Um amor que não conhece limites. Depois de enfrentar a dor de perder sua melhor amiga afogada em um acidente misterioso e de se apaixonar por um rapaz morto em Sombras e Essências, Abbey não tem mais dúvidas de que Caspian é seu destino e de que a ligação entre eles transcende a morte. Abbey sabe que Caspian é o seu destino. O laço deles transcende até mesmo a morte. Mas da mesma forma que Abbey finalmente descobre a verdade sobre o destino sombrio que a liga a Caspian, e amarra-os a cidade de Sleepy Hollow, ela de repente se vê diante de escolhar difíceis de fazer. Caspian pode ser o amor de sua vida, mas é um amor pelo qual vale a pena morrer? Lindamente afiado, emocionalmente envolvente e irresistivelmente romântico.
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Prefácio
Meu nome é Abbey. E eu estou apaixonada por um fantasma.
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Capítulo Um Quebrada
— Se eu puder apenas alcançar aquela ponte... — Pensou Ichabod. — Eu estarei a salvo. “A Lenda de Sleepy Hollow’’ de Washington Irving.
Tudo que eu podia ouvir era meu coração batendo. E eu podia ver os Revenants olhando para mim. Quando olhei dentro dos olhos sem cor de Kame, eu continuei pensando: “Isso não pode estar acontecendo. Isso não é real. Isso ia acontecer assim?”. — Vai acontecer agora? — Eu perguntei a Kame. — Você está aqui para me ajudar a morrer? Ele não respondeu a minha pergunta. — Ela está bem? — Cacey sussurrou. — Ela não parece bem. Encheu-se de histeria, e eu olhei para baixo, para eu mesma. Sangue escuro cobria meus joelhos em linhas irregulares, e meu braço queimava onde Vincent tinha tentado arrancá-lo da tomada. Meu quarto era um campo de batalha. — Eu não pareço bem? — Eu disse. — Eu não pareço bem? — Depois eu abaixei a cabeça enquanto lágrimas cobriam minhas bochechas. “É isso. Sophie, Kame, Uri e Cacey estão aqui para me coletar. Para me ajudar a morrer.”
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Eu nunca veria meus pais novamente. Ou Bem. Eu nunca teria minha própria loja de perfumes, eu não me formaria no colégio. Eu nunca compraria um carro e teria um cachorro. Eu sempre quis um cachorro. Mas isso não importava mais. Meu tempo tinha acabado. Além disso, Kristen já estava morta. E eu era a razão disso. Pelo menos eu conseguiria ficar com Caspian. — Caspian… — Eu disse desesperadamente, e sentei reta. — Caspian! O chão estava coberto de vidro e pequenos pedaços de madeira quebrada, o que tinha restado do meu armário de perfume, mas eu não me importava. Vincent tinha lançado Caspian. Machucado ele. E ele precisava de mim. Eu tentei rastejar. Tentei alcançá-lo, mas braços fortes me seguraram. Uma onda de náusea me varreu, e o quarto girou loucamente. Minhas mãos estavam escorregadias tentando agarrar o chão com firmeza. Pequenas poças de sangue me cercavam em linhas tortas e um pouco em forma de círculos, formando uma versão macabra de uma pintura infantil. — Calma, calma! — Kame disse, sua voz suave e melódica, como o ímpeto do ar da primavera suave depois que uma grande janela tivesse sido aberta. — Vamos examinar você, Abbey. Ele olhou para minhas mãos e meus joelhos, movendo gentilmente minha cabeça de lado a lado procurando outras feridas. Ao meu lado, Cacey estava soprando as velas que Vincent tinha acendido, antes de juntá-las numa pequena pilha. Uri e Sophie estavam removendo as flores da cama. Lançando-as dentro de uma lata de lixo. — Caspian! — Eu disse, vendo sua forma calma pelo manto da lareira. — Por favor... Cheque Caspian... Cacey agachou-se perto dele e levantou uma de suas pálpebras. — Esse é problema com Shades. — Ela reclamou. — Eu deveria sentir o pulso da vítima? Ele já está morto. — Cacey! — Uri a repreendeu, parando de amarrar um nó no saco de lixo para olhar para mim. — Tato? Ela já passou por muito.
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— Desculpe, desculpe. Só estou dizendo. — Ela olhou dentro do seu outro olho, o sacudiu. — Eu acho que ele ainda está aqui. — Vá checar o banheiro por um kit de primeiros socorros. — Kame instruiu Cacey. — Sophie, encontre um telefone. Ligue para o 911. Nós temos que terminar de limpar isso e levá-la ao hospital antes... O som da porta da frente batendo ecoou abaixo de nós, e a voz de mamãe flutuou. — Abbey? Ainda está em casa? Nós recebemos o bilhete mais estranho que dizia que tinha um encontro emergencial do conselho da cidade, e... — Sua voz chegou mais perto enquanto ela subia as escadas e se movia em direção do meu quarto. — Bem, merda. — Cacey disse. — Pais. O que nós devemos fazer com eles? Kame entrou em ação, ordenando Uri a lançar a sacola de lixo pela janela, e então ele me pegou sem ao menos um segundo de hesitação. Sophie agarrou o telefone e discou o 911. Depois ela disse alto: — Eu estou feliz que chegamos aqui a tempo! Só espere, Abbey. Espere. A ajuda está vindo. Mamãe explodiu dentro do quarto, e o pânico se espalhava em seu rosto. — O que aconteceu? — Ela gritou, vendo o sangue e o vidro quebrado. — Abbey! — Ela correu e tentou se livrar do aperto de Kame. — O que há de errado? O que aconteceu? — Ela perguntou, de novo e novo. Eu não conseguia responder. — Ela está bem. — Kame disse calmamente, capturando seus olhos. — Abbey ficará bem e tudo voltará ao normal em breve. — Seu tom era calmo. Mamãe começou a assentir para ele, mas a preocupação não deixou seu rosto. Ao longe, eu pude ouvir a sirene. Elas soavam estranhas. Ambos, o barulho e o toque da trombeta, e depois quietude e quase silencioso. As palavras de Kame começaram a desaparecer de dentro para fora, com a voz de mamãe em segundo plano.
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— Paramédicos chegando? Eu… não entendo. Por que iria… Poderia ter sido morta! Graças a Deus vocês estavam... Minha cabeça se sentia estranha. Minha língua estava grossa, e eu tentei dizer alguma coisa. Tentei dizer qualquer coisa, mas não saía. Pontos escuros rastejavam nas bordas da minha visão, e meu peito estava apertado. “Eu acho que estou...” Mas mesmo esse pensamento se afastava. Então eu fiz a única coisa que podia. Na próxima vez que minhas pálpebras se abriram, eu vi uma cadeira de plástico azul com Cacey caída sobre ela, adormecida. Eu olhei para baixo, e havia um tubo enfiado do lado de fora da minha mão. Eu estava deitada numa cama de hospital. Minha garganta doía ferozmente, e eu tentei limpála. — Cace... — Eu coaxei. — Cac... ey... água... Ela mudou de posição, então se sentou. Completamente alerta. — Oh. Você está acordada. Água? — Eu tentei procurar um copo ou uma jarra, mas a única coisa apoiada na bancada próxima a mim era o controle da TV e uma pequena tigela. Cacey veio e pegou a tigela. — Aqui. Pedaços de gelo. Eles não querem que você beba água ainda. Alguma coisa sobre um teste que eles querem fazer. Eu gananciosamente chupei o pedaço de gelo, e o pouquinho de alívio frio que se espalhou pela minha garganta foi delicioso. Ela me alimentou com mais quatro pedaços antes que devolvesse a tigela. Eu deitei minha cabeça no travesseiro e tentei lembrar o que tinha acontecido quando Cacey voltou para o seu assento. — Como está se sentindo? — Ela perguntou. — Você estava bem chapada. De repente tudo voltou correndo. Vincent em meu quarto, deitado na minha cama, envolto de pétalas de rosas. Ele quebrando meu armário de perfume e machucando meu braço. O vidro... O sangue...
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Eu olhei para o lençol, e depois para o Monitor de Pressão Arterial do meu lado. — Quanto tempo tenho estado aqui? — Algumas horas. Eles vão te dar alta amanhã. — Ela pegou uma lata de Coca do chão próximo à cadeira e deu um longo gole. — Eles não queriam te manter durante a noite, mas sua mãe os obrigou. Isso foi bem impressionante. Ela e seu pai ficam entrando e saindo o tempo todo. Eu olhei para a lata de Coca. — Eu disse a eles que nós éramos amigas da escola de verão. Sua mãe caiu totalmente nessa. Bem, depois de ela ter se acalmado, eu digo. Ela estava chorando e gritando. Eu... — Cacey finalmente notou que eu estava comendo sua bebida com os olhos. — O que? Você quer um pouco disso? — Ela inclinou a lata para baixo e tomou o resto dela. — Desculpa, acabou tudo. — Ela disse com um sorriso que era apenas um pouco cruel. — Então de qualquer forma... desde que você esteve aqui, Kame e Sophie inventaram essa história disfarce de assassino sobre um intruso invadindo sua casa. Você não pegou uma boa imagem dele, por sinal. — Ela esperou pelo meu assentimento antes de continuar. — Então ele invadiu sua casa, esmagou todas suas coisas atrás de drogas ou coisas para roubar ou alguma coisa do tipo, e, quando você o interrompeu, ele lutou antes de partir. Nós viemos e salvamos o dia. Ela pausou novamente, e eu assimilei tudo. Então ela me fez repetir de volta para ela. — Intruso. Não dei uma boa olhada. Esmagar e roubar. Vocês salvaram o dia. Cacey assentiu parecendo satisfeita. — Isso é tudo que há a dizer sobre isso. — Ela se inclinou para frente. — Oh, e saca só, Uri e eu somos “estagiários” de Kame e Sophie. É como nós os conhecemos. Você deveria saber disso também. Minha cabeça estava começando a doer. Normalmente a voz de Cacey era suave e confortante, mas agora estava começando a grelhar em meus nervos. E ela tinha um hábito estranho de não piscar. Era como olhar dentro dos olhos de um peixe.
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Ela veio se posicionar perto de mim, e olhou para mim enquanto dizia: — Lembre o que eu te disse, Abbey. Você lembra, não é? Um sentimento estranho formigou atrás do meu couro cabeludo, e rapidamente eu me senti muito mais calma. E mais feliz. Ela estava certa. Tudo tinha acontecido exatamente como ela tinha dito. — Então me diga. — Eu disse, alcançando a penugem dos meus cachos irregulares. — Numa escala de um a dez, quão mal eu pareço? Ela ergueu a cabeça para um lado e me olhou de cima para baixo. — Você é um sólido cinco. Talvez cinco e meio. Eu já vi pior. Mas eu já vi melhor, também. Eu ri. O som estava cru contra minha garganta, então eu tentei novamente. Saiu engraçado e muito alto, eu abri minha boca para dizer, e tomei um sopro de folhas queimadas. — O que é... A pergunta morreu em minha garganta quando Cacey me olhou estranhamente. — O que é o que? Eu funguei novamente. Mas o cheiro já tinha passado. — Nada. Eu pensei ter cheirado... Nada. Ela se inclinou e afofou meu travesseiro, depois puxou os cobertores mais para cima. — Eu vou assistir um pouco de TV. Seus pais devem voltar logo. Suas palavras fizeram algo em meu cérebro clicar. — Caspian... — Eu disse. — E Caspian? — Oh, você finalmente acordou a menina apaixonada agora, não foi? Sabe, por serem todos destinados a ficar juntos e tudo mais, você levou muito tempo para perguntar sobre... — Cacey. Por favor. — Eu disse suavemente. — Eu preciso vê-lo.
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Ela suspirou. — Ele está seguro nesse exato momento com Nikolas e Katy. Ele deveria ficar lá até que nós possamos descobrir o que Vincent quer. — Por favor? — Minhas pálpebras estavam caindo, e ela começou a nadar diante dos meus olhos. O sono estava pressionando-a para baixo, firme e pesado. — Eu realmente preciso... — Eu sei, eu sei. Você precisa dele. Blá, blá, blá. Eu senti cegamente sua mão. —Você tem que ter certeza que ele está... bem... Diga a ele... A última coisa que eu a ouvi dizer antes de se afastar foi: — Eu sei. Eu direi. Eu direi que você o ama. Havia palavras. Palavras suaves. Palavras que não entendia, mas sabia que seguiria a qualquer lugar por que ele as estava dizendo. — Astrid. Eu girei minha cabeça para seguir a voz, mas permaneci com meus olhos fechados só no caso de não ser real. No caso de ser um sonho. As palavras vieram novamente, misturadas com algumas que eu reconhecia. — Astrid, você consegue me ouvir? Tu sei una stella… La mia stella. Você é minha estrela, Abbey. Eu abri meus olhos lentamente. Seu rosto se focalizou. Lágrimas ardiam atrás dos meus olhos, e minha garganta queimava. — Eu estou tão feliz em te ver. Eu pensei que você estava... Ele balançou sua cabeça e olhou para a porta atrás dele. —Eu estou bem, e você está bem, e nos falaremos depois. Só se concentre em melhorar. Você vai para casa amanhã, certo? Eu assenti. — Durma um pouco. Eu estarei aqui quando você acordar. Mas lembre-se, outras pessoas estarão aqui também. Não fale comigo se mais alguém estiver neste quarto.
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Eu assenti novamente e fechei meus olhos. Um arrepio veio até mim enquanto ele falava em meu ouvido. — Eu te amo, Astrid. — Também te amo. — Eu balbuciei. — Caspian... Eu estendi minha mão esquerda amplamente nas cobertas, com a palma voltada para cima. E adormeci com a sensação de formigamento fraco em meu braço. Quando eu acordei na manhã seguinte, Caspian estava lá assim como ele disse que estaria, sentado na cadeira no outro lado da cama. Mas Cacey tinha ido. Eu atirei para ele um sorriso agradecido, feliz por ele estar comigo e eu não tive que ficar sozinha quando um par de policiais vieram me fazer algumas perguntas sobre a invasão. Eu apenas continuei repetindo o que Cacey tinha me dito. Uma vez que tinha se tornado óbvio que minhas respostas não iam mudar, eles decidiram partir. — Se você pensar em qualquer outra coisa, nos chame. — Um deles disse. Ele sacou um cartão de negócios do seu bolso e me deu. — Eu vou. — Eu prometi. O que tinha me dado o cartão balançou minha mão antes que eles saíssem do meu quarto. Um instante depois um enorme buquê de balões se espremeu através da porta, sendo carregado por Mamãe. Papai estava logo atrás dela com punhado de flores. — Olá, querida! Como você está se sentindo? — Ele apontou em direção à porta. — Como foi aquilo? Ela colocou os balões na cama vazia ao meu lado, depois se inclinou e removeu um pouco de cabelo do meu rosto e beijou minha bochecha. — Foi bem. — Eu respondi. — Eu realmente não me lembro de muito. Mamãe lançou um olhar para Papai e se ocupou arrumando os balões. Papai colocou as flores que ele tinha na minha mesa de cabeceira e veio ao meu outro lado. — Ei, querida. É bom ver esses olhos azuis novamente. Eu sorri para ele.
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— Bom te ver também, Papai. — Eu desloquei meu cotovelo para debaixo de mim para que eu pudesse me sentar. Rapidamente eu notei os buquês de flores que enchiam uma mesa na frente da grande janela. Margaridas, cravos, lírios, rosas... Até mesmo uma pequena árvore. — São todas para mim? — Eu perguntei, atônita ao ver quantas eram. — Elas realmente são. — Mamãe disse orgulhosamente. Ela foi pegar algumas margaridas que estavam em vasos. — Elas são dos Maxwells. — Lírios brancos estavam próximos. — E essas são do Sr. Walker, o bibliotecário. — Ela ficou inquieta com um pé de cravo. — A informação sobre o que aconteceu se espalhou bem rapidamente... — Ela parou e mordeu seu lábio. — De quem é a árvore? — Eu perguntei como uma distração. Caspian saiu furtivamente do caminho de Mamãe quando ela chegou mais perto da árvore. Eu lancei um rápido sorriso para ele. Mamãe pegou o cartão. — Oh! É de Brian. Não é legal da parte dele? Eu tive que segurar um riso com o tom casamenteiro em sua voz. Ela não tinha ideia que Ben estava apaixonado pela minha melhor amiga morta, e eu estava apaixonada por um fantasma. Meus olhos encontraram os de Caspian. Ele me deu o olhar irritado, e eu rapidamente ergui uma sobrancelha. — É, mamãe. — Eu disse. — Ele é muito... Legal. — Nós vamos ter um tempo divertido com eles no caminho pra casa. — Caspian disse assim que mamãe e papai deixaram o quarto. — Nós? Você está pensando em pegar uma carona com a gente? — Enquanto Vincent ainda está aí fora, considere-me pele de coelho. — Pele de coelho? Eu ainda quero saber o que é isso? — É cola. Desculpa. Termo artístico obscuro. A emoção de tê-lo tão perto correu em minha direção.
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— E se eu apenas te chamar de Elmer’s1. Ele bufou. — Eu acho que é melhor que Casper. — Ei! Acontece que eu gosto. Uma batida soou o lado de fora da porta, e imediatamente eu fiquei em silêncio. Um segundo depois uma enfermeira empurrou sua cabeça para dentro. — Você tem um visitante. Sentindo-se bem para um pouco de companhia? “Provavelmente é o Tio Bob”. — Claro. Mande-o entrar. A enfermeira desapareceu. E Ben entrou. — Ei, Abbey. Como você está? Ele tinha um pequeno punhado de flores com ele, e seu cabelo castanho curto estava bagunçado. Seu rosto mostrava claramente que ele estava nervoso. — Eu estou bem. — Eu olhei para o tubo intravenoso no meu braço. — Bem, tão bem quanto eu posso estar, presa aqui. A enfermeira voltou a espreitar. — Eu espero que possa confiar em vocês dois sozinhos aqui. Ela precisa do descanso dela, senhor. — Ela direcionou um olhar de aço para Ben. — Oh, nós não estamos...
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Elmer’s é uma marca de cola.
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Eu disse na mesma hora que Ben disse: — Eu não estou... — Mmm-hmm. — Ela olhou para trás e para frente entre nós. — É o que todos eles falam. Eu rolei meus olhos para Ben quando ela saiu, e ele riu. — Estranho. — É. Ele mudou de um pé para outro, e então lançou apressadamente as flores no canto da cama. — Obrigada! — Eu disse. — E obrigada por vir me ver. — Meus olhos pousaram na pequena árvore. — E obrigada pelo outro presente também. Ele seguiu meu olhar. — É da fazenda do meu pai. Ele acabou de comprar algumas mudas novas. Deve florescer. Eu poderia dizer que Caspian estava tentando muito não olhar para Ben, e ele me fez querer importuná-lo. — Por que você não senta? — Eu disse, apontando o assento livre perto de Caspian. Ben sentou. Olhando de volta para a porta, ele respondeu: — Hospitais realmente me deixam louco. Caspian lentamente foi para longe dele, e disse: — Eles estão começando a me deixar bem desconfortável também. Eu tentei não rir, e apenas respondi: — Você deveria tentar estar nessa final. A expressão de Ben rapidamente mudou de nervosismo para raiva. — Eu não consigo acreditar que alguém invadiu sua casa, Abbey. Eu deveria ter entrado. Ter certeza que tudo estava bem antes de apenas dirigir daquele jeito.
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— Não teria feito diferença. — Caspian disse a Ben, mesmo embora ele soubesse que suas palavras não seriam ouvidas. Então ele se voltou para mim e disse. — Não tem como dizer o que Vincent teria feito com ele. Eu assenti solenemente, mas falei com Ben. — Não é sua culpa. Não tinha como você saber o que ia acontecer. — Mas eu me sinto tão mal. E agora tem esse cara louco aí fora que te machucou, e se eu tivesse apenas sido capaz de pará-lo, você não estaria aqui. — Não havia nada que você pudesse ter feito. — Eu disse a ele. — Não é sua culpa. Fim de história. — Tem certeza? — Sim, eu tenho certeza. Agora, podemos falar sobre outra coisa? Como o que aconteceria se nós terminássemos como parceiros de feira de ciências de novo esse ano? Ben riu. — Estou contando com isso, Browning. Na verdade, eu acho que vou fazer o Sr. Knickerbicker entrar em um lapso umas vinte vezes pra ter certeza de que isso aconteça. Desde que você me socorreu ano passado, você tem muito que compensar. A enfermeira bateu na porta novamente, e depois entrou. — Seus pais estão a caminho, querida. Você está sendo liberada. Ben ficou de pé. — Te vejo na escola, certo? — Eu disse a ele. — Yup. Último ano, baby. Ele saiu logo antes que mamãe voltasse a entrar, mas eu podia ver o brilho débil em seu olhar mesmo embora eu estivesse no meio do quarto. — Ben veio te visitar? — Ela disse. Eu assenti. — Bem, não é legal da parte dele?
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Capítulo Dois Presa como cola
…Pois são nesses pequenos reformados vales holandeses, encontrados aqui e ali cercados pelo grande Estado de Nova Iorque... A Lenda de Sleepy Hollow
Papai dirigia 32 km/h, abaixo do limite de velocidade, no caminho para casa e continuava a olhar constantemente para mim pelo espelho retrovisor. Isso estava me deixando louca. — Estou bem, Pai. — Eu reclamei do banco de trás. — Você efetivamente consegue dirigir, sabe. Ele me deu um olhar preocupado no espelho novamente. — Eu sei, querida, mas eu apenas quero ter certeza que não vou chacoalhar você. Eu suspirei. — Eu estou bem, Pai. Dirigir no limite de velocidade para que possamos chegar em casa numa hora descente não vai me matar. Seu rosto empalideceu. — Desculpe! — Eu disse. — Má escolha de palavras.
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Caspian estava perto de mim, e eu inclinei minha cabeça para trás contra o assento. “Isso vai ser pior do que quando eu vim para casa do consultório do Dr. Pendleton. Ao menos que todo mundo apenas pensasse que eu estava louca.” Agora eles estavam me tratando como se eu fosse tão frágil quando vidro. Papai deu a volta na rua lateral, e nossa casa ficou à vista. Um banner enorme que dizia: “Bem vinda a casa, Abbey”, estava pendurado na porta da frente. — Oh, Jesus Cristo! — Eu murmurei. — Hora de festejar. — Caspian disse. — Eu espero que eles tenham aquelas pequenas coisas que assopra e que fazem barulho. Seu comentário me fez rir, e eu tive que cobrir isso com uma tosse falsa. Papai parou, e mamãe abriu a porta para mim. — Deixe-me te ajudar. — Ela insistiu. — Você ainda pode estar tonta e nem ao menos saber disso até que se levante. Os médicos tinham colocado meu braço numa tipoia por causa de uma torção. Desde que eu não estava acostumada a não ser capaz de usar minha mão, mamãe colocou meu braço livre ao redor do pescoço dela; e Caspian escorregou para fora atrás de mim. — Eu estou tão feliz por você estar em casa! — Mamãe disse, me guiando para dentro de casa. — Eu estou tirando alguns dias de folga do trabalho, então posso ficar aqui com você. Eu queria discutir que eu tinha dezessete anos, não cinco, mas não tive coragem. — Eu deveria provavelmente subir para o meu quarto e descansar um pouco. — Eu disse. Ela assentiu, e então me acompanhou pelas escadas. Caspian nos seguiu.
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Assim que nós entramos no meu quarto, notei que estava diferente. Tinham-se ido os perfumes derramados e os frascos de vidro quebrados, que Vincent Drake tinha espalhado sobre o chão, ainda tinha o cheiro agarrado fielmente ao ar. Eu podia dizer que mamãe tinha provavelmente borrifado algum produto de limpeza, por que um cheiro cítrico estava lá também, o odor inconfundível de lustra móveis de madeira, mas isso não mascarava inteiramente as lembranças de destruição. Uma cadeira lateral2 Borgonha no canto onde meu armário de perfumes tinha estado. Eu a reconheci como uma remanescente do sótão. As rosas vermelhas que Vincent tinha deixado ao redor do quarto tinham sido limpadas por Uri e Sophie, mas tudo que eu tinha que fazer era fechar meus olhos para vê-las novamente. E para ver Vincent deitado na minha cama, vestido no terno preto de funeral, sem o cabelo branco-loiro como o de Caspian, mesmo debaixo do capuz preto... Mamãe colocou uma mão em meu ombro. — Está tudo bem? — ela perguntou. — Você não tem que dormir aqui se não quiser. Eu posso arrumar o quarto de hóspedes. — Tudo bem, Mamãe. Eu vou ficar bem. — Propositadamente fui à minha cama e sentei nela. Eu não queria que a lembrança de Vincent me levasse para longe daqui. “Esse é meu quarto. Não dele.” Mamãe também veio, e moveu os travesseiros em volta, pilhando-os um no topo do outro. Depois ela virou um canto dos cobertores, dobrando-o e desdobrando-o novamente. Eu peguei sua mão e a segurei. — Eu estou bem, mamãe. — Forcei um sorriso corajoso. Ela não tinha ideia do que realmente tinha acontecido aqui, e eu não ia divulgar. — Tem qualquer coisa que eu possa pegar para você? — Ela disse. — Alguma coisa que você precisa? — Não. Mas obrigada por oferecer.
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Ela olhou para mim por um longo tempo sem dizer nada, seus olhos grandes e meio que vítreos. Depois ela se inclinou e beijou minha testa antes de se levantar. — Tente tirar um cochilo. Eu vou te acordar quando o jantar estiver pronto. — Ok, mamãe. — Eu mantive o sorriso no meu rosto até que ela saísse do quarto, então me afundei na cama e deixei sair um pequeno suspiro. Meu braço doeu, e eu levantei a tipoia com um triste e breve aceno para Caspian. Ele sentou ao meu lado. — Machuquei-me. — Eu disse. — Eu vejo. Parece que você vai precisar de uma mão extra. — Conhece algum comprador? — Do seu lado como cola. — Ele sorriu ironicamente para mim, mas seus olhos estavam tristes. Eu queria mandar a tristeza que estava ali embora. — É, mas diferente de Ben, é meu trabalho te proteger. Ou ao menos... Fazer o melhor que posso. Eu não consigo acreditar que deixei aquilo acontecer. — Ele bateu o punho contra a palma da mão aberta enquanto falava. — Vincent te atacou, e agora você está aqui, assim, e eu estou... — Preso como cola? — Isso mesmo— ele disse suavemente, pegando meu olhar. — Preso como cola. — Sorte sua me ocorrer gostar de cola.— Tirei minhas sandálias e abri o zíper do meu agasalho com capuz. Era difícil tirar minha mão ferida pela manga, mas uma vez que estava fora, eu era capaz de encolher os ombros e tirar a camisa do caminho e atirá-la no chão. Caspian a alcançou e pegou. Depois ele andou para a porta do closet e a pendurou numa ombreira. — Está bem aqui?
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— É, está bem. Sabe, será conveniente ter você por perto. Você pode arrumar todas as minhas roupas. Ele fez uma breve reverência, e então voltou à cama e se deitou ao meu lado. — Se serviço de lavanderia é o que a Milady quer então serviço de lavanderia é o que ela vai receber. Ele se virou para me encarar, e a faixa preta do seu cabelo cobriu um olho. Meu coração tremulou. — Essa é a imagem de felicidade doméstica. — Eu disse. Acrescente um grande leque e uma bebida exótica, e você tem a fantasia de toda garota. — Felicidade doméstica, huh? Você quer brincar de casinha comigo, Abbey? Eu senti minhas bochechas aquecerem. — Eu, um... Você sabe o que eu quero dizer. Servo. Fantasia. Aquele tipo de coisa. — Certo. Certo. A fantasia de toda garota. Mas eu só estou interessado na fantasia de uma garota. — Ele se inclinou. — A sua. Eu pensei na nossa recente estadia no hotel em West Virginia. Onde nós tínhamos compartilhado uma cama... E uma toalha. Então outra coisa me atingiu. — Ei, quem lavava a roupa na sua casa? — Eu perguntei suavemente. Seu rosto ficou sério, e ele olhou para longe. — Nós íamos à lavanderia automática. Tinha uma senhora lá que lavava para nós. Eventualmente ela me mostrava como fazer isso. Ela até me fez escrever uma nota assim eu não esqueceria. Só levou uma carga de calções rosa e uma máquina de levar transbordando, mas aí eu ensinei ao meu pai. Eu observei seu rosto se mover enquanto ele falava, e estava atingida mais uma vez por como ele era bonito. E por outra coisa... Como ele era meu. — Então você lavava toda a sua roupa? O que mais você fazia?
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— Eu ia sozinho para a escola e fazia meu próprio almoço. Eu imaginei uma versão mais jovem de Caspian tentando juntar manteiga de amendoim e geleia de sanduiches toda manhã, e meu coração se sentiu triste. Mamãe sempre fez meus almoços para mim quando eu era pequena. Ela tinha até pegado receitas especiais, como quando eu queria salada de ovos por três meses consecutivos. — Eu teria feito almoço para você. — Eu disse suavemente. Ele veio apertar minha mão, mas puxou para trás quando lembrou que não podia. — Eu sei, Abbey. — Ele respondeu ao invés. — Eu sei. Nós deitamos lá em silêncio até que eu finalmente disse: — Você sabe o que vai ser a melhor coisa em ter você aqui comigo? — Ter um servo à sua disposição e pedir? — Não. Mas é perto da segunda. — Eu movi minha mão livre para mais perto da dele até que um formigamento fraco de um quase toque zumbiu através de mim, e olhei para as constelações que cobria o teto do meu quarto. — A melhor coisa é ter alguém com quem olhar as estrelas. Algumas horas depois, mamãe chamou lá debaixo para o jantar, enquanto Caspian ficava em meu quarto. O momento todo em que comíamos, eu continuava pensando sobre como ia ser tê-lo lá sem meus pais perceberem. “Eu terei que tomar cuidado. Tenho observar se não vou deixar nada escapar na frente deles, de eles não me ouvirem falando com ele.” — Você está terrivelmente quieta. — Papai disse. — O que você está pensando? — No fato de que nós deveríamos adquirir um sistema de alarme. Ok, então isso não era realmente no que eu tenho estado pensando, mas soava legal. Mamãe e papai trocaram olhares desconfortáveis. — Sua mãe e eu temos alguém vindo essa semana pra conversar sobre nossas opções. — Papai respondeu. Eu peguei um pedaço de brócolis e continuei comendo.
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— Ok. Ambos apenas olharam para mim, calados. — Então... Você está bem com isso? — Papai perguntou. — Sim. Por que não estaria? — Bem, nós não queríamos estar desconfortáveis com a ideia de precisar ter um, para se sentir seguros aqui. Eu abaixei meu garfo. — Papai, alguém invadiu nossa casa. Eu acho que um sistema de alarme seria bom. Mamãe colocou sua mão na mesa com um baque alto. — Já chega! Já chega dessa conversa! Eu não quero discutir mais isso. — Eu acho que todos nós deveríamos discutir isso. — Papai disse. — É. É só um sistema de alarme, mamãe. Não é grande coisa... A expressão de mamãe ficou arrasada. — Eu não quero discutir isso. Nós vivemos nessa cidade nossas vidas inteiras e nada disso alguma vez já aconteceu antes. Eu não quero saber que nós vamos colocar um sistema de alarme por que tem alguma pessoa louca invadindo casas e machucando os filhos das pessoas... E... — Sua voz ficava mais alta a cada palavra até ela estar praticamente gritando. E então se calou. — Eu não consigo lidar com isso. Eu preciso de uma pílula. Ela rapidamente deixou a sala, e eu esperei algum tipo de explicação de papai. Mas ele não me deu uma. — Sobre o que foi tudo aquilo? — Eu o incitei. — Eu preciso de uma pílula? — Sua mãe está apenas chateada por tudo que aconteceu. O médico prescreveu algumas pílulas para ela, para acalmar os nervos dela.
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— Acalmar os nervos dela? Você pensaria que ela foi a única que foi atacada. Papai tomou um forte fôlego. — Eu não quis dizer isso. É só... — Ele balançou a cabeça. — Você sabe o que eu quis dizer. Mas vai ser difícil por um tempo. Todos nós precisamos... Ajustar-nos. Sua mãe e eu amamos muito você, Abbey. — Eu sei, Papai. Eu acho que só preciso de um tempo para me ajustar também. — Tempo para me ajustar ao fato de que eles não sabiam o que tinha acontecido, e eu nunca poderia dizer a eles. Meus brócolis estavam frios agora, mas eu não sentia vontade de comê-los. Empurrando meu prato para longe, eu manobrei minha bunda de debaixo da mesa e me levantei. Eu me virei em direção às escadas, mas não cheguei. — Ei, papai? O que você e mamãe fariam se eu morresse? Ou se eu já estivesse morta quando vocês chegassem em casa e me encontrassem? Toda a emoção sangrou em seu rosto. — Que tipo de pergunta é essa? — Só uma pergunta. — Isso deve ser ‘apenas uma pergunta’, mas certamente não é algo que você precisa se preocupar. — Ele afagou meu braço. — Você tem uma longa vida à sua frente. Quando eu voltei ao meu quarto, Caspian estava deitado na cama, olhando para as estrelas. — Você sabe que elas são bem melhores no escuro. — Eu disse. — Eu sei. Mas eu estava te esperando. — Ele se apoiou em um braço, e eu sentei ao seu lado. — Como foram as coisas lá embaixo? Eu ouvi gritos. Eu suspirei. — É. Era mamãe. Ela está enlouquecendo por que eles têm um cara do sistema de segurança vindo para colocar um alarme. — E ela não quer isso?
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— Oh, ela quer. Ou não. Ou não quer querer... Eu não sei. É confuso. Ela está confusa. Não é como se isso fosse parar Vincent se ele viesse aqui novamente, de qualquer forma, mas eles não sabem disso. Eu acho que ela está apenas chateada sobre o fato de que ela quer que consiga um. — Dei de ombros. Ou tentei. A tipoia em meu braço apertou e machucou. — Não posso esperar pra tirar essa coisa estúpida. — Eu disse, levantando-a. — Ah, pobrezinha. Eu nem mesmo posso esfregar ou algo. Eu dei um suspiro de simulação, mas meu braço estava realmente doendo agora. — Você pode pegar aquele frasco de comprimidos na escrivaninha? — Eu pedi a ele. — Aquele grande com a tampa amarela. Ele pegou e o jogou perto de mim nos lençóis. Eu abri a tampa e me estiquei para pegar um copo de água na minha mesa de cabeceira. Depois de engolir as pílulas, recapitulei a garrafa e joguei de volta pelos lençóis para ele. Caspian o pegou e colocou de volta na minha escrivaninha. Depois ele andou para o closet. Um tempo depois, um cobertor estava ao meu lado. Eu olhei para ele surpresa. — Eu achei que você precisaria disso. — Ele disse. Ele tinha achado certo. Eu já estava colocando sobre mim e me aconchegando em baixo. Ele sentou ao meu lado em silêncio. — Posso te perguntar uma coisa? — Eu disse. — Sobre... Vincent? — O que você quer saber? — Depois que fui para o hospital, o que aconteceu? Parecia que ele estava pensando sobre isso. Então ele disse: — A última coisa que eu lembro era olhar para ele em seu quarto. Tudo que eu conseguia pensar era em tirá-lo daqui. Então ficou tudo branco. Quando acordei, eu estava com Nikolas e Katy. Na casa deles. — Ele abaixou sua cabeça, bem perto da minha orelha. — Eu disse que precisava te encontrar. Sophie e Kame estavam lá, e eles me disseram o que aconteceu. Então eles me trouxeram ao hospital. — Eles disseram por que Vincent veio atrás de mim? — Eu perguntei. — O que você quer dizer?
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— Ele veio atrás de mim por que ele pegou a garota errada. — Eu disse tristemente. — Ele pensou que Kristen era eu. Eu sou o motivo para ela estar morta, Caspian. — Não é verdade! — Ele disse. — Não é sua culpa! Você não é o motivo pelo qual ela está morta. Ele é. Não se coloque nisso. — Mas se eu apenas soubesse... Tivesse feito algo para avisá-la... — Avisá-la como? Você não teria mudado nada, e se tivesse... — Ele parou. — Você sabe que nós teremos que conversar sobre isso mais cedo ou mais tarde. — Eu disse. — O motivo dos Revenants estarem aqui. Por que eu vou m... — Não fale, Abbey! — Ele implorou. — Por favor, não fale! Eu não consigo pensar sobre isso. Sobre você... Eu apenas não consigo. — Todo mundo tem que morrer um dia. — Você acha que eu não sei disso? — Ele tirou sua mão, e veio através da minha. — Eu sei mais que qualquer um. — Ele virou as costas para mim, obviamente chateado. — Desculpa! — Eu disse. — Não fique com raiva. — Desculpe-me também. Eu não queria que isso saísse desse jeito. Eu só não consigo... Não consigo te imaginar morta, Astrid.— Caspian estendeu ambas as mãos e as espalhou. — Eu não vou falar isso novamente. — Eu prometi, desesperada para fazer tudo melhor. — prometo. Ele exalou um suspiro trêmulo e fechou seus olhos, inclinando sua cabeça para perto da minha. Nós deveríamos estar nos tocando... Se pudéssemos. Eu também fechei meus olhos. O comprimido para dor estava me deixando sonolenta. — Você vai ficar? — Eu perguntei, desaparecendo mais profundamente em meus cobertores, mais perto dele e ainda assim tão distante. — Fique comigo.
JESSICA VERDAY — Para sempre. — Ele sussurrou. — Eu vou ficar para sempre.
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Capítulo 3 CANTOS RETOS E ÂNGULOS RUINS
Dessa forma as questões se prolongaram por um tempo... A Lenda de Sleepy Hollow
Quando eu acordei na manhã seguinte, eu notei duas coisas. A primeira era que o meu braço enfaixado estava preso embaixo de mim em um ângulo impossível, e segundo... Eu tinha um cara gostoso na minha cama. Ignorando a sensação de peso morto que eu sabia que iria levar a um comichão quando o meu braço preso acordasse, eu fiquei deitada bem parada e absorvi a vista diante de mim. Caspian estava de lado, um braço jogado acima da cabeça. Sua camiseta um pouco torcida de modo que eu mal podia ver a pele acima de seus jeans. Meus olhos traçaram um percurso pela mecha de cabelo negro que estava caída em sua bochecha. Em seguida, para o seu nariz, seus lábios... Lábios que eu queria beijar novamente. “Quantos dias até dia primeiro de Novembro? Quantos dias até o aniversário do dia da morte dele, quando nós vamos poder nos tocar?” Duas semanas até a escola começar, e então trinta e um dia de outubro... Muito tempo. Tempo demais.
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Meu olhar foi mais para baixo. Para a pele dele. Eu não pude evitar. Não pude evitar me esticar para tentar sentir aquele pedaço dele que eu queria tanto. Eu nunca havia percebido, nunca havia sonhado, que um relacionamento sem algo tão simples como um toque poderia ser tão difícil. Os olhos de Caspian tremularam e se abriram, e eu sabia que ele sentia o formigamento da mesma forma que eu. — Oi! — Eu disse suavemente. Ele apenas olhou para mim. E então, um lento sorriso apareceu em seu rosto. — Você estava me encarando? — Tirando uma foto mental. — Eu disse, com um sorriso malévolo próprio. — Lembrando-me da noite do último Natal quando você tirou a sua camisa e me mostrou suas tatuagens. Com um movimento rápido, ele se abaixou e torceu a camiseta para cima. Ele a tirou, e o meu pulso disparou. — Melhor? — Ele perguntou. — Bastante. — Eu suspirei. O meu coração batia como um tambor nos meus ouvidos, e o ar ao nosso redor parecia pesado e grosso. Eu não conseguia parar de encará-lo. Não podia parar de olhar para a pele dele. Tão diferente da minha, e, no entanto, igual. Era fascinante. Pequenas protuberâncias e sulcos compunham as cavidades da clavícula dele, mas era macia, a pele lisa se esticava até lá embaixo... Ele olhou para mim e ergueu as sobrancelhas. — Você vai retribuir o favor? — Não. — Eu engoli duramente. — Não? Isso não é realmente muito justo! — Oh, sim. É. Eu sou a pessoa ferida aqui, então você tem que fazer um pouco das minhas vontades. Caspian assentiu. — Tudo bem. Você já fez um pouco das suas vontades?
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Eu balancei a cabeça. Ele virou e esticou sua barriga, com os braços cruzados na frente dele, as costas totalmente expostas. As bordas e linhas das tatuagens em seus ombros um pouco turvas. A cadeia interligada de pequenos círculos e triângulos negros se entrelaçavam. Eu percebi que estava encarando muito. E possivelmente babando. Eu me mexi e puxei o braço que estava embaixo de mim, me virando para que eu estivesse de lado, encarando-o. — Você não está... Eu nem posso... Te incomoda que nós nunca podemos nos tocar? — Eu perguntei desesperadamente. — Todos os dias. O seu tom era suave. Simples. Mas um mundo totalmente diferente estava por detrás destas palavras. O mundo dele. Um mundo que eu não podia fazer parte. Não ainda, pelo menos. Nós estávamos a quilômetros de distância. — O que você estava pensando quando você fez as suas tatuagens? — Eu disse, mudando de assunto para algo mais fácil. Algo com respostas. — Qual foi a sua inspiração? Ele se mexeu também. — O sinal de parada da minha casa antiga havia sido grafitado. Alguém havia pintado grandes círculos sobre ele. Então alguém sobrescreveu o desenho com um triângulo. Não era o mesmo padrão que eu tenho em mim agora, eles eram dois desenhos distintos, mas a minha mente apenas os colocou juntos desse jeito estranho. — Isso é legal. — Pode soar meio hippie. — Ele disse — Mas quando eu vi os círculos, eu senti esta... Conexão. Com a terra. Ou a Mãe Natureza. Ou o que seja “isso”. Eu sempre tive essa sensação que eu estava conectado a alguma coisa. Ou alguém. — Talvez seja eu. — Seus olhos seguraram os meus, e eu teria dado tudo para ser capaz de me esticar e tocá-lo. — Nós estamos conectados. Talvez nós...
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— Bom dia, querida! — Mamãe chamou do lado de fora da porta. Ela entrou segurando uma cesta de lavanderia, e eu me sentei. Eu nem havia escutado ela subir as escadas. O meu olhar voou para o Caspian. Apesar de saber que ela não podia ver o garoto seminu, sem camisa na cama, eu ainda tive um momento de pânico. — Ei, mãe. — eu disse sem jeito. Ela cruzou o quarto e abriu as cortinas. — O que você quer para o café da manhã hoje? — Eu não, hum, não estou realmente com fome. — Mas você tem que comer. Por que eu não faço panquecas com gotas de chocolate? — Ela foi até o guarda-roupa, abrindo as gavetas e guardando as meias. — Sim. Ótimo. Bom. Soa ótimo. Eu vou me vestir... — Ou waflles belgas? Você ama eles. — Sim, mãe. Ok. — Eu mentalmente desejei que ela saísse do quarto. — Eu descerei logo que estiver vestida. Ela voltou do guarda-roupa e sorriu para mim. — Eu estava pensando que talvez depois do café da manhã nós pudéssemos ter um dia de filme. Eu aluguei um monte deles. Eu fiquei de pé e abri a porta do banheiro, esperando ter mandado a mensagem que eu precisava entrar lá. — Ok. Mas primeiro os waffles, certo? Parecendo animada demais, ela disse: — Isso mesmo. — E seguiu para a porta. Uma respiração que eu nem tinha percebido que estava segurando, escapou de mim, e eu me virei novamente para o Caspian. Ele alcançou embaixo do lençol e pegou sua camiseta. Eu estava triste em ver a sua pele nua ser coberta.
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— Bem, ótimo. — Eu disse. — Agora eu tenho que ir tomar o café da manhã. Quer vir junto? — Eu diria que sim, mas já que ela não pode me ver e eu não quero comer, eu acho que vou esperar por aqui. — Ele me soprou um beijo enquanto eu caminhava para o banheiro, e eu retornei o favor. Eu já estava lamentando o momento terrível da minha mãe, e me perguntei o quão rápido eu poderia voltar para ele. Meia hora depois eu entrei na cozinha e olhei para o prato com uma pilha de dez panquecas, me perguntando se a mamãe havia feito tantos tão rapidamente. Então eu me sentei-me à mesa. — Você fez um pouco para os vizinhos também? Ela sorriu e os trouxe para mim. — Eu só queria ter certeza que você tivesse o bastante para comer. Eu cuidadosamente deslizei dois waffles no meu prato. Mamãe trouxe suco de maçã e laranja, e colocou os dois ao meu lado. Em seguida, ela colocou dois waffles em seu próprio prato e sentou-se. — Nós deveríamos ir fazer manicure e pedicure quando o seu braço for desenfaixado. — Ela disse, pausando entre as mordidas. — Eu acho que quero pintar os meus dedos do pé de vermelho. — Vermelho claro? Ou vermelho escuro? — Eu acho que vermelho escuro. Talvez marrom. Eu olhei para baixo e empurrei o waffle no meu prato. O caixão da Kristen era vermelho escuro... Então eu disse. — Ei, mãe, se alguém mais estiver gastando bastante dinheiro, mas é uma compra para você, você poderia decidir os detalhes? — Eu não sei o que você quer dizer. Como um carro? — Sim. Como um carro. Se alguém comprasse um carro, mas, fosse, na verdade, para outra pessoa, essa pessoa poderia tomar a decisão sobre os detalhes? Como que cor pintá-lo? Mamãe riu.
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— Isso é algum tipo de dica para presente de formatura, Abbey? Eu movi o meu waffle novamente. Eu não tinha certeza de como dizer o que eu queria. Afinal de contas, como exatamente soltar, “eu vou morrer logo, e eu quero ter certeza que o meu caixão seja vermelho”, sem soar como uma pessoa louca? — Qual é a sua flor favorita? — eu perguntei ao invés. — Orquídea. Brancas. Eu sei que elas podem ser meio da época de Páscoa, mas eu acho que elas têm uma aparência tão linda. Não era exatamente a minha primeira escolha, mas não era de todo mal. — E quanto à sua música de igreja favorita? Tipo um hinário? Mamãe se inclinou para trás e pensou sobre isso por um minuto. — Eu acho que eu iria escolher, “Oh, Quando os Santos Marcham”. — Sério? Eu não teria adivinhado essa. — “Oh, Quando os Santos Marcham” é meio energético para um funeral. — Um funer...? — Mamãe me encarou. — O que você acabou de dizer? — Funerais têm músicas e flores. Eu só queria saber de quais você gosta. — Por que você está falando sobre isso, Abigail? — A voz da mamãe estava com aquela nota alta histérica novamente. — Bem, já que a Kristen morreu muito jovem, me fez perceber que qualquer coisa pode acontecer. Para o meu funeral, eu quero um caixão vermelho. Igual ao que ela teve. Lírios brancos está bem. Eu não me importo realmente com eles. Mas escolha uma música melhor do que “Oh, Quando os Santos Marcham”, ok? O garfo dela se estatelou no chão. Empurrando sua cadeira para trás, mamãe ficou de pé abruptamente. — Isso não é engraçado. Esta conversa acabou. Eu não estou no clima para assistir filmes hoje. Você terá que encontrar outra coisa para se manter ocupada.
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Ela deixou a cozinha sem dizer outra palavra, mas os seus passos estavam bravos enquanto ela saía batendo o pé na sala. Eu encarei o meu prato. Por que todo mundo ao meu redor estava tão sensível sobre a morte de repente? Eu voltei para o andar de cima até o Caspian e me joguei na cama. Gemendo, eu disse: — Você tem tanta sorte por não ter uma mãe para lidar mais. Ele não respondeu. Eu olhei para cima, me arrependendo das palavras imediatamente. Ele estava sentado na minha mesa, com as mãos cruzadas. — Desculpa! Eu não quis... — eu suspirei alto. — Eu continuo fazendo isso. Continuo dizendo as coisas erradas. Eu não sei o que é isso, mas é como se eu fosse feita de cantos retos e ângulos errados. Ele chegou perto e tocou o meu rosto. Eu sentei parada, sem saber se ele iria tentar me tocar realmente, ou iria manter um espaço entre nós. Eu senti o leve zumbido na minha bochecha, e virei o meu rosto na direção dele. — Já é primeiro de Novembro? — eu sussurrei. Caspian balançou a cabeça e balbuciou um silencioso Não. Mas ele segurou sua mão lá por mais um pouco. — Só deixe ela superar tudo, Abbey, ok? Dê a ela um pouco mais de tempo. E espaço. Ela vai precisar. — Eu sei, eu sei. Quando você ficou tão inteligente? — Eu sempre fui tão inteligente. Espera, você gosta de caras inteligentes? — Definitivamente eu gosto de caras inteligentes. — Eu sorri para ele, e então desviei o olhar. Eu não sabia o quanto mais desse negócio de não se tocar eu podia aguentar. Parece como se uma parede invisível estivesse entre nós, toda vez que nós nos aproximávamos, eu não podia derrubá-la. Eu me levantei e fui até a janela. A janela na qual Vincent Drake havia escapado.
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Eu tracei uma linha pelo vidro. Fez-se um som suave de esfregação enquanto os meus dedos deslizavam para baixo. Uma trilha invisível deixada para trás. — Você não acha que é meio doido que os Fantasmas me querem morta, enquanto o Vincent me quer viva? — Eu pensei alto, mantendo a ponta do dedo na janela de vidro. Caspian veio atrás de mim. — O que você disse? — Vincent não quer me matar. Na verdade, ele até mesmo me disse para não fazer nada estúpido. — O que ele quer, então? — ele perguntou. — Eu. Viva. Por quê? Eu não sei. Eu olhei para fora da janela, perdida nos meus pensamentos. Eu não conseguia parar de passar as cenas com o Vincent várias vezes na minha cabeça. Se eu apenas tivesse feito algo diferente... Me defendido de alguma forma, ou fizesse ele pagar pelo que ele havia feito com a Kristen... Se somente eu pudesse fazer tudo desaparecer... Eu me virei, e meus olhos caíram sobre um velho caderno sob perfume acumulando poeira no canto da minha mesa. Eu nem podia me distrair com um projeto; todos meus suprimentos de perfumaria haviam estado dentro do armário que o Vincent destruiu. — Eu queria ter algo novo para trabalhar. — Eu disse. — Talvez seja hora de levar a mamãe para umas comprinhas para comprar algumas coisas de perfume. Passar um tempo de qualidade juntas. Isso deve deixar ela feliz. — Eu passei para a cadeira e descansei o meu braço enfaixado na mesa. — Você poderia aprender a desenhar. — Ele respondeu. — Eu poderia? Conhece alguém que pode me ensinar? — Para falar a verdade, eu conheço. — Ele pegou seu caderno de desenho e um carvão, e então sentou-se na cama. — Venha aqui. — Rapidamente abandonando a mesa, eu fui sentar ao lado dele. Caspian folheou uma nova página e apontou para ela. — Desenhe uma árvore. — Ele instruiu.
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— Eu não posso. Não vai ficar bom. Eu mal consigo segurar um lápis, muito menos desenhar alguma coisa. — E daí? Só tente. Eu suspirei, e então peguei o carvão cuidadosamente. Ele deixou listras pretas nos meus dedos. Conjurando todas as coisas que a minha professora de arte havia me dito uma vez sobre as formas básicas e “tornarse um com o objeto”, eu tentei desenhar um esboço mais simples de uma árvore. Parecia como um rabisco. Minha mão tremeu enquanto eu tentava suavizá-la, tentava pressionar o carvão com mais força e fazer os galhos tomarem forma, o tronco aparecer, os galhos se estenderem. Ainda parecia um rabisco. Só que... Pior. — É, não consegui nada. Caspian olhou para ele. — Isso não é verdade. — Eu fiz algumas manchas pretas. Dificilmente algo para se ficar animado. — Virei à página de lado e a estudei, colocando o carvão de lado. — Ei, se você olhar desse jeito, meio que parece a mão de um monstro gigante ou algo assim. Ele riu. — Vamos ver o que nós podemos fazer com isso. — Pegando o carvão novamente, ele o colocou na folha e começou a fazer rápidas e curtas pinceladas. Magia escura pareceu fluir de suas mãos e se acomodar no papel. Linhas longas e suaves eram as próximas, e eu podia ver algo tomando forma. — Isso é uma floresta? Ele assentiu e continuou trabalhando, transformando as minhas tentativas sem graças e patéticas de uma árvore em um tronco escuro e retorcido. O segundo plano tomou forma, e as árvores começaram a aparecer, se reunindo nas beiradas em uma dança selvagem de abandono. Algumas das árvores possuíam ramos espetados e bifurcados, um aviso severo para prestar atenção ao que elas tinham a dizer, enquanto outras apontavam caprichosamente desta ou daquela maneira, suas espinhas arqueadas e ramos fluindo e balançando em sincronia com alguma batida inaudível.
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— Isso é incrível! — Eu suspirei. — Você está deixando tudo tão real. Eu posso ver a história nela. Ele continuou trabalhando, suavizando e sombreando, até que as beiradas estavam perfeitas. As linhas acentuadas onde elas precisavam ser, e suaves onde elas precisavam ser suaves. Eu não falei, mal respirei, sem querer interrompê-lo. Finalmente, ele terminou. Quando ele olhou para mim, seus olhos estavam brilhantes e felizes. Ele varreu novamente o cabelo que havia caído em um dos olhos, deixando uma mancha de carvão em sua testa. Uma imensa gratidão me encheu por ter esta oportunidade, este momento perfeito, para testemunhar a felicidade dele. A paixão dele. — Do que nós deveríamos chamá-lo? — Ele perguntou. Sem hesitação as palavras voaram para fora de mim. — Dança da Floresta. — Perfeito! — Ele escreveu o nome no canto inferior do papel, e então tirou a folha do caderno, colocando-a nas cobertas ao meu lado. — Para você. Viu que bom time nós formamos? Eu funguei. — É, certo. Sem a minha terrível árvore, você não conseguiria totalmente fazer este brilhante desenho. — Eu não teria nada com que começar. — Ele corrigiu. —Então, eu não teria terminado com aquilo. — Ele começou outro desenho enquanto ele falava, este era um simples rio. Foi terminado rapidamente, e ele virou a página novamente. Logo, um jardim tomou vida, e ele o preencheu de flores. Eu poderia ficar assistindo ele desenhar a manhã toda, mas eventualmente ele quebrou a quietude. — Sabe, você não está completamente sem produtos para os perfumes, se você quiser fazer algo. — Sim, eu estou. O Vincent quebrou tudo. — E quanto a sua pasta de suprimentos?
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“Minha pasta?” Eu me levantei para checar embaixo da minha mesa. — Ainda está aqui! Eu posso fazer algo com os suprimentos que eu tenho aqui. Eu a apoiei sobre a mesa e abri as travas. Prazer me encheu enquanto eu passava a mão não lesionada sobre as fileiras e fileiras de brilhantes garrafas de vidro âmbar. Eu peguei o óleo essencial de baunilha, manteiga CO2, óleo essencial de manjericão, e musgo de carvalho puro para começar. Em seguida, eu arranquei um punhado de pipetas e um vidro para misturar, e me sentei na cadeira. Depois de pegar uma garrafa de óleo de jojoba, eu derramei vinte gotas no vidro de mistura e abri o caderno do perfumista que estava próximo para escrever que óleos eu estava usando. — Você sabia que a arte de fazer perfume é uma que se iniciou nos tempos antigos? — Eu disse para o Caspian. — O perfume era comumente encontrado na bíblia. Óleos essenciais de cipreste, sândalo, mirra, incenso, canela e bálsamo foram utilizados na preparação de óleos de unção e eram queimados como incenso como ofertas em rituais de sacrifício. — Eu cuidadosamente meço dez gotas de óleo de manjericão e misturo com o óleo de jojoba. Cinco gotas de musgo de carvalho vêm depois disso. E então cinco de baunilha. Caspian assistiu por cima do meu ombro. — Até mesmo havia um monte de perfumes no Titanic. — Eu disse. — Adolphe Saalfeld era um perfumista que viveu na Inglaterra, mas queria vender os seus perfumes nos Estados Unidos. Então ele reservou uma passagem no navio e levou sessenta e seis tubos de aromas de perfume concentrado com ele. Ele sobreviveu ao naufrágio, mas deixou os perfumes para trás. Quando eles fizeram aquela grande descoberta no local do acidente há uns dois anos, eles encontraram as amostras de perfume dele e trouxeram consigo. Quase todos eles estavam perfeitamente preservados e eles foram capazes de recriá-los. Usando uma das pipetas de transferência, eu agitei a mistura sem jeito, sem estar acostumada a trabalhar com o braço enfaixado, e então coloquei a tampa.
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— Você pode imaginar isso? Ser capaz de recriar um perfume que ficou por todo aquele tempo enterrado nas profundezas do oceano? Deus, que achado! — Eu abri a garrafa uns dois segundos mais tarde e inalei profundamente. Ele assistiu com uma fascinação extasiada enquanto eu continuava escrevendo e misturando, adicionando mais gotas disso e daquilo, e então tampando e cheirando. — Precisa de um tom mais amadeirado. — Eu murmurei para mim mesma após a quinta tentativa. — Algo... — Eu procurei na minha pasta de suprimentos, olhando o que eu tinha de sobra. Vendo o óleo de bálsamo, eu o peguei. — Como isso. Caspian leu o rótulo. — Como isso? Eu assenti. — Mas você está pensando em Bálsamo de abeto. Este era o tipo de bálsamo do arbusto de bálsamo. Tem cheiro picante. Um pouco como a canela. A não ser que fique velho. Então ele tem cheiro de baunilha. — Eu acrescentei umas duas gotas e fiz uma anotação. — Algumas pessoas acreditam que o Bálsamo foi colhido por um grupo de pessoas chamado Essenes que viveram no Egito e eram conhecidos por curar, em suas práticas curativas usavam óleos de essência. Eles viviam onde havia arbustos de bálsamo e se tornaram cultivadores dele, colhendo-os para venda e usando-os para suprir sua maneira de viver. Ele colocou sua mão ao lado da minha na mesa, e eu pausei, olhando para cima. — Você é incrível! — Ele disse suavemente. — Inteligente, linda e talentosa. Onde você aprendeu tudo isso? Fiquei cheia com vergonha, e desviei o olhar. — Pesquisa, na maior parte. Eu sou apenas uma nerd que precisa arrumar outro hobby. — Não, você não é. Você é... — Ele de repente pausou e olhou de volta para a porta. Como se ele tivesse ouvido algo que eu não ouvi.
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E então eu ouvi também. Alguém estava do lado de fora do meu quarto. Uma batida hesitante veio, e a porta se abriu. Eu me inclinei para trás, preparando-me para dizer algo para a mamãe, e então eu vi a Beth, da escola. Aqui. Na minha casa. De shorts curto e biquíni. — Ei, Abbey. — Ela disse alegremente, toda sorrisos. Sua pele brilhava como se tivesse acabado de ser escovada até a perfeição, e o espaço bronzeado de pele entre a parte de cima de seu biquíni e os shorts me deixou muito consciente do fato de que eu não havia passado exatamente o meu verão na pista de corrida como ela obviamente tinha passado. — Eu totalmente tinha ligado primeiro, sabia. Caspian se moveu para o guarda-roupa. Eu o vi ir, tentando não pensar se ele estava reparando os shorts curtos. — Ei, Beth. — Eu disse lentamente, ficando de pé. — Isso é... Inesperado. Ela caminhou até a cama e sentou-se perto da pilha de desenhos. Folheando o primeiro, ela encarou o jardim de flores. — Sim, eu estou a caminho da casa de praia da família e pensei que você gostaria de vir. — Seu olhar passou pelo meu braço enfaixado e então desviou. — Eu, hum, ouvi sobre todo o negócio no hospital. O quão ruim foi? — Está tudo bem. Isso é só uma precaução. O médico insistiu. — Eu odeio quando os médicos fazem todas essas merdas só para dizer que você está bem. Minha mãe trabalha para uma companhia de seguros, e eu juro, as coisas que ela diz com as quais os hospitais conseguem se safar... Seus dedos ociosamente traçaram caminhos pela página na frente dela. Eu podia dizer que ela queria me perguntar mais sobre o ataque, e eu gemi por dentro com o pensamento. Beth era realmente legal, e eu gostava dela, gostava mesmo, mas eu totalmente não estava a fim de relembrar isso novamente.
