ESPAÇOS VARANDA ENSAIO DE RELAÇÕES EM UMA SUPERQUADRA DE BRASÍLIA
MARJORIE LANGE PUC-Rio
PUC-Rio Arquitetura e Urbanismo ARQ1110, turma 88A 2016.1 Aluna: Marjorie Lange Orientador: Gabriel Duarte
Estudo dos espaços intermediários entre arquitetura e cidade a partir de uma definição inicial dos “Espaços-Varanda”, ambientes que resultaram da evolução histórica da varanda no brasil.
COLEÇÃO DE TIPOLOGIAS DE VARANDAS BRASILEIRAS Análise da evolução dos “espaços-varanda” em moradias brasileiras, guiada por um estudo histórico dos diferentes movimentos arquitetônicos ocorridos no Brasil.
SUPERQUADRA DE BRASÍLIA LÚCIO COSTA Enfoque na arquitetura modernista brasileira, momento histórico onde se aplicam os cinco pontos fundamentais do modernismo junto a uma releitura de elementos tradicionais brasileiros, criando uma linguagem individual. Estudos dos diferentes elementos que compõem o Plano Piloto e, em específico, a Unidade de Vizinhança, local de intervenção, assim como as relações existentes nos seus espaços intersticiais.
ENSAIOS NA SQN 207 Partindo da definição inicial dos “Espaços-Varanda” - para a compreensão de espaços intersticiais - e do entendimento da lógica de funcionamento das Superquadras do Plano Piloto, a proposta do trabalho busca investigar como os limites entre cidade e arquitetura podem ser tensionados. O produto final será um ensaio de relações proporcionadas por tais espaços em uma Superquadra padrão de Brasília.
COLEÇÃO DE TIPOLOGIAS DE VARANDAS BRASILEIRAS
ÍNDICE 06
INTRODUÇÃO
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A VARANDA NA HISTÓRIA
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INDIGENA “Pátio” em Shabono Copiar sobre palafitas
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COLONIAL Chácara Casa grande Casa térrea Sobrado
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NEOCLÁSSICO Porão alto Jardim lateral
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ECLÉTICO
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ART DÉCO
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MODERNO Ed. Júlio de Barros Barreto - MMM Roberto Pedregulho - Affonso Eduardo Reidy Ed. Parque Guinle - Lúcio Costa Casa Butantã - Paulo Mendes da Rocha
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CONTEMPORÂNEO Casa atelier - Carla Juaçaba e Mario Fraga Casa varanda - Carla Juaçaba Casa Rio Bonito - Carla Juaçaba Sebrae - Grupo SP
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EVOLUÇÃO DA VARANDA
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CONCLUSÃO Esquema 1 - Um intermediário entre moradia e paisagem Esquema 2 - Relação entre interior e exterior Tabela - Tipologia dos “Espaços-Varanda”
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INTRODUÇÃO A varanda é um elemento de constante presença na arquitetura brasileira. Frentes às novas formas de morar, esta se modifica fisicamente, se adaptando aos diferentes terrenos, às distintas formas do edifício e às novas demandas da sociedade, dando origem a diversas terminologias, definidas nesse trabalho como “Espaços-Varanda”. Nesta etapa, faz-se uma análise da evolução dos “espaços-varanda” em moradias brasileiras, guiada por um estudo histórico dos diferentes movimentos arquitetônicos ocorridos no Brasil.
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A VARANDA NA HISTÓRIA
INDÍGENA
COLONIAL 1500
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NEOCLÁSSICO 1800
ECLÉTICO 1900
ART DÉCO 1922
MODERNO
CONTEMPORÂNEO 1950
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INDÍGENA A arquitetura indígena apresenta uma grande variedade entre forma, estrutura e compartimentação. Observa-se que cada tribo tem uma particularidade em relação ao modo de construir e ocupar sua moradia. A maior parte das habitações indígenas são ocas ou malocas. E existem registros de construções sobre palafitas nas áreas pantanosas. As palafitas, estruturas elevadas do solo, protegiam as casas das enchentes de rios, logo evitavam o contato dos ambientes com a umidade do solo, e tornava mais difícil o acesso de animais. Em muitos casos essas apresentavam um copiar.
Além do copiar, algumas construções contém um vão central, como um pátio interno. O shabono, aldeia da tribo Yanomamis, é de forma circular, estruturada por galhos/varas e coberta por folhas de palmeiras. Ele apresenta um vão central, podendo chegar a quinze metros de diâmetro. As áreas encontradas na periferia do shabono são de caráter privado, onde cada setor é destinado à uma família. O núcleo central, por sua vez, é de caráter público, logo, de uso de toda a comunidade. Neste local ocorrem os encontros e rituais.
Copiar é um termo utilizado pelos índios brasileiros para se referirem à varanda. Um estudo sobre arquitetura indígena feito pela Universidade de Santa Catarina diz que, historicamente, fazia-se: “O uso de uma varanda totalmente aberta para permitir a ampla ventilação durante o descanso do calor do meio-dia”. (BARRETO, BENATTI, PINHEIRO e BOLSON)
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PÁTIO EM SHABONO
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1 . Aldeia da tribo Yanomamis A . local dos encontros e rituais B . local de cada família
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COPIAR SOBRE PALAFITAS
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2 2 . Construção sobre palafitas A . copiar (varanda)
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COLONIAL CHÁCARA No século XVII, durante a produção agrícola açucareira “todas [as casas] possuem, é verdade, uma varanda ou um alpendre”.
A arquitetura da chácara, construção encontrada em áreas rurais ou em periferias urbanas, em muitos casos, é caracterizada por uma edificação de dois pavimentos onde o primeiro piso é destinado aos escravos. Uma escada situada na fachada frontal da edificação, geralmente coberta por um alpendre, permite o acesso para o nível superior. As chácaras que possuem um único pavimento também apresentam um alpendre na fachada frontal. As funções deste local são de posto de vigília, filtro e adequação climática.
(LEMOS)
“As casas do Brasil colonial até o século XVIII sempre apresentam as mesmas características: paredes lisas, vãos bem distribuídos, telhados simples e varanda”. (RODRIGUES, 1945)
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ENGENHO
CENTROS URBANOS
Em 1535 constrói-se o primeiro engenho, o engenho Nossa Senhora da Ajuda em Pernambuco, destinado à produção de cana de açúcar. Devido à necessidade de exportar o material, o complexo, composto pela casa grande, a senzala, a capela e a casa do engenho, era localizado no litoral ou próximo de rios.
Os primeiros núcleos urbanos só se constituem com a descoberta de diamantes e ouro, quase no século XVIII, período de desenvolvimento da construção civil e do surgimento das primeiras legislações edilícias. As leis regulam as dimensões, aberturas e gabaritos em busca de uma padronização que garante uma aparência portuguesa. Neste momento existem duas tipologias de casas: a casa térrea, habitação de um pavimento, de caráter mais humilde; e o sobrado, habitação de dois ou mais pavimentos, onde o primeiro é destinado à acomodação dos escravos e animais e/ou à loja e o segundo contém os cômodos da família. Ambos apresentam uma sala de jantar ou varanda no fundo do terreno, com a função de adequação climática e de área de convívio da família. Em sobrados, a varanda na frente da construção (sacada, balcão ou galeria) tem a função de posto de vigília e se apresenta como espaço de transição, somente visual. Inicialmente, as varandas eram formadas por guarda corpos de madeira. Em seguida, elas receberam um fechamento em forma de treliça, de influência moura: o muxarabiê. Esse elemento aumenta a privacidade do espaço interno e contribui para a adequação climática.
O ponto central da casa grande é a varanda frontal. Ela possui diversas funções, dentre elas a de adequação climática para a construção; de filtro para as áreas mais reservadas, dando acesso, inicialmente, ao quarto de hospedes; de posto de vigília, de onde o senhor do engenho observada e controlava a sua propriedade e os seus escravos; de local de convívio; e, em alguns casos, de acesso à Capela, de onde se assistem os cultos religiosos quando não se é da família. “Um local agradável, sombreado e ventilado, a varanda desempenha a função de convívio e passa a ser o espaço de reunião da família, o lugar das brincadeiras das crianças, do contato com os escravos e de se acolher o visitante”. (FREYRE, 1964)
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CHÁCARA
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1 . Sítio do Padre Inácio Cotia, SP 1690 A . varanda B . salão B
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CASA GRANDE
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2 . Fazenda Colubandês São Gonçalo, RJ
A . varanda B . pátio interno B
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CASA TÉRREA
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1 . Paraty, RJ 2 . Porto Seguro, BA D
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A . salão ou loja B . corredor C . alcova D . sala de viver ou varanda E . cozinha e serviços F . quintal
SOBRADO
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3 . Lago do Pelourinho - Salvador 4 . Gamboa, RJ
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A . loja B . corredor C . cozinha e serviços D . salão E . alcova F . sala de viver ou varanda G . quintal
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NEOCLÁSSICO A partir do século XIX existem duas modalidades de construções: uma que representa as construções já existentes, chamadas de tradicionais, e outra correspondendo ao padrão da corte que vai em direção ao estilo neoclássico, com a vinda da Missão francesa. 1800 - 1850 Inicialmente, na primeira metade do século XIX, observam-se “construções aperfeiçoadas” com “implantações tradicionais” (Nestor Goulart). Com a abertura dos portos, elementos arquitetônicos são importados e inseridos nas construções. Porém, a implantação (posição da casa no lote) e as técnicas construtivas se mantêm iguais às adotadas no período colonial. Algumas modificações se encontram no campo da arquitetura, como a diversificação do telhado que, nesse momento, pode ser composto por mais de duas águas. Certas construções recebem um porão alto, ou seja, a elevação do nível do pavimento térreo, com a implantação de um porão. Essa última intervenção faz a transição entre os sobrados e as casas térreas, aproximando a residência da rua.
1850 - 1900 Na segunda metade do século, frente à decadência do trabalho escavo; início da migração europeia; desenvolvimento do trabalho remunerado, logo especialização do trabalho e, consequentemente, elaboração de novas técnicas construtivas, mais aperfeiçoadas, observa-se uma mudança mais expressiva na arquitetura e no urbanismo. As construções são submetidas a uma nova legislação que visa a sua melhor iluminação e ventilação. Inicialmente é exigido um afastamento lateral. Residência de maior porte recebem jardins – de influência inglesa – no espaço do afastamento. A varanda lateral, alpendrada, é introduzida para haver uma aproximação do morador com o jardim. Esta costuma apresentar elementos como peitoril de ferro e coberturas de ferro e vidro, reflexo da industrialização e dos avanços tecnológicos. Frente a essa nova configuração da varanda, o brasileiro presencia novos hábitos: nos momentos de descanso e de contemplação ao jardim, o morador está totalmente exposto, embora que devidamente protegido pelos limites de sua propriedade. Entre espaço público e privado, a varanda volta a ter papel de filtro, com função de barrar e selecionar quem entra na casa. Em alguns
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momentos a varanda tem função de corredor, conectando diferentes ambientes. Ambientes agora setorizados pela racionalização do espaço de morar, influenciado pelo modelo do espaço do trabalho (fábrica). Em residências de menor porte, não havendo espaço para a criação de um jardim, adotava-se um acesso lateral descoberto, acessado por portões e escadas. Uma segunda mudança da legislação dos lotes demanda um afastamento frontal. Com isso, observa-se um tímido esforço de movimentação nas fachadas. Por fim, uma terceira alteração de lei exige um total afastamento das divisas do lote.
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PORÃO ALTO
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1 . Rua Bento Lisboa - Catete, RJ 2 . Rua Joaquim Silva - Lapa, RJ
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A . loja B . corredor C . cozinha e serviços D . salão E . alcova F . sala de viver ou varanda G . quintal
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JARDIM LATERAL
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3 . Centro - Abaeté, MG 4 . Rua da Matriz - RJ A . jardim lateral B . corredor e varanda C . sala de visita ou salão D . alcova E . sala de viver ou varanda F . cozinha e serviços G . quintal
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ECLÉTICO O Ecletismo - propondo uma conciliação entre os estilos - foi um veículo estético eficiente para a assimilação de inovações tecnológicas de importância. Com os novos recursos, era possível aos arquitetos a adoção de soluções plásticas e construtivas mais complexas. As moradias já podiam incluir recursos de conforto semelhantes aos das habitações europeias de sua época. Crítica do Ecletismo Para a arquitetura brasileira, a influência do Positivismo representava o estímulo ao desenvolvimento tecnológico. O Ecletismo, como um movimento de conciliação, facilitava essa transformação. A influência do estilo era, assim, apenas um fenômeno formal, que abria condições para o avanço tecnológico e, simultaneamente, para o reforço da dependência cultural e material do mercado externo. (GOULART, 2000)
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ART DÉCO Originado em Paris com a “Exposition internationale des arts décoratifs et industriels modernes” em 1925, o Art Déco foi um movimento artístico e cultural que ocorreu na Europa e nas Américas de, aproximadamente, 1915 a 1945. O estilo é aplicado na arquitetura brasileira no mesmo momento que ocorre na Europa. A caraterística do movimento é a formas geométricas: predominância de linhas verticais na composição da fachada e presença de ornamentos geométricos básicos. Materiais como o vidro e o ferro são utilizados.
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MODERNO As obras produzidas no final dos anos 1920 foram as primeiras no Brasil a abrir uma discussão a respeito da arquitetura moderna. Sua confirmação ocorreu com a Semana de Arte Moderna de 1922, na cidade de São Paulo. Porém, as arquiteturas brasileiras que marcam o início desse novo movimento só surgem quase duas décadas depois, com o prédio do Ministério da Educação e Saúde, iniciado em 1937 no Rio de Janeiro, e o pavilhão brasileiro de 1939 na Feira Mundial de Nova York. O Modernismo começa em momento de forte industrialização, promovendo a busca por novas tecnologias construtivas. Além disso, existe uma nova preocupação com a higiene mental, de descanso do corpo e da mente, de contato com a natureza e com a prática de atividades ao ar livre, provocando um interesse na procura por uma relação maior do edifício com a paisagem. Outro fator que influencia no movimento são os pensamentos do arquiteto suíço Le Corbusier. Le Corbusier é conhecido como “pai do modernismo” por ser o difusor de ideias modernas na Europa, tanto em suas aulas de 1929, repetidas no Brasil em 1936, quanto em seu trabalho conjunto com um jovem grupo de brasileiros durante os estudos preliminares no projeto do
Ministério da Educação e Saúde (1936). Além disso, Le Corbusier estabelece os cinco pontos da arquitetura moderna: janela em fita, terraço jardim, pilotis, fachada livre e planta livre, às quais grande parte dos arquitetos do movimento são fiéis. Ademais, o modulor – unidade de medida baseada no corpo humano, criada pelo arquiteto – gera uma série de proporções e medidas que irão orientar a arquitetura moderna. Em meados do século XX, o modernismo no Brasil atinge seu ápice. Frente à segunda guerra mundial, o Brasil se industrializa devido à falta de acesso a produtos importados. Com isso, o Brasil, assim como os Estados Unidos, se torna expoente da arquitetura modernista. Elementos e materiais da arquitetura tradicional brasileira são introduzidos na formação da linguagem moderna. “De acordo com Costa, a arquitetura brasileira era, por um lado, resultado da fusão de princípios europeus e da cultura nacional brasileira e, por outro, o produto de um “gênio nativo”.” O “gênio nativo” “não é uma mera busca por originalidade, [...] mas o caminho legítimo da inovação, mergulhando a fundo nas potencialidades de novas técnicas [...] para revelar o até então não revelado mundo da forma”.
