Memorial Fábrica de Nova Cultura - Centro de Apoio aos Sonhos

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Fรกbrica de Nova Cultura centro de apoio aos sonhos

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Fábrica de Nova Cultura Aluna: Mariana Gomes Semedo

Orientadora: Ana Cecília M. de Arruda Campos Banca Examinadora: Ana Paula Giardini Pedro Isabela Sollero Lemos

Trabalho Final de Graduação | Campinas, 2018

Trabalho Final de Graduação 2018 Pontifícia Universidade Católica de Campinas Centro de Ciências Exatas, Ambientais e de Tecnologia Faculdade de Arquitetura e Urbanismo

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Agradeço Primeiramente, aos meus pais Márcia Gomes Semedo e José Henrique Semedo, pela minha criação, pelo esforço para me proporcionarem essa oportunidade de estudo e conhecimento de vida, além de todo o apoio e compreensão por todos os momentos. A minha orientadora, Ana Cecília Arruda, por me conduzir da melhor forma até esse momento, com dedicação e carinho, reforçando a importância da Arquitetura e Urbanismo para a cidade e as pessoas. Aos professores Vera Luz e Antonio Fabiano, por todo auxílio durante o processo de elaboração do trabalho final. A todos meus amigos, futuros colegas de profissão, que me ajudaram a construir essa jornada repleta de companherismo e conhecimento. Em especial, ao grupo TFG, Maria Taemi, Mariana Argondizio, Matheus Duarte, Sophia Luz, Thais Bóbbo, Vanessa Mansur, por todos os bons momentos que passamos na construção desse trabalho. Ao meu namorado Mateus Siqueira por todo afeto, estando ao meu lado nos momentos acadêmicos e pessoais. Aos meus companheiros do dia a dia e familiares, por estarem ao meu lado em todos os momentos, compartilhando suas experiências.

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Índice 7 Resumo 11

O Projeto Entrelaços

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O Tema

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A Implantação com a Água

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Os Níveis

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Os Setores

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A chegada por cima

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O Restaurante

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A Praça da Água

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Os Estúdios

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As Oficinas

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O Sistema Construtivo - Malha Estrutural

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O Módulo Caixa

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Referências Projetuais

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FOTO

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Resumo O Centro de Apoio tem suas raízes originadas na comunidade Vila Nova Jaguaré, onde o Circuito Metropolitano de Funk ocorre da forma não institucionalizada, junto ao espaço público, na Rua 4 de Dezembro do bairro. E então, partindo destas manifestações, e ampliando seu escopo, é proposto um espaço para total liberdade de novas ideias, sonhos, trocas de experiência, e disseminação das artes, sendo essas as principais intenções do projeto que irá se espacializar enquanto equipamento público regional, do outro lado do Rio Pinheiros, na histórica cobertura do CEAGESP, de maneira a quebrar barreiras físicas, sociais e criando novos laços conceituais sobre as formas de expressão, além de interagir com a tendência de concentração dos usos de mídias e cinema da Vila Leopoldina, tratando tanto o território quanto as artes em um só laço. “O mundo é diferente da ponte de cá” (Racionais MC’s, “Da Ponte pra Cá”, 2002). “Para os dominadores, o espaço público é uma extensão de seu espaço pessoal: pertencem a ele porque ele lhes pertence. Para os politicamente oprimidos (uma expressão que nosso século aprendeu não ser apenas uma questão de classe social), a existência no espaço público é provavelmente sinônimo de vigilância estatal, censura pública e restrições políticas.” (Teresa Pires do Rio Caldeira)

