Nยบ 01 - NOVEMBRO DE 2007
e você perguntar para um número grande de pessoas sobre o que elas acham de revistas em quadrinhos ou gibis, provavelmente a maioria delas poderá dizer que é legal, divertido, um jeito de passar o tempo ou talvez que isso seja apenas coisa de criança. Algumas poderão citar a Turma da Mônica, revistas do Tio Patinhas, Pato Donald ou até a legendária Turma do Arrepio na tentativa de mostrar um certo conhecimento do assunto. Sem dúvida os gibis citados acima foram e ainda são referência para muitas pessoas. Alguns pais e professores ainda incentivam esses gibis para crianças como forma de estimular a leitura. Mas, o que poucas pessoas realmente sabem, é que histórias em quadrinhos também são uma forma de expressão libertária, crítica e de questionamentos a sociedade, traçando um paralelo entre arte, cultura e comunicação. Não pense que estamos falando de personagens em histórias comuns de super-heróis uniformizados, combatentes do crime com o ideal de justiça embutidos em suas ações. Nossos personagens desta edição de Outras Ideias são muito mais reais do que se pode imaginar. Eles vivem em um mundo conturbado, o mal e o bem praticamente se tornam a mesma coisa (dependendo muito do ponto de vista de cada um). Os personagens são mergulhados no caos de políticas sem escrúpulos, governos autoritários e ameaças de guerras nucleares. Heróis sentem medo, dor e muitas vezes parecem perder a esperança. Ou seja, qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência.
NÚMERO 01 - NOVEMBRO DE 2007
04 GIBIGRAFIA
Mafalda: dona de uma incrível sagacidade é a menina mais crítica das HQs. Ouve sempre as notícias do jornal.
Talita Rocha
Coringa: psicótico, niilista, irônico e sem escrúpulos. Um gênio frio e louco, o vilão máximo das HQs.
José Honorato
Valentina: sensualidade, devaneios oníricos e referências à Art Nouveau. Erotismo e arte se misturam.
Roberta Rodrigues
Selecionamos algumas das principais HQs (histórias em quadrinhos) para você, literalmente, ter outras ideias na cabeça. Temos certeza de que um novo universo vai se abrir em sua mente.
05 OUTRAS IDEIAS
A liberdade de expressão levada de maneira excepcional em histórias em quadrinhos
Arte e contestação: histórias em quadrinhos como ferramentas para liberdade de expressão. Leitura essencial para pessoas com outras ideias na cabeça.
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11 VIAE-MAIL Uma entrevista com o jornalista e crítico de quadrinhos Érico Assis. Um bate papo muito interessante sobre o mundo das HQs com um cara especialista no assunto.
14 CONTROVÉRSIAS Você acha caricatura engraçado? Pois bem, algumas podem até ser, mas outras geram verdadeira guerra e discussão. Conheça as caricaturas que causaram incômodo pelo mundo.
18 MAIS IDEIAS Humor e reflexão em tiras de jornal. Uma forma diária de brincar com o conservadorismo de uma sociedade ao mesmo tempo que se faz críticas de maneira simples em espaços curtos.
20 MONOCROMÁTICO Uma pessoa cheia de defeitos, uma vida comum, o chato e o monótomo retratados em suas particularidades mais sutis. Conheça o anti-herói Harvey Pekar e sua revista American Splendor que faz da rotina uma verdadeira arte do underground. Conheça algumas histórias de caricaturas que geraram guerras, confusão e até mortes pelo mundo
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American Splendor: o cotidiano de uma vida comum retratado de forma brilhante por Harvey Pekar
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04 Gibigrafia básica para você ficar por dentro das principais obras que reiventaram a concepção de histórias em quadrinhos
Revista Outras Idéias é uma publicação para o PIC – Projeto Integrado de Comunicação da Universidade Paulista, Campus Norte de São Paulo. Projeto realizado pelos universitários do 3º ano do curso de Jornalismo de 2007. Universidade Paulista; Reitor: Profº Dr. João Carlos Di Genio; Coodenador Geral do Curso de Jornalismo: Profº Fernando Perillo; Coodenador do Campus Norte: José Alves Trigo; Coordenador do PIC: Eduardo Rocha. Repórteres: Maurício Martins; Talita Rocha; José Honorato; Roberta Rodrigues. Diagramação: Maurício Martins. Todos os textos assinados são de responsabilidade de seus respectivos autores. Todas as imagens sem créditos foram reproduzidas unicamente no uso do âmbito universitário, no sentido de ilustrar e divulgar informação, sem fins comerciais. Respeito ao direito autoral. Tenha uma boa leitura!
CAPA: Arte de Alex Ross
Charlie Brown: jamais conseguiu fazer voar uma pipa porque todas enganchavam em alguma árvore.
Maurício Martins
Vai começar a ler quadrinhos? Bom pra você. Mas antes de ter dor de cabeça pensando por onde começar, confira nossa gibigrafia básica pra você já partir do mais interessante e entender melhor as próximas páginas.
Watchmen
É considerada uma das responsáveis por despertar o interesse do público adulto para os quadrinhos. Aparece na lista dos 100 melhores romances eleitos pela revista Time.
The Spirit
Poderia ser a simples história do detetive mascarado Danny Colt, um herói sem superpoderes que protege os habitantes da cidade fictícia de Central City, não fosse pelo fato de ser uma criação de Will Eisner. Em Spirit, Eisner produz um estilo cinematográfico, que utiliza sombras e diferentes ângulos de visão. Mais tarde Spirit serviu de pano de fundo para outras histórias, entre elas a aclamada Um Contrato com Deus.
Sandman
Neil Gaiman recriou Sandman e transformou Morpheus, Deus do sonho, personagem de ambientes ambíguos lidando com sua própria angústia. Carregada com diferentes elementos da literatura, Sandman é considerada a responsável pelo interesse do público feminino por quadrinhos.
Outras Idéias Nº 01
Outras que vale a pena ler:
Miracleman
Em uma história que trata de realidade virtual, indução de memória, troca de corpos e universos paralelos, algo comum não fosse o fato de tudo isso ter saído da cabeça do velho Alan Moore.
Authority Violenta e com extrema carga política. Os fatos narrados são emocionantes. Destaque para a visão de uma onda derrubando o World Trade Center, praticamente uma profecia no melhor estilo Nostradamus.
Batman Cavaleiro das Trevas Orquídea Negra V de Vingança Demolidor A queda de Murdock Marvels Calvin Maus Elektra Assassina
Uncle Sam
O maior ícone americano, Tio Sam, é retratado como um mendigo bêbado. É uma das criticas mais pesadas já feitas à sociedade americana através de uma HQ.
