Comix! - Jornal Mural

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Curso de Jornalismo da UFSC

Edição, textos, planejamento e edição Mateus Mognon dos Santos

Atividade da Disciplina Edição

Servições Editoriais A morte do Grilo Vitor Teixeira Vitor Cafaggi

Professor Ricardo Barreto

Impressão Post-Mix

Novembro de 2015

Os quadrinhos que irritaram a censura A Morte do Grilo é a prova de que você nunca deve julgar um livro pela capa. Por trás do desenho de Charles M. Schulz que estampa a frente da publicação, existe uma inspiradora história de um grupo de jornalistas que, mesmo com as importunações da censura, nunca desistiu e acabou mudando a imprensa brasileira. Para quem está começando no jornalismo, o livro é indispensável, pois mostra a importância da profissão e o quão esdrúxula era a censura durante a ditadura, que chegou a proibir um gibi por causa do humor que suas tirinhas carregavam. A Morte do Grilo também é uma ótima pedida para fãs de quadrinhos, já que mostra a importância dessa mídia que, apesar de ter como foco o entretenimento, serve para passar ideias e, também, irritar regimes políticos. Antes de chegarmos na morte do Grilo, o livro conta muita história, começando pelo criador da revista: Sérgio de Souza (1934-2008), jornalista autodidata que trabalhou em publicações como a Quatro Rodas e Realidade, onde conheceu os colegas que ajudariam ele a fundar a Editora A&C. Além de Souza, a editora também incluía nomes como Narciso Kalili, Eduardo Barreto e Mylton Severiano. O fato é que toda a equipe da recém criada A&C estava na lista de “preferidos” dos militares, já que abordavam assuntos polêmicos, como a Guerra do Vietnã, desde a época de Realidade. O time de ouro do jornalismo criou diversas publicações importantes, entre elas O Bondinho, o jornalivro e, é claro, a revista Grilo. A criação e desenrolar da história de Grilo só começam na metade

Imagem: Editora Peixe Grande

Cheia de humor e críticas, a revista com tirinhas de vanguarda Grilo teve uma curta, mas intensa vida

Capa: poster da primeira edição do Grilo do livro, deixando como divisor de águas as páginas coloridas que trazem algumas das capas e um breve resumo sobre a publicação. A partir desta parte, os amantes de quadrinhos vão pirar: o autor descreve como os jornalistas da A&C entraram em contato com grandes nomes da área, incluindo Robert Crumb, criador de Mr Natural, Guido Crepax, idealizador da polêmica Valentina e Charles M. Schulz, criador do Charlie Brown e sua turma. Além

disso, Gonçalo Junior também explica os fanzines, o crescimento dos quadrinhos no Brasil e o uso dessa arte pela imprensa alternativa. O autor também apresenta as três fases da revista, a primeira mais branda, a segunda mais ousada e a terceira uma afronta à ditadura, que resultou na proibição da circulação do gibi. Nesta parte, também vemos o trabalho duro da equipe, que transformou a publicação de quadrinhos de vanguarda na fonte de renda mais segura da A&C. O autor ainda descreve, minuciosamente, a batalha da editora e do grupo com a censura. No começo da revista, os próprios jornalistas tinham cuidado ao publicar algumas tirinhas com críticas ao governo ou conotação sexual (mesmo a revista sendo voltada para adultos), para evitar problemas com os militares. Exemplo disso é a própria capa de A morte do Grilo: a ilustração da personagem grávida com os dizeres “Você me paga, Charlie Brown” seria a capa do primeiro número de Grilo, mas acabou se tornando um poster interno, por receio de que a censura achasse a tirinha ofensiva. Na segunda fase e principalmente na terceira, quando Delfim Fujiwara assume o comando do almanaque, os quadrinhos de Grilo ficaram mais direcionados e atacavam diretamente o regime militar, mostrando o papel crítico que os quadrinhos podem desempenhar, mesmo trazendo um alto tor de entretenimento. Depois

