Catálogo Agricultura Lusitana

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Benjamim Pereira- Extremo, Arcos de Valdevez, vezeira na mobilização de um campo para a sementeira do milho / preparing a field for sowing corn, 1976.

ESPECIALISTA


Às pessoas da cultura da terra e das Aldeias do Xisto, que pela sua visão e ensinamentos inspiraram e trouxeram “substância” a este projecto - a cultura é um processo em transformação contínua.

To the people of culture, of the land and of the Schist Villages, who through their vision and teachings have inspired and brought “substance” to this project – culture is an ever-changing process

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ESPECIALISTA


PORTUGAL




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ÍNDICE/INDEX

INTRODUÇÃO / INTRODUCTION

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VIAGENS / JOURNEYS

32

REFLEXÃO / REFLECTION

92

DESIGN + ARTESÃOS + ESCOLAS DESIGN + CRAFTSPEOPLE + SCHOOLS

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INSTALAÇÕES / INSTALLATIONS

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FICHA TÉCNICA / CREDITS

293



NÓS SOMOS DAQUI E DE AGORA! PAULO FERNANDES PRESIDENTE DA ADXTUR

Estávamos no ano 2000. Numa das regiões mais isoladas e de baixa densidade populacional e infraestrutural do país e da Europa, conhecida por Pinhal Interior, uns resistiam enquanto outros partilhavam um sonho. Quando os agentes da resistência se encontraram com os da utopia nasceram as Aldeias do Xisto. Passados quinze anos de trabalho sobre os recursos de sempre com olhar renovado, a paisagem cultural, o território vivo, as pessoas como a origem e o fim da ação, foram-se transformando, mudando paradigmas, assimilando novas ideias e implicando novos atores, reforçando a sua autoestima e transformando o seu território de origem num destino turístico premiado, nacional e internacionalmente. Passo a passo, foi-se construindo uma marca territorial com base numa comunicação e marketing orientados por critérios com compromisso social, intimamente enraizados na matriz cultural local e focados nos segmentos mais evoluídos do turismo cultural e de natureza. Fruto deste trabalho, em parceria com a

Entidade Regional de Turismo do Centro, assistimos em 2008 ao reconhecimento internacional da marca com a atribuição da “Palma de Prata” pela Geo Saison na ITB- Feira Internacional de Turismo de Berlim, na categoria de ‘melhor viagem de descoberta do mundo’, a partir de um programa turístico proposto pelo operador alemão Vikinger Reisen. Desde então, continuamos um trabalho persistente e coordenado com as autoridades locais e regionais para ligar a tradição e a contemporaneidade, a nossa base social com as nossas empresas, com as autoridades públicas locais e regionais e com o sistema científico e tecnológico. Atualmente afirmamo-nos como uma poderosa ferramenta ao serviço do desenvolvimento social e económico, atuando sobre o território e os seus recursos enquanto agente experimentador, em conjunto com as pessoas que nele habitam, convocando competências e conhecimento no sentido da sua transformação com base na identidade. Voltamos, agora, em 2015, à Alemanha com um reposicionamento da marca, mantendo uma abordagem social ‘amiga’ da inovação e da criatividade, a partir de um referencial de ‘turismo de impacto positivo’ focado em transformar o território e a base social das Aldeias do Xisto numa terra de oportunidades para descobrir, experimentar e investir.


WE’RE OF THE HERE AND NOW! PAULO FERNANDES PRESIDENT OF ADXTUR

We were in the year 2000. In one of the most isolated regions with the lowest population density and poorest infrastructure in Portugal, and Europe. It is known as Pinhal Interior. Some endured while others shared a dream. When the agents of endurance encountered those of utopia, then the Schist Villages (Aldeias do Xisto) were born. After fifteen years of working on the traditional resources with a fresh look, the cultural landscape, the living territory, people as the beginning and end of action, there has been a change, models have changed to assimilate new ideas, which means new players, strengthening their self-esteem and turning the territory where they were born into a tourist destination that has won national and international awards. A territorial landmark has been constructed, step by step, with a foundation in communication and marketing guided by criteria of social commitment, deeply entrenched in the local cultural fabric and focused on the best developed segments of cultural tourism and nature. This work, in partnership with the Centre AGRICULTURA LUSITANA 11

Regional Tourism Board, bore fruit in 2008 with international recognition of the brand when it was awarded the Silver Palm by Geo Saison at ITB - Berlin International Travel Trade Show in the category ‘world’s best journey of discovery’, based on a tourist programme proposed by the German operator, Vikinger Reisen. We have carried on a persistent and coordinated effort since then with the local and regional authorities to link tradition and modernity, the social foundation with our firms, with the local and regional public authorities and with the scientific and technological system. We have become a powerful tool in the service of social and economic development, having worked on the territory and its resources as experimenting agent in conjunction with people who live there, summoning the skills and knowledge so that change is based on identity. And now we’re back here in Germany, in 2015, with a repositioning of the brand. We are keeping a social ‘friend’ approach of innovation and creativity, taking ‘positive impact tourism’ as its reference point, and focused on making the territory and the social foundation of the Schist Villages a land of opportunities to discover, venture and invest.


“O PROVERE COMO INSTRUMENTO DE POLÍTICA PÚBLICA FAVORÁVEL À EXPERIMENTAÇÃO” ANA ABRUNHOSA PRESIDENTE DA CCDRC

Questionar o papel da política pública na atualidade significa, como sempre aconteceu ao longo dos tempos, questionar o conjunto de atividades desenvolvidas pelos diferentes níveis de governo ou administração, que procuram responder aos anseios das comunidades e que influenciam a vida dos cidadãos. São por isso escolhas do que se faz ou não faz. Significa que a política pública pode não agradar a tudo e a todos. Não nos move qualquer intenção para teorizar sobre esta matéria. Porém, parece-nos que, genericamente, a política pública se pode traduzir em ações intencionais com objetivos a serem alcançados, desde logo no curto prazo, mas devendo procurar que os seus resultados perdurem, preferencialmente no longo prazo e de forma positiva. Deve, portanto, procurar fazer a diferença.

Deve, ainda, procurar estimular (porque não, forçar?) um “olhar” de longo prazo ou longo alcance. Deve, também, ter uma ambição de universalidade que muitas das ações individuais genericamente não têm. Procuram, por tudo isto, aquilo que é designado como o bem comum. Este bem comum é o cerne do que é designado como política pública, que afecta indivíduos, grupos e instituições. O PROVERE – Programa de Valorização Económica dos Recursos Endógenos, enquanto instrumento de política pública para os territórios de baixa densidade, teve as características referidas anteriormente: procurou fazer a diferença, procurou “forçar” um novo olhar e forma de intervir nestes territórios, procurou, ainda, responder a todos quantos tinham ideias e projetos que concorriam para estratégias de desenvolvimento baseadas na inteligência coletiva. Ao disponibilizar recursos financeiros consideráveis, ajudou a que se caminhasse num sentido mobilizador dos agentes privados, enquanto protagonistas da mudança. Mas se isto pode ser a norma geral desta política pública, teremos que reconhecer que abriu o espaço a outras maneiras de intervir no território, baseado naquilo que foi designado como estratégias de eficiência colectiva. Ou seja, não foi apenas possibilitar fazer coisas tendo por base as coisas pensadas. Foi estimular a experimentação. Foi permitir manusear o conhecimento novo transformando-o em novas coisas pensadas. Foi possibilitar a “reinventação” e estimular


uma economia criativa que ajudasse estes territórios e as pessoas que neles habitam a encontrar soluções para a encruzilhada do tempo em que vivemos. Mas esta foi uma das condições que permitiu abrir as portas para intervenções futuras, de que é possível fazer coisas que outros não ousaram fazer, arriscando experimentar sem o complexo de que nunca conseguiremos fazer melhor que todos os demais. Neste exercício, procurou demonstrar-se – e demonstrouse – que se consegue ultrapassar o ciclo vicioso a que os territórios de baixa densidade parecem estar votados. O PROVERE mostrou que, enquanto política pública, ao permitir e estimular a experimentação, muitas vezes em contextos pouco recetivos a isso, encerra um potencial de desenvolvimento que terá que ser continuado. O projeto Agricultura Lusitana, desenvolvido no âmbito das Aldeias do Xisto, é um bom exemplo de procura de novos caminhos de desenvolvimento em que o território é visto como um laboratório vivo aberto à experimentação. Experimentar é estar aberto à inovação, é procurar incorporar novos saberes e é, acima de tudo, assumir que é possível fazer de outra forma, não temendo o risco de insucesso. É por tudo isto que vale a pena continuar a apostar na procura de novos caminhos, por via da experimentação, contrariando energicamente alguns que tenham assumido que já não vale a pena. Persistência e teimosia, são, neste contexto, sinónimos de futuro. AGRICULTURA LUSITANA 13

“THE ECONOMIC ENHANCEMENT PROGRAMME OF ENDOGENOUS RESOURCES (PROVERE) AS AN INSTRUMENT OF PUBLIC POLICY IN FAVOUR OF EXPERIMENTATION” ANA ABRUNHOSA PRESIDENT OF CCDRC

Questioning the role of public policy today means, as has always been the case, questioning the set of activities carried out by different levels of government or administration, whose purpose is to respond to the needs of communities and influence the lives of citizens. They are therefore choices about what to do or not to do. It means that public policy may not please everyone, all the time. Our intention is not to theorise on this. However, it does generally seem that public policy can translate into intentional actions with objectives to be achieved in the short term, preferably without losing sight of the long term positive effects of their results. It should therefore aim to make a difference. It should


also aim to encourage (why not force?) a long-term or far-reaching “view”. It should also have a universal ambition that many individual actions generally do not. For all this, it pursues what is generally known as the common good. This common good is at the core of what is called public policy, which affects individuals, groups and institutions. PROVERE – the Economic Enhancement Programme of Endogenous Resources, as a public policy tool for low-density areas, had all the characteristics mentioned above: it has sought to make a difference, to “force” a new look and a way of intervening in these territories, and also sought to respond to all those who had ideas and projects aimed at developing strategies based on collective intelligence. By making available considerable financial resources, it has helped to mobilise private individuals as agents of change. But if this might be the general rule of this public policy, we must recognise that it has opened the way for other forms of intervention in the territory, based on the so-called collective efficiency strategies. In other words, it has not only made it possible to do things based on thought-out things. It has also encouraged experimentation. It has allowed to deal with new knowledge, transforming it into new thought-out things. It has made it possible to “reinvent” and stimulate a creative economy to help these territories and the people who inhabit them to find solutions to the point in time in which we live. But this was one of the conditions that al-

lowed the way to be paved for future interventions, making it possible to do things that others did not dare do, to take on the challenge of experimenting without the complex that we can never do better than anyone else. In this exercise, we sought to demonstrate and we have demonstrated – that the vicious circle that low density areas appear to be doomed to can be overcome. PROVERE has shown that, as a public policy allowing and encouraging experimentation, often in not very receptive contexts, it contains a potential for development that must be continued. The Portuguese Agriculture project developed by the Schist Villages is a good example of looking for new development paths in which the territory is seen as an open living laboratory for experimentation. To experiment is to be open to innovation, to seek to incorporate new knowledge and, above all, to understand that it’s possible to do things differently with no fear of the risk of failure. For all these reasons, it’s worth continuing to invest in finding new ways, through experimentation, actively opposing those who have assumed that it’s no longer worth it. Persistence and tenacity, in this context, stand for the future.


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CRIAR E INOVAR PARA EXPORTAR PEDRO MACEDO LEÃO, DIRECTOR AICEP PORTUGAL GLOBAL NA ALEMANHA

A AICEP Portugal Global, Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal, é uma entidade pública de natureza empresarial vocacionada para o desenvolvimento de um ambiente de negócios competitivo que contribua para a globalização da economia portuguesa. A missão da AICEP é a promoção da internacionalização de empresas portuguesas e da sua atividade exportadora, a captação de investimento estruturante e a promoção da imagem de Portugal. A abordagem integradora a uma Fileira da Cultura, do Design e das Indústrias Criativas traduz o reconhecimento por parte da AICEP do contributo e do papel da cultura e da criatividade no reforço da competitividade internacional dos bens e dos serviços nacionais. Para esta aproximação será imprescindível a articulação com a maioria das fileiras em acompanhamento na AICEP. Há muito que a AICEP acompanha algumas

das indústrias que compõem esta fileira, especialmente aquelas que apresentam maior tradição exportadora. Continuaremos a fazêlo de forma ainda mais intensa. É mérito do carácter transversal da Fileira da Cultura, do Design e das Indústrias Criativas, potenciar o valor dos bens e dos serviços que Portugal transaciona com o exterior, diretamente através da internacionalização do setor cultural e criativo em si e indiretamente através dos designados “spillovers” criativos ao nível do reforço competitivo do tecido empresarial do país. Em causa está o reconhecimento do contributo da cultura, do design e da criatividade para o maior valor económico da oferta portuguesa na internacionalização. Preconiza-se uma atuação em complementaridade, nas matérias e na capacidade de promoção económica externa cometida à AICEP e na aproximação destas valências ao tecido industrial nacional. É neste quadro que se perfila a dinamização do Pavilhão de Portugal como País Convidado na EUNIQUE 2015, levado a efeito pela ADXTUR com o apoio da Embaixada de Portugal em Berlim e do Consulado de Portugal em Estugarda a que a AICEP se orgulha em se associar, lançando pontes para parcerias futuras que contribuam para a promoção do Design como ativo da Marca Portugal.


CREATING AND INNOVATING FOR EXPORT PEDRO MACEDO LEÃO, DIRECTOR AICEP PORTUGAL GLOBAL IN GERMANY

AICEP Portugal Global, Portuguese Investment and Foreign Trade Agency, is a public enterprise whose purpose is to develop a competitive business environment that will help to globalise the Portuguese economy. AICEP’s mission is to promote the internationalisation of Portuguese firms and their exporting activity, to attract major investment and to boost the image of Portugal. The comprehensive approach to a Sector of Culture, Design and Creative Industries expresses the recognition by AICEP of the contribution and importance of culture and creativity in strengthening the competitiveness of Portugal’s goods and services in the international marketplace. This approach requires interaction with most of the sectors monitored in AICEP. AICEP has long since monitored a number of the industries in this sector, especially those with the best tradition in exports. We will continue to do this even more energetically. AGRICULTURA LUSITANA 17

The Culture, Design and Creative Industries Sector deserves this cross-cutting label since it maximises the value of the goods and services that Portugal trades with the outside world; it does so directly through the internationalisation of the cultural and creative sector itself, and indirectly through creative spillovers that encourage the competitiveness of the country’s business sector. At stake is the recognition of what culture, Design and creativity can really do to enhance the economic value of Portuguese products in foreign markets. It envisages an exercise in complementarity regarding resources and the ability of AICEP to promote foreign trade, and regarding the proximity of these aspects to Portugal’s industrial fabric. This is the framework that shapes the vitality of the Pavilion of Portugal as Invited Country at EUNIQUE 2015, brought to fruition by ADXTur with the support of the Portuguese Embassy in Berlin and the Portuguese Consulate in Stuttgart, with which AICEP is proud to be associated, building bridges for future partnerships that will help to promote Design as an asset of the Portugal Brand.


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TEMA DO PROJETO NA PARTICIPAÇÃO PORTUGUESA — EUNIQUE 2015 PEDRO MANUEL MONTEIRO MACHADO, PRESIDENTE DA ENTIDADE REGIONAL TURISMO DO CENTRO

Em 2014, o Dia Mundial do Turismo foi assinalado pela Organização Mundial do Turismo, dando destaque ao tema “Turismo e Desenvolvimento Comunitário”. Nada mais atual e pertinente, face à atual conjuntura económica e social a que se assiste, em Portugal e no Mundo. O Turismo capacita as pessoas, proporciona-lhes as habilidades e as competências para mudar e ajudar na mudança da comunidade onde se integram. O nosso país está cheio de bons exemplos desta mudança, em que projetos sustentáveis do sector do turismo, permitiram mudanças positivas e significativas em diferentes comunidades. Projetos turísticos de qualidade, qualificam os destinos e, consequentemente, as populações locais. Um destino recebe visitantes, pessoas de outros locais, com outras culturas. A movimentação dos turistas, que viajam para visitar e conhecer diferentes destinos, que utilizam os serviços e produtos produzidos localmente, é geradora de valor e potencia a melhoria

da qualidade de vida das pessoas. Posto isto, é pois importante pensar na sustentabilidade dos destinos, onde o turista se saiba integrar, respeitando as suas características distintivas e diferenciadoras, respeitando a sua cultura. É igualmente fulcral garantir que o valor gerado pelo turismo, numa comunidade, seja canalizado e utilizado pelas populações locais para a melhoria das suas condições de vida, e para a capacitação do turismo. A sustentabilidade dos destinos promove-se conhecendo e respeitando profundamente as suas mais intrínsecas e antigas tradições. Nelas se constrói a memória de um povo. Nelas se sustenta o presente. Nelas se projeta o futuro. E é com base neste entendimento (e reconhecimento) que se projeta e pensa o projeto “Agricultura Lusitana”, onde se desafia o olhar sobre o já existente, procurando perpetuar-se a sua funcionalidade. Isto faz-se envolvendo comunidades inteiras, respeitando-se as naturais e desejadas diferenças de perspetiva, enaltecendo-se as “diferenças”, procurando-se uma visão comum, que abrace com orgulho o trabalho do “todo” integrador de todas as “partes”. Tudo isto é gerador de uma enorme riqueza, económica, pedagógica, sociológica e cultural. E é com projetos desta natureza, integradores e conciliadores, que se promove a reestruturação e o equilíbrio nos territórios. E é desta forma que se perpetua o “saber ser” e o “saber fazer”, a autenticidade de um povo e a sua identidade coletiva.


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THEME OF THE PROJECT OF PORTUGAL’S PARTICIPATION — EUNIQUE 2015 PEDRO MANUEL MONTEIRO MACHADO, PRESIDENT OF THE CENTRAL REGION TOURISM ENTITY

World Tourism Day 2014 was marked by the World Tourism Organisation with emphasis on the theme “Tourism and Community Development”. Nothing could be more current and pertinent, in light of the current economic and social conjuncture faced by Portugal and the world. “Tourism” capacitates persons, providing them with the abilities and the skills to change and help change the community where they live. Our country is full of good examples of this change, in which sustainable projects in the tourism sector have produced significant, positive changes in various communities. Quality projects in tourism improve destinations and, consequently, the local inhabitants. A destination receives visitors, people from other places, of other cultures. The movement of tourists who travel to visit and learn about different destinations, who AGRICULTURA LUSITANA 19

use the locally produced products and services, generates value and enables people’s lives to be improved. Having said that, it is therefore important to think about the sustainability of destinations, where the tourist knows how to integrate, respecting the distinctive and differentiating local characteristics, respecting the culture. It is likewise crucial to guarantee that the value generated by tourism in a community is channelled to and used by the local inhabitants to improve their living conditions and to build up tourism. The sustainability of destinations is promoted, with the knowledge of and deep respect for their most basic and ancient traditions. In them the memory of a people is constructed. In them the present is sustained. In them the future is projected. It is based on this understanding (and recognition) that the “Portuguese Agriculture” Project has been conceived and designed, which challenges our look at what already exists and seeks to perpetuate its functionality. This is done by involving entire communities, respecting their differences in outlooks, which are natural and desired, praising the “differences” and seeking a common vision that proudly embraces the work of the “whole” that integrates all the “parts”. All of this generates enormous riches: economic, pedagogical, sociological and cultural. It is through projects of this nature, integrating and conciliatory, that the restructuring and equilibrium of the territories is promoted. And this is the way in which “knowing how to be” and “knowing how to do” are perpetuated: the authenticity of a people and their collective identity.


E AGORA, POR ONDE IR? RUI SIMÃO, COORDENADOR DA ADXTUR COORDENADOR DO PROJETO AGRICULTURA LUSITANA

A missão da ADXTUR - Agência para o Desenvolvimento Turístico das Aldeias do Xisto, é gerar atratividade territorial, promovendo um desenvolvimento social e económico sustentável e integrado com a natureza e os lugares. Ao longo dos últimos anos tem conseguido mobilizar agentes públicos e privados para uma estratégia de desenvolvimento turístico implicada em qualificar e valorizar os recursos locais junto de públicos e mercados com procuras exigentes em matéria de turismo de natureza e de responsabilidade social. Uma estratégia de desenvolvimento centrada na mobilidade das pessoas impõe uma abertura continuada ao exterior e coloca exigências renovadas à qualidade de todo o interface material e imaterial do destino, ao nível das amenidades territoriais e equipamentos de que dispõe e dos bens e serviços que é capaz de produzir. Mas, a verdadeira diferença reside na capacidade de oferecer experiências únicas e irreplicáveis aos nichos de mercado com maior poder aquisitivo e maior potencial transformador. Num destino com as especificidades das Aldeias do Xisto, esta diferenciação só pode ser construída a partir da sua identidade. Trata-se de um processo contínuo, inacabado

e imperfeito. Exigente nas práticas de planeamento em todas as suas vertentes, da decisão à mobilização para a operacionalização, da exploração à aprendizagem para a capacitação. Para este efeito as Aldeias do Xisto vêm convocando a disciplina do design para, a par da gestão, construir ligações e simular opções possíveis para revelar dificuldades e insuficiências antes do compromisso da ação. O projeto “Agricultura Lusitana” aprofunda a experiência deste posicionamento. Desafia-se a agregar em torno da nossa matriz identitária - a herança agrícola como essência do saber fazer, estar e ser - uma mole de atores e de fronteiras de conhecimento em áreas tão distintas como a história, a etnografia, a gastronomia, o craft, o design, as artes e ofícios tradicionais, as manualidades e a fabricação digital, a ecologia e o audiovisual, para, a partir do contexto local, idealizar e produzir bens e serviços significantes e capazes de atrair novas procuras. Gera um novo conjunto de produtos, protótipos e experiências que, para além de enriquecerem a nossa capacidade de fazer, nos permitem estabelecer novas ligações comerciais, estratégicas e afetivas com segmentos sociais, culturais e económicos, valorizadores da marca Aldeias do Xisto em Portugal e no estrangeiro. Ao nosso Cônsul Geral em Estugarda, Dr. José Carlos dos Reis Arsénio, dedicamos a apresentação dos resultados deste projeto na EUNIQUE 2015, em Karlsruhe. O seu entusiasmo e empenho pessoal e institucional merecem todo o nosso reconhecimento. Das Aldeias do Xisto um bem haja!


NOW, WHERE DO WE GO FROM HERE? RUI SIMÃO, COORDINATOR OF ADXTUR COORDINATOR OF THE PORTUGUESE AGRICULTURE PROJECT

The mission of ADXTUR - Agência para o Desenvolvimento Turístico das Aldeias do Xisto (The Agency for the Touristic Development of the Schist Villages) is to make the territory attractive, promoting sustainable social and economic development, integrated with nature and the localities. Over the last few years it has succeeded in mobilising public and private agents to adopt a strategy for touristic development aimed at improving and enhancing the local resources in the eyes of target publics and markets that are highly demanding in terms of nature tourism and social responsibility. A strategy for development centred on the mobility of persons requires an on-going openness to the outside and puts renewed demands on the quality of all the material and immaterial interface of the destination, in terms of the territorial amenities and installations it provides and the services it is capable of producing. But the real difference is in the capacity to offer unique and unrepeatable experiences to the market niches with greater purchasing power and a higher potential for transformation. In a destination with the specificities of the Schist Villages, that differentiation can only be constructed based on its identity. This is an on-going process, unfinished and imperfect. It is very demanding on the planning AGRICULTURA LUSITANA 21

practices at all stages: from the decision-making to the mobilisation for its implementation; from its operation to the learning process for the acquisition of skills. For this purpose, the Schist Villages have been calling on the discipline of design so that, along with the management, it would construct links and simulate possible options to reveal difficulties and weak points before assuming the commitment to action. The “Portuguese Agriculture” Project further exploits the experience of this positioning. It boldly assumes the task of bringing together numerous agents around the basic concept of our identity matrix – the agricultural inheritance as the essence of know-how, as a way of living and being. These agents represent the frontiers of knowledge in fields as diverse as history, ethnography, gastronomy, crafts, design, traditional arts and crafts, handicrafts and digital fabrication, ecology and audio-visuals, in order to conceive and produce goods and services based on the local context that are significant and capable of attracting new demand. The project generates a new set of products, prototypes and experiences that not only enrich our capacity to do and to make, but it also allows us to establish new commercial, strategic and emotional ties with social, cultural and economic segments that enhance the value of the Schist Villages brand in Portugal and abroad. We dedicate the presentation of the results of this project at EUNIQUE 2015 in Karlsruhe to our Consul-General in Stuttgart, Dr. José Carlos dos Reis Arsénio. His enthusiasm and personal and institutional dedication are worthy of our deep gratitude. A big thank you from the Schist Villages!


“CULTIVA A TUA CULTURA” JOÃO NUNES, DESIGNER ORIENTADOR DO PROJECTO AGRICULTURA LUSITANA

“A DESINTEGRAÇÃO DA CULTURA É A PIOR DESINTEGRAÇÃO DE TODAS, É A MAIS RADICAL QUE UMA SOCIEDADE PODE SOFRER, A MAIS SÉRIA E A MAIS DIFÍCIL DE REPARAR”. Thomas de Koninck, A nova ignorância ou o problema da Cultura

O tema Agricultura Lusitana proposto para esta exposição seria infinitamente “pobre” se não se pudesse ancorar no saber dos que registaram esta cultura - agricultores, sociólogos, antropólogos, biólogos, cineastas, musicólogos, etnógrafos de salvaguarda1 - e que nos permitem ter hoje uma visão do que fomos quando éramos “genuínos”. Chamar a atenção sobre este riquíssimo património cultural agrícola, percebido como a matriz que moldou a morfologia dos lugares e sobre os quais (des)construímos a nossa cultura, é a essência deste projeto. Perceber que a estética do lugar, a influência

do meio ambiente, o estar económico e social, provocaram alterações comportamentais e psicológicas, novos estados de espírito e modificações que são hoje a nova realidade dos lugares. Devemos refletir sobre a nova realidade, as suas causas e influências de forma a integrálas no pensamento e no desenho para a mudança, para que a possamos reinventar de forma séria. Estes desenvolvimentos têm que ser feitos a partir de argumentos concretos, imergindo no território de forma inclusiva com os habitantes do lugar, numa dinâmica de construção cujos valores saber fazer, estar e ser, têm que ser adquiridos por todos. Os princípios metodológicos do design na construção de interfaces entre as necessidades humanas e a natureza, devem ser unificadores, positivos e não podem assentar em modelos falaciosos, “...falácias históricas, populares, exóticas, sagradas, românticas, ou tradicionais.”2 O posicionamento do design em convergência com a gestão do processo motiva os resultados, o significado e o sentido conferido a todo o planeamento, cujas consequências sociais têm que ser discutidas num fórum comum. São necessárias transformações, baseadas em princípios éticos, formas de estar mais ecológicas que vão mudar a nossa forma de viver. É preciso perceber a essência do lugar e observar as características que indiciam o seu carácter. É crucial revigorar o tecido social de forma equilibrada para que as aldeias do interior rural tenham de novo famílias, padeiros, cos-


tureiras, ferreiros e carpinteiros, especialistas em turismo de natureza, biólogos, escritores e permacultores. Novos atores que no território dinamizem o desenvolvimento económico e humano através do conhecimento e da sua prática, utilizando tecnologias atuais, revitalizando as tradicionais e integrando-se no contexto social. Este projeto centrou-se também na materialização de novos produtos contemporâneos, objetos mudos, que são veículos de comunicação e que criam uma imagem mental, baseada nos sentidos e na dimensão emocional. Trouxe para o terreno alunos e professores das escolas de design, novos artífices, cientistas, estudiosos da cultura, e investigadores de design. Permitiu-nos alargar horizontes sobre o desenvolvimento futuro e refletir sobre os relacionamentos que a disciplina do design pode trazer, criando pontes de contacto e de saber entre distintas ou aparentemente opostas áreas de conhecimento. A ideia do atelier do renascimento rural é uma visão holística a partir da qual se podem imaginar novos cenários - design rural - como marca dinâmica e contemporânea coerente com os pressupostos do “decrescimento sereno”3 para promover o bem-estar pessoal, social e político no território deste projeto, Portugal. 1 - Ernesto Veiga de Oliveira — um dos fixadores do conceito em Portugal. 2 - Vitor Papanek — Arquitetura Design Ecologia e Ética. 3 - Serge Latouche —Petit traité de la décroissance sereine AGRICULTURA LUSITANA 23

“NURTURE YOUR CULTURE” JOÃO NUNES, DESIGNER ADVISOR FOR THE PORTUGUESE AGRICULTURE PROJECT

“THE DISINTEGRATION OF CULTURE IS THE WORST DISINTEGRATION OF ALL, IT IS THE MOST RADICAL THAT A SOCIETY CAN SUFFER, THE MOST SERIOUS AND THE MOST DIFFICULT TO REPAIR”. Thomas de Koninck, La nouvelle ignorance et le problème de la culture

The theme of Portuguese Agriculture presented in this exhibition would be infinitely “poorer” were it not anchored in the wisdom of those who have preserved and recorded this culture – farmers, sociologists, anthropologists, biologists, film directors, musicologists, rescue ethnographers1 - which enables us today to gain insight into what we were when we were “genuine”. Drawing attention to this rich agricultural heritage, perceived as the matrix that has shaped the morphology of places, and on which we have (de)constructed our culture, is the essence of this project.


Understanding that the aesthetics of a place, the influence of the environment, the economic and social condition, have caused behavioural and psychological changes, new moods and modifications that are today the new reality of places. We should reflect on this new reality, and its causes and influences, in order to incorporate them in our thinking and in design for change, so that we can reinvent in a serious way. These developments have to be effected from specific arguments, entering in the territory in an inclusive way with the inhabitants of the place, in a construction dynamic whose values of knowing how to do and how to be must be acquired by all. The methodological principles of design in the construction of interfaces between human needs and nature must be unifying, positive and not based on fallacious models, “... historic, popular, exotic, sacred, romantic or traditional fallacies.” 2 The positioning of design in convergence with management of the process stimulates the results, meaning and sense conferred on all the planning, whose social consequences must be discussed in a common forum. Transformations are needed, based on ethical principles and ways of being greener, that will change the way we live. We need to perceive the essence of a place and note the characteristics that indicate its character. It is crucial to reinvigorate the social fabric in a balanced way so that villages in the rural interior gain new families, bakers, dressmakers, blacksmiths and carpenters, nature tourism

specialists, biologists, writers and permaculture practitioners. New players in the territory who boost economic and human development through knowledge and its practice, using up-to-date technologies, revitalising traditional technologies and becoming part of the social context. This project also focused on the creation of new contemporary products, dumb objects, which are the vehicles of communication and create a mental picture based on the senses and on the emotional dimension. It brought to the area students and teachers from design schools, new craftsmen, scientists, culture scholars and design researchers. It enabled us to broaden horizons about future development and reflect on the relationships that the discipline of design can bring by building bridges of contact and knowledge between different or seemingly contrasting fields of knowledge. The idea of the rural renaissance workshop is a holistic vision from which we able to imagine new scenarios – rural design – as a dynamic and contemporary step that is consistent with the principles of “serene growth”3 to promote personal, social and political wellbeing in the territory of this project, Portugal.

1 - Ernesto Veiga de Oliveira — one of those who established the concept in Portugal. 2 - Victor Papanek —Ecology and Ethics in Design and Architecture 3 - Serge Latouche —Petit traité de la décroissance sereine




cultiva a tua cultura nurture your culture

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Reinventar a cultura dos lugares com as pessoas que neles habitam é a linha de atuação das Aldeias do Xisto para criar valor social e económico no nosso território. Num presente acelerado e disperso que corre para um futuro sempre incerto, é na raiz da nossa identidade que ancoramos o sentido de pertença a uma matriz cultural que nos define e afirma neste jogo global cada vez mais voraz. Convocamos a memória desse espírito comunitário, solidário, rural e genuíno para ousar fazer diferente, experimentando com base nos nossos recursos e abrindo a porta a novos pensamentos e povoadores. É sobre essa centelha de genuinidade que as Aldeias do Xisto têm vindo a construir um laboratório vivo, convocando para o território a criatividade e a experimentação, para criar núcleos de transformação do tecido social capazes de fazer germinar novas formas de fazer, estar e ser. Encontrar oportunidades para enfrentar o ciclo vicioso de declínio económico e social com que a maior parte dos territórios rurais se confronta atualmente exige um olhar renovado sobre os problemas, explorando caminhos menos percorridos. As Aldeias do Xisto chamam a si esse papel de agente experimentador e actuam a partir de três vertentes:

Estratégica - posicionar a marca Aldeias do Xisto como uma referência de sustentabilidade. Social - chamar novos atores para o território. Produto - criar bens e serviços representativos da identidade local. É com base nessa visão estratégia e linha de atuação que lançámos o projeto Agricultura Lusitana, convidando artesãos, escolas e designers a imergirem na realidade das Aldeias do Xisto.


Reinventing the culture of the places with the people who live in them is the course of action taken by the Schist Villages to create social and economic value in our territory. In a fast-paced, dispersed present that advances towards an uncertain future, it is in the roots of our identity that we anchor the sense of belonging to a cultural matrix which defines and identifies us in this increasingly voracious global game. We call on the memory of this community, supportive, rural and genuine spirit to dare to do things differently, experimenting by using our resources and opening the door to new thinking and settlers. It is on this spark of genuineness that the Schist Villages have been building a living laboratory, inviting creativity and experimentation into the territory to create hubs of transformation of the social fabric capable of incubating new ways of doing, living and being. Finding opportunities to address the vicious circle of economic and social decline that most rural areas are currently facing requires a fresh look at the problems, an exploration of less travelled paths. The Schist Villages have taken on themselves this role of experimental agent, developing their action along three strands:

Strategy - Positioning the Schist Villages brand as a reference for sustainability. Social - Attracting new actors to the territory. Product - Creating goods and services representative of the local identity. It is on the basis of this strategic vision and line of action that we launched the Portuguese Agriculture Project, inviting craftsmen, schools and designers to immerse themselves in the reality of the Schist Villages. AGRICULTURA LUSITANA 29


“— Bem! Alea jacta est! Partamos pois para as serras!... E agora nem reflexão, nem descanço!... À obra! E a caminho!” Eça de Queiroz Iniciámos o projeto Agricultura Lusitana com uma viagem pelos caminhos e lugares vividos dos cinco mil quilómetros quadrados doww território das 27 Aldeias do Xisto. Aí regressámos ao encontro de gente idosa, com muita sabedoria, de quem recolhemos histórias na primeira pessoa, mas também gente nova, a desenhar uma continuidade geracional - o futuro. Este processo foi complementado com os arquivos de família e por recolhas iconográficas de outros estudiosos que anteriormente também passaram por estes caminhos. Registaram e estudaram o património antropológico e etnográfico de um país rural que, em parte, desapareceu. Esse registo é a substância visual desta narrativa, que liga passado e presente, palavras e imagens, património paisagístico, pessoas, costumes, lugares, artefactos e tradições da nossa memória coletiva, retrato de um país e de uma marca, para que se possa compreender através da sua genuinidade a essência da alma lusa.


“—Right. Alea jacta est! We will leave for the country!... And there’s to be no time for reflection or rest!... To work! And en route!” Eça de Queiroz We began the Portuguese Agriculture project with a journey through the pathways and inhabited places of the five thousand square kilometres of land of the 27 Schist Villages. We returned there to meet elderly people and their great wisdom, from whom we gathered first-hand stories, but also young people who are building a generational continuity - the future. This process was complemented with family archives and the collation of images from other scholars who had also passed along these pathways previously, recording and studying the anthropological and ethnographic heritage of a rural country that has partially disappeared. This record is the visual substance of this narrative, linking the past and the present, words and images, the landscape heritage, the people, customs, places, artifacts and traditions of our collective memory, the portrait of a country and a distinguishing feature, so that the essence of the Portuguese soul could be understood through their authenticity. AGRICULTURA LUSITANA 31































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A variedade de solos, a riqueza da flora, o carácter intermédio do clima que permite o desenvolvimento e a mistura de plantas de várias proveniências, a sucessiva introdução, pelo homem, de muitas espécies agrárias, tudo favorece o modo de vida dominante nas regiões mediterrâneas: a agricultura. Orlando Ribeiro, Portugal, o Mediterrâneo e o Atlântico / Portugal, the Mediterranean and the Atlantic

The variety of soils, the wealth of flora, the intermediate nature of the climate that enables a mixture of plants from various sources to flourish, the successive introduction by man of many agricultural species, all foster the dominant way of life in the Mediterranean regions: agriculture.

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“… a cultura, o pensamento, as criações do povo português não estão só nos níveis eruditos (…) mas também no homem anónimo, talvez analfabeto – repositório do saber mais antigo (…) onde nós fomos beber ensinamentos, e de que proclamamos a realidade, o valor, a natureza e a beleza genuína.“ Ernesto Veiga de Oliveira, apud Benjamim Pereira, “Dados biográficos e autobiográficos de Ernesto Veiga de Oliveira” (Biographic and autobiographic information about Ernesto Veiga de Oliveira), cit.

