Espaço Industrial - Textos Complementares

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COLÉGIO E PRÉ-VESTIBULAR GEOGRAFIA

Aluno(a):_____________________________________________________ Turma: ________ Unidade: _________________ Professor: Mauricio

O ESPAÇO INDUSTRIAL Textos Complementares

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Processo de desenvolvimento do capitalismo Capitalismo comercial Fins do Sec XV – Sec XVIII - expansão marítima das potências da Europa Ocidental – rota para as Índias - Grandes Navegações e descobrimentos, conquistas territoriais, escravizações - Doutrina mercantilista – intervenção governamental na economia – aumentar a prosperidade nacional e o poder do Estado = aumentar riquezas – metalismo / balança comercial favorável (colonialismo). Estado absolutista favorável aos interesses da burguesia comercial. - acumulação primitiva do capital (Marx) – condições para a ocorrência da Revolução Industrial Capitalismo industrial Segunda metade do Sec. XVIII - Revolução industrial: potencialização da capacidade de transformação da natureza - multiplicação dos lucros – objetivo dessa nova fase - conceito da mais-valia - trabalho assalariado substitui o trabalho escravo – maior produtividade e consumidor - Nova doutrina econômica: Liberalismo – Estado não deveria intervir na economia – lógica do mercado - Divisão do trabalho, produção em série = + produtividade / + capacidade de produção Segunda metade do Sec. XIX – Segunda Revolução Industrial - novas tecnologias e novas fontes e energia - Estados Unidos e Alemanha pioneiros - Ciência apropriada pelo capital posta a serviço da técnica – pesquisa científica para desenvolver novas técnicas de produção. - Siderurgia, ind. Mecanica, química, eletricidade, combustíveis derivados do petróleo – ind. automobilistica e aeronáutica - aumento da concorrência – novos consumidores, novas fontes de matérias-primas e novas áreas para investimentos lucrativos – expansão imperialista – Conferência de Berlim - Divisão internacional do trabalho - Ascensão dos EUA (Doutrina Moonroe) e do Japão (Era Meiji) - instabilidade econômica e geopolítica Capitalismo Financeiro - Início: virada Sec. XIX – XX (exp. Imperialista); Consolidação: Pós 1ª. GG - Crescimento acelerado da economia – concentração e centralização de capitais. Acirrada concorrência favoreceu as grandes empresas levando a fusões e incorporações – monopolização ou oligopolização de muitos setores. - Particularmente nos EUA - Vigoroso mercado de capitais – venda de ações – gigantescas corporações pulverizadas - Bancos tem um papel cada vez mais importante como financiadores da produção. “bancos incorporam indústrias e indústrias incorporam ou constituem bancos para lhes dar retaguarda” - Mercado oligopolizado dominado por grandes corporações - Estado intervem na economia: planejador ou coordenador – agente produtor ou empresário, principalmente após a crise de 1929 – New Deal (Roosevelt) obras públicas – recuperação da economia norte-americana - Keynesianismo – intervenção estatal numa economia oligopolizada. Grandes grupos passam a predominar em cada setor – trustes (controlam todas as etapas da produção), formação de cartéis. - Muitos trustes se transformaram em conglomerados – resultado de um processo de concentração e centralização de capitais / ampliação e diversificação de negócios (dominar oferta de produtos e serviços) controlados por uma holding, eles estendem seus tentáculos por diferentes setores da economia. Ex: mitsubishi, GM, Siemens... - tradicional divisão internacional do trabalho importante

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TEXTO 1 O ESTADO E O PENSAMENTO POLÍTICO MODERNO Os aparelhos estatais dos Estados modernos, em sua origem, tinham dimensões e funções reduzidas se comparados aos atuais. A ampliação de suas funções e dos aparelhos técnico-burocráticos vai se constituir num dos temas mais importantes de discussão política de grandes pensadores. O Estado Moderno A designação Estado moderno é um tanto genérica. Refere-se a características comuns presentes nos vários Estados da sociedades modernas. Contudo, existem diferenças entre eles. O Estado pode ser menos intervencionista, deixando ao mercado o papel de principal regulador da vida sócio-econômica, apenas assegurando as condições gerais para o funcionamento do sistema sócio-econômico. Esse é o Estado moderno liberal. Também existem os Estados modernos que intervêm bem mais na vida das sociedades, sendo assim elementos ativamente engajados nas atividades sócio-econômicas. Estes são os Estados modernos reguladores (no sentido de interventores), cujas manifestações principais são, respectivamente, o Estado do bem-estar social (em países capitalistas) e os Estados de economia planejada ou planificada (nos países socialistas e em alguma medida nos países de industrialização recente). Verificamos que a estruturação dos Estados modernos resultou de profundas transformações sócio-econômicas. Foi o capitalismo, como sistema, que encontrou no Estado uma forma privilegiada de organização de seus interesses. Portanto, a forma de organização estatal também subordinou-se a esses interesses. Pelo menos até a década de 30 de nosso século o pensamento econômico hegemônico era o liberalismo. E foi sob essa visão que se organizou o Estado liberal, forma predominante nos países industrializados até essa época. O Estado Liberal

O liberalismo caracterizava-se pelos seguintes pressupostos:

• as empresas estariam subordinadas ao mercado; seu sucesso estaria relacionado ao desempenho na venda de produtos; • os consumidores exerceriam sua influência individualmente, expressando livremente suas preferências e, através delas, indicariam os caminhos que a produção deveria seguir; • a concorrência entre os produtores aumentaria os lucros e ofereceria aos consumidores bens e serviços baratos e de boa qualidade. Em síntese, seria o mercado o mediador da distribuição dos recursos e da riqueza social. Ao Estado restariam poucas e essenciais atribuições na visão liberal, como atuar na política externa e “conceder” alguns direitos sociais básicos, como a educação de crianças. Mas a realidade se transformava. Quando da grande depressão americana, nos anos 30, foi o Estado remodelado e com funções ampliadas - o principal elemento superador da crise, e não o mercado. A depressão dos anos 30 foi um período de grandes dificuldades econômicas e sociais, causadas basicamente por uma superprodução sem adequação do mercado, gerando falência de muitas empresas e desemprego. Houve também um processo de grande especulação financeira no mercado de ações. O fato que melhor simboliza esse momento é o crack da Bolsa de Nova York. O melhor exemplo dessa nova realidade foi a política do presidente dos EUA à época, Franklin Roosevelt, de enfrentamento da depressão, que ficou conhecida como New Deal. Essa política consistiu na adoção de planos de desenvolvimento regional (como o projeto do vale do Tennessee), financiados pelo Estado, e um maior controle sobre os investimentos privados. O planejamento foi um instrumento utilizado. A partir daí os Estados cresceram e cumpriram com eficácia suas novas funções. Atuaram como reguladores e legitimadores dos sistemas sócio-econômicos. As concepções liberais de Estado perderam prestígio e ficaram “adormecidas” por algum tempo, como veremos mais à frente. Já podemos falar em Estado regulador, cuja intervenção na vida sócio-econômica será mais intensa. O Estado do Bem-Estar Social (Welfare State) A principal expressão de Estado regulador será o Estado do bem-estar social. Essa forma combinou, nem sempre na mesma dose, elementos de controle e planejamento do processo econômico com investimentos na área social.

