Monografia UFRJ

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“CARA, EU SOU LEGAL” uma história em quadrinhos por marília bruno

UFRJ | CENTRO DE LETRAS E ARTES ESCOLA DE BELAS ARTES DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO VISUAL | BAV PROJETO E MONOGRAFIA DE GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO VISUAL DESIGN | 2012/2 MARÍLIA BRUNO ROCHA E SILVA | DRE: 107430100 ORIENTAÇÃO: NAIR DE PAULA SOARES



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VERBETES: HQ (h.q); 1- Abreviação para “historias em quadrinho”

COMICS (com.ics); 1- Revista de histórias em quadrinhos. 2. Nos Estados Unidos é usada para descrever qualquer história em quadradinhos, mas em muitos países é mais usada quando se refere a histórias norte-americanas e seu estilo característico de super heróis.

WEB COMICS (web.com.ics); 1- Denominação para qualquer história em quadrinhos feita para internet, independente do tipo de roteiro.

GIBI (gi.bi); 1- Moleque, negrinho. 2- Sinônimo de evista em quadrinhos no Brasil, devido à uma revista lançada em 1939.

TIRINHAS (ti.ri.nhas); 1- Formato de arte sequencial muito comum em jornais e peridódicos. 2- Histórias curtas e se resolvem em três ou quadro quadros. Muitas são usadas como ironia e crítica política ou de cotidiano.

MINI COMICS (mi.ni.com.ics); 1- Histórias em quadrinhos curtas, que se definem em uma ou poucas páginas. As histórias não precisam ser divididas em quadros, necessariamente.

MANGÁ (man.gá); 1- Historias em Quadrinho produzidos no Japão. Não é só definido pelo traço, mas seus roteiros acabam tendo uma identidade entre si.

GRAPHIC NOVEL (gra.phic.no.vel); 1- Romance em forma de arte sequencial. 2- O termo é muito usado para se definir trabalhos mais maduros, que ficam no limiar entre um livro e um quadrinho. 3- Os roteiros de uma graphic novel, como num livro, possuem em arco de história fechado.



ABSTRACT Depois de alguns desencontros amorosos e conversas de bar com amigos, rindo alto de cada história absurda sobre suas vidas amorosas, decidi fazer do meu projeto final uma narrativa que versasse sobre o cotidiano. Minha vontade de trabalhar com impressos sempre foi constante, mas a questão era exatamente o projeto. Um livro infantil? Uma revista? A idéia de um quadrinhos surgiu e cresceu alguns semestres depois, conforme crescia minha participação no meio e interesse por novas histórias, traços e personagens. Porém, muito além de um quadrinho, eu queria um tema que me proporcionasse novas experiências e experimentações. Um trabalho completo de pesquisa e criação. Naming, tipografia, materiais, cores, traço, pesquisa histórica, desenho, diagramação, finalização gráfica, referências... Todas as partes do gigante universo do design que me interessavam interligados na criação deste projeto. O projeto consiste em uma história em quadrinhos, dividida em situações, que mostram o cotidiano da vida de uma garota qualquer; contemporânea, urbana e um pouco tonta. Ela não tem nome, seus amigos não são identificados e cada pessoa que ela se relaciona tem uma cara diferente, e essas particularidades são a base para o conceito de uma história em que qualquer pessoa possa de intentificar. As situações comuns que ela enfrenta e as fantasias diárias ironizam as diversas situações vividas, principalmente, por uma garota de vinte e poucos anos. Assim o título da história, Cara, eu sou legal, acaba sendo uma ironia da própria personagem e a forma como ela age com todos à sua volta. Título, aliás, bastante carioca com o uso da interjeção “cara” no começo da frase.


1. A HISTÓRIA DOS QUADRINHOS 1.1 COMO COMEÇOU E SE DESENVOLVEU . . . . . . . . . . . . . . . 09 1.2 O CENÁRIO BRASILEIRO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16 1.3 MINI CATÁLOGO DE PERSONAGENS E PUBLICAÇÕES ÍCONES . . . . . . . . . . . . . . . . 22

2. PESQUISA E PÚBLICO ALVO 2.1 RESULTADOS GERAIS DA PESQUISA . . . . . . . . . . . . . . . . 31 2.2 PESQUISA COMPLETA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32

3. O TRAÇO 3.1 PESQUISA ICONOGRÁFICA

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3.2 CRIAÇÃO DA PERSONAGEM . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48

4. TIPOGRAFIA 4.1 TIPOGRAFIA PARA TÍTULOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53 4.1.1 Tipografias adotadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56 4.2 TIPOGRAFIA PARA FALAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58 4.2.1 Tipografias pesquisadas/adotada . . . . . . . . . . . . . 60

5. PROJETO GRÁFICO 5.1 SENTIDO DE OCUPAÇÃO DA PÁGINA . . . . . . . . . . . . . . . 63


5.2 CARACTERÍSTICA DO SISTEMA DE QUADROS . . . . . . . . 64 5.3 OUTROS RECURSOS

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6. LETTERING E CAPA 6.1 PESQUISA ICONOGRÁFICA E CRIAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . 67

7. CRIAÇÃO DAS HISTÓRIAS 7.1 ROTEIRO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73 7.2 RASCUNHOS E FINALIZAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74

8. CARACTERÍSTICAS EDITORIAIS 8.1 FECHAMENTO GRÁFICO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77 8.2 FINANCIAMENTO COLETIVO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78

9. PROPOSTA DE SUSTENTAÇÃO 9.1 O SITE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81

10. O LIVRO 10.1 APRESENTAÇÃO GERAL DOS LAYOUTS FINAIS . . . . . . 85 10.2 BONECA IMPRESSA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 140

11. BIBLIOGRAFIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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12. REF. ICONOGRÁFICAS. . . . . . . . . . . . . .

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1. A HISTÓRIA DOS QUADRINHOS 1.1 COMO COMEÇOU E SE DESENVOLVEU A arte sequencial como a conhecemos começou de diversas formas em diversos pontos do mundo, e assim acabou nunca sendo oficialmente batizada, recebendo diversos nomes de acordo com as circunstâncias dos diversos países em que nasceram. Comics, nos Estados Unidos, já que as primeiras manifestações do formato eram histórias de humor. Fumetti na Itália, se referindo aos balões de fala dos personagens. Tebeos, na Espanha, nome de uma revista infantil. Historietas na Argentina, um termo próximo ao nosso ‘quadrinhos’. Mangás no Japão, determinando não só o que são, mas um gênero de traço e roteiro muito específico. Manhwas na Coreia do Sul, bem semelhantes aos mangás. E no Brasil, onde ainda é amplamente chamado de gibi1, mas que hoje cada vez mais ganha a denominação história em quadrinhos.

1. “Gibi” foi o título de uma revista brasileira de história em quadrinhos, lançada em 1939. Graças a ela, no Brasil o termo gibi tornou-se sinônimo de “revista em quadrinhos”, devido ao grande sucesso da revista na época. Gibi significava moleque, negrinho.

De forma geral referem-se à mesma coisa: uma forma narrativa por meio de imagens desenhadas, uma história narrada em sequência de pequenos quadros. Nesse sentido o nome utilizado no Brasil, história em quadrinhos, (bem semelhante a usada em Portugal: histórias aos quadradinhos) seria a melhor definição do que é, essencialmente.

2. Livros ilustrados japoneses da era Edo, no final do século XVIII. Eles eram identificados por suas capas amarelas, tinham de 10 a 30 páginas e foram considerados os primeiros livros ilustrados para adultos

A busca por novos meios de expressão gráfica e o avanço da imprensa impulsionaram e muito o desenvolvimento desse tipo de arte, cada país com a sua particularidade. Os quadrinhos começaram a se firmar em meados do séc XIX. E embora alguns autores discordem (alguns acreditam que os kibyoshi2 foram as primeiras manifestações de arte sequencial), a maioria credita ao suíço professor e artista amador Rodolphe Töpffer, em 1833, o começo dessa arte gráfica com sua a primeira publicação de Histoire de M. Jabot. Como era cego de um olho, não conseguiu se dedicar às artes visuais, e acabou se especializando em pequenos textos de literatura. Mais tarde, seus Imagens Histoires en, que eram retrato-histórias, começaram a surgir e hoje são consideradas o primeiro no gênero quadrinhos.

Histoire de M. Jabot


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3. Criado por Charles Henry Ross e finalizado a nanquim, e posteriormente totalmente ilustrado, por sua esposa francesa Emilie de Tessier sob o pseudônimo de “Marie Duval”.

Capa de “Ally Sloper” em outubro de 1892. O traço do protagonista era caricato e cômico, bem diferente dos personagens de apoio, quase como se não fizessem parte do mesmo mundo.

Rodolphe criou seis títulos: Histoire de M. Jabot (1833), Monsieur Crépin (1837), Les Amours de M. Vieuxbois (1839), Monsieur Pencil (1840), Le Docteur Festus (1840), Histoire d’Albert (1845) e Histoire de M. Cryptogame (1845). Cronologicamente após o marco de Rodolphe Töpffer, temos algumas publicações expressivas – como Max e Moritz, em 1865 pelo alemão Wilhelm Busch, e As Cobranças (1867), As Aventuras de Nho-Quim (1869), e Zé Caipora (1883), de Agostini no Brasil – sendo a mais importante delas Ally Sloper’s Half Holiday3, em 1884 na Inglaterra. Um cômico personagem que tinha em seu nome uma referência aos horários de descanso em que os trabalhadores podiam ir em casa, aos sábados. Ally Sloper foi o primeiro personagem regular de um jornal, e na época sua aparição foi tão bem aceita que o personagem foi vendido e ganhou revista própria, sendo chamado de “o papel mais vendido do mundo”.


Porém a maioria dos autores consideram The Yellow Kid (1896) de Richard Fenton Outcalt como o primeiro quadrinho pelo importante fato dele ter introduzido voz ao personagem: Deu-se a criação do balão de fala. Nesse ponto, o personagem deixa de ser uma representação ampla de uma determinada classe ou situação e ganha mais personalidade, além de maior interação com os leitores e as cenas. O termo yellow kid é uma crítica à imprensa americana sensacionalista, o que chamamos no Brasil de “imprensa-marrom”. Mas ao contrário do que se esperaria de uma crítica tão direta, ao invés de rejeitado, o personagem foi aclamado e ganhou público, criando uma tradição de tiras diárias de humor nos jornais americanos4.

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4. Mais tarde, essas tiras ganham uma alternativa mais fictícia, dando origem às histórias de super-heróis que chamamos de comics americanos.

“The Yellow Kid”. As roupas sempre vinham com frases como recurso de auxilio à história, sendo muitas vezes a própria voz do protagonista.


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5. “Night of the Living Houses” é uma famosa história onde Nemo e seu amigo são perseguidos por casas com pernas. E foi a primeira história em quadrinhos a ser incorporada à coleção do Louvre

Página de “Litte Nemo”, um dos quadrinhos a ganhar páginas inteiras, coloridas, na década de 1910 e 1920.

Little Nemo, de Winsor McCay, Mutt & Jeff, de Bud Fisher e Popeye, de E.C. Segar, são alguns dos clássicos que se seguiram. Sendo Little Nemo muito importante com a construção de histórias mais fantásticas, sombrias e adultas, saindo do óbvio tom cômico e da crítica, tão presente nos outros títulos até esse momento. A tira narrava os sonhos do garotinho Nemo (que significa “ninguém” em latim), o herói, e não ganhou muita popularidade na época justamente pela sua complexidade de roteiro – muitas vezes até ameaçador e violento. Só anos mais tarde, no fim do século XX e início do século XXI, a tira recebeu maior reconhecimento por suas qualidades notáveis: lindo visual, altos níveis de detalhamento do fundo e contruções de cenas, cores vívidas, andamento rápido na movimentação de um quadro para outro e grande variedade de personagens e cenários estranhos5.


Aos poucos, algumas histórias ganhavam cor e páginas inteiras, e a partir da década de 20 começaram a ser colecionáveis. As revistas foram tão bem aceitas que editoras especializadas na produção de novos conteúdos começaram a surgir, dando aos desenhistas e roteiristas uma melhor margem criativa. Eram os primeiros comics books. Com a Europa em crise devido às grandes guerras e a grande quebra na bolsa de 1929, as revistas entram no que chamamos de Era de Ouro. Histórias de aventuras fantásticas e ficção científica, o nascimento dos super heróis (Super-Homem, em 1938) e o preço baixo das revistas fez uma enorme indústria de entretenimento crescer ao redor da devastidão econômica que rondava o mundo. Foi uma época de autores e personagens famosos até hoje, entre eles: Pat Sullivan com o Gato Félix, Hergé com Tintin, Hal Foster com Tarzan e Príncipe Valente, Walt Disney com Mickey Mouse e o Pato Donald, Max Fleischer com Betty Boop, Alex Raymond com Jim das Selvas e Flash Gordon, Al Capp com Ferdinando, Lee Falk com Mandrake e Fantasma, Bob Kane com Batman, e Jerry Siegel e Joe Shuster com o Super-Homem. A Era de Ouro é compreendida a partir de 1930 até cerca de meados do fim da Segunda Guerra Mundial6, que acabou influenciando bastante os personagens e roteiros das histórias. Justamente por essa época política e econômica em que o mundo estava, os quadrinhos eram uma válvula de escape e apresentavam personagens maniqueístas e rasos; super heróis que lutavam pelo bem e vingavam, de alguma forma, os horrores da guerra7.

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6. Soldados americanos estacionados nos fronts liam quadrinhos como uma forma de relaxar e de lembrar de casa. Os deixados no Japão durante a ocupação incentivaram a cultura do mangá que hoje, ironicamente, domina os Estados Unidos. 7. Com o fim da Guerra, os heróis perfeitos começaram a cair em desuso. Anos mais tarde, suas ausências foram explicada dentro de seus roteiros fictícios usando a perseguição aos comunistas como plano de fundo. Famosa capa da revista “Capitão América”, em que o heróis soca Hitler.


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8. “Comic Code Authority” foi criada pelas editoras como uma forma de autocensura em resposta a uma recomendação do Congresso e ao clamor moralista da população, insuflado pelo psiquiatra Fredric Wertham. 9. No começo dos anos 1960, na França, surge Barbarella, de Jean-Claude Forest, uma feminista intergaláctica insaciável sexualmente, e Moebius com seus desenhos e histórias futuristas (que viriam inspirar produções como Alien e Tron). Na Itália, Guido Crepax traz Valentina, uma das mais sensuais heroínas dos quadrinhos. “Peanusts” e seus questionamentos filosóficos sobre a vida.

O desenho escrachado e crítico de Robert Crumb e a erótica “Valentina”, de Crepax.

