Irreversível

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Para a Minha Melhor Amiga Joana Machado.


Rose Lopez

Jesse Clarkson

Marie Hataway


John Lahey

Julie Lopez


Prólogo

O que fazer quando se sabe que vai acontecer? Eu reconheço sua voz e sinto se cheiro, está impregnado em mim, mas sei que não há mais volta, sei o que está acontecendo mas não tenho como impedir, ao invés me permito sentir, sei que se ele ir levará meu mundo e meu coração com ele, e ironicamente eu irei permitir, pois ele me tem. Estou apaixonada.


Capítulo 1

Confiar é uma merda. Sei disso porque já confiei em alguém, minha mãe saiu para comprar pão quando eu tinha onze anos e nunca mais voltou. Desde então minha irmãzinha Julie e eu vivíamos em um orfanato, a situação era boa, ganhávamos comida e tínhamos um lugar para dormir é claro, mas eu sabia que sair era nossa prioridade, os casais que vinham a procura de uma criança começaram a notar minha irmã e eu sabia que tentariam nos separar, não que eu não fosse bonita como Julie, eu tinha os cabelos loiros que eu sabia que vinham de meu pai assim como olhos escuros, pelo menos era a única coisa que minha mãe dizia sobre ele, nunca nem ao menos cheguei a conhecê-lo, Julie havia puxado não só os cabelos castanhos de nossa mãe mas também os olhos chocolates, o que atraía muita atenção para ela, tentei ao máximo nos fazer invisíveis, mas não foi o suficiente, até o final da primeira semana que estávamos lá, já haviam dois casais interessados nela. Então fiz a única coisa que aprendi com minha mãe, fugi. Em uma noite que eu sabia que a atenção não seria direcionada a nós, e sim a menina de cinco anos que havia acabado de chegar, eu e Julie corremos pra longe daquele lugar. Foi assim que acabei com um emprego de garçonete no Jone’s e morando em um quarto nos fundos da boate com minha irmã. - Rose eu estou com fome- Era nos dias como esse que meu coração se apertava e eu sabia que não estava fazendo o suficiente. -Julie eu tentarei trazer algo quando sair do trabalho - Eu disse. O emprego nos dava dinheiro o suficiente para pagar o aluguel, água e luz, mas não nos sobrava quase nada.


Depois de me vestir, deixei Julie em nosso quarto com a promessa que traria comida a noite. A minha única chance de conseguir gorjeta para cumprir minha promessa era ousar no uniforme, a única regra de meu emprego era o uniforme, podíamos usar o que quiséssemos contanto que fosse apertado e curto. Deixei de lado minha calça Jens apertada e minha blusa discreta e fui mais a fundo no meu guarda roupa, peguei uma saia e uma blusa com decote aprofundado nas costas que tinha ganhado da Marie e me apressei adiante no bairro. Nosso quarto ficava nos fundos, o que significava que eu devia dar a volta em torno da boate e entrar pela porta da frente. -Rose, já estava na hora! Vamos lotar hoje, sabe como são os fins de semana, então se apresse. – disse John me olhando de cima a baixo. – Belas pernas – John Lahey era bom de olhar, loiro de olhos escuros e gentil com qualquer mulher. Ele que me achou quando eu e Julie estávamos fugindo e definhando de fome, ele nos deu comida e nos ofereceu abrigo, então porque eu só conseguia olhar o homem de braços fortes e cabelo escuro como a noite me fitando? Antes que eu pudesse fazer alguma coisa que sei que me arrependeria mais tarde, entrei na boate e fui até o balcão onde sabia que encontraria Marie me esperando, ela era minha única melhor amiga e me protegia, pois sabia toda a verdade sobre mim e Julie. Se possível eu e a Marie havíamos nos aproximado na mesma hora em que nos vimos. Ela com aqueles olhos azuis e cabelos castanho, com aquelas sardas que a deixam linda, faz sucesso com os rapazes, esse era um dos motivos pelo qual ela sempre ganhava mais gorjetas, isso e um par de pernas lindas que deixava qualquer cara louco e qualquer menina com inveja.


- E ai, gostosa? Vejo que finalmente está usando as roupas que lhe dei! – Disse ela assoviando – Resolveu se soltar?- As coisas apertaram pra mim, então terei que apelar para as gorjetas- eu lhe disse com um sorriso tímido. - Entendi. Como está Julie? -Com fome. - Certo. Então vamos ganhar dinheiro, eu deixo você ficar no meu lugar de garçonete hoje, eu fico no balcão. Vá a frente à mesa seis, tem um gato despindo você com os olhos. -Tudo bem. Quase virei meia volta quando vi que era o homem que estava em frente à boate, mas disse a mim mesma que seria idiotice, eu precisava de dinheiro. -Como posso servi-lo? – Escutei minha voz meio esganiçada dizer. - Como é seu nome? – Disse ele -Isso não vem ao caso, o que vai querer?- eu sei que devia tentar ser gentil para conseguir alguma gorjeta, mas com aqueles olhos verdes me fitando eu só conseguia pensar em correr. -Vamos lá, não vai nem me dizer seu nome? -Rose. O que vai querer? -Bem Rose. Eu estava pensando em uma tequila para começar.


-Tudo bem. Volto em um minuto. Eu conhecia o seu tipo, já tinha visto muito deles no clube, os caras certinhos e riquinhos que depois de um dia “Estressante” na faculdade de medicina vinha espairecer com um copo de tequila. Esses caras que não sabem merda nenhuma da vida. - Marie você pode me cobrir? - Sinto muito meu bem, mas eu acabei de conhecer um cara que me achou muito sexy no balcão, então não, não posso te cobrir. – disse ela já indo em direção a um cara na extremidade do balcão. -Eu te odeio. -Não você não me odeia Srta. Lopes, afinal você quer dinheiro ou não? - disse ela sem ao menos se virar. Marie e eu tínhamos nos conhecido no primeiro dia em que trabalhei no Jone’s, eu não tinha outras amigas, até por que, eu não tinha tempo para isso, quando eu não estava no Jone’s eu aproveitava cada momento com Julie quando ela não estava na escola, e quando sobrava algum tempo livre também apareciam turnos extras no clube, e eu não podia me dar o luxo de negar nenhum. Peguei a tequila e fui até a mesa em que o cara estava sentado. -Mais alguma coisa? - Na verdade não. Quer se sentar comigo?


-Eu estou trabalhando, você ainda não percebeu? Ou acha que eu sirvo mesas apenas pela diversão? – Porque diabos ele queria que eu sentasse com ele? Aqueles olhos escuros me sondavam. - Irritadinha você, não? - Eu não sou paga para ouvir isso - eu disse já me virando em direção ha outra mesa. - Hey eu estava brincando. Tudo bem? Não se esquente. Apesar de você já estar muito quente nessa saia – disse ele com um ar de divertimento. - Qual é o seu problema? Quer alguma coisa ou vai me deixar trabalhar em paz? - Que horas você para de trabalhar? - Não te interessa. – Eu já havia ganhado muitas cantadas em todo o tempo que eu havia trabalhado ali, mas aquilo estava começando a me deixar com raiva. Segui com o mesmo processo durante todas as mesas por 3 horas seguidas, as mesmas perguntas “O que vão querer?”, “Mais alguma coisa?”, “Querem a conta?”. Vi-me indo propositalmente o mais longe possível daquela mesa, o mais longe possível daquele cara que havia conseguido me perturbar, mas eu sabia que eu teria que ir levar a conta. - Pronto para a conta? – Ele estava fitando um notebook, com o último copo de tequila praticamente pela metade. Havia algo de diferente nele, diferente de todos aqueles riquinhos que sempre vinham ali, é claro que ele vestia calças de


marca, como eu não havia percebido que elas ficavam tão bem nele? E aquela blusa que deixava seus braços definidos a mostra? Se controle Rose. - Claro, fiquei me perguntando se você viria trazer a conta. – disse ele. - É claro que eu vim trazer a conta, por que não viria? – falei de modo o mais indiferente possível. - Pelo mesmo motivo que ficou me evitando a noite toda. – disse ele ainda me fitando. - Eu não fiquei lhe evitando, tenho muitas mesas para atender. Mas agora me deixou curiosa qual motivo seria? - Eu lhe deixo nervosa - disse com um sorriso torto. - Não seja ridículo- eu lhe disse, mas nem deve ter me ouvido, pois já havia pegado seu notebook e saído em direção a porta. Havia apenas deixado uma nota de 50 dólares em baixo do seu copo. Capítulo 2 Graças ao estranho que resolveu me deixar uma nota de 50 dólares e a outra mesa de caras bêbados de uma fraternidade, hoje eu e Julie teríamos uma refeição decente, o problema é que eu teria que caminhar quase 3 km até uma lanchonete 24 horas, não que eu não estivesse disposta a ir, meu estomago me incentivava, mas os malditos saltos que eu havia usado para trabalhar durante horas em pé estavam acabando comigo. Pensei em passar em casa trocar de sapato antes de ir, mas mudei de ideia quando lembrei que a última vez que Julie havia


