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SUMÁRIO Autoconhecimento: Refletindo sobre si mesmo. .......................... 7 Autoestima ................................................................................ 11 O que é autoestima? .............................................................. 11 A necessidade de aceitação .................................................. 15 Relacionamentos ....................................................................... 17 Estabelecendo vínculos ......................................................... 17 A Manutenção da relação ...................................................... 23 A dificuldade de relacionamento ............................................ 25 O relacionamentos afetivo...................................................... 36 Perdas, abandonos e solidão ................................................. 38 Rompimentos afetivos ............................................................ 42 Como lidar com rompimentos ................................................ 51 As cinco fases do luto nos relacionamentos amorosos .......... 55 Dificuldade nos relacionamentos afetivos .............................. 59 Relações de controle ............................................................. 64 Chantagem emocional: o que é e como lidar. ........................ 68 Sentimentos e emoções ............................................................ 71 2
Emoções ................................................................................ 71 Amor ...................................................................................... 75 Você sabe amar? ............................................................................ 79 O amor desinteressado................................................................... 83 A banalização do amor ................................................................... 85 Amar ou depender.......................................................................... 89 A Inveja .................................................................................. 92 O ciúme ................................................................................. 95 Medo e Ansiedade ................................................................. 97 Remorsos .............................................................................. 99 Reprimindo sentimentos........................................................101 Negação ...............................................................................103 Ressentimentos, rancores e vinganças .................................106 A solidão ...............................................................................110 Escolhas ...................................................................................115 Não permita que o medo lhe paralise a vida. ............................116 A síndrome do super-herói .......................................................118 3
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Introdução Falar sobre relacionamentos é um grande desafio, uma vez que o tema pode ser abordado de várias formas. Para facilitar o entendimento, usei alguns autores da Psicologia. No entanto, muito ainda precisa ser dito, pois as formas de relacionamento estão em constante mutação, o que leva os indivíduos a buscarem novas formas de interação social. Parafraseando Bauman, estamos na era dos “Relacionamentos líquidos”, onde nada é sólido e mesmo com muitos canais de relacionamentos abertos, são raros os relacionamentos duradouros. Alguns vínculos se perdem nas constantes mudanças de contexto, e não têm mais a solidez necessária para atravessar anos, o que dificulta o apego saudável, favorecendo o surgimento de 5
relações de dependência, marcadas pela desconfiança e atitudes de controle. Os laços afetivos dão lugar aos “nós emocionais”. Em função disso, o nível de estresse dos indivíduos aumenta, prejudicando as relações familiares e de trabalho. Em 2015 percebemos que nossa sociedade está adoecida afetivamente. Como lidar com isso? É possível se ajustar ou teremos que conviver por muito tempo sob estas condições de adoecimento? Este livro não visa solucionar esta situação, mas abrir espaço para a reflexão sobre o tema.
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Autoconhecimento: Refletindo sobre si mesmo. Na entrada do Antigo Templo de Apolo em Delfos o visitante se deparava com a frase “Conhece-te a ti mesmo”. Este simples aforismo tinha como objetivo levar o indivíduo que buscava ajuda espiritual, a pensar sobre si mesmo. Mas o que significa conhecer a si mesmo? Parece simples, mas na prática as dificuldades aparecem. Na pós-modernidade somos “pessoas fragmentadas”: No trabalho, somos profissionais. Em casa somos cônjuges, mães, pais, filhos. Nas escolas, estudantes; no comércio, clientes, etc. Nas relações sociais somos apenas parte de nós mesmos, uma vez que é inadequado se colocar integralmente nas diferentes situações. Não que isto seja um problema, afinal tais limites existem para promover o equilíbrio entre os diversos interesses e facilitar o bom convívio social.
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Por isto, é difícil responder à pergunta inicial, uma vez que a personalidade às vezes se desintegra na execução dos diversos papéis, por vezes conflituosas. A psicologia humanista considera que uma pessoa é aquela que consegue integrar em sua personalidade os diversos papéis sem grandes conflitos, respondendo ao ambiente adequadamente, sem comprometer sua essência (Rafael, 2000). Em outras palavras você é o que faz, o que pensa, e o que sabe. Você é plural. Você é único. Existem pessoas parecidas com você, mas não idênticas. Para saber quem é você é importante empreender um exercício de autoconhecimento que consiste em buscar respostas que justificam seu comportamento, perguntando sempre: por que fiz isto? O que ganhei? De que outra forma poderia obter os mesmos benefícios? Preciso realmente agir assim para conseguir algo? Etc. Ao fazer este exercício, evite autojulgamentos, culpas ou remorsos. Busque ser honesto consigo mesmo. Busque sua autenticidade que envolve 8
reconhecer qualidades positivas e negativas, admitindo os erros para chegar aos acertos, pois é a partir do reconhecimento dos primeiros, que os segundos passarão a ocorrer. Naturalmente isto não é fácil, pois é necessário deixar de lado pensamentos automáticos, valores arraigados, crenças e também opiniões alheias, que muitas vezes colaboram para desestruturar alguns indivíduos. O autoconhecimento pode nos levar a compreender o quanto já erramos e o que poderíamos fazer para evitar consequências dolorosas (pra si ou para os outros). Não basta que o indivíduo conheça apenas suas medidas físicas, como peso, altura, tipo de traje preferido, carro desejado etc. Isto é apenas um conhecimento superficial. O autoconhecimento é algo que vai além das aparências, exigindo reflexão profunda sobre os “porquês”, deste ou daquele comportamento, desta ou daquela preferência. Muitas vezes, somos levados a nos comportar de acordo com as regras que a sociedade dita ou que 9
a mídia impõe sem maiores questionamentos. Usamos determinada cor de camisa simplesmente porque “está na moda”, frequentamos determinado ambiente porque nos parece mais familiar, ou simplesmente porque alguém que apreciamos sugeriu. Depois de algum tempo, a angústia toma conta de nós, e não sabemos reconhecer sua origem. De onde vem aquela tristeza? Aquele vazio interior? Geralmente este estado emocional se relaciona com a falta de autoconhecimento. Deixamos nossa vontade de lado para atender outras demandas, que não nos trazem benefícios algum. Ganhamos a admiração alheia, mas perdemos a nós mesmos. Daí a importância de praticar o autoconhecimento, perguntando sempre: O que me leva a agir desta forma? Costumo refletir antes de agir? Costumo pensar nos pros e contras de meus atos? O que ganho agindo assim? Estes ganhos são relevantes para minha felicidade? O que perco agindo de outra forma? Estas perdas são relevantes? 10
Existem outras formas de ser feliz? Outras perguntas podem ser acrescentadas à lista, de acordo com a situação vivenciada de cada um. O que importa é que possamos refletir criticamente sobre nossos atos, buscando compreendê-los a fundo. Desta forma teremos consciência dos fatores que corrompem nosso bem – estar emocional, minando nossa felicidade e alegria de viver. Isto é autoconhecimento. Autoestima O que é autoestima? Para ampliar a compreensão acerca deste conceito é importante esclarecer o que se entende por "estima". Definição: De acordo com a maioria dos dicionários, "estima" é algo a que atribuímos algum valor subjetivo, aquilo que gostamos e que nos é bastante familiar; que sentiremos falta em caso de perda. Sendo assim, “autoestima” pode ser entendida como a autovalorização. 11
Isto abre outra questão: o que é valorizar-se? Resumidamente, valorizar-se é a conhecer as próprias qualidades e habilidades e buscando utilizá-las em benefício próprio e/ou alheio. Isto também envolve conhecer suas limitações, suas barreiras, seus defeitos, buscando formas de ajustá-los. Autoestima elevada e rebaixada Se consideramos que a autoestima se relaciona com a autovalorização, um rebaixamento dela pode indicar auto depreciação, ou ausência de avaliação coerente. Nesta fase as pessoas tendem a ser dependentes da opinião alheia, sem vontade própria, buscando valorizar e apreciar prioritariamente as qualidades alheias em detrimento das suas, podendo inclusive, delegar a tomada de decisões a terceiros. A capacidade de apreciar a si e ao outro está prejudicada. Já a autoestima elevada implica em poder de decisão, julgamento, senso crítico. Os indivíduos nesta fase geralmente conhecem suas qualidades e buscam a superação de suas limitações; a correção de seus defeitos e a compreensão acerca 12
das dificuldades alheias. A capacidade de amar e valorizar o outro está preservada. Indicadores Autoestima não é um conceito estático, ao contrário, sofre oscilações, modificando-se de acordo com o contexto, com o momento de cada um. E isto é absolutamente normal. Somos seres humanos com habilidade de modular nossos sentimentos. Não existe uma fita métrica para medir autoestima e indicar se está baixa ou alta. Cabe a cada um a própria avaliação, e valorização, antes que os outros o façam. Muitos conflitos poderiam ser evitados se algumas pessoas não esperassem que esta valorização viesse do meio externo. Mitos Infelizmente, existe em nossa sociedade a tendência de vinculação da aparência à autoestima. Porém, isto não tem relação alguma. O simples fato de alguém não seguir as tendências da moda, ou uma "aparência padrão" não indica (em hipótese alguma) o rebaixamento da autoestima. O oposto também é válido: o fato de alguém estar dentro dos 13
"padrões da moda" não indica boa autoestima, mas ao contrário pode ser uma bela máscara! Conclusão Cabe somente a você colaborar para a elevação e estabilização da sua autoestima, buscando formas de autovalorização e ampliando o conhecimento sobre si mesmo. É você que deve dizer ao mundo do que gosta, do que não gosta, quando e como agir. Mas se a tomada de decisões acerca de sua vida for algo muito difícil busque apoio emocional. Este é o primeiro passo para o resgate da sua autoestima.
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A necessidade de aceitação Todos precisam de aceitação, mas o que significa “ser aceito”? Aceitação consiste em acolher o outro da forma como ele se apresenta, com seus defeitos, qualidades e excentricidade, sem tentativas de modificá-lo para que satisfaça expectativas e se ajuste aos caprichos dos outros. Quando são aceitas de forma incondicional, as pessoas tendem a manifestar-se de forma mais autêntica, conseguindo desenvolver suas potencialidades (Rogers, 1981). No entanto, alguns indivíduos partem em busca de aceitação deixando pra trás o melhor de si. É muito frequente encontrar pessoas infelizes porque devem atender às expectativas alheias, muitas vezes devendo reprimir sentimentos, pensamentos e comportamentos, o que pode levar eventualmente ao desajuste emocional e ao adoecimento psíquico. 15
Para evitar estas situações, seria útil questionar os motivos que nos levam a buscar a aceitação pelos outros, abrindo mão de nós mesmos. Será temos que aceitar sempre as imposições alheias a fim de obter aceitação? Será que ao tentar agradar alguém não estamos anulando a nós mesmos? Podemos levantar outros tantos questionamentos a respeito deste tema, mas isso iria alongar demais o assunto e as questões acima já são suficientes para nossa reflexão. Reflita: se as perdas forem maiores que os ganhos, tente emitir outros comportamentos que favoreçam a você mesmo!
