Mauro Cristovam - Master Degree Architecture (Theoretical Subject)

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PROJECTO FINAL DE ARQUITECTURA MAURO CRISTテ天AM

ISCTE-IUL 2010 MESTRADO INTEGRADO EM ARQUITECTURA


VOLUME I VERTENTE TEÓRICA


“OÁSIS” NA PERIFERIA A importância do espaço público no Complexo Habitacional de Nova Oeiras

Trabalho Teórico Elaborado como Requisito Parcial para a Obtenção do Grau de Mestre

Orientadora: Doutora Ana Cristina Fernandes Vaz Milheiro - Professora Auxiliar ISCTE-IUL


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RESUMO Habitar a periferia urbana surge como tema central em Projecto Final de Arquitectura, sendo o Bairro do Alto da Cova da Moura o caso de estudo. O objectivo do trabalho passa numa primeira fase por compreender este território nas suas diversas componentes para, num segundo momento desenvolver estratégias e soluções a nível urbano e arquitectónico. No

seguimento

desta

abordagem,

o

Laboratório

de

CULTURA

ARQUITECTÓNICA

CONTEMPORÂNEA tem como propósito desenvolver este tema através de uma investigação feita pelos alunos resultando na vertente teórica que integra este trabalho final. Os casos de estudo propostos resumem-se a conjuntos habitacionais projectados numa época em que a periferia de Lisboa começava a ganhar forma - as décadas de 50 e 60 do século XX. O Complexo Habitacional de Nova Oeiras, da autoria do arquitecto Luís Cristino da Silva (1896-1976) em colaboração com os arquitectos Pedro Falcão e Cunha e o arquitecto paisagista Gonçalo Ribeiro Teles (1922-), foi a obra escolhida para uma investigação de grupo que permitiu lançar as bases para a definição e desenvolvimento da vertente individual do trabalho teórico. Contextualmente o caso de estudo enquadra-se numa época onde a visão optimista acerca da expansão de Lisboa, apontando no sentido de uma melhoria na qualidade de vida e do habitar. A periferia poderia assim tornar-se o paradigma do conforto, higiene da sociedade da segunda metade do século XX. Este e outros projectos da mesma época caracterizavam-se pela qualidade do planeamento e das construções, na busca do conforto e bem-estar comum, características que apesar do optimismo gerado em torno da periferia urbana não seriam prolongadas nas décadas seguintes. É sobre este território que a partir de um determinado momento se desenvolveu sem planeamento e qualidade, que a escolha do tema individual tenta em última análise reflectir. ii


A investigação individual incide num dos aspectos mais relevantes do conjunto habitacional em questão - o espaço público. Esta opção foi tomada por duas razões: em primeiro lugar pela relevância da envolvente dos blocos habitacionais na composição de todo o conjunto, na conjugação e aplicação dos modelos urbanos tais como a Carta de Atenas (1933), como pela relevância do autor do projecto arquitecto paisagista Gonçalo Ribeiros Teles. O conjunto de mais-valias que este projecto revela, introduz uma quebra na leitura da periferia contemporânea. A segunda razão para esta escolha está associada à possibilidade de, a partir da análise ao espaço público e da vertente paisagista do Complexo Habitacional de Nova Oeiras, reflectir sobre a deterioração, descontinuidade, precariedade e escassez do mesmo na periferia actual. Na origem desta situação estão diversos factores que vão desde a elevada densidade de construção, á massificação das infra-estruturas viárias, ao mau planeamento, factos que resultam numa paisagem urbana desconexa. Do modelo de Cidade Jardim, passando pela Carta de Atenas, até ao regresso as tipologias urbanas como a praça da cidade tradicional, este conjunto habitacional é rico pela diversidade e qualidade paisagista. A investigação aborda todas estas estratégias, bem como todo o processo projectual, tendo em conta outros elementos importantes na composição deste espaço público: a disposição e identificação dos elementos vegetais, o papel do centro comercial, os percursos e sua relação com a envolvente.

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ABSTRACT To inhabit the urban periphery appears as central subject in Projecto Final de Arquitectura, being Cova da Moura neighborhood the case of study. The objective of this final year passes in a first phase for understanding this territory in its diverse components to, in a second moment, develop strategies and solutions at an urban and architectural level. Pursuing this boarding, the Laboratory of CULTURA ARQUITECTÓNICA CONTEMPORÂNEA has intention to develop this subject through an investigation made by the students resulting in the theoretical source that integrates this final work. The considered cases of study are habitation complexes projected at a time where the periphery of Lisbon started to gain form - the decades of 50 and 60 of century XX. The Complexo Habitacional de Nova Oeiras, authorship of architect Luis Cristino da Silva (1896-1976) in collaboration with the architects Pedro Falcão e Cunha and landscape architect Gonçalo Ribeiro Teles (1922-), was the study case chosen for an group work that allowed to launch the bases for the definition and development of the individual one for the theoretical work. Contextually the study case fit in a time where the optimistic vision concerning the expansion of Lisbon pointed to an improvement in the life quality and inhabiting. The periphery could thus become the paradigm of the comfort, hygiene for the society of the second half of the XX century. This and other projects from the same time were characterized for the planning and constructions quality, in search of comfort and common well-being, characteristics that although the optimism generated around the urban periphery wouldn´t be followed at the following decades. The individual work deals with one of the excellent aspects of the habitation complex in question public space. This option was taken by two reasons: in first place for the relevance of the involving one of the habitation buildings and the composition of all the set. The mix and application of urban iv


models such as the Athens Charter (1933), as for the relevance of the author – landscape architect Gonçalo Ribeiros Teles are also valid facts to this theme choice. The set of more-values that this project discloses, introduces a breaking in the reading of the contemporary periphery. The second reason for this choice is associated with the possibility given by the analysis of public space and landscape, to think about the deterioration, discontinuity, precariousness and scarcity of the empty spaces in the current periphery. In the origin of this situation are diverse factors like the high density of construction, the “boom” of road infrastructures, to the bad planning – all facts that result in a disconnected urban landscape. From the City Garden model, passing for the Athens Charter to the o return of traditional urban typologies as the square, this habitation set is rich for the diversity and landscape quality. The inquiry approaches all these strategies, as well as all the project process, having in account other important elements in the composition of this public space: the disposal and identification of the vegetal elements, the relevance of the commercial center, the circulation and its relation with the involving one.

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AGRADECIMENTOS Doutora Ana Cristina Fernandes Vaz Milheiro Arquitecta Ana Lúcia Rosado Silva Barbosa Arquitecto Gonçalo de Sousa Byrne Doutor Paulo Alexandre Tormenta Pinto Doutor José Manuel Fernandes Arquitecto Paisagista Gonçalo Ribeiro Teles Arquitecto João de Sousa Rodolfo Fundação Calouste Gulbenkian

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INTRODUÇÃO

Este trabalho tem por objectivo investigar e compreender a importância do plano paisagista no espaço público da última grande obra do Arquitecto Luís Cristino da Silva – o Complexo Habitacional de Nova Oeiras. O plano urbano da autoria do Arquitecto Pedro Falcão e Cunha e paisagista Gonçalo Ribeiro Teles (1922-) reflectem a qualidade e importância do espaço público integrado num pensamento optimista para a periferia na década de 50 do século XX. A par deste caso de estudo procura-se reflectir sobre a situação actual do território urbano, da desregulamentação á emergência do espaço público de qualidade. Assim, num primeiro momento estabelece-se o ponto de situação actual da periferia, abordando os seus problemas e desafios, num contexto metropolitano. Num segundo momento do trabalho analisa-se o caso de estudo – o plano paisagista e o espaço público de Nova Oeiras. Desta fase fazem parte uma contextualização histórica e arquitectónica enunciando as referências e modelos utilizados. Em seguida uma análise do plano. A metodologia utilizada consistiu no estudo das obras e documentos de referência confortando-as com o caso de estudo. Esta estrutura será acompanhada por um conjunto de esquemas do complexo habitacional produzidos durante a investigação, ilustrando as diversas estruturas paisagistas que compõem o plano. Uma série de considerações críticas acerca de Nova Oeiras e da periferia urbana contemporânea concluirá este trabalho teórico. vii


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ÍNDICE VOLUME I - VERTENTE TEÓRICA RESUMO ABSTRACT AGRADECIMENTOS INTRODUÇÃO ÍNDICE

ii iv vi vii ix

CAPÍTULO 1: 01-07 DA ORGANIZAÇÃO DO TERRITÓRIO Á IMPORTÂNCIA DO ESPAÇO PÚBLICO NA PERIFERIA CONTEMPORÂNEA

1.1 Paisagem periférica: Habitar no limite 1.2 Construído 1.3 Debilidade e Radicalismo do Planeamento Urbano: Motown e Edge Cities 1.4 Espaço Residual CAPÍTULO 2: 08-13 O ESPAÇO PÚBLICO COMO PARADIGMA DA CIDADE NO PÓS SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

