Tfg - Escola Montessoriana em Madeira

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ESCOLA MONTESSORIANA em madeira



ESCOLA MONTESSORIANA em madeira

Marianna Santos Fujii Orientador: Anália M.M. De Carvalho Amorim Trabalho Final de Graduação FAU USP - Junho 2019



“O ensino deveria ser assim: quem o receba o recolha como um dom inestimável, mas nunca como uma obrigação penosa”. (EINSTEIN, 1953, p.16)


Agradecimentos

A todos os meus familiares, à minha irmã Lucianna e meus pais, Maria de Olinda e Ricardo pelo amor e incentivo. Aos meus avós de coração, Irene, Edmundo, Yoko e Júlio, pelo amor, as orações, e estímulo durante os anos de estudo. A minha querida, Milk, pelas brincadeiras e por deixar a vida mais colorida. Ao Guilherme, pelo amor, carinho e afetuosa presença nos momentos difíceis. Aos meus amigos Filipe, Thais, Giulia e Thomas pelo apoio, dedicação e solicitude nessa etapa final. Obrigada por me ouvir! A minha querida orientadora Prof.ª Anália Amorim, pela atenção, apoio, incentivo e generosidade em compartilhar seus conhecimentos. A querida Profª Karina Oliveira Leitão, pelo apoio e compreensão. Aos professores convidados Antonio Carlos Barossi e Helena Ayoub por aceitarem participar desta banca. Aos meu queridos amigos da FAU, Bianca, Vitor, Flávia, Letícia, pela amizade, carinho e risadas. Aos meu queridos amigos do FAU Poli, Henrique, Fernando, Fabiana, Vanessa, Lucas, Fernanda, Maria Fernanda, Patricia, Adriana e Giovanni, pelo apoio, carinho e conselhos, pois sem vocês essa etapa da minha vida seria mais difícil. Aos queridos amigos, pelo apoio, pelas discussões, mas principalmente pela amizade e companheirismo: Thiago, Jessica, Gil, Rebeca, Fernanda, Salvio, Carolina, Isabela, Renato,Hideki e Serantes. Aos meus amigos Miki, Amanda, Juliana, Denny, Daniel, Leticia, Bruna, Lisa, Jorge,


Rodrigo e Saburo pelos ensinamentos, carinho e aprendizado. A minha querida psicóloga, Renata Zanin Malek, pela paciência, dedicação, confiança e carinho. Aos meus atuais amigos de trabalho, Larissa, Beatriz, Lucas, Vitor, Gabriel e Bernardo, pela compreensão, apoio e paciência. A todos amigos pela constante proteção e amparo em todos os momentos.

Muito Obrigada!


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ÍNDICE

Introdução

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O Tema

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O Método

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Maria Montessori

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O Método

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O Método no Brasil

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Referências

31

Visitas Técnicas

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Irmã Catarina

56

Santa Terezinha

59

O Terreno

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O projeto

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Premissas

76

O Programa

77

Estudo da sala de aula

79

Processo de projeto

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O Projeto

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Os cantinhos

124

Considerações

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Bibliografia

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01 INTRODUÇÃO


Este trabalho se coloca como uma finalização não apenas da minha formação na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, mas como um fechamento de um ciclo de minha vida. Estudei no Irmã Catarina - uma escola montessoriana, dos quatro aos catorze anos de idade, onde, cursei o jardim de infância, o ensino primário e o fundamental. Em seguida, cursei o ensino médio no Colégio Etapa e fiz dois anos de cursinho até entrar na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. Em 2015 cheguei a estudar um ano na Universidade Tecnológica de Eindhoven e em 2016 ingressei no FAU-Poli. Acredito que todas as instituições educacionais pelas quais passei até o momento tiveram grande influência em minha vida. Cada uma delas contribuiu para que eu enxergasse o mundo de diferentes maneiras. Penso que a escola tem uma grande importância, não só no ensino e na aprendizagem das crianças, mas principalmente na formação como profissionais e como pessoas. No entanto, acredito que aquela primeira escolinha em que estudei teve um participação especial em minha formação. Acredito que os jardim de infância e as escolas primárias tenham um papel fundamental na formação das crianças. São nos jardins de infância e na escolas primárias que elas têm um primeiro grande contato com o mundo, já que passam boa parte de seu dia e de seu período de desenvolvimento na escola. Dessa maneira este trabalho tem o objetivo realizar um projeto de uma escola Montessoriana em madeira para crianças entre três e seis anos de idade. A ideia de estudar essa pedagogia vem não só do fato de tê-la vivenciado na prática, mas também da vontade de compreender seus objetivos na formação do aluno e de como os traduzir na arquitetura, por meio do exercício de projeto. A utilização da

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madeira como material estrutural do edifício se justifica pelo fato de ser um material mais quentinho, amigável e agradável ao toque e por trazer a sensação de ambiente aconchegante e familiar. A estrutura do trabalho foi baseada na ideia de que o leitor não tenha conhecimentos prévios sobre o Método Montessoriano. De maneira geral, as explicações referentes ao Método são focadas nas características consideradas relevantes para a elaboração do projeto. No entanto foi necessário realizar algumas explicações que não estão diretamente ligadas à arquitetura a fim de que se tivesse uma melhor compreensão do todo. O trabalho se inicia com o estudo e compreensão das principais características do Método Montessoriano. Em seguida, são analisadas algumas referências projetuais, importantes para o desenvolvimento do projeto. Por fim, é apresentada a proposta da escola em madeira, a partir dos conceitos adquiridos anteriormente.

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02 O TEMA


A pedagogia Montessoriana se insere no movimento da “Escola Nova”, também chamado de “Escola Progressiva” ou “Escola ativa”. A Escola Nova foi um movimento de renovação do ensino que ocorreu principalmente na Europa, na América e no Brasil, na primeira metade do século XX. O intuito desse movimento era de superar o modelo de escola tradicional. O modelo praticado previamente seguia conceitos positivistas e iluministas, aferindo caráter enciclopédico ao conhecimento transmitido. O mestre deveria forjar a mente do aprendiz, aferindo a ela o mesmo formato e direcionamento que anos atrás lhe foi aferido. Buscando atender às necessidades específicas da criança passa-se então a adequar a educação ao tempo individual de cada uma, priorizando, portanto, o desenvolvimento orgânico sobre a intenção de adaptar cada indivíduo a um molde racional pré-concebido. Seguindo essas diretrizes, a pedagoga de Maria Montessori compõe um método que opõe-se aos tradicionais, priorizando a exploração e o crescimento da criança, guiando seu desenvolvimento e permitindo que ela descobrisse o mundo com a própria mente e com seus próprios sentidos. Dava, assim, voz à infância, sem prejudicar o desenvolvimento racional, permitindo que as mentes dos pequenos tomassem diversos formatos, cores e texturas. O desenvolvimento do aluno depende, por essência, do ambiente no qual ele está inserido. Esse ambiente deve, portanto, refletir a expressão cultural da comunidade, tendo uma “abordagem multidisciplinar que inclua o aluno, o professor, a área de conhecimento, as teorias pedagógicas, a organização de grupos, o material de apoio e a escola como instituição e lugar”. (KOWALTOWSKI, 2011. p. 11)

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É papel do arquiteto realizar um projeto que permita a inclusão das diversas facetas sem desconsiderar conceitos arquitetônicos como conforto, ventilação e funcionalidade. É dele a responsabilidade de garantir que o ambiente físico amplie o processo de desenvolvimento dos alunos, sobretudo quando o projeto trata de um método que dá extrema importância a esse desenvolvimento, como o Montessori.