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Embora sua generalização tenha se dado em meados do século XX, seus primórdios encontram-se no século XIX. Esse tipo de Estado surge como reação a crises poderosas que o capitalismo sempre enfrentou.

A Ação Social

John R. Commons, professor universitário, foi o grande defensor da implantação do Estado do bem-estar social nos EUA. Em 1935 surgiram, nesse país, as primeiras leis federais que concediam verbas para os estados (Califórnia e Massachusetts, por exemplo) cuidarem dos idosos e crianças carentes. Criou-se um sistema federal/estadual de segurodesemprego e um sistema federal obrigatório de aposentadoria (Social Security). A proteção contra doenças, invalidez, velhice e, principalmente, desemprego, assim como os serviços públicos (educação, saúde e outros), se constituiu numa forma de salário indireto, fornecido pelo Estado e pago pelo conjunto da sociedade, através dos impostos. As políticas sociais do Welfare State acabaram por contribuir na ampliação do consumo e, em conseqüência, no desenvolvimento do capitalismo. A Intervenção Econômica Os anos posteriores à década de 30 foram tumultuados. A situação política mundial estava à beira de uma catástrofe. As economias nacionais achavam-se desorganizadas. Eclode a Segunda Guerra Mundial. Dela sairão vencedores os EUA, cujo Estado, como já vimos, passa a ter papel decisivo na reconstrução da economia mundial. A partir do final do conflito mundial, há um crescimento impressionante da produção e do consumo. O capital se concentra. Constituem-se conglomerados empresariais gigantescos. A manutenção das condições necessárias para a continuidade do processo produtivo revela-se incompatível com o mercado livre. As exigências para a continuidade do processo produtivo são: • produção em larga escala; • capital necessário para iniciar produção muito elevado; • enormes gastos com pesquisa científica e tecnológica e estratégias de marketing. Esperar que o mercado responda positivamente às iniciativas é um risco que se quer evitar. É nesse contexto que se sofisticam formas de planejamento e que o Estado atuará para prevenir crises e colapsos no sistema produtivo. As funções econômicas do Estado do bem-estar social, cujo principal representante inicialmente será o Estado norte-americano, podem ser assim resumidas: • desenvolver políticas públicas de pleno emprego (aumento dos gastos públicos, contratação de obras e serviços, estímulo à atividade produtiva, etc.); • transformar-se em empreendedor de grandes obras e de grandes projetos (usinas hidrelétricas e nucleares, indústria aeroespacial, militar e outras). Para isso, contrata ou mesmo fomenta a criação de grandes empresas privadas; • contribuir na modernização do processo produtivo, trabalhando, via programas educacionais, para a qualificação de mão-de-obra, e investindo em pesquisas tecnológicas, cujos resultados só serão obtidos a longo prazo (por exemplo, criando institutos técnicos e de pesquisa); • garantir a manutenção de parâmetros básicos para o funcionamento da economia: preços de produtos de setores estratégicos, níveis salariais, entre outros. Nessa fase de reorganização econômica do pós-guerra, a liderança e o sucesso da economia dos EUA foram incontestáveis. Mas, atualmente, o melhor exemplo de sucesso de um Estado moderno regulador é o Japão. Sua pujança econômica, seu desenvolvimento tecnológico, sua eficiente organização do trabalho sua enorme produtividade frequentam todos os debates sobre desenvolvimento econômico. Os Impasses do Estado do Bem-Estar Social Embora apresente bons resultados nos campos econômico e social, o Estado moderno regulador está longe de ser uma unanimidade. Talvez a única exceção hoje seja o Japão. Na década de 90 seus problemas estão realçados pela crise econômica e social que assola os países de capitalismo avançado. Diferentemente da década de 30, quando a grande crise foi suplantada com a intervenção estatal, agora surge como tendência uma posição inversa: o retorno ao liberalismo, promovendo o mercado à principal função reguladora da vida econômica. O Estado do bem-estar social é o grande vilão. De fato, o funcionamento do Estado do bem-estar social está em xeque. Com a queda da produção ocorrida no final dos anos 80 arrecadaram-se menos impostos. Com o aumento do desemprego, a demanda pelo segurodesemprego também se eleva. Essa contradição é mortal para o Estado. Quanto menos arrecada, mais é requisitado.

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Ao mesmo tempo, houve um crescimento desmesurado da burocracia estatal e, em consequência, perda de eficiência nos seus serviços a nas funções reguladoras da economia. Os empresários recusam-se a investir, pois não querem pagar impostos a um Estado que consideram ineficiente e maléfico para os negócios. O impasse se estabelece. Nesse contexto, forças políticas contrárias ao Estado regulador chegaram ao poder em diversos países e desenvolveram políticas de desmonte do Estado do bem-estar. Nos EUA e na Inglaterra esse projeto foi conduzido pelo presidente Ronald Reagan e pela primeira-ministra Margareth Tatcher, respectivamente. O programa por eles aplicado vem sendo chamado de neoliberalismo: privatizações de empresas estatais (estradas, portos, companhias mineradoras etc.); diminuição de impostos; cortes nos investimentos públicos e restrições aos serviços sociais. O Neoliberalismo As orientações neoliberais são de curto e médio prazos. As de curto prazo sustentam que se deve minorar o déficit fiscal, reduzindo os gastos públicos, e aplicar uma política rigorosa de restrição de emissão de moeda e altas taxas de juros. A tudo isso corresponde uma paralisia momentânea da economia, isto é, a recessão. Para médio prazo propõem: transformar as exportações no motor do crescimento econômico: liberar o comércio exterior, abrindo a economia totalmente (fim das políticas protecionistas, diminuição dos impostos de importação e das tarifas alfandegárias); deixar que o mercado seja o principal elemento da economia e diminuir a intervenção estatal: concentrar os investimentos no setor privado e diminuir os investimentos no setor estatal; acabar com subsídios de preços, para que estes sejam “reais” e estabelecidos no mercado; e, por fim, privatização das empresas estatais. Ao conjunto dessas medidas denomina-se ajuste neoliberal. Essa forma de ação econômica tem sido implementada em quase todos os países latino-americanos, com resultados elogiados pelos neoliberais e muito criticados pelos adversários.

