A Cachoeira do Poema Na Fazenda do Seu Astral

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A CACHOEIRA DO POEMA NA FAZENDA DO SEU ASTRAL



A CACHOEIRA DO POEMA NA FAZENDA DO SEU ASTRAL Matheus José Mineiro

Março de 2014


MINEIRO, Matheus José A Cachoeira do Poema na Fazenda do seu Astral Petrópolis, Rio de Janeiro, BRASIL - 2013

A CACHOEIRA DO POEMA NA FAZENDA DO SEU ASTRAL Coordenação Matheus José Mineiro apologiapoetica.blogspot.com Revisão Camilo Mota camilomota.blogspot.com Ilustrações Jaccopo Cecarelli www.2501.org.uk cecarellia@gmail.com Projeto Gráfico / Diagramação Matheus Quinan matheus.a.quinan@gmail.com PETROPOLIS INC petropolis-inc.blogspot.com.br facebook.com/petropolisincarte


"em vez de lápis, emprega quando escreve instrumento cortante: bisturi, simples canivete" João Cabral de Mello Neto

"Mas é preciso ter bons músculos, bons ossos. pois não basta ser poeta. é preciso levar um poema em cada perna nessa viagem penosa que já se faz eterna." Cassiano Ricardo


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Aos familiares de sangue e de resistência e perseverança a vocês mesmos, vocês. Gratidão a todos vocês.




Matheus José Mineiro

I calçamento, a colher de cimento dos pardais e das pombas, mas te juro que também vejo pessoas ali. porém mesmo quem carcome e come a migalha mirrada do mundo tem um céu a sua disposição , e o verbo voar na ossatura do ar.

II apascentar gaivotas, palavras,atitudes e espaçonaves. penas e poemas, ação e aço substâncias voláteis na musculatura da asa. humano, áptero e apto a horizontes. livro, leve, livre e solto.

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III nem mordida de gafanhoto nem borrifo de inseticida quero cultivar minha aorta no lado esquerdo do terreno do meu peito. pois quando brota a vida te hortaliça e fica mais luminosa e leguminosa.

JULHO 2013 curto gente assim jeitĂŁo tĂŁo sol de meio dia mesmo em noites de invernia.

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IV a marretadas e marteladas é que se abre uma fresta no oceano pacífico. fico passivo ou em paz fico? tantas gotas, tontas gotas,conta-gotas sendo o pingo, o pouquinho, respingo e pingo o i do oceano índico. é na sua geladeira cerebral que o homem as-cende seu aquecimento global. líquido chão,espumoso colchão. mamífera fera da terra goza oceânico em transa-tlânticos. pequenos gestos,pequenas ações, pequenas lágrimas e insolações. pequeno respingo é que eu,qual humano, me oceano.

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VI gargalha dinamite. chora diamantes. amontanhou-se quando reconheceu a altitude, a atitude e a energia naquele estado de farelo, de pó do minério de ferro .

VII milhões de línguas recitando um poema chuvoso. milhões de línguas lambendo a pele do planeta . as pessoas também chuviscam e depois chovem. e essa gente que chove demais? fulano neblina sicrano chuvisca beltrano chove humano é temporal e aumenta o nível do seu pluviômetro tromba d´água na paz é deslizamento e desliza mente. e como é que se faz?

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POEMINHA ASTRAL # 01 ficava um pedacinho do rio piranga no voo das garças e nos mantras das capivaras. o rio engordava e emagrecia e deitava e escorria no meio da cidadezinha até eu tinha um pedaço do rio em mim. sem stress hídrico, eu queria mesmo era fluir.

POEMINHA ASTRAL # 02 para escutar a gramática louca das coisas e a semântica líquida e fluída da vida o sujeito encostava o pé do ouvido na beira da palavra rio.

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POEMINHA ASTRAL # 03 a menina ia chuvosa o menino vinha ensolarado meteorologicamente na poesia estavam no clima.

POEMINHA ASTRAL # 04 os braรงos da letra************* V abraรงaram a letra ************* I que espiou a letra********** ***V acochar as pernas da letra***A.