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03 O MÉTODO


Maria Montessori

Maria Montessori nasceu em 1870, em Chiaravalle, no norte da Itália. Desde jovem se interessou pela ciência e, desafiando as convenções sociais de sua época, graduouse em Engenharia em 1892. O diploma permitiu seu ingresso na Escola de Medicina da Universidade de Roma e, em 1986, foi uma das primeiras mulheres a formar-se em medicina na Itália. Em seguida, trabalhou por dois anos como assistente na clínica psiquiátrica da Universidade de Roma, onde teve contato com crianças com retardos mentais. Montessori percebeu que o tratamento dado às crianças era desumano e que o problema era mais pedagógico do que clínico, como ela mesma menciona em A descoberta da criança: pedagogia científica: “Porém, contrariamente à opinião de meus colegas, tive a intuição de que o problema da educação dos portadores de dificuldades especiais era mais de ordem pedagógica do que médica” (MONTESSORI, 2017, p.36) A partir de então, com o intuito de compreendê-las, Montessori começou a estudar as obras de Bourneville, Itard, Séguin e de Pereira. Segundo Rohrs, em Maria Montessori: “Ela adquire um interesse particular pelos estudos de Itard¹ - que tentou civilizar a criança selvagem encontrada nas florestas de Aveyron estimulando e desenvolvendo de seus sentidos.” ²(ROHRS, 2010, p.13)

1. Jean Marc Gaspard Itard (1774-1838) foi um médico francês que dirigiu a Instituição Imperial dos Surdos-Mudos e que se destacou pelas suas concepções avançadas no que se refere à relação com as crianças. Ele foi o primeiro educador a por em prática a observação do aluno. Os trabalhos pedagógicos de Itard são descrições das experiências e tentativas de corrigir defeitos que mantinham indivíduos em estado de inferioridade. A partir de uma série de exercícios desenvolvidos por ele, crianças semi-surdas foram capazes de ouvir e falar. O caso mais famoso foi o de Vítor, a criança selvagem encontrada nas florestas de Aveyron.

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A educadora Maria Montessori. Fonte: https://escolainfantilmontessori.com.br/blog/maria-montessori/

2. Em 1799, um menino de aproximadamente 11 anos foi encontrado nas florestas de Aveyron, no sul da França. A criança se assemelhava mais a um animal do que a um ser humano. Psiquiatras franceses da época, como Jean Étienne Esquirol e Philippe Pinel (pai da psiquiatria moderna) afirmavam que o menino selvagem sofria de idiotia e que portanto não seria possível a sua socialização e instrução. Jean Itard, discordando da opinião dos psiquiatras, acolheu o menino e continuou a tentar educá-lo. Os esforços resultaram em alguns avanços satisfatórios: o menino aprendeu a se vestir e tomar banho e conseguiu articular umas poucas palavras.

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Suas pesquisas sobre Itard levaram-na a Édouard Séguin - que realizou estudos sobre crianças portadoras de necessidades especiais e as formas de tratá-las. Montessori encantou-se com as pesquisas de Séguin sobre a sensibilidade sensorial da criança e com os materiais didáticos desenvolvidos por ele. A partir dos estudos desses autores, surgiram, mais tarde, muitos dos materiais montessorianos utilizados em sala. A partir de então, inspirada pelos trabalhos pedagógicos de Itard, pelos exercícios de aprimoramento das funções sensoriais de Séguin e pela experiência adquirida na clínica psiquiatra, Maria Montessori decidiu se dedicar às questões educativas e pedagógicas. Em 1898, apresentou no Congresso Pedagógico de Turim o resultado dos seus estudos em medicina e educação, defendendo a tese de que a principal causa dos atrasos das crianças com necessidades especiais era a falta de estímulos adequados para o seu desenvolvimento. No mesmo ano, foi convidada a trabalhar como co-diretora da Scuola Magistrale Ortofrênica de Roma, com o intuito de auxiliar na formação de professores das escolas para crianças excepcionais. Nos dois anos em que trabalhou na instituição, Montessori percebeu que o seu método de ensino não era específico para crianças com dificuldades especiais. Ele apenas continha princípios de uma educação mais racional do que os métodos até então utilizados e que poderia ser aplicado às crianças normais. “Esta instituição tornou-se minha convicção depois que deixei a escola dos deficientes: pouco a pouco percebi que métodos semelhantes, aplicados às crianças normais, desenvolveriam suas personalidades de maneira surpreendente.” (MONTESSORI, 2017, p.37) Em 1901, Maria Montessori decidiu sair da Scuola Ortofrenica e se dedicar a um estudo profundo da pedagogia e antropologia. Chegou a lecionar na Escola de Pedagogia

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na Universidade de Roma em 1904 a 1908. Até que surgiu uma oportunidade de testar sua intuição sobre o aprendizado de crianças normais, trabalhando na educação dos filhos dos habitantes de um bairro operário. Em 1907, um instituto associado ao governo de Roma construía um conjunto residencial popular no bairro de San Lorenzo e percebeu a necessidade de reunir os filhos dos moradores em um local, a fim de “salvar das ruas crianças cujos os pais trabalhavam”. (ROHRS, 2010, p.15). A primeira escola fundada foi chamada de Casa dei Bambini (Casa das Crianças) e seu projeto educacional ficou sob-responsabilidade de Maria Montessori. A experiência em San Lorenzo foi uma espécie de marco para Maria Montessori pois contribuiu para avivar sua esperança na melhoria da humanidade por meio da educação infantil. Para ela a fé, a esperança e a confiança eram os instrumentos mais eficazes de ensinar aos pequenos a confiança em si e a independência. Nos anos seguintes, outras Casa dei Bambini foram inauguradas na Itália, tornandose, muitas vezes, locais para onde os educadores viajavam a fim de aprender novos métodos. Foi nessa época que Maria Montessori percebeu um padrão comportamental das crianças: a autodisciplina e a autoedecação eram tendências naturais e surgiam quando as crianças tinham liberdade para fazer suas escolhas. Em 1909, Montessori escreveu a Pedagogia Científica, obra em que a educadora expõe pela primeira vez seu método completo aplicado à educação infantil. Seguiramse, então, viagens pelo mundo, nas quais Maria Montessori realizou uma série de cursos e palestras sobre seu método. Entre 1912 e 1920 lecionou em Nova Iorque, Los Angeles, Barcelona e Londres. Em 1929, fundou a Associação Montessori Internacional no 1º Congresso Montessori Internacional, em Elsionre, Dinamarca. O objetivo da Associação era vistoriar as atividades de escolas e supervisionar o treinamento de professores em outros países.

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Na Itália, com a ascensão do regime fascista de Mussolini, várias escolas Montessorianas foram fechadas, e em 1934 a educadora decidiu deixar seu país e ir para a Espanha. Em 1936, mais uma vez foi obrigada a fugir, com o início da Guerra Civil Espanhola. Permaneceu na Holanda por algum tempo, até que em 1939 foi para a Índia, onde lecionou durante sete anos. Em 1946 voltou para a Itália. Em 1947, com 76 anos, Maria Montessori falou para a UNESCO sobre “Educação e Paz”. Em 1949 recebeu a primeira das três indicações ao Prêmio Nobel da Paz. Em 1951, participou do 9º Congresso Montessori Internacional. Em 1952, morreu na Holanda, aos 81 anos de idade.

A educadora Maria Montessori com as crianças. Fonte: http://www.meimeiescola.com.br/blog/maria-montessori-umolhar-que-mudou-a-educa%C3%A7%C3%A3o

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O Método

Pode-se definir o Método Montessoriano como um conjunto de teorias, práticas e materiais didáticos, que são resultados das experiências realizadas pela médica em creches infantis e nas primeiras classes elementares. A proposta elaborada por Montessori procura desenvolver a criatividade da criança, associando-a à vontade de aprender. Suas práticas consideram as diferentes fases de desenvolvimento infantil, preocupando-se com a harmonização entre o corpo e o espírito do aluno e seu processo de adaptação à vida. Seus princípios fundamentais são: a atividade, a liberdade e a individualidade. A compreensão do Método Montessoriano leva ao estudo de três aspectos: criança, educador e ambiente. Segundo Maria Montessori, o primeiro passo para educar é saber observar a criança e entender suas necessidades. Isso significa respeitar seu ritmo, despertar seu interesse e facilitar sua atividade. O objetivo é ajudar a criança a conquistar sua independência em relação aos pais, ao professor e a qualquer laço social que limitem sua atividade, pois “não se poderá ser livre sem ser independente”. (MONTESSORI, 2017, p. 60). Dessa maneira, o educador deve ser um profissional capaz de compreender seus alunos e de conduzi-los a serem autossuficientes. Aqui é importante ressaltar que o educador é visto não como uma figura autoritária que está acima da criança, mas como um guia que se encontra junto à criança. No entanto, para Maria Montessori, “de nada vale (...) preparar apenas o educador; é preciso preparar também a escola” (MONTESSORI, ano, p. 24). É necessária a existência de um ambiente que traga conforto e confiança à criança, que desperte seu interesse e que permita o livre desenvolvimento de sua personalidade e de suas manifestações espontâneas. É necessário um ambiente projetado com exatidão que tenha o necessário para que a criança descubra aprenda e se auto eduque.

