Jornal de Artes | Edição Agosto 2012

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JORNAL DE

ARTES

CRÍTICA

DAVID LYNCH: O LADO ESCURO DO SONHO Por Marcelo Castro Moraes

Artes Plásticas | Artes Cênicas | Cinema | Musica | Literatura

Porto Alegre | Agosto | 2012 | R$ 2,00 www.facebook.com/jornaldeartes www.twitter.com/jornaldeartes

ARTIGO

A Necessidade da Arte: Por | Agostinho N. Ruschel

ARTIGO

QUEM ESCUTA A VOZ DOS POETAS

Foto: Camila Schenkel; Construção; Divulgação MACR-RS

Por Djine Klein

IDADES CONTEMPORÂNEAS Museu de Arte Contemporânea do RS inaugura exposição com mais de 60 artistas apresentando sua visão de mundo, através das suas diferentes gerações


Porto Alegre |Agosto | 2012 | ARTES | 2

CARTUM

Em Tempos de Eleição Por | Bilheri

ESQUECE TUDO SOBRE IDEOLOGIA. A PALAVRA DE ORDEM É QUALQUER ACORDO POR MINUTOS NA TV. SE TIVERES ESCRÚPULOS, ESQUECE. O MODERNO AGORA, É ABRAÇAR ADVERSÁRIOS DA DIREITA, PARA TER MAIS TEMPO NA TELINHA

CINEMA

DAVID LYNCH: O LADO ESCURO DO SONHO Parte 1 Mulholland Drive: desde que estreou no Brasil há dez anos, obra máxima de David Lynch continua sendo um dos mais enigmáticos filmes da historia. Por Marcelo Castro Moraes *

Sinopse: Um acidente automobilístico na estrada Mulholland Drive, em Los Angeles, dá início a uma complexa trama que envolve diversos personagens. Rita (Laura Harring) escapa da colisão, mas perde a memória e sai do local rastejando para se esconder em um edifício residencial que é administrado por Coco (Ann Miller). É nesse mesmo prédio que vai morar Betty (Naomi Watts), uma aspirante a atriz recém-chegada à cidade que conhece Rita e tenta ajudar a nova amiga a descobrir sua identidade. Em outra parte da cidade o cineasta Adam Kesher (Justin Theroux), após ser espancado pelo amante da esposa, é roubado pelos sinistros irmãos Castigliane. Foi apartir desse filme, que conheci finalmente o universo bizarro de David Lynh. Mais precisamente, foi numa edição, da saudosa revista SET (com o ET na capa), em que além da critica sobre o filme, tinha matéria especial falando um pouco de cada filme que ele criou. Isso foi o suficiente para eu ir à caça, para assistir a essa obra, mas nem imaginava que ela me pegaria de jeito, muito menos ter imaginado se tornando o meu segundo filme preferido da minha vida (perdendo para Blade Runner).

Por traz das cortinas vermelhas Para David Lynch, os filmes não precisam fazer sentido, pois a própria vida não faz. Com essa opinião (e dentre muitas), é o que serve de impulso para ele criar filmes, um tanto que inusitados e diferentes de tudo que se vê por ai e o publico a de gostar ou odiar. Quando Mulholland Drive estreou no inicio dessa primeira década do século 21, acabou não só gerando debates, como inúmeras teorias levantadas em diversas mídias, como a internet por exemplo. Nem mesmo Matrix, com todas as suas engrenagens filosóficas, superou em termos de debates, discutições e teorias levantadas ao longo do tempo. Se muitos ficaram admirados com número de buscas na rede para entender os mistérios da série Lost, pode-se dizer que foi Lynch que começou com essa mania. Isso graças ao fato de, não somente esse filme, como também outros de sua filmografia, deixar mais perguntas do que respostas nas mentes das pessoas. Para se ter uma idéia da dimensão do cenário da época que estreou Mulholland Drive, houve muitas salas de cinema, que pediam as pessoas (após terem assistido o filme), para que não contasse os mistérios e revelações da trama, para aquelas pessoas que iriam pegar a sessão seguinte. Contudo, Mulholland Drive sendo visto por uma segunda ou terceira vez, consegue até matar a charada, o que não quer dizer que tenhamos uma resposta para tudo que é mostrado em cena. Digamos, que

