Anteprojeto de uma habitação unifamiliar com ênfase na sustentabilidade de materiais em João Pessoa

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ANTEPROJETO DE UMA HABITAÇÃO UNIFAMILIAR COM ÊNFASE NA SUSTENTABILIDADE DE MATERIAIS EM JOÃO PESSOA - PB POR MAYARA MARQUES BEZERRA

NINHO



MAYARA MARQUES BEZERRA

NINHO ANTEPROJETO DE UMA HABITAÇÃO UNIFAMILIAR COM ÊNFASE NA SUSTENTABILIDADE DE MATERIAIS EM JOÃO PESSOA - PB

Trabalho Final de Graduação apresentado como requisito para a conclusão do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Paraíba. Profa. Dra. Isabel Amalia Medero Rocha orientadora João Pessoa - PB dezembro de 2020


Catalogação na publicação Seção de Catalogação e Classificação B574a Bezerra, Mayara Marques. Anteprojeto de uma habitação unifamiliar com ênfase na sustentabilidade de materiais em João Pessoa - PB / Mayara Marques Bezerra. - João Pessoa, 2020. 123 f. : il. Orientação: Isabel Amalia Medero Rocha. TCC (Graduação) - UFPB/CT. 1. sustentabilidade. 2. certificação ambiental. 3. habitação unifamiliar. 4. materiais. 5. resíduos. I. Rocha, Isabel Amalia Medero. II. Título. UFPB/BSCT

CDU 72

Elaborado por ONEIDA DIAS DE PONTES - CRB-CRB15-198


MAYARA MARQUES BEZERRA

NINHO Banca examinadora

ANTEPROJETO DE UMA HABITAÇÃO UNIFAMILIAR COM ÊNFASE NA SUSTENTABILIDADE DE MATERIAIS EM JOÃO PESSOA - PB

_________________________________________________ Profa. Dra. Isabel Amalia Medero Rocha orientadora _________________________________________________ Profa. Dra. Amelia de Farias Panet Barros examinadora _________________________________________________ Profa. Dra. Carolina Silva Oukawa examinadora

João Pessoa - PB dezembro de 2020


AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus, meu Protetor e Guia nos momentos de aflições e inseguranças. Aos meus pais, Maria e Francisco, por sempre me apoiarem e moverem terras e mares por mim. Ao meu amor, André Luiz, por quem tenho grande admiração, por me auxiliar e me inspirar durante toda a minha caminhada acadêmica. Às minhas tias Josefa Marques e Ana Ferreira, por sempre orarem por mim e acreditarem nos meus sonhos. À minha orientadora, Isabel Amalia, por compartilhar seus conhecimentos sobre arquitetura e enriquecer minha formação. A Tamáris Brasileiro, por me inspirar a ser uma profissional ética e me aproximar da realidade da arquitetura. Uma pessoa virtuosa. A todos os meus colegas de turma, em especial Bruna Lago, Juliene Veloso, Larissa Herzog e Lorrany Oliveira, por me ouvir e me acompanhar nas noites de trabalho. À minha querida prima Gabrielly Marques e minha amiga-irmã Camille Nunes, por me fornecerem a melhor amizade que eu poderia ter. A todos que, de alguma forma, contribuíram para que esta grande etapa da minha vida se concretizasse.

6


O NINHO

O NINHO é lar é reciclado é reutilizável é suficiente é necessário ... é sustentável

"Não pode haver aventura sem uma base para onde retornar: todo mundo precisa de alguma espécie de ninho para pousar." Herman Hertzberger

7


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RESUMO Nas últimas décadas, tem-se vivenciado crises ambientais, escassez de recursos naturais e má gestão dos resíduos sólidos, em grande parte, provenientes da economia linear e má alocação do capital. Dentre os setores econômicos, a indústria da construção é uma das mais exploradoras, portanto, faz-se necessária sua reabilitação para consecução do desenvolvimento sustentável, conceito idealizado para evitar riscos aos sistemas naturais presentes na Terra. A sustentabilidade tem sido incorporada à construção civil por meio de certificações ambientais, baseadas na norma série ISO 14000, que permitem a sua quantificação, tal como a LEED, desenvolvida pela organização WGBC, considerada uma das mais completas e utilizadas mundialmente. Todavia, devido a algumas especificidades, sua aplicação no Brasil se torna limitada, sendo criado um conselho nacional para adaptação das certificações para a realidade local, a GBC Brasil. Diante disso, o presente estudo se refere à concepção projetual de uma habitação unifamiliar com a utilização da categoria Materiais e Recursos da certificação GBC Brasil Casa com o intuito de inserir a sustentabilidade na construção, através da não geração de resíduos construtivos e utilização de materiais sustentáveis, aplicando os conceitos de coordenação modular e adaptabilidade. O estudo implicou em questionamentos sobre como o uso e a quantificação dos componentes construtivos sustentáveis são abordados, após evidenciar divergências entre a certificação e a realidade brasileira a respeito dos materiais disponíveis no mercado nacional, entretanto, também demonstrou que a modularização do projeto auxilia no aproveitamento máximo dos componentes, evitando a geração de entulho.

Palavras-chave: sustentabilidade, certificação ambiental, habitação unifamiliar, materiais, resíduos.

9


SUMÁRIO Introdução

11

Compreendendo

19

Problemáticas no setor da construção civil

20

Cenário regional

25

Certificação ambiental

29

Investigando

41

Energia incorporada nos materiais

42

Seleção de materiais

46

Referências projetuais

54

Arquitetando

61

Diretrizes projetuais

62

Escolha do terreno e condicionantes

66

Coordenação modular

72

Proposta projetual

76

Considerações finais

85

Referências bibliográficas

89

Anexo I - Certificação Ambiental Anexo II - Pranchas Arquitetônicas 10


edifício verde paisagismo saúde biofilia meio

ambiente projeto proteção regionalidade sociedade

economia água empatia ser humano paisagem

natureza

reutilização coleta de resíduos reciclagem

infraestrutura eficiência energética conservação

preservação Introdução

construção civil conforto flora e fauna

acessibilidade fontes renováveis permeabilidade vegetação

desenvolvimento comunidade biodiversidade bemestar

sustentabilidade

qualidade reabilitação

compromisso conforto energia

lar

segurança

arquitetura responsabilidade iluminação natural

11 desempenho energia renovável boas práticas planejamento


INTRODUÇÃO

12

a qualidade da água, os resíduos lançados na natureza, entre outros (SUSTENTARQUI, 2014). A partir disso, organizações como o G201 e a ONU² estabeleceram metas, objetivos e debates que auxiliam países a direcionar suas atividades e investimentos, tanto no setor privado quanto no público, para tornar o mundo mais sustentável e solucionar problemas de escassez e crises socioambientais (UNEP, 2011, p. 01).

ONU, Nova York, EUA Determinação dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), num total de oito metas para serem implantadas até 2015

Determinação de metas para redução de emissão de gases do efeito estufa

Cúpula do Milênio 2000

1997

Protocolo de Kyoto

“[...] temos visto cada vez mais evidências de um caminho a seguir, um novo paradigma econômico – aquele em que a riqueza material não é entregue forçosamente em detrimento de crescentes riscos ambientais, escassez ecológica e as disparidades sociais. ” (tradução nossa, UNEP, 2011, p. 01).

Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente, Rio de Janeiro, Brasil Propostas detalhadas de modificar práticas insustentáveis de crescimento econômico

Agenda 21 (RIO-92) 1992

Relatório Brundtland Definição do conceito “desenvolvimento sustentável”

Nosso Futuro Comum 1987

Adaptado de ONU, 201-

Estocolmo, Suécia Concepção do termo “sustentabilidade”

Linha do tempo da sustentabilidade

Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano

2 Organização das Nações Unidas

1972

1 Grupo dos 20

Desde o início do século XXI, são registradas crescentes crises econômicas e ambientais em diversos países em razão da escassez da riqueza natural e aumento dos riscos ambientais causados pela falta de gestão dos recursos renováveis e não-renováveis. Até a década de 1970, havia um uso massificado desses recursos, sem qualquer planejamento ou análise acerca da sua regenerabilidade e os impactos ambientais que poderiam ser ocasionados com as elevadas gerações de resíduos, cenário este que se alterou com o início da Crise do Petróleo neste ano. Foi um fator crucial para a realização da Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano, em 1972, na cidade de Estocolmo, primeira reunião multinacional para debater em larga escala sobre a sustentabilidade, explorando as soluções para diversos problemas na área, como


HABITAÇÃO UNIFAMILIAR COM ÊNFASE NA SUSTENTABILIDADE DE MATERIAIS

3 United Nations Programme

Environment

Cúpula de Desenvolvimento Sustentável, Nova York, EUA Definição dos novos ODS com prazo para 2030, contando com 17 objetivos. Dentre eles, estão: proteger o meio ambiente e enfrentar as mudanças climáticas

Agenda 2030

“O desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento que encontra as necessidades atuais sem comprometer a habilidade das futuras gerações de atender suas próprias necessidades. [...] Muitos de nós vivemos além dos recursos ecológicos, por exemplo, em nossos padrões de consumo de energia… no mínimo, o desenvolvimento sustentável não deve pôr em risco os sistemas naturais que sustentam a vida na Terra: a atmosfera, as águas, os solos e os seres vivos. ” (ONU, 201-).

Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, Rio de Janeiro, Brasil Concepção dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) com base nos ODM e estabelecimento de diretrizes de políticas economicamente sustentáveis

RIO +20 2012

Ilhas Maurício Apresentação de temas como mudanças climáticas e gestão de resíduos

Cúpula Mundial do Desenvolvimento Sustentável, Joanesburgo, África do Sul Modificação das metas da Agenda 21 para ações concretas e atingíveis

Estratégia de Maurício 2005

2002

RIO +10

“Esgotando o estoque do mundo de riqueza natural [...] este padrão de desenvolvimento e crescimento teve impactos negativos sobre o bem-estar das gerações presentes e riscos e desafios para as enormes gerações futuras. As recentes crises múltiplas são sintomáticas deste padrão” (tradução nossa, UNEP, 2011, p. 01).

As discussões sobre o meio ambiente nutriram o conceito de desenvolvimento sustentável no relatório “Nosso Futuro Comum”, publicado pela Comissão Brundtland em 1987 (ONU, 201-).

2015

De acordo com UNEP³ (2011, p. 01), as diversas crises que impactam atualmente na sociedade têm como característica comum a má distribuição bruta do capital, ou seja, o investimento em “energia renovável, eficiência energética, transporte público, agricultura sustentável, ecossistema, proteção da biodiversidade e do solo e conservação da água” é incompatível àquele destinado a propriedades e combustíveis fósseis (UNEP, 2011, p. 01).

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INTRODUÇÃO De acordo com o Relatório Brundtland (1987, apud MANTOVANI, 2010, p. 24), a sustentabilidade se define em três pilares: sustentabilidade ecológica, a proteção do meio ambiente para o futuro; sustentabilidade econômica, a proteção dos recursos econômicos dos interesses próprios; e sustentabilidade social, o desenvolvimento da sociedade com processo participativo de diferentes setores. “Se, por um lado, a sustentabilidade ecológica tem uma perspectiva global [...], por outro, a econômica e a social costumam se referir a escalas locais e regionais, pois dependem de características específicas de cada sociedade” (WASSOUF, 2014, p. 09).

Figura 01: Objetivos de Desenvolvimento Sustentável para a Agenda 2030. Fonte: ONU Brasil, 201-

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Conforme se tornando complexo, o conceito de sustentabilidade esteve presente em diversas discussões realizadas com o intuito de avaliar, implementar e atualizar as estratégias

voltadas à conservação do meio ambiente, ocorridas em eventos e reuniões com líderes mundiais ao longo dos anos, como se observa, resumidamente, na linha do tempo designada abaixo. Atualmente, vivencia-se a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. O seu grande objetivo é “fortalecer a paz universal” através de 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) com 169 metas. Neles, percebe-se que para atingir a sustentabilidade não é necessário somente o cuidado e preservação dos meios de vida na Terra ou o uso de energias renováveis, mas também a erradicação da pobreza, a saúde e bem-estar, educação de qualidade e a redução das desigualdades, entre outros, revelando que é indispensável a inserção destas questões sociais nas discussões entre os líderes mundiais (AGENDA 2030, 201-).


HABITAÇÃO UNIFAMILIAR COM ÊNFASE NA SUSTENTABILIDADE DE MATERIAIS No âmbito da indústria da construção civil, grande exploradora de recursos que geram impactos no meio ambiente, as construções sustentáveis se tornam aliadas no alcance das metas da Agenda 2030. Dentre elas, destacamse: Objetivo 3 SAÚDE E BEM-ESTAR “Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as idades” um edifício sustentável pode promover a saúde e bem-estar através da boa qualidade do ambiente interno; Objetivo 7 ENERGIA ACESSÍVEL E LIMPA “Assegurar o acesso confiável, sustentável, moderno e a preço acessível à energia para todos” - as construções verdes auxiliam no objetivo com a implementação de economia de energia ou energia renovável, a qual não emite carbono, minimizando a poluição do planeta; Objetivo 12 CONSUMO E PRODUÇÃO RESPONSÁVEIS “Assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis” - a construção civil tem como funções essenciais a prevenção da geração de resíduos, bem como sua redução, reciclagem e reutilização;

Objetivo 13 AÇÃO CONTRA A MUDANÇA GLOBAL DO CLIMA “Adotar medidas urgentes para combater a mudança climática e seus impactos” – os edifícios verdes têm grande potencial para reduzir as emissões de carbono, gás do efeito estufa, com a correta escolha dos materiais; Objetivo 15 VIDA TERRESTRE “Proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação da terra, bem como a perda da biodiversidade” – os materiais de um edifício são determinantes para a manutenção do ecossistema, como o uso responsável e legal da madeira. A redução do uso da água e contribuição da fauna e flora com o paisagismo também contribuem para a sustentabilidade. Compreende-se que um dos maiores autores da transfiguração da paisagem urbana, a construção civil, intensifica a destruição do meio ambiente em suas mais diversas localidades. A natureza enfrenta problemas como a significativa exploração dos recursos naturais, causando erosões, sendo transformados em materiais tóxicos com altas emissões de gases poluentes e retornam ao meio ambiente em forma de resíduos que degradam a atmosfera e o solo. Em 15


INTRODUÇÃO todo seu ciclo de vida, a atividade construtiva causa feridas ambientais. “Atualmente, metade de toda a população mundial vive em cidades. O crescimento da população urbana, por todo o mundo, e os padrões, a grosso modo, insuficientes de moradia estão acelerando a taxa de aumento da poluição e erosão. É uma ironia que as cidades, o habitat da humanidade, caracterizem-se como o maior agente destruidor do ecossistema e a maior ameaça para a sobrevivência da humanidade no planeta” (ROGERS, 2005, apud MANTOVANI, 2010, p. 40)

4 construção de habitações de baixo custo sem apoio técnico de profissionais da área, por parte do próprio habitante (ROMÃO, 2012)

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No Brasil, persiste o problema da autoconstrução4 que, devido à ausência de planejamento, gera grandes quantidades de resíduos. De acordo com o ex-presidente do CREA/SP, José Eduardo de Paula Alonso, a autoconstrução é responsável pelo consumo de 60% de ferro e cimento no país (FOLHA DE S. PAULO, 2001). A maior parcela da população realiza construções ou reformas sem o apoio de profissionais, somando cerca de 85,40% dos cidadãos brasileiros (CAU/BR, 2015). À vista desses fatos, as habitações populares que, ao invés de abrigar a família de forma saudável, a debilita, tendo em vista seus gastos, sua saúde (posto que materiais da construção são tóxicos, em sua maioria) e o impacto na região em que se encontra (erosão, impermeabilização e desgaste do solo), prejudicando o êxito dos objetivos 03, 12 e 15 dos ODS.

Diante disso, há a necessidade de reabilitar a indústria da construção civil para cooperar com a recuperação dos recursos naturais, do meio ambiente e da qualidade de vida no planeta. Como dito, as construções sustentáveis podem contribuir com a convergência entre a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável e a atividade construtiva, atenuando os impactos causados no ecossistema. Para tanto, será realizado um estudo sobre a inserção do conceito de sustentabilidade de materiais através do projeto de uma habitação residencial unifamiliar com a utilização da certificação ambiental GBC Brasil Casa®, de forma a contribuir no âmbito da arquitetura com um modo de projetar com o máximo aproveitamento de materiais de baixo impacto no meio ambiente, bem como a harmonização da arquitetura residencial sustentável com as possíveis pretensões de seus usuários.


HABITAÇÃO UNIFAMILIAR COM ÊNFASE NA SUSTENTABILIDADE DE MATERIAIS

OBJETIVOS Objetivo geral Projetar uma habitação unifamiliar com aplicação da certificação GBC Brasil Casa® no que tange a materialidade e a gestão de recursos e resíduos da construção.