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POEMINHA ASTRAL # 05 os humanos que cuidem de suas dores, os pássaros das suas cores, as frutas que cuidem dos seus sabores, as flores dos seus odores, o mundo dos seus horrores, as ideias que cuidem dos seus roedores e os corações que cuidem de seus amores.

POEMINHA ASTRAL # 06 um pensamento pedigree para um sentimento vira lata.

POEMINHA ASTRAL # 07 hidrelétrica de itaipu tenho mais energia positiva e luz própria do que tu. 17


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POEMINHA ASTRAL # 08 queria ver a vida tão doce que então nos olhos pingou adoçante.

POEMINHA ASTRAL # 09 ele anoitecia com um sol nas pupilas e dormia roncando estrelas e galáxias e via lácteas zzZZZzzzzzZ. quando o sujeito amanhecia espreguiçava os farelos da lua nos olhos.

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POEMINHA ASTRAL # 10 tinha no céu da boca estrelas ca dentes .

POEMINHA ASTRAL # 11 no frio ou no fervor mantenha sempre sua temperatura ambiente abaixo da linha do equador.

POEMINHA ASTRAL # 12 está relampejando nos seus olhos e trovejando na sua boca de você vem uma mansa tempestade louca. 19


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POEMINHA ASTRAL # 13 ela era de peixes e eu um menino riachoso.

POEMINHA ASTRAL # 14 comia terra quando criança já ia adubando e fertilizando o verme da esperança no estômago.

POEMINHA ASTRAL # 15 ela fez um pirão que eu pirei e todos pirão transpirão e respirão o pirão caiçara de peixe pirado.

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POEMINHA ASTRAL # 16 as pernas tortas da letra m bem ao estilo garrincha driblaram o meio de campo da palavra a m or.

POEMINHA ASTRAL # 17 tranquilidade é o xampu que espuma minha cabeça!

WINDOWS a internet explorer explora explode cabeças estreitas com a banda larga.

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POEMINHA ASTRAL # 18 revolução no jardim, flor mação de quadrilha ela era uma violeta que exalava raios ultravioletas no meu planeta.

POEMINHA ASTRAL # 19 que lambe a palavra luz no porão do mundo e depois se aluz cina.

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POEMINHA ASTRAL # 20 um açougueiro que aprendeu do ar, o corte rápido, rasteiro e ligeiro, como no bife do vento, mas com lâmina no sentimento trata a carnosidade dessa flor, que se sente gente. homens de problema a problema, dia a dia despetalam-se com os nervos a flor da pele.

POEMINHA ASTRAL # 21 boêmio como a cachaça de minas manso como um queijo minas. e energético como o minério férrico feérico de minas.

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POEMINHA ASTRAL # 22 sem noção que passa seus sonhos juntos com manteiga no pão. mastiga com o coração

POEMINHA ASTRAL # 23 um sapo um salto um sapo outro salto outro sapo e outro salto o sapo no seu yoga barriga pregada na terra molhada coaxos de mantra meditando e me ensinando como andar no brejo do Mundo. 24


Matheus JosĂŠ Mineiro

POEMINHA ASTRAL # 24 vi, vivamente visto krishna buda martin luther king preto velho jesus cristo alan kardec gandhi iemanjĂĄ e nossa senhora aparecida num boteco chamado terra fofocando sobre o ser humano

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POEMINHA ASTRAL # 25 eu tropiquei na pedra ou a pedra tropicou em mim, ando meio paralelepĂ­pedo, nas ruas de paraty.

POEMINHA ASTRAL # 26 puxei a letra - t pelo braço e a pus na palavra - erra e comecei a viver e morrer sobre ela.

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POEMINHA ASTRAL # 27 eram gotinhas a pingar ploc ploc ploc mas com uma danada energia de mar ploc toque ploc uma gota com disposição oceânica.

POEMINHA ASTRAL # 28 beijo de língua portuguesa na boca da nação menina e analfabeta.

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POEMINHA ASTRAL # 29 sentimentos fritam meus pensamentos como uma carne de boi.