Quadrinhos é coisa de criança, certo? Errado!! Muitos podem ser contestadores, políticos e libertários. As obras a seguir mudaram o modo de ver as coisas e levaram para as suas páginas o comportamento humano, críticaram a política, falaram sobre ciência e história. Definitivamente, foram mais do que palavras e imagens jogados no papel. Por Maurício Martins e José Honorato*
uem vigia os vigilantes? Essa é uma das perguntas da minissérie em quadrinhos Watchmen, eleita pela revista Time uma das 100 principais obras do último século. Mas esse não é o fato mais importante. Watchmen (que significa vigilante) é responsável por reinventar o conceito de quadrinhos de super-heróis e introduzir um novo tipo de linguagem, misturando ciência e política em gibis. A minissérie, em um simples resumo, questiona como seria o mundo se heróis realmente existissem, e como o mundo reagiria a esses heróis. Criada por Alan Moore e Dave Gibbons, escritor e desenhista, Watchmen traz em seus personagens
uma carga psicológica e emocional muito grande, mostra um mundo sob o medo de uma iminente guerra nuclear e trata de modo sério e crítico alguns problemas políticos e sociais. Mesmo com os heróis existindo nessa realidade de Watchmen, o mundo não está nenhum pouco melhor, pelo contrário. Policiais e civis fazem manifestações contra a atividade desses vigilantes ao mesmo tempo em que os mesmos são usados e perseguidos pela mídia, envolvidos em intrigas políticas e guerras. Esses heróis perdem sua credibilidade e ficam afastados de suas ações. Alguns paradigmas são quebrados em Watchmen como o fato
Como seria o mundo se realmente existissem heróis? Com essa introdução, Watchmen transporta seus leitores para uma narrativa sem igual. Ela trouxe reflexão sobre política, ciência e literatura para as HQs. Com muitas referências visuais, ela mostra um mundo dominado pelo medo de um ataque nuclear e heróis reais cheios de traumas, crises, angústias e contradições.
novembro/ 2007
No geral, história em quadrinhos é uma forma de utilizar texto e imagem com o objetivo de narrar histórias dos mais variados temas. Seu nome varia de acordo com cada país. Nos Estados Unidos, por exemplo, são conhecidas como comics. Na França como bande dessinée, fumetti na Itália, tebeos na Espanha, historietas na Argentina, muñequitos em Cuba e mangás no Japão. No final é tudo quadrinho ou HQ. Comics Book: Expressão de origem inglesa, que traduzida significa algo no sentido de livros cômicos. É utilizada para classificar as histórias em quadrinhos desenhadas e produzidas nos Estados Unidos. Grafic Novel: Define quadrinhos que geralmente trazem histórias adultas. Na grafic novel diferente das comics book, os roteiros são longos e complexos, trazem temáticas que podem ser polêmicas ou ligadas a literatura. Por esse motivo é comum associar uma história de grafic novel ao mundo real. Prêmio Kirby: O prêmio Jack Kirby Awards (ou simplesmente Kirby Awards), surgiu em 85, com o patrocínio da revista especializada em heróis, Amazing Heroes. Seu nome era uma homenagem ao desenhista de HQ Jack Kirby. A premiação durou até 88 quando foi substituída pelos prêmios Harvey (em homenagem ao autor Harvey Kurtzman) e Will Eisner. Prêmio Will Eisner: Criado em 1988, seu nacimento surgiu como um tributo a Will Eisner, um dos quadrinhistas mais importantes da história. O prêmio Eisner, como é mais conhecido, é concedido ao uma HQ pelo conjunto da obra e hoje funciona como um sucessor do prêmio Kirby.
Em Maus os judeos são mostrados como ratos, alemães como gatos e americanos como cachorros, nem por isso ela é menos cruel, gritante ou deixa de incomodar
de mostrar pessoas comuns agindo com fantasias pelas ruas, mas diferenciadas do restante da humanidade, com todos os seus problemas e traumas, todos os seus anseios e vaidades juntamente com suas contradições. Elevada ao nível de obra literária, Watchmen trata de assuntos como relatividade, sistemas caóticos, metafísica e componentes subatômicos, tudo combinado de forma perfeita com sua história e personagens. Sua importância se mantém tão atual quanto seu lançamento, em 1988, pois sua complexidade traz elementos interessantes e muitos deles cobertos de simbologias em sua narrativa. Sua história é contada sob diversos pontos de vista de seus per-
sonagens, levando o leitor ter percepções diferentes de um mesmo acontecimento. Watchmen é uma série que precisa ser lida várias vezes, mas isso acaba sendo um prazer. Ela pode ser encontrada em qualquer boa livraria ou em lojas especializadas. Seu relançamento em quatro edições, pela editora Via Lettera, possibilita ter em mãos uma das obras essenciais de nossa história. Maus: A história de um sobrevivente. A segunda guerra mundial já foi contada de várias formas e maneiras, tanto por livros, documentários, revistas, séries e cinema. Praticamente todo mundo,
ocasiões. Toda a angústia, dor, medo e horror de homens, mulheres e crianças são marcantes diante de uma busca por sobrevivência em meio a uma única esperança, mas presos no lugar onde a única certeza era a morte. Mas onde entra a liberdade de expressão? Simples. Em Maus seus personagens não são humanos. Os judeus são retratados como ratos, os alemães como gatos, americanos como cachorros e poloneses como porcos. Uma metáfora chocante com a vida, ao mesmo tempo uma crítica nenhum pouco sutil. Uma história impossível de ser contada em outro formato se não em uma história em quadrinhos, chega a ultrapassar a “imaginação artística”. Maus é uma obra poderosa e seu autor ganhou um prêmio Pulitzer especial por ela. Foi relançada no Brasil com sua história completa pela editora Cia. das Letras. V de Vingança Lembra-se que falamos do V de Vingança retrata uma Inglaterra fria, onde os direitos civis foram extintos
Mas quem diabos é Alan Moore? divulgação
de um modo ou de outro, ouviu falar dos horrores praticados em campos de concentração nazistas e da crueldade do regime político de Hitler. No entanto, essa história jamais tinha sido contada em quadrinhos até o momento em que Art Spiegelman apresentou ao mundo a sua obra Maus, a grafic novel definitiva sobre o holocausto. Maus é sem dúvida uma história para leitores de estômago forte. Spiegelman traz um impressionante relato da história de seu pai, um sobrevivente do holocausto, que praticamente passou pelo inferno graças a uma incrível sorte e inteligência. Mesmo assim, o protagonista dessa história não é visto como um herói, pois sua personalidade é apresentada como uma pessoa mesquinha, avarenta e racista, mas dotado de grande intuição e perspicácia. A forma que a história é narrada chega a ser simples: um senhor de idade que narra ao filho os horrores da guerra pela qual passou. Mas ela é uma biografia e sua riqueza de detalhes traz uma grande qualidade à obra. São muitos os fatos cruéis e incômodos de suas páginas a ponto de ser tornarem gritante em muitas
Muitos consideram o melhor escritor de quadrinhos de todos os tempos. Também, diga-se de passagem, não é para menos. Podemos dizer que Alan Moore é responsável pela reviravolta na concepção de quadrinhos adultos e por elevar as HQs ao conceituado título de obras literárias. Algumas delas como Watchmen, V de Vingança, Miracleman, From Hell e Monstro do Pântano, todas de sua autoria, são consideradas verdadeiras obras de arte. Para ter uma idéia do impacto de suas obras, Watchmen, obra que reinventa o mundo dos super-heróis, foi eleita pela revista Time como um dos 100 romances mais importantes do século XX. Este verdadeiro mago dos quadrinhos, como é conhecido, é o filho mais velho de um empregado de cervejaria e de uma tipógrafa. A infância e adolescência de Moore foram conturbadas pela pobreza da família, foi expulso de uma escola secundária e não foi aceito em mais nenhum outro lugar. Com 18 anos, estava desempregado e sem nenhuma formação profissional quando começou a trabalhar na revista Embryo. Desde então, este autor britânico nunca mais parou de escrever. novembro/ 2007