A popularização continuou durante toda a década de 40 e 50, com o reconhecimento da chamada adolescência e o poder da voz dos jovem. Apesar do momento político da Guerra Fria em que o mundo estava entrando naquele momento, e muitos personagens maniqueístas (como o próprio Super Homem, e Mulher Maravilha), alguns autores se destacavam pela humanização de suas criações: Stan Lee, com seus X-Men, Homem-Aranha e Demolidor; e Charles Schulz, em 1950, com Peanuts – onde seus personagens principais são um garoto complexado e perdedor chamado Charlie Brown e um beagle curioso e filosófico chamado Snoopy. Os constantes fracassos de Charlie Brown, e as fraquezas humanas dos super-heróis de Stan Lee se transformaram em um consolo para crianças e adolescentes ao redor do planeta, que aprendiam a conviver e enfrentar seus próprios insucessos e vergonhas ao mesmo tempo que ganhavam voz e liberdade na sociedade de transição dos anos 50. Ainda na década de 50, Harvey Kurtzmann lança a revista Mad, uma inovadora publicação que ironizava o estilo de vida norte-americano. Porém, nos anos 1960 a opressão do governo americano obrigou as editoras a criarem um código de ética em torno do tipo de história e seu conteúdo. A campanha pela decência, liderada pelo senador Senador Estes Kefauver, considerava os conteúdos da época uma influência perniciosa para a juventude, com suas imagens violentas e sexuais8. Ao mesmo tempo, autores ditos undergrounds como Robert Crumb começavam a vender suas edições independentes nas esquinas, mantendo a voz jovem e a expandindo de uma maneira nunca antes pensada. Crumb escrevia e desenhava histórias que beiravam a pornografia, mostravam o consumo de drogas, narravam incestos e faziam duras críticas políticas e sociais ao estilo de vida norte-americano. Uma forma de manifestação artística totalmente afinada com a contracultura jovem das décadas de 1960 e 19709.


Eisner, com sua produção inovadora desde os anos 1940 e considerado um dos pais do quadrinho moderno, cria na década de 1970 o termo graphic novel com a obra Um Contrato com Deus. Apesar de ser um tipo de álbum gráfico que já existia desde os anos 1960, como nas publicações das historinhas de Tintin e Asterix, as graphic novels a partir do trabalho de Eisner ganham uma densidade visual e narrativa à altura das melhores obras literárias da época. Com um novo tipo de quadrinho que permitia novas experiências visuais e de roteiro para os artistas, surge uma nova nova geração de criadores geniais, como Frank Miller, Neil Gaiman e Alan Moore. O lançamento em 1986 da mini-série O Cavaleiro das Trevas (a versão de Frank Miller para a história do Batman) foi um marco que consagrou as graphic novels não foi só pelo tratamento artístico diferenciado de todos os elementos, mas também por sua complexidade psicológica nos personagens. O Cavaleiro das Trevas virou referência para uma nova era dos quadrinhos, e na segunda metade da década de 80 temos obras-primas como Sandman e Orquídea Negra, de Neil Gaiman, Watchmen10 e V de Vingança, de Alan Moore, e Akira, de Katsuhiro Otomo. Atualmente contamos com uma gama de quadrinhos de qualidade e roteiros bem diversificados. Desde produções caras até as acessíveis webcomics, os quadrinhos atuais contam com verdadeiros gênios de diversas partes do mundo. Com a internet e globalização não conseguimos definir muito bem hoje o tipo de roteiro predominante como nas décadas anteriores, embora serem os quadrinhos autorais um nicho em franca expansão. O cotidiano nada fantástico e o tema relacionamento se torna o centro de novas histórias e ganham a atenção dos leitores, como por exemplo Retalhos (Craig Thompson) ou Três Sombras (Cyril Pedrosa), que apesar da fachada de aventura fantástica se mostra somente uma história sobre fuga do desconhecido e relação entre pai e filho. Temos ainda exemplos de poética fantástica como Éden, do argentino Kioskerman. Talvez, pelo fácil acesso, a tecnologia tenha perdido espaço no contexto dos quadrinhos. As histórias passam a focar em nós mesmos, nossos sentimentos e nossa relação com o mundo, seja através de tirinhas poéticas, graphic novels elaboradas, heróis complexados ou simples webcomics. Também hoje em dia ganhamos a força dos quadrinhos independentes. As produções undergrounds hoje são tão bem elaboradas e muitas vezes com um refinamento gráfico tão bom, que parecem produções de editoras. Isso abre uma enorme gama de novas histórias e autores, e os liberta dos padrões e impossições das grandes editoras, dando espaço mesmo para pequenos e novos selos. Existe uma enorme comunicação e muitos dos leitores passam a ser também produtores, alimentando o próprio mercado. Desde o seu surgimento no final do século XIX, as histórias em quadrinhos têm renovado constantemente sua linguagem e revelado artistas geniais e personagens inesquecíveis em todos os gêneros. Delas saíram alguns dos mais bem sucedidos e populares sucessos do cinema e da televisão nas últimas décadas. De arte de menor valor até o status de nona arte, os quadrinhos ganharam respeito e mercado e continuam crescendo e se expandindo pelo mundo de maneira industrial e autoral. Apenas nos Estados Unidos, as vendas anuais de gibis alcançam cerca de US$ 700 milhões, segundo estimativa da Comics Buyers Guide, isso sem contar todos os subprodutos que eles geram, de miniaturas dos personagens a superproduções hollywoodianas.

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10. “Whatmen” é uma das obras mais aclamadas de Alan Moore, e sua história é uma critica à Era de Ouro, seus super heróis e roteiros rasos. Os heróis de Whatmen são humanos, não só pelo fato de não terem poderes, mas em sua profundidade psicológica.


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1. A HISTÓRIA DOS QUADRINHOS 1.2 O CENÁRIO BRASILEIRO

11. Curiosamente traduzido na época como Ratinho Curioso

Acompanhando o que estava acontecendo no restante do mundo, os primeiros quadrinhos do Brasil foram publicados em meados do século XIX, porém eram mais como cartuns e charges políticas (mais tarde estabelecidas como tirinhas). No final da década de 1860, Angelo Agostini se estabeleceu sua sátira política e social através de personagens populares como Nhô Quim (As Aventuras de Nho-Qum, de 1869) e Zé Caipora (1883), publicados nas revistas Vida Fluminense, O Malho e Don Quixote. No entanto as edições de revistas exclusivas de quadrinhos só foram surgir anos mais tarde, no início do século XX, e pode-se dizer que Tico-Tico foi a primeira do país (concebida pelo desenhista Renato de Castro). Ela tinha traduções da francesa La Semaine de Suzette, Gato Felix e Mickey Mouse11, mas contava também com personagens originais como Chiquinho, Reco-Reco, Bolão e Azeitona. Anos mais tarde o personagem Chiquinho foi apresentado como uma cópia do americano Buster Brown, de Richard Felton Outcault), e durante a primeira guerra muitas histórias de Chiquinho tiveram inspiração no Little Nemo.

O traço datado de Chiquinho na revista Tico-Tico. Se vê claramente uma influência dos desenhos da época.

A revista foi perdendo popularidade na década de 1930 à medida que os quadrinhos estrangeiros eram publicados no Brasil, sendo o estilo predominante os comics de heróis americanos. Os personagens nacionais não conseguiam mais competir com Super-Homem, o Fantasma ou Mulher Maravilha, e as traduções também não estavam agradando. Por essa razão, na década de 1950, a revista investiu em outras histórias publicando Bosc, Sempé e Moebius. A revista sobreviveu até 1957 e depois teve edições especiais, educativas, até 1977.


Durante as décadas de 1930, 1940 e 1950 o mercado nacional foi inexpressivo e os quadrinhos aqui eram vistos como má influência por religiosos e educadores. Enquanto os jovens do mundo ganhavam voz através de personagens e revistas ousadas como a Mad, os leitores brasileiros tinham as traduções de quadrinhos dos super heróis em preto e branco12. Somente na década de 60, com a ditadura militar e luta contra a opressão, que os quadrinhos nacionais ganharam força e voz própria; muito através das tirinhas e charges, como a Graúna, de Henfil, e a clássica revista O Pasquim, de Jaguar e Millôr Fernandes, perseguida pela ditadura. Havia ainda a censura do importada dos Estados Unidos devido ao Comics Code Authority, e apesar da maioria dos quadrinhos já virem censurados, as grandes editoras brasileiras, como a Editora Globo, preferiram não se comprometer e calar a opinião pública; um código de ética também foi criado e imposto por aqui. Com isso, as charges e tirinhas de cunho político eram ainda mais “repreensíveis” aos olhos de grandes produtoras.

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12. Em 1951 uma edição especial do “Superman” foi publicada em cores, porém as editoras só viriam a investir nas publicações coloridas na década de 1970

A irônica “Graúna” de Henfil.


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Nessa época também surgiram dois grandes nomes nacionais reconhecidos e publicados até hoje: Ziraldo (com a revista Pererê) e Maurício de Sousa (com a Turma da Mônica), que juntos com outros nomes lutam pela nacionalização dos quadrinhos. Em 1963 surge o suplemento Folhinha no jornal Folha de São Paulo, que além da Turma da Mônica, contava com O Gaúcho, uma espécie de Zorro brasileiro, criado por Julio Shimamoto. Na década de 1970 os quadrinhos infantis predominaram com o sucesso da Turma da Mônica, já pela Editora Abril, e personagens como Zé Carioca, da Disney, e alguns do estúdio Hanna-Barbera. Vale mencionar a tentativa da Editora Abril em abrir espaço para personagens e autores brasileiros, com o lançamento da Revista Crás! (1974-1975), que trazia alguns personagens satíricos como o Satanésio (de Ruy Perotti) e o Kaktus Kid (de Canini, conhecido desenhista brasileiro do Zé Carioca). Nessa década, também são realizadas exposições como o Primeiro Congresso Internacional de Quadrinhos, em 1970 no Museu de Arte de São Paulo e o primeiro Salão Internacional de Humor de Piracicaba, sendo o evento uma evolução dos “salões de caricaturas” criados por Edson Rontan.

Evolução do traço da Turma da Mônica. As formas orgânicas e desproporcionais foram dando lugar à personagens redondos e mais infantis.

A alcoolátra, ninfomaníaca e desbocada, Rê Bordosa. Personagem que ocupada as páginas da revista Chiclete com Banana.

Os anos 80 chegam com um novo pensamento de liberdade e publicações ousadas. Enquanto Ziraldo lança o Menino Maluquinho, os cartunistas Angeli (Rê Bordosa), Glauco (Geraldão), Laerte (Piratas do Tietê), Ota (A Roleta, Vírus e A Mosca, além de editor da Mad no Brasil) e Luiz Gê (Quadrinhos em Fúria) conquistaram um espaço undergournd e mostraram que quadrinhos também podiam ser feitos para adultos. Chiclete com Banana foi uma revista expoente da época e trazia tammbém quadrinhos estrangeiros como O Gato Fritz, de Robert Crumb. E personagens como Os Skrotinhos tornaram-se conhecidos do público e os cartunistas ganharam espaço na mídia. Em 1982 é criada A Radical Chic, de Miguel Paiva, e 85 as premiadas tirinhas de Níquel Náusea, de Fernando Gonsales. No final da década, em 1989, surge o troféu HQMix, considerado a oscar dos quadrinhos brasileiros.


Na década de 90 o mercado ganha muita força com a realização da 1ª e 2ª Bienal de Quadrinhos do Rio de Janeiro, e em a 3ª edição em Belo Horizonte13. Mas o gênero ainda não tinha conseguido se firmar com força no país – apesar de revistas voltadas para isso como a Bundas, Outra Coisa e Caô – e graças ao sucesso da série animada Cavaleiros do Zodíaco, surgem novas revistas informativas14 sobre mangás. O sucesso dos mangás, alguns anos mais tarde, trás uma grande abertura no mercado de banca com o lançamento de diversos títulos famosos como Sakura Card Captors e Rurouni Kenshin. Em 1995 surge a primeira versão brasileira da revista Heavy Metal, enquanto artistas como Marcelo Cassaro, Alexandre Nagado e Rodrigo de Góes publicam histórias, no estilo mangá, inspiradas no jogo Capcom Street Fighter. Adão Iturrusgarai cria a famosa personagem Aline, sobre uma garota que trabalha em uma loja de discos e tem dois namorados, Otto e Pedro. As tiras fazem humor sobre questões como feminilidade e liberação sexual eanos mais tarde viraria mini série. Ainda na década de 1990, alguns importantes títulos são trazidos ao Brasil, como Spawn e Sin City, além da versão brasileira da revista Wizard. Em 1999 a editora Conrad é formada e entra no mercado trazendo o primeiro mangá no formato oriental de leitura (da esquerda para a direita), Gen Pés Descalços, de Kenji Nakazawa.

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13. Em 1999 seria criado o Fertival Internacional de Quadrinhos, o FIQ, para substituir a Bienal

14. A primeira revista do tipo especializada em mangá foi a Revista “Heróis”. Seguida, mais tarde, pela “Animax”.

“Gen, Pés Descalços”, conta a história de Hiroshima e os horrores da bomba atômica


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15. Em 2008 teriamos o lançamento do Turma da Mônica Jovem, pela Panini Comics

No traço de Érica Awano, Holy Avengers foi um sucesso por alguns anos. A história era uma saga baseada nos jogos clássicos de RPG de mesa.

Com o final do século e o começo da década de 2000 tivemos o mercado invadido por mangás e muitas produções nacionais foram influenciadas pelo estilo, como Combo Rangers, de Fábio Yabu, e o vencedor do prêmio HQMIx por dois anos seguidos, Holy Avangers, de Marcelo Cassaro, Rogério Saladino e J.M. Trevisan15. Diversos títulos americanos continuaram se firmando no mercado e títulos estrangeiros invadindo cada vez mais nossas prateleiras, mas a partir da virada do século o mercado brasileiro de quadrinhos começou a criar uma identidade.


Não se sabe exatamente em que momento o mercado nacional começou a crescer e se formar, mas pode-se dizer que foi muito impulsionado pelas adaptações de romances clássicos e a consolidação dos eventos especializados. Hoje constata-se que o mercado brasileiro cresceu e se mostrou diversificado e genial, e muitos dos nossos artistas começaram a ser conhecidos internacionalmente16. Sidney Gusman (editor-chefe do principal site sobre quadrinhos do país, UniversoHQ, e um dos principais editores de quadrinhos do Brasil) cria o projeto ícone Maurício de Sousa por 50 Artistas (MSP 50), onde vários artistas consagrados e novos desenham as histórias da turminha com seu próprio traço e roteiro original. O projeto deu tão certo que, além de dar mostrar os novos artistas e dar continuidade em mais três livros, deu origem a uma série de graphic novels inspirados nos personagens. Astronauta: Magnetar, de Danilo Beyruth, foi a primeira da série a ser lançada, em 2012. Serão lançados ainda uma do Piteco (por Shiko), Chico Bento (por Gustavo Duarte) e da turminha (pelos irmãos Victor e Lu Cafaggi). A produção atual se diferencia muito do que tínhamos antes da virada do século. Hoje quadrinhos não estão mais ocupando espaços nas bancas, mas sim nas livrarias. São roteiros com mais refinamento, humor e histórias mais adultas, produções gráficas mais caras (papéis especiais, capa dura, silk) além da exploração do roteiro e novas técnicas17. Os quadrinhos agora ocupam um novo espaço, e não estão ligados à grandes números, como no caso dos quadrinhos de banca. Podemos observar ainda um crescimento no número de selos editoriais especializados em quadrinhos, sendo o mais expressivo a editora Barba Negra, do grupo Leya, e o selo Quadrinhos na Cia., da Cia. das Letras. A produção nacioanl sai do âmbito de revistinha para virar livro, peça gráfica.