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Para Maria Montessori, é de suma importância que o ambiente permita a flexibilidade de espaços e a mobilidade das crianças. Ela reforça essa ideia com a exemplificação da mobília escolar. As antigas carteiras eram constituídas de forma a limitar ao máximo a movimentação da criança: pregadas no chão, rígidas e estreitas a fim de impedir que os alunos deslizassem para os lados. No entanto, ao despregá-las do chão e projetá-las para serem facilmente carregadas, a criança poderá deslocar a mobília conforme lhe agrada. Ao realizar essa atividade, em

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um primeiro momento, ela será barulhenta e descoordenada, de forma que o próprio ruído será uma evidência de sua incapacidade. Porém, nas próximas vezes em que for realizar a mesma atividade, ela terá a oportunidade de se corrigir e se aperfeiçoar, mostrando assim um progresso no controle e na habilidade do movimento. Essa evolução poderia não ocorrer e a incapacidade de seus movimentos passaria despercebido caso a mobília fosse pregada no chão, já que a criança não teria oportunidade de movimentá-la. O intuito não é inibir o movimento, mas sim discipliná-lo de forma que se tornem cada vez mais coordenados. Outro exemplo comumente visto em escolas montessorianas, é uma linha amarela desenhada no chão, que se torna uma referência para os alunos e sobre a qual são realizados exercícios de concentração, silêncio, controle do movimento e equilíbrio. Seguindo essa linha de raciocínio, uma série de cinco grupos de material didático foram produzidos por Montessori, a fim de permitir o desenvolvimento da atenção, da iniciativa, da disciplina, da educação dos sentidos e do senso de percepção. Os primeiros são para o exercício da vida prática, ou seja, exercícios do cotidiano, como por exemplo, cortar frutas, lavar louça, e os outros tratam da linguagem, da matemática, das ciências e questões sensoriais. Os materiais constituem-se, normalmente, de peças de diversos tamanhos, formas, cores e texturas que permitem encaixar, abrir, fechar, empilhar, abotoar, etc. O aluno pode usar individualmente o material conforme a sua vontade e, “por ser autocorretivo, faz sua autoavaliação”. (KOWALTOWSKI, 2011, p.26) A livre escolha do exercício é outro aspecto importante para que exista concentração e que seja imaginativa e formadora. O material didático desenvolvido valoriza o esforço

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Material de alfabetização montessori. Fonte: http://www.montessoricentenary.org/photos/

individual, porém o método não desconsidera a ação coletiva, uma vez que a oportunidade de cooperação está nas atividades domésticas, em preparar e servir comida e em arrumar a escola, por exemplo. O Método Montessoriano tem como base a independência, a liberdade física o desenvolvimento da iniciativa e a educação dos sentidos. É uma proposta que valoriza o trabalho individual sem descartar a ação coletiva e que necessita de um ambiente preparado para os alunos em que nele passarão uma fase de seu desenvolvimento.

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O Método no Brasil

O Sistema Montessori no Brasil foi introduzido por Joana Falce Scalco por meio dos materiais desenvolvidos por Maria Montessori, que, inicialmente, se tornaram mais conhecidos do que o método pedagógico. As ideias montessorianas foram levadas por Joana e entusiastas do método para o Jardim de Infância Emília Erichsen, em 1910, e de lá difundido para todo estado do Paraná. Mais tarde o material foi importados da Itália para todos os jardins de infância públicos. Em 1924, foi publicada a obra Pedagogia científica, dando oportunidade para educadores brasileiros tivessem contato com reflexões filosóficas, desenvolvimento do psiquismo infantil, propostas sobre materiais, atividades para crianças, cuidados com o ambiente e preparação de professores. Entretanto, a difusão do sistema no Brasil, só foi possível no pós-guerra, com a ampliação do contato Brasil e Estados Unidos. Na década de 30, novas escolas montessorianas foram instaladas nas redes privadas e, na década de 50, foi fundada no Rio de janeiro a Associação Montessori no Brasil, em que surgiu a ideia para a realização de um curso de formação no sistema Montessori. O passo mais importante do movimento Montessori foi a inauguração do curso de especialização para professores, em 1960, no Colégio Sion, em que participaram educadores que seriam pioneiros nos cursos de formação de professores no sistema Montessori no Brasil, divulgando a proposta para todo o território nacional. No final dos anos 60, Edith Dias Menezes de Azevedo, ex-participante do curso do Colégio Sion, passou a dar cursos intensivos sobre o método, em sua escola, no bairro Aclimação em São Paulo. Foi nas décadas de 60 e 70 até o início de 80, que o movimento se fortaleceu, atravessando obstáculos políticos do país, e assim espalhando-se por todos os estados brasileiros, em escolas particulares legais, religiosas, porém poucas experiências em

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redes públicas. No entanto, pelo fato do método demandar material especializado, formação de professores para a sua aplicação, espaço amplo e adequado para as atividades propostas, foi encontrado condições de inserções quase somente nas escolas privadas destinada às classes mais favorecidas. Em meados da década de 80, o movimento decresceu muito, perdendo espaço para propostas pedagógicas menos exigentes. O fato do Método Montessori demandar um tempo para o preparo do professor, cuidados com o ambiente e estudos contínuos, foi motivo para o decrescimento do método, apesar de serem condições básicas para uma boa educação. Na década de 90, surgiu a OMB, Organização Montessori do Brasil, que nasceu após uma reunião com educadores montessorianos no “Congresso Brasileiro de Educação Infantil ”, promovido pelas Escolas Montessorianas da Bahia. A oficialização ocorreu em 20 de setembro de 1996, estabelecendo um marco de união entre as escolas que adotam o Sistema Montessori no Brasil. No ano de 2001 o sucesso da OMB, foi consagrado com a realização da I Conferência Latino-Americana, com a presença de palestrantes internacionais. Em 2003, ocorreu a II Conferência Latino-Americana de educação Montessori recebendo montessorianos de todo o País e da América Latina. Em 2005, foi iniciado o Curso de Formação Montessoriana, promovido pela OMB, para as Classes de 3 a 6 anos, em parceria com o Seton Montessori Institute, contando com a participação de 40 educadores brasileiros. Desse curso surgiram três centros de formação de educadores montessorianos , credenciados pela Organização Montessori do Brasil: Centro de Estudos Menino Jesus, Florianópolis/SC, Centro de Estudos de São

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Imagem: Material dourado montessori. Fonte: http://www.montessoricentenary.org/photos/

Paulo/SP, Centro de Estudos Montessori do Rio de Janeiro/RJ . Atualmente, no Brasil, o Movimento Montessori se torna cada vez mais sólido. Novos grupos, como Nação Montessori, Montessori & família, Lar Montessori, o Brasil Montessori, entre outros difundem e popularizam as práticas montessorianas pelo imenso território nacional derrubando fronteiras.

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04 REFERÊNCIAS


Para a realização do projeto da escola Montessoriana em madeira, foram selecionadas algumas referências com o intuito de compreender a dimensão do projeto, a articulação entre espaços individuais e coletivos e a relação entre eles e a apropriação dos espaços pela criança. O critério de seleção dos projetos foi baseado na inovação da proposta, na relação com o método pedagógico ou na relação com o material escolhido, no caso, a madeira. Há referências que não se enquadram em projetos educacionais, como por exemplo a Panorama House do Moon Hoon, a Casa Praia Vermelha e a Residência em Jurumirim do Nitsche Arquitetos, mas que também contribuíram para compreender o sistema estrutural e a relação da criança com o espaço.