escritor Alan Moore em Watchmen? Pois bem, olha ele aqui de novo, mas dessa vez com o desenhista David Lioyd para criar outra obra prima do mundo das HQ’s. Mas antes, esqueça tudo o que você viu no filme. V de Vingança é uma obra muito maior do que os irmãos criadores da trilogia Matrix puderam contar. Aliás, nossa redação tem a seguinte opinião: adaptações de quadrinhos para o cinema quase nunca dão certo. Após o delírio desse breve instante voltemos aos fatos... V de Vingança foi lançada em 1982, mas sua história se passa no ano de 1997 com uma Inglaterra mergulhada no caos, onde um governo fascista eliminou os direitos civis. Minorias raciais e sexuais são dizimadas, a censura é implacavelmente imposta e forças policiais e tecnologias avançadas são adotadas para manutenção da ordem social e vigiar constantemente seus cidadãos. Ou seja, qualquer semelhança com o livro 1984, de George Orwell, e Fahrenheit 451, de Ray Bradbury, não são meras coincidências. Dessa grafic novel surge um personagem chamado V, o protagonista, que traça uma luta contra esse regime político, iniciando uma mudança da consciência conformista de todos os ingleses. V é um personagem de ideologia anarquista que molda um plano muito bem deliberado para tirar do trono todos os seus lideres fascistas. Essa é uma história definitivamente política e com uma visão pessimista do futuro. Ela transpõe para os quadrinhos uma realidade até então atual para a sua época. V de vingança faz um paralelo entre a política do Reino Outras Ideias Nº 01
Unido, com sua conservadora primeira-ministra Margareth Thatcher, conhecida como A Dama de Ferro, com as mazelas que atormentavam o país. Em V de Vingança, Alan Moore reinventa mais uma vez as histórias de heróis e tira do lugar comum as nar-
rativas que sempre se passavam nos EUA, seu mercado editorial dominante. A obra se destaca pelo seu grande embate ideológico e arte gráfica. Seus elementos dispostos nas páginas formam uma relação muito profunda com seus personagens. É possível notar nos detalhes de prateleiras e muros os títulos como Dom Quixote (Cervantes), O capital (de Marx), Mein Kampf (de Hitler), entre outros. O uso de simbologias para narrar V de Vingança também existe neste trabalho de Alan Moore, basta procurar. Essa obra é um excelente drama político para pessoas que gostam de debates sobre liberdade e direitos civis. A editora Panini relançou V de Vingança no ano passado em edição completa e encadernada. Basta procurar em qualquer loja especializada no assunto para que seja
possível encontrá-la. The Authority “Bandido bom é bandido morto!”, assim pode se resumida essa HQ nenhum pouco convencional que gerou sucesso e polemica nos EUA. As histórias ganham um grande destaque por serem politicamente incorretas e por abordarem temas nunca antes mostrados nos quadrinhos. O seu criador, Warren Ellis, possui uma filosofia simples: se super-heróis não querem mudar o mundo, pra que diabos eles servem? Foi nesse sentido que surgiu Authority, uma super equipe que busca eliminar com a maior rapidez possível seus inimigos, que podem ser terroristas, invasores espaciais ou até o próprio governo americano. Eles não se preocupam em matar uma legião de oponentes e arriscar a vida de inocentes. Na verdade, eles querem é que... Bem, o resto você pode imaginar. Tudo acaba sendo válido para o grupo resolver problemas que possam trazer riscos a humanidade e tornar o mundo um lugar melhor de se viver. Alguns de seus personagens são realmente interessantes, entre eles estão Apollo e Meia-Noite, inspirados na maior cara de pau em Batman e Super-Homem. Sua diferença é que os dois mantêm um relacionamento homossexual há anos, muito apaixonado, digase de passagem. E embora mostrado de forma discreta no início da série, acabou se tornando óbvio para os leitores ao longo dos meses. Entidades religiosas, por conta desse motivo, acusaram a revista de querer influenciar Acima: A capa de V de Vingança, escrita por Alan Moore. Obra de conteúdo literário e político.
de maneira negativa a mente dos jovens, apresentando modelos de comportamento que poderiam causar grande confusão e enfraquecer a moral católica. Preciso dizer onde entra a liberdade de expressão aqui? Acho que não... Miraclemen Quando começaram a ser publicadas as histórias do SuperHomem, com o lançamento da primeira edição de Action Comics, em 1938, os EUA passavam por uma grande depressão econômica. Sendo imbatível, intocável, com super poderes e um grande sentimento de altruísmo, o Super-Homem logo se tornou um ícone de salvação para o mundo moderno. Dois anos se passam quando, Bill Paker e Charles Clarence Beck, surgem com o Capitão Marvel pela editora Fawcett. O personagem era uma personificação do super-herói com a fantasia mística, que ao dizer a palavra SHAZAM, transformava o garoto Billy Batson em um grande herói de força e sabedoria. Em outras palavras, uma cópia descarada do Super-Homem.
Quando o Capitão Marvel começou a fazer mais sucesso que o Homem de Aço, que nessa altura já perdia em vendas, a editora DC Comics do personagem Super, acusa a editora Fawcett de plágio. Era uma briga desigual, pois a editora DC era muito mais forte e maior do que a singela Fawcett. Capitão Marvel acaba sendo interrompido no número 24. Acontece que o sucesso do Capitão chegou até a Inglaterra pela L. Miller & Son, que não quis parar com suas ótimas vendas. Surge então Marvelman número 25. A editora simplesmente muda os nomes de personagens e uniformes, e a palavra SHAZAM passa a ser KIMOTA (atomik ao contrário). Por um tempo deu certo, mas sem histórias decentes o plágio do plágio teve seu final em 1962. Após mais de uma década o plágio volta à cena pelas mãos da editora Warrior, onde na época um tal Alan Moore (novamente) fez algumas modificações e
As HQs Authority (acima) e Miraclemen (ao lado e embaixo) causaram polêmicas em suas histórias e principalmente em seus desenhos.
trouxe realismo ao personagem. Nessa fase, Marvelman ainda utiliza a identidade secreta de Michael Moran (ganhada na sua última reformulação), a difer������� ença é que Michael já passa dos quarenta, e possui um “vácuo” em sua memória no que diz respeito aos fatos de sua adolescência. Algo digno de um herói perturbado, que através de sonhos começa a se lembrar das coisas, inclusive da sua “palavra mágica” (e eu
Você sabe quem é Art Spiegelman? divulgação
Nos anos 60 e 70 foi uma das principais figuras do movimento underground dos quadrinhos, contribuindo para publicações como Real Pub, Young Lust, e Bizzare Sex. Neste mesmo período, fundou duas publicações essenciais para a cultura dos quadrinhos alternativos, a Arcade, com Bill Griffith, e RAW, com sua esposa e também quadrinista Françoise Mouly. Spiegelman já trabalhou para a revista The New Yorker, onde uma capa para a comemoração do 4 de julho, apresentando uma bomba atômica, e outra para a edição do Dia de Ação de Graças, mostrando um avião do exército americano jogando perus no Afeganistão, com o título de “Operation Enduring Turkey”, foram censuradas pela revista. Pediu demissão da The New Yorker pouco tempo depois dos ataques de 11 de setembro. É crítico feroz do governo de Geoge W. Bush e da imprensa americana, na qual ele acusa de “conservadora e retraída”. O criador de Maus já foi eleito pela revista Time uma das 100 pessoas mais influentes no mundo. Teve seu trabalho apresentado no Museo de Arte Moderna em Nova York e recebeu um prêmio Pulitzer especial pela obra Maus no ano de 1992.