comido teria sido na noite passada quando lhe cedi meu jantar. Tive que usar o dinheiro daquela noite para pagar o aluguel ou seriamos despejadas, melhor eu com fome do que a Julie sem um teto. Quando faltavam duas quadras da lanchonete percebi que um carro me seguia de perto, normalmente eu simplesmente começaria a caminhar mais rápido até a lanchonete, mas eu estava em um beco sem saída. Não pode ser Rose. Como você foi errar o caminho? Ergui a cabeça, dei meia volta e continuei meu caminho de volta até a próxima esquina onde eu viraria a quadra da lanchonete, quando eu estava quase passado pelo carro a porta se abriu, reconheci imediatamente os caras da fraternidade bêbados que eu havia servido no clube. - Ei gata, lembra da gente? – um deles disse se aproximando enquanto os outros dois desciam do carro. Isso é ruim Rose eles são três. Tentei passar por ele, foi quando ele cometeu o seu erro, ele tentou me segurar, automaticamente meu joelho se dobrou de encontro a sua virilha e ele caiu no chão. Não sou nenhuma espécie de ninja nem nada, John havia insistido que todas as meninas da boate tivessem aula de defesa pessoal. Obrigado John. Minha alegria não durou quase nada, tentei correr, mas os outros dois homens me seguraram. -Sua vadia estúpida você vai pagar por isso- disse ele segurando o nariz sangrando que eu tinha certeza que eu havia quebrado. Ele se aproximou de mim e rasgou minha blusa.


- Me solte seu bastardo – Achei que gritar era a minha última opção, afinal que idiota iria caminhar em um beco escuro depois da madrugada? Ah, certo eu! Não sei qual seria a próxima coisa que eles fariam comigo e graças a Deus e a um cara alto e muito bravo eu não precisei descobrir isso. - SOLTE. ELA. AGORA! Não sei o que passou pela cabeça do bastardo que me atacou, talvez tenha sido o álcool agindo, mas ele foi em frente como se fosse bater no meu salvador, e em questão de segundos ele estava no chão. Finalmente os amigos do meu atacante perceberam que provavelmente seriam os próximos, me soltaram e saíram correndo em direção ao carro, deixando eu, o meu atacante e o meu salvador, que a propósito, era o cara da nota de 50. Achei que o cara iria matar o outro, pensei que ele merecia, mas resolvi intervir. - Tudo bem, tudo bem, pare agora você vai matá-lo, PARE AGORA – eu gritei puxando seu braço. Quando ele finalmente caiu em si e me viu ali o puxando ele tirou sua jaqueta e me entregou. - Vamos antes que eu mate esse desgraçado. Ele pegou minha mão e me levou até seu carro, não percebi até aquele momento como estava frio e me agarrei a sua jaqueta e torci para ele não nos matar com aquela velocidade.


- Você sempre dirigiu assim? – Perguntei com a voz tremula. -Você quer conversar sobre o modo que eu dirijo? – Perguntou ele com uma risada fria e sem vida. - Para onde está me levando? - Um lugar longe daqueles vagabundos. Um lugar para conversarmos, você sabe como foi idiota caminhar por um beco àquela hora? Qual é o seu problema? Por que não foi para casa? - Hei se acalme ai grandão eu sei cuidar de mim mesma. - Percebi isso no momento em que vi aquele cara rasgando sua blusa. – disse com a raiva mal contida. Seguimos em silêncio até que ele diminuiu a velocidade e encostou o carro no meio fio, na praia. - Você pode me levar pra casa? – perguntei vendo ele se afastar em direção a areia. - Me dê um minuto para me acalmar. - Tudo bem. Mas eu vou com você. Sentamo-nos na areia e ficamos encarando o céu noturno e as estrelas em silêncio. -Então como é o seu nome? – perguntei com medo que ele ainda estivesse com raiva. -Jesse. Rose vou lhe perguntar novamente. O que estava fazendo naquele lugar a essa hora da noite?


Foi nesse momento que os detalhes da noite vieram a mim e eu comecei a chorar, não sei como ou em que momento ele me abraçou e me puxou para si. - Shh Tudo bem, não irei deixar nada acontecer. Passaram-se minutos que pareceram horas quando me afastei. - Me leve para casa agora. – Falei sem lhe olhar – Por favor – Acrescentei quando vi que ele não havia se movido. Eu estava envergonhada, eu normalmente não chorava enquanto outra pessoa me consolava, era constrangedor. - Tudo bem – ele suspirou. – Quer conversar sobre isso?disse ele depois de alguns minutos de silêncio no carro. - Não, poderia passar em alguma lanchonete antes de me levar? – perguntei. - Claro. Quando paramos em uma lanchonete desci e fui em direção ao balcão, peguei o cardápio e pedi panquecas e sanduíches, que teriam de durar essa noite e a manhã seguinte. Enquanto eu procurava o dinheiro Jesse já havia pagado a garçonete. - Tudo bem, por minha conta. - Não, valeu eu pago – Eu disse lhe estendendo as notas de dinheiro.


- Rose esta tudo bem. Deixe-me pagar, se não me sentirei mal com isso. Ok? – Me perguntou. Eu odiava depender de outra pessoa, Marie sabia disso por isso nunca me oferecia dinheiro emprestado, por que sabia que eu ficaria braba. - Tudo bem- eu disse contrariada. Quando chegamos a frente ao carro me virei fazendo-o parar. - Muito obrigada Jesse. Daqui eu sigo sozinha. – eu disse já tirando sua jaqueta. Eu sabia que eram quilômetros até em casa e que eu havia perdido meus sapatos em algum momento, mas não havia chance de deixar esse cara me ajudar ainda mais. - Não seja estúpida Rose – Disse ele abrindo a porta do carro pra mim. – Se você não entrar eu simplesmente te seguirei até em casa. Não torne isso difícil para nós dois. - Ô meu Deus além de tudo ele é um cavaleiro. Jesse eu não sou como as patricinhas estúpidas que você tem convivido durante toda a sua vidinha mimada, então apenas pare de me tratar como elas, eu sei cuidar de mim mesma. Aquilo que você viu no beco? Eu teria me livrado deles, era moleza se você não tivesse interrompido eu teria quebrado os dedos daqueles caras, agora apenas volte para sua casinha com sua família perfeita que eu irei sozinha para a minha casa levar essa maldita comida para minha irmã. Infernos eu estou bem e não preciso de ajuda. - Rose não seja ridícula, entre. – disse ele sem nem ao menos pestanejar com meus gritos e minha declaração.


Entrei no carro e sentei em silêncio pensando no que viria a seguir. - Você não me conhece, Rose então apenas pare de me tratar como se o fizesse. Depois de muita conversa ele finalmente me deixou no clube. Ele afirmava querer me levar para “casa” mal sabia ele que eu estava em casa. Deixei-o me fitando de seu carro e contornei a boate até meu quarto. - Julie? - Finalmente Rose eu estava ficando com medo. – disse ela vindo correndo me abraçar. - Desculpe tive que ir até uma lanchonete mais longe dessa vez. - Isso significa que você conseguiu... – disse ela me olhando com esperança. -... Comida – terminei a frase por ela. - Vamos lá se sirva temos que ir dormir. Recusei-me a comer toda a minha parte das panquecas, insisti que Julie comesse não que eu não estivesse com fome, apenas achei que Julie precisasse mais do que eu. Fome era um sentimento que eu convivia diariamente, não passava um dia sem que eu estivesse faminta, mas minha prioridade era alimentar minha irmãzinha. Depois de uma noite cheia de pesadelos, acordei me sentindo disposta, com fome, mas disposta.


Levaram quase dois minutos inteiros para acordar Julie, era quase ridícula a felicidade que ela tinha ao acordar cedo, diferente de mim. - Coma, temos que sair logo para você não se atrasar. -Você não quer comer? -Pode comer eu nem estou com fome. – Meu estomago discordava disso. Fechei nosso quarto, que mais parecia um cubículo e levei até a escola que nem ficava a dois quarteirões da boate. -Até depois, se concentre na aula nos vemos a noite. - Eu te amo Rose. – disse ela me olhando com aqueles olhos verdes, que me lembravam tanto aquela mulher que havia me abandonado. - Eu também te amo querida, não me espere, chegarei tarde em casa, farei hora extra no Jone’s. -Tudo bem thau. - Depois de um longo abraço, ela saiu correndo com suas trançinhas balançando. Fiquei ali olhando aquela pequena menininha, que era o centro do meu mundo. Com a tarde inteira de sobra, mas já com um plano em mente fui até a agencia de faxineiras para conseguir algo que rendesse alguma coisa no fim do dia. -Boa tarde alguma preferência por casas ou apartamentos? -Não qualquer coisa que de dinheiro está bom pra mim. – Lancei um sorriso amarelo para ela. - Rua do centro, apartamento 15 B. – disse ela com cara de tédio. Depois de pegar dois ônibus o que custou quase todo o dinheiro que eu tinha, cheguei ao apartamento.