“… the culture, the thought, the creations of the Portuguese people are not only for the learned levels (...) the nameless person, too, perhaps illiterate - repository of an older wisdom (...) where we went to imbibe teachings, and whose reality, value, nature and genuine beauty we proclaim”.

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ESPECIALISTA



AS ALDEIAS DO XISTO INTEGRAM NOS SEUS PROJETOS A POLISSÉMICA ATIVIDADE DA DISCIPLINA DO DESIGN RESPONDENDO À EMERGÊNCIA DE UM NOVO MODELO DE PENSAMENTO, HOLÍSTICO E PLURIDISCIPLINAR, QUE IMPORTA TRAZER PARA O ATO DA GESTÃO. CONVOCAR ÁREAS TÃO DIVERSAS DO SABER COMO A ANTROPOLOGIA, A FILOSOFIA, A GEOLOGIA, A HISTÓRIA, A BIOLOGIA, A ASTRONOMIA OU A ECONOMIA E CRUZAR PENSAMENTOS DE VÁRIOS AUTORES, QUE NOS TRAZEM NOVOS E VARIADOS CONHECIMENTOS, PERMITE-NOS UMA VISÃO RENOVADA E MAIS AMPLA DOS DESAFIOS A CONCRETIZAR. ESTA VONTADE DA GESTÃO DO PROJETO APOSTA NA CONSTRUÇÃO DE UMA PARTICIPAÇÃO MAIS ALARGADA E CONTINUADA COM AS ÁREAS DA CIÊNCIA E DA CULTURA.


THE SCHIST VILLAGES INTEGRATE INTO THEIR PROJECTS THE MULTIFACETED ACTIVITY OF DESIGN TO RESPOND TO THE EMERGENCE OF A NEW HOLISTIC AND MULTIDISCIPLINARY MODEL OF THINKING THAT IS IMPORTANT TO BRING INTO THE ACT OF MANAGEMENT. CALLING ON SUCH DIVERSE AREAS OF KNOWLEDGE AS ANTHROPOLOGY, PHILOSOPHY, GEOLOGY, HISTORY, BIOLOGY, ASTRONOMY AND ECONOMICS, AND CROSS-REFERENCING THE THOUGHTS OF VARIOUS AUTHORS WHO BRING NEW AND VARIED KNOWLEDGE ENABLES US TO HAVE A RENEWED, BROADER VIEW OF THE CHALLENGES TO BE OVERCOME. THIS PROJECT MANAGEMENT STRENGTH FOCUSES ON BUILDING A BROADER, ONGOING PARTICIPATION WITH THE AREAS OF SCIENCE AND CULTURE.


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PT

ÁLVARO DOMINGUES Geógrafo, docente na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto e investigador no CEA - Centro de Estudos de Arquitectura e Urbanismo

DA MINHA ALDEIA VEJO QUANTO DA TERRA SE PODE VER DO UNIVERSO…1 DA MINHA ALDEIA VEJO QUANTO DA TERRA SE PODE VER DO UNIVERSO… POR ISSO A MINHA ALDEIA É TAO GRANDE COMO OUTRA TERRA QUALQUER, PORQUE EU SOU DO TAMANHO DO QUE VEJO E NÃO DO TAMANHO DA MINHA ALTURA… NAS CIDADES A VIDA É MAIS PEQUENA QUE AQUI NA MINHA CASA NO CIMO DESTE OUTEIRO. NA CIDADE AS GRANDES CASAS FECHAM A VISTA À CHAVE, ESCONDEM O HORIZONTE, EMPURRAM O NOSSO OLHAR PARA LONGE DE TODO O CÉU, TORNAM-NOS PEQUENOS PORQUE NOS TIRAM O QUE OS NOSSOS OLHOS NOS PODEM DAR, E TORNAM-NOS POBRES PORQUE A NOSSA ÚNICA RIQUEZA É VER. ALBERTO CAEIRO, “O GUARDADOR DE REBANHOS”, 1946

A propósito do seu heterónimo Alberto Caeiro, Fernando Pessoa disse que quisera inventar um poeta bucólico, de espécie complicada, (…) que vivera quase toda a sua vida no campo, com uma tia-avó idosa, porque tinha ficado órfão de pais cedo. Era louro, de olhos azuis. Como educação, apenas tinha

tirado a instrução primária e não tinha profissão”2. Caeiro seria este homem de visão límpida e muito avesso a elaboradas cogitações: pensar é estar doente dos olhos, escreveria noutro poema. Porém, este pastor metafísico não era camponês: o trabalho duro da terra ter-lhe-ia desviado o olhar

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Les frères de Limbourg (XVe siècle), Les Très Riches Heures du duc de Berry (Outubro)

do céu e salpicado o cabelo louro de estrume. Para os poetas, as aldeias e os campos, como quase tudo, são estados de espírito. De outro modo, como encontrar na dureza do trabalho da terra tantas larguezas de horizonte? O universo onírico da aldeia está constantemente de volta como um eterno retorno, uma pulsão latente de regressar às coisas simples em tudo diferentes das longas elaborações, das complexidades do pensamento e dos actos com excesso de retórica, racionalidade ou tecnologia. Mais do que um lugar preciso, o campo é uma geografia sentimental, uma utopia feliz. Nessa floresta encantada, algures entre o natural e o sobrenatural, vivem os camponeses, espécie de povo mítico que pertence a um tempo primordial como os espíritos dos lugares, ou os rios, as pedras, os campos, a terra – coisas simples, portanto. Desde Rousseau, a J. Gottfried Herder (o inventor do volkgeist), os irmãos Grimm e toda a geração do romantismo, o povo foi sendo reinventado enquanto entidade real/imaginária, jardineiro da natureza e da paisagem, guardião da alma da nação e de coisas preciosas e puras, em tudo diferente da artificialidade e dos vícios da cidade. Como escrevia Jules Michelet3 o povo

simples (mas não simplório) seria rico de sentimentos e de bondade do coração, dotado de espírito de sacrifício e de amor pelo outro, de força, de tenacidade, de generosidade, de prudência, de virtude, coragem, trabalhador, esforçado, sofredor, heróico, altruísta, dedicado à comunidade, à família, ao amor à pátria. Estes são, basicamente, os fundamentos da mitologia romântica e luminosa dos campos, dos camponeses e das aldeias. Esta “descoberta do povo” pela alta cultura mitificou o “primitivo”, o “comunitário”, a associação da ruralidade com as “identidades nacionalistas” e os seus territórios.

1 - Alberto Caeiro, «O guardador de rebanhos» in Fernando pessoa, Poemas de Alberto Caeiro, Lisboa, Ática, 1993, p. 32, [1.ª ed., 1946]. 2 - http://casafernandopessoa.cm-lisboa.pt/index.php?id=4289 3 - Jules Michelet, Le Peuple, Paris, Comptoir des Imprimeurs-Unis, 1846

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O genius loci é a expressão dessa triologia onde coincidem, a terra, a língua, a tradição, a identidade, a espontaneidade, a raíz,… a alma de um povo, os camponeses. Por essa altura, Feliciano de Castilho repetia esta elegia dos campos e do povo camponês: “…o Campo é o solo da pátria: é o único mister, para que ainda nos restam braços, instrumentos, forças, e liberdade; é o único lavor, em que nehumas invejas estrangeiras perigosas hão-de vir perturbar-nos.”4 Romantismos à parte, como em Balzac5, os camponeses eram apenas campónios, analfabetos, seres embrutecidos que cheiravam a vinho e a fumo, homens esmagados pelo peso das superstições, do trabalho e da pobreza, trapaceiros, desconfiados, habituados a crendices e outros obscuros saberes. Para Karl Marx os camponeses eram apenas um anacronismo: “a grande massa da nação francesa é, assim, formada pela simples adição de grandezas homólogas, da mesma maneira que batatas dentro de um saco formam um saco de batatas”6. Nestas e noutras épocas e múltiplos quadrantes ideológicos, facilmente o discurso e as representações do campo e dos camponeses se contradizem. Pierre Bourdieu explica este aparente paradoxo considerando que os camponeses, tal como qualquer classe social dominada, são uma ”classe objecto”; não são uma classe que “fala”, uma classe-sujeito7. Longe então de ser uma coisa objec-

tiva, quer no discurso comum, quer no científico, dever-se-á então questionar de que é que se fala quando se fala do campo e dos camponeses. Rapidamente se chegará à conclusão que a pluralidade e a contradição dos discursos e das representações usam eufemisticamente o campo (o rural, os camponeses, as paisagens rurais, as culturas rurais,…) como plataforma discursiva para falar acerca de questões de que a sociedade e os seus actores se ocupam nos seus jogos de afirmação, dominação, distinção ou protesto. Na sociedade europeia industrial do séc XIX, o campo enquanto paraíso era o antídoto burguês para uma urbanidade dura. A função simbólica do campo e a sua mistificação (e mitificação) eram a de idealizar uma ética, uma moral, uns valores – a família, as tradições, o estoicismo, a humildade, a resignação, a capacidade de resistir…-, uma utopia social, uma ideia de mundo perfeito onde o camponês desempenhava o papel do “bom selvagem” de J.J. Rousseau e pertencia a um tempo, ao ritmo dos ciclos da natureza nos Campos Elísios. Aqui cabiam doces nostalgias de harmonia e de utopia de uma idade de ouro - como na Arcádia da Antiguidade Clássica ou nas paisagens de Nicolas Poussin ou Claude Lorrain, séc XVII -, ou uma profunda religiosidade – como no Angelus de Jean-François Millet, 1859. Um mundo aparentemente simples e laborioso, mas também

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uma claríssima orquestração ideológica para legitimar uma certa ordem social. Portugal, desde o romantismo de Garret, não escapou a esta mística. Antes pelo contrário. Os intelectuais divulgadores do país rural e profundamente pré-moderno que se arrastou até ao final da ditadura salazarista em 1974, fizeram do campo e dos camponeses uma retórica adocicada altamente tóxica, um verdadeiro ópio do povo. Ao lado dos monumentos, dos heróis das descobertas, dos navegadores e dos guerreiros…, a invenção do nacionalismo lusitano juntou o ar ora solene, ora brejeiro do camponês nos seus trabalhos, artesanatos, crenças, cantares, festas, comidas, paisagens… O Serviço Nacional de Informação, SNI, a máquina ideológica da ditadura, repescou toda a aura romântica do camponês, organizou concursos da Aldeia mais Portuguesa de Portugal, inventou ranchos folclóricos, desfiles, romarias, tradições e um sem fim de “autenticidades” de colorido regionalista do Minho ao Algarve e aos indígenas das “Províncias Ultramarinas”. Uma alegria.

Entretanto, o país rural, pobre, definhava e emigrava clandestinamente. O ciclo da desruralização foi rápido e desconcertante depois do tempo longo das mudanças lentas e das permanências8; o país pré-moderno pulou para a contemporaneidade como para um precipício: pós-moderno sem ter sido moderno. O campo em Portugal era um exercício diário da economia da escassez; tudo se aproveitava, de tudo se fazia qualquer coisa, compensava-se aquilo que a tecnologia não permitia (porque não havia ou estava injustamente distribuída) por um saber profundo acerca das bondades e das maldades da natureza e organizavam-se procissões para que chovesse ou para que o gado não morresse. É na literatura e em autores como Aquilino Ribeiro que encontramos toda a riqueza e contradição da visão culta do universo camponês, o seu poderoso imaginário, os seus atavismos e brutezas, mas também os retratos cruéis da miséria ou da violência.9 Esse mundo desfez-se quase por completo deixando uma geografia do esvaziamento onde há

4 - Antonio Feliciano Castilho (1849), Felicidade pela Agricultura, Typ. Ponta Delgada, Da Rua das Artes, 1849, p.21. 5 - Honoré de Balzac (1855), Les paysans, Paris, Alexandre Houssiaux, Éditeur, 1855 6 - Karl Marx (1851/52), O 18 de Brumário de Louis Bonaparte, Capitulo VII. 7 - Pierre Bourdieu (1977), “Une classe objet”, Actes de la Recherche en Sciences Sociales, 1977, Vol. 17, Nº 17-18, pp. 2-5. Ver tb. JeanClaude Chamboredon (1980), “Les usages urbains de l’espace rural: du moyen de production au lieu de récréation”, Revue Française de Sociologie,1980, Vol. 21, Nº 21-1, pp. 97-119 8 - Joaquim Pais de Brito, Oliveira Baptista, Benjamim Enes pereira, (org.), O Voo do Arado, Lisboa, Museu Nacional de Etnologia- Instituto Português de Museus, 1996 9 - José Manuel Sobral (2002), A etnografia de Aquilino Ribeiro, Antropológicas, nº6, pp.7-41, Universidade Fernando Pessoa, Lisboa, consultado em Fevereiro de 2015 em http://revistas.rcaap.pt/ antropologicas/issue/view/87

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muitos velhos, investimento que falta ou que não fixa emprego, funções do Estado que fecham; terras desamparadas; ruínas. Entre a nostalgia da perda de um mundo como se fosse a Arcádia, e o lamento gasto ou a indiferença face aos despojos, o desaparecimento da ruralidade deu espaço ainda maior à sua ficção. A ruralidade transformouse num conceito caótico, uma espécie de íman que atrai e fixa discursos e utopias que vão desde o neo-hippie, à permacultura, ao turismo ecoresort de luxo, ao ambientalismo para todos os gostos, à verdolatria, ao ecotech sustentável da produção agrícola e pecuária, tudo. O rural é um antibiótico de largo espectro para todas as nostalgias e incompreensões do mundo de hoje10. Para que queremos hoje umas Aldeias do Xisto?

Não será por certo para reviver a Aldeia Mais Portuguesa de Portugal de outros tempos de má memória; poderá ser um branding para a nova fileira do turismo em espaço rural que precisa dos seus “altos lugares”; poderá ser um eco-resort, um parque temático, um museu, uma folklorização. Poderá ser tudo isso, mas há outros cenários bem mais interessantes. Quero crer que a coisa é bem mais simples: queremos antídotos para tudo que é a banalização, a globalização, o descartável, o desenraizamento, a velocidade, o anonimato, a hiper-tecnologia, o excesso de mercantilização do tudo se vende; queremos um antídoto ou um freio para a vertigem da modernização e do seu desencantamento. Neste registo, nada é o que parece: a “aldeia” (de xisto ou de betão) é uma metáfora ou uma metonímia para exorcisar a “aldeia global” transformada em selva global e fixar um imaginário contrário a tudo o que se pensa que seja o lado predatório do mundo em que vivemos11: - contra a voragem infinita da tecnologia - o artífice, o artesão, o fazer passar os objectos pelas mãos; - contra o autómato, a repetição infinita, a série - o valor do objecto único; - contra a natureza-sintética - os materiais de sempre, a espessura da sua historicidade e do imaginário que contêm;

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- contra o aviltamento do trabalho impessoal dos tempos modernos – a ética e a emoção do saber fazer do artífice, do seu pensamento e da sua mão; - contra a normalização e a rotina – o empenhamento e a satisfação em fazer bem; - contra o trabalho como opressão - o trabalho como fonte de felicidade, de auto-satisfação e de marcação de um lugar na sociedade. Tudo o resto que está no mapa dos desejos e das utopias, deriva de certos princípios que, mal ou bem, definiam as práticas camponesas e as suas sócio-geografias: - A agricultura, mais do que uma mera actividade económica avaliada por critérios simples de produtividade e rendimento, era um condensador de uma visão do mundo: do natural e do sobrenatural. A economia da escassez e a necessidade da auto-suficiência exigiam uma rigorosa gestão de recursos, do tudo aproveitar, de não delapidar, de manter velhos e complexos equilíbrios na gestão e na exploração dos recursos: do menos, o mais. As tecnologias pouco sofisticadas, impunham certos determinismos naturais, mas também engenhosas formas de encontrar e encaminhar água, de com-

bater pragas, de proteger culturas, de construir alfaias, de exercitar o virtuosismo dos ofícios. Noutros casos, a dimensão dos empreendimentos e as suas próprias razões económicas e tecnológicas, envolviam toda a comunidade em sistemas e regras comunitárias, fosse para explorar água, pastorear rebanhos, criar o boi do povo, ajudar o próximo, ou cozer o pão. Estas são formas de organização do trabalho nos antípodas do capitalismo enquanto sistema económico, ético e moral. - A forte religiosidade e uma certa magificação do mundo, rodeavam todos os pequenos gestos de sentidos, crenças e rituais. Nas sociedades camponesas, a crença era uma forma para explicar o inexplicável e o transcendente e para legitimar a ordem social mesmo que injusta; para organizar o mundo e ordenar o caos; para encontrar o lugar da eternidade; para, através do ritual, apaziguar a violência e o imprevisível; para encontrar as origens, o sentido da morte e a relação com o cosmos; para criar deuses, heróis e entidade (sobre) humanas; para organizar códigos morais e legitimar padrões de conduta; mas também para festejar, celebrar, idealizar uma sociedade mais

10 - Alvaro Domingues (2012), Vida no Campo, ed. Dafne, Porto. 11 - Cf. Richard Sennett (2008), The Craftsman, New Haven, CT: Yale University Press.

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harmoniosa e justa ou legitimar a existente, exorcizar medos, estar próximo dos outros. O desencantamento do mundo de que nos falava Max Weber a propósito do irromper absoluto da racionalidade tecno-científica, retirou uma certa dimensão encantada às coisas grandes e pequenas e aos acontecimentos. A “aldeia” é o re-encantamento. - O apego à terra e aos lugares derivava da própria actividade agrícola, do seu carácter familiar, do direito sucessório dos bens imobiliários, da importância devida aos antepassados, ou dos códigos de reprodução da comunidade de vizinhos e das relações inter-geracionais. Em tempos mais recuados na Europa Medieval, o estatuto do camponês enquanto servo da gleba era, literalmente, o de pertencer à terra e aos seus senhores e com ela ser transacionado, como bem explica Georges Duby. Outra coisa diferente seria o agricultor sem terra, condenado a errar por onde houvesse trabalho e salário.

enovelava na “espessura” dos lugares e dos seus sentidos. Nas sociedades instáveis e multireferenciadas de hoje, talvez não seja esta radicalidade que se procura. Talvez apenas um ponto fixo, qualquer coisa que por excesso de massificação, de globalização e de velocidade seja capaz de criar uma diferença na “cultura-mundo” de que fala Gilles Lipovetsky. Desse ponto de vista, as Aldeias do Xisto – não importa quanto de ficção ou de realidade se é que esta dicotomia continua a ser compreensível – detêm o suficiente para encontrar coisas quase perdidas, sinais de outros mundos que, mais do que aquilo realmente foram, valem por aquilo que hoje sugerem e assim se desdobram em infinitas camadas de sentido – como o xisto.

Esta persistência por séculos repetida – e que não incluía, claro, as fugas permanentes de quem emigrava à procura de melhor vida -, construiu a imagem de uma identidade forte que envolvia comunidades e territórios como se do mesmo todo se tratasse: economia, cultura, modos de vida, imaginário, tradições, paisagens,… tudo se ÁLVARO DOMINGUES


EN

Geographer, teacher at the School of Architecture of the University of Porto and researcher at CEA – Centre for Architectural Studies and Urbanism

FROM MY VILLAGE I SEE HOW MUCH OF THE LAND AS CAN BE SEEN FROM THE UNIVERSE…1 FROM MY VILLAGE I SEE AS MUCH OF THE LAND AS CAN BE SEEN FROM THE UNIVERSE… HENCE, MY VILLAGE IS AS LARGE AS ANY OTHER LAND, BECAUSE I AM THE SIZE OF WHAT I SEE AND NOT THE SIZE OF MY HEIGHT… IN THE CITIES, LIFE BECOMES SMALLER THAN HERE IN MY HOUSE UP ON THIS KNOLL. IN THE CITY, THE GREAT HOMES LOCK AWAY THEIR VIEWS, THEY HIDE THE HORIZON AND DRAG OUR GAZE FAR AWAY FROM ALL OF THE SKY, THEY MAKE US SMALLER AS THEY TAKE AWAY THAT WHICH OUR EYES OTHERWISE COULD GIVE, THEY MAKE US POOR BECAUSE OUR ONLY RICHES ARE IN SEEING. ALBERTO CAEIRO, “THE KEEPER OF SHEEP”, 1946

As regards his heteronym Alberto Caeiro, Fernando Pessoa said that he wished to invent a bucolic poet, of the complicated type, (…) who lived almost all his life in the countryside, as if some elderly great-uncle, because he had been orphaned at an early age. He was blond with blue eyes. As his education, he had only had primary level and held no profession”2 . Caeiro would be this man of clear vision and very

prone to elaborate cogitations: thinking is being sick in the eyes, he would write in another poem. Nevertheless, this metaphysical shepherd was no peasant: toiling the land may have turned his gaze from the sky and dotted his blond hair with manure. To poets, however, the villages and the fields, as with practically everything, are states of spirit. How else might it be possible to convey

1 - Alberto Caeiro, «O guardador de rebanhos» in Fernando pessoa, Poemas de Alberto Caeiro, Lisbon, Ática, 1993, p. 32, [1st ed., 1946]. 2 - http://casafernandopessoa.cm-lisboa.pt/index.php?id=4289 AGRICULTURA LUSITANA 99

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the harshness of working lands of such great distance from the horizon? The oneiric universe of the village spins constantly around the eternal return, the latent drive to return to the simple things and in every possible way far different to the long elaborations, the complexities of thinking and the acts with their excessive dosage of rhetoric, rationality or technology. More than any precise place, the countryside is a sentimental geography, a happy utopia. In this enchanted forest, somewhere between the natural and the supernatural, there live the peasants, a mythical type of people who belong to primordial times as the spirits of the places or the rivers, the stones, the fields, the land – thus, therefore, simple things. For Rousseau and J. Gottfried Herder (who in-

vented the term volkgeist), the Brothers Grimm and the entire generation of romanticism, the people underwent reinvention as a real/imaginary entity, the gardeners of nature and the landscape, guardians of the soul of the nation and all that is precious and pure and in every way different to the artificiality and the vices of the city. As Jules Michelet3 wrote, the simple (but not simpleton) people would be rich in sentiment and good natured by heart endowed by the spirit of sacrifice alongside love for the other, out of strength, tenacity, generosity, prudence, virtue, courage, hard working, striving, suffering, heroic, altruistic, dedicated to their community, their family and to love for their nation. These are in sum the foundations to the romantic and enlightened mythology around the countryside, the peasants and their villages. This “discovery of the people” by those with high culture rendered the “primitive”, the “communitarian” with myth status along with the association of rurality to “nationalist identities” and their territories. The genius loci forms the expression of this trilogy within which the land, language, tradition, identity, spontaneity, roots all coincide,… the soul of a people, the peasants. Around this time, Feliciano de Castilho repeated this praise of the country and peasant folk: “…the Country is the soil of the nation: it is the only labour for

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which we still retain the arms, instruments, strengths, and freedom; the only true labour in which no foreign jealousies shall ever come to disturb us.”4 When setting aside such romanticisms, as Balzac does5, the peasants become mere peasants, illiterate, brutish beings that stank of wine and smoke, men broken under the weighting of superstition, toil and poverty, swindlers, distrustful, given to popular beliefs and other more obscure forms of knowledge. According to Karl Marx, the peasants represented no more than an anachronism: “Thus the great mass of the French nation is formed by the simple addition of homologous magnitudes, much as potatoes in a sack form a sack of potatoes”6. In these and in other epochs and in multiple ideological frameworks, the discourse and the representations surrounding the countryside and its inhabitants easily entered into contradictions. Pierre Bourdieu explains this apparent paradox by considering how the peasants, as with any other dominated social class, are an “object class”; they are not a class that “speaks”, a subject class7. Thus, far distant from being an objective matter, whether in common or in scientific

discourse, there clearly needs to be a questioning as to just what is being talked about when making reference to the country and to the peasants. We swiftly reach the conclusion that the plurality and the contradictions in the discourses and the representations that euphemistically draw on the countryside (the rural, the peasants, rural landscapes, rural cultures, …) serve as a discursive platform to speak on matters that society and its actors are attentive to within the framework of their plays of affirmation, domination, distinction or protest. In the industrial European society of the 19th century, the countryside stood out as a paradise and a bourgeois antidote to harsh urban surroundings. The symbolic function of the countryside and its mystification (and mythification) involved idealising an ethic, a moral code, various values – family, traditions, stoicism, humility, resignation, the capacity to withstand…- a social utopia, an idea of a perfect world in which peasants played the role of the “good savage” of J.J. Rousseau and belonged to a time set by the pace of the cycles of nature in the Elysian Fields. Here, there is full scope for nostalgias around harmony and the utopia of some

3 - Jules Michelet, Le Peuple, Paris, Comptoir des Imprimeurs-Unis, 1846 4 - Antonio Feliciano Castilho (1849), Felicidade pela Agricultura, Typ. Ponta Delgada, Da Rua das Artes, 1849, p.21. 5 - Honoré de Balzac (1855), Les paysans, Paris, Alexandre Houssiaux, Éditeur, 1855 6 - Karl Marx (1851/52), The Eighteenth Brumaire of Louis Bonaparte, Chapter VII. 7 - Pierre Bourdieu (1977), “Une classe objet”, Actes de la Recherche en Sciences Sociales, 1977, Vol. 17, No. 17-18, pp. 2-5. See also: Jean-Claude Chamboredon (1980), “Les usages urbains de l’espace rural: du moyen de production au lieu de récréation”, Revue Française de Sociologie,1980, Vol. 21, No. 21-1, pp. 97-119

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golden age – as in Arcadia in Classical Antiquity or the 17th century landscapes by Nicolas Poussin or Claude Lorrain -, or in a profound sense of religiousness – such as Angelus by Jean-François Millet in 1859. An apparently simple and laborious world but also very clearly ideologically orchestrated to legitimate a particular social order. Portugal, ever since the romanticism of Garret, also did not fail to succumb to this mysticism. Indeed, quite the contrary. The intellectuals advocating the rural and profoundly pre-modern countryside, and which persisted right through to the end of the Salazarist dictatorship in 1974, rendered the countryside and its peasant inhabitants into a sweetened but highly toxic rhetoric, a true opium of the people. Besides the monuments to the heroes of the discoveries, the great navigators and explorers…, the invention of Lusitanian nationalism combined aspect, sometimes solemn, sometimes plebeian, of peasants in their labours, crafts, beliefs, songs, festivals, foods, landscapes… The SNI – the National Information Service, the ideological machine deployed by the dictatorship, drew upon the romantic aura of the peasant, organised competitions such as the most Portuguese village in Portugal, invented folk dances, processions, pilgrimages, traditions and an endless role of “authenticities” of regionalist colour-

ing from the Minho to the Algarve and through to the indigenous peoples of the “Overseas Provinces”. Lovely. Meanwhile, in the real rural country, the poor stayed to languish or emigrated illegally. The cycle of rural desertification proceeded rapidly and disconcertingly following the long period of slow changes and imposed permanence8; the pre-modern country leaped into contemporary society as if off a cliff: post-modern without ever having been modern. Country life in Portugal involved daily engagement with an economy of scarcity; everything was used, anything might serve to make something compensating for that which technology did not enable (whether because there was not any or it was unfairly distributed) through a profound knowledge about the blessings and the curses of nature and organising processions to ensure the rains came or the cattle did not die. It is in literature and with authors such as Aquilino Ribeiro that we find all of the wealth and contradiction of the cultured vision of the peasant universe, the powerful associated imaginary, the atavisms and brutalities and alongside cruel portraits of the poverty or the violence prevailing.9 This world fell almost completely apart leaving behind a geography of emptiness populated by many elderly folk, lacking in investment and fixed means of employment, with state func-

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tions closing, lands left barren, ruins. Between the nostalgia over the loss of a world deemed some Arcadia and the spent lament or the indifference towards those displaced, the disappearance of these rural communities gave way to an even greater scope about their fiction. The rural environment got transformed into a chaotic concept, a species of guru that attracts and settles discourses and utopias that range from the neo-hippie, to permaculture, luxury eco-resort tourism through to environmentalism for all tastes, to Alain Roger’s verdolatria position, sustainable ecotech and agricultural production and livestock breeding, everything. The rural has become an antibiotic on a large spectrum for all the nostalgias and misunderstandings of the contemporary world10. Why today are we hankering after Schist Villages? The reason certainly does not involve any revival of the Most Portuguese Village of Portugal from times past of bad memories; this might constitute the branding for a new line in rural tourism that needs to harken to these “high places”; this might also be an eco-resort, a theme park, a museum, a practical folkloric representation. They

may be all of this but there are other far more interesting scenarios. I wish to believe that this is all far simpler: we seek antidotes for everything that is banality, globalisation, disposable, rootless, speed, anonymity, hypertechnology, the excess of mercantilisation of everything sold; we want an antidote or a brake put on the overwhelming pace of modernisation and the disenchantment resulting. Within this framework, nothing would be what it seems: the “village” (whether in schist or concrete) represents a metaphor or a metonymy for exorcising the “global village” transformed into a global jungle and proposing an imaginary in opposition

8 - Joaquim Pais de Brito, Oliveira Baptista, Benjamim Enes pereira, (org.), O Voo do Arado, Lisbon, National Museum of Ethnology Portuguese Institute of Museums, 1996 9 - José Manuel Sobral (2002), A etnografia de Aquilino Ribeiro, Antropológicas, no. 6, pp.7-41, Universidade Fernando Pessoa, Lisbon, consulted in February 2015 at http://revistas.rcaap.pt/antropologicas/issue/view/87 10 - Alvaro Domingues (2012), Vida no Campo, ed. Dafne, Oporto. AGRICULTURA LUSITANA 103

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to everything perceived as belonging to the predatory side to the world in which we live11: - against the infinite voracity of technology – the artifice, the artisan, making objects pass through hands; - against the automaton, the infinite repetitions, the series – the value of a unique object; - against synthesised nature – materials that last forever, the thickness of their historicity and the imaginary therein contained; - against the debasement of the impersonal labour of modern times – ethics and emotions of knowing how to make the craft, its thinking and its handiwork; - against standardisation and routine – the commitment and the satisfaction of doing well; - against labour as a means of oppression – labour as a source of happiness, self-satisfaction and establishing one’s place in society. All the rest that is on the map of our desires and our utopias and deriving from certain principles that, for the good or the bad, define peasant practices and their respective socio-geographies: - Agriculture, more than some mere economic activity evaluated by simple criteria of productivity and returns, proves a condensator for a world vision: of the natural and the supernatural. The economy of scarcity and need for self-sufficiency requiring the careful manage-

ment of resources, taking advantage of everything, not overexploiting, maintaining the old and complex balances in the management and extraction of resources: from less, more. Relatively unsophisticated technologies, imposing certain natural determinisms but also ingenious means of finding and transporting water and combating plagues, protecting crops, building tools and virtuously practicing their trades. In other cases, the scale of the undertakings and their underlying economic and technological reasons, involve the entire community in shared systems and rules, whether for the exploration of water, tending flocks or the village bull or baking the bread so as to help out others. These forms of organising labour are positions on the antipodes of capitalism as an economic, ethical and moral system. - The strong religiosity and a certain magnification of the world, flanked all of the small gestures of meanings, beliefs and rituals. In rural societies, belief was one means of explaining the unexplainable and the transcendental and thus legitimate the prevailing social order even when unjust; to organise the world and structure the chaos; to encounter the place for eternity; and, through ritual, to soften the violence and the unpredictability; to encounter the origins, the sense of death

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and the relationship with the cosmos; to create gods, heroes and (super)human entities; to settle moral codes and legitimate patterns of conduct; but also to hold festivities, celebrate, idealise a more harmonious and fairer society or legitimating that existing, exorcising fears and attaining proximity with others. The disenchantment with the world that Max Weber told us about, as regards the absolute breaking with a techno-scientific rationality, stripped a certain enchanted dimension to the big and little matters and all their events. The “village” is the re-enchantment. - The attachment to the land and places derives from the agricultural activity itself, its family based character, with the rights of successive heirs to the property, the importance paid to the ancestral tree, or the codes of reproduction of neighbours and their inter-generational relations. In the most distant reaches of Medieval Europe, the statute of peasant as a servant of the land was literally that of belonging to the land and to its masters and transacted alongside such holdings as Georges Duby so well explains. Another different factor would be the landless farmer condemned to labour wherever there was work and a wage.

This persistence repeated down through centuries – and that clearly does not include the constant flight of those emigrating in search of a better life -, constructed the image of a strong identity that involved communities and territories as if dealing with a single whole: economy, culture, ways of life, imaginaries, traditions, landscapes, … everything enveloped in the “thickness” of places and their feelings. In the unstable and multiple referenced societies of today, perhaps this is not the radical goal striven for. Perhaps only a fixed point, something that, due to an excess of massification, of globalisation and speed, proves able to create a difference in the “world culture” Gilles Lipovetsky speaks of. From this point of view, the Schist Villages – and it does not matter how much of fiction or reality these incorporate whilst this dichotomy still remains understandable – contain enough to find those almost lost things, signs of other worlds that, more than that which they really once were, stand for that which today conveys and hence unfurls infinite layers of meaning – like schist itself.

11 - Cf. Richard Sennett (2008), The Craftsman, New Haven, CT: Yale University Press.

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ALASTAIR FUAD-LUKE Professor de Práticas de Design Emergentes, Aalto ARTS, Universidade de Aalto, Helsínquia, Finlândia

CAPACIDADES DO DESIGN

O design é uma atividade de construção de funções, relações e significados que tem de se confrontar com realidades contingentes1. Essas atividades exprimem-se, frequentemente, pela conceção de novos produtos, serviços e experiências destinados ao mercado, isto é, ao mercado neoliberal, identificado por Félix Guattari como Capitalismo Mundial Integrado (CMI) - “desloca-

lizado e desterritorializado a um ponto tal que é impossível localizar a sua fonte de poder”2. Intrínseca a esta construção económica é a separação entre produtor, consumidor e localização da produção concreta das mercadorias. Por contraste, o design está situado de modo único na Agricultura Lusitana (vejam-se os projetos da Água Musa e L4Craft) para fertilizar e gerar cruzamentos de novas relações e significados, não apenas através de novos artefactos mas através do envolvimento de combinações diferentes de capital humano, social, público e privado com capitais naturais vivos e não-vivos (a geologia do Xisto)3. Estas atividades podem ser analisadas através de três lentes: local, condições de vida e liminaridade e, para ser sustentável, deverão ser enquadradas num mundo Pós-Pico petrolífero4. Locale é uma combinação única de capitais no seio de uma biogeografia e história cultural específicas. É distinta, autêntica e, para os habitantes, intuitiva. Um artefacto de um locale deveria revelar estas relações, implícita

1 - Fuad-Luke, Alastair. 2014. ‘Design(-ing) for Radical Relationality: “Relational Design” for confronting dangerous, concurrent, contingent realities, pp.42-73. In MA Jin and LOU Yongqi. eds. Emerging Practices in Design. Professions, Values and Approaches. Shanghai, China: Tongji University Press. 2 - Guattari, Félix. 2000 (1989). The Three Ecologies. Traduzido por Ian Pindar e Paul Sutton. Bloomsbury: New York, p.4. 3 - Veja-se o enquadramento em open source designCapitalia de A.Fuad-Luke et al, 2012, que desafia os designers a pensarem em como combinar estes capitais no seu design e estarem conscientes se isto levará a um aumento, diminuição ou não terá efeito sobre os capitais empregues. Ver http://window874.com/2012/09/28/designcapitalia-launched-at-okf/ 4 - Pico petrolífero refere-se ao facto de nós humanos termos usado aproximadamente metade dos recursos energéticos fósseis conhecidos desde que o petróleo foi usado comercialmente pela primeira vez em 1876. Dado que a procura está em forte crescimento, espera-se que as reservas viáveis se esgotem ou estejam severamente gastas em 2050, daí o conceito de um mundo Pós-Pico petrolífero onde serão necessárias outras formas de energia para produzir as coisas de que necessitamos. ALASTAIR FUAD-LUKE


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ou explicitamente. Condições de vida são o modo como equilibramos o trabalho e a vivência num locale, isto é, inclui o mercado, mas abarca também outros valores. A Liminaridade é uma zona de fluxo, transição e dinâmicas, tal como a zona limiar entre a baixa-mar e a preia-mar. Sugere que a nossa atividade de design deve embeber os meios de adaptação a circunstâncias em mudança como o clima ou a economia. Estas lentes fundem-se num meta-enquadramento de uma economia local robusta onde a identidade das Aldeias do Xisto é apoiada por um consumo exógeno (turistas, exportação) e consumo endógeno (os habitantes). A base desta proposta é de um conceito de design ativista porque as questões são de locale, condições de vida e liminaridade, e não apenas o mercado. Os designers profissionais e os fazedores redefinem a identidade do xisto juntamente com os habitantes e outros interessados. A prática do design é fazer, mas fazer algo que permita às pessoas com novas competências aumentar as suas capacidades. Isto é design ativista. Onde a visão é autonomia e não dependência, orgulho e não servidão, e sustentação significativa que celebre as suas origens.