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— Obrigada pelo convite. — Eu disse, guiando a conversa para longe daquele assunto. — Eu gostaria de ir, mas... — Eu ergui o meu braço enfaixado como explicação. Beth olhou para baixo novamente. Ela encontrou o desenho da floresta. — Ei. — Ela sentou-se reta. — Ei, Abbey, estes são realmente bons. Eu não sabia que você era uma artista. — Eu não sou. Quero dizer, eles não são meus. Eles são de outra pessoa. Beth sorriu. Eu gemi por dentro porque eu conhecia aquele sorriso. E não era um que eu queria ver. — Ohhhh! — Ela disse. — Alguém desenhou para você? Quem você está namorando, garota? — Ninguém! — eu disse fracamente, tentando rir. Tecnicamente, não é verdade. Mas é mais fácil do que a resposta verdadeira... — Ei, o que aconteceu com o Lewis? Vocês ainda estão juntos? — Ugh, não. — Ela soprou a franja de seu rosto com uma lufada de desgosto. — Ele ficou muito sério comigo. Ele ficou querendo fazer planos para o nosso futuro, e discutir o que nós faríamos na faculdade. E então! Então ele começou a falar de morar juntos de algum tipo, um ponto no meio do caminho se nós fôssemos para faculdades diferentes, para que nós pudéssemos ver um ao outro nos finais de semana. Sério? Quer dizer, cara, você é uma grande transa e tal, mas eu preciso de um pouco de variedade. — Hum, sim, eu entendo totalmente isso. — “Não, eu não entendo. Eu ficarei com o meu namorado por toda a eternidade. Falando em compromisso.” Eu tentei muito não olhar para o Caspian, mas eu não consegui evitar uma olhada rápida. Seu rosto estava em branco, ilegível. Eu não podia dizer se ele estava mantendo-o dessa forma de propósito ou se ele realmente não tinha nenhum interesse no que a Beth estava dizendo. Ou vestindo. — E daí, como ele lidou com isso?
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— Ele ficou de coração partido, claro! — Beth disse, arrastando minha atenção de volta para ela. Ela andou até a minha mesa e pegou uma garrafa de óleo de musgo de carvalho. Seu rosto estava enrugado enquanto ela o cheirava. — Eca. Nojento. Isso cheira como plantas mortas ou algo assim. Eu ri e peguei a garrafa dela. — Aqui. — Eu entreguei para ela o de baunilha. — Tente esse. Seu rosto se iluminou com um sorriso prazeroso enquanto ela inalava. — Hummm. Você pode me fazer um perfume assim? E bem desse jeito, meus pensamentos estavam rodopiando. Já funcionando. Eu podia adicionar baunilha Madagascar com apenas uma pitada de creme de manteiga, e um pouco de açúcar mascavo para apimentar. — Sim. Claro. Sem problemas. De repente ela me abraçou. — Venha para a praia comigo. — Ela pediu antes de se afastar. — Nós encontraremos alguns gostosos salva-vidas e ficaremos bêbadas embaixo da lua à meia-noite. Eu não ligo para o que o Lewis diz. Eu sou jovem. Eu preciso viver a vida. Olhe para você, certo? Você não tem um namorado no colegial pendurado no seu pescoço como uma corrente, e você está bem. Eu nem sabia o que dizer. — Eu... Beth... Eu... — Eu balancei a cabeça. — Pooor favor? Vamos lá, Abbey. É só por um dia. Só venha sair comigo por um dia. É tudo o que eu peço. O problema era esse, em um mundo normal, era algo que eu provavelmente teria concordado em fazer. Mas agora o Vincent estava aqui, e os Fantasmas também, e eu não saberia o que dizer ao Caspian... E para a mamãe. E ainda, como eu poderia agir como se fosse solteira? Eu não me sentiria bem em flertar com algum cara gostoso. Eu tinha o meu próprio garoto gostoso bem aqui. O único problema era, ninguém podia vê-lo a não ser eu.
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— Eu não posso, Beth. — Eu disse firmemente, balançando a cabeça. — Eu apenas me sinto estranha com o meu braço enfaixado, e eu não estou realmente no clima para encontrar caras agora, depois de tudo que aconteceu. Talvez da próxima vez? Ela fez beicinho, mas eu notei que ela viu que eu estava falando sério. — Ok, tudo bem. Que seja. Só não fique mofando enfiada aqui dentro, ok? Tome um pouco de ar. — Eu vou. — E é melhor que você me faça um pouco daquele perfume de baunilha também. Eu ri. — Eu vou. Eu vou. Eu te levarei no primeiro dia de aula. Beth me soprou um beijo enquanto ela ia para a porta. — Ok. Até mais tarde, chica. Estou a caminho de encontrar alguns gatinhos sozinha. Eu esperei até a vista estar limpa, e então balancei minha cabeça enquanto eu fechava a porta atrás dela. Mas eu não consegui evitar o sorriso se espalhando através do meu rosto. — Ela parece legal. — Caspian disse, um tom provocativo em sua voz. — Por que você não contou a ela sobre mim? — Ceeeeerto. O que eu deveria dizer? Sim, claro, Beth. Eu vou com você. Mas só há uma coisinha bem pequenininha. Veja, eu não preciso de um namorado porque eu já tenho um. Ele só está morto e, portanto invisível. Caspian riu, e eu apertei a ponte do meu nariz. Por que a minha vida é tão complicada?
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Capítulo Quatro Mente encantada.
Tal é o conteúdo geral desta superstição lendário, que lhe forneceu material para muitas histórias selvagens... The Legend of Sleepy Hollow
A próxima semana e meia passou rapidamente, e eu estava ficando acostumada a ter a tipoia quando era hora de tirá-la. Caspian foi comigo para o escritório do médico, mas foi quando chegamos em casa que a verdadeira surpresa do dia veio. Cacey e Uri estavam esperando lá por nós, de pé na frente de um carro estacionado no final do nosso caminho quando mamãe parou. Ambos estavam vestidos com calças cáqui e camisas de negócios, semelhante ao que eles estavam usando quando vieram à minha direita na sala após Vincent ter estado lá. Mas o cabelo loiro de Cacey era azul na parte inferior. — Surpresa! — Cacey disse quando mamãe virou o carro para fora. — Nós pensávamos em vir vê-la. Mamãe, é claro, ficou emocionada ao ver meus novos amigos. — Bem, oi! Que legal de vocês dois passarem. Você não está trabalhando hoje?
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Cacey balançou a cabeça. — Kame sugeriu que viéssemos conversar com Abbey para ver se ela quer participar do programa de estagiária do escritório imobiliário com a gente. É uma experiência fantástica. Temos certeza de que ela seria ótima nisso. Não há nada mais valioso do que aprender a lição do trabalho duro! Tentar manter uma cara reta através de Cacey se tornou uma tarefa monumental. Estagiária imobiliária... Sim, certo. Quanto tempo ela estaria mantendo esse fingimento? Não ajudou quando ela começou a piscar para Caspian. Mamãe deve ter notado o piscar, porque ela perguntou para Cacey: — Você está bem? — Eu acho que tem algo no meu olho. — Cacey piscou novamente e então sorriu descaradamente. — Então, você quer vir com a gente, Abbey? Estamos indo para o escritório agora, e você pode ver o que fazemos. Saber mais sobre o programa. — Ela estendeu a palavra “programa” em duas sílabas longas. Mamãe olhou para mim, e com o canto do meu olho eu vi Cacey acenar com a cabeça uma vez. Segui o exemplo. — Ok... O sorriso da mamãe não poderia ter ficado ainda maior. Claramente que ela estava contente com a minha iniciativa. Não é real, eu queria dizer a ela. Eles não são realmente estagiários e Kame e Sophie não são agentes imobiliários. Mas quanto menos ela soubesse, melhor. — Nós iremos trazê-la de volta para o jantar, Mrs. Browning. — Cacey disse, dirigindo-me para o banco traseiro de seu carro. Uri disse algo a mamãe para distraí-la, e Cacey fez sinal para Caspian entrar também. Ele deslizou ao meu lado, e eu fechei a porta. — No que estamos nos metendo? — Ele perguntou. — Eu não tenho ideia. Mas deve ser importante para eles virem nos buscar assim.
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Cacey ficou no banco do passageiro da frente e puxou para baixo o espelho, verificando seu cabelo azul nas pontas. — Eu sei. Eu sei. — Ela disse, quase para si mesma. — Isso estava muito exagerado. “O valor do trabalho duro.” Ha! Mas eu fico tão presa neste pequeno drama. Eu adoro isso. — O que há com toda a coisa de fingir ser uma estagiária? — Eu perguntei. — E as roupas? — Só interpretando um papel. É melhor para nós adaptarmos em quando podemos. — Ela sorriu para mim, e eu tinha a nítida impressão de um tubarão olhando sua presa. Seus claros olhos cinzentos estavam arregalados e focados. O mais leve cheiro de fumaça, ou folhas em chamas, encheu o carro, e então se foi. Senti uma onda de arrepios correrem para cima e para baixo meus braços. — Alguém já lhe disse que você é meio assustadora? — Eu disse de repente. Ela caiu na gargalhada. — Yeah. Eu sou. Obrigada por perceber. — Ela se arrumou, como se eu tivesse acabado de lhe ofereceu um elogio, em vez de um insulto, ela alisou o cabelo e soltou um beijo no ar para o espelho. Uri veio até o carro e entrou. — Oi, Abbey. — Seu sorriso era genuíno e amigável, sua voz suave como o chocolate. Ele bateu a porta fechada. — Caspian. Caspian acenou de volta, e me perguntei se era isso. Eles estavam aqui para me levar para a minha recompensa eterna em um... — Hey, isso é um Jetta? — Eu perguntei. — Sim. — Uri manteve os olhos na estrada e saiu da garagem. — Legal, certo? — Cacey disse. — Totalmente melhor do que alguns dos outros passeios que tivemos. Você tem alguma ideia de quanto tempo um ônibus Volkswagen pode continuar? Mesmo quando o assoalho está apodrecendo e o teto está caindo aos pedaços e a coisa toda cheira a uma classe de berçário da escola dominical? — Ela estremeceu.
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— Bem, não é uma doce carruagem. — Eu respondi, e sorri para Caspian. Ele não parecia entender. Ou talvez ele fez, porque ele franziu o cenho. — Supostamente temos que estar impressionados com sua capacidade de lembrar os hinos da igreja? — Cacey perguntou. — Ooh, você sabe um chamado de “Amazing Grace”? — Ela brincou. Calor floresceu em meus ouvidos. — Não. Eu quis dizer Swing Low, Sweet Chariot. Como a canção? Não são vocês “vindo para me levar pra casa” e tudo isso? Não estamos, você sabe... Indo? Para o meu próximo destino? Uma queda longa e uma curta parada? Cacey riu, e ele tocou com o carro como uma alta-frequência clara de um sino. — Muito dramática, Abbey? Estamos apenas indo almoçar. Sentei para trás e olhei melancolicamente pela janela, me sentindo devidamente castigada. Rodovia asfaltada correu ao nosso encontro, e a pista única tornou-se duas. Senti uma sensação de chama lenta no meu joelho e olhei para baixo. Caspian estava tentando empurrá-lo. Ele me deu um sorriso simpático. — Eu pensei que isso foi muito inteligente. — Ele se inclinou para sussurrar. — A coisa toda da “doce carruagem”. — Boa aparência e leal. — Eu sussurrei de volta. — Você é uma combinação mortal. — Mortal... Bom ponto, Abbey. Mas se ele notou a minha escolha pobre de palavras, ele não demonstrou. — Ei, vocês dois. — Cacey disse. — Este não é o tempo de segredo. Você quer compartilhar com o resto da turma? — Não. — Eu cruzei os braços. — Tudo bem. É rude, mas o que quiser.
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Cacey estava me chamando de rude? A mesma pessoa que tinha bebido todo o seu refrigerante na minha frente apenas para que ela não tivesse que compartilhar nada disso quando eu estava no hospital e praticamente morrendo de sede, e que tinha uma resposta sarcástica sempre que alguém lhe perguntava alguma coisa, estava me chamando rude? Eu estava prestes a rebater, quando, de repente Caspian inclinou-se e disse em voz alta: — Então, Uri, sobre aquele ônibus Volkswagen que... Instantaneamente a tensão dentro do carro quebrou, e eu ri. — Leal, de boa aparência e inteligente. — Eu disse a ele. —Mas você já sabia disso. Uri sorriu e mudou de pista. — Era um ônibus VW de 1951, era uma besta. Já tinha uns 40 anos de idade quando nós, uh, o adquirimos. Tinha uma história um pouco interessante. — Era uma porcaria móvel. — Cacey disse. — Com assentos de couro sintético e carpetes felpudos laranja. Eu juro que isso devia ter sido um carro de espetáculo de circo móvel ou algo. — Você lembra do rato mumificado?— Uri perguntou a ela. — Sim. Preso entre os bancos. — O quê? Ei. De jeito nenhum — Eu disse. — É uma história verdadeira. — Cacey respondeu. — Alguém tinha realmente tido tempo para mumificar essa coisa? — Como você pode dizer? — Cacey interrompeu. — Não era possível realmente ter sido um velho rato morto? — Cacey deu um tapinha na boca dela. — Os lábios. Eles estavam costurados. — Deus, Cacey! — Náusea rolou através de mim, e eu queria vomitar com o pensamento de ver um pobre ratinho dessa maneira. — Isso é simplesmente insano! — Os ratos têm mesmo lábios? — Caspian ponderou.Uri riu, e eles compartilharam um sorriso.
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— Seguindo em frente... — Eu disse. Mas Cacey obviamente não queria seguir em frente. — Seus dedinhos tinham sido separados, esticados abertos, ao invés de enrolados fechados. — Ela o imitou com ambas as mãos. — E o globo ocular... — Não serei capaz de comer o almoço. — Eu a avisei. — Então havia o dente... — Ela disse. — Eu ainda quero saber sobre o dente? — Eu gemi, e então prontamente respondi a mim mesma. — Não. Não quero! — Em um chaveiro. — Uri inseriu. — Perdeu o dente de leite? — Caspian sugeriu. — Uma lembrança de família? — Molar... — Cacey e Uri disseram ao mesmo tempo. — Mas deve ter sido arrancado da boca de alguém com algo sem corte, porque as pontas estavam todas danificadas e irregulares. — Uri forneceu. — O ônibus veio de um ferro velho em West Virginia. Um lugar louco. Quem sabe o que aconteceu lá. Cacey riu alegremente, e eu balancei a cabeça para ela. Ela me viu e parou, mas sorriu para Uri. — Abbey pensa que sou assustadora. Ela me disse quando entrou no carro. Algo se passou entre eles, mais do que apenas um olhar e tive a impressão de que haviam palavras silenciosas sendo faladas. — Ela está certa. — Ele disse. E então ele coloca uma mão no joelho dela. — Você é assustadora. — Uri dirigiu suas próximas palavras para mim e Caspian. — Ela totalmente se delicia com essas coisas. Não sei por que. — Ele balança sua cabeça perplexamente para ela, alguém que tinha obviamente estado suportando as peculiaridades de seu parceiro por um longo tempo e não se importava de fazê-lo. — Por que você apenas não pegou um novo carro se aquele era tão terrível? — Eu perguntei.
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— Oh! Estamos aqui! — Cacey gritou. Um restaurante chamado Grão de Pimenta Rosa apareceu, e entramos no estacionamento. — Primeiro vamos pegar uma mesa. Em seguida lhe direi o porquê do carro. Feito? Eu assenti, mas ela já estava saindo. — Espere até que eu pare o carro. — Uri advertiu. Ela fez. Mas por pouco. Saí e mantive a porta aberta por tempo suficiente para Caspian sair também. — Será que vamos ficar bem em entrar? — Eu disse suavemente a Uri, balançando a minha cabeça para Caspian e depois Cacey. — Quero dizer, todos nós? — Vai ficar tudo bem. — ele disse. Cacey ouviu minha pergunta. — Ele não come muito, certo? Porque vai ser embaraçoso tentar explicar seu pedido. — Eu não... — Caspian disse. — Eu sei! Eu sei! —Ela riu. — Eu só estou brincando. Animem-se. Vai ficar tudo bem. Vamos lá. Olhei para Uri. — Ele vai ficar bem. — Ele disse novamente, apresando-nos para porta. — Ela vai se comportar. Duvidosamente, eu segui atrás deles quando Caspian apareceu na retaguarda. Quando chegamos lá dentro, Cacey sinalizou para um garçom, e ele sentou-nos imediatamente em uma cabine grande. O interior do restaurante foi decorado de rosa pálido e cinza, com pequenas notas de preto. Ela tinha uma vibração de 1920. — Como você consegue o serviço tão rápido? — Eu perguntei para Cacey, estabelecendo ao lado do espaço onde estava Caspian. — É o encanto de mente. — Ela disse distraidamente, debruçada sobre o menu. — Funciona toda vez.
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— Encanto de mente? — Eu perguntei. — O que é isso? Ela apontou para ao extenso menu na frente dela. — Escolha o que você quer comer. Então fale. Quando ele voltar, eu quero dar-lhe o nosso pedido. Estou morrendo de fome. Eu li o menu. Parecia que o Grão de Pimenta Rosa era estritamente vegetariano. Eu nunca tinha ido a um restaurante vegetariano antes. — Onde está apenas o café da manhã simples? — Eu perguntei. — Isso deve ser seguro o suficiente. Cacey capotou o menu e apontou para trás. — Acho que vou pedir a mistura tofu. — Eu disse depois de um minuto. — Queijo espinafre, soja, aspargos, cogumelos shiitake e com batatas fritas, não me parece muito ruim. — Yum! Eu estou indo com o prato vegetariano pamonha quente. E eu quero uma Coca-Cola, como, agora. — Cacey respondeu. — O que você está pedindo, Uri? — Tofu burrito. — Você não se importa se nós comemos na frente de você, não é? — Cacey perguntou a Caspian. Ela não parecia se importar que as pessoas possam perceber que ela estava falando com ele. — Não é como se eu tivesse uma escolha, não é? — Ele disse. — Fique à vontade. O garçom deslizou e tirou uma caneta e bloco. Cacey desfiou sua ordem, e eu podia ver que ele foi aceito com sua voz melódica, assim como eu tinha sido na primeira vez que conversei com ela. Ele teve um tempo difícil para prestar atenção ao que ele estava escrevendo quando Uri e eu lhe dissemos o que queríamos, e seu olhar continuava se desviando de volta para os olhos incolores dela. — Eu absolutamente amo uma Coca-Cola com a minha refeição. — Cacey disse, mantendo contato com os olhos. —Na verdade, todos nós queremos.
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Um gosto engraçado e metálico encheu minha boca, como uma torrada queimada, e alcancei para o jarro de água gelada que estava sentado na mesa. Depois de derramar no copo, eu engoli parte dela rapidamente. — Vou ver isso. — O garçom murmurou. — E eu vou colocar esse pedido em imediato. — Obrigada! — Cacey chamou enquanto se afastava. — Ela é sempre assim? — Caspian perguntou a Uri. — Toda vez. Pior quando ela realmente quer alguma coisa. — Isso é o suficiente para você. — Cacey apontou para Uri. — E você, também, menino morto. — Ela apontou para Caspian. — Não faça isso. — Eu sussurrei. — Fazer o quê? Eu fiz um gesto abstrato com a minha mão. — Aponte para Caspian. Chamar a atenção para ele. As pessoas podem ver. Ela olhou em torno de nós na sala meio vazia. — Querida, essas pessoas aqui têm coisas melhores para fazer com seu tempo do que prestar atenção em nós. Eles estão muito ocupados discutindo o que vai acontecer quando eles vão para casa para seus abrigos subterrâneos e se reúnem para vencer a fome global e paz mundial com abraços e ursos de pelúcia. Eles não dão a mínima para o que dizemos ou fazemos. — Você está comendo aqui. — Eu disse a ela. — Isso significa que você vai para casa para esse abrigo e abraçar ursos de pelúcia? Seu sorriso voltou a ficar afiado. — Eu não abraço nada. Então ela piscou para mim, e eu ri. — Ok, ok. Conte-me sobre este carro, então. Por que você não pode apenas comprar um novo se o ônibus era tão ruim?
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Ela se recostou em seu assento. — Hum, duh. Porque nós somos Fantasmas. Ela deixou por isso mesmo, e eu juro por Deus que eu poderia ter estrangulado-a. Em vez disso, levantei uma sobrancelha. — Bom truque. — Disse ela. Esperei que ela continuasse, mas ela não o fez. — Então, você vai me dar a razão real? — Eu disse. Ela apenas olhou fixamente para mim. — Uri? — Eu implorei, voltando-se para ele. — Nós não poderíamos ter um carro novo, porque esse foi o único que nos foi dado para usar no nosso tempo de trabalho. — explicou. — Você pega o que você pode conseguir. — Então, espere. — Eu disse. — O ônibus foi dado a vocês, ou vocês pegaram? Eles trocaram um olhar. — Um pouco de ambos. — Uri disse. — É por causa da coisa de encantamento de mente? Cacey assentiu, mas Uri franziu a testa. — Como isso funciona? — Caspian perguntou. — Como todas as coisas sábias e misteriosas além de seu alcance. — Cacey disse. — Isso simplesmente é. Aceite-a. Segue em frente. — Eu tenho isso? — Ele persistiu. — Posso fazer encantamento de mente também? O garçom apareceu de repente, segurando três latas de Coca-Cola e três copos de gelo em uma bandeja. Ele colocou tudo em cima da mesa com um floreio, e Cacey sorriu para ele. — Obrigada, meu senhor. Ele gaguejou um “D-de nada” antes de fugir.
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Cacey nem se incomodou com o copo, mas tomou o refrigerante direto da lata. — Deeeee-licioso! — Cantou depois de um minuto completo engolindo. — Isso realmente é o melhor material na terra. Confie em mim. Eu estive por aí. Caspian tamborilou os dedos sobre a mesa. — Cacey. — ele disse. — Encantamento de mente? Eu tenho isso? — Por que você não tenta? — Ela provocou. — Vá em frente e tente em mim, garotão. Eu não poderia segurar o riso que me escapou. Honestamente, ela era tão ridícula às vezes. Caspian olhou para ela. Ela olhou de volta. Ele errou o rosto e apertou os olhos. Nada aconteceu. Finalmente, ele mexeu os dedos. — Abracadabra? — Ele disse. — Não. — Cacey respondeu. — Você não tem isso. Uri inclinou-se para o lado e falou para Caspian. — O que você estava tentando fazer com que ela fizesse? — Eu estava tentando fazer com que ela nos dissesse que ela é uma linda princesa. Eu ri alto. — Isso eu teria pago para ver. — Hey! — Cacey disse. — Pago. Tipo, uma centena de dólares. — Eu sou uma linda princesa. — Cacey disse automaticamente. — Pague. — Não conta. Você já nos disse que ele não tem isso.
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Uri, Caspian, e eu caímos na gargalhada enquanto Cacey cruzou os braços e agiu toda irritada. — Oh, supere isso. — Eu disse a ela. — Siga em frente. — Ela mostrou a língua para mim, e eu revirei os olhos. — Sério, no entanto. Existe uma razão pela qual Caspian não pode fazer o encantamento de mente? — Porque ele é uma sombra, e não um Revenant. — Cacey disse. — Ele não é como nós. — Então só Revenants podem fazê-lo? Ela balançou a cabeça. — Desculpe. Eu não posso te dizer como tudo funciona. Essa é a maneira como isso... Funciona. Olhei para Uri e abri minha boca para perguntar a ele, mas ele balançou a cabeça também. — Desculpe, garoto. Ela está certa sobre isso. Sem vantagens injustas. — Mas essa coisa toda é como uma vantagem injusta. — Eu respondi. — Quantas pessoas sabem que vão morrer? — Tecnicamente, todos sabem que vão morrer. — Cacey disse. — Quero dizer, quantas pessoas sabem que vão morrer em breve? Como almoçar-com-a-pessoa-que-vai-levar-sua-alma-a-qualquer minuto-em breve. Cacey e Uri compartilharam outro olhar, e depois Cacey encolheu os ombros. Eu estava prestes a perguntar de novo, quando ela disse: — Oh! Aí vem a comida! O garçom fez o seu caminho para fora da cozinha com uma travessa carregada e, em seguida, passou ao redor os pratos quando chegou a nossa mesa. Minha mistura de tofu realmente parecia muito boa, e cheirava deliciosamente. Eu me senti mal que Caspian ia ter que sentar lá e nos assistir comer, mas ele me deu um aceno reconfortante. A comida, como se via, era gostosa.
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Cacey encontrou seu caminho através de seu tamale3 enquanto Uri devorava seu burrito. — Uau! — Eu disse, só no meio da minha. — Vocês estavam com fome. — Só gostamos de apreciar uma boa comida. — Uri respondeu. Cacey suspirou de felicidade quando esvaziou sua Coca-Cola e estendeu a mão para Uri. — Sleepy Hollow não tem nenhum lugar como este. — Ela disse. Ele pacientemente cutucou seu copo para ela. Limpei o resto do meu prato enquanto eles discutiam algo para levar. Em última análise, eles decidiram contra ele, e o garçom voltou com a nossa seleção. Felizmente, eu tinha embolsado algum dinheiro antes de ir essa manhã ao médico, e eu puxei 10 do meu bolso de trás. — Não se preocupe com isso. — Uri disse. — Temos tudo sobcontrole. — Está bem. Não me importo. Realmente, eu... — Você pode me dar os 10, se quiser, Abbey. — Cacey interrompeu. — Mas eu ficaria com isso se eu fosse você. Se Uri disse que vai pagar, ele vai pagar. — Você tem certeza? — Eu abaixei minha voz. — Eu não sei se vocês tem algum dinheiro. Uri puxou uma carteira e abriu-a, mostrando uma carteira recheada de dinheiro. — Oh! — Eu disse humildemente. — Desculpe! — Não se preocupe. — Ele deixou dinheiro suficiente na mesa para pagar, e fomos para fora. Subimos no carro e saímos do estacionamento. Cacey falou no caminho inteiro para a casa, sobre mais coisas estranhas que eles tinham encontrado em seu circo móvel, mas eu não conseguia afastar a sensação de que havia alguma questão importante que eu precisava perguntar, ou algo que eu deveria saber a resposta. Eu só não conseguia descobrir o que era. 3
Algo parecido com a nossa pamonha
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Capítulo Cinco Lamento
Ele tinha várias formas de apresentar a si mesmo ao mesmo tempo útil e agradável... A lenda de Sleepy Hollow
Havia alguns dias preciosos nas férias de verão, mas Caspian me acomodou em uma rotina que consistia de aulas de desenho para mim, aulas de perfume para ele, bem, a aula de perfume era assistir sessões, onde eu fazia os aromas e ele me contava histórias de sua infância, e noites sob as estrelas. Era um ritmo fácil. Confortável e seguro. As pequenas coisas foram as que mais me surpreenderam. Como quão estranho eu pensei que seria tê-lo perto todo o tempo. Como seria incômodo me despir todas as noites, ou usar o chuveiro todas as manhãs com ele na sala ao lado. Mas... Não foi. Ele era um perfeito cavalheiro. E um companheiro de quarto surpreendentemente bom. — Você não tem que continuar fazendo isso, você sabe. — Eu disse, arrumando os travesseiros na cama, e encontrando um par de meias dobradas em cima do meu travesseiro. Eu disse que ele não tinha que fazêlo, mas um arrepio de felicidade passou por mim ao percebe que ele tinha feito. — Seus pés ficam frios à noite. Você está sempre se levantando para ir buscar outro par. — Ele trouxe um par extra e um cobertor, também, e os colocou no pé da cama.
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— Você vai me estragar. — Eu disse. — Mas quando você estiver vindo se deitar, você pode desligar a luz ali em cima? — Eu subi na cama e puxei os lençóis para cima. Ele sorriu, e apagou a luz. Um segundo depois a cama afundou e ele veio se sentar ao meu lado. — Eu ainda não sei como você pode ficar aqui comigo quando eu durmo. — Murmurei, tentando ficar confortável. — Você não se cansa? — O tempo passa rapidamente para mim, lembra? Fechei os olhos e balancei a cabeça, afundando-a mais nos travesseiros. — Se você está certo. — Você não quer que eu fique? Sempre posso sair. — Não. — Bocejei. — Não saia. Eu gosto quando você fica comigo. — Então, isso é o suficiente para mim. — Ele disse. — Bons sonhos, Astrid. E essa foi a última coisa que ouvi antes de flutuar para dentro do sonho. Em torno de mim havia vidro triturado, e as bordas afiadas estavam em minhas mãos. Eu estava no chão, de joelhos entre os pedaços da minha vida. Dispersa em volta do sonho que me rodeava. — Preste atenção, Abbey. Isso pode salvar sua vida. Vincent Drake ria para mim, e eu me senti doente. — Não... Não... Ele agarrou meu braço e me arrastou para baixo. Meus joelhos gritavam quando lascas de vidro moído entraram mais profundo em minha pele aberta. Peguei um pedaço. Deslizei meus dedos em torno dessa borda fria, e afiada e segurei. Em seguida, apertei em seu rosto. Um spray de sangue irrompeu de bochecha de Vincent. Olhei para minhas mãos cobertas de sangue. O seu sangue. — Isso não é... — Eu deixei o vidro cair no chão. — Este não é como o outro. Isso não aconteceu. Eu não apunhalei você. Meus olhos ficaram vermelhos, e percebi que o sangue estava escorrendo deles eles. Quente e pegajoso e por reflexo tentei esfregar, para parar de sair.
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— Não é assim que você gosta deles? Uma voz sussurrou em meu ouvido, e então ela foi me empurrando para a cama. Horrorizada, tentei me levantar. Tentei ver. A cama estava cercada de flores. E velas. Vincent apareceu na minha frente, uma rosa entre os dentes cerrados. — Para você, uma dança! — Ele cruzou os braços na frente de si mesmo, veio em minha direção. Em torno de nós as velas tremeluziam. Elas eram estranhas, e eu notei que elas eram grossas e pesadas. Antiquadas. E cobertas com teias de aranha. O cheiro de flores morrendo me pegou. É demais... Eu não posso respirar... Não posso... Respirar... O tempo todo, Vincent dançou. Louco se movendo em círculos inicialmente, mas depois mudou seu padrão e ele agia como um fantoche em uma corda. Duro, e controlado. — Quer pular em minhas cordas? — Ele zombou. — Oh, espera. Eu esqueci. Você gosta dos mortos. Ele se abaixou. A cabeça, os braços diminuindo de largura. E esperou o meu aplauso. — Isso não aconteceu! — Eu gritava dentro da minha cabeça. — Isso nunca aconteceu. Isto não é como ele será! Ele se aproximou. Entre os dentes a rosa não era mais uma rosa, e eu olhei para ele antes que eu percebesse o que era. Um osso. Vincent o levantou como um prêmio, em seguida, o jogou fora. — Muito? — Ele perguntou. — Você não gostou do meu desempenho, eu quero ver. Não vai bater palmas. Estou chateado por isso, Abbey. Ele colocou uma mão nas minhas costas. Obrigando-me a ir novamente para a cama. Suas características estavam alteradas. Os olhos estavam enormes e negros, como escarpadas, asas escuras brotaram de seus ombros e seus dentes se alongaram ficando afiados. — E agora, ofereça resistência! — Gritou. Ele jogou as cobertas. As velas apagaram, as flores foram esmagadas, e lá... Tinha um corpo...
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Eu sentei na cama, com meu rosto vermelho e coberto de suor. Meu coração estava batendo tão forte, que parecia que iria estourar e sair do meu peito. O relógio marcava 03h12, mas que não poderia estar certo. Eu estava dormindo por apenas um par de minutos. Eu continuei olhando para ele. Piscando. Tentando fazê-lo entrar em foco e forçá-lo a fazer sentido. — Abbey? Eu ouvi a voz marítima de Caspian, mas eu não podia vê-lo. Meus olhos não estavam ajustados ao escuro ainda, e eu tive a estranha sensação de que ele estava flutuando em volta de mim. — Você está bem? — Ele sussurrou. Meu sonho veio à tona, e de repente a sala parecia menor. O ar mais fino. Meu peito se apertou dolorosamente, e eu tentei puxar uma respiração. — Caspian? Onde você está? Um arrepio percorreu de leve o meu braço queimando, em seguida, passou. — Estou aqui. — Ele disse suavemente. — Bem aqui. Era apenas um sonho. Você está bem? — Eu não sei... Fica comigo. — Eu vou. Eu estou aqui. — O luar encheu a sala, e eu podia ver o olhar preocupado em seu rosto. — Tratava-se de Vincent? — Sim. Caspian se levantou e acendeu uma pequena lâmpada. Instantaneamente eu me senti melhor quando as sombras recuaram e luz inundou o quarto. Minha camiseta estava pegajosa, e eu a puxei para longe de mim. Meus pés balançando para um lado da cama, e me levantei. — Eu vou me trocar. Volto já — Eu afirmei. Eu caminhei até o armário e fechei a porta atrás de mim. Meus animais de pelúcia estavam empilhados em um canto, e eu me sentei ao lado deles, olhando inexpressivamente para a parede. Devo ter ficado perdida em meus pensamentos por um tempo, porque um suave bater eventualmente chegou à porta, e então Caspian disse:
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— Abbey? Está tudo bem? Eu me esforcei para ficar em pé e espiar ele. — Eu estou bem. Só estava pensando sobre tudo. Vou começar a me trocar agora. Termino em um minuto. Ele balançou a cabeça e fechou a porta. Fui até a seção de pijamas do meu armário e peguei um par que era azul e branco com pequenas nuvens macias. Os coloquei, e depois voltei para a cama. Caspian sentou ao meu lado. — Quer falar sobre isso? — Sim. — Estremeci. Então mudei de ideia. — Não. — Coloquei meus pés debaixo de mim, abracei minhas pernas junto ao meu peito. — Eu não sei. — Girei uma folha em torno dos meus dedos. — Eu nem sequer... — Eu balancei a cabeça. — O quê? — Não vai fazer nenhum bem falar sobre isso. Foi apenas um sonho estúpido. Isso não significa nada e não muda nada. — Às vezes conversar ajuda. — Mas meu sonho não fazia nenhum sentido. — Eu disse a ele que eu conseguia me lembrar. — Na vida real eu não cortei Vincent com um pedaço de vidro. Ou mesmo tentei me defender. — Talvez seja por isso que você tenha tido o sonho. — Ele disse. — Atuar fora de um curso, uma ação diferente. Eu ri. — Yeah. Pode ser. Porque às vezes eu tenho um complexo de heroína. — Não é um complexo de heroína querer se defender Abbey. Ele entrou em seu espaço e te machucou. Você não teve a chance de fazer qualquer coisa sobre isso, por isso, se deixe fazer algo sobre isso agora. Mesmo se for somente em seus sonhos.
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— O que eu realmente gostaria é sonhar sobre como salvar Kristen. — Eu meditei. — Para impedi-la de ir ao encontro de Vincent. Ou ir ao rio. — Eu pensei nisso por um minuto. — Na verdade, você sabe o que é estranho? Eu não tenho sonhado com Kristen recentemente. Não no hospital, ou aqui em casa. A única coisa sobre a qual sonhei até agora é Vincent. Violência. E a morte. — Talvez seja uma coisa boa. — Ele disse. — Sonhar com a violência e morte? — Não. Eu quis dizer não sonhar com Kristen. — Por que isso seria uma coisa boa? — Porque não são os sonhos que você tem com ela que te deixam triste? Eles parecem que te deprimem. — Yeah. Mas eu não sei... — Eu dei de ombros. — É uma forma de mantê-la perto de mim, sabe? Eu prefiro ficar triste e sonhar com ela do que não ter qualquer sonho. Pelo menos assim eu ainda consigo vê-la. — Então eu estremeci. — Embora, eu gostaria de não sonhar com ela morrendo novamente. Mas sim com ela pulando e alegre. Caspian assentiu com simpatia. — Como foi quando você morreu? — Eu perguntei de repente. — Eu sei que você me contou o que aconteceu logo após o acidente com o seu carro, mas você sentiu alguma dor? Ele sentou-se reto e olhou para suas mãos. — Abbey, Eu... — Por favor! Por favor, me diga. Eu quero saber se... Se eu estou pronta. — Você não pode estar pronta. — Ele disse com um olhar exasperado em seu rosto. — Ninguém está. — Eu sei, mas posso tentar me preparar. Certo? Pelo menos, estar mais pronta do que a maioria das pessoas que não sabem que ela está vindo. — O que você vai fazer? — Ele perguntou. — Definir seus assuntos em ordem? Escrever cartas para a sua família?
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— Talvez eu vá — Eu disse. — Então? — Então você não acha que pode assustá-los? Se você começar a falar “Queria Mãe e papai, eu não vou estar viva por muito mais tempo, por isso vou escrever cartas”, eles podem pensar você está enlouquecendo. — Não é como se eu fosse dá-las a eles agora. Apenas, você sabe... Tê-las prontas. Para depois. Ele balançou a cabeça. — Não é saudável, Abbey. — Por quê? O que é tão doentio a esse respeito? Quão diferente é de alguém sabendo que têm uma doença terminal e deixa tudo pronto para quando passar? — É apenas diferente. Você não está doente. — Ele disse. — Mas eu sou. Estou terminal. — Não. Você não é. Você não tem ideia de quando... — Mas eu tenho! — Eu explodi. — Eu sei Caspian. Eu sei que vou morrer em breve, e não há nada que eu possa fazer para parar isso. Então, por que você não pode simplesmente me apoiar sobre isso? — Eu não posso! — Ele disse calmamente. — Eu simplesmente não consigo! — Ele soltou uma respiração instável. — Se a situação fosse invertida, você sentiria da mesma maneira. — Gostaria de apoiá-lo em qualquer coisa que você queira fazer. Eu iria ajudá-lo a fazê-lo. — Por quê? — Ele perguntou de repente. Sua pergunta me pegou fora de guarda. — Porque eu te amo! Porque eu quero que você seja feliz. Porque eu quero que fiquemos juntos.
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— Você não sabe o que é ter a pessoa que faz tudo ter vida ao seu redor e de repente ela começa a falar sobre morte! —Ele disse. — É apenas... — Ele abriu as mãos e olhou para elas. — Nem eu mesmo sei como descrever isso. Mas saber que você está falando sobre ser como eu, como este... — Ele apertou a mão em punho. — Como posso querer isso para você? Você é a beleza, luz, cor e cheiro. E eu sou a escuridão, as cinzas, as sombras e a morte. Sempre frio e sozinho. — Mas você não estará sozinho. Você não vê isso? Vamos ficar juntos. E, logo, não importa o resto e nem as outras coisas, desde que fiquemos juntos. — E essa é a única razão para você querer ficar comigo, Abbey? Então eu não estaria sozinho? É diferente. Diferente de qualquer coisa que você possa imaginar. E se não for o que você pensa que é? E se você se arrepender por ter perdido a chance que você teve na vida? A chance de ser cercada pelas pessoas que você ama? — Você é a pessoa que eu amo! — Eu insisti. — Tudo que eu preciso! — E quanto à sua loja? E sobre o seu futuro Abbey? Você vai perder oportunidades para ir a Paris e estudar com os artistas de lá. Ou Londres, ir às compras para comprar garrafas novas ou suprimentos de perfumes. Você realmente está pronta para desistir desse sonho? Eu não sabia o que dizer. Será que ele tinha um ponto? Eu ainda queria fazer tantas coisas. Realizar tantos sonhos. Isso poderia mudar? Eu iria mudar? Eu poderia ficar ressentida com ele por não ter realizado as coisas que eu queria na vida? — Isso não vai acontecer! — Eu disse. — Você tem certeza? Seus olhos pareciam ver em linha reta a minha alma, até os meus pensamentos mais profundos, e eu me contorci desconfortavelmente. — Eu não estou dizendo que eu não vou me arrepender de não ter a chance de abrir a minha loja. — Eu disse lentamente. — Mas como você sabe o que eu vou ou não ser capaz de ter essa experiência uma vez que eu esteja com você? Talvez haja uma loja de perfume em algum lugar do outro lado que precisa de um dono. — Eu fiz uma tentativa forçada de um sorriso.
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— Por amor a você, eu espero que sim. — Ele sorriu de volta. — Mas, por agora... Apenas viva a vida que você tem, ok? Não se torne fatalista. Não tente ajeitar tudo para os dias finais. Apenas desfrute o aqui e agora. — Eu vou. — Eu prometi, e ele pareceu aliviado. Ficamos sentados em silêncio, observando a lua brilhar através das nuvens e espreitar para o quarto como se estivesse brincando de escondeesconde por trás delas. — Eu não quero voltar a dormir. — Eu finalmente murmurei. — Eu não quero sonhar. — Eu posso ajudar com isso. — A cama balançou e ele se levantou indo na direção da minha estante. Um momento depois, ele voltou. Em sua mão tinha a minha cópia maltratada de Jane Eyre. — Um livro? — Eu disse alegremente, movendo os travesseiros para trás de mim para que pudesse me apoiar. — Algo mais para pensar. — Ele se sentou e abriu na a primeira página. — Capítulo 'Um’. Não houve possibilidade de dar um passeio naquele dia. Nós havíamos perambulado... — Você vai ler para mim? — Eu perguntei, o interrompendo. Eu não pude segurar o tom agudo que surgiu na minha voz. — Sim, mas se ficar quieta agora, minha bella. — O que significa isso? — Linda. Essa palavra. A maneira como ele disse desencadeou uma memória. — Será que você falou para mim em um idioma diferente? Quando eu estava no hospital? Caspian concordou. — Algo para manter os pesadelos afastados. Para que você soubesse que eu estava lá. Tu sei una stella... La mia stella. — Ele disse. — Isso significa: “Você é uma estrela. Minha estrela”. — Que língua é essa?
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— Italiana. Eu me inclinei para frente e apoiei o queixo na minha mão. — Eu não sabia que você sabia italiano. Você está treinando comigo? — Foi apenas algo que eu me lembrei do ginásio. Tive aula de italiano da sexta série até o oitavo ano. — Ele me olhou severamente. — Agora, você vai me deixar terminar? Eu fechei um dedo na minha boca e joguei fora a chave imaginária. — Capítulo Um — Ele disse. E começou a ler.
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Capítulo Seis O ÚLTIMO PRIMEIRO DIA
O prédio da escola ficou em uma situação bem solitária, mas agradável, somente ao pé de uma colina arborizada... A Lenda de Sleepy Hollow
Passei o dia seguinte trabalhando no perfume de Beth, enquanto Caspian sentou na minha mesa, desenhando. Mamãe veio depois do jantar, perguntando se ela deveria fazer um almoço amanhã para mim. — Sobre o que você está falando, mamãe? — Eu disse. — O que tem amanhã? Ela olhou para mim como se eu estivesse louca. — O primeiro dia da escola, boba. Você está se sentindo bem? — Ela franziu a testa e estendeu a mão para sentir minha testa. Escola. Droga. Saí de seu caminho. — Estou bem mamãe. Apenas esqueci. O que você quiser fazer está bem. — Eu provavelmente acabaria apenas comprando algo da cafeteria, mas se mamãe quer para fazê-la se sentir melhor juntando-se ao almoço, estava bem comigo. —Vou fazer um sanduíche gigante. — Ela decidiu. —Italiano?
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— Parece bom. — Dei a ela um largo sorriso e mantive o sorriso até ela sair. Assim que ela se foi, eu arrastei sobre um enorme pufe de pelúcia uma cadeira do meu armário e sentei ao lado de Caspian. — Não posso acreditar que a escola começa amanhã. — Eu disse me jogando nela. — Quem começa escola em uma sexta-feira? Por que não esperar até segunda? — Você está pronta para voltar? — Ele perguntou. Eu me mexi, e a cadeira fez um som mole enquanto o estofamento se moveu ao redor. —Eu acho. Quero dizer, não estou exatamente ansiosa para isso. Exames. Lições de casa. Todo mundo tentando comprimir coisas da faculdade na minha garganta. — Dei de ombros. — É o último primeiro dia do ensino médio que você nunca mais terá. — Em mais de uma maneira. — Olhei para ele, mas ele fez uma carranca. — Eu quis dizer por que você é uma aluna do terceiro ano. Não por que... — Devido ao fato de que estarei morta? — Deus, Abbey! — Ele empurrou de volta seu papel e levantou da mesa, parecendo chateado. — Não podemos ter apenas uma conversa onde isso não apareça? Olhei para meus jeans. — Eu não quis... — Eu sei que você não quis. Parece apenas que isso é tudo sobre o que você quer falar ultimamente. — Sinto muito. Apenas quero estar pronta. — Preciso sair para caminhar. — Ele disse de repente, se movendo para a porta. Pânico disparou através de mim. Por que ele estava partindo? Devolhe dizer que não, que eu preciso que ele fique? Ou faria me parecer fraca? Eu finalmente decidi dizer:
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— Como você vai sair? Você não pode simplesmente abrir a porta da frente e sair desse jeito. Meus pais estão lá em baixo. Caspian parou de andar e olhou pela janela. — Você pode abri-la para mim? — Ele perguntou, apontando para ela. Eu assenti. E mordi meu lábio, tentando não chorar. Ele foi para a janela aberta, e lançou uma perna para fora. Voltei para minha mesa. “Todo mundo precisa de seu espaço. Não seja um bebê.” — Abbey. — Caspian disse suavemente. Tão suavemente que quase não o ouvi. — Amor. — Eu virei minha cabeça. —Não sou louco. Quero que você saiba, tudo bem? Voltarei rapidinho, eu juro. Só vou dar uma caminhada. Isso é tudo. Eu não podia acreditar em mim mesma para falar, então apenas assenti novamente, e então ele saiu. Estava tudo bem. Não era grande coisa. Quando acordei com a voz de mamãe me chamando escada acima que era hora de me levantar, eu percebi imediatamente que Caspian estava de volta. Ele estava sentado na cama, ao meu lado. Sentei rapidamente e tentei não agir muito aliviada. — Bom dia linda! — Ele disse. — Desculpe não voltar antes de você cair adormecida. — Tudo bem. Estou apenas feliz que você voltou. — As palavras saíram de mim, e olhei para o lençol, incrivelmente envergonhada que só disse isso. — Eu disse que faria. — Por que demorou tanto? — Eu corri com Uri para o cemitério. Decidimos ver se Vincent poderia estar escondido lá fora. Levantei-me e estiquei meus braços sobre minha cabeça, então fui para o banheiro. — Sem sorte, hein?
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— Nenhuma ainda. Agarrando uma toalha, virei para fechar a porta. — Indo tomar banho. — Eu disse. — Vejo você em vinte minutos. — Deixe-me saber se você precisar de mim para esfregar suas costas. — Ele disse através da porta. Eu apenas ri. — Você gostaria. Trinta minutos depois, eu estava limpa e vestida. — Você tem certeza que isso parece bem? — Eu perguntei, virandome para Caspian. — Não quero parecer que estou tentando demais. Alisei as bordas da minha saia branca e reajustei o colete preto que joguei sobre ela. Meu colar de trevo de quatro folhas foi o último toque e reatei a fita na parte de trás do meu pescoço para ter certeza que ficou onde estava. — Não sou um cara da moda, mas você parece ótima para mim. Eu sorri para ele e deslizei minha mochila no meu ombro. Mamãe gritou para eu me apressar, que estávamos saindo em cinco minutos, mas de repente eu estava detestando deixar Caspian para trás. — Quem precisa de escola? — Eu disse. — Posso ficar aqui. Com você. Ele apontou para a porta. — Vá. Divirta-se. Vejo você daqui umas horas. Eu me arrastei lentamente para a porta. Ele me seguiu, e eu virei. Estendendo a mão, ele segurou meu rosto. Ou o mais próximo que ele podia. — Vou sentir sua falta. — Ele disse. Eu aninhei meu rosto no lento toque. — Eu também.
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Ergui meu colar e beijei um lado macio, frio banhado a vidro, então segurei para ele. Ele beijou o mesmo lugar, deixando demorar-se em seus lábios por um momento. Quando ele voltou para mim, eu toquei-o gentilmente. Eu me afastei dele depois da última chamada da minha mãe, então relutantemente, me arrastei escada abaixo. O último ano começou com um estrondo. O carro de alguém explodiu no estacionamento logo após mamãe me deixar, e metade dos alunos que tinham estado ao redor da pancada saiu correndo e gritando que alguém estava lá fora atirando. A escola inteira foi colocada em confinamento, e não conseguimos chegar à sala até depois do almoço. Depois que a situação foi resolvida, e todos os nossos armários foram nomeados, que é praticamente uma piada desde que todos acabam com o mesmo armário anos após ano, eu estava torcendo meu cadeado e olhando o pequeno espaço que minhas coisas chamariam de casa pelos próximos nove meses, quando alguém me bateu no ombro. — Desculpe-me. — A voz disse. — Preciso chegar lá. Não acho que o sino vá segurar muito mais tempo. E enquanto estou normalmente legal apenas passando o tempo, o corredor não é minha primeira escolha de lugares para fazer isso. Quando me virei para encontrar olhos verdes brilhantes, parei no meio de dizer: “Sim” para pensar em Caspian por um momento. “Eu me pergunto o que ele está fazendo. O tempo está passando rápido para ele de novo? Ou lentamente? Será que ele está acordado? Talvez ele esteja dormindo.” O cabelo foi a segunda coisa que vi. O cabelo dela era longo, ainda mais longo que o meu, mas não tão enrolado. E vermelho. Impossivelmente vermelho. Eu bati de volta a realidade. — Oh! Desculpe. Você precisa de mim para se mover? — Eu olhei ao redor. — Onde? Ela olhou para um pedaço de papel agarrado em uma das mãos. — Estou na 9-C. Então preciso entrar bem ali. Ao seu lado. Meu estômago caiu no chão, e minha mochila deslizou do meu aperto, espalhando livros por toda parte.
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— Ao meu... — Minha garganta apertou e tossi. — Junto a mim? Ela mudou seus livros, e outra coisa que estava segurando. Algo que não pude obter uma olhada. — Sim. Ao seu lado. Isso é como os números trabalham aqui, certo? Você está no 9-B, então 9-C é o próximo, certo? — Mas este é o armário de Kristen. — Já tem dono? Merda! Eu balancei a cabeça, e encontrando minha voz disse: — Não tem. Dono, quero dizer. Kristen está morta. Era apenas... Costumava ser o armário dela. Houve silêncio, e então o inconfundível som do sino barulhento sobre a cabeça. — Merda. Duas vezes. — Ela disse, arremessando uma mão para apontar para cima. — Lá vai o sino. Olhando ao redor para os alunos correndo, percebi que estava atrasada para a aula também. Meus livros ainda estavam todos no chão. Caindo de joelhos, comecei a recolhê-los. A nova menina se abaixou para me ajudar a recolhê-los. — Sou Cyn, por sinal. E antes que você pergunte, Cyn não é a abreviação de Cynthia, ou Cynder, ou Alicyn, ou qualquer um daqueles. É apenas Cyn. Doce. Curto. C—Y—N. entendeu? Olhei para cima. Acho que gostei dela. — Abbey. — Eu disse. — Abreviação de Abigail. E é com um e. — Ela assentiu, e apenas assim, tivemos um entendimento. Após uma inspeção mais próxima, pude ver que ela tinha pequenas mechas verdes espalhadas por todo seu cabelo. A cor de folhas novas. O efeito era impressionante. — Gosto do seu cabelo. — Eu disse. — Obrigada.
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Saí para o lado e abri caminho para ela chegar ao armário 9-C. Enquanto ela deslizava os números ao redor e em seguida abria a porta, uma onda de nostalgia tomou conta de mim. Kristen deixando notas em meu armário depois do quinto período. Kristen me deixando usar seu espelho porque eu sempre esquecia de comprar o meu. Kristen esperando com um sorriso de gata Cheshire e a última fofoca da sala. Kristen... Cyn estalou seus dedos. — Terra para Abbey. Estamos perdendo você lá? Você está zoneando fora de mim? Balançando minha cabeça e enfiei meus livros em meu próprio armário. — Desculpe. Estava apenas perdida em uma memória. — Eu entendo. Você conhecia Kristen, hein? — Você pode dizer isso. Éramos melhores amigas. — Oh. Jesus. Que droga! Como ela morreu? Uma pergunta tão inocente. Mas fez minha pele se arrastar. — Ela se afogou. — Eu disse secamente. — Eu realmente não quero falar sobre isso. — Entendi. Uma nota alta e clara. — Cyn finalmente deslizou outra coisa que tinha estado segurando sobre a pequena prateleira do armário, e não pude deixar de roubar uma espiadela. Era uma planta morta. Ela me pegou olhando. — Tenho que mantê-la aqui. — Ela explicou. — Caso contrário, minha mãe vai jogá-la fora. “Por que ela queria manter uma planta morta?” Aparentemente, minha pergunta estava escrita em todo meu rosto, porque ela disse defensivamente. — É um hobby, tudo bem?
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Dei de ombros. — É legal. Estranho, mas que seja. Cyn bateu a porta de seu armário, então virou sua cabeça para o corredor oposto. — Prazer em conhecer você, Abbey. — Ela disse. — E não se preocupe, nunca fico em um lugar muito tempo. Minha mãe está sempre me mudando de escola para escola. É uma dor na bunda. Mas isso significa que você não tem me aturar, ou minha planta morta, por muito tempo. Ela disse com tanta convicção as exatas palavras que eu tinha estado pensando, que a encarei atrás dela com minha boca aberta por muito tempo depois que ela se foi. O que era ela, um leitor de mentes? Com o confinamento de manhã, eu tive apenas duas aulas para passar antes do fim do dia, e quando o sinal tocou, soltei um suspiro de alívio. Corri para Beth no caminho de volta ao meu armário. — Hey, menina! — Ela disse, parando para me dar um rápido abraço. — Você perdeu totalmente a casa na praia. E os caras quentes. Eu ri. — Eu sei, eu sei. Mas fiz seu perfume. Espero que isso conte para alguma coisa. — Eu retirei o pequeno frasco de amostra que estava em meu bolso, e dei a ela. Ela o abriu, e um olhar de pura felicidade atravessou seu rosto. — Isso é tão incrível, Abbey. Obrigada! — Ela derramou um pouco na ponta do dedo para esfregar em seu pulso. — Isso é exatamente o que eu precisava depois de um longo dia. — O que aconteceu? — Lewis novamente. O menino não consegue superar nosso rompimento. Ele é como este filhote de cachorro que me segue e isso apenas me deixa lou-lou. — Lou-lou? — Louca? Você sabe.
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— Uh, sim. Certo. — Registrei a combinação no meu armário. — Ele vai superar. Apenas diga a ele para lhe dar... — A porta se abriu, e havia uma nota dobrada com uma flor desenhada assentada lá. Imediatamente felicidade me encheu. Caspian tinha estado aqui. — Eu só preciso que ele me dê o quê, Abbey? — Beth disse, interrompendo meus pensamentos. Olhei de volta para ela, completamente esquecida do que eu estava prestes a dizer. Algo sobre Lewis... — Espaço. — Eu lembrei. — Apenas peça a ele que lhe dê algum espaço. Isso lhe dará espaço para respirar e lhe dê tempo para aceitar a verdade. — Eu sei. — Ela suspirou e tirou seu telefone. — Falando de... Adivinha quem me mandou uma mensagem? Aham. Eu sorri para ela, mas já estava virando minha atenção para o bilhete. Amaciando as bordas, dei uma olhada. “Um rápido olá para você, minha querida Astrid, para deixar você saber que estou pensando em você. Espero que seu primeiro dia de aula seja tudo o que deveria ser. Encontre-me no meu lugar quando a escola acabar.” Caspian. Seu lugar... O mausoléu? Beth furiosamente digitou de volta, então disse. — Acho que esta é minha deixa para sair. Pego você mais tarde, menina. Ligue-me! Olhei por cima do meu bilhete, confusa quando o porquê ela estava indo embora. Então vi Ben vindo na minha direção. “Vou ter que colocá-la na linha novamente.”
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— Hey Abbey. — Ben disse, se aproximando. — Você não está escondendo nenhuma Funyuns4 em seu armário, está? Deslizei o bilhete de Caspian em minha mochila e me virei em direção a ele, balançando a cabeça. — Não, nenhum Funyuns aqui. — Ben sempre sabia como me fazer sorrir. — Que droga! Se na próxima segunda-feira for qualquer coisa como hoje, vou precisar de alguns snackage5 seriamente. — Snackage? — Eu ri. — Esse é o termo técnico? — Totalmente. Batendo a porta do meu armário, coloquei minha mochila no ombro. — Hey. — Ele disse. — Seu braço está melhor. Olhei para ele, e em seguida o flexionei mais uma vez. — Sim. A tipoia saiu semana passada. — Então agora você está pronta para o basquete, certo? — Talvez se eu crescer mais alguns centímetros. — Balancei a cabeça para ele. — Acho que basquete está fora. Mas boliche? Isso posso fazer. E não requer nenhum talento. Ele zombou. — Nenhum talento? Deixarei você saber que sou um cara talentoso quando se trata de empurrar bolas pesadas em pistas de madeira. Olhei para ele, e então comecei a rir.
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Ben coçou a cabeça e revirou os olhos. — Espere um minuto. Isso não saiu direito. — Você é louco. — Eu disse, sorrindo para ele. Ele sorriu de volta. — Sim, o que mais há de novo? — O que você achou sobre toda essa coisa de confinamento esta manhã? — Eu perguntei. — Isso foi novo. Falando sobre exagero. Ele ergueu suas mãos. — Qualquer coisa que me tire da sala por metade do dia, não questiono. — Não posso dizer que não concordo com isso. Pulei Inglês hoje também por causa de uma nova menina que foi designada para o armário de Kristen. — Nova menina? — Ele olhou intrigado. — Acalme, menino. Então ele lançou um olhar para o armário dela e se aproximou. — Eu acho que eles tinham que dar para alguém novo um dia. Mas pensei... — Ele parou e parecia triste. Estiquei a mão e alcancei seu braço. — Eu sei o que você quer dizer. Pensei que talvez ele fosse ficar vazio este ano também. — Agora ela realmente se foi, você sabe? — Seu rosto ficou sombrio. — Isso é estúpido de se dizer, mas é a verdade. Eu balancei minha cabeça. — Não é estúpido. Isso era como a última peça dela, e agora se foi. — Ambos olhamos para o armário, e um caroço começou a se formar em minha garganta.
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Ben clareou sua garganta, e vi que seus olhos estavam lacrimejantes. Ele parecia envergonhado por eu ter notado, e se afastou de mim, estralando seus dedos enquanto ia. Acho que foi a coisa mais varonil a fazer para encobrir o embaraço ou algo assim. — Preciso começar a trabalhar. — Ele disse. — Vejo você segundafeira? — Sim. — Mudei minha mochila novamente. — Vejo você então. Ben se virou e começou a caminhar para trás no corredor. — Precisamos sair de novo em breve. — Ele falou. — Talvez alguma coisa para comer? “Sempre pensando em comida.” — Você sabe onde me encontrar. — Eu disse. Ele levantou uma de suas mãos em continência, e então desapareceu ao virar a esquina. Sorrindo para mim mesma, segui para a porta principal e empurrei meu caminho em direção ao sol da tarde. Cyn estava em pé na calçada lá fora, olhando para algo, com uma mão sombreando seus olhos do sol. Ela soltou um assobio baixo quando me aproximei. Segui seu olhar do outro lado da rua bem a tempo de ver um Mustang preto virar lentamente a esquina. Um flash de cabelos brancos dourados brilhou, e podia jurar que vi um relógio prata Rolex no pulso pendurado fora da janela. Pânico perseguiu uma linha em minha espinha, e fiquei ereta. Vincent. — Um carro tão quente. — Cyn ponderou. — Deus, o que eu daria para pegar uma carona nisso. — Parece perigoso. — Eu disse me afastando dela. — Eu ficaria longe dele, digo, se eu fosse você. — Eu corrigi a mim mesma. Ela não disse nada, e eu me afastei da calçada. Virando-me firmemente na direção oposta, comecei a ir em direção ao cemitério. — É apenas um carro estúpido. — Eu disse a mim mesma em voz alta enquanto continuava andando. — Você não pode estar certa que era ele. Não há razão para preocupar a todos. Deixe-o ir. Apenas o deixe.
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Balançando a cabeça em autoafirmação, tentei não pensar mais em Vincent. Ou no fato de que não diria a Caspian que ele poderia estar espreitando ao redor.
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Capítulo Sete INCERTO
É dito por alguns que Hessen é o fantasma de um soldado que, cuja cabeça fora arrancada por uma bala de canhão... A lenda de Sleepy Hollow.
Quando cheguei ao mausoléu de Caspian, ele estava lá dentro lendo um livro à luz de velas. Eu estava tão feliz de vê-lo que eu não consegui segurar sorriso enorme que tomou todo o meu rosto. Seria ainda melhor quando eu finalmente pudesse tocá-lo. — Muito bom esse livro. — eu disse. Ele colocou o livro no chão. — Ei, linda. Como foi a escola? Eu me sentei no banco de ferro forjado que estava encostado contra a parede mais próxima de mim. Ignorando minha mochila ao longo do caminho, eu respondi: — Foi ótima. Ele veio e se sentou ao meu lado.