TEXTO 2 INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS E SUAS IMPLICAÇÕES TERRITORIAIS Introdução A partir de meados das anos 70, os países "centrais" adotaram novos padrões de acumulação e regulação: produção baseada em alta tecnologia, flexível, e Estado mínimo. A adaptação da economia daqueles países à nova situação de crise foi rápida. Novos termos passam a fazer parte do jargão especializado: flexibilidade da produção. tecnopólos, tecnopólis, neofordismo etc. Como ocorreu também em outras situações, o "pacote" atual é apresentado à "periferia" por autores e autoridades os mais credenciados. Neste estudo, propomo-nos a abordar algumas questões referentes às novas tecnologias e suas implicações territoriais, nos países “centrais”, na expectativa de que alguns resultados e tendências já observados possam ser ponderados, no momento em que, no Brasil, a importação de idéias e práticas sobre o assunto está em curso. Do fordismo ao pós-fordismo A crise econômica mundial, iniciada na primeira metade dos anos 70 - quebrando um longo período de prosperidade vindo desde o último pós-guerra - colocou em causa, de forma bastante profunda, o modelo de acumulação até então predominante. Referimo-nos, particularmente, às mudanças nas formas de produção e na organização do trabalho, bem como às suas possíveis repercussões no espaço territorial. Para situar tais transformações que, contemporaneamente, se estão processando, convém observar os traços gerais do paradigma que prevalecia: o taylorismo-fordismo Com a depressão iniciada em 1929, nos países “centrais”, emergem as condições para a consolidação de um novo regime de produção e correspondente forma de regulação. Keynesianismo e Welfare State são os pilares das social-democracias, que, surgindo com a crise, na Europa, constituem-se e se consolidam, sobretudo no último pósguerra, como políticas de Estado. Nas primeiras décadas deste século, Taylor havia desenvolvido os princípios da chamada administração científica, na qual se destaca o estudo de tempos e movimentos, permitindo subdividir ao máximo as atividades, possibilitando o emprego extensivo de mão-de-obra não-qualificada. A nova organização do trabalho separava as funções de concepção (administração, pesquisa e desenvolvimento, desenho etc.) das funções de produção. Ou seja, rígida divisão entre o trabalho intelectual e o trabalho manual. Ford introduz a linha de montagem no processo de produção e estabelece como meta fundamental o aumento da produtividade que, correlativamente ao aumento dos salários, permitiria alcançar o consumo de massa. Consumo de massa implica, por outro lado, produção em massa, produtos estandardizados. O fordismo, mais do que uma revolução na produção, é um conjunto de práticas e valores que se estendem a toda a sociedade. As mudanças que ocorriam na produção têm seu correspondente, no plano da regulação, na ideologia socialdemocrata, que se completa com os princípios da teoria keynesiana e do Welfare State. O amplo sistema de regulação permitia, assim, assumir reivindicações das massas assalariadas. Reconheciam-se, formalmente, as organizações

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sindicais, tornando possível a efetivação de convenções coletivas de trabalho lastreadas em salários ascendentes e medidas de cunho social. Entre estas destacavam-se: garantia relativa de emprego e seguridade social (saláriodesemprego, aposentadoria etc.). Esse sistema de regulação. que teve seus primórdios nos anos 30 nas principais economias capitalistas e nas dos países escandinavos, consolida-se no imediato pós-guerra e permite um período de longa prosperidade, que vai até o final dos anos 60. Cabe referir que, do ponto de vista territorial, o paradigma taylorista-fordista, caracterizando-se por grande concentração da produção, tinha seu correspondente territorial na existência de grandes aglomerações urbanas. A crise que eclodiu entre o final dos anos 60 e o inicio da década de 70 trouxe a certeza para os centros hegemônicos de que as políticas keynesianas e do Estado Social não eram mais possíveis, sobretudo porque a taxa de crescimento da produtividade havia caído a partir dos anos 70. Os salários, nos EUA e Europa Ocidental, tenderam a se elevar, superando a evolução da produtividade, reduzindo a taxa de lucro e as possibilidades de acumulação a médio prazo. A revolução tecnológica em curso teria a função de resolver esse impasse. O campo de inovações mais significativas é a eletrônica; o objetivo dessas inovações é a informação e a velocidade para ter acesso a ela. Com o desenvolvimento das telecomunicações, ampliaram-se enormemente os campos de sua utilização. Os bens de capital automatizados recebem, arquivam, interpretam e utilizam informação para realizar movimentos. A engenharia genética decodifica o sistema de informação celular e, em alguns casos, manipula e reprograma informação em organismos vivos. A informação é disseminada em forma crescentemente descentralizada e personalizada; finalmente, os circuitos integrados são sistemas de processamento de informação. Eis porque alguns autores consideram esses processos como verdadeira “revolução informática”. Contrariamente à rigidez que caracteriza o taylorismo-fordismo, as novas tecnologias buscam obter o máximo de flexibilidade no que respeita a processos de produção, desenhos de produtos, ocupação da força de trabalho. Com o sistema flexível de produção, os capitalistas buscam através da segmentação e diferenciação dos produtos, o meio para evitar os mercados saturados (a economia baseada nas práticas fordistas contava com amplos mercados relativamente estáveis). Deve ser maior a gama. a variedade de tipos e tamanhos de produtos ofertados. A flexibilidade da produção é a forma de atender a esses constrangimentos do mercado. No que tange à flexibilidade da força de trabalho, esse parece ser o principal objetivo, pois aqui se trata de atingir em cheio a centralidade da classe trabalhadora, reduzindo seu poder de reivindicação e luta. A segmentação da força de trabalho pode ser observada em dois níveis. Primeiro, no da empresa, na qual se distingue cada vez mais um núcleo de trabalhadores permanentes, contando com garantias contratuais, e um número de trabalhadores “periféricos” ou “externos” (ocupação sazonal, mensal, semanal ou mesmo diária). De um modo geral, o sistema flexível, quanto à força de trabalho, caracteriza-se por altas taxas de rotatividade, proliferação do trabalho temporário e de tempo parcial, tanto quanto por trabalho a domicílio. Segundo, no da escala territorial, na medida em que, nos países “centrais”, uma parcela significativa das indústrias deslocou-se das áreas de maior concentração para outros pontos de seus territórios, onde o custo da força de trabalho é mais baixo, aumentando a desagregação do operariado. Sintetizando, a revolução tecnológica em curso procura atender a três preocupações básicas do sistema produtivo: a) reorganizar o processo produtivo (utilização de novas máquinas informatizadas e alteração da disposição do espaço físico) e do processo de trabalho; b) ultrapassar o funcionamento estanque dos setores de concepção (gestão, pesquisa e desenvolvimento, desenho etc.) da execução (produção), isto é, trata-se de, mediante o avanço dos meios de informação, unir o que o taylorismo separou; c) transferir uma série de atividades para firmas subcontratadas, geralmente pequenas e médias. Detenhamo-nos um pouco mais em cada um desses pontos. No que diz respeito a máquinas e equipamentos, observa-se que as inovações tecnológicas permitem que tanto o desenho quanto a produção sejam assistidos por computador. Desenhos e programas podem ser alterados, grande número de vezes, com baixos custos, o mesmo acontecendo com a introdução de alterações nas ordens de produção. As mudanças na organização com implicações nas relações de trabalho não são menos significativas. As formas mais avançadas visam quebrar as rotinas da linha de montagem e tem conseguido aumentar a motivação do trabalhador e torná-lo mais produtivo. Com isso, cresce a desigualdade salarial e se golpeia fortemente o poder sindical. Outra transformação significativa decorrente das inovações em curso situa-se na divisão do trabalho entre a grande empresa industrial (em geral, oligopólica) e empresas subcontratadas, pequenas e médias (PMEs). Essa prática já existia de longa data (mesmo em economias periféricas, como a brasileira). A mudança é qualitativa. A PMEs que fazem parceria com os modernos oligopólios são bastante especializadas, atendendo aos requerimentos das novas formas de produção. Nesse esquema, a grande empresa repassa para as PMEs um certo número de atividades, como as de concepção de produtos, controle de qualidade, manutenção, programação de etapas produtivas, pesquisa e desenvolvimento, entre outras. Dessa forma, a grande empresa reduz suas pesadas e onerosas rotinas burocráticas.