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16. Os gêmeos Fábio Moon e Gabriel Bá são reconhecidos mundialmente e em 2012 ganham o Eisner Awards, o maior prêmio de quadrinhos do mundo, com o projeto “Daytripper”.

17. Temos o belo exemplo de “V.I.S.H.N.U.”, com quadros que mais parecem pinturas

A violência sem maquiagem de Rafael Grampá em seu elogiado álbum de estréia, “Mesmo Delivery”.


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1. A HISTÓRIA DOS QUADRINHOS 1.3 MINI CATÁLOGO DE PERSONAGENS E PUBLICAÇÕES ÍCONES Com o objetivo de se obter uma visão geral da evolução dos quadrinhos, foi feito um levantamento específico no qual foram selecionados os principais personagens e publicações, nacionais e internacionais, ao longo dos anos. Essas publicações foram ícones, seja por sua narrativa, traço ou construção de personagem. Podemos analisar então não só a importância destas no cenário geral, como a evolução do próprio traço e tipo de histórias; antes tinhamos a importância no protagonista, e hoje ela se volta para o título e a narrativa em si.

YELLOW KID 1886 | EUA Criador: Richard Outcault É considerado a primeira o primeiro quadrinho por introduzir os balões de fala. Yellow Kid era uma criança dentuça que circulava por uma vila cheia de estranhas criaturas.

LITTLE NEMO 1905 | EUA Criador: Winsor McCay Com frequência as histórias eram sombrias, surreais, ameaçadoras e mesmo violentas. Narrava as aventuras do menino Nemo na terra dos sonhos.

GATO FELIX 1920 | EUA Criador: Otto Messmer / Pat Sullivan Personagem mudo, declínou em 1928 com a chegada dos desenhos sonoros da Disney. Teve adaptações para tirinhas nos anos seguintes.

TINTIM 1929 | Bélgica Criador: Hergé Um jovem repórter aventureiro, auxiliado por seu fiel cão, Milu. Devido a criação burguesa do autor, algumas histórias são polêmicas por conteúdos racistas e misóginos.


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BETTY BOOP 1930 | EUA Criador: Max Fleischer Personagem de animações da década de 30, foi censurada por ser considerada uma má influência com seus decotes e roupas sensuais de cabaré. Só apareceu novamente nas tirinhas em 1984, junto do Gato Felix.

LULUZINHA 1935 | EUA Criador: Marjorie Henderson Buell Luluzinha é uma menina muito esperta e teimosa, sua idade é entre 8 a 10 anos e gosta de aprontar várias peripécias, principalmente manter na linha seu amigo Bolinha e a turma do clube dos meninos. Sua primeira aparição foi numa charge.

SUPERMAN 1938 | EUA Criador: Jerry Siegel e Joe Shuster O personagem nasceu na fictícia Krypton e foi enviado à Terra momentos antes do planeta explodir. O foguete aterrissa em Smallville, e após crescer e descobrir seus poderes, Clark Kent vira um combatente do crime.

BATMAN 1939 | EUA Criador: Bill Finger e Bob Kane O herói é o alter-ego de Bruce Wayne: milionário, playboy, empresário e filantropo que optou por secretamente combater o crime em Gotham City após o assassinato de seus pais, quando tinha apenas oito anos.

DISNEY em torno de 1940 | EUA Criador: Wall Disney Originalmente personagens das animações, a Disney investiu em adaptações de histórias curtas para tirinhas periódicas e revistinhas. Animações na época eram caras e de difícil acesso, então era uma boa forma de divulgação.


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MULHER MARAVILHA 1941 | EUA Criador: William Moulton Marston Uma das primeiras protagonistas femininas. Filha da deusa das Amazonas, foi enviada para o “mundo dos homens” para espalhar uma missão de paz e lutar contra o deus da guerra, Ares.

PEANUTS 1950 | EUA Criador: Charles Schulz O fracassado Charlie Brown e seu beagle filosófico Snoopy, tornaram as tiras de quatro quadrinhos um padrão nos Estados Unido e posteriosmente no mundo. E são até hoje a tirinha mais reproduzida do mundo, publicada em 75 países.

MAD 1952 | EUA Criador: Harvey Kurtzman Proibida pelo governo mais de uma vez por incitar a delinqüência, a revista traz sátiras de todos os aspectos da cultura popular americana. A publicação mensal é o último título da linha de revistas da EC Comics.

TURMA DA MÔNICA 1959 | Brasil Criador: Mauricio de Sousa Núcleo principal da série, possuindo ainda uma alguns minigrupos (por exemplo a Turma do Penadinho), no qual o grupo de crianças amigas do bairro do Limoeiro passam por peripécias cotidianas.

ASTERIX 1959 | França Criador: Albert Uderzo / René Gosciny Asterix reside com seus amigos em uma pequena aldeia gaulesa. Para resistir ao domínio romano, os aldeões contam com a ajuda de uma poção mágica que lhes dá uma força sobre-humana.


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HOMEM-ARANHA 1962 | EUA Criador: Stan Lee O Homem-Aranha, foi o primeiro herói a ganhar dinheiro com o uso de seus poderes: Peter Parker, o real homem-aranha, vende fotos do herói para o Clarim Diário, jornal onde trabalha. É um dos super-heróis mais humanizados das hqs.

ASTRO BOY 1963 | Japão Criador: Osamu Tezuka Como em Pinóquio, para substituir seu filho, um cientista cria um menino andróide, que mais tarde reconhece seus poderes e passa combater crimes. É considerado o primeiro mangá e precursor do estilo como o conhecemos.

BARBARELLA 1964 | Bélgica Criador: Jean-Claude Forest Barbarella é uma aventureira espacial do século XL. Ninfomaníaca, usa o corpo e sua sexualidade para conquistar e derrotar seus oponentes. Levada às telas em 68, transformou a atriz Jane Fonda no símbolo sexual da época.

MAFALDA 1964 | Argentina Criador: Quino As histórias, apresentando uma menina inquieta (Mafalda) preocupada com a humanidade e que se rebela com o estado atual do mundo. As tirinhas apresentam também questionamentos políticos.

FRITZ THE CAT 1965 | EUA Criador: Robert Crumb As histórias se passam numa grande cidade habitada por animais antropomórficos. Um calmo felino com tendências artísticas, Fritz frequentemente se vê envolvido em aventuras selvagens, nas quais passa por várias experiências sexuais.


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VALENTINA 1968 | Itália Criador: Guido Crepax Conta sobre a fotógrafa Valentina. Com o passar do tempo, as histórias abandonaram a ficção científica e adotaram uma complexa mistura de alucinações e sonhos eróticos. Mostrando bissexualidade, êxtase auto-erótico, e sadomasoquismo.

GRAÚNA em torno de 1970 | Brasil Criador: Henfil Graúna era uma tira originalmente publicada através do jornal O Pasquim. Falava sobre problemas políticos no Nordeste do Brasil, e seus personagens criticavam o governo brasileiro e sua forma de agir, em plena ditadura militar.

WOLVERINE 1974 (The Incredible Hulk #180)| | EUA Criador: Len Wein e John Romita Um dos personagens de maior sucesso de bilheteria com as adaptações cinematográficas, faz parte da equipe mutante liderada pelo professor Xavier, da revista X-Man.

GARFIELD 1978 | EUA Criador: Jim Davis Garfield é um gato preguiçoso e uma das tiras mais famosas do mundo, sendo publicado em 2570 jornais de todo o mundo (só perdendo para Peanuts). Temos também Odie, um cão estúpido, e Jon, um cartunista, dono dos dois.

CHICLETE COM BANANA década de 1980 | Brasil Criador: diversos artistas Chiclete com Banana era o título de uma revista underground que reunia uma nova geração de quadrinistas brasileiros, como Glauco, Angeli, Laerte e Luiz Gê.


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AKIRA 1982 | Japão Criador: Katsuhiro Otomo Akira é um dos mangás japoneses mais populares de todos os tempos. Criado por Katsuhiro Otomo, é considerado um clássico do estilo cyberpunk. O longa-metragem, de 88, também se tornou referência no mundo da animação.

NÍQUEL NAUSEA 1985 | Brasil Criador: Fernando Gonsales Tirinhas de humor ácido e politicamente incorreta sobre um rato (sátira do personagem Mickey Mouse) e seu melhor amigo, uma barata (Fliti) viciada em inseticida.

CALVIN AND HOBBES 1985 | EUA Criador: Bill Watterson Calvin é um garoto de seis ano que tem como companheiro Hobbes, um tigre sábio e sardónico, que não é mais que um tigre de pelúcia. Juntos, exploram a natureza humana e a imaginação de forma inteligente.

CAVALEIROS DOS ZODÍACO 1986 | Japão Criador: Masami Kurumada A história mostra cinco guerreiros escolhidos que têm a missão de defender a reencarnação da deusa Atena. A vinda da série animada para o Brasil abriu as portas dos mangás no país.

SANDMAN 1988 | EUA Criador: Neil Gaiman Suas histórias descrevem a vida de Sonho, o governante do Sonhar (o mundo dos sonhos) e sua interação com o universo, os homens e outras criaturas. É considerado um dos melhores quadrinhos do gênero adulto até hoje.


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MENINO MALUQUINHO 1989 | Brasil Criador: Ziraldo Apresenta as histórias e invenções de uma criança alegre, sapeca e “maluquinha”, que vive com uma panela na cabeça. Descreve liricamente o sabor da infância.

SIN CITY 1991 | EUA Criador: FRank Miller Inicialmente dividido em treze partes com histórias de duração distintas que se seguiram. Todas são situadas na fictícia Basin City, com personagens recorrentes e histórias co-relacionadas. O alto contraste com cores plenas é um ícone estético.

ALINE 1995 | Brasil Criador: Adão Iturrusgarai A desavergonhada Aline vive um relacionamento a três (com Otto e Pedro) fazendo humor sobre questões como feminilidade e liberação sexual. A garota trabalha fora numa loja de discos, odeia cozinhar e arrumar a casa.

MALVADOS 2000 | Brasil Criador: André Dahmer As tirinhas são uma crítica politicamente incorreta aos costumes e prisões do dia-a-dia. Inicialmente começou como web comic, mas rendeu dois livros da série, e mais quatro de outros personagens e histórias do autor.

GENESIS 2009 | EUA Criador: Robert Crumb Graphic novel literal da Bíblia hebraica, foi um best-seller de vendas nos EUA. Robert Crumb foi considerado um dos 100 gênios vivos, em 2007, pela consultoria global Synectics.


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Asterios Polyp 2009 | EUA Criador: David Mazzucchelli Muito além de uma simples graphic novel, é um estudo sobre as possibilidades narrativas dos quadrinhos, um livro de design, de estética e filosofia. Conta sobre um arrogante arquiteto escritor de livros teóricos que passa por uma mudança na vida.

TRÊS SOMBRAS 2010 | França Criador: Cyril Pedrosa Com uma linda fábula sobre família, perdas e as dificuldades de lidar com ela, o que seria um álbum de despedida do mundo dos quadrinhos acabou se tornando sucesso de venda e elogiado por todos do meio.

DAYTRIPPER 2011 | Brasil Criador: Fábio Moon e Gabriel Bá. Primeiro quadrinho brasileiro a ganhar um Eisner. A HQ conta dez momentos cruciais na vida de Brás de Oliva Domingos, um escritor de obtuários. E como após cada um deles, sua história jamais será a mesma.

HABBIB 2011 | EUA Criador: Craig Thompson É a saga de dois escravos fugitivos, unidos e separados pelo destino, vivendo no limite que separa a tradição da descoberta. Assim, nós leitores somos apresentados também à origem do islamismo e suas filosofias.

ASTRONAUTA MAGNETAR 2012 | Brasil Criador: Danilo Beyruth A história do simpático e aventureiro personagem de Maurício de Sousa ganha um lado mais sombrio e solitário na HQ “Magnetar”, estréia da MSP no gênero das graphic novels.


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2. PESQUISA E PÚBLICO ALVO 2.1 RESULTADOS GERAIS DA PESQUISA Foi feita uma pesquisa com 20 leitores assíduos de quadrinhos, sendo 5 profissionais da área (Fábio e Pedro Cobiaco, Will Sideralman, Daniel Esteves e Luis Felipe Garrocho, sendo os três últimos vencedores do prêmio HQMIX). Sobre a primeira pergunta, de como vêem o mercado nacional, muitos leitores de quadrinhos de banca não repararam no crescimento de quantidade e qualidade do quadrinho nacional. Isso ocorre pelos fatores já descritos anteriormente, de como o mercado nacional tem crescido para um âmbito muito mais próximo de um livro, uma peça gráfica. Na pesquisa isso se mostra importante justamente como delimitação do público alvo: os possíveis leitores seriam as pessoas integradas com o meio, que sabem das novidades , acompanham eventos e blogs, entendem a nova linguagem dos quadrinhos atuais e exploração do humor. Lembrando que, como disse Lucas Ed.18, estamos entrando em cenário não em mercado. Obviamente as vendas da Turma da Mônica não se comparam com as vendas de um independente ou quadrinho de livraria. Porém nesse caso definiu-se o público alvo independente de grandes lucros financeiros. Em relação à segunda pergunta, questionou-se sobre produtos de humor feminino e como são encarados por homens. Num geral, os pesquisados disseram não ter problemas com isso e leriam se gostassem da história. Algumas histórias propostas terão cunho sexual e amoroso, mas sempre tentando colocar numa visão cômica a relação da protagonista com essas histórias. Não será um lamento sobre a vida feminina, mas uma sátira sobre tudo que ela envolve. Na terceira pergunta, sobre que tipo de produto e formato consomem, a resposta foi em grande parte: tirinhas. Alguns citaram as webcomics como forma de expandir e ganhar público para uma história ainda não conhecida, e muitos citaram os livros e compilados como um produto de desejo. E a quarta e última, sobre diferentes suportes e mídias de apoio, complementa-se muito do que alguns disseram acima: os livros como um item querido. Folhear, sentir a textura das páginas, o fácil manuseio para uma releitura e consultas, e ter ali, na sua estante, um compilado de histórias que gosta, indicou ser o livro o produto certo para o público alvo. Dentro da indagação sobre suportes diferentes e mídias de apoio, os entrevistados pareceram animados com as possibilidades desde que isso fosse um extra, algo complementar, de colecionador e, na maioria dos casos, infantil. Muitos citaram que gostam quando a obra possui uma versão mais simples e clássica, não só pelo preço mas pelo quase fetichismo, como disse um, das páginas de um livro. A pesquisa, em especial a última parte, mostrou-se extremamente satisfatória e pode resolver diversas questões em relação ao produto. O que no começo seria um produto diferenciado, com fichas e talvez uma caixa, voltou ao formato clássico, original e totalmente de acordo com o público: um livro.

