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CENTRO UNIVERSITÁRIO DO LESTE DE MINAS GERAIS UNILESTE
MAYARA ULIANA DE FREITAS SOUZA CALAZANS OLIVEIRA
A COMUNICAÇÃO VISUAL DO EDIFÍCIO VERTICAL E O IMPACTO ARQUITETÔNICO PARA O USUÁRIO
CORONEL FABRICIANO, NOVEMBRO DE 2015
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MAYARA ULIANA DE FREITAS SOUZA CALAZANS OLIVEIRA
A COMUNICAÇÃO VISUAL DO EDIFÍCIO VERTICAL E O IMPACTO ARQUITETÔNICO PARA O USUÁRIO
Monografia
apresentada
ao
curso
de
Arquitetura e Urbanismo como requisito inicial de trabalho de conclusão de curso. Professor orientador: Vinícius Ávila.
CORONEL FABRICIANO, NOVEMBRO DE 2015
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A COMUNICAÇÃO VISUAL DO EDIFÍCIO VERTICAL E O IMPACTO ARQUITETÔNICO PARA O USUÁRIO
CORONEL FABRICIANO, NOVEMBRO DE 2015
CENTRO UNIVERSITÁRIO DO LESTE DE MINAS GERAIS – UNILESTE Orientador: Vinícius Ávila.
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AGRADECIMENTOS Meu eterno agradecimento a Deus, meu Pai celestial, pelo sustendo, provisão, cuidado e suas infinitas misericórdias sobre a minha vida. Agradeço à minha família, que não mediu esforços me apoiando para que eu chegasse até aqui na vida acadêmica. Ao meu marido pela paciência. À família do meu marido pelo apoio concedido. Em especial: Nilma, Djair, Júlia, Gustavo, Maxwel, Ronaldo, Isméria, Mariana. Aos meus amigos de longas datas e de curtas também, que sempre acreditaram no meu potencial. Aos meus pais espirituais, pastores de excelência que cuidam de mim em suas orações. Aos meus amigos que lutaram junto comigo na conquista dessa profissão, dividiram a sala, os conhecimentos, a família, as madrugadas, os desabafos, os problemas, as alegrias, e principalmente o companheirismo ao longo de todos estes anos de curso. Aos amigos que não compartilharam a sala, mas compartilharam informações, aprendizado, e o seu tempo para me ouvir falar do meu tão amado TCC. Em especial: Jhenifer, Raquel Salazar, Thays Lino, Mycka, Tamires, Alana, Paola. Agradeço aos professores de toda a minha vida, que me prepararam para a vida. Aos da arquitetura que me prepararam para a profissão, pela dedicação e paciência fizeram o meu mundo mais colorido, mais criativo, mais viajado, me fizeram ir além das minhas imaginações, e me apresentaram um caminho cheio de possibilidades. Em especial: Vinícius Ávila e Amanda Machado. Muito obrigada à todos que de alguma forma contribuíram para que eu chegasse até aqui!
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“A arquitetura é como uma grande escultura escavada, em cujo interior o homem penetra e caminha.” (ZEVI Bruno, 2000, p.17).
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RESUMO
Desde a pré-história o homem transformou o seu habitat natural, de uma caverna passou a ser uma casa, do sentimento de desapego surgiu a domesticidade, e da domesticidade o amor pelo lar. As transformações do contexto familiar, fizeram a casa também se transformar arquitetonicamente. O edifício é o objeto de estudo principal deste trabalho que, por meio da tecnologia e outros fatores, passou por grandes avanços arquitetônicos despertados durante o processo de modernização da década de 1920. Ao longo dos anos, o edifício se tornou residencial, despertou o interesse da especulação imobiliária, danificando os princípios da arquitetura para com a habitação e com a cidade. O estudo revelou importância da intervenção do habitante no interior do lar, assim como a comunicação visual expressada por meio da imagem externa dos edifícios, por meio dos fatores arquitetônicos como, a volumetria, o uso das formas, da criatividade, do conceito, manipulando assim, as sensações, as emoções, e a forma de se viver a habitação e a cidade.
Habitação. Edifício. Comunicação visual. Cidade.
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LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 - PERÍODO PALEOLÍTICO ............................................................................ 16 FIGURA 2 - PALEOLÍTICO SUPERIOR. ......................................................................... 17 FIGURA 3 - NEOLÍTICO .............................................................................................. 18 FIGURA 4 - SEQUÊNCIA DE IMAGENS DAS CASAS DE TIÉBÉLÉ. ................................... 20 FIGURA 5 - CASAS NA ALDEIA NEOLÍTICA DA HACILAR, NA TURQUIA; ..................... 37 FIGURA 6 - UR. PLANTA DA CIDADE, E AXONOMETRIA DA ZIGGUART ....................... 38 FIGURA 7 - SÃO PAULO EM 1900.. ............................................................................. 40 FIGURA 8 - IMAGEM REPRESENTATIVA DA PRODUÇÃO DO CAFÉ. ............................... 40 FIGURA 09 - SÃO PAULO EM 1910. ............................................................................ 43 FIGURA 10 – SÃO PAULO EM 1915, ........................................................................... 43 FIGURA 11 - IMAGENS DE SÃO PAULO ENTRE 1920 A 1929. ...................................... 44 FIGURA 12 - CRIAÇÃO DO ELEVADOR. ....................................................................... 46 FIGURA 13 - AVENIDA SÃO JOÃO, 1930. ................................................................... 49 FIGURA 14 - EDIFÍCIO COMERCIAL CASA MÉDICI. ..................................................... 52 FIGURA 15 - EDIFÍCIO GUINLE................................................................................... 53 FIGURA 16 - EDIFÍCIO SAMPAIO MOREIRA. ............................................................... 54 FIGURA 17 - EDIFÍCIO MARTINELLI ........................................................................... 55 FIGURA 18 - EDIFÍCIO COPAN, OSCAR NIEMEYER. .................................................... 64 FIGURA 19 - NAÇÕES UNIDAS BUILDING ................................................................... 65 FIGURA 20 - EDIFÍCIO LAUSANNE ............................................................................. 65 FIGURA 21 - PAULICÉIA BUILDING ............................................................................ 66 FIGURA 22 - EDIFÍCIOS HABITACIONAIS NO BAIRRO CIDADE NOVA .......................... 74 FIGURA 23 - EDIFÍCIOS HABITACIONAIS NO BAIRRO CIDADE NOVA .......................... 75 FIGURA 24 - RESIDENCIAL BOA VISTA. ..................................................................... 78 FIGURA 25 - RESIDENCIAL VILLAGE NOVA. .............................................................. 79 FIGURA 26 - RESIDENCIAL TOWER HILL ................................................................... 80 FIGURA 27 - RESIDENCIAL RUBI................................................................................ 81 FIGURA 28 - PILOTIS DO MUSEU DE ARTE MODERNA . .............................................. 86 FIGURA 29 - CONCITE PARA O SEMINÁRIO EXIBIDO EM REDES SOCIAIS ..................... 87 FIGURA 30 - FOLHA ENTREGUE AOS PARTICIPANTES DO SEMINÁRIO. ........................ 88 FIGURA 31 - IMAGENS DA MAQUETE DE PIRULITOS. .................................................. 89 FIGURA 32 - MENSAGENS COLADAS NA MAQUETE. .................................................... 90 FIGURA 33 - EXIBIÇÃO DE VÍDEO NO SEMINÁRIO. ...................................................... 91 FIGURA 34 - MOMENTO DO DEBATE .......................................................................... 92 FIGURA 35 - EDIFÍCIOS RESIDENCIAIS NO BAIRRO CIDADE NOVA ............................. 96 FIGURA 36 - CONSTRUÇÕES IMPACTANTES DO BAIRRO CIDADE NOVA .................. 100
9 FIGURA 37 – HUALIEN RESIDENCES. ....................................................................... 106 FIGURA 38 - O ICEBERG .......................................................................................... 107 FIGURA 39 - VOLUMETRIA DOS EDIFÍCIOS DO BAIRRO CIDADE NOVA. ................... 109 FIGURA 40 - FIGURAS PRODUZIDAS PELO GRUPO ARCHIGRAM. ............................... 113 FIGURA 41 - FIGURAS PRODUZIDAS PELO GRUPO ARCHIGRAM. ............................... 115 FIGURA 42 - FIGURAS PRODUZIDAS PELO GRUPO ARCHIGRAM. ............................... 117 FIGURA 43 - EDIFÍCIO BAUHAUS.............................................................................. 118 FIGURA 44 - EDIFÍCIO BAUHAUS.............................................................................. 118 FIGURA 45 - HANS VOLGER NO ESCRITÓRIO DE OBRAS DA BAUHAUS ..................... 119 FIGURA 46 - JOHANNES ITTEN NO............................................................................ 119 FIGURA 47 - RETRATO DE WALTER GROPIUS, 1920. ............................................... 119 FIGURA 48 - VISTA DO ATELIER DE METAL .............................................................. 121 FIGURA 49 - OS MESTRES NO TELHADO DO EDIFÍCIO DA BAUHAUS. ....................... 121 FIGURA 50 - NO DEPARTAMENTO DE COMPOSIÇÃO DA BAUHAUS ........................... 123 FIGURA 51 - GINÁTICA NA BAUHAUS ...................................................................... 123 FIGURA 52 - BELLA ULLMANN E WILLI JUNGMITTAG. ............................................ 123 FIGURA 53 - TEATRO JOVEM NA BAUHAUS. ............................................................ 123 FIGURA 54 - ESTUDANTES DO DEPARTAMENTO ....................................................... 124 FIGURA 55 - ESTUDANTES DO DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA. ......................... 124 FIGURA 56 - OBJETOS PRODUZIDOS NA BAUHAUS. .................................................. 124 FIGURA 57 - PROJETO DA IDEA!ZARVOS. ................................................................ 125 FIGURA 58 - PROJETO IDEA!ZARVOS. ...................................................................... 126 FIGURA 59 - ARCHIGRAM. ....................................................................................... 129 FIGURA 60 - BAUHAUS. ........................................................................................... 129 FIGURA 61 - IDEA!ZARVOS! .................................................................................... 129 FIGURA 62 - MAPAS DE LOCALIZAÇÃO DA ÁREA TRABALHADA. ............................. 130 FIGURA 63 – CONSTRUÇÕES DO BAIRRO CIDADE NOVA ......................................... 135 FIGURA 64 - MAPA DO BAIRRO CIDADE NOVA E O LOTE A SER TRABALHADO. ....... 131
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SUMÁRIO 1
INTRODUÇÃO .......................................................................................... 12
1.1. TEMA................................................................................................................ 12 1.2. JUSTIFICATIVA .............................................................................................. 12 1.3. OBJETIVO GERAL .......................................................................................... 12 1.4. OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................ 13 2.
CORPO E ESPAÇO NA HABITAÇÃO ..................................................... 14
2.1. PRÉ-HISTÓRIA ................................................................................................ 14 2.2 A EVOLUÇÃO DA MORADIA ....................................................................... 21 2.3. A VIDA EM APARTAMENTO ....................................................................... 26 3.
URBANIZAÇÃO | DAS ALDEIAS ÀS CIDADES ................................... 33
3.1. URBANIZAÇÃO | VERTICALIZAÇÃO ......................................................... 36 VERTICALIZAÇÃO NO CONTEXTO HISTÓRICO ........................................... 36 3.2. VERTICALIZAÇÃO EM SÃO PAULO ......................................................... 39 3.2.1. Mais pessoas | Mais consumo ......................................................................... 41 3.2.2. Construção civil | Demanda | Tecnologia | Nacionalização ............................ 45 3.2.3. Desejo modernizador ...................................................................................... 46 3.2.4. Projetos e leis urbanísticas | Interesses arquitetônicos .................................... 48 3.2.5. Características modernas | Os edifícios que marcaram sua história ............... 51 3.2.6. Arranha-céu e seu impacto | Habitante | Paisagem ......................................... 56 3.2.7. Arranha-céu rentista | Uso Lucrativo | Incorporação Imobiliária ................... 59 4. INCORPORAÇÃO IMOBILIÁRIA .................................................................... 69 4.1.
Apenas o básico, nada mais. ........................................................................ 69
4.2.
Superar as expectativas! .............................................................................. 72
4.3.
Da cópia segura ao risco inovador............................................................... 74
4.4.
SEMINÁRIO DA SEMANA INTEGRADA .............................................. 87
5. EDIFÍCIO | CORPO E ESPAÇO ........................................................................ 94 5.1.
VERTICALIZAÇÃO | Antes e depois ........................................................ 94
5.2.
A CIDADE .................................................................................................. 95
5.3.
O TERRENO VAZIO | A folha em branco ................................................. 98
5.4. A VOLUMETRIA DO EDIFÍCIO | Construção de sensações ........................ 101
11 5.5.
A LEGISLAÇÃO ESTÉTICA DO EDIFÍCIO ......................................... 108
6. OBRAS ANÁLOGAS ....................................................................................... 113 6.1.
ARCHIGRAM .......................................................................................... 113
6.2.
OBRA ANÁLOGA | BAUHAUS ............................................................. 118
6.3.
OBRA ANÁLOGA | IDEA!ZARVOS | MOVIMENTO UM ................... 125
7. PROPOSTA TCC II | PRINCÍPIOS ................................................................... 129 7.1.
OBRAS ANÁLOGAS | OBJETIVOS DA PROPOSTA ........................... 129
7.2.
MAPEAMENTOS .................................................................................... 130
7.3.
VIABILIDADE ......................................................................................... 134
7.4.
LEGISLAÇÃO URBANÍSTICA .............................................................. 136
8.
CONCLUSÃO .......................................................................................... 138
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INTRODUÇÃO
1.1. TEMA O assunto que motiva este estudo é a importância da comunicação visual dos edifícios verticais, para o indivíduo que habita dentro dele, e o observador que convive do lado externo, na cidade.
1.2. JUSTIFICATIVA O que levou a escolha do tema, é a apreciação do visual arquitetônico da cidade, iniciado pela insatisfação da aluna enquanto observadora, apaixonada pela edificação verticalizada. Outro motivo, é a importância da volumetria do edifício sendo ela a comunicadora visual para com o observador, é por meio da volumetria que o observador percebe a arquitetura, gerando nele sensações boas ou ruins, variando conforme a experiência de cada indivíduo.
1.3. OBJETIVO GERAL O objetivo geral deste trabalho é pesquisar inicialmente, a trajetória da habitação nas transformações que ocorreram com o tempo, do abrigo pré-histórico à habitação coletiva atual. Pesquisar sobre a forma como o indivíduo habitava e como habita, abrangendo as principais intervenções sofridas no lar pelos seus habitantes. Entender como surgiu a tipologia da habitação verticalizada, por quê surgiu, percorrendo os principais trajetos na história até a atualidade, levando em consideração os condicionantes econômicos, sociais, e as hipóteses. Trazer à tona os pontos importantes a serem levados em conta antes de se construir um edifício, os impactos do mesmo para com quem tá dentro dele e quem tá fora.
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1.4. OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Por meio de pesquisa bibliográfica, buscar referências teóricas sobre cada assunto abordado levantando os principais dados que possam contribuir para o resultado do trabalho.
A partir dos dados obtidos, forçar um debate entre os posicionamentos bibliográficos obtidos.
Analisar criticamente o ponto de vista de cada autor, com intenção de criar por meio deles outras observações, que contribuam para com o tema.
Utilizar a seguinte ordem de pesquisa e desenvolvimento:
1º- A bordar o assunto de corpo e espaço na habitação, entre o indivíduo e o seu mundo particular, da pré-história à atualidade.
2º- Percorrer a história da verticalização, da antiguidade, passando por São Paulo na época da Revolução Industrial, no início da habitação verticalizada, finalizando no uso rentável da mesma.
3º- Sobre o mercado imobiliário, como trabalham, a relação da arquitetura com o produto que disponibilizam aos consumidores, o que é incorporação imobiliária e como ela deveria funcionar.
4º- Finalizar o desenvolvimento do trabalho, aprofundando na importância da comunicação visual do edifício para a cidade, no contexto paisagístico e urbano. A relação da cidade e o edifício, do terreno e o edifício, e da volumetria e o edifício.
5º- Concluindo o desenvolvimento funcionará: habitante interno x edifício e observador externo x edifício.
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2. CORPO E ESPAÇO NA HABITAÇÃO
A partir de agora inicia-se uma viagem ao tempo, onde a habitação não passava de um buraco, uma caverna, com destino à habitação da atualidade, nas alturas dos edifícios coletivos. As reflexões feitas ao longo do estudo são de inteira sensibilidade ao usuário e ao seu lar, que deixa de ser somente o interior para se tornar todo o volume externo também. O lar, é o lado de dentro, e também de fora. “Na vida do homem, a casa afasta contingências, multiplica seus conselhos de continuidade. Sem ela, o homem seria um ser disperso. Ela mantém o homem através das tempestades do céu e das tempestades da vida.” (BACHELARD (2000, p. 26)
2.1. PRÉ-HISTÓRIA DO ABRIGO TEMPORÁRIO À HABITAÇÃO
O corpo para o espaço, o espaço para o corpo. A relação corpo x espaço sem dúvida vem criando vínculos cada vez mais próximos e particulares com o ser humano desde a pré-história. No Paleolítico Inferior, o homem vivia em um estado cultural voltado para a caça, pesca, recolhendo alimentos da própria natureza e começando a fabricar os primeiros instrumentos: arcos e setas, objetos de pedra, entre outros. (ABIKO, ALMEIDA, BARREIROS, 1995, p.4). Entende-se então que a vida do homem no período paleolítico era exclusivamente dedicada à caça, à vida externa, à sua sobrevivência.
Segundo Massara (2002, p.1) o homem primitivo, seguindo seus instintos, retorna ao seu abrigo rotineiramente para repousar e fugir das intempéries. Esse abrigo primitivo, podendo ser em um local resultado de acidente geográfico, um espaço natural, passa então a possuir qualidades básicas para acolher o homem, graças à sua interferência humana, proporcionando um espaço com condições mínimas de
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higiene, descanso e segurança. Começa-se então a ter características do usuário, o primeiro abrigo do ser humano:
O ambiente construído não passava de uma modificação superficial do ambiente natural, imenso e hostil, no qual o homem começou a mover-se: o abrigo era uma cavidade natural ou um refúgio de peles sobre uma estrutura simples de madeira; (BENEVOLO, Leonardo. 2003, p. 13).
Por mais que de início, o abrigo do homem servisse para proteção física, ele foi mais do que isso, havia um significado de necessidade de apropriação. O homem, desde que criou seu espaço individual, sente a necessidade de possuí-lo, dando um toque pessoal, transferindo parte da sua identidade humana para o mesmo. O aspecto físico exterior deste abrigo possivelmente não contrastava-se do entorno, por ser uma caverna, um resultado da própria geografia. Porém, como Bruno Massara relata a seguir, o abrigo para aquele homem primitivo era mais do que um local de acolhimento, significava a vontade de ter o seu lugar de identidade, de se limitar no meio ambiente, em seu lugar de posse.
A casa, habitação do homem primitivo, não pode ser tratada apenas como fruto de uma necessidade imposta pela pressão de uma natureza hostil ou de uma adaptação não biológica, mas da ânsia ou da urgência de limitar um espaço próprio, de se definir enquanto ser vivo diante da natureza, apropriar-se do contexto, quer de caráter permanente, quer como posse acidental para fins concretos, quer como construção de sua identidade. Não se trata, portanto, de uma construção visando proteção estritamente biológica, mas uma afirmação frente à natureza, uma relação mais ampliada do homem com o meio ambiente. (MASSARA, Bruno. 2002, p.1).
Atualmente, tem-se como referência desse abrigo primitivo, os resquícios ‘deixados’ por esses indivíduos, sem eles não seria possível identificar como foi a vivência dos homens primitivos. A importância dada ao modo de vida desses homens, ou seja, como eles sobreviveram, como se abrigavam, como se alimentavam, talvez seja mais evidente do que conhecer o seu abrigo em seu formato físico, interior e exterior. Alguns estudos revelam a descoberta desses possíveis abrigos:
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O que se desenterra e que documenta os estabelecimentos mais antigos são sobretudo os resíduos da atividade humana: as sobras de alimento, as fragmentos provenientes do trabalho das pedras e da madeira, e entre eles os produtos acabados, usados e depois abandonados ou enterrados. A distribuição desses objetos em torno do núcleo da fogueira [...] indica um conjunto unitário, que podemos chamar de habitação primitiva. (BENEVOLO, Leonardo. 2003, p. 13)
A fogueira aparece então como o centro de acolhimento, o momento de descanso, satisfação, e abrigo que foi desenvolvido pelo homem préhistórico a partir de materiais e técnicas primitivas. Tem-se a noção de que para essas pessoas em sua época, sua cultura, não fazia diferença a aparência física deste ambiente. Bastava-se acolher.
Figura 1 - Representação Período Paleolítico
Fonte: Site – Blog Edukavita
No paleolítico superior também conhecido como Mesolítico, possivelmente devido às intempéries climáticas, ocorre a diminuição das fontes de carne, e para sobreviver, o homem forma-se em grupos, desenvolve a atividade da colheita e progride na fabricação de ferramentas. A necessidade de subsistência faz com que a comunidade
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passe do nomadismo para a fixação em locais específicos. (ABIKO, ALMEIDA, BARREIROS, 1995, p.4).
Imagina-se a profundidade dessa mudança para a vida desses indivíduos, o que antes era costumeiro viver individualmente, sem norte, tendo vários abrigos, podendo ser em vários lugares, talvez aquele que estivesse mais perto ao cair a noite, agora, o abrigo é em um único lugar. Provavelmente, a partir de então, a relação de corpo e espaço vai tomar rumos muito mais do que geográficos, vai ir além de mais uma caverna, vai definir a identidade, a segurança, o crescimento social, sentimental, e da própria autoestima enquanto ser-humano. Para esses que agora são moradores, nesse abrigo que agora pode-se chamar de habitação, com essas pessoas que agora passam a fazer parte da família. A partir de então, com a fixação do abrigo, o homem préhistórico tende a estabelecer referência externa e interna quanto ao seu mundo de vivência social. Figura 2 - Sequência de imagens representativas do Paleolítico Superior.
Fonte: Site – Toca da Cotia, Pré- História, 2015 (Imagens agrupadas acima)
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No período neolítico tem-se a transição entre colheita para técnicas de pastoreio e agricultura, nessa fase o homem começa também a cuidar do meio em que vive, transformando-o, arrumando-o, irrigando o solo, selecionando sementes, cultivando plantas para alimento, domesticando animais, produzindo objetos, agora em cerâmica e conhecendo as estações do ano. (ABIKO, ALMEIDA, BARREIROS, 1995, p.4).
Imagina-se então que essa comunidade primitiva iniciou seus laços sentimentais quanto à moradia e ao meio ambiente, conquistando autonomia do mesmo, e agindo sobre ele como autor de sua própria história. Benevolo (2003, p.16) reforça este pensamento: O ambiente das sociedades neolíticas não é apenas um abrigo na natureza, mas um fragmento de natureza transformando segundo um projeto humano: compreende os terrenos cultivados para produzir, e não apenas para apropriar do alimento; os abrigos dos homens e dos animais domésticos; os depósitos de alimento produzido para uma estação inteira ou para um período mais longo; os utensílios para o cultivo, a criação, a defesa, a ornamentação e o culto. (BENEVOLO, Leonardo. 2003, p.16) Figura 3 – Sequência de imagens Representativas do Período Neolítico
Fonte: Site – Toca da Cotia, Pré- História, 2015 (Imagens agrupadas acima)
A habitação têm relação interna e externa com o homem, desde a antiguidade, inicialmente pela necessidade de se abrigar, depois, pela necessidade de determinar sua identidade para a mesma, porém, levase a questionar: como essa identidade era manifestada naquele tempo
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para com a habitação? A resposta pode estar nas manifestações artísticas, expressadas na manipulação dos espaços como aponta Netto: A passagem de um Espaço Interior para um Espaço Exterior constitui realmente a noção e a operação de manipulação do Espaço mais importante para o homem, desde os primeiros tempos pré-históricos em que a sociedade nem mesmo existia. (NETTO, j. teixeira coelho. 1979, p.30)
Percebe-se acima que o homem pré-histórico já tinha a noção de manipulação do meio em que vivia, deduzindo-se que também caracterizavam a sua habitação conforme desejavam. Considera-se de extrema importância neste estudo, analisar as intervenções exercidas pelos indivíduos em sua habitação, assim como também os modos de vida em cada período.
Sobre a pré-história, cabe ressaltar que os homens já se manifestavam artisticamente em seu abrigo. Conforme informações fornecidas pelo site Brasil Escola (2015, p.1-2) as manifestações artísticas possivelmente foram feitas por povos diferentes de cada local, porém, com características parecidas. A arte começou a partir das ferramentas, das armas, e das figuras que representavam nas cavernas, ilustrando a caça, sendo encontrados resquícios na Europa, na França, e Itália, de aproximadamente 25.000 a.C. do período paleolítico. No neolítico construíam-se monumentos de pedras colossais servindo de câmaras mortuárias ou templos, chamados de dólmens, menires, e cromlech. Faziam-se esculturas de objetos religiosos, utensílios domésticos, animais e figuras humanas especialmente as femininas, chamadas de Vênus, cultuando a fertilidade.
