Revista Cultural do UniBrasil Centro Universitรกrio
Ano 6
Nยบ 1
2017
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EDITORIAL Cultura pela experiência
O coração e a mente das instituições de ensino costumam balançar entre a nobre função de formar seres humanos críticos, reflexivos, com a inteireza existencial proporcionada pela cultura e a não menos nobre e igualmente necessária missão de dar-lhes condições de exercer profissões úteis à sociedade e realizadoras para eles mesmos. As boas instituições de ensino não se abatem pelo impasse: dedicam-se à formação de melhores seres humanos, excelentes profissionais. Este é o propósito do UniBrasil Centro Universitário. Platão estabeleceu um princípio de filosofia pedagógica ao declarar que “a tarefa da Educação é a de descobrir o que cada pessoa pode fazer bem, e exercitá-la para se assenhorar dessa espécie de excelência, posto que esse desenvolvimento propicie, de modo mais harmônico, a satisfação das necessidades sociais”. Tal pensamento evoluiu para o que denominamos Pragmatismo, doutrina que preconiza que todo aprendizado, todo conhecimento deve ter um fim prático e, desde o início do século XIX, representa uma escola de pensamento segundo a qual o valor da verdade, de todo pensamento, de qualquer teoria, reside no seu caráter instrumental, isto é, no seu rendimento manifesto em ação. No entanto, mesmo tomando o conceito de experiência como fator central de seus pressupostos, a escola
não poderia ser uma simples preparação para a vida, mas sim a própria vida; e o ensino e a aprendizagem precisam estar baseados na compreensão de que o saber é constituído por conhecimentos e vivências que se entrelaçam dinamicamente, distante da previsibilidade das ideias antecedentes. Portanto, alunos e professores, detentores de experiências próprias, devem ser aproveitados no processo; o professor com sua visão sintética, mais abrangente e clara acerca dos conteúdos, e os alunos, trazendo sua visão sincrética, de início confusa e não muito clara sobre aquilo que aprendem, tornando a experiência um ponto central na formação de conhecimentos, mais do que as substâncias propriamente ditas a serem trabalhadas. Deste modo, a aprendizagem será essencialmente coletiva, e a interação escolar efetivará o poder aprender ao lado do poder ensinar. O conhecimento é um processo que passa pela investigação da possibilidade humana de adequação e adaptação ao ambiente, e isto só é possível pela junção do conhecimento acadêmico com a experiência da vida: dúvidas, incertezas, perturbações que fazem parte do conhecimento humano sempre em evolução.
Wanda Camargo – Conselho Editorial da Revista Expressão. 3
EXPEDIENTE Conselho editorial Alexandre Silva Wolf Maria Paula Mansur Mader Wanda Camargo
Unibrasil centro universitário Presidente: Clèmerson Merlin Clève Reitor: Sérgio Ferraz de Lima Pró-reitora Acadêmica: Lilian Pereira Ferrari Pró-reitor de Pós-graduação, Pesquisa, Extensão e Assuntos Comunitários: Valter Fernandes da Cunha Filho Gestora da Área de Marketing: Virgínia Magalhães Assessor de Comunicação: Tiago Machado da Silva Projeto Gráfico e Criação: Luciana Parazzi Artista Plástica: Andrea Kraemer Fotografias: Tiago Machado da Siva e Natanny Carvalho Periodicidade: Anual ISSN: 2238-8710
Central de Relacionamento Complexo de Ensino Superior do Brasil - UniBrasil Tel.: +55 (41) 3361-4200 Rua Konrad Adenauer, 442 - Tarumã - CEP: 82820-540 www.unibrasil.com.br
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ÍNDICE Cultura e Educação | 06 Desenvolver o pensamento lógico (uma das principais incumbências da Escola e da Família) I 06
UNIBRASIL FUTURO | 10 Marcelo Neri: desenvolvimento inclusivo no Brasil I 12 Pedro Serrano: Estado de exceção e jurisdição I 16
academia unibrasil | 20 Roberto Banaco: a despatologização da doença mental I 22 Maria Lucia Fattorelli: a cortina de fumaça I 26 José Roberto de Castro Neves: O Direito em Shakespeare I 32
EVENTOS ESPECIAIS | 36 Aula Magna do curso de Direito com Ministro Luiz Fux I 36 Aula Magna do curso de Direito com Juiz Sérgio Moro: corrupção sistêmica I 38
GÊNERO | 42 Mulheres Paranaenses I 42 II Concurso Feminino de Contos Dirce Doroti Merlin Clève I 48
sustentabilidade e responsabilidade social | 54 Sustentabilidade e Responsabilidade Social - Somando expertises no campo da sustentabilidade, CPCE multiplica possibilidades I 55 Concerto de Natal AFECE I 58 Auxílio ao terceiro setor - curso de Relações Públicas em parceria com o Instituto GRPCom I 60 Curso de Pedagogia promove atividade a alunos do 2º Ano da Escola Municipal Madre Antônia I 61
CULTURA UNIBRASIL | 62 Eventos em parceria Lira Neto: Getúlio ou “Getúlios”? I 66 Wisnik: memória de um dia e dias I 69 Shakespeare: o poeta vive! I 72 Rodrigo Constantino: um conservador radical I 77 Sardenberg, como recuperar o grau de investimento I 81 Demétrio Magnoli: a política externa brasileira e o Oriente Médio I 84 Leandro Karnal: A crise moral brasileira I 88 Carlos Fernando: a força tarefa da Lava Jato I 92 Marcelo Madureira - Rir de tudo é desespero I 96 Atividades acadêmicas EVINCI – Evento de Iniciação Científica do UniBrasil Centro Universitário I 100 O direito desportivo dos esportes de contato: profissionalização do esporte I 102 JOGUN - Jogos UniBrasil I 108 Grutun! Grupo de Teatro UniBrasil Festival de Teatro de Curitiba 2016 I 110 Acolhida aos Calouros UniBrasil I 112 Festival de Ópera do Paraná I 114
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Desenvolver o pensamento lógico (uma das principais incumbências da Escola e da Família)
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Desenvolver a racionalidade dos educandos é um dos objetos principais de uma boa educação. O aluno necessita de estímulo e esforço, resistindo aos atalhos e distrações da tecnologia. A matemática incrementa a têmpera racional da mente, mas nela o desempenho brasileiro é pífio em relação aos demais países. Afirma Jacques Chapellon: “existe paralelismo fiel entre o progresso e a atividade matemática; os países socialmente atrasados são aqueles em que a atividade matemática é nula ou quase nula”.
silente e prioritariamente muita disposição para o aprendizado. Portanto, nada de cama ou sofá. Vai estudar ou tirar uma soneca? Um texto profundo ou um exercício mais complexo é um desafio e faz bem aos neurônios. Há muito mais sinapses em 15 minutos dedicados a um problema difícil, mesmo não resolvido, do que na solução de três outros exercícios bastante acessíveis. Quando da visita de Howard Gardner ao Brasil, na plateia éramos 100 privilegiados educadores. Julgo que o maior mérito de Gardner foi valorizar e inserir no espectro das Inteligências Múltiplas as inteligências interpessoal e intrapessoal. Quando perguntado quais as mais valorizadas para o mercado de trabalho, Gardner foi enfático:
Ensinar a raciocinar, em meio a tantas demandas, é uma das principais tarefas da escola. Não importa a área, sempre encanta uma apresentação oral ou escrita com bom encadeamento lógico. Temos uma geração que tem preguiça de pensar. Entretanto, nunca se valorizou tanto a pessoa ou o profissional com boa capacidade de raciocínio, enfim, o resolvedor de problemas. Hoje, o jovem aprende rápido e esquece rápido, não mergulha fundo e, assim, o aprendizado é fugaz ou fruto de um clique.
― É a combinação da união do pensamento lógico à capacidade de lidar com as pessoas. O edifício gardneriano se sustenta sobre a premissa de que todas as inteligências podem e devem ser desenvolvidas. A escola e a família sempre suscitam respostas positivas por parte do aluno, quando oferecem condições adequadas de aprendizado e um ambiente estimulador.
Uma das mais profícuas maneiras para desenvolver o pensamento lógico e o poder de síntese é a dedicação às disciplinas da área de exatas, ou a um texto com dificuldade média ou elevada. Mas isso requer muita organização pessoal. Só se aprende a raciocinar com o cérebro e com as nádegas. Ou seja, galhofa à parte, aluno sentado numa cadeira, uma mesa com folhas de rascunhos, para resolver exercícios ou resenhar a matéria, estudo diário, um ambiente
Desenvolver na criança e no adolescente a inteligência lógico-matemática, uma das nove inteligências de Gardner, é das incumbências mais relevantes dos professores e dos pais. Continua indispensável a memorização de alguns conteúdos das disciplinas, mesmo com todos os avanços tecnológicos. No entanto, o saber enciclopédico perde em parte a sua importância, pois em poucos minutos estamos ao alcance de um teclado, e só o Google hospeda mais de
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2 trilhões de páginas. Diante desse gigantesco acervo de informações – verdadeiras ou falsas – é preciso discernimento e racionalidade. Estamos convivendo com “mestres” que, por serem bonzinhos, a bem da verdade são pseudodidatas, apresentam as matérias por demais prontas, tipo fast-food. É crítico o nível de exigência da maioria dos livros e apostilas de Matemática adotados pelas escolas, quando se sabe que esta disciplina é a que melhor induz o desenvolvimento da têmpera racional da mente. As tecnologias disponíveis ensejam enormes benefícios, mas em contrapartida aliciam os jovens ao aprendizado superficial e, quando se exacerba, roubam preciosas horas que deveriam ser dedicadas ao estudo, às leituras, à prática esportiva e às relações interpessoais.
Raciocinar exige esforço. “Pensar dói” – declamava Brecht. Quando o rei Ptolomeu folheava os pergaminhos de “Os Elementos”, recheados de axiomas, teoremas e postulados, perguntou esperançosamente a Euclides: ― Não existe uma forma mais fácil de aprender essas demonstrações? ― Não, majestade, não há estrada real para a Geometria – teria respondido o autor.
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Há 24 séculos, aproximadamente, a Matemática e a Filosofia helenísticas nos despertaram para o prazer de pensar. Foi o início da civilização e culminou com o espírito cartesiano – cogito, ergo sum –, de ceticismo, indagação e crítica. Destarte apropriadas são as palavras do filósofo e matemático francês Henry Poincaré (18451912): “Duvidar de tudo ou acreditar em tudo são atitudes preguiçosas. Dispensam-nos de refletir”. A Matemática tem, sim, o escopo utilitário e prático, mesmo àqueles profissionais que aparentemente passam ao largo dos algarismos, como os advogados – é preciso lembrar que
uma boa demanda jurídica tem por fulcro um excelente encadeamento lógico. No Brasil não temos uma cultura de valorização das Ciências Exatas e as estatísticas corroboram com essa assertiva: apenas 11% dos concluintes do Ensino Médio em escolas públicas têm capacidade tida internacionalmente como mínima em Matemática. Recentemente, entre 144 nações avaliadas, o nosso país aparece na 132ª posição no desempenho em Matemática e Ciências, atrás da Venezuela, Colômbia, Camboja e Etiópia. É recorrente e sabido que em Matemática e Ciências pontuamos entre os últimos no ranking de 65 países num programa subordinado à ONU (PISA). Com os avanços tecnológicos, inovações e registro de patentes, há uma valorização inédita em pesquisas. E aqui também perdemos de goleada: um pesquisador para cada mil pessoas ocupadas; nos EUA, são 9,5; na Coreia do Sul,11. Não se pode debitar ao acaso o fato de os países que apresentaram elevado grau de desenvolvimento nas últimas décadas estarem no rol dos mais bem classificados nos testes internacionais de Ciências e Matemática. No topo desse ranking estão China, Hong Kong, Finlândia, Cingapura, Coreia do Sul, Japão e Canadá. E se queremos participar desse honroso cortejo – países econômica e socialmente com elevado grau de desenvolvimento nas últimas décadas – o bom ensino das ciências tem que ser priorizado. A Coreia do Sul nos anos 70 resignava-se com indicadores econômicos e educacionais até um pouco piores que os nossos. Trabalho persistente, cultura de valorização do estudo e elevados investimentos na educação fizeram daquele tigre asiático uma das mais
bem-sucedidas nações emergentes. Hoje, cerca de 40% dos jovens sul-coreanos, entre 18 e 24 anos, estão nas universidades. Aqui, apenas 18%. Se no Brasil a ênfase são as ciências humanas, lá são as pesquisas e o ensino em ciências exatas. Ir bem ou mal em testes internacionais de Matemática tem elevado significado pois, nas oportunas palavras do pensador francês Jacques Chapellon, “existe paralelismo fiel entre o progresso e a atividade matemática; os países socialmente atrasados são aqueles em que a atividade matemática é nula ou quase nula”. Como é uma atividade solitária, o aluno brasileiro não é atraído, pois culturalmente é pouco valorizada, quando não motivo de pilhérias ou bullying. “Não menospreze os nerds da sua escola. Você ainda irá trabalhar para um deles” – aconselha Bill Gates, que juntamente com Steve Jobs foram proeminentes nas disciplinas de ciências exatas. A Matemática é uma ciência sisuda, sinistra, lúgubre, abstrata e tem cara de poucos amigos ― pensam muitos que por ela foram humilhados. No entanto, sendo a Matemática a rainha e serva de todas as ciências, uma das joias da coroa de Sua Majestade é lúdica, bem-humorada, hilária e se apresenta na forma de quebra-cabeças, passatempos, sudokus, diversos games, xadrez, soroban, causos e galhofas. Divertem e são bálsamos para as horas de tédio ou quando falta companhia. Merecidamente, o mercado de trabalho valoriza o profissional leitor e dotado de raciocínio lógico. Enfim, a Matemática tem seus encantos, apesar do rigor e de sua linguagem fria e sincopada. Contemplando as leis físicas e universais, a harmonia e a beleza do Universo, já se disse que a mente de Deus é matemática. Os antigos gregos desenvolviam a Matemática não com escopo
prático, utilitarista, mas movidos pelo desafio intelectual ou pelo sublime prazer de pensar. Alheios a esses paradoxos, valemo-nos das palavras de Leibnitz: “A Matemática é uma honra do espírito humano”. Enfim, a nossa rainha tem muitos encantos. Não conheci quem nela mergulhasse fundo e não fosse tomado de enlevo. Em justa homenagem, reverencio o físico e escritor argentino Ernesto Sábato, uma vez que se faz pertinente ao referir-se à Matemática: “um mundo de infinita harmonia, com seu universo platônico, com sua ordem perfeita, seus objetos eternos e incorruptíveis, de uma beleza ímpar”. Ele recorda que esta imagem advém desde os 12 anos, quando “sentiu uma espécie de vertigem ao assistir à demonstração de um teorema”. O paradoxo é que os cientistas estão desenvolvendo tanto os computadores, que eles ainda nos ensinarão a pensar. Blague à parte, a Matemática desenvolve o raciocínio e autodidatismo, e o hodierno desenvolvimento tecnológico exige cada vez mais elevado tirocínio mental para o entendimento de textos ou elaboração de algoritmos sem um professor para auxiliar. Desconstrói-se, descaracteriza-se, desmerece-se a Matemática quando o seu ensino fica restrito à memorização e à aplicação de fórmulas. Um crime de lesa-majestade à nossa rainha, sendo a principal joia da sua coroa o encadeamento lógico, que promove a autoconfiança para descobrir e pesquisar outros temas da vida prática e das ciências. AUTOR: Jacir J. Venturi - Engenheiro, professor de matemática (da UFPR, PUCPR, Cursos PréVestibulares), atual presidente do Sindicato das Escolas Particulares do Paraná (SINEPE/PR).
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PROJETO UNIBRASIL FUTURO O Projeto tem como objetivo a manutenção de um canal permanente de divulgação e discussão de ideias, ou seja, pensar o Brasil que queremos para nós, para nossos alunos, para nossos filhos, para a comunidade. 10
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Marcelo Neri: desenvolvimento inclusivo no Brasil RESUMO: Este artigo tem como objetivo apresentar os principais temas abordados pelo palestrante Marcelo Neri no “UniBrasil Futuro”, com o tema “Desenvolvimento inclusivo: passado e perspectivas”. A apresentação demonstrou que as políticas sociais e o aumento do emprego proporcionaram a diminuição da desigualdade social no Brasil. Entretanto, permanecem incertezas se esses avanços continuarão ocorrendo no futuro. AUTORES: Claudio Marlus Skora professor e coordenador geral do curso de Administração do UniBrasil Centro Universitário Josué Alexandre Sander - professor e coordenador adjunto do curso de Administração do UniBrasil Centro Universitário
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No mês de março de 2016, o pesquisador Marcelo Neri participou do “UniBrasil Futuro”, debatendo o tema “Desenvolvimento inclusivo: passado e perspectivas”. Marcelo Cortês Neri é doutor em Economia pela Universidade Princeton, mestre e bacharel em Economia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). É Diretor do FGV Social e professor do programa de mestrado e doutorado da Fundação Getúlio Vargas. Foi presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), de setembro de 2012 até maio de 2014, e foi ministro-chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, de março de 2013 a fevereiro de 2015. É autor de diversas obras, das quais se destacam: A Nova Classe Média (indicado ao Prêmio Jabuti de 2012); Superação da Pobreza no Campo; e Programa Bolsa Família: uma década de inclusão e cidadania. O palestrante iniciou sua fala sintetizando os principais acontecimentos das últimas décadas. As décadas de 1960 e 1970 foram marcadas pelo crescimento econômico, pela desigualdade social e pela ditadura, os anos 1980 foram o período de redemocratização e instabilidade. Na década de 1990 ocorreu a estabilização econômica e a ampliação da cobertura de saúde e educação, enquanto que a primeira década dos anos 2000 foi marcada pela redução da desigualdade de renda e do emprego formal.
O ponto de partida para o debate sobre desigualdade social é a reflexão sobre a distribuição de renda. Como é a distribuição de renda brasileira em comparação com outros países? Uma pesquisa realizada e apresentada pelo palestrante comparou a distribuição de renda nos seguintes países: Estados Unidos da América, Rússia, China, Índia e Brasil. Foi possível identificar que a maioria da população brasileira é mais pobre que a americana e a russa e mais rica que a chinesa e a indiana. Desses países analisados, a população mais pobre é a da Índia e a mais rica, a dos Estados Unidos. Mas o debate era sobre desigualdade, e neste quesito, infelizmente, o campeão é o Brasil. O pobre brasileiro possui uma renda tão baixa quanto o pobre indiano, e o rico brasileiro possui uma renda próxima a do
rico americano e superior a do rico russo. O Brasil é o país dos contrastes, o pobre é muito pobre e o rico é muito rico. Essa é a fotografia apresentada. Mas se a fotografia nos mostra essa realidade, o que o filme nos revela? Quais são as mudanças recentes? O Brasil está reduzindo ou aumentando a desigualdade? Neri demonstrou suas percepções por meio da utilização do índice Gini. Este índice varia de 0 a 1, sendo 1 um país com renda totalmente desigual (toda a renda concentrada em uma única pessoa) e 0 um país com a renda distribuída igualitariamente entre toda a população. Apontou o palestrante que no ano de 1960, o índice Gini do Brasil era 0,535, subiu para 0,581 no ano de 1970, e 0,607 nos anos 1990. Este foi o ano de maior desigualdade 13
Os coordernadores do curso de adminstração, professor Josue Alexandre Sander, professor Claudio Marlus Skora e o palestrante convidado doutor Marcelo Neri
de renda no Brasil. A partir desse período, inicia-se uma redução da desigualdade, com o índice Gini reduzindo para 0,592 em 2001, 0,560 em 2007 e 0,523 em 2013. Entre os anos de 2000 e 2010, a desigualdade caiu em 80% dos 5.500 municípios brasileiros, continuando mais elevada nos estados da região Norte. Esse movimento de redução da desigualdade foi acompanhado pela redução da extrema pobreza (pessoas que vivem com menos de U$ 1,25 por dia). No ano de 1992, 11,31% da população brasileira era extremamente pobre, este índice caiu para 7,92% em 2001, e para 2,27% em 2014. Historicamente, existe um debate se a redução à pobreza ocorre pelo crescimento da renda ou pela queda da desigualdade. O caso brasileiro entre os anos 2001 e 2014 evidencia que o Brasil seguiu o caminho do meio, ou seja, a redução da pobreza brasileira é explicada tanto pela queda da desigualdade quanto 14
pelo crescimento de renda. Uma evidência dessa afirmação é o fato de que a renda nos domicílios do decil (10%) mais pobre foi de 166%, enquanto que a renda dos domicílios do decil mais rico foi de 31%. Existe um estereótipo no Brasil de que a renda da população mais pobre cresceu apenas com as transferências sociais, como o Bolsa Família. Dados publicados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do IBGE mostram que o principal fator de contribuição do crescimento da faixa mais pobre da população foi o trabalho, responsável por praticamente dois terços do crescimento da renda. Os outros fatores que ajudaram a elevar a renda da população mais pobre foram as transferências sociais (como o Bolsa Família) e a Previdência Social. Um dado que chama a atenção é que a contribuição do fator trabalho para aumentar a renda é maior na população do decil mais pobre do que no decil mais rico, mostrando a importância da
função social do trabalho para a redução da desigualdade social. Um fator que auxiliou no aumento da remuneração do trabalhador foi o crescimento da escolaridade da população pobre, movimento iniciado após a democratização brasileira com o processo de universalização do ensino básico. Mas o crescimento da renda do trabalho é sustentado pelo crescimento da produtividade ou decorrendo dos aumentos do salário mínimo acima da inflação? Entre os anos 2001 e 2004, a remuneração pelo trabalho teve crescimento inferior ao do PIB por trabalhador, porém, após o ano de 2004 até o ano de 2012, ocorreu um crescimento da remuneração pelo trabalho muito superior ao crescimento do PIB por trabalhador,
chegando a um ponto em que é difícil sustentar este nível de remuneração. Marcelo Neri teve a capacidade de apresentar esses e demais dados de modo que a plateia pudesse compreendê-los com exatidão. Neste momento de intenso debate político, em que a informação costuma ser distorcida por todos os lados para reforçar argumentos, isso não é necessariamente uma tarefa fácil. Ao final, foram demonstrados de forma inexorável os resultados das políticas sociais e o que o aumento do emprego proporcionou para diminuir os abismos entre ricos e pobres no país. Entretanto, projetando para os cenários vindouros, ficaram as incertezas de que esses se manterão no futuro.
