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CASA ESTÚDIO BARRAGÁN - CASA GILARDI - CAPILLA DE LAS CAPUCHINHAS

ensaio teórico MAYCON MOREIRA 12/0187876 ORIENTADOR: SERGIO RIZO BANCA: CAROLINA PESCATORI

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A poética das cores por luis BARRAGÁN


a poética das cores por luís barragán casa estúdio barragán - capilla de las CAPUCHINHAS - CASA GILARDI

autor: maycon moreira dos santos orientador: sergio rizo trabalho final da disciplina de ensaio teorico da faculdade de arquitetura e urbanismo da unversidade de brasilia brasilia, junho de 2017


Resumo A cor pode provocar em nós diversos sentimentos e reações, desde a calma até a inquietação, a fome, o sono; este ensaio trata do assunto “cor” e as suas aplicações ao projeto de arquitetura, utilizando como Instrumento o arquiteto mexicano Luis Barragán, considerado o arquiteto da cor do seculo XX. A cor como elemento construtor de uma arquitetura sentimental, poética, que transforma os sentidos de quem adentra os ambientes, por vezes associadas À natureza e complementada por agentes ratificadores como por exemplo a luz, faz das obras de Barragán algo único. A pesquisa se estrutura em quatro partes, O Arquiteto, A arquitetura, A Poética e As Obras; na primeira parte uma breve biografia descreve de forma sucinta o arquiteto e sua trajetória, desde sua formação à sua fase consolidada de estilo único e pessoal; a segunda parte, A Arquitetura, revela detalhadamente a vida de Barragán aos olhos da arquitetura, nesta parte se descrevem as suas etapas mencionadas na parte anterior, suas viagens, suas influências. “ A Poética” nos revela o clímax deste ensaio, onde todo sentimentalismo, misticismo de Luis Barragán e descrito em suas três relevantes obras: Casa Estúdio Barragán, Capilla de Las Capuchinhas e Casa Gilardi. O objetivo principal desta etapa e mostrar como o uso da cor e a busca de elementos que as revelem/ destaquem no ambiente é algo presente em todas as obras de Barragán, fazendo nascer algo poético e não apenas estrutural ou funcional – objeto de morar/ habitar -, a busca de significados outrora esquecidos nos projetos de arquitetura, beleza, magia, serenidade, intimidade. Em sua ultima parte, o ensaio conta com a descrição das três obras já reveladas na etapa anterior, com imagens, fotos, plantas baixa, cortes e fachadas, em uma verdadeira apresentação técnica dos projetos, sem deixar de lado a parte sentimental, tão tratada e buscada neste ensaio teórico.


sumário 5  |

introdução

8  |  parte 1

O arquiteto Breve Biografia

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13  |  parte 2

A ARQUITETURA A Arquitetura de Barragán Etapa Vernacular Etapa Funcionalista Etapa Pessoal

21  |  parte 3

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A POÉTICA Os Jrdins As Cores e os Traços de Memória Experiências

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Luz, Cor e Espírito

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37  |  parte 4

AS OBRAS Casa Estúdio Barragán

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Capilla de Las Capuchinhas Casa Gilardi

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58  |  CONCLUSÃO 59  |  BIBLIOGRAFIA 60  |  anexo


introdução Ao longo da historia, as construções não se mostravam interessadas no “projetar para seus ocupantes”, o que provocava constantes insatisfações e inadequações ao fim que se destinava cada ambiente. O sentimentalismo, a magia em que se deveria pensar ao se projetar foi sendo deixada de lado, por vezes apenas uma mera imitação formal de um estilo “do momento” era o que se buscava. A cor representa-se como um dos principais elementos de provocação sentimental e de sensações, porém, segundo Mahnke (1996) apenas colorir o ambiente não é o bastante, se faz necessário uma escolha adequada de cores. De um ponto de vista físico, nosso mundo em grande parte se define por luz, e esta, e uma condição básica para que a percepção do nosso olhar aconteça. Na ausência da luz o olho humano não distingue formas, cores, espaço e movimento. A cor nos proporciona múltiplos efeitos fascinantes, complexos, que nos fazem experimentações de sensações. Na física, a luz se trata de uma forma de energia, medida em comprimentos de onda, que só podem ser distinguidos pelo homem se compreendidos na faixa de 400nm a 800nm de comprimento de onda. O estimulo que vem dessas ondas provocam a sensação luminosa que chamamos de luz a qual define o fenômeno cromático. O espectro magnético além de proporcionar a nós a impressão luminosa também provoca a impressão da cor. Segundo Grimarães (2000)iii , A cor é uma informação visual, causada por um estímulo físico, percebida pelos olhos e decodificada pelo cérebro. O estímulo físico, ou meio, carrega consigo a materialidade de uma das fontes, ou causas da cor – a cor-luz ou cor-pigmento2 . O cérebro - e o órgão da visão como sua extensão – é o suporte que decodificará o estímulo físico, transformando a informação da causa em sensação, provocando, assim, o efeito da cor.

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Tratando a cor como uma informação, Farina (1982)iv diz que, Sobre o indivíduo que recebe a comunicação visual, a cor exerce uma ação tríplice: a de impressionar, a de expressar e a de construir. A cor é vista: impressiona a retina. É sentida: provoca uma emoção. E é construtiva, pois, tendo um significado próprio, tem valor de símbolo e capacidade, portanto, de construir uma linguagem que comunica uma ideia.

Esta característica pode ser trabalhada em ambiente de diversas formas, com diversos objetivos, seja de passar mensagens, ou provocar sentimentos singulares, mágicos que transportem o individuo a um plano espiritual em constante transcendência, nos fazendo reclusos em intimidade, em silêncio; o que foi bastante explorado por Luis Barragán em suas várias obras, em que fazia uso de cores vivas experimentalmente alocadas nos ambientes. Em um contexto histórico, onde houve anos de dominação espanhola, a qual foi sucedida pela Independência do México em 1821 e a Revolução Institucionalista ente os anos de 1910 e 1917, contribuíram para uma busca de identidade nacional pelos artistas mexicanos, incluindo Luis Barragán, que cria um estilo único, sensual e nacionalista, a partir do modernismo internacional; fazendo uso de cores vivas e contrastes de texturas, tendo a água e a luz como temas preferidos em suas obras. Barragán sempre buscou uma conexão entre seu trabalho, a arquitetura moderna a tradição mexicana, com influencias fortes como por exemplo Le Corbusier e os artistas muralistas mexicanos. A identificação e descrição das características desse brilhante arquiteto se fez primordial neste presente ensaio, buscando seus principais elementos de trabalho e de pensamento – a cor. Forte figura da arquitetura Mexicana, todas as suas obras foram realizadas em seu pais natal onde o domínio do espaço e da luz são claramen-

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mente expostos em seus projetos, com habilidades sensíveis de trazer à forma a cor, constantemente em movimento de idas e vindas de sentimentos as vezes realçados as vezes revelados à quem adentra sua arte. Sua arquitetura se expandiu mundo afora, com exemplo e inspiração para diverso arquitetos que buscavam uma arquitetura única, sentimental, minimalista e moderna.