Percebe-se a necessidade de expressão desses indivíduos, o fato confirma que o homem desde a pré-história, age de forma a comunicarse, inicialmente com a ação corporal usando a sensibilidade artística, desenhando, esculpindo, desde um objeto às esculturas maiores como os templos. Confirmando também, que a vida artística não ficava só dentro da caverna, mas nos monumentos externos.
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Cabe mencionar neste subcapítulo, um exemplo da atualidade, que expressa a importância da singularidade externa da edificação. Conforme informação obtida do site edukativa (2015), em BurkinaFaso um país da África Ocidental, socialmente pobre, mas culturalmente rico. Na vila Tiébélé, conhecida tradicionalmente por sua arquitetura, que decora as paredes de seus edifícios, sendo uma importante cultura nesta parte do país. Essa decoração, feita pelas mulheres, é uma atividade antiga desde o século XVI.
Figura 4 – Sequência de imagens das casas de Tiébélé.
Fonte: Site – Edukativa, 2015, fotos: Rita Willaer. (Imagens agrupadas acima)
Percebe-se o valor do lado externo da habitação atribuído por este povo, tanto nos detalhes das pinturas, como a volumetria é trabalhada transmitindo uma aparência singular à cada edificação.
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As casas, são construídas de materiais locais usando terra, madeira e palha, misturado até obter a maleabilidade adequada para dar formas às superfícies, hoje, essa técnica foi substituída por tijolos de lama. São edificadas com intuito de defesa tanto de inimigos como do clima. Depois de construídas, as mulheres fazem murais de lama colorida e giz branco, motivados simbolicamente pela vida cotidiana ou religiosa. Após este processo, o muro é polido com pedras e revestido com verniz natural. Esses costumes também são úteis para proteger as paredes externas da chuva, garantindo durabilidade às mesmas.
A cultura desse povo pode ser considerada forte, pois se manteve durante séculos, e ainda na atualidade trabalha-se com dedicação, essa, percebida pelas próprias imagens em seus detalhes. Concluindo então que a necessidade do homem de se expressar por meio de seu ambiente habitacional vem desde muitos séculos, independentemente do local onde este vive, cada qual com sua cultura, sua época, o fato é que essa necessidade de identidade existia e ainda existe, sendo representada de variadas formas.
2.2 A EVOLUÇÃO DA MORADIA Idade Média XIV | Paris e Holanda XVII| Industrial XIX - XXI
Ao longo da história da habitação houveram grandes mudanças no modo de vida entre o usuário e a casa. Desde a pré-história como relatado anteriormente, passando pela idade média. Na idade média, a casa de cidade típica do século XIV servia como moradia e como local de trabalho, era multifuncional, segundo Rybczynski (1999, p.38 - 48). Não existia um local específico para moradia, tudo funcionava em um único cômodo onde as pessoas exerciam suas atividades diárias, inclusive onde recebiam as visitas. Essas casas eram pouco mobiliadas, e os móveis que haviam eram multifuncionais assim como os cômodos. As famílias eram grandes e
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ainda acomodavam criados, aprendizes, afilhados, amigos. A casa era receptiva, não possuía apenas um ambiente doméstico, mas principalmente público, a privacidade não era conhecida, e a vida lá fora parecia ser mais importante do que a casa em si. Percebe-se que a casa medieval era tratada com praticidade, a aparência física da mesma parecia não ter importância para seus moradores. Queria-se viver, participar da vida coletiva, tanto que os cômodos e os mobiliários eram multifuncionais, deixando claro essa praticidade, que apresenta-se até mesmo como desleixo para com o ambiente habitacional, conforme toma-se conhecimento da vida daquela época. Após o fim da Idade Média, segundo Rybczynski (1999, p.48 - 50), e até o século XVII, as condições da vida doméstica começaram a mudar lentamente. As casas ficaram maiores, os materiais como a pedra, o vidro, as lareiras, as latrinas, começaram a ser popularizados. Os banhos públicos estavam em processo de adaptação, assim como a higiene pessoal. As comodidades físicas estavam melhorando assim como os modos da sociedade. Começa-se então os primeiros sinais de vida doméstica, as mudanças no modos de vida, assim como nos usos dos materiais, permite-se dizer que a preocupação com a aparência e organização física da moradia não estaria longe de acontecer na vida desses moradores. Em Paris no século XVII, como aponta Rybczynski (1999, p.50 - 51), a casa típica da burguesia ainda era medieval na estrutura familiar e dos costumes diários, algumas abrigavam mais de uma família, possuíam vários andares, jardins internos, cômodos grandes, podendo ser alugados separadamente. A vida em família continuava acontecendo em apenas um quarto. Muitas pessoas não mais moravam e trabalhavam no mesmo local, a consciência e o desejo por privacidade ficaram mais aparentes.
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Percebe-se uma aceitação ao estilo de moradia coletiva, o que antes na casa medieval era muita gente da mesma família e na mesma casa, em Paris aceitava-se moradias coletivas com famílias diferentes. Como a individualidade de toda a família se passava em um único cômodo, imagina-se um local confuso, sem apego à privacidade, tampouco à própria moradia como um lar. A partir do século XVII, começaram-se a ter mais variedades de móveis. A nobreza passou a viver em casas maiores e individuais denominadas hôtels, com mobília mais luxuosa, priorizavam-se a aparência. Os hôstels eram admiravelmente decorados porém faltava o sentimento de aconchego, a domesticidade. O conforto físico ainda não havia chegado, se estabelecendo no século XVIII, por meio da tecnologia de água aquecida e de uma subdivisão interna mais adequada para a casa. A casa de família particular ainda estava a caminho por meio
a
transição
da
moradia
feudal,
pública,
conforme
(RYBCZYNSKI, Witold, 1999, p.52 - 61). Nota-se então que nesse processo de desenvolvimento da moradia, começaram-se a valorizar a aparência física da mesma priorizando-a. Imagina-se um ambiente extremamente decorado, sem características definidas pela identidade do usuário, do morador, porém, o estudo deixa claro a noção de decoração, de estabelecer beleza ao ambiente, deixalo agradável aos olhos conforme a cultura daquela época. O estilo de vida sóbrio, econômico e conservador da sociedade holandesa, refletia também em suas casas medievais. Eram feitas de tijolo e madeira, material valorizado pela textura agradável e preço baixo. Da mesma forma buscava-se economizar na infraestrutura urbana, reduzindo as fachadas, resultando em terrenos estreitos e construções enfileiradas dividindo-se as paredes. As famílias holandesas eram pequenas, não se trabalhava mais nas casas, conforme prosperava-se, adquiria-se estabelecimentos separados para o trabalho assim como aumentava-se os andares da casa. (RYBCZYNSKI, Witold, 1999, p.65 - 75).
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Percebe-se que o estilo de vida holandês é bem diferente do estilo de vida da casa medieval e parisiense. A transformação mostra-se mais importante para os moradores a sua simplicidade, a economia, e a privacidade, evidente ao separar moradia de trabalho. Imagina-se uma casa compacta, com um ar sério e conservador. O interior dessas casas holandesas, segundo Rybczynski (1999, p.65 75), já subdividia-se entre diurno e noturno, público e privado, eram compactos, protegidos das intempéries, modestos e bem-arrumados, os móveis e a decoração holandesa, apesar de conservadores, mostravam a prosperidade de seus donos, deveriam ser admirados e usados. Mostrando-se cuidados da família para com a casa. O alpendre destinado à família nos fins de tarde onde se assentavam e conversavam com os pedestres, mostrando-se uma vida familiar unida e prazerosa. Os empregados, quando os tinham, moravam em suas próprias casas. As mães criavam seus próprios filhos, que posteriormente iam para a escola, e assim moravam com os pais até se casarem. O lar era a casa, mas também as pessoas, e as sensações de felicidade. Conclui-se que a casa holandesa expressava um ambiente familiar, acolhedor, conservador, privado, bem cuidado, resultando na domesticidade. Mostrando-se que agora, mais do que antes, a família tinha o seu valor sentimental, apego, ela não era mais formada pelo pensamento de sobrevivência e de trabalho. A domesticidade é um conjunto de emoções sentidas, e não um único atributo. Ela está relacionada à família, à intimidade, à devoção do lar, assim como a uma sensação da casa como incorporadora – e não somente abrigo – destes sentimentos. (RYBCZYNSKI, Witold. 1999, p.60 - 61).
As mudanças progressivas que ocorreram nos costumes familiares, assim como na organização física da casa, faz-se enxergar como as pessoas estão acessíveis às mudanças na cultura à medida em que a consciência também muda, ambas estão ligadas, raciocínio e comportamento. Da casa medieval do século XIV, passando pela casa parisiense finalizando na holandesa as modificações foram profundas.
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Confirmando então que as necessidades habitacionais podem variar conforme os próprios costumes e conhecimentos. A casa da sociedade industrial de acordo com Tramontano (1998, p1) não mais abriga o espaço de trabalho, é habitada por pessoas bem próximas da família, pai, mãe, e filhos. O ambiente masculinizado das fábricas, porém aberto ao público, diferencia-se do espaço doméstico, feminino e privado. Imagina-se a estrutura familiar parecida com a da casa holandesa, porém agora, inserindo mais um ambiente no cotidiano social, a indústria. Marcelo Tramontano relata detalhadamente a vida familiar daquela época: A partir de 1945, a vitória aliada na Segunda Guerra Mundial consagra a cultura norte-americana como referencial de costumes para toda sociedade mecanizada que se queira moderna, difundida, sobretudo, pelo mais poderoso e mais abrangente meio de comunicação de que se havia tido notícia até então: Hollywood, máquina perfeita na divulgação da maneira de morar americana, que incluía eletrodomésticos, automóvel, o marido no papel do forte, inteligente, lógico, consistente e bemhumorado provedor, e a esposa, no da intuitiva, dependente, sentimental, auto-sacrificada, mas sempre satisfeita gerenciadora de uma habitação impecavelmente limpa, agora elevada à categoria de bem de consumo. (TRAMONTANO, Marcelo. 1998, p. 1)
O modelo americanizado de vida, influenciou e muito os ideais nacionais brasileiros. Ao longo deste trabalho de conclusão de curso apresenta-se essa confirmação, o desejo por cidades urbanisticamente, e esteticamente parecidas com o molde internacional, seduzido pela modernidade. Tramontano (1998, p.1), destaca que a partir de então, na segunda metade do século XX, a tipologia familiar tradicional sofreu consideráveis alterações, formando novos modelos de família, como casais sem filhos, casais homossexuais, repúblicas onde não se têm relacionamento parental, pessoas morando sozinhas. Revela-se então grandes transformações que se contrastam ao longo dos anos, e que aos poucos ganham lugar na sociedade.
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Entre as décadas de 1950 e 1960, como aponta (TRAMONTANO, Marcelo. 1998, p.1-2), a sociedade mecanizada, industrializada, começa a ser substituída pela sociedade informatizada, mais tarde tecnológica, rompendo fronteiras, dando liberdade à localização do usuário. O interesse em morar nos grandes centros urbanos diminui diante da possibilidade de agir à longa distância. Ao mesmo tempo, em que ocupam a área central onde há vida noturna e lazer, pessoas solteiras, jovens profissionais, estudantes, ao terem preferência pela moradia de aluguel em poucos metros quadrados, evitando o trânsito para se chegar em casa diariamente. Eis que o estilo de vida familiar se transformou, assim como sua relação com a casa, passando a ser o apartamento, a nova moradia para muitas pessoas. A habitação, conforme Tramontano (1998, p.2) foi modificada em sua disposição física, em seus parâmetros de público e privado, conforme perfis familiares variados, se tornando mais flexível ao uso do ambiente e do mobiliário, mais viável espacialmente e economicamente, conforme o projeto, atendendo à diversas exigências de tamanho. Porém, morar em apartamento para algumas pessoas pode significar falta de privacidade, falta de liberdade, situações que vão além da organização espacial do mesmo. A vida coletiva será discutida no próximo estudo, com a finalidade de enxergar além do óbvio.
2.3. A VIDA EM APARTAMENTO Individual | Coletiva O lar, independente da tipologia, localização, organização, ainda continua sendo o lugar pra onde volta-se depois de um longo dia de trabalho, cansativo e estressante, diante da falta de tempo e da cidade que cada vez mais se complica em congestionamento e barulho. A habitação, seja ela uma casa, ou apartamento, continua a exercer a função de descanso, relaxamento, conforto, abrigo. Rybczynski (1999)
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afirma que a necessidade de conforto, e de bem estar doméstico é fundamental: O bem-estar doméstico é uma necessidade humana fundamental, que está profundamente enraizada em nós e que precisa ser satisfeita. [...] não devemos confundir a noção de conforto com decoração [...] A decoração é primordialmente um produto da moda [...] O comportamento social, que é função de hábitos e costumes, é mais duradouro. [...] As mudanças na moda ocorrem com mais frequência do que as mudanças no comportamento. (RYBCZYNSKI, Witold. 1999, p.22324)
Portanto, o bem-estar humano, é uma discussão necessária, faz parte da função do lar conceder conforto ao usuário, ao morador. Como o estudo acima aponta, o bem-estar doméstico é uma necessidade, tendo ligação com o comportamento social. Tem-se a noção de que conforto é bem mais do que um móvel macio. Conforto pode estar ligado à praticidade, ao estilo de vida facilitado, todo ser humano precisa ser satisfeito em sua alto-estima, preenchida pelo prazer de morar em um ambiente que o agrade visualmente. O homem vem transformando o seu meio desde a pré-história, adaptando-se. Adaptar-se não pode ser encarado como um problema. Porém, os costumes habitacionais estão sendo obrigados a se adaptarem de acordo com as necessidades sociais e financeiras, deixando de lado o principal: o usuário. Conforme Marcelo Tramontano: Criaram um arquétipo, o da habitação-para-todos, baseado em uma concepção biológica do indivíduo, mas a abrangência das proposições que ele continha foi sendo gradativamente desconsiderada pela lógica técnicofinanceira dos empresários da construção, que preferiram apropriar-se apenas de elementos e conceituações economicamente rentáveis. (TRAMONTANO, Marcelo. 1999, p.2)
Como pode-se perceber acima, o estilo de construção coletiva têm deixado de lado as diferenças humanas dos habitantes, priorizando a economia e a técnica. A habitação, precisa transmitir domesticidade ao usuário, não apenas atender às suas necessidades físicas diárias para
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sobrevivência. Essa domesticidade pode acontecer de forma inconsciente como estacionar o carro de um jeito mais cômodo, pendurar as chaves em local visível, deixar o livro onde tem-se o costume de o ler; comportamentos inconscientes mas que revelam a melhor maneira que o usuário encontrou para se adaptar à algum lugar. É como calçar os chinelos ao descer da cama, necessidade e funcionalidade. “O que se precisa é de uma sensação de domesticidade, e não de mais dados; uma sensação de privacidade [...] um ambiente aconchegante.” (RYBCZYNSKI, Witold. 1999, p.226). Se tratando de habitação coletiva, o indivíduo ao se mudar para um apartamento já teria que se adaptar à nova vida, onde deixa sua privacidade total da casa, do quintal, da garagem individual, e passa a compartilhar aquilo que antes era só dele, o lado externo. Compartilhar o endereço, é muito mais do que o número do prédio e a caixinha de correspondências, é também dividir o sair e o chegar, o bom dia e o boa noite. É dividir o latido do cachorro, a gargalhada do vizinho ao lado, o choro do neném, a música, os passos na escada, o espaço no elevador. Netto (1979, p. 41-42) menciona acerca da transição da vida de uma casa para um apartamento, que pela lógica, aproximaria os vizinhos ao diminuir os espaços entre as habitações, porém, acaba afastando ainda mais a relação entre eles, devido aos incômodos gerados por essa proximidade das unidades habitacionais, caracterizados pelos sons produzidos dentro de cada apartamento, transferindo às unidades vizinhas a sensação de invasão, não conseguindo o morador incomodado controlar o barulho que chega ao seu apartamento, levando automaticamente ao afastamento entre estes moradores. Percebe-se que a moradia coletiva potencializa o afastamento entre os vizinhos, contrastando com a proximidade física das habitações, fazendo-se deduzir que o fato desses ambientes estarem tão próximos, causam nos moradores a repulsa ao contato, ao som, às vozes. Violando a tranquilidade que se deseja ao chegar do trabalho depois de um dia
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cansativo, violando à necessidade de acolhimento em sua privacidade, violando a sensação de proteção. Quando se mora em apartamento, a tendência é dividir, compartilhar ambientes
comuns,
começando
pela
calçada,
o
portão,
o
estacionamento, as escadas, os elevadores, os corredores, terminando no tapete à porta de cada apartamento, isso quando não se compartilham outras áreas em comum, por exemplo as de lazer e convivência. A vida é em parte compartilhada, a hora que sai, a hora que chega, o dia da faxina, o dia de festa, as contas do condomínio. A vida da família que mora em apartamento só é individual dentro de sua unidade autônoma. Morar em apartamento requer uma profunda relação entre o público e o privado. Netto (1979, p. 43-48), aponta que o arquiteto deve pesquisar os sentidos básicos fundamentando-se na antropologia, tendo em conhecimento a dimensão sócio econômica das culturas estudadas, sugerindo por meio desses dados, organizações espaciais que trabalhem para o aperfeiçoamento comportamental das relações humanas e o desenvolvimento individual. É fundamental o conhecimento do significado que um espaço têm para determinado grupo social, por isso existe a necessidade de o arquiteto, bem informado, projetar para este espaço novas concepções de utilização combinando privado e comum: Nem o privado deve ser o objeto único das preocupações de arquitetura, nem a imposição do comum deve erigirse em programa de ação absoluto [...] observar que toda modificação geral na sociedade só é efetiva se acompanhada por essas mudanças (atribuição de novos sentidos aos relacionamentos espaciais) ao nível das infra-estruturas. (NETTO. J. Teixeira Coelho, 1979, p.48)
Entende-se que o papel do arquiteto enquanto transformador do espaço não está apenas na sabedoria da técnica, das dimensões, da legislação, mas antes no estudo do comportamento humano desde sua história, do uso dos espaços relacionado com os comportamentos atuais, as valorizações ambientais e espaciais que o indivíduo têm em seu tempo e na sua cultura. Concluindo-se nesse caso, que projetar moradias coletivas não é tão fácil, requer cuidado, atenção, sensibilidade, para
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levar aos futuros moradores um ambiente habitacional desejado, compatível com um estilo de vida no mínimo privado, dentro de cada apartamento. Morar, não é apenas ter onde tomar um banho, comer, repousar, e receber as visitas. A moradia como já estudando anteriormente, é o lugar de conforto físico e também emocional, o indivíduo que possui uma habitação, um lugar para chamar de ‘seu’, conta com sentimentos necessários e fundamentais para o seu bem-estar: a domesticidade, a proteção, a satisfação de viver. De acordo com Gaston Bachelard (2000, p.24-25) a casa é o primeiro universo de quem a habita, sendo importante o habitante expressar seu modo de vida nela, com seus costumes, e suas individualidades. A boas lembranças de bem estar do passado, vive com esse habitante pelo sonho. Netto (1979, p.31) diz que a casa é como se fosse o primeiro abrigo do homem enquanto dentro do útero da mãe, o interior, então a arquitetura como consequência, tomou partido para esse lado manipulando o espaço interior como oposição do espaço exterior. Ou seja, o ser humano têm em relação à habitação, um sentimento maternal, de proteção, de abrigo. Normalmente refere-se na arquitetura como o interior desse ambiente, excluindo o exterior desse acolhimento, da casa. A habitação não é apenas o lado de dentro, mas o lado de fora também, inclusive é o que chega primeiro. O primeiro olhar, o lado de fora é a ‘cara’ da moradia, deveria ser também a cara, e o gosto, do morador, é onde e quando ele chega e diz: ‘eu moro aqui’! Ou, ‘eu moro ali’! A habitação deveria ser marcante, singular, gerar emoções, sensações, ser referência na rua, quem disse que o externo não importa? Netto (1979, p. 33) diz que é relativo interior e exterior, conforme a localização do observador, dentro da casa ou na cidade. Aponta que a fachada é o componente exterior da casa, porém é um elemento interno inseparável da mesma, podendo-se considerar exterior aquilo que está
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afastado como a praça e a rua. Não há exterior sem interior e vice-versa, ambos se completam.
Tem-se assim, uma confirmação da importância do exterior para quem habita o interior. O edifício de apartamento também é assim, várias pessoas moram ali, todas vivem o interior de forma individual, porém, o exterior é sempre igual, a mesma volumetria, o mesmo revestimento no mesmo edifício. Se o indivíduo sente a necessidade de transmitir ao interior de seu lar a sua identidade, por que não também em seu exterior? O Exterior também faz parte da habitação, não é somente a fachada, mas toda sua volumetria. “Um edifício é como uma bolha de sabão. Esta bolha é perfeita e harmoniosa se o sopro é bem distribuído, bem regulado do interior. O exterior é o resultado de um interior.” (CORBUSIER, Le. 2000, p.127). Confirmando então que o lado externo do edifício pode fazer toda diferença para quem mora nele.
Netto (1979, p.34-35) por meio da lógica casa x cidade, questiona sobre a separação de arquitetura e urbanismo, segundo o autor, essa separação só tem a afastar ainda mais a relação casa x cidade sendo necessário evitar este acontecimento, os homens devem projetar a cidade lembrando que ela é feita de casas, e projetar as casas lembrando que elas fazem ligação com a cidade.
Mostra-se então a importância da ligação entre o interno e o externo para o habitante. A produção do espaço na cidade deve ser conectada de uma forma geral. O edifício impacta a vida de quem mora dentro dele, e também de quem o observa do lado de fora.
A volumetria, as cores, as texturas, os materiais, transmitem sensações ao morador assim como para cidade. Porém, no caso da moradia coletiva, a volumetria já vem pronta para o morador, cabe à ele se acostumar, se adaptar, à nova ‘cara’ de seu lar. Mas de quem foi a escolha desse desenho? De quem é identidade que está estampada nessa volumetria coletiva?
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O propósito desse trabalho de conclusão de curso é questionar a importância da volumetria do edifício para o usuário, neste caso, da habitação coletiva. Como levantado neste capítulo a essência da habitação de dentro para fora na vida do indivíduo. Do interior para o exterior, da unidade habitacional para o edifício. A partir de agora, nos capítulos que seguem, o estudo estará focado na relação do homem a partir do lado externo para o interno, ou seja, da cidade para o edifício.
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3.
