslizei para dentro.


JESSICA VERDAY Eu notei imediatamente que ele havia acendido mais velas. O cômodo estava agora totalmente iluminado. Caspian estava inclinado sobre uma de suas mesas improvisadas, com uma vela descansando na caixa na frente dele. Ele segurava um dedo erguido indicando para eu esperar. — Eu não sabia quando você chegaria aqui. Eu quase terminei. — Suas mãos estavam moldando algo. Lampejos de prata pegavam luz, e eu notei um cheiro peculiar no ar. Como fio queimado. — Que cheiro é esse? — É o meu ferro de soldar. Eu estava usando-o mais cedo. — Ele segurou o que quer que seja que ele estava trabalhando para a luz e o inspecionou. Um momento depois ele acenou e então se virou para mim. — Eu fiquei tímida de repente. — Oi... — Oi. — Ele espalmou o item e se aproximou. — Eu pensei que você pudesse mudar de idéia. Por que você voltou, Abbey? Como eu respondo isso? — Curiosidade — eu respondi de uma vez. — Eu tenho muitas perguntas. — Ah. Certo. — Seu rosto caiu, e ele se virou para o outro lado. Eu dei um passo à frente e coloquei uma mão à frente para tocá-lo, e então eu a deixei cair do meu lado. — O que você quer saber? — Ele enfiou o item que ele estava segurando em seu bolso traseiro. — Me conte como foi aquele primeiro dia. O acidente de carro. E depois. Do que você se lembra? Como você chegou aqui? — Você está enterrado aqui? Estava na ponta da minha língua, mas eu a segurei. Caspian olhou para cima e então correu seus dedos pelo seu cabelo. — Você não começa com as fáceis, não é? Qual é a minha cor favorita, quando é o meu aniversário... — Oh, eu quero saber estas coisas também, mas depois.


JESSICA VERDAY Ele fechou seus olhos. — Foi no dia após o Halloween. Eu me lembro disso... Meu pai queria que eu pegasse uma peça para ele no ferro velho. Eu fui pegar, mas eu peguei a peça errada. Quando eu cheguei em casa, papai gritou que eu nunca aprenderia, nunca conseguiria um emprego de verdade, se eu não começasse a prestar atenção. Eu atirei de volta algun comentário espertinho sobre como eu não queria ser um macaco gorduroso igual ele. Não queria unhas sujas e juntas divididas pelo resto da minha vida. E então eu saí fora. Ele abriu seus olhos e me olhou, mas eu podia dizer que ele não estava realmente me vendo. — Eu ia voltar para pegar a peça certa. Eu não sei se ele sabia disso. Eu nunca disse a ele... — Tristeza estava em todo o seu rosto, e eu estava me doendo para colocar meus braços ao redor dele. Mas eu não podia. — A próxima coisa que eu me lembro... Eu estava sentado do lado da estrada. Só sentado lá. Estava escuro, e quando eu tentei descobrir onde eu estava eu tinha esse grande buraco vazio na minha memória. Era como uma ressaca do inferno sem a náusea. Já que minha experiência com álcool era limitada a ocasionais goles de vinho em jantares especiais e casamentos, eu não sabia como era uma ressaca do inferno. Mas eu sabia sobre ter um grande buraco vazio. Eu havia tido essa mesma experiência quando a Kristen morreu. — Havia alguém por perto? Policiais, bombeiros, pessoas aleatórias? Caspian balançou a cabeça. — Não. Eu estava sozinho, e o meu carro havia sumido. Agora pensando nisso, não havia nem vidro nem nada na estrada. Eu não sei quanto tempo havia passado. Eu só terminei andando de volta para a minha casa. Papai estava dormindo quando eu cheguei lá, então eu fui para cama também. Imaginei que o meu carro estaria de volta pela manhã. Ele hesitou, e então começou a andar de um lado para o outro. — Eu devo ter dormindo... Ou algo... Por um tempo, porque eu acho que eram uns dois dias depois quando eu acordei. Eu não tenho certeza do motivo, mas o tempo passa diferentemente para mim agora. Mais rápido. — Ele olhou para uma das caixas, e eu segui o seu olhar até o despertador acomodado lá.


JESSICA VERDAY — É por isso que eu tenho aquilo — ele disse, apontando para ele. — Eu tenho que programá-lo toda vez que supostamente eu tenho que te encontrar. — O tempo passa mais rápido? Como? — Eu não consigo explicar. Mas quando eu fecho meus olhos, eu meio que caio nesse vazio. Eu não sei o que é. Talvez seja o meu corpo indo para o plano astral, ou céu... ou onde eu deveria estar. — Você se encontrou visitando você mesmo no passado ou no futuro? — eu brinquei. — Você está acorrentado? Ou você fica nos sótãos das casas antigas? Ele olhou para mim sem expressão. — Sabe. Fantasmas do Natal Passado e do Natal Futuro? Você nunca viu aquele filme do Bill Murray, Os Fantasmas Contra Atacam? E as correntes e o sótão são das casas assombradas. Tecnicamente, você é um fantasma. — Obrigado pelo lembrete — Caspian disse. Abra a boca, insira o pé. — Mas não, sem correntes ou casas assombradas. Só páginas do calendário virando cada vez mais rápido. O que é um dia para você pode ser uma semana para mim. Ou um mês. Sempre quando eu disse que iria te encontrar em um horário específico, eu tinha que programar o alarme para me certificar que eu não fosse perder. — Por que fechar seus olhos e ir para este espaço negro então? Por que não ficar acordado o tempo todo? Você precisa dormir? Ele olhou diretamente nos meus olhos. — Não é como quando eu estava vivo. Eu não preciso dormir. Algumas vezes, este cansaço me consome... — Ele pausou, então disse — Você já sentiu o tempo se arrastar? Você já esteve tão desesperada para fazer as horas desaparecerem que você faria qualquer coisa? Você sabe como é a sensação disso? — Sim — eu sussurrei. — Quando a Kristen morreu. Depois do funeral. Depois que eu te conheci... eu não conseguia dormir. Meus sonhos eram horríveis, então eu me forcei a


JESSICA VERDAY ficar acordada. Ficou tão ruim que eu comecei a pensar que a Kristen estava lá comigo. Que ela havia... Voltado. Seus olhos eram compreensivos. — Algumas vezes eu passava semanas sem acordar. — O que mudou? — Eu segurei minha respiração esperando pela resposta dele. — Você — ele disse. — Eu vi você e a Kristen aqui, e ao seu redor eu podia ver cor. Eu sabia que isso significava que você era diferente. Eu abri um sorriso. — O que você viu... Minha aura? — Não. Eu vi a sua beleza. Meu coração deu um solavanco e comecei a pulsar três vezes mais rápido. Estava batendo tão rápido que eu coloquei uma mão no peito, com medo de que ele fosse furar o meu peito. — Você está bem? — ele perguntou. — O que está errado? Você precisa se sentar? Sua preocupação por mim era adorável. — Estou bem. Eu não preciso sentar. Você só precisa dar a garota um aviso prévio quando você for dizer algo assim. Faz o meu coração palpitar. Caspian de repente parecia todo tímido e envergonhado. Eu gostava disso quase tanto como eu gostava quando ele se preocupava comigo. Mas eu fiquei com dó do pobre garoto. — Conte-me sobre o que aconteceu com o seu pai. Quando você finalmente acordou. — Eu tentei falar com ele, mas ele não respondia. Eu pensei que talvez ele só estivesse bravo sobre o negócio do carro, então eu saí para dar a ele um pouco de espaço. Vi algumas pessoas na calçada e disse algo para eles. Eles me ignoraram também. Ele andou até o banco e se sentou. Ele parecia triste. Eu me movi em direção ao banco também e sentei próxima a ele. — Por dias... Ou semanas... Eu não sei realmente quanto, eu andei pelas ruas. Gritando até estourar os meus pulmões. Tentando parar cada pessoa que eu encontrava.


JESSICA VERDAY Procurando por alguém para me dizer o que estava acontecendo. Eu até fui até a delegacia. Joguei-me em uma das cadeiras deles e esperei o dia todo. Nada mudou. Eu balancei minha cabeça, aterrorizada pelo que ele estava dizendo. — Você... Fez coisas... As pessoas... Passavam através de você? Caspian não respondeu. Só me olhou. Eu queria tanto tocá-lo, que eu prendi os meus dedos juntos para que eu não esquecesse de novo e tentasse alcançá-lo. — Você deve ter se sentido como se estivesse ficando louco — eu sussurrei. — Como se todos ao seu redor fossem parte de algo conectado, mas você havia se soltado. — Foi exatamente como eu me senti. — Como você chegou aqui? No cemitério? — Eu perguntei para ele. — Você...? — Eu não estou enterrado aqui. E por um tempo eu só fiquei no meu antigo quarto. Não era difícil. Eu não ficava com fome ou com sede, então eu nunca precisava de comida. Eu tentei não mover nada no caso do meu pai notar, mas ele não subiu para o meu quarto, então eventualmente eu só parei de ligar. Isso funcionou até... — ele parou. — Até? — eu estimulei. Ele fez uma cara engraçada, algo entre horror e frustração. — Você já viu todas as suas coisas sendo jogadas fora? Viu os seus pais colocarem os itens da sua vida dentro de sacos de lixo e colocá-los do lado de fora na esquina? Como se fosse o lixo de ontem? Ele colocou uma lona em cima dos sacos... — ele disse lentamente. Eu esqueci, ou lembrei, mas eu só não me importei. Eu peguei a mão dele. E encontrei o banco sólido quando elas atravessaram direto. Ele olhou para baixo, assustado. — Sinto muito — eu disse. — Eu só... Oh Deus, Caspian. Isso é horrível. E terrível. Nenhum pai deveria fazer isso nunca. Caspian balançou sua cabeça. — Eu não culpo o meu pai. Ele esperou por bastante tempo. Era hora de seguir em frente com a vida dele.


JESSICA VERDAY Ele tracejou os arabescos no braço do banco antes de falar novamente. — Eu segui os caminhões que levaram as minhas coisas. Eu pensei que elas iriam para o lixão, mas elas foram para a Legião da Boa Vontade. Então eu esperei até escurecer e usei o pé-de-cabra na fechadura da loja. Enchi uma das sacolas com o meu material de arte, algumas roupas, e uns dois livros. — Eu fui para o colégio e fiquei lá por um tempo. Algumas vezes eu andava pelos corredores quando o sinal tocava, só para sentir como se eu fosse parte de alguma coisa novamente. Eu pensei que se eu tentasse o bastante, roçasse nos ombros de alguns deles o bastante, que alguém saberia. Alguém teria que me ver ou me sentir. Um olhar travesso se espalhou pelo seu rosto, e eu estava atordoada novamente pela sua beleza. Meu coração rapidamente derreteu com a visão dele. — Eu tenho que admitir, no entanto, não era tão ruim lá. Talvez você já escutou sobre a lenda urbana na minha escola? Eu inclinei minha cabeça para um lado. — Me esclareça. — A lenda diz que o banheiro masculino do Colégio White Plains é assombrado. Estranhamente o bastante, coisas estranhas somente acontecem quando fortões estão batendo em calouros. — Eu presumo que era você? — Talvez. Nada faz um jogador de futebol gritar mais rápido do que as palavras "você vai terminar com apliques de cabelo ruins e pequenas bolas quando você chegar aos trinta" de repente aparecendo no seu espelho. — Esteróides? Ele mostrou um sorriso. — Exatamente. É por isso que os mais grandões são sempre os que gritam mais alto. O encanamento é horrível também. Pias raramente funcionavam privadas que não davam descarga nos momentos mais inoportunos. — Por que você não ficou lá? Praticando atos aleatórios de... Não deixar privadas darem a descarga?


JESSICA VERDAY — O verão chegou. A escola terminou. Tudo estava parado e cansativo. Então eventualmente eu comecei a ficar mais e mais acostumado com o silêncio. O pó. Eu sabia que quando a escola voltasse, eu não queria estar por perto daquelas pessoas mais. Este lugar me veio à mente, e eu imaginei que seria perfeito. Levei três dias procurando até encontrar um mausoléu que estivesse aberto. — Então... Você só mantem suas coisas aqui e no seu tempo livre, saí com a garota louca que pode te ver? — Loucamente linda — ele disse com um meio sorriso. — Sim, é basicamente isso.


JESSICA VERDAY

Capítulo Onze MARIONETE DAS SOMBRAS

A situação isolada desta igreja parece ter sempre feito dela um local favorito dos espíritos perturbados. – A Lenda de Sleepy Hollow

Enquanto eu esperava pelo Ben para a nossa próxima sessão de tutoria, eu estava praticamente vibrando com energia. As coisas estavam indo tão bem com o Caspian, e a mamãe e o papai estavam sendo legais também. E se algumas vezes, bem tarde da noite na cama, eu me perguntava se eu realmente estava ou não louca, eu dizia para mim mesma que não importava. Eu estava muito feliz para me importar. Ben entrou e se sentou, mas eu notei logo que ele estava agitado. — Ben? — eu disse. — O que foi? Você parece preocupado. Ele olhou para a mesa. — Eu só, uh, não queria que as coisas ficassem estranhas... Depois da outra noite. — Eu sinto tanto sobre aquilo. Minha mãe... — Não, não aquilo. Sua mãe estava normal. Eu quis dizer eu. Nós. Eu indo embora. Sinto muito. Eu já havia me esquecido sobre aquilo. — Sem problemas. Nós estamos bem.


JESSICA VERDAY — Você tem certeza? — Sim. Agora vamos começar. — Tudo bem. Você tem um marca-texto? Nós vamos precisar de um para a nossa próxima sessão. — Me deixe checar a gaveta da tranqueira — eu disse. — Eu acho que tem um lá. Eu cavei através de uma pilha de baterias antigas, elásticos, lâmpadas queimadas (Sério? Por que nós estamos guardando isso?), e cupons de promoções anos após a sua data de validade, mas eu não consegui localizar um marca-texto. — Não tem aqui — eu disse para ele. — Me deixe ver lá em cima. Eu sei que eu tenho um no meu quarto. Quando eu alcancei o meu quarto, eu fui diretamente para a minha caixa de suprimentos que estava guardada embaixo da minha mesa de trabalho. Logo que eu senti a tampa de um marcatexto, eu o tirei. Um pequeno pedaço de papel estava preso nele, e caiu no chão. Eu o reconheci de cara. Era a receita para o chá de menta que a Katy havia me dado de Natal no ano passado. Eu nem havia notado que havia sumido. Isso é porque você não queria notar, o meu subconsciente sussurrou. Notar que havia sumido significaria notar que ele era real. Eu o segurei com uma mão e corri o meu polegar por cima da textura amassada. Mesmo que Nicholas e Katy clamassem serem fantasmas, ou Sombras, como eles chamavam, e diziam que eles eram personagens do "A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça", ele eram reais, de alguma forma. Eu havia visitado a casa deles. Bebido o chá deles. Trocado presentes com eles. Lentamente, eu coloquei a receita novamente na mesa. Meus olhos e dedos involuntariamente foram para a delicada xícara com borda dourada, coberta de rosas que estava lá em cima. Eles me deram ela também. Quase invisível, e amontoada próxima a vários vidros de perfume que eu estava envelhecendo, havia acumulado uma fina camada de pó. Eu deveria ir visitar o Nicholas e a Katy. Provar a mim mesma... Provar a mim mesma o quê? Eu não sabia. Mas eu iria conseguir prova... De algo.


JESSICA VERDAY

A campainha tocou no final da tarde, logo quando eu estava me arrumando para ir ver o Caspian novamente. Eu estava literalmente com a minha mão na maçaneta, quando o badalar ecoou pela casa. Aranhas correram ao longo do meu couro cabeludo quando eu vi quem estava lá, e imediatamente eu me lembrei do nosso último encontro. Foi estranho ver um menino e uma menina que eu havia conhecido no cemitério. Desta vez eles estavam vestidos com a cor cáqui — calça para ele, saia longa para ela — e camisas pólo brancas. Eles pareciam ser jovens de uma escola particular ou Testemunhas de Jeová. Exceto pelo cabelo deles. O menino tinha um cabelo moicano, só que era vermelho desta vez, e o cabelo loiro e roxo da menina havia sido tingido completamente de turquesa. Logo que eu os vi, eu dei um passo para trás. Eu não consegui evitar, minhas pernas não estavam mais no meu controle. — Olá, Abbey — a garota cantarolou naquela linda e melódica voz estridente. — Você se lembra de nós? Algo se empurrou nas beiradas da minha memória. Fez o meu estômago enjoar. — Cacey e Uri — eu respondi. — Isso mesmo — Uri disse. Sua voz era melódica também, mas de uma forma diferente. Um timbre escondido percorria em sua voz, esticado como uma fina corrente de prata. — Nós podemos entrar? — Isso é, hum... Eu tenho que... Eu realmente devo... — eu perdi a linha do pensamento, e a casa vazia pairava nas minhas costas. O pai estava trabalhando, e mamãe estava em uma reunião. Eu tive a vontade mais estranha de ligar para o 190, mas o que eu iria dizer? ‗Me ajude, há dois jovens vestidos em cáqui e sendo educados na minha porta da frente?‘ Uma risada histérica se acumulou, e eu empurrei esse pensamento para longe. Eu estava me sentindo bem mais calma agora. Feliz, até. Tudo iria ficar bem. — Claro! — Eu disse, abrindo a porta escancaradamente. — Entrem. Vocês querem algo para beber?


JESSICA VERDAY Primeiro Cacey, e então Uri cruzou a soleira e me seguiu para dentro. — Eu quero uma Coca, se você tiver — Cacey disse. Eu entrei na cozinha e peguei para ela uma da geladeira. Trazendo de volta, eu me virei para o Uri. — Algo para você? — Não, estou bem. Ambos sentaram no sofá, e eu sentei na espreguiçadeira no lado oposto deles. Cacey abriu a sua lata e tomou o negócio inteiro em três goles. Ela se virou com olhos arregalados e claros para mim enquanto eu assistia espantada. — Eu simplesmente amo essa bebida — ela gorjeiou. - Co-ca-Co-la. Faz você querer escrever músicas sobre ela. Bem, isso era definitivamente uma das coisas mais estranhas que eu já ouvi. Eu olhei para o Uri. Ele estava sorrindo indolentemente para ela. Então, de repente, ele virou o seu olhar para mim. — Você gosta de Coca-Cola, Abbey? — ele perguntou. — É uma das suas coisas favoritas? — Hum, bem, sim. — E quanto à batata frita? Chocolate Hershey? Doritos? Pizza? Estes são aqueles vícios tipicamente adolescentes, não é? Vícios. Essa era uma escolha interessante de palavras. — Sim, eu acho... Cacey se inclinou para frente. — Cigarros? Bebida? Um pouquinho de gin e tônica depois da escola para ajudar a aliviar o estresse da pressão dos colegas? O quê? Eca. — Estes são geralmente considerados vícios, mas eles não são meus. — Por que eu estava respondendo eles? Por que eles estavam aqui? O que eles queriam? Eu abri a minha boca para virar a mesa, e fazer perguntas para eles, mas Cacey me interceptou. — Eu sei! Sexo com garotos... Em carros velozes, e na cama dos seus pais. Ou com garotas. Não estou julgando. Eu me levantei. — Quem são vocês? Por que vocês estão me perguntando todas essas coisas? Cacey olhou para Uri e sorriu. Seus olhos eram mais pálidos, se isso fosse possível. Não havia absolutamente nenhuma cor neles agora, nem mesmo o mínimo indicativo de cinza. Era como


JESSICA VERDAY encarar dentro da água cristalina. — Nós somos de uma faculdade local — ela disse. — Só juntando estatísticas e dados. Você não consegue perceber pelas nossas roupas? Eles estavam mentindo. Eu sabia que eles estavam mentindo, mas eu não os acusei disso. — Oh, tudo bem. — Você tem algum plano para o seu futuro? Faculdade ou sei lá? — Uri me perguntou. Eu olhei de um lado para o outro entre eles. Uma sensação enjoativa cresceu no fundo do meu estômago, e eu desesperadamente queria que eles fossem embora. — Vocês não deveriam... quer dizer, vocês não têm algum lugar para ir? — Eu olhei para a porta. — Você quer que nós vamos embora? — Cacey disse um som alegre em sua voz. — Oh, eu entendi. Não. — Por que você apenas não responde as nossas perguntas? — Uri me perguntou. Seu tom era tranqüilizador, e eu quase fechei os meus olhos por um segundo para captar a melodia. —Você não quer responder para eles? Sim. Não. Uma enxaqueca estava começando a pulsar no fundo do meu crânio. — Eu realmente acho que não seja da conta de vocês... Cacey e Uri ambos me encararam. Cada pelo no meu braço e na parte de trás do meu pescoço se levantou. As aranhas dançarinas triplicaram o ritmo, e eu quase arfei em voz alta com a sensação arrepiante. Colocando uma mão nas minhas têmporas pulsantes, eu não reconheci a voz sussurrada que veio de mim. — Por favor, não me pergunte estas coisas. Eu não... Só por favor, não. Uri desviou o seu olhar e se virou para olhar Cacey. Ela balançou a cabeça para ele. — Não. — É muito — ele discutiu. — Depois. Cacey deu um suspiro enojado e então começou a examinar suas unhas. — Tudo bem, que seja. Uri parecia como se ele quisesse agarrar ela pelo braço e puxá-la de pé, mas ela ofereceu um olhar mortífero para ele. Minha cabeça estava se abrindo, mas eu senti aquela estranha sensação de calma me inundando novamente. Em um movimento veloz Cacey se levantou e trotou até a porta. Uri estava ao lado dela uma batida de coração depois.


JESSICA VERDAY — Vejo você por aí, Abbey — Cacey disse, agitando seus dedos em uma aproximação de aceno. — Da próxima vez. Uri passou ao lado dela e abriu a porta. A luz do sol entrou, iluminando aos dois em silhuetas brancas de luz. — Oh, e experimente um pouco de bicarbonato de sódio depois. Tira a queimação — ela falou antes de pisar na direção da luz do sol. Eu sentei no sofá, encarando a porta como se eu pudesse ver através dela. Como se eu pudesse vê-los andando pela rua, e para longe da minha casa. Tudo o que eu sentia uma sensação de cinza queimada na minha língua. Olhos escuros e vermelhos, coisas de couro me perseguindo até vielas apertadas e ruas laterais sujas. Toda vez que eu tentei gritar, ele vinham mergulhando na minha direção, cacarejando e cuspindo fogo. Eu me virei cegamente, procurando por algo para afastá-los, mas com cada tijolo ou pedra ou pedaço de madeira que eu conseguia encontrar se transformava em cinzas em minhas mãos. Desintegrando com o meu toque. Em algum lugar, no fundo da minha mente, eu sabia que isso era um pesadelo. Sabia que eu estava deitada na minha cama, presa embaixo de lençóis remexidos. Tremendo enquanto o suor esfriava a minha pele. Eu abri a minha boca novamente para gritar. Na minha mente, minhas cordas vocais se flexionavam e se esticavam. Eu senti a tensão enquanto um gritou rouco fazia seu caminho pelos meus lábios. Estava quase lá... Quase livre... A coisa escura voou baixo, e eu dei um passo para trás. Jogando minhas mãos para cima, tentando proteger o meu rosto... E o engoli inteiro. Eu sentei, fervorosamente agarrando as cobertas no escuro. Estava dentro de mim. Foi... Um sonho. Eu olhei ao meu redor. Guarda-roupa, banheiro, mesa, porta. Nenhuma forma volumosa. Sem sombras escuras. Sem olhos vermelhos. Mas só para estar mais segura, eu me estiquei e liguei a minha luz. Um brilho morno e amanteigado preencheu o quarto e varreu a minha onda de pânico. Olhando para os meus lençóis remexidos, eu lentamente soltei os meus dedos. Minhas pernas estavam suadas e grudadas quando eu me movi. Eu dei diversos passos em direção ao banheiro e tateei em busca do interruptor de luz. O piso estava frio no meu pé descalço enquanto eu me mexia e ficava de pé na frente da pia, agarrando as beiradas.


JESSICA VERDAY Olhando para o meu reflexo no espelho, eu virei minha cabeça de um lado para o outro e olhei para a minha garganta. Não havia nenhuma... Marca, nem nada. Sentindo-me um pouco tola, eu abri minha boca e olhei lá dentro. Nada escuro ou pavoroso lá também. Eu me arrepiei quando eu pensei naquela coisa dando um rasante na minha direção. Forçando o seu caminho pela minha garganta. Ele havia feito o som de guincho mais horrível... Eu me arrepiei novamente e corri minhas mãos embaixo da água fria. Pressionando-a nas minhas bochechas, eu tentei acalmar meus pensamentos rápidos. Foi somente um sonho, mas a sensação foi real. Um único pensamento passou pela minha mente, e sem questionar, eu o segui. Deixando o banheiro para trás, eu coloquei um jeans e um moletom escuro. Então eu fui para o assento perto da janela e olhei para o terreno do lado de fora. Havia uma seção de telhado reto abaixo da minha janela, preso a uma treliça pendurada. A queda até o chão não parecia tão ruim, e eu tinha quase certeza que eu iria conseguir. Eu ergui a janela até o meio e inclinei minha cabeça para a escuridão. Eu tenho que ser cuidadosa para não bater em algo lá embaixo e acordar a mamãe e o papai. Eu puxei minha cabeça de volta para dentro. O que eu estava pensando? Eu poderia realmente sair de fininho da casa? Se eles me pegassem, eu estaria tão morta. Eu olhei de volta para a minha cama e senti o gosto de cinza queimada novamente. De jeito nenhum. Eu não ligava para o que acontecesse. Eu não voltaria para a cama, e eu não queria ficar aqui. Erguendo a janela um pouco mais, eu joguei uma perna por cima da beirada. Um dedo tocou o telhado, e eu passei minha perna por cima. Balançando-me na ponta dos pés, eu fechei a janela novamente, a deixando aberta apenas o bastante para que eu pudesse entrar de novo, mas não tanto que parecesse suspeito. Tardiamente, eu percebi que eu provavelmente deveria ter colocado alguns travesseiros embaixo dos meus lençóis para fazer parecer que eu ainda estava lá no caso da mamãe vir me ver. Mas eu não iria subir novamente para fazer apenas isso. Além disso, eu não ficaria muito tempo fora de qualquer forma. Movendo-me de volta para a beirada onde a grade estava eu enfiei meu pé nos buracos cruzados. Ele se assentou quando eu coloquei meu peso em cima dele, e eu congelei, mas um segundo depois estava parado. Eu o agarrei e empurrei para confirmar. Estava firme.


JESSICA VERDAY Descer foi bem mais fácil do que eu esperava, e os meus pés atingiram o chão rapidamente. Parecia que tudo estava limpo, e eu me movi furtivamente pelo quintal e até a rua. A maioria das casas estava escura exceto por uma luz no poste, e uma sensação ruim passou por mim sobre o que eu estava fazendo. Quando os portões maciços de ferro do cemitério apareceram na minha frente, eu dei mais uma olhada ao redor, então deslizei por eles. O cemitério estava lindo e misterioso sob a luz da lua, a cor branqueada de ossos das lápides antigas tornou-se leitosas e luminescentes. As trilhas estavam escuras, mas os meus pés sabiam aquela que me levaria para ele. Era pacífico e silencioso enquanto eu passava por pequenas cercas de metal e estátuas de anjos tortas, mas então eu senti um pequeno frisson de medo quando eu imaginei olhos vermelhos e coisas com asas voando atrás de mim. Eu apressei meu passo para uma meio corrida, e eu alcancei o mausoléu dele. Deslizando pela porta, eu vi que não havia nenhuma vela acesa. E se ele não estiver aqui? E se ele foi perambular pela noite? Terror começou a se acumular na parte de trás da minha garganta, e eu forcei os meus olhos a se acostumarem com a escuridão. A escuridão total e completa, que era negra... E vazia... E bocejando na minha frente. Um farfalhar chamou minha atenção. Havia ratos aqui? Ratos tinham olhos em forma de contas. Vermelhos. Redondos. Olhos. O som se aproximou, e eu tentei respirar mais lentamente. Se aquilo não me ouvisse, não poderia me encontrar. Mas o meu coração não parava de pulsar, e o meu pulso estava acelerado. Eu queria desesperadamente fechar os meus olhos, mas eu nem podia falar isso. O barulho parou. — Abbey? A voz dele estava ao lado do meu ouvido, e eu virei a minha cabeça, buscando por ele cegamente no escuro. Um lampejo de eletricidade formigou levemente em minhas mãos, e eu sabia que ele estava lá. — O que está errado? — Caspian disse. Eu queria correr para os braços deles e que ele dissesse que tudo ficaria bem. — Eu tive um pesadelo. Não consegui dormir. — Então você veio aqui?


JESSICA VERDAY Eu tinha cometido um erro? — Sinto muito — eu sussurrei. — Eu só queria te ver, mas eu não deveria ter... — Não, não, é bom. Estou feliz que você veio me ver. Mas os seus pais não vão descobrir? Eu balancei minha cabeça, então percebi que ele provavelmente não podia ver no escuro. — Eu saí de fininho pela janela. Eles nunca vão notar, e eu não vou ficar por muito tempo. — Eu me mexi desconfortavelmente. — Você pode, hum, acender algumas velas? Meu sonho era bem assustador. — Oh, sim. — Ele se moveu, e então houve um barulho suave de riscar. A luz brilhante de uma chama explodiu para a vida no final do fósforo, e ele acendeu duas velas à minha esquerda. — Você quer se sentar no banco? Eu assenti e o segui, esperando enquanto ele acendia diversas velas mais que estalavam e derramavam sua luz ao redor da tumba. Ele deslizou para se sentar em uma posição contra a parede próximo de mim. Era mortalmente silencioso em nosso pequeno espaço, e eu tentei imaginar ele aqui dia após dia, sozinho. Iria me deixar louca em pouco tempo. — Quer falar sobre isso? — ele perguntou. — O sonho? Eu coloquei meu braço em torno da parte de trás do banco. O metal estava frio através da espessura do meu moletom. — Foi horrível. Coisas obscuras estavam me perseguindo para dentro de becos escuros. E eu não conseguia me defender. Então este monstro desceu sobre mim, e... Caspian se levantou e se moveu para uma das caixas. Alcançando embaixo, ele puxou dois itens e então voltou para mim. — Aqui. — Ele segurou uma camiseta. — Você está com frio. Você está tremendo. Eu não iria discutir que era somente por causa do sonho, então eu a peguei. Era de abotoar, e parecia lá sob os meus dedos. Inclinando minha cabeça para trás, eu disse — Obrigada. Então ele colocou um pequeno saco marrom do meu lado. — Segundo, uma distração. Desculpa que não está muito bem embrulhado. Isso foi o melhor que eu consegui. Feliz aniversário, Astrid. Ele havia me comprado algo? Eu abri o saco e olhei dentro dele. Um livro com uma ilustração colorida de Ichabod Crane e o Cavaleiro Sem Cabeça estavam lá. — Ohhhh — eu sussurrei, o tirando reverentemente. — É uma versão infantil do livro — ele admitiu, com um sorriso envergonhado. — Eu espero que esteja tudo bem.


JESSICA VERDAY Eu folheei as páginas. Era um livro antigo, edição de 1932, e quebradiço por causa da idade. A cada três páginas havia uma linda ilustração em preto-e-branco. Era a coisa mais linda que eu já tinha visto. — É perfeito — eu disse. — Obrigada parece tão inadequado. Onde você o conseguiu? — Não se preocupe com isso — ele respondeu. — Eu só estou feliz que você gostou. Eu o abracei junto ao peito. — Eu amei. Ele ficou parado lá por um minuto, olhando para baixo com uma estranha expressão em seu rosto. — O sonho de todo cara — ele murmurou suavemente. — Ser aquele para quem a garota vem correndo quando ela quer ser salva. E eu nem posso fazer nada sobre isso... Seus olhos eram tão intensos, me segurando cativa. Minha respiração prendeu na minha garganta. — Você pode vir sentar ao meu lado — eu ofereci. — Me faça companhia. — Mas ele se moveu de volta para a parede, reivindicando seu assento no chão. — É melhor que eu fique aqui. Mais fácil assim. Melhor para quem? Eu queria dizer, mas eu tentei não deixar o desapontamento aparecer no meu rosto e me ocupei com enrolar a camiseta dele ao meu redor. — Então como você pode tocar as coisas, mas não a mim? Hum... Pessoas. Pessoas quero dizer. Caspian abriu suas mãos na frente dele e olhou para elas. — Eu não sei por que eu posso mover caixas, pegar meu carvão, apontar um lápis, quebrar um galho... Mas não posso te tocar. Talvez seja a regra deste lugar, ou seja lá o que eu for. Não tenho certeza. — Você já tentou tocar outra pessoa? — Sim. O pessoal na escola, meu pai, estranhos na rua... Infernos, até fui de igreja em igreja. Imaginei que com certeza se alguém pudesse me ver ou me tocar, seria um padre. Mas eles deslizaram pelas minhas mãos tão facilmente quanto o resto. Eu pensei novamente naquela noite no meu quarto, e no dia seguinte na biblioteca quando ele havia me beijado. — Como você foi capaz de...? — eu me senti ruborizar. — Como você conseguiu me beijar na biblioteca? Isso não deveria ter sido impossível? E antes que eu fosse embora, aquele dia no rio quando eu te encontrei na chuva, você disse que você podia me tocar apenas por um dia. O que isso significa? Ele desviou o olhar, e eu tive que me esforçar para ouvir a resposta. — Eu posso apenas te tocar no dia da minha morte. Primeiro de novembro. Eu toquei o seu rosto no seu quarto porque era


JESSICA VERDAY depois da meia noite. E foi por isso que eu queria te encontrar na biblioteca aquele dia. Foi por isso que eu estava tão inflexível que você não esquecesse. — Por que você não ficou mais tempo? No meu quarto? Se você podia apenas me tocar naquele dia, porque você estava com tanta pressa para partir? — Eu não tinha certeza quanto, exatamente, eu podia... Fazer — ele disse. — Foi por isso que eu escolhi a biblioteca. Lugar público e tal. Minhas orelhas esquentaram quando eu percebi o que ele quis dizer. Eu tossi uma vez e limpei minha garganta. — Como você descobriu? A primeira vez. Como você sabia que você podia apenas me tocar naquele dia? — No primeiro aniversário da minha morte, no ano anterior, eu estava no centro. Eu nem sabia que dia era, mas eu dei um encontrão em alguém. Literalmente. Normalmente, eu só passava reto por eles, mas naquele dia isso não aconteceu. De primeira eu pensei que algo havia mudado. As pessoas me viram. Elas me escutaram. Pela primeira vez em um ano inteiro. — Seus olhos ficaram tristes. — Então eu passei por uma banca de jornal e vi que era primeiro de novembro. Daí eu somei dois mais dois. Ele olhou para mim. — Eu queria ver o meu pai. Eu quase fui, também. Eu queria dizer para ele o que tinha acontecido comigo, e que eu sentia muito. Mas então eu pensei sobre o quão traumático seria ver o seu filho morto um ano depois do acidente de carro dele, então eu não fui. Eu terminei apenas sentado em um parque o dia todo. Fazendo o que eu fazia todo dia. Vendo as pessoas passarem. — Isso deve ter sido difícil — eu disse. — Finalmente ser parte de algo, e mesmo assim estar do lado de fora. Caspian assentiu. — E então no dia seguinte? Foi a mesma coisa novamente? Outro aceno. — Voltei a ser um fantasma. Eu olhei para as minhas mãos. — Quando você me encontrou? — Ano passado. Era primavera. Eu te segui, mas então você foi embora. Eu me lembro, porque eu podia ver as flores florescendo. Elas eram rosa. Eu sabia logo que algo sobre você era diferente.


JESSICA VERDAY — E quanto às cores? Você disse algo antes sobre ter visto cores ao meu redor. Ele assentiu e correu seus dedos pelo cabelo. Na meia-luz, as mechas louro-branco estavam escondidas. Mas a faixa preta estava ousada como nunca. — Eu não posso ver cores em lugar algum exceto ao seu redor. Normalmente tudo o que eu vejo é cinza. É como viver nesse mundo de sombras. Mas ao seu redor... — Ele fez uma forma arqueada com as mãos. — Há uma... Bolha ou algo que te cerca. Seus olhos, seu cabelo, suas roupas. — Ele riu. — Até mesmo a árvore que estava ao seu lado compartilhava sua cor. Quando você se moveu, eu pude ver a grama verde embaixo dos seus pés. Ele parou de repente e se inclinou para frente, dizendo com bastante atenção — É emocionante, Abbey. Você me emociona. Meu coração deu um solavanco, e eu ofereci a ele um olhar sério. — Aí vem você de novo. Dizendo coisas que fazem eu... — Um grande bocejo me interrompeu, e eu parei de falar, inacreditavelmente envergonhada. — Por que você não se deita no banco? — Caspian sugeriu. — Eu tenho um travesseiro. — Ele se levantou novamente e foi para um lugar no canto do outro lado do cômodo. Então ele trouxe de volta não somente um travesseiro, mas também uma jaqueta preta que eu havia pegado antes. Ele segurou as duas coisas para mim. — Mesmo eu não precisando dormir, me ajuda ter algo que me lembra de... Antes. Sinto muito, eu não tenho uma coberta. Uma jaqueta está bem? — Sim, com uma condição. Ele inclinou sua cabeça para mim, esperando que eu continuasse. — Você pode vir aqui? Sentar no chão ao lado do banco? Ele veio mais perto, e eu peguei o travesseiro primeiro. Então eu peguei a jaqueta e puxei meus pés para cima, mudando para uma posição deitada. Caspian se ajoelhou no chão ao meu lado, sorrindo enquanto ele pegava um pedaço da jaqueta que estava pendurada no chão. Bom Deus, ele é lindo quando ele sorri. Eu sorri timidamente para ele e arrumei a jaqueta ao me redor antes de colocar a minha cabeça no travesseiro. Ele estava perto o bastante para alcançar e tocar... e eu mordi meu lábio diante da tristeza repentina que me inundou.


JESSICA VERDAY — Você consegue fazer figuras nas sombras? — eu sussurrei para ele, desesperada para fazer o sentimento triste desaparecer. Ele prendeu dois dedos juntos e os agitou, dobrando seu corpo para que a forma que ele estava criando aparecesse na parede. — Kee-yar, kee-yar — ele disse suavemente. — O que é isso? — eu perguntei. — É o som que um falcão faz. Era isso que a minha figura na sombra era... Um falcão. — Eu pensei que era um azulão — eu provoquei. — Faça de novo. Ele fez a sombra novamente, desta fez a fazendo bater as asas agitadamente. Eu ri, e então ele moveu seus dedos, fazendo algum tipo de sombra arredonda bizarra na parede. — Três chances para adivinhar o que é. Eu o estudei cuidadosamente. — Coelho? — Não. — ele balançou a mão para simular o movimento. — Cachorro? Ele riu. — Onde você viu um cachorro ali? — Eu não sei. Ok, última chance, uma... Tartaruga? — Ehhhhh, resposta errada. É um tatu. — Um tatu? Como você aprendeu à fazer uma sombra de tatu? Seu rosto se tornou tímido. — Tudo bem, você me pegou. Eu não sabia o que aquilo era. Eu me aconcheguei ainda mais embaixo de sua jaqueta. Minhas pálpebras estavam começando a ficar pesadas. Caspian posicionou seus dedos em um padrão intrincado. — Aí está. Eu vou fazê-los, e então você me diga o que eles são. Sem mais chances. Eu lutei contra outro bocejo. — Ok.


JESSICA VERDAY O primeiro fantoche obrigatório de sombra é... um palhaço incrivelmente auto-consciente. — Ele mexeu os dedos. — O segundo... — Minha pálpebra esquerda caiu. Então a minha direita. Eu pisquei com força, e as paredes se mexeram ao redor dele. —... Um panda de três pernas. Meus olhos permaneceram fechados, e eu me senti deslizando na direção do sono. — Ovos mexidos... Bacon de acompanhamento. — Sua voz subia e descia ao meu redor. — Você está caindo no sono, Abbey? Eu lutei para permanecer acordada. — Nãoooo... — eu me escutei dizer. — Caspian, não vá embora, ok? Eu não quero que eles me peguem. — Não se preocupe. Eu ficarei com você. Tudo estava confuso agora, mas eu tentei permanecer acordada por tempo suficiente para dizer a ele mais uma coisa. — Fico feliz que você... Pode... Ver minhas cores, Caspian. — Eu também, Abbey — ele disse suavemente. — Bons sonhos.


JESSICA VERDAY

Capítulo Doze VELHOS AMIGOS

A parte principal das histórias, no entanto, tornou-se o espectro favorito de Sleepy Hollow, O Cavaleiro Sem-Cabeça, que foi ouvido muitas vezes ultimamente...; e, dizem, amarrava seu cavalo à noite entre os túmulos no cemitério da igreja. – “A Lenda de Sleepy Hollow”

—Abbey... Abbey... Meus olhos se abriram lentamente, e o rosto de Caspian surgiu à vista. — O que você está fazendo aqui?— Eu perguntei, esfregando um olho. Meu cabelo estava no meu rosto, e eu empurrei para longe. — Estou aqui porque este é o meu lugar, lembra? Você veio me ver. Correto. Eu escapei de casa. — Droga! Eu tenho que voltar. Que horas são? Meus pais vão me matar! — Está tudo bem. Você dormiu por apenas uma hora. Tem bastante tempo para voltar antes que eles acordem.


JESSICA VERDAY Eu bocejei e estiquei meu pescoço duro de lado a lado. Meu cérebro já estava acordando e correndo. Meu cabelo está bagunçado? Eu tenho mau hálito matinal?. E quanto a babar... Eu espero que eu não tenha babado. Oh Deus, eu ronco? Sem saber o que dizer, eu cuidadosamente enrolei a jaqueta e então a blusa. — Dizer-Obrigada por me deixar dormir na sua cripta vai funcionar? Mas o que saiu foi - Você esteve acordado esse tempo todo? — Eu desejei me chutar logo que disse aquelas palavras. Por que eu não posso ser espirituosa? Eu estava permanentemente amaldiçoada com não-espirituosidade. Caspian sorriu para mim. — Sim, eu fiquei acordado. Eu não queria fechar meus olhos e cair na... Escuridão. — Então ele soltou — Eu não fiz isso, uh, sentar aqui e ficar olhando pra você, ou nada estranho como isso. Eu tinha um livro. Bem, aquilo foi estranhamente confortante e desapontador ao mesmo tempo. — Espero que eu não tenha roncado. — Não. Você teve mais algum sonho ruim? — Não, nada mais de sonhos. Ele se levantou e balançou os pés. — Eu não quero que você pense que eu estou te mandando embora ou qualquer coisa, mas você provavelmente deveria estar no caminho de casa antes que seus pais acordem. —Sim, você está certo. — Eu devolvi sua jaqueta, então olhei para baixo para sua camiseta que eu ainda usava. —Eu posso, hum... Estaria tudo bem se eu... Ficasse com isso?— Aquilo soou tão falho, mas eu queria ter algum pedacinho dele. —Claro. Apesar de não saber o por que. Porque é sua... Eu mantive isso para mim mesma. — Obrigada.


JESSICA VERDAY Caspian me acompanhou para fora do mausoléu, e a brisa do início da manhã estava fresca. Movemos-nos em silêncio até chegarmos ao portão. Enfiando minhas mãos nos bolsos do meu moletom, eu virei para olhá-lo. — Obrigada por me deixar dormir. Foi... Legal. Ele bufou. —Yeah. Eu tenho certeza de que passar a noite numa tumba assustadora é a idéia de encontro perfeito de toda garota. —Não foi assustador. Você estava lá. — É por isso que foi assustador. Por minha causa. Eu rolei meus olhos para ele. —Não foi você. Não diga isso. Além disso, você vai arruinar minha lembrança feliz de bonecos de sombra. — Sou muito bom em bonecos de sombra. Talvez eu deva começar meu próprio negócio. — Ele sorriu, e eu senti calor se espalhando por mim. Eu olhei para o céu clareando acima. — Eu realmente tenho que ir. — Eu cavei meu sapato no chão. —Mas se eu, talvez, vier hoje mais tarde... Você estará aqui?— Caspian assentiu, então girou e foi andando, pausando apenas o suficiente para dizer, - Você sabe onde me encontrar. Eu continuei lá, assistindo sua figura recuando, então sacudi minha cabeça. Nós praticamente passamos a noite juntos, e ele era capaz de agir tão casualmente sobre isso? Garotos são tão difíceis de decifrar algumas vezes. Um movimento à minha esquerda chamou minha atenção, me virei e vi uma pessoa. Uma pessoa com uma pequena escova de aço e um saco de lixo saindo do seu bolso de trás. Uma pessoa de cabelo cinza, uma camiseta azul desbotada, e macacão emendado. Nikolas. Ele me viu, também, e pausou. Eu caminhei até ele e abri meus braços para um abraço quando o alcancei. Nikolas segurou meu ombro em seu jeito rústico, e hesitantemente me abraçou de volta.


JESSICA VERDAY Eu o apertei forte, de repente percebendo o quanto senti sua falta. Foi como ver meu avô há muito tempo perdido. —Estou meio que zangada com você. — Eu disse a ele, me afastando. — Mas eu realmente senti sua falta, Nikolas. Pude ver que seus olhos estavam nebulosos, e ele esfregou uma mão áspera pelo seu rosto. —Perdoe um homem velho cujos olhos lacrimejam — ele me disse. — Também senti sua falta, Abbey. Pensamos que você havia decidido abandonar esse lugar. Um pedaço de culpa e vergonha fez o caminho para o meu coração. Eu pretendia deixar tudo para trás. — Eu tive que passar por muitas coisas, Nikolas. Ainda estou passando, eu acho. Mas não pude ficar longe. De fato, eu estava indo te visitar novamente. Como está Katy? — Minha senhora está bem. O jardim dela esteve florescendo nestas semanas, e ela está feliz de poder colher as flores. — Eu ri. — Aposto que está. Ela ainda as tem cobrindo cada superfície da casa?— Nikolas assentiu. — Eu não posso dar um passo ou sentar sem temer esmagar alguma frágil flor. — Um olhar gentil surgiu em seu rosto. — Mas é o que a agrada, e então eu passo cuidadosamente. Uma sensação quente se apossou do meu coração. Era bom ouvir que eles ainda estavam felizes juntos. O céu clareou para um tom de rosa com fracos pinceladas de amarelo. A luz do dia estava correndo à nossa frente, e eu precisava chegar a casa. — Está tudo bem se eu vier hoje mais tarde?— Perguntei. —Eu tenho muitas perguntas para você. Ele seguiu meu olhar para o sol. — Por que não vem comigo agora? Katy está em casa, e eu tenho certeza de que ela ficará feliz em nos fazer um pouco de chá. Temos hortelã. — Seu olhar estava esperançoso, e eu odiava decepcioná-lo, mas eu podia ficar seriamente encrencada se mamãe e papai descobrisse que eu saí de casa.


JESSICA VERDAY Tentei pensar rápido. Eu sempre poderia dizer a minha mãe que saí para uma caminhada cedo pela manhã. Tecnicamente, estava amanhecendo quando eu vim ver Caspian, e eu tinha que vir aqui. Voltei minha atenção para Nikolas. —Eu acho que posso ficar para uma breve visita. — Ótimo! Vamos agora. Ele virou, e eu o segui até o outro lado do cemitério. Alcançamos o bosque e chegamos à trilha que nos levaria até a sua casa de campo. Um esquilo irritado nos repreendeu quando chegamos perigosamente perto da árvore que ele chamava de lar, e eu sorri diante do absurdo da sua tagarelice. Esquilos tinham isso fácil. Pegue um par de nozes, faça sua casa numa árvore, agite sua cauda aos humanos gigantes invadindo seu espaço... O caminho alargou, e uma pequena ponte surgiu. Do outro lado estava à casa de Nikolas e Katy. Segurei minha respiração. Será que ainda parecia com a pequena casa encantada de contos de fadas que visitei antes? Ou iria parecer diferente para mim de algum modo? Mas o teto de palha ainda era o mesmo, e as gigantes pedras redondas que compõem o exterior ainda estavam lá. Mesmo a glicínia9 crescente na chaminé de pedra parecia colorida e brilhante. Eu exalei em alívio. Nikolas me levou para a parte de trás, onde Katy estava ajoelhada em um jardim entre margaridas e bluebonnets. Ela usava um largo chapéu de palha e um antiquado vestido de verão amarelo. Eu parei por um segundo e mentalmente me chutei por não ter percebido antes. Ela era a idêntica a alguém saído dos contos de Washington Irving, percebi por seu cabelo bufante que ela tinha enrolado sob seu chapéu em um coque frouxo. Senti-me tímida de repente. Mas logo que ela ouviu Nikolas chamar, Katy olhou para cima, e um grande sorriso surgiu seu rosto. Levantando-se em seus pés graciosamente, ela se apressou até mim, braços estendidos. Segundos depois eu estava sufocada em um abraço que cheirava a hortelã e madressilva.

9

Uma trepadeira roxa.


