O andarilho das sete partidas de romeu correia contado en verso por gente nova

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 O ANDARILHO DAS SETE PARTIDAS DE ROMEU CORREIA contado em verso por gente nova


O ANDARILHO DAS SETE PARTIDAS DE ROMEU CORREIA

contado em verso por gente nova


Ficha técnica Título

O Andarilho das Sete Partidas de Romeu Correia contado em verso por gente nova

Autores

Disciplina de Língua Portuguesa (atividade de reconto e reescrita) - Alunos do Curso de Educação e Formação – Operador de Fotografia - Agrupamento de Escolas Emídio Navarro

Conceção e coordenação

Profª de Língua Portuguesa - Maria Manuela M. Curado Ilustrações: Disciplina de Fotografia – Alunos CEF –OF.

Data de edição abril de 2015


O ANDARILHO DAS SETE PARTIDAS DE ROMEU CORREIA contado em verso por gente nova


“Esta espécie de loucura Que é pouco chamar talento E que brilha em mim, na escura Confusão do pensamento, Não me traz felicidade; Porque, enfim, sempre haverá Sol ou sombra na cidade. Mas em mim não sei o que há “ Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"


Sumário 7 Nota Prévia 8 I ATO - Iº QUADRO 10 2º QUADRO 13 3º QUADRO 15 4º QUADRO 19 5º QUADRO 22 6º QUADRO 24 II ATO – 1º QUADRO 28 2º QUADRO 30 3º QUADRO 32 4º QUADRO 33 5º QUADRO 34 6º QUADRO 35 Em jeito de conclusão


Nota prévia O Andarilho das Sete Partidas é uma sátira que descreve a vida quotidiana em Almada na segunda metade do século XVI. Trata-se de uma parte da existência de Fernão Mendes Pinto, teatralizada numa versão muito livre e algo atrevida, tendo sido a partir desse texto original, escrito com particular ironia, mas também muita fidelidade à época e ao contexto histórico, que se elaborou este breve texto em verso, numa atividade de reconto e reescrita, que permitiu ativar conhecimentos e técnicas, não só no que ao domínio da Língua Portuguesa diz respeito, mas também no que concerne à vida e obra de Fernão Mendes Pinto, com especial incidência nos anos em que viveu no Pragal e escreveu A Peregrinação. Feito sem pretensões e com incomensurável respeito, este texto consusbstancia, em primeiro lugar, a nossa respeitosa homenagem à Língua Portuguesa, por ocasião das comemorações dos Oitocentos Anos da Língua Portuguesa, e Quatrocentos Anos da Obra A Peregrinação, de Fernão Mendes Pinto e, em segundo, o nosso agradecimento ao escritor almadense, Romeu Correia, cujo talento criador encontrou no teatro o terreno mais propício ao pleno desenvolvimento da sua vocação de ficcionista, contituindo a sua obra um importante acervo cultural e documental de que todos devemos orgulhar-nos.


I Ato 1º QUADRO (Pátio de casa rústica no sítio do Pragal, arredores de Almada. Manhã primaveril de 1562. Por todo o lado se veem pipas, selhas, instrumentos agrícolas, restos de mobília e roupas em desalinho. Chegam-nos ruídos de animais na quinta) Pêro Carriço e Simoa A casa do Pragal vão arejar e limpar, Para que Fernão e Maria A possam habitar. Para essa tarefa concretizar, Rita e outras os vão ajudar, Mas contente não está o caseiro, Pois tem de abandonar o poleiro Se Fernão tornou rico da Índia Pretende Felícia ficar a saber. Informa Simoa tal não ser verdade, Pois sua bondade o deixou a perder. Rico é, porém, na arte de contar Narrando histórias de maravilhar.



