Aspas #3

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DE GOA PARA O MUNDO! | MÚSICA DE BOLSO | O BÊ-A-BÁ DO SURFE | NO VAI E VEM DO INTERIOR | DESTINO: SURFE! | COMER BEM PRA VIVER MELHOR

.003.2Mil7


VERBO

Duda Buarque Colaboração

Mateus Alves Digramação e fotografia

um som tribal e uma iluminação psicodélica. O que se busca numa rave? Para muitos, é uma forma de se libertar da experiência mundana do dia-a-dia e viver momentos de alegria e êxtase. E isso não tem a ver, necessa-

riamente, com o uso de drogas. Neste número, entre outras matérias, o Aspas traz um pouco da experiência rave, criada em torno dos conceitos de paz, amor, unidade e respeito. Embarque nesta viagem e boa leitura!

Victor China Colaborador

DIREÇÃO Profa. Ivânia Maria de Barros Melo Dias DIRETORA DE PLANEJAMENTO Izabella Barros Melo Coordenação de Publicidade: Sandra Lima Coordenação de Jornalismo: Suely Figueiredo Edição e Revisão: Mônica Fontana Supervisão de Arte: Daniel da Hora Fotografia: Mateus Alves e Ricardo Bicudo Reportagem: Danilo Galvão e Ricardo Medeiros Colaboração: Débora Andrade, Eduarda Haeckel e Lucas Liausu Capa: Inata Agência Experimental de Publicidade Tiragem: 2.000 exemplares

Gabriela Cruz Contato Comercial

é uma produção dos Cursos de Comunicação Social das Faculdades Integradas Barros Melo. Av. Transamazônica, 405, Jardim Brasil II, Olinda, PE. CEP 53300-240 Fones: (81) 3426-9797 / 3426-3955 Www.barrosmelo.edu.br Paulo Fazio Reportagem

Felipe Autran Colaboração

Amanda Meira Reportagem

Comer bem pra viver melhor O mundo redescobre uma desculpa pra reunir os amigos

ATITUDE

EXPEDIENTE

A música hipnótica conduz a festa. O dj, como um xamã, no comando das pick-ups, ajuda a acelerar a experiência multisensorial que é uma rave. Jovens dançam por horas uma dança primitiva estimulada por

por Ricardo Medeiros

“Qualidade antes de quantidade, sempre! Nossos jantares são capazes de começar às 20h e terminar às 4h da manhã”. Séphora Silva é uma arquiteta que vive na correria de um ser humano do século XXI, mas tem coragem de reservar algumas noites para cozinhar com os amigos. No mundo inteiro, uma turma tem se dedicado a conquistar melhor qualidade de vida e acreditem! - a grande maioria começou pelo velho e bom fogão. “A gente não começou cozinhando. Íamos a restaurantes, cada um pedia seu prato, degustava e passava o prato pro outro, então resolvemos chamar de Confraria de Jó. Logo depois passamos pra cozinha mesmo. A história da gente é colocar a mão na massa, não adianta vir só pra comer, todos têm que fazer alguma coisa”, revela S é p h o r a . D o i s pernambucanos, dois baianos, uma paulista e um chileno funcionam bem dentro de uma cozinha. Esses seis “cozinheiros” têm se dedicado a uma prática que vem sendo esquecida no dia-a-dia do mundo: a arte de cozinhar. Séphora faz questão de planejar um ambiente que condiz com a comida, “a minha formação - e trabalho - acaba influenciando na apresentação do prato. Um dos caras é editor de cinema, e sempre faz alusões engraçadas (risos) com os pratos”. Jantares temáticos? Te m t a m b é m . A Confraria fez apenas um, mas p l a n e j a muitos... A