não estou fal��������������� ando de por favor). A trama volta carregada de elementos ligados à ficção científica que é usada por Moore para explicar a origem do herói. Nessa versão da HQ, os heróis adolescentes da década de 50 faziam parte de um projeto secreto do governo britânico, que se apoderou de restos de uma nave alienígena e com a tecnologia herdada cria “supercorpos” para três jovens órfãos. Para que o projeto pudesse manter o controle mental sobre as “armas”, criou-se um ambiente de fantasia onde estes eram superheróis na era de ouro dos quadrinhos, enfrentando vilões inofensivos e dessa forma mantendo o equilíbrio de suas mentes. Para compor esse tipo de universo os cientistas do projeto basearam-se em (segurem os queixos!!!) gibis do Capitão Marvel. Nessa jogada Alan Moore não só faz o plágio do plágio, como assumiu, criou uma linguagem que alguns chamam de “contextualização metalingüística para sua história” e ainda definiu a obra como algo mais próximo a nossa realidade, além de lançar elementos que mais tarde dariam milhões de dólares em filmes como Matrix. Agora se você pensa que isso faz da revista algo especial, está enganado, o que chama a atenção em Marvelman são os conflitos psicológicos dos personagens. Imagine-se na seguinte situação: você é um garoto de 12 anos e descobre que com uma palavra pode se tornar o ser mais poderoso da Terra, um Deus entre os homens. Você não tem família, ninguém nunca lhe ensinou sobre valores, você foi rejeitado, e não passa de um órfão, manipulado durante toda a sua vida. Qual seria o grau de desprezo que você teria por uma sociedade que o “violentou moral-
mente”, e que é bilhões de vezes inferior a você? É exatamente com isso que Kid Miracleman precisa lidar, vendo seus dois companheiros supostamente assassinados e decidindo assumir de vez sua forma superpoderosa, tornandose assim o empresário mais bem sucedido do mundo graças a seus dons especiais. A HQ é primorosa e está muito acima de vários títulos lançados até hoje. Destaque especial para o confronto entre dois seres poderosos onde um deles passou 20 anos aprimorando suas habilidades e o outro mal se lembra do que é capaz de fazer. O embate é considerado o ápice de lutas das HQs modernas. Só para constar, três coisas interessantes sobre a grafic novel. Primeiro, o nome Miracleman foi adotado somente nos EUA para evitar um processo da Marvel Comics pelo uso do nome Marvelman. Segundo, uma das edições foi censurada por mostrar uma cena de parto de maneira integral e por um ângulo frontal. E terceiro, até hoje existe uma briga judicial pelos direitos dos personagens, o motivo? Todd McFarlane, desenhista e criador do personagem Spawn, comprou o catálogo de direitos da Warrior, porém diz a lenda que ele o fez para dá-lo Neil Gaiman, escritor dos quadrinhos Sandman. Tudo isso aconteceria em troca da eliminação de um outro processo pela personagem Ângela, a qual Gaiman criou e não recebeu nada por isso. Não entendeu direito? O juiz também não e por isso o processo está ai e Miracleman não tem previsão de relançamento, uma pena. Agora, se depois de tudo isso você está se perguntando onde entra a liberdade de expressão, feche essa revista e vá dormir.
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*Maurício Martins e José Honorato são estudantes do 3º ano de jornalismo.
ViaE-mail Érico Assis é o típico cara que não gosta de fotos. Conforme sugerido por ele, segue no lugar uma imagem do Snoopy, personagem do desenho Charlie Brown.
Por José Honorato
Ele é publicitário, jornalista e mestre em Ciências da Comunicação. Aprendeu a ler com revistas de super-heróis e tem um blog chamado Ponto Mídia. É um dos críticos de quadrinhos do site Omelete, de entretenimento, e apesar de tudo isso ainda arrumou tempo em sua agenda para receber nossa equipe, ou pelo menos as mensagens dela, para falar sobre quadrinhos, desde V de Vingança até Guerra Civil. Quadrinhos foram por muito tempo considerados obras infantis. Hoje essa visão mudou em parte, pois ainda existem os que associam quadrinhos a “coisa de criança”, porém existem os que as consideram grandes obras literárias, bibliográficas e de contestação. Como você vê essa mudança? Ainda há respeito a ser conquistado pelas HQs? Às vezes eu acho que essa mudança nunca aconteceu, às vezes acho que demos grandes saltos nos últimos anos. É uma questão cultural e histórica: nos anos 40 e 50 muitos adultos liam quadrinhos (policiais e de terror) nos EUA e consideravam um hábito adulto normal. Na França e outros países da Europa, o con-
sumo de quadrinhos entre adultos é, hoje, bastante comum. Acho que hoje estamos passando por um processo, no Brasil, nos EUA e em outras partes, em que a geração que está chegando aos 25-35 anos não largou seus gibis de criança e mantém-se público fiel. Portanto, são questões de contexto. Não sei se algum dia a gente terá um “respeito” genérico às HQs. O consumo de todas as mídias varia muito de lugar para lugar, de tempo para tempo. A maioria das pessoas vê poesia ou teatro como coisas para determinadas pessoas, determinados perfis (mais velhos, mais elitizados, seja o que for), da mesma forma que vê quadrinhos como coisa de criança. Quando os primeiros heróis surgiram, as histórias se limitavam a mocinhos e bandidos, um mundo que precisava ser salvo. Hoje existem HQs em que fica difícil identificar quem é quem na trama. Existem heróis que enfrentam não só seus inimigos, mas também governos, preconceitos e ainda lutam pelo direito de serem heróis. Na sua opinião esses detalhes enriquecem a
trama ou funcionam mais como ímã para leitores exigentes? Acho que isso não é só de hoje, mas parte de um processo que começa, pelo menos nos quadrinhos mainstream, nos anos 1970. Na minha opinião, isso tanto enriquece as tramas quanto funciona como ímã, mas a percepção disso depende de cada leitor. Obras como V de Vingança e Watchmen são famosas por seu lado crítico e sua forte relação à realidade, tratando de temas como a liberdade de expressão e luta pelo direito de ir e vir. Como você avalia esse lado mais contestador das HQs? Acho interessante que as HQs tenham, às vezes, esse lado. Tenho umas teorias próprias, mal desenvolvidas, de que se a gente passar a infância lendo superherói salvando o mundo desperta algum espírito cívico e inocente na adolescência e, se não formos tomados pelo cinismo, na vida adulta. Eu tenho atuação como pesquisador na área de Comunicação, investigando ativismo político. Achei curioso quando conheci pesquisadores do mesmo tema e descobri que também novembro/ 2007
Esquerda: A revista Sandman de Neil Gaiman
de quadrinhos. Isso merecia um estudo. Outra questão, talvez um pouco mais conspiratória, por ser uma mídia marginal, os quadrinhos não estão tão sujeitos ao policiamento ideológico por que passam filmes ou programas de TV. Assim, criadores têm mais chance de dizer o que pensam numa HQ, enquanto não teriam nessas mídias de maior sucesso. Já vi muita entrevista com escritores comentando isso. Você nunca veria, por exemplo, uma adaptação de Os Supremos (ou melhor ainda, a Authority de Mark Millar) para o cinema com toda sua carga política. No processo de “amadurecimento” dos quadrinhos, quais obras e autores você considera “peças chave”, tanto na questão da valorização das histórias, como na popularização das HQs? São vários. Alan Moore, por escrever coisas consideradas literatura de qualidade. Neil Gaiman, pelo mesmo motivo, e por ter trazido um IMENSO público (especialmente feminino) para as HQs. Frank Miller, pela tom de filme de ação hollywoodiano. Dan Clowes ou Adrian Tomine, entre outros, que pegam o povo alternativo do alternativo. Outras Ideias Nº 01
Existem obras que usam de fatores como liberdade de expressão só pra não mofarem nas bancas? E qual HQ mais picareta que você já encontrou? Acredito que existam sim, mas não saberia dizer quais. Quando é a ideologia do autor bem colocada nas páginas, pode ter certeza que ela vende bem e é aclamada. Não saberia dizer qual a HQ mais picareta que já encontrei, porque leio várias desse tipo todos os dias... V de Vingança, Maus, Sin City e Sandman são algumas das obras do século passado que estão voltando e conquistando novos fãns. Além dos roteiros diferenciados e do reconhecimento que possuem seus autores, quais fatores você considera os que mais chama a atenção dos novos leitores? O cinema, sem dúvida. A profusão de adaptações da HQ para o cinema - como os citados V e Sin City - atraiu muita gente para os quadrinhos. Parte desse pessoal, felizmente, não ficou só pra
ler a versão em papel, mas resolveu provar outras HQs, como Sandman e Maus. Para leitores mais antigos no mundo das HQs não é difícil ler e “entender” uma revista como Sandman, por exemplo. Mas e a nova geração? Na sua opinião como o público mais jovem lida com esse estilo de quadrinho mais elaborado? O que você sente quando tem contato com esses leitores? Existem jovens e jovens. Sandman não é para todo mundo. Nenhuma HQ, nem qualquer produto cultural é. Sandman tem um público bem específico, a maior parte do qual feminino e com um bom nível cultural. Se você conhece alguma “patricinha” que leia Sandman, me apresente. É outro público, para o qual são produzidos outros produtos, outras HQs. Da minha parte, gosto muito de Sandman. Mas, como qualquer coisa, sei que não é todo mundo que gosta. E os heróis clássicos como Batman, Super Homem, Capitão América, Homem-Aranha, entre outros? Eles têm chance de participar desse mundo mais literário?