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“A especificidade da cultura nacional brasileira, Costa explicou, era que ela era enraizada na tradição: “No Brasil, tanto em 22 como em 36, os empenhados na renovação foram os mesmos empenhados na ‘preservação’, quando alhures, na época, eram pessoas de formação antagônicas e se contrapunham. Em 22, Mário [de Andrade], Tarsila [do Amaral], Osvald [de Andrade] e Cia., enquanto atualizavam internacionalmente a nossa defasada cultura, também percorriam as cidades antigas de Minas e do norte, na busca ‘antropofágica’ das nossas raízes; em 1936, os arquitetos que lutaram pela adequação arquitetônica às novas tecnologias construtivas, foram os mesmos que se empenharam com Rodrigo M. F. De Andrade no estudo e salvaguarda do permanente testemunho do nosso passado autêntico”.” “A tradição foi novamente evocada por José Lins do Rego em um artigo em L’Architecture d’Aujourd’Hui, intitulado “L’homme et le paysage”: “Os novos arquitetos foram buscar o que havia de vivo nas casas antigas, o que havia de funcional em algumas das soluções dos mestres portugueses, e conseguiram corrigir desvios monstruosos, para integrar a pedra, a cal, o cimento, o ferro, a madeira, todos os materiais
de construção, na intimidade da paisagem”. Essa era uma tradição não limitada pelo tipo, forma ou material, baseada acima de tudo na relação entre humano e paisagem.” (MOIMAS, 2014).
Essa tradição, presente na arquitetura moderna brasileira, pode ser observada em elementos de fechamento como cobogós, que fazem alusão aos muxarabiês, muito utilizados por arquitetos como Lúcio Costa ou Affonso Eduardo Reidy; no uso de persianas e brises; e no emprego da varanda, podendo ser embutida na fachada, para não obstruir a forma pura da arquitetura, ou em balanço. A paisagem também se encontra na arquitetura moderna brasileira. Janelas em fita enquadram a paisagem, fazendo o intermediário entre espaços interno e externo. Pilotis possibilitam a vivência do ar puro, protegido do sol. Sombras das marquises se projetam dos prédios criando abrigos aos pedestres. A natureza gera faixas sombreadas que convidam o último a caminhar com tranquilidade. E espelhos d’água e composições paisagísticas se relacionam com a arquitetura.
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ED. Jร LIO DE BARROS BARRETO . MMM Roberto
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A . varanda B . sala C . cozinha D . despensa E . banheiro de serviรงo F . lavanderia G . corredor H . banheiro I . quarto
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PEDREGULHO . Affonso Eduardo Reidy
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A . pavimento de uso comum B . corredor
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ED. PARQUE GUINLE . Lúcio Costa
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A . sala B . sala de jantar C . varanda D . corredor E . quarto F . banheiro G . cozinha H . despensa I . quarto de empregada J . área de serviço
CASA BUTANTÃ . Paulo Mendes da Rocha
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A . sala B . área de convívio
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CONTEMPORÂNEO O movimento pós-modernista, ou contemporâneo, surge em 1950 com o team X, grupo formado do CIAM X (organização que promovia discussões a respeito do pensamento coletivo moderno). Os jovens arquitetos questionam os conceitos modernos e, por meio de um pensamento crítico, criam um pensamento contemporâneo. Enquanto o modernismo partia de ideais racionais e funcionais, com os princípios básicos de moradia, lazer, trabalho e transporte, o contemporâneo busca a multiplicidade e pluralidade de formas e funções, dando ênfase na noção de “habitat” (moradia + espaço de convívio). A arquitetura moderna era projetada para uma sociedade ideal e uma figura modelo, o modulor de Le Corbusier, por outro lado, o contemporâneo busca entender, por meio de estudos socioantropológicos, uma sociedade formada por indivíduos únicos e diferentes entre si. O urbanismo moderno era projetado a partir de princípios racionais, com a setorização das funções e a separação do automóvel do pedestre. O urbanismo contemporâneo revaloriza o espaço da rua e analisa como os diferentes usos da cidade podem interagir em diversas escalas.
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CASA ATELIER . Carla Juaรงaba e Mario Fraga
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1 A . acesso escada ou varanda B . quarto
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CASA VARANDA . Carla Juaรงaba
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2 A . banheiro B . closet C . quarto D . sala de estar E . cozinha F . lavabo G . depรณsito
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CASA RIO BONITO . Carla Juaรงaba
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1 A . varanda B . sala de estar e cozinha C . banheiro D . quarto
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SEBRAE . Grupo SP
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A . corredor e varanda B . รกrea de uso comum C . banheiro
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EVOLUÇÃO DA VARANDA A varanda é um elemento de constante presença na arquitetura brasileira. Apesar de estudos históricos sobre a evolução da varanda em moradias brasileiras começarem em 1500, com a descoberta do Brasil, notam-se espaços que se assemelham a pátios internos em ocas e ambientes cobertos e abertos, como varandas, em estruturas sobre palafitas. O termo copiar, utilizado pelos índios brasileiros, é traduzido para varanda, reforçando sua presença antes de 1500 nas terras brasileiras. Os estudos que se iniciam na descoberta do Brasil consideram que muitos elementos presentes na arquitetura brasileira são de origem portuguesa e moura. Além destas, encontram-se influências italianas, alemãs, francesa, entre outras. A varanda é um elemento de muita importância e de alta presença na arquitetura brasileira por ser apropriada ao clima tropical de temperatura elevada. De fato, o artificio projetado ou embutido na fachada, coberto e aberto para o ambiente externo gera sombra e permite a entrada de ar fresco no interior da edificação. Desde as construções indígenas, se fazia “o uso de uma varanda totalmente aberta para permitir a ampla ventilação durante o descanso do calor do meiodia” (BARRETO, BENATTI, PINHEIRO e BOLSON).
Ao longo da história da evolução da varanda na moradia brasileira, esta se modifica fisicamente, se adaptando aos diferentes terrenos, às diversas formas do edifício e às novas demandas da sociedade. Em alguns momentos, o espaço contém uma função de varanda, mas não possui uma característica essencial do seu significado. O termo “espaços-varanda”, utilizado no trabalho, abrange todos esses ambientes que derivam da varanda, sem, necessariamente, encaixarem-se na sua definição. Após uma análise da evolução dos “espaçosvaranda” em moradias brasileiras, guiada por um estudo histórico dos diferentes movimentos arquitetônicos ocorridos no Brasil, entende-se o motivo das mudanças. Mudanças estas tanto no elemento arquitetônico propriamente dito, quanto no comportamento do morador nos diferentes espaços intermediários. No que se refere às mudanças ocorridas nos “espaços-varanda” pode-se observar que não há uma sequência lógica quando se trata da sua forma, de suas funções ou das relações proporcionadas. A única sequência possível de ser traçada é no que diz respeito à evolução de técnicas construtivas. Um exemplo que demostra a ausência de um desenvolvimento sequencial
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2 das relações existentes nos “espaços-varanda” é quando esta atua como um intermediário entre moradia e paisagem (esquema 1 - p. 39). Inicialmente existe, uma proximidade entre habitações indígenas e natureza, em construções sobre palafitas, a relação é direta. Em seguida, em centros urbanos coloniais, a presença de habitações geminadas e ruelas estreitas limita a visada do morador. A paisagem deixa de ser natural para se tornar urbana. O vínculo entre moradia e paisagem só reaparece em algumas construções neoclássicas com a introdução do jardim lateral e a transformação da varanda, que desta vez se volta para a lateral do lote, com função de contemplar a natureza. Contudo, a relação da moradia neoclássica com o seu jardim é igualmente restrita. Somente no modernismo que o contato da residência com a paisagem será intensificado. Três dos cinco pontos fundamentais da arquitetura moderna, difundidos por Le Corbusier, possuem relação direta com o tema da paisagem. Estes são o terraço jardim, o pilotis e a janela em fita. O uso da janela em fita, por exemplo, aproxima o espaço interno e o externo, onde, no momento em que as janelas estão abertas, o morador que se encontra em frente a ela tem sensação de estar em uma varanda, debruçado para fora. No movimento contemporâneo, a relação se mantém e, em alguns casos, se intensifica, tornando o limite entre interior e exterior incerto. Porém, muitas varandas presentes em edifícios brasileiros, do final do século XX em diante, não proporcionam essa relação. Estas são projetadas com a função de valorizar o imóvel financeiramente e não com a finalidade de proporcionar um ambiente de transição que aproxima as duas esferas, conectando moradia e paisagem. Tendo em consideração a influência dos “espaçosvaranda” sobre o comportamento humano e vice-versa, pode-se observar uma ligação com fatos históricos. Ao longo da evolução da moradia brasileira, há uma gradação na relação do interior
com o exterior, onde, em certos momentos existe uma aproximação maior dos moradores com o espaço externo e em outros um afastamento (esquema 2 - p. 39). A arquitetura indígena apresenta uma grande variedade entre forma, estrutura e compartimentação. Observa-se que cada tribo tem uma particularidade em relação ao modo de construir e ocupar sua moradia. A moradia pode ser compartilhada por toda a tribo, quando esta não apresenta divisões internas ou pode ser dividida por diferentes famílias, quando ela proporciona uma separação do ambiente em nichos. Em todos
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os casos, uma área central da aldeia é destinada à comunidade. Neste local acontecem encontros e rituais. Pela importância dada aos eventos, a vida em comunidade é muito valorizada. Contudo, as relações se mantém internas, dificilmente havendo uma integração entre diferentes tribos. Após a descoberta das Américas, por um lado, costumes indígenas e hábitos portugueses influenciam uns aos outros. Por outro, a dominação dos portugueses sobre os índios e/ou escravos, define, tanto em moradias urbanas, quanto em rurais, a divisão dos ambientes. Em chácaras, casas de engenho e sobrados, contendo dois pavimentos, o primeiro piso é destinado aos escravos e animais e o pavimento superior é consagrado à família. Gera-se um filtro do mais acessível ao mais reservado. De fato, por influência de hábitos portugueses, mulheres são resguardadas no interior da moradia, dificilmente sendo reveladas. Desta forma, observam-se pátios internos em construções rurais e fechamentos de janelas por muxarabiês em habitações urbanas, ambos com a função de acolher e esconder a figura feminina. Em paralelo, algumas moradias possuem ambientes voltados para fora que funcionam de forma oposta aos anteriores. A varanda frontal na chácara ou na casa de engenho e a loja do primeiro piso do sobrado são direcionados ao espaço externo, permitindo
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uma relação entre as duas esferas. Em alguns momentos o ambiente tem função de controle sobre o exterior e, em muitos casos, o local serve de acesso e, consequentemente, filtro do visitante ou desconhecido. Desta forma, observa-se uma dualidade na moradia colonial, ora como espaço íntimo, ora como espaço de exposição. Com a transferência da família real para o Brasil e a chegada da Missão Artística Francesa em 1816, ocorre uma “espécie de revolução francesa: a do sistema e dos métodos de construção, a dos estilos e gostos de habitação e dos próprios hábitos brasileiros de vida doméstica” (FREYRE, 1943). Neste momento a vida particular das famílias começa a ser exposta. Inicialmente retiram-se as influências mouras, os muxarabiês, por uma questão higiênica, mas principalmente estética. Sem os fechamentos, varandas, sacadas ou balcões não são somente postos de vigília, mas também postos de exposição, onde a mulher é vista e não mais escondida do exterior. Em seguida, reformulam-se as ocupações dos lotes urbanos, primeiramente exigindo um único afastamento lateral e depois um afastamento completo das divisas. Na faixa obtida pelo afastamento lateral, insere-se um jardim. Voltado a ele cria-se uma nova tipologia de varanda, baseada na estrutura da varanda alpendrada, anteriormente presente em construções rurais e em alguns quintais de moradias urbanas. Frente a essa nova configuração da varanda, o brasileiro presencia novos hábitos: nos momentos de descanso e de contemplação ao jardim, o morador está totalmente exposto, embora que devidamente protegido pelos limites de sua propriedade. Por mais que as moradias tenham sofrido modificações, expondo seus moradores à rua, os ambientes íntimos da casa permanecem protegidos em área central do lote, muitas vezes sem abertura para o exterior. No movimento modernista a separação entre ambiente íntimo e espaço social persiste, porém, o primeiro é menos reservado do que era anteriormente. O quarto, local de maior intimidade da casa, apresenta aberturas para o exterior, logo, um contato com o lado de fora. Para manter a privacidade do ambiente em relação aos demais, o quarto costuma ter fechamentos diferenciados em relação aos dos locais de convivência. Neste momento, elementos como cobogós, brises, jardineiras, varandas e outros são desenvolvidos e altamente utilizados na composição das fachadas, permitindo uma hierarquia de permeabilidade. Estes serão chamados de “pele” no trabalho. Observase que muitos prédios modernistas apresentam fachadas diferenciadas, onde a de frente contém janelas em fita ou varandas e as de fundo cobogós
2 ou brises. A janela em fita, assim como a varanda, aproxima o morador do espaço externo. Quando as folhas de vidro da janela estão abertas, o espaço interno se comporta como varanda, proporcionado por uma visão desimpedida. Durante o dia, a natureza e o movimento urbano são apresentados ao apartamento, durante a noite, o processo é invertido, onde a convivência intima da moradia é exposta para a rua. As paredes de cobogó também transmitem à rua no decorrer da noite. Elas expõem luz e movimentos de sombra, ocasionados por seus usuários, para o ambiente externo, tornando a fachada em uma espécie de luminária urbana. A presença do pilotis, utilizado em grande parte das construções do movimento, ambiente de convivência pública, porém inserido na arquitetura, é um “espaço-varanda” que reflete os novos hábitos do brasileiro, que agora anda livremente no espaço urbano. O pilotis propõe uma continuidade da superfície da cidade sob o edifício, assim como a ininterrupção do percurso ali presente. Além disso, os brasileiros convivem em espaços públicos, como praças e parques, que aos poucos, na percepção destes, recebem um aspecto mais privado por serem conhecidos. Deixam de ser espaços para se tornam lugares onde “a identidade, as relações e a história daqueles que o habitam [ou frequentam] estão inseridas” (AUGÉ).
Conclui-se que os “espaços-varanda” se modificam ao longo da história da evolução da moradia brasileira, se adaptando às demandas e aos avanços tecnológicos de sua época; e proporcionando uma gradação na relação do interior com o exterior e, consequentemente, na relação do interior com a paisagem externa. De modo geral, a arquitetura brasileira é caracterizada por seus espaços abertos. Espaços abertos por condizerem ao clima tropical de temperatura elevada, mas também por serem aceitos pelo povo brasileiro. Essa aceitação ocorre por conta da busca por espaços ventilados e conectados à paisagem externa, e pela presença de um caráter brasileiro, onde o relacionamento entre as pessoas é mais acentuado do que em outros países. A proximidade entre as pessoas se traduz na convivência em espaços públicos e nas diversas formas de apropriação do exterior. Por estes motivos, a varanda é facilmente integrada à arquitetura brasileira e “espaços-varandas” – sendo variações da última – também são altamente utilizados. A partir da análise, Brasília, cidade puramente modernista e estritamente brasileira, por ter sido criada em um momento nacionalista, se apresenta como uma boa opção de local para intervenção.