Objetivos específicos a. Pesquisar e utilizar materiais construtivos de modo a viabilizar o projeto de uma habitação modular sustentável em João Pessoa; b. Estudar a modularidade de materiais de vedação e esquadrias de forma a facilitar futuras modificações; c. Analisar possíveis estratégias projetuais para a viabilização da baixa geração de resíduos nas etapas de construção, reforma e demolição da habitação.

17


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edifício verde paisagismo saúde biofilia meio

ambiente projeto proteção regionalidade sociedade

economia água empatia ser humano paisagem

natureza

reutilização coleta de resíduos reciclagem

infraestrutura eficiência energética conservação

preservação Compreendendo

construção civil conforto flora e fauna

acessibilidade fontes renováveis permeabilidade vegetação

desenvolvimento comunidade biodiversidade bemestar

sustentabilidade

qualidade reabilitação

compromisso conforto energia

lar

segurança

arquitetura responsabilidade iluminação natural

19 desempenho energia renovável boas práticas planejamento


COMPREENDENDO

Problemáticas no setor da construção civil A atividade da construção civil, como grande modificadora da paisagem e ecossistema, gera prejuízos de significativos impactos ao meio ambiente como enchentes, poluição hídrica e atmosférica, quantidades consideráveis de lixo urbano, impermeabilização do solo, dentre outros (MANTOVANI, 2010, p.14). Segundo a UNEP (2011, p. 21), o setor construtivo produz cerca de 40% de resíduos sólidos em comparação com outros setores. Desse modo, repensar tal setor se faz importante para o cumprimento dos ODS devido aos intensos danos causados ao meio ambiente.

100% 80% 60% 40% 20%

Materiais

Energia

Água

Terra

Madeira

0%

Gráfico 01: Recursos consumidos na atividade da construção. Fonte: adaptado de EDWARDS, 2004 apud MANTOVANI, 2010, p. 32.

1 International Resource Panel

20

retirada da natureza de forma serial sem as devidas precauções, ameaçando o equilíbrio e preservação de florestas. Outros impactos causados pela atividade construtiva são os obstáculos que se implantam em relação à drenagem da água com a diminuição da permeabilidade do solo, que pode provocar enchentes, e a redução do volume de água subterrânea (UNEP, 2011, p. 21).

Responsável pelo consumo de cerca de um terço dos recursos naturais globais (UNEP, 2011, p. 21), a atividade construtiva revela ser uma das maiores indústrias exploradoras em nível mundial, como representado no gráfico 01. Observa-se, portanto, a madeira e a terra como recursos altamente utilizados pela construção civil, visto que são matérias-primas base para a estrutura de uma edificação. Em relação à água e energia, justifica-se o alto consumo através dos edifícios em atividade, visto que em toda sua vida útil há o uso desses bens.

A exploração dos recursos naturais pela indústria da construção civil impacta na natureza através de diversas formas. O uso e gerenciamento desses são considerados insustentáveis, visto o crescimento das extrações, sem a devida limitação ou precaução. De acordo com IRP¹ (2019, p. 126), houve um acréscimo de 27 bilhões de toneladas em 1970 para 92 bilhões de toneladas em 2017 de recursos naturais extraídos anualmente a nível global e, num cenário em que não haja mudança nas formas de produção da economia atual, pode-se chegar a 190 bilhões em 2060, com crescimento de 110%. São fatores decorrentes dos maus hábitos de consumo por parte da população, bem como tecnologias ineficientes de produção.

Dentre os malefícios da extração de recursos naturais, têm-se a madeira ilegal,

Dentre as principais matérias primas utilizadas na construção, têm-se os minerais


HABITAÇÃO UNIFAMILIAR COM ÊNFASE NA SUSTENTABILIDADE DE MATERIAIS

Mudanças climáticas

Impactos de ecotoxicidade

Gráfico 02: Quantidades de produção de metal e impactos ambientais da mineração e processamento de metais de 2000 a 2015. Fonte: tradução nossa, IRP, 2019, p. 76.

Toxicidade humana

Saúde humana (doenças respiratórias/ cardiovasculares)

2.0

1.5

1.0

0.5

Ferro e aço

Alumínio

Zinco, chumbo, estanho e níquel

2015

2010

2005

2000

2015

2010

2005

2000

2015

2010

2005

2000

2015

2010

2005

2000

2015

2010

0.0 2005

Conforme o IRP (2019, p. 77), uma das alternativas para a redução do impacto ambiental dos metais é sua reciclagem, que consiste no derretimento e na reutilização, inserindo o material novamente na cadeia econômica, caracterizado como produção secundária. Portanto, como não

Quantidade de produção

2000

Observa-se ainda que os metais como o ferro e o aço, materiais amplamente utilizados na engenharia civil, crescem significativamente em relação aos impactos nas mudanças climáticas e saúde de pessoas (principalmente causando doenças cardiovasculares e respiratórias pelas emissões de suas partículas). Tal fato ocorre devido à grande produção anual, bem como o uso intensivo de energia no processamento do minério, consequência esta derivada da exigência de um quarto da demanda energética global (IRP, 2019, p. 76).

é necessária a extração, nem o gasto de energia no processamento do minério, há a atenuação de consequências negativas ao meio ambiente. Entretanto, como o metal é um produto de longa vida útil, sua reciclagem é limitada pela disponibilidade de sucata, cuja quantidade não corresponde com a demanda atual. “Como

2000=1

metálicos e não-metálicos. Em relação aos metais, são considerados essenciais para a sociedade atualmente, sendo a base da construção civil, entretanto, sua extração e processamento geram um custo ambiental alto. De acordo com IRP (2019, p. 76), os minerais metálicos, dentre outros recursos, foram os causadores de 18% das mudanças climáticas e de 39% dos problemas de saúde na população em 2011. Percebe-se, além disso, que no período entre 2000 e 2015, os impactos climáticos e a intoxicação em humanos aumentaram expressivamente, como mostra o gráfico 02.

Cobre Ouro, platina e prata

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COMPREENDENDO resultado, o aumento da demanda é coberto principalmente por aço primário, diminuindo a participação global do aço secundário” (tradução nossa, IRP, 2019, p. 77). Os minerais não-metálicos extraídos da natureza são, em sua maioria, areia, cascalho, calcário e argila, também amplamente empregados na construção civil. São considerados não renováveis em escala de tempo humana, e suas extrações crescem anualmente, no qual em 1970, correspondiam a 34% (9,2 bilhões de toneladas) e em 2017, 48% (43,8 bilhões de toneladas), segundo IRP (2019, p. 44).

Mudanças climáticas

2.0

Impactos de ecotoxicidade

Saúde humana (doenças Toxicidade respiratórias/ humana cardiovasculares)

2000=1

1.5 1.0

22

2000 2005 2010 2015

Extração

2000 2005 2010 2015

0.0

2000 2005 2010 2015

Gráfico 03: Desenvolvimento de impactos da extração e processamento de minerais não metálicos. Fonte: tradução nossa, IRP, 2019, p. 80.

2000 2005 2010 2015

0.5

Cimento

Nutrientes

Outros

Apesar dos grandes volumes extraídos da natureza, o IRP (2019, p. 79) afirma que os impactos dos recursos não-metálicos em relação às mudanças climáticas são mínimos, menor que 2% do total de impactos causados pelos recursos minerais. Ainda que não contribua significativamente para a degradação da atmosfera, as minerações podem causar impactos negativos nos ecossistemas locais, a exemplo da areia e cascalho (IRP, 2019, p. 80). A extração destes minerais é realizada de forma intensa próximo a rios e mares, cuja periodicidade é superior à taxa de renovação no meio ambiente. De acordo com IRP (2019, p. 133), as consequências associadas à esta prática são a erosão costeira, redução da água e da massa de suprimentos sedimentares. Dentre outros recursos não-metálicos explorados principalmente pelo setor construtivo, tem-se o clínquer. Este minério é a matéria prima do cimento, e seu processamento é causador do maior percentual dos impactos nas mudanças climáticas através de emissões de partículas poluentes na atmosfera, demonstrado no gráfico 03 (IRP, 2019, p. 80). “As emissões de gases de efeito estufa são principalmente devido à liberação direta de CO2 no processo de descarbonatação da matéria-prima durante a calcinação no forno de clínquer e, em segundo lugar, devido ao uso de combustíveis para cobrir a alta demanda de


HABITAÇÃO UNIFAMILIAR COM ÊNFASE NA SUSTENTABILIDADE DE MATERIAIS calor necessária para o processo de calcinação” (tradução nossa, IRP, 2019, p. 80).