culinária mexicana foi a primeira mas, sem dúvida, não a última. “Cada um fez uma coisa, tortilhas, tacos, mas quem cozinhou mais nessa fui eu, porque já gosto da cultura Mexicana”. A próxima bola da vez é a longínqua Índia, com seus temperos e sabores exóticos. O jantar promete, além de muita comida e bebidas, música e ambientação com toque oriental, porque Séphora não vai deixar por baixo... Doce arte - Thiago Cunha, na flor dos seus 20 anos, faz parte de um grupo chamado Arte Dentro de Um Prato. “A gente passa um mês programando e pesquisando receitas, normalmente de comidas doces, pra preparar. E ninguém tinha nenhuma intimidade com esse bicho”, diz apontando para um fogão bem modesto na cozinha de sua casa. Thiago é estudante de Direito e se junta com cinco amigos que não têm absolutamente nada a ver um com o outro - a não ser a curiosidade pela cozinha. “Tem até um punk, que só quer fazer comida que combina com cerveja”. Giulianno é o punk, estudante de Matemática na Paraíba, e costuma usar uma camiseta escrita “Preguiça é um dom...”. “Eu nunca dominei a cozinha. Mesmo morando, ainda, com meus pais, comia qualquer coisa congelada a semana inteira. Mas essa história de cozinhar foi ficando mais interessante”. Os garotos da ADUP têm, no geral, a mesma idade, “o grupo só se tornou grupo mesmo, depois de um ano. A gente se juntava mesmo era pra beber, e acabava matando a fome com amendoim”. Slow Food - Apreciar a comida bem feita e sem pressa não é apenas um privilégio. Para muitos, passou a ser também uma filosofia de vida. Fundado pelo italiano Carlo Petrini, em 1986, o movimento Slow Food apresenta-se como uma associação internacional que propõe

uma nova concepção da gastronomia. Numa brincadeira, muito séria, com o termo Fast Food, os adeptos - hoje na casa dos 100 mil, ao redor do mundo têm opinião bastante formada sobre a desaceleração da vida e fazem questão de não ter pressa pra nada. Defendem a cultura do comer e do beber bem, mas vão além... O movimento também protesta contra a uniformização induzida pela globalização e defende um meioambiente e uma ecologia preservados. Em 1990 o Primeiro Congresso Internacional de Slow Food, em Veneza, deu início a uma jornada que mudaria o modo de vida de muita gente, abrindo portas, em todo o mundo, para movimentos que valorizam a alimentação prazerosa e em equilíbrio com a natureza como atitude política. Não se trata apenas de comer bem, mas de viver melhor... E sem pressa. indica: Para ler - Revista Vida Simples - Edição Especial “Comer” Para acessar - www.slowfood.com Para assistir - A Festa de Babette, de Gabriel Axel (Dinamarca, 1987)


RETRAT

No vai e vem do interior por Danilo Galvão

Bezerros, a 107 Km da capital pernambucana, abriga um atelier simples, mas de grande riqueza artística. Lá mora um dos ícones da xilogravura e do cordel. José Francisco Borges, ou apenas J. Borges, como prefere ser chamado, nasceu em 1935, na zona rural do município, e se alfabetizou através dos cordéis que lia nas feiras. Começou a criar seus próprios textos ao lado do mestre Dila, de Caruaru, em 1964. Reconhecido por Ariano Suassuna como o maior gravador popular do nordeste, já viajou a diversas partes do mundo para divulgar o seu trabalho.

De onde vem a inspiração para os cordéis? É fácil, a inspiração vem da própria região, dos costumes, das lendas, dos acontecimentos, e também algumas imaginadas, a gente sai bolando histórias tipo episódios. E atualmente estou escrevendo com um pouco de gracejo, de humor, porque o povo gosta mais de rir. Então, a mesma coisa se aplica às figuras? As figuras também são captadas dentro da região. Eu viajo muito, mas não dou importância a nenhuma paisagem do exterior, porque eu tenho que escrever e gravar minha região, tudo o que acontece aqui, que toca no sentimento do povo. Aí eu continuo fazendo o meu trabalho ligado aos costumes, ao folclore, à natureza nordestina. Tudo isso eu aproveito. Suas gravuras já passaram por diversos países. Como é a recepção das suas obras lá fora? Sempre de primeira. Todos gostam, apesar de ser um trabalho louco, mas o artista pobre nordestino tem que ser um pouco louco pra criar muita coisa. E o senhor foi convidado a dar aula na Universidade do Novo México? Dei aula em 1994 na Faculdade de Arte do Novo México. E pra mim foi a coisa que achei mais engraçado, porque quando estava lá eu parei e fiquei pensando até onde cheguei sem ter estudado nada, criado num sítio muito atrasado, filho único da roça, matuto, sem experiência de nada, e chegar a lecionar arte numa das maiores faculdades dos Estados Unidos. O Novo México é no oeste,