Figura 1 - Casa Estúdio Barragán

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parte 1

o arquiteto

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Figura 2 - Luis Barragรกn em sua casa

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BREVE BIOGRAFIA Um dos arquitetos mexicanos mais importantes do seculo XX , foi o único de sua nacionalidade a receber o Premio Pritzker, no ano de 1980, Luis Ramiro Barragán nasceu na Cidade do México em 9 de março de 1902. Se tornou um dos arquitetos mais influentes da modernidade mexicana, sendo referencia importante para os atuais arquitetos tanto em aspectos visuais como também conceituais. Todas suas edificações são bastante visitadas por estudantes e amantes da arquitetura de todo o mundo. Barragán veio de uma rica família católica, filho de Juan Barragán e Ângela Morfim. Toda sua infância foi ao lado de seus pais e seus outros 6 irmãos no bairro de sua cidade natal, Santa mônica, nas férias a família se deslocava pra Hacienda Corraqles que se localizava nas proximidades de La Manzanilla de La Paz, e as experiencias dessas estadias no campo em meio a natureza , no interior do México , deixou uma marca profunda e bastante positiva que foi refletida em sua composição artística, o que resultou em uma “definição de um estilo mexicano universal” . Foi estudante da Escuela Libre de engenheiros de Guadalajara, local onde se tornou amigo de Rafael Urzua Arias e Pedro Castellanos. O interesse pela arquitetura, segundo o próprio Barragán, veio da influencia do arquiteto Agustin Basave, que foi seu professor. Entre os anos de 1925 e 1926 viajou para a França e ao chegar em Paris frequentou a exposição de Artes Decorativas de 1925. Um jardim desenhado por Ferdinand Bac, o impressionou, em seguida ele teve um encontro com as culturas do mediterrâneo, muçulmanos e europeus. Barragán conheceu Le Corbusier em 1931, em uma de suas palestras em Paris e com isso teve a oportunidade de conhecer a fundo seu trabalho. Quando ele voltara para sua cidade a Escola Livre de engenharia não dava mais qualificação de arquitetura, por isso mesmo que Barragán tenha

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Figura 3 - Luis Barragán


todas as exigências ele não poderia dar inicio ás suas atividades como arquiteto.. Entre os anos de 1927 e 1936, em Guadalajara, começou a exercer sua pratica profissional remodelando e projetando casas, com mesclas de um estilo de arquitetura mediterrânea e local. O primeiro trabalho foi a remodelação da casa Lic a qual se localiza na esquina das ruas Turquia e Madero, no centro da cidade de Guadalajara. Nesta obra de remodelação Barragán deu destaque ao corrimão de madeira e às portas, que foram projetadas pelo próprio arquiteto; o patio central também recebe destaque, com uma fonte no centro. Encantado com o projeto do jovem Barragán, Lic León Robles encomendou projetos para diversas casas as quais o mesmo alugaria, bem como para sua casa de descanso em Chapala. Com estas obras, Luis Barragán conseguiu uma boa reputação, ganhando fama na cidade, os projetos se multiplicaram. Em 1931, Luis viaja para a cidade de nova York, cidade onde conheceu Frederick Kiesler, mais tarde ele se muda para a Cidade do México, onde realiza diversos projetos de edifícios residenciais, com inspiração funcional e base somente comercial, sendo conhecida sua fase racional. Com um grande interesse por jardins e arquitetura paisagística, juntamente com sua de não depender financeiramente de seus clientes, barragán exerce a função de promotor imobiliário. No ano de 1945, ele criou e projetou o plano de urbanização do Pedregal de San Angel, juntamente com outros arquitetos, incluindo Max Cetto cuja casa foi construída na área do projeto. Em 1943 ele adquiriu terras em Tacubaya e construiu sua primeira residencia ( conhecida posteriormente com Casa Ortega), mais tarde projetou também sua própria residencia anexada a uma oficina, a qual é Patrimônio Mundial desde 2004. Imerso em uma controvérsia pós- revolucionaria sobre a identidade nacional, suas obras posteriores foram baseadas em uma retorica da arquitetura vernacular formuladas com a historia da Afri-

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do Norte, Espanha e áreas rurais de seu estado natal. Tais características foram enriquecidas com sua ida ao Marrocos em 1951, resultando em uma linguagem bem formal de edifícios maciços com paredes grossas e aberturas pensadas onde o acabamento e marcado por cores brilhantes e com textura. Elementos como a água e a luz se tornam fundamentais para seus projetos, na maioria das vezes enriquecidos por jardins. Entre os anos de 1955 e 1960, ele restaurou o Convento da Sacramentarias Capuchinhos em Tlalpan, em 1957 executa o projeto das Torres Satélite com a colaboração do escultor Mathias Goeritz e o pintor Jesús Reyes Ferreira, posteriormente, em 1976 constrói a casa Gillardi, com uso das cores como tema fundamental do projeto. O discurso vernacular de Barragán nos anos 60 e 70 coincidiu com o estruturalismo e semiótica de interesse arquitetônico, servindo de base para o lançamento ao estrelato internacional com uma mostra no Museu de Arte Moderna de Nova York, “ A arquitetura de Luis Barragán”. Foi membro da SAM e da AIA, e logo após a exposição de 1976 ganhou o Premio Nacional de Arquitetura, tendo reconhecimento no seu auge em 1980 com o Premio Pritzker. Ele morreu em 1988 vitima do Prkinson.

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Figura 4 - luis Barragán


parte 2

a arquitetura Barracor | 13


A ARQUITETURA DE BARRAGÁN “En proporción alarmante han desaparecido en las publicaciones dedicadas a la arquitectura las palabras belleza, inspiración, embrujo, magia, sortilegio, encantamiento y también otras como serenidad, silencio, intimidad y asombro. Todas ellas han encontrado amorosa acogida en mi alma, y si estoy lejos de pretender haberles hecho plena justicia en mi obra, no por eso han dejado de ser mi faro. Han sido para mí motivo de permanente inspiración las lecciones que encierra la arquitectura popular de la provincia mexicana: sus paredes blanqueadas con cal; la tranquilidad de sus patios y huertas; el colorido de sus calles y el humilde señorío de sus plazas rodeadas de sombreados portales […].” (Barragán citado en Artes de México [A de M] 1999:12-15).

O fragmento acima foi retirado do discurso feito por Barragán em 1980, no premio Pritzker, onde podemos ver com clareza as características mais profundas do arquiteto e suas obras. De inicio, a intenção de uma arquitetura nova, dedicada aos sentidos, e aos sentimentos, extremamente emocional e poética; depois temos uma arquitetura mais moderna, como diz Josep Maria Montaner, com uma grande capacidade de criação de uma linguagem própria, imersa num contexto local e cultural. A arquitetura de Luis Barragán segue em três etapas, muito bem definidas e aos mesmo tempo bem diferentes uma da outra, e se divide, segundo Montaner, em vernacular, racionalista – com grande influência de Le Corbusiere a pessoal, com uma linguagem mestiça de todos os outras experiencias de anos anteriores com características da vanguarda artística mexicana. A seguir vamos falar um pouco mais de cada uma dessas etapas. Etapa Vernacular Antes de mais nada, e importante destacar que esta etapa é essencial para o que se tornou , mais tarde, a arquitetura de Luis Barragán, uma vez que nesta etapa que ele busca influencias as 14 | Barracor


Figura 5 - Casa Iteso Clavigero - influências mediterrâneas.

quais permitiram a definição de um estilo único, próprio, que resultara em um acervo de obras pessoas e bastante representativas. Mesmo tendo formação em engenharia, a verdadeira vocação natural de Barragán foi a arquitetura e a arte, como vimos em seus primeiros anos de carreira onde ele busca uma linguagem própria. Em Guadalajara, que era sua cidade natal, a arquitetura local buscava imitar a cultura europeia, principalmente a parisiense, o que foi fortemente rebatido por Barragán com o uso de expressões mediterrâneas em suas primeiras obras, na busca de um autorreconhecimento e de uma identidade. O contato com a arquitetura mediterrânea nasceu da influencia espanhola que houve na arquitetura norte americana nos anos 20; considerada para os estadunidenses uma moda, para Barragán foi uma forma de reconhecimento. Esta inclinação para a arquitetura mediterrânea e confirmada em sua personalidade em 1925, na viagem feita por ele para a Europa onde ele visitara a exposição de Artes Decorativas e conheceu a obra de Bac, como dito anteriormente.