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Relacionamentos Estabelecendo vínculos Bowlby (2006) afirma que a ontogenia dos vínculos afetivos se desenvolve visando a preservação da segurança. A vinculação entre adultos apresenta semelhanças com a vinculação infantil, salientando que uma vez que a criança, o adulto tende procurar seu parceiro nos momentos de grande ansiedade; b) a imagem de seu cônjuge é associada a conforto e segurança (base segura); c) a separação gera ansiedade, tanto na criança que se separa dos cuidadores, quanto no adulto que se separa do seu par. (p.149) A forma como essa criança foi cuidada na infância, pode refletir no tipo de apego que ela demonstrará na idade adulta. Abreu (2005) categoriza os grupos de diferentes tipos de apego em: 17
a) Seguro - este indivíduo é mais aberto à intimidade e não tem a preocupação em ser abandonado. b) Evitativo - Aquele que não se sente confortável em ter intimidade, pois acha difícil confiar em alguém. Sente-se invadido quando alguém tenta manter um vínculo de proximidade, além daquilo que ele está disposto a oferecer. c) Ambivalente - Extremo oposto do evitativo acredita que não recebe afeto na mesma proporção que doa. (p. 150). Naturalmente esta categorização é aproximada, bem como seus motivos, pois é comum ver-se crianças que tiveram uma infância dramática tornarem-se adultos confiantes e vice-versa. Entretanto, apesar destas diferenças, o relacionamento afetivo entre pessoas diferentes pode sim dar certo, mas para isso é necessário que os pares se apropriem das suas diferenças, sem negá-las, assumindo defeitos e qualidades e 18
mantendo parceiro.
sempre
um
diálogo
aberto com
o
Até porque, romance perfeito só mesmo nos contos de fada: no mundo real as pessoas precisam de entendimento e aceitação. O ser humano nasceu para viver em grupos, por isso é comum que se deseje companhia na maior parte do tempo na medida do possível. Nas eras primitivas esse agrupamento tinha por finalidade defender-se de predadores, assim criou-se o paradigma de que quem está só, corre perigo. Por isso vimos tantas pessoas com medo da solidão, pois estar só é não (em teoria) não ter com que contar, e isso vale pra todos os setores da vida humana. Assim surgem as carências que são definidas pelo Dicionário Aurélio como: “falta, ausência, privação, necessidade, privação”. É na interação com outras pessoas que o ser humano desenvolve-se, portanto, até aqui, quando falo de carência refiro-me não somente às afetivas, mas a todo tipo de carência, pois foi necessária essa colocação a fim de prosseguirmos. 19
A carência afetiva surge a partir de estímulos que se originam no ambiente, mas que os indivíduos nem sempre e dão conta. Apenas para ilustrarmos, peguemos como exemplo a época do dia dos namorados, quando os estímulos da mídia reforçam a ideia de que ter alguém é bom. Essa ideia vai de encontro às ideias pré-concebidas, assimiladas pelo indivíduo ao longo da vida. Damos a isso o nome de Dissonância, pois de acordo com Pisani “as pessoas tendem a buscar situações e informações que são consonantes com as atitudes já existentes” (1994, p.89). Assim, se ele está sem um relacionamento afetivo, é natural que sinta-se triste e deslocado do grupo, à margem da sociedade em que vive e que exige que as pessoas estejam acompanhadas. Para o sociólogo Bauman (2003) as pessoas buscam relacionamentos na esperança de mitigar a solidão. Outro fator que colabora para encorpar carência afetiva é momento biológico. 20
Em determinados ciclos, alguns hormônios são jogados na corrente sanguínea, estimulando o corpo a ter relações sexuais. Essa informação é traduzida no plano consciente como “ter alguém”. Mas o que isso significa varia de indivíduo para indivíduo. Enquanto uns querem apenas manter relações para aliviar as tensões biológicas, outros querem um parceiro fixo, que além do prazer sexual dê atenção e o perceba como sujeito. O que se saber sobre isso é que nesses momentos, as pessoas estão mais sensíveis, portanto mais abertas e mais crédulas, o que faz com que muitos se envolvam em relacionamentos infelizes. Por isso é aconselhável, que, mesmo nos momentos de carência extrema, o indivíduo tente fazer uma análise fria sobre a pessoa que escolheu para se envolver e sobre si mesmo, pois de acordo com Bauman quando as pessoas se apaixonam, tendem a agir de modo destrutivo controlando ou agredindo. (2003, p. 31) Alguns autores da psicologia moderna (Crus e Maciel, 2002) entendem que os relacionamentos 21
são organizados com base nos espaços individuais construídos em espaços sociais, ou seja, a relação será mediada não só pelo desejo, mas pelas crenças e valores. A ideia de complementaridade (Eu te amo porque você me completa) tende a levar muitos relacionamentos para o abismo, pois se subtende daí a ideia de uma pessoa incompleta. Ora, o que seria uma pessoa incompleta? A Incompletude remete à falta, portanto uma pessoa incompleta seria aquela a quem algo falta. E se algo lhe falta é justo exigir que o outro preencha esta falta? A resposta é bem clara: NÃO, pois esta postura vai exigir que o outro abra mão de si mesmo para satisfazer seu parceiro (que nem sempre saberá reconhecer). Abrir mão da individualidade, para atender os caprichos de alguém é praticamente suicídio psíquico, pois a individualidade abrange crenças, valores e tradições que foram construídas ao longo de uma existência e não podem simplesmente ser apagadas como se fossem um traço a lápis. 22
Segundo Cruz, Wachelke e Andrade (2012), o que colabora para formar uma relação amorosa e darlhe sustentação é o conhecimento da forma cada indivíduo funciona, uma vez que este conhecimento proporciona facilidade na tomada de decisões diminuindo os atritos. Os autores (op. cit.) destacam que alguns ajustes que favorecem a manutenção de um relacionamento são: 1 - Evitar generalizações: o outro nem sempre sabe o que você pensa. 2- Ser claro: para evitar interpretações equivocadas A Manutenção da relação Na abordagem comportamental, amar equivale a estar dispostos a fazer para uma pessoa coisas que ela gosta que sejam feitas, ou seja, reforçá-la positivamente a fim de obter respostas gratificantes. (SKINNER, p. 45), por isso é comum o uso de flores, cartas, e-mails românticos, músicas, poesias, lingerie enfeitada, para executar 23
a dança da sedução e assim obter reforçadores sexuais e / ou afetivos.
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A dificuldade de relacionamento
Por que algumas pessoas apresentam mais dificuldade em se relacionar que as outras? Aquilo que para alguns é tão natural, para outras é um pesadelo. O tema não é fácil e abre diversas possibilidades de entendimento. A proposta aqui não é esgotar o assunto, mas ao contrário, buscar novas formas de entendimento. Alguns indivíduos preferem abster-se do convívio social, isolando-se ou buscando apenas relacionamento na internet, onde não precisam se expor com totalidade, podendo "deletar os indesejáveis" quando bem entender. A dificuldade de relacionamento pode ser entendida de várias formas: Dificuldades específicas:
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1. Contextuais> na hora de namorar, paquerar, falar em público; 2. Operacionais > dificuldades em se relacionar somente no ambiente de trabalho, escolar ou religioso; 3. Familiares > dificuldades em manter relações de qualidade somente no âmbito familiar; 4. Gerais > surgem em vários contextos ao mesmo tempo. 5. Aspectos sócio históricos > variáveis sóciohistóricas-culturais que influenciam as negativamente as relações. Dentre outras ... Não vamos considerar como dificuldade o simples fato de um indivíduo se desentender somente com uma ou duas pessoas. Isto pode ser uma questão de ajuste na relação e é assunto para outro tópico. Nosso foco aqui são as dificuldades que trazem limitações e prejuízos sociais, afetivos e financeiros. 1.Dificuldades contextuais Se
um
indivíduo
apresenta 26
dificuldades
no
momento de estabelecer contato ou aproximações, mas não em outros contextos, pode significar apenas uma forma leve de timidez se não houver prejuízos. Entretanto, se esta limitação impossibilita vivenciar situações gratificantes, é importante verificar quais são os aspectos da história do indivíduo que determinaram este comportamento de esquiva. O conceito que o tímido faz em relação a si mesmo geralmente é negativo-catastrófico, o que gera sentimento de rejeição e baixa autoestima. É comum ouvi-lo dizer:
“Não tenho assunto”; “Sou feio(a)”; “Não sou inteligente”; “Sou rejeitado”;
Sua visão de mundo é catastrófica: acredita que as coisas boas só acontecem aos outros, menos com ele. Não funciona muito exigir que se “solte mais”. Ele sabe disso melhor que qualquer um. Apenas não sabe exatamente como fazer isso. 2.Dificuldades operacionais 27
São aquelas dificuldades que surgem quando o indivíduo não consegue, por exemplo, trabalhar em grupo, mas consegue se reunir com o mesmo grupo para uma comemoração. Isto pode estar relacionado ao perfeccionismo, ou falta de confiança básica no outro. 3.Dificuldades familiares Alguns indivíduos se relacionam muito bem com os amigos, vizinhos, até mesmo com os estranhos, mas por algum motivo apresentam dificuldades de se relacionar com os familiares. Este tipo de dificuldade é muito comum. Isto pode ocorrer em função dos diferentes interesses dos familiares e das diferentes limitações que o contexto familiar impõe, em função dos hábitos adquiridos ao longo do tempo. Aqui não há alternativa: todos devem se ajustar às diferentes demandas, respeitando os limites do outro. É fundamental que a comunicação seja clara.
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4. Dificuldades gerais Em alguns casos, a história de vida de alguns indivíduos aponta para ocorrências limitadoras durante a infância ou adolescência, levando-os a se sentirem "inferiores", ou "superiores" aos demais. Isto pode colaborar para que alguns indivíduos acumulem pequenas dificuldades para se relacionar e num dado momento percebem que não conseguem mais se relacionar de forma saudável em nenhum contexto.
Para modificar este quadro, é importante ressignificar a auto imagem, quebrar conceitos e preconceitos, desfazer ideias cristalizadas a respeito de si mesmo e do mundo, abrir-se ao outro, deixar de lado (na medida do possível) o medo da rejeição e o sentimento de superioridade, pois são barreiras que contribuem para o isolamento social, trazendo prejuízos em todas os contextos. 5. Variáveis sócio históricas 29
Outro ponto importante a considerar é o momento histórico que atravessamos: somos ensinados (através da mídia, principalmente) a temer e desconfiar de todos. Ensinaram-nos que: O outro é um concorrente, não um semelhante; O outro é uma ameaça, não uma fonte de apoio; o outro é diferente; o outro é pior; o outro é melhor; o outro tem mais; o outro tem menos; etc. Desta forma, vamos formando "classes" de pessoas com interesses parecidos. Ok. Até aqui, nada demais. É tendência do ser humano se relacionar com seus pares, ou seja, aqueles que têm interesses em comum. A dificuldade surge justamente quando precisamos nos relacionar com o diferente. Como 30
deixar de lado as diferenças e estabelecer relações saudáveis, se não formos ensinados? Como deixar de temer o diferente? Como confiar no outro? Bem, são questões difíceis e exigem muita reflexão. No entanto, alguns pontos devem ser observados: 1º Compreender o que é um relacionamento - Relacionamentos são vias de mão dupla. É preciso disposição para compreender e se adaptar ao outro. 2º) Romper as barreiras - Passar em revista seus valores e verifique se não é você que está rejeitando o mundo a sua volta. Algumas pessoas tendem a eliminar certos relacionamentos por medo de ser "contaminados" pelas ideias alheia e desta forma, perdem a chance de conhecer pessoas maravilhosas e viverem bons momentos. Se este não é seu caso, ótimo. Se for, verifique o que é melhor: conviver com suas ideias cristalizadas e na solidão ou abrir mão delas e estabelecer relacionamentos saudáveis? 31
2º Estar disponível: Bons amigos ou parceiros afetivos não caem do céu. Estas relações precisam ser cultivadas. Por isso é importante sair do ostracismo e demonstrar desejo de proximidade por meio de atitudes simples.