de muitas confusões e três anos de cvida, o final de Grilo chega em 1973, no número 48 da revista. Junto com a publicação, a editora A&C acaba morrendo também. Mas sabe o que nunca acaba nesta história? A motivação de Sergio de Souza e seus companheiros. Mesmo com a censura na cola deles e com pouco dinheiro, o grupo que liderava a A&C lança o jornal Ex- (iria se chamar Ex-Grilo, o que seria bem engraçado). Nesta publicação, o grupo faz diversas reportagens mostrando a força da imprensa alternativa paulista. Em seu maior feito, o Ex- desmascarou a farsa do suicídio do jornalista Vladmir Herzog, que na verdade foi torturado e morto pelos militares, em 1975. Com informações que vão agradar jornalistas, amantes de quadrinhos e estudiosos da ditadura brasileira, A morte do Grilo é recomendado para estudantes dos primeiros anos do curso, pois traz um tema diferente e bastante inspirador, mostrando como a nossa profissão parou de evoluir com o passar do tempo e hoje em dia se ocupa com futilidades e esbanja parcialidade. A obra também nos leva a pensar no uso do entretenimento a favor do jornalismo: se naquela época os jornalistas utilizavam HQs para provocar o governo e dava certo, acho que podemos usar formas mais descontraídas e divertidas para passar informação em qualquer veículo de informação, principalmente na internet.

A morte do Grilo traz um tema diferente e inspirador

“A censura nos importunava de todas as formas. Era um período em que quase ninguém podia ter opiniões, e nós as tínhamos” - Delfim Fujiwara

Telltale transforma HQs em games premiados Enquanto as vendas de revistas em quadrinhos impressos não crescem, as histórias criadas em HQs estão tomando outras mídias. Além de serem comercializadas em formato digital, algumas HQs estão se tornando videogames, graças a produtora Telltale Games. Fundada em 2004, a desenvolvedora ganhou fama após transformar os quadrinhos The Walking Dead em uma série de jogos, em 2012. Além da franquia de zumbis, a produtora também já lançou The Wolf Among Us, que tem como inspiração os quadrinhos Faith, da DC Comics. A Telltale Games também investe na narrativa dos jogos e possui como maior marca de suas franquias um sistema de escolhas que permite ao jogador chegar em finais diferentes no mesmo jogo. Os games são divididos em episódios e cada decisão influencia no futuro da história. Numa cena de crime, você seguiria a sua intuição ou buscaria provas para prender um assassino? Esta é uma pergunta constante em The Wolf Among Us. Além disso, a produtora também utiliza gráficos que lembram as ilustrações de quadrinhos, o que dá ao jogador a sensa-

ção de estar dentro de uma HQ. A combinação desses dois fatores, uma história de qualidade e boa ambientação, acabaram rendendo diversos prêmios para os games da companhia, além do amor e fidelidade dos fãs. Em 2012, The Walking Dead ganhou mais de 90 prêmios de “Jogo do Ano”(o Oscar dos jogos), em prêmiações organizadas por sites especializados como GamesRadar e Gamespot. Em relação a crítica, a nota média de cada game da produtora nos mesmos sistes fica em torno de 9.5 e 10. Se você quiser conhecer o trabalho da Telltale, o primeiro episódio dos principais games da produtora, incluindo The Walking Dead (Season One e Two), The Wolf Among Us e Tales From The Borderlands, podem ser jogados de graça em smartphones com sistema operacional Android e iOS.

Meu nome é Bigby Wolf, do jogo The Wolf Among Us O título é inspirado em Peanuts, o filme, que estreia em 2016

Snoopy e os Peanuts viram jogo Os personagens de Charles Schulz que faziam a alegria dos leitores da revista Grilo chegarão aos videogames da nova geração em novembro de 2015. O jogo The Peanuts Movie: Snoopy’s Grand Adventure traz o cão Snoopy e toda a turma do Charlie Brown numa aventura em plataforma 2D. A premissa do game é uma grande brincadeira de esconde-esconde no mundos dos Peanuts, onde Snoopy deve encontrar seus amigos. Snoopy’s Grand Adventure também contará com modo multiplayer, onde o segundo jogador toma o controle do pássaro Woodstock. Produzido pela Activision, o jogo estará disponível para compra em 3 de novembro no PS4, Xbox One, Xbox 360, Nitendo Wii e 3DS.

