Intervenes nas crises

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Por Verônica Farias: Missionária e Psicóloga Clínica 1

INTERVENÇÕES NAS CRISES Antes de qualquer coisa, faz-se necessário situar o tema para entendermos melhor a aplicabilidade proposta. Estamos falando a priori do “Cuidado” para o público missionário no século XXI. Missionários dentro de um recorte cultural ocidental, e mais focalmente latino-americano. O “Cuidado” aparece como uma proposta interventiva, intencional, programada e estratégica. A partir de quem? Em tese a partir da Igreja-corpo1, que envia parte de si mesma para os campos mais árduos e distantes. Contudo, na prática, ainda percebe-se o desenrolar do “Cuidado” como uma expressão mais logística, técnica e pontual a partir das organizações, projetos ou instituições voltadas para ir além do preparo e do envio. São aqueles que querem chegar até o amparo e o acompanhamento dos que foram para o campo. Nessa esfera, precisamos refletir sobre que tipo de “Cuidado” estamos falando. No afã de abraçar esse “novo” movimento que tem sido mais abertamente discutido nos últimos cinco anos no Brasil, temos percebido o desenrolar de alguns pequenos equívocos de interpretação e de aplicação. Como não? Somos igreja e na nossa longa história de Cristianismo, o que temos visto? Equívocos de interpretação bíblica e teológica conduzindo a igreja a uma missiologia também equivocada e amputada. É preciso debruçar-se um pouco mais sobre esse paradigma, esquecido pela igreja ao longo dos séculos, após a primeira fase do cristianismo, ainda vivido pelos apóstolos. A igreja-corpo estava imediatamente conectada com o preparo, com o envio e com o suporte do missionário que cruzava as fronteiras de sua cidade, país e até continente, a exemplo de Paulo, o apóstolo. Isso ocorria na escolha (seleção a partir do reconhecimento da liderança e pela oração); no preparo em estrutura de discipulado (relacional) e não no modelo “eu pago pra você aprender na academia”; no suporte de campo orando e enviando ajudadores, ofertas e mantimentos; e, finalmente no retorno, ouvindo-os, encorajando-os, cuidando das feridas e do desgaste. Homens e mulheres faziam essa comunidade do sofrimento em torno daquele que ia e voltava. Mas isso não impedia os sofrimentos, as perdas, a solidão, a privação e as perseguições até a morte.

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Usarei esse termo durante a exposição procurando enfatizar a idéia de comprometimento da igreja enquanto um corpo de membros e não apenas a igreja liderança.


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É nesse aspecto que o autor Ajith Fernando (The Call to Joy and Pain, 2008) ressalta sob a luz das Escrituras em seu livro, o aspecto e o sentido de uma comunidade que compartilha dos sofrimentos de Cristo e do missionário, referindo-se a igreja atuando na vida e ministério de Paulo. (ver Fp 3:10; Cl 1:24). Houve aqueles que participaram dos seus sofrimentos no ministério, em oração, em escuta, em suporte material e logístico, em visitas médicas e tantas outras formas. Paulo tinha isso em mente, o sofrimento não era bem-vindo e desejado, mas era domesticável como uma fera que queria ganhar a cena, e reciclado no coração e na mente do apóstolo, que o entendia não aprisionado sob a perspectiva física e material apenas, mas na plena convicção do chamado, do seu custo e do valor eterno imbricado em tudo isso. “Nós (comunidadeigreja que sofre conjuntamente) sofremos com Ele para que nós possamos ser glorificados com Ele” – Rom 8:17. É nessa plataforma que queremos enquadrar a definição de “Cuidado” missionário. Já se tem ouvido falar que “missionários não precisam ser mimados”. Não queremos incorrer no erro de uma supervalorização, isto está longe de uma boa prática. De fato, o “cuidado” é muito mais do que providenciar conforto emocional e físico para os missionários. A definição que podemos tirar do modelo neo-testamentário inclui outros aspectos como encorajamento, manter o outro desafiado a seguir o seu chamado apesar do preço, exortação, consolação, correção e confronto. Uma abordagem totalmente integralizada olhando o ser humano por inteiro. “Saber que aspecto do cuidado deve ser fornecido no momento apropriado é a chave para um efetivo trabalho de Cuidado missionário.” (PRINS, 2002). Portanto, O cuidado missionário enquanto práxis, não tem uma proposta de pretender evitar o sofrimento que concerne ao chamado de cada um, mas de salvaguardá-lo no entendimento certo e no aproveitamento máximo disto para estreitar o relacionamento do missionário com Cristo, com a igreja e com a missão de Deus. Neste sentido, os feridos no Caminho não são os coitados ou os heróis sobre quem o pensamento (e o príncipe) desse século quer colocar os holofotes, desfigurando a imagem do Servo. Mas, pelo contrário, é aquele que carrega as marcas de Cristo e, portanto, é bem aventurado pelo seu sofrimento momentâneo e passageiro (Mt 5:10—12). Depois desse elementar entendimento, sim, eles são dignos de cuidado. E é a partir desse fator primordial da participação da igreja enquanto comunidade solidária na vida dos enviados, que Kelly O´Donnell (2004) descreve o “cuidado” caracterizado na figura de uma fonte que jorra dos diversos níveis de atuação, e que só pode ocorrer através dos relacionamentos. Não se trata de ação hierárquica e descontínua, mas de um movimento cíclico onde cada esfera age comunitariamente