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Professor of Emerging Design Practices, Aalto ARTS, University of Aalto, Helsinki, Finland

DESIGNING CAPABILITY Design is an activity of constructing functions, relations and meanings which must face contingent realities1. These activities are often expressed through the design of new products, services and experiences for the marketplace, aka the neo-liberal market, identified by Félix Guattari as Integrated World Capitalism (IWC) - ‘delocalised and deterritorialised to such an extent that it is impossible to locate the source of its power’2. Integral to this economic construct is the separation of producer, consumer and the environs of the actual production of goods. In contrast, design is uniquely placed within Agricultura Lusitana, witness the Água Musa and L4Craft projects, to fertilise and hybridise fresh relations and meanings, not just through new artefacts but through involving different combinations of human, social, public and commercial capital with living and non-living (the Schist geology) natural capitals3. These activities could be considered through three lenses: locale, livelihood and liminality and, to be sustained,

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should be framed in a Post-Peak oil world4. Locale is a unique combination of capitals within a specific bio-geography and cultural history. It is distinctive, authentic and, for the inhabitants, intuitive. An artefact from a locale should reveal these relations, implicitly or explicitly. Livelihood is the means by which we balance work and living in a locale i.e. it includes the marketplace but also embraces other values. Liminality is a zone of flux, transition and dynamics, like the liminal zone between high and low tides. It suggests that our designing must embed the means to adapt to changing circumstances such as climate and economy. These lenses coalesce in a meta-framing of a robust local economy where the identity of the Schist villages is supported by exogenous consumption (tourists, exports) and endogenous consumption (the inhabitants). The radix of this proposition is design activist because the issues are locale, livelihood and liminality, not just the marketplace. Profes-

sional designers and makers re-define the Schist identity together with the inhabitants and other stakeholders. To design is to make, but to make something which enables people with new competences raises their capability. This is design activism. Here the vision is autonomy not dependency, pride not servitude, and meaningful sustenance which celebrates its origins.

1 - Fuad-Luke, Alastair. 2014. ‘Design(-ing) for Radical Relationality: “Relational Design” for confronting dangerous, concurrent, contingent realities, pp.42-73. In MA Jin and LOU Yongqi. eds. Emerging Practices in Design. Professions, Values and Approaches. Shanghai, China: Tongji University Press. 2 - Guattari, Félix. 2000 (1989). The Three Ecologies. Translated by Ian Pindar and Paul Sutton. Bloomsbury: New York, p.4. 3 - See the open source designCapitalia framework by A. Fuad-Luke et al, 2012, which asks designers to consider how to combine these capitals in their designing and to be cognisant of whether this will lead to an increase, decrease or no net effect on the capitals deployed. See http://window874.com/2012/09/28/designcapitalia-launched-at-okf/ 4 - Peak oil refers to the fact that we humans have currently used approximately half of the known fossil fuel resources since oil was first commercially used in 1876. Given that demand is strongly rising it is expected that viable reserves will run out or be seriously depleted by 2050, hence the concept of a Post-Peak oil world where other forms of energy are needed to produce the things we need. ALASTAIR FUAD-LUKE


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CLÁUDIA ALBINO Arquitecta/designer, investigadora no ID+ e docente na Universidade de Aveiro

COLERE, DESIGN E ARTESANATO PARA A SUSTENTABILIDADE DO TERRITÓRIO LUSITANO Os saberes tradicionais revelaram-se modernos na forma como resistiram ao saber hegemónico e por isso devem ser concebidos como modernidades alternativas (Santos apud Santos & Meneses 2009). O projecto Agricultura Lusitana desenvolvido nas Aldeias do Xisto, em Portugal, integra um conjunto de projectos que têm vindo a ser realizados em várias partes do mundo, promotores de diálogos do design com o artesanato com o objectivo de desenvolver um Design com sentido na promoção das culturas e identidades do território, através da revitalização de técnicas artesanais. Como estou a falar de projectos promotores das identidades dos territórios recorrendo ao design a partir de uma abordagem cultural, isto é, através da capacidade do design olhar uma cultura, AGRICULTURA LUSITANA 109

descobrir, despertar e potencializar os seus valores essenciais. Transcendendo o objecto, redesenhando relações, recriando formas, ligando pessoas e compartilhando ideias (Rosenbaum, 2014), escrever a propósito do Agricultura Lusitana conduz-me a fazer algumas considerações sobre Portugal. No actual território português, habitaram Iberos, Celtas, Gregos, Fenícios, Suevos, Vândalos, Visigodos, Romanos, Alanos, Árabes e outros povos Africanos. Deste modo, os portugueses resultam das tradições hebraicas, cristãs, e muçulmanas e outras religiões mais primitivas panteístas, pelo que a diversidade cultural é uma qualidade endógena da genealogia portuguesa. Esta heterogeneidade portuguesa – referida por Álvaro Siza, em 2004, como a irreprimível tendência ao encontro e à tolerância (poderia chamá-la de admirável cedência?) que urge cultivar (Siza apud Morais, 2009:301) – favorece a actuação do Design no território como um mediador cultural relacional, tal como o apresentou Andrew Blauvelt, em 2008, em Toward Relational Design, referindo que o Design se encontra numa nova fase, que pode ser caracterizada pelo interesse pelas metodologias relacionais. Escreveu o autor: Creio que nos encontramos na terceira grande fase da história do design moderno: uma era de design relacional e contextual(...) A terceira vaga do design começou em meados da década 1990 e explorou a dimensão performativa do design – os seus efeitos nos

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utilizadores, as suas restrições pragmáticas e programáticas, o seu impacto retórico e o seu potencial facilitador de interacções sociais (Blauvelt in Pli* Arte & Design: 2011: 7). Nesta perspectiva apontada por Blauvelt, o Design, enquanto mediador cultural relacional, pode actuar no território dialogando transdisciplinarmente com todos os agentes dos seus lugares, com a ambição da valorização da sua “diferença positiva”, o que implicará uma reflexão sobre quais poderão ser os contributos de cada lugar em particular para uma consciência ecológica global, que hoje, mais do que necessária, é premente. Assim, na perspectiva de um Design que procura articular saberes, retoma-se a origem da palavra cultura como fonte de evidência à interpretação desta proposta. Cultura deriva do verbo latino, colere, que significa cultivar a terra. Isto significa investir para reinventar o mundo; segundo esta lógica poder-se-á, através da inteligência, usar a cultura para investir e inovar conceptualmente e tecnologicamente. Este uso da cultura observa-se na experiência Agricultura Lusitana – sendo sublinhada na designação do próprio projecto – pela recorrência a saberes ancestrais já depurados pelo tempo, com o objectivo de construir e disponibilizar ofertas culturais contemporâneas e contra-hegemónicas. Sabendo que a produção portuguesa é de baixo

índice tecnológico (Rosa & Chitas, 2010) mas, simultaneamente muito rica ainda hoje em técnicas artesanais, considero que esta realidade associada à presente crise económica, social e ambiental, se apresenta como uma circunstância privilegiada para que o Design, em Portugal, possa construir conhecimento novo, pela ressignificação do artesanato, criando novas “condições de possibilidade do seu território”. Desde o ano de 1987 – ano das duas primeiras experiências dialógicas entre o design e o artesanato que encontrei no território português, nomeadamente o Concurso do Design Artesanal e o projecto das Capuchinhas de Montemuro – que se têm vindo a realizar no território português uma série de projectos de parceria entre o design e o artesanato, com o objectivo da valorização do território. Estes projectos, promovidos inicialmente apenas por agentes privados e mais recentemente por agentes público-privados, contribuíram para o reconhecimento público, da administração portuguesa, da utilidade destas parcerias para a valorização das identidades dos lugares no séc. XXI, tal como acontece nas Aldeias do Xisto, desde 2011, com os projectos Água Musa e L4Craft que antecedem o Agricultura Lusitana. Estes três projectos foram liderados na área do design pelo João Nunes, designer coordenador de muitos outros projectos de

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Craft+Design, alguns em formato de residência na Íris Darga, em Vilares, no concelho de Vila Nova de Cerveira, e outros integrados enquanto programas das unidades curriculares de projecto nas licenciaturas dos Cursos Superiores de Design nos quais lecciona. Os três projectos desenvolvidos nas Aldeias do Xisto têm o objectivo comum de promover os seus lugares pela ressignificação dos saberes tradicionais pelo design, criando novos produtos e serviços glocais capazes de proporcionar, pelos seus usos, novas experiências e novas memórias indutoras de novos sentidos para o território. Tenho considerado que estes produtos correspondem a desejos rurais com desenhos urbanos ou, a desejos urbanos com desenhos de matriz rural, sendo o valor simbólico que lhes é atribuído, muitas das vezes, superior a um desempenho técnico. São produtos entendidos como veículos de memórias e de afectos que possibilitam o sentido de pertença das pessoas aos lugares, que

na procura de renovadas identidades desejam, através da aquisição destes produtos híbridos, únicos e sustentáveis e dos quais sabem a proveniência, encontrar um tempo humano e lento que não têm, mas que desejam, isto é a procura de um tempo perdido, tal como o afirmou David Le Breton (1998). Concluo, afirmando que a realização de três projectos consecutivos nas Aldeias do Xisto de Craft+Design é demonstrativa do reconhecimento por vários actores públicos e privados de que as Técnicas Artesanais podem ser entendidas como modernidades alternativas ao saber hegemónico e que, pela sua transcriação possibilitam a valorização da nossa diferença, reconhecendo-a como um meio para o êxito num processo de globalização.

Referências bibliográficas: Albino, C. (2015). Os sentidos do lugar. Valorização da identidade do território pelo design. Aveiro. Tese de doutoramento apresentada na Universidade de Aveiro. Albino, C. (2013). Os sentidos dos lugares: oportunidades para um design contextual. In Albino, C. (coord.ed.). Editoria: Design, Artesanato & Indústria, (XIII-XXXI). Guimarães, ed. Fundação Cidade de Guimarães. Blauvelt, A. (2011). Para um design relacional. In Bártolo, J., et al. Pli*Arte & Design. Matosinhos, ed. ESAD. Breton, D. (1998). Les Passions Ordinaires: Annthropologie des émotions. Paris, ed. Armand Colin.Morais, C. (coord.). (2009). 01 Textos Álvaro Siza Porto, ed. Civilização Editora. Rosa, M. & Chitas, P. (2010). Portugal: os números. Lisboa, ed. FFMS. Santos, B. & Meneses, M. (orgs.). (2009). Epistemologias do Sul. Coimbra, ed. Almedina. Silva, A. & Jorge, V. (orgs.). (1992). Existe Uma Cultura Portuguesa? Porto, ed . Edições Afrontamento. Fontes Electrónicas www.aguamusa.com (acedido em Junho, 11, 2012). www.aldeiasdoxisto.pt/institucional/9/5 (acedido em Junho, 11, 2012). www.cearte.pt (acedido em Junho de 2012). www.l4craft.com (acedido em Fevereiro de 2015). www.rosenbaum.com.br/arte-fato (acedido em Junho 2014). AGRICULTURA LUSITANA 111

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Architect/designer, researcher in RD + teacher at the University of Aveiro

COLERE, DESIGN AND ARTISANSHIP FOR THE SUSTAINABILITY OF LUSITANIAN TERRAINS

The traditional flavours prove modern in the way in which they withstand the hegemonic taste and hence should be conceived of as alternative modernities (Santos apud Santos & Meneses 2009). The Portuguese Agriculture project under development in the Schist Villages in Portugal integrates a set of different dimensions that have already been set up in various parts of the world to foster dialogues between design and artisanship with the objective of devolping a Design style reflecting and promoting the cultures and identities of the respective territory through the revitalisation of artisan techniques. Since I am talking about projects nurturing the identities of territories through recourse to design based on a cultural approach, hence, through the capacity for design to perceive culture, discover, awaken and leverage its essential values. Transcend-

ing the object, redesigning relations, recreating forms, connecting people and sharing ideas (Rosenbaum, 2014), writing about Portuguese Agriculture led me to draw some considerations about Portugal. In what is contemporary Portuguese territory, there have lived Iberians, Celts, Greeks, Phoenicians, Suevi, Vandals, Visigoths, Romans, Alans, Arabs and other African peoples. Hence, the Portuguese result from Hebrew, Christian, and Muslim traditions along with other more pantheist and primitive religions and therefore rendering cultural diversity an endogenous quality of Portuguese genealogy. This Portuguese heterogeneity – referred to by Álvaro Siza in 2004 as the irrepressible tendency for reaching out and tolerating (we might call this admirably ceding?) that urges cultivating (Siza apud Morais, 2009:301) – favours the actions of Design in the territory as a relational cultural mediator, as was presented by Andrew Blauvelt, in 2008, in Toward Relational Design, referring to how Design was entering in a new phase that might best be characterised by an interest in relational methodologies. As the author wrote: I believe that we find ourselves in the third grand phase in the history of modern design: an era of relational and contextual design (...) The third design wave began in the mid-1990s and explored the performative dimension to design – its effects on its users, its pragmatic and programmatic restrictions, its

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rhetorical impact as well as the facilitating potential of its social interactions (Blauvelt in Pli* Arte & Design: 2011: 7). In the perspective drawn by Blauvelt, Design, as a relational cultural mediator, may act in the territory in dialogue across disciplinary fields with all their respective actors in their places, with the ambition of valuing their respective “positive difference”, which implies a reflection on that which each particular place might make towards a global ecological conscience that today, more than necessary, proves overriding. Therefore, from the perspective of a Design striving to articulate forms of knowledge, we return to the origins of the word culture as a source of evidence regarding the interpretation of this proposal. Culture derives from the Latin verb, colere, that means to cultivate the land. This thus means that reinventing the world; according to this logic may enable, through due intelligence, the usage of culture as means of investing and conceptually and technologically innovating. This application of culture may be observed in the Lusitanian Agriculture experience – and underlined in the very title given to this project – due to the recourse to ancestral learnings and ways, already thinned out by time, with the objective of building and making available contemporary counter-hegemonic cultures. AGRICULTURA LUSITANA 113

Having grasped how Portuguese production involves low technology levels (Rosa & Chitas, 2010) but, and simultaneously, still today very rich in artisan techniques, I consider that this reality associated with the present economic, social and environmental crisis, emerges as very favourable circumstances for Design in Portugal to begin building new knowledge through re-endowing meaning on such artisanship and thus creating new “conditions for the possibilities of its territory”. Since 1987 – the year of the first two dialogue experiments between design and artisanship that I found in Portugal, specifically the Artisan Design Competition and the Capuchinhas de Montemuro project – there have been a series of projects in the country involving partnerships between design and artisanship with the objective of boosting the territory’s level of development. These projects, promoted initially only by private actors but more recently involving publicprivate actors and contributing to the public and government recognition of the utility of these partnerships in order to enhance identity based values in the 21st century as has happened in the Schist Villages since 2011 with projects such as Água Musa and L4Craft that predate Lusitanian Agriculture. These three projects had their design teams led by João Nunes, designer coordinator of many other Craft+Design projects,

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some in the residency format with Íris Darga in Vilares, in the council of Vila Nova de Cerveira, along with others integrated into the project curricular units on the university Design programs that he lectures. These three projects, implemented under the auspices of Schist Villages, hold the shared objective of fostering in these places the re-meaning of their traditional flavours through design, resulting in new glocal products and services able to, through their consumption, bring about new experiences and new memories and inducing new meanings to the territory. I have already referred to how these products correspond to rural desires with urban designs or urban desires with designs from a rural matrix with the symbolic value that they are awarded proving on many occasions far greater than the technical performance. Such products are understood as vehicles of memories and affections that enable

the feeling of people belonging to places that in seeking out renewed identities strive, through the acquisition of these hybrid, unique and sustainable products and which they know the origins of, to find a human and slow time that they now do not have but that they desire, this thus constitutes the search for a lost time, as David Le Breton proposed (1998). In conclusion, affirming that the implementation of the three consecutive projects in the Schist Villages by Craft+Design represents the recognition by various public and private actors that Artisan Techniques may be understood as alternative modernities to the hegemonic knowledge and that, by their trans-creation enable the valuation of our difference, recognising them as one means of success within the process of globalisation.

Bibliographic references: Albino, C. (2015). Os sentidos do lugar. Valorização da identidade do território pelo design. Aveiro. Doctoral thesis submitted to the University of Aveiro. Albino, C. (2013). Os sentidos dos lugares: oportunidades para um design contextual. In Albino, C. (coord.ed.). Editoria: Design, Artesanato & Indústria, (XIII-XXXI). Guimarães, ed. Fundação Cidade de Guimarães. Blauvelt, A. (2011). Para um design relacional. In Bártolo, J., et al. Pli*Arte & Design. Matosinhos, ed. ESAD. Breton, D. (1998). Les Passions Ordinaires: Annthropologie des émotions. Paris, ed. Armand Colin. Morais, C. (coord.). (2009). 01 Textos Álvaro Siza Porto, ed. Civilização Editora. Rosa, M. & Chitas, P. (2010). Portugal: os números. Lisbon, ed. FFMS. Santos, B. & Meneses, M. (orgs.). (2009). Epistemologias do Sul. Coimbra, ed. Almedina. Silva, A. & Jorge, V. (orgs.). (1992). Existe Uma Cultura Portuguesa? Oporto, ed. Edições Afrontamento. Online Sources www.aguamusa.com (accessed on June 11, 2012).www.aldeiasdoxisto.pt/institucional/9/5 (accessed on June 11, 2012). www.cearte.pt (accessed in June 2012). www.l4craft.com (accessed in February 2015).www.rosenbaum. com.br/arte-fato (accessed in June 2014). CLÁUDIA ALBINO


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EDUARDO ANSELMO DE CASTRO Professor Associado da Universidade de Aveiro Coordenador da Unidade de Investigação GOVCOPP - Governação, competitividade e Políticas Públicas Coordenador do Grupo de Estudos em Território e Inovação

ALDEIAS COM FUTURO

Uma parte considerável do território português enfrenta sérios desafios demográficos, resultantes de uma estrutura da população envelhecida combinada com uma baixa fecundidade e que se traduzirão na incapacidade de renovação de gerações, que só pode ser compensada por um forte surto de imigração. Este fenómeno não é específico do contexto nacional, mas faz-se sentir de forma muito mais intensa nos territórios do interior, marcados por décadas de saída de população jovem. É este o caso da área de intervenção da ADXTUR, onde envelhecimento coexiste com baixa densidade demográfica e consequentes problemas de isolamento e dificuldade de obter economias de escala. Mesmo o isolamento e o declínio têm uma faceta positiva, que a ADXTUR tem explorado com AGRICULTURA LUSITANA 115

criatividade e capacidade de iniciativa singulares: a preservação de um património natural cultural e edificado que a urbanização e o progresso económico teriam destruído no processo descaracterizador da uniformização do gosto e das práticas quotidianas. A ADXTUR, enquanto agente experimentador e mobilizador de criatividade e ação conseguiu afirmar um processo de fusão do artesanato com o design, agregando ofertas e procuras, eliminando fronteiras, cerzindo de abordagens sectoriais e ligando os saberes e competências locais com o sistema científico e técnico. Explorando formas de governação colaborativas que ligam agentes públicos e privados, arriscando novas formas de fazer, criou uma reserva de capital social capaz de transformar um território em declínio num espaço de futuro.

EDUARDO ANSELMO DE CASTRO


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Associate Professor, University of Aveiro Coordinator of the research unit, GOVCOPP Governance, competitiveness and Public Policies Coordinator of the Territory and Innovation Study Group

VILLAGES WITH A FUTURE

A considerable part of Portuguese territory is facing serious demographic challenges, arising from a combination of ageing population and low birth rate. This results in an inability to replace generations and can only be offset by a strong surge of immigration. This phenomenon is not specific to the country as a whole; it is particularly intense in the hinterlands, which for decades have seen large numbers of young people leaving. And this is true in ADXTUR’s area of intervention, where ageing coexists with low population density and the resulting problems of isolation and the difficulty of achieving economies of scale. But isolation and decline nonetheless have a positive aspect that ADXTUR has exploited with remarkable creativity and capacity for initiative: the preservation of a natural, cultural and built heritage that urbanisation and economic progress have been destroying in the process of standardising everyday tastes and habits, rendering them featureless.

ADXTUR operates to experiment with and mobilise creativity and action and has managed to endorse a process that blends craftsmanship and design, aggregating supply and demand, eliminating boundaries, linking up sectorial approaches and local knowledge and skills with the scientific and technical system. By exploring collaborative forms of governance that connect public and private actors and venturing new ways of doing things, it has established a stock of social capital capable of turning a territory in decline into a place with a future.

EDUARDO ANSELMO DE CASTRO


PT

FRANCISCO PROVIDÊNCIA Designer investigador no ID+ e docente na Universidade de Aveiro

AGRICULTURA LUSITANA NO CONTEXTO EUROPEU

Com uns cinco anos de idade, acompanhei o meu pai em campanhas de formação rural sobre o milho híbrido. O Estado inaugurava a revolução agrária na segunda metade do séc. XX, contribuindo para que os “lavradores” passassem da Idade do Ferro para a modernidade da indústria agropecuária. A introdução do milho híbrido no séc. XX, (tal como do milho americano no séc. XVIII), sustentou uma revolução económica no Minho, pelo menos até à adesão ao mercado comum. Com 15 anos, fui apanhar fruta em Itália. Para meu espanto vi, simplesmente abandonadas, dezenas de vacarias industriais, equipadas com as mais sofisticadas tecnologias de automatização alimentar e ordenha. Percebi então que a indusAGRICULTURA LUSITANA 117

trialização rural europeia era globalmente administrada e planificada. Com 25 anos visitei uma quinta no sul de França dedicada à produção artesanal de queijo de cabra. O queijo era vendido em feiras semanais onde afluíam comuns consumidores urbanos que o preferiam a outros industriais. A Espanha e a França souberam manter com proveito, nichos de produção rural em regime artesanal, a par da produção massificada, conferindo-lhes um estatuto de luxo que permitiu a sobrevivência de inúmeras unidades de produção agrícola de vinho, queijo, enchidos, pasta de fígado, doçaria, mas, e sobretudo, a conservação de culturas geradas e adaptadas aos seus territórios. Ao refletir sobre o projeto da Agricultura Lusitana, não posso deixar de ponderar que a sustentabilidade (económica e social) das Aldeias do Xisto, passe pela regenerada revolução da sua agricultura. O desenho da Agricultura Lusitana não poderá ignorar o acesso à tecnologia contemporânea (química, informática ou genética). Como diz o mestre zen Shunryu Suzuki, a conservação do lugar passará pela ambivalência da mudança, porque tudo está em constante mudança, não existindo uma identidade, ou um “eu” permanente. Nesse sentido a natureza essencial de cada experiência, não é se não a sua própria mudança.

FRANCISCO PROVIDÊNCIA


EN

O design, enquanto mediador cultural para a Designer researcher at ID+ and lecturer mudança, terá aqui um papel essencial, adequan- at the University of Aveiro do os ofícios (craft), aos usos neste tempo e lugar. Mas para isso terá de aprender a cultura do PORTUGUESE lugar, o seu espírito (genius loci), recebendo um AGRICULTURE IN THE conhecimento antiquíssimo que se perpetuou EUROPEAN CONTEXT pela cultura. O resultado será, inevitavelmente, não a conservação cultural da Beira Alta, mas a recriação de uma nova cultura do lugar e, conseWhen I was 5 years old, I accompanied my faquentemente, de uma nova identidade. ther on rural education campaigns about hybrid maize. The State initiated the agrarian revolution in the second half of the twentieth century, helping “farmers” to move from the Iron Age to modern agricultural and cattle industry. The introduction of hybrid maize in the twentieth century (as with American corn in the eighteenth century), supported an economic revolution in the Minho, at least until accession to the Common Market. At the age of 15, I was picking fruit in Italy. To my amazement, I saw dozens of industrial dairies equipped with the most advanced automated feeding and milking technologies simply abandoned. I realised then that rural industrialisation in Europe was planned and managed globally. When I was 25, I visited a farm in the south of France devoted to the artisanal production of goats’ cheese. The cheese was sold at FRANCISCO PROVIDÊNCIA


weekly markets frequented by ordinary urban consumers who preferred it to the other industrially produced cheeses. Spain and France have found how to profitably preserve niches of rural artisanal production alongside mass production by conferring on them a luxury status that has enabled the survival of numerous wine, cheese, sausage, liver pâtÊ and confectionery agricultural production units, but above all, the preservation of cultures generated and adapted to their territories. Reflecting on the Portuguese Agriculture project, I cannot help thinking that the sustainability (economic and social) of the Schist Villages will depend on a renewed revolution in its agriculture. The design of Portuguese Agriculture must not ignore access to contemporary technology (chemistry, information technology or genetics). As the Zen master Shunryu Suzuki says, the preservation of place will reflect the ambivalence of change, because everything is in constant change, there is no identity or abiding self. In fact, the self-nature of each existence is nothing but change itself. Design, as a cultural mediator for change, will have a key role here, adapting craft to the habits of this time and place. But for this we have to learn the culture of the place, its spirit (genius loci), receiving an age-old knowledge that AGRICULTURA LUSITANA 119

has been perpetuated by the culture. The result will inevitably be, not the cultural preservation of the Beira Alta, but the re-creation of a new culture of the place and, consequently, a new identity.

FRANCISCO PROVIDĂŠNCIA


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GÉRARD MERMOZ Artista, designer, escritor e curador

MODERNIDADE: A REINVENÇÃO DA TRADIÇÃO…

“NA NATUREZA NADA SE CRIA, NADA SE PERDE, TUDO SE TRANSFORMA”. LAVOISIER

Picasso em tempos afirmou que o nascimento de um novo estilo nas Artes não faz com que os estilos anteriores se tornem obsoletos; muda antes a nossa relação com eles, um convite a relacionarmo-nos com a tradição de forma diferente. Isto denota que a História se desdobra em formas complexas de continuidade que unem o passado, presente e futuro através de uma série de transformações constantes. Tendo em conta esta continuidade com o passado, como a essência da Cultura, é importante para nós preservar a nossa identidade cultural e deixá-la evoluir como parte da História da humanidade. O caminho a seguir deverá ser a integração de to-

dos os aspetos da Cultura – desde a gastronomia ao artesanato, design e fabrico, até ao estilo de vida e consumo (num contexto de responsabilidade e sustentabilidade). As comunidades que têm como ambição agarrar o futuro nas suas próprias mãos têm de arranjar meios de resistir às formas agressivas do Darwinismo social, político, económico e cultural e a intensificação da produção e consumo em massa que aquele acarreta. No entanto, isto não acontece sem ser de uma forma concertada. Primeiro, há que imaginar alternativas viáveis para depois as fomentar com base nas nossas necessidades e nas das gerações futuras. Esta instância de um planeamento responsável e sustentável como parte da regeneração rural e urbana – para promover a felicidade – visa colocar o humanismo no cerne da questão para além dos interesses económicos e políticos individuais dissidentes. Gerir a regeneração constante da Cultura, de geração em geração, através de mudanças sociais significativas, é vital se quisermos preservar a nossa identidade na diferença (dentro da União Europeia e a uma escala planetária) e manter a possibilidade de um diálogo fértil entre pessoas e países; através, por exemplo, de um turismo sustentável. A Educação terá um papel fundamental nesta

GÉRARD MERMOZ


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“Renascença” a todos os níveis: escolas, universidades, meios de comunicação e no dia-a-dia. A união da Arte, artesanato e design na senda da Modernidade pode ir beber inspiração ao diálogo emblemático entabulado entre uma pirâmide de vidro, de I.M. Pei, e um edifício em pedra do séc. XVII (O Louvre), em que um não substitui o outro, conferindo-lhe antes uma nova vida.

Artist, designer, writer and curator

MODERNITY: THE RE-INVENTION OF TRADITION…

“NOTHING IS LOST, NOTHING IS CREATED. ALL IS TRANSFORMED”. LAVOISIER

Picasso once remarked that the emergence of a new style in Art does not make previous styles obsolete, but rather changes our relation to them; inviting us to engage with tradition differently. This implies that History unfolds complex forms of continuity that link the past, the present and the future, through a series of on-going transformations. Assuming this continuity with the past, as the essence of Culture, is important for us; to preserve our cultural identity and to let it evolve as part of human History. The integration of all aspects of Culture — from food and craft production, design and manufacture, to life style and consumption (in a framework of responsibility and sustainability) is the way forward. AGRICULTURA LUSITANA 121

GÉRARD MERMOZ


Communities whose ambition is to take their future into their own hands must give themselves the means to resist aggressive forms of social, political, economic and cultural Darwinism, and the intensification of mass production and consumption that comes with it. This, however, does not happen without concerted efforts. Viable alternatives first need to be imagined, then instigated; on the basis of our needs and of those of future generations. This call for responsible and sustainable planning as part of rural and urban regeneration — to promote human happiness — is a call to place humanism at the heart of the process; beyond divisive individual political and economic interests. Managing the on-going regeneration of Culture, from generation to generation, across significant societal changes, is crucial if we are to retain our identities in difference (within the European Union, and on a planetary scale), and preserve the potential for fruitful dialogues between individuals within and between countries; through, for instance, sustainable tourism. Education will play an important part in this ‘Renaissance’, at all levels: schools, universities, the media and daily life. The union or Art, crafts and design in the pursuit of Modernity could draw inspiration from the

emblematic dialogue set between a glass pyramid, by I.M. Pei, and a seventeeth century stone building (Le Louvre); where the one does not replace the other, but imbues it with a new life.

GÉRARD MERMOZ


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JOÃO GONÇALVES Permacultor e animador agro-socio-educativo

UMA INTRODUÇÃO À PERMACULTURA

O conceito “permacultura”, exposto pela primeira vez em livro em 1978 na Austrália por Bill Mollison e David Holmgren (à época, o primeiro, professor na universidade e o segundo, estudante de design ambiental), uniu os termos “permanente” e “agricultura”. Designava um novo sistema interdisciplinar de design / planeamento ético, ecológico e funcional, para a escala humana e local. No cerne estavam os imperativos éticos de consciência e de responsabilidade pessoal perante a exploração e destruição da Terra, resumidos na seguinte interrogação: “Os nossos filhos e netos vão herdar um planeta em melhor estado do que aquele que nós encontrámos?”. Reflecte uma atitude que rejeita a organização económica apenas orientada para a maximização do lucro financeiro. A permacultura integra alternativas aos sisteAGRICULTURA LUSITANA 123

mas produtivos de escala industrial, que dependem do transporte de quantidades massivas de energia e de “matéria-prima” de um continente para outro. A evolução do sistema de produção permacultural tem como sustento o ritmo da fotossíntese e do crescimento dos diversificados elementos biológicos, em vez de estar dependente da insustentável, ineficiente e poluente indústria do petróleo e dos seus derivados combustíveis, fertilizantes e pesticidas. Conceptualmente centrada na regeneração da terra e na gestão ecológica e multifuncional dos elementos vivos e materiais de um território, durante os anos 80, a permacultura passou a abranger os sistemas que satisfazem outras necessidades humanas básicas numa dada bio-região: saúde, educação, finanças, economia, organização comunitária, jurisdição e política. Permacultura passou a significar um sistema de planeamento que visa uma “cultura-permanente”, além de uma “agricultura-permanente”. A abordagem sistémica permeia todas as fases do processo de planeamento. Os métodos e valores centrais implicados são: observar extensa e perspicazmente; identificar padrões naturais e trabalhar com eles e não contra eles; ampliar as vias de retroalimentação para constante ajustamento; integrar e relacionar os elementos que suprimem as necessidades uns dos outros; ma-

JOÃO GONÇALVES


EN

ximizar a reutilização e a multifuncionalidade de cada elemento; diversificar a origem de cada bem essencial; cooperar, actuar e pensar globalmente e localmente; valorizar processos marginais; não produzir desperdício; criar sistemas que tendem para a autorregulação; obter o máximo rendimento com a mínima intervenção; assistir às necessidades urgentes e básicas das pessoas e das comunidades; transformar problemas em soluções; eco-literacia, entre outros. O efeito em rede, iniciado pelas ligações entre permacultores nos anos 80, é amplificado para a escala planetária na era da Internet. Os desafios para a permacultura também são desta escala e não param de aumentar: perda de biodiversidade, desertificação, acesso à água e contaminação dos rios e lençóis freáticos, alterações climáticas e maior frequência de fenómenos meteorológicos extremos, aumento da toxicidade na cadeia alimentar, pico do petróleo, crescimento demográfico e do desemprego, injustiça ecológica e social.

Permaculturist and agricultural, social and educational promoter

AN INTRODUCTION TO PERMACULTURE The concept of “permaculture” was introduced in 1978 in Australia, in a book by Bill Mollison and David Holmgren (at the time, the former was a university lecturer and the latter an environmental design student), with the term being a combination of “permanent” and “agriculture”. It designated a new interdisciplinary system of design / ethical, ecological and functional planning, on the human and local scale. Its core tenets are the ethical factors of awareness and personal responsibility in view of the exploitation and destruction of the Earth, summed up in the following question: “Will our children and grandchildren inherit a planet in better condition than we found it?” It reflects an attitude that rejects economic organization geared solely to maximizing financial profit. Permaculture involves alternatives to industrial scale productive systems, which depend on transporting huge amounts of energy and “raw material” from one continent to another. The evolution of the permacultural production

JOÃO GONÇALVES


system is sustained by the rhythm of photosynthesis and the growth of diversified biological elements, instead of being dependant on the unsustainable, inefficient and polluting industry of petroleum and its fuel, fertilizer and pesticide derivatives. Conceptually centred on soil regeneration and the ecological, multifunctional management of the living and material elements of a territory, in the 80s permaculture also came to include systems meeting other basic human needs in a given bio-region: health, education, finances, economy, community organisation, jurisdiction and politics. Permaculture came to mean a planning system aimed at “permanent culture”, as well as “permanent agriculture”. A systemic approach permeates all stages of the planning process. The central methods and values implied include: make an extensive and discerning observation; identify natural patterns and work with them and not against them; increase feedback for constant adjustment; involve and relate elements that meet each other’s needs; maximize reutilisation and the multifunctionality of each element; diversify the source of each staple; cooperate, act and think globally and locally; value marginal processes; produce no waste; create systems that tend to be self-regulatory; obtain maximum yield with minimum inAGRICULTURA LUSITANA 125

tervention; attend to peoples’ and communities’ urgent, basic needs; transform problems into solutions; eco-literacy. The network effect, which began as connections between permaculturists in the 1980s, has been extended to the global scale in the Internet era. The challenges for permaculture are also on this scale and continue to grow: loss of biodiversity, desertification, access to water and contamination of rivers and water tables, climate changes and more extreme meteorological phenomena, greater toxicity in the food chain, peak oil, population growth and higher unemployment, ecological and social injustice.

JOÃO GONÇALVES


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KATJA TSCHIMMEL Professora, Investigadora e Consultora em Processos Criativos e Design Thinking

CRAFT DESIGN THINKING NAS ALDEIAS DO XISTO

Craft Design é o processo de pensar e fazer objetos únicos, realçando a qualidade material. É uma atividade criativa onde artesãos trabalham a matéria, sobretudo manualmente, com a atitude de um designer. E o que caracteriza esse modo de proceder de um designer é o facto de assentar o seu trabalho numa abordagem metodológica. Não me refiro à metodologia racional e analítica que caracteriza os anos 1970, mas sim à abordagem holística e humanista que prevalece no discurso do Design desde os anos 1990 e que se centra na função comunicativa, simbólica e sustentável dos artefactos. Uma abordagem que exige processos criativos experimentais e colaborativos e que inclui uma extensa investigação e reflexão crítica sobre o papel da matéria artesanal no mundo artificial de consumo rápido.

Os projetos de Craft Design das Aldeias do Xisto, Água Musa, L4Craft e Agricultura Lusitana, caracterizam-se exatamente por esta atitude projetual, centrada numa visão holística da natureza e dos artefactos. Os artesãos, orientados pelo designer João Nunes e a sua equipa, iniciaram o seu processo criativo com uma pesquisa profunda de questões associadas à natureza: no projeto Água Musa exploraram exaustivamente a temática da água, no projeto Agricultura Lusitana abordaram a temática da agricultura em todas as suas vertentes (antropológica, sociológica, económica e cultural). O evento Mindshake, dedicado à desconstrução de estereótipos formal-estéticos e hábitos de ofício, incentivou não só uma forma de pensar diferente nos artesãos, mas também ajudou a criar um espírito de equipa entre todos os participantes do projeto. Foi através deste espírito colaborativo e sinergias entre artesãos que no projeto L4Craft surgiram artefactos muito surpreendentes. A aplicação de bissociações entre a linguagem material de pares de artesãos levou a novas soluções estéticas e semânticas baseadas numa mistura da matéria prima e de estilos. A originalidade de todos os projetos de Craft Design das Aldeias do Xisto, e assim o seu inegável valor inovador, surge através de um muito feliz casamento entre a mestria material dos artesãos e a abordagem projetual proveniente do Design.