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CAPÍTULO 3: 14-19 PRIMEIRA ABORDAGEM A NOVA OEIRAS 3.1 O paisagismo e seus autores 3.2 Dois projectos contemporâneos na expansão de Lisboa nos anos 50 do século XX CAPÍTULO 4: 20-40 O PAISAGISMO COMO ESPAÇO PÚBLICO EM NOVA OEIRAS 4.1 A nova abordagem ecológica 4.2 O “verde” unificador 4.3 O paisagismo no quotidiano 4.4 Referência e Identidade CONCLUSÃO BIBLIOGRAFIA

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41-45 46-51


Capítulo I: Da organização do território á importância do espaço público nas periferias contemporâneas

1.1Paisagem periférica: habitar no limite Habitar a periferia urbana nos dias de hoje é coexistir com uma série de fragmentos. O êxodo rural provocado pela Revolução Industrial no século XIX fez aumentar a necessidade de alojamento na cidade e consequentemente a sua expansão. Estes factos constituíram os alicerces de um novo ciclo na cidade – o território metropolitano. A fixação da população nos centros urbanos a massificação do automóvel e criação de infra-estruturas de transportes provocaram para além da expansão, o surgimento de outros núcleos urbanos em seu redor. Estes centros urbanos são grandes geradores de riqueza e detêm nos dias de hoje grande importância política e económica, superando por vezes a visão de País. O aumento da área urbana deu origem a um vasto território construído e polarizador onde as infraestruturas de mobilidade ditam as linhas do desenvolvimento e a constante mutação urbana constitui um desafio na articulação dos diferentes modelos urbanos. A velocidade com que o ser humano ou o produto se desloca constitui uma das principais preocupações da sociedade actual, tornando-se fundamental para o sector económico a concorrência dos mercados. Perante um cenário construído segundo factores económicos e especulativos à que ter em conta a dimensão social, ao habitar e bemestar estar comum. Através da leitura do território metropolitano constata-se a importância que o espaço público tem na organização urbana. Desde a Ágora da antiguidade clássica, passando pelo passeio público do século 1


XIX, ao continuo ajardinado da Carta de Atenas que o espaço publico representa ideologias, políticas e ambições da sociedade ao longo do tempo. A Área Metropolitana de Lisboa1 constitui o maior centro urbano de Portugal. Um país que apresenta duas realidades e duas velocidades. A primeira estende-se ao longo do litoral de norte a sul, constituindo um contínuo urbano ligada pela ampla infra-estrutura viária. A segunda linha surge no interior do território, pautada pela dispersão e descontinuidade do edificado e pela fraca dinâmica comercial onde a agricultura ainda prolífera como actividade dominante, tendo a implantação nas últimas décadas de instituições de ensino superior gerado algum dinamismo dos núcleos urbanos. A dinâmica e polarização das duas áreas metropolitanas do país – Lisboa e Porto contribuíram para o abandono da actividade agrícola resultando na desertificação do interior português. Habitamos num contínuo construído e no limite de um conjunto de realidades. Os clusters2, as grandes superfícies comerciais, as extensas urbanizações, a complexa rede viária, as resistências rurais e agrícolas – todas fazem parte de um conjunto. Do esquecimento e abandono ao “último grito”, da velocidade á apatia - é este o reflexo da sociedade contemporânea na urbe.

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AML - A Área Metropolitana de Lisboa é uma região que engloba 18 municípios da Grande Lisboa e da Península de Setúbal. É o maior centro populacional do país, com 2 675 000 habitantes (2006), cerca de 25% da população portuguesa e 3% do território nacional. 2

Um cluster, no mundo da indústria, é uma concentração de empresas que se comunicam por possuírem características semelhantes e coabitarem no mesmo local. Elas colaboram entre si e, assim, se tornam mais eficientes.

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1.2 O construído Falar na densidade construtiva das periferias urbanas é falar em confrontos de diferentes realidades e tempos. A composição desequilibrada desta nova urbanidade contrasta com o ritmo e unidade dos elementos da “cidade tradicional” – a rua, a praça o quarteirão. O crescimento deste território substitui a rua da “cidade tradicional” como linha de desenvolvimento e orientação pela infra-estrutura, assumindo um papel fundamental no crescimento urbano. Os grandes sistemas de interfaces e transporte são os mais relevantes, atraindo em seu redor diversas actividades – residenciais, comerciais, etc.

Fig. 1 – Situação de conflito entre habitações unifamiliares e infra-estrutura viária, Lisboa

Fig. 2 – Bairro do Alto da Cova da Moura

Fonte: Luís Boléo, Abril 2009

Fonte: Mauro Cristovam, Fevereiro 2010

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A esta realidade juntamos as pré-existências. Resistências de um passado que persistem apesar da pressão imobiliária. Entre elas podemos enunciar as estruturas agrícolas – hortas urbanas, bairros de construção clandestina e complexos fabris abandonados. A iniciativa privada proporcionou o crescimento metropolitano das últimas décadas, revelando por um lado a oportunidade de investimento no sector, mas por outro a evidente carência de estratégias e acompanhamento por parte do sector público. Factores económicos e a especulação imobiliária potenciaram esse crescimento alterando o modo com nos relacionamos e habitamos. Nos dias de hoje convivemos e socializamos em centros comerciais, vivemos em condomínios fechados. Habitamos numa urbe fisicamente desconexa e socialmente controlada. Dois fenómenos ocorrem na AML3 resultantes de um planeamento e estratégia deficitários. Por um lado, a saída da população da cidade de Lisboa para a periferia onde o preço da habitação é mais baixo, logo mais atractivo, contribuindo também a falta de incentivo ao investimento na recuperação do parque habitacional degradado dos centros históricos. Por outro, nota-se o desinteresse da população e consequente má qualidade dos espaços adjacentes ao edificado nos concelhos periféricos. A este facto acrescenta-se a conotação negativa associada á periferia urbana quer pela falta de qualidade da habitação e espaço envolventes, quer pelas situações de marginalidade e exclusão social.

1.3 Debilidade e Radicalismo do Planeamento Urbano: Motown e Edge Cities Segundo Carlos Garcia Vázquez autor do artigo “Comunidades fechadas, cidades moribundas” o planeamento das cidades nos Estados Unidos da América esteve sempre de mãos dadas com o 3

AML – Área Metropolitana de Lisboa

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mercado onde o principal propósito do cidadão é a busca pessoal do benefício. Nesta tradição a cidade é concebida como um local de negócio e a sua sobrevivência dependerá da sua rentabilidade económica. O caso de Detroit, apelidada de Motown4 é um exemplo da sujeição das cidades ao clima económico. A crise automóvel do fim do século XX e princípio do século XXI abalou profundamente a cidade de Detroit, provocando uma grave crise económico, desempregos e aumentando o nível de pobreza. “The Remains of Detroit” é o título de um conjunto de fotografias publicadas na revista TIME pelo fotógrafo Sean Hemmerle5 (1966-) onde capta o abandono das fábricas de produção automóvel e remete-nos para a fragilidade da cidade na sua diversas dimensões e da sua dependência ao investimento privado. Na década de 80 do século passado surgiu nos Estados Unidos da América um novo fenómeno social e urbano na periferia das cidades. O modelo tardo-capitalista que rege a sociedade norte-americana contribuiu para o desequilíbrio entre pobres e ricos associado a isso a exclusão racial, gerando a desconfiança e rejeição deste modelo por parte de alguns estratos sociais mais favorecidos. Esta impossibilidade de coabitar com diferentes

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Motown ou Motor City. A cidade de Detroit tem a principal fonte de riqueza na automóvel, abrigando a sede mundial da General Motors, Ford Motor Company e da Chrysler, tendo as duas últimas nas cidades de Dearborn (parte de sua região metropolitana) e Auburn Hills, localizada próxima a sua região metropolitana. 5

Sean Hemmerle é um fotógrafo profissional nascido em 1966 no estado do Arizona. Actualmente reside em Brooklyn, Nova Iorque. O seu trabalho fotográfico aparece com regularidade em revistas como a Time, New York, Metropolis e o Columbia Journalism Review. Por duas vezes o seu trabalho foi seleccionado para o prémio Time's Photos of the Year.