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No livro El Les Colombières, podemos ver como Bac descreve sua arquitetura e a contribuição que ela tinha para a nostalgia, criticando o uso de apenas um estilo e um período arquitetônico; utilizava as formas do mediterrâneo as quais tinham sua síntese em influencias através do tempo e religiões distintas. Essas descrições de Bac conferiram a Barragán a interpretação das varias sensações já antes experimentadas quando conhecera a arquitetura espanhola mediterrânea do norte da Africa. A arquitetura encontrada no Marrocos, com formas cubicas, serviram de grande influencia , do mesmo modo Alhambra com o suntuoso Patio de los Mirtos. Todas essas influencias nos ratifica a busca, por Barragán, das tradições para alem do território mexicano, expandindo os limites de seu regionalismo cultural, se fazendo receptivo à arquitetura espanhola e Norte Africanas. Como principal influencia mexicana, a fazenda de seu pai localizada na serra do jalisco serviu de elemento principal para sua concepção visual; ele apropriou-se de alguns elementos como por exemplo o saguão, as paredes brancas, os muros altos, os lagos, fontes e aquedutos. A fundadora da Barragán fundation, Frederica Zanco, diz que esses elementos expressam uma linguagem abstrata que se adaptam a misticidade dos anos remotos que o arquiteto teve na sua infância, ao 16 | Barracor

Figura 6 - Cuadra San Cristóbal


mesmo tempo em que se integram à necessidade de um mundo moderno. Barragán aprendeu a manipular os espaços e os materiais locais, se inspirando nos grandes monastérios coloniais. Todas influencias resultam em uma verdadeira coleção de obras construídas na cidade de Jalisco, entre os anos de 1927 e 1936, como por exemplo, a casa para Efraín González Luna, onde ela recebe elementos vernacular de Jalisco com o espirito mediterrâneo visto nos arco mouro que se mostra na entrada principal. Nessas obras se verifica sua tendencia em construção com pé direito duplo, entradas grandes e sombreadas e o uso difuso da luz que traz intensa intimidade. Barragán começa a ter contato com o movimento moderno no final dos anos 20, e um dos seus primeiros influenciadores foi José Clemente Orozco, de quem Luis admirava os desenhos geométricos e a dualidade de suas obras. Como diz Zanco, nelas se unem a tradição e a modernidade, uma complementando a outra, elementos mexicanos tradicionais que ofereciam soluções modernas de composição; dualidade essa que para Barragán era o ponto principal de sua busca por um estilo próprio, moderno que não se baseava somente na retomada do tradicional. No ano de 1931, Barragán vai a Nova York e conhece o arquiteto austríaco Frederick Kielser, que abre os horizontes de Barragán acerca das teorias e trabalhos funcionalistas alemão que Luis somente tinha ideia. Por meio de Kielser ele conhece também de forma vasta o trabalho do grupo Stijl. Partindo de Nova York Barragán volta para a Europa e visita os trabalhos de Le Corbusier; depois retorna ao México e demonstra um interesse maior pela síntese formal e palas características do movimento moderno. A abstração formal, o uso de ornamentos, a funcionalidade dos espaços claramente foram influencias deixadas por Le Corbusier nas obras de Barragán, mesmo este tendo sua propria atitude e criticas vistas em seus projetos, por exemplo, no momento em que Luis Barragán decide ignorar a parte técnica Barracor | 17


técnica lida no livro Vers une architecture, de Le Corbusier, dando atenção apenas a alguns tipos de pensamentos como este : “Masses, surfaces and spaces, perceived through light and shade, are the precious elements that must be preserved in all their simplicity.” 1 (Le Corbusier citado en Zanco 2001:55), sem contar nas conclusoes pessoais que ate certo ponto se diferem das de Le Corbusier, por exemplo no fragmento: “Architecture is something plastic, going beyond its utilitarian aspect and existing to provoke emotions by its volumes.” 2 (Barragán citado en Zanco 2001:55). Tudo isso nos faz observar que Barragán apenas absorve do movimento modernista o que lhe interessava, que casavam com seus anseios e suas buscas, na expectativa de uma fusão entre a tradição e a inovação na construção de seu estilo próprio de se fazer arquitetura.

Figura 7 - janelas Cuadra San Cristoban. Traços retos influências modernistas.

Etapa funcionalista Em 1935 Barragán parte para a Cidade do México na busca de ampliar seus horizontes, e interrompe, assim, um ciclo de buscas de estilos em Guadalajara. Inicia- se a segunda etapa, considerada por ele próprio como etapa comercial, pois nela o arquiteto se dedica exclusivamente em produzir obras funcionalistas que resultassem em retorno financeiro, deixando de lado o uso de construções vernacular, mas ao mesmo tempo aplicando as teorias modernas; como foi explicado por Carlos Gonzalez Lobo, as obras pertencentes a essa etapa possuem uma grande unidade conceitual e formal. Com o predomínio de volumes sólidos, puros, e traços ortogonais, Barragán fazia uso quase que constante de vidro e das chamadas “strip windows”, constantemente recorrendo a formas horizontais e o uso de terraços, influenciado pela arquitetura de Le Corbusier. O objetivo principal de arrecadar dinheiro com essas obras funcionais foi alcançado com exito por Barragán, conferindo ao arquiteto um liberdade econômica para projetar casas onde ele aplicaria o resultado de suas buscas, juntamente com a temática funcionalista, no que se definiria, 18 | Barracor

Figura 8- Terraço Casa Estudio Barragán


tarde, a etapa pessoal, o que foi dito por Frederica Zanco , Barragán o especulador promoveu ao Barragán artista, a possibilidade de uma criação livre de um discurso estético próprio.

Etapa pessoal

Figura 9 - Casa Gilardi, considerado um dos projetos mais pessoais de Luis Barragán.

Compreendida entre os anos de 1940 e 1970, essa etapa consiste na criação das principais obras de Barragán. As duas etapas que antecedem esta serviram de guia para esta: sua busca vernacular recebera influencias mexicanas e mediterrâneas, em total entendimento da diferenciação de imitação. A etapa funcionalista, um grande aprendizado das características modernistas em total concordância com a identificação de características que não representavam seu estilo próprio, como por exemplo o uso exagerado de vidro, o qual não conferia aos ambientes a intimidade que barragán tanto presava. Barragán juntara todos esses elementos e características e acrescentara um toque emocional, fortemente voltado aos sentidos. A casa estúdio de Luis Barragán foi uma das primeiras obras da terceira etapa, a etapa pessoal, apresentando características estilísticas que mudaram ao passar do tempo, encontrando novas versões e projetos, uma especie de laboratório. Frederica Zanco faz menção à busca de Barragán em solucionar problemas como por exemplo, a disparidade de uma construção de uma obra moderna no México mas que fizesse parte do México.