JESSICA VERDAY — Como é maravilhoso vê-la, Abbey! — ela disse. — Que surpresa agradável. Faz tanto tempo. — Fiquei fora por um tempo. Contarei tudo sobre isso quando estivermos dentro. Podemos conversar? — Ela acenou. — Vou fazer um pouco de chá. Eu me afastei, e Nikolas veio se posicionar ao lado dela, oferecendo seu braço. Ela se apoiou nele, e eles começaram o caminho para frente da casa. Adentrando a cozinha, eu atravessei o cômodo e fui até a larga mesa de ardósia junto à lareira. Puxei a cadeira cor de cereja brilhante e sentei-me. Nikolas sentou-se também, e Katy foi até o armário. Eu a parei antes que ela começasse a fazer o chá. — Isso pode esperar um minuto? Gostaria de falar primeiro. Ela sentou à mesa se abaixou para pegar fios e agulhas de uma cesta no chão. Dentro de segundos seus dedos estava voando. Decidi começar do início. — Eu deixei Sleepy Hollow para ver um especialista. Um médico que ajuda pessoas que... Vêem e ouvem... Coisas que não existem. — Eu não estava certa do quanto contar a eles, quanto admitir, mas não queria esconder nada. — Vejam, eu pensei que estava louca. Vocês me disseram que eram Katrina Van Tassel e o Cavaleiro SemCabeça da 'Lenda de Sleepy Hollow', e o pai do garoto com quem eu tinha passado um tempo me disse que seu filho estava morto. Eu não podia lidar com nada daquilo. Katy pausou sua costura e pôs uma mão na minha. — Eu sei como se sente, Abbey. Eu, também, estive na mesma situação uma vez. Quando Nikolas e eu nos conhecemos e eu entendi que ele estava morto, não lidei muito bem. Ignorei-o por um mês. — Depois de ter jogado um jantar de domingo inteiro pela minha cabeça — Nikolas murmurou. — Espere — eu disse — você tinha uma cabeça? — Eu podia vê-lo em sua verdadeira forma. Como ele era antes — Katy disse. — Você vai me contar, então? Sobre sua história?


JESSICA VERDAY Katy olhou para Nikolas. — Você quer começar? Ele assentiu. — É verdade que eu fui um soldado Hessian. Durante a Guerra Revolucionária, eu vivi como um mercenário. Um soldado de aluguel. Aliás, eu tive um desafortunado encontro com uma bala de canhão. Acertou minha cabeça, e meu cavalo caiu sobre ela. Eles me enterraram neste cemitério, porque eu salvei uma criança uma vez... Mas essa é uma história para outro dia. —Quando encontrei Stagmont aninhado na grama do cemitério, percebi que ele tinha me seguido. Minha história se espalhou, tornou-se lenda, se desejar, e foi assim que me tornei o Hessian Galopante de Hollow. — Então você mantém um cavalo aqui também? — Eu disse. — Onde ele está? Posso vê-lo? — Às vezes saímos para passeios à meia-noite pelo cemitério, mas eu não o prendo aqui. Não seria justo com ele. Ele prefere vagar. Katy falou. — Quanto a mim, tudo mudou quando Ichabod Cane10 veio para a cidade. Ele me deu aulas de canto e parecia muito interessado em mim. Tentei ser gentil em minhas recusas de sua atenção, apesar. — Bah. Aquele pavão orgulhoso sabia que você não o escolheria do que aquele saco de ossos, Brom — Nikolas disse. Eu me inclinei para frente, olhando pra gente e para trás entre os dois. — Esperem. Pensei que Brom Bones fosse o robusto e Ichabod Crane o magro. É o que a lenda diz. — Sim — Katy disse. — É como está escrito, mas como dissemos antes, a lenda mudou de realidade. Mais ainda o final, para proteger a mim e Nikolas, mas outros aspectos também foram mudados. — Então, um dia eu a vi e me apaixonei instantaneamente — Nikolas replicou.

10

Ichabod Crane é um personagem fictício em Washington Irving


JESSICA VERDAY — Eu não fiquei muito satisfeita com aquilo — Katy disse. — Pensei que estava tendo um ataque ou um acesso de loucura, vendo coisas que ninguém mais podia. Graças a Deus que nunca disse a ninguém. Eles me mandariam para um convento. — Um olhar distante veio aos seus olhos. — Apesar de ter pensado em contar ao meu pai. Eu sempre achei que ele poderia ser a pessoa certa para entender. Ela sacudiu a cabeça como se para clarear seus pensamentos. — Imagine ter um fantasma apaixonado como o seu companheiro constante. Eu joguei meu baú nele, meus livros, até meus chinelos nele! Mas ele me seguia por toda parte. Então Brom fez essa proeza boba, se vestindo como um cavaleiro sem-cabeça, e perseguiu Ichabod pela ponte. — O que aconteceu depois? — Perguntei. — Ichabod deixou a cidade, e Brom casou com outra pessoa. Eventualmente, eu fui capaz de conquistar a justa Katrina, e ela disse que me amava, — disse Nikolas. — Então você nunca se casou com Brom?— Perguntei para Katy. Ela balançou a cabeça negativamente. Empurrando suas agulhas para o lado, ela se levantou. — Acho que farei o chá agora, se estiver tudo bem para você? — Eu concordei. Enquanto ela passava por Nikolas, ele estendeu um braço, e ela tomou sua mão, beijando-a gentilmente. Uma sensação de tristeza me preencheu, e eu desviei o olhar. Sons preencheram a cozinha quando ela começou a preparar o chá —— o raspar de uma tigela sendo movida, uma porta de armário batendo aberta, água enchendo a chaleira. Não havia fogo na lareira desta vez, já que era verão, mas Katy colocou o bule de metal em um fogão velho. Quando ela virou o botão, um anel fino de fogo azul foi iluminado, e ela voltou a sentar-se à mesa. Eu ainda tinha muitas perguntas. — Como Washington Irving estava envolvido em tudo isso? Além de escrever a história? Nikolas foi quem respondeu. — Ele brincava no cemitério quando era um garotinho e era inclinado a contar histórias, mesmo quando rapaz. Eu era sua companhia, e passávamos horas conversando. Ele cresceu escutando nossa história. Fiquei honrado quando ele me perguntou se poderia escrevê-la. — Washington Irving podia vê-lo? Como?


JESSICA VERDAY —Ele era um de nós. Uma sombra. Eu olhei para Katy. — Ele podia vê-la, também? Ele continua, hum... Aqui? Em algum lugar? — Ah, sim, ele podia me ver, também. Conversamos bastante. Mas ele não ficou. Seu amor seguiu em frente, assim como ele. — Uau. — Eu disse. —Então vocês são como realmente velhos huh? Ambos riram. — Sim — Katy respondeu. — Suponho que sejamos bem antigos. — A chaleira apitou e ela se levantou para removê-la do fogão. —E sobre as outras coisas? — Eu olhei para baixo na mesa, de repente incerta do que estava perguntando. — Com Caspian... O garoto do cemitério. — Pensei na última vez que os vi juntos, logo antes de partir para casa da Tia Marjorie. — Vocês me disseram que ele era uma Sombra como vocês — por causa da faixa negra em seu cabelo. O que é exatamente uma Sombra? — Uma Sombra é apenas um nome que damos a nós mesmos. Somos como sombras, vivendo dentro da sombra da vida real. Eu acho que se encaixa — Nikolas disse. — Por que não chamar apenas de fantasmas? — Nós somos diferentes de fantasmas — disse Katy. — É difícil de explicar, mas nós somos. Nikolas se levantou e foi juntar os pequenos potes de prata que continham açúcar e mel. Katy serviu o chá em três xícaras e trouxe dois deles para a mesa, e Nikolas seguiu logo atrás com o servidor que tinha leite. — Como? — Eu persisti. — Fantasmas — ele disse — estão presos a memórias, ou lugares que freqüentaram. A maioria deles é capaz apenas de repetir uma ação repetidamente. São poucos que podem causar pequenas interrupções, mas eles ainda desempenham um papel. Se eles forem problemáticos na morte, então eles foram problemáticos em vida, também.


JESSICA VERDAY Ele colocou uma xícara de chá na minha frente e pegou a sua. — Foi diferente para mim, porque eu não estava amarrado a um lugar. Isso não veio até... Depois. Claro, eu tinha meus lugares favoritos, a ponte e o cemitério, mas eu podia percorrer todo o vale. E eu seguia Katy por aí um pouco, também. — Ele piscou para ela e sorriu. — E sobre tocar? Você e Katy podiam se tocar no início? — Eu joguei um pouco de mel no meu chá e olhei para baixo para o líquido âmbar enquanto fiz a pergunta. — Não, não podíamos nos tocar — Katy disse. —Não podiam? Por que não? — Eu não sei. Era apenas como era. —Vocês sabiam que Caspian estava morto quando vira ele pela primeira vez?— Perguntei. Eles trocaram um longo olhar. —Sim — Nikolas disse lentamente. — Nós podemos sentir essas coisas. E. — Nikolas apontou para trás da sua orelha. — O que você vê aqui? — Eu olhei para ele. — Você tem uma faixa preta também. Como Caspian? Ele balançou a cabeça. — Quando eu vi isso nele, eu soube. — Você também tem uma, Katy?— Eu virei para ela. —Sim. Apesar da minha ser branca. — Mas e se alguém tinge o cabelo?— Perguntei. — Eu tinjo o meu o tempo todo. — É fácil ver através do que é natural e o que não é — Nikolas disse. — Caspian sentiu alguma coisa sobre mim também. Como eu conseguia vê-lo, ele pensou que eu fosse perigosa. Ele não sabia o que estava sentindo. Ele continuou. — Eu pude sentir que você também era especial. Às vezes, crianças pequenas e aqueles que são especialmente sensíveis podem quase dizer que eu estou lá, mas você podia me ver normalmente. E quando você foi capaz de me abraçar, foi à própria confirmação.


JESSICA VERDAY Eu bebi meu chá lentamente, tentando organizar tudo. — Então, o que aconteceu depois que você... Passou Katy? Você e Nikolas simplesmente se encontraram de novo? Assim? Ela mexeu seu chá e olhou para longe. — Sim, foi exatamente assim. Tive a sensação de que havia alguma coisa que ela não queria dizer. Ela não queria falar sobre sua morte. Tome a dica, Abbey. — Pelo menos, você dois conseguiram morar aqui juntos — eu disse, olhando em volta da casa aconchegante. — Um feliz para sempre. — De repente Katy perguntou-Você gostaria de ver algumas das nossas lembranças? Temos documentos e itens pessoais. Eu disse sim, e Nikolas puxou uma caixa de madeira da parte superior do manto na lareira. Eu sentei em admiração enquanto eles me mostravam a Certidão de Nascimento de Katrina (um pergaminho manuscrito datado Do Ano do Nosso Senhor 1775) e retratos pintados. Lá estava Katy sentada rígida e posando próxima de uma mesa e vaso, Nikolas mostrando orgulhosamente seu uniforme Hessian, outra de Katy bebê em um berço... Era incrível manter tantos itens históricos, e eu os segurei cuidadosamente, preocupada que o movimento errado pudesse reduzi-los a pó. Então, isso me acertou um pensamento que foi se fragmentando pelo meu cérebro como um relâmpago. —Oh! — Eu engasguei. — Eu tenho que ir para casa! Meus pais vão me matar. Apressei-me para os meus pés. Como eu pude perder a noção de tempo assim? Eu tinha que voltar. — Eu virei visitar em breve — Prometi, avançando para a porta. — Obrigada por me dizerem tudo. Katy se despediu, e Nikolas me seguiu enquanto eu saia. Eu fui atingida do quão claro estava lá fora. —Abbey — Nikolas disse. — Abbey, seja cuidadosa. Eu sei que naquela noite ao rio eu te disse para ir até Caspian, mas você precisa ser cuidadosa. Talvez... Talvez seja melhor que você não o veja novamente.


JESSICA VERDAY — Estou feliz que se importe Nikolas — Eu disse a ele. — Sério. Significa muito pra mim. Mas eu ficarei bem. — Ao invés de parecer aliviado, apesar, ele parecia ainda mais preocupado.


JESSICA VERDAY

Capítulo Treze AGINDO NORMAL

E, em seguida a senhora deu a ele sua mão como uma coisa natural – A Lenda de Sleepy Hollow

Corri para casa o mais rápido que pude, mas mamãe estava andando na frente do corredor quando entrei. — Onde você tem estado? — ela praticamente gritou para mim. Eu andei de leve até a cozinha, suada e sem fôlego, e fui direto para a geladeira. — Abigail estou falando com você! Eu derramei um pouco de suco de laranja e o traguei em um longo gole. —Você está me ignorando propositalmente? — ela disse. — Mamãe, calma. — Coloquei o copo vazio para baixo e peguei mais suco de laranja. — Estava apenas pegando uma bebida. — Ela colocou ambas as mãos no quadril e levantou uma sobrancelha. Eu estava tão sem disposição para isso agora. Ela sabia transformar tudo em um grande negócio do que realmente é. — Você não pode simplesmente ir... Ir... — ela gaguejou.


JESSICA VERDAY — Ir onde mamãe? Para uma caminhada ao redor das mesmas ruas que tenho estado para cima e para baixo desde que eu tinha oito anos? Eu tenho dezessete. Estou autorizada para uma corrida, se eu quiser. — Isso saiu antes que eu tivesse a chance de sequer pensar. — Uma corrida? — ela disse. — Você foi para uma corrida esta manhã? Apontei para meu cabelo úmido. — Você vê esse suor? Isso geralmente acontece quando você se esforça. Ela estava derrotada agora, e ambas sabíamos disso. Coloquei o suco de volta na geladeira e agarrei meu copo para levar comigo. — Estou indo tomar um banho agora. Até mais. — Ela me seguiu para fora da cozinha. Deus, ela vai me observar tomar banho, também? Mas ela me seguiu até a margem das escadas. — Da próxima vez deixe uma nota ou algo assim! — ela disse. — E você tem uma chamada para retornar. Dr. Pendleton ligou. —Tudo bem, mamãe — eu disse para baixo, batendo minha porta fechada para dar ênfase. Eu ligaria para ele depois do meu banho. Uma hora depois quando eu estava limpa, seca e vestida, sentei-me para ligar para o Dr. Pendleton. Seu telefone tocou duas vezes, e meus olhos vagaram para uma fila de garrafas cobalto alinhada em minha mesa. Alcancei uma marcada FALLOWEEN e rodei ao redor de minha mão para misturar. A telefonista atendeu no quinto toque. — Consultório Médico. —Oi, aqui é Abigail Browning. Estou retornando a ligação do Dr. Pendleton. — Um segundo, por favor — ela disse alegremente, e então, uma música de flauta estava tocando em meu ouvido. Eu torci o topo da garrafa em minha mão e inalei profundamente. O cheiro era quente e mofado, com sugestões de folhas secas e fogueiras crepitando. Eu fui instantaneamente transportada para Outubro. Vendo as folhas transformando cores no cemitério, puxando meu casaco mais perto ao redor de mim, enfiando meu cachecol contra minha garganta...


JESSICA VERDAY Isso era como o outono cheirava. Eu recuei, estudando a garrafa, e então alcancei um dos meus cadernos. Talvez eu devesse acrescentar uma gota ou duas de óleo de fragrância de torta de maça. Isso apimentaria um pouco. Uma voz profunda interrompeu meus pensamentos. — Aqui é o Dr. Pendleton. — Eu me atrapalhei com o telefone e quase o deixei cair. — Oi, Dr. Pendleton. Aqui é Abbey, retornando sua ligação. — Sim, Abbey, como você está? Como foi a cerimônia da ponte? A cerimônia. Tinha sido apenas um par de semanas atrás, mas parecia que meses se passaram. — Eu não vomitei em alguém, então isso é bom —. Ele riu. — Como você se sentiu depois? Teve a sensação de encerramento? —Não realmente — eu admiti. — Mas não tive nenhum momento de colapso, então acho que é um progresso, certo? —Toda vez que nos sentimos como se tivéssemos transcendendo um momento, então estamos indo além de nossas limitações. — Então isso era um sim ou um não? Ele nunca me dava uma resposta direta. —Tudo bem, então. — E o que dizer sobre os nossos outros problemas? — ele perguntou. —Você já esteve de volta no cemitério? Na sepultura de Kristen? —Sim, estive visitando ela de novo. Foi antes da cerimônia, apenas para dizer um tipo de Olá. Ele fez um ruído de aham no outro lado. — Alguma alucinação? — Não. Eu tenho estado trabalhando com um colega em algumas coisas extracurriculares, e fazendo caminhadas. Eu até conversei com meu pai sobre os planos de negócios para minha loja, e vou trabalhar nisso. Tem sido um verão muito bom até agora —. Por favor, por favor, deixe que seja uma resposta boa o suficiente.


JESSICA VERDAY — Isso soa como um excelente progresso. — Uma porta abriu no fundo, e a recepcionista disse alguma coisa sobre seu paciente das 12 horas está lá. —Estou feliz de ouvir que você está se ajustando tão bem, Abbey. Se você precisar de qualquer coisa, não hesite em me chamar. — Tudo bem, Dr. Pendleton. Eu irei. Ele murmurou um tchau e desligou. Assim que desliguei o telefone fui até minha caixa de suprimentos e cavei através de meus óleos até encontrar um com o rótulo MAÇÃ IMPERMEÁVEL. Então tirei uma garrafa de baunilha queimada e voltei para minha mesa. Virando uma folha do meu caderno novo, anotei os ingredientes na parte de trás do rótulo FALLOWEEN: uma parte de folha de canela, uma parte de cravo, duas partes de patchuli11, e duas partes de bálsamo de Peru. Preenchendo uma nova pipeta com um pouco de óleo de maçã, eu cuidadosamente espremi duas gotas dentro da garrafa. Então peguei uma segunda pipeta e adicionei uma gota de baunilha. Re-tampando, eu gentilmente o agitei novamente. Quando eu cheirei uma segunda vez, tinha uma boa alusão de maçã repousando sobre as bordas das fumaças e folhas. Mas não era muito onde eu queria ainda, e eu sabia que algum envelhecimento seria necessário. Coloquei a garrafa de volta na minha mesa e olhei através do meu caderno. Em uma das páginas eu tinha rabiscado algumas notas para uma idéia para fazer perfumes baseados sobre a Lenda de Sleepy Hollow. Aromas específicos para Katrina, Ichabod, Brom, e o Cavaleiro. Era realmente uma boa idéia. Os turistas viriam visitar o cemitério e a cidade, e depois parar na Hollow Abbey, e levar para casa um pacote de amostras dos perfumes baseados na lenda. Eu poderia projetar a embalagem para parecer como garrafas de boticários antiquados com rótulos tipo medicamentos, e montar uma seção da loja para imitar p cenário de Sleepy Hollow. Eu teria livros escolares antigos, e abóboras, com dispersão de

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óleo essencial


JESSICA VERDAY folhas secas. Talvez eu pudesse oferecer sidra quente e torta de abóbora quando as pessoas viessem. Tentei capturar alguns de meus pensamentos, e de repente meus dedos estavam voando através da página. Minha mente estava correndo a mil por hora, e meu manuscrito ficou mais selvagem e violenta enquanto eu escrevia tudo o que poderia pensar. Torta de abóbora? Livros antigos? Garrafas boticários? Nikolas? Mas minha caneta acalmou quando escrevi o nome de Nikolas. Como seria o perfume para alguém como ele? Imediatamente, chocolate veio a minha mente. Quente e doce. E amêndoas. Algo que ganhasse vantagem. Couro era a escolha mais óbvia. Fragmentos de botas velhas e uma sela de cavalo, desgastada com a idade. Talvez bala, ou algodão doce e maças carameladas. Guloseimas pegajosas de dia das bruxas que faziam mal para o estômago e endureciam seus dentes nas bordas. Perigo envolto em uma camada açucarada. Mas Katy... Katy era biscoitos de gengibre e chá de limão. Saches de lavanda, ou madressilva crescendo selvagem na videira. E hortelã fresca, é claro. Eu escrevi e escrevi até meus dedos ter câimbra e meus olhos estarem embaçados. Eu podia sentir a falta de sono sólido começando a se envolver comigo. E quando eu finalmente coloquei minha cabeça para baixo, eu me encontrei sonhando com o cemitério sujo e biscoitos snickerdoodle12. Algumas horas depois eu acordei com uma pulsante dor de cabeça. Era provavelmente devido ao fato de eu não ter comido ainda. Desci as escadas e encontrei papai na mesa da cozinha, segurando um jornal. — Ei, papai. — Sentei-me ao seu lado. — O que está lendo? — Um artigo sobre os efeitos dos gases estufa e hortifrutigranjeiro. Cientistas estão começando a estudar a ligação entre eles. Alguns fazendeiros têm relatado que tomates mutantes estão sendo cultivados. Olhei para ele e levantei uma sobrancelha. — Tomates mutantes? Como eles sabem que é por causa dos gases do efeito estuda? E se for devido a águas poluentes, ou os 12

Tipo de biscoito feito com manteiga enrolados em canela e açúcar.


JESSICA VERDAY fertilizantes que eles usam? Ou talvez seja o asteróide gigante e inexplicável que pousou perto de seus pastos? — Isso é apenas bobagem — ele disse. — Este é um estudo muito particular que eles gastaram muito dinheiro e é o dever deles relatar suas descobertas. — É o dever deles não gastar tanto dinheiro em relatórios estúpidos — eu murmurei. — Como eles escolhem onde fazer seus estudos, afinal? Se eu cultivar um tomate mutante, você acha que eles me pagarão para estudá-lo? — Tenho certeza que eles têm seus métodos para a escolha de pessoas e cidades. Eles provavelmente procuram aqueles que são produzidos e... Gasoso. — Ele olhou para mim e esboçou um sorriso. — Tudo bem, eu desisto. Bocejando, me encosto-me à cadeira. — Você sabe que pode encontrar noticias online atualizadas a qualquer momento, certo? Ao invés de artigos antigos. É chamado de internet. Ele olhou horrorizado. — E não ler o jornal? Mas é tradição. Além disso, online você não tem a dobra de papel e o cheiro de tinta. — Balancei a cabeça e sorri atrás dele. Claramente, foi dele que eu consegui meu amor pelos perfumes. Papai virou a página e examinou a reportagem do tempo. — Parece que vai chover este fim de semana. Leve um guarda-chuva com você para o piquenique. Meu estômago roncou alto, e levantei-me para encontrar algo para comer. — Piquenique? — Agarrei um saco de pão e estatelei no balcão ao lado do fogão. — Que piquenique? — O piquenique de Quatro de Julho que seu tio Bob está produzindo. Encontros familiares. Odeio encontros familiares. —Papaaaaaaaai, eu tenho que ir? Não posso ficar aqui? — Depois de duas fatias com manteiga, jogo um pedaço de queijo e coloco o sanduíche em um prato. Ele já estava balançando a cabeça. — Não. Sua mãe quer você lá. Fim da história. Além disso, não será tão ruim. Um par de horas com sua extensa família, e um jantar social.


JESSICA VERDAY — O sonho de qualquer adolescente. Observe-me enquanto eu salto com alegria. — Fiz uma careta enquanto tirava uma panela da gaveta e acendia o a boca do gás. Papai se levantou e se aproximou de mim. Beijando minha testa dizendo — Você vai fazer pelo o seu querido e velho pai, hein, Abbey? — Sim, sim, querido velho pai — eu resmunguei. — Basta lembrar, que serei a única a escolher seu asilo. Ele sorriu e virou para sair, então parou e olhou para trás. — Eu não comeria sopa de tomate com queijo grelhado, se eu fosse você. Pode ter vindo de tomates mutantes. Joguei um pegador de panela em sua cabeça. Ele apenas se abaixou e saiu da cozinha, rindo por todo o caminho. Depois que comi, coloquei um par de bermudas e uma bonita camiseta preta, e um chinelo vermelho. Pensamentos de biscoitos e perfumes ainda estavam flutuando na parte de trás do meu cérebro, então arranquei o perfume que eu tinha feito acidentalmente ano passado que cheirava como snickerdoodle. Isso me lembrou de quando eu tinha feito os biscoitos de Caspian e de como ele parecia gostar muito deles. Salpiquei alguns dos perfumes em meus dedos e passei-os sobre os pontos em meu pulso, então corri os dedos através do meu cabelo para adicionar um pouco lá também. Agora eu estava pronta para ir. Deixei a casa rapidamente, mas andei lentamente em direção ao cemitério. Era outro dia quente, e eu não queria ficar toda suada antes de fazer o que eu tinha. Vários carros estavam estacionados no cemitério, e as pessoas estavam em pé ao redor. Se preparando para funeral ou algo assim. Eles pareciam estar ocupados demais para me notar, porém, e eu segui o caminho até o mausoléu. Lançando um olhar ao redor para ter certeza que ninguém iria me ver entrar, deslizei pela porta e a fechei atrás de mim. Caspian estava sentado na borda do tumulo de mármore preto, debruçado sobre um livro, com uma vela descansando ao seu lado. Ele olhou para cima quando ouviu meus passos. Por um momento ele apenas sorriu para mim, com a faixa preta de cabelo pendurada em um olho.


JESSICA VERDAY — Oi — eu disse, olhando para ele. — Oi. — Você vai precisar obter mais algumas velas se você continuar queimando-as assim. Ele colocou seu livro ao lado. — Eu não ilumino todo o tempo. Eu só não queria que você ficasse com medo do escuro. Sentei-me no tumulo de mármore ao lado dele. Havia menos de um centímetro de espaço entre nós, mas senti como se tivesse uma milha. — Eu não tenho medo do escuro. — Caspian levantou suas sobrancelhas para mim. —Você deveria. Não, o que eu deveria temer é o fato de que estou caindo de amor por alguém que está morto. — Você deveria sair mais — eu disse ao invés. — Dar um passeio pela cidade. Poderíamos ir juntos. Uma vez que ninguém pode vê-lo, então ficaria como se fosse somente eu andando por aí. Prometo não falar com você em público ou qualquer coisa. — Tudo bem — ele disse. — Agora feche seus olhos. Fiz o que ele pediu, e vi sombras brincando atrás das minhas pálpebras. — O que você vai fazer comigo... Na sua cripta... No escuro? — eu o provoquei. Fique por perto até primeiro de Novembro e você irá descobrir — ele sussurrou. Sua voz estava perto, e instintivamente virei minha cabeça para segui-lo. —Espere — ele disse suavemente. — Huum, apenas fique quieta. Estremeci com o tom de sua voz. Era crua e provocativa e incrivelmente sexy. — O quê? — eu perguntei. — O que é isso? — Você cheira bem. Como biscoitos. Apenas deixe-me... Seu tom tornou-se triste. — Desculpe isso provavelmente é estranho para você. Mas é como as cores. Em certos momentos é como se meus sentidos fossem intensificados. E eu apenas noto. — É um perfume que fiz que me lembra você — eu disse. — Fiz por acaso, mas cheira à snickerdoodle. Como os que fiz para você. — Eu ainda tenho aqueles — ele admitiu.


JESSICA VERDAY Eu abri meus olhos. — Você ainda os tem? Você não os comeu? — Não. Quero dizer, comi um na sua frente, mas salvei o resto. — Por que você fez isso? — eu perguntei. — Fingiu que os comeu? Ele abaixou a cabeça e olhou para o chão. — Eu não queria que você ficasse chateada se eu os recusasse. E eu ainda estava agindo normal. — Então você fingiu comer meus biscoitos? O que você fez, cuspiu-os fora mais tarde? — Eu não fingi comer o biscoito — ele disse. — Eu realmente comi. Mas apenas um. Comer é desconfortável para mim. Tudo tem gosto de cinzas. — Algo na parte de trás do meu cérebro estalou em alerta máximo quando ele disse aquelas palavras, mas não consegui identificar o que era. — Então, você sabia que seria ruim, mas comeu mesmo assim? — Ele assentiu. — E depois você guardou o resto? Ele olhou para cima, bem nos meus olhos. — Foi um presente seu. A primeira coisa que você me deu. Por que eu não guardaria? Meu coração se acelerou rapidamente e parou. Eu tive que morder os lábios para não chorar. Seu gesto foi além de palavras. — Estou feliz que você os tenha guardado — eu disse. — E o que você comeu na minha frente, isso foi realmente doce. — Eu quase podia sentir sua respiração aliviada, e olhei para ele curiosamente. — Por que você me convidou para comer pizza então? O que você faria se eu dissesse sim? — Convencê-la a ir andando? — ele deu de ombros. — Então, dizer que eu não estava com muita fome? Eu não sei. Eu apenas queria fazer algo normal com você. Eu entendi esse sentimento. Eu me inclinei em direção a ele até que estávamos frente a frente, quase nariz com nariz. — Da próxima vez vamos fazer algo normal. E você não terá que fingir comer, tudo bem?— — Tudo bem. Agora feche os olhos novamente. — Eu os fechei.


JESSICA VERDAY — A mão. Eu estendi minha mão e fui recompensada com algo caindo nela. —Espero que você não se importe com outro — Caspian disse. — É uma espécie do que faço. Olhei para baixo. Outro colar estava descansando em minha mão. Ergui e vi um perfeito trevo de quatro folhas pressionado entre dois pequenos quadrados de vidro. As bordas foram soldadas com metal e prata, e uma fita preta tinha sido ligada a um pequeno anel. — Eu sei que você já tem dois — ele disse em uma corrida de palavras. —Mas eu... — Caspian — eu disse, o interrompendo. — É lindo. Obrigada. — O trevo era incrível, cada folha gentilmente arredondada e vibrantemente verde. — Mas como você encontrou um trevo de quatro folhas? E onde você pode obter os materiais para o colar? Ele olhou para as caixas que continham as coisas dele. — Eu tenho meu soldador de ferro e materiais de antes, quando eu ajudava meu pai em sua garagem. As peças de vidros são lâminas, eu, uh, que peguei emprestado do laboratório de ciências da escola. Encontrei o trevo de quatro folhas no cemitério. Eu sempre os encontro. Depois de amarrar o colar em meu pescoço, eu o levantei e o segurei. —Isso é engraçado. Encontrei um trevo de quatro folhas na pedra de Kristen a última vez que estive lá. — Eu sei — ele disse. — Eu o coloquei lá. Eu estava tipo te observando quando você foi e pensei que ela pudesse gostar. — Eu deixei cair meu colar e olhei para ele. — Você o deixou lá? Porque você estava olhando por ela? — Sim — ele disse suavemente. Tudo fazia sentido agora. Todas as peças do quebra cabeça estavam se encaixando. A razão pela qual ele continuava fazendo aqueles lindos colares para mim... — Mesmo você não podendo me tocar, você fez algo que poderia, não é? — eu disse. — Sim.


JESSICA VERDAY Meu mundo diminui e fechei os olhos. — Vou te dar meu coração agora — sussurrei. — Por favor, não o quebre novamente.


JESSICA VERDAY

Capítulo Quatorze FAZENDO PROMESSAS

É notável que a tendência visionária que mencionei não se limita aos habitantes nativos do vale, mas é inconscientemente absorvido por cada um que mora lá por um tempo. – A Lenda de Sleepy Hollow.

Acordei quinta-feira de manhã de sonhos de vestidos brancos e cercas, o mesmo sonho que eu tinha sobre Caspian durante a escola ano passado, e me estiquei preguiçosamente na cama, sorrindo para o teto. A vida era grandiosa. Mas uma campainha rompeu meus felizes pensamentos e ecoou por toda a casa. Contei os toques saindo seis vezes antes de eu rolar para fora da cama, chamando para mamãe responder. Não houve resposta, e como tropecei nas escadas, percebi que a casa devia estar vazia. — Estou indo, estou indo — resmunguei, correndo em direção ao incessante toque. — Dá um tempo. Abri a porta e fiquei chocada ao encontrar Ben de pé lá. — Merda — murmurei. — Esqueci completamente nossa aula hoje, Ben.


JESSICA VERDAY Ele me olhou com hesitação. — Isso significa que você quer que eu vá embora? — Não, não. Venha colocar seu material sobre a mesa — De repente ciente do fato de que eu ainda estava usando a surrada camiseta e shorts de ginástica que eu tinha colocado noite passada, olhei para meus pés descalços. — Vou me trocar. Estarei de volta em dez minutos. Ele me seguiu e desapareceu na cozinha. Corri para cima e rapidamente coloquei alguma calça capri e uma regata, em seguida escovei meus dentes. Meu cabelo estava uma bagunça selvagem, mas não entrei em luta com meus cachos, então eu apenas os borrifei com um pouco de água e joguei um último olhar desesperado sobre meu ombro. Que o cabelo fique embaraçado então. Quando voltei lá para baixo, Ben tinha diversos papéis espalhados sobre a mesa na sua frente e estava fazendo este estranho ruído na parte traseira de sua garganta. — Pare com isso — eu pedi, me sentando em uma cadeira ao seu lado. Ele olhou para mim. — Parar o quê? — Aquela coisa zumbindo. É chato. — Oh, desculpe. Faço isso às vezes quando estou lendo. Pronta para começar? Apoiei meu queixo nos punhos. — Acho que sim. O que temos na agenda para hoje? — Relatórios. Irá ajudar no processo de memorização. Eu trouxe alguns livros para você usar como material de referência. Então... Vamos. — Vamos? O que é isso, uma corrida ou algo assim? Ben bateu seus dedos sobre a mesa. — Você pode ficar parada, ou colocar mãos a obra. — Eu gemi. — Você pode me ajudar com eles? Pelo menos um deles? Ele balançou sua cabeça. — Este é onde termina minha tutoria. Você tem mais alguns Funyuns? Vou precisar de um lanche para me manter acordado apenas sentado aqui.


JESSICA VERDAY Levantei e me arrastei mais para a cozinha. Isso estava em falta na dispensa, e senti uma pontada momentânea de culpa. Mudei um par de sacos de batatas fritas ao redor, mas não vi nenhum Funyuns. — Não, suas escolhas são Doritos, Cheetos ou pretzels. Seu tom foi de tristeza. — Acho que vou pegar o Doritos. — Da próxima vez terei alguns Funyuns — prometi, pegando o saco de Doritos. Ele não tinha nenhum problema em escavá-los, e eu sentei para começar a fazer meu relatório. — Se sua mastigação se tornar muito alta, estou banindo você para a sala — eu avisei. — Tudo bem — ele disse, com a boca cheia de batatas fritas. Peguei o livro mais próximo de ciências, e estalei aberto, gemendo internamente para a montanha de lição de casa deitada em minha frente. — Por que isso não poderia já ter acabado? Ben apenas meu deu um sorriso pateta e continuou mastigando. Duas horas mais tarde bati o livro fechado e me rendi. — Isso é tortura — eu disse. Ben tinha um livro de ciências em suas mãos, e parecia que estava lendo. Por diversão. — Aproveitando isso? — perguntei Ele olhou para cima e se mexeu em seu assento como um macaco louco. — Há uma secção aqui fascinante em formações de nuvens de tempestade. — Você está brincando comigo? Você realmente está gostando disso? Ben assentiu. — Kristen costumava ser assim também — eu disse. — Mas seu assunto era matemática. Eu sempre dizia a ela que tinha de haver algo de errado com seu cérebro para sentir tanto prazer em ler um livro sobre matemática para se divertir.


JESSICA VERDAY — Ela estava indo para obter seu diploma em contabilidade, certo? Se tornar uma CPA*? — Sim — eu disse. — Mas como você sabia disso? — Nós compartilhamos uma sala de estudo uma vez, e a vi olhando para as brochuras da faculdade. Ela queria ir para DeVry13 ou norte de Illinois14. Eu lhe disse para ir para Cornell. Sentei-me e o estudei. — Eu não sabia disso. Kristen nunca me contou. — Era por causa de seu irmão. Ela disse que ele era um gênio em números e queria estudar na Brown. Olhei para ele. Ele sabia muito sobre Kristen. — Sim, ela... O telefone tocou e eu o alcancei feliz com a distração. — Olá? — Abbey, preciso que você verifique algo para mim. Virei às costas para Ben, mas eu podia sentir a carranca em meu rosto. — Sim, mamãe. O que? — Olhando para fora da janela para o jardim, quase cai da cadeira. Caspian estava em pé ao lado da casa. Mamãe estava tagarelando sobre algo, então cobri o fone e me virei para Ben. — Eu já volto. — Sem esperar por sua resposta, voei para a porta de trás e gesticulei para Caspian para me seguir para a cobertura das árvores, que tínhamos nos encontrado antes. — O que você está fazendo aqui? — assobiei para ele, o telefone embalando ao lado do meu ombro, de modo que eu ainda podia ouvir um pouco de mamãe, mas ela não podia me ouvir. Caspian olhou para a casa e em seguida se aproximou de mim. — Pensei ter visto uma mudança. Ele fez alguma coisa para você?

certified public accountant = Certificado de contador público. 14 Universidades Norte-Americanas. 13


JESSICA VERDAY — O quê? Não. Por quê? — Você está franzindo a testa A voz de mamãe ficou em silencio, e uma parte de mim estava vagamente ciente de que ela estava esperando por uma resposta. — Hum, mamãe — eu disse — pode repetir isso de novo? Ela disse algo sobre ovos e salada e esperando por mim para ir verificar, e coloquei o telefone de volta contra meu ombro. — Ben está bem — eu disse a Caspian. — Ele apenas mencionou algo sobre Kristen que me surpreendeu, isso é tudo. O rosto de Caspian ficou estrondoso, e ele deu um passo em direção a casa. — Não, não — eu disse a ele. — Realmente está tudo bem—. Aahhh namorados protetores. A pequena parte de mim que não estava furiosamente tentando fazer à multitarefa estava curtindo muito isso. —... E eu posso apenas verificar depois. — A voz de mamãe me chamou a atenção novamente. Levantei um dedo para Caspian e voltei ao telefone. — O que foi mamãe? Desculpe, eu e Ben estamos estudando e é difícil se concentrar em duas coisas ao mesmo tempo. — Fazer três coisas. — Eu disse esquece a salada de ovo — mamãe repetiu. — Estou no caminho para casa agora mesmo. Ah, e não se esqueça de embalar uma bolsa para a noite. Estamos partindo amanhã para passar um dia extra na tia Cindy antes do piquenique. Tchau. Ela desligou, e eu encarei o telefone. Bolsa? Dia extra? Quando aquele pequeno detalhe tinha sido acordado? Mas eu sabia pelo tom da mamãe que sua mente estava maquiada. Se papai não me deixasse faltar ao piquenique da família, não havia maneira dele me deixar vazar de uma viagem durante a noite. Eu estava condenada. Suspirando pesadamente, coloquei uma mão em minha cabeça e esfreguei minha têmpora. — Você está bem? — Caspian perguntou.


JESSICA VERDAY — Dor de cabeça. Graças a minha mãe. Ele me olhou compreensivo. — Por que você não vem dar um passeio comigo? Podemos ir ao centro da cidade. O que você acha? O que eu achava? Eu não teria a chance de vê-lo novamente até voltarmos do piquenique. É claro que eu queria passar à tarde com ele. Eu bati o botão de rediscagem, e fui ao correio de voz. — Ei mamãe, Ben e eu estamos indo terminar de estudar em sua casa. Vejo você em algumas horas, e chegarei a tempo suficiente para deixar minha mala pronta. — Okay — eu disse me virando para Caspian. — Estou dentro. Deixe-me apenas falar com Ben e pedi-lo para me encobrir. Você pode... Seguir-me, eu acho. Segurei a porta aberta por um par de segundos extras quando entrei na casa, e Caspian entrou. Estou totalmente não deixando meu namorado invisível dentro. A dobradiça estava presa. Ou algo. Diante de Ben, tentei fingir que Caspian não estava bem atrás de mim. —Ben preciso que você me faça um favor. — Ben ainda estava devorando o saco de batatas fritas e ele parou com o saco no ar. — O quê? — Ótimo — Caspian murmurou. Obriguei-me a não deixar mostrar nenhuma reação em meu rosto. —Preciso sair por um tempo. Tenho uma coisa para cuidar. Mas minha mãe está voltando para casa e, eu disse a ela que estaria indo para sua casa terminar de estudar. Então você pode me encobrir? Ele olhou para a meia-reportagem começada. — Mas temos que trabalhar nisso. — Por favor, Ben. Você estará na minha lista top de amigos. Eu realmente preciso deste favor. Caspian bufou, mas Ben levantou e começou a reunir seus livros. —Okay, tudo bem. Mas você fica me devendo. — Ele deu a volta na mesa e estava perigosamente perto de


JESSICA VERDAY passar por Caspian, mas me movi para ajudar a pegar as coisas dele e o impedi de se aproximar mais. Eu guiei o caminho ao redor do lado oposto da cozinha e segurei a porta aberta para ele. Bem caminhou através dela, e parou fora. — Abbey, eu... — Ele me deu um olhar engraçado. Com sua mão livre, ele tirou um pedaço do meu cabelo do meu rosto. Eu me afastei e lancei um olhar sobre meu ombro. O rosto de Caspian era furioso. — Nem pense nisso — ele avisou Ben. Mas Ben não tinha idéia do que estava acontecendo. — Tenho que falar com você sobre algo em breve, tudo bem?— Seu olhar caiu para minha boca, e instantaneamente, vívidas lembranças sobre o jantar do meu aniversário pareceram reacender. Bom Senhor, isto não estava realmente bem. — Tudo bem — eu disse. — Obrigada por me ajudar com isso, Ben. — Ele se virou e tropeçou antes de recuperar o equilíbrio, em seguida se moveu em direção ao carro. Eu bati a porta dos fundos e dei um olhar para Caspian. Ele jogou as duas mãos no ar. — O que? Eu não fiz nada — Não, mas você queria. E alem disso, não sabemos realmente ainda o que você pode fazer. — Bem, eu sei que não posso fazer pessoas desaparecerem — ele murmurou sombriamente. — Ou então ele teria desaparecido há meia hora. Fiquei um pouco chocada com o quão sério ele soou, e então olhei em seus olhos. — Você está com ciúmes. — Ele queria beijar você! Agora eu estava pasma. — Como você sabe disso? — Porque — ele disse passando a mão por seus cabelos e empurrando para trás. — É o que quero fazer.


JESSICA VERDAY — Você quer me beijar? — provoquei. — Eu nunca poderia ter imaginado. — Ele balançou sua cabeça e eu ri. — Vamos lá, olhos verdes. Vamos sair daqui antes que minha mãe chegue. Leve-me para o centro da cidade. Sou toda sua.. — Promete? — ele disse segurando meu olhar com o seu. — Prometo — eu sussurrei. Caminhamos lado a lado no centro, nos movendo rapidamente de loja em loja. No começo foi estranho para mim vê-lo andando entre as pessoas enquanto ninguém notava que ele estava lá. Eu ficava me perguntando o que aconteceria se alguém de repente se movesse através dele. Eu acho que não estava pronta para ver isso ainda. Mas Caspian mudava de lado quando alguém chegava perto demais, e eventualmente, era quase normal. Normal. Eu estava andando no centro com alguém que somente eu via. Havia algo realmente de errado comigo. Passamos por uma loja de antiguidades e uma pizzaria, mas outro edifício estava chegando, e eu senti um sorriso feliz deslizar em meu rosto. Não foi alugada ainda. Minha loja ainda estava disponível. — Siga-me — eu sussurrei para Caspian, me movendo através da rua em direção a loja. Ele estava bem atrás de mim, e nos curvamos no beco. — Há um truque para isso, se você quiser entrar. — Caspian disse, avaliando a estrutura da porta em nossa frente. Ele se inclinou para mexer com algo na parte inferior da porta. — Eu não acho que isto vai funcionar. Eu estava aqui antes, e o dono era muito, e ele... — Um som de raspagem e em seguida um ruído de clique me interrompeu. Caspian sorriu quando a porta abriu. — Como você... Vê — Há um pedaço de madeira rachado na parte inferior. Quando a porta é fechada, é forçada no lugar, e a fechadura fica. Apenas afrouxando a madeira, e a porta cede um pouco, saindo da fechadura. — Ele segurou a porta aberta, e me conduziu para dentro. Eu entrei em minha loja e fechei os olhos, imaginando tudo instalado do jeito que eu gostaria que fosse.


JESSICA VERDAY Quando abri meus olhos novamente, Caspian estava encostado em uma das paredes, olhando para mim. De repente fiquei tímida. — Por que você está me olhando assim? —Eu gosto de ver você feliz Abbey. — Ele colocou uma mão no meio do peito. —Isso me faz sentir... — Sentir o quê? — Apenas sinto. Eu não sei o que, mas eu gosto. — O olhar em seus olhos mudou, e ele se inclinou longe da parede, chegando a ficar perto de mim. — Conte-me sobre seus planos para sua loja. Vamos lá, comece por aqui. Caspian me conduziu para um amplo espaço na parede, e a estudei por um momento. — Aqui vou colocar uma secção de leitura. Vou trazer uma lareira, arranjar umas cadeiras ao redor dela, talvez até um pufe, e colocar para fora alguns livros de Irving. As pessoas podem ler ou apenas espreguiçar-se enquanto crio os seus perfumes. Ele girou e apontou para o espaço aberto atrás de nós. — E ali? — Um armário que guardará perfumes baseados em Ichabod Crane, Katrina Van Tassel, Brom Bones, e o Cavaleiro sem cabeça. Com uma dispersão de folhas caídas no chão, e abóboras pequenas brancas para decorar. Perto dali, terei uma bandeja que irá conter sidra de maçã e torta de abóbora quente. Ou maçãs caramelizadas e sementes de abóboras torradas! Minha mente estava se enchendo com fotos, e eu podia ver tudo. Apontei para nossa esquerda. — Eu iria colocar uma máquina registradora à moda antiga lá, com uma grande balança de metal que armazena doces de Halloween. E ao lado da caixa registradora, três gigantes frascos de vidros cheios de sais de banho, amostras de sabonete, e alcaçuzes presos. Fiz uma careta em seguida. — Hum, não posso colocar doces tão perto dos sais de banho. Vão pegar o cheiro. — Andei mais perto da porta. — Aqui — eu disse. — Terei potes de doce estabelecidos aqui até a porta em uma fileira de caixas de ovos de madeira. — E as janelas? — Caspian perguntou. — Qual será sua grande exibição lá?


JESSICA VERDAY — Uma banheira de ferro fundido de garra-pé cheia de sabonetes — eu disse, sem hesitação. — Tudo embrulhado em pedaços de papel pergaminho e cordas antigas. Sombras de ovos azuis, suaves rosas claras, café em grão marrom, e antigos livros amarelos. Eu me virei e quis jogar meus braços ao redor dele. — Você pode ver isso? Pode ver tudo isso? Eu quero muito isso, Caspian. Sem Kristen eu pensei... Eu não acho que quero mais isso. Pensei que meu sonho seria vazio e oco. Mas agora, é como, eu não sei, sinto como se posso fazer isso de repente. Como eu posso dividir isso com alguém novo. — Você se sentia assim quando estava trabalhando no local da tatuagem? Ou quando você estava falando com seu pai sobre a loja dele? Caspian escorregou para o chão e bateu na parede ao lado dele. Sentei-me e esperei por sua resposta. — Sim, me sentia — ele disse. — Eu me sentia assim também. — Você acha que poderia... ? — Olhei para minhas mãos e arranquei uma fita solta no inferior da minha camisa. — Já sentiu daquela maneira novamente? Talvez... Sobre minha loja? Ele olhou para longe, e eu o ouvi suspirar. O chão que nos sentamos era quente, e pequeno, quase invisíveis poeiras giravam em torno de nós, nas linhas da luz solar inclinadas através da janela. O que ele estava pensando? O tempo arrastou-se, e ela ainda não tinha falado. — Eu sou o tipo me expondo aqui — eu disse finalmente. — Perguntando... Bem, eu não sei o que estou perguntando. Caspian começou traçando um contorno sobre o assoalho ao lado dele, um padrão triangular que ele fez uma e outra vez. Finalmente ele se virou para mim. — Eu não sou tão bom com algumas coisas, sou? Eu balancei minha cabeça negativamente. — Eu realmente sinto muito, Astrid — ele disse. —Realmente, eu sinto. Eu sei que sou o único a pedir mais, mas simplesmente não sei como lidar com nada disto. — Seu rosto estava sério. — Eu preciso que você saiba que quero estar com você a cada segundo do dia, Abbey. Eu quero isso. Anseio por isso.