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— Eles nos colocaram todos no ginásio durante metade do dia, porque um carro fez barulho fora e alguém pensou que eram tiros sendo disparados. Mas, além disso, nada de excitante. Eu me inclinei para frente e deixei minha cabeça tombar para baixo, com o meu cabelo caindo em cascata torno de minhas mãos. Amassando até meus dedos, eu gentilmente massageei meu couro cabeludo. — Eles deram o armário de Kristen para uma garota nova. — eu disse baixinho. — Cyn. — Como era ela? — Ele perguntou. — Ela era legal, eu acho. Mas ela pensou que Kristen ainda estava viva porque eu mencionei que aquele era seu armário. — Inábil. — Sim. Caspian se levantou por um minuto, e quando retornou, havia algo por trás das suas costas. — Falando de... Ele estendeu um desenho para mim. Era Kristen. Um desenho de Kristen. Em sua roupa favorita um corset vermelho de estilo hippie-jeans. — Como você...? — Eu disse. — Eu vi vocês no cemitério no ano passado. Isto é o que ela usava, certo? Eu balancei a cabeça e peguei o desenho dele, acariciando o contorno de seu rosto. Maçãs do rosto, queixo, olhos... Tudo estava certo. Mesmo em sua capacidade de enxergar em preto e branco, ele tinha capturado vivacidade de Kristen. Foi ali, na ligeira inclinação do queixo, o olhar animado nos olhos dela, o jeito que ela estava. Feliz e pronta para experimentar qualquer coisa. — É lindo, Caspian! — Eu disse. — Absolutamente lindo. Parece que é ela. Ela está aqui. Agora ela sempre estará aqui! E então eu chorei. Enormes, soluços que rolavam e estremeceram todo o meu corpo.
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— Hey! — disse Caspian. — Hey, Astrid. Está tudo bem. Não... Ele se aproximou, mas não conseguia me segurar. Não foi possível colocar os braços em volta de mim, ou mover meu cabelo para trás, para longe do meu rosto. Em vez disso ele simplesmente fez a melhor coisa que podia. Ele me deixou chorar. — Eu não posso acreditar que ela realmente se foi. — Eu disse através das lágrimas. — Foi meu primeiro dia... Sozinha... E seu armário... — Eu chorei mais difícil. — Eu não sei o que fazer. Eu não posso ser eu sem ela. Eu não sei quem eu sou... Ou o que eu sou. Estou vazia. Apenas uma casca. Caspian se inclinou perto do meu ouvido. Sua voz era baixa e suave. Eu tive que deixar minha respiração lenta para pegar o que ele estava dizendo. — Você não está vazia. Você é forte e inteligente e talentosa, Abbey. Kristen estará sempre com você, mas ela não é quem você é. Você está aqui Abbey. Apenas Abbey. Sem Kristen, sim, mas tudo bem. Isso é o que a torna única. Peguei o desenho e olhei para ele. — Me beije. — eu disse de repente. Desesperadamente. — Por favor. Por favor, de alguma forma... Apenas encontre uma maneira de me beijar. Tristeza encheu seus olhos. E desgosto ecoou em sua voz. — Sinto muito, amor. Eu não posso. Suspirando, se recostou contra o banco. Derrota o fez parecer cansado. Todos os ossos do meu corpo estavam cansados. Isso foi tão difícil... — Eu sei. — eu disse suavemente. Ficamos sentados em silêncio por um tempo, nesse espaço íntimo com a morte que nos rodeava, até que ele disse: — Me diga a sua melhor lembrança dela. Mas eu não podia escolher apenas uma. Então eu falei até que eu não conseguia mais me lembrar.
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O dia seguinte foi melhor. E pior. Caspian me levou para assistir um filme e tentar me animar. É claro que não havia qualquer partilha de pipoca ou minutos de beijos durante as partes chatas do filme, mas por duas horas eu pude fingir que era quase normal. Foi apenas um sonho, no entanto. Uma fantasia. Que se foi assim que os créditos rolaram e as luzes se acenderam. — Eu aposto que eles nem sequer percebem a sorte que têm. — Eu disse baixinho, olhando para trás quando saímos do teatro e passei por uma cena particular onde uma menina estava engolindo a língua de seu namorado. Eles não têm ideia da sorte que eles tinham. Passamos por outro casal que parecia que estavam a dois segundos de distância da nudez em público. — Respeitem a sala. — Eu rosnei. A menina olhou para mim e olhou, com um olhar que me considerava louca. — Despeitada. — ela zombou. Ignorando-a, eu continuei andando. Mas eu não podia ficar de boca fechada. — Não é justo! — Eu disse com raiva de Caspian, nem sequer percebendo que meu tom de voz era cada vez mais alto. — Eles têm tudo. Bem na frente deles. Mas não eles gostam disso? Não. Eles apenas continuam agindo como se tivessem o direito de fazer o que quiserem, enquanto alguns de nós nem sequer têm a chance de... Alguém esbarrou em mim. — Desculpe! — Disse uma voz. Uma voz que eu reconheci. Me virei. — Cyn? — Hey, Abbey. Ela tinha um olhar engraçado no rosto. Como se ela tivesse acabado de presenciar algo horrível e não sabia o que fazer sobre isso. — Você é... — ela começou. E então o olhar engraçado voltou.
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— Eu sou o quê? Caspian chegou para perto de mim. — Você estava falando com alguém? — Ela olhou ao redor, claramente tentando encontrar a pessoa que eu estava, e por um momento seus olhos descansaram em Caspian, que estava em pé perto de mim. — Não. Eu não estava falando com ninguém. Talvez fosse outra pessoa? — Eu menti. — Você está aqui sozinha? — Yeah. — Segunda mentira. — E você? — Também. Um silêncio constrangedor caiu entre nós, e eu não queria pensar muito sobre o nível de loucura que ela poderia estar me colocando. Eu comecei a mudar minha posição, de modo que ficou claro que eu estava saindo. Ela se virou também. — O meu filme vai começar. Vejo você mais tarde. Eu balancei a cabeça, e nos separamos. Quando estávamos longe do teatro, Caspian perguntou: — Essa foi a garota da escola que pegou o armário de Kristen? — Yup. Apenas outra pessoa que provavelmente pensa que eu sou louca agora. Maravilhoso. Ele me deu um sorriso de apoio. — Ela não acha que isso. E você não está louca. Eu sorri de volta para ele, mas eu não poderia concordar. Porque no fundo eu ainda não estava inteiramente certa. Foi mais tarde naquela noite quando eu percebi que a imagem de Kristen que Caspian tinha desenhado para mim não estava deitada na minha mesa como eu deixei, mas estava em pé na minha cômoda. — Você fez isso? — Eu perguntei, apontando para o desenho.
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— Fazer o quê? — Colocou a imagem lá. A deixei deitada, em cima do meu computador. Não em cima da cômoda. Ele olhou para ela. — Eu não troquei. Será que você não moveu para que possa vê-la melhor? Em cima do meu monitor. Espere... — Me lembrei de algo diferente. — Talvez eu a tenha deixado em cima da impressora. Olhei para trás e para frente entre os dois. Eu mexi? Ou tinha mais alguém?Alguém como Vincent... — Eu poderia jurar que ela estava deitada. — Eu disse. — Eu só não me lembro se foi na impressora ou no monitor. Mas eu sei que estava deitada. Não em pé. E definitivamente não em pé na minha cômoda. Olhei para ela. — Estou ficando louca? Será que eu deixei a foto onde ela está agora? Talvez mamãe tenha trocado de lugar... Caspian me interrompeu. — Você ainda quer ler o capítulo cinco? — Yeah. Vá em frente. — Eu balancei a cabeça. — Está tudo bem. Não importa. Ele olhou duvidoso, mas agarrou Jane Eyre. Eu me deitei na cama e puxei as cobertas para cima. Deitada ou de pé, quem se importava como a imagem estava? Mas eu não podia parar o senso de presságio que estava rastejando em cima de mim.
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No sonho, galhos de árvores me prenderam, e eu me debatia de um lado para outro para me libertar. Outro chegou ao meu cabelo o jogando em meu rosto, molhado, enrolado e selvagem. Eu abri minha boca para gritar. Senti minhas cordas vocais se esticarem. E depois se quebrarem. Eu tentei mais forte. Braços esticando, peito arfante, eu gritava e gritava com tudo dentro de mim. Mas não havia sobrado nada. De repente o mundo se inclinou. Ou melhor, eu estava sendo inclinada. Sendo levantada para cima. Meus braços estavam ainda apertados em meus lados, mas eu estava flutuando no ar. Meus pés mal tocavam o chão. Eu era como um estranho minueto, como uma árvore e meus membros fossem folhas. — Veja. — Sussurrou a floresta, todos ao meu redor. — Aprenda. Na cena diante de mim, limpa, um caminho apareceu. Havia uma figura vestida de preto, piscando dentro e fora das árvores enquanto corria. Seu cabelo mudou de branco para loiro escuro, e depois voltou novamente. Mesmo sem ver seu rosto, eu sabia quem era. Vincent. Como se meus pensamentos tivessem chamado o seu nome, ele se virou e sorriu para mim. Seu rosto era uma máscara horrível de recursos esculpida em pedra. Branco e preto como pedaços de rocha esbranquiçada. Apenas os olhos estavam vivos e escuros, brasas de fogo gêmeas mergulhado em seu interior. Ele continuou correndo. Não quebrando seu ritmo, e eu me esforçava para ver quem ou o que ele estava perseguindo. Uma lacuna entre árvores revelou outra figura, e choque veio quando eu vi o vestido de baile negro e cabelo escuro e encaracolado. Que era eu. Ele estava me perseguindo. Minha garganta se abriu novamente, tentando forçar algum som para além das vias aéreas restritas, mas o resultado foi o mesmo de antes. Nada. Horror encheu minhas veias, e eu assisti a outra eu deslizar para trás entre os ramos. Em uma corrida desesperada pela sua vida. Um último flash de cor chamou a minha atenção antes de tudo ficar escuro. Uma chama vermelha. Impossivelmente em um cabelo vermelho escuro. — Abbey. Abbey, acorda. — Caspian chamou meu nome, e eu abri meus olhos, ainda vendo a cor vermelha na minha frente. Eu levantei meus braços. Eles foram presos em meus lados, enrolados nos lençóis. — Calma! — Ele disse. — Calma. Você está bem? Você estava gritando em seu sono.
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Eu me libertei e me sentei. Tentando desesperadamente me lembrar de onde eu estava, meus olhos se encontraram com os seus, e então tudo se encaixou com perfeição. Um sonho. Apenas um sonho. — Estou bem. — Eu disse. — Não foi nada. — Ele não se parecia com nada. O que aconteceu? — Eu estava sendo aprisionada em uma floresta por algumas árvores. E eu acho que elas estavam falando comigo? — Eu balancei a cabeça. — Eu não me lembro. Mas eu vi alguma coisa vermelha... — Olhei para a foto de Kristen. Meu coração começou a bater novamente, e minhas mãos trêmulas seguraram o lençol. Eu sabia, sem sombra de dúvida que Vincent tinha estado aqui. E ele trocou o desenho de lugar só para mexer com minha cabeça. — O que posso fazer? — Caspian perguntou. Eu não sabia o que ele podia fazer. Eu não poderia explicar o que estava acontecendo comigo. — Você quer água? — Ele perguntou. — Um cobertor? — Apenas me dê um minuto. — Tentei respirar profundamente. Tentei fazer tudo voltar ao normal. — Na verdade, acho que vou tomar essa água. — Eu disse. Caspian se levantou para pegar a água. — Espere. Ele parou. — Eu vou buscá-la. — Você tem certeza? Eu não me importo. — Eu sei. Mas eu quero esticar as pernas. Ele balançou a cabeça, e me levantei lentamente, membros trêmulos como uns caules frágeis de dente-de-leão soprando no vento. O banheiro parecia que estava a quilômetros de distância, e minha mão ainda estava tremendo quando acendi a luz. Segurando as bordas da pia, eu olhei para o espelho, procurando os olhos que olhariam para mim. Não houve qualquer resposta lá. Apenas um fresco reflexo azul.
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Liguei a água e fiz concha com minhas mãos, trazendo o sabor, frio da água aos meus lábios. Minhas bochechas estavam mortalmente pálidas, mas a água que eu joguei a transformou em rosa brilhante. Quando minhas pernas pareciam mais estáveis, e minhas mãos estavam calmas, eu me aventurei para fora do banheiro. Caspian estava esperando na porta por mim. — Talvez você devesse mudar de quarto. — Sugeriu. — Por quê? — Por causa do que aconteceu aqui. Você nunca lidou com isso, Abbey. Você tem que seguir em frente. Sentei-me na cama. — Não é isso que as pessoas devem fazer? Ele passou a mão pelos cabelos. — Tudo o que sei é que você voltou para o lugar onde você foi atacada, e agora você está tendo pesadelos. — Ele soou como se isso fosse um problema com uma solução simples para mim. — Eu sei que estou soando como um disco quebrado aqui, mas estou bem. Realmente. Eu ter sonhos estranhos não é nada novo. Não é grande coisa. Ele me olhou com severidade. — Estou preocupado com você, Astrid. Eu só quero o que é melhor para você. — Eu sei que você quer. Mas se eu desistir do meu quarto, então é como se ele ganhasse. Não quero lhe dar esse poder sobre mim. Caspian concordou. — Eu entendo. Olhei ao redor do quarto, me sentindo impaciente e agitada. Era cedo, apenas 5h19, mas eu não queria voltar a dormir. Espiando minha calça de tamanho desproporcional jogada ao lado da cama, me levantei e as puxei para a direita sobre o pijama que eu estava usando. Meus tênis estavam lá também, e eu os peguei em seguida.
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— O que você está fazendo? — Caspian perguntou. — Indo para um passeio. Quer vir? — É claro. Chame-me louco, mas ficar aqui quando minha namorada anda do lado de fora, no escuro, enquanto algum louco sobrenatural a está perseguindo não é minha ideia de descanso. Para onde estamos indo? Eu andei até a janela aberta. — Para o cemitério. Eu quero ver Nikolas. A lua estava quase cheia quando nós deslizamos pela abertura lateral das portas de ferro forjado do cemitério, e iluminou os caminhos gramados que cobriam o vasto terreno na nossa frente. Quando chegamos longe do caminho principal, fomos para a floresta que nos levaria até a casa de Nikolas e Katy. Foi um pouco assustador andar pela floresta escura, onde a folhagem começava a crescer mais densa, os galhos das árvores mais grossos. Samambaias elásticas e musgos selvagens pressionando sobre nós de todos os ângulos, e eu tentei não pensar no sonho, eu só tinha que esquecer Vincent. — Eu me pergunto o que teria acontecido se eu nunca tivesse ouvido falar sobre A lenda de Sleepy Hollow. — Eu pensei em voz alta para Caspian, tentando me distrair enquanto caminhávamos em direção à casa. — A cidade em que cresci, a escola que eu fui, os lugares que eu visitei? É como se todo o tempo, isso era para ser. Toda a minha vida fosse construindo isso. — Para quê? — Você. Eu. Nikolas. Katy. Quero dizer, quem poderia ter adivinhado que a lenda seria real e eu me encontraria com os personagens de Washington da história de Irving? — Eu balancei a cabeça. — É engraçado. Bom, engraçado. Não, é muito engraçado. A pequena ponte de madeira estava à vista, mas parei antes de atravessá-la. — O que há de errado? — Caspian perguntou. — Você acha que é muito cedo? E se eles estiverem dormindo? — Será que eles dormem?
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— Eu... Não sei. Mas eu comecei a andar novamente. Eu tinha a maior vontade de ver Nikolas, para lhe perguntar se ele sabia o que estava acontecendo com Vincent ou os Revenants, e para tentar dar algum sentido das coisas. Atravessamos a ponte, e quando as paredes de pedra familiar e telhado de palha de sua casa de história em quadrinhos apareceram, eu queria sair correndo. Era como voltar para casa depois de uma longa viagem. Wistéria cresceu em uma videira de fuga maciça de flores roxas e folhas verdes sobre a chaminé de pedra à esquerda da porta da frente de madeira, e parecia que Katy havia ficado ocupada enchendo o quintal da frente, com novas plantas. — Eu não acho que você vai ter que se preocupar em acordar Nikolas. — Caspian disse, e me virei para encará-lo. — Por quê? Como você sabe? Ele apontou por cima do meu ombro. — Porque lá está ele. Virei-me. Nikolas estava vindo da parte de trás da casa. Ele ergueu a mão em uma aceno, e eu retribui o gesto, fechando a lacuna entre nós. — Nikolas! É tão bom ver você! — Eu lhe dei um abraço, emocionada que ele ainda estava aqui e ainda seguro. Eu não sabia o que estava acontecendo com Vincent, mas bastava saber que Nikolas estava bem, que eu fiquei muito melhor. Seu rosto marcado pelo tempo se abriu em um sorriso quando ele olhou para mim. — Como está se sentindo? Qualquer efeito negativo do incidente com Vincent? — Oh, não, tudo bem. Eu tive que usar uma tipoia no braço por um tempo, mas agora eu estou boa como nova. — Estou feliz em ouvir isso — Nikolas disse. Então, ele acenou para Caspian. — Também estou contente de ver que as coisas melhoraram para você desde a nossa última visita. — Eu também. — Caspian disse. — Tomara que não veja o nosso amigo desagradável de novo.
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O rosto de Nikolas se cobriu de trevas. — Eu sinto muito não poder estar lá, Abbey. Dói ser obrigado a ficar neste lugar. — Sua casa? — Eu disse distraidamente. — Eu não me importaria de estar presa aqui. — Eu estou falando sobre o cemitério. — Ele respondeu. — Katy e eu não podemos deixá-lo. Eu troquei meu peso de um pé para o outro. — Está tudo bem. Tudo se... hum, arranjou. — Olhei para baixo. Agora que eu estava aqui, eu não sabia o que eu realmente queria dizer. O que eu estava procurando? Caspian deve ter percebido que eu estava sentindo, porque ele disse: — É Katy lá dentro? — Sim. — respondeu Nikolas. — Então, eu acho que eu vou dizer olá. — ele disse. Eu lhe atirei um sorriso agradecido. — Obrigada! — Eu sussurrei. Ele piscou para mim e depois sussurrou de volta: — Só não me deixe lá por muito tempo, ok? Eu balancei a cabeça, e ele foi para dentro da casa. Meu cérebro estava em frangalhos, eu tentei resolver meus pensamentos. Então... — O que você está fazendo aqui tão tarde? — Eu perguntei Nikolas. — Ou tão cedo. Eu acho que podia ser cedo? Ele riu. — Um pouco de ambos. E você? Este é um momento cedo para uma visita.
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— Não foi possível dormir. Eu tenho tido sonhos ruins, então eu pensei que talvez uma caminhada até aqui fosse ajudar. — Eu não queria falar sobre os sonhos, embora, então eu disse: — Como é para você e Katy dormir? Vocês dormem? Caspian disse que é um lugar estranho, quase escuro para ele. É o mesmo para você? Ele balançou a cabeça. — Nós descansamos, mas nossos corpos não precisam dormir da mesma maneira que fazia quando estávamos vivos. — Será que o tempo se move rápido para vocês também? Quão diferente é para você e Katy em comparação com Caspian? Como é um dia para mim pode ser uma semana, ou até mesmo um mês, para ele se ele cair no lugar escuro. — Tem sido assim por muito tempo desde que eu era uma parte do mundo vivo que eu tenho simplesmente esquecido como o tempo normal é. — Ele disse. — Mas sim, vidas inteiras podem passar num piscar de olhos. — Eu gostaria que a escola passasse em um piscar de olhos — Murmurei. Nikolas riu. — Você não está feliz na escola? — Nenhum adolescente está feliz pesadamente. — É uma experiência dolorosa.
na
escola.
—
Suspirei
Ele sorriu. — Falar de... — Eu hesitei, então deixei escapar: — Dói? Quando você morreu... Como é a sensação? Ele não disse nada, e eu pensei que era isso. Eu tinha encontrado a única coisa que ele não iria responder. Mas então ele me surpreendeu. — Morrer foi à parte fácil. — Disse uniformemente. — Um momento que eu estava lá com o meu cavalo, me preparando para a batalha, e no seguinte, eu estava sentado no chão. O meu cavalo tinha ido embora e isso era tudo ao meu redor. Muito tempo deve ter passado. — Foi assim para Caspian, também. — Eu murmurei.
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— Eu não entendia o que tinha acontecido em primeiro lugar. — Ele disse. — Mas eventualmente eu aprendi. Eu pensei que estava preso no purgatório como um fantasma, amaldiçoado vagando pela terra como punição por meus atos perversos em vida. — Assim, a parte de morrer realmente não dói? — Para mim, não. Isso não aconteceu. Deixei escapar um suspiro de alívio. — Isso é bom saber. E sobre os Revenants? Quando eles te ajudaram e Katy quando morreu, doeu? Agora ele parecia desconfortável. — Abbey... — Ele começou e depois parou, fazendo uma pausa longa o suficiente para olhar para trás por cima do meu ombro, para a floresta. — Eu sei que você está procurando respostas, mas eu não posso te dizer tudo. — Por que não? — Eu perguntei. — Você esteve na minha posição antes. Você sabe o que vai acontecer. — Tudo o que posso dizer é que eu não sei tudo. É diferente para cada um de nós. E particularmente agora... — E agora? — Agora que Vincent interrompeu o processo, eu acho que agora é incerto. Suas palavras levou um minuto para fazer efeito. — Incerto... Espere, você quer dizer que há uma chance de eu não conseguir ficar com Caspian? — Pânico encheu meu pensamento, e eu estendi a mão desesperada. — Isso não é verdade, certo? — Eu implorei. — Diga-me que não é verdade! — Eu não posso dizer. — Ele respondeu. — Não é o meu dever tomar essa decisão. — Mas eu preciso saber! Eu preciso... O som de uma porta sendo aberta nos interrompeu, e Caspian saiu da casa.
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— Eu acho que é hora de ir. — Ele disse. — Seus pais podem surtar se que acordarem e descobrir que você não está em casa. — Bom ponto. — Eu disse, então me virei para Nikolas. — Sinto muito se parecia que eu estava ficando chateada com você. Estou frustrada por... Incerteza. — É compreensível. — Ele disse, batendo no meu braço. — Volte a nos visitar novamente em breve. Estamos sempre felizes em ter sua companhia. Percebendo que ele não iria me dar mais respostas, eu assenti. — Eu vou. Tchau, Nikolas. Virei em direção ao bosque, e Caspian seguiu atrás de mim. Quando nós estávamos longe o suficiente da casa, ele perguntou: — Como foi? — Como foi? Eu não sei. Nikolas não tem nenhuma resposta para mim. — Eu disse finalmente. — Respostas sobre o quê? — Tudo. Nada. Ele não diria. Como é que as coisas foram com você? — Eu perguntei. — Fantástico. Katy e eu conversamos sobre padrões de tricô. Agora eu sei a diferença entre um ponto e um purl ponto de cruz. A expressão em seu rosto era tão cômica que eu estava contente de ter outra coisa para falar durante o caminho de casa. Agora estava ainda mais confusa do que quando eu tinha chegado aqui.
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Capítulo Oito Carmesim
Ichabod tornou-se o objeto da lunática perseguição de Bones e sua gangue de violentos motociclistas. The Legend of Sleepy Hollow
Não houve mais alarmes falsos ou bloqueios por todo lugar quando voltei para a escola na segunda-feira, e eu achei Ben esperando por mim no meu armário após o segundo período. — Hey, Abbey! — Ele disse, mexendo no livro de ciência que ele estava segurando. — Posso levá-la para sua próxima aula? — Sim, claro. Vou ter educação cívica. Ele se saiu fora do caminho, e eu abri minha porta do armário. — Então... — Eu disse, trocando o meu livro de matemática para um livro de educação cívica. — Você não tem sido bombardeado por meninas pedindo-lhe para ir para o Baile Hollow ainda? Ou ainda é muito cedo para isso? — Não é muito cedo. Eu tenho recusado um punhado. Eu levantei uma sobrancelha para ele. — O quê?— Eu disse. — É verdade. Eu tenho que diluir o rebanho um pouco.
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— Diluir o rebanho? — Minha sobrancelha subiu ainda mais. — Realmente agradável. — Virei na direção que eu precisava ir, e ele moveu-se para meu lado. — Você sabe quem você vai levar? — Sugeri docemente. — Aubra. Ele gemeu. — Você não pode estar falando sério. — Você totalmente mereceu um comentário como esse. “Diluir o rebanho”. O que somos nós, as ovelhas? Elefantes? Seu rosto ficou sério, e ele colocou as duas mãos na frente. — Eu retiro isso, eu retiro isso! Não há Funyuns2 suficientes no mundo para me fazer interessado em alguém tão egoísta. — Ela não é tão ruim, você sabe. — Eu disse. — Ela não é tão ótima, também, mas ela não é tão ruim assim. Ben estremeceu. — Dê-me um pensamento qualquer dia da semana. Eu gosto dos inteligentes. — Eu acho que não ouvi isso de você. — Revirei os olhos para ele. — O que posso dizer? Eu sou um tipo de cara com igualdade de oportunidades. Uma menina alta passou por nós, e vi com espanto como ela jogou os cabelos e depois sorriu para Ben. — Cara, você realmente tem de combatê-las! — Eu disse. Seu rosto ficou vermelho, e ele parecia envergonhado. Era engraçado vê-lo atuando todo tímido, mas estávamos quase na sala de aula, e eu ainda não sabia por que ele queria andar comigo. Flagrando um canto sossegado pelos bebedouros, eu levei-o nessa direção. — Então, o que você quer falar? Porque eu sei que não é sobre os seus problemas de menina. Ele olhou para seus pés. — Eu queria te perguntar uma coisa. Mas eu não sei como fazer isso.
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— Isso não vai ser mais um daqueles momentos estranhos quando você me diz o quanto você me quer e eu tenho que recusar educadamente, não é? — Eu o provoquei. — Não, não. — Então ele olhou para cima. — A menos que você queira que seja. — Eu vou desenhar para você na próxima quinta-feira. Você pode declarar seu amor infinito e eterno para mim, então. Será que isso serve para você? — Absolutamente. Ele arrastou os pés de novo, e eu senti a minha paciência se esgotando. Eu queria agarrá-lo pelo braço e apenas dizer a ele para cuspir isso já. — Sério. O que há, Ben? O que é isso? Você está me deixando nervosa aqui. Ele respirou fundo, como se estivesse recolhendo sua coragem, então disse: — Eu tenho sonhado com Kristen. — Você tem? — Eu não tinha sonhado com ela. Por que ele? — Yeah. E o que é estranho sobre isso é, você sabe quando você sonha, há sempre uma parte que está estranha? Como você pode estar passando pelo seu dia na escola, mas todos terão seis globos oculares, e narizes azuis, ou você estará de cueca? Eu balancei a cabeça. — Não é assim. — Ele disse. — Esses sonhos são quase... Reais. Classes e salas de estudo, e coisas assim. Nós sentamos e conversamos sobre todos os tipos de coisas. Por horas. Acontece quase todas as noites. Você já sonhou com ela? Eu estava quase tentada a dizer não. Alguma parte de mim não queria que ele soubesse que os meus sonhos com minha melhor amiga foram perturbadoras. Em vez disso, encontrei-me dizendo: — Eu costumava. Mas eu nunca passava algum tempo com ela nos meus sonhos. Algo estava sempre errado, ou estranho.
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— Então você acha que... Você acha que talvez ela está olhando por mim? Ou me assombrando? — Ele riu autoconsciente e puxou um pedaço de seu cabelo castanho encaracolado. — Eu nem sei se eu acredito em fantasmas. — Eu acredito. — Eu disse automaticamente. — Você acredita? Eu não tinha a intenção que isso escapasse. — Yeah. Eu, hum, eu acredito. Ben olhou esperançoso. — Então você acha que ela está pendurada em torno de mim? — Ele olhou em torno de nós, em seguida, baixou a voz. — Não é como se eu quisesse que as pessoas saibam que acho que estou sendo assombrado por um fantasma, mas... — Um sorriso melancólico apareceu. — Mas eu acho que seria legal se isso acontecesse. Com ela. “Sim, não é tão ruim ser assombrada. Confie em mim”. — Estávamos ambos ligados a ela. Eu como sua melhor amiga, e você... — Eu sorri gentilmente para ele. — Como alguém que queria ser algo mais. Há um vínculo lá. Eu não acho que a morte pode tirar isso. — Mas não é como se ela soubesse como eu me sentia. — Eu acho que você ficaria surpreso com o quanto eles sabem. — Eles? — Ele parecia cético. — Fantasmas. Espíritos. — Eu acenei minha mão ao redor. —Você sabe. Ele balançou a cabeça em uma maneira vaga que me deixou desconfortável. Território perigoso, Abbey. Olha o que você diz. Eu coloquei meus dedos em seu braço e fiz o meu tom muito reconfortante e de aceitação. — O que quero dizer é que você pode acreditar no que quiser acreditar. E eu não acho que haja algo de errado em acreditar que de alguma forma Kristen sabia como você se sentiu a respeito dela. Seu rosto clareou.
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— Você está certa. E eu gosto da ideia de que ela está feliz. Onde quer que ela esteja. — Eu também. A campainha tocou, e me afastei. — Eu tenho que ir. Eu não quero começar as aulas chegando atrasada. — Obrigado por falar comigo sobre isso, Abbey! — Ele disse. — Mas, uh, podemos apenas manter isso entre nós? Eu sorri para ele, então me virei para ir para a aula. — Manter o que entre nós? Eu saí mais cedo do almoço, e fui para o meu armário para vencer a multidão. Cyn estava no armário de Kristen, não, armário de Cyn agora. Vou ter que me acostumar com isso e ela estava cutucando alguma coisa. Seu rosto sardento se virou para mim quando me aproximei. — Se você tivesse que escolher entre um inseto morto ou uma folha morta, qual você escolheria? — Uhhhh, por que eu estou escolhendo uma dessas coisas? — Perguntei. — Basta escolher. Estendi a mão para a porta do meu armário e girei a combinação. — Eu acho que depende de que tipo de inseto. É como uma borboleta, ou um... — Ehhhhh. — Ela fez o som de uma campainha. — Acabou o tempo. Então você está indo com o inseto? — Eu não... Ela me interrompeu novamente. — Sua resposta revela muito sobre você. Eu teria escolhido folha, mas você escolheu inseto. Por que isso?
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— Tecnicamente, eu não tive tempo de escolher nada. Eu só fiz uma pergunta. Ela colocou uma mão em seu armário e tirou um pequeno pote de terracota. Era literalmente um dos menores vasos que eu já vi. A haste da planta solitária deu três folhas enrugadas, com o quarto parecendo que mal estava aguentando. — Eu gosto dos quase mortos. — Ela disse. — Você acha que eles se foram, mas eles não foram. — Seus lábios se moviam, e ela sussurrou algo que soava como: “Ahtoo rah roorah ru tímido el.”, para a planta. — O que significa isso? — Eu perguntei. — É uma antiga bênção gaélica. Um sobmedida para a deusa de todas as coisas vivas. Plantas como essa. — Ela moveu-se para colocar o vaso de volta, e eu espiei por cima do ombro. Havia pelo menos doze outras plantas mortas lá dentro. — Caramba! — Eu disse. — Isso é um monte de plantas. Eu não quis dizer às palavras que escaparam, mas elas meio que fizeram. — Não se preocupe. — Ela disse conspirando. — Eu não mantenho todas. Eu enterro as que realmente não fazem isso. A maioria delas só precisa de um pouco de persuasão, no entanto. Eu nem sabia como responder a isso, então eu só fiz um vago barulho de acordo. Quem é essa garota, e exatamente por quanto tempo vou ter que ter um armário ao lado dela? Com um tremor confuso da minha cabeça, eu abri minha porta armário... Congelei... Quando eu vi que estava lá. Cyn deve ter visto a expressão no meu rosto, porque ela se inclinou. — O quê? O que é isso? — A mão dela serpenteou fora para alcançar o que estava lá, antes que eu pudesse encontrar a minha voz. — Não toque nisso! — Mas era tarde demais. Ela já pegou o frasco vermelho-sangue. — É perfume. — Ela segurou-o para mim, e eu me encolhi. Eu não queria tocá-lo. — Há algo de errado com isso?
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— Não é meu. — Eu disse. Foi um presente de Vincent? Ela virou-o para ler o nome. — “Carmesim”. Eu nunca ouvi falar dessa marca antes. — Abrindo a tampa, ela enfiou debaixo de seu nariz. — Cheira pesado. E acobreado. Como algo... Pedaços de memória nadavam diante de meus olhos. Cacos de vidro. Bordas recortadas. Afiada, cheiros enjoativos. E o sangue. — É sangue! — Cyn disse rapidamente. — Isso é o que o cheiro me lembra. Pungente e acobreado, ao mesmo tempo. Que diabos? Um perfume que cheira a sangue? Quem iria querer usar isso? Sem sequer perceber o que estava fazendo, peguei-o para fora de suas mãos e praticamente corri para a próxima lata de lixo. Meus dedos queimando, onde eu toquei a garrafa e joguei o objeto repulsivo na boca do recipiente. O sino tocou em cima, sinalizando o fim do almoço, e as salas inundaram com as pessoas. Eles se acotovelavam em meus ombros e amontoaram em meu espaço. Os corredores estavam apertados com corpos correndo como se todos corressem para chegar onde precisava estar. De repente uma mão tocou a minha. Uma vez, levemente, em seguida, agarrou. Olhei para os dedos envolvidos em torno dos meus. Eles acariciaram minha mão, e unhas esmagavam dolorosamente antes de irem. Olhei para cima. Cabelo loiro branco era tudo que eu podia ver, e Vincent sorriu para mim. — Hey, querida. Então ele se misturou à multidão. Como se ele nunca tivesse estado lá. Meus joelhos travaram. Meu peito apertou, e eu me perguntava se eu ia desmaiar no meio do corredor. — Não é real! — Eu cantava, tentando não surtar. — Não é real! Ele não está aqui. Você só está imaginando isso!
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As salas encheram, e eu fiquei ali de pé, ainda sentindo os dedos nos meus. Lembrando da outra vez que ele tinha apertado o meu braço e deixado uma marca. Um vergão vermelho profundamente em minha carne... Kristen veio, e eu olhei para ela. Ela estava olhando para mim. — Está tudo bem? Por que você está surtando sobre o perfume? Cyn. Era Cyn. Não Kristen. Kristen estava morta. Não aqui. Não fale comigo. Voltei para onde eu estava. De volta para o corredor, depois do almoço, e eu queria gritar. Queria chorar. Queria ter certeza que ela tinha visto o que eu tinha acabado de ver Vincent. Aqui. Tocando-me. Mas eu mandei todo esse sentimento para longe. Eu balancei minha cabeça, e encontrei a minha voz. Sorrindo fracamente, eu disse: — Admirador secreto? Ela me olhou de cima a baixo. — Eu não penso assim. Isso foi algum tipo de surto acontecendo. — Foi um admirador secreto de quem eu particularmente não quero presentes. — Não digo a ela sobre o que eu vi? E se não fosse real? E se fosse? Então me lembrei de meu sonho sobre a floresta e os cabelos vermelhos. Eu peguei em seu braço. — Você não viu um cara por aqui ultimamente, não é? Um cara que te assusta? Ela olhou para baixo e tentou se separar. — Limites, ok? Apertei mais forte. — Estou falando sério, Cyn. Se você vir alguém que tentar falar com você e está agindo estranho, fique longe dele. — Por quê? Eu tinha que dizer a ela sobre isso. Não importa o quão louco me fez soar.
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— Eu tive esse sonho, e que poderia ter sido com você. Ou talvez fosse sobre Kristen. Ela tinha o cabelo vermelho também. Mas era cabelo vermelho escuro, como o seu, e um rapaz estava perseguindo-a... Ou eu. Ele estava me perseguindo. Ou... Não me lembro. Ela puxou o braço para fora do meu aperto e me deu um olhar estranho. — Apenas tome cuidado... Ok? — Eu disse. “Porque Vincent gostava de ruivas. E Vincent, obviamente, queria jogar.” Assim que cheguei em casa da escola naquela tarde, eu disse a Caspian sobre o frasco de perfume deixado no meu armário. — Tem alguma ideia de quem colocou lá? — Ele perguntou. Eu não respondi. Mas o olhar na minha cara deve ter falado para mim. — Então você acha que era ele? — Eu acho que eu o vi lá também. Após o almoço. Ele estava no corredor e ele pegou minha mão. Caspian pulou. — Você ainda tem o perfume? Onde ele está? — Eu joguei fora. Ele começou a andar. — Eu não posso acreditar nisso. Ele está perseguindo você! Como é que eu vou te proteger? Precisamos de um pouco de reforço. Eu preciso contar para Kame e Uri sobre isso. — O que eles vão fazer? Seguir-me? — Eu gemi. — Eu não quero isso. Caspian parou de andar e olhou-me nos olhos. — De agora em diante, eu vou em todos os lugares com você. Quando sua mãe a deixar na escola e te pegar, eu estarei lá. Inferno, eu poderia até começar a ir para a aula com você. Eu coloquei minha mão para fora, ao lado dele.
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— Você não quer fazer isso. Você já tinha ido para a escola uma vez. Quem quer repetir essa experiência? — Eu só quero ter certeza de que você está segura. — Ele respondeu. — Então, venha me buscar. Todos os dias, se quiser. Como cola? — Como cola.
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Capítulo Nove AGORA OU NUNCA
Ele reuniu, ainda sim, toda sua força... The Legend of Sleepy Hollow
Na quarta-feira eu achei uma pilha de vidros quebrados em volta do meu armário. Eu não tinha certeza se era alguma coisa que Vicent deixou pra trás ou só um rastro de algum descuidado com uma garrafa de Snapple6. Então, eu falei para o inspetor sobre isso e quando eu saí da aula já não tinha mais nada. Tudo mudou na sexta-feira, contudo. A sexta... Ficou estranha. Eu estava tentando abri meu livro de educação cívica na página 352 durante a aula, quando ele caiu com força na minha mesa fazendo um barulhão e abriu na página sozinho. Ele abriu porque tinha alguma coisa enfiada dentro dele. Eu inclinei sobre ele pra olhar melhor. Tinha uma pilha de pequenas coisas de formas incrustadas paradas ali. Quase como pedaços secos de cera de vela dura. Todas elas eram amareladas, exceto por uma que era vermelha brilhante. Peguei uma das peças amarelas e a examinei. “Isso é uma orelha de cera?”
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Esse pensamento me enjoou e eu imediatamente deixei aquela coisa amarela lá. Usando meu lápis, eu cutuquei uma coisa vermelha. Era brilhosa e tinha uma ponta levemente arredondada. “Aquilo não podia ser uma orelha de cera. Era quase parecido com uma... Unha!” Parecia uma unha. Foi aí que eu vi as palavras rabiscadas através das páginas Eles continuam crescendo mesmo depois que você está morto. Eu fechei o livro com força e levantei tão bruscamente que minha cadeira bateu no chão atrás de mim, e todo mundo virou pra olhar. Eu não conseguia saber se eles estavam olhando por causa do barulho que a cadeira fez, ou por causa do barulho que eu fiz. Alguma coisa entre um engasgo e um grito. A Sra Huffner parou de escrever no quadro. — Está tudo bem, senhorita Browning? — Não... Eu... É que... — Eu fiquei ali parada, olhando pra pilha de unhas que alguém tinha posto no meu livro. — Eu preciso... — Não saía. As palavras estavam entaladas dentro de mim e a sala estava girando, e por que o Vincent estava fazendo isso comigo? — Você precisa ir para a sala da enfermeira? — Eu acho que eu acenei ou coisa assim, porque ela disse: — Vai, então. Você está desperdiçando o tempo precioso de todo mundo. Deixando o livro pra trás, eu atravessei a sala de aula. No lado de fora, no corredor, o ar estava mais fresco e o mundo parou de rodar. Escorregando contra alguns armários, eu inspirei profundamente e então eu inclinei pra frente colocando minha cabeça entre minhas pernas. Com meus olhos apertados, eu tentei afastar todos aqueles pensamentos. “Aquelas não eram unhas de verdade. Eles provavelmente só eram apontadores petrificados. Ou pedaços velhos de borracha e cola. Ou pedaços de papel.” Acenar significava que eu tinha que concordar com aqueles pensamentos. Então, eu acenei. Era o caminho mais fácil. Levantando lentamente, eu me empurrei da parede em direção ao banheiro. Eu tinha só que ir me esconder até o sinal tocar. No final do dia, saí para passear pela calçada para esperar Caspian. Cyn estava lá, fumando um cigarro, e me sentei ao lado dela.
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— Nós sempre estamos indo em direção uma da outra. — Eu disse. — Você já percebeu isso? Ela exalou e depois deu de ombros. — Isso é o que acontece quando você não tem o que fazer numa cidade pequena e uma mãe que faz você esperar pra te buscar. E com você? — Também. Ela ofereceu um cigarro pra mim e eu fiquei parada. Eu nunca tinha fumado antes. Eu nunca tinha sentido necessidade. Então não era alguma coisa que eu já tinha pensado a respeito. Ela esticou o pulso mais longe. — Você vai pegar ou vai ficar aí olhando? — Eu nunca... Eu não fumo. — Tem a primeira vez pra tudo. A ponta do cigarro virou cinza, e então a cinza soltou. Parecia um pouco nojento, mas ela tinha razão. Era agora ou nunca. Eu não tinha toda a minha vida pela frente para mudar de ideia. Eu o peguei das mãos dela e o coloquei nos meus lábios. Ele era fino e tinha gosto de papel. A fumaça flutuava nos meus olhos e eu inalei profundamente. Eu não sabia se era pra contar até dez ou coisa assim, mas finalmente Cyn disse: — Whoa, whoa. Exala. Eu acho que eu engoli um pouco da fumaça que exalei, porque parecia que meus pulmões iam explodir. Eu tossi e engasguei, a fumaça escapava de mim nos poucos engasgos. Cyn riu. Mas não era pra rir, e logo que eu pude, eu estava rindo também. De repente, pareceu que eu tinha feito algo sensacional como escalar o Monte Everest ou trilhado pela Muralha da China. Ela pegou o cigarro de volta e mostrou.
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— É assim. — Depois de inalar por um segundo, ela afastou a ponta do cigarro e inclinou a cabeça para o lado, exalando um fluxo de fumaça. — Deixa eu tentar de novo. — Eu disse, me aproximando pra isso. Ela me entregou o cigarro e eu imitei as ações dela. A segunda vez não foi tão ruim, e eu tossi só um pouco enquanto a fumaça escapava de mim. Era uma sensação estranha. Que eu não sabia identificar direito. — Essa quase saiu. — Cyn disse. — Quer outra? Pequenos pedaços de cinzas caíam no meu jeans e eu olhei para baixo e espanei-as para o lado. — Não. Eu acho que não.— Eu passei minha língua sobre meus dentes. Eles pareciam engraçados. — Minha boca está com um gosto nojento, como se fosse uma combinação de... Uma sombra caiu sobre mim e eu olhei pra cima. — Fumar na propriedade da escola é proibido. — Vincent disse, sacudindo seu dedo. — Vocês estão sendo alunas desobedientes? Meu primeiro instinto foi me afastar dele o mais rápido possível, mas eu tentei me controlar. Eu não queria demonstrar medo pra ele. Raspei as palmas da mão no asfalto debaixo de mim, eu senti a dor aguda de pequenas pedras e cimento duro. — Este não é um esporte de espectador. — Cyn disse. — Cai fora, idiota! Seu cabelo ainda estava loiro como o de Caspian. E embora não fosse liso caindo no rosto como tinha estado quando ele apareceu na cama no meu quarto, a sombra do preto ainda estava lá. Isso me enviou uma onda de choque através de mim. Como ele se parecia com Caspian. Vincent sentou entre nós duas e eu estava muito assustada para me mover. — Eu gosto do seu cabelo. — Ele disse pra Cyn. — Vermelho é definitivamente a sua cor. Minha também. — Não me importa. Some daqui, porra! — Ela respondeu. Meus sentidos estavam começando a inundar com consciência, e eu sabia que não poderia sentar-se ali, bem ao lado dele por muito tempo.
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Cyn virou para encará-lo e eu achatei as palmas das mãos no chão me preparando. Eu já tinha batido nele uma vez. Eu conseguiria de novo se eu precisasse. — Nós te convidamos pra sentar aqui? — Ela disse. — Quem diabos é você? — Oooh, picante! Abbey sabe o quanto eu gosto das picantes. — Ele inclinou pra minha orelha e sussurrou. —Delícia. Igualzinha a Kristen. Eu me afastei horrorizada. Antes que eu pudesse pará-lo, Vincent me alcançou e entrelaçou nossas mãos. — Como assim, quem sou eu? Sou o namorado da Abbey. Ela não contou a você? Meu nome é... Caspian. Eu puxei minha mão da dele tão forte e tão rápido que eu senti ir para frente no meio-fio e caí sem freio contra a rua. — Não-não, você não é! — Eu consegui falar. Cyn engasgou e Vincent riu. Então, levantou. — Não fumem muito, garotas. — Ele falou saindo. —Desobediente, desobediente, desobediente! Um minuto depois, um Mustang preto rugiu para longe de nós, virando uma esquina e correndo passou um sinal vermelho. Eu inclinei para trás e o observei ir. E então eu me inclinei pra frente, e vomitei. Cyn me ajudou a me limpar no vestiário da escola, e eu continuei me desculpando com ela. Ela continuou me falando pra parar, mas eu não conseguia evitar. Eu não sabia se estava me desculpando por ter passado por idiota ou por me sentir tão inútil. De qualquer forma, era uma merda. — Eu não acredito que isso aconteceu. — Eu disse, me inclinado na pia. — Falando sobre a humilhação. — Isso provavelmente foi só o cigarro. — Cyn respondeu. —Ou o fato daquele cara ser o maior babaca. Eu acho que ele parece encrenca. Eu bochechei e cuspi. — Maior babaca é somente a metade.
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— Ele é um ex? — Ela perguntou hesitante. — Não. Eu não disse mais nada, e ela não perguntou. Eu gargarejei e cuspi novamente, em seguida, desliguei a água. Nós saímos e um Honda branco estava esperando lá. — Vamos. — Ela disse. — Você vai de carona. — Eu posso andar. Não é tão longe. Ela apontou pra carro e abriu bem os olhos. — Entra. Seu tom me disse pra não argumentar. Então, eu segui as ordens. A mãe de Cyn não falou nada quando eu entrei no banco de trás, e Cyn foi quem perguntou o endereço quando ela sentou no banco da frente. Elas me deixaram. A casa estava silenciosa quando eu entrei. Aquilo me deixou nervosa. — Caspian? — Eu chamei. — Você está aí? Nenhuma resposta. Eu fui pro meu quarto o mais rápido que pude, tentando reprimir o pânico crescente no meu estômago. “Onde ele está? Por que ele não me responde? Alguma coisa aconteceu?” Empurrando a porta do quarto, meu coração afundou direto para o meu pé quando eu vi alguém deitado na cama. “Vincent está aqui!” Eu pensei que teria um ataque cardíaco. Meus joelhos ameaçavam fraquejar e uns poucos pontos pretos se espalhavam nos cantos da minha visão. “Respire...” Eu estava esquecendo de respirar. Eu peguei um montão de ar e coloquei uma mão na parede para me apoiar para que eu não caísse logo ali. E então a pessoa da cama sentou. Quase pareceu que meu coração afundou de novo, só que desta vez era de alívio quando eu vi que era o Caspian. — Abbey? — Ele disse. — O que você está…? Você está bem? Eu apertei meu peito. Caspian esfregou seus olhos e então levantou e veio até mim. Eu levantei um dedo em resposta.
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— Só um minuto. Dê-me só um minuto. Eu acho que estou tendo um ataque cardíaco pela segunda vez. Ele olhou em volta. — Que horas são? Era pra eu te encontrar na escola. O que aconteceu? — Eu esperei por você, mas você nunca chegava. E então... — Eu olhei pra trás na cama, somando dois e dois. — Você estava dormindo? Caspian correu a mão pelo cabelo, bagunçando um pouco a parte de trás, e ele olhou pra cama também. — Eu não sei. Eu não lembro o que aconteceu. Um minuto eu estava aqui e eram onze horas. Em seguida... — Ele percebeu o que aconteceu e seu olhar passou de confusão para raiva. — Eu não acredito que eu dormi! A coisa de dormir me preocupou, mas eu precisava me livrar do que sobrou do encontro com Vincent de novo antes que eu pudesse pensar no que tudo isso significava. — Não foi nada. Não se importe com isso. Eu estou indo tomar banho. Um olhar estranho estava no rosto delo e eu fingi que não vi. — Isso é cheiro de fumaça de cigarro? — Ele perguntou. — E vômito? Eu fiquei desconcertada. — Sim. Cyn estava esperando pela mãe dela também, e ela estava fumando do lado de fora. Eu fumei o cigarro dela e não me caiu bem. Daí eu vomitei. — Eu cambaleei para o banheiro e comecei a puxar as toalhas do guarda-roupa. — Eu não sabia que você fumava. — Caspian disse. — Eu não fumo. Quero dizer, nunca fumei antes. Isso foi só algo novo que eu quis experimentar. Imaginando que eu não teria outra chance, por que não? — Eu abri a torneira e ajustei a temperatura da água. — Isso é… Vai ser permanente? — Ele perguntou devagar, com uma cara preocupada.
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— Deus, não! Uma vez e pronto. Agora, podemos não falar mais disso? Ele concordou e eu fechei a porta atrás de mim. Tudo que eu precisava era um bom sabão e água quente, e eu estaria pronta para contar a Caspian a parte importante. Sobre Vincent. Eu não estava pronta pra isso até tarde naquela noite quando eu fui capaz de trabalhar minha coragem para contar pra ele sobre o que mais tinha acontecido. Ele tinha acabado de ler três capítulos de Jane Eyre, e eu não queria arruinar aquele momento perfeito. O tempo parecia parado quando estávamos somente ele e eu, juntos no nosso mundo pequeno, distante de tudo e de todos. Nada importava exceto as palavras na página que ele estava lendo e a melodia da sua voz enquanto ele falava. Fechando meus olhos, eu respirei fundo e disse: — Tem uma coisa que eu preciso te contar, mas eu não quero que você fique chateado. Então, não fique. Ok? Ele teria ficado até mais chateado com ele porque tinha dormido e perdido a chance de ter certeza que Vincent não fez nada comigo? Ele fechou o livro e o colocou na cama. — Numa escala de um a dez, quanto ruim é? — Possivelmente um nove. — Ok… — Só lembre que eu tive um dia muito ruim hoje, e eu vomitei em frente a alguém na escola, e tem vômito nos meus sapatos. — Eu disse de uma vez só. — E Vincent Drake estava lá. — Na escola? — Sim. — Tem certeza? — Cyn o viu também. Ele foi até a gente lá fora e sentou do meu lado. — Ele machucou você? — Não exatamente.
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— O que ele fez? — Segurou minha mão e disse pra Cyn que ele era você. Ele ficou em silêncio por um tempo e depois disse: — Você vomitou antes ou depois que ele esteve lá? — Logo depois. Ele recostou e olhou pra longe. Até que eu não pude aguentar mais, não pude ficar sem saber o que ele estava pensando. Então, eu perguntei: — Você está chateado? Comigo? Com ele? Me fala. — Eu estou decepcionado. — Ele disse. — Meio que parece que você escondeu isso de mim. — Mas eu não escondi! — Eu justifiquei. — Eu estou te contando agora. — Muitas horas depois do acontecido. — Eu... Eu só não sabia o que fazer. — Você poderia ter me incluído. Você poderia ter me dito logo. — Mas eu estou te contando agora. E você estava dormindo. E... — Bem, eu estou feliz por saber agora. — Ele disse. Mas ele não parecia feliz. E eu não me sentia feliz. Em vez disso me senti pior.
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Capítulo Dez LOBO EM PELE DE CORDEIRO
“Só então o objeto sombrio de alarme colocou-se em movimento, e com uma corrida e um salto foi de uma vez para o meio da estrada.” A Lenda de Sleepy Hollow
Eu sabia logo de cara que algo estava errado quando eu acordei na manhã seguinte. Caspian estava ao meu lado, e ele parecia estar tirando uma soneca. Mas algo estava diferente. Eu podia sentir. — Caspian. — Eu disse. — Você está dormindo de novo? Eu pensei que você não precisava dormir. — Eu me levantei e andei até o lado da cama onde ele estava deitado, e fiquei de pé diretamente sobre ele. — Acorda. Ele não se mexeu. — Vamos lá, Caspian. Acorda! — Eu disse novamente, mais alto. Meu instinto era sacudi-lo, apesar de que eu sabia que não podia tocá-lo. Eu chamei o nome dele várias vezes, sentindo uma crescente sensação de malestar. “Por que isso está acontecendo: O que isso significa?” — Acorda. Por que você não acorda? — Eu disse. Finalmente eu desisti. Eu me estiquei para tocá-lo, e minha mão passou pela dele. Mas eu não senti o zumbido ou formigamento que deveria estar lá.
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Eu movi meu braço para frente e para trás por cima da cabeça dele, no ombro dele, subindo o seu braço. Não havia nada. Nem mesmo um pontinho. Era como se nós estivéssemos totalmente cortados. Eu tropecei para trás, coloquei um jeans e uma camiseta, e corri até a cozinha. O número da Sophie e do Kame estava lá, em um cartão de negócios que eles haviam entregado para a mamãe, e eu precisava falar com eles agora. Eu precisava saber o que estava acontecendo. A campainha tocou enquanto eu freneticamente cavava a gaveta de tranqueira procurando pelo cartão que eu sabia que a mamãe havia enfiado lá em algum lugar, e um segundo depois havia vozes vindas da varanda. — Por que você não entra? — Eu escutei mamãe dizer. — Deixe-me chamar o Dennis, meu marido. Ele ficará tão contente em te conhecer. É maravilhoso que você tenha vindo se apresentar a nós. Mamãe enfiou sua cabeça para dentro enquanto ela passava pela cozinha, e disse: — Abbey, você poderia, por favor, vir conhecer o Diácono Dwayne da Igreja Pentecostal de Saint Paul’s? Ele é novo na cidade. — Sim, em um minuto, mãe. Estou procurando por algo. Você viu onde o cartão da Sophie e do Kame está? Eu pensei que estava na gaveta de tranqueira. Ela foi até a geladeira. — Eu movi aqui para cima. Vamos ver... — Ela verificou as fileiras de cupons de pizza e menus de comida chinesa. — Eu não estou vendo. Deve ter caído. Ou talvez eu o tenha colocado na minha bolsa. A voz do papai ecoou até nós enquanto ele cumprimentava o diácono, e a mamãe ficou distraída. — Oh, bom. O seu pai está na sala. Venha comigo só por um minuto, e então eu encontrarei o teu cartão. Ela agarrou minha mão, e eu relutantemente segui. Eu esperava que o diácono não estivesse esperando roupas chiques de igreja ou algo assim, porque eu não iria me trocar por causa dele. — Não esqueça. Eu preciso daquele cartão! — Eu sussurrei. Ela assentiu distraidamente e continuou me puxando atrás dela.
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Papai estava sentado em um canto do sofá, com o diácono do outro lado, e mamãe se apressou para preencher o espaço no meio. Eu parei repentinamente, e meus pés congelaram no chão quando eu fiquei frente a frente com ele. — Sinto muito ter te deixado esperando, Diácono Dwayne, — Mamãe falou com emoção. — Eu gostaria que o senhor conhecesse a minha filha, Abbey. — O diácono assentiu positivamente para mim, seu traje rígido preto e branco mal permitia que sua cabeça se movesse. Mas ele não era um homem de Deus. Ele era um lobo em pele de carneiro. Diácono ‘Dwayne’, realmente. “Eu vejo o que você quis fazer aí, Vincent Drake.” Eu estreitei meus olhos para ele e me recusei a sentar. — Não seja rude, Abbey. — Mamãe cutucou. — Venha dizer olá. — Nâo seja tímida, minha criança. — Vincent entoou com uma voz gentil. — Venha e sente-se conosco. Um milhão de pensamentos correram pela minha cabeça, mas eu não podia me concentrar em um. Caspian estava aqui, mas ele não podia ajudar. Eu não tinha o cartão da Sophie e do Kame, e eu nem mesmo sabia como entrar em contato com o Uri ou a Cacey. — Venha e sente-se. — Vincent instrui novamente. — Congregue conosco. — Não, obrigada! — Eu disse friamente. — Eu posso congregar daqui. — Você não escutou sobre a grande escritura que diz que deverás honrar teu pai e tua mãe? — Ele respondeu. Mamãe assentiu vigorosamente. — Honrar. Eles. — Vincent disse, uma ponta áspera em sua voz. Ele moveu uma mão somente um pouco mais próxima da mamãe. Bem discretamente. Eu acho que a mamãe e o papai nem perceberam, mas eu percebi. Foi um movimento ameaçador. Definitivamente havia uma ameaça ali. Eu fui até a poltrona em frente ao Vincent e me sentei. O assento parecia apressar-se para me pegar, e isso me surpreendeu. — Agora nós todos somos uma grande família feliz. — Vincent disse, um sorriso satisfeito em seu rosto. — O Senhor está contente.
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Por quanto tempo ele iria manter este teatro? E por que ele estava se incomodando em montar tal charada? — Então, você está gostando da Saint Paul’s? — Mamãe perguntou. — É uma igreja tão bonita. — Oh, sim, é. E eles têm maravilhosos trabalhos para jovens. Eu me encontro atraído aos ministérios que ajudam as crianças. — Vincent respondeu, com um sorriso maléfico para mim. — Jovens, inocentes instáveis, pressionam o meu coração. Eu dei a ele um olhar sujo. — Sim, eles têm bons programas para bons jovens lá. — Papai disse. — Alguns dos melhores por aí. — Mas não é que eles os tenham porque eles precisam deles. — Mamãe proferiu. — Nossas crianças são muito bem comportadas aqui em Sleepy Hollow. Vincent tamborilou seus dedos e adotou uma expressão preocupada. — São? Eu devo dizer, eu escutei... Coisas preocupantes. Sobre uso de drogas, e adolescentes se tornando sexualmente ativos em uma idade tão jovem. “Mal. Ele é pura maldade.” Mamãe pareceu chocada, e papai não olhava nos meus olhos. Eu acho que o termo “sexualmente ativo” era mais do que ele queria pensar a respeito. — Não. — Mamãe disse. — Nossas crianças não se envolvem em tais coisas. — Maravilha, maravilha. — Ele pareceu preocupado novamente. — E quanto a outros problemas? Doenças mentais? Suicídio? — Agora mamãe não olhava para mim, e o papai limpou sua garganta alto. — Vocês conhecem alguém que tenha sido pessoalmente afetado por tal coisa, Abbey? — Vincent dirigiu a pergunta para mim. “O que eu não daria para dar um soco nessa cara bajuladora mentirosa nesse momento...”
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— Não. Como a mamãe disse, nós todos somos crianças bem ajustadas. Diga-me, como estão indo as coisas com os Católicos? Eles parecem estar tendo problemas agora, certo? Talvez o senhor pudesse ajudálos. Mamãe arfou, e papai finalmente olhou para mim por tempo suficiente para fazer uma careta. Um lado da boca do Vincent se puxou para cima em um sorriso de escárnio. E então desapareceu. — Eu devo confessar, eu não sei como as coisas são resolvidas pelas igrejas Católicas. Eu fico muito ocupado cuidando do meu próprio rebanho. Eu me considero um pastor em treinamento, e eu acho que muitas de minhas ovelhas precisam... De certo tipo de atenção, mais mão na massa. Ele estalou suas juntas, e o som fez minha pele se arrepiar. Encarando-o com vontade, eu fiz um voto silencioso. “Eu não vou deixar você se safar com isso.” — Há quanto tempo você está na igreja, Diácono Drake? — Eu disse docemente. — No geral. Eu sei que a mamãe disse que o senhor era novo na cidade. — Receio que eu tenha perdido as contas de quantos anos se passou. Ou quantas vidas eu toquei. — O sorriso dele aumentou, e ele lambeu o canto de seus lábios. — E é Diácono Dwayne. — Oh, eu cometi um erro? Eu poderia ter jurado que o senhor disse Drake. Mamãe olhava de um para o outro com uma expressão levemente desconcertada em seu rosto. — O senhor gostaria de um pouco de café? Chá? — Ela disse para o Vincent. — Eu ficaria mais do que feliz em fazer. — Na verdade, eu tenho outro horário que eu me atrasarei se eu não for embora agora. Então eu faço minhas despedidas e espero encontrá-los novamente em breve.
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Ele se levantou e balançou a mão do papai, e então se virou para a mamãe. Certificando-se que ele estava no ângulo certo para que eu tivesse uma visão completa, ele se inclinou para dar um abraço nela com os dois braços. As mãos dele se alinharam diretamente com a garganta dela e ele me lançou outro olhar. “Mãe!” Eu queria gritar. “Saia de perto dele! Foi ele que me atacou!” Mas eu não podia contar para ela. Vai saber o que ele poderia ter feito então. — Foi muito bom te conhecer, Abigail. — Ele disse, se afastando dela. Eu notei o uso do meu nome completo. — Você tem adoráveis pais aqui. Eu daria graças a Deus todos os dias por pessoas tão maravilhosas na minha vida. Nosso tempo na terra é tão efêmero. Você nunca sabe quando a hora deles pode chegar. Até mesmo o dia de hoje pode ser o último. E com essa ameaça de morte sutil, ele passou pela porta da frente. Eu voei para o meu quarto logo que a mamãe achou o cartão da Sophie, e eu disquei o número o mais rápido que eu pude. Caspian ainda estava dormindo na cama. Eu estava começando a me preocupar com ele ainda mais. Todas aquelas vezes que ele havia descrito sendo puxado para um lugar escuro de sono para passar o tempo mais rápido não soava como uma coisa boa. E se ele não pudesse encontrar o caminho dele de volta? Eu andei ao lado dele, silenciosamente pedindo para que a Sophie ou o Kame atendessem ao telefone. Ele tocou, e tocou e tocou, e eu estava prestes a deixar um correio de voz urgente, quando Sophie atendeu. — Sophie? — Eu explodi. — É a Abbey. O Vincent está aqui. Ou estava aqui. Ele se vestiu como um padre, e ele estava ameaçando os meus pais, e o Caspian não acorda. — Devagar. Diminua a velocidade. — Ela disse. — O que está acontecendo? O Vincent está aí? — Sim. Não. Quer dizer, ele estava aqui, mas ele não está agora. Ele só veio e parou para falar com a mamãe e o papai. — Eu contei para ela o que aconteceu. — Eu não acho que eles perceberam o que estava acontecendo. Mas eu percebi. Sophie xingou. — Nós estaremos logo aí.
