Expirar é um projeto de curta metragem de ficção com aproximadamente 26 minutos, desenvolvido como Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), do Bacharelado em Audiovisual do Centro Universitário Senac -Santo Amaro ao longo do ano de 2021.
Banca Avaliadora: Prof. Dr. Álvaro André Zeini Cruz (convidado) Prof. Esp. Ana Lúcia Reboledo Sanches (convidada) Prof. Me. Ralf José Castanheira Flôres (orientador)
EXPIRAR livro conceito
Leonardo Rodrigues Carolina Fernanda Lígia Federicci Sob orientação de: Prof. Me. Ralf José Castanheira Flôres
Dedicado a todas as pessoas que acreditam na criatividade alheia.
SUMÁRIO Justificativa .......................................................................................... Direção de Arte e Fotografia ................................................................ Som ..................................................................................................... Objetivos .............................................................................................
p.13 p.17 p.31 p.37
justificativa Nosso trabalho é sustentado com dois pilares principais: a ansiedade com seu caráter clínico, e a sua presença em nosso cenário contemporâneo mundial. A abordagem com “Expirar” tenta exemplificar a crescente presença da ansiedade tomando conta da população, com muitas pessoas desconhecendo ou negando sua existência, menosprezando a saúde mental, resultado do atraso vivenciado por um longo período de poucas discussões sobre o tema. Estudos realizados pela OMS (Organização Mundial da Saúde) mostram o Brasil sendo o país com maior índice de pessoas com ansiedade, onde 9,3% da população sofre com algum transtorno relacionado a mesma. Uma verdadeira epidemia relacionada à saúde mental, sendo hora de encararmos que corpo funciona enquanto regido pela mente. Tal descontrole em escala global é um fruto direto do sistema capitalista em que vivemos. Necessidades humanas são inimigas da produtividade: a insônia permite que continue produzindo, a fome lhe faz parar e cozinhar. Com um universo conectado, não existe hora exata para qualquer coisa, sendo tudo possível a qualquer momento.
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O filme relata um processo mental-emocional de Daniel, que procura justificativas acerca das constantes reações irracionais dentro do cotidiano. Seu principal dilema é não reconhecer a ansiedade como verdadeiro pivô de seus problemas, e não apenas uma consequência: uma verdadeira situação de causa-reação. A partir disso, é de nosso interesse imergir o espectador em tal concepção, que se estabelece num campo entre a realidade e a imaginação diante a perspectiva do personagem, além de interpretar a dimensão ficcional pelo terror psicológico, uma vez que Daniel explora e exemplifica diversas vertentes da ansiedade com suas próprias singularidades, sem defini-la como algo de mesma experiência a todos.
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concepção estética “A estética não é simplesmente a teoria da beleza, mas a teoria das qualidades do sentir.” (KAUFFMANN, 2008, p.29).
O filme dialoga com o público sob uma “Estética” que procura uma resposta sensorial provocativa: planos longos, paleta de cores, iluminação e ambientação, paisagem sonora, e todos os outros elementos são pensados como maneira de estimular o público a situações de antecipação, receio, medo e “estranho”. “Estranho” que, em nosso trabalho, vem inspirado por um pensamento freudiano com seu ensaio Das Unheimliche “Nada em absoluto encontra-se a respeito deste assunto em extensos tratados de estética, que em geral preferem preocupar-se com o que é belo, atraente e sublime – isto é, com sentimentos de natureza positiva – e com as circunstâncias e os objetivos que os trazem à tona, mais do que com os sentimentos opostos, de repulsa e aflição (...) O tema do “estranho” é um ramo desse tipo. Relaciona-se indubitavelmente com o que é assustador - com o que provoca medo e horror; certamente, também, a palavra nem sempre é usada num
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sentido claramente definível, de modo que tende a coincidir com aquilo que desperta o medo em geral. Ainda assim, podemos esperar que esteja presente um núcleo especial de sensibilidade que justificou o uso de um termo conceitual peculiar. Fica-se curioso para saber que núcleo comum é esse que nos permite distinguir como “estranhas” determinadas coisas que estão dentro do campo do que é amedrontador. (FREUD, 1976, p.27)
O “Estranho” traz uma discussão então sobre as obras que se distanciam da “bela natureza” e encaram o que há de mais adverso e potencialmente escondido no interior do ser humano. São obras que, inclusive, conseguem atingir um nível de persuasão aos espectadores, tornando as narrativas não apenas situações ficcionais do personagem, mas cenários críveis a própria realidade, adaptando a ideia de que “Estranho” não é apenas o que é desconhecido, mas situações de assimilação e reconhecimento, até “empatia”, de se colocar na posição do que é vivenciado pelo personagem em um momento de crise ou perigo. A Fotografia e Arte do filme se juntam na tentativa da elaboração de uma concepção estética imersiva aos sentimentos de Daniel e sua visão de mundo. Para isso, desenvolvemos uma ideia de “Ponto A” e “Ponto B” como uma linha paralela à sensibilidade de nosso personagem em relação à evolução de sua ansiedade. O “Ponto A” foca em mostrar o início da rotina de Daniel. O apresentar de seu apartamento desconjuntado, suas ações, e sua tentativa de normalizar como se sente. É um ambiente com presença de luz natural, cores próprias, sem uma grande dramaticidade no contraste de luzes e sombras. Enquadramentos mais abertos mostram a relação “personagem x
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Mise en scène: destaque da cor vermelha, presença do Estranho. Stock footage.