Se você convive com pessoas dificuldade de relacionamento,
que
têm
Saiba que a solução não é forçar o indivíduo a se relacionar, ao contrário, devem-se buscar os reais motivos que conduziram este indivíduo a esta situação de isolamento, portanto cuidado para não invadir o espaço da pessoa ao tentar ajudar. Pode ser que ela não queira a sua ajuda. Se precisar, com certeza pedirá. Seja lá qual for o motivo que leva o indivíduo a não se expor, só podemos considerar como problemático o comportamento de esquiva que tiver trazendo sofrimento para o indivíduo. Nestes casos, sugiro que busque por apoio terapêutico. 32
Tenho recebido muitas mensagens que tratam da dificuldade de relacionamento e entendo que o tema não é fácil, exige muita reflexão e não a e a possibilidade de muitas respostas. O grande motivo de queixa é o medo da aproximação, embora poucos irão admitir que seja esta causa. É mais fácil atribuir o fracasso dos relacionamentos ao outro, sempre o outro que não a e espaço, o outro que abandona, o outro que não dá uma chance, o outro que vai embora... o outro... o outro....sempre o outro.... Colocar no outro a responsabilidade pelos fracassos nos relacionamentos é delegar-lhes um poder que eles nem mesmo imaginam que possuem. As vezes as pessoas afirmam possui inúmeras qualidades (beleza, dinheiro, inteligência, poder, etc.) mas se queixam que não conseguem "arrumar alguém" para compartilhar a existência. De fato estes atributos não resolvem muito se o indivíduo não se predispuser à abertura para o outro. Vou ser um pouco mais clara: quem quiser se relacionar de fato precisa saber o que é um relacionamento
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Muitas pessoas sonham com um relacionamento unilateral, ou seja, só receber. Isto pode ser verificado a partir da expressão " Eu quero alguém que me faça feliz", mas esquecem que pra isto é necessário dar um pouco de si, e fazer o outro feliz também. É preciso ter disposição para compreender o outro, para se adaptar ao outro e coragem para se entregar à intimidade do outro. Estar disponível também é um bom começo: afetos não caem do céu! É preciso ir atrás, se colocar à disposição das pessoas para que você seja percebido. Não adianta se arrumar, cortar cabelo, fazer barba e ficar enfiado dentro de si mesmo. É preciso sair do ostracismo e "cair no mundo", se misturar com pessoas. Ninguém irá se aproximar de alguém que (por mais lindo que seja!!) não demonstra desejo de proximidade. Tal desejo é demonstrado por atitudes simples (Não comportamentos extravagantes). As vezes basta um sorriso... Às vezes é preciso ir um pouco além, mas tudo depende de como a situação se desenrola. O importante aqui é estar disponível para se relacionar, sem esperar que o outro destrua sua armadura para chegar até seu coração. É você que tem de se colocar na situação de peito aberto. 34
O outro não pode adivinhar o que você está pensando. As grandes dificuldades nascem de uma falha de comunicação, por isso é importante entender os sinais que o outro transmite. Muitas vezes quando o outro não está a fim, sua linguagem é clara: ele evita qualquer aproximação. Se isto acontecer, desista e siga em frente. Não é adequado forçar as pessoas a se relacionarem contra a vontade. Outro erro comum é a interpretação inadequada dos sinais que o outro envia. Muitas vezes ele está dando brechas para aproximação, mas está fazendo isso com os elementos de que dispõe. E como nem todos dispomos dos mesmos repertórios de comportamento, um gesto de aproximação pode ser entendido como aversivo. Portanto é útil prestar muita atenção ao que o outro está tentando significar com determinado gesto para não fazer leitura incorreta. Às vezes, quando alguém se aproxima perguntando as horas, quer saber muito mais que isso; convém prestar atenção à forma como estes pequenos comportamentos são emitidos.
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O relacionamentos afetivo Alguns autores da psicologia moderna (Crus e Maciel, 2002) entendem que os relacionamentos afetivos são fenômenos sociais, uma vez que as pessoas tendem a se aproximar em função das variáveis presentes no ambiente. Quando falamos de variáveis, entenda que são elementos presentes no ambiente (música, luz, bebida, etc.) Os relacionamentos são organizados com base nos espaços individuais construídos em espaços sociais, ou seja, a relação será mediada não só pelo desejo, mas pelas crenças e valores. A ideia de complementariedade (em Eu te amo porque você me completa), tende a levar muitos relacionamentos para o abismo, pois subtende-se daí a ideia de uma pessoa incompleta. Oras, o que seria uma pessoa incompleta? A Incompletude remete à falta, portanto uma pessoa incompleta seria aquela a quem algo falta. E se algo lhe falta é justo exigir que o outro preencha esta falta? A resposta é bem clara: NÃO, pois esta postura vai exigir que o outro a a mão de si mesmo para satisfazer seu 36
parceiro (que nem sempre saberá reconhecer). A ir mão da individualidade, para atender os caprichos de alguém é praticamente suicídio psíquico, pois a individualidade compreende crenças, valores e tradições que foram construídas ao longo de uma existência e não podem simplesmente ser apagadas como se fossem um traço a lápis. Segundo Cruz, Wachelke e Andrade (2012), o que colabora para formar uma relação amorosa e darlhe sustentação é o conhecimento da forma cada indivíduo funciona, uma vez que este conhecimento proporciona facilidade na tomada de decisões diminuindo os atritos. Os autores (op. cit.) destacam que alguns ajustes que favorecem a manutenção de um relacionamento são Evitar generalizações: o outro nem sempre sabe o que você pensa. Ser claro a fim de evitar interpretações equivocadas.
Referências CRUZ, Roberto Moraes; WACHELKE, João Fernando Rech; ANDRADE, Alexsandro Luiz de. In Avaliação e medidas psicológicas no contexto dos 37
relacionamentos amorosos. São Paulo, Casa do Psicólogo, 2012. SKINNER, B.F. Sobre o Behaviorismo Ed. Cultrix, São Paulo. SP. 1982. Trad. Maria da Penha Villalobos. Perdas, abandonos e solidão Dizem os poetas que "É impossível ser feliz sozinho ". Permita-me questionar esta afirmação? Questiono, primeiro porque entendo que não há nada que seja impossível; segundo porque o conceito de felicidade é relativo e terceiro porque a solidão às vezes é desejável. Naturalmente a poesia não tem a pretensão de tratar dos acontecimentos de forma concreta. tem de ser poesia, fantasia, utopia. Mas a realidade é diferente. Na vida real, as pessoas são abandonadas, traídas, humilhadas, esquecidas, afastadas das coisas que gostam. Algumas conseguem superar estas perdas e voltarem a "ser feliz", mesmo sem ninguém.
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As perdas são realmente dolorosas, e nega-las não é a atitude mais adequada, pois colabora para o aumento da ansiedade e comportamentos de esquiva. Há que se apropriar das perdas e abandonos... é necessário tomar consciência, chorar, sofrer... falar só e o sofrimento durante algum tempo, até que " a roda da vida" gire novamente e o indivíduo se perceba aberto a novas possibilidades. Esta abertura pode significar para alguns a "felicidade", um renascimento, a esperança de partilhar a vida com outras pessoas, ou mesmo, não partilhar com ninguém. Existem pessoas que preferem abandonar a vida afetiva e viver em prol de uma causa, de um objetivo mais e conseguem ser feliz (na medida do possível, pois felicidade completa não existe). No entanto, quantas pessoas com alguém e não são felizes? Quantas a em mão de si mesmas para viver em função dos outros? Quantos sonhos de realização são enterrados quando um "grande amor" nasce?
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Penso que o pior abandono ocorre quando perdemos a nós mesmos! Especialmente quando o adulto se vê privado do contexto que lhe proporcionava inúmeras gratificações, é compreensível que seja dominado pela raiva, pois certamente será dominado por sentimentos de frustração “Porque isso aconteceu logo comigo?" "Porque fulano não me dá mais atenção?" "Porque não me determinado cargo?"
escolheram
para
ocupar
E o "seio bom, passa a ser o "seio mau". Traduzindo: o contexto bom, se transforma em contexto mau, de onde só se pode esperar coisas ruins. E neste ponto a frustração se transforma em raiva... e as vezes em ódio. Quando isto ocorre, existem (a princípio) dois caminhos a serem seguidos 1) Ou o indivíduo passa a ruminar a perda, mobilizando suas defesas para desta forma tentar prejudicar o outro; 40
2) Ou vai desenvolver um sentimento de culpa e buscar uma forma de reparar a situação. Em alguns casos, os dois caminhos podem ser seguidos ao mesmo tempo, pois pode haver alternância entre os sentimentos de ódio e culpa. No 1º caso, é comum que o indivíduo mobilize suas defesas para se isentar das suas responsabilidades, e se coloque na condição de vítima. "Eu sou uma pessoa fraca e fulano se aproveitou disso para me prejudicar". Tal pensamento favorece a emissão de comportamentos que exigem uma reparação por parte do outro, e a partir dai começam a mobilização no sentido de obter uma desforra, mesmo que a custa do prejuizo alheio. Vale ressaltar que nenhuma vingança é plenamente satisfatória, já que por mais que se tente destruir o outro (real ou simbolicamente) isto não será suficiente para acalmar a pessoa que se julga ofendida, pois o objeto que foi destruído é imaterial, de ordem subjetiva. No 2º caso, o sentimento de culpa faz com que o indivíduo perceba (as vezes de forma exagerada) que também teve participação na ocorrência que 41
gerou o desentendimento. Isto pode levar a dois caminhos ou o indivíduo começa a desenvolver uma atitude de submissão extrema com pensamentos depreciativos: “Eu não valho nada mesmo. Só presto para fazer coisas erradas". É aqui que as atitudes de reparação começam a aparecer, mesmo que de forma rudimentar. A pessoa mobilizada pela culpa tende a não medir esforços para reparar o mal que acredita ter causado, muitas vezes, sem considerar o que a outra pensa a respeito. O ideal aqui é o equilíbrio entre os sentimentos de ódio e culpa, pois a dosagem correta dos dois pode levar as pessoas a se sentirem melhor consigo mesmas, mesmo que a reparação completa não seja possível.
Rompimentos afetivos Para alguns isto é tranquilo, pois existem pessoas que conseguem dar a volta por cima e seguir adiante, fazendo da sua dor um degrau para atingir 42
outro objetivo. Mas para outros não é tão simples assim: o pensamento voa em direção àquela pessoa que está distante e os DETALHES mais insignificantes aparecem na tela da memória, pintados em cores vivas. Por que será que isto ocorre? Por que será que é tão difícil esquecer um amor? De acordo com Fabichak (2010): “O sistema de atração [...] possui três características básicas: sentimentos de felicidades sobre o ser amado; pensamentos intrusivos, ou seja, pensamentos repetitivos sobre o amado [...] e um desejo ardente pela união emocional com o parceiro” (p. 47). Estes pensamentos intrusivos e repetitivos podem ser encontrados neste trecho: De fato, não dá para ter certeza sobre o que o outro sente, uma vez que outros sentimentos podem ser confundidos com paixão. Mas dá para ter alguns indícios, que poderão apontar na direção correta 43
(ou não). Isto vai depender de como o casal vivencia a relação, do quanto se conhecem e sobretudo, do quanto se compreendem. E um dos elementos que pode colaborar para dar pistas sobre o sentimento do outro, são justamente os detalhes. Muitas vezes, em um relacionamento intenso, os parceiros tendem a se fundir com o outro, adotando posturas e atitudes, aprendendo novos comportamentos e novas formas de pensar. Ficam tão confluentes, que quando vistos de fora, parecem uma só pessoa. E o que os tornam assim? São justamente os pequenos detalhes da vida íntima, os pequenos hábitos que os dois desenvolveram à medida que o relacionamento evoluiu. Mas a pessoa se foi, e os detalhes ficaram. Parece que tudo o que se faz ainda é em função daquela pessoa. Fabichak (2010) explica muito bem este sentimento: Os pensamentos se voltam principalmente para as últimas imagens vivenciadas com o outro. Sente-se ainda a presença dele 44
no ambiente ou nas situações vividas conjuntamente: a cama está vazia, as atividades feitas juntos não têm a mesma vibração, as manias do outro não preenchem mais o lar (p. 203).