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— Algo está errado com o Caspian também. — Eu deixei escapar. — Ele não acorda. Ela ficou em silêncio, e isso não me deu uma boa sensação. — So-Sophie? — Eu perguntei. — Você ainda está aí? — Sim, querida. Estou aqui. — O que está acontecendo com o Caspian? — Eu acho que seria melhor se nós esperássemos até que pudéssemos conversar pessoalmente. — Não! Eu acho que seria melhor se você me contasse agora. — Eu não posso... — Ela exalou ruidosamente. — Só espere. Nós já estaremos aí. O telefone ficou mudo, e eu o encarei. Não era um bom sinal que ela não queria me contar o que estava acontecendo. Isso era algo normal nósnão-podemos-falar-sobre-isso dos Fantasmas? Ou havia algo além disso? Dez minutos depois, Kame, Uri, e Cacey estavam no meu quarto. — Está tudo bem? — Kame perguntou. — Você está ferida? Eu balancei minha cabeça. — Está tudo bem. Bem, no que diz respeito a mim, e a mamãe e ao papai. Caspian, eu não tenho tanta certeza. Onde está a Sophie? E o que vocês vão contar para a mamãe e o papai? — Ela está lá embaixo falando com eles. — Cacey disse com um sorriso largo. — Ela é boa em inventar coisas. Uri se moveu em direção à cama. Ele apontou para si mesmo, e eu assenti. E, em seguida, ele sentou-se ao lado de Caspian. Ele colocou uma mão no braço do Caspian, e eu desesperadamente queria trocar de lugar com ele. Ser aquela que podia tocar o Caspian, e acordá-lo. Mas eu não podia. — Isso já aconteceu uma vez antes. — Eu disse. — Era para ele ter me pegado na escola e ele nunca apareceu. Quando eu cheguei em casa, ele não conseguia se lembrar onde ele estava.
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Uri olhou para o Kame. E então balançou a cabeça. — O que está acontecendo? — eu gritei, perigosamente à beira de lágrimas. — Por favor! Só me falem. — Eu não aguentava mais. Eu não conseguia aguentar todos os segredos deles e as coisas que eles não queriam dizer. — Você tem que perceber que não há muita coisa que possamos fazer. — Kame disse. — Esta é uma situação anormal, e nós ainda estamos aprendendo qual a melhor maneira para lidar com isso. — Anormal por causa do Vincent? Por que ele causou a morte de Kristen? — Ele inclinou a cabeça. — Ou isso é a parte anormal? Ele ficando perto de mim, me perseguindo, se vestindo como um padre? — A interferência... Dele... É a parte anormal. — Então, o que está acontecendo com o Caspian? Sombras não dormem, certo? — Não é um sono normal. — ele respondeu. — O que isso significa? — Significa que nós não podemos acordá-lo, Abbey. — Cacey disse. Ela estava de pé ao lado da janela, e eu olhei para ela, atordoada. E, em seguida, olhei para o Uri. — Ela está inventando isso, certo? Diga-me que esta é a ideia dela de uma brincadeira cruel. — Não é uma brincadeira. Nós não temos controle sobre isso. — Ele confirmou. Eu cruzei os meus braços. — Mas eu pensei que vocês fossem esses seres místicos que estavam aqui para ajudar as Sombras e suas outras metades. Então nos ajude. Uri se levantou e foi conversar com o Kame silenciosamente. Ele continuou olhando para a Cacey, e eu tive a sensação que ela estava sendo incluída na conversa. Eventualmente Kame disse: — Ótimo. Eu vou deixar vocês lidarem com isso. Eu estarei lá embaixo.
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Ele atirou aos dois um último olhar antes de sair. — Nós achamos que seria melhor se nós levássemos o Caspian conosco. — Uri disse, se virando para me encarar. — Nós queremos levá-lo para algum lugar seguro. — Está tudo bem. Onde nós vamos? — Ele. Não você. — Cacey disse. — Você não pode ir. — Ah, sim, eu posso. — Ah, não, você não pode. — Por quê? — Porque o Vincent não quer vocês dois completos. Nós não descobrimos o motivo ainda, mas é o que ele quer. Nós precisamos ser capazes de manter um olho no Caspian pelo tempo que ele permanecer assim, e ficará mais fácil para todos nós se você não estiver lá com ele. Por que atrair o Vincent até nós? — Mas... Mas... — Eu não podia pensar rápido o bastante. Não conseguia juntar as palavras. Eles não podiam levar o Caspian para longe de mim! — Mas e se o Vincent descobrir a respeito de vocês? — Ele não descobrirá. — Uri disse. — E se o Vincent me encontrar? — Nós já temos isso resolvido. — Uri respondeu. — Como você se sentiria a respeito de uma pequena viagem? — Uma viagem? Enquanto o Caspian fica aqui? Não. Cacey se moveu para mais perto e enfiou a cara dela bem na frente da minha. — Olha, Uri está tentando dizer que ele é tremendamente mais legal do que eu sou, mas nós vamos levar o Caspian quer você goste ou não. Da maneira como eu vejo, você não tem muita escolha. — Ela olhou para as suas unhas e cutucou uma delas. — Além disso, se você vier conosco, você pode até descobrir alguma coisa.
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Ela balançou a cenoura de informação na minha frente com um gancho bem ensaiado, e eu não podia dizer não. A chance de finalmente conseguir algumas respostas? Eu não podia deixar isso passar. — Tudo bem. Eu vou com vocês. Só me diga uma coisa, onde nós estamos indo? — Gray’s Folly. — Cacey parecia alegre enquanto ela praticamente esfregava suas mãos. — Um hospício. Cacey me contou que nós somente passaríamos a noite, então eu empacotei uma camiseta, alguns jeans, e alguns itens de higiene pessoal em uma pequena bolsa enquanto ela descia com o Uri. Quando ela voltou meia hora depois, ela disse: — Ok. Nós estamos prontos. Você irá oficialmente passar o final de semana na minha casa para uma festa do pijama. Eu olhei para o Caspian preocupadamente. — Kame, Sophie, e Uri irão cuidar dele enquanto nós estivermos fora? — Sim. Apesar de que será apenas o Kame e a Sophie. O Uri é o nosso motorista. — E por que nós vamos até o hospício? — Procurar alguém. Eu não sabia se isso significava que nós iríamos procurar por um paciente ou por alguém que trabalha lá, mas eu decidi deixar isso para lá por enquanto. Relutantemente eu coloquei a mochila no ombro. Me abaixando próximo ao ouvido de Caspian, eu sussurrei: — Eu te amo. Você está em boas mãos. Eu voltarei logo, e você estará acordado então. — “Eu espero.” Eu não tinha muita certeza sobre isso, mas com Caspian nesse estado vulnerável, eu preferia muito mais ter ele com os Fantasmas que podem cuidar do Vincent, ao invés de somente eu. — Então me diga novamente por que nós não podemos ficar aqui e ter somente vocês cuidando da gente? — Eu perguntei.
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— Muitas perguntas. — Cacey balançou a cabeça. — O nosso encanto de mente é bom e tal, mas depois de um tempo haveria muita coisa para explicar para os seus pais. E ainda mais, você realmente acha que o Vincent vai voltar aqui novamente? — Certo. Ok. Tem razão. — Eu olhei para o meu quarto. — Então, eu acho que estou pronta. Você pode me dizer onde o Kame e a Sophie estarão levando o Caspian, pelo menos? — Melhor se nós não contarmos. Acredite em mim. Meu rosto desmoronou. — Ahhhh, se anime! — Ela disse, me direcionando para as escadas. — Você esquecerá tudo isso logo. Eu consegui uma surpresa para a nossa viagem. Um engradado de vinte e quatro deliciosas Coca-Colas! “Oba. Isso torna tudo tãooooo melhor...” Eu sorri fracamente para ela e me permiti ser direcionada para as escadas. Eu disse um rápido adeus para mamãe e papai e então fui lá fora até o Jetta. — O quão longe é? — Eu perguntei, me acomodando e colocando o meu cinto de segurança. — Cerca de três horas. Lá no norte. Não deve demorar muito. — Uri respondeu. Cacey já estava abrindo uma Coca-cola e alegremente bebendo antes de nós sairmos da calçada. Ela me ofereceu uma quando nós chegamos à rodovia, e eu aceitei. Eu não queria, mas Deus me livre eu falar isso para ela. O tempo passou juntamente com o cenário, e eventualmente eu vi uma placa que se lia “ESTABELECIMENTO DE SAÚDE MENTAL A 40 QUILÔMETROS.” E então outro afirmando que era a 20 quilômetros, e outro para o cinco. Quando chegamos à barreira do quilômetro um, eu comecei a ficar um pouco nervosa. Era final da tarde quando nós chegamos, e grandes portões enferrujados, de um lado estampavam um G ornamentado, o outro com um F, bloqueavam o caminho diante de nós quando o carro parou. Uri baixou a janela e disse algo ao guarda que eu não consegui ouvir. O guarda assentiu e verificou a sua prancheta para confirmar o que o Uri havia dito a ele. Então ele acenou para entrarmos.
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Uma série de prédios cinza ficou à vista, como blocos de tamanho desproporcional. Dois pequenos à esquerda, dois pequenos à direita, e um gigante no meio. Arame farpado cobria seções das paredes altas até o topo, e holofotes estavam instalados em cada canto. — Parece uma prisão! — Eu murmurei.
— E era. — Cacey disse. — Uma vez. Em 1825, ele foi construído para segurar todos os prisioneiros que estavam esperando no corredor da morte. Então em 1943, alguém pensou que seria uma boa ideia transformálo em um estabelecimento de saúde mental para os criminalmente insanos. Pelos últimos vinte anos mais ou menos, eles expandiram e começaram a aceitar todos os tipos de pessoas com transtornos mentais e doenças. — Amável. — Exatamente o tipo de lugar onde eu queria passar o meu final de semana. — E nós estamos aqui para ver alguém? Uri puxou o carro para frente e encontrou uma vaga de estacionamento. — Sim. — Um paciente, ou um empregado do estabelecimento? — eu perguntei. — Não tenho certeza ainda. — Ok... Uma enfermeira veio nos cumprimentar quando nós saímos do carro, e Uri foi falar com ela. Ela balançou a cabeça, e então nos levou para este pequeno prédio lateral estranho. Parecia como uma casa de hóspedes ou os aposentos da equipe que morava aqui, porque estava cheio de meia dúzia de quartinhos arrumados. — Parece que nós teremos que encontrá-lo amanhã. — Cacey se inclinou para frente para me contar enquanto nós andávamos pelo corredor. — As horas de visitação acabaram.
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Foi-me mostrado uma das extremidades do prédio e me deram um quartinho sem cor com apenas uma cama, uma mesa e uma foto da crucificação. Um jantar congelado foi trazido a mim em uma bandeja de prata encardida quinze minutos depois. Cacei entrou quando eu tinha quase acabado de comer ou melhor, quando eu estava quase terminando a tentativa de empurrar a colher com minha gororoba e me disse que nós iríamos passar a noite e ela voltaria de manhã. Severamente, ela me avisou para não deixar a casa, que havia regras restritas sobre quem tinha permissão para vagar pela propriedade e eu não queria ser pega em algum lugar onde eu não deveria estar. Eu só dei de ombros e rapidamente concordei. Como se eu quisesse vagar por um hospício à noite? Não, obrigada! Na manhã seguinte, a luz filtrada pela janela pequena fazia um corte alto acima da minha cama e me acordou. Era cedo, e eu deitei ali por um tempo pensando como deve ter sido viver aqui todos aqueles anos atrás. Quando coisas como terapia de choque e lobotomia eram comuns. Regras diferentes, medicamentos diferentes, momentos diferentes. “O que eles teriam feito com alguém como eu? Se alguém tivesse contado para eles que eu podia ver o Caspian e o Nikolas e a Katy? Eu ficaria presa aqui? Eu teria conseguido sair?” O pensamento me deixou triste, e meu corpo era como chumbo, enquanto eu me vestia. Havia uma pequena bacia e um jarro de água sobre uma mesa próxima, e eu lavei o rosto e as mãos. Um banho quente teria sido bom, mas tudo o que eu realmente queria era apenas encontrar quem a Cacey e o Uri precisavam ver e sair o mais rápido possível de lá. Uma batida veio na minha porta, e eu a abri para encontrar o Uri de pé lá. — Bom dia. — ele disse. — Bom dia. — Tem café da manhã na sala de jantar. — Ok. — Eu peguei a minha mochila. Eu não queria voltar aqui se eu pudesse evitar. Nós andamos em silêncio pelo corredor, mas eu notei que a Cacey não havia se juntado a nós ainda. — Onde está a Cacey?
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— Ela contrabandeou as latas de Coca ontem à noite e bebeu o resto daquele engradado de vinte e quatro latas. Ela não está se sentindo muito bem. Eu ri. E então eu me senti mal. — Eu espero que esteja bem. — Ela ficará bem em algumas horas. E então, talvez, ela me ouvirá da próxima vez. Eu lancei a ele um olhar. — Sim, talvez não. — Ele disse ironicamente. Eu estava na verdade meio que aliviada que ela não iria conosco. Sem ela por perto eu poderia ser capaz de conseguir algumas respostas. — Então eu posso ir com você? — Eu perguntei. Ele hesitou. — Eu pensei que você poderia ficar aqui com a Cacey. — Ah, não, está tudo bem. Eu prefiro muito mais ir com você. — Eu não queria que o meu entusiasmo fosse muito aparente, então eu acrescentei: — Este lugar realmente me deixa arrepiada. Uri riu. — Onde nós vamos não será muito melhor. Eu ofereci a ele o meu melhor olhar de cachorrinho pidão. — Por favooooooor! — Tudo bem. Certo. — Ele suspirou pesadamente. — Você se importa se nós pularmos o café da manhã? — Eu perguntei quando nós nos aproximamos da sala de jantar. Os aromas emanando de lá eram revoltantes. — Eu não estou com fome. — Por mim tudo bem. Eu odeio comida de hospital. Ele abriu uma porta lateral próxima, e nós entramos. Havia um carrinho de golfe com um motorista sentado lá, esperando por nós. Uri sentou-se na parte de trás e fez um sinal para eu me sentar ao lado dele.
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Nós dirigimos por uma estrada sinuosa até uma colina antes de finalmente pararmos na frente do edifício central. O maior deles. — Só fique comigo, ok? — Uri disse. — Nada irá acontecer, mas melhor prevenir do que remediar. Eu assenti solenemente e o segui para dentro. A porta zumbiu e fomos recebidos na porta de entrada por uma enfermeira que estava simultaneamente distribuindo pílulas em copos vazios e digitando algo no computador. Ela deu a volta para chegar até nós, e nós a seguimos, passando por paredes descascadas e quartos mal iluminados de pacientes com suas portas abertas. Seus sapatos com um solado grosso de borracha fazia um som chiado que ecoava assustadoramente. Nós fizemos uma curva e passamos por diversos quartos. Todos estes com portas fechadas. — Quartos de tratamento. — A enfermeira me pegou olhando, e foi incrível o quão rápido a cabeça dela podia virar para dizer aquelas palavras e virar novamente. — Obviamente você não verá a parte interna de nenhum desses. Estritamente para os casos mais severos. Apesar de que, eu suponho que uma visita possa ser arranjada. — Ela disse alegremente. “Ah, não.” Uri deve concordar comigo, porque ele educadamente declinou a oferta para nós dois. Nós passamos por uma estação de enfermaria vazia e fizemos mais uma curva, e então chegamos a um pequeno quarto com uma área para sentar. — Aqui estamos. — A enfermeira disse. — Vão em frente e fiquem à vontade. — Ela gesticulou para as duas cadeiras de couro marrom rachadas com uma mesa redonda entre elas. Uri se moveu para uma das cadeiras para mais perto de mim, e eu me afundei nela. Ele sentou-se na outra.
A enfermeira se virou para ir embora, e então parou e virou sua cabeça para trás.
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— Tenho certeza que vocês dois já sabem disso, mas o termo de responsabilidade requer que seja dado um aviso oficial. Não vá a nenhum lugar desacompanhado, não antagonize nenhum dos pacientes que você possa entrar em contato, e não acredite em nada que eles digam. Eles são indivíduos muito doentes. Ela não esperou por uma resposta, mas somente acenou com a cabeça e então marchou para fora da porta. Eu encarei o local que ela havia saído por um minuto, meio que aturdida. — O que eles acham que a gente vai fazer? — Eu perguntei ao Uri, falando com uma voz baixa. — Sair por aí cutucando os pacientes com uma vara? — Você ficaria surpresa. — Ele disse. Eu balancei minha cabeça, e olhei ao redor novamente. — Então, o que faremos agora?
— Agora nós esperamos.
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Capítulo Onze Não é real
O bairro inteiro está repleto de contos locais, pontos assombrados, e superstições sobre o crepúsculo... A Lenda de Sleepy Hollow
Voltei para a minha cadeira, olhei ao redor da sala minúscula. Paredes cinzentas, teto cinza, piso cinza. Eu vi onde a unidade tirou seu nome. Uma janela grande, suja de poeira e velhice, pegava a metade da parede em frente a nós. Barras de metal cobertas de grandes polegadas de incrementos. No geral, a estética tinha todas as qualidades agradáveis que eu tinha imaginado que uma sala de interrogatório policial podia ter. Um estrondo ecoou da sala e me fez saltar da cadeira. Eu podia ouvir fortes soluços de alguém, mas foi rapidamente silenciado. Minha pele começou a arrepiar. — Isso não tem sido a maior experiência para você, não é? — Uri disse. — Não exatamente. — Desculpe por isso. Suas palavras me surpreenderam. Os Revs não pareciam o tipo que se projetam acolhedores e vagos. Exceto para a coisa toda de controle de mente. Isso foi definitivamente vago.
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— Posso te perguntar uma coisa? — Eu disse. — Claro. — Você gosta de ser um Revenant? Uri esticou as pernas na frente dele. — Eu não tenho uma escolha. Eu sou o que sou. — E o que é isso, exatamente? Seu olhar me disse que ele não poderia dizer, mas eu dei-lhe uma “Oh, vamos lá”, olhe em volta. Olhando para a porta aberta, Uri disse: — É difícil de explicar. Não leve isso a mal, mas a maioria dos seres humanos realmente não entende. — Então ele disse: — Você gosta de ser a outra metade um Sombra? Eu usei as suas palavras e acrescentei um encolher de ombros. — Eu não tenho uma escolha. Eu sou o que sou. — Então eu pensei sobre isso. — Ou eu tenho? — Abbey, Eu... — Vamos, Uri. Eu não estou pedindo muita coisa aqui. Basta falar para mim. Você não tem de me dizer qualquer coisa que você não quer, mas... Mas eu posso adivinhar, certo? Que tal isso? Eu só vou jogar algumas coisas para fora, e você pode balançar ou sacudir a cabeça. Dessa forma, você não está tecnicamente dizendo. — Eu não posso. Acácia vai me matar. — Acácia? — Meus ouvidos se animaram. — Cacey. — Ele esclareceu. — Quero dizer Cacey. — Ele passou uma mão pelo rosto com um longo olhar de sofrimento de alguém que tinha percebido que tinha acabado de abrir uma lata de minhocas. — Acácia. — Eu meditei. — “Cacey”, uma abreviação. O que significa que “Uri” pode ser abreviação de alguma coisa. Podemos começar por aí. Ele permaneceu em silêncio.
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— Então, se “Cacey” é um apelido, e “Uri” é um apelido, tem chances de “Kame” e “Sophie” serem apelidos também. — Não “Kame”. — Ele finalmente admitiu. — Mas “Sophie” é a abreviação para Sophiel. E eu sou Uriel. Agora estamos chegando a algum lugar. Eu só tenho que mantê-lo falando. — Por que você usam apelidos ao invés de seus nomes completos? — Nós recebemos os nomes próprios na cerimônia, quando nos tornamos Revenants. Mas eles não são nomes exatamente tradicionais. As pessoas modernas gostam de facilidade, por isso é o que fazemos quando estamos aqui. É mais fácil de encaixar nesse caminho. Ele me deu um olhar aguçado, e eu levantei dois dedos. — Eu não vou contar pra ninguém, eu juro. Promessa de escoteiro. Além disso, eu vou morrer em breve. Para quem eu vou dizer? Ele parecia incerto, mas eu pressionei. — Como ninguém vai me dizer quando o meu exato dia de morrer vai ser? — Essa é a regra. — Regra? Há regras? — Não é “regra” especificamente. Diretrizes. Os seres humanos não sabem quando vão morrer. Isso não pode ser alterado. — Sim, mas você não pode fazer uma exceção aqui? Eu não sou a norma. Eu já sei sobre vocês. Eu sei sobre Vincent. Eu sei sobre Sombras. Uri balançou a cabeça. — Quando chegar a hora, ele será revelado. Bem, isso era uma coisa inútil e frustrante de dizer. Eu não podia deixá-lo me distrair, no entanto.
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— Você continua dizendo “seres humanos”. Como se nós fôssemos algo diferente. O que exatamente é você? Quero dizer, além dos ajudantes que vêm para se certificar que uma Sombra pode ser completada ou seguir em frente? — Nós não somos humanos. — Ele disse. — Como se você já não tivesse adivinhado isso. Eu balancei a cabeça. — Vincent disse que era um “o que” não um “quem”. Eu não sei se isso significa que você são anjos ou demônios, ou o quê. — Nós não somos nenhuma dessas coisas. Nós somos... — Ele estendeu as mãos como se estivesse tentando conter algo. — Nós somos como... Energia. — Ok. — Essa é a melhor maneira de nos descrever. — Mas onde você mora? E sobre o seu carro? — Nós temos carros e casas apenas quando temos uma missão aqui. — Aqui? Como em Sleepy Hollow aqui, ou aqui na Terra? — Terra. Oh. — Então... Onde você está quando você não está aqui? Na Terra, eu quero dizer. — Quando não estamos aqui, estamos neste espaço que é uma espécie de intermediário. — Céu? — Não. — Inferno? Ele riu.
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— Definitivamente não. Mais uma vez, difícil de explicar. É um lugar onde não há nada além de energia e luz branca. Não há formas físicas, sem manifestações. Apenas pura energia. — Ok, um pouco chato, mas é um lugar tipo zen. Eu entendo. — Eu disse. — Não. Você não entende. Mas isso é bom. — Então, um dia você simplesmente está neste espaço Zen de energia, e depois no próximo momento você é eletrocutado de volta à Terra para ajudar um Sombra ou a sua outra metade se completarem, ou superar isso? Como você sabe o que fazer? Aonde ir? Você recebe uma nota pelo correio ou algo assim? — Nós trabalhamos em equipe, só dois por vez. E quando é a nossa vez, sim, nós tipo acordamos aqui e em seguida, obtemos a nossa tarefa. — É por isso que Nikolas disse que era um problema haver cinco de vocês aqui. — Eu respondi. — Supostamente seria apenas dois. Ele disse isso também, mas eu não acho que eu realmente entendi. Uri concordou. — Embora nós possamos ocasionalmente ter simultâneas atribuições, o que é raro, mas acontece, nunca estamos no mesmo lugar ao mesmo tempo. Não há necessidade. — Então, Vincent deve ter realmente ferrado vocês todos, então, hein? — Você poderia dizer isso. — Como é que todos podem ver você, Sophie, Cacey e Kame, mas eles não podem ver Nikolas e Katy? Nikolas e Katy são diferentes de mim e de Caspian, porque eles já foram completados, certo? Ele balançou a cabeça.
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— Os seres humanos podem nos ver enquanto estamos aqui na Terra, porque, para todos os efeitos, nós somos humanos, enquanto estamos aqui. Caspian é diferente porque ele está morto, e Nikolas e Katy são diferentes porque eles já foram completados. — Devo ter parecido confusa, porque ele disse: — A maneira mais fácil de pensar sobre isso é como os tipos de sangue. Caspian é um certo tipo de fantasma, digamos AB negativo, enquanto que Nikolas e Katy são O positivo. Ambos os tipos são sangue ainda, também conhecidos como Sombras, mas se Caspian for completado, por você, ele vai se tornar O positivo, como Nikolas e Katy . — Se ele for completado? Por que eu não o completaria? Uri desviou o olhar. — Às vezes coisas... Acontecem. — Oh, você quer dizer? Como com Washington Irving? Nikolas me disse que ele era uma Sombra, mas ele não foi completado por sua outra metade. Ela seguiu em frente. Uri assentiu. — Por que Sombras ainda precisam ser completadas? — Eu perguntei. — Ninguém nunca me disse o motivo. — Ele queria esconder isso. Estava escrito por todo seu rosto, então eu tentei uma tática diferente. — E sobre as outras Sombras que precisam de ajuda para atravessar? Ele levou um momento para responder, mas finalmente disse: — Por enquanto as coisas estão sendo tratadas. Mas este assunto precisa ser resolvido em breve. Para o bem de todos. — Ok, então você vem aqui, pega sua atribuição, e, em seguida, puf? Você tem uma casa, um carro e roupas? E quanto à Identidade? Dinheiro? — Nós recebemos o que é dado a nós, em termos de casas, carros e roupas. Às vezes é um Jetta, às vezes é um apartamento em um beco, e às vezes é Gucci. Se precisarmos de uma Identidade, estará disponível para nós também. Elas podem vir a calhar. Lembrei-me do que ele estava usando quando o vi pela primeira vez, no cemitério depois da dedicação na ponte.
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— Você recebeu uma mistura de roupas desta vez, hein? Você tem essa roupa gótica contra essa vibração skatista acontecendo. Meio estranho. E as calças cáqui? Não é uma boa aparência. — A maioria das roupas já está lá esperando por nós, onde estamos hospedados. Mas Cacey adora ir às compras, e ela me arrasta com ela. — Agora, ele parecia um pouco envergonhado. — Às vezes leva um tempo para descobrir qual século estamos. — Vocês precisam de um estilista para o dia quando vocês começam suas atribuições. — Eu disse. — Isso resolveria tudo. Ah, e um cabeleireiro também. Uri riu de novo e tocou-lhe o cabelo. Estava mais longo do que tinha estado no cemitério. Em vez de um moicano tinha mini dreads. — Acho que sou um cabeleireiro muito bom. Eu balancei a minha cabeça. — Talvez para um menino. — Ele sorriu. — Será que os outros Revenants tingem os cabelos? — Eu perguntei. — Sophie sempre parece que não fez isso certo. Como ela é uma loira natural, o vermelho não pode cobrir tudo isso. E todos têm os olhos que são completamente claros. — Nossa coloração é a mesma, porque no branco espaço não há pigmentação. É por isso que todos nós temos olhos claros, cabelo claro e pele pálida. Quando chegamos a Terra, podemos usar lentes de contato, pegar um bronzeado, e, sim, tingir o cabelo. É a única chance que temos de viver como os mortais. Cacey gosta de aproveitar ao máximo. É por isso que ela gosta muito de Coca-Cola. — Quanto tempo geralmente, você começa a viver como mortais? Antes de sua atribuição? — Varia. — Como...? Dois dias? Dois anos? Dois meses? O quê? — Isso apenas... Varia. — Sua boca apertou em torno das bordas. “Isso é tudo o que você irá obter dele, Abbey. Siga em frente.” — Os superpoderes devem ser bem legais. — Eu disse ao invés.
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— Superpoderes? — Sim, a coisa do controle da mente. — Não é realmente um poder. É mais como um poder de persuasão. — Assim, você pode convencer as pessoas a fazer coisas? Ainda é legal. — Não, coisas como latir como um cão, ou fingir ser uma galinha. Nós persuadimos acreditar no que estamos dizendo. Ou esquecer que eles nos viram. — Eu tenho que dizer, isso é enlouquecedoramente muito fofo. Ele sorriu. — Claro que ajuda. — Quando eu conheci vocês, eu estava realmente assustada. — Eu disse. — E então, de repente tudo estava bem. Era a coisa de persuasão? — Era isso. É como um agente calmante. — Estou absolutamente precisando por minhas mãos em algo parecido. Eu tenho um casal de professores na escola que precisam ser “convencidos” de esquecer a minha lição de casa. — Eu sorri para ele. — Às vezes as pessoas experimentam um sabor ou cheiro engraçado quando usamos a persuasão sobre eles. — Ele disse. — Eu não sei por que. — Sim! Folhas queimadas? Ou torradas queimadas? — Ele balançou a cabeça. — Em torno de você e Cacey, pude sentir isso, mas em torno de Kame e Sophie eu poderia provar isso. — Eu não sei o que é exatamente, mas acho que isso tem a ver com os neurônios falhando. Como um pavio curto. — Isso realmente não acontece mais. — Eu meditei. — Huh. Eu só percebi isso. E, você sabe, eu não entendo esse sentimento assustador também. Uri olhou para longe de mim, para a janela. Ele provavelmente estava ficando cansado de todas as minhas perguntas. Mas eu precisava de um par mais a serem respondidas.
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— Desde que eu sou a outra metade Caspian, eu sou a única pessoa que pode vê-lo, certo? Quero dizer, pessoas vivas? Eu sempre achei isso, mas não tinha certeza. — Sim. Já que você é a outra metade dele, não há quaisquer outras peças deixadas para que outras pessoas vejam. Ele é a Sombra que só você pode ver. — Eu nunca pensei sobre isso dessa forma. Esse é um tipo estranhamente adorável. — Eu também penso assim. — E sobre o toque? Nikolas e Katy pode tocar Caspian, e você também pode. Como é que eu não posso tocá-lo? — Porque você é a única que está viva. Ele disse isso meio que triste. — Oh! — Eu realmente não posso dizer mais nada, Abbey. — Ele se levantou da cadeira e caminhou até a janela. — Você vai ficar aqui por um minuto enquanto eu vou checar com a enfermeira de novo? Eu queria dizer a ele que não. Que eu não podia ficar neste lugar assustador sozinha, mas eu não queria que ele pensasse que eu estava com medo. Era apenas uma sala. Eu poderia sentar aqui totalmente sozinha. — Yeah. Claro. Fique à vontade. Vou esperar aqui. Moveu-se para a porta. — Só não se esqueça de voltar e me pegar! — Gritei. — Eu não poderia esquecer de você. — Ele disse com um sorriso insolente. — Cacey teria minha cabeça. — Isso é verdade. Ela faria! Mas ele já tinha ido. Eu não tinha ideia se ele me ouviu.
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Sentei-me ali por um tempo, tentando não pensar sobre as pessoas andando por aí nos corredores esperando empurrar suas cabeças em qualquer minuto e gritarem “Boo!” Eu me mantive ocupada, recitando os nomes dos presidentes e, em seguida, cantarolando canções de Natal, até que finalmente não aguentava mais. Hesitante, eu me levantei da cadeira e olhei para fora da porta. Nenhum paciente à vista. E não havia enfermeiras estranhas, também. Eu andei rapidamente pelo corredor, tentando lembrar o caminho de volta para a recepção. Eu dobrei a esquina e depois passei o posto de enfermaria vazio. Isso significa que as salas fechadas são as próximas e, em seguida, salas abertas antes de chegar à recepção. Inalei profundamente, tentei manter a conta de quantas portas fechadas passei. Mas a última porta estava aberta. Meus pés automaticamente diminuíram, apesar do meu cérebro estar dizendo, rápido, rápido! Eu não podia evitar. Eu olhei dentro. Uma cama plana sobre rodas estava no meio da sala, completamente vazia. Pesadas tiras foram penduradas em todos os quatro lados, claramente feitas para ser usadas como restrições físicas. Palavras foram gravadas nas fitas, e eu me aproximei para ver o que eles diziam. Tinta meio desbotada liase INSTITUTO DE SAÚDE MENTAL PARA CRIMINOSOS INSANOS. Dei um passo para trás. Eu precisava sair desta sala. O ar não parecia bem. Era abafado. Onde estava a porta? As paredes estavam se fechando. Eu não conseguia respirar, e... — Oi. Me virei. A voz vinha atrás de mim. Era agudo e infantil. Uma menina estava lá, com uma camisola longa que parecia uma vez ter sido branco e com babados, mas agora estava manchada e esfarrapada. Fragmentos de rendas vacilavam em grupos pequenos nas bordas de seus pulsos. Um ursinho de pelúcia com o pelo desgastado e apenas um olho pendurado a partir de sua mão. Eu tentei desesperadamente lembrar a advertência oficial, mas tudo ficava vindo à mente era, “Stick. Não pique. Seja agradável.”
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— Oi. — Eu finalmente disse, movendo-me lentamente, de modo que eu estava mais perto da porta. — Como vai você? Parecia que ela tinha a minha idade, mas sua voz era definitivamente a de uma menina. Ela deu um súbito passo para mim, e meu coração acelerou. — Eu perdi meu amigo. — Ela disse tristemente. — Ele morreu. Oh. Uau. Isso foi inesperado. Eu podia sentir minha face abrandar. — Mesmo? Eu também. Ela ergueu seu ursinho de pelúcia. — Este é meu amigo agora. — Ótimo. Isso é bom. — Eu não sei se eu deveria continuar me movendo para a porta ou continuar falando. Qual era o menos susceptível de perturbá-la? — Você é especial. — Ela disse, movendo-se para mim de novo e colocando uma mão para fora. — Cor bonita. Ela podia ver a minha cor? Ela era igual à Caspian? Ou como eu? De repente, o pensamento mais horrível passou pela minha cabeça. Ela está morta. Eu estou vendo alguém que está morto, e eles vão me trancar aqui. Ou talvez eu já estou aqui. Amarrada a uma cama. Como posso saber o que é real e o que não é real? Como eu posso sempre... Eu podia sentir um pequeno pedaço da minha mente lentamente começando a gritar, e eu não sabia. Não foi possível contar. Não tinha ideia se isso era uma fraude elaborada criada por todos, apenas para me manter aqui, então eles nunca me deixariam sair, e como eu... — Aí está você. Nós duas olhamos para cima. Uma enfermeira diferente da que Uri e eu tínhamos seguido estava em frente de nós, de braços cruzados. — Criança, eu tenho te procurado por todo o lado. Eu? Sou eu?
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A garota de camisola virou-se e caminhou em direção à cama. Com o ursinho ainda na mão, ela subiu e sentou-se. Ela colocou o urso no colo e estendeu a mão para uma correia. — Eu perdi minha mãe. — Ela disse tristemente. — Ela morreu. Eu assisti com horror mudo quando ela lentamente começou a por o pulso dentro da correia. — Eu perdi o meu pai. — Ela repetiu. — Ele morreu. — Pobre menina. — A enfermeira murmurou, olhando para mim. — Ela teve um colapso mental. Tem que ser amarrada para tomar seus remédios. Você está com o outro visitante? O cavalheiro? Tudo que eu podia fazer era acenar com a cabeça. — Bem, querida, deixe-me levá-la a ele. Você deve ter se perdido no labirinto desse lugar. Apenas me dê um segundo. Ela foi até a cama, colocando a mão no braço da menina. — Você não precisa fazer isso. Não é hora para a sua medicação ainda. Por que você não vem comigo? Vou levá-la para assistir TV. — Cor bonita. — Disse a menina, olhando para a enfermeira. Meu coração pulou com alívio. Não sou eu! Eu não sou louca! Ela é. Delicadamente a enfermeira desfez a correia e ajudou a menina a descer da cama. Pegando seu ursinho de pelúcia, a enfermeira entregou para a garota e depois a levou até a porta. — Você pode nos seguir. — A enfermeira me disse. — Estamos todos indo para o mesmo lugar. Eu queria rir histericamente. Eu sabia que ela queria dizer que estávamos todos indo para a mesma área de espera, mas tudo que eu conseguia pensar era: “Você está certa. Todo mundo vai para o mesmo lugar.” Olhei de volta para a cama quando saí do quarto. “Alguns de nós só chegam lá mais rápido do que outros.”
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Andamos lentamente pelo corredor, mas eventualmente chegamos à recepção. A enfermeira me deu um sorriso amável e apontou para um canto, onde eu vi Uri conversando com um homem mais velho de cabelos brancos. O homem estava vestindo um terno branco à moda antiga, e ele parecia um professor universitário. Um professor universitário triste. Quando cheguei mais perto, eu podia ouvir o que eles estavam dizendo. — Você não sente qualquer senso de responsabilidade? — Uri perguntou. — Ele fez sua escolha. — Respondeu o homem. — Não era meu para fazer. — Mas você não vai nos ajudar afinal ? Você deveria estar lá. — Eu não posso. Sinto muito, mas ele não vai me ouvir. Uri me viu, e a conversa parou abruptamente. — Pronta para ir? — Ele me perguntou. — Pronta, uma hora atrás. Você nunca veio me pegar. — Eu ia assim que terminasse aqui. — Quanto mais você ia ficar? Você levou um tempo muito longo. Tive um ligeiro encontro com um dos pacientes. Mas foi legal, eu estou bem. Algo me chamou a atenção, e com o canto do olho vi um assessor do sexo masculino vir buscar a menina da enfermeira. Ele estava usando calças de couro debaixo de um uniforme, e parecia que ele poderia ter sido o irmão de Johnny Depp. Os enfermeiros usam calças de couro aqui? Este lugar é realmente estranho. — Eu acho que podemos ir, então. — Uri disse, chamando minha atenção de volta para ele. — Já dissemos tudo o que há para dizer. O homem de terno branco não disse adeus a qualquer um de nós, mas em vez disso, virou-se e caminhou até outro corredor. Eu o vi ir, me perguntando o que exatamente estava acontecendo. — Você achou alguma coisa? — Eu perguntei a Uri.
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Ele me levou para fora, para o carrinho de golfe. A expressão em seu rosto era de raiva. — Yeah. Descobri que estamos por nossa conta. A pessoa que eu preciso não está aqui.
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Capítulo Doze Conselhos
De sua vida semi-itinerante, também, ele era como uma espécie de viagem, carregando todo o orçamento de fofocas locais de casa em casa... A lenda de Sleepy Hollow
Cacey
estava esperando por nós quando voltamos para a pousada. Parecia que ela ainda se sentia horrível, mas depois de uma breve conversa com Uri que ele lhe disse apenas que foi mal sucedido, entramos no carro e fomos embora do asilo sem olhar para trás. Tudo que eu podia pensar na volta para casa era naquela garota. Como era sua vida antes, como ela tinha ido parar lá? Será que ela tem amigos que sentiam falta dela? Um melhor amigo? Que poderia ter sido eu... O celular de Uri tocou, quando estávamos quase em casa, e ele respondeu. Ele falou brevemente e, em seguida desligou. — Ligeiro desvio. — Ele disse para Cacey. — Precisamos parar no cemitério. — Estamos indo para a casa de Nikolas e Katy? — Eu perguntei. Eu deveria ter adivinhado que era onde pegaríamos Caspian. Ele balançou a cabeça, e nós dirigimos através do portão do cemitério aberto e fomos para o outro lado. Quando chegamos às árvores, Nikolas e Katy estavam lá, esperando por nós. Assim como Caspian. Eu coloquei meus dedos na maçaneta da porta, pronta para saltar e agarrá-lo.
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— Nós vamos buscá-lo e trazê-lo para você. — disse Cacey. — Ainda há pessoas ao seu redor. — Sim, tudo bem. Apenas vão rápido. — Eu teria concordado em fazer qualquer coisa, desde que Caspian viesse. Cacey e Uri saíram, de alguma forma conseguindo olhar tranquilamente, como se fossem apenas dar um passeio, perto das árvores. Uri apontou para algo, fazendo Cacey rir, e depois eles voltaram com Caspian os seguindo. Nikolas e Katy acenaram para mim, e eu sorri para eles através da janela. Quando Uri e Cacey e voltaram para o carro, Cacey abriu a porta traseira e se inclinou para mim, como se ela estivesse dizendo alguma coisa. — Entre. — Ela disse a Caspian. Ele deslizou ao meu lado, e eu não conseguia parar de sorrir. — Você está de volta! — Eu disse. — O que aconteceu? Você não queria despertar... — Você está bem? Aconteceu alguma coisa? Vincent te machucou? — Ele disse, ao mesmo tempo. Ele riu e se virou ficando mais perto. Virei a minha mão mais perto de sua, também, e senti a sensação de zumbido. — Você estava com Cacey e Uri? — Perguntou ele. — Sim. Eles me levaram com eles para procurar alguém. Mas ele não estava lá. Você ficou com Nikolas e Katy de novo? — Sim. — Quanto tempo você demorou a acordar? — Eu não sei. — Ele olhou para baixo. Uri trocou a marcha do carro. — Ok — Ele disse. — Vamos levar vocês de volta para casa. — Então ele sorriu para mim. — Você não se importou com o nosso pequeno desvio, não é, Abbey? — Nope. Não em todos. — Nós compartilhamos um sorriso, e ele realmente parecia um pouco tímido.
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— Então, o que vamos fazer se isso acontecer novamente? — Eu disse enquanto nos íamos. — Eu apenas chamo um de vocês? — Nós vamos estar por perto. — Disse Uri. — Todos nós. — Isso soa mais como uma ameaça do que uma promessa. — Caspian sussurrou depois que eles nos deixaram em casa e andamos até a porta da frente. Eu ri. — Eu acho que é um pouco de ambos. — Fomos para dentro, e eu chamei. — Olá. Estou em casa. Eu sabia que minha mãe estava fazendo alguma coisa na cozinha, porque eu a ouvi cantarolando alguma coisa. Ela chegou até mim quando eu estava quase chegando às escadas. — Como foi o fim de semana com as meninas? — Ela perguntou. — Foi tudo bem. Cacey ficou doente, por isso não fizemos muitas coisas. — Tecnicamente quase verdade. — Isso é muito ruim. Você tem que planejar outro em breve. — Ela se virou, para trás. — Oh! Tia Marjorie ligou enquanto você estava fora. — Ela fez? Por que você não falou para ela ligar para o meu celular? — Eu não queria interromper vocês. Basta ligar de volta quando você puder. — Eu vou. Chegando ao meu quarto, joguei minha bolsa no chão. Durante a noite. Minha cama parecia super confortável, e foi chamando meu nome. — Podemos fazer alguma coisa? — Eu disse sugestivamente para Caspian. — A cama que eu dormi na noite passada era muito ruim. — Ele me seguiu para a cama, virando-se para um lado. Se deitando também, de frente para mim. Nós dois ficamos ali por um tempo, se comunicando silenciosamente. Eu te amo, eu queria dizer. Eu senti sua falta. Eventualmente eu pulei para: — Oi. — Oi. — Ele acariciava meu braço com um dedo. Eu senti um zumbido lento por todo o caminho.
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— Foi muito assustador quando você ficou dormindo assim. — Eu disse. — Eu sei. Para mim, também. — Como foi esse tempo? Era diferente? — Na verdade não. Apenas mais profundo. — Como você não pode acordar? — Yeah. Como eu não iria nunca acordar. — O que vamos fazer? — Eu perguntei, olhando profundamente em seus olhos. — Sobre isso. Sobre nós... — Eu coloquei uma mão para cima e fiz um gesto frustrado. — Eu não sei. Esperar? Ver o que acontece? — Por quanto tempo podemos esperar? Quanto tempo podemos continuar assim? — Eu fechei os olhos. — Eu tenho medo de que algo esteja mudando. Estou com medo do que significa quando você cai neste sono que parece que você nunca vai acordar. — Você está com medo de mim? — Não! — Meus olhos se abriram. — Por que eu estaria com medo de você? — Por causa de mim. — Ele moveu a mão, em direção a minha. — Quem eu sou. O que eu sou. — Você não pode ajudar nisso. Você é o que você é. — Apoiei minha mão debaixo da minha cabeça. — É engraçado, no entanto. Uri e eu estávamos conversando sobre a mesma coisa hoje. Fomos para este asilo de loucos que costumava ser uma prisão. — Eles te levaram a um asilo de loucos? — Ele parecia chocado. — Bem, é um instituto de saúde mental agora. Mas, sim. Não era realmente tão ruim assim. — Eu não posso acreditar que você foi lá. Especialmente depois... — Depois do que aconteceu quando fui para ir ficar com a tia Marjorie? E vendo o Dr. Pendleton? — Eu disse.
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— Parece um pouco insensível. — Respondeu Caspian. — Eu não acho que eles quiseram dizer isso dessa maneira. Eles não parecem pensar em nada disso. É difícil para eles. Eles estão aqui apenas parte do tempo. — Contei a ele o que Uri havia dito sobre o espaço de energia branca, e o que aconteceu quando começaram suas atribuições. — Portanto, há mais de nós? — Disse. — Mais sombras? — Eu não recebi uma contagem exata, mas não soava como muitos. E eles vêm em momentos diferentes. Ela só acontece quando ele acontece. Ele me olhou atentamente. — Estou feliz que eles nos fizeram em duplas, então. Meu rosto estava quente, e eu olhei para baixo. — Eu pensei ter visto outra Sombra hoje. — Eu disse. — No asilo. Havia uma garota lá, e ela mencionou ter um amigo morto. Então ela disse que podia ver a minha cor. Era uma espécie assustadora. Acontece que ela era uma paciente. Teve um colapso mental. — E você pensou que poderia ter sido você. — Ele adivinhou. — Que você poderia ter sido aquela menina. Tristeza me encheu. — Yeah. Eu fiz. Ela apenas me olhou tão perdida e sozinha. Eu queria ajudá-la, mas eu não podia. Foi... Difícil de ver. — Ela vai ter a ajuda que precisa, se ela está lá dentro. É o lugar certo para ela. — Como sabemos que o lugar certo é? Para qualquer um de nós? Ela não pediu para ser colocada em um asilo de loucos. Ela não pediu para ter um colapso mental. Isso parece tão injusto. Tão aleatório. Nenhum de nós realmente tem uma escolha na vida. — Estamos ainda falando sobre ela? — Ele perguntou gentilmente. — Ou sobre você? — Ela. Eu. Você não entendeu? Nós duas somos a mesmo. Ele se inclinou mais perto. Ele estava quase em cima de mim.
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— Não. Você não é o mesmo. Por um lado, ela não tem a mim. A risada borbulhou para fora de mim. — Grande ego? — Mas eu sorri sabendo que ele estava brincando. — Não, eu não queria dizer isso assim. Quero dizer que ela não tem uma pessoa que a ame como você tem. O amor. O amor. O amor. A palavra virou no meu cérebro e me fez sentir tudo borbulhando lá. Fechando os olhos, me aninhei perto dele. Não tocando, mas perto. Oh, tão perto. — Novembro primeiro, primeiro dia de novembro, primeiro dia de novembro. — Eu cantava. — Por favor, venha rápido. Eu liguei para tia Marjorie de volta após o jantar naquela noite. Caspian foi ao meu quarto, e nos sentamos na varanda para fazer a chamada. — Oi, tia Marjorie. É Abbey — Eu disse. — Tudo bem? — Bem, estourando minhas calças! Eu estou ótima! Como você está, querida? Eu tive que encobrir o receptor para que eu pudesse rir. — Eu estou bem, tia Marjorie. — A escola já começou? — Oh, yeah. Eles finalmente transferiram o armário de Kristen este ano para uma nova pessoa. Ela fez um som de desaprovação. — Isso deve ser difícil de ver. — Foi, no começo. Mas agora é um pouco mais fácil. A menina, Cyn, é muito legal. Que o torna melhor. — Como foi sua escola de verão? — Boa. Passei no exame de ciência. — Essa foi a parte desinteressante do fim do verão. Eu não poderia dizer a ela sobre Vincent. — Você ainda está andando com seu avião? Ou está muito frio?
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— Ele ainda está subindo. Não como muitas vezes, no entanto. Eu tenho que manter um olho sobre o motor e verificar se o aquecedor de bloco não fica muito frio. É uma merda de descongelar em pleno voo. Eu ri. — Tia Marj, você é a tia mais legal eternamente. — Eu tento — ela disse. — Assim como estão às outras coisas? Encaixando-se no buraco de novo? — Meu buraco? — Pino Redondo, buraco quadrado? É uma metáfora para a vida. Se você é o pino quadrado em um buraco quadrado, você se encaixa para dentro — Isso faz sentido em um tipo estranho de passagem da lógica de Tia Marjorie. — Na verdade — Eu disse — Sim. Eu estou encontrando o meu lugar. — Vê? Eu sabia que você iria. E você estava preocupada em voltar. — Você estava certa. E posso dizer honestamente, eu não seria a mesma pessoa se eu não tivesse voltado. — Então, tudo foi feito como tinha que ser. — Ei, tia Marjorie. — Eu disse. — Se eu não tiver a chance de novo, eu só queria te dizer o quanto eu realmente aprecio tudo o que você fez por mim. Especialmente os conselhos sobre o amor e ter certeza e tudo isso. Minha cabeça é muito mais clara agora, e eu posso tomar decisões mais fáceis. Então, obrigado. — Decisões? — Disse. — Planeja alguma coisa? — Mais do que isso, só agora eu sei o que eu preciso fazer. E eu estou em paz com isso. — Estamos falando de estar em paz com nós mesmos porque somos fortes, individuais, as mulheres confiantes que não precisam de homens, ou estamos falando sobre estar em paz com uma decisão que envolve algo drástico? — Ela parecia alarmada. — Eu não sei o que você quer dizer com drástico, mas é a escolha certa para mim.
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— Abbey, você já discutiu esse assunto com outras pessoas, certo? Conversou com alguém sobre isso? — Bem, sim, na verdade, mas não funcionou. Eles não me entendem. Tentei falar com mamãe e papai, mas eles só ficaram chateados. — Você pode falar comigo. Por favor, fale comigo. Você tem outras opções. Esta é uma decisão séria! Eu sei que pode parecer como se o mundo estivesse acabando agora, mas há mais na loja para você. Apenas segure. Alguns meninos não valem à pena! — Vale o quê? — Agora ela parecia nervosa. — Você está falando em prejudicar a si mesma? Por que um menino terminou com você? Eu sei que não deveria ter rido, mas eu fiz. — Hum, não. Não é isso que eu estou falando. — Não é? — Não, tia Marjorie. Eu estou falando sobre ter uma ideia mais clara de onde a minha vida está indo. Para o futuro. — Oh! — Alivio inundou sua voz. — Oh, isso é bom. Muito, muito bom. Eu balancei a cabeça para o telefone. Machucando-me, porque um menino me deixou? Eu não sei de onde ela tinha tirado isso. — Ok, então. Então, nós estamos bem? Tudo limpo? — Tudo limpo. Vou ligar novamente em breve. — Tudo bem, querida. Falamos mais tarde. Coloquei meu telefone no chão e olhei para cima. Era uma bela noite lá fora, com céu limpo e uma grande lua prateada. Mas não havia nenhuma estrela. Levantei-me, limpando meu jeans e voltei para dentro. Felizmente, eu tinha o meu próprio conjunto de estrelas. E alguém com quem olhar para elas.
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A carta da tia Marjorie veio dois dias depois do nosso telefonema e percebi que ela deve ter escrito isso praticamente certo depois que eu liguei para ela. Eu a encontrei na caixa de correio quando cheguei em casa da escola, e me sentei nos degraus da frente para lê-la. Querida Abbey, “Eu sinto que esta carta demorou um tempo para chegar, principalmente porque eu sinto que você deve saber algo muito importante sobre mim. A ironia que os problemas recentes com meninos que afetaram a sua mente não estão perdidos para mim, especialmente conhecendo esta notícia. Eu não sou ninguém para julgar, por isso, não sinto que estou julgando você, estou apenas lhe passando minhas opiniões ou pensamentos. Você é a minha sobrinha-neta, que eu adoro e guardo com todo o meu coração. Independentemente das escolhas que você fez, e vai continuar a fazer na vida, apoio plenamente. Onde quer que possam levar você. Em longo prazo, no entanto, sinto que você merece saber isso porque eu temo que eu possa ter lhe dado a ideia errada de como suavemente a vida foi para o seu tio e eu. Mesmo que nós não discutíssemos sobre o seu tio, por favor, saiba que eu amava aquele homem com tudo que eu tinha. Com tudo o que eu era. Na verdade, eu ainda faço. Ele foi gentil e paciente e maravilhoso. Nunca terá outra pessoa na terra que vai ser uma alma gêmea para mim como Gerald era.
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Nosso amor era forte. E feroz. Como eu já disse antes, quando ele me acertou, eu sabia. Eu sabia que além de qualquer outra coisa que ele era o único para mim. Houve momentos felizes e momentos tristes, porque assim é a vida, mas acima de tudo, houve bons momentos. Sempre, sempre bons momentos. Eu poderia encher estas páginas com as memórias de todos os bons momentos, Abbey. Páginas e páginas de bons tempos. Mas o que eu acho que é mais importante para você saber, o que algo profundo em minha alma me diz que você precisa saber, é sobre os maus momentos. Gerald e eu nos casamos logo depois que ele ingressou na Marinha. Ele era um cientista. Um fixador e construtor de coisas. Depois que ele voltou para casa de sua execução do dever, ele me contou uma história uma vez. Sobre como seu pelotão tinha sido enviado em uma missão ultra secreta para espionar um novo projeto que o inimigo estava em desenvolvimento. Na noite em que era suposto entrar, alguém avisou o outro lado, e Gerald e seu pelotão foram direto para uma armadilha. Ele estava tão assustado que ele começou a recitar os elementos da tabela periódica. Oração cientista, o que ele sempre chamou. Um dos guardas reconheceu que ele estava dizendo e colocou os membros do pelotão em uma cela diferente. A cela mais segura. Todos os dias, até que foram resgatados, três semanas depois, o guarda entrou para conversar com Gerald, e até mesmo dava a ele alimentos extras. Foi por causa dessas rações extras que o pelotão conseguiu manter-se vivo. O guarda que sorrateiramente dava comida extra e usava uma mulher para fazê-lo. Uma mulher que conheceu Gerald. Quem se apaixonou por Gerald, e ele por ela. Te digo isto, Abbey, para não denegrir o homem que eu amava. Ele admitiu que ele tinha feito, que foi imperdoável. Ele teve um caso. Mas no final, embora levasse algum tempo, eu o perdoei. A razão pela qual eu estou te dizendo isso é por causa do que ele fez. Ele traiu minha confiança. No entanto, no final, eu era a única feita mais forte por ele. Eu era a única a superar a adversidade, como você tem feito muito recentemente. O dia em que seu tio Gerald me contou sobre seu caso foi o dia em que comecei a ter aulas para a minha licença de piloto. Em algumas maneiras a sua admissão me deu liberdade para seguir essa parte da minha alma, que ansiava por algo mais, e eu serei sempre grata a ele por isso. E ainda... E ainda lamento que eu esperei tanto tempo. Que eu esperei por ele para libertar aquele pedaço de mim. Eu gostaria de ter feito para mim. Você já passou por muita coisa, Abbey, e isso parte meu coração saber que você passou por esses tempos tentando sozinha. Perder sua melhor amiga, e uma parte de si mesma nesse sentido. Quem somos realmente, quando o nossas queridas amizades, de repente morrem? É algo que eu gostaria que nunca tivesse a experiência. Embora eu saiba que ela te fez uma pessoa mais forte,
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eu ainda sou sua tia, e eu não quero que você tenha dor. Nunca. Tudo que eu quero para você, Abbey, é que você viva. Viver e amar como se nada jamais tivesse quebrado seu coração antes. E escolha. Escolha sabiamente. Escolha livremente. Escolha para você. Todo o meu amor, Tia Marjorie.” Sentei-me ali por um longo tempo, relendo a carta e pensando no que ela estava dizendo. Mesmo que ela não saiba o que realmente estava acontecendo, no fim o seu conselho para mim, era realmente tudo sobre a minha escolha para estar com Caspian. Escolha sabiamente. Escolha livremente. Eu sabia o que escolher, eu faria.
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Capítulo Treze UMA OPORTUNIDADE
Ele veio matraqueando até a porta da escola com um convite para Ichabod para participar de uma folia ou de uma travessura no edredom... A Lenda de Sleepy Hollow
A primeira semana de outubro veio e se foi antes mesmo de eu saber, enquanto estava em um sistema de cooperação estranho com os Revenants. Um deles estava sempre muito perto. Quando Caspian me deixou na escola de manhã, eu tinha visto Cacey lá, conversando com outros alunos do último ano. Às vezes parecia Sophie, parando para discutir as posses reais com o secretário da escola na parte da tarde. Não era tão ruim no começo. E parecia estar funcionando. Não havia um pio de Vincent. Mas depois de duas semanas sendo seguida por guardacostas, eu estava me sentindo presa. — Precisamos dizer a eles para relaxar. — Sussurrei para Caspian. Tínhamos saído pela porta lateral da escola mais cedo de manhã antes das aulas começarem, e tínhamos passado por meu armário. Kame estava andando pelos corredores. — Você pode dizer algo a eles? — Não sei se é uma boa ideia. A campainha tocou, e as portas abriram.
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— Por favor? — Eu saquei a grande arma; fiz um beicinho. — E se Vincent está esperando por eles pararem a proteção antes de fazer alguma coisa de novo? — Ele respondeu. — Não quero correr esse risco. Os corredores encheram com estudantes vindo do exterior, e armários começaram a abrir. Eu mantive minha voz baixa. — Tudo bem. Eles não têm que parar a coisa de proteção detalhista. Mas pode ser atenuada? Tipo, você e eu podemos realmente ir a algum lugar apenas para sair sem se sentir como se eles estivessem observando cada movimento nosso? Mesmo em meu quarto, não sentia realmente que estávamos mais sozinhos, sabendo que um dos Revs estava sempre no andar de baixo, ou fora vigiando a casa. — Vou conversar com Uri sobre isso. — Ele disse. — Mas nenhuma promessa, tudo bem? Meu beicinho se transformou em um sorriso. — Tudo bem! Caspian gemeu. — Falo sério. Não estou prometendo nada. Se eles acharem que é melhor continuar fazendo isso, então ficará dessa maneira. — Mas você vai falar com eles? — Sim. Vou falar com eles. — Isso é tudo o que peço. — Enfiei minha mochila no fundo do meu armário e tirei o primeiro conjunto de livros que eu precisava. — Tudo bem. Tenho que correr. Vejo você depois. — Divirta-se. — Ele disse. Ele sorriu para mim, e eu soprei um beijo rápido a ele antes de virar para sair. Eu estava prestes a fechar meu armário quando percebi que me esqueci de pegar um lápis. — Droga. — O que foi? — A voz de Cyn flutuou sobre o topo de seu armário, me assustando.
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“Há quanto tempo ela tinha estado lá?” — Eu, uh, apenas esqueci de pegar algo. — Depois de alcançar um lápis, bati a porta do armário. — Peguei agora. Agarrei do outro lado. Dei a ela uma rápida olhada, mas ela simplesmente ficou lá e me observou sair, com uma expressão estranha no rosto. Ben me alcançou na hora no almoço e deslizou sua bandeja de plástico laranja ao lado da minha. Beth se juntou a nós um momento depois. Ela tinha estado almoçando comigo desde o primeiro dia de escola. — Bolo de carne moída surpresa. — Ben disse, olhando para a trêmula papa cinza em frente a ele. — Surpresa! Sem carne. Beth riu. — E ainda assim você vai comê-lo. Não vai? — Ela tinha uma pequena cuba de alface murcho em frente a ela e estava fielmente escolhendo todos os pedaços marrons. Eu empurrei meu garfo ao redor do bolo de carne moída. — Não é tão ruim se você cobrir com molho. Então você não pode dizer o que é. — Vou ficar com minha salada, obrigada! — Beth ergueu uma pequena garfada de alface e mastigou. — Vocês viram os novos cartazes das líderes de torcidas colocados para o Baile Hollow este ano? Era suposto ser alguma coisa de decoração, mas parece uma porcaria. Ben resmungou algo de seu bolo de carne moída surpresa. — É verdade! — Ele disse. — Parece que alguém pegou doze baldes de tinta e apenas espirrou tudo ao redor. E parece que alguém estava cego. — Ei! — Eu disse. — Pessoas cegas podem criar artes incríveis. Vi essa exposição uma vez na cidade que foi simplesmente incrível! — Deixe-me reformular. — Beth inclinou sua cabeça para um lado e pensou sobre isso, alface balançando fracamente de seu garfo. — Uma pessoa cega que não é um artista profissional e não tem um pingo de criatividade em seu corpo. Melhor? “Na verdade não, mas tudo bem.”
