Catálogo Terra Vinga - Prêmio Décio Noviello 2024

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Período Expositivo: 15/03 - 25/05

CâmeraSete - Casa da Fotografia de Minas Gerais

Av. Afonso Pena, 737 – Centro, Belo Horizonte – MG, 30130-002

Galeria 02

A terra exala vapor de tumultos.

Conta-se que, quando o escravizador Fernão Dias morreu, ele acreditava ter encontrado suas tão buscadas esmeraldas. Contudo, o que ele tinha em mãos eram, na realidade, turmalinas. As promessas de progresso coloniais alimentaram histórias idílicas de cidades lendárias, como El Dorado; e de geografias mitológicas, como Sabarabuçu e Sumaq Urqu. Lugares onde, devido à abundância de ouro, seus habitantes até possuiriam corpos dourados, ou onde uma serra inteira seria composta de um só metal ou pedra preciosos, disponíveis fartamente para o uso daquele que os “descobrissem”.

Tais dimensões fantásticas e sensíveis acompanham e impulsionam a mineração desde a exploração colonial espanhola e portuguesa até o extrativismo industrial capitalista vigente em Abya Yala. A sedução, o sonho, a fé, a febre, a promessa. No entanto, de mãos dadas com o progresso está a tempestade; a terra se vinga, a montanha come gente e o metal libera fumaça. Em Terra Vinga, o artista Marlon de Paula evoca uma terra sujeito, mas não só. Reconhecida em seu lugar de não-recurso, Terra não só possui direitos como também revida a violência de seus algozes.

O modelo minerador foi e é, por si mesmo, devastador. Tal premissa permeia as obras desta exposição – desenlaces da extensa e dedicada pesquisa de Marlon de Paula acerca dos processos e efeitos da superexploração da natureza e do trabalho, em territórios e comunidades afetadas pela mineração colonial e neocolonial. O conjunto de fotomontagens, fotoinstalações, vídeoperformance e videoarte também destaca a prática de experimentação do artista no campo da fotografia e do vídeo. Valendo-se de fotografias e filmes autorais e de arquivo, além de reproduções de pinturas, ilustrações e mapas, Marlon desfia, sobrepõe, edita, mixa, corta e expande.

Terra Vinga joga com os significados da palavra “vingar”. Vingar é buscar justiça, bem como, firmar e criar raízes. Na contemporaneidade marcada por mais de cinco séculos de exploração capitalista e colonial, os dois sentidos confluem: para que Terra vingue – floresça – é preciso revidar, reparar, enterrar os ossos e “mandar os malditos embora”.

Joyce Delfim texto crítico

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Silenciosamente, o pó infiltra-se nos pulmões, petrificando o interior dos corpos como uma tragédia de Pompéia às avessas. Diferente da fúria de Vesúvio, em Santa Cruz de Minas, o fenômeno geológico torna-se humano. A população da cidade mineira enfrenta graves problemas de silicose devido à operação de mineração na região, desde os anos 1980. Trabalhadores das minas de extração de quartzo sofrem exposição contínua ao mineral, levando a casos fatais da doença por inalação. O pó, resultante do processamento do minério, também invade as casas e cobre a vegetação, fato que lhe conferiu o nome de “talco da morte” por parte dos moradores afetados. Embora os casos sejam subnotificados, a silicose já matou dezesseis pessoas na cidade, ao longo da década passada, segundo a Fundacentro. O quartzo moído processado ali, ironicamente, é usado na fabricação de vidros especiais para a indústria da saúde e nas estruturas dos trens da Vale e MRS a fim de diminuir faíscas em seus trilhos.

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Após os invasores dizimarem as populações indígenas originárias do Sertão de Cataguases e explorarem os minerais que brotavam do curso d’água denominado na língua colonial de Rio das Mortes, as terras dali foram amaldiçoadas. A fome do ouro erigiu uma política de morticínio pelo domínio do território. Em uma emboscada portuguesa, 300 paulistas foram chacinados e, seus corpos, atirados ao rio – sangue e barro correram misturados às águas. Posteriormente, outras traições e chacinas viriam ocorrer próximas ao leito do mesmo rio, como a traição que marcaria um capítulo da historiografia brasileira, a delação da Inconfidência Mineira. No quadro “O Último Tamoio” do pintor Rodolfo Amoedo, vemos o corpo de um homem indígena, Aymberê, personagem traído pelos jesuítas e morto em combate. A partir de uma inversão colonial, quem trai (o jesuíta, também representado na pintura) figura na história pictórica nacional em uma cena de gesto misericordioso. Esta é a impiedosa ficção-Brasil.