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O espaço público da periferia no contexto de uma cidade brasileira, ao longos dos anos, passou por mudanças na maneira como se relaciona com seus usuários: isso ocorre principalmente pela mudança entre gerações jovens, e o contexto social que estão inseridas. Dessa forma, é através desse contexto de constantes mudanças na sociedade, que conseguimos entender como chegamos em dias atuais, com essa geração regada de tecnologia e globalização de produções artísticas. Diante desse panorama, é importante ressaltar que os jovens, em geral, que hoje compõem essa liberdade de expressão artística, já cresceram com movimentos sociais, democracia mais consolidada, trabalhos de ONGs, maior acesso à educação, e principalmente, uma crescente disponibilidade de tecnologias de comunicação, telefones celulares e acesso à internet, embora a desigualdade de acesso à educação, ainda seja evidente, é um cenário diferente do que foi vivenciado pela geração de seus pais, onde houve um longo período de ditadura militar e censura aos meios de comunicação. É por conta desses fatores que a partir da década de 2000

houve uma diversificação dessa produção cultural abrangendo desde saraus, até grafite e pichação, ultrapassando os espaços apenas restritos à periferia, e se impondo cada vez mais por diversas cidades, pois enquanto o resto do território se fechava atrás de muros, os jovens da periferia não só fizeram da circulação uma forma de lazer associada a diversas produções culturais, como também, transformaram sua experiência de viver nas periferias em diversas formas de produção cultural e de intervenção no espaço urbano. Sobretudo, é importante ressaltar que, mesmo as produções artísticas tendo ultrapassado as barreiras físicas da periferia, disseminando-se para toda a cidade, essas criações ainda relatam um cotidiano das classes sociais marginalizadas, e como é a convivência com essa desigualdade social imposta ao longo dos anos. A importância dessas vozes assume uma posição tão significativa, que neste ano de 2018, o álbum “Sobrevivendo ao Inferno” dos Racionais MC’s, entra para a lista de obras obrigatórias no vestibular 2020 da Unicamp, sendo a primeira vez que um disco de música é recomendado para a prova.

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Sonho - “É a nossa parte mais sincera.”

1. O PROJETO (ENTRE)LAÇOS 13


O Projeto Urbano no Jaguaré, onde estamos? De acordo com o diagnóstico realizado no Plano Urbano (Entre)laços, no distrito do JaguaréSP, e considerando o histórico apresentado do bairro, nos deparamos com a área localizada no extremo Oeste da cidade de São Paulo, fazendo divisa com o município de Osasco, na subprefeitura da Lapa. O que delimita o perímetro do distrito do Jaguaré, em sua maior extensão é o Rio Pinheiros e sua Marginal, separando, não só fisicamente, mas também socialmente, da Vila Leopoldina, que assume características similares ao Jaguaré, no que diz respeito a transferência de plantas de industrias. Entretanto, pelo fato de estar a leste do Rio Pinheiros, encontra-se mais suprido com infraestruturas de transportes, equipamentos públicos, parques e praças e passa por processo de verticalização de uso residencial. No contexto atual, há uma tendência das indústrias se retirarem tanto do distrito do Jaguaré, quanto da Vila Leopoldina, principalmente a saída do CEAGESP (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo), que irá se instalar no bairro Perus. Com isso, esses atuais e futuros vazios industriais já sofrem uma pressão do mercado imobiliário para grandes empreendimentos tanto residênciais quanto comerciais, assim como já se encontra consolidado em parte do bairro.

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Em relação a cidade de Osasco, outro entorno imediato do Jaguaré, a oeste, é evidente o surgimento de uma nova centralidade, que segue o mesmo padrão de grandes empreendimentos como shopping centers, supermercados, altas torres residenciais e comerciais. Por isso, o parcelamento urbano (Entre)laços se dá de maneira estratégica, sendo resistência às tendências que valorizam apenas a minoria da população. Mesmo com esse panorama industrial, o distrito do Jaguaré apresenta um dos mais elevados números de Densidade Demográfica, quando comparado aos outros distritos da Lapa. Isso se justifica pela concentração de núcleos e favelas presentes na área, como relatado no Memorial Entrelaços. Zona Oeste de São Pauo