mas a universidade de lá, que fica em Albuquerque, é um mundo! Fui convidado e dei aula por 3 semanas. Meus trabalhos eu vendi aos próprios alunos. Como é saber que pessoas como Fernando Henrique Cardoso e Ariano Suassuna apreciam suas obras? Ariano eu considero meu padrinho de arte. Quando ele viu minhas obras através de um pessoal, disse: 'faz até vergonha a gente morar aqui em

“Credibilidade é uma coisa que você conquista aos poucos.” Recife e não conhecer um valor desse tão pertinho'. E daí ele começou a ser um entusiasta do meu trabalho. Conversamos sempre. Gosto muito dele, é meu amigo. Já com Fernando Henrique, eu não sei como foram parar cordéis e gravuras minhas nas mãos dele. Mas o antigo prefeito daqui, Lucas Cardoso, foi a um encontro de prefeitos em Brasília, e tinha um momento em que todos se apresentavam. O Lucas se apresentou, disse que era de uma cidade pequena do interior de Pernambuco. Quando o FHC começou a fazer o discurso, disse: 'Lucas, temos algumas coisas em comum, uma é o nome Cardoso, e você diz ser de uma cidade pequena e desconhecida, mas eu tenho um pedaço de Bezerros na minha casa. Eu tenho gravuras de J. Borges, e ele é de onde?!' O prefeito ficou

estarrecido. Aí eu falei: 'é pra você ver até onde meu veneno vai!'. Ao relatar tantas histórias a respeito da vida no interior na metade do século passado, o que você vê de diferente, hoje em dia, no comportamento do sertanejo? Antigamente o sertanejo era muito recalcado, lá numa casinha tosca, ia pra cidade montado num jumento, aquele atraso. Hoje em dia o sertanejo, por mais pobre que seja, anda na cidade, assiste televisão, tem comunicação. Antigamente, a comunicação mesmo, do sertanejo, era o cordel, porque o pessoal da zona rural, eles não tinham acesso ao jornal, nem ao rádio. Hoje é muito diferente, a maioria dos sertanejos já conhece as capitais. Diferença muito grande daquele atraso pra hoje. Hoje tem a comunicação, tem a escola, que antigamente era muito difícil, agora em todo sítio e fazenda tem uma escolinha onde se aprende pelo menos o básico até a quarta série, já dá pra ler e escrever. Quem foi mestre Dila de Caruaru e como foi compartilhar com ele experiências para iniciar os trabalhos com xilogravura? No início, quando visitei Dila, ele me publicou um folheto, que ele fez numa maquinazinha, e foi ele quem ilustrou o meu primeiro folheto. Do segundo em diante já comecei a fazer meio troncho; mas comecei com ele. Ele é ainda um gravador popular. Ele escreve e faz gravuras muito bem, foi considerado patrimônio vivo, como eu. Quando fiz minha primeira gravura e ele viu, gostou muito e incentivou a continuar. É um cara que nunca teve egoísmo, e ainda hoje ele vem aqui e diz: 'não sei como se cresce tanto!'