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Figura 10 - Casa Gonzales

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parte 3

a poĂŠtica Barracor | 21


A característica da expressão plástica de Barragán mostra uma certa introspecção e religiosidade, desde a visita ao palácio de Alhambra até o projeto da Casa Gilardi, ou seja, do começo ao fim de sua carreira, sendo confirmada no discurso do mesmo no Premio Pritzker, quando coloca em interrogação se a arte e a história podem alguma vez ser entendida sem a presença da espiritualidade religiosa e sem a base mística. “¿Cómo comprender el arte y la gloria de su historia sin la espiritualidad religiosa y sin el trasfondo mítico que nos lleva hasta las raíces mismas del fenómeno artístico? Sin lo uno y lo otro no habría pirámides de Egipto y las nuestras mexicanas; no habría templos griegos ni catedrales góticas ni los asombros que nos dejó el renacimiento y la edad barroca (…).” A maneira como Barragán manuseia a cor nos faz trasportar a um universo de intensa beleza quase que sagrada, a qual ressoa no fundo de nosso subconsciente, revelando esse elemento cor como instrumento mais que decorativo. Os ambientes os quais ele projeta, considerados,as vezes, religiosos e até mesmo profanos, se enriquecem de vida com a energia que emana de contínuas e inesperadas fontes de misticismo, de luz e de cor, desde o acolhimento em penumbra dos interiores físicos dos espaços até a clara e brilhante luz dourada do dia, trazendo a nós visualizadores, memorias das da arquitetura ancestral mexicana. Observando as notas e desenhos de Calatrava, por exemplo, vemos que o corpo humano é compreendido como estrutura maleável, que se pode dobrar, repleto de diversas e variadas configurações, posturas e posições, e são comparadas nas estruturas edificadas, simbólico de um ponto vista, metafórico , as quais requerem o contexto das variáveis espaço- tempo, luz e sombra, reflexos e movimentos. 22 | Barracor


Esses entendimentos e visto em seus dispositivos de visão e de luz, patentes, como por exemplo nas estrutura do “Hemispheric” em Valência – ou o “O Olho”-, que refletem a cor ambiente em constante mudança natural. Em contrate, a cor em Barragán se faz em endoesquelética, com a intenção de uma certa provocação do aleamento dos ruídos exteriores e interiores que possam impedir a descida ao centro do coração, o que vemos, por exemplo, na casa estúdio, onde de inicio o arquiteto procura criar na penumbra da entrada, a qual uma tela dourada iluminada pela luz natural do dia literalmente aviva. A cor se encontra no centro de todas as pulsações e se torna o som da respiração corporal e da consciência que transcende.

Os Jardins “Colour is the most sacred element of all visible things.” John Ruskin

Vindo de uma cultura ibérica, Barragán se interessou pela exuberância da beleza dos jardins de Alhambra e pelo trabalho que Ferdinans Bac realizava, observa-se em Pauly1 , por exemplo, o qual foi considerado a iniciação, junto à sua viagem feita para Europa. O belíssimo trabalho executado por ele revela, constantemente, a busca de uma forma interior a qual permita Barragán se apropriar de todos os objetos ao ponto de transformar o conjunto como um todo. Seus jardins remetem à uma certa magia encantadora sobre os visitantes e resultam em encantamento de um paraíso terreno encontrados em muitos jardins reais que eram concebidos para paz e repouso, numa mistura entre a vegetação, terra e céu, num pátio central cercado presenteado com uma fonte de agua a qual purifica o ambiente.

1 Pauly D., Barragán-Space, and Shadow, Walls and Colour, Birkhäuser: Basel, Boston, 2002.

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Figura 11 - Janela Casa Estúio Barragán

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A casa estúdio se localiza em Tacubava, ou Acozcomaz, no idioma asteca, que tem o significado de “lugar onde se junta a água”. Tal elemento, a água, se faz presente em todos os projetos executados por Barragán; que faz desse microcosmo de habitação humana um local de plena memória, um corpo vivo em mutação, dividindo-se entre centralidade e a direcionalidade. Com uma fachada pouco importante, observando o projeto como um todo, a casa se opõe-se ao mundo exterior, se desenvolvendo para o interior, numa transcendência encorajadora à meditação e ao misticismo, como dito pelo próprio Barragán. Essa interiorização foi percebida por Louis Kahn em uma visita feita à casa, fato esse que e comprovado em uma de suas afirmações: ‘’ A sua casa’’ não e simplesmente uma casa. ‘’É a casa. ‘’. A característica de eterna se confere nos materiais tradicionais utilizados. A arte nos leva a ouvir, ver, pensar e principalmente sentir o real de um modo mais profundo, criando formas que revelam o interior, sem imitar. A pintura, por exemplo, executa um verdadeiro ritual alquímico no moco como se opera a transformação psíquica. Nas pinturas de Francis Bacon as sombras são consideradas, por ele, como algo que escapa do corpo, como por exemplo na pintura Scream, onde a totalidade do corpo escapa pela boca, registrando uma massa de cores que ‘’cortam ‘’ as arestas do corpo, em total contraste com a lamela lisa, numa fina camada, quase que com nulo volume, onde os corpos são dissipados em Trithych.

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As Cores e os traços de Memória “Ninguna Arquitectura de Barragán es perenne (…). Hay un reencuentro de la inocencia, una conquista del Estado de Gracia – para que no se pierda de Memoria –.” Álvaro Siza

Assim como no desenho onde a inesquecível expressão de Matisse, pelas linhas de memória faz ser visível aquilo que é invisível, a casa- estúdio de Barragán nos mostra através da cor, algo que não é oferecido nem de maneira direta nem de maneira óbvia, pois cada momento e compartimento da memória deve ser descoberto, uma surpresa, que flui dos espaços e nos levam à transcendência, onde nos teletransportamos materializados como luz e sombra. Cria-se um itinerário em que se sente em constante deslizamento, conduzido pela casa . A luz se torna guia dos nosso movimentos, desde a iminência do corpo em ser puxado pela luz que se faz emergir da escada. O majestoso amarelo, quase que dourado, se mostra a nós como a primeira cor acessível aos olhos, na casa estúdio, fazendo a articulação entre as outras cores como se fosse constelações infinitas de estrelas, revelando cada matiz e cada cor milhares de galaxias.

Figura 12 - Casa Estúio Barragán

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Figura 12 - Hall Casa Estúio Barragán

Em total fascínio pela sua complexidade, o projeto de Barragán impõe uma trajetória de constante procura à simplicidade ascética em total sublimação. Como a linha Ur, essencial, dá origem a centenas de milhares de projeções as quais se convertem através do esboço do desenho, uma experiencia mística do itinerário transforma as cognições análogas e os indícios de quanto e visível. O itinerário do espaço- corpo, nos mostra em revelação o mágico impacto dos efeitos da cor endoesquelética.