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origens sociais, a insegurança, e permeabilidade da regulação urbanística face sector privado, contribuiu para a proliferação de um novo fenómeno urbano - edge cities.6 Este modelo é constituído por núcleos urbanos fechados que incluem todo o tipo de funções e estruturas de uma cidade convencional. O solo mais barato, a segurança, o conforto e o alto desempenho económico são os atractivos destes locais. Esta nova realidade funciona segundo Georges Greanias7 como “governos na sombra” podendo estabelecer as suas próprias regras e leis dentro destes condomínios. Assim sendo os instrumentos de planeamento tradicionais, de regulação e gestão passam dos órgãos públicos para os promotores imobiliários. São fenómenos com este, de estratificação e exclusão, que podem resultar em consequências negativas para os laços sociais das sociedade e na desvalorização da cidadania. 1.4 Espaço Residual A preposição “entre” indica o espaço que separa duas coisas, uma situação intermédia. Estar entre a auto-estrada e o bairro clandestino, a horta urbana e o condomínio de luxo. Na urbanidade contemporânea o objecto, o edifício ou infra-estrutura passou a servir de referência. Na verdade, o vazio entre o construído não passa de um resíduo, não desempenhando nenhuma actividade na vida urbana. 6

Redacção apoiada na visão de Saskia Sassen sobre o modelo Tardo-capitalista que apresenta em The Global City. New York, London, Tokyo, Princeton, Princeton. University Press, 1991. p. 10. Joel Garreau (1941-). Jornalista do Washington Post e autor do Livro Edge City: Life on the New Frontier, onde apelida este fenómeno urbano pela primeira vez.

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Autor do artigo “Shadow Planning is the Way Houston works, for Good – and for Bad”. The architecture and design review of Houston, No. 42, Houston, Rice Design Alliance, 1998.

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Numa época pós-massificação da periferia existe ainda a oportunidade para a criação de estruturas que potenciem a qualidade do habitar. Cabe às gerações actuais e futuras fazer o processo inverso. Estes vazios desafectados permanecem como oportunidade e expectativa como refere Ignasi de SolaMorales8 (1942-2001) na sua reflexão sobre o terrain vague9, onde associa a insegurança e instabilidade da sociedade representados nestes locais. Se podemos considerar este território fundamental no contexto económico também há que atender á emergência da debilidade e falta de qualidade do espaço público como unificador e articulador, como expressão da cidadania e cenário da interacção social.

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Nasceu em 1942 na cidade de Barcelona. Arquitecto e professor universitário catalão. Faleceu em 2001 na cidade de Amesterdão quando integrava o júri do prémio Mies Van Der Rohe. 9

Ignasi de SOLÀ-MORALES aborda a questão do “Terrain Vague” na publicação do livro Territórios. Barcelona: Editorial Gustavo Gili, 2002

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Capítulo 2: O espaço público como paradigma da cidade no Pós Segunda Guerra Mundial

O Complexo Habitacional de Nova Oeiras planeado e construído entre os anos de 1953 e 1974 é o resultado de um novo paradigma urbano e arquitectónico. É o resultado da nova abordagem á cidade e demonstra o importante papel que espaço público desempenha como elemento dinamizador e estruturante na adaptabilidade e conexão entre diferentes modelos urbanos. Este conjunto habitacional é considerado um projecto experimentalista mas sólido e pleno de ensinamentos, onde o “landscape organicistas e curvilíneo fruto das leituras do programa moderno pelo paisagismo anglo-saxónico são modelos que aqui encontramos leitura.”10 O contexto arquitectónico que este projecto está inserido constitui um momento de charneira na definição e no entendimento urbano e arquitectónico. A realização em Portugal do 1º Congresso Nacional de Arquitectura de 1948, promovido pelo Sindicato Nacional dos Arquitectos marcou um primeiro passo na ruptura com a chamada arquitectura do “Estado Novo”11 e na introdução das teorias urbanísticas e arquitectónicas modernas que vigoravam na Europa. 10

Segundo José Manuel Fernandes. “O Bairro de nova Oeiras como espaço urbano, paisagístico e arquitectónico: da construção á recuperação (1955-2007)”. in Encontros de História e Património: 1 - Diálogos em Noites de Verão 2006-07. Oeiras: Câmara Municipal de Oeiras, 2010.

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Estado Novo é o nome do regime político autoritário e corporativista de Estado que vigorou em Portugal durante 41 anos sem interrupção, desde 1933, com a aprovação de uma nova Constituição, até 1974, quando foi derrubado pela Revolução do 25 de Abril. Esta deve ser a terminologia utilizada em referência ao período desde 1940, segundo José Manuel Fernandes pois, “há que tornar operativa, pela neutralidade da referência ao mero facto político.”

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A reconstrução e a crise da habitação nas cidades europeias no pós-guerra tinham proporcionado a materialização das novas reflexões e teorias urbanas, contribuindo para isso a visão funcional da arquitectura defendida por Le Corbusier 12 (1887-1965) e a redacção da Carta de Atenas13 (1933) como “texto definidor dos princípios do urbanismo moderno.”14 Este documento resultante da 4ª conferência dos CIAM15 propunha uma revisão da cidade tradicional estratificada onde o quarteirão construído surge como definidor do vazio. As novas directrizes do planeamento urbano moderno baseavam-se na igualdade e equilíbrio social, na resposta às necessidades humanas através de soluções higienistas. Da visão utópica da Ville Radieuse (1935)16 , poucas foram os casos que se materializaram segundo os princípios da Carta de Atenas, entre eles o planeamento de cidades como Brasília (1957) no Brasil, por

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Charles-Edouard Jeanneret-Gris, mais conhecido pelo pseudónimo de Le Corbusier, (La Chaux-de-Fonds, 6 de Outubro de 1887 — Roquebrune-Cap-Martin, 27 de Agosto de 1965) foi um arquitecto, urbanista e pintor francês de origem suíça. Uma das personagens mais influentes no panorama arquitectónico do movimento moderno.

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A Carta de Atenas é o manifesto urbanístico resultante do IV Congresso Internacional de Arquitectura Moderna (CIAM), realizado em Atenas em 1933.

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FERNANDES, J. M. ARQUITECTOS DO SÉCULO XX – DA TRADIÇÃO Á MODERNIDADE. Casal de Cambra: Caleidoscópio edição e artes gráficas, 2006. P 32

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CIAM - Congressos Internacionais da Arquitectura Moderna, constituíram uma organização e uma série de eventos organizados pelos principais nomes da arquitectura moderna internacional a fim de discutir os rumos a seguir nos vários domínios da arquitectura (Paisagismo, Urbanismo, entre outros). As dez conferências realizaram-se entre 1928 e 1956. Esta 4ª reunião realizou-se em 1932 a bordo de um navio cruzeiros, atravessando o mediterrâneo e tendo a Cidade de Atenas como porto de destino 16

Modelo utópico criado por Le Corbusier para uma cidade com três milhões de habitantes. Assente nos princípios do funcionalismo, propunha um conjunto de 24 torres de 200 metros cada separadas por um vasto

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Lúcio Costa (1902 -1998) ou Chandigarh (1950) na Índia por Le Corbusier. Os espaços verdes estruturantes, a separação funcional das áreas urbanas e a estratificação dos percursos formavam os principais pontos do novo rumo no desenho urbano.

Fig. 3 – Perspectiva desenhada da Ville Radieuse Fonte: Le Corbusier , 1935

Figura 4 – Desenho esquemático do plano para a cidade de Chandigarh Fonte: Le Corbusier e Pierre Jeanneret, 1950

O entendimento da habitação como “máquina de habitar” resultou na optimização e compartimentação segundo um plano funcional e à exploração de novos modos na organização espacial, contribuindo espaço arborizado. Foi apresentada pela primeira vez em 1922 no Salon d´Automne. Da rejeição da sua ideia resultou a Unité d´Habitacion.

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para isso as novas possibilidades construtivas do betão. A libertação do edifício no contacto com o solo através do piloti e a introdução das ruas aéreas representaram um avanço no domínio e estruturação do espaço público. Novos termos como “unidade de habitação” e “zona” passaram a ser correntes no discurso arquitectónico. A definição, escala e proporção do espaço público era agora suplantada pela ideia de igualdade social. Esta resultava agora numa continuidade, sem referências e de usufruto comum. Outro modelo urbano que serve de referência a Nova Oeiras é o relativo às New Towns17. Implementado em Inglaterra este propõem uma abordagem diferente ao espaço público onde, através dos seus processos experimentais, comprovou a importância na criação da centralidade e definição de um núcleo nas zonas urbanas. A implementação deste modelo de baixa densidade tinha como intenções a descentralização e organização da Grande Londres, redistribuindo a classe operária através do estabelecimento de novas cidades com cerca de 40 mil habitantes cada, em redor da capital. Os projectos desenvolvidos como teses passavam por diversas fases – hipóteses, experimentação e verificação, sendo os dados recolhidos em cada experiencia utilizados para futuros planeamento. Em certos aspectos este modelo procurava dar continuidade aos pressupostos da Cidade-Jardim18 na busca de um ambiente pitoresco e na mono-funcionalidade, fazendo uma separação racionalista das funções.