BIT

Música de bolso

Sucesso do player causou espanto até nos fabricantes por Danilo Galvão

Com o avanço da tecnologia digital e, particularmente, dos produtos desenvolvidos pela Apple, o iPod ganhou espaço em meio a tantos mp3 players que já vinham aparecendo no mercado. Assim como a jukebox nos anos 50 e o walkman nos anos 80, o player se tornou um dos mais cobiçados objetos de desejo do mundo digital nos anos 2000. E isso com apenas 5 anos de vida. O visual pequeno, mas charmoso, da primeira geração, lançada em outubro de 2001, trazia apenas 5GB de capacidade. Atualmente na quinta geração, a nova família de iPods vai do shuffle, com seus 4 centímetros e capacidade para 12 horas de música, ao iPod vídeo, com 80GB de espaço para os usuários armazenarem vídeo, fotos, audiobooks e uma boa coletânea musical de bolso. Mas como este aparelho ficou tão famoso em tão pouco tempo? E que tipo de impacto vem causando? Desde sua criação até hoje, a Apple já vendeu cerca de 30 milhões de iPods, e a cada três meses as vendas duplicam em relação aos três meses anteriores, de acordo com o site playlist.com. Pesquisas recentes nos Estados Unidos mostram que o player ganha em popularidade até para a cerveja, principalmente entre o público jovem universitário. Nem mesmo os fabricantes acreditavam que iria fazer tanto sucesso. “Não tínhamos idéia que essa 'coisa' ficaria tão enorme”, disse o V i c e presidente Sênior da Apple,

Phil Schiller, ao USA Today. Pequenino e fácil de usar, o iPod garantiu sua permanência no mercado por suas vantagens. Além de ser portátil, o que facilita o transporte de forma discreta e sem incômodo, tem grande capacidade de memória e sua facilidade de uso o torna ainda mais popular. Seu visual simples e elegante chama a atenção dos jovens ligados nas novidades digitais de entretenimento e interação. Agora, com as constantes inovações da Apple, o público pode mudar o visual do seu player, escutar rádio, reproduzir vídeos e comprar carros que já vêm com seu próprio iPod de 1GB. A Apple apostou em quatro modelos, cada um com visual e configurações específicas. Como tudo que é lançado não agrada a todos, muitos usuários apontam algumas desvantagens. Um dos principais problemas é o risco de

“Player da Apple ganha em popularidade até para a cerveja.” dano quando o aparelho é usado em movimento. Outro, claro, é o preço. Há quem também reclame do visor, considerado muito pequeno para vídeos. Depois de 4 anos de domínio da Apple, a gigante Microsoft resolveu finalmente brigar pelo mercado de players, lançando o Zune. Entre outros atrativos, o player de Bill Gates tem 30 GB de memória, tela de LCD com 3 polegadas e conexão wireless, que permite aos proprietários trocar arquivos temporariamente.

O portal Zune Marketplace, vai oferecer músicas e vídeos para quem estiver disposto a pagar pelos downloads. A Microsoft quer colocar o c o n c o r r e n t e d o i Po d n a s prateleiras antes do Natal. Mas analistas que avaliaram o produto já afirmaram que, do que jeito que está, ele não desbanca o player da Apple. Com ou sem concorrentes no mercado, o fato é que o iPod gerou um novo fenômeno, o podcasting uma fusão das palavras iPod e broadcasting (difusão por rádio e TV). A partir da criação do iPodder, um pequeno programa de computador conhecido como "agregador", tornou-se possível c o l e c i o n a r e e n v i a r automaticamente arquivos MP3 para qualquer equipamento de reprodução digital de música que toque f o r m a t o s W M P. Programas de rádio e blogs em áudio que podem ser baixados e ouvidos em aparelhos de MP3, os podcasts, viraram uma das novas manias da internet.