Poluentes agravantes do efeito estufa são emitidos constantemente pelos mais diversos materiais utilizados na construção civil, estendendo-se desde a extração e produção até a fase de atividade do edifício. No geral, os materiais da construção são responsáveis pela emissão de cerca de 8,6 bilhões de toneladas de CO2 (UNEP 2011, p. 21) e por intoxicações que afetam a saúde do usuário causados por metais pesados presentes em seus componentes (MANTOVANI, 2010, p. 35). “O setor de construção civil representou 36% do uso final de energia e 39% das emissões de dióxido de carbono (CO2) relacionadas a energia e processamentos em 2018, 11% dos quais resultam da fabricação de materiais de construção e produtos como aço, cimento e vidro” (tradução nossa, GLOBALABC et al., 2019, p. 09).

O GlobalABC2 et al. (2019, p. 03) afirmam ainda que a demanda de energia por parte da indústria da construção se amplia anualmente, visto que, em 2018, houve aumento de 1% em relação à 2017 e de 7% em relação a 2010. Portanto, observa-se que, além da dependência crescente dos recursos minerais, há, cada vez mais, o uso de energia. Pesquisas realizadas em parceria com a UNEP3 demonstram que tal cenário se distancia cada vez mais de mudanças

positivas, pois o setor ignora os impactos causados ao meio ambiente e utiliza os recursos de forma insustentável. A fim de alcançar o compromisso com os ODS, torna-se necessária a descarbonização do setor, e para tal, é importante repensar os materiais utilizados nas construções, prevendo a redução das emissões de poluentes e do uso de recursos. Nota-se que a inserção do conceito de sustentabilidade se faz significativo em todo o ciclo de vida dos edifícios, visto que os problemas ambientais não estão concentrados apenas no momento da construção. O quadro a seguir mostra as fases de uma edificação, bem como suas relações com a sustentabilidade.

2 Global Status Report for Buildings and Construction 3 a exemplo das já GlobalABC, International Agency (IEA) e IRP

citadas Energy

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COMPREENDENDO

Fases do ciclo de vida

Tabela 01: Ciclo de vida das edificações. Fonte: adaptado de MANTOVANI, 2010, p. 36-37.

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Descrição

Possíveis práticas sustentáveis

Idealização/ Planejamento

Fase inicial do ciclo com estudos de viabilidade projetual do edifício.

Realização de pesquisas de sistemas (como captação de água pluvial, painéis solares, entre outros) e materiais sustentáveis.

Concepção/ Projeto

Fase entre o préprojeto e início da construção, com todas as especificações necessárias para a obra.

Escolha e inserção dos sistemas/materiais no projeto e planejamento da redução de resíduos da construção. Fase em que deve ser elaborada todas as demais etapas, inclusive futuras manutenções ou possível demolição.

Construção/ Implantação

Construção do edifício.

Inserção de valores sociais sustentáveis no gerenciamento da equipe de obra, bem como a redução de resíduos da construção.

Uso/ Operação

Fase em que os ocupantes utilizam o edifício. Também inclui a manutenção, reformas e adequações do imóvel.

Uso reduzido de água e energia e gerenciamento dos resíduos, a exemplo da separação, reciclagem e reutilização dos mesmos.

Requalificação/ Demolição

Fase final da vida útil. Pode haver a requalificação do empreendimento para um novo uso ou sua demolição.

Reutilização ou reciclagem da maior quantidade possível de elementos/resíduos.


HABITAÇÃO UNIFAMILIAR COM ÊNFASE NA SUSTENTABILIDADE DE MATERIAIS

Cenário regional No contexto brasileiro, existem políticas públicas que auxiliam o setor construtivo a alcançar a sustentabilidade, principalmente em relação ao gerenciamento dos resíduos da construção, elementos estes poluentes e que ajudam a sobrecarregar os aterros sanitários, além de causar intoxicações. A Lei n° 12.305, de 2 de agosto de 2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), classifica no artigo 13, alínea h, os resíduos da construção e demolição (RCD) como aqueles gerados “nas construções, reformas, reparos e demolições de obras de construção civil, incluídos os resultantes da preparação e escavação de terrenos para obras civis” (BRASIL, 2010). Para tanto, tem como um dos objetivos “Art, 7° - II - não geração, redução, reutilização, reciclagem e tratamento dos resíduos sólidos, bem como disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos” (BRASIL, 2010). Entretanto, constata-se a inobservância da Lei. Em pesquisa realizada em 2018 pelo Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil, notase que a quantidade de resíduos da construção coletados pelos municípios apresenta baixo decréscimo, observado na tabela 02.

Ainda que a Lei institua que as empresas de construção civil devam elaborar um plano de gerenciamento de resíduos sólidos (Lei 12.305, Art. 20, alínea III, 2010), a alta geração destes poluentes é um fato marcante na cidade de João Pessoa, capital paraibana. Pesquisas realizadas nas empresas de construção vertical demonstram a pouca evolução da gestão dos resíduos de construção e demolição (FERNANDES e FILHO, 2010). De acordo com Fernandes e Filho (2010), algumas construtoras afirmam reutilizar uma parcela de RCDs ainda no canteiro de obras, e outras que não o fazem, desejam obter a redução da geração de resíduos para aliviar os desperdícios financeiros. Apesar do interesse das construtoras verticais em limitar o desperdício, há contradições em seus discursos, justificado pela presença de grandes quantidades de resíduos gerados e procedimentos inadequados que contribuem

Tabela 02: Quantidade total de RCD coletados pelos municípios no Brasil. Fonte: ABRELPE, 2018/2019, p. 35.

2017

2018

Total (toneladas/dia)

Per capita (kg/habitante/dia)

Total (toneladas/dia)

Per capita (kg/habitante/dia)

123.421

0,594

122.012

0,585 25


5 Reciclar

Transformar o que seria resíduo em um novo produto ou matéria-prima

1

Repensar

Refletir sobre o produto que planeja adquirir através de pesquisas sobre o impacto ambiental do mesmo

Os 5rs da Sustentabilidade 4

Reutilizar 3 Reduzir

Reaproveitar produtos que seriam transformados em resíduos, aumentando sua vida útil

Figura 02

26

Diminuir o consumo e a geração de resíduos e optar por produtos duráveis

2 Recusar

Recusar o desperdício e o uso de produtos descartáveis e não reutilizáveis, bem como recusar compras de empresas insustentáveis


HABITAÇÃO UNIFAMILIAR COM ÊNFASE NA SUSTENTABILIDADE DE MATERIAIS para o incorreto acondicionamento e a nãoreciclagem/reutilização dos RCDs, inclusive por empresas que já possuem o Plano de Gerenciamento de Resíduos da Construção (FERNANDES e FILHO, 2010). Como alternativa a ser utilizada, a política dos 5 Rs auxilia no combate ao desperdício e uso insustentável de recursos, que pode ser adotada para minimizar os impactos causados no meio ambiente, tanto pela sociedade quanto pelas grandes indústrias. Tais conceitos são reflexo da mudança de comportamento consumista presente nas cidades. As características da economia no Brasil também refletem no modo como as indústrias atuam. Os processos de produção e consumo consistem em uma cadeia econômica linear, ou seja, as matérias primas são extraídas, processadas, utilizadas e descartadas, num fluxo “do berço ao túmulo”. “O paradigma tecnológico vigente nesta cadeia adota, ainda, a lógica que insiste em desconhecer seus impactos no meio ambiente e assume que os recursos naturais que usa e o meio ambiente onde deposita seus resíduos, fazem parte da infinita riqueza doada pela natureza” (BLUMENSCHEIN, 2009, p. 18).

Neste processo, há a perda de valor dos produtos e o retorno da matéria para o meio ambiente em forma de resíduo (EMF, 2015,

p. 03). De acordo com EMF4 (2015, p. 19), as fases de construção e demolição de edificações são responsáveis por 50% a 70% dos resíduos dispostos em aterros sanitários, gerando perdas significativas e custos elevados para empresas e governo. Como alternativa à economia linear, há a economia circular, que ao invés de descartar os resíduos em sua fase final de vida, os reinserem no ciclo de produção. Os benefícios são significativos, consistindo na diminuição do volume dos aterros sanitários, na agregação de valor aos produtos e na redução do impacto ambiental (IRP, 2019, p. 138). “A economia circular se apoia em três princípios: preservar e aprimorar o capital natural, controlando estoques finitos de recursos e equilibrando os fluxos de recursos renováveis; otimizar o rendimento dos recursos circulando produtos, componentes e materiais com a maior utilidade possível; e promover a eficácia do sistema, revelando e projetando externalidades negativas” (tradução nossa, IRP, 2019, p. 138).

