Mário, Presente!

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Texto e fotos: Marlon Diego



Mário Duas coronhadas e três tiros: soma covarde que tirou a vida de Mário Andrade de Lima no bairro do Ibura, na noite de 25 julho de 2016. Seu executor atende pelo nome de Luiz Fernandes Borges, policial reformado morador da mesma região. Na noite do crime, Mário voltava para casa de bicicleta acompanhado de um amigo, quando esbarrou na moto daquele que ali, numa avenida movimentada, decidiria sobre sua vida. Para jovens como ele o motivo da morte é quase sempre o mesmo: ser negro e de periferia. Alvo fácil, vida com prazo. De acordo com o Atlas da Violência 2017, lançado em junho do mesmo ano pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, ser um jovem negro, entre 15 e 29 anos de idade, em Pernambuco, aumenta em 3,8 vezes suas chances de morrer se comparadas às de um jovem branco da mesma idade. Aos 14 anos, com duas irmãs menores e a mãe, Mário se dividia entre estudar, trabalhar por meio expediente, andar de bicicleta, jogar bola com os amigos e escrever letras de RAP’s. Nelas, prometia à mãe, Joelma, que um dia iria ajudar mudar a vida da família, que seria famoso e aclamado pela mídia, com direito a fãs. Tornou-se, de fato, conhecido pela imprensa, mas não da forma como pretendia. Virou notícia, matéria especial, estampou folhas impressas e páginas da internet de jornais locais. Teve seu nome escrito diversas vezes em laudos periciais e documentos policiais. Nada de glamour. Estátistica já conhecida. Marinho tombou entre a “Dois rios”. O colega que o acompanhava na viagem de volta pra casa também foi baleado, mas de raspão. Conseguiu evitar a sua morte correndo até um manguezal que fica ao lado da avenida onde tudo


aconteceu. Fingiu-se de morto. Escapou por pouco. Para Joelma, a ausência do filho e a lentidão no julgamento do assassino trouxeram várias mudanças para a sua rotina. Mudou-se de casa, parou de trabalhar e segurou o próprio choro para conseguir consolar as filhas mais novas. Ágata, na época com quatro anos e Pamela, com apenas seis, sentiram as mudanças repentinas. À justiça, cobrou a condenação do algoz de seu filho, e continuou juntando forças para seguir em frente e não deixar que a história de Mário fosse só mais uma entre outras tantas semelhantes. Em abril de 2018, Luiz Fernandes Borges foi exonerado da Polícia Militar de Pernambuco e até o fechamento deste livro o seu julgamento segue sem data definida. Para Mário, os amigos: Kamilla, a mais próxima; Guilherme, o colega dos jogos no campo de rua; Bruno, o melhor amigo da escola; Adriano, ex-professor de taekwondo, travam as palavras ao narrar lembranças com o amigo. Na família: as irmãs ainda muito novas, o avô inconsolado por não receber mais visitas do neto e a mãe ainda firme, aguentando o quanto pode para conseguir levar em frente todos os processos. A rotina: O parque Dona Lindu, local de encontro de outros garotos também apaixonados por bicicletas; Na escola entre tarefas, professores, o projeto onde iniciou os treinos de taekwondo. E o que permaneceu após sua morte: as manifestações artísticas de rua em seu nome, as homenagens. Os gritos de protesto. Este livro traz uma narrativa em imagens da “presença” da ausência de Mário em espaços, momentos e histórias que habitava, com intuito de captar a sua relação com os mais diversos lugares, objetos e pessoas com quem conviveu até o momento de sua morte precoce. A partir da próxima página, Mário está presente!







Kamilla Fonseca, melhor amiga de Mário, e sua mãe Angélica Fonseca





Adriano Oliveira, ex-professor de Taekwondo de Mรกrio e amigo





Guilherme Matheus, amigo de Mรกrio e companheiro nos jogos de futebol





Bruno Pereira, melhor amigo de Mรกrio e dupla indispensรกvel nos passeios de bicicleta




















As irmãs de Mário, Pamella e Ágata, e sua mãe Joelma



"Foi aqui que vi pela última vez o meu filho"



Jorge José de Lima, avô de Mário



"Lembro todo dia das visitas dele"





"Me esforço todo dia pelas meninas, pra que elas não sintam a mesma dor que eu"























II Ação cultural 'Mário, Presente!'. 08 de outubro de 2017




A emoção de Joelma na homenagem póstuma a Mário, realizada pela turma de formandos do segundo semestre de 2017 da Faculdade de Direito do Recife, mais tarde batizada de Turma Mário Andrade. A primeira em anos de história do curso que não recebeu nome de político ou jurista renomado.









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