indica: Para acessar - www.apple.com/br/itunes - www.eupodo.com.br


JOGO DE CINTUR

O bê-a-bá do surfe

As praias vêm sendo invadidas por novos praticantes por Paulo Fazio

A s “ t á b u a s havaianas”, como eram chamadas as primeiras pranchas, começaram a chegar no Brasil trazidas por turistas. A primeira prancha fabricada no país foi feita por Osmar Gonçalves, que viu numa revista estrangeira - Popular Mechanics - como fazê-la. Com a ajuda de dois amigos, Osmar fabricou uma prancha que pesava 80 kg e media mais de 3 metros! Isso em 1930. Nos anos 50, um grupo de cariocas começou a descer as ondas, em Copacabana, com pranchas de madeira. O esporte começava a se popularizar. Desde então a prática do surfe vem crescendo e o preconceito associado a esse esporte, diminuindo. Como resultado, muitos pais, surfistas ou não, estão incentivando seus filhos a pegarem onda mais cedo. O que se pode ver é uma grande quantidade de novos p r a t i c a n t e s e , conseqüentemente, uma safra de novos talentos. Fazem parte desta nova safra garotos como Gabriel Farias, 10 anos de idade e 5 de surfe, morador de Maracaípe, que já tem em seu currículo o bicampeonato pernambucano na sua categoria, e Luel Felipe - ou Cabeção, como é chamado pelos amigos - , de apenas 15 anos, que já estreou no circuito nordestino amador de surfe. Ambos foram influenciados pelos pais para começar a surfar, o que mostra a importância do incentivo da família na iniciação ao esporte. “O surfe foi por muito tempo ligado aos vagabundos que ficavam na praia sem nada pra fazer e passavam o dia dentro do mar. Hoje em dia essa concepção mudou. Podese ver profissionais sérios que mostram que o esporte é como outro qualquer”, explica o empresário Maurício Salomão, de 42 anos. “Além do que, hoje em dia com toda essa evolução tecnológica, as crianças

estão praticamente confinadas em casa. Internet, videogame, televisão, tudo isso está substituindo as atividades 'extra-quarto'. O surfe além de extremamente saudável, faz com que as crianças entrem em contato com a natureza, pratiquem um esporte ao ar livre e tenham alguma consciência ambiental”, completa. Curioso também é que às vezes o efeito é contrário. Os filhos influenciam os pais a se iniciarem no esporte e os tiram da rotina diária. “Fui contra meu filho surfar, quando ele colocou a idéia na cabeça. Sempre liguei muito o esporte a drogas. Mas aos poucos ele foi me convencendo a comprar uma prancha e ir com ele pro mar e ver que não era nada disso. E realmente não era. O que mais me impressiona é que você sai do mar com uma sensação de leveza. É a minha válvula de escape para o estresse do dia-a-dia”, diz o engenheiro Lucca Moraes, de 38 anos, que foi convencido a surfar por seu filho Cauã, de 17.

“O surfe faz com que as crianças entrem em contato com a natureza e tenham alguma consciência ambiental.” Mas nem tudo são flores. E s s e número de n o v o s praticantes tem deixado os mais antigos um p o u c o chateados. A reclamação principal gira em torno dos que estão se iniciando por que o surfe está na moda e não por realmente gostarem do esporte. Além disso, Pernambuco não é um lugar com praias de grande qualidade para surfar. Como

uma coisa leva a outra, a quantidade de praticantes e as poucas opções de lugares, além do aumento dos ataques de tubarão, que vem “enxugando” as áreas surfáveis, podem tornar a prática do surfe inviável ao longo dos anos. Apesar de já ser considerado um esporte popular, praticado por inúmeras pessoas, ainda falta o apoio necessário para o crescimento ordenado e organizado do surfe. Talvez a instalação das redes de proteção contra os ataques de tubarão na praia de Boa Viagem entre o Hotel Vila Rica e o Edifício Castelinho - fosse um bom começo, para que uma geração de novos talentos não seja desperdiçada.

indica: Para acessar - www.fluir.com.br - www.surfline.com Para ouvir - The Beautiful Girls - Donavon Frankenreiter