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Curso de Jornalismo da UFSC

Edição, textos, planejamento e edição Mateus Mognon dos Santos

Atividade da Disciplina Edição

Servições Editoriais A morte do Grilo Vitor Teixeira Vitor Cafaggi

Professor Ricardo Barreto

Impressão Post-Mix

Novembro de 2015

JORNALISMO

O que nos falta mesmo é a motivação Escritor de A morte do Grilo fala sobre a sua profissão e como a mídia se transformou desde a ditadura diversas mudanças para a mídia lismo policialesco e moralista. “O verdadeiro brasileira. Graças a era digital, o Fujam dos moralistas, eles são jornalismo é aquele jornalismo está em crise novamente. fascistas. comprometido com a C - Com toda a sua experiênNa sua opinião, o que é preciso fazer mudança e a para reinventar o jornalismo? cia, tem alguma dica para os justiça social” GJ - Não tenho ideia. Os jornais e estudantes de jornalismo que revistas, por questão salarial, demitiestão começando? ram seus grandes repórteres e editoGJ - Eu sugiro que desconfiem de res. O estrago foi feito com a chegada tudo. Que não acreditem quando da Internet. Estabeleceu-se até hoje todo mundo diz a mesma coisa e que o jornal impresso está vinculado não há comprometimento com as ao digital, o que é uma estupidez. Se mudanças, com as transformações. não colocarem conteúdo exclusivo Que desconfiem das conspirações, de Comix - A Editora A&C era forno impresso todos vão morrer. Ao quem defende a ditadura em nome mada por um grupo de colegas mesmo tempo, precisam reforçar o da democracia, que tomem cuidado que fazia um bom trabalho. Várias digital, claro. com os comentários que lêem no Faempresas de mídia, além de diversas C - Levando em consideração todo cebook e no Twitter, que não tenham startups, nascem assim, o seu conhecimento na área e medo de ir contra a corrente. Cuidatanto naquele tempo do com que prega a moralização. O “A imprensa a pesquisa feita para o livro, como atualmente. Qual o papel social do jornalista brasileiro comete corrupção todos os era o diferencial da mudou em comparação ao dias, ao furar fila, ao comprar prograde hoje é A&C? desempenhado na ditadura? mas piratas, ao burlar a TV paga. Mas Gonçalo Junior - Eram reacionária” GJ - Mas é claro que sim. A “Não tenham medo de ir contra a corrente” ficam pregando moralização de tudo muitos os diferenciais. A nossa imprensa hoje é reacomo se estivesse acima do bem e do começar que quem estava cionária, medíocre, golpista, mal. Que percebam que a corruppor trás dela era a mais brilhante inconsequente, irresponsável. A ção não aumentou, a polícia apenas derrubar a presidente da república geração de jornalistas de São Paulo revista Veja e o jornal O Globo são está pegando os caras. Quem podia de modo irresponsável, como se ela nos últimos 50 anos. Depois, havia a bons exemplos disso. São feitos por fosse um time de futebol. O jornalista imaginar que donos de empreiteiras motivação de se lutar contra a censu- pessoas que militam pelo golpismo, iriam para a cadeia? O Brasil está muprecisa voltar a correr atrás do furo ra e a ditadura militar. Os caras eram pela falta de comprometimento com dando para melhor. Enfim, recomenmovidos pelo idealismo, pelo desejo a democracia, com a manutenção das e a não fazer pacto com as forças do que leiam muitos livros de história reacionárias, que lutam para manter de mudar o mundo e tinham talento liberdades. Um lixo, meu velho. e biografias e se blindem contra de sobra para isso. C - Qual é a função social do jorna- privilégios. O verdadeiro jornalismo as unanimidades. Nunca sigam as é aquele comprometido com a muC - O grupo de jornalistas que lista atualmente? unanimidades. Toda unanimidade é dança e a justiça social, não o jornaaparece em A morte do Grilo trouxe GJ - Com certeza, não é tentar estúpida, traiçoeira. Imagem: Acervo pessoal