URBANIZAÇÃO | DAS ALDEIAS ÀS CIDADES O surgimento da urbanização
O surgimento das cidades começou a partir da aldeia, se estabeleceu quando a divisão social do trabalho passou a ser necessária, terceirizando os serviços, recompensando os trabalhadores com o excedente dos produtos, segundo Benevolo (2003, p.23-26). Entendese então que os primeiros passos para o mercado aconteceram a partir da divisão social do trabalho. Percebe-se que a cidade foi concebida pela união de pessoas, gerada pelos acontecimentos sociais, e crescente por meio do mercado tão prematuro, mas que já funcionava, e que serviu de combustível para a evolução. O surgimento dos grupos sociais aconteceu a partir de então, nasceram também junto com os serviços terceirizados dois grupos sociais, o superior e o submisso. Entretanto, possibilitou-se o desenvolvimento das indústrias e serviços através da especialização, contribuiu-se para o crescimento da produção agrícola, tornando a sociedade capaz de evoluir de acordo com seus projetos. Segundo registros mapeados, de 3.500 a 1.500 a.C. a civilização se desenvolveu nos seguintes territórios: Siria, Mesopotâmia, Iran, Asia Minore, Egito, India, Spagna, Creta, Grecia, Cina. (BENEVOLO, Leonardo.2003, p.23-26) Durante a história da civilização, rápidas transformações aconteceram, Benevolo (2003, p. 26) relata que a cidade além de ser maior que a aldeia se transformou em velocidade superior, marcando o tempo da nova história civil. Ou seja, o que antes era de todos, fruto de um trabalho coletivo, cooperativo, passou a ser economicamente valorizado, e distribuído segundo a vontade do governo. Imagina-se então, pessoas andando pela prematura cidade, vivendo costumes que vieram ao longo do tempo sendo alterados aos poucos. Benevolo (2003, p. 26-27) descreve os principais acontecimentos onde a urbanização começou, pode-se perceber que o início da mesma
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estabeleceu-se com certa tecnologia, garantindo abastecimento de água, relações comerciais, trocas de mercadorias e notícias. Os objetos úteis como a roda e o carro, puxado pelos bois proporcionando transporte favorável de pessoas e cargas, assim como as embarcações, possibilitando novos horizontes comerciais, produção coletiva, aumentando a concentração de excedente e também a população, segurado pelo domínio da cidade sobre o campo. Observa-se que o trabalho coletivo evoluiu rendendo bons resultados. A economia avançou, a população e os produtos aumentaram, aparentemente pela boa administração do governo sobre o campo. Na Mesopotâmia, a planície era banhada pelo Tigre e Eufrates, os governantes das cidades representantes do Deus local, administravam a riqueza visando prover alimento para toda a população, fabricavam-se e importavam-se os utensílios, e ainda registravam-se as informações e os números que lideravam a vida da comunidade. Canais repartiam a água, possibilitando o transporte de produtos e matérias-primas para todo lugar; muros cercavam a área da cidade e a defendiam dos inimigos; os templos, as pirâmides e as casas eram construídos de tijolos e argila. (BENEVOLO, Leonardo, 2003, p. 26 – 27) Percebe-se uma certa organização sócio econômica e espacial por meio dos relatos acima. Tinha-se o instinto defensivo através dos muros que cercavam as cidades, demostrando além disso, que a segurança do povo era pensada de forma coletiva, mais do que individual. As cidades sumerianas, início do II milênio a.C. abrigavam muitos habitantes, a estrutura espacial da mesma era formada de modo a defende-la dos inimigos, por um muro e um fosso, excluindo o ambiente externo natural, do interno da cidade. Sinais de urbanização racional se manifestavam pelas mãos dos homens, substituindo o entorno desértico em paisagem artificial. Benevolo (2003, p. 27), descreve que “O terreno da cidade já é dividido em propriedades individuais entre os cidadãos, ao passo que o campo é
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Percebe-se acima, a diferenciação de interior e exterior, quando relatado que excluíam o ambiente interno da cidade do externo natural. Já estabeleciam as paisagens como bem entendiam, trabalhava-se a urbanização. Imagina-se por meio dos dados acima, cidades organizadas estruturalmente, com edifícios grandiosos, representando autoridade, sobre a população. O significado desses edifícios antigos, na história da verticalização até a atualidade, permite-se dizer, que possuíam variações significativas. Com o passar dos séculos, a imagem dos arranha-céus, comparando-se com as pirâmides pela sua volumetria grandiosa, transmite popularmente um ar prejudicial à paisagem, tornando uma presença incômoda aos olhos de algumas pessoas. Para seguir em diante o estudo das concentrações urbanas, como foco na história da verticalização, finaliza-se este contexto histórico tendo como base ainda a Mesopotâmia, que segundo Benevolo (2003, p. 32), suas cidades até meados do III milênio, formaram vários Estados independentes, que lutaram entre si, disputando a repartição da planície irrigada pelos rios, colonizando-a. Consequentemente resultou-se na criação de novas cidades residenciais comandadas pelos palácios dos reis e não mais pelos templos, assim como também nas primeiras metrópoles, Nínive e Babilônia. Cabe-se ressaltar que conforme o objetivo deste trabalho, convém que a contextualização histórica da urbanização dê continuidade a partir século XVIII, período em que a verticalização, objeto principal deste estudo, se desenvolveu consideravelmente.
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3.1. URBANIZAÇÃO | VERTICALIZAÇÃO NO CONTEXTO HISTÓRICO
O termo ‘verticalização’ pode referir-se a inúmeros elementos. No trabalho abordado, refere-se a verticalização das cidades. Construção de tipologia consideravelmente erguida rumo às alturas, conhecida popularmente como edifício e/ou arranha-céu. De acordo com o dicionário online Aurélio a palavra ‘vertical’ significa: a.
1 Linha paralela à direção do fio de prumo. 2 círculo vertical: círculo máximo da esfera celeste cujo plano contém a vertical do ponto de observação. 3 Que forma um ângulo reto com o plano do horizonte. 4 Que está colocado no vértice. 5 Direito, aprumado. 6 Que está organizado segundo um esquema hierárquico.
Supõe-se, a partir das afirmações extraídas do dicionário online Aurélio que: a verticalização no âmbito da construção civil, seria um edifício em linha paralela à direção do fio de prumo. Construção que forma um ângulo reto com o plano do horizonte, e que seja direita, aprumada. A citação abaixo nos permite ter um breve conhecimento sobre a cidade vertical: A cidade vertical envolve a noção de edifício alto, de arranha-céu. A verticalização foi definida como a multiplicação efetiva do solo urbano, possibilitada pelo uso do elevador. A essa ideia associam-se a característica da verticalidade, o aproveitamento intensivo da terra urbana (densidade) e o padrão de desenvolvimento tecnológico do século XX, demonstrando-se a relação verticalização/adensamento. (SOMEKH, Nadia. 1997, p.20)
Verticalização seria então o melhor aproveitamento do solo urbano rumo às alturas, adensar, e com isso marcar a imagem da cidade em sua
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paisagem. Imagens retiradas do livro história da cidade, permite-se concluir que a técnica de verticalização já era usada na habitação desde a antiguidade, perceba o uso da escada na habitação abaixo:
Figura 5 - Casas na aldeia neolítica da Hacilar, na Turquia; cerca de 5000 a.C. Toda casa compreende um amplo vão, sustentado por colunas de madeira e dividido por tabiques leves. A escada à direita leva a um andar superior, destinado, talvez, a servir de água-furtada ou terraço. (Repare no círculo amarelo)
Fonte: Livro - História da cidade - Leonardo Benevolo, 2003, p.23
O uso da escada nessa edificação deixa claro a consciência de segundo andar, de aproveitamento de espaço vertical, possivelmente sustentado pelas robustas paredes. Confirmando que a verticalização é bastante antiga, e essa técnica foi progredindo ao ponto de se obterem construções monumentais capazes de mexerem com a imaginação humana, a questionar sobre como foi possível tamanha realização. É o caso das pirâmides, como percebe-se abaixo:
38 Figura 6 - Ur. Planta da cidade, e axonometria da zigguart 1 em duas épocas sucessivas.
Fonte: Livro - História da cidade - Leonardo Benevolo, 2003, p. 28
Repara-se na figura acima, o nível de verticalização adotado naquela época. Segue-se a história da urbanização, para o século XVIII, apontará alguns marcos da verticalização. A partir de agora, neste trabalho de conclusão de curso, a contextualização acontecerá na cidade de São Paulo desde a revolução industrial até as décadas vindouras. Durante a revolução industrial, que mudou o sentido dos acontecimentos na Inglaterra e posteriormente no restante do mundo, com o acréscimo da população pela diminuição da taxa de mortalidade; o aumento dos produtos e serviços da agricultura, indústria, atividades terciárias, causados pelo avanço tecnológico e econômico. Com o aumento demográfico e das alterações na produção, houve o
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remanejamento dos habitantes nas cidades, o surgimento das estradas de ferro, dos navios a vapor. (BENEVOLO, Leonardo, 2003, p.551-52) A revolução industrial foi então, o combustível que precisava para a modernização das cidades, causado pelas grandes transformações sobre o território Inglês, se espalhando por todo o mundo.
3.2. VERTICALIZAÇÃO EM SÃO PAULO Das crises às conquistas modernizadoras
Grandes oportunidades acontecem durante uma grande dificuldade. O processo de verticalização demandou mudanças significativas em São Paulo, algumas alavancaram a modernização da cidade, vieram a partir de crises. Sabe-se que em situações difíceis nascem as grandes oportunidades, e foi assim que aconteceu. A partir então, o processo de verticalização foi inevitável.
Até 1870, na situação econômica do país, São Paulo passava desapercebida, destacando-se a partir da economia cafeeira, que contribuiu para o desenvolvimento industrial e urbano no Estado de São Paulo. A partir de 1890, a cidade tornou-se o principal eixo produtor de café no Brasil, cativou o capital estrangeiro, possibilitou a instalação da rede ferroviária, criando conexão entre as principais regiões cafeeiras a São Paulo, induzindo-se então aos negócios, provocando a migração interna para a cidade, auxiliando-se o andamento do setor terciário. (SOMEKH, Nadia,1997, p.66).
Quantas mudanças! A cidade a partir de então ganhou impulso para o seu desenvolvimento. Imagina-se então que São Paulo passou a ser não só o centro econômico e industrial, mas também o centro das atenções populacionais, desejadas pela melhoria de vida, depositando-se os sonhos e expectativas futuras nesse novo contexto social.
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Figura 7 - – São Paulo 1900. Colocação de trilhos de bonde na Rua Direita com Rua São Bento. (Informação conforme a fonte da imagem).
Figura 6 - São Paulo em 1900. Inauguração da linha de bondes Bom Retiro, em 12 de maio de 1900. (Informação conforme a fonte da imagem).
Fonte: smdu.prefeitura.sp.gov.br, 2015 (imagens agrupadas acima)
Percebe-se pelas fotos, a atenção das pessoas para com as melhorias urbanísticas, tudo era novidade! E a fotografia permitiria registrar a realidade progressiva da cidade de são Paulo. O bonde, a indústria cafeeira, as máquinas. Sinais de industrialização e progresso.
Figura 9 - São Paulo 1911. Embraque de café no Porto de Santos, Guilherme Gaensly. (Informação conforme a fonte da imagem).
Figura 7 - Imagem representativa da produção do café.
Fonte: Sampa Histórica, 2015 (imagens agrupadas acima)
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Com a primeira Guerra Mundial paralisaram-se as importações de café por parte dos países estrangeiros, cedendo então, parte do capital para as indústrias nacionais, superando também a crise de 1929. (BOVO, 1974 e DEAN, s.d. Apud SOMEKH, Nadia, 1997, p. 68).
Percebe-se que a cidade venceu as crises, criando novos horizontes industriais. A modernização da cidade não pararia, quanto mais pessoas, mais equipamentos públicos são necessários, assim como também novos espaços para moradias, e a construção delas. A infraestrutura frágil não sustentaria um turbilhão de pessoas vindo em direção à São Paulo.
3.2.1. Mais pessoas | Mais consumo
De 1889 a 1916 a cidade consolidou a função bancária, comercial, industrial e acelerou o processo de urbanização, firmando novos loteamentos, novas avenidas, viadutos, modernizando a infraestrutura. Em 1900 a cidade de São Paulo já contava com 250 mil pessoas, bairros residenciais modernos, operários trabalhando em indústrias. (SOUZA, Maria Adélia. 1994, p.50). Em 1920 São Paulo ultrapassava a liderança industrial do Rio de Janeiro e Distrito Federal. O aumento do consumo contribuiu para a consolidação de pequenas indústrias. A verticalização, mesmo com as crises continuou em alta, mostrando movimentação entre produto industrial e setor imobiliário. (SOMEKH, NAdia,1997, p.68-69).
Em 1920, a cidade era considerada como uma grande metrópole pela imprensa, potencialmente crescente rumo ao desenvolvimento podendo ultrapassar o Rio de Janeiro e Buenos Aires. A imagem de cidade acolhedora, de vida fácil, revelava-se uma ilusão, lutavam-se pela adaptação à metrópole, quanto às novas tecnologias, aos novos padrões de vida, impostos pela influência internacional. O caos era visível, não negando o novo ritmo de estilo e desenvolvimento. “Com exceção da
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área central e dos bairros mais nobres, a cidade apresentava o aspecto de ‘aldeia de garimpeiro do faroeste americano” (SEVCENKO, 1992, p. 31,38,109. Apud SOMEKH, Nadia. 1997, p.80-81).
Observa-se que o resultado industrial até então alcançado proporcionou uma relação de desenvolvimento construtivo gigantesco na cidade, enfatizando o processo de verticalização. O uso dos padrões europeus mostra que a verticalização não surgiu no Brasil, e que essa tipologia aparentemente foi bem aceita pela sociedade quebrando qualquer tipo de resistência cultural. Porém, como toda grande transformação, os impactos negativos são inevitáveis, a cidade recebe cada vez mais habitantes em um processo rápido, mas a adaptação de todos junto com as mudanças na infraestrutura da cidade demoraria algum tempo, obviamente. Imagina-se então, um ambiente barulhento, carro, gente, máquinas, construções sendo levantadas, pessoas se adaptando à correria, à tecnologia. Tudo era novo, apesar das dificuldades, o entusiasmo parecia evidente! E graças às influências internacionais.
Com a presença verticalizada no centro, acentuou-se a concentração do trânsito, já que, mais andares, mais serviços em um só lugar. Internacionalizaram o estilo, o uso do automóvel, a cultura por meio do cinema sonoro no final dos anos de 1920, importavam-se materiais e mão-de-obra com desejo de modernização, pois os mesmos não eram encontrados em São Paulo. (SOMEKH, Nadia.1997, p.81-82).
Percebe-se que a cultura americanizada influencia também os meios de comunicação e entretenimento, provavelmente causando na população mais desejo pela modernização. Imagina-se que a importação de materiais e mão-de-obra especializada revela que a tipologia construtiva aderida pela cidade não era conhecida aqui. Diminuindo-se então o emprego dos nativos nesta área, causando um impacto negativo por um lado, mas ao mesmo tempo por outro, proporcionou-se novos conhecimentos tecnológicos e de aprendizagem para o mercado da construção.
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Surge a partir de então a famosa verticalização. E ela vem com tudo para dar o ar da graça da tão sonhada modernização! Somekh (1997, p.23) relata que de 1920 a 1930 a reprodução dos padrões europeus era predominante na cidade, porém, já era nessa época influenciada pela cultura norte americana. A verticalização começa no centro e vai se espraiando para o restante dos bairros, é de uso terciário e de aluguel. Os parâmetros urbanísticos ainda não eram ajustados pela legislação, fazendo com que os índices do coeficiente de aproveitamento atingisse às alturas.
A falta de uma legislação preparada, faz-se pensar que a verticalização foi crescendo sem limites, provocando-se então um problema urbanístico para o futuro, o adensamento excessivo. Abaixo destacamse imagens do período de 1910 a 1929 na cidade de São Paulo, evidencia-se as construções, a aparência das ruas, dos carros, da vida urbana.
Figura 11 - São Paulo em 1910. Encontro de mulheres, na região do “mercado dos caipiras”. (Informação conforme fonte da imagem).
Figura 8 – São Paulo em 1915, Rua Quinze de Novembro 1915. (Informação conforme a fonte da imagem)
Fonte: smdu.prefeitura.sp.gov.br – (imagens agrupadas acima)
44 Figura 9 - Imagens de São Paulo entre 1920 a 1929. São Paulo em 1920
São Paulo em 1925.
São Paulo em 1928.
São Paulo em 1920.
São Paulo em 1928.
São Paulo em 1929.
Fonte: smdu.prefeitura.sp.gov.br – (imagens agrupadas acima)
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3.2.2. Construção civil | Demanda | Tecnologia | Nacionalização
Quanto às tecnologias utilizadas até então no processo construtivo, destacaram-se as estruturas metálicas para os prédios mais altos, o concreto armado, e o elevador, todos até então eram importados. O uso da estrutura metálica era menos viável, além da necessidade de contratação de técnicos estrangeiros para sua execução, incentivando então, a introdução de indústrias fornecedoras de cimento, instalandose em 1926 uma fábrica em São Paulo, material cada vez mais solicitado pelo movimento construtivo. (SOMEKH, Nadia. 1997, p. 73),
O concreto armado se tornou preferencial, além de ser mais barato poderia ser moldado no canteiro de obras, e, sem a necessidade de mãode-obra especializada: “Embora não produzíssemos o cimento nem o ferro redondo, o custo do concreto armado ficava bem mais barato e tinha a vantagem de ser preparado na própria obra, sem exigir mão-deobra qualificada.” (Homem, 1984, p.104. Apud SOMEK, Nadia. 1997, p.73).
Percebe-se que a indústria construtora estava cada vez mais equipada, além de importar materiais, podendo-se escolher o mais adequado a ser utilizado em suas construções, analisando do ponto de vista da viabilidade e técnica. Sem dúvidas, tem-se a ideia de que os fornecedores da construção civil observavam com olhar promissor o futuro da mesma no Brasil, não medindo esforços para o desenvolvimento urbano, econômico, e cultural.
Consta-se historicamente em Stiel (1978) citado por Somekh (1997, p.74), que a energia elétrica começou a ser usada no Brasil a partir de 1892. Possibilitando assim o uso dos elevadores que eram importados, porém montados em terras brasileiras, ainda havendo uma contradição quanto ao primeiro instalado em São Paulo, entre os dados obtidos temse duas hipóteses: uma diz que teria sido no Hospital Santa Catarina em
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1918, outra, diz que foi na Penitenciária de São Paulo, em Santana. A nacionalização do elevador aconteceu em 1926.
Figura 10 - Criação do elevador.
Os primeiros elevadores, que tinham pouca capacidade e se movimentavam através de motores a vapor, eram capazes de subir cinco andares em cerca de um minuto. Era o início de uma revolução na história da arquitetura e até o final da década seguinte já havia mais de 2.000 elevadores em operação na cidade. (Texto retirado da fonte da imagem).
Primeiro elevador da história instalado em 23 de março de 1857, em um grande armazém de cinco andares em Nova Yorque. (Informação retirada da fonte da imagem)
Fonte: Espel Elevadores – (imagens agrupadas acima)
3.2.3. Desejo modernizador
Desde a antiguidade, conforme a modernização era encarada como um privilégio cultural usado para o próprio homem, uma sabedoria voltada mais especificamente para a ciência. Infelizmente, na história da
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humanidade o homem vem distorcendo essa sabedoria, e a transformando em uma verdadeira arma contra o mundo. (SOMEKH, Nadia. 1997, p.36), Percebe-se acima, que o conceito de modernidade é bem antigo. O homem com toda sabedoria ao seu dispor, por meio da ciência, a racionalidade e outros conhecimentos, desde a antiguidade já utilizava essas qualidades para a própria queda. Percebe-se que quando usada para bons fins ainda se limitava à elite.
O urbanismo existe por alguns motivos extremamente importantes, um deles é resolver os problemas ocasionados no ambiente social, porém, as diferenças de ideologia dificulta este processo: as disposições conservadoras do poder público e as reformas socialistas coletivas dos urbanistas. (SOMEKH, Nadia. 1997, p. 37).
De acordo com Somekh (1997), existe uma diferença entre modernidade, modernismo e modernização. A cidade de São Paulo por meio da ação dos urbanistas, exibe aspectos mais modernizadores, do que modernos ou modernistas. Refletindo interesses capitalistas e não sociais. “O urbanismo moderno tem como objeto central a cidade, o plano como instrumento principal e a questão social como discurso.”. “O urbanista modernista propõe a transformação efetiva da sociedade e das desigualdades sociais.”. “O urbanismo modernizador simplesmente se enquadra no projeto de acumulação de capital e nas leis coercitivas da competição que prevê inovações constantes. O espaço urbano, entendido como máquina, produz valor.” (SOMEKH, 1997, p.38-39). Entende-se então que, o urbanismo moderno considera a cidade em seu aspecto físico, usando o plano terrestre como o principal instrumento, mas a questão social estaria apenas no discurso. Pode-se deduzir que o resultado esperado seria uma cidade mais visual, funcional, que social.
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O urbanista modernista, seria a forma correta de pensar o urbanismo, importando-se com o desenvolvimento humano, e a redução das desigualdades sociais, todos os representantes responsáveis por este tipo de urbanismo, a começar pelo arquiteto urbanista em sua legítima atuação, preocupam-se com o bem da sociedade, e o bem coletivo. Entende-se que urbanismo modernizador, coloca acima das questões sociais as leis competitivas buscando inovações progressivas, e acúmulo de capital. O bem da sociedade deixa de ser prioridade, onde a sua cidade é estudada como um olhar de mercado.
Pensar a cidade é dever não somente dos urbanistas, mas dos responsáveis administrativos da mesma, do governo. A priorização da sociedade coletiva é fundamental para a igualdade social, assim como para a educação cidadã sobre como deve-se viver a cidade. Conclui-se com base nos três tipos de urbanismo, que nem sempre as leis terão como foco o lado social, e do bem estar populacional, mostra-se que a lei é falha, justificando mudanças na mesma sempre que for necessário.
3.2.4. Projetos e leis urbanísticas | Interesses arquitetônicos
No período de 1911 a 1930, implantam-se uma série de projetos urbanísticos adequando-se a infraestrutura da cidade, entre eles: reurbanização, construiu-se avenidas, alargou-se e calçou-se as ruas, reformas sanitaristas, aprovou-se leis para o progresso da cidade, estruturou-se linhas de ônibus, desapropriou-se para edificação de avenida. Ocorreu o desenvolvimento da cidade no decorrer de 19 anos, enquanto a população crescia em seu número. (SOMEKH, Nadia, 1997, p.75-76)
49 Figura 11 - Avenida São João, 1930.
Fonte: Editora Horizonte
O processo de verticalização foi aos poucos se encaixando dentro da cidade, segundo Somekh (1997, 39-64), três urbanistas trabalharam para guia-la como acreditavam ser a melhor forma. Segue seus principais ordenamentos:
Vitor da Silva Freire, defendia o melhor aproveitamento dos terrenos, adensamento regulado com o sistema viário, e a participação da sociedade quanto às leis. Ele tinha como referência ao zoneamento alemão, e também as leis norte-americanas.
Anhaia Mello, também tinha como referência o urbanismo internacional, principalmente o Estados
Unidos.
Defendia a
verticalização com adensamento limitado. Tinha como foco a eficiência da cidade, com o propósito idealista da cidade-jardim. A inclusão da sociedade no planejamento urbano era para ele fundamental, alegando que a opinião pública tinha um grande poder decisivo, comparava-se a sociedade como sócio capitalista do negócio, no caso, a cidade, e a publicidade como o segredo da vitória. Anhaia Mello criou o
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zoneamento da cidade, defendendo-o como uma solução que resolveria os problemas urbanísticos.
Prestes Maia, apoiava uma verticalização e adensamento adequado, prevenindo-se congestionamentos, melhorando o espaço urbano, pensando também na estética do mesmo. Defendia o zoneamento. O momento histórico e econômico era para Maia, propício para aprimorar a cidade. Para Prestes Maia a variedade de altura nos edifícios poderia gerar silhuetas diferenciadas, e que nem sempre, a homogeneidade de altura daria um poderoso efeito de formação. O maior defeito do gabarito irregular era, para ele, a nudez das laterais dos edifícios altos, sendo possível resolver com uma regulamentação apropriada. O pensamento popular, segundo Prestes Maia, estimava a situação de caos urbano, confundindo-a com índices de progresso em meio a desorganização construtiva.
Como pode-se ver, a visão dos três urbanistas que tiveram grande acesso ao planejamento de São Paulo, em comum tinham-se a ideologia internacional, cada um à sua maneira. A importância da qualidade da cidade para a população, é como o sangue é para o organismo, sem ele percorrendo o corpo, o mesmo não sobreviveria, assim é a população vivendo dentro da cidade. Mais importante do que viver dentro dela, é viver a cidade. Em síntese o zoneamento representaria a solução para todos os problemas urbanos existentes até então. Pode-se dizer que é planejamento para o futuro de uma cidade melhor. Seria possível planejar para o futuro, e agir no futuro da forma como foi planejado no passado? Sabe-se que a cidade vive em constante mudança desde que ela existe, a modernização é uma delas.
A eficiência da cidade está além do parâmetro capitalista e rentista, refere-se também à qualidade de vida e serventia para a sociedade. A cidade é, antes dos interesses capitalistas e comerciais, o habitat da população. Pensar em bem estar, é também pensar na qualidade de vida urbanística. Não seria proibido pensar no capital, mas, pensa-lo sem
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ganância, reconhecendo que o sistema capitalista faz parte da sociedade atual, porém, devendo ser investido de forma sábia a favor de toda a população, sem excluir as classes mais baixas. A cidade é direito de todos, planejá-la é uma tarefa difícil, porém fundamental, o sucesso desse plano, buscando vida com qualidade no meio urbano, depende da inteira dedicação e fidelidade ao bem comum.
E qual a relação da discussão urbanística com esse trabalho de conclusão de curso que trata da volumetria comunicativa e sensorial de edifícios? A relação está no fato de que a legislação de uma cidade, influencia muito no resultado visual da mesma, tanto que é por meio da lei que se estabelece o zoneamento, que por sua vez estabelece os parâmetros urbanísticos, que ditam o coeficiente de aproveitamento, a taxa de ocupação, refletindo assim no resultado arquitetônico volumétrico costumeiro dos edifícios.