A série Guerra Civil aborda o direito de super-heróis agirem sem a interferência do governo dos EUA.
Claro. Depende da abordagem. Uma série atualmente nas bancas como Guerra Civil, que trata de heróis terem o direito de agirem e manterem o anonimato livre de qualquer interferência do Governo, seria um primeiro passo para inserir heróis de capa nesse contexto de liberdade de expressão? Qual a sua primeira impressão sobre a série e as expectativas para as próximas edições? Guerra Civil tem alguns pontos altos e muitos pontos baixos. A questão da liberdade de expressão e relação com a situação política dos EUA são um chamariz, mas ela se perde tanto nos problemas de cross-overs de super-heróis (mostrar todos os personagens, criar as relações com as séries paralelas) que não dá conta dessa metáfora ou crítica política. Adaptações de quadrinhos para o cinema, como V de Vingança, causou um certo desconforto e indignação, tanto nos fãns quanto no autor. Você concorda que adaptações são nocivas para os quadrinhos? Alan Moore não gosta, já Stan Lee (criador do universo Marvel) parece que as adora, qual deles você acha que está mais certo? São mais benéficas que nocivas, no sentido de fomento de leitores. E, quanto mais mercado, mais HQs se produz, e mais chance de material bom sair. Os problemas de adaptação e “desrespeito” às obras - ou simples “ruindade” dos filmes - sempre vão acontecer, mas até agora, que eu saiba, nenhuma delas afastou gente dos quadrinhos. Pelo contrário. No mundo das HQs, a crítica especializada tem crescido muito nos últimos anos e tem sido muito procurada por novos e velhos fãns. Qual a maior exigência feita
pelos leitores com relação a um crítico de quadrinhos? O público leitor de resenhas é muito variado. Na minha atuação como crítico, recebi muita reclamação por resenhas negativas demais, o que tomei como um sinal:
passei a buscar escrever somente sobre o que eu gosto, deixando o que eu não gosto de lado. É bem mais produtivo, inclusive, dar espaço somente para o que você acha que os outros deveriam ler. Mas aí vieram os leitores reclamando que eu não falava mais da série X ou Y. É impossível agradar todo mundo. Falando sobre o futuro das HQs, as opiniões se dividem. Alguns acham que os mangás (quadrinhos japoneses), vão tomar o mercado e que as HQs americanas terão de se adaptar a elas, outros acham que as histórias que contam com Super-Homem, Capitão América são insubstituíveis. Qual a sua opinião sobre o assunto, os mangás tem força
para tomar o lugar das HQs americanas? São materiais para públicos diferentes. Não vejo um substituindo o outro. No cenário atual autores como Alan Moore, Frank Miller, Neil Gaiman, Grant Morison, Steve Niles, entre outros, ganham cada dia mais força no mundo das HQs, seriam esses criadores o verdadeiro futuro dos quadrinhos? As atuais reformulações que as grandes editoras vem fazendo com seus principais personagens, seria uma forma de abrir caminho para uma mudança total no estilo de fazer histórias? Acho que existe uma evolução natural, até obrigatória, dos quadrinhos. Não se conta mais histórias como há dez anos atrás. Há alguns quadrinhos mais avançados, outros menos, mas a evolução vai acontecendo aos poucos. Engraçado que o “futuro” que você cita inclui, fora Steve Niles, só gente que começou a trabalhar na década de 80, se não antes. Não sei dizer sobre o futuro, mas a influência de caras como Brian Bendis, Mark Millar, Ed Brubaker, Warren Ellis e outros que surgiram na década passada, certamente está criando um presente para os quadrinhos bem diferente da situação de poucos anos atrás. Falando como crítico e como leitor, o que você espera para o futuro das HQs? Tudo. É difícil aparecer coisas realmente inovadoras, mas ano a ano há alguns bons exemplos de que os quadrinhos progridem, como sempre continuarão.
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Acima: A revista Sin City, de Frank Miller, que teve uma adapatção para o cinema muito elogiada pela crítica. novembro/ 2007
Por Talita Rocha
Censura, polêmica, protestos e até mortes. Entenda por que essas caricaturas tiraram o sono de muitas autoridades no Brasil e no mundo.� té onde vão os limites da liberdade de expressão? Essa é a pergunta mais freqüente quando se fala da publicação dessas caricaturas. Mesmo que não seja de hoje que elas façam parte da história política e social de um país, e estejam sempre revestidas de bom humor e até de um certo sarcasmo, as caricaturas ainda causam reação, só que nesses casos as reações chegaram a ser bombásticas. As caricaturas de Maomé Foram cerca de seis meses de ataques, centenas de protestos em frente às embaixadas da Dinamarca, França, Afeganistão, Líbano, Síria, Tailândia, Indonésia, Sudão, Índia e Faixa de Gaza, com saldo de cerca de 15 mortos e 6 feridos. Mas não se trata de uma guerra, e sim da onda de indignação que tomou conta dos muçulmanos com a publicação das 12 caricaturas que retratavam o profeta Maomé, no jornal dinamarquês Jyllands-Posten, em setembro de 2005. Tudo isso porque o Islamismo proíbe qualquer representação de Deus e do profeta, assim os mulçumanos consideraram a publicação um desrespeito à religião. Então até que as caricaturas fossem retiradas ou houvessem Outras Ideias Nº 01
pedidos de desculpas, milhares de muçulmanos espalhados pelo mundo, passaram a atacar e bombardear as embaixadas e a ameaçar os jornais que publicaram as caricaturas. Essa reação levantou a nível mundial a questão sobre os limites da liberdade de expressão, que fez com que diversos países como, Alemanha, Itália, Holanda e Espanha também publicassem as caricaturas. Após prisões e até demissões de alguns responsáveis pelas publicações, o jornal Jyllands-Posten enviou à imprensa argelina por meio da embaixada da Dinamarca em Argel, uma carta pedindo desculpas aos muçulmanos por terem publicado a série de 12 charges do profeta Maomé. Só assim, mesmo com as caricaturas rolando soltas na rede, tudo voltou a santa paz como manda o Islã. Xô Sarney Mais de R$ 500 mil, essa é a dívida acumulada pela jornalista Alcilene Cavalcante por ter publicado em seu blog uma caricatura com os dizeres “Xô Sarney”, feita pelo cartunista Ronaldo Rony no muro de sua casa em Macapá, no Amapá.