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do primeiro até o final do segundo ato, estejamos (aparentemente) assistindo uma historia com começo, meio e fim. Mas ao surgir a enigmática (e melhor cena) seqüência do Clube Silêncio, de uma forma inesperada, tudo que assistimos até ali é revertido e o cineasta nos joga em uma realidade, na qual num primeiro momento, ficamos sem saber o que esta acontecendo realmente. Mas o diretor nos deixa a ficar vendo navios? Não exatamente, pois com um belo jogo de câmera, Linch nos proporciona um passeio por inúmeras pistas que surgem na tela. Mas não espere ele explicando as cenas, pois é a pessoa que irá assistir que terá que fazer um verdadeiro quebra cabeça mental, com as cenas que são jogadas para ele, desde personagens chaves que surgem em cena, como determinados objetos simbólicos que aparecem, como uma chave azul e um piano miniatura como exemplo. Além disso, no decorrer da trama, mesmo com poucos recursos, Lynch gosta de brincar com nossa perspectiva, deixando a gente boiando em alguns momentos, fazendo agente acreditar, que o que estamos vendo é uma coisa, quando na verdade é outra. Bom exemplo disso é quando surge uma cena de uma atriz cantando, no que aparentemente parece ser um palco, mas a câmera afasta e revela ser um estúdio, que por sua vez revela não estar num prédio, mas sim num deserto do entardecer, mas que por fim, quando a câmera finalmente para de se afastar, é revelado que tudo aquilo está num grande estúdio de cinema. Na época, o filme acabou consagrando, até então a desconhecida atriz Naomi Watts, num papel que exigiu trabalho em dobro e para aqueles que já viram o filme, sabem do que estou falando. O seu desempenho foi tão elogiado, que muitos lamentaram ela não ter sido indicada ao Oscar, o que não quer dizer que não choveram inúmeros convites para filmes, que somente levantariam mais o seu status de ótima atriz, como Senhores do Crime, 21 Gramas, King Kong e dentre outros. Vale lembrar, que originalmente, Mulholland Drive foi realizado para a TV, como filme piloto que daria origem a uma série, mas, como a rede ABC rejeitou o projeto por achá-lo pesado demais, David Lynch decidiu levá-lo ao cinema. A idéia do filme surgiu quando ele visualizou a placa Mulholand Drive, a mítica estrada de Los Angeles, que atravessa as colinas de Santa Mônica, passando por Hollywood até a praia de Malibu, na Costa Oeste. Durante o último Festival de Cannes, Lynch disse que se inspirou na visão da placa sendo iluminada pelos faróis dos carros que passam pela estrada à noite, permeada pela inocência perdida de seus fantasmas que queriam conquistar Hollywood. "Que as pessoas entrem, então, nesta viagem por Mulholand Drive e sintam algo que não se explica", disse o cineasta à rede ABC de televisão. Mulholland Drive rendeu-lhe indicação ao Oscar de Melhor Direção em 2002 e a conquista da Palma de Ouro na mesma categoria no Festival de Cannes 2001, cujo júri foi presidido pelo próprio Lynch. O filme também foi indicado a quatro Globos de Ouro (Filme-Drama, Direção, Roteiro e Trilha Sonora) e venceu na categoria Melhor Fotografia o Independent Spirit Award, além de ter sido eleito o Melhor Filme de 2001 pelas Associações de Críticos de Cinema de Nova York, Boston e Chicago. Com tudo isso, ao longo do tempo, Mulholland Drive veio a se tornar um dos mais importantes filmes da primeira década do século 21. Um filme que mexe com os sentidos do espectador, o faz pensar e adentrar ainda mais no universo de Lynch. Seja por esse filme, ou por outros de sua (quase) impecável filmografia cheia de mistérios.

* Marcelo Castro Moraes é crítico de cinema e autor do blog "Cinema Cem Anos Luz" http://cinemacemanosluz.blogspot.com.br/

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ARTES Artes Plásticas | Artes Cênicas | Cinema | Musica | Literatua

Colaboradores desta edição

EXPEDIENTE Jornal de Artes é uma publicação da MURUCI Editor Editor | João Clauveci B. Muruci Design Gráfico/Capa/Diagramação | Mauricio Muruci Email | jornaldeartes@yahoo.com.br Twitter | www.twitter.com/jornaldeartes

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Marcelo Castro Moraes | Djine Klein | Geórgia Quincas | Camila Schekel | Leandro Selistre | Fernanda Blaya Figueiró | Stela Mariz Ribeiro | Lucia Barcelos | Gerci de Oliveira Godoy | Maestro Agostinho N. Ruchel | Dênia Bazanella