2º QUADRO (Fim de tarde de Verão. Estão em cena: Simoa, Rita e Senhora Dona Maria Correia de Brito, que cose junto a uma mesa. As duas criadas amassam o pão.) Fernão Mendes Pinto ganhava a vida sendo escritor Tudo fazendo, desde requerimentos a cartas de amor. A Maria cabia ser prendada De letras não entendia nada Muito magro e andrajoso Chega um fidalgo zeloso. Mem Taborda é o seu nome E ali lhe matam sede e fome. Por Fernão Mendes espera, Pois na Índia o conhecera Do Oriente, Mem Taborda regressou sem nada E no reino, de porta em porta, ajuda lhe é negada Sabendo Fernão Mendes rico, Aquando da sua passagem por Goa, Dele espera obter uma resposta boa.



Serviços prestados tem Fernão também De longe, por mais tempo e dificuldade que Mem. Não pode, por isso, o forasteiro ajudar, Pois para sobreviver tem de trabalhar.


3º QUADRO (Noite de verão, um calor intenso. Uma candeia de azeite sobre a mesa onde se vê papel, tinteiro e alguns livros) Para mais fresco se sentir, Um hábito de frade Fernão vai vestir. Das treze vezes cativo e dezasseis vendido Fala este português com grande emoção, Escreverá, ainda, um dia, a sua “peregrinação”. Aquele “menino” sábio não lhe sai do pensamento, Imaginação ou não, trata-se de um grande tormento. Seu castigo e remorso será Pelos crimes praticados Lá.



4º QUADRO (Inverno. O vento uiva lá fora. Maria confeciona, junto à lareira, roupas para bebé, pois está de oito meses) Do alto da sua sabedoria, Vaticina Felícia Que um rapaz terá Maria. De conhecer Fernão não teve ainda o prazer. Este com os padres está, tem muito que lhes dizer. Regressando do Oriente Diogo Correia morre de repente. De falar aos noviços vem o anfitrião, Cujas palavras sábias os ajudarão



De Goa a Lisboa, grandes tormentas Os marinheiros sofreram E de escorbuto muitos morreram. Ao reino só chegaram Aqueles que escaparam. Indo D. João de Portugal Com D. Madalena de Vilhena casar, Fernão e sua família vem Telmo Pais convidar. Sente-se aquele muito honrado, Pois pelo pai da noiva é muito estimado. Fala-se então de Francisco Xavier De sua amizade com Fernão e muito mister



5º QUADRO (1968. Passaram cinco anos. Fernão Mendes e a mulher ceiam. Dentro de casa, uma criança chora…) Catarina tem três anos e é muito brincalhona, Gostando de causar confusão, Páginas rasgadas e areia pelo chão Foi o que, um dia, encontrou Fernão. Mais uma vez, manifesta Fernão a sua intenção Em escrever A Peregrinação. Morosa e difícil será a empresa, Adverte e opina a fiel esposa. *


“ Quem do mundo pouco viu crédito não dá ao que ouviu. Assim, Fernão, mentes? Minto! Em vez de Fernão Mendes Pinto. “ Miséria, pobreza e perigos de vida passei, Tanto na pátria, como na Índia por onde andei. Mas Deus da morte me livrou Para viver minhas histórias E escrever minhas memórias.” Quando para ti olho, tenho uma imagem boa Dos meus doze anos, quando vim para Lisboa.” Do diálogo entre o homem e a criança, Sabemos que nada se lhe apagou da lembrança: Peripécias de toda a gama, Até de ter embarcado numa caravela de Alfama.



6º QUADRO (Primavera de 1575. Decorreram sete anos após o último quadro. Fernão Mendes tem agora 65 anos; Maria, 32; Catarina, 13 e Joana, 12) Francisco de Andrade vai chegar E Maria quer as filhas preparar, Mas a casa está muito agitada. Quase não dá para fazer nada. De João de Barros A Luís de Camões Fala Catarina, Olhando seus bastiões. Catarina gosta de ler Todos os autores quer percorrer. Sua mãe reclama por este prazer, Pois as lides da casa terá de aprender.