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CONCLUSÃO ESQUEMA 1 . Intermediário entre moradia e paisagem
INDÍGENA
COLONIAL
NEOCLÁSS
1500
1800
ESQUEMA 2 . Relação entre interior e exterior
filtro pro
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INDÍGENA
COLONIAL 1500
42
ão
osi
ção
vig
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SICO
MODERNO 1922
CONTEMPORÂNEO 1950
pele
o
içã
os
exp
contemplação
contemplação limites incertos
gra
da
NEOCLÁSSICO 1800
ção
MODERNO 1922
CONTEMPORÂNEO 1950
43
CONCLUSÃO AMBIÊNCIAS
44
ESQUEMA GERAL
ESQUEMA DETALHADO
1
Varanda projetada
2
Varanda alpendrada
3
Varanda embutida
1
Pátio interno
2
Prisma
1
Passarela
2
Terraço
3
Galeria
4
Pilotis
COLEÇÃO DE TIPOLOGIAS
EXEMPLO
45
SUPERQUADRA DE BRASÍLIA LÚCIO COSTA
ÍNDICE 50
INTRODUÇÃO
52
PLANO PILOTO Idealização Construção Inauguração Projeto
54
UNIDADE DE VIZINHANÇA Veículo x Pedestre Via de Serviço Passagem Subterrânea Setorização de Usos Entrequadra Comércio Local Superquadra Vegetação Edifícios Fachadas Terreno (legislação) Edifício Lâmina (legislação)
64
BRASÍLIA
64
BRASÍLIA 1984 25 anos de Brasília Cidades Satélites
65
BRASÍLIA HOJE “Modelo Ideal” Modernista Síndrome de Brasília Paisagem Humana (GEHL, 2013) (JACOBS, 2011)
68
COMPARAÇÃO DE SUPERQUADRAS Uso do Solo Edifícios Fachadas Plantas
94
CONCEITOS Pele Sperficie (analise de casos)
112 48
CONCLUSÃO
49
INTRODUÇÃO Dentre os elementos desenvolvidos pelos arquitetos modernistas brasileiros, encontram-se diferentes ambientes intermediários que poderiam ser chamados de “Espaços-Varanda”. Estes são, inicialmente, configurados pelos cinco pontos fundamentais da arquitetura moderna, difundidos por Le Corbusier, e, em seguida, transformados, por meio de uma releitura de elementos tradicionais brasileiros, para se adaptarem às demandas e condições climáticas do país. Brasília, cidade puramente modernista e estritamente brasileira, por ter sido criada em um momento nacionalista, é moldada a partir dessas premissas, apresentando-se como uma boa opção de local para intervenção. Nessa etapa, estuda-se Brasília e suas Superquadras. Por meio deste, busca-se compreender os diferentes elementos que as compõem, assim como as relações existentes nos seus espaços intersticiais, ou seja, nos seus “Espaços-Varanda”.
50
51
PLANO PILOTO IDEALIZAÇÃO Em 1823, José Bonifácio de Andrade e Silva, o Patriarca da Independência, propôs a criação de uma nova capital no interior do Brasil (sugerindo o nome Brasília), longe dos portos para garantir a segurança do país. No ano de 1892, foi nomeada a Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil, liderada pelo astrônomo Luiz Cruls e integrada por médicos, geólogos e botânicos, que fizeram um levantamento sobre topografia, o clima, a geologia, a flora, a fauna e os recursos materiais da região do Planalto Central. A área ficou conhecida como Quadrilátero Cruls e foi apresentada em 1894 ao Governo Republicano.
CONSTRUÇÃO Somente em 1955 foi delimitada uma área de 50 mil quilômetros quadrados – onde localiza-se o atual Distrito Federal. A construção da nova capital teve início em abril de 1956, no comando do então presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira, com a criação da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (NOVACAP) e o Projeto de Lei nº 2.874, o governo lançou o edital do Concurso Público para a construção do Plano Piloto. Lúcio Costa foi o vencedor do projeto urbanístico e Oscar Niemeyer o autor dos principais projetos arquitetônicos da cidade.
INAUGURAÇÃO No dia 21 de abril de 1960, a estrutura básica da cidade está edificada e Brasília então é inaugurada. Os candangos (nome dado aos primeiros habitantes da nova cidade) comemoram ao lado de Oscar Niemeyer, Israel Pinheiro, Lúcio Costa e Juscelino Kubitschek, os principais responsáveis pela construção de Brasília. Brasília é formada não só pelo Plano Piloto, mas também pelas cidades que estão dentro do território do Distrito Federal. No dia 07 de dezembro de 1987, Brasília foi tombada pela UNESCO como Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade, uma honra por ser o único monumento arquitetônico com menos de cem anos a receber este título. Fontes: Administração do Plano Piloto, Arquivo Público do Distrito Federal. “Brasília, neste momento crítico da nossa angústia brasileira, parecia uma ideia antipática; Lúcio Costa ganha o concurso do plano piloto para a construção da futura capital e o seu projeto, lembrando um avião em reta para a impossível utopia, logo dá à iniciativa um ar plausível” (BANDEIRA, 1957). 52
PROJETO A . Sinal da cruz. “Nasceu do gesto primário de quem assinala um lugar ou dele toma posse: dois eixos cruzando-se em ângulo reto, ou seja, o próprio sinal da cruz”.
B . Adaptação à topografia. “Procurou-se depois a adaptação à topografia local, ao escoamento natural das águas, à melhor orientação, arqueando-se um dos eixos a fim de contê-lo no triangulo que define a área urbanizada”.
1
C . Princípios da técnica rodoviária. “E houve o propósito de aplicar os princípios francos da técnica rodoviária – inclusive a eliminação dos cruzamentos – à técnica urbanística, conferindo-se ao eixo arqueado correspondente às vias naturais de acesso a função circulatória tronco, com pistas centrais de velocidade e pistas laterais para o tráfego local, e dispondo-se ao longo desse eixo o grosso dos setores residenciais”.
1 53
UNIDADE DE VIZINHANÇA
VIA DE SERVIÇO “Ao fundo das quadras estende-se a via de serviço para o tráfego de caminhões, destinando-se ao longo dela a frente oposta às quadras, à instalação de garagens, oficinas, depósitos do comércio em grosso etc., e reservando-se uma faixa de terreno, equivalente a uma terceira ordem de quadras, para floricultura, horta e pomar. Entaladas entre essa via de serviço e as vias do eixo rodoviário, intercalaram-se então largas e extensas faixas com acesso alternado, ora por uma, ora por outra, e onde se localizaram a igreja, as escolas secundárias, o cinema e o varejo do bairro, disposto conforme a sua classe ou natureza”.
PASSAGEM SUBTERRÂNEA A passagem subterrânea faz a conexão das quadras 100/300 com as 200/400. Existem 16 passagens no Plano Piloto, 8 em cada asa. Elas ocorrem no alinhamento das CLs 100 e 200, passando por de baixo do Eixo Rodoviário. Como as passagens se encontram a uma distância de, aproximadamente, 730 metros entre si, elas atendem a um número significante de pessoas. Considerando que as pessoas atravessam no equipamento mais próximo de onde se encontram, cada uma das passagens subterrâneas é utilizada por habitantes de oito superquadras e usuários de quatro comércios locais e quatro entrequadras. Além destes, a travessia atende a uma população que se encontra no exterior do plano piloto, como por exemplo, alunos da Unb. 54
VEÍCULO x PEDESTRE “A rede geral de tráfego automóvel, estabeleceramse, tanto nos setores centrais como nos residenciais, tramas autônomas para o trânsito local dos pedestres a fim de garantir-lhes o uso livre do chão, sem, contudo levar tal separação a extremos sistemáticos e antinaturais pois não se deve esquecer que o automóvel, hoje em dia, deixou de ser o inimigo inconciliável do homem, domesticouse, já faz, por assim dizer, parte da família. Ele só se “desumaniza”, readquirindo vis-à-vis do pedestre feição ameaçadora e hostil quando incorporado à massa anônima do tráfego. Há então que separálos, mas sem perder de vista que em determinadas condições e para comodidade reciproca, a coexistência se impõe”. “O chão é público – os moradores pertencem à quadra, mas a quadra não lhes pertence.” (COSTA, 1995) As superquadras existentes contêm interferências entre veículos e pedestres, dificultando o atravessamento da última e, em alguns casos, impossibilitando o “uso livre do chão”. 1
PROPOSTA DE LÚCIO COSTA
REALIDADE DAS SUPERQUADRAS
O viário do Plano Piloto segue os princípios da técnica rodoviária, possuindo vias expressas (Eixos Monumental e Rodoviário) e vias locais (vias L1, L2, W1 e W2). W1
W2
ER
L1
L2
PS
2 55
SETORIZAÇÃO DE USOS Um dos princípios de Brasília é a setorização dos usos. Tanto o Plano Piloto, quanto a Unidade de Vizinhança são seguem essa lógica. Na Unidade de Vizinhança encontram-se áreas residenciais (Superquadra), áreas comerciais (Comércio Local) e áreas que possuem equipamentos institucionais (Entrequadra). 300
100
200
400
COMÉRCIO LOCAL ENTREQUADRA SUPERQUADRA - TIPO 1 SUPERQUADRA - TIPO 2
COMÉRCIO LOCAL “O mercadinho, os açougues, as vendas, quitandas, casas de ferragens, etc., na primeira metade da faixa correspondente ao acesso de serviço; as barbearias, cabeleireiros, modistas, confeitarias, etc., na primeira seção da faixa de acesso privativa dos automóveis e ônibus, onde se encontram igualmente os postos de serviço para venda de gasolina. As lojas dispõem-se em renque com vitrines e passeio coberto na face fronteira às cintas arborizadas de enquadramento dos quarteirões e privativas dos pedestres, e o estacionamento na face oposta, contígua às vias de acesso motorizado, prevendo-se travessas para ligação de uma parte a outra, ficando assim as lojas geminadas duas a duas, embora o seu conjunto constitua um corpo só”.
PEDESTRE
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AUTOMÓVEL
Ao ser projetado, o comércio local, com abreviação de CL, tinha o objetivo de ser um local que oferecesse serviço e comércio variado para a população vizinha a ele. Desta forma, em menos de 250 metros, ou três minutos, um morador de superquadra conseguiria resolver qualquer necessidade. Porém, os comércios tendem a se tornaram setorizados. Por um lado, a união de serviços iguais em um mesmo ponto facilita a compra daquele que busca materiais específicos, como por exemplo equipamentos eletrônicos. Por outro lado, a proposta de comércio de bairro se perde e o morador é obrigado a consumir em diferentes CLs, fazendo percursos mais longos. Dificilmente um CL se torna inteiramente restrito a um único comércio. CLs setorizados ganham apelidos pelos brasilienses, com o objetivo de identificar a atividade que se destaca. Alguns exemplos são o CLN 207/208, intitulado de “Rua da Informática” e o CLN 406/407 de “Rua da Cultura”.
1
Os comércios locais situados na asa sul seguem a configuração definida por Lúcio Costa: de cada lado da via, quadro edificações isoladas são conectadas por uma cobertura plana. O intervalo entre os volumes apresenta passagens que ligam a via do comércio com as duas superquadras vizinhas. Os comércios locais situados na asa norte recebem modificações em relação aos anteriores. Os quatro edifícios têm forma de cogumelo (os dois primeiros pavimentos têm uma metragem quadrada inferior ao terceiro) e suas coberturas são individuais, não havendo uma conexão entre os blocos. Em certos momentos o passeio também não apresenta uma continuidade, pelos blocos gerarem desníveis.
COMÉRCIO LOCAL SUL
1
COMÉRCIO LOCAL NORTE
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ENTREQUADRA “Na confluência das quatro quadras localizou-se a igreja do bairro, e aos fundos dela as escolas secundárias, ao passo que na parte da faixa de serviço fronteira à rodovia se previu o cinema a fim de torná-lo acessível a quem proceda de outros bairros, ficando a extensa área livre intermediária destinada ao clube da juventude, com campo de jogos e recreio”. As entrequadras possuem dois lotes, podendo receber dois dos equipamentos citados anteriormente. Estes também podem ser unidos.
SUPERQUADRA “Quanto ao problema residencial, ocorreu a solução de criar-se uma sequência contínua de grandes quadras dispostas, em ordem dupla ou singela, de ambos os lados da faixa rodoviária, e emolduradas por uma larga cinta densamente arborizada”. SUPERQUADRA
UNIDADE DE VIZINHANÇA
As Superquadras são áreas verdes com dimensões aproximadas de 300m x 200m, onde se encontram implantados os edifícios residenciais. O solo é público, de forma que não há cercas e muros¹ e os vazios estão preenchidos por gramados, chegando a alcançar até 84% da área, segundo Romero (2001). 300 m
300 m
SUPERQUADRA
A implantação de prédios residenciais dentro das superquadras varia de quadra para quadra. Há dois grupos principais de blocos: Quadras TIPO 1 (100, 200 e 300): 11 blocos com pilotis e 6 pavimentos. Quadras TIPO 2 (400): 20 edifícios com pilotis e 3 pavimentos. 58
VEGETAÇÃO “As quadras são emolduradas por uma larga cinta densamente arborizada, árvores de porte, prevalecendo em cada quadra determinada espécie vegetal, com chão gramado e uma cortina suplementar intermitente de arbustos e folhagens, a fim de resguardar melhor, qualquer que seja a posição do observador, o conteúdo das quadras, visto sempre num segundo plano e como que amortecido na paisagem. Disposição que apresenta a dupla vantagem de garantir a ordenação urbanística mesmo quando varie a densidade, categoria, padrão ou qualidade arquitetônica dos edifícios, e de oferecer aos moradores extensas faixas sombreadas para passeio e lazer, independentemente das áreas livres previstas no interior das próprias quadras. Dentro destas “superquadras” os blocos residenciais podem dispor-se da maneira mais variada, obedecendo, porém a dois princípios gerais: gabarito máximo uniforme, talvez seis pavimentos e pilotis, e separação do tráfego de veículos do trânsito de pedestre, mormente o acesso à escola primária e às comodidades existentes no interior de cada quadra”. 1
“CINTURA DENSAMENTE ARBORIZADA”
FAIXAS SOMBREADAS
CONTEÚDO COMO 2° PLANO - AMORTECIMENTO
2
¹ Cercas e muros são ilegais, mas há muitas superquadras onde os blocos são rodeados pelas cercas vivas. 59
EDIFÍCIOS Observa-se uma grande homogeneidade visual dos edifícios residenciais. As principais causas, além das normas muito restritas, são: rápida construção da cidade, economia no projeto e o fato de alguns poucos arquitetos terem presença muito marcante, construindo algumas dezenas de edifícios. É muito comum a repetição de um projeto, não somente dentro de uma superquadra, mas também nas quadras vizinhas. Mesmo alterando cores e materiais de acabamento, existem várias quadras onde todos os seus blocos seguem uma mesma linguagem. Os blocos residenciais das superquadras possuem projeção retangular, com dimensões de 12,5m x 85m. Estes foram traçados seguindo certo padrão, onde todos são paralelos aos limites das quadras. O edifício implantado junto à borda da superquadra costuma ter sua fachada principal voltada para o exterior; e aquele que se encontra no interior é comumente voltado para uma praça interna ou uma área com equipamentos públicos.
1
85 m 12,5 m
EDIFÍCIO LAMINA
O código de 1967 permitia a alteração da disposição, a quantidade e a forma dos blocos, desde que mantendo a taxa de ocupação, os pilotis e o número de pavimentos. Somente quatro superquadras sofreram mudanças radicais: SQS 207, SQN 309, SQN 310 e SQN 204. Durante as últimas décadas foram introduzidas muitas modificações nos códigos de obras, alterando a forma da projeção e do pavimento tipo, sempre favorecendo os interesses imobiliários. Um bloco típico de seis pavimentos da década de 60 possuía 48 apartamentos (BATISTA et al, 2003). Os mesmos atualmente possuem 96 apartamentos.