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Modelo urbano criado com o objectivo de dispersar a população em volta dos centros urbanos. Estas cidades desenvolveram-se inicialmente por volta dos anos 40 do século XX em Inglaterra prolongando-se por 30 anos e dividindo-se em 3 gerações diferentes.

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As críticas feitas durante os anos 30 do século XX contribuíram para a revisão do modelo sendo feitas alterações no aumento da densidade construtiva, a diminuição de distâncias e na estruturação da cidade em torno de um centro cívico com vista á integração social e identidade de uma comunidade. Em Portugal “o congresso tinha sagrado as doutrinas que emolduravam a prática da arquitectura moderna e do Estilo Internacional”19

contestando a arquitectura de “tendência nacionalista e

fascizante”20. A função propagandista da arquitectura ao regime ditatorial transformou-se numa actividade artística e técnica ao serviço do povo em que a habitação social e o espaço público eram as bases para a implantação dos novos modelos arquitectónicos e urbanos. As organizações arquitectónicas ICAT (Iniciativas Culturais Arte Técnica) em Lisboa 1946 e ODAM (Organização dos Arquitectos Modernos) Porto em 1948, bem como a revista Arquitectura assumem grande relevância neste período, pois deram a conhecer as obras contemporâneas produzidas pela nova geração de arquitectos europeus. Destas divulgações destaque para papel do Arquitecto Nuno Teotónio Pereira pela divulgação de excertos de Ville Radieuse escrito por Le Corbusier e da versão traduzida da Carta de Atenas. 21 18

Modelo urbano concebido por Ebenezer Howard, no final do século XIX, consistindo em uma comunidade autónoma cercada por um cordão verde num meio-termo entre campo e cidade. A noção de cidade jardim foi apresentada através do livro “To-morrow a Peaceful Path to Real Reform” (1898), mais tarde revista e editado como “Garden Cities of Tomorrow” em 1902. Em 1899 foi fundada a Garden Cities Association cujo objetivo foi o de divulgar o modelo e efetuar a sua construção.

19

TOSTÕES, Ana. (coord.) A Arquitectura Moderna Portuguesa de 1920 – 1970. Lisboa: IPPAR, 2004. P. 31

20

TOSTÕES, Ana. (coord.) A Arquitectura Moderna Portuguesa de 1920 – 1970. Lisboa. IPPAR. 2004. P. 125

21

Segundo Ana Tostões. Realça o “assinalável papel na divulgação da arquitectura moderna”, in “Arquitectura Moderna Portuguesa: os Três Modos”. Arquitectura Moderna Portuguesa 1920 – 1970. P 126

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Surgiram as novas experiencia residências projectadas segundo as teorias do novo modelo “assumindo de um modo ético e ideologicamente convicto que integrava o valor de uma função social” 22

A tradução integral para português da “Carta de Atenas é da autoria de Maria de Lourdes e F. Castro Rodrigues. Publicada em fascículos na revista “Arquitectura “ desde o nº 20 de Fevereiro até nº 31, de Junho de 1949.

22

TOSTÕES, Ana. (coord.) A Arquitectura Moderna Portuguesa de 1920 – 1970. Lisboa. IPPAR. 2004. P 126

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Capítulo 3: Primeira abordagem a Nova Oeiras

3.1 O paisagismo e seus autores O arquitecto Luís Cristino da Silva (1896 -1976) era o responsável pela coordenação e orientação do Complexo Habitacional de Nova Oeiras sendo também a figura de mediação com os donos da obra Sociedade de Nova Oeiras. Apercebendo-se da conquista dos novos modelos urbanísticos europeus do pós-guerra, Cristino da Silva forma uma equipa com jovens mas talentosos arquitectos a fim de projectar um bairro segundo os novos paradigmas modernos.23 Apesar não se conhecer qual a verdadeira intervenção do arquitecto, é facto que Cristino da Silva e o jovem arquitecto Pedro Falcão e Cunha trabalharam em conjunto no plano urbano e no desenho do edificado. Além dos autores referidos, colaboraram no projecto outros arquitectos casos de João Barata Gagliardini Graça, João Lopes Fonseca, Luís Wellenkamp e Luís Guinapo Feronha. O jovem arquitecto paisagista Gonçalo Ribeiro Teles (1922-) em colaboração com Edgar Sampaio Fontes é chamado para concretizar o plano paisagista. Este relata, no primeiro contacto com Cristiano da Silva a desconfiança do mestre nas capacidades de Ribeiro Teles, sentimento de imediato apagado pela capacidade e sensibilidade do jovem no domínio do desenho.24 O plano paisagístico contribuiu para a qualidade do espaço público reflectindo a preocupação no bemestar comum e na relevância do Homem nas opções tomadas. Das intenções gerais fazem parte: a 23

Segundo José Manuel Fernandes em entrevista. FERNANDES, José Manuel. Entrevista por Mauro Cristóvam. Oeiras, Portugal. Junho 2010 24

Segundo o próprio em entrevista. TELES, Gonçalo Ribeiro. Entrevistado por Ana Gonçalves, Délia Paulo, João Leite, Mauro Cristóvam. Lisboa, Portugal. Novembro 2009

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continuidade do espaço público com uma forte componente vegetal arbórea, o lazer e actividades desportivas. Estas premissas reflectiam um discurso optimista para a sociedade, transposto para o desenho urbano e espaço publico de qualidade. Procurava-se um “habitar” ideal no território periférico de uma grande cidade - Lisboa. Licenciado em Engenharia Agrónoma pelo Instituto Superior de Agronomia em 1952,concluindo no mesmo ano o Curso Livre de Arquitectura Paisagista Ribeiro Teles pertenceu a uma primeira geração de arquitectos paisagistas formados pela escola de Francisco Caldeira Cabral (1908 – 1992), entre eles Azevedo Coutinho, Ribeiro Telles, Edgar Fontes, Viana Barreto, Ilídio de Araújo e Álvaro Dentinho, mantendo uma “ forte componente cultural e artística, esta ultima…alimentada pelas aulas de desenho do mestre (arquitecto) Frederico George” 25. Sobre esta nova vaga de arquitectos paisagistas Manuela Raposo Magalhães escreve: A primeira geração manifestava ainda alguma influência romântica, representada pelo modo com a forma do terreno era, em si mesmo, uma componente da composição, pela utilização dos eixos visuais marcados, não ao nível do terreno, como no classicismo, mas através de espaços abertos, contidos entre maciços irregulares de árvores ou arbustos e ainda por alguns significados simbólicos que foram completamente recusados pelo modernismo.26 Um ano após concluir a sua formação Gonçalo Ribeiro Teles íntegra os quadros da Câmara Municipal de Lisboa onde permanece ate 1960. É nessa passagem por esse órgão de administração municipal que 25

MAGALHAES, Manuela Raposo. A arquitectura Paisagista: morfologia e complexidade. Lisboa: Editorial Estampa, 2001. P. 130

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Idem. P.134

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o jovem licenciado, em conjunto com o mestre Caldeira Cabral, tornam se pioneiros ao colaborar como arquitectos paisagista no Plano Director de Lisboa, coordenado pelo Engenheiro Luís Guimarães Lobato (1914-2009) em 1958. As componentes ambientais tais como: o relevo, exposição das vertentes, hidrologia, a vegetação e o zonamento na ocupação do solo fizeram parte da metodologia do plano. 27

3.2 Dois projectos contemporâneos na expansão de Lisboa nos anos 50 do século XX

Os anos 50 do século XX ficam marcados também pela abordagem do paisagismo á escala urbana, nomeadamente com os novos conjuntos habitacionais da expansão de Lisboa. Neste capítulo destaque para política de municipalização dos solos posta em prática por Duarte Pacheco28 (1899-1943) abrindo caminho para operações urbanísticas de grande envergadura, possibilitando novas experiencias no campo da habitação colectiva entre eles os bairros das Estacas (1949-1955) e Olivais Norte (19551959), dois exemplos que apresentam semelhanças no desenho e princípios semelhantes na organização do espaço público. 27

Bidem. P. 130

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Governante português no período do Estado Novo, nascido no ano de 1899 em Loulé e falecido em 1943, teve vários cargos políticos. Foi Presidente da Câmara Municipal de Lisboa em 1928 e nomeado a Ministro das Obras Públicas em 1932. Considerado um politico que contribuiu na modernização do País, reestruturou os serviços dos correios e telecomunicações e revolucionou o sistema rodoviário. Executou obras essenciais na cidade de Lisboa, como o Parque de Monsanto e o Aeroporto, estrada Lisboa-Cascais, a auto-estrada Lisboa-Caxias ou Estádio Nacional entre outros.