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Pedro Serrano: Estado de exceção e jurisdição RESUMO: O palestrante destacou os direitos fundamentais como cerne da discussão sobre o direito de uma dada sociedade. Asseverou que o século XX foi marcado por regimes de exceção, já no século XXI os regimes democráticos se estabelecem, com medidas típicas de exceção em seu bojo e com a identificação do inimigo nas camadas excluídas. Salientou que o cumprimento de funções majoritárias pelo Poder Judiciário indica que a jurisdição se torna agente de exceção no interior da democracia. AUTORES: Alessandra Back - professora e coordenadora adjunta do curso de Direito do UniBrasil Centro Universitário Carlos Eduardo Dipp Schoembakla - professor e coordenador adjunto do curso de Direito do UniBrasil Centro Universitário Marco Antonio Lima Berberi - professor e coordenador geral do curso de Direito do UniBrasil Centro Universitário
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O jurista, professor e advogado Pedro Estevam Serrano, doutor em Teoria do Estado pela PUC-SP e pós-doutor pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa proferiu, no mês de março de 2016, palestra sobre o tema “Estado de exceção e jurisdição”. Tema instigante, tendo em vista o momento jurídico-político que o país atravessa. Ainda, a pertinência do tema é mundial, uma vez que diversos estudiosos, de várias áreas, debruçam-se sobre a questão do Estado de exceção, indicando certa perenidade em sua natureza, substituindo o caráter eminentemente provisório que a expressão denota. Salientou o palestrante, no início de sua apresentação, que uma forma coerente para se saber como o Direito funciona se dá pela ótica dos direitos fundamentais. Para isso, é imperioso compreender que a Teoria do Estado não é linear, ou seja, não segue uma lógica de construção progressiva, de sedimentação dos direitos fundamentais, uma vez que é perpassada por períodos de descontinuidade, como o fascismo e o nazismo. Enfim, observa, no processo de solidificação dos direitos fundamentais no âmbito dos Estados, que houve períodos de suspensão desses direitos,
mormente quando se pensa em ditaduras – governos de exceção. Portanto, estudar Teoria Geral do Estado não é só estudar o Estado Democrático de Direito, mas também a história do autoritarismo. E nesse estudo mais aprofundado, alguns autores são fundamentais, a começar por Hannah Arendt, passando por Walter Benjamin e Giorgio Agamben. Também Carl Schmitt, cujo fenômeno da justificação dos regimes de força vira paradigma. Afirma o palestrante que as ditaduras se estabelecem como transitórias, temporárias (mas que se tornam perenes), por conta de situações de emergência, lastreadas na lógica de guerra no combate ao inimigo - que no Brasil, na ditadura militar de 1964, eram os comunistas, ou seja, advogados, jornalistas, qualquer
pessoa, enfim, de pensamento diferente do imposto. E aqui se incluem na categoria de inimigo até mesmo pessoas que não tinham um vero e próprio pensamento de esquerda; bastava que pensassem contra a ditadura, a favor da liberdade. Essa lógica de combate ao inimigo provoca a suspensão de direitos, com a negação das liberdades e a submissão ao regime de força, peremptoriamente imposto. Destaca Pedro Serrano que o regime ditatorial de duração prolongada se espalhou pelo mundo no século XX (apenas como ilustração, é de se indicar na Europa o nazismo, o fascismo, o salazarismo e o franquismo, para ficar com alguns exemplos), com impacto demasiadamente forte na América Latina. Todavia, a característica do século XXI é não se ter mais governos de exceção, mas sim
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Pedro Serrano, Lucia Sombrio (formada pela primeira turma de Direito do UniBrasil) e o professor Marcos Maliska.
medidas típicas de exceção, ou seja, medidas típicas de ditaduras dentro da democracia. E a característica primordial desse tipo de medida é a perseguição do inimigo. A exceção reside em suspender os direitos de algumas pessoas a título de garantir o direito da sociedade. Então, a exceção ataca as pessoas destacadas como sendo o inimigo. A característica do inimigo do Estado é não ter direitos, por não ser considerado humano.
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Assim se tem, contemporaneamente, dois Estados: (i) o Estado jurídico formal, que é o Estado Democrático de Direito, aquele que está na Constituição, para os segmentos incluídos da população, no qual os cidadãos são garantidos pelos direitos de defesa, na seara penal, por exemplo. De outro lado, (ii) as parcelas do nosso território ocupadas por segmentos excluídos da nossa população são governadas por um estado de exceção,
em que se tem a ocupação de uma força policial militar como zona de guerra ocupada. Salienta o palestrante que na América Latina há a flagrante necessidade de se ter um São Jorge, um guardião, um guerreiro; alguém com legitimidade, que está acima do bem e do mal, que possa proteger a sociedade do inimigo. Aponta que primeiro foram os militares e, agora, é o Poder Judiciário que assume esse papel. Entretanto, afirma que a toga deveria ser usada para cumprir o ordenamento que o povo definiu, mas que ultimamente tem sido usada para cumprir finalidades majoritárias, o que não é sua função. Para Pedro Serrano, assim como para boa parte dos constitucionalistas contemporâneos, o Poder Judiciário deve cumprir função contra majoritária. Depois, assevera que o Brasil tem uma carta de direitos fundamentais bastante extensa, o que representa uma vantagem. Contudo, observa que não se pode mexer na estrutura dos direitos fundamentais por decisões judiciais, as quais são baseadas na forte postura subjetivista, do idealismo intenso que povoa o imaginário do Poder Judiciário brasileiro. A jurisdição, lembra, não
pode ser usada como fonte de exceção. Para justificar sua posição, lança mão do exemplo da decisão do STF sobre a possibilidade de se recolher à prisão o sujeito condenado em 2º grau, antes do trânsito em julgado da sentença penal. Afirma que o STF assim decidiu sem, no entanto, revogar o novo regramento processual penal, de 2011, que indica o contrário do decidido, mudando um precedente da própria Corte de forma não íntegra, não coerente, o que é rechaçado pela teoria constitucional contemporânea, que prega a ampla discussão antes da modificação de precedente. Assim, a jurisdição se torna agente de exceção no interior da democracia. Por fim, à guisa de conclusão da exposição do palestrante, tem-se na esteira do pensamento de Giorgio Agamben que o Estado de Exceção é o ponto de maior tensão entre a força normativa e a anomia (marcada pela suspensão do direito). E é essa tensão que leva ao conflito; é por isso que ao tornar-se regra, o Estado de Exceção transforma o sistema jurídico-político em uma “máquina letal” (AGAMBEN, Giorgio. Estado de Exceção, 2ª ed. São Paulo: Boitempo, 2004). Daí a importância da discussão sobre o tema proposto na palestra.
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PROJETO ACADEMIA UNIBRASIL Concebido com dois objetivos: o geral, convidar pessoas vitoriosas na vida pessoal e profissional para ministrar palestras, relatando suas carreiras e trajetórias; o especifico, de acréscimo da motivação dos alunos aos estudos, mediante conhecimento dos exemplos positivos desses palestrantes. 20
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Roberto Banaco: a despatologização da doença mental RESUMO: Roberto Alves Banaco, a convite do curso de Psicologia, ministrou a palestra “Despatologizando a psicopatologia: um analista do comportamento apresenta sua proposta de entendimento da doença mental”. Banaco apresenta sua concepção das psicopatologias, a partir do aporte teórico da análise do comportamento, que compreende os comportamentos como funcionais e adaptativos dentro do contexto em que ocorrem. AUTORAS: Graciela Sanjutá Soares Faria – professora e coordenadora do curso de Psicologia do UniBrasil Centro Universitário. Sulliane Teixeira Freitas – professora do curso de Psicologia do UniBrasil Centro Universitário.
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Roberto Alves Banaco é psicólogo, professor no Programa de Mestrado Profissional em Análise do Comportamento Aplicada do Paradigma, do Centro de Ciências e Tecnologia do Comportamento, estabelecido na cidade de São Paulo. Além disso, é membro do Conselho e da Comissão de Acreditação da Associação Brasileira de Psicoterapia e Medicina Comportamental. Em sua palestra, Banaco apresentou a proposta de um analista do comportamento para a compreensão das
psicopatologias, entendendo-as como comportamentos funcionais e adaptativos, totalmente explicados a partir das relações que o indivíduo estabelece com o ambiente. Em uma primeira discussão, Banaco afirmou que os extremos “saúde e doença” não são representativos de todos os possíveis estados do ser humano, e devemos considerar variações graduais entre tais extremos. Uma segunda discussão referiu-se à questão de que os estados mencionados anteriormente não são permanentes e podem se modificar em função de condições biológicas, condições de vida do indivíduo ou até mesmo situações estressantes. Foi ressaltada a importância de se considerar múltiplas variáveis na análise do ser humano, divergindo, assim, de uma postura de rotulação e estigmatização. A ideia de “normal e anormal” nas psicopatologias pode ser balizada por diversos critérios. Por exemplo, o critério estatístico, em que algo será chamado de “normal” por motivo de ser frequente, e de “anormal” por ser observado apenas em alguns casos. Outro exemplo de critério é o do sofrimento, em que será “normal” quem não sofre e “anormal” quem apresente algum sofrimento. Outros critérios foram mencionados por Banaco, para frisar a ideia de que não existe uma definição absoluta para as condições ditas “normais” ou “anormais”, visto que são estabelecidas diante de parâmetros. Essas argumentações serviram de base para que fosse apresentada a compreensão analítico-comportamental das psicopatologias aos alunos do curso, objetivo primeiro da palestra. Banaco explicou que enquanto a
sociedade entende as psicopatologias como comportamentos disfuncionais, anormais e indesejados por serem prejudiciais, a Análise do Comportamento pressupõe que todo comportamento é funcional dentro do contexto em que ocorre, ou seja, existe uma razão para que ele ocorra, e essa explicação é buscada na interação do indivíduo com o ambiente. Tal compreensão tem origem na oposição aos modelos médicos que entendem os comportamentos psicopatológicos como disfuncionais, expressões de experiências traumáticas e como sintomas que refletem suas causas subjacentes. Banaco discorreu sobre o surgimento do Behaviorismo para contextualizar as argumentações que visava sustentar. Destacou que a história da Filosofia Behaviorista é marcada por uma oposição ao modelo médico e seus pressupostos. Explicações passaram a ser insuficientes, pois não eram passíveis de comprovação, e também porque havia muitas interpretações permeando o estabelecimento de diagnósticos. O Behaviorismo diferencia-se por adotar uma postura funcionalista, que busca entender o valor de sobrevivência que um comportamento tem para o organismo. A argumentação funcionalista sustentou-se na influência de áreas do conhecimento como a Biologia e a Fisiologia, em pesquisas e estudos com animais para compreensão do ser humano, no foco em variáveis ambientais e em sua relação com o comportamento. A concepção analítico-comportamental sobre os transtornos psiquiátricos baseia-se no pressuposto de que todo comportamento 23
apresentado por um indivíduo foi selecionado a partir de contingências filogenéticas, ontogenéticas e culturais, inclusive os que são chamados de psicopatológicos. Banaco buscou explicar a complexidade de fenômenos comportamentais à luz do modo causal de seleção por consequências. Afirmou, ainda, que a sensibilidade aos aspectos do mundo é tão importante que toda hora que algum aspecto entra em contato com o organismo, modifica-o, selecionando a ação que o antecedeu. Somos sensíveis a estimulações e por meio de condicionamentos respondentes podemos passar a reagir ao mundo de formas aprendidas. Pareamentos entre estímulos podem conduzir à sensibilidade a condições previamente neutras. Quando aversivas, passamos a evitá-las. Medos, fobias e transtornos de ansiedade em geral podem ser entendidos sob essa ótica. Somada à sensibilidade, nossa história de vida descreve as relações que estabelecemos com o ambiente, modificando-o e sendo por ele modificados, ou seja, sofremos ação de reforçamento. Assim, por meio de exemplos, Banaco explicou como comportamentos são adquiridos e mantidos e porque, muitas vezes, mesmo sofrendo as consequências aversivas, não conseguimos mudar. Apesar desse entendimento funcional a respeito dos fenômenos comportamentais, Banaco afirmou que não se pode negar que eles trazem sofrimento. Sofrimento esse, motivo da procura por psicoterapia. Essa busca surge no momento em que há conflito entre os três níveis de seleção do comportamento (biológico, história de vida pessoal e práticas culturais). Os comportamentos são selecionados em todos os níveis, porém, o autor explica que existe uma prioridade social pelo controle cultural.
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A sociedade exerce vários tipos de controle sobre os indivíduos, que muitas vezes são coercitivos. Por assim serem, trazem consigo efeitos colaterais que afetam tanto o indivíduo como o grupo. Dentro de uma lógica de seleção comportamental, comportamentos que beneficiem o grupo se sobrepõem aos que beneficiem apenas o indivíduo. Banaco explica que a sociedade cria agências de controle social tais como governo, religião, economia, educação, para garantir que o benefício do grupo prevaleça. Como resultado disso, surgem expectativas de ação sobre o indivíduo e seus comportamentos passam a ser rotulados. São indesejáveis os comportamentos ditos ilegais, pecaminosos, e ações que definem o indivíduo como improdutivo ou incapaz. São exigidos repertórios tais como competir, controlar, buscar felicidade e evitar sentimentos negativos, ser bonito, ser saudável. Quando esses comportamentos tornam-se exacerbados, podem revelar uma psicopatologia do comportamento. São exemplos de influência cultural sobre comportamentos psicopatológicos a depressão nos anos 80, alavancada pela crise econômica e pela recessão, e a ansiedade nos anos 90, que preconizava a cultura ao corpo, geração saúde, controle e recuperação das condições financeiras. A psicoterapia surge como uma agência de controle social, um produto cultural, que tem como finalidade desfazer os efeitos do controle aversivo, melhorar e promover o autoconhecimento. Banaco sinalizou que os rótulos mencionados anteriormente são entendidos socialmente como ausência de autocontrole, que por sua vez é sinônimo de transtorno. Logo, a sociedade cria a psicoterapia como uma forma de reverter tais comportamentos.
Banaco buscou “despatologizar” os comportamentos psicopatológicos elucidando que são comportamentos que podem ser totalmente explicados a partir de determinações ambientais e que, por isso, não há razão para entendê-los como anormais. Argumentou que a partir da leitura de manuais de transtornos psiquiátricos podemos nos identificar com muitas das descrições que lá estão, o que muda é a quantidade, a latência e a duração. São essas dimensões que definem algo como psicopatológico. A “psicopatologia comportamental” é entendida como déficit ou excesso comportamental, com finalidade de adaptação ao ambiente, que leva a algum tipo de sofrimento, com reações emocionais intensas. É a busca do indivíduo em se ajustar a certas condições, visando reduzir a aversividade do contexto em que se encontra. Se o comportamento se mantém apesar dos prejuízos que causa ao indivíduo, certamente ele tem uma função importante de eliminar um sofrimento ainda maior. Para Banaco, a mudança desse cenário, visando a prevenção das psicopatologias e a promoção da saúde comportamental depende da mudança das práticas culturais. Se são elas, em grande medida, as responsáveis pelo sofrimento dos indivíduos, é a partir de sua mudança que o comportamento passa a mudar. Práticas culturais menos aversivas e controladoras, tais como redução de jornada de trabalho, ócio criativo, educação não coercitiva diminuem a exigência de desempenho dos indivíduos, e afetam, por consequência, déficits e excessos comportamentais.
A palestra proferida teve grande importância no sentido de prover um novo entendimento sobre o tema das psicopatologias. A mensagem passada foi a de que não há sentido nos conceitos de normalidade ou anormalidade e de que é possível olhar para os comportamentos “psicopatológicos” assim como se olha para qualquer outro comportamento, pois são sempre a melhor forma do indivíduo lidar com o ambiente, que pode se tornar hostil a depender da sensibilidade do indivíduo, da sua história de vida e das práticas culturais mantidas pelo grupo no qual está envolvido.
A coordenadora do curso de Psicologia do UniBrasil, Graciela Sanjutá Faria, o palestrante Roberto Banaco e a professora da UFPR Maria Virgínia Filomena Cremasco
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Maria Lucia Fattorelli: a cortina de fumaça RESUMO:
No dia 10 de maio de 2016, a ex-auditora da Receita Federal e atual coordenadora da ONG Auditoria Cidadã da Dívida, professora Dra. Maria Lucia Fattorelli proferiu palestra com o tema “Sistema da Dívida: realidade de abundância e cenário de escassez”. Essa pesquisadora dispensa maiores apresentações, dado o alcance de seus trabalhos, tais como a recente participação nas auditorias das dívidas do Equador e da Grécia. AUTORA: Bianca Larissa Klein professora dos cursos de Direito, Administração e Ciências Contábeis do UniBrasil Centro Universitário. 26
Nos tempos hodiernos é recorrente ouvir: - “Estamos em crise!” Mas que crise é essa? Crise cultural, crise econômica, crise política? Há quem afirme que aquilo que denominamos “crise” é, na verdade, uma síntese de todas essas crises, que se retroalimentam. Outros acentuam a crise econômica, atribuindo-lhe ascendência sobre diferentes áreas. A persistência e a vitalidade do problema tem mobilizado muitos pesquisadores que buscam compreender as causas da crise atual e seus mecanismos mais internos. Atenta à relevância desse debate, a comunidade acadêmica participou da discussão com Maria Lucia Fattorelli. Com fulcro na dívida pública brasileira, a palestrante desenvolveu sua exposição intitulada “Sistema da Dívida: realidade de abundância e cenário de escassez”. Para Maria Lúcia, é possível verificar claramente um paradoxo no cenário da crise brasileira: por um lado, o país se situa como a nona maior economia mundial, com abundância e potencialidades entre as quais se destacam a maior reserva de nióbio do mundo, a terceira maior reserva de petróleo do mundo, a maior reserva de água potável do mundo, a maior área agriculturável do mundo; por outro lado, entretanto, estampa um grave cenário de escassez, expresso por diversas crises que afetam a área
econômica (desindustrialização, queda da atividade comercial, desemprego, perdas salariais, privatizações, encolhimento do PIB), bem como reverberam nas esferas social, política e ambiental. É justamente nesse cenário que se verifica um aumento acelerado da dívida pública, o que se traduz em crise fiscal. Diante desse contexto de crise, Maria Lúcia aponta para várias causas, articulando-as sob a denominação de SISTEMA DA DÍVIDA. Entre as causas suscitadas para o Cenário de Crise para a Economia Real, configurase o avanço de concessões ao Capital Financeiro, o que implica em juros elevados, sem justificativa técnica ou econômica e, ainda, a elevação dos lucros dos bancos e o abuso na utilização de mecanismos financeiros, tais como a utilização de “Swap” cambial, bem como das chamadas Operações “Compromissadas”. Não bastasse, o Governo tem como principais propostas para enfrentar o rolo compressor da dívida, o retorno da CPMF, sob a justificativa de “déficit na Previdência”, a Independência do Banco Central (PEC 43/2015), bem como a emissão de Títulos da Dívida Externa e a PLP 257/2016, que transforma a União em seguradora internacional para investidores e garante remuneração da “sobra de caixa” de bancos. A partir desse diagnóstico, Maria Lúcia Fatorelli propõe a fundamental problematização: qual seria a principal determinante para a CRISE FISCAL? A pesquisadora enfrenta a questão com clareza e profundidade, apontando quanto a
dívida pública asfixia a economia nacional. Vejamos que a DÍVIDA INTERNA CRESCEU 732 BILHÕES em 11 meses, durante o ano de 2015, e o país nada recebeu em contrapartida. Além disso, a auditora lembrou que a Política Monetária trava a economia do país, uma vez que os juros são abusivos: a Taxa Básica (SELIC) é de 14,25% e os Títulos são negociados a 16,81% em 21/01/2016. Nesse quadro, não surpreende o descontrole inflacionário, pois se os juros elevados não servem para controlar a inflação brasileira e a base monetária restrita é inferior a 5% do PIB no Brasil (enquanto em todas as demais grandes economias mundiais é de cerca de 40% do PIB), verifica-se um estímulo ao aumento das taxas de juros de mercado. Assim, deixa-se de emitir moeda, mas emitese dívida, que paga os juros mais elevados do mundo. Conclui-se, portanto que “O Banco Central está suicidando (sic) o Brasil” (http://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/ artigos) Mas há, ainda, um problema a mais: segundo Fatorelli, quem está controlando a economia brasileira é o Financial Sector Assessment Program Brazil, ou seja, o grande capital financeiro. Nesta toada, o país segue a cartilha do FMI para a Política Monetária, incorporando seus mandamentos, a saber: a aprovação de lei assegurando a “autonomia” do Banco Central, especificamente garantindo mandato para diretores, como uma política monetária objetiva; a perseverança da política de controle inflacionário com metas; 27
internacionalmente e internamente; em que às dívidas não corresponde nenhuma contrapartida; e cujo maior beneficiário é o setor financeiro. Esse sistema, esclarece a Auditora, gera uma crise em diversos entes federados brasileiros. Esse verdadeiro sorvedouro de riqueza nacional se alimenta de tais como o próprio Modelo Econômico adotado pelo país; os Privilégios Financeiros; o Sistema Legal; o Sistema Político; a Corrupção; a Grande Mídia; os Organismos Internacionais e a Dominação Financeira. Entre os mecanismos que geram dívida sem contrapartida, podem-se citar, a título de exemplificação, a emissão de títulos da dívida para pagar juros, abusivas taxas de juros, cobertura
de bilionários prejuízos operacionais do BC (R$ 147,7 bilhões em 2009; R$ 48,5 bilhões em 2010;), os quais, segundo a Lei de Responsabilidade Fiscal, devem ser arcados pelo Tesouro Nacional. Sem deixar de citar que a corrupção institucionalizada, fortemente entranhada no Sistema da Dívida, não só engessa o programa econômico nacional como, obviamente, é geradora de dívida sem contrapartida para os programas do Governo, especialmente os de conteúdo social, voltados à atenção básica da população em geral e, especialmente, dos setores mais excluídos. Essa gratuita transposição de riquezas para o Sistema Financeiro promove um escandaloso crescimento do lucro
O coordenador do curso de Ciências Contábeis do UniBrasil, Cesar Augusto Gaertner e a palestrante Maria Lucia Fattorelli
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o reforço da responsabilidade fiscal e, simultaneamente, a liberdade monetária e o câmbio flutuante; a redução da presença do setor público e o aumento da participação da banca estrangeira na economia nacional; empoderamento do BC para fornecer recursos para recapitalização da banca; retirada de exigências legais e trabalhistas em caso de fusão, incorporação; estímulo à participação privada em financiamentos imobiliários (CCI) e recomendação de que o Bovespa reveja o Mecanismo de Compensação de investidores contra perdas no mercado de capitais devido a erros operacionais, entre muitas outras medidas. Ocorre que, no Orçamento de 2015, com base nos dados do Portal da Transparência, revelase uma inconsistência nos dados, uma vez que as receitas realizadas em 2015 foram de R$2,748 trilhões, enquanto as despesas do mesmo ano (pagas até dezembro de 2015) foram de apenas R$ 2,268 trilhões. Há, aí, uma diferença de nada menos que R$ 480 bilhões. Cabe indagar: onde foram aplicados esses R$ 480 bilhões? A resposta aponta para o abismo: esse recurso foi carreado para pagamento de juros e amortizações da dívida. Trata-se do mais elevado volume de gastos do Orçamento (42,43%), o que consumiu não somente receitas financeiras, mas também outras receitas orçamentárias, o que, obviamente, implicou a retirada de recursos de áreas essenciais. A partir de suas pesquisas, Fatorelli constata o que ela denomina, como já mencionamos, um “SISTEMA DA DÍVIDA”, que converte o endividamento em mero mecanismo de subtração de recursos e não mais para o financiamento dos Estados; que se reproduz
dos bancos. Também convém assinalar persistência de certa margem de omissão de órgãos de controle do Estado. Mas não é só, esclarece a Auditora, também se torna patente um total descumprimento de princípios constitucionais no que se refere à transparência e os critérios para motivação do Estado, o que, em termos mais objetivos significa que não está ocorrendo a devida disponibilização de informação capaz de responder adequadamente às seguintes interrogações: quem são os detentores dos títulos da dívida brasileira? Por que compramos títulos da dívida externa antecipadamente e com ágio que chegou a 70%? Quais dívidas externas privadas foram transformadas em dívida pública? Quem são os beneficiários dos contratos de swap? Qual o fundamento legal para se oferecer ração mensal ao mercado? Quem são os beneficiários das operações de mercado aberto? Quais as condições financeiras oferecidas? Outro problema relativo ao imbróglio nas informações, e aí no que diz respeito às dívidas externa e interna, é a manipulação dos números da dívida, uma vez que artifícios são utilizados para “aliviar” o peso dos números: dívida “líquida” em lugar da dívida bruta; juros “reais” em lugar dos juros nominais; contabilização de parte dos juros nominais como se fosse amortização; exclusão da dívida externa “privada” das estatísticas, desconsiderando a existência de garantia pública sobre tal dívida; gráficos que fazem a comparação da Dívida Líquida com o PIB, mostrando uma ilusória queda do montante da dívida. Conforme Fatorelli, o sistema da dívida 29
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opera nos estados e municípios, os quais seguem a carta de intenções com o FMI; o endividamento sem contrapartida; os mecanismos financeiros, bem como o refinanciamento pela União, conforme a Lei 9.496/97; o pacote de plano de ajuste fiscal, das privatizações do patrimônio dos estados e assunção de passivos de bancos – PROES. Assim, as condições empurram esses entes federados para o endividamento junto ao Banco Mundial e a bancos privados internacionais para pagar à União, gerando ilegalidades e um enorme sacrifício social. A ilustrar esse tópico, Fatorelli apresentou o caso da Dívida Interna do Estado do Paraná, revelando que o prejuízo decorrente do caso Banestado foi transformado em dívida pública dos paranaenses. A dívida dos estados fica atrelada à Crise Fiscal devido às condições abusivas do refinanciamento pela União (Lei 9.496/97) e a novos esquemas sofisticados, tais como a cessão de créditos referentes à Dívida Ativa, a venda de direito inalienável, a atividade exclusiva de Estado, entre outros. Retomando o paradoxo brasileiro que se mencionou no início deste artigo, no qual dois Brasis opostos se cindem e se enfrentam, em que, como vimos, a 9ª ECONOMIA MUNDIAL gesta a pior distribuição de renda do mundo, ocupa o 79º lugar no ranking de respeito aos Direitos Humanos – IDH, o penúltimo no ranking da Educação e 128º no ranking do crescimento econômico; constatandose um sorvedouro da riqueza nacional, resta formular alternativas de superação e transformação dessa realidade. Nessa direção, Fatorelli propõe que seja realizada a AUDITORIA DA DÍVIDA brasileira, já prevista na Constituição Federal de 1988 e reclamada em Plebiscito popular realizado no ano 2000.