Subprefeitura da Lapa

Jaguaré

Vila Leopoldina


O Núcleo Vila Nova Jaguaré, é o maior e mais consolidado do bairro, e ao fazer a leitura de seu território, foi constatado a existência do Circuito Metropolitano de Funk, como uma marca registrada desse local, reafirmando a ideia de pertencimento dessas pessoas, além do lazer promovido por esses eventos. É através desse mesmo desejo, que a Fábrica de Nova Cultura (Centro de Apoio ao Sonhos) é implantada estrategicamente na histórica cobertura do CEAGESP, o Pavilhão MLP

(Pavilhão - Mercado Livre do Produtor), que será tombada após a retirada do Entreposto, com a intenção de quebrar barreiras físicas e sociais entre os dois bairros Jaguaré - Vila Leopoldina, e Jaguaré com o município como um todo. Além disso, outro fator relevante na leitura do território, é a tendência de empresas de mídias, comunicação e produção cinematográficas, que estão se instalando na Vila Leopoldina, por conta da saída de indústrias e a possibilidade de grandes lotes com galpões vagos para tal uso. CPTM - Linha 8 conexão ao centro de SP

CPTM - Linha 8 conexão Osasco

USP e Parque Villa Lobos Predominância Residencial Predominância Industrial Estação Ceasa CPTM

CPTM - Linha 9 Marg. Pinheiros

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O contexto urbano ainda é composto pelos Parques Vila Lobos e Vilas Boas, além da Universidade de São Paulo (USP), que tem o grande potencial de ser também um Parque Público, assim como proposto no Plano Urbano. Esses são equipamentos, que completam e reafirmam o projeto da Fábrica de Nova Cultura, além da estação Ceasa da CPTM que facilita o acesso a área.

1 - Parque Vilas Boas 2 - Presídios 3 - Estação Ceasa (CPTM) 4 - CEAGESP 5 - Vila Nova Jaguré 6 - Parque Villa Lobos 7 - USP 8 - SESI Vila Leopoldina 9 - Concentração Equipamentos de Mídias 17 15


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Inspiração - “é respirar sonhos em meio à poluição de desânimos diárioas.”

2. O TEMA 19


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O Baile O “Baile do J.B. Z/O”, como é conhecido o Baile Funk do Jaguaré nas redes sociais, e entre os moradores do bairro, é praticado desde 2008, conta com a presença de pessoas tanto da comunidade, quanto da região. Organizado por Redes Sociais, através de perfil no Facebook, o baile tem seus encontros divulgados semanalmente, pois ocorrem geralmente no início das madrugadas de sexta pra sábado, e também vésperas de feriados. Seu local de incidência se dá em meio ao espaço público, mais precisamente, na Rua 4 de Dezembro, Rua Três Arapongas, e as Praças do Telecentro e 11 da comunidade, sendo promovido, além dos moradores, por donos de bares nos locais mais consolidados do bairro, chegando a reunir até 2.000 pessoas em uma noite. É diante desse cenário de entretenimento, que a comunidade se mostra dividida, entre aqueles que se apropriam do porte do evento, normalmente comerciantes, que vendem bebidas, outros que até divulgam a disponibilidade para alugar os banheiros de suas casas, devido a falta de infraestrutura para os eventos, e aqueles que se mostram prejudicados com o barulho causado na madrugada, sujeira gerada na rua, e a imobilidade, ficando presos dentro ou fora de suas casas, por conta da multidão que tomam as ruas, chegando até a anunciar a venda de suas residências pela

O Youtube metade do preço. Em resumo, o Baile Funk do JB é por muitos definido em: bagunça, lazer e fonte de renda, um complexo paradoxo. A globalização dessas diversas produções artísticas está diretamente ligada com a tendência da plataforma Youtube, um site de compartilhamento de vídeos, onde ocorre rápida exposição e disseminação das manifestações, muitas vezes, produzidos por aparelhos celulares. Essa prática, atualmente, envolve patrocínios e rendas significativas, sendo acessível para qualquer pessoa que tenha o instrumento de gravação/acesso a internet. Essa prática do Youtube e redes sociais para expandir as produções culturais, aumenta proporcionalmente o número de artistas encorajados a investir nesse sonho.