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No espaço existente entre nosso corpo iluminado e o objeto que ilumina localiza-se o enigma da cor; para Aristóteles, por exemplo, a forma não é vista pelo olho, e sim o que se vê é a cor. Ainda incompleto com as doutrinas de Demócrito, Empédocles e Platão, Aristóteles introduz a noção de diáfano, em que se mostra necessária a existência do meio. Não e um corpo em tri dimensão, não possui características próprias, se tronando naturalmente semelhante à água e ao ar, neles estão contidos, porém ,sem a eles se identificar. O diáfano, enquanto em ação de ato luminoso, faz perceptível as infinitas cores, a olho nu – o intermediário entre o que o espaço do que se percepciona e do objeto percepcionado- desta forma são independentes . As cores usadas por Barragán não são representadas por si à uma realidade qualquer que não de si mesmas – tem vida própria, mesmo que inspiradas em memorias de uma civilização onde a cor tem significado e representatividade simbólica, como por exemplo, o branco que simbolizava mudança, e o preto que simbolizava a morte; amarelo a vida, o sol; o azul o céu, chuva, água; o verde a vegetação. De outra forma, o contexto cultural-histórico, destina às cores locais no cosmos – para os Maias, no norte se encontrava o branco, no sul o amarelo, no oriente o verde e no ocidente o preto ao passo em que o mundo por completo era visto em azul esverdeado. Porem, com maestria e intuição artística, Barragán conferiu às suas cores a magia de autocondução sem fala do seu próprio processo alquímico, emanando ressonâncias em espíritos de inquietude à procura da Beleza.

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Experiências Sujeita a essas diversas mudanças e experimentações encontramos a Casa Gilardi, onde a peculiar piscina e o corredor que leva a esta, repleto de um sentimento solar e espiritual. Tal emoção transmitida foi conseguida pela colocação de vidros amarelos na parte posterior das aberturas retangulares do corredor, assim como utilizado nas portas e janelas de sua casa estúdio. Semelhantemente Barragán pintou as paredes do pátio central visíveis apenas do interior da casa, na paleta mexicana de violeta e rosa, além das cores das flores de Jacarandá, também visíveis do interior da casa. Árvore que centraliza - um eixo do mundo (axis mundi) - produz cor, luz e sombra nos volumes da casa, em sua totalidade, durante todas as estações do ano, ligando de forma permanente esse mundo ao Paraíso, logo acima, e o setor abaixo, o jardim. Barragán passava meses olhando e analisando as composições cromáticas que criava, e tinha sua justificativa de escolha criativa final semelhante a um pintor, justificando o prazer que tinha pelo estético e pelo equilíbrio compositivo. Comprovamos isso na coluna rosa presente na piscina, a qual não possui nenhuma funcão estrutural arquitetônica, mas sim um canal de luz que trazia uma melhora nas proporções do espaço. O uso da cor na Casa Gilardi equilibra a arquitetura vernacular e a internacional, compondo um ato criativo repleto de tradição da arquitetura mexicana e as orientações do movimento moderno presente na arquitetura mediterrânea Johannes Itten, Wassily Kandinsky, Josef Albers

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Figura 13 - Piscina Casa Gilardi

Figura 14 - Detalhe da Luz na Piscina Casa Gilardi

As interações se prolongam tanto à natureza referente à profundidade de forma e cor quanto as que abraçam diversos planos de cor em termos de volumetria justapostas em tons. As diversas composições de cores são resultantes da qualidade e da quantidade de luz que incide na superfície refletora, espelhadas, formada pela água. Um fino canal de luz, um rasgo que se abre para o interior vindo de cima, constantemente ‘’aceso’’ pelo sol intenso do México, originando contornos bem definidos e escuros entre a luz e as sombras coloridas, o espelho natural criado pela água da piscina traz formas intrigantes, curiosas, com a luz natural, assim como com as sombras dos volumes na membrana de água, a qual estende as paredes ao infinito profundo de plena imaginação. Essa ilusão, estranheza, chamou a atenção de Barragán , levando à escola surrealista, mais especificamente às pinturas de De Chirico, Delvaux e Magritte.

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Luz, Cor e Espirito Sólo recuerdo la emoción de las cosas y se me olvida todo lo demás. Grandes son las lagunas de mi memoria. Luis Barragán

Como um laboratório, onde os experimentos eram a luz e a cor, a casa estúdio de Luis Barragán nos eleva à sentimentos variados. A luz amarela incendeia toda a atmosfera, por todos os lados, filtrada por vidros. O nosso corpo em constante movimento é preparado , pelo interior silencioso em sequências espaciais, para as diversas percepções indiretas e lentas, como um truque de mágica, que nos são reveladas através da percepção sensorial. Muitos artistas reconhecem o trabalho de Barragán como sendo modificador de sentimentos. Mathias Goeritz, diz que os trabalhos realizados por Barragán eleva os valores espirituais e as coloca acima de todas as funções, comparando Barragán a Le Corbusier, que considera a emoção uma determinante da criação poética. Para Barragán a beleza é uma fonte de espiritualidade modificadora, que resulta em mistura de cores pintadas por Deus, o firmamento, as águas, a vegetação, o papagaio guacamaya e o jaguar, da cultura maia vinda da memoria da experiência do silencio dos mosteiros de Assis, onde o sentimento de solidão era guiado pelo som dos sinos, impulsionando seu olhar da sombra e da luz mística. A importância da luz e da cor como criadoras de ambientes de total meditação e elevação espiritual, faz com que o estudos dessas determinantes seja essencial, visto , por exemplo, no projeto da Capela da Capuchinhas, onde a ideia de quase escuridão se torna o fator de concentração. Barragán buscou também inspiração artística em Kiesler, com suas divisórias verticais, em diferentes alturas interiores, as quais se prolongavam ou se retraiam com total facilidade, exemplo

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temos a Space House de Kiesler a qual possuía diversas possibilidades de expansão e contração, sendo essas suas características fundamentais de seu conceito de habilitação e de psico função. De outra maneira a Endless House também de Kiesler e composta de superfícies que fluem umas sobre as outras em qualidades de um corpo em vida, onde as cores e a luz respiram hora em peso hora em leveza. Na casa estúdio, a fachada recatada, sem nenhuma pretensão, não mostra o espaço interior onde diferentes fontes de luz se entrelaçam em interação, da luminosidade meticulosamente controlada à sombra intencionalmente pensada. O Habitar é impulsionado em energia através de soluções magicas de iluminação que resultam em tons diferentes de profundidades onde a sombra abraça os volumes geométricos em meio a um universo silencioso. O interior é intencionalmente descoberto, em efeitos gradativos, ao passo em que invadimos os espaços e interagimos com o meio místico e mágico numa verdadeira procissão pelos espaços em descoberta com coberturas de madeira flutuante ao lado de escadas flutuantes que desafiam a gravidade. A envoltória das divisórias filtra a luz, as superfícies refletem a luz e as projeta, em múltiplos espaços de luz e cor. Na biblioteca, por exemplo, o intencional controle da luz que adentra o ambiente permite uma leitura profunda da obra “Em Busca do Tempo Perdido’’, o que comprovamos nas notas feitas por Barragán. Os quartos da casa estúdio nos mostram memorias e sonhos por meio dos livros, tapeçarias e pinturascomo exemplo a pintura de Goeritz, o anjo de chuco Reyes e a Visitação - esferas de vidro multicoloridos, materiais quase transparentes, madeira do mobiliário e da cobertura desenhados por ele mesmo. As pinturas não acrescentam estratos de tinta e cor, quando analisadas por si só, mas sim recordações bíblicas, mitológicas é simbólicas. A disposição em que os elementos são colocados conduzem ao bem-estar do espírito de quem observa, com o recursos Naturais da luz, da translucidez, de penumbras e texturas. 32 | Barracor