É de se destacar que já ocorreu uma CPI da Dívida Pública na Câmara dos Deputados, a qual foi criada em Dez/2008, por iniciativa do Dep. Ivan Valente (PSOL/SP), e que teve o mérito de identificar graves indícios de ilegalidade da dívida pública. Os relatórios dessa CPI foram entregues ao Ministério Público Federal em maio/2010 e aguarda-se o prosseguimento dos trâmites. Ainda, como estratégias de ação, a ONG coordenada por Maria Lúcia Fatorelli propõe como iniciativas imprescindíveis o conhecimento da realidade, a mobilização social consciente e por fim ações concretas tais como a constituição de uma Frente Parlamentar Mista para realizar a Auditoria da Dívida, com garantia de efetiva participação da sociedade brasileira ou, em outros termos, reivindica-se uma AUDITORIA DA DÍVIDA COM PARTICIPAÇÃO CIDADÃ. O tema, como se vê, é atualíssimo e sua solução urgente. A crise expressa, de forma clara, as contradições que subjazem ao sistema social. Seus fundamentos não são facilmente identificáveis, porque implicam pensar por contradição. Com efeito, o paradoxo, se bem visto, é mais uma das contradições entre Capital e Trabalho. Cumpre compreender seus mecanismos e atuar efetivamente na sua superação.
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José Roberto de Castro Neves: O Direito em Shakespeare RESUMO:
Durante o século XIV, a Europa Ocidental passou por uma fase conturbada, caracterizada por
José Roberto de Castro Neves é advogado, professor de Direito Civil da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), mestre em Direito pela Universidade de Cambridge, Inglaterra e doutor em Direito Civil pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Autor de diversos livros, entre eles, Medida por Medida – O Direito em Shakespeare; A Invenção do Direito e Direito das Obrigações, todos já com diversas edições. O professor apresentou a palestra: “O Direito em Shakespeare” e realizou o lançamento do livro “O mundo é um palco – Shakespeare 400 anos: um olhar brasileiro”. AUTOR:
um momento de dificuldades econômicas, pela diminuição da população, por diversas guerras e pelo enfraquecimento do poder da Igreja. Esses foram alguns dos sinais que anunciavam o fim da Idade Média. Nesse período, a Inglaterra vivia um momento de conflitos externos e internos. Essa situação terminou quando Henrique Tudor se tornou rei da Inglaterra, adotando o título de Henrique VII, dando início a Casa dos Tudor - uma das maiores dinastias de monarcas britânicos. O trono é sucedido por Henrique VIII, que é muito lembrado por seus diversos casamentos e, em especial um deles, o qual gerou uma menina que viria a ser uma das maiores monarcas inglesas: Elizabeth I. No reinado da “rainha virgem”, a Inglaterra se tornou a maior potência econômica, política e cultural da Europa. Essa mudança toda permitiu o aparecimento de grandes nomes das artes e das ciências, em
Alex Wolf – diretor do Grutun! Grupo de Teatro UniBrasil, professor da FAE Centro Universitário.
que se destaca Sir William Shakespeare, escritor e dramaturgo, que viveu em pleno auge da Era de Ouro Inglesa, um momento histórico que favoreceu intensamente o trabalho desse artista. Sua obra dramática tratou sobre a alma humana, o amor, os problemas sociais, as questões políticas, entre outras temáticas universais que o fazem sempre atual. São dele obras como Hamlet, Romeu e Julieta, Rei Lear dentre outras apresentadas até hoje nos principais teatros de todo o mundo. Muitos são os pesquisadores
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que realizaram estudos a partir das obras do “bardo” e dentre eles podemos citar o Dr. José Roberto de Castro Neves, que pesquisa sobre o tema do Direito em Shakespeare. Em sua palestra no UniBrasil Centro Universitário, apresentounos um tema muito agradável com o objetivo de compreender a importância da cultura na formação do advogado e também do cidadão, estimulando para que mais pessoas tenham acesso à obra de Shakespeare. A sua
pergunta
inicial
foi:
Por
que
devemos ler? Sua resposta, apesar de ser conhecida de todos, nos faz refletir sobre a importância da leitura na formação dos profissionais de hoje. Segundo ele, ler trabalha a nossa mente e provoca um diálogo interior, permitindo a reflexão mais aprofundada dos mais diferentes assuntos. Além disso, a literatura nos dá ferramentas e instrumentos para a boa comunicação, pois gera inúmeras interpretações e traz
a revelação daquilo que não está óbvio, apresentando a humanidade além do relato histórico, e nos aproximando do indivíduo, do homem como ser pensante. Fez-nos também refletir sobre a diferença entre cultura e informação. Informação se refere a dados que chegam a nós diariamente com muita rapidez e tem um valor imediato. Hoje estão muito próximas de nós por conta dos meios de comunicação. Cultura é também um dado, importante, porém ela vem a nós carregada de valor. Vem nos informar a partir de uma uma carga valorativa. Ela nos é entregue a partir da tradição, apresentada de geração em geração. A mitologia grega, por exemplo, nos traz um mundo de informação, assim como Dante e Shakespeare. E aí nos vem uma outra pergunta: Será que vamos conseguir transmitir essa cultura para as próximas gerações? As informações hoje são tão superficiais que deixam um espaço que não é mais preenchido pela cultura. A sociedade em que nós vivemos acaba apenas oferecendo informação e não cultura aos seus indivíduos. E talvez o conhecimento 33
dos textos de Shakespeare possa contribuir com esse espaço entre informação e cultura. Para o palestrante, gosto se discute. Como você vai saber o que é melhor? Vai conseguir se você tem cultura e não apenas informação. Para nosso palestrante, uma das formas de se ampliar essa cultura vazia de informação é a leitura de alguns dos clássicos, como as obras de William Shakespeare. E quem foi esse homem? Ele nasceu em 1564, numa pequena cidade da Inglaterra que ficava há 3 dias andando de Londres, e morreu em 1614, nessa mesma cidade, depois de ter passado um bom tempo na capital de seu país. Foi um grande ator, um empresário, tinha dois teatros, era sócio de uma companhia teatral e foi principalmente um grande dramaturgo. Escreveu peças extraordinárias e conhecidas até hoje e que vem encantando a todos, de geração em geração. Isso gerou um mundo de discussões sobre ele, desde temas sobre sua vida e sua obra até olhares, de outras disciplinas além da literatura e da história, sobre seus textos, personagens e tramas dramáticas. Ele viveu numa época politicamente turbulenta. A rainha não era legalmente a legítima dona do trono, pois sua mãe não era uma nobre. Mesmo assim, ela manteve seu reinado por 45 anos. Não deixou herdeiros e, três dias antes de morrer, indicou Jaime I, um rei escocês, como seu sucessor. Esse rei não foi respeitado pelos ingleses por conta da diferença dos sistemas jurídicos entre a Inglaterra e a Escócia. Para colaborar com a mudança social e política, naquele momento havia uma revolução científica em andamento. O universo estava ao avesso, a terra passa a ser apenas um pedaço muito pequeno desse espaço, a política passa a ser vista de uma forma diversa na qual 34
o rei deixa de ser a emanação do poder e o homem passa a ser protagonista e, esse mesmo homem, acabou de descobrir o outro mundo. Novos paradigmas estavam em jogo. Shakespeare nunca se preocupou em dar respostas. Apenas provocava o pensamento, dava ao leitor o poder da interpretação. O que permite que cada um de nós possa ter seu próprio olhar sobre a sua obra. O que vamos perceber é que tudo tem motivo nas suas peças e poemas como num quebracabeça em busca sempre de uma conclusão inteligente. Não há a interferência do divino, sempre o homem é responsável pelos seus atos, sendo ele o grande protagonista das peças do dramaturgo inglês. Mostrou-nos, a partir de seus personagens e situações, a complexidade do ser humano. Não há um modelo perfeito, todos são de carne e osso, capazes de coisas maravilhosas e ao mesmo tempo horrorosas. Seguiu um caminho como todo artista. Teve várias fases: no início, suas peças reclamavam sangue, atendendo a uma necessidade do seu público; em seguida, numa fase ensolarada, adolescente, trouxe peças mais suaves e, na sequência, ele passa a uma fase sombria, na qual temos as grandes tragédias tratando sobre os grandes temas da humanidade e, por fim, temas mais alegóricos, como uma mensagem para aqueles que ainda estavam por vir. Na Londres dessa época, a maior cidade do mundo conhecido, 250.000 pessoas viviam nela e para se divertir iam a lutas de cachorros, ao teatro e assistiam aos julgamentos e execuções. A cidade tinha muitos teatros. A rainha gostava dessa atividade, entretanto, os artistas só podiam trabalhar se tivessem alguma autorização de um nobre. O Globe, teatro em que Shakespeare atuava, atendia
a 2.500 pessoas e tinha apresentações todos os dias. As peças traziam questões que eram discutidas nos julgamentos e suas decisões eram apresentadas no palco. Um exemplo disso pode ser citado pela morte da personagem Ofélia em Hamlet, história que era verídica e que discutia a possibilidade de alguém se suicidar e ser enterrada, tema colocado por Shakespeare na boca de dois coveiros em sua peça. Grande parte de seus dramas, tragédias e comédias apresentam questões jurídicas. Os julgamentos são muito comuns nos seus textos e, muitas vezes, sua plateia era formada por advogados e estudantes de Direito, e algumas de suas peças foram apresentadas nas escolas de Direito da época. Após esse panorama sobre o dramaturgo e sua época, o professor Castro Neves começou a nos apresentar algumas das obras shakespearianas nas quais o direito está claramente presente. A primeira a ser tratada foi a Megera Domada. A peça trata sobre duas irmãs, Catarina e Bianca, muito diferentes entre si: a primeira, indomável; a segunda, dócil. Moradoras em Pádua e filhas de Batista, um nobre, são alvo de muitos pretendentes. Porém, todos querem casar com Bianca, que por ordem de seu pai só poderá se casar depois de Catarina. Assim, aparece Petruquio, que é contratado pelos pretendentes de Bianca e deverá casar com Catarina. A comédia acaba com o casamento de Bianca, e Petruquio e Catarina completamente apaixonados. Os homens presentes no casamento de Bianca fazem uma aposta para ver qual das mulheres serviria primeiro bebida ao seu marido, e para surpresa de todos é Catarina que se apresenta. Ela termina a peça com um texto brilhante sobre a subserviência da
mulher ao homem, e como a mulher deve respeitar o homem como grande provedor. Esse texto pode ser interpretado com um cinismo muito grande e permite às atrizes diferentes interpretações, transformando-o, mostrando como uma mulher deve se inserir na sociedade. Em Henrique VI, do primeiro período shakespeariano, nos foi apresentada uma frase de um açougueiro que diz que se devem matar todos os advogados. E qual seria o motivo para ele falar isso? Colocado dentro do contexto adequado, acaba se tornando um elogio do dramaturgo inglês aos advogados, pois sem eles não teríamos quem entendesse as leis, ou seja, perderíamos os grandes guardiões da justiça. E assim seguimos por Ricardo II, Romeu e Julieta, Julio César, Otello e Rei Lear, numa viagem deliciosa e instigante relacionando fatos jurídicos e a escritura desse grande mestre da literatura. Shakespeare sempre será uma fonte inesgotável para os mais diversos olhares e situações. E, para finalizarmos, cabe perceber que o pensamento inicial proposto pelo professor José Roberto, de que o espaço entre a diferença da informação e da cultura pode ser preenchido pela obra de um autor clássico, realmente é possível. O que precisamos fazer é incentivar a leitura, o pensar e o diálogo entre o clássico e a atualidade para que possamos encontrar respostas mais suaves para o nosso futuro. Precisamos acreditar na tradição.
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Aula Magna do curso de Direito com Ministro Luiz Fux No dia 18 de março de 2016, o Ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal, proferiu Aula Magna para o curso de Direito do UniBrasil Centro Universitário. O tema abordado destacou-se pela importância e atualidade para todos os operadores do Direito: “O novo Código de Processo Civil”. Instituído pela Lei nº 13.105/2015, o Código entrou em vigor a partir de 16 de março de 2016, apenas dois dias antes da Aula do Ministro. A Aula Magna é sempre um evento importante para as instituições universitárias. Seus temas, ainda que não guardem necessariamente relação direta com o currículo formal do curso, costumam expressar parte notável de sua essência e filosofia, e até mesmo da própria instituição. O UniBrasil reconhece essa importância e convida para ministrar aulas
magnas pessoas de grande importância e respeitabilidade nas suas áreas de conhecimento, como é o caso do Ministro Fux. Luiz Fux possui doutorado em Direito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Atualmente é ministro do Supremo Tribunal Federal, Ministro do Tribunal Superior Eleitoral, professor convidado da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, professor convidado da Universidade Católica de Petrópolis, professor convidado da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, professor convidado do Centro de Estudos, Pesquisa e Atualização em Direito, professor convidado da Academia Brasileira de Direito Processual Civil, professor titular da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, atuando principalmente nos temas tutela e interesses coletivos. Foi Presidente da Comissão que elaborou o Novo Código de Processo Civil, o que tornou sua palestra ainda mais relevante. A mesa foi composta pelo reitor do UniBrasil Centro Universitário, professor Sérgio Ferraz de Lima, pela pró-reitora de graduação, professora Lilian Pereira Ferrari, pelo coordenador do curso de Direito, Professor Marco Antônio Lima Berberi e pelo palestrante Ministro Luiz Fux.
A pró-reitora de graduação do UniBrasil, professora Lilian Pereira Ferrari, o reitor do UniBrasil Sérgio Ferraz de Lima, o Ministro Luiz Fux e o Presidente do Complexo de Ensino Superior do Brasil, professor Clèmerson Merlin Clève
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O laudatório ao Ministro Fux foi realizado pela coordenadora adjunta do curso de Direito, professora Alessandra Back, e pelo presidente do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil, professor Clémerson Merlin Clève, que descerrou a placa em homenagem ao evento.
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Aula Magna do curso de Direito com Juiz Sérgio Moro: corrupção sistêmica RESUMO: A corrupção, no Brasil, chega a alarmar. O interesse desperto sobre o tema transcende o universo jurídico, pois permite entender um dos males que assola nosso país e que causa temor entre os cidadãos brasileiros, não só aos iniciados no estudo do Direito. Ao tempo em que assusta, o tema, da maneira como foi tratado pelo professor, nos faz pensar e repensar as práticas políticas versadas no Brasil e, ao mesmo, nos traz esperança para o futuro. AUTOR: Luiz Eduardo Trigo Roncaglio professor do curso de Direito do UniBrasil Centro Universitário.
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Em agosto último, o UniBrasil Centro Universitário convidou a proferir aula magna, celebrando a abertura das atividades acadêmicas semestrais do Curso de Direito, sobre o tema “Corrupção Sistêmica”, o Juiz Federal Sérgio Fernando Moro, doutor em Direito pela Universidade Federal do Paraná e professor naquela Instituição de Ensino Superior. De início, abordou, antes do tema propriamente dito, a operação Lava Jato, da qual o professor é principal julgador. Explicou que se tratava, no começo, de uma investigação simples, focada em indivíduos ligados à lavagem de dinheiro, cujas operações estavam, num primeiro momento, atreladas ao mercado de câmbio negro. No decorrer das investigações, entretanto, a Polícia Federal se deparou com um elo significativo estabelecido entre um dos investigados e um ex-diretor da Petrobras. Do aprofundamento da investigação desse elo veio à tona a ligação entre lavagem de dinheiro e produto advindo de corrupção, comumente chamado de propina. Disso resultou uma nova direção da investigação, debruçada, agora, sobre empreiteiras, políticos e ex-diretores da Petrobras e envolvendo produto significativo de propinas. Até este momento, segundo afirmação do professor, quatro exdiretores da Petrobras foram condenados, tendo sido encontrados, em suas contas bancárias no exterior, valores expressivos, que variam de 40 a 120 milhões de reais na conta de cada um deles. Esses valores são, de fato, vultosos.
Partiu daí, o professor, para asseverar que a cobrança sistemática de propinas leva à ideia de corrupção sistêmica. Salientou que a corrupção faz parte da natureza humana, o que nos leva a entender que sempre haverá quem, independentemente das circunstâncias, ceda à tentação do crime. Em todo mundo há corrupção, o que não significa que essa constatação sirva de salvo conduto para o crime. Trata-se, apenas, de uma constatação. Todavia, a corrupção sistêmica, na qual o pagamento de propina torna-se regra nas transações entre o público e o privado, não se apresenta tão comum assim. Na corrupção sistêmica, o pagamento da propina torna-se a regra do jogo, algo natural, uma prática consentida entre os participantes. Ademais,
fato
que
causou
perplexidade
ao professor, é o recebimento da propina oriunda dos contratos da Petrobras por agentes políticos, o que levou a condenação
instância de julgamento, por não mais estarem sujeitos ao foro por prerrogativa de função. A perplexidade se justifica porque dois dos exparlamentares condenados já haviam sido apenados na ação penal nº 470, popularmente conhecida como Mensalão. E mais: as provas colhidas no processo da Lava Jato são no sentido de que esses indivíduos continuavam a receber propina mesmo durante o julgamento da Ação Penal nº 470. Isso serve de ilustração para o fenômeno da corrupção sistêmica. Com a corrupção sistêmica, ele nos explica, a economia perde eficiência. Além dos custos óbvios da propina, normalmente inseridos nos contratos públicos, perde-se a prática da boa administração pública. Mais do que isso, gera a perda de confiança da sociedade nas instituições, pois o que assiste a uma trapaça generalizada, somada a ideia de impunidade. Isso afeta, enfim, a credibilidade da democracia.
de 4 ex-parlamentares federais, na primeira 39
Abordou, depois, algumas questões jurídicas controvertidas na operação Lava Jato. Sobre a competência da Vara Federal em que atua, afirma o professor que a investigação, como já dito, envolvia lavagem de dinheiro, com valores investidos na cidade de Londrina. Por isso a competência é da 13 ª Vara da Justiça Federal no Paraná, com jurisdição sobre todo o território paranaense no que tange a crimes de lavagem de dinheiro. Pode-se perceber, também, pelo conteúdo do material probatório, que os crimes que vieram a ser descobertos estavam interligados. Por conta disso, e para não se pulverizar o material probatório e evitar decisões contraditórias, a legislação processual penal determina a reunião de todos os feitos sob uma mesma autoridade jurisdicional, ressalvados os casos em que há prerrogativa de foro. Sobre as prisões cautelares, afirmou o professor que se trata de exceção. Todavia, segundo ele, estamos diante de um quadro de excepcionalidade. Citou, para reforçar seu argumento, o caso do primeiro diretor da Petrobras, em que, inicialmente, não havia sido decretada sua prisão cautelar, mas apenas determinada busca e apreensão em sua residência e em seu escritório. Não obstante, enquanto a Polícia Federal fazia as buscas determinadas judicialmente, o ex-diretor pediu aos seus familiares, por telefone, que fossem ao seu escritório e de lá retirassem documentos e dinheiro – o que efetivamente ocorreu -, numa causa objetiva e clássica para decretação da prisão preventiva. As colaborações premiadas, segundo o professor, justificam-se por serem mecanismos especiais de investigação que, num caso como o da Lava Jato, as testemunhas são os próprios criminosos. São crimes, em suas palavras, cometidos às sombras, 40
sem evidências claras de autoria. Para tanto, lança-se mão do testemunho de um criminoso contra outro, mediante a concessão de benefício penal. Ressaltou, entretanto, que as condenações não são baseadas exclusivamente em colaborações premiadas. No que tange à publicidade do processo da Lava Jato, argumenta que se trata de uma regra constitucional, pois a Constituição determina que não só os processos devem ser públicos, como a Administração Pública deve ser - por óbvio - pública, o que indica ainda mais a obrigatoriedade de transparência, pois se tem processos de crimes contra a Administração Pública. Assim, não havendo risco à investigação, não se tem necessidade de sigilo. O sigilo é, portanto, exceção. De outro lado, deixa claro que não há que se confundir publicidade com vazamento, pois este ocorre quando existe um processo sob sigilo e uma informação é tornada pública de forma indevida, ou seja, sem que se tenha levantado o sigilo do processo, o que é algo reprovável. Aponta para a dificuldade de se apurar o vazamento, pois não se pode pensar como regra a quebra de sigilo profissional dos jornalistas. Teceu comentários, também, sobre a decisão do Supremo Tribunal Federal que entendeu possível a prisão, em virtude de condenação – o que indica que não se trata mais de prisão cautelar -, em segunda instância. Em suma, não acredita que tal decisão seja uma negação do princípio da presunção de inocência, pois não está vinculada a recursos no processo penal. Lembra que, nesses casos, houve julgamento, para além da primeira instância, em segunda instância. Cita, como reforço de seu argumento, o direito comparado, principalmente apontando os Estados Unidos da América e a França como sistemas judiciais
em que se tem entendimento semelhante ao do Supremo Tribunal Federal. Com isso, segundo o professor, o Supremo Tribunal Federal fecha uma porta para a impunidade. Por fim, afirma que o Direito Penal e o Direito Processual Penal não apresentam condições de resolver todos os problemas, até por uma limitação intrínseca. Pelo sistema judicial, nem todos os crimes são elucidados, nem todas as provas são obtidas, nem todas as condenações têm efetividade. É preciso que se estabeleça uma agenda de reformas que transcenda o sistema penal. Indica como fundamental, para que isso aconteça, a mobilização da sociedade, citando como exemplo o projeto de lei, de iniciativa popular, encaminhado ao Congresso
Nacional pelo Ministério Público Federal, que envolve as chamadas “Dez medidas de combate à corrupção”. A partir dessas colocações, é possível entender que a corrupção sistêmica não vai terminar facilmente. Em suas palavras, deve ser ela encarada da forma apropriada, não como um fato da natureza, mas como um mal a ser combatido por todos. Os tempos atuais oferecem uma oportunidade de mudança, o que exige a adoção, pela iniciativa privada e pela sociedade civil organizada, de uma posição de repúdio à propina e, pelo Poder Público, de iniciativas concretas e reais para a reforma e o fortalecimento de nossas instituições contra a corrupção.
O Presidente do Complexo de Ensino Superior do Brasil, professor Clèmerson Merlin Clève, o professor Marco Antonio Lima Berberi, Sérgio Moro, a professora Alessandra Back e o Reitor do UniBrasil, Sérgio Ferraz de Lima
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Gênero O Projeto Mulheres Paranaenses é realizado pelo UniBrasil em março, mês no qual se comemora o Dia Internacional da Mulher. Em 2016, a celebração ocorreu no dia 10, sendo homenageadas mulheres que, com sua atuação e competência, destacaramse no cenário estadual e contribuíram decisivamente para o desenvolvimento científico, cultural, artístico e empresarial do Paraná.
as dificuldades criadas para que estudem, quando não as proíbem de estudar, simplesmente. A jovem paquistanesa Malala tornou-se um símbolo da luta pelo direito das meninas estudarem em seu país, onde menos da metade delas frequenta escolas. Após sofrer tentativa de assassinato pelo grupo fundamentalista Talibã, Malala foi acolhida na Inglaterra e recebeu o Prêmio Nobel da Paz de 2014, a pessoa mais nova a ganhá-lo.
O Projeto tem entre seus objetivos registrar e reconhecer exemplos de vida e de trabalho e a extraordinária importância da presença feminina para o estado. A mulher sempre foi um alicerce social muito importante e tem assumido, em expressivo número, o papel de chefe de família. A maior escolaridade e os novos espaços laborais comprovam o destaque feminino nas transformações econômicas, culturais, políticas e sociais brasileiras.