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Escolas FNDE - Tipo C Até 120 crianças, em dois turnos (matutino e vespertino), ou 60 crianças em período integral. 668,30 m² edificio 35 x 45 m

Escola do Bairro / a GR a u a GR a u São Paulo, Brasil 340.0 m² 2016

Escola Ratchut Design in Motion Tailândia 1100.0 m² 2016

Creche D.S HIBINOSEKKEI + Youji no Shiro Ibaraki, Japão 1464.0 m²


Jardim de Infância e Creche KM HIBINOSEKKEI + Youji no Shiro Osaka, Japão 1244.0 m² 2016

Residência Praia vermelha Nitsche Arquitetos Praia Vermelha, Brazil 387.0 m² 2016

AM Kindergarten and Nursery HIBINOSEKKEI + Youji no Shiro Kagoshima, Japan 875 m² 2016

Residência Jurumirim Nitsche Arquitetos Jurumirim, Brazil 1050.0 m² 2016

Peanuts / UID Architects UID Architects Hiroshima, Japão 11874.0 m² 2012

Escola Vera Cruz - Pavilhão de artes Base Urbana + Pessoa Arquitetos - KIPNIS ARQ São Paulo, Brasil 2013

Panorama House Moon Hoon Sachangdong, South Korea 57.050 m² 2011

Escola em Alto de Pinheiros Base Urbana + Pessoa Arquitetos São Paulo, Brasil 796.0 m² 2015

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Fuji Kindergarten

Tezuka Architects Tachikawa, Japão 1304.0 m² 2007 Seguindo o modelo montessoriano, o edifício foi projetado em forma oval com intuito de permitir que as crianças se movimentem livremente. Por não possuir paredes fixas em seu interior, elas podem se deslocar conforme sua curiosidade e vontade. O telhado também é uma inovação para as brincadeiras, pois sua baixa altura permite a observação das brincadeiras pelos professores. Durante o verão, as portas de correr ficam abertas, o que remove a necessidade de ventilação forçada. Já no inverno elas são mantidas fechadas e, através de um sistema de aquecimento no piso, o ambiente é mantido confortável.

Crianças brincando no deck. Fonte: Tezuka Architects. Disponível em: http://www.tezuka-arch.com/

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Fuji Kindergarten. Fonte Tezuka Architects. Disponível em: http://www.tezuka-arch.com/

Integração das árvores existentes com o edifício. Fonte: Tezuka Architects. Disponível em: http://www.tezuka-arch.com/

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Imagem: Planta da edifício Fuji Kindergarten. Fonte: Tezuka Architects. Disponível em: http://www.tezuka-arch.com/

Crianças brincando com os blocos modulares. Fonte: Tezuka Architects. Disponível em: http://www.tezuka-arch.com/

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Croqui de estudo da planta e blocos modulares.

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Escola Montessori de Delft

Herman Hertzberger Delft, Holanda 675.0 m², 1700m² (extensão) 1960

Com base na educação Montessoriana, em que é exigido o espaço suficiente para suprir atividades individuais, Herman Herztberger criou cantos e diferentes zonas com intenção de quebrar a hierarquia existente entre professores e alunos. A princípio, o projeto que continha apenas quatro salas em um formato de “L” foi ampliado e transformado, de forma que o espaço de circulação passou a ser parte das áreas de aprendizagem, adquirindo a ideia de "rua do saber”. O Hall Central contém uma área rebaixada no piso com bancos encaixados. Essa obstrução da passagem desafia os estudantes a utilizarem o espaço para outras atividades, fazendo com o que o hall funcione como uma extensão das salas.

Cavidade do chão com os bancos. Fonte: http://hicarquitectura.com/2017/01/herman-hertzberger-delft-montessori-school/

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Escola Montessori de Delft. Fonte: http://hicarquitectura.com/2017/01/ herman-hertzberger-delft-montessori-school/

Facahada da Escola Montessori de Delft.

ExtensĂŁo da Escola Montessori de Delft. Fonte: http://hicarquitectura. com/2017/01/herman-hertzberger-delft-montessori-school/

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Planta atual da Escola Montessori de Delft. Fonte: http://hicarquitectura. com/2017/01/herman-hertzbergerdelft-montessori-school/

Hall das salas. Fonte: http:// hicarquitectura.com/2017/01/ herman-hertzberger-delftmontessori-school/.

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Cavidade do chĂŁo com os bancos. Fonte: http://hicarquitectura.com/2017/01/ herman-hertzberger-delft-montessori-school/

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Escola Apollo

Herman Hertzberger 1300.0 m² 1980 A valorização de áreas coletivas é característico nas obras de Hertzberger. As escolas Apollo são interessante pois sugerem uma oportunidade para desenvolver uma comunidade. A praça urbana permite que todos se encontrem no dia-a-dia ou em eventos especiais, se apresentando como importante área para interação entre alunos e a comunidade em geral. As salas de aula são dispostas em torno de um espaço comunitário, a escada que atua também como um espaço de encontro e anfiteatro. De acordo com Hertzberger, isso poderia estimulá-los a realizar atividade juntos, pelo simples fato de que alunos e professores passariam a se ver muito mais. O espaço central vai se elevando em secções a cada meio andar e ampliando o campo visual, incentivando diferentes situações de atores e público.

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Croqui de estudo da Escola Apollo.

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Espços diferentes para observação. Fonte: http:// hicarquitectura.com/2017/01/ herman-hertzberger-delftmontessori-school/

Escola Apollo. Fonte: http://hertzbergertca.blogspot.com/2009/10/apollo-schools-montessori-school-and.html

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Escada anfiteatro Escola Apollo.. Fonte: https://i.pinimg.com/originals/a5/0b/78/a50b78068c2e0b67ef2b359e621829d5.png

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Jardim da Infância e Creche OB

HIBINOSEKKEI + Youji no Shiro Nagasaki, Japão 865.0 m²

Com a intenção de incentivar os movimentos corporais das crianças, foi criada uma escola com 12 m de desnível, escadas, e espaços com atividades diversificadas, como as redes que levam de um pavimento a outro. Além disso, os arquitetos estruturaram variações nos tipos de piso, de modo que a percepção das crianças depende do piso em que estão.

Cantinho de brincar. Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/768008/ob-jardim-da-infancia-e-creche-hibinosekkei-plus-youjino-shiro.

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Plantas da Creche Ob. Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/768008/ob-jardim-da-infancia-e-creche-hibinosekkei-plusyouji-no-shiro.

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Crianças brincando na cobertura do edifício. Fonte: https://www.archdaily. com.br/br/768008/ob-jardim-da-infancia-e-creche-hibinosekkei-plus-youjino-shiro.

Crianças brincando na cobertura do edifício. Fonte: https://www.archdaily. com.br/br/768008/ob-jardim-da-infancia-e-creche-hibinosekkei-plus-youjino-shiro.

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Crianças brincando no brinquedo de corda. Fonte: https:// www.archdaily.com.br/br/768008/ob-jardim-da-infanciae-creche-hibinosekkei-plus-youji-no-shiro.

Crianças se servindo, bancada à altura da criança e do adulto ao mesmo tempo. Fonte: https://www.archdaily. com.br/br/768008/ob-jardim-da-infancia-e-crechehibinosekkei-plus-youji-no-shiro.

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Wish School

Grupo Garoa São Paulo, Brasil 1166.02 m² 2016

Apesar de não ser uma escola Montessoriana, a Wish School foi selecionada como referência projetual por apresentar uma proposta arquitetônica interessante e que poderia ser aplicada ao presente projeto. A Wish construiu sua pedagogia baseada na visão completa do indivíduo, em que, o entendimento das vontades, e aptidões da criança são usados para ressignificar e efetivar o aprendizado. Sendo assim, um projeto que foi reflexo da pedagogia. O espaço era composto por um terreno baldio e dois galpões, em que ocorreram demolições e enxertos. Assim criando ambientes que são expansões de salas de aula formal e propícios para assimilação do conhecimento. Em relação a compressão longitudinal do edifício próximo ao lote vizinho, foi necessário a utilização de aberturas zenitais e recortes nas lajes, para a entrada de luz no pavimento térreo. Foram criados painéis pivotantes que permitem a expansão e contração da sala, cujo desenho não ortogonal, gerou inflexões, sem discriminação clara delimitada dos usos.