VALE era o minerioduto esticando sua língua lambendo todo minério de minas. grande tatu de aço a multinacional escava e chupa a barriga da montanha, e um sangue ralo de bauxita e mineral é o que bombeia nesta veia arterial.

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OSSATURA a madrugada é desossada pela manhã as nuvens espremem os ossos e vaza do céu aquele cálcio claro caldo azul amarelado. tem gente que contorce demais as vértebras do nascer do sol, é gente nublada.

QUINTA ESSÊNCIA fogueira de agasalho.rio com sede doce. sideral e serelepe um poema moleque urina um arco íris no céu cinza-guerra da terra. a palavra paz é sofisticada de mais e não se faz em demandas industriais.

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FOFOCANDO O OUTONO estou em estado de outono, logo depois do sono acordo abacate, ou melhor minhas pernas parecem um abacateiro madurecendo, pupilas vermelhas como as goiabas, meu cabelo amarrotado como cacho de caqui. durmo verão e, depois do sono, acordo em estado de outono, crescem talos de lírios de paz nas sobrancelhas, pétalas de azaléias e cutículas nas unhas dos pés, flores de sálvias nos pelos do sovaco, folhas de camélia misturam-se com melecas nos meus olhos e uma quaresmeira espreguiça-se nos pelos do meu nariz. bem outonal nesse sol gelado, e nesse meu jeitão de árvore , clorofilo e me aqueço,

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folhas caem amareladas, mas só parece que eu fico com um semblante de galhos de guapuvuru seco, mas é a época de trocar as folhas deste jeitão arvoroso de ser por isso do lado outonal, no meu astral durmo verão. logo depois do sono, eu estou em estado de outono!

MADEIREIRO hoje escutei o choro do armário e da cadeira relembrando seus dias florestais de madeira. lágrimas de pinheiros e ipês. sujeito arborizado vigiando pra que não moto serrem-no nessa floresta de compromisso e silício.

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PORNORGANICOTUBE filme pornô bom de se ver era a árvore junto com o oxigênio a natureza a se lamber.

RESPIRAÇÃO é mastigar a carne do vento que venta acebolado de oxigênio. os pulmões deglutem sem glúten o fôlego de vida. e o coração não enguiça a traqueia não pifa não enche linguiça que res pirar é uma delícia. deixa o oxigênio receber do seu corpo muitos galanteios .

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EMPREITEIRA tinha que ser ligeiro e cabreiro dentro de mim mesmo saber que dentro de mim gerava e circulava tanta energia quanto a represa de furnas ou as cascatas do iguaçu. tolerar meu eu e o meu mim. mesmado sem mesmice de um mimado mais minaz minado um javali do mato bicada de galo pata de cavalo soco do maguila búfalo cometa tudo explodindo na cabeça sendo o nada do cheio e tentando o tudo de recheio.

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trator que escavava o céu almejando um copo de sol retroescavadeiramente pelejava em seu terreno, muita rotina e muita terra até que ficou plano e pleno o seu próprio e bruto e manso canteiro de obras. a partir de então curtia construir-se nesta des construção. sendo ao mesmo tempo, mestre de obra e engenheiro. pião de obra e cimento.

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(Ca) agradeço incessantemente agradeço anticonstitucionalissimamente agradeço estes agradabilíssimos 1,5% de cálcio que bomba e ribomba pelos meus ossos e sustentam este tronco e estes membros e esta estrutura óssea dos meus pensamentos.

(A)Tremor é quando a escala richter é pouco para os abalos sísmicos e cínicos e cítricos do meu peito 36



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DO MENTAL AO QUINTAL a gente mulequeava, brincava, na coluna cervical do quintal. essa palavra de ossatura de terra batida com alguns metros quadrados on-de a gente se infinitava, acriançados, na sua vastidão verde verde ver de ver. os mosquitos mutucas pousavam no suor das nossas gargalhadas as plantas fotossintetizavam-nos para um futuro onde o fôlego no prato seria escasso com acenos verdes, as folhas da bananeira e da mangueira ubá admoestavam-nos que no porvir, num dia de danação, relembrássemos da explosão de energia da semente na germinação

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um dedo em nossa cara. nascia um broto de cana caiana, alertando-nos do açúcar e da ardente embriaguez humana. e os bichos-de-pé se cansavam de bater perna conosco no capinzal da frase; ''hoje podemos brincar e correr até a barriga da tarde'' e até matutavam; esses moleques ainda irão chegar numa noção universal desse quintal.