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No bairro das Estacas da autoria dos arquitectos Ruy Athouguia (1917- 2006) em colaboração com Sebastião Formosinho Sanchez (1917- 2006) foram atingidos os valores da modernidade. A alteração da implantação inicial de 1945 corresponde á ruptura do modelo tradicional transformando dois quarteirões fechado num único constituído por blocos de habitação isolados e em banda. Neste caso tal como em Nova Oeiras, coube a Gonçalo Ribeiro Teles o plano paisagista. A separação do edificado ao solo permitiu uma continuidade espacial entre o bairro e a envolvente. O equilíbrio e valor plástico do arranjo paisagístico, a subtileza e a demarcação dos espaços de encontro, a circulação e implantação da massa arbórea constituem qualidades e preocupações tidas pelos seus autores.

Fig. 4 – Estudo de implantação do bairro das Estacas

Figura 6 – Plano geral da Urbanização dos Olivais Norte Fonte: Gabinete Técnico da Habitação, 1955

Fonte: arquivo pessoal de Ruy Athouguia

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O bairro dos Olivais Norte constitui outro dos casos inseridos na expansão urbana de Lisboa. O plano urbano contou com a participação dos arquitectos Pedro Falcão e Cunha, um dos intervenientes em Nova Oeiras, Bartolomeu da Costa Cabral (data), João Reis Machado, A. Alves Mendes O arranjo paisagístico e do espaço público ficou a cargo do arquitecto Paisagista Álvaro Ponce Dentinho (data). Tal como Nova Oeiras, este caso integra as premissas da Carta de Atenas. São visíveis as semelhanças no desenho do espaço público de Nova Oeiras nomeadamente na divisão funcional das zonas, na criação de um núcleo central em forma de “raqueta” delimitado por um percurso viário e pedonal que estrutura e liga o bairro á envolvente. A rede de percursos viários e pedonais, revela mais uma vez a separação entre automóvel e peão, resultando numa proposta eficaz na conexão destes com o edificado, aliado a uma composição aparentemente livre (mas consciente e rigorosa) do conjunto arbóreo.

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Capitulo 4: O paisagismo como espaço público em Nova Oeiras

“Paisagem é a figuração da biosfera e resulta da acção complexa do homem e de todos os seres vivos – plantas e animais – em equilíbrio com os factores físicos do ambiente” “A arquitectura paisagista visa ordenar o espaço exterior em relação ao homem”.

Francisco Caldeira Cabral

O desenho paisagista desempenha em Nova Oeiras assume um importante papel pois, através do espaço público, este estrutura conecta e enquadra dois outros elementos fundamentais – Urbanismo e Arquitectura. Através de um conjunto de soluções modela e transforma a paisagem, num contínuo diálogo com o edificado. A paisagem é o objecto para o arquitecto paisagista. Dela fazem parte os ecossistemas existentes e os processos de humanização. O plano desenvolvido pelo arquitecto Gonçalo Ribeiro Teles em colaboração com Edgar Sampaio Fontes aprovado em 1956 “compreendia um vasto espaço central onde surgiam algumas torres integradas numa área onde grupos de pinheiros-mansos e sobreiros envolviam um extenso prado”29.

29

TELES, Gonçalo Ribeiro. “O meu primeiro encontro com o mestre Cristino da Silva” in Catálogo de Exposição – Luis Cristino da Silva Arquitecto. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, Centro de Arte Moderna José Perdigão, 1998. p 149

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Entre elas destacam-se os carvalhos, as oliveiras do paraíso, ulmeiros, choupos brancos, freixos olaias, medronheiros, oliveiras, pinheiros mansos e alfarrobeiras, num total de 790 árvores plantadas. A variação na densidade e estrutura vegetal, os ritmos a definição e demarcação dos diversos espaços, a introdução da arte pública são característicos do plano paisagístico, são factores que enriqueceram o espaço público. O desenho paisagístico desenvolve-se, ao longo do conjunto habitacional em três momentos: 1. Uma estrutura fragmentada e isolada em anel que corresponde ao modelo Cidade-Jardim. 2. Um núcleo central concebido segundo os pressupostos da Carta de Atenas com espaço público contínuo. 3. Um núcleo identitário e agregador que corresponde ao centro cívico e comercial.

Figura 8 – Versão final do plano de Nova Oeiras Fonte: Espólio arquitectónico de Luis Cristino da Silva, Fundação Calouste Gulbenkian, 1962

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4.1 A nova abordagem ecológica A introdução da ecologia permitiu o avanço do paisagismo, sendo que o caso Nova Oeiras resulta de uma primeira abordagem. Esta ciência marca uma mudança na concepção e no entendimento da paisagem, procurando melhorar o relacionamento e organização entre padrões espaciais e os processos ecológicos nas diversas escalas de paisagem, resultando também na interacção de outras áreas como a geografia, sociologia, economia. O planeamento e a organização do território passam assim a ter um fundamento ecológico, de onde resulta uma paisagem natural selvagem e outra organizada e construída pelo Homem. Gonçalo Ribeiro Teles refere a passagem e transposição para Portugal da discussão ocorrida na década de 40 do século XX em Los Angeles, acerca da ecologia da paisagem. Nessa mesma década, no ano de 1942, nasce pela mão do Professor Francisco Caldeira Cabral a Escola de Arquitectura Paisagista, em Lisboa. Esta ia no seguimento da escola de Berlim, na recusa do classicismo como abordagem formal, transpondo para a paisagem uma expressão naturalista assente em pressupostos ecológicos e funcionais. 30 O solo, o relevo, as brisas, as linhas de festo eram alguns dos elementos que o Homem passava agora a conjugar, na criação de uma paisagem equilibrada e sustentável. Como já referido, a função utilitária e ecológica passam a fazer parte dos pressupostos da arquitectura paisagista, rejeitando a reprodução e simbolismo naturalista do paisagismo estático. Seguindo o zonamento, a forma resultaria da função – habitar, trabalhar, recriar-se e circulação. Gonçalo Ribeiro Teles sintetiza este período como a 30

Segundo Manuela Raposo Magalhães in: A arquitectura Paisagista: morfologia e complexidade. Lisboa: Editorial Estampa, 2001.

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transformação da paisagem do “ recreio como actividade social em contraponto ao jardim estático do século XIX”.

31

Os elementos clássicos como os eixos e a simetria são abandonados. A vegetação

espontânea, utilizada a segundo as regras da adequação ecológica, cria uma atmosfera naturalista equivalente á imagem do que se passa na natureza, em que varias espécies se misturam, dependendo das características ecológicas do local. A transposição do debate acerca da ecologia para Portugal permitiu a aplicação destes novos conceitos á paisagem. Nova Oeiras resultou numa primeira resposta á questão ecológica, adaptada á escala do projecto e planeada segundo um suporte físico e biológico - um avanço na introdução e adaptação da ecologia na paisagem, ficando á margem do paradoxo existente nas primeiras concepções da Carta de Antenas onde se defendia o tema da higiene e exposição solar no planeamento, por outro lado a falta de compreensão da paisagem como um organismo de suporte de vida. O plano foi desenvolvido segundo um fundamento ecológico distinguindo os sistemas húmidos superfícies concavas, de retenção das águas apropriadas para o arvoredo e espaços de recriação; superfícies convexas – sistemas secos, de expansão ideais para o edificado. A esta abordagem acrescenta-se a dinamização e diversidade do sistema de vida composto por clareira, mata e edificado onde resultam os percursos.32

31

TELES, Gonçalo Ribeiro. Entrevistado por Ana Gonçalves, Délia Paulo, João Leite, Mauro Cristóvam. Lisboa, Portugal. Novembro 2009.

32

Segundo Gonçalo Ribeiro Teles. Entrevistado por Ana Gonçalves, Délia Paulo, João Leite, Mauro Cristóvam. Lisboa, Portugal. Novembro 2009.