Encontrei a porta fechada, o que não era um problema já que todas as faxineiras tinham a chave dos apartamentos que iam limpar. Ao entrar no apartamento, meu queixo caiu, havia roupas em todos os lugares, logo adivinhei que algum homem vivia ali, e nem precisei encontrar cuecas para ter a prova disso, a caixa de pizza em cima da mesa, que mais parecia estar a um mês ali comprovou tudo. Seria um longo dia. Depois de conseguir ajuntar as roupas sujas que estavam em todos os lugares do apartamento, não estou brincando, havia até camisas sujas em cima do balcão da cozinha, finalmente joguei tudo na máquina de lavar e fui limpar a sala. O que a princípio achei que eram revistas pornôs, eram na verdade revistas de advocacia. Havia muitas delas espalhadas pela sala inteira. É até engraçado como você consegue descobrir muito sobre uma pessoa, olhando a casa dela. O apartamento era muito bagunçado, mas não por desleixo e sim por falta de tempo. Devia ser um estudante sério de advocacia. Só na metade da tarde que eu finalmente acabei de limpar tudo, até me senti orgulhosa, por que o apartamento estava irreconhecível, nada fora do lugar. Ajuntei os produtos de limpeza com a intenção de levar tudo até o banheiro e guardar, quando escutei o barulho da porta abrindo. Não acredito, como é que ele já chegou em casa? Ao que me parecia, o estudante de advocacia havia resolvido sair mais cedo da universidade, ou eu devia ter demorado mais que o esperado, pois ele só devia chegar no fim da tarde. E ele havia trazido companhia. Espiei pela brecha da porta com esperança, torci para que fossem direito no quarto, assim eu poderia sair sem que me vissem, esse era um tipo de política da agencia de emprego, as


faxineiras devia ser “invisíveis”, acho que não ia rolar, pois os dois estavam no maior amasso na sala, bem no meu caminho em direção a porta. Ele estava virado de costas pra mim então eu só consegui ver as suas costas, que não eram nada mal, ombros musculosos, cabelo escuro. Mas ela eu conseguia ver, uma ruiva notavelmente falsa, com uma saia preta minúscula, se é que da pra chamar aquilo de saia, e um top azul escuro. Eu ia me meter em um problemão, isso era minha única certeza. E só mais tarde que eu descobri que estava muito certa disso. Ele se virou com a intenção de ligar a luz. Foi quando ele me viu. Oh, mas que merda.

Capítulo 3 O que eu fiz pra merecer isso? Não podia estar acontecendo isso comigo. Quais eram as chances de algo assim acontecer? Era de uma em um milhão! Em toda sua beleza, Jesse se virou em minha direção. -Rose? – disse ele com uma cara confusa. - Hey, me desculpe demorei mais que o esperado, já estou de saída. Thau – Tentei em vão ir em direção a porta, mas ele segurou meu braço na tentativa de me parar. -O que está fazendo aqui? Como entrou? – Disse ele. Que ingênuo, garanto que ele pensa que tive uma queda de amor súbito por ele e o segui noite passada até sua casa com a intenção de invadir e roubar suas camisetas. Ou talvez ele realmente não saiba o que pensar.


- Faxina a tarde, hoje é sexta-feira, apartamento 15 B. Certo? – Como eu iria sair daquilo sem causar nenhum drama? A ruiva platinada já me encarava com um olhar de quem quer estrangular alguém, e eu conseguia imaginar quem ela queria estrangular naquele momento, eu. - Quem é essa Jesse? – Disse ela fazendo biquinho, tentando conseguir atenção. Que infantilidade! Julie fazia aquilo quando queria atenção! - Ninguém. Só a faxineira – Disse sem me olhar nos olhos. Urgh! Essa doeu! Pensei que depois da noite passada ao menos um oi eu ganharia, parece que me enganei. - A faxineira aqui está de saída. – falei me soltando do seu aperto e indo em direção a porta, sem olhar para trás. Pensei que Jesse viria atrás de mim, todo arrependido pedir desculpa e admitir que tivesse sido um idiota, quase desejei isso. Mas como não aconteceu fui até a parada de ônibus mais próxima e esperei até conseguir um ônibus que me levasse o mais perto possível da agencia de empregos, por que assim eu não teria que caminhar muito. Quando cheguei a agencia fui direto a parte do Sr. Hunderson um senhor simpático que era responsável por receber as chaves de volta. - Srta. Lopes, você trabalha demais minha querida, a vejo aqui quase todos os dias da semana! Minha esposa mandou-lhe um abraço e a Julie também! – disse ele me dando um abraço.


- Que nada Sr. Hunderson, eu ainda poderia trabalhar muito mais se o senhor não demorasse a me entregar as chaves toda vez. Mande um beijo a Sra. Hunderson e diga a ela que estou com saudades! - Kelly está livre, pode ir à sala dela querida – Disse ele gargalhando. Eu havia conhecido o senhor e a senhora Hunderson na primeira vez em que havia procurado emprego na agencia, desde então sempre que viam eu ou Julie nos abraçavam e nos tratavam com muito carinho. Até mesmo nos natais nos convidavam para passar com eles, e como não tínhamos aonde ir e dificilmente tínhamos dinheiro para comprar um peru aceitávamos, acabamos nos apegando muito a eles. Kelly era outra das poucas amigas que eu tinha, não éramos apegadas como eu e a Marie, mas sempre que eu tinha um tempo adorava ir visitá-la. - Meu bem, trabalhando novamente? Pena que não consegui ver você antes de sair para o apartamento. Você viu o dono? Menina me conte tudo! – Disse ela curiosíssima. - Parece que você tem mais a me contar do que eu a você desembucha! – falei rindo da cara de expectativa dela. -Tudo bem, sei que ele se chama Jesse Clarkson, o pai dele já foi um advogado muito prestigiado e hoje é juiz. A mãe é o tipo de dama que você não vê andando de ônibus, se é que você me entende. Tem uma irmã que se chama Alice que estuda em paris, e ele é um estudante de advocacia, sem falar daqueles olhos verdes. A família dele deve ser uma das mais ricas do país.


- Como você sabe tudo isso? Virou detetive particular? – falei espantada com tanta informação e com a rapidez que despejou tudo em cima de mim. Imaginei que ele fosse rico, mas não tanto assim. - Relaxa vi uma matéria no jornal – falou rindo. - Nossa, como é que eu não vi isso? – falei -Talvez por que o seu jornal foi cancelado? Depois de você não pagar durante 2 meses? – Comentou me dando um sorriso compreensivo. -Tem razão. Chega de papo, me dê a grana, tenho que ir mais cedo para o Jone’s, consegui um turno extra. – falei apontando para o envelope em cima da mesa. Sempre que as faxineiras chegavam depois de limpar as casas ou apartamentos logo recebiam o dinheiro, da empresa é claro, pois os donos das casas pagam no fim do mês para a agencia, com certeza a agencia ganhava muito mais do que nos pagava. - Tudo bem. Uma pequena surpresinha hoje, alguns minutos antes de você chegar o tal de Jesse Clarkson depositou o seu dinheiro, ou você limpou muito bem a casa dele, ou alguma coisa rolou entre vocês e você não está me contando. – falou toda desconfiada. - Nada, ele é apenas mais um babaca, me de logo minha grana tenho que ir. – Falei desnecessariamente já que ela já me entregava o dinheiro. -Tudo bem querida, até logo trabalhe menos, e venha me visitar. – Falou me abraçando.