SQS 207
SQN 204
1
SQS 207
SQN 107
SQN 310
2 60
FACHADAS É possível dividir os edifícios, conforme seu período de construção, em dois grandes grupos. O primeiro abrange os edifícios construídos nos anos 60 até final dos 70, e o segundo grupo compreende os mais recentes, construídos a partir de 80.
3
3
A arquitetura produzida nos primeiros vinte anos segue princípios do Movimento Moderno, especialmente do Racionalismo Carioca e do Brutalismo Paulista. Nos blocos residenciais existe uma clara distinção entre fachada de frente e dos fundos. A fachada de frente é normalmente caracterizada por grandes janelas corridas (principalmente a janela horizontal corbusiana). Voltadas para os fundos, onde se situava a área de serviço, adotava-se o cobogó, resposta à exigência de elementos vazados. Observa-se a presença de brises na composição da fachada. Houve, nesse momento, uma grande repetição de projetos, resultando por vezes em edifícios mal implantados, inclusive quanto à orientação solar. No final da década de 60 começou lentamente a desaparecer a distinção clara das fachadas frente/ fundo, principalmente em decorrência da abolição dos apartamentos vazados e semivazados¹. Assim, a grande maioria dos edifícios nas décadas seguintes possui fachadas equivalentes. A partir da década de 80, por consequência de mudanças na concepção arquitetônica e do aumento da atividade imobiliária, os edifícios residenciais passam a apresentar outras características. Os prédios, encontrados principalmente na Asa Norte (ocupação mais recente) têm como principal mudança a presença de varandas, gerando formas mais recortadas. Os apartamentos são menores, em geral não são vazados e as superfícies de vidro são reduzidas.
¹ Os apartamentos vazados são aqueles cujas dependências são voltadas para as duas faces opostas do edifício, permitindo assim uma ventilação cruzada. Os semivazados dão diretamente apenas para uma fachada longitudinal e no lado oposto possuem aberturas voltadas para circulação horizontal que se estende ao longo do edifício e é aberta para a outra fachada longitudinal.
4
BRAGA, Darja Kos. “Arquitetura residencial das superquadras do Plano Piloto de Brasília: aspectos de conforto térmico”. AMORIM, Cláudia Naves; FLORES, Alice Leite. “Edifícios Residenciais das Superquadras do Plano Piloto, Brasília: Aspectos de Preservação e Conforto Ambiental”.
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TERRENO Área edificada: 15% Área seca: 20% Área permeável: 65% Área de grama: 38,5% Cinturão verde: 26,5%
EDIFÍCIO LÂMINA (tipo 1) Geral 6 pavimentos + pilotis Taxa de ocupação: 100% (obrigatório) Cobertura: 30 % Corpo: 100% Pavimento térreo: 30% Subsolo: 155% da área de projeção
Uso Permitido Habitações coletivas
Unidades habitacionais 11 apartamentos por andar: 96,6 m² cada. (subtrair área de circulação vertical da área de cada apartamento) 62
Cobertura caixa d’água casa de maquina reservatórios (iluminação e ventilação natural) depósitos (iluminação e ventilação natural) Afastamento laterais/empenas: 3,00 m Afastamento frente/fundos: 2,50m
Pavimento térreo
1
obrigatório: vestíbulos (social e serviço se houver elevadores distintos) apartamento do zelador dependência de faxineiros caixa de correspondência compartimento para quadro de medidores opcional: salão de múltipla utilização compartimento para bicicletário
Pilotis Fachadas laterais/empenas: 5% da largura da projeção ou no mínimo 3,00 m a partir do limite externo da projeção, excetuando-se os pilares e a guarita Fachadas frente/fundo: 20% da largura da projeção ou no mínimo 2,00 m a partir do limite externo da projeção, excetuandose os pilares Extensão máxima continua das áreas fechadas: 25% do comprimento da projeção Espaçamento mínimo entre as áreas fechadas: 3,00 m
Estacionamento
2
1 vaga unidade domiciliar com até 4 compartimentos de permanência prolongada de mais de 8 m² (cada) 2 vagas unidade domiciliar com 5 ou mais compartimentos de permanência prolongada 8 m² ou mais (cada) 63
BRASÍLIA 25 ANOS DE BRASÍLIA (1985) Em 21 de abril Brasília completou 25 anos. De acordo com os autores do trabalho, “a presença da cidade já se tornou tão natural na vida brasileira que nem mais ocorre às pessoas o quão extraordinário é o simples fato de sua existência, de ter surgido do nada uma cidade-capital, que em tão pouco tempo já consolidou uma maneira de viver que lhe é própria”. O plano de Lúcio Costa, mesmo antes da viabilização da “escala gregária”, contando apenas, nos primeiros tempos, com a escala monumental e a proposta inovadora para a habitação multifamiliar que foi a Superquadra, garantiu à cidade, desde o início, não apenas uma individualidade formal, mas o embrião de uma forma de viver inteiramente diferente das demais cidades brasileiras. Quando a nova capital era ainda pouco mais que uma semente urbana plantada na vastidão vazia do Planalto Central, sua presença já se impunha “em escala definitiva”. Esta decorrência da concepção do Plano Piloto ter sido “imbuída de certa dignidade e nobreza de intenção” e o fato de ser inovadora – tanto plástica como estruturalmente – e inovadora com raízes profundamente brasileiras, certamente contribuiu para que, ao primeiro encrave, a capital não tenha retornado ao litoral. “Vendo Brasília hoje – dizem os executores do trabalho – não é exagero afirmar-se que o essencial da proposta foi cumprido. E o sabem seus moradores – Brasília é, antes de mais nada, um produto de consumo interno; sua verdadeira especificidade, o natural para os que aqui nasceram, só é perceptível vista de dentro, e talvez seja por isso tão frequente a dificuldade que as pessoas de fora têm de avalia-la corretamente – o essencial escapa”.
Não se deve esquecer que Brasília é uma experiência urbana absolutamente singular – trata-se de uma cidade não só concebida, mas implantada desde o início como se já fosse adulta: a criança cresceu dentro de roupas grandes demais para ela, e só agora, quando sua primeira geração já atingiu a maioridade é que a vitalidade urbana tem reais condições de usufruir e, por outro lado, de revelar potencialidades e carências da concepção original. Nas circunstancias em que Brasília surgiu, como símbolo da própria identidade da nação, quando pela primeira vez tomava coragem de acreditar em si própria, a utopia era mais verdadeira que a realidade. Brasília tem esta marca de berço, e a força do vínculo entre a proposta urbanística e o momento histórico que a gerou é de tal ordem que a capital permanece – e permanecerá – o símbolo vivo do gesto de fé e vontade, da nação voltada para seu horizonte maior. Cada cidade tem o seu jeito, Brasília é Brasília, e, para cuidar de seus problemas de maneira lúcida e eficaz, não se pode omitir sua peculiaridade de “cidade inventada”, mas, no entanto, real. “Assim – conclui o grupo de trabalho – pareceu que a melhor alternativa seria começar pelo começo, ou seja, pelo Plano Piloto, retomando a ideia geradora com o intuito de entendê-la, de perceber as intenções e o alcance, prosseguido pelos caminhos e descaminhos de seu desenvolvimento e da implantação da cidade, observando o comportamento urbano que hoje existe, para finalmente chegar a sugestões e recomendações, contando com a participação do autor do plano, sobretudo porque, em seu recente reencontro com a cidade já adulta, Lúcio Costa revelou ter sensibilidade bastante para perceber a Brasília que existe.
1 64
2
CIDADES SATÉLITES Concebida em função de três escalas diferentes, a coletiva ou monumental, a cotidiana ou residência e a concentrada ou gregária, é justamente o jogo entre elas que dá à cidade seu caráter próprio e definitivo. Propunha o plano piloto – e esta era a sua característica mais importante do ponto de vista social – reunir em cada uma de suas áreas de vizinhança as várias categorias, a fim de evitar a estratificação da cidade em bairros ricos e bairros pobres. Lamentavelmente, de acordo com Lúcio Costa, este aspecto fundamental da concepção urbanística da cidade não pôde ser realizado. “De uma parte, o falso realismo da mentalidade imobiliária insistiu em vender todas as quadras a pretexto de tornar o empreendimento autofinanciável, de outra parte, a abstração só admitia um mesmo padrão de apartamentos, como se a sociedade atual já fosse sem classe”. Para o arquiteto, quem trabalha em Brasília deve morar em Brasília e não a 20 Km de distância nas “pseudocidades satétites”. As verdadeiras cidades satélites deveriam vir depois de completada a área metropolitana e não assim, antes, numa antecipação irracional. Enquanto Lúcio Costa propunha uma mistura de classes sociais nas superquadras, obtevese o inverso, uma segregação de classes, onde somente as classes mais altas têm condições de morarem no Plano Piloto. As cidades satélites, criadas antes da ocupação por completa do Plano Piloto, possuem, em muitos casos, uma ocupação desordenada, gerando cidades com infraestrutura precária. Comprova-se pelos mapas de evolução da ocupação do Distrito Federal (ver ao lado) que na década de 60 já existiam aglomerados do lado de fora do Plano Piloto.
3 DÉCADA DE 60
DÉCADA DE 70
DÉCADA DE 80
DÉCADA DE 90
4 65
BRASÍLIA HOJE “MODELO IDEAL” MODERNISTA “Infelizmente, a teoria urbanística ortodoxa está profundamente comprometida com o modelo de bairros supostamente acolhedores e voltados para si. Na forma original, o modelo consiste numa unidade de vizinhança, constituída por cerca de 7 mil pessoas, que tenha tamanho suficiente para conter uma escola elementar e para manter lojas de conveniência e um centro comunitário. Essa unidade foi ainda imaginada com subdivisões em agrupamentos menores, de um tamanho que atenda à diversão infantil, ao presumível controle sobre as crianças e ao bate-papo das donas de casa. Embora esse “modelo ideal” raramente seja produzido à risca, é o ponto de partida para [...] maior parte do zoneamento moderno [...]” (JACOBS, 2011, p.126). A autora explica que, para compreender porque o modelo se trata de um “ideal”, deve-se entender a diferença entre as relações existentes em cidades grandes e pequenas. Em uma cidadezinha ou uma vila, os habitantes se conhecem e interagem no espaço público. Porém, em uma metrópole, moradores “não possuem esse mesmo grau natural de inter-relacionamento”. A densidade presente em cidades grandes, diferente das pequenas, faz com que o indivíduo não conheça suficientemente bem o próximo para confiar-lhe tarefas básicas, como cuidar do seu filho enquanto ele brinca em áreas públicas.
1
2
Inicialmente, nos primeiros anos de vida do Plano Piloto, a densidade era baixa possibilitando relações de cidades pequenas. Moradores desta época relatam que as crianças brincavam livremente nas superquadras, como Lúcios Costa previa. Entretanto, hoje, com as asas norte e sul praticamente completas, o cenário é outro. Atualmente, a troca no espaço público de metrópoles tem se intensificado com a busca por eventos culturais e atividades ao ar livre. Em Brasília, observa-se um processo de valorização de restaurantes e bares que se abrem para as calçadas. Além destes, parques e áreas de lazer também são buscados, como por exemplo, o Parque Olhos d’Água (foto 3) que ocupa duas superquadras (SQN 413 e SQN 414) e a recém-inaugurada praia artificial às margens do Lago Paranoá (foto 4).
3
4 66
SÍNDROME DE BRASÍLIA Segundo Jan Gehl, trabalhar a partir da escala menor, da paisagem humana, é “a chave para alcançar melhores condições para a dimensão humana” (GEHL, 2013, p.195). Ele entende que essa escala deve ser projetada no nível dos olhos, observando as ações e sensações dos usuários da cidade. Em contraposição a isso, o autor chama o processo modernista de projetar para as escalas maiores, deixando por último a menor de síndrome de Brasília. “Um dos exemplos mais notáveis de plano urbano modernista é Brasilia. [...] A nova cidade nos dá uma boa oportunidade as consequências do planejamento concentrado exclusivamente na maior escala. Vista do alto, Brasília é uma bela composição. [...] No entanto, a cidade é uma catástrofe ao nível dos olhos, a escala que os urbanistas ignoraram. Os espaços urbanos são muito grandes e amorfos, as ruas muito largas, e as calçadas e passagens muito longas e retas. As grandes áreas verdes são atravessadas por caminhos abertos pela passagem das pessoas, mostrando como os habitantes protestam, com os pés, contra o rígido plano formal da cidade” (GEHL, 2013, p.197). O Plano Piloto foi projetado a partir de uma divisão de quatro escalas: “A escala monumental está configurada pelo Eixo Monumental, desde a Praça dos Três Poderes até a Praça do Buriti. A escala residencial [...] está representada pelas superquadras das Asas Sul e Norte. A gregária (ou de convívio) situa-se na Plataforma Rodoviária e nos setores de diversões, comerciais, bancários, hoteleiros, médicohospitalares, de autarquias e de rádio e televisão Norte e Sul. A bucólica, por sua vez, confere a Brasília o caráter de cidade-parque e é constituída por todas as áreas livres destinadas à preservação paisagística e ao lazer” (COSTA, 1957).
5
A definição inicial da escala gregária aparenta ser uma escala menor. De fato, ela tem como objetivo articular as outras escalas do Plano Piloto e criar um “foco urbano de congestão” concebido para “fazer contraponto aos espaços desafogados e serenos das superquadras residenciais” (COSTA). Porém, a verdadeira escala menor, a da paisagem humana, só é criada muitos anos após a inauguração de Brasília, por efeito de ação de moradores e usuários do local. Em 1984, Lúcio Costa visita a Plataforma Rodoviária (foto 6), foco central da escala gregária, e se impressiona com a apropriação dos usuários, logo a redefinição da escala: “[...] Quem tomou conta [da Rodoviária] foram esses brasileiros verdadeiros que construíram a cidade e estão ali legitimamente. Só o Brasil. E eu fiquei orgulhoso disso, fiquei satisfeito. É isto. Eles estão com a razão, eu é que estava errado. Eles tomaram conta daquilo que não foi concebido para eles. Foi uma bastilha. Então eu vi que Brasília tem raízes brasileiras, reais, não é uma flor de estufa como poderia ser. Brasília está funcionando e vai funcionar cada vez mais. Na verdade, o sonho foi menor do que a realidade. A realidade foi maior, mais bela. Eu fiquei satisfeito, me senti orgulhoso de ter contribuído” (COSTA, 1984). Brasília, por mais que não tenha sido concebida a partir da escala da paisagem humana, atualmente, recebe espaços – em geral promovidos ou demandados por seus habitantes – que apresentam “melhores condições para a dimensão humana”. A busca por eventos culturais e atividades ao ar livre, e os consequentes lugares criados a partir disso (citados anteriormente) transformam espaços urbanos “muito grandes” e com passagens “longas e retas” (GEHL, 2013), em locais de concentração e de diversidade.
6 67
COMPARAÇÃO SUPERQUADRAS Após um estudo do conceito de Superquadra de Lúcio Costa, foram escolhidas oito quadras do Plano Piloto – quatro na Asa Sul e quatro na Asa Norte – para entender o atual funcionamento destas. Foram selecionadas as superquadras “modelo” (SQS 308), as que contêm edifícios de projeções diferentes da tradicional projeção em lâmina (SQS 207 e SQN 107), as adjacentes ao terreno de estudo (SQN 206 e SQN 208) e três outras que dispõem de características particulares (SQS 109, SQS 312 e SQN 304). Por meio de uma comparação, busca-se compreender os diferentes elementos urbanos e arquitetônicos que compõem as quadras, assim como as relações existentes nos espaços intersticiais. Desta forma, objetiva-se observar a evolução da superquadra ao longo dos seus 75 anos de vida, buscando entender as mudanças tipológicas das edificações, dos equipamentos urbanos e de seus espaços intermediários, levando em conta a influência do usuário.