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4.2 O “verde” unificador A envolvente ao núcleo central do complexo habitacional de Nova Oeiras apresenta uma primeira estrutura “verde”. Neste caso o desenho paisagístico tem por objectivo articular e criar unidade entre dois modelos urbanos distintos: Cidade-Jardim e Carta de Atenas. Através de uma estrutura arbórea e ajardinada estabelece-se uma uniformização e continuidade formal. Por um lado uma estrutura fragmentada de escala e densidade baixa composta por habitações unifamiliares, por outro, um núcleo central definido por um espaço público contínuo e blocos de habitação isolados. O plano de Gonçalo Ribeiro Teles compreendia para esta área a plantação de pinheiros mansos, ulmeiros e choupos, em regime de sequeiro e ao longo das áreas disponíveis, “constituindo um dos elementos fundamentais do conjunto, pois organizam e estruturam todo o espaço urbano implementado”. 33

33

Segundo José Manuel Fernandes em FERNANDES, José Manuel. “O Bairro de nova Oeiras como espaço urbano, paisagístico e arquitectónico: da construção á recuperação (1955-2007)”. in Encontros de História e Património: 1 - Diálogos em Noites de Verão 2006-07. Oeiras: Câmara Municipal de Oeiras, 2010. P. 136

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Este sistema paisagístico integra: 1. Um cordão arborizado e ajardinado, linear e continuo que se estende ao longo da Alameda Conde de Oeiras dando continuidade aos “espaços verdes” das moradias unifamiliares. Acompanhando este sistema um passeio público.

Figura 14 – Cordão arborizado/ajardinado e Orla arbustiva do Núcleo Central Fonte: Mauro Cristovam, Junho 2010

Fig. 14 – Esquema sobre o regime de ventos em Nova Oeiras da autoria de Gonçalo Ribeiro Teles

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2. Um conjunto arbóreo na orla do núcleo central ou “raqueta” conclui o continuum “verde”. Uma “orla de plantação arbustiva, em transição para os abertos em clareira…e ainda servidos de percursos pedonais deambulatórios” proporcionando também a protecção dos ventos.

“Criar uma mais eficiente cortina protectora contra os fortes ventos N. e N.E. reinantes neste local, de forma a eliminar, quanto possível, o desagradável efeito desse incomodo…” Que zonas de verdura isole, em princípio, o leito das vias de grande circulação” 34

A Avenida Conde de Oeiras surge como suporte deste sistema paisagístico: cordão arbóreo, passeio público e via automóvel, funcionando como “espinha dorsal” do bairro ligando-o á envolvente. Esta estrutura viária desmembra-se em diversos acessos aos blocos de habitação - torres e bandas culminando com locais de estacionamento automóvel.

34

Núcleo Residencial “Nova Oeiras” Zona Norte – habitação Colectiva. Memória descritiva e explicativa

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Figura 18 – Esquema geral do continuo ajardinado da Alameda Conde de Oeiras e o sistema de Orla no Núcleo Central Fonte: Mauro Cristovam, Junho 2010

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Alem da serventia á habitação esta via permite o acesso directo ao centro cívico e comercial através de dois arruamentos. Um primeiro acesso contorna a Norte e Este o centro cívico e comercial. O acesso Sul conecta a alameda ao estacionamento do pátio a Oeste.

4.3 O paisagismo no quotidiano O paisagismo no núcleo central do complexo habitacional de Nova Oeiras baseia-se nos princípios da Carta de Atenas. Apesar de manter as principais características, tais como o zonamento do espaço, a hierarquização dos percursos, o continuo vegetal, o plano de Nova Oeiras resulta da apreensão e aplicação filtrada deste modelo urbano. Esta revisão resulta na integração de uma estrutura relevante e demarcada na paisagem contínua – um centro cívico e comercial, no interior do núcleo central. Alem da introdução das premissas racionalistas, o plano paisagístico inova, revelando uma abordagem no domínio da ecologia, na compreensão e estruturação da paisagem como um organismo vivo em que “os espaços paisagísticos formam intencionalmente o espaço público geral do bairro.” 35

35

Segundo José Manuel Fernandes. “O Bairro de nova Oeiras como espaço urbano, paisagístico e arquitectónico: da construção á recuperação (1955-2007) ”. in Encontros de História e Património: 1 - Diálogos em Noites de Verão 2006-07. Oeiras: Câmara Municipal de Oeiras, 2010. P 136

27


As intenções para o núcleo central de Nova Oeiras eram assim descritas por Gonçalo Ribeiro Teles: “O centro de composição será ocupado por uma vasta zona verde que constituirá um belo logradouro colectivo, atravessado em todos os sentidos por arruamentos de parques rodeados por maciços de frondosa vegetação e de amplas placas relvadas. Também no mesmo parque serão localizadas algumas instalações desportivas…”36 É no núcleo central que o espaço público assume um papel fundamental no conjunto. O desenho paisagista integra-se de maneira subtil no contínuo da paisagem. Este estrutura e agrega a separação funcional estabelecida e Nova Oeiras – o zonamento - dividindo-se por diversos sistemas: orla, mata e clareira.

No inicio de La Charte d'Athènes lê-se: “A Carta de Atenas abre todas as portas ao urbanismo dos tempos modernos (…) ela é uma resposta ao caos actual das cidades”. “As chaves do urbanismo encontram-se nas quatro funções: habitar, trabalhar, recriação e circulação.” 37

Na memória descritiva de Nova Oeiras é referida a preocupação na distribuição das zonas destinadas á habitação e aos espaços livres, de forma a evitar a monotonia e repetição do edificado. Os conjuntos 36

Núcleo Residencial “Nova Oeiras” Zona Norte – habitação Colectiva. Memória descritiva e explicativa

37

CIAM [Congresso Internacional de Arquitectura Moderna]. “A Carta de Atenas”. Tradução Maria de Lourdes e F. Castro Rodrigues. Arquitectura. 1948. Publicada em fascículos na revista “Arquitectura “ desde o nº 20 de Fevereiro até nº 31, de Junho de 1949.

28


habitacionais correspondem a 7% da área total do núcleo central implantando-se próximos do limite deste. Estes estão agrupados a Norte e Oeste por um conjunto de quatro torres, a Este duas torres e a Sul três blocos em banda. Ao centro do núcleo central e assumindo um papel importante no conjunto encontra-se a zona comercial, habitacional, cívica e a estalagem, distribuídos dois edifícios em forma de “U”. Uma sala de espectáculos que constava no plano acabou por não ser edificada. Os locais de recriação alternam entre zonas de plantação arbustiva, clareira, pátios ajardinados e os campos de ténis. A igreja, o núcleo paroquial e a escola ocupam uma área limítrofe do núcleo central.

Fig. 19 – Esquema geral das zonas ajardinadas, sistemas de Clareira e Mata Fonte: Mauro Cristovam, Junho 2010

29


“É preciso exigir que os bairros de habitação ocupem de ora avante no espaço urbano as melhores localizações, tirando partido da topografia, levando em conta o clima, dispondo da exposição ao sol mais favorável…” 38

O tratamento e disposição do edificado obedecem às condições atrás citadas, sendo referido por Gonçalo Ribeiro Teles a preocupação de estabelecer nas partes concavas do terreno um logradouro comum e nas convexas a habitação. No caso dos edifícios em torre é visível a preocupação de orientar as zonas comuns e privadas a Sul localizando serviços e acessos a Norte. Os edifícios em banda surgem orientados a nascente – ponte, permitindo uma boa exposição solar das células de habitação.

“É preciso exigir: que implantem a grande distância umas das outras as construções, libertem o solo em favor de amplas superfícies verdes.” 39

Á semelhança da Ville Radieuse, a introdução do piloti e o surgimento do edifício isolado procura em Nova Oeiras, criar uma continuidade espacial. Substitui-se a noção de quarteirão da cidade histórica – edifício e espaço público por uma estruturação do “habitar” em vários níveis com a criação da rua elevada em galeria como se verifica no centro comercial. O nível térreo de usufruto comum, é o local 38

Idem

39

Bidem

30


onde se desenrolam as actividades quotidianas. O cenário para as relações sociais, como defende a Carta de Atenas - para o lazer, saúde e bem-estar. Assim, o “ritmo acelerado do local de trabalho era complementado com o descanso reconfortante destes espaços livres no meio de elementos naturais” 40 e que novas superfícies verdes dispusessem de jardins para as crianças e todos aqueles edifícios de uso comunitário intimamente ligados á habitação. O espaço público ajardinado de recriação era composto por dois tipos de paisagem: 1. A mata como recriação do bosque, constituída por espécies arbóreas de clima mediterrânico como o carvalho, ocupando e dividindo-se em conjuntos arbóreos com vegetação densa e informal.