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— Não posso acreditar que já é outubro. — Mudei de assunto. — Onde estive nas últimas duas semanas? Eu nem mesmo os vi colocar os cartazes. —Você não viu? — Beth parecia chocada. — Eles estavam colocando, como, a cada dois metros ao redor de toda a escola. E as paredes dos banheiros estão rebocadas com eles. Dei de ombros. Eu tinha estado muito ocupada pensando sobre os Revs e Caspian para prestar atenção. — Com quem você vai ao baile? — Perguntei a ela. — Lewis? Ou alguém novo? — Depende do dia da semana que for. Se você me perguntar na segunda-feira, vou com Lewis. Mas se você me perguntar na quinta-feira? Estou pensando em Grant, um aluno do penúltimo ano lindo que tenho aula de informática. — Importa o dia da semana que cai o Baile de Hollow? — Ben perguntou. Eu o cutuquei com meu joelho. — Ooooh, boa pergunta. — Eu não entendo. — Beth disse. — Bem, se você disser a Grant em uma quinta-feira que você irá com ele, mas o Baile HO cair em uma sábado, não mudam as coisas? Beth levantou seu dedo médio para ele, e Ben apenas sorriu. — Tenho certeza de que seja quem for com você, terão um ótimo tempo juntos. — Eu disse. — Obrigada Abbey! — Beth disse docemente. — Eu também penso assim. Eu movi minha porcaria-mascarada-como-comida um pouco mais ao redor, nenhuma quantidade de molho iria ajudar. — Ugh, terminei.
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— Eu também. — Beth afastou sua salada e então bebeu uma caixa de leite. — Eu tenho que... — Seu telefone zumbiu, a interrompendo. Ela olhou para ele. — Eeeeeee, é segunda-feira. — Ela apertou alguns botões, em seguida olhou para cima e encarou uma mesa duas fileiras de distância de nós. — Ele está sentado bem ali. Mas ele vem até mim? Não. Eu tenho de ir até ele. Gah! — Reunindo sua bandeja, ela nos atirou um olhar agravado. — Tchau, meninos. Hora de fazer uma segunda-feira feliz. Quinta-feira está parecendo cada vez melhor. Eu lhe dei um sorriso piedoso. — Até mais. Boa sorte! Ben apenas cavou outra bocada de bolo de carne moída e grunhiu. — Bem, isso foi divertido. — Eu disse, olhando ela ir. — Ei, quão bem você conhece a nova garota? — Ben disse de repente. — Cyn. — Tudo bem, muito casual? — Sim. Desculpe. — Ben me deu um sorriso cafona. — Mas, ainda assim, quão bem você a conhece? — Por quê? Você está esperando que eu brinque de casamenteira? Você quer convidá-la para o baile Hollow? Ele parecia desconfortável. — Pensei sobre isso, mas não tenho certeza. — Por quê? O que é isso? — Não leve isso a mal, tudo bem? Mas ela estava me perguntando sobre você. — Perguntando o quê? — Algo como você fala com você mesmo, ou falou com Kristen, ou algo como isso. “Ela deve me ter ouvido falar com Caspian essa manhã.” — O que você disse a ela? — Eu exigi.
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Ele levantou as duas mãos em sinal de rendição. — Nada. Eu apenas queria que você soubesse. Ela disse que isso era legal, não é grande coisa se você fizer. — Ele disse rapidamente. — Ela provavelmente me ouviu cantando junto com meu Ipod. — Eu murmurei. Ben assentiu e pareceu como se ele não estivesse mesmo dando um segundo pensamento nisso. — Enfim, eu apenas queria que você soubesse se vocês tiveram, como, uma história ou algo assim. — Não. Ela é legal, eu acho. Mas eu não estava muito certa sobre isso. — Então, você não se importa se eu convidá-la? Seu sorriso era obscenamente paquerador, e eu movi um resto de salada para ele. — Hornball7. Na sexta-feira, Ben me encontrou em meu armário de novo e dançou seu caminho pelo corredor para me ver. — Lindo! — Eu disse. — Tentando impressionar as mulheres solteiras? — Não. Apenas você. — Impressione-me. Ele enfiou uma mão no bolso de trás e puxou algo, usando uma mão para protegê-lo como uma mágica de cartão de desenho. — Isso é o que deve impressioná-la. Ele estendeu dois bilhetes. Silenciosamente eu gemi logo que vi o que era.
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Alguém que fica com tesão em tudo que é muito bonito, não importa o quão estranho que possa parecer ou que só pensa em sexo.
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— Isso deveria me impressionar? Papel? — Não é apenas qualquer papel, mas dois bilhetes mágicos para a ilha da fantasia chamada Baile Hollow. — Ele os balançou na minha frente. — Há apenas duas semanas restante. Esses bebês são mercadorias quentes. — Então por que você está mostrando eles para mim? — Porque estou perguntando se você quer ir. — Ben... — Abbey... — Eu não sei. — Gemi alto dessa vez. Ele ostentou os bilhetes novamente. — Vamos. Por favor, posso ter a honra de sua companhia no Baile Hollow? Ou algo como isso. Eu te mostrei todos os meus melhores movimentos de dança. — Por que eu? — Porque quando eu ouvi Beth falando sobre quem ela estava levando no almoço outro dia, e não ouvi você falando sobre quem estava levando, eu soube com quem eu queria passar a noite. — Uma noite amigável? — Eu disse. — Não posso prometer que depois de me ver em meu smoking comestível você não vá querer rasgar as roupas do meu corpo. Mas se isso acontecer, tenho certeza que posso encontrar um lugar tranquilo e agradável. — Tenho certeza que terei dificuldade em me controlar. — Eu disse secamente. Seu rosto se animou. — Isso é um sim? A que horas devo buscá-la? — Isso é um não sei. Deixe-me pensar sobre isso. Ele abriu a primeira página do livro de espanhol que eu estava segurando e enfiou os bilhetes dentro.
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— Aqui. Agora você pode fazer sua escolha. E se você escolher não ir comigo, você pode convidar alguém. Eu vou entender. Minha boca caiu aberta e balancei minha cabeça para ele. — Ben. Por que você é um cara tão legal? Ele se virou para dançar de volta pelo corredor. — É apenas minha natureza.
— Eu acho que você deveria reconsiderar. — Caspian disse novamente enquanto caminhávamos para casa da escola naquela tarde. Eu disse a ele sobre os bilhetes que Ben tinha me dado, e Caspian tinha feito o mesmo argumento o caminho inteiro até a casa. — Não. Eu não quero ir. — Esta é a única chance de ter um baile de formatura. Você realmente quer perder isso? — É só uma dança estúpida. Além disso, não posso ir com a pessoa que realmente quero ir, então de qualquer modo por que ir? — Muitas pessoas saem com companheiros que são apenas amigos para dançar. Isso não significa nada, e pelo menos você não vai perder a oportunidade. Levantei uma sobrancelha para ele. — Então você está dizendo que quer que eu vá a um encontro com Ben? — Não um encontro-encontro. E é melhor ele manter as mãos dele para ele mesmo. — Ou você o quê? — Eu o provoquei. — Eu posso jogar coisas, você sabe. — Seu sorriso desapareceu. — Isso é importante, Abbey. É um rito de passagem que eu não quero que você olhe para trás e lamente ter perdido.
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— Você realmente acha que vou me lamentar ter perdido um jantar de frango duro no clarão do mau-humor? — Eu ri. — Isso não vai acontecer. — Por favor, Astrid? — Ele disse calmamente. — Por favor, vá. Por mim. Caspian sabia como puxar as grandes armas também. Olhos sexys, e lábios, e o cabelo que ele mantinha escovado. — Vou pensar sobre isso. — Eu disse. — Isso é o que eu disse a Ben, então é isso que digo a você também, tudo bem? — Tudo bem. — Não posso acreditar que meu namorado está tentando me convencer a ir ao baile com outro garoto! — Eu resmunguei. — Em que planeta isso ainda faz algum sentido? — Estou fazendo isso para seu próprio bem, você sabe. — Ele respondeu. Eu bufei. — Então, se eu for, você acha que significa que os Revs vão também? Isso seria engraçado, vê-los tentando se misturar. Posso imaginar as roupas formais fora de moda. — Então inclinei minha cabeça. — Falando nisso, eu não os tenho visto ao redor tanto assim. Você foi capaz de convencê-los de nos dar algum espaço? — Sim, eu falei com Uri. Ele concordou em moderar. Eles ainda estão por aí, mas acho que agora eles definitivamente fazem pausas mais longas para o almoço. — Ele me lança um sorriso. — Confie em mim, no entanto. Um dia você vai me agradecer por estar empurrando-a para o baile de formatura. Danças são muito divertidas. — Ah é? — Eu disse erguendo uma sobrancelha. — E como você sabe disso? Ele parecia envergonhado. — Eu tive minha quota. — Mmm-hmm. Sério? Ele passou uma mão pelos cabelos e parecia envergonhado.
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— O que posso dizer? Eu era o cara misterioso e quieto. As garotas queriam me conhecer. Eu me aproximei dele, sentindo uma surpreendente punhalada de ciúmes através de mim. — E quantas garotas você queria conhecer? — Houve poucas danças... — Um sorriso travesso puxou seus lábios. — E? — E... Eu não beijo e conto. — Oooooooh! — Apertei meus olhos. Caspian riu. — Eu amo quando você fica toda resmungona, Astrid. É muito adorável! — Ele ergueu um dedo próximo a minha bochecha. — Este é o número certo de meninas com as quais eu dancei que eu queria conhecer. Uma. Meu coração derreteu um pouco. — Eu? — Eu disse esperançosamente. Ele assentiu. — Você. Pensei no que Caspian falou sobre o baile de formatura todo o fim de semana, mas ainda estava indecisa, e encontrei Beth e Ben em pé ao lado do mastro antes da escola na segunda de manhã, tendo uma acalorada discussão da melhor maneira de armar a roldana se você quiser enviar algo pesado para cima. Como um corpo. — Vocês têm as mais estranhas ideias. — Eu disse me juntando a eles. — Como, seriamente estranhas. — Você acha que isso poderia ser feito? — Beth perguntou. — É totalmente possível. — Ben respondeu. Ele se lançou em alguma longa explicação que envolvia física e peso e massa versus matéria, enquanto meus olhos vidravam.
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— Sim, mas por que você faria isso? — Eu apenas balancei minha cabeça para ele. Cyn se aproximou, fumando um cigarro e embrulhada em um longo casaco preto. — Quem vão pendurar, amigos? Eu não sabia como agir ao redor dela. Eu não estava exatamente brava com ela, mas eu não estava totalmente confortável, também. — Estamos analisando os méritos de pendurar um corpo no mastro. — Ben disse. — Vertical ou horizontal? — Ela perguntou. — Vertical. A menos que estejamos falando de uma cabeça dura. — O que aconteceria se o corpo não tivesse uma cabeça? — Beth disse. — Oh, isso seria a melhor coisa de sempre. — Factível. — Ben disse. Todos se entreolharam e sorriram. Eu ri alto, e isso ecoou ao nosso redor. “Meus amigos são realmente estranhos”. O sino tocou, e o grupo se virou para ir. Eu fiquei lá por um momento, olhando atrás deles enquanto caminhavam. Esse pensamento afundou no meu cérebro. “Meus amigos.”. — Você vem? — Beth gritou. — Sim. — Sorri para o chão. — Estou indo. — Tudo bem, estrela? — Ben sorriu para mim enquanto saíamos do Inglês. — Qual a cor da gravata borboleta que devo usar? Eu sei que provavelmente você ainda não tem um vestido porque as meninas têm que esperar até o último minuto para tudo, certo? Eu conheço as regras das meninas. Mas apenas me deixe saber quando você souber, então eu posso obter a certa. — A cor certa da gravata borboleta? — Dei-lhe um olhar confuso. — Um, o quê? — Para o Baile Hollow? Eu recebi seu bilhete. No meu armário. Um sentimento suspeito encheu a boca do meu estômago.
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— Posso ver esse bilhete? Ele cavou em seu bolso e tirou um pedaço de papel dobrado. Reconheci a escrita de Caspian imediatamente. Ele tinha tido tempo para desenhar coraçãozinho! Uma palavra era tudo que estava lá. SIM. Claramente todos os sinais apontavam para o sim. “Para que lutar contra isso?” Eu suspirei. — Sim. Era sobre o Baile Hollow. — Eu sabia que você não poderia me resistir. — Ele sorriu e então disse. — Beth vai com o Lewis, então você quer alugar uma limusine com eles? Poderíamos pegar Candy Christine, mas a limusine é de luxo... “Ugh. Isso significa comprar vestido...” — Um, sim, claro. Está bom para mim. — Tudo bem. Estou nessa. Oh, e sobre a coisa da flor no pulso? — Buquê? — Sim. — Não se preocupe sobre isso. Ele pareceu aliviado. — Tudo bem. Ótimo. Deixe-me saber sobre a gravata borboleta, no entanto. Tenho que ir. — Você saberá. — Eu falei enquanto ele se afastava. Vou começar assim que eu termine de mastigar meu namorado. Quando Caspian veio me pegar no fim do dia, eu estava esperando por ele. Braços cruzados. Ele leu meu rosto. — Você descobriu sobre meu bilhete, não é? Eu olhei para Cyn, quem estava reorganizando sua coleção de plantas mortas, para dar lugar a outra. — Não aqui. — Eu disse baixinho. — Tudo o que eu queria era...
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— Algo que eu não queria que você fizesse. — Eu interrompi. — Eu disse que queria fazer minha própria decisão. Por que você não respeitou isso? Cyn parou e olhou sobre seu ombro para mim. Eu me afastei dela, de Caspian, e comecei a andar pelo corredor. Nós precisamos terminar essa discussão em algum lugar privado. Onde ninguém pudesse me ouvir. Eu não falei novamente até estarmos em casa, na segurança do meu quarto. — Como você pode fazer isso? — Eu gritei, seguindo ao redor da cama. Todas as minhas palavras estavam confinadas dentro de mim e prontas para explodir. — Não posso acreditar nisso! — Pensei que isso ajudaria. — Ajudar? Como fazendo uma decisão por mim está me ajudando? De que maneira, forma, ou figura isso é ajudar? — Eu sinto muito! — Ele disse. — Eu não deveria ter... Mas eu estava louca para ouvir. — Agora vou ter que ir. Eu disse a Ben sim, e não posso voltar atrás. Como isso é justo para mim? — Você está certa. Sinto muito! Foi uma coisa estúpida de se fazer. Andei para frente e para trás. — Isso também significa que terei de ir comprar um vestido. Muito provavelmente com minha mãe. O que não é divertido, por sinal. — Eu soprei uma respiração com raiva. — E agora... — Astrid. — Ele levantou e veio me encarar. — Dê-me o bilhete. — O quê? Por quê? — Porque vou escrever um novo. Eu a coloquei nisso. Vou tirar você dessa. Considere isso feito já.
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Peguei o bilhete do meu bolso. Estava amassado nas pontas onde Ben tinha estado segurando. Enquanto olhava cegamente para ele, tudo o que eu podia ver era a expressão no rosto de Ben enquanto ele falava sobre sua gravata borboleta e a limusine. Então eu o vi me dando os convites no caso de eu dizer não. Caspian estendeu a mão. — Espere. — Eu suspirei, guardando-o de volta. Não posso. Vou me sentir mal. — Ele vai superar. — Sim, mas eu não vou superar. Ele fez uma pausa, a mão estendida. — Eu não quero fazer você fazer qualquer coisa da qual se arrependa. — Além de comprar o vestido com minha mãe, o único arrependimento que tenho é que não conseguirei ir com você. — Eu suspirei novamente e sentei. — Na verdade, isso é o que eu estou realmente louca. Ir com Ben não é grande coisa. É o fato de que se quero ir a tudo, tem de ser com alguém que não seja você. — Olhei para ele e disse baixinho. — Quero estar lá com você como meu namorado. — Eu sei. Eu quero isso também. Acredite em mim, eu realmente pensei... — Ele balançou a cabeça. — É egoísta, mas eu realmente pensei em dizer a você para não ir. Para ficar aqui comigo. Enquanto ele dizia isso, eu percebi o quanto deve tê-lo machucado me empurrar para ir com Ben. Tudo isso era para eu não perder meu baile de formatura. — Eu não estou deixando você fora do gancho por fingir ser eu e escrever aquele bilhete. — Eu disse. — Mas eu entendo por que você fez isso. Ele foi até minha mesa e abriu a gaveta. — Eu, uh, tenho algo para você. Algo que eu espero que seja como uma oferta de paz. — Abrindo a gaveta, sua mão desapareceu. — Droga! — Ele disse um momento depois. — Droga. Eu não posso... — O quê? — Levantei-me e fui até ele.
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— Não posso pegá-lo! — Ele olhou para mim, olhos arregalados de pânico. — Não posso tocá-lo! Pânico queimou dentro de mim também. — Tente de novo. Você pode fazer isso. Ele enfiou sua mão novamente. Com o mesmo resultado. — Mais uma vez. — Eu implorei, recusando-me a acreditar no que estava acontecendo. Ou quase acontecendo. Recusando-me a acreditar que a perda de controle sobre seu sono, e agora isso, podia significar que ele estava desparecendo de mim. — Tente outra vez. Por favor! Ele fez, e desta vez os resultados foram diferentes. Com um olhar de alívio, ele puxou um pequeno quadrado envolto em um pedaço de pano azul. Ele colocou sobre a mesa. — Funcionou então, vê? — Eu disse, tentando manter a borda de desespero fora da minha voz. — Sim. — Ele estava fazendo a mesma coisa também. Afetando um tom falsamente feliz. Empurrando o item em direção a mim, ele disse. — Abra-o. Eu o ergui e lentamente desfiz o pano. Um pequeno pedaço de madeira foi revelado. Em uma inspeção mais próxima eu pude ver que isso estava na verdade descansando em cima de um segundo pedaço de madeira. As bordas eram lisas e redondas, lixadas com perfeição. E a madeira tinha sido manchada com uma suave cor de cereja. Minúsculos cabos de manivelas estavam em cada ponta. Era surpreendentemente leve, e cabia perfeitamente em minhas mãos. — O que é isso? — Eu perguntei. — É uma prensa de flores. Você coloca uma flor entre os dois pedaços de madeira, como um sanduíche. Então você vira as manivelas para apertá-lo, e ele achata a flor. Leva de cinco a sete dias para a flor secar completamente. — Como você...? Onde você... — Fui ver Nikolas hoje, ele fez isso. Virei o objeto ao redor para olhá-lo.
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— Esta é uma das coisas mais incríveis que já vi. Agora só preciso pegar algumas flores. — Sorri para ele. — Obrigado Caspian! Amei isso! Ele enfiou a mão no bolso. — Não é um suborno ou algo assim. Não quero que pense isso. Mas eu acho que seria do meu interesse se eu tivesse um presente para lhe dar hoje. — Hoje, de todos os dias, quando você simplesmente aconteceu de prometer ao Ben que eu iria ao baile com ele? — Ergui uma sobrancelha. — Totalmente e completamente não tinha nada a ver com isso. Rindo, envolvi meu presente mais perto. — Vamos apenas dizer, então, que você é um selecionador de presente muito bom. E um namorado ainda mais inteligente!
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Capítulo Catorze O DOM DA GRADUAÇÃO PRECOCE
Foi como eu disse um belo dia de outono, o céu estava claro e sereno, e da natureza que usava farda com riscos e de ouro que nós sempre associávamos com a ideia de abundância. A Lenda de Sleepy Hollow
Mamãe
estava na cozinha quando Caspian e eu chegamos em casa da escola no dia seguinte. — Você tem planos agora? — Ela me perguntou. — Quero dizer, quando você vai comprar o vestido com Beth? Mentalmente, eu preparei o meu argumento. Beth e eu tínhamos feito planos na noite passada. — Nós não vamos até quarta-feira. Mas eu tenho que fazer lição de casa. Por quê? — Um monte de lição de casa? Ou pode esperar? Lancei um olhar de lado para Caspian. — Isso depende. Você pode apenas me dizer o que está acontecendo? Excitação estava escrito por todo o rosto. Ela mal conseguia conter o sorriso. — Eu quero te levar a algum lugar. Mas é uma surpresa.
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— Eu não tenho certeza se eu posso. — Basta ir com ela, Astrid. — Caspian me disse. — Ela está animada. Eu balancei minha cabeça um pouco para ele. Eu não tinha ideia do que a surpresa da mãe era, e não sabia se eu estava com vontade de descobrir. — Vai — ele disse severamente. — Vamos lá. Olha como ela está feliz. Eu suspirei. Eu sabia quando ela estava aprontando. — Ok, sim, eu vou. — Eu disse a mãe. — O dever de casa pode esperar. — Ah, bom! — Ela gritou. — Só me deixe colocar minhas coisas lá em cima e me trocar, ok? — Ela balançou a cabeça, e eu marchei em direção à escada. Caspian seguiu atrás de mim. — Você está com uma baita dificuldade. — Eu lhe disse calmamente. Ele apenas sorriu. Quando chegamos lá em cima, eu joguei minha mochila em cima da cama e fui para o banhei armário mudar o meu jeans. — Se a “surpresa” for me comprar um vestido de baile de novo, você vai ter que se virar e fazer isso para mim de uma forma importante. — Eu gritei do meu armário. — Eu estou falando totalmente sério. — É apenas o humor dela. — Ele respondeu. — Tenho certeza de que não vai ser assim. — Estamos falando sobre a minha mãe aqui? Porque eu pensei que nós estávamos... — Eu sei, eu sei. Mas se ela fizer então você tem minha permissão para levá-la de volta. Eu ri alto. — Sua permissão? Oh, eu estou tão feliz. — Troquei a camisa e sai para esperar lá fora. Ele ainda estava sorrindo de uma maneira enlouquecedora. Como se ele soubesse de algo que eu não sabia. — Estou nervosa — Eu renitirei. — Eu não sei como, mas eu vou pensar em alguma coisa.
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Ele se aproximou de mim. — Você está sendo uma filha muito boa. — Ele disse suavemente. — Pense em como sua mãe ficará feliz. Isso vai ser uma boa memória para ela. Quando... “Para quando eu for embora.” Eu suspirei e olhei para ele. — Você está certo. Mas eu estou totalmente fazendo isso por você, você sabe. — Ele balançou a cabeça, e eu agarrei o meu telefone. — Tudo bem, tudo bem. Eu estou fora, então. Deseje-me sorte. — Você não vai precisar dela. — Ele disse. — Quão ruim pode ser? Mamãe estava me esperando lá embaixo, e nós duas corremos para o carro. — Para onde vamos? — Eu perguntei, entrando no carro. — Ainda uma surpresa. — Ela disse. — Está com fome? Você quer tomar um lanche em algum lugar antes? — O que você tem em mente? — Gelato8? — Sugeriu. — Podemos parar no centro, naquele lugar novo. — Sim, soa bem. Nós duas rimos, e minha mãe saiu da garagem. As decorações de Halloween estavam em cada casa que passamos, palha recheando os espantalhos e abóboras em cada esquina. Fantasmas feitos de sacos de lixo branco pendurados nos postes de luz, nas ruas da cidade, as vitrines das lojas cheias de máscaras de papel machê com um sorriso laranja. — Você sabe que o turismo aumenta 33 por cento nesta época. — Mãe disse casualmente. — Parece que vai ser uma grande festa.
Gelato: é a palavra italiana para sorvete. Os italianos usam a palavra o gelato para se referir a uma guloseima que é servida gelado. Gelato é feito com creme de leite, vários açúcares e aromatizantes tais como frutas e purê de castanha. 8
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— Bom para as empresas. — É bom. Você não pode superestimar a importância do tráfego de clientes. É tudo sobre a localização, localização, localização. Isso é uma coisa importante sobre o que pensar, quando você é o proprietário do negócio. Chegamos a uma lanchonete italiana, vermelha e verde com um toldo listrado de branco, imprensado entre uma loja de conserto de sapatos e um banco. Anunciado: Momma Mia Guloseima Gelada. — Eles têm sorvete aqui? — Eu questionei. — Você tem certeza que não é apenas gelo italiano? — Como eles podem ter um e não o outro? — Ela Disse. — Verdade. Mas eu estou realmente com vontade de tomar sorvete agora, por isso, se eles não têm isso, eu não poderia fazer nada. Mãe riu. — Se eles não têm isso, então eu vou levá-la em outro lugar. Ok? — Ok. Nós saímos para entrar na fila, e eu me virei para ler o minúsculo, sinal do menu quase ilegível escrito à mão. — Sorvete: Baunilha, morando, limão e frutas mistas... — Eu li em voz alta. — Aha! Sorvete! — Disse a mãe. Eu li mais baixo. — Sim, mas eles só têm quatro sabores. — Ainda assim, sorvete é sorvete. Mamãe colocou no seu uma colher grande de baunilha, e eu coloquei uma colher de creme de limão. — Pelo menos eles têm bons sabores. — Eu disse uma vez que nos entregaram nossos potes. — Isso parece delicioso. — Mmm—hmm. — Mamãe concordou, mergulhando a colher dentro do pote — Vamos caminhar. — Ela disse um minuto depois.
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Nós vagamos pela calçada, passando por várias lojas ao longo do caminho. Cada janela foi decorada para o Halloween. — Qual é a sua ocasião favorita? — A mamãe perguntou. — Halloween ou Natal? — Hmmm, difícil. — Eu chupava a ponta da minha colher enquanto eu pensava sobre isso. — Com o Natal tem árvores e luzes e cookies. Mas com Halloween você tem doces, abóboras, e cidra de maçã. — Oooh, bom ponto. Eu amo cidra da maçã. — Eu acho que ambos são bons para os negócios aqui em Sleepy Hollow. — Eu disse. Mamãe assentiu ansiosamente. — Você está tão certa. — Ela tinha aquele olhar animado em seu rosto novamente, e terminou a última colher de seu sorvete. Jogando o copo e a colher a alguns metros de distância, ela olhou em volta com um sorriso secreto. — Você sabe onde estamos? — Ela finalmente perguntou. Eu raspei o fundo da minha taça e depois joguei fora também. — Uh, yeah. Centro da cidade. — Não, quero dizer a localização. — Próximo ao... — Olhei em volta e reconheci imediatamente a janela lateral. — Minha loja! Estamos na minha loja. Sorriso da mãe tornou-se ainda maior. — Vá olhar para a janela. Olhei. Havia um pedaço de papelão pendurada lá, mas o sinal ALUGA-SE tinha ido embora. Meu coração se afundou. Alguém conseguiu. Alguém já havia alugado, e agora eu nunca terei a chance de abrir minha loja. — Ela se foi? — Eu disse com tristeza. — Será que alguém já alugou? — Basta ir olhar para ela. — Mamãe disse novamente.
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Me aventurei mais perto. E no papelão estava escrito: CASA DE PERFUMES ABBEY'S HOLLOW. Olhei para ela, então me virei para a mamãe. — O que significa isso? Ela tirou uma chave do bolso e balançou-a na minha frente. — Isso significa que, você quer ir para dentro? — Sim, claro. Mas eu não entendo. O que está acontecendo? — Venha comigo. Vamos para dentro. Ela caminhou até a entrada e colocou a chave na fechadura. Empurrando a porta aberta, ela gesticulou para que eu seguisse atrás dela. Entrei na loja e não pude acreditar no que vi. Foi limpa. Limpa, limpa. Sem teias de aranha, sem janelas sujas. Com lâmpadas novas e superfícies limpas. Tudo tinha sido pintado de novo com uma tinta branca. Algumas estantes novas estavam alinhadas em um canto, e os pisos estavam realmente brilhantes. — O que você acha? — A mãe perguntou, em pé no meio da sala, com os braços abertos. — Eu sei que o branco não é a cor mais glamorosa, mas é apenas uma camada de base. Eu queria que houvesse algo diferente do que estava aqui antes. — É lindo,mamãe! Não posso acreditar que tudo está tão limpo. Eu nunca vi a loja dessa maneira antes. Mas eu ainda não entendi. Ela estendeu a chave. — Feliz formatura adiantada, Abbey. — O quê? Eu...? Você...? O quê? — Eu liguei para o Sr. Milcom. O aluguel está pago até por um ano. Desde que vou ao mercado há tanto tempo, eu o convenci a cobrir todas as utilidades nos seis primeiros meses também. Assim, suas despesas devem ser mínimas em primeiro lugar. Eu ainda não podia acreditar. — Pegue a chave. — Mamãe riu a sacudindo para mim.
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Eu estendi a mão, e ela deixou cair na palma da minha mão aberta. “Isso está realmente acontecendo? Será que eu realmente iria apenas começar a montar minha loja, sem amarras?” Olhei para ela. — Mamãe, eu... Eu não sei o que dizer. Ela colocou os braços em volta de mim e apertou. — Você gostou? Eu não tinha certeza do que lhe dar, e então eu pensei que este seria o presente perfeito. — É perfeito. Obrigada. Muito obrigada! Eu te amo! Caminhando ao redor da sala, observei todos os detalhes, era como olhar através dos olhos de outra pessoa. Tudo era novo e fresco. De repente, eu podia ver isso e muito mais. Eu podia me ver aqui. — Mãe... — Eu disse, tentando encontrar as palavras para expressar o que eu estava sentindo. — Eu... — Mas eu não poderia encontrá-las. Eu não sabia como dizer a ela que eu estava arrependida por todas as coisas que tinha dito ou como eu queria que tivéssemos mais tempo para passarmos juntas. Meras palavras não poderiam dizer que ela era a melhor mãe e que eu estava feliz que ela era minha. Ela deve ter sabido de alguma forma o que eu queria dizer, no entanto, porque ela balançou a cabeça. Eu apenas sorri. Ficamos por um tempo depois, falando sobre as opções de cores de tintas e molduras de janela, e que arte ficaria melhor pendurada nas paredes. Eu disse à mãe a minha ideia sobre como fazer uma loja diferente, com temas giram em torno da “Lenda de Sleepy Hollow” com abóboras e livros antigos, e ela adorou. Quando cheguei em casa, eu estava praticamente explodindo de emoção quando eu corri até meu quarto. Eu não podia esperar para contar Caspian sobre a loja. Mas quando eu abri a porta, o vi na cama. Dormindo. Eu peguei meu telefone e disquei o número do escritório de Kame e Sophie. Uri atendeu. — Ei, é Abbey. — Oi. Tudo bem? — Caspian está dormindo de novo. — Eu tentei manter o pânico fora da minha voz. Silêncio me encontrou do outro lado da linha. Então ele disse: — Por que você não apenas lhe dá algum tempo?
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— Como, quanto tempo? — Eu perguntei. — Uma hora? Um dia? — No entanto é preciso muito tempo. Tentei contar até dez, tentando não gritar de frustração por sua resposta. — Por que isso continua acontecendo, Uri? — Eu disse. — Isso significa que ele está deslizando de mim? — Silêncio novamente. — Vou levar isso como um sim. Tem um de vocês aqui em algum lugar, certo? — Eu perguntei calmamente. — Kame. Ele está no bairro. Você quer que ele pare? — Ele pode fazer alguma coisa? — Não. — Então eu vou esperar. Enquanto Vincent não está por perto, eu estou bem. Ele disse adeus, e eu desliguei o telefone, me sentindo irritada e frustrada. Todos os meus sentimentos de felicidade foram completamente soterrados. Pensando em como me resolver com Caspian, apoiei meu queixo na minha mão, imaginando quanto tempo levaria para ele acordar desta vez. Eu tive um tempo difícil para dormir naquela noite, me sentindo sozinha, enquanto Caspian estava longe de mim, e eu continuava acordando. Cerca de duas horas, decidi pegar algo da geladeira. Um lanche poderia me manter distraída, pelo menos por um tempo. A luz ainda estava acesa na sala, quando eu passava, e eu espiei dentro. A TV estava com o som baixo, passando um filme antigo, e papai estava roncando na poltrona. Eu balancei minha cabeça e me arrastei de volta para a cozinha. Eu encontrei um sanduíche de peru e queijo na geladeira e o puxei para fora, verificando a data de validade. Ainda estava fresco. Eu o cortei ao meio e depois embrulhei o restante para colocar de volta. Depois de empilhar um par de picles no prato ao lado dele, eu carreguei meu prêmio para a sala. Eu encontrei o controle remoto na mão do meu pai e passei pelos canais, parando de vez em quando para dar uma mordida no meu sanduíche. Halloween III começou a passar, então eu deixei o ronco do meu pai ficar mais alto e mais alto, até que finalmente eu estendi o braço e o sacudi. — Pai. Papai, acorda.
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Ele rolou. — Eu estou acordado. — E então ele se sentou. — Eu estou acordado. Que horas são? — Quase duas e meia. — O que você ainda está fazendo acordada? — Não consegui dormir. Fiz um lanche. Ele olhou por cima.
— Eu levantei o prato.
— Isso é um picles? Eu segurei um para ele, e ele pegou. Nós dois sentamos lá por um par de minutos, comendo ruidosamente os vegetais frios. Quando eu terminei, coloquei meu prato na mesa de café e me estirei no sofá. O quarto estava banhado pela luz azul da tela da televisão piscando. — Ouvi dizer que a mamãe te levou para sair hoje — Papai disse. — Para ver a loja? Eu peguei o controle remoto e abaixei o volume um pouco mais. — Sim, ela me levou logo após a escola. Foi ótimo. — Então, o que você pensa sobre isso? — Ele perguntou. — O que eu acho? Eu amo isso. A chance de ter minha própria loja? É o meu sonho. Papai parecia satisfeito. — Eu sabia que você ia gostar. — Você ainda está planejando me ajudar com o plano de negócios? — Eu lancei um olhar para os lados. Eu tinha tomado muito mais tempo do que o pretendido para terminar realmente a maldita coisa. — Você já fez o primeiro rascunho? — Sim. — Me mostre, então, e eu vou dar uma olhada nisso. Provavelmente podemos trabalhar algo. Eu sorri para ele.
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— Falar de um grande presente de graduação. — Ele esticou o braço e colocou a mão no meu braço. — Sua mãe e eu estamos muito orgulhosos de você, Abbey. É preciso um grande esforço para ter o seu futuro planejado em uma idade tão jovem, e nós queremos fazer tudo o que pudermos para apoiar isso. Nós acreditamos em você, e nós sabemos que você vai fazer grandes coisas. Suas palavras bateram em alguma coisa dentro de mim que desencadeou uma dor agridoce. Eu queria que eles fossem orgulhosos de mim. — Não posso prometer que tudo vai funcionar certinho. — Eu disse. — Mas posso prometer que eu vou fazer o meu melhor. E eu vou trabalhar o meu melhor. Significa muito para mim que vocês são tão favoráveis a isso. Especialmente porque eu sei que você queria que eu fizesse algo diferente. Agora o papai parecia um pouco choroso. — Eu não posso lhe dizer os pensamentos que passaram pela minha cabeça quando descobrimos que alguém havia arrombado a casa e... — Ele parou e limpou a garganta bruscamente. — Bem, eu nunca quero ver isso de novo. Ele realmente trouxe para essa casa um monte de coisas e me fez começar pensar no futuro. O seu futuro. Agora suas palavras desencadearam algo diferente dentro de mim. Pesar. Toda esta conversa de futuro e da emoção de ver a loja hoje, tal como, uma coisa real e tangível me fez esquecer totalmente sobre o meu real futuro. O que eu não tinha.
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Capitulo Quinze MAIS QUE O MEDO
As pessoas comuns são encaradas com um misto de respeito e superstição... A Lenda de Sleepy Hollow.
Caspian
não estava acordado na hora que eu tinha que ir para a escola na manhã seguinte, e eu odiava deixá-lo para trás. Fiz uma ligação rápida para Sophie, e ela me garantiu que ela passaria mais para conversar com minha mãe e manter um olho nas coisas. Eu me senti um pouco aliviada em saber que ao menos ela estaria lá se ele acordasse. Passei a maior parte do dia pensando sobre Abbey´s Hollow, e no fato de que eu tinha entregado meus sonhos em uma bandeja de prata, mas eu não ia viver tempo suficiente para vê-los se realizarem. Não foi até que a Sra. Marks me chamou na aula de inglês para ler um poema que eu saí do meu estado contemplativo. Levantei-me limpando a garganta. Quando meus olhos passaram através da página na minha frente, pedaços e fragmentos começaram a reunir-se em imagens dentro do meu cérebro, e notei o bonito fluxo e ritmo que o poema tinha. Então, eu realmente comecei a observar as palavras. Nós somos as pessoas escondidas Perdidas entre eles. Portanto, muito de nenhum.
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Ainda assim, começou. Sombras cobrem nossas paredes. Nós somos as pessoas escondidas, E quando você acha que chegou ao fim Você vai virar e ver Não há ninguém. Nós somos o oculto. Pessoas. Tudo o que Para o oculto se tornará. Algo mais do que o medo, Ele reside aqui. A Sra. Marks questionou a classe sobre quem o poeta poderia estar falando, tudo o que eu conseguia ouvir eram as palavras: — Nós somos as pessoas escondidas. — E pensei o que aquilo significava. Pensei sobre isso de uma forma totalmente nova. O poema era sobre mim. Sobre o que eu ia me tornar. As máscaras eram as pessoas escondidas. A outra metade. Vivendo nas sombras. Parte desse mundo e do próximo. Aqui, mas não aqui. E compreendi de uma forma que ninguém mais poderia. Quando o sinal tocou, eu não podia tirá-lo da minha cabeça. Algo mais do que medo, que reside aqui. Eu estava com medo? Sim. E não. Mas eu era especial. Única. Meu presente era ser uma das pessoas escondidas. Era o que eu estava destinada a ser. Beth me pegou depois da aula e me trouxe de volta ao presente. — Você está pronta para fazer isso? — Ela disse, descendo o corredor na direção oposta. — Tenho o carro da minha mãe. — Que coisa?
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— Shopping? Para o Baile Hollow? Hoje é quarta-feira. — Hum, sim. — Eu não estava louca com a ideia de não ir para casa e ficar com Caspian, mas Sophie não havia ligado ainda em meu celular. O que significava que ele não tinha acordado ainda. — Claro. Só me deixa despejar meus livros no meu armário. Eu não tenho qualquer dever de casa que não possa esperar até amanha. Ela aproximou e esperou do meu lado. — Tem ideia onde devemos ir? — Perguntei. — Há uma loja de vestidos especializados em Jersey — Ela disse me dando um olhar arqueado. — Eu sei. Jersey, certo? Mas eu tenho um amigo que jura por ele. Diz que eles têm o melhor material de designer pela metade do preço. Eles provavelmente os obtêm depois que caem de um caminhão, mas hey. Eu não vou reclamar. — Nós provavelmente demoraremos a tarde toda, certo? — Hum, sim. Por quê? Você tem um toque de recolher à tarde? — Beth riu. Eu sorri francamente para ela. — Não, não. Só quero ter certeza de que minha mãe não vai ligar sobre isso, tipo um milhão de vezes. Nada grande. — Ok. Vamos então. — Disse batendo as mãos. Eu amontoei meus livros no meu armário e depois a segui para fora. A poeira azul do Chevy estava estacionada no meio fio, e nós fomos para dentro, Beth se virou acima do calor e fomos embora da escola, ela começou a falar sobre Lewis imediatamente. Nós fomos para longe de Sleepy Hollow do outro lado da ponte Tappan Zee. Estiquei as pernas a minha frente e passei para o meu lugar. Eu só queria saber se estava tudo bem com Caspian. E se ele estivesse dormindo por muito tempo? E se desta vez ele não acordasse?
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—... E então ele disse que eu deveria ir com o Grant se isso me faz feliz. Ugh. Garotos. — Beth me olhou, esperando que eu dissesse algo. Mas eu estava viajando completamente. — Você está sonhando Abbey? — Ela disse com um pequeno sorriso. — Você sabe, há uma cura para isso. Um menino... Quente. Quer dizer, um cara quente. Esqueça os meninos. Quem precisa deles? Eu sorri de volta. — Não precisamos ir a um cruzeiro de gatas? — Ela perguntou. — Nós ainda podemos ficar na casa de praia um fim de semana. Tudo bem que fora de estação, mas nunca se sabe quando um salva-vidas bonito em treinamento pode aparecer ou algo assim. Eu ri. — Não. Nós não precisamos ir pegar um salva-vidas gostoso. Embora eu agradeça a sua disponibilidade em me ajudar nisso. — É o pensamento que conta. Fiquei relembrando aquelas palavras vindo de outra pessoa. Caspian tinha me dito uma vez. Olhei para longe, para fora da janela. Uma caminhonete passou por nós à direita, com dois caras no banco da frente. Eles foram acompanhando nosso ritmo e Beth havia notado. — Esse motorista é bonitinho. — Ela disse. Debruçando-se, ela sorriu animadamente para eles. O motorista buzinou, e seu passageiro fez algum tipo de movimento de mão que significava tanto como me liga ou e aí. Eu não poderia dizer qual. — Nos mantenha na estrada Beth. — Eu disse com um sorriso, quando ela ficou olhando para eles. — Você nunca sabe. Eles poderiam ser nossos encontros no Baile Hollow. O caminhão avançou, o motorista segurando uma folha de papel ao lado de sua janela com um número de telefone rabiscado sobre ela. “Hey gostosa me liga”, ele escreveu. Comecei a rir com a careta que a Beth fez. — Pelo menos sabemos que eles podem significar. — Eu disse a ela.
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Ela pisou no acelerador, ultrapassando eles com um sorriso, e sua risada encheu o carro. — Oh, bem. Acho que nenhum deles era o Príncipe Encantado depois de tudo. Chegamos a uma rampa e ela desacelerou, puxando pela saída 24. A estrada passou por uma pequena cidade com um limite de velocidade de 35 km, que Beth teve dificuldade em manter, até que mudássemos ao longo do caminho. A cidade era um buraco gigante. — Nós estamos olhando para a Rua Denim. — Beth disse, mantendo um olho nos sinais de trânsito. — Muito apropriado. O estacionamento surgiu à nossa esquerda, e ela fez a curva. Um edifício de tijolos laranja brilhantes com um toldo verde e rosa listrado a nossa frente cercado por vitrines. O estacionamento estava lotado. — Acho que o segredo escapou. — Eu meditei. — Parece que todo mundo sabe sobre esse lugar também. — Grande. — Beth disse. — Espero que ainda tenha algumas coisas boas para a esquerda. Nós estacionamos a duas quadras e caminhamos até a loja. Duas meninas estavam lutando com uma sacola gigante e cheia que foi presa na porta, com outra menina empurrando por trás, tentando abrir seu caminho para fora. — Espero não ser atropelada ou qualquer coisa. — Sussurrei quando me abaixei do saco de roupa e me coloquei para dentro. — Stampede! — Beth disse imitando um cowboy. Entramos na sala de exposições principal e imediatamente eu vi porque estava tão ocupado. Estandes de cima a baixo enchiam o local enorme, todos classificados pelo designer, cor ou ocasião. Era livre para todos. Meninas em todos os lugares estavam puxando punhados de vestidos de cada vez. — Como é que vamos encontrar o que queremos? — Eu perguntei olhando para tudo.
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— Iniciar pelo canto e puxar o que você quer. Puxe o que você não tem certeza também, talvez eu queira, e eu vou fazer o mesmo. Mas tenha cuidado. Eu ouvi sobre uma briga que começou na seção da Johnson Betsey, e levou os policiais a separarem todo mundo. Acusações de agressão e pilhação foram arquivados. — Puxa Beth... — Eu olhei para ela. — Aonde você nos trouxe? — Não se preocupe. — Ela disse. — Basta ficar comigo. Todos os meus anos de pista de corrida virão a calhar quando eu registrar de um canto ao outro do local para vencer a garota que estiver pegando o vestido perfeito. — Oh, eu vou definitivamente ficar com você. Nenhuma dúvida sobre isso. Nós fomos para a briga e dividimos as seções. Eu encontrei-me na extremidade de uma prateleira de metal, folheando vestidos e gritando para ela quando encontrava alguma coisa. — Há um vestido rosa com uma alça de ombro e algumas lantejoulas sobre a bainha aqui. — Gritei. — Você quer isso? — Rosa ou rosa quente? — Ela perguntou. — Rosa quente. — Se é do meu tamanho pega. Eu arranquei o vestido do cabide e coloquei sobre meu ombro, e depois continuei tateando as capas plásticas com vestidos. Eu não tinha certeza do que eu queria ainda. Roxo? Azul? Ou talvez rosa? Para combinar com Beth. Uma pequena voz na parte de trás da minha cabeça começou a sussurrar. Que cor Caspian gosta? Algo verde para combinar com seus olhos? Ou preto para combinar com listra no cabelo? Tentei empurrar aquele pensamentos. Tentei não pensar sobre a fisgada que machucava meu coração. — Yo, Abbey! — Beth chamou de repente. — Que tal isso?
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Ela ergueu um vestido de cetim vermelho escuro sem mangas, que parecia algo que uma dançarina de flamenco usaria em uma apresentação de tango. Tinha um decote profundo, uma fenda alta na coxa e rosas negras bordadas na barra. Aproximei-me e dei-lhe o vestido rosa. Então eu peguei o vermelho. Foi ousado. Algo que eu nunca me imaginaria vestindo, mas se encaixava na personalidade louca do Ben. — Eu meio que gostei. — disse. — Vou experimentá-lo. Pendurei no meu braço e fui encontrar uma cabine de prova. Havia uma fila quilométrica, mas eventualmente uma porta se abriu e eu fui para dentro, tive que me mexer e encaixar o vestido que caiu como uma luva. Dei um passo atrás e observei meu reflexo. A fenda estava acima e o top baixo, mas parecia muito bom. Eu recolhi meu cabelo para cima, erguendo com a mão. Alguns cachos caiam delgados para baixo em torno dos meus ouvidos, me virei para checar se era muito sexy para vestir em um encontro com um amigo como Ben. Mas quanto mais eu olhava para ele, mais eu tinha que têlo. Ficou perfeito. Bateram na porta, eu abri uma fresta, colocando a cabeça fora para ver quem era. Beth estava ali, deslocando uma enorme pilha de vestidos de um braço para o outro. — Pensei ver você pegando esse camarim. — Ela disse. — Posso entrar? Essa fila é abominável. — Sim, claro. Mas eu estou levando esse vestido, assim eu já estou pronta. Ela cutucou a porta para abrir mais, e seus olhos se arregalaram. — Yup. Esse é o escolhido. Ben vai ficar totalmente na sua. Eu podia sentir meu rosto ficar quente. — Isso não é para o que estou indo. Talvez eu devesse procurar um diferente. — Se você não ficar com esse, Browning, eu vou matar você. Lentamente. — Você tem certeza?
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— Sim! — Ela me puxou para dentro do pequeno espaço e empilhou o monte de vestidos no banco ao lado. — Esse é o único. Pegue-o. — Ok, ok. — Eu disse. — Eu vou pegá-lo. Beth se virou e se abaixou para pegar o vestido. Soltou o plástico e puxou para fora o pendurando no gancho do espelho, enquanto eu trocava para minhas roupas normais, tudo o que podia ouvir era o farfalhar do tecido grosso que ela lutou para encontrar os furos dos braços e do pescoço. — Você precisa de ajuda? — Eu perguntei. — Não. — Sua cabeça saiu completamente. — Já consegui. — Ela olhou no espelho e fez uma careta. A parte de baixo do vestido branco que ela estava tentando colocar estava embolada em uma grande bola de tecidos. — É... poofy. – Eu disse. — Poffy não é bem a palavra que eu usaria. Mais como flugy. Próximo. Ela colidiu comigo quando puxou os braços para fora, eu tentei sair do seu caminho, mas não havia espaço suficiente, nós fizemos uma pequena dança para trás, mas eu estava presa contra a parede. — Eu acho que vou sair. — Eu disse. — Tudo bem para você? — Sim. Eu abri a porta novamente e depois fiquei esperando lá fora. — Você está tendo alguma sorte? — Eu disse depois de um tempo. Havia uma maldição abafada e então ela disse: — Não... Só na terceira tentativa. Tenho cerca de mais 12 para tentar. Doze? Bom Senhor. — Desde que você tem tantos, se importa se eu for dar um passeio? Estou entediada até o crânio. — Vá em frente. Comecei a ir embora, depois voltei.
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— Oh, hey. Deixei meu vestido aí dentro. Você quer que eu o pegue? — Nah. Está bem onde está. — Okay. Me chama quando você encontrar o certo. Deixei rapidamente o vestiário para trás, e fui para fora. O ar fresco era uma explosão de alívio na minha pele, e eu nem percebi o calor que devia estar lá dentro. A maioria das lojas vizinhas estavam vazias, mas eu fui a cada uma de qualquer maneira, espiando janelas sujas para ver o que havia sido deixado para trás. Uma loja ainda tinha um monte de prateleiras de exposição com o que parecia ser frascos de farmácia antigos empilhados contra a parede. Eu só podia imaginar o que os velhos rótulos diziam. Afastando-me da janela eu andei mais pela rua e encontrei a loja de antiguidades que tinha visitado. Era pequena, e parecia que estava cheia de lixo, mas com o tempo que Beth gastava eu ia ter tempo de sobra para matar. Porque não dar um tiro? Então eu fui.
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Capítulo Dezesseis O VESTIDO PERFEITO
O galante Ichabod agora passava pelo menos uma meia hora extra em seu banheiro, escovando e lustrando seu melhor e de fato o seu melhor, e realmente único terno de preto desbotado... A Lenda do Sleepy Hollow
Brinquedos
velhos e coisas quebradas enchiam as prateleiras do Cutter e Cobwebs Antiques, um cruzamento entre uma venda de coisas em mal estado e um bota fora de uma loja de 1,99. — Legal! — Enquanto eu olhei mais perto, eu pude ver adesivos remanescentes de uma venda de jardim, aqui e ali. — Bom. — Eu murmurei. Parecia um desperdício de espaço. Eu estava prestes a sair quando um baú de transporte de navio chamou minha atenção. Foi empurrado para fora do caminho, meio enterrado debaixo de uma pilha de casacos de pele comidos por traças, logo atrás da seção de roupas. Mas existia alguma coisa que prendia minha atenção...
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O baú parecia velho. Mais velho do que qualquer outra coisa em volta dele, e estava coberto por adesivos desbotados. Tirando os casacos do meu caminho, eu ajoelhei em frente dele. Os adesivos eram de todos os lugares: Madri, Irlanda, França, Turquia, Indonésia, Brasil. Uma peça de tecido branco pendurada no canto, largada desamparadamente em um lado. Parecia muito frágil. Eu tive a impressão que isso era um vestido de noiva. E que eu acabava de encontrar o vestido de casamento de alguém há muito tempo esquecido, mas quando eu levantei a tampa e tirei uma bandeja de madeira velha cheia de lenços e luvas, eu vi que eu estava errada. Era um vestido. Um vestido de baile. Cavando mais fundo, empurrando suavemente do meu caminho anáguas e camisolas antigas, eu puxei na borda do tecido prateado branco. Parecia uma gaze em minhas mãos. Lentamente, muito lentamente, ela soltou, e eu a levantei do baú. Era o vestido mais lindo que eu já tinha visto. Uma saia esvoaçante caiu da frente em uma graciosa forma de V. A cor era de uma pérola fresca. Um pouco prateado, as mangas cobertas pareciam delicadas e etéreas, enquanto uma sobreposição de renda preta corria de um corpete espartilho até o chão. Era como se uma pessoa tivesse colocado dois vestidos juntos, um em cima do outro, e com uma tesoura tivesse cortado todo o vestido da frente de forma que se pudesse ver o vestido debaixo. Era estonteante. Eu o segurei perto e uma suave essência de rosa veio até mim. Fechando meus olhos, eu estava de repente inundada de nebulosas imagens... Dando tchau enquanto seu amado vai pro mar... Esperando por ele com um lenço manchado com lágrimas frescas na mão... Rosas vermelhas dadas em um baile de Natal, agora secas e prensadas por toda eternidade... Uma noiva vigilante andando na praia enquanto reza para seu marinheiro achar a garrafa que ela jogou nas ondas... Um beijo roubado... Empurrando o vestido pra longe de mim, eu o encarei. Isso tudo parece tão... Real. O que era meio doido. Eu não tinha ideia de onde tinha vindo este vestido ou a quem tinha pertencido. Mas alguma coisa... Alguma coisa estava me chamando. Mesmo agora, quando eu o coloquei de lado, meus dedos continuavam rastejando de volta para o tecido macio. Parecia meu. Parecia familiar.
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Não me atrevendo a respirar, eu olhei para a etiqueta. Estava marcada de lápis e tinha um tamanho estranho escrito. Eu não sabia como comparar com meu tamanho, mas eu não podia deixar o vestido ali. Eu tinha que experimentar. Uma placa na frente da caixa registradora dizia que os trocadores ficavam nos fundos. Então, segui pra lá. Uma vez dentro daquele espaço pequeno, eu fechei a porta e pendurei o vestido num gancho atrás da porta. O tecido com dobras suaves caía graciosamente no chão, sussurrando para eu experimentar o vestido. Eu tirei minha roupa rapidamente. Cuidadosamente desfazendo o laço do corpete. Eu tentei não puxar forte no caso das fitas estarem frágeis. Ele abriu facilmente e eu entrei puxando o vestido sobre mim. Eu prendi a respiração até que a última dobra estava no lugar e todas as fitas estivessem amarradas de novo, antes de ousar a olhar no espelho. Não era eu. E assim mesmo... Era eu. Olhei mais de perto, olhando fixamente para a superfície reflexiva. De alguma forma, o vestido tinha dado forma a minha cintura e tinha magicamente criado um decote impressionante, com seios que certamente não tinha estado lá antes. Pequena manga agraciou meus braços, enquanto a renda preta, em compensação, deu-lhe um olhar decididamente perverso. O tecido da saia cheia mexia delicadamente enquanto me virava de lado a lado para admirar todos os ângulos. Era Gótico. Era Vitoriano. Era gótico e vitoriano, tudo em um, e eu estava apaixonada. Mas pra que eu uso isso? Não era adequado para Ben e o Baile Hollow. O vestido vermelho de dançarina de flamenco servia melhor. Mas esse? Este vestido era puro romance e amor perdido. Puro... Caspian. Logo que aquele pensamento entrou na minha mente, eu soube. Eu soube para que era o vestido. Este é o que eu vestiria de alguma forma para ele. Para quando nós estivermos juntos em primeiro de novembro. O dia de sua morte. Eu alcancei os laços da frente devagar e comecei a desfazê-los cuidadosamente. Eu balancei meu braço para fora da manga direita primeiro e depois à esquerda. Conforme eu puxei o vestido sobre minha cabeça, a parte inferior raspou em mim e eu escutei um som estranho, uma vez que passou por minha orelha. Quase como um rasgado.
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“Alguma coisa rasgou?” Eu virei pra ver. A bainha parecia bem. Não estava rasgada. E nenhuma das mangas estava, nem mesmo sujas que pudessem causar aquele barulho. Virando, eu examinei o outro lado. Era uma pequena fenda. Mas não se parecia com um rasgado ou um buraco. Era uma fenda perfeitamente limpa. Como se alguém tivesse cortado-a. Puxando-a para mais perto, eu olhava para ela. Então eu segurei até minha orelha e mudou o tecido ao redor. O farfalhar veio de dentro. Eu enfiei meu dedo no buraco e senti algo preso lá dentro. Foi difícil soltá-lo, mas eu consegui virar na posição certa, e um pedaço de papel voou para fora. Era pequeno, velho e amarelado, com a escrita cursiva em formato de aranha. Eu ajoelhei pra pegá-lo. Segurando o papel perto da luz, eu li as palavras: Quando ele morrer, Leve-o e corte-o em pequenas estrelas, E ele vai deixar o céu tão bonito Que todo o mundo se apaixonará pela noite E não farão culto ao sol berrante. William Shakespeare — Uau! — Eu sussurrei. Aquelas palavras eram lindas. E alguém tinha pensado tanto nelas que tinha dobrado e enfiado-as em suas roupas a fim de andar com elas? Dobrei o papel de volta e coloquei dentro do meu bolso. Eu manteria perto de mim também. Agarrando o vestido, eu o dobrei cuidadosamente sobre meu braço e fui achar o preço. Não importava qual era o preço. De algum jeito eu acharia uma forma de pagá-lo. A atendente da loja era um homem de aparência de rato que olhava para mim por trás do balcão através de uma espessa lente de óculos e um aparelho auditivo em cada orelha. — Você quer isso? — Ele perguntou enquanto eu me aproximava. — Eu não vi o preço em lugar nenhum. — Eu disse. — Eu estava pensando... — É só um vestido velho, certo? — Sim, mas...
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— As roupas são dez dólares. Você tem dez dólares? — “Dez dólares?” Claro que eu tinha dez dólares. —Você tem certeza? É só isso? Ele riu asperamente. — Se você quiser me dar mais, senhorita, você pode. — Ah, não, tudo bem. — Eu não queria explorá-lo, mas se era esse o preço, então esse era o preço. Eu pesquei uma nota de dez dólares da minha carteira e passei pra ele. — Você quer uma sacola? — Ele perguntou, pegando meu dinheiro. Ele segurou uma sacola plástica de doces, e eu sabia que não tinha nenhum jeito, nem no inferno, que eu enfiasse meu vestido naquela coisinha. — Tá tudo bem. — Eu disse. — Eu levo assim. De repente, ele levantou. Olhou mais perto. — Você pegou isso do baú? — Ele perguntou com os olhos se apertando. — Que baú? — Eu disse defensivamente. Eu não sabia que ele iria tentar tirar mais dinheiro de mim. — O de navio. — Ele acenou com a mão. — No canto. Com as etiquetas nele. Eu não pude evitar. Eu olhei pra ele. — Sim. — Eu disse relutantemente. — Por quê? — Veio de uma senhora. — Seus olhos se estreitaram. Parecia que ele estava tentando se lembrar. — Uma viúva. Ela perdeu... Ela perdeu o... — Seus olhos ficaram nublados novamente. — Ela perdeu o marido. No mar, eu acho. Um calafrio desceu na minha espinha. “Perdeu o marido dela... esperando, no mar...” Assim como eu imaginei. E mesmo se ele estivesse errado, mesmo que o baú não tivesse sido dela, apenas a ideia que ele tivesse pensado nisso era assustador. — Ok. — Ele disse de repente, de volta a realidade. — Divirta-se. Então, tchau.
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Eu balancei a cabeça e, lentamente, caminhei até a porta, agarrei firmemente vestido na mão, e aquele pedacinho de papel dobrado enfiei no meu bolso em segurança. Quando eu encontrei Beth de novo na loja do vestido, ela estava de pé na fila, tentando combinar o meu vestido vermelho e um vestido preto, enquanto ela simultaneamente retirava o telefone dela. — Hey. — Disse ela, olhando para mim. — Eu estava justamente ligando pra você. Você vai mesmo com o vermelho, certo? Eu confirmei. — Aqui está. — Entregou-o, e então viu o que estava em minhas mãos. — O que é isso? —Um… Uma fantasia de Halloween? — Eu respondi. — Ok. — Ela olhou pra mim como seu eu fosse um tanto maluca, então ela deu de ombros e voltou pra fila. Eu espiei sobre seu ombro. —O que você escolheu? — Já que você está indo com o vestido vermelho sexy de dançarina, eu escolhi um daqueles também. Nós vamos trazer um pouco de brilho Latino para o Hollow Ball. — Ela segurou seu vestido para que eu pudesse vê-lo. Ele era super curto, preto fosco, com babados, que ziguezagueava ao longo da barra e subia até um dos lados. —Legaaaal! — Eu disse. Ela andou até o balcão pra pagar, e eu fui atrás dela. Eu não pude ver quem era a caixa, mas eu reconheci o tom da voz. — Isso é tudo que você vai levar hoje? — Uma voz feminina entediada perguntou. Levantei rápido minha cabeça. — Aubra? — E eu saí da fila para que eu pudesse vê-la. Ela me deu a impressão de um sorriso. — Oi. — Então, ela virou de volta pra Beth. — Dinheiro ou cartão?
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— Cartão. — Beth apoiou sua bolsa no balcão pra procurar dentro dela, mas ela caiu. Um gloss e uma amostra de perfume que eu fiz pra ela saíram rolando. — Desculpe. — Ela disse, mas Aubra já tinha pego o perfume. — O que é isso?— Ela abriu e cheirou. Beth apontou pra mim. — Abbey faz perfumes. Esse é um perfume que ela fez exclusivamente pra mim. — Ela disse isso com um ar de tal superioridade que eu tive que conter um sorriso. Aubra o cheirou de novo. — Cheira bem. Baunilha. — Ela tampou a garrafinha e relutantemente devolveu-a para Beth, que estava parada esperando com a mão aberta. — Você pode fazer um desse pra mim também? — Aubra perguntou, tirando os olhos de Beth e direcionando a pergunta pra mim. — Pagando. — Beth respondeu antes mesmo que eu tivesse a chance de abrir minha boca. — Claro que não seria esta mistura exata, já que ela é exclusiva. Mas podemos trabalhar em alguma coisa. Eu lancei um olhar divertido entre as duas. Aubra acenou para Beth, em seguida, pendurou sua compra. Ela fez sinal para eu seguir em frente, e eu coloquei o vestido vermelho em cima do balcão, tomando cuidado para segurar o meu vestido branco. Ela registrou o meu total, e eu entreguei um dinheiro para ela. — Então, quando você pode fazer um perfume pra mim? — Ela perguntou, colocando meu vestido numa sacola plástica. — Hã, eu acho que qualquer hora. — Eu disse. — Precisará de um depósito. — Beth interrompeu. — Metade da fórmula antes e a outra metade na entrega. — Quanto vai ser? — Nós informaremos. — Beth disse enquanto indo sem problemas para o outro lado do balcão e pegou o meu vestido.