Isto ocorre porque viver um relacionamento implica em trocas, perdas e ganhos em favor da manutenção do vínculo. Quando este se rompe, a sensação que fica é que certos comportamentos estão sem sentido, mas continuam a ser repetidos porque em dado espaço de tempo trouxeram ganhos. Até que a pessoa abandonada adquira novos repertórios de comportamentos e atitudes leva certo tempo, E isto ocorre porque o cérebro da pessoa apaixonada funciona (em alguns casos) como no Transtorno Obsessivo Compulsivo, com ideias recorrentes e comportamentos repetitivos, mesmo na ausência do objeto amado. A neurociência já fez progressos no sentido de entender os mecanismos da paixão, e muitos pesquisadores conseguiram encontrar diversas semelhanças, chegando à conclusão que as áreas 45
cerebrais mesmas.
envolvidas nos dois casos são as
Para investigar por que a paixão é capaz de obscurecer as mentes mais lúcidas, a hipótese foi considerar que esse sentimento tem caráter doentio. Para provar a tese, Donatella e sua equipe selecionaram 20 pessoas apaixonadas e mediram o nível de serotonina no sangue. Notaram semelhanças entre a paixão e o transtorno obssessivo-compulsivo (TOC). Os níveis do neurotransmissor eram 40% mais baixos (LISBOA, 2007).
Negação. Eis o mecanismo de defesa mais frequente nos rompimentos. Fabichak (2010) salienta que “A defesa natural do ser humano é se esquivar do sofrimento [...] varrendo tal sentimento para baixo do tapete” (p. 203). Isto é mais comum do que se imagina. E sabe por que acontece? Porque “A paixão aciona estruturas do cérebro ligadas à memória como o hipocampo.” (Lisboa, 2007) e por conta disso, as pessoas tendem a associar os estímulos que recebem de outros, aos que receberam das pessoas com quem estabeleceram vínculos. 46
Fabichak (2010) explica que durante a formação do vínculo amoroso, uma “rede de emoções e expectativas vai se fortalecendo” e por isto o rompimento é um dos eventos mais dolorosos da vida, pois se trata de uma ruptura não somente com a pessoa amada, mas com toda uma gama de hábitos, comportamentos e atitudes que serviram como sustentáculo de uma relação. Por isso, algumas vezes as pessoas negam esta ocorrência, deixando de acreditar que o parceiro será mais feliz na próxima tentativa. A autora destaca que o rompimento passa por 08 fases distintas: 1) Decisão - quando um dos parceiros toma a iniciativa de promover a ruptura; 2) Negação da realidade – pode durar de horas a semanas. Esta fase é marcada pela esperança de que o outro há de voltar; 3) Anseio e busca – fase marcada pela busca incessante do outro 4) Raiva – Tendência a colocar a culpa no outro; fase onde a pessoa rejeitada se coloca na posição de vítima;
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5) Barganha – Aqui a pessoa rejeitada acredita que se fizer alguma modificação em seu comportamento ou atitudes poderá reatar o relacionamento; 6) Depressão – É a fase onde a “ficha cai” e a pessoa percebe que todas as tentativas de recuperar o afeto perdido foram em vão. Os sentimentos que permeiam esta etapa são o desamparo, a solidão e a impotência, fazendo com que a autoestima sofra um grande abalo; 7) Aceitação – Nesta fase, a pessoa já está conformada e percebe que a vida pode ganhar um novo ido, desde que se abra para o novo. Ficam seqüelas do rompimento, mas elas já não ocupam o primeiro lugar na ordem das prioridades. Fabichak (2010) aponta que algumas pessoas tendem a manter o vínculo a qualquer preço “mesmo que seja o vínculo da briga” (p. 206). Isto é extremamente nocivo, e a autora adverte “não nutrir a vingança ou o ódio é essencial para a boa manutenção da sua saúde física e mental, afinal o veneno está exercendo seu efeito sofre você mesmo” (p. 205). 48
Naturalmente, não é fácil vivenciar uma ruptura afetiva. É um cálice amargo que tem de ser tragado até o fim. É preciso muita determinação e força para atravessar este momento tão difícil. Um dos conselhos que Fabichak (2010) oferece é evitar todos os “detalhes” que possam lembrar a pessoa amada. Afinal se os “Detalhes tão pequenos de nós dois, são coisas muito grande para esquecer”, que tal começar a excluí-los? Um bom começo pode ser: deixar de receber notícias da pessoa, excluí-la das redes de relacionamentos, apagar mensagens do celular, rasgar fotografias, doar roupas e objetos que lhe remetam àquela pessoa. Referências FABICHAK, Cibele. Sexo, Amor, Endorfinas e Bobagens. São Paulo, Novo século: 2010. LISBOA, Silvia. A química da Paixão: como a neurociência explica o amor. Jornal Zero Hora, Out. 2007. {Online} http://www.agenciafronteira.com.br/wpcontent/uploads/2012/03/neurobiologia1.pdf
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Como lidar com rompimentos Refletir e verificar o que é melhor: se o sofrimento for IMENSO, lhe causando comprometimento social (deixar de dormir, comer, trabalhar, etc.) convém procurar auxílio de um psiquiatra pra que ele lhe de alguma medicação, para que vc se acalme e volte a viver normalmente. Se não for este o caso, e você consegue tocar sua vida normalmente, sentindo apenas a falta dele existem duas coisas que podem ser feitas o que pode ser feito é tentar reatar este relacionamento, conhecendo os REAIS MOTIVOS que te prendem a esta pessoa. É fundamental conhecer a forma VOCÊ SE RELACIONA CONSIGO MESMO, e porque razão o outro lhe preenche, ressaltando que estes motivos JAMAIS ESTÃO NO OUTRO, mas dentro de você!!! A pergunta que deve ser respondida é: "o que falta em mim para que eu não consiga viver sem ele". Mas se depois de tudo, você refletir e escolher por manter a ruptura, é importante que saiba que: 51
qualquer paixão, seja ela correspondida ou não, dura em média 02 a 03 anos. E isto porque é o tempo que nossos organismos têm para se reproduzirem. Estou sendo bem "biológica" agora, para que você entenda que quem manda na nossa paixão, não é o coração, mas sim o cérebro. Existem estudos que apontam nesta direção. Em outra ocasião postarei aqui. Considerando que a paixão que não é alimentada pode acabar (e acabam até mesmo aquelas que são alimentadas), você poderia apressar este processo. Como? Apagando da sua vida todas as marcas do outro, começando pelas mais simples: DEIXAR DE PRONUNCIAR O NOME, DEIXANDO DE FREQUENTAR AMBIENTES FAMILIARES, DEIXANDO DE OUVIR CERTAS MÚSICAS, DELETANDO FACEBOOK, ORKUT, MSN... etc.) Entendo que isso seja doloroso, mas deve ser feito, porque assim o cérebro vai percebendo que aquela pessoa não está mais disponível como elemento 52
reforçador e tende a buscar novas formas de recompensa... ou NOVOS AMORES!!!. Naturalmente você não precisa começar um novo romance amanhã. Isso leva algum tempo, e antes disso você precisa conviver com o vazio... dar um tempo para criar novas forças e seguir em frente. Na vida real, as pessoas são abandonadas, traídas, humilhadas, esquecidas, afastadas das coisas que gostam. Algumas conseguem superar estas perdas e voltarem a "ser feliz", mesmo sem ninguém. As perdas são realmente dolorosas e negá-las não é adequado, pois colabora para o aumento da ansiedade e comportamentos de esquiva. Há que se apropriar das perdas e abandonos e tomar consciência, chorar, sofrer, falar sobre o sofrimento durante algum tempo, até que "a roda da vida" gire novamente e o indivíduo se perceba aberto a novas possibilidades. Esta abertura pode significar para alguns a "felicidade", um renascimento, a esperança de partilhar a vida com outras pessoas, ou mesmo, não partilhar com ninguém. 53
Existem pessoas que preferem abandonar a vida afetiva e viver em prol de uma causa, de um objetivo mais nobre... e conseguem ser feliz (na medida do possível, pois felicidade completa não existe). No entanto, quantas pessoas com alguém e não são felizes? Quantas abrem mão de si mesmas para viver em função dos outros? Quantos sonhos de realização são enterrados quando um "grande amor" nasce?