Acusada de querer atingir a imagem do senador José Sarney, até então candidato à reeleição no Amapá, Alcilene teve seu blog retirado do ar pela Justiça Eleitoral, e ficou sujeita a multa de R$ 2 mil por dia, caso não cumprisse a determinação. O que o Senador não esperava é que essa medida traria mais repercussão para o caso, e que a caricatura que antes era vista apenas pelos macapaenses, que transitavam pelas ruas de Macapá, virassem adesivos e camisetas em nome da liberdade de expressão. Além disso, mais de 150 blogs se uniram ao “Movimento Xô Sarney” em repúdio ao ato de censura do ex-presidente, dando a caricatura destaque nacional e até internacional. Liberdade de expressão 1 X R$500 mil censura. A natalidade de Astúrias Era pra ser uma simples campanha para o aumento da natalidade anunciada pelo governo de José Luis Zapatero, na Espanha. Mas junto com a publicação da edição de junho da revista “El Jueves” vieram às polêmicas. Isso porque a capa trazia a caricatura do Príncipe Filipe, de As-
túrias, e de sua esposa Letícia em pleno ato sexual, fazendo menção a campanha que oferecia 2.500 euros por filho a cada família. O príncipe ficou furioso e entrou na justiça contra Guillermo Torres e Manel Fontdevilla, os autores da caricatura, que foram condenados por injúria e tiveram que pagar ao príncipe 3 mil euros cada um, e a revista que estava com a edição quase esgotada, devido a repercussão, foi retirada das bancas. E como forma de satirizar a situação, a mesma edição da revista foi relançada com os dizeres “Essa é a capa que gostaríamos de publicar”, onde o príncipe é retratado como uma abelha sobrevoando uma ‘flor’, Letícia. O que resta para os caricaturista agora é fazer dois filhos cada um para cobrir o prejuízo. O Holocausto de Latuff “Cartuns satânicos”, assim foram chamadas as caricaturas do brasileiro Carlos Latuff, por militantes do Likud, partido conservador de direita ligado a Israel. Publicadas no concurso de charges sobre o Holocausto, feito pelo diário iraniano Hamshahri, as caricaturas mostram israelenses bombardeando e ateando fogo em libaneses, e fazendo também uma comparação dos territórios palestinos com os campos de concentração nazistas. Visto como “genocida” e “antisionista”, Latuff, que é militante da causa palestina, sofreu diversas críticas e ameaças de morte da extrema direita israelense. E o objetivo do jornal, que era testar os limites da liberdade de expressão e afrontar os jornais europeus que divulgaram as caricaturas de Maomé, certamente foi alcançado. Enquanto o cartunista teve que se contentar com o segundo lugar no concurso.
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Algumas das caricaturas do brasileiro Carlos Latuff, militante da causa palestina
Por Talita Rocha
Charges e caricaturas que influenciaram na história e na luta pela liberdade de expressão. Saiba um pouco sobre alguns dos principais ilustradores do Brasil, que participaram ativamente na luta contra a ditadura e que até hoje retratam a política do país. oje elas estão presentes nos principais diários, ilustrando jornais e revistas, fazendo sátiras sociais revestidas de cunho político, irreverência e bom humor. Mas nem sempre foi assim. A história das ilustrações no Brasil se confunde com a história da luta pela liberdade de expressão. Com instalação da censura prévia aos meios de comunicação, no regime militar nas décadas de 60 e 70, surgiu à chamada imprensa alternativa, trazendo referências como a revista Pif Paf lançada por Millôr Fernandes, e o Jornal O Pasquim que foi o celeiro dos melhores chargistas e ilustradores do Brasil, na busca pela liberdade de expressão . Mesmo sobre forte censura, nada escapava aos traços de chargistas como, Jaguar, Ivan Lessa, Ziraldo, Millôr e Henfil, que como forma de Outras Ideias Nº 01
resistência retratavam a realidade da época, dando voz ao povo através de seus trabalhos também cobrando mais participações. Após a abertura, passado o clima de guerrilha, surgiram outros nomes como Angeli, Glauco, Laerte e os irmãos Caruso, que apostavam na crítica pró-democracia, retratando uma nova sociedade que começava a se formar. Então as charges voltaram-se para os tipos urbanos, apostando na contra-cultura, um estilo que permanece até os dias de hoje.
to e a crítica com muito humor. Mas as charges além de privilegiar o humor e a sátira política, abordam temas atuais, mostram as preocupações do país e do mundo oferecendo ao leitor elementos de fácil identificação e reconhecimento, cumprindo seu papel social garantindo algum espaço a opinião e a liberdade de expressão.
Assim as charges tiveram papel fundamental na luta contra a repressão, e ainda hoje atuam na sociedade de forma participativa nas questões políticas e sociais, desenvolvendo o questionamen-
Ziraldo Ziraldo, que é um dos mais consagrados ilustradores brasileiros, conhecido por suas obras infantis, também era um dos mi-
Jaguar O cartunista Sérgio de Magalhães Gomes Jaguaribe, mais conhecido como Jaguar, foi um dos fundadores do jornal mais influente na oposição ao regime militar, batizado por ele de O Pasquim. Junto com Ivan Lessa, Jaguar publicava suas tiras com ratinho Sig, dando uma injeção de humor nas situações cotidianas absurdas, ironizando os chavões, criando frases de efeito, em tiras hilárias, que mais tarde foram imortalizadas com publicação da série “Lugares in-comuns”.
Acima: o famoso ratinho Sig de Jaguar e uma das caricaturas de Millôr.
litantes a favor da livre expressão. Participou da fundação do Pasquim e com seus personagens Jeremias, o Bom, a Supermãe, Mineirinho, trabalhou intensamente na resistência à repressão, chegando ficar preso por dois meses. No ano de 2001, na tentativa de reviver O Pasquim dos anos 60, Ziraldo lançou o Pasquim 21, que deixou de ser publicado em 2004. Millôr Fernandes O escritor, tradutor e cartunista Millôr Fernandes, que era responsável pela revista Pif Paf marco da imprensa alternativa no Brasil, também participou da fundação do jornal O Pasquim. Com um humor sarcástico e provocações explícitas ao regime militar, não só nas charges mais também em seus textos e peças. Millôr foi um dos maiores questionadores do esquema repressor que dominava o país naquela época. Hoje aos 84 anos, Millôr é um dos mais consagrados escritores brasileiros. Henfil Henfil ou Henrique de Sousa Filho, era cartunista e quadrinhista, se destacou por sua forte atuação nos movimentos políticos e sociais na luta pelo fim do regime ditatorial. Com seu estilo inconfundível, suas charges traziam personagens tipicamente brasileiros e eram marcadas pela crítica e sátira política. Trabalhou nas revistas Alterosa, Realidade, Visão, Placar e O Cruzei-
A charge do Jornal do Comércio, de Porto Alegre, que mereceu resposta de Veja em editorial da revista, na edição 1980 do dia 1º de novembro, com o título “Do lado do Brasil”. Nesse editorial, Veja explica que o “seu único e verdadeiro propósito” está em fiscalizar o poder e denunciar criminosos que lesam a pátria. Um dos exemplos de como caricaturas e charges podem gerar “incômodos”.