Para inserção do conceito de economia circular no processo de construção dos edifícios e contribuir para a redução do impacto ambiental, bem como a adoção da política dos 5 Rs, devese incorporar novas concepções na etapa de projeto, como modularidade e flexibilidade, utilização de materiais e processos construtivos sustentáveis e eficientes, fase de operação dos

Figura 02: Os 5 Rs da sustentabilidade. Fonte: adaptado de Porto Social, 2019. Disponível em http://www.portosocial. com.br/2019/07/04/conheca-os-7rs-da-sustentabilidade-e-repenseseus-habitos/

4 Ellen MacArthur Foundation

27


COMPREENDENDO

Mineração/fabricação de materiais

Mineração/fabricação de materiais

Fabricação de peças

Fabricação de peças

Fabricação de produtos

Fabricação de produtos

Prestadores de serviço

Prestadores de serviço

Usuário

Economia circular

Economia linear

Reciclar Reformar/ remanufaturar Reusar/ redistribuir Manutenir

Usuário

Recuperação de energia

Perda a ser minimizada

Diagrama 01: Diagrama representativo do conceito de economia linear. Diagrama 02: Diagrama representativo do conceito de economia circular. Fonte de ambos: adaptado de EMF. Disponível em https://www. ellenmacarthurfoundation.org/circulareconomy/concept/infographic

28

Aterro

Aterro


HABITAÇÃO UNIFAMILIAR COM ÊNFASE NA SUSTENTABILIDADE DE MATERIAIS edifícios eficiente e reforma e requalificação com a possibilidade de desmontagem (EMF, 2017, p. 19). “Integrando conceitos como flexibilidade e modularidade a moradias, poderia tornálas mais acessíveis para usuários e mais responsivas e adaptáveis às suas necessidades. Maior eficiência de recursos [...] e redução drástica de perdas estruturais na economia [...] também poderia contribuir para o aumento da acessibilidade de moradias e outras construções na economia. Estas oportunidades podem ser especialmente importantes para a população de baixa renda no Brasil, mas se aplica a todos os cidadãos” (EMF, 2017, p. 22).

Certificação ambiental Wassouf (2014, p.12) afirma que o conceito de sustentabilidade se tornou complexo nas últimas décadas, havendo a necessidade da criação de um sistema que quantifica os índices de sustentabilidade e o comprometimento com o meio ambiente, não só na construção civil, mas também em todos os outros setores industriais. “Foi criado, então, no âmbito da ISO5, um Comitê Técnico Internacional para elaboração da Série ISO 14000, com o propósito de fornecer, às organizações, uma estrutura formalizada para gerenciar os impactos ambientais reais e potenciais gerados por suas atividades, produtos e serviços” (SILVA e RIBEIRO, 2005, p. 54).

As certificações ambientais são baseadas na série ISO 14000, e funcionam como recurso para inclusão da sustentabilidade na indústria da construção civil de maneira integrada e organizada, posto que as normas e legislações regionais as englobam superficialmente, criadas para tratar das necessidades mais urgentes de uma determinada sociedade. As certificações não são normas, são critérios de cumprimento voluntário, tendo como principal objetivo inserir todos os aspectos da sustentabilidade em edifícios (WASSOUF, 2014, p.12). Diante disso, atuam na forma de política de proteção

5 International Organization for Standardization ou, em português, Organização Internacional para a Padronização

29


COMPREENDENDO ambiental, classificando empresas e produtos como colaboradoras do desenvolvimento sustentável. Para UNEP (2011, p. 22), é importante a aplicação das normas de construção sustentáveis ou certificações ambientais para tornar os edifícios mais eficientes. Ainda que haja um custo adicional de investimento, o ciclo de vida da edificação se mantém econômico, com uso reduzido de energia, água e a melhora da saúde ambiental. “E além da economia de energia, o setor de construção verde também pode contribuir para o aumento da eficiência no uso de materiais, terra e água, e uma redução de resíduos e riscos associados a substâncias perigosas. Particularmente para os países em desenvolvimento, o setor detém um enorme potencial para reduzir a poluição do ar interior associada a 11% das mortes no mundo a cada ano” (tradução nossa, UNEP, 2011, p. 22).

6 Leadership in Energy and Environmental Design ou, em português, Liderança em Energia e Design Ambiental

30

Segundo Wassouf (2014, p.12), existem três grandes organizações que propõem as certificações ambientais na construção: World Green Building Council (WGBC), a associação mais reconhecida; International Initiative for Sustainable Building Environment (IISBE), organização sem fins lucrativos que promove pesquisas no campo acadêmico; e Sustainable Building Alliance (SBA), aliança internacional sem fins lucrativos de organizações e centros de

pesquisas em construção. O WGBC é uma organização não governamental que promove, além das certificações ambientais, a capacitação de profissionais e a divulgação de tecnologias, materiais e práticas sustentáveis internacionalmente. Uma de suas certificações, o LEED6 foi desenvolvida em 1998, tornandose um dos primeiros sistemas de certificação a alcançar nível mundial (VIEIRA, 2014). A organização se ramificou em mais de 80 países, inserindo-se no Brasil como GBC Brasil, modificando seus parâmetros de certificação para a realidade local. Em 2018, acumulou-se um total de 1.345 registros e 533 certificados com selo LEED (GOING GREEN, 2019), havendo crescimento anual. Pelo fato de ser uma organização implantada no Brasil há mais de 12 anos e possuir uma das certificações mais antigas e completas, optou-se por estudar a sustentabilidade através da GBC Brasil. Entretanto, constatou-se dificuldade em analisar a certificação LEED for Homes para ser aplicada ao contexto brasileiro, como corroboram Bueno e Rossignolo (2011, p. 73): “[...] tal ferramenta fora desenvolvida e parametrizada levando em consideração, principalmente, as questões de maior relevância para edificações residenciais norte-americanas, apresentando uma série de créditos de caráter


HABITAÇÃO UNIFAMILIAR COM ÊNFASE NA SUSTENTABILIDADE DE MATERIAIS estritamente regional, assim como uma gama de questões relacionadas às problemáticas de conforto ambiental específicas para climas temperados”.

Como supracitado, a GBC Brasil modificou a certificação LEED for Homes para o contexto regional brasileiro, intitulando-se GBC Brasil Casa®, com parâmetros climáticos de conforto redefinidos para cada região do Brasil. Portanto, optou-se pela utilização deste material para inserção do termo sustentabilidade no projeto da tipologia residência a ser realizado. Analisando a certificação, percebe-se que há oito temas abordados, cada um constando pré-requisitos (obrigatórios) e créditos (não obrigatórios), de forma a oferecer uma pontuação total de 110, a fim de classificar as edificações em Verde (40 a 49 pontos), Prata (50 a 59 pontos), Ouro (60 a 79 pontos) ou Platina (80 a 110 pontos) (GBC BRASIL, 2017, p. 04). Devido à complexidade da normatização, realizou-se estudo de todas as características e especificações contempladas, sendo organizadas em diagramas apresentados a seguir.

Figura 03: Selo GBC Brasil Casa® Fonte: GBC Brasil, 2017.

Implantação (IMP)

Uso Eficiente da Água (UEA)

Energia e Atmosfera (EA)

Materiais e Recursos (MR)

Qualidade do Ambiente Interno (QAI)

Requisitos Sociais (RS)

Inovação e Projeto (IP)

Créditos Regionais (CR)

Figura 04: Categorias contempladas na certificação GBC Brasil Casa® Fonte: GBC Brasil, 2017, p. 04.