Plantas da Wish School. Fonte: http://www.grupogaroa.com/47wish

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Explodida da Wish School. Fonte: http://www.grupogaroa.com/47wish

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Jardim e pรกtio descoberto da escola. Fonte: http://www.grupogaroa.com/47wish

Espaรงo interno da Wish School. Fonte: http://www.grupogaroa.com/47wish

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05 VISITAS TÉCNICAS


Escola Irmã Catarina

A primeira visita técnica realizada foi à Escola Irmã Catarina, primeira escola em que estudei e que segue o método pedagógico Montessori. A visita foi guiada pela diretora da escola e não foi possível tirar fotos dos ambientes. As turmas são divididas em Berçário (de 4 meses à 1 ano de idade), Mini Maternal (1 à 2 anos de idade), Maternal I (2 à 3 anos de idade), Maternal II (3 à 4 anos de idade), Jardim I (4 à 5 anos de idade) e Jardim II (5 à 6 anos de idade). Como o projeto compreende crianças de 3 à 6 anos de idade, a visita foi focada nas turmas dessa faixa etária (Maternal I até Jardim II). A escola possui uma sala de cada turma, um refeitório, uma cozinha, um parquinho coberto, um parquinho descoberto, um salão multiuso, um espaço externo com mesas que pode ser utilizado para atividades diversas e sanitários. A escola não possui sala ambiente como de inglês ou música. Todas as atividades ocorrem dentro da sala de aula, com exceção da educação física que ocorre no salão multiuso. No térreo encontram-se as salas do Berçário e Mini Maternal, os parquinhos e o espaço externo. No primeiro pavimento estão as salas de aula do Maternal e Jardim e o salão multiuso. As turmas do Maternal e Jardim são pequenas com até 10 alunos por sala e há duas professoras para cada sala. As salas possuem pisos do tipo parquet e janelas que permitem boa iluminação, porém não permitem que as crianças enxerguem o ambiente externo. As salas de aula possuem cadeiras e mesas e um espaço livre com uma linha amarela desenhada no chão. As estantes encontram-se dispostas ao redor da sala, com diversos materiais, como por exemplo, materiais de desenho, de alfabetização e de vida prática, todos ao alcance das crianças. Até o Maternal II, os materiais da vida prática estão relacionados ao exercício de

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Entrada Escola Irmã Catarina. Fonte google street view.

controle, contemplando atividades de desenho com tinta e giz. Somente no Jardim que as crianças começam a realizar atividades envolvendo água, como banho no bebê, lavar louça, cortar e servir frutas aos colegas. No salão multiuso são realizadas as atividades de educação física, apresentações e eventos com os pais. No pátio coberto há um parquinho e brinquedos para dias de chuva. Também há um jardim com uma hortinha para as crianças aprenderem a plantar. O refeitório é utilizado por todas as crianças e cada turma tem seu horário específico.

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É composto por mesas, cadeiras e cadeirões para as crianças menores. Também possui uma pia para lavar as mãos, na altura das crianças. Os alimentos são preparados por uma empresa terceirizada e aquecidos na cozinha da escola. Há sanitários acessíveis às crianças no térreo e no primeiro pavimento e próximo ao salão multiuso. O sanitários possuem quatro bacias sanitárias separadas por divisórias, sem portas e sem divisão por gênero. Até os 6 anos de idade não existe diferenciação de gênero nos banheiros, pois se considera construtivo que as crianças observem uns aos outros e note as semelhanças e diferenças, aprendendo a respeitá-las. Impressões Gerais A partir da observação das crianças pôde-se perceber que elas aparentavam ser bem comportadas e disciplinadas, porém pareciam ter pouco espaço para correr e serem livres. As salas pareciam aconchegantes e estimulantes com vários materiais e objetos à altura da criança, no entanto, tinham pouca iluminação e poucas áreas para pendurar os trabalhos das crianças.

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Colégio Santa Terezinha

A segunda visita realizada foi à Escola Santa Terezinha, localizada próximo ao metrô Jabaquara, que também segue a filosofia Montessoriana. A visita foi guiada pela coordenadora do ensino infantil e foi autorizado a tirar fotos dos espaços sem as crianças. As turmas são divididas em Berçário (3 meses até andar), Nido (do andar seguro até antes de entrar no Maternal), Maternal I (crianças que fazem 2 anos de idade até março), Maternal II (crianças que fazem 3 anos até março), Jardim (crianças que fazem 4 anos até março), Pré (5 anos até março) e 1º ano (6 anos até março). A alfabetização se inicia no Maternal I, porém só é concretizada no 1º ano. Como o projeto compreende crianças de 3 à 6 anos de idade, a visita foi focada nas turmas dessa faixa etária (Maternal I até Pré).

Sanitário infantil da escola. Foto tirada pela a autora.

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Sala de aula. Foto tirada pela a autora.

A escola possui duas salas de cada turma e duas salas de integral, a primeira para as crianças do maternal e a segunda para as crianças de jardim e pré. Também possui 4 parquinhos descobertos, um parquinho coberto, uma brinquedoteca, uma sala de atividades de educação física, um refeitório para o maternal, um refeitório para o jardim e pré, uma sala de artes, uma sala de audiovisual, três salas de inglês, uma sala de música e vários sanitários e pias para atender às necessidades das crianças. No térreo estão localizadas as salas de Maternal, parquinhos, brinquedoteca, sala de artes, sala de inglês, refeitório, sala de educação física. No primeiro pavimento estão as salas de jardim e sala de inglês e integral e no segundo as salas de pré, audiovisual, música e sala de inglês.

60


Parquinho externo. Foto tirada pela a autora.

Balanรงo externo pendurado na viga. Foto tirada pela a autora.

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A sala de aula do Maternal I é composta por mesas e cadeiras e uma área livre, com uma linha branca no meio da sala. Há uma janela na sala que permite boa iluminação, porém não permite que as crianças enxerguem o ambiente externo. O piso utilizado no local é vinílico, do tipo Pavflex. As estantes estão dispostas ao redor da sala, encostadas nas paredes, já que a maior parte das atividades com as crianças são realizadas no chão. Nelas se encontram os materiais de trabalho, como por exemplo, figuras ilustrativas, materiais de desenho, tapetes para a realização da atividade, materiais de vida prática, materiais de estimulação do aprendizado, etc. Nas paredes se encontram vários desenhos e figuras para auxiliar no aprendizado, todos na altura do olhar da criança. No térreo encontra-se também a brinquedoteca que se trata de uma casinha com vários brinquedos em que cada turma brinca uma vez por semana, em horários separados. A sala é envidraçada, bem iluminada e os brinquedos estão dispostos na sala na altura da criança. No primeiro e segundo andar encontram-se as salas de jardim, pré, inglês, música e integral. Os ambientes são bem parecidos com as salas de Maternal. São compostos por mesas e cadeiras e estantes ao redor da sala. No meio, uma área livre com uma linha branca. Há uma única janela, com vista para o corredor, que permite pouca iluminação e o piso também é vinílico. A salas do integral são maiores que as salas de aula e possuem caminhas. A sala de artes é composta por duas mesas e quatro bancos amplos, três estantes com material de sucata e uma pia. Há banheiros acessíveis às crianças em todos os pisos. Também há muitas pias e bebedouros distribuídos pela escola. Alguns sanitários são divididos por gênero e alguns são de uso coletivo. O refeitório das crianças do Pré e Jardim é separado das crianças do Maternal. Somente quando há atividades de culinária que as crianças do pré e jardim utilizam o refeitório do maternal. O refeitório do Maternal é uma sala com várias cadeirinhas e mesas e duas bancadas com pias. O refeitório do Jardim e Pré está diretamente ligado à cozinha

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e se trata de um amplo salão, também com mesas e cadeiras. A refeição é realizada na cozinha e o prato de cada criança é preparado pelas professoras. A sala do 1º ano encontra-se em outro prédio, por fazer parte do ensino fundamental I. Semelhante às salas do ensino infantil, ela possui uma espaço livre, com uma linha branca central para atividades de linha e estantes dispostas ao redor do ambiente, porém a maior parte da sala é ocupada por carteiras. Impressões Gerais A partir da observação das crianças de diferentes faixas etárias que frequentam a educação infantil pôde-se perceber que as crianças aparentam ser menos disciplinadas que as crianças da Escola Irmã Catarina porém, elas pareceram mais livres e soltas. A sala de aula pareceu ser estimulante e interessante por ter diferentes objetos e materiais à altura da criança. No entanto, com exceção das do térreo, elas parecem ter pouca iluminação natural e parecem pequenas para o número de crianças, o que restringe sua mobilidade e exploração do espaço. Por fim, há diversos espaços para atividade coletiva e poucos para individual.

63


64


06 O TERRENO

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Localização

O terreno escolhido se insere na subprefeitura da Sé, entre as ruas Tabatinguera, Nioac e das Carmelitas. Optou-se por inserir o edifício em um terreno no Centro de São Paulo por ser uma região de fácil acesso por transporte público e por ter uma grande quantidade de escritórios e estabelecimentos comerciais. Trata-se também de uma região, muitas vezes, marginalizada e esquecida pela sociedade, que necessita de uma atenção especial. A ideia é que a escola possa atender a comunidade local e os filhos das pessoas que ali trabalham.

0

10

20 km

Mapa de localização. Fonte: http://geosampa.prefeitura.sp.gov.br/PaginasPublicas/_SBC.aspx

66


REPÚBLICA

10

67


Transporte

Por possuir uma infraestrutura de transporte mais completa, o terreno é de fácil acesso por transporte público, com proximidade da estações de metrô Sé, D. Pedro II, pontos de ônibus e ciclovia.