3.2.5. Características modernas | Os edifícios que marcaram sua história A fisionomia e as características da cidade mostravam que São Paulo ‘não era uma cidade nem de negros, nem de brancos e nem de mestiços; tampouco de estrangeiros ou de brasileiros, nem americana, europeia ou nativa; nem era industrial, apesar do volume crescente das fábricas, nem entreposto agrícola, apesar da importância crucial do café; não era tropical, nem subtropical; não era ainda moderna, mas já não tinha mais passado. (Sevcenko, 1992, p.31. Apud SOMEKH, Nadia. 1997, p. 80)
A
expressiva citação acima é clara quanto a falta de características
físicas da cidade, imagina-se que sua aparência não teria mais raízes históricas visualmente percebidas, e nem sensorialmente. São Paulo neste momento é de todos! Todos que chegaram, se instalaram, e todos que ainda virão. Alguns edifícios tiveram um significado marcante para a cidade de São Paulo segundo Somekh (199, p.83) começaram com o uso terciário na área central, entre eles, os primeiros:
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A casa Médici – 1912, 9 andares no total, primeiro edifício de escritórios e também em estrutura de concreto armado. O responsável pelo projeto foi o arquiteto Christiano Stokler das Neves. Figura 12 - Edifício comercial Casa Médici.
Fonte: Estadão Cultura, São Paulo na contramão.
Observa-se que o ornamento das fachadas era bastante trabalhado, aparentemente, o edifício foi construído de acordo com o contorno do terreno. Conclui-se que a aparência do edifício era valorizada nos mínimos detalhes, talvez, ainda não pensava-se a arquitetura modulando-se o volume macro do edifício, compensando-se então nos detalhes micro conforme a foto acima.
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Edifício Guinle – 1913, 8 andares, estrutura de concreto armado, o responsável pelo projeto foi o engenheiro Hyppolyto Pujol Jr. Figura 13 - Edifício Guinle.
Fonte: Blog Casas Bacanas. (Imagens agrupadas acima.)
Mais um exemplo de edifícios em que o ornamento era a tendência, percebe-se pelas fotos que foi construído nas divisas e que a volumetria desse edifício não vai muito além dos detalhes decorativos.
A verticalização era tão desejada pelo anseio modernizador conforme Somekh (1997, p.93), e ao mesmo tempo encorajada pela legislação que os engenheiros queriam ultrapassar os limites de altura, levando-os a negociar com a prefeitura. Conseguindo-se então alcançar seus interesses. Imagina-se, arquitetos e engenheiros ansiosos, maravilhados com a novidade, querendo sempre mais da tecnologia. O edifício Sampaio Moreira foi o primeiro a furar a lei passando dificuldades para aprovação na Prefeitura, assim como o edifício Martinelli.
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Sampaio Moreira – 1924, 14 pavimentos em concreto armado, responsável pelo projeto, Christiano Stockler das Neves.
Figura 14 - Edifício Sampaio Moreira.
Fonte: Sampaio Moreira – Valdo Resende. (Imagens agrupadas acima.)
Admira-se a riqueza de detalhes ornamentais da fachada frontal desse edifício, deduzindo-se que naquela época a aparência dos edifícios era valorizada, e a volumetria era trabalhada a nível de detalhes. Imaginase que o cuidado dos responsáveis arquitetônicos e governamentais para com este edifício antigo, assim para com os outros mostrados aqui, seja com propósito de preservação da história arquitetônica da cidade. Evidencia-se mais uma vez a importância de se construir pensando no impacto que a edificação causará na cidade, a busca por uma arquitetura de referência cultural e simbólica marca a história da cidade.
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Martinelli – 1929, 25 andares. (SOMEKH, 1976, p.27. Apud SOMEKH, Nadia, 1997, p. 93) Figura 15 - Edifício Martinelli
Fonte: Catharinawives blogspot - Catha très très chic! (Imagens agrupadas acima.)
Surpreende-se com tamanha grandeza desse edifício construído na década de 1920. Imagina-se o sentimento de deslumbramento dos realizadores dessa obra. Sente-se mesmo através das fotos, um ar sombrio desse edifício. Percebe-se como a volumetria pode gerar
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sensações, emoções, principalmente conhecendo a história. Observa-se que no edifício Martinelli foi trabalhado nos detalhes decorativos em todas as fachadas em que aparecem nas fotos. Observa-se a transformação das características construtivas ao longo do tempo ao comparar o Martinelli com os edifícios atuais ao seu redor.
Esses foram alguns dos edifícios construídos e que marcaram a história da verticalização no Brasil, em São Paulo, e marcaram também a história da construção civil pela ousadia de arriscar, progredir, ir além, ao utilizar todas as técnicas possíveis. Aplaude-se os homens que possibilitaram as pessoas da atualidade a conhecerem essas obras de arte. Edifícios em sua arquitetura, são obras de arte, são esculturas monumentais,
transmitem
a
história,
marcam
territórios,
se
transformam em símbolos. Existem hoje, edifícios atuais com potencial construtivo capazes de marcar a história daqui a algumas décadas? Claro que todos os edifícios construídos hoje, futuramente representarão a história, mas, há uma diferença entre marcar a história pela sua idade, e, marcar a história pela referência simbólica que estes tiveram para a sociedade.
3.2.6. Arranha-céu e seu impacto | Habitante | Paisagem
Ao andar pela cidade, muitas vezes não leva-se em conta a paisagem ao redor, o olhar está ligado na direção do volante do carro, na direção da moto, ou em cada passo dado, mas, raramente tem-se a curiosidade de observar o espaço ao redor, a rua, a avenida, as casas, os puxadinhos, os edifícios médios até aos mais altos. E se, por acaso, deixa-se levar pelo visual do entorno, raramente se surpreende com marcante beleza. Voltando-se para o ponto de vista dos edifícios, de forma geral, eles marcam a paisagem da cidade? Positivamente ou negativamente? Na história da verticalização já se questionavam a estética da cidade, mais precisamente dos edifícios altos:
57 “Muita gente combate o arranha-céu. E há os que exclamam com ar de lástima: que pena! Estragaram a paisagem. Não é tanto. Um conjunto harmonioso de arranha-céus de altura compatível com a largura dos logradouros, urbanisticamente projetados, cujos edifícios estejam convenientemente separados por zonas verdes, garantidas as novas técnicas de boa iluminação e ventilação, oferece ar de grandeza, de imponência, de robustez e empresta à paisagem um aspecto geométrico que não deixa de ter seu belo.” [Aspas da fonte] (GODOY, Armando Augusto de. 1925, p.19. Apud SOMEKH, Nadia. 1997 p, 98)
A beleza do arranha-céu está no ponto de vista do observador, mais popularmente ‘nos olhos de quem o vê’. A citação acima mostra um incômodo quanto ao impacto do arranha-céu para o observador, o autor destaca que estes mesmos edifícios que perturbam a paisagem para alguns, foram ‘perfeitamente’ projetados, dentro dos padrões urbanísticos de zoneamento, condicionantes ambientais, e ainda permitem à paisagem experimentar uma figura grandiosa, geométrica que ainda sim, tem sua beleza.
Confirma-se então que os parâmetros construtivos estabelecidos pela lei, nem sempre contribuem para se viver uma cidade visualmente satisfatória e feliz. Mesmo levando em conta o ponto de vista de cada pessoa quanto à beleza de determinado edifício, sabe-se que a lei é quem dita as regras, ela é que determina indiretamente o resultado físico e volumétrico da edificação. Mesmo que o arquiteto projete com certa liberdade criativa, não permite-se ir além na volumetria, restrição causada também pelo tamanho e formato do terreno.
Percebe-se que além da altura das edificações, havia a vontade de mudar de ‘cara’, o arquiteto Rino Levi, ousou em seu discurso tentando incentivar os demais a serem mais originais quanto à forma e materiais.
O ecletismo que marca a arquitetura dessa época apresentava sinais de esgotamento. Quatro anos após a Semana de Arte Moderna, de 1922, Rino Levi publica um artigo, no qual defende a simplicidade e a sinceridade dos elementos decorativos. Para Levi, as velhas formas e os velhos sistemas já haviam tido sua época. Era necessário
58 que o artista criasse algo novo, capaz de obter maior fusão entre estrutura e decoração. [...] “É preciso estudar o que ser fez e o que se está fazendo no exterior e resolver nossos casos sobre estética da cidade com alma brasileira. Pelo nosso clima, pela nossa natureza, e pelos nossos costumes, as nossas cidades devem ter um caráter diferente das da Europa. Creio que a nossa florescente vegetação e todas as nossas inigualáveis belezas naturais podem e devem sugerir aos nossos artistas alguma coisa de original, dando às nossas cidades uma graça de vivacidade e de cores, única no mundo.” [aspas da fonte] (LEVI, Rino. 1926, p. s/n. Apud SOMEKH, Nadia. 1997, p.96)
Admira-se a autenticidade de Levi, seu desejo por mudança na estética da cidade, comprometendo-se com a identidade brasileira acima dos costumes estrangeiros. De fato, para se ter uma arquitetura de sucesso, além de copiar os bons exemplos internacionais, deve-se usá-los dentro dos padrões nacionais, mantendo o estudo da nação, aprimorando a arquitetura com o melhor que o território brasileiro tem a oferecer quanto aos materiais, técnicas, e conhecimento. Deve-se estudar o caráter da sociedade, ser fiéis aos usuários em suas necessidades, utilizar materiais e mão-de-obra nativa, inovar na criatividade do arquiteto, a cidade teria potencial para atrair os olhares, transmitir sensações, emoções, e memória marcante aos usuários.
A arquitetura dos arranha-céus faz surgir um estilo novo, em que predominam as massas e as linhas verticais. Os ornamentos, que teriam surgido para proteger as paredes da ação de agentes atmosféricos, não se justificam e desaparecem com as grandes alturas. A beleza dos novos edifícios era, no entanto, questionada: “É indiscutível que inúmeros dos últimos monumentais edifícios de Nova York, Chicago e São Francisco apresentam notável beleza arquitetônica, resultante de uma feliz combinação de volumes em níveis diferentes. Infelizmente, como tal arquitetura só pode ser apreciada de longe, os arranhacéus vão envolvendo uns e outros. [...] Pode-se dizer que a arquitetura a três dimensões, de muitos arranha-céus, está desaparecendo e que somente os edifícios de pequena altura [...] são os únicos cuja estética pode ser apreciada”. [aspas da fonte] (GODOY, Armando Augusto de. 1926. Apud SOMEKH, Nadia. 1997, p.100)
Um ponto significativo para o trabalho que segue-se, é a questão da volumetria dos edifícios residenciais atuais (2015), especialmente
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aqueles resultados das cópias arquitetônicas, do qual garantem o lucro esperado pelos incorporadores. Fato é, que a imagem da cidade está vulnerável a quaisquer construções erguidas sobre o terreno. Na citação acima, o autor, revela que quanto mais alto um edifício, mais se torna complicada a visualização do seu volume estético, que além disso vai sendo obstruído pelos demais edifícios ao seu redor.
O autor afirma que a beleza dos edifícios monumentais só poderia ser apreciada a longa distância. Consequentemente a observação dos edifícios pelo usuário externo torna-se difícil caso ambos estejam próximos. Concluindo, não adianta o edifício ser monumental em sua grandeza, esteticamente atraente ou não, se o observador estiver perto do mesmo não poderá apreciá-lo, a não ser em seus detalhes. A cidade observada de longe é linda, contemplativa para a maioria das pessoas em seu conjunto composto pelas edificações. Quando observa-se os edifícios individualmente tem-se a mesma admiração visual? Esta pergunta fortalece a importância do estudo da volumetria dos edifícios.
3.2.7. Arranha-céu rentista | Uso Lucrativo | Incorporação Imobiliária A partir de 1930 a tendência verticalizada deu um novo uso aos edifícios de São Paulo, além de dar um novo olhar para a nova tipologia. Deu-se um olhar rentista! Segundo Villa (2010, p.1), entre 1930 a 1940 a verticalização passou a representar lucro, sendo os edifícios produzidos em sua maioria para aluguel, além também pela possibilidade de multiplicação vertical das unidades.
DÉCADA DE 1930 “Para Levi, as velhas formas e os velhos sistemas já haviam tido sua época. Era necessário que o artista criasse algo novo, capaz de obter maior fusão entre estrutura e decoração”. (LEVI, Rino. 1926, p. s/n.
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Apud SOMEKH, Nadia. 1997, p.96). Villa (2010, p.2) também cita esta frase de Levi, apontando que a arquitetura de estética moderna em São Paulo já dava seus primeiros passos na década de 30, mesmo que a sociedade da época desse preferência para arquiteturas conservadoras como as que Christiano das Neves fazia em referência aos palácios europeus. Imagina-se então uma aparência transitória dos edifícios, do decorado ao estilo minimalista modernizador.
A modernização alcançou o desejo da sociedade para a cidade assim como para a habitação coletiva que venceu preconceitos quanto ao uso, por associarem aos cortiços, e também pelo receio de tragédias. Nas décadas de 1930 e 1940 essa novidade em se morar coletivamente em edifícios verticais se estabelece significando uma inovação no setor residencial. (VILLA, Simone Barbosa. 2010, p.3)
Verifica-se na atualidade, que a habitação coletiva é utilizada com frequência pelas incorporadoras imobiliárias, porém sem muita preocupação na diversidade arquitetônica de seus produtos.
Na década de 1930 de acordo com Villa (2010, p.2), basicamente dois modelos de apartamentos prevaleciam: um em edifícios para aluguel, de planta reduzida com programas menores. Outro em edifícios construídos para famílias mais ricas, assemelhando-se aos palacetes. Como os Estados Unidos simbolizava modernidade, e a sociedade era valorizada pelos seus bens materiais, “morar em um edifício modernista significava alcançar uma posição de destaque, pois, além dos equipamentos de luxo, o edifício ofereceria aos moradores uma condição moderna de se viver.” (VILLA, Simone Barbosa, (1920, p. 6).
Percebe-se então a disponibilização de opções dos apartamentos, atendendo à variações das classes sociais. Confirma-se que morar em um edifício de nome e referência modernista era para a sociedade um motivo de orgulho e posição social, referenciando mais uma vez na vida moderna internacional.
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Nesta década já se podia perceber vestígios de uma arquitetura voltada para o público alvo, sem correr riscos de reprovação pelo cliente, Villa (2010, p.6), lembra que no Brasil, os arquitetos modernistas ‘mascararam’, camuflando por fora do edifício uma tipologia que por dentro era o costumeiro de se usar nos projetos “com seus paredões de concreto recortados em formas inovadoras, porém com interiores que trazem, basicamente, uma versão reduzida dos antigos palacetes burgueses. (VILLA, Simone Barbosa, 2010, p.6).
Observa-se então que não era real e verdadeiro o desejo de viver uma vida moderna em todas as circunstâncias, priorizavam-se a aparência externa do edifício como sinal de inovação, porém, a realidade interna continuava a mesma, antiga conforme os costumes. Neste sentido, entende-se que o pensamento ‘medroso’ dos arquitetos quanto à inovação, criação, e imposição de um novo jeito de morar ao mercado.
Villa (2010, p.8) relata que em alguns projetos de apartamentos realizados por Rino Levi no final da década de 1930, mostram uma busca por soluções espaciais variadas, indicando a possibilidade de uso flexível nos ambientes. Este ideal também fez parte dos projetos de Gregori Warchavchik, mostrando preocupação em atender as necessidades habitacionais da sociedade devido à variação nas propostas. A autora aponta a preocupação por parte dos arquitetos em satisfazer as condições dos proprietários rentistas, assim como a possibilidade de experimentação em relação aos edifícios de apartamentos, buscando até mesmo maior aproveitamento das áreas.
Conclui-se que a partir de então, o objetivo rentista acendeu uma luz na imaginação dos proprietários, refletindo até os dias atuais.
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DÉCADA DE 1940 A década de 1940 foi marcada pelo modelo de verticalizado de moradia, tanto pelo estilo modernista quanto pelo programa simples das unidades, com algumas comodidades: dutos de lixo, armários embutidos, água encanada, cômodos de empregados e entradas de serviços. A demanda de moradias era maior que a oferta principalmente para a classe média, fazendo com que os valores dos aluguéis aumentassem de forma abusiva, também por consequência da alta na inflação econômica. Porém, com a Lei do Inquilinato em 1942, regulamentou-se o mercado de aluguéis, incentivando os trabalhadores a conquistarem suas próprias moradias, assim como os antigos proprietários rentistas a investirem no mercado da incorporação imobiliária destinado às classes média e alta. (VILLA, Simone, Barbosa. 2010, p.8-9).
Percebe-se que o modelo modernista continuou sendo uma referência construtiva, o apartamento passou por inovação em sua estrutura interior mostrando investimento para com esta tipologia. O objetivo rentista saiu do aluguel e direção a venda, mostrando-se então o nascimento da incorporação imobiliária, ou, sua consolidação no berço de São Paulo.
Nos anos de 1940 e 1950 as características estilísticas da cidade de São Paulo foram alteradas de acordo com a execução de edifícios modernos. Fachadas sem ornamentos, estruturas aparentes, volumes recortados, misturando-se aos edifícios ecléticos dos anos de 1920 e 1930, mas a forma de morar da classe média continuou nos modelos burgueses com seus espaços setorizados e compartimentados, sem a planta livre. Houve a consolidação do uso de halls de entrada no edifício com portaria, elevadores separados para patrões e empregados, equipamentos de uso coletivo como garagens, play-ground, áreas ajardinadas e suítes, tudo como intenção de destaque comercial entre os edifícios. (VILLA, Simone Barbosa, 2010, p.10-11).
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Mais uma vez a preferência dos clientes mostra-se estagnada nos costumes antigos, privando-se de uma experimentação de inovação. Nota-se que o mercado imobiliário não estava ‘brincando em serviço’ ao dedicar-se em trabalhar a atratividade dos produtos.
De 1940 a 1956, da implantação dos elevadores até a limitação do coeficiente de aproveitamento, o estilo norte-americano continuou sendo o padrão utilizado. Surgiu-se a predominância das Kitchenettes. Com altos índices de aproveitamento dos terrenos, agora não só terciário, mas também residencial. (SOMEKH, Nadia, 1997, p.24)
Percebe-se que a rentabilidade já participava da sociedade construtora, estava atingindo o produto habitacional por enquanto da classe média. Atualmente, a rentabilidade virou o foco dos incorporadores e construtores que o produto final construído acaba por não fazer parte da atuação arquitetônica, nem interna, nem externamente, virou cópia, o programa básico que deveria ser arquitetura para o usuário, agora é: usuário para a arquitetura, tanto para quem mora dentro dela, quanto para quem convive com ela na cidade, no bairro, na rua.
DÉCADA DE 1950 Em 1950 houve uma expansão de construção verticalizada próximas ao centro da cidade de São Paulo, intensificado pelo mercado imobiliário. Os edifícios tornaram-se então queridinhos, fazendo parte da paisagem com seu ar robusto e moderno, adensando e se espraiando pela cidade. A novidade do mercado nesta década foi o uso do condomínio, inicialmente em kitchenettes, depois aos apartamentos maiores, prevalecendo dois tipos de projetos mais usados: os inspirados arquitetura internacional, e a produção arquitetônica compromissada com a aceitação do mercado. (VILLA, Simone Barbosa. 2010, p.12)
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O espraiamento das construções verticalizadas mostra que o mercado imobiliário estava confiante e entusiasmado com esta tipologia construtiva. Entende-se que existia um duelo entre os dois tipos comerciais, porém, diante das condições financeiras o mercado reagia dando preferência à forma mais econômica.
Alguns edifícios de maior destaque da época segundo Villa (2010, p.13), foi o de Oscar Niemeyer: Copan, Abelardo de Souza: Nações Unidas, Adolf Franz Heep: Lausane, Jacques Pilon: Paulicéia, entre outros. A autora diz que “grandes referências da arquitetura modernista brasileira foram erguidas nos anos de 1950 e 1960”, embora que a maioria não mostrava alterações inovadoras no espaço interno dos apartamentos. Percebe-se uma estagnação no que diz respeito à criatividade inovadora. Figura 16 - Edifício Copan, Oscar Niemeyer.
Fonte: Note Aqui (Imagens agrupadas acima.)
Repara-se as características muito diferentes dos edifícios mostrados anteriormente da década de 1920. Antes a tendência construtivas dos edifícios era ornamentada, decoração detalhada. Agora passa-se a ter aparência lisa, simétrica, limpa.
65 Figura 17 - Nações Unidas building, São Paulo, Brazil. Abelardo de Souza. 1953. (Informação conforme fonte da imagem)
Fonte: Pedro Kok Architectural photography (Imagens agrupadas acima.)
Figura 18 - Edifício Lausanne - artistas: Adolf Franz Heep (Legenda conforme fonte da imagem).
Fonte: Arte fora do museu (Imagens agrupadas acima.)
66 Figura 19 - Paulicéia Building, São Paulo, Brazil. (Legenda conforme fonte da imagem).
Fonte: Pedro Kok Architectural photography (Imagens agrupadas acima.).
A concepção de projetos de interesse social deu pouco resultado válido como o Pedregulho, e a Gávea. Os projetos para a classe intermediária embora abundantes, não tiveram grande interesse. Os projetos de luxo lideraram o mercado pela quantidade e qualidade. Os apartamentos dos arquitetos
ligados
aos
movimentos
internacionais,
embora
continuassem elaborados de maneira tradicional, existia uma vontade prematura de flexibilização dos espaços em alguns projetos, tanto para programas maiores quanto para os menores. Mostrando uma inovação quanto à criação interna. (VILLA, Simone Barbosa. 2010, p.13).
Percebe-se então, a diversidade de tipologias na década de 1950, atendendo aos mais variados gostos e necessidades. O fato dos projetos de luxo terem liderado o mercado, revela o interesse dessa classe para com a moradia coletiva. A flexibilização dos ambientes começou a dar seus primeiros passos, mostrando a aceitação da transformação interna pelos moradores.
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De 1957 a 1966, o Estado define pela primeira vez o coeficiente de aproveitamento e o tamanho mínimo dos apartamentos, indiretamente estabelece então, o padrão da classe de renda consumidora daquele local. A construção de conjuntos residenciais tomou a frente das kitchenettes. De 1967 a 1971, período de elevação econômica, com intensificação do processo de verticalização, o BNH promoveu o crescimento imobiliário por meio do financiamento da construção e compra do apartamento para a classe média. Em 1971, cria-se o primeiro Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado – PDDI – por Figueiredo Ferraz, iniciando-se a lei de zoneamento. (SOMEKH, Nadia. 1997, p.24-25). Agora, a classe média pode enfim adquirir a ‘casa própria’, ou melhor dizendo o próprio apartamento, graças também ao desenvolvimento econômico do período. Novas leis são implantadas, na tentativa de guiar a cidade para o caminho certo, em busca de melhores condições de vida para a sociedade, mesmo que para isso a cidade sirva como uma maquete processual, experimentando-a por meio das leis.
De 1972 a 1988, a lei do zoneamento provocou a revalorização fundiária causando a edificação de empreendimentos imobiliários em áreas mais baratas, intensifica-se com isso, a verticalização. De 1988 a 1994, período em que possibilita o aumento do coeficiente de aproveitamento conforme negociação. (SOMEKH, Nadia. 1997, p.26). Percebe-se que o apartamento transformou-se num objeto de valor para as incorporações, cada vez mais a cidade se transforma em um mercado, e a moradia a sua mercadoria de valor. Negociações possibilitavam a verticalização, mostrando com isso, a passividade da lei urbanística. Por se tratar de uma lei, supõe-se que os parâmetros para estabelecer a mesma, foram justos, e aos olhos dela, viáveis para tais negociações.
Conclui-se então, que até os dias atuais do ano de 2015, a incorporação imobiliária está marcando uma forte tendência nas habitações coletivas,
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projetos, que ao garantirem retorno financeiro em primeiro lugar, deixam de investir em habitações coletivas mais interessantes quanto à arquitetura. A planta é o produto de interesse, assim como a qualidade dos materiais empregados, porém, pouco pensa-se em arquitetura sensorial, comunicativa, simbólica e de referência para estes edifícios.
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4. INCORPORAÇÃO IMOBILIÁRIA Habitação coletiva | Necessidades básicas | Superar as expectativas
A conversa neste capítulo acontecerá de trás para frente, do produto da incorporação imobiliária em direção ao seu conceito. A escolha dessa metodologia de análise mostrará como funciona este mercado, e como poderia ser diferente caso ele caminhasse rumo à outras direções, deixando o mundo habitacional óbvio e costumeiro, se arriscando ao paraíso secreto das habitações coletivas que ultrapassam as expectativas.
4.1. Apenas o básico, nada mais.
Como definir o máximo, extremo, absoluto? Pode-se definir o básico, o suficiente. As expectativas do ser humano quanto aos seus desejos podem variar, do mínimo aceitável ao máximo onde a consciência pode ir. A vida habitacional do indivíduo tem as necessidades básicas préestabelecidas, é medida certa para tudo, porém, aonde poderia chegar caso busque-se o máximo? Assim como a administração local, também a estrutura física da habitação deve ter medida humana, isto é, corresponder ao ritmo de vida natural de um dia de 24 horas, determinado pelo homem e não pela máquina. (GROPIUS, Walter, 1997, p.176)
Segundo Gropius (1997, p.160), as condições básicas indispensáveis para a vida do homem saudável são além da nutrição, aquecimento suficientes, luz, ar e liberdade de movimento. Ele afirma que o edifício alto planejado com cuidado e responsabilidade, construído em meio às grandes áreas verdes, pode-se preencher essas necessidades humanas de habitação, dando condição à luz, ar, movimentação entre outras vantagens.