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em prol de manter o missionário resiliente2. No coração da fonte encontramos o cuidado do Mestre numa atitude contínua de busca da revigorante relação com o Senhor do Chamado, encontrando Nele a nossa própria identidade de filhos. Como espinha dorsal o autor descreve a esfera do cuidado próprio e mútuo, assumindo uma responsabilidade pessoal por resguardar-se da queda, da tentação, da perda de foco, dos excessos oriundos do trabalho, cuidando da própria saúde física-emocional, etc., fazendo o mesmo pelo próximo na comunidade dos Santos. E assim segue-se a esfera dos Enviadores (igreja e agência), a esfera dos Especialistas (conselheiros, psicólogos, médicos, etc.) e por fim os Grupos ou Redes do Cuidado, vistos como facilitadores ou catalisadores para que o cuidado ocorra em portes maiores ou em lugares mais distantes, levantando fundos e oportunizando essa esfera. Segundo desafio que nos ocorre tratando desse tema é definirmos o termo crise, uma palavra muito gasta e multifacetada em suas interpretações nos nossos dias. Na perspectiva do sujeito enquanto ser-no-mundo, entendemos que a crise percorre toda existência humana desde o momento em que este é concebido e intra-uterinamente já congrega na sua matéria os sentimentos e emoções ambíguas e contraditórias da sua gestora. Ainda no ambiente aquecido e seguro do útero, é possível que esse sujeito em formação já esteja registrando derivantes do mundo caído em que vivemos. Após nascer, a primeira e drástica separação se dá com o corte umbilical, mais tarde a negação do peito que alimenta a onipotência e unifica o mundo vem com o desmame, os primeiros nãos, a primeira ausência que pontua o desamparo profundo. E assim podemos descrever inúmeras situações de corte vividas com intensidade terrificante, nos preparando para vivermos outras quebras na rota de nossas vidas até a morte. Deste modo, entendemos que a crise é uma particularidade da nossa existência e denota o sofrimento da falta, da quebra, da mudança, desde que a queda instalou-se no mundo e nos desinstalou como sujeitos. A crise emerge da interrupção da homeostase, do equilíbrio orgânico e da ilusão de segurança permanente, vivida no momento imediatamente anterior a quebra. Na perspectiva da vivência missionária não pode ser diferente, mas tem suas singularidades. Esse aspecto primário da existência humana em aprender a lidar com o sentimento de desinstalar-se enquanto sujeito, se releva com maior intensidade no estilo de vida “descontínuo” ou com a presença de quebras mais intensas e frequentes 2

Dentre as terminologias utilizadas em missões este termo vem trazer o conceito de habilidade humana para superar-se ou recuperar-se emocionalmente após uma grande perda ou trauma. É possível desenvolver uma mentalidade resiliente (Gardner and Lindquist, 2012).