PANORAM

De Goa para o mundo! A origem das raves por Amanda Meira

Para muitos, até mesmo os formadores de opinião, é festa de doidão, um ambiente que se freqüenta com botas trekking e um visual descolado. Mas as raves vão muito além do simples visual. Quem realmente entrou no “espírito da coisa” sabe que a roupa é o que de fato menos importa. A música, esta sim, é o elemento agregador da festa. Ao contrário do que a grande maioria pensa, em rave não se toca apenas psytrance. Pode-se ouvir de house music a drum' n' bass. Música eletrônica, melhor dizendo. Ambientada em sítios, lugares mais exóticos ou em galpões, a festa pode rolar por doze horas ou mais. É comum festivais que chegam a durar uma semana, como o Universo Paralello, que será realizado este ano na Bahia, ou o Earthdance, em Goiás, com duração de quatro dias. Além das raves, os festivais também promovem palestras, workshops, teatro, cinema e atividades recreativas. A grande maioria destes festivais faz campanhas para arrecadar mantimentos para instituições carentes. Primitivos modernos - A festa e o trance não surgiram de uma hora para outra. Há quem defenda, como o arqueólogo britânico Steven Mithen, que a música como forma de comunicação e socialização existe há pelo menos 50

mil anos. Mithen acredita que, antes mesmo de desenvolver um padrão de linguagem, a música, através da repetição, envolvia os homens num transe coletivo semelhante ao visto nas atuais raves. Mas a história recente das raves está associada à da música eletrônica e do trance. Estas festas têm suas raízes no estado de Goa, localizado na costa oeste da Índia. Colonizado por portugueses durante cerca de 450 anos, Goa teve forte influência da cultura européia. Isso, de certa forma, e paradoxalmente, chamou a atenção dos primeiros hippies que, na década de 60, buscavam contato com as culturas orientais.

“A música como forma de socialização existe há pelo menos 50 mil anos.” Atraídos pelas praias paradisíacas, pelo baixo custo de vida, a hospitalidade, o inverno ameno e o haxixe local, esses “novos colonizadores” faziam acampamentos e promoviam festas na praia ao redor de fogueiras, movidas a música, dança e alucinógenos. Com o tempo, alguns decidiram se fixar naquelas terras. Nos anos 70, os Djs de Goa tocavam principalmente as músicas daquela época, como The Doors, Neil Young, The Who, Led Zeppelin. O som eletrônico do Kraftwerk também tocou por aquelas bandas, mas só no final dos anos 70 e, mesmo assim, sem tanto destaque. Full Moon Parties - As festas da lua cheia, promovidas por Goa Gil, considerado o pai

do trance psicodélico, marcam a transição de estilos musicais na década de 80: do rock e reggae para as batidas eletrônicas que vinham, principalmente, da Europa. Para esta nova cultura que surgia, o Dj era visto como um xamã, sua mesa de equipamentos, um altar. O clímax acontecia normalmente ao a m a n h e c e r, c o m m ú s i c a s d e atmosfera mais feliz e melódica. Mas nem tudo era harmonia nessas festas, que muitas vezes foram invadidas pela polícia em batidas para apreensão de drogas. A partir da década de 90, jovens japoneses e israelenses começaram a promover festas Goa Trance pelo mundo. Inicialmente, atingiam um público restrito, mas em pouco tempo ganhou proporções de fenômeno global. Olhares divergentes Muita gente encara a cultura trance como uma forma de se colocar no mundo. Dj Lucho Perez (After Dreams e Entrance) vê essa questão como utópica. Reconhece que o que o levou a esse universo realmente foi o estilo musical. Para Juliana Cavalcanti - produtora executiva da Liquid Sky - existe uma divisão do público. “Existem dois grupos, um grupo que olha o trance como uma cultura e segue a ideologia, e um outro grupo que enxerga o trance como um estilo de música. Não tem como uniformizar”. No Nordeste, o fenômeno é relativamente recente. No Recife, se as primeiras raves espantaram a maioria das pessoas, hoje em dia já não são mais uma grande novidade. Tudo cresceu, desde o número de Djs locais até o de produtores e organizadores de festas. Para Brown (Deep For Trance - RN), “a cena da música eletrônica hoje está num momento