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Porto Alegre |Agosto | 2012 | ARTES | 3 ARTIGO

QUEM ESCUTA A VOZ DOS POETAS Por

Djine Klein*

“E as árvores mortas já não mais te abrigam, nem te consola o canto

mas no tempo do verso, no seu país o mar ainda tinha peixe. Hoje um barqueiro deslizando águas cristalinas é sonho do mar. E o mar! Quando ele dorme é agasalhado por colcha de plástico. Os olhos do mar têm sede de gaivotas e albatrozes, mas com menosprezo a boca do homem só move a mandíbula para dizer não ao pedido de socorro do mar. Lava as mãos e vira as costas à sua queixa. O mar gritando socorro... Socorro, socorro! Todavia há os que insistem em preservar uma certeza: a de que os meninos podem escutar a voz dos poetas. E se os levarmos desde pequeninos para passear ao ar livre, vão conhecer as muitas formas de vida, vão descobrir a alegria que nasce nesse contato. Mais tarde, crescidos eles saberão o que fazer pelo nosso pobre Mundo. Seus olhos e ouvidos foram sensibilizados, são íntegros e aptos para escutar todas as vozes que chamam socorro. Socorro, socorro... E até escutar nas conchas, o barulho do mar. Depois haverá vozes crianças pedindo que toda forma de vida seja respeitada. Afinal cada nova geração ganha o direito de continuar por nós a viagem do existir. É nossa obrigação cuidar melhor do mundo desde ontem. E com poesia sim, sim para escutar a voz do poeta mostrando com dor onde está o equívoco. Mas também em ação o sólido gesto para aplacar atos rudes. Chamando por mais respeito pelo Planeta Terra. Lembrando que maltratada a Mãe chora por seus meninos, esquecidos de seu imenso e criativo amor.

dos grilos, / E nenhum rumor de água a latejar na pedra seca”. T.S. Eliot

* Djine Klein é contadora de história e artista plástica

Ilustração: Clauveci Muruci

A epígrafe acima é de “O Enterro dos Mortos”, poema do inicio do Século XX. O poeta T.S.Eliot é um americano radicado em Londres, logo que teve inicio a Primeira Guerra Mundial. É um jovem que mira o rio Tâmisa e se impressiona com o comportamento irresponsável do ser humano, neste caso, os “nobres europeus”. Em o “Sermão do Fogo”, outro poema de “A Terra Desolada”, grita o rio sufocado por tanto lixo. “Que raízes são essas que se arraigam, que ramos se esgalham / Nessa imundície pedregosa? Filho do homem,...” E é possível ver no texto-poema que o olhar do poeta está inconsolado diante de tal visão. “O rio não suporta garrafas vazias, restos de comida, lenços de seda, caixas de papelão, pontas de cigarro...” Então diante da leitura destes textos, escritos há cem anos, tenho a impressão de que o poeta acabou de chegar de um passeio, aqui pertinho de nossas casas. Rios e córregos abarrotados de objetos e o que mais impressiona é a quantidade de calçados que aí encontramos. Sapatos o símbolo de homem civilizado, acrescido de todo tipo de novidade eletrônica, as maravilhas da pós-modernidade. Contudo, moderno e lúcido era o poeta no final do século XIX. Ele soube dos problemas que teríamos que enfrentar, pois já estava ali posto, mas só ele viu. Talvez se escutássemos mais os poetas, menos os políticos... Talvez tivéssemos apreendido que o Planeta há muito tempo pede socorro. Aprendido que não é difícil acolher as queixas destes que olham para nossas vidinhas cotidianas e têm mais visão. Por onde andam os poetas e os loucos em nós! Aquelas criaturas em que o coração pulsa fora do peito e os olhos têm mais visão. E aqui lembrando Euclides da Cunha, no final do século XIX, além de um senhor poeta ao escrever Os Sertões, era engenheiro e tinha a solução para a seca no Sertão Nordestino. Mas quem para escutar! E somos hoje os cidadãos do século XXI, mas ainda não aprendemos a reconhecer o que dá sustentação a nossa existência. Que ainda não sabemos que todas as formas de vida estão correndo risco de extinção. E que junto com elas o próprio homem 'extinta' a si mesmo! De que adianta a ciência, toda a tecnologia de nosso tempo facilitando nossas vidas. E não conseguimos ainda ver que a Natureza é a fonte para todas as nossas necessidades. Quantas formas de vidas, quantas criaturas já desapareceram. Negligenciamos de maneira tão irresponsável, com a mesma rudeza como vimos fazendo há séculos. Atentando contra quem nos alimenta e propicia o abrigo. Que bicho é esse, o homem que controla o Mundo, mas não a sua fome de domínio e para isso não se importa em aniquilar tudo a sua volta. E no rastro por onde passa deixa os dejetos de tudo aquilo que industria, querendo paraíso. O homem é um forasteiro quando se faz poeta. Esquálido de abandono e horror narra ao vento às estradas ressequidas que tem que trilhar. O colóquio é surdo para os outros homens. Mudo de pássaros em seus poemas, pois não há mais laranjais a margem dos caminhos. A última cigarra de tão sozinha não teve forças para fazer verão. “É doce morrer no mar” diz Caymmi,