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às quais o missionário é lançado a viver. Ele tem que renascer a cada vivência transcultural, se reinventar, rever no âmago do seu ser as estruturas que já estavam bem acomodadas e prontas. O caos se instala com tanta freqüência promovendo a sensação de instabilidade contínua, que depois de alguns anos esse passa a ser o seu novo paradigma de vida. É possível perceber isso em seu discurso mais maduro de vida missionária. O´Donnell (2011) refere-se a um grupo de estressores bem presentes no mundo missionário, ao qual ele nomeia com o acróstico CHOPS: Cultural3 (língua, choque cultural, reentrada), Crises (eventos traumáticos), Histórico (áreas não resolvidas do passado), Humano (relacionamentos com familiares, equipe, nacionais), Ocupacional (desafios próprios do trabalho e ministério), Organizacional (políticas da organização), Psicológico-físico, Suporte (recursos financeiros, técnicos) e Espiritual (spiritual). Embora o autor supracitado não tenha feito nenhuma referência direta, pode-se dizer que a grande crise do missionário se dá no campo da sua identidade (estrutura do Eu), que em todo tempo está sendo forjada e provada no descolamento da sua cultura-mãe e na introdução de novos elementos culturais. Isso ocorre durante o curso de sua vida, quando ele vai, quando ele está no campo e quando ele volta. As perguntas que normalmente palpitam em seu interior nas diferentes fases da vida é: “Quem sou eu, pois Já não me reconheço mais em alguns aspectos? O que eu me tornei? Onde estão minhas antigas referências identitárias?”. Baseados em que plataforma cultural e subjetiva eles podem agora se definir? É incomparavelmente superior o número de novos símbolos culturais que o missionário tem que introjetar e assimilar na busca de adaptação, do que um cidadão comum, que nunca deixou a sua pátria. Esse dilema ainda fica mais crítico na geração dos filhos, que na formação de uma identidade híbrida, os chamamos filhos da terceira cultura. Na dimensão existencial, tanto o desenraizamento (vivenciado pelos pais) quanto o frágil enraizamento (vivido pelos filhos) promove abalos com ruídos de dor. Finalmente, ainda nesse aspecto da crise como elemento inerente ao desenvolvimento humano e constitutivo do ser, Robert Clinton (2002) abre um parêntese e advoga que toda transição implica numa crise. E as transições, segundo ele, são previstas e até esperadas na experiência das diferentes etapas da vida de um líder chamado por Deus. Pelo prisma oriental da cultura e língua chinesa, dois ideogramas desenham a palavra Crise: um traz o derivante “perigo” e o outro, “oportunidade”. O que fazer, será sempre uma questão de escolha para o sujeito da dor.

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Nesse aspecto cultural, Dr. Ng Swee Ming em seu livro “Manual do Socorro Emergencial”, 2010, descreve 7 dinâmicas transculturais ativas em qualquer encontro entre duas culturas: Tempo, Relacionamentos, Vulnerabilidade, Tomada de decisões, Status, Pragmatismo ou praticidade, Ordem. As noções de cada um desses elementos divergem de cultura para cultura.


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Tendo posto isso, podemos passar a discorrer um pouco sobre as Intervenções. De que ordem elas são e em que situações elas precisam ocorrer? O tipo de intervenção está diretamente ligado a identificação do caráter e da intensidade da crise: 1. Crises pessoais - são vistas como aquelas que primariamente afetam o indivíduo isoladamente ou a sua família, promovendo tensão física, mental e espiritual. Ex: abalos no casamento, queda moral, roubo, violência sexual, envelhecimento, adoecimentos que provocam limitações, mudanças de fase ou de campo, etc. 2. Crises de larga escala – afetam diretamente muitas pessoas ou até uma sociedade. Ex: guerra, anarquia social, revolução, seqüestro, perseguição, prisões e desastres naturais. Normalmente, se espera que cada organização de envio (agências) tenha descrito sua política de resolução de crises (Crises Management), especialmente quando estas alcançam, para o missionário em campo, a dimensão de larga escala. Neste último caso, há uma necessidade de ter elaborado um programa de evacuação ou o chamado plano de contingência. Tomando o exemplo de uma Organização de envio missionário, preferível não citar o seu nome, podemos, então, descrever minimamente o que seria uma política interna de diretrizes para lidar com as crises de seus trabalhadores: Na maioria dos casos uma crise desenvolve-se através de níveis previsíveis, salvo algumas exceções. Então, três níveis de alerta são descritos, para ajudar na sua identificação. É certo dizer que algumas vezes o desenvolvimento da crise ocorre com tanta rapidez que alguns níveis são pulados ou nem são notados. Nível 1: Crise em potencial A crise existe, mas não é uma ameaça pessoal naquele momento, mas tem potencialidade para subir para níveis mais altos. Nível 2: Crise ameaçadora A crise já ameaça a segurança da pessoa e tem grande potencial para mover-se para o próximo nível. Nível 3: Crise iminente ou presente Há a presença de claro perigo para a pessoa. Pode-se inferir a partir da descrição destas fases, que o momento e o modo de agir para esta organização, com respeito a segurança do seu missionário em campo, desdobrará em uma série de alternativas de intervenção através de uma cadeia de pessoas diretamente ligadas a mesma organização e a este campo, geograficamente falando. Em outras palavras, não há