ro, tornou-se conhecido a partir de 1969, quando passou a colaborar no jornal O pasquim. Seus principais personagens foram os Fradins, Pó de Arroz, Zeferino, Orelhão, Bode Orelana, Graúna, Cabôco Mamadô, Urubu, Bacalhau e Ubaldo o paranóico. Angeli, Glauco e Laerte Angeli, Glauco e Laerte surgiram no fim da ditadura, também fazendo oposição ao regime militar. Mas logo depois nos anos 80 deixaram de investir só na política inovando ao adotar o contexto
da contra-cultura, falando sobre assuntos que até então eram tabus como sexo e drogas. Juntos fizeram as revistas Chiclete com Banana, Geraldão e Piratas do Tietê. E mesmo passado o clima de guerrilha, hoje continuam fazendo sátiras políticas, mantendo o estilo que redefiniu o humor no cartuns brasileiros. Paulo e Chico Caruso Leitores assíduos de O Pasquim e fãs de Ziraldo, os irmãos Caruso, surgiram no fim dos anos 60. Ficando conhecidos por suas charges que falavam sobre a situação econômica, a violência nas cidades, falta de distribuição de renda enfatizando sempre os tipos urbanos. Os chargistas, que também são músicos e escritores, ainda atuam no cenário nacional, dentro da crítica política e social.
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Com seu estilo inconfundível, Henfil usou seus desenhos para representar as desigualdades sociais.
Talita Rocha é estudantes do 3º ano de jornalismo na Universidade Paulista. novembro/ 2007
Ele é um menino de seis anos, ela é uma menina de sete anos. Calvin e Mafalda, dois personagens símbolo de contestação e humor em tiras de jornal. uando se lê uma tira de Calvin e Haroldo pela primeira vez é possível rir facilmente de suas invencionices e confusões, de suas preocupações de adulto e reações de criança, do tormento que esse garoto de seis anos é para seus pais e de seu tigre de pelúcia irônico e inteligente. O humor das tiras de Calvin é, quase sempre, sobre o comportamento de uma criança com o desejo de que tudo aconteça de acordo com sua vontade. Não raro são os momentos que suas atrapalhadas são motivos de gozação de Haroldo, seu tigre de pelúcia, que ganha vida na imaginação de Calvin.
O que torna essa tira interessante para milhões de pessoas em todo mundo é a habilidade que ela possui em conseguir exprimir verdades de maneira muito sutil. Ela expõe a natureza humana e todos os seus momentos mais mundanos de maneira que rimos de nossa própria estupidez e hipocrisia. Com as tiras de Calvin e Haroldo é possível lembrar da importância de pequenos momentos e, como disse certa vez seu próprio autor, “nos sentimos encorajados a ser inocentes por um momento olhando o mundo da perspectiva de crianças e animais”.
O autor, Bill Watterson, parou de desenhar as tiras de Calvin e Haroldo em 1996. Foram um pouco mais de uma década desenhando o personagem diariamente. Em sua carta de despedida, Watterson comunicou a todos os editores, que publicavam as tiras de Calvin, seus mais sinceros agradecimentos, mas que estava ansioso para trabalhar em um ritmo mais reflexivo e com menos compromissos artísticos. Embora Watterson tenha abandonado a criação de seus personagens, eles ainda são publicados em muitos jornais pelo mundo, o jornal Estado de S. e o português
Público são alguns deles. Os nomes de Calvin e Haroldo foram inspirados no teólogo John Calvin e no filósofo Thomas Hobbes. John Calvin, reformador religioso, acreditava na predestinação e na depravação total do homem, sendo o mesmo inclinado a praticar o mal para o seu próximo. Thomas Hobbes, inglês do século XVII, é autor da frase ”o homem é o lobo do homem”, e tinha uma visão obscura da natureza humana. Para o autor, os dois nomes podem ser entendidos como uma piada para as pessoas que estudam ciência, política e filosofia. Ironicamente, Bill Watterson é formado em ciência política pela Kenyon College em Gambier, Ohio. Calvin e Haroldo exploraram muitas questões pessoais, foram inquiridores e trouxeram beleza, inteligência e sofisticação para as tiras de jornal. Como o título do mais recente livro lançado dessa dupla pela editora Corand, olhar as coisas da perspectiva de crianças e animais pode ser, sem dúvida, um mundo mágico. Enquanto isso na Argentina... Você é capaz de imaginar uma menina de sete anos cheia de preocupações sociais, interessada por política, direitos humanos e democracia? Tem mais, você consegue imaginar essa mesma menina contra as injustiças sociais, racismo, armas nucleares e sopa? Pois é, essa menina existe e vem de Buenos Aires, na Argentina. Ela já foi chamada de La Contestataria e se tornou símbolo de campanhas da Unicef em favor
dos direitos da criança. Essa menina se chama Mafalda e foi criada por Joaquín Salvador Lavado, o Quino, para uma campanha publicitária em 1936. O cliente, fábrica de eletrodomésticos de nome Mansfield, fez uma “simples” exigência para o artista: queria que seus personagens criados para a campanha começassem com a letra M. Quino, lembrando de um bebê chamado Mafalda no filme Dar Lãs Caras, acabou adotando o nome para seu personagem, pois o achou alegre. A campanha não se realiza e os produtos da Mansfield nunca foram lançados. Dois anos depois, Quino foi procurado pelo semanário Primeira Plana que queria uma tira engraçada para a sua publicação. O autor resolveu utilizar Mafalda que teve sua estréia no dia 29 de setembro de 1964. No ano seguinte as tiras passaram a Calvin e Mafalda: humor e reflexão contestadora em tiras de jornal.
ser publicadas no jornal diário El Mundo. Quando o jornal fechou suas portas, em 1967, Mafalda já conquistava espaço e se transformava em grande sucesso pelo mundo. Mafalda tinha um lado crítico muito inquiridor e tiradas incríveis para qualquer tipo de assunto, principalmente questões sociais. Possuía um globo doente em casa e ouvia constantemente notícias do jornal, sempre fazendo observações interessantes. Uma diferença de Mafalda para as outras tiras de criança é que seu personagem envelhecia ao longo do tempo. Quino deixou de desenhar Mafalda em 1973, justificando o término das tiras por acreditar que estava começando a se repetir. Mafalda foi uma menina símbolo do inconformismo.
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Maurício Martins dedica um pouco do seu tempo livre para praticar o Calvinbol com seu tigre de pelúcia.