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A Memória / O Existente CEAGESP A Companhia de Entreposto e Armazéns Gerais de São Paulo (CEAGESP), é um equipamento de escala regional dentro do Estado de São Paulo, e desde a década de 70 se localiza no distrito da Vila Leopoldina, as margens do Rio Pinheiros, movimentando cerca de 50.000 pessoas por dia por todo o complexo. Muitos desses comerciantes e consumidores do local, vivem do CEAGESP, caracterizando como uma “escola da vida”, onde aprenderem a plantar, cultivar e compartilhar. Assim, uma das principais premissas do projeto se baseia na afirmação da memória do local. Enquanto espaço físico, existe a presença da estrutura do Pavilhão MLP - Mercado Livre do Produtor, a cobertura onde a troca de produtos acontece, tombada pelo patrimônio histórico, marcando também fisicamente a história do local.

Também no projeto urbano, foi criado uma ponte de ligação direta entre a Comunidade Vila Nova Jaguaré e a grande cobertura em questão, devido a topografia acentuada dos morros no núcleo, a ponte se encontra em nível, e chega à altura próxima a marquise da estrutura tombada, passando sobre o Rio Pinheiros, sua marginal, e os trilhos da CPTM que estão lindeiros às duas áreas. O pavilhão é composto por uma linearidade de aproximadamente 430 metros de comprimento, e 56 metros de largura, contendo uma marquise em cada lateral a uma altura de 6 metros, e ao centro um fechamento, com altura de aproximadamente 14 metros, com uma laje calha. Toda a composição arquitetônica é de concreto armado, e sustentada por pilares dispostos em eixos de 13 metros,

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Bailarina - “é quem dança com o vento e com o córrego de um lago.”

3. A IMPLANTAÇÃO - O Projeto

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Á Implantação e a Água

A ação inicial do projeto, diante sua localização, às margens do Rio Pinheiros, é a recuperação do córrego Mackenzie, que se encontra canalizado entre a cobertura do CEAGESP e a Avenida Professor Ariovaldo da Silva. Além da abertura do córrego na sua origem, o projeto desvia parte dessa água para compor os espaços da área Pública, e, ao cruzar o centro, o desenho da água se abre novamente, criando um lago que, recebe luz natural através da abertura de parte da cobertura principal composta pela laje calha, acontecendo em outro momento, potencializando a ideia de luz e sombra no espaço. A intenção ao criar esse espaço central, é remeter a memória das grandes feiras que acontecem no CEAGESP, trazendo a tona no espaço público, a ideia de troca de mercadoria, experiência, além do convívio e contato entre as pessoas pelas feiras urbanas. Após considerar os fluxos externos a área, por se tratar de um limite de implantação extenso,

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e com outras propostas em andamentos para as áreas lindeiras, foi levado em conta as ruas internas ao limite do CEAGESP, e assim, dois principais eixos transversais cruzam o projeto, de maneira a integrar os espaços. A próxima ação do projeto consiste na implantação de acessos ao Centro de Apoio, que leva em consideração o fluxo de pessoas vindo da Estação Ceasa de CPTM, o fluxo dos moradores da Vila Nova Jaguaré, através da ponte proposta no Plano Urbano, e por último, para o lado da Vila Leopoldina, o intenso fluxo de automóveis, e pedestres que a Avenida Dr. Gastão Vidigal apresenta, com comércios de grande porte e faixas de ciclovia. Em relação a carga e descarga, dois corredores são criados em lados opostos, de acordo com a necessidade de cada edifício, além da área reservada para estacionamento, localizada a noroeste da implantação.