JESSICA VERDAY Ele fez um punho e lentamente afrouxou seus dedos um por um. — Mas não sei o que é certo. Antes, quando eu estava fingindo ser normal, pensei que estaria tudo bem. Você era tão real, e aqui, e eu queria tanto... E então eu machuquei você. Pensei que a razão por você ter ido embora era para me punir. Seus olhos ficaram vidrados e distantes. — Passei esses meses no escuro. Em meu túmulo. Escondi-me e fui dormir. Não acho que sonhei, mas eu senti, um vazio infinito e eu estava sozinho. Sempre sozinho. Empurrei meu joelho mais perto dele, e passou através dele. A sensação de um zumbido fraco ondulou através de mim, e eu sabia que ele podia sentir também. Seus olhos se focaram, e ele se voltou para mim. — Eu só não quero impedi-la de nada — ele disse. — Não quero que você esqueça, e fale comigo na frente de alguém, fazer as pessoas pensarem que você é louca. Eu não quero que esqueça, e deixe alguém histérico por ajudar você a mover caixas ou algo assim. — Ele sorriu um escuro, um sorriso duro. —Apesar de que seria boa para os negócios, uma loja mal-assombrada e tudo. — Nós não iremos esquece — eu insisti. — E você não precisa fazer nada que você não deseje. Não temos que tomar decisões agora. A tempo de sobra. Ele apenas olhou para mim, com pesar e desesperança em seus olhos, e um senso de determinação me encheu. — Vamos conversar com Nikolas e Katy — eu sugeri. — Eles lidaram com isto. Fui visitá-los e foi bom. Eles sabem muito. Seu rosto era cético, mas ele concordou. — Se você vier comigo, eu irei. Não prometo acreditar neles, mas ouvirei o que eles têm a dizer. — Eu podia sentir meu rosto acender em um sorriso, e fiz uma promessa. — Faremos funcionar Caspian. Prometo. De alguma forma, faremos isso funcionar.


JESSICA VERDAY

Capítulo Quinze A URSA MAIOR

Estrelas disparam e os meteoros refletem geralmente em todo o vale do que em qualquer outra parte do país... – A lenda de Sleepy Hollow

— Hora de levantar — mamãe disse, batendo na parede acima do sofá que eu tinha dormido na casa da tia Cindy. — Mais tarde — eu murmurei. — Por que tão cedo? Piqueniques são à tarde. — A avó de seu pai está indo ao piquenique — ela disse. — E queremos sair mais cedo para podermos passar algum tempo de qualidade com ela. Eu gemi e coloquei meu rosto nas almofadas. Uma hora depois, mamãe gritou comigo de novo e rolei para fora do sofá. — Estou em pé, estou em pé — gritei de volta. Depois de fazer meu caminho contra roupas limpas, corri para o carro e voltei a dormir. Quando abri meus olhos novamente, estávamos parando na casa do tio Bob. Três carros já estavam estacionados na pequena garagem, e percebi que isto seria mais uma reunião em família do que eu gostaria. Quando paramos, e eu sai, esticando as pernas como eu gostava. Mamãe carregava dois recipientes Tupperware de salada de ovo para a casa, resmungando todo o caminho


JESSICA VERDAY sobre como a geladeira do tio Bob não seria grande o suficiente. Agarrei meu ipod do carro, em seguida caminhamos ao redor da casa para o quintal. Uma grande tenda branca estava montada com varias mesas de piquenique embaixo dela, e só havia uma pessoa sentada ali, uma senhora idosa. Deve ser Lurlene. Eu levantei uma aba da tenda, curvada sobre, e escolhi uma mesa próxima a ela. Eu não queria sentar perto o suficiente para que ela pudesse falar em minha orelha, mas eu não queria que ela pensasse que eu era rude, também. Ser uma adolescente é um equilíbrio difícil. Sentei-me e dei a ela um sorriso amigável antes de dobrar meu corpo na direção oposta. Ela tinha uma bengala de quatro pernas descansando ao seu lado, e imediatamente me senti mal. Então coloquei apenas um fone de ouvido e coloquei meu ipod para baixo. Pensei que o estrondo que comecei a sentir era alguma coisa grave, até que percebi que ela estava tentando chamar minha atenção. Puxando o fio da minha orelha, eu me virei para ela. — Sim? Ela tinha um olhar malvado em seu rosto, provavelmente devido ao fato de que era Julho e ela estava usando um suéter marrom de mangas compridas sobre uma blusa rosa com babados. Isso tinha que ser sufocante. — Eu estava tentando chamar sua atenção, menina. Mas eu não queria gritar. Não é educado, observar você. Sorri o meu melhor você é idosa, eu entendo e será bom para você de qualquer modo sorrir. — Bem, você tem minha atenção agora. O que posso fazer por você? Ela levantou sua bengala e em seguida bateu no chão. — Para começar você pode sentar perto de mim para que eu não tenha que continuar gritando. Não é educado. Sim, bem, não é educado que eu tenha que suportar você, também. Levantei-me e me aproximei. Pensei em ocultar meu fone de ouvido pelas minhas costas em meu ouvido para que eu pudesse simplesmente ignorá-la, mas então ela me cutucou com sua bengala em meu pé direito. — Ei — eu disse. — Cuida...


JESSICA VERDAY —Eh? O que é isso? — Ela sorriu um sorriso cheio de dentes, e eu podia jurar que o cheiro de Polident15 soprava em mim. Fale mais alto. Sou uma senhora de idade, não posso ouvir tão bem como eu costumava fazer. Esfreguei meu pé direito com as costas da minha canela esquerda. — Cuidado com os mosquitos. Acho que senti uma grande picada em meu pé. Seus olhos se encheram de um prazer profano, e esperei pelo estalar infeliz que eu tinha certeza que sairia dela a qualquer minuto agora. Eu precisava de uma estratégia de saída. Rápido. — Minha mãe provavelmente precisa de alguma ajuda com a... — Sua mãe está aqui? Quem é ela? — Julie Browning. — Há — ela gabou-se. — Então qual o seu nome? Aparentemente, eu não respondi rápido o suficiente porque ela me cutucou com a bengala novamente. — Abigail — eu disse entre dentes. — Mas todos me chamam de Abbey. — A chamarei de Abigail. Desprezo apelidos. Diga-me, você tem um nome do meio? Toda pessoa civilizada tem um nome do meio. — Eu não queria dizer a ela, mas eu não tinha certeza quantos golpes mais meus pobres dedos poderiam tomar. — Amélia — eu respondi. — Você não é contagiosa ainda é? — Ela se afastou um pouco de mim e colocou a bengala entre nós como um amortecedor. Como se fosse fazer algum bem. — Contagiosa? — Ouvi dizer que você tinha essa doença, momo? Ela quer dizer mono? Mamãe ainda está dizendo aquilo, huh? Eu tossi. —Eu não sei. Os médicos dizem que não podem ter certeza, mas os frágeis... — forcei para não sorrir — e 15

Creme dental especial para dentaduras


JESSICA VERDAY os idosos são altamente suscetíveis. Eu provavelmente devo ir — eu disse. — Não quero ser responsável por você ficar doente por estar próxima a mim. — Bah — ela disse. — Sou uma senhora velha que viveu sua vida. Se o bom Deus diz que é minha hora por causa da momo, quem sou eu para discutir? Fique e me faça companhia. Ela fechou sua esquelética mão, mas surpreendentemente forte em meu braço, e levou tudo que eu tinha para não removê-la. — Então, diga-me garota, Abigail Amélia, que grau você está na escola? Sétima? Oitava? — ela disse. — SOU uma aluna do último ano — Aha, último ano, é? Qual faculdade você irá? Um ligeiro pânico brotou em mim, mas eu o soquei lá. Eu poderia perfeitamente lidar com isso. — Ainda é cedo, estou coletando informações. — Não foi possível conseguir nenhuma delas? — ela riu. — Não — meu temperamento queimando. — Eu não tenho requerido nenhuma ainda. — É melhor começar com isso, menina. É um desperdício de tempo. Tenho certeza que muitos trabalhadores de crianças já estão fazendo seus planos. — Sim, mas isso não importa. Com meus planos para minha loja, eu realmente não preciso ir para a faculdade. Sua mão apertou meu braço no mesmo momento em que o golpe veio. — O quê? — ela gritou. — Você não vai para a faculdade? Que tipo de planos são esses? Todos nessa família tem ido para a faculdade, e para George, então você irá. — Ela exalou pesadamente. — Eu nem mesmo sei que tipo de besteira é isso. Meu braço e minha perna foram picados agora, e mentalmente eu estava xingando mamãe com tudo que eu tinha. — Eu nunca disse que não iria para a faculdade. Vou fazer


JESSICA VERDAY alguns cursos de negócios, e minha mente não está definitivamente constituída... Definitivamente... Ainda. — Terminei fracamente. Ela fez um som furioso e abriu sua boca, mas um enxame de pessoas começaram a sair da casa. Mamãe estava liderando um grupo de primos distantes, ou algo assim, e estavam todos conversando animadamente. Mamãe sorriu para nós. — Vejo que você conheceu Abbey, Lurlene. Estou tão feliz — ela disse em voz alta. Eu fiz uma careta para mamãe, e silenciosamente prometi uma vingança a ela com meus olhos. — Isso é certo — disse Lurlene. — Eu sei sobre a momo, mas resolvi arriscar. Preocupação brilhou no rosto de mamãe, sem seguida desapareceu rapidamente. — Sim, é uma... Terrível, doença. Estamos apenas felizes que Abbey está muito melhor agora. — Seus olhos me imploraram para eu jogar junto, e eu era obrigada a ficar onde estava. Não menos porque eu ainda tinha a garra de uma ave de rapina presa em meu braço. Os primos vieram e se juntaram ao nosso redor, me fazendo sentir ainda mais encaixotada. — Estávamos discutindo os planos para o futuro de Abigail Amélia — Lurlene disse a eles. — Parece que ela não está indo para a faculdade. O rosto de mamãe apertou. — Oh, bem — ela disse. — Nada foi decidido. Ainda é cedo... E você conhece as crianças! — Ela deu uma risada falsa. —Sempre mudam suas mentes de uma hora para outra. Puxa, obrigada mamãe. Ela virou para mim. — Abbey, por que você não vai encontrar seu tio. Há algo que ele precisa falar com você. Ela não precisava me dizer duas vezes. Eu puxei a mão de Lurlene do meu braço e movi minhas pernas indo para longe, ficando uma distância admirável de sua bengala. Mamãe a atraiu para uma discussão sobre a receita de salada de ovo enquanto me levantei e andei rapidamente para a casa.


JESSICA VERDAY Tio Bob estava na cozinha, ao lado da geladeira. — Ei, tio Bob — eu disse. — Mamãe disse que você queria falar comigo? — Sim, eu queria te perguntar uma coisa, Abbey. — O que se passa? — Sentei-me na pequena mesa ao lado da geladeira. — Como está o negócio de sorvetes? Eu nunca tive a chance de dizer que eu sinto muito eu tive que sair fora. Tio Bob clareou sua garganta. — Está atarefado. O que é uma coisa boa. Na verdade, é o que eu queria falar com você. Eu normalmente não perguntaria isso para você. Sua mãe disse que você tem aulas na escola de verão e tudo o mais, mas estou com falta de pessoal na loja. Um dos meus funcionários mais assíduos apenas abandonou, e a outra quebrou o pulso, então não pode trabalhar. Mas vou contratar pessoas novas em breve. — Você precisa de alguém para ajudar agora, porém, certo? — Eu adivinhei. — Só até a primeira semana de agosto. Então, meu outro regular, Steph, estará de volta. Ela está pegando o mês de folga para ir de mochileiro para a Europa. Oh homem. — Tio Bob, eu não sei. Eu tenho coisas da escola nas terças e quintasfeiras, e estou trabalhando no plano de negócios para o papai. — Seu rosto caiu. — Eu entendo. Eu sei que é de última hora e tudo. Eu nunca deveria ter mencionado isso. Não é grande coisa. Agora eu me senti péssima. Eu já tinha abandonado ele uma vez quando eu tinha deixado Sleepy Hollow para ficar com a tia Marjorie, e agora era como se eu estivesse o abandonando de novo. — Quando você precisa de mim? Tio Bob olhou esperançoso. — segundas-feiras?— ele disse. — E talvez quartas e sextas-feiras? Trabalhando três dias por semana para tio Bob e tendo sessões de ciências com Ben nos outros dois dias estava cortando seriamente meu tempo com Caspian.


JESSICA VERDAY — Vou pagar a mesma quantidade de antes — ele disse rapidamente. Quando você estava ajudando em meu escritório. Dez dólares a hora. Mas não conte aos outros empregados. O pessoal do balcão deve começar as oito. Ugh. Isso não ia ser fácil como arquivar papéis; agora eu estaria presa despejando sorvete o dia todo? Mas este era tio Bob, e ele parecia desesperado. — Vou começar na segunda-feira — eu disse. — Mas só até agosto. Depois você estará por si próprio. Ele sorriu e se aproximou para me dar um abraço de urso. — Obrigado, Abbey. Isso realmente significa muito para seu velho tio. — Sim, sim — eu resmunguei. — Apenas se lembre disso quando eu chegar pedindo um empréstimo para comprar um carro. Ele piscou, e eu o segui para fora de casa, de volta para a tenda. — Não deixe Lurlene colocar suas garras em você — eu sussurrei. — Ela tem um aperto terrível. E uma bengala. — Eu sei — ele disse. — Já senti isso. Aproximamo-nos das mesas, e me escondi atrás do tio Bob, tentando usar sua cintura como um escudo. Mas não funcionou. — Abigail Amélia — Lurlene gritou assim que me viu. — Venha se sentar aqui ao meu lado e de seu pai, menina. Quero que você seja a única a pegar minha comida. — Pensei em recusar. Ou usar a desculpa da momo. Mas mamãe estava me dando um olhar, e eu sabia que estava condenada. Arrastando os pés, que eu sentia como se estivessem envoltos em uma calçada de cimento, fiz meu caminho até Lurlene e me sentei ao seu lado. Sua garra de abutre desceu rapidamente, e ela apertou com prazer, enviando-me um sorriso cheio de dentes. Fiquei lá, contando os segundos até este estúpido piquenique acabar, e desejando a Deus que eu tivesse um par de botas com bicos de aço e braços de guarda.


JESSICA VERDAY Mais tarde naquela noite, finalmente puxamos para nossa própria garagem, e respirei um suspiro de alivio. — Eu lhe disse que ela beliscou meu braço? — eu perguntei a mamãe no caminho dentro de casa. — Sim Abbey. Três vezes — Eu provavelmente terei contusões amanhã. E meu pé estará preto e azul. — Mamãe abriu a porta, e papai estava bem atrás de nós. — Isso é abuso de crianças, você sabe. Eu poderia contar aos serviços sociais. Ambos se conduziram para a escada e subiram. — Boa noite Abbey. Vejo você amanhã — disse papai. Eles claramente não tinham me ouvido. — Se eu ainda estiver aqui — eu falei atrás deles. — Eu poderia estar com minha agência. Isso é tudo que estou dizendo. Uma porta batendo foi à única resposta que obtive, e perambulei até o sofá. Liguei a televisão e passei através dos canais, finalmente pousando em uma reprise de Friends. Eu não estava nem um pouco cansada ainda... Quando acordei, era quase três horas da manhã, e tive que me arrastar para cima para meu quarto. Mantive-me bocejando o tempo inteiro e me atirei de ponta cabeça na cama, nem sequer me preocupando em tirar os sapatos ou rastejar para debaixo das cobertas. Tudo o que eu queria era voltar a dormir. É claro, em seguida meu ombro começou a doer porque estava virado em um ângulo estranho, e meu travesseiro estava desajeitado. Eu me reorganizei e troquei meu travesseiro de lugar. Então comecei a ficar muito quente, e senti como se estivesse sufocando. Rolando sobre mim, chutei minhas sandálias e joguei meus braços sobre minha cabeça. A corrente de ar estava legal através do meu rosto, e respirei profundamente. Mas minhas roupas eram muito apertadas. Sentei-me e comecei a tirar minha camiseta, quando algo esverdeado pegou no canto do meu olho. Isso era estranho. Inclinando minha cabeça para trás, olhei para cima... E engasguei quando vi o labirinto de estrelas que cobriam o teto do meu quarto. Estrelas, luas, planetas. Era meu sistema solar pessoal localizado diretamente acima da minha cama.


JESSICA VERDAY Puxei minha camisa de volta e levantei para acender uma luz. Assim que a luz se acendeu, as constelações desapareceram, e pequenos pedaços de cera de plástico ficaram em seu lugar. Ficando de pé na cama, me estiquei até tocar um. Estava preso. Desliguei a luz e observei enquanto o quarto brilhou novamente. Batendo palmas com prazer, fiquei no meio da cama, e apenas encarei, e encarei, e encarei-as. Estrelas se estendiam de uma extremidade do quarto ao outro. Eu nunca tinha visto tantas em um só lugar. Meu pai tinha me comprado um pacote de estrelas que brilhavam no escuro uma vez em um museu do ar e do espaço, mas havia apenas cinco ou seis delas lá. Isso tinha que ser dezenas e dezenas de estrelas. Eu não podia acreditar. Caspian fez isso? Quem mais poderia? Felicidade me inundou. Eu queria dançar em volta do quarto. Isso era maravilhoso. E romântico. E perfeito. Um nítido, estalado ruído na janela me fez girar. Em seguida veio novamente, e soou como um vidro quando era quebrado. Cheguei mais perto, cuidadosamente para que eu pudesse ficar cara a cara com algum animal noturno voador enlouquecido. Eu olhei para fora da janela, mas não vi nada, então eu a abri e olhei para fora. Uma pedrinha de repente veio voando do nada e voou direto passando por minha cabeça, pousando com um baque surdo no chão perto de mim. — Ei — eu disse, inclinando-me para fora ainda mais, para obter uma visão mais clara de todo o caminho. Caspian estava de pé lá, ao lado da casa, com a mão levantada, pronta para atirar outra pedra. — Abbey! — ele disse. — Eu estava tentando chamar sua atenção! — Ele parecia envergonhado. — Eu não bati em você, bati? — Eu balancei minha cabeça. — Por que você não sobe? Ele rapidamente abandonou seu punhado de pedras no chão, em seguida escalou a grade. Eu me afastei da janela quando ele alcançou o teto baixo e se arrastou pelo quarto.


JESSICA VERDAY Com ele aqui, de pé em meu quarto, de repente me senti vulnerável. Vamos lá, Abbey, eu disse a mim mesma. Não é como se ele nunca estivesse aqui antes. — Astrid — Caspian disse, sorrindo lentamente para mim. Eu sorri de volta. — Você veio para olhar as estrelas comigo? Ele assentiu, e eu andei em sua direção, imensamente grata por ter mantido minha roupa. Isso teria sido... Embaraçoso. Engraçado, minha mente sussurrou. Mas embaraçoso. Minhas bochechas queimaram, e eu esperava que estivesse escuro o suficiente para ele não me ver corando ou ler minha expressão. Eu espalhei uma mão e acenei ao redor. — Isto? Você? Como? Ele deu um amplo e feliz sorriso. — Feliz aniversário atrasado. Pensei que você fosse gostar. — Você está brincando? Quem não gostaria? Mas como você entrou? E como você as colocou? E de onde você tirou tantas? — Sua janela não fecha totalmente — ele disse. — Eu notei enquanto você estava fora. Eu apenas subi e abri um pouco. Felizmente, sua mãe mantém uma escadinha na cozinha. Eu não acho que poderia ter subido sem ela. — Então, você subiu em meu quarto enquanto eu estive fora, usou uma das nossas escadinhas, e prendeu estrelas de plásticos em meu teto? — ele abaixou a cabeça. — Sim, você está furiosa? — Furiosa? Não. Esta foi à melhor coisa que eu já ganhei. Estou apenas surpresa que você não, eu não sei, esperou por mim ou algo assim. Caspian parecia horrorizado agora. — Esperar em seu quarto sem você? Isso era uma coisa para terminar um projeto de surpresa, mas eu nunca ficaria aqui sem sua permissão. Eu balancei minha cabeça e sorri para ele. — Você é um garoto estranho Caspian Vander. Mas você tem minha permissão para vir aqui sempre que quiser.


JESSICA VERDAY Ele parecia desconfortável. — Acho que vou esperar por você. — Então ele olhou maliciosamente. — A não ser que eu tenha outra surpresa planejada, é claro. — Surpreenda-me a qualquer momento. — Voltei para minha cama e sentei-me na beirada, batendo no espaço ao meu lado. — Vamos olhar as estrelas. Sem esperar por ele, deitei-me com os pés em direção a cabeceira, com a minha cabeça perto da parte inferior da cama. Momentos depois ele se juntou a mim, deitando cuidadosamente ao meu lado. Eu achatei minhas mãos e senti o frio do algodão sobre minhas palmas. Nenhum de nós falou, e me concentrei em manter minha respiração normal. As estrelas brilhavam um verde constante acima de nós. Mas eu não queria que ele pensasse que eu o estava ignorando, então eu disse novamente: — Onde você conseguiu todas elas? Há taaaaaantas. Sua voz era baixa. — Encontrei aproximadamente cinqüenta pacotes em uma enorme bolsa do Exército da Salvação. Em um fast-food que estava servindo sanduíches para crianças. Eu me senti meio mal por pegá-las, mas percebi que foram doadas para alguém usar, certo? E eu tinha um uso para elas. Meus olhos traçaram um caminho de uma estrela a outra, e comecei a ver formas e padrões. — Não acredito que você fez isso por mim, Caspian. Agora, cada noite quando eu estiver na cama, pensarei em você. — Isso é o que eu estava esperando — ele disse. — Para você sonhar comigo. — Olhe — eu disse, dirigindo a conversa longe deste tópico — Uma estrela cadente. — Eu vejo — disse Caspian. — Bem ao lado da Ursa Maior. — Onde? Ele apontou para um amontoado de estrelas. — Lá. Você apenas tem de fazer um reajuste criativo com seus olhos. — Ohhhh, é assim que se chama?


JESSICA VERDAY — Sim. É bem ao lado dessa linha de estrelas. — Como são chamadas aquelas três em fila? — Cinturão de Órion? — Isso mesmo — ele inclinou a cabeça. — Embora ele se pareça mais como a toga de Órion para mim. Veja como de certa forma eles seguem para cima e para baixo? Rindo eu disse. — Toga de Órion? Eu nunca ouvi falar desse. E quando a capa de Órion? — Ele sorriu para mim, e mesmo na escuridão, eu ainda podia ver o verde vibrante de seus olhos. — Sim, está bem ali junto com o levemente menos famoso, mas ainda em destaque sobre Jeopardy! — o Roupão de Órion. Nós compartilhamos um sorriso, e então me mudei para que pudesse sustentar minha cabeça em uma mão. — Conte-me uma história — eu sussurrei. — Um segredo, algo que você nunca disse a ninguém. Seu rosto ficou em branco, ilegível. Então ele se virou para mim. — Quando eu era pequeno, eu pensei que podia voar. Minha tia me levou a este ensaio para uma peça que ela estava ajudando com, acho que estavam fazendo Noites Árabes, e eu subi sobre este grande tapete flutuante que estava lá como um adereço. Lembro-me perfeitamente. Sentei-me sobre este tapete e cruzei meus braços em estilo gênio, enquanto repetia ALASHAZAM, e então o tapete começou a se mover. Provavelmente deveria ter me assustado ou algo assim, mas não. E eu só flutuei, para frente e para trás. Sua história fez meu coração dar um pequeno suspiro. Não foi uma história triste de qualquer forma, mas havia algo sobre a maneira como ele contou. Algo sobre obter um relance do menino que ele costumava ser, que me fez querer voltar no tempo e ver por mim mesma. — Agora que estou mais velho, percebo que o tapete estava em uma plataforma móvel ou rodas, ou algo assim — ele disse. — Mas naquela época? Foi à melhor sensação do mundo. Eu estava voando.


JESSICA VERDAY Seu sorriso cresceu pensativo, e ele fechou seus olhos por um momento. Quando os abriu novamente, ele disse. — Agora, sua vez. Conte-me um segredo. Eu realmente não tinha nenhum segredo. Claro, havia coisas bobas, como encher o sutiã com meias quando tinha doze anos, ou ter uma queda por meu professor na quinta série. Mas tudo era muito pequeno e trivial neste momento. Então, eu pensei sobre Kristen. Ela certamente tinha segredos guardados. Um namorado que ela propositalmente não me contou. Conversas com ele que ela não me contou. Todas aquelas vezes que ela estava saindo comigo, quando ela realmente queria estar com ele. Eu não tinha nenhum desses tipos de segredos. Mas havia uma coisa... Comecei devagar. — Quando eu tinha nove ou dez anos, eu estava à espera de Kristen em seu quintal. Ela estava no dentista, então ela não estava em casa ainda, mas havia aquelas crianças brincando no quintal ao lado. Um grupo de crianças do bairro. Meu estômago começou a agitar. Eu não tinha pensado sobre esta memória em um longo tempo. — Eles estavam brincando na lama com aqueles grandes caminhões de brinquedos, você sabe o pesado metal amarelo, com rodas grandes? — Ele assentiu. — Eu meio que me aproximei. Curiosa sobre o que eles estavam fazendo, mas eu realmente não queria ser notada. Então, eu vi que eles não estavam apenas brincando com os caminhões. Havia este enorme sapo sendo pressionado, e eles continuavam esguichando com os pneus, uma e outra vez. Eu podia ouvir minha voz ficando tímida, mas eu estava perdida na minha horrível memória do sapo saltando vísceras e o chão lamacento. — Foi horrível. Fiquei horrorizada com o que estavam fazendo, e ainda mais horrorizada que eu não estava dizendo nada. Mas eu estava com medo. Senti-me impotente e muda. E era apenas um sapo estúpido. Eu não estava machucada, então o que importava? Ou pelo menos é o que eu fiquei dizendo a mim mesma. — Deixei escapar um suspiro trêmulo. — Eu nunca disse isso a ninguém. Nem mesmo a Kristen. Eu não queria que ela se envergonhasse de mim.


JESSICA VERDAY Caspian concordou com a cabeça lentamente. — Legal né? — eu disse. — Eu podia ter salvado aquele sapo, mas não fiz. Sou uma assassina de sapo. Aposto que você sempre quis saber disso. — Tentei ler seu rosto. Estaria ele pensando que eu era uma pessoa horrível? Ele me odiaria por eu ter dito a ele? — Você não vai conseguir isso — ele disse, balançando a cabeça. — Não vou conseguir o quê? — Uma condenação. Você não vai conseguir isso de mim. Eu sei que você quer que eu diga o quão ruim e horrível a coisa foi. Mas você era apenas uma criança. Perdoe-se e deixe-o ir. Eu caí para trás na cama, esticando minhas pernas e flexionando meus dedos. A raiva de mim mesma correu em minhas veias como fogo quente. Eu não sabia se podia deixá-la ir. — Não faça beicinho — Caspian disse. — Não estou fazendo beicinho — respondi. — Não estou. — Isso se parece com um beicinho para mim — ele disse virando para que ficasse de frente para mim agora, apoiando-se em uma mão. Seu sorriso era contagiante, e eu sorri de volta, sentindo-me tola, romântica e maravilhosa. —Preto Caspian disse abruptamente. Eu franzi as sobrancelhas para ele. — Preto? — É minha cor favorita. Você nunca perguntou, por isso estou lhe dizendo. — Mas isso não é realmente uma cor. São todas as cores juntas. Ele apontou para sua camiseta, que era preta. — É uma cor. Oh, e eu não tenho uma. — Não tem... Um gambá de estimação? — eu adivinhei. Caspian riu. — Um nome do meio. Eu não tenho um nome do meio.


JESSICA VERDAY — O meu é Amélia — eu disse. — Mas prefiro Astrid. — Sentei-me ligeiramente. — Ei, você precisa de um apelido. Ele balançou a cabeça. — Não sou o tipo de cara que tem um apelido. — Não, realmente, você é. Deixe-me pensar sobre isso. Caspian... Casp... Casper. Aí está, Casper! Tem um belo toque nele. Além disso, você é um fantasma e amigável. — Um personagem de desenho animado? — ele deu um suspiro zombado. — Serio? Deitei-me e cruzei os braços sobre minha cabeça, tentando manter meu rosto sério. — Acostume-se Casper. Pelo menos não sugeri Salsicha ou Scooby-Doo. Embora... — Não sugira mais nenhuma idéia — ele murmurou. Fechei meus olhos então, e deixei a risada que estava construindo tomar conta de mim. Quando acordei, o céu lá fora estava cinzento e ameaçador. A certeza de sinais de uma tempestade de verão a ponto de bater. O relógio marcava nove e meia, e eu não conseguia descobrir por que eu estava dormindo no pé da minha cama. Então me lembrei das estrelas. Olhando ao redor do quarto, procurei por Caspian. Ele não estava lá, mas um bilhete dobrado ao lado do meu travesseiro estava escrito Astrid no lado exterior. Eu o alcancei e meu estômago apertou. Era curto e doce. Espero que tenha tido sonhos bonitos e agradáveis. Fiquei até que adormecesse, e então eu parti. Estarei pensando em você... Amor, Caspian. Eu li dezenas de vezes e então o enfiei em segurança sob o travesseiro para que eu pudesse lê-lo novamente mais tarde. Saltando para fora cama com um sorriso em meu rosto, eu nem mesmo me importei com o estalo do trovão que se seguiu enquanto eu ia para o chuveiro. A água quente era deliciosa, e eu me vi cantarolando uma canção enquanto eu ensaboava meu cabelo.


JESSICA VERDAY Depois de me vestir, decidi colocar sapatos mais fortes do que meus chinelos, e fui para o armário. Levantando a pilha de travesseiros e cobertas que estavam estocadas lá, fiz uma busca por um par de tênis. Minha mão bateu em algo sólido, e puxei, vendo dois livros pequenos, um vermelho e um preto... Meus joelhos caíram lentamente. Meu bom humor desapareceu. Os diários de Kristen. Os que eu tinha encontrado em seu quarto. Toquei a borda de um, e um choque de memória me percorreu. Kristen e eu compramos sapatos novos no shopping. Passamos um tempo juntas embaixo da ponte depois do primeiro dia de escola. Deixando cartas para Washington Irving em seu túmulo, na noite de Halloween. Perambulando através do cemitério e inventando histórias. Eu precisava vê-la de novo. Eu precisava ir ver Kristen.


JESSICA VERDAY

Capítulo Dezesseis APRESENTAÇÕES

Havia algo no silêncio mal-humorado e teimoso deste obstinado companheiro que era misterioso e assustador. – A Lenda de Sleepy Hollow

Parecia que iria chover durante todo o caminho até o cemitério, mas isso não me incomodou. Eu peguei minha capa de chuva amarela no caso da tempestade cair enquanto eu estivesse fora. Quando eu cheguei ao tumulo de Kristen, vi que um vaso de tulipas vermelhas tinha sido deixado lá. Eu me abaixei para ler o cartão saindo da longa ponta do plástico, dizia. Com amor, papai e mamãe. Sorri para mim mesma. Isso era típico dos pais de Kristen. Trazendo algo para deixar o lugar mais bonito. Eu realmente deveria visitá-los em breve. Ver como eles estavam. Havia pedaços de gramas soltos presos em cima de sua lápide, prova que as pessoas que cuidavam do gramado eram descuidadas, os joguei para longe, tendo um minuto para traçar as letras entalhadas de seu nome com meu dedo mindinho. — Ei, Kristen — eu sussurrei.


JESSICA VERDAY Dobrei minhas pernas abaixo de mim e descansei a palma da mão na parte superior da lápide de granito. — Encontrei seus diários hoje de novo. Eles estavam em meu armário e os vi quando estava procurando meus sapatos. — Tomei uma profunda respiração. — Eu realmente sinto sua falta. Sinto falta de sair com você. Sinto falta de telefonar para você. Sinto falta de ver seu rosto clarear quando eu tinha algo engraçado para dizer... Trovão ruiu, e uma brisa soprou por mim, fazendo com que os galhos próximos a árvores tremessem. Eu tremi também. — Você sabe, quando eu encontrei seus diários pela primeira vez e li sobre seu namorado secreto, você estava sempre tentando encontrar maneiras de estar com ele, uma parte de mim estava realmente brava com você, Kristen. Eu não conseguia entender por que você o manteve em segredo para mim. Por que você não me contou sobre alguém que te deixou tão feliz. — Corri meu dedo para frente e para trás sobre o meu colar de trevo de quatro folhas. — Eu teria estado lá por você. Eu teria estado feliz por você... — Mas você não me deixou entrar. E quando eu descobri, eu a odiei por isso. — Eu baixei minha cabeça, e as lágrimas vieram, deslizando pelo meu nariz e caindo ao chão. — Sinto muito Kristen. Sinto muito por me sentir assim. Eu não deveria. Você foi minha melhor amiga. Como eu poderia odiá-la? Uma pesada gota de chuva caiu na parte de trás da minha cabeça, e antes que eu tivesse a chance de colocar meu casaco, o céu abriu. Lençol de chuva cascateou ao meu redor, e em poucos segundos meu cabelo e minhas roupas estavam encharcadas. Mas eu ainda não tinha terminado de falar ainda. — Seja quem for D. sinto muito que ela a machucou — eu disse a ela sobre o som da tempestade. — Deve ter sido doloroso, segurar tudo dentro. E sinto muito que eu não estava lá para falar sobre... Depois... Sua primeira vez. A chuva bateu em mim, molhando a capa de chuva que eu lutava para vestir, e espirrando no duro chão. — Oh, Kristen, suas palavras foram tão cheia de pesar, e isso não é como o amor deveria ser. Um sorriso se insinuou em meu rosto. — O amor é suposto que seja maravilhoso, e emocionante, e excitante, e enervante. É incrível Kristen. Eu tenho alguém agora também, e posso falar com ele como não posso falar com mais ninguém. Ninguém desde... Você. — Ele é o rapaz que lhe falei na noite do baile, quando lhe escrevi esta carta. Ele é lindo e engraçado, e inteligente. Ele é um artista também. Ele me fez estes colares que são


JESSICA VERDAY simplesmente incríveis. E noite passada? Ele subiu em meu quarto e colocou estrelas que brilham no escuro no meu teto. Você pode acreditar nisso? Então fiz uma careta quando percebi que tinha deixado algo de fora. Algo importante. — Esta próxima parte vai parecer meio louca. Acredite, eu sei. Mas é a verdade. Ele é... — Minha voz falhou e clareei a garganta. — Ele está... Morto. Estou apaixonada por um fantasma. Esperei um raio me atingir, ou o chão rachar. Mas nada aconteceu. Nenhum sinal dos céus, ou ruptura da realidade como eu sabia. Nada aconteceu depois de tudo. Eu balancei minha cabeça para trás e para frente. — Eu não entendo isso. Só sei que o amo. No entanto errado... Ou certo... É o que é. Ele me faz feliz. — Deixei escapar um silencioso sorriso. — Louco né? Eu sei. Deus, eu queria que você estivesse aqui para conversar. — Algo apertou no meu estômago. — Eu gostaria de poder compartilhar isso com você, Kristen. Porque essa é a diferença entre mim e você. Eu teria contado sobre ele em vez de mantê-lo em segredo A tristeza tomou conta de mim, e minhas lágrimas vieram mais rápidas. Arquejando para respirar, virei meu rosto para o céu. A chuva estava fria e fresca, e eu apenas queria que lavasse minha dor. Para tornar tudo melhor. Eu pensei que tinha sido capaz de colocar isso tudo atrás de mim, mas aparentemente não. A ferida ainda estava fresca. Ainda queimava. Segunda-feira de manhã mamãe me acordou com um lembrete que eu tinha de ajudar o tio Bob. Eu tinha esquecido completamente da minha promessa e não estava muito feliz por lembrar. Mas sai da cama e rapidamente joguei algumas roupas sobre mim. Pelo menos eu pegaria um salário fora do acordo. Mamãe me deixou na porta da frente da loja de sorvetes e disse que estaria de volta as cinco, em seguida, fugiu. Eu me forcei a entrar na loja já lamentando esta decisão. Trabalhar em um escritório uma vez por semana era uma coisa, que senti como se eu estivesse fazendo coisas de administração em minha própria loja, mas entregando cones de sorvete de creme para crianças com dedos pegajosos durante todo o dia era outra. Os sinos na porta anunciaram minha chegada, e tio Bob veio correndo de trás. Seus cabelos grisalhos estavam de pé em ângulos estranhos, como se ele estivesse puxando-os, e um anel de suor alinhava seu colarinho.


JESSICA VERDAY — Abbey, estou tão feliz em ver você. Notei vários clientes estavam já na fila com impacientes olhares em seus rostos, enquanto uma morena quem tinha suas costas para nós estava ocupadamente com as colheres de sorvete. Tio Bob fez sinal para eu segui-lo, e fomos para um pequeno armário de suprimentos. — Um dos meus freezers parou de funcionar, e tenho que correr para a cidade para encontrar outro. —. Ele alcançou uma caixa que estava assentada em uma prateleira, e a puxou para baixo. — Há algumas camisas aqui, parte do uniforme, assim você pode escolher seu tamanho e usar o banheiro para trocar. Ele enfiou uma mão na caixa e retirou um monte de camisas. — Aqui está uma extragrande... Uma extragrande, outra extragrande, droga, todas estas são extragrande? — Ele vasculhou, olhando etiqueta por etiqueta. — Pensei que tinha mais tamanhos aqui. — Ele me olhou em derrota. — Não se preocupe sobre isso tio Bob, uma extragrande está bem. Ele sorriu para mim e me entregou uma camisa. Abandonando a caixa no chão, ele me apressou para fora de lá. — Depois que você se trocar, vou lhe mostrar a área do guichê. A camisa era um desastre desesperador. Eu puxei-a no banheiro e ela ficou pendurada em meus joelhos, as mangas praticamente indo para meus pulsos. Tentei colocála dentro de meu short, mas aquilo salientava em todos os lugares. Finalmente, eu dobrei a frente da camisa e fiz um nó em volta. Era o melhor que eu poderia fazer. Tão logo eu saí do banheiro, tio Bob me arrastou para o balcão. Ele dirigiu minha atenção para os barris de sorvetes alinhados em um refrigerador debaixo de uma tampa transparente. — Os sorvetes estão aqui — ele disse. — As conchas de medida são mantidas em uma caixa de água lá — ele apontou para trás. — O guichê tem todas as coberturas: amendoim, sprinkles, M&M‘s, Reeses‘s Piece. coco, gummies16... Coberturas quentes são mantidas no aquecedor. Ele abriu a tampa de um pote de prata pequeno, e eu vi uma concha de cabo longo subindo e descendo em uma meleca marrom. 16

Tipos de doces americanos


JESSICA VERDAY — Caramelo — tio Bob disse. Concordei, e ele se inclinou para abriu um mini refrigerador localizado sob a bancada que segurava os aquecedores de prata. — Suas coberturas frias são mantidas aqui: chantilly, marshmallow, morango, abacaxi, etc. A garota morena se virou para nós, e meu coração afundou. Era Aubra Stanton. Uma chefe de torcida da escola. Eu tive um flashback momentâneo do primeiro dia de aula do ano passado, quando o diretor Meeker anunciou a morte de Kristen para todos durante uma assembléia. Então Aubra e outras duas líderes de torcida tinham se levantado e agiram como se fossem suas melhores amigas e disseram que sentiriam muuuita falta dela. Elas nem mesmo tinham seu nome direito. Um gemido torturado deslizou de mim antes que eu pudesse detê-lo, mas tio Bob não deve ter ouvido, porque ele se virou para ela com um grande sorriso no rosto. — Aubra, esta é minha sobrinha Abbey. Ela vai nos ajudar. Abbey, Aubra lhe mostrará o básico. Ela pode cuidar da caixa registradora enquanto você lida com os clientes. Retumbantes ruídos de repente surgiram do quarto onde os freezers eram mantidos. Tio Bob lançou um olhar preocupado em direção ao som. — Esse é o freezer abrindo mão do fantasma. Vou ter que dar uma olhada. Será que vocês duas são capazes de segurar as pontas? Não, tio Bob. Não me deixe aqui com ela. — Claro — eu disse ao invés. — Absolutamente — Aubra respondeu. Tio Bob nos deu um grande sorriso e em seguida desapareceu atrás. Aubra e eu nos viramos cara a cara, mantendo-nos como duas gazelas nervosas no meio de uma matilha de leões, esperando para ver quem faria o primeiro movimento. Aubra olhou-me de cima a baixo. — Você me parece familiar. Seu nome é Abbey? Aqui vamos nós... — Sim, nós estamos na mesma escola. — Oh — ela sacudiu sua cabeça. Claramente agora ela era o leão e eu a gazela. — E você é a sobrinha do chefe, hein? Espero que isso não faça você pensar que pode obter qualquer privilégio especial. Porque você tem.


JESSICA VERDAY Direta. Porque tenho certeza que ela nunca usou sua posição de líder de torcida ou sua saia curta, para conseguir privilégio especial. — Eu não vou... Tanto faz. Olhe, apenas fique longe do meu caminho e fazer o que digo, compreende? — Sim, claro. Tudo bem — Eu suspirei. A campainha soou e um homem e um menininho entraram. Aubra deu um sorrisinho desdenhoso, e murmurou. — Bela camisa — e então se afastou para recebê-los. Olhei para minha larga camisa e empurrei as mangas para cima. Este dia precisava passar mais rápido, ou então eu não faria isso. Escorreguei para trás do balcão e esperei enquanto Aubra sorria e conversava com o homem. Ele manteve sua cabeça inclinada para um lado e contando vantagem de seu passeio, provavelmente um chamativo carro esportivo vermelho que só gritava crise de meia-idade! Enquanto seu garoto corria seus dedos sujos sobre a janela que cobria as tubas de sorvete. Finalmente, Aubra olhou para mim e disse-me para pegar uma concha. Alcancei uma, tentando lançar as contas de água que grudaram a ela sem borrifar em meu rosto e permanecer ao lado do refrigerador. — Que tipo você quer Billy? — o homem perguntou. Billy pressionou seu rosto sujo contra o vidro, então finalmente falou. — Chocolate. — Aubra olhou para mim. — Você o ouviu. Você vai pegar? Inclinei-me sobre o chocolate, cavando a concha no sorvete que estava duro como uma rocha. Tentei novamente, distorcendo a concha um pouco mais. Isso não foi bem sucedido também. Então comecei a golpeá-lo. Eventualmente, pequenas lascas de sorvete começaram a soltar, e reuni várias delas em uma bola pateticamente pequena. — Eu quero baunilha — Billy de repente gritou. Pausando, olhei para Aubra. — Baunilha com chocolate? Como duas conchas? Mas o pai já estava balançando sua cabeça negativamente. — Eu disse que seria apenas uma bola, Billy. Você quer baunilha ao invés de chocolate?


JESSICA VERDAY Billy pisoteou e balançou sua cabeça também. Aparentemente, ele queria ambos. O pai ajoelhou-se em frente a ele e levou o que parecia ser uma eternidade para acalmá-lo. Minhas costas estavam me matando de ficar encurvada, e os flocos de chocolate que eu tinha conseguido golpear fora estavam começando a derreter. — Nós levaremos baunilha — o homem disse, ficando em pé para encarar Aubra. Eu não sabia o que fazer com o sorvete que eu já tinha, então tentei colocar de volta. A concha recusou a abandonar, porém, até que finalmente Aubra deu um suspiro desgostoso e estendeu a mão para tirá-la de mim. Ela jogou a concha atrás no cocho de água e disse-me para pegar uma nova. Com o utensílio novo na mão inclinei-me para pegar baunilha. — Cuidado! — Aubra resmungou. — Suas mangas estão encostando-se ao sorvete. Olhei para baixo e vi minha manga perdida através do sorvete de laranja e chocolate com menta. Impressionante. Minhas bochechas queimaram, e puxei de volta. Aubra tomou a concha de minha mão novamente e tirou uma perfeita bola de sorvete de baunilha. Levantando uma pequena taça perto de uma pilha, ela lançou o sorvete e entregou ao rapaz. — Desculpe por isso — ela disse ao pai. — Ela é nova. Um rolar de olhos obrigatórios e um simpático olhar (dirigidos a ela, não a mim), passaram entre eles, e ela foi marcar a venda na caixa registradora. Fiz meu caminho até o banheiro para me limpar. Uma vez dentro com segurança, eu disse ao meu reflexo no espelho que isto era apenas por um par de semanas. Eu apenas tinha que me manter lembrando-se disso. Eu removi da minha manga pegajosa com uma toalha de papel úmida, então tentei secá-la o melhor que pude. Finalmente, enrolei ambas as mangas todo o caminho. Eu parecia como um aspirante atleta de academia para malhar, mas pelo menos não estaria mais balançando minha camisa dentro do sorvete. Fazendo meu caminho de volta, vi mais três pessoas em fila, e Aubra gesticulou impacientemente para que eu viesse. Levou várias tentativas, mas finalmente peguei o jeito


JESSICA VERDAY da concha e fui capaz de servir o sorvete sem maiores contratempos. Aubra trabalhou na caixa registradora, e nada mais complicou do que uma concha tripla assumiu minhas funções no caixa. Nós até conseguimos atender uma equipe de beisebol da liga juvenil que veio sem ninguém ficar muito chateado. Depois que algumas horas tinham passado, tio Bob chegou e nos disse que o ele ficava no balcão enquanto dávamos uma pausa de quinze minutos. Eu segui Aubra para uma pequena área no beco atrás da loja. Mantive distância dela, embora, ela fez o mesmo. Tirando meu celular, verifiquei a hora e vi que ainda tinha mais três horas para trabalhar. Maravilhoso. Rolei através das minhas chamadas não-atendidas e percebi um número estranho listado lá. Era Caspian? Ele tinha usado um telefone público ou algo para me chamar? Eu redisquei e escutei com uma respiração detida, uma vez que começou a tocar. Uma voz feminina atendeu. —Alô? Bem, eu não estava esperando por isso. — Alô? — eu disse. — Quem é este? Quero dizer, este número ligou para meu celular, e... — Abbey? É Beth. Da escola. Certo. A mesma Beth cuja ligação ela não tinha retornado antes. Eu estava completamente envergonhada. — Oh Deus, Beth. Desculpe por não ter ligado de volta. Ela riu. — Sem problema. Eu pensei que apreciaria a dica se você está sempre presa com as crianças Wilson novamente. — Oh sim, eu aprecio. Aquelas crianças vão ter comer e vomitar. — Aubra virou e me encarou, mas olhei para o outro lado. — Conte-me sobre isso. Então me ouça, Lewis e eu vamos ao cinema sábado à noite. Você e Ben querem vir? — Oh — eu disse. — Ben e eu não somos... — Eu sei — Beth disse. — Nós nos somos também. Estou dando a Lewis uma prova. Experimente antes de comprar. Ele é bonito e tudo, mas o rapaz tem energia? Preciso saber essas coisas.


JESSICA VERDAY Eu ri. — Tudo bem. Eu entendo. — Então você virá? Já convidei Ben, e ele disse sim. Eu hesitei. Beth estava sendo muito legal, mas se Ben pegasse a idéia errada? E Caspian? Beth deve ter ouvido minha pausa. — Por favor, por favor, por favor? Você não pode me deixar sozinha com ele, garota. E se não der certo e eu precisar de uma desculpa rápida? — Deixe-me ver minha agenda — eu disse hesitante. — Tudo bem? Ela soltou um grito de alegria. — Estarei ligando para você. Quarta-feira. Não me faça de boba. — Tudo bem, tudo bem. Falo com você depois. Ela disse adeus e eu fechei o telefone. Um filme me pareceu divertido. Mas e Caspian? Eu queria que ele estivesse comigo lá. Não Ben. Aubra interrompeu meus pensamentos. — Temos de voltar logo. Vamos. Relutantemente me levantei e a segui para dentro. Uma fila de clientes tinha se formado em frente ao balcão, e tio Bob estava acenando freneticamente para nós. Parei um minuto para enrolar minhas mangas de volta no lugar e depois fui pegar uma concha. Apenas mais duas horas e quarenta e cinco minutos para partir. Quando finalmente o trafego de clientes abaixou, tio Bob saiu da sala de trás e disse que tinha encontrado algumas partes novas do freezer que ele precisava ir pegar. Ele estaria de volta em uma hora. Duas no máximo. Eu o observei ir, sentindo-me abandonada e um pouco desesperada enquanto me virava para Aubra. Ela exalou ruidosamente e disse — A loja ficará morta por algum tempo. Prepare-se para ficar entediada. Inclinando-me no balcão, eu olhei pela janela para todas as pessoas andando e desejei-os que entrassem e provasse o erro dela. Mas ela estava certa. Apenas vinte e dois minutos tinham se passado, e pensei que iria morrer de tédio. Isso deve ser como é para


JESSICA VERDAY Caspian. Observando cada minuto se arrastar com nada para ajudar a passar o tempo. Não é a toa que ele gosta de ler. Finalmente eu não agüentava mais e olhei para Aubra. Ela estava escrevendo uma mensagem furiosamente em seu celular. — Alguma coisa para ser feito? — eu perguntei. — Como varrer o chão, ou encher o porta guardanapos, ou algo assim? — Não. — Ela nem mesmo olhou para cima. Sai de trás do balcão. Pensei em voltar para o escritório do tio Bob e passar um tempo lá, mas me senti mal por deixar Aubra sozinha. Agarrando um frasco de limpeza e um rolo de papel toalha, fui para as mesas. Elas não estavam realmente sujas, mas era algo para fazer. Limpei cada uma e as cadeiras também, tomando meu tempo para ter certeza de que cada partícula de sujeira tinha ido embora. A campainha soou novamente e eu olhei para cima, feliz em ver pelo menos um cliente. Mas minha felicidade desapareceu quando um cara em calças cargo e uma camiseta visual vintage- mas-custa-quinhentos- dólares atravessou a porta. Um Rolex prata brilhava em seu pulso. Seu cabelo estava diferente, preto agora ao invés de pontas cuidadosamente loiras, mas eu ainda o reconheci. Era o idiota que eu conheci aqui uma vez durante as férias de Ação de Graças. Aubra gritou e saiu voando de trás do balcão. O rapaz sorriu para ela, exibindo uma covinha perfeita. Imediatamente minha raiva cresceu. Eu realmente não gostava desse garoto. — Baby — Aubra gritou, pulando em seus braços para um abraço. Ele a segurou à distância, tendo certeza que ela não se pressionaria muito forte contra o peito de sua camisa. Aubra se controlou e virou o sinal de ABERTO na porta da frente para FECHADO. Ela olhou para mim. — Tempo para outro intervalo. Eu não iria discutir. Mesmo se eu quisesse, eu não poderia manter a caixa registradora eu própria. Ela começou a ir embora, então disse bruscamente — Abbey vamos.