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— Vamos, Abbey. Nós temos que ir. Eu acenei pra Aubra e segui Beth pra fora. — Aquilo foi incrível! — Ela exclamou, sorrindo pra mim enquanto andávamos para o carro. — Você acredita nisso? Ela estava totalmente disposta a comprar aquele perfume. — Eu preciso contratá-la como minha vendedora. — Eu brinquei — Você está certa. — Beth concordou. — Eu nunca gostei da Aubra. Ela é uma vadia. Nós temos que arranjar um modo de incluir no preço uma taxa de eu-odeio-você. Eu ri pra ela. — Nós não podemos fazer isso. Além disso, nem tenho certeza se eu consigo fazer um perfume pra ela. — Por que não? — Porque é difícil fazer perfumes Especialmente, quando eu não as conheço bem.
para
outras
pessoas.
— Mas você não me conhecia. Quero dizer, não me conhecia super bem. E você fez um pra mim. — Aquilo foi diferente. — Diferente como? — Eu não sei. — Eu lutava com as palavras. — Só… Foi. — Você é inteiramente capaz de fazer isso, Abbey. Vou espalhar para um monte de outras pessoas que conheço também. Eles vão querer também. — Eu vou precisar do espaço pra loja antes do que eu pensava. — Eu refleti distraidamente. — Que loja? — Ela perguntou. — Minha loja. Minha mãe pagou um aluguel de um ano de uma loja no centro como um prêmio de formatura antecipado. Assim eu posso começar o Abbey’s Hollow. Beth voltou a me encarar.
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— Ela fez isso? Que lindo! — Sim. Eu só não pensei como eu vou seguir em frente. — Por que não? — É complicado. — Bem, complicado ou não, eu acabo de marcar você como nossa primeira cliente, irmã, tanto que eu estive pensando que eu preciso que você seja nossa sócia. Eu fiquei em silêncio com aquilo, mas era uma ideia interessante. Eu nunca imaginei ninguém mais do que a Kristen pra me ajudar no Abbey's Hollow. Imaginar Beth aqui era estranho.
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Capítulo Dezessete A SESSÃO ESPÍRITA
E campos assombrados, e riachos assombrados, e pontes assombradas, e casas assombradas, e particularmente o cavaleiro sem cabeça, ou o Hessiano Galopante do Hollow... A Lenda de Sleepy Hollow
Caspian
estava finalmente acordado quando eu cheguei em casa, e eu estava emocionada em ter a chance de contar para ele sobre tudo o que havia acontecido. Eu escondi o vestido branco atrás do vermelho na parte de trás do meu guarda-roupa, e passei a maior parte da noite falando sobre o presente de formatura da mamãe e do papai e a minha ida às compras. Eu deixei de fora a parte sobre o que eu havia encontrado na loja de antiguidades, mas era tão bom apenas poder deitar na cama e falar com ele de novo. A única coisa que não veio à tona foi o tempo que ele havia dormido desta vez. E houve um momento de incerteza quando eu arrumei o travesseiro para ficar mais confortável e ele caiu da cama. Ele se esticou para alcançá-lo, mas ele não conseguia pegá-lo. Não conseguia segurá-lo. Eu rapidamente falei para ele que podia deixar o travesseiro onde ele estava, e eu segui em frente para uma música engraçada que eu havia ouvido no rádio na loja hoje, mas os olhos dele estavam preocupados até mesmo enquanto ele concordava.
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Já que eu passei metade da noite conversando com o Caspian, eu acordei na manhã seguinte me sentindo como um zumbi. Cyn deve ter notado eu me arrastando pelo dia na escola, porque ela continuava me perguntando se eu estava bem. Depois do almoço ela esperou no meu armário, descansando a nuca contra ele. — Então, eu estou pensando sobre fazer uma sessão espírita. — Ela disse abruptamente. — Você quer participar? Eu me virei para ela. — Você está falando sério? — Sim. Você já esteve em uma antes? — Sim, certo. Claro. — Eu funguei uma risada. — Sessões espíritas são ocorrências comuns por aqui. — Elas não são? Aqui é Sleepy Hollow, certo? — Ela pareceu surpresa. — Eu tinha pensado que em uma cidade com essa, isso seria uma ocorrência semanal. — Não. — Então eu me dei conta sobre o que ela havia dito. — O que você quer dizer, “uma cidade como essa”? Ela fez um gesto com as mãos. — Você sabe. Histórica. Assombrada. O mascote dessa maldita cidade inteira é um fantasma sem cabeça em um cavalo. Não me diga que você não sente. Há uma corrente de... Algo aqui. — Seus olhos ficaram vidrados e ela encarou o nada por um minuto. E então ela piscou. —Então, você quer vir? — Onde e quando? — Nós precisamos de um lugar assustador. Conhece algum lugar assustador por aqui? Havia o cemitério. Mas isso não era realmente assustador. Pelo menos não era para mim. E não parecia certo pensar sobre ter uma sessão espírita lá. Parecia sacrilégio. — Não realmente. — Eu disse.
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— Nós faremos na minha casa, então. Tem um sótão. Eu moro na Avenida 24. — Você tem certeza de que...? — Eu não sabia como colocar em palavras, então eu apenas olhei para ela, esperando que ela entendesse o que eu estava dizendo. — O quê? Assustador o bastante? — Eu assenti. — Ah, sim. — Ela riu zombeteiramente. — É assustador o bastante. Confie em mim. As mortes de milhares de sonhos residem lá. Eu posso sentir. Infernos, eu morro um pouco cada vez que eu volto lá. Ela parecia tão infeliz que realmente me deixou desconfortável em vêla assim. — Então, sim, ok. — Eu disse rapidamente. — Quando você quer fazer? — Esta noite. — Esta noite? Isso é... Logo. — Parece certo. Eu geralmente vou com o que parece certo e não faço perguntas. — Cyn se afastou do armário e virou a cabeça para o corredor. — Esteja lá às nove. Ela estava quase fora de alcance para me ouvir antes de eu perceber o que eu queria perguntar a ela. — Hey, por que exatamente nós vamos fazer uma sessão espírita? — Eu gritei. — Para evocar os espíritos obscuros e conversar com eles, é claro! — ela gritou de volta. — Mwahahaha! Eu contei ao Caspian sobre a sessão espírita quando ele veio me pegar, e nós falamos sobre isso no caminho da escola para a casa. Eu pensei que ele fosse ficar contra, mas ele me surpreendeu ao dizer que soava divertido. — Você virá? — Eu perguntei, surpresa. — Todas as sessões espíritas precisam de um fantasma. — Ele disse com um sorriso. — Não é esse o ponto?
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Foi legal ver este lado brincalhão dele. Eu pensei que o incidente de ontem à noite com o travesseiro havia realmente abalado-o. Eu sorri de volta. — Você fará uma boa performance? — Estou aqui para agradar. Você sabe disso. Havia algo mais por trás das palavras dele, e o olhar em seus olhos fez o meu coração bater mais rápido. De repente tudo o que eu conseguia pensar era o vestido branco no meu guarda-roupa e o fato de que o dia da morte dele estava quase aqui. Quando nós chegamos em casa, Sophie estava lá com a mamãe e ambas estavam inclinadas em cima da mesa da cozinha. Um monte de papéis estava espalhado entre elas. — Hey, querida! — Mamãe disse quando eu entrei. Sophie disse oi também, e inclinou a cabeça para o Caspian quando mamãe não estava olhando. Eu enfiei minha mochila na cadeira ao lado e fui pegar uma garrafa de água. — O que vocês estão fazendo? Mamãe olhou para cima, toda animada. — Estou estudando para tirar minha licença para corretora de imóveis. Sophie está me ajudando no processo. — Ela está? — Eu pausei com a garrafa de água a meio caminho da minha boca. — Por quê? — Eu direcionei minha pergunta à Sophie. Ela sorriu para mim. — Já que eu estou passando tanto tempo aqui ultimamente, eu pensei que seria algo divertido para nós fazermos juntas. “Tanto tempo.” Certo. Ficando por perto no caso do Vincent passar por aqui novamente. Eu assenti para ela e bebi o resto da água. — Divirtam-se. — Virando de costas, eu subi até o meu quarto com o Caspian. E encontrei a Cacey lá. Esperando por nós. Ela estava bagunçando os suprimentos de perfume na minha mesa e nem se incomodou em parecer culpada que eu havia encontrado ela mexendo nas minhas coisas.
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— Sério, o que está acontecendo com todo mundo querendo o meu perfume? — Eu perguntei. Ela olhou para cima. — Oh, hey, Abbey. — Cacey. — Eu ergui uma sobrancelha para ela. Nenhuma “Desculpa por eu estar mexendo nos seus pertences pessoas quando você não estava aqui, ou Ops, você me pegou!” Ela somente sorriu docemente para o Caspian. — Como você está, menino morto? — Eu estaria bem melhor se você não estivesse irritando a Abbey no momento. — Ele cruzou os braços e fez uma careta para ela, mas Cacey somente atirou sua cabeça para trás e riu. — Você o treinou bem. — Ela disse com uma piscadela para mim. — Ele não é o cão de guarda mais adorável que você já viu? A voz dela tinha um tom de doce xarope que me dava nos nervos, e eu quase me vi desejando pela sensação de cheiro queimado e aranha assustadora se arrastando que ela costumava falar. — Você precisa de algo, Acácia? — Eu perguntei. — Até mesmo você tem que estar entediada em ficar em algum lugar por tanto tempo. Algo novo? — Uhhhh, alguém esteve falando com o Uri. Ele esteve abrindo o jogo sobre o meu nome, hein? — Ela balançou a cabeça e então sentou na cadeira e virou o pé. — Ele abriu o jogo sobre muita coisa. — Eu disse. — Ah, Uri, — Ela suspirou. — Entre nós dois, ele é o mais legal. Se você não havia reparado nisso ainda. — Ela disse num sussurro exasperado. Eu revirei meus olhos para ela. — Sobre o que nós temos a respeito do Vincent? Nada. É por isso que eu estou aqui. E você está tão certa por falar nisso. Estou pronta para seguir em frente. — Vocês têm ideia de onde ele está? — Eu estimulei. — Ou o que ele está fazendo?
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— Nada. Nadica de nada. Nós não temos nada. Deixei escapar um suspiro frustrado e caminhei até a cama. — Então, o que vem a seguir? Por favor, posso ter alguma ideia? O que nós estamos esperando? — Eu não queria falar, mas eu estava quase pronta para eles apenas me levarem e acabarem de uma vez com isso. Eu olhei para o Caspian. “Bem, talvez não esteja pronta ainda...” — Vocês não podem usar aquele negócio da mente para encontrá-lo? — Eu perguntei. — Vocês podem se comunicar telepaticamente um com o outro, certo? — Somente com os nossos parceiros. — Ela respondeu. — O que significa que eu somente posso me comunicar com o Uri, Sophie pode se comunicar com o Kame... Você entendeu. — E quanto ao negócio de dobrar a mente? O encanto para fazer se sentir bem? Isso afeta outros. Vocês não podem usar isso? Cacey balançou a cabeça. — Somente funciona com humanos. Claro, há um pouco de persuasão. Bem pouquinho, mas em grande parte é apenas a leitura da memória. — Isso não é como ler a mente? — Não. Leitura da memória. Como eu falei. — Ela pareceu incomodada. — Explique para mim. — Nós podemos entrar nas memórias. O que tenha acontecido com alguém em um tempo anterior. — Então, espera, você pode ler todas as memórias. Eu lutei muito para não me deixar corar, mas eu podia sentir o calor subindo quando os pensamentos sobre o Caspian e o quarto de hotel instantaneamente inundaram o meu cérebro.
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— Os mais recentes, principalmente. Uri é melhor do que eu em ir mais longe. E Sophie e Kame são realmente bons. É assim que nós sabíamos tanto sobre você e a Kristen. Agora, eu posso... — Ela interrompeu-se e fez força um pouco. — Ok, aqui tem um. — Ela fechou seus olhos. Eu tentei me virar. Tentei desesperadamente pensar em algo... Qualquer coisa a não ser o Caspian e o quarto de hotel... A toalha... Sem camisa... E então havia a loção. — Ah, nojento! — Ela gritou. — Não queira. Eu NÃO precisava ter visto isso! Acalme-se Abbey. Coloque uma camiseta, menino morto. Caspian pareceu confuso. — O que... — Esqueça. — Eu deixei escapar, forçando-me a pensar sobre o cachorrinho que eu vi na loja no shopping durante o Natal quando eu tinha doze anos. Ele era tão fofinho e peludinho, e eu consegui fazer carinho nele... — Obrigada! — Cacey disse imediatamente. — Obrigada, obrigada, obrigada! Este foi bem melhor. Eu encarei o chão. Meu rosto nunca iria parecer normal novamente. Eu sempre iria ter um anel vermelho de vergonha ao redor das minhas orelhas. — Entãooooooo. — Cacey disse um momento depois. — Eu estou aqui apenas para informar vocês que nós ainda estamos mantendo um olho nas coisas, então continuem calmos. Se vocês virem o Vincent, nos informem. Não aceite caronas de estranhos. Não coma doces do Halloween que não tenham vindo dos vizinhos, blá, blá, blá. Vocês conhecem todo o esquema de segurança. Entenderam? Eu olhei para ela. — Sim, nós entendemos. — Bom. — Ela se levantou. — Então, estou indo. — Ela acenou para o Caspian, e então se virou para mim. — Ah, e eu ouvi sobre este grande baile se aproximando? Só para a sua informação: Não fique surpresa se você vir eu e o Uri lá. — Ela começou a ir em direção à porta, mas parou. — Eles ainda servem Coca-Cola nestes negócios? OU eu preciso trazer a minha?
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Eu apenas ri. Eu não consegui evitar. — Eu estou entendendo isso como um não? — Ela disse. — Eu não preciso trazer a minha própria? — Não. — Eu disse por fim. — Você não precisa trazer o seu próprio refrigerante. Eles terão bebidas. — Legal. Então, divirta-se. Beba com inteligência. E use proteção. — Ela enfiou a mão no bolso de trás e retirou algo antes de jogá-lo para mim. — E por isso, quero dizer isso. Eu olhei para ele. — Um telefone? Eu já tenho um desses. — Sim, mas ele não. — Ela acenou para o Caspian. — Você conseguiu um telefone pra mim? — Ele disse numa clara surpresa. E então a suspeita cruzou seu rosto. — Por quê? — Só para no caso de você precisar entrar em contato conosco rápido e você não conseguir chegar no telefone dela, você tem o seu. Caspian e eu dividimos um olhar. Fazia bastante sentido, e eu não consegui evitar e me perguntar por que nós não havíamos pensando nisso antes. — Ah, e não se preocupe com a conta. — Cacey falou, continuando a sair pela porta. — Você está coberto pelo plano de ligações dos Fantasmas. O contrato de longo prazo, no entanto é uma droga. — Ela riu novamente enquanto ela saía da porta, e um minuto depois eu a ouvi no andar de baixo falando com a mamãe e a Sophie. Falar com a Cacey era exaustivo. Mais tarde naquela noite, Caspian e eu fomos para a casa da Cyn bem antes das nove. A Avenida Principal não era tão longe, então a gente demoraria certa de dois minutos para chegar lá. Eu estava na verdade um pouco surpresa de quão perto ela esteve este tempo todo. No caminho para lá, nós passamos pela casa do Sr. e da Sra. Maxwell, e eu notei duas coisas logo de cara. A primeira era que mesmo estando escuro lá fora, a casa deles parecia realmente escura. E... Vazia. A segunda foi à razão de ela ter essa aparência: a placa de À VENDA no quintal. Eu parei completamente no meio da rua e somente a encarei.
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— O que está acontecendo? — Caspian perguntou, parando ao meu lado. — Essa é... É... — Eu não podia nem ao menos falar. Tudo o que eu pude fazer foi apontar. — Essa não é... — A casa dos Maxwell. — Eu deixei escapar. — A casa da Kristen. À venda. — Eu fiquei parada lá, somente olhando para a placa e a casa vazia. Eu não podia acreditar. “Eles somente se levantaram e se mudaram? E quanto a Kristen? E quanto ao quarto dela?” — Isso não significa que eles não a amam mais. — Caspian disse, lendo a minha mente. — Você sabe disso, certo? — Sim, mas como eles puderam... ? Por que eles iriam... ? Eu nem mesmo sabia que eles estavam pensando em ir embora. — Eu disse suavemente. Caspian ficou lá de pé comigo em silêncio, até que eu percebi que nós iríamos nos atrasar para a sessão espírita da Cyn. — Nós deveríamos ir. — Eu disse, relutante em me mover. Caspian olhou para mim indeciso. — Você tem certeza? Nós podemos pular esta noite. — E perder toda a diversão? — Eu balancei minha cabeça com firmeza. — Não. Vamos. Porque não importava por quanto tempo eu ficasse de pé lá e desejasse que as coisas mudassem. Os Maxwell haviam tomado à decisão deles. Agora era hora de eu tomar a minha.
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Quando chegamos à casa da Cyn, a luz da varanda estava desligada e nós tivemos que ir tropeçando pelo caminho até chegar à entrada escura. A campainha estava emperrada quando nós tentamos apertá-la, e ela ficou soando e soando. Eu estava quase colocando minhas mãos sobre os ouvidos e falar para o Caspian para irmos embora, quando a porta da frente finalmente se abriu e Cyn espiou para fora. Seu cabelo selvagem vermelho e verde havia sido domado, puxado em uma juba lisa que brilhava por debaixo do chapéu de bruxa. Um delineador escuro contornava seus olhos, fazendoos parecer grandes e exóticos. Enquanto ela se movia para frente para me cumprimentar, eu vi o pequeno vestido preto que ela usava, ele era fino quase transparente. Ciúmes ergueu sua cabeça feia e eu quase desejei que tivéssemos ido para casa. Eu não queria que o Caspian conseguisse um vislumbre de qualquer parte dela debaixo daquele vestido. — Hey, Cyn. — Eu disse, movendo-me para bloquear a visão dele. Ela jogou os dois braços ao meu redor em um abraço gigante. — Estou tão feliz que você conseguiu vir, queriiiiiida. Você gostou do chapéu? — Amei. Ela gesticulou para que eu entrasse, e eu passei pela porta. Caspian seguiu rapidamente atrás, mas quando ele passou pela Cyn, eu podia jurar que os olhos dela se focaram nele por um momento. Eu segurei a minha respiração para ver o que ela iria dizer. Um barulho veio acima de nós, e depois gargalhadas. Os olhos de Cyn voaram para onde Caspian estava parado, e subiram. — O Ben está aqui. — Ela disse como explicação. — Ahhhh, entendi. Então a festa já começou. — Sim. Siga-me. Eu tentei não prestar atenção à sala enquanto nós passávamos por ela. Não que ela estava suja, ou mesmo bagunçada. Bem longe disso. Somente tinha aparência de não vivida nela. Nenhum dos móveis combinava. Sem fotos penduradas nas paredes, ou sobre a pequena TV. E não havia uma única posse pessoal à vista.
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Cyn me guiou pelas escadas, mas ela não disse nada. Eu não podia dizer se ela estava envergonhada pela maneira que sua casa parecia ou somente não se importava. Nós subimos dois lances, e então chegamos a uma porta. A porta estava anexada a mais escadas que levavam até o resto do caminho. — O sótão. — Cyn disse lentamente enquanto nós subíamos. — Cuidado com os morcegos. — Automaticamente eu abaixei minha cabeça, e ela riu. — Estou brincando. Não aparecem morcegos aqui há duas semanas. Bem, vivos, pelo menos. Eu encontrei o esqueleto em um canto, mas eu o deixei. Talvez nós fôssemos capazes de contatar o antigo dono dele esta noite. Você fala morceguês? Eu desejei poder ter pegado a mão de Caspian e segurado. Eu não queria ver nenhum morcego, vivo ou morto. Então eu senti aquela sensação de zumbido na parte de trás da minha perna, e eu olhei para ele. Ele sorriu para mim e sussurrou. — Estou aqui. Eu não vou deixar os morcegos te pegarem. Eu sorri de volta. Primeiro de Novembro, Primeiro de Novembro, Primeiro de Novembro. Eu subi um último degrau do último lance, e o quarto se abriu em um grande espaço. Algumas cadeiras estavam posicionadas em um semicírculo, mas quase todo mundo estava sentado no chão, espalhados em um tapete persa com uma panela preta de ferro no meio dele. O Ben, claro, já havia tirado seus sapatos. — Hey, garota, — Beth chamou. Ela estava sentada ao lado de um garoto que eu não reconheci, mas ele parecia um pouco mais novo que nós. “Grant?” — Ei, Beth. Ben. — Eu acenei para os dois. Cyn apontou para uma garota que eu não conhecia, sentada ao lado do Ben. — Esta é a Sarah... Da minha aula de Artes... E Mark. — Sua mão foi para um garoto encostado em uma grande cadeira de couro. Ele ergueu um dedo, e depois o baixou novamente.
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— E o Grant. — Beth entrou na conversa. — Da aula de computação. — Ela me deu um olhar, e eu sorri conscientemente. — Hey, Grant! — Eu disse. Ele era bonitinho em um estilo nerd. — Hey, Abbey! — Ele respondeu. De repente Ben fez algo que parecia como um truque de mágica e fez uma vela desaparecer, e a garota que estava ao lado dele, Sara, o encorajou ainda mais. Ele foi tentar de novo e acertou a tampa do caldeirão preto no meio do tapete. Ele caiu pesadamente no chão, e todo mundo riu. — Onde você quer que eu me sente? — Eu perguntei à Cyn, esperando que o Caspian fosse capaz de encontrar um lugar perto de mim. — Em qualquer lugar. Eu percebi que eles já estavam sentados em um círculo quase fechado, com uma abertura do outro lado da Sara. Eu sorri para ela enquanto eu fui sentar ao seu lado. Minhas costas estavam contra um apoio, mas havia espaço suficiente para o Caspian se sentar atrás de mim, o que ele fez. — O que eu devo fazer? — Ele perguntou suavemente logo que nós nos acomodamos. — Fazer coisas se mexerem? Levitar? — Eu dei-lhe um leve encolher de ombros. Eu não sabia o que mais ele poderia fazer. E eu realmente não sabia o que a Cyn já havia planejado. — Talvez eu faça as cortinas se moverem ou algo assim. Olhei para as cortinas diáfanas brancas penduradas em uma janela próxima. Então eu fiz um aceno com a cabeça quase imperceptível. Este era um bom truque. Eu não queria ninguém surtando demais. “Seja honesta. Você não sabe o que ele pode ou não pode fazer, e você não quer descobrir aqui na frente de todo mundo. E se ele tentar mover algo e não puder tocar? Você realmente quer ver isso e não ser capaz de reagir?” Eu esmaguei esse pensamento impiedosamente e colei um sorriso em meu rosto. Eu não queria pensar nisso agora. — Estamos prontos para começar? — Eu perguntei em voz alta, com uma nota de alegria forçada. — Vamos começar essa sessão espírita! Ben vaiou e tamborilou suas mãos contra o chão.
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— Sim! — Ele disse. — Vamos ver alguns fantasmas! Cyn foi até um pequeno armário e tirou algumas velas e fósforos. Em seguida, ela voltou para nós e as levantou. — Estamos usando velas vermelhas, verdes, e pretas esta noite. — Ela disse. — Vermelha para amor, porque nós queremos que os espíritos saibam que nós viemos com amor em nossos corações. Preto para o véu, porque eles terão que passar por ele para nos alcançar. E verde para proteção. Nós não queremos ninguém aqui que não é bem vindo. As velas eram passadas de uma mão para a outra, e eu acabei com uma vermelha. Cyn acendeu a primeira e, em seguida, levantou-se para apagar as luzes. Chamas vacilaram e cera escorreu enquanto nós acendíamos nossas velas com as velas dos outros. Quando a Cyn voltou, ela sentou-se do lado oposto do círculo e trouxe seus pés para frente. Eles estavam descalços. Ao lado dela estava um vaso de plantas. Ela enfiou uma mão no vaso e tirou um pouco de terra, murmurando algo para si mesma e esfregando a terra entre os seus dedos. Ela fechou seus olhos por um momento, e quando ela os abriu, ela jogou a terra no caldeirão preto que estava sobre o tapete. — Todos estão prontos? — Ela disse. Eu assenti. Foi aí então que ela notou que eu tinha uma vela vermelha. — Abbey... — Ela parou e franziu o cenho, parecia que ela estava muito concentrada. — Preta. — Ela disse de repente. — Você precisa de uma vela preta. “Ok.” Eu dividi um olhar com a Sara. O rosto dela estava ansioso. — Você. — Cyn apontou para ela. — Troque as velas. Sara obedientemente me entregou sua vela preta, e eu entreguei a minha vermelha. — Agora está melhor. — Cyn acenou. — Ok, Ben, você acende as velas no vaso? Ele se inclinou e as acendeu.
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— Nós temos uma de cada vela no vaso sagrado. — Cyn entoou. — Preta para o véu, vermelha para o amor, verde para proteção. Há também um anel de terra. — Ela parou e sussurrou. — Conhecido como barro... — E uma risadinha escapou da Sara. Cyn continuou. — Para vincular as velas juntas e agir como uma força de aterramento. Nós viemos da terra, e assim voltaremos a ela. Eu pude sentir um leve inclinar dos meus lábios enquanto eu a assistia. “Eu aposto que a Cyn nem mesmo acredita no que ela está dizendo. Ela provavelmente pegou isso do Diários do Vampiro ou algo assim.” Mas eu tinha que dar o braço a torcer. Ela definitivamente se encaixava no papel de uma antiga sacerdotisa pagã. — Agora, todo mundo feche os olhos e concentrem-se. — Ela disse. — Pense em alguém que você gostaria de conversar e repita o nome deles várias vezes em sua mente. Eu devo começar o encantamento agora. Meus olhos voaram até o Ben logo que ela disse isso, e os olhos dele encontraram os meus. “Não pense na Kristen, não pense na Kristen, não pense na Kristen”, eu mentalmente implorei para ele. Mesmo se eu desesperadamente quisesse vê-la, ou ouvi-la, eu não queria que fosse assim. Não assim. O olhar dele deslizou para longe, e eu não consegui decifrar o que ele estava pensando. “É só faz de conta”, eu falei para mim mesma. “Ela não vai realmente conseguir. Isso é só uma coisa estúpida que adolescentes estúpidos fazem. Relaxe, Abbey, Apenas relaxe.” Eu quase havia me convencido quando a Cyn começou a falar novamente. — Levante o véu, siga em frente. — Ela disse com urgência. — Levante o véu, siga em frente. Levante o véu, siga em frente. Eu te imploro. Erga o véu, siga em frente. Erga o véu, siga em frente. Erga o véu, siga em frente!
A última vez que ela falou, a voz dela se transformou em um grito a as minhas costas ficou dura e reta. Eu sentei e respirei fortemente. Cada pelo nos meus braços se ergueram, e uma sensação gelada serpenteou pela minha espinha.
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Capítulo Dezoito UMA MENSAGEM
Mas tudo isso era nada para os contos de fantasmas e aparições que se sucederam. The Legend of Sleepy Hollow
— Alguém está vindo? — Ben perguntou para Cyn, inclinando-se para ela. — Oiiiiiii. Você está com a gente? — Quem está aqui? — Sara perguntou. — Existe alguém com a gente? Alguém riu. Acho que foi Beth. — Você pode pedir para minha avó passar aqui? — Sara disse, em voz alta e ansiosamente. — Rosa White. De Boston, Massachusetts. Você pode trazê-la aqui? Ela está aqui? — Quieta, menina. — Beth murmurou. Então Grant sussurrou algo baixo para ela, e ela se virou para ele, rindo. — Eu estou canalizando... Michael Jackson. — Ben disse de repente. — Whoo! Estou sentindo a vontade... O desejo... De dançar! — Ele se levantou e fez algo que se assemelhava a um moonwalk, cantando Billie Jean o tempo todo. Beth bateu palmas para ele quando ele estava prestes a pegar seu...
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— Vocês. — Sara interrompeu. — Isso é sério. — Silêncio! Todos olhamos para Cyn. Seus olhos estavam fechados, mas ela tinha uma expressão de determinação em seu rosto. — Alguém está na porta. Tentando passar. Ela levantou a cabeça, mas manteve os olhos fechados. Quando falou novamente, havia algo diferente sobre a textura de sua voz, e ela não conseguia falar um pensamento completo. — Tem que avisar... — Ela disse. — Problemas. Vindo. Problemas. Nós todos prestamos atenção, hipnotizados, enquanto seu corpo começou a tremer. Em seguida, a cabeça caiu para frente. — Oh, merda! — Beth disse, finalmente quebrando o nosso silêncio chocado. — Ela está, assim, tendo uma convulsão ou algo assim? Eu não poderia dizer se isso era tudo parte do show, ou se algo realmente estava errado. De qualquer maneira, porém, era demais. Tinha ido muito longe. — Cyn? — Eu consegui dizer. — Cyn, você está bem? — Eu coloquei a minha vela para baixo, e no instante em que deixaram minhas mãos, a cabeça de Cyn levantou. Seus olhos abriram, e ela gritou. Um grito rouco e terrível. Nós todos engasgamos. Cyn começou a chorar. Ela cobriu o rosto com as mãos, e então, de repente, ela apontou para mim. — Você é a próxima! Você é a próxima, e ele está chegando, e é melhor ter cuidado. Ele quer você, e ele tem meios de tê-la. Você é a próxima! Você é a próxima! Você é a próxima! Eu estava congelada. Ela estava falando sobre ele. Vincent. Seria que Kristen estava tentando me alertar para longe de seu assassino? Ou era apenas Cyn brincando comigo? — Whoa, tudo bem. — Ben disse. — Eu acho que isso é suficiente, Cyn. Você está nos assustando muito bem. — Ele tentou colocar a mão em seu braço, mas ela o afastou.
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— Se você acha que aconteceu antes era ruim, é só esperar. — Ela disse. — Um pouco de sangue não é nada. — Ela chorou de novo. — Ele vai rasgar você em pedaços! Ele vai arrancar seu coração e alma da mesma forma como ele fez com o meu. Nada vai ficar em seu caminho! Cyn estendeu a mão para mim, esbarrando no caminho, o que a fez perigosamente perto de tombar. Alguém deixou cair a sua vela, que rolou pelo chão, longe do grupo. Várias cabeças viraram-se para vê-la. — Vamos, Abbey. — Caspian disse, atrás de mim, de pé. — Eu não sei o que está acontecendo, mas ela está fodidamente louca. Eu fui um pouco para trás. Aproximando-me dele, mas impotente para se afastar para mais longe. Eu estava desesperada para não ouvir o que ela estava dizendo, e ao mesmo tempo eu estava desesperada para ouvir mais. Cyn avançou. E então agarrou meu rosto. — Abbey, Abbey, você pode me ouvir? — Ela perguntou. — Kristen? — Eu sussurrei. Suficientemente baixo para que ninguém pudesse me ouvir. — Kris, é você? Ela colocou uma mão contra a minha bochecha, e de perto, vi os olhos dela. Eu teria reconhecido aqueles olhos em qualquer lugar. Eles não eram os olhos da Cyn. Eles eram de Kristen. — Sinto muito. — Ela disse com urgência. — Desculpe por isso acontecer com você. Desculpa... Por causa de mim... — Suas palavras desbotaram. — Está tudo bem, Kristen. Está tudo bem. Basta ficar. Por favor. Fique! — Minha voz se quebrou. Ela sorriu novamente. — Você era minha melhor... — Há tanta coisa que eu tenho que te dizer. — Eu respondi. — Tanta coisa que você não sabe. Tanta coisa para falar... — Eu me vi segurando suas mãos ferozmente. Seus olhos se arregalaram. — Tenha cuidado, Abbey! Tenha cuidado!
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E então, como se combinado, todas as velas se apagaram. Alguém gritou, e um surto de pânico súbito agarrou-se na sala. — Quem acabou de tocar a minha bunda? — Beth gritou. — Faça isso parar, faça parar. — Sara estava dizendo em voz baixa. Mark gritou para alguém encontrar o maldito interruptor de luz, e eu fiquei parada. As mãos de Cyn estavam frias, e ela estava completamente calma. — Eu consegui. — Ben disse. As luzes piscaram em um momento posterior. — Estão todos bem? Olhei para Cyn. Ela parecia confusa. Mas o mais importante, ela parecia... Como ela. Seus olhos eram verdes novamente. Não marrom. — Por que estou aqui? — Ela perguntou. Então ela viu nossas mãos. — Aconteceu alguma coisa? — O que você lembra? — Eu perguntei a ela rapidamente. Tranquilamente. — Qualquer coisa? Você se lembra de começar a sessão? — Não. Foi divertido? Eu não sabia o quanto lhe dizer. O que aconteceu aqui? Assim eu decidi para: — Yup. Foi muito divertido. O resto da sala estava zumbindo com uma conversa tranquila. Ninguém estava prestando atenção em nós, mas eu não podia ficar. Não era possível sentar lá e fingir que nada tinha acontecido, quando parecia como se meu interior estivesse sendo virado de cabeça para baixo. — Eu preciso ir. — Eu disse. — Eu estou ajudando... Ajudando a minha mãe hoje à noite. Com um projeto. — Você está bem? — Caspian me perguntou. — Amor, você está bem? Ficando de pé, eu rapidamente puxei minha cabeça para ele. — Então, sim. Acho que vou vê-lo na escola, então... — Eu disse para Cyn. — Obrigada por me convidar.
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Fui até a escada antes que ela pudesse dizer qualquer outra coisa, dando um rápido adeus a Beth e Ben e deixando-os para trás o mais rápido que pude. Isso parecia como se todas as terminações nervosas estivessem gritando juntas e batendo debaixo da minha pele como se eu tivesse tocado um fio e não podia se livrar da sensação. Caspian me seguiu por toda a casa. Quando consegui sair pela porta da frente, ele finalmente falou. — Que diabos foi aquilo? — Eu não sei. Eu acho que... — Fiz um gesto inarticuladamente. — Acho que foi Kristen. — Abbey.— Ele parou de andar. — Não foi ela. — Por que não? — Porque ela não está aqui. Ela está morta. Cruzei os braços. — Você está morto. E eu ainda posso vê-lo. — Isso é diferente. — Ele passou a mão pelos cabelos. — Você sabe que é diferente. — Mas era ela, Caspian. Eu sei! Os olhos de Cyn mudaram e tudo mais. Ela estava canalizando Kristen ou algo assim, e Kristen estava tentando me alertar. Sobre o Vincent. Por que você não acredita em mim? Ele suspirou. — Eu só não acho que era ela. Nós podemos concordar em discordar? O que eu estou preocupado é se você está realmente bem. — Ele se aproximou e colocou a mão perto da minha bochecha. O zumbido fraco, onde a mão teria tocado a minha pele era uma distração bem vinda. — Eu estou bem. — Eu disse suavemente. — Eu estou... Eu estou bem. Ele olhou para mim, intenção nos olhos verdes. — Então vamos para casa?
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Eu balancei a cabeça. Eu não sei se isso significava que essa conversa acabou, ou se isso significava que tínhamos discutido mais uma vez chegamos lá, mas eu não me importei. Tudo que eu queria era a segurança da minha própria cama. — Yeah. Vamos para casa. Assim que eu entrei pela porta da frente, mamãe pulou. — Onde você estava? — Ela perguntou. — Na casa de um amigo. — Eu disse, cansado. — Por quê? — Porque eu não sabia onde você estava, e eu estava preocupada com você. —Eu estou bem, mãe. — Eu cruzei para a geladeira para pegar uma maçã. — Você não pode simplesmente... — Simplesmente o que? Sair com um amigo? Eu não quebrei toque de recolher, então qual é o problema? De repente, ela se aproximou e colocou os braços em volta de mim. Pega de surpresa, eu só fiquei lá. — Você está certa. — Ela sussurrou, enquanto me apertava forte. — Eu sou apenas uma mãe que se preocupa demais. E eu me preocupo porque tenho algo importante a lhe perguntar. Tentando não deixar minha impaciência aparecer, eu disse: — O que é? — Você acha que... — Ela parou, e pausou. Em seguida, começou de novo. — Você acha que seria possível você ficar na casa de um amigo pelo fim de semana do Dia das Bruxas? Talvez Beth? Ou Cacey? — Por quê? — Eu disse, desconfiado. — Seu pai e eu gostaríamos de sair para uma mini férias. Há esse romântico B e B em Connecticut que eu estava morrendo para passar um tempo por anos, e agora é fora de temporada. Estamos recebendo um grande desconto, além de uma atualização automática.
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Ela olhou esperançosa, e eu senti alguma daquela esperança se transferindo para mim. Mamãe e papai estavam indo passar o final de semana do Dia das Bruxas fora? Isso significava que eu poderia ter todo o dia primeiro de novembro para ficar a sós com Caspian. Um Caspian palpável. Eu vou ter a chance de estar com Caspian. Aqui. Sozinha! Esse pensamento era feliz o suficiente para me fazer esquecer o que tinha acontecido na Cyn. — Sim, mãe. — Eu disse com um sorriso lento, olhando para Caspian. Ele estava sorrindo também. — Eu posso ficar na Beth. — Sério? Isso é ótimo! Estou tão feliz que deu certo para você, Abbey. Eu não queria empurrá-la muito forte com as coisas estando tão... Incerto. “Incerto” deve ser um código para a invasão. — Você e o papai totalmente merecem um fim de semana. Eu espero que você se divirta. E apreciem. — Ok, então isso foi um pouco demais. Mas..., o que for preciso para tê-los fora da casa. Ela sorriu para mim até que finalmente saí do abraço. — Okay. Eu estou indo para a cama agora. Tenho aula amanhã. — Está bem, querida. Durma bem. Vejo você na parte da manhã. — Boa noite! — Eu falei, tentando esconder o enorme sorriso cobrindo meu rosto. Eu não ia dormir bem esta noite na verdade. Essa série de acontecimentos era muito excitante. Aconteceu, que eu estava certa sobre a parte não dormir. Mas não foi por causa da excitação. Foi por causa dos pesadelos. Minha cama estava macia e mole, de um modo não natural e eu mexia, tentando encontrar um local melhor. Tentei jogar uma mão em cima da minha cabeça para reajustar meu travesseiro, mas minha mão ficou firme. Ela não se mexia. Franzindo a testa, eu olhei para ela. O quarto estava escuro demais para eu ver algo. Movendo o meu peso, eu fui virar e mudar de lado. Mas eu esbarrei em algo duro. E frio. Medo passou através de mim, e eu mexia os ombros, forçando minha mão a mover uma polegada. Ela virou para a esquerda, e bateu em algo frio e duro lá, também. Franzindo a testa novamente, tentei sentar. Tentei se concentrar. Eu não podia me mover.
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— Socorro! — Eu abri minha boca para formar a palavra, mas nenhum som saiu. Minha garganta flexionou e apertou, mas não havia voz. — Socorro! Tentei novamente. Engasguei. Mas, ainda assim, nada. — Ninguém pode te ouvir, boba. — Disse uma voz no meu ouvido. — É só você, eu e os vermes. Eu fixei meus lábios fechados quando repulsa virou meu estômago. Não é ela. Não é Kristen! — Eu estive esperando por você. — Ela disse com uma voz monótona. — Agora podemos ficar aqui por uma eternidade juntas e manter todos os nossos segredos. Todos os nossos segredos, para sempre. Eu apertei meus olhos fechados, mantendo-os bem fechado quanto pude. Isto é um sonho. Você está sonhando. Não é real. Basta abrir os olhos e você vai ver. Isto é um sonho. É tudo um sonho. De repente, havia uma luz por trás dos meus olhos fechados e quando os abri, eu podia ver uma prancha de madeira sendo levantada acima da minha cabeça. Um torrão de sujeira bateu no meu rosto, caindo perigosamente perto de minha boca, e eu podia sentir o gosto da terra. Instantaneamente um spray de sujeira derramou sobre mim, e eu estava desesperada. Rodeada por madeira, dura e fria. Acima de minha cabeça. Abaixo dos meus pés. Nos meus lados... Eu estava em um caixão. Eu não conseguia segurar o grito de medo e angústia em seguida. E desta vez o som saiu. Minhas mãos se abriram, e agarraram as bordas das minhas roupas. Meu bonito vestido vitoriano branco que eu tinha estado poupando para o dia da morte de Caspian. — Não! — Eu gritei, olhando para ele. — Não! Isso não é real! Uma sombra caiu sobre mim, e eu olhei para cima. Vincent estava ali, a cabeça escura bloqueando a luz do sol. — Como você gostaria disso? — Ele perguntou, seus dentes crescendo monstruosamente maior com cada palavra. — É a sua nova casa. Eu construí isso especial.
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—Deixe-me sair daqui! — Minha voz estava trabalhando agora, e assim como meus punhos. Bati-os nas laterais da madeira tão forte quanto eu podia. — Me.Deixe.Sair! — E deixar sua melhor amiga lá para apodrecer sozinha? — Vincent riu. — Eu não posso fazer isso. Isso seria apenas... Cruel. Seu riso encheu minha cabeça. Sua voz era tão alta que eu empurrei os dois dedos em meus ouvidos para tentar afogá-lo quando uma rosa vermelha foi jogada para baixo, em cima de mim. — Cinzas às cinzas. — Disse ele, em seguida, atirou outra. — Do pó ao pó. — Nãoooooooo. — Eu gritei novamente. — Nããão! — Isto é o que acontece. Depois.— A voz de Kristen estava de volta. — Isto é o que acontece depois que você se apaixona. — Ela disse. — Só tire isso de mim. A mão ossuda enrolou no meu pulso. Com cada fibra do meu ser, eu queria me livrar dela. Queria desesperadamente sair daquele buraco e deixar tudo para trás. Mas, em vez disso eu fiz algo pior. Eu me virei para olhá-la. Ela não era nada, exceto uma cabeça de esqueleto, sem pele e apenas globos e cabelo. Seu maxilar fez uma volta rangente e um movimento de dobradiça, e os dentes pareciam que eles estavam prontos para cair. Meu estômago se revirou. Eu ia ficar doente. — Você deveria saber. — A cabeça gargalhou. — Olhe para mim. Basta olhar para mim!
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Capítulo Dezenove TELEFONE
É uma história favorita frequentemente dita sobre o autêntico bairro do fogo noite de inverno. A Lenda de Sleepy Hollow
Eu disse a Caspian sobre o meu sonho na manhã seguinte, e ele era tão instável sobre ele como eu estava. Pensei que talvez tivesse algo a ver com o que tinha acontecido na sessão, mas eu não tinha tanta certeza. No fundo eu estava preocupada que tudo fosse uma metáfora subconsciente para eu ter medo da morte e tudo isso. Eu estava pensando sobre isso na escola no meu caminho para o quarto período, quando eu corri para Cyn. Ela estava descendo o salão oposto, e me virei para tentar outra maneira. Cyn correu para me acompanhar logo que me avistou. — Abbey espere! — Ela chamou. Eu estava tentado a ignorá-la. Eu não conseguia parar de pensar sobre esse sonho, e parecia que as nuvens escuras estavam pairando sobre mim a cada passo que eu dava. Eu realmente não estava com vontade de falar sobre o que tinha acontecido com ela e Kristen. Mas eu parei de qualquer maneira.
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— O que é isso, Cyn? — Eu disse lentamente. Ela olhou em torno de nós e me puxou para uma seção de armários vazios. — Eu queria falar com você sobre o que aconteceu na noite passada. Você está chateada comigo? Mudei meus livros de braço. — Não. Não é você. Eu estou apenas de mau humor. — É porque você escutou? — Escutei o quê? — É estúpido. — O que é isso? — Eu exigi. — O que é estúpido? Ela olhou para o chão. — Deus, eu poderia usar um cigarro. — Então, ela olhou para mim. — Estou tentando parar de fumar. Ela estava usando algum tipo de pulseiras, e elas todas foram para frente e para trás enquanto ela mexia. Foi uma explosão do som que parecia pregos em um quadro. Eu queria sacudi-la como ela parou. — Apenas me diga, Cyn. — Eu finalmente disse. — É Mark, saco. Ele contou a duas pessoas sobre o que aconteceu na sessão. O que eles sabem? O que ouve? — Disse às pessoas o quê? — Sobre as luzes se apagando. Ele disse que você se assustou e foi socorrida. Eu disse que ele era um idiota, e então eu risquei com chaves o lado de seu carro para ter certeza que ele pegou o ponto. — Obrigada?
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Eu tentei olhar sério, mas eu não podia deixar de rir. Ele estava espalhando boatos sobre eu ter medo do escuro, e queria perturbar Cyn. E eu? Era como se aquele jogo que costumava jogar na escola, por telefone. Só Deus sabia no que o rumor havia se transformado agora. E falar sobre isso era engraçado. — Por que você está rindo? — Ela perguntou. Engasguei de volta outra risadinha. — Porque... — Eu disse. — Isso não é a coisa mais estúpida que eu já escutei. Em comparação com as coisas que eles estavam dizendo sobre mim quando Kristen morreu... — Eu balancei a cabeça. — Seria preciso algo muito mais do que isso para me perturbar. — Sim, tudo bem. Que bom que você acha engraçado. — Cyn disse. — Eu acho engraçado. Mas obrigado por me contar. Eu realmente aprecio isso. Ela me olhou com um misto seu rosto. Então sua expressão ficou séria.
de
humor
e
descrença
no
— Abbey, eu disse alguma coisa para você na sessão espírita? Sobre ter cuidado? Agora era a minha vez de ficar inquieta. Eu bati calcanhar do meu sapato no chão de madeira e meu dedo do pé bateu contra a parte inferior das portas dos armários. — Eu não me lembro. Talvez. Por quê? — É este sentimento que eu tenho. Às vezes eu fico com esses... Eu não sei como descrever. Eles são apenas... Sentimentos. Mas este está me dizendo que você deve ter cuidado. Eu sei que você me avisou para tomar cuidado, mas estou pensando que talvez você deva tomar cuidado também. Ok? O segundo sinal tocou. Agora eu estava tecnicamente atrasada para a aula. — Sim, eu vou. — Eu disse despreocupadamente, me afastando dela. — Nós estamos bem? — Ela perguntou.
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— Absolutamente. Te vejo depois. Eu olhei para ela apenas uma vez enquanto me afastava. Ela ainda estava de pé entre os armários, franzindo a testa, e jogando distraidamente com as pulseiras sobre o braço dela. Eu não sabia o que estava acontecendo com ela, ou o que significava, mas de alguma forma, ou alguma maneira, Cyn tinha canalizado Kristen. Agora eu só perguntei quanto tempo levaria para que ela fosse realizá-lo. Não esperei Caspian vir me pegar depois da escola, mas voltei para casa imediatamente. Quando cheguei lá, encontrei um bilhete da mamãe dizendo que ela estaria fora à noite olhando uma nova classe imobiliária com Sophie. — Não é um problema. — Eu disse em voz alta para a nota. Eu só queria ver Caspian. Tão logo eu pensei o seu nome, parei. Onde está Caspian? Ele ainda está no meu quarto? Tomei as duas escadas de cada vez, sabendo, apenas saber, o que eu ia encontrar. Por favor, não deixe que ele esteja dormindo. Apenas que ele esteja ocupado. Desenho.Minha mochila caiu fora do meu alcance e desembarcou no chão com um baque quando o vi. Ele estava dormindo de novo, mas ele não estava na cama neste momento. Em vez disso, ele estava caído sobre a minha cadeira. O bloco e lápis estavam sobre a mesa na frente dele. Ele não parecia confortável, e seu rosto... Seu rosto era a pior parte. Ele estava contorcido em agonia, em uma careta que deve ter acontecido antes dele adormecer, e cair em local escuro. Parecia que seus sonhos haviam vindo assombrá-lo. Corri e me ajoelhei ao lado dele, colocando a mão em seu rosto. Ela passou direto sem o formigamento familiar. Eu não podia fazer nada. Não foi possível movê-lo, ou colocar seu cabelo para trás. Não poderia acordá-lo e dizer a ele que tudo vai ficar melhor. Meus dedos se atrapalharam no meu bolso, e eu encontrei o meu telefone. Eu disquei o número de Sophie e Kame, mas ela foi direto para o correio de voz. Eu desliguei e tentei novamente, mas aconteceu de novo. Finalmente decidi ligar para o único outro número Revenant que estava listado na minha de telefone. Cacey. Ela nem sequer tinha um correio de voz, apenas uma voz automatizada que repetiu o número que eu tinha discado e me disse para deixar a minha mensagem. Rosnei de frustração, eu esperei o bipe e disse:
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— Pessoal! Eu tenho tentado ligar para vocês. Essas pequenas coisas chamadas celulares não funcionam se você não pegar na outra extremidade, você sabe. Caspian está dormindo novamente... E ele não parece bem. Algum de vocês pode vir e me ajudar a levantá-lo? Me ligue, ok? Bye. Passando por cima da cama, me sentei na borda, determinada a manter uma vigília até que alguém me ligasse de volta. Mas a chamada nunca chegou. Duas horas e mais seis tentativas mais tarde, eu joguei o telefone do outro lado do quarto e comecei a pensar. Isto tem que significar algo. A sessão, o aviso de Kristen, o olhar de dor no rosto de Caspian. Algo está acontecendo. Minha cabeça latejava, provavelmente porque eu precisava jantar, mas eu não estava com fome. Depois de um longo olhar para Caspian atrás de mim, eu vaguei pelas escadas e me entupi de chá e biscoitos. Foi leve, mas fez minha cabeça parar de doer, pelo menos. Me levantando para jogar fora a caixa de biscoito vazia, eu parei quando vi o recipiente perto de recicláveis. Havia duas latas vazias colocadas em cima com a parte superior cortada, e um pensamento estranho passou pela minha cabeça. Lembrei de um jogo que costumava jogar no ensino fundamental. Telefone sem fio... O que o inferno. Eu precisava de algo para me manter ocupada. Eu peguei as latas e as lavei por fora, deixando-as completamente secas com uma toalha de papel. Então eu descasquei os rótulos e os joguei fora. Encontrei um barbante na gaveta da sucata e puxei uma faca afiada para fora do balcão. Posicionamento a faca em cima da lata, eu bati para baixo com o meu punho, e a lâmina fez um buraco irregular através. Repeti o movimento com a outra lata. Então eu tirei um longo pedaço de barbante, coloquei uma extremidade rosqueando através do buraco, e o amarrei em um grande nó. Eu deixei bastante folga e amarrei a outra ponta em um nó no furo da outra lata. Coloquei as latas embaixo do braço, voltei para cima. Eu me senti um pouco idiota quando eu cheguei lá, olhando para o meu telefone caseiro de lata, e levei alguns minutos criando coragem para usá-los. Coloquei uma das latas, entre dois livros para prendê-la ainda, eu apoiei os livros até a orelha de Caspian. Então eu puxei a corda até que ela ficou totalmente esticada, e levei a outra ponta até o meu armário. Eu estava quase fechando a porta e colocando a corda no fundo, para que eu pudesse ficar dentro. De alguma forma me fez sentir menos idiota se eu não tivesse que enfrentá-lo como eu falei em uma lata vazia de uva do monte. Eu inclinei minha cabeça para trás contra a parede.
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— Teste, teste. — Eu sussurrei. — Um, dois, três. — Não houve resposta, mas eu não esperava uma. Eu acho que principalmente o que eu estava esperando era que alguém ouvisse. — Eu não sei se isso vai funcionar. — Eu disse, coloquei a extremidade aberta da lata até a minha boca. — Este é um jogo que eu joguei uma vez na terceira série. As cordas são bem apertadas para que você possa ouvir o som e as palavras completas. Como um fio de telefone. O urso de pelúcia sentado ao meu lado me olhou com os olhos vidrados. O coloquei no meu colo e acariciei seu pelo escuro, liso. — Estou realmente com medo. — Eu sussurrei, esperando que de alguma forma Caspian pudesse me ouvir, onde quer que estivesse. — E se eu não puder fazê-lo? E se eu não for forte o suficiente? E se eu contar aos Revenants que eu... Eu não quero morrer? E se eu pedir uma segunda chance? — Lágrimas queimaram atrás dos meus cílios, mas eu me recusei a deixa-las cair. — Oh, Caspian. E o maior medo de todos. E se eu não sou forte o suficiente para estar com você? — Eu balancei a cabeça. — Eu não sei se posso fazer alguma coisa. E se eu me tornar apenas uma sombra da vida. E se você achar que eu não te amo o suficiente para querer estar com você? Abracei o urso com força contra meu peito. — Eu tenho todos esses pensamentos sempre dando voltas em minha cabeça. Eu quero estar com você. Eu quero isso mais do que tudo. Então, como ainda pode haver uma parte de mim que não? Como pode ainda existir uma parte de mim que quer agarrar? Que quer coisas... Outras coisas. Como minha loja. — Fechei os olhos e me calei por um minuto. Senti-me como se eu estivesse o traindo de alguma forma. Ao confessar tudo isso, eu estava expondo todos os meus segredos e medos interiores. Foi embaraçoso. E esmagador. — Eu ainda quero que você, embora. — Eu disse. — Mas por que eu tenho que escolher? Tudo o que eu quero, sempre vem com um preço. Eu devo estar feliz que eu posso estar com você. E ainda assim eu quero... — Coloquei a lata para baixo. A puxando para longe de meus lábios. Eu não poderia dizer a ele que eu realmente o queria vivo, e Kristen viva, e Vincent Drake fora dos Revenants, sem imagem e não mais por aí. Pensei em como fazer um backup para o meu adeus, eu sussurrei. — Tudo o que eu quero é que você saiba que eu te amo. E eu espero que eu seja forte o suficiente para você. E eu queria que você pudesse ouvir estas palavras...
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Caspian finalmente acordou dois dias depois, na sexta-feira, e eu estava doente de preocupação sobre ele estar o tempo todo dormindo. Cacey tinha finalmente me ligado de volta, mas eu não tinha atendido o telefone, e ela não deixou uma mensagem. Ele não podia se lembrar de quanto tempo ele tinha perdido, e isso me assustou. Nós realmente não falamos sobre isso, no entanto. O que mais havia para dizer? No caminho para a escola de manhã, tomei um lado rápido desviando pelo cemitério, e Caspian fora comigo. A sepultura de Kristen estava apenas a um pé de distância, mas eu senti apreensão, me enchendo enquanto eu me aproximava. Esta noite seria uma grande noite. Lentamente, eu pisei até o túmulo de pedra. — Hey, Kris.— Eu afastei algumas folhas mortas espalhadas em cima. — Esta noite é a bola oca. — Fazia frio aqui fora e eu coloquei minhas mãos em meu bolsos. — Eu estou indo com Ben. Espero que.. Eu espero que esteja tudo bem. — Um sentimento estranho, espinhoso correu atrás do meu couro cabeludo, e eu olhei. Em pé na minha frente, na extremidade ao lado do cemitério, havia um homem mais velho com um terno branco, olhando para mim. Eu olhava, e olhei para trás, certa que eu o vi em algum lugar antes. Ele parecia tão familiar. Mas a memória não viria para mim. — Eu tenho que chegar à escola. — sussurrei para Kristen. — Eu só queria que você soubesse que eu estarei pensando em você. Sinto saudades de você. E eu te amo. Eu coloquei minha mão sobre o topo da pedra, mas quando eu olhei para cima novamente, o homem tinha ido embora.
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Capítulo Vinte O BAILE HOLLOW
Foi durante a noite que Ichabod chegou ao castelo de Heer Van Tassel, que ele encontrou aglomerado com o orgulho e a flor do país adjacente. The Legend of Sleepy Hollow
Fiz planos de última hora com Beth e Ben para o baile Hollow logo após o sinal tocar para o último período. —Estamos pegando a limusine às sete ou sete e meia noite? — Ben perguntou. — Eu tenho que deixar o motorista saber. — Sete e meia. — Eu respondi. Beth balançou a cabeça concordando. — Seu vestido é vermelho, certo?— Ben disse. — Como é que você... — Eu disse a ele. — Beth disse. — Sim, é vermelho. — Ela confirmou. — Eu vou ficar com uma gravata vermelha, então, e eu estarei lá por volta das sete e meia para buscá-la. Eu vou estar vestindo meu terno sexy. — Ben balançou as sobrancelhas para nós antes de virar para ir embora. Beth riu, e eu revirei os olhos para ele. Mas eu não podia evitar um pequeno sorriso também.
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— Você vai ao salão de beleza comigo? — Beth perguntou logo que ele tinha ido embora. — Minha tia trabalha lá e ela faz cabelo e maquiagem. Eu posso totalmente levá-la a encaixá-la. — Sim, com certeza, eu acho. — De cabelo, maquiagem, vestido... Tudo parecia como um processo a percorrer. Beth gritou. — Ótimo! Solte seus livros, então, e vamos, menina! O tempo está passando, e nós temos que estar bonitas. Caspian estava longe de ser encontrado quando eu fiz meu caminho até o meu armário, assim eu mandei-lhe uma rápida mensagem : “cabelo com Beth.” Alguns segundos depois, seu texto veio: “Ok, se divirta.” Virei-me para Beth com um sorriso forçado. “Isso será divertido”, eu disse a mim mesma quando nós dirigimos ao ar livre. “Basta ir e se divertir com sua amiga.” Eu tentei manter os meus pensamentos e minha expressão felizes enquanto dirigimos para o salão. Mas mesmo com o riso alto de todas as outras meninas em torno de nós se preparando, eu não conseguia parar de pensar no que era isso. Esta era a última chance que eu ia ter para passar o tempo com Beth e Ben. Os Revs não ficariam ao redor todo esse tempo, se não fosse em breve. O dia que eu supostamente morreria estava quase aqui. Quando cílios postiços foram aplicados às minhas pálpebras, e minhas unhas foram polidas, aparadas, e pintadas, tornou-se cada vez mais difícil manter o sorriso no meu rosto. — Cabelo para cima, ou para baixo? — Tia da Beth, Lucinda, perguntou. Eu não respondi rápido o suficiente, e Beth cutucou meu braço. — O que você acha? — Eu perguntei a ela. — Se você quer sexy, eu sugiro para acima. — Seu sorriso virou travesso. — E se o encontro estiver indo muito bem, você sempre pode soltálo mais tarde. — O que tal metade acima, metade para baixo? — Eu disse. Eu realmente não queria ser sexy para Ben. Isso só parecia... Estranho. — Poderíamos puxar um lado para trás e talvez colocar uma flor?
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— Oooh, uma rosa vermelha. Sim, é isso. — Lucinda disse. — Com sua cor vai ficar bonito. Beth estava na cadeira mais próxima, com o cabelo escuro sendo empilhado e conversando com o braço direito de Lucinda sobre Grant. — Legal! — ela disse, parando para me olhar quando Lucinda começou a trabalhar. — Boa escolha. —Obrigada! — Eu sorri de volta para ela. Quando estávamos finalmente prontas, Beth me deixou em casa. Caspian estava lá em cima, sentado na minha cadeira. Ele estava lendo um livro, por isso entrei no meu quarto em silêncio para não perturbá-lo. — Hey, Astrid! — Ele disse. Meu nome especial fez meu coração pular, e eu fui até ele. Mesmo após todo esse tempo, meu primeiro instinto quando o vi foi tentar colocar meus braços em torno dele. — Oi! — Eu respondi timidamente. Ele olhou para mim. — Você está linda! — Obrigada! — Minhas bochechas estavam em chamas. — Esta noite é a grande noite, hein? — Sim. — Você vai ter cuidado? — Eu vou. Cacey disse que ela e Uri vão estar lá, então não se preocupe com Vincent. Além disso, eu não acho que ele iria tentar nada. Muito público. Ele parece preferir ficar sozinho, quando ele me aterroriza. Ele se levantou e aproximou-se. — Tenha cuidado com Ben, também. — Seu tom era meio brincando, meio sério, mas ainda estava lá. — Eu sei que eu sou o único que te empurrou para isso, mas você ainda é minha garota.