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Concorda-se até certo ponto, que as condições básicas físicas necessárias para o homem em sua habitação sejam mesmo, luz, ar, e movimento, porém não se poderia limitar a isso, devido as particularidades de cada indivíduo, tipo familiar, costumes individuais, que influenciam a autoestima, como por exemplo, a pessoa que gosta de seu quintal, provavelmente viveria triste em um apartamento.
As vantagens e desvantagens em se morar em edifícios altos, estaria em: trocar o tempo ganho nas curtas vias horizontais, com a perda do proveito imediato ao ar livre ao sair de casa, levando em conta as circulações verticais, escadas e elevadores. Para a grande massa de trabalhadores livres, o apartamento do edifício alto é o mais adequado, já que sai mais em conta que a casa unifamiliar, também pelo impedimento da expansão unilateral da estrutura da cidade. Os edifícios altos de apartamentos são vantajosos nas questões higiênicas e econômicas, em relação aos edifícios mais baixos com 3,4, e 5 pavimentos, esses que não dispõem de áreas verdes entre blocos e espaço suficiente entre as janelas. (GROPIUS, Walter.1997, p.162167).
Considera-se inevitável o uso de edifícios para habitações coletivas, devido à falta de compatibilidade entre demanda de habitações e áreas disponíveis para todas as famílias em terrenos individuais, assim como pela vantagem econômica. Morar, como já estudando no capítulo ‘corpo e espaço na habitação’, vai além de se abrigar. Tem-se a impressão de que para a maioria das incorporadoras imobiliárias, basta abrigar a família em um edifício básico, satisfazendo as necessidades básicas, e no caso das famílias, parece que estão alienadas quanto à moradia ideal, julgando pelo tamanho das plantas e a qualidade dos materiais. A qualidade de vida não pode ser limitada apenas pelo espaço físico de uma habitação, qualidade de vida tem muito a ver com o
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desenvolvimento humano, que é estudado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento: O conceito de desenvolvimento humano nasceu definido como um processo de ampliação das escolhas das pessoas para que elas tenham capacidades e oportunidades para serem aquilo que desejam ser. [...] para aferir o avanço na qualidade de vida de uma população é preciso ir além do viés puramente econômico e considerar outras características sociais, culturais e políticas que influenciam a qualidade da vida humana. Esse conceito é a base do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e do Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH), publicados anualmente pelo PNUD. (PNUD, Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, 2015).
Percebe-se como o desenvolvimento humano é encarado com seriedade pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. No caso da arquitetura sua importância na vida das pessoas é latente. A sociedade pode ter a capacidade de fazer suas escolhas, pode ser aquilo que deseja, chegar onde deseja, ir além do estabelecido para elas, além do básico. A habitação não pode ser imposta concedendo o mínimo ao habitante, mas ir além, satisfazer e superar as expectativas de vivência. Valores são fundamentais ao desenvolvimento humano. Valores são guias de ação e influenciam o modo pelo qual as pessoas elegem suas prioridades e tomam suas decisões. Assim, valores impregnam comportamentos e normas sociais e estão na base do que as sociedades decidem fazer para se desenvolver. Uma visão de desenvolvimento meramente como crescimento econômico desconsidera um aspecto importante: que o desenvolvimento, para ser humano, precisa de pessoas participando, vivendo valores e construindo razões sobre o que é bom ou desejável para uma sociedade. (Relatório de Desenvolvimento Humano Brasileiro 2009/2010 Realização Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – Pnud, Apresentação)
A sociedade têm grande parte da responsabilidade para fazer suas escolhas, prova disso é a citação acima mostrando que valores adensam comportamentos. O desenvolvimento para ser a nível humano precisa da participação das pessoas vivendo valores erguendo razões sobre o que é melhor para a vida civil e habitacional.
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4.2.
Superar as expectativas!
A incorporação imobiliária vende um produto em comum criado por arquitetos, uma habitação. Porém, antes mesmo de ser o produto da incorporação imobiliária, esse produto precisa sair das mãos do arquiteto, que é o idealizador do projeto. Entende-se então que o arquiteto é quem têm a capacidade de criar, a construtora materializar, e a incorporação imobiliária vender. Na citação retirada do site do IAB (Instituto de Arquitetos do Brasil) as palavras do arquiteto e urbanista Lúcio Costa define com excelência o papel da arquitetura: Arquitetura é antes de mais nada construção, mas, construção concebida com o propósito primordial de ordenar e organizar o espaço para determinada finalidade e visando a determinada intenção. E nesse processo fundamental de ordenar e expressarse ela se revela igualmente arte plástica, porquanto nos inumeráveis problemas com que se defronta o arquiteto desde a germinação do projeto até a conclusão efetiva da obra, há sempre, para cada caso específico, certa margem final de opção entre os limites – máximo e mínimo – determinados pelo cálculo, preconizados pela técnica, condicionados pelo meio, reclamados pela função ou impostos pelo programa, – cabendo então ao sentimento individual do arquiteto, no que ele tem de artista, portanto, escolher na escala dos valores contidos entre dois valores extremos, a forma plástica apropriada a cada pormenor em função da unidade última da obra idealizada. [Grifo nosso] (COSTA, Lúcio 1902-1998, Apud IAB Instituto de Arquitetos do Brasil, Departamento de São Paulo 2015).
O arquiteto têm a capacidade de manipular a arquitetura conforme a forma plástica e o resultado que se deseja obter. A arquitetura vendida pela das incorporadoras e construtoras não varia muito em sua forma plástica, são a maioria dos edifícios parecidos entre si. O problema de estudo, não está associado se atende ou não aos requisitos básicos para abrigar o ser humano, mas, na falta de resultados atraentes, apaixonantes, fora do normal quanto à volumetria dos mesmos.
73 É totalmente errada a afirmativa de que a industrialização habitacional redundará em degenerescência das formas artísticas. Pelo contrário, a uniformização dos elementos terá como consequência saudável o caráter harmonioso das novas casas e bairros residenciais. [...] A “beleza” será garantida por materiais bem trabalhados e uma edificação clara e simples, e não por ingredientes [...] mais ou menos estéticos, não condicionados pela obra e pelo material [...] dependerá então do talento criador do arquiteto construtor. (GROPIUS, Walter, 1997, p.196)
Conforme a citação acima a industrialização não limitará as formas artísticas,
afirmando
que
a
uniformização
dos
componentes
construtivos acarretará em caráter harmonioso, e que o talento do arquiteto será suficiente para garantir beleza às edificações. Será mesmo que isso aconteceu ao longo dos anos?
Cançado (2002, p.33), faz uma comparação entre a definição de harmonia e beleza artísticas arquitetônicas de Le Corbusier e Artigas: “Para Le Corbusier a harmonia e a beleza só são atingidas através da economia e como produto de exatidão do cálculo [...] buscava uma participação no processo de produção capitalista.” Ou seja, Le Corbusier enxergava a beleza de forma diferente, podendo ser realizada através da economia. Artigas, defendia que a harmonia e beleza não deveriam ser dependentes da produção, que a arquitetura deveria ser resistente ao seu fundamento. Cançado (2002, p.32) diz que Vilanova Artigas acreditava que as consequências da confusão entre arquitetura e engenharia, para a arquitetura seriam destruidoras: “Vilanova Artigas se mostra claramente resistente à exploração do engenheiro e do arquiteto pela indústria da construção, em especial às grandes organizações imobiliárias” (CANÇADO, Wellington, p. 32).
O que para Artigas parecia na década de 1950 uma ameaça ainda não totalmente concretizada, hoje é apenas uma constatação: as cidades brasileiras foram ao longo desses anos formadas, reformadas e deformadas pelos movimentos especulativos do capital imobiliário das grandes construtoras. E os principais protagonistas dessa cena foram (e ainda são) justamente as torres
74 habitacionais ou os condomínios verticais. (CAÇADO, Wellington, 2002, p.33).
Confirma-se acima o ponto principal do assunto para esta fase da pesquisa: A especulação imobiliária tomou ao logo destes anos a frente da arquitetura, da capacidade criativa do arquiteto, constrói-se para ganhar, e quem perde é o consumidor que sem perceber, adquire para seu dia-a-dia um produto de baixa qualidade arquitetônica quanto aos potenciais que a boa arquitetura têm para oferecer. A arquitetura é capaz de ir além do que ela têm se sujeitado, é capaz de superar as expectativas concedidas ao mercado. O produto oferecido pela maioria das incorporadoras imobiliárias não está levando à sociedade o conhecimento dos prazeres de se morar em um edifício pensado ao máximo pela arquitetura, manipulando sensações por meio da arte, forma, cor, volume. A arquitetura é capaz de superar as expectativas!
4.3. Da cópia segura ao risco inovador O principal questionamento deste trabalho é em relação aos edifícios verticalizados, mais precisamente nos produtos das incorporadoras e construtoras quanto à habitação coletiva. Ao andar na cidade pode-se perceber em alguns bairros a concentração da verticalização habitacional. Em muitas delas as características construtivas são semelhantes, ao ponto de se ter edifícios quase idênticos em sua volumetria, diferenciando-se as vezes apenas no revestimento externo, ou nem mesmo isso. Figura 20 - Edifícios habitacionais no Bairro Cidade Nova, Santana do Paraíso, MG.
Fonte: autor (Imagens agrupadas acima)
75 Figura 21 - Edifícios habitacionais no Bairro Cidade Nova de Santana do Paraíso, MG.
Fonte: autor (Imagens agrupadas acima)
A semelhança física entre os edifícios cede à paisagem uma composição visual geométrica, simétrica, e no caso das imagens acima, em tons pastéis, transmitindo até mesmo certa beleza em sua homogeneidade. Essas são algumas características básicas destes edifícios básicos, construídos provavelmente por indústrias imobiliárias, que buscando viabilizar economicamente a construção para atender ao mercado, reproduzem o programa arquitetônico padronizado, exigindo pouco, ou, quase nada da criatividade arquitetônica dos arquitetos. Quero que o jovem arquiteto seja capaz de encontrar seu próprio caminho, quaisquer que sejam as circunstâncias, que ele crie independentemente formas autênticas, a partir de condições técnicas, econômicas e sociais a ele dadas, em vez de impor uma fórmula aprendida a um ambiente que talvez exija uma solução completamente diversa. [Grifo nosso] (GROPIUS, Walter, 1997, p.25)
O arquiteto deveria ser quem dita as regras sobre a arquitetura, mas, infelizmente, existem construções habitacionais em que as próprias construtoras e engenheiros projetam, por já saberem qual a tipologia aceitável pelo mercado gerando rentabilidade sem riscos. Esta tipologia que, do ponto de vista arquitetônico espacial é aceitável, transmite as condições básicas de salubridade para o morador, porém, mais adiante nesse trabalho, verá que além das condições básicas para a vida do
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morador, o edifício de apartamentos poderia transmitir muito mais do que imagina-se. O destino dessa arquitetura-máquina moderna – como todos os produtos industriais – era, portanto, ser inevitavelmente disponibilizada em grandes quantidades para sua comercialização em massa, e para isso seria fundamental sua ampla divulgação para o público em geral, ávido por novidades. (Cançado, Wellington, 2002, p.19)
A característica da sociedade, atualmente formada por uma distinção de modelos familiares, a tendência de envelhecimento da população, a violência urbana, favorece ao condomínio vertical de apartamento, o destaque como forma ideal da moradia, segura e prática. O marketing habitacional aparenta perceber isso, divulga imagens que intensificam o conhecimento das pessoas sobre suas necessidades, e introduz inovações para a habitação. (LOUREIRO, Claudia & AMORIM, Luiz. 2006, p.3)
Percebe-se então, que desde as décadas de 1940 quando a incorporação imobiliária começou a dar seus primeiros passos, até então em 2015, está cada vez mais astuta, atenta ao desejo de moradia que ainda parece ser modernizador na sociedade:
É deste sonho e da recriação constante de um ideal de morar que a indústria imobiliária se alimenta, possibilitando a introdução constante de novos produtos no mercado que venham satisfazer as expectativas dos consumidores, bem como criar novas necessidades. Neste mercado, a propaganda exerce um papel fundamental, ao manter viva esta necessidade constante pela aquisição de um lugar perfeito para morar. (LOUREIRO, Claudia & AMORIM, Luiz. 2005, p. 2)
A sociedade consumidora atual, conhece a melhor marca de celular, a melhor marca de roupas, o cabelo da moda, o carro da moda, se transforma em verdadeira propaganda ambulante, junto com os meios de comunicação, influencia as demais pessoas que não são tão ligadas às novidades, que só percebem precisar delas, quando se vêem com o
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desejo ou a ‘necessidade’ de comprar determinado produto. Inclusive às formas inovadoras de morar. “Assim sendo, a publicidade opera através de imagens e mensagens para reforçar aquelas necessidades, visando atuar na esfera da decisão de comprar.” (LOUREIRO, Claudia & AMORIM, Luiz, Vitruvius, 2005, p. 4). Análises feitas através de anúncios buscando identificar o conceito representativo de moradia ideal, por meio de palavras-chave e imagens-chave, mostraram que entre as quatro categorias indiretamente ligadas que desempenham atratividade à uma nova experiência de vida, estão: 1- a localização do imóvel, com suas respectivas qualidades de vizinhança e urbanísticas; 2- o programa arquitetônico; 3- a altura do apartamento, o número de andares; 4- o nome do edifício ou conjunto retratando
temas
históricos
locais,
e
também
glamour
e
deslumbramento agregando ao triunfo do status, e destaque social. (LOUREIRO, Claudia & AMORIM, Luiz. 2005, p.4) Conclui-se então, que além da necessidade de adquirir um imóvel, o consumidor está atento ao que diz respeito à moda, qualidade de vida definida por ele, e, ao status. Tudo isso junto determina a compra de um produto que para muitas famílias representa um sonho. Outras estratégias de Marketing dos programas habitacionais vendidos pelas indústrias imobiliárias, são as referências valorizadas próximo à localização do empreendimento:
São agregados valores simbólicos às vantagens do local para qualificar o empreendimento habitacional, mesmo se algumas destes valores e vantagens sejam imaginários ou indistintos. É comum, nos anúncios de apartamentos, o uso de palavras-chave tais como ‘perto de…’ ou ‘alguns metros para…’, como forma de capturar o valor intrínseco do sítio natural, mesmo se estes metros não sejam ‘alguns’. (LOUREIRO, Claudia & AMORIM, Luiz, Vitruvius, 2005, p. 5)
Uma pesquisa virtual realizada com intuito apresentar os edifícios de apartamentos disponíveis para a venda à população localizados todos no mesmo bairro, claro que o padrão construtivo é fundamental para a
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definição de projeto, portanto foram escolhidos edifícios de nível construtivo parecido, a partir de construtoras diferentes, provando que a arquitetura desses edifícios não diferencia muito em sua volumetria de um para com o outro. Segue também a propaganda utilizada junto com suas respectivas imagens.
Residencial Boa Vista | Montbros Construtora: Figura 22 - Residencial Boa Vista.
Fonte: Montbros Construtora, 2015. Endereço: Rua 49, bairro Cidade Nova - Santana do Paraiso/MG Término da obra: Setembro de 2013
Empreendimento novo, moderno e com toda documentação em dia. - Sistema de água individual - Sistema de rede pronta para receber ar-condicionados modelo Split - Projeto amplo e com grandes cômodos - 2 quartos - Ampla sala de TV (projeto especialmente criado para obter um melhor aproveitamento do espaço) - Cozinha - Banheiro - 1 Garagem Obras já em andamento, VENHA CONHECER NOSSO APARTAMENTO DECORADO Compre agora e parcele sua entrada Trabalhamos com o plano MINHA CASA, MINHA VIDA Obtenha subsídios de até 17 mil reais Fonte: Montbros Construtora, 2015. Grifo nosso.
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Residencial Village Nova | Montbros Construtora:
Figura 23 - Residencial Village Nova.
Fonte: Montbros Construtora, 2015. Apartamentos de 02 e 03 quartos com suite, varanda gourmet (com churrasqueira) em todos os apartamentos, Av. Carlos Edmundo Landaeta, 1611 e 1623 Cidade Nova, Santana do Paraíso MG Obras já em andamento, VENHA CONHECER NOSSO APARTAMENTO DECORADO Compre agora e parcele sua entrada
Fonte: Montbros Construtora, 2015. Grifo nosso.
Estes dois primeiros edifícios de apartamentos são da Montbros Construtora, observa-se que a tática para atrair o cliente à compra foi a utilização do apartamento decorado, e o parcelamento da entrada. Quanto à comunicação visual dos mesmos, a maior diferença entre eles são os revestimentos externos, e a volumetria não passa da projeção da planta, fato normal entre os apartamentos.
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Residencial Tower Hill | Construtora Felix: Figura 24 - Residencial Tower Hill
Fonte: Montbros Construtora, 2015. Bem estar, alegria, emoção, tranqüilidade tudo em um projeto moderno e sofisticado que a Construtora Felix criou para você e sua família o Residencial Tower Hill possui cobertura com 140m². Localizado bem pertinho do centro de Ipatinga.
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Fonte: Construtora Felix, 2015. Grifo nosso.
Nesse caso a atratividade ficou por conta de um exemplo citado anteriormente: da localização. Citaram na propaganda algo muito importante quanto à habitação: a domesticidade, quando fala-se de
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bem-estar, alegria, emoção, sofisticação, material de acabamento. A comunicação visual do mesmo também não diferencia-se tanto dos demais já mostrados acima, sendo o reflexo da planta.
Residencial Rubi | Construtora Felix: Figura 25 - Residencial Rubi.
Fonte: Construtora Felix 2015. Conheça o novo lançamento em Satana do Paraiso - Cidade Nova. Planejado cuidadosamente para você e sua família viverem com conforto e praticidade. Apartamentos de 3 dormitórios.Previsão de entrega dez/2015. Apartamentos com: 03 QUARTOS SALA COPA COZINHA ÁREA DE SERVIÇO ÁREA GOURMET Sobre as Varandas Gourmet “atualmente elas estão muito valorizadas, pois se tornaram o melhor lugar do apartamento .São ideais para descansar ou conversar. 01 VAGA DE GARAGEM 02 COBERTURAS COM APROXIMADAMENTE 180M² Deixe-se seduzir pelo Residencial Rubi , esse empreendimento moderno, que atende e supera às suas maiores expectativas, será a sua próxima conquista. Faça-nos uma visita.Teremos o maior prazer em atendê-lo.
‘
Fonte: Construtora Felix 2015. Grifo nosso.
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Essa ultima propaganda caprichou na tentativa de atratividade. Além de citarem ‘conforto e praticidade’, incrementaram sobre a varanda gourmet relacionando-a ao descanso e conversa. Referencia-se à modernidade, e à superação de expectativas! Assunto do subcapítulo anterior. Finaliza-se à conquista da casa própria e com um convite simpático.
Quanto à todos os exemplos apresentados acima, o foco gira em torno da planta, e algumas frases de atração comercial. Um fator importantíssimo estudado nos capítulos anteriores é a comunicação visual, a volumetria que cause sensações, uma volumetria singular. Isso, nenhum deles apresentou contrastando significativamente entre eles. As mudanças variavam da planta, ao acabamento externo. Conclui-se que o papel das incorporadoras e construtoras têm sido a venda. E não mais do que isso. A busca incessante por uma arquitetura singular, que gere referência simbólica para a sociedade, que transmita sensações explícitas por parte de sua volumetria, parece não estar presente nessas construções.
Afinal, o que é Incorporação Imobiliária? A palavra ‘incorporar’ Segundo Teixeira (2009, p.2): “Em inglês, a palavra é mais usada como sinônimo de fusão de partes em um todo – uma união de companhias que atuam em diversas áreas, um grupo de empresas ligadas a uma organização comum.” Ainda segundo Teixeira (2009, p.2), a expressão ‘incorporação’ começou no Brasil na década de 1960 a partir da lei sobre o condomínio em construções e a venda de unidades em planta, antes dessa lei, o articulador dos empreendedores era denominado ‘armador’. O armador era um dos principais agentes modificadores da cidade. Ele percebia o potencial de mercado de um
83 terreno, contatava seu proprietário, propunha um permuta comercial (troca do valor do terreno por unidades a serem construídas), contratava um arquiteto para traduzir suas idéias, anunciava a construção na mídia e por fim contratava uma construtora para executar o projeto. O armador era um possibilitador, um articulador de interesses passíveis de convergência. (Teixeira, Carlos Moreira. 2009, p.2)
O armador então, reunia os responsáveis pelas construções empreendedoras, ele percebia a potencialidade, tinha o dom de negociar, reunia profissionais, e divulgava o produto final. O armador era ‘o cara’ com visão empreendedora! Segundo o SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio ás Micro e Pequenas Empresas - ser empreendedor é: Numa visão mais simplista, podemos entender como empreendedor aquele que inicia algo novo, que vê o que ninguém vê, enfim, aquele que realiza antes, aquele que sai da área do sonho, do desejo, e parte para a ação. (SEBRAE)
“Um empreendedor é uma pessoa que imagina, desenvolve e realiza visões” Filion, 1999, p.19. Apud SEBRAE) Porém, o armador era quem ditava as regras desse empreendimento, inclusive, quanto às disposições espaciais do projeto de arquitetura, limitando o arquiteto no processo criativo: “o arquiteto tem uma função limitada: elaborar um projeto de arquitetura de acordo com as ideias do responsável pelo empreendimento – o armador.” (Teixeira, Carlos Moreira, Vitrúvius, 2009, p.2), ou seja, o arquiteto provavelmente não poderia decidir o que era arquitetonicamente mais sensato ao projeto, cedendo esse direito ao empreendedor que não tinha o mesmo conhecimento que o arquiteto em seu papel como criador do espaço.
Mas o armador, ignorante em matéria de arquitetura e urbanismo, naturalmente só quer a repetição de fórmulas já testadas e bem sucedidas alhures. Ele arrisca, mas unicamente no âmbito da administração de um empreendimento. O que é o caso inverso dos arquitetos: estes, quando querem arriscar, não assumem as consequências econômicas e legais desses riscos. Não dominam essas responsabilidades por que não foram treinados para isso, mas essas responsabilidades muitas
84 vezes são as mesmas assumidas pelos arquitetos de países onde a arquitetura tem um papel fundamental na produção cultural. (TEIXEIRA, Carlos Moreira, Vitrúvius, 2009, p.2)
O arquiteto não deveria ficar distante da realização daquilo que ele estudou para fazer. O arquiteto é, antes de desenhista técnico, um realizador de sonhos, de emoções em seus projetos, e em alguns países como citado acima, o arquiteto assume as mesmas responsabilidades de um empreendedor pensando nos resultados econômicos e legais, viabilizando novos projetos:
No final, podemos dizer que as responsabilidades, legais e econômicas, são também possibilitadoras de novos projetos; ou, em outras palavras, que a definição de projeto evolui com a definição das responsabilidades atreladas ao projeto. Aos arquitetos são cobradas idéias visionárias. A responsabilidade pela execução dessas idéias infelizmente não é considerada objeto da competência dos arquitetos, o que colabora e endossa a imagem do arquiteto como um agente passivo e marginalizado. (TEIXEIRA, Carlos Moreira, Vitrúvius, 2009, p.2)
Gropius (1997, p.27), diz que “Boa arquitetura deve refletir a vida da época. E isto exige conhecimento íntimo das questões biológicas, sociais, técnicas e artísticas.”
Empreender é uma atividade prodigiosa, criativa, criadora, visionária, que não fica somente na vontade, mas faz acontecer! Uma profissão de potencial como essa com grande chance de fazer de uma ideia, que é algo imaterial, se transformar em um bem material. A lógica mais encantadora dessa atividade é que a partir de uma situação até então sem valor, sem meios lucrativos ou parcerias, o empreendedor consegue criar a ideia e com a sua convicção, reunir todos os meios necessários instigando e provando que a sua ideia pode gerar bons resultados. O empreendedor faz do nada, acontecer tudo!
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O arquiteto têm a visão de potencial espacial, a capacidade de utilizar um espaço físico, um terreno, usufruindo o máximo que ele tem a oferecer. O empreendedor, incorporador, têm a visão de potencial econômico e de mercado. Esses dois profissionais juntos, têm o potencial de levar o empreendimento para o sucesso tanto social, quanto econômico. Um criador que não esteja limitado até a garganta por um conjunto de impossibilidades não é um criador. Um criador é alguém que cria suas próprias impossibilidades, e assim cria possibilidades. [...] Você tem que trabalhar contra a parede, porque sem um conjunto de impossibilidades não haverá uma linha de vôo, a saída que é a criação, a força da falsidade que é a verdade. [...] Você terá que ser líquido ou gasoso, exatamente por que a percepção normal e a opinião comum são sólidas, geométricas. (DELEUZE, Gilles. 1992. Apud Teixeira, Carlos Moreira, Vitrúvius, 2009)
Inspiradora a citação acima leva-se a confiar na profissão do arquiteto incondicionalmente, mesmo diante de fatos limitadores e difíceis. Difícil como o mercado, talvez, nem tão difícil assim. Linda a frase que diz por meio das impossibilidades, surgem as possibilidades. Arriscar, trabalhando como se estivesse remando contra a maré, ser exatamente o contrário do comum.