KATJA TSCHIMMEL


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Teacher, Researcher and Consultant in Creative Processes and Design Thinking

CRAFT DESIGN THINKINGS IN THE SCHIST VILLAGES

Craft Design is the process of conceiving and making unique objects, enhancing the material quality. It is a creative activity in which artisans fashion the material, mostly by hand, with the attitude of a designer. And what characterises this designer mode of working is the fact that it is based on a methodological approach. I am not referring to the rational, analytical methodology that characterises the 1970s, but rather the holistic, humanist approach prevailing in Design discourse since the 1990s, centring on the communicative, symbolic and sustainable function of the artefacts. An approach that demands experimental and collaborative creative processes and that includes extensive research and critical reflection on the role of craft material in the artificial world of fast consumption. The Craft Design projects of the Schist Villages, Água Musa, L4Craft and Portuguese Agriculture, are characterised by precisely this design attitude, centred on a holistic vision of nature and arteAGRICULTURA LUSITANA 127

facts. The craftsmen and women, supervised by designer João Nunes and his team, began their creative process with in-depth research of questions associated with nature: in the Água Musa project, they thoroughly explored the theme of water, in the Portuguese Agriculture project; they took on the theme of agriculture in all its dimensions (anthropological, sociological, economic and cultural). The Mindshake event, dedicated to deconstructing formal-aesthetic stereotypes and trade habits, encouraged not only a different way of thinking in the craftspeople, but also helped create team spirit among project participants. It was this collaborative spirit and the synergies between artisans in the L4Craft project that generated such unexpected artefacts. The application of bissociations between the material language of pairs of artisans led to new aesthetic and semantic solutions based on a mix of raw materials and styles. The originality of all the Schist Village Craft Design projects, and hence their unequalled innovative value, arises from an extremely happy marriage between the material mastery of the artisans and the project approach - a Design approach.

KATJA TSCHIMMEL


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MARIA INÊS DE ABRUNHOSA MANSINHO Docente no Instituto Superior de Agronomia da Universidade de Lisboa

MUDANÇA EM MEIO RURAL O processo de modernização da agricultura portuguesa foi mais lento e mais tardio do que o de outros países europeus. Contudo, o meio rural mudou bastante ao longo dos anos de 1900. No princípio desse século a agricultura era central no desenvolvimento económico e as zonas rurais eram essencialmente agrícolas. Guardo desses tempos uma memória obscura que me vem dos relatos de monteiros e feitores na antiga casa de meus pais, na Beira Interior. Falavam eles de falta de pão, de pobreza, de muita gente a viver da terra. O meu avô, Antonio C. d’Abrunhoza, ajudou-me a completar este quadro através do escrutínio das imagens belíssimas que captou com a sua câmara de fotógrafo amador, no final do primeiro quartel do século XX. Não havia falta de braços, mas se em certos anos eram fartas as produções de azeite e vinho, o cereal escasseava. Nas grandes herdades do Sul e nos casais e granjas do centro-norte do país, a vida rural

não era muito diferente – dura e doce. Quando eu nasci o país começara a mudar. Vieram as primeiras indústrias no seio de um regime que havia imposto o condicionamento industrial. A resposta mais contundente veio pela emigração. Os homens passavam as fronteiras: primeiro a salto e depois legalizados. Os dinheiros chegavam da França, da Alemanha, do Luxemburgo, mudavam a face das aldeias e o conforto das casas. Tractores e motocultivadores circulavam. Consolidava-se a atracção das cidades, nomeadamente da Grande Lisboa. Mini-mercados nas aldeias e, uns anos mais tarde, cadeias de super-mercados estavam ao alcance de todos. Uma população rural crescentemente rarefeita e envelhecida vivia de pensões e reformas e da saudade daqueles que todos os verões voltavam, animando feiras e romarias. Em meados de 80 a CEE, depois União Europeia, trouxe novas esperanças. Com empresas agrícolas cada vez mais eficientes, começou a falar-se da multifuncionalidade da agricultura, da preservação da natureza, do retorno aos campos. O ambiente ganhou centralidade. Os media e os telemóveis entraram em todas as casas. Esbateram-se as diferenças. Do analfabetismo prevalecente das primeiras décadas do século XX, passou-se ao desemprego crescente dos jovens licenciados que olham o mundo rural como território capaz de sustentar actividades não exclusivamente agrícolas. Residências secundárias, turismo rural e culto das paisagens, juntam-se à consolidação de novos projectos de vida que anunciam o futuro.

MARIA INÊS DE ABRUNHOSA MANSINHO


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Teacher at the Higher Institute of Agronomy of the University of Lisbon

CHANGE IN A RURAL ENVIRONMENT

The modernisation of agriculture was slower and occurred later in Portugal than in other European countries. However, the rural environment changed considerably in the 1900s. At the start of the century, farming was at the heart of economic development and rural areas were basically farming areas. I have a vague memory of those times that comes to me from tales of hunters and stewards in my parents’ old house in Beira Interior. They talked about the shortage of bread, about poverty, about the many people living off the land. My grandfather, Antonio C. d’Abrunhoza, helped me to complete this picture by perusing the beautiful images he caught with his amateur photographer’s camera at the end of the first quarter of the 20th century. There was no shortage of arms, but although in some years there might be a glut of olive oil and wine, grain was scarce. Rural life was much the same on the large estates in the south as it was in the hamlets and farms in the centre and north of the country - hard and sweet. The country had begun to change by the time I was born. The first industries came in the midst of AGRICULTURA LUSITANA 129

a regime that had imposed constraints on industry. The hardest-hitting response was emigration. Men crossed the borders: first, a leap into the unknown, and afterwards legalised. The money arrived from France, Germany and Luxembourg, and it changed the appearance of the villages and the comfort of the homes. Tractors and cultivators were seen in the fields. The appeal of the cities was consolidated, of the greater area of Lisbon in particular. Mini-markets in the villages and, a few years later, chains of supermarkets were within the reach of everyone. A dwindling and ageing rural population was living on retirement pensions and a yearning for those who came back every summer to brighten up the fairs and parades. In the mid-1980s, the EEC (afterwards the European Union) brought new hope. As agricultural enterprises grew increasingly efficient, there was talk of the multifunctionality of agriculture, of nature conservation, of a return to the countryside. The environment took centre stage. The media and mobile phones found their way into every home. Differences became blurred. From the illiteracy that was rife in the early decades of the 20th century we have come to the rising unemployment of young graduates who see the rural world as a setting that can support activities other than those related to farming. Second homes, rural tourism and veneration of landscapes have joined forces in the consolidation of new life projects that herald the future.

MARIA INÊS DE ABRUNHOSA MANSINHO


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MARIA INÊS SECCA RUIVO Designer e docente na Universidade de Évora

DESIGN E BIOMIMÉSIS INOVAÇÃO EM EVOLUÇÃO

Biotécnica (Francé, 1920), Biomimética (Schmitt, anos 50), Biónica (Steele, 1960), ou Biomimésis (Benyus, 1997) são conceitos que comungam do pressuposto de que o potencial de inovação do mundo criado pelo Ser Humano é, tanto maior, quanto for a sua capacidade de mimar ou interpretar as soluções estruturais e funcionais desenhadas pela Natureza. (...) as existing human inventions have been anticipated by Nature, so it will surely be found that in Nature lie the prototypes of inventions not yet revealed to man. The great discoverers of the future will, therefore, be those who will look to Nature for Arts, Science, or Mechanics (…). (Wood, 1877: vii-viii) A esta noção subjaz como obrigatório o princípio de estudos transdisciplinares que, por via da partilha de um mesmo problema, incidem

na busca de uma solução que privilegie o mais adequado resultado. Assumindo-se a Natureza como mentora, os produtos dessas investigações beneficiam de um poder de inovação acrescido, na medida em que se baseiam na exploração de fundamentos de evolução que, pela mutação ou recombinação de sistemas à escala micro e/ou macro, se traduzem em soluções (re)adaptadas ao longo de 3600 milhões de anos de experiências de autorregulação, de cooperação, ou de sustentabilidade. Desde meados do Século XX que a aplicação deste pressuposto tem vindo a ser explorada em domínios como a bioquímica ou nanotecnologia (Milani, 2012), nomeadamente ao nível do desenvolvimento da robótica, da inteligência artificial, de novos materiais, da indústria militar ou da indústria médica e farmacêutica. Na área do design de produto, conceitos como Design Biónico (Papanek, 1971), Biodesign (Colani, 1978) ou Design Simbiótico (Parra, 1995) propõem a exploração do fator inovação tendo por base o estudo da Natureza aos níveis anatómico-funcional, morfológico-funcional ou simbiótico-funcional (Secca Ruivo, 2008), carecendo contudo, ainda, de uma aposta sistemática em processos de investigação efetivamente transdisciplinares. Agricultura Lusitana é em si um projeto em que

MARIA INÊS SECCA RUIVO


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Natureza e Cultura se concertam como mater de inspiração para o design. Privilegiando-se o estudo combinado das evoluções ancestrais do ambiente local, Biomimésis pode, nesse contexto, reafirmar-se como mais uma oportunidade diferenciadora de inovação.

Designer and teacher at the University of Évora

DESIGN AND BIOMIMECRY INNOVATION AND EVOLUTION

“Biotechnik” (Francé, 1920), Biomimetics (Schmitt, 1950s), Bionics (Steele, 1960), or Biomimicry (Benyus, 1997) are concepts that share the assumption that the greater its ability to mimic or interpret the structural and functional solutions designed by Nature, the greater the innovation potential of the Man-made world.

Benys, J. M. (2002). Biomimicry. Innovation Inspired by Nature. New York: Harper Perennial (Original publicado em 1997). Milani, l. & Santulli, C. (2012). Biomimetica: la lezione della Natura - Ecosostenibilità, design e cicli produttivi nel Terzo Millennio. Padova: CIESSE Edizioni. Wood, J. G. (1877). Nature’s Teaching’s: Human Invention Anticipated by Nature, acedido em Fevereiro 16, 2015, em https://archive.org/stream/ naturesteachings00wood#page/n6/mode/1up Secca ruivo, I. (2008). Design para o futuro. 0 individuo entre o artifício e a natureza. Ph.D. Thesis, Universidade de Aveiro, Aveiro, Portugal. AGRICULTURA LUSITANA 131

(...) as existing human inventions have been anticipated by Nature, so it will surely be found that in Nature lie the prototypes of inventions not yet revealed to man. The great discoverers of the future will, therefore, be those who will look to Nature for Arts, Science, or Mechanics (…). (Wood, 1877: vii-viii) Necessarily underlying this notion is the principle of transdisciplinary studies that, through sharing one same problem, focus on the search for a solution privileging the most suitable result. Accepting Nature as mentor, the products of this research

MARIA INÊS SECCA RUIVO


benefit from an augmented innovative power, in so far as they are based on exploiting evolutionary fundamentals which, through the mutation or recombination of systems on a micro or macro scale, have resulted in solutions (re)adapted over 3600 million years of experiments in self-regulation, cooperation or sustainability. Since the mid 20th century the application of this proposition has been exploited in areas such as biochemistry or nanotechnology (Milani, 2012), namely at the level of developments in robotics, artificial intelligence, new materials, the military industry or the medical and pharmaceutical industry. In the area of product design, concepts such as Bionic Design (Papanek, 1971), Biodesign (Colani, 1978) or Symbiotic Design (Parra, 1995) advocate exploitation of the innovation factor on the basis of studying Nature at the anatomical-functional, morphological-functional or symbiotic-functional levels (Secca Ruivo, 2008), although there has not yet been any systematic commitment in effectively transdisciplinary research processes. Portuguese Agriculture is of itself a project in which Nature and Culture work together as mater of inspiration for design. With the emphasis being placed on the joint study of ancient evolutions of the local environment, Biomimicry can, in this context, reassert itself as one more differentiating innovation opportunity.

Benyus, J. M. (2002). Biomimicry. Innovation Inspired by Nature. New York: Harper Perennial (Original published in 1997). Milani, l. & Santulli, C. (2012). Biomimetica: la lezione della Natura - Ecosostenibilità, design e cicli produttivi nel Terzo Millennio. Padova: CIESSE Edizioni. Wood, J. G. (1877). Nature’s Teachings: Human Invention Anticipated by Nature, accessed on February16, 2015, at https://archive.org/stream/naturesteachings00wood#page/ n6/mode/1up. Secca ruivo, I. (2008). Design para o futuro. 0 individuo entre o artifício e a natureza. Ph.D. Thesis, Universidade de Aveiro, Aveiro, Portugal.

MARIA INÊS SECCA RUIVO


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MÁRIO MOURA Blogger, conferencista e critico de design Docente na Faculdade de Belas Artes do Porto

AGRICULTURA E DESIGN?

Em tempos, podia-se definir o design como uma gestão estética de processos industriais, da sua concepção, do seu fabrico e do seu uso. O designer projectava coisas para serem produzidas em série e, finalmente, consumidas pelas massas – uma definição lata que tanto se ajusta ao designer gráfico, como ao designer de produto ou ao de equipamento. O designer acreditava que, com isto, contribuía para uma sociedade melhor, ajudando a distribuir qualidade de vida pelas massas, através de produtos, bons, baratos e eticamente produzidos. Agora, a coisa é mais complicada: por um lado, o design conota luxo, sofisticação. Afastou-se dos seus ideais democráticos. Por outro, também se afastou do seu estatuto de gestão e foi-se tornando cada vez mais num serviço, uma peça apenas, limitada por hierarquias que a enquadram. AGRICULTURA LUSITANA 133

À primeira vista, a agricultura não podia andar mais longe de cada uma destas versões do design. Embora cultivar a terra seja hoje uma indústria como todas as outras, ainda se tende a pensar nisso como algo mais primordial, mais simples. De algum modo a agricultura parece imune ao design, até nesta sua nova versão mecanizada, automatizada, de grande escala, onde este último só entra na fase final quando se transforma uma colheita em produto de consumo (embalando-a, publicitando-a), ou então na inicial quando se modifica as suas características genéticas (designer crops, designer genes) – qualquer uma destas intervenções é frequentemente vista como uma adulteração. Mesmo que não se esteja a falar de uma intervenção directa do design em processos ou produtos agrícolas, a simples entrada do design na geografia rural é também ela problemática. O design é uma tarefa urbana por natureza. Foi na cidade que teve a sua origem, em primeiro lugar ligado à racionalização da produção industrial, em segundo lugar ao serviço da comunicação da sociedade industrializada, globalizada. O mesmo esquema que leva a opor o urbano e o rural leva portanto a que agricultura e design também aqui se pareçam excluir. No entanto, olhando-a ao pormenor, esta nunca foi uma oposição total, definitiva. Há (e sempre houve) inúmeras contaminações. Tal como a

MÁRIO MOURA


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agricultura se tornou num processo industrializado, também as regiões rurais se tornaram também mais urbanas no modo como se identificam, se sinalizam, produzem uma identidade pública. (E vice-versa: dentro das cidades, o adjectivo “urbano” revela um sem número de práticas conotadas com a ruralidade – agricultura urbana, hortas urbanas, artesanato urbano, etc.) O design surge aqui como uma prática que sinaliza estas circulações entre espaços e práticas ao mesmo tempo polares e coincidentes, mediando-as, conduzindo-as, identificando-as –através de sinaléticas, infografias, identidades ou equipamentos. Trata-se efectivamente de multiplicar os usos possíveis de uma mesma geografia e de uma mesma actividade.

Blogger, conference speaker and design critic Teacher at the School of Fine Arts of Porto

AGRICULTURE AND DESIGN? We used to be able to define design as the aesthetic control of industrial processes, from their conception to their manufacture and use. Designers would design things for mass production and ultimately for mass consumption – a broad definition that applies equally to the graphic designer and the person who designs a product or equipment. Designers used to think that by doing this they were contributing to a better society, helping to spread quality of life to the masses through good, cheap and ethically produced goods. Things are more complicated today: in the first place, design has a connotation of luxury, sophistication. It has moved away from its democratic ideals. And second, it has also shifted from its control status as it has become increasingly a service, only one piece, limited by hierarchies that support it. At first sight, agriculture could not be further from either of these versions of design. Even though cultivating the land nowadays is an industry like any other, we still tend to see it as

MÁRIO MOURA


something simpler, more primitive. Agriculture somehow seems immune to design, even in its new mechanised, automated, large-scale version, where design only appears in the final stage, when a harvest is turned into a consumer product (with packaging and advertising), or in the first stage, when its genetic characteristics are changed (designer crops, designer genes) - any such intervention is often seen as a corruption. Whilst we are not talking about the direct intervention of design in agricultural processes and products, the mere entry of design into rural geography is itself problematic. Design is by nature an urban task. It originated in cities, first linked to the rationalisation of industrial production and then used by the globalised industrialised society for communication purposes. The same system that set the urban and the rural in opposition thus meant that agriculture and design also seem to exclude one another. However, looking at the details, this was never a complete, definitive opposition. There are, and always have been, countless contaminations. As agriculture became an industrialised process so the rural regions have also became more urbanised in how they identify and flag themselves and produce a public identity. (And vice-versa: in towns and cities the adjective ‘urban’ reveals a myriad of practices with connotations of the AGRICULTURA LUSITANA 135

countryside – urban agriculture, urban kitchen gardens, urban crafts, and so on). Here, design amounts to a practice that flags these movements between spaces and practices that are simultaneously opposite and coincident, mediating them, guiding them, identifying them – through signage, infographics, identities and equipment. This is actually multiplying the possible uses of the same geographic area and the same activity.

MÁRIO MOURA


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NUNO DIAS Designer e director da licenciatura em design da Universidade de Aveiro

PARA UM DESIGN CENTRADO NO SER – DA NATUREZA

Como tudo que faz pensar, este projeto deixou poucas certezas – mas boas – e muitas questões em aberto. Desde já, obrigou-nos a uma reflexão conjunta sobre o futuro das aldeias e do design. Serão ainda as aldeias, e as suas serras, florestas e campos, verdadeiros locais de reencontro com a temporalidade da natureza – para todos os efeitos, ainda a nossa natureza? Ou serão pequenos paraísos perdidos ou abandonados, condenados ao esquecimento? Serão as aldeias apenas lugares para o descanso nostálgico da cidade, ou locais complementares e vitais de um presente-futuro partilhado e desejado? E o design? Quase sempre celebrado pela e para a indústria, pode o design reencontrar-se ou redescobrir na manufatura as suas origens ancestrais? É desejável fundir o artesanato com a alta

tecnologia? Tratar-se-á de um luxo ou de uma necessidade? Ou de ambos? Se agricultura implica um apego do lugar e a apropriação do seu tempo, trata-se de um bom apego, aquele que dá frutos e dá vida. Cuidemos de tratar bem a terra e ela tratará de nós, se o nosso tempo permitir... Em todo o caso, melhor também cuidarmos de não deixar que o pensamento industrial vigente prepare todas as nossas decisões, as nossa escolhas, o nosso tempo. Como Bento Espinosa nos ensinou, viver bem implica, antes de tudo, esforçar-nos para promover os bons encontros e evitar os maus. E, como ele próprio exemplificou na sua vida, se necessário, desobedecendo para que tal seja possível. O projeto Agricultura Lusitana é o resultado de bons encontros. Desde já o encontro dos alunos (no meu caso, um reencontro) com o designer João Nunes. E, em contínuo, o encontro dos alunos com os seres das aldeias, os agricultores, os artesãos, os animais, a natureza. Seres sobreviventes de um tempo que devemos preservar se pretendermos não perder em nós, definitivamente, o tempo comum do espírito do ser humano e da natureza. Não se trata aqui de um melancólico regresso ao passado mas de um encontro, um «eterno retorno» necessariamente feliz e sempre possível –, desde que esse tempo que as aldeias nos

NUNO DIAS


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oferecem seja preservado com a inteligência que o pensamento e a intuição do design nos permitem realizar. Trata-se também de refletir sobre o nosso próprio tempo, o tempo de seres acelerados dos grandes centros, a propósito de questionar o que é e o que pode ser hoje o pensamento do design. Sem nenhuma nostalgia. Se, pelo ainda presente se olha para o passado, deverá ser para refletir o que queremos que seja, em particular, o nosso futuro – a definição da qualidade dos nossos futuros modos de existência. Que melhor forma para definir o âmbito do (nosso) design? Resta continuar a fazê-lo e a realizá-lo, já que aqui se trata tão somente de um re-começo.

AGRICULTURA LUSITANA 137

Designer and director of the licentiate degree programme in design at the University of Aveiro

TO A BEING-CENTERED DESIGN – FROM NATURE Like everything that makes us think, this project has left few – but good – certainties, and many open questions. And now we have to join forces to consider the future of the villages and design. Are the villages, their hills, forests and fields, still true places of reunion with the temporality of nature – still, for all intents and purposes, our nature? Or will they be miniature paradises, lost or abandoned, doomed to oblivion? Will the villages simply be places for a nostalgic break from the city, or additional vital places of a shared and desired present-future? And what of design? Almost always celebrated by, and made for, the industry, can design find itself again or rediscover itself in workmanship and its ancestral origins? Is it desirable to merge craftsmanship with high-tech? Is it a luxury or a necessity? Or both? If agriculture involves an attachment to the place and the appropriation of its time, then it’s a good attachment, one that bears fruit and gives life. Let us take good care of the land and it will

NUNO DIAS


take care of us, our time permitting... Anyway, it’s best to ensure, too, that current industrial thinking does not dominate all our decisions, our choices, our time. As Bento Espinosa taught us, living well means, above all, striving to foster good encounters and avoid the bad. And as he exemplified in his own life, if necessary, bending the rules to make this possible. The Portuguese Agriculture project is the result of good encounters. For a start, the students meeting (in my case, a re-encounter) with João Nunes, the designer. And then the students meeting the village people, the farmers, the craftspeople, the animals, nature. Beings that are survivors of a time we must preserve in ourselves if we are to not lose forever the time shared by the spirit of the human being and nature. This is not a melancholy return to the past but an encounter, an ‘eternal return’ essentially happy and always possible - as long as that time that the villages offer us is preserved with the intelligence that the thinking and intuition of design enable us to accomplish. It is also about reflecting on our own time, the time of people in a hurry in the major urban centres, and questioning what is and what can be the thinking behind design today. Without nostalgia. If we look back to the past through

the eyes of the present, it should be to reflect on what we want our future to be - the definition of the quality of our future ways of life. What better way to define the scope of (our) design? All we have to do is to continue to do so because this is only a new beginning.

NUNO DIAS


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PAULO LONGO Antropólogo, Centro Cultural Raiano/Câmara Municipal da Idanha-a-Nova

BAIXA DENSIDADE, ALTA VALORIZAÇÃO1

Premissa e contraponto: às favas, o deprimido e o periférico, pensemos em oportunidades. É do conhecimento geral que o rural já não é agrícola, mas ainda não é outra coisa (Fernando Oliveira Baptista). Se o desafio é dar-lhe novos contornos, promovendo a revitalização económica e social diversificada (FOB), Idanha deitou-lhe as mãos há um par de décadas. Desde meados da década de 1990 que se acendeu uma luz na penumbra do interior português. Fugindo à lógica do discurso derrotista, Idanha foi construindo um percurso de renovação, de intensidade variável, num quadro de recursos pautado pela multidisciplinaridade, incomum ao contexto e à época. Um plural de projectos, no seio dos quais o Cen-

tro Cultural Raiano (CCR) permanece um dos reflexos mais expressivos de intervenção no território, onde a antropologia desenhou um lugar próprio e incontornável: as linhas de investigação base, dedicadas à agricultura e à olaria da região, foram conduzidas por antropólogos e marcam o ponto de partida de um percurso cujo crescimento contribui, desde então, para a salvaguarda patrimonial e a recuperação da autoestima das gentes locais, numa articulação permanente de múltiplas abordagens. A construção progressiva da sua própria rede de trabalho para o futuro, assente na partilha institucional dentro e fora do pais, no ensino, valorização e transmissão do(s) património(s) e no cruzamento de projectos, nas vertentes mais distintas, gerou mais valias que têm na diversidade a sua melhor tradução: a rede museológica municipal, as cooperações internacionais, o desenvolvimento das comunidades locais a partir de valores intrínsecos, a projecção do território além fronteiras em encontros multidisciplinares, a participação em redes temáticas, as estratégias de desenvolvimento e divulgação do potencial da região, em encontros transdisciplinares e no plano editorial são argumentos representativos da capacidade de intervenção de Idanha-a-Nova nos dias de hoje.

1 - Jorge Silva (silvadesigners) AGRICULTURA LUSITANA 139

PAULO LONGO


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Provas disso? Inúmeras. Além do CCR, aqui ficam algumas poucas: 3 Culturas- Évora, Idanha-a-Nova, Mértola; Oralidades – Portugal, Espanha, Itália, Bulgária, Malta; Aldeias Históricas de Portugal ( Idanha-a-Velha/ Monsanto); Judiarias de Portugal (Medelim); Festival BOOM; Fora do Lugar – Festival Internacional de Músicas Antigas; Mistérios da Páscoa em Idanha; Projecto RECOMEÇAR; ADUFE- Revista Cultural de Idanha-a-Nova; Candidatura à Rede Cidades Criativas da UNESCO na Música; e, esperemos em breve, Aldeias do Xisto (Rosmaninhal). Cruzamento e partilha entre matrizes herdadas e novas linguagens produziram alguns dos melhores resultados na estratégia municipal de desenvolvimento até hoje. Continuamos a recomendá-los no futuro.

Anthropologist, Raiano Cultural Centre / Idanha-a-Nova Town Hall

LOW DENSITY, HIGH VALORIZATION1

Assumption and counterpoint: to hell with rundown and marginalised, let’s think of opportunities. It is common knowledge that rural is no longer agricultural, but it’s not yet anything else (Fernando Oliveira Baptista). If the challenge is to give the rural a new profile, boosting diversified economic and social regeneration (FOB), Idanha got to grips with it twenty or so years ago. Since the mid-1990s there has been a light burning in the shadows of the Portuguese hinterland. Disdaining the logic of the defeatist discourse, Idanha went along constructing its path of renewal, with varying intensity, within a resource framework based on a multidisciplinary approach, a rare thing indeed in that context and time. A variety of projects, at the heart of which the Centro Cultural Raiano (CCR) remains one of the most expressive interventions in the territory, where anthropology has carved its own essential place. 1 - Jorge Silva (silvadesigners)

PAULO LONGO


The basic lines of research, dedicated to the region’s agriculture and pottery, were carried out by anthropologists and represent the starting point for a journey whose growth has contributed, since then, to safeguarding local heritage and renewing inhabitants´ self-esteem in an ongoing liaison adopting multiple approaches. The creation over time of its own work network for the future, based on national and foreign institutional cooperation, on teaching, recovering and passing on heritage and on the intersecting of projects, in the most varied fields, has created added value that finds its best interpretation in diversity: the municipal museum network, international cooperation, the development of local communities from intrinsic values, spreading the word abroad about the territory in multidisciplinary encounters, involvement in thematic networks, development strategies and dissemination of the region´s potential, in transdisciplinary encounters and on the editorial level are arguments that represent Idanhaa-Nova’s power to intervene in this day and age. What evidence have we? Countless examples. As well as the CCR, here are just a few: 3 Culturas (“3 Cultures”)- Évora, Idanha-a-Nova, Mértola; Oralidades (“Oral Traditions”)– Portugal, Spain, Italy, Bulgaria, Malta; Historic Villages of Portugal (Idanhaa-Velha/ Monsanto); Jewish Quarters of Portugal (Medelim); BOOM Festival; Fora do Lugar (“Out of AGRICULTURA LUSITANA 141

Place”)– International Festival of Ancient Music; The Easter rituals and celebrations (Mistérios da Páscoa) in Idanha; the RECOMEÇAR project; ADUFECultural Magazine of Idanha-a-Nova; Application to the UNESCO Creative Cities Network in Music and, soon we hope, Schist Villages (Rosmaninhal). Cross-fertilization and sharing between inherited matrices and new languages have produced some of the best results to date in the municipal development strategy. We will continue to recommend them in the future.

PAULO LONGO


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PEDRO MIGUEL SALVADO Historiador. Câmara Municipal do Fundão. Instituto de Investigaciones Antropologicas de Castilla y León, Universidade de Salamanca

AGRICULTURA LUSITANA: O CORAÇÃO DE XISTO O projeto “Agricultura Lusitana” enraíza-se a um território que, durante milénios, construiu as dinâmicas dos seus víveres num desafio continuado na superação dos limites dos homens e da natureza. Geneticamente ligados a uma epiderme geológica sulcada por múltiplas linhas de água, os quotidianos aldeãos, hoje tão despojados de gentes, ainda evocam as memórias de um dos mais fantásticos artefactos da constituição da paisagem rural do Portugal Central: os modelados do xisto. Edificada numa diacronia de destinos, a gramática da história coletiva abarcou momentos dominados por todos os significados e expressões sociais, materiais e imateriais, emitidas pelo âmago das palavras interioridade, milho, resistência, rei, lágrimas, caminhos, baldios, cidade, castelo, broa, pontes, sino, fome, suor, periferia,

vida, enxada, bócio, barragem, bandeira, resina, doença, verde, azenha, espiga, Nossa Senhora, Brasil, miséria, gado, medo, pinhal, minas, fugas, centeio, sal, estrume, bandoleiros, emigração, ouro, reconquista, mouras… esperança. Esta geografia, hoje remota e recôndita, revela e assume ser um palimpsesto de temporalidades diferenciadas. As densidades mnemónicas e os códigos da paisagem nelas incluídas, abrangem e ajudam a compreender, por exemplo, os movimentos das primeiras comunidades agro-pastoris proto-históricas com os seus locais de vida e expressões do sagrado, o tempo dos romanos que por aqui fenderam a terra e recolheram o ouro, as afirmações das territorialidades cristãs com os seus castelos, novos creres e hagiografias eliminando os temidos muçulmanos por marcarem no xisto tantos saberes, na introdução do milho, planta que relembra aqueles que daqui partiram sulcando o Atlântico infindo na Beira quinhentista ou no difícil século XIX, as serranias que formaram barreira às invasões oriundas do coração da Europa, os relevos que albergaram ideias e guerrilheiros durante o Liberalismo, os comportamentos e os impactos dos fundos da União Europeia que aqui foram reinvestidos em expressivas melhorias das condições de vida do Interior que mudaram as matérias, as cores e as perceções das distâncias das terras e das vontades das gentes.

PEDRO MIGUEL SALVADO


Ancestralmente os ritmos dos quotidianos das Aldeias do Xisto pautaram-se pelos infindáveis destinos determinados por grandes dificuldades e gritantes desníveis sociais e económicos. Contudo estes camponeses, muitos deles paupérrimos, souberam resistir e viver em solos e terras adubadas por suores infindos, numa agricultura íntima e tradicional avessa a quaisquer mudanças. Muitas vezes, maus anos agrícolas e um cenário de víveres repulsivo tiveram na emigração transoceânica, principalmente para o Brasil e no abandono dos lugares da infância em direção à cidade grande, as soluções para a continuação e a afirmação da esperança e cumprimento dos sonhos de cada um. Na ausência das gentes ficaram as pedras de xisto que formavam esses contentores, quais muralhas de sobrevivência de terra e de húmus para o futuro ladeados por socalcos. Contudo, a topofilia, o amor pelo lugar de partida e a continuidade da memória, sobrepôs-se sempre à topofobia momentânea e, alguns, regressaram para mudar e para prolongar o pulsar da terra. O projeto “Agricultura Lusitana” conduz-nos também até ao mapa mental dos arquétipos dos mitos de recomposição e às metáforas da nossa etnogénese transportando-nos até um berço ancestral, dominado pelo imaginário da resistência e da persistência, do projeto comum. São, por AGRICULTURA LUSITANA 143

exemplo, as viagens até aos horizontes das coordenadas que guiaram um Viriato pastor na defesa da terra. Será esta a grande lição da história destas paisagens e das suas diferentes temporalidades. O projecto convoca, deste modo, a História reavivando contra a amnésia as estratigrafias mnemónicas da identidade dos lugares. José Cardoso Pires, escritor nascido em S. João do Peso, Vila de Rei, no coração das paisagens de xisto, apontou: «Sem memória esvai-se o presente que simultaneamente já é passado morto. Perde-se a vida anterior. E a interior, bem entendido, porque sem referências do passado morrem os afectos e os laços sentimentais.» Então o grande desafio para o futuro será prosseguirmos a agricultar todos os significantes e significados que a palavra abriga e continuarmos a enraizar com novos sentires, as matérias e os sons da matriz vital da nossa memória coletiva.

PEDRO MIGUEL SALVADO


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Historian. Fundão Town Hall. Institute of Anthropological Research of Castilla y León, University of Salamanca

PORTUGUESE AGRICULTURE: THE HEART OF SCHIST

The Portuguese Agriculture project is rooted in a territory that, for thousands of years, constructed the dynamics of its provisioning in an ongoing challenge to overcome the limits of man and nature. Genetically linked to a geological epidermis furrowed by numerous watercourses, everyday life in the villages, now so bereft of inhabitants, still calls to mind memories of one of the most fantastic artefacts of the constitution of rural landscape in Central Portugal: those moulded in schist. Erected in a diachrony of destinies, the grammar of the collective history has embraced moments dominated by all the social expressions and meanings, both material and non-material, arising from the very essence of the words interiority, maize, resistance, king, tears, tracks, wastelands, city, castle, broa (corn bread), bridges, bell, hunger, sweat, periphery, life, mattock, goitre,

dam, flag, resin, sickness, green, mill, cob, Our Lady, Brazil, poverty, livestock, fear, pine forest, water mines, leaks, rye, salt, manure, bandits, emigration, gold, reconquest, Moorish women… hope. This geography, now remote and hidden, shows itself to be and undertakes to be a palimpsest of distinct temporalities. The mnemonic densities and the landscape tokens they contain encompass and assist in understanding, for example, the movements of the early proto-historic, agropastoral communities with their settlements and expressions of the sacred, the times of the Romans who split the land asunder to extract gold, the affirmations of Christian territory with their castles, new beliefs and hagiography eliminating the feared Muslims by marking in the schist so much expertise, in the introduction of maize, a plant recalling those who set sail across the endless Atlantic from 16th century Beira or, in the difficult 19th century, the mountain ridges that formed a barrier to the invasions from the heart of Europe, the high ground that harboured ideas and guerrillas during Liberalism, behaviours and the impacts of European Union funding - reinvested here in expressive improvements to living conditions in the Interior that have changed materials, colours and the way distances between lands and peoples’ wishes are perceived.

PEDRO MIGUEL SALVADO


Over many generations the rhythms of everyday life in the Schist Villages were marked by the unavoidable destinies determined by great difficulties and glaring social and economic inequality. Nevertheless, these country folk, many of them extremely poor, knew how to endure and live in soils and lands fertilized by unceasing sweat in an intimate, traditional way of farming that brooked no change. Bad harvests and a backdrop of distasteful victuals often led people to seek an outlet for their hopes and aspirations through emigrating overseas, mainly to Brazil, or abandoning their childhood homes for the big cities. In this dearth of villagers, the schist stones forming these containers remained, like ramparts ensuring the survival of earth and humus for the future, flanked by terraces. However, topophilia, love for the place left behind and its continuing hold on memory always overlay the momentary topophobia and, some at least, returned to change and prolong the pulse of the land. The Portuguese Agriculture project also brings us to the mental map of the archetypes of the myths of reconstitution and the metaphors of our ethnogenesis, transporting us to an ancestral cradle dominated by the folklore of resistance and persistence, of the common project. For example, it was journeys to the horizons of AGRICULTURA LUSITANA 145

the coordinates that guided the shepherd Viriatus in the defence of his land. This will be the great lesson of the history of these landscapes and of their different temporalities. The project thus summons up History, brooking amnesia to rekindle the mnemonic stratigraphies of the identity of places. José Cardoso Pires, a writer born in S. João do Peso, Vila de Rei, at the heart of the schist landscapes, noted: “Without memory there is a fading away of the present which simultaneously is already dead past. The anterior life is lost. And the interior, naturally, since with no references to the past, affections and emotional ties also die.” Thus the great challenge for the future will be to continue to agricult all the signifiers and signifieds that the word encompasses and continue to root with new senses the materials and sounds of the crucial matrix of our collective memory.

PEDRO MIGUEL SALVADO


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ROSY GREENLEES Diretora Executiva do British Crafts Council Presidente do World Crafts Council Europe

ALDEIAS DO XISTO

Há mais de vinte aldeias no interior de Portugal que no seu todo representam uma variedade extraordinária no que diz respeito ao Património e à Cultura Portugueses. Aldeias do Xisto é um projeto que veio regenerar estas aldeias, cativando o turismo e o desenvolvimento sustentável, preservando simultaneamente os costumes e a tradição. Fui convidada pelo Rui Simão, gestor da ADXTUR – Agência para o Desenvolvimento Turístico das Aldeias do Xisto, para visitar Cerdeira, um lugar de uma enorme beleza com um conjunto de casas de pedra e caminhos sinuosos esculpidos pelo vale íngreme que vai até ao fundo do vale – onde conheci Kerstin Thomas, uma artesã que transformou a reconstrução da aldeia num projeto de vida, e também Bruno Ramos e João

Nunes, que estiveram presentes na Assembleia Geral do Conselho Mundial de Artesanato - Europa [World Crafts Council Europe (WCC)], em Bergen. As Aldeias do Xisto são agora membros do WCC. A aldeia está a ser recuperada com o objetivo de se tornar numa aldeia para artistas. Há um festival anual durante um fim-de-semana que reúne artesãos de Portugal inteiro. O Festival, já na sua nona edição, tem o título de “Arte e Natureza voltam a encontrar-se”. Por aqui, o artesanato está por todo o lado. À entrada da aldeia havia uma galeria onde estavam elegantemente expostas obras contemporâneas, mas profundamente enraizadas no património cultural português. Ao descer para a aldeia havia vasos em cerâmica em cima de degraus de xisto, objetos de vidro suspensos sobre a água, artesãos que trabalham feltro e têxteis que expunham em casas vazias e, bem lá no fundo do vale, uma instalação temporária muito simples de folhas e galhos esvoaçando nas árvores. O que é particularmente impressionante é a ambição do projeto. Estão a desenvolver um mercado para o artesanato que vai para além das fronteiras destas pequenas comunidades, promovendo o seu trabalho internacionalmente de forma a criarem negócios com um crescimento sustentável e fomentar o turismo.