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Eu fiquei lá por um tempo, apenas olhando para ele, tentando transmitir o que eu estava sentindo sem palavras. Eventualmente, ele limpou a garganta e deu um passo para longe. — Eu não quero interrompê-la. Você provavelmente deveria estar se arrumando. — Está bem. — Eu disse, lamentando a perda de sua proximidade. — Você se importa se eu ficar aqui em cima? — Ele perguntou baixinho, não encontrando meus olhos. — Eu acho que não posso ver você. Toda arrumada... E outras coisas. Para ele. — Não, não, tudo bem. Eu não quero que isso seja estranho. Na verdade, eu vou me vestir lá embaixo. Mais espaço... Lá em baixo. Tem certeza de que está ok com isso? Ele balançou a cabeça. — Claro. Eu gosto de Ben. Ele é um cara legal. Fui até o armário e coloquei o vestido branco vitoriano por trás do vestido vermelho na mala de roupas. Eu queria surpreender Caspian com isso, eu poderia colocá-lo lá baixo quando chegasse em casa. Uma apertada bola de nervos surgiu no meu estômago. Hoje à noite, à meia-noite, vai ser oficialmente o primeiro dia de novembro. O Dia da morte de Caspian. Eu estava pronta, e ainda não tão pronta. E se ele não gostasse do vestido branco? E se ele achasse que era muito antiquado, ou odiasse o jeito que ficaria em mim? E se... Não mais e se. Uma coisa de cada vez. Baile Hollow agora. Esta noite Caspian. Apenas passar pelo baile Hollow com Ben primeiro. Pendurando o vestido por cima do meu braço, eu cutuquei a porta aberta do armário e peguei uns sapatos pretos de tiras. — Eu acho que eu vou te ver quando eu voltar, então? — Eu disse a Caspian, e fiz a minha saída. Ele balançou a cabeça.
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— Mamãe e papai estão fora para o fim de semana à noite. Eles estarão fora até à tarde de segunda-feira, então... — Minha garganta estava apertada, e eu não queria começar a chorar e arruinar todo o trabalho duro de Lucinda. — Eu desejava estar indo com você. — Eu disse suavemente. — Eu vou sentir sua falta. Caspian balançou a cabeça novamente, e com um último olhar atrás de mim, eu saí pela porta. Deixando o meu namorado morto para trás para que eu pudesse ir ao baile com outra pessoa. Tudo porque ele queria que eu fosse. Mamãe estava fora de si pela emoção quando eu desci as escadas para me vestir, e manteve uma verificação a cada cinco segundos. Após a quarta interrupção eu lhe disse: — Apenas pare. Calma! Se eu precisar de alguma coisa, eu vou chamá-la. Mas ela tinha a câmera pronta quando eu finalmente saí do banheiro, e imediatamente começou a tirar fotos. — Mãe, eu não estou ainda completamente vestida, no entanto... — Eu disse. — Eu preciso colocar meus sapatos. — Eu sei, mas... — Click — Este é um momento tão emocionante e eu... — Click — Quero ter a certeza que eu tenho fotos de tudo. — Click. Ignorando-a, eu fui para o sofá e sentei para calçar os sapatos. Mas o meu vestido era muito apertado para dobrar, e eu me mantive contorcendo em ângulos esquisitos. — Ei, mamãe, eu acho que preciso de alguma ajuda agora. Ela veio por cima. — Eu estou aqui. Eu vou cuidar disso. Enfiei o pé no sapato, usando a ponta do sofá para equilibrar, e minha mãe afivelou-o. Então o outro. Papai entrou na sala, logo que ela acabou, e assobiou. — Olhe você querida, linda! — Mamãe agarrou e puxou-o ao meu lado para tirar algumas fotos enquanto eu olhei para o relógio. Eu ainda tinha mais quinze minutos antes de Ben estar aqui.
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—Tudo bem mãe. — Eu disse entre os dentes. — Vamos tirar algumas fotos. Ela colocou eu e papai em frente à lareira, ao lado da janela, em frente à geladeira. Então ela queria algumas fotos dela comigo. Ficamos na frente do espelho do banheiro, em frente a um vaso de flores, em frente dos degraus... Eu nunca fui tão feliz em ouvir uma buzina. Ben estava adiantado. Por um minuto. — Oooh, bom. Ele está aqui! Agora eu posso tirar algumas fotos de vocês dois! — Mamãe gritou. Olhei para meu pai. — Não se preocupe. — Ele sussurrou. — Estamos indo às sete e cinquenta, então não haverá muito mais disso. — Sim, obrigado, pai! — Eu disse. — Já temos muito disso. Mamãe correu para abrir a porta quando Ben bateu nela, e ele estava lá com um olhar tímido no rosto. Uma dúzia de rosas brancas estava em suas mãos. — Venha! — Mamãe disse. — Você está lindo! Ben estava em um terno cinza-escuro com uma gravata vermelha, e eu tive que admitir, ele parecia muito bem. Era definitivamente um terno sexy. Ele entrou em casa. — Desde que você disse sem buquê, Abbey, eu te trouxe isso. — Ele segurou as flores para mim, e eu as peguei. — Eu posso? — Ele perguntou, puxando uma das rosas livre. Eu balancei a cabeça, e ele virou-se e entregou-a a mamãe. — Isto é para você. — Oh, bem... Eu... Eu... — Mamãe estava dez tons mais vermelha, mas parecia em êxtase. — Awww, você não é simplesmente adorável? — Eu disse a Ben. Ele sorriu. — Deixe-me tirar algumas fotos! — Mamãe disse, tirando as rosas de mim. — Eu só vou colocá-las na cozinha. — Antes que eu pudesse apressar Ben para fora da porta, ela estava de volta. — Okay. Vamos tirar umas aqui.
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Ela dirigiu-nos para ficar na frente da lareira e nas escadas. Ben não teve nenhum problema, apenas sorriu para tudo isso. Tiramos fotos fora, na frente da casa, nos degraus... Até que finalmente eu disse a minha mãe que precisava ir pegar Beth e seu encontro. Mamãe começou a obter todas as lágrimas, e foi quando começou a me abraçar. — Divirta-se. — Ela disse. — Fique bem. Esteja segura e tudo isso. — Ela se agarrou a mim, e eu abracei-lhe de volta. — Sim, está bem, mãe. — Seu pai e eu estamos saindo hoje à noite e estaremos de volta segunda-feira. — Ela disse. — Eu deixei algum dinheiro extra na mesa da sala de jantar. Não se esqueça de levá-lo com você. Você vai ficar com Beth ou Cacey? — Eu vou ficar na Beth. Eu fiz uma nota mental para dizer a Beth sobre a nossa festa do pijama neste fim de semana de modo que se a mamãe ligasse, ela saberia o que dizer. — Tudo vai ficar bem mamãe. Vocês se divirtam muito, ok? Eu te amo. — Eu sussurrei para ela. Ben ofereceu-me o braço. — Adeus, Sr. e Sra. Browning. — Ele disse. — Eu vou cuidar bem dela. — Eu aposto que você vai. — Eu disse, e bufei. Mas ele apenas sorriu para mim novamente. Pisando com cuidado, desci o caminho para a frente da limusine Hummer esperando, enquanto mamãe e papai acenavam um adeus. Quando a porta do carro estava fechando, olhei para cima. Nós estamos alinhados com o meu quarto, e eu podia ver Caspian olhando pela janela. Algo úmido escorria no meu rosto, e eu escovei-a fora. Olhando para o meu dedo, eu vi que era uma lágrima. Apressadamente enxuguei os cantos dos meus olhos, eu disse a mim mesma para parar. Eu estaria de volta em um par de horas e tudo ficaria bem. Eu ia ver Caspian então. Mas meu coração ainda doía quando fomos embora.
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Quando nós chegamos a Beth, ela estava lá fora, rindo e posando para fotos com Grant. — Eu pensei que ela ia com o cara da aula de computador? — Ben disse, olhando para fora das janelas coloridas. — Parece isso. — Hey, Abbey. — Ele disse de repente. — Você sabe sobre a sessão de Cyn na outra noite? — Sua voz era baixa. — Eu pensei que talvez você gostaria de falar com Kristen. Se você tivesse a chance. Mas estou feliz que você não disse nada. Isso não se parecia bem com todo mundo lá, você sabe? Eu estava meio que surpresa que ele estava falando sobre isso. E surpresa que ele sentia o mesmo. — Eu pensei a mesma coisa sobre você, também. — Eu respondi. — Que você poderia querer falar com ela. Eu estava realmente contente que... Não surgiu. — Eu acho que ela teria gostado do fato de que estamos aqui juntos. — Ele disse. — Eu também. — Eu disse lentamente. — Eu também. — Eu ainda sonho com ela. — Ele disse em voz baixa, um olhar distante em seus olhos. — Eu não sei o que isso significa, mas eu acho que é uma coisa boa. — Então ele balançou a cabeça. — Hey, chega disso. Vamos pegar os dois últimos membros do nosso partido e nos divertir. O que você acha? — Vamos fazer isso! — Eu lhe dei um grande sorriso, tentando empurrar Kristen fora da minha mente. Tentando afastar o fato de que Ben estava sonhando com ela, enquanto eu, a melhor amiga dela, só tinha pesadelos. Chegamos no baile Hollow às oito e quinze, e o hall de recepção estava lindo, feito em azul-claro, branco, e decorações em prata. Você nunca poderia ter imaginado que normalmente era um centro de convenções. Beth parecia surpreendente em seu vestido preto, e Grant era adorável e engraçado. Entre ele e Ben, nenhuma de nós podíamos andar mais de cinco minutos sem rir.
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Tive um vislumbre de Uri uma vez, segurando uma lata de Coca-Cola na mão, e ele me deu um breve aceno. Eu sorri de volta para ele, antes de recuperar o atraso com Beth e Grant novamente. A única coisa que faltava era Cyn, e eu percebi que eu realmente estava sentindo falta dela. — Hey. — Eu disse a Beth entre as músicas. — Você sabe onde Cyn está? Será que ela vem? Beth balançou a cabeça para um lado, com os braços acima de sua cabeça quando um som ritmado começou. — Não a tenho visto. — Oh. — Lancei outro olhar ao redor. — Vou verificar lá fora. Ver se ela está fumando. Beth balançou a cabeça, mal notando quando eu saí. Ela parecia estar tendo uma tonelada de diversão com Grant. Parecia que ela tinha feito a escolha certa. O ar fresco a noite bateu em todas as partes mais expostas deixadas para trás pelo material acanhado do meu vestido quando eu pisei fora, e estremeci. Parecia que ninguém estava lá fora. Pensei em ligar para Caspian. Para ver o que estava fazendo, e ver se ele estava sentindo minha falta tanto quanto eu estava sentindo falta dele. Era quase como se eu tivesse sido dividida em dois. Uma parte de mim estava tendo um grande momento de estar aqui com Ben e ver Beth tão feliz, recebendo esta oportunidade de ter esse tempo com meus amigos era mais do que eu jamais poderia ter esperado. Mas a outra parte de mim ansiava por estar em casa com Caspian. Para esperar que o relógio desse meia-noite. Uma voz vinda do beco ao lado chamou minha atenção, e eu vi uma menina em um vestido rosa tentando praticamente subir em cima de um menino de pé ao lado dela. O rapaz moveu-se, distanciando-se, e eu vi um clarão de cinza. Ben? — Ginger, não. Estou aqui com outra pessoa. Suas palavras confirmaram que era ele, e eu tentei recuar para as sombras. Se eu pudesse vê-los, eles provavelmente poderiam me ver. E eu não queria isso.
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— Mas você não quer? — Sua voz arrastada bêbada. — Eu estive esperando a noite toda por você. Venha aqui. Apenas me dê um beijo... — Ginger. Estou falando sério. Eu disse... Eu me mudei para fora das sombras então. — Ben? — Eu chamei. — Ben, eu estava procurando por você. Você me prometeu a próxima dança. — Fui até ele, e a menina, Ginger, estava praticamente caindo fora de seu vestido. Seu cabelo e maquiagem horrível. Eu tive uma breve pontada de compaixão por ela. — Ele é meu, vaca. — Ela disse, movendo-se desajeitadamente em minha direção e tentando ficar em pé. — Vá achar o seu próprio homem em outro lugar, ho... Compaixão? Sumiu. Ben a moveu levemente para o lado. —Ela está certa, Ginger. Você vai ficar bem aqui fora? — Você está me deixando? Deixando tudo isso? — Ela olhou indignado, mas ainda assim conseguiu jogar seu cabelo. — Ótimo. O que seja. Tchau. Voltando a cambalear desajeitadamente de volta para a porta da frente, ela deixou Ben e eu ali de pé. Eu consegui esperar, trinta segundos inteiros antes de estourar em risadas. — Você sabe como escolher, Ben. — Eu disse. — Outra ex? — Infelizmente. — Ele respondeu. — Pronta para outra dança? — Se você puder lidar com tudo isso. — Eu disse com um suspiro de riso.
Voltamos para dentro, onde o DJ estava anunciando que a próxima música era para as senhoras. Eu me virei para Ben. — Você está pronto para outra dança, homem sexy? — Ele tirou a poeira imaginária fora do colarinho de seu terno, e fez uma jogada boba com as mãos.
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— Eu nasci pronto. Tomei a sua mão estendida e seguiu-o até uma clareira na pista de dança. Ben colocou os braços em volta da minha cintura, e eu abracei seu pescoço. A introdução lenta já tinha começado a tocar, e o espaço que nos rodeava rapidamente preencheu com o esmagamento de corpos ansiosos. Eu coloquei minha cabeça em seu ombro e fechei os olhos. Ben era um cara bom, um cara muito bom, mas ele não era o único para mim. E nós dois sabíamos disso. Eu levantei minha cabeça depois de alguns segundos de movimento para frente e para trás, e olhei para ele. — Você sabe, você realmente é uma ótima pessoa, Ben. — Eu disse. — Eu não sei se eu já lhe disse isso, mas você é. Ele olhou para baixo. — Obrigado, Abbey! Você é ótima também. — Estou muito contente por ter tido a oportunidade de conhecê-lo melhor. — Eu disse. — E para que conste, eu acho que você e Kristen teriam feito um grande casal. Eu desejo que você pudesse ter tido isso. — Eu também. — Ele disse em voz baixa, e eu coloquei minha cabeça para trás em seu ombro. Estávamos quase no final da canção quando uma melancolia súbita me encheu. Tristeza, clara e marcante, veio sobre mim, e não era apenas a música lenta ou as letras suaves. De alguma forma eu sabia que esta era a última vez que eu veria Ben. Eu diminuí meus movimentos, e cheguei a um impasse, movendo minhas mãos de seu pescoço para os braços. — Ben... — Eu disse com urgência — eu quero que você tenha o melhor de tudo. Tudo que a vida tem para oferecer. A melhor escola, o melhor trabalho, a melhor casa, a melhor esposa, os melhores filhos, a melhor família... Faça-se feliz, ok? Ele olhou para baixo. Eu estava segurando as mangas de seu terno. — Ok, Abbey. Mas não é um pouco cedo para isso? Quer dizer, a formatura não é por mais seis meses.
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— Eu sei. Mas eu só quero... Apenas seja feliz. Eu só quero que você seja feliz. Ele me deu um olhar estranho. — Vamos guardar os desejos de bem... Uma Beth com os olhos marejados de repente abriu caminho através da multidão e nos interrompeu. Imediatamente parei e estendi a mão para ela. — O que há de errado? — Eu perguntei sobre o ruído. — O que aconteceu? Você está bem? — É Grant. Eu nunca deveria ter trazido ele! Eu a puxei para o lado da pista de dança, e Ben nos seguiu. — O que aconteceu? — Ele perguntou. — Algo com Grant. — Eu gritei por cima da música. Pensando que seria um pouco mais quieto longe do palco principal, deixei Ben para trás e arrastei Beth para uma mesa. Coloquei meus braços ao redor dela enquanto ela tentava parar de chorar. Sacudindo os ombros tristemente. — O que aconteceu, querida? — Eu disse. —Você pode me dizer? — Ele é um babaca. — Ela disse. — Ele estava ficando com essa menina bêbada lá fora. Fui encontrar você, e encontrei-o em seu lugar. — Ela explodiu em soluços novamente. — Eu nunca deveria ter escolhido ele ao invés de Lewis! Ben veio bem a tempo de ouvir a última parte. — Eu vou encontrá-lo. — Ele disse, em um tom ameaçador. — Eu estou bem, estou bem. — Beth disse de repente. Empurrandose longe de mim, ela se levantou e ajeitou o cabelo. — Eu não preciso dele. Eu vou ligar para Lewis. Antes que eu tivesse a chance de pará-la, ela estava tirando seu telefone de sua bolsa. Ela se afastou de mim, e eu podia ouvi-la falar. Um minuto depois, ela voltou e desligou o telefone. — Ótimo. Lewis não pode vir. Ele está em casa com seu irmão doente e não pode deixá-lo.
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Ela parecia tão miserável que eu queria fazer o que fosse para fazer tudo melhorar. Olhei para Ben. — Você pode chamar a companhia de limusine? — Sim, com certeza. — Ele pegou seu telefone. — Ligando. Após dez minutos de espera, Ben finalmente falou com alguém e fez arranjos para o motorista da limusine voltar cedo. — Vamos todos embora agora. — Eu disse. Então olhei para Ben. — A menos que você queira ficar? — Eu não posso permitir que vocês deixem o seu baile cedo por causa de mim. — Beth protestou. — Eu vou ficar bem. Eu posso só pegar uma carona de volta por conta própria. Eu compartilhei um olhar com Ben. — Eu vou com ela. — Ele disse automaticamente. Beth começou a protestar novamente, mas eu não iria deixá-la. — Pelo menos você fica, então, Abbey. — Ela disse. — Para que Ben possa voltar e vocês podem se divertir. — Não. Eu... — Por favor? — Ela parecia com o coração partido, e eu não pude evitar, exceto ceder. —Ok. Certo. O que seja. — Ok, bom. — Ela enxugou as lágrimas do rosto. O telefone de Ben vibrou, e ele olhou para ela. — É a companhia de limusine. Eles estão aqui. — Você tem certeza que está bem? — Eu perguntei a Beth de novo. — Estou um pouco envergonhada, mas eu estou bem. — Ela disse. — Você fica aqui. Divirta-se. — Ela me deu um olhar duro, e de repente me abraçou. — Cuide de si mesma, Abbey. — Ela disse calmamente. —Tudo bem?
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— Sim, está bem. — Eu me afastei dela. Era uma coisa estranha para ela dizer, mas ela já estava voltando-se para Ben. — Pronto? Ele estendeu o braço, e ela aceitou. — Tente não se aproveitar dela hoje à noite, ok, Ben? — Eu disse com um sorriso, observando-os ir. — Não faça nada que eu não faria. — Eu vou ser um absoluto cavalheiro. — Ben falou de volta, com uma piscadela malandra. — Vejo você em uma hora. Beth acenou para mim, e eles desapareceram através das portas. Eu ainda estava na pista de dança quando a próxima música começou a tocar. Em poucos segundos do My Chemical Romance - The Ghost of You estava tocando. Eu fiquei lá, o baixo crescimento mais alto, a batida crescendo mais forte. As letras eram assombração, e ecoaram em meus ouvidos quando meus olhos se fecharam. A música tomou conta, e eu me vi balançando no tempo da música que eu cantava junto. — No fim do mundo, ou a última coisa que vejo... Você, nunca está chegando em casa, nunca voltando para casa... Nunca voltando para casa, nunca voltando para casa. Foi então que eu percebi que estava chorando. Passando ambas as mãos em meu rosto, eu esfregava as lágrimas, e pedaços de minha maquiagem, antes de voltar para a mesa onde minha bolsa estava esperando. Eu queria ir para casa. Caspian estava lá enquanto eu estava aqui, e era quase... Eu olhei para meu telefone. Quase meia-noite. Eu fiz uma rápida olhada em volta de mim, mas eu não vi Cacey ou Uri para perguntar se eles poderiam me dar uma carona, e eu não estava prestes a ficar esperando. Eu não sabia quanto tempo Beth e Ben demorariam. Talvez eu possa andar. Coloquei o meu telefone de volta na minha bolsa, eu estava puxando a minha mão para longe dele quando de repente tocou. Eu não reconheci o número. — Olá? — Abbey? Hey, é Cyn. Eu sei que isso é meio estranho, mas... Você estava indo me chamar?
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Um sentimento assustador apareceu na parte de trás do meu pescoço. Eu ri fracamente. — Você está me perseguindo, Cyn? Eu só estava tentando ver quem eu poderia chamar. Eu preciso de uma carona do Baile para casa. — Vou explicar tudo quando eu chegar lá. — Ela disse. — Espere lá fora. Enquanto eu esperava por Cyn, eu escrevi uma mensagem para Ben que eu estava pegando uma carona diferente para casa, e ela parou em um Audi prata cerca de cinco minutos depois. — Carro novo? — Eu perguntei, uma sobrancelha erguida. — Caramba, Cyn. Você estava escondendo de mim. Ela abriu o lado do passageiro. — Não é meu. Eu... Emprestado. Para a noite. Eu escalei dentro. O interior era todo de couro preto brilhante e painéis cromados. Ela ligou o motor, rindo quando eu freneticamente agarrei o cinto de segurança. — Você realmente tem uma queda por carros, hein? — Eu disse. — Você não sabe da missa a metade. É uma espécie de hobby meu. Enfiei a mão sobre o painel liso na frente de mim com admiração. — Sério, Cyn. Onde você conseguiu isso? É alugado? — Não. Não é alugado. Eu te disse, eu peguei emprestado. O jeito que ela disse emprestado me fez sentir instável. — Nós não vamos ser paradas porque estamos andando em um carro roubado, não é? — Eu disse a sério. — Eu realmente não preciso disso agora. — Não haverá qualquer polícia. Eu atirei-lhe um olhar. — Confie em mim. — Ela disse. — Eu faço esse tipo de coisa o tempo todo.
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— Você rouba carros o tempo todo? — Eu sabia que minha mandíbula estava entreaberta. — Não roubar. Ok, tecnicamente, roubar. Mas eu vejo isso mais como empréstimos. Eu sempre devolvo na parte da manhã. E eles nunca sabem. — Eles nunca sabem? Você não seria amiga de Kame, não é? Ou Sophie? Que tal Cacey e Uri? — Quem? — Ela franziu a testa, e eu tentei ler o rosto. Tentei ver se ela estava de sacanagem comigo. — Eu não conheço nenhuma dessas pessoas. Olhei para ela de perto. — Honestamente. Eu realmente, realmente não... — Ela disse. — Então, o que quer dizer, “eles nunca sabem?” Ela encolheu os ombros. — É uma espécie de dom que eu tenho. Eu digo a alguém que eu quero emprestar seu carro, e eles dão para mim. Então eu digo a eles que eu vou devolvê-lo na parte da manhã, e eles não me lembram de nada. É apenas um tipo de... Trabalho. Minha vida estava ficando inteiramente muito complicada para uma nova peça de informação. — Você está lançando algum tipo de feitiço sobre eles? — Eu brinquei. Ela olhou para mim. — Se eu disser que sim, o que você acha? — Honestamente? — Olhei pela janela antes de responder. Estávamos quase na minha casa. — Estou surpreendentemente de mente aberta. — Eu realmente não sei se é isso que ele é. — Confessou. — A magia, ou o que quer que seja. Tudo o que sei é que eu tenho estes sentimentos. Como hoje à noite, de ligar para você. Isso, e o fato de que as plantas parecem gostar de mim. Talvez eu seja um pouco bruxa.
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Minha casa entrou em visão, e eu estava completamente aliviada. Normalmente eu teria ficado feliz por ficar e conversar com ela sobre a coisa louca acontecendo, mas agora tudo que eu conseguia pensar era Caspian. Ela parou na calçada e desligou o carro. Coloquei uma mão na maçaneta. — Se você quiser falar sobre isso mais tarde, basta me chamar. Eu iria ficar agora, mas eu tenho... Outra coisa que precisa ser cuidada. Ela olhou para a casa. Estava escuro, exceto por uma única luz na cozinha, e então ela balançou a cabeça. Abri a porta e saí do carro. — Obrigada pela carona, Cyn! — Voltei a dizer. Ela piscou para mim. — Divirta-se, Abbey. Fiquei ali de pé com o que deve ter sido um olhar confuso no meu rosto enquanto ela se afastava. Será que ela sabe sobre Caspian? Não há maneira... Eu inclinei meus ombros e virei para a casa. Algo me disse que, mesmo que Cyn fizesse uma ideia do que estava acontecendo, ela não ia contar a ninguém. Pelo menos não tão cedo. Olhei para o meu telefone novamente, sentindo uma pitada de nervoso no meu estômago. Era 00:13 do dia 01 de novembro. Dia da morte de Caspian.
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Capítulo Vinte e Um PRIMEIRO DIA SE NOVEMBRO
Quando ele entrou na casa, a conquista de seu coração era completa. The Legend of Sleepy Hollow
Minhas
pernas estavam trêmulas enquanto eu caminhava até a porta da frente, e eu exalava. Eu coloquei uma mão na maçaneta da porta, virei devagar e, em seguida, empurrei a porta aberta. Uma trilha de pétalas de rosas vermelhas me cumprimentou, liderando o caminho do outro lado da sala e para a cozinha. Eu segui-o e encontrei um pedaço de papel que dizia: “Astrid, venha me encontrar lá em cima.” Coloquei a bolsa no balcão, tirei meus sapatos, então fui até o banheiro do térreo. Meu vestido branco estava pendurado na parte de trás da porta. Por favor, deixe que ele goste de mim nele... Tomei uma respiração profunda, soltei parte de trás do meu vestido vermelho e deu um jeito para sair dele, tropeçando por toda a borda da banheira. Puxei para baixo o vestido branco e gentilmente removi sua capa de plástico. O tecido sedoso sussurrou na minha pele quando eu pisei nele, e eu poderia quase ouvir os suaves suspiros de outro tempo e lugar. De outra mulher, que tinha usado esse vestido antes de mim, para ir ao encontro do homem que amava antes que ele fosse retirado dela para sempre. O corpete levou algum tempo extra para fechar porque minhas mãos tremiam, mas, finalmente, finalmente eu estava pronta.
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Eu me virei e olhei no espelho, um pouco atordoada novamente pelo meu decote milagroso. O vestido era tão bonito quanto na primeira vez que eu provei. Ele era como se tivesse sido feito para mim. Minha maquiagem, no entanto, não estava mais bonita. Tirei os cílios postiços que eu estava usando, e lavei as manchas de rímel sob cada olho. Felizmente, eu tinha um saco de cosméticos sob o balcão, assim fui capaz de retocar o meu blush e brilho labial. Eu não queria exagerar demais. Não parecia certo neste vestido. Eu debati se deveria ou não soltar o meu cabelo, mas decidi deixá-lo para cima. Caspian quase nunca me viu usá-lo dessa maneira e eu queria fazer uma surpresa para ele. Eu tirei a rosa que Ben tinha me dado, entretanto, e coloquei-a na pia. Com um olhar final, saí do banheiro e comecei lentamente a subir as escadas. Eu podia sentir o padrão do carpete do corredor debaixo dos meus pés descalços, e eu tentei me focar nisso. Meu estômago estava todo trêmulo e nervoso, e com cada passo que eu dava, eu vinha mais e mais perto da realidade esperando por mim a poucos metros de distância. Por favor, por favor, deixe que ele goste de mim... Por favor... O topo da escada estava iluminado com velas, pétalas e mais rosas foram espalhadas no chão. Elas apontavam para o meu quarto. Inclinei-me para recolher uma das pétalas de rosa e esfreguei a suavidade aveludada entre meus dedos. Isto é um sonho. Tinha que ser. Minha porta do quarto estava aberta, e eu podia ver mais velas acesas lá dentro. O caminho das pétalas de flores me levou para a cama, e eu nem percebi que eu estava segurando a minha respiração, até que entrei no quarto. Caspian estava sentado lá. Cabeça virada. Olhando para longe. Segurando minha respiração, senti meu peito ficar apertado e minha cabeça tonta. Aproximei-me para a cama. Mais perto dele. Ele estava usando um smoking. Clássico, em preto, com uma camisa branca e gravata escura. Seu cabelo estava penteado para trás, mas eu poderia dizer que a teimosa mecha preta não queria ficar no lugar, e seus olhos verdes eram brilhantes e não naturais, brilhantes à luz das velas. As chamas gêmeas refletiam de volta para mim na íris dele. Ele se levantou e deu um passo. Em seguida, outro. Prendi a respiração novamente. — Você... — Ele sussurrou, trazendo a mão para passar pelo meu rosto. — É a coisa mais linda que eu já vi.
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E então ele me tocou. Uma onda de choque de sentimento rolou através de mim, e eu virei o meu rosto na palma da mão, fechando os olhos, esfregando meu rosto contra a sua mão como um gatinho exigindo ser acariciado. Exigindo estar mais perto. Era difícil acreditar que tinha passado um ano desde a última vez que eu senti sua pele, meus dedos eram ávidos e gananciosos, deslizando em seu casaco. Nos ombros. Em seu cabelo. Eu o alcancei... E ele era sólido. Caspian me alcançou ao mesmo tempo, e nos colidimos em algum lugar entre querer e precisar. Sua mão livre atada com a minha, e eu senti. Tudo o que estava lá, tudo o que o fazia, eu sentia. O calor contínuo de seus dedos. A suavidade de sua mão. Até mesmo as pequenas saliências que faziam parte de seus dedos. Ele embalou a minha nuca, e isso foi uma cegante, veloz, louca e doce aceleração do meu pulso como se uma onda de emoção tomasse conta de mim. O espaço entre nós tinha estado lá por tanto tempo, e agora eu estava pressionado contra ele, rindo e chorando, e tentando não deixar minha maquiagem escorrer novamente... E eu podia sentir. Podíamos sentir. Ele era real, e eu era real, e isto era tão real. Eu puxou minha face para cima, cegamente à procura da dele. Ele se afastou com as mãos e traçou o meu rosto, meus lábios, as sobrancelhas, o queixo. Qualquer parte de mim que ele podia tocar, ele tocou. Lentamente. Dolorosamente. Enquanto o tempo todo eu estava ficando louca, queimando de um fogo dentro que estava me dilacerando. — Por favor, por favor! — Ouvi-me sussurrando. — Por favor... Então ele me beijou. E eu estava perdida. Se eu pensei que tinha estado queimando antes, isto era sufocante. Meus lábios persuadiram os seus para se separarem, e eu não conseguia o suficiente. Não era possível sentir o suficiente. Não era perto o suficiente. Eu me empurrei contra ele e passei a mão em busca pelo interior do casaco. Perto. Eu queria estar mais perto. A camisa estava no meu caminho, e eu queria gritar de indignação. Apressadamente, eu desabotoei o botão de cima, e abri caminho para a pele. Eu tinha encontrado, e ele era meu.
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Caspian gemeu e me puxou contra ele ainda mais apertado. Eu podia sentir tudo dele, até mesmo através do meu grosso vestido. Nós nos movemos para trás, e uma parede de repente estava atrás de mim. Minhas mãos subiram, entrelaçando em seus cabelos, suas mãos se moveram para baixo. Em toda a minha clavícula. Eu não conseguia parar de beijá-lo. Prová-lo. Tocá-lo. E minhas mãos percorriam livremente. Eu tinha uma vida de contato para compensar em um período tão curto de tempo. Ele separou-se e beijou meu pescoço, eu tremi. Ele deslizou até um ponto sensível na parte inferior da minha orelha, e meus joelhos quase cederam. — Hummmmmmm... — Eu disse. — O que? — Caspian sussurrou. Ele levantou a cabeça uma fração de polegada. — Não pare. Isso foi o que eu disse. — Oh, realmente? — Ele enlaçou os dedos com os meus, e colocou as mãos contra a parede. — Porque eu achei que soava mais como um gemido do que palavras. — Mmm-hmm... — Eu disse, movendo a cabeça para dar-lhe um melhor acesso. — É a mesma coisa. Ele voltou sua atenção para o meu ouvido, e eu mal percebi que ele estava olhando para meu vestido até que ele puxou de volta. — Você usou isso para me torturar, não foi? — Ele disse, erguendo a cabeça, os olhos brilhando um verde escuro. — O que você quer dizer? — Olhei para baixo. Ele libertou uma das minhas mãos e puxou as fitas. — Isso. É tortura. Você tem alguma ideia de quanto tempo isso vai levar-me para desfazê-las? A fraca emoção disparou por mim, e eu respirei fundo, fazendo com que os laços se esticassem. Eu balancei minha cabeça. — Quanto tempo?
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— Muito tempo. Muito tempo. E com o cabelo para cima, toda sexy assim, e apenas um par destes caracóis caídos me provocando... — Ele traçou um cacho solto, e então gemeu de novo. — Tortura. De repente, ele passou o braço em volta de mim, e nós estávamos indo para a cama, caindo sobre ela. Ele me puxou para cima dele, e minhas pernas envoltas em torno dele como o mar de pétalas de rosa e as saias do meu vestido subindo em torno de nós. Ele correu uma mão suavemente pelo meu rosto. — Eu estive esperando muito tempo para fazer isso. — Ele disse. — E eu acho que eu preciso fazer isso de novo. Deixei que ele me puxasse de novo para outro beijo, e desta vez estávamos os dois perdidos. Eu não conseguia o suficiente de sua pele. Ele provocava o canto dos meus lábios, e eu abri minha boca para ele. Mas ele se afastou. Tentei puxá-lo para perto novamente, oferecendo-me em troca de mais, quando ele se moveu para o canto do meu olho. Ele beijou lentamente seu caminho para baixo do lado do meu rosto, traçando um caminho para o meu pescoço. Eu libertei um lado, e cheguei até deixar meu cabelo cair. Ele caiu em torno de nós, e ele rosnou um pouco quando mergulhou as duas mãos neles. Minha pele estava ficando quente. Muito quente, e eu queria que meu vestido saísse. Agora. Eu era a única que havia recuado, em seguida, e ele tentou seguir. Mas eu segurei-o para baixo com a palma da minha mão. Balançando a cabeça, dei-lhe um sorriso tímido e voltei minha atenção para sua camisa. O resto dos botões eram fáceis, e muito rapidamente seu peito foi desnudado. Eu arrastei meus dedos em sua pele, e ele estremeceu. — Provocação. — Ele sussurrou. — Provocação? Não. Isto... — Eu puxei o fim dos laços no meu corpete, e a fita superior de cordas estava livre. — É uma provocação. Caspian lambeu os lábios. — Isso é definitivamente uma provocação. — E isto, do que você chama isso? — Eu puxava os cordões de novo um por um, lentamente, removendo-os. Expondo mais e mais pele. — Uma provocação muito, muito grande?
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Eu balancei a cabeça. — Sua vez. Ele não hesitou. Ele afastou as mangas da camisa e puxou-a. No brilho das velas, sua pele reluzia dourada e cobre. Ele era lindo. — Como isso funciona? — Eu disse baixinho, olhando para minha mão descansando sobre seu coração. Eu podia senti-lo bater. — Eu não acho que teria a chance... Ele colocou um dedo contra os meus lábios. — Eu não sei. Basta aceitá-lo. Isso é tudo que importa agora. Fique comigo. No aqui e agora. Eu dei-lhe um aceno trêmulo, e, em seguida, movi a mão para as fitas do corpete. Eu passei a ponta solta em seu punho. — Por que você não termina o resto? — O topo do vestido se abriu, e ele se sentou, me puxando para perto dele. — Você é linda, Abbey! — Ele disse. Seu tom era silencioso e reverente. — Apague as velas mais próximas. — Eu disse baixinho. Eu ainda estava nervosa. — Por favor. Dentro de um par de segundos as velas em volta da cama estavam apagadas, e eu mal podia ver seu rosto. Eu alcancei-o novamente, já sentindo falta do sabor de seus lábios. Ele tocou os meus, e eu puxei-o para baixo. Em cima de mim. Nos beijamos por um longo tempo. Ele colocou uma mão quente contra a minha perna nua, e quando ele me tocou, o fogo corria em minhas veias. Eu segurei seu rosto e o segurei perto. Olhando em seus olhos lindos, eu disse claramente: — Eu quero você. Cada parte de você. Ele ficou muito quieto. — Você tem certeza? — Sim. — Eu não quero que você sinta como se você tivesse que...
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— Sim. — Ou mais tarde, se arrepender... — Caspian, sim. — Eu só queria dar-lhe uma boa memória aqui. Desde... — Sim, sim, sim! — Eu disse desesperadamente, avidamente. — Dême uma boa memória. Por favor. Eu te amo, Caspian. Ame-me. Ele segurou meu rosto e empurrou um cacho de lado. — Eu também te amo, Abbey. Mais do que a vida. Mais do que a morte. Mais do que sempre. Então eu estava me afogando novamente. Mas desta vez eu não estava sozinha. Desta vez, ele estava comigo. Guiando-me. E nós estávamos nos afogando juntos. Mais perto que a vida, e a morte, e tudo mais. Eu abri um olho, e logo perguntei onde eu estava. Meus braços e pernas estavam pesados, como se eles ainda dormissem. Movi-me para rolar para o meu lado, e senti uma pontada de dor nos músculos que eu nem sabia que tinha. Meus olhos se abriram e olhei por todo o caminho, e Caspian entrou em vista. Eu percebi que eu estava deitada de costas, meu cabelo espalhado em volta de mim, meu vestido não estava onde deveria estar, e meu corpo formigava. Uma sensação simultânea de exaustão e contentamento espalhou através de mim. Caspian estava deitada ao meu lado, o lençol enrolado na cintura. Eu poderia dizer que eu estava corando, mesmo quando olhei para ele. — Isso foi... Intenso. — Eu disse. Ele levantou uma sobrancelha. — Mmm-hmm. — Foi, hum, intenso para você? — Muito intenso. — Ele se inclinou para frente e passou um dedo abaixo da ponta do meu nariz. — E assim, vale muito a pena esperar. Agora eu estava corando ainda mais, um sentimento ridiculamente feliz de satisfação me inundou.
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— Como eu consegui deixar a minha roupa aqui? — Sorte? Habilidade? Pura força de vontade? —, Disse. — Estávamos um pouco ocupados demais para pensar nisso. Eu peguei o lençol e coloquei em cima de mim. De repente eu estava me sentindo exposta. Ele gentilmente moveu uma mecha de cabelo do meu rosto. — Não fique toda tímida para mim agora. — Ele disse. Eu subi e peguei sua mão, sorrindo para ele. — Eu não estou. — Então eu olhei de volta para o lençol eu estava desesperadamente enrolado em torno de mim. — Ok, talvez eu esteja. Um pouco. Ele sorriu também. — Apenas vinte e uma horas se passaram. — Sussurrei, olhando para o relógio. Estávamos num tempo emprestado. Era quase três da manhã. — Vinte e uma horas a mais — ele corrigiu. — Vinte e uma horas para estarmos juntos. — Ele pegou a camisa branca do smoking no chão. — Acho que deveríamos ter uma dança. Desde que nós não conseguimos compartilhar sua formatura. Quando ele olhou para longe, aproveitei o momento para juntar a minha roupa. Um dos botões estavam soltos, no final do corpete, mas o outro estava faltando. — Você viu minha fita? — Eu perguntei. — Eu tinha duas. Ele olhou em volta casualmente. — Nope. Não vi. Acho que você vai ter que se contentar com apenas uma. — Uma não vai segurar durante toda a dança. — E isso é um problema? Eu ri.
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— Eu acho que se você não está reclamando... Ele ergueu as duas mãos. — Eu não estou reclamando. Eu sorri, puxando para cima a renda a colocando na posição correta. Coloquei os braços facilmente no corpete, mas definitivamente ele não ficou tão bem fechado como poderia ter ficado. Quando olhei para cima novamente, Caspian já estava com a sua camisa. — O smoking ficou legal. — Eu disse. — Como você arrumou? — Uri. Ele me ajudou a sair com um par de coisas. O smoking, as rosas... Levei um tempo para arrumar tudo, porque eu... — Ele desviou o olhar. Peguei a minha saia, e a puxei para cima, ficando de pé. Minhas pernas e coxas doíam, como se tivesse corrido uma maratona, e levei um segundo para me acostumar com a sensação. Caspian foi até CD player em cima da lareira e apertou um botão. Jazz encheu o ar e, quando ele voltou para mim, ele estendeu a mão. Dançamos por meio de quatro músicas, e eu nunca queria que acabasse. As velas estavam queimadas, a maioria delas quase que terminadas. Eu olhei para ele, e ele estava olhando para mim. Seus olhos estavam arregalados e focados. — O quê? — Eu perguntei. — Só você. Estou feliz de estar com você. — Explicou. — Eu também. — Eu suspirei. — Eu me sinto quente e pegajosa por dentro. Assim como cookies de chocolate. — Eu não me lembro do gosto de chocolate. — Você não? — Eu olhei para ele, incrédula. — Não. — Então, precisamos corrigir isso. Vamos. Vamos cozinhar alguma coisa. — Eu peguei sua mão e o levei porta, parando ao longo do caminho apagando o restante das velas acesas.
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Ele me seguiu até a cozinha, e eu acendi uma luz. Não demorou muito para pegarmos os ingredientes, e algum tempo depois estávamos amassando um biscoito. — Prove isso. — Eu o entreguei, depois de jogar metade de um saco de raspas de chocolate. Eu coloquei uma colher em seus lábios, e ele provou um pouco. Um olhar cômico cruzou seu rosto. — Eu não sei se gosto disso. — Ele disse, lambendo o canto de seus lábios. — É... Estranho. — Estranho? — Eu acenei a colher na frente dele. — Estranho? De que planeta você é? — Ele riu. — Ok. — Eu puxei as minhas mãos para fora da massa e coloquei no saco de chocolate. Pegando um pouco, Segurei para ele. — Tente fazer isso. E me diga se isso é estranho. Ele inclinou a cabeça para mais perto e abriu a boca. Seus lábios cobriram meu dedo quando eu afastei. Seus olhos encontraram os meus. — Delicioso. — Ele disse. Então, com um olhar malicioso no rosto, ele colocou uma mão dentro da tigela de massa e atirou uma pequena bola para mim. Ela caiu na minha bochecha. — O quê? — Eu gritei. — Você não acabou de fazer isso! Você está começando uma luta de comida? Seus olhos diziam tudo, e ele me provocou com outro punhado de massa de biscoito. Eu retaliei com um punhado de farinha. Ela caiu sobre sua cabeça, sob seus cílios e sobrancelhas, e eu não podia parar a erupção de risos que estourou para fora de mim. Ele me jogou um punhado de açúcar, e eu gritei de novo quando os grãos frios bateram na frente do meu vestido. Mais farinha era minha única opção, e ele estava rindo também, assim quando na frente de seu terno explodiu em uma flor de pó branco. Caspian avançou, seus dedos revestidos com massa de biscoito pegajosa, e eu ri quando me afastei. A cozinha estava uma bagunça, nós éramos uma bagunça, e eu tinha massa e açúcar no meu rosto, e no meu vestido, e a ameaça de mais estava vindo em minha direção. — Trégua, trégua! — Eu gritei, jogando as mãos em uma falsa rendição.
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— Sim, para que haja uma trégua, você terá de pagar uma recompensa. — Ele rosnou com um sotaque terrível de pirata falso. Eu não conseguia parar de rir ao ver suas sobrancelhas brancas, e eu me curvei em um monte de risadas. Ele aproveitou, e me jogou no chão, seus dedos pegajosos agarrando os meus, quando ele subiu em cima de mim. — A generosidade. — Ele disse. — Acho que podemos chegar a um acordo. Puxando uma das suas mãos até os meus lábios, eu lambi o seu dedo o limpando. — Mmmmm... — Eu disse. — A massa do biscoito de chocolate nunca foi tão boa. Seus olhos ficaram escuros e os seus lábios encontraram os meus. — Você está tão certa.
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Capítulo Vinte e Dois Longo Tempo
Mas se havia um prazer em tudo isso, enquanto confortavelmente abraçava no canto da chaminé de uma câmara que era tudo um brilho avermelhado de fogo crepitante da madeira... The Legend of Sleepy Hollow
Deixamos
a cozinha para trás e tropeçamos de volta lá para cima. Estávamos quase na cama quando eu percebi que ainda estávamos cobertos de suprimentos para massa. — Estamos todos sujos. — Eu disse, peguei minha boca na dele. — Estamos cobertos de farinha e açúcar, e... — Eu limpei minha bochecha. — Massa de biscoito. Caspian foi para trás. — Você está certa. Eu tenho uma ideia. Fique aqui. Sentei-me na beira da cama quando ele me deixou pra trás e foi ao banheiro. Um instante depois ouvi o som de água correndo. — Espere dez minutos e depois entre. — Ele gritou. Eu sentei e esperei. Uma espera de dez minutos excruciante. Então me levantei e fui até o armário. Eu tinha um roupão de banho extra lá. Depois de retirar o meu vestido, eu pendurei ele para cima e coloquei o roupão. A água parou. A banheira estava completa.
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— Você está pronto? — Eu o provoquei, aproximando-me. — Não é grande o suficiente para duas pessoas, você sabe. Entrei no banheiro. Vapor era escaldante no espelho. Caspian estava esperando na borda da banheira, o paletó, mangas da camisa arregaçadas, cabelo e rosto todo limpo. Um conjunto combinado de toalhas roxas estavam no balcão. Montes de bolhas fofas praticamente estourando a partir da beira da água. Ele fez uma reverência. — Este banho é para você, milady. — Você fez um banho para mim? — Fiquei impressionada. E um pouco nervosa sobre tirar a roupa na frente dele. Eu cavei um dedo do pé no tapete de banho. — Você pode...? — Olhei para o meu roupão. Ele me deu um meio sorriso, mas virou as costas. — Melhor? Eu tirei o roupão e corri para a água. — Muito. — Afundando na banheira, deixei escapar um gemido de satisfação. Era celestial. A temperatura certa. Eu derrubei minha cabeça para trás e caiu na água por um segundo, molhando meu cabelo. Quando eu vim à tona, Caspian virou de volta e estava encostado em um joelho, instalado no chão ao meu lado. — Bom? — Melhor. Você é incrível! Seu sorriso era lindo, e eu me movi para frente para beijá-lo. Meus dedos permaneceram em seu cabelo, e eu não queria deixá-lo ir. Mas eu teria... Minha garganta apertou, e eu limpei-a bruscamente. Eu não queria que pensamentos como esse invadisse o nosso tempo juntos agora. — Então... — Eu disse. — Agora que tivemos a nossa dança e fizemos alguns biscoitos, mesmo que tenhamos nos esquecido de colocá-los no forno... O que devemos fazer a seguir? — A lua? — Ele sugeriu. — Vegas? Rússia? Tailândia à meia-noite? — Oooh, você é um romântico. O que mais?
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Ele desfiou uma lista de coisas para fazer e lugares para ver, e eu inclinei minha cabeça para trás e ouvi. Não importava que não poderia fazer qualquer uma desses coisas. Bastava ouvi-lo falar como se tivéssemos um futuro era suficiente para mim. Peguei o saco de estopa laranja de sais de banho de abóbora que eu sempre mantive na borda da banheira, e derramei um punhado dentro. Os sais eram ásperos sob meus dedos, e eu movi minhas mãos através da água para fazê-los se desintegrarem mais rápido, enquanto que uma memória de outro tempo e lugar me atingiram. Outro banho, onde eu iria colocar sais de banho na água. Mas não tinha sido comigo então, e tudo que eu podia fazer era me perguntar. Agora isso era uma experiência completamente diferente. Uma aglomeração de sal pegou em minha mão, e eu levantei-o para fora da água, olhando para ele. O pequeno pedaço de pedra de sal foi lentamente caindo aos pedaços, e eu percebi que todo esse tempo eu tinha usado estes sais de banho como se fosse apenas uma coisa normal de todos os dias, e eu não tinha ideia. Não fazia ideia que não teria anos à frente de eu tomando banhos. Anos de apenas sentar e desfrutar do conforto da água quente na minha pele, o cheiro enchendo meu nariz, a sensação sedosa deixada para trás a partir dos óleos... Normal. Todos os dias. Coisas mundanas. Coisas que eu não dei valor por tanto tempo. — Astrid? — A voz de Caspian quebrou através dos meus pensamentos. Olhei para cima. — Sim? — O que você está pensando? “Eu estou pensando sobre este pedaço de sal na minha mão e refletindo sobre as maravilhas da vida.” — Apenas sobre quão grande isto é. — Eu disse com um sorriso. — Você pode entregar-me a toalhinha? Ele a pegou, mas em vez de entregá-la para mim, ele esticou o braço da banheira e mergulhou-o na água. Depois de tirar para fora o excesso de água, ele limpou um pouco de sabão e ele correu lentamente sobre o meu braço estendido. Prestando atenção cuidadosa em cada dedo, lavou meus dedos, o polegar, minha palma. Então ele correu o pano por todo o caminho até meu braço novamente.
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— Eu tenho duas. — Eu disse. Eu trouxe minha outra mão para fora da água, e ele lavou o braço também. Colocando a toalha no chão, ele segurou um pouco de água entre as mãos e derramou sobre meus braços para enxaguar as bolhas restantes. Então ele pegou a toalha novamente e começou nos meus ombros. Lentamente, ele correu para baixo da frente do meu pescoço e depois se moveu ao redor. Reuni todo o meu cabelo e empilhei no alto da minha cabeça. Ele mergulhou e girou o pano em meus ombros enquanto eu me inclinava para frente e puxava as pernas mais para perto. Sua mão se moveu para frente. Viajou para baixo, e eu me inclinei para trás, dando-lhe um acesso ainda maior. Meu joelho se projetava para fora da água, e ele seguiu minha coxa até a minha rótula. O rosto de Caspian estava tão perto que tudo que eu tinha que fazer era virar a cabeça para beijá-lo. Mas eu me segurei. Resisti. Eu não queria distraí-lo de sua tarefa... E então eu o alcancei. Usando as duas mãos, eu puxei sua camisa para perto de mim, sem me importar com as manchas de água que estava deixando para trás. Eu ofereci meus lábios como sua recompensa. O banheiro ficou mais quente, o vapor da água subia em cachos preguiçosos, e eu queria rastejar dentro dele. Para envolvê-lo em torno de mim e nunca deixá-lo ir. Para fundir-me com sua pele. Eu devo ter puxado a camisa um pouco forte, porque a próxima coisa que eu sabia, ele estava perdendo o equilíbrio e caindo na água comigo. A água espirrou para cima, acertando ambos na cara, e eu engasguei com meu riso. Ele riu muito, cabelos escorridos enquanto a água corria em um constante fluxo. O nosso riso não durou muito, porém, quando notei que suas mãos, que tinham estado previamente usando a parte externa da banheira para o equilíbrio, estavam agora em minhas coxas para tomar equilíbrio. Ele notou também. — Realmente não há espaço suficiente para duas pessoas nesta banheira. — Ele disse. — Sim, eu acho que estou satisfeita com o meu banho agora. Pode me passar uma toalha?
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Caspian puxou-se para fora da água, depois pegou uma das toalhas roxas. Espalhando-a tão aberta quanto podia, ele segurou-a na minha frente. Saí da banheira. E para ele. Ele estendeu a mão cegamente para o robe que eu tinha descartado e ergueu-a para mim. — Você quer... — Suas palavras morreram. Ele tentou novamente. — Talvez isso também? Enrolei as pontas da toalha contra mim mesma. — Eu não preciso disso. Caspian voltou a olhar para mim. — Eu sei que eu provavelmente não deveria dizer isso, mas você parece adorável. Foi a melhor coisa que ele poderia ter dito. A coisa mais perfeita que ele poderia ter dito, porque com o meu cabelo molhado e desordenado, a toalha úmida acondicionada em torno de mim, e toda a minha bela maquiagem lavada, eu estava parecendo tudo, exceto adorável. Eu alcancei e soltei a toalha, deixando-a cair aos nossos pés. E depois... Bem... Eu meio que pulei em cima dele. Ele me alcançou. Segurou-me. E eu passei meus braços em volta do seu pescoço, minhas pernas ao redor de sua cintura. Tudo que eu conseguia pensar era o quanto eu o queria novamente. Meu... Amor... Estava correndo pela minha cabeça, e outra vez em uma névoa embaçada. Ele se encostou na pia, e eu empurrei-me nele. Perto. Mais profundo. Ele me segurou no lugar com um braço e usou a mão para alcançar até minha perna. Ele deslizou na parte de trás do meu joelho, e eu queria gritar, “SIM” enquanto ele me levava a um outro patamar. Seus dedos sussurraram pelas minhas costas, acariciando minha espinha, e eu arqueei como um gato no sol quente, tentando abafar um gemido. Acho que gritei então. Nós não éramos nada, exceto, tato e paladar, e o sentir. A toalha estava abaixo de nós. O piso correu ao nosso encontro, e depois fiquei pensando que eu nunca soube o quão confortável o piso poderia realmente ser.
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Caspian me carregou para o quarto, e eu descansei minha cabeça em seu peito. Eu mal podia pensar. Mal podia se mover. Mal conseguia manter os olhos abertos. A toalha estava enrolada em volta de mim novamente. Eu aconcheguei mais perto e mais profundo nele. Minhas pálpebras estavam pesadas, mas eu não queria dormir, não queria perder um único segundo de nosso precioso tempo juntos. Entrelaçando nossos dedos juntos, eu movi minha cabeça para que eu pudesse ouvir o seu batimento cardíaco. Eu só conseguiria essa única chance. — Fique comigo. — Ele sussurrou. — Fique acordada por mim. Mas eu já estava me afastando. A luz do sol estava entrando pelas janelas quando acordei novamente. Apoiei-me e olhei para Caspian, deitado ao meu lado. Ele se esticou e se virou para mim, os olhos verdes brilhando ao sol. Tirei um pouco de cabelo de seu rosto e sussurrei: —Pegue-o e corte-o em pequenas estrelas... E ele vai ser igual ao céu... Que todos no mundo vão estar apaixonados com a noite... E não pagaram adoração ao pomposo sol. Ele tocou a minha mão e a levou aos lábios, beijando minha palma. — O que é isso? — Só uma coisa que eu encontrei escrito em um pedaço de papel. Shakespeare. — Mmmmm. — Ele estendeu preguiçosamente, e eu toquei a tatuagem em seu braço. — Eu conversei com você, você sabe. — Pensei, quase que mim mesma. — Mesmo que você não podia me ouvir, eu falei com você. — Eu ouvi cada palavra, — Ele disse. — Cada sussurro, cada rogo. Toda emoção sincera que você derramou para mim... Eu ouvi-os todos. E eu as manti perto. Eu arrastei um dedo em seu peito nu.
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— Você sabe, eu queria tocar a tatuagem em suas costas, desde que você a mostrou pela primeira vez para mim, e agora eu tenho a chance. — Ele virou, e o contorno escuro de repente estava na minha frente. Ombros flexionados quando ele posicionou a cabeça em seus braços. Eu deixei meu dedo deslizar, seguindo a lisa linha preta enquanto ela angulava e repeti. Sua pele era quente, algo que eu imaginei quando pensei como este dia seria. — Isso é estranho? — Eu perguntei. — O que é estranho? — Viver. Ser real. Apenas por um dia. — Agora, minhas duas mãos deslizaram por sua pele. — Para os dois primeiros anos, era estranho. Muito estranho. Este ano? Eu não tenho nenhuma reclamação. — O que vamos fazer? — Debrucei-me sobre ele e soprei as palavras em sua pele, persuadindo os músculos finos a ondularem para a vida. — Como vamos voltar a não nos tocarmos depois disso? Ele suspirou profundamente, mas não respondeu. Passamos o resto do dia sendo totalmente preguiçosos. Nós fomos para baixo e nos enrolamos no sofá para assistir a filmes, apenas apreciando a chance de deitar embrulhados em cobertores. Eu fiz pipoca e brownies. E para o jantar era apenas um simples espaguetes. Caspian me disse que era um dos melhores espaguetes que ele já comeu. Quando a noite caiu e as sombras vieram cruelmente afugentar o resto do dia, uma nuvem escura pairou em mim. Nosso tempo estava se esvaindo. Já eram oito horas. Apenas quatro horas a mais. Quatro horas mais deixada para caber um ano sem tocar. Não era tempo suficiente.
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Eventualmente nós, nos vestimos. Ele em uma calça jeans e uma camiseta velha que tinha sido do meu pai, e eu de calça jeans e um suéter azul-escuro. Eu peguei um cobertor grande de flanela e fiz uma caneca fumegante de chocolate quente, e depois fomos para a varanda da frente. O balanço estava lá fora, e assim como as estrelas. Abraçamos-nos juntos no escuro, seguro em nosso cobertor grande e confortável. Uma de suas mãos repousavam de forma segura na minha cintura, e uma das minhas descansou com segurança contra o seu coração. Ele cantarolava uma canção de ninar suave quando eu olhei para o céu à noite e fiz um desejo depois de outro, um desejo silencioso. A hora foi desaparecendo. E meu coração começou a doer. — Astrid...— Ele disse, de repente, moveu seu corpo para longe do meu. — Eu tenho algo para você. — Ele enfiou a mão no bolso do jeans. Eu poderia dizer pela mudança em sua linguagem corporal que ele estava nervoso. Sentei-me. — O que é isso? Ele estendeu a mão, abrindo os dedos lentamente, e lá estava um anel. A pedra era oval, a cor em algum lugar entre vermelho rubi e toranja rosa. Delicada filigrana de metal escuro queimado se enrolado em torno dele, segurando a joia no lugar. Oito pequenas joias correspondentes espalhadas pelas bordas. Mesmo na penumbra, ele brilhava. — Era da minha avó. — Ele disse suavemente. — Meu pai me deu há muito tempo, e eu guardei-o seguro no caixa do tesouro que encontramos na minha antiga casa. Eu não posso exatamente pedir-lhe para casar comigo, tanto quanto eu gostaria, desde que eu passo a maior parte do meu tempo escondido do resto do mundo. — Eu abri minha boca para interromper, mas ele balançou a cabeça. — Deixe-me terminar. — Eu balancei a cabeça, e ele continuou. — Mas eu quero que você tenha isso como uma promessa minha de para sempre. O que quer que seja. Qualquer coisa que eu puder te dar. Você terá tudo isso. Tudo de mim.
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Estendi minha trêmula mão esquerda, e ele colocou o anel em minha mão. Ela se encaixou perfeitamente. Estendi a mão para pegar seu rosto, o anel sólido no meu dedo. Como se ele sempre estivesse lá. — Eu prometo a você o para sempre também. — Prometi. — O que quer que seja. Tudo o que eu posso te dar. Você terá tudo isso. Tudo de mim. — Astrid... — Ele sussurrou, fechando os olhos. — Astrid... Fechei o meu também, e nossos lábios se encontraram. Francas palavras de amor e de eternidade se passaram entre nós. Anunciado os votos sagrados que significaram mais que qualquer coisa que eu já disse antes. E quando eu comecei a sentir o gosto de sal, eu sabia de onde vinha. Eu não me incomodei em enxugar as lágrimas do meu rosto.
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Capítulo Vinte e Três O DIA SEGUINTE
A hora era tão sombria quanto ele mesmo. A Lenda de Sleepy Hollow
Meu pé estava frio, e eu estava imaginando porque os cobertores não estavam cobrindo tudo. Eu tentei enfiar meus dedos mais para dentro dos lençóis, mas senti apenas uma superfície dura embaixo de mim. Os olhos abriram, eu olhei em volta. Eu estava do lado de fora, no balanço da varanda. Um cobertor de flanela escorregou de mim. Caspian estava sentado nos degraus da frente, encarando o jardim. Ele deve ter me escutado, porque ele virou. — Bom dia, linda! — Bom dia! — Eu enrolei o cobertor mais firme em volta dos meus ombros e andei pra sentar perto dele. — Desculpa. Caí no sono. Seu sorriso era triste. — Está tudo bem.
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Sem nem pensar, eu inclinei a cabeça contra ele. Ou, pelo menos, tentei. A sensação de queda me dominou e eu levantei me endireitando. Nosso tempo tinha acabado. Era dia dois de novembro. Ele não poderia mais me tocar. Eu sabia que não seria capaz de esconder as lágrimas. Então eu levantei rápido. — Estou indo pra dentro. Eu preciso... — Mas eu não consegui terminar. Eu corri para a segurança do banheiro e sentei na ponta da tampa do vaso sanitário, chorando até que meu coração não pudesse quebrar mais e eu não tivesse lágrimas para chorar. Quando acabei, eu ainda não me sentia nem um pouco melhor. Tudo que eu queria era poder falar com alguém. Alguém que tivesse passado por isso. Alguém que soubesse exatamente o que eu estava sentindo Katy. “Vá falar com Katy.” Katy era a pessoa perfeita pra falar! Ela esteve na minha situação Exatamente. Tropeçando em meus pés, eu mal conseguia lembrar de subir as escadas e me vestir. Caspian estava sentado no canto da janela, olhando pra fora. Ele deve ter subido enquanto eu estava no banheiro. — Vou dar uma volta. — Eu disse. Mas ele não respondeu. Eu coloquei um jeans diferente e um suéter. Agarrando minha jaqueta, eu fui até ele. — Ei. — Eu disse suavemente. — Você está me ignorando? Ele levantou os olhos pra mim, olhos distantes. — O que? Não. Desculpa. Só estou distraído. Pensando. Eu quis tocar sua mão. Seu rosto. Alguma coisa. Em vez disso, eu enfiei minhas mãos bem fundo nos meus bolsos. — Não vou demorar. — Eu disse a ele. — Onde você vai? — Ele perguntou. — Ver Katy. — Quer que eu vá com você?