Estação Ceasa (CPTM)

Área Central Praça da Água Rua Hayden

Av. Dr. Gastão Vidigal

Córrego Mackenzie

Av. Prof. Ariovaldo da Silva

Piso Permeável (Gramado)

Área Seca

Carga/Descarga

Setorização - Implantação Sem escala

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Entendendo a importância do fluxo que vem da Estação Ceasa, o desenho do curso d’água se estende até tal direção, como um ato de convite para o interior do projeto. Além disso, são criadas áreas de bosques, próximo a essa chegada e também lindeira ao córrego orginal, como forma de proteção deste bem natural. Ao longo da implantação, existem espaços de permanência que se diferem entre áreas secas, e gramados. No caso destes pisos permeáveis, existem duas intensões de escala, quando próximos a cobertura de concreto e aos novos edifícios, se configuram por menores dimensões, enquanto ao longo da implantação, assumem delimitações maiores, criando esse desenho de parque.

Implantação Sem escala

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Os Níveis A marcação do território geograficamente, além dos acessos, determina a implantação das massas arbóreas, de modo a criar áreas de sombreamento, acompanhando a trajetória da água, potencializando os cheios e vazios também criados pelos blocos de edifícios. A estrutura já existente, como citado anteriormente, é acompanhada por duas coberturas laterais, que no projeto Fábrica de Nova Cultura, assumem o papel de um extenso mezanino urbano, como um terraço para voltado para a paisagem da cidade de São Paulo. A ponte estabelecida no Plano Urbano, com ligação direta da Vila Nova Jaguaré, é o principal acesso a esse espaço, demarca também, o início do percurso ao projeto. Compondo a área, é mantida a passarela central, perpendicular a cobertura, que liga as duas marquises em nível, com acesso através de escadas, em concreto armado, assim como todo o restante existente. Ao longo do mezanino, outras rampas são incorporadas, fazendo a ligação para outras lajes pisos, vencendo uma altura de 1,20 metros. até que através de elevadores, escadas, ou rampas mais extensas que darão acesso ao térreo da implantação, onde também há demarcações de piso elevado, com altura de 0,45m, criando ambientes de palco, apresentações, além de auxílio para passagem de infraestrutura elétrica.

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Os Setores Continuando o percurso pelo projeto, para criar um espaço de Centro de Apoio a essas expressões e manifestações culturais, é preciso que o programa se dê de forma versátil e livre. Reforçando a ideia do espaço público, há uma praça central, a Praça da Água, onde essas trocas de experiências possam se desenvolver através da prática de feiras artísticas, e assim, todo o entorno tem como princípio a integração com esse espaço. Então, setorizando esses locais de maneira simplificada temos: 1 - O entorno a essa praça, caracterizado por um restaurante palco comunitário, e ainda agregado com espaço de administração/recepção do centro, seguido de vestiários. 2 - Apoio de infraestrutura, a Praça da Água, através de um mezanino que se desenvolve em níveis, as feiras artísticas tem liberdade para se estabelecerem tanto no nível do térreo, quanto no nível superior. 3 - caracterizado por um conjunto de blocos que se apresentam mais fechados, são os estúdios, que com tratamento acústico possibilitam gravações de vozes e instrumentos, se aproximando dos equipamentos de mídia pulverizados pela Vila Leopoldina. 4 - Intensificando o projeto em ser um Centro de Apoio, o setor é composto por oficinas de produção, que variam entre marcenaria,

estúdio de fotografia, serralheria, confecções de tecido, e artefato de cenários, objetos cênicos e adereços. A intenção do projeto como Centro de Apoio, não se restringe só à produção, mas também à infraestrutura para o público que não é local. Pois, tendo em vista a abrangência de sua escala regional na origem, e no que o projeto propõe a ser, com cursos/workshops que vão desde as artes do corpo, como dança, música, teatro, audições, até trabalhos artísticos manufaturados. Dessa forma, os espaços do projeto também se desenvolvem criando locais para acampamentos móveis e infraestruturas básicas para essa atividade, utilizando desde o mezanino da Praça da Água, laje do restaurante, até as margens do córrego Mackenzie. A mesma ideia se repete para a disposição das feiras, que não se restringem a um único lugar para ocorrer, existindo até pela ponte do Plano Urbano que liga à Vila Nova Jaguaré.