Quando eu estava a 10 passos da porta me virei. - Como ele pode estar fazendo direito, ele não me parece tão velho, quantos anos ele tem afinal? – perguntei - Aluno avançado, você sabe que hoje em dia o dinheiro avança tudo. Mas ele está apenas no 1° ano. 19 aninhos assim como você. – ela respondeu Depois de finalmente sair da agência, já estava na hora de ir buscar Julie. A única coisa positiva era que a agência ficava perto da escola e logo em seguida ficava o Jone’s, ou seja, nossa casa. Quando cheguei à escola, Julie já estava me esperando no portão. Quando me viu veio correndo direto em meus braços. - Oi meu amor, como foi a aula hoje? – Falei a beijando. - Tudo bem, até pintamos flores hoje, para a apresentação de segunda. – falou sorrindo. -Apresentação? – falei temendo ter esquecido algo. - Sim a apresentação do dia das mães, você vai não é? – falou já com lágrimas nos olhos. - Mas é claro que eu vou! Nunca que eu iria perder, ver você cantando. Você vai arrasar. Sempre fiquei temerosa quando chegavam esses dias, dia das mães, dia dos pais, natal. Sempre pensei que Julie poderia ficar deprimida vendo suas amiguinhas correndo abraçar suas mães no final das apresentações, mas ela levava numa boa. Apenas corria me abraçar. Uma coisa que me incomodava muito era isso, ela nunca perguntava sobre nossos pais.


- O que você acha de passarmos na padaria? – perguntei já sabendo sua resposta. - Podemos? – ela falou com seus olhos brilhando. -Mas é claro, terei que ir trabalhar mais cedo hoje. Então não terei tempo de cozinhar. – Isso era parte verdade pois realmente não seria possível cozinhar hoje, mas nem tínhamos nada para cozinhar. Caminhamos até a padaria enquanto Julie me contava todos os detalhes da apresentação que eles iriam fazer. Quando chegamos a padaria, comprei pão e alguns pasteizinhos para comermos a noite, também comprei um sonho para Julie por que eu sabia que ela adorava. Diferente de muitas crianças Julie não fazia um escândalo cada vez que via algo que queria, ela entendia que tínhamos certo limite financeiro, e que não podíamos nos dar o luxo de termos tudo o que desejávamos. Chegamos em casa e guardei tudo que tínhamos comprado, apenas deixei os pasteis pra nós devorarmos antes de eu sair para o Jone’s. Quando vi minha tarde já tinha acabado, já eram 06:00 horas, coloquei uma calça jeans skinni, meus alls stars, e uma regata preta e fui me despedir da Julie. - Tenho que ir, o seu sonho ta na geladeira pode comer, faça seus deveres de casa e só depois vá olhar TV, não vá dormir muito tarde – Falei a beijando e pegando um pastel pra mim comer enquanto ia até a boate.


O Jone’s ainda estava fechado mas consegui algumas horas extras combinando com o John que eu iria limpar toda a boate antes de ela abrir. Quando entrei fui até a o quartinho de limpeza para mim achar o álcool, que eu teria que usar para desinfetar todas as mesas e o balcão. Depois de limpar todas as mesas eu já me sentia exausta, a tarde havia sido longa e o apartamento do Jesse havia dado trabalho. Quando comecei a limpar o balcão escutei a porta se abrir. - Já aqui Rose? Vejo que já limpou quase tudo! –disse John enquanto examinava o interior da boate. - Eu preciso conversar com você querida – falou vindo por trás de mim, nem me dei o trabalho de me virar, pois estava com pressa para acabar logo a limpeza. - Nem vem John, já falamos sobre isso, não vou limpar o banheiro masculino, mande a Marie fazer isso. Foi quando senti o braço dele rodear minha cintura. Me virando de frente para ele. - O que você está fazend... – Nem consegui terminar a frase quando ele me beijou, por mais que a pessoa seja pega de surpresa é quase impossível uma pessoa não corresponder um beijo. É um tipo de instinto. Quando ele se afastou ficou olhando fundo nos meus olhos, só consegui ficar ali, olhando aqueles olhos escuros que me sondavam. Foi quando eu pensei Por que não? E o beijei. Acho que ele deve ter ficado surpreso, mas não demorou a corresponder o beijo. - Rose – falou ele suspirando. – Me desculpe.


-Te desculpar? Achei que nunca ia fazer isso! Até que você demorou – falei rindo. Dei um selinho nele e falei: -Agora me deixe ir está na hora de abrir essa boate. - Hey espere, achei que você fosse ficar chateada, eu sempre gostei de você, desde a primeira vez que eu te vi, só não sabia se você sentia o mesmo. Vi aquela sensibilidade em seus olhos, parei o olhei e lhe dei um longo e profundo beijo. - Está tudo bem, não posso dizer como estão meus sentimentos agora, mas eu sempre gostei de você. – falei o encarando. – Agora é sério temos que abrir. - Tudo bem, gatinha vamos lá – falou sorrindo de orelha a orelha.

Capítulo 4

Como era sexta-feira era esperado que tivesse muita gente, o Jone’s sempre enchia com caras da universidade, mas naquela noite estava lotado. Devia ser a noite mais agitada que já tivemos. Eu não conseguia parar de pensar no John, confusão me definia, afinal eu não sou o tipo de garota que sai beijando o chefe. Resolvi que logo que o bar fechasse eu teria uma conversa com ele, o que eu sentia por ele não era uma paixão suprimida,


que eu estava a cada segundo que se passava pensando que se tratava o caso dele. Eu sentia uma gratidão imensa por ele, isso era certo. Talvez essa gratidão estivesse confundindo meus sentimentos. - Hey, vai fazer o que amanhã? – Pediu Marie vindo na minha direção. - Limpar o banheiro masculino daqui é que não vou! – Falei rindo. - Não vale ok? Só por que o chefe gosta de você não pode fazer o trabalho sujo ficar pra mim! Falando sério, parece que amanhã é nossa folga por que eu, você e a Julie não vamos a praia? – Marie sempre tentava me tirar de casa, se não fosse por ela provavelmente eu estaria atrás de mais trabalho. - Julie vai estar na casa de uma coleguinha então não vejo mal em sairmos – falei a abraçando. - Tudo bem amanhã passo bem cedinho no seu quartinho minúsculo para ficarmos a tarde toda fora, vou cuidar do balcão vá atender algumas mesas. Por mais que eu me concentrasse em atender as mesas eu não conseguia deixar de sentir os olhos de John me seguindo. Eu teria que dar um jeito nisso. Logo. - Hey garçonete venha até aqui – gritou um cara da mesa mais ao fundo, como a Marie havia começado a noite atendendo as mesas ela provavelmente havia os atendido antes. O pior tipo de cliente os riquinhos metidos que adoram tirar onda com a cara das garçonetes. Bom, minha noite estava pra piorar.


- Pois não precisam de mais alguma coisa? – Perguntei antes de olhar para a mesa. Oh que merda. - Sim, temos um probleminha aqui, está vendo essa cerveja? Eu não a quero, outra garçonete idiota deve ter errado o pedido, leve de volta. – disse o cara ruivo sentado ao lado de Jesse e outros caras. Esse menino está me perseguido? Ignorei-o e olhei para o bloco da mesa. - O senhor pediu por isso, não posso levar de volta, além do mais já a abriu se ainda não percebeu. – falei o encarando. - Chame o dono dessa joça ou se não meus amigos vamos embora sua vadiazinha estúpida. Fiquei chocada, não pelo insulto, mas pela risada que se seguiu no grupo, Jesse estava rindo de mim! Tudo bem que eu não o conheço, mas pensei que ele era melhor que isso. Senti um braço ao redor da minha cintura me impedindo de ir até o idiota e lhe dar um soco. -Algum problema querida? – escutei John dizer. – Por que não vai até o balcão escutei que a Marie estava precisando de ajuda, deixa que eu resolvo aqui. - Ok – Falei com os dentes cerrados de ódio. Olhei diretamente para Jesse, mas os olhos dele estavam fitando o braço ao redor


da minha cintura. – Tudo bem querido. – falei e o beijei na bochecha antes de sair. Sei que foi infantil, mas valeu a pena, percebi como as mãos de Jesse se fecharam em punhos. Ele estava com ciúmes! Não que importasse depois da ruiva de hoje, aquilo só provava que ele conseguia toda garota que quisesse de mão beijada. Mas isso não iria acontecer comigo. Passei a noite sem mais incidentes atendendo e fazendo drinks no balcão, em um lugar que eu por coincidência tinha uma visão perfeita para mesa em que o Jesse estava, eu sou uma idiota, eu sei. Depois que todos foram embora ficou eu, Marie e John a fim de trancar tudo. - Tudo bem pombinhos diferente de vocês moro longe e estou terrivelmente cansada. Vemos-nos amanhã Rose, Thau chefinho – Marie falou me dando um beijo antes de ir. - Tudo bem Rose? Sabe, sobre hoje? – John falou se sentando em uma das mesas. - Sim aqueles idiotas nem me incomodaram. - Ha sim, claro, mas estou falando também sobre o beijo. - Uhm, John eu sei o que disse hoje e eu não menti eu gosto muito de você e sou terrivelmente grata por toda porcaria que me ajudou a passar, mas eu não estou pronta pra isso, eu tenho que cuidar de Julie. –falei me sentando a sua frente. -Sempre há um mas, não é? - falou me lançando um sorriso triste. - Sinto muito, mas ainda somos amigos não é?