18. Lucas Ed. é leitor e consumidor assíduo de quadrinhos. Trabalhou no site de quadrinhos Melhores do Mundo (http://interney.net/blogs/melhoresdomundo) sob o pseudônimo de Poderoso Porco.


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2. PÚBLICO ALVO 2.2 PESQUISA COMPLETA 1. Como você vê o cenário de quadrinhos nacionais atualmente? Acho que tá crescendo. Se a luluzinha teen ta na banca a quase 4 anos. Tem um mercado carente de material. O cenário está melhor do que nunca. Apesar da galera sempre falar de como era o cenário de quadrinhos dos anos 80, e como eram altas as tiragens da Chiclete com Banana por exemplo, é preciso se entender que as vendagens de quadrinhos só eram altas nessa época com esse tipo de revista, a revista de banca, esse quadrinho de humor underground. Hoje temos algo que naquela época quase não existia, que é o público de Graphic Novels, dá pra sentir que apesar de muita gente ainda ser ignorante em relação a quadrinhos, o preconceito tem diminuído muito, e muita coisa que antes não tinha chance de acontecer hoje acontece com frequência. Gente como o Moon e o Bá, o Grampá, quadrinistas que tem nome tanto aqui dentro quanto lá fora são uma prova de que o quadrinho nacional tem tido uma atenção inédita até então, um sinal de que as coisas vão indo muito melhor. Algumas décadas atrás ninguém nem imaginava que chegaríamos nesse ponto em que estamos hoje, de artistas nacionais publicando quadrinhos lá fora que NÃO sejam só de super-heróis, sabe? Ou fazendo como Grampá e o Albuquerque, que vão trabalhar com heróis ( no caso, o Batman ) mas com estilo próprio, e não com aquele traço padrão de quadrinhos de heróis. Isso sem falar do cenário de quadrinhos independentes nacionais. O FIQ ano passado teve mais público que a San Diego Comic con! E ainda coisas mais novas como as Graphic Novels MSP, que acabaram de ter a primeira edição lançada mas já causaram o maior estardalhaço devido a qualidade excelente do produto. Ah, resumindo, apesar de se sentir uma certa falta de publicações fodas de banca como a Chiclete com Banana, a gente tem compensado com várias e várias graphic novels fodas, e quadrinhos independentes excelentes. Crescente. Em dois anos o mercado de quadrinhos brasileiro cresceu muito. Surgiram novas editoras, novos selos, os independentes começaram a produzir livros com qualidade muito alta, e as webcomics começaram a fazer muito sucesso. Fora isso, o processo editorial guiado pelo Sidney Gusman na turma da Mônica tem levado a atenção de grupos que já haviam se distanciado do quadrinho nacional. Os leitores que começam com a Turma da Mônica agora podem seguir para a Turma da Mônica Jovem, e depois para os projetos mais recentes, como o Magnetar. Com mais maturidade, da minha parte e dos colegas, e também dos leitores. Tem uma galera nova chegando com o pé na porta, cheia de vontade e que hoje tem meios de botar as revistas e livros à disposição dos leitores mais facilmente (que antes, pelo menos), e isso estimula a produção de coisas menos comerciais. Acho o panorama razoável e espero que melhore. Nós sofremos durante décadas com um mercado patético que hoje em dia, graças a Deus, é coisa do passado.


Pior que deveria/poderia ser, mas melhor que ontem. Bom, eu acho que estamos vivendo um momento bem interessante. Algo que começou a se desenhar (para ficar com a figura de linguagem do nosso meio, rere) lá em 2004/2005, com as adaptações literárias, passou pelo ressurgimento dos independentes, o Marcatti discorda de mim mas somos amigos e está tudo certo, e chegamos aí nas editoras investindo em publicações autorais. Salvo exceções, ainda bastante focadas nos assim chamados medalhões mas caminhando e abrindo espaço para bons quadrinistas e quadrinhos. Sempre gostei bastante dos quadrinhos nacionais, mas não tenho lido ultimamente. Acho que ainda vivemos muito no passado, nos quadrinistas do passado, sinto falta de cara nova (de qualidade), mas acho que vivemos no passado de tudo, não só dos quadrinhos, então pode ser que eu esteja desinformada mesmo. No Brasil, só vende Turma da Mônica e ponto final, não adianta ver o Mercado Nacional como algo fora disso. Existem pequenos casos de algum artista independente correndo atrás para lançar seu material, mas lança alguma coisa ou outra e só a galera mais antenada consome. Resumindo: Turma da Mônica com Artistas Independentes correndo atrás. Se você se refere a revista de modo geral, a como os quadrinhos estão chegando aqui, qualidade de preço, eu considero um nível bom, agora se formos falar de material exclusivamente nacional, eu ainda vejo o material no geral de maneira bem fraca ainda. Eu sou mais um consumidor de quadrinhos, não tanto um analista. Não consumo quadrinhos nacionais, mas quando penso em quadrinhos nacionais logo me vêem a mente a Turma da Mônica, os quais são voltados para o público infantil, bem como A Turma da Mônica Jovem, uma tentativa de captar um novo segmento, o adolescente. As vezes creio que o Brasil ainda não conseguiu desenvolver um traço nacional, tipo, a nossa melhor expressão de um quadrinho nacional, A Turma da Mônica agora tem traços de mangá, gosto muito de mangás, mas acho que o Brasil precisa desenvolver uma forma de fazer quadrinhos nossa, não basear-se em outros países. No caso da tentativa de apropriação do traço japonês, li no livro Cultura pop Japonesa: mangá e animes que atualmente os quadrinhos japoneses são os maiores formadores de leitores de quadrinhos no Brasil. Em crescimento. Mais visibilidade, mais recursos, mais reconhecimento por parte da grande mídia. Ajuda o fato dos filmes sobre quadrinhos estarem bombando, acho. Já não os procuro há muito tempo. Eu li na infância Turma da Mônica, mas desde a adolescência eu não vejo muito apelo nos quadrinhos nacionais. Hoje eu acho que tendendo ao mangá eles acabaram perdendo um pouco da identidade, também. Sinceramente, eu não tenho lido quadrinhos nesses últimos anos, mas já li alguns nacionais e gostei.

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Muito pouco, em geral não encontro quadrinhos sobre temas que me interessam. Fora o maurício de souza e o ziraldo não conheço ninguém. Acredito q até deva rolar algum mercado mais underground de quadrinhos nacionais pq não se tem muita divulgação sobre os trabalhos feitos aqui. Em franca expansão, não só em termos de quantidade de publicações, mas em qualidade das mesmas. Já que estamos falando de cenário, e não de mercado, é preciso marcar então o papel importantíssimo da web nessa expansão. Vejo como uma área que vem perdendo muita força quando se pensa na forma impressa, porém continua chamando atenção como sempre onde o povo tem acesso a eles, como em mídias sociais e jornais, por exemplo. Então, comparando com o que eu lembro da minha infância e adolescência o cenário atual de quadrinhos nacionais tá supimpa. Está mais fácil publicar e distribuir (acho que as editoras e distribuidoras estão dando mais importância às hqs nacionais), tem um público consumidor que não é muito vasto nem diversificado, mas é fiel. O mercado de quadrinhos nacionais tem entrado em um momento muito bom, sobretudo na questão criativa. Nunca se produziu e lançou tantas coisas boas e tão diversas quanto hoje em dia. Porém, o dinheiro não é o mesmo em algumas áreas. Não é o mesmo porque quadrinhos realmente comerciais só sobraram praticamente os do Maurício de Sousa. O restante depende de leis de incentivo, investimento dos próprios autores, compras do estado, crownfunding, e outros artifícios para movimentar o mercado. Gosto da iniciativa de certos quadrinhistas que lançam trabalhos independentes. Em um crescimento expressivo. Temos ótimos trabalho sendo publicados de maneira independente e os produtores e leitores de unindo.

2. O que acha dos quadrinhos feitos por mulheres? Eles são ‘consumíveis’ por homens também? Existe mercado, para as mulheres e suas produções? Depende do assunto. Existem temas universais que independem de quem faz. Daí pode sim. Acho bem legal a pergunta e fácil de responder! Sou fã de várias artistas de quadrinhos. Desde as meninas do Clamp, no Japão (entre tantas autoras fodonas de mangá), passando pela Marjane Satrapi na Europa, Julie Doucet (Canadá), Helen Forney, Alyson Bechdel, Jessica Abel, Becky Cloonan (EU), Lu Cafaggi, vcs meninas do 23,5, Chiquinha (Brasil). Estas são só algumas das que eu conheço, e eu amo o trabalho de todas elas. Gosto. Sim. Quadrinhos de mulheres geralmente abordam temas um tanto esquecido pelos masculinos. Ou, no mínimo, é um refresco da mesmice.


Olha, eu vejo quadrinhos, música, arte no geral de um jeito: Tem o bom e tem o ruim. O sexo do autor não influencia em nada. Tem quadrinhos excelentes e quadrinhos ruins feitos por homens, e quadrinhos excelentes e quadrinhos ruins feitos por mulheres. Depende só da qualidade do autor/da autora. Inclusive, quadrinhos femininos tendem a ter um charme especial, como dá pra ver no trabalho de gente como a Lu Cafaggi, você, ou puxando pra uma autora de fora, a Marjane Satrapi. E eu, como nerd, ainda acho demais ver mulheres bonitas que não só apreciam, como fazem quadrinhos, hahaha xP Eu, ao menos, consumo qualquer quadrinho que seja bom, independente do sexo da pessoa que criou. Tanto um Mix Tape como o da Lu quanto um Sin City do Frank Miller são bons, cada um pelos seus motivos. Se a história for boa, se realmente cativar o público não vejo porquê não ser mulher, homem ou até mesmo um macaco que faça as histórias. Eu não vejo diferença. Para mim não existe quadrinho por mulher, para mulher, por homem, para homem. Existem quadrinhos e existem quadrinhos bons. O que for bom, vai ser lido. Uma das webcomics mais lidas - e minha favorita pessoal - é de uma mulher, a Kate Beaton. O mercado nacional está cheio de mulheres quadrinistas. Não que não exista quadrinho machista - como a gente constantemente vê em alguns designs ou escolhas de poses controversas principalmente nos quadrinhos de heróis, mas isso cai na relação quadrinho bom ou ruim. CLARO! Acho que existe mercado para BONS quadrinistas (homens ou mulheres). Quadrinhos é quadrinhos, não importa se feito por homens ou mulheres e bons quadrinhos são, com certeza, consumíveis. Acho que o mercado está sendo formatado e todos estão na “briga”, no bom sentido, não devemos brigar, rerere... penso que os espaços são para todos e prefiro não fazer distinção ou ser necessário ter um tipo de “cota para quadrinhos feito por mulheres”, assim como batalhamos, há tempos, para que os quadrinhos fossem aceitos como linguagem autônoma devemos desejar que mulheres e homens possam atuar dentro da linguagem. Eu não tenho preconceito com o gênero do material, o que importa é a qualidade e não pra quem é escrito. Material feminino só é consumido por homens se atingir o gosto geral de cada um. Dificilmente uma HQ com apelo nitidamente romântico fará sucesso com o público masculino, por exemplo. No mercado nacional não sei, ainda não tive nenhum contato com este tipo de produção, tomando por foco autores nacionais. Mas, enquanto consumidor de quadrinhos japoneses creio que os quadrinhos feitos por mulheres são ótimos, as mulheres conseguem, muitas vezes, explorar áreas que aos homens são vedadas, tanto na ousadia das temáticas, o maior aprofundamento psicológico que, normalmente as mulheres dão ao tratamento das personagens, quanto, nos casos japoneses, a própria transformação estética do quadrinho. Sendo que, essas transformações são apropriadas pelo quadrinho masculino. No caso das autoras dos quadrinhos japoneses, quando você estuda depois as contribuições que as mulheres deram a estes quadrinhos você percebe que, aquilo que hoje é considerado a estética do mangá foram desenvolvidos por mulheres, e depois apropriados pelos homens.

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Só olho para o roteirista quando estou procurando outros trabalhos dele. Não consigo ver isso como uma forma de balizar quem irei ler. O que garante o consumo não é o sexo de quem o produziu, mas a forma como foi produzido, o produto em si. Lógico que o caráter sexista existe, homens machistas não leriam produtos desenvolvidos por mulheres por considerar coisa de menina, mas, tomando por foco as produções que eu citei anteriormente, creio que os homens que se aventurarem a ler uma produção feminina de qualidade não se arrependerão e, este limite imposto pela condição sexual poderá ser superado. Acho ótimo. Só acho ruim que sejam categorizados como “quadrinhos feito por mulheres”. São quadrinhos. Pronto. Pode até falar sobre temas próprios de mulheres (tpm, gravidez, etc.), mas ainda assim é quadrinho. Acho que a temática divide o público mais do que o tipo de traço ou a indicação de público-alvo. Mas apesar de já ter lido alguns quadrinhos mais voltados pro público feminino (“Kimi ni Todoke”, “A Garota que Saltava no Tempo”) , a única série de uma quadrinista que eu acompanho desde o início sem largar é “Good Ending” da Sasuga Key, que é um romance voltado para o público masculino. Bom... os quadrinhos que curto são mais esses que se vê ou baixa da internet gratuitamente. A maioria das coisas q busco é com temática homoerótica. Nesse nicho não tem nenhuma autora mulher que eu saiba, a menos q usem algum pseudônimo. Não q seja uma regra, mesmo porque detesto reforçar estereótipos, mas a galera dos quadrinhos é quase que predominantemente masculina! Nunca sequer ouvi falar de alguma mulher que tenha algum quadrinho de renome. Se existe, deve ser como os autores brasileiros, numa produção independente das grandes marcas, bem alternativa. Acho que sim, que não existe essa barreira. O cenário brasileiro tem se marcado muito pela produção autoral, e isso ajuda bastante porque, na verdade, não importa lá muito quem escreve, desenha ou produz uma boa história - o interesse acaba sendo cooptado pela boa história em si. Acho que ainda há uma inserção lenta das mulheres nesse mercado, mas ela está acontecendo. Há dois anos, quantos nomes de mulheres quadrinistas seriam lembrados? Hoje o cenário é diferente, tem a Lu Cafaggi, Samanta Floor, Cris Peter, Cris Eiko, Pryscilla Vieira, Adriana Mello, Ana Luiza Koehler, Erica Awano, Petra Leão... E isso só falando do cenário brasileiro, numa brainstorm rápida! Acredito que não importe o gênero do autor, , existe mercado para ambos dependendo do que forem abordar! Muito honestamente, eu leio bem poucas quadrinistas mulheres. E normalmente são quadrinistas gringas que produzem material para um público feminino mesmo. Consigo pensar em exceções como a Becky Cloonan e a Chiquinha, mas do meu conhecimento são bem pontuais. Ou então são escondidas nos estúdios da DC e da Marvel, por exemplo, que não produzem nada tão autoral, né...