ROSY GREENLEES


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Os artesãos que eu ali encontrei refletiam o mundo do artesanato, tal como encontramos no WCC, que é muito mais do que vender os seus produtos. A forma como se conta a história de um artesão e do seu trabalho cria uma narrativa que é o que as pessoas do século XXI andam à procura: qualquer coisa que traga valor e autenticidade às suas vidas. Nas Aldeias do Xisto, sente-se uma história poderosa e desarmante do artesanato contemporâneo enraizado no património e na sua envolvência.

AGRICULTURA LUSITANA 147

Executive Director, British Crafts Council President, World Crafts Council Europe, 1 March, 2015

ALDEIAS DO XISTO

There are over twenty villages in the interior of Portugal which collectively represent an amazing array of Portuguese culture and heritage. Aldeias Do Xisto - the Schist Villages - is a project regenerating these villages, bringing tourism and sustainable development, but retaining their original traditions and uses. I was invited to the village, Cerdeira, by Rui Simão, Manager of ADXTUR the Schist Village Tourism Developmentorganisation. Clinging to the steep valley side it is the most beautiful place with a collection of stone cottages and paths winding down the hillside to the valley below. There I met Kerstin Thomas, a woodworker who has turned the rebuilding of the village into her life’s work and her colleagues Bruno Ramos and Joao Nunes who had recently attended the WCC Europe General Assembly in Bergen. Aldeias Do Xisto is now a member of the WCC. The village is being rebuilt with the aim of becoming an artists’ village. There is an annual weekend festival bringing craftspeople from all over Por-

ROSY GREENLEES


tugal. The festival, in its ninth year, was entitled Arts meets Nature. Wherever you looked there was craft. At the village entrance was a formal gallery space displaying beautifully curated contemporary work but with its roots deep in Portuguese cultural heritage. Walking down into the village there were ceramic bowls displayed on slate steps, glass objects suspended over water; feltmakers and textile artists exhibiting in the empty houses and deep down, at the bottom of the valley, a simple temporary installation of leaves and twigs gently swinging from the trees. What was particularly impressive was the project’s ambition. They are developing the market for craft beyond the geographical confines of these small communities; marketing their work internationally to grow sustainable businesses and to drive tourism. The makers I saw reflected a world of craft, which we see in the WCC, and which is more than simply about selling one’s wares. The way in which one tells the story of a maker and their work creates a narrative that, in the 21st century, people are looking for: something which brings value and authenticity to their lives. In the Aldeias Do Xisto was a powerful and compelling story of contemporary craft rooted in its heritage and surroundings.

ROSY GREENLEES


PT

TERESA FRANQUEIRA Designer, investigadora no ID+ e docente na Universidade de Aveiro

O DESIGN DE SERVIÇOS, COMO UMA NOVA ABORDAGEM PARA O PROCESSO DA TRANSFORMAÇÃO SOCIAL O primeiro e último propósito do design é dotar de significado o mundo artificial que ajuda a construir, assegurando o bem-estar e a felicidade da sociedade. Este conceito de felicidade foi sendo construído pela indústria como uma associação de bem-estar ao número de artefactos que possuímos, alimentando a obsolescência planeada e a produção de objectos. Aparentemente este sistema não é sustentável a nível ambiental nem social. O design teve um importante papel na criação do actual sistema de consumo, e deveria tentar agora promover uma re-invenção desse mesmo sistema mas baseado em modelos sustentáveis. São necessárias estratégias que introduzam novas formas de pensamento em design, promovendo soluções sustentáveis na criação de novos cenários que permitam uma cidadania actiAGRICULTURA LUSITANA 149

va e mais responsável e uma participação dos cidadãos na construção do mundo do qual fazem parte. A capacidade do designer de compreender (e antever) o que é novo, de reconhecer os sinais emitidos por ideias e comportamentos emergentes, torna-o um aliado particularmente bem posicionado na construção de uma sociedade com novos estilos de vida e uma relação diversa com a cultura material. Dando espaço e lugar às comunidades que inovam no seu modo de vida, promovendo e difundindo as suas inovações sociais, o design de serviços pode funcionar como um filtro e um catalisador, construir cenários de futuros possíveis, conceber e desenvolver sistemas de produtos-serviços e a comunicação necessária para melhorar a sua eficiência e acessibilidade. Desenhar a vida das pessoas não se enquadra no âmbito da actividade do designer, nem é tão pouco uma opção desejável. A abordagem criativa à renovação e revitalização de redes sociais implica a participação activa das pessoas no projecto de design. O papel do designer é de trabalhar lado-a-lado com as pessoas, com as as suas necessidades e aspirações. Se as pessoas são capazes, de algum modo, de projectar a sua vida, a figura do designer será a de trabalhar com elas de forma a estruturar e potenciar as suas soluções criativas e, muitas vezes, inovadoras. E este processo deveria resultar num outro muito mais

TERESA FRANQUEIRA


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fértil, uma vez que os “utilizadores” têm uma percepção mais clara das suas necessidades, e o designer, uma abordagem mais objectiva à resolução de problemas. Juntar estas duas realidades poderá ser o caminho para alcançar soluções mais sustentáveis a nível ambiental, social, cultural e económico, e que, eventualmente, poderão ser replicáveis.

Designer, researcher in RD + teacher at the University of Aveiro

SERVICES DESIGN AS A NEW APPROACH TO THE PROCESS OF SOCIAL TRANSFORMATION

The first and ultimate purpose of design is to give meaning to the artificial world that it helps to construct, ensuring the well-being and happiness of society. This concept of happiness has been constructed by industry as an association between well-being and the number of artefacts we possess, supporting the planned obsolescence and production of objects. Apparently this system is not sustainable in environmental or social terms. Design has played a significant role in creating the current system of consumption, and should now try to encourage a re-invention of that system, but one based on sustainable models. Strategies are needed that introduce new ways of thinking in design, promoting sustainable solutions by creating new scenarios that enable active and more responsible citizenship and participation by citizens in the construction TERESA FRANQUEIRA


of the world of which they are part. The designer’s ability to understand (and foresee) what is new, to recognise the signals conveyed by emerging ideas and behaviours, makes him a particularly well positioned partner in the construction of a society with new lifestyles and a different relationship with material culture. By giving space and place to communities that innovate in their way of life, and promoting and disseminating their social innovations, services design can act as a filter and catalyst, constructing scenarios of possible future, designing and developing product and services systems and the communication needed to improve their efficiency and accessibility. Designing people’s lives is outside the remit of the designer, nor is it a desirable option. The creative approach to the renewal and revitalisation of social networks implies the active participation of people in the design project. The role of the designer is to work alongside people, with their needs and aspirations. If people are able, in some way, to design their lives, the role of the designer will be to work with them to structure and enhance their creative, and often innovative, solutions. And this process should result in another, much more fertile one, since the “users” have a clearer understanding of their needs, and the designer a more objective approach to solving problems. AGRICULTURA LUSITANA 151

Combining these two facts may be the way to achieve more sustainable environmental, social, cultural and economic solutions that may possibly be replicable.

TERESA FRANQUEIRA



ARTESテグS / CRAFTSMEN + DESIGNERS ESCOLAS / SCHOOLS + ALDEIAS / VILLAGES ALUNOS / STUDENTS UA + FABLAB


AS ALDEIAS DO XISTO CHAMAM A SI

THE SCHIST VILLAGES HAVE TAKEN UPON

O PAPEL DE AGENTE EXPERIMENTADOR,

THEMSELVES THE ROLE OF EXPERIMENTAL

CONVOCANDO NOVOS ATORES,

AGENT, INVITING NEW PLAYERS, THINKING

PENSAMENTOS E COMPETÊNCIAS PARA

AND SKILLS TO INTERACT WITH THEIR

INTERAGIREM COM AS SUAS COMUNIDADES

COMMUNITIES AND THUS GENERATE IDEAS

E, DESTE MODO, GERAR ARGUMENTOS PARA

FOR DEVISING AND PRODUCING GOODS

IDEALIZAR E PRODUZIR BENS E SERVIÇOS

AND SERVICES REPRESENTATIVE OF THEIR

SIGNIFICANTES DA SUA IDENTIDADE.

IDENTITY.

AGRICULTURA LUSITANA MATERIALIZOU-SE

PORTUGUESE AGRICULTURE AROSE OUT

NUM CONJUNTO DE REFLEXÕES,

OF A NUMBER OF REFLECTIONS, TEACHINGS

DE ENSINAMENTOS E DE NOVOS

AND NEW KNOWLEDGE GATHERED FROM

CONHECIMENTOS A PARTIR DE ENCONTROS

INSTRUMENTAL MEETINGS AS THEY TOOK

DETERMINANTES QUE FORAM ACONTECENDO

PLACE THROUGHOUT THIS PROJECT.

AO LONGO DESTE PROJETO.

THE PORTUGUESE AGRICULTURE PROJECT

O PROJETO AGRICULTURA LUSITANA

PROVIDES CONTINUITY FOR THE POLICY

CONTINUA O POSICIONAMENTO DA CULTURA

OF COLLABORATIVE CULTURE BETWEEN

COLABORATIVA ENTRE A GESTÃO E O DESIGN,

MANAGEMENT AND DESIGN, A POWERFUL

UM PODEROSO CATALISADOR DENTRO

CATALYST WITHIN ORGANISATIONS, WHICH

DAS ORGANIZAÇÕES, QUE ESTIMULA

STIMULATES CREATIVE THINKING,

O PENSAMENTO CRIATIVO,

THE DEVELOPMENT OF INITIATIVES

O DESENVOLVIMENTO DAS INICIATIVAS

AND THE TEAMWORK THAT CREATE VALUE

E O TRABALHO DAS EQUIPAS, QUE GERAM

IN THE SOCIAL CONTEXT.

VALOR NO CONTEXTO SOCIAL. RUI SIMÃO/JOÃO NUNES


Work in progress... AGRICULTURA LUSITANA 155



ARTESテグS / CRAFTSMEN + DESIGNERS

AGRICULTURA LUSITANA 157



ARTESÃOS / CRAFTSMEN

CRAFT+DESIGN +IDENTITY

AGRICULTURA LUSITANA 159

O RELACIONAMENTO ENTRE

THE RELATIONSHIP BETWEEN

ARTÍFICES E DESIGNERS, ALARGADO

CRAFTSMEN AND DESIGNERS

NESTE PROJETO A OUTROS

WAS EXTENDED IN THIS PROJECT

AUTORES QUE TROUXERAM NOVAS

TO OTHER ARTISTS WHO HAVE

TECNOLOGIAS, FERRAMENTAS E

BROUGHT NEW TECHNOLOGIES,

SABERES, ACRESCENTOU AO NOSSO

TOOLS AND KNOWLEDGE, ADDING

PORTEFÓLIO NOVOS ARTEFACTOS

NEW ITEMS OF CUTLERY, PAPER,

DE CUTELARIA, PAPEL, CESTARIA,

BASKETRY, SHOEMAKING AND

SAPATARIA E TORNEARIA DE

LARGE-SCALE LATHING TO OUR

GRANDE DIMENSÃO.

PORTFOLIO.

EXPLOROU-SE O POTENCIAL

THE POTENTIAL OF SMALL

DAS PEQUENAS INDÚSTRIAS

EXTRACTIVE INDUSTRIES IN THE

EXTRATIVAS DA REGIÃO E DAS

REGION AND LOCAL INDUSTRIAL

UNIDADES INDUSTRIAIS LOCAIS,

UNITS HAS BEEN EXPLORED,

CONTINUANDO A CONJUGAR

CONTINUING TO COMBINE

A METODOLOGIA PROJETUAL

PROJECT DESIGN METHODOLOGY

DO DESIGN COM O SABER FAZER,

WITH KNOW-HOW TO BRING

RELACIONANDO CONHECIMENTO

TOGETHER KNOWLEDGE AND

E CUMPLICIDADES.

WILLING PARTICIPATION.

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CONTRA O AVILTAMENTO DO TRABALHO IMPESSOAL DOS TEMPOS MODERNOS – A ÉTICA E A EMOÇÃO DO SABER FAZER DO ARTÍFICE, DO SEU PENSAMENTO E DA SUA MÃO. ÁLVARO DOMIGUES

AGAINST THE DEBASEMENT OF THE IMPERSONAL LABOUR OF MODERN TIMES – ETHICS AND EMOTIONS OF KNOWING HOW TO MAKE THE CRAFT, ITS THINKING AND ITS HANDIWORK

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CASA DA OLARIA

ANA LOUSADA CARLOS NETO Alcaria, Porto de Mós Pernas para que te quero – a revolta dos legumes / Numa época de globalização em que o medo de existir nos leva à escravatura, é na agricultura que começa a revolução. Abandonados à sua sorte, sem condições para germinarem e sentindo que o grande problema é falta de tomates e nabos a mais, os legumes decidem revoltar-se e ganhar pernas partindo à conquista do Mundo. A revolta é liderada por três cabecilhas: Lombarda, Folha Lombarda e Menina Abóbora, determinadas a alimentar a revolução. Técnica mista, lastra e modelagem. Grés feldespático e vidrados

Feet don’t fail me now - the revolt of vegetables / In an era of globalisation in which fear of existing leads to slavery, it is in agriculture that the revolution has begun. Left to their fate, unable to germinate and feeling that the main problem is that there are not enough tomatoes and there are too many turnips, vegetables have decided to rise up and grow legs as they set off to conquer the world. The revolt is led by three ringleaders: Savoy, Savoy Leaf and Pumpkin Girl, determined to feed the revolution. Mixed techniques, slab and modelling. Glazed feldspathic stoneware.

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ANTÓNIO FERNANDES Nogueira, Bragança

Coleção Natureza / É na natureza que António Fernandes encontra a matéria-prima do seu trabalho – troncos e pedaços de madeira que o tempo se encarregou de moldar com as marcas da sua passagem. São escolhidos pelas suas formas naturais, que podem sugerir potenciais figuras ou objectos, e depois esculpidos até chegar à peça final. Foi assim com esta taça, ou fruteira, inspirada nos antigos bebedouros dos pequenos animais domésticos, outrora usados nos meios rurais do norte de Portugal. A peça foi esculpida a partir de um velho tronco de madeira de freixo encontrado junto à barragem do Azibo, perto de Macedo de Cavaleiros. Após anos de imersão, o tronco fora devolvido à praia num dia de maré baixa, com a cor e a textura já muito escuras e envelhecidas. As mãos do artesão foram-lhe dando a forma pretendida, e com ela nova vida e nova função. AGRICULTURA LUSITANA 169

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Nature Collection / It is in nature that António Fernandes finds the raw material for his work: logs and pieces of wood that have been shaped by the marks of the passage of time. They are chosen for their natural forms, which may suggest possible figures or objects, and are then carved to make the final piece. So it was with this cup, or fruit bowl, inspired by the ancient troughs of small domestic animals, once used in rural areas of northern Portugal. The piece was carved from the wood of an old ash tree trunk found next to Azibo dam, near Macedo de Cavaleiros. After years of being under water, the trunk was left on the beach after a low tide one day, by now with an old texture and dark colour. The hands of the craftsman gave it the desired shape, and with it a new life and new role.


CAPUCHINHAS

ESTER DUARTE HENRIQUETA FÉLIX Campo Benfeito, Castro d’Aire

Capucha / Capas de burel que resgatam ao passado a tradicional capucha, usada pelas mulheres da serra de Montemuro nos afazeres da vida no campo. De forma triangular, segura-se pela cabeça cumprindo a dupla funcionalidade de cobrir e proteger da chuva, deixando as mãos livres para o trabalho. O burel – tecido de lã prensado – vem sendo usado pelas gentes da serra desde tempos imemoriais. É feito de pura lã de ovelha tecida, que é depois batida e prensada no pisão tornando o pano mais compacto, resistente e impermeável. O corte das peças, uma no castanho tradicional, outra em mesclado de lã branca e castanha, é idêntico ao das antigas, concretamente ao de uma capucha com mais de 50 anos. A aplicação de folhas de carvalho, a árvore mais comum na região, como elemento decorativo das capuchas, traz um toque de modernidade às peças. As folhas, recortadas a laser, aliam o saber ancestral do burel às novas tecnologias.

Hood / Burel capes that retrieve the traditional capucha from the past, worn by women from the Serra de Montemuro as they do the chores of country life. Triangular in shape, it is held in place at the head and fulfils the dual purpose of covering and protecting from the rain, leaving the hands free for work. ‘Burel’ is pressed wool fabric that has been used by mountain dwellers since time immemorial. It is woven from pure sheep’s wool and it is then pounded and pressed in the fulling mill to make the cloth more compact, stronger and waterproof. The pieces, one in traditional brown the other in a mixture of white and brown wool, are cut exactly as they used to be, just like a capucha that’s over 50 years old. The oak leaf appliqués, the commonest tree in the region, as a decorative element of the capuchas brings a modern touch to the pieces. The leaves are cut by laser in a combination of the ancestral knowledge of burel and new technology.

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CASA LUZARTE

ANTÓNIO JOSÉ FARIA DA CUNHA Catraia de S. Paio, Oliveira do Hospital Almotolia / Regador / Abat-jour / Há mais de 80 anos que a Casa Luzarte se dedica ao fabrico manual de utensílios de cobre. Inicialmente dedicada à produção de objectos utilitários de uso diário nos meios rurais, tais como os alambiques para a destilação de aguardentes, as candeias para iluminação com azeite, ou as panela para a confecção dos alimentos, a empresa de caldeiraria cria hoje uma panóplia de peças decorativas. As peças criadas no âmbito do projecto Agricultura Lusitana baseiam-se nos utensílios antigos, embora apurados na forma e de design contemporâneo. A Almotolia (0,75L), tradicional garrafa de azeite, o Regador (1L), indispensável para o jardim, e os Abat-jours cónicos, voltam a tornar úteis objectos caídos em desuso e mantêm vivo um ofício milenar. Cada peça começa com a sua planificação em papel, seguida da elaboração de uma maquete em cartão. Todo o processo de produção é manual. Depois de cortada a folha de cobre de 1,2mm, a chapa é enrolada e soldada para dar forma ao corpo da peça. Esta é depois batida e polida, e soldam-se então as diferentes partes, como asas bocais. Por fim, faz-se a limpeza final, e dá-se um acabamento com verniz incolor para evitar a oxidação e o escurecimento do cobre. AGRICULTURA LUSITANA 173

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Oil dispenser | Watering can | Lampshade / Casa Luzarte has been making copper utensils by hand for over 80 years. Initially producing utilitarian objects of everyday use in rural areas, such as stills for the distillation of spirits, oil lamps for lighting, and pans for preparing food, the boiler company today produces an array of decorative articles. The pieces created under the Agricultura Lusitana project are based on traditional utensils, although developed in a contemporary form and design. The Oil dispenser (0.75 L), traditional olive oil ‘bottle’, Watering can (1 L), essential for the garden, and the conical Lampshade, are making objects that have fallen into disuse useful again and keeping alive an ancient craft. Each piece starts with planning on paper, followed by the development of a cardboard model. The entire production process is manual. After cutting, the 1.2 mm copper sheet is rolled and welded to form the body of the piece. It is then hammered and polished and the various parts such as handles and nozzles are welded on. Finally, after the last cleaning, the piece is finished with clear varnish to prevent oxidation and darkening of the copper.


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CASA DAS TECEDEIRAS

MANUELA LATADO SÓNIA CORTES Janeiro de Cima, Fundão

Juntar os trapinhos / Conjunto de dois individuais de tecido duplo, que recuperam um saber fazer antigo da região. Nos meios rurais, onde a matéria-prima da tecelagem – maioritariamente o linho – vinha directamente da terra e passava por um longo processo antes de chegar aos teares, não era fácil encontrar materiais alternativos. Assim, além do linho, as tecedeiras reaproveitavam roupas velhas que cortavam em tiras e usavam para tecer mantas, tapetes e outras peças úteis. As peças são produzidas num tear tradicional, onde tiras de restos de tecidos reaproveitados cruzam-se numa teia de algodão. Com eles fazerem-se tiras que passam pela trama de algodão com a lançadeira, manuseada com mestria pelas tecedeiras.

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Tying the knot / Set of two double-layer fabric place mats, which have reclaimed an ancient skill of the region. In rural areas, where the raw material for weaving, mainly flax, came directly from the land and went through a lengthy process before reaching the looms, it was not easy to find alternative materials. Thus, besides the flax, the weavers would re-use old clothes that they cut into strips and used to weave rugs, mats and other useful articles. The articles are produced on a traditional loom, where strips of leftover re-used fabrics are interwoven in a cotton web. The leftover cloth is reused to make strips that pass through the cotton weft with the shuttle, handled in masterly fashion by the weavers.


CRISTINA FONSECA Pernigem, Sintra

Semente / A semente é o elemento que está na génese da Agricultura, fonte de vida e símbolo de um futuro em potência. É também a base para a concepção desta peça em cestaria contemporânea. Transporta consigo uma mensagem de esperança - preservar um ofício com origens que remontam à cultura castreja, que poderá ter os dias contados por não haver em Portugal quem lhe dê continuidade. Com esta peça, Cristina Fonseca quis deixar uma semente que possa fazer renascer este antigo ofício e impedir a sua extinção. “Semente” é feita em tiras de madeira de castanho entrançadas segundo uma combinação de técnicas tradicionais e processos desenvolvidos ao longo de anos de trabalho.

Seed / The seed is the element that is the very origin of Agriculture, the source of life and symbol of a potential future. It is also the basis for the design of this piece in contemporary basketry. It conveys a message of hope, preserving a craft whose origins date back to the Castro Culture, whose days may be numbered because there is no-one in Portugal to keep it going. With this piece, Cristina Fonseca wanted to leave a seed that might revive this ancient craft and prevent its extinction. “Seed” is made of plaited brown wood strips using a mix of traditional techniques and processes developed over years of work.

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PROJECTO A2

ALBERTO AZEVEDO CRISTINA VILARINHO Lordelo, Guimarães

Alqueire de Luz / Candeeiro em madeira de faia e porcelana formalmente baseado numa antiga medida de cereais – o alqueire. As sementes serviram de inspiração a esta peça, chamando a atenção para o problema da monopolização das sementes e da biodiversidade por parte das grandes empresas internacionais. A preservação dessas diferenças genéticas que as sementes encerram e da troca de energia que elas potenciam, são conceitos que estão na base da concepção deste “Alqueire de Luz”. A peça foi criada com recurso à técnica de modelação cerâmica por enchimento via líquida, com pasta de porcelana, sobre um molde de gesso. Na superfície de porcelana, muito fina, relevos recriam a textura das sementes. A fonte de luz por trás aviva a forma das sementes e cria maior ambiência, numa

luz de presença que pode estar pousada numa mesa ou fixar-se na parede. As mãos e os frutos / O nome é o título de um livro de poemas de Eugénio de Andrade, publicado em 1948, servindo de homenagem ao poeta português natural do Fundão, no ano em que se contam dez anos passados sobre a sua morte. Três taças vão albergar os frutos – aquilo que nasceu das sementes, fonte de criação e de inspiração – colhidos na natureza pelas mãos do Homem. Têm diferentes texturas de folhas, irregulares e muito delicadas, em porcelana muito fina, e assentam sobre rodilhas de burel, com que as mulheres antigamente transportavam os cestos e os cântaros à cabeça. Modelação cerâmica por enchimento via líquida e manufactura da rodilha.

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Bushel of Light / Lamp made of beech wood and porcelain formally based in an old measure of grain – the bushel. Seeds served as inspiration for this piece, drawing attention to the problem of the monopolisation of seeds and biodiversity by large international companies. The preservation of these genetic differences that seeds contain and exchange of energy they potentiate are the underlying principles of this conception of “Bushel of Light.” The piece was created using the modelling technique of filling a plaster mould with ceramic paste in liquid form. Very fine reliefs recreate the texture of the seeds on the surface of the porcelain. The backlight source heightens the shape of the seeds and gives a greater ambience, in a night-light that sits on a table or can be fixed on the wall.

Hands and fruit / The name is the title of a book of poems by Eugénio de Andrade, published in 1948, as a tribute to the Portuguese poet from Fundão, on the tenth anniversary of his death. Three bowls will hold the fruit, which comes from the seeds, the source of creation and inspiration collected in nature by the hands of men and women. The leaves have different textures and are irregular and very delicate, in very fine porcelain, and they are resting on small, round, burel pads, like those that women once used when carrying baskets and pitchers on their heads. Ceramic modelling by filling with liquid paste and making the cloth pad.

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IDÁLIO DIAS Melides, Grândola

Saboneteiras / A figura da lavadeira, imortalizada por Beatriz Costa no filme “Aldeia da Roupa Branca”, em 1938, desapareceu do nosso quotidiano, tal como outras profissões tornadas desnecessárias pelos avanços da tecnologia. Trouxa de roupa à cabeça, mão na anca e pregão ensaiado na ponta da língua, eram elas quem ensaboava, esfregava, punha a corar, enxaguava, secava e por fim engomava a roupa, num tempo em que nem todas as casas tinham água canalizada. Nas aldeias, era junto ao tanque comum ou nas margens dos ribeiros que as mulheres se juntavam para lavar a roupa. E era sempre escolhida uma pedra de forma e tamanho adequados para pousar o sabão, deixando escorrer a água mas evitando que o sabão caísse no tanque ou fosse levado pelo rio. Foi numa saboneteira de pedra encontrada na aldeia da Barroca, que o escultor se inspirou para fazer esta saboneteira gigante. As peças são traba-

lhadas a partir de um bloco de pedra cortado à medida com ferramentas diamantadas, procedendo-se ao seu desbaste até se atingir a forma pretendida. As peças são depois lixadas e polidas. Medidas: 45x17x7cm e 40x21x8cm.

Taças da horta / Foi na horta que Idálio Dias bebeu a inspiração para criar estas peças simbólicas, decorativas ou utilitárias, cujos perfis evocam as formas de nabos, abóboras, couves e outros vegetais. Este conjunto de taças de diferentes tamanhos inspiram-se nos contentores tradicionais do mundo rural. Foram torneadas num torno VB36 a partir de um bloco de madeira de carvalho-alvarinho, outrora a árvore dominante nas florestas portuguesas do Minho, Douro Litoral e Beiras. Uma das taças mantém o rebordo ao natural, sendo visível uma tira mais escura e rugosa. A madeira é trabalhada ainda verde, e a peça ARTESÃOS / CRAFTSMEN


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vai-se deformando à medida que seca, como parte do próprio processo de criação, como se a natureza contribuísse ela própria para o resultado final. Quanto ao acabamento, o artesão optou pela goma-laca, um produto 100% natural que consiste numa resina segregada por um insecto originário da Ásia, tradicionalmente usado na marcenaria em Portugal.

Soap Dishes / The character of the washerwoman, immortalised by Beatriz Costa in the film Aldeia da Roupa Branca [White Linen Village] in 1938, has disappeared from our daily life, like other professions made unnecessary by advances in technology. A bundle of clothes on the head, hand on hip and a practised cry at the ready, they were the ones who soaped, scrubbed, bleached in the sun, rinsed, dried and finally ironed the garments, at a time when not all houses had running water. In the villages, it was at the communal laundry tank or on the banks of streams that the women gathered to wash clothes. They always chose a suitably shaped stone to rest the soap on, letting the water drain off, but stopping the soap from falling into the tank or being carried away by the river. The sculptor AGRICULTURA LUSITANA 185

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was inspired to make this giant soap dish by a stone soap dish found in Barroca village. The pieces are crafted from a block of stone cut to size with diamond tools and then cut to the desired shape. The pieces are then sanded down and polished. Measurements: 45x17x7 cm and 40x21x8 cm. Garden Cups / It was in the garden that Idálio Days became inspired to create these symbolic pieces, decorative or useful, whose profiles conjure up the shape of turnips, pumpkins, cabbages and other vegetables. This set of differently sized bowls was prompted by the traditional containers of the countryside. They were turned on a VB36 lathe from a block of oak wood, once the dominant tree in the Portuguese forests of the Minho, Douro Litoral and Beiras. One of the cups retains the natural edge and a darker, rougher strip can be seen. The wood is still green when it is carved, and the piece will change shape as it dries, as part of the creative process, as if nature itself is contributing to the final result. As for the finish, the craftsman opted for shellac, a 100% natural product consisting of a resin secreted by an insect originally from Asia and traditionally used in carpentry in Portugal.


MACHADO HANDMADE

JOSÉ MACHADO Vila do Conde

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Botas Enxertia / A técnica da enxertia, usada na agricultura para ligar duas plantas diferentes, foi o ponto de partida para esta bota. A peça recupera a tipologia das tradicionais socas e chancas, elas próprias um “enxerto” de madeira e couro. A bota foi feita com recurso a duas técnicas “enxertadas”: por um lado metade da bota é pregada, tal como o são as socas tradicionais; na outra metade, é feito o palmilhado, uma técnica secular da tradição do calçado português que consiste em fazer duas costuras – uma primeira costura interna que une de uma só vez “a vira, a palmilha e a bota” a toda a volta e que sela e estrutura internamente todo o sapato, seguida de uma segunda costura que une a sola a essa “vira”. O couro, em dois tons de castanho, é recortado numa alusão às folhas de carvalho e castanheiro, e a bota incorpora também uma cágada – o fecho de madeira em forma de guitarra portuguesa tradicionalmente usado nas tiras de couro que seguram os chocalhos do gado. A pele usada é de bezerro natural com curtimento vegetal, curtida com taninos naturais extraídos de cascas de árvores, muito usada na tradição portuguesa da manufactura de sapatos e botas de trabalho. A sola incorpora a borracha para maior conforto no andar. AGRICULTURA LUSITANA 187

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Grafting Boots / The technique of grafting used in agriculture to join two different plants, was the starting point for this boot. The piece brings back the style of traditional wooden shoes and clogs, which are in fact a “graft” of wood and leather. The boot was made using two “grafted” techniques: first, half of the boot is pinned, like traditional clogs; for the other half, the “palmilhado” [sole] is constructed, following an old Portuguese footwear tradition which consists of making two seams. First, there is an inner seam that joins “the welt, the insole and the boot” in one go, all the way round and that seals and structures internally throughout the shoe; then there is a second seam that joins the sole to this welt. The leather is in two shades of brown and cut to resemble oak and chestnut leaves. The boot also has a wooden peg fastener in the shape of a Portuguese guitar and traditionally used in the leather straps that secure cowbells. The skin used is natural calf with vegetable tanning, tanned with natural tannins extracted from tree bark, widely used in making traditional Portuguese shoes and work boots. The sole incorporates rubber for more comfortable walking.


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ATELIER DA CERDEIRA

KERSTIN THOMAS Cerdeira, Lousã

Encosta-te a mim / Dois objectos totalmente díspares – uma enxada e uma cadeira – ganham um novo significado pelas mãos de Kerstin Thomas, escultora alemã que trabalha em madeira, radicada na aldeia de Cerdeira, em plena Serra da Lousã. Qualquer peça ou escultura criada por essa artífice transporta uma mensagem com múltiplas leituras. Por um lado, a enxada, ícone do trabalho manual na terra e de uma vida ao ar livre em constante movimento, utilizada por pessoas sem grandes posses ou privilégios. Por outro, a cadeira, símbolo de poder por excelência, mas também da vida mais sedentária dos nossos dias. Foi esse contraste que inspirou Kerstin Thomas, dando origem a esta cadeira de apoio ou de pausa no labor, que conforta sem estimular o sedentarismo. As peças partiram de uma pesquisa sobre as diferentes formas das enxadas usadas de norte a sul do País, existindo pequenas diferenças conforme o tipo de terra de cultivo. São esculpidas à mão em madeira de castanheiro e de carvalho, árvores autóctones das serras portuguesas.

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Lean on me / Two totally different objects, a hoe and a chair, took on a new meaning at the hands of Kerstin Thomas, a German sculptor working in wood, based in the village of Cerdeira, in the heart of Serra da Lousã. Any piece or sculpture she creates carries a message with multiple readings. On the one hand, the hoe, an icon of manual labour on the land and of an outdoor life in constant motion, used by people lacking great wealth or privilege. On the other, the chair, a symbol of power par excellence, but also of the more sedentary lifestyle of today. It was this contrast that inspired Kerstin Thomas and led to this chair for support or a break at work, which comforts without encouraging the sedentary lifestyle. The pieces are based on research on the different forms of hoes used from north to south of the country, with there being small differences depending on the type of farm land. They are hand-carved from chestnut and oak, native trees of the Portuguese mountains.


MIGUEL NETO MAFALDA FIDALGO Alcorochel, Casais Novos

Ladrilhos Contemplativos / Conjunto de 12 ladrilhos cerâmicos de diferentes dimensões, executados em vários tipos de grés, com motivos inspirados na contemplação da paisagem agrícola. Os 12 ladrilhos formam uma narrativa, como um puzzle em que cada um pode montar a sua própria história, com diferentes nuances conforme a luz que envolver a peça. A contemplação da paisagem, do lugar e de tudo aquilo que nos encanta no campo e no mundo rural revela as texturas da terra – os sulcos nela deixados pela passagem do tractor, a terra gretada por tempos de seca, as oliveiras, a palha, o trigo, paus, sementes – texturas que criam toda uma envolvência que Mafalda Fidalgo imprime nas suas peças. O primeiro passo é recolher esses materiais – troncos, palha, entre outros – na natureza. As texturas, pequenas impressões de paisagens inscritas na peça, surgem em baixos relevos salientes, transportando consigo o imaginário da ruralidade para as nossas casas e conferindo às peças a eternidade do momento.

Contemplative Tiles / Set of 12 ceramic tiles of different sizes, made of various types of sandstone, with motifs inspired by contemplating the agricultural landscape. The 12 tiles form a narrative, like a puzzle in which each person can build their own story, with different nuances depending on the light around the piece. The contemplation of the landscape, the place and everything that delights us about the fields and the countryside reveals the textures of the land – the furrows left when the tractor travels over it, the cracked earth left by drought, the olive trees, straw, wheat, sticks, seeds – textures that create the whole setting that Mafalda Fidalgo imprints in her pieces. The first step is to collect these materials – trunks, straw, and so on – in nature. The textures, small impressions of landscapes etched in the piece, appear in low relief projections, bringing the imagination of rurality to our homes and giving the pieces the eternity of time.

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Taça Alguidar / Peça inspirada em duas temáticas da agricultura tradicional portuguesa – o alguidar, largamente utilizado nos meios rurais para amassar o pão, preparar os enchidos e tantas outras tarefas, e o trilho, usado na debulha dos cereais. Ao alguidar vai buscar a forma, embora numa interpretação contemporânea mais estilizada; ao trilho, as diferentes texturas na decoração da peça, que evoca o passado agrícola. A taça, em grés, tem pequenas “pedras” de grés mais claro. Para fazer estas pedras, Miguel Neto foi buscar ao passado uma técnica que remonta ao neolítico e conta com mais de sete mil anos de existência, recorrendo a moldes de madeira para obter a forma e textura pretendidas. A taça foi executada na roda de oleiro.

Alguidar Bowl / A piece inspired by two features of traditional Portuguese agriculture: the bowl, widely used in the countryside for kneading bread dough, preparing sausages and many other tasks, and the trilho [implement used for threshing corn]. The bowl gives the shape, albeit in a more stylized contemporary interpretation; the trilho, gives the different textures in the decoration of the piece, which evokes the agricultural past. The stoneware cup has small “stones” of lighter sandstone. Miguel Neto went back in time to make these stones, to a technique dating back to Neolithic times that has been in existence for over seven thousand years, using wooden moulds to get the shape and texture he wanted. The cup was made on a potter’s wheel. ARTESÃOS / CRAFTSMEN


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INVIDRO

MÓNICA FAVERIO SÉRGIO LOPES Porto

In Vidro In Cesto / Duas taças baixas em vidro extra claro, incolor, muito brilhante e transparente, através das quais a matéria-prima da natureza se vai transformar num objecto útil – vai conter um alimento ou bebida, frutos do trabalho do Homem na agricultura. Uma das taças tem no fundo uma textura baça aplicada com jacto de areia, a lembrar uma cesta de vime, como uma pegada deixada no vidro. A outra, um pouco mais pequena, foi moldada sobre uma cesta de vime mandada fazer a uma cesteira, recorrendo à técnica da termoformação. A peça começa como um disco de vidro de corte simples que é colocado sobre a cesta de vime e aquecido no forno. Pela acção do calor, o disco de vidro amolece e vai ficando com o fundo côncavo, adquirindo a forma e a textura da cesta, como se a envolvesse numa camada protectora. A decoração na parte superior foi feita com jacto de areia. O vidro tem a vantagem de se poder sujar, ao contrário da cesta de vime, que acaba por ficar manchada com o uso. Uma das taças assenta sobre uma base de vime.