JESSICA VERDAY Olhei para ela surpresa. — Eu? Eu estou, hum, bem aqui. Vocês dois vão em frente. Aubra plantou ambas as mãos na cintura e me deu um olhar frio. — Você não pode ficar aqui. — Ela fez uma pausa, e eu quase poderia ouvir o estúpida que ela queria adicionar. — Se as pessoas verem você, eles vão pensar que estamos abertos. Vamos. Deixando o limpador em cima da mesa, segui os dois. Quando chegamos à sala que armazenava os freezers, ajeitou seu cabelo e disse — Estamos saindo por aqui. Você pode ir a qualquer lugar. Só não saia pela frente. Eu assenti e me dirigi ao escritório do tio Bob. Pelo menos ele tinha um sofá lá dentro. Quanto tempo esse intervalo iria durar, exatamente? Várias pilhas de jornais estavam espalhadas por toda a superfície do sofá, mas eu apenas os varri para o chão. Esticando-me, fechei meus olhos para tirar uma soneca. Deixei que Aubra viesse me encontrar quando estivesse pronta. Mas eu não conseguia dormir. Altas vozes me mantinham acordada. — Tudo bem! — alguém gritou. Parecia Aubra, e em seguida houve um baque. Ruídos abafados vieram em seguida, e no fim um choramingar. Eu não sabia o que fazer. Deveria ficar de fora? Ou ver como ela estava? Mudei para uma posição sentada. Mas não tive a chance de fazer mais do que isso, porque o ex menino loiro gótico de repente apareceu na porta. Ele perambulou dentro e correu um dedo pela borda da mesa do tio Bob enquanto vinha em minha direção. Nunca quebrando o contato visual, nunca perdendo um passo. Que era uma façanha impressionante em um escritório tão confuso do tio Bob. Ele parou a menos de um pé de distância do sofá, sustentando seu dedo para inspecioná-lo. — Tsk, tsk. Eu odeio fazer isso em uma área de trabalho bagunçada. Nitidamente contornando uma das pilhas de papeis, ele se sentou ao meu lado. Minha pele se arrepiou, e me forcei a deixar escapar um suspiro que eu nem sabia que estava segurando. — Eu gosto de coisas limpas e arrumadas — ele disse. — Você? — Eu assenti e engoli. — Já nos conhecemos antes? Aubra disse que seu nome era... Abbey? —


JESSICA VERDAY — Ação de Graças — ouvi alguém dizer. Então percebi que estava vindo de mim. — Você deixou cair alguns papeis do meu tio, e eu os peguei de você. — Ahh sim — ele estendeu a mão. — Sou Vincent. Eu hesitei por um momento, mas não querendo que ele percebesse o quanto não gostava dele, então me rendi. Ele alcançou além da minha mão e deslizou seus dedos pelo meu pulso antes de sacudir. A sensação quase me fez sentir-se enjoada, e minha reação instintiva foi imediatamente soltar. Mas ele segurava firme. — Você não vai reter meu comportamento de antes contra mim, eu acredito. E eu não vou reter contra você que me deixou fora no frio. — Ele exibiu um sorriso branco perfeito, mas tudo que eu podia ver eram os vendedores de carro desprezíveis de anúncios, anfitriões de comercial de televisões e fileiras de péssimas cantadas, tudo em um. Eu não estaria sendo mais outro grau em seu pós cama. Puxei minha mão livre e resisti ao impulso de limpá-la em minha bermuda. Isso poderia esperar até que ele me deixasse. Em vez disso, me levantei. — Prazer em conhecê-lo, Vincent. Tenho que ajudar Aubra agora. Ele levantou-se também, em um movimento fluido. — Acho que vou vê-la mais tarde, Abbey — ele disse, parando para me dar outro sorriso. Eu o segui para fora, e observei enquanto ele parou para conversar brevemente com Aubra, que estava atrás do balcão. Ela balançou a cabeça mais uma vez e então lhe deu um abraço, todos os sorrisos novamente. Assim que ele saiu, eu queria perguntar a Aubra o que tinha acontecido, e porque ela estava com alguém que era um idiota. Mas ela me fixou com um cortante, ligeiramente avermelhado brilho. — Este será nosso segredo, certo Abbey? — Ela desviou o olhar e saiu para virar o sinal de FECHADO de volta. — É melhor que seja. Eu não quero ver você acidentalmente perder algum dinheiro da sua gaveta de registro. Então é assim que vai ser? Ignorando-a, fui para recolher os materiais de limpeza que eu tinha deixado em cima da mesa. Eu deveria ter sabido.


JESSICA VERDAY Dez minutos após as cinco mamãe apareceu na porta, e voltei ao escritório do tio Bob para lhe dizer que eu estava partindo. E que eu não ia voltar. Depois da pequena interrupção do namorado de Aubra, ela me deu ainda mais o tratamento do ombro-frio e deixou-me para limpar uma enorme pilha de vômito no chão depois que algum garoto muito veemente disse aos seus companheiros que ele poderia comer dez bolas de sorvete. Ele tinha estado errado. Tio Bob estava sentado em sua mesa, e ele olhou para cima logo que entrei. — Mamãe está aqui, então vou sair e... — Perdi minha cabeça por um segundo, mas então olhei para baixo e vi os restos de vômitos em meus sapatos. — Não serei capaz de... Ele pegou algo e apontou para ele. —Olha o que eu ainda tenho. — Era a caneca MELHOR CHEFE DO MUNDO que eu tinha dado a ele no Natal do ano passado. — Uso todos os dias. É a minha favorita. Todos os meus pensamentos de lhe dizer que eu ia sair imediatamente desapareceram, e lhe dei um sorriso fraco. — Fico feliz em ouvir isso, tio Bob. Vejo-o na quarta-feira—. Ele sorriu para mim e me virei para sair, me dizendo que não importa quão desesperada alguém agia, no futuro eu iria simplesmente dizer não. Dentro do carro mamãe me perguntou como foi meu primeiro dia. Baqueei cansadamente no banco do passageiro. — Longo inacabável. Com um tempo eterno para chupar sorvete no meio do dia. — Enquanto eu dizia, eu não podia ajudar mas pensar em Caspian, quem não tinha nada, apenas o tempo em suas mãos. Mamãe bateu em meu joelho. — Tenho certeza que não foi tão ruim. — Você está certa — eu disse. — Foi pior. Ela virou o volante e se afastou da loja. — Eu sei o que vai fazer você se sentir melhor. A livraria está em liquidação. Você pode pegar um para levar com você na próxima vez. Eu me animei. Essa na verdade não era má idéia, e eu sabia de alguém que provavelmente poderia usar alguns livros novos para ajudar a passar o tempo também.


JESSICA VERDAY

Capítulo Dezessete UM ENCONTRO ESQUECIDO

Quisera eu parar de me debruçar sobre o mundo encantado que irrompeu sobre o olhar extasiado do meu herói… – A lenda de Sleepy Hollow

O resto da semana passou em um borrão de sessões de ciência e longas horas no Tio Bob, até que sábado finalmente chegou. Eu só cheguei a ver Caspian, uma vez durante a semana, parando perto do cemitério para explicar a minha ausência prolongada, e eu totalmente esqueci-me de levar os livros comigo. Ou lhe dizer sobre meus planos para filmes a noite. Mas agora eu tive tempo para corrigir isso, e eu caminhava rapidamente para o cemitério. Eu estava contente que eu usava uma longa, solta, saia de algodão vermelho e blusa branca simples camponesa. Graças a isso, eu não estava me transformando em uma poça de suor ainda. Levei a pequena pilha de livros e algumas velas utilizadas da festa-jantar da minha mãe em meu braço esquerdo à minha direita, passei pelo portão e corri em direção ao mausoléu. Quando entrei, Caspian estava inclinado sobre sua mesa de caixa de papelão, trabalhando em um desenho. Ele estava tão absorto no que estava fazendo que não me ouviu entrar.


JESSICA VERDAY — Ei, Casper — sussurrei, me inclinando bem para perto. Ele pulou e parecia envergonhado, e avistei o que estava na frente dele. Era uma cena de nós dois semi-acabada, deitados na grama, olhando para um céu cheio de estrelas. Meu cabelo era selvagem e solto, espalhados ao redor de mim em ondas loucas, e meu rosto... — Eu não sou tão bonita — murmurei cativada pela linda menina que ele tinha desenhado. — Sim, você é Abbey — seu tom era silencioso e reverente. — Cabelo negro, lábios vermelhos, pele de porcelana. Você é como minha própria Branca de Neve. E seus olhos… eles me assombram. Eu respirei fundo. Ele assombrava meus pensamentos também. Ele estendeu a mão como se estivesse indo para tocar meu rosto, mas depois se conteve. Mudou é claro, ele correu a mão pelo cabelo em seu lugar. — Branca de Neve sempre foi a minha princesa favorita — ele disse. — Você está me chamando de princesa? Ele deu de ombros. — Se o sapato serve. Eu gemi e ele riu. — Ok, sim, isso foi péssimo. — Então ele olhou para os meus livros. — Quais são esses? — Estes — me sentei na pequena pilha na caixa, com cuidado para não enrugar o seu desenho — são para você. Desde que você foi doce o suficiente para me deixar uma surpresa no meu quarto, eu pensei em trazer-lhe alguma coisa. As velas são para quando você ficar sem, e eu peguei os livros em uma biblioteca de venda. Então... feliz aniversário. Tarde. Ou mais cedo. Quando é seu aniversário? Caspian sorriu enquanto pegava o primeiro livro a partir do topo da pilha e piscou para o título. — Dezembro vigésimo segundo. Jane Eyre, hein? — Sim, é uma boa. Há uma velha louca, e uma mulher louca. Ooh! E um incêndio. Caspian Abriu e examinou a página. — Isto resolve depois. Eu vou ler esse primeiro. — Suas palavras me fizeram ridiculamente feliz, e eu podia sentir meu rosto encher de luz


JESSICA VERDAY com alegria. — Se tudo que eu tenho que fazer para conseguir um sorriso como esse lendo seus livros, então eu prometo ler um por dia — ele disse. — Pare com isso. Você vai me dar palpitações. Ele se inclinou mais perto. — Isso é o que eu estou tentando fazer. Seu rosto é absolutamente adorável quando você se envergonha. — Minhas orelhas queimaram. Oh grande, eu estou da cor de um tomate agora? — Sim, bem, eu posso te fazer corar — eu respondi. — Ao contar a você como você é quente, e que, quando aquele pequeno pedaço de cabelo preto cai em seus olhos, é tão sexy que me faz esquecer as minhas palavras, e... Parei subitamente consciente de como aqueceu o mausoléu. — Vá em frente — cutucou Caspian, balançando a cabeça de modo que seu cabelo cobriu um olho verde. Corei novamente, e olhei em volta de mim, lentamente me afastando dele. Eu só precisava de um pouco de espaço... Para limpar a minha cabeça. Ele me seguiu, perseguindo cada movimento meu. Meu sangue parecia oxigênio puro correndo pelas minhas veias efervescentes, e borbulhando e fazendome querer flutuar. Uma parede dura nas minhas costas me parou, mas Caspian continuou chegando. Eu pensei desesperadamente em alguma forma para mudar de assunto. — Eu trouxe Moby dick para você — deixei escapar. Ele me deu um sorriso malicioso. — Mmmm, não é? Como... é interessante. — E Treasure Island, e O Conde de Monte Cristo. — Eu balbuciava desesperadamente. — Eu pensei que você poderia gostar de alguns livros de menino. — Ele parou uma polegada de distância de mim. Eu senti que era sua prisioneira. — Vamos voltar para a coisa sexy e quente — disse Caspian. - Podemos adicionar um lindo e misterioso lá também? Engoli em seco. — Como se você ainda não soubesse que você é todas essas coisas. Você provavelmente tinha meninas caindo em cima de você antes.


JESSICA VERDAY Caspian ergueu a cabeça para um lado. — Verdade. Mas eu sempre pensei que era porque eu era o cara quieto e novo. E, além disso, só há uma pessoa que eu estava realmente interessado. — Estava? — Eu rangia. Então eu limpei a garganta e tentei novamente. —Eu quero dizer — Estou — corrigiu-se Caspian. — Tecnicamente, eu acho que são ambos.

Eu estava interessado no primeiro dia que eu a vi, e eu ainda estou interessado nela. — Seus olhos brilhavam à luz das velas suavemente ao redor de nós, e cada última gota de pensamento coerente me deixou. — É... Um... de verdade. É... — Minha cabeça parecia que ia engrossando e meu corpo estava superaquecendo, cada palavra arrastada de algum lugar nas profundezas do meu cérebro confuso. Acenei com a mão na frente da minha cara de fã mesmo, e finalmente cuspi o que eu estava tentando dizer. - Está quente aqui. Você não acha? É muito quente. — Só sinto calor quando estou ao seu lado — disse Caspian. Ele deu um passo mais perto de meia polegada. — Como agora. — Eu abanava a minha mão com mais força, tentando desesperadamente conseguir um pouco de ar, quando senti algo puxar meu braço. — Ei... — Eu levantei o braço, tentando puxar livre, e minha camiseta levantou. Ela ficou presa em uma das velas apagadas nas minhas costas. — Eu estou presa. Caspian olhou para baixo. Eu segui seu olhar e vi que meu osso do quadril estava começando aparecer acima da minha saia, a minha camisa puxada alta o suficiente para mostrar uma vasta extensão de carne. Eu estava completamente mortificada Caspian até olhou para trás para mim e nós fechamos os olhos. — O que você está fazendo? — eu sussurrei. — Apreciando a vista. — Sua voz estava trêmula, e ele fechou os olhos por um minuto, respirou fundo. — Quanto tempo até o dia da morte? — eu perguntei.


JESSICA VERDAY — Muito tempo. — E você está certo, que durante um dia inteiro que você pode... — Tocar? Sim. E eu definitivamente vou passar esse dia com você. — Sua voz era rouca, e parecia ter um grande esforço para ele falar. Eu ergui uma sobrancelha para ele. — Promete? — Prometo. Um som estridente quebrou o silêncio e cortou a tensão. Caspian ficou de pé com um estalo quase audível, e libertou a minha camisa. Empurrando uma mão no bolso da minha saia, eu retirei o meu telefone e desliguei. — Desculpe — eu disse. — É o alarme. Eu tenho que ir. Eu não tinha contado para ele sobre os planos do filme ainda, e agora eu realmente não sabia o que dizer. Claro, por meu método cérebro-boca-sem-filtro, eu soltei a verdade. — Eu estou indo para uma noite de filmes com alguns amigos. — Eu hesitei. — E… Ben. Ele se afastou ainda mais longe, e tudo em mim gritava para ele parar. Tive de cerrar os punhos para não estender a mão. — É totalmente apenas uma coisa de amigos. — Eu tentei explicar. — Eu me senti mal, porque esta menina, Beth, me chamou e me pediu para ir, para que ela não estivesse sozinha. Caspian sorriu, mas não conseguiu chegar a seus olhos. — Você não tem que se explicar para mim, Abbey. É legal. Vai. Divirta-se. — Ele deu um passo de distância e virou as costas. — Você poderia vir. — eu disse. — E se sentar ao meu lado. Ninguém saberá que você está lá. Ele balançou a cabeça. — Isso poderia ser desajeitado. Está tudo bem. Vejo você mais tarde.


JESSICA VERDAY Hesitei, sem saber o que fazer. Eu queria ficar com ele, mas ele estava me dizendo para ir e me divertir. — Tudo bem — eu disse finalmente. — Podemos nos encontrar na ponte? Amanhã de manhã?— — Claro — ele respondeu. — Tchau, Abbey. Tentei dizer a mim mesma a todo caminho de casa que ele realmente não me olhava com desespero em seus olhos quando eu saí. Deve ter sido um truque da luz. Isso é tudo. Só um truque da luz. No cinema naquela noite eu tinha que admitir que eu realmente estava me divertindo, e o filme foi muito bom também. Beth e Lewis eram tão fofos juntos, e cada vez que Beth e eu íamos ao banheiro para uma pausa rápida para falar de tudo, ela não conseguia parar de jorrar sobre a forma como ele era doce. Ben continuou fazendo piadas a noite inteira e fazendo todos rir. Depois fomos comer pizza, e eu não pensei em Caspian o tempo todo. Não foi até que eu estava na fila para comprar uma garrafa de chá gelada para levar para casa comigo que meus pensamentos se voltaram para ele. Olhando para fora para Ben, Lewis e Beth de pé na calçada, pensei quanto ele teria se divertido. Se ele pudesse ter estado aqui. Se ele era tão real para todo mundo como ele era para mim... O balconista estalou os dedos para chamar minha atenção, e eu me empurrei para fora do meu devaneio. — Desculpa — eu disse com um sorriso envergonhado. — É só isso? — perguntou ele. — Sim. — Isso vai ser 1.50. O entreguei dois e esperei o meu troco, olhando para fora novamente. Ben estava fazendo uma versão louca do robô, e Beth estava quase às lágrimas de tanto rir. — Aqui você vai. Quer uma bolsa?


JESSICA VERDAY — Hum, não. Vou levá-lo. Obrigado. Ele balançou a cabeça, em seguida, me entregou o meu recibo e algo mais. — Este é do seu amigo. Ele caiu quando ele estava pagando a pizza. Ben tinha sido o único a pagar, então eu disse obrigada e tomei o cartão de crédito, em seguida, empurrei-o junto com o recibo em meu bolso de trás. Deixando a pizzaria, eu juntei com meus amigos lá fora, e fomos para minha casa, rindo todo o caminho. Dez minutos depois eles que deixaram, o telefone tocou. Ei, menina, é Beth. Acabei de chegar

me

— Oh, hey. — Então?— ela gritou. — O que você acha? Lewis vale à pena? Quero dizer, ele é o pacote total, certo? Sentei-me na minha cama e tirei meus sapatos. - Definitivamente. Cérebros e músculos. — Eu nem sequer sabia se isso fazia algum sentido, mas parecia bom. — Oh,ele tem músculos certos. Grandes, e bem construídos em todos os sentidos. E eu quero dizer todos os sentidos. Isso foi ficando pessoal demais para o meu gosto. Ela gritou novamente, e eu segurei o telefone longe do meu ouvido. Houve muita gritaria no fundo, e eu ouvi Beth gritar: — Basta um minuto! — Aí ela me disse — Tudo bem. Eu tenho que ir. Obrigada por ter vindo com a gente hoje à noite, Abbey. — Não tem problema. — bocejei. — Boa noite. Rastejando para debaixo das cobertas, eu beijei o vidro fresco do colar de trevo de quatro folhas que eu ainda tinha. — Boa noite, Caspian — eu sussurrei. — Desejo que você pudesse ter estado comigo. — Adormeci aos sonhos de céu estrelado e olhos verdes. Mas em alguma hora durante a noite meus sonhos mudaram. Era uma festa, com decorações e serpentinas e lampiões pendurados pelas ruas. O chão estava coberto por um mar de balões rosa e vermelho, e eu tive que expulsá-los do


JESSICA VERDAY caminho. Kristen estava lá, sentada ao lado de um bolo gigante de três camadas, de costas para mim. Seu cabelo vermelho era maior do que tinha sido na vida real, e soltos. — Kristen — eu gritei para ela. — cabeça e riu, mas ela não virou.

Feliz

aniversário!

— Ela

inclinou a

Um puxão nos meus tornozelos me distraiu, e eu olhei para baixo. Os balões tinham aglomerado em torno de mim novamente. A banda começou a tocar, e casais de repente apareceram do nada, vestidos com roupas antiquadas. Eles varreram entre os balões, deslizando para trás e para frente, todos eles executando passos de dança perfeita. Toda vez que eu tentava me mover eles param em uníssono e viraram para olhar para mim. Cada única face estava escondida atrás de uma máscara. Os balões incharam de novo, subiram mais alto. Enterrando-me cada vez mais profundo. Eu tentei cavar minha saída, arremessando-os para os lados, mas os balões ficaram pesados. De repente, um deles estourou, e a água veio lentamente vazando. Foi como um efeito especial. Assim como o fluxo escorrendo tocava outro balão, que estourou em câmera lenta, e depois outro e outro estourava.

a

A multidão continuava a dançar. Avançando sobre um chão cheio de balões restantes. Nenhum deles pareceu notar as poças sob seus pés. Finalmente me libertei. Bastantes balões tinham estourado que eu não era mais pesando para baixo, e eu corri para o lado de Kristen. — Você viu isso? — Eu perguntei a ela. — Isso é uma farsa? Ela se virou para me encarar, com os olhos baixos, com um beiço nos lábios. — Onde está a sua máscara, Abbey? — Eu não tenho uma — eu disse. Ela acariciou uma mão ao longo do vestido preto que ela usava. - Você gosta dele?Eu o usei para o meu funeral. — Recuei, horrorizada. — Por que você diz isso, Kristen?


JESSICA VERDAY Ela se abaixou e colocou um dedo sobre os lábios, fazendo um som shhh. — Eu estou esperando por alguém. Agora, coloque a sua máscara, Abbey. — Eu já estava ficando frustrada e com raiva. — Eu não tenho uma maldita máscara, Kristen. — Claro que sim. Todo mundo tem. Eu estou usando a minha. — Seu rosto ficou apertado, apertado, como se ela fosse mudarsuas feições. Em seguida, um trompete soou, anunciando a chegada de alguém, e Kristen bateu palmas. — Ele está aqui! Meu irmão está aqui. E ele está vestindo sua máscara. Voltando, eu vi o esboço de um vulto escuro na porta com o sol atrás dele, lançando uma silhueta. Eu não conseguia distinguir suas feições. — Mas Kristen, Thomas está morto... E então os balões estavam de volta, o agrupamento em torno de mim, varrendo-me embora. Eles me trouxeram mais perto da porta, e eu gritei — Thomas me ajude! Kristen estava lá ao seu lado. Vestindo uma máscara preta agora. —Ele não pode salvá-la — ela disse. — Ele não conseguiu salvar nem a si mesmo. Eu acordei do meu sonho agitada e coberta de suor. Depois de mudar em um par de jeans, eu andei ao redor do meu quarto. Por que eu sonhei com Kristen assim? O que isso significa? E por que Thomas estava lá? A fraca luz da manhã atravessava pelo meu chão, e eu continuei andando para lá e para cá. Perdida em minha própria cabeça. Todo jeito parecia estar errado e eu não conseguia entender. Então eu percebi uma coisa. Eu olhei sobre a minha mesa e procurei um calendário que estava sentado ali, então eu verifiquei o meu telefone para ter certeza. Era 12 de Julho. Aniversário do Thomas. Voltei a andar pelo quarto, pensativa. No ano passado eu não tinha conseguido a chance de passar o dia com Kristen, porque ela estava ausente. Mas este ano seria diferente. Eu peguei um sapato e uma blusa e fui para o meu armário para pegar um cobertor. Eu estava indo para o cemitério, e a grama podia estar úmida.


JESSICA VERDAY Caspian me encontrou uma hora mais tarde. — Como você sabia onde eu estava? — Eu perguntei a ele, não olhando para cima do túmulo de Kristen. — Eu não sei. Eu só senti. Quando você não estava na ponte, eu vim aqui verificar. Eu acho que você faz meus sentidos de aranha formigarem. — Eu sabia que ele me queria rindo ou sorrindo, mas eu não estava de bom humor. — Ei — ele perguntou. — O que há de errado? Aconteceu alguma coisa na noite passada? Olhei então. — No cinema? Não. Não é isso. Eu apenas tive um sonho ruim na noite passada sobre Kristen e. — Um carro passou lentamente no caminho ao nosso lado, e eu parei de falar, tentando parecer que eu era apenas um adolescente normal, sentada sozinha perto de uma lápide. Como houvesse qualquer coisa de normal nisso. — Você quer ir se sentar debaixo da ponte? — Caspian perguntou baixinho. — Eu não acho que nós vamos ser incomodados lá. — Eu concordei e fiquei de pé, dobrei o cobertor enquanto eu ia. Corajosamente, andando perto da igreja. — Espere um minuto — disse Caspian, quando chegamos à ponte. —Deixe-me ver uma coisa. — Soltando o cobertor, fui até a parte onde Kristen e eu, nós costumávamos sentar. Então eu peguei o pilar de apoio, usado vários pedaços de concreto exposto como pontos de apoio, e subi sob a parte inferior da ponte. — Vamos — eu chamei suavemente Caspian . — Nós podemos sentar aqui em cima. Ele subiu enquanto eu me estabeleci com as vigas de apoio. Uma viga extra foi adicionada perto da frente, então não era tão aberto e uma queda grande para baixo na água, como costumava ser quando Kristen e eu íamos sentar lá, mas era ainda um longo caminho para cair. Caspian sentou ao meu lado, e por um instante o seu joelho desapareceu no meu. — Desculpe — ele disse, reajustando. Dei os ombros e olhei para fora sobre a água, caindo para trás em meu humor negro. — Então, o que era sobre esse sonho? — ele perguntou


JESSICA VERDAY — Foi um sonho estranho sobre o aniversário de Kristen. Mas desta vez seu irmão, Thomas, estava nele. Ele esperou para eu continuar. Nunca uma vez cutucou-me para falar mais rápido. Eu gostava disso. — Hoje é o aniversário do Thomas — eu confessei. — Eu acho que é o porquê dele estar no sonho. — Okay. Apenas uma palavra. Um som simples, e desfez-me completamente. De repente, as palavras estavam transbordando de mim. — Desde que ele morreu, Kristen e eu costumávamos passar o seu aniversário juntas a cada ano. Mas no ano passado nós não conseguimos, porque ela foi... embora. E eu perdi o seu aniversário este ano, porque eu estava na tia Marjorie. Foi 5 de maio. Caspian apenas me olhava com olhos arregalados, ouvindo pacientemente. — Eu me sinto horrível — disse. — Quer dizer, eu pensava nela, e eu lhe escrevi uma nota. Eu até cantei — Feliz Aniversário para ela antes de eu ir para a cama naquela noite. Mas eu não estava aqui. Com ela. — Tenho certeza que ela sabia que estava com ela em espírito — disse Caspian. — Talvez. — Cavei um dedo no tecido da minha calça jeans e tracei um padrão aleatório na minha perna. Mas talvez ela não saiba. Talvez por isso eu tive o sonho. Porque ela está furiosa comigo, ou algo assim. Caspian balançou a cabeça. — Não. Eu sei que não é verdade. — Mas como você pode saber? — eu disse. — Da última vez que verifiquei, ela não estava exatamente passeando por aqui para te dar a sua opinião. — Eu sei por causa do tipo de amizade que você tinha. Eu vi em primeira mão. — Você fez? Ele parecia envergonhado. — Eu disse antes que eu vi aqui no cemitério, e às vezes... Eu seguia vocês. — Eu vi de perto. Fascinada pela sua admissão.


JESSICA VERDAY — Quero dizer — ele disse — Eu não espiei por cima do ombro ou qualquer coisa. Mas às vezes quando você se sentava perto da lápide de Irving, eu meio que fiquei. Era como se eu fosse uma parte dela também. — Seu rosto mudou de repente. — Sua expressão disse tudo. Seu riso falou me alegrou. Caspian olhou para suas mãos. — Eu poderia dizer o quão perto vocês duas eram. Ela amava você. Meus olhos ficaram úmidos, e chance de limpá-la. — Você acha?

uma lágrima escorreu antes

que

eu tivesse a

Ele balançou a cabeça, e um riso silencioso me escapou com uma memória à tona. — Você sabe, dessa vez, na Páscoa, Kristen pensou que seria ótimo esconder alguns ovos para as pessoas que viveram aqui. — Éramos como dez pelo caminho. — Eu ri novamente. — Então nós trouxemos três dúzias de ovos pintados e escondemos todos ao redor. Mas, quando fomos esconder, todos os esconderijos pareciam o mesmo, e não conseguia me lembrar onde nós colocamos. — Levou semanas para o pobre John, o zelador, encontrá-los. Alguns deles devem ter sido comidos pelos animais, pois nunca encontramos todos. Mas cada vez que o vento soprava você sabia que estava próxima de um. O cheiro de ovo podre era horroroso. Ele riu e me juntei a ele. — Claro, agora me sinto mal por todas as pessoas que apenas queriam vir visitar os seus entes queridos, mas foi muito engraçado na época. Caspian ficou em silêncio e me estudou com um olhar sério sobre o seu rosto. — Seu amor por Kristen brilha quando você fala sobre ela. — Eu concordei e espalhei minhas mãos. — Ela era a melhor. — Conte-me sobre seu irmão. Inclinando-me para trás, eu olhei para beirada da ponte, sentindo as vibrações de um carro que passava estrondosamente por mim. — Ele era o irmão dedicado e grande, e ela era sua irmãzinha. Mesmo com uma diferença de idade de oito anos entre eles, eram super perto. Eles tiveram seus momentos, é claro. Mas eram poucos e distantes entre si.


JESSICA VERDAY Ele recostou-se também, e eu olhei para ele. — É estranho, né? Eu não posso imaginar ter um irmão ou irmã. Quero dizer, Kristen e eu éramos unidas, mas ter alguém que compartilha seu sangue? — Eu balancei minha cabeça. — Eu sempre quis ter um irmão — disse Caspian. — Eu também — eu admiti. — Alguém para cuidar dos garotos e ficar de pé para mim na escola. Quando eu era jovem, minha mãe e meu pai falaram uma vez sobre a adoção de um bebê. Mas então era apenas uma espécie de desejo. Eu não sei o que aconteceu. Ele chamou minha atenção. — O que aconteceu com ele? Thomas?— Tristeza me encheu. Mesmo que isso tinha acontecido anos atrás, ainda era difícil de falar. — Ele morreu de uma overdose de drogas. Todo mundo achou que foi acidental, mas acho que a família de Kristen... sabia. — Sabia o que? — Isso não poderia ter sido acidental. — Esperei um momento para que fosse absorvida, para a tristeza que ecoava. — O irmão de Kristen tinha um vício em analgésicos. Quando ela tinha três anos, Thomas estava segurando ela, e ele se sentou com ela por um minuto na mesa. Ela começou a cair, e ele a pegou e colocou no chão, mas então ele tropeçou numa perna da cadeira e caiu pela janela.— Caspian se

encolheu, e uma

dor passou por mim. Era

uma história horrível de

contar. — Eles estavam vivendo em um apartamento do terceiro andar, no momento, e ele caiu todo o caminho até o chão. Ele só precisava de doze pontos para os cortes no rosto e nas mãos, mas ele quebrou as costas. Caspian concordou uma vez. — Então foi por isso que ele tinha os comprimidos de dor. —Yeah. Ele tinha feito duas cirurgias, mas ele precisava de mais, e eles não podiam pagá-la na época. Então ele tomou pílulas quando chegou a ser demais para suportar.


JESSICA VERDAY — Pobre Kristen. Ela sempre achou que era sua culpa. Não importa quanto tempo eu tentasse falar a ela que não era ela nunca acreditou em mim. E sempre que Thomas precisava de alguma coisa, uma almofada de aquecimento, ou um novo travesseiro, ela era primeira a pegar para ele. — Quando ele morreu, ela chorou por meses. Com sorte, ela estava no hospital por bronquite quando isso aconteceu, e ela não o encontrou ou qualquer coisa. Isso teria sido horrível. — Eu estremeci. — Eu só tentei meu melhor para estar lá para ela. Ela sempre foi com sua mãe e pai para visitar a lápide dele no aniversário de sua morte de cada ano, mas eu nunca estava longe. — Eu sei como isso é — ele sussurrou. Sorri tristemente para ele. — Ele está enterrado na cidade onde morava. Em Buffalo. Eles já tinham terrenos da família lá e não conseguiram mais perto — Outro carro passou em cima e as vigas de sustentação da ponte tremeram. — Você sabe o que é realmente irônico? — eu sussurrei. — Quando Kristen morreu, as pessoas espalham boatos de que era porque ela estava usando drogas. Mas Kristen nunca tomou nada mais forte que um Tylenol. Recusava-se, por causa do que aconteceu com seu irmão. Uma vez, na oitava série, ela sofreu com essa terrível dor de dente porque o dentista não pode vê-la dentro de 24 horas. Ele receitou-lhe um Vicodin para a dor, mas ela não quis tomá-lo. Eu me sentei ao lado dela e segurei a mão dela enquanto ela chorava a noite inteira. Minhas lagrimas vieram fortes, e de repente, eu não consegui parar. Eu senti falta da minha melhor amiga e senti falta do seu irmão, e eu chorei pelos dois. Caspian ficou lá comigo até meus soluços morrerem até um soluço lento. Então ele sussurrou — Eu seguraria sua mão agora, se eu pudesse. Seus olhos estavam tão abertos e sério que eu não pude deixar de sorrir para ele. — Obrigada — eu disse, tentando segurar de volta as lagrimas. —É a vontade que


JESSICA VERDAY

Capítulo Dezoito UMA REVELAÇÃO Na sombra escura do arvoredo, na margem do ribeirão ele viu algo gigantesco, disforme, preto e muito alto. — A lenda de Sleepy Hollow

Quando cheguei em casa do trabalho, na noite de segunda-feira, eu estava cansada, mal humorada e irritada. Toda vez que eu flexionava o meu braço ou minha mão doía. Eu realmente precisava falar com o tio Bob sobre a refrigeração dos seus freezers. Um sorvete suave seria muito mais fácil de pegar. Eu deixei meu telefone na mesa e fui para a cama. Um pedaço de papel de caderno estava descansando lá, mantido no lugar por um violeta como as que cresciam selvagens no cemitério. Apanhei-a e acariciei as pétalas macias da flor roxa. Enquanto desenrolava a nota, um trevo de quatro folhas caiu no chão. Deixei-o lá por um minuto enquanto eu digitalizava as palavras na minha frente. Abigail Astrid, Espero que o seu dia escavando sorvete e fazendo crianças de todas as idades delirantemente felizes tenha corrido bem. Posso solicitar o prazer da sua companhia no futuro na lápide de Kristen amanhã de manhã às 07h00min? Até então, eu vou te ver sob as estrelas. — Caspian


JESSICA VERDAY P.S. Espero que não se importe de ter outro trevo de quatro folhas. Por alguma razão, eles continuam me encontrando. Havia desenhos de estrelas e folhas que cobriam o lado de trás do papel, e eu sorri para mim, segurando-o perto do meu coração. Abaixei-me para pegar o trevo e o coloquei sobre a mesa ao lado da flor. Vou ter que começar pressionar os trevos para colocar em um álbum de recortes, se ele continuar dando a eles para mim... Adormeci cedo naquela noite, e dormia profundamente. Quando o meu despertador tocou as seis e quarenta e cinco da manhã seguinte, eu tinha que me arrastar para fora da cama, e eu esperava que um chuveiro ajudasse me acordar. Eu ainda estava muito sonolenta enquanto eu caminhava para o cemitério, mas quanto mais perto que eu chegava, mais minha excitação crescia. O que ele tinha planejado? Meu estômago estava dando nós, e eu tentei dizer a mim mesma para me acalmar. Não era como se ele estivesse propondo... Oh Deus. Cheguei a um ponto insuportável. Isso era ridículo. Ele não é... Eu só estou... Eu balancei minha cabeça, para limpar os meus pensamentos e empurrei com firmeza essa idéia da minha mente. Era ridículo. E eu não ia pensar nisso. Forçando-me a agir friamente e recolhida, eu caminhava através das portas e fiz meu caminho até o túmulo de Kristen. Caspian estava de pé ao lado da lápide dela, segurando algo nas mãos. — Ah, Abbey. — Seu rosto se iluminou. — Vejo que você tem a minha nota. — Você está começando a assombrar o meu quarto — eu provoquei. — Tudo que eu fiz foi levar a nota — ele disse. — Eu juro. Isso foi tudo. — eu levantei minha sobrancelha. — Talvez eu parei por um segundo, para verificar as estrelas — ele admitiu. — No meu caminho, é claro.


JESSICA VERDAY Eu sorri para ele, então olhei à minha volta. — Por que estamos aqui tão cedo? E o que você está segurando? Caspian olhou para baixo e pegou um pedaço de bolo embrulhado em envoltório de plástico, com um adesivo de 25 centavos nela. Puxou um canto do plástico, e um cheiro agradável soprou para fora. O bolo era de laranja, bagunçado e quebrado. - Desculpe. É cenoura. Eu sei que não é o melhor, mas é tudo o que tinham. Ele produziu duas velas do bolso e colocou-as em cima do bolo. - Nós vamos ter que fingir que está iluminada, eu esqueci meu isqueiro. Mas... — Eu ainda estava perdida. — Sete da manhã com bolo de cenoura e velas... O que isso significa? — Eu escolhi sete horas, porque eu imaginei que haveria menos pessoas ao redor — ele disse. — E o bolo é de Kristen e Thomas. Nós estamos indo comemorar seus aniversários. Primeiro fiquei surpresa, e depois profundamente emocionada. Essa foi à melhor coisa que alguém já tinha feito para mim. Mas como...? Onde você conseguiu o bolo? E as velas? — Eu peguei as velas de uma festa de aniversário de uma criança ontem. Eles já haviam apagado as velas em cima do bolo. — ele disse. — Estas foram apenas extras. — Ele abaixou a cabeça e olhou para mim como se estivesse esperando que eu fosse criticá-lo. Talvez eu devesse, mas, pessoalmente, achei que era um gesto realmente doce. Eu sorri e ele continuou. — O bolo que eu comprei em uma loja. Encontrei 25 centavos no chão e resolvi comprá-lo — Você poderia ter pegado 25 centavos da sepultura de Washington Irving — eu sugeri. — Tenho certeza que ele não iria se importar. Caspian parecia afrontado. — Mas elas são dele. Isso seria roubar dos mortos. Bem, quando colocado dessa maneira... — Alguém já lhe disse que você é o melhor? Porque você é. — Meus olhos ficaram nebulosos, e era difícil ver, mas eu não chorei.


JESSICA VERDAY Caspian começou a cantar baixinho. — Parabéns a você... — Eu comecei com a voz trêmula, e nós cantamos juntos. — Parabéns a você. Feliz aniversário, queridos Thomas e Kristen... Parabéns a você. — Apague as velas — Caspian sussurrou para mim. Eu olhei mais para ele, me sentindo um pouco boba, mas apaguei mesmo assim. Fechei os olhos, uma sensação de calma que veio sobre mim. - Você acaba de ganhar pontinhos — eu disse, abrindo meus olhos e olhando diretamente para ele. — Mais do que você possa imaginar. Seus olhos brilhavam e seu rosto parecia feliz. — Não acabou ainda. Pegue o bolo e me siga. — O quê? Mas ele não respondeu. Bastou um gesto para eu ir com ele. Comecei a seguir, e depois parei. Peguei dois pequenos pedaços de bolo, os deixei perto da lápide. — Feliz aniversário atrasado Kristen e Thomas — eu disse. — Aproveitem. Então eu me virei para trás e ele seguiu para o seu mausoléu. Ele me fez fechar os olhos assim que entrou e me dirigiu com a sua voz para que eu não cair. Esbarrei em algo duro, e coloquei a mão, sentindo o mármore liso sob meus dedos. — Tudo bem — disse Caspian. — Agora, conte até três, abre os olhos. Um... Dois... Três! Segurei na lápide e abri meus olhos. A visão era magnífica. E histérica. Um arco de bolas atravessava o mausoléu, com velas penduradas pelos cantos. Uma bandeira do Bob Esponja de — Feliz Aniversário — cobria uma parede, e Caspian estava vestindo um chapéu de festa das Tartarugas Ninjas, encostado na parede. Meu queixo caiu. — Você decorou, também? Ele parecia satisfeito. — Fiz um pouco de compras no Exército da Salvação ontem. Peguei de volta minha roupa e deixei lá em troca de um par de itens. Porque em breve eu vou precisar delas novamente? — Ele me deu um chapéu de festa. — Salvei o Homem-Aranha para você. Desculpe, não havia coisa mais feminina.


JESSICA VERDAY Eu coloquei o chapéu na cabeça e olhei em volta de mim. — Isso é irreal, Caspian. — Ele deu de ombros. — Caras mortos têm que trabalhar mais para impressionar as garotas. — Você certamente impressionou essa menina. Caspian sorriu maliciosamente. — pontinhos, o que isso me faz ganhar?

Hmm, então se o bolo e as

velas me deram

— Fique por perto até o dia da sua morte, e você pode apenas descobrir. Eu vou te mostrar o meu agradecimento muito, muito lentamente. — corei logo que ouvi essas palavras deixarem minha boca. Quando eu tinha me tornado provocadora? Caspian engoliu e olhou em volta. — Está muito quente aqui? Eu acho que é quente aqui dentro. — Você não consegue sentir nada a não ser que eu esteja perto de você. — É verdade, mas palavras assim que podem superaquecer qualquer um. Corei de novo, me virei para ele e mudei de assunto. — Você acha que eles irão lembrar? — Eu acenei com a mão para mostrar que eu estava falando sobre os ocupantes das gavetas que cobriam as paredes mausoléu. — Nah. Quem não gosta de uma festa?— Ele olhou para baixo. — Embora eu sinto que eu deveria estar vestindo algo mais agradável do que essa velha camisa.— Ele estava vestindo uma camisa cinza com um logotipo do Aerosmith vermelho desbotado. — Eu gosto — eu protestei. — Na verdade, eu só percebi que você mudou. — Isso saiu errado. — Er quero dizer, você... — Mudar a minha roupa? — Ele olhou para mim, e eu balancei a cabeça. — No começo era apenas um hábito. Eu não preciso. Não se preocupe, nem nada. Mas parecia muito estranho permanecer com a mesma roupa durante semanas. Mesmo para um cara. E então eu conheci você, e eu estava tentando agir de maneira normal, assim... — Ele encolheu os ombros. — Não foi sempre fácil de me lembrar de usar algo diferente a cada vez que nos encontrávamos. Felizmente, eu tive meu estoque aqui.


JESSICA VERDAY Eu coloquei o bolo que eu ainda estava segurando para baixo sobre a lapide de mármore perto de mim. — Eu ainda não acredito que você fez tudo isso, Caspian. Você está tentando me deixar aos seus pés? Seu rosto ficou sério. — Eu gostaria de te tirar dos melhor que posso fazer é lhe pedir para dançar comigo. Você aceita?

seus pés,

mas

o

Ele estendeu a mão, e de repente me senti nervosa. Lambendo os lábios secos, eu coloquei a minha mão para cima ao lado dele e sussurrei: — Tudo bem. — Assumindo a posição de uma boa parceira de dança, eu segurava meu braço para o alto, como eu estaria segurando sua mão, e coloquei meu braço em torno do que teria sido a sua cintura. Ele fez o mesmo, e eu senti meu corpo todo formigar. — Na minha cabeça eu estou ouvindo essa música do Aerosmith do Armageddon, e nós estamos dançando isso — ele disse. Então murmurou baixinho: — Eu não quero fechar meus olhos... Eu não quero cair no sono... Porque eu vou sentir sua falta, amor... Movendo em pequenos círculos, que imitava dança lenta em um baile. A voz de Caspian ecoou ao nosso redor, saltando para fora das paredes dos mortos. — E eu não quero perder nada... Chegamos a um impasse, com os olhos fechados. Desejo, raiva, tristeza, medo e caiu através de mim. Como as ondas batendo na praia, uma violenta tempestade que deixou nada para trás em seu rastro. Nada além do vazio negro. E eu soube logo ali que, um dia, esse vazio seria eu. Eu era o nada preto. Inclinei meu rosto o fitando, e fiz um desejo secreto. Mas era um desejo que nunca se tornariam realidade. Caspian não poderia voltar dos mortos. Cheguei em casa tarde, e meus olhos estavam vermelhos e lacrimejantes.Uma crise de choro me conquistou na saída do cemitério, e eu tinha quebrado. Eu parei várias vezes, porque eu não conseguia ver onde estava indo. Apesar disso Caspian e eu tínhamos gasto o resto de nosso tempo juntos, conversando e mesmo rindo, eu não poderia agitar o peso que senti enquanto ele estava


JESSICA VERDAY amarrado ao redor do meu coração. Um constante grilhão que apertou e feriu com cada respiração que peguei. Um aviso de que um dia eu ia ser quebrado. Eu não sabia o quanto eu poderia tomar. O quanto eu poderia estar antes, quando quebrei uma vez... Um rápido cochilo após o almoço ajudou a acalmar o meu humor, e eu acordei, novamente determinada a fazer funcionar. Eu amava Caspian, e isso era tudo que importava. Se Nikolas e Katy poderiam fazê-lo funcionar, então nós também podemos. Meu telefone tocou, mas eu não respondi a tempo, e o ícone de correio de voz brilhou,sinalizando que havia uma mensagem. Eu marquei-o para ouvir. — Abbey, aqui é Ben. Me ligue quando escutar r isso, ok? — Ele parecia transtornado. Eu me dei um tapa na testa. Hoje era terça-feira. Eu totalmente esqueci nossa sessão de ciência. Apertei o botão para chamá-lo de volta, eu me preparei minha desculpa. Ele pegou no primeiro toque. — Abbey? — Ben, hey. Eu só tenho a sua mensagem, eu estou... — Eu fui, mas você não atendeu a porta. Eu te liguei umas três vezes, e você nunca atendeu. — Eu sei, eu sinto muito. Eu estava fora e eu deixei o meu telefone aqui. —Eu passei mal. — Eu realmente sinto muito, não vai acontecer novamente. Ele fez um som frustrado. — Você quer que eu continue sendo seu tutor? Você está muito distraída ultimamente. Há algo de errado? Não, nada. Estou lidando com o fato de que meu namorado está morto. — O que é isso? — perguntou ele. Eu tossi e limpei a garganta. Se eu tivesse dito isso em voz alta? —Nada, é apenas... Os meus pais. Eles estão realmente, sobre esse exame acing ciência, e eu estou nervosa com isso... — Eu cruzei meus dedos atrás das costas. — Olha, eu realmente sinto muito, Ben. Deixe-me fazer isso para você. Venha, e vou pedir uma pizza.


JESSICA VERDAY — Com tudo sobre ela? — Yeah, com certeza. — Eu estarei ai em 20 minutos — ele disse. Eu desliguei o telefone, realmente era um grande cara.

esperando ter feito tudo melhor

com Ben. Ele

Depois de pedir a pizza, eu desci para esperar. Ben chegou com um grande sorriso e um DVD na mão. — Na noite do filme. — O cara da pizza apareceu logo atrás dele, e eu paguei a pizza, então conduzi Bem para dentro. — O que estamos assistindo? — Star Trek. Eu parei no meio do corredor, à espera da parte final da piada. Ela não veio. — Não, na verdade, Ben. Que filme você trouxe? — Star Trek — ele disse. — Considere a sua maneira de fazer as pazes comigo. Eu gemi e abri caminho para a cozinha, colocandoa caixa de pizza sobre a mesa. — Você realmente está tentando me castigar, não é? — Ele balançou a cabeça. — Ok, tudo bem. Eu mereço isso. — É um bom filme. Capitão Picard encontra seu clone, e há uma grande explosão... Ele falou sobre e sobre. Eu já podia sentir meu cérebro morrer de tédio. Mas acenei com a cabeça em todos os momentos adequados, Ben me deu a visão sobre Worf eTroi e algo Shin. E então havia um robô. — Uh-huh — eu disse, recolhendo pratos, guardanapos e copos enquanto ele continuava. Eu interrompi: — Pegue alguns refrigerantes na geladeira. Ele pegou as duas latas de Coca-Cola e continuou falando. Eu coloquei tudo que eu tinha em cima da caixa de pizza, então peguei e fui para a sala. Ben me seguiu.