Sim, e quanto ao mercado, uma coisa boa é que você é consumidor e produtor, alimentando a própria ‘industria’ No mundo ocidental tradicionalmente as mulheres estiveram alheias aos quadrinhos, tanto em produção quanto em consumo. Isso tem mudado nos últimos anos, acho que sobretudo pela entrada dos quadrinhos em livrarias (que atingiu mulheres mais velhas) e pela invasão dos mangás na década passada (que atingiu garotas e meninas). Acho que a curiosidade sobre o que elas produzem vem aumentando e está mais do que na hora delas invadirem esse mercado e mudarem certos paradigmas. Mulheres trazem olhar diferenciado, que tem enriquecido em muito o universo das histórias em quadrinhos.

3. Que tipo de formato e mídia consome? (webcomics, livros, tirinhas, periódicos...) Mídias digitais. Atualmente como livros e revistas estão ganhando nova roupagem nessas mídias Olha, eu gosto de tudo. Cada mídia tem seu poder, então não consigo escolher uma. Os quadrinhos impressos são uma delícia de colecionar, abrir e sentir o cheirinho da edição, folhear antes de dormir. Webcomics tem possibilidades diferentes tão classes quanto isso. Olha o Gnut do Crumbim, por exemplo. Ele explora bem isso. E o quadrinho online tem a vantagem de ser muito mais viral, mais fácil de acesso também. Tipo, um amigo seu chega no no fb e diz: “Olha que foda essa webcomic! “ e manda o link. Você clica, gosta, compartilha e começa a acompanhar. Você não precisou se arrumar, pegar um ônibus, ir até a banca e comprar pra tirar sua conclusão. Nunca vai ser um tiro no escuro, porque é de graça. Todas as mídias tem seus prós. Todos. Sério mesmo. Eu leio tudo. Tudo tudo tudo. A única coisa que eu acredito é que quadrinho tem que ser acessível. Quanto mais meios, mais acessibilidade para o leitor ler onde, quando e como quiser. Todos! Tirinha e (e em)Periódicos. Livros, apesar de participar de um site onde publico trabalhos, preferencialmente eu gosto de folhear, de sentar para ler. Periódicos eu já não acompanho faz tempo, um outro as vezes me chama atenção mas acabo deixando de lado depois. Acho que tem webcomics muito boas sendo produzidas é um caminho sem volta e deve ser explorado. Livros e tirinhas. Eu consumo hoje em dia mais o formato mangá, mas ainda frequento sites de tirinhas.

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Ultimamente webcomics e livros em formato digital. Pela facilidade de conseguir acompanhar podendo ler em qualquer lugar quando dá tempo sem arriscar estragar o comic ou livro impresso. Periódicos tem o problema de esquecer que vai sair no mês seguinte. Consumi muita HQ mensal na minha vida. Mas é um formato que não funciona mais para os bons leitores, devido ao grande número de roteiros ruins atualmente e ao desgaste de acompanhar várias séries nesse esquema. Hoje, eu me interesso mais por tirinhas e HQs em formato encadernado. Webcomics eu acho interessante, apesar de não acompanhar nenhuma (por sinal, é o melhor método para divulgar um material na minha opinião). Consumo as tirinhas de jornal, gosto muito delas. Não sei se poderia ser considerada webcomic, mas acompanho os lançamentos feitos em sites como mangás project e central de mangás. E consumo revistas em quadrinhos, atualmente estou assinando a edição comemorativa de Card Captors Sakura. Eu gosto das revistas em quadrinhos, pois gosto de folear o quadrinho, sentir seu cheiro quando chega... e reler algumas vezes. Os scans, são interessantes, eu os consumo, mas perco a referência... isso aconteceu ali... isso eu consigo nos quadrinhos em papel. Prefiro formato livros, pela compilação de material e tratamento de qualidade maior (geralmente). Com exceção dos preços desse tipo de quadrinho... Livros, comics e mangás. Prefiro ler o material impresso, mas como tem muitos mangás que não são publicados aqui, algumas séries eu leio pela internet mesmo. Gosto dos livros com compilações de tirinhas, tipo o “Malvados”, Graphic Novels ou livros como os do Robert Crumb, com várias histórias dentro sobre o mesmo tema. No momento tenho somente lido quadrinhos online. Quando era moleque eu tinha coleção de gibis da DC, Marvel, Disney e da Turma da Mônica. Foi meu primeiro contato com a leitura (sim, considero q revistas em quadrinho são material leitura)... ali q despertei meu gosto em ler. Depois passando pra livros de crônicas e após leituras mais longas e densas. Mas acho q é normal quando se é criança ter uma necessidade de visualizar as situações. O que atrai nas HQs é justamente o apelo imagético que não se tem em outros tipos de leitura. A imagem reforça o discurso das falas e vice-versa. Enquanto que na leitura comum devemos idealizar como a cena se dá (e é por isso q ela detalha tanto o universo interior e exterior dos personagens), nos quadrinhos a cena já é dada, de certa forma, pronta... o q não chega a ser uma desvantagem, pois, talvez, não deixe espaço para uma visão subjetiva do q o autor quis dizer com o texto, no momento em q temos claramente expresso oq o autor quer nos dizer. Vemos a cena com os olhos dele! Não faço muitas distinções. O formato de webcomics me atrai mais quando é em tiras, porque sou particularmente relapso em acompanhar. Material impresso continua sendo o meu favorito, o supra sumo da coisa toda, principalmente se a opção é acompanhar periodicamente na web ou ter um compilado impresso. Mas é quase fetichismo... Eu curto todas as mídias, mas ainda vejo mais graça no papel mesmo. Gosto de tirinhas e periódicos, mas curto mais os livros.


Livros, periódicos e tirinhas. Livros e flipbooks Sobretudo Livros. Algumas coisas eu prefiro ler em formato de revista, quando foram produzidos para serem consumidos originalmente assim. Webcomics eu leio sobretudo tirinhas, mas sem grande regularidade, mais através do que compartilham para mim em redes sociais.

4. O que acha de trabalhos que se utilizam de suportes diferentes (caixas, outros formatos e encadernações, cintas, dobraduras..) e mídias de apoio, como as usadas em livros infantis? (por exemplo: um livro sobre piratas que venha o livro + mapa) Quando bem feitos, fodas Acho demais. Inclusive eu mesmo tenho planos de fazer umas coisas assim. Contanto que tenha algo a complementar na história, é mais que válido. Além de fazer valer a pena comprar o quadrinho ao invés de baixar ou coisa assim : ) O que você chama de suportes diferentes eu chamo de “universo expandido”, e acho o máximo!! Uma história tem que funcionar sozinha, sem adendos, mas quando você pode crescer ela para além do quadrinho, é sempre legal. Gosto de quadrinhos que direcionam para sites, que depois direcionam para uma música, e que depois te redirecionam para o quadrinho. Gosto de manuais, de cartas de baralho, de tudo que aumente a experiência relacionada com esta ou aquela história. A experimentação é boa para aprender, para encontrar novas soluções para problemas antigos e para soltar a mão. Mas regras também são boas porque funcionam. Regras de narrativa, regras de controle de tempo na página, regras de direcionamento de visão. Acho que serve pra atrair o público de outra forma. Se nos livros infantis é quase necessário, nos restante é um atrativo que sai do lugar-comum e pode agradar colecionadores. Sem querer polemizar, porque não sou acadêmico, nem tenho “estrada” tanto assim para isso mas... quadrinhos se definem por alguns signos: imagens em sequência, texto, balão, onomatopéias, a virada da página, etc... Extras para ajudar a entrar no clima e ter uma forma diferente de ser encapado acho interessantes e possivelmente gastaria meu dinheiro nisso. Só se os extras fossem necessários para entendimento da história eu já ficaria mais desanimado, entretanto se fosse maneiro ainda compraria.

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Adoro essa variedade de suportes. Acho muito legal, muito instigante, mas acho que é bem claro que é recurso acessório, então não adianta um quadrinho meia boca com mil tralhas divertidas junto. Pouca coisa me agrada. Pra mim esse tipo de material alternativo fica entre a linha tênue da genialidade e falta de bom gosto, hehehe! O conceito é essencial para qualquer trabalho autoral, principalmente a sua aplicação. É totalmente válido isso. No caso de livros infantis deveria ser obrigatório. É válido sim tudo isso que você falou, eu faria, se tivesse oportunidade, mas é outra coisa, é agregar elementos aos quadrinhos. É embalagem, é livro interativo... acho que não dá para falar que é “quadrinho revolucionário”. Eu entendo que o processo histórico precisa e aceita mudanças e conceitos novos mas por hora... quadrinhos de fato já estão definidos Acho muito interessante! Principalmente para o mundo jovem, mas acho também que cada vez mais adultos tem sido atraídos por esses meios. Não tem como não se deixar atrair por um mundo totalmente criado e inventado para abraçar sua imaginação. Acho que esse tipo de exemplo seria muito mais utilizável em edições de colecionador, ou oferecer algum premio a mais para quem compra, mas acredito que só gera realmente valor para colecionador, ou como você mesmo disse para crianças, pois para o usuário comum, só vejo mais como uma quantidade maior de volume e papel que irá acumular espaço. Porém para o formato web eu acho bem válido, apesar de estar um pouco por fora do meio de webcomics, eu me lembro bem de meados de 98-2001 eles utilizavam recursos que na época com o incio da popularização da tecnologia flash no Brasil fazia com que as histórias se tornassem bem interessantes, por muitas vezes utilizando efeitos animados nos quadrinhos e música de fundo em certas cenas. Acho válido, você ter alguma coisa do quadrinho, que lhe faz poder referenciá-lo. Coisas para se colecionar, mas creio que isto deva ser estudado, o que será feito, qual será o produto adicional, e a forma de distribuí-lo. Toda edição, edições especias. Acho legal. O importante é ser criativo e fazer algum sentido dentro do que está sendo proposto. Se usar outros suportes auxiliares, que tenham a ver com o que está sendo dito. Gosto quando é uma edição especial. Eu sempre quero ter a opção de comprar SÓ o livro, e se obrigatoriamente vierem cartas, artes avulsas e outras coisas “soltas”, eu posso deixar de comprar. Mas por exemplo, comprei um livro da Alice no País das Maravilhas, que eu já tinha, só porque vinha numa caixa de baralho gigante. Também adorei o mangá de “Sakamichi no Apollon”, porque a história era sobre jazz e os quadrinhos vinham com um CD com as músicas de jazzistas famosos referenciados na história.


Creio que não seja o caso de quadrinhos com público adulto. Público adulto é mais seletivo e não se deixa levar por perfumarias. Por mais q tenha recursos diferentes, se o conteúdo não for bom, não vai agradar. Eu, particularmente, gosto de trabalhos que propoem participação do leitor no enredo, isso instiga o leitor a “participar” da história e pegar gosto pelo que está lendo. Acho que é uma questão de gosto, várias vezes coisas comerciais não me agradam visualmente e sim as experimentais, mas isto não é uma regra. Eu acho isso bacana, mas no fim das contas me interesso por uma história. Todos os aparatos “extras” se forem apenas pinduricalhos não me interessam tanto, se forem realmente úteis para a dramatização da história daí vão fazer minha cabeça. Os quadrinhos já ousaram mais em algumas épocas. Por exemplo, quando eles entraram no meio digital, tentaram pensar em várias maneiras de usar a plataforma em prol da história. Hoje em dia a maioria das webcomics é totalmente adaptável para o papel, simplesmente porque os autores viram que era interessante publicar na internet, para depois chegar ao papel e vender seu produto aos leitores. Logo, todo tipo de loucura gráfica sempre vai esbarrar nessa questão de produção, o que dá pra fazer, o que dá pra vender. Lógico, a não ser que o intuito do quadrinho seja puro experimento e não ser lido de fato.

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3. O TRAÇO 3.1 PESQUISA ICONOGRÁFICA Como pesquisa iconográfica (e em alguns casos de roteiro) foram selecionados cinco artistas principais, de acordo com seus traços, finalizações e gama de cores.

1. ALEX T. SMITH A desproporção graciosa e as cores do ilustrador infantil britânico Alex T. Smith foi o que me chamou atenção e fez o trabalho do autor uma referência de traço para o projeto. Os traços tortos, não delineados, olhos grandes, a falta de perspectiva e os pés e mãos finos, minúsculos, chamam atenção em toda a mistura de texturas, manchas e cores. As cenas, por si, falam bastante e têm uma poética muito forte. A delicadeza das cenas em algumas ocasiões é fechada de maneira solta, com contornos orgânicos, trazendo uma leveza ao mesmo tempo em que emoldura a cena de forma consistente.

Alguns personagens desenhados em sketchbooks do ilustrador. É interessante ver a diferença entre eles, de corpo e características, apesar de terem um traço em comum.


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2. CHIQUINHA Chiquinha, ou Fabiane Bento Langona, é uma quadrinista brasileira famosa no meio por sua irreverência e humor escancarado. Autora de Uma Patada com Carinho – As histórias pesadas da Elefoa Cor-de-rosa (editora Leya/Barba Negra), seu traço já apresenta muito do humor de suas tiras. Os braços tortos, as caretas e cores super fortes são fatores icônicos de seu trabalho, unido à representações propositalmente grotescas de espinhas, comidas nojentas e situações absurdas. Em relação ao roteiro, Chiquinha também foi uma ótima referência para o roteiro do projeto. Através da Elefoa e suas amigas, Gisbelle, uma girafa com um cromossomo meio raspado e Janete, a ursa que prefere estar mal acompanhada do que só, a autora ironiza e ri das situações cotidianas, sexuais, relação homem-mulher, moda, música, rituais femininos e outras coisas que façam parte da vida de uma elefoa cor de rosa. Vale lembrar que ela é uma das poucas quadrinistas mulheres no mercado e a falta de pudor em suas histórias faz seu trabalho ser bastante elogiado e consumido por homens.

Essa tirinha é uma síntese da autora. O traço simples, solto e exageradamente grosseiro quando necessário (como na última cena) somado à um roteiro irônico e escrachado, que carrega muito das opniões pessoais de Chiquinha.