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PLANTA NÍVEL +3 (724,5) - Sem escala

PLANTA NÍVEL +2 (722,4) - Sem escala

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PLANTA NÍVEL +1 (718,5) - Sem escala


A Chegada por cima

Planta mezanino nível +3 (724,5) sem escala

Valorizando a chegada ao projeto, pela ponte do Plano Urbano, e também criando outros acessos para diferentes níveis, é criado um mezanino de chegada, que se encontra em mesma cota a ponte. A partir dessa estrutura, um dos percursos do espaço se inicia, seja se deslocando, através de rampas, em 1,20m para as marquises e também mezaninos laterais, ou para o piso térreo, com circulações verticais por elevadores e escadas rampas.

corte a - sem escala

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O Restaurante Palco

O projeto do Restaurante Palco vem para compor tanto o espaço das manifestações culturais quanto a retomada da memória do CEAGESP. O conceito da cozinha comunitária centralizada e aberta diante de todo o salão do restaurante, é mais uma forma de expressão que o espaço apresenta, e, compondo diretamente com o piso elevado que se destaca, é projetado um ambiente bar, ainda integrado com a cozinha geral, mas com balcões, e serviços mais rápidos. A implantação do bloco se dá de maneira a interagir, também, com os imponentes pilares existentes, tendo uma fachada em diagonal, além de transpassá-los, não se limitando a projeção coberta, mas se conectando com o percurso da água exterior, ou seja, é como se o novo desenho abraçasse a estrutura já existente.

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Além da intenção criada pela diagonal, a permeabilidade visual é um fator importante na composição, por isso, a utilização de elementos vazados, como caixas metálicas que ainda servirão de mobiliário do restaurante (especificadas a seguir), e portas em folhas de vidro que recuam para tornar o espaço mais versátil, ora utilizando a parte do salão com o piso elevado exterior, e ora valorizando a configuração interna do desenho. Acoplado ao bloco do restaurante, há o espaço de apoio contendo salas da administração e recepção, que funcionam como triagem para dúvidas do público que visita o local, seguindo, estão os vestiários que dão suporte tanto ao uso do restaurante, quanto ao seu entorno.


Planta RESTAURANTE PALCO nível +3 (724,5) nível +1 (718,5) sem escala

corte B - sem escala

Detalhamento Estrutural 1 (pág. 51)

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A Praça da Água

Além da água, o mezanino é o principal delimitador do espaço da Praça. Como citado anteriormente, essa estrutura serve pra criar maior flexibilidade no uso do lugar, que é marcado pela extensa linearidade. O nível elevado do mezanino torna o desenho mais versátil, além da possibilidade para separar a infraestrutura necessária da efetiva comercialização das feiras. A maneira como o mezanino se apresenta, em níveis, é consequência de sua forma, que também ultrapassa os limites da cobertura central do CEAGESP, se projetando por sob mezanino já existente, e por conta da altura do pé direito, as

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partes lindeiras a este, são rebaixadas, mantendo a demarcação central mais elevada, e permeável no térreo. Com isso, a forma ganha arquibancadas, e pequenas rampas que vencem essa diferença de cota de 1,20m, criando outros espaços de permanência no local. O mezanino proposto, também faz a ponte intermediária entre o térreo na cota 718,5 com o mezanino existente do pavilhão, pois, através de uma rampa, há o acesso a passarela central, em concreto, do espaço já existente, ligando diretamente em nível com o terraço urbano.