JESSICA VERDAY — O DVD está lá — eu disse, apontando, e ele colocou o filme dentro. Sentei no chão, eu achei o controle remoto e coloquei play. — Ok — eu disse para Ben. — Comer pizza agora, falar mais depois do filme. Ele prontamente pegou duas fatias e começou a comer. Musica brandiu da TV, e eu me inclinei para trás, me preparando para duas horas de — nerds. Enquanto os créditos finais subiam, Ben explica tudo o que eu não entendia que era... um monte. — Mas por que eles não podiam apenas construir outro robô? eu perguntei. — Eles tinham um extra. — Por causa dos dados que era uma forma de vida especialmente concebida artificial — disse ele. — Um de cada tipo. — Mas seu irmão, ou qualquer outra coisa, estava lá... — Sim, bem, esse é o tipo da sua maneira de dizer que os dados não tinham realmente ido embora. — Olhei para Ben com ceticismo. — Você odiou isso, não é? — perguntou ele. — Bem, não odiei... Ok, sim. Foi muito chato — eu admiti. Ele riu. — Tudo bem. Pelo menos você não dormiu. Não, mas eu estava muito bem perto... — Então, estou perdoada? — Claro — ele disse. — É legal. — Olhando para baixo para o relógio, ele sentouse em linha reta. — Oh homem, eu tenho que ir. Meu pai vai estar em casa do trabalho mais cedo, e eu estou ajudando-o a fertilizar as árvores de Natal hoje à noite. Ele foi para o leitor de DVD para pegar o seu filme. — Obrigado pela pizza, Abbey. A palavra de repente, movimentou algo em meu cérebro. - Pizza! Espera. Apenas um segundo. — Corri lá em cima e vasculhei a pilha de roupa suja, que tinha o jeans eu usei na


JESSICA VERDAY noite em que tinha ido ao cinema. O cartão de plástico ainda estava no bolso de trás; Puxei e depois voei escada abaixo. — Aqui. — segurei-o para Ben. — O cara da pizza que me deu naquela noite. Eu esqueci completamente. Você deixou cair quando você pagava. — — Cartão da biblioteca — disse ele. — Obrigado. Olhei para baixo, realmente o vi pela primeira vez. Ben tomou de mim e tirou sua carteira com a mão livre, mas as letras na placa estavam começando a fazer sentido na minha cabeça. — D. Benjamin Bennett? — eu disse suavemente. — Seu primeiro nome começa com um D? — Yeah. — ele abriu a carteira e segurou-a para que eu pudesse ver sua carteira de motorista. — Daniel. Colocaram-me o nome do meu pai, então todos me chamam pelo meu nome do meio. Sinos de alerta começaram a bater no fundo da minha mente, e uma mancha negra floresceu a beira de minha visão. D. Ben era. D. Ben era o namorado secreto de Kristen. Ele me deu um olhar estranho e colocou o cartão da biblioteca à distância. — Você está bem, Abbey? Tudo que eu podia ver era uma mancha preta no rosto, como se eu tivesse ficado cega por uma luz brilhante. Coloquei uma mão e, em seguida, puxou-a fora. — Tudo bem... Eu sou... — Minha garganta estava engraçada, apertada e restrita. Com a minha visão clareando, eu olhava para ele, minha boca escancarada. — Você… tem certeza? — ele me perguntou. Bile subiu na parte traseira de minha garganta, e eu sabia que ia estar doente. — Acho que a pizza não caiu muito... Bem — Eu engasguei. — Vá em frente. Eu vou... Tchau. — Acenei minha mão, desesperadamente esperando que ele fosse embora antes que eu vomitasse em todo o seu sapato.


JESSICA VERDAY Ben deve ter sido capaz de ler o que estava na minha cara, porque ele se virou e se dirigiu para a porta. — Okay. Vejo vocês mais tarde, Abbey — ele disse. Esperei por meio segundo, então corri até as escadas para o banheiro antes mesmo que eu ouvi a porta da frente. Eu fiz isso na hora certa. O piso de ladrilho era um conforto frio contra a minha bochecha, e eu fiquei lá por um tempo depois. Meu corpo estremecia de vez em quando, espasmos pouco de tremor que corria em minhas veias, fazendo com que meus braços e pernas empurrarem para manter o tempo com um relógio invisível de horror. Eu não sabia quanto tempo eu estava lá. Senti minutos. Senti como horas. A porta batendo e vozes chamando meu nome abaixo romperam meu estupor, e me levou a lutar para sentar. Eu não podia deixá-los me ver assim ou eu nunca iria finalizar isso. Passos soou na escada. Usando a borda da pia, eu me arrastei para cima e empurrei a porta do banheiro, assim quando bateram à porta do meu quarto. — Abbey? Aqui dentro. Mas não saiu, e eu tentei de novo. — Aqui. — Será que você já está com fome? Encontramos uma caixa de pizza. — A voz da minha mãe entrou pela porta. — Sim, Ben veio para uma pizza, mas ela não me caiu muito bem. — Aww, pobre baby. Você precisa que eu faça alguma coisa? Agarrando a pia, meus dedos ficaram brancos, e eu tentei manter minha voz firme. — Não, eu vou estar bem em um minuto. — Okay. Vamos descer quando estiver pronta. Eu esperei até que os passos dela desaparecerem antes que eu me olhasse no espelho. Eu estava quase com medo do que eu veria. Mas foi só eu olhar para trás. Meus olhos estavam surpreendentemente claros e secos. Meu cabelo não


JESSICA VERDAY parecia diferente. Embora meu rosto estivesse completamente branco. Eu estava pálida como um fantasma. Eu ri um pouco histericamente com o pensamento e, em seguida, empurrei minha mão dentro da minha boca para abafar o som. Não, pare com isso. Se controle Abbey. Girei a torneira fria, e espirrei um pouco de água no meu rosto até que a temperatura fria tornou meu rosto vermelho. Sequei-me, e mentalmente me convenci a descer. Eu precisava sair. Eu precisava ir encontrar Caspian. Minha mãe e meu pai estavam na cozinha fazendo o jantar. — Lá está ela — disse a minha mãe. Eu sorri palidamente para ela. Ela baixou o pacote de camarão congelado que ela segurava e se aproximou de mim. — Você está pálida. Você quer deitar um pouco? — O que está errado? O que aconteceu? — meu pai perguntou. — Intoxicação alimentar. — Minha mãe segurou a parte de trás da sua mão na minha testa. — Estou me sentindo melhor agora — eu respondi. — Eu acho que só preciso ir para uma caminhada. Um pouco de ar fresco. — Fui até a porta. — Não vá tão longe — minha mãe disse. — Okay — eu disse de volta, saindo pela a porta. Eu corri para o cemitério, fora do ar e fora da capacidade de pensar claramente. Tudo que eu sabia era que havia uma pessoa que poderia me ajudar a dar sentido a isso. Uma pessoa que poderia fazer tudo melhor. E eu estava indo encontrá-lo. A noite não tinha caído ainda, assim os portões principais ainda estavam abertos, e eu andei em direção ao mausoléu. Com um impulso irresistível de encontrar Caspian e lhe contar sobre Ben estava me deixando louca.


JESSICA VERDAY — Caspian! — Eu gritei, empurrando a porta mausoléu. A única vela estava queimada em cima de sua mesa improvisada. Minha voz ricocheteou nas paredes e voltou para mim. — Caspian, onde está você? Ele não estava respondendo. Virei para as coisas dele, chamando seu nome repetidas vezes. Frustração borbulhava em mim. Onde está ele? Eu tenho que vê-lo! Algo estava em minhas mãos, e eu olhei para baixo para ver o carvão que ele usava estava perigosamente perto de quebrar pela metade. Eu ainda não tinha percebido que eu peguei. Relaxando meu aperto, cheguei para um bloco de desenho nas proximidades e arranquei um pedaço de papel. Eu preciso de você, eu rabisquei, e o deixei no meio da sua mesa. Ele verá quando voltar. Sai da cripta, ainda me recuperando da confusão e raiva, e decidi ir para a ponte. Enquanto corria, eu queria desesperadamente que ele estivesse lá. Eu necessitava dele para dar sentido a isso. Como poderia ter sido D. Ben todo esse tempo? Como eu não poderia tê-lo visto antes? A estrutura de madeira aparecendo levantou-se do nada. Atravessei o rio, a ousadia de gritar seu nome novamente. Forçando meus olhos para observar qualquer forma que poderia ser ele. Dupla e tripla-verificação de cavaletes até debaixo da ponte para ver se ele estava lá. Ele não estava. Cavando as unhas em meus punhos cerrados, eu joguei minha cabeça para trás e gritei: — Por que não consigo encontrá-lo? — Meu coração estava disparado, e eu tentei acalmar, mas eu não podia. Eu batia o lado da minha cabeça com minha mão enquanto eu andava para trás e para frente. - Pense! Pense Abbey! Aonde mais ele iria? Lapide do Irving. O pensamento veio a mim em um flash cristalino de inspiração. Deixei o rio para trás, e caminhei rapidamente para sua trama. Meu coração afundou quando ele apareceu. A pequena área cercada, que fechava seu túmulo estava vazia. Caspian não estava lá.


JESSICA VERDAY Subi os degraus de pedra e empurrei meu caminho através do portão, afundandome de joelhos aos pés da lápide Washington Irving. — Eu estou perdida — eu sussurrei. — Não consigo encontrar Caspian, e eu preciso dele. — Um pássaro piava nas proximidades, soando como se ele estivesse dizendo: - Por quê? Por quê? Por quê? Um som de raspagem me fez sentir idiota. Eu cambaleei para os meus pés. — Nikolas! — Ele olhou... cauteloso, e eu não cheguei a abraçá-lo. — Está tudo bem, Abbey? — Você viu Caspian? — Eu perguntei. Nikolas balançou a cabeça, e eu estendi a mão para segurar sua mão. — Você tem certeza? Eu tenho que encontrá-lo. — Por quê?— Ele disse que de maneira tão abrupta que eu dei um passo para trás. — Diga-me por que. — Porque eu descobri quem o namorado secreto de vê Nikolas? Ele poderia ter estado com ela na noite que ela morreu.

Kristen é! Você

não

— E você tem certeza que não era Caspian que estava com ela? — Sua pergunta me sacudiu. — Caspian? Não. Não era ele. Ele já me disse que não estava aqui naquela noite e, além disso, Kristen não poderia tê-lo visto e tocado. Não há nenhuma maneira de ser ele. — Eu sabia sem sombra de dúvida de que o que eu dizia era verdade. Nikolas acenou com a cabeça. — Eu não acho que era o seu jovem. Eu só queria ter certeza. De repente, alguma coisa que Nikolas me disse uma vez passou pela minha mente. — Antes de sair de Sleepy Hollow, quando cheguei em sua casa, você disse que Kristen não é como você. Não é um Shade. Que você a viu morrer. Ele não olhava para mim então. Não iria olhar em meus olhos. — Nikolas? — Eu perguntei. — O que você viu? Por favor. Diga-me. Eu preciso saber.


JESSICA VERDAY Ele olhou para mim, olhando como se ele tivesse instantaneamente a idade de cem anos. Era como se cada coisa horrível que ele já tivesse visto ou feito estivesse gravado nas linhas em seu rosto. Uma lágrima correu por sua face. — Não é o suficiente que eu tenha assistido ela morrer? Por que importa mais? Segurei sua mão e segurei firme. — Alguém estava com ela? — Ele balançou a cabeça, como se incapaz de falar, e eu esperei. — Eu estava no meu caminho de volta para minha casa — ele disse lentamente. — E eu a vi na água. Senti alguma coisa. Algo escuro. Mas eu estava muito longe. — Ele puxou a mão livre, e estava tremendo. — Será que eu vejo alguém lá? Eu não tenho certeza. Estava escuro... Havia árvores... Tudo o que sei é que eu tive que assistir a essa pobre menina ser puxada para o fundo, e eu não podia fazer nada sobre isso. Flashes do meu sonho da noite, Kristen morrendo jogada na água em frente dos meus olhos, e eu me perdi neles. Água fria. Dor maçante. Dor no peito. Desesperança. — Isso é o que eu vi Abbey — Nikolas disse com tristeza. — Eu não podia fazer nada. E agora você sabe o pior de tudo. É ver alguém morrer e não ser capaz de gritar por ajuda, a não ser capaz de puxá-la para a borda ou ir avisar alguém que você apenas testemunhou... É um inferno como nenhum outro. — Ele olhou para longe, para o cemitério atrás de nós, e sua voz ficou mais suave. — Existe uma barreira entre seu mundo e meu mundo, e eu sou incapaz de violá-la. A mesa virou em seguida, e ele pegou minha mão, segurando-a com uma força que eu não sabia que ele tinha. — Esta é minha maldição. Preste atenção, Abbey. Só ele poderia salvar sua vida.


JESSICA VERDAY

Capítulo Dezenove COMPANHIA Certo é, o lugar ainda continua sob a influência do som e potência das bruxas, que mantém um feitiço sobre as mentes das pessoas de bem, levando-os a andar em um devaneio contínuo. " - "The Legend of Sleepy Hollow"

Deixei minha janela aberta, no caso de Cáspian encontrar meu bilhete e eu fiquei andando para frente e para trás na frente dela, quando seu rosto de repente apareceu. Corri até ele. — Eu não consegui encontrá-lo. — Abbey, o que está errado? — Ele parecia preocupado. — Eu pensei que alguma coisa tinha ...que você... — Eu descobri quem é o namorado secreto de Kristen! — Eu disparei. Ele ficou completamente imóvel. — Você descobriu? Assentindo, fiz um gesto para ele entrar. Ele subiu pela janela, e eu recuei um passo. — Como foi que você descobriu? — Caspian perguntou. — Quem é? — Foi em seu cartão de biblioteca. Eu vi a inicial D. e perguntei sobre isso. Seu primeiro nome é Daniel. — Virei para enfrentá-lo. — É Ben. — Caspian olhou para mim, incrédulo. — Aquele garoto nerd que tentava empurrar filmes em você?—


JESSICA VERDAY — Sim. Ele veio comer pizza hoje, e nós assistimos um filme, porque eu esqueci completamente sobre a nossa sessão de tutoria, e ... — Minhas palavras me abandonaram. Eu não podia falar rápido o suficiente para manter o contato com minha mente. — Deus, Caspian! Eu simplesmente não posso acreditar. Todo esse tempo. Comecei a me sentir enjoada novamente, e coloquei uma mão na minha boca. — Por que você não se senta? — Caspian se aproximou e me conduziu até a cama. O segui, e ele sentou ao meu lado, me olhando. — Você tem certeza que é ele? Realmente, realmente tem certeza? Eu certamente não quero defender o cara, mas ele não parece o tipo que fez ela manter um segredo tão grande. Eu balancei minha cabeça. — Tem que ser ele. Ele conhece todas essas coisas sobre Kristen. Como, para qual faculdade ela queria ir, e que seu irmão era bom ... E no seu funeral? Ele parecia realmente chateado. Como, muito chateado. Mais do que o normal. Ele provavelmente se sentia culpado.— Caspian ficou em silêncio. — Arrrrrhhhh! — Eu gritei. — Como não tinha visto isso? Todo esse tempo. Ele sempre foi tão bom para mim. Aposto que ele estava apenas tentando descobrir o quanto eu conhecia. — Comecei a andar novamente. Eu não podia ficar parada. — Talvez você devesse perguntar a ele — Caspian sugeriu. — O quê? — Parei. —Não, eu não posso.— — Por que não? — Po-porque ele só vai mentir para mim — eu gaguejei. — Ele não vai me dizer a verdade. Talvez ele diga. — Sim, certo. Como você fez? — Assim que as palavras saíram da minha boca, eu me arrependi de dizê-las. — Sinto muito. Isso foi golpe baixo. Eu não quis dizer isso.


JESSICA VERDAY Sim, você quis. Mas tudo bem. Eu mereço. Seus olhos pareciam miseráveis, e isso quebrou meu coração. Eu sentei ao lado dele na cama. — Não, você não merece — eu disse. — Eu só estou sendo uma imbecil, porque eu estou puta com Ben, e eu descontei em você. Me perdoa? É claro — ele disse. — Sempre. Mas ele não olhava para mim. — Caspian. — Tentei cutucar seu braço e senti um formigamento. — Hey, Casper. — Isso foi o suficiente para levá-lo a olhar para mim. Eu seguraria sua mão agora, se eu pudesse — eu disse. Ele sorriu. — Obrigado. É o pensamento que conta. Sabendo que eu estava verdadeiramente perdoada, eu me inclinei para trás na cama e olhei para as estrelas. — Tem que ser ele ... certo? Quero dizer, não faz muito sentido. Tudo o que sabe sobre ela, aparecendo em seu armário no ano passado, estando tão chateado em seu velório. Mesmo sendo amigável comigo ... Tudo aponta para sinais clássicos de culpa. Ou pode apenas significar que ele sente falta dela. Mas isso não faz qualquer sentido. — Eu não penso assim. Ficamos ali sentados em silêncio, e eu continuei virando tudo na minha mente. Repetindo pedaços de conversas, tentando fazer com que todas as peças se encaixassem. Era tudo tão chocante e novo. Senti-me de surpresa. — O que você vai fazer? — Caspian perguntou. — Eu não sei. Como você lida com algo assim? Como uma questão? Uma acusação? Posso colocá-lo em nossa próxima conversa casual? — Eu ri amargamente. — Como nós não vamos ter mais disso. E pensar que ele estava na minha...— Parei abruptamente e calei minha boca.


JESSICA VERDAY — Estava na sua...? Eu podia sentir meu rosto esquentar, e eu balancei minha cabeça. — Vamos lá — ele cutucou. — Ele estava na sua tigela de cereais? Folhas de chá? O quê? —Nada. — Eu bati. Ele não respondeu, mas só sentou-se calmamente. Olhando para mim. — Oh, tudo bem, tudo bem — eu finalmente suspirei. — Ele estava em um dos meus sonhos, ok? Mas então ele se transformava em você, e foi uma loucura. — Seus olhos se arregalaram. — Podemos, por favor vamos voltar à pista aqui? — Eu disse. — As pessoas não podem controlar seus sonhos. Ele correu os dedos pelos cabelos. — Você tem o número do telefone dele? Você poderia ligar pra ele. — Isso não é exatamente uma conversa adequada para o telefone, você sabe? Você quer ir falar com ele sobre isso? — Seus olhos verdes estavam fixos nos meus. — Eu vou com você. Medo e excitação cresceram dentro de mim. — Eu não sei ... — Eu mordi meus lábios. — Eu poderia? Eu deveria? — Perguntar é a única maneira de você saber com certeza. E pense nas coisas desta maneira: Sem saber, você vai ser capaz de dormir esta noite? Não. — Bom ponto. Mas eu não sei onde ele vive. — Me levantei e fui até minha mesa, ligando o meu computador. — Google. Fiquei batendo nervosamente os meus dedos na borda do monitor do computador, enquanto eu esperava o computador iniciar. Mas então os ruídos começaram a me irritar, e eu me virei para rolar um dos frascos meu perfume entre minhas mãos. Finalmente, o computador parou de clicar e zumbir, e eu puxei uma pagina de busca. Digitei o nome completo de Ben e Sleepy Hollow, NY. Apareceu uma listagem de banco de dados rapidamente.


JESSICA VERDAY Parece que ele vive perto da escola — eu disse. — Preparado para uma caminhada? — Caspian assentiu. —Vamos. Subimos para fora da janela e atravessamos o pátio, indo na direção da escola. Vinte minutos depois chegamos à casa de Ben, e eu pulei de lado a lado sobre as bolas dos meus pés, tentando me aquecer como um boxeador preparando-se para o ring. E cuidadosamente apertei a campainha e, em seguida, esperei alguém responder. Uma mulher de meia-idade com cabelos castanhos abriu-a. Ela estava vestindo uma túnica de cor Clara e calça cinza. Um pano de prato estava suspenso em uma de suas mãos. — Posso ajudar você? Hum, oi, Mrs. Bennett? — eu continuei. — Eu sou Abbey Browning. Ben está me tutorando. — Um sorriso largo surgiu em seu rosto. — Oh sim, como você está, Abbey? Bem, obrigado. Hum, você sabe onde Ben está? Eu preciso falar com ele. Seu sorriso voltou-se para uma carranca leve, e então ele se foi. —Ele está com o seu pai. Na fazenda de árvore de natal, cerca de cinco quarteirões de distância daqui. Ao lado de um terreno baldio. Eu balancei a cabeça. — Ok, obrigado. — Eu já estava me afastando dela. —Você quer que eu o avise? — Perguntou ela. Virei para trás. — Não, obrigado. Eu vou fazer uma surpresa. Até mais, a Sra. Bennett. — Acenei com alegria e me afastei novamente assim que ela fechou a porta. Cáspian e eu fizemos o caminho curto dos cinco blocos. A fazenda de árvores de natal, se você poderia até chamá-la assim, era uma pequena faixa de terra. Uma faixa muito pequena de terra. Havia vinte ou trinta árvores bebê crescendo em linhas retas. Um homem estava lá, fazendo algo com um balde, e no começo eu não vi Ben. Então ele se levantou, e eu percebi que ele estava tão agachado no chão que eu não tinha visto. Mas agora eu poderia ver o seu cabelo encaracolado. — Ben! — Eu chamei, agitando os braços no ar. Ele olhou em minha direção, e, em seguida, disse algo a seu pai antes de correr.


JESSICA VERDAY —Lembre-se — disse Caspian. — Ele poderia ter uma desculpa. Não perca as estribeiras imediatamente. Dei um aceno de cabeça. — Abbey? — Ben disse, se aproximando. —O que foi? Por que você está aqui?— Eu tomei uma respiração profunda e cerrei meus punhos, de modo que eu teria algo para me distrair. Sem esperar, ou pensar, eu fui para frente. — Eu sei, Ben. Ele me deu um olhar intrigado. — Sabe o que? — Sobre você e Kristen. Eu encontrei seus diários e você foi mencionado neles. — O quê? Eu queria gritar, gritar na cara dele que eu sabia, que ele precisava parar de mentir, mas eu vi Caspian balançando a cabeça. Contar até três, eu disse muito lentamente: — Eu sei que você e Kristen estavam namorando, e que você queria que ela mantivesse segredo de mim. Ben deu um passo em minha direção, e mesmo me sentindo vacilar, eu me mantive firme. — O que você está falando, Abbey? Kristen e eu nunca namoramos. Sua seriedade me confundiu. — Mas o seu primeiro nome é Daniel, e ela estava vendo alguém chamado D. — Ela estava? — Sim — respondi. — Quero dizer, não. Quero dizer ... Você deve saber. Você é o D. — Ele balançou a cabeça. Desculpe Abbey. Mas não era eu. Caspian nos observava, e eu dei uma olhada para ele, tentando manter o meu foco. — Eu sei que era você. Ela escreveu que vocês estavam se encontrando em lugares secretos, e ... e como você sabe tanto sobre ela se não fosse você?


JESSICA VERDAY Ben corou um pouco. — Porque eu gostava dela. — Como você explica todas as coisas pessoais que você sabe sobre ela? — Nós compartilhamos um trabalho na sala de estudo, e perguntei algumas coisas. Eu procurei seus olhos, tentando ver se ele estava mentindo. Ele não estava. — Por que ela nunca me contou? — Eu perguntei. — Eu não sei. Mas eu ia falar sobre meus sentimentos por ela. É isso que eu venho tentando falar com você. Ele olhou para baixo, parecendo envergonhado. — Eu pensei que talvez eu tivesse sentimentos por você. ... Mas então eu percebi — Ele parou e olhou para mim. Eu fiquei em silêncio. — Então eu percebi que eu, uh, eu realmente não tinha esses ... uh, sentimentos ... Por você — ele disse. — Sempre foi Kristen. Acho que era apenas um tipo de transferência temporária de sentimentos. Eu abri meus punhos e olhei para as palmas das mãos. — Onde você estava?— Eu perguntei. — Na noite em que ela desapareceu? — Fora da cidade. Com meu pai. Fomos a uma viagem de pesca no norte do estado. Pergunte a ele se quiser. Estudei-o novamente. Procurando algo ... qualquer coisa. — Não é você? Ele balançou a cabeça. — Eu quase desejo ser esse cara. Então eu poderia lhe dar algumas respostas. Mas eu não sou. Na verdade, uma das razões que eu estava tão chateado com o memorial foi porque eu perdi as equipes de busca e resgate. Eu teria ... ajudado. Ele parecia tão infeliz que eu sabia que não havia jeito de ele estar fingindo.


JESSICA VERDAY — Você não é D. — eu sussurrei. Meio para Ben, meio para Caspian. Segurando minha cabeça, eu me senti vazia agora e drenada. — Sinto muito, Ben. Eu sou apenas ... desculpe. Ele balançou a cabeça uma vez, e se afastou de mim para voltar para seu pai. Eu não sabia o que dizer, então o deixei ir. Agora eu estava ainda pior do que antes. Eu ainda não sabia quem era D., e agora possivelmente perdi um amigo. O dia seguinte, na loja do tio Bob foi longo. Meu cérebro e os dedos foram desligados, e eu me senti desajeitada e lenta. Várias vezes eu deixei cair a pá no chão, e eu tive que parar a cada vez para obter uma nova. Então eu apertei o botão errado na registradora quando Aubra estava me mostrando como usá-la (pela quinquagésima terceira vez!) e até mesmo o tio Bob não conseguia descobrir como corrigi-la. Pelo resto do dia todos automaticamente teriam seu sorvete pela metade do preço. Quinta-feira não foi muito melhor, e Ben perdeu nossa sessão de tutoria. Ele me ligou depois e disse que sentia muito, mas ele tinha ficado ocupado, mas eu sabia que era por causa do nosso encontro estranho na fazenda de árvores. Ele não tinha certeza de como agir perto de mim agora. Mas pelo menos eu tinha um ponto brilhante no final de cada dia. Caspian vinha mais e ficava por uma ou duas horas, enquanto nós nos deitávamos na minha cama, apenas falando sobre nada. Às vezes a gente não falava, mas ouvia música em vez disso, o que era muito agradável. Bastava saber que ele estaria lá esperando por mim, o que me permitia seguir adiante. Sexta-feira, porém, foi o dia mais duro de todos. Aubra estava em forma rara, até mesmo para ela. No começo eu pensei que era apenas uma TPM, mas ela continuou tomando todas aquelas pausas para enviar textos do seu telefone, e quando ela voltava, seus olhos estavam vermelhos. Então eu percebi que era uma coisa do Vincent. Ele não parecia ser exatamente o melhor namorado do planeta, por isso não foi surpresa que ele estivesse fazendo-a chorar.


JESSICA VERDAY Eu tentei me afastar-me, e realmente fui me esconder no escritório do tio Bob, quando era hora de minha pausa de quinze minutos. Tio Bob tossiu cima de mim e me fez pular. — Estamos fugindo dos clientes, não estamos? — Virei-me. — É a minha pausa de quinze minutos, e eu... Ele riu. — Está tudo bem. Eu entendo. Às vezes, eles podem ser bem difíceis. Eu juro, este calor do verão traz à tona a loucura nas pessoas. Que deixa alguns funcionários loucos também, pensei. Ele me deu um meio sorriso estranho, como se ele tivesse me ouvido. Movimentou-se em torno da mesa, e mudou uma pilha de papéis de um lado para o outro e depois se sentou em sua cadeira. — Você sabe o que eu mais gosto sobre você, Abbey? — Um ... minha personalidade adorável? Tio Bob balançou a cabeça. — Você muda as pessoas. É o que eu mais gosto em você. Olhe este escritório, por exemplo. — Ele gesticulou ao redor da sala. —Quando você começou a organizá-lo, você me mudou. Comecei a protestar, dizendo que eu sentia muito por não lhe pedir em primeiro lugar antes de eu vir aqui no dia de Ação de Graças passado e reorganizar as coisas dele, mas ele ergueu a mão. — Quero dizer que de uma forma positiva. Eu gostei do fato de que você tomou a iniciativa. Agora, nem tudo foi organizado. — seus olhos deslizaram sobre os seus armários desorganizados, e eu sorri para ele — mas na maioria das vezes você me ajudou a mudar de uma forma positiva. Ele pegou um metal, peso de papel em forma de triângulo e estudou antes de me olhar de volta. — Para algumas das pessoas será negativo. Eles vão sair de sua maneira de torná-lo infeliz ou optar por ignorá-la.


JESSICA VERDAY Olhei para os meus pés. Não foi difícil descobrir que ele estava falando de Aubra. — O que é importante lembrar, porém, Abbey, é o fato de que você muda as pessoas. Que substitui todos, não importa o quê. Lembre-se sempre disso. — Olhei para ele. — Você entende o que quero dizer? — Perguntou. —Yup. Eu entendi. Obrigado pela conversa de vitalidade. Ele parecia satisfeito e tímido ao mesmo tempo. — Não é nada. Apenas a minha maneira de amansá-la para que eu possa pedir-lhe para ficar uma hora extra. Eu gemi. — Tio Bob. Sério? — Desculpe, Abbey. Eu não iria perguntar se eu realmente não precisasse — Ok —. Suspirei pesadamente. — Vou ligar para a mãe e dizer para me pegar mais tarde. Ele empurrou o antiquado, telefone ao estilo dos anos oitenta, do escritório pra mim. — Aqui está, você pode usar isso. Peguei o receptor preto e olhei-o em dúvida, mas disquei o número da mamãe. — Ei, mãe. Tio Bob precisa de mim para ficar por uma hora extra, assim você vai ter que me pegar às seis horas. — Ok — disse ela. Alguém estava rindo no fundo, e ela parecia distraída. — Espere, seis? Mas o Maxwells estão chegando para jantar, e eu disse a eles que comeríamos menos seis e meia. — Eles estão? — Eu podia sentir um sorriso feliz cruzando meu rosto. — Eu não os vejo há muito tempo! Oh cara, vai ser ótimo. Basta adiar o jantar para sete e meia, então. Ela não disse nada, e por um minuto eu pensei que o telefone antigo tinha morrido. Finalmente, ela voltou. — Mmm-hmm, ok. Tudo bem, Abbey. Havia mais risos, e ela riu também.


JESSICA VERDAY — O que está acontecendo, mamãe? — Eu disse. — Você está dando uma festa ou algo assim? — O quê? Não. Eu só tenho uma companhia para o café. Te vejo às seis. Eu desliguei o telefone e rolei os olhos para o tio Bob. — Reunião da mamãe novamente. Espero não haver vinho na parada. — Sua risada me seguiu até quando eu comecei a por a cabeça para fora para atender os clientes. —Espere — eu chamei de volta. — Você não ouviu a história sobre a minha festa de aniversário ainda. Mamãe estava cerca de dez minutos atrasada para me pegar, e ela foi de carro com um pé de chumbo o caminho todo para casa, dizendo-me uma e outra vez como estava com pressa. Eu queria por o meu dedo nos ouvidos e gritar. Quando chegamos em casa, ela correu para a cozinha, e eu levei o meu tempo de ir para as escadas. — Os Maxwells estarão aqui em dez minutes — ela gritou. — Depressa, depressa. Quando cheguei a meu quarto, fui direto para o armário. Minha mão automaticamente agarrou a primeira coisa que estava lá, e vi que era a camisa-vestido rosa que eu tinha usado quando a tia Marjorie tinha vindo para jantar no ano passado. Mudei de rumo, escovei os dentes, enrolei meus cachos, e coloquei desodorante. Meus dez minutos foram gastos, e eu podia ouvir as portas do carro batendo de fora. Eu me vesti rapidamente e calcei uma sandália preta. Minhas unhas precisavam de uma nova camada de esmalte polonesa, mas eu não tinha tempo para isso agora. Corri escada abaixo, ansiosa para ver os pais de Kristen. Tinham passado meses. Eles estavam de pé perto do sofá na sala, e eu parei no terceiro degrau assim que eu os vi. Sra. M. parecia ... mais velha. Seu cabelo, antes com mechas cinza agora estava quase inteiramente cinza. E seu rosto parecia magro, como se tivesse perdido algum peso. Sr. M. não parecia tão ruim, mas havia definitivamente algumas rugas novas nos cantos dos olhos. O stress de perder dois de seus filhos claramente tomou eles.


JESSICA VERDAY Sra. M. deve ter me ouvido aproximar, porque tão logo eu parei, ela olhou para cima. Seu rosto abriu um sorriso. — Abbey. Voei escada a baixo e joguei meus braços em torno dela. — Mrs. M.! — Ela me abraçou apertado, sobrecarregada com felicidade. Estendi a mão ao Sr. M., e ele me deu um tapinha, sorrindo para mim. — É tão bom vê-la — ela disse, dando um passo atrás. — Olha como você está linda. Como está indo o seu verão? Ouvi dizer que você está fazendo um trabalho extra de ciência? — Está ótimo — eu disse, levando-a para a sala de jantar. Sentamos, e todos os outros vieram um segundo mais tarde. — Eu estou ajudando meu tio, trabalhando em sua loja de sorvetes, e Ben, um dos nossos colegas, está me tutorando para este teste de ciência que eu tenho que fazer antes da escola começar. É uma coisa grande. — E você sabe a razão pela qual eu saí? Que rapaz morto eu estava vendo? Ele é real. E eu o amo. Sorri para ela e tomei um gole de água do copo a minha frente. A campainha tocou, e eu olhei para a mãe. — Quem é? — Ela levantou-se rapidamente. — Deve ser o resto da nossa companhia.— — O resto de nossas...? — Olhei para o pai. — Qual companhia? — Oh, apenas algumas pessoas que vieram hoje para o café: — Mamãe respondeu, indo atender a porta. Esperei para o papai explicar, mas tudo o que ele fez foi encolher de ombros. O clássico — não sei, pergunte a sua mãe — dar de ombros. Eu olhei para a Sra. M., esperando que ela estivesse tão curiosa como eu estava, mas ela estava prestando muita atenção no guardanapo no colo. Quase como se ela estivesse me evitando. Interessante... Mamãe reentrou na sala de jantar com um homem e uma mulher atrás dela. Ambos estavam vestidos de azul marinho, ela de terninho com um lenço vermelho em volta do pescoço, e ele com uma camisa pólo da Marinha que combinou perfeitamente com sua calça cáqui. Eles pareciam ser da mesma idade de meus pais.


JESSICA VERDAY — Claro que você conheceu o meu marido hoje, e os Maxwells. — Mamãe parou por um momento e fez um gesto do outro lado da sala de jantar. Sra. M. acenou para eles, e a mulher de terno de negócios era todo sorrisos. — E essa é a minha filha, Abigail. Nós a chamamos de Abbey. Nós a chamamos de Abbey. O que eu era, um cão de estimação? Eu ericei, mas não tive tempo para mostrar o meu desagrado, porque ambos estavam vindo na minha direção. Rápidamente. — Eu sou Sophie — disse a mulher, a mão estendida — e esse é Kame. Fechei os olhos com Sophie, preparando-me para apertar as mãos, e percebi imediatamente que seus olhos estavam vulgarmente coloridos. Claro e vitrificado. Quase translúcido. O cabelo na parte de trás do meu pescoço se levantou, e algo fez cócegas nas bordas do meu cérebro. Eles pareciam vagamente familiares. Sophie apertou minha mão em um aperto firme, e de repente senti como se um milhão de aranhas estivesse sapateando ao longo da minha espinha. Apertei sua mão o mais breve dos segundos e depois me afastei, tentando não fazer com que parecesse tão óbvio que era isso que eu estava fazendo. Kame estendeu a mão. Tudo em mim gritava para não tocá-lo, mas eu não sabia como fugir dele, então eu balancei-a brevemente. — Kame — ele lembrou-me, e eu assenti. Sua voz era profunda e ritmada, que quase uma qualidade musical. Mãe conduziu Sophie e Kame para os assentos na minha frente, e como eles voltaram a andar, recebi uma baforada de algo estranho. Como torrada queimada, ou cinzas mortas. Enruguei o nariz em desgosto, e depois suavizei meus traços. Qualquer que fosse o perfume que Sophie estava usando não se adequou a ela muito bem. Mamãe desapareceu na cozinha, voltou alguns minutos depois, segurando um prato de prata grande. — Espero que todos estejam com fome. Fiz porco assado com molho de cogumelos. E também tenho sopa de almôndegas. — Pessoalmente, eu não posso esperar pelas as almôndegas — Kame disse. Tenho certeza que tudo será maravilhoso também, mas almôndegas é minha paixão. Elas são... — ele beijou seus dedos em seus lábios — delicioso.


JESSICA VERDAY Mamãe deu um sorriso enorme. — Bem, eu espero que minhas almôndegas estejam de acordo com seus padrões elevados. — Kame sorriu de volta para ela, e eu rolei os olhos. Tão grosseiro. O porco assado foi progressivamente para baixo da linha de Kame e Sophie, e ela esperou até que foi repassado de forma Segura com o papai antes que ela disse: — Então Abbey, eu suponho que você vai para um ano sênior? — Eu concordei. — Eu ouço que as escolas por aqui são fantásticas. A relação professor-aluno e acadêmicos de cursos - o que é um trunfo para esta comunidade. Tenho certeza de que realmente ajuda com o valor. Trunfo para a comunidade? Forte cursos acadêmicos? O que eles eram, funcionários do conselho escolar? — Oh, sim — mamãe disse. — E temos um dos mais altos níveis de ensino secundário do estado. Mas, claro, estamos sempre procurando novas e melhores maneiras de ajudar os nossos alunos. Um dos nossos principais objetivos neste ano é incentivar nossos adolescentes locais a tornarem-se ativos em sua comunidade. Programas Irmão e irmã mais velha, trabalho voluntário com o serviço de idosos da comunidade, para melhorar os nossos parques... Eu dei uma segunda olhada a mamãe. Esta foi a primeira vez que eu a ouvi falar de uma dessas coisas. Isso é tão importante — Sophie concordou. Kame assentiu. — Comunidades fortes dão às pessoas uma noção melhor de si mesmo. Okayyyy, por isso eles são ... gurus de auto-ajuda? — Como é que você diz que conheceu os meus pais? — Eu perguntei a Sophie. — Eles bateram na nossa porta à hora certa — Mamãe respondeu. — O Maxwells estavam aqui, e nós estávamos discutindo o jantar, por isso só se transformou em uma reunião do grupo grande quando nós convidamo-los para entrar. Nós estávamos aqui para nos apresentar — disse Sophie para mim. — Estamos com o novo ramo da Hotchkiss Realty. — Isso explicava suas roupas, então.


JESSICA VERDAY Eu a vi de perto, enquanto ela passou a falar sobre o setor imobiliário, estudando o seu cabelo enquanto ela falava. Era uma cor vermelha brilhante, que era tão vívida, não havia nenhuma maneira de ser natural. E como eu olhei mais perto, pude ver reflexos pouco de loiro pálido espiando por aqui e ali. Como se o corante não fosse forte o suficiente para encobrir a sua cor original. Quase perfeito, mas não completamente. Papai me passou o assado, e eu pus alguns pedaços em meu prato, em seguida, passei para a senhora M. Peguei um garfo e esfaqueei um dos quadrados, em seguida, leveio para minha boca. Assim que eu estava prestes a dar uma mordida, o cheiro de queimado veio até mim novamente. Coloquei o garfo mais próximo e inspecionei a comida. Não havia nenhuma borda escurecida. Senti de novo, eu tinha apenas uma sugestão mais básicas de um cheiro desta vez. Todos os outros pareciam que estavam gostando. Eu coloquei o garfo à boca mais uma vez, forcei pelos meus lábios, e mastiguei. O gosto estava bom, um tanto sem graça. Peguei outro pedaço e discretamente senti o cheiro. Cheirava bem. Eu balancei minha cabeça, esperando limpar o que estava acontecendo lá dentro. A segunda mordida desceu suavemente, e eu relaxei. Mas uma agora e então eu peguei um traço resumidamente. Era quase como se eu estivesse degustando o perfume de Sophie. Deve ser alguma associação cheiro-sabor estranho acontecendo. A conversa oscilou em torno de mim, com todo mundo mantendo praticamente o mesmo ritmo. A Sra. M. foi um pouco para o lado tranquilo, mas acho que eu fui a única que notou. Eventualmente, a noite avançava, e Sophie e Kame foram os primeiros a dizer que precisavam ir. Sophie veio para a Sra. M., e elas apertaram as mãos antes que ela escorregasse à Sra. M. seu cartão. — Eu sei que você disse que não está pronta para pensar em nada permanente, mas, quando você estiver, me ligue. Eu vou ter certeza de obter o dólar superior para a sua casa.


JESSICA VERDAY Sra. M. obedientemente pegou o cartão e murmurou um educado agradecimento. Eu queria sacudir a cabeça com pena de Sophie. Ela não ira conseguir vender a casa dos Maxwells. Eles nunca se afastariam de Sleepy Hollow. Papai e Kame estavam próximos, discutindo um jogo de beisebol, e eu ouvi meu pai dizer: — Então, Kame. Esse é um nome incomum. Herança familiar? Kame olhou para mim antes de responder. — Sim. Eu acho que você poderia dizer que corre na família. O papai deu de ombros e, em seguida, lhe bateu no ombro. De repente, Sophie apareceu ao meu lado, e Kame estava bem atrás dela. Isso tipo que me surpreendeu o quão rápido ele ficou longe de papai. — Estamos tão felizes que tivemos a chance de conhecê-la, Abbey — Sophie disse, sua voz melódica e bonita. Ela não tentou apertar a minha mão de novo, e eu estava extremamente grata por isso. Ela, no entanto, manteve o seu olhar diretamente sobre mim. Kame fez o mesmo, e eu senti uma pontada de desconforto correr pela minha espinha. Foi estranho ... E desconfortável ter os dois olhando para mim. — Hum, sim — eu disse, finalmente, dando um pequeno passo para trás. —Prazer em conhecê-los, também. Boa sorte com seu ramo de imóveis novos e tudo isso. O olhar de Sophie foi afiado e Kame sorriu abertamente, revelando um conjunto surpreendentemente brilhante de dentes. — Cuide de si mesma, Abbey — ele disse ele. — Tome muito cuidado.


JESSICA VERDAY

Capítulo Vinte O PEDAÇO QUE FALTA

E, além disso, que chance havia de escapar o fantasma ou o trasgo, se tal o fosse que pudesse andar sobre as asas do vento? — A Lenda de Sleepy Hollow.

Uma semana depois eu estava sentada na frente do meu laptop, trabalhando no meu plano de negócios. Rabiscando frases que esperançosamente seriam parte da confirmação da minha missão, deixei minha mente vagar. Ela continuava voltando àquele jantar estranho com os corretores de imóveis reais, eu tentei imaginar porque eles pareciam familiares. Eu os tinha visto na cerimônia de dedicação da ponte? Meu celular tocou, e o peguei, contente pela distração. —Alo?— — Abbey? É a Abbey? — Eu não reconheci a voz. — Sim, quem está... — É Aubra Stanton. — Você poderia ter me derrubado com uma pena. — Hum, tudo bem. — Ou com uma brisa rigorosa.


JESSICA VERDAY — Consegui seu numero no escritório do seu tio. — Tudo bem. — Jesus, eu estava sendo uma conversadora de verdade aqui. — Olhe, eu preciso que você venha me cobrir na loja por uma hora. — Mas é sábado à noite. Eu não trabalho aos sábados. Aubra exalou ruidosamente. — Eu sei disso, ok? Eu só preciso que você venha porque tenho que ir cuidar de algo. Seu tio não está aqui. Ele teve de ir comprar outra parte para o freezer. Meu polegar movia para frente e para trás sobre o botão de volume do telefone. — Não tenho certeza se posso Aubra. Eu terei que pedir uma carona à mamãe. — Senti-me envergonhada por lhe contar aquilo, mas era verdade. — Por favor, Abbey? Algo na voz dela puxava as cordas do meu coração. Tarefa simples. — Eu vou tentar. Ela desligou sem dizer obrigado ou adeus, e eu suspirei. Tanto para um pouco de gratidão. Mamãe me largou na casa do tio Bob com relativamente pouca conversa ao longo do caminho, e Aubra estava me esperando na porta. — Finalmente! — ela exclamou, no instante em que entrei. Eu olhei para ela com uma sobrancelha levantada. Ela ignorou e andava nervosamente na frente da porta, parando a cada momento e, então espreitava do lado de fora dela. Eu me mudei para o balcão e peguei uma toalha molhada para limpar um pouco de calda de caramelo derramado que ela obviamente não prestara atenção. Um minuto depois, ouvi a campainha da porta tocar, e ela tinha ido embora. Sem dizer adeus. Mais uma vez.


JESSICA VERDAY Felizmente, a loja ficou bem quieta, e todo mundo foi paciente comigo enquanto eu trabalhava lentamente a registradora. Quando havia apenas meia hora até que a loja fechasse, eu me mantive ocupada reabastecendo os frascos de coberturas. Aubra voltou 28 minutos depois, não que eu estivesse contando, ou algo assim, e me ignorou completamente. Seus olhos estavam vermelhos e manchados, mas eu não iria lhe dar o voto de pena novamente. — Tudo bem, a gente se vê, eu disse. — Estou saindo agora. — Ela não respondeu então me dirigi para fora para ligar para mamãe e dizer que eu estava pronta. Mamãe estava ocupada com alguma coisa, contudo, e disse que me pegaria assim que pudesse. Deixei escapar um suspiro quando eu desliguei, não amando exatamente a situação. Eu caminhei ao redor da loja e fui para o beco de volta. Foi bom no início, apenas sentar e relaxar em um local tranqüilo. Mas então eu comecei a perceber como o beco era realmente isolado. Uma luz de segurança brotou do meio da parede de cimento que estava em frente ao fundo da loja, mas a luz só iluminava uns poucos metros em qualquer direção. Eu não sabia quem, ou o que poderia estar escondido no final do beco. Claro, isso foi quando eu comecei a ouvir barulhos estranhos a ver coisas se movendo com o canto do olho. Eu tive que rir de mim mesma, quando um rato passou correndo. — Se acalme Abbey disse eu em voz alta. Puxando o meu telefone, eu lamentava o fato de que Caspian não tinha um, em seguida, rolado através da seção de jogos. Eu estava ocupada apertando botões e chutando a bunda no Tetris, quando uma sombra pairou sobre mim. Eu olhei para cima. E então desejei não ter feito. — Olá, Abbey — disse Vincent. Rangi os dentes e forcei um olá, antes de voltar ao meu jogo. Ele sentou-se ao meu lado na mesa e bateu o joelho no meu. Mudei para longe dele, e ele ocupou ainda mais o meu espaço. Com lentidão exagerada, me mudei para mais longe dele. Seus dentes brancos perfeitos brilhavam na luz, quando ele ronronou. — Não seja assim — ele pediu, então, abaixou a voz. — Ou melhor, não fique assim. Isso me excita.


JESSICA VERDAY Parei o que estava fazendo e olhei para ele. Qual era o problema dele? Por que ele tem que ser tão idiota? — Posso dizer que você está pensando — ele disse. — Você me quer. Eu fiz um som de nojo. — Por favor. Estou acompanhada. Além disso, você já não tem uma namorada? — Fiz um gesto em direção à loja. — Aubra? Vicente suspirou um som elegante, e parecia triste. — Eu estou ficando cansado dela. Ela está se tornando um tédio. — Então, ele inclinou a cabeça. — Além disso, talvez eu esteja procurando uma peça secundária. — É, bem, não vai ser eu. — Levantei e me afastei dele para frente do beco, só percebendo depois que um Ford Mustang preto estava bloqueando a entrada. Seus passos ecoavam atrás de mim, e com cada passo que eu dava, eles seguiram.

O pânico começou enrolar as bordas do meu estômago. Girando para encará-lo, eu plantei a mão no meu quadril. — Qual é o seu problema? Vá brincar com outra pessoa. Ele se aproximou, e eu resisti ao impulso de recuar. — Eu vou brincar com você quando e como eu quero — ele disse. Sua voz era fria... E mortal. Eu sabia que isso não era jogo. Seu rosto se transformou de uma máscara perfeita para a raiva fervente. Ele agarrou minhas bochechas com uma mão, os dedos cavando asperamente. Por favor, por favor, minha mente estava choramingando, não me machuque. Eu mordi a língua para me impedir de gritar. Sua mão livre agarrou meu pulso esquerdo o algemado como o ferro. O toque de Vincent fez minha pele arrepiar, e eu olhei para baixo para ver se a carne estava realmente começando a enrolar e descascar como ele tão desesperadamente queria. Correndo uma unha pelo meu pulso por todo o caminho em toda a palma da mão aberta, ele pressionou cruelmente e deixou um arranhão vermelho profundo em seu rastro. Eu tentei colocar aço no meu olhar, mas estava perdendo a batalha. Minha mão queimava como fogo e minha mente ainda estava choramingando.