3. GEMMA CORRELL

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Além do óbvio carisma e humor no seu traço, a inglesa Gemma foi também uma ótima referência de ilustração, especialmente pela gama de cores que adota. Diversas vezes trabalhando em duas cores, sendo uma bem forte (laranja ou vermelho) e a outra neutra, o preto. Esse conceito foi apropriado no projeto, junto do traço simples, as caras engraçadas, assim como retículas e traços digitais particularizados. Gemma não é só quadrinista, mas também ilustradora com diversos trabalhos em revistas e alguns livros publicados como A Pug’s Guide to Etiquette, A Cat’s Life, What I Wore Today. O uso de duas cores (preto e vermelho) dá personalidade e chama atenção. E foi um dos principais motivos que chamou atenção para o trabalho de Gemma como ilustradora.

A situação cotidiana de esperimentar vestidos de festa, e a particularidade da fala fora do balão.


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4. RICARDO LINIERS A palavra Macanudo é uma gíria antiga, em espanhol, para extraordinário, excelente, magnífico. E o nanquim misturado às manchas de aquarela de Liniers mostra que o nome cai bem. Seu trabalho de traço marcante traz personagens simples, sem preocupaçõe ou pretenções desnecessárias, porém único, autoral e de fácil identificação. Com histórias lindas em um universo poético e non sense, Macanudo reune uma coletância de personagens incríveis, onde cada qual serve a um propósito. Henriqueta, leitora assídua, e seu gato Fellini são os protagonistas e sempre tranformam situações cotidianas em algo fantástico e poético. Outros personagens como o Misterioso Homem de Preto, os pinguins, Teresita e Lorenzo, Oliveiro a Azeitona e os duendes entre tantos outros, servem cada um a um tipo de humor. Se quer algo mais non sense, os pinguins entram em cena; para algo sobre relacionamentos temos Teresita e Lorenzo e assim por diante.

As manchas de aquarela sobre o nankin são marcadas e sem pretenção. As cores são fortes e a letra manuscrita de Liniers dá um toque especial à cada tira.

Em algumas tiras Liniers usa toda sua técnica para desenhos realistas, contrastanto com a simplicidade do traço de seus personsonagens. Esse recurso traz humor à cena e torna tudo um pouco mais non-sense (geralmente os pinguins são os personagens já convencionados como protagonistas disso).

A poética, tão presente em toda sua produção, dentro de quadros soltos.


5. MAITENA

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E como as referências incluem também roteiro e proposta de humor, não poderia faltar Maitena Burundarena, famosa quadrinista argentina de Mulheres Alteradas. Título tão famoso, não só na Argentina mas em todo mundo, que já ganhou até adaptação de peça no Brasil. Com seu típico humor satirizando situações do mundo feminino, suas tirinhas correm o mundo fazendo dela uma das autoras mulheres mais famosas e reconhecidas. O traço é característico, exagerado, com cores fortes e sem sombras. De forma geral, suas mulheres são representadas histéricas, descabeladas, gritando e gesticulando muito (tudo, obviamente, dentro da proposta de humor que já vem no próprio título).

Suas histórias geralmente são em formato grande, bem diferente do padrão americano 13’’x 4’’ de tirinhas de jornal. As publicações de Maitena s dividem em três partes: “Mujeres Alteradas”, “Superadas”, “Curvas Peligrosas” (muitos já traduzidos e lançados no Brasil).


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3. O TRAÇO 3.2 CRIAÇÃO DA PERSONAGEM Devido ao roteiro assumido, ironizando situações do cotidiano, a primeira definição em relação ao traço foi suas características principais: precisava-se de personagens disformes e fluidos para as expressões exageradas. As desproporções foram intencionais e também era importantes para as situações caberem em pequenas minicomics de uma ou duas páginas, onde muitas informações seriam passadas juntas. Essa estrutura é muito usual em personagens da linha cômica, até para o próprio traço já ser uma porta de entrada do humor. Alguns testes foram feitos dentro de dois requisitos básicos da protagonista: cabelo curto e roupas simples, afim de simplificar o desenho e permitir uma boa representação de sua movimentação.

Primeiros esboços O primeiro esboço que chegava perto do que seria a personagem final.


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Personagem final. Algumas expressþes com o traço final. Exercício de treinamento e aprimoramento da personagem.


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O estilo do traço também era algo a ser definido. Dentro das pesquisas e no que se refere ao traço em si, optou-se por caneta nanquim como instrumento de finalização, evitando-se configurar uma imagem vetorizada. Os traços soltos e irregulares, e a idéia de luz e sombra produzida pelo reforço do traço em certas partes, relaciona-se muito bem com a imagem dos personagens e roteiros.

Em “Koko, be good”, Jen Wang faz um lindo traço solto combinando com uma leve aquarela A brasileira Samanta Flôor e seu peculiar traço que une o tosco ao fofo.

Após pesquisas de traço, além das pesquisas iconográficas relativas aos artistas já citados, foram desenvolvidas duas propostas de adoção de cor para as páginas. Uma com manchas, que remetem à aquarela, e outra em duas cores plenas, com o uso de uma forte (foi escolhido o pantone 1925 EC) e marcante mais o preto . As manchas aquareladas pareceram comuns e até infantilizadas, e o uso de muitas cores em cenas simples foi julgado exagerado e confuso. Jáo uso de duas cores deu destaque e uma personalidade pop às cenas, e por isso foi adotada. Com a limitação de uma só cor para pintura, adota-se o uso de texturas, remetendo à própria cultura de representação em nanquim, diferenciando objetos e materiais, Essas texturas são simples e feitas como uma pinceladas; listras, xadrez, bolinhas e florais são algumas das estampas. A pesquisa de traço também englobou as expressões faciais e corporais da protagonista. De maneira geral as expressões são exageradas, muitas remetendo aos mangás, e a movimentação de corpo não tem uma representação anatômica realista. E em algumas cenas, quando necessário, os personagens são pequenas formas simples, como bonecos de massinha. Os personagens secundários são sempre diferentes em cada história propositalmente, para mostrar a diversidade de pessoas com que a personagem central se relaciona, principalmente na parte amorosa e sexual. E não existe regra em relação ao tipo de características que terão, embora, obviamente, o traço siga um padrão geral. Sua criação é intuitiva, coerente com o clima de cada mini comic.


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Testes com manchas como aquarela. O fundo amarelado tanto aqui como na imagem abaixo simulam a cor da base do papel em que o projeto 茅 impresso.

Testes em duas cores plenas: preto com o pantone 1925EC. Cor adotada por elucidar ainda mais o clima das hist贸rias.


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4. TIPOGRAFIA 4.1 TIPOGRAFIA PARA TÍTULOS Parte do humor das tirinhas é provocado por um título, que também auxilia na contextualização da história. Como o traço e cores já são marcantes, e os títulos grandes, em contraposição e para obter a versatilidade tipográfica pretendida, definiu-se o uso de cinco tipografias para o projeto: uma para os balões de fala e quatro para os títulos. Os títulos também podem ocorrer com o apoio de adornos gráficos complementares e adornos. Eles são chamadas peculiares gráfica e tipograficamente, e funcionam como um teaser atraindo à leitura da história. Títulos de capas de livro, cartazes e chamadas de outros quadrinhos foram usados aqui como referências, junto de algumas páginas internas e experientações tipográficas. Criação tipografias da designer Linzie Hunter.

Os carismáticos tipos da quadrinista brasileira Lu Cafaggi.


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As referências aqui expostas são relativas não somente à tipografia em si, mas muito em relação à composição da frase, ao destaque das palavras, mistura de fontes e adornos. A composição passa a ser imagética, reforçando suas tônicas de leitura. Também devemos analisar as composições em relação à própria página e quadrinização, que algumas vezes são bem diferentes do comum, e se misturam formando uma imagem só. Esses recursos de linguagem, humor e interpretação, enriquecem o produto e contribuem para a construção de uma identidade, fazendo o leitor mergulhar no espírito da obra. Como a abertura de um filme, que já dá o tom do que virá a seguir e, principalmente, motivando a curiosidade do espectador.

Web comic da quadrinista Corinne. Aqui as letras do título recebem um tratamento de textura interna. A fonte de apoio das falas também tem suas peculiaridades e encaixa bem no plano geral da página.

Uma chamada para a exposição dos trabalhos de Liniers, que aconteceu no Rio no meio de 2012, usando tipos do autor.


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A graphic novel “Sangre de Mi Sangre”, de Lola Lorente. Mol-duras diferentes e tipografia bem característica, muitas vezes sem o uso de balões de fala.

Título de uma minicomic de Corinne Mucha com a primeira parte da mesma. O traço e adornos interagem com o tema.


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4.1.1 Tipografias adotadas A partir de uma grande pesquisa, foram selecionadas quatro tipografias principais, todas com conceito que traço que remetem ao próprio traço dos desenhos. Juntas, otimizam a apresentação das mensagens textuais através do rodízio entre textos e adornos que melhor se integrem às situações.

A FONT WITH SERIFS As serifas, apesar de irregulares, remetem à uma letra mais clássica, o que ajudará no apoio dos títulos para que não fiquem com letras de desenho tão obviamente manuscritos. A fonte cabe bem no início e final dos títulos, amarrando sua composição.

AINT NOTHING FANCY Bem arredondada, a letra tem caráter manuscrito e feminino. Foi adotada, em grande parte, para palavras de apoio e com menor expressividade nos títulos.


WITCHED É condensada e expressiva visualmente, remete à algumas imagens tipográficas da década de 50, o que carrega uma identidade retrô que pode ser interessante para o projeto.

MARKUS INK Assim como a A Font with Serifs, foi adotada para aberturas e fechamentos das frases devido ao peso e desenho mais geométrico, com características de caixa alta sem serifa. Seu traço simples dá força à leitura e ajuda a grifar algumas expressões, caso haja necessidade.

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4. TIPOGRAFIA 4.2 TIPOGRAFIA PARA FALAS Para a fonte do balão de fala foram pesquisadas referências de quadrinhos e ilustrações com tipografias diferentes e singulares, que se comunicassem com a arte da história em si. Já que, de modo geral, as fontes utilizadas (principalmente em quadrinhos de grande escala de produção) nada têm em comum com o tema da obra ou estrutura de traço, tornando os balões bastante artificiais e desintegrados dos quadros.

“Garoto Mickey”, do brasileiro Yuri Moraes. A fonte é bem característica e existe ainda uma irregularidade entre os tamanhos de corpos, mesmo dentro da palavra.

Os quadrinhos musicais do blog Quadrinhos Rasos (www.quadrinhosrasos.com) apresentam muitas vezes não somente uma tipografia especial, como de balões com tratamento gráfico não tradicionais.


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A experimentação tipográfica na página do diário ilustrado de Fefê (www.blogdafefe. com.br)

Página do HQ Homem Aranha, da editora Marvel. As falas, todas em caixa alta, e a fonte são o lugar comum de muitas obras.


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4.2.1 Tipografias pesquisadas/adotada A fonte dos textos inseridos como fala precisava ser de fácil leitura mesmo em corpos pequenos, porém com personalidade e fugindo das fontes óbvias que geralmente são usadas nos quadrinhos de grande tiragem, como os super heróis da Marvel e DC, e os mangás de banca. A escolha da caixa alta e baixa, fugindo dos corpos all caps, também foi importante para marcar a leitura e as expressões usadas pelos personagens. Depois de uma extensa pesquisa tipográfica, foram finalmente selecionadas três fontes, sendo que uma delas foi filtrada para ser o padrão dos balões de fala: Just me again down here. JUST THE WAY YOU ARE Garante boa leitura funcionando muito bem em frases longas e corpos pequenos. Porém seu desenho cai no lugar comum quando se pensa nas fontes usadas normalmente em publicações, e no fim acabou sendo descartada.

ASKES HANDWRITING Também com boa leitura e boa redução, foi descartada por ser feminina demais. Possui muitas curvas e algumas letras, principalmente em caixa alta, como o A, o D e o Q, são muito redondas e por isso acabam ocupando muito espaço no balão e tirando a força do desenho.


JUST ME AGAIN DOWN HERE A fonte escolhida, uma script, tem personalidade e funciona muito bem em corpos pequenos, aguentando sem transtornos até uma redução de corpo 10pt em caixa baixa. Os caracteres caixa alta tem desenho original, bem diferentes e com personalidade informal.

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O traço solto e o espaçamento entre letras resultam num bom fluxo de leitura. E apesar de quando diminuida apresentar alguns ruidos (como o fechamento de olhos de algumas letras), isso foi assumido e apropriado ao projeto, como característica única da fonte. Funciona muito bem sem o auxilio de balões, como vemos em algumas tirinhas como Graúna, de Henfil. (ver pág. 15)

Deixo pela fofura ou chuto pro lado delicadamente?

Pedaço de página com a fala aplicada, sem balão como falaremos mais a seguir.


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5. PROJETO GRÁFICO 5.1 SENTIDO DE OCUPAÇÃO DA PÁGINA O suporte físico escolhido para a edição foi um livro. Após essa decisão, o primeiro passo foi a definição de seu formato. Feitos alguns testes de impressão com tirinhas semelhantes ao que pretendia e estudo de casos com outras publicações do gênero, o tamanho máximo definido para a imagem é de 13x19cm19. De forma geral, os compilados de tirinhas ocorrem em livros mais horizontais que apresentam 3 ou 4 tirinhas por página. Porém nesse projeto, as situações se apresentam muito mais como mini comics, com ocupação vertical, de uma página inteira, diferentemente das tirinhas de jornal.

19. Esse será o tamanho que a imagem ocupará na página, não o tamanho do livro.

“Peanuts” (Charles M. Schulz), em padrão americano 13’’x 4’’, seguindo as proporções dos jornais.

Mini comics da espanhola Clara Soriano, com aproveitamento de página inteira.


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5. PROJETO GRÁFICO 5.2 CARACTERÍSTICA DO SISTEMA DE QUADROS

Em mangás, é muito comum a quebra e sangramento dos quadros em cenas mais marcantes. Além da própria irregularidade de tamanho entre eles.

As linhas de apoio que setorizam os quadros e a diagramação dos elementos – tais como balão de fala e onomatopéias – também era uma questão e foi definida em relação às necessidades do roteiro. De forma geral, as linhas auxiliam nas cenas de close e como forma de marcação de tempo, como geralmente já são utilizadas, setorizando os momentos da história; e em muitos momentos as imagens poderão sangrar ou simplesmente aparecer sem as linhas, ajudando na dramatização de partes importantes. Em outros momentos, as cenas podem se dividir pelo simples desenho e/ou com o auxílio dos balões de fala, como no exemplo da página anterior. Algumas páginas passam a ação toda em um único e grande quadro. Como característica formal, os quadros terão linhas irregulares, que nem sempre se encontração ou fecharão, remetendo ao traço dos personagens.