Figura 15 - Janela Casa Estúdio Barragán

Figura 16 - Porta Casa Estúdio Barragán

Figura 17 - Biblioteca Casa Estúdio Barragán

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Exposta na parede próxima à janela, uma obra de Albers, repleta de interações de cor, recebe luze por consequência se apresenta diferente ao longo do dia, confirmando a afirmação de Albers a respeito das ‘’interações de cor’’. No México, a paisagem e carregada pela luz intensa, as paredes de cores fortes e vivas se apagam pelo excesso de luz e as casa são protegidas pelo sol, a escolha dos pátios internos se torna quase que comum, os quais servem de canal da luz para o interior, o próprio Barragán fala que quando criança tinha o costume de observar o jogo das sombras nas paredes e estudar sobre como o modo em que as coisas mudavam de aparência a medida em que o sol se tornava mais fraco, tornando os ângulos mais fechados e as linhas mais fechadas dando maior evidência . Do mesmo modo em que um corpo sofre mutação interna as quis estão sujeitas às forças exteriores, as residências devem se adaptar a luz que recebem, em busca de sombras. Pedaços do movimento espaço-tempo, a luz e a cor são como vasos sanguíneos que fluem das veias para os capilares resultando uma contínua ramificação formando um padrão. Na casa estúdio, a luz e controlada pelas janelas as quais não seguem uma única tipologia, se mostram diferentes em tamanho e função - a janela do quarto de hóspedes por exemplo, que tem seu desenho baseado no numero de ouro, cria um rasgo de luz em forma de cruz, que é um símbolo forte em toda a residência. Um rasgo lateral serve de passagem entre a sala de estar e o jardim, existindo ainda uma janela de vidro transparente que serve de preparo para uma mudança de ambiente que nosso corpo sofre, nos fazendo mais familiarizados com o diferente jardim, de espaços calculados e profundidade diferenciada; essa janela não leva de fato o transeunte ao jardim físico, mas sim o possibilita a visualização e um certo ‘’estar’’ imaginário. Essa grande lacuna traz para dentro o jardim, e leva para o jardim o interior, fazendo do tão pen-

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Figura 18 - Terraço Casa Estúdio Barragán

pensado jardim um espaço continuo de onipresença. De uma maneira geral o jardim em conjunto com a residência se torna um único universo, unidos por um certo elemento místico. O terraço localizado encima da biblioteca ecoa num espaço vazio, repleto de condicionantes imaginários em sombras desenhadas nas paredes, se escondendo do espaço comum ao publico, profano. Esse universo restrito e conduzido por escadas douradas em amarelo brilhante, livres de cobertura física, apenas o céu em seu emolduramento superior, que eleva o ser ao pensamento e a meditação , de ascensão aos céus, em desejo do místico local sagrado e divino. A modificação da altura das paredes feita por Barragán altera a configuração desse espaço, mostrando uma fuga das tradições pré-hispânica. Cores até agora não usadas servem de experimentação e de construção em mais um de muitos microcosmos mágicos e sagrados criados por Barragán.

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Figura 19 - Terraço Casa Estúdio Barragán

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parte 4

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Casa-Estúdio Barragán

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Figura 20 - Casa Estúdio Barragán


Casa- estúdio Barragán Dentre as obras consagradas de Luis Barragán, encontra-se a Casa Estúdio, talvez por ter um caráter único e intimo do estilo de Barragán. Ela foi construída no ano de 1958 e foi reconhecida pela UNESCO em 2004 como patrimônio mundial. A casa possui características arquitetônicas da vanguarda modernista, sendo a obra modernista com maior significância na América Latina. Nos dias atuais a casa se encontra em ótima conservação, servindo de museu, juntamente com o ateliê do arquiteto. Ficha técnica: •Arquitetos:Luis Barragán •Ano: 1948 •Endereço: Rua General Francisco Ramírez 12-14, Colonia Ampliación Daniel Garza Cidade do México •Tipo de projeto: Residencial •Status: Construído •Estrutura: Concreto •Localização: Rua General Francisco Ramírez 12-14, Colonia Ampliación Daniel Garza, Cidade do México, México •Implantação no terreno: Adossado às 2 divisas A orientação da casa é para o poente, alocando-se na Rua general Francisco Ramirez números 12 e 14, nos subúrbios da Cidade do México. A casa recebe destaque se comparada as demais da região pois o bairro mesmo tendo um investimento imobiliário se manteve com o padrão de imóveis de pequeno porte, na maioria de suas residências; trazendo uma certa surpresa aos transeuntes da pacata rua onde a residência se localiza.

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A orientação da casa é para o poente, alocando-se na Rua general Francisco Ramirez números 12 e 14, nos subúrbios da Cidade do México. A casa recebe destaque se comparada as demais da região pois o bairro mesmo tendo um investimento imobiliário se manteve com o padrão de imóveis de pequeno porte, na maioria de suas residências; trazendo uma certa surpresa aos transeuntes da pacata rua onde a residência se localiza. A fachada principal está alinhada com a calçada o que é o padrão das demais casas vizinhas, porem ela se diferencia pelo fato do muro ser também parede da residência. Esta característica também é vista na arquitetura árabe, conferindo as casas um ar de fortificação, fazendo com que a atenção da casa se volte para o interior, na maioria das vezes voltadas para um pátio interno. O espaço publico foi separado do espaço interno da casa por uma espécie de portaria, que é reduzida a um corredor com cores vibrantes e iluminação meticulosamente trabalhada, se contrapondo a ideia que se tem da parte externa da casa. Esse corredor tem a função principal de espaço de transição gradual, estabelecendo o ponto de inicio em que a residência tem inicio, de fato. Na portaria pode-se encontrar o uso de materiais que são a mescla do moderno e do tradicionalregional – pedra, madeira, paredes com acabamentos simples. Saguões se misturam a casa demarcando ainda mais a transição entre os espaços, os quais recebem o reforço da cor feito pelo arquiteto juntamente com Mathias Goeritz, fazendo com que cada ambiente converse entre si. Logo na entrada o amarelo vibrante nas paredes rompe o que liga o externo ao interno, ao passo em que se adentra à casa novas corem surgem, lilás, roxo, vermelho – numa escolha de tons que se misturam umas as outras, em total comunicação, como se fizessem parte de um mesmo plano mágico, que não é encontrado por exemplo na entrada da casa. Com o pé direito menor, em total busca de 40 | Barracor


acolhimento, encontramos a biblioteca, que abriga até hoje muitas obras literárias do arquiteto as quais foram mantidas intactas; um ambiente de total aconchego, o que foi a total intenção de Barragán. Seguindo a característica forte de Barragán, a inserção das suas obras em meio a natureza , encontramos a presença de pátios e ate mesmo lugares simples e pequenos em que se pode encontrar a natureza e contemplá-la. O Pátio de Potes, por exemplo, e um pequeno local de jardim próximo á saída, com a presença de uma fonte, plantas e potes decorativos, apenas, que apesar de parecer simples serve de escape dos demais espaços da residência, num simpático e singelo espaço de reclusão. Além do aproveitamento da luz, o posicionamento das aberturas e das janelas serve de instrumento de contemplação do exterior, da natureza, desde o tempo que se passa em dia para noite à percepção natural das á alimentação; na sala de jantar tem posição calculada para que além da luz, a natureza também se sinta convidada e adentre o ambiente. Os dormitórios, parte mais íntima do projeto, se encontram no segundo pavimento; quase sem nenhum objeto, apenas o essencial, os quartos ratificam a intimidade; janelas com varias possibilidades de abertura se mostram presentes nos cômodos. O quarto de Barragán se diferencia dos demais, o mesmo possui a iluminação direta, vinda de uma janela a qual se direciona à cama. Sutil, com adornos em detalhes sacro, a religiosidade vem a tona, mas sem deixar o místico de lado. Por fim encontram-se os terraços, os quais são a cobertura dos pavimentos inferiores. Mais que locais de lazer, espaços para meditação e reflexão, eles se mostram em total sintonia com o universo paralelo e imaginativo que se cria nesses espaços. Com simplicidade nas formas as cores fortes e vibrantes são distribuídas pelas altas paredes.