Além de ser apaixonado por quadrinhos, Gonçalo Junior é um jornalista com muita experiência. Com 25 livros já lançados, o escritor já contribuiu em veículos como Valor Econômico e Gazeta Mercantil. Além disso, também vivenciou a transição que o jornalismo sofreu com a chegada da internet. Em uma breve entrevista, o autor de A morte do Grilo fala sobre a prática do jornalismo na época da revista e atualmente.

“Os quadrinhos eram uma válvula de escape para muita gente naquela época, mas a censura nem notava” - Gonçalo Junior

Artista tem desenho censurado pela Igreja Universal Já estamos no século XXI e, aqui no Brasil, vivemos em uma sociedade democrática e com Estado Laico, porém, ainda existem casos onde a liberdade de expressão é discutida. Em março deste ano, o cartunista Vitor Teixeira, que posta seus trabalhos no Facebook, recebeu uma intimação extra-judicial via e-mail da Igreja Universal, após postar em sua página um desenho de um gladiador com um símbolo da instituição atacando uma mãe de santo. A charge, que ficou fora do ar por denúncias de usuários, faz uma crítica a um vídeo da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) que mostra os chamados “Gladiarores do Altar”, grupo de jovens fiéis da igreja que se vestem como militares e se dizem “prontos para a batalhar pela igreja”. De acordo com o cartunista, a intimação da igreja para desabilitar sua página chegou logo depois da postagem ir ao ar. “A Universal me acusou de intolerância religiosa e pediu que minha pagina fosse apagada. Publiquei a intimidação e tive amplo apoio da imprensa, que noticiou o caso”. Com a divulgação do

caso, a Igreja simplesmente deixou a acusação e também a postagem, que já está disponível na página do cartunista novamente. “Com o retorno de mídia negativo para a Universal, creio que eles tenham decidido por panos quentes no assunto e desistido de me processar”, comentou Teixeira. As tirinhas de Vitor Teixeira ganharam popularidade após as manifestações de 2013. As charges sempre carregam um alto teor crítico e frequentemente geram alguma

polêmica. Segundo Vitor, a IURD foi a primeira instituição a entrar com um processo contra seu trabalho. “Esse foi o único caso de tentativa de censura. No mais, recebo ameaças e ofensas diariamente de grupos organizados de uma direita raivosa nas redes”. Teixeira se diz motivado pelas críticas e que o discurso de ódio tem que ser combatido.

Arte: Vitor Teixeira

Internet é vitrine para novos quadrinistas e artistas independentes Assim como Vitor Teixeira, que disponibiliza seu trabalho via Facebook e Twitter, outros artistas independentes utilizam a internet para compartilhar seu trabalho, o que acaba gerando oportunidades e trazendo reconhecimento. O quadrinista Vitor Cafaggi, criador de séries de tirinhas como Pequeno Parker e Valente, ficou famoso pelo seu trabalho na internet e acabou tendo a chance de publicar suas tirinhas no jornal O Globo. “Uma coisa levou à outra. Eu só fui convidado pelo jornal porque eles conheceram meus quadrinhos na internet. A internet é uma ótima vitrine”. Cafaggi disse que nunca recebeu dinheiro fazendo quadrinhos pela internet, mas o meio possui outro ponto que agrada os artistas: o contato com os fãs. “A aceitação das tirinhas sempre foi ótima e os comentários sempre me estimularam a continuar fazendo”, comentou o quadrinista. Arte: Vitor Cafaggi

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