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Por Verônica Farias: Missionária e Psicóloga Clínica 6 como intervir em tempo hábil, sem que haja um acompanhamento da vida e da situação do missionário enviado e uma franca comunicação. A isto chamamos de cuidado estratégico. O caráter relacional do cuidado missionário é a base do entendimento e de uma boa prática deste ministério no mundo. Assim voltamos para o pensamento desenvolvido por O´Donnell em suas esferas do cuidado. Concorda com isso a autora e cuidadora Sul-Africana Marina Prins em seu livro “Member Care for Missionaries: A practical Guide for Senders”, (2002). “A base do cuidado missionário descansa nos relacionamentos”. A Dra. Marjory Foyle (2001) descreve a situação de stress ou crise da reentrada como um fator de descontinuidade do relacionamento com o social e que promove um desequilíbrio orgânico e emocional. Perde-se de vista tudo que é familiar, que nos traz sentido, estrutura e perspectiva de vida. Quão profundo esse fenômeno pode alcançar o ser humano? No profundo da sua alma e da estrutura do Eu que precisa pertencer para sobreviver. Por estes, os sentimentos geralmente são descritos como perda, luto, privação, depressão e solidão intensa. Segundo Foyle as fontes de stress são:   

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Psicológica: perda da auto-estima devido as mudanças; sentimento de perda da identidade, instabilidade emocional vivenciado como um luto, medo intenso do futuro. Física: exaustão por conta da transição, da partida, diferenças climáticas, fuso horário, etc. Tensões familiares: as crianças reagem reclamando e se tornando mais coladas (dependentes) dos pais. Falta de privacidade, falta de uma casa que lhe sirva de base ou acomodações inadequadas. Sistemas de suporte: A falta de disponibilidade de recursos, de pessoas ou técnicas para receber os que retornam através do período de ajustamento. Falta de pessoas que realmente entendam esse processo e experiência sem críticas e cobranças indevidas. Ocupacional: Se torna desocupado ou desempregado, sete falta de habilidades apropriadas, falta de reconhecimento pelo social, pela igreja e pelo mercado de trabalho. Histórica: Sofrimentos passados que não foram resolvidos, saídas traumáticas, difíceis relacionamentos no campo, rejeições, frustrações com as burocracias, etc. Cultural: Falta de familiaridade com a sua própria cultura, inabilidade da família para se reajustar totalmente, necessidades não atendidas devido a falsas expectativas, hostilidade para com a nova cultura.

A leitura da intervenção certa para cada momento partirá, portanto, de uma escuta despretensiosa de enquadramento em padrões de massa. Cada momento, cada crise, cada sujeito, cada família requererão uma abordagem sob medida. Ao fim dessa reflexão, podemos ainda nos perguntar: Em que tipo de mundo nós estamos vivendo hoje, e a que categorias de crises este nos remetem mais frequentemente, missionários e cuidadores? Esse é assunto para uma próxima reflexão.


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Referências:

Bíblia Sagrada. Nova Tradução Linguagem de hoje. Sociedade Bíblica do Brasil. CLINTON, Robert. Etapas na vida de um líder. Curitiba: Descoberta, 2000. FERNANDO, Ajith. The Call to Joy and Pain: Embracing Suffering in your Ministry. Norttingham, England: IVP, 2008. FOYLE, Marjory. Honorably Wounded: Stress among Christian workers. Illinois, USA: EMIS, 2001. GARDENER, Larrie & LINDQUIST, Brent. Setting the stage: A Global Member Care Conversation. Condeo Press, 2012. HAY, Rob. Dignos de Cuidados: Perspectivas globais na melhor prática de retenção missionária. Londrina: Descoberta, 2008. KASËR, Lothar. Diferentes culturas: Uma Introdução à Etnologia. Londrina: Descoberta, 2004. KNELL, Marion. Burn up or Splash Down: Surviving the culture shock of re-entry. London: Authentic Publishing, 2006. MING, Swee. Manual de Socorro Emergencial. 1a. ed. – São Paulo: AME, 2010. O´DONNELL, Kelly. Cuidado Integral do Missionário: Perspectivas e práticas ao redor do mundo. Londrina: Descoberta, 2004. ______________. Global Member Care: The perls and perils of good practice. Pasadena, CA: Willian Carey Libriry, 2011. PRINS, Marina & WILLEMSE Braam. Member Care for Missionaries: A practical guides for Senders. 2a. ed. – South Africa: MCSA, 2009.


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