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Figura 21 - Planta Baixa Térreo

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Figura 22 - Planta Baixa Primeiro Pavimento

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Figura 23 - Planta Baixa Segundo Pavimento

1 - Jardim 2 - Pátio/Fonte 3 - Cozinha 4 - Desayunador/ Café da Manhã 5 - Slala de Jantar 6 - Sala de Estar 7 - Ateliê 8 - Hall 9 - Garagem 10 - Portaria 11 - Biblioteca 12 - Escritòrio 13 - Escritório 14 - Saguão

15 - Quarto Branco 16 - Quarto Principal 17 - Closet 18 - Quarto de Hóspedes 19 - Tapanco 20 - Escritório Privado 21 - Escritório Privado 22 - Quarto de Serviço 23 - Quarto de Serviço 24 - Lavanderia 25 - Área de Serviço 26 - Terraço

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Figura 24 - Fachada Frontal

Figura 25 - Fachada Posterior

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Figura 26 - Mobiliário Casa Estúdio Barragán

Figura 27 - Interior do telhado Casa Estúdio

Figura 28 - Escada Casa Estúdio Barragán

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Figura 29 - Fachada Casa Estúdio Barragán

Figura 30 - Terraço Casa Estúdio Barragán

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Figura 31 - Jardin Casa Estúdio Barragán


Capilla de Las Capuchinhas

Figura 32 - Capilla de Las Capuchinhas

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O projeto da Capela das Capuchinas foi realizado entre os anos de 1952 e 1955 e representa um dos projetos mais sensíveis e importantes de Barragán. Sua constante inquietude religiosa e seu intenso interesse pelo místico e seu gosto refinado pelo rigor dos conventos mexicanos da época colonial se mostraram nesse projeto com uma enorme riqueza. O projeto foi na verdade uma reconstrução de um antigo edifício onde a capela seria o único elemento novo. Vale lembrar que em 1952 Barragán voltara à Europa, e visitou, na Itália, Juan Soriano, onde visita as igrejas e conventos franciscanos - São Franscisco foi uma das figuras mais importantes para Luis Barragán. Fascinado pela arte Sacra, Barragán sempre se manteve atualizado no assunto, e trouxe para o projeto da Capela um universo espiritual característica do mundo monástico dedicada à oração e ao recolhimento. Com um jogo de cores e luz, a capela se envolve em uma atmosfera áurea, laranja e amarela, que remetem à elevação ao céu espiritual. Na obra esta presente o cosmos espiritual de maneira constante e forte, maior do que qualquer outro projeto já feito por Barragán, com elementos plásticos e arquitetônicos inclinados ao espiritual, ao poético e ao místico. Uma obra onde o enfase se aplica na preocupação pelo uso da luz natural e pelos seus intencionais e pensados efeitos no ambiente, onde as cores se intensificam em um arrebatamento espiritual. Os elementos decorativos são bastante rígidos - uma cruz alocada ao lado do altar, um vitral do artista Mathias Goeritz e o altar banhado a ouro. A realização de todo o projeto foi feito e financiado por Barragán, como ato de doação à comunidade religiosa. O projeto seguiu em 3 etapas de realização, sendo a primeira a reorganização do espaço que ali existia; a segunda a construção da capela e por ultimo a expansão da ala destinada as células, a qual fora concluída no final dos anos 70.

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O terreno se encontra em uma área bastante adensada, com muitas edificações ao redor. O tratamento da cor e totalmente voltado às tradições locais, com o uso do magenta, do amarelo e do dourado, que conferem ao espaço a riqueza do plano espiritual, constantemente ratificada pela luz natural trabalhada de formas hora diretas hora indiretas, como é o cado por exemplo da luza do coro que invade a capela de forma indireta, tendo nas manhas uma forte luz pontual no altar que incide sobre uma lamina dourada criando um universo fortemente religioso. A simplicidade nas formas e a pureza dos volumes confirmam o clima austero e sóbrio da arquitetura religiosa colonial; encontramos ainda o uso de elementos vazados como por exemplo a treliça de alvenaria que remetem à base da arquitetura mourista, de uma cultura colonial espanhola. Na planta baixa os elementos são distribuídos funcionalmente fazendo jus a uma planta moderna e a presença do pátio interno, que recorre nos projetos de Barragán , relembram os mosteiros tão admirados pelo arquiteto.

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Figura 33 - Planta Baixa Capilla de Las

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1 - Entrada 2 - Pรกtio 3 - Sacristia 4 - Capela Lateral 5 - Capela Principal 6 - Cruz 7 - Jardim

Figura 35 - Entrada

Figura 34 - Capela Principal

Figura 36 - Corredor de acesso ao Jardim

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Figura 37 - Altar Capela Principal


Casa Gilardi Figura 38 - Casa Gilardi

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A casa Gilardi nasceu de uma solicitação de Francisco Gilardi à Barragán, no ano de 1970, na Cidade do México. Depois de 7 anos sem atuar em projetos Barragán decide aceitar o projeto de Gilardi, instigado pelos condicionantes que o próprio Gilardi solicitava no projeto de sua casa, como por exemplo, a grande arvore de Jacarandá que deveria ser mantida no pátio, e a piscina interior. Um projeto introspectivo, onde a casa dá as costas para o mundo e se volta para o privado, com uso cromático singular, fortemente associado a tradição, cores vivas; jogo volumétrico, vindo da herança moderna com ritmos e contrastes nas cores. e com uma certa funcionalidade presente na piscina que se separa e ao mesmo tempo se integra as volumes. A implantação do projeto segue em um lote estreito de 10x36 metros, circundado por três muros deixando apenas a abertura para a rua; a casa e composta por dois blocos maiores com forma quase cubica, e um bloco menor e mais estreito que conecta os outros dois. O bloco da frente recebe um tratamento em cor rosa, bem forte e vibrante, se mostrando imponente pela forma e elo rosa forte e ao mesmo tempo sutil, feminino pelo que o rosa em si traz como significado, um verdadeiro contraste; esse bloco rosa possui três pavimentos, sendo no terre alocada a garagem e as áreas de serviço, no segundo pavimento se encontram a sala de estar e um dormitório e no ultimo pavimento mais dois dormitório. A parte posterior desse bloco se conecta ao corredor, parte imponente do projeto, o qual esta configurado no bloco menor e mais estreito, sendo este coberto por um amarelo vivo, brilhante e imponente que atua como conector e preparador para o que encontraremos ao fundo, no bloco do fundo, ainda nesse bloco frontal temos se abrindo para o patio central que abriga o grande Jacarandá, a cozinha e uma parte da área de serviço. O bloco traseiro possui apenas 1(um) pavimento, onde está localizada a piscina e a sala de jantar.