5. PROJETO GRÁFICO

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5.3 OUTROS RECURSOS Como já dito anteriormente, os balões de fala propriamente ditos, não existirão. Os diálogos são curtos e a marcação dos balões pesa visualmente na página. A solução proposta foi a de sempre manter áreas de respiro no entorno das partes textuais. Os cenários são simples e não contam com grandes recursos visuais. Salvo raras excessões, os únicos elementos de cenário que aparecem são os que interagem com a protagonista e/ ou com o personagem que com ela está interagindo. A diagramação das histórias ocupa uma ou no máximo duas páginas, e quando acontecer em uma dupla são páginas lado a lado; não havendo a possibilidade de se começar nunca uma história em uma página ímpar. O uso de repetição de quadros, bem como referências e uso de imagens fotográficas e traços diferentes, será amplamente usado como marcação de tempo e humor. Este fragmento de página exemplifica bem o uso da fotografia em cena e do sangramento de imagens quando necessário.


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6. LETTERING E CAPA

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6.1 PESQUISA ICONOGRÁFICA E CRIAÇÃO Atualmente, muitas capas de quadrinhos do meio independente são minimalistas, se utilizando de títulos com tipografias fortes e cores chamativas. Não só nos quadrinhos, mas pode-se observar uma tendência natural da eliminação dos excessos em diversas criações gráficas atualmente. A limitação leva à uma inteligência criativa dentro do processo, e já que o projeto aqui proposto segue essa linha de traço simples e uso de duas cores, a capa não poderia ser diferente. Capa do volume um do Quadrinhos A2, do casal Paulo Crumbim e Cristina Eiko.


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Com o projeto gráfico, tipografias, gama de cor e traço escolhido, temos a criação da capa. A capa deve representar o todo, seguindo a identidade básica do projeto, porém de uma forma destacada, de uma maneira que chame o leitor e se destaque em relação às outras publicações do gênero.

Dois outros exemplos de quadrinistas brasileiros. Mix Tape, de Lu Cafaggi, e Có, de Gustavo Duarte.

A criação do lettering foi o primeiro passo na criação da capa, por isso foi selecionada uma tipografia que se comunicava com as utilizadas dentro do livro, porém que tivesse uma linguagem própria. ALWAYS JOKING Essa fonte se utiliza de linhas tortas e pesos desiguais dentro da mesma letra, o que se mostrou interessante na construção de pequenas frases, como no caso do título. Além de ter uma boa leitura e se comunicar com os traços das tipografias escolhidas anteriormente ela lembra bastante a fonte desenhada do artista Liniers, um dos escolhidos como referência de traço. Para a criação do lettering a fonte foi redesenhada em alguns aspectos, como a retirada dos círculos internos dentro da letra O, e a inclinação das mesmas.


Como o título já tem um peso pela própria expressão, e dentro da diagramação interna as aberturas de capítulo de utilizariam de zoons no rosto da protagonista, a solução trabalhada foi o uso de uma bandeira. Como uma tag, ela se mostra muito útil em diversas situações por se destacar sem preocupações de grandes espaços (o que se mostra tanto no livro como, posteriormente, no projeto de sustentação).

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A criação do desenho foi um retângulo irregular, seguindo a linha do próprio traço e quadros das histórias. As duas bandeiras. Uma, com o título, utilizada nas aberturas de capítulo e site. A outra, com somente o nome da autora, utilizada para compor a capa.

Com a bandeira definida, a estrutura da capa começava a ser montada e definida. Grandes orelhas de 19cm com a cor rosa forte, carregariam os resumos sobre a autora e a história. Na primeira capa ocorre um desenho da protagonista que representa o todo com o título em destaque. Embora a proposta seja uma produção independente, optou-se por representar um logo de editora (aqui a Cia. Das Letras), para simular uma produção patrocinada. O logo ainda poderia ser de algum grupo indepentente, e vem logo abaixo da bandeira com o nome da autora, à direita da página. Seguindo um conceito de carimbos e estampas fortes, a capa no seu todo funciona funciona como um “escudo”onde alguns adornos caracterizam a sua formulação gráfica (o desenho e o título dentro aparece dentro de uma fita decorative), remetendo à stamps clássicos. O processo de criação da capa foi o mesmo que das páginas internas: primeiro o rascunho em lápis azul, depois a finalização à caneta nanquim e finalmente a edição em photoshop e adição da segunda cor. A pose da protagonista no desenho, com ombros levantados e um rosto indiferente remetem à uma sensação contrária a afirmativa enfática do título. Como se ela não entendesse porque se dá tão mal já que ela é, supostamente, uma pessoa legal. O texto na quarta capa auxilia o desenho da frente e assim o título ganha uma interpretação menos agressiva do que teria que houvesse só a frase. Quase como uma súplica impaciente que, como na quarta capa, diz “Fala sério, cara. Eu sou legal. Eu sou sim!”


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Rascunho da capa em lรกpis azul.

Esquema de posicionamento das imagens e textos na primeira e quarta capa.


Com o desenho finalizado e o esquema pronto, foi feita a montagem da capa inteira. A textura amarelada no fundo remete tanto às páginas internas quanto a um diário, trazendo o universo cotidiano mais uma vez. O subtítulo “Ok, talvez nem tanto”, completa o título com pequenos adornos de círculos, como já utilizados ao longo de toda a publicação.

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Capa finalizada.

Capa aberta, com as grandes orelhas de 19cm.


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7. CRIAÇÃO DAS HISTÓRIAS

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7.1 ROTEIRO O projeto gira em torno do cotidiano da vida de uma garota contemporânea qualquer, de vinte e poucos anos. Apesar de ter uma personalidade definida, nem ela nem ninguém com quem se relaciona tem nomes, abrindo a possibilidade de uma maior identificação entre leitor e personagem. Numa sátira ao politicamente correto e sexualmente aceitável, as histórias são diretas e, na maioria das vezes, conta com o leitor para completar as lacunas e entender a situação. Os quadrinhos não apresentam histórias românticas, mas muitas delas têm uma íntima ligação com o universo feminino, tão fracamente representado na indústria do grande entretenimento e reprovados Bechdel Test20. A ideia é falar abertamente sobre assuntos desse contexto, nele abordando também questões sexuais. Há muitas histórias também ligadas ao dia a dia e tentou-se, no processo de criação, um balanço entre os tipos de histórias apresentadas e suas quantidades, mesmo que não fosse uma métrica fechada, mas que houvesse equilíbrio.

20. A Bechdel Test é um teste criado pela cartunista Alison Bechdel em seu quadrinho Dykes to Watch Out For na tirinha de 1985, The Rule. Consiste em identificar preconceito de gênero em histórias de ficção.

Muitos amigos foram ouvidos e as próprias experiências da autora o que fomentou a concepção de 38 histórias finais. Após essa fase, foi iniciado o processo de rascunhos e arte final. Rascunho de alguns personagens que irão interagir com a protagonista.


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7. CRIAÇÃO DAS HISTÓRIAS 7.2 RASCUNHOS E FINALIZAÇÃO Primeiramente, a página é rascunhada de forma bem solta para saber como será a quadrinização. Depois, é feito um sketch, um rascunho, do desenho em azul. O lápis azul não suja tanto o papel quanto o grafite tradicional, e um esboço em azul é visto com mais clareza. Um azul em especial, chamado de non-photo blue (“azul não fotográfico”, ou “não fotografável” ou ainda “não reproduzível”) não era reproduzido pelos equipamentos antigos, e mesmo atualmente os scanners captam muito mal esse tom. Logo ele pode ser facilmente separado da camada de preto e por isso é muito usado como base dos desenhos. Depois da finalização, as páginas são digitalizadas em resolução adequada e tratadas no programa Protoshop. É então adicionada os detalhes em pantone 1925EC com o uso de ferramentas pincel do programa e, quando necessários, é criado o lettering para o título.

Primeiro, o esboço em lápis azul, e depois a finalização com caneta nanquim.

No programa Adobe Indesign, a diagramação já está com estilo definido e as imagens das páginas são inseridas nos seus devidos lugares; e depois recebem seus balões de diálogos (previamente calculados no rascunho inicial).


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Depois da finalização do traço e tratamento de cor, a página fica assim.

Inserimos então a parte rosa e o título, quando necessário, e assim a página está pronta para o Indesign, onde são postos as caixas de diálogo.

Será que estou com mau hálito?


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8. CARACTERÍSTICAS EDITORIAIS

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8.1 FECHAMENTO GRÁFICO - Cada mini comic estará diagramado centralizado nos dois sentidos da página, garantindo grandes áreas laterais de respiro. Esse recurso areja a leitura e resulta numa marcação ritmada para as histórias, sem que a página par interfira na página ímpar. - O projeto utiliza duas cores plenas, o preto e um pantone 1925EC. - O papel adotado para o miolo é o Pólen Bold, muito utilizado na maioria dos livros atualmente. Sua cor levemente amarelada não prejudica nem a leitura e visualização dos detalhes dos desenhos, nem a impressão do rosa especial. - Pretende-se que a tiragem inicial seja de mil exemplares, sendo 750 calculados para recompensa do financialmento colaborativo (falado mais a frente) e 250 ser vendidos em eventos. Esse número é baseado nas vendas e tiragens de quadrinhos independentes atuais em grandes eventos do gênero, como o FIQ e a RioComicon. De forma geral, os artistas undergrounds primeiro lançam uma quantidade pequena, e caso tenha mais interesse e procura, promove-se uma segunda tiragem. Porém, por mais que atualmente o mercado esteja aquecido e produzindo, ainda temos poucos leitores brasileiros se comparados o tamanho da população. Grandes editoras como a Cia. Das Letras e seu selo, Quadrinhos na Cia., produzem em média uma tiragem de 7 a 10mil exemplares de cada livro. As maiores tiragens acabam sendo dos quadrinhos de banca, de super-heróis famosos ou mangás da moda, e mesmo assim os maiores números não batem a marca dos 100 mil (em um país de impressionantes 194 milhões de habitantes). O que ele disse?

Não entendi muito bem...

Acho que foi “qual o meu problema?” E agora?

O chefe quer uma resposta agora!

Tá, o que faremos?

Liberar resposta padrão?

Ok para Padrão 01.

Então... não é você, sou eu...

*fun ga* *funga*

FORMATO FECHADO: 21 x 21 cm . FORMATO ABERTO: 42x21cm PAPEL MIOLO: Pólen bold 90g . IMPRESSÃO DE MIOLO: 2/2 (preto+pantone 1925EC) CAPA: Duo Design 250g com orelhas de 19cm . IMPRESSÃO DA CAPA: 2/1 NÚMERO DE PÁGINAS: 56 páginas . ENCADERNAÇÃO: Grampo canoa

Sentido de ocupação das páginas, com grandes respiros laterais.


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8. CARACTERÍSTICAS EDITORIAIS 8.2 FINANCIAMENTO COLETIVO Atualmente as produções gráficas de quadrinhos têm uma qualidade que não denuncia sua origem independente. As xerox e impressões ruins acabaram dando lugar a livros com cores especiais, encadernações singulares, capas com orelha e muitas vezes páginas internas coloridas. Alguns grupos possuem selos próprios, como a Beleléu (grupo carioca) e Quadrinhos Rasos (de Minas Gerais) portando-se da mesma maneira que uma editora, para com o público e seus produtos. Porém, apesar da pouca tiragem já explicada anteriormente, os custos de produção de uma revista em gráfica são difíceis para um artista cuidar sozinho, e por isso notamos um movimento recente, iniciado em meados de 2010, de financiamento coletivo. Funciona como uma pré venda. O artista anuncia seu produto, faz vídeos e teaser de como será o resultado final e o público consumidos apoia com quantias que podem ser de R$5,00 até R$ 1.000,00. As pessoas podem ajudar com doações sem receber nada em troca, ou deixar registrando a compra do produto, quando for produzido. Na maioria dos projetos colaborativos, acima de um valor mínimo o nome dos financiadores já aparece como agradecimento. À medida que o valor sobre, sobem as recompensas também, que podem ser posters, desenhos originais ou até recompensas imateriais como downloads, experiências, cursos, beijos e abraços. Hoje existem alguns sites especializados e seguros em que o autor cadastra o projeto e espera os financiadores – nos EUA, o mais famoso é o Kickstarter, e no Brasil o Catarse. Se o projeto não atingir a meta requerida no prazo, é automaticamente cancelado e o dinheiro extornado para todos que doaram. Isso faz com que seja uma ferramenta segura de trocas entre indivíduos que, juntos, viabilizam a realização de projetos criativos. Minha intenção é custear a impressão das 250 unidades, utilizando do financiamento coletivo. Além do custo dos outros benefícios que o projeto possa vir a ter (posters, camisetas, botons ou qualquer outro produto). Geralmente os sites possuem uma cota devido ao serviço de intermediação, no caso do brasileiro Caratse de 13%, e por isso todos os custos devem estar bem calculados. Por fim, temos exemplos muito bem sucedidos da utilização da colaboração financeira. Combo Rangers, Samba 3, Libre, Shogum dos Mortos, Mascate, RYOTIRAS OMNIBUS, Coletânea Petisco e O Beijo Adolescente 2 são só alguns exemplos entre o ano de 2012 e 2013. O quadrinho Achados e Perdidos, de Eduardo Damacesceno e Luiz Felipe Garrocho, acompanhava um CD com trilha sonora especialmente feita para a leitura dos capítulos, feito por Bruno Ito. A trilha acompanha a métrica dos quadros e foi tão elogiada que rendeu um show do artista no Festival Internacional de Quadrinhos em 2011. O projeto, elogiado por toda a mídia especializada, concorreu ao troféu HQMix e rendeu homenagens especiais. O lucro pelo Catarse o suficiente para financiar ainda um pequeno livro de tirinhas de Luiz Felipe Garrocho.


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Imagem do site Catarse.me e como funciona o sistema de troca de benefícios. “Samba 3” é a continuação de uma revista coletivo. O projeto, bem sucedido, atingindo 118% da cota planejada.


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9. PROPOSTA DE SUSTENTAÇÃO

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9.1 O SITE Como sustentação do projeto é sugerido um site simples. Nesse site os leitores poderiam enviar propostas de histórias e contar seus próprios cotidianos para virarem tirinhas, alimentando o projeto e possibilitando a impressão de um número dois do livro. Muitos quadrinistas atualmente contam com a ajuda de sites para divulgar e produzir seus trabalhos. Alguns se utilizam da própria plataforma para criar animações e jogos que se interagem com o universo criado. Como é o caso de Gnut, de Paulo Crumbim, que além de um livro impresso para ser visto com óculos 3D, contará com um jogo e webcomics para completar a história. Mas no caso do projeto aqui proposto, o site se aproximaria muito mais um blog, com notícias e rascunhos da autora. Uma boa referência para essa parte é o site Caniculadas, que em uma busca básica sobre o que poderia significar o nome, vem a seguinte definição: canícula s. f. 1. Pequena cana.; 2. Período mais quente do ano.; 3. Estrela Sírio.; 4. [Popular] Perna muito delgada. E é justamente o que o site representa. São mulheres quadrinistras que se reúnem apenas no verão para fazer quadrinhos, com o pretexto de falar sobre os dias de calor na Espanha (o blog entrará em sua terceira edição em 2013). O uso constante das redes sociais, principalmente o twitter, deu mais visibilidade ao projeto de veraneio e, consequentemente, mais interação com os leitores com blog. Algumas vezes o blog conta com participações especiais de outros quadrinistas, o que posteriormente pode ser uma ideia interessante para a sustentação do projeto. Imagem do site Gnut, de Paulo Crumbim. Animações misturadas aos quadrinhos. (www. gnutcomics.com)


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Blog de verão Caniculadas (caniculadas.blogspot.com.br).