- Claro Rose eu sou paciente, agora vá para casa que eu acabo tudo aqui aproveite o domingo amanhã, nos vemos segunda. – falou me dando um beijo na bochecha. Não havia mais nada a dizer, fui para meu quartinho troquei de roupa e me deitei ao lado de uma Julie completamente inconsciente e pensei sobre meu dia, sobre John e Jesse. Adormeci pensando no que o Jesse me disse na noite em que me salvou: “Você não me conhece, Rose então apenas pare de me tratar como se o fizesse.”. Talvez eu não o conhecesse, mas eu queria, e como queria. Oh merda. Capítulo 5 Acordei com um som estridente. - Alo? – falei bocejando. - Espero que você esteja bocejando de animação e que já tenha o seu biquine em mãos. – Marie. Ela realmente não estava brincando sobre ir cedo para a praia. - Se você estiver falando sobre a animação de ficar dormindo no meu dia de folga, então sim estou muito animada. - Chega de graçinha, se arrume e leve Julie na amiguinha dela que eu passo te pegar em uma hora. – Falou ela. - Okay. - Eu sabia que quando se tratava de Marie nem adiantava discutir.


Depois de acordar Julie que pulava de animação, vesti meu biquine e um vestido floral leve. Graça aos deuses a casa de Hannah, a amiguinha de Julie ficava a apenas dois quarteirões de casa. - Volto pra pegar você antes as 17:00, qualquer coisa peça a mãe de Hannah pra me ligar. – Falei a abraçando. - Não se preocupe Rose, tenho seu numero em mãos, e o dia está lindo, aproveite a praia. – Falou Cristine mãe de Hannah. - Tudo bem. Thau – Eu não me sentia bem deixando-a ali, não que eu não confiasse em Cristine, pelo contrário Julie sempre adorou ficar com Hannah, e afinal Julie havia passado a semana inteira insistindo para vir. Marie me já estava me esperando em frente a minha porta. Estava incrível em um biquine turquesa que realçava suas curvas. - Uns amigos estão fazendo um churrasco em uma cabana na praia e nos convidarão pra almoçar com eles e eu disse sim. – falou Marie quando estávamos chegando à praia. - Marie! Porque não me falou? – gritei - Por que se eu tivesse falado você não teria vindo - gritou ela de volta – Agora pare de fazer drama, vamos beber umas cervejas e conhecer uns gatinhos. - Você é uma idiota. - E você me ama. – respondeu ela rindo. Os “amigos” consistiam em um grupo de universitários que já estavam bêbados quando chegamos lá, e eram apenas 10:00 da manhã.


Com todos bêbados, até mesmo Marie, fui eu quem fiquei em frente a churrasqueira. Logo já era fim de tarde, e eu estava satisfeita com a marquinha que eu tinha adquirido com a tarde esparramada na areia. Marie acabou indo embora com um carinha que deu mole pra ela o dia inteiro, não me julguem tentei impedir. Mas Edward é um cara legal, e me certifiquei que estivessem em um táxi antes de começar a guardar nossas coisas no carro de Marie, já que eu teria que o levar pra casa. - Belo biquine – falou uma voz rouca. Não me virei imediatamente, comecei a dobrar o guardasol para conseguir arrumar algum tempo e pensar em o que falar. - Me desculpe, sei que ficou chateada ontem na boate, meus amigos são idiotas. – falou. - Tem razão, e você é muito parecido com eles - falei sem olhar em seus olhos. - Essa doeu, mas tudo bem eu mereci. - Você pode me perdoar? Antes que eu pudesse responder meu celular tocou em minha bolsa. Cristine. - Cristine eu já estou indo, diga para Julie me esperar, logo estou chegando. - Rose, me escute não fique nervosa. – falou ela com uma voz tremula.


- Tudo bem? – Jesse falou tentando chamar a minha atenção. - O que está acontecendo? Julie está bem? – falei ignorando ele. - É o conselho tutelar, eles estiveram aqui e levaram Julie. - O que ? como você deixou isso acontecer? – Falei com lágrimas borrando minha visão. - Me desculp... - Esquece, estou indo até lá. – desliguei antes que ela pudesse dizer mais alguma coisa. Joguei tudo no porta malas do carro, e peguei a chave para abrir a porta, acontece que eu estupidamente comecei a chorar e soluçar como uma criança, eu sabia que devia me controlar mas eu estive com medo que esse dia chegasse por toda a minha vida. Mão quentes rodearam as minhas tentando me acalmar. - Que merda ta acontecendo Rose? Por que está chorando? – Disse Jesse, eu havia me esquecido que ele estava ali. - Naada não se metaa – falei chorando. Ele me girou puxando - me em seus braços ignorando meus protestos.


- Eu sei que algo aconteceu, talvez não seja uma boa hora pra conversar, mas me deixe ajudar, não é fraqueza precisar de ajuda às vezes. – falou afagando minhas costas. - Eu preciso de ajuda – falei contra sua camisa. Capítulo 6

Tudo aconteceu em um borrão, Jesse me levou até o conselho tutelar e nos avisaram que teríamos que esperar e conversar com a assistente social. Eu não conseguia acreditar, haviam tirado Julie de mim, e eu faria tudo pra ter ela de volta. Jesse não fez perguntas, apenas ficou comigo me oferecendo apoio. Depois de o que me pareceu horas mas podiam ser minutos nos chamaram. Uma mulher ruiva com sardas por todo rosto, vestindo um terninho elegante, estava nos esperando em um escritório. Parece que ruivas estavam se tornando meu pesadelo. - Você é Roselinda Lopez? – Perguntou ela me avaliando por cima de seus óculos estilo fundo de garrafa, ela devia ter uns 30 anos no máximo. - Só Rose. Onde está Julie? – exigi. - Ora ora moçinha se acalme. Ela está bem. - Vocês não deviam apenas ido até lá e pegado a criança, não sem antes terem notificado Rose e discutido a situação. –


Falou Jesse me surpreendendo. Afinal ele era um estudante de direito. - Tem razão, desculpe como a situação tem decorrido, mas foi um mal necessário. Sem mais delongas, vamos então discutir agora a situação, a criança em questão Julie está vivendo com você. - Sim ela é minha irmã e vocês não tem o direito de tirar ela de mim, afinal já tenho 10 anos. – afirmei com raiva. - Lamentável a situação na verdade. Devíamos ter chegado a vocês antes, mas fez um bom trabalho apagando os seus rastros. Eu sei tudo sobre você, foi um descuido você ter fugido com sua irmã, uma criança, sendo que nem tinha um lugar pra ir. - Mas agora eu tenho, tenho um emprego, e vocês terão que me entregar ela. – Falei tentando me controlar pra não arrancar os cabelos da ruiva sentada a minha frente. Jesse deslizou suas mãos nas minhas tentando me acalmar. - Um emprego? Em uma boate? Você não é capaz de cuidar da sua irmã, e ainda não encontramos sua mãe. Então ela será enviada para um orfanato. Até que você arrume uma casa e um emprego decente. Você poderá se despedir e visitá-la, ela será bem cuidada lá. - Não acredito, vocês não podem fazer isso – Me levantei pronta pra lutar com unhas e dentes pela minha irmãzinha. - Eu sugiro que seu namorado lhe acalme e quando julgarmos que você esteja recomposta, poderá falar com sua irmã, antes que ela seja levada para o orfanato.


Antes que eu pudesse falar algo Jesse se levantou e me levou para fora da sala, nos sentamos em alguns bancos. - Julie agora me escute, o que ela falou é verdade e se você ir de cabeça quente só vai piorar as coisas, não há nada que possamos fazer agora. O melhor será ir até lá e se despedir, não faça as coisas piores para Julie. - Você apenas quer que eu deixe-os levar minha irmã pra longe de mim? – Falei entre dentes. - Não confunda o que eu quero com o que tem que ser feito. Um homem veio até nós nos interrompendo. - Srta. Lopez você poderá ver sua irmã agora. – O segui para o corredor sem olhar para Jesse. Encontrei Julie em uma sala rosa cheia de brinquedos e crianças. Quando me viu veio correndo até mim e se atirou em meus braços. - Rose você veio! – falou me abraçando. - É claro que eu vim, querida vamos nos sentar precisamos conversar. Depois de nos sentarmos em cadeiras no canto da sala, Jesse entrou na sala e sentou ao nosso lado. - Tudo bem Rose, a tia Grace me explicou tudo, não se preocupe sei que terei que ficar um tempo com as outras crianças e que depois você poderá vir me buscar.