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A disposição dos espaços na planta baixa é descoberta a medida em que percorre um caminho, nos transportamos mentalmente ao espaços e caminhamos, logo na entrada somos atraídos pela luz que cruza os pavimentos e desce ao hall de acesso, vinda de uma claraboia acima da escada; a medida em adentramos nos sentimos atraído por um amarelo vibrante, imponente como o sol, que vem do corredor, intencionalmente pensado, com aberturas magnificas de painéis translúcidos, como os usados nos primeiros trabalhos de Barragán, que se abrem para o pátio e intensificam a cor presente no ambiente, uma verdadeira luz barroca, amarelada, sentimental, a qual se abre ao final para a piscina. Esta tem sua parede de fundo em azul totalmente em contraste com o vermelho da coluna, que não tem nenhuma função estrutural, está ali apenas por estética; e é banhada por um rasgo de luz que vem do teto, o que nos leva a pensarmos em metáfora, no céu representado por este espaço. Atravessando a sala de jantar encontramos o único acesso ao patio central, composto por grande portas de correr em vidro. Se privando do mundo exterior, a casa apresenta um interior bastante peculiar, próprio, de introspecção e reflexão. No segundo pavimento, no bloco dianteiro, a sala de estar e o dormitório, tem acesso a um espaço de terraço, cercado por paredes altas que o fecham e o separam do contato direto com o exterior, ratificando a privacidade presente na maioria dos projetos de Barragán. Acima do corredor e do bloco superior, em suas coberturas, se localiza um grande terraço, que diferentemente do anterior se mostra mais aberto ao exterior, sem deixar de ser um espaço de contemplação e meditação, ligeiramente adjacente ao patio central, porem em um nível acima. A arvore se reserva em seu espaço, atuando não como protagonista, mas sim como coadjuvante.

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Casa Gilardi Figura 39 - Planta Baixa TĂŠrreo

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Figura 40 - Planta Baixa Primeiro Pavimento


1 - Entrada 2 - Garagem 3 - Cozinha 4 - Saguรฃo 5 - Serviรงo 6 - Corredor 7 - Pรกtio 8 - Cozinha 9 - Piscina 10 - Quarto 11 - Sala de Estar 12 - Terraรงo 13 - Azotea

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Figura 42 - Corte 1

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Figura 41 - Planta Baixa Terceiro Pavimento

Figura 43 - Corte 2

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Figura 44 - Detalhe da Janela

Figura 45 - Pรกtio

Figura 46 - Corredor

Figura 47 - Porta de acesso ao Azotea

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Figura 48 - Terraรงo


Figura 49 - Azotea

Figura 50 - Piscina

Figura 51- Fachada

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conclusão “La serenidad es el gran y verdadero antídoto contra la angústia y el temor, y hoy, la habitación del hombre debe propiciarla. En mis proyectos y en mis obras no ha sido otro mi constante afán, pero hay que cuidar que no la ahuyente una indiscriminada paleta de colores. Al arquitecto le toca anunciar en su obra el evangelio de la serenidad.” Luis Barragán

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bibliografia DELEUZE, G., Francis Bacon: Logique de la Sensation, Ed. De la Différence: Paris, 1984. DURÃO, M. J., “Sketching the Ariadne’s Thread for Alchemical Linkages to Painting”. FABRIKART-Arte, Tecnología, Industria, Sociedad, 8, 2008. ITTEN, J., The Art of Color, Reinhold Publishing Corporation: New York, 1961. KIESLER, F., Inside the Endless House, Simon and Schuster: New York, 1966. PAULY D., Barragán-Space, and Shadow, Walls and Colour, Birkhäuser: Basel, Boston, 2002. PONIATOWSKA, Elena “Luís Barragán” (entrevista). Diário Novedades, Cidade do México, Nov. 28 e Dez. 5, 1976. RUIZ BARBARIN, A., Luis Barragán frente al espejo, Colección Arquia/ Tesis, núm. 26, Edición Fundación Caja de Arquitetos: Barcelona, 2008. 4 Centenarios: Luis Barragán, Marcel Breuer, Ärne Jacobsen, José Luis Sert. Luis Barragán. Valladolid: Universidad de Valladolid, Secretariado de Publicaciones e Intercambio Editorial, DL, 2002. BUENDÍA JÚLBEZ, José María. Luis Barragán 1902-1988. México, Barragan Foundation/ Editorial RM, 2001. EGGENER, Keith L. Luis Barragán’s Gardens of El Pedregal. New York: Princeton Architectural Press, cop, 2001. Luis Barragan Morfin, 1902-1988: Obra Construida = Works. Sevilla: Junta de Andalucía, Consejeria de Obras Públicas y Transportes, Dirección General de Ar-

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SITES http://www.barragan-foundation.com/ http://www.archdaily.com.br/br/01-55615/classicos-da-arquitetura-casa-luis-barragan-luis-barragan https://pt.wikipedia.org/wiki/Luis_Barrag%C3%A1n

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IMAGENS Figura 1, 2 - http://fahrenheitmagazine.com/cultura/artista-convirtio-las-cenizas-de-luis-barragan-en-un-diamante/ Figura 3 http://bassamfellows.com/content/img/BassamFellowsJournal_Barragan_Color_5.jpg Figura 4 tolist-

https://www.flickr.com/photos/cwot/3068601288/in/pho-

Figura 5 https://www.hotelesboutique.com/en/en-guadalajara-paseando-con-luis-barragan/ Figura 6 http://www.lamudi.com.mx/journal/6-trabajos-de-luis-barragan/ Figura 7, 8, 9 https://s-media-cache-ak0.pinimg.com/736x/e2/e1/1d/ e2e11d57b21fc3ab642c82fd2bf2663f.jpg Figura 10 https://www.tumblr.com/search/luis+barragan Figura 11 https://images-na.ssl-images-amazon.com/images/I/71egZ6iS4NL.jpg Figura 12 https://www.flickr.com/photos/pov_steve/4531661140/ in/photolist Figura 13 https://www.flickr.com/photos/eager/5447814130/in/ photolist-9iptkQ-5ZwGmi-9ipt99-c1KqTf-qGzoRq-e84RmG-c1KpVf-c1Kqcf-9bUVvm-8wKNev-ifc4kP-fTZNk-s1U7sA-6Z6fFh-c1KqEd-6Z6gcN-ac8CqQ-9imm6T-7yVywS-9immCx-9ipsHy-6Z2g8e-7yVywY-c1Kqqw-9ipqp7-6xbexd-9imkXg-9imkdc-9ipr53-9imkZp-9imm9a-oL4vqS-9imoHt-eHY2w1-9immxM-9imnrV-9imnV6-9ipqjC-9imnhp-PRgX3t-L1WhSR-m3gsjV-c1KpFo-5J8gEC-fTZJw-2Hc7X7-9iprob-7H6dp3-7H6djh-fTZKg Figura 14 https://www.flickr.com/photos/eager foto Figura 15 https://www.flickr.com/photos/eager/5447810084/ in/photolist-9ips95-9iprF1-9iptFN-9imjPP-9ipsuC-9imkqg-9iprCy-9imnzM-9imoka-9imkzz-9ipsqd-9iprNh-9ipr9m-9imksR-9ipsWC-9imkNp-9imnXt-9imkTg-9imonR-9ipqwS-9ipt2m-9ipr2C-9ips55-9immSp-9imjUv-9ipsZj-9iptSJ-9immd8-9imnZB-9imod4-9ipqNG-9i-

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