Imagine uma pessoa com qualidades e muitos defeitos. Uma vida ordinariamente comum. Que se torna um dos maiores ícones do cenário underground das historias em quadrinhos, relatando seu dia-a-dia. Isto aconteceu com Harvey Pekar em American Splendor. Por Roberta Rodrigues
Outras Ideias Nº 01
um morador da cidade de Cleveland em Ohio, com perfil do típico americano da classe média. Possui um emprego do qual não gosta, como arquivista de hospital, tendo como único prazer colecionar discos de jazz e freqüentar sebos.
divulgação
al-humorado, egocêntrico, neurótico, estatura baixa, feio, calvo, crítico de jazz. Estas características não pertencem aos convencionais super-heróis das histórias em quadrinhos, mas sim, a Harvey Pekar. Um sujeito normal, com um emprego normal, que teve a idéia de escrever sobre seu cotidiano, no conceituado HQ American Splendor. American Splendor é construído a partir do excêntrico ponto de vista de Pekar. Apesar de ser considerado por muitos um perdedor, suas histórias retratam a relação humana de forma sutil, com política, críticas ao sistema neoliberal. Uma reflexão sobre o modo de vida ocidental. Antes de se tornar o anti-herói americano, Pekar era apenas mais
Pekar & Crumb O interesse de Pekar por histórias em quadrinhos começou 1962, quando conheceu em um sebo o desenhista e colecionador de discos de jazz Robert Crumb, que ainda não era famoso. Tornaram-se amigos por gostos em comum. Crumb sempre mostrava seus desenhos, esboços de suas histórias que fugiam do
Harvey Pekar, criador da história em quadrinho American Splendor
convencional, com humor nonsense. Logo, Crumb ganhou fama no cenário americano underground por suas histórias, e mudou-se para São Francisco. Com a fama de Crumb, Pekar se entusiasmou e começou a produzir roteiros de histórias em quadrinhos, como tema central suas idas ao supermercado, filas, conversas com amigos do trabalho. Esboçava com desenhos de palitinho, já que não sabia desenhar. Em uma visita de Crumb em 1975 para Cleveland, Harvey mostrou seus esboços pedindo-o para desenhar. Crumb aceitou, e Harvey economizou dinheiro, parando com o vício, como mesmo declara, de comprar discos de jazz para sua coleção, e lançou o primeiro exemplar de American Splendor. O Início de American Splendor Para Harvey, existe um grande potencial nos quadrinhos que não é aproveitado. A junção da imagem com texto, traz mais possibilidades de expressão do que somente histórias fantasiosas sobre super-heróis. Tornando-se o personagem de American Splendor, trouxe toda a complexidade e reflexão sobre a vida, exaltando o humanismo do antiherói. Logo no primeiro exemplar, American Splendor ganhou leitores e popularidade no cenário alternativo, por identificação com o personagem. Mesmo não tendo mais Crumb
como desenhista, já que estava ocupado com outros projetos. American Splendor virou peça teatral, que ficou em cartaz durante duas semanas na cidade de Chicago.
Ilustrações da edição especial de American Splendor “Our Cancer Year”
Harvey e sua anti-fama Com o sucesso da peça, Harvey começou a receber convites para participar de programas de televisão. O mais importante foi o Late Night com David Letterman. Por ter humor ácido, as entrevistas davam muita audiência, e assim, aproveitava para divulgar American Splendor. Muitas vezes Pekar era ridicularizado por Letterman, com piadas sobre seu humor, seu estilo de vida de classe média que não conseguiu alcançar o sonho americano. Cansado de ser tratado como um fracassado da sociedade, Pekar em sua última entrevista ao programa Late Night da NBC, usou uma camiseta com a frase “Lutando contra a NBC”. Disse ao vivo que a emissora pertencia ao grupo GE, empresa militar que financia guerras. Resultado, Pekar foi expulso do programa em rede nacional, e o caso David Letterman Late Night virou história em quadrinho no American Splendor.
Dor e sofrimento devido ao câncer ilustrado pelo desenhista Fred
Harvey nas sessões de quimioterapia
Mais dores
Um ano pra ser lembrado Um momento difícil na vida de
Pekar e Joyce, juntos lutando contra o câncer
novembro/ 2007
Harvey foi quando descobriu que tinha câncer. Pekar, e sua esposa Joyce, documentaram com detalhes todo processo da doença, como as sessões de quimioterapia, as dores noturnas e o medo da morte, para lançar em quadrinhos. Uma forma de distanciamento da doença. Contrataram Fred, um desenhista que passou a freqüentar a casa de Harvey quase que diariamente, para ilustrar sua batalha contra o câncer. Fred sempre levava sua filha Danielle, já que sua mãe a havia abandonado, e não tinha com quem a deixar. Após um ano de luta, Harvey ficou curado do câncer, adotou Danielle, e a edição especial de American Splendor ficou pronta, com o título de Our Cancer Year (nosso ano de câncer), que recebeu excelente criticas e prêmios. Pekar hoje em dia está aposentado do seu emprego de arquivista do hospital de Cleveland, e continua lançando edições do American Splendor. Harvey Pekar, traz em American Splendor o chato e monótono cotidiano e suas particularidades, faz do anti-herói o protagonista e dos pequenos diálogos do dia-a-dia grandes histórias. Sem atos heróicos, transforma a rotina em arte.
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Outros personagens de American Splendor
Tira de American Splendor
Havey Pekar e David Letterman no programa Late Night que virou...
...Quadrinho com a briga do programa da NBC Late Night.
Saiba mais sobre American Splendor Filme - O Anti-Herói Americano é a cinebiografia de Harvey Pekar. Mistura ficção, documentário e animação. Mostra toda a trajetória de American Splendor, desde sua criação até se tornar conceituado. Ganhou prêmios de melhor filme em Cannes e Sundance.
Livro - A editora Conrad lançou no Brasil uma edição especial de American Splendor. O livro “Bob e Harvey Dois Anti-Heróis Americanos”, que compila os primeiros exemplares da revista, com ilus-tração de Crumb entre os anos de 1975-1983. Item essencial para fãs e colecionadores.
JOYCE Hipocondríaca, usa óculos. Gosta de história em quadrinho, trabalho social, tomar chá e diagnóstico psicológico. Casada com Pekar, Joyce o conheceu através do American Splendor. Começou a escrever cartas para Harvey pedindo os exemplares que não tinha. Com o tempo passaram a conversar por telefone, Harvey a convidou para conhece-lo em Cleveland, no primeiro dia do encontro a pediu em casamento. ROBERT CRUMB O ilustrador, colecionador de disco de jazz e revistas em quadrinhos, é considerado um dos percussores dos quadrinhos underground. Sempre desenvolve seu trabalho com criticas a sociedade, com humor para adultos, drogas, sexo e política. Publicou muitas histórias em quadrinhos, as mais famosas são Zap Comics, Mr. Natural, Fritz the Cat, American Splendor e adaptações de obras literárias de grandes autores como, Kafka e Bukowski. SR. BOATS Funcionário do hospital de Cleveland. Sempre usa gravata borboleta, tem vício de carregar canetas no bolso da camisa, é neurótico por limpeza. Fã de jazz tradicional, principalmente do músico Nat King Cole. O rabugento Sr. Boats, sempre reclama do gosto musical dos jovens, e gosta de declamar poesias com significados construtivos para os amigos, especialmente da escritora americana Elinor Hoyt Wylie. TOBBY RADLOFF Trabalha com Harvey Pekar no hospital, mora com avó, solteiro, gosta de balas de gomas, especialmente de sabor menta e de comprar peças para montagem de computadores. Se considera um nerd. Tobby é portador da Síndrome de Asperger, doença que afeta a fala, dificulta a compreensão do pensamento abstrato e de difícil sociabilidade. Com o sucesso de American Splendor, a MTV americana o contratou para ser apresentador de um programa da emissora.
“Vede; Eu anuncio-vos o super-homem: É ele esse raio! É ele esse delírio!”. Friedrich Nietzsche