- Isso mesmo, não se esqueça eu sempre irei buscar você. – Falei com lágrimas borrando minha visão. - Vamos crianças, vocês vão conhecer um lugar novo cheio de crianças, os ônibus estão lá fora vamos nos apressar. – Chamou a ruiva. Abracei Julie com a minha visão borrada pelas lágrimas não derramadas, eu devia ser forte por ela. - Eu te amo Ju. - Eu também amo você Rose. Capítulo 7 Passaram-se três meses e meu coração se apertava cada vez que eu relembrava todas as visitas desde aquele dia. Eu ainda trabalhava no Jone’s, e não conseguia outro emprego. Jesse se tornou uma pessoa constante em minha vida, nunca tentando ir além do vínculo de amizade que havíamos formado. Ele frequentava a boate toda noite depois de passar o dia na universidade, encerrávamos as noites juntos. Era sexta à noite o que apertava meu coração, pois passaria o fim de semana todo sozinha em casa, o que tornava mais evidente a falta da presença de Julie. - O que vai fazer amanhã? – Perguntou Jesse. Ele estava ali desde que a boate estava aberta, esperando que meu turno acabasse para que sentássemos tomar nossa cerveja como todas as noites. Marie sempre insinuava que havia algo rolando entre nós, eu não era boba, achava estranho que


ele se preocupasse e estivesse comigo, mas tinha medo de que ele fugiria como todos na minha vida se eu questionasse sua presença. - Nada, procurar algum emprego como sempre. Acredita que a mulher do restaurante que eu fui ontem ligou e disse que achava que eu não tinha o que eles procuravam. Afinal o que eles procuram? – Falei com um humor seco. - Não sei. Olha amanhã meu pai vai dar algum baile estúpido para seus amigos, advogados importantes e vai ser uma chatice, pensei que se você fosse comigo seria menos torturante. Apenas olhei para ele, não sabia o que dizer. - Okay. - Okay? – Falou olhando em descrença. - Okay – repeti. - Você realmente vai? - É o mínimo que posso fazer por você, por sempre estar comigo. – Falei sorrindo. - Rose, se eu passo esse tempo com você é por que eu gosto de você. – falou olhando em meus olhos. Corei furiosamente e decidi ignorar a parte “gosto de você”. - Vai me pegar que horas? – perguntei mudando de assunto.


- As oito – Avisou já se levantando, quando estava perto da porta se virou e falou – É um encontro. - Não é um encontro – gritei, mas ele já tinha saído pela porta com um sorriso de orelha a orelha. Oh merda. Sábado a noite chegou e eu havia decidido que iria ligar e desmarcar, eu não tinha roupa, provavelmente seria um baile chique cheio de pessoas ricas e meu único vestido estava longe de ser elegante. Peguei o celular, mas ao invés de ligar pra Jesse liguei para Marie. - Oi Marie – falei. - Rose é você? – falou surpresa. Depois que a Julie foi levada para orfanato eu não havia mais saído com ela, todo meu tempo livre era dedicado à procura de um emprego. Apenas via ela no trabalho e quase sempre minha atenção estava no cara que me esperava até o fim da noite. - Sim sou eu, Marie me sinto horrível te ligando pra pedir um favor depois de todo esse tempo. - Não seja boba, eu entendo, sei pelo que está passando. Do que precisa? – Me senti grata por ter uma amiga tão fiel na minha vida. - Um vestido, Jesse me convidou pra ir a um baile de pessoas ricas e eu tenho exatamente uma hora até ele chegar. - Eu sabia que estavam juntos, não adianta negar. Eu tenho o vestido perfeito, já estou indo! – Falou e desligou.


Em quinze minutos Marie estava em minha casa não só com o vestido, mas também com maquiagem e muitas coisas para arrumar meu cabelo. Usamos bem a uma hora que tínhamos, Marie prendeu meu cabelo loiro em um coque chique e passou uma sombra escura, mas ao mesmo tempo leve nos meus olhos, ela não queria chamar atenção aos meus olhos e sim para minha boca, o que certamente iria acontecer com o batom vermelho que ele me fez usar. Quando coloquei o vestido fiquei pasma, não conseguia reconhecer-me. No espelho havia uma mulher bela, com curvas em um vestido que ficou perfeito em meu corpo, era vermelho e continha um decote modesto, para compensar havia uma fenda que abria abaixo da minha coxa deixando minhas pernas com um ar sexy, mas sem ser vulgar. Eu nunca havia estado tão bonita. - Obrigado Marie, você é uma amiga incrível, mas você tem certeza sobre a boca e o vestido vermelho? - É claro boba, você está sexy e elegante. Minha melhor criação. – Falou ela rindo. - Obrigada Marie. – falei corando. Escutei o barulho de um carro seguido de batidas firmes na porta. Jesse havia chegado. Oh merda. Capítulo 8


Quando abri a porta, fiquei olhando boquiaberta, Jesse estava parado usando um smoking, e parecia um príncipe. - Uau, você está incrível. Vamos? – comentei fechando a boca. Mas ele não estava prestando atenção, prestando atenção ele estava, mas não no que eu estava dizendo. Ele estava me avaliando dos pés a cabeça. - Oh inferno – ele falou ainda olhando para a fenda em minhas pernas. - O que foi? Alguma coisa errada? – falei preocupada. - Não certamente, nada está errado. Olha eu queria esperar até o final da noite, mas acho que eu não vou aguentar depois desse vestido. – falou já se aproximando. Colocou a mão em minha cintura, me puxou para perto e me beijou. Não foi como o beijo de John, nesse beijo eu estava consciente de tudo, do braço dele rodeando minha cintura, e da sua mão em minha nuca. Quando ele se afastou estávamos os dois com a respiração ofegante. - Vamos? – falei. - Claro. – ele falou sorrindo. Quando estávamos saindo, a luz se apagou e uma figura apareceu na porta. - Tenham uma boa noite queridos – Falou Marie com um sorriso travesso.


No carro caímos em um silêncio confortável, eu odiava pessoas que preenchiam o silêncio com conversar superficiais. Quando eu estava com ele eu quase esquecia meus problemas esquecia que Julie estava longe. Eu estava absorta, pensamentos sobre o beijo me invadiram. - Está tudo bem? – Jesse falou me fazendo pular. - Droga, você me assustou. - Estava pensando em que? – perguntou ele rindo - Nada - falei rápido demais. - Posso imaginar. Estamos aqui, vamos acabar com isso e entrar. – ele desceu rodeando o carro para abrir a porta para mim. Quando desci consegui uma visão da casa, quase virei meia volta e entrei no carro. Estávamos em frente a uma mansão estilo vitoriana, cheia de janelas e um jardim incrível em frente. Era o tipo de casa que se via em filmes. - Essa é sua casa? - Perguntei gaguejando. - Sim, desculpe sinto que devia ter avisado, não é tão assustador quanto parece. – falou me olhando preocupado. - Tudo bem, vamos entrar – ele pegou minha mão e me levou para dentro. Assim que chegamos na porta percebi uma coisa que me deixou horrorizada, todos estavam de preto ou branco. Era um baile preto e branco que os ricos adoravam fazer.


- Droga, por que você não me avisou que era um baile preto e branco? – perguntei com raiva. - Eu não sabia, minha mãe não falou quando eu avisei que teria uma acompanhante. Achei que a mãe dele havia feito de propósito, mas não falei nada, eu ainda nem conhecia a mulher e já não gostava dela. Virei a volta e comecei a caminhar para fora da casa. - Não vá embora, você é a mulher mais bonita que eu já vi. Está incrível nesse vestido, não me deixe ok? - Ok. – Eu não iria embora por causa de riquinhos, eu entraria e ensinaria uma lição a esses mimados. Quando entrei de mãos dadas com Jesse no salão eu era um pontinho vermelho em um mar de mulheres de branco e preto. Era como em um filme, onde a mulher passava e todos viram as cabeças para olhar, os homens com admiração e as mulheres com inveja. - Estão todos olhando – sussurrei para Jesse. - Acredite, eu também estou. – falou me encarando. Capítulo 9

Eu resolvi ignorar os olhares, mas havia um que era impossível. Jesse. Muitos advogados e pessoas importantes vieram o cumprimentar, mas ele não tirava os olhos de mim.