Em países como o Brasil, em que os fundamentalismos, racismos e machismos são disfarçados sob uma capa de suposta cordialidade, meninas de algumas regiões atualmente frequentam escolas em maior número até do que os meninos, mas quando famílias pobres precisam escolher, em situações de crise financeira, quem irá continuar estudando, a escolha geralmente recai sobre o filho homem; considerando-se, inclusive, que meninas “são mais úteis em casa, ajudando nos afazeres domésticos”.
Uma das provas do imenso poder libertador da educação é o fato de que tiranias procuram sempre tê-la em total controle. Dentre as iniquidades cometidas em alguns países contra as mulheres, destacam-se
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A entrada massiva de mulheres no ensino superior data de poucas décadas em nosso país, e hoje elas são maioria em muitos cursos. No entanto, a impossibilidade
de acesso a todas as modalidades de trabalho, além da desvalorização do trabalho feminino, discriminação quanto à educação, incapacidade política, civil, restrições ao exercício da sexualidade, todas são, igualmente, formas de violência. Até mesmo a magnífica “Declaração dos Direitos do Homem” parece defender apenas os direitos do sexo masculino. Segundo os filósofos iluministas, as mulheres se destacariam pelas qualidades de paixão e imaginação, não tendo a razão entre seus apanágios; teriam imensa dificuldade para a abstração e a generalização, em suma, não pensariam. Fazendo uma paráfrase de Galileu Galilei: “no entanto, elas pensam”; e se fosse necessário provar, as homenageadas do Projeto Mulheres Paranaenses, desde que foi iniciado, são prova mais do que suficiente: inteligentes, ativas, empreendedoras, solidárias, bem sucedidas, amorosas, líderes em seus segmentos, livres. Precisa mais?
político empreendido a partir dos anos 60, principalmente no mundo ocidental. Pensar em arte a partir de uma ótica feminista mostra, inclusive, um paradoxo em respeito à presença/ausência feminina nas artes visuais”, afirmou. Na ocasião, a professora recebeu uma lembrança simbólica das mãos da pró-reitora de graduação, professora Lilian Pereira Ferrari. A palestrante do evento, emilia teresinha xavier fernandes, foi a primeira Senadora eleita pelo Rio Grande do Sul, Ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República, Deputada Federal, e ocupou com brilho muitas outras funções públicas de destaque. Ao ser solicitada a fazer uma auto apresentação, declarou o orgulho pela profissão de professora e a vocação de lutadora pela educação e pelos direitos das mulheres e das minorias.
A professora Roseli Rocha dos Santos foi a responsável pelo discurso de abertura do evento. Em sua fala, Roseli destacou a falta de visibilidade das mulheres nas artes. “Um dos grandes desafios filosóficos na atualidade continua sendo o da leitura do mundo através de uma ótica mais ‘feminina’, mesmo após o radicalismo do forte movimento
Professora Roseli Rocha dos Santos e a pró-reitora de graduação, professora Lilian Pereira Ferrari.
Cada Escola do UniBrasil faz uma indicação, considerando também a afinidade entre seu foco acadêmico e as realizações da indicada. Essas homenageadas são escolhidas dentre mulheres que não fazem parte do UniBrasil, embora possam já ter pertencido à instituição como professoras ou alunas. 43
Em 2016, foram homenageadas:
maria cecília de leão rosenmann Mulher Paranaense 2016: empresária, administradora, voltada também ao comércio. Orgulha-se de sempre ter trabalhado muito e de se manter atualizada; entende que no contexto brasileiro isso é indispensável, não se pode parar; e que o trabalho contribuiu para tornar sua juventude e maturidade mais interessantes.
célia da rosa Indicada pela Escola de Engenharias: engenheira civil, trabalha com acessibilidade, assessorando projetos novos e de reforma para atendimento às normas da área. Muito ativa, realiza palestras em associações, escolas, entidades de classe de profissionais de engenharia e arquitetura. Ocupa a segunda vice-presidência do CREA-PR.
CRISTINA MARTINS Indicada pela Escola de Saúde: nutricionista, mestre em Nutrição Clínica e doutora em Ciências Médicas. É coordenadora do Setor de Nutrição da Fundação Pró-Renal e Clínicas de Doenças Renais; trabalha em duas empresas de que é proprietária e também atende pacientes das Clinicas de Doenças Renais/Fundação Pró-Renal.
DENIZE CORREA ARAÚJO Indicada pela Escola de Comunicação: docente de Mestrado e Doutorado em Comunicação e Linguagens, atua na Linha de Pesquisa de Estudos de Cinema e Audiovisual, é líder do Grupo de Pesquisa CIC – Comunicação, Imagem e Contemporaneidade - do CNPq, desde 2001. Participa do Grupo de Trabalho Teoria dos Cineastas da Associação dos Investigadores da Imagem em Movimento-AIM-Portugal.
ELEoNORA FRUET Indicada pela Escola de Negócios: economista com especialização em Desenvolvimento Econômico e MBA em Finanças, foi Secretária de Estado do Planejamento e Coordenação Geral do Paraná, de 2003 a 2004, e Secretária Municipal da Educação de Curitiba, de 2005 a 2010. Presidente do Conselho Regional de Economia do Paraná, 6ª região. Atual Secretária Municipal de Finanças de Curitiba. 44
josiane fruet bettini lupion Indicada pela Escola de Direito: Defensora Pública-Geral do Estado do Paraná, de 2011 a 2015, idealizadora do Projeto de Regularização Fundiária – Usucapião Coletivo Rural. Membro da Associação Brasileira de Magistrados, Promotores de Justiça e Defensores Públicos da Infância e Juventude – ABMP, e membro do IBDFAM – Instituto Brasileiro de Direito de Família. Atualmente é Defensora Pública do Estado do Paraná.
MARIA MADSELVA FERREIRA FEIGES Indicada pela Escola de Educação e Humanidades: mestre e doutora em Educação, é professora aposentada da UFPR. Autora de dezenas de artigos publicados nas áreas de Pedagogia, Projeto Político Pedagógico e Escola Pública. Atualmente realiza estudo analítico sobre a formação, a gestão e as práticas pedagógicas do Programa Compromisso Nacional pelo Ensino Médio como Consultora MEC/UNESCO.
MARIA DOS ANJOS REGO Indicada pela Comunidade Acadêmica: professora de Estudos Franceses com ênfase em Literatura, formada em Paris, pós-graduada em Marketing, tem cursos de especialização na Universidade Católica de Paris e estágio de Reciclagem Pedagógica para professores de língua francesa pela universidade de Franche-Comté–Besançon.
A palestrante Emilia Teresinha Xavier Fernandes e as homenageadas - Denize Correa Araújo, Célia Da Rosa, Maria Dos Anjos Rego, Josiane Fruet Bettini 45 Lupion e Cristina Martins.
A comunidade interna escolhe também para esse preito seis mulheres que fazem parte do UniBrasil, dentre alunas, professoras e funcionárias, e todo ano nos surpreendemos com a dimensão humana, com a dedicação, com o profissionalismo, com a alegria de viver, com as qualidades que as fizeram ser indicadas pelos seus colegas mais próximos. Nossa instituição cresceu, e infelizmente já não podemos todos nos conhecer de perto, mas é um grande prazer saber mais de algumas das pessoas com quem convivemos. Em 2016, foram escolhidas mulheres que praticam literatura, poesia, crônicas... que criam um mundo melhor em suas imaginações, e o compartilham conosco através da escrita.
ADAQUINA DUARTE COLETA
ADriana tozzi
A homenageada Adriana Tozzi e a professora Renata Lima Ludovico.
Indicada pela Escola de Engenharias: é engenheira civil e mestre em engenharia, coordena o curso de Engenharia Civil; escreve muito e muito bem, contos, poesia, textos para jornais. Desde 2010 é mãe de Alice, e enfrentou o desafio de passar momentos com a filha, que adora, e seguir a profissão, que também a apaixona.
ANA SUY SEsarino
Indicada por funcionários do UniBrasil: é poeta, grande leitora, adora cantar e tem uma família grande e unida. Responsável pela limpeza das áreas de Ginásio e Piscinas do UniBrasil, ama e respeita seu trabalho, sabe da sua importância para a saúde e o bem estar de todos que usam aquelas instalações. Contagia a todos com sua alegria e coragem. 46
A homenageada Ana Suy Sesarino e a professora Graciela Sanjutá Soares Faria.
Indicada pela Escola de Saúde: é psicanalista e apaixonada pela linguagem, pela palavra, pela dança. É apaixonada também pela poesia, daí diz que nasceu sua paixão pela psicanálise que, entende como a ciência da poesia. Gosta de ler, escrever, filmes, vinho, amigos e crises existenciais(!).
ANDRÉA MARIA CARNEIRO LOBO
LUANA DIAS
A homenageada Andréa Maria Carneiro Lobo e a professora Alessandra Back.
A homenageada Luana Dias e a professora Adriana Wollmann.
Indicada pela Escola de Direito: é doutora em História e professora de História do Direito no UniBrasil. Desde a adolescência gosta da leitura e da escrita. Publicou seus primeiros poemas aos 16 anos e não parou mais, tem 10 livros publicados, a maioria na área de História e Filosofia. Em andamento, está um livro sobre a poetisa brasileira Ana Cristina César.
Indicada pela Escola de Saúde: é blogueira, escritora, estudante, fotógrafa, contista, cantora, ativista... estuda Psicologia no UniBrasil. Atualmente, desenvolve com um colega um projeto que visa trabalhar discussões relacionadas ao HIV/AIDS nas escolas. Relaciona-se muito bem com sua família, com amigos, colegas de faculdade e trabalho.
LÍDIA FRANCO NEVES
A homenageada Lidia Franco Neves e a professora Karim Cecilia Kesseli Vivekanand.
Indicada pela Escola de Negócios: é uma poeta em recesso, está se formando em Secretariado Executivo e as atividades de último semestre ocupam boa parte do seu tempo; mas, escrevendo desde os 15 anos, acumulou um acervo de mais de cinquenta poemas. Aficionada por fotografia, não tem um tema específico, gosta de fotografar coisas variadas. 47
O UniBrasil integrou ao Projeto Mulheres Paranaenses um desafio a jovens escritoras interessadas em apresentar contos inéditos, exclusivamente em língua portuguesa, com tema livre. O evento foi denominado Concurso de Contos Dirce Doroti Merlin Clève, em homenagem à professora, escritora e benemérita soroptimista. O concurso tem como objetivos: valorizar a produção literária feminina; divulgar trabalhos de jovens escritoras; abrir a possibilidade de novas atividades; chamar a atenção de jovens para a elaboração atual de contos, que é atemporal. A própria professora Dirce Clève entregou as premiações e menções honrosas às vencedoras do Concurso de Contos que leva seu nome, e celebrou a iniciativa do UniBrasil e a importância de festejar as conquistas das mulheres: “O Mulheres Paranaenses tem um significado especial, as mulheres merecem todo esse apoio, infelizmente a mulher ainda é muito desvalorizada na sociedade. Eu acho que eventos como esse valorizam o trabalho e a dedicação das mulheres. Por isso hoje, elas, as mulheres, merecem toda essa glória”.
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A Comissão Julgadora, presidida pela professora Ivone Ceccato, e formada pelos professores Jefferson Franco, Maura Martins, Rosana Franco e Wanda Camargo, selecionou e reavaliou 31 trabalhos previamente considerados excelentes, com alta qualidade com relação aos critérios de: Criatividade; Originalidade; Concisão; Precisão; Densidade; Unidade de Efeito. Após ampla discussão e análise das respectivas listas, deliberou pelos dez vencedores.
Autora 1º lugar 2º lugar
Pseudônimo
Alanna Ajzental e Camargo Karen Vaz Siqueira Alvares
Conto
Cassandra Terê Alves
3º lugar
Taciane Maria Murmel
Taci Murmel
“Na doutora” “Nossa Senhora” “Cinco para uma ou
4º lugar 5º lugar 6º lugar 7º lugar 8º lugar 9º lugar 10º lugar
Natasha Fernanda Silva Zanetti Renata Fonseca Wolff Ana Karine de Sousa Dantas Mariana Braga Cavariani Caroline Freiberger Caron Cristiane Sucheski Contin Lígia Mendonça Megale
Olívia Green Violeta Flores Nora Paloma Sanchez Phoebe Caulfield Cristiane Contin Luísa M
Blutpficht” “Maçã argentina” “Se você for embora” “Dona Valda” “Fome” “A agulha torta” “Alguém para me escutar” “Roupagem”
O UniBrasil tem orgulho de todas essas jovens escritoras.
Alanna Ajzental e Camargo, Dirce Doroti Merlin Clève, Taciane Maria Murmel e Karen Vaz Siqueira Alvares.
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Alanna Ajzental e Camargo e Dirce Doroti Merlin Clève. 50
Na doutora Alanna Ajzental e Camargo
Estudos afirmam que o tempo médio gasto para olhar envergonhadamente a cara gelada da médica, tatear a bolsa no colo em busca do celular (está no zíper maior de dentro, porém dessa vez numa posição diferente, que quase deixa cair ao pari-lo para fora da bolsa), encontrar o botãozinho verde com o reflexo das paredes brancas e apertá-lo, dizendo com o outro ouvido tapado: Alô? Alô? Oi, Neide! Não, não estou em casa. Não, não, o Nêne que ficou lá. O Nêne não gosta de atender telefone. Estou aqui no posto, Neide. No postinho. Aqui na doutora (olha com orgulho e um sorriso)! Na doutora do postinho, Neide! Sim! Do SUS. Do INPS. Do postinho de saúde, Neide. Não é nada, Neide! Não, não, não precisa se preocupar! Só vim pegar o remédio... o remédio... Neide! Nada, Neide, só o de sempre. Eu preciso desligar, estou aqui na consulta! Aqui na consulta! Depois eu ligo pra você, Neide... ah, sim, depois a gente vê, Neide! Eu não consigo abrir a mensaginha enquanto falo com você. Uma semana abençoada! Obrigada, um beijo!, depois confirmando o fim da ligação com um recuar do queixo É a Neide, minha vizinha! Conhece? É claro que a senhora conhece! Também consulta com a senhora, doutora! É uma que o marido é bêbado. Ela vive aqui no posto! Tem problema de coluna, também toma desse Mitriptina, desligar o aparelho e dizer Desculpe, doutora, a Neide não tem educação. E eu falei que estou na consulta!, colocando o telefone no bolsinho é de aproximadamente um minuto e quarenta e dois segundos, podendo variar
de acordo com a tecnologia do dispositivo, a capacidade intelectual do paciente e a Lei de Murphy. Essa mesma lei afirma que as chances de a enfermeira atrapalhar a consulta com alguma tarefa urgentíssima nestes mesmos um minuto e quarenta e dois segundos variáveis é praticamente zero. Cem por cento é a dona Maria guardar o celular com uma desculpa tão polida e então vem a enfermeira com mil prescrições vencidas e perguntas (porque as enfermeiras também estão aflitas com a fila), e dona Maria, com mais um sorriso, vinga-se. Estou presa nas tarefas imprescindibilíssimas com ela ali tão disposta, segurando a receita do mês anterior enquanto olha orgulhosa pro relógio. Hoje está corrido, né, doutora? Esse posto cheio e não tem médico, não tem remédio. Ano de eleição. A enfermeira concorda: Ano de eleição. Dona Maria continua enquanto assino e carimbo papéis maquinalmente. Levei quatro meses pra conseguir marcar com a senhora, também porque da última a senhora estava doente e ligaram remarcando, e eu até vim aqui no dia, doutora, mas falaram que a senhora não estava mesmo. Devia ser um problema sério, então. O que aconteceu com a doutora? A própria enfermeira diagnostica a consulta incidental: Virose. Alinho as folhas com uma batida sobre a mesa, sorriso pálido. Vai, enfermeira, tchau! Pesquisas demonstram: se a enfermeira não voltar à sala e não houver nenhuma emergência, a probabilidade da impressora parar de funcionar aumenta trezentas vezes. Podemos voltar, dona Maria? Desculpe. Ela 51
corrige Eu é que me desculpe, doutora. Eu aqui atrapalhando o seu tempo. A senhora está sempre tão ocupada, correndo pra lá e pra cá. Dona Maria gosta de mim, sabe que não faço cara feia por mal, mas é que são um minuto e quarenta e dois segundos nos quinze que tenho para atendê-la. Oito e cinquenta e um. Oito e cinquenta. Oito e quarenta e nove... E porque sei que ela vai usar os minutos alheios para que, ao final do dia, todos tenham furtado meus próprios minutos. Que ela é uma senhora e abusa da condição de senhora mesmo que eu não abuse da minha posição de arauto. Cale a matraca, pecadora! Esse controle do diabetes está um lixo e seu risco cardiovascular em dez anos aumentou mais do que o preço da caixa de chocolates que você come no tempo de um capítulo da novela. E ela continua falando do neto, do neto, do neto. Eu não consigo fazer nada pelo neto lá no Norte, dona Maria, mas vamos voltar com as caminhadas, com a dieta, vá fazer algo legal, tome o remédio, por favor! Por favor eu, dona Maria, que cada úlcera abrindo na sua perna me infecciona o espírito, e soma zeros à conta de todos. Todo mundo fazendo vaquinha pra te dar um stent novo de Natal. Sei que dona Maria voltará, celular ligado, porque gosta de conversar comigo e não com o outro médico, que você entende dos meus problemas, doutora. Desperdiça mais um minutinho reclamando Não vou muito com a cara dele. Não encosta na gente, nem fala nada. Dona Maria vem e me conta o que quer, não lembra o que quero, não segue o que digo. No entanto, fala que segue, causando confusão. O remédio que parou de tomar porque fez mal. E melhorou? Não, continuou tão ruim, até pior. E por que não voltou a tomar o 52
remédio? eu quis saber. Remédio? Mas qual remédio? Esse que a senhora parou. Dona Maria jamais decorou o nome do remédio, O outro médico não botou aí? É claro que não. Por que ele não botou aí? E eu lá vou saber, dona Maria? Eu não sei do que o outro médico não registra. Não sei opinar sobre a cirurgia que o oftalmologista indicou, já que a senhora jura que não há nada errado com as vista. Não sou um detector de doenças, pra você apontar o corpo perguntando doutora, o que é dor aqui? Também não sei qual foi o exame que a senhora fez há vinte anos, quando morava no interior, e que veio ruim, mas sei que provavelmente não vai aparecer na tomografia de corpo inteiro que a senhora que fazer e que eu jamais pediria, mesmo que pudesse. E não, o hemograma completo não é como um mapa astral, LABS (25/07) HB 12,4, HT 43% VGM 90 RDW 13% que prevê todas as doenças que a senhora vai ter na vida. Não sei de bate-pronto o que é essa sua dor no baço, mas chutaria gases, se fosse uma prova prática, aqui, agora, com o Mário Sérgio olhando. ECO (15/01) SUGEST ESTEATOSE HEPÁTCA LEVE A propósito, o baço fica do outro lado. De onde você pegou diabetes? Por que apareceu esse cisto que não incomoda? Eu falei pra senhora não exagerar no tricô, dona Maria. E os exercícios que te ensinei? PUNHO ESQ, INDOLOR, MÓVEL / NEGA AUMENTO PROG NOS ÚLTIMOS 50 ANOS DIMINUI C/ REPOUSO ART. Dona Maria, se a senhora continuar fazendo radiografia desse cisto, quem sabe uma hora ele vire mesmo um câncer. Eu queria operar, doutora, mas o médico do ombro não quis mexer e me mandou pro médico de mão. Por que esse remédio pra coluna que a senhora compra por conta faz mal? USA BETAMETASONA IM SEM PRESCRIÇÃO QUE FARMACÊUTICO AMIGO APLICA
Quanto tempo leva pra sair o exame? RESSOLICITO LABS QUE NÃO AGENDOU Ah, a senhora também perdeu todas as receitas e precisa que eu renove, sem esquecer o Bofreno e o Emeprazol? Se eu acredito em Deus, dona Maria? De que importa? ME3TFORMINA 850 MG TOME, VO, 01 CP APÓS O ALMOÇO E 01 CP Por que é que eu não te conto logo o segredo mágico pra emagrecer? Eu já disse, dona Maria. SOLICITO ECG TAQUICARD. + PRESCORDIALGIA ATÍP. DURAÇÃO VINTE SEGUNDOS A senhora falou que gosta demais da comida, não foi? Então por que é que não come de verdade? Por que não desliga a desgraceira do jornal na tevê? Nem sente o sabor, e engole sem mastigar? A senhora não gosta da comida. E, se a senhora não gosta, vá fazer outra coisa. DICAS PARA CONTROLAR A GLICEMIA Mas e se esse remédio fizer mal também? Oremos. Pare de ler a bula. RETORNO COM PRIORIDADE E se não tiver consulta? Não vai ter, mas a senhora é prioridade na falta de consulta. E se o problema for como o da vizinha? Tira da bolsa um papelzinho: FIBROMALGINA. Porque a boca da gente fica amarga depois de tomar café? Qual é o melhor remédio que a senhora pode tomar por conta pra fígado amargo? Se está ok lavar a ferida com sabão de roupa? Por que a senhora não gosta do gosto da água? SOLICITO PRIORIDADE CONSULTA NUTRI Eu não sei, não sei! Me deixa pensar! Me deixa pensar!
Se eu acredito em Deus, dona Maria? Quando a senhora vem, não. Quando passa em frente à sala, sinto um anseio cruel: ser acupunturista. Agulhar cada queixa sua como um vodu inverso, e que você agradeça. (Ai, doutora, calma! Calma que está tudo bem! Que daqui a pouco é a senhora quem precisa de remédio, de uns calmantes, doutora!) Toma aqui esse folheto, dona Maria, que ensina a respirar e não pensar em nada. Se isso não resolver o seu problema, não sei o que mais resolveria. Coitada da senhora, doutora! Tá estressada, dá pra ver que a senhora está estressada! Até a imunidade baixa, pegando um monte de virose. Não sou senhora, dona Maria... você tem minha idade vezes dois, eu nem sou casada, só estou cansada... e nessas eu ainda acabo infartando antes de você. Da senhora. Esquece! A dona Maria não quer o seu tratamento, quer o dela. Deixa. Deixa a dona Maria com o tratamento que ela quer, que a força para se mudar a cena é uma força de padre. Uma força de padre. Açúcar é pior do que crack. Deixa a dona Maria, já foi. Sabe que está atrapalhando e diz Vou indo, doutora, tem aí um monte de gente pra senhora atender, se deixar ainda dá um beijo de bochecha com cheiro de pó compacto, fica com Deus, até daqui dois meses. Diz já fora da sala: A propósito, meu nome é Lourdes.
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Sustentabilidade e Responsabilidade Social
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Somando expertises no campo da sustentabilidade, CPCE multiplica possibilidades. pelo
CPCE. Atualmente, mais de 330 Instituições
do
Signatárias somam suas expertises para
Paraná (FIEP), com o objetivo de divulgar
contribuir nas ações e projetos do CPCE.
uma forma inovadora e sustentável de se
Constituído por conselheiros representantes
pensar a Indústria Paranaense, o Conselho
das principais Organizações do Estado do
Paranaense
Empresarial
Paraná, os quais desenvolvem trabalho
(CPCE), desde então, vem contribuindo para
voluntário em Equipes de Projetos definidas
a construção das relações de aproximação e
em Núcleos de Especialidades, o CPCE
simbioses entre o fator econômico, o bem
passou a ser um dos principais Organismos
estar da comunidade e a proteção ambiental.
no Paraná responsáveis por arregimentar
Criado Sistema
em
dezembro
Federação
de
de
das
2004, Indústrias
Cidadania
Signatários para adesão ao Pacto Global Desde sua origem, o CPCE posicionou-se
(UN Global Compact) da Organização das
como articulador na área da sustentabilidade,
Nações Unidas (ONU).
mantendo-se como um catalisador de ideias voltado para as necessidades e interesses
Em consonância com os dez objetivos do
do
Pacto Global que pretende a mobilização
Segmento
Industrial
na
área
de
Responsabilidade Social Corporativa (RSC)
da
e
para a adoção de valores fundamentais e
de
Responsabilidade
Socioambiental
Corporativa (RSAC) no Paraná.