Vele finalizar essa pesquisa com um exemplo esperançoso quanto a valorização do arquiteto, um artigo de abril de 2014 relata que no Rio de Janeiro, o prefeito Eduardo Paes estabeleceu um decreto que exige o nome dos autores do projeto exibidos na fachada dos novos edifícios, com intuito de apreciar o trabalho dos arquitetos que por vezes são vítimas da alteração de seus projetos pelas construtoras. Um cuidado simples mas que faz toda a diferença. Esse costume já foi uma prática no Rio de Janeiro, em especial nas construções art decó e modernistas.
Com o nome do arquiteto sendo valorizado em cada projeto que faz, no caso, os edifícios, exposto aos usuários, talvez transforme a visão das pessoas para com a profissão do mesmo. Se a arquitetura for
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impactante, referencial, provavelmente atrairá olhares e admiradores para com a sua importância. Agora, com o nome do ‘pai’ estampado em sua volumetria, o arquiteto vai ser conhecido como o realizador de ideias, de sonhos arquitetônicos. Arquitetos serão reconhecidos, procurados pelo bom desempenho de sua trabalho. Ao mesmo tempo em que essa situação servirá de incentivo aos mesmos para realizarem uma arquitetura singular, de impacto visual, e de qualidade. É uma honra merecida aos idealizadores destes projetos.
Figura 26 - pilotis do Museu de Arte Moderna (MAM), no Aterro do Flamengo, exibe o nome de Affonso Eduardo Reidy. (informação conforme fonte).
Fonte: ArchDaily Brasil, 2015.
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4.4. SEMINÁRIO DA SEMANA INTEGRADA Verticalização | Habitar as alturas TCC I Mayara Calazans | Orientador: Vinícius Ávila
O seminário realizado na semana integrada da arquitetura, teve como base a verticalização. A aluna divulgou o tema em redes sociais, principalmente no grupo de arquitetura do Unileste. O interesse dos participantes pelo tema “Exibição de documentário sobre cidades verticais” foi superior ao esperado, esgotando-se o limite de inscrições para o seminário. Compareceram visivelmente a maior parte de alunos da engenharia civil, também compareceram alunos da arquitetura. Figura 27 - Concite para o seminário exibido em redes sociais
Fonte: autor, 2015.
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A metodologia utilizada para o desenvolvimento do seminário foi a seguinte: apresentação do nome, período acadêmico e o tema de seu TCC, pela aluna aos participantes. Foi entregue uma folha A4 para cada participante explicando os principais tópicos que o seminário abordaria. Foram exibidos dois vídeos seguidos de debate entre a aluna e os participantes, finalizando com outro vídeo. Figura 28 - Folha entregue aos participantes do seminário.
Fonte: autor, 2015.
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A aluna fez uma maquete de uma cidade repleta de pirulitos fazendo referência ao comentário de um dos arquitetos do vídeo, em que ele compara edifícios construídos de forma irresponsáveis à pirulitos, foram colados ‘edifícios’ com bilhetinhos conscientizando os futuros empreendedores.
Figura 29 - Imagens da maquete de pirulitos.
Fonte: autor – Crédito das imagens: Mayara Calazans e Thays Lino
90 Figura 30 - mensagens coladas na maquete.
Fonte: autor – Créditos das imagens: Mayara Calazans e Thays Lino
“ENTENDER O OLHARDO USUÁRIO” “SOU PARA O USUÁRIO!” “SOU PARA O OBSERVADOR!” “SOU A MULTIPLICAÇÃO DO TÉRREO! SAIBA USÁ-LO!” “A ARQUITETURA É PRA SER VIVIDA!” “ARQUITETURA PENSADA COLETIVAMENTE!” “PROGRAMA DE AFETOS, DESEJOS...” “ARQUITETO = REALIZADOR DE SONHOS!” “ARQUITETO = INTERPRETADOR!” “ARQUITETURA PARA A FELICIDADE!” “ARQUITETURA PARA SER USADA, E NÃO APENAS VENDIDA!” “SOU O RESULTADO DA PARCERIA ENTRE O ARQUITETO E O USUÁRIO!!!” “POSSO SER INTERAGIDO COM A NATUREZA!” “ARQUITETO, ESTEJA PRONTO PARA REALIZAR BOA ARQUITETURA!” “POSSO ATENDER À FUNÇÃO, AO DESEJO, E À BELEZA!” “A BOA ARQUITETURA NÃO DEFINE RELAÇÕES, ELA PERMITE QUAISQUER RELAÇÕES!” “ESTOU RESOLVENDO O PROBLEMA PARA O QUAL FUI PROPOSTO?” “ENTENDER O ESPÍRITO DO LUGAR.” “UNIR O PROJETO COM O ESPÍRITO DO LUGAR.” “FUI PENSADO TAMBÉM PARA O MEIO AMBIENTE!”
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O primeiro vídeo a ser exibido intitula-se: “O que é arquitetura?”; em seguida: “Verticalização das cidades brasileiras”. Figura 31 - Exibição de vídeo no seminário.
Fonte: autor – Crédito das imagens: Thays Lino
O debate iniciou-se pela seminarista na intenção de levar os participantes a se expressarem criticamente em relação ao tema, onde se destacaram alguns alunos da arquitetura e a ministrante do seminário, cabe deixar claro que, os participantes da engenharia e demais cursos
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não se manifestaram criticamente durante o debate. Entre os assuntos abordados foi discutido:
Sobre as futuras cidades;
Sobre a ocupação do território, se está sendo ocupado de forma inteligente;
Sobre a valorização do mercado quanto à arquitetura;
De quem é a culpa? do mercado imobiliário?
Há uma crise na cidade?
A relação do usuário com a habitação produzida pelo mercado;
A parceria do usuário, empreendedor e arquiteto.
Figura 32 - Momento do debate
Fonte: autor – Crédito das imagens: Thays Lino
Os resultados obtidos no debate variaram de acordo com cada aluno, resumindo em: na atualidade há um discurso sobre uma ‘solução’ para a verticalização, mas a forma ideal para se discuti-la é entre o usuário, o empreendedor e o arquiteto, para ambos exporem a sua visão sobre esta tipologia, as suas necessidades para com o produto final, deve-se pensar também no impacto desses edifícios para a cidade e a forma mais adequada de se chegar à conclusões, é ouvindo a todos.
Tem-se discutido também sobre a questão da troca de funções entre profissionais, engenheiro e arquiteto, com engenheiro projetando e arquiteto calculando, sendo que cada um estudou exclusivamente para atender à sua função, esta troca mostra que o interesse está em construir,
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bastando ter nas mãos uma planta, cortes, sem se preocupar se essa construção final vai atender aos princípios de cada profissional. O usuário não está sendo valorizado em meio a esse mundo imobiliário, que tem o foco de vender e nada mais, acaba sendo obrigado a consumir o produto dessas incorporadoras já que é o que tem disponível para ele.
Deveria pensar melhor acerca de tantos prédios na cidade, já que as casas as vezes são ‘engolidas’ por eles. Os apartamentos hoje, são vendidos pela quantidade de quartos, pelo número de vagas de garagem. O arquiteto tem se deixado vender por esse mercado e traindo os princípios da arquitetura que é pensar sempre no usuário, corpo e espaço na hora de projetar. Uma solução, seria a união de todas as pessoas envolvidas, usuário, arquiteto, empreendedor, e deixar claro como poderia ser diferente se o edifício construído fosse pensado de forma diferente, mais humana, e menos capitalista. Para finalizar, foi exibido o ultimo vídeo: “A relação entre Arquiteto e cliente”. Em seguida, a seminarista encerrou convidando os participantes à interagirem com a maquete degustando os “edifícios” da cidade.
Conclui-se que o seminário no geral foi bastante proveitoso! Acreditase que a grande participação de alunos da engenharia no seminário, mostrou o interesse dos mesmos pelo tema em sua área de atuação, em semelhança com a dos alunos de arquitetura, a construção. Apesar da pouca participação dos alunos no debate, acredita-se que o que foi abordado no mesmo tanto quanto nos vídeos contribuiu, e muito, para o conhecimento de todos independentemente do curso que fazem. O tema do TCC foi afunilado, de verticalização, a visão da aluna sobre ele foi amadurecendo e tomando outros rumos quanto à verticalização. Agora aborda sobre para a comunicação visual do edifício, o impacto do mesmo para quem mora dentro e quem convive do lado de fora, a relação dele com o usuário, em temos sensoriais, e emocionais.
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5. EDIFÍCIO | CORPO E ESPAÇO Experiência sensorial vivenciada na cidade
5.1.
VERTICALIZAÇÃO | Antes e depois
Ao longo da história, ele foi uma descoberta tecnológica, internacional; Ele foi o desejo modernizador nacional; Ele foi símbolo de progresso; Ele saiu em jornais, revistas, cartões postais; Ele foi objeto de experiência urbana; Ele interferiu nas leis; Foi questionado quanto à sua beleza; Ele foi uma ameaça paisagística; Ele teve várias caras, vários estilos; Ele venceu concursos artísticos, foi premiado; Ele foi uma folha em branco nas mãos de arquitetos; Ele teve glamour, paternidade, nome e sobrenome do famoso arquiteto; Ele foi sinal de dinheiro no bolso; Ele foi sinal de economia; Ele foi a solução de problemas habitacionais; Ele variou em sua altura, comandado pela lei; Ele foi motivo de debates; Ele continua sendo uma descoberta: uma mina de ouro; Ele continua sendo sinal de status: pelo seu nome, pela sua localização; Ele continua sendo símbolo de progresso: mais uma família conquista a casa própria, o seu apartamento. Ele continua saindo em jornais e revistas: porque é mais um produto no mercado; Ele ainda é objeto de experiência: quantos cabem em um bairro? Ele continua interferindo nas leis: nos afastamentos, nas medidas; A sua beleza deixou de ter importância: hoje sua aparência é comum; Ele continua sendo uma ameaça paisagística: mas ninguém se importa; Continua tendo várias caras: virou cópia, varia de revestimento, de quinas; Ele deixou de fazer partes de concursos artísticos; Ele deixou de ser uma folha em branco para se tornar um xerox; Hoje ele é órfão: seu nome não passa de uma plaquinha no muro, o nome do pai não passa do carimbo: arquiteto ou engenheiro? Continua sendo símbolo de rentabilidade, dinheiro no bolso; Hoje ele é resultado da economia; Continua resolvendo os problemas habitacionais: é fabricado para isso; Seu tamanho pode variar: antes na altura hoje na planta; Seu nome passou por debates acadêmicos,
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hoje este trabalho é resultado dele. Chegou a hora dele ser o protagonista da própria história! Seu nome é edifício e sua trajetória é essa! “A arquitetura é como uma grande escultura escavada, em cujo interior o homem penetra e caminha.” (ZEVI Bruno, 2000, p.17). A história da verticalização revelou grandes mudanças em relação ao edifício, e ele continua sendo um objeto inanimado, sem expressão, sem valor artístico. A partir de agora começa a ser escrita a nova história do arranha-céu. A arquitetura é uma arte, que pode ser admirada pelos olhos, experimentada pelo corpo, e degustada pela alma. Mas ela precisa de uma folha em branco para ser criada, precisa de um espaço, de um terreno. O edifício é muito mais do que um molde de concreto, ele é emoção, transmite sensações, transmite imaginação, mas, para isso, precisa de um observador que esteja atento. Não olhe, mas, observe. “A cada instante, há mais do que o olho pode ver, mais do que o ouvido pode perceber, um cenário ou uma paisagem esperando para serem explorados.” (KEVIN, Lynch, 1997, p.1)
5.2. A CIDADE Palco de grandes referências, grandes edifícios. Todavia [...] qualquer um pode desligar o rádio e abandonar os concertos, não gostar de cinema e de teatro e não ler um livro, mas ninguém pode fechar os olhos diante das construções que constituem o palco da vida citadina e trazem a marca do homem no campo e na paisagem. (ZEVI, Bruono. 2000, p.2)
A imagem que a cidade exerce sobre os usuários têm um peso visual, sensorial, e reflexivo. “Os elementos móveis de uma cidade e, em especial, as pessoas e suas atividades, são tão importantes quanto as partes físicas estacionárias.” (KEVIN, Lynch, 1997, p.2), Lynch descreve bem o quanto a cidade é importante e exerce grande impacto na vida de quem vive nela, “cada cidadão tem vastas associações com alguma parte de sua cidade, e a imagem de cada um está impregnada de lembranças e significados.” (KEVIN, Lynch, 1997, p.1), a cidade pode marcar significativamente as lembranças do
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cidadão. “Quase todos os sentidos estão em operação, e a imagem é uma combinação de todos eles.” (KEVIN, Lynch, 1997, p.2), a imagem da cidade tem relação com todos os sentidos, ela é sensorial. Os elementos da cidade podem dar a sensação de segurança, orientação, podem servir de guias ao observador: “No processo de orientação, o elo estratégico é a imagem ambiental, o quadro mental generalizado do mundo físico exterior de que cada indivíduo é portador.” (KEVIN, Lynch, 1997, p.4). A orientação é um fator importante quanto à singularidade do edifício em sua volumetria, expressão, formas, cores. Figura 33 - Edifícios residenciais no Bairro Cidade Nova, Santana do Paraíso, MG.
Fonte: autor
Nota se que em meio aos edifícios, dificilmente há uma grande diferença entre eles, a não ser em alguns detalhes. Não há surpresa, e com ela emoção variada.
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“Essa imagem é produto tanto de sensação imediata quanto da lembrança de experiências passadas, e seu uso se presta a interpretar as informações e orientar a ação.” (LYNCH, Kevin. 1997, p.4). Padrão de ‘beleza’ é individual, sim, porém, a questão discutida aqui é quanto à características diferenciadas na paisagem, podendo ser bonito, ou feio, marcante ou não, para diferentes observadores. Não há nas imagens retiradas desse bairro, um edifício sequer que possa marcar de forma geral visualmente a paisagem, nem a memória do observador. Sempre há uma saída: Contra a importância da legibilidade física, pode-se argumentar que o cérebro humano é maravilhosamente adaptável, que, com alguma experiência, é possível aprendermos a encontrar os nossos caminhos até mesmo num entorno dos mais desorganizados e descaracterizados. (LYNCH, Kevin. 1997, p.5)
Percebe-se que independentemente se a paisagem contribui, dando referência simbólica visual, facilitando a localização do usuário ou não, o indivíduo consegue se identificar com algum detalhe, em meio à desordem da cidade, ou da rua, e se guiar por ele. “Uma boa imagem ambiental oferece a seu possuidor um importante sentimento de segurança emocional. Ele pode estabelecer uma relação harmoniosa entre ele e o mundo à sua volta.” (LYNCH, Kevin. 1997, p.5). A cidade faz parte do dia-a-dia do observador, e de quem vive nela até mesmo sem tempo de observa-la. O edifício faz parte dessa paisagem muito mais do que uma casa baixa, por ele ser de grande porte e marcar muito mais a paisagem tanto observada de perto quanto de longe. “O observador deve ter um papel ativo na percepção do mundo e uma participação criativa no desenvolvimento de sua imagem.” (LYNCH, Kevin. 1997, p.6). A construção da cidade em seus elementos deve ser criativa, pois é capaz de gerar sensações, emoções, ela pertence à todos os habitantes, a imagem da cidade é um bem de todos e não individual.
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5.3. O TERRENO VAZIO | A folha em branco O terreno vazio é como uma folha em branco, uma tela em branco, é como se fosse o barro cru nas mãos do oleiro, a massinha nas mãos da criança. O terreno vazio, limpo, pronto para ser edificado, está à espera do seu grande companheiro, talvez, para muitas gerações vindouras, o edifício. É de se esperar então, que este terreno seja tão importante quanto o que vai ser construído nele, porque é a partir dele que a edificação será pensada, projetada. Se o terreno é plano, se o terreno tem declive, tudo vai influenciar na construção. O terreno tem um grande valor capitalista, a importância dele para o proprietário normalmente está antes, no dinheiro em que ele pode gerar, do que no potencial arquitetônico do edifício que vai ser construído ali. Para o proprietário, o terreno tem alto valor econômico pela sua localização, pelo seu potencial imobiliário. Mas quem compra, ou possui, tem o poder nas mãos de fazer valer a arquitetura desse terreno, assim como valeu ou vale monetariamente. Se essa pequena parcela de terra, em comparação com a cidade inteira, tem grande valor econômico, ela também tem em potencial arquitetônico gigantesco, pois a junção de vários terrenos, vários edifícios vai gerar a imagem daquela paisagem. O terreno pertence ao proprietário individual, mas o que vai ser construído nele vai gerar impacto para a coletividade. O dono da construção tem em suas mãos a decisão de através do edifício, impactar, com uma arquitetura rica em emoções, sensações, singularidade, ou pobre em tudo isso: Quem quer se iniciar no estudo da arquitetura deve, antes de mais nada, compreender que uma planta pode ser abstratamente bela no papel; quatro fachadas podem parecer bem estudadas pelo equilíbrio dos cheios e dos vazios, dos relevos e das reentrâncias; o volume total do conjunto pode mesmo ser proporcionado, e no entanto o edifício pode resultar arquiteturalmente pobre. (ZEVI, Bruno. 2000, p.18)
Entende-se que Zevi fala a respeito do conjunto, uma planta bonita no papel, fachadas equilibradas em volumetria, tudo pode ter proporção, mas ainda sim a arquitetura pode ser pobre. Julga-se por arquitetura pobre, aquela em que não foi pensada para o prazer do usuário, aquela em que a construção não
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passa do material, aquela que não extrai sentimento tampouco inclui. Uma arquitetura pobre, não é definida por beleza, não é definida por materiais usados nela, não é definida pela localização, nem pelo dono. Mas uma arquitetura pobre é aquela em que não permite a relação do objeto construído com quem mora nele, e também com quem “mora fora” dele: o observador externo. A cidade não é apenas um objeto percebido (e talvez desfrutado) por milhões de pessoas de classes sociais e características extremamente diversas, mas também o produto de muitos construtores que, por razões próprias, nunca deixam de modificar sua estrutura. [...] Não admira, portanto, que a arte de dar formas às cidades para o prazer dos sentidos seja bastante diversa da arquitetura, da música ou da literatura. (LYNCH, Kevin. 1997, p.2. Grifo nosso)
Dar forma à cidade é uma arte, o terreno é como uma folha nas mãos do artista, como a partitura nas mãos do músico. O terreno é uma folha em branco nas mãos do arquiteto, o resultado da obra, poderá causar emoções, felicidade, alegria, ou terror e incômodo. Sobre a preocupação quanto à estética dos edifícios, é relativo o que é feio ou bonito, pode variar de pessoa para pessoa, porém, ainda sim gera sensações sejam elas boas ou ruins, vai da experiência de cada observador. Como já mencionado no segundo capítulo deste trabalho, o lado externo do edifício têm extrema importância para a composição visual da cidade, a habitação é composta pelos dois lados, um complementa o outro, não podese separar interno e externo. Mas, existem aquelas edificações não transmitem nada além da expressão ‘normal”, edifícios sem singularidade, sem expressão, que têm arquitetura, mas é pobre, parcial, não se comunica visualmente com o observador, e o usuário. Segue imagens de edifícios localizados em um bairro bastante verticalizado, será o bairro estudado para a proposta de TCC II. São habitações coletivas que pouco se diferenciam umas das outras, não há uma verdadeira singularidade volumétrica comunicativa entre eles, que vá além de fachadas e revestimentos externos.
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Figura 34 - Construções impactantes do Bairro Cidade Nova, Santana do Paraíso, MG.
Fonte: autor, 2015.
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5.4. A VOLUMETRIA DO EDIFÍCIO | Construção de sensações Qual a importância da volumetria? É fácil perceber quando coloca-se uma circunstância do dia-a-dia no contexto. Por exemplo: imagina-se um óculos no formato e com o mesmo volume de um capacete de moto, a viseira do capacete funcionaria no lugar do óculos, e a pessoa teria que conviver diariamente com esse volume em sua cabeça para poder enxergar melhor. Imagina-se o incômodo que seria! Como a volumetria faz toda diferença! Não é bem mais aceitável a volumetria do óculos tradicional? Eis que nesse subcapítulo, será comprovado, que a volumetria é a essência da arquitetura! A sensibilidade às reações emocionais da forma arquitetônica constitui provavelmente o âmago da capacidade criativa do arquiteto, e, na sua falta, um maior treinamento pouco acrescenta. Sua percepção tampouco deveria estar limitada à arquitetura, mas deveria abranger tudo o que apresenta forma e provoca emoção: a cena natural tanto quando a arte. (FRY, Maxwell. 1982, p.945)
O arquiteto é capaz de criar emoções por meio de sua arquitetura, e isso precisa partir do olhar sensível dele. “Nossas impressões sensoriais não nos vêm das coisas que nos cercam mas procedem de nós mesmos.” (GROPIUS, Walter. 1997, p.46).
O volume e a superfície são elementos através dos quais se manifesta a arquitetura. O volume e a superfície são determinados pela planta. É a planta que é a geradora. Pior para aqueles a quem falta imaginação. (CORBUSIER, Le. 2000, p.13)
Primeiro o arquiteto observa o ambiente, mapeando-o não somente fisicamente, mas, percebe a essência, o espírito do lugar. Une ao programa arquitetônico o objetivo sensorial e emocional do edifício que será construído. Trabalha-se as formas, a luz, as cores, as escalas de com o intuito de provocar tais sensações ao usuário. Concluindo, as emoções nascem inicialmente da imaginação do arquiteto por meio de
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sua percepção, em seguida essas emoções são transferidas do imaterial (imaginação, percepção), para o material (arquitetura, construção).
A arquitetura só é interessante quando domina a arte de perturbar ilusões, criando pontos de ruptura que podem começar a terminar a todo momento. Não há dúvida de que o prazer da arquitetura sobrevém quando ela satisfaz as expectativas espaciais de alguém e materializa ideias, conceitos ou arquétipos arquitetônicos com inteligência, imaginação, refinamento, ironia. (TSCHUMI, Bernard. 1975, p.581)
O material é objeto projetado, no caso, o edifício. Esse ‘objeto’, não deveria ser limitado em sua volumetria por causa das leis que o moldam. Mas, antes, apesar das leis fazer acontecer formatos, volumes, usando luz, cores, e tudo que o arquiteto tem em sua disposição para manipulação das sensações. A visão é o primeiro sentido a ter contato com a arquitetura, sem a visão não seria possível percebê-la, mesmo que toque-a, ainda assim, a pessoa não conseguiria apenas pelo háptico ter noção da obra que está ali. Sendo assim, a visão pode ser considerada como o sentido mais ligado às sensações na arquitetura. “O olho que sempre busca apoios de orientação no espaço, registra os objetos que encontra no campo visual, de um modo parecido ao do radar”. “O homem percebe o meio-ambiente físico por meio de suas experiências sensoriais. Nossos sentidos de visão e tato se completam no complicadíssimo processo visual.” (GROPIUS, Walte. 1997, p.4951). Confirma-se então que, visão e tato se completam na experiência do espaço.
Cor e textura de superfície têm, por assim dizer, uma existência própria e emitem energias físicas, que são até mensuráveis. O efeito pode ser quente ou frio, aproximativo ou retrocessivo em relação a nós, de tensão ou de repouso, ou mesmo repulsivo ou atraente. (GROPIUS, Walter. 1997, p.64)
Os elementos como a cor, a textura, a luz, a forma, estão constantemente a causar sensações, aplicados à arquitetura dos edifícios transformariam
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as impressões que tem-se deles em relação ao seu impacto volumétrico. “De fato, o arquiteto designer pode, se domina todos os meios, produzir ilusões que parecem contradizer os fatos reais da construção e das medidas efetivas.” (GROPIUS, Walter. 1997, p.65).