Mise en scène: enquadramento aberto e iluminação natural. Midsommar, 2019.
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Diferentes perspectivas sob iluminação: difusa. American Horror Story, 2015.
Diferentes perspectivas sob iluminação: dura. American Horror Story, 2015.
espaço” e os objetos em cena, trabalhando uma mise-en-scène fiel a relação de hiperatividade motora, a inquietude de explorar cada cômodo de seu apartamento. Após o pensamento intrusivo de “pular da janela”, nós entramos oficialmente no “Ponto B” onde Daniel se torna cada vez mais recluso e impressionado por seu apartamento. A luz natural é bloqueada de entrar, sendo substituída por luz prática. As cores sofrem uma mudança em sua matiz de acordo com a iluminação, escurecendo tons e criando uma sensação de “fusão” entre apartamento, objetos e personagem que parecem se tornar quase uma única coisa. Os enquadramentos se fecham e o ambiente se torna gradativamente hostil e vertiginoso. Acentuam-se os problemas relacionados a sua ansiedade, que se torna impossível de ignorar com a presença cada vez mais próxima do Monstro. O Monstro é como uma sombra, presente em todo lugar. De estatura alta e com um corpo longo coberto por longas franjas pretas, um rosto branco e estático feito uma máscara com grande órbitas oculares e um sorriso estampado. Ele é um reflexo dos anseios de Daniel e do ambiente em que se encontra, representando uma ansiedade descontrolada que vai tomando forma e ficando cada vez mais presente até Daniel finalmente enfrentar seus medos. A segunda etapa do filme traz uma representação mais subjetiva à experiência de Daniel durante um pico de sua crise. É um período que pode durar dias, sem qualquer motivo aparente, enquanto ele tenta seguir com sua vida e atividades. Algumas cenas tomam um ar onírico acerca da interpretação dos acontecimentos para reforçar a intimidade e percepção de Daniel.
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Iluminação onírica: a impaciência. The Woman in the Window, 2021.
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Iluminação onírica: a impaciência. The Woman in the Window, 2021.
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Monstro: concepção visual. Autoria própria.
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som O som continua a imersão na “Estética”, trazendo peculiaridades e ressaltando a intimidade que existe na percepção de espaço por meio dos ouvidos além dos olhos. Existe um pensar muito grande do interligar de todo o apartamento por meio dos sons que vazam entre ambientes, marcando ritmos e situações próprias, assim como o mundo exterior que ocupa um espaço sonoro e se faz lembrar a existência de um mundo além do apartamento. Nem todo som presente em cena está em sua pura e original forma. Existe a presença de reverberações fantasmagóricas e subjetivas, assim como a desconstrução de ruídos e barulhos que substituem o que seria esperado normalmente. Uma técnica específica utilizada é a de síntese granular, que constituem no desmembrar e reorganizar todas as partículas de áudio, formando um som totalmente novo com base em outro original. Nossas inspirações vão além do mundo cinematográfico: para a concepção do som, o álbum Vespertine de Björk foi de extrema importância. Ela descreveu o processo como a criação de “micro-beats”, utilizando sons rotineiros de sua casa como o embaralhar de cartas e o romper de gelo para criação de elementos percussivos e sintetizados.