107
SQN
04
SQN 3
S
SQ 8
30
S
SQ
9
10
S SQ 2
31 S
SQ 7
20
68
SQN
208
SQN
206
69
SQS 109 O Instituto de Pensão dos Bancários ergueu edifícios na SQS 109, destinados aos seus diretores. Os edifícios foram desenhados por arquitetos do quadro do instituto, como Luigi Pratesi, Aldari Toledo e João Filgueiras de Lima (Lelé). Cada bloco tem 72 apartamentos. Como se pode observar na quadra modelo (SQS 308), espaços de lazer são situados nas áreas livres e públicas da superquadra permitindo uma maior integração dos moradores e contribuindo para a segurança do local. Alguns edifícios da SQS 109 apresentam uma área de recreação infantil indo contra a lógica estabelecida. Este é elevado do solo criando empenas cegas e, consequentemente, gerando um abandono do espaço livre ao seu redor. Além disso, os pilotis, que deveriam se localizar no nível do solo, para possibilitar o atravessamento, se encontram elevados, dificultando o passeio e segregando o seu entorno.
LEGENDA A . VIÁRIO
via externa via interna B . USO DO SOLO
residencial comercial educação esportivo cultural outro C . VEGETAÇÃO
vegetação rasteira ou arbustiva
A 70
B
C
2
2
2
1
2 71
SQS 207 A SQS 207 apresenta uma implantação e projeção dos edifícios diferente das tradicionais (edifício lâmina). Observa-se pouca fidelidade às diretrizes iniciais, propostas por Lúcios Costa, quando diz respeito à função do pilotis. Enquanto o objetivo era proporcionar um uso livre do solo e um possível atravessamento, o pilotis elevado na SQS 207 dificulta o percurso, obrigando o transeunte a subir e descer escadas ou contornar os edifícios.
LEGENDA A . VIÁRIO
via externa via interna B . USO DO SOLO
residencial comercial educação esportivo cultural outro C . VEGETAÇÃO
vegetação rasteira ou arbustiva
A 72
B
C
2
2
2
2
2
1 73
SQS 308 A SQS 308 é chamada de “quadra modelo” por ser uma referência de como as superquadras de Brasília deveriam ser. Ela apresenta diversos equipamentos para atender às necessidades de seus moradores, contando com um Clube Unidade de Vizinhança, uma Escola Classe, uma Escola Parque, um Jardim de Infância, um Espaço Cultural da SQS 508, um Posto de Saúde, uma Biblioteca Pública, a Igrejinha de Fátima, supermercados e recentemente, o Posto Policial Comunitário número 073. A SQS 308 é a única quadra a ter o projeto paisagístico assinado por Burle Marx, é pioneira na construção de garagens subterrâneas e seu arruamento tornou-se um padrão seguido por grande parte das construções da cidade. Fonte: Prefeitura 308 Sul
LEGENDA A . VIÁRIO
via externa via interna B . USO DO SOLO
residencial comercial educação esportivo cultural outro C . VEGETAÇÃO
vegetação rasteira ou arbustiva
A 74
B
C
2
2
2
2
2
2
2
2 75
SQS 312 A SQS 312 conta com uma Escola Creche, uma Biblioteca Pública e a Paróquia Nossa Senhora de Gadalupe. Diferente da maior parte das superquadras, existe uma grande variedade de edifícios e fachadas na SQS 312. Na mesma superquadra encontram-se edificios vazados ou semivazados e edifícios de fachadas opostas iguais. Observa-se o emprego de diferentes materiais, uns de concreto aparente, outros com revestimentos variados. Núcleos de recreação infantil, em forma circular, circundam arvores podadas, se destacando novamente dos elementos encontrados em outras superquadras.
LEGENDA A . VIÁRIO
via externa via interna B . USO DO SOLO
residencial comercial educação esportivo cultural outro C . VEGETAÇÃO
vegetação rasteira ou arbustiva
A 76
B
C
2
2
2
2
2
2
2 77
SQN 107 A SQN 107 faz parte do projeto da Unidade de Vizinhança São Miguel, que surgiu de um questionamento de estudantes da Unb. Eles propõem os primeiros edifícios de projeção quadrada conhecidos como “torre”. Os preceitos do projeto se baseavam na diversidade social; na valorização de pré-moldado; na preocupação ambiental com a incidência solar na fachada; na proposta crítica ao uso generalizado de veículos na capital; e na diversidade de planta, com a proposta de oito tipos de apartamentos. As características do projeto eram a simplicidade racional e o equilíbrio de cheios e vazios, onde a estrutura protege as aberturas. O projeto não foi concluído, havendo a construção de três dos cinco edifícios.
LEGENDA A . VIÁRIO
via externa via interna B . USO DO SOLO
residencial comercial educação esportivo cultural outro C . VEGETAÇÃO
vegetação rasteira ou arbustiva
A 78
B
C
1
1
1
1
1
1 79
SQN 206 A SQN 206 contem seus 11 edifícios consolidados, porém nenhuma escola foi construída. A topografia existente no terreno dificulta a implantação dos edifícios em um único nível. Com isso, observa-se a presença de taludes e escadas. Os edifícios, idênticos entre si, contém uma fachada de fundos com cobogó e uma de frente com uma composição de janelas de vidro e brises. A presença de fachada frontal e de fundo indica que os apartamentos são vazados ou semivazados.
LEGENDA A . VIÁRIO
via externa via interna B . USO DO SOLO
residencial comercial educação esportivo cultural outro C . VEGETAÇÃO
vegetação rasteira ou arbustiva
A 80
B
C
2
2
2
2
2 81
SQN 208 A SQN 208 contem 9 edifícios consolidados e 2 em construção. Nenhuma escola foi construída. A quadra de futebol, situada em área central da superquadra e isolada das edificações se encontra desconectada do seu entorno. A futura implantação das escolas, ao redor da quadra, pode contribuir para a sua inclusão ou exclui-la ainda mais. As fachadas dos edifícios lâmina apresentam, em muitos casos, varandas.
LEGENDA A . VIÁRIO
via externa via interna B . USO DO SOLO
residencial comercial educação esportivo cultural outro C . VEGETAÇÃO
vegetação rasteira ou arbustiva
A 82
B
C
1
1
1
1
1
1 83
SQN 304 A SQN 304 se encontra completa. A quadra conta com uma Escola Classe, uma Escola Parque, um Jardim de Infância e a Paróquia Militar de São Miguel Arcanjo e Santo Expedito. As fachadas apresentam varandas, muitas vezes, em balanço. Algumas destas dispõem de um canteiro para a plantação de vegetação. Relatos de um morador diz que entorno de 70% das varandas da superquadra foram fechadas com placas de vidro.
LEGENDA A . VIÁRIO
via externa via interna B . USO DO SOLO
residencial comercial educação esportivo cultural outro C . VEGETAÇÃO
vegetação rasteira ou arbustiva
A 84
B
C
1
1
1
1
1 85
COMPARAÇÃO USO DO SOLO SQS 109
SQS 207
SQS 308
SQS 312
BIBLIOTECA
-
-
1
1
CAMPO DE FUTEBOL
1
-
3
2
COMÉRCIO
4
3
4
4
ESCOLA
-
-
4
4
IGREJA
-
-
1
1
PARQUINHO
2
-
1
3
CLUBE
1
1
-
-
GERAL
VIÁRIO
USO DO SOLO
VEGETAÇÃO RASTEIRA OU ARBUSTIVA
86
SQN 107
SQN 206
SQN 208
SQN 304
CONCLUSÃO
O viário conecta os edifícios e, na maior parte das vezes, interfere no percurso do pedestre.
Os usos são setorizados, gerando zonas de convívio e áreas desocupadas. A vegetação preenche os vazios, se tornando abundante. De fato, há muita área livre para pouca população.
-
-
-
-
-
2
1
-
4
4
4
4
1
3
2
3
-
-
-
-
-
-
-
-
-
1
-
87
COMPARAÇÃO EDIFÍCIOS Há uma busca do morador pela “privatização” de áreas intermediárias entre edifício e cidade. O pilotis é um local público sob comando do edifício privado. Observa-se um processo de isolamento do último, na tentativa de torna-lo menos acessível ao público, logo, mais restrito ao edifício.
SQS 109 O edifício escolhido na SQS 109 apresenta uma área de recreação infantil elevada do solo. Esta cria empenas cegas e, consequentemente, gera um abandono do espaço livre ao seu redor. Além disso, os pilotis também se encontram elevados, dificultando o passeio e segregando o seu entorno.
SQS 308 Os edifícios da SQN 308, quase idênticos entre si, contém uma fachada de fundos com cobogó e uma de frente com janela em fita. A janela em fita proporciona uma relação direta entre interior e exterior. Por haver um tombamento do conjunto urbanístico, arquitetônico e paisagístico da Unidade de Vizinhança formada pelas superquadras 107, 108, 307 e 308 da Asa Sul, não existem intervenções nas fachadas dos edifícios. Desta forma, a relação é mantida. A maioria dos pilotis dos edifícios da SQS 308 se encontram no nível dos passeios adjacentes permitindo um atravessamento da superquadra. Por este motivo e pela superquadra ser conhecida como “modelo”, há um movimento considerável no espaço público desta.
SQS 312 O edifício escolhido na SQS 312 contém uma fachada de fundos com cobogó e uma de frente com uma composição de brises, varandas e jardineiras. A fachada de fundo se volta para a via de automóvel e a de frente para a de pedestre. Na última os pedestres são direcionados a andarem reto, pela presença de cercas vivas e físicas que circundam os pilotis neste trecho. Duas entradas interrompem a barreira, conectando via de pedestre com área dos pilotis. A presença das cercas isola o pilotis e torna-lhe menos acessível. 88
LEGENDA
via de veículo via de pedestre área inacessível
SQS 207 O edifício escolhido na SQS 207, igual a outros da superquadra, tem forma de H. Seus pilotis são elevados, obrigando o transeunte a subir e descer escadas ou contornar o edifício em uma tentativa de atravessamento da quadra. Alguns acessos às áreas de pilotis, por escada, se encontram camuflados por vegetação arbustiva, tornando o percurso pouco claro para aqueles que não frequentam o local. No entorno desse edifício, nota-se a importância do veículo. De fato, pelos equipamentos se encontrarem nos pilotis, desconectados do solo, a via no nível do solo se torna unicamente de passagem e estacionamento para automóveis. Em outras áreas da SQS 207, onde os desníveis são menores, pode-se observar mobiliário urbano no solo, demonstrando uma aproximação dos espaços.
SQN 304 Na SQN 304 existem diferentes edifícios com a presença de varandas. Observa-se um processo de fechamento destas com placas de vidro. Relatos de um arquiteto, morador da superquadra, indicam que perto de 70% das varandas já sofreram a intervenção. A relação “interior x exterior” se torna prejudicada.
SQN 206 No recorte escolhido, via de automóvel e passeio de pedestre são intercalados entre edifícios. A fachada de fundo se volta para a via de automóvel e a de frente para a de pedestre. Gera-se um espaço que integra os dois pilotis, permitindo um estar sem interferência de veículos, protegido pelo olhar dos moradores. Além disso, a implantação dos edifícios, em relação à trajetória do sol, proporciona sombras no local de convivência, favorecendo o seu uso. 89
COMPARAÇÃO FACHADAS SQN 206 Os edifícios da SQN 206, idênticos entre si, apresenta uma composição muito diversificada. A fachada de fundos contém cobogó e uma de frente com uma mescla de janelas de vidro e brises. A presença de fachadas opostas indica que os apartamentos são vazados ou semivazados.
SQS 109 O edifício escolhido na SQS 109 foi construído no começo da ocupação do Plano Piloto. Sua fachada, modular, apresenta janelas em fita. No momento em que o edifício foi projetado, os apartamentos costumavam se vazados. Este não é vazado, apresentando fachadas opostas iguais.
SQS 207 Os edifícios da SQN 207, com projeção em forma de H e pilotis elevados, apresentam fachadas variadas. O edifício escolhido contém elementos na fachada que se assemelham a varandas, mas que são canteiros suspensos. As aberturas, recuadas, são protegidas do sol por brises.
SQN 304 O edifício escolhido não apresenta apartamentos vazados. As fachadas contêm varandas em balanço com jardineiras e janelas protegidas ora por brise, ora por fechamentos vazados. Observamse intervenções dos usuários ao fecharem suas varandas com placas de vidro.
SQS 312 O edifício selecionado na SQS 312 apresenta, tanto na fachada de frente, quanto na de fundo, uma composição muito diversificada. A fachada frontal contém uma mescla de varandas, brises, janelas, portas e jardineiras com vegetação. Todos se inserem em um quadro, o limite da fachada.
SQS 308 Os edifícios da SQS 308, idênticos entre si, com uma única diferença em suas cores, são característicos do começo da ocupação do Plano Piloto. Estes apresentam apartamentos vazados onde a fachada de frente contém a janela em fita modernista e a de fundo o cobogó. 90
91
COMPARAÇÃO PLANTAS Edifícios em forma de lâmina, de presença mais significante nas superquadras, existem três tipos de apartamento.
1 . SEMIVAZADO Os apartamentos semivazados, mais presentes no começo da ocupação do Plano Piloto, se abrem diretamente apenas para uma fachada longitudinal e no lado oposto possuem aberturas voltadas para circulação horizontal que se estende ao longo do edifício e é aberta para a outra fachada longitudinal. A fachada de fundo, contendo o corredor de circulação, é, na maior parte das vezes, fechada por cobogós. Exemplo: SQS 108
2 . VAZADO Os apartamentos vazados, mais presentes no começo da ocupação do Plano Piloto, são aqueles cujas dependências são voltadas para as duas faces opostas do edifício, permitindo assim uma ventilação cruzada. Muitos projetos concretizados no começo da ocupação do Plano Piloto possuíam essa tipologia de apartamento. Suas fachadas de frente, para onde se voltavam os ambientes sociais, haviam, quase sempre, janelas em fita e suas fachadas de fundo, para onde se voltavam as áreas de serviço e áreas molhadas, continham fechamentos em cobogó, devido à exigência de elementos vazados. Exemplo: SQS 308
3 . NÃO-VAZADO Os apartamentos “não-vazados”, mais presentes na Asa Norte, são todos aqueles que não se encaixam nas definições anteriores. Estes são voltados para uma única face do edifício, o que ocasiona em fachadas opostas iguais. O edifício costuma ter circulações verticais centralizada, atendendo a quatro apartamentos, como ilustrado no exemplo ao lado. Exemplo: SQS 109
92
1
2
3
LEGENDA
unidade de apartamento circulação vertical / horizontal área de serviço e área molhada área social
C
F
B
A . sala B . quarto C . banheiro D . cozinha E . lavabo F . área de serviço G . quarto empregada
D
E
B
A
1
G
C
F E D
C
A
A B
B
B
2
C
C A
B 3
B
B
D
G
E
B F 93
CONCEITOS Após a comparação das superquadras, entende-se que estas são compostas pela união de dois elementos: pele e superfície. O encontro entre os últimos determina situações e/ou ambientes de conciliação ou conflito, de proximidade ou afastamento.