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CLT as letras o e r pediram demissão da palavra d o r e acertadas as contas logo enviaram os currículos vitais para o rh da palavra amor.

SINCRONIA seja um gás nobre, um átomo pobre ou uma estrela pequena ou enorme estão todos gira-girando resistentemente em torno do mesmo sol no cômico colo do espaço cósmico.

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UFC SENTIMENTAL caíram na porrada . um muai thay um ufc um boxe sentimental. a tristeza contra a felicidade motivo do pau. o coração e a vida de fulano de tal.

EU HIDRO acordei com estado de espírito bem hídrico, tentando ser meu próprio recurso renovável fluído e agradável para não ser bio desagradável e muito mais poemável.

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SONECA dormir é acordar para dentro de si.

S-OM didgeridoo é dia - fragma e magma multi-coloração da respiração que encharca-se de saliva e cospe som. tem a parte que a poesia jorra da corrente sanguínea até a ponta da língua.

BUCAL poema sai ensopado de saliva. palavras são bons batons de tons fonéticos grudados na voz e nos lábios deixa marca de lascívia na sílaba. 42


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ÁGUAS DE MARÇO quando entardecia dentro de mim logo comecei a chuviscar e logo comecei a chover e foi logo no final de março, foi quando comecei a curtir as nuvens me dando abraços. FORNO A LENHA mas sempre alimento o meu pensamento. é fato que faço meu feijão tropeiro no fogo cerebral com lascas de perseverança e lascas de toucinho almoço minhas idéias e mineiroso sigo o meu caminho. almoço esse feijão tropeiro e depois faço das nuvens um só travesseiro. 43


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CASAL ao invés de dois corpos parecíamos 2 copos cheios de amor e vida até o bico. o poema fungando no cangote da poesia.

seja seu próprio poema ins piração sua tanto na paz quanto treta você é o seu planeta que explodam preocupações presepadas patifarias podridões precipitações na sua cabeça como um cometa não se esqueça você é seu próprio planeta. 44


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GÊNESIS 3;19 Do pó(ema) da terra foste formado e a pó(esia) voltarás.

TAMANDUÁ BANDEIRA olha o tamanduá olha o tamanduá olha o tamanho do a deixe o tamanduá na vegetação olha o tamanho do a do amor que está dentro do seu coração olha o tamanho do a não o tamanduá é o tamanho do a de amar.

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VULCÃO enquanto se esperava jorrar lava seu coração entrava em erupção de flóculos de neve e algodão que do peito a cabeça o relaxava ao mesmo tempo em que vulcanizava minaz menino tinha a sensação simples do abraço e do aperto de mão pra inverter a implosão dessa explosão vulcão no peito, riacho na perna para que tudo ande e ande líquido e a dor de hoje não seja eterna certo que você mesmo é o seu fluído se o coração entrar em erupção de flóculos de neve e algodão.

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COISA ESQUISITA E HUMANA QUE derruba uma barreira a soco para aproximar-se duma peça de pano aterra um abismo com a pá para aproximar-se dum byte não anda, e corre quilômetros para aproximar-se da tv a nado atravessa o vau açu e o tietê para aproximar-se dum pixel arranca a cerca de arame com a boca para aproximar-se da grana faz o humano e o desumano pra ser humano. faz o diabo a 0, a 1, a 2, a 3, a 4... para ficar

perto

perto

pertinho disso

ou

daquilo

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mas não consegue (e pode) abrir a cabeça abrir os ouvidos abrir a boca abrir os braços abrir o peito abrir a cerveja abrir o zíper as pernas o coração - e ficar pertopertopertinhodeladinho do outro ser amigo.

COL-CHÃO ESPUMOSO edredom é uma palavra espumosa e quente que só cabem no máximo dois corpos, duas mentes acolchoadas e sorridentes.