Comunidade
Empresarial
Mundial
internacionalmente aceitos nas áreas de Direitos Humanos, Relações de Trabalho,
Indústrias e Sindicatos, Comércio e Serviço,
Meio Ambiente e Combate à Corrupção, o
Terceiro Setor e Instituições de Ensino
CPCE trabalha, também, intensamente, na
Superior inicialmente compuseram os quatro
correspondente divulgação.
Núcleos de Competências do CPCE para fazer cumprir sua missão, visão e objetivos.
Em 2006, o CPCE assumiu sua participação
Em 2004, cerca de 70 empresas integravam o
nos trabalhos para o alcance dos ODM 55
(Objetivos
de
do
educacionais, empresariais e civis, para
Milênio) da ONU, passando a desenvolver
estabelecer um repertório compartilhado
junto
Conselheiras
acerca da educação na sustentabilidade. O
esforços multiplicados de divulgação e
MPES foi uma das contribuições do NIES
às
Desenvolvimento
Empresas
(Núcleo de Instituições de Ensino Superior)
conscientização.
do CPCE, o qual teve sua origem em 2007.
A partir de 2007, o CPCE iniciou campanha de adesão, também, aos PRIME (Princípios para Educação Empresarial Responsável - Principles for Responsible Management Education),
os
quais
seguem
filosofia
do Pacto Global para que as Empresas Signatárias adotem preceitos relacionados com os direitos humanos, as boas condições de trabalho, a sustentabilidade, o combate à corrupção, bem como, com a necessidade de formação de novos líderes empresariais mais conscientes dos impactos de suas futuras escolhas e decisões.
nas
cidades
de
Cascavel,
Londrina, Maringá e Ponta Grossa, as quais,
centradas
nas
relacionados com a Educação e sempre fez opção por tratar o tema sustentabilidade nas Instituições de Ensino Superior (IES) e na Sociedade, não deixando de se preocupar, em particular, com as necessárias relações de aproximação entre a Indústria e as IES. Com o decorrer do tempo, o NIES ampliou seus objetivos e passou a tratar de assuntos tais como: inserção das questões da sustentabilidade nas propostas curriculares das IES, sensibilização dos acadêmicos
Atualmente, o CPCE conta com quatro Regionais
O NIES incentiva e promove ações e projetos
características
de cada Região, auxiliam o CPCE no
a respeito dos ODM, promoção do diálogo entre a academia e o mundo corporativo, bem como disseminação dos princípios do Pacto Global e do PRIME e estímulo à adesão das
organizações
aos
correspondentes
programas.
desenvolvimento de seus trabalhos. As primeiras Regionais surgiram em 2011.
Objetivando sensibilizar as IES sobre a “Educação
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para
a
Sustentabilidade”
e
Para ampliar suas contribuições, o CPCE
evidenciar a importância do seu papel para
construiu, em 2011, o Movimento Paraná
a transformação da sociedade, o NIES
Educando na Sustentabilidade (MPES),
mantém atualmente a equipe de projeto
o qual foi concebido para promover um
Educando na Sustentabilidade (EPES), a
amplo debate com a sociedade nas esferas
qual teve sua origem a partir do MPES.
Desde dezembro de 2013, pretendendo
Em 2014, para a comemoração dos dez anos
maior interação com o Setor Industrial, o
de existência do CPCE, foi lançado o primeiro
CPCE passou a estudar uma reestruturação,
concurso de Boas Práticas: Educando na
objetivando alinhamento e adequação com
Sustentabilidade. A iniciativa surgiu da EPES
os demais Conselhos Temáticos do Sistema
do NIES e teve como objetivo identificar, no
FIEP e, em 06 de junho de 2014, no Campus
Paraná, boas práticas que integravam as
da Indústria da FIEP, em Curitiba, realizou-se
dimensões da sustentabilidade no âmbito
uma primeira reunião internúcleos do CPCE
Econômico, Ambiental, Social e Cultural.
com todos os Núcleos de Competência. Atualmente, o CPCE, por intermédio de Continuando com foco na sustentabilidade,
seus Núcleos e Equipes de Projeto, trabalha
o
trabalhar
fortemente em prol do alcance dos ODS
com os temas Governança, Educação
(Objetivos de Desenvolvimento Sustentável)
e Cidadania, os quais foram acordados
e segue sua trajetória no caminho de articular
pelos Núcleos. Para a definição dos novos
e orientar os interesses em investimentos
trabalhos, cujo desafio era trazer para mais
na área de sustentabilidade, apoiando,
próximo do Sistema FIEP as Pequenas e
sempre, a formação de empresários e
Médias Indústrias, bem como, priorizar a
cidadãos comprometidos a disseminar a
sustentabilidade e o pleno desenvolvimento
sustentabilidade.
CPCE
passou,
então,
a
da Indústria do Paraná, foram constituídas as Equipes de Projeto: EP Educando na Sustentabilidade, EP Incentivos Fiscais e EP Sustentabilidade na Cadeia de Valor.
AUTOR:
Com uma maior interação com os demais
Carlos Magno Corrêa Dias - Professor
Conselhos Temáticos do Sistema FIEP, o CPCE reordena suas atividades em consonância com o planejamento pleno do Sistema FIEP e da Confederação Nacional das Indústrias (CNI). Pela transformação em Conselho Temático, o CPCE assume, também, a função de agrupar as forças de cada um de seus Núcleos de Competência para pensar ações em favor da Indústria
na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Conselheiro do Conselho Paranaense (CPCE)
do
de
Cidadania
Sistema
Empresarial
Federação
das
Indústrias do Paraná (FIEP) e Coordenador do Núcleo de Instituições de Ensino Superior (NIES) e da Equipe de Projeto Educando na Sustentabilidade (EPES) do CPCE/FIEP.
sem, entretanto, abandonar os projetos que estavam em andamento.
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Concerto de Natal AFECE 2016 O UniBrasil Centro Universitário e a Associação Franciscana de Educação ao Cidadão Especial (AFECE) realizaram o III Concerto de Natal AFECE – UniBrasil. O evento, realizado na Capela Santa Maria, teve como objetivo arrecadar, como entrada, presentes para as 225 crianças carentes que são atendidas pela Associação. O Concerto contou com diversas apresentações embaladas por canções natalinas. Aberto ao público, recebeu na plateia a presença de diretores, familiares, amigos e alunos da AFECE.
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A AFECE é uma instituição do terceiro setor, sem finalidade lucrativa, que atua na área da educação especial desde 1967. A entidade mantém a Escola São Francisco de Assis, que presta atendimento em educação, saúde e assistência social para pessoas com deficiência intelectual de alta especificidade, associada ou não a outras deficiências, realizando um trabalho que estimula seus educandos a conquistar maior independência possível na realização das suas atividades diárias.
Coral Pinheirinho
Julcy Rodrigues e Alex Wolf
Coral da AOB e da Caixa de AssistĂŞncia dos Advogados
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Auxílio ao terceiro setor - Curso de Relações Públicas em parceria com o Instituto GRPCom
Com o objetivo de auxiliar organizações do terceiro setor, e ao mesmo tempo proporcionando aos alunos oportunidade de compartilhar os conhecimentos adquiridos durante o curso enquanto se exercitam para a docência sobre técnicas básicas de Comunicação, os estudantes do oitavo período do Curso de Relações Públicas, sob supervisão da professora Maria Paula Mader atenderam a várias necessidades das entidades inscritas junto ao Instituto GRPCom. Agregando teoria e prática, as oficinas versaram sobre diferentes temas de comunicação destinados especificamente ao público do terceiro setor, em temas propostos pelos próprios alunos e aprovados pelo Instituto GRPCom, parceiro da instituição nessa atividade, que compõe uma das práticas propostas na disciplina de Estágio Supervisionado. No primeiro dia de curso, 11 de outubro,
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foram abordados os temas “Ferramentas de Comunicação Interna”, pelas alunas Joicy Negrello e Érica Domingues, e também “Organização de Eventos, Cerimonial e Protocolo”, pelas alunas Danielle Santos e Bruna Araujo. No segundo dia de curso, 25 de outubro, o público conheceu um pouco mais sobre “Relacionamento com a Mídia e Gerenciamento de Crises”, com os alunos Bárbara Lopes e Michel Santiago, e também sobre “Mídias Sociais: como produzir conteúdos relevantes”, com os alunos Fábio Lastra e Maykon Douglas Melo. No último dia de curso, 1º de novembro, os temas abordados foram “Segredos da Captação de Recursos e Patrocínios”, com os alunos Claudemir Santos e Jonathan William, e ainda técnicas de “Media Training”, com as alunas Ana Carolina Gonçalves e Laura Lana. As oficinas aconteceram no período da tarde, e foram totalmente gratuitas.
Curso de Pedagogia promove atividade a alunos do 2º Ano da Escola Municipal Madre Antônia
O Curso de Pedagogia, em atividade conjunta com o Núcleo de Pesquisas e Práticas Pedagógicas Paulo Freire, recebeu no dia 05 de outubro de 2016 os alunos do 2º ano da Escola Municipal Madre Antônia, instituição de Educação Infantil e Ensino Fundamental vizinha do UniBrasil. As crianças visitaram a Sala Paulo Freire, onde tiveram a oportunidade de participar de diversas atividades sob a orientação da professora Renata Lima Ludovico;conheceram alguns dos materiais disponíveis na sala, participaram da contação de histórias, dobraduras e montagem de figuras usando o TANGRAM (quebra-cabeça chinês formado por sete peças que podem formar até 1700 figuras diferentes, usado para trabalhar a lógica e criatividade dos alunos). Após as atividades e em comemoração ao Dia das Crianças, fizeram um piquenique oferecido pela aluna e acadêmica do curso de Pedagogia Sirlene de Almeida, que faz estágio na escola Madre Antônia. Foi uma tarde de muita diversão e aprendizagem. Segundo depoimento da professora Renata: “Ao abrir as portas do UniBrasil para atender a comunidade do seu entorno, temos a
possibilidade de desenvolver a relação entre a teoria e a prática. Ampliar as possibilidades do espaço escolar, que não se limita a sala de aula, e proporcionar outras experiências da produção teórico-metodológica, em que professores e alunos são sujeitos do ato de aprender e de produzir conhecimentos com vista à transformação da realidade”. O comentário da professora Fátima Branco Godinho de Castro, Coordenadora Geral do Curso de Pedagogia resume o evento: “Foi muito bom!!! Procuramos cumprir nossa função social”.
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O incentivo à cultura é marca do UniBrasil Centro Universitário. As experiências compartilhadas pela vivência cultural enriquecem o conhecimento, ampliam os horizontes e fortalecem o pensamento crítico. Projetos como o Grutun! Grupo de Teatro UniBrasil e diversas parcerias no âmbito cultural, desenvolvidos dentro e fora da comunidade UniBrasil, promovem o diálogo necessário à formação ética e cidadã.
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CULTURA UNIBRASIL
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EVENTOS EM PARCERIA “Vamos precisar de todo mundo, um mais um é sempre mais que dois”. Beto Guedes & Ronaldo Bastos.
O UniBrasil conhece e exerce suas potencialidades dentro da missão de oferecer ensino de qualidade e formação ética para a vida, mas entende que parcerias corroboram geralmente o adágio de que o todo é maior do que a soma das partes; nesse sentido, compôs-se com várias outras instituições para a realização de muitos eventos culturais e educacionais. A união de energias, vocações, aspirações, capacidades e recursos para a consecução de objetivos comuns produziu excelentes resultados. As instituições parceiras nas atividades registradas em 2016:
_Graciosa Country Club, através de seu programa cultural Pensando o Brasil, idealizado e coordenado pela professora Liana Leão, com o objetivo de seguir de perto as preocupações e os temas mais prementes da sociedade, os caminhos da economia, da política e da cultura, através do contato com intelectuais de todas as vertentes. _B’nai Brith, organização judaica com 170 anos, no Brasil desde 1932, que desenvolve programas de acordo com o conceito
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judaico de Justiça Social, Direitos Humanos e inclusão social, representada por sua presidente regional Ester Proveller. _Solar do Rosário, complexo cultural e casa de arte brasileira e especialmente paranaense, promove várias atividades como cursos, oficinas, ateliers, lançamento de livros e eventos ligados à arte e cultura, por sua diretora Regina Casillo. _França da Rocha & Advogados Associados, escritório jurídico sediado em Curitiba e que atua em todas as regiões do Brasil, com enfoque nas regiões Sul e Sudeste nos mais diversos ramos do Direito, por seu diretor Luís Rocha. _Casillo Advogados, instituição com tradição em Direito Empresarial, atuando nas mais diversas áreas do Direito no Brasil e no exterior, por seu diretor João Casillo. _Fundação Cultural de Curitiba, responsável por muito das ações de planejamento e política de preservação da cultura e da história de Curitiba, realiza ou apoia os principais eventos culturais da cidade, por seu diretor Marcos Cordioli.
Pensando o Brasil com Carlos Fernando - A forรงa tarefa da Lava Jato.
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Lira Neto: Getúlio ou “Getúlios”? RESUMO: O escritor Lira Neto proferiu palestra acerca de sua obra “Getúlio”, biografia sobre a vida e a trajetória política do brasileiro Getúlio Vargas. Destaca a relevância do estudo para o crescimento do debate crítico sobre a figura de Getúlio Vargas, visando, para além de apologias ou detrações, problematizar aspectos de sua formação teórica, de suas convicções político-ideológicas e de suas estratégias práticas para manter-se no centro da política nacional por quase duas décadas.
AUTORA: Andréa Maria Carneiro Lobo professora do curso de Direito do UniBrasil Centro Universitário.
O jornalista e escritor João de Lira Cavalcante Neto, mais conhecido como Lira Neto, vencedor do Prêmio Jabuti de 2015 de melhor biografia por sua obra “Getúlio”, proferiu palestra acerca dela no dia 25 de fevereiro de 2016. Lançada em 2013, a biografia está organizada em três volumes: “1882-1930: Dos anos de formação à conquista do poder”; “1930-1945: Do governo provisório à ditadura do Estado Novo” e “1945-1954: Da volta pela consagração popular ao suicídio”. A organização se explica por representar três momentos distintos da vida e da atuação política de Getúlio, que se mantém na esfera política – seja nacional, seja regional – por mais de duas décadas, em um período crucial da história brasileira, marcado, entre outras coisas, pela expansão da industrialização e pelo crescimento da urbanização, fenômenos associados à ascensão das massas como atores políticos, aspecto fundamental para se compreender as articulações que permitiram a Getúlio se manter no poder por tanto tempo. Cearense, formado em Filosofia, Letras e Jornalismo, Lira Neto mencionou que se dedicou, inicialmente, a escrever poesia, no auge do movimento conhecido como Poesia Marginal no Brasil, entre as décadas de 1970 e 1980. Atuou depois como jornalista e editor, e desde o final da década de 1990 dedica-se ao gênero das biografias, tendo publicado, entre outras, “Castello: a marcha para a ditadura” (2004) e “Padre Cícero: poder, fé e guerra no sertão” (2009).
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O autor dedicou seis anos à escrita da biografia de Getúlio, e ao longo desse período, recolheu fontes primárias (textos, cartas, fotos, bilhetes, entre outros, de Getúlio e de sua época) e fez uma extensa revisão bibliográfica sobre o tema. Então se deparou com dois extremos relacionados aos escritos sobre Getúlio: de um lado, apologistas, que enalteceram a figura do político brasileiro ao ponto de seus textos mais parecerem hagiografias (biografias sobre a vida de santos) do que propriamente biografias. No outro extremo, textos que se caracterizaram por críticas severas ao político, detratando sua imagem e destacando somente aspectos negativos de sua trajetória. Diante desses dois extremos, Lira Neto buscou trilhar em seu texto um caminho jornalístico, partindo de várias visões sobre um mesmo fato, e confrontando várias vozes sobre o biografado, construiu uma narrativa com a consciência de que a neutralidade é uma ilusão, mas que a objetividade e a isenção são metas sempre a serem perseguidas.
Segundo Lira Neto, em que pese ser tentador pensar em Getúlio como alguém que se modificou ao longo da trajetória política, tais facetas não passaram de personas, vestidas em diferentes contextos, para se manter à frente do processo político. Na verdade, Getúlio permaneceu com as mesmas convicções políticas desde a juventude, o que mudou foi o contexto e sua forma de adequá-las conforme a situação. Alguns dados apresentados pelo biógrafo ilustram isso.
Ao longo de mais de duas horas de palestra, Lira Neto apresentou os pontos principais de seu livro. Aqui, iremos nos deter em alguns que nos chamaram mais a atenção; escolha difícil, pois a fala do autor encantou a todos que estavam presentes, incitando ao debate e à reflexão.
Outra tendência que se manteve em Getúlio, em que pese suas diferentes personas, foi sua concepção de gestão da coisa pública, seu entendimento sobre política. Getúlio manifestava, desde seus tempos como estudante de Direito, uma forte influência da doutrina positivista, segundo a qual a política deveria ser o campo de atuação dos mais preparados tecnicamente, e não dos mais respaldados pela aceitação da maioria. Mostra-se assim, segundo Lira Neto, o líder da Revolução de 1930 um descrente das instituições democráticas e um defensor da máquina governamental enxuta e operada por aqueles que comprovadamente apresentassem as melhores condições técnicas para fazê-lo (tecnocracia). Fato exemplificativo disso é ter instituído o concurso como acesso aos cargos
O primeiro ponto que destacamos é a provocação feita pelo autor: afinal, Getúlio ou “Getúlios”? Segundo o escritor, é tentador pensarmos em Getúlio como três pessoas distintas, dada as diferentes facetas que sua personalidade política assumiu ao longo de sua trajetória: o “Getúlio Revolucionário”, de 1930; o “Getúlio Ditador”, do Estado Novo e o “Getúlio Nacional Desenvolvimentista”, da primeira metade da década de 1950.
Primeiro, analisando cartas, bilhetes, diários e pequenas anotações de Getúlio, Lira Neto percebeu uma tendência que acompanhou o político desde a sua juventude: a preocupação em deixar recados para a posteridade, conferindo tom épico, heroico, aos eventos que participava, seja como ator principal, seja como coadjuvante; estando essa característica presente desde uma anotação escrita no auge da Revolução de 1930, atingindo o apogeu na carta escrita antes do suicídio, em 1954.
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Adriana de França, palestrante, Luiz Carlos da Rocha, Claudine Rebello e Sebastião Lopes – todos da França da Rocha & Advogados Associados, parceira do evento.
da administração pública. Se considerarmos essa tendência, perceberemos que o golpe de Estado dado em 1937 por Getúlio Vargas, sob a alegação de proteger o Brasil de um suposto (e falso) plano comunista de tomada de poder (o Plano Cohen, forjado, na verdade, por integralistas) e que instituiu o Estado Novo (governo autoritário) representou, mais do que uma traição aos ideais revolucionários de 1930, a consolidação extrema dos ideais políticos do próprio Getúlio Vargas. Ainda, entre tantos aspectos relevantes sobre a vida e a atuação política de Getúlio, expostos por Lira Neto, destacamos a relação que o autor aponta entre as ações políticas de Getúlio e a imagem que dele se forjou, no imaginário popular, de que teria sido o “Pai dos Pobres” em virtude de ter beneficiado os trabalhadores, sobretudo, com a aprovação de LeisTrabalhistas. Lira Neto aborda a questão de forma crítica e responsável, destacando, por exemplo, que desde o período revolucionário (19301934), passando pelo período democrático (1934-1937) Getúlio Vargas já articulava estratégias para desmontar a “bomba atômica” representada pelo movimento operário. O esforço no tocante à concessão de leis trabalhistas ao longo do período em que esteve à frente do poder ocorreu concomitantemente ao desmantelamento do sindicalismo livre, 68
da extinção dos partidos políticos (durante o Estado Novo) e da perseguição política aos militantes do Partido Comunista. Ou seja, a pressão pela aprovação e concessão de um rol de leis trabalhistas (das quais a CLT se destaca) ocorreu de modo a incorporar algumas das principais demandas dos movimentos operários das décadas de 1910 e 1920, por um lado, inviabilizando, por outro, a própria dinâmica da mobilização operária, instituindo a obrigatoriedade do sindicalismo vinculado ao governo e a ilegalidade das formas livres de organização e luta. Apesar das várias personas de que se valeu para se manter como protagonista da política em seu tempo - seja como baluarte da revolução, seja como pai dos pobres, como defensor da pátria contra a ameaça comunista ou do interesse nacional contra o capital estrangeiro – Getúlio preservou e aperfeiçoou o talento de estrategista, capaz de adaptar seus interesses e convicções ao contexto vigente, revertendo-o e usando-o em seu favor.
Wisnik: memória de um dia e dias RESUMO: 17 de março de 2016, dia que ficará registrado na história política do país quando a posse de um ex-presidente na Casa Civil foi alvo, além de protestos nas ruas, de uma ofensiva legal para barrála. Um dia marcado também por mais protestos – e comemorações – quando aprovada a comissão que dava a largada na tramitação do pedido de destituição presidencial. Um dia de tensão e espanto, imerso e sustentado numa incredulidade que, paradoxalmente, há muitos dias já se frequentava e mais dela se esperava. AUTORA: Dulce Mara Gaio – psicanalista, professora do curso de Psicologia do UniBrasil Centro Universitário.
E lá estava José Miguel Wisnik e um piano... Mas... o que foi que ele disse? . Deveria ter me prevenido e feito anotações. Afinal, aprendemos tão bem com Carroll em Alice - Através do Espelho sobre a fragilidade da memória: “O horror daquele momento”, continuou o Rei, “eu nunca, nunca poderei esquecer!” “Mas esquecerá com certeza”, disse a Rainha, “a não ser que faça uma anotação sobre o caso.” Só nos faltou colocar em prática a advertência. Na falta de apontamentos, vasculho a memória e o que encontro é que José Miguel Wisnik falava da música a cerzir a memória nacional, a oferecer, pela palavra e com o som, remendo para aqueles buracos deixados pelo desgaste próprio ao tempo ou à intencionalidade do ocultamento. Assim, no cancioneiro popular encontramos os rastros, as pistas de nossa biografia e os registros generosamente dispostos para seu resgate. (Será que foi daí que Wisnik aprendeu o agir generoso que o leva a oferecer reconhecimento e homenagem aos ancestrais e a parceiros de vida e trabalho?) Não são poucas as ocasiões que atestam essa sua natureza: sua obra, seja cantada ou escrita, está repleta de referências a Gregório de Matos, o rapper do século XVII, diz ele; a Machado de Assis, Fernando Pessoa, Antônio Cícero e Antônio Cândido, Freyre e Sérgio Buarque, Pestana, Maysa, Paulo Leminski, Elza Soares, Tom Zé, Caetano e Chico, do qual, inclusive, Wisnik resgata uma quase desconhecida América, anagrama de Iracema
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e assim, talvez, diz ele, retornamos a Machado, etc... Muitos outros nomes poderiam ser aqui lembrados e muitas cordas, cordões, acordes puxados no tempo a enlaçá-los. Histórias tecidas com fino fio de honra e amizade. (Ou por tê-lo, de alma, aí apenas o reconhece?) Então... do que é mesmo que ele falava? Acosso a memória e o que ela me devolve é que Zé Miguel Wisnik falava que a história do Brasil atravessa a música popular e é por ela atravessada. Ali onde faltou a palavra justa, porque precisa, estava a poesia, mínima e pródiga. Lá onde as bocas, à força da ditadura, foram caladas, estavam as canções a socorrer a necessidade que a voz tem de ouvir-se e fazer-se ouvir. A voz e a verdade. “Ali onde o Brasil não se pensava, se expressava”. Zé Miguel falava também que desde muito cedo a história do Brasil presencia o enlace entre canções e literatura, entre o erudito e o popular, o oral e o escrito. Presencia e se sustenta da potência da música e da poesia para misturar ou reunir o que se pensam opostos – em trabalho manso, ou nem tanto, mas sempre carregado da possibilidade de
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subverter, transmutar essências e lugares. Foi assim que o samba agenciou a marginalidade e outorgou dignidade à malandragem, por exemplo. As canções e suas histórias o revelam: “transformar carências em modo de vida” parece ser a vocação desta nação! Talento de quem de seus “ais” faz canto. Inevitável lembrar do nascimento de Eros: Pênia, a Indigência, deparou-se com um banquete e achou bom poder recolher, para aquietar sua fome, aquelas migalhas que caíssem das mesas. Achou bom também deitar-se com o aniversariante, Engenho, filho de Astúcia. Eros herda da mãe a falta e a carencialidade que o faz pôr-se em movimento a buscar suprimento, mas é do pai, empreendedor, que lhe vem a garantia de vitória, referendada pela avó. A capacidade inventiva e de improvisação inscrita na cultura e no modo de ser deste país, deste povo, deveria ainda nos orientar e guiar. Deverá, um dia, nos iluminar. Mas ... foi só isso o que ele disse? Se isso fosse só...