Disso tudo cabe concluir que o artista o deisgner, pode mobilizar em sua obra, através da mudança de escala, os efeitos psicológicos que alteram a relação de sua obra com o observador. Isso vale tanto para formas abstratas quanto concretas. (GROPIUS, Walter. 1997, p.66)
Percebe-se que os edifícios podem ser mais apreciados ao serem observados de longe dependendo de sua arquitetura volumétrica, e muitas vezes a estética desse edifício não pode ser comtemplada de perto estando em frente a ele pela desproporcionalidade de escala entre observador e edifício. Á distância, cumpre que a silhueta da obra arquitetônica seja bem simples, de modo a ser compreendida, à primeira vista, como um símbolo por todos, desde o observador mais primitivo, até por aquele que passe por ela rapidamente de automóvel. [...] Quando nos aproximamos, distinguimos protuberâncias e reentrâncias de partes e entalhes da construção, cujas sombras proporcionam o entendimento da escala para essa nova distância. E quando finalmente estamos bem em frente e não podemos mais avistar o edifício inteiro, é preciso que o olho seja atraído por novas surpresas, na forma de tratamento artístico de superfícies. (GROPIUS, Walter. 1997, p.67)
Existe a necessidade de se pensar em tudo quando se trata de arquitetura, desde a importância sensorial quanto a criatividade em trabalhar a volumetria. De acordo com a mudança de escala, com a aproximação do observador em direção à edificação, novas surpresas surgirão no mesmo edifício como visto na citação acima. “Aqui intuição e razão triunfam unidas sobre as falhas da capacidade da vista humana. [...] O artista procura constantemente novos estímulos que devem ativar e atrair o contemplador.” (GROPIUS, Walter. 1997, p.68).
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Novos edifícios, novos desenhos, novo olhar, novas percepções, novas emoções,
novas
sensações.
Seria
propício
exibir
imagens
representativas de edifícios arquitetonicamente marcantes, porém, por mais impressionante que seja, não se experimenta sensações por meio de impressão no papel, somente a realidade poderia transmitir. “Não há como produzir arquitetura em um livro. Palavras e desenhos podem somente produzir espaço no papel, não a experiência do espaço real. O espaço no papel, por definição, é imaginário: é uma imagem.” (TSCHUMI, Bernard, 1975, p.581).
A arte procura satisfazer esse perpétuo anseio pela contradição. A faísca, resultante da tensão dos contrastes, produz a vitalidade própria da obra de arte. [...] Para manter viva a nossa capacidade de adaptação, necessitamos justamente de contraste. (GROPIUS, Walter. 1997, p.74)
Para valorizar o diferente, ele precisa ser realmente diferente. Não poderia se ter edifícios marcantes em todo o quarteirão, tudo misturado, assim deixariam de ser marcantes, o quarteirão passaria a ser todo ‘igual’ cheio de edifícios impactantes. Talvez, isso seja para aqueles que queiram muito. Que vão buscar sua identidade do lado de dentro e do lado de fora. Aqueles que queiram morar em uma escultura, o edifício é uma obra de arte, e deve ser tratado como tal. Será valorizado como um monumento. E se você morasse em um ponto turístico? Em uma escultura?
Existem obras de arte dentro do museu, elas também podem estar do lado de fora dele, na cidade. O cidadão deixará então de ser auxiliar, para ser observador, espectador, para perceber, sentir, participar dessa peça emocionante, no palco que é a cidade. A planta deixará de definir o morador, deixará de ser o produto. Agora quem definirá a planta é o próprio morador, ele é quem escolhe. A planta deixará de ser o fator principal para ser auxiliar. A volumetria do edifício será o princípio, e
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a planta o resultado. O morador escolherá a obra de arte que o representará. Esteticamente, porém, o espaço tem uma importância ainda maior: o arquiteto modela-o como o escultor faz com o barro, desenha-o como obra de arte; tenta, enfim, por intermédio do espaço, suscitar um determinado estado de espírito nos que “entram” nele. (SCOTT, Geoffrey. Apud ZEVI, Bruno. 2000, p.186)
O arquiteto modela o espaço, transforma-o, assim também modela a escultura edificada, não se pode sentira a arquitetura por meio de uma imagem impressa, mas pode-se perceber a diferença impactante entre volumes. A exemplo dessas imagens de edifícios trabalhados em sua volumetria pode-se confirmar a imagem marcante para com a paisagem, fazendo referência, transformando-se em símbolos arquitetônicos e locais. Uma volumetria marcante permite à construção uma oportunidade de entrar para a lista de edifícios patrimoniais, concede à cidade futuros pontos turísticos deslumbrantes.
[...] todo edifício é único e antecipa o futuro, e o poder que exerce sobre nós reside em sua profunda ligação com uma série de emoções humanas que abrangem desde o animal até aquilo que os românticos chamaram “o sublime”. (FRY, Maxwell. 1982, 84).
Em seguida, percebe-se o quanto uma volumetria esteticamente manipulada têm o poder de causar o impacto arquitetônico no ambiente e na paisagem. Com propósitos diferentes, e faz-se referências à conceitos e os transformam em habitações. Essas habitações transformam-se então símbolos, referência, com grande potencial para visitações turísticas favorecendo a comunidade onde está inserida, essa é outra vantagem de se construir edifícios conceituais, e não apenas para abrigar.
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"Hualien Residences" do BIG: Figura 35 – Hualien Residences.
Fonte: ArchDaily Brasil 2015.
Este projeto dos arquitetos BIG, localizado em Hualien, Taiwan, teve sua primeira unidade construída. São residências de veraneio, foram projetados com intuito de referenciar uma cadeia de montanhas a oeste de Taiwan. (ROSENFIELD, Karissa. 2015)
A volumetria desses edifícios levam o observador a conviver com uma realidade diferente, pode causar sensações, emoções, e dar referência artística para o cotidiano do mesmo.
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O Iceberg / CEBRA + JDS + SeARCH + Louis Paillard Architects: Figura 36 - O Iceberg / CEBRA + JDS + SeARCH + Louis Paillard Architects
Fonte: ArchDaily Brasil 2015.
Este projeto inspirado em um iceberg, localizado em Mariane Thomsens Gade, Dinamarca, em um porto que está se transformando em um bairro, o total dos edifícios tem 208 apartamentos, abrigando 7.000 habitantes com o total da obra. (ArchDaily Brasil 2015).
A volumetria vai além do tamanho geral de um edifício, ela conta também com as cores, os detalhes, as texturas. Tudo isso pode influenciar na sensação vivida pelo usuário ao espaço habitado.
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5.5.
A LEGISLAÇÃO ESTÉTICA DO EDIFÍCIO Pontos de vista | Possibilidades
Sobre leis que regulamentam quanto o potencial construtivo dos edifícios, começa-se antes da construção, com a legislação dos parâmetros urbanísticos estabelecidos por cada município, por meio da lei de Uso e Ocupação do solo, e do Código de Obras. Estes instrumentos podem variar de acordo com cada município, porém, ambos têm o propósito de limitar a liberdade construtiva, e acabam também definindo indiretamente a volumetria final dos edifícios, ao estabelecerem o coeficiente de aproveitamento, a taxa de ocupação, a depender também da intenção do projeto.
A liberdade de projetar criativamente valorizando a volumetria do edifício, limita-se também pelo terreno que o mesmo será construído, e da intenção de projeto, ou seja, dependendo do interesse de ocupação da área, pode-se possibilitar maior flexibilidade plástica na volumetria, ou o mínimo possível. É o caso das habitações coletivas voltadas exclusivamente para a venda, com propósito de maior aproveitamento da área do terreno para a construção, levando em consideração os parâmetros urbanísticos e seus limites, resultaria consequentemente, em uma construção com poucas possibilidades volumétricas, já que o fator principal é obter a quantidade máxima de unidades habitacionais no edifício.
Quando fala-se de aproveitamento pode-se ter dois pontos de vista distintos. Um deles é dentro dos ideais quantitativos comerciais, que é construir o máximo no espaço disponível, ou seja, mais habitações utilizando o potencial máximo construtivo permitido pela lei, resultando quase sempre em um volume retangular vertical cúbico. Veja o exemplo de edifícios habitacionais do Bairro Cidade Nova, Santana do Paraíso:
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Figura 37 - Volumetria dos edifícios habitacionais do Bairro Cidade Nova.
Fonte: autor, 2015.
Observa-se por meio da comunicação visual destes edifícios, diferenças mínimas entre eles: volumetria: não vai além de algumas quinas variadas definidas pela planta, aspecto retangular vertical; Detalhes externos: varia-se entre eles na fachada, no desenho do revestimento, nas cores. Uma visão macro permite-se concluir que a diferença visual entre eles não passa desses pontos acima.
110 Assim como não existe uma propaganda adequada para difundir a boa arquitetura, também não existem instrumentos eficazes para impedir a realização de edifícios horríveis. A censura funciona para os filmes e para a literatura, mas não para evitar escândalos urbanísticos e arquitetônicos, cujas consequências são bem mais graves e mais prolongadas do que as da publicação de um romance pornográfico. (ZEVI, Bruno. 2000, p.1-2. Grifo nosso).
Existem leis que definem quanto aos cuidados externos do edifício, as razões são até interessantes, porém deveria abranger muito mais do que abrangem, é o caso das fachadas dos edifícios depois de construídos:
De acordo com o Código Civil: Art. 1.336. São deveres do condômino:
III - não alterar a forma e a cor da fachada, das partes e esquadrias externas; (Lei nº10.406, de 10 de Janeiro de 2002, Código civil, 2015) Uma reportagem do site ‘revista síndico’ (DURAES, Aline. 2015), fala a respeito das fachadas. A fachadas são responsáveis pela primeira impressão que as pessoas têm do condomínio, e se não forem cuidadas a estética das mesmas fica danificada, afastando os compradores, os negócios, desvalorizando os seus imóveis. É importante ressaltar que Antenas de TV, toldos, equipamentos de ar condicionado, alteram a aparência das fachadas e são proibidas por lei. Conforme Código Civil, a fachada assim como as áreas em comum do condomínio são da coletividade, sendo importante manter a harmonia estética da mesma. Somente é permitida alterações na fachada de acordo com a aprovação dos demais condôminos, segundo a lei 4591/64 a Lei de Condomínios. Como percebe-se acima existem leis que regem o cuidado para com a estética dos edifícios, porém, estas leis deveriam ir além da estética superficial, e levar a importância do assunto à nível arquitetônico. Estas leis existentes têm como princípio assegurar a aparência estética por causa do valor comercial do edifício, mas não pensam no valor arquitetônico sensorial e no bem estar de quem convive com ele.
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Outros exemplos de Leis responsáveis pelo visual da cidade são encontrados por exemplo no plano diretor do Bairro cidade Nova, Santana do Paraíso, este bairro será a área da proposta de TCC II, por isso aproveitando a análise da legislação, toma-se como base o estudo do mesmo. Segundo o documento do Plano Diretor da Cidade: V - Regulamentação da fixação de cartazes e anúncios publicitários, bem como da utilização de quaisquer outros meios de divulgação, com o objetivo de controlar o impacto visual e sonoro sobre o espaço público; IX - Desenvolvimento do Plano Municipal de Turismo; IV - Tratamento urbanístico adequado nas vias e corredores da rede de transportes, inclusive com ciclovias e passeios, de modo a proporcionar a segurança dos cidadãos e a preservação do patrimônio histórico, ambiental, cultural, paisagístico, urbanístico e arquitetônico; II - Promoção da participação da comunidade na identificação, valorização, preservação e conservação dos elementos significativos naturais, culturais e paisagísticos, permitindo a utilização e visualização adequadas;
III - Promoção da identidade visual do mobiliário rural e urbano, equipamentos e serviços municipais, definidos com padronização e racionalização para sua melhor identificação, com ênfase na funcionalidade e na integração com a paisagem. V - Ordenamento e disciplina do uso dos espaços públicos, de superfície, aéreo e do subsolo por atividades, equipamentos, infra-estrutura, mobiliário e outros elementos, subordinados à melhoria da qualidade da paisagem urbana, ao interesse público, à função social da propriedade e às diretrizes deste Plano Diretor;
(LEI Nº359, DE 02 DE OUTUBRO DE 2006. Santana do Paraíso, MG) Percebe-se acima a preocupação quanto ao impacto visual sobre o espaço público; O incentivo ao turismo; a preservação do patrimônio arquitetônico; a importância da participação pública quanto aos elementos significativos paisagísticos, mantendo a utilização e visualização do mesmo; O interesse de identidade visual quanto à paisagem e sua qualidade. Todas esses tópicos acima, citam a paisagem, e a sua qualidade visual, não estão relacionados ao edifício vertical, nem à construções
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habitacionais, porém, existe algo em comum entre estes tópicos e o edifício: a paisagem urbana. Conclui-se então, que embora não se conheça uma lei específica sobre a estética do edifício, existem leis que defendem a paisagem urbana, que condenam tudo que possa agredi-la, assim como também apoiam tudo que possa favorece-la. Comprova-se mais uma vez a importância da qualidade paisagística e visual para a vida pública, agora, por meio da legislação, que rege o solo urbano, fortalecendo ainda mais a importância deste tema.
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6. OBRAS ANÁLOGAS 6.1.ARCHIGRAM Figura 38 - Figuras produzidas pelo grupo Archigram.
Fonte: The Archigram Archival Project (Imagens agrupadas acima)
Estes arquitetos ingleses não temiam romper todos os vínculos com a tradição e com os padrões estabelecidos. As suas propostas tinham sempre um caráter inovador e desafiador, elevando a moderna apologia do novo à enésima potência. (SOLON KRETLI DA SILVA, Marcos. Vitruvius, 2004, p.1)
No início dos anos 60 no século XX, segundo Solon (2004, p.1), passados os abalos da segunda guerra mundial, iniciando um período de ampliação econômica e tecnológica em muitos países de primeiro mundo. Em meio as políticas de conquista espacial, o crescimento das redes de telecomunicações via satélite, o surgimento da robótica, dos computadores e a proliferação de todo tipo de eletrodomésticos, especialmente
a
televisão,
mostrando
um
novo
olhar
de
desenvolvimento e de bem estar. Animados com esses efeitos de
114
progresso, uma grande quantidade de arquitetos da época achavam a produção arquitetônica tradicional antiga, envelhecida, acreditando no potencial de transformação da disciplina arquitetônica. Percebe-se a vontade de inovar, mas não apenas uma inovação material ou técnica, mas uma transformação nos padrões, entende-se até que queriam fugir dos padrões, serem livres para imaginar, e projetar aquilo que jamais tinha até então, passado na mente humana.
O grupo que edita a revista Archigram, criado na Grã-Bretanha segundo Montaner (2001, p.112), e formado por Peter Cook, Ron Herron, Warren Chalk, Dennis Crompton, David Greene e Michael Webb. Segundo Solon (2004, p.1-2), O Archigram foi criado por arquitetos recém graduados reunidos com propósito de publicar uma revista ilustrada com intuito de contestar e provocar.
A revista como aponta Solon (2004, p.1-2), também chamava Archigram, que é a junção de architecture e telegram. O objetivo era divulgar uma publicação que fosse mais simples que uma revista comum, com a rapidez do telegrama. A publicação misturava projetos, e comentários sobre arquitetura com imagens gráficas tendo como referência o universo pop da TV, o rádio, as histórias em quadrinhos, e sua diagramação usava uma linguagem de bricolagem, aplicação de desenhos técnicos e artísticos, fotografias, fotomontagens e textos. Questionavam em seus artigos contra a obviedade e a uniformidade no processo de representação e criação arquitetônica, ou seja, queriam causar mudança no mundo arquitetônico, e usavam de todas as formas comunicativas, imaginárias, e considera-se até mesmo didática.
115 Figura 39 - Figuras produzidas pelo grupo Archigram.
Fonte: The Archigram Archival Project (Imagens agrupadas acima)
116
Os projetos do grupo Archigram segundo Solon (2004, p.2), eram representados por meio de variados recursos da comunicação, foram divulgados de forma estratégica, também participaram de exposições, instalações, o que naquela época era novidade. Suas criações refletiam pelo mundo todo mudando a forma de compreender e ligar com a arquitetura, influenciaram outros arquitetos e provocaram uma abundância de projetos experimentais, impactaram, provocaram discussões.
Suas propostas criativas moldavam o futuro junto com o imaginário da ficção científica, inspiradas nas possibilidades entreabertas pela ciência e a tecnologia da era espacial, transformando a disciplina arquitetônica profundamente.
O trabalho do grupo Archigram é referência de obra análoga por terem sido revolucionários, por mais que fosse fantasioso, ainda sim, rompendo padrões, questionando a arquitetura atuante do período, trabalhando as imagens e publicações estrategicamente com intuito de promover uma renovação, compreensão, revelação, dando asas à imaginação
e
possibilitando
aos
leitores
novas
experiências
imaginárias.
Os membros do grupo imaginavam a construção de plataformas orbitais e de cidades intergalácticas. Alguns dos objetos arquitetônicos experimentais criados por eles voavam como foguetes lunares, ou então, afundavam e emergiam da água como glóbulos. Outros, eram planejados para desdobrarem-se em vários módulos, reduzindo e crescendo no espaço como um robot de desenho animado. (SOLON KRETLI DA SILVA, Marcos. Vitruvius, 2004, p.2)
117 Figura 40 - Figuras produzidas pelo grupo Archigram.
Fonte: The Archigram Archival Project (Imagens agrupadas acima)
A arquitetura, entendida tradicionalmente como a arte/ciência de planejar e construir o habitat artificial do homem, sempre foi pensada pelos arquitetos a partir de princípios fundamentais como a rigidez, a estaticidade, a estabilidade e a durabilidade. As vertiginosas mudanças econômicas, sociais e culturais da época solicitavam novas alternativas de planejamento espacial fundamentadas em princípios como a mobilidade, a flexibilidade, a instabilidade, a mutabilidade, a instantaneidade, a efemeridade, a obsolescência e a reciclagem. A partir destes princípios foram surgindo os projetos do Archigram. (SOLON KRETLI DA SILVA, Marcos. Vitruvius, 2004, p.2)
118
6.2.
OBRA ANÁLOGA | BAUHAUS
“Nosso alvo era o de eliminar as desvantagens da máquina, sem sacrificar nenhuma de suas vantagens reais. (GROPIUS, Walter, 1997, p.30). A Bauhaus, segundo Gropius (1997, p.30) foi inaugurada em 1919. Seu objetivo era consolidar uma arquitetura moderna envolvendo a vida em seu todo, impedindo a escravização do homem pela máquina, eliminando as desvantagens da mesma, porém, sem sacrificar nenhuma de suas vantagens reais. Desenvolver objetos e construções projetados exclusivamente para a produção industrial. A propôs na prática, um grupo de todas as formas de trabalho criativo, seu intuito era reestabelecer a relação do artista criador com o mundo real do trabalho, tranquilizar o costume rigoroso quase que exclusivamente material, do homem de negócios.
A pré-história da Bauhaus remonta ao séc. XIX. Ela inicia-se com as consequências devastadoras que a industrialização crescente teve nas condições de vida e nos produtos manufacturados dos artífices e dos operários, primeiramente em Inglaterra e posteriormente na Alemanha. (DROSTE, Magdalena. 2004, p.10)
Figura 42 - Vista sudoeste do edifício Bauhaus, ala dos ateliers. (Informação conforme fonte da imagem).
Figura 41 - Vista sueste do edifício Bauhaus. (Informação conforme fonte da imagem).
Fonte: Bauhaus archiv, Magdalena Droste, 2004. (Imagens agrupadas acima)
119 Figura 45 - Hans Volger no escritório de obras da Bauhaus. Ao fundo, planos do Biarro Dessau- Torten.
Figura 45 - Johannes Itten no traje da Bauhaus que ele próprio concebeu, 1920.
Figura 45 - Retrato de Walter Gropius, 1920.
Fonte: Bauhaus archiv, Magdalena Droste, 2004. (Imagens agrupadas acima)
A Bauhaus como obra análoga se encaixa para este trabalho justamente pela adequação do arquiteto no mundo dos negócios, transformando sua atuação como arquiteto, relembrando que antes de ser um arquiteto, ele precisa ser um artista criador. Pensar que apesar dos meios mecânicos, industriais, e do pensamento capitalista, ele precisa cumprir seu papel como criador de espaço, trabalhando sua criatividade proporcionando assim ambientes sensoriais, que transmitam emoções.
Estandardização da maquinaria prática da vida não significa robotização do indivíduo, mas, pelo contrário, alívio de um lastro supérfluo de sua existência, para que ele possa desenvolver-se mais livremente em um nível superior. (GROPIUS, Walter, 1997, p.32).
120 A meta da Bauhaus não consistia em propagar um “estilo” qualquer, mas sim em exercer uma influência viva no “design” (gestaltung). [...] Só bem mais tarde, algumas personalidades, que almejavam o desenvolvimento da forma, reconheceram nesta confusão que arte e produção só voltariam a harmonizar-se de novo quando também a máquina fosse aceita e posta a serviço do designer. (GROPIUS, Walter, 1997, p.32-3).
Entende-se por meio dessa citação que, a máquina deveria ser “parceira” do artista criador denominado designer, para reestabelecer a relação em arte e produção. Permite-se usar a Bauhaus como obra análoga, por ela ter como objetivo a união da arte e da técnica, contextualizando com a atualidade, não tem-se a intenção de anular o trabalho industrial das incorporadoras imobiliárias como produtoras do espaço habitacional, porém, conscientizar esses realizadores de sonhos, que estão não apenas abrigando mais uma família, mas também transformando o ambiente de vida dela.
É preciso lembrar que a moradia é uma arquitetura, a arquitetura é uma arte, e por ser uma arte transmite sensações sobre quem a observa, e mais ainda no caso da arquitetura, que é uma arte experimental onde o habitante vive dentro dessa obra de arte, conviverá com ela enquanto ele estiver morando ali. “Era objetivo da Bauhaus formar pessoas com talento artístico para serem designers na indústria, artesãos, escultores, pintores e arquitetos.” (GROPIUS, Walter. 1997, p.38).
A base da formação da Bauhaus segundo Gropius (1997, p.38) era um curso preparatório em que o aluno fazia experimentos sobre proporção e escala, ritmo, luz, sombra e cor. A formação de seis meses tinha o intuito de amadurecer a inteligência, o sentimento e a fantasia, visando o desenvolvimento do “homem inteiro” que a partir de seu centro biológico enfrentaria todas as dificuldades da vida com segurança instintiva estando à altura do ataque e do caos do mundo técnico. Entende-se que a Bauhaus desejava capacitar os alunos em sua criatividade artística, forjando-os a conseguirem enfrentar as dificuldades vindouras no mercado de trabalho.
121
Figura 47 - Vista do atelier de metal e as mesas de trabalho com Marianne Brandt e Hin Bredendieck, cerca de 1930. (Informação conforme fonte da imagem).
Figura 47 - Os Mestres no telhado do edifício da Bauhaus.
Fonte: Bauhaus archiv, Magdalena Droste, 2004. (Imagens agrupadas acima)
“Só quando se desperta nele desde cedo larga compreensão para as cambiantes relações dos fenômenos da vida que o cercam, poderá ele oferecer uma contribuição própria ao trabalho criativo de seu tempo.” (GROPIUS, Walter. 1997, p. 38). Segundo Gropius (1997, p.40), a meta dessa formação era produzir designers com conhecimento do material e dos processos de trabalho, para terem condições de influenciar na produção industrial de sua época. Produziam artigos standard (padrão) para o uso diário, as oficinas serviam como laboratórios, desenvolvendo e melhorando os modelos para essas produções.
O fato de a Bauhaus ter como objetivo a produção de modelos padronizados não danifica sua posição como obra análoga deste trabalho que até então condenou a criação de casas em série, e a criação de padrões para a vida humana. O que então leva-se em conta como referência da Bauhaus, é o fato da escola ter como objetivo a união entre artistas e artesãos, forma e técnica, arte e indústria, uma troca de experiências. Como dito anteriormente, não tem-se o propósito neste trabalho de conclusão de curso, criticar o uso geral da indústria na produção arquitetônica, já que graças ao potencial industrial e
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tecnológico obras puderam ser realizadas e ainda são com facilidade e rapidez, o que deve-se ter em mente é: saber usa-los a favor da boa arquitetura e não do interesse capitalista, rentista, egoísta, que está ‘agredindo’ o potencial da arquitetura para o usuário.
A aplicação prática, nessa construção, de muitos modelos novos confeccionados em nossas oficinas, convenceu de tal modo os industriais, que diversos contratos em bases percentuais foram firmados com a Bauhaus, contratos que, com a crescente aceitação dos produtos, se tornaram valiosa fonte de renda. O sistema de trabalho prático e obrigatório resultou ao mesmo tempo na possibilidade de pagar aos alunos [...] pelos artigos e modelos vendáveis que houvessem elaborado. (GROPIUS, Walter. 1997, p.42)
A Bauhaus criou parceria na fabricação de seus produtos, conquistou a indústria e a convenceu de sua boa ideia de troca de experiências, gerando também lucro para seus criadores. Segundo Gropius (1997, p.42), após três anos de formação no campo do artesanato e da projeção, o estudante passava por um exame diante dos mestres da Bauhaus e também dos mestres da câmara artesanal, para receber seu diploma. Para quem quisesse continuar os estudos, a terceira fase fundamentavase no aprendizado da construção, com estágio em canteiros de obras, experiência prática com materiais, cursos de desenho técnico e de engenharia, ensinados junto com os de projeto, destinando-os ao diploma de Mestre da Bauhaus. Ou seja, a Bauhaus formava o profissional completo, desde experiências primitivas materiais, até a execução de projetos. É como se fosse o curso de arquitetura atualmente. “Na prática, os estudantes se tornavam então arquitetos, desenhistas, projetistas, industriais, professores, dependendo de suas aptidões pessoais.” (GROPIUS, Walter. 1997, p.42).