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HAI KAI NA SERRA DE PETRÓPOLIS pernas de umbaúba olhos de ipê amarelo mulher é o inverno.

MENINICE teto do céu quando fura, pinga chuva, deus fotografa o quintal com um relâmpago que é sua máquina digital cabelo duro do pasto é o bambuzal e o pé-de-manga-ubá que abre seu sovaco no matagal quando madurece. quando menino era desse jeito. hoje escrevo tudo e penso que a gramática delira com o estado de criancice, de rua, de certas palavras.

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DO AUTO MAR DO HOMEM precavendo-se de possível aquecimento global tilápia, garoupa, jubarte, corvina e peixe-espada; e toda a espécie de água salgada buscam em sessão extraordinária um meio de saltarem para o oceano de lágrimas do homem. vrupt.

ooOOOOO embrulhador de nuvens empacotador de sol engarrafador de neblina digitador de chuva natureza pede sossego e o homem pede vaga de emprego.

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VRUMMMMMMMM gente que funciona a gasolina e etanol. nós funcionamos a etanóis. gente ligada com chave coração de ignição soltando idéias e fumaça do escapamento um pensamento buzina para outro pensamento que buzina para outro pensamento e seu sentimento fica no engarrafamento contudoentretantotodavia nessa rodovia interna para continuar a circular, suas tristezas e suas alegrias nunca atrasam o ipva.

POESIA É A RAÇÃO QUE A ALMA MASTIGA TODO SANTO DIA !

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HORIZONTE-SE A TI MESMO o infinito começa no espaço azul do céu e termina nas órbitas castanhas das suas pupilas.

TROPOSFERA treinamento para formação de vendedores de algodão doce. aula prática de carregar no braço e no ombro as nuvens de magalhães, cirrus e cumulonimbus e deixar bem livre e doce e colorida a palavra imensidão no paladar das crianças.

PAZTEURIZADO eu queijo-te e você goiabada-me.

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NA PERNA DA ROTINA a rotina do dia ,exige que a noite tenha um fêmur mais consistente para caminhar levestreladíssimo em camas,bares e (g)mentes.

MEDULA ESPINHAL desloucou um osso do corpo da palavra povo sua vértebra lombar não suportou o peso do mundo e danou-se a parar de andar, tetraplégico popular. foi então que certas mentes e certos espíritos adquiriram certos pés, chinelos, calos e caminhos novíssimos.

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POEMA Para o poema soar bem aos ouvidos ele acostumava dar alpiste para as palavras.

CAPIVARA queria que meu signo fosse de capivara do zodíaco da beira do rio até a calçada. força na terra e leveza na água .

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FOME AUDITIVA o para-raio no cabelo do homem do prédio o impede de ouvir a fofoca estrondosa ou poesia em prosa que a nuvem diz para a terra por meio de um linguarudo e luminoso e elétrico raio. O ouvido do homem é uma boca faminta que só tem deglutido ruído de máquina e estampido de tiro e grito. não acocha o ouvido no dissílabo para entender o que tem se dito. a terra, a vida e o amor. das pregas vocais da garganta do céu saem algumas mensagens para terra

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e para os bichos da terra através de idiomas de trovões trovas de constelações gírias gasosas papos ensolarados, átomos, sonetos gravitacionais, sotaques chuvosos, galanteios lunares mas só o ouvido de fulano, humano, boca faminta, que só tem deglutido ruído de máquina e estampido de tiro e grito.

SECULURUM 21 o rosto cintilante néon no semblante daquela menina mas o que o fazia brilhar não era a sua luz própria era a iluminação do seu celular. 57


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A SAGA DA AMENDOEIRA que teve o braço de-cepado para virar tronco e graveto mostrando seu lado efervescido de fogueira que aqueceu e iluminou os rostos da humanidade acampada na selva de relógio e rotina do planeta.

P-1 a plataforma menstrua royalties de usura e um óleo escravo claramente negreiro claro que vaza debaixo do umbigo brasileiro é um navio petroleiro.