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Link video: https://www.youtube.com/watch?v=DmoqcSExSKU

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Link video: https://www.youtube.com/watch?v=3IbZx1GKD6k

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O Serviço Geológico do Brasil registrou em 21 de maio de 2019, às 18h, um abalo sísmico de 2,9 na escala Richter no interior de Minas Gerais. Seria devido a uma falha geológica ao centro da Placa tectônica Sul-Americana?

O trem trouxe promessas de progresso ao sertão mineiro e introduziu o uso de explosivos na região. Em 1881, com a construção da estrada de ferro que ligava o Rio de Janeiro a Minas Gerais, cortando a quase intransponível Serra da Mantiqueira, a terra tremeu sob o poder dos explosivos que abriram caminho através dos corpos rochosos. Passado mais de um século, em São João del-Rei, peritos detectaram que o tremor de magnitude 2,9 foi causado pela ação humana. A mineradora Omega, que explora quartzo na região, havia realizado a detonação de explosivos sem consulta ou aviso prévio da população. Três cidades vizinhas também sentiram a terra tremer.

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Em uma noite de 1707, na vila de São Paulo de Piratininga, um morador despertou de um sonho intranquilo. O sonhador alertou o vaticínio: “não fosse às minas, mas no caso em que se resolvesse a ir, que não estivesse lá no tempo das águas”. A profecia foi ignorada e, ao longo do século, sertanistas movidos pelo rumor da existência da lendária serra do Sabarabuçu – uma montanha reluzente de prata e pedras preciosas, o equivalente a uma Potosí na américa portuguesa – vasculharam as minas. A serra nunca foi encontrada, mas outros colonos haveriam de levar a tragédia aos sertões das Minas, nos anos seguintes e uma vez mais, e uma vez mais...

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Natural da região do Vale do Rio Doce (MG), criado entre o universo campesino e urbano, tem sua produção permeada pela dimensão ambiental, social e mitológica dos territórios que habita. Atualmente, é mestrando em Artes Visuais pela (EBA/UFMG). Já participou de diversas exposições, tanto nacionais quanto internacionais, destacando-se “Proximity and Distance” no Goethe Institut em Nova Delhi/Índia (2022), “Artista de Artista” na Galeria Luisa Strina(2023), “Sonoridades de Bispo do Rosário” no Museu Oscar Niemeyer (2024), e “Abre Alas” na Galeria A Gentil Carioca (2024).Foi contemplado com o XVI Prêmio Funarte Marc Ferrez(2021) e 4º Prêmio Décio Noviello de Fotografia(2023). Foi selecionado pelo 9º Prêmio Nacional de Fotografia Pierre Verger (2023). Participou do programa de Residência do Museu Bispo do Rosário/RJ (2019) e da residência de criação no Labanque - Centre de Production et de Diffusion en Art Contemporain, em Béthune/França (2022). Em 2022, lançou seu primeiro fotolivro, intitulado “Dilúvios”, resultado de um trabalho realizado na colônia psiquiátrica Juliano Moreira, em parceria com a editora Ars et Vita.

mardepaulaa@gmail.com

www.marlondepaula.46graus.com

Babel, 2023

Impressão fine art, varas de madeira e pedras de quartzo leitoso, 60x88cm

Aquilo Que Desce do Céu, 2018

Impressão fine art, 70x50 cm

Pulmão de Pedra, 2022. negatoscópio e radiografia, 45x50 cm.

Sem título, 2018, Impressão fine art, 40x 35 cm

Rio das Mortes, 2023, Lambe, sarrafos e compensado de madeira, 480x240cm

Coletor, 2022

Impressão fine art, 30x20 cm

Sem título, 2022, Impressão fine art, 25x16

O último tamoio, 2023

Impressão fine art, 30x20 cm

Auri sacra fames - O enterro do boi, 2024

Vídeo arte, duração 5’48 min, 1440k.

Série Sabarabuçu e Sumaq Urqu, 2023

Impressões fine art, 25x16/25x16/22x30 cm

Visões do Paraíso,2024.

Impressão fine art, assemblage com pedras de turmalina, 45x45 cm

Guerra Brasílica, 2022,

Impressão fine art, 55x36 cm.

Terremoto, 2022.

Impressão fine art, 80x53,3 cm

Cavalo de Ferro, 2024. Vídeoarte, Duração 5min. Stereo.

Profecia, 2022

Impressão fine art, 60x50 cm

Sem título, 2022

Impressão fine art, 32x45cm

O vendaval da terra, 2024

Sublimação sobre tecido, 120x153 cm

Expografia

Marcelo Venzon

Agradecimentos

Wellington Figueiredo, Vinícius Santos, Ana Pi Videira, Marcelo Venzon, Deri Andrade, Isis Bey, Eduardo Hargreaves, Alex Oliveira, Padmateo, Thiago Li, Priscila Natany.