31


IMPLANTAÇÃO

QUANTO À ESCOLHA DO TERRENO 10

00

m

IMPLANTAÇÃO QUANTO Á ESCOLHA DO TERRENO

BASES COMUNITÁRIAS AO AR LIVRE ÁREAS ALAGÁVEIS OU CORPOS HÍDRICOS

500m

ABASTECIMENTO DE ÁGUA E REDE DE ESGOTO RECURSOS COMUNITÁRIOS BÁSICOS DIVISA COM TERRENOS DESENVOLVIDOS

30m

INFRAESTRUTURA EXISTENTE

> COTA DE INUNDAÇÃO

DIVISA COM TERRENOS DESENVOLVIDOS

32

1.5

PONTOS DE ÔNIBUS = 30 DESLOCAMENTOS DIÁRIOS

0m


IMPLANTAÇÃO

QUANTO AO LOTE E VEGETAÇÃO IMPLANTAÇÃO QUANTO AO LOTE E VEGETAÇÃO

NÃO UTILIZAR PLANTAS INVASORAS LEVANTAMENTO FLORA E FAUNA

REDUÇÃO DE ILHA DE CALOR 30% ÁREA PERMEÁVEL

ORIENTAÇÃO BIOCLIMÁTICA PLANO DE PRESERVAÇÃO E REABILITAÇÃO 50% DA ÁREA PAREDE VERDE OU ÁREA PERMEÁVEL

33


USO EFICIENTE DA ÁGUA USO EFICIENTE DA ÁGUA

FONTE NÃO POTÁVEL

Vmáx <= 6L/MIN

6L/MIN < Vmáx < 9L/MIN

HIDRÔMETRO COM CLASSE B COM EMISSOR DE SINAL DIGITAL

Vmáx <= 6L/MIN ACIONAMENTO RESTRITO

DESCARGA SELETIVA

BWC

+1 HIDRÔMETRO PARA ÁGUA NÃO POTÁVEL

COZINHA SISTEMA AUTOMATIZADO COM PROGRAMAÇÃO DE REGA

34


ENERGIA E ATMOSFERA ENERGIA E ATMOSFERA QUANTO A FONTES RENOVÁVEIS

AQUECIMENTO DE ÁGUA EFICIENTE

QUANTO AOS SISTEMAS E ILUMINAÇÃO

ILUMINAÇÃO DE ACORDO COM NORMAS

ILUMINAÇÃO EXTERNA COM FOTOCÉLULA OU SENSOR DE PRESENÇA

MEDIDOR DE ENERGIA

PAINEL SOLAR ENERGIA RENOVÁVEL

ETIQUETA PBE EDIFICA TRANSMITÂNCIA TÉRMICA

80%

DA ILUMINAÇÃO ARTIFICIAL PROCEL/INMETRO OU Ef> 75lm/W

DOS ELETRODOMÉSTICOS NÍVEL A PROCEL

VENTILAÇÃO NATURAL ILUMINAÇÃO NATURAL

80%

EFICIÊNCIA NÍVEL A OU B

35


QUALIDADE AMBIENTAL INTERNA QUALIDADE AMBIENTAL INTERNA

EXAUSTÃO POR SISTEMA PASSIVO NAS ÁREAS MOLHADAS EXAUSTÃO DE GASES MECANIZADA

JANELAS OPERÁVEIS VENTILAÇÃO NATURAL

0,10m

VEDAR AS SUPERFÍCIES ENTRE GARAGEM E ESPAÇO INTERNO REVESTIMENTO ADEQUADO REVESTIR AMBIENTES EXPOSTOS A NUVENS DE VAPORES IMPERMEABILIZAÇÃO DESEMPENHO MÍNIMO DO AMBIENTE: TÉRMICO, LUMÍNICO E ACÚSTICO

36

CONTROLE DE CONTAMINANTES INTERNOS DURANTE E PÓS-CONSTRUÇÃO

MATERIAIS DE BAIXA EMISSÃO


MATERIAIS E RECURSOS* MATERIAIS E RECURSOS * CR04

PR01 PLANO DE GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS

CR06.1 COBERTURA PRÉ-FABRICADA

CR06.2 FORRO REMOVÍVEL

2,5% MATERIAIS DE REUSO 20% MATERIAIS REGIONAIS 10% A 20% MATERIAIS RECICLÁVEIS 1% MATERIAIS DE RÁPIDA RENOVAÇÃO CR03 . . . . .

PR02 100% MADEIRA LEGALIZADA

CR06.2 FIXAÇÃO COM PARAFUSO

CR02 50% DE MADEIRA PERMANENTE CERTIFICADA OU 50% DE TODA A MADEIRA CERTIFICADA

CR06.1 REPETIÇÃO ESTRUTURAL ESTRUTURA METÁLICA OU CONCRETO

CR06.2 ELEMENTOS DE FACHADA REMOVÍVEIS

CR01

C AB

DESTINAÇÃO CORRETA DOS RESÍDUOS

. . . . .

. . . . .

. . . . .

. . . . .

. . . . .

xxxxxx xxxxxx xxxxxx xxxxxx xxxxxx

5 MATERIAIS CERTIFICADOS CR06.2

PAVIMENTO INTERTRAVADO OU REMOVÍVEL CR05

CR06.2 BLOCOS MODULARES

PR01 LIXEIRA PARA RECICLÁVEIS E ORGÂNICOS

REVESTIMENTO COM PAGINAÇÃO A EVITAR RESÍDUOS

CR01 40, 60 OU 80% RECICLAR/REUTILIZAR RESÍDUOS CLASSE A, B

DECLARAÇÃO AMBIENTAL DE PRODUTO (DAP)

PRODUTOS PERMANENTES

37


COMPREENDENDO Tendo em vista a gama de parâmetros e a sua complexidade, considerando também a pesquisa realizada acerca do tema sustentabilidade, em que se mostrou relevante o subtema materialidade e resíduos sólidos da construção, optou-se pelo estudo aprofundado da categoria Materiais e Recursos da certificação contemplada, visando um projeto com sustentabilidade de materiais, utilizando-os de forma eficiente. Percebe-se uma preocupação do WGBC em cumprir determinações de organizações como UNEP, IEA e Global ABC, visto que se observam coerências entre os critérios da certificação e as recomendações publicadas pelas instituições citadas, as quais contém o principal objetivo de estabelecer o desenvolvimento sustentável, contempladas no quadro a seguir.

* Categoria da certificação escolhida para estudo. Legenda: PRxx - Pré-Requisito n° xx CRxx - Crédito n° xx Detalhes de cada pré-requisito e crédito em anexo.

38


HABITAÇÃO UNIFAMILIAR COM ÊNFASE NA SUSTENTABILIDADE DE MATERIAIS

“Adotar uma abordagem do ciclo de vida pode reduzir o impacto ambiental de materiais e equipamentos nos edifícios e na cadeia de valor da construção. As principais ações para aumentar a sustentabilidade de materiais e produtos de construção incluem:

Reduzir

Reciclar

Eliminar

a demolição implementando políticas para ajudar as pessoas a tomar melhores decisões com base no impacto da construção de demolição versus reutilização materiais de construção. Apoiar o desenvolvimento de processos de reciclagem de materiais e produtos que possam reduzir a energia e as emissões incorporadas no ciclo de vida gradualmente os refrigeradores de alto potencial de aquecimento global (GWP) por meio de políticas e evolução da tecnologia, permitindo a eliminação gradual e a eliminação progressiva de refrigeradores que emitem poluentes do aquecimento global

Incentivar

Introduzir

Liderar

$ Desenvolver

as pessoas a comprar produtos e materiais de baixa energia e baixas emissões, implementando políticas que promovam melhores decisões de compra baseadas no carbono e na energia incorporados campanhas de informação e conscientização para disseminar informações sobre materiais e tecnologias de baixo carbono (por exemplo, construções de madeira e terra, concreto inovador) entre profissionais envolvidos no projeto e construção de edifícios pelo exemplo, desenvolvendo políticas que garantam que todos os prédios governamentais invistam em baixas emissões e materiais eficientes com base em análises do ciclo de vida

uma economia circular, adotando uma abordagem do ciclo de vida do berço ao túmulo ou do berço ao berço no setor de edifícios para promover métodos e modelos de negócios sistêmicos, neutros em material, com base no desempenho”

Tabela 03: Tabela explicativa das recomendações do Relatório de Status Global de 2019 para Edifícios e Construções acerca dos materiais. Fonte: adaptado de GLOBALABC et. al, 2019, p. 28, tradução nossa.

39


40


edifício verde paisagismo saúde biofilia meio

ambiente projeto proteção regionalidade sociedade

economia água empatia ser humano paisagem

natureza

reutilização coleta de resíduos reciclagem

infraestrutura eficiência energética conservação

preservação Investigando

construção civil conforto flora e fauna

acessibilidade fontes renováveis permeabilidade vegetação

desenvolvimento comunidade biodiversidade bemestar

sustentabilidade

qualidade reabilitação

compromisso conforto energia

lar

segurança

arquitetura responsabilidade iluminação natural

41 desempenho energia renovável boas práticas planejamento


INVESTIGANDO

Energia incorporada nos materiais A construção civil utiliza materiais que passam por diversos processamentos até atingir todos os parâmetros técnicos especificados nas normas para serem inseridos nas edificações. Tais tratamentos requerem energia e geram resíduos. Diante disso, a escolha dos materiais deve ser realizada de maneira cautelosa, de forma a considerar, primordialmente, os elementos que causam menor impacto ambiental possível. Para tanto, Roaf et al. (2014, p. 25) afirma que é possível avaliar o impacto ambiental dos materiais através dos seguintes fatores:

Diagrama 03: Diagrama explicativo sobre como avaliar o impacto ambiental causado por materiais. Fonte: adaptado de Roaf et al., 2014, p. 26

42

útil dos materiais empregados, bem como sua reutilização/reciclagem (ROAF et al., 2014, p. 26). Roaf et al. (2014, p. 27) afirma que o fator mais relevante é o conceito de “energia incorporada”, ou seja, a energia necessária para produção de um determinado objeto, a exemplo de uma esquadria ou vedação. Nessa definição, consideram-se as emissões de CO2 e os tratamentos químicos que recebem, os quais podem emitir toxinas prejudiciais ao ser humano.