Não, disse muito mais e também cantou! Mas não são muitas as recordações daquelas falas que possam agora ser organizadas segundo a razão comunicativa. Tantas outras expressões próprias ao universo e ao fazer musical também não alcançam em mim potência de expressão. Mas se a memória, egoísta e avara, preguiçosa ou desalerta, muito menos ou nada me houvesse trazido, ainda assim lá estaria um bom e suficiente registro: Zé e o piano. Uma lembrança, uma imagem: dedos sobre as teclas e Zé estica o pescoço, como passarinho faminto no ninho, silêncio, cabeça ao alto a buscar... e a voz vem num sorriso e, parece, no esforço de fisgar o mais essencial para distribuir à plateia: a amorosa – e vigorosa – alegria, aos moldes da gaia ciência, aquela
que, mesmo na dor, deverá unir vida e conhecimento, aquela que se ocupe em deixar brotar novos valores, preferencialmente os que acolham a complexidade e respeitem as múltiplas perspectivas que a vida tem. O Projeto Pensando o Brasil tem como objetivo promover uma série de encontros para discutir questões importantes a respeito do cenário político, social, econômico e cultural do Brasil. Naquele dia 17 de março, num tempo dominado pela distensão política, pelo medo, pelo rancor e pela ira, Zé fazia seu trabalho: cantava, falava, cerzia, mas sobretudo nos lembrava, a todos, que este povo tem uma vocação e um destino, e que a história o revela: “pode escrever, não falha não, é a tentação de ser muito feliz”.
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Shakespeare: o poeta vive! RESUMO: Em 2016, o mundo homenageia os 400 anos da morte do poeta e dramaturgo William Shakespeare (1564-1616), um dos maiores ícones da literatura inglesa. Em março passado, Curitiba foi palco do lançamento no Brasil do programa global Shakespeare Lives. O evento, que tem por finalidade explorar Shakespeare como um autor vivo, cuja fala ainda pulsa para todos os povos e nações, aconteceu no dia 24/03, na Sede Social do Graciosa Country Clube, e contou com a presença do Embaixador do Reino Unido no Brasil, Alex Ellis, do diretor do British Council, Eric Klug, e do ator da Rede Globo, Thiago Lacerda. AUTOR: Paulo Roberto Pellissari - professor de Literaturas de Língua Inglesa da FACEL e gerente pedagógico da Editora Positivo, membro do CESH (Centro de Estudos Shakespearianos no Brasil).
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O programa Shakespeare Lives, liderado pelo British Council em parceria com a Embaixada do Reino Unido e Visit Britain em vários países pelo mundo, apresenta ao público diversas atividades culturais e educativas, promovendo a imagem de um Shakespeare contemporâneo e criativo. Entre os destaques das atividades, que acontecem no Brasil ao longo de todo o ano de 2016, está também a Casa da Liberdade, em Paraty/RJ, dedicada ao bardo, entre 29 e 03/07, durante a Flip, o maior festival literário do Brasil, e uma programação de filmes, do acervo do British Film Institute, e de teatros em diversas cidades do país. O legado de Shakespeare também será tema da campanha educacional online Play Your Part e de atividades na British House, a casa britânica no Rio de Janeiro durante os Jogos Olímpicos. Shakespeare, até a atualidade, continua a fascinar o imaginário ocidental e mesmo o oriental, tanto é que se encontram reescrituras e transposições intermidiáticas e culturais de sua obra nos quatro cantos do globo, passando por várias adaptações ao longo do tempo e dos lugares. Muitos temas e expressões criadas pelo poeta e dramaturgo povoam o nosso imaginário e personagens como, por exemplo, Romeu e Julieta, assumem representações arquetípicas do casal apaixonado. Como afirma Ben Jonson (1572-1637), poeta, ensaísta e dramaturgo inglês, Shakespeare “não é de um único tempo, mas de todos os tempos”. Sua obra é relida, reinterpretada à luz de novas teorias, como, por exemplo, o pós-colonialismo e os estudos femininos.
Recriada e parodiada não somente pela literatura, mas também em balés, pinturas, óperas, composições musicais, televisão e cinema em uma quantidade infinita de encenações, não há dúvidas de que Shakespeare dialoga com a atualidade e, portanto, tantos acontecimentos e lançamentos instigam o leitor a se perguntar: o que torna esse poeta tão atual? Por que o leitor precisa lê-lo? O que faz com que as suas reflexões ainda sejam necessárias ao século XXI? Nem sempre Shakespeare foi considerado o autor maior da língua inglesa. Muitas polêmicas foram atribuídas ao poeta, como a questão da identidade, da autoria, do rosto, entre outros. Alguns alimentavam a ideia de que Shakespeare nunca existiu ou que não fora ele o autor das peças, atribuindo a produção a Francis Bacon ou à própria rainha Elizabeth I. Atualmente essas conspirações não possuem nenhuma importância para os estudiosos e florescem apenas entre curiosos e oportunistas. Tal fenômeno aconteceu porque os eruditos e poetas que o sucederam eram bastante rigorosos em suas críticas, não acreditando que um ator/escritor de classe média como ele, e que não frequentou a universidade, pudesse ter sido o maior poeta inglês. Esse lugar de destaque veio a se confirmar a partir do século XVIII, quando, na reação à tradição neoclássica francesa, Shakespeare começou a ser traduzido, difundido e encenado. Ressalta-se que existem apenas duas imagens reconhecidas por estudiosos como sendo realmente do autor inglês - uma gravura na edição do Primeiro Fólio, em 1623, e uma estátua em seu túmulo, em Stratford. Há lacunas sobre o autor, como as ideias religiosas, políticas, a causa da
morte, entre outras, o que favorece as mais diversas especulações. Skakespeare nasceu em abril de 1564, em Stratford-upon-Avon, aproximadamente a 169 km de Londres. Costuma-se datar 23 de abril como o dia do seu nascimento e por ser a data em que o bardo viria a morrer em 1616. De uma família de oito filhos, William era a terceira criança, primeiro homem, filho do fazendeiro, curtidor de pele e luveiro John Shakespeare (1530-1601) e Mary Arden (? -1608). John Shakespeare ampliou suas atividades posteriormente e desempenhou funções públicas como conselheiro do burgo, juiz de paz e grão-bailio (prefeito) de Stratford. No tocante à educação, as escolas elisabetanas eram tradicionais e seguiam o mesmo curriculum em todo o país. Não diferente de Shakespeare, os meninos de sua época deveriam memorizar e recitar latim diariamente. Os textos clássicos, além de escritos em latim, eram valorizados no período. O latim era a língua franca, usada na igreja, nas universidades, na diplomacia e na área médica. Ressalta-se que a obra de Shakespeare fornece evidências e influências dos autores clássicos, como Ovídio, Sêneca e Plauto. Shakespeare se casou aos dezoito anos com Anne Hathaway (1555 - 1623) com quem teve três filhos: Susanna (1582 -1649) e os gêmeos Hannet (1585-1596) e Judith (1585-1662). Não há nenhum registro sobre Shakespeare desde o batizado dos gêmeos até sete anos posteriores. Tais anos são chamados de “perdidos” pelos estudiosos, uma vez que não há documentos sobre o autor, o que 73
torna evidente uma série de especulações ao longo dos séculos. Sabe-se que Shakespeare chegou a Londres por volta de 1588, e encontrou um cenário fértil para o desenvolvimento de sua arte.
Críticos, entretanto, ao longo dos séculos, retiraram-no dessa posição e elevaram-no ao estatuto mítico de “bardo”, designação para referenciar o poeta como expoente do cânone literário.
Na Inglaterra elisabetana/jaimesca (15541625, período que o teatro inglês nasce, desenvolve-se e alcança o seu ápice), a vida dos profissionais de teatro não era fácil, havia competição entre atores, dramaturgos e companhias teatrais. Após muitos teatros terem sido fechados por causa da peste, logo após a reabertura, Shakespeare já figurava como um dos atores principais e membro da companhia Lord Chamberlain’s Men. Conhecido como dramaturgo elisabetano, o curioso é que o poeta, entretanto, escreveu mais de um terço da sua obra na era jaimesca ou jacobina (1603 -1625), iniciada com a ascensão ao trono de Jaime I da dinastia dos Stuarts.
Shakespeare foi um escritor versátil. Utilizava-se de adaptações de textos-fonte para criar as suas histórias. A adaptação, como estratégia de construtividade textual, não é algo novo, visto que remonta ao período clássico, quando os gregos iniciaram a prática de releitura dos mitos. Ao elaborarem seus temas, tomando como base o material mítico difuso e complexo, os poetas gregos tinham liberdade para modificá-lo ou introduzir inovações. Em Édipo Rei, Sófocles inventa: muda o nome da mãe de Édipo, introduz a enigmática esfinge, a peste, o processo em que o juiz é réu, a autopunição voluntária e o exílio. Dessa forma, Sófocles, inventando e valendo-se de invenções alheias, produziu uma peça de indiscutível originalidade. A adaptação de uma cultura para outra também não é algo novo, uma vez que os romanos adaptaram o teatro grego. Ao ser adaptado, um texto sofre transformações devido às exigências do novo meio em que será veiculado, uma vez que a adaptação é um processo dialógico complexo e multidirecional. A transposição ou transformação pode se dar de uma obra, de um gênero em outro, de uma mídia para outra, e depois readaptadas novamente. Cortes, reorganização da narrativa, abrandamentos estilísticos, redução do número de personagens ou dos lugares, concentração dramática em alguns momentos fortes, acréscimos e
Durante o período, a apropriação/adaptação de textos era um processo bastante comum. Shakespeare era mestre na arte de transcriar histórias populares para o palco, tornando-as acessíveis para novas plateias. Era um dramaturgo popular na sua época. Na verdade, o poeta não pertencia à elite e não era nobre. Shakespeare e seu grupo de atores possuíam a visão do que era alta e baixa cultura. Como atores, interpretavam papeis variando de aristocratas a bufões. Eles se utilizavam de uma linguagem que variava de rima à prosa, aos gracejos e insultos. Essa mobilidade de diferentes perspectivas contribuía para o dinamismo de suas histórias e a popularidade de suas peças.
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textos externos, montagem e colagem de elementos alheios, modificação da conclusão, modificação da fábula em função do discurso da encenação fica à critério do dramaturgo, uma vez que goza de grande liberdade: e não receia modificar o sentido da obra original, de fazê-la dizer o contrário. Shakespeare escrevia com uma técnica épico-distanciadora do deslocamento espaço- temporal bem antes de Brecht (18981956) inventá-la, ou seja, escrevia como se a história se passasse em outro lugar, mas na verdade falava da sua época, da sua Inglaterra elisabetana-jaimesca. Assim foi o trabalho de produção de Shakespeare. A obra shakespeariana pode ser dividida em poesia lírica, com 154 sonetos e o poema A fênix e a pomba; poesia narrativa, que inclui Vênus e Adonis, O estupro de Lucrécia e Queixa de uma enamorada; e poesia dramática, que compreende 35 peças listadas no catálogo ou índice do Primeiro Fólio, escritas em vários gêneros - como comédia, tragédia e peça histórica. Uma das peças, Péricles, foi excluída da lista, e Troilo e Créssida não consta, apesar de estar na
edição. O atual cânone shakespeariano foi acrescido de mais duas peças, ambas escritas em colaboração com outros dramaturgos. Há estudiosos que reivindicam a inclusão de mais uma peça, o que elevaria o número de peças para quarenta - apesar de nenhum exemplar ou manuscrito da peça ter sido achado. Apesar de Shakespeare pregar a imortalidade em um dos versos de seus sonetos “há-de viver meu verso e te dar vida”, foi a dramaturgia que o eternizou. As comédias totalizam quase metade das obras aceitas como do poeta. Podem ser classificadas como comédias românticas (A megera domada, Sonho de uma noite de verão, As alegres comadres de Windsor, entre outras); comédias sombrias/peças problemas (Medida por medida, Bom é o que acaba bem, entre outras) e tragicomédias (Péricles, Conto de inverno, A tempestade, entre outras). Na tragédia, Shakespeare adapta a influência clássica a seu modo - dispensa as unidades de ação, lugar e tempo, permitindo a presença da comicidade no enredo trágico e se vale das heranças teatral e ficcional do medievo.
Flávia Penteado Ganassin e Luiza Penteado Ganassin, Tiago Lacerda e Marcela Peixoto.
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Shakespeare cria uma nova concepção da tragédia. Dentre as tragédias, destacam-se Romeu e Julieta, Hamlet, Otelo, Macbeth. As peças históricas podem ser subdivididas em duas partes: peças históricas inglesas e peças históricas/tragédias romanas. Shakespeare se utilizou de fontes históricas, datas, lendas, mitos e relatos pessoais, fezse valer a sua liberdade artística, cortando, adaptando, modificando, interpolando fatos e personagens para transformar as fontes em cenas de alto potencial emocional. Shakespeare escreveu dez peças baseadas na história da Inglaterra. Destacam-se entre
elas Ricardo II, Ricardo III, Henrique IV. Peças históricas/tragédias romanas, Shakespeare escreveu quatro, destacando-se Titus Andronicus e Antonio e Cleópatra. Os personagens shakespearianos vivem intensamente seus conflitos, os seus conflitos internos, que antecipam os dilemas e as contradições do homem contemporâneo. Cada peça nos faz pensar sobre a natureza humana. O que nos move: o amor, a ambição, a vingança, a traição, o ódio? Hamlet, Lear, Macbeth, Ricardo III, o que tais personagens e seus conflitos dizem a nosso respeito? Somos ainda reféns de nossas paixões, consciência e de nossos limites? Os personagens em suas trajetórias trágicas, nos ajudam a nos compreender melhor por meio de suas reflexões sobre o que significa ser humano, em suas diferentes trajetórias de erros, de acertos, aprendizados e sofrimento. Shakespeare é um poeta que continua a dialogar com a atualidade, pois se trata de um profundo conhecedor da alma humana, basta ler e apreciá-lo.
Embaixador Britânico Alex Ellis, ator Thiago Lacerda, diretora cultural do Graciosa Country Club, professora Liana Leão.
Prof. Dr. e Diretor Setor de Ciências Humanas da UFPR, Eduardo Salles de Oliveira Barra.
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Erik Klug - Diretor do Conselho Britânico em São Paulo.
Rodrigo Constantino: um conservador radical RESUMO: Rodrigo Constantino é alguém que não se preocupa com rótulos ou posições “simpáticas”, e talvez por isso cometa alguns exageros de ênfase ao expor suas opiniões, mas em tempos de radicalização ideológica, quando a capacidade de conviver com contrários parece estar se perdendo, é interessante ouvir o que um dos lados tem a dizer de maneira apaixonada e até parcial, um contraponto necessário à paixão e parcialidade aparente do outro lado. AUTORA: Wanda Camargo – professora aposentada da Universidade Federal do Paraná e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.
O polemista Rodrigo Constantino Rodrigo Constantino proferiu palestra na noite de 07 de abril de 2016; antes do evento movimentaram-se opiniões extremadas contra e a favor, o que dá a medida de sua importância. Rodrigo Constantino é economista, com MBA em Finanças, e trabalhou por vários anos no mercado financeiro. É autor de vários livros, entre eles o best-seller “Esquerda Caviar”, a coletânea “Contra a maré vermelha” e “Privatize já!”. Foi colunista da Veja e é colunista de importantes meios de comunicação brasileiros, como os jornais “O Globo” e “Gazeta do Povo” e a revista “Isto É”. Conquistou o Prêmio Libertas no XXII Fórum da Liberdade.
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Preside o Conselho Deliberativo do Instituto Liberal, que propõe promover a pesquisa, a produção e a divulgação de ideias, teorias e conceitos sobre as vantagens de uma sociedade baseada no Estado de Direito; na democracia representativa; na economia de mercado e na descentralização do poder. E, ainda, levar ao conhecimento público as vantagens de uma sociedade estruturada de acordo com os princípios da livre iniciativa; da propriedade privada; do lucro; da responsabilidade individual; e da igualdade de todos perante as leis.
e deixando criar, apela para a “reductio ad absurdum”, redução ao absurdo, recurso de lógica retórica em que se assume uma consequência disparatada para dada hipótese, como forma expedita de negá-la. Infelizmente, é o próprio momento do país que é absurdo.
Ele entende a liberdade como ausência de coerção de indivíduos sobre indivíduos, e requisito necessário à condição humana: apenas em regime de liberdade se desenvolvem plenamente as potencialidades individuais. A evidência histórica demonstra claramente que a liberdade econômica é o ingrediente mais importante da prosperidade material dos povos e, além disso, que a liberdade econômica é condição necessária, embora não suficiente, da liberdade política e da própria liberdade em seu sentido mais genérico.
1º pilar externo: a China abriu-se ao capitalismo na década de 1980, começando a promover uma revolução industrial tardia, usando seu enorme potencial de mão de obra e crescendo a dois dígitos anuais. Apresentou grande demanda de recursos naturais, de que o Brasil é rico. Inundou o mercado mundial de produtos manufaturados baratos, gerando consumo sem pressão inflacionária.
Constantino, no calor de vários momentos, já propôs a privatização da Floresta Amazônica e até mesmo a divisão do Brasil em dois países: Brasil do Norte e Brasil do Sul. É possível que ele mesmo tenha ficado surpreso quando essas provocações foram levadas demasiadamente a sério, pois se tratam de desabafos de um intelectual atento ao que se passa em seu país e que, no desespero de constatar que os poderes públicos aparentemente não se importam com o horror que estão criando
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Nas palavras de Rodrigo Constantino: . O Brasil foi como uma cigarra que ganhou na loteria e não se preparou para o inverno. Esta loteria apoiou-se em dois pilares externos ao país e dois internos:
2º pilar externo: após a crise de tecnologia do início dos anos 2000, os bancos centrais dos países industrializados liberaram vastas quantidades de dinheiro, produzindo uma bolha imobiliária, e quando a bolha estourou reforçaram a dose do remédio aumentando mais ainda a liquidez, o que a própria Dilma Rousseff chamou de ‘tsunami monetário”. Com muito capital disponível, o mundo investiu pesadamente nos países emergentes. Normalmente expansão monetária tende a gerar inflação; isso não ocorreu por causa dos produtos baratos que a China exportava.
1º pilar interno: o PT afirmou que recebeu uma herança maldita ao assumir o governo do país, na verdade recebeu o que se pode chamar de herança bendita, um tripé macroeconômico composto de Câmbio Flutuante, Responsabilidade Fiscal e Banco Central autônomo perseguindo metas de inflação determinadas. A manutenção dessas políticas contribuiu muito para o sucesso do primeiro mandato de Lula. 2º pilar interno: o bônus demográfico, uma grande população jovem, ingressando no mercado de trabalho e permitindo um relativo controle das contas da Previdência Social. Lula assumiu o governo em uma rara janela de oportunidade e, junto com seu partido, usou o momento para um projeto apenas de poder, sem considerar as questões do país. O palestrante ainda arrola como malfeitos do Partido dos Trabalhadores: _A Nova Matriz Macroeconômica: ignora os fundamentos da teoria econômica. O governo tudo pode e é a grande locomotiva do progresso, pode criar créditos meramente dando instruções a bancos públicos. Desrespeito a todas as leis econômicas existentes. O Banco Central deixa de ser independente; o Câmbio deixou de ser flutuante; gastança desenfreada bancada por bancos públicos. Intervencionismo: Dilma baixa as taxas de juros por decreto, manipula preços da Petrobrás e de energia elétrica, com as consequências inevitáveis e conhecidas.
_Política externa: há duas opções básicas que um país pode escolher em termos de blocos econômicos e comerciais: ser “rabo de baleia” aceitando a posição de sócio menor de países mais ricos; ser “cabeça de sardinha”, associando-se em posição de liderança com países mais pobres. O PT inovou, escolhendo ser “rabo de sardinha”, submetendo o Brasil aos interesses e ideologias de países como Bolívia e Venezuela. Isso vem ao encontro do forte viés ideológico do PT, que juntamente com Cuba e outros expoentes do socialismo latino fundou, em 1990, o Foro de São Paulo, que pretendia resgatar o que se perdeu com a derrocada do comunismo no leste da Europa. _Estrago institucional: o partido procedeu a um vasto aparelhamento do Estado, criando e ocupando mais de vinte mil cargos de assessoramento em praticamente todos os órgãos do Governo. Em seu projeto e visão golpistas, o partido, o Governo e o Estado são uma coisa só, a serviço do primeiro. Nesse sentido foram feitas várias tentativas de calar a imprensa, ocupar os tribunais superiores, comprar congressistas, ocupar todos os espaços. _O pior estrago foi o cultural, a degradação de valores, o cinismo, a mentira. Não quero que minha filha cresça em um país em que empresário é visto como canalha e as leis valem apenas se servirem aos interesses do grupo no poder. Mas Rodrigo não é apenas pessimista, segundo ele ainda se pode olhar para o
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futuro e tentar ver o copo meio cheio, pois há ventos de mudança favoráveis ao Brasil: _Os jovens acordam, através das redes sociais informam-se, debatem, vão às ruas. Desafiam velhos dogmas que alguns professores procuram lhes impor nas universidades. _Muitos partidos políticos tem agudo senso de oportunidade e veem claramente para onde o país se inclina, e quais são as necessidade e aspirações da população. O palestrante considera que muitos intelectuais e artistas parecem ter hibernado nos últimos trinta anos e não viram a queda do muro de Berlim, o fim do império soviético, as mudança ocorridas nas relações comerciais e pessoais, e continuam falando de Socialismo e Comunismo, em pleno século XXI; e “o PT saiu do discurso do “nunca na história deste país” para o de “sempre na história deste país isso foi feito”, para justificar suas já provadas práticas corruptas. De fato, há corruptos em quase todos os partidos, mas não são tratados como heróis, não roubam institucionalmente com a dimensão do que se fez e não explicam seus roubos com projetos autoritários de conquista e manutenção de poder”.
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Sardenberg: como recuperar o grau de investimento RESUMO: No final de 2015 os brasileiros levaram um susto, embora não tenham ficado surpresos: a agência de classificação de riscos Standard & Poor’s rebaixou a nota de avaliação do Brasil ao grau especulativo. Foi o resultado de anos de política econômica desastrosa e voluntarista. Carlos Alberto Sardenberg, um dos mais importantes jornalistas econômicos do país, falou sobre sua visão desta questão afirmando que as soluções sempre demandam disciplina e uma boa dose de sacrifício. AUTOR: Attilio Pisa Neto – administrador de empresas e diretor Mercosul de Indústria Química.