Planta Praça da água nível +2 (722,4) nível +1 (718,5) sem escala

corte C - sem escala

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Os Estúdios

Reclusos e ao mesmo tempo abertos para integrar com as apresentações, os estúdios se apresentam no segundo pavimento em relação ao térreo 718,5, mantendo essa passagem livre até os palcos que se instalam em meio aos dois blocos. Espelhados um do outro, o edifício da esquerda é onde está localizada a circulação vertical, com uma escada central, e elevador que acompanha. Ligando com o bloco da direita, há uma passarela central, que se posiciona de forma a ser espaço para platéia dos palcos, tanto a passarela quanto os corredores entre as salas. Já no edifício da direita, estão os banheiros, no piso térreo e no pavimento superior. A forma linear, dos edifícios que estão posicionados perpendicularmente a cobertura, ao transpassar os pilares da estrutura existente,

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em um lado, sofrem um rebaixamento, através de escadas, criando uma sala a 1,20 metro abaixo do piso dos estúdios. Enquanto do lado oposto, a mesma ideia de rebaixamento acontece na forma de uma arquibancada, ligando os dois níveis, e proporcionando um novo acesso. Os outros blocos, dispostos fora do pavilhão existente, estão implantados de maneira a completar a morfologia linear que a área apresenta. A planta é composta por outras salas de estúdios, com permeabilidade visual na fachada, integrando com a arquibancada do bloco a esquerda, que se posiciona com a finalidade de contemplar a vista das atividades internas do estúdio. Enquanto arquibancada espelhada para o outro lado, contempla o percurso do rio, e parte do outro estúdio em diagonal.


Planta estúdios nível +2 (722,4) nível +1 (718,5) sem escala

corte D - sem escala

Detalhamento Estrutural 2 (pág. 52)

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As Oficinas

O projeto tem como um dos principais estruturadores de seus setores, as Oficinas, pois, é através da produção realizada nesse local, que possibilita os cenários de gravações e apresentações. A disposição desses espaços conta com blocos que se dividem em marcenaria, serralheria, estúdio de fotografia, confecção de figurinos, e ateliês para produção de objetos cênicos. Essa configuração ocorre com os blocos sobre o piso elevado, a 0,45 metros do térreo, auxiliando na passagem de instalações. Auxiliam também, na integração das diversas formas de produção que ocorrem ao mesmo tempo, pois, os blocos se abram para esse espaço comum. Para tal interação se concretizar, os blocos apresentam folhas de portas que sem abrem totalmente ao exterior, e no caso da implantação dos banheiros, ocorre de forma estratégica, com as pias comunitárias, possibilitando o uso desse mobiliário também para a produção

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externa, não exclusivamente ao banheiro. As Oficinas reafirmam a ideia da Fábrica de Nova Cultura ser um apoio às expressões artísticas, uma vez que essas expressões não se restringem apenas ao que diz respeito ao corpo, mas também, objetos artesanais, por isso, as feiras pulverizadas por toda a implantação do equipamento público, se sustentam principalmente, pela produção desenvolvida nas Oficinas, gerando incentivo para o público artesão, além de trabalho, renda e trocas de experiências com cursos, aulas e workshops. Além disso, a ideia de produção, não se limita ao que será comercializado no próprio local, mas também, a execução de elementos do complexo, como por exemplo, mobiliários para a praça e restaurante, elementos de vedação, e produtos que compõem as gravações, apresentações e outras diversar formas de se manifestar.


Planta oficinas nĂ­vel +1 (718,5) sem escala

corte e - sem escala

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4.Sistema Construtivo - Materabilidade 45


A Malha Estrutural Planta ESTRUTURAL sem escala

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A preexistência do extenso Pavilhão do CEAGESP, não só influencia o projeto conceitualmente, mas também, como sistema construtivo. Partindo da já configurada malha de pilares, em concreto, dispostos entre eixos de 13 metros no sentido longitudinal, e transversal com 36 metros, a nova grelha estrutural se apropria desses eixos e medidas, justificando a escolha do material metálico, pois, este possibilita a negociação entre o novo e o existente, através de engastes entre pilares em concreto e vigas em metal. Tal apropriação dos esforços, é também auxiliada pela disposição da nova grelha estrutural, que conta com eixos dispostos em 6,5 metros no sentido longitudinal, ora intercalando-se com os pilares existentes, e ora coincidindo, e, enquanto o sentido transveral, a disposição se dá de 10 em 10