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In Vidro In Cesto / Two shallow dishes in extra clear glass, clear float, very shiny and transparent, through which the raw material of nature is turned into a useful article – it will contain a food or beverage, fruit of the work of people in agriculture. One of the dishes has a matt texture applied by sandblasting, reminiscent of a wicker basket, like a footprint left on the glass. The other, slightly smaller, was cast onto a wicker basket ordered from a basket maker, using the technique of thermoforming. The piece starts out as a plain cut glass disk that is placed on the wicker basket and heated in the kiln. The heat softens the glass disk and it becomes concave, acquiring the shape and texture of the basket, as if encased in a protective layer. The decoration on the upper part was done with sandblasting. The glass has the advantage that it can get dirty, unlike the wicker basket, which ends up getting stained with use. One of the dishes sits in a wicker base.


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OFFICINA OBJECTOS IMPROVÁVEIS

NUNO ALVES Fundão

Árvore / Conjunto de três bancos em madeira de castanheiro que recriam os bancos tradicionais usados nos meios rurais para estar à lareira nas noites mais frias do Inverno. Era ao serão que as famílias se reuniam em torno do borralho e de alguma tarefa doméstica ou artesanal, tendo sempre estes pequenos bancos como testemunhos de conversas, histórias e transmissão de saberes. Um objecto novo que sugere memórias de um passado cada vez mais distante. As peças aliam a baixa e a alta tecnologia, respectivamente o trabalho de acabamento manual e a gravação a laser da imagem de partes de uma árvore. O três bancos podem juntarse para formarem um só e então completa-se o desenho da árvore. Acabamento com cera de abelha. AGRICULTURA LUSITANA 197

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Tree / Set of three stools in chestnut wood that recreate the traditional stools used in the countryside to sit by fire on the coldest winter nights. It was in the evening that families would gather around the embers with some domestic task or craft work, with these small stools always as witnesses of conversations, stories and the imparting of knowledge. A new object which suggests memories of an increasingly distant past. The pieces combine low and high technology, respectively the manual finishing work and the laser engraving of the image of parts of a tree. The three stools can be joined to form a single bench and then the outline of the tree is complete. Finished with beeswax.


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PATRÍCIA GORRIZ Lisboa

Ceifa / Joalheira com formação também em escultura, Patrícia Gorriz apresenta duas colecções com diferentes peças de mão, em prata, baseadas nas dedeiras outrora usadas pelas ceifeiras para proteger os dedos dos cortes com a foice. Uma das colecções recria as dedeiras usadas na região de Mogadouro, originalmente feitas de couro. Estas peças foram executadas recorrendo à técnica do repuxado, que consiste em bater uma chapa de prata sobre uma base com uma concavidade, na qual a prata vai ganhando a forma pretendida. A outra colecção recupera as dedeiras alentejanas, que eram feitas de cana, e apresenta peças de prata modelada. Além da prata, as peças incorporam fitas de couro. A ligação com o corpo – as dedeiras são, afinal, objectos de protecção que se adaptam ao corpo e protegem da acção do exterior, como uma segunda pele – foi o que mais inspirou a joalheira na criação destas colecções.

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Harvest / Jeweller with training in sculpture, too, Patrícia Gorriz has two collections with different handpieces of silver, based on the finger stalls once used by harvesters to protect their fingers from being cut by the scythe. One of the collections recreates the finger stalls used in the region of Mogadouro, originally made of leather. These pieces were made using the technique of repoussé, which consists of hammering a sheet of silver over a base with a recess so that the silver gains the desired shape. The other collection is based on the Alentejo finger stalls which used to be made of cane, and features pieces of modelled silver. These silver pieces also incorporate strips of leather. The connection with the body - the finger stalls are, after all, protective items adapted to the body to protect it from outside action, like a second skin - was what most inspired the jeweller in creating these collections.


PAULO TUNA Caldas da Rainha

Facas Lusas / Conjunto de facas de cozinha baseadas na rusticidade de facas de trabalho artesanais antigas. Cada peça é única e alia a simplicidade à eficiência, mantendo no seu desenho as raízes de um povo e da sua relação com os utensílios do quotidiano. Todo o processo de fabrico é inteiramente manual, o aço inoxidável utilizado nestas lâminas é fornecido por uma fábrica de cutelarias local que o autor depois trabalha cuidadosamente no atelier para que estas tenham a maior qualidade possível. As três facas são protegidas por uma bolsa em pele de bovino e de carneiro feita cuidadosamente pelas mãos de um jovem artesão. Alguns passos no fabrico destas facas: a lâmina é desenhada no aço; corte e o desbaste até se encontrar a forma; normalização na forja; cunhada com punção e martelo; regressa à forja até atingir uma temperatura de 1080ºC e é imediatamente arrefecida em óleo para obter a tempera; lixar e polir a lâmina e revenir a 180ºC para obter elasticidade do aço; lixar novamente; afiar, polir, colocar e dar forma ao cabo e voltar a afiar até ficar pronta.

Portuguese Knives / A set of kitchen knives based on the rusticity of traditional craftwork knives. Each one is unique and combines simplicity with efficiency, and their design still keeps the roots of a people and their relationship with everyday utensils. They are made entirely by hand, the stainless steel for the blades is supplied by a local cutlery factory and the craftsman afterwards carefully crafts it in the workshop so that the blades are of the highest possible quality. The three knives are protected by a calfskin and sheepskin sheath, carefully made by a young craftsman. Some steps in the manufacture of these knives: the blade is designed in steel; cut and rough ground until the shape is right; standardised in the forge; stamped with punch and hammer; returned to the forge to a temperature of 1080ºC and immediately cooled in oil for tempering; the blade is sanded and polished tempered at 180°C to give the steel elasticity; sanded again; sharpened, polished, the handle is shaped and fitted; re-sharpened until ready. ARTESÃOS / CRAFTSMEN


AGRICULTURA LUSITANA 201

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ROBIN BOVEY Covas, Vila Nova de Cerveira

Segredos Revelados / Biólogo com uma vida ligada à área da conservação ambiental internacional, Robin Bovey sempre se sentiu inspirado pela natureza e pela beleza nela contida, por dentro e por fora. Para Bovey há um fascínio pelo que um pedaço de madeira encerra, e que ninguém consegue desvendar – nem o próprio – até se “abrir” o material. E a melhor forma de revelar a beleza da madeira é o torno. Ao fazer girar um pedaço de madeira num torno, podemos ter uma visão tridimensional do grão e veios da madeira. Bovey trabalha a madeira ainda verde, acabada de cortar. Assim, à medida que a peça seca, a sua forma vai-se alterando. Depois da secagem nunca se obtêm duas peças iguais. Acabada a peça, a madeira tem sempre a última palavra quanto à sua própria forma. Peças em madeira verde de Carvalho português torneadas num torno VB36, com acabamento de cera de abelha e óleo. Medidas: 50cmX30cm; 50cmX12cm; 30cmX25cm AGRICULTURA LUSITANA 203

Secrets Revealed / A biologist whose interest lies in the area of international environmental conservation, Robin Bovey always felt inspired by nature and the beauty it contains, within and without. Bovey is fascinated by what is locked within a piece of wood, which no-one – not even he – can unravel until the material is opened up. And the best way to reveal the beauty of wood is the lathe. By turning a piece of wood on a lathe, we get a three-dimensional view of its grain and veins. Bovey works on freshly cut wood that is still green. Thus, as the piece dries so its shape will change. After drying you never get two pieces the same. Once the piece is finished, the wood always has the last word in its own way. Pieces in green Portuguese oak, turned on a VB36 lathe with beeswax and oil finish. Measurements: 50 x 30 cm; 50 x 12 cm; 30 x 25 cm

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FELTROSOFIA

STEFFI KÖHNE Benfeita, Arganil

Tudo o que eu Preciso / Abrigo / Pimentos da Terra / O lenço é um adereço inseparável das mulheres da aldeia de Benfeita. É com elas que se cruza diariamente esta artesã, ela própria radicada na povoação há vários anos e integrada na comunidade local. Aqui, a vida ainda se rege pelos ritmos dos afazeres do campo, onde os habitantes colhem tudo aquilo que precisam para subsistir – o leite das cabras, a lã das ovelhas, os vegetais da horta, ou a madeira da floresta, elementos espelhados nestas peças, feitas com várias ajudas como sempre acontece na vida em comunidade. As peças são feitas pela técnica de feltragem manual com água e sabão, feltragem seca e feltragem molhada. No caso deste última técnica, a lã, depois de limpa e penteada, é esfregada, enrolada e amassada à mão com água e

sabão – as fibras juntam-se e compactam-se, criando o feltro e a forma pretendida. Quanto ao colar Pimentos da Terra, é feito pela técnica de feltro seco, utilizando agulhas, que permite criar formas tridimensionais. Mas o processo começa com a tosquia das alpacas de Monte Frio, escolhidas pela própria artesã que conhece pelo nome todos os animais envolvidos na produção das peças. Tudo o que eu preciso / Lenço pequeno com chapéu. Lã de alpaca, lã de Merino e seda de chiffon, decorado com folhas tingidas a partir de plantas da região. Abrigo / Xaile. Lã de alpaca, lã de Merino e seda de chiffon. Chapéu de feltro de lã de cordeiro. Pimentos da Terra / Colar. Técnica de feltro seco com lã de alpaca, lã de Merino e seda de chiffon.

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All I need / Shelter / Earth Peppers / The scarf is an intrinsic adornment of the women from the village of Benfeita. And this craftswoman comes into contact with them every day, since she has lived in the village for several years and become part of the local community. Here, life is still governed by the rhythms of the farming tasks, by which the locals gather everything they need to survive - milk from the goats, wool from the sheep, vegetables from the garden and wood from the forest – elements mirrored in these pieces, made with bits of help as always happens in community life. The pieces are made by a hand-felting technique with soap and water, dry felting and wet felting. In the case of this last technique, after cleaning and combing the wool is rubbed, rolled and kneaded by hand with water and soap – the fibres are joined together and

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compressed to create the felt and the desired shape. As for the necklace Pimentos da Terra [Earth Peppers], this is done by means of the dry felt technique using needles, which makes it possible to create three-dimensional shapes. But the process begins with the fleece of the Monte Frio alpacas, chosen by the craftswoman who knows the name of every animal involved in the production of the pieces. All I need / A small scarf and hat. Alpaca wool, merino wool and silk chiffon, decorated with dyed leaves from local plants. Shelter / Shawl. Alpaca wool, merino wool and silk chiffon. Hat of lambs’ wool felt. Earth Peppers / Necklace. Dry felt technique with alpaca wool, merino wool and silk chiffon.


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TERESA DANTAS Porto

Transumância /Teresa Dantas cria peças absolutamente originais. No caso desta colecção de peças de joalharia em latão oxidado e couro, a fonte de inspiração não podia ser mais inusitada, ao incorporar no design das peças um objecto rude que, aos nossos olhos, nada tem a ver com jóias - tesouras de tosquia feitas por Mateus Filipe Miragaia, um forjador destes instrumentos rurais em Portugal, saídas da sua oficina em Donfins, concelho da Guarda. Depois da execução manual dos protótipos, Teresa Dantas recorreu à técnica da microfusão para reproduzir as peças em latão oxidado. O processo de microfusão permite produzir formas extremamente intrincadas e complexas, que dificilmente se conseguiriam obter por outros processos, criando peças próximas de sua forma final em praticamente todos os tipos de ligas.

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Transhumance / Teresa Dantas creates absolutely original pieces. In the case of this collection of jewellery in oxidised brass and leather, the source of inspiration could not be more unusual, by incorporating a rough object in the design of these pieces that, to our eyes, has nothing to do with jewellery shearing scissors made by Mateus Filipe Miragaia, a blacksmith who makes these tools in Portugal in his workshop in Donfins, in Guarda municipality. After making the prototypes by hand, Teresa Dantas turned to the microfusion technique to reproduce the pieces in oxidised brass. The microfusion process produces extremely intricate and complex shapes, which are difficult to achieve by other processes, creating pieces close to their final form in virtually all alloys.


VANDA VILELA Lisboa

Herbarium – Flora do Xisto / Aves do Xisto / Coleção de dez individuais de mesa e dez bases para copos, todos diferentes, com desenhos e nomes de espécies vegetais e de avifauna autóctones das Aldeias do Xisto. A biodiversidade existente na região deu o mote às coleções. Ao dar a conhecer as diferentes espécies pelo desenho e pelo nome, chama-se a atenção para importância da preservação da natureza. Os desenhos são feitos à mão e recortados em papel de sementes produzido em Portugal. É um papel extremamente resistente e absorvente, permitindo um uso prolongado no tempo, findo o qual existe a possibilidade de os reutilizar de uma forma amiga do ambiente – o papel, se deitado à terra, germina. As gravações e corte a laser foram realizadas no Fab Lab das Aldeias do Xisto.

Hortus Herbarium/Silva herbarium / Livro-objecto de autor, exemplar único, feito à mão em formato de acordeão, que representa espécies hortícolas e florestais das Aldeias do Xisto, desenhadas e identificadas com o nome científico e nome comum. O formato permite que o livro seja folheado normalmente, mas também possibilita a sua visualização na vertical. Desta forma o espectador/ leitor é convidado a contornar a peça descobrindo as suas páginas de um lado e de outro, com diferentes ângulos de visão, revelando ou encobrindo o pormenor dos desenhos. Foram usados papéis de diferentes gramagens e cores, recortados à mão com um bisturi e colados sobre as páginas brancas. As cores escolhidas relacionam-se com os tons das espécies em questão. A capa foi construída manualmente e tem o título gravado a laser no Fab Lab das Aldeias do Xisto. ARTESÃOS / CRAFTSMEN


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Herbarium – Plant from Schist | Birds from Schist / Collection of ten place mats and ten coasters, all different, with pictures and names of indigenous plant and bird species from the Schist Villages. The biodiversity of the region set the tone for the collections. Making the different species known by their picture and name calls the attention to the importance of protecting nature. The designs are handmade and cut out in seed paper produced in Portugal. It is an extremely strong and absorbent paper, so it can be used for a long time, and afterwards it can be reused in an environmentally friendly way - if the paper is thrown on the ground, it germinates. The engravings and laser cutting were done at the Schist Villages Fab Lab.

Hortus Herbarium/Silva Herbarium / A book, the only copy, handmade in a concertina format, this represents vegetable and tree species of the Schist Villages, drawn and labelled with the scientific name and common name. The format allows the book to be folded normally, but it can also be viewed vertically. Thus the viewer/reader is invited to turn the piece around discovering its pages from one side and the other, with different viewing angles, showing or concealing the detail of the drawings. Paper of different weights and colours was used, cut out by hand with a scalpel and pasted on the white pages. The colours relate to the tones of the species concerned. The cover was built up manually and the title was laser engraved in the Schist Villages Fab Lab. ARTESĂƒOS / CRAFTSMEN


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DEDAL NO DEDO

VÂNIA KOSTA Braga

Semeando a terra nas margens do Rio Zêzere / Deslocada do território, a forma que Vânia Kosta encontrou para dele se aproximar foi viajando pelas imagens aéreas adquiridas à distância de um clique. Através dessas imagens reais do território nas margens do rio Zêzere, Vânia inspirou-se nos desenhos criados pelas terras cultivadas, lembrando uma manta de retalhos. As linhas rectilíneas desenhadas nos solos reflectiam os inúmeros gestos de semear os campos. Recorrendo à técnica do patchwork, uniram-se retalhos de vários tecidos sobre uma base de pano crú 100% algodão, recriando os desenhos das terras aradas com fios de linho e algodão. A artesã mergulhou na terra, fresou e semeou os campos de tecidos, não com as alfaias agrícolas, mas com as suas ferramentas de trabalho: as mãos, as agulhas e as linhas. As linhas e os pontos obtidos no verso da face bordada criavam igualmente desenhos interessantes, e Vânia optou por revelá-los. Cada almofada tem 50cm X 50cm, e as quatro faces evocam o território que podemos abraçar. No verso pode ler-se a frase: “Semeando a terra nas margens do Rio Zêzere”.

Seeding the earth on the banks of the River Zêzere / Having moved away from the territory, the way Vânia Kosta found she could get closer to it was by journeying through aerial pictures that were just a click away. These real pictures of the land on the banks of the River Zêzere inspired Vânia with the designs created by the cultivated land, recalling a patchwork shawl. The straight lines drawn in the land reflected the countless gestures of sowing the fields. Using the patchwork technique, the remnants of different cloths were joined together on a base of 100% new cotton cloth, recreating the appearance of ploughed land with linen and cotton thread. The craftswoman plunged into the earth, and marked out and sowed the fields, not with agricultural implements, but with her working tools: hands, needles and thread. The lines and points created on the back of embroidered side also created interesting patterns, and Vânia chose to show them. Each cushion is 50 x 50 cm, and the four sides evoke the territory that we can hug. On the back is embroidered: Semeando a terra nas margens do Rio Zêzere [Sowing the land on the banks of the River Zêzere].

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AGRICULTURA LUSITANA 215


VASCO BALTAZAR ZITA ROSA Lisboa

Lusitudes I | Lusitudes II / Ciclicamente as inquietudes repetem-se. Lusitudes assentam num tempo em que cuidar da terra era uma troca. Sabia-se que, ao respeitar o solo e os seus tempos, ele retribuiria com alimento. Sabia-se que, mesmo em pousio, ele é fértil. Um tempo que se perdeu e que se tenta recuperar. Esta atitude de re-procurar e re-processar a relação natural na agricultura, levou os ceramistas a uma reflexão sobre os utensílios e plantas indispensáveis a esta simbiose. A concepção das peças partiu de uma pesquisa em pleno campo, procurando ramos de árvore e plantas habitualmente utilizadas para fertilizar a terra. Procurou-se imprimir em Lusitudes esta atitude de renovação – do solo mas também de valores e de ideais. As peças cerâmicas, inspiradas nas plantas forraginosas usadas para enriquecer nutritivamente os solos, são sustentadas por inusitadas forquilhas de madeira de cedro combinando assim dois elementos naturais: o grés e a madeira. Foram elaboradas com técnica mista e cozidas a 1250 °C.

Lusitudes I | Lusitudes II / Uneasiness is repeated cyclically. Lusitudes are based in a time when taking care of the land was an exchange. It was known that, by respecting the soil and its times, it would repay with food. It was known, that even lying fallow, it is fertile. A time that has been lost and should be reclaimed. This attitude of re-seeking and re-processing the natural relationship in agriculture, led the potters to reflect on the tools and plants required by this symbiosis. The design of the pieces came from a search in the heart of the countryside, looking for tree branches and plants commonly used to fertilise the land. The creators wanted to imprint this attitude of land renewal in Lusitudes, along with values and ideals. The ceramic pieces inspired by fodder plants used to nutritionally enrich soils are supported by unusual cedar wood forks, thereby combining two natural elements: sandstone and wood. They were created with mixed media and fired at 1250°C.

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AGRICULTURA LUSITANA 217

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BARRACA DOS OLEIROS

XANA MONTEIRO CARLOS LIMA Molelos, Tondela

Sulco I / Sulco II / Uma peça que vive de lembranças, das marcas deixadas na terra pelas charruas, como rugas causadas pelo natural processo de envelhecimento recriadas nestes painéis rectangulares em cerâmica negra. Com a chuva, a terra volta a ficar alisada, como se rejuvenescesse – esse contraste está aqui presente. O painel é todo feito à mão, moldando o barro como se se amassasse o pão, criando os sulcos da terra ao longo da peça com uma foice, texturas que deixam ver uma tonalidade diferente na parte interior do barro. Na parte exterior, a peça é brunida, ou alisada com a ajuda de um seixo do rio, lembrando a terra lisa depois de uma chuvada. A cerâmica negra de Molelos tem tradição secular. O processo de cozedura a lenha em atmosfera redutora é que confere às peças o seu tom negro.

Exas. Proeminências / Peça de forte impacto estético pela sua curvatura, como um chifre estilizado de um qualquer animal auxiliar do homem nas tarefas agrícolas. O barro, depois de preparado e ainda húmido, é modelado à mão, criando-se primeiro a forma de uma pirâmide. Esta vai sendo enrolada e trabalhada até se obter um cone, que do meio até à ponta é ligeiramente inclinado. A peça é escavada por dentro para lhe conferir maior leveza, e tem na base pequenos sulcos, como as rugas do envelhecimento. Quando está quase seco o barro é brunido – polido repetidamente com seixos do rio para eliminar qualquer porosidade. A peça finalizada é cozida em forno de lenha durante cerca de 10 horas, em atmosfera redutora, o que vai dar o característico tom negro ao barro.

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Furrow I / Furrow II / A piece nurtured by memories of the marks left in the ground by the ploughs, like wrinkles caused by the natural ageing process recreated in these black ceramic rectangular panels. With the rain, the earth is smoothed out again, as if rejuvenated - this contrast is here. The panel is all done by hand, shaping the clay as if kneading bread, creating the furrows of the ground along the piece with a sickle, textures that allow us to see a different shade within the clay. Outside, the piece is burnished, or smoothed with the help of a pebble from the river, recalling the level ground after a rainstorm. The black pottery of Molelos is a centuriesold tradition. Firing a wood kiln in a reducing atmosphere is what gives these pieces their black colour.

Distinguished Prominences / A piece with a strong aesthetic impact from its curvature, like a stylised horn of any working animal that helps people with their farming tasks. The wet clay is modelled by hand, by first creating the shape of a pyramid. This is then rolled up and worked until a cone is formed that is slightly tilted from the middle to the tip. The piece is hollowed out to give it extra lightness, and there are small furrows in the base, like the wrinkles of ageing. When it is almost dry, the clay is burnished - polished repeatedly with river pebbles to get rid of any porosity. The finished piece is baked in a wood-fired kiln for about 10 hours in a reducing atmosphere, which gives the characteristic black tone to the clay.

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ONDE ESTÁ A AGRICULTURA NO PENSAMENTO DOS DESIGNERS? WHERE DOES AGRICULTURE SIT IN THE THINKING OF DESIGNERS?


ASSUMINDO O TERRITÓRIO COMO UM LABORATÓRIO VIVO, AS ALDEIAS DO XISTO CONVIDARAM NOVE ESCOLAS SUPERIORES DE DESIGN PARA INTERPRETAREM A IDENTIDADE DAS COMUNIDADES E A SUA LIGAÇÃO AOS LUGARES QUE HABITAM. APROXIMAR OS DESIGNERS DE UM TERRITÓRIO QUE APOSTA NO DESIGN COMO FORMA DIFERENCIADORA PARA A SUA EVOLUÇÃO POSICIONA AS ALDEIAS DO XISTO COMO “ENTIDADE DE ACOLHIMENTO” DESTES PROFISSIONAIS QUE, NO FUTURO, PODEM TER AQUI UM ESPAÇO DE VIDA E DE REALIZAÇÃO. REGARDING THE TERRITORY AS A LIVING LABORATORY, THE SCHIST VILLAGES INVITED NINE HIGHER EDUCATION DESIGN SCHOOLS TO INTERPRET THE IDENTITY OF THE COMMUNITIES AND THEIR CONNECTION TO THE PLACES THEY INHABIT. IN BRINGING THE DESIGNERS CLOSER TO A TERRITORY THAT HAS FOCUSED ON DESIGN AS A DISTINCTIVE ROUTE FOR ITS DEVELOPMENT, THE SCHIST VILLAGES ARE ALSO POSITIONING THEMSELVES AS THE “HOST ORGANISATION” FOR THESE PROFESSIONALS WHO, IN THE FUTURE, MAY HAVE A LIVING AND WORKING SPACE HERE.

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A CULTURA DA CONVIVIALIDADE “Propostas realistas e razoáveis têm poucas probabilidades de ser aplicadas, e menos ainda de ter êxito, sem uma subversão total. Esta pressupõe uma mudança do imaginário que apenas a realização da utopia fecunda da sociedade autónoma e convivial está em condições de gerar” Serge Latouche, ”Pequeno Tratado do Decrescimento Sereno” “A ironia não salva, mas ressalva.” Herberto Hélder Convivialidade. Nada há de mais subversivo, nem húmus mais criativo do que as pessoas que se juntam - as ditaduras, de qualquer espécie, sabem-no bem! Se quiséssemos resumir o Agricultura Lusitana numa única palavra, para lá do argumentário estratégico, seria essa mesmo: convivialidade. Passado o frenesim metodológico, a materialização conceptual e a apoteose da exposição pública, o que ficará sedimentado como memória e, assim, no ser de cada uma das pessoas que participou neste projecto, é

a emoção do relacionamento vivencial no contexto de uma realidade reconhecida mas hoje profundamente desconhecida: o mundo rural. Das entrevistas que fizemos às escolas, a professores e alunos, durante o trabalho de campo, percebe-se que é dessa imersão na realidade das aldeias que emergem as verdadeiras dimensões humanas deste projecto. O espelho do que somos frente ao outro: “Este projecto não se resumiu só a uma utilização das minhas competências. O contacto com as pessoas e com o seu estilo de vida fez algo por mim também, transformou-me eticamente e fez-me pensar nos meus valores e opções.”1 A dimensão da humanidade perante a natureza: “Nas aldeias sentimos que somos pequenos perante a paisagem, sentimos a nossa própria dimensão humana.”2 A avaliação do tempo e do nosso ritmo individual dentro do seu curso: “A relação das pessoas com a natureza e com o tempo, por contraponto, fez-me questionar o meu próprio estilo de vida, onde não tenho tempo para reparar, para sentir, para sequer conversar.”3 O olhar para dentro a partir dessa íntima consciência de nós próprios: “A nível emocional consegui ouvir o silêncio, senti uma grande tran-

quilidade, como se o tempo tivesse outra unidade, como se o ar fosse mais denso mas flutuássemos.”4 E tudo desagua, finalmente, na força transformadora do que se faz e de como se faz: “Os objectos têm de incorporar uma vertente emocional - tornar o objecto pessoal, provocando uma reação nas pessoas, activando memórias, estimulando e cruzando referências.”5 Não podemos deixar de pensar também que esta é uma maneira muito nossa, portuguesa, de ser. Diferente de qualquer outra. Que de tão natural que é, nem se repara ou dá importância. Ou então, que deixamos triturar numa pressa indistinta e vazia de sermos outra coisa – Europeus globalizados? Consumidores exemplares? Reformados antecipados da nossa vontade e cultura? A cultura da convivialidade, que por aqui se faz essencialmente à mesa e na ligação emocional com os outros, é uma forma de resistência e o activo mais genuíno da portugalidade. BRUNO RAMOS Director de Comunicação e Marketing da ADXTUR

1 - Mário Roda, ARCA EUAC 2 - Hugo Cardoso, ESAD Matosinhos 3 - Ana Margarida Ferreira, IADE Lisboa 4 - Paula Lomelino, ESAD Caldas da Rainha 5 - Joana Moreira, ESAD Matosinhos


THE CULTURE OF CONVIVIALITY “There is little chance that realistic and reasonable proposals would be carried out, let alone succeed without total subversion. This presupposes changes in belief that only the achievement of a fruitful utopia in an autonomous and convivial society could generate” Serge Latouche, ”Little Treatise on Serene Degrowth”

“Irony does not save, but it safeguards.” Herberto Hélder

Conviviality. There is nothing more subversive, no humus more creative than getting people together – dictatorships of any sort know this very well! If we wanted to summarise Portuguese Agriculture in a single word, beyond the argumentation of strategy, it would be precisely this: conviviality. Once the methodological frenzy has passed, along with the materialisation of the concept and the public exhibition apotheosis, the sediments left deposited in the memory and the innermost being of AGRICULTURA LUSITANA 225

each of the persons who participated in this project will be the emotion of face-to-face relationships and the experiences shared in the context of a recognised reality that is quite unknown today: the rural world. From the interviews we conducted at schools with teachers and students during the field work, one perceives that it is from this immersion in the reality of the villages that the truly human dimensions of this project come to light. It is the mirror of what we are in the presence of the other: “This project was not merely about me using my skills. The contact with the persons and with their lifestyle did something for me, also; it transformed my ethics and made me think about my values and options.”1 The dimension of humanity in the face of nature: “In the villages we feel small in comparison to the landscape, we feel our own human dimension.”2 The assessment of time and our individual pace within its course: “The relation of the people with nature and time, by contrast, made me question my own lifestyle, in which I don’t have time to notice things, to feel, to even converse.”3 It is looking inside ourselves from the viewpoint of this intimate conscience: “Emotionally, I was able to hear the silence, I felt a great sense of tranquillity, as if time

were another unit, as if the air were dense and we floated on it.”4 And in the end it all flows into the transforming force of what is done and how it’s done: “The objects must incorporate an emotional component – to make the object personal, provoking a reaction in people, activating memories, stimulating and enabling cross references.”5 We cannot help but think that this is also a way of being that is very much ours, as Portuguese. Different from any other. One so natural to us that no one notices it or cares about it. Or we let it be ground up in our indiscriminate, empty rush to be something else – globalised Europeans? Exemplary consumers? Early retirees from our will and culture? The culture of conviviality, which is practiced here essentially at the table and in the emotional ties with others, is a form of resistance and the most genuine asset of what it means to be Portuguese. BRUNO RAMOS Director of Communication and Marketing of ADXTUR

1 - Mário Roda, ARCA EUAC 2 - Hugo Cardoso, ESAD Matosinhos 3 - Ana Margarida Ferreira, IADE Lisboa 4 - Paula Lomelino, ESAD Caldas da Rainha 5 - Joana Moreira, ESAD Matosinhos


MAPA DAS ALDEIAS DO XISTO MAP OF THE SCHIST VILLAGES


9 ALDEIAS + 9 UNIVERSIDADES E POLITÉCNICOS 9 VILLAGES + 9 UNIVERSITIES AND POLYTECHNICS Nove escolas superiores de design nacionais interpretaram a cultura dos lugares e desenvolveram artefactos representativos dos valores locais e da diversidade do território: Serra da Lousã, Serra do Açor, Zêzere e Tejo-Ocreza. Revelou-se assim o potencial pedagógico nacional e estimulou-se uma ligação do conhecimento com a realidade. Este relacionamento direto com as pessoas, paisagens e a sua cultura, esteve no cerne do pensamento sobre a identidade dos lugares e foi a fonte de inspiração material dos artefactos aqui apresentados.

AGRICULTURA LUSITANA 227

Nine Portuguese higher education design schools interpreted the culture of the places and developed artifacts representative of the local values and the diversity of the area: Serra da Lousã, Serra do Açor, Zêzere and Tejo-Ocreza. In this way, the Portuguese pedagogical potential was revealed and a connection between knowledge and reality was stimulated. This direct relationship with the people, the landscapes and their culture, was at the heart of the thinking about the identity of the places and was the source of inspirational material for the artifacts presented here.


INSTRUMENTOS DE ESCRITA CONTEMPORÂNEA INSTRUMENTS OF CONTEMPORARY WRITING


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A MAIOR VANTAGEM DESTE PROJECTO É A LIBERDADE QUE NOS DÁ PARA COLOCAR AS QUESTÕES FUNDAMENTAIS DO DESIGN, E A LIBERDADE TAMBÉM PARA LHES RESPONDER. FÁBIO PEREIRA, UBI

THE GREATEST ADVANTAGE OF THIS PROJECT IS THE FREEDOM IT GIVES US TO ASK THE FUNDAMENTAL DESIGN QUESTIONS, AND ALSO THE FREEDOM TO ANSWER THEM.


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FERRARIA DE SÃO JOÃO, PENELA

ESAD

ESCOLA SUPERIOR DE ARTES E DESIGN DAS CALDAS DA RAINHA CABRADA Ferraria de São João possui um conjunto de aspectos que a distinguem das demais. Salienta-se um magnífico sobreiral e um conjunto de numerosos currais comunitários em xisto quartzítico que orlam a aldeia, revelando a tradição da criação de caprinos. A memória deste lugar foi inscrita na pasta cerâmica através das texturas retiradas no local. A narrativa das peças percorre todo o ritual de comunhão com os ritmos da natureza, desde o recolher do leite da cabra à produção do queijo, acabando numa celebração à mesa onde a memória se constrói e renova. INFORMAÇÕES TÉCNICAS

Colecção “Cabrada” em pasta cerâmica. Garrafa de 1L e copos, queijeira, pratos de apoio e azulejos

Ricardo Paulino Rita Martins Tânia Martins Prof.ª Paula Lomelino

para pendurar utensílios de apoio à cozinha. Texturas decalcadas em barro na aldeia e transpostas para o gesso, de forma a criar moldes. Conformação das peças por enchimento com faiança líquida. Após uma primeira cozedura a cerca de 1000º C, as peças foram vidradas e cozidas novamente a 1.200º C. HERD OF GOATS Ferraria de São João has a number of features that distinguish it from the others, in particular a magnificent cork oak stand and a set of numerous communal pounds in quartzitic schist that fringe the village, an indication of the tradition of breeding goats. The memory of this place was written into the ceramic paste through the textures taken on site. The narraESCOLAS / SCHOOLS + ALDEIAS / VILLAGES

tive of the pieces encompasses the whole ritual of communion with the rhythms of nature, from the milking of the goats to the production of cheese, ending with a celebration at the table where the memory is built and relived. TECHNICAL DATA

“Cabrada” collection in ceramic paste. One-litre bottle and goblets, cheese dishes, plates and tiles from which to hang kitchen utensils. Textures modelled in clay in the village and transposed to plaster, in order to create moulds. Shaping of pieces by filling with slip. After an initial firing at about 1000°C, the pieces were glazed and fired again at 1200ºC.



ESCOLAS / SCHOOLS + ALDEIAS / VILLAGES


ALDEIA DAS DEZ, OLIVEIRA DO HOSPITAL

UBI

UNIVERSIDADE DA BEIRA INTERIOR

10 As tradições históricas da Aldeia das Dez, tais como o entalhamento e o douramento, que remontam ao século XVIII, foram reinterpretadas e aplicadas num conjunto contemporâneo e funcional de pratos. A composição orgânica partilha com os entalhes o jogo de volumes. Os acabamentos vidrados e pintados combinam com o branco natural da própria porcelana. Relacionando o artesanato local com a indústria, 10 demonstra uma perspectiva original das tradições da Aldeia das Dez. AGRICULTURA LUSITANA 235

Hélder Gutiérrez Fábio Pereira Prof. Afonso Borges

INFORMAÇÕES TÉCNICAS

Conjunto de três pratos de porcelana com diâmetros de 25,5cm, 22,5cm e 17,2cm. Protótipo produzido por impressão 3D em termoplástico ABS. Molde em madeira de pinho com o negativo da peça.

carvings with the play on volumes. Glazed and painted finishes combine with the natural white of the porcelain itself, 10 relates local crafts with industry, demonstrating a unique perspective of the traditions of Aldeia das Dez. TECHNICAL DATA

10 Historical traditions dating back to the 18th century from Aldeia das Dez, such as carving and gilding, have been reinterpreted and applied in a contemporary, functional set of dishes. The organic composition shares the ESCOLAS / SCHOOLS + ALDEIAS / VILLAGES

Set of three porcelain plates, 25.5cm, 22.5cm and 17.2cm in diameter. Prototype produced by 3D printing in ABS thermoplastic. Mould in pine wood with the negative of the piece.


FIGUEIRA, PROENÇA-A-NOVA

IADE-U

INSTITUTO SUPERIOR DE ARTE, DESIGN E EMPRESA

Giuseppe Sardone João Correia Prof.ª Catarina Lisboa Prof.ª Ana Margarida Ferreira (coord.)

ERA O CÉU AZUL, O CAMPO VERDE, A TERRA ESCURA, ERA A CARNE DAS ÁRVORES ELÁSTICA E DURA, ERAM AS GOTAS DE SANGUE DA RESINA E AS FOLHAS EM QUE A LUZ SE DESCOMBINA.

BLUE WAS THE SKY, GREEN THE FIELDS, DARK THE EARTH, ELASTIC AND TOUGH WAS THE FLESH OF THE TREES, BLOOD WERE THE DROPS OF RESIN AND THE LEAVES WHERE THE LIGHT WAS SPLINTERED.

SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN, PAISAGEM

SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN, PAISAGEM

FIGUEIRA MEMORY As Aldeias do Xisto são locais ideais para usufruir da natureza. Partindo da cultura e memória da aldeia da Figueira e dos seus recursos endógenos - materiais, tecnológicos e humanos - esta mochila permite recriar momentos genuínos e estabelecer uma relação emocional e sensorial com a aldeia. A evocação da memória está presente nos materiais – linho, cortiça, madeira e couro – todos eles testemunhos de antigos ofícios e saberes da Figueira. A mochila permite inúmeras actividades ao ar livre, tornando único o contacto com a natureza, com a cul-

tura local e com a sua gastronomia. A peça desdobra-se para assumir quatro funções diferentes: mochila de piquenique, toalha de piquenique, mochila e saco de ir à feira. Materiais: linho, fivelas em couro e lancheira em cortiça e madeira. FIGUEIRA MEMORY The Schist Villages are ideal places in which to enjoy nature. Based on the culture and memory of the village of Figueira and its local resources - material, technological and human - this backpack enables you to recreate genuine experiences and establish an emotional and sensory relationESCOLAS / SCHOOLS + ALDEIAS / VILLAGES

ship with the village. The evocation of memory is in the materials - flax, cork, wood and leather - all of them testimonies to the ancient crafts and know-how of Figueira. The backpack enables you to do a number of outdoor activities, making contact with nature, with the local culture and with its cuisine unique. The piece offers four different functions: picnic backpack, picnic rug, backpack and a bag to go to market. Materials: flax, leather buckles and a lunchbox in cork and wood.