PELE
PELE
1 l
Limite entre ambientes, definindo um grau de relacionamento, físico e/ou visual, entre eles. O “espaço-varanda” é configurado por peles. Classificação de peles em função do grau de relacionamento que elas permitem entre os ambientes:
2 l
1 . Pele opaca Limite físico e visual. Ambientes desconectados. 2 . Pele perfurada Limite físico. Ambientes em contato visual em um único sentido: dentro-fora ou fora-dentro; filtro permite uma visada de dentro para fora durante o dia e uma percepção de luz e movimentos por uma visada de fora para dentro durante a noite. 3 . Pele translucida Limite físico. Ambientes em contato visual mútuo: interior, exposto para o exterior, porém acolhido. 4 . Obstáculo Obstáculo. Ambientes conectados, porém, afastados pela presença de obstáculos. 5 . Demarcação territorial Sem limite. Ambientes sem limites físicos ou visuais.
3 l
3 l
3 l
4 l
5 LEGENDA relação visual relação física
94
l
ESQUEMA
EXEMPLO
2
2
6
2
2
2
2 95
CONCEITOS SUPERFÍCIE
SUPERFÍCIE Extensão do solo, interferido por peles que determinam o seu grau de permeabilidade. Classificação de superfícies em função do grau de permeabilidade que elas permitem entre os ambientes: 1 . Superfície infinita
1
A superfície da Superquadra de Brasília é, conceitualmente, infinita e continua. As peles que interceptam a última, em meio público, devem prover um grau de relacionamento alto entre os ambientes, possibilitando a integração das partes, logo a continuidade da superfície. O pilotis, elemento utilizado na maior parte das construções modernas, tem como função elevar o edifício, permitindo a continuidade dos fluxos e garantindo aos pedestres o uso livre do chão (imagem A). Após a comparação de superquadras, observa-se que os pilotis existentes nem sempre permitem essa relação. De fato, existem elementos nas superfícies que estabelecem limites e barreiras (imagem B), reduzindo o grau de relacionamento entre ambientes e interferindo na continuidade desta (imagem C). Esses elementos são introduzidos tanto na etapa de concepção da Superquadras, quanto após a sua construção, por meio de intervenções dos moradores. Dentre eles, estudam-se as seguintes interferências à superfície: acesso à garagem; desnível; canteiro e cerca; pilotis elevado; e valorização do automóvel. Em seguida, aborda-se as alternativas que buscam integrar as superfícies descontínuas: paisagismo; e passagem alternativa.
A
B
C
2 . Superfície de conexão
2
96
ESQUEMA
EXEMPLO
2
2 97
CONCEITOS SUPERFÍCIE
SUPERFÍCIE
Classificação de superfícies em função do grau de permeabilidade que elas permitem entre os ambientes: 3 . Superfície isolada 4 . Superfície flutuante
3
5 . Superfície direcionada 6 . Superfície projetada
4
5
6
98
ESQUEMA
EXEMPLO
2
2
2
2 99
CONCEITOS SUPERFÍCIE
SUPERFÍCIE
Classificação de superfícies em função do grau de permeabilidade que elas permitem entre os ambientes: 7 . Superfície embutida 8 . Superfície enclausurada
7
9 . Rampa 10 . Obstáculo
8
9
10
100
ESQUEMA
EXEMPLO
2
2
2
2 101
INTERFERÊNCIA NA SUPERFÍCIE Acesso à garagem O acesso à garagem, por rampa, interfere no espaço público, ou seja, na superfície, dificultando ou, em alguns casos, impossibilitando o atravessamento de trechos das superquadras. Exemplo: SQN 107 e SQN 206
Desnível A implantação de um edifício modernista em um terreno com desnível – por conta da topografia ou pela presença de um pavimento semienterrado – demanda por mecanismos que interferem na continuidade e clareza do espaço livre no solo, ou seja, na superfície. Estes mecanismos se traduzem por taludes, colinas e escadas. Exemplo: SQS 105 e SQS 308
Canteiro e cerca Canteiros, cercas vivas e cercas físicas reduzem as opções de percurso. Guiando o pedestre a um acesso preestabelecido e definindo um grau de permeabilidade menor para a superfície. Exemplo: SQS 312 e SQN 208
Pilotis elevado Pilotis e/ou áreas de convivência elevada, sem uma conexão clara e direta com o solo, geram obstáculos no “chão livre” do projeto de Lúcio Costa. O atravessamento da superquadra é interrompido e não é possível compreender o espaço, por não haver visibilidade sobre o que há além dos muros cegos. Além disso, áreas de recreação elevadas, logo conectadas a um único edifício, se tornam menos acessíveis àquele que não é morador do edifício. Exemplo: SQS 109 e SQS 207 102
1
2
2
2
2
2
2
2
1
2
2 103
Valorização do automóvel A malha viária no interior das superquadras demonstra a prioridade do veículo sobre o pedestre. Os traçados, em geral ortogonais, são claros e superdimensionados. Características opostas às calçadas ou caminhos de pedestre. Há também a presença de diversas rampas de acesso à garagem e vagas térreas que consomem mais espaço do solo e interferem na continuidade da superfície. Exemplo: SQN 208 e SQN 206 1
INTEGRAÇÃO DE SUPERFÍCIES
Paisagismo A Superquadra 308 Sul apresenta diversos problemas quando se trata de soluções modernistas, como a valorização do veículo sobre o pedestre e a presença de edifícios de forma pura, com fachadas lisas, desprotegidas de raios solares. Porém, o projeto paisagístico de Burle Marx é um exemplo de como deve-se integrar os espaços e caracteriza-los. A caracterização dos espaços ocorre pela singularidade dos ambientes criados. Pode-se observar o ambiente próximo ao lago, o ambiente central, delimitado por mobiliários curvos, e outros, cada um diferente do outro. Desta forma, o paisagismo da SQS 308 gera espaços distintos que não competem entre si, diferente do que se vê na maioria das quadras, onde mobiliários e equipamentos urbanos são replicados e espalhados nos vazios. Além disso, o paisagismo se relaciona com os pilotis, possibilitando um atravessamento mais claro e direto da superquadra. Exemplo: SQS 308
2
Passagem alternativa Barreiras criadas pela definição de limites (grades, cercas e vegetação) e pela presença de acessos às garagens (rampas) interferem na continuidade da superfície. Passagens alternativas se apresentam para conectar as áreas segregadas, porém, por serem, em geral, pouco claras e subdimensionadas, dificultam a compreensão do espaço a ser percorrido. Exemplo: SQS 312 e SQN 304 104
2
2
2
2
2
2
2 105
PELE Fachada O uso de peles como cobogó, brise e varanda em fachadas protegem paredes e espaços internos de radiações solares, logo de acumulo de calor. Brises e varandas geram sombra na fachada, enquanto o cobogó filtra a entrada de raios solares. Além da filtragem de insolação, estes determinam graus de relacionamento entre interior e exterior. As peles criam uma gradação, logo um filtro visual, entre as esferas, atribuindo mais privacidade ao ambiente interno.
2
Varanda A frequência do elemento varanda nos projetos, a partir de meados dos anos setenta, pode ser um resultado da especulação imobiliária ou uma simples valorização deste espaço intermediário. A presença da varanda na composição da fachada se torna, em alguns casos, um ambiente anexado e não integrado aos demais. Em outros casos, ela é entendida somente como uma extensão do apartamento e não como local de transição entre interior e exterior. Observa-se então o seu fechamento por placas de vidro e, consequentemente, um afastamento entre interior e exterior, processo cada vez mais presente em edifícios avarandados. Quando os materiais utilizados para o fechamento da varanda são opacos ou reflexíveis, a distanciação se torna maior. Neste caso, as únicas funções que o “espaçovaranda” condiciona são de adequação climática e filtro, ambas as funções beneficiando unicamente o espaço interno.
5
Janela em Fita A janela em fita, em alguns casos, apresenta uma conexão do interior com o exterior igual à presente na varanda. De fato, esta aproxima o morador do espaço externo, se comportando como varanda quando as janelas estão abertas. Neste caso, o espaço adjacente à pele de vidro, proporciona sensações que não ocorrem em áreas mais afastadas das aberturas. Sensações estas – como, por exemplo, uma vista desimpedida – permitidas pelo ambiente conter características de uma varanda, sem necessariamente sê-la, ou seja, por ele ser um “espaço-varanda”. Exemplo: SQS 308, SQS 312, SQN 206, SQN 206, SQS 111, SQS 105, SQS 107, SQS 312, SQS 103, SQS 311, SQN 310 e SQN 304 106
5
2
2
4
3
2
5
4
2
2
2
4
4
1
1
1
1 107
PELE Configuração de apartamentos A configuração de apartamento frente-fundo (vazado e semivazado) ou frente-frente (não vazado) apresenta diferentes peles que influenciam na sua relação interior/exterior. As fachadas de frente são caracterizadas por janela em fita e varandas, enquanto as de fundo geralmente recebem cobogós. Os brises apresentam-se na composição de fachadas, tanto de frente quanto de fundo. Além disso, a configuração da planta interfere na ventilação dos apartamentos. Os apartamentos que contêm plantas não-vazadas - presentes, em grande quantidade, a partir da década de 80 - recebem uma ventilação natural inferior aos primeiros apartamentos do Plano Piloto, que possuíam plantas vazadas ou semivazadas. Estes edifícios com ventilação precária exigem ar condicionado. A adição deste elemento, por sua vez, muitas vezes interfere na composição da fachada. Exemplo: 1. Não-Vazado (SQS 109). 2. Vazado (SQS 308). 3. Semi-Vazado (SQS 108).
Multiplicação de Projeto A multiplicação de um mesmo projeto – como forma de reduzir o custo da construção do edifício – e sua implantação aleatória na superquadra gera problemas em relação à ventilação, iluminação e insolação dos apartamentos e de suas fachadas. De fato, a pele de vidro, desprotegida, destinada a fachada de frente pode se encontrar voltada a uma orientação com baixa incidência solar, assim como para uma com alta. A segunda opção de implantação provocará um ambiente interno com calor acumulado, por não haver uma proteção externa que desvie os raios solares ou, obrigará a instalação de proteções internas, como cortinas e persianas, que interferirão na relação interior x exterior. Exemplo: SQS 308 e SQS 111 108
2
2
4 109
OUTRO
Área de recreação infantil A Superquadra 312 Sul contém núcleos de recreação infantil situados em três diferentes pontos, tornando-se mais acessíveis a um número maior de edifícios. Em muitos outros casos, estes se encontram centralizados em um local da quadra, para onde os usuários devem se deslocar. Exemplo: SQS 312, SQS 308 e SQS 306
2
Áreas de recreação infantil e esportiva, centralizadas na superquadra, têm uma relação menor com os edifícios, diminuindo a proteção visual do espaço. A relação entre ambos não possibilita que “as crianças [brinquem] à vontade ao alcance do chamado das mães” como descrevia Lúcio Costa. Exemplo: SQN 208 e SQN 204
110
1
2
2
1
111
CONCLUSÃO Na segunda etapa, estudam-se os conceitos orientadores do Plano Piloto e, em específico, das Unidades de Vizinhança, o que permite entender as diretrizes que enquadram as quadras existentes. Além do conceito, analisam-se oito superquadras para observar a aplicação dos últimos em Brasília e as consequentes mudanças ocorridas frente à presença dos usuários. Por meio do estudo dessas escalas distintas (plano piloto, unidade de vizinhança e superquadra), busca-se compreender os diferentes elementos que as compõem, assim como as relações existentes nos seus espaços intersticiais, ou seja, nos seus “espaços-varanda”. Após a comparação de superquadras, conclui-se que estas são configuradas por peles e superfícies. A pele estabelece um limite entre espaços, definindo um grau de relacionamento, físico e/ou visual entre eles. A superfície é a extensão do solo, interferido por peles que determinam o seu grau de permeabilidade. Ambos os elementos participam na formação dos “espaços-varanda” e nas suas, consequentes, relações com esferas adjacentes (ambientes internos e externos).
A aproximação entre espaços internos e externos acontece quando estes têm um grau de relacionamento ou de permeabilidade elevado, ou seja, quando existem peles permeáveis e superfícies conectadas. A Unidade de Vizinhança previa esta aproximação, porém, conforme Brasília se concretiza ocorrem os afastamentos. De fato, por meio da comparação de superquadras, observa-se que peles destinadas a aproximar esferas opostas, se tornam barreiras visuais, como por exemplo, o fechamento de varandas com peles de vidro; e que superfícies com função de conectar diferentes ambientes, permitindo um percurso continuo e desimpedido são interceptados por obstáculos físicos, como por exemplo, o isolamento de áreas sob pilotis por cercamentos (canteiros e cercas), por desníveis e pela presença de acessos à garagem em solo público. Desta forma, entendese que os afastamentos são ocasionados pela reconfiguração de peles e superfícies e pela nova função dada aos espaços intermediários que, ao invés de fazerem transições, criam barreiras. Cinco elementos influenciam na falta de integração entre os espaços: o crescimento da cidade; a setorização dos usos; o método de projetar para escalas maiores; a homogeneidade visual; e a baixa densidade frente à extensão de áreas livres. 1 . Em relação ao crescimento da cidade, nos primeiros anos de vida do Plano Piloto, a densidade era baixa possibilitando relações de cidades pequenas. Moradores desta época relatam que as crianças brincavam livremente nas superquadras, como Lúcios Costa previa. Entretanto, hoje, com as asas norte e sul praticamente completas, o cenário é outro. 2 . A setorização de usos, um dos conceitos fundamentais do modernismo, é aplicada em Brasília. Desde a construção de Brasília até hoje o comércio se encontra no Comércio Local, as residências nas Superquadras e os equipamentos institucionais nas Entrequadras. O limite entre esses ambientes é marcado por uma “cintura densamente arborizada”, que possui vinte metros de profundidade. Desta forma, não há a possibilidade de interação e troca entre os diferentes usos que compõem as Unidades de Vizinhança.
2 112
3 . O método de projetar para as escalas maiores, deixando por último a menor é chamado de “Síndrome de Brasília” por Jan Gehl. De fato, a cidade foi projetada a partir das escalas Monumental, Residencial e Gregária, todas elas de grandes dimensões, valorizando o automóvel e, de certa forma, prejudicando o pedestre. A
2
escala menor, definida como “Paisagem Humana” pelo autor, que se projeta no nível dos olhos, observando as ações e sensações dos usuários da cidade não fez parte da concepção de Brasília, dificultando a aproximação do usuário com o espaço urbano. 4 . As principais causas da homogeneidade visual, presente especificamente no Setor Residencial, além das normas muito rígidas do Plano Piloto (sistema de mobilidade urbana, dimensão das superquadras, gabarito e projeção dos edifícios, etc.), são a rápida construção da cidade, a economia no projeto e o fato de alguns poucos arquitetos terem presença muito marcante, construindo algumas dezenas de edifícios. A repetição de um projeto, mesmo alterando cores e materiais de acabamento, faz com que diferentes quadras possuem uma mesma linguagem. A homogeneidade é observada nos percursos arborizados, interceptados ora por comércio local, ora por entrequandra, todos eles possuindo uma mesma linguagem visual, criando um ritmo constante e monótono: “O caminho é reto e parece infinito, sem a promessa de experiências interessantes no trajeto” “Perspectiva cansativa do percurso” (GEHL, 2013). 5 . As Superquadras possuem vastas áreas livres que aparentam estar vazias por serem muito extensas frente ao número de moradores e pedestres que ali transitam. Essas áreas existem devido ao conceito modernista de solo livre e contínuo.