A classificação de risco é a nota atribuída a uma empresa ou país para medir o risco de crédito; indica a sua capacidade de pagar suas dívidas ou as possibilidade de atrasar pagamentos ou mesmo de dar calote. Esta classificação é feita por agências especializadas, as principais são Standard & Poor’s, Fitch Ratings e Moody’s. O grau de investimento indica que uma economia tem risco baixo e que aplicações financeiras feitas por investidores estrangeiros são bastante seguras. Com esta avaliação, governos e empresas nacionais têm possibilidade de obter empréstimos do exterior com melhores condições de juros e prazos. O grau especulativo coloca o país em um nível de percepção negativa de risco aos seus interesses e à busca de capitais no mercado internacional. Inclusive alguns grandes fundos de investimento são impedidos legalmente de investir em países que tenham grau de especulação, restringindolhes as possibilidades de financiamento. Então, recuperar o grau de investimento é questão de interesse nacional. Acabar com a hiperinflação e o caos das finanças públicas demandou quatorze anos; desde o Plano Real, em 1994, a introdução de nova moeda e as reformas que a sustentaram, dando-lhe base, até conquistarmos o grau de investimento em 2008. A Standard & Poors foi a primeira agência que concedeu este grau à economia brasileira, reconhecimento até mesmo da maturidade política do país considerando que 81
Lula, opositor a Fernando Henrique Cardoso, manteve e melhorou a base do Real em seu primeiro mandato. Infelizmente isso não se manteve no segundo, começando aí um processo de desmontagem desses avanços. No governo de Dilma Rousseff, sucessora de Lula, houve um aprofundamento da demolição das bases da estabilidade e em cinco anos destruiu-se o que demorou muitos anos para ser feito. Dessa forma, os maiores desafios replicam os de 1994: eliminar o déficit das contas públicas e voltar a produzir superávit primário para reequilibrar e posteriormente reduzir a dívida pública; trazer a inflação à meta (atualmente 4,5% ao ano). Também importante é a garantia da taxa de câmbio flutuante, reduzindo e até eliminando as interferências do Banco Central. Um ponto positivo em relação à época da implantação do Real é que agora ele já existe; combalido mas existe, não há necessidade de reforma monetária, unidades de transição, troca de papel moeda. Isso comprova a resiliência da formulação do Plano. Também temos a vantagem de que o arcabouço das regras de estabilidade fiscal já existe, embora não tenha sido levado muito em conta no governo Dilma, com pedaladas fiscais e contabilidade criativa. As regras existem e estão em vigência, precisam de alguns aperfeiçoamentos e serem respeitadas. A proposta da nova equipe econômica de criar um teto para o gasto público, considerado o valor do ano anterior acrescido da inflação, é positiva, e com isso a despesa total se manterá estável.
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O Governo precisa se empenhar fortemente na busca do equilíbrio das contas públicas; reformas de médio e longo prazo, em que se inclui a da Previdência, são necessárias mas insuficientes. Combater o déficit orçamentário é fundamental. O Governo Federal pode cortar gastos em três frentes: despesas com pessoal, custeio e investimentos. Os funcionários concursados têm estabilidade garantida, mas há um enorme contingente de ocupantes de cargos em comissão e assessorias inchando a máquina pública; são na maioria militantes e protegidos que “aparelham” a administração. O corte de muitos desses cargos, os desnecessários evidentemente, representaria uma economia de alguns bilhões de reais, já em 2017. Gastos de custeio são vistos como não passíveis de corte, incluem manutenção de edifícios públicos, escolas, hospitais e outros. Mas, com critério e cuidado, pode-se encontrar muita gordura nesses gastos, até mesmo problemas de distribuição de verbas. Os investimentos apresentam problemas sérios, há uma enormidade de obras incompletas, custando mais caro do que o orçado e licitado. É importante proceder uma parada, avaliação e continuação programada do necessário. As concessões e privatizações de obras de infraestrutura, estradas, aeroportos, portos etc., podem trazer dinheiro já no próximo ano e o investimento privado substituiria o público com maior eficiência, desde que bem regulado e fiscalizado. As desonerações de impostos devem ser revistas, a boa ideia de baratear a contratação de pessoas reduzindo impostos sobre a folha de pagamento não deu o resultado esperado, é necessária uma reforma tributária que
alivie a carga de impostos para todos, e não apenas para alguns setores e empresas. Não será fácil, nada fácil. Mas é possível, já aplicamos muitas dessas políticas e também já deram certo em diversos países. Esta é a visão de Carlos Alberto Sardenberg, um dos mais importantes jornalistas econômicos do Brasil, âncora do programa CBN Brasil, veiculado pela rede nacional de rádio jornalismo CBN, comentarista econômico na mesma rede, do Jornal das Dez da Globonews e do Jornal da Globo, da TV Globo. É colunista semanal no jornal O Globo e mantém o site www.sardenberg. com.br, com informações e comentários econômicos. Na TV, foi apresentador do Jornal das Dez da Globonews, do telejornal da Gazeta Mercantil e do Roda Viva, programa de entrevistas da TV Cultura. Foi assessor da Reitoria da Universidade Estadual de Campinas, quando trabalhou na definição de cursos de pós-graduação em Jornalismo.
Passou a maior parte de sua carreira em São Paulo, mas trabalhou durante seis anos em Brasília. Fez inúmeras coberturas no exterior e de 1985 a 1987 foi Coordenador de Comunicação Social do Ministério do Planejamento. É autor de vários livros, dentre eles: • “O Assunto é Bolsa” – Comentários e histórias sobre o mercado de ações no Brasil. • “Neoliberal, não. Liberal” – Ensaios sobre a economia, política e cultura brasileiras. • “O Assunto é Dinheiro” – Sobre investimentos pessoais. • “O Assunto é Vinho” – Comentários sobre a arte de tomar vinho. • “Aventura e Agonia nos Bastidores do Cruzado” – Uma reportagem sobre a criação, preparação e lançamento do Plano Cruzado, a primeira tentativa de reforma monetária no Brasil.
Liana Leão, professora da UFPR e diretora cultural do Graciosa, palestrante Sardenberg, Gláucio Bley, presidente do Graciosa e Karina Guedes Pereira Bley.
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Demétrio Magnoli: a política externa brasileira e o Oriente Médio RESUMO: Um dos mais consagrados articulistas de política internacional do país, colaborador de veículos de comunicação como O Globo, Folha de São Paulo e Globonews, o jornalista, sociólogo e doutor em Geografia Humana Demétrio Magnoli, com o tema Política Externa Brasileira e o Oriente Médio, reuniu personalidades de diversos segmentos da capital paranaense. Durante sua palestra, Magnoli expôs diversas questões que levaram ao atual cenário naquela região conturbada por conflitos. AUTORA: Beatriz Araujo Nedeff - jornalista, advogada e profissional da área de comunicação e linguagens.
De acordo com o articulista, a ideia do tema surgiu justamente do “conflito” gerado por um debate de ideias entre o músico e compositor Caetano Veloso e o colunista português João Pereira Coutinho. Em uma rodada de artigos publicados no jornal Folha de São Paulo, em 2015, ambos defenderam posições antagônicas em relação a geopolítica da região. Enquanto Veloso defendia a campanha mundial que promove o boicote e a sanção a Israel pela Palestina, Coutinho, por outro lado, contesta a versão do compositor, afirmando que se a paz não é conquistada na região é devido à falta de organização política na Palestina. Diante dessas opiniões divergentes, Magnoli, em um terceiro artigo, procurou contextualizar as duas posições organizando um pensamento que contemplasse os dois extremos. Afinal, segundo ele, a realidade desse conflito possui inúmeras facetas que se contrapõem há pelo menos 100 anos. Com o desaparecimento do Império Grego Otomano por ocasião da I Guerra Mundial, houve uma reconfiguração geopolítica na região. Seu território, então, foi dividido entre as nações europeias, em especial França e Inglaterra. Os franceses tomaram posse da Síria e do Líbano. Já a Inglaterra herdou os territórios onde hoje se localizam Iraque, Jordânia, Israel e Palestina. Em 1917, os britânicos se instalaram “sem mandato” da Liga da Nações na Palestina. Por iniciativa do ministro das Relações Exteriores da GrãBretanha, James Baufour, o governo inglês estaria disposto a apoiar o estabelecimento de uma nação judaica no local. Nesta ocasião,
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O palestrante com dirigentes e associados da B’nai B’rith, parceira do evento.
alguns judeus já estavam se deslocando para a Palestina. Uma organização sionista adquiria terras na Palestina e doava para aqueles que desejassem para lá imigrar. Entretanto, a ruptura deste domínio europeu aconteceu na II Guerra Mundial. A perseguição nazista e a existência desprezível dos campos de concentração alemães conspiraram para criação do estado de Israel em 1948 pela Organização das Nações Unidas. Apoiado pelo Brasil, o diplomata Oswaldo Aranha deu o voto vencedor à pretensão israelense. Tradicionalmente a diplomacia brasileira sempre foi partidária da tese de criação de dois estados independentes na região. Entretanto, durante as gestões do Partido dos Trabalhadores, a defesa aos direitos dos Palestinos tem se sobreposto de modo marcante às relações com Israel.
Após a criação do Estado Judaico, Jerusalém passou a ficar sob controle internacional e foi dividida em duas partes. Mas os árabes recusaram a divisão da ONU, e partiram para o conflito armado contra os judeus, que se prolongou durante os anos 1948/9. Vencedores, os judeus anexaram parte do território palestino. Já os árabes mantiveram apenas a Cisjordânia e Gaza. A exemplo do que havia acontecido com os judeus no passado, os palestinos foram expulsos dos territórios perdidos na guerra - se tornaram um povo sem lar e passaram a contar com a proteção da Jordânia e do Egito. Para eles, a diáspora não iria se prolongar por muito tempo. A derrota no conflito estabeleceu um ritual que até hoje é seguido pelas gerações vindouras. Conhecido como dia da Nakba (catástrofe), na ocasião os palestinos passaram as chaves das casas que não mais existiam para seus descendentes. Esse ato 85
deu origem ao nascimento do nacionalismo palestino nos anos 1960, que foi endossado também pelo Pan Arabismo professado pelo então presidente do Egito, Kamal Abdel Nasser. O que chama atenção na narrativa do movimento é a afirmação de que o povo árabe deve se unir e formar uma única nação. Essa união, que consolidaria a unidade dos povos árabes, foi a responsável pela origem política da Palestina. Em contrapartida, Israel também teve seu movimento nacionalista. Denominado de Sionismo, ele surgiu no século XIX e sua principal reivindicação na época era a criação de um estado judaico, que não necessariamente estivesse localizado na Terra Santa. Na narrativa israelense, os palestinos eram então caracterizados como um povo beduíno que perambulava pelo deserto, ou seja, um povo nômade, sem raízes. Na década de 60, os palestinos começaram a se articular com mais coesão; e em 1964 nasceu a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), cuja liderança, exercida por Yasser Arafat, tem como propósito atuar política e militarmente na região. Com a tensão cada vez maior no território, sucederam-se vários conflitos, como a guerra dos Seis Dias, em 1967, e a guerra do Yom Kyppur, em 1973 - ambas vencidas por Israel que imediatamente anexou a península do Sinai, a Faixa de Gaza, a Cisjordânia e as Colinas de Golã à sua extensão. Em 1979, Egito e Israel assinaram um acordo de paz mediado pelos Estados Unidos. A partir de então, os israelenses passaram a ocupar quase todo o território palestino e a tensão entre os dois povos só aumenta.
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Em 1987, um novo conflito explodiu na região. Dessa vez a manifestação, denominada de Intifada, partiu da população palestina que manifestava sua indignação contra o tratamento recebido pelos militares israelenses, atirando pedras e paus nos soldados. A sociedade israelense se manifestou e começou a contestar a violência contra os palestinos. A revolta só terminou em 1993, por ocasião da assinatura dos Acordos de Oslo. No ano 2000, uma nova Intifada compromete o processo de paz, agora incrementada pelos homens bombas e seus ataques suicidas a Israel. Outro complicador que aconteceu também nessa década é o controle do Hamas na Faixa de Gaza. Radical, a organização não reconheceu o Estado de Israel. Recentemente um novo fato – e não a ancestral diferença religiosa entre os dois povos - que pode mudar a situação na região vem chamando à atenção. É a evolução populacional de Israel e da Palestina. Até 2010, as populações de ambos os territórios se equivaliam em número. A partir de então, os palestinos começaram a ultrapassar os judeus. Este fato pode levar Israel, em um futuro próximo, a se posicionar a favor de um Acordo de Paz e a uma nova reconfiguração geopolítica da região com o reconhecimento do Estado Palestino. A demarcação das fronteiras e o respeito político ao novo mapa poderiam pôr fim à discórdia secular. Dessa forma, tolerância e laicidade seriam as palavras chaves que podem conduzir israelenses e palestinos a um clima de paz. Somente dois estados democráticos
e apoiados neste binômio serão capazes de acabar com os conflitos na região e, quem sabe, em um futuro próximo, unir os dois povos para que vivam em harmonia. Ao longo dessa trajetória que já dura mais de 100 anos, muitos atos belicosos foram
realizados por ambos os lados. Mas a única certeza que se terá ao final desta jornada é que a paz é um ato de renúncia e aceitação que deve ser praticado por todos aqueles que lá vivem. Shalom Aleichem! Salaam Aleikum! Que a paz esteja convosco!
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Leandro Karnal: A crise moral brasileira RESUMO: Dr. Leandro Karnal tratou do tema “Ética, Política e Comportamento”, numa noite de inverno curitibano, com uma plateia lotada disposta a ouvir este pensador contemporâneo. Foi um momento precioso, focado nos temas ética e moral, fundamentado por teorias filosóficas e muito bom humor. Ouvir Leandro Karnal, além de nos proporcionar boas risadas devido às suas analogias muito bem colocadas, nos faz refletir sobre o comportamento dos indivíduos diante de situações cotidianas e a importância do quanto esta postura representa para mudanças na sociedade como um todo. AUTORAS: Camila Aparecida Moraes Marques – professora da Escola de Saúde e da Escola de Educação e Humanidades do UniBrasil Centro Universitário. Camile Silva – coordenadora adjunta do curso de Educação Física, professora da Escola de Saúde e da Escola Educação e Humanidades do UniBrasil Centro Universitário.
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Leandro Karnal aborda o conceito de ética salientando, por diversas vezes, sua importância nas relações interpessoais, independente de crenças religiosas, políticas ou de conceitos estabelecidos pela sociedade. Salienta a importância da educação para o desenvolvimento e o crescimento de uma sociedade, que sirva de base sólida para suas escolhas, que irá interferir na vida de uma nação, na escolha de seus governantes. Nas duas horas de conversa, destaca o amor como peça fundamental para a formação da família, independentemente de sua composição, e o seu papel na formação do indivíduo. Conceitua ética e moral, enfatizando a importância desses valores nas relações interpessoais, no trabalho e entre familiares e relaciona diretamente o conceito de amizade com o de ética, destacando que amizades verdadeiras e confiáveis existem devido a relações interpessoais éticas. Ainda no contexto, comenta sobre o papel das redes sociais na formação de opinião, local de discussões sem embasamento e fundamentação, valorizando o poder do “eu”, do egocentrismo. Aborda os temas trabalho e meritocracia com bastante lucidez, descrevendo que o indivíduo que se esforça e obtém sucesso deve ser valorizado por seu trabalho e empenho. Para Leandro Karnal, o período de crise do Brasil também deve ser visto como um momento de crescimento e finaliza sua fala destacando características individuais importantes, como honestidade e retidão para uma vida correta e ética. A chave da mudança encontra-se na base da montanha,
Leandro Karnal com Zaki Akel Sobrinho, reitor da UFPR e Dayse Akel.
onde andam juntas família e educação. É através de uma reforma na educação e de uma mudança de percepção individual do cidadão que a sociedade brasileira criará uma base sólida para reformular a nação. Foi abordado o conceito de ética e moral também relacionado à realidade e à utopia, citando-se Aristóteles e Kant; também, a reflexão de que cotidianamente - em pequenas ações - construímos a realidade em que vivemos. E que, entre o imaginário e o ideal de vida, somos constantemente testados em nossas escolhas, ações e atitudes. Nossa natureza exige a relação interpessoal, as aproximações, os distanciamentos; o mundo em que vivemos é aquele que construímos. São nas relações humanas, repletas de imprevisibilidade, o espaço no qual encontramos encruzilhadas éticas e morais. Que entre a crença religiosa e os preceitos estabelecidos socialmente, agimos com pouca razão e muita emoção. Se essas são as características de um grupo, uma população, ou da sociedade, o professor deixa claro que os elementos culturais são determinantes na conduta diária.
O palestrante refletiu sobre a situação em que se encontra o Brasil, trazendo a perspectiva crítica de que a realidade não se deve apenas pela postura de nossos governantes, mas pela conduta de todo um grupo que, em seu cotidiano, aprendeu e cultivou comportamentos individualistas. Essa postura egocêntrica conduz a ações que infringem o espaço do outro, que não permitem nos vermos como uma sociedade, que precisa urgentemente valorizar a honestidade, o respeito, o compromisso e, acima de tudo, o comprometimento em construir um país melhor. Karnal menciona que a conduta ética deve ser intrínseca às nossas atitudes e que, para isso, dependemos de um processo educativo na vida formal e informal. Leandro Karnal expôs, ainda, sobre o papel das redes sociais, elementos da realidade que, na maioria das vezes, faz os indivíduos perderem valores éticos, em que se potencializa o poder do “eu”. Além disso, abordou o conceito de vaidade, que faz com que o indivíduo veja o que quer, salientando a briga entre opções partidárias, nas quais os indivíduos não 89
conseguem perceber as desonestidades existentes em ambos os lados, travando discussões cegas, e fracas de argumentos. Sobre o tema chave – “Ética” –, Leandro Karnal comentou que ela garante uma vida cercada de pessoas confiáveis e amigos fieis. Que “vida ética” é vida válida. Ressaltou que o problema não é o erro humano, mas o orgulho do erro, e que viver uma vida ética é sinônimo de tranquilidade e garantia de escolher a liberdade, pois não há maneira certa de fazer o errado, pois o bem e o mal são contagiosos. Em um dos momentos da palestra falou sobre a meritocracia, ressaltando a noção de esforço e trabalho, refletindo ainda que, por muitas vezes, o indivíduo atribui o valor do sucesso de outrem à sorte, e não à determinação e comprometimento. Comentou sobre a importância da dignidade em servir e ser servido, sobre a igualdade entre os indivíduos, e da importância do conhecimento da noção
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republicana de isonomia. Finalizou falando sobre a necessidade de uma revolução ética e a institucionalização do caráter na população brasileira, visando a valorização da cultura do esforço. Ressaltou que essa mudança deve vir acompanhada de valores, em especial a família, independentemente de sua composição, pois onde existe amor, confiança e carinho, existe uma família. O professor finalizou falando sobre a coisificação do ser humano e o combate ao preconceito em todos os sentidos. É preciso evitar o conformismo e agir com coragem, retidão, sinceridade, e modéstia, para criar uma nova cultura no Brasil. A sociedade deve começar sua própria mudança, pois é ela a base, o alicerce para se manter o topo da montanha, ou seja, os governantes. E a pergunta lançada: “Onde a revolução começará? Na escola: eu, você, todos pela Educação.”
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Carlos Fernando: a força tarefa da Lava Jato RESUMO: Embora com as dificuldades características brasileiras, como o “foro privilegiado”, o serviço que a Operação Lava Jato presta ao país é essencial; hoje seus membros são reconhecidos e aplaudidos nas ruas. A palestra do Procurador Dr. Carlos Fernando dos Santos Lima foi importante para esclarecimento de alunos, professores e público em geral, tendo sido mediada pela jornalista Lenise Aubrift Klenk e pelo advogado Luiz Alberto Cartaxo Moura. AUTORA: Andréa Kraemer – Estilista de moda, artista plástica, sócia gerente do Estúdio Algarismo.
O Dr. Carlos Fernando dos Santos Lima, Procurador da República e membro da Força Tarefa do Ministério Público Federal na Operação Lava Jato da Polícia Federal, proferiu palestra com o tema “A força tarefa da Lava Jato”. Num tempo em que muitos brasileiros não sabem a escalação completa do time de futebol para o qual torcem, mas conhecem o nome de todos os ministros do Supremo, ouvir um dos membros da operação Lava Jato é relevante, já que esta operação enfrenta todos os dias o anúncio de seu fim; sendo relevante a observação de que esta não está chegando ao final, precisando sempre do apoio da população. Como uma investigação de um posto de gasolina, envolvendo a princípio quatro doleiros, transformou-se na Lava Jato?
Jornalista Lenise Klenk, Procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, Diretor Jurídico do Graciosa, Dr. Luiz Alberto Cartaxo Moura
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Começou com uma investigação de doleiros. Um pequeno fio levou ao novelo de uma rede extensa de corrupção na maior empresa brasileira, e esta corrupção estende-se a toda a administração federal, Caixa Econômica Federal, Eletrobrás, Ministérios da Fazenda e do Planejamento; e isso não ocorre apenas no Governo Federal, acontece em quase todos os governos estaduais, municipais e estatais. O palestrante declarou que a Lava Jato não é uma investigação sobre um governo de um determinado partido político, o que revela é como se financia a política no Brasil, e esta política é financiada com recursos públicos desviados, propina, caixa 2 e até mesmo doações ilegais. A operação é produto do trabalho de uma equipe grande e que conta, inclusive, com alguma sorte e com as condições do momento econômico. Segundo Carlos Fernando, se a economia não estivesse em tão má situação, talvez os grupos políticos tivessem conseguido parar as investigações. A ausência de liderança política e de percepção da dimensão da Lava Jato permitiu que ela se desenvolvesse até o ponto em que a bola de neve ganhou tal proporção, que hoje é praticamente impossível pará-la como foram paradas muitas outras grandes operações (Boi Barrica, Satiagraha, Castelo de Areia, etc.). Podem parar através da movimentação de lideranças políticas, já percebidas, no sentido de desautorizar as investigações. Dr. Carlos renova, por isso, o pedido de apoio da população. Não é a Lava Jato que vai eliminar a corrupção, por isso foram propostas as “10 medidas contra a corrupção”. Nosso sistema judiciário, disse ele, não foi feito para funcionar, não foi feito para atingir políticos, executivos, prefeitos, dirigentes de
estatais, e sim para atingir uma população pobre, mas não o tipo de criminalidade que é investigada na Lava Jato, a de colarinho branco. Estamos na mesma situação que os Estados Unidos estiveram há mais de cem anos, quando em 1906, Theodore Roosevelt tomou medidas que permitiram processar criminosos de colarinho branco, pela primeira vez com efetividade. Assim como naquele país, não adianta apenas fazer leis enquanto tivermos uma política tão cara; rouba-se para fazer política, rouba-se para fazer campanha eleitoral muito mais do que para o eventual enriquecimento pessoal. Precisamos reformar nosso sistema para tornar a política mais barata, e nas palavras do palestrante, “não é nossa função propor esta reforma, isso cabe à população e ao Congresso, apenas apresentamos nosso diagnóstico”. Não é possível termos tantos partidos políticos sem maior representação, apenas usufruindo das cotas partidárias, tempo de TV e postos de liderança no Congresso. Não poderemos contar sempre com a Lava Jato e outras Lava Jato. Lembramos as várias operações que já foram encerradas; a Castelo de Areia investigava praticamente a mesma coisa que a Lava Jato. Não podemos depender de pessoas, precisamos depender das Instituições. O que hoje é excepcional deve passar a ser normal. Disse ainda que se espera que as próximas eleições (outubro/2016) sejam mais baratas e mais limpas, porque algumas pessoas estão com medo de praticar o que foi comum em outras. Este medo pode se diluir até 2018, por exemplo, e serem achadas novas maneiras de burlar a lei. As “10 medidas” podem ser mudadas para melhorar, não é uma proposta acabada 93
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ou que pretenda ser perfeita, mas não podemos permitir que sejam destruídas em seu propósito. Na Itália, após as “Mãos Limpas”, foram aprovadas pelo Congresso medidas que dificultam processar políticos, e é o que se tenta no Brasil, inclusive com a ideia extremamente casuística de aprovar foro privilegiado para ex-presidentes da República.
Carlos observou que veremos muitas tentativas do que chamamos “assassinatos de reputação”, que é o método que se usa tentando colocar a população contra os investigadores e a investigação, e por isso pede que usemos a razão e continuemos apoiando, “não a mim, ao doutor Sérgio ou ao doutor Deltan, mas à aprovação de leis que mudem este país”.
Outra ideia é impedir a colaboração de pessoas presas, sob a alegação de proteger direitos humanos. Dentre as delações premiadas obtidas pela Lava Jato, cerca de 80% foram de pessoas em liberdade, apenas 20% de presos. Além de que, colaborar é uma técnica de defesa; sob o pretexto de direitos humanos o que se está propondo é a restrição do direito de defesa.
Sempre há crises, enfrentamos uma nova a cada semana, mas temos que ter tranquilidade para lidar com elas. Nenhum outro país tem 22 mil detentores de foro privilegiado, até os próprios procuradores tem foro privilegiado, e um dos problemas do foro é que o Supremo não é um tribunal penal, não tem a estrutura e a agilidade necessárias a um tribunal penal, é um tribunal constitucional. Porém os processos penais de detentores de foro privilegiado são julgados pelo STF, em seu rito e tempos.