AGRICULTURA LUSITANA 237

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FAJÃO, PAMPILHOSA DA SERRA

UA

UNIVERSIDADE DE AVEIRO OBSERVATÓRIO DARK SKY Desde tempos ancestrais que o Homem aprendeu a ler no céu os ritmos das estações do ano. O céu funcionava como um relógio celestial marcando os períodos de cultivo e de colheita. Na aldeia de Fajão, em plena serra do Açor, essa ligação da terra com o cosmos é hoje reforçada pela presença de um radiotelescópio nas proximidades. Instalado numa elevação de terreno onde assentam placas de xisto, este observatório realça essa ligação milenar representativa do património cultural e intelectual da aldeia de Fajão. A sua paisagem, com vistas rasgadas para serras e penedos, revela-se propícia à observação das estrelas. Instalação formada por elevação de terreno e assentamento de placas de xisto, criando doze zonas de repouso onde as pessoas podem

Emanuel Oliveira Gonçalo Ferreira José Nogueira Paulo Teixeira Diogo Dias Daniel Guedes

Prof. João Nunes Prof. José Matos (colaboração)

deitar-se ou sentar-se para observar o céu nocturno. Marca também o solstício de Inverno e de Verão, bem como as horas pela projecção de sombra do sol. Protótipo à escala (1:32) produzido no FabLab das Aldeias do Xisto com recurso a ferramentas de corte a laser, impressão 3D, corte, lixagem e colagem de derivados de madeira. DARK SKY OBSERVATORY Man has learned to read the rhythms of the seasons in the sky since ancient times. The heavens functioned as a celestial clock for periods of cultivation and harvesting. In the village of Fajão, amidst the Açor Mountains, this connection between the earth and the cosmos has now been enhanced by a nearby radio telescope. The Observatory has been installed on an elevated section of land, on ESCOLAS / SCHOOLS + ALDEIAS / VILLAGES

which seat schist plates, and emphasises the ancient connection that is representative of the cultural and intellectual heritage of Fajão. The landscape, with far-reaching views over the mountains and the rocks, is conducive to stargazing. The facility consists of an elevated section of land and the seating of schist plates, which creates twelve areas on which people can lie down or sit to observe the night sky. It also marks the winter and summer solstices, as well as the hours using the projection of the sun’s shadow. Prototype to scale (1:32) produced in the Schist Villages FabLab using laser cutting tools, 3D printing, cutting, sanding and gluing of wood derivatives.



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ÁLVARO, OLEIROS

UE

UNIVERSIDADE DE ÉVORA

PÉS NA TERRA | EDIÇÃO SEMENTE Reinterpretação da soca portuguesa, calçado tradicional da aldeia de Álvaro reinventado à luz da contemporaneidade. As socas, entalhadas em madeira de amieiro, reencarnam a talha da arte sacra presente no património religioso da aldeia e integram também a tradição portuguesa de trabalhar o linho. Depois de montada e enformada pelo tamanqueiro, a soca é aromatizada em memória das rocas de alfazema que ainda se fazem na aldeia. A oliveira, uma das espécies autóctones mais valorizadas, está representada tanto no bordado que segue a forma da folha e da semente, como no soco, através do trabalho de entalhe AGRICULTURA LUSITANA 241

Elsa Almeida Victor Pruteano Jessica Amaral Maria Inês Lopes Prof. Célia Figueiredo

da sola. Introduziu-se uma semente no corpo da soca para que, quando deixar de ser útil, possa ser plantada e devolvida à natureza. Socas de fabrico artesanal em madeira de amieiro, linho, cortiça, juta, goma-arábica e óleo de alfazema. FEET ON THE GROUND / SEED EDITION Reinterpretation of the Portuguese clog, the traditional footwear of the village of Álvaro, reinvented in the light of contemporaneity. The clogs, carved in alder wood, reincarnate the sacred art carvings present in the religious heritage of the village and also incorporate the Portuguese tradition of working flax. Once assembled and shaped by the ESCOLAS / SCHOOLS + ALDEIAS / VILLAGES

clog-maker, the clog is scented to evoke the bundles of lavender that are still made in the village. The olive tree, one of the most valued native species, is represented both in the embroidery that outlines the shape of the leaf and the seed, and in the base, through the sole grooving work. A seed is introduced into the body of the clog so that, when it is no longer useful, it can be planted and returned to nature. Handmade clogs in alder wood, flax, cork, jute, gum arabic and lavender oil.


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JANEIRO DE CIMA, FUNDÃO

IPCB

INSTITUTO POLITÉCNICO DE CASTELO BRANCO ESPADELA DE CIMA Entre as serras da Gardunha e do Açor, perto da barragem de Santa Luzia e encostada ao rio Zêzere, encontra-se Janeiro de Cima. Nas ruelas da aldeia sobressai o casario com alvenaria em xisto, calhaus roliços e argila, numa multiplicidade de texturas e padrões irregulares. Além da arquitetura popular, as barcas tradicionais e a Casa das Tecedeiras rematam a marcas que caracterizam a aldeia. O linho, planta outrora utilizada nas pequenas indústrias têxteis artesanais de norte a sul do país, e com grande expressão em Janeiro de Cima, era produzido e trabalhado nos meios rurais, principalmente pelas mulheres, que se dedicavam a esta actividade nas horas livres das lides domésticas. A espadela, utensílio usado para libertar as fibras têxteis das partes lenhosas do linho, foi a inspiração AGRICULTURA LUSITANA 243

Patrícia Ferreira Margarida Rolo Prof. Ana Fernandes

para a concepção deste objecto. Ao utensílio original a peça vai buscar a forma triangular, onde a textura da madeira se evidencia e a ligação ao têxtil ganha sentido. Neste acessório, o tradicional e o intemporal passam a ser uma realidade para a mulher urbana, que valoriza o meio ambiente e a utilização de fibras naturais. Do tecer da teia, da textura do xisto e da madeira da região surge uma “clutch” para a mulher contemporânea. “Clutch” de madeira de faia com saco de transporte e uma pequena bolsa interior, ambas de linho estampado com pasta de alto relevo. ESPADELA DE CIMA Between the Gardunha and Açor mountains, near the Santa Luzia dam and on the banks of the river Zêzere, lies Janeiro de Cima. The village houses line the narrow streets in their schist ESCOLAS / SCHOOLS + ALDEIAS / VILLAGES

masonry, rounded pebbles and clay, in a multitude of textures and irregular patterns. In addition to the popular architecture, the traditional barges and the Casa das Tecedeiras (Weavers’ House) complete the village’s characteristic features. Flax, a plant once used in the small textile cottage craft industries from north to south, particularly in Janeiro de Cima, was produced and worked in rural areas, especially by the women, who devoted any spare time they had from their domestic chores to this activity. The inspiration for the design of this object was the scutch, a utensil used to free the textile fibres from the woody parts of the flax. The piece takes its triangular shape from the original tool, in which the texture of the wood is evident and the connection to the textile makes sense. In this accessory, the traditional and the timeless have become a reality for the urban woman who values the environment and the use of natural fibres. From the weave of the fabric, the texture of the schist and wood from the region comes a clutch for the contemporary woman. Beech wood clutch with carry bag and a small interior pocket, both in embossed paste printed linen.


MARTIM BRANCO, CASTELO BRANCO

IPG

INSTITUTO POLITÉCNICO DA GUARDA CONVIVIUM Com cerca de 20 habitantes, Martim Branco destaca-se por um conjunto de elementos que a tornam única. As picotas, as fechaduras de ferro forjado, as portas de madeira antiga, as casas de xisto e granito, o olival que abraça a aldeia e mantém vivo o costume da apanha da azeitona, e os fornos comunitários onde ainda se coze o pão, cobrem a povoação com um manto de nostalgia e saberes locais que importa preservar. Convivium é um conjunto de cinco peças que refletem a tradição aldeã. O pão é um dos símbolos da aldeia, aqui representado pela tábua de corte. A oliveira, cuja madeira é utilizada nas peças deste conjunto, é também um elemento simbólico de Martim Branco e celebra a co-

Daniela Alves Eduardo Vanzeler Prof. Paulo Costa Prof. Sérgio Lemos

lheita da azeitona e a prova do azeite. A reunião entre o azeite e o pão requer outros acompanhantes que complementam a mesa lusitana, tais como o queijo e os enchidos, a salada de polvo ou o bacalhau. Este conjunto de peças compõe uma mesa com um carácter simbólico, representando a pequena pausa para a merenda feita após largas horas de trabalho no campo, revitalizando energias e proporcionando momentos de comunhão. Conjunto de peças em madeira de oliveira que formam uma mesa de tapas. Tábua de corte (38x27 cm), recipiente para prova de azeite (16x12cm), taça para azeitonas (18x12cm), recipiente com colher para servir acompanhamentos (29x8cm). O desenho das formas e ESCOLAS / SCHOOLS + ALDEIAS / VILLAGES

das volumetrias do conjunto partiram da observação do comportamento fluido que o azeite adquire em contacto com uma superfície lisa. Acabamento com cera de abelha de forma a tornar a sua utilização segura e conseguir uma aparência e toque naturais. CONVIVIUM With about 20 inhabitants, Martim Branco has a number of notable features that make it unique. Pillories, wrought iron locks, old wooden doors, houses of schist and granite, an olive grove that hugs the village and keeps alive the custom of olive picking, and communal ovens in which bread is still baked, cover the village in a shroud of nostalgia and local knowledge that must be preserved.


Convivium is a set of five pieces that reflect the village tradition. Bread is one of the symbols of the village, represented here by a bread board. The olive tree, whose wood is used in the pieces of this set, is also a symbolic element of Martim Branco and celebrates the harvesting of olives and the tasting of olive oil. The combination of olive oil and bread requires other companions that complement AGRICULTURA LUSITANA 245

the Portuguese table, such as cheese and sausage, octopus or cod salad. Convivium provides a table set with a symbolic character, representing the short break for a snack, after long hours of work in the field, to restore one’s energies and provide moments of companionship. Set of pieces in olive wood that form a tapas table. Cutting board (38cm x 27cm), olive oil bowl (16cm x 12cm), ESCOLAS / SCHOOLS + ALDEIAS / VILLAGES

bowl for olives (18cm x 12cm), bowl with spoon for serving accompaniments (29cm x 8cm). The design of the shapes and the volumes of the set is based on the observation of the fluidity of olive oil when in contact with a smooth surface. Finished with beeswax in order to make it safe for use and to achieve a natural look and feel.


BENFEITA, ARGANIL

ARCA EUAC

ASSOCIAÇÃO RECREATIVA DE ARTES DA ESCOLA UNIVERSITÁRIA DAS ARTES DE COIMBRA LIVRO BENFEITA A aldeia da Benfeita é feita de residentes e dissidentes apaixonados pela terra e pela região. Portugueses, ingleses, alemães e holandeses ali residem e tornam sustentável o sonho de viver numa aldeia. Bucólicos progressistas que riscaram a palavra ‘sair’ dos dicionários. Este cosmopolitismo de microescala tem no livro o ponto de encontro de diferentes registos, que são de todos e de ninguém em particular. É um reforço da identidade pessoal e local num objecto portátil que pode ir ao encontro de todos os que, sendo da Benfeita, já lá não vivem. Um projeto colaborativo que pretende povoar a Benfeita com as pessoas que lhe pertencem. A passagem da equipa pela Benfeita veio realçar aspetos da vida

Adriana Cardoso Bruno Simões Joana Graça Rodrigo Baptista Prof. Mário Roda

da aldeia que para muitos estariam desaparecidos, e que se espelham neste livro-objeto de várias formas. O livro faz parte da Benfeita e da sua comunidade. Existe uma ligação com as pessoas em todos os sentidos do objeto, desde o modo como se permite continuar a costura do livro acrescentando novas páginas, à maneira como estão apensas as fotografias, ou como as pessoas deixaram a sua marca através de impressões digitais. Um livro colaborativo que permite a qualquer momento acrescentar novos protagonistas a uma narrativa que se pretende em permanente construção. Livro em papel canson 160 gr. cortado em folhas de 24X34cm, capas de cartão prensado revestido a pelo de alpaca em feltro, costura em ESCOLAS / SCHOOLS + ALDEIAS / VILLAGES

copta com fio do norte e agulha curva. Todo o material informativo e gráfico que compõe as páginas foi recolhido na aldeia da Benfeita e trabalhado manualmente. BENFEITA BOOK The village of Benfeita is made up of locals and nonconformists in love with the land and the region. Portuguese, English, German and Dutch all live here and sustain the dream of living in a village. Bucolic progressives who have crossed out the word ‘quit’ from the dictionary. This cosmopolitanism on a microscale finds a meeting point of different qualities in the book, which belong to everyone and no one in particular. It is a reinforcement of personal and local identity in a portable object in which can appeal to


anyone who’s from Benfeita but no longer lives there. A collaborative project whose aim is to populate Benfeita with the people who belong there. The visit of the team to Benfeita highlighted aspects of village life that many would considerer lost, and that are captured in this bookobject in a number of ways. The book is part of Benfeita and its community. AGRICULTURA LUSITANA 247

There is a connection between the object and the people in every sense, from the way they are allowed to continue to sew new pages into the book, to the way the photos are attached or the way in which people have left their mark through fingerprints. It’s a collaborative book to which new contributors can be added at any time, producing a narrative intended to be under permanent construction. ESCOLAS / SCHOOLS + ALDEIAS / VILLAGES

Book on 160g canson paper, cut into sheets of 24cm x 34cm, pressboard covers with alpaca skin in felt, Coptic bound, sewn with twine and curved needles. All information and graphic material that makes up the pages was collected in the village of Benfeita and worked manually.


CERDEIRA, LOUSÃ

ESAD

ESCOLA SUPERIOR DE ARTES E DESIGN DE MATOSINHOS

PEDRA SOBRE PEDRA A gastronomia é o sujeito agregador da cultura material e imaterial, gerador de relações ricas e complexas na transformação sustentável dos recursos naturais, representante máximo da cultura acumulada do saber fazer, estar e ser. Do entrelaçado dançar das serras na paisagem aos acomodados telhados na encosta da Cerdeira, dos magníficos muros de xisto à estrutura desta rocha magmática que da compressão das argilas se forma por finas camadas, surgiu uma palavra que é quase um

Joana Silva Moreira Hugo Cardoso Prof. Arq. João Cruz

gesto, um modo de fazer - “stacking” ou empilhar, como quem empilha objectos. Um empilhar lúdico, ordenador, experimental ou construtivo, porque empilhar é intrinsecamente humano. STONE ON STONE Gastronomy is the topic that brings together tangible and intangible culture, the generator of rich, complex relationships in the sustainable transformation of natural resources, the ultimate representative of the accumulated culture of knowing how to do and how ESCOLAS / SCHOOLS + ALDEIAS/ VILLAGES

to be. From the intertwined dance of the mountains in the landscape to the roofs ensconced on the slopes of Cerdeira, from the magnificent schist walls to the structure of this magmatic rock that forms in thin layers from the compression of the clay, comes a word that is almost a gesture, a way of doing - stacking or piling up, such as one who stacks objects. A playful, ordered, experimental or constructive stack, because stacking is inherently human.


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DECA UA + ALDEIAS + SCHIST DO XISTO VILLAGES Projeto desenvolvido pelos alunos do 2º ano da licenciatura em design do DECA- Departamento de Comunicação e Arte da Universidade de Aveiro.

Project developed by 2nd year students on the degree in design at DECA Department of Communication and Art at the University of Aveiro.


AGRICULTURA LUSITANA DÁ CONTINUIDADE A UM CONJUNTO DE OUTROS PROJETOS ONDE AS QUESTÕES DA RESPONSABILIDADE E DO ACTIVISMO SOCIAL DO DESIGN SE CRUZAM ESTRATEGICAMENTE COM O PRODUTO, A COMUNICAÇÃO OU OS SERVIÇOS. OS ALUNOS INVESTIGARAM A REALIDADE E A CULTURA DO TERRITÓRIO, VISITARAM AS ALDEIAS E RECOLHERAM UM CONJUNTO DE MATÉRIA-PRIMA COM A QUAL CONSTRUÍRAM ARGUMENTOS QUE DERAM ORIGEM AOS TRABALHOS APRESENTADOS. O CONTACTO COM AS ALDEIAS DO XISTO REVELOU-SE IMPORTANTE, DESPERTANDO CONSCIÊNCIA DO QUE SOMOS E DOS VALORES QUE POSSUÍMOS. A LIGAÇÃO COM O FAB LAB INTRODUZIU A MATERIALIZAÇÃO DIGITAL QUE ESTÁ PRESENTE EM CADA UM DOS ARTEFACTOS FINALIZADOS. UMA OPORTUNIDADE PARA A AQUISIÇÃO DE NOVOS CONHECIMENTOS E PRÁTICAS, QUE OS ALUNOS, ENQUANTO NOVOS ATORES, PODEM OPERAR NO FUTURO. PORTUGUESE AGRICULTURE CONTINUES A NUMBER OF OTHER, EARLIER PROJECTS, IN WHICH THE ISSUES OF RESPONSIBILITY AND SOCIAL ACTIVISM OF DESIGN ARE STRATEGICALLY INTERSECTED WITH THE PRODUCT, COMMUNICATION OR SERVICES. STUDENTS INVESTIGATED THE REALITY AND THE CULTURE OF THE TERRITORY, VISITED THE VILLAGES AND COLLECTED A NUMBER OF RAW MATERIALS WITH WHICH THEY CONSTRUCTED THE ARGUMENTS OF THEIR WORK. THIS CONTACT PROVED TO BE VERY IMPORTANT, RAISING AWARENESS ABOUT WHO WE ARE AND THE VALUES THAT WE SHARE. THE CONNECTION WITH THE FAB LAB INTRODUCED THE DIGITAL COMPONENT PRESENT IN EACH OF THE ARTIFACTS CREATED. AN OPPORTUNITY TO ACQUIRE NEW KNOWLEDGE AND EMPLOY METHODS THAT THE STUDENTS, THE NEW ACTORS, CAN APPLY IN THE FUTURE.

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ESTE TRABALHO FEZ-NOS APROXIMAR MAIS DA NOSSA CULTURA ATRAVÉS DAS PESSOAS E, POR ISSO, TORNOU-O MAIS HUMANO. DANIELA LOPES, DECA UA

THIS WORK BROUGHT US CLOSER TO OUR CULTURE THROUGH THE PEOPLE, AND THEREFORE MADE IT MORE HUMAN.




LATO: CASTANHA PORTUGUESA LATO: PORTUGUESE CHESTNUT

Mesa inspirada na castanha portuguesa, que durante séculos alimentou os povos das regiões montanhosas do país. O ouriço da castanha deu o mote, e a chapa moldada pelo latoeiro deu a forma a esta mesa inspirada no assador tradicional, que reúne a família nas noites frias à volta da lareira, a assar castanhas, num momento de partilha. A tradição do magusto mantém-se bem presente nas Aldeias do Xisto. Entre as serras, na Aldeia das Dez, o povo reúne-se na praça para celebrar a Festa da Castanha. Já em ambiente familiar, marca presença o tradicional assador metálico da latoaria portuguesa, do qual surge LATO, metáfora da união e entreajuda patente no Magusto comunitário. As suas componentes, cortadas na CNC Router do Fab Lab das Aldeias do Xisto, são manualmente retorcidas pelo latoeiro na bigorna com o auxílio do maço de madeira. PosAGRICULTURA LUSITANA 259

teriormente são soldados todos os elementos, emergindo um artefacto que revitaliza a arte esquecida da latoaria, em tempos muito requisitada nos meios rurais. LATO é um conceito que se prolonga no tempo, uma linha que pode contemplar diversos objetos que resgatam a latoaria do passado, reformulando-a no presente. A table inspired by the chestnut, which for centuries fed the people of Portugal’s mountainous regions. The burr of the chestnut set the tone, and the plate, moulded by a tinsmith, shaped this table, inspired by the traditional brazier, which brings the family together on cold nights around the fireplace, roasting chestnuts in a moment of sharing. The Magusto tradition (a feast to celebrate the chestnut) remains very popular in the Schist Villages. In the mountains, in Aldeia das Dez, DECA UA + ALDEIAS / VILLAGES

Cátia Lima Filipe Pereira Jorge Lopes Mariana Sarabando Neuza Fonte Rafael Oliveira Tatiana Amarante the people gather in the square to celebrate the Chestnut Festival. Many households still have a traditional metal brazier made from Portuguese tin, from which the name LATO comes, a metaphor for the unity and communal sharing which characterise the Magusto. Its components, cut in the CNC Router in the Schist Villages FabLab are manually twisted by the tinsmith on the anvil with the help of a wooden mallet. Later, all the elements are soldered, and an artifact emerges that revitalises the forgotten art of the tinsmith, once so much in demand in rural areas. LATO is a concept that is extended in time, a line that can include several objects that salvage the tin work of the past to reformulate it in the present.


MEDRONHEIRO ARBUTUS UNEDO

Ana Magueta António Rosário Beatriz Ramos Lena Clasing Miguel Henriques Rute Martinho Ryuka Mitimasa

O Medronheiro é uma árvore frutífera autóctone e largamente disseminada pelas Aldeias do Xisto, que cresce por entre a vegetação dos matos, ao lado dos caminhos e estradas. É uma planta pouco explorada e valorizada, embora tenha múltiplos benefícios para a saúde; o seu fruto tem propriedades antioxidantes elevadas, previne doenças, ajuda a controlar os níveis de colesterol e melhora a saúde da pele e dos ossos. Com o objectivo de sensibilizar as pessoas para a importância de preservar esta árvore, desenhámos um pack que dá a conhecer cinco produtos feitos à base de medronho – aguardente, compota, licor, chá e mel. Numa analogia aos laboratórios científicos, o pack de

awareness to the importance of preserving this tree, we designed a pack that imparts knowledge on five products based on the fruit of the strawberry tree – brandy, jam, liqueur, tea and honey. Using an analogy with science labs, the strawberry tree pack invites you to taste the best this tree has to offer from test tubes inserted into a handmade wooden base. This combination of science and handicraft reflects the full scientific/medicinal and traditional potential of the strawberry tree.

medronheiro convida a provar o melhor que esta árvore nos fornece em tubos de ensaio inseridos num suporte artesanal de madeira. Esta simbiose entre o científico e o artesanal, espelha todo o potencial do medronheiro, tanto científico/medicinal, como tradicional. The strawberry tree is an indigenous fruit tree, spread widely throughout the Schist Villages. It grows amongst the woody undergrowth, alongside the tracks and the lanes. It is an underused and underrated plant, despite its many health benefits; its fruit has high antioxidant properties, prevents diseases, helps control cholesterol levels and improves skin and bone health. With the aim of raising people’s DECA UA + ALDEIAS / VILLAGES


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MÁSCARAS – CORRIDA AO ENTRUDO MASKS- THE CARNIVAL RUSH O projeto tem como base de inspiração as máscaras de cortiça criadas pelos habitantes da Aldeia de Góis, e que são usadas na tradicional Corrida ao Entrudo. Tal como é tradição nestas aldeias, também nós fomos diretamente à natureza buscar a cortiça para construirmos e reinterpretarmos estas máscaras. A extração da cortiça dá-se a cada sete anos e os anéis interiores determinam a idade do sobreiro. Esta árvore, que produz a cortiça, é um dos símbolos nacionais. O objetivo foi criar um objeto de luz em forma de máscara, além de duas pequenas máscaras, que transportam toda a riqueza cultural e histórica das Aldeias do Xisto. As duas peça foram trabalhadas de forma diferente. Ao criarmos as máscaras pequenas, decidimos não sucumbir ao sentido literal de máscara; estas são assim uma representação.

Quanto ao artefacto de luz, é constituído por um grande pedaço de cortiça retirado diretamente do sobreiro e trabalhado de modo a ficar com uma parte polida e outra de cortiça bruta. A esta base adicionámos um nariz e dois cornos. Por fim, todas as peças foram levadas para o FabLab das Aldeias do Xisto para a inscrição de gravações a laser, e para fazer “carimbos” com o logótipo da nossa marca: “más caras”.

This project drew its inspiration from the cork masks created by the inhabitants of the village of Góis, which are used in the traditional Carnival Rush. Following the tradition in these villages, we too collected the cork to build and reinterpret these masks from nature. Cork is extracted every seven years and the inner rings determine the age of DECA UA + ALDEIAS / VILLAGES

Beatriz Penas Filipa Soares Isabel Ferreira Margarida Olo Rosa Azevedo Viviana Schiano

the cork oak. The cork-producing tree is one of Portugal’s national symbols. The idea was to create a light object in the shape of a mask, in addition to two small masks, carrying the whole cultural and historical wealth of the Schist Villages. The two pieces were worked differently. For the small masks, we decided not to give in to the literal meaning of the mask, so they are a representation. As for the light artifact, it is made from a large piece of cork, directly taken from the cork oak and worked to give it both a polished part and a raw cork part. To this base we added a nose and two horns. Finally, all the pieces were taken to the Schist Villages FabLab to etch the laser inscriptions and make “stamps” with our brand logo: “más caras” (long faces).


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ALMOFARIZ AGRICULTURA MEDICINAL PESTLE AND MORTAR MEDICINAL AGRICULTURE

Desde tempos antigos que os povos encontram na natureza o essencial para a cura das suas doenças, produzindo mezinhas tradicionais. Este compêndio tem receitas à base de produtos naturais que se transmitiam oralmente de geração em geração. Essa cultura quase esquecida é salvaguardada em sacos de estopa produzidos manualmente, contendo amostras de plantas medicinais e acompanhados por informação sobre as suas propriedades e modo de preparação. Depois é só escolher as pedras que as irão esmagar no almofariz. A base do almofariz, de madeira de castanheiro, foi produzida e trabalhada manualmente. O processo de construção passou pela modelação do bloco de madeira, segui-

da de um acabamento a partir de dois tipos de lixa e, por fim, a aplicação de um revestimento de cera de abelha. Posteriormente, no FabLab, foi gravado a laser o logótipo na parte inferior do almofariz e, na parte superior, um provérbio português relacionado com o conceito subjacente à peça: “quem bem se cura, muito dura”. Ever since the olden days, people have found in nature everything they need to cure their diseases, producing traditional home made remedies. This compendium includes recipes based on natural products, handed down through the generations. This almost forgotten culture is safeguarded in handmade tow bags containing samples of medicinal plants DECA UA + ALDEIAS / VILLAGES

Alexa Pires Daniela Lopes Maria Gomes Mariana Ribeiro Rute Lopes Sara Martins

and accompanied by information on their properties and preparation. Then all you have to do is choose the stones that will crush them in the mortar. The mortar base is in chestnut wood, produced and worked manually. The manufacturing process consisted in modelling the block of wood, finishing it with two types of sandpaper, and finally applying a coating of beeswax. Later, at the FabLab, the logo was engraved by laser on the bottom of the mortar, and on its top, a Portuguese proverb related to the concept underlying the piece: “He who heals well will have a long life”.


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ALADINO DAS NOITES DO FRIO ALADDIN OF THE WINTER NIGHTS

Uma garrafa de vidro, transparente como o líquido que resulta da destilação no alambique, envolta numa espiral de cobre que lembra os volteios dos vapores na sua ascensão espirituosa. A ideia nasceu numa “alambicada”, um momento de convívio entre a população da pequena aldeia de Aigra Velha, em que um antigo alambique familiar incorpora o papel de Aladino das noites do frio, trazendo consigo a festa e os saberes milenares. Nas noites frias de Inverno, os habitantes de Aigra Velha reúnem-se em torno do alambique do senhor Claro para fazer a aguardente. O ambiente é animado, mantendo viva a antiga tradição de destilação caseira do bagaço. A espiral de cobre simboliza

uma riqueza de saberes adquiridos a cada “alambicada” e transmitidos de geração em geração. Assim se veste esta garrafa, metáfora do “Aladino das noites do frio”, com volteios de vapores em cobre pela analogia ao material de que é feito o alambique, em contraste com a transparência do vidro. A glass bottle, as transparent as the liquid resulting from distillation in the still, wrapped up in a copper spiral evoking the twisting and turning of the vapours in their spirited climb. The idea was born during a moment of socialising with the population of the small village of Aigra Velha, where one elderly family still plays the role of Aladdin on cold nights, DECA UA + ALDEIAS / VILLAGES

Ana Caboz Ana Fernandes Bianca Silva Débora Pereira Patrícia Mendes Sara Mendes Tiago Santos

bringing along century-old festivities and know-how. On cold winter nights, the residents of Aigra Velha gather around Mr Claro’s still to make eau-de-vie. The atmosphere is lively as they keep alive the old family tradition of distilling the marc. The copper spiral symbolises a wealth of knowledge acquired from each “stilling session” and handed down through the generations. Thus is this bottle dressed up, a metaphor for “Aladdin for the cold nights” with its spiralling copper vapours in an analogy with the material the still is made of, in contrast with the transparency of the glass.


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PORTÁTIL LAND ART PORTABLE LAND ART

Esta horta portátil surge como um convite para ligar as pessoas à terra, oferecendo a oportunidade de semear, ver crescer e por fim colher com as próprias mãos aquilo que consome. Sendo este um hábito vincado nos meios rurais, e nomeadamente nas Aldeias de Xisto, faz sentido recriar esta importante actividade do campo em ambiente citadino, tornando-a num hábito aprazível e potenciando o interesse pela preservação e valorização da agricultura. Um desafio para que continuemos a cultivar a nossa cultura. Tendo como inspiração a natureza típica e as paisagens das Aldeias do Xisto, identificámos o projeto com os socalcos da região, como forma de evocar e reforçar a sua beleza. Criámos uma estrutura simples, com três camadas de diferentes alturas onde se pode cultivar, de uma AGRICULTURA LUSITANA 269

forma prática, vários tipos de especiarias. Este “jardim”, de linhas simples e retas, tem uma vibração clean e moderna que é complementada e embelezada com a folhagem que cresce após o cultivo. O material utilizado – MDF – combina fibras de madeira, mesclando assim o rural com o urbano, o que reforça o nosso argumento. This portable kitchen garden is an invitation to connect people to the land, offering them the opportunity to sow, grow and finally harvest with their own hands what they eat. This is an ingrained habit in rural areas, especially in the Schist Villages, so it makes sense to recreate this important field activity in the city, making it into a fun hobby and fostering an interest in the preservation and development of agriculture. A chalDECA UA + ALDEIAS / VILLAGES

Alba Gallego Catarina Marques Francesca Minerva Francesca Granzotto Isabel Ferreira Joana Dias Rafaela Fernandes lenge for us to continue to nurture our culture. Taking its inspiration from the typical nature and landscapes in the Schist Villages, the project identifies with the terraces of the region as a way of evoking and enhancing their beauty. We’ve created a simple structure with three layers at different heights, where various types of spices can be grown in a practical way. The simple, straight lines give this “garden” a clean and modern vibe that is supplemented and embellished with foliage that grows after sowing. The material used (MDF) combines wood fibres, thus merging the rural into the urban, which reinforces our argument.


O PÃO: PENEIRA THE BREAD: SIEVE

Plantar e cuidar do cereal, amassar e cozer no forno a lenha. Durante séculos o pão foi assim produzido em Portugal, garantindo o sabor, textura e aspecto deste alimento basilar. A peneira tradicional, que limpava o cereal através da sua rede, simboliza as tradições e os costumes ligados à confecção artesanal do pão. Hoje, porém, o pão é produzido com farinhas industriais e refinadas. Nesta peneira, a rede tem um buraco a toda a volta. Dado que hoje a farinha já vem refinada, o resultado será o mesmo se a farinha atravessar a rede ou cair pelo buraco. Esta peneira inútil alerta para o esquecimento desta tradição e para o desaparecimento do pão artesanal. A frase ‘Não peneirar’, gravada a laser,

remete para o que acontece actualmente com a cultura, os saberes e as práticas tradicionais, e transporta o peso da desvalorização da cultura material e imaterial. O projecto pretende recuperar este objeto e toda a cultura a ele ligada. Planting and caring for the cereal, kneading it and baking it in the oven. For centuries, this was how bread was produced in Portugal, guaranteeing the taste, texture and appearance of this basic food. The traditional sieve, which sifted the grain through its mesh, symbolises the traditions and customs related to artisanal bread making. These days, bread is produced with industrial, refined flour. In this riddle, the DECA UA + ALDEIAS / VILLAGES

Catarina Almeida Dora Ladeiro Inês Lopes Inês Martins Leonor Carboila Marco Oliveira

mesh has a gap all the way around. Since today the flour is already refined, the result is the same if the flour passes through the mesh or falls through the gap. This useless sieve reminds us of this forgotten tradition and of the disappearance of traditional bread. The laser-engraved phrase ‘No riddling’ refers to the current situation with culture, knowledge and traditional practices, and carries the weight of the depreciation of tangible and intangible culture. The project aims to reinstate this object and all the culture connected to it.


AGRICULTURA LUSITANA 271

DECA UA + ALDEIAS / VILLAGES


O ANFITRIÃO

Catarina Fonseca Catarina Soares Joana Sardinha Mariana Costa Ricardo Ribeiro Tânia Resende

THE HOST

O forno comunitário era o centro da aldeia. Todos o usavam para fazer pão, num espírito de partilha e convívio. É à volta deste conceito que nasce “O Anfitrião”, uma tabua para cortar pão criada em homenagem à aldeia da Figueira. As texturas e cores da madeira e do xisto complementam-se. A marcação na tábua evoca a tradição da aldeia, quando se andava de porta em porta para saber de quem seria a próxima fornada. A tábua celebra o pão, o anfitrião no centro da mesa, acompanhado pelo vinho, o queijo e os enchidos. Depois de assistirmos à cozedura do pão, ritual raro nos nossos dias mas que a Dona Rosa não quer deixar morrer, foi em Sobral de S. Miguel, na pedreira Soardósias, que

decorreu o processo de escolha, corte, lasca e tratamento do xisto para fazer a peça. Em parceria com o Fab Lab das Aldeias do Xisto, procedemos à gravação a laser da marca na tábua à imagem das originais usadas na aldeia para a marcação da vez para cozer o pão. The communal oven used to be the centre of the village. Everyone used it to make bread in a spirit of sharing and companionship. “The Host” was born out of this concept. It is a bread board created in honour of the village of Figueira, in which the textures and colours of wood and schist complement each other. The markings on the board evoke the tradition of the village, when people went from door to door to DECA UA + ALDEIAS / VILLAGES

know who would make the next batch. The board celebrates bread, the host at the centre of the table, accompanied by wine, cheese and sausages. After watching the baking of the bread, a rare ritual these days, but one that Dona Rosa wants to keep alive, it was in Sobral de S. Miguel, in the Soardósias quarry, that we went through the process of choosing, cutting, chipping and treating the schist to make the piece. We worked in partnership with the Schist Villages FabLab to laser-engrave the brand on the board, like the original ones used in the village for marking whose turn it was to make the bread.


AGRICULTURA LUSITANA 273

DECA UA + ALDEIAS / VILLAGES


LINHO: MESA DE CENTRO

Fábio Pereira Lucas Melo Gervásio Melo Michael Nogueira Cristel Hernández Ivan Amorim Francisco Lima

LINEN: COFFEE TABLE

O linho é para muitos símbolo de pureza, leveza e simplicidade. As tradições, mitos e cantares a ele associados, deixados por gerações passadas, são evocados nesta peça para que não se perca todo esse legado. O trabalho manual, realizado maioritariamente pela população feminina que levava a cabo as várias tarefas que compõem o processo de produção do linho, bem como os saberes que o acompanham, foram uma forte e constante fonte de inspiração na concepção da mesa. Através das diversas premissas relacionadas com o linho, desde a sua história à forma como este se enquadra no contexto rural das aldeias, surgiu uma consideração centrada sobre a génese do próprio linho, sobre a sua origem e, conse-

quentemente, sobre a morfologia da sua semente. Assim, a mesa torna-se o resultado da materialização do conceito idealizado, projectando-se sob a forma de uma semente, fonte de criação e crescimento, coberta por uma toalha gravada com uma representação da flor de linho e vestida de fio tricotado. For many people, linen is a symbol of purity, lightness and simplicity. The traditions, myths and songs associated with it, handed down by past generations, are evoked in this piece, so as preserve a part of this legacy. The manual work, carried out mainly by the women who performed the various tasks that went into the production of linen, as well as the know-how that went with it, DECA UA + ALDEIAS / VILLAGES

was a strong, constant source of inspiration in the design of the table. Through the various assumptions related to linen, from its history to how it fits into the context of rural villages, a concern emerged about the origin of linen itself, its origin and, consequently, the morphology of its seed. The table, therefore, was the result of the materialisation of the idea, designed in the form of a seed, the source of creation and growth, covered with a tablecloth on which there is a representation of the flax flower, dressed in knitted thread.