Após a compreensão dos conceitos estruturantes da Unidade de Vizinhança de Lúcio Costa e das alterações ocorridas no momento da execução destas, compreende-se que, por um lado, a Unidade de Vizinhança se apresenta como uma cidade dentro da cidade, ou seja, como um elemento destinado a ser autossuficiente (composto por comércio, equipamentos educacionais, culturais, de lazer e outros). Por outro lado, as partes que compõem a unidade (comércio local, superquadra e entrequadra) são estruturadas por normas que, na maior parte dos casos, não permitem uma diversidade de forma e uso, nem uma possível adaptabilidade destas às necessidades da cidade. Com isso, conclui-se que o terreno de base para a intervenção, diferente dos que foram moldados em função das normas passadas e vigentes, terá uma configuração de espaços que permitirá mais concentração de pessoa, promovendo uma “sensação de que o lugar é habitado” (GEHL, 2013). Além disso, ele será composto por espaços sem definições rígidas, para permitir a diversidade de formas e usos. Em relação aos usos, não haverá uma setorização predefinida, criando limites a cada uso, de fato, estes serão definidos conforme a necessidade da quadra. Em relação às formas, as normas atuais não serão aplicadas, possibilitando a diversidade e evitando uma paisagem homogênea. Assim, a ocupação concentrada e diversificada – tensionada pela presença de “Espaços-Varanda” em diferentes níveis e escalas – irá promover espaços de troca, que, atualmente se encontra escasso nas Superquadras do Plano Piloto, pelas áreas serem muito grandes, pelos usos serem setorizados e pelos elementos urbanísticos, arquitetônicos e paisagísticos serem muito similares. 113
CONCLUSÃO
FALTA DE INTEGRAÇÃO ENTRE ESPAÇOS “Perspectiva cansativa do percurso” “O caminho é reto e parece infinito, sem a promessa de experiências interessantes no trajeto” GEHL, 2013.
114
+ CONCENTRAÇÃO “Sensação de que o lugar é habitado” GEHL, 2013.
+ DIVERSIDADE
+ “ESPAÇOS-VARANDA”
Espaços sem definições rígidas, para permitir a diversidade de formas e usos.
“Espaços-Varanda” aproximam diferentes esferas.
Paisagem interativa.
Conexão e troca em diferentes níveis e escalas.
Fachadas geram ritmo ao percurso.
“É um jogo recíproco, de dar e receber, entre as obras e o espaço envolvente. Uma surpresa. Um enriquecimento”
“Um ambiente, uma disposição do espaço construído que comunica com os observadores [...], que os contagia”
ZUMTOR, 2006.
ZUMTOR, 2006.
Ensaio de relações proporcionadas em espaços intermediários.
115
ENSAIOS NA SQN 207
ÍNDICE 120
INTRODUÇÃO
122
LOCAL DE INTERVENÇÃO
122
SQN 207 BORDAS RELAÇÕES NAS BORDAS
124
LEVANTAMENTO FOTOGRÁFICO
126
PROJETO
126
DIRETRIZES
128
ENSAIOS
118
119
INTRODUÇÃO Após o estudo de Brasília, observa-se que a lógica modernista gera uma falta de integração entre as partes. Opondo-se a isso, conclui-se que o terreno de base para a intervenção, diferente dos que foram moldados em função das normas passadas e vigentes, será composto por espaços sem definições rígidas, para permitir uma maior diversidade de formas e usos. Em relação aos usos, não haverá uma setorização predefinida, criando limites a cada um, de fato, estes serão definidos conforme a necessidade da quadra. Em relação às formas, as normas atuais não serão aplicadas, possibilitando a diversidade e evitando uma paisagem homogênea e uma “perspectiva cansativa do percurso” (GEHL, 2013). Além disso, entendendo a evolução dos “espaços-varanda” brasileiros, compreende-se que estes aproximam as diferentes esferas. No modernismo, três dos cinco pontos fundamentais da arquitetura moderna fazem essa transição (terraço jardim, pilotis e janela em fita) – sendo caracterizados como “espaços-varanda” – e os outros dois pontos, em muitos casos, possibilitam maiores relações entre os primeiros. Com isso, o ensaio de relações proporcionadas nos espaços intermediários, ou seja, nos “Espaços-Varanda”, será uma solução para a aproximação entre ambientes. A partir das conclusões anteriores, a terceira parte será um ensaio de relações proporcionadas em seus interstícios, frente à configuração de espaços. O último será tanto um experimento, uma aplicação das tipologias reconhecidas nas duas partes anteriores, quanto uma crítica ao modo de projetar modernista e às adaptações ocorridas nas superquadras, que transformam os espaços de transição em elementos de afastamento, negando a principal função do espaço intermediário. Desta forma, os “Espaços-Varanda” que serão gerados intentarão questionar as relações nos espaços intermediários, assim como responder às questões presentes na superquadra de estudo. Por fim, para fazer o ensaio, a metodologia projetual partirá da configuração espaços, compostos por ambiências (parte 1), peles e superfícies (parte 2). Para isso, os espaços contarão com i) a mescla entre diferentes tipologias, ii) a determinação de uma escala, mais individual ou mais coletiva, e iii) a definição de um grau de relacionamento e permeabilidade físico e/ou visual. Assim, criaram-se diferentes “Espaços-Varanda”. O trabalho, além de propor “Espaços-Varanda”, cria um manual para criarem-se diversos outros espaços intermediários. 120
121
LOCAL DE INTERVENÇÃO SQN 207 O terreno de aplicação dos conceitos, logo de base para os ensaios, é uma superquadra desocupada do Plano Piloto, a Superquadra 207 Norte. A última se apresenta como uma boa opção de terreno para intervenção, pois i) ela é uma quadra inserida em uma lógica modernista; ii) ela se encontra vazia, possibilitando interpretações contemporâneas; iii) e ela é uma superquadra quase genérica, pois contém um entorno idêntico às das outras superquadras do Plano Piloto, quando diz respeitos aos usos adjacentes a quadra (comércio local, entrequadra, via expressa e via de serviço). Junto à configuração dos espaços, questiona-se a lógica de funcionamento do modernismo, que define o entorno do terreno. Entorno esse mais extenso, englobando as superquadras do Plano Piloto, e mais aproximado, acerca das bordas do terreno de estudo.
8
BORDAS A borda é o limite entre a Superquadra e os diferentes elementos que compõem a Unidade de Vizinhança. O terreno apresenta oito bordas: 1 . borda com a Entrequadra; 2 . borda com o Comércio Local (fundos); 3 . borda com o Comércio Local (lateral); 4 . borda com a Superquadra de tipo 1; 5 . borda com a Superquadra de tipo 2; 6 . borda com o Eixo Rodoviário; 7 . borda com a Via de Serviço (L1); e 8 . borda com a Passagem Subterrânea. Em exceção da primeira, todas as bordas da SQN 207 têm características parecidas às das superquadras ocupadas. Elas são similares por fazerem limite com os mesmos tipos de uso (comercial, institucional ou residencial); com as mesmas formas, restritas por uma legislação muito rígida; com os mesmos afastamentos de vinte metros, definidos por um cinturão verde altamente arborizado; e com o mesmo traçado urbano, que engloba todo o Plano Piloto. O que difere a superquadra de estudo das demais é que, em exceção da borda com a superquadra de tipo 1 (borda 4), a faixa de vegetação que circunda o terreno ainda não está presente, amenizando a ruptura. Além disso, a borda com a entrequadra (borda 1) não está fisicamente definida, nem por vegetação, nem por viário, pois, assim como a SQN 207, a EQN 206-207 se encontra desocupada. 122
6
RELAÇÕES NAS BORDAS Por não se enquadrar nas normas atuais, o local possibilitará relações diversificadas. Assim, não haverá uma divisão de quadras, gerada pelo afastamento de vinte metros de vegetação; não terá uma delimitação de limite aos usos; e as formas poderão ser diferentes das demandadas pela legislação. Com isso, a borda permitirá conexões entre elementos projetados (do ensaio) e existentes. As relações experimentadas na borda entre a Superquadra 207 Norte e a Entrequadra 206-207 Norte (borda 1), por exemplo, não se encontrarão em um eixo linear, como ocorrem em todas as bordas do tipo, pois tanto os elementos da Superquadra, quanto os das Entrequadra não se conterão aos seus limites, havendo uma possibilidade de troca.
2
5 7
1
3 4
0
50
150
250 123
LOCAL DE INTERVENSÃO CLN 207-208
1
CLN 207-208
124
2
CLN 406-407
SQN 206
2
PONTO DE ÔNIBUS ERN
1
2
2
2
PASSAGEM SUBTERRÂNEA
125
PROJETO DIRETRIZES O terreno de estudo se encontra vazio, porém apresenta vestígios deixados no solo que indicam que pedestres o atravessam. Observando-os, percebem-se diferentes intensidades, ou seja, percursos principais e secundários. Analisando tais percursos, conclui-se que os transeuntes buscam um caminho mais curto entre diferentes equipamentos presentes na superquadra e no seu entorno. Dentre eles se destacam o ponto de ônibus, situado no eixo rodoviário, a passagem subterrânea, que conecta a quadras SQN 207 à SQN 107, e os comércios locais CLN 207/208 e CLN 406/407. A busca pela conexão entre os equipamentos da Unidade de Vizinhança também é observada em superquadras ocupadas. A ligação é menos direta pela presença de diferentes obstáculos (desníveis, cercas, vias de automóvel, vias de automóveis, etc.) que interceptam a superfície (ver estudos de casos página 99). Assim, não há uma clareza dos percursos. Frente às marcas no solo, traçam-se os eixos de orientação do terreno, que conectam diferentes acessos à superquadra. Estes se tornarão os trajetos de atravessamento da quadra. A homogeneidade visual predomina nas superquadras existentes, onde se observam arquiteturas similares atrás de camadas de vegetação. Opondo-se a isso, propõe-se uma dicotomia quanto à permeabilidade do olhar: áreas permeáveis ao olhar e áreas contendo barreiras visuais ou físicas, direcionando as visadas e percursos às clareiras. As últimas abrirão passagem aos trajetos de atravessamento do terreno. A borda com a via L1, com a SQN 407 e com o CLN 406/407 apresenta dois pontos de clareira, um na faixa de pedestres na altura do CLN 207/208, outro na faixa de pedestre na altura do CLN 406/407, pontos de maiores fluxos atualmente. Para se obter a abertura dos acessos, edifícios beiram a via criando obstáculos visuais. Os acessos são de duas naturezas distintas. A primeira, a entrada ao CLN 207/208, é a extensão da calçada no nível do solo, onde esta atua como o percurso idealizado por Lúcio Costa, na parte dos fundos dos blocos comerciais. A segunda, a entrada na altura do CLN 406/407, é um acesso em rampa, onde o pedestre ascende a um nível superior, obtendo uma percepção mais abrangente do terreno. 126
A borda com o ERN apresenta cinco pontos de acesso, um deles possuindo o ponto de ônibus existente. Estes são a extensão da calçada sobre um solo rebaixado. Desta forma, a calçada se transforma em laje superior de ambientes inferiores. Assim, as visadas do eixo rodoviário são desimpedidas, pois não existem barreiras visuais, porém os acessos são direcionados, devido à presença de barreiras físicas (desnível). A partir da calçada do ponto de ônibus, obtém-se uma percepção geral dos fluxos do terreno. A borda com a passagem subterrânea é, atualmente, mal resolvida por demandar a descida de escadas ou rampa e o acesso a um túnel no subsolo. Contrapondo-se a isso, propõe-se um acesso inteligível, onde desde diferentes pontos do terreno compreenda-se sua presença. Para isso, nivela-se o terreno com a passagem subterrânea, criando um acesso direto a este. O CLN possui blocos isolados que dificilmente interagem entre si. A cobertura que une os blocos do CLS possibilita essa integração. Observa-se que diferentes espaços intermediários, criados pela cobertura, são ocupados pelos usos adjacentes. Desta forma, propõem-se coberturas desniveladas sobre os blocos do CLN 207/208, assim como novos blocos para possibilitarem um percurso como Lúcio Costa previa: por dentro da superquadra e não, como ocorre hoje, na fresta entre o comércio e a via de automóveis. A borda com a SQN 206 apresenta um desnível, possivelmente causado pela presença de um pavimento garagem semienterrado. Frente a isso, intensifica-se o desnível, criando uma área rebaixada. Sobre a última, implanta-se um edifício sobre pilotis, com características similares ao do terreno vizinho. Devido ao desnível, o primeiro pavimento do edifício projetado se encontra alinhado com a área de pilotis do edifício vizinho. Com isso, o terreno de base para os ensaios, além de propor espaços intermediários que partem dos estudos anteriores (mostrados a seguir), propõe soluções que contrapõem situações de conflito existentes nas superquadras ocupadas. Situações estas observadas na comparação de superquadras (parte 2). Frente a ambientes compostos por obstáculos e apresentando uma homogeneidade visual, que não possibilitam uma clareza dos fluxos do terreno, as diretrizes projetuais sugerem propostas que direcionam as visadas para os pontos focais do terreno. A nova configuração dos percursos interferirá nos espaços-varanda do ensaio. 127
ENSAIO Inicialmente, destacam-se diferentes espaços obtidos no ensaio. Esses são classificados em categorias de ambiência “varanda”, “pátio” ou “pilotis” (parte 1) e codificados pelos elementos que os compõem: ambiência (parte 1), pele e superfície (parte 2). Em seguida, escolhe-se um espaço de cada categoria para ser detalhado. Os espaços são, igualmente, codificados pelos elementos que os compõem. Além disso, eles são representados de forma a transmitir as sensações existentes nos espaços intermediários. Essa é feita, tanto na maquete, quanto nos desenhos, por meio do contraste entre luz e sombra, indicando que o ambiente intermediário é uma transição do interior (da sombra) e ao mesmo tempo um espaço externo, recebendo luz. Além disso, a humanização dos desenhos também transmite a ambiência dos espaços intermediários. De fato, o uso de personagens descontraídos, como, por exemplo, um homem deitado na rede, busca representar o “uso de uma varanda totalmente aberta para permitir a ampla ventilação durante o descanso do calor do meio-dia.” (BARRETO, BENATTI, PINHEIRO e BOLSON)
TIPO VARANDA 2
3
2
1
2
3
4
5
5
3
5
5
6
TIPO VARANDA 1
128
2