“a energia necessária para produzir o material; as emissões de CO2 resultantes da fabricação do material; o impacto no meio ambiente local resultante da extração do material [...]; a toxicidade do material; o transporte do material durante sua fabricação e o transporte ao canteiro de obras; o grau de poluição resultante do material ao final de sua vida útil” (ROAF et al., 2014, p. 26)

“Para se calcular com precisão a energia incorporada de um material, todos os estágios nos quais a energia é utilizada devem ser considerados. Um valor preciso será obtido se considerarmos a energia utilizada para a extração de matérias brutas, o transporte até as indústrias, o processamento, a energia empregada na fabricação, no transporte ao terreno e a energia empregada in loco para instalar o produto” (ROAF et al., 2014, p. 28).

Além disso, também há os fatores de impacto de sua escolha e modo de aplicação no projeto, baseados nos instrumentos utilizados na manutenção, nas características ambientais do material escolhido como o isolamento térmico e/ ou acústico, na flexibilidade do projeto e na vida

A informação da quantidade de energia incorporada nos objetos é, em sua maioria, inacessível, mas é possível compreender seu significado e tentar equilibrar os fatores. Utilizando as reformas como exemplo, a recomendação é avaliar se haverá maior impacto ambiental em


Como avaliar o impacto ambiental de um material? Uma série de reflexões devem ser feitas para responder a esse questionamento:

Qual o impacto no ecossistema local? Qual a energia necessária?

Qual a quantidade de poluição resultante? É possível reciclar? Sua disposição final em aterros gera poluição?

Transporte

Ocorre emissão de gases poluentes? Qual a energia necessária?

Extração da matéria-prima

Final da vida útil do material

É tóxico? Qual a energia necessária para instalação in loco?

Fabricação do produto

Transporte

Utilização do material na obra

Diagrama 03

43


INVESTIGANDO sua demolição total e construção de um novo edifício ou apenas reformar. Neste caso, para não causar impacto ambiental maior que a sua demolição, sua execução deve ser facilitada para que não necessite de muitos reparos futuros e deve ser otimizada em relação ao conforto ambiental, diminuindo a necessidade do uso de energia ao longo de sua vida útil (ROAF et al., 2014, p. 28). “Quanto maior o número de processos pelos quais um material ou conjunto de componentes tiver de passar, maior será a energia incorporada e o número de resíduos associados” (ROAF et al., 2014, p. 29). A fim de diminuir a energia incorporada no processo de construção de uma edificação, deve-se escolher materiais que sejam menos processados possíveis, como a madeira ou produtos à base de elementos naturais. Outros fatores importantes a serem levados em consideração são o transporte dos materiais e sua durabilidade. Em relação à locomoção, “quanto mais um material tiver de viajar, maior será a energia utilizada no seu transporte” (ROAF et al., 2014, p. 30). Portanto, a maioria das aquisições com menos energia incorporada são realizadas em locais próximos à obra. Porém, como exercício de equilíbrio entre as condições que envolvem o objeto, talvez seja de menor impacto ambiental adquirir um produto provindo de uma localidade longínqua, que seja menos processado, com baixa geração de resíduos 44

e com longo ciclo de vida do que um material regional que emite gases poluentes, com alto grau de artificialidade e que libere toxinas ao ser humano. Em relação à durabilidade, é necessário o seu enfoque, visto que a energia incorporada da edificação não se dá apenas no momento de sua construção, mas em todo seu ciclo de vida útil. Essa energia inclui a manutenção dos materiais empregados na construção. “Quanto mais tempo uma casa durar, mais baixo será o impacto de energia e poluição resultantes da fabricação dos seus materiais” (ROAF et al., 2014, p. 31). A escolha de materiais que serão utilizados no projeto teve embasamento nas considerações de Roaf et al. (2014), o qual delimitou os impactos ao meio ambiente e a energia incorporada de três materiais amplamente utilizados: o plástico, o metal e a madeira, descritos na tabela a seguir. O cimento, material importante para a construção civil, foi adicionado à tabela pela autora, complementando-o.


HABITAÇÃO UNIFAMILIAR COM ÊNFASE NA SUSTENTABILIDADE DE MATERIAIS

Plástico +

Madeira Legenda

CO2

+

Emissão de gases poluentes na atmosfera, como os VOCs1, prejudiciais ao serem inalados; Plástico a ser evitado: PVC2 – particularmente difícil de ser descartado de maneira ecologicamente segura, mas pode ser reciclado; O uso de plásticos reciclados diminui a quantidade de resíduos nos aterros.

Extrações ilegais; Modo de produção da madeira de forma insustentável, promovendo pouca biodiversidade no local de plantação; Quantidade limitada de madeiras certificadas; Necessidade de prevenção ao seu apodrecimento em ambientes externos; Redução da quantidade de CO2 na atmosfera, desde seu crescimento até sua decomposição ou queima.

Metal +

Cimento +

Processo de fabricação com degradação local devido aos resíduos; Reciclagem do metal ocorre com grande consumo de energia e altas emissões extremamente tóxicas; Recomenda-se utilizar apenas em pequenas quantidades, como junção ou fixação de materiais.

+

CO2

Alta energia incorporada Emissão de gases poluentes na fabricação Pode ser tóxico/tratamento tóxico Pode ser reciclado/ reutilizado

+ Vida útil longa

Fonte renovável Matéria-prima de fonte nãorenovável

CO2

Ingrediente com alto impacto climático quando processado (clínquer) (IRP, 2019, p. 80); Extrações das matérias-primas em grandes quantidades, capazes de causar danos ao ecossistema local (como areia) (IRP, 2019, p. 44); Permite a incorporação de resíduos industriais, diminuindo a quantidade de disposições em aterros (CARVALHO, 2018).

Tabela 04: Materiais mais utilizados na construção civil e seus impactos ambientais. Fonte: adaptado de Roaf et al., 2014.

1 Compostos orgânicos voláteis 2 Cloreto de polivinil

45


INVESTIGANDO

Seleção de materiais

3 MEDEIROS, Guilherme Álef Nóbrega. Avaliação de paredes sanduíche em argamassa armada com núcleo de EPS. 2017. 4 Sistema ARXX. Disponível em: https://site.arxx.com.br/. Acesso em: 21 out. 2020. 5 MARQUES, Wilson; REGIS, C.; ISAAC, Marcelus. Desempenho Térmico de Alvenaria de solocimento e sua adequação ao zoneamento bioclimático brasileiro. X Encontro nacional e vi encontro latino americano de conforto no meio ambiente construído, Natal. Anais... Natal: ENCAC, 2009. 6 COSTA, Selma Patrícia Bandeira Mendes et al. Isolamento acústico aéreo em campo de partições verticais em construção light steel framing, em habitações unifamiliares. 2016.

46

Levando em consideração a necessidade do equilíbrio entre os diversos fatores que circundam a aquisição de um material da construção, realizou-se pesquisa em fabricantes comprometidos com o meio ambiente e a sustentabilidade. Além disso, a certificação GBC Brasil Casa® “Materiais e Recursos” contém critérios para auxiliar na escolha:

Como regra geral para os materiais, escolha materiais locais que tenham o mínimo de processamento. Certifique-se de que sejam duráveis e adequados ao fim a que se destinam!” (ROAF et al., 2014, p. 35)

PR02 - Madeira legalizada CR02 - Madeira certificada CR04 - Rotulagem ambiental tipo II – Materiais Ambientalmente Preferíveis CR05 - Rotulagem ambiental tipo III – Declaração Ambiental de Produto CR06.2 - Desmontabilidade e redução de resíduos – Sistemas não estruturais Com base nesses parâmetros, as tabelas a seguir foram elaboradas com todos os componentes construtivos que serão utilizados no projeto, bem como suas descrições e relação com a sustentabilidade.


HABITAÇÃO UNIFAMILIAR COM ÊNFASE NA SUSTENTABILIDADE DE MATERIAIS

SISTEMAS CONSTRUTIVOS DE VEDAÇÃO Dimensões (cm) Sistema

Variações

Sistema Monolítico

VEDA

Conforto

Espessura/ Altura Comp. Térmico Acústico Largura

300

120

Bloco EPS: 08 Com U = 0,59 acabamento: W/m²K (3) 014

40

60

14

Padrão

120

Canto

90

Rw= 37 dB

Rw= 55 dB (4)

PRIME

Sistema ARXX

Padrão

60

120

23

U=0,24 W/m²K (4)

STEEL Canto

90

Padrão

25

Meio tijolo

12,5

Tijolo Ecológico

07 Canaleta

12,5 25

U= 0,41 a 0,55 W/ m²K (5)

Rw= 65 dB (4)

Composição material

Assentamento

Relação com a sustentabilidade

Ligação entre painéis através de grampos de aço.