Novamente nas palavras do procurador Carlos Fernando, “não existem heróis nem ninguém acima da lei na Lava Jato, somos todos funcionários públicos fazendo aquilo que vocês que nos pagam tem o direito de exigir, nosso dever”. A jornalista Lenise Klenk indagou sobre qual seria o ambiente entre o STF e a PGR após a suspensão de parte da delação de Leo Pinheiro, feita recentemente pelo STF. O doutor Carlos respondeu que isso foi uma atitude correta, visto que se tratava de fatos que não constituiriam crime, e que sequer teriam sido enviados ao STF, foi apenas uma crise artificial criada por um veículo de imprensa. À pergunta da jornalista sobre quais seriam as lideranças que o palestrante citou como tentando barrar as investigações, o doutor
O doutor Cartaxo indagou, por sugestão da plateia, o que o doutor Carlos pensava sobre a questão da prisão de condenados em 2ª instância, e a resposta foi que considerou uma boa medida do STF, e que a população brasileira espera que continue assim; é preciso que o sistema tenha lógica, e que o receio da punição efetiva iniba o crime. Nenhum outro país tem quatro graus de jurisdição. A decisão de 2º grau esgota a análise do fato criminoso; os tribunais superiores, STJ e STF são órgãos de análise de conformidade das Legislação Federal e da constitucionalidade, não analisam o fato. O doutor Carlos finalizou declarando que “não somos heróis, não queremos ser heróis, queremos fazer as coisas como devem ser feitas”.
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Marcelo Madureira: Rir de tudo é desespero RESUMO: Nenhum homem público escapou dos humoristas, basta ter ou pensar que tem algum tipo de poder sobre o próximo, e se jactar disso, para que o espírito nacional da gozação criativa se manifeste. Nem todas as vítimas têm, no entanto, o senso de humor ou o oportunismo para rir das sátiras; as reações mal humoradas e violentas acontecem com frequência. O Brasil atravessa uma fase de acirramento de ânimos e mau humor, hora de ouvir um humorista. AUTORA: Ana Lucia Pereira – professora do mestrado em direito do UniBrasil Centro Universitário.
‘’Eu te desejo não parar tão cedo Pois toda idade tem prazer e medo E com os que erram feio e bastante Que você consiga ser tolerante Quando você ficar triste Que seja por um dia, e não o ano inteiro E que você descubra que rir é bom, mas que rir de tudo é desespero’’ Roberto Frejat, Amor pra recomeçar, faixa-título de seu primeiro álbum solo (2001)
As palavras de Roberto Frejat (encontráveis, também, em alguma medida, no poema ‘’Desejo’’, de Victor Hugo) expressam a tônica da exposição de Marcelo Madureira, humorista do grupo Casseta & Planeta, realizada no Clube Graciosa na noite de 29 de setembro de 2016. ‘’Rir de tudo é desespero’’, disse Frejat, provavelmente com o objetivo de limitar a expectativa humana em relação à busca de uma realidade inalcançável em termos práticos. Marcelo Madureira compartilhou o objetivo de Roberto Frejat, trazendo, em acréscimo, a mensagem subliminar - ou, por que não, explícita - de que o país se encontra em uma situação sensível, que recomenda introspecção, no sentido de olhar para dentro de si com fins de (re)conhecimento e práticas de reorganização, reestruturação e construção. Em outras palavras: reflexão, união, trabalho e força positiva. Durante a hora e meia em que conversou com os presentes na Sede Social do Clube, Madureira falou de si, de sua terra natal (Curitiba), dos curitibanos, e dos
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Ester Proveller, presidente da B’nai B’rith, Wanda Camargo, assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil UniBrasil, palestrante, Liana Leão, diretora cultural do Graciosa.
acontecimentos que vêm tomando assento na agenda política nacional nos últimos dois ou três anos. Riu de si mesmo, riu dos curitibanos - ‘’Faxina é o esporte do curitibano’’; ‘’Curitibano não fala com estranhos. A começar por ele mesmo’’ - mas, acima de tudo, riu do cenário político em que se encontra o país. O objetivo, nítido, era dar vazão a uma inquietação interior que, embora vinda de um humorista, pode ser expressada por meio das seguintes palavras: ‘’no presente momento, temos poucas pessoas sérias cuidando de nosso país’’. O riso de Marcelo Madureira denota inquietação, angústia, ansiedade por mudança
para melhor, e rápido; um ato, quase, e com Roberto Frejat, de desespero do humorista. ‘’Humor na Política’’ era o título da palestra, da conversa de Marcelo Madureira com os presentes. O humor do jornalista não ficou circunscrito à graça ou jocosidade; a ironia esteve presente enquanto fio condutor de todo o discurso do - também - engenheiro. O diálogo entre plateia e convidado foi intenso a ponto dos ouvintes, em seus questionamentos, valerem-se, em sua maioria, de tom que se aproximava da mesma figura de linguagem trabalhada por nosso então interlocutor: ‘’E o Cunha, é inocente?!’’; ‘’E a Dilma, sabia ou não sabia?!’’ A crítica 97
contundente de Madureira foi dirigida à gestão, aplicação e fiscalização de recursos públicos por nossos dirigentes, à qualificação de agentes públicos para ocuparem posições estratégicas de governo e ao funcionamento de instituições públicas em geral. .
tranquilamente durante três dias.’’ Ao final, mais uma vez ironizou: ‘’A culpa do que estamos vivendo no Brasil, dessa recessão, é de uma pessoa só: eu vim acusá-la aqui. É do juiz Sérgio Moro. Ele não deixa mais ninguém roubar em paz nesse país.’’
Disse o humorista que ‘’o Brasil é um país de corporações: os artistas, os professores. Atendidos os interesses das corporações, nada mais importa em termos de coletividade’’; também, ‘’educação, no Brasil, não é um valor. No Japão, o único súdito que não ajoelha para o Imperador é o professor. De fato, a educação no Japão é uma porcaria’’; e, ‘’a nossa Universidade virou uma repartição pública, não produz para a sociedade, somente papers inúteis...’’; para concluir, ao final, que ‘’nunca a sociedade brasileira foi tão dividida entre eles e nós’’.
Marcelo Madureira pontuou, igualmente, certa crise de representatividade enfrentada por instituições públicas brasileiras. Afirmou que as pessoas não se sentiriam representadas pela maioria dos membros da classe política, assim como por instituições representativas de diferentes interesses e categorias profissionais do País: ‘’Hoje, os sindicatos são extremamente danosos para a democracia, não representam os trabalhadores. As relações de trabalho mudaram, a lógica já não é mais a mesma.’’
O humor-ironia de Marcelo Madureira perpassou, também, com vigor, as investigações e ações da operação policial Lava Jato. As perguntas da plateia foram em grande quantidade relacionadas a esse tema. Em resposta a um dos questionamentos, o humorista observou: ‘’A partir de hoje à meia-noite só pode ser preso no Brasil em flagrante delito. O que para os caras da Lava Jato é muito bom, os caras que estão com medo da Polícia Federal poderão dormir
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Em síntese, o que Marcelo Madureira trouxe para os seus ouvintes não foi uma mensagem desanimadora. Foi uma mensagem crítica, porém longe de ser considerada desconstrutiva. Em sentido contrário, a palavra final foi de união, fortalecimento e trabalho, para fins de superar a crise. Afinal, crises ‘’passam’’, mas podem ou não ser superadas. Tudo indica que, como diria o compositor, quando o riso vira desespero, é preciso amor (pelo que somos e pelo que temos) pra recomeçar.
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S A C I ADÊM
C A S E D A D I V I AT
EVINCI – Evento de Iniciação Científica do UniBrasil Centro Universitário Proporcionar aprendizado de forma dinâmica é o princípio do Evento de Iniciação Cientifica do UniBrasil Centro Universitário (EVINCI), que aconteceu entre os dias 20 e 22 de outubro e movimentou toda a comunidade acadêmica do UniBrasil Centro Universitário. Na edição deste ano, o evento integrou todas as escolas de conhecimento da instituição em palestras, mesas redondas, comunicações sobre pesquisas científicas e tecnológicas. O evento foi aberto ao público dando oportunidade para a comunidade e demais interessados aprenderem de forma prática os conhecimentos que até então estavam restritos apenas às teorias. A programação ofereceu diversas atividades que envolveram as Escolas de Comunicação, Arquitetura e Design, Direito, Educação e Humanidades, Engenharias, Negócios e Saúde, além de pós-graduação e mestrado em Direitos Fundamentais e Democracia. A finalização do evento aconteceu com o JOGUN – Jogos UniBrasil, e o Dia da Criança UniBrasil.
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O DIREITO DESPORTIVO E O DESENVOLVIMENTO DOS ESPORTES DE CONTATO: profissionalização do esporte RESUMO: O vale-tudo apareceu em 1920 no Brasil com o famoso “Desafio Gracie”, que opôs a família Gracie a outros representantes das artes marciais. Tendo como principal objetivo promover a discussão sobre o tema do Direito Desportivo, enquanto processo de profissionalização de atletas de MMA - Mix Martial Arts, com origem entre o extinto valetudo e um estilo de luta do Japão, os cursos de Direito e de Educação Física organizaram evento para discutir o MMA, que atualmente produz um dos megaeventos esportivos mais midiáticos do mundo, o UFC – Ultimate Fighting Championship. AUTORES: Alberto Israel Barbosa de Amorim Goldenstein - Professor do Curso de Direito do UniBrasil Centro Universitário. Taís Glauce Fernandes de Lima Pastre Professora e Coordenadora Geral dos Cursos de Educação Física do UniBrasil Centro Universitário
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Em maio, em realização interdisciplinar, os Cursos de Direito e de Educação Física promoveram um megaevento institucional, pode-se dizer que único no Paraná, no qual os professores Alberto Goldstein e Taís Pastre trouxeram para compor mesa redonda, em discussão sobre o tema: Desportivização do MMA – Mix Martial Arts, dois personagens de grande representatividade no universo esportivo, o ex-atleta de MMA, Minotauro e o árbitro internacional da modalidade, o senhor Mário Yamasaki. O evento trouxe grande visibilidade para a discussão do MMA, buscando atingir o máximo de acadêmicos possíveis, através do intercâmbio discentes x docentes x atletas e árbitros, os quais têm propriedade para apresentar as principais demandas dessa modalidade, enquanto modelo de construção. O MMA é uma modalidade de luta que envolve vários estilos: karatê, capoeira, judô, jiu-jitsu, tae-kwondo, boxe, entre outros. No início, essa modalidade aceitava lutas entre atletas de diferentes tamanhos, pesos, estilos, graduação, pois sua origem vem do chamado Desafio Gracie, a partir da década de 20 no Brasil, no qual ocorriam diversas lutas de valetudo, já com essa vertente de mix de artes marciais. Com a rápida difusão da modalidade, cresceram também o número de praticantes e consumidores da modalidade. Através da mídia o esporte foi ganhando mais adeptos e fãs, causando uma verdadeira febre entre os jovens e adultos, principalmente do sexo
masculino, o que traz à tona uma necessidade de institucionalização da modalidade. Na atualidade, o esporte moderno é utilizado constantementecomoobjetodeestudoemvárias áreas acadêmicas, mas de maneira auspiciosa, a sociologia vem se apropriando do esporte como objeto de estudo, realizando trabalhos importantes no sentido de entender o esporte moderno. Marchi Jr. fala sobre a importância do esporte como objeto de estudo: “Podemos citar a história do esporte, antropologia do esporte, a sociologia do esporte, a economia do esporte, em suma, uma rede de estudos na qual – renomados autores e autoridades de diversas áreas do conhecimento acadêmico estão direcionando seu escopo teórico para estudar o fenômeno de maior impacto sociocultural do final do século XX e início do XXI”.
A institucionalização de regras no esporte é uma das manifestações do impulso civilizador na sociedade. Como o desporto encontra-se inserido na sociedade, este incorpora os códigos determinados pela mesma para o controle da violência, introduzindo preceitos e costumes que são aceitas no espaço social especifico, sob a forma de normas ou regras. Atualmente o esporte moderno está sujeito a transformações e o surgimento de novas modalidades faz parte desse processo, assim como, paralelamente, existe o aumento do interesse por parte das pessoas por estas novidades esportivas, seja para praticar, assistir, acompanhar e consumir. Entretanto essas modalidades emergentes, por ainda estarem se organizando, requerem um processo de institucionalização de suas regras na forma de impulso civilizador, para se tornarem mais aceitos pela dinâmica da sociedade.
Atleta Rodrigo Minotauro.
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Os coordenadores do curso de Direito do UniBrasil, Marco Antonio Berberi e Alessandra Back, acompanhados do árbitro Mário Yamasaki, as coordenadoras do curso de Educação Física do UniBrasil, Tais Pastre e Camile Luciane da Silva e o professor Alberto Goldstein.
O processo de desportivização pode servir como parâmetro para entender a necessidade pela qual o MMA busca através da normatização e do surgimento de regras mais civilizadas, uma maior aceitação por parte da sociedade. Dessa forma, o MMA foi sendo regularizado até ser totalmente padronizado para ser televisionado, em um primeiro momento, e atualmente é uma das modalidades que mais vende assinaturas em canais de televisão fechadas e internet, a ponto de reunir grupos e famílias, quando ocorre em diversos países. Nesse ano, no dia 14 de maio, recebemos em Curitiba o evento de UFC 198 – Ultimate Fighting Championship, na Arena da Baixada do Clube Atlético Paranaense; foi o primeiro evento desse porte que a cidade recebeu, e pesquisas apontaram que 95% dos hotéis da cidade foram ocupados, ganhando inclusive do evento da Copa do Mundo de Futebol de 2014. O evento de MMA reuniu grandes nomes dessa modalidade no octógono, dentre eles: Fabricio Werdum, 104
Stipe Miocic, Ronaldo Jacaré, Vitor Belfort, Anderson Silva, Cris Cyborg, Maurício Shogun, Rogério Minotauro, Demian Maia, entre outros. No MMA existem organizações que atuam como promotoras de eventos com seus lutadores. Atualmente temos o UFC (Ultimate Fighting Championship), Elite XC, K-1, Dream, que estão entre os mais importantes do mundo da modalidade, além de organizações de menor expressão. Dentre esses, é reconhecido que o UFC é o maior evento realizado no mundo, até porque, como observa Eduardo Lapagesse: “com o estabelecimento do UFC como monopólio do MMA, ao ponto do esporte ser reconhecido por alguns como “ultimate fighting”, o evento está a passos largos de ser um daqueles casos em que o produto dá nome à categoria”. Esse processo pelo qual passou para se tornar referência dentro do mundo do MMA
fez o UFC sofrer algumas transformações que se confundem em parte com a história e a evolução da modalidade durante a década de 90 até os dias de hoje. Essa organização foi uma das primeiras a começar a estabelecer uma uniformização das regras e das categorias divididas por peso. Segundo relato encontrado sobre a origem do evento no site Wikipédia: O UFC começou como o primeiro evento renomado de vale tudo em 1993 no mundo do MMA. Com o intuito de descobrir o melhor lutador do mundo, não importava o estilo de artes marciais que ele praticava. Por possuir praticamente nenhuma regra (por exemplo, no primeiro UFC não era permitido apenas morder ou colocar os dedos nos olhos do oponente), o UFC era conhecido como vale tudo ao pé da letra e as lutas eram ocasionalmente violentas e brutais. Os primeiros eventos eram menos esporte do que espetáculo, o que levou a acusações de brutalidade e briga de galo humana. Portanto, vemos a modalidade buscando se adequar a uma lógica contida em outros esportes, que procuram ser altamente organizados e institucionalizados em suas regras, com sua evolução constante para restringir os tipos de violência praticados durante o jogo ou combate. Em cima dessa afirmação, existiu a preocupação de que o MMA evoluísse em relação aos esportes que foram similares em outras épocas, e em relação aos primeiros eventos comercializados na década de 90. Pode se evidenciar, com isso, algumas características civilizadoras na direção da desportivização para que a modalidade tivesse, nos seus combates, o máximo de equilíbrio entre os oponentes com a divisão dos atletas por categoria e por ranking. O MMA sofreu com a questão dos combates sem regras, o que afastava o público dos eventos;
Elias aponta para o fato de que prende o interesse dos participantes e dos expectadores pela tensão e excitação pelo resultado, mas o seu excesso pode trazer a repugnância, fato observado nos primeiros eventos, e que causou algumas pressões políticas. Essas considerações foram feitas pelos integrantes da mesa, quando referiram-se a integridade dos atletas, os quais passam por diversos exames, visando comprovar sua integridade física e emocional, antes de participar dos eventos de MMA, buscando respaldar o evento e o atleta, de modo a garantir um acontecimento de qualidade, para os fãs do esporte e para os atletas, que muitas vezes disputam o cinturão e os prêmios em dinheiro. Analisar a desportivização do MMA traz algumas indagações sobre o tema: “Este é o desporto para uma nova geração” diz Dana White, 37, presidente da UFC. Essa declaração traz questionamentos, a aposta no sucesso da modalidade com a propaganda de um novo esporte, e que parece ser um atrativo para novos consumidores, e principalmente sobre se MMA é um desporto. Freitas Jr, utilizando a classificação de Allen Gutmann, coloca que “exigências presentes para que uma atividade física seja considerada um esporte, é existir um órgão burocrático que padronize suas regras”, realmente não existe um órgão mundial, mas as organizações existentes, e o exemplo utilizado do UFC, demonstram uma preocupação em normatizar suas regras. E ainda, será esse o único requisito para se considerar? O nível de exigência do treinamento dos competidores são similares aos de atletas de outras modalidades. Os eventos são organizados dentro da lógica da igualdade, do cumprimento de regras, controle de dopagem, e assim como o processo de compra e venda de imagens seguem a lógica de outras modalidades. Além disso, as 105
comissões atléticas que existem nos diversos estados americanos tem o poder de suspender os lutadores tanto das competições, como dos treinos, por um determinado tempo, após lutas em que os mesmo saem com contusões. Mesmo sem ser um órgão institucional do MMA, o UFC, como a mais importante das organizações, e as suas normatizações imitadas em alguns aspectos pelas demais, além das suas regras, a maneira como é gerida a organização, suas fontes de rendas pelo pay-per-view e o show pelo qual o evento é caracterizado, também são modelos para
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as outras organizações. Obviamente cabem mais análises no sentido de observar as relações de poder no sub campo das estruturas organizacionais da modalidade no que se refere ao UFC ser uma estrutura de base em relação às demais. A desportivização do MMA, mesmo não atingindo ainda sua forma madura, pode evidenciar que os esportes, independente da sua natureza, seja individual ou coletivo, com maior ou menor contato físico, entre outras classificações existentes, necessitam, para serem aceitos pelos indivíduos de uma
sociedade, de regras e normas definidas, que sigam o modelo da sociedade com leis morais superiores, na busca do respeito, igualdade e autocontrole pelos indivíduos. O evento, trazendo essa temática de regularização dos eventos, competições, exames e regras do MMA, visa tornar o espetáculo ainda mais belo aos olhos dos admiradores desse esporte, como disse o exatleta Minotauro, falando aos presentes. A ideia foi reforçada pelo árbitro internacional, Mário Yamasaki, ambos com ideias convergentes em relação ao esporte como forma de espetáculo,
mas zelando acima de tudo pela integridade dos atletas. Alunos e professores tiveram a honra de receber as maiores autoridades do MMA presentes em Curitiba, para discutir esse processo de desportivização da modalidade, tamanha a visibilidade do esporte e grandioso número de fãs e profissionais de diversas áreas envolvidos, buscando estreitar os laços entre cientificidade e comunidade.
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JOGUN Jogos UniBrasil O curso de Educação Física do UniBrasil Centro Universitário realizou no dia 22 de outubro os Jogos UniBrasil (Jogun). A competição faz parte do projeto interdisciplinar do curso de bacharelado, realizado pelos alunos do oitavo período, na disciplina de Organização de Eventos Esportivos e Marketing Esportivo. O evento contou com a participação de 30 equipes nas modalidades esportivas coletivas e mais de 50 alunos na corrida rústica de 5km, realizada dentro do campus do Centro Universitário.
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O evento aconteceu sob supervisão das coordenadoras do curso, professoras Tais Pastre e Camile Silva, e pelas docentes Juliana Landolfi e Ana Letícia Padeski, responsáveis pelas disciplinas em questão. “Todos os envolvidos são vencedores: a equipe organizadora, as equipes que receberam medalhas e também as equipes participantes. Foi um mega evento institucional que caracterizou-se como uma verdadeira confraternização, tornando-o mais uma vez um momento de incentivo à prática esportiva para alunos, professores e funcionários”, destaca a professora Tais Pastre.
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O I R Á T I S R E V I UN O R T A
TE
Grutun! Grupo de Teatro UniBrasil Festival de Teatro de Curitiba 2016 Este foi o 7º ano consecutivo que o Grutun! Grupo de Teatro UniBrasil participou do Festival de Teatro de Curitiba, maior evento de teatro do país. Este ano o grupo foi convidado pela organização do Fringe, festival paralelo à Mostra Oficial do FTC, para fazer parte da sua Mostra de Teatro Universitário, em sua segunda edição. O grupo apresentou os espetáculos Lição de Botânica; Fogo Morto; Vai e Vem do Bem; Zeca, o Urubu Vegetariano; Depois
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e Revolução das Mulheres. Lição de Botânica, que foi apresentada no campus do UniBrasil Centro Universitário, em frente ao Auditório Cordeiro Clève, marcou o início das apresentações programadas para o Festival. Neste ano o Grutun! Grupo de Teatro UniBrasil foi citado pela crítica especializada, colocando dois de seus espetáculos, Fogo Morto e Revolução das Mulheres, dentre os melhores do Festival.
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Acolhida aos Calouros UniBrasil O UniBrasil Centro Universitário recebeu seus calouros em dois eventos, um em cada início de semestre. As atividades aconteceram no auditório Cordeiro Clève e foram organizadas pela Pró-Reitoria de Graduação (PROGRAD) e pela PróReitoria de Pós-Graduação, Pesquisa, Extensão e Assuntos Comunitários (PROPPEx), em conjunto com os centros acadêmicos e atléticas do UniBrasil. Além das boas-vindas dadas pela Reitoria da instituição, os novos alunos também contaram com apresentações artísticas e atividades programadas pelo curso de Educação Física. Os calouros participaram de uma dinâmica com zumba, assistiram a um trecho da peça “Fogo Morto”, representada pelo Grutun! Grupo de Teatro UniBrasil e a uma apresentação de dança artística do Clube Santa Mônica, aos cuidados da técnica do grupo e professora do curso de Educação Física do UniBrasil, Bárbara Tagata. Para terminar a recepção, os calouros contaram também com uma apresentação da Bateria das Atléticas: a Máfia, composta pelos alunos de Comunicação Social, e a Máfia Etílica, dos alunos do curso de Direito do UniBrasil (A.A.A.D.). Pró-reitor de Pós-graduação, Pesquisa, Extensão e Assuntos Comunitários, professor Valter Fernandes da Cunha Filho.
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Festival de Ópera do Paraná O Grutun! Grupo de Teatro UniBrasil participou do II Festival de Ópera do Paraná que aconteceu de 12 e 27 de novembro, no espaço do Teatro Guaíra. A ação, promovida pelo Centro Cultural Teatro Guaíra, Secretaria da Cultura e a Guairacá Cultural trouxe a apresentação de La Traviata, La Serva Padrona, Der Freischutz e Papilo Inocência. O II Festival de Ópera do Paraná é uma iniciativa do produtor curitibano Gehad Hajar para revelar e promover cantores, músicos, produtores e
Foto: Juliana Dalbosco
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obras feitas no Paraná, e tem apoio e realização do Centro Cultural Teatro Guaíra. “Das quatro óperas que foram apresentadas, uma é paranaense, Papilo Inocência. Desde o início do século 20, o estado é considerado celeiro de produções operísticas”, disse Hajar. As apresentações tiveram também as participações de solistas do Teatro São Pedro de São Paulo, sob regência do Maestro Jaime Reis.
Foto: Juliana Dalbosco
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