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CAMINHADA nuvem abatida chão de terra batida tanto as dores quanto os amores são tratores terraplanando o nascer de um sol no horizonte da sua estrada rural. espaço rural estrada sideral toda vontade que vaza na mente escorre para a sola dos pés. cada um com sua galáxia na carroça. cada um com seu zebu nas costas.

PALAVRÃO PALAVRINHA seu filho da sílaba, vai tomar na vírgula vai pro verso que te pariu e vira poema seu brasil!

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ALÉM-ZAVA-SE tinha dia que ele ficava com uma cara de morro ou de infinito verde capim da palavra pasto e tinha na cabeça uma ladeira de alguma cidade de minas. um puta jeito de andar gruta ou duas cavernas nas batatas das pernas. deverasmente ele se além-zava diante do que via o olho do espelho e do olho da gente.

AQUECIMENTO por mais que esteja nublado, sol orvalhado no céu de petrópolis existe, mais por dentro, em seu céu adentro, na estratosfera do seu pensamento livre de especulações climáticas uma outra espécie de sol que nasce e deixa cada pessoa no seu estado ensolarado de amanhecimento natural . 60


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TIRANDO SANGUE DA CANTIGA não há quem não se zangue ao olhar para esse mundo vê-lo qual um bang bang muda esse nome para imundo parece suco de tang mas o que do corpo escorre é o vermelhão do sangue que também tanto escorre dentro da água e da mata pois árvores e animais também não podem ter a paz pois o homem mata, desmata e se mata. mundo imundo bang bang

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muda essa trilha sonora composta a tiro e grito lava-se dentro e por fora muda esse sujo nome seja humano e não só homem. mundo imundo bang bang no meio de tanto sangue ergo o dedo médio e ergo o dedo indicador a mostrar que quero paz a mostrar que quero amor.

CADUQUICE chamaram-me de caduco quando misturei maracujá com amor para fazer um suco

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POESIA SUBSTANTIVO FEMININO a poesia entrou na cabeça da palavra rotina causou alucinações e pulsações e libertações é! a poesia relaxou a cabeça da palavra rotina é! a rotina não queria ser selvagem queria ser menina e a poesia ia oxigenando a cabeça da palavra rotina.

FARTURA dados mundiais indicam o aumento da desnutrição falta arroz, feijão, poema e pão.

BAÍA DE PARATY cheirava o mar e lhe dava onda minério mineiro menino ondeanda. 64


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LESBIASNISMO sou o humano e o homem e o corpo e a cama. onde a alegria e a tristeza a vida e a morte a riqueza e a pobreza a tarde e a noite e outras fêmeas sempre fugindo de abstinências e desavenças dentro da minha cabeça entrelaçam penetram gemem e gemem gozam e gozam e o gozo é a tinta que se pinta os aspectos do meu rosto.

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POEMAPARAOSCINCOSENTIDOS alisar, fungar, escutar, ver e lamber a pê - a – zê.

COZINHANDO mãe mineira na cozinha não prepara comida pré-pari,de parir, de dar a luz a um deus de tempero e de cheiro que depois diviniza a língua e entra na barriga.

DITONGAÇÃO o lance é que eu queria fazer um ditongo oral e nasal e mineral com uma menina vogal. nós dois na mesma sílaba do astral. 66


Matheus José Mineiro

SONHO primeiro sonho que tive foi lindo, de creme, depois sonhei doce de leite quando atravessei para o outro lado da faixa etária da rua comecei, e até hoje , a sonhar agridoce e acordado na prateleira da padaria da vida.

ENSABOAR e ensaboar e ensaboar a fogueira dos meus dias com espumas de poesia e boas energias ensaboar os cachinhos do cabelo do verbo ensaboar a língua do verbo ensaboar o sovaco do verbo ensaboar as cochas do verbo ensaboar o corpo e o espírito dos verbos. 67


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DEFECTIVO as pessoas querem te ver bem vestido as pessoas querem te ver na televisão as pessoas querem te ver na internet as pessoas querem te ver na faculdade as pessoas querem te ver famoso as pessoas querem te ver com status as pessoas querem te ver no palco as pessoas querem te ver no buraco as pessoas querem te ver no shopping as pessoas querem te ver na rotina as pessoas querem te ver de casa para o trabalho as pessoas querem te ver longe do sentimento da sílaba da paz