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Nessa questão da parceria, grande empresa/PMEs, dois pontos devem ser ressaltados. O primeiro é que o número de sub-contratadas tende a ser bem menor do que antes, pelo menos em certas atividades de ponta. Como exemplo, o caso da Renault, que pretendia suprimir acordos com 1.000 de suas 1.600 subcontratadas. É claro que, por essa via, tende a aumentar o subemprego e mesmo o desemprego. Segundo ponto: tal esquema permite à grande empresa reduzir os conflitos trabalhistas transferindo-os, obviamente, às PMEs, onde o trabalho é, em princípio, flexível, o que também é sinônimo de precário. Os riscos físicos também são maiores para os trabalhadores das subcontratadas e trabalhadores externos em geral. Por todas essas razões expostas, é fácil constatar que os esforços visando à quebra do que se tem chamado de “rigidez” das relações de trabalho, por via da flexibilidade, são inerentes às políticas neoliberais que predominam atualmente. Nesse sentido, é bastante ilustrativa a arenga de Mme. Thatcher contra as organizações sindicais inglesas. Ameaçou ela que se os sindicatos destroem “os empregos que eles pretendem defender com suas práticas restritivas passadistas” é necessário, decididamente, “atacar a rigidez do mercado de trabalho” e “permitir a cada um a inalienável liberdade de trabalhar como deseja”. Tal orientação deu à Inglaterra um provável recorde nesse domínio: em 1985 havia 8,1 milhões de pessoas - um terço da população ativa na categoria de trabalhadores “flexíveis”. As novas práticas produtivas e seus reflexos no território Há fortes indícios de que as novas práticas produtivas visando à flexibilidade estão tendo repercussões na distribuição das atividades no espaço. O exemplo do país líder do capitalismo (EUA) é bastante ilustrativo nesse sentido. Nesse país, ao longo das últimas três décadas, a produção industrial transferiu-se, progressivamente, das antigas áreas produtivas do Nordeste para o Sul e Oeste. Caberia destacar as características de algumas das novas formas de organização da produção, dando atenção também a seus desdobramentos espaciais. Sob essa denominação, incluem-se diferentes tipos de complexos de desenvolvimento: centros de inovação, tecnopólos, tecnopólis, parques industriais rejuvenescidos etc. Em sua gestação e evolução até chegar às configurações do presente, destaca-se claramente a relação desses complexos com as universidades e centros autônomos de pesquisa. À sua frente estão empresários inovadores originários ou não dos centros acadêmicos mais avançados. Os complexos americanos mais citados comprovam esta relação. O Vale do Silício desenvolveu-se em torno do parque industrial criado pela Universidade de Stanford, em 1952. A Rodovia 128 (Boston) teve como núcleo básico as atividades de ex-alunos do M.I.T., que, em 1943, começaram a contar com financiamentos do Banco de Boston, para desenvolver pesquisa. O Estado (universidades, governos locais etc.) está na origem desses empreendimentos e o seu desempenho depende, em larga medida, das encomendas estatais: armamentos e eletrônica voltados para esse fim, no caso do Vale do Silicio. Em geral, são as tecnologias de ponta que ali se desenvolvem, além da fabricação de componentes do complexo eletrônico: armamentos, software, biotecnologia, biogenética, comunicações etc. Alguns autores classificam esses complexos territoriais como micro-regiões científico-produtivas. Diferentemente dos antigos distritos industriais, os complexos científicos localizam-se em zonas semi-rurais, em ambiente agradável para os pesquisadores e executivos. Eles reúnem empresas inovadoras, centros de pesquisa de ponta, escolas de formação superior, aeroportos, espaços verdes para a residência e a recreação; são novas arcádias para a reprodução do talento. Nos EUA, vários Estados e governos locais concedem incentivos para atrair empresas de alta tecnologia para seus territórios. A Rodovia 128, o Vale do Silício e o Research Triangle Park são modelos de desenvolvimento regional que se expandem como mancha de óleo. A nova forma de relação entre o oligopólio e as empresas subcontratadas é fundamental para a estruturação do modelo de organização do tipo just in time, que permite - graças às tecnologias da informação - trabalhar com estoques mínimos devido ao fluxo permanente de entregas de componentes e matérias-primas e rápidos ajustes sobre alterações de pedidos. Tal sistema tem nítidas repercussões sobre a organização do território, pois supõe um “sítio” adequado em que as empresas possam localizar-se. Ou seja, há uma forte tendência à aglomeração em torno da planta terminal. Em outra acepção, o just in time é parte de um sistema mais amplo, o “toyotismo”, que introduz, ainda, uma profunda reorganização do trabalho, envolvendo a fábrica como um todo em seus vários departamentos, proporcionando a redução da compartimentação e da organização hierárquica. Considerações Adicionais No plano da produção, não há dúvida de que as tecnologias empregadas com o fito de evitar a queda da produtividade e superar a crise atuam profundamente no âmbito da organização do trabalho, chegando mesmo a alterar a configuração tradicional da fábrica. Esta é a primeira transformação perceptível já no final dos anos 70. Ou seja, a fábrica, como um ambiente fechado entre quatro paredes protegendo o uso de espaços compartimentados (escritório e setor de produção), está dando lugar a complexas unidades produtivas, utilizando amplos espaços - sítios - permitindo a recomposição comum de vários processos produtivos. A nova “fábrica” incorpora, contraditoriamente, a grande usina e a “fábrica difusa” à italiana: o trabalhador permanente (um pequeno núcleo) e uma constelação de trabalhadores temporários ou secundários. Esse objetivo, que é o móvel dos sistemas de produção flexível, só pode funcionar passando por cima da organização sindical. Os dados evidenciam que tais sistemas buscam as periferias nacionais, áreas onde o poder de luta