2. A clareira, como analogia ao prado. Espaços ajardinados, vazios que pontuam o conjunto arborizado. Transformando e estruturando a paisagem através de um sistema vegetal coeso.

Figura 16 – Esquema dos sistemas Mata e Clareira Fonte: Mauro Cristovam, Junho 2010

40

CIAM [Congresso Internacional de Arquitectura Moderna]. “A Carta de Atenas”. Tradução Maria de Lourdes e F. Castro Rodrigues. Arquitectura. 1948. Publicada em fascículos na revista “Arquitectura “ desde o nº 20 de Fevereiro até nº 31, de Junho de 1949.

31


“É preciso exigir: Que as vias de circulação sejam classificadas de acordo com a sua natureza e construídas em função dos veículos e das suas velocidades Que o peão possa seguir caminhos diferentes dos do automóvel” 41 “…habitar, trabajar y recrearse…La circulacion esa cuarta función, debe enter un nuico objectivo: poner a las otras três en comunicación útil.” 42

Os percursos desempenhavam um importante papel no conjunto. A rede hierarquizada tinha por objectivo conectar de modo eficiente as diferentes funções do novo sistema urbano. O peão assume um papel fundamental na estruturação desses percursos. Tal como o quarteirão, as vias de circulação já não compartilhavam a mesma linearidade. A rede viária pedonal concentra-se na sua maioria dentro do núcleo central. Esta “constitui um dos elementos fundamentais de organização urbana do bairro”, articulando os diversos programas,

41

Idem

42

CORBUSIER, Le. Princípios de Urbanismo: La Carta de Atenas”. [Tradução Juan-Ramón Capella]. Barcelona: Ariel Editorial, 1975.

32


acrescenta ainda a valorização “em termos ambientais os caminhos a percorrer de modo pedestre pelos habitantes.” 43 Os percursos pedonais que atravessam o interior do núcleo central apontam para o desejo de coabitar com a natureza. O desenho curvilíneo da autoria de Ribeiro Teles, um deambular por entre um jardim que é espaço público. A composição congestionada da estrutura viária, edificado e espaço público era agora suplantada pela ideia de separação. Por detrás de um desenho orgânico e aparentemente livre surge uma estrutura estratificada que, segundo José Manuel Fernandes, organiza-se do seguinte modo: - Caminhos gerais que ligam os pontos mais importantes do Bairro e este ao exterior. - Caminhos funcionais para deficientes, ciclistas - Caminhos que acompanham a rede automóvel - Galerias cobertas e iluminadas de passagem e ligação entre o centro comercial e envolvente

43

FERNANDES, José Manuel. “O bairro de Nova Oeiras como espaço urbano, paisagístico e arquitectónico: a construção à recuperação (1955-2007)” in Arquitextos. Nº 4. Junho 2007.

33


Figura 16 – Esquema geral das vias automóvel e pedonais Fonte: Mauro Cristovam, Junho 2010

34


4.4 Referencia e Identidade A solução e tratamento paisagístico do centro comercial e cívico resultam na revisão do modelo da Carta de Atenas. Procurou-se criar um núcleo identitário e agregador, demarcante num conjunto pontuado pelo equilíbrio e ausência de referências. Á semelhança das novas cidades inglesas, as New Towns, que apontavam para a definição de um centro, os autores, Pedro Falcão e Cunha e Cristino da Silva propunham para Nova Oeiras uma ideia semelhante, adaptando-a á escala e necessidade do bairro. Á zona comercial torna-se um local central com identidade, num cenário de relações pessoais, criação e expressão artística. A singularidade, o desenho ortogonal e geométrico do centro cívico e comercial acrescenta-se o rigor da composição paisagística, dos percursos, das referências ao meio rural e na integração da arte pública no conjunto. “O centro comercial com os seus parques de estacionamento anexos e esplanadas e uma pequena casa de espectáculos, completam o conjunto de interesse colectivo da zona verde central.” 44 O interesse deste conjunto é para José Manuel Fernandes a analogia á Ágora da Grécia Antiga, criando um pátio ajardinado delimitado por um edificado que alberga habitação, comércio e uma estalagem da autoria do arquitecto Palma de Melo. O atractivo deste núcleo comercial e cívico passa também pelas soluções resultantes nomeadamente os dois edifícios em forma de “U” que albergam as funções já referidas. Por um lado a introdução das galerias elevadas e de acesso às habitações por outro a 44

Núcleo Residencial “Nova Oeiras” Zona Norte – habitação Colectiva. Memória descritiva e explicativa

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ambiguidade sugerida através da permeabilidade visual através do piloti ao nível do solo, e a definição formal pelos através dos pisos superiores. Os espaços livres ajardinados correspondentes às clareiras compõem-se de dois modos: 1. Ao centro, um pátio central ajardinado no centro comercial, com cerca de dois mil metros quadrados, circundado por um percurso pedonal coberto. Ao centro surge um tanque de água, enquadrado por um conjunto de espécies arbóreas no pátio. 2. Um segundo pátio adjacente a poente limitado pelos espaços comerciais e pelos courts de ténis. A sul um contínuo espaço ajardinado situado entre os três conjuntos habitacionais em banda onde, através da elevação do edificado por meio do piloti. Os caminhos pedonais separam o prado dos maciços mais densos de árvores. Á margem do que foi construído estava previsto no plano original uma zona de clareira que funcionaria como espaço multi-usos onde hoje estão edificados campos de ténis e edifício de apoio.

Figura 11 – Corte este/oeste sobre o centro cívico e comercial Fonte: Mauro Cristovam, Junho 2010

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Figura 11 – Fotografia ao pátio ajardinado

Figura 12 – Centro cívico e comercial

Fonte: Mauro Cristóvam, Novembro 2009

Fonte: Mauro Cristovam, Junho 2010

Além do entrosamento dos modelos urbanos modernos e clássicos para o tratamento do centro comercial surge ainda outro aspecto relacionado com a orientação dos percursos pedonais que convergem na zona comercial e cívica. A centralidade do local é reforçada pelo cruzamento de dois percursos pedonais orientados no sentido norte-sul e este-oeste respectivamente, prolongam-se desde o pátio ajardinado até aos limites do bairro. José Manuel Fernandes assemelha esta intenção ao termo surgido e utilizado no planeamento urbano do Império Romano Cardus Maximus e Decumanus Maximus que corresponde ao cruzamento de duas ruas principais em locais de actividades mercantis, políticas, ou praças públicas.45

45

Denota uma rua com orientação norte-sul em um acampamento militar ou colónia. O cardo principal é o Cardus Maximus, que se cruza perpendicularmente com o Decumanus Maximus, a outra rua principal.

37


Alem das referências já assinaladas, ao prado e mata, surgem no centro cívico duas outras analogias analogia á paisagem rural46 – a pergola, junto á estalagem e o tanque de água no pátio ajardinado. A pérgola surge como prolongamento do passeio coberto e busca uma referência á agricultura. A introdução da água, através do tanque no centro do pátio e o conjunto arbóreo completam esta intenção. A água como elemento ligado ao rio ou lago surge materializada no tanque construído em pedra “definindo planos de água, ligeiramente desfasados, convivendo com nenúfares”47.

Fig. 20 – Pérgola Fonte: Mauro Cristóvam, Novembro 2009

Fig. 21 – Painel em azulejo da autoria de Rogério Ribeiro Fonte: Mauro Cristóvam, Novembro 2009

46

Segundo Manuela Raposo Magalhães em: A arquitectura Paisagista: morfologia e complexidade. Lisboa: Editorial Estampa, 2001. P 120

47

Segundo José Manuel Fernandes em FERNANDES, José Manuel. “O Bairro de nova Oeiras como espaço urbano, paisagístico e arquitectónico: da construção á recuperação (1955-2007) ”. in Encontros de História e Património: 1 - Diálogos em Noites de Verão 2006-07. Oeiras: Câmara Municipal de Oeiras, 2010. P140

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Á qualidade urbana e paisagística do espaço público de Nova Oeiras acrescenta-se outro factor relevante - a integração da arte na vivencia da população. Esta marca uma aproximação e manifestação das intervenções artísticas no espaço público, é a concretização de uma nova abordagem, distanciando-se assim do tradicional monumento comemorativo. O painel em azulejos da autoria do artista plástico português Rogério Ribeiro (1930-2008) está integrado na fachada da estalagem que delimita o pátio Este da zona cívica e comercial. A integração eficaz e o domínio do painel no conjunto são possíveis através das suas dimensões (45 metros de comprimento por 2 de altura), preenchendo a quase totalidade da lateral do pátio. Do desejo optimista de periferia, os arquitectos criaram um espaço público integrado no contexto arquitectónico da época, incorporando metodologias experimentais num sentido de adaptação á realidade portuguesa.