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As cinco fases do luto nos relacionamentos amorosos Quando um rompimento afetivo (amoroso, ou mesmo de amizade) chega ao fim, pode-se considerar que há uma morte, que para ser elaborada deverá passar pelas 5 fases do luto, propostas por Kluber-Ross: negação, Raiva, barganha, depressão e aceitação. Negação Fase marcada pela tendência a mascarar a ocorrência, podendo ocorrer um comportamento dissimulado de pseudo-felicidade: “Eu estou muito feliz por ter terminado o namoro”, “Agora quero mais é curtir a vida”. Nesta fase é comum que o indivíduo busque a companhia de outras pessoas para evitar o confronto com o sentimento de solidão. A negação tem alguns limites que a realidade impõe, mas nem sempre as pessoas percebem, afinal vivemos em um contexto social que nos ensina a mascarar as tristezas e exibir nossa melhor face, sempre. 55
Porém, como eu disse a realidade sempre impera (por mais que o conceito de realidade seja subjetivo), e a negação agora assume outra forma, passando a se expressar pela RAIVA, Raiva Sentimento oriundo dos processos de frustração. Neste caso, a raiva é a negação do sentimento POSITIVO que alimentou a relação. É comum que os indivíduos passem a emitir comportamentos que favoreçam a depreciação do outro: “Não sei como pude amar a fulana, ela nem é bonita” Ou “Como eu perdi tempo com a beltrana, ela nem era inteligente. Tudo o que ela sabe fui eu que ensinei” Ou “Ela nunca vai arrumar alguém como eu, afinal não tem competência, nem beleza, nem nada”. A emissão destas falas depreciativas tem como meta primária agredir não o outro, mas o sentimento que se nutre por ele. 56
Barganha Nesta fase são comuns atitudes que visam atingir o outro de forma (a) direta “Juro que se você voltar eu nunca mais brigarei com você”; “Prometo que paro de me lamentar tanto”; “Serei menos ciumento”, etc. Ou (b) indireta Arrumar-se do jeito que o (a) outro (a) gosta, usar o perfume que ele (ela) aprecia, ler os mesmos livros que ele (ela); ir aos mesmos lugares, etc. Este modo indireto de barganhar é muito comum em pessoas pouco assertivas, que têm dificuldades de falar o sentem. Depressão Conforme o tempo passa e o indivíduo percebe que a barganha não está conseguindo mobilizar o outro. 57
Chegado o momento de assumir que você realmente perdeu o outro! Nossa, como isso dói! Mas é FUNDAMENTAL sentir esta dor, pois é ela que vai te conduzir à maturidade emocional e consequentemente a dias melhores. Nesta fase há pouca coisa a ser feita para minimizar este sofrimento e as lágrimas são bem vindas. Aceitação. Nada do que foi tentado deu certo, e o que tinha que ser lamentado já foi! Agora é “bola pra frente”. É hora de aceitar o “game over” e começar uma nova partida, depois do merecido descanso. Nesta fase é comum que haja interesses por novas atividades, que excluam qualquer contato, com o ex., Referências: KÜBLER-ROSS, E. So e a morte e o morrer. 8.ed. São Paulo. Martins Fontes, 1998
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Dificuldade nos relacionamentos afetivos
Alguns indivíduos se queixam da dificuldade em encontrar o “par perfeito”, a “alma gêmea”, etc., e nesta busca enveredam por mil caminhos diferentes, percorrendo caminhos tortuosos. Não é uma busca fácil, porque a dificuldade não reside na busca especificamente, mas no ajustar-se ao outro. Algumas pessoas querem um parceiro prontinho, perfeitinho e de preferência embalado para presente. Considerando que as relações se estabelecem em função das gratificações que proporcionam, é natural que os indivíduos busquem se relacionar com pessoas que possam “preencher” suas necessidades mais elementares de afeto. Abreu (2005) informa que a vinculação entre casais apresenta semelhanças com a vinculação infantil, salientando que: a) da mesma forma que a criança, o adulto tende 59
procurar seu parceiro nos momentos de grande ansiedade; b) a imagem de seu cônjuge é associada à conforto e segurança (base segura); c) a separação gera ansiedade, tanto na criança que se separa dos cuidadores, quanto no adulto que se separa do seu par. (p.149) Naturalmente esta categorização é aproximada, pois é comum observar algumas crianças que tiveram uma infância dramática tornarem-se adultos confiantes e vice-versa. Levine e Heller (2013) apontam que existem dois tipos de apego, os ansiosos e evitativos: Os tipos ansiosos geralmente exigem atenção e demonstração de afeto, a fim de que conseguirem a confirmação que são realmente amados. Entendem que uma relação seja como uma fogueira que deve ser cuidada para que não se extinga. Para quem se relaciona com indivíduos que se aproximam deste padrão de apego, os 60
autores (op. cit.) sugerem que ofereçam a eles a base segura que lhes falta. Porém isto nem sempre é fácil. Oferecer segurança a quem não adquiriu ao longo do desenvolvimento pode ser uma tarefa dolorosa, pois requer muita sabedoria. É necessário que haja um diálogo claro, onde as pessoas busquem conhecer suas necessidades afetivas e consigam equilibrar os ganhos e as perdas, evitando invasão. Nestes casos é fundamental que haja uma real compreensão dos motivos que levam um indivíduo a demonstrar ansiedade diante de eventos corriqueiros. Os evitativos são o extremo oposto: querem garantir sua independência a qualquer custo. Segundo Levine e Heller (2013) isto não significa que eles não amem seu parceiro, apenas que precisam manter seu espaço preservado. Tais indivíduos geralmente não costumam partilhar seu afeto além daquilo que julgam adequando, pois temem que serão invadidos e terão sua individualidade comprometida. 61
A melhor forma de se relacionar com estes indivíduos é oferecendo a eles o espaço necessário para viverem de forma autêntica. Mas isto também não é fácil! Afinal que se relaciona geralmente deseja compartilhar vivências e afetos. É importante que haja paciência e compreensão, para negociar com o parceiro evitante o espaço necessário para o relacionamento. Convém não forçá-lo a estabelecer relações mais íntimas do que podem oferecer, uma vez que esta atitude evitativa possivelmente foi adquirida ao longo do desenvolvimento. Por isso “forçar a barra” só vai fazer com que ele se afaste ainda mais. No entanto, a sugestão que se faz para quem está com dificuldades de se relacionar com o ansioso ou com o evitante é que verifique prioritariamente as próprias necessidades afetivas e a disposição em negociar com pessoas diferentes e pouco dispostas a mudar. 62
Se o relacionamento for gratificante, convém buscar apoio terapêutico para mediar os conflitos e ajustar as necessidades. Apesar das diferenças pessoais, um relacionamento afetivo dar certo, mas é necessário que os pares se apropriem das suas diferenças, sem negá-las, assumindo defeitos e qualidades e mantendo sempre um diálogo aberto.
Referências ABREU, C. N. de. Tipos de apego: Fundamentos, Pesquisa e Implicações Clínicas. São Paulo. Casa do Psicólogo, 2005. LEVINE, A; HELLER, R.S.F. Apegados: um guia prático para estabelecer relacionamentos românticos e duradouros. Ribeirão preto. Ed. Novo Conceito: 2013.
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Relações de controle
Basicamente, todas as pessoas se controlam mutuamente, das mais diversas formas, portanto todos somos controlados e controladores simultaneamente na, O que torna uma relação adoecida é a forma como estes controles são impostos, uma vez que podem assumir diversas formas, desde um simples olhar, à mais dura demonstração de agressividade. Porque existe controle? Os indivíduos tentam controlar o ambiente em busca de gratificações, ou para garantir a manutenção da zona de conforto, onde nada pode sair do lugar, pois as modificações (sejam elas boas ou ruins) implicam em novas formas de adaptações e isto nem sempre é um processo fácil. Geralmente as atitudes de controle excessivas ocorrem porque algumas pessoas precisam a qualquer custo ocultar sua fragilidade e insegurança, pois não desenvolveram um repertório comportamental e emocional para lidar com situações de mudanças. Logo, quanto maior é o controle, maior é a insegurança. 64
Alguns exemplos: 1.Sedução excessiva Algumas atitudes sedutoras em excesso podem ser entendidas como forma de controle, uma vez que a sedução em algum momento vai exigir uma resposta equivalente ao estímulo. Por trás destas atitudes sedutoras geralmente se oculta o desejo enorme de reconhecimento, a fim de suprir uma carência emocional latente, que se manifesta em gestos de afetividade exagerada, ou melhor, o sedutor “dá atenção para receber na mesma medida”. Podemos citar como exemplo as pessoas que não recebem atenção de forma satisfatória das pessoas próximas. 2.Prestatividade. Alguns indivíduos costumam se antecipar ao outro, realizando favores que nem sempre são solicitados, ou mesmo se antecipando as suas necessidades. Dirão “eu fiz isso pensando em você”, ou “sei o quanto você gosta de azul, então comprei esta blusa para você”. 65
Nem todas as atitudes antecipatórias são formas de controle, mas muitas são questionáveis, especialmente quando tiram do outro a autonomia, e a oportunidade de crescimento. Podemos citar como exemplo as mães excessivamente cuidadosas, ou as namoradas excessivamente ciumentas. Esta forma de controle se caracteriza por impedir que o outro “caminhe com suas próprias pernas”, pois caminhando poderá se distanciar. Para evitar que o pássaro aprisionado nesta gaiola de “cuidados excessivos” aprenda a voar, o indivíduo controlador atua sempre podando as asas do “pássaro engaiolado”. O indivíduo que se encaixa neste modelo de controlador, tende a se magoar com muita facilidade quando o outro se recusa a aceitar seus préstimos, pois se consideram indispensáveis. 3.Controle autoritário Nesta forma de controle quase não existem subterfúgios este indivíduo controla o outro abertamente, utilizando da força bruta, de agressão 66
física, verbal, psíquica para coagir o outro a agir conforme sua vontade. Podem expor o outro ao ridículo, apenas para que consigam (minimamente) sentir-se superior. Os três exemplos citado não esgotam o assunto. Existem outros, mas fizemos um recorte para evitar que o assunto se estenda. O que estes três tipos de controladores têm em comum? O controlador sedutor, o prestativo e o autoritário geralmente apresentam alguma dificuldade em receber e/ou reconhecer o afeto das figuras importantes, sofrendo assim um rebaixamento da sua autoestima. Deste modo costumam apelar para que sejam reconhecidos de alguma forma, usando todos os mecanismos disponíveis para mascarar este “rombo afetivo”. Quando alguém saiu frustrada ou desiludida de um relacionamento, e em seguida passa a se envolver com outra pessoa, esta atitude precipitada pode ser uma forma de negação da dor.
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Chantagem emocional: o que é e como lidar. A chantagem emocional é a utilização abusada, exagerada e desnecessária dos recursos emocionais com a finalidade de para obter benefícios emocionais, materiais, financeiros, cognitivos ou de outra ordem. Em outras palavras: é um mecanismo de controle sobre o outro, pois gera constrangimento. O chantagista abusa de suas carências afetivas a fim de provocar sentimento de culpa e mal estar no outro. As principais ferramentas de chantagem são: As frases de culpa:
"você está me afastando das pessoas que
amo"
"você gosta mais do outro do que de mim"
"você nunca pensa em mim"
"vou morrer de desgosto se você....."
"vou entrar em depressão se você for morar em outra cidade"
"larguei tudo por sua causa" 68
As dramatizações:
Se jogar no chão
Chorar alto
Espernear em lugar público
As ameaças
" Se você for..... eu vou embora e não volto mais";
"Vou largar você aqui....";
"Vou
sumir
e
levar
as
crianças".
Infelizmente estas técnicas de assédio funcionam bem, pois fomos educados para a piedade alheia, (que vai muito além da empatia) em detrimento dos nossos interesses. O chantagista emocional não sabe, ou não quer negociar interesses de forma mais elabora. São 69
pessoas egoístas que visam o benefício próprio, mas fazem parecer que querem o bem do outro. Como lidar com as chantagens emocionais Se você é vítima de pessoas que fazem chantagem para obter vantagens aqui vão algumas dicas:
Não responda diretamente a chantagem, pois isto pode parecer a ele que você "mordeu a isca". Deixe-o falar ou agir até se esgotar.
Não ceda de pronto, sem negociar de forma saudável.
Obrigue o chantagista a negociar seus interesses de forma que fique bom para todos.
Evite "pagar na mesma moeda" o que servirá para reforçar estas atitudes de chantagem, uma vez que pode parecer disputa (campeonato de chantagem).
Não demonstre desconforto. Tente manter a serenidade.
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Sentimentos e emoções Emoções Para falar sobre sentimentos, é importante falar antes sobre as emoções, as "mães" de todo sentimento. As emoções são consideradas por muitos teóricos da Psicologia como reações naturais do organismo diante de determinados estímulos. Podem ser inatas ou aprendidas. As mais viscerais são: o medo, a raiva, a alegria e a vergonha (Casanova, 2009). O nojo poderia ser encaixado nesta lista, embora seja um sentimento controverso, já que não há consenso sobre suas origens inatas ou aprendidas. A combinação destas emoções, em determinado contexto dá origem a uma gama enorme de sentimentos: 71
O medo - origina sentimentos como pânico, fobias, pavor, terror, horror. A raiva - dá origem a sentimentos como o ódio, o desprezo, a agressividade, a ira e variações encobertas como a inveja, o ciúme, a frustração, o desejo de vingança, etc. A Alegria - origina sentimentos bons como elação (expansão de si mesmo); excitação (desejo de fazer algo gratificante); paz (conforto subjetivo); ternura, (desejo de aproximação), etc. Os sentimentos se originam a partir do significado que se atribui às emoções no momento em que ocorrem (condicionamento respondente). Por isso que, uma mesma emoção pode desencadear diferentes sentimentos, tanto em pessoas diferentes, quanto nas mesmas pessoas. Exemplo: Diante de um cachorro, algumas pessoas sentem ternura; outras sentem medo; e algumas sentem nojo. O sentimento vai depender da história de vida de cada um:
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Aquele indivíduo que foi ensinado a ver o cachorro como um amigo, possivelmente sentirá ternura; aquele que, ao contrário foi orientado a ver o cão como um animal agressivo, naturalmente sentirá algum tipo de desconforto; e alguns poderão sentir nojo, dependendo da sua história. Naturalmente estes sentimentos podem se misturar: alguém pode achar o cão bonito e ter vontade de se aproximar, mas sente medo, porque já foi agredido, ou sente nojo porque teve pouco contato. As vezes os sentimentos se misturam, causando muita confusão: podemos sentir raiva e amor ao mesmo tempo, pela mesma pessoa? Sim. Podemos. Não, isso não é loucura! Se os sentimentos são aprendidos em diversas circunstâncias, e se uma mesma pessoa pode nos fazer recordar de mais de uma ocorrência, logo, podemos ter diferentes sentimentos pela mesma pessoa. Como lidar com isso? 73
É preciso conhecer bem os sentimentos para lidar com eles. Este discernimento poderá ser adquirido em psicoterapia, pois não há regra, nem fórmula pronta. Se o contexto muda, nós mudamos. Se mudamos, nossas emoções e sentimento mudam. É preciso compreender as mudanças para compreender os sentimentos e emoções.