Um jovem se aproximou de nós. Moreno, olhos escuros e um smoking que realçava ainda mais a sua beleza. Parecia um príncipe saído direto de um conto de fadas. - Olá, estava esperando que o Jesse aqui me apresentasse, mas obviamente não ia acontecer então resolvi eu mesmo me apresentar, para essa linda dama que se chama... – falou me olhando com um olhar malicioso. - Pode chamar essa linda dama de Rose e você como você se chama? – falei rindo. - Ridle querida, me chame Ridle. – ele riu. Imediatamente eu simpatizei com Ridle, ele era engraçado e me fez esquecer todos os olhares maldosos que lançavam em minha direção. - Vou buscar uma bebida para nós. – falou me dando um beijo na bochecha e dando um olhar carrancudo para Ridle. Ridle fixou o olhar em uma mulher no outro lado do salão e pediu que eu lhe desejasse sorte. Logo que ele saiu duas mulheres se aproximaram, meu vestido não parecia mais tão maravilhoso em cotraste com o delas. - Olá, você veio com o Jesse né? – Perguntou a morena que vestia um vestido incrustado de pedras. - Sim – sorri tentando ser simpática, por mais que eu estivesse com vontade de vomitar. - Que corajem – informou a loira.


- Por que? – perguntei com a raiva mal contida. - Por que a namorada dele está aqui – ela falou dando uma risadinha. - Olhe para eles. Não formam um casal lindo? – Comentou apontando para trás de mim. Virei e lá estava ele, abraçando uma mulher morena, que usava um vestido preto realçando os longos cabelos negros. Eu sabia que era jogo sujo, que provavelmente elas estavam me provocando. E estavam conseguindo. - Jesse é um bom homem, ele ficou com pena da sua história com sua irmãzinha e tal e resolveu te trazer pra se animar, pena que no final da noite é com Rachel que ele vai sair. – falou a morena com sarcasmo. - Afinal roubou de uma mendiga o seu vestido? – perguntou a loira rindo com sua amiga. - Sim eu roubei da mendiga que estava deitada do lado da prostituta que você roubou o seu. – Falei com frieza. Não pensei, um garçom passava do meu lado, peguei uma bebida dele e joguei nas duas peruas as deixando encharcadas. Eu não ia chorar, não ia dar essa satisfação para estas pessoas. Achei um banheiro e me enfie nele. Meu celular tocou. - Srta. Lopez? – falou uma voz séria. - Sou eu.


- Aqui é orfanato Luz crescente. Só queríamos avisar que encontramos sua mãe. Ela estava morando no Oregon. Ela retomou a guarda da sua irmã e a levou pra morar com ela. Elas saíram ontem. Eu desabei. Todas as lágrimas reprimidas. Olhei-me no espelho e vi uma mulher em ruínas. A pessoa que eu mais amava estava sendo tirada de mim. Sai como um furacão do banheiro e a primeira pessoa que encontrei foi Ridle. - O que aconteceu minha querida? – Perguntou. Olhou para o meu rosto e falou. -Esquece dever ser ruim. Toma – Falou me entregando chaves. - O que é isso? – perguntei. - As chaves do meu carro. Você deve estar precisando. Não se preocupe com nada. Andei em direção as portas me controlando para não sair correndo. Antes de chegar às portas uma mão forte me parou. - O que está acontecendo Rose? Por que está chorando? – Me olhou preocupado. Provavelmente fingindo preocupação. - Não precisa mais sentir pena de mim. Termine a noite com Rachel, nós dois sabemos que é o que você quer. Você me


falou que eu não sabia nada sobre você Jesse, mas você é exatamente o tipo de cara que eu achei que fosse. Capítulo 10 Enquanto corria pelo estacionamento eu ouvia ao longe Jesse chamando meu nome, não consegui me importar o suficiente para lhe dar uma satisfação, tudo em que eu conseguia pensar era em Julie com uma mulher que ela não conhecia e que tinha nos deixado passando fome. Sem a menor ideia de que carro seria o de Ridle, apertei o pequeno controle com as chaves e os faróis de um carro a minha frente se acenderam. Eu realmente não esperava por uma Ferrari, afinal quem era essa gente? Pessoas sem personalidade que só pensavam em ostentar sua riqueza? Após pensar isso me senti culpada. Ridle tinha sido um amigo mesmo eu tendo o conhecido em questões de minutos. Depois de entrar no carro luxuoso desliguei minha mente, não me importava se Jesse estava ou não namorando, se as pessoas pensariam que eu estava roubando o carro de Ridle. Tudo que importava era que eu tinha que encontrar Julie. Peguei a rodovia que me levaria para a boate, lá eu conseguiria algum dinheiro com John. Desligando meus pensamentos foquei na estrada a minha frente, foi quando vi olhos vidrados me encarando, havia uma família de gambás congelados no meio da estrada, hipnotizados pelos faróis do carro. Virei o guidão levando o carro para o lado o que devia ter apenas feito com que o carro desviasse dos animais, mas como o carro estava em uma velocidade muito alta e eu nunca havia pilotado uma Ferrari antes os pneus derraparam e simples assim o carro estava capotando.


Quando as pessoas dizem que se você estiver perto da morte você vê sua vida diante dos seus olhos elas estão mentindo. Eu apenas conseguia sentir, sentir exatamente o que estava acontecendo. Senti quando a janela quebrou e também senti os estilhaços cortarem a minha pele e tudo ficou escuro. Eu vagava em um lugar escuro onde nada podia me atingir, não havia dor, não havia preocupações. Bem no fundo de minha mente eu sabia que havia um motivo para acordar, apenas não conseguia pensar em nada que fosse importante suficiente para me fazer voltar para aquele mundo onde só havia dor. Quando finalmente despertei foi por ter uma forte luz contra minhas pálpebras, isso além de uma dor agonizante da qual eu nunca havia nem imaginado que seria possível sentir. Logo percebi que não conseguia mover meu corpo e que eu estava pendurada de cabeça para baixo, presa pelo cinto de segurança. Havia algo quente e pegajoso que corria de minha testa ao longo de todo o pescoço. A luz que havia me acordado pertencia a um carro. Logo uma pessoa saia do carro e vinha correndo em minha direção. - Oh meu Deus, Rose me responda, Rose.... Vou tirar você daí – Ele falava comigo enquanto tentava me soltar do cinto. Minha visão não estava focada, eu não conseguia falar, mas sentia a necessidade de acalmar esse anjo que falava comigo tentando me manter acordada, eu gostaria de lhe falar que eu não estava sofrendo, nesse momento, depois de escutar a voz do meu anjo eu não sentia nada. Eu apenas gostaria de fechar os olhos e me entregar para a escuridão. - Não Rose, não feche os olhos, olhe para mim, você não pode me deixar ok? Eu não sei o que vou fazer sem você. Eu devia ter lhe falado antes, eu te amo e você não pode me deixar. A Julie também precisa de você... – A voz do meu anjo foi ficando


mais baixa como se ele estivesse se afastando de mim, e eu gostaria de protestar, mas não havia força suficiente. Quando luzes azuis e vermelhas se aproximaram de nós eu me entreguei à escuridão. Sonhos inundavam minha mente, além de lembranças de Julie. Estranhamente só havia memórias boas. As primeiras palavras, os primeiros passos. Ao longe eu também ouvia vozes, pessoas que discutiam meu estado, depois de ouvir uma mulher que pelo modo de falar eu presumi que fosse uma enfermeira, falava sobre todos os danos que meu corpo havia sofrido, várias cortes causados pela janela, costelas quebradas... Quando eu ouvi a palavra coma, me assustei. Afinal eu estava ali, eu conseguia ouvir eles, por que não conseguia acordar? Depois disso parei de me esforçar pra ouvir. Limbo. A primeira a vez que ouvi essa palavra não fiz questão de entender seu significado. Quando a mente de uma pessoa está entre a vida e a morte ela pode parar no limbo. Nunca me perguntei se seria um lugar horrível onde à mente da pessoa seria torturada para que ela desistisse, para que perdesse a esperança. Mas se era nesse lugar que eu estava eu não fazia questão alguma de sair. Era como se minha mente estivesse em um descanso onde nada de ruim conseguia me alcançar. Capítulo 11 Nunca fui a um hospital, nem mesmo quando eu ficava doente o que raramente acontecia. Então imagine acordar em um hospital, rodeada por pessoas que você ama. Estavam todos ali, Marie (Com os olhos inchados, de chorar imagino.), John, Ridle, Jesse... Julie. Quando a vi me convenci que estava sonhando, como ela estaria aqui?