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Porto Alegre |Agosto | 2012 | ARTES | 4 ARTES PLÁSTICAS

ALQUIMIA

EXPRESSÕES DE UMA DÉCADA

Alunos da Fabico recuperam antigas técnicas de fotografia Onze alunos da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação Social (Fabico) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) estão com a exposiçãoAlquimia até 3 de agosto na Galeria Clébio Sória da Câmara Municipal de Porto Alegre. O grupo, coordenado pela professora Andréa Brächer, mostra 62 trabalhos criados em processos históricos de fotografia. As obras resultam de pesquisas técnicas e estéticas desenvolvidas na faculdade sobre procedimentos fotográficos não-convencionais. Os estudantes recuperam a história do cianótipo (emulsão fotossensível azul, baseada em sais de ferro), do marrom vandycke (emulsão fotossensível marrom, baseada em sais de prata) e do phytotype (emulsão fotossensível de diversas cores, baseada em pigmentos vegetais, como de flores, frutas e legumes) Experimentações Na contramão da indústria fotográfica, os alunos optam pela produção artesanal de fotos, por meio do uso do papel de algodão e do emulsionamento dos materiais fotossensíveis. Como atestam, essas experimentações, que incluem a captação das imagens e as práticas laboratoriais, permitem que os trabalhos incorporem ocorrências aleatórias ou provocadas: manchas, variações de tons, apagamentos e metalizações. Participam da exposição Ana Campos de Carvalho, Ana Rita Graciola, Felipe Beltram Marcelino, João Ricardo Gazzaneo Schmitt, Leonardo Lima Ferreira, Maurício Rodrigues Pereira, Nathália dos Santos Silva, Patrícia Franke da Cruz, Rafael Francisco Carneiro Ferreira, Renan Kovalczuk de Oliveira e Shana Silveira Torres. A mostra na Câmara (Avenida Loureiro da Silva, 255, térreo) está aberta das 9 às 18 horas, de segundas a quintas-feiras, e das 9 às 15 horas, às sextas-feiras. Entrada franca. Informações (51) 3220-4392, e-mailclaudiah@camarapoa.rs.gov.br. Texto: Claudete Barcellos (reg. prof. 6481)

Foto: Alfeu Viçosa; Sem Título

Mostra coletiva Cultura que Gera Memória Expressões de uma década O Grupo CEEE e Sistema Fecomércio – RS / Sesc, realizam exposição “Cultura que Gera Memória: expressões de uma década. A mostra comemora os dez anos de existência Do centro Cultural CEEE Erico Verissimo, onde mais de 40 exposições de artes visuais, promovendo artistas e suas obras. Reunindo um conjunto de obras escolhidas pelos autores, a mostra coletiva do CCCEV em parceria com o sistema Fecomércio RS/SESC, oportunizam aos portos alegrenses o retorno às obras já expostas ao longo da existência do Centro Cultural CEEE. A parceria entre o Grupo CEEE e Sistema Fecomércio RS/ Sesc atuando de forma expressiva, continuada e sistêmica no campo da cultura artística, promovem o maior desenvolvimento neste setor, e torna-se um referencial a vida cultural da capital gaúcha. As ações culturais em conjunto entre entidades institucionais, promovem maior desempenho entre os artistas, curadores e público que transitam pelo campo da artes visuais, ampliando e qualificando os seguimentos envolvidos. Expositores: Alfeu Viçosa, Alfredo Aquino, Aquino Herskovits, Beatriz Balen Susin, Belony Ferreira, Beto Rodrigues, Bina Moneiro, Celina Cabrales, Daliana Mirapalhete, Danúbio Gonçalves , Enio Squeff, Estelita Branco, Francisca Duarte Dallabona, Gilberto Perin, Irene Ludwing, Isabella Carnevale, Isolde Bosak, Jane Milman, Joyce Loss, Juliano Lopes, Laki Gatti , Marcia Marostega, Maria Inês Rodruigues, Maria Rita Webster, Marta loguercio, Mauro Holanda, Miriam Tolpolar, Moacir chotguis, Paulina Elzirik, Paulo Porcella, Romulo Lubachesky , Sérgio Vaz, Valquiria Monenmor, Vinício Giacomelli, Zoravia B ettiol, Zupo. Sala O Arquipélago e Memorial Erico Verissimo Visitação: de 1º de agosto a 15 de setembro de 2012-08-07 De terça a sexta, das 10h às 19h, sábado, das 11às 18h