O AMARGO DO HOMEM NO BORDEL DA COLMÉIA abelhas no pólen dance no ferrão são letais e no mel são sensuais. 68


Matheus José Mineiro

CIRURGIA PLÁSTICA o bisturi bifurca a pele. de outros modos, desbasta, pule, lima sua matériahumana -prima; desenha dois lábios onde a carne é garganta golfando gordura; ou ainda é vulva vertendo um velho feto que (re)nasce rebolando posando com busto e bunda enormes e rindo risos moderníssimos de silicone, e não de argila. Almeja-se aí... e aí que se despreza o corpo quando no bojo, almeja-se a alma mais enxuta exata em forma uma alma sem cirurgia plástica, alma mais alma, mais humana. 69



POSFÁCIO


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Matheus José Mineiro escreve, criva e crava os versos como a natureza dispõe os vales – e as cristas – por entre as montanhas de Minas e as serras petropolitanas. Como um pedreiro, lapida lépido e limpidamente os insights – ou downloads para os pósmodernos - que parecem que brotam prontos num átimo íntimo, ótimo e nunca último de lufada poética. Eis um livro de bolso e de balsa para uma leitura náutica, cáustica e fantástica. - Tchello Melo

Matheus Mineiro deixa passarinho lhe crescer pelas asas... Ontem, eu juro, vi Matheus desvirando o seu coração de leão pra me dar... de tão bão que é... Ah, se todo mundo tivesse uma muda do bicho do pé desse menino... o mundo ficaria parado e povo todo sairia a girar desvairado... e a vertigem maior seria parar... que bom mesmo é ser bocó andador sem paragem. Matheus me ensinou que a vida tem mais pressa que uma cigarra gaga indo à fonoaudiologia... E ele sabe bem das coisas... ele até me contou que sonho dourado é feito de moeda esquecida no fundo da lata da vida... ele me disse que ser doutor é legal, mas que ser ilegal, também é muito bom, Doutor. - Álvaro Assis

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Matheus José Mineiro

Matheus é daqueles poetas que dá gosto de ler: gosto de liberdade, goiaba no pé, beijo roubado, pão com café. Poesias livres de um homem livre. Poesias viajantes de um homem viajado. Poesias molecas de um moleque eterno. Leia, releia, passeia pelos caminhos palavras que Matheus nos presenteia. Se emocione. Banhe-se nesta cachoeira e saia com a alma lavada! - Carlos Eduardo Giglio

Mineiro, prosador-astral, jamais poderia ser inventado por uma querência qualquer. O sujeito é um mix de terra molhada, dreadlock e cometas que já passaram sobre Ponte Nova. Visceral, sai dele a palavra afiada pronta para escamar qualquer bicho que se afoga em mar e BR, mas Matheus José é sutil, matreiro e mineiro na comilança da vida. Sua poesia lembra Manoel de Barros e passarinhos, mas também Baudelaire e seus infernos, e o resultado está em sua construção eterna que avança pelos caminhos trilhados. Mineiro é caboclo e caiçara, sabe do que é mineral, nos mostrando que a Terra nos abraça e o mar nos une. Flávio de Araújo

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A Cachoeira do Poema na Fazenda do Seu Astral

Matheus mineiro poeta da rua e da praça fazendo da poesia sua cachaça. Matreiro maneiro Matheus como poeta fingidor, finge que vai e vai mesmo marcar seus gols celestiais como um garrincha dos versos . - Ricardo Chacal

A poesia de Matheus José Mineiro é minério, natural natureza que nos abduz para além dos sentidos - Sergio Salles

Mineiro pode (quase) tudo, não se prende a (quase) nada. Não cabe em regra. Amor, Natureza, Crítica, Humor. Exemplos: poeminha astral # 13 - ela era de peixes e eu um menino riachoso. fartura - dados mundiais indicam o aumento da desnutrição falta arroz, feijão, poema e pão. Em “Caminhada” : cada um com sua galáxia na carroça. Amor e Ternura, essas as Palavras de Matheus, mineiramente, versos a jorrar de sua vibrante sincera minastral .A nos provocar, brindar e dadivar com esta simples profunda onírica maravilha: a Poesia, inutilidade perene, imprescindível, a nos alimentar. - S. R. Tuppan 74