- Pela cara de vocês imagino que eu não pareço muito bem, hein? – Falei tentando amenizar a tristeza no rosto deles. - Não faça piada garota, você sabe o que nos fez passar nesses últimos três dias? – Marie me deu uma bronca. - Três dias? – Realmente fiquei perplexa, pensei que no máximo haviam se passado 4 horas. - Sim você realmente quase acabou com meu amiguinho aqui – falou Ridle, dando um tapinha nas costas de Jesse. Oh Jesse ele estava melhor do que eu lembrava. Mesmo depois de ficar em coma por três dias eu ainda só pensava em quão bom Jesse parecia! Olhando mais atentamente consegui perceber as olheiras e como ele ainda usava a calça social e a blusa do seu smoking. Enquanto eu estava ali o encarando praticamente salivando, ele desviou o olhar. Antes que eu pudesse questionar seu comportamento esquivo, algo se jogou contra mim e eu gemi com a força do impacto. Julie. Era inacreditável, ali estava ela nos meus braços. - Ah querida você está bem? Eu estava morrendo de saudades. – Falei a apertando contra mim. - Rose! Eu estava com medo de que você não iria acordar e iria me deixar. -Nunca pense isso eu te amo e nunca vou lhe deixar.


- Julie eu falei que você iria machuca-la. – disse uma mulher que antes eu não havia a notado. Mas eu sabia exatamente quem era, ali estavam os olhos e os cabelos castanhos de Julie e por mais que eu odeie admitir eu via muito de mim nela. - O que essa mulher está fazendo aqui? Tire ela daqui não quero olhar pra cara dela. O monitor onde apareciam meus batimentos cardíacos enlouqueceu. Eu apenas apertei ainda mais Julie com medo de que iriam tentar tira-la de mim novamente. Vendo meu desespero Ridle pegou a mulher pelo braço e a levou para fora, Marie pegou uma Julie não mais tão animada e também a levou, deixando John, Jesse e eu. Vendo a distância que um mantinha do outro imaginei que não estavam tão amigos. - John obrigado por ter vindo – Falei ignorando Jesse, afinal eu ainda tinha meu orgulho, e mesmo depois de tudo pelo que passei, eu ainda consegui o ver abraçando Rachel. - Você dentre todos sabe que eu odeio essa mulher como foi capaz de deixa-la vir? – Falei o fuzilando com os olhos. - Me desculpe Rose, antes de eu ter que me explicar será que posso lhe dar um abraço? – Perguntou me olhando com uma cara de inocência. - Sim seu idiota, venha aqui. Quando John deu um passo mais próximo de minha cama Jesse segurou seu braço.


- Acho desnecessário, ele vai acabar machucando você. – Comentou. - Acho que a única pessoa que pode e já me machucou aqui é você. – O encarei sem expressão. - Tem razão – foi em direção à porta sem nenhum outro olhar. Fiquei ali encarando a porta e me perguntando se eu gostaria que ele tivesse ficado e a resposta parecia tão clara para mim quanto para John. - Não seja tão dura com ele, foi ele que te encontrou e não saiu daqui nem para comer. – Comentou com um olhar triste. Não respondi por que sabia o quão difícil era para ele falar algo assim, ainda mais sabendo dos seus sentimentos por mim. - Ok. Fale-me sobre Jeanine. O que ela está fazendo aqui? - Como você sabe ela tem a guarda de Julie e quando ficou sabendo veio correndo, ou melhor, voando pra cá. - Sim, sobre a guarda de Julie, ela não vai ter essa guarda por muito tempo. - Ela mudou Rose, e não vai ser tão fácil tirar a guarda de Julie. Ela está rica e realmente se preocupa com vocês. Parece que casou com um homem com muita grana e ele morreu a pouco tempo deixando toda a herança para ela. - Claro, ela rica enquanto eu e Julie passávamos fome, com certeza ela se preocupa conosco.


Capítulo 12

Incrivelmente, apesar de ter passado três dias em coma, além de vários hematomas e cortes superficiais, não havia nada que me impedisse de sair daquele lugar horrível que era o hospital. John estava a minha espera enquanto Jesse estava longe de ser visto. - Julie está com Jeanine, você só deve assinar uns papéis e depois está livre – comentou Jonh. Segui em direção ao balcão e me deparei com um pilha enorme de papéis para assinar. Depois de sairmos para o estacionamento encontramos Jeanine e Julie nos esperando. - Rose acho que devemos conversar. - É claro que você acha isso, não tenho interesse em nada que você queira falar. - Nem mesmo sobre Julie? – comentou observando Julie abraçada a mim. - Olha Rose por que você e Jeanine não vão até o café ali em frente e conversam? Eu e Julie vamos até a praça conseguir um algodão doce. – falou Jonh. - Algodão doce? Posso mãe? – falou Julie olhando para a Jeanine. Se meu humor estava péssimo, agora ele estava sombrio. Por que Julie achava que devia explicações a essa mulher?


Depois que Jonh e Julie saíram eu segui Jeanine até o café em frente ao hospital. Não por que eu estava interessada em qualquer coisa que saísse da boca dela mas sim por que estava na hora de por as cartas na mesa. - Você quer pedir alguma coisa? – Falou pegando o cardápio. - Um café – Comentei, afinal o meu corpo todo dolorido necessitava de cafeína se iríamos ter essa conversa. Depois de a garçonete ter trazido nossos pedidos seguiu-se um silencio constrangedor. - Então vamos direto ao ponto, por que voltou?- lancei a ela um olhar que esperava que fosse intimidador. - Olha Rose, você já passou por muita coisa, então vou resumir. Sinto muito, e abandonei vocês. Não por falta de amor acredite. Eu estava com medo, era apenas uma garota de 19 anos sozinha depois que seu pai me largou, criar vocês era quase impossível. Eu tenho muita vergonha de lhe falar isso, mas e não passava de uma viciada e pensei que vocês estariam melhores sem mim. Não parei em um lugar por muito tempo, eu estava devastada depois de deixar vocês, então eu encontrei o Richard. Um homem rico, ao invés de dar o golpe da barriga eu me apaixonei. Infelizmente ele adoeceu e faleceu me deixando como herdeira. Eu pensei que agora eu poderia voltar e ajudar vocês, então consegui a guarda da Julie e a levei. Nós voltaríamos é claro por você. - Mesmo assim foi errado leva-la sem me avisar. – Comentei bebendo um gole do meu café. Eu estava sem palavras. Tudo que ela fez foi errado mas ela tinha seus motivos.


Eu devia odia-la, mas depois de tanto tempo, e depois do acidente eu estava esgotada e sem forças para odiar qualquer um. Depois de muita conversa eu tinha que concordar que ela poderia dar um futuro a Julie, que eu nem em sonhos conseguiria. O acordo era que Julie iria com ela, apesar de partir meu coração, seria muito egoísmo ficar com Julie e deixa-la passar fome. Quando saímos já era tarde e logo elas teriam que pegar o voo delas. Jonh estava a nossa espera com minha irmãzinha. - Julie eu vou sentir muitas saudades suas – falei a abraçando. - Você não vai conosco? – falou com cara de choro. - Não querida, mas eu prometo que vou lhe visitar ok? Se comporte. – Lhe dei um beijo e a deixei ir até Jeanine. - Rose eu irei cuidar dela não se preucupe, e as portas da minha casa estão abertas, você pode nos visitar a hora que quiser. – falou Jeanine com um olhar esperançoso. Eu até poderia lhe perdoar, mas eu duvidava que conseguiria estabelecer um tipo estúpido de relação mãe e filha com ela. Foi horrível ver Julie partir novamente, mas pelo menos havia a ideia de que ela seria muito mais feliz para me confortar. - Você está pronta pra ir? – questionou Jonh. - Claro, vamos.


Dentro do carro a caminho de casa eu só coseguia pensar onde estaria John. Meu celular apitou indicando uma nova mensagem da Marie. Nos vemos amanhã no Jone’s? Depois de uma breve hesitação digitei de volta. Claro. Bjs - Parece que está rolando alguma coisa entre Marie e aquele Ridle. – comentou Jonh. - O que faz você pensar nisso? – Sinceramente seria uma surpresa, sendo que eles nem se conheciam bem. - Durante esses dias em que você estava no hospital eles saíram muito. Hoje mesmo depois que você foi para o café. - Isso sim é uma surpresa. Você se sente incomodado? – perguntei. - incomodado – falou soando confuso. - É, que a Marie esteja saído com um cara?. - Não, é claro que não. Outra mulher capturou meu interesse. Nós dois sabíamos que eu era essa mulher. - Chegamos, você quer que eu fique? Precisa de algo? – perguntou ele.


- Não, obrigada Jonh você é incrível. Obrigada mesmo por tudo. – Não lhe dei tempo de responder já saindo do carro. Senti seus olhos me seguirem até o momento em que tranquei a porta atrás de mim. Minha “casa” era estranhamente silenciosa sem Julie. Joguei-me na minha cama sem me importar em trocar de roupa. Meu corpo estava muito dolorido para que eu pensasse em qualquer outra coisa. Antes que a exaustão me consumisse só havia um pensamento. Onde estava o Jesse?

Continua... Se você gostou desta leitura e gostaria de saber o final da história de Jesse e Rose, de um curtir no livro. <3



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