Referências: Casanova, Nuno et al. Emoções. http://www.psicologia.pt/artigos/textos/TL0132.pdf. Acesso em 11 de janeiro de 2015.
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Amor Amor é um tema que não há a menor possibilidade de esgotamento. Eu poderia escrever durante horas e ainda assim.... haveria muito a ser dito.....e muitas perguntas a serem respondidas Muito se falam de amor, que é um sentimento que está relacionado a objetos, pessoas, animais, causas, etc. No entanto o que é amor pra você? Será que o conceito de amor que você tem é igual ao que o seu parceiro (a) tem? Ou que as outras pessoas têm? Será que as pessoas compreendem o amor da mesma forma? Será que o sentimento corresponde ao tanto que é demonstrado. Enquanto para uns é um sentimento “doce e sublime”, para outros é um tormento, uma obsessão, uma doença. Vamos falar sobre isto? Sem ter a pretensão de esgotar este assunto que é amplo, os próximos parágrafos são apenas um exercício de compreensão deste fenômeno. 75
De acordo com o Dicionário Aurélio, amor é: s.m. Afeição viva por alguém ou por alguma coisa. O amor a Deus, ao próximo, à pátria, à liberdade. [...] Inclinação ditada pelas leis da natureza, amor materno, filial. Paixão, gosto vivo por alguma coisa, amor das artes. Pessoa amada: coragem, meu amor! Zelo, dedicação: trabalhar com amor.
O amor romântico é uma construção sócio histórico, pois nas sociedades antigas as relações entre pares não eram baseadas na paixão, mas sim em práticas relacionadas à sobrevivência e teve suas origens no século XII. Caracterizava-se como amar o amor mesmo que para isso fosse preciso sofrer até a morte. O sentimento amoroso torna-se uma crença, que se mantém viva na busca da felicidade plena, a exaltação do bem estar que possibilita a vida e perpetua o mito do amor (CUNHA, 2008). Os contos de fada, as novelas, os filmes, os livros de romance e os realitty shows também colaboram para a manutenção deste mito, afinal 76
Os mitos revivem os sentimentos, a imaginação coletiva da humanidade, e, acima de tudo, as imagens suscitadas pelo emprego do mito, serão o caminho perfeito para a captação do público leitor sedento de novidades e de sentido para as agruras do cotidiano. Neste momento, o mito deixa de ser apenas história [...], para se tornar uma forma de pensar e de conscientizar (CUNHA, 2008). A literatura romântica brasileira está recheada de histórias tórridas de amor, ora com final feliz, ora infeliz. Histórias de amores impossíveis, adultérios rondam o imaginário popular e influenciam a sociedade fazendo crer que esta seja a forma correta de se relacionar e trazendo muito sofrimento, pois colocam os relacionamentos em patamares quase inatingíveis. Um tema muito comum era o amor conflituoso, tendo como ápice as situações que dificultavam a plena felicidade dos pares amorosos. Percorrendo caminhos tortuosos para encontrar a felicidade plena, heróis e heroínas românticos 77
enfrentavam os mais diversos obstáculos impostos pela moral burguesa. Porém, esse duelo exige força sobre-humana e, muitas vezes, a união de duas almas gêmeas só é possível por meio da morte (CUNHA, 2008).
Referências CUNHA, Maria de Lourdes da Conceição. www.a alic.org. Anais cong 2008. Anais Online simpósios pdf 013 MARIA_CUNHA.pdf 2008.
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Você sabe amar?
Vivemos em um momento sócio histórico onde o individualismo impera. A competitividade está presente até mesmo nas famílias; O Ter é mais importante que o ser.; A aparência é mais importante que a essência; A comunicação é desentendimentos;
usada
para
produzir
Autoestima é confundida com narcisismo.
Os sentimentos ruins como a inveja, o ciúme, a raiva e a frustração ditam as regras de conduta, criando sérias dificuldades de relacionamentos, levando-o a esquecer quem de fato você é... Neste cenário, fica difícil vivenciar o amor da forma que deve ser vivenciado, uma vez que as relações afetivas são confundidas com relações de apego, 79
criando sérias e intransponíveis dificuldades de vivenciar relações afetivas. Se você não mede esforços para agradar as pessoas, e para isto abre mão de seus valores e princípios básicos de moral, ética e personalidade, é hora de fazer uma reflexão. Será que eu sei amar?
Estou me impondo demais ao outro, tentando fazer com que ele aceite minhas exigências absurdas? Estou respeitando os limites do outro? Estou deixando claro quais são os meus limites, dentro de uma relação? Estou baseando minha relação em aparência física e/ou em bens materiais e conforto, esquecendo da pessoa?
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Estou permitindo que a relação caia na banalização? Estou contribuindo para que o outro cresça tanto dentro, quanto fora da relação? Estou dando espaço para o outro? Estou respeitando o espaço que o outro me dá dentro da relação? Sei negociar estes espaços? Faço uma análise crítica de mim mesmo (a), quando o outro reclama de algo? Sei pedir desculpas? Sei desculpar? Respeito os sentimentos do outro? sei exigir que respeitem meus sentimentos? Estes são alguns pontos que podem colaborar para que você faça uma reflexão mais apurada sobre a forma como manifesta seu amor. Lembre-se que é 81
mais fácil mudar do que lidar com o rompimento de uma relação afetiva.
Especialmente se você já vivenciou diversas relações amorosas fracassadas, creio que seja o momento de apertar o botão "pause" da sua vida afetiva, refletir, mudar e retomar, para que aprender a amar verdadeiramente.
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O amor desinteressado Será que existe mesmo este tal de amor desinteressado? É possível amar sem esperar correspondência? As respostas a estas perguntas não óbvias, nem lineares. É preciso fragmentá-las para entender o sentido. Amor é um conjunto de comportamentos que envolve proximidade com o objeto amado e de algum modo exige também alguma gratificação. No entanto esta gratificação não necessariamente ser "na mesma moeda".
precisa
Se tomamos como exemplo as pessoas que fazem trabalhos voluntários por amor ao próximo, podemos deduzir que a última coisa que esperam é alguma retribuição. Mas ainda assim, elas acordam cedo, trabalham, angariam fundos e se dedicam para minimizar o sofrimento alheio. Por que fazem isso? Por amor, claro. Vou levantar uma hipótese (que poderá ser investigada), mas creio que neste caso, a gratificação esteja no próprio exercício do trabalho. 83
O simples fato de alguém se sentir útil já é a gratificação! Portanto o amor ao trabalho voluntário lhe trouxe sim uma gratificação (E talvez a diminuição de sentimentos negativos). Naturalmente isto é uma hipótese! Existem outras, que não pretendo listar porque são infinitas. Um destes pontos trata do amor às "coisas materiais", às coleções, aos animais, etc. Quais os motivos que levam alguém a amar elementos que não lhe corresponderão da mesma forma? Ocorre que para algumas pessoas, esta forma de amor, chamada de DEDICAÇÃO envolve um ganho secundário, muito particular. Pode ser (isto é uma hipótese que merece ser investigada) que a pessoa que ame objetos (carros, motos, roupas, etc.), veja no seu objeto de desejo uma compensação para algo que não consegue alcançar em si mesmo. Suponhamos que alguém goste de carros importados, a ponto de colecionar revistar, visitar exposições, etc. O fato de estar inserida no "mundo" de carros importados já é gratificante, pois neste ambiente a 84
pessoa poderá se deparar com outras pessoas que tenha o mesmo gosto e estabelecer contato, trocar informações, e criar uma nova rede de relacionamentos. Mas o que a levou a ter este amor aos carros importados, só ela mesma poderá dizer, pois o comportamento é modelado de acordo com a história de vida de cada um.
A banalização do amor É comum chamar de "amor" as pessoas que se amam (Amor, quer sair pro jantar?); pode ser usada para qualificar algo (Que amor de vestido!), ou exaltar as qualidades de alguém (A professora é amor). Entretanto não é apenas a palavra "amor" que caiu na banalização, mas também a afetividade tornouse fluída na pós-modernidade. O Sociólogo Zigmunt Bauman trata deste assunto em seu livro "Amor Líquido" (recomendo a leitura) onde trata da forma com que as relações se tornaram fluidas e inconsistentes no mundo globalizado. Segundo Bauman: 85
Abandonar e destituir foram celebrados, por um breve período, como a derradeira libertação do sexo da prisão em que era mantido por uma sociedade patriarcal, puritana, desmancha-prazeres, hipócrita e ainda por cima desafortunadamente vitoriana. Aqui estava, afinal, um relacionamento mais puro que a pureza, um encontro que não servia a outro propósito senão o prazer e a alegria. Uma felicidade de sonho, sem restrições, sem medo de efeitos colaterais e portanto alegremente cega às suas consequências. Uma felicidade do tipo "satisfação garantida ou seu dinheiro de volta" A mais completa encarnação da liberdade, tal como definida pela sabedoria e pela prática populares da sociedade de consumo. (2004, p. 30)
Na concepção de Bauman, a banalização do amor se relaciona com a consagração da liberdade afetiva, onde o que é importa é colecionar conquistas e cada parceiro afetivo é um troféu. Trata-se de um “consumismo de gente”, quando as pessoas são vistas como mercadorias afetivas de 86
acordo com seus atributos e as relações são fragmentadas. Não há mais tempo, nem interesse para promover a intimidade; a proximidade só existe enquanto o outro tiver algo a oferecer, ou até que aparece uma oferta mais gratificante no “mercado afetivo”. A banalização do amor ocorre quando as pessoas se descartam mutuamente. Basta que haja um ponto de vista diferente e o romance que poderia dar certo afunda! Ou seja, quando um dos pares não atende o que foi idealizado corre o risco de ser colocado de lado. E assim inicia-se uma nova busca, por parceiros que atendam os “requisitos básicos” Esta prática é muito comum nas redes de relacionamento virtuais: as pessoas usam categorias para se conhecerem: se quer um parceiro universitário, irá nas redes sociais ou chats onde é possível encontrá-los e com certeza irá conhecerá muitas pessoas com as mesmas afinidades. Mas isso não é garantia de êxito na relação, porque a partir do momento em que foi feita uma 87
categorização, é bem provável que a relação se desenvolva a partir dela. O risco que se corre neste caso é vincular a imagem da pessoa real à idealizada, uma vez que o amor baseado em categorias desconsidera outras formas de ser e pensar da pessoa escolhida. Se você conseguir perceber que o outro é um indivíduo que vai além das categorias préestabelecidas, desvinculada de supostos conceitos, certamente poderá vivenciar uma relação que caia na banalização, ou quem sabe, um grande amor!