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GOVERNO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

GOVERNADOR

Romeu Zema Neto

VICE-GOVERNADOR

Professor Mateus Simões

SECRETARIO DE ESTADO DE CULTURA E TURISMO

Leônidas Oliveira

SECRETARIA DE ESTADO ADJUNTA DE CULTURA E TURISMO

Josiane de Souza

FUNDAÇÃO CLÓVIS SALGADO

PRESIDENTE

Sérgio Rodrigo Reis

CHEFE DE GABINETE / DIRETORA DE RELAÇÕES INSTITUCIONAIS

Kátia Carneiro

DIRETORA ARTÍSTICA

Cláudia Malta

DIRETOR CULTURAL

Bruno Hilário

DIRETORA DO CENTRO DE FORMAÇÃO ARTISTICA E TECNOLOGICA - CEFART

Priscila Fiorini

DIRETORA DE PLANEJAMENTO, GESTÃO E FINANÇAS

Aline Rabelo

ASSESSOR-CHEFE DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

Walter Navarro

CONTROLADOR SECCIONAL

Euler Vignoli Lobo

PROCURADOR-CHEFE

Daniel Bueno Cateb

ASSESSORAS DA PRESIDÊNCIA

Romina Farcae e Natalie Oliffson

GERENTE DE ARTES VISUAIS

Uiara Azevedo

COORDENADORA DE ARTES VISUAIS

Renata Fonseca

PRODUTORES

Bárbara Grillo e Tairine Pena

MONTADOR

Edivaldo Gomes da Cruz

ESTAGIARIOS

Ci Andrade e Flora Pinheiro

ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

ASSESSORA-CHEFE ADJUNTA

Micheline Zandomênico

ASSESSOR DE COMUNICAÇÃO

Vitor Cruz

ASSESSORIA DE IMPRENSA

Lucas Oliveira, Júlio Soares, Regyane Bittencourt (estagiária),

Maria Eliana Goulart e Paulo Lacerda

DESIGN GRÁFICO

Clério Ramos (coordenador), Alec Mizote, Ângela Peres, Guilherme Santos (estagiário) e Luciana Almeida (estagiária)

MÍDIAS DIGITAIS

Bárbara Rodrigues e Natália Vianini

MEDIAÇÃO

lury Rodrigues Roque (coordenador) e Alexandre Fiúza

EDIÇÃO DE VIDEO

Hanna Mussi

ASSESSORA DE COMUNICAÇÃO DO CIRCUITO LIBERDADE

Izabela Moreira

DIRETORIA DE RELAÇÕES INSTITUCIONAIS

ASSESSOR E SUPERVISOR DO CONTRATO DE GESTÃO

Jefferson Monção de Souza

GERENTE DE PROJETOS

Catharine Borges

ASSESSORES DE PROJETOS

Graziele Viana, Sophia Borges e Ubirajara Varela

ASSOCIAÇÃO PRÓ-CULTURA E PROMOÇÃO DAS ARTES - APPA

PRESIDENTE

Felipe Vieira Xavier

VICE-PRESIDENTE / DIRETOR JURÍDICO

Agostinho Resende Neves

DIRETOR FINANCEIRO

Guilherme Domingos

SUPERINTENDENTE FINANCEIRA

Pâmela Perdigão

SUPERINTENDENTE DE PROJETOS

Siomara Faria

COORDENADORA DE PROJETOS

Laryssa Martins

GERENTE DE PROJETOS

Milena Lago

PRODUTORAS CULTURAIS

Lola Peroni e Luciana Luanda

APOIO ADMINISTRATIVO

Lucas Ferreira

COMPRAS E CONTRATAÇÕES

Marcela Rodrigues

COORDENADORA DE COMUNICAÇÃO

Raquel Dornelas

EDUCATIVO

COORDENAÇÃO

Marci Silva

ARTE-EDUCADORA

Luciana Campos Horta

MEDIADORES

Alexia Nascimento, Ana Paula Clemente, Bê de Sá, Beatriz

Cordeiro, Diogo Vieira, Elisângela Ribeiro, Erika Santos, Giovana Vaz, Igor Rodrigues, Igor Salgado, Isabella Proença, Juliana Gonçalves, Julio Almeida, Lilian Parreiras, Maria Clara Toire, Mania Tavaris ora e na Porigue e Vadir Santos.

4° PRÊMIO DÉCIO NOVIELLO DE FOTOGRAFIA

BANCA DE SELEÇÃO

Laura Belém

Shima

Viara Azevedo

IDENTIDADE VISUAL

Filipe Lampejo

Tobia Hallak

Vinicius de Souza

LAUDOS TÉCNICOS

Hudson Diniz

CENOGRAFIA

Fala Cenários

MONTAGEM

Gestalt Cultural

PLOTAGEM

Flag Digital

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