de transição. Novos produtores e Djs aparecem todo dia, mas ainda está faltando qualidade na cena. Inovações têm que ser implementadas para chegarmos a um nível de excelência.” Tarso (Liquid Sky) acredita que “o público que freqüentou essas primeiras festas já procura se informar sobre as músicas, os artistas, viaja para festivais”. Independente da diver-

gência de opiniões, as raves fascinam pelo misto de beleza natural e decorações coloridas e fluorescentes, que se destacam em meio aos feixes de luz néon, e pela forma como envolvem os presentes numa música capaz de provocar uma espécie de transe coletivo com suas batidas hipnóticas que levam ao delírio.

indica Para ouvir - Wrecked Machines - Michelle Adamson Para acessar - www.universoparalello.art.br/ - www.psyshop.com

Um transe natural

Imagem das ra ves está assoc iada ao uso d e drogas

Quando se pensa em rave, imagina-se logo uma festa regada a drogas, com um monte de gente alucinada pulando freneticamente. Não é bem assim. Essa imagem tem a ver com o fato de que as festas, em geral, são realizadas em lugares distantes e duram a noite toda. “Terra de ninguém, onde tudo é permitido!”. Este tipo de pensamento está mais presente na cabeça dos pais de jovens que freqüentam raves. E, convenhamos, a mídia também ajuda a alimentar esse estereótipo. A associação entre raves e drogas só dificulta a própria realização das festas, pois os donos dos espaços ficam com medo do que possa acontecer. Mas não é terra de ninguém! Existe, sim, uma fiscalização, tanto da própria polícia como de seguranças contratados pelos organizadores e produtores desses eventos. Formada em Administração pela UFPE, com pós-graduação na PUC-RJ, Juliana Cavalcanti é

produtora executiva da Liquid Sky. Ela vê a rave como um tipo de empreendimento em que pessoas e empresas sérias trabalham para oferecer o melhor ao público e acredita que o propósito dos organizadores nunca foi o de fazer apologia às drogas.

“A rave é uma ocasião para confraternizar”. “Drogas é questão de índole, você vai encontrar em qualquer lugar: de jogos de futebol a shows de reggae. Na festa de música eletrônica você reúne muitas pessoas, de diferentes classes e grupos. É uma coisa que sempre vai existir, independente da festa”, afirma o Dj Xorex. Ele não concorda com quem sustenta que as raves são eventos que giram em torno de drogas. Esse tipo de mentalidade, para ele, acaba estigmatizando os freqüentadores, como se todos fossem usuários.

Para o Dj Lucho Perez, o legal da rave é que é uma ocasião para confraternizar. “Eu toco em vários tipos de festas. Em todas vejo briga ou algum tipo de confusão, só em rave que nunca vi nenhum tipo de briga. Cada um só quer curtir, escutar o som”, declara. Segundo ele, as pessoas vão às festas porque gostam de dançar e fazer amizades. E todos se respeitam. Ninguém nega que há drogas, mas as festas não se reduzem a isso. A grande maioria freqüenta as raves porque curte a música que rola e gosta do ambiente, porque é uma ocasião de celebrar com os amigos e por se identificar com a cena. Talvez a melhor forma de saber o que rola mesmo numa rave é, simplesmente, ir a uma. * Amanda Meira é estudante de Jornalismo da Barros Melo.


PELO MUND

Destino: surfe!