ARTE E ARQUITETURA: APROXIMAÇÕES E CRUZAMENTOS, COM MARCOS SARI E LUCIANO LANER A Koralle realiza curso «ArteArquiteruta - Aproximações e Cruzamentos» entre os dias 30 de agosto a 27 de outubro de 2012 (quintasfeiras, das 19h às 21h30). O curso irá trabalhar as afinidades entre os campos da arquitetura, do urbanismo e das artes visuais, ampliando o repertório cultural dos participantes ao mesmo tempo em que estabelece aproximações e cruzamentos conceituais e processuais entre as áreas. Pretende contribuir com os processos criativos daqueles que trabalham com projetos nas áreas de arquitetura, urbanismo, design e artes visuais. Tem como público-alvo arquitetos, artistas, designers, profissionais das áreas de criação, estudantes e interessados em geral. O material didático e bibliografias serão fornecidas em CD no final do curso, juntamente com certificados. Serviço Quando: 30 de agosto a 27 de outubro de 2012, quintas-feiras, 19h às 21h30 (saída de campo, 27/10, 15h às 17h). Local: Koralle - Av. José Bonifácio, 95 - Porto Alegre/RS Valor: R$ 400 (ou 2x de R$225) Carga horária: 16h Vagas: máximo 20 alunos Informações e inscrições: cursos@koralle.com.br ou (51) 3226.0265 Site: www.koralle.com.br

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Porto Alegre |Agosto | 2012 | ARTES | 5 ARTES PLÁSTICAS