Referências: BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, Ed., 2004.
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Amar ou depender O termo “dependência afetiva” sugere uma relação onde um dos pares apresente-se como dependente do outro afetivamente. Trocando em miúdos: é quando uma pessoa, em condições normais de saúde mental e/ou física: Precisa constantemente da aprovação do seu par afetivo para tomar decisões simples (exemplo: escolher a cor da blusa); Sente-se perdida quando o outro deixa de fazer contato, mesmo por curtos períodos de tempo, perdendo a capacidade de concentração enquanto o outro não fizer contato; Necessita da companhia do outro para realizar tarefas que poderiam ser realizadas individualmente (exemplo: ir ao banco pagar contas, cortar cabelo, comprar roupas ou sapatos, escolher uma cortina nova, etc.); Apresenta comportamentos de ciúme exagerado. Uma pessoa dependente deixa de viver a própria vida para viver em função do ente querido. Uma relação saudável exige ajustes no cotidiano de 89
todos, pois todos têm obrigações a cumprir em vários âmbitos da vida. É importante reconhecer que o outro precisa de tempo para estudar, trabalhar, praticar esportes e fazer coisas que lhe agradam de forma individual, para preservar o senso de identidade. O dependente não tem este senso de unilateralidade, não consegue estabelecer as próprias metas, não tem valores próprios, opiniões, etc. Para ele tudo emana do outro e tudo é para agradar o outro. Por quê? Algumas pesquisas na linha da Psicologia Clínica indicam que isto ocorre por medo da solidão, ou seja, o indivíduo que desenvolveu um comportamento dependente em relação a outro, no fundo teria medo de viver sozinho. Quando encontra alguém, vai gradualmente abrindo mão de sua individualidade para garantir a gratificação afetiva e/ou sexual, até que sua identidade esteja completamente “soterrada”. Geralmente adotam a identidade do outro (mas não é uma regra). Vale ressaltar que este comportamento de dependência nem sempre agrada a outra parte. 90
Por isso é importante estabelecer metas e limites nos relacionamentos. Um bom começo seria ir gradativamente mostrando para o dependente que existe “vida fora do relacionamento” e incentivá-lo a buscar seus caminhos, afinal uma relação saudável se faz quando os envolvidos trocam suas vivências e experiências individuais, o que dificilmente ocorre em uma relação de dependência. Amar não é depender. Amor exige cuidado, mas também compreensão e espaço para que o outro cresça como pessoa. A dependência pode se tornar um peso. Pense nisto!
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A Inveja A "inveja mata" é outro jargão muito utilizado no senso comum, assim como frases escritas em carros e para-choques de caminhão do tipo: Sua inveja é o combustível do meu sucesso", ou "Se sua estrela não brilha, não tente apagar a minha". Mas no âmbito da psicologia, como tratar o assunto? Assunto aliás que não é tão simples assim, pois mexe com sentimentos que todos nós temos e raramente assumimos. Sendo assim, a destruição do bom, do belo justifica-se pela inveja. Claro que isto é uma simplificação. Os conceitos são mais amplos. Observe que temos uma cadeia frustração -> raiva -> destruição. A Frustração todos conhecemos (quem não conhece que atire a primeira pedra). A raiva é um sentimento absurdamente natural e 92
que somos ensinados a reprimir como se fosse um pecado. O desejo de destruição também é natural, afinal incomoda muito perceber que o outro tem algo que não se pode ter e que muito se deseja; daí a vontade de destruir esse objeto de desejo (seja ele de que natureza for). A inveja na sociedade contemporânea se manifesta de várias formas, algumas quase imperceptíveis. Apenas alguns exemplos deste último caso. Mas não generalizemos, por favor. Pessoas muito zelosas, que controlam excessivamente os outros, por medo de que estas sofram algum tipo de dano, podem estar sentindo inveja da coragem que o outro tem de se atirar na vida. A inveja mais comum é aquela que é caracterizada pela negação e pela racionalização: "eu não queria mesmo...." "nem reparei que você tingiu o cabelo" 93
Claro que em muitos casos estas negações e racionalizações podem ter outros motivos mais conscientes e palpáveis, mas Lidar com pessoas invejosas não é fácil, uma vez que estas querem sempre destruir algo em nós. Não dá para tratá-las com a intimidade que se trata um irmão, mas não dá para fazer de conta que não existem, afinal são destruidoras, agressivas e vorazes. Uma alternativa para lidar com isso deixar a própria inveja de lado, raiva e ressentimentos e verifique as razões pelas quais a pessoa invejosa se porta dessa maneira. De onde vem essa vontade de destruir? É para não ver? Não ver o que? Porque? Porém, jamais se deixe levar pelas pessoas destrutivas, mesmo que sejam "amigas".
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O ciúme A Inveja envolve uma relação a dois e o ciúme envolve uma relação a três. Embora muitos confundam o ciúme e a inveja, há diferenças entre eles: Ciúme Do Latim “Zelumen”, de Zelus, que vem do grego “Zêlos”, que significa “cuidado”; Neste tópico vamos falar sobre o ciúme como sentimento que abrange todos os tipos de relacionamentos. O ciúme que permeia um relacionamento exclusivamente passional é abordado em outro tópico. Ciúme é a resposta ao contexto que ameace uma relação e provocam o temor da perda de alguém. O ciúme patológico: Quem sente ciúme a esse nível se dedica exclusivamente a vigiar, invadindo a privacidade e tirando a liberdade de outro indivíduo, fazendo 95
coisas ridículas como abrir correspondências, examinar bolsos, cheirar camisas, seguir o parceiro, etc. Porém, tais tentativas jamais amenizam a dúvida, ao contrário a intensificam, ocasionando assim um enorme desconforto na relação. A pessoa ciumenta apresenta um traço marcante de insegurança, em função de problemas que ocorreram na infância. É necessário que o indivíduo resgate sua autoconfiança para que consiga vivenciar um bom relacionamento. Já a inveja envolve um desejo de destruição da propriedade alheia. Veja bem, não existe "inveja positiva”: uma vez que inveja vem do latim "invidare", ou seja "não querer ver”. E é exatamente isto que o invejoso almeja: não ver aquilo que o outro tem de melhor, e por isto deseja destruir tudo o que o outro tem de bom. A inveja positiva pode ser conceituada como admiração.
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Medo e Ansiedade O medo pode ser entendido como uma reação natural perante um estímulo considerado perigoso, presente no ambiente. É normal que as pessoas temam aquilo que é desconhecido e isto pode ser chamado de ansiedade. Por exemplo: podemos sentir medo de um ladrão que aparece subitamente e podemos ficar ansiosos com o vestibular. Ambas são reações normais especialmente quando os indivíduos não foram expostos a determinadas situações, mas tornam-se problemáticas quando limitam a vida da pessoa. Algumas pessoas podem sentir ansiedade perante a ideia de trocar de emprego, ou de casa e deixam de receber os benefícios que tal troca poderia proporcionar. Naturalmente, a vida é feita de escolhas e todas elas implicam em ganhar uma coisa e perder outra. Portanto ter ansiedade perante situações novas é normal, pois sinaliza que haverá perdas também. 97
O que se torna importante é saber lidar com estes sentimentos de medo e ansiedade de forma a não comprometer o progresso do indivíduo. Muitos medos e situações ansiosas são geradas a partir da exposição do indivíduo às situações ruins, sem que haja a menor necessidade. Vou dar um exemplo: o noticiário raramente mostra coisas bonitas, mas a todo o momento aponta situações de desgraça, ruína e prejuízos. É natural que a pessoa que fique exposta a este tipo de informação passe a desenvolver um comportamento ansioso. Este foi um exemplo, eu poderia citar outros mil! Cabe a cada indivíduo refletir sobre as situações que desencadeiam medo e ansiedade e questionálas, verificando friamente se existe a possibilidade de algo muito ruim lhe ocorrer, caso se comporte desta ou daquela forma. Entretanto, se o medo for algo incapacitante, é hora de buscar ajuda.
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Remorsos Reconhecer os erros é ótimo. Remoê-los, não. Remorso não é um sentimento que ajude o indivíduo a se sentir melhor, ao contrário, este sentimento favorecem a estagnação, impossibilitando-os de vivenciarem novas situações gratificantes. Algumas pessoas acreditam que deverão ser punidas “eternamente” em função de erros cometidos, não se permitindo ser feliz novamente. No entanto, conviver com o remorso não vai corrigir os erros do passado. Ao contrário, vai levar o indivíduo a se isolar, remoendo amarguras antigas. Se conseguiu perceber que errou, ótimo. Tente extrair algumas lições. Se conseguiu perceber o quanto algumas atitudes foram prejudiciais para si mesmo ou para outros vai entender que não dá para mudar o passado, mas dá pra ressignificá-lo, ou seja, dar a ele outra interpretação, dentro de um novo contexto. 99
Não convém fingir que nada aconteceu, que está tudo bem, pois esta atitude adia a busca por soluções efetivas, e a situação difícil tende a se prolongar. A pior mentira é aquela que contamos pra nós mesmos. O “pensamento positivo” neste caso é válido se conduzir o indivíduo a comportamentos efetivos para contornar a situação adversa. Outro ponto importante a ser considerado é que nada é permanente. Por mais que um momento seja doloroso, ele passa! Para alguns passa mais rápido, para outros nem tanto. Mas passa. Muitas vezes, o auxílio externo pode ser desejável, pois algumas situações são como bagagens pesadas demais para serem carregadas sozinho.
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Reprimindo sentimentos Bem, dessa forma, vamos construindo ao longo da vida diversos muros, cuja finalidade é recalcar conteúdos afetivos que quando deveriam se tornar manifesto não conseguem, dada a existência do muro. Se o muro existe, deve existir alguma sustentação. Não foi construído de enfeite. Ninguém reprime seus sentimentos, desejos e anseios à toa. Em muitos casos, isso tem a finalidade de proteger o ego de uma dor maior. De muro em muro se constrói uma cidadela, onde reina a proteção. Mas chega um momento em que bate um vazio imenso, a vida parece que tá dando voltas no mesmo lugar e temos a impressão que somos apenas soldadinhos marchando dentro da cidadela, indo de um lado a outro da muralha, sem coragem de romper a muralha, afinal não se sabe mais o que existe do outro lado. Dentro dos muros, a vida 101
é sempre a mesma. Lá fora pode existir a dor e o sofrimento.... Mas também pode existir um mundo mais florido, mais ido e mais dinâmico. Quando falo sobre muralhas estou me referindo às muralhas do orgulho do preconceito, do egoísmo, egocentrismo, concepções errôneas, ilusões, sentimentos pobres e cristalizados. Mas cabe a cada um deve refletir sobre e verificar quais são as muralhas que devem ser demolidas e qual a melhor forma de fazer isso. Infelizmente, muralhas existem que nem sempre são vistas dessa forma!! Não existe solução pronta, mas uma reflexão sobre o comportamento repetitivo e engessado sempre é benvinda, afinal tais comportamentos podem simbolizar uma vida por trás de um muro de Berlim!