DECA UA + ALDEIAS / VILLAGES


REINTERPRETAR

A IKEA III REINTERPRETING CINCO PROJETOS REPRESENTATIVOS DE UM CONJUNTO

FIVE PROJECTS REPRESENTATIVE OF A LARGER BODY

DE TRABALHOS MAIS ALARGADO DESENVOLVIDO PELOS

OF WORK UNDERTAKEN BY 2ND YEAR STUDENTS ON THE

ALUNOS DO 2º ANO DA LICENCIATURA EM DESIGN

2014/15 DESIGN DEGREE COURSE AT THE UNIVERSITY

2014/2015 DA UNIVERSIDADE DE AVEIRO.

OF AVEIRO. INSTRUMENTS AND AGRICULTURAL TRADITIONS,

INSTRUMENTOS E TRADIÇÕES AGRÍCOLAS, CONTOS

TALES & LEGENDS, BIODIVERSITY. IT WAS THESE TOPICS,

& LENDAS, BIODIVERSIDADE — ESTE CONJUNTO DE TEMAS,

INSPIRED BY PORTUGUESE AGRICULTURE, THAT GAVE RISE

INSPIRADOS NA AGRICULTURA LUSITANA, ORIGINARAM

TO THESE REINTERPRETATIONS, AN IRONY THAT DEEPENS

ESTAS REINTERPRETAÇÕES, UMA IRONIA QUE APROFUNDA

THE THINKING BETWEEN CRAFT AND DESIGN.

O PENSAMENTO ENTRE O CRAFT E O DESIGN.

Alunos da Unidade Curricular de Projecto em Design III Students on the Design Project III Module Professores Teachers João Nunes Nuno Dias 2. Alexa Pires Ana Caboz Ana Magueta Ana Fernandes António Rosário Beatriz Penas

Beatriz Ramos Bianca Silva Catarina Almeida Catarina Marques Catarina Soares Cátia Lima Cristel Hernández Daniela Lopes Débora Pereira Dora Ladeiro Fábio Pereira Filipa Soares Filipe Pereira Francisco Lima 3. Gervásio Melo Inês Lopes

Inês Martins Isabel Ferreira Isabel Marques Ivan Amorim Joana Dias Joana Sardinha Jorge Lopes Lena Clasing Leonor Carboila Lucas Melo Marco Oliveira 4. Margarida Olo Maria Gomes Mariana Ribeiro Mariana Sarabando Mariana Costa

Michael Nogueira Miguel Henriques Neuza Fonte Patrícia Mendes Rafael Oliveira Rafaela Fernandes Rosa Azevedo 5. Rui Panêlo Rute Lopes Rute Martinho Ryuka Mitimasa Sara Mendes Sara Martins Tânia Resende 1. Tatiana Amarante Tiago Santos


1. Tradições Agrícolas, Colheita da Batata / Agricultural Traditions, Potato Harvest 3. Contos & Lendas, Sopa de Pedra / Tales & Legends, Button Soup

AGRICULTURA LUSITANA 277

2. Tradições Agrícolas, Vindimas / Agricultural Traditions, Grape Picking

4. Biodiversiddade, Água / Biodiversity, Water

5. Instrumentos da Eira, Vassoura / Threshing Floor Implements, Broom


INSTALAÇÕES/ INSTALLATIONS


António Nunes dos Santos Alcongosta, Fundão Escadas / Ladders Escadas de madeira de castanheiro tradicionalmente usadas na região para a apanha da fruta, feitas à mão segundo técnicas que António Nunes dos Santos aprendeu com o pai. O processo começa nas matas vizinhas, onde o artesão escolhe a madeira conforme as suas necessidades – madeira com quatro anos para as cestas da fruta, e com oito anos para as escadas. A madeira é cortada durante o mês de Janeiro, antes do aparecimento de novos rebentos, para não comprometer o crescimento da planta. Assim se faz há séculos a gestão e aproveitamento de uma matéria-prima escassa. A madeira é deixada murchar e usada em bruto, sendo cortada na medida pretendida, furada e montados os degraus. Quando a árvore é fraca, os trabalhadores encostam as escadas duas a duas para permitir a sua utilização por dois homens simultaneamente, um de cada lado.

Ladders made from chestnut wood, traditionally used in the region for fruit picking, handmade using techniques António Nunes dos Santos learned from his father. The process begins AGRICULTURA LUSITANA 279

in the surrounding woods, where the craftsman chooses the wood to match his needs – four years old for fruit baskets, eight years old for the ladders. The wood is cut in January, before the appearance of new shoots, so as not to inhibit the growth of the plant. The management and utilisation of scarce raw materials has been done like this for centuries. The wood is allowed to wilt and is used rough, the steps being cut to the desired length, bored and mounted. When the tree is weak, the workers set up a pair of ladders to enable them to be used by two people at the same time, one on each side.

António Nunes dos Santos + Luís Dias Alcongosta, Fundão Cestas / Baskets Cestas de verga de castanho tradicionalmente usadas na apanha da cereja do Fundão, feitas à mão segundo as técnicas da cestaria tradicional que António Nunes dos Santos aprendeu com o pai. Com a chegada dos plásticos este antigo ofício quase desapareceu; os artesãos sobrevivem hoje graças às peças de artesanato que produzem, e não pelas cestas ou artigos utilitários.

António vai cortar a madeira matas vizinhas em Janeiro, antes do aparecimento de novos rebentos, procurando varas de madeira de castanheiro de quatro anos. A madeira é enterrada em covas para se manter húmida, sendo retirada a medida que o artesão dela vai precisando. As varas passam depois pelo refugadouro, onde são rodadas sobre o lume para lhes retirar a pele exterior, e trazidas para a pequena oficina de Alcongosta para serem trabalhadas. As varas são rachadas a golpes de podão e desfiadas até se obter uma tira maleável, que é depois alisada na mula com um cutelo até atingir a espessura pretendida. A cesta é tecida à mão com a ajuda de um ferro de unha, e inclui um gancho de madeira para se poder pendurar na escada ou no galho de uma árvore.


Wicker baskets woven from chestnut twigs, traditionally used in picking Fund茫o cherries, handmade using the traditional basketry techniques that Ant贸nio Nunes dos Santos learned from his father. With the arrival of plastic this ancient craft has all but disappeared; the artisans survive today thanks to the crafts they produce, not the baskets or functional articles. Ant贸nio cuts the wood from the surrounding forests in January, before the new shoots appear, searching out four-year old chestnut branches. The timber is buried in pits to keep it moist, to be taken out as the craftsman needs it. The lengths of timber are then passed through the refogadouro, where they are rotated above the fire to remove the outer bark, then brought to the small workshop in Alcongosta to be worked. The lengths of timber are split with a small sickle and shredded until a workable strip is obtained, and then are smoothed in the mule jenny with a knife until they reach the desired thickness. The basket is woven by hand with the help of a weaving hook, and includes a wooden hook so that it can be hung on the stairs or on the branch of a tree


Casa das Tecedeiras Manuela Latado e Sónia Cortes Janeiro de Cima, Fundão Mantas / Blankets Recriação das mantas tradicionais usadas nos meios rurais em tamanho XL. São tecidas em tear manual e feitas segundo o costume antigo de reaproveitar roupas e tecidos velhos para fazer mantas, tapetes e outras peças úteis para a casa. Os restos de tecidos, cedidos à Casa das Tecedeiras por empresas têxteis da região, são cortados para com eles se fazer tiras, que são depois passadas com a lançadeira por uma trama de algodão de diferentes cores. O resultado final depende da criatividade e mestria da tecedeira. Podem ser usadas dos dois lados. Recreation of traditional blankets used in rural areas in size XL. They are woven on a hand loom and made according to the ancient custom of reusing old clothes and fabrics to make rugs, mats and other useful pieces for the home. Leftover fabric given to the Weavers’ House by textile companies in the region are cut to make strips, which are then passed by the shuttle over a cotton weft of different colours. The end result depends on the creativity and expertise of the weaver. Both sides can be used. AGRICULTURA LUSITANA 281



EMANUEL SILVA/UA + FABLAB

Cabra Charnequeira Charnequeira Goat

Instalação de cinco cabras Charnequeiras de diferentes cores no relvado exterior do recinto da Eunique, que explora o simbolismo de um animal icónico da região das Aldeias do Xisto, evocando memórias e transportando o observador para aquele território. Esta raça caprina autóctone, de animais bastante corpulentos, com pelagem castanha avermelhada e cornos inclinados, acompanha os habitantes locais desde tempos imemoriais numa relação quase simbiótica entre o homem, o animal e o meio ambiente. O cabreiro, como um capitão no comando da sua tropa, conduz a cabrada pelas melhores pastagens, alternando caminhos conforme a época do ano para que a flora se possa reconstituir. Perfeitamente adaptada às condições de terreno e clima da região, a Charnequeira consegue AGRICULTURA LUSITANA 283

viver e alimentar-se em zonas onde outras raças não poderiam vingar. Enquanto raça autóctone, a cabra Charnequeira integra o património histórico e cultural das Aldeias do Xisto, onde a sua exploração desempenha um papel importante na fixação das populações, no equilíbrio ambiental e na economia local pela produção de leite e queijo. É, por isso, o elemento icónico da (agri)cultura Lusitana.

An installation of five Charnequeira goats of different colours on the grass outside the Eunique precinct. It explores the symbolism of an iconic animal in the Schist Villages region, conjuring up memories and taking onlookers back there. This native breed of goat is a quite burly animal, with a reddish brown coat and sloping horns. It has been a companion of the local people since

ancient times in an almost symbiotic relationship between people, animals and the environment. Like a captain at the head of his troops, the goatherd leads his animals to the best pastures, changing the route according to the season so that the flora can recover. Wholly adapted to the local terrain and climate, the Charnequeira can live and feed in places where other breeds would never survive. Since it is a native breed, Charnequeira goat is part of the historical and cultural heritage of the Schist Villages, where rearing them is very important to keeping people in the area, to the environmental balance and to the local economy through the production of milk and cheese. It is, therefore, the iconic element of Portuguese (agri) culture.



Especificações Técnicas / Technical Data

TAMANHO / SIZE Cabra com 1240 mm X 960 mm em 5 cores diferentes / Goat, 1240 mm x 960 mm in 5 different colours

PRODUTO / PRODUCT Valchromat® Engineered Coloured Wood

ESPESSURA / THICKNESS 8 mm

DIMENSÃO DA PLACA STANDARD / SIZE OF STANDARD SHEET 2500x1850 mm

DIMENSÃO DA PLACA A CORTAR / SIZE OF SHEET TO BE CUT 1750x1200 mm

QUANTIDADE DE PLACAS STANDARD (POR CABRA) / NUMBER OF STANDARD SHEETS (PER GOAT) 5

Ficha técnica / Acknowledgements Promotor / Promoter ADXTUR – Agência para o Desenvolvimento Turístico das Aldeias do Xisto Conceito e orientação do projeto design / Concept and project design supervision João Nunes Apoio técnico/Produção/Maquinação / Technical Assistance/Production/ Machining Nuno Alves – Fab Lab Aldeias do Xisto Modelação e desenho 3D / 3D Modelling & 3D Design Emanuel Silva Assistente design / Design assistant Matilde Horta Patrocínio / Sponsorship Banema – Madeiras e Derivados, S.A. Investwood, SA AGRICULTURA LUSITANA 285


O filme O filme sobre as Aldeias do Xisto é uma viagem pelos sentidos através do território. Descobre-se o pulsar da natureza e percebe-se como o homem se uniu a ela para criar uma paisagem cultural única. Deixandose embrenhar no ritmo muito próprio do mundo rural, as imagens captam esse tempo que liga o passado ao presente pelas memórias que as pessoas ainda guardam, pelas actividades agrícolas e artesanais que ainda subsistem, e pela reinvenção que novos agentes estão a operar: o filme revela os alojamentos de excelência, os restaurantes onde se prova a melhor gastronomia regional, e as actividades ao ar livre que é possível fazer através de trilhos pedestres ou de BTT. As praias fluviais, as Lojas Aldeias do Xisto, o calendário de eventos estão também em íntimo contacto com a natureza e com as tradições culturais da região.


the movie The film about the Schist Villages is a journey taken by the senses through this territory. The viewer discovers the pulse of nature and understands how man joined with it to create a unique cultural landscape. Being wrapped up in the pace of life specific to the rural world, the images capture the time that connects the past to the present through the memories people still hold onto, through the farming and artisanal activities that still persist, and through the reinvention being introduced by new agents: the film shows visitors the excellent places to stay, the restaurants that offer the best of the regional cuisine, and the outdoor activities they can engage in along the trails for walking or for mountain biking. The river beaches, the Schist Villages Shops, the calendar of events are also in close contact with nature and the cultural traditions of the region.



Vinde à terra do vinho, deuses novos! Vinde porque é de mosto O sorriso dos deuses e dos povos Quando a verdade lhes deslumbra o rosto.

Join the land of wine, young gods! Join, for the must gives rise To gods’ and peoples’ smiles When truth glares upon their faces.

Houve Olimpos onde houve mar e montes. Onde a flor da amargura deu perfume. Onde a concha da mão tirou das fontes Uma frescura que sabia a lume.

Olympus was wherever sea and mountains dwelled. Where the flower of grief scented the air. Where cupped hands took freshness From springs that tasted like fire.

Vinde, amados senhores da juventude! Tendes aqui o louro da virtude, A oliveira da paz e o lírio agreste…

Join, beloved lords of youth! For here you find virtue’s laurel, The olive tree of peace and the wild lily...

E carvalhos, e velhos castanheiros, A cuja sombra um dormitar celeste Pode fazer os sonhos verdadeiros.

And oaks, and aged chestnut trees, Beneath whose shade a heavenly sleep Can turn your dreams to living truth.

Miguel Torga

Miguel Torga


Drawing of the piece: AZ.184; AZ.183;

ao aproveitamento de todo o terreno”,

CRÉDITOS FOTOGRÁFICOS

AZ.164; AZ.177; AQ.609 O Voo do Arado

Ministério da Agricultura, Gabinete de

PHOTO CREDITS

, The flight of the plough / National

Planeamento, Políticas e Administração

Ethnology Museum, IFN 48666 DIG,

Geral, 1942 / A/d (ASGMA),”Motivating

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Pág. 26_27 A/d (ASGMA),

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and General Administration, 1942

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reprodução publicada no livro

de zonagem, o estagiário Manique

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The flight of the plough / National

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(Voo do Arado / Museu Nacional de

Pág. 34 © Conde d’Aurora

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ART/ 021039

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ART/ 010751

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de Magalhães, Lello Editores

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- 150 anos, ISBN: 978-972-48-1897-

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Directory and Daily Prediction founded

General of Books, Archives and Libraries

transmontana”, Beiras, Portugal, 1922-

by João Manuel Fernandes

/SEC, IFN: 53278 DIG

-1999, Arquivo Municipal de Lisboa -

de Magalhães, Lello Editores

Pág. 70 Domingos Alvão, “Douro.

PT/AMLSB/ART/ 050696 / “Trás-os-

Pág. 54 © Conde d’Aurora

Ferreiro aguçando a ferramenta

Montes kitchen”, Beiras, Portugal, 1922-

Pág. 57 © António Cezar d’Abrunhoza,

empregada na surrida” © Centro

1999, Lisbon Municipal Archive - PT/

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Português de Fotografia/ DGLAB/

AMLSB/ART/ 050696

no livro “Olivais e Lagares” “Group

SEC / PT/CPF/ALV/002934 / “Douro.

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on the path from the olive grove”

Blacksmith sharpening the threshing

sacha do trigo com dois sachadores

published in Olivais e Lagares [Olive

tool” © Portuguese Photography Centre

de tracção animal” (cópia da

groves and Presses]

DGLAB/SEC / PT/CPF/ALV/002934

reprodução publicada no livro

Pág. 58 Amadeu Ferrari (ANF), “Escadas

Pág. 72_73 Vindimas em Figueiró

“O Voo do Arado” / Museu Nacional de

e cestos para a apanha de azeitona,

dos Vinhos, foto cedida por Arquivo

Etnologia, 1996, pág. 159, Fig. no 37).

numa feira”, cópia da reprodução

Municipal de Figueiró dos Vinhos

A/d (ASGMA), “Estremadura, weeding

publicada no livro “O Voo do Arado”

Grape harvest – Figueiró dos Vinhos

the wheat with two hoes, drawn

/ Museu Nacional de Etnologia,

photo courtesy of Figueiró dos Vinhos

by animals”, (copy of reproduction

1996, pág. 17, Fig. no 4. / (National

Municipal Archives

published in the book O Voo do Arado

Photography Archive - ANF), “Ladders

Pág. 77 Artur Pastor, “Feira do gado”,

[The flight of the plough], National

and baskets for picking olives, at a fair”,

Barroso, Portugal, 1922-1999, Arquivo

Ethnology Museum, 1996, page 159,

copy of reproduction published in O

Municipal de Lisboa - PT/AMLSB/

Fig. 37).

Voo do Arado [The flight of the plough

ART/010774 / “Cattle fair”, Barroso,

Pág. 156_157 Fernando Galhano,

/ National Museum of Ethnology], 1966

Portugal, 1922-1999, Lisbon Municipal

Desenho “Carros de pastor” (Voo do

17, Fig. 4).

Archive - PT/AMLSB/ART/010774

Arado / Museu Nacional de Etnologia,

Pág. 60 Casamento na Aldeia do Xisto

Pág. 80 © António Cezar d’Abrunhoza,

IFN 54597 DIG, CEE No 28-1, séc. 20)

de Figueira, foto cedida por: Joana

“Malhadores com medas em fundo”

Drawing “Shepherds’ carts” (Voo do

Pereira (recolha fotográfica no âmbito

(E.Freitas), publicada no livro “O Ciclo

Arado / Museu Nacional de Etnologia

do Projecto “Ecos de Proença”)

do Pão, da sementeira à moagem,

[The flight of the plough / National

Wedding in Figueira, aldeia de xisto/

(2012), Câmara Municipal de Castelo

Ethnology Museum], IFN 54597 DIG,

schist village photo courtesy of: Joana

Branco

CEE No. 28-1, 20th century)

Pereira (photographic collection under

© António Cezar d’Abrunhoza,

Pág. 222_223 © Conde d’Aurora

the Project “Ecos de Proença”)

“Threshers with sheaves in the

Pág. 63 Amadeo Ferrari, “Lavoura,

background” (E.Freitas), published in

agricultura”, © Centro Português de

The bread cycle, from sowing to milling,

Fotografia/DGLAB/SEC, IFN: 53278 DIG

(2012), Castelo Branco Municipal

“Tillage, farming” © Portuguese

Council

Photography Centre/Directorate

Pág. 83 Artur Pastor, “Cozinha

AGRICULTURA LUSITANA 291


FICHA TÉCNICA CREDITS

PROMOTOR PROMOTER

[Tourism Group]

/ Botany / Ecology

Arquivos de Museus

ADXTUR - Agênciapara o

Conselho das Aldeias

Pedro Salvado –

e de Bibliotecas nacionais

Desenvolvimento Turístico

Conselho das Aldeias

Antropologia / História

ADXTUR Archive

das Aldeias do Xisto

[Villages Committee]

Anthropology / History

Archives of Portuguese

Katja Tschimmel – Mind

museums and libraries

ADXTUR - Schist Villages Tourist Development

EQUIPA TÉCNICA

Shake In

Filme Film

Agency

TECHNICAL TEAM

Mind Shake In

Joana Torgal

DIREÇÃO

Coordenação

Assistente de Design

Rodolfo Pimenta

ADMINISTRATION

Coordination

Design Assistant

Recolha Iconográfica

Paulo Fernandes

Rui Simão

Matilde Horta

Iconographic Collection

Câmara Municipal

Conceito, orientação

Equipa de design

Rita Melo

de Pampilhosa da Serra

do projecto Project

na ligação aos artífices

Catarina Almeida

Pampilhosa da Serra

Concept and supervision

Design team in charge

Instalação Installation

Municipal Council

João Nunes

of liaison with craftspeople

Emanuel Silva

Câmara Municipal

Comunicação e Marketing

Ana Menezes

Apoio Editorial Content

de Castelo Branco

Communication

Miguel Freitas

Rosário Sá Coutinho

Castelo Branco

and Marketing

Ligação artíficies e Messe

Ligação FABLAB

Municipal Council

Bruno Ramos

de Karlsruhe Craftspeople

Fab Lab liaison

Câmara Municipal

Design de Comunicação

and Messe de Karlsruhe

Nuno Alves

de Penela

e Expositivo

liaison

Apoio Etnográfico

Penela Municipal Council

Communciation

Kerstin Thomas

Ethnographic Support

Câmara Municipal

and Exhibition design

Fotografia Photography

Miguel Rainha

de Figueiró dos Vinhos

Atelier Nunes e Pã

João Margalha

Apoio Técnico Technical

Figueiró dos Vinhos

Workshops de lançamento

Bruno Ramos

support

Municipal Council

Workshops

João Nunes

Catarina Almeida

Grupo de Turismo

Jorge Paiva – Biologia/

Matilde Horta

Maria João Canadas

Grupo de Turismo

Botânica / Ecologia Biology

Arquivo ADXTUR

Miguel Cruz


ESCOLAS SCHOOLS

of Art, Design and Enterprise

Sylvie Agostinho

Jorge Faria da Cunha

ARCA EUAC- Associação

João Correia

Prototipagem Digital

António José Faria

Recreativa de Artes

Giuseppe Sardone

Digital Prototyping

da Cunha

de Coimbra da Escola

Prof. Ana Margarida Ferreira

Universitária

IPCB - Instituto Politécnico

Patrícia Rodrigues

FAB LAB Aldeias do Xisto

Casa Luzarte

Casa da Olaria

[Schist Villages]: João

Ana Lousada

das Artes de Coimbra

de Castelo Branco

Milheiro, Nuno Alves

Carlos Neto

ARCA EUAC- Coimbra

IPCB- Castelo Branco

Recreational Arts

Polytechnic Institute

Association of Coimbra

Margarida Rolo

Media Media Multicom (Portugal):

Casa das Tecedeiras

Lara Faria, Sofia Paredes

Sónia Latado

University School of Arts

Patricia Ferreira

Pura Comm (Alemanha)

Rosa Pereira

Adriana Cardoso

Prof. Ana Margarida

(Germany): Lina Leite,

Manuela Latado

Bruno Simões

Fernandes

Manuela Alves

Vasco Baltazar e Zita Rosa

Joana Graça

IPG - Instituto Politécnica

Tradução Translation

Cristina Fonseca

Rodrigo Baptista

da Guarda

Linguaemundi, Serviços

Dedal no Dedo

Prof. Mário Roda

IPG - Guarda Polytechnic

ESAD - Escola Superior

Institute

de Arte e Design das Caldas

Paulo Oliveira

da Rainha

Daniela Alves

de tradução Impressão Printing Greca - Artes Gráficas

Vânia Kosta Feltrosofia Steffi Khöne

Tiragem Print Run

Idálio Dias

ESAD - Caldas da Rainha

Prof. Paulo Costa

1000

InVidro

Art and Design School

Prof. Sérgio Lemos

Mónica Favério

Tânia Martins

UA - Universidade de Aveiro

Sérgio Lopes

Ricardo Paulino

UA - University of Aveiro

ATELIERS António Fernandes

José Machado

Rita Martins

Igor Ramos

Atelier da Cerdeira

Officina Objectos

Prof. Paula Lomelino

Daniel Guedes

Improváveis

ESAD - Escola Superior

Emanuel Oliveira

de Arte e Design de

Gonçalo Ferreira

Kerstin Thomas Atelier Miguel Neto

Nuno Alves

Miguel Neto

Patrícia Gorriz

Matosinhos

Paulo Teixeira

Mafalda Fidalgo

Paulo Tuna

ESAD - Matosinhos Art

José Nogueira

Barraca dos Oleiros

Projecto A2

and Design School

Diogo Dias

Carlos Lima

Alberto Azevedo

Joana Moreira

Prof. João Nunes

Xana Monteiro

Cristina Vilarinho

Hugo Cardoso

Colaboração:

Robin Bovey

Prof. João Cruz

Prof. José Matos

Ester Duarte

Teresa Dantas

IADE - Instituto de Arte,

UBI - Universidade da Beira

Henriqueta Felix

Vanda Vilela

Design e Empresa de Lisboa

interior da Covilhã

IADE - Lisbon Institute

UBI - University of Beira

Capuchinhas

AGRICULTURA LUSITANA 293


Interior, Covilhã

Daniela Lopes

Cátia Lima

Fábio Pereira

Sara Martins

Mariana Sarabando

Hélder Gutierrez

Rute Lopes

Rui Panêlo

Prof. Afonso Borges

Alexa Pires

Professores responsáveis:

UE - Universidade de Évora

Ana Sofia Fernandes

Nuno Dias

UE - University of Évora

Patrícia Ferreira

João Nunes

Elsa Almeida

Bianca Silva

Colaboração:

Víctor Pruteano

Débora Pereira

Prof. Eduardo Noronha

Jessica Amaral

Ana Caboz

Prof. Miguel Palmeiro

Maria Inês Lopes

Tiago Santos

Prof. João Sampaio

Prof. Célia Figueiredo

Sara Mendes

Acompanhamento

2º Ano UA

Catarina Marques

do projeto:

2nd Year UA students

Rafaela Fernandes

Igor Ramos

Fábio Pereira

Isabel Marques

Matilde Horta

Francisco Lima

Joana Dias

Gervásio Melo

Francesca Minerva

LIGAÇÃO ESCOLAS +

Lucas Melo

Francesca Granzotto

ALDEIAS SCHOOLS +

Michael Nogueira

Alba Gallego

VILLAGES LIAISON

Ivan Amorim

Inês Lopes

Janeiro de Cima

Cristel Hernandez

Marco Oliveira

- Sónia Cortes

Lena Clasing

Leonor Carboila

Álvaro - Rui Silva

Ryuka Mitimasa

Catarina Almeida

Martim Branco

António Rosário

Dora Ladeiro

– Fernanda Custódio

Rute Martinho

Inês Martins

e Cecília Dias

Ana Magueta

Catarina Fonseca

Figueira - Joana Pereira

Miguel Henriques

Joana Sardinha

Água Formosa

Beatriz Ramos

Tânia Resende

- Paula Elias

Ana Rosa

Catarina Soares

Ferraria de S. João

Beatriz Penas

Ricardo Ribeiro

- Pedro Pedrosa e Paulo

Filipa Soares

Mariana Costa

Guilherme

Isabel Ferreira

Jorge Lopes

Cerdeira - Kerstin Thomas

Margarida Olo

Filipe Pereira

Aigra Nova – Jorge Lucas

Viviana Schiano

Rafael Oliveira

Benfeita - Steffi Khone

Maria Gomes

Tatiana Amarante

Aldeia das Dez - Isabelle

Mariana Ribeiro

Neuza Fonte

Dockx


AGRADECIMENTOS

Portugal), Central Portugal

(Manager of the Villa

Lisbon Municipal Council)

ACKNOWLEDGEMENTS

Tourism Office, AICEP

Pampilhosa Hotel)

Bernardino Castro (Diretor

Aos associados públicos

(Business Development

Ana Figueiredo (Câmara

de Serviços do Centro

e privados das Aldeias

Agency), ARPT Centro

Municipal de Miranda do

Português de Fotografia

do Xisto.

(Central Regional Agency for

Corvo) (Miranda do Corvo

do Porto) (Head

Às escolas, aos seus

the Promotion

Municipal Council)

of Department, Portugese

professores e alunos,

of Tourism).

António Correia (Junta de

Photography Centre, Porto)

aos ateliers de craft,

Our international

Freguesia de Álvaro) (Álvaro

Bruno Batista (Câmara

e aos designers.

institutional partners:

Parish Council)

Municipal de Figueiró

Aos parceiros institucionais

Consulate General of

Alfredo Martins (Junta

dos Vinhos) (Figueiró dos

externos das Aldeias do

Stuttgart, Portuguese

de freguesia de Benfeita)

Vinhos Municipal Council)

Xisto: CCDRC, Turismo

Embassy in Berlin, AICEP

(Benfeita Parish Council)

Bombos de Lavacolhos

Centro de Portugal, AICEP,

delegation in Germany, Pure

Américo Pedro (Santa Maria

“Lavacolhos Drummers“

ARPT Centro.

Comm, Messe Karlsruhe

da Feira)

Carla Barros (Centro

Aos nossos parceiros

(Karlsruhe Trade Fair Centre).

António Carlos Andrade

Português de Fotografia

institucionais

Abel Dias

(Planta do Xisto)

do Porto) (Portuguese

internacionais: Consulado

Alexandra Encarnação

António Dias

Photography Centre,

Geral de Estugarda,

(Coordenadora do Arquivo

António Ferreira

Porto )

Embaixada de Portugal

de Documentação

António Lobato

Carlos Simão (Junta de

em Berlim, Delegação

Fotográfica da Direção

António Nunes

Freguesia de Fajão)

do AICEP na Alemanha,

Geral do Património

António Ramos

(Fajão Parish Council)

Pura Comm, Messe

Cultural) (Coordinator

António Ramos das Neves

Carlos Luís

Karlsruhe.

of the Photographic

(Só Ardosias)

Carlos Manuel (Amorim

The public and private

Documentation Archive

António Ribeiro

Isolamentos)

associates of the Schist

of the Directorate-General

Amélia Martinho

Carmen Rosa (Museu

Villages.

of Cultural Heritage)

(Coordenadora de

Nacional de Etnologia de

The schools, their teachers

Alexandra Maria Frexes

Edição na Lello Editores)

Lisboa) (National Ethnology

and students, the craft

(Secretária da Direção Geral

(Coordinator of publication

Museum, Lisbon)

workshops and the

do Património Cultural)

at Lello Editores)

Catarina Canha

designers.

(Secretary of the

Ana Teresa Brito (Serviços

Catarina Roquette (Museu

The external institutional

Directorate-General

de Acesso à Informação

da Música Portuguesa -

partners of the Schist

of Cultural Heritage)

e Conteúdos da Câmara

Casa Verdades de Faria)

Villages: CCDRC (Committee

Alexandra Olivença

Municipal de Lisboa)

(Musem of Portuguese

for Coordination of Regional

(Directora do Villa

(Access to Information

Music - Casa Verdades

Development in Central

Pampilhosa Hotel)

and Content Department,

de Faria)

AGRICULTURA LUSITANA 295


Cecília Dias (Xisto Sentido)

Fotografia Rosel

Director do Museu Nacional

Lara Faria (Multicom)

D. Benilde

Helena Paula Pires (AICEP)

de Etnologia) (Director,

Lina Leite (Pura Comm)

D. Laurinda

Hermínio Dias

National Ethnology

Lúcia Matias

D. Natália

Inês Mansinho (Instituto

Museum, Lisbon)

Luís de Almeida Sampaio

D. Silvina

Superior de Agronomia da

Jorge Lucas (Associação

(Embaixador de Portugal

Daniela Bacalhau

Universidade de Lisboa)

Lousitânea)

em Berlim)

David Ferreira “Ginjas”

(School of Agronomy,

Jorge Paiva (Universidade

Luís Alexandre

David Caetano

University of Lisbon)

de Coimbra)

Luís Antero (Câmara

(Caminheiros da Gardunha)

Inês Morais Viegas (Chefe

Jorge Ramos Silva (Só

Municipal de Oliveira

Dinora Rodrigues (Centro

de Divisão de Arquivo

Ardósias)

do Hospital) (Oliveira do

Português de Fotografia

Municipal de Lisboa)

José Andrade (Amorim

Hospital Municipal Council)

do Porto) (Portuguese

(Division Head, Lisbon

Isolamentos)

Luís Daniel

Photography Centre, Porto)

Municipal Archive)

José Carlos Reis Arsénio

Luís Nave (Chefe de

Dylan

Joana Gomes (Centro

(Cônsul Geral de Portugal

Redação do Jornal do

Eco Museu Louzã

Português de Fotografia

em Estugarda)

Fundão) (Editor-in-Chief,

Henriques Louzã Henriques

do Porto) (Portuguese

José Cerdeira

Jornal do Fundão)

Eco Museum

Photography Centre, Porto)

José Alexandre

Luís Pavão (Director da

Fernanda Custódio (Xisto

Joana Pinheiro (Arquivo

José Luís Gravito Henriques

Lupa, Lda) (Director

Sentido)

Municipal de Lisboa -

(Presidente da Junta

of Lupa, Lda)

Fernando Matias

Núcleo Fotográfico)

Freguesia de Lavacolhos)

Karin Wall (Instituto

Filipe Rodrigues (Junta

(Lisbon Municipal Archive -

(Chair, Lavacolhos Parish

de Ciências Sociais da

de Freguesia de Aldeia das

Photography Section)

Council)

Universidade de Lisboa)

Dez) (Aldeia das Dez Parish

Joana Pereira (Casa Ti

José Matias (Museu do

(Institute of Social Sciences,

Council)

Augusta)

Trabalho Rural C.M.

University of Lisbon)

Flávio Silva (Chefe do

João Diogo

Santiago do Cacém)

Luísa Oliveira (Direção

Restaurante O Buke – Villa

João Figueira

(Museum of Rural Labour,

Geral do Património

Pampilhosa Hotel)

João Matias (Casa Ti

Santiago do Cacém

Cultural) (Directorate-

(Chef at the O Buke

Augusta)

Municipal Council)

General of Cultural

restaurant – Villa

João Nunes

José Nunes (Junta de

Heritage)

Pampilhosa Hotel)

João Silva (Instituto

Freguesia de Álvaro)

Manuel Barata

Florência Cerdeira (Arquivo

de Ciências Sociais da

(Álvaro Parish Council)

Manuel Claro

Municipal de Lisboa -

Universidade de Lisboa)

José Paulo Rainho (UATEC)

Manuel Matias

Núcleo Fotográfico)

(Institute of Social Sciences,

Kai Richter (KMK)

Maria da Assunção

(Lisbon Municipal Archive -

University of Lisbon)

Kerstin Thomas (Atelier

Maria da Assunção Cardoso

Photography Section)

Joaquim Pais de Brito (ex-

da Cerdeira)

Maria do Céu (Chronos


Paper)

Geral do Património

de Documentação

Maria de Lurdes

Cultural) (Chief Executive,

Fotográfica da Direção

Maria Rodrigues

Directorate-General

Geral do Património

Manuel Roque

of Cultural Heritage)

Cultural) (Photographic

Manuela Alves (Pura Comm)

Paulo César

Documentation Archive

Margarida Barroca

Paulo Ferreira da Costa,

of the Directorate-General

Maria Daniel

(Director do Museu

of Cultural Heritage)

Maria João Monteiro

Nacional de Etnologia)

Sr. António

(Gabinete de Planeamento,

(Director, National

Sr. Manuel (cabreiro)

Políticas e Administração

Ethnology Museum)

(goatherd)

Geral, Ministério da

Paulo Guilherme (Casa do

Tiago Fróis

Agricultura) (Office for

Zé Sapateiro)

Tânia Olim (Arquivo

Planning, Policy and

Paulo Santos

de Documentação

General Administration,

Paula Elias

Fotográfica da Direção

Ministry of Agriculture)

Pedro Leão

Geral do Património

Maria de Jesus Dias

Pedro Pedrosa (Vale do

Cultural) (Photographic

Maria do Rosário

Ninho Nature Houses)

Documentation Archive

Maria Teresa

(Vale do Ninho Nature

of the Directorate-General

Marli Monteiro (ARPT

Houses)

of Cultural Heritage)

Centro)

Ricardo Figueiredo

Teresa Almeida (Vilar dos

Marta Amaro

Rita Santa Cruz

Condes)

Miguel Lemos (Câmara

Rosário Sá Coutinho

Teresa Nunes

Municipal de Pampilhosa da

(Arquivo da Casa de Nossa

Vítor Marques

Serra) (Pampilhosa da Serra

Senhora d’Aurora)

Vítor Pereira (Junta

Municipal Council)

(Casa de Nossa Senhora

de Freguesia de Fajão)

Miguel Rainha (Câmara

d’Aurora Archive)

(Fajão Parish Council)

Municipal do Fundão)

Rosário Lobato

Nazaré Marques

Rui Carlos Rodrigues (Santa

Nuno Francisco (Director

Maria da Feira)

do Jornal do Fundão)

Rui da Silva Damasceno

Nuno Pimenta (Fundão

(tipografia Damasceno)

Turismo) (Fundão Tourist

(Damasceno typography)

Office)

Sérgio Leitão (Caetsu)

Nuno Vassalo e Silva

Sofia Paredes (Multicom)

(Director Geral da Direção

Sofia Torrado (Arquivo

AGRICULTURA LUSITANA 297


ESCOLAS SCHOOLS


APOIOS SPONSORS

“Agradecemos à Amorim Isolamentos o apoio neste projeto. Escolhemos a cortiça pelas suas propriedades técnicas e por ser um material icónico da cultura portuguesa” “We would like to thank Amorim Isolamentos for their support to this project. We chose cork for its technical properties and because it is an emblematic material of Portuguese culture”




ALDEIAS DO XISTO SCHIST VILLAGES PORTUGAL 2015

cultiva a tua cultura nurture your culture


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