JESSICA VERDAY A gravidade da minha situação batia em mim. Nós estávamos sozinhos. Em um beco escuro e sujo. Ninguém sabia onde eu estava, e ninguém viria se eu gritasse. Minha mente mudou as engrenagens de, por favor, não me machuque a, por favor, permita-me passar por isso. — Diga-me como você está acompanhada — disse Vincent de repente. Minha boca se recusou a abrir meus lábios estavam fechados e apertados. — Um namorado? — Ele perguntou. Eu acenei com a cabeça sem falar, desejando que as lágrimas não caíssem. —Eu vejo. — Ele soltou meu rosto. Mas eu ainda podia sentir as marcas do seu dedo, como marcas, na minha pele. Ele brilhou e deu um sorriso para mim. — Maravilhoso. — Como se percebendo o que ele tinha feito a minha mão, ele olhou para baixo. — As minhas desculpas. — Curvandose para baixo, ele beijou a marca do arranhão, e eu fechei os olhos. Eu ia ficar doente. Vincent soltou meu braço e se esticou, colocando uma mão à cabeça como se estivesse derrubando um chapéu imaginário. — Minha senhora. — Então ele virou-se e passeou pelo beco, assobiando enquanto entrava em seu carro. Fiquei ali, perdida por um momento, como se isso estrondasse ao longe. Tentando me dizer que ele realmente tinha ido embora... Eu estava realmente bem... E foi aí que meu estômago se rebelou. Precipitandome sobre uma seção de lixo de ontem e caixas velhas de papelão, eu não poderia conter isso mais. Onda após onda de medo e ódio tomou conta de mim, e eu quase vomitei. Eu só fiquei em casa durante uma hora no final de outro longo turno na segundafeira, quando veio a segunda chamada. Caspian estava sentado perto do assento da janela, os pés balançando para frente e para trás, e eu estava testando algumas fórmulas novas de perfume. Olhei por cima do meu ombro. O telefone estava sobre a cama. — Eu vou pegá-lo — disse Caspian, saltando e o alcançando em dois passos longos. Um segundo depois, ele deixou cair ao meu lado. — Obrigado. — Eu sorri para ele e abriu o telefone. — Abbey, é a Aubra. Oh, não. Meu coração se afundou. Eu não poderia cobrir para ela novamente. — Acabou! — ela gritava, e eu segurava o telefone longe do ouvido. — Finalmente vou dizer para aquele bastardo que acabou! — Ok. — eu disse.


JESSICA VERDAY — Eu preciso de você para Eu a cortei antes que ela pudesse terminar. — Não, Aubra. Sinto muito. Sua voz ficou histérica. — Eu preciso de você, Abbey! Você não entende o que ele fez para mim. Este é o único jeito. Eu não posso permitir que ele me controle assim. — Ela estava respirando pesadamente, e eu podia ouvir uma nota de pânico em sua voz. — Eu tenho que... Tenho que... — ela balbuciou. — Ou então... Ou eu vou fazer outra coisa. Eu vou acabar com isso. Eu preciso. — Me sentei ereta. — Aubra, o que você está dizendo? Você não vai fazer nada para si mesma, vai? Ela ficou em silêncio, e eu tive uma terrível sensação de que era exatamente o que ela estava dizendo. Eu disparei um olhar preocupado a Caspian, e ele fez um gesto de O que está acontecendo? — Eu estarei lá, Aubra — eu disse. — Você está me ouvindo? Me de 20 minutos. Eu desliguei o telefone, e todas as terminações nervosas, de repente tornaram-se vivas. Eu tive que pegar a mamãe. Eu tinha que me apressar e chegar lá. Eu tinha que ter certeza que Vincent não a machucou. Eu tinha que ter certeza que ela não se machucou. — Eu tenho que ir, Caspian. Essa era a garota da escola com quem eu trabalho. Ela vai terminar com este cara hoje à noite, e eu quero ter certeza que ela não ira fazer nenhuma loucura. Ela não parecia normal. — Eu esfreguei a palma da minha mão esquerda. Estava queimando, O rosto de Caspian ficou preocupado. — Ela vai ficar bem? — Eu acho que sim. Ele olhou para baixo. — Hey. Pare. Pare com isso, Abbey. Você está coçando a mão em carne viva. Olhei para baixo e também vi o arranhado vermelho de Vincent destacando-se em relevo vivo na minha pele pálida. Rapidamente, virando minha mão, eu pressionei minha mão contra a perna. Eu estivera tentando esconder isso dele. — O que aconteceu? — Caspian perguntou, arqueando as sobrancelhas para baixo em uma careta. — Deixe-me ver.


JESSICA VERDAY — Não é nada. Eu só arranhei quando eu estava fora. Eu tenho que ir. Sinto muito. Você pode vir mais tarde? Ou eu posso ir até você? — Ele deu de ombros, mas me afastei dele, pegando o meu telefone. Eu não tinha tempo para alterações de humor agora. — Sinto muito por mandar você embora — eu disse novamente. — Por favor, espere por mim? — Ele balançou a cabeça. — Eu vou estar aqui. — Eu lhe soprei um beijo antes de ir para as escadas, chamando mamãe enquanto ia. Quando cheguei à loja, Aubra parecia terrível. Seu cabelo estava uma bagunça, e o rimel riscava ambas as bochechas. A loja estava vazia, exceto por um casal que terminava seus cones, e eu agarrei sua mão para levá-la para trás. — Você está bem? Ele machucou você? Aubra olhou para mim e fungou seus olhos arregalados e vidrados. Por um momento eu pensei que era alguma coisa. — Me machucou?— Disse ela rigidamente. — Ele partiu meu coração, o filho da mãe! — Ela soltou um grito, e a puxei pelo braço. — Aubra! Acalme-se. Há clientes lá fora. — Ela fechou a boca e me olhou emburrada. — Agora, eu vou lhe fazer algumas perguntas. Basta balançar a cabeça sim ou não. Vincent esteve aqui esta noite? — Não. — Ele deveria passar por aqui hoje a noite? — Sim. — Você tomou alguma coisa? Quaisquer drogas ou comprimidos? Silêncio. Então — Eu tomei um Xanax17 que eu tinha na minha bolsa. Era da minha mãe. —Isso explicava o rosto vermelho e os olhos vidrados.

É um medicamento antidepressivo e também indicado para ataques de pânicos e outras fobias. Também comercializado com o nome de Alprazolam e Lorelin. 17


JESSICA VERDAY — Só um? — Sim. — Você tomou mais alguma coisa? — Não. —Bom. Ok ouça. Eu vou ir lá para frente e, quando Vincent chegar aqui, eu virei te pegar. Você pode falar com ele dentro da loja. Vamos fazer os clientes sair, ou colocar a placa de FECHADO ou algo assim. Mas eu vou estar aqui com você. Você não terá que enfrentá-lo sozinha. Ok? — Sim. Olhei em volta na sala do freezer em que estávamos. Não parecia ter nada que ela pudesse se machucar caso ela começasse a pirar de novo, então eu me senti relativamente confortável a deixando lá. Avistei uma cadeira de madeira repousando em um canto da sala e arrastei-a para nós. — Você senta aqui e espera por mim. Você quer um sorvete? Aubra sentou na cadeira e cruzou os braços. Pistache. — Volto logo. — Corri para o balcão, onde peguei um cinzel, carreguei um copo pequeno com o sorvete verde, e roubei uma colher da caixa de plástico. Aubra ainda estava sentada calmamente quando voltei, e ela pegou o sorvete de mim sem uma palavra. Eu resisti ao impulso de dar tapinhas em sua cabeça e lhe dizer para ser boa, quando eu saísse da sala, e depois soltei um suspiro exausto quando eu voltei lá para frente. O que eu fiz para merecer essa dor de cabeça? Seja o que for certamente esperava que meu carma da boa ação estivesse acumulando os pontos de bônus. Vincent nunca apareceu, e eu fiquei para ajudar Aubra a fechar. Ambas trabalhávamos em silêncio. As mesas estavam realmente uma bagunça, então eu decidi colocar algum espaço entre nós e peguei um frasco de spray para ir limpá-las. Em seguida, olhei pela janela da frente. O rosto de Caspian estava pressionado contra o vidro.


JESSICA VERDAY — Eu, uh, já volto — falei por cima do ombro para Aubra. — Eu preciso de um pouco de ar fresco. — Eu disparei para a porta e gesticulou para Caspian para me seguir para os fundos. — O que você está fazendo? — Eu sibilei, encarando-o. — Não que eu não esteja feliz em ver você e tudo, mas como você chegou aqui? — Eu vim andando. — Você... Veio andando? — Yeah. Sabe, quando você move as pernas? Eu fiz um ruído exasperado. — Eu sei o que é andar. Quero dizer, porque você está aqui? — Eu estava preocupado com você. Aquele telefonema parecia grave, e aquele arranhado em sua mão... — Ele estendeu a mão para pegar minha mão e depois recuou. Eu só queria ter a certeza que você estava a salvo. Tentei manter um rosto severo do lado de fora, mas por dentro meu coração se derretia. — Eu estou bem. Aubra está bem. E o idiota nem sequer apareceu. Dei um passo mais perto e olhei para ele. A loja Tio Bob's ficava cerca de uma hora de caminhada de distancia de casa. — Você realmente andou até aqui só para se certificar de que eu estava a salvo? Ele correu os dedos pelo cabelo, parecendo quase tímido, mas seu olhar era solene e estável. — Eu iria a qualquer lugar para encontrá-la. — Meu coração deu cambalhotas e depois se derreteu em uma poça aos meus pés. Olhei para ele com um sorriso cheio de energia. — Meu protetor. Seu rosto caiu. — Mais ou menos. De repente, me lembrei de Aubra. — Eu tenho que voltar para dentro. Eu não quero deixá-la sozinha por muito tempo. — Caspian concordou. — Eu vou esperar sua mãe buscála antes de eu ir embora.


JESSICA VERDAY — Ir embora? Como assim, você vai voltar para casa andando? — Sim. — Hum, não. Você vai voltar de carona com a gente. — Ele abriu a boca para protestar, mas sacudi a cabeça para ele. — Eu ficarei mais preocupada com você se você for para casa andando, e você não iria querer isso, iria? Me tranqüilize-me, ok? Ele riu. — Tudo bem, você torceu meu braço. — É por isso que me chamam de torcedora de braço — disse. — Ao menos é melhor do que a alternativa, porem. — Qual é a alternativa? — ele perguntou. — Removedora de bolas. Caspian pareceu chocado que eu tivesse dito tal coisa, e eu ri pela expressão em seu rosto. Eu o guiei de volta a loja, e ele parou brevemente e adotou uma postura observadora para a porta. Aubra tinha desligado e fechado tudo quando eu entrei. — Você quer que eu peça a mamãe para deixar você em casa? Podemos voltar depois para pegar seu carro — disse-lhe. — Por que você faria isso? — perguntou. — Porque eu não estou certa que você devesse dirigir depois de tomar um Xanax. — eu? — ela bufou. — Eu já os tomei antes. Eles não me afetam assim. Que seja. Eu não a pressionaria. Tinha que estabelecer meus limites em algum lugar. — Você ainda vai terminar com Vincent? — ao invés disso perguntei. Ela jogou a cabeça. — Eu mandei uma mensagem de texto para ele uma hora atrás e lhe disse que acabou. Ele nunca respondeu. Drake é um imbecil. Minha cabeça se ergueu rapidamente. — Drake? Eu pensei que você estava com Vincent? — Aubra me olhou como se eu fosse lenta.


JESSICA VERDAY — Vincent Drake. Todos o chamam de Drake. Instantaneamente, uma sensação gelada me encheu. Não podia ser. Não havia jeito. Kristen nunca iria se apaixonar por um idiota como ele. Uma buzina buzinou lá fora, e eu olhei para cima para ver a van da mamãe no estacionamento. Funcionando no piloto automático, eu mal me lembrei de deslizar a porta dos fundos aberta para permitir que Caspian entrasse. Mamãe me deu um olhar estranho, mas eu disse-lhe alguma desculpa vergonhosa sobre verificar para ver se eu estava com a minha bolsa no carro ou se eu tinha deixado na loja, e ela pareceu acreditar. Com Caspian em segurança dentro da van, eu fechei a porta e, em seguida, subiu no banco do passageiro.

***

Eu esperei até que minha mãe estivesse no caminho de casa antes de falar com Caspian. — Você quer que eu fique? — disse. — Eu posso. Eu queria que ele... Eu não queria que ele... Estava tão confusa com tudo. — Eu não sei... — Está tudo bem. Sem pressão. Se você quiser conversar sobre Aubra, você sabe onde me encontrar. Dei-lhe um meio sorriso. — Obrigada por ter vindo verificar como eu estava. — Eu sempre estarei lá — ele prometeu, caminhando para a escuridão. —Eu sei que você vai — eu sussurrei para sua forma que se retirava. Na minha cama naquela noite eu rolei para trás e para frente, tentando encontrar uma posição confortável. Jogando um braço em cima da cabeça, eu contei carneirinhos e passei os nomes de todos os vice-presidentes. Duas vezes. Mas nada estava funcionando. Eu não conseguia dormir. Pensei que com certeza eu cairia no sono e teria pesadelos com Kristen. Mas eu não estava sonhando afinal, porque eu não estava dormindo afinal. Um fato que se tornou evidente demais a cada meia hora que passava no relógio.


JESSICA VERDAY Próximo de duas e meia eu desisti. Era inútil ficar na cama por mais tempo. Sentada perto da janela, eu refletia sobre tudo. O luar despejava em minha volta e transformou meus braços e mãos em cinza prateado. Para frente e para trás eu fui, preocupando-se com o assunto como um cachorro com um osso. Vicent é o D. de Kristen? Por que mais ele me diria um nome diferente? E como eles se conheceram? Não fazia sentido algum. Não importa o quanto eu tentasse, eu não poderia imaginá-lo sendo o namorado secreto sobre o qual Kristen havia mentido para mim. Eu sentei lá por mais uma hora, sem sequer perceber até que eu olhei para o relógio novamente. — Foda-se — eu murmurei. Eu tinha que ir falar com Caspian. Minha cabeça iria explodir se eu deixasse tudo misturado lá em cima por muito mais tempo. Eu vesti jeans e tênis, fechei uma blusa de capuz sobre a minha blusa, e subiu a janela. Depois de cair com cuidado no chão, eu puxei o capuz sobre o meu cabelo e meti as mãos nos bolsos. As ruas estavam quietas, e eu mantive a cabeça baixa enquanto caminhava, contemplando a melhor forma de contar a Caspian sobre Vicent. Espero que ele esteja em seu mausoléu e não perambulando novamente. Nós realmente precisamos organizar algum tipo de sistema de como posso encontrá-lo em momentos como estes. Faróis brilharam nas minhas costas enquanto eu caminhava morro acima até o cemitério, e eu me virei por uma fração de segundo. As luzes me cegaram, e eu continuei andando, querendo que o carro se apressasse e passasse. Em vez disso, ele reduziu a velocidade e manteve uma distância constante. Só quando eu estava prestes a virar novamente, ele desviou para uma rua lateral. Meu coração bateu de forma irregular, e eu esperei para ver se o carro voltaria. Ele não voltou. Apressando-me para o cemitério, atravessei a rua para escapar pelos portões principais. Enquanto eu estava me espremendo por eles, ouvi o som de um carro se aproximando. Achatando-me no lado de dentro da parede do portão do cemitério, eu prendi a respiração. Algo me dizia que era o mesmo carro que havia me seguido, e eu tinha uma suspeita não muito agradavel de quem estava nele. Arriscando, eu coloquei a minha cabeça em torno da porta e vi um Ford Mustang preto cruzando. Sob as luzes da rua que eu pude ver o cabelo escuro do motorista. Seu braço esquerdo estava pendurado para fora da janela aberta. Vincent.


JESSICA VERDAY Escondi-me novamente. Será que ele me reconheceu? Será que ele me viu entrar no cemitério? As palmas das mãos apertadas contra o muro nas minhas costas, eu inclinei a cabeça e olhei para o céu noturno. Estava completamente negro. Nenhuma estrela saiu, e o medo me tomou. Um medo que eu nunca conhecera antes. A escuridão se fechou em mim, invadindo meu espaço pessoal. As lápides disformes e galhos de árvores retorcidas eram grotescos, convidando-me a chegar mais perto... Ou ficar longe. Imaginei que isto deve ter sido como Ichabod Crane se sentiu, passando pelo cemitério e vendo aquela fatídica ponte. Se eu fosse capaz de olhar por cima do muro alto do cemitério, eu veria essa ponte sinistro coberta esperando por mim também. Minha respiração começou a vir mais e mais rápida. Arfadas profundas e dolorosos puxões puxavam meu peito e passavam pelos meus lados. O que foi aquilo? Eu estiquei meus ouvidos. Passos? Cascos? Por trás das pálpebras fechadas eu vi respiração ardente, uma cabeça faltante, olhos vermelhos que brilhavam no escuro, e então abri meus olhos. Não havia nada lá fora. Sem pegadas. Nenhum cavaleiro ameaçador. Nada vindo atrás de mim. Eu afrouxei o aperto no muro, e meu corpo relaxou. O cemitério transformou-se de volta em um lugar tranqüilo de descanso, a lua saiu de seu esconderijo, mostrando o caminho diante de mim. Claro e desobstruído. Eu dei um passo deliberado para longe do muro. E depois outro. Tudo o que eu tinha que fazer era chegar ao Caspian. E se ele não estivesse lá, eu encontraria Nikolas e Katy. Meus pés conheciam o caminho, e eu andei rapidamente. Estava surpreendentemente fresco para uma noite de quase final de julho, e um calafrio subiu até meu pescoço. M virei por um segundo para ter certeza que o calafrio não estava lá por outro motivo, mas o cemitério estava vazio. Eu estava quase lá quando ouvi. Um tilintar leve. Metal contra a pedra. Eu parei. O tilintar tornou-se um barulho de raspado. Alguém começou a assobiar. Virando devagar, eu vi um Vincent sorridente aparecendo no caminho abaixo de mim, da parte da Velha Igreja Holandesa. Ele deve ter estacionado seu carro na igreja lá em baixo. O tilintar e o raspar continuavam. Parava. Continuava.


JESSICA VERDAY Ele estava andando por uma fileira de lápides, e em sua mão estendida estava um conjunto de chaves. A cada pedra que ele passava, ele colocava as chaves no granito, arrastando-as lentamente pela superfície. O som deixou os meus dentes no limite. O assobio também. Eu dei um passo em direção ao meu destino, longe dele, e ele continuou a avançar até que estivéssemos nessa dança bizarra de avança e retrai. Olhando para cima do ombro, eu vi que a cripta de Caspian estava apenas a uns poucos metros de distância. Eu rezei para que seus sentidos de homem-aranha começassem a formigar. Vincent balançou um dedo para mim como se eu fosse uma criança travessa. — Agora, agora, agora. O que você está fazendo em um cemitério durante a noite, Abbey? Conversando com as sepulturas — Ele bateu uma pose simulada de oração e apertou as mãos piedosamente. — Ou você está visitando um saudoso amigo? Raiva brotou dentro de mim, afastando momentaneamente o medo. — O que você sabe sobre isso, seu desgraçado? — Vincent riu. — Apimentada. Eu não pensei tinha isso em você. — Ele me olhou de cima a baixo. — Não, eu realmente não pensava que você tinha isso em você. Então, novamente, as ruivas são mais o meu tipo. — Lambeu os lábios lentamente e sorriu. — Então era você! — Eu disse. — Você foi o namorado secreto de Kristen! — Namorado. — Ele balançou a cabeça como se estivesse se divertindo. — O que você fez com ela? — Eu explodi. Eu não me importava que me ouvissem. — Ela amava você, e você se aproveitou dela! — Ele esticou as mãos. — Eu não aceitei nada que ela não ofereceu livremente. — Besteira. Ele se aproximou, e eu estremeci involuntariamente, lembrando da última vez. Ele deu um sorriso lindo, então agarrou meu pulso e o sacudiu, palma virada para cima. — Minha marca. Você ainda a tem. Isso me faz feliz. — Puxei minha mão de seu aperto.


JESSICA VERDAY Estudando-me atentamente, ele disse: — Você sabe você e eu... Bem, eu não iria tão longe a ponto de dizer que somos parecidos, porque nós não somos... Mas temos... Interesses em comum, direi? Nós dois somos conhecedores. Colecionadores. Vincent levantou um dedo. — Você coleciona aromas. Ah, sim, eu sei tudo sobre você. E eu? — Seu rosto ficou sublime. — Eu coleciono ruídos. — Meus olhos se viraram para a porta do mausoléu. Era a minha imaginação? Ou será que ela se moveu um pouco? — Ruídos?— eu perguntei. — Oh, sim. Há algumas formas de ruídos que se poderia pensar que seriam os únicos a recolher. O arrulho suave de um bebê feliz. — Ele parecia enojado. —Ou o grunhido satisfeito de um homem que acabou de beber uma cerveja que uma mulher levou a ele em algum bar de mulheres local. A porta se moveu um pouco mais. Eu tinha certeza disso. — Você está ouvindo, Abbey? — Vincent empurrou no meu braço, e acenei com a cabeça, tentando não gritar. — Ótimo. Agora, os sons. Você sabia que o corpo da mulher faz certo suspiro arfado, uma entrada de ar quando ele é possuido? Afastei-me dele, horrorizada. Ele parecia feliz e sonhador. — Isso é especialmente assim na primeira vez. Uma inversão involuntária de ruído. — Seus olhos ficaram frios. — Sua amiga, Kristen? Ela fez o melhor ruído. — Ele se inclinou para sussurrar em meu ouvido. — De-licioso. Sem sequer pensar nisso, eu bati nele. O som do tapa ecoou nas lápides, que nos cercavam. Ambos estávamos claramente chocados com o meu comportamento, mas eu encontrei a minha voz em primeiro lugar. — O quanto você gosta deste ruído? Um instante depois a porta atrás de nós raspou a pleno vigor e se abriu. — Solte-a — Caspian ordenou em uma voz mortal. Eu sabia que não faria nenhum bem,Vincent não podia ouvi-lo, mas eu nunca estive tão feliz em ver alguém em toda minha vida. Então eu vi o pedaço de mármore em sua mão. —Ele machucou você? — Caspian me perguntou. Eu estava muito chocada com o que ele poderia fazer para responder. — Ele. Machucou. Você? — Caspian disse novamente. Eu balancei a cabeça que não, mas ele avançou mesmo assim.


JESSICA VERDAY Vincent lambeu os lábios e olhou pra baixo. — Como eu disse, eu não acho que você tenha. — Eu tenho muito mais do que isso em mim — eu respondi. —Este é D. eu presumo? — Caspian perguntou, permanecendo diretamente atrás dele agora. Eu assenti. — Você estava lá naquela noite, não estava, Vincent? — Eu disse. Esta poderia ser a única chance que eu tinha de obter respostas, e eu não queria desperdiçá-la. Ele parecia nervoso, e então seu rosto se suavizou. — Vejo agora que Kristen foi um erro. A pessoa errada para mim. — Então, você a levou e depois a atraiu para a ponte para acabar com ela? Você a empurrou? Você a deixou lá para morrer, sozinha? — Eu tinha de saber. A necessidade de descobrir era feroz. Ele sacudiu a cabeça e colocou as mãos para cima em um gesto de rendição. — Eu voltei para vê-la. Tudo acabou... Mal. É minha culpa que ela escorregou? — É sua culpa se você partiu o coração dela e a deixou lá para chorar. É sua culpa se você a viu escorregar depois que ela estendeu as mãos para você e lhe implorou para voltar. É sua culpa se você se virou e não fez nada. Fúria assassina escoou através de mim, e eu pensei, só pelo mais ínfimo dos momentos, em deixar Caspian bater em sua cabeça com a pedra. Permitir que ele batesse a cabeça de Vincent contra a pedra para que ele pudesse sentir o que Kristen sentiu. — Se você fez alguma dessas coisas... Então você é um assassino. Os olhos de Vincent encheram-se de uma fúria profana, mas sua voz estava calma. — Tais acusações, Abbey. Você não tem idéia se alguma delas é verdadeira. Dei um passo em direção a ele. — Eu sei que você fez essas coisas. — Cuidado, Abbey — advertiu Caspian. — Não chegue muito perto. — Ele a matou, Caspian! Ele foi o motivo que ela estava na ponte naquela noite.


JESSICA VERDAY — Eu sei, mas Vincent de repente virou-se para encarar Caspian. —Você poderia simplesmente calar a boca? Tudo isso para trás e para frente é realmente confuso. Vou chegar até você em um minuto. — O queixo de Caspian caiu aberto. E o meu também. — Você pode vê-lo? — Eu perguntei. — Quem é você?— — Não é quem— disse Vincent, em um tom de direito absoluto em sua voz. — É o que.


JESSICA VERDAY

Capítulo vinte e Um O REVENANT

Esta é talvez a razão pela qual tão raramente ouvimos sobre fantasmas, exceto em nossa comunidade holandesa há muito estabelecida. — A Lenda de Sleepy Hollow.

— Sou um Revenant — Vincent disse. — Um o quê? — Um re-ve-nant — ele repetiu a palavra lentamente, quebrando as três sílabas. — O que, vocês nunca ouviram falar de mim? Eu estou magoado. — Caspian veio para ficar ao meu lado, e Vincent olhou para ele friamente. — Eu não teria nenhuma idéia se eu fosse você. — Eu não tenho idéias — respondeu Caspian. —Eu tenho planos. — O rosto de Vincent mudou, quase mais rápido do que eu podia ver o que estava acontecendo, e era como olhar para uma tela de cinema piscando rapidamente. Suas feições pulsavam e desbotavam como se estivessem sendo transmitida através de uma tela em branco. Ele chegou a mim no mesmo instante, agarrando Caspian pela garganta. — Você pode estar morto, mas isso não significa que eu não posso lhe machucar.


JESSICA VERDAY Vincent levantou Caspian do chão e o atirou contra a porta do mausoléu como uma boneca de pano. Ele bateu com um estrondo doentio e escorregou para o chão. Seus olhos estavam fechados. Eu gritava, cerrando os punhos em pânico. — Interessante — disse Vincent. Tentei passar por ele com um empurrão, tentei correr até Caspian, mas ele segurou meu ombro e segurou firme. — Solte-me, seu canalha! — Eu gritei. —Oh Deus, se você machucá-lo... — O que você acha que eu estava tentando fazer? — Um soluço me escapou, e Vincent olhou em volta. — Infelizmente, agora não é o momento nem o lugar. Mas vou levar o que é meu. — Eu levantei a mão para esbofeteá-lo novamente, e ele empurrou-me de lado. — Eu estarei vendo você, Abbey. — E com isso, ele virou as costas e foi embora. Minha visão ficou embaçada e eu percebi que estava chorando. Minhas pernas cederam. Eu tentei levantar, mas não iria funcionar então eu tive que rastejar até onde Caspian estava deitado. — Caspian — eu sussurrei, minha garganta estava irritada e dolorida. — Casper... Por favor. Abra os olhos. — Ele não respondeu. Toquei seu ombro, mas minha mão atravessou para o chão. Tentei novamente, e novamente, em seguida, bati o punho contra a grama em frustração. — Caspian — eu orava a cada deus que estava lá por ele para que, por favor, abrisse os olhos. Balançando para trás em meus calcanhares, eu senti um gemido de lamento explodir de dentro de mim. Isto não devia acontecer. Nós deveríamos ficar juntos. Não devia ser assim. — Abbey — eu o ouvi dizer. — Abbey... — Meus olhos estavam borrados novamente com lágrimas correntes. — Caspian! Você está bem? Oh meu Deus, eu pensei que você estivesse... Eu não sabia o que pensar. Apenas algo ruim. — Eu não podia evitar, eu tentei tocar seu rosto e atingi a terra firme novamente. Ele olhou para mim, parecendo um peixe fora d'água. — Eu estou bem... Só perdi o fôlego inexistente em mim. — Fechou os olhos e murmurou — Eu acho que deslizei para o lugar escuro.


JESSICA VERDAY — Não vá lá novamente — implorei. — Tudo bem? — Seus olhos se abriram e pude ver seu verde brilhante que refletindo de volta para mim. — Eu não irei — prometeu. — Deixe-me fechar os olhos por alguns minutos. — Concordei, e quando eu pensei que dez minutos tinham se passado, sussurrei — Caspian? Eu não acho que ele me ouviu. Mas então ele abriu os olhos e piscou para mim. — Eu estou aqui. Eu não fui para o lugar escuro. — Bom. Eu teria seguido você até lá. Ele pareceu assustado com minha declaração, e depois de um momento de silêncio, limpou a garganta. — Vamos ver se está tudo em ordem. — Ele tentou ficar em pé e quase caiu, mas conteve-se contra a porta. Cerrei os punhos. Era tão difícil não ser capaz de ajudálo. Mas ele conseguiu por conta própria, e até esboçou um sorriso para mim. —Eu estou bem. Ainda morto. — Não diga isso. — Por quê? É a verdade. — Eu sei, mas... Ainda. — Eu fiz uma carranca. — Eu não preciso do lembrete agora, ok? — Calou-se e olhou em volta de nós. — Ele se foi — eu disse, respondendo à sua pergunta não formulada. — Mas eu acho que nós precisamos fazer uma viagem para ir ver Nikolas e Katy e lhes dizer o que acabou de acontecer. — Ele acenou em acordo, e eu fiquei em pé também. Em seguida, viramos em direção ao caminho que levava a casa deles. Demorou um pouco para chegar lá, porém, porque a mata estava escura, e estava complicado encontrar o nosso caminho. Quando finalmente o fizemos, eu indiquei o caminho para a porta e bati alto no caso de eles ainda estivessem dormindo. Nikolas respondeu de imediato, vestido em seu macacão usual. — Abbey? — Ele lançou um olhar para trás de mim para Caspian. — Eu sinto muito, é tão cedo, Nikolas. Mas precisamos conversar com você. Ele acenou com a mão. — Somos madrugadores. Aconteceu alguma coisa?


JESSICA VERDAY — O que é um Revenant?— eu perguntei. Nikolas empalideceu e fez um gesto para entrarmos, esquadrinhando a floresta atrás de nós enquanto ele fechava a porta. Katy estava sentada na cadeira de balanço perto da lareira, mas se levantou quando nos viu. Eu balancei a cabeça para ela, de repente, cansada e oprimida, e sem humor para brincadeiras. Depois que apresentei Caspian para ela, todos nós nos sentamos à mesa da cozinha, e eu esperei Nikolas explicar. Ele parou. — Como você está indo, Abbey? Gostaria de um pouco de chá? Nós poderíamos fazer um chá, se você quiser. Bati com o punho na mesa. — Respostas, Nikolas! Eu preciso de respostas. Ele pareceu chocado com a minha explosão, e eu suspirei alto. — Desculpe-me, mas eu estive acordada a noite toda, o talvez assassino da minha melhor amiga me seguiu até o cemitério e quase me atacou, e então jogou Caspian em uma porta do mausoléu. Então, o que é um Revenant, e como é que você me disse para prestar atenção porque isso pode salvar a minha vida, Nikolas? Nikolas e Katy trocaram um olhar, e então, de repente, Nikolas levantou-se, se movendo para a janela. — Essa pessoa que o atacou, ele chamou a si mesmo de um Revenant? — Nikolas dirigiu a sua pergunta para a janela e não olhe para mim. — Sim. — E como ele se parece? — Nikolas perguntou. — Cabelo preto, olhos azuis, roupas caras, e uma atitude arrogante. — Um gosto azedo encheu minha boca. — Sempre houve algo nele que me dava nos nervos. Mesmo da primeira vez que eu o vi, no ano passado na loja do meu tio. — Ele tem um aroma particular? Ou uma bela voz? — Nikolas disse, finalmente afastando-se da janela para me encarar. — Não, ele... — Minha voz morreu, e Caspian me deu um olhar interrogativo. De repente eu estava inundada com uma sobrecarga de imagens. Vozes melódicas e o gosto de cinzas na minha língua. Era como se eu estivesse me lembrando de coisas que eu nem sabia que tinha esquecido. — Espere. É como... — Eu me debatia com as palavras. — Eu estou lembrando dessas pessoas estranhas que já encontrei. Duas vezes, este cara e uma menina falaram comigo, e eles tinham belas vozes que soavam como música. E os olhos claros. Era


JESSICA VERDAY quase como olhar para o vidro. Eu acho que a menina tinha cabelos loiros. O cara tinha os dele tingidos de preto. Antes de partirem pela primeira vez, eu senti algo queimando. Como as folhas. A segunda vez, eu senti gosto de cinzas na língua. Olhei para Nikolas, confuso sobre o porquê de essas lembranças estarem surgindo. Nikolas voltou para a mesa. — Existe mais alguma coisa que você consegue se lembrar? Isso é muito importante, Abigail. Por alguma razão o deslize de meu próprio nome me incomodou. Golpeava uma corda grave, e eu fiz uma careta. — Houve essas duas pessoas que vieram para o jantar na noite passada. Eles disseram que eram agentes imobiliários, novos na cidade. A mulher tinha cabelos vermelhos que eu continuei pensando que eram originalmente loiros. E quando ela passou por mim, ela usava este estranho perfume que cheirava a cinzas. Eu pensei que o jantar estava queimado ou algo assim, porque eu continuava sentindo o cheiro. — Olhei para Caspian. — O homem tinha um nome estranho. — Kame? — Nikolas perguntou. — Sim, como você sabia disso? — Nikolas e Katy trocaram outro olhar preocupado, e agarrei a ponta da mesa quando o medo tomou conta de mim. —Pessoal o que está acontecendo? — Você tem muita certeza de que os dois primeiros estranhos e os segundos dois estranhos que você encontrou eram pessoas diferentes? — Katy perguntou. Eu pensei nisso por um minuto e depois disse: — Eu tenho certeza. Os dois primeiros, Cacey e Uri, tinham a minha idade, e os outros dois, Kame e Sophie, estavam mais próximos da idade dos meus pais. E depois há Vincent Drake. Ele é o único que me disse que era um Revenant.— Olhei para frente e para trás entre eles. — Todos eles são... A mesma coisa? — Katy assentiu, e os olhos de Nikolas pareciam preocupados. Inclinando-me, eu disse para Nikolas, — Por favor, me diga. O que é um Revenant? — Ele travou os olhos com Katy. — Um Revenant é enviado para ajudar os meio vivos a cruzar para a metade Sombra. Caspian está morto, mas ele está aqui, porque ele é uma Sombra. Uma sombra presa entre dois mundos. A mecha preta é a marca que o marca como isto. Você teve uma experiência de quase-morte? — ele perguntou a Caspian. — Antes de sua morte real.


JESSICA VERDAY Caspian assentiu. — É quando a marca apareceu. Você estava destinado a ser um de nós. Eu mesmo tive uma experiência de quase-morte. — Ele se virou para olhar para mim. — Você é sua outra metade, sua metade viva. Sua parceira e companheira. Afinada com a sua freqüência, em um sentido, e destinado a preencher a parte que falta da sua alma. — Nikolas descansou a mão em cima da de Katy, sorrindo carinhosamente para ela. — Uma alma gêmea. Engoli em seco e olhei para cima para Caspian. Ele tinha as mãos estendidas sobre a mesa e estava olhando para elas. Nikolas prosseguiu falando. — Katy e eu nos completamos. Chamamos isso, na língua holandesa, een koppeling. Um acoplamento. É por isso que estamos aqui neste lugar. O que acontece quando você e Caspian estiverem completos... Eu não posso dizer. Os pensamentos estavam organizando-se lentamente em meu cérebro, e eu comecei a juntá-los. — Então toda a coisa de metade viva e metade morta e cruzamento... Você está dizendo...? Katy olhou para mim e assentiu. — Você vai morrer em breve, Abbey. — O quarto ficou muito quieto, todos esperaram e olharam para mim. Deixei escapar um suspiro que eu nem sabia que eu estava segurando. — Oh. — Lamento por não ter dito antes, quando você veio nos ver — ele disse. — Como alguém trás a tona a proximidade de uma morte? Mas uma vez que os Revenants encontram você, a escolha deve ser feita. Encontraram-me um ano depois que Nikolas e eu nos conhecemos. Nós dois achamos que talvez você tivesse mais tempo. — É por isso que lhe pedi que reconsiderasse — disse Nikolas. — Para ficar longe de Caspian. Para prestar atenção ao que eu não podia dizer em uma esperança desesperada que ele salvaria a sua vida. — Você disse para ela ficar longe de mim? — Caspian perguntou. Nikolas lhe deu um olhar duro. — Você já viu dois lados de um todo? Geralmente, há uma metade escura e metade clara. Agora, entre Katy e eu, eu sei que eu sou a metade mais escura. Eu tenho muito sangue sobre estas mãos como um soldado de aluguel na minha vida passada, e eu estou apostando que entre você e Abbey, ela é a metade clara. Então, que segredos obscuros que você guarda rapaz?


JESSICA VERDAY Caspian parecia zangado. — Você já pensou que as coisas poderiam ter mudado? Nós não vivemos e morremos pela espada mais. Posso não ter uma vida de escuridão para expiar. Talvez eu só precise dela para ser a estrela no meu céu noturno. Para deter as trevas e me permitir ver a luz. — Olhou-me então, e minha garganta ficou seca. — Ou talvez realmente seja tão simples como algo nela preenche o vazio em mim. O buraco negro desaparece quando estamos juntos. Uni minhas mãos e olhei para elas, em admiração pelo o que ele tinha acabado de dizer. Suas palavras encheram meu coração até que todas as fendas que estiveram lá uma vez sumiram. — Se isso é o que ela significa para você, então você é o escolhido — disse Nikolas. — E eu estendo a minha mão. Olhei para cima a tempo de vê-los balançando as mãos solenemente, e eu sussurrei as palavras eu te amo para Caspian. Ele sorriu seu deslumbrante sorriso para mim, e meus dedos ficaram dormentes. Nikolas pigarreou, e eu corei, ao perceber que meus sentimentos provavelmente estavam escritos em todo o meu rosto. — Ok — Caspian disse, nos dirigindo novamente ao tópico em questão. —Portanto, agora sabemos por que os Revenants estão aqui. — Na verdade, esse é o problema — respondeu Nikolas. Um olhar inquieto estava de volta em seu rosto. — Revenants não trabalham sozinhos. Eles são combinados em grupos de dois, e apenas uma equipe é necessária. — Então, quando Katy... Morreu, e os Revenants estavam aqui, havia apenas dois deles — eu perguntei. — Sim. — Por que há cinco delas agora? — Caspian perguntou. — Nós não sabemos — Katy respondeu. — Diga-me mais sobre este Vincent Drake — Nikolas me pediu. — Ele era agressivo com você?


JESSICA VERDAY —Sim, ele era. — Lembrei-me naquele momento no beco, e eu tremi. — E ele pegou Caspian pelo pescoço e o jogou. Nikolas sacudiu a cabeça. — Isso não faz nenhum sentido. Revenants ajudam, não prejudicam. Esta é uma situação incômoda. Estou com medo do que ela significa. — Significa que eu vou morrer em breve, você não sabe o que vai acontecer comigo e com Caspian, uma vez que eu morrer e estivermos completos ou o que quer que seja, e os Revenants podem ou não podem estar aqui para causar essa morte! — De repente tudo parecia que ia desabar sobre mim, e eu enterrei minha cabeça nos braços. — Eu acho que Abbey deve ir para casa e descansar um pouco — disse Caspian. — Estou bem — eu murmurei. — Não, você não está. Você precisa dormir um pouco e ter algum tempo para processar isso. — Levantei minha cabeça. — Ei, eu sei! Nós podemos continuar a fuga. Sair da cidade. Se ficarmos afastados por tempo suficiente, talvez Vincent e os Revenants irão partir. — Eles vão te encontrar, Abbey — disse Katy. — Pode demorar um mês, pode demorar um ano, mas no final é só uma questão de tempo. — Então, é como uma coisa de caça?— Eu perguntei. — Eles têm meu cheiro agora? — Algo parecido com isso — disse Nikolas. — Nós não estamos certos de tudo. — Eu ri, e até eu podia perceber o tom de histeria na minha voz. — Tudo o que eu deveria ter que fazer é mudar o meu perfume. Ha! Ótimo. — Caspian se levantou abruptamente. — Vamos. Ele me deu um olhar severo, e eu relutantemente também me levantei. — Eu poderia ficar aqui — argumentei. — Eu estaria segura aqui. — Casa. Cama. Agora — Caspian ordenou. — Ok, ok. Foi apenas uma sugestão. Jesus. — Ele me conduziu para fora da casa, e nos encontramos novamente no caminho. Eu o deixei assumir a liderança, e ele fez um bom


JESSICA VERDAY trabalho de nos levar de volta ao cemitério sem errar e entrar na floresta. Já estava quase amanhecendo agora, e nós caminhamos em silêncio em direção ao portão principal. Uma vez alcançamos o caminho que nos levaria lá, Caspian parou. — Eu quero lhe mostrar uma coisa. — Isso pode esperar? — Eu estava em frangalhos, cheio de situações dolorosas e de energia nervosa. Eu realmente só queria chegar em casa e desabar. — Não vai demorar muito tempo — prometeu. — Mas você precisa ver isso. — Ele se virou para me levar para o lado do cemitério que eu quase nunca fui. Quando paramos, estávamos na frente de duas extremamente velhas e desbotadas lápides vermelhas. Eram do tipo que tem elaborados crânios alados e anjos vestidos como o Grim Reaper sobre eles. Ou teria, se eles ainda estivessem intactos. Agora, eles estavam completamente destruídos. As frentes delas eram nada mais que pedra rachada e velha. Nomes e datas esculpidos foram perdidos para sempre para o tempo. Arfei enquanto o sol nascia revelando toda a extensão do dano. Era uma visão horrível. — Eu não quero que haja nada entre nós — disse Caspian. — Você se lembra quando eu lhe disse como eu estava com raiva e destrutivo? — Eu assenti. — Eu fiz isso — disse ele calmamente. — No meu primeiro dia aqui, estava tão frustrado, tão louco que ninguém podia me ouvir, eu peguei uma pedra e atirei-a nelas de novo e de novo. Esmaguei-os em pedaços para que ficassem quebrados e irreconhecíveis... Como eu. Olhei para ele com descrença. Não parecia certo. Ele não parecia ele afinal. — Eu ouvi sobre algumas lápides sendo vandalizados, mas disseram que algumas crianças fizeram isso. Caspian sacudiu a cabeça tristemente. — Não crianças. Eu. E eu venho aqui de vez em quando para me lembrar disso. — Ele segurou o meu olhar, e seus olhos foram destacados pelo sol. Eles estavam tão vivos. — Isto é o que eu sempre tenho que lembrar Abbey. — Ele flexionou as mãos e olhou para eles. —Eu posso ser invisível, mas ainda consigo tocar as coisas... Ferir pessoas. — Ele desviou o olhar e murmurou: — ferir você. Uma sensação de mal estar começou a provocar turbulências em meu estômago, e eu sabia onde ele estava indo com isto. Cruzando os braços, eu balancei minha cabeça. — Oh, não. Você não vai fazer isso de novo, Caspian.


JESSICA VERDAY Ele olhou para mim com os olhos de dor, e eu caminhei para mais perto, espetando o ar na frente dele com um dedo. — Você partiu meu coração antes, durante o Natal, com aquele bilhete de eu só quero ser amigos. Você não vai fazer isso novamente. — É melhor assim. — Eu não estou ouvindo você, e eu estou indo para casa agora — disse. De repente, ele se abaixou para pegar uma folha seca do chão e a estendeu para mim. Lentamente, fechando a mão, esmagou a folha. Ela triturou entre seus dedos, e quando ele abriu a mão, só um monte de poeira permaneceu. — Isso sou eu. Poeira. Cinzas. Eu estou morto, e você tem que enfrentar isso. Frustração e fúria borbulharam dentro de mim, e eu tive que lutar para manter um tom frio. — Você sabe de uma coisa? Vou enfrentar isso. Onde você está enterrado? Ele piscou uma vez. — O quê? — Onde você está enterrado? Vou enfrentar isso. Eu vou visitar seu túmulo. — Por quê? — Ele sussurrou. Inclinei-me, perto o suficiente para um beijo e sussurrei, — Porque eu te amo, Caspian. Eu te amo. Eu vou fazer o que for preciso para ficar com você. — Eu levantei a minha mão esquerda. O arranhão vermelho que Vincent tinha me dado ainda era bem visível. Eu deveria ter percebido que havia algo mais, ele era algo mais quando ele deu a mim. — E porque eu não quero segredos entre nós tampouco, eu tenho que lhe dizer algo. Eu menti para você sobre isso. Sobre como eu o consegui. Vincent me arranhou quando ele passou na loja do meu tio. O rosto de Caspian ficou escuro de fúria, e por um segundo eu pensei que ele estava bravo comigo por ter mentido para ele. — Vou retribuir o favor — disse, entre dentes cerrados. — Multiplicado por dez. — Ele estendeu um dedo e traçou pela palma da minha mão, passando por ela. Eu senti o formigamento por todo o caminho até os dedos dos pés. — West Virginia — Caspian disse suavemente. — Onde a costumávamos morar. Eu estou enterrado em Martinsburg, West Virginia.


JESSICA VERDAY Eu desabei assim que cheguei em casa, e quando acordei, pensamentos dos Revenants giravam em minha cabeça, me picando como abelhas furiosas. Mas quando empurrei o meu cabelo do rosto, eu empurrei os pensamentos da minha mente. Agora só havia uma coisa importante para cuidar, e dois obstáculos potenciais que estavam no caminho. Eu encontrei mamãe e papai lá embaixo na sala assistindo a um filme. Estava quase no fim, e eu esperei até que os créditos rolaram antes de eu soltar a minha grande idéia sobre eles. — Eu quero ir procurar faculdades, em West Virginia — eu disparei. Papai parou com o controle remoto na mão, mudo para os comerciais, e mamãe suspirou feliz. Seu rosto todo se iluminou. — Você quer? — Eles trocaram um olhar de ‗Você consegue acreditar nessa mudança de idéia?‘, e eu me senti culpada pela mentira. Mas não culpada o suficiente. — Sim, há algumas escolas muito boas lá, e com o meu último ano chegando, eu gostaria de repensar algumas de minhas opções. — Nós vamos arranjar tudo — disse mamãe entusiasmada. — Oh, querida, seu primeiro passeio a faculdade! Que grande momento. Nós teremos que ter certeza de verificar o campus e nos dormitórios, é claro, e. — Mãe. — A cidade. Você quer ter a certeza de que a cidade é segura. Muitas pessoas não pensam em coisas assim. — Mãe! — Eu dei a meu pai um olhar desamparado, e ele sorriu para mim. — Mãe, pare. — Ela parou. Mas o olhar de excitação ainda estava lá. Ah, droga. Agora eu me senti mal. — O negocio é... Que quero ir sozinha. Houve um silêncio absoluto, e a boca da mamãe escancarou. — Não.


JESSICA VERDAY — Mas mãe, eu quero realmente fazer isso, e eu acho que vai ser bom para a minha independência. Estou crescendo aqui, e eu sinto que minhas penas estão ficando todas emaranhadas. —Penas? Que... — Pássaro bebê — disse papai. — Eu entendo. — Atirei-lhe um olhar agradecido. — Como você vai chegar lá? Onde você vai ficar? Você estará sozinha. — A cara de mamãe se enrugou. — Eu posso pegar um ônibus. E há hotéis lá. Eu ficarei bem. Tenho dezessete anos. Eu posso fazer isso. Em alguns países as meninas da minha idade estão se casando, sabe. — C-casando?— Seu lábio inferior tremeu. Uh-oh. Coisa errada a dizer. Papai veio para o resgate. — Você tem algum amigo que pudesse ir com você, a Abbey? Tenho certeza de que faria sua mãe e eu nos sentir mais seguro. — Amigos? Bem, há sempre Ben — eu brinquei. — Ele é confiável. Papai concordou. — Sim, ele é. Vocês terão que ter quartos separados, contudo. E eu vou ligar a cada noite para fazer verificações de cama aleatória. Nenhuma salto de cama nesta viagem. — O quê? Você está falando sério? Ele é um adolescente, pai. Você realmente quer que a gente passe um tempo juntos e sozinhos, sem vigilância? — Bem, considerando as outras opções... Ele tem dado aulas a você, não tem? Ele já fez algum avanço inapropriado? — Não, ele tem sido um perfeito cavalheiro. — Então eu acho que é uma boa solução. Ele tem um carro, certo? — Eu assenti. — Veja como fazer as preparações, então. — Ele bateu na mão da mamãe. — Sua mãe e eu ficaremos aqui. — Mamãe parecia à beira das lágrimas novamente.


JESSICA VERDAY — Eu estou falando sério sobre verificação das camas, porém — Papai chamou, quando me levantei para sair da sala. — Sem gracinhas. — Balançando minha cabeça enquanto eu subia as escadas, eu me perguntava por todo o caminho em que planeta eu estava vivendo e onde meus pais de verdade estavam. Obviamente, aqueles lá foram substituídos por ladrões de corpos.


JESSICA VERDAY

Capítulo Vinte e Dois VIAGEM

Certo de que é seus avanços eram sinais para os candidatos rivais se retirarem... — A Lenda de Sleepy Hollow

Eu conversei com Ben sobre ir a West Virginia comigo, e ele rapidamente concordou, dizendo que estava sempre pronto para uma viagem. — Tem certeza de que não se importa de dirigir? — Eu perguntei a ele novamente, segurando o telefone na orelha. — Eu não me importo Abbey — ele disse. — E eu lhe disse sobre a coisa do pai? Ele provavelmente vai ser desagradável sobre a ligar para ver como estou. — Você me disse. Duas vezes — respondeu Ben. — Você fica legal em me deixar? Eu não quero que você fique preso por aí. — É tranqüilo. Meu pai tem um amigo que é dono de um ferro-velho perto de lá. Vou lá ver como ele está. — Obrigado, Ben. Eu realmente agradeço. — Qual é o nome da faculdade? — Perguntou.