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Negação A negação é um mecanismo de defesa psíquica que consiste em dar outro significado ao estímulo aversivo ou intolerável que foi percebido, oferecendo uma explicação menos dolorosa. Esta defesa tem valor adaptativo, uma vez que nem sempre estamos devidamente preparados para lidar com as vicissitudes da vida e por causa disto tendemos a buscar alívios, nos defender da dor como for possível, inclusive negando-a. Quando consideramos que um rompimento afetivo é uma forma de luto, entendemos que trás inevitavelmente algum sofrimento, em maior ou menor escala, dependendo do grau de envolvimento entre os parceiros. Mesmo naqueles onde a afetividade é mínima, a ruptura pode levar a um sentimento de tristeza, afinal se trata de um investimento que não deu certo. É comum que as pessoas lancem mão de toda sorte de atividades para não se depararem com a dor da perda: passeios, festas, compras, bebidas, etc., são apenas algumas formas de afastar temporariamente a dor. Uma das “fórmulas” mais 103
utilizadas para minimizar a dor da perda é conseguir outro parceiro, apenas para “fugir da solidão”. Todos estes comportamentos podem ser considerados “comportamentos de negação”, se sua finalidade for a busca pelo consolo após um rompimento afetivo. A negação utiliza muitas máscaras: Pode ser a máscara da indiferença, que pretende esconder o que se sente por meio de atitudes supostamente indiferentes, atribuindo ao outro pouco importância; Pode ser a máscara da hostilidade, quando um sentimento muito forte precisa ser dissimulado a qualquer custo; Pode ser a máscara da polidez, quando a tendência é usar a formalidade para frear os impulsos e os desejos; Pode ser a máscara da vitimização, quando o indivíduo se coloca na posição de sofredor, sem conseguir reconhecer sua parcela de culpa, atribuindo ao outro toda a responsabilidade pelos revezes que atravessaram a relação; 104
Pode ser a máscara da raiva, que serve como um instrumento poderoso para tentar converter o sentimento bom em sentimento ruim; Pode ser a máscara da suposta felicidade, onde o indivíduo sofredor utiliza de todos os recursos possíveis para mostrar que está bem, feliz e não está sofrendo.
E outras tantas máscaras... O que importa é saber reconhecê-las (e saber quando e como usa-las).
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Ressentimentos, rancores e vinganças Ressentir é sentir novamente a dor de uma situação, onde o indivíduo teve seus desejos negados. Às vezes, por falta de alternativas adequadas para a elaboração do sentimento negativo, é comum que a pessoa busque reparação dos males que lhe afligem, causando aos outros aborrecimentos semelhantes. Para Maria Rita Khel, o ressentimento é "uma constelação afetiva que serve ao homem contemporâneo, entre as exigências e configurações imaginárias próprias do individualismo". Observando esta colocação, podemos pensar que o ressentimento é subproduto do egocentrismo, que permite ao imaginar-se como vítima das circunstâncias (ou das pessoas), posicionando-se como aquele que deve receber muito e doar pouco. Existem outras formas de entender esta colocação (mais adiante), mas neste momento me imitarei ao postulado de Khel: vivemos numa sociedade 106
capitalista, onde o individualismo é propagado de todas as formas, em todos os meios de comunicação, as vezes de forma aberta, as vezes de forma velada. Isto pode levar algumas pessoas a situações de disputa, para obter vantagens sobre e seus pares, sejam elas financeiras, de status, ou mesmo afetivas. Quando esta pessoa se depara com algo, ou alguém que não está disposto a ir mão de seus interesses (materiais ou subjetivos), para atenderlhe os anseios, é possível que sinta-se prejudicada. Mas seu egocentrismo não permite levar nenhuma desvantagem! É preciso partir para a desforra! Neste ponto entra em cena o ressentimento. Ao invés do indivíduo buscar alternativas saudáveis para lidar com a frustração, busca dolorosas formas de reparação. Podemos citar como exemplo a pessoa que foi rejeitada por alguém para viver um relacionamento afetivo em casos onde o ressentimento impera, pode existir uma busca pela proximidade, pela intimidade, potencializada pela rejeição e pelo desejo de reparar uma situação que considera ultrajante. Para atingir estes fins é comum que 107
lance mão de meios (por vezes) sórdidos, emitindo comportamentos provocativos para mobilizar a atenção do outro. Isto é comum nos divórcios litigiosos. Fabichak (2010) cita o exemplo das pessoas que mesmo após a separação querem manter o vínculo, mesmo que seja por meio da briga. Tais pessoas tendem a buscar grandes reparações, por meio de pequenas provocações, motivados pelo ressentimento que insiste em imperar, afinal "ressentir-se é atribuir ao outro a responsabilidade pelo que nos faz sofrer" (KHEL, p. 11). É comum que o ressentido coloque a culpa por tudo o que acontece no outro é o outro que é egoísta, o outro que "não sabe fazer nada direito", é o outro que é "imaturo", etc. Ao colocar a culpa no outro, o ressentido está na verdade buscando formas de reparação, pois estas provocações visam uma forma de satisfação pessoal, que em última instância poderá colocar o outro sob seu poder.
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Como lidar com isto? Não é fácil, na verdade, e não existe uma solução pronta. As pessoas mais criativas podem encontrar forma de canalizar os sentimentos negativos para finalidades mais no es. As menos criativas, que têm dificuldades de elaboração ou mesmo de tomar consciência só e seus atos, sugiro que busque ajuda psicoterápica. Referências FABICHK, Cibele. Sexo, amor, endorfinas e bobagens. São Paulo, Novo Século 2010. KHEL, Maria Rita. Ressentimento. São Paulo. Casa do Psicólogo 2011.
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A solidão “Ando só, como um pássaro voando Ando só, como se voasse em bando” (Humberto Gessinger)
É muito comum ouvir pessoas se queixando que se sentem muito sozinhas, seja por falta de alguém para conversar, falta de apoio psicológico na toma de decisões ou mesmo falta de afinidade com o meio em que vivem. Este sentimento surge quando o indivíduo se depara com a dificuldade de encontrar alguém com quem possa compartilhar momentos e experiências, sejam boas ou ruins. Por que isto ocorre? Por que as pessoas se sentem solitárias, mesmo quando estão rodeadas por tantas outras? Não existe UMA resposta pronta. As respostas variam de indivíduo a indivíduo, e de caso a caso. Mas é possível fazer algumas suposições partindo do macro para o micro. Suposições apenas, ok? Não verdades absolutas. 110
Se considerarmos que nas sociedades ocidentais, onde o capitalismo selvagem impera, fica claro que a vida em sociedade é marcada pela competitividade. Isto não é novo; o liberalismo que veio na rasteira da revolução industrial do século XVIII reforçava (e impunha) este modelo de individualismo, gratificando aqueles que produziam mais de forma individual, em detrimento da produção coletiva. Com a expansão do capitalismo nos países ocidentais, esta forma de relacionamento passou a ser vivenciada como se fosse algo natural, extrapolando o campo das relações de trabalho e invadindo as relações mais íntimas. Desta forma, as pessoas passaram a trabalhar mais e se relacionarem menos. Para compensar esta inversão, começaram a consumir mais, e a presentear seus entes queridos com produtos cada vez mais modernos. Mas como isto afeta as relações? A partir do momento em que as pessoas começam a se relacionar por meio da mediação de bens de consumo, pode ocorrer algumas vezes, de se esquecerem o verdadeiro sentido da relação. 111
Estamos tão habituados a viver em uma sociedade competitiva, que em dados momentos, competimos com nossos entes queridos. A seletividade excessiva também limita bastante as escolhas de parceiros seja no âmbito profissional, acadêmico, afetivo, familiar, etc., uma vez que a partir do momento em que se escolhe relacionar com outro com base em detalhes minuciosamente observados, é possível que se feche para outras possibilidades. Neste caso, o sentimento de solidão é inevitável, pois é quase impossível manter uma relação (seja lá de que nível for) com alguém que atenda todas as expectativas, afinal “defeitos e qualidades todo mundo tem”. Daí a importância de rever certos conceitos antes, durante e depois de alguns relacionamentos. Será que de fato é importante se relacionar apenas com pessoas “iguais” (pares)? O que pesa mais na hora de escolher as amizades? O que o indivíduo tem, ou o que o indivíduo É? Estou tentando dizer que o excesso de seletividade às vezes atrapalha na hora de se relacionar, pois 112
nestes casos a tendência é focalizar os defeitos e não as qualidades do outro. Claro, que existem casos de pessoas que não conseguem se relacionar pelo motivo oposto: acreditam que não possuem qualidades suficientes para “agradar” ao outro e para evitar se deparar com a rejeição, tendem a se afastar do convívio alheio, mantendo-se a uma distância relativamente confortável. Digo que é confortável, pois na medida em que este distanciamento se tornar desconfortável, a tendência é que haja uma mobilização no sentido de rompê-lo. Neste ponto, os indivíduos começam a busca por ajuda terapêutica, ou aconselhamento para que possam se relacionar com mais qualidade. Não há fórmula mágica para corrigir as maneiras de se relacionar para que fique “legal pro todo mundo”. Sempre hão de existir os insatisfeitos, os intransigentes, os ciumentos, os invejosos, os competitivos, os críticos; mas sempre haverá os compreensivos, os alegres, os amáveis, os maleáveis. Onde eles estão? Não sei. Mas talvez 113
todos eles estejam dentro da mesma pessoa. Depende do que vocĂŞ procurar.
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Escolhas As escolhas que fazemos também respondem um pouco nós. Toda escolha envolve uma perda e um ganho e por isso decidir não é algo fácil, pois nunca teremos certeza sobre a escolha correta. Esta possibilidade de escolha entre duas variáveis equivalentes pode ser entendida como conflito. Fazemos escolhas constantemente. No jantar teve que escolher entre comer pouco e dormir bem ou comer muito e dormir mal; teve que escolher a roupa que usaria hoje, sem saber como estaria o clima no final da tarde. Quando levados a agir por impulso, algumas pessoas tomam algumas decisões irrefletidas. Essa ocorrência é normal e corriqueira. Escolhas envolvem riscos. É difícil fazer a escolha certa. O que se pode fazer é calcular riscos e benefícios para verificar o que compensa mais.
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Não permita que o medo lhe paralise a vida.
Em momentos de mudanças na vida é comum que sintamos medo, afinal somos geneticamente programados para temer o desconhecido. Apesar disso, a vida segue e passamos por mudanças o tempo todo, sejam elas pequenas ou grandes. Embora o medo seja uma reação natural, é importante que ele não seja paralisante (exceto em casos em que há riscos verdadeiros). Se tiver que tomar alguma atitude que vá mudar sua vida, e no futuro vá lhe agregar benefícios, deixe o medo em alguma gaveta da mente e faça o que tiver que ser feito (ou enfrente o arrependimento mais tarde). Viver aprisionado (a) pelo medo não é viver de forma autêntica. É importante encarar seus temores e enfrentar as consequências de seus atos. 116
Lembre-se que a coragem ĂŠ uma virtude construĂda aos poucos
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A síndrome do super-herói Você é do tipo de pessoa ✅Que acredita que possa ajudar todo mundo? ✅Que tem poder para solucionar problemas que não são teus? ✅Que pode prever desgraças e propor soluções antecipatórias para os outros mesmo quando não há nenhum indício de que tais desgraças poderão efetivamente ocorrer? Se você respondeu SIM a estas perguntas pode ser que esteja sofrendo da "Síndrome do Super-Herói". Esta síndrome é caracterizada pela vontade extrema de solucionar os problemas que estão a sua volta, evitando sofrimento para os outros. No entanto, para que consigam equilibrar todas as demandas a sua volta, acabam ficando estressados muito além da conta, muitas vezes, deixando os próprios problemas de lado, ou negando-os, como se sua própria vida fosse o "mar de rosas" 118
Referências Godoy Maia, Leandro Dias, Nicácio Dieger Silva, and Patrícia Helena Costa Mendes. "Síndrome de Burnout em agentes comunitários de saúde: aspectos de sua formação e prática." RBSO 36.123 (2011): 93-102.
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