39


Conclusão

Da investigação realizada ao Complexo Habitacional de Nova Oeiras procurou-se confirmar a qualidade no desenho do espaço público e a importância da abordagem paisagista na composição do plano. Dessa investigação resultam uma série de considerações que confirmam as expectativas e respondem a questões iniciais revelando algumas inovações nomeadamente na interpretação e aplicação dos modelos urbanos. O complexo habitacional de Nova Oeiras destaca-se: pela abordagem pioneira, introduzindo as premissas arquitectónicas do movimento moderno, pela qualidade seu espaço público ajardinado, na quantidade e diversidade de espécies arbóreas existentes, no cuidado no desenho urbano e paisagístico e a introdução de novas soluções construtivas, estabelecendo uma ruptura com a arquitectura do regime ditatorial. A reconciliação com a natureza sugerida pela Carta de Atenas e Cidade-Jardim padeciam de uma estratégia urbana dinamizadora. As experiencias arquitectónicas resultantes desses modelos demonstravam um desequilíbrio funcional transformando núcleos habitacionais em dormitórios, situação criada pela fraca densidade urbana, na concentração e integração de actividades como serviços, industria e comércio. Os planos urbano e paisagístico deste caso de estudo revelam porém uma leitura critica e filtrada de um modelo demasiado rígido e esquemático assente no protagonismo e repetição do edifício como 40


“objecto” edificado onde, a sua dimensão teórica não atende á realidade quotidiana ao comportamento e relações humanas. Do estudo a Nova Oeiras á a salientar: 1. A importância e envolvimento da estratégia paisagista no complexo habitacional. O carácter transformador da mesma na correcção e adaptação de modo crítico ao modelo urbano – Carta de Atenas. As linhas gerais do modelo: repetição e regularidade do edificado (torres e bandas), perca de identidade e ausência de referências no conjunto edificado, são transformados pelo desenho paisagista na concepção de um espaço público dinâmico e identitário. O avanço do pensamento paisagístico permitiu a leitura do território como um organismo. A adaptabilidade da estrutura natural em Nova Oeiras permitiu o controlo da sua expressão e escala do conjunto edificado. A ecologia funcionou assim como primeiro passo na variação e multiplicação de soluções urbanas, permitindo uma maior liberdade do desenho. A introdução de sistemas como a orla, clareira, a mata e o baixo esforço de manutenção contribuíram para a sua conservação ao longo do tempo. O privilégio de um espaço público na periferia, bem estruturado resulta numa mais-valia, não só para quem lá habita, mas para toda a sociedade. Desperta a consciência das gerações actuais e futuras para a importância que este tem para a periferia urbana, passadas mais de três décadas do seu surgimento. A qualidade paisagística deste “oásis” permite, na rigidez modular do edifício isolado e no contínuo jardim público desenvolver uma estrutura natural que, para além de responder de um modo funcional na estruturação e conexão das diversas funções produz uma atmosfera única. 41


Por um lado apresenta o pensamento ecológico, transformando a paisagem a partir de relações entre o meio, a função e o organismo. Por outro o sentido romântico que persistiu aos avanços do paisagismo, o domínio da sensibilidade e carácter artístico e expressivo do desenho, a qualidade e inteligência de ideias e soluções. A beleza de uma paisagem segundo Caldeira Cabral é “a resultante da ordem que se manifesta no equilíbrio ecológico dos diversos factores que nela actuam e na sua adequação aos interesses do homem”48

2. Outro aspecto a reter está associado á inovação que transforma profundamente a leitura da paisagem em Nova Oeiras é a introdução um centro cívico e comercial no “coração” do plano. De todos os outros equipamentos planeados este representa a excepção no contínuo ajardinado e o rompimento em termos teóricos do plano com o discurso da Carta de Atenas. Mais uma vez o desenho paisagista de Gonçalo Ribeiro Teles revela uma subtileza na relação entre o equipamento e a envolvente, não só pela forma como os conecta como também pelo seu carácter simbólico na introdução da arte pública e de outros elementos análogos – o tanque e a pérgola.

3. O zonamento, principio referido na Carta de Atenas é outro dos aspectos que merece um comentário. 48

MAGALHAES, Manuela Raposo. A arquitectura Paisagista: morfologia e complexidade. Lisboa: Editorial Estampa, 2001. P 31

42


Apesar do paisagismo intervir no sentido da aproximação funcional e fluidez dos percursos, a divisão do plano por zonas funcionais acaba por despromover a relação e contacto social no ambiente urbano. A esse facto está directamente associado as vias de comunicação. A hierarquização e separação das mesmas não cria pontos de contacto e confluência, separando por um lado o pedestre do automóvel, o trabalho a habitação e o comércio. Uma organização urbana que resulta na “mecanização” da vivencia quotidiana.

4. A iniciativa privada é mais um dos aspectos que projectam Nova Oeiras como uma experiencia excepcional e experimental. Esta acabaria por surgir pela “mão” da Sociedade Nova Oeiras, Lda. A impulsionadora do projecto apostou na “nova vaga” arquitectónica, urbana e paisagista, privilegiando a qualidade do desenho arquitectónico e o conforto dos residentes. Este novo “espírito” possibilitou um novo olhar e pensamento acerca do “habitar” a cidade. Daqui partiram as premissas para as décadas seguintes onde a periferia era ambicionada como o símbolo da vida moderna. Nova Oeiras era assim o símbolo da qualidade e optimismo. Dos empreendimentos de iniciativa privada, Nova Oeiras seguramente foi um dos casos pioneiros e também dos últimos onde os arquitectos e urbanistas gozaram de um papel notoriedade e respeito. O interesse económico e a especulação imobiliária suplantaram a os princípios da qualidade do “habitar”. O arquitecto ficou arredado da discussão e liberdade na concepção arquitectónica. A liberdade de criação e privilégio do desenho da obra total transformaram-se em uma tarefa excessivamente limitada pela cada vez maior regulamentação e falta de flexibilidade a nível urbano e 43


arquitectónica como também na concentração dos esforços dos projectos na procura do lucro, resultando em projectos com deficiências a nível construtivo e com baixa qualidade. A realidade dos projectistas portugueses só é comparável á mágoa do Fado. Apesar de existirem profissionais bem formados, urbanistas, arquitectos e engenheiros, são poucos aqueles que gozam do privilégio de desenvolver as suas actividades sem constrangimentos, seja pela excessiva regulamentação ou pressão dos agentes imobiliários.

A periferia urbana esteve sujeita nas últimas décadas a grande pressão imobiliária resultando num território densamente construído. O espaço público, a reabilitação ou reconversão do edificado tornam-se assim no último reduto da periferia urbana. A arquitectura nestes locais reduz-se agora a pequenos gestos de “acumpultura”, precisão e minúcia. A intervenção na periferia, apesar pontual pode resultar numa oportunidade de corrigir e equilibrar o território – de transformá-lo para melhor. Entre a dimensão utópica dos planos de Le Corbusier ao ambiente optimista da periferia das décadas de 50 e 60 do século XX, “habitamos” actualmente um mundo “sem sonho” onde impera o lucro sobre a qualidade, a regulamentação e restrição arquitectónica que comprometem a sobrevivência da arquitectura, paisagismo e espaço público na complexidade urbana.

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BIBLIOGRAFIA

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Material desenhado CUNHA, Pedro Falcão. “Projecto de Arquitectura relativo ao plano e edificado da Urbanização da Quita Grande em Oeiras.” 1957

Registo vídeo Cassete (UMATIC) (16 min.) Fundação Calouste Gulbenkian. Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão, Luís Cristino da Silva [Arquitecto], Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, Centro de Arte Moderna José Azeredo Perdigão, 1998.

Fontes directas FERNANDES, José Manuel. Entrevista por Mauro Cristóvam. Oeiras, Portugal. junho. 2010 FERNANDES, José Manuel. Entrevista por Ana Gonçalves, Délia Paulo, João Leite Dulce Raimundo, Mauro Cristóvam. Oeiras, Portugal. Dezembro. 2009 RODOLFO, João Sousa. Entrevista por Ana Gonçalves, Délia Paulo, João Leite Dulce Raimundo, Mauro Cristóvam. Lisboa, Portugal. 2009 TELES, Gonçalo Ribeiro. Entrevistado por Ana Gonçalves, Délia Paulo, João Leite, Mauro Cristóvam. Lisboa, Portugal. Novembro 2009. 51


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