LEGENDA Estação de metrô Circunferência do metrô (500m diâmetro) Linha de ônibus Ciclovia Terreno escolhido

0

250

500

750

1000m

Mapa de transporte. Fonte: http://geosampa.prefeitura.sp.gov.br/PaginasPublicas/_SBC.aspx

68


69


Uso do solo

O uso residencial, comercial e misto se fazem presentes na região, o que justificaria a ideia da escola atender à comunidade local e aos filhos dos trabalhadores dos escritórios e estabelecimentos comerciais. O terreno também está próximo de equipamentos culturais e de saúde, o que poderiam dar suporte às atividades e necessidades da escola.

LEGENDA Comercial e serviços Uso misto (residencial e comercial) Residencial Áreas verdes Institucional Creches e escolas do ensino primário Cultural (Museu, biblioteca, teatro cinema) Saúde Estacionamento e terrenos vazios Terreno escolhido 0

250

500

750

1000m

Mapa uso do solo. Fonte: http://geosampa.prefeitura.sp.gov.br/PaginasPublicas/_SBC.aspx

70


71


Terreno

O terreno se insere entre as ruas Tabatinguera, Nioac e das Carmelitas e está na ZEIS 3. As ruas são locais e coletoras de mão única. Em termos de gabarito, os edifícios da região estão entre 3 m e 40 m. ZEIS 3 Área = 1844 m² CA min = 0,5 CA máx = 4 TO = 0,7 Sem gabarito

Foto do terreno da Rua das Carmelitas. Fonte: autora.

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Recuo: Frente = 5 m Lateral = 3m, se o gabarito maior que 10m


9

6 2

5 7

1 3

8 10

4

LEGENDA 1.Catedral metropolitana de São Paulo

6. Secretaria da Fazenda

2.Praça da Sé e estação de metrô Sé

7. Poupatempo Sé

3. Palácio da Justiça

8. Sesc Carmo

4. Fórum João Mendes

9. Estação de metrô Pedro II

5. Igreja Nossa Senhora do Carmo

10. Terreno escolhido.

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07 O PROJETO


Premissas

Com base no estudo do Método Montessoriano, nas referências de projeto estudadas e inclusive nas experiências pessoais, o projeto busca permitir a liberdade de movimento da criança pela escola. O objetivo é que a criança seja um ser ativo em seu desenvolvimento e que esteja no mesmo nível do adulto. A ideia é despertar curiosidade da criança, de forma que ela possa interagir com os espaços de sua maneira, além da sala de aula. O projeto também tem o intuito de criar um ambiente aconchegante com características de lar, explorar os diferentes níveis de interação (desde o individual até o coletivo) e um maior contato com a natureza. Assim, os princípios que nortearam o projeto foram:

76

A liberdade de movimento da criança;

A exploração do espaço, despertando a curiosidade;

A independência da criança em relação ao adulto;

A eliminação de hierarquia entre criança e o adulto;

A autoeducação;

Exploração dos diferentes níveis de interação;

O contato com a natureza;

A ambiência familiar;


O programa

O Programa de Necessidades foi elaborado com base no partido, nas referências projetuais estudadas e nas visitas técnicas realizadas. O programa foi dividido em três setores: administrativo, pedagógico e de serviços. A escola foi projetada para atender crianças de 3 à 6 anos de idade, com no máximo 20 alunos por sala, totalizando 120 por período. Nesse número já estão inclusas as crianças que ficariam em período integral. As crianças foram divididas em turmas, conforme a idade, com dois professores por sala. Não foram projetadas salas temáticas, pois a ideia é que as aulas, como por exemplo, de inglês, de música e de artes ocorram dentro da sala de aula, nas salas multiuso ou em outros espaços da escola. Administração Ambiente

Ocupação

Quantidade

Área (m²)

Total (m²)

Enfermaria

1

1

10

10

Diretoria

1

1

10

10

Psicóloga

1

1

10

10

Sala de

8

1

20

20

Sala de reunião

4

1

10

10

Secretaria e

3

1

20

20

-

2

4

8

professores

Almoxarifado Sanitário PNE adulto

77


Serviços Ambiente

Ocupação

Quantidade

Área (m²)

Total (m²)

Copa

5

1

8

8

Cozinha

3

1

25

25

Lavanderia e

-

1

4

4

Refeitório

60

1

60

60

Vestiários

-

2

4

8

Ambiente

Ocupação

Quantidade

Área (m²)

Total (m²)

Pátio coberto

60

1

150

150

1

400

400

4

75

300

2

75

150

funcionários

DML

Pedagógico

Pátio descoberto 120 + jardim Salas de aula

20 alunos + 2 professores

Sala multiuso

20 alunos + 2 professores

Sanitário infantil

-

4

7,5

30

Sanitário infantil

1

2

4

8

2 crianças

2

4

8

PNE Vestiário infantil

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O estudo da sala de aula

Iniciou-se o projeto com o estudo da sala de aula a fim de entender a sua dimensão, configuração e as possíveis atividades a serem realizadas nesse ambiente. A sala foi compreendida como a unidade principal da escola e foi a partir dela que foi determinada a modulação da estrutura. Para isso, realizou-se um estudo das dimensões da criança e do mobiliário infantil com base nas informações do Inmetro, da ABNT NBR 15800:2009 - Vestuário, na ABNT NBR 14006:2008 – Móveis escolares e em sites de mobiliário infantil. Como a escola atende crianças de 3 à 6 anos de idade, a altura delas varia de 96 cm à 117cm e a altura do assento da cadeira tem aproximadamente 30 cm. Esse estudo contribui para posteriormente entender a dimensão de outras partes da escola, como por exemplo, do peitoril das janelas.

117112 cmcm 108108 cmcm 103103 cmcm 96 96 cmcm

33anos anos

44 anos anos

anos 55anos

6 anos 6 anos

1/20

79


80


Estudo das dimensões de mobiliário infantil e da sala de aula.

Estudo das dimensões de mobiliário infantil.

81


Com as dimensões da altura das crianças e das carteiras em mente, iniciouse um estudo da configuração da sala de aula. A sala montessoriana exige diferentes espaços para atividades tanto individuais, quanto em grupo e um amplo espaço livre, normalmente central, para atividades no chão. Doris aponta que no âmbito internacional a configuração da sala de aula é discutida na etapa de definição do programa e que as salas em formato de “L” ou “Z” ganharam mais destaque por possibilitarem planejar atividades variadas no mesmo ambiente. (KOWALTOWSKI, 2011, p. 160). A configuração da sala em “L” fica evidente nos projetos educacionais de Herman Hertzberger, tanto em escolas Montessorianas quanto em não Montessorianas. Na Escola Montessori de Delft, Hertzberger projeta as salas em formato de “L” e expande as atividades para fora dos seus limites, criando espaços para diferentes tipos de exercício. A sala possui dimensões aproximadas de 7,5m por 10m, considerando o espaço externo. No espaço próximo à fachada, Hertzberger projeta mesas e cadeiras para uso individual e com a visão voltada para o ambiente externo. Na parte mais central da sala, poderiam ser realizadas atividades coletivas ou em pequenos grupos. No espaço próximo

Estudo da sala de aula do projeto Escola Montessori de Delft do Herman Hertzberger. Elaboração: autora.

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à pia, existem mesas também para uso coletivo. No espaço externo adjacente à sala, há uma mesa em “L” para atividade individual ou em pequenos grupos. A sala possui janelas voltadas para três paredes, possibilitando a criança olhar para além de seus limites. A professora também tem uma visão geral dos alunos, se estiver em uma posição mais central do ambiente. Vale ressaltar que os usos apresentados anteriormente tratam-se de uma leitura sobre a sala. Acredito que Hertzberger deixa o layout em aberto, já que em vários projetos do livro The Schools of Herman Hertzberger, os ambientes não possuem um layout proposto. A ideia é entender como a configuração de uma sala e a utilização de elementos opacos e translúcidos permitem diferentes atividades no mesmo ambiente. Optou-se então, por projetar a sala em formato de “L”, a princípio com dimensões de 7,5 x 7,5 m, com 20 crianças por sala e 2 professoras auxiliando as crianças. Porém ela foi alterada para 7,5m x 10m, por permitir uma maior variedade de atividades. Essa dimensão também é utilizada em projetos do Hibinosekkei + Youji no Shiro, como por exemplo na Creche D.S e também segue a recomendação do Ministério da Cultura de um mínimo de uma criança por 1,5m² de área. A disposição das atividades foi realizada de forma a explorar os diferentes níveis de interação, do individual ao coletivo, considerando também um espaço para vida prática. Assim como na sala da Escola Montessori de Delft, em que as atividades foram expandidas para além do limite dela.