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Eu respondi com cuidado, tentando evitar explicar porque eu queria conversar com ela. — Está tudo bem. Eu acho que, depois de ontem, eu só preciso... Eu acho que eu só preciso de um tempo. Para lidar com toda essa coisa de não poder te tocar de novo. Eu deixei as palavras mais leves com um sorriso e ele sorriu de volta. — Ok. — Ele disse. — Leve seu celular e tenha cuidado. Estarei aqui. Eu dei outro sorriso a ele, mas eu saí do quarto silenciosamente, com minha cabeça cheia de questões que não tinham respostas fáceis. Eu fiz um caminho pelas árvores que iria me levar à casa de Nikolas e Katy. Quando eu cheguei lá, Nikolas estava trabalhando no jardim de novo. Ele viu que eu me aproximava e começou a acenar excitado. — Oi, Nikolas! — Eu disse. A porta da frente estava aberta, e ele chamou Katy para se juntar a nós. Ela veio com agulhas de tricô nas mãos. — Abbey! — Ela disse. — Estou tão feliz em vê-la. Eu corri pra ela e a abracei. Ela cheirava suavemente lavanda e chá. — Estou feliz em vê-la também. — Eu disse. — Como vocês estão? — Nós estamos bem. E você? — Bem. Eu estava com esperança de tomarmos um pouco de chá e colocarmos a conversa em dia. — Com certeza. — Ela deu a Nikolas um olhar de conhecimento. Ele só sorriu. — Vou voltar para as minhas tarefas, então. — Ele disse. — E deixar as damas conversarem. Ele virou e Katy me direcionou pra dentro. Eu sentei enquanto ela colocou uma chaleira de água para ferver. O lugar estava quente e confortável, e eu desenrolei e tirei meu casaco.
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— Como estão as coisas com Caspian? — Ela perguntou sentando ao meu lado. — Primeiro de novembro foi seu aniversário de morte. — Eu disse, tentando não corar. — Nós tiramos o dia para ficarmos juntos. — Ela concordou, e não disse nada. — Na verdade, é por isso que estou aqui. Eu tenho algumas perguntas pra você, se não se importar. Você é a única que conheço que foi igual a mim. — Farei o possível. — Ela disse. — O que quer saber? — Como você soube que estava pronta pra ficar com Nikolas pra sempre? Você ficou assustada? Preocupada? Você duvidou de você mesma? Katy entrelaçou suas mãos sobre a mesa. — Minha situação foi diferente, Abbey. Eu estava doente. Eu sabia que me restava pouco tempo. Não foi uma escolha difícil pra mim. — Ela me olhou nos olhos. — Você está com dificuldades, então, não é? — Sim. Mas eu sei que será logo pra mim também. Caspian tem... Bem, ele tem perdido a habilidade de tocar as coisas. E ele cai em sono profundo. Um lugar sombrio que ele vai. Onde ele não pode acordar. Algumas vezes são horas, até dias, antes que ele volte pra mim. — E você está preocupada com o futuro de vocês? — Katy adivinhou. Eu inclinei pra frente. — E se eu completá-lo e depois ficarmos infelizes? — Eu contei a ela sobre Abbey's Hollow e como minha mãe tinha pago o aluguel do primeiro ano da loja. — E se eu começar a me ressentir de nunca ter a oportunidade de ter meu próprio negócio? Ou fazer perfumes de novo? E se eu começar a usar isso contra ele que estou parada aqui? O que quer que aqui seja. A chaleira assobiou, e ela se levantou para preparar o chá. Ela retornou com duas xícaras, então ela voltou para pegar o leite e o mel. Eu assoprei o meu enquanto eu esperava por ela para sentar de novo. Então, ela disse: — Quem disse a você que não poderá mais fazer perfumes? — Eu estarei morta. Como eu vou conseguir suprimentos e outras coisas?
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Ela fez um gesto em torno da casa de campo, para os ramos de flores secas que decoravam as paredes. — Todos os suprimentos estão em volta de você. Os óleos vêm das plantas, não vêm? — Bem, é, mas... — Eu tomei um gole do meu chá e pensei a respeito disso, eu tenho meu destilador de plantas. Tão logo eu tenha permissão pra isso, e às flores frescas e ervas, eu poderia fazer meus próprios óleos essenciais. — Na verdade, eu acho que eu ainda poderia fazer meus perfumes. Se tudo correr bem. Ela acenou com um sorriso esperto no rosto. — Você não tem que desistir de tudo que ama por alguém que você ama. — E como posso ter certeza disso? — Eu disse desesperadamente. — Você deve achar isso dentro do seu coração. — Ela respondeu. Eu inclinei as costas na minha cadeira, brincando com a alça da delicada xícara de chá. — Eu sei que amo Caspian. — Eu disse. — Eu sei disso sem dúvida. Mas eu também amo meus amigos. Minha família. Meus planos futuros para minha loja. Por que eu tenho que ser forçada a escolher entre eles? Por que eu? — Por que existem crianças que morrem antes dos pais? Por que doenças e pobreza enchem o mundo? — Ela disse. — Assim são as coisas. Algumas coisas nós precisamos aceitar. — Sim, mas doenças são curadas. Pobreza acaba. Essas coisas podem ser mudadas com a força de vontade dos homens e um pouco de dinheiro. — Mas você não pode curar a morte. — Ela disse calmamente. — Você está certa. — Eu concordei. — Isso é uma coisa que não tem como fugir.
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Enquanto eu terminava meu chá, eu não quis que a conversa com Katy terminasse com esse assunto pesado. Então, nós trocamos de assunto para tricôs, moldes e trançados. Quando percebi quanto tempo eu já estava ali sentada, eu disse a ela que precisava ir. Eu precisava voltar para Caspian. Me despedir foi um pouco amargo. Eu não sabia quando teria a chance de vê-la novamente. Então, eu só a abracei e prometi que nós estaríamos juntas de novo em breve. Eu disse adeus para Nikolas quando eu saí, mas ele se ofereceu para ir comigo até a fronteira da floresta. — Você teve mais encontros com Vincent? — Ele perguntou enquanto andávamos. Eu estava parcialmente virada pra ele, e virei totalmente. — Não. Eu não sei o que aconteceu com ele. Eu não sei se ele sumiu ou coisa parecida. Eu prefiro acreditar que sim, mas não tenho certeza. Por quê? — Você tem falado com os outros Revenants? — Ele fez a pergunta casualmente, mas parecia que tinha algo mais por trás dela. — Sim. Mas por quê? Sobre o quê? Uri me contou sobre sua história e o que eles realmente são, mas eu tive a impressão que eles não estão me contando tudo. — Você sabe que os Revenants são necessários para ajudar uma Sombra e sua outra metade a se completar. — Ele falou devagar. — Você alguma vez já pensou sobre quem irá te ajudar a atravessar? — O Vincent é… — O horror tomou conta de mim e eu me senti doente. — O Vincent é um dos meus Revenants? — Eu perguntei. — É ele que tem ajudar a me levar? — Eu não posso assegurar, mas tenho minhas suspeitas. — Nikolas disse. Eu fiquei cega com ele, acenando com minha mão como se fosse um adeus. Eu não conseguia falar. Não conseguia pensar. Mal conseguia respirar. Vincent era um dos meus Revenants? Eu tinha que voltar para Caspian. Eu tinha que contar pra ele sobre isso.
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“Todo esse tempo? Todo esse tempo ele era um dos que me iria me atravessar? A ver meu momento final e me ajudar a alcançar Caspian? E os outros Revenants sabiam? Era isso que eles não queriam me falar? Que eu não seria capaz de completar Caspian porque meu Revenant não queria fazer seu trabalho?” As árvores passavam correndo por mim, suas cores escuras se misturavam umas com as outras. Eu não conseguia mover minhas pernas mais rápido. Minha mente estava gritando. “NÃO, NÃO, NÃO!” Não podia ser ele. Ele não poderia ser o único... Minha cabeça estava baixa, tentando enxergar meu pé e evitando que eu tropeçasse em uma pedra quando uma sombra apareceu na minha visão. Eu olhei pra cima. — Olá, querida! — Vincent disse. — Quanto tempo não nos vemos. E então ele me deu um soco na cara. Quando eu acordei, imediatamente eu tomei consciência que minha mandíbula estava doendo que era um inferno, e eu estava deitada no banco de um carro estranho. No banco de trás. Minhas pernas estavam esticadas e eu podia sentir o couro em minhas mãos. A máquina rosnou enquanto nós pegávamos velocidade, e a sensação de enjoo na minha garganta combinava com a dor na minha mandíbula. Eu não conseguia ver o motorista, mas eu sabia quem era. Eu estava no carro do Vincent. E eu não tinha ideia para onde ele estava me levando. Pânico começou a atirar no meu cérebro, e eu deitei lá por uns bons dez minutos apenas me deixando tomar pelo medo. Finalmente eu disse pra mim mesma que tudo que eu tinha que fazer era permanecer calma. Se eu pudesse sair do carro, eu poderia fugir. Onde quer que nós estivéssemos, eu tinha que conseguir correr para um telefone ou casa ou alguma coisa. Aquilo me acalmou um pouco, e eu foquei em me visualizar fugindo dele pela estrada. Meus dedos lentamente tatearam meu bolso. “Meu telefone.” Mas ele tinha se perdido. “Claro.”
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O carro seguiu pelo que pareciam horas, e eu não tinha absolutamente nenhuma pista em que direção nós estávamos indo. Tudo que eu poderia fazer é ficar deitada e conservar minha força. E tentar não pensar sobre o fato do meu molar de trás do lado esquerdo da minha mandíbula mexeu um pouco agora. “Babaca!” Finalmente chegamos em uma parada. O carro desligou. — Você está acordada aí atrás? — Vincent perguntou. Eu o ignorei. —Aaaaaaaaabbeeeey. Eu disse, você está acordada? Meu dedo começou a coçar. Pensei em coçá-lo, mas não ajudou e foi me deixando louca. Mudei sutilmente, tentando aliviar a tensão. — Você é uma grande mentirosa! — Vincent disse. — Eu sabia! Meus olhos se abriram bem a tempo de ver Vincent inclinando-se sobre o assento, e então senti uma dor lancinante no meu maxilar quando ele pressionou para baixo a direita no ponto que ele bateu. — Aaaaaaaaaammmmmmmmppppppphhhh! — Eu gritei, e ele tirou vantagem do momento para enfiar um lenço na minha boca. Antes eu pudesse fazer qualquer coisa, ele estava amarrando em volta da minha cabeça. Levantei minhas mãos para arranhá-lo, rasgá-lo, fazer qualquer coisa nele, e ele amarrou meus pulsos juntos. Lágrimas de humilhação correram pelas minhas bochechas. “Sou tão burra!” Eu estava tão ocupada pensando sobre como eu ia fazer para fugir dele que eu não fiz o inventário de meu próprio corpo. Se eu tivesse feito, eu teria percebido que minhas pernas estavam amarradas. — Eu peguei pra você um lenço novo. — Ele disse cortês. — Deve ter um gosto bom e fresco. Você pode me agradecer mais tarde. — Eu rolei minha cabeça para trás e olhei. — Seus olhos dizem que você quer me matar, mas suas lágrimas dizem que você é só um bebê. Ele soltou as minhas mãos, e eu chutei o assento de pura frustração. Tudo que fiz foi arranhar um pouco o couro. Ele notou, no entanto. Então, eu fiz isso de novo. — Não! — A voz dele era mortal.
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Eu chutei mais forte. Minhas pernas não estavam se movendo muito, mas meus sapatos tinham solas pretas sobre eles, que deixou boas marcas de borracha em que pareciam ser de um novo interior de couro. — Para com isso! — Ele disse de novo. — Não. Faça. Não faça isso. Eu chutei o mais forte que consegui e ele inclinou e tocou minha mandíbula. Uma dor como nunca tinha sentido antes me atravessou e dividiu minha cabeça em dois. Eu gritei de novo, mas foi abafado pelo lenço. Ele manteve seu dedo lá pressionando o nervo sensível, até que tudo que eu podia fazer era gemer. E parar de chutar. Ele moveu sua mão uma fração de polegada. — Você vai parar? — Eu concordei. —Bom. Vamos pra dentro. Onde é a festa. Ele saiu do carro e deu a volta por trás. A porta se abriu, e então ele agarrou a frente do meu casaco, tentando me puxar pra fora do banco. Eu caí no chão e levei todo o peso em meus joelhos. A estrada era de cascalho, e eu sabia que ia ficar dolorido no dia seguinte. Vincent tentou me levantar, mas eu não consegui com minhas pernas presas juntas. Eu só continuava caída. Finalmente, ele grunhiu e me levantou, balançando-me por cima do ombro. Minha cabeça estava para baixo, lançando meus cachos para trás quando ele andou. Eu mexi um pouco, testando para ver se eu poderia ficar livre, ou talvez feri-lo de alguma forma, mas uma mão firme apertou a minha bunda. Imediatamente parei o movimento. —Acredite em mim... — Ele disse com uma nota de desgosto em sua voz. — Eu não quero tocar você também. Só fica parada. Nós já estamos quase lá. De cabeça para baixo o mundo parecia diferente, mas pouco a pouco comecei a colocar as coisas no lugar. Quando chegamos a um impasse na frente de uma porta de madeira, eu já sabia onde estávamos. Mesmo na minha posição. Vincent tinha me levado para a nossa cabana. A cabana da minha família bem isolada, no caminho saindo da floresta. A cabine onde eu ouvi pela primeira vez a notícia sobre a morte de Kristen. Ele se atrapalhou com uma chave, então abriu a porta e entrou. Com um braço ele me jogou do outro lado da sala, e eu caí dura no sofá. Ele trancou a porta da frente e embolsou a chave. Voltando-se para mim com um sorriso mal, ele bateu no bolso.
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— Isso deve ficar seguro aqui. Você está confortável? — Eu olhei para ele, e mentalmente prometi-lhe uma morte lenta e agonizante. — O que você acha do lugar? — Ele fez um gesto em torno da sala. Existia um fogo queimando na lareira, ainda todas as janelas estavam completamente tapadas. — Eu fiz umas melhorias. Tomei cuidado com as entradas e saídas. Cortei a linha telefônica, obviamente. Com certeza, tem sido insuportavelmente chato ficar aqui essas duas últimas semanas, mas eu consegui me manter ocupado. — Seu sorriso se transformou em um sorriso malicioso. — Oh, os sacrifícios que fiz por você! Minhas mãos devem ter sido amarradas juntas, mas isso não significa que eu não podia virar de costas pra ele. Foi o que eu fiz. Ele se aproximou e sentou ao meu lado, apoiando os pés em cima da mesa de café em frente ao sofá. — Eu ia tirar a mordaça da sua boca, mas só por isso... Acho que vou te dar mais uma hora. Mudei para longe dele, e ele pegou uma revista próxima. Eu estava começando a perder a sensibilidade em minhas mãos quando ele finalmente olhou para cima. —Você não vai gritar, vai? — Ele disse. — Ninguém vai te escutar se você gritar. Eu só não quero ter que ouvir sua reclamação. Eu sacudi minha cabeça. Ele foi até a parte de trás da minha cabeça e desfez o nó. Eu cuspi o lenço e respirei fundo. — O que você quer de mim? — Eu explodi. —Por que você me trouxe aqui? Vincent zombou. — Eu não quero nada de você. — Então, eu estou aqui por que…? — Você está aqui para ficar o mais longe possível de Sleepy Hollow e do Caspian. — Por quê? — Por que você não cala a boca agora? Para de falar. É chato.
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— Posso beber um copo de água? E talvez um Advil9? — Eu disse. — Minha mandíbula está doendo. Deve ser, oh, eu não sei. Talvez porque você tenha me dado um soco na cara! Vincent deu um suspiro de proporções épicas e saiu do sofá. — Ótimo! Ele foi vasculhar um par de gavetas buscando o Advil e depois me pegou um pouco de água. Eu engoli a pílulas e gentilmente toquei minha mandíbula. Então, eu segurei minhas mãos na frente dele. — Você pode me soltar? Ele pegou um canivete e cortou o plástico. Eu esfreguei minhas mãos juntas, tentando massagear e colocar alguma vida de volta nelas. Ele guardou a faca no bolso e se moveu até o fogo, jogando uma madeira fresca nele. — Olha pra mim! — Ele disse. — Eu sou um completo homem das montanhas aqui. — O que exatamente nós temos que fazer aqui? — Eu perguntei. — Ler livros? Fazer palavras cruzadas? Oooh, já sei! Monopólio na frente da fogueira. — Você pode fazer o que quiser. Eu vou pegar a última temporada de Supernatural. Eu rolei meus olhos pra ele. — Oh, grande. — Hey! — Ele disse. — Eu passei por um monte de problemas para me certificar de que você teria suprimentos. Eu não sou insensível, você sabe. Comprei comida, água, até mesmo papel higiênico. O que mais você precisa? — Suprimentos? Quanto tempo você está planejando me manter aqui?
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Advil é um analgésico.
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— Hoje é dois de novembro, então... Não será por muito tempo. — Ele parecia desapontado. — Eu acho que não serão necessários todos aqueles suprimentos, afinal. — Então, ele se iluminou. — Mas podemos ficar mais se você quiser.
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Capítulo Vinte e Quatro LINHAGEM DE SANGUE
Um homem digno do nome de Ichabod Crane, quem peregrinou... Em Sleepy Hollow... Ele era alto, mas extremamente magro... Com orelhas enormes, grandes olhos verdes opacos... The Legend of Sleepy Hollow
Antes que eu pudesse responder, Vincent foi até o aparelho de DVD e pegou o controle remoto. Retornando para mim, ele apoiou ambos os pés estendidos em meu colo. Com uma careta empurrei seus pés. — Eu não sou seu apoio para os pés. Obrigada. — Meus próprios pés estavam começando a doer, e eu massageava a pele que estava bem apertada nos tornozelos pela fita. — Você poderia, por favor, tirar isso de mim? — Deixe-me pensar sobre isso... Não.— Ele pressionou PLAY, e uma bola de fogo apareceu na tela. Dois rapazes correram para fora de um edifício, cada um segurando uma espingarda. — Eu já vi esse... — disse ele. — Dean vai direto para o inferno por isso. Ou espera. Pode ser Sam neste momento. Eu não posso mantê-los na linha. Eu não queria pedir-lhe. Mas a dor estava indo em uma direção insuportável. — Vincent, por favor! — Eu disse. — Corte isto fora de mim.
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— O que você vai me dar? — Ele levantou a cabeça e, lentamente, deslizou seus olhos pelo meu corpo. Cada terminação nervosa minha encolheu, e minha pele parecia que queria fugir gritando. O que exatamente teria que fazer para ganhar minha liberdade? — Eu, uh... Eu... — Engoli em voz alta. — Bem? Meus pés poderiam cair. Eu rastejaria até a porta, se eu conseguisse. Vincent levantou uma sobrancelha para mim, esperando. — Eu tenho que usar o banheiro. — Disse ao invés de responder. — Vou levá-la. — Levantou-se e ofereceu uma mão. Ignorei em primeiro lugar. — Você tem cinco segundos para pensar. — Ele me disse. — Ou então você não irá até a manhã de amanhã. Relutantemente eu peguei sua mão e manquei com meus pés. Tentar dar um passo era praticamente impossível, e eu balançava freneticamente. — Eu não posso fazer isso. — Eu disse. — Eu preciso dos meus pés. — Vincent me deu um olhar de desdém. — Eu posso fazer xixi aqui mesmo no chão, se quiser. — Eu ofereci. Ele puxou a faca novamente e cortou a fita. Meus pés se libertaram, e dei um suspiro de alívio. Esse alívio durou pouco, porém, porque ele apertou meu pulso e o agarrou. Com força, ele me dirigiu até o banheiro e me empurrou para dentro. Liguei a água para fazê-lo pensar que eu estava lavando minhas mãos, e medindo o tamanho da pequena janela sobre a banheira. Muito pequena. Vincent bateu na porta. — Apresse-se. Estou esperando. — Estou indo, estou indo. — Gritei de volta. Segurando as bordas da pia, olhei para o espelho e virei minha cabeça para olhar para a minha mandíbula. A mancha tênue amarela e rosa estava lá, o início de uma contusão começando a se formar. Toquei-o e gemi com dor quanto gritei em minha mente de novo. “Tempo para o plano B, Abbey. Você precisa sair daqui.” A maçaneta foi sacudida.
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— Abra. Ou vou quebrá-la. Então qualquer xixi que você queira fazer realmente, fará na minha frente. — Fechei a torneira e abri a porta. Vincent agarrou meu braço de novo e me levou de volta para o sofá. Deixando-me completamente longe dele, eu corri perto do outro canto e me enrolei em uma bola. Quanto tempo levaria para alguém me encontrar? — Por que você fez isso? — Eu disse baixinho, imaginando o quanto poderia aguentá-lo. — Fiz o quê? — Me perseguir. Deixar as coisas no meu armário. Visitar meus pais, vestido como um sacerdote. E então... Simplesmente desaparecer. Por que você fez isso? Ele parecia animado. — Você gostou das unhas? Eu pensei que elas eram um toque agradável. E que perfume? Muito caro. A roupa de sacerdote era o meu personagem favorito. Difícil de trocar, no entanto. Isso restringiu o fluxo de sangue. — Ele sorriu para mim enquanto eu lancei um olhar “Você está louco.” — Oh, vamos lá. Eu tinha que fazer alguma coisa para me manter ocupado. Eu estava matando o tempo. — Matando o tempo até o quê? — Até isso, é claro. Você é um pouco grossa, não é? Sentei-me. — O que você quer dizer? — Eles não te disseram? Aposto que foi ideia da Sophiel. Ela é uma vadia! — Por que você não me conta? — O seu amor tem tido quaisquer sintomas estranhos ultimamente? Talvez perder sua capacidade de tocar? — Ele levantou um dedo. — Ou de repente ele gosta de tomar extra longos cochilos? Eu considerei mentir para ele, dizendo que não, que essas coisas nunca tivessem acontecido. Mas diferente do Uri, ele parecia ser o único Revenant disposto a me dizer alguma coisa.
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— Sim. Por quê? — E você... — Ele apontou para mim. — Você não reage da mesma maneira para o Revs mais, não é? Sem o odor ardente ou gosto de cinzas? — Eu balancei a cabeça. — O que tudo isso significa? — Minha voz saiu num sussurro. — Isso significa que seus pequenos amigos Revenant estão mentindo para você. Eu aposto que desde o início. — Ele parecia absolutamente encantado. — Você nem mesmo sabe o que o dia 3 de novembro é? — Não. — É a razão pela qual você está aqui. A razão pela qual o seu menino de brinquedo veio a perder sua habilidade de tocar e ficou preso no sono escuro tantas vezes. É porque você não reage da mesma maneira para o Revenants. Porque está ficando mais perto. Está quase na hora. — Esperei que ele me dissesse. Era óbvio que era o que queria fazer. —O Dia D. — Disse Vincent. — Isso não é verdade! — Eu respondi. — Não há uma data exata. Os Revenants não descobriram quando ou como eu vou morrer. — Não você... Ele. — Vincent sorriu. — Mas como pode acontecer? Caspian já morreu. Eu fui ao seu túmulo. — Você realmente acha que Casper, o Fantasminha Camarada ia ficar por aqui para sempre? Ficar com você, neste mundo, então você poderia ter uma pancada feia uma vez por ano? — Ele me deu um olhar aborrecido. Eu tentei tão arduamente que não poderia deixar minhas bochechas vermelhas, mas não acho que fui bem sucedida. — Como Caspian pode morrer novamente? — Eu perguntei, desesperada para não deixar a conversa se desviar. — A resposta curta é, você. — Eu vou matá-lo? Vincent caiu na gargalhada, e então seu rosto ficou completamente imóvel.
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— Não, você vai estar aqui comigo. Mas sem você Caspian não pode ficar. A partir da meia-noite do dia 3 de novembro, ele não existirá mais. — Como posso impedir que isso aconteça? Como faço para completálo? — Você morre. — E você... — Eu engoli seco. — Vai ser o único a me matar? — Não, não, não! — Vincent me deu um tapinha na cabeça. — Lembra-se? Nós já tivemos essa conversa. No seu quarto? Eu quero mantê-la viva. — Mas por quê? Não estou entendendo. Por que você quer me manter viva? — Porque uma vez que você estiver morta, você pode completá-lo. Isso era como um círculo vicioso sem respostas. — Por que você se importa ou não se eu o completo? — Eu disse. — Se você é um Revenant, então você ajudou outros Shades antes. Por que não nós? Ele cruzou uma perna sobre o joelho. — Tudo volta ao Revenant original. Há rumores de que Deus e o diabo fizeram um acordo e escolheram seis representantes do céu e seis representantes do inferno para ajudá-los a resolver toda a colheita, negócios de morte. Os representantes foram divididos em equipes de dois, metade anjo, metade demônio. Ou a luz e a escuridão. Um yin, yang um... Blá, blá, blá. Você entendeu a ideia. Com o tempo eles foram designados para ajudar um grupo de almas na travessia, em particular, os Shades e suas outras metades. Está me acompanhado até agora? — Sim.
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— Bom! — Ele bateu palmas. — Eventualmente, as seis equipes ficaram por um longo tempo, milhares de anos, depois de tudo, eles estavam prontos para seguir em frente. Shades, os únicos humanos que podem permanecer na Terra depois de suas mortes, foram escolhidos para ocupar o seu lugar. E a estes Shades foi dado um nome. — Ele me olhou como se ele fosse me dar uma dica. — Quem você conhece que trabalha em equipes de dois? Um bom e um ruim... Bem, de um modo geral. — As equipes de dois... O Revenants? — E a rodada de bônus vai para...!— Ele tocou seu nariz e apontou para mim. — Sim, o Revenants. — Espere um minuto... Então você está me dizendo que os Revenants substituem as equipes originais demônio/anjo, e todos os Revenants já foram Shades? Como humanos? — Ding, ding, ding! Deem para essa menina um prêmio! — Ele bateu novamente. Eu olhei para ele. — Você já foi humano! — Não fique tão chocada. Jesus! Minha mente estava girando. — É por isso que nenhum dos outros sabia o que fazer? — Eu disse. — Porque você deveria ser meu Revenant? Um dos únicos a me ajudar a atravessar? — Ele se inclinou para trás e colocou as duas mãos atrás da cabeça. Seu sorriso já dizia tudo. Meus dedos cavaram no sofá, e encontreime apertando o tecido. — Por que eu? — Eu disse através dos dentes cerrados. — O que havia de tão especial em mim e Caspian que você decidiu que não queria fazer o seu trabalho mais? Diga-me, Vincent Drake. O que era tão malditamente importante que você não podia simplesmente deixarnos em paz?
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— Oh, por favor! — Ele zombou. — Isto não é sobre você. É sobre mim. Isto é tudo sobre mim. Você sabe como é ser imortal? Não ter responsabilidades. Ou contas. Problemas de dinheiro, ou querendo saber onde a sua próxima refeição vai vir? — Ele inalou profundamente, fechando os olhos por um momento. — É muito impressionante. Isso é o que é. — Ele se aproximou e colocou o rosto centímetros do meu. —Eu seguro o destino dos mortais em minhas mãos. Cada vez que venho a Terra, eu sou responsável por suas vidas e suas mortes. — Ele sorriu para mim. Um louco, sorriso bonito. — Eu gosto desse sentimento. E eu não quero que isso acabe. Simples assim. — Mas por que termina? Não são vocês as novas equipes, ou o que? Tomando o lugar dos anjos e demônios? — Nós não somos os Revenants originais, sua idiota. Não tem havido muitos de nós, mas houve outros. Você recebe certa quantidade de tempo para fazer o seu trabalho, e então você é substituído pela próxima rodada de Shades. E aqueles Shades estão aqui. Conhecidos como Nikolas Degenhart e Katrina Van Tassel, no Cemitério de Sleepy Hollow. — Esfreguei meus olhos. Tentar entender toda essa nova informação no meu cérebro estava fazendo minha cabeça girar. —Então... O quê? Você fez tudo isso porque você vai perder o emprego? — Não é tão simples. — Ele explodiu. — Nunca é tão simples. Enquanto você for uma Shade, você vive para sempre, amarrado a um único lugar. Shade são porteiros de espaços sagrados. Você sabe, cemitérios, túmulos, solos sagrados? — Eu balancei a cabeça, porque isso parecia ser o que ele queria que eu fizesse. — Quando você se torna um Revenant, você vive para sempre em todo o mundo. Quando você para de ser um Revenant, você segue em frente. — Aonde você vai? — Eu não sei. Mas onde quer que seja você não volta. E esse não vou ser eu. — Como você sabe que Revenants vão seguir em frente? — Ninguém sabe. Esse é o problema. — Então, como você sabia? — Eu perguntei. Sua voz se transformou em aparentemente calma.
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— Porque sou o mais velho. Eu estive por aí por mais tempo. E porque eu tive um pouco de ajuda. — Sentando-se, tirou a camiseta que usava e expôs seu peito. Ele estava coberto de uma massa de tatuagens negras. Eles eram pequenos símbolos rabiscados, repetindo-se uma e outra vez, em cima da outra. Eu não poderia dizer onde um começa e outro termina. Eu não poderia ajudá-lo. Eu ri. — Você teve ajuda de um tatuador? — Ele esperou até que meu riso morresse, então jogou sua camisa para o lado. — Terminou? — Havia algo em seu tom que me disse para parar. — Sim. — Eu disse humildemente. — Esses são feitiços de proteção. — Ele apontou para uma seção. — Eles me mantêm escondido dos outros. O xamã que fez elas sabia o que somos, e ele me disse o que iria acontecer na Hollow. Que era hora para dois Revenants novos, e eu estaria seguindo. Eu não posso deixar isso acontecer. — É por isso que você não quer me deixar completar Caspian. Vincent balançou a cabeça. — Se vocês dois não estão completos, então os outros dois tem que ficar. Há um equilíbrio para tudo. Se eu não posso pará-lo, então eu vou adiá-lo. — Assim como Kristen está em tudo isso? Como você poderia pensar que ela era outra metade Caspian? Ele parecia irritado consigo mesmo. — Eu não sei como eu consegui errar. Eu fiz todas as pesquisas sobre Caspian Vander, nascido em West Virginia, mudou-se para White Plains, sua mãe se mudou com ele quando era um bebê pequeno, ele tem uma conexão com Sleepy Hollow... Blá, blá, blá. Talvez tenha sido minha preferência por ruivas nublando meu julgamento. — Conexão com Sleepy Hollow? — Eu dei-lhe um olhar confuso. — O que você quer dizer com isso? — Sua ligação. Está em seu sangue. Literalmente. Ele é um descendente de Ichabod Crane.
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— Um descendente de...? O quê? — Os olhos verdes? — Ele fez um gesto para seu rosto. — Você já leu “The Legend of Sleepy Hollow”, certo? Ichabod Crane é descrito como tendo olhos verdes. A lenda era verdadeira. Ele era uma pessoa real, e ele tinha um monte de crianças. Caspian é um de seus tatara-tatara-tatara-tatara netos. Não citarei o número grande, embora... Seria verdade? Poderia ser verdade? Caspian tinha incomuns olhos verdes, e ele me disse mais de uma vez sobre a atração que ele sentia em relação à Sleepy Hollow. Era esta outra maneira que estávamos conectados? Eu, com meu amor pela cidade e Washington Irving, e ele através de uma linhagem de Sangue real? Quais são as chances? Vincent abriu a boca para dizer algo, mas o som de um carro entrando na garagem o interrompeu. — Droga! — Ele apontou para mim. — Você. Fica aqui. Quero dizer isso. Vou ver quem é. — Olhei para a lareira quando Vincent levantou-se e foi para a porta da frente. Avistei a minha oportunidade, uma tora de madeira meio queimada saindo do fogo. Quando ele virou as costas, vi a minha chance. E peguei.
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Capítulo Vinte e Cinco FAZER CERTO
O espírito dominante, no entanto, que assombra esta região encantada, e parece ser o comandante principal de todos os poderes do ar, é a aparição de uma figura a cavalo... A Lenda de Sleepy Hollow.
Eu não parei para pensar. Apenas corri para o tronco, o agarrei, e segui direto para ele. Vincent virou um segundo tarde demais, e dirigi a extremidade quente direto na parte superior de seu peito - apontando para a seção de tatuagens que ele tinha dito que eram seus feitiços de proteção. Ele gritou indignado enquanto sua pele chiava e se repartia, as bordas cruas das feridas ficando pretas com fuligem. Uma larga marca de queimadura vermelha floresceu, e ele olhou para baixo, choque escrito por todo seu rosto. Segurei firmemente a madeira, nem mesmo notando que ela estava quente ao toque, e apontei para ele, ostentando como a única arma que eu tinha. Ele deu um passo em direção a mim, mas a porta da frente de repente estremeceu aberta, e o homem de terno branco, o homem que tinha estado no manicômio e quem tinha estado me observando no cemitério, entrou na cabana. ― Grifyth! ― ele gritou.
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Tudo aconteceu de uma vez, em um borrão de movimento que me deixou atordoada, enquanto o homem atacava Vincent e eles passaram voando por mim. O homem no terno branco empurrou Vincent para o banheiro e bateu a porta entre eles. Alcançando por uma cadeira da cozinha, ele a forçou sob a maçaneta. Não demorou muito para os golpes do outro lado começarem. Olhei para ele. ― Quem é você, e o que está fazendo aqui? ― Bem, eu estava vindo para resgatá-la ― ele disse em tom divertido. ― Mas parece que você estava cuidando de si mesma. Ele estendeu uma mão para mim. ― Vamos. Vamos embora. Aparentemente eu não tinha uma escolha no assunto, porque ele já estava me arrastando atrás dele, e minhas pernas seguiram. ― O que vai acontecer com Vincent? ― eu disse. ― Ele não estará feliz quando sair, mas precisamos recuperá-la dos outros Revenants. ― Ele me guiou para um carro cinza esperando lá fora. ― Qual seu nome? ― perguntei. ― Você pode me chamar de Monty. ― Você sabe onde Caspian está? Ele assentiu. ― Com os Revenants. Mas ele não tem muito mais tempo. Ele parecia triste quando ligou o carro, mas andou e fomos embora. Ele estava indo em excesso de velocidade por uns bons trinta quilômetros enquanto voltávamos para Sleepy Hollow, mas algo me dizia que não seríamos parados por nenhum policial. ― Você estava em um asilo, certo? ― eu disse. ― Gray’s Folly? ― Sim. ― Como Uri sabia que você estaria lá? ― Passei muito tempo lá quando era humano. O lugar foi nomeado por mim, na verdade.
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As peças do quebra cabeça estavam começando a se encaixar. Mas a maior delas, a mais óbvia, não se encaixava ainda, e eu queria pisar delicadamente. Eu não sabia por que, mas ele parecia alguém com uma alma ferida. ― Monty... posso perguntar uma coisa? ― eu disse. Ele assentiu. ― Você é companheiro de Vincent? Sua outra metade? Tristeza cruzou seu rosto, junto com algo mais. E eu sabia que a resposta seria sim. ― Como pode ser isso? ― eu disse. ― Pensei que Sombras deveriam ser masculinas e femininas. Um amor compatível? ― A maioria é. Mas quando Grifyth era criança – desculpe, quero dizer Vincent. Quando ele era uma criança, ele era um estudante em minha escola. Ele morreu lá, mas eu ainda continuava vendo-o em todo lugar. Pensei que estava sendo punido por não salvá-lo. ― Não salvá-lo? Como ele morreu? A expressão de Monty escureceu. ― Ele se afogou. Vincent tinha se afogado? Isso não fazia sentido. Sombras e suas outras metades eram um amor compatível. Mas para Monty tinha sido um amor sacrificado. ― Então quando você descobriu que era como eu, você o preencheu de culpa, certo? Ele suspirou. ― Sim. Isso foi há muitas vidas. Passamos a enorme ponte coberta enquanto nos dirigíamos para Sleepy Hollow, e olhei para ela por um momento. Isso me lembrou do que eu estava correndo. Se eu estava indo salvar Caspian, completá-lo, havia apenas uma coisa que eu tinha certeza: eu tinha que morrer primeiro. Alcançando a mão dele enquanto chegava ao cemitério, eu disse, ― Obrigada, Monty. Não sei o que teria acontecido se você não tivesse vindo. ― Então saí do carro, sem saber se ele seguiria, mas sabendo onde eu tinha de ir.
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Ao rio. Para o lugar onde Kristen tinha morrido. Eles estavam todos lá, esperando por mim, formando um pequeno círculo, com Uri e Cacey de um lado e Kame e Sophie do outro. Caspian estava em pé no meio, gesticulando e falando em voz alta. Fui correndo. Voando. Em direção à ponte. Em direção a ele. Ele me encontrou a meio caminho, e eu tropecei, mãos estendidas para ele. Elas passaram através, é claro, mas eu estava tão feliz em vê-lo que não me importei. ― Onde você estava? ― ele perguntou. ― Oh, Deus, Astrid. Eu estava tão preocupado. Não sabíamos onde procurar, mas eu não queria partir no caso de você vir aqui. O que aconteceu? Por que você não... ― Vincent estava aqui ― eu disse. ― Ele me levou, para a cabana da minha família. Ele me raptou. Monty veio passeando atrás de mim, e os outros o acolheram. Ele não parecia muito confortável ao redor deles, mas Uri lhe deu um tapinha nas costas, e ouvi ele dizer: ― Eu sabia que você ajudaria. Caspian veio perto de mim. ― Ele pegou você? Oh, amor. Ele te machucou? Meus olhos deslizaram para longe. ― Ele estava... em seu jeito encantador usual. Caspian me olhou, seus olhos se estreitando. ― O que ele fez? ― Ele meio que usou seu punho para me acalmar ― eu admiti. ― No rosto. ― Caramba ― Cacey disse. ― Ele realmente tem ido ao fundo do poço. Caspian olhou para ela. ― Mais tarde ― eu disse. ― Não temos muito tempo. ― Por quê? ― Caspian perguntou desconfiado. ― É isso que eles continuam dizendo. Alguém quer me dar uma pista?
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― À meia noite é três de novembro ― eu respondi. Olhei para Cacey. ― Vincent me contou tudo. Sobre a origem dos Revenants. Sobre o fato de vocês foram todos humanos uma vez. Por que não me contou? Por que você mentiu? Kame levantou uma mão. ― Havia certas coisas que não poderíamos dizer a você, Abbey. Vir-me-ei para Uri. ― Você me disse praticamente tudo. Por que não me contou sobre o que aconteceria com Caspian? Era realmente tão difícil? Eu tive de descobrir por Vincent. ― Isso foi tudo novo para nós, Abbey ― Uri respondeu. ― Vincent e Monty eram os únicos autorizados a dizer qualquer coisa. Estávamos aqui para encontrar Vincent e trazê-lo de volta, para restabelecer o equilíbrio. ― Oh, vamos lá. Você tinha de ter alguma ideia. Todos os sinais estavam lá. Você pode não ter sabido a data exata, mas sabia que estava chegando perto. ― Bem, agora você sabe, e ponto final ― Cacey disse. ― Há um enorme problema a ser tratado aqui, Acácia ― Kame disse. ― Você sabe disso. Troquei olhares com Caspian. ― Qual o enorme problema? ― Vincent é o seu Revenant ― Kame respondeu. ― Isso significa que ele deve ajudá-la a atravessar. ― Mas ele não quer fazer o trabalho. Então isso significa que eu vou ter de fazer isso ― Monty disse. ― E vou precisar da ajuda de todos. ― Nada precisa ser feito ― Caspian disse. ― Vamos apenas manter as coisas como estão. ― Ele suavizou o tom. ― Primeiro de Novembro virá novamente ano que vem, Astrid. Fechei os olhos brevemente, mas isso não impediu as lágrimas de virem. ― Você não entende ― eu disse a ele. ― Todas as mudanças ultimamente, você perder seu toque, cair em um sono profundo... isso significa algo mais. Se eu não completar isso agora, você vai seguir em frente. Sem mim.
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Caspian procurou ao redor por um Revenant para dizer a ele que eu estava errada. A resposta veio de Cacey. ― Seu tempo acabou, querido. Ele olhou para o chão, descrença escrito em todo seu rosto, e minhas lágrimas vieram fortes. Tentei afastá-las, esfreguei minhas mãos sobre meu rosto, mas as lágrimas vieram simplesmente mais rápidas. ― Por favor ― eu disse. ― Por favor, apenas me deixe estar com ele. ― Isso não cabe a nós ― Cacey disse. ― Isso é apenas a maneira que vai ser. ― Mas vocês têm poderes. Você tem de ser capaz de fazer algo. Uri veio e colocou seus braços ao redor de mim, envolvendo-me em um abraço protetor. Virando-me para longe do grupo, ele sussurrou: ― Abbey, você não entende. Você não tem de morrer. Você tem sua vida. Isso não significa nada para você? Qualquer coisa? Olhei para Caspian. ― Não sem ele. Uri soltou um suspiro de frustração. ― Eu não lhe disse isso antes, mas minha morte machucou. Foi dolorosa, e não desejo isso para ninguém. Balancei minha cabeça teimosamente. ― Não me importo. Não me importa se isso machuca. Além disso, Nikolas me disse que sua morte foi fácil. ― É diferente para cada um, isso é verdade, mas você não vê? Por que você quer desistir de tudo isso? Eu não entendo. Envolvi minha mão na dele. ― Pense sobre Cacey. Acácia. Então me diga se você ainda não entende. ― Um meio sorriso se esticou em seus lábios, então desapareceu. ― Vê? ― eu disse, ― Você entende. Endireitando meus ombros, me afastei dele e me movi para Caspian. ― Amor ― eu sussurrei. ― Está tudo bem. Eu decidi. Seus olhos estavam cheios de angústia, e ele colocou uma de suas mãos ao lado do meu rosto. ― Você não pode, Abbey. Não pode fazer isso. Você tem de me deixar ir. ― Muito propositadamente ele se afastou de mim e virou as costas, movendo-se ao lado de Sophie do outro lado do círculo.
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― Faça isso ― ele disse sucintamente. ― Leve-me com você e a deixe ficar. ― Caspian ― eu levantei minha voz. ― Isso é minha escolha. Não tire isso de mim. ― Você não pode pensar que estou... Cacey ergueu sua mão e nos interrompeu. ― Espere, espere, espere. Não há necessidade de nada disso. Isso ainda não muda o fato de que não podemos fazer. É o trabalho de Vincent e Monty, lembra? ― ela disse. ― Mas Monty quer tentar. Isso não significa nada? ― eu perguntei. Kame se inclinou e disse algo para Sophie. Ela balançou sua cabeça, então respondeu: ― Eu não sei. A corrente foi interrompida. Não podemos ter certeza... O som de passos exaustos veio trovejando atrás de nós, e todos viraram para olhar. Nikolas estava sentado em cima de um cavalo cinza escuro, com Katy atrás dele. ― Temos de procurar o outro lado ― ele disse, ― e ainda não há sinal de... ― Assim que me viram, pararam. ― Abbey! ― Katy disse deslizando do cavalo. ― Estávamos tão preocupados. Estávamos procurando você em todos os lugares. Ela veio em direção a mim, e lhe dei um grande abraço. ― Eu estava com Vincent, mas estou bem. ― O que ele fez para você? ― Ela virou meu rosto e olhou meu queixo. ― Coitadinha. ― Estou bem ― sussurrei. ― Tudo vai ficar bem agora. ― Abbey? ― Alguém mais chamou meu nome. Atrás de mim. A voz era estridente, mas soava como... ― Cyn? Ela se aproximou, hesitante, e pude ver que Vincent a estava segurando com uma mão ao redor de sua garganta. Algo brilhou, e eu sabia que era uma faca.
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Imediatamente Caspian se moveu para meu lado e Nikolas se aproximou com seu cavalo. ― Você começou sem mim? ― Vincent gritou. ― Você sabe que não posso ficar de fora. Mas tenho minha apólice de seguro aqui ― Ele empurrou Cyn para frente rudemente, e ela tropeçou. ― O que você está fazendo? ― Cacey perguntou. ― Você está louco? Vincent olhou para ela. ― Tudo bem, tudo bem. Não responda ― ela murmurou. ― Deixe a menina vir para nós ― Kame instruiu Vincent, seu tom tranquilizante. ― Podemos discutir isso. ― Não há nada para discutir. ― Ele puxou a cabeça dela para trás. Uma terrível borda de uma lâmina brilhou contra sua garganta pálida. ― Não serei substituído. ― Ei, esquizofrênico ― Cyn disse para Vincent. ― Quer relaxar um pouco seu aperto? Não vou lutar. Vincent a ignorou. ― Por que você não deixa Cyn ir? ― eu disse. ― Ela não tem nada a ver comigo e Caspian sendo completados. ― Não posso ― ele respondeu. ― Veja, o que eu preciso é você tomar a decisão de não completá-lo. E a única maneira que vejo isso acontecendo agora para mim é segurando ela, assim você não faz nada estúpido. ― Por que você simplesmente não fica longe? ― eu disse de repente. ― Se você não quer fazer o trabalho, por que apenas não vai para algum paraíso tropical e fica tão longe de mim e de Sleepy Hollow possível? Ele suspirou pesadamente. ― Coisa Radar. É como um relógio em esteroides. Uma cadela real. ― O que é uma Coisa Radar?
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― Um programa como um hardware dentro de nossos cérebros para garantir que nós possamos nos tornar visíveis e fazer nosso trabalho. ― Ele moveu a faca longe de Cyn e apontou para sua cabeça. ― Veja, quando o tempo do Companheiro passar, ficamos com este pequeno radar na tela que começa a apitar no fundo de nossas cabeças. Quanto mais ignorarmos mais alto se torna, até que esta bobagem de sinal estridente o leve a loucura e tudo que você possa pensar seja em encontrar seu Companheiro. Você tem de estar dentro de dez metros de distância para desligá-lo. Ele fez uma careta, e eu poderia dizer obviamente que ele experimentou uma ou duas vezes. ― Mais alguma coisa que você queira saber? ― ele disse. Ele olhou para seu relógio. ― Temos algum tempo para matar. Eu vi o movimento com o canto do meu olho, e percebi que era Uri e Caspian se aproximando. Vincent também os viu. ― Vou estripá-la como um peixe aqui e agora se vocês não se afastarem, porra ― Vincent ameaçou, movendo a faca pelo estômago de Cyn. ― Não vou matá-la, mas vou fazê-la sangrar. Eles pararam. ― Isso está ficando velho ― Cyn falou. ― Algum de vocês querem me dizer qual o dano dele? ― Ela uivou em dor enquanto Vincent cavou o fio da faca no mais profundo. ― Tudo bem, tudo bem. Esqueça isso. ― Não. Não! ― eu disse. ― Você vence, Vincent. Fim da história. ― Na verdade... ― ele inclinou sua cabeça. ― Esse não é o fim da história. Eles lhe disseram a outra parte? A melhor parte? Provavelmente não. Porque são uns covardes. ― Como se você fosse algo melhor ― Caspian disse. ― Sou muitas coisas, mas não um covarde ― Vincent respondeu. ― Tenho bolas de pedra sólida. ― Então ele voltou sua atenção para mim. ― Você sabe aquela amiga sua? A morta? Era suposto ser você.
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Tentei manter meu rosto em branco. ― Você já me disse isso. Você pensou que ela era a outra metade de Caspian e queria tirá-la do caminho para que eles nunca pudessem se encontrar. Ele balançou sua cabeça, mas sorriu alegremente. ― Foi apenas um erro da minha parte ter me envolvido com ela. Se eu tivesse sido mais paciente, poderia ter evitado aquilo. Quando ela morreu... ― ele olhou para o Rio Crane, ― bem ali, eu acredito, você deveria estar aqui. Era seu dia de morrer. Não dela. Antes de eu interferir, você teria conhecido Caspian, e depois quem sabe onde todos estariam? Eu apenas cansei de ter pontas soltas, então decidi tomar conta disso eu mesmo. Agora você não está escrita e nenhum de nós sabe quando isso vai acontecer. Choque me atingiu. Olhei para Uri. ― Isso é verdade? ― perguntei. ― Diga-me. É verdade? Nikolas desceu de seu cavalo. ― Abbey ― ele disse. ― Foi lhe dada uma chance... ― Dado uma chance a mim! ― eu disse histericamente. ― Eu não tive uma chance. Minha vida foi poupada porque minha melhor amiga foi levada no lugar. Vincent sorriu. ― Eu estava esperando que ela trouxesse você junto com ela. Então eu teria tido duas por uma. De repente Cyn começou a sussurrar alguma coisa. Eu pensei ter pego a palavra véu, mas ela estava falando cada vez mais rápido e eu não pude ouvir o que ela estava dizendo. Seus olhos fecharam e sua cabeça caiu para frente. Ela sacudiu uma vez, então ficou em pé. Quando seus olhos abriram novamente, eles tinham mudado. ― Abbey ― ela disse. ― Está tudo bem. Piscando rapidamente, tentei clarear minha visão. Cyn estava fazendo o que ela tinha feito na sessão espírita. Seu sorriso, seus olhos, sua expressão... exceto pelo cabelo mais longo, tudo nela era Kristen. Ela realmente está aqui. ― Kristen? ― eu disse em um sussurro. Vincent deve ter visto também, porque ele parecia atordoado.
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Cyn colocou sua mão em meu braço. ― Senti tanto a sua falta. ― Ela colocou sua outra mão em meu rosto. ― Sinto muito, menti para você. Desculpe eu não ter lhe contado sobre ele. Por quase um ano eu guardei este segredo porque eu estava tão envergonhada. Eu não queria que você pensasse menos de mim. Eu apenas queria tirá-lo da minha vida sem você nunca saber. Foi por isso que não pedi a você para ir comigo. Para a ponte. Minha visão nublou novamente. Lágrimas estúpidas. ― Eu nunca poderia pensar menos de você, Kristen ― eu disse. ― Sinto tanto sua falta. Há tanta coisa que quero lhe dizer. Ela sorriu. ― Eu sei sobre tudo agora. Eu sei quando você vem me visitar no cemitério. Eu sabia quando seu menino estava mantendo um olho em você, e cuidando do meu túmulo. ― Ela olhou para Caspian. ― Ele é bom para você. Muito bom para você. Você o ama? ― Sim ― eu sussurrei. ― Mais que qualquer coisa. Vincent nos interrompeu. ― Eu não sei o que está acontecendo, mas isso... ― Você sabe o que precisa fazer. ― A voz que interrompeu veio de trás de Vincent. Monty estava lá. ― Grifyth, você sabe o que precisa fazer. Deixeos ficar juntos. Deixe isso acabar. ― Meu nome é Vincent! ― ele disse. Fúria tornou seu rosto roxo, e Cyn/Kristen agarrou minha mão. ― E você deve saber disso. Ele afastou a faca de Cyn por uma fração de segundo para apontá-la para Monty, e eu puxei a mão de Cyn tão forte quanto eu pude para afastála dele. Ela deve ter pensado a mesma coisa, porque ela se impulsionou para mim. Vincent estendeu a mão para agarrá-la, mas ele apenas conseguiu um punhado de seu cabelo e deslizou de seu agarre. Uri e Caspian se lançaram para ele, e os três desceram em um emaranhado. Eu pude ouvir os socos voando e grunhidos de dor enquanto punhos atingiam a carne, mas eu não podia ver o que estava acontecendo. Quando a poeira finalmente baixou, Uri estava sentado no peito de Vincent, prendendo seus braços para baixo em ambos os lados, com Caspian segurando seus pés. Monty estava ali, parecendo inseguro de si mesmo.
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Ele olhou para mim, e eu pude ver culpa escrito em todo seu rosto. Culpa que ele não tinha feito nada para parar seu parceiro. ― Faça isso certo ― eu disse a ele. ― Você ainda pode fazer isso direito. Ele balançou sua cabeça. Os outros Revenants e Nikolas e Katy ainda estavam esperando na beira do rio. Agarrando a mão de Cyn, eu ergui minha voz. ― Vincent interferiu. Ele deveria ter feito o trabalho, e ele fez outro. Ele tomou a vida que não era para tomar. Você precisa estabelecer o equilíbrio certo. ― Abbey, não podemos apenas... ― Cacey começou a dizer. Mas eu ergui uma mão. ― Sim, vocês podem. Não me importo como vocês tenham que fazer, mas vocês precisam acertar as coisas. Traga Kristen de volta. Levem-me. Restaure o equilíbrio. ― Abbey ― Caspian pediu. ― Não. Não faça isso por mim. Eu me virei para ele. ― Eu daria meu coração, minha respiração e minha alma para você. Alegremente. Mas isso é maior que você. É meu destino ser sua outra metade, mas também é meu destino ser a melhor amiga que puder. Para Kristen. Ela foi roubada de seu futuro, de seus sonhos. Vincent tomou dela quando não tinha direito a isso. ― Não vou ficar no caminho de sua decisão ― ele disse. ― Vou apoiá-la. Sempre. Meu coração quase quebrou novamente com o olhar de amor decidido em seus olhos. Kame falou. ― Você percebe o que acontecerá se fizermos isso, Abbey? O que você está pedindo? Teremos que mudar o tempo. Para alterar as ordens das coisas. Brevemente pensei em mamãe e papai. Tio Bob e tia Marjorie. Não era justo eu não poder dizer adeus a eles. Mas isso era a vida. ― Estou lhe pedindo para consertar a ordem ― eu disse. ― Estou pronta.
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Ele hesitou. ― Não podemos ter certeza do que acontecerá, depois. Isso é uma verdadeira bagunça. É algo inteiramente diferente de tudo que já fizemos antes. Olhei para Monty. ― Você está disposto a tentar me ajudar a atravessar? Ele olhou para Vincent. ― Não vá fodidamente fazer isso, Monty! ― Vincent gritou, resistindo contra Uri e tentando arremessá-lo. ― Não vai funcionar. E se você... Uri apertou a mão dele sobre a boca de Vincent. ― Chega de você. ― Ele está queimando no ombro superior ― eu falei, apontando em mim mesma onde eu havia ferido Vincent. ― Apenas lá. Uri cutucou o peito de Vincent e ele fez um som de raiva e sufocado. ― Ele pode não estar disposto, mas ainda está aqui ― disse Monty. ― Posso tentar usar esse vínculo. ― Então ele assentiu. ― Sim. Estou disposto. Soltei uma respiração profunda. Kame sorriu para mim. ― Agora ou nunca, menina. Sorri de volta, e então travei meus olhos com Caspian. ― Agora. Definitivamente agora. ― Vamos precisar de Uri ― Cacey disse. ― E Caspian. Nikolas se adiantou. ― Posso tomar o lugar deles. Cacey lhe deu um olhar de soslaio. ― Você tem certeza sobre isso? Esticando-se até sua altura máxima, Nikolas fez uma careta para ela. ― Você duvida de um Hessian? ― Tudo bem, tudo bem. ― Ela balançou sua cabeça, e Nikolas e foi até onde Vincent estava deitado. Ele rapidamente trocou de lugar com Caspian e Uri, e não teve absolutamente nenhum problema para dominar Vincent. Caspian se juntou a mim, e eu virei para Cyn. Ela ainda parecia como Kristen. ― Tchau, Kris ― sussurrei, erguendo minha mão. ― Eu te amo. Não se esqueça disso. Cuide de minha mãe e meu pai.
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Ela colocou sua mão contra a minha, nossas palmas se tocando, e assentiu. ― Tchau, Abbey ― ela disse com um triste sorriso. ― Amo você também. Então ela se afastou. Os Revenants avançaram, formando um círculo apertado ao redor de mim e Caspian. Seus braços estavam se tocando. Uri se endireitou e disse, ― Acacia, eu te solicito. Cacey respondeu. ― Uriel, eu te solicito. ― Sophie, eu te solicito ― Kame disse. ― Kame, eu te solicito ― ela respondeu. ― E eu solicito a mim mesmo ― Monty disse. ― E Grifyth. Monty pegou minha mão e então a de Caspian. Trazendo-as juntas, uma em cima da outra, ele colocou sua mão na minha, diretamente acima do anel que Caspian tinha me dado, e então apertou. Com a mão de Monty tocando a minha, eu pude tocar Caspian. Olhei para baixo. ― Eu... Quando olhei para cima novamente, Caspian estava sorrindo. ― Eu prometo a você para sempre ― eu jurei para ele, olhando em seus olhos verdes. ― O que quer que seja. Qualquer coisa que eu possa te dar. Você tem tudo. Tudo de mim. ― Prometo a você para sempre ― ele respondeu. ― O que quer que seja. Qualquer coisa que eu possa te dar. Você tem tudo. Tudo de mim. ― Agora. ― Monty disse. Fechei meus olhos. A sensação de água tomou conta de mim. A cena lampejou e mudou, e a casa de campo estava em frente a mim. A casa de Katy e Nikolas. Mas ao invés de ver seus pertences, reconheci os papeis de arte de Caspian. Seu carvão vegetal. Garrafas vazias em pé junto à janela, esperando para serem preenchidas com novos perfumes.
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Uma tigela de folhas frescas de hortelã estava na mesa ao lado da minha flor prensada e o destilador de óleo, esperando... Por mim e Caspian. Os novos caseiros do cemitério. Nikolas e Katy vieram caminhando em minha direção, guiando o cavalo de Nikolas atrás. ― Funcionou? ― eu disse. ― Estou atravessando? Eles apenas sorriram. ― Cuide bem de Stagmont ― Nikolas disse, entregando-me as rédeas do cavalo. ― Ele ficará com você agora. No cemitério. Eu assenti. ― E você? ― Em algo novo. Enquanto ele falava seu rosto começou a mudar, as rugas desaparecendo. Seu cabelo ficou mais escuro, e então o de Katy. A cor loiro morango desbotada que ela usava se tornou uma rica e vibrante sombra vermelha. Cor floriu em suas bochechas. Ela riu enquanto segurava suas mãos diante dela. Então ela se virou para Nikolas. Mas Nikolas não era mais o velho homem que eu tinha conhecido limpando folhas. Agora ele era mais jovem. Não mais que vinte anos. Katy era mais jovem também. Talvez dezessete. Eles recuaram, virando para mim. Katy levantou a mão para acenar, e eu fiz o mesmo. Mas a cena já estava mudando novamente. Elas estavam dissolvendo ao redor das bordas. Movendo-se. Tornando-se os novos Revenants. Tudo começou a desvanecer... E a última coisa que lembrei foi a sensação de um sorriso em meu rosto.
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Epílogo A menina andou todo o caminho do cemitério, seus pés lembrando o caminho. Ela tinha estado aqui tantas vezes antes que não precisava ver para onde estava indo. O menino ao lado dela balançava sua mão na dela, a um ritmo que só eles ouviam, seu encaracolado cabelo castanho amarrotado pelo vento. Ela apertou as flores que segurava fortemente. Vermelhas. Sua cor favorita. A lápide veio à vista, a superfície lisa e polida. Ela caiu de joelhos, tirando suas sandálias no sol da tarde quente, e Kristen Maxwell colocou as rosas reverentemente ao lado das palavras que compunham a soma da vida de sua melhor amiga. Ela traçou o nome gravado com letras em negrito, ABIGAIL. ― Oi, Abbey ― ela disse, puxando o chapéu de graduação de sua cabeça e colocando-o encima da pedra. ― Hoje era o grande dia. Eu gostaria que você pudesse ter estado lá. O menino sentou-se ao lado dela. ― Eu acho que ela estava. Estava conosco e espírito. ― Eu sei Ben. Mas ainda assim... Ele tomou sua mão, entrelaçou seus dedos com os dele e os puxou para um beijo rápido. ― O que você quer fazer hoje? Para celebrar? Kristen olhou para longe. Na direção de uma casa de campo que ela nunca saberia que estava lá. ― Vamos ficar aqui com ela um pouco mais. Então quero ir para o centro da cidade e olhar para as lojas vazias. Eu tive esse sonho noite passada sobre uma linda lojinha de perfumes, loções e
JESSICA VERDAY
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cremes. Isso era o que Abbey sempre quis fazer. Abrir uma loja de perfumes aqui em Sleepy Hollow. Ela tocou distraidamente com a fita em seu cabelo. Soltou-se e caiu livre. Ela tentou pegá-lo. Levantou-se, rindo, enquanto tentava persegui-la. Mas escorregou por entre seus dedos, e ela não conseguiu segurá-la. O vento a levou embora. Eu os observei do canto do cemitério. Kristen e Ben. Ela parecia tão linda, em seu chapéu e vestido de graduação. E Ben... Era óbvio que ele não poderia ter estado mais feliz. Caspian veio detrás de mim, passou seus braços em minha volta, e beijou o lado do meu pescoço. Inclinei-me para ele. ― Estou tão feliz que ela está feliz ― eu disse. ― Eu também ― ele respondeu. ― Você está feliz? Pensei sobre tudo que eu tinha perdido. E então pensei sobre tudo que eu tinha ganhado. Enfiei meus dedos através dos dele e assisti meus amigos segurando firmemente um ao outro. ― Sim ― respondi. ― Estou. Algo tocou meus pés nus, e olhei para baixo. Uma fita verde estava lá. Inclinei-me para pegá-la, e sorri. Colocando em meu bolso, me virei para Caspian. Seus lábios encontraram os meus, e o mundo desapareceu. As estrelas revelaram-se. E o sol brilhou mais brilhante que a lua.
Fim...