1
2
2
6
TIPO VARANDA 2
3
2
1
2
3
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5
6
TIPO VARANDA 2
3
2
1
2
3
4
5
5
6
TIPO PÁTIO 2
1
1
5
5
7
TIPO PÁTIO 2
1
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ENSAIO TIPO PÁTIO 2
1
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7
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7
2
4
TIPO PÁTIO 2
1
1
5
TIPO PILOTIS 1
2
2
7
TIPO PILOTIS 2
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1
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6
TIPO PILOTIS 1
3
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3
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TIPO PILOTIS 2
1
5
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TIPO PILOTIS 1
4
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2
4
6
7
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131
ENSAIO “ESPAÇO-VARANDA” TIPO VARANDA
2
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2
1
4
5
5
6
132
2
3
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ENSAIO
134
135
ENSAIO “ESPAÇO-VARANDA” TIPO PÁTIO
2
136
1
1
5
5
7
137
ENSAIO
138
139
ENSAIO “ESPAÇO-VARANDA” TIPO PILOTIS
1
4
7
8
140
7
2
4
6
141
ENSAIO
142
143
LEGENDA e FONTE 10
1 Aldeia Xavante. <http://pibmirim.socioambiental.org/de/node/73> 2 Shabono: aldeia da tribo Yanomamis. <https://openhousebcn.wordpress.com/> 3 Maloca. <http://pibmirim.socioambiental.org/de/node/73> 4 Casa Xinguana. <https://varaldiverso.wordpress.com/tag/indios/> 5 Construção indigena sobre palafitas. <http://pibmirim.socioambiental.org/de/node/73> 6 “Família de um chefe Camacã se preparando para uma festa” por Debret. <https://www.algosobre.com.br/historia/culturas-indigenas-maias-astecas-e-incas.html> 7 “Habitações Indigenas” por Debret. <http://www.historia.seed.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=12&evento=1> 8 Ocas. <http://pibmirim.socioambiental.org/de/node/73>
12
1 Shabono: aldeia da tribo Yanomamis. <https://openhousebcn.wordpress.com/2012/10/05/openhouse-barcelona-shop-gallerymagazine-shared-house-architecture-yanomami-tribe-brazil/> 2 Construção indigena sobre palafitas. <http://pibmirim.socioambiental.org/como-vivem/casas>
14
1 Desembarque de Escravos Negros vindos da África (SP) por Rugendas. <https://historiadesaopaulo.wordpress.com/escravidao-negra-em-sao-paulo-e-no-brasil/> 2 Engenho de Cana-de-açucar por Frans Post <http://www.bbc.com/portuguese/especial/183_paris/page5.shtml> 3 “Mercado de Escravos” por Rugendas. <http://revistaescola.abril.com.br/historia/pratica-pedagogica/visoes-passado-423234.shtml> 4 “Interior de uma casa do baixo povo” por Guillobel. <http://museucasaalcantara.blogspot.com.br/2011/01/interiores-no-brasil-colonial.html> 5 “Pretos de Ganho” por Chamberlain. <http://odia-a-historia.blogspot.com.br/2015/06/conjuracao-baiana-historia-do-brasil.html> 6 “Vista do Recife” por Rugendas. <http://www.historiahistoria.com.br/materia.cfm?tb=artigos&id=113> 7 Penedo, Alagoas. <http://www.guiaviagensbrasil.com/galerias/al/fotos-do-centro-historico-de-penedo/> 8 Museu do Diamante - Diamantina, MG. <http://museudodiamante.museus.gov.br/museu-do-diamante/> 9 Paraty, RJ. foto autoral 10 Diamantina, MG. <http://www.connhecer.tur.br/pontos/ponto.php?id=877>
16
1 Sítio do Padre Inácio - Cotia, SP (1690) <http://www.histeo.dec.ufms.br/aulas/teoriaIII/04%20Rural%20Colonial.pdf> 2 Fazenda Colubandês - São Gonçalo, RJ <http://www.mapadecultura.rj.gov.br/manchete/fazenda-do-colubande>
18
1 Paraty, RJ foto autoral 2 Porto Seguro, BA foto autoral 3 Lago do Pelourinho - Salvador, BA foto autoral 4 Gamboa, RJ foto autoral
144
Palácio Itamaraty <http://www.funag.gov.br/chdd/> antiga Central do Brasil <https://historiadorio.wordpress.com/2012/10/30/historia-do-rio-a-central-do-brasil/> Centro de Abaeté - Abaeté, MG <http://abaetemg.blogspot.com.br/2012/01/casas-conservam-beleza-e-o-estilo-do.html> Taubaté, SP <http://www.revistatempodeconquista.com.br/documents/RTC1/HELENALACE1.pdf> Vila de Grandjean de Montigny - Gávea, RJ <http://www0.rio.rj.gov.br/rio_memoria/1978.htm> Museu Francisco Tavares Proença Júnior, Castelo Branco - Coimbra, MG <http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=398192&page=29> Hospedaria Ilha das Flores - Três Rios, RJ <http://www.hospedariailhadasflores.com.br/galeria_02.asp>
1
Rua Bento Lisboa, 172 - Catete, RJ foto street view - google maps Rua Joaquim Silva, 93 - Lapa, RJ foto street view - google maps Centro de Abaeté - Abaeté, MG <http://abaetemg.blogspot.com.br/2012/01/casas-conservam-beleza-e-o-estilo-do.html> Rua da Matriz, 80 - RJ foto street view - google maps
1
Rio de Janeiro, RJ foto autoral Rua Voluntários da Pátria, 423 - Botafogo, RJ foto autoral Rua São Clemente, 388 - Botafogo, RJ foto autoral Rua São Clemente, 117 - Botafogo, RJ foto autoral Teatro Carlos Gomes - Centro, RJ. <https://arqbrasil10.wordpress.com/artdeco/> Edifício Tabor Loreto - Flamengo, RJ. <https://arqbrasil2010.wordpress.com/art-nouveau/> Edifício Biarritz - Flamengo, RJ. <http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=556752> Teatro Goiânia. <https://arquiteturadobrasil.files.wordpress.com/2010/05/teatro-goiania.jpg>
1
Edifício Antônio Ceppas [Jorge Moreira] <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/07.075/330> Pedregulho - São Cristovão, RJ [Affonso E. Reidy] <http://www.archdaily.com.br> Ed. Julio Barros Barreto, Botafogo, RJ [MMM Roberto] <https://www.tumblr.com/search/irm%C3%A3os%20roberto> Parque Guinle - Laranjeiras, RJ [Lúcio Costa] <https://www.flickr.com/photos/julia-ribeiro/8271253328> Casa Butantã [Paulo Mendes da Rocha] <http://www.archdaily.com.br/> “A Moradia Moderna de Brasília” de Leonardo Wen. <http://www.archdaily.com.br/br/772327/apto-a-moradia-moderna-de-brasilia-leonardo-wen>
1
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2 3 4 5 6 7
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1 Ed. Julio Barros Barreto - Botafogo, RJ [MMM Roberto] / Pedregulho - RJ foto autoral 2 Pedregulho - São Cristovão, RJ [Affonso E. Reidy] <http://www.archdaily.com.br/br/01-12832/classicos-da-arquitetura-conjunto-residencialprefeito-mendes-de-moraes-pedregulho-affonso-eduardo-reidy> 3 Pedregulho - São Cristovão, RJ [Affonso E. Reidy] foto autoral
30
1 Parque Guinle - Laranjeiras, RJ [Lúcio Costa] <https://www.flickr.com/photos/julia-ribeiro/8271253328> 2 Parque Guinle - Laranjeiras, RJ [Lúcio Costa] <http://www.archdaily.com.br/br/01-14549/classicos-da-arquitetura-parque-eduardo-guinlelucio-costa> 3 Casa Butantã [Paulo Mendes da Rocha] <http://www.archdaily.com.br/br/01-181073/classicos-da-arquitetura-casa-no-butanta-paulomendes-da-rocha-e-joao-de-gennaro>
32
1 Residência ML - Porto Feliz, SP [Bernardes e Jacobsen] <http://www.jacobsenarquitetura.com/> 2 Casa Rio Bonito - Serra do Rio Bonito, RJ [Carla Juaçaba] <http://www.archdaily.com.br/br/01-159708/casa-rio-bonito-slash-carla-juacaba> 3 Casa Varanda - Barra da Tijuca, RJ [Carla Juaçaba] <http://www.archdaily.com.br/br/01-161067/casa-varanda-slash-carla-juacaba> 4 Edifício João Moura [Nitsche Arquitetos] <http://www.archdaily.com.br/br/626999/jovens-talentos-da-arquitetura-brasileira> 5 Sede SEBRAE - Brasília, DF [GrupoSP] <http://www.archdaily.com.br/br/01-402/sede-do-sebrae-gruposp> 6 Brisa [Angelo Bucci] <http://www.spbr.arq.br/> 7 Edifício na Rua Simpatia, SP [GrupoSP] <http://www.gruposp.arq.br/> 8 Edifício Ourania [Gui Mattos] <http://www.guimattos.com.br/>
34
1 Casa Atelier, Itanhangá - RJ [Carla Juaçaba e Mário Fraga] <http://www.archtendencias.com.br/arquitetura/casa-atelier-carla-juacaba-mario-fraga> 2 Casa Varanda, Barra da Tijuca - RJ [Carla Juaçaba] <http://www.archdaily.com.br/br/01-161067/casa-varanda-slash-carla-juacaba>
36
1 Casa Rio Bonito, Serra do Rio Bonito - RJ [Carla Juaçaba] <http://www.archdaily.com.br/br/01-159708/casa-rio-bonito-slash-carla-juacaba> 2 Sede do SEBRAE [GrupoSP] <http://www.archdaily.com.br/br/01-402/sede-do-sebrae-gruposp>
38
1 “Família de um chefe Camacã se preparando para uma festa” por Debret. <http://www.algosobre.com.br/historia/culturas-indigenas-maias-astecas-e-incas.html> 2 Paraty, RJ. <http://www.paraty.com.br/blog/de-portas-abertas> 3 Edifício Antônio Ceppas [Jorge Moreira] <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/07.075/330>
40
1 Diamantina, MG. <http://www.marcospiffer.com.br> 2 MEC - Centro, RJ por Cristiano Mascaro. <http://www.tribarte.blogspot.com.br/2013/01/o-rio-de-janeiro-por-cristiano-mascaro> 3 “A Moradia Moderna de Brasília” de Leonardo Wen. <http://www.archdaily.com.br/br/772327/apto-a-moradia-moderna-de-brasilia-leonardo-wen>
146
Plano Piloto 1 livro “Registro de uma Vivência” de Lúcio Costa
48
Plano Piloto e As Trilhas Fundamentais 1 livro “Registro de uma Vivência” de Lúcio Costa
52
Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU/BR) 1 <http://www.arquiteturaurbanismotodos.org.br> Arquitetura do Brasil 2 < http://www.arquiteturadobrasil.com.br>
54
Arquitetura do Brasil 1 <http://www.arquiteturadobrasil.com.br>
56
SQN 307 - Superquadra vazia 1 foto autoral SQN 306 - cintura arborizada 2 foto autoral
58
SQS 308 - edifício lâmina foto autoral SQN 306 - edifício lâmina foto autoral SQS 312 bloco F - fachadas diferentes foto autoral SQS 312 bloco A - fachadas iguais foto autoral
1
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2 3 4
SQS 308 1 google earth SQS 308 2 foto autoral Superquadras <http://www.skyscrapercity.com> Ceilândia Sul Augusto Areal <http://www.infobrasilia.com.br> Taguatinga Norte Augusto Areal <http://www.infobrasilia.com.br> Evolução da ocupação do território do Distrito Federal PDTU relatório técnico 7 <http://editais.st.df.gov.br/pdtu/tecnico/relatorio_tecnico_7.pdf>
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Boteco do Juca (CLS 405) foto autoral Loca por tu madre (CLS 306) <http://www.2.bp.blogspot.com> Parque Olhos d’Água foto autoral Praia Artificial <http://www.g1.globo.com-distrito-federal-noticia> “Caminhos abertos pela passagem de pessoas” (SQN 307) <http://www.google.com/maps/streetview/> Escala Gregária - Rodoviária foto autoral
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1 Google Steet View <http://www.google.com/maps/streetview/> 2 Foto autoral foto autoral 3 Gaverno de Brasília - Patrimônio da Humanidade <http://www.brasiliapatrimoniodahumanidade.df.gov> 4 “A Invenção da Superquadra” de Marcílio Mendes Ferreira e Matheus Gorovitz livro físico 5 “A Moradia Moderna de Brasília” de Leonardo Wen. <http://www.archdaily.com.br/br/772327/apto-a-moradia-moderna-de-brasilia-leonardo-wen> 6 Vanessagraner <http://vanessagraner.files.wordpress.com>
IMAGENS Os croquis são de produção pessoal e têm o objetivo de ilustrar relações “interior x exterior”. O conteúdo pode apresentar diferenças em relação aos projetos reais. Cortes e plantas forma produzidos com base em informações retiradas de: “A Invenção da Superquadra” de Marcílio Mendes Ferreira e Matheus Gorovitz. livro físico Material do Departamento de Programação e Controle de Obras (DPCO), Secretaria de Viação e Obras (SVO). material físico
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AGRADECIMENTOS Gabriel Nogueira Duarte orientador João Masao Kamita professor interno Raul Smith professor interno Francisco Abreu convidado externo Alder Catunda professor interno coordenador (9o periodo) Cadu Spencer professor interno Robério Catelani professor interno (maquete) Vera Hazan professora interna coordenadora (10o periodo) André Passos Breno Rodrigues Família
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BIBLIOGRAFIA INDIGENA 10
<http://www.osprojetistas.com/2013/12/arquitetura-indigena-brasileira.html>
CHÁCARA COLONIAL 14
<https://arquibrasil.wordpress.com/arquitetura-colonial/> <https://arquitracobrasil.wordpress.com/periodo-colonial-1530-a-1830/>
CHÁCARA COLONIAL CASA GRANDE COLONIAL SOBRADO COLONIAL CASARIO NEOCLÁSSICO
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BRANDÃO, Helena Câmara Lacé; MARTINS, Angela Maria Moreira. Varandas nas moradias brasileiras: do período de colonização a meados do século XX. Disponível em: <http://www.revistatempodeconquista.com.br/ documents/RTC1/HELENALACE1.pdf>. Acesso em: JUL/2015. REIS FILHO, Nestor Goulart. Quadro da arquitetura no Brasil. 9 ed. São Paulo: Perspectiva, 2000. Disponível em: <http://www.ebah.com.br/content/ABAAAfonkAA/quadroarquitetura-no-brasil-nestor-goulart-reis-filho>. Acesso em: AGO/2015. Conteúdo da aula “Teoria e História do Brasil”, da PUC-Rio. Professora: Denise Solot. Conteúdo da aula “Teoria e História da Arquitetura 1”, da PUC-Rio. Professora: Antonio Sena.
MODERNA 26 Conteúdo da aula “Teoria e História da Arquitetura 2”, da PUC-Rio. Professora: Ana Paula Polizzo.
CONTEMPORÂNEA 32 Conteúdo da aula “Teoria e História da Arquitetura 3”, da PUC-Rio. Professora: Ana Luiza Nobre.
PLANO PILOTO E SUPERQUADRA 52 COSTA, Lúcio. Registro de uma Vivência. São Paulo: Empresa das Artes, 1995. livro físico, p. 277 – 331. WEN, Leonardo. Apto, A Moradia Moderna de Brasília. Disponível em: http://www.archdaily.com.br/br/772327/ apto-a-moradia-moderna-de-brasilia-leonardo-wen. Acesso em: OUT/2015. BRAGA, Darja Kos. Arquitetura residencial das superquadras do Plano Piloto de Brasília: aspectos de conforto térmico, 2005. Disponível em: http://repositorio.unb.br/bitstream/ 10482/2116/1/2006_Darja%20Kos%20Braga.pdf. Acesso em: SET/2015. AMORIM, Cláudia Naves; FLORES, Alice Leite. Edifícios Residenciais das Superquadras do Plano Piloto, Brasília: Aspectos de Preservação e Conforto Ambiental. Disponível em: http://coral.ufsm.br/lasac/patrimonio3.pdf. Acesso em: SET/2015. GOROVITZ, Matheus; FERREIRA, Marcílio Mendes. A Invenção da Superquadra, 2009. livro físico. JACOBS, Jane. Morte e Vida das Grandes Cidades. 3 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2011. livro físico. GEHL, Jan. Cidade para Pessoas. 1 ed. São Paulo: Perspectiva, 2013. livro físico. ZUMTHOR, Peter. Atmosferas. 1 ed. Editoral Gustavo Gilli, 2009. livro físico.
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