IDADES CONTEMPORÂNEAS

Foto: Camila Schenkel; Título: Construção

De 23 de agosto a 07 de outubro de 2012 o Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul inaugura sua mais representativa exposição da programação 2012 (FOLDER ANEXO) IDADES CONTEMPORÂNEAS (CONVITE ANEXO) reunindo nos espaços das Galerias Sotero Cosme e Xico Stockinger, obras de mais de sessenta artistas, cuja produção contemporânea recente virá a incorporar o novíssimo acervo do Museu. A exposição irá contar com intervenções urbanas, vídeos nas redes sociais e filme que Átila Ferrarez e Gabriel Gambá, da GAD'Red – agência que adotou o Museu – criaram sobre o lema: DIFÍCIL É ENTENDER O MUNDO CONTEMPORÂNEO / A ARTE CONTEMPORÂNEA NEM TANTO. Ana Zavadil, Paula Ramos, Paulo Gomes e Marcelo Gobatto são os curadores que integram este ambicioso projeto, para o qual tiveram a liberdade de convidar artistas de diferentes gerações e linguagens. Ana Zavadil apresenta em sua proposta curatorial Poéticas em Paralelo artistas que situam o seu intervalo de ação a partir da virada deste novo século: Alexandra Eckert, Ana Flores, Antônio Augusto Bueno, Amélia Brandelli, Bruno Borne, Camila Schenkel, Evenir Comerlatto, Guilherme Dable, Jander Rama, Kátia Costa, Leandro Selister, Leonardo Fanzelau, Marília Bianchini, Rogério Livi e Rogério Severo. As obras escolhidas foram todas concebidas para esta exposição, sem um tema específico, o que se impõe é a poética, pois no cotejo e/ou confronto entre as obras, através desse encontro singular, podemos conferir, comparar e estabelecer novos rumos para a arte contemporânea. A curadora Paula Ramos convidou os artistas: Belony, Clóvis Martins Costa, Dione Veiga Vieira, Fábio Del Re, Fernanda Valadares, Frantz, Gonzaga, Julio Ghiorzi, Mariza Carpes, Túlio Pinto, Ubiratã Braga e Wilbert. Diante da Matéria é o título da sua curadoria em que apresentam trabalhos que estão entre o racional e o intuitivo, o programado e o casual, o geométrico e o orgânico. Entre a linha e a mancha, a síntese e o excesso, a ordem e o caos. Entre desenho e pintura, pintura e gravura, escultura e desenho, fotografia e pintura. As obras apresentadas nesta exposição exploram diferentes procedimentos e materiais, técnicas e linguagens, gestos e temporalidades, evidenciando o caráter plural da produção contemporânea. Elas também atestam a postura investigativa de seus criadores, artistas que têm problematizado as tradições do campo da arte, suas práticas e conceitos, bem como revisitado suas próprias trajetórias. Diante da Matéria propõe uma experiência entre o espaço, a matéria e o corpo. Os curadores Paulo Gomes e Marcelo Gobatto assinam a mostra de CORPOIMAGEM com a novíssima produção em vídeo na arte contemporânea brasileira. Esta mostra apresenta a produção de mais de 40 artistas: Alberto Semeler, Ali Khodr, Amélia Brandelli, Ana Norogrando, André Severo, Bruno Borne, Camila Melo, Carlos Donaduzzi, Chico Machado, Claudia Paim, Clóvis Martins Costa, Denise Gadelha, Diogo Dornelles, Dirnei Prates, Elaine Tedesco, Eny Schuch, Fábio Noronha, Fabio Puper Machado, Fabrício Almeida, Fernando Codevilla, Glaucis de Morais, Isabel Ramil, James Zortéa, Jorge Soledar, Kelly Wendt, Letícia Bertagna, Lizangela Torres, Luiz Roque Filho, Mairon Martins, Manuela Eichener, Marcelo Gobatto, Maria Lúcia Cattani, Mirieli Costa, Nelton Pelenz, Niura Borges, Patrícia Francisco, Rafael Rosso Berlezi, Rebeca Stumm, Renato Heuser, Rochele Zandavalli, Romy Pocztaruk e Sandra Rey.São filmes e propostas heterodoxas que tem renovado tanto a produção do que vemos, como a forma dos artistas se relacionarem com o cinema.

Museu de Arte Contemporânea do RS inaugura exposição com mais de 60 artistas apresentando sua visão de mundo, através das suas diferentes gerações


Porto Alegre |Agosto | 2012 | ARTES | 6

Viamão

Cultural

O Conto Contado Fernanda Blaya Figueiró (o conto teve como mote: Coco verde e Melancia de Simões Lopes Neto)

Tenho guardada na MEMÓRIA a visão de uma RAMADA de cipó COBREADO que balançava furiosamente batendo no dorso de um Tobiano, que de VENTA aberta empinou o corpo e saiu num trote marchado rumo ao campo aberto, em total INDEPENDÊNCIA. O cipó se esparramava por todo o matagal, com sua ramada pendurada entre maricás,butiazeiros, figueiras e brincos de princesa. O Tobiano aventado desapareceu sem deixar rastro, deixando o cavaleiro solito da vida... Solito? Solito, solito não! Que este conto contado é uma velha história do tempo dos amores proibidos. Essa velha coruja, que já ouviu muito causo, que já viu muita coisa neste mundão velho de Deus, vai lhe recontar, rapidinho, o acontecido. Os tempos eram de peleia, os dias sombrios e secos, o gado andava magro, o rio barrento. E alguém disse: este amor não pode ser. Foi o que bastou. Se não pode ser daí é que será. Quem proibiu o mato não sabe, porque motivo, muito menos. Coisa de gente. Que gente gosta destas coisas de proibir e de libertar. Proibi para libertar, liberta para proibir. Vive pra lembrar, lembra pra esquecer... E o proibido foi encontrar abrigo nas ramadas cobreadas do cipó da mata. No tempo que tinha isso de ter mata. Tempo antigo. Anoitecia, o sol deitava o cabelo no céu tingindo ele de um alaranjado que só aqui no pampa acontece, os proibidos tinham a doçura e a ternura do amor novo. Que o amor é coisa muito boa, nos primeiros tempos. Chegaram no dorso do Tobiano, que foi amarrado, sem a montaria, no pé de uma grande árvore, pra descansar o lombo. Nisto apareceu uma cobra. Chiiiiiiiiiiiii, Chiiiiiiiiiiiiiii! Pucutum,pucutum,pucutum... A Proibida arregalou os olhos e o proibido foi logo tratando de encontrar um jeito de acalmar a amada. Hu.Hu.Hu... Piei para ajudar! Disse ele que o Tobiano haveria de voltar e que a cobra já havia partido. Ah, as cobras... Nunca perdem a chance de dar uma forcinha pra uma amor proibido. O vento soprou os longos cabelos da amada, que as amadas mantem longos cabelos, como os cipós cobreados, na pele forte do amado, que os amados tem uma pele forte, como os brados de independência. Todas as boas histórias de amor acontecem no tempo da juventude. Com a ajuda da cobra, do vento e da lua, que nessa hora já dominava o horizonte, o amor proibido aconteceu. Hu,hu,hu... Dizem que foi desse amor que nasceu... Não! Não foi a humanidade, que essa era uma história mais antiga. Nasceu desse amor um conto contado, dissimulado. Coco Verde e Melancia? Não sei não seu moço, não é bem o que a coruja tem guardado na memória... Que as corujas guardam os segredos bem guardados... Hu,hu,hu...