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e organização dos trabalhadores é débil ou onde a legislação do Estado é permissiva ou omissa em relação às práticas de flexibilidade. As desigualdades sociais tampouco parecem reduzir-se com o novo sistema de produção. As novas tecnologias requerem mão-de-obra altamente qualificada e polivalente, mas também necessitam de grande exército de trabalhadores não-especializados, nas condições já descritas, geralmente compostos de imigrantes, minorias raciais, jovens e mulheres. O desenvolvimento científico-tecnológico, com tendência à aceleração, impõe-se às diferentes economias. As reflexões que têm de ser feitas devem, entretanto, ser levadas em conta ao se pensar em incentivar, nos países “periféricos”, práticas em curso nos países “centrais”. Pelo visto, as novas tecnologias, que têm como um de seus objetivos centrais flexibilizar a produção e o uso da força de trabalho, não constituem uma fórmula mágica para resolver problemas que se colocam no plano social e territorial, pois a experiência aponta mais para as desigualdades. Esta constatação é válida para o Brasil, quando se propala a pretensão de estimular a criação de centros de alta tecnologia, contando-se com isso deslocar a indústria das grandes metrópoles para centros “periféricos” menores e alcançar, desse modo, um desenvolvimento regional mais equilibrado. Tal estratégia não pode deixar de considerar, por outro lado, que, no Brasil, os complexos industriais pesados, como os pólos de desenvolvimento - ao contrário do que acontece nos paises “centrais” - cumprirão ainda um significativo papel para a acumulação. Deve ser lembrado, também, que uma política regional baseada em tecnopólos/PMEs envolve um conjunto de condições que não estão presentes em qualquer cidade ou região. Isso porque a lógica que permite o surgimento de complexos técnico-cientificos não é a do desenvolvimento espacial, mas a da concentração de fatores de produção de ordem intelectual. (Adaptado de TAVARES, H. M. Inovações tecnológicas e suas implicações. In: PIQUET, R.; RIBEIRO, A. C. T. (Org.). Brasil, território da desigualdade: descaminhos da modernização. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1991)

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TEXTO 3 O QUE É TERCEIRIZAÇÃO

Com a terceirização (outsourcing total) redefine-se o papel da fábrica, abandonam-se os sistemas mais complexos. Dá-se preferência à administração dos contratos com os fornecedores, obtendo-se redução de custos fixos e a melhora da qualidade. A terceirização está relacionada com a qualidade, a competitividade e a produtividade. Com a terceirização, a empresa concentra-se nos seu produto estratégico, naquilo que ela é capaz de fazer melhor, com competitividade e maior produtividade. As tarefas secundárias e auxiliares são feitas por empresas que se especializaram de maneira mais racional e com um custo menor. A terceirização acontece principalmente no chão da fábrica, dando prioridade às áreas de apoio básico à produção, ou seja, limpeza, segurança, alimentação, manutenção predial, transporte, apoio jurídico, assistência social, recepção, comunicação etc. Há setores econômicos que já estão terceirizando parcelas importantes do próprio setor produtivo direto. A terceirização é a primeira fase de um estágio hiperavançado do novo modo de produção capitalista. Nele, o fabricante tradicional abandona suas linhas industriais próprias em favor de fornecedores mais preparados em termos de custos. A primeira fase da terceirização - outsourcing - é superada por uma segunda fase - o “global sourcing” ou busca de fornecedores em outros países, principalmente nos mais pobres. A empresa passa a gerenciar a qualidade da produção comprada de terceiro, elaborar o marketing e cuidar da logística de distribuição. Torna-se, na prática, uma grande empresa de serviços, mesmo que conserve algumas operações industriais. Esse é um dos efeitos da globalização aplicada à microeconomia. Alguns objetivos da terceirização Redução de despesas Reduzir despesas com encargos sociais que hoje chegam quase a duplicar o valor pago em salários. Conseqüentemente, diluir o valor agregado por diversos clientes. Uma grande empresa, por exemplo uma montadora de veículos, tem que se organizar dentro de uma imensa estrutura para atender às atividades do dia-adia, como alimentação dos empregados, serviço médico-odontológico, manutenção e limpeza, serviços de segurança, assistência social, conservação de máquinas e veículos, transporte etc., ou seja, um leque de atividades que não faz parte da atividade central e estratégica: montar carros. Essas atividades podem e devem ser transferidas a terceiros, com grandes ganhos de produtividade e qualidade e redução de custos. Uma análise crítica da estrutura organízacional coloca a questão ʻo que os outros podem fazer melhor por nósʼ em contraposição a o ʻo que podemos fazerʼ. A resposta pode ser, em muitos casos, ʻo que os outros farão melhor e mais baratoʼ.

Mudanças organizacionais Com a terceirização introduzem-se novos métodos de organização e gerenciamento da mão-de-obra.

Racionalização produtiva Define-se o “foco” de atuação da empresa, racionalizando o sistema produtivo, abandonando tudo aquilo que não é estratégico. A fábrica torna-se menos complexa, mais enxuta e uma estrutura mais dinâmica. Especialização flexível A empresa “produtora” algumas vezes fica apenas administrando a relação entre fornecedor, produção e mercado. Nesse caso, a empresa não produz e consegue redução de custos e maior qualidade dentro de um processo que se chama de “especialização flexível”. Quebra do movimento sindical Um importante objetivo da terceirização que não é especificado publicamente pelos empresários é a quebra do movimento sindical no trabalho de organização e na tomada de consciência do conjunto dos trabalhadores. Os problemas seriam resolvidos internamente através da parceria, de uma maior massa crítica e não haveria necessidade da “ação sindical”, coisa considerada estranha à fábrica. “Outsourcing” no mundo As relações entre fornecedores, produção e mercado diferenciam-se profundamente entre países e entre setores produtivos com diferentes estratégias e modelo de produção e racionalização. As relações entre quem executa o trabalho (ser humano ou máquina), quem controla o trabalho (líder, trabalhador, cliente) e como o trabalho é executado (linha de montagem, produção em escala etc.) são questões fundamentais para entender os diferentes modelos de produção e organização. As empresas dos países industrializados buscam o “outsourcing” para incorporar tecnologia. Vão atrás de fornecedores mais capazes, especialistas. Vejamos alguns exemplos:

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Na Europa e nos Estados Unidos, a terceirização já atingiu um estágio bastante avançado. Em nível mundial, a terceirização tem outros nomes como divisionalização, formação de unidades de negócio, descentralização, focalização, especialização flexível etc. A “partnership” (parceria) entre comércio e a indústria está sendo feita em grande profundidade nos Estados Unidos. Magazines como Wall-Mart e K-Mart, comercializavam alimentos, também prontos, que eram vendidos mais por supermercados. Hoje, com o estabelecimento da parceria os magazines trabalham em contato direto com os consumidores. O magazine trabalha com estoque quase zero. O estabelecimento da parceria só foi possível por causa da total informatização. Nos Estudos Unidos já surge uma nova onda chamada de “Global Sourcing” ou a busca de fornecedores em outros países. Algumas grandes empresas como Kodak, Coca-Cola, Exxon e Shell são exemplos deste comportamento. Na Ásia, os japoneses trabalham na política de terceirização como blocos de parceiros. A Toyota, por exemplo, terceirizou serviços para 168 empresas. Taiwan é uma economia grande na área de “outsourcing”. O que acontece é que todos os países fazem “outsourcing” para Taiwan - por exemplo, parafusos, porcas, plantas, componentes eletrônicos etc. não são feitos em Taiwan. O “milagre de Taiwan”, que não é falado, talvez tenha superado o alemão. Taiwan não tem quase nada, nem recursos naturais, mas o mundo trabalha para Taiwan. Na América Latina, a criação do Mercosul é um grande passo para o incentivo do processo de terceirização. É quase certo que centenas de empresas brasileiras e argentinas vão reestruturar suas fontes de suprimentos buscando fornecedores além-fronteiras. Muitas empresas brasileiras passrão a fornecer para argentinos e vice-versa. (Extraído de MARTINS, Heloísa de S. e RAMALHO, José R.. Terceirização: Diversidade e negociação no mundo do trabalho. Editora Hucitec/CEDI/NETS. São Paulo, 1994.)

TEXTO 4 Nissan inventa o automóvel à la carte “- Gostaria de comprar um novo modelo do glória em azul metálico, cinco portas, com ar condicionado e sistema de auxílio à navegação. Qual será o prazo? - Um momentinho por favor, vou enviar os dados do seu pedido ao fabricante. Quinze segundos mais tarde ... - Cavalheiro, seu carro será montado na fábrica de Tochigui, ao dia 20 deste mês e será entregue, em domicílio cinco dias depois, ou seja, no dia 25.” O sistema Answer, que possibilita um diálogo assim, já está operando em todas as concessionárias Nissan desde agosto de 1991. Como seu nome sugere, é um sistema de informática de ponta que coordena a produção e a venda, e o primeiro do gênero que permite dar ao cliente o prazo exato. Se se pode destinar aos clientes a maioria dos carros fabricados a cada dia, isso significa que a fábrica produz carros “já comprados”, e que a fabricação se aproxima de uma produção segundo a demanda. Segundo T.Hirano, citado em Le Courrier Internacional, de 29/8/1991. (Beckouche, Pierre. Indústria um só mundo. Ed Ática)

TEXTO 5 A TECNOLOGIA E A ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO INDUSTRIAL MUNDIAL As Novas Estratégias de Localização Industrial no Espaço-mundo Até o final da década de 50 era possível estabelecer uma fronteira bem definida entre as nações, no tocante ao grau de desenvolvimento e sua posição na economia mundial. Os países desenvolvidos eram aqueles que tinham suas economias fundamentadas na indústria e os subdesenvolvidos eram os de base primária. Com a internacionalização da produção e o surgimento da industrialização em países subdesenvolvidos deu-se a desconcentração geográfica da indústria, fato que originou um novo arranjo da DIT. Como foi possível descentralizar a indústria sem desconcentrar o desenvolvimento? Primeiramente, a desconcentração industrial foi seletiva pois transferiu para o Terceiro Mundo basicamente os setores industriais mais defasados tecnologicamente e, em muitos casos, com elevados gastos com matérias-primas, energia e emprego de volumosa mão-de-obra. Enquanto isso, permaneceram concentrados nos países desenvolvidos, as indústrias de alta tecnologia e os setores estratégicos das empresas tais como o planejamento, pesquisa e a gestão. Para se ter uma idéia, mesmo setores mais desconcentrados como o automobilístico e o farmacêutico ainda têm 80% de sua produção nos países centrais, ao passo que em setores mais modernos como o de informática a proporção