Professor mostra como uma viagem ímpar pode trazer experiências indescritíveis por Paulo Fasio

“A Disneylândia do surfe”. É assim que Edgar Moury, professor de processo c i v i l d a s Fa c u l d a d e s Integradas Barros Melo, define a Indonésia. Ele fez uma viagem de 25 dias junto com quatro amigos para o arquipélago e diz ter sido uma experiência muito boa, tanto pelo lado esportivo, quanto pelo lado cultural. A Indonésia, no sudoeste da Ásia, é o maior arquipélago do mundo, com suas mais de dezessete mil ilhas, espalhadas entre os oceanos Índico e Pacífico. O país é considerado um dos melhores locais para a prática do surfe. Além de Bali, a ilha mais conhecida, há outras ondas também mundialmente famosas como em Sumatra, Mentawai e Restaurants. Surfista há mais de vinte anos - embora tenha parado um tempo por causa de atividades profissionais - , realizou um sonho que povoa o imaginário de quem ama se equilibrar sobre uma prancha: surfar ondas perfeitas. Nos seus vinte e cinco dias de viagem, Edgar passou dez dias em Bali

e depois foi para as Ilhas Mentawai, local onde não há hotéis para se hospedar. “Você fica instalado num barco e a cada dia, dependendo da condição e das direções das ondas, vai a cada uma dessas ilhotas. Então o barco é ancorado e lá o sujeito fica na Disney”, diz rindo. Além das semelhanças geográficas, da água morna do mar como aqui no Nordeste - e das belezas naturais, a Indonésia também se parece com o Brasil nos aspectos negativos. A miséria é um ponto em comum. “Há muita pobreza, muito embora pela informalidade da economia do país, acredito que haja menos fome. Há muitas pessoas que trabalham por um prato de comida, e não por um salário. Por outro lado, a hospitalidade da maioria do povo, lá, é muito parecida com a hospitalidade do brasileiro”. O tráfico e o conseqüente consumo de drogas também estão presentes neste aparente paraíso do pacífico. Só que lá, este crime é punido

“Praticar o surfe me possibilita ter equilíbrio emocional, tranqüilidade. Um dia de surfe é melhor que qualquer sessão de análise que se possa fazer”.

com pena de morte. “Isso foi uma coisa que me surpreendeu bastante, porque quando você desce no aeroporto há uma placa advertindo sobre os riscos de quem trafica drogas ou consome, mas, paradoxalmente, a cada esquina há uma variedade de oferta inacreditável. O que é bastante condenável, e é incompatível não apenas com os aspectos religiosos e culturais do povo, como também com o lugar. Eu acho inacreditável que alguém vá para um lugar daquela natureza e se preocupe em consumir drogas. O próprio lugar já possibilita o que se chama de 'viagem'”. Surfe e Direito não são atividades incompatíveis, mas a gente também não associa essas práticas assim com tanta facilidade. Edgar diz nunca ter sofrido nenhum tipo de preconceito. Muito pelo contrário, é no esporte que ele acha o escape para o estresse diário. “Não me atrapalha em absolutamente nada na profissão, pelo contrário, só me ajuda. Me possibilita ter equilíbrio emocional, tranqüilidade. Um dia de surfe é melhor que qualquer sessão de análise que se possa fazer”. Rio de Janeiro, quase todo o Nordeste, Fernando de Noronha e Costa Rica. Estes são alguns dos destinos que Edgar já visitou para surfar. “Há um lugar que eu quero ir, as Ilhas Maldivas, que se assemelham à Indonésia. No Pacífico, as ondas têm muita qualidade. A cada ilha tem um hotel onde você fica hospedado e surfando. A Polinésia Francesa também, no Taiti, é um lugar bacana. É onde tem aquela onda que é muito conhecida, Teahupoo, que na língua local significa algo como 'quebracrânio', algo assim”. Além do surfe, esses lugares oferecem outros tipos de esportes como rafting, escaladas ou também caminhada e trilhas pelas florestas. Já disseram uma vez que o surfe é a “Terra do Nunca”, quando você está surfando a sensação é de que o tempo não passa. Uma “surf trip” como essa se não faz parar o tempo pelo menos é capaz de revelar um dos aspectos mais interessantes do esporte, o de conhecer lugares pra tentar pegar a onda perfeita e viver as sensações que só quem surfa pode sentir. indica: Para assistir - Surf Adventures, de Arthur Fontes (Brasil, 2002) - The September Sessions, de Jack Johnson (EUA, 2003)


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