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metros. A partir dessas medidas, a nova estrutura de pilares metálicos é implantada de maneira intercalada, formando triângulos isóceles quando travados pelas vigas, e através da subdivisão dessa forma geométrica, surge a malha estrutural triangular. A carcaça estrutural possibilita que os edifícios tenham suas vedações independentes, dessa forma, esses fechamentos se dividem entre painel wall, caixilharia para as aberturas, e o módulo caixa, que funciona como um elemento vazado para situações específicas na fachada. No caso das lajes, como estas também criam níveis de piso no projeto, são definidas por Steel Deck, e, conforme mostram os detalhes construtivos, há situações em que se faz o uso do forro de gesso para auxílio na fixação do painél Wall.


Detalhe modulação estrutural vãos de 10 x 13 m

perfil vigas: i (w 610 x 174) i (w 310 x 21,o)

variações dos módulos de vigas metálicas

perfil pilar: tudo redondo D = 48,3 MM 49


O MÓDULO CAIXA A exemplo das situações de produção descritas para as oficinas, a ideia do módulo caixa consiste em chapas metálicas de 2 milímetros, que ao serem trabalhadas no ateliê serralheria, configuram variações de paralelepípedos vazados nas duas faces transversais. Suas medidas, são definidas de acordo com as diversas formas de seu uso, que vai desde ornamentos para elevação, incorporação de mobiliário, até degraus e arquibancadas.

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DETALHAMENTO ESTRUTURAL 1

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DETALHAMENTO estrutural 2

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5.REFERÊNCIAS PROJETUAIS 57


Praรงa andre citroen paris

parc de la villette

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teatro oficina

pinacoteca estado de sp

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serpentine pavilion 2016

loja forma

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centro cultural - fiesp

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BIBLIOGRAFIA livros e arquivos digitais

NAZARETH, Miguel Bustamante. Vila Nova Jaguaré entre favela, comunidade e bairro. Dissertação (Mestrado em Ciências) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo. São Paulo 2017. CALDEIRA. Teresa Pires do Rio. Gênero continua a ser campo de batalhas. Juventude, produção cultural e a reinvenção do espaço público em São Paulo. Revista Universidade de São Paulo. São Paulo 2014. CALDEIRA. Teresa Pires do Rio. Qual a novidade dos rolezinhos? Espaço Público, Desigualdade e mudança em São Paulo. CEBRAPE, n° 98. São Paulo 2014. TOMMASI Livia. Cultura de Periferia: entre o mercado, os dispositivos de gestão e o agir político. Política e Sociedade. Florianópolis, Volume 12, 2013. DIAS. Luís Andrade de Mattos. Estruturas de Aço, Conceitos, Técnicas e Linguagem. Editora Zigurate. Brasil, 8 edição, 2011. DIAS. Luís Andrade de Mattos. Edificações de Aço no Brasil. Editora Zigurate. Brasil, 2 edição, 1999.

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sites (consultados entre julho/2018 e novembro/2018) https://www.facebook.com/bailedojb/?ref=br_tf http://www.mmbb.com.br/projects/view/40 https://www.archdaily.com.br/br/790840/arquivo-serpentine-pavilion-ao-longo-dos-anos http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/11.123/3818 https://www.archdaily.com.br/br/787997/pinacoteca-do-estado-de-sao-paulo-paulo-mendes-da-rocha https://www.archdaily.com.br/br/tag/teatro-oficina https://www.archdaily.com.br/br/01-160419/classicos-da-arquitetura-parc-de-la-villette-slash-bernard-tschumi https://www.portaldojardim.com/pdj/2012/09/25/parc-andre-citroen-artificio-arquitetura-movimento-e-natureza/

Documentários e filmes “Adrubal Trouxe o Trambone”. Direção: Hamilton Vaz Pereira. 2017. “Dzi Croquettes”. Direção: Tatiana Issa, Raphael Alvarez. 2010.

referência musical “Sobrevivendo no Inferno”. Album Racionais MC’s. Gravadora: Costa Nostra. 1997.

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