JESSICA VERDAY Felizmente, eu estava sentada na frente do meu computador, e eu rapidamente mudei para o Google. — É um... — eu digitei faculdades em West Virginia. A lista surgiu mostrando pelo menos uma dúzia delas, e eu fiz a varredura completamente. Eu não podia acreditar na minha sorte quando Shepherd University apareceu dentro de dez quilômetros de Martinsburg. —Shepherd — eu disse. Eu cliquei no link e cheguei ao site da universidade. Imagens de edifícios altos e estudantes sorridentes colocados em confusão na página inicial, e a pagina — Sobre Nós — dizia que era uma escola de artes liberal. Uau. Perfeita. Decidimos fazer a viagem dois dias depois, e eu desliguei o telefone com uma sensação de realização. Isso só poderia funcionar. E a escola parecia muito legal também. Pena que eu não tinha nenhum plano para realmente dar uma olhada nela... Eu não tinha certeza de como dizer a Caspian sobre a viagem, então eu esperei até o dia seguinte. Eu ainda não tinha descoberto a melhor maneira de dizer: — Oh yeah, eu vou passar o fim de semana inteiro com Ben. Sozinha. Estávamos no mausoléu, sentado no banco juntos, quando de repente ele se levantou. — Eu quase me esqueci. Eu tenho algo que eu queria te mostrar. — Ele atravessou para suas caixas, estendeu a mão dentro de uma delas, e tirou uma pequena mochila de jeans lavada. — Elegante — disse, levantando uma sobrancelha. — Eu sei certo? Mas eu acho que você quer dizer clássico. Este é o estilo vintage18 dos anos oitenta bem aqui. — Abrindo a mochila, ele veio e sentou-se. — O que é ainda melhor, porém, é o que está dentro. — Ele pegou um punhado de fitas cassete, e depois exibiu um pequeno toca fitas rosa neon. — Portátil. — Isso é melhor. — Sorri para ele. A visão que ele fez com o toca fitas rosa brilhante e feminino em sua mão era cômico. — É a sua cor, também. Rosa. — Combina meus olhos. — Ele segurou o player para cima e bateu as pálpebras. Vintage é uma estilo de vida e moda retrógrada, uma recuperação de estilos das décadas de 1920, 1930, 1940, 1950 e 1960 18


JESSICA VERDAY — Você fez outra viagem para o brechó, hein? — Eu disse. — O que você deixou dessa vez?

Caspian abaixou a cabeça e brincou com o compartimento da bateria. —Eu meio que, um, não deixei? — Ele olhou para mim. — Eu realmente não tenho nada que me resta, e há somente tantos livros que um cara pode ler, antes que ele fique louco. Não é um iPod, mas pelo menos é alguma coisa. — Eu não acho que eles sentirão falta disso. Que músicas você conseguiu? Ele estendeu uma das fitas. — Christmas Kids Sing the Blues — Eu li. — Uau, isso é meio que palavras contraditórias. Ele me deu um meio sorriso e folheou as fitas restantes. — Nós também temos... Grover e Me Sing-a-long, The Sheldon Brothers... — ele ergueu as sobrancelhas — e... Debbie Gibson. — Isso é o que eu chamo de uma mistura de música eclética. — Eu ri. Caspian colocou uma das fitas no player, ajustado o volume para baixo, e empurrou o play. — Eu tenho a mente aberta. — Uma banda de mariachi começou. Eu enruguei meu nariz para ele. — Agora sabemos o que os Irmãos Sheldon são. Ele empurrou o stop e trocou as fitas. Um instante depois um piano suave e sintetizadores saíram dos alto-falantes pequenos. — Melhor do que a banda de mariachi — eu disse. A voz feminina começou a cantar. Caspian batia o pé junto com a batida, e eu lhe dei um olhar cético. — Sério? Você está gostando disso? — Ele inclinou a cabeça para um lado, mas não disse nada, enquanto Debbie cantava sobre o silêncio que fala mais que mil palavras. Eu levantei uma sobrancelha para ele. — Você não entende? — Ele disse finalmente. — Meu silêncio está falando mais que mil palavras. — Revirei os olhos. — Meu silencio vai falar mais que mil palavras também.


JESSICA VERDAY — O seu silêncio está respondendo meu silêncio? — perguntou um brilho provocante em seus olhos. — Porque o meu silêncio está ficando muito sugestivo agora. — Corei e olhei para as minhas mãos. Será que eu vou superar esse embaraço todo perto dele? Eu com certeza esperava que sim. Meu celular apitou, e eu o tirei do bolso, abrindo-o em um movimento fluido. O número de Ben estava lá, e instantaneamente, a culpa me inundou. Eu ainda não tinha contado a Caspian sobre a viagem. Estendi a mão para toca fitas e o desliguei. O silêncio repentino entre nós era ensurdecedor. — Caspian... Eu preciso lhe dizer algo. — Seu rosto mudou. — É Vincent? Ele encontrou você de novo? — Não, não. Não é ele. É... Eu vou sair amanhã para ir a West Virginia. — Para Martinsburg? — ele perguntou em voz baixa. Eu concordei. — Com Ben. — Ben? Por quê? As palavras saíram de mim. — Meus pais queriam ir. Não a sua sepultura, mas a esta faculdade. Só que, eu não vou à faculdade. Eu só disse isso a eles como cobertura. Então eles sugeriram que um amigo fosse comigo, e eu fiz uma brincadeira sobre Ben, e... Isso só... Deu certo. — Ele vai dirigir? — Sim. — E você vai ficar lá durante a noite? Com ele? — Sim. — A que horas nós vamos partir?


JESSICA VERDAY — Nós vamos partir às, espera, o quê? Nós, como nós? Você e eu? Caspian deu um sorriso angelical. — Sim. Você e eu. Estou indo. Eu abri a boca para protestar, mas Caspian ergueu a mão e começou marcando cada dedo enquanto ele corria uma lista. — Eu vou por que: Um Vincent Drake está lá fora, possivelmente atrás de você. Dois, os outros Revenants ainda estão por aí, possivelmente atrás de você. Três, Ben vai estar lá com você. Sozinha... Eu bufei, e Caspian me deu uma olhada. — Eu sou um cara. Eu sei como a mente dele funciona. — Ele tem sentimentos por Kristen. Não por mim. — Sim, bem, é só esperar e ver o que oito horas sozinho em um carro pode fazer. — Seis — eu murmurei. Ele ergueu um quarto dedo. — Quatro, você vai ver o meu túmulo, e eu não quero que você esteja sozinha. Cinco... — Ele desviou o olhar, como se ele estivesse tentando pensar em outra coisa a acrescentar. — Cinco... Nós vamos conseguir passar um tempo de qualidade juntos. E eu amo o jogo da placa de carro. Um lado da minha boca virou-se num sorriso que eu não conseguia dominar. — Você é muito persuasivo, sabia disso? — Aprendi com os melhores, Abbey Torcedora de Braço. Eu explodi em risadas. Balançando a cabeça, eu disse: — Iremos sair às oito horas da manhã. Não se atrase. — Eu não vou. — Ele sorriu. — Embale uns lanchinhos extras. Tentei empurrar seu braço e o atravessei, rindo de novo quando minha mão saltou inofensivamente para fora do banco. — Não faça me arrepender contar a você sobre isso. Ou eu vou deixar Ben falar sobre Star Trek o caminho todo — eu avisei.


JESSICA VERDAY Ele gemeu. — Deus nos ajude. Atirei-lhe um sorriso provocante, mas por dentro eu já estava preocupada com a viagem. Um carro. Dois meninos. Seis horas. E eu tinha que tentar se lembrar de apenas falar com um deles. Deus nos ajude. Na manhã seguinte, Caspian bateu na minha janela às sete da manhã, e eu tive que terminar de se vestir sabendo que ele estava bem em frente à porta do banheiro. Ben apareceu as sete e quarenta e cinco e galantemente transportou minha mala para o carro, enquanto Caspian ficou em volta lançando olhares mal-humorados pra ele. Eu dei-lhe um olhar de advertência, mas ele simplesmente me ignorou, e de repente eu me vi desejando alguns dos Xanax da mãe de Aubra. Esta viagem ia ser tudo menos relaxante. Antes de sairmos, mamãe lembrou-me novamente para ligar para ela assim que chegássemos ao hotel, e papai me lembrou mais uma vez que ele havia feito reservas de quartos separados. Em lados opostos do corredor. Eu só assenti e tentei manter uma aparência alegre no meu rosto, orando para que eu não ficasse cheia de urticária ou algo assim. Tudo o que eu tinha que fazer era entrar no carro e sair de casa. Eles nunca saberiam. Papai me deu uma nota de cinqüenta dólares — para emergências — depois que eu o abracei, e depois puxou a carteira para me dar mais duas de vinte. Eu olhei para o maço de notas na minha mão. — Para se divertir — disse ele. Tentei dizer obrigado, mas minha mãe me puxou para um aperto de anaconda e não soltaria. — Mãe. — Ela estava cortando o meu ar. — Mãe. — Meus braços estavam fiando amortecidos. — Tudo bem, mãe! Eu preciso respirar. Ela apertou-me por um segundo mais e, em seguida, relutantemente, soltou. Seus olhos estavam molhados, e havia um olhar levemente em pânico neles como ela se afastou. Ela tentou me abraçar de novo, mas eu a impedi. — Mãe, eu tenho que ir. Precisamos partir. — Eu sei, eu sei. Você tem certeza que tem tudo? E você promete que vai tirar fotos? — Eu concordei. Claro, minha câmera tinha sido —acidentalmente — deixada no meu


JESSICA VERDAY quarto, mas ela não precisava saber disso. Ela fixou sua voz baixa e lançou um olhar preocupado sobre o Jeep de Ben. — Tem certeza de que ficará bem? Com a... Outra coisa? Você tem número do Dr. Pendleton, apenas no caso? — Eu vou ficar bem — eu disse. — Tchau, gente. — Afastei-me deles antes que mamãe poderia trancar novamente, e comecei a andar para o carro. Jogando minha bolsa transversal no banco de trás, deixei a porta aberta por tempo suficiente para Caspian subir. Eu tive que cobrir minhas risadas com uma tosse falsa, quando ele sussurrou: — Qualquer coisa, menos Star Trek. Por favor, meu Deus, qualquer coisa, menos Star Trek. — Lhe atirando um olhar rápido de Comporte-se, subi no banco da frente. Ben deu partida no carro, e ambos acenamos quando nós saímos da garagem. Uma vez que estávamos completamente livres dos meus pais, ele se virou e sorriu para mim. — Pronta? — Pronta. — Pronto — Caspian chamado da parte de trás. Puxei para baixo a viseira e a abri, usando o pretexto de consertar o meu cabelo no espelho. Caspian encontrou os meus olhos e piscou. Com um suspiro interior, fechei a viseira e me preparei para jogar de árbitro invisível. Ben e eu conversamos sobre o próximo ano letivo e que os professores que esperávamos que teríamos, e as duas primeiras horas passaram muito rápido. Em seguida, a conversa mudou para nossos planos futuros e o que estaríamos fazendo depois da escola secundaria. — Eu acho que é muito legal que você quer ter sua própria loja, Abbey — disse Ben. — Mas por que você vai alugar aquele local bonito no centro? Você deve abrir uma loja em Manhattan. Eu podia praticamente sentir a carranca de Caspian do banco de trás. — Porque ela não ama Manhattan, seu idiota — ele rosnou. — Ela ama Sleepy Hollow. — Tentando fingir que eu não o ouvi, eu disse: — Eu acho que estou realmente ligada à cidade.


JESSICA VERDAY — Que você saberia se você passasse cinco minutos realmente prestando atenção a ela — Caspian acrescentou. — Eu não sei. — Ben balançou a cabeça. — Eu simplesmente não entendo. As estatísticas são muito melhores lá. Mais volume, mais clientes, mais lucro. — Despesas maiores, mais impostos, menos história — eu acrescentei. —Eu tenho pensado muito nisto, Ben. Confie em mim. Além disso, é algo que Kristen iria me ajudar. Caspian se inclinou e sussurrou em meu ouvido: — Eu acho que é uma ótima idéia, Abbey. Não dê ouvidos a ele. Ele é um babaca. E, por falar nisso, eu lhe disse como você está bonita hoje? — Ben estava falando demais, e eu tive que lutar para não estremecer com as palavras de Caspian. Coloquei uma onda perdida atrás de uma orelha, perdendo-se no momento de tê-lo tão perto. —... Você já descobriu? — Ben perguntou. Ele olhou para mim com expectativa. — Desculpe — eu disse. — Distrai-me com um carro. O que foi? — Eu perguntei se você já descobriu quem era aquele cara D. já que você pensou que eu era ele. Memórias ruins imediatamente nublaram minha mente, e eu fiz uma careta. — Oh, yeah. Eu descobri. Ele era... Um babaca. — Mas Kristen estava o vendo? — Ben disse. Olhei pela minha janela. Árvores e casas apressavam-se em um borrão sem fim. — Ela estava vendo ele, sim. Mas acho que ela sabia que era um erro. Quando escreveu sobre ele em seus diários... Acho que ela percebeu que ela tinha perdido a cabeça. — Será que estes diários mencionavam ninguém mais? — Ele me deu um olhar esperançoso, e eu me senti mal por ele. Eu resisti à vontade de estender o braço e colocar uma mão no braço dele. — Não, ela não mencionou ninguém mais. Desculpe Ben. — E você e aquele cara que você estava namorando? — Ben perguntou. —Vocês ainda estão juntos? Como é que eu nunca o vejo por perto?


JESSICA VERDAY Remexendo o meu cinto de segurança, eu olhei para baixo. — É... Complicado. — Complicado como vocês terminaram? Ou complicado como vocês ainda estão juntos? — Hum, eu realmente não sei como descrever isso. O rosto de Ben mudou. — Oh. Eu entendi. Amigos com benefícios. — Bom Deus, não — eu disparei. Meu rosto parecia que estava pegando fogo, então eu abri a janela para sugar um bocado de ar fresco. Assim que senti meu rosto normal novamente, voltei-me para Ben. — Nós não estamos, hum, assim. É apenas... Complicado. — Desista disso. Por favor, desista disso, eu mentalmente lhe ordenara. — Entendo — disse Ben. Então — Ok, não, eu não entendo. Mas eu acho que não é da minha conta. — Ding, ding, resposta correta por dez pontos de bônus — disse Caspian. Acenei minha mão em sua direção para gesticular para ele parar de falar, e Ben olhou para mim divertido. — Inseto... Voador... Mosquito... Coisa. — Oh Deus, quanto tempo temos até chegarmos lá? Este passeio de carro vai ser a minha morte. — Eu achava que ele era um burro. — Ben disse. — Você parecia realmente chateada com ele na escola no ano passado. — Está legal agora. — Cheguei até a rádio, e segurou o dedo sobre o botão de ligar. — Você se importa se eu colocar um pouco de música? — Ele deu de ombros, e eu fiz uma varredura pelas estações, tentando encontrar algo de bom. Parei quando cheguei a uma voz familiar. Steven Tyler cantou por alguns segundos antes que Ben mudou de estação. — Hey — eu disse. — O quê? Essa música está quase acabando. — Sim, mas eu gosto.


JESSICA VERDAY — Não é de um filme de asteróides? Doomsday ou algo assim. — Armageddon. A música se chama ‗I Don‘t Wanna Miss a Thing.‘— A memória da dança com Caspian veio até mim, e eu fechei os olhos. Um caroço repentino subiu na minha garganta. — Vai dormir? — Ben perguntou. Peguei a desculpa. — Sim, acorde-me em uma hora. — Ele mudou a estação de novo, e música clássica encheu o carro. Ugh. Eu odiava a música clássica. Eu não teria dificuldade em adormecer de verdade com isso no rádio. — Abbey. Hey, Abbey. Acorde, Bela Adormecida. — A voz de Caspian era suave no meu ouvido. Eu ergui a cabeça, os músculos do pescoço gritando de dor. Devo ter caído enquanto eu estava dormindo. O banco do motorista estava vazio. — Onde está Ben? — Ele deixou você — disse Caspian, parecendo irritado. — Você estava dormindo, e ele não te acordou. E ele pensa que eu sou burro. Olhei ao meu redor. Nós estávamos em um posto de gasolina, e vi Ben dentro da loja. — Ele só entrou lá. — Ele deveria tê-la acordado — disse Caspian. — Quem simplesmente deixa alguém sozinho assim? — Mas eu não estou sozinha. Eu tenho você. — Ele não sabe disso. — Caspian sentou-se e cruzou os braços, carrancudo quando Ben saiu da loja carregando um pequeno saco de papel. — Seja legal — eu sussurrei. — Diga isso a ele — ele retorquiu. Ben abriu a porta e acomodou o saco entre nós. — Ah, bom. Você está acordada. — Ele estendeu a mão e tirou uma garrafa de Coca-Cola. — Eu não tinha certeza do que você iria querer então eu comprei isso e diet. Ah, e uma garrafa de água.


JESSICA VERDAY Peguei a Coca-Cola dele. — Obrigado, Ben. Isso foi muito legal da sua parte — disse. Caspian fez um barulho grosseiro da parte de trás. Em seguida, Ben tirou um saco verde e amarelo e o ergueu, dando-me um sorriso pateta. —Comprei uns Funyuns. Sorri de volta, e ele ligou o carro, indo para a estrada. Rebentando o saco para abrir, ele estendeu-o para mim. — Quer um? Vamos lá, os experimente. — Funyuns fazem você peidar — disse Caspian, e eu explodi em gargalhadas. — O que é tão engraçado? — Ben perguntou. Eu tentei parar de rir, mas Caspian estava inclinado para frente agora, com o rosto preso bem no meio de nós. — Funyuns lhe dá mau hálito, também. Não muito atraente para as mulheres. — Fez uma pausa. — Pensando bem... Aproveite o seu Funyuns, Ben! Eu tive que morder o lado da minha bochecha para não rir. O fato de que Ben não tinha idéia do que estava acontecendo tornou ainda mais difícil de parar. Caspian piscou para mim, e eu tomei um gole de refrigerante. Severamente dizendo a mim mesma para se acalmar, eu tentei pensar em alguma desculpa do porque eu estava rindo. — Eu apenas pensei que o nome era engraçado — disse. — Funyuns. São cebolas divertidas ou cebolas falsas19? É engraçado... Ben encolheu os ombros. — Sim, eu acho que o nome é engraçado. — Então, quanto mais tempo até chegarmos lá? — Eu precisava de uma mudança de assunto. — Cerca de duas horas e meia. A menos que ficarmos presos em um buraco de minhoca. Olhei para ele fixamente. — Um o quê? — Buraco de minhoca? — Você sabe, Star Trek? Porque vimos o filme.

19

perde.

No original fun onions ou faux onions. Com a tradução o sentido do trocadilho se


JESSICA VERDAY — Esse é o seu filme favorito? — Eu perguntei. — Star Trek? — Ele concordou, mas eu o cortei antes que ele pudesse dizer qualquer coisa sobre isso. — Ok, filme de comédia favorito. Não é Star Trek. Ele mudou de faixa na estrada, e passamos por um caminhão que transportava enormes bobinas de corda. — Zoolander. Qual é o seu? — Cafajestes da cidade. — Ele me deu um olhar surpreendido. — Sério? Eu não teria escolhido esse para você. — Eu sei certo? É um filme antigo. Mas eu amo Billy Crystal. Ele é muuuito engraçado. Eu gosto de praticamente qualquer coisa que ele está. Ele balançou a cabeça. — Você sabe qual era o filme favorito de Kristen? — Eu disse. — Não. — De volta ao Futuro. Essa é uma das coisas que tínhamos em comum, nós duas amávamos filmes antigos. Mas ela amava Michael J. Fox, também. Quero dizer, seriamente, o amava. Ele veio à Nova York uma vez para este projeto promocional, alguma exposição de arte ou algo assim, e Kristen ganhou bilhetes para ir vê-lo. Ela estava tão animada. — Você foi com ela? — Não. Eu realmente queria, mas ela só ganhou dois bilhetes, e já que ela era menor de dezoito anos, um adulto tinha que ir com ela. Você nunca vai adivinhar o que ela tentou fazer, no entanto. O rosto de Kristen nadou na minha frente, e meu coração se apertou dolorosamente. Mesmo as coisas boas que ela tinha feito ainda eram tão difíceis de falar. — A noite antes que eles deveriam partir, Kristen me chamou e me disse que ela estava doente, então eu teria que tomar seu lugar. Eu não acreditava nela, então eu fui até lá para ver. Ela tinha realmente pintado pontos vermelhos no rosto e me disse que era catapora. — Ben riu. — Ela se sentiu tão mal que eu não poderia ir que ela estava disposta a sacrificar o seu bilhete e dálo para mim.


JESSICA VERDAY — Ela realmente fez isso? — Ben disse. — Sim. É claro, eu a fiz ir, e ela se divertiu. Conseguiu apertar a mão de Michael, e não a lavou por uma semana. Mas eu nunca pude superar o fato de que ela iria desistir da única coisa que ela tanto queria, por mim. Ben e eu caímos em silêncio, e ficamos assim por mais uma hora, até que Ben viu uma placa para um McDonald‘s. — Está tudo bem para você?— ele perguntou, encostando no estacionamento. — Estou morrendo de fome. — Yeah. Isso é bom. Estou com fome também. Mas vamos comer lá dentro. Eu tenho que, um, usar o banheiro. Desafivelando meu cinto de segurança, olhei para o espelho retrovisor. —Não tenha pressa, Abbey — disse Caspian. — Vou esperar aqui. Dei-lhe um breve aceno e, em seguida, sai do carro, esticando meus braços e pernas enquanto eu caminhava para o McDonalds. Entreguei algum dinheiro a Ben, e disse o que ele deveria pedir para mim, então corri para o banheiro. Logo estávamos de volta no carro e na estrada novamente. — O cara no caixa disse que só temos cerca de 20 minutos até chegarmos a Shepherdstown — disse Ben. — É onde seu pai fez a reserva, certo? Alcançando a minha bolsa no banco de trás, eu cuidadosamente manobrei em torno da perna de Caspian e tirei um pedaço de papel com o endereço do hotel e número de confirmação rabiscado nele. — Sim. Vamos ficar no Shepherd‘s Inn20. Eu acho que a cidade é pequena demais para um Hilton. — Parece acolhedor — Ben respondeu. — Vamos torcer para que os lençóis estejam limpos. — E os telefones funcionem — Eu brinquei. — Caso contrário, se meu pai não conseguir completar a ligação, poderemos ter companhia amanhã.

20

A tradução literal seria Hospedaria do pastor


JESSICA VERDAY Ben seguiu as instruções que eu havia imprimido, e entrou em uma longa estrada de cascalho. Nós nos sacolejamos, atingindo buracos de metro em metro. — Você acha que eles poderiam ter feito este caminho com mais solavancos? — Eu perguntei, enquanto eu sacudia em meu lugar. — Talvez eles economizaram o seu dinheiro para o hotel. Jacuzzis, PS2s, TVs de plasmas, e um bar em cada quarto. — Eu tenho certeza que é o que eles fizeram — disse. — Absolutamente certa. Nós nos sacolejamos um pouco mais até que a estrada inexplicavelmente se suavizou e transformou-se em asfalto brilhante. Combinação de locadoras de filmes e lojas de bronzeamento começou a aparecer, e parecia que estávamos voltando para a civilização. Ben olhou uma das combinações de lojas quando passamos. — Por que você quer fazer bronzeado e então alugar um filme direito depois? Ou, alternativamente, alugar um filme, então fazer bronzeamento? Uma loja de isca — restaurante japonês apareceu, e ele olhou para mim com ambas as sobrancelhas levantadas. — Se eu não entender aquela de bronzeamento e aluguel, eu tão certo como o inferno que não entendo essa. — Você nunca sentiu vontade de comer sushi após um longo dia passado com botas de borracha e água lamacenta? — Caspian disse. Escondi meu sorriso quando eu olhei pela janela. — Eu não sei, Ben. Talvez as pessoas aqui realmente gostem de conveniência? — Ele bufou, mas não disse nada, e um grande prédio de tijolos com um toldo listrado veio à tona. Uma placa próxima a ele proclamava-o Shepherd‘s Inn. — Acho que encontramos. — Ben acelerou o Jeep para frente. — Eu espero que não seja uma clareira de boliche do hotel. Eu ri e logo em seguida me senti mal por rir do estado natal de Caspian, mas ele não parecia se importar. Nós estacionamos e saímos cada um de nós carregando nossas próprias bolsas, e Caspian seguiu atrás de mim. O interior do lobby era muito mais impressionante do que o exterior do hotel, e eu me virei em várias direções para assimilar tudo.


JESSICA VERDAY Mesas de vidro, arte vintage, tubos expostos modernizados e luminárias de latão davam ao lugar um estilo moderno do século vinte com apenas um toque de ficção cientifica. Até mesmo a funcionária atrás do balcão estava impecavelmente vestida com um elegante terno antigo. Ben nos registrou, e eu esperei a seu lado, enquanto a funcionária batia em seu teclado. — Aqui — disse ela, então franziu o cenho. — Eu vejo uma nota sobre a reserva solicitando quartos em lados opostos do corredor, mas os quartos que me restam que preencham esses requisitos são os quartos mais velhos. Vocês preferem dois quartos adjacentes e atualizados em vez disso? — Ela olhou para Ben, e depois para mim. Incerta de para quem direcionava a pergunta. — Quartos atualizados? — Ben iluminou. — Acabamos de ser comprados pelo Hilton, e os nossos quartos renovados oferecem um sistema de jogos no quarto, lanches e bebidas de cortesia, filmes grátis— — Nós vamos aceitá-los — disse Ben. A balconista acenou com a cabeça e bateu outra chave. — E essa cobrança ficará no cartão de crédito fornecido? Ela olhou por baixo do nariz para nós, como se nenhum de nós pudesse ter um cartão de crédito. — Sim — eu disse com firmeza. — É o cartão do meu pai— Houve mais batidas, e então ela entregou duas chaves de quartos. — No final do corredor e a sua esquerda. — Seguimos suas direções e chegamos aos quartos 304 e 306. Ben deslizou um dos cartões no leitor, e uma luz verde zumbiu. A porta do quarto 304 se abriu. — Acho que este é o meu — disse ele, e entrou. Eu deslizei meu cartão no leitor para o quarto 306. A porta abriu para dentro, revelando um quarto decorado em estilo parisiense de listras pretas e brancas com pequenos detalhes em vermelho de todos os lugares. Imagens grandes de engrenagens de metal e fábricas de vapor penduravam-se em molduras pretas brilhantes nas paredes. Caspian seguiu atrás de mim, e eu larguei minha bagagem no chão, em seguida, desabei sobre a cama. Ele vagava, verificando o quarto. — Você trouxe uma roupa de banho? — ele perguntou de repente.


JESSICA VERDAY Sentei-me. — Não, eu não achei que eu precisaria de um. Por quê? Ele apontou para o banheiro, que tinha uma parede de vidro transparente. A privada parecia estar em uma seção separada e seguramente escondida, mas o chuveiro estava à vista. — Porque isso vai ser divertido.


JESSICA VERDAY

Capitulo vinte e três A PARTIDA PERFEITA

Nesta iniciativa, no entanto, ele teve mais dificuldades reais do que geralmente sentia com um monte de cavaleiros andantes de outrora, que raramente tinha nada exceto gigantes, encantadores, dragões de fogo, e tal como facilmente conquistara Áries, lidar com ... - "The Legend of Sleepy Hollow"

Decidi não me preocupar com o banheiro ainda-não era como se eu pudesse fazer algo sobre isso de qualquer maneira e verificar a sala estava fora de cogitação para mim. Folheei os canais de TV, olhei o cardápio de serviço de quarto e experimentei o sistema de jogo, mas eu não conseguia descobrir. Era uma coisa complicada, com 29 botões. Uma hora depois Caspian estava sentado na única cadeira do quarto, enquanto eu me sentei na cama. — Alguma vez você já ficou em um desses hotéis maltrapilhos? — Eu perguntei a ele. — Com o papel de parede estilo anos setenta e bola de discoteca no teto? Ele balançou a cabeça. — Certa vez, quando eu era pequeno, meu pai teve que sair da cidade para alguma coisa, e eu fui com ele. Eu não me lembro onde foi, mas eu me lembro do hotel. O quarto em que ficamos tinha tapete felpudo e painéis nas paredes. — Eu sei o que você quer dizer. O serviço de memorial de foi realizado em uma pavorosa casa funerária, brega que tinha a mesma coisa.


JESSICA VERDAY — Eu sei — disse ele. — Eu estava lá. — Você foi? Eu não vi você. — Eu não fiquei muito tempo. Eu não queria ver você triste. Eu vi você no cemitério mais cedo naquele dia também. Sentada em uma cadeira perto do túmulo. Eu me lembrava. Eu pensei que tivesse sido uma sombra ao meu lado. — Eu gostaria de ter o reconhecido. Eu poderia ter — O telefone do quarto tocou, me cortando. Apanhei-o. — Alô? — Abbey, é o papai. Porcaria. Era para eu ter ligado assim que chegasse. — Hey, papai. — Como foi à viagem? E o hotel está bem? Você está sozinha em seu quarto? A recepcionista me disse que você está em salas contíguas. Fechei os olhos por breves instantes e massageei minhas têmporas. Será que ele vai me dar um sermão agora? — A viagem foi boa, papai. Acabamos de chegar, e eu estou em uma sala adjacente, porque eles estão fazendo um trabalho nos outros quartos. Isso é tudo o que tinham disponível. E sim, Ben está em seu próprio quarto. — Evitei a questão se você está sozinha. Que um era muito mais difícil de responder. — Ok— disse ele rispidamente. — Bem, lembre-se, eu estarei fazendo verificações de cama aleatória, por isso não tenha idéias. — Eu suspirei. — Eu não vou, pai. — Sua mãe está dizendo para ter um bom tempo e fazer muitas perguntas. — Eu farei. Tchau, pai. — Ele disse adeus, e eu desliguei. Quase imediatamente, o telefone tocou novamente. Eu disparei um olhar para Caspian assim que eu atendi. — Pai, isso não é... — Abbey, é Ben. Eu recebi um telefonema de seu pai também. — Desculpe Ben. Ele está apenas sendo ele mesmo, arrogante.


JESSICA VERDAY — Tudo bem. Você me avisou sobre isso. Hey, eu vou pegar uma pizza. Você quer um pouco? — Claro. Você sabe que eu gosto. — Eu me arrepiei quando me ouvi dizer aquelas palavras. — Na minha pizza... Eu quero dizer. — Sim, eu entendi. Eu te ligo quando chegar aqui. Será que você já verificou o canal de filmes? Vai passar alguns incríveis às oito. — Eu vou dar uma olhada. Desligando o telefone pela segunda vez, eu disse Caspian — Ben está mandando-nos uma pizza. — Com um lado de Funyuns? Mostrei a língua para ele. — Não, sem Funyuns.— Eu tirei meus sapatos e rastejei para trás até que eu estivesse encostada na cabeceira da cama. A cama era enorme, e as tampas eram feitas de um material branco macio que me fizeram sentir como se estivesse sendo engolida por elas. Como estava estendida, uma sonolência agradável começou a escorrer em minhas veias. — É estranho estar de volta aqui? Tão perto de casa?— Murmurei para Caspian. Minhas pálpebras estavam pesadas, e cada vez que eu piscava, elas levavam um pouco mais para abrir-se novamente. — Estranho? Sim, mas tudo isso é estranho. Estamos aqui para realmente procurar pela minha sepultura, ou estamos aqui para ficar longe de Vincent Drake e do Revenants? — Não sei — eu disse sonolentamente, finalmente cedi aos dedos de longo alcance do sono que estavam me puxando para baixo. — Isso é o que eu estou aqui para descobrir. Uma forte batida na porta ao lado me fez sentar em linha reta, e eu olhei ao redor descontroladamente. Eu não conseguia me lembrar onde eu estava. Em seguida, a bagagem no canto do chão me voltar à realidade. A batida continuou. — Caspian? — Eu resmunguei. Minha garganta estava seca, e eu tentei de novo. — Caspian?


JESSICA VERDAY As cortinas vermelhas se mexeram e se separaram. — Eu estou aqui. — Ele estava de pé atrás delas, olhando pela janela grande. — Eu estou bem aqui, Abbey. Alívio tomou conta de mim, e eu saí da cama, sentindo minha cabeça clarear a cada passo que eu dava. Meu pé esquerdo estava dormente, e eu cambaleei um pouco, mas eu fui até a porta ao lado. Quando a abri, Ben estava lá com uma caixa de pizza na mão. Eu não estava com muita fome, mas eu deixei-o entrar de qualquer maneira. — Você levou uma eternidade para responder — ele disse, entrando na sala e colocando a caixa sobre uma mesa próxima. — Eu caí no sono. Ele caminhou até um armário baixo ao lado da TV e abriu-o. — Eu não pedi bebidas, uma vez que temos o mini-bar. Você pode acreditar nisso? O que mais você poderia querer?— Olhei para o mini-bar incrivelmente bem abastecido. — Bom. Pegue uma Sprite pra mim. Ele agarrou a Sprite e uma Coca-Cola, e pegou o controle remoto da TV. — Quer ver alguma coisa enquanto nós comemos? — Eu peguei uma fatia de pizza e depois me sentei na beirada da cama. — Claro. Ben levou a caixa de pizza inteira para a cadeira e folheou os canais enquanto eu escolhia o meu pedaço. No momento em que ele se estabeleceu em Os Simpsons, eu já estava acabando de comer. Ele levantou-se logo que o programa tinha acabado. — Se importa se eu levar? — Ele apontou para a caixa de pizza. Havia ainda três fatias, mas eu não as queria. — Elas são todas suas. Acho que vou vê-lo amanhã, então? — Sim. Oh, hey, que hora você quer sair? O ferro velho do amigo do meu pai não abre até as dez. — Dez está muito bom. Noite, Ben. Desculpe com antecedência se o meu pai ligar de novo. Ele caminhou até a porta. — Sem problema. E se precisar de alguma coisa, você sabe onde eu estou.


JESSICA VERDAY Quando ele saiu da sala, parecia que uma corrida repentina de energia foi com ele. As cortinas se mexeram, e Caspian saiu. — Você comeu alguma coisa? — Perguntou ele. — Um par de mordidas. Eu não estava com muita fome. — A cama acenou, e eu deitei no meu estômago com a minha cabeça no travesseiro. A TV brilhou, e as palavras — Créditos de Apresentação — vieram em seguida, a música de introdução para um filme começou a tocar. Caspian sentou ao meu lado, mantendo uma distância cuidadosa entre nós. — Aproxime-se — eu sussurrei. — Chegue mais perto. — Ele se aproximou. Virei à cabeça para olhá-lo. Com uma mão, tentei traçar as emendas, mas eu escorreguei até o fim. Minha mão bateu na cama, e eu deixei-a ficar lá, uma polegada de distância dele. — Você vai cair no sono novamente, Astrid? — Ele meditou. — Um cara pode se ofender com isso. Você está tentando me dizer que eu sou chato? Eu tentei balançar a cabeça, mas só o meu rosto mudou-se para consolador, e eu me aconcheguei nisso. — Você não é chato, Caspian. Você... — Eu procurei no meu cérebro as palavras que ele usou antes. — Você me alegra. Seus olhos verdes foram à última coisa que eu vi antes de fechar os olhos novamente, mas ele abaixou e sussurrou: — Obrigado, Astrid. Doces sonhos. A próxima vez que eu acordei, eu estava realmente acordada. Não distorcida da cabeça e sem orientação. Pisquei uma ou duas vezes, perguntando por que ainda estava escuro, e olhei para o relógio. Eram 03h12m. Ainda estava de noite. Meus olhos rapidamente se ajustaram, e eu podia ver Caspian sentado na cadeira. — Oi — ele sussurrou. — Oi — eu sussurrei de volta. Na escuridão do quarto do hotel senti-o pequeno e intimista. — Eu me mudei para cá porque estava ficando impaciente — ele disse. — Ok. — Meu estômago roncou alto e envergonhando-me completamente. Caspian riu. — Com fome? — Eu acho. Eu não comi muita pizza.


JESSICA VERDAY — Eu vi uma máquina de balas automática no final do corredor — ele disse. — Vou pegar-lhe alguns snacks. — Não, tudo bem — Tentei protestar. — Você precisa comer alguma coisa — disse ele assim que meu estômago roncou novamente. — Deixe-me ir buscar algo para você. Por favor?— — Mas e se alguém te vir? Bem, não você, mas você sabe. Os lanches. Em movimento. Por conta própria. — São três da manhã. Ninguém está lá fora. Eu vou ser rápido. — Ele se levantou e virou em uma pequena lâmpada pela TV. Então ele se virou para mim. — Você tem, uh, dinheiro? Eu estou vazio. Eu cavei a minha carteira do meu bolso e entreguei-lhe um par de dólares. Então me lembrei do mini-bar com todos os lanches que eu poderia comer. Eu não expus isso, no entanto. Eu tinha de fazer xixi, e se esta era a única maneira de usar o banheiro sem ele no quarto, que assim seja. Eu tinha acabado de continuar enviando-o para lanches aleatórios. E quando fosse a hora de um banho, eu o mandaria para a máquina de venda automática no quarto andar, com uma lista muito longa. Ele pegou a chave. — Eu estarei de volta. Assim que Caspian saiu, corri para usar o banheiro. Então eu lavei meu rosto e escovei os dentes. Meu cabelo estava um pesadelo, mas ele se recusou a ser domesticado, então eu puxei ele para trás em um rabo de cavalo. Em seguida, eu abri minha mala e procurei. Cavando fundo através da pilha de roupas, peguei um conjunto de pijama branco com cerejas vermelhas impressas sobre ele todo. Dificilmente poderiam ser chamados de sexy, mas ele era bonito. E o material era de uma espécie pegajosa. Uma batida suave soou na porta, e eu retirei a minha roupa e coloquei o pijama. Caspian veio em um segundo depois, carregando um saco de pretzels, alguns chips, um pequeno burrito e uma barra de chocolate. — Um lanche principal, os dois lados, e


JESSICA VERDAY sobremesa. — Ele colocou o pacote na mesa, e então se virou para mim. — Bonitinho. Eu gosto dos botões correspondentes. Olhei para baixo. Meus botões estavam todos alinhados errado. — Oops. — Virei às costas para ele, gritei: — Não olhe — e eu endireitei-os. — Ok, tudo corrigido. — O olhar de Caspian demorou-se no meu botão de cima, então ele disse — Eu gostava mais do outro jeito. — Bem, eu sempre posso desfazê-lo se quiser.— Ouvindo essas palavras saírem da minha boca, parecia não muito bem como eu pretendia, eu corei e peguei o burrito. — Eu estou indo só para este calor até no microondas, e você pode esquecer que eu disse isso, ok. Seus lábios se puxaram para cima em um meio sorriso, e ele sentou na cama. Eu me concentrei no burrito por vinte segundos antes de me juntar a ele. Comi em silêncio, e me levantei para escovar meus dentes, logo que acabei de comer. Eu não queria ter guacamole preso neles. Quando eu saía do banheiro, ele tinha uma perna apoiada no edredom e estava olhando para um quadro pendurado na parede. Eu quis saber como o resto da noite seria. Ele iria ficar na cadeira ou no chão? Ou na cama... Comigo? — Diga-me o que você está pensando— ele disse, de repente, virando-se para mim. — O que eu estou pensando? Por quê? — Porque eu não consigo parar de pensar. E eu quero saber se você se sente assim também. — Ele parecia frustrado. — Você está pensando em tudo o que aconteceu? Que deveria ser. Você deve estar pensando por que os Revenants estão em Sleepy Hollow, e o que isso significa. Você deve estar pensando em Vincent Drake e como você pode permanecer segura. — Ele olhou para sua perna e puxou o tecido em seu jeans. — Você deve estar pensando em mim, Astrid. E como tudo isso está acontecendo por minha causa. — Estou pensando em tudo — eu disse. — Mas apenas uma coisa de cada vez. Há muito para raciocinar e eu tenho que armazenar tudo isso, ou ele vai assumir — Seus olhos encontraram os meus. — Estou com medo, Caspian. Medo do amanhã, hoje, tecnicamente, e o que ele trará. Eu não quero ver o seu túmulo para me levar de volta ao Dr. Pendleton. — Então vá para casa — insistiu ele. — Deixar esse lugar.


JESSICA VERDAY — Volte para Sleepy Hollow? Onde há Revenants que estão esperando por mim para morrer? Ou onde o menino louco que poderia ter matado a minha melhor amiga me espera? — Quando você coloca isso dessa forma, soa... — Parece loucura. Eu sei. Eu poderia estar mais segura aqui. Mas a coisa mais importante para enfrentar agora é você. — O que isso prova? Você já sabe que estou morto. — Não sei — eu disse a verdade. — Eu acho que é porque às vezes eu esqueço. — Estendi a mão para colocar em seu braço e sentiu o cobre macio em seu lugar. — Porque, além disso, às vezes eu esqueço que você não está realmente aqui e normal. — Desviei o olhar. — Confie em mim, eu gostaria de esquecer isso, mas eu acho que é importante. Ela se sente crucial. Você sabe o que eu quero dizer? — Eu só não quero que isso a machuque Astrid — disse ele. Suas palavras fizeram meu coração doer, e eu dei-lhe um sorriso triste. — Machucar é uma parte da vida. — Fiz um gesto impotente entre nós. — Isso dói. Mata-me não poder te tocar Caspian. Não poder beijá-lo. Não poder ouvir o seu coração batendo. — Fechei os olhos, sentindo as lágrimas ameaçando a cair. — Você pode desligar a luz?— Eu perguntei com uma voz vacilante. — Se eu começar a chorar aqui, eu realmente não quero que você veja. Um segundo depois o quarto ficou escuro com um clique suave. — Não chore Astrid — ele sussurrou em meu ouvido. — Por favor, não chore. Seus olhos grandes e lábios carnudos... Eles me desfazem. Eu não posso agüentar. Eu vou fazer de tudo para torná-lo melhor. Eu deslizei para trás e encontrei uma borda do cobre. — Dorme comigo?— Eu disse hesitante. — Só... Fique perto de mim. — Silêncio foi sua única resposta, e eu me senti tola. Ele não dorme. Então, por que ele iria querer apenas estar ao meu lado? — Vá para debaixo das cobertas — disse ele. Sua voz soou mais perto, como se ele estivesse me seguindo até a cama. Um calor perverso se espalhou através de mim e fez a minha pele doer. Puxei as cobertas e deslizei


JESSICA VERDAY entre os lençóis. As pernas de calças do pijama subiram até minhas canelas, e eu balancei ao redor para endireitá-las. — Você está deitada? — Caspian perguntou. — Mmm-hmm.— Contei até cem, e depois disse: — E você? — Eu estou aqui. — Ele parecia muito longe. — Chegue mais perto. Eu gosto quando você sussurra em meu ouvido. — Eu sou a favor. — O arrepio voltou. Ele estava muito mais perto agora, e eu dei um suspiro feliz. — Ponha sua mão em seu peito, sobre o seu coração — disse Caspian. Eu quase me virei para perguntar o porquê. — Sem perguntas — disse ele, antecipando meu movimento. — Só faça isso. — Sobre ou sob a minha blusa?— — Sob — ele respirou. — Pele com pele. Meu corpo se aqueceu novamente. Colocando uma mão sobre meu coração, senti-o batendo forte como uma borboleta presa batendo as asas freneticamente. — Feche os olhos — ele sussurrou. Segui suas instruções. Então eu o senti. Se eu não tivesse me concentrado, eu poderia não ter percebido. Meu braço esquerdo e perna formigaram por um segundo, e então o meu braço direito e perna formigaram, ao mesmo tempo. — Você sente seu coração? — Suas palavras voaram para baixo no meu rosto, e eu sabia que se eu abrisse meus olhos, eu o veria em cima de mim. Isso deveria ter me assustado. Deitada na cama com um rapaz que estava praticamente prendendo-me para baixo. E, no entanto, eu não estava. Eu não poderia. Senti-me bem com ele. Segura. E perigosa. E vibrante. E emocionada.


JESSICA VERDAY Eu tive que umedecer os meus lábios antes que eu pudesse responder-lhe. — Eu sinto isso. — Se eu pudesse tocar qualquer coisa no mundo agora, seria o seu coração. Eu quero levar esse pedaço de você e mantê-lo comigo quando estiver sozinho no escuro. — Sua voz doía, e eu doía junto com ele. — Eu quero sentir o seu coração também — eu sussurrei. — Finja — disse ele. — Você pode fazer isso? Finja que estou vivo e não há nada entre nós. Absolutamente nada. Eu sou real e quente e vivo. Meus olhos se abriram, e eu só podia mal ver os contornos do seu rosto. Segurando a minha mão firme sobre o meu coração, eu desejei que eu pudesse ver seus olhos. — Nada está entre nós, Caspian — eu sussurrei. — Eu sou a sua outra metade. Assim, metade disso? Metade deste batimento errático? É seu. Eu carrego seu coração no meu As tampas tremeram ao meu redor. Ele estava apertando as mãos. — Como você pode fazê-lo, Abbey? Como você pode me amar? Eu não tenho nada para oferecer. Nada para lhe dar. Eu nem sei quanto tempo vou ficar assim. Você estaria melhor fora... — Pare — ordenei-lhe suavemente. — Pare com isso. — Mas Ben — Seria melhor para mim? Teria mais a me oferecer? — Ele ficou em silêncio. — Você não acha que eu sei disso, Caspian? Você não acha que eu tenho pensado sobre isso? — Sua voz estava calma, mas ele disse: — Você tem? — Sim. Eu tenho. Na noite da minha festa de aniversário. Quando cheguei de volta. Todas as vezes que eu estivesse tentando tão dificilmente tirar você da minha cabeça. Eu tenho pensado sobre isso um milhão de vezes. Ele se afastou, e o espaço entre nós aumentou. Sentei-me um pouco, aproveitandome em meus cotovelos para diminuir o espaço. — Eu não digo isto para te magoar, amor. — O carinho saiu sem que sequer pensasse nisso. — Estou dizendo isso para que você saiba que eu fiz uma escolha. Eu escolhi você. Antes que de saber que você estava morto... E depois.


JESSICA VERDAY — Diga isso novamente — disse ele. — Chame-me de seu amor. Eu queria tanto tocar seu rosto, fazê-lo ver o quanto ele significava para mim, que meus dedos doíam com a sua falta. — Amor, amor, amor. Eu escolhi você livremente, amor. Antes que eu soubesse sobre os Revenants e sendo sua outra metade destinada. Pensei em todas as maneiras que eu poderia estar com Ben — Oh Deus, Abbey — ele sussurrou. — Você está quebrando meu coração aqui. — Não — eu disse. — Não permita isso. Sinto muito, estou me enrolando. — Rolei longe dele, puxando os meus joelhos até meu peito. Lágrimas quentes ameaçaram derramar-se e eu atolei minhas mãos em meus olhos para detê-las. — Estou com muito ciúme dele — admitiu Caspian. — Cada sorriso que ele ganha de você. Cada riso. Eu tenho ciúmes de um nerd que assiste Star Trek e come Funyuns, pelo amor de Deus. — Ele riu amargamente. — Eu vejo o olhar em seu rosto, e eu sei... Eu sei como ele se sente. Mesmo que ele não admita. Porque eu sinto isso também. — Eu tirei minha mão do meu rosto e engoli em seco. — Sinto muito, Astrid — disse ele. — Eu sei o que você estava tentando dizer. — Ben é um grande cara, Caspian. Ele é. Mas ele não é você. Você é... De chocolate, ele de baunilha. Ele funciona para algumas pessoas, mas não pra mim. — Com granulado? — Perguntou. — Granulados são bons. — Talvez nozes em vez de granulados. — Sorri para a escuridão. — Qualquer um que pode sair em um mausoléu todo o dia tem que ser um pouco de noz. — Acho que sou o par perfeito, então, para uma menina que gosta de visitar um cemitério. — Falou cada sílaba de modo que soava como uma canção de amor. Fechei os olhos, saboreando as palavras. — Uma combinação perfeita — murmurei. — Minha outra metade.


JESSICA VERDAY

Capítulo Vinte e quatro Cara a cara Ela foi um pouco além de uma sedutora, como pode ser percebido até mesmo no seu vestido, que era uma mistura de formas antigas e modernas, era o mais adequado para mostrar seus encantos. — A lenda de Sleepy Hollow

Um baque abafado e uma chamada de casa me acordaram mais tarde naquela manhã, eu coloquei o travesseiro sobre a minha cabeça para tentar bloquear o som. Uma pequena explosão de batidas ecoou na porta, e eu gemia em voz alta. — Não, obrigada — eu falei, levantando a minha voz para que pudesse ser ouvida através da porta. Bateram de novo. — Eu não preciso de qualquer serviço de quarto! Vá embora! — Foi rude, mas eficaz, e eles se moveram para a próxima sala. Eu senti o lençol escorregar quando eu rolei para o lado, mas eu só fiz uma tentativa indiferente para agarrá-lo. Ele se agrupou em torno de mim, e eu senti o ar fresco na minha barriga exposta. Eu me aconcheguei mais em meu travesseiro... E então meus olhos se abriram. Caspian estava deitado ao meu lado. Eu puxei o meu pijama de volta para baixo. Não é pior do que se eu usasse um biquíni, eu tentei dizer a mim mesma. Sua barriga também iria ficar a mostra, também.