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ultrapassa a casa dos 90%. Por outro lado, metade da produção mundial de aço, 55% da de alumínio, 40% da de papel e 80% da de fibras de algodão, tem origem nos países subdesenvolvidos. Mesmo quando os países periféricos participam da produção de setores de média e alta tecnologia, como o caso dos automóveis e produtos eletrônicos, essa participação, na maioria dos casos não demonstra um avanço do nível tecnológico nacional, pois, como sabemos, a fabricação é feita por filiais de empresas transnacionais aí instaladas. Muitas vezes cabe ao país “produtor” o mero papel de montador das peças importadas, sem qualquer acesso à tecnologia do produto. Apesar disso, a fase inicial da mundialização da economia em que a abertura de filiais nos países do Terceiro Mundo estava restrita aos setores mais poluidores, de uso intensivo de mão-de-obra e/ou matéria-prima e energia, começa a ser superada. Hoje, a Divisão Internacional do Trabalho adquire uma inédita complexidade, em função das modernas estratégias de produção das multi nacionais. Tais empresas, são capazes atualmente de integrar a produção de suas diferentes unidades e fornecedores espalhados pelo planeta, de maneira que seu produto final seja o resultado da montagem de componentes originários de dezenas de países diferentes, sempre considerando o melhor binômio custo-qualidade possível. Normalmente, os componentes mais sofisticados são fabricados nos países desenvolvidos, porém é cada vez mais comum sua produção em países da chamada “periferia privilegiada” do capitalismo (Coréia do Sul, Taiwan, Brasil, México, etc.). Assim, observa-se que, com o processo de globalização da economia mundial, no bojo da chamada Revolução Técnicocientífica, a tecnologia passa a ser um aspecto fundamental a ser considerado, dentro da estratégia locacional das corporações transnacionais. A Tecnologia da Informação e a Dispersão Industrial Naturalmente, toda essa integração mundial da produção não seria possível sem o desenvolvimento da tecnologia no campo das comunicações ou da telemática (infovias, fax, satélites, emprego de fibras óticas na telefonia internacional, etc.). É ela que, ao possibilitar a comunicação instantânea, viabiliza novas formas de gestão do território e a formação de redes que articulam a produção das empresas globais. Porém, a influência do desenvolvimento das comunicações e dos transportes sobre a distribuição das indústrias no espaço, não se faz sentir apenas em uma escala global, mas também na nacional ou mesmo regional. Desde a primeira Revolução Industrial, as unidades fabris procuram localizar-se em regiões que congreguem simultaneamente um conjunto de elementos inerentes à produção tais como: mão-de-obra, mercado consumidor, matéria-prima, infra-estrutura (energia, transportes, comunicações, etc.). fornecedores, etc. São as denominadas economias de aglomeração. Como essas vantagens só são encontradas em conjunto em poucas áreas, originaram as grandes concentrações industriais, que materializam-se, especialmente, sob a forma das grandes metrópoles e megalópoles. No entanto, a continuidade desse processo gerou uma concentração excessiva que começou a trazer inúmeros problemas para os empresários. Podemos citar: o encarecimento dos terrenos nas áreas metropolitanas, aliada à dificuldade de se obter espaço para ampliação das fábricas; aumento da organização sindical, tendendo a encarecer o custo da mão-de-obra e a provocar paralisações da produção; congestionamento da rede de transportes no interior da metrópole, dificultando os fluxos de entrada e saída na empresa; crescentes pressões de controle do meio-ambiente; impostos municipais cada vez mais caros como forma de sustentar a complexa infra-estrutura dessas áreas. Chamamos esse conjunto de problemas de fatores que provocam as deseconomias de aglomeração. Essas deseconomias, aliadas à já citada evolução dos transportes e das comunicações, vem causando uma dispersão das indústrias no espaço, ao contrário da concentração existente anteriormente. Percebe-se dentro desse processo, uma interessante mudança na estratégia de localização das empresas, na medida em que a tecnologia informacional, viabiliza a separação física entre administração e produção. Os setores estratégicos das empresas tais como, gerência, pesquisa e marketing continuam nas grande metrópoles. Isto porque eles necessitam de toda sorte de informações e conexões com espaços mundiais presentes nessas áreas. As unidades produtivas, cada vez mais automatizadas, necessitam de quantidades cada vez menores de matérias-primas, energia, mão-de-obra e mesmo de espaço. Dessa forma elas podem se dispersar em áreas mais distantes das grandes aglomerações. No caso específico da indústria de alta tecnologia, essa dispersão vem dando origem a uma nova tendência que representa a dimensão espacial da integração entre ciência e produção característica da Revolução Técnico-Científica: os pólos tecnológicos ou tecnopólos. Eles se desenvolvem em cidades, geralmente de pequeno porte, onde encontramos universidades, laboratórios e centros de pesquisa de tecnologia de ponta, privados e estatais, que fornecem os principais insumos para as modernas indústrias aí instaladas: tecnologia e mão-de-obra altamente qualificada.

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TEXTO 6 KEYNES E OS KEYNESIANOS A crise atual traz à baila ideias intervencionistas do economista inglês John Maynard Keynes, que, diante da depressão dos anos 30, se tornou crítico da Teoria Econômica Neoclássica, sustentáculo do pensamento liberal tradicional exposto por autores do calibre de Adam Smith, Ludwig von Mises, Friedrich Hayek e Milton Friedman. Muitos analistas, pessimistas com os rumos da economia, hoje caracterizada pelo predomínio do Capitalismo e pela globalização dos mercados, parecem prever novos tempos em que regimes econômicos caminhariam no sentido da socialização dos meios de produção e do estreitamento do comércio internacional. Fazem-no buscando respaldo intelectual em Keynes, como se fosse um inimigo declarado do capitalismo e do livre comércio. Convém, portanto, para melhor entendimento da questão, repassar alguns tópicos do pensamento econômico dos tempos em que foi escrita a famosa obra do mestre de Cambridge, "Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda": Antes da publicação da "Teoria Geral" de Keynes, em 1936, prevalecia no corpo da doutrina econômica a ideia de que a "mão invisível" de Smith era bastante para resolver, não só questões de ajustamentos setoriais, mas também problemas de recessão. De início, acreditava-se que a "Lei de Say", segundo a qual "a oferta cria sua própria demanda", vigorava sempre. Mais tarde, diante da constatação da existência de ciclos de recessão e prosperidade (geralmente causados, é verdade, por imperícia dos governantes), a Teoria Neoclássica passou a postular que, mesmo diante de uma queda da demanda global, bastaria a existência de plena flexibilidade de preços e salários para que os mercados se autocorrigissem, evitando males de uma depressão. A grande "sacada" de Keynes foi perceber que o bom funcionamento do regime capitalista depende de um fator até então muito pouco lembrado nas construções teóricas: a fundamental confiança entre os agentes econômicos. Instalada uma crise generalizada de confiança num momento ruim da economia - sem que se discuta o que a originou a hipótese de flexibilidade de preços e salários seria insuficiente para garantir o retorno à normalidade, já que os mercados de moeda e crédito deixariam de funcionar adequadamente. Emissões primárias de base monetária comandariam um menor estoque de moeda, pela queda dos multiplicadores bancários, e o estoque de moeda existente comandaria uma menor demanda agregada, pela queda da velocidade de circulação monetária. Em outras palavras, bancos, indivíduos e empresas disporiam de recursos financeiros, mas não os movimentariam na velocidade desejada. Com isso, estaria configurada uma "armadilha da liquidez" (liquidity trap), modernamente chamada de "empoçamento" da moeda e do crédito, que obrigaria o governo a agir do lado das despesas públicas para restabelecer um nível razoável de atividade econômica. Neste ponto podemos introduzir a crítica de Milton Friedman, no sentido de que não seria necessário o aumento do dispêndio público para estimular a demanda agregada, bastando para tanto que se emitisse moeda até a desobstrução dos canais entupidos e que se reduzisse a carga tributária sobre indivíduos e empresas. Mas, ainda assim, permaneceriam válidos os pressupostos da política fiscal compensatória de Keynes que, lastreada numa bem maior propensão a gastar do setor público em períodos de crise de confiança, faz prever significativo acréscimo na demanda quando recursos são transferidos da população para as agências governamentais gastadoras. Se Keynes e sua obra têm méritos indiscutíveis, o mesmo não pode ser dito de muitos de seus seguidores e dos que se apropriam e distorcem suas ideias. Duas categorias de "keynesianos" aqui se destacam: os que apontam falhas no funcionamento dos mercados para defender o ideário socialista e a classe de políticos e governantes que, sedenta de poder, procura respaldar-se no rationale oferecido pelo mestre inglês para justificar despesas direcionadas a grupos de interesse, empregar protegidos e criar organismos públicos geradores de "bons negócios". Pouco antes de sua morte, Lord Keynes dirigiu-se ao ultraliberal Hayek demonstrando abominar o credo socialista. Sua grande contribuição à Teoria Econômica foi feita com o intuito de fortalecer o capitalismo, corrigindo, com medidas de caráter temporário, falhas do funcionamento dos mercados magnificadas em momentos de crise de confiança. Se vivo fosse, certamente estaria feliz com seu retorno às manchetes, mas amargurado com o mau uso que fazem de seus ensinamentos. (NOVAES, Rubem de Freitas. Publicado em O Globo, 06/03/2009)