Aflux de Pôr do sol Stela Maris Ribeiro Ah! esse pôr do sol Guaibalesco Tão intenso em seu calor e cor Colore lá dentro de meus olhos A esperança em forma de clamor. Engana-se quem diz que não cuidamos do mundo Porque não o amamos, Não sabem eles também, Amamos sim, só que ignoramos Deram a nós idéias distorcidas De que o que só vale é o que vem do espírito Tirando de nós esta verdade linda Que somos tudo; carne, terra, alma, osso, natureza Flores do campo como as margaridas. Amém a este pôr do sol Guaibalesco! Que nos remete além de seu esplendor horizontal E nos permite chance em sua fortaleza Compreender-nos como parte de toda essa grandeza Que ainda há tempo de nos conscientizarmos E resgatarmos sim a unicidade do planeta Todos como irmãos benditos E nesta força colossal Aflux de vida... Em meio a toda esta beleza natural!

Nascimento do poeta

Ilustração: Clauveci Muruci

Lúcia Barcelos O sol desaparecia envolto em pó dourado. O ocaso, que lento passava, anunciava ao mundo, o poeta. De origem singela, recém-chegado... De sonhos presos no canto do olhar... Sorriso tímido, passos macios, nem faziam rastro no caminhar. Um punhado de rimas nas mãos talentosas e o veludo das rosas no versejar. Concebido, certamente, sob signo especial... Nascido do parto dorido e natural de singela mulher, no meio da gente, na hora em que a estrela cadente jogava luzes nas areias morenas. Amigo das brisas e das conchas pequenas, meio-irmão do mar por onde cruzou... E a lua sorria, quando o poeta chegou!


Porto Alegre |Agosto | 2012 | ARTES | 7

vida ao verso

O Jornal de Artes abre espaço em duas páginas onde estarão as produções do Grupo diVersos e outros amigos, e os autores de Viamão, para nossos leitores terem contato com um universo maior da nossa produção literária. “É preciso expor a mercadoria”, enfatizou outro dia Bertolt Brecht, explicitamente. É nosso dever mostrar na prateleira nossos objetos de arte. A editora de literatura, Djine Klein estará encarregada de trabalhar junto a esses autores, e descobrir o melhor achado, um pequeno diamante junto a peneira de algum descuidado poeta , e trazer do fundo do rio a tímida criação. Boa leitura.