JESSICA VERDAY Mas eu não podia encontrar seus olhos. Eu tinha certeza que meu rosto estava totalmente vermelho. — Então — disse Caspian. — Como você dormiu? Meu cérebro estava gaguejando, mas aparentemente a minha língua não tinha tais problemas. — Tudo bem. Bom. Ele se inclinou mais perto. Eu inalei acentuadamente ante sua proximidade. — Eu quero acordar com você todas as manhãs — ele disse. — Exatamente assim. Aquele sentimento familiar de arrepio me assaltou novamente e fez meu cérebro pensar coisas ilegíveis. — Eu deveria chamá-lo de pervertido — eu finalmente respondi. — Pare de me olhar enquanto eu durmo. — Foi uma tortura. Olhar e não tocar... — Hey! Quanto você ficou olhando? — Eu disse, indignada. —... Não muito. — Ele sorriu para mim, seu cabelo caindo em um olho. — Só lamento não ter meu bloco de desenho. O verdadeiro crime aqui é não estar capturando tal beleza. Eu balancei a cabeça para ele. — Essa é uma boa linha... Mas agora eu preciso de um chuveiro, e você vai ter que sair do quarto e voltar quando eu terminar, ou ficar com os olhos fechados o tempo todo. E eu vou saber se você estiver espiando. — Eu vou ficar no quarto com você. E eu não vou olhar. — Eu estou confiando em você. — Claro que você pode confiar.


JESSICA VERDAY Seu rosto estava sério, e eu poderia dizer que significava que ele estava prometendo. Indo em direção ao banheiro, eu falei — Ok, feche-os.— Ele fez, mas eu ainda olhei para ele, para ver se ele estava mantendo sua palavra. Ele estava. Liguei a água, ajustada a temperatura, e momentaneamente esquecendo tudo sobre Caspian, logo que a água quente me atingiu. O chuveiro era relaxante e exatamente o que eu precisava. Sinceramente, me arrependi do momento que eu desliguei. Sequei-me com uma toalha que estava debaixo do rack, em seguida, envolvi-o em torno de mim. Outro olhar para Caspian me disse que ele estava virado, assistindo TV. Quando abri a porta do banheiro, uma nuvem de vapor escapou comigo. O tapete era suave em meus pés descalços, e eu esfreguei meus dedos do pé, curtindo a sensação. Uma toalha tipo turbante em volta da minha cabeça começou a se desmanchar, assim eu o alcancei para prendê-lo. Atrás de mim a TV desligou. Eu congelei consciente de que eu tinha que ser cuidadosa enquanto me movia, ou então a toalha enrolada em volta do meu corpo poderia escorregar. Girei lentamente, eu prendei os olhos nos de Caspian, e ele curvou seu dedo, chamando-me para aproximar. Eu não pude resistir. Ele levantou-se da beira da cama e me encontrou no meio do caminho. Eu não poderia dizer no que ele estava pensando. Meu coração parecia que ia explodir do meu peito. — O seu rosto está rosado — observou. — E você cheira tão bem. — Ele soltou um pequeno gemido, e eu recuei um passo, de repente sentindo desconfortável. Minha mala estava no chão atrás de mim, e eu esbarrei nela. — Estou em desvantagem aqui. — Eu tentei rir. Tentando me distrair deste momento estranho que eu não sabia como reagir. — Você está completamente vestido, e eu estou vestindo apenas uma toalha.


JESSICA VERDAY Em um instante ele tirou a camiseta cinza escuro que usava. Os círculos pretos da tatuagem em seu braço esquerdo piscavam quando ele se movia. — Agora estamos um pouco iguais. Desejo me atingiu como uma pedra, quando olhava para seu peito nu, e me perguntei do que será sua pele tinha gosto. Ele estava tão... Masculino. Tão bonito. Mordi o lábio para não gemer, e Caspian soltou um suspiro. — Você está tão incrivelmente sexy agora. Um pequeno diabo mau me estimulou a ser ruim, e eu tirei a toalha enrolada em volta da minha cabeça, jogando meus cabelos para o lado para que deslizassem por cima do meu ombro. Mordi com mais força meus lábios, eu sussurrei — Espera — e desapareci no banheiro de novo. Eu agarrei o meu frasco de creme do balcão, voltei para Caspian, me sentei em cima da minha mala. Desta vez, eu era a única a ir até ele. Eu apoiei meus pés no tapete. Um joelho foi exposto, e eu levantei a toalha um pouco mais até que minha coxa inteira estava exposta. O pensamento de que eu estava brincando com fogo passou pela minha cabeça, mas eu empurrei-o fora. Eu estava com vontade de me queimar. Queimar, mesmo. O cheiro de baunilha flutuava em torno de nós quando o abri e coloquei um pouco na minha palma. Caspian assistiu atentamente cada movimento meu. Passei minha mão para cima e para baixo da minha perna, suavizando a loção. A sensação era aumentada pelo fato de que ele estava lá comigo. Gotas de suor se reuniram na minha testa, e eu rapidamente enxuguei-as. — Está quente aqui — eu sussurrei. Caspian lambeu os lábios, e um músculo em sua mandíbula apertou. — Você tem outra. — Outra? — Outra perna — ele disse.


JESSICA VERDAY Eu sorri. — Você está certo. — Colocando um pouco mais de loção, eu massageava minha panturrilha e outras partes trabalhando até chegar ao meu joelho. Fechei os olhos, imaginando sua mão lá, na minha perna... Quente e firme... Deslizando para cima da toalha... Acariciando a minha pele... A garrafa de loção, de repente caiu da minha mão e rolou, batendo contra a mesa com um baque. Um instante depois, a lâmpada caiu no chão. Eu pulei e encontrei os olhos de Caspian. Ele parecia tão surpreso quanto eu. Houve uma batida na porta e, em seguida, Ben disse — Abbey? Você está bem? Deixei escapar um suspiro de frustração e coloquei meu cabelo atrás da orelha. As batidas continuaram, e eu olhava para Caspian. — Nós vamos terminar isso mais tarde — ele prometeu. Em pé, senti meus joelhos um pouco vacilantes e fui abrir a porta ao lado. — Lembre-se, você está com uma toalha — Caspian gritou. Olhei para baixo e puxou-o ao meu redor mais apertado. Abri a porta um par de centímetros, e coloquei meu rosto perto dele. — Ben, eu estou bem. — Você tem certeza? Eu ouvi um grande estrondo. — Sim, eu só derrubei uma lâmpada. — Você está quase pronta para ir — Disse. — Acabei de sair do chuveiro. Eu não estou vestida ainda. Dê-me dez minutos. — Oh. Okay. — ele Afastou-se, e eu fechei a porta. Voltando à minha mala para pegar algumas roupas, eu disse a Caspian,


JESSICA VERDAY — Nós estamos indo em cerca de dez minutos. — Eu estou pronto — disse ele, cruzando os braços sobre o peito. — Você não está esquecendo-se de algo?— Eu olhei para seu peito nu. — A sua camisa? Seus músculos flexionados. — Você parecia gostar dela fora. Eu poderia simplesmente andar por aí assim. Ninguém iria ver. Minha boca ficou seca. — Eu, hum... Sim. Então, o senso comum me chutou. — Mas eu não quero ser distraída durante todo o dia. — Eu abaixei minha cabeça e vasculhei a mala, tirando um jeans e uma camiseta preta. No banheiro, sequei o cabelo e me vesti privacidade firmemente no lugar. Toda minha impetuosidade tinha me abandonado. Quando saí, Caspian estava esperando na porta. E sua camisa estava de volta. — Gostava mais da outra roupa — ele disse. — Eu não tenho idéia do que você está falando. — Mas eu dei apenas o menor dos sorrisos. — Só espere até que você dormir — ameaçou. — Eu estarei te olhando até meus olhos caírem. Peguei meu celular do lado da cama, e logo antes de abrir a porta, pisquei para ele. — Promessas, promessas. — Ele sorriu, e fomos ao encontro de Ben. Descobrimos a Universidade de Shepherd muito facilmente, e Ben me deixou no campus principal.


JESSICA VERDAY — Você vai ser capaz de encontrar um lugar para comer aqui, certo? — Ele perguntou. — Eu vou ficar bem, Ben. Eu sou uma garota crescida. — Okay. Eu vou ajudar no ferro-velho o dia todo, então eu vou estar de volta em torno das seis. Acenei e esperei até que ele ficasse fora de vista. Então eu abri meu celular e liguei para a empresa de táxi que eu havia programado, e dentro de dez minutos depois o táxi estava nos pegando. — Martinsburg — Eu disse ao motorista. Caspian ficou em silêncio ao meu lado. Assim que atingiu o centro da cidade, o taxista perguntou onde eu queria ser deixada. Estávamos ao lado de uma loja de flor, então eu disse: — Aqui está bom — empurrei um pouco de dinheiro para ele. Caspian saiu primeiro, e eu segui rapidamente atrás. Quando o taxi partiu, me virei para Caspian. — Alguma coisa parece familiar? — As ruas estavam vazias, então eu não tinha que se preocupar muito com qualquer um me vendo falar comigo mesma. — Sim. É claro. Isto é a minha casa. — Aonde você quer ir?— Eu perguntei a ele. — Isso é com você — Ele disse. — Esta é a sua visita. Eu balancei a cabeça. — Você quer andar por aqui por um tempo? Você podia me falar sobre a cidade. Ele sacudiu a cabeça em algum tipo de sim, e começou a andar. Corri para alcançálos, e esperei que ele dissesse alguma coisa. Ele ficou quieto por um longo tempo. Finalmente, quando passamos por uma loja de balão, ele falou. — Está vendo aquela porta ali?— Estiquei o pescoço e vi uma porta de vidro. — Eu cortei meu pé nela. Abri o canto superior direito. Há esta peça de metal que atua como um


JESSICA VERDAY suporte que para a porta. Mas eu estava de sandálias, e foi bem por cima delas. Tomei doze pontos. Eu me encolhi. Eu não gostava de pensar nele sangrando. Viramos a esquina e deixamos a Main Street para trás. Isso só ia. Uma quadra, depois da outra. As ruas mais sujas aumentaram, e as casas ficavam sujas, quanto mais longe íamos. Fileiras de casas, praticamente uma em cima da outra. — Isso é estranho — eu disse para Caspian. — Não tem crianças brincando lá fora. Uma vez que eles estão fora da escola, eu esperaria vê-los nos quintais ou na rua. — Não havia muitas crianças quando eu morava aqui — Ele respondeu. — São principalmente pessoas idosas que não podem pagar lares de idosos. Eles realmente não podem pagar suas próprias casas, também. — Oh — Isso foi triste. No final do quarteirão Caspian parou em frente de uma pequena casa cinza que ficava ao lado de alguns trilhos de trem. As janelas eram pequenas e sujas, e não havia percianas. — Lar doce Lar — Ele disse. — Isto é onde você viveu?— Eu tentei manter a surpresa da minha voz, mas não era o que eu estava esperando. Ele chutou uma pedra solta. — Yup. Esta foi a minha casa. — Movendo mais perto, ele abaixou em uma das janelas da frente. Eu vim para o lado dele e olhei. — Tem alguém em casa?— Eu sussurrei. — Provavelmente não tem ninguém vivendo aqui. — Ele tentou abrir a porta, mas estava trancada. Duas ou três latas de tinta, meia dúzia de pincéis, e algumas garrafas de cerveja vazias estavam espalhadas pelo chão da pequena cozinha.


JESSICA VERDAY — Alguém redecorando — eu disse. Caspian sentou-se em uma laje de concreto em frente da casa e colocou sua cabeça entre as mãos. — Espero que retirem essa droga de tapete da cozinha. — Tapete da cozinha? Isso é estranho. — Conte-me sobre isso. Toda a casa foi remendada com fita adesiva e goma de mascar. Torneiras só funcionavam metade do tempo, o chuveiro não tinha água quente, e você não poderia usar mais de duas tomadas ao mesmo tempo ou a caixa de fusíveis o iria explodir. A casa era uma armadilha mortal. Ele parecia envergonhado, e eu pensei sobre a casa que eu vivia. Claro ela rangia e quebrava de vez em quando, mas era grande, espaçosa e remodelada. Eu nunca tive que me preocupar com o que eu costumava ligar, ou se eu tinha ou não água quente. — Ainda era sua casa, e eu estou feliz que eu tenha visto — eu disse a ele. — É uma parte de sua infância. — Uma parte que eu prefiro esquecer. — Caspian andou para longe de mim e chutou uma pedra novamente. — A única coisa boa sobre esta casa foi a ferrovia. — Siga-me. Ele me guiou aos trilhos de trem, e chegamos a um barranco íngreme, que resultou em um tubo de drenagem na parte inferior. Após descer, ele chegou por trás do tubo e parecia estar balançando uma parte dela. — Está solta — ele me chamou. Eu fiquei no topo do aterro até que ele fez sinal para eu descer. Em sua mão havia uma caixa de pequenos charutos. Ele olhou para mim com tanto orgulho no rosto que uma doce alegria inundou meu coração. — Ela ainda está aqui. Minha caixa de tesouros de quando eu era criança. Não havia muitos itens, mas ele os puxou um por um, me mostrando todos eles.


JESSICA VERDAY — Aqui está um cartão de beisebol de Mike Schmidt, o meu favorito, um pé de coelho da sorte... — Não foi sorte para o coelho. Caspian sorriu para mim e continuou falando. — Um homem CEGO, um medalhão da sorte, e aqui... O melhor para o final. — Ele inclinou a caixa, e flashes de prata e cobre piscaram sob o sol. — Me dê-me sua palma. Coloquei minha mão plana, e ele deixou cair um pedaço completamente liso e achatado de metal prata. Olhei para baixo, reconhecendo as marcas esticadas. — É vinte e cindo centavos! — Eu disse. — O que aconteceu com a moeda? — Eu a coloquei nos trilhos e um trem a achatou. Costumava fazer isso todo o tempo quando eu era criança. Aqui está dez centavos, um centavo, e cindo centavos que estão todos achatados também. Ele deixou cair o resto na minha mão, e elas chiaram juntas. Eu fechei meu punho, sentindo a suavidade gelada, e imaginei Caspian como um menino. — Eu aposto que você era adorável — eu disse suavemente. — Quando você era pequeno. Ele deu de ombros e olhou para trás na direção da casa. — Eu era o garoto estranho e quieto que desenhava o tempo todo. Eu tinha um casal de amigos, mas ninguém especial... Eu olhei para ele, desejando poder ter visto o menino que ele já foi. — Eu teria sido sua amiga. — Ele sorriu para mim. — Eu sei que você teria Abbey. — Ele empurrou a caixa de charutos para mim. — Aqui. Tome. — Mas eu não posso. Eles são seus tesouros.


JESSICA VERDAY Ele segurou a caixa ainda mais para mim. — Eu sei. É por isso que eu quero que você os tenha. Eles são tudo que me restam da minha infância, e é um pedaço de mim que eu quero lhe dar. Medo da rejeição estava escrito por todo seu rosto, e meu coração quase quebrou por ele. Com a caixa, coloquei as moedas de volta para dentro e a embalei suavemente. — Obrigada, Caspian. Sinto-me honrada. Minhas palavras pareciam fazê-lo feliz, e ele sorriu para mim. Foi contagiante, e eu sorri de volta. O sol quente batia nas nossas costas, e naquele momento eu sabia que não havia sentimento mais gratificante no mundo. — Você quer ver a minha escola primária?— Ele perguntou quase timidamente. — Absolutamente. Coloquei a caixa debaixo do braço, e subimos de volta até o aterro. Ele me levou por trás de sua antiga casa e para baixo por várias ruas, até que chegamos a um pequeno prédio de tijolos vermelhos. ESCOLA PRIMÁRIA DE MARTINSBURG DESDE 1842. Foi esculpida por cima da porta da frente. Vai Bulldogs! Foi pintado com letras desbotadas de vermelho e branco ao longo do lado do edifício. — Casa dos bulldogs, huh?— Eu perguntei, caminhando em direção à escola. — Melhor equipe de basquete desde... Bem, nunca. A equipe aqui é uma merda. Eu ri e vi uma porta lateral. — Devemos tentar? Você acha que está aberta? Quais são as chances? — Não é muito boa — Caspian disse, mas ele me seguiu. Eu agarrei a barra de metal prata empurrei com um toque leve, e a porta abriu.


JESSICA VERDAY Atravessamos o pátio e entramos na escola. Os corredores tinham aquele cheiro clássico e velho — papéis, borrachas, tênis novos e velhos, café e comida — Enruguei meu nariz. — Espero que eles arejem este lugar antes do novo ano escolar começar. Caspian não respondeu. Ele estava muito ocupado olhando para as fileiras de fotos em preto-e-branco de varias classes penduradas no corredor. A maioria delas estava escondida atrás de um vidro empoeirado com armação desbotada de madeira. Virei-me para as fotos. — Você está aqui?— Eu tentei encontrá-lo, pelo seu cabelo, mas as fotografias estavam amareladas e granuladas. Ele colocou um dedo em um quadro, e eu me inclinei para ver onde ele estava apontando. Mesmo com a coloração desbotada, eu reconheci o cabelo e os olhos. — Aí está você — eu sussurrei. Ele estava com uma camisa xadrez e calça marrom, seu sorriso ansioso mostrava um dente da frente faltando. — Eu estava certo. Adorável. Ele se virou e me deu o mesmo sorriso como o da foto, e eu ri. — Eu sabia. Você ainda tem nove. Caspian concordou e passou o dedo sobre o quadro de vidro mais uma vez. — Sinto como se fosse uma vida inteira atrás. Sua voz era melancólica, e depois mudou abruptamente. — Eu tenho mais uma coisa para te mostrar. Nos fundos. Saímos da escola, e ele me levou para onde um pequeno playground cercado estava. Era surrado e, obviamente, não muito bem cuidado. A pintura descascada nas barras vermelha e amarela, e da cadeira do balanço tinha apenas dois balanços, ambas com assentos de madeira rachados. Uma pequena fila de prancha de madeira criava uma arquibancada no canto do pátio, olhando para o que parecia um campo de beisebol.


JESSICA VERDAY Caspian me levou lá. Ele se abaixou e olhou por baixo do assento em primeiro lugar. — Aqui em baixo. Abaixei-me também, e vi uma confusão de iniciais esculpidos, mal vendo o CV.

*** — Tudo o que você comeu desde a noite passada foi um pedaço de pizza e um burrito. Você precisa comer mais. Vá encher o estômago com algum alimento. Eu vou esperar por você aqui. Eu quis protestar, mas ele tinha um ponto. E os cheiros agradáveis de cachorroquente à deriva para fora da loja estavam lentamente começando a despertar o apetite adormecido... Entrei e peguei um saco de batatas fritas, um cachorro-quente e uma lata de refrigerante. Eu praticamente engoli a comida, provando que eu estava com mais fome do que eu pensava, e voltei para o balcão para comprar um pacote de chicletes. Eu peguei um pedaço de frescor mentolado e mastiguei completamente, na esperança de disfarçar qualquer sobra do cachorro quente na minha respiração. Caspian estava esperando fora da loja, o sol refletindo nos seus cabelos. A cor branco-loiro praticamente brilhava. — Pronto para ir?— Eu perguntei a ele. — Onde agora? — O cemitério. Ele liderou o caminho, e eu o segui em silêncio. Enquanto caminhávamos, uma nuvem passou por cima do sol, diminuindo a luz que nos rodeava, e seu cabelo não brilhava mais.


JESSICA VERDAY Tentei prestar atenção para onde ele estava me levando, mas eu me perdi e não podia dizer para qual direção estávamos indo. Ele moveu-se rapidamente, e eu encontrei-me correndo para acompanhá-lo à medida que ele começou a descer uma estrada de cascalho. A igreja de madeira branca apareceu, com um pequeno cemitério em frente a ela. Havia uma cerca escura de metal que cercava o cemitério, e um sinal arqueado entre os dois postes principal. — Bem vindo ao Cemitério de São José — Caspian disse. — O meu lugar de descanso final. Coloquei uma mão no poste de metal e respirei fundo. É isso. Eu estou aqui. O cemitério era minúsculo muito diferente daquele em Sleepy Hollow. Não havia mausoléus, lápides esculpidas, estátuas de anjos... Nenhuma estatua afinal. Apenas simples marcadores quadrados de granito com nomes gravados e datas. Fui até a primeira pedra. Dizia: WALTER ROSA, NASCIDO 07 julho de 1923, MORTO 21 de agosto de 1983. Não havia — amado marido— ou — ele fará falta. — Apenas um nome vazio com uma data vazia. — Estou aqui — Caspian disse, e eu olhei para cima. Ele estava de pé em uma pequena pedra cinzenta, claramente separada. Forçando um pé na frente do outro, me movi propositadamente para ele. Esse era o motivo pelo qual eu vim até aqui. Para vê-lo. O real. Eu me preparei para as lágrimas que podiam surgir e me concentrei no meu pé. O pé esquerdo. Pé direito. Mover um, depois o outro. Sua cabeça estava inclinada quando cheguei nele, e senti-me desabar. De repente, o chão estava debaixo de mim. A pedra bruta pegou a ponta dos dedos. C, para Caspian. V, para Vander. Ele estava aqui. Eu abro meus dedos e toco o resto do seu nome. Fechando os olhos, eu imaginei...


JESSICA VERDAY Caspian em um terno preto, olhos fechados, cabeça sobre um travesseiro de cetim branco. Mogno polido em torno dele, então se fechando. Selado para sempre. Sujeira fresca. Rica e escura caio com um baque oco contra o seu caixão fechado. Grama nova. Crescendo lentamente. Folhas minúsculas que aparecem a partir de sementes plantadas tantos meses atrás. As imagens invertidas, e novas imagens começaram a passar. Terno preto, cabeça baixa, a chuva escorrendo, o funeral de Kristen. Chorei sobre o túmulo dela, na noite do baile. Caspian me encontrou no rio... E me salvou. O céu estrelado. O colar que ele me fez. Sozinho em sua cripta, curvado sobre uma pequena vela e trabalhando com as mãos para fazer algo bonito. Deitado na minha cama. O verde brilhante sobre as nossas cabeças. Minhas próprias constelações privadas colocadas lá para que eu pudesse tê-las a qualquer momento. A biblioteca... Cheirava a livros e papéis velhos. Sua mão segurando a minha. A mecha preta caindo em um dos olhos. Um beijo... Meus olhos se abriram, e eu engasguei. Caspian estava ao meu lado em um instante, ajoelhando sobre a grama. — Você está bem? Fale comigo, Abbey. Com uma mão em seu nome esculpido na pedra, eu me firmei e trouxe a outra até seu rosto. O sentimento era mais forte aqui, e eu segurei meus dedos trêmulos no lugar. — Não faz mal, Caspian. Eu pensei que sim. Pensei que poderia ser demais suportar. Mas não. Um sentimento de temor veio sobre mim, e eu olhei para ele com espanto. — Se eu sou forte o suficiente para lidar com isso, então eu sou forte o suficiente para lidar com tudo aquilo que vier do meu jeito.


JESSICA VERDAY Palavras em silêncio que eu não disse flutuavam na ponta da minha língua. Fantasmas... A morte... Caspian virou a cabeça ligeiramente para aproximar-se da minha mão, e mil pequenas cargas elétricas irromperam sob a minha pele. — Você sente isso? — Eu sussurrei. Ele balançou a cabeça. — Deve ser porque eu sou mais forte aqui —. Eu balancei minha cabeça. — É mais forte porque você está aqui. — Puxei minha outra mão longe da pedra e coloquei sobre o meu coração. Mantendo meu olhar firme, eu sorri para ele. — Eu finalmente o senti isso agora. O pedaço faltando. Ele me deu um olhar confuso, então eu tentei explicar. — Quando Kristen morreu, pareceu que meu coração se estilhaçou em milhões de pedaços. E não importa o que eu fizesse, ou como eu tentava melhorar, eu não podia. Então eu conheci você. E começou a cicatrizar. As rachaduras foram embora, pouco a pouco. — Eu não sabia que todas as peças estavam lá com exceção de uma. Mas agora, estar aqui, com você, finalmente se encaixa. Nós nos encaixamos, Caspian. Eu me sinto inteira. Aqui, neste lugar. E eu vou fazer de tudo para segurar isso. Eu trouxe a minha mão para baixo de seu rosto e coloquei as duas mãos juntas em cima da lápide. Quase como se eu estivesse orando. — Mesmo se isso signifique que eu só possa tocá-lo um dia por ano. Vou aceitar isso. — Virei meu rosto e senti o calor do sol. — Eu quero você, Caspian. Eu quero o seu corpo, seu coração e sua alma. E qualquer parte no meio. Eu tomei uma respiração profunda. Esta foi à parte assustadora.


JESSICA VERDAY — Isso só deixa uma questão a ser respondida. — Eu queria desviar o olhar. Eu queria tanto não ver a hesitação ou relutância, passando em seu rosto. Mas eu tinha que saber. — Você me quer? — Para sempre — ele disse. E na quietude silenciosa, a autoridade silenciosa de um voto solene correu por trás de suas palavras. — Eu quero você para sempre.


JESSICA VERDAY

Capítulo Vinte e Cinco Lamentável

O que se passou nessa entrevista, eu não pretendo dizer, pois na verdade eu não sei. — A lenda de Sleepy Hollow

Ficamos no cemitério pelo resto da tarde. Quando chegou a hora de voltar para a Universidade Shepherd, eu encontrei Ben na hora e fomos para o hotel. Ben falou sobre o ferro-velho o tempo todo. Eu balancei a cabeça e escutei com uma orelha, mas eu realmente não estava prestando atenção. Meus pensamentos estavam em Caspian. Eu não sabia o que aconteceria quando voltassemos para o hotel. O que poderia acontecer. Ben sugeriu que nós fossemos ao chinês para o jantar, e eu peguei o suficiente da conversa para concordar. — Sim, soa bem. Ele parou na loja-restaurante chinês, mas ambos estávamos com muito nojo de comer lá, então sugeri que encontrassemos em outro lugar. O lugar mais próximo acabou sendo a quase uma hora de distância, mas valeu a pena, e voltamos para o hotel com várias caixas de sobras. Ben as levou para dentro e me acompanhou até minha porta. Eu só queria lhe dizer boa noite para que eu pudesse passar o resto da noite a sós com Caspian.


JESSICA VERDAY Ele começou a remexer as caixas assim que eu retirei a minha chave do quarto. — Você tem certeza que não quer nenhum desses? — Ele segurou um para mim. — Você pode ter a fome da meia-noite. — Eles são todos seus. Ele olhou para o chão. — Você quer vir assistir a um filme ou algo assim no meu quarto, então? Eu me sinto mal. Eu não cheguei a lhe perguntar-lhe nada sobre a escola. Enfiei a chave no leitor de cartão e abri a porta. — Isso é para o passeio de carro de seis horas para casa amanhã. — O telefone no meu quarto começou a tocar e eu olhei para ele. — É provavelmente o meu pai. Eu deveria atender. Ben assentiu e abriu a porta também. — Vejo você amanhã. Boa noite, Abbey. Ele parecia um pouco desapontado, mas eu disse a mim mesma que eu ia deixá-lo falar no meu ouvido por todo o caminho para casa. Eu iria lhe comprar um saco de Funyuns também. Que deveria fazê-lo feliz. Cruzei a sala e peguei o telefone na mesma hora que parou de tocar. Meu pé chutou algo, e me abaixei para pegá-lo. Era o frasco de loção que eu tinha usado esta manhã. Caspian estava parado perto da porta, e ele lentamente veio em minha direção. Eu andei para trás, deixando cair a loção, e senti a dura madeira da cabeceira da cama nas minhas costas. — Deite-se — ele comandou, com uma ligeira tremida em sua voz. Meus joelhos viraram geléia. Eu avancei a minha maneira para baixo em direção a cama, parando quando minhas costas estavam planas. — Este não é, hum, justo, você sabe. — Não? — Ele se inclinou sobre mim, e eu pisquei várias vezes, tentando manter meus pensamentos claros.


JESSICA VERDAY — Não, não é. Você usa aquela voz sexy e eu me derreto. — Mmmm, derrete? Esse é o termo técnico? Eu mal podia respirar. Ele estava causando estragos em todos os meus sentidos. — Nós não podemos fazer nada ... — Eu finalmente disse. — Nós não podemos? — Ele sussurrou em meu ouvido: — Vamos descobrir o que podemos fazer... — Eu fechei os olhos. — Você está com frio? — Ele perguntou. — Seus braços estão arrepiados.— Seu olhar caiu para o meu cabelo, e ele levantou uma mão, quase como se fosse me tocar. — Eu gosto de ver você assim. Seu cabelo está todo selvagem. — Como uma bruxa?— Eu o provoquei, lembrando da noite do baile. Quando eu falei sobre o meu cabelo selvagem. Ele sorriu. — Estou pensando, sim. Você definitivamente lançou um feitiço sobre mim. Isso me deixa louco. — Lá vem você com essas linhas de ocasião de novo. Ele balançou a cabeça e baixou seu rosto. Estávamos nariz com nariz. Lábios com lábios. — Você não tem idéia de quanto eu quero te beijar agora — ele sussurrou. — Quanto? — Eu provoquei. Ele lambeu os lábios. — Muito, muito. — Se você tivesse que escolher entre beijar-me uma vez agora e depois morrer, ou viver para sempre sem o meu toque, o que seria? — Ele nem hesitou. — Eu morreria um homem feliz, com o seu gosto em meus lábios. Eu me esforcei bastante para não corar. — Eu faria a mesma escolha também.— — Você o faria? Eu balancei a cabeça, então fechei os olhos. — É meu pai. Eu sei que é.


JESSICA VERDAY — Ele vai ligar de volta. — Ele já ligou uma vez e eu perdi — argumentei. Sinceramente, eu estava sentindo um pouco de alívio com a interrupção. Eu estava ficando completamente fora de mim. Caspian suspirou e sentou-se, se afastando de mim. — Você está certa — ele disse. — Você provavelmente deve respondê-lo. Peguei o telefone, tentando me recompor antes de dizer Olá. — Oi, Abbey, é o papai. Sim, como eu não poderia dizer. — Oi, pai. — Eu liguei antes, mas você não respondeu. Você estava no quarto de Ben? — Não, papai — eu suspirei. — Eu não estava no quarto de Ben. Fomos conseguir comida chinesa para o jantar, por isso é que eu não estava aqui para atender. — Eu estou confiando em você, você sabe — ele disse. — Nós dois, sua mãe e eu. Falando nisso, ela quer saber o que você achou da faculdade. Eu não estava no humor para falar sobre isso agora. — Foi tudo bem. — Eu tentei pensar em algo para lhe dizer. — Eu não fiquei realmente toda impressionada com ela, honestamente. — Você conheceu o reitor? O que você achou do campus? Qual é o currículo? Como eu poderia responder a essas perguntas? — Como eu disse, papai, eu não estou realmente feliz com isso. Por isso, tudo passou como em um borrão. — Oh. — Eu acho que vou visita mais algumas faculdades perto de casa. Talvez eu encontre um lá que eu goste mais. — Oh, yeah? — Ele parecia mais feliz. — Isso é um bom plano. Tenho certeza que sua mãe pode providenciar alguma coisa. — Ele falou por mais 20 minutos. Finalmente eu disse a ele que tinha que ir para a cama, e o veria em breve. Ele concordou, e eu desliguei o telefone com outro aviso de — se comporte — tocando no meu


JESSICA VERDAY ouvido. Olhei para Caspian. Ele parecia estar esperando pela minha reação — Foi divertido — eu disse. — Eu poderia dizer. — Você se importa de apagar a luz? — Eu perguntei a ele. — Eu realmente preciso dormir um pouco. Longo caminho para casa amanhã. Meio que verdade. Mas principalmente eu queria que a luz fosse apagada porque eu me sentia estranha que nosso momento tinha sido completamente interrompido graças a ligação do meu pai. Ele balançou a cabeça, e apertou o interruptor. O quarto estava mergulhado na escuridão, e eu tirei minha calça e coloquei meu pijama. Alcançando algo no meu bolso jeans. — O que foi isso? — Caspian perguntou. Eu retirei um invólucro de celofane. — Biscoito da Sorte. — Indo até a janela, afastei as cortinas o que ligeiramente quebrou a escuridão para ler o que estava lá dentro. Todo o dom vem com um preço. Escolha sabiamente. Segurando firmemente a sorte em uma das mãos, subi na cama. — Boa sorte? — Caspian perguntou, estabelecendo-se nos lençóis do meu lado. Rolei sobre minhas costas e olhei para o teto escuro, silenciosamente desejando as estrelas brilhantes de plástico. — Yeah. Era. Eu acho que eu vou guardá-lo. — Ele estava quieto, e eu disse: — Eu sinto falta das minhas estrelas. — Eu tenho a minha — veio sua resposta. — Bem aqui do meu lado. Rolei para enfrentá-lo, mas não poderia fazer qualquer coisa na escuridão. Era como falar com uma sombra. — Bons sonhos, Caspian — eu disse. — Mesmo se você não sonhar, pense em mim. — Sempre — ele respondeu. Fechei os olhos, com um sorriso no meu rosto e a sorte na minha mão.


JESSICA VERDAY ***

Eu me vesti rapidamente na manhã seguinte e arrumei minhas coisas com pressa. Então eu entrei no banheiro e fez uma ligação. Gesticulei para Caspian me seguir e sai da sala. — Para onde vamos? — Ele perguntou, uma vez que estavamos lá fora. — Eu tenho algo que eu preciso fazer. Isso não vai demorar muito. Quando o táxi nos pegou, eu disse ao motorista para me levar para a floricultura na rua principal. Eu pedi para Caspian me esperar lá fora. Ele concordou, e eu entrei, ainda não tendo certeza do que eu estava procurando. A florista cumprimentou-me agradavelmente e perguntou se poderia me ajudar com qualquer coisa. Eu lhe disse que estava indecisa, e iria dar uma olhada nas gigantes vitrines de vidro. A maioria deles tinha rosas. Rosa amarelas, vermelhas, brancas, pêssego e variedades listrada de todos os tipos. Minha cabeça estava girando apenas tentando decidir. Finalmente, eu chequei de volta com a florista. — Eu estou procurando algo... Talvez um bouque de flores? Mas eu não quero que ele se pareça para um funeral. Ele apontou para vários pequenos cestos, cheio de margaridas brancas e amarelas, e então para um arranjo de samambaia. Mas eu balancei minha cabeça. Eles não se pareciam bem. — Claro que há sempre rosas — ela sugeriu. — Eu poderia montar um bouquet para você. — Não. Eu não acho que quero isso. Eu não estou certa do que eu quero. — Eu me virei e olhei para os cestos de novo. Nada estava se destacando para mim Então eu vi um pote menor, escondido no canto. A selvagem planta roxa era a única coisa nele. — O que é isso? Ela veio e o levantou para fora para me mostrar. O delicado pote de bronze era lindo, mas parecia que mal podia conter a planta. Flores caíram de toda parte. — Esta é a planta heliotropo — ela disse. — Vou te dar um bom desconto sobre isso. Eles não são normalmente vendidos em lojas de florista. É uma planta muito antiga. Esta veio misturada com um carregamento recente.


JESSICA VERDAY As flores roxas pareciam estar me chamando, e eu toquei um aglomerado de pétalas. — Vou leva-las. E uma única rosa vermelha, também. — Você sabe, o heliotrópio tem um significado muito distinto — ela disse, quando eu abri a porta para sair. — Ele tem? — Eu disse. — O que é? — Ele simboliza o amor eterno e devoção. Eu sorri para ele. — Perfeito. Ele foi feito para mim, então. Ela sorriu e acenou de volta, enquanto eu saí. Eu mudei a planta para minha mão esquerda e virei para Caspian. — Você pode me levar de volta para o cemitério? — Ele balançou a cabeça, e nós fizemos isso cerca de dez minutos depois. Encontrei sua lápide e me ajoelhei para organizar cuidadosamente a planta ao lado dela. As flores arqueadas em torno da pedra, quase carinhosamente, pareciam como se tivessem estado sempre lá. — Heliotrope para devoção — Eu disse a ele. — E uma rosa vermelha para o amor. Amor eterno e devoção. Eu coloquei a única rosa em cima da lápide, em seguida, me afastei de repente. Um espinho afiado tinha cortado meu polegar. Caspian tinha os olhos fechados e não viu o que aconteceu em seguida. Mas eu vi. Uma gota de sangue caiu do meu dedo e salpicou a flor. A gota carmessim, em seguida, rolou por uma pétala vermelha perfeita. Ela floresceu lá, como uma mancha de tinta, e eu não conseguia puxar o meu olhos para longe dela. Isso era obsceno, e bonito. Morte e vida, tudo em um. Passos atrás de mim me fez virar, e uma velha vestida de preto vinha andando pelo cemitério. Ela parou na linha de lápides antes de Caspian, e acenou com a cabeça para mim. Eu balancei a cabeça para trás. E decidi que era hora de ir. Passando o meu dedo sobre o C, uma última vez, eu sussurrei — Eu te amo — e me preparei para sair. Quando passei pela mulher, ela olhou para mim. — Lembre-se, criança — ela disse — você nunca está sozinha.


JESSICA VERDAY — Você está certa — eu respondi, olhando Caspian diretamente nos olhos. Eu não estou sozinha. Silêncio me cumprimentou. Eu andei pela cozinha, espiando a sala de estar e sala de jantar ao longo do caminho. Eles não estavam em nenhum desses locais. — Mãe? Pai? Vocês estão ai em cima? — Eu gritei. — Melhor não ser algum tipo de vamos-enlouquecer-agora-que-nossa-filha-não-está! Se eu encontrar calda de chocolate em qualquer outro lugar do que a geladeira, eu juro, eu estarei saindo. Subindo de dois em dois degraus as escadas eu corri até o topo. A porta de Mamãe e papai estava fechada, que sempre era uma coisa boa ... Mas a minha estava aberta. Eu sei que eu fechei antes de sair. Se mamãe acha que pode ir lá e mexer nas minhas coisas enquanto eu estiver fora, ela está redondamente enganada. Eu empurrei minha porta aberta todo o caminho, me preparando para avaliar os danos ... E parei congelada. As luzes do teto estavam apagadas, mas dezenas de velas cobriam a mesa, minha mesa de cabeceira, a lareira... Longas sombras pulavam e dançavam ao longo das paredes, suas chamas minúsculas piscando loucamente, como se uma súbita rajada de vento tivesse soprado através da sala. Que diabos está acontecendo...? Dei um passo mais perto e senti meus olhos se arregalarem. Muito abertos, parecia como se saltariam de algum lugar a qualquer segundo. Minha cama estava coberta de rosas. De haste longa, pesados botões, rosas vermelho-sangue. Elas cobriram toda a superfície em uma pilha enorme, dezenas e dezenas delas. Havia algo vagamente familiar sobre como eles foram dispostas, quase como um bando de... Coroas de funeral. E estendida entre elas, no centro da cama, os braços cruzados em uma pose funeral clássica estava... Caspian? Eu gritei. Meu estômago torceu violentamente, e eu sabia que ia


JESSICA VERDAY vomitar. Então seus olhos se abriram. — É assim como você gosta delas, certo?— Meu coração parou, quando reconheci aquela voz. Vincent. Ele sentou-se lentamente, descruzando os braços, e à semelhança com Caspian era fantástica. Ele tingiu o cabelo de loiro branco e tinha até mesmo colocado uma faixa preta na testa. Seu cabelo parecia mais longo — ele deve ter alisado para obter o mesmo estilo — e estava vestido em um terno preto. Eu vi com horror quando ele veio na minha direção. — O que você acha? — Ele parou por um momento para endireitar a gola do casaco. — Eu faço um bom rapaz morto, ou o quê? — Meu estômago ainda estava agitado, mas eu não poderia dizer se era de choque ou medo. — Você não vai me dar um beijo? — Ele disse, avançando novamente. Meus joelhos começaram a tremer, e eu afundei as minhas unhas em minha mão para tentar me concentrar em outra coisa. — Vamos, Abbey. Sua voz ficou rígida. — Eu fiz tudo isso para você. O mínimo que você pode fazer é mostrar o seu apreço. Você tem alguma idéia de quanto custa para obter tantas rosas? Eu cavei minhas unhas com tanta força que eu senti minha mão começar a ficar pegajosa. E ainda assim meu terror estava aumentando. Vincent finalmente chegou a mim e correu a palma da mão fria no meu rosto. — Sente isso? Por que você quer estar com ele, afinal? Necrofilia, Abbey. — Ele balançou a cabeça. — Não é uma coisa bonita. Eu tentei aguentar firme, para não deixá-lo ver o meu medo, mas não poderia dizer se eu estava sucedendo. Ele ficou me olhando de perto, de repente sorriu. — Agora — ele disse, se abaixando em uma grande reverencia. — Será que você considera essa data o nosso primeiro? ou o nosso terceiro? Tecnicamente, nós tivemos um pequeno passeio no cemitério e nosso encontro no beco atrás loja de seu tio, então eu acho que ... Sim, este é o nosso terceiro.


JESSICA VERDAY — Nós não tivemos nenhum encontro, idiota — eu disse calmamente. Ele olhou afrontado. — O que você chama isso? — E abriu os braços. — Eu trouxe para você flores, temos iluminação, eu estou todo arrumado, e estamos sozinhos. Isso, minha querida, é um encontro. Eu bufei. O rosto de Vincent ficou severo, e ele se inclinou para perto de mim. — Não sou pálido suficiente para você? Não sou frio o suficiente? Ele puxou meu pulso e o segurou contra o peito. — Este é o problema, não? As batidas do meu coração? Desculpe, querida. Eu não estou morto o suficiente para você. Algo sobre a maneira como ele disse — morto — atingiu um ponto frio dentro de mim. Eu sabia que não ia durar muito mais tempo. Vincent ia me matar. Em seguida, seu olhar mudou. — O que é isso? Avistou o meu gabinete de perfume, meu novíssimo e lindo gabinete de perfume que mamãe e papai tinham trabalhado tão duro, e colocado em minha mão. Obrigando-me a segui-lo enquanto ele se movia em direção a ele. Eu cavei nos meus calcanhares, mas ele era muito forte. Meu braço parecia que estava sendo puxado de seu encaixe. — Deixe isso... — eu consegui — quieta. Ele inclinou a cabeça para mim. — O que foi isso? Você tem que falar. A dor no meu braço aumentou, e brasas queimavam debaixo da minha pele. Eu choraminguei, então fiquei com a minha boca fechada. Vincent correu uma mão sobre a parte externa do gabinete, em seguida, abriu uma das gavetas e pegou um punhado de garrafas de vidro. — Fale — ele disse. Abrindo os dedos, ele lançou garrafas, e eles foram caindo ao chão. Os cheiros, e vidro, iam por toda parte. Uma nuvem de perfume envolveu-me, e eu tossi uma vez, tentando não engasgar. Vincent abriu outra gaveta.


JESSICA VERDAY — Pare... — eu implorei. — Só... Pare. Mas ele pegou um punhado da segunda gaveta e desta vez os jogou alegremente no chão. Minúsculos estilhaços de vidro saltaram e brilharam. Poças de líquidos começaram a penetrar na madeira. — Isso é um barulho maravilhoso!— Disse. — Uma sinfonia de sons! Eu tinha uma fração de segundo de compreensão, um entendimento claro e perfeito do que ele ia fazer, mas ainda não pude pará-lo. Vincent segurou meu gabinete com as duas mãos, levantou-o, e atirou-a contra a parede, um sorriso angelical no rosto. — Nãooooo! — Eu gritei. Pedaços de madeira racharam e se fragmentaram. O que restava do meu estoque de perfume ainda dentro das gavetas do armário explodiu, e o som... Foi comovente. Eu caí de joelhos, sem me importar com o vidro que agora cobria o chão. Meus dedos cerrados em punhos, e a fúria que me encheu foi pura e não adulterada raiva. Então, de repente, ouvi outro ruído. Era o meu nome, vindo de Caspian enquanto entrava através da porta aberta e se jogou em Vincent. Ambos caíram no chão. Vincent parecia chocada ao vê-lo, e naquele breve momento Caspian recuou e deu um soco no olho de Vincent. Ele conseguiu entrar com outro golpe, desta vez em sua mandíbula, e ouvi o estalo quando Vincent chicoteou de volta. Então, de repente, Caspian saiu voando. As mãos de Vincent estavam estendidas, como tudo o que ele tinha feito era simplesmente estendê-las, e Caspian caiu contra a lareira. A força que ele bateu foi tão forte que, imediatamente trincou a parede ao lado dele. — Caspian — eu gritei. Ele parecia atordoado por um segundo, e então sua cabeça caiu para a frente. Vincent levantou-se e veio até mim, agarrando meu braço novamente. Ele puxou a grosso modo, tentando me arrastar até a janela, mas não consegui manter o meu equilíbrio.


JESSICA VERDAY Meus joelhos foram deslizando pelo chão, e eu gritei quando os cacos de vidro rasgaram minha pele. Ele parou, olhando para o rasto de sangue que eu estava deixando para trás. — Sujo. Sujo. Sujo. Tão malditamente bagunçado. — Um breve olhar de desagrado atravessou seu rosto, e então ele me pegou em seus braços. — Tente não deixar qualquer vestígio de sangue na roupa — ele disse. Eu lutei. Tanto quanto eu poderia lutar com os joelhos e as pernas rasgadas e sangrentas, e ele me apertando mais forte. Parecia que faixas de aço se envolviam em torno de meus pulmões, e eu respirei ofegante. — Não posso... Respirar ... Imediatamente, ele soltou uma aderência. Mas não me deixou ir. Minhas lágrimas vieram em seguida. Eu estava tão completamente débil e oprimida que parei de lutar e apenas chorava. Meu corpo inteiro tremeu, e Vincent me segurou longe dele. — Só me mate — eu soluçava. — Só faça isso já. Senti um tapinha estranho na minha cabeça. — Por que eu iria querer matá-la, Abbey? — Não é isso por que você está aqui? Você não... Você não matou Kristen? — Tentei diminuir meus soluços. — Você disse que estava lá... Na noite que ela morreu, e agora eu sei sobre isso. — Claro que eu estava. E eu acho que você poderia dizer que desde que eu a deixei cair, eu sou responsável. — Ele deu de ombros com elegância. — Mas você não vê, Abbey? Foi o meu mal. Eu tinha a garota errada. Eu pensei que ela era a outra metade Caspian. Eu realmente queria você o tempo todo. — Eu? Você queria eu? — Uma dor tão intensa e tão abrasadora que parecia que meu coração estava fisicamente sendo rasgado em dois, e eu teria me dobrado, se eu pudesse. — Você quer dizer — eu bloqueei — que eu sou o motivo de Kristen estar morta?


JESSICA VERDAY — Sim. — Vincent sorriu para mim. — Sim, isso mesmo. Um gemido angustiado escapou, uma emoção mais selvagem do que qualquer coisa, e eu agarrei minha cabeça. A dor estava lá. Lá dentro. E isso estava me matando. — Agora que ele te encontrou, eu não posso matá-la — Vincent continuou. — Ou então você dois estarão completos, e iria estragar tudo. Não, eu tenho a certeza que você ficará perfeitamente... Viva. De repente, pés batendo nas escadas,e vozes raivosas ecoaram no corredor. — Eles estão vindo — disse Vincent. — Mas eles não podem fazer nada ainda. Eu tenho certeza disso. — Então ele sussurrou em meu ouvido: — Nem pense em fazer qualquer coisa estúpida. Fique. Viva. Uri, Cacey, Sophie, e Kame irromperam na sala, e Vincent deixou-me sem hesitar um segundo. Sophie me lançou um olhar preocupado. — Você está bem? — Ela perguntou. — Três é uma festa, mas sete é uma multidão — Eu ouvi Vincent dizer. — Isso significa que é hora de eu sair. — Houve o som de alguém correndo por mim, e depois Kame gritou: — Vincent, espere! Olhei para cima a tempo de ver Vincent correr para a janela e pular para fora dela. Uri e Cacey o seguiram, mas eles pararam. — Ela deve ser protegid — disse Cacey. — Ele desapareceu. O rosto de Uri estava furioso, parecia que ele queria dar um salto diretamente para fora da janela e correr atrás de Vincent, mas Cacey colocou a mão em seu braço. Ela balançou a cabeça uma vez. — Espere — ela disse. — Há ainda tempo para descobrir o que ele persegue. Num piscar de olhos, todos os quatro estavam em pé em cima de mim e se abaixando. Eu tinha uma vontade absurda de rir com o que eles estavam usando. Eles estavam vindo me ajudar com calças cáqui combinando. — Está tudo bem, Abbey — Kame disse. — Estamos aqui para você. Apenas confie em nós.


JESSICA VERDAY Sua voz era suave e bonita, e eu olhei para ele, sentindo-me puxada para dentro do oceano sem fim que eram em seus olhos. Mas eu não estou pronta. Foi o primeiro pensamento que me veio à mente, e eu disse em voz alta. — Eu não estou pronta.

Fim. Continua em The Hollow 3 –

The Hidden


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