INDIVIDUAL

INDIVIDUAL

COLETIVO

DUPLA

PEQUENO GRUPO

SALA

SÉRIE

ESTUDANTES

ESCOLA

83


84


A princípio pensou-se em colocar a vida prática a meio metro abaixo do resto sala, porém essa idéia foi descartada por reduzir a flexibilidade do espaço. Também pensouse em considerar um ambiente específico para dormir, mas essa ideia foi excluída. Nas visitas às escolas, há um horário para soneca (para as crianças até 4 anos), porém é por um curto período e elas dormem em colchonetes espalhados pela sala. Em relação ao mobiliário, uma sala montessoriana não exige grande complexidade, já que a maior parte das atividades com as crianças são realizadas no chão. O espaço é composto basicamente por estantes, cadeiras, mesas, uma bancada com pia para a

Sala de aula da escola Ratchut. Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/897697/escola-ratchut-design-inmotion/5b1aa9fbf197cc23ae000008-ratchut-school-design-in-motion-photo

Estudo da sala de aula com vida prática a 0,5m abaixo do nível da sala. Caderno da autora.

85


vida prática e um espaço central com uma linha, onde são realizadas atividades de concentração. O projeto da Escola Ratchut, do Design in Motion retrata bem isso. A ideia é que o mobiliário esteja de acordo com a altura da criança, que não seja pregado no chão (com exceção da bancada) e que contribua na configuração da sala, permitindo assim, uma mudança de disposição do espaço, quando necessário. Na face da entrada da sala foram projetadas janelas a uma altura de forma que a criança em pé consiga ver a área externa, porém sentada não tenha essa visão. Isso permitiria uma maior concentração na atividade do chão. Na face oposta, o fechamento foi realizado em vidro com portas de correr que dão acesso à varanda no andar de cima e ao jardim no andar de baixo. Os caixilhos foram projetados para que a criança não fosse de encontro ao vidro. Nas janelas e nos vidros da porta podem ser pendurados os trabalhos das crianças para que outros alunos e funcionários da escola também possam vê-los. As paredes são lousas que permitem desenhar com giz.

jardim / canteiro individual / dupla

lousa com giz atividade sala vida prática atividade individual no chão atividade grupo atividade pequeno grupo

86


O processo de projeto

Em paralelo à análise da sala, foi realizado um estudo de acessos e disposição mais abrangente dos espaços para compreender em que região do terreno faria mais sentido cada ambiente se localizar. Nesse estudo foi considerado também a orientação solar e barulho. Optou-se por deixar o acesso principal pela R. das Carmelitas, pois assim, se perderia menos área destinada à escola por conta de recuo. Também teriam acessos pelas outras ruas, porém para funcionários e carga e descarga. Assim, era interessante deixar o setor administrativo próximo da entrada da escola.

Estudos iniciais de entrada e disposição do programa na escola. Elaboração: autora.v

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Em seguida foi realizado um estudo volumétrico do edifício a partir das dimensões da sala. Inicialmente foi considerada uma sala de 7,5m X 7,5m, no entanto, após os estudos ela foi alterada para 7,5m x 10m por permitir maior liberdade de movimento das crianças. A ideia inicial era criar dois platôs, um na cota 740 com acesso pela R. das Carmelitas e outro na cota 737. O bloco administrativo ficaria na cota 740 e dele já partiria no mesmo nível uma cobertura deck, sobre a qual as crianças poderiam correr. Na cota 737 ficaram as salas de aula e o bloco de serviços, com parte deles encostados no muro de arrimo. No entanto, ao longo projeto a cobertura deixou de fazer sentido, devido às dimensões do terreno, que é pequeno para uma cobertura considerável. Além disso, ela

Estudo volumétrico inicial da escola. Elaboração: autora.

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tirava espaço que poderia ser destinado às salas de aula e dificultava a iluminação. Assim, por questões de iluminação e ventilação, optou-se por nivelar o terreno em apenas uma cota e descolar o edifício das borda. O maior desafio foi dominar o terreno e descobrir a cota ideal que otimizaria o corte e aterro, evitando gastos com transporte de terra, compra ou aluguel de espaço para deixá-la. Através de cálculos iterativos, verificou-se que a cota que minimizaria os custos com transporte de terra seria 737,5. No entanto, considerando o nível de acesso e a altura das vigas, determinou-se que a cota mais adequada seria 737.

Estudo da possibilidade de inserção da rampa com brinquedo infantil. Elaboração: autora.

89


Em seguida, foi analisada a possibilidade de inserção de uma rampa, pensando, inclusive, em otimizar o espaço, juntando a rampa com um brinquedo tipo trepa-trepa. No entanto, em ambos os casos ela consumiria mais da metade do terreno, para vencer um desnível de pelo menos 3m. Por conta de espaço, optou-se então por realizar a circulação vertical por meio de escadas e elevadores.

Estudo de fachada e da volumetria da escola. Elaboração: autora.

90


Depois disso, o projeto ainda passou por algumas modificações, inclusive de áreas do programa de necessidades. Foi determinada a disposição dos espaços, seus layouts e aos poucos o projeto foi tomando forma. Estudou-se também a ventilação, o sistema estrutural, os encaixes de madeira, a cobertura e os materiais utilizados.

Estudos de fachada. Elaboração? autora.

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Estudo do sistema estrutural do edifício. Elaboração: autora.

92


Estudo do sistema estrutural do edifício. Elaboração: autora.

93


O Projeto

O acesso principal do edifício é feito pela R. das Carmelitas e os acessos secundários são feitos pela R. Nioac e pela R. Tabatinguera, também utilizados para carga, descarga e entrada de funcionários.

R. R.

DA S

CA

RM

AC NIO

EL

ITA

S

R.

A

ER

GU

TIN BA

TA

Optou-se por nivelar o terreno na cota 737 para evitar acidentes com as crianças, devido ao desnível de 6 metros entre o ponto mais baixo e mais alto. O edifício foi recuado dos limites do terreno para permitir iluminação do pavimento -1 e circulação das crianças em torno dele. Para o recuo frontal, seguiu-se a legislação urbanística de São Paulo que estabelece 5m de afastamento. Para os recuos laterais, que não são exigidos pela legislação, foram estabelecidos entre 2,70m e 3,80m. A calçada do acesso principal foi alargada em 1m, tornando-a mais convidativa e confortável para pais alunos e pedestres.

94


730

PRODUCED BY AN AUTODESK STUDE PRODUCED BY AN AUTODESK STU

R. NIOAC

R. TABATINGUERA

735

R. DAS CARMELITAS

AN AUTODESK STUDENT VERSION

PRODUCED BY AN AUTODESK STUDENT VERSION

740

745

IMPLANTAÇÃO 0

5

10

20

50


O programa é dividido em dois pavimentos. Em cada lado da edificação há uma escada-escorregador e um elevador, conectando os pavimentos e concentrando também as áreas molhadas. No térreo encontram-se as áreas do setor administrativo, as salas de aula para crianças de 3 e 4 anos, a sala multiuso e um deck descoberto. No pavimento - 1, encontram-se as áreas do setor de serviço, as salas de aula para as crianças de 5 e 6 anos de idade, uma sala multiuso, os pátios e a hortinha. A disposição do programa seguiu ideia de exploração dos níveis de interação, (do individual ao coletivo), barulho e orientação solar. Os ambientes considerados mais coletivos foram colocados próximos da R. Tabatinguera, por ser a rua mais movimentada, enquanto que os ambientes considerados de uso individual ou que necessitam de concentração foram alocados próximos à Rua Nioac. A escola foi pensada considerando a liberdade de movimento da criança e o contato com a natureza. Para isso, os pilares foram projetados para dentro do edifício (não há pilares de borda), permitindo uma circulação mais livre, principalmente no pavimento -1. As áreas verdes integram os pátios e possuem árvores frutíferas, tornando ambiente mais aconchegante e auxiliando no aprendizado sobre os alimentos. A cozinha está a 0,32 m abaixo do nível do refeitório para que a bancada para a retirada da refeição e devolução e bandejas esteja na altura da criança e ao mesmo tempo do adulto. Isso incentiva a autonomia da criança para se servir e permite evitar lesões nos funcionários que trabalham na cozinha. Esse mesmo balcão também pode ser utilizado para realizar atividades de culinária com as crianças. O espaço é protegido para evitar que elas entrem na cozinha e provoquem algum tipo de acidente. Próximo à cozinha, estão localizadas as hortinhas, nas quais as crianças podem realizar atividades de plantio, colheita e preparo dos alimentos. Nesse mesmo espaço, foram projetadas pias para lavarem as mãos antes das refeições e também as verduras colhidas.