Matheus José Mineiro

Matheus José é antes de tudo poeta. Terno, inspirado, corajoso e criativo. Percebeu bem cedo as possibilidades que o mundo das palavras oferece para quem não tem medo de ser criativo e verdadeiro e está fazendo o melhor uso dessa sua esplêndida capacidade de percepção. Sua paixão pela vida e suas múltiplas implicitações transbordam de seus poemas com vigor, graça e sobretudo poesia. Sem fazer comparações, seus poemas possuem o infinito e o intemporal e são construídos com filamentos de vida,ternura, espanto e indignação, componentes da poesia de verdade e da verdadeira poesia. - Sylvio Adalberto

Matheus José, mineiro, faz poesia como um sapo coaxa, como um grilo não se grila, como um pássaro pia. No que ele escreve, parece que é sempre dia, faz sol e é boa a brisa. Seu verso é fruto da terra e o homem feito de barro. Porque ao poeta cabe ser natural, não importando o deserto a sua volta, fazendo valer a pena dar um mergulho nessa Cachoeira do Poema na Fazenda do Seu Astral. Vinícius Trindade

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A Cachoeira do Poema na Fazenda do Seu Astral

Matheus é único, mas fala por muitos eus ... Fala por mim, fala pelos teus. Fala pelos cristos, pelos cotovelos, pelos ateus. Aliás, o Mineiro não fala, ele jorra ... Feito cascata que não é mentira, feito verdade que delira e num lírio mora. É bucólico, é repleto de mato, é seleto, quase um mito. É cólica ‘duída’ na barriga careta do cara de gravata colorida. ‘Cuma’ folha de palmeira faz poema de pegar. Com bambu nos sopra rima e com rima vai remar... Rumo à Roma, rumo à Minas, rumo ao Paranoá! Embora seja o homem-caminho, ele mesmo não sabe onde vai pirar, em que ‘árvre’, em que rua, em que ninho. Sua certeza é uma só... De que nada foi, mas tudo é... De que não é ele quem mora nesse mundo, mas esse mundo é quem mora no José. Sua cobra tem asa Sua obra é sem casa Sua vida sobra quando vaza É com muito orgulho, de galho em galho, que vos convido a viajar nos uni-versos de Matheus José... O mineiro das palavras. O maneiro das marés. O cabra que me ensinou que a simplicidade da vida não é correr descalço, mas é andar com asas e voar a pé. Tomás Paoni

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A todo momento, nesses dias sofisticadíssimos e velozes, nos deparamos com as palavras em diversas situações, seja visualizada (em outdoors, anúncios, placas, tela de celular e computador), seja lida, escrita em embalagens, jornais, revistas,livretos, camisas ou ouvida nas TVs, rádios, fones ou num simples bom dia. Ou às vezes palavra omitida, corrompida e silenciada. Em meio a esse turbilhão de palavras que estamos vi-vendo nesse mundo "moderníssimo" tento apresentar-lhes palavras no seu sentido mais humano de comunicação... Leve, além do dicionário. Onde você e ela (a palavra) são um, e ao mesmo tempo cada um tem sua vida própria,poesia,a relação amigável entre homem e linguagem. a matéria prima pra suportar o linguajar tenso e ditatorial do mundo de hoje criando outros modos de comunicar onde você seja leitor e co-autor . Sua ousadia na leitura cria os conceitos, imagens e sons que,por si, também possuem ousadia. Uma relação mais aquém da rotina das palavras. Não só no exercício do escutar e ler, mas naquilo que o instigue e excite. Que faça-o absorver, mas também extrair. Linguagem mais orgânica num mundo maquinado. Linguagem mais abstrata num mundo de concreto e argamassa. Linguagem mais brincativa num mundo sério e fechado. Que cada poema desse livro continue em você e que você, por si só, continue sendo seu próprio poema. - Matheus José Mineiro



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