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Eu uso micro-beats, muitos vocais sussurrados (...) os instrumentos de corda (...) acabaram sendo mais texturas panorâmicas de fundo. É tudo sobre estar em uma pequena casa, sozinha. Você criando um paraíso com seu computador, ou embaixo de sua mesa da cozinha onde ninguém conhece. É sobrevivência de certa maneira.1 (Bjork, 2001. Tradução nossa).
Podemos estabelecer ritmo dentro e fora da cena, na diegese e no corte, além de explorar todo um universo de paisagem sonora que vai além do comum em um apartamento. Até mesmo o silêncio está presente de maneira que varia entre a paz e o incômodo. São infinitas possibilidades de texturas e ambientações. A produtora musical SOPHIE também trouxe experimentações com sons rotineiros que foram transformados em paisagens e texturas musicais indo do etéreo ao abrasivo enquanto sintetizava e modulava seus sons.
1. “I use micro-beats, a lot of whispery vocals (...) the strings (...) ended up being more panoramic textures in the background. It’s all about being in a little house, on your own. You’re creating paradise with your laptop, or underneath your kitchen table where nobody knows about it. It’s survival in that sense.” (Bjork, 2001).
som Nossos principais interesses em tal universo fílmico são: O interpretar da dimensão ficcional pelo terror psicológico, uma vez que Daniel explora e exemplifica diversas vertentes da ansiedade com suas próprias singularidades, sem defini-la como algo de mesma experiência a todos; A exaltação de nosso cinema de terror nacional que vem acompanhando o renascimento do gênero Terror em escala mundial, criando um público fiel e aberto a novas produções enquanto ocupa cada vez mais espaço além das tradicionais telas de cinema, como o streaming e Video-On-Demand (VOD), junto de diversos festivais nacionais e internacionais. A oportunidade de realizar um filme de Terror como TCC serve como oportunidade de colocar todos os membros dentro de pelo menos uma área de especialização que tenha conhecido com os últimos quatro anos de estudos, e uma chave de ouro com uma produção que tem potencial além do campo universitário com sua temática contemporânea e afortunada pela nova onda de interesse nas produções no gênero.
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Tais características também possibilitam que tenhamos chances do filme alcançar editais e fomentos que ajudem em sua execução, sendo um grande foco da equipe tal possibilidade.
41 Referência para cena final. A Misteriosa Morte de Pérola, 2014.
filmografia A misteriosa morte de Pérola. Direção de Guto Parente e Ticiana Augusto Lima. Brasil: Tardo Filmes, 2014. Online (70min). Disponível em <https://vimeo.com/ondemand/amisteriosamortedeperola> Acesso em 21 abril 2021. A mulher na janela. Direção de Joe Wright. Estados Unidos: 20th Century Studios; Fox 2000 Pictures; Scott Rudin Productions, 2021. (100 min) MIDSOMMAR. Direção de Ari Aster. Estados Unidos/Suécia: A24, 2019. (147 min). SEJA nosso convidado, (Temporada 5 ep. 12). American Horror Story: Hotel - Direção Ryan Murphy. Produção de Alexis Martin Woodall, Patrick McKee, Robert M. Williams Jr. Estados Unidos: Produtora 20th Television, 2015. (50 min).
bibliografia CASTILLO, Ana Regina GL et al. Transtornos de ansiedade. Rev. Bras. Psiquiatr., São Paulo, v. 22, supl. 2, p. 20-23, Dezembro 2000. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo. php?script=sci_arttext&pid=S1516-44462000000600006&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 01 maio 2021. FREUD, Sigmund. O estranho. Obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Jayme Salomão (Trad.). Rio de Janeiro: Imago, v.17, p.275-314. SOARES, Lenice Alves. Das Unheimliche ou O Estranho, de Freud. Revista Abusões. Rio de Janeiro, v.10, n.10, p.09-39, Março de 2019. Disponível em <https://www.e-publicacoes. uerj.br/index.php/abusoes/article/view/42193/31185>. Acesso em 02 maio 2021. TOOP David. Alone in the dark. Tradução nossa. Revista The Wire. Inglaterra, 1 Setembro de 2001. Disponível em: <https://www.bjork.fr/Wire,4327>. Acesso em 25 de maio de 2021.
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autores: Leonardo Rodrigues, Carolina Fernanda, Lígia Federicci orientador: Ralf José Castanheira Flôres centro universitário senac - santo amaro bacharelado em audiovisual trabalho de conclusão de curso // tcc 1 maio de 2021 são paulo - sp