96


A secretaria possui um balcão de atendimento para adultos e outro na altura da criança. Sanitários infantis são vistos também como sala de aula. As pias foram colocadas do lado externo do banheiro, facilitando o acesso caso se sujem em alguma atividade. As salas de aula foram projetadas em “L” e voltadas para a rua menos movimentada, a R. Nioac, por serem ambientes que necessitam de maior concentração e menos barulho. Pelo fato das salas estarem direcionadas para o norte, foi projetado o beiral da cobertura, que atua como brise horizontal e como proteção da estrutura de madeira das intempéries. Também utilizou-se forro nos ambientes internos e telhas galvanizadas com isolamento termoacústico na cobertura para contribuir com conforto térmico. Nas fachadas leste e oeste, as janelas projetadas para além da fachada atuam como brises horizontais e verticais e os corredores que circundam a escola auxiliam no conforto térmico já que bloqueiam a entrada de luz direta.

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PRODUCED BY AN AUTODESK STUDENT PRODUCED BY AN AUTODESK STUDEN

1.Secretaria e almoxarifado 2.Enfermaria 3. Psicóloga 4. Sala dos professores 5. Sala de reunião 6. Diretoria 8. Sanitário PNE adulto 9. Sanitário infantil 10. Salas de aula (3 anos) 11. Sala de aula (4 anos) 12. Sala multiuso 13. Vestiário infantil 14. Sanitário PNE infantil 15. Deck descoberto 16. Varanda e canteiro

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ED BY AN AUTODESK STUDENT VERSION BY AN AUTODESK STUDENT VERSION

7. Copa funcionários

TÉRREO

0

1

2

5

10


A

B

9

R. NIOAC

14

15

R. TABATINGUERA

8

13

12

16 D

D 11

2

10

C

7

8

9

4

5

6

1

2

3

740,95

ACESSO PRINCIPAL

R. DAS CARMELITAS

A

1

B

740,56

C


PRODUCED BY AN AUTODESK STUDENT PRODUCED BY AN AUTODESK STUDEN

1.Cozinha 2.Refeitório 3. Vestiários 4. Lavanderia e DML 5. Sanitário infantil 6. Sala de aula (5 anos) 8. Sala multiuso 9. Vestiário infantil 10. Sanitário PNE adulto 11.Sanitário PNE infantil 12. Pátio coberto 13. Pátio descoberto 14. Horta

100

ED BY AN AUTODESK STUDENT VERSION BY AN AUTODESK STUDENT VERSION

7. Sala de aula (6 anos)

PAVIMENTO -1

0

1

2

5

10


11

5

R. TABATINGUERA

10

A

B 9

R. NIOAC

12

8

13

D

D

7

2

6 2 C

C

3

3

4

5

1

737,00

R. DAS CARMELITAS

A

1

B

14


CORTE A


BY AN AUTODESK STUDENT VERSION

PRODUCED BY AN AUTODESK STUDENT VERSION

0

1

2

5


CORTE B


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0

1

2

5


CORTE C


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0

1

2

5


CORTE D


BY AN AUTODESK STUDENT VERSION

PRODUCED BY AN AUTODESK STUDENT VERSION

0

1

2

5


ELEVAÇÃO 1


BY AN AUTODESK STUDENT VERSION

PRODUCED BY AN AUTODESK STUDENT VERSION

0

1

2

5


ELEVAÇÃO 2


BY AN AUTODESK STUDENT VERSION

PRODUCED BY AN AUTODESK STUDENT VERSION

0

1

2

5


Com exceção do elevador, das lajes e das fundações, que são em concreto, o edifício foi projetado em estrutura de madeira no sistema viga e pilar. A caixa do elevador atua como bloco rígido, servindo de apoio para as vigas daquela região. Os pilares e vigas são de MLC (Madeira Laminada Colada) e as lajes, alveolares. As paredes externas e internas são em CLT (Cross Laminated Timber), porém não atuam de maneira estrutural. Nas paredes externas foram utilizadas placas cimentícias como revestimento, nas salas de aula foram mantidas a própria madeira, nas áreas molhadas foram utilizados revestimento cerâmico. Os pisos das áreas internas secas são vinílicos, das áreas molhadas são cerâmicos e das áreas externas são emborrachados. Conforme a figura, os pilares foram dispostos com 7,5 m entre si em uma direção e 10m, 3,75m e 10m, na outra. As vigas da estrutura se apoiam transversalmente sobre os pilares, trespassando toda a edificação. Como o edifício foi projetado em madeira é necessária boa ventilação e proteção da estrutura, impedindo que ela apodreça. Para isso, foram projetados muxarabis e janelas com peitoril ventilado, possibilitando a ventilação cruzada da estrutura. Também foram projetados beirais com 1m de afastamento da face do edifício e os pilares foram recuados para o interior. Foram utilizadas peças de madeira para a proteção das pontas das vigas e peças metálicas para o afastamento dos pilares do solo no térreo.

7,5

10

m

m 3,7

5m 10

114

m


telha metálica com isolamento termoacústico

pilar e viga em mlc laje alveolar

elevador em concreto

laje e fundação em concreto

pilares com base metálica

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conexão metálica conexão metálica montante chapa cimentícia viga conexão metálica parede clt

PRODUCED BY AN AUTODESK STUDENT VERSIO

placa cimentícia parede clt conexão metálica piso conexão metálica

Y AN AUTODESK STUDENT VERSION

laje alveolar

DETALHE FACHADA 116

viga

0

0,1 0, 2

0, 5


117


118


119






Os Cantinhos

A criança se surpreende e se encanta com as coisas mais simples e tem capacidade de interpretar e expandir o espaço com o auxílio de sua imaginação. Com base nos projetos estudados, nas visitas e observação de crianças em locais públicos, tentou-se entender como a criança se apropria dos espaços e como eles podem se tornar um ambiente de exploração e aprendizado. Assim, foram projetados alguns cantinhos e espaços na escola para que a criança possa explorá-los. Adjacente às escadas estão localizadas escadas-escorregadores, permitindo às crianças escolher como preferem ir de um andar ao outro. Embaixo das escadas-escorregadores, foram dispostas almofadas e mesinhas com cadeiras para que as crianças possam se reunir no recreio. Nos corredores próximos à escada-escorregador, foram colocadas lousas de giz e painéis montados em formato de casinha para que as crianças possam entrar nelas. A altura do peitoril de algumas janelas foi reduzida para que as crianças possam enxergar o ambiente de fora. Esse espaço também pode ser utilizado para sentar ou como cantinho da leitura. No deck foi colocada uma árvore com uma rede no meio para que as crianças possam se pendurar. No pátio coberto as crianças podem brincar nos balanços pendurados na viga. No centro do pátio foi projetado um pequeno palquinho com um caminho de pedras de piso emborrachado que leva até ele. Também foram colocados bancos espalhados pelo pátio permitindo às crianças brincar de se esconder.

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Foram projetados pequenos buracos nos muros da escola para que elas possam enxergar a rua. Outros elementos, como a casinha de madeira e os trampolins, ajudam a compor o espaรงo.

125


TÉRREO 126


PAVIMENTO -1 127



08 CONSIDERAÇÕES


A escolha do tema teve como motivação as experiências pessoais e a curiosidade sobre o tema. A realização desse trabalho permitiu rever conceitos e por em prática os ensinamentos aprendidos durante a faculdade e durante as experiências profissionais. Permitiu também exercitar a empatia, a entender como as crianças enxergam o mundo e como se apropriam dos espaços - práticas que, por vezes, perdemos durante a fase adulta. Por fim, acredito que os próximos passos do trabalho seriam rever o layout conforme a estrutura e otimizar o tamanho e quantidade de peças, a fim de padroniza-las.

130


131



09 BIBLIOGRAFIA


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