TEXTO 7 ENTENDA A CRISE FINANCEIRA QUE ATINGE A ECONOMIA DOS EUA A crise no mercado hipotecário dos EUA é uma decorrência da crise imobiliária pela qual passa o país, e deu origem, por sua vez, a uma crise mais ampla, no mercado de crédito de modo geral. O principal segmento afetado, que deu origem ao atual estado de coisas, foi o de hipotecas chamadas de "subprime", que embutem um risco maior de inadimplência. O mercado imobiliário americano passou por uma fase de expansão acelerada logo depois da crise das empresas "pontocom", em 2001. Os juros do Federal Reserve (Fed, o BC americano) vieram caindo para que a economia se recuperasse, e o setor imobiliário se aproveitou desse momento de juros baixos. A demanda por imóveis cresceu, devido às taxas baixas de juros nos financiamentos imobiliários e nas hipotecas. Em 2003, por exemplo, os juros do Fed chegaram a cair para 1% ao ano.

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Em 2005, o "boom" no mercado imobiliário já estava avançado; comprar uma casa (ou mais de uma) tornou-se um bom negócio, na expectativa de que a valorização dos imóveis fizesse da nova compra um investimento. Também cresceu a procura por novas hipotecas, a fim de usar o dinheiro do financiamento para quitar dívidas e, também, gastar (mais). As empresas financeiras especializadas no mercado imobiliário, para aproveitar o bom momento do mercado, passaram a atender o segmento "subprime". O cliente "subprime" é um cliente de renda muito baixa, por vezes com histórico de inadimplência e com dificuldade de comprovar renda. Esse empréstimo tem, assim, uma qualidade mais baixa --ou seja, cujo risco de não ser pago é maior, mas oferece uma taxa de retorno mais alta, a fim de compensar esse risco. Em busca de rendimentos maiores, gestores de fundos e bancos compram esses títulos "subprime" das instituições que fizeram o primeiro empréstimo e permitem que uma nova quantia em dinheiro seja emprestada, antes mesmo do primeiro empréstimo ser pago. Também interessado em lucrar, um segundo gestor pode comprar o título adquirido pelo primeiro, e assim por diante, gerando uma cadeia de venda de títulos. Porém, se a ponta (o tomador) não consegue pagar sua dívida inicial, ele dá início a um ciclo de nãorecebimento por parte dos compradores dos títulos. O resultado: todo o mercado passa a ter medo de emprestar e comprar os "subprime", o que termina por gerar uma crise de liquidez (retração de crédito). Após atingir um pico em 2006, os preços dos imóveis, no entanto, passaram a cair: os juros do Fed, que vinham subindo desde 2004, encareceram o crédito e afastaram compradores; com isso, a oferta começa a superar a demanda e desde então o que se viu foi uma espiral descendente no valor dos imóveis. Com os juros altos, o que se temia veio a acontecer: a inadimplência aumentou e o temor de novos calotes fez o crédito sofrer uma desaceleração expressiva no país como um todo, desaquecendo a maior economia do planeta --com menos liquidez (dinheiro disponível), menos se compra, menos as empresas lucram e menos pessoas são contratadas. No mundo da globalização financeira, créditos gerados nos EUA podem ser convertidos em ativos que vão render juros para investidores na Europa e outras partes do mundo, por isso o pessimismo influencia os mercados globais.

Financiadoras

Em setembro do ano passado, o BNP Paribas Investment Partners --divisão do banco francês BNP Paribas-congelou cerca de 2 bilhões de euros dos fundos Parvest Dynamic ABS, o BNP Paribas ABS Euribor e o BNP Paribas ABS Eonia, citando preocupações sobre o setor de crédito 'subprime' (de maior risco) nos EUA. Segundo o banco, os três fundos tiveram suas negociações suspensas por não ser possível avaliá-los com precisão, devido aos problemas no mercado "subprime" americano. Depois dessa medida, o mercado imobiliário passou a reagir em pânico e algumas das principais empresas de financiamento imobiliário passaram a sofrer os efeitos da retração; a American Home Mortgage (AHM), uma das 10 maiores empresa do setor de crédito imobiliário e hipotecas dos EUA, pediu concordata. Outra das principais empresas do setor, a Countrywide Financial, registrou prejuízos decorrentes da crise e foi comprada pelo Bank of America. Bancos como Citigroup, UBS e Bear Stearns têm anunciado perdas bilionários e prejuízos decorrentes da crise. Entre as vítimas mais recentes da crise estão as duas maiores empresas hipotecárias americanas, a Fannie Mae e a Freddie Mac. Consideradas pelo secretário do Tesouro dos EUA, Henry Paulson, "tão grandes e tão importantes em nosso sistema financeiro que a falência de qualquer uma delas provocaria uma enorme turbulência no sistema financeiro de nosso país e no restante do globo", no dia 7 deste mês foi anunciada uma ajuda de até US$ 200 bilhões. As duas empresas possuem quase a metade dos US$ 12 trilhões em empréstimos para a habitação nos EUA; no segundo trimestre, registraram prejuízos de US$ 2,3 bilhões (Fannie Mae) e de US$ 821 milhões (Freddie Mac). Menos sorte teve o Lehman Brothers: o governo não disponibilizou ajuda como a que foi destinada às duas hipotecárias. O banco previu na semana passada um prejuízo de US$ 3,9 bilhões e chegou a anunciar uma reestruturação. Antes disso, o banco já havia mantido conversas com o KDB (Banco de Desenvolvimento da Coréia do Sul, na sigla em inglês) em busca de vender uma parte sua, mas a negociação terminou sem acordo. O Bank of America e o Barclays também recuaram, depois que ficou claro que o governo não iria dar suporte à compra do Lehman. Restou ao banco entregar à Corte de Falências do Distrito Sul de Nova York um pedido de proteção sob o "Capítulo 11", capítulo da legislação americana que regulamenta falências e concordatas. Combate Como medida emergencial para evitar uma desaceleração ainda maior da economia --o que faz crescer o medo que o EUA caiam em recessão, já que 70% do PIB americano é movido pelo consumo--, o presidente americano, George W. Bush, sancionou em fevereiro um pacote de estímulo que incluiu o envio de cheques de restituição de impostos a milhões de norte-americanos. O pacote estipulou uma restituição de US$ 600 para cada contribuinte com renda anual de até US$ 75 mil; e US $ 1.200 para casais com renda até US$ 150 mil, além de US$ 300 adicionais por filho. Quem não paga imposto de renda, mas recebe o teto de US$ 3 mil anuais, teve direito a cheques de US$ 300. (Fonte: Folha Online postado em 15/09/2008 - 11h35)

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