As formas que os produtos da Bauhaus assumiram não são pois resultado de uma moda, mas sim de uma combinação artística e de inúmeros processos de pensamento e trabalho no domínio técnico, econômico e da criação formal. O indivíduo sozinho não pode alcançar essa meta; só na cooperação de muitos é possível achar aquela solução que transcende o individual e permanece válida por anos a fio. (GROPIUS, Walter. 1997, p.43)
123
Gropius demonstrou que o trabalho em grupo possibilitou grande troca de experiência entre artística, técnica e econômica, revelando que arte e técnica podem andar juntas, mas para isso é preciso união de profissionais.
Figura 51 - Ginática na Bauhaus, cerca de 1930. (Informação conforme fonte da imagem).
Figura 51 - Bella Ullmann e Willi Jungmittag aprendendo a fotografar, cerca de 2930. (Informação conforme fonte da imagem).
Figura 51 - No departamento de composição da Bauhaus, 1931. (Informação conforme fonte da imagem).
Figura 51 - Teatro Jovem na Bauhaus. (Informação conforme fonte da imagem).
Fonte: Bauhaus archiv, Magdalena Droste, 2004. (Imagens agrupadas acima)
124 Figura 53 - Estudantes do departamento de construção. (Informação conforme fonte da imagem).
Figura 53 - Estudantes do departamento de arquitetura no terraço da Bauhaus. (Informação conforme fonte da imagem).
Fonte: Bauhaus archiv, Magdalena Droste, 2004. (Imagens agrupadas acima)
Figura 54 - Objetos produzidos na Bauhaus.
Fonte: Bauhaus archiv, Magdalena Droste, 2004. (Imagens agrupadas acima)
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6.3. OBRA ANÁLOGA | IDEA!ZARVOS | MOVIMENTO UM Não é mudança se for para um lugar igual. Assim como não é inovação se ficar no lugar comum. Por isso, a Idea!Zarvos desafia padrões ao fazer um trabalho quase artesanal, sem poupar esforços para entregar projetos únicos, com personalidade e arquitetura autoral. (Idea!Zarvos, 2015). Figura 55 - Projeto da Idea!Zarvos.
Fonte: Idea!Zarvos 2015 (Imagens agrupadas acima)
A Idea!Zarvos, começou a funcionar em 2005, em um loft na Vila Madalena, de maneira inusitada e promissora. Os sócios são Otavio Zarvos e Luiz Felipe Carvalho. A empresa é uma incorporadora diferente, fora dos padrões do mercado, seus criadores se preocupam especialmente com a qualidade de vida, são seus objetivos: “construir prédios esteticamente lindos, preocupados em melhorar a vida de seus moradores, de seu entorno e, por fim, impactar positivamente toda a cidade.” (Idea!Zarvos, 2015).
Luiz Felipe Carvalho projetou uma casa para Otavio, e começou a fazer alguns projetos para a Idea!Zarvos, ele tinha a sabedoria de enxergar o mundo de forma diferente, com uma visão humana, além de saber organizar os recursos disponíveis de forma técnica, fazendo seu nome dentro
da
empresa,
tendo
capacidade
para
assumir
várias
responsabilidades em suas mãos, cedendo assim, mais tempo para Otavio cuidar da parte criativa da empresa. Em 2010, Otavio e Luiz
126
Felipe se tornaram sócios devido à ótima parceria que formavam que resultou no respeito ao trabalho do arquiteto. Na Idea!Zarvos, arquitetos, engenheiros e incorporadores unem suas experiências para projetar edifícios cada vez mais impactantes!
Figura 56 - Projeto Idea!Zarvos.
Fonte: Idea!Zarvos 2015 (Imagens agrupadas acima)
127
Essa novidade de projeto se estabilizou em 2006, com a Movimento Um, parceria organizada por José Eduardo Casarin, Tonico e Rafael Canto Porto. A proposta da Movimento Um era inovadora: criar prédios de arquitetura autoral, utilizando terrenos pequenos, prédios baixos, plantas flexíveis, abundância de luz natural e cuidado estético podendo até transformar a paisagem de seus entornos. A marca do Movimento Um em seus prédios evidenciaram a Idea!Zarvos.
Aprecia-se esta iniciativa maravilhosa, uma incorporadora, que teoricamente tinha tudo para cair na mesmice da cópia, como as outras incorporadoras comuns, mas não, a Idea!Zarvos decidiu fazer a diferença! A criação de edifícios autorais por meio da Movimento Um é inspiradora como obra análoga deste trabalho.
A importância dos funcionários e investidores que compartilharam da mesma visão, enxergando a oportunidade de mercado contribuiu para a Idea!Zarvos chegar onde chegou, e continuaram investindo e confiando ao longo doa anos. A empresa pôde contar também com arquitetos criativos que assinam seus projetos, chegaram a ganhar prêmios de Melhor Projeto no MIPIM AR Future Projects Awards, em 2009 com o 360º e em 2012, com o Oka. Mesmo ganhando prêmios nacionais e internacionais, não permitem-se acomodar pois então sempre buscando novos desafios. (Idea!Zarvos, 2015).
Acredita-se que sem parceria, talvez nada teria dado certo, a empresa soube escolher seus profissionais e saíram vencedores! A empresa completou dez anos em 2015 com resultados positivos! Já entregaram 18 prédios e ainda tem 10 sendo construídos e outros tantos sendo projetados para os terrenos que eles tem reservados.Com o passar dos anos amadureceram seu olhar sobre a arquitetura, além de amá-la, eles acreditam que ela deve, além da estética, agir sempre a favor das pessoas, fazendo-as felizes e tornando a empresa importante por causa disso, são ousados e persistentes, não se dando por satisfeitos enquanto não alcançam esses objetivos em cada projeto que fazem.
128 É desta forma que gostaríamos de ser reconhecidos: um grupo de apaixonados que não para nunca de pensar. E que, além de fazer consumidores e investidores felizes, quer deixar um legado arquitetônico na cidade e melhorála continuamente, um prédio após o outro. (Idea Zarvos, acesso em 2015)
Essa obra análoga tem grandes semelhanças com o trabalho. Pensa no consumidor antes de tudo, mas é claro que eles não saem perdendo por isso. A empresa fica conhecida por seus belos projetos, que ainda contribuem para a paisagem da cidade. Completaram dez anos de carreira, se o objetivo deles não estivesse dando certo, provavelmente já teriam desistido, mas pelo visto, estão com muitos projetos sendo evoluídos, mostrando que há grande demanda para o produto que eles criam.
São mais do que uma incorporadora, gostam de se definir como “incubadora de ideias e gerenciadora de talentos, recursos e conhecimento para produzir prédios que tornem a vida de quem vai habitá-los mais feliz.” (Idea Zarvos, 2015), mas, gerando retorno financeiro para os investidores e marcando positivamente a cidade. O objetivo deles é ver as pessoas felizes e satisfeitas com os projetos, buscam solucionar os problemas de seus consumidores, razão pela qual investem em uma arquitetura de autoria preocupada com as questões urbanísticas marcantes para a cidade.
“Nossa ambição não é pequena. Queremos de fato melhorar a vida da nossa cidade e deixar um legado arquitetônico que sirva de inspiração e referência.” (Idea!Zarvos, 2015)
129
7. PROPOSTA TCC II | PRINCÍPIOS Conforme os assuntos pesquisados e analisados, percebeu-se que a habitação vai além de um abrigo, vai além do lado de dentro da casa, e que a cidade é composta por construções com potencial arquitetônico comunicativo, visual por meio da volumetria e a imagem dos edifícios. Pretende-se projetar um edifício de habitação coletiva visando todos os aspectos necessários descobertos na pesquisa. Desde as necessidades habitacionais do corpo e espaço para do indivíduo na habitação individual, passando pelos resultados da vida habitacional coletiva, até chegar na relação do corpo e espaço do usuário externo, observador dos edifícios que compõem a imagem da cidade.
7.1.
OBRAS ANÁLOGAS | OBJETIVOS DA PROPOSTA
O objetivo de projeto é unir a iniciativa inovadora e criativa do grupo Archigram. Arte e técnica da Escola de design Bauhaus. E os ideias arquitetônicos
da
Idea!Zarvos
com
seu
conceito
forte,
empreendedorismo inteligente.
A expectativa é alcançar o resultado de projeto sustentável, que se venda pela própria imagem, que contribua para a composição da paisagem valorizando-a, e que seja capaz de se tornar uma referência para o bairro.
Figura 59 - Archigram.
Figura 59 - Bauhaus.
Figura 59 - Idea!Zarvos!
Fonte: imagens já citadas no capítulo de obras análogas.
130
7.2.
MAPEAMENTOS
Área estudada | Localização | Potenciais
Como objeto de estudo propõe-se projetar para o Bairro Cidade Nova, que pertence à cidade de Santana do Paraíso, Minas Gerais, Brasil. Figura 60 - Mapas de localização da área trabalhada. SANTANA DO PARAÍSO
IPATINGA
IPABA
AEROPORTO NORTE
BAIRRO CIDADE NOVA
USIMINAS
CHÁCARAS DO VALE
CENTRO IPATINGA BAIRRO INDUSTRIAL
Fonte: Mapas retirados do google maps editados pelo autor (Imagens agrupadas acima)
AEROPORTO
131
Conforme os mapas, o Bairro Cidade Nova fica mais próximo à Ipatinga do que à cidade a quem ele pertence, Santana do Paraíso. Próximo ao Bairro tem-se a área do ‘Chácaras do Vale’, o Aeroporto, o Bairro Industrial, o centro de Ipatinga, o Cemitério, e a Usiminas. Concluindo então a partir desses dados, que o Bairro mapeado tem um grande potencial de interesses imobiliários, justamente por ficar perto de locais bem utilizados pela população, principalmente o Centro de Ipatinga. O Bairro tem ótima localização, uma variedade de acessos, sendo: uma saída para a BR 381 sentido Governador Valadares, uma saída sentido ao aeroporto e de lá tem acesso à BR 458 sentido à Caratinga, tem acesso ao Bairro Parque das Águas, e o mais usado pelos moradores, que é o sentido ao centro de Ipatinga.
O lote a ser trabalhado fica na rua Carlos Drumond de Andrade, mede aproximadamente 25 metros de frente e fundo, e 30 metros nas laterais. Figura 61 - Mapa do Bairro Cidade Nova e o lote a ser trabalhado.
Localização do lote NORTE
Sentido fluxo de veículos Fonte: Mapas retirados do google maps editados pelo autor (Imagens agrupadas acima)
132
Em entrevista com um dos primeiros moradores do bairro Cidade Nova, Geraldo Felisberto Mariano, segundo ele, foi presidente da Associação dos Moradores e Amigos do Bairro (AMABACIN) na gestão de 2013 e 2014. Geraldo, atualmente é secretário do PROS (Partido Republicano da Ordem Social), e também é pré-candidato a vereador do bairro. Por meio de uma conversa obteve-se as seguintes informações:
O Bairro foi fundado na década de 1990, loteado pela construtora Construdata. As construções foram liberadas no ano 2000. Devido ao problema de TAC (Termo de Ajuste de Conduta) do município de Ipatinga, os construtores ‘migraram’ para o loteamento – Bairro Cidade Nova – que inicialmente foi planejado para construções baixas, porém, hoje está com mais de 12.000 habitantes tendo ultrapassado os limites planejados. Por causa disso, o bairro está reagindo negativamente à esta ação, pois ainda não tem tratamento de esgoto adequado, e o abastecimento de água já não atende a todos os moradores.
Atualmente, conta com um posto de saúde, uma Escola Estadual, e a Associação dos Moradores. Quanto aos cuidados da Prefeitura, tem-se a coleta de lixo e a varredura das ruas. A maioria dos moradores trabalham em Ipatinga, sendo uma vantagem pela localização do Bairro que é bem próximo ao Centro da mesma. A utilização de redes sociais para a comunicação entre os moradores é constante, contam-se com dois grupos no Facaebook: ‘Fala aí Paraíso’ usado principalmente para que os moradores possam fazer solicitações e publicarem os problemas comuns no bairro, e “Eu Amo Cidade Nova” para divulgarem as propagandas de Marketing, de trabalho, entre outras coisas.
Sobre os meios de transporte, a empresa Univale fornece seus serviços ao bairro, inclusive com a linha destinada ao Hospital. Devido à proximidade com a cidade de Ipatinga, as pessoas costumam usar bicicleta e moto também como meio de transporte alternativo exigindo menos para com que os coletivos.
133
Sobre projetos futuros já está previsto para o bairro, a construção de um campo de futebol por meio do orçamento participativo em 2013. O Bairro necessita de investimentos, como a regularização da infraestrutura de rede de esgoto, na área de lazer assim como arborização.
Conclui-se por meio da entrevista, que o Bairro Cidade Nova está em pleno desenvolvimento, e que embora necessite de investimentos para projetos urbanísticos, possui enorme potencial de crescimento. Outros fatores analisados pela aluna, que mora há sete meses no Bairro Cidade Nova, também são importantes e cabem ressaltar: Além das vantagens de localização, há muitos lotes vazios, alguns à venda; Os condicionantes ambientais fazem dele um bairro ventilado e arejado, por causa também de sua topografia, fazendo dele um vale entre os loteamentos montanhosos, conforme imagem abaixo:
Figura 62 - Topografia do Bairro Cidade Nova.
Fonte: Mapas retirados do google maps editados pelo autor.
134
7.3. VIABILIDADE O potencial imobiliário para o bairro é bem grande, as pessoas que trabalham no centro de Ipatinga ou próximo à ele têm a possibilidade de morar perto do trabalho ao adquirir sua moradia no Bairro Cidade Nova, já que se trata de um bairro em desenvolvimento, com muitas construções de edifícios de apartamento à venda, e com muitos lotes ainda vazios, conforme imagem abaixo:
Figura 63 - Mapa de lotes vazios.
Fonte: Mapas retirados do google maps editados pelo autor.
Acredita-se que mesmo que o Bairro tenha algumas melhorias pendentes, como a rede de esgoto adequada, e áreas de lazer, este fator não impedirá o crescimento do mesmo, já que a pavimentação, água, luz, telefone, internet, são disponíveis aos moradores. Sendo a infraestrutura um investimento caro, e a maior parte já se encontra disponível e utilizada, compensa mais concluí-la onde é necessário, do que impedir o crescimento de um bairro com forte perspectiva imobiliária como este.
Embora o aspecto construtivo do bairro não tenha diversidade arquitetônica nos edifícios de apartamentos, causando uma monotonia visual, a paisagem natural que o rodeia faz dele um bairro tranquilo, e
135
visualmente agradável, podendo ser um fator favorável à escolha por moradias. Figura 64 – Construções do Bairro Cidade Nova rodeadas por paisagem natural.
Fonte: autor, 2015.
136
7.4. LEGISLAÇÃO URBANÍSTICA
Entre as leis reguladoras da legislação urbanística da cidade de Santana do Paraíso, os instrumentos consultados foram o Plano Diretor e o Código de Obras.
LEI Nº359, DE 02 DE OUTUBRO DE 2006. PLANO DIRETOR:
Entre os principais parâmetros identificados com ralação à proposta estão ordenamentos quanto a orientação e organização disciplinar das áreas urbanas e rurais, a densificação e a configuração da paisagem estimulando aos aspectos sócio econômicos e ambientais. Outro fator é quanto à promoção do desenvolvimento harmônico da comunidade e o bem estar social de seus habitantes, assim como o desenvolvimento do turismo.
Observa-se então condicionantes de interesse quanto a paisagem da cidade, ao se construir edifícios com capacidade arquitetônica atrativa, sensorial, que marque positivamente a paisagem, estará favorecendo ao turismo, contribuindo então para com este artigo da lei. O Bairro Cidade Nova conforme aponta a legislação, é zona de adensamento prioritário, destaca-se então que o bairro foi projetado para adensamento e uso residencial, e não residencial atendendo à população. A lei também aborda a questão da urbanização, que deve estar em conformidade com o exigido, e deve considerar os impactos sobre o meio físico e natural.
Percebe-se a abrangência da lei quanto à questão urbana, assim como acerca da qualidade de vida da população. Dita também sobre o controle do impacto visual sobre o espaço público, e sobre a preservação do patrimônio histórico, ambiental, cultural, paisagístico e arquitetônico.
137
CÓDIGO DE OBRAS:
Quanto aos instrumentos de controle urbanístico destacam-se: o controle do recuo frontal; Das construções nas divisas conforme a lei de zoneamento e o Uso e Ocupação do solo; Trata-se também da taxa de impermeabilização; Da altura da edificação; Os espaços destinados à garagens; Sobre os edifícios de habitação coletiva; Sobre as alvenarias internas e externas; coberturas; Escadas; Rampas; Elevadores; Tratamento acústico; Sistema contra incêndio; A instalação de pararaios; Sobre a classificação dos compartimentos da edificação; Conforto ambiental e higiene; O cuidado arquitetônico das fachadas compromissando-se com a paisagem urbana; Sobre o projeto de apartamentos.
Conclui-se então que a legislação abrange aos principais deveres quanto à construção responsável urbanisticamente. Tanto o plano diretor quanto o código de obras estabelecem objetivos, e o dever de se pensar na paisagem urbana, aos impactos para com a mesma, e aos cuidados para evitar sua degradação. Admite-se que embora a legislação tenha grande abrangência quanto aos parâmetros urbanísticos, ela carece ser reestabelecida em favor da comunicação visual das edificações.
Acredita-se que um bom caminho seja incentivar aos construtores, no interesse dos mesmos para com a boa arquitetura. Pensar no indivíduo que anda pela cidade, pensar a cidade como facilitadora de relações, como estruturadora de sensações, de referência arquitetônica. Criar meios para a reunião dos agentes responsáveis pela construção e formação espacial da cidade, fazendo-os estabelecerem prioridades e as metas para alcançarem os objetivos de uma cidade mais bonita, mais atraente, uma cidade viva, não só em corpos que se movimentam dentro dela, mas viva em formas, em cores, em possibilidades de se conhecer a verdadeira arquitetura, ao começar pelos edifícios verticais.
138
8.
CONCLUSÃO
Conforme estudado, o homem primitivo obteve relação com o abrigo, logo após ao se formar em grupos estabeleceu referências de segurança e convívio social passando a cuidar do meio em que vive. Teve além da necessidade de se abrigar, a de determinar sua identidade para o meio em que vivia intervindo na habitação por meio das artes, tanto por dentro com as pinturas nas paredes, como por fora com a construção de monumentos. Mostrando-se a necessidade de expressão e comunicação do ser humano.
A evolução da moradia foi de multifuncional, pública, cheias de gente da mesma família, para ser coletivas acolhendo mais de uma família, priorizou-se a aparência. Foram também sóbrias, simples econômicas, abrigando pequenas famílias e valorizando a privacidade, foram bem cuidadas e a família passou a viver feliz cultivando a domesticidade. A família foi definida, referenciou-se no modelo americano, o ambiente passou a ter alma industrial até ser substituído pela tendência tecnológica e virtual, rompeu fronteiras, adquiriu liberdade de localização. As habitações passaram a ser flexíveis assim como as famílias, menores, variando em seu tamanho. As pessoas ficaram mais acessíveis à mudanças, a necessidade variava conforme a época.
A habitação continua sendo o local de descanso independente da sua tipologia,
evidencia-se
então
a
necessidade
fundamental
da
domesticidade. A habitação coletiva deixou de contemplar o usuário para ter a economia e a técnica como prioridade. A vida em apartamento é compartilhada comprometendo-se o privado, gerando conflitos e causando o distanciamento dos vizinhos, sendo necessário o estudo da antropologia, dos costumes sócio econômicos, com o objetivo de aperfeiçoar as relações sociais.
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Morar vai além de se abrigar, é uma necessidade de descanso e conforto emocional, satisfaz o sentimento de posse, a autoestima, alimenta as lembranças. Habitar está ligado tanto dentro como fora do espaço, é interior e exterior, por isso a importância de unir arquitetura e urbanismo, e por tudo isso, que é essencial o estudo da volumetria para gerar comunicação visual de qualidade para a habitação.
Das aldeia às cidades também aconteceram profundas transformações, a tecnologia daquela época possibilitou o transporte, as relações comerciais, a proteção da cidade, a segurança coletiva, urbanizou-se a cidade dentro e fora. As cidades evoluíram dando os primeiros sinais de verticalização principalmente nas pirâmides. A revolução industrial chegou ao Brasil, causou movimentação na cidade de São Paulo, aumentou-se a população, o trânsito, os produtos, chegou o avanço tecnológico! São Paulo se destacou na economia por meio da produção cafeeira, venceu às crises, favoreceu o desenvolvimento industrial, urbano, tornou-se o centro das atenções, caminhou rumo à modernização.
Mais pessoas, mais consumo, movimentou-se o setor imobiliário. Surgiu então a verticalização, livre dos parâmetros urbanísticos causando assim problemas na cidade, e razão para discussão entre os urbanistas, que buscando resolvê-los entre os padrões internacionais, esqueceram-se que a cidade precisa ser pensada para o bem estar da sociedade, para a qualidade de vida acima do capitalismo. São Paulo perdeu suas características europeias, mistura de estilos arquitetônicos e de gente ficaram evidentes. Edifícios marcantes permaneceram para a história, contam-na até hoje, marcaram a cidade e também a paisagem. O desejo por mudanças na estética dos edifícios foi latente, chegou-se aos poucos ao estilo modernista.
A rentabilidade dos edifícios dos anos 1930 atraiu olhares para a verticalização, rompeu-se preconceitos quanto à coletividade, o público aceitou a nova tipologia de morar nas alturas tornando-se posição de
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status. O apartamento da década de 1940 inovou-se em estrutura, do aluguel passou a ser comercializado, nasceu a incorporação imobiliária! A verticalização foi expandida em 1950, edifícios tornaram-se referência pelas mãos de grandes arquitetos modernistas. Apartamentos passaram a atender às variações de classes e necessidades. Definiu-se os parâmetros urbanísticos, intensificou-se ainda mais a verticalização. Financiamentos de apartamentos foram facilitados para a classe média, conquistou-se a própria moradia, e encheu os olhos de incorporação imobiliária.
Pelas vantagens e desvantagens em se morar em um edifício, é inevitável não utiliza-lo, porém, não basta atender às necessidades básicas de abrigo, é preciso ir além do óbvio enxergar as necessidades secretas, de autoestima que geram qualidade de vida. O produto das incorporadoras e construtoras pouco vai além da planta, muitas vezes é só o básico. O projeto desse produto, passa pelas mãos dos arquitetos que mesmo sendo o único profissional capaz de criar e articular espaços, têm se tornado passivo, diante da pressão ideológica das incorporadoras e construtoras, com o objetivo de economizar. Causando então baixa qualidade arquitetônica dos produtos.
O marketing dessas empresas é forte, seduz o consumidor atraindo os seus olhares. Porém há, grande potencialidade na publicidade, e se ela for trabalhada com foco em bons produtos de boa arquitetura, acreditase que a viabilidade seria atendida, para projetos bem pensados com o foco na qualidade de vida habitacional. Empreender e incorporar é uma atividade admirável, que tem tudo para seguir com sucesso, porém, este talento precisa ser lapidado, redirecionando o foco dos objetivos, a favorecer tanto o consumidor quanto à viabilidade, levar a boa arquitetura ao conhecimento de todos. O empreendedor faz do nada, acontecer tudo!
A imagem da cidade têm um peso visual e sensorial sobre os usuários. Relaciona-se com todos os sentidos do ser humano, por isso a
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importância de se trabalhar o impacto dos edifícios para com a paisagem. A singularidade dos edifícios fazem muita diferença para o meio urbano, podem ser referência de localização, deixam a cidade mais atraente, gerando sensação de felicidade, bem estar, e prazer no dia-a-dia. Uma cidade bonita incentiva ao passeio, andar a pé, de bicicleta, contribui para a tendência admirativa, espectadora, viver a cidade vai além de habitá-la. É necessário vivencia-la.
O terreno é como uma folha em branco, têm valor capitalista mas também de contribuição para com o usuário interno e externo dele. A arquitetura a ser inserida nesse terreno causará sensações, precisa ser rica, não em relação ao padrão dos materiais utilizados nela, mas em relação à contribuição da mesma para com o indivíduo que participa dela. Está na hora da volumetria do edifício fazer a diferença, de dentro pra fora e de fora pra dentro, interior e exterior se complementarem, permitir surpresas, identidade. Usar e abusar dos formatos, volumes, luz, cor, conceito, arte e técnica. Para que esse objetivo possa ser realizado, talvez seja necessário a lei rever seus conceitos, repensar os parâmetros urbanísticos, incentivar o desenvolvimento da comunicação visual da cidade.
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