A Necessidade da Arte: Por: Maestro Agostinho N. Ruschel (OMB/RS 21324)

“O homem, que se tornou homem, que superou o limite da animalidade, transformando o natural em artificial, que se tornou um mágico, o criador da realidade será sempre o mágico supremo, o Prometeu trazendo fogo do céu para a terra, sempre Orfeu enfeitiçando a natureza com sua música... Enquanto a humanidade não morrer, a Arte não morrerá!” Com estas palavras tão verdadeiras e maravilhosas o poeta, escritor e filósofo austríaco ERNEST FISCHER finaliza seu livro “VON DER NOTWENDIGKEIT DER KUNST” – Da necessidade da Arte. Gostaria de fazer algumas reflexões que julgo de fundamental importância ao se falar em Arte – Cultura – Educação nos dias de hoje... Desde sempre, a necessidade da Arte – (expressa nas mais diversas formas) – se fez presente na vida humana. Isso porque, querendo ou não, consciente ou não, o homem precisa da Música, da Poesia, do Teatro, da Pintura, para amenizar a sua ânsia de infinito, de eternidade, de superação... (como “fazedor” ou “receptor” da Arte) – Sobretudo a Música e a Poesia sabem criar esta realidade virtual e mágica, mostrando o mundo como possível de mudança, dando ao homem momentos de alívio, de libertação do “stress” do cotidiano, lembrando-o de sua “humanidade”, de sua dignidade e de sua grande e possível força criadora, chamando atenção para tudo de bom e belo que existe... Você já pensou, alguma vez, em expressar seus sentimentos em forma de poema? Não gostaria de participar de um grupo de canto, de poesia, de teatro, de dança? Em geral, falta somente a coragem do primeiro passa! Na verdade, a Arte eleva, dignifica, transforma, cria elos... Participar de um grupo de Arte é a melhor terapia contra a solidão, o Stress, a melancolia etc. Formam-se novas e belas amizades, acontecem trocas de ideias, redescobre-se valores esquecidos e a certeza de que o ser humano, para expressar e vivenciar sua plenitude, precisa do outro e para sonhar e sobreviver precisa da ARTE!!!

Das penas Por: Gerci Oliveira Godot

uma nesga de natureza encanta meus olhos ávidos de verde um mormaço parado denuncia o verão nuvens passeiam no azul na gaiola o canário canta Canta? Ou lamenta a prisão dor solidão perpetuada Como João de barro Solitária na noite me transporto letra ave terra plantada no fio pouso alerta atropelo linhas tortas galopo paisagem garimpo metáforas roubo a sonoridade da brisa mudo acordes sou arremedo poesia

Made in China Tempo

Por: Dênia Bazanella

Por: M.Conceição Hipolito

tempo sem pressa Tece com o fio da vida Envolve E talha no corpo Sua mortalha ...finda vaidades.

Ilustração: Clauveci Muruci

Nem santa, nem demônio. Carne apenas. Sangrenta, pútrida. Matéria única. Benta na cor do vinho, ou no silêncio dos monges. Sofrida, como o gemido das fontes. Com o perdão dos sacros, é original. Autêntica. Na intimidade dos cantos, onde o olhar dos sábios não perscruta, o mais profano dos poemas : "made in china".


Porto Alegre |Agosto | 2012 | ARTES | 8 FOTOGRAFIA

A Poética na Fotografia e suas Especificidades Por | Geogia Quintas

A imagem fotográfica é um jogo de visão de mundo e imaginação. E nisto reside toda a complexidade de quem capta e a apreende visualmente. Pois, se ela é o registro de um tempo e de um espaço, de objetos ou pessoas, será irremediavelmente memória de expressão cultural e de significado simbólico. Ou seja, ela também poderá ser tudo e nada. A dimensão subjetiva da fotografia se dá entre o real e a ficção, entre a realidade visível e a construção de um novo realismo, e tudo isso pode vir a ser muito surreal. Não falo do surrealismo enquanto estilo artístico, mas sim, da realidade movediça que se apresenta concreta enquanto índice visual. O que vemos a partir da imagem são as causas e os efeitos dela própria em nosso olhar Por certo, a fotografia documental reafirma a realidade. Mas não só isso, ao reconduzir o real, uma nova dimensão perceptiva se coloca diante de nós. Sem dúvida, a superfície da imagem é a representação da coisa em si, sua quintessência; entretanto, ela é também, muito além da questão do tempo inerente à natureza fotográfica, intensidade, reciprocidade, atitude, a força do hábito e das idéias de quem faz a imagem fotográfica existir. Se tudo já foi fotografado e o nosso entorno é passível de registro, se as temáticas são recorrentes e os gêneros fotográficos (como o fotojornalismo) inexoráveis, o que fazer ainda através da fotografia?

Foto: Clauveci Muruci; Dourado em Fundo Azul

Foto: Clauveci Muruci; Sem Título Foto: Clauveci Muruci; Em Busca de Inspiração


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