Com a escrita de Fernão Francisco se comoveu e maravilhou: Impressionantes o engenho, as notícias e as paragens que conheceu nas suas viagens. Ao livro de Fernão Mendes , Francisco não faz reparos E olha-o com humildade, Já que tudo é descrito Com pormenor e intensidade.

FIM DO 1º ATO.


II ATO 1º QUADRO (setembro de 1577. Vindima. Recanto da adega com larga selha onde se pisam as uvas. Ambiente festivo e pagão. Fernão Mendes, Catarina, Joana e mestre Tanoeiro cantam e pisam, dançando. ) Enquanto pisam as uvas, Que darão bom ,belo vinho Todos riem, todos cantam E tratam-se com carinho. Felícia e Simoa a Mestre Brás oferecem flores, Pois pelo tanoeiro, As duas se tomaram de amores.



Fernão Mendes continua a sua escrita Já passou as portas do Japão, Mas aos japões o novo modelo de tiro Causa muita confusão. Por conta de boatos lançados Chega gente pedindo favores para aflições, Mas de Francisco Xavier Fernão só tem gratas recordações.



2º QUADRO (junho de 1578. Fernão Mendes escreve e, à sua volta, há papéis, livros e utensílios de escrita.) Maria pragueja, com Fernão está zangada Só escrita e papéis não servem de nada. Da Santa Casa da Misericórdia Teme que seu marido seja expulso, Caso não mude de vida e de discurso. Para embarcar com D. Sebastião Deseja Catarina ter nascido homem, Perante o espanto de todos e de sua mãe Que a filha repreende e contém. D. Madalena chora já A partida de seu marido Que para África irá E, como muito bem sabemos, De lá nunca voltará.



3º QUADRO (Noite de dezembro de 1578. Fernão Mendes escreve alumiado por duas velas) De Francisco Xavier Fala Fernão na sua obra Da forma como dos bonzos Contrariou a falsidade, Pois não há resposta para a verdade.



4º QUADRO (fevereiro de 1580. Maria cose. Catarina lê algumas páginas de A Peregrinação.) Catarina lê a obra do pai E diz que para viver suas façanhas nasceu. Pelejar pela dilatação da fé e do império, Desbaratar mouros e turcos Se qualquer vitupério. Catarina está, de facto, maravilhada. Com a obra do pai Se diz deslumbrada E nem um pouco preocupada Ao contrário de sua mãe.


5º QUADRO (Dia de S. Pedro – 29 de junho - Fernão Mendes Pinto está sentado junto à lareira com uma manta nos joelhos. Está visivelmente débil, doente.) Duas semanas se demorara D. Filipe em Almada Aliviado está Fernão Mendes, Sua família e criados, Porém estes sentimentos Não são por todos partilhados. Entre Fernão e Telmo Pais Se trocam notícias onde não faltam traições. Espantoso como o ser humano De tudo abdica Em troca de ganhos e proteções. Com Manuel de Sousa Coutinho Conversa D. Madalena com graça Telmo suspeita e crê Que tal redundará em desgraça.


6º QUADRO (junho de 1583. Fernão Mendes encontra-se em câmara ardente, velado por cinco mulheres de negro.) Trinta e um anos após a morte de Fernão É impressa A Peregrinação. Francisco de Herrera Maldonado Foi quem fez a primeira tradução Daquele que seria e é Merece sempre ser celebrado. PANO


Em jeito de conclusão Este pequeno livro digital, homenagem sigela à Língua Portuguesa, emerge na sequência de várias atividades de reflexão reconto e reescrita, realizadas no decorrrer das aulas de Língua Portuguesa. Aqui se reúnem, portanto, os textos produzidos e que, de algum modo, revelam claramente a simplicidade e e o carácter dos seus autores que, muito embora denotem dificuldades e constrangimentos no que respeita ao domínio da língua materna, foram capazes de a pôr ao serviço de uma causa, produzindo algo que não se situando ao nível do excelente, não nos deixará indiferentes, tendo em muito contribuido para a crescente valorização do papel da lingua e da importância na Comunicação e na divulgação cultural.



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