De forma simples, o site se desenvolveria mais como uma extensão das páginas dos livros, contando assim com cinco partes básicas: - O PROJETO: onde seria explicado desde sua criação à sua concepção, com um link para esta monografia - O BLOG: notícias, rascunhos e referências materiam o site sempre ativo e alimentado - AS TIRINHAS: contando com os desenhos sendo criados a partir das histórias enviadas - ENVIA IDEIAS: onde os leitores preencheriam um pequeno formulário com seus relatos - CONTATO: parte fixa com contato da autora e link para o portfolio pessoal da mesma O lettering do topo seguirá a identidade criada para o livro (usada na capa e nas aberturas de capítulo) junto de um desenho apresentando a personagem em uma situação cotidiana. E a fonte utilizada como apoio será a Markus Ink, uma das fontes selecionadas para títulos no livro. O menu é lateral, criando um espaço para a ilustração de topo e completando a forma visual da bandeira em que o título se encontra. E o layout se apresenta estático em toda a borda, só se movendo na parte em que estariam as informações dos posts, como podemos observar melhor na imagem ao lado. A mudança de páginas pode ser feita na parte inferior, também estática, onde a bola rosa mostra em que página o leitor está. A concepção do projeto gráfico do site foi definida em harmonia com todo o universo visual do miolo do livro, sendo bem simplificado. O layout aqui apresentado é apenas um experimento didático preliminar, já que o site não é o objeto proposto para este trabalho, e sim o livro.


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Layout preliminar do site, que serviria como esqueleto para todas as outras páginas. Só um layout foi proposto pois um site não é a finalidade do projeto proposto.

Como o layout se comporta quando colocado como uma página de internet. Posteriormente seriam feitos testes com texturas nas margens laterais de respiro.


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10. O LIVRO

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10.1 APRESENTAÇÃO GERAL DOS LAYOUTS FINAIS A seguir, seguem os layouts do livro apresentador em ordem, a partir da página 2. Todas as páginas se encontram em tamanho real, 21x21cm. Folha de rosto do livro. O layout é simples somente para apresentação das informações, como editora e ano.

por marilia bruno

.. ok, talvez nem tanto .. Vários personagens e situações aqui representadas são baseadas em fatos reais. Qualquer semelhança com a realidade não é mera coicidência.

primeira edição . 2013

Essas divisões de capítulo não fazem sentido nenhum...

Exemplo de layout das aberturas de capítulo. Uma imagem reticulada em close é sempre posta à esquerda, enquanto à direita vemos a bandeira do título com alguma frase abaixo.


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Eu n達o tenho culpa das outras pessoas n達o serem


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O que ele disse?

Não entendi muito bem...

Acho que foi “qual o meu problema?” E agora?

O chefe quer uma resposta agora!

Tá, o que faremos?

Liberar resposta padrão?

Ok para Padrão 01.

Então... não é você, sou eu...

* fu ng a* *f ung a*


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Pega ai!

N達o tenho reflexo...


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Eu sinto dizer isso mas acho que devemos parar... eu não posso te oferecer algo sério e-

É que eu acabei de sair de um relacionamento ruim e...

Cara, relaxa. Você nem é tão legal. Podemos ficar só no sexo.


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Não me sinto preparado para esse tipo de coisa..

Eu vou viajar e...

Na verdade, eu tava olhando sua amiga...

Estou confuso em relação aos meus sentimentos...

Eu não sei... me sinto usado sexualmente...

Eu preciso de um tempo pra pensar...

Não.


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Cara, que sono...

Não, não! Se mantenha acordada! Acordada!

* ta pã o*

Acho que foi queda de pressão...

Mas...acho que vou fechar só por um segundinho...

Você desmaiou!


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Serรก que estou com mau hรกlito?


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Oi!

Olha,vocêjáconhece aminhaamiga?! Achoquevocêstem muitoemcomum! Por quêêê??


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Agora, imagens inĂŠditas de naves espaciais pousando em...

* c li c * *c lic *


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Então, ele disse que nem vai rolar mais.. ele te achou meio...

Por quêêê?!

Perai, meio o quê?

Será que...

Não acredito!

Longo discurso sobre como as mulheres não deveriam ser julgadas por sua liberdade sexual, ou se transam de primeira,

e como ele é um completo babaca e...

Eu te odeio.

Na verdade ele só te achou feia.


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É sério isso?

Hum.. surpreendente...

argh!

Então...

Obrigada!


99

T達o lindo...

seguraoriso.seguraoriso seguraoriso.seguraoriso

Hunf...

!!!

Nhooo!

...


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101

Eu nem penso mal de ninguĂŠm... alĂŠm do normal, claro.


102

Ele é tão lindo... mal posso esperar para tocar seus lábios macios...

P io r. be ijo.. do .m un do


103

Deixo pela fofura ou chuto pro lado delicadamente?


104

Olá! Gostaria de um nº1 sem molho, por favor. Mas é só vocês não colocarem.

Não podemos tirar o molho, senhora. Mas não podemos, são as regras da casa.

Cara, ninguém vai contar os gramas de molho.

São as regras da casa.

*socão

...ok.

!*

Qual a bebida, senhora?


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Sabe aquelas vezes que você está tão concentrado

mas tão concentrado, que acaba perdendo a noção...

do que está acontecendo no mundo ao seu redor.

E você pensa e planeja tanto uma coisa...

que acaba falando em voz alta aquilo que estava na sua cabeça.

Você está relaxado no seu mundo, até que...

Bom dia! Que horas são, por favor?

Pinto.


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* * c a c fhainz * ho* * es fr eg a* sfr *e ega *

* en ro la * * e nr o la * * cl ic cl ic *

*en rola * *en rola *

* * c a c fhainz * ho*


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O dia em que tropecei num gato morto Vem! Pula!

Altura ridĂ­cula de 10cm


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Como quebrei meus incisivos centrais ma S u bai r e um c i m a l a d e i ru m s k a t e . de barriga. De

Isso nunca vai dar errado!

Ou n達 o.. .


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ahn?!

...

sim... (?)


111

Delí cia!

Go st os o! O h lá e m c as a!

Li nd ão !

Vocês não acham que tratando da mesma forma vulgar e sexualizada um homem, estão agindo num contra-senso de seus próprios ideais?

Es sa so ci ad e ma ch is ta es tá to lin ed di re it o de se xu al izdoar meumu ho me m!

A bs u r do !


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t é t ic a * * v o z p a Hum... você é ótima.

Nossa, que horrível.. e agora? será que consigo pegar um táxi tranquilo por aqui a essa hora?

Tá a fim de sair de novo na sexta?

Obrigada...

Hum... Acho que não rola... Eu preciso fazer muitos trabalhos sabe...

Nossa, ela tá muito a fim! Mandei bem! * hi -5 me nt al *

Fodeu! Preciso me livrar desse chato! E que vozinha ridícula é essa?

d i a n mt e e t n e o F o i ute ã o g a t oc a nmea q aiu da s


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*bala nça* *a per ta*

Owwn!

Não vou te dar um Playstation.

Me traz refrigerante! Quero ir no banheiro, e no McDonalda!!! E UM PLAYSTATION! brinque dos nunca usados

Eu te odeio! Você é idiotaaaa! * au -a u* *a u- au*


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Essas divisões de capítulo não fazem sentido nenhum...


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Eu quero alguém que corra trás de mim... alguém que se importe. Quero me sentir desejada... Você me deseja?

É agora que ele ai me agarrar e faremos sexo selvagem a noite toda! Será que estou exagerando na cara de choro?

Você sabe que sou louco por você... Mas não entendo, o que você quer?


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Bom, que tal vocĂŞ demonstrar que me deseja pulando em cima de mim, me beijando enquanto tira minha roupa com os dentes.

VocĂŞ me intimida...


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Ela está nessa posição a horas...

É concentração, deve ser coisa de designer...


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Precisamos conversar.

O QUE?! Como assim?! Ele foi mais rápido e está ME dando um fora? Quem ele pensa que é? Que absurdo, eu que ia dar um fora nele!

Realmente... Olha, acho que precisamos dar um tempo... as coisas não estão dando muito certo...

É verdade. Fazer o que né? A gente se vê. Tchau.


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Oi!


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A capa do filme mostra uma fresta de luz entrando pela borda da tampa, mas então...

Diâmetro

Ops...

de P i zazma a r a S

Diâmetro

Vou ali lacrar a Samara pra sempre no poço!


122

Dorothy, você precisa ir a Oz e pedir ao Mago para ajudá-la a voltar pra casa. Siga o caminho dos tijolos amarelos! Mas perai, esses sapatinhos são mágicos. É só bater o pé 3 vezes e pedir.

Não há lugar como o laaaaarrr!


123

Eu vou acabar com a sua vida agora, Harry Potter. E vocĂŞ--

De nada. NĂŁo pode me matar com uma arma troux--

Mas--


124

*Insira algo depressivo sobre a natureza humana aqui*

J谩 ouviu falar de psic贸logo, Charlie Brown?


125

Porque não posso ficar nem mais um minuto sem te beijar!

Olá! Que horas são por favor?

Seus lábios são tão macios...

Ohhh, querido!

Oi?

* *plac *plac*

São 14h.

Valeu!


126

Tá tentando produzir fogo, é?

* e s fr e ga *

*e sfr ega *

Amigo, isso ai não é mesa de dj.

Alguns caras simplesmente tem...


127

Quero terminar.

O mundo estรก tรฃo frio...


128

Basta me alimentar... (chocolate de preferência)

e dar um pouco de carinho.

Sabia que você é o melhor namorado do mundo?

Obrigado, querida. Quer um biscoitinho?


129

Eu adoro ficar com você mas.. não estou pronto pra esse tipo de compromisso agora...

seu café, senhor.

C a fnét e que

Claro

!

C as a co m ig o?


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Tanto que meus amigos, tambĂŠm legais, atĂŠ fizeram desenhos meus


Denis Mello . denismello.blogspot.com.br

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133

Leo Finocchi . nemmorto.com


Mario Cau . mariocau.com

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135

Lu Cafaggi . www.lospantozelos.blogspot.com.br


Pedro Cobiaco . pedrocobiacoblog.wordpress.com

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137

Liper Gomba . www.quadrinhosrasos.com


Diego Sanchez . diegosancho.wordpress.com

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Go Carvalho . gocarvalho.com


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10. O LIVRO 10.2 BONECA IMPRESSA


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11. BIBLIOGRAFIA alexandrehq.blogspot.com.br/2012/06/mercado-de-quadrinhos-no-brasil-ilusao.html Acesso dia 26/01/2013 pt.wikipedia.org/wiki/Histórias_em_quadrinhos#Das_tiras_de_ jornal_ para_as_revista Acesso em 22/12/2012 www.historiaimagem.com.br/edicao5setembro2007/06-historia-hq-jarcem.pdf Acesso em 20/11/2012 www.infoescola.com/desenho/historia-dos-quadrinhos Acesso em 20/11/2012 en.wikipedia.org/wiki/Ally_Sloper’s_Half_Holiday Acesso em 22/12/2012 canalbrasil.globo.com/programas/malditos-cartunistas/videos/2277030.html Acesso em 29/12/2012 ladyscomics.com.br Acesso em 10/01/2013 SABIN, Roger. Adult Comics: An Introduction, 1993. DIAS PACHECO, Elza. Comunicação, educação e arte na cultura infanto-juvenil. Edições Loyola, 1991. EISNER, Will. Quadrinhos e Arte Seqüencial. São Paulo: Martins Fontes, 1989. EISNER, Will. Narrativas Gráficas. São Paulo: Devir Livraria, 2005. QUELLA-GUYOT, Didier. A história em quadrinhos. São Paulo: Edições Loyola,1994 MCCLOUD, Scott. Desvendando os Quadrinhos. M.Books, 2004. MCCLOUD, Scott. Reinventando os Quadrinhos. M. Books, 2005. PATATI, Carlos; BRAGA, Flávio. Almanaque ds Quadrinhos: 100 anos de uma mídia popular. Rio de Janeiro, Ediouro, 2006. BARRIER, Michael; WILLIAMS, Martin. A Smithsonian Book of Comic-Book Comics. Nova York, Harry N. Abrams e Smithsoniam Institution Press, 1981. GOIDA, Hiron Cardoso. Enciclopédia dos quadrinhos. Porto Alegre, L&M, 1990.

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12. REFERÊNCIAS ICONOGRÁFICAS www.gemmacorrell.com Acesso em 15/12/2012 alextsmith.blogspot.com.br Acesso em 15/12/2012 www.tateeanita.blogspot.com.br Acesso dia 26/01/2013 www.blogdafefe.com.br Acesso dia 24/01/2013 www.quadrinhosrasos.com Acesso dia 12/01/2013 ryotiras.com Acesso dia 12/01/2013 caniculadas.blogspot.com.br Acesso dia 26/01/2013 samantafloor.blogspot.com.br Acesso dia 20/02/2013 MORAES, Yuri. Garoto Mickey. São Paulo, Dobro Quadrinhos, 2011. WANG, Jen. Koko Be Good: não é fácil ser boazinha. São Paulo, Barba Negra, 2011. CRUMBIM, Paulo; EIKO, Cristina. Quadrinhos A2. Sem editora. Produção independente. GARROCHO, Luiz Felipe. Bufas Danadas. Produção do selo independente Quadrinhos Rasos, 2011. CAFAGGI, Lu. Mix Tape. Sem editora. Produção independente. LORENTE, Lola. Sangue de mi Sangre. Astiberri Ediciones, 2011. LINIERS, Ricardo. Coleção Macanudo (números 1 ao 5). Zarabatana Books. PEDROSA, Cyril. Três Sombras. Quadrinhos na Cia., 2011 MAWIL. Mas podemos continuar amigos... Zarabatana Books, 2012.

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Obrigado a todos que me apoiaram nesse projeto. À minha orientadora Nair, que sempre acreditou em mim. Aos meus amigos, pelas histórias. À minha mãe, pelos lanchinhos de tarde. E é claro, à todos os homens que passaram em meu caminho de alguma forma, principalmente os que deram errado, me dando material para essas histórias.


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