Amplamente utilizado em projetos residenciais certificados por GBC Brasil Casa. É considerado modular e pode ser reciclado.

Placa de EPS Conector de Polipropileno Núcleo de Encaixe de todas concreto ou argamassa armada as peças e, posteriormente, o preenchimento do Placa de EPS núcleo. Conector de aço galvanizado Núcleo de concreto ou argamassa armada

Amplamente utilizado em projetos residenciais certificados por GBC Brasil Casa. É modular e reciclável. Declaração Ambiental de Produto

Bloco de EPS Malha de aço galvanizado Argamassa projetada

Revestido: Solo Rw = 45 dB Cimento (6) Água

Cola PVA ou Argamassa AC III.

Não há queima em sua produção por ser prensado, evitando a emissão de gases poluentes (CO²) na atmosfera. Pode ser inserido em sua composição resíduos da construção.

47


INVESTIGANDO

Sistema monolítico

Sistema ARXX

Fonte: elaborado pela autora

Fonte: elaborado pela autora

Tijolo ecológico Fonte: elaborado pela autora

48


HABITAÇÃO UNIFAMILIAR COM ÊNFASE NA SUSTENTABILIDADE DE MATERIAIS

COBERTURA Modelo/ fabricante Telha Ecológica Onduline Clássica®

Dimensões (cm) Comp. Largura

200

ISOVER Solarmaxxi 120 Pro Subcobertura para telhados

95

25

Inclinação

18%

-

Conforto térmico

Composição material

Relação com a sustentabilidade

2ºC mais fria que as telhas de fibrocimento de 5mm (7)

Produto com 50% de material reciclado.

É composto por material reciclado em seu processo de fabricação. Declaração Ambiental de Produto

U=1,27 W/m²K (8)

Feltro em lã de vidro entrelaçada revestido com papel Kraft aluminizado e véu de vidro.

É composto por vidro reciclado. Declaração Ambiental de Produto 7 ONDULINE. Telha Ecológica Onduline Clássica. Disponível em: https://br.onduline.com/ptbr/consumidor/produtos/telhaecologica-onduline-classica. Acesso em: 21 out. 2020.

Telha ecológica onduline clássica7

ISOVER Solarmaxxi8

8 ISOVER. SOLARMAXXI PRO - Lã de vidro para isolamento térmico em telhados. Disponível em: https:// www.isover.com.br/construcao-civil/ isolamento-termico-acustico-paratelhado/solarmaxxi. Acesso em: 21 out. 2020.

49


INVESTIGANDO

REVESTIMENTOS E PAVIMENTAÇÕES Modelo/ fabricante Piso Intertravado Pastilhas Rivesti

Piso vinílico com encaixe Aquaclic

Dimensões (cm) Comp. Largura 24,3

38,5

122

Composição material

Relação com a sustentabilidade

12,7

Concreto

É reaproveitável, reutilizável e confere permeabilidade ao piso.

30,5

Aditivos minerais reaproveitados 85% de sua composição é de PET reciclado

É composto por material reciclado e isento de metais pesados. Amplamente utilizado em projetos certificados por GBC Brasil. É 100% reciclável e cada m² evita o lançamento de 3kg de CO2 na atmosfera9.

18

Substrato à base de polímeros vinílicos Tela de fibra de vidro

Possibilita a desmontagem sem geração de resíduos e sua reutilização completa. Pode ser reutilizado. Proporciona conforto acústico10.

9 RIVESTI. Disponível em: https:// rivesti.com.br/a-rivesti/. Acesso em: 14 nov. 2020. 10 FORMICA. Aquaclic piso premium. Disponível em: https://docplayer. com.br/7485462-Chegou-aquaclicuma-nova-categoria-de-pisovinilico-com-encaixe-que-vai-deixaro-seu-dia-a-dia-muito-mais-praticoe-confortavel.html. Acesso em: 14 nov. 2020.

50

Piso intertravado Fonte: PisoPav

Pastilha Rivesti9

Piso vinílico Aquaclic10


HABITAÇÃO UNIFAMILIAR COM ÊNFASE NA SUSTENTABILIDADE DE MATERIAIS

OUTROS ELEMENTOS Modelo/ fabricante Muro de placas prémoldadas Módulo para jardim vertical Plastprime Madeira para esquadrias Madeira para estrutura da cobertura

Dimensões (cm) Comp. Largura

Composição material

Altura

Relação com a sustentabilidade

A partir de 230

-

220

Concreto

É reaproveitável e reutilizável. Material modular.

50

20

30

Embalagens longa vida recicladas

Pode ser reciclado e reutilizado.

De acordo com projeto.

Dipteryx odorata (Cumaru)

Madeira legalizada. Certificação FSC

De acordo com projeto.

Pinus taeda (Pinheiro)

Madeira legalizada. Certificação FSC

Muro prémoldado

Módulo para jardim

Madeira Cumaru

Madeira Pinheiro

Fonte: Modupar

Fonte: Plastprime

Fonte: Duratex madeira

Fonte: The Wood Data Base

51


Qual a origem dos materiais?

Madeira - Belém, PA

Brasil

Sistema ARXX - Vila Velha, ES

Madeira - Fronteira, MG

Piso vinílico - São Paulo, SP Jardim vertical - Curitiba, PR

Sistema Monolite - São Paulo, SP Pastilha Rivesti - São Paulo, SP Piso vinílico - São Paulo, SP

Mapa 01: Mapa com a localização dos componentes construtivos em relação ao país. Fonte: elaborado pela autora.

52


João Pessoa

Muro pré-moldado - Bairro das Indústrias, João Pessoa Piso intertravado - Bairro das Indústrias, João Pessoa

Telha Onduline - Ernesto Geisel, João Pessoa

Subcobertura Solarmaxxi - Conde Tijolo ecológico - Conde

Mapa 02: Mapa com a localização dos componentes construtivos em relação a João Pessoa - PB. Fonte: elaborado pela autora.

53


INVESTIGANDO

Referências Projetuais As referências projetuais foram pesquisadas para embasar soluções que contribuiriam tanto com a tipologia quanto os critérios da certificação GBC Brasil Casa®.

3

4

Casa Vila Matilde, 2015 A Casa Vila Matilde foi escolhida pela setorização dos ambientes do público ao privado com pátio interno que facilita a ventilação e iluminação e materialidade aparente, remetendo ao estado mais natural dos componentes construtivos.

2

Arquitetos: Associados

Terra

e

Tuma

Arquitetos

Área: 95m² Figura 05: Materialidade, modularidade dos blocos e esquadrias de piso à laje da Casa Vila Matilde. Fonte: Archdaily, 2015.

Localização: São Paulo, Brasil Categorias e conceitos analisados:

3

1 Pátio interno 2 Modularidade e racionalidade 3 Materialidade aparente

Figura 06: Materialidade aparente e pátio interno da Casa Vila Matilde. Fonte: Archdaily, 2015.

54

1

4 Esquadrias do piso ao fundo da laje 5 Setorização do social ao íntimo


HABITAÇÃO UNIFAMILIAR COM ÊNFASE NA SUSTENTABILIDADE DE MATERIAIS

5 Externo

1

Social Serviço Circulação Íntimo

2

Figura 07: Planta baixa nível térreo da Casa Vila Matilde. Anotações/ diagramas adicionados pela autora. Fonte: Archdaily, 2015.

Figura 08: Planta baixa nível superior da Casa Vila Matilde. Anotações/ diagramas adicionados pela autora. Fonte: Archdaily, 2015.

2

4 1

4

Figura 09: Corte AA da Casa Vila Matilde. Anotações/diagramas adicionados pela autora. Fonte: Archdaily, 2015.

55


INVESTIGANDO

Residência Carmela, 2017 Na Residência Carmela foram analisadas a materialidade aparente; a setorização dos ambientes (do público ao privado); a disposição de pátios internos com a amenização da verticalidade através da horizontalidade dos tijolos (observa-se, também, um estudo modular dos mesmos, ora vedacionais, ora decorativos); esquadrias tipo camarão, do piso à laje; e a racionalidade do espaço, percebido nas figuras 12 e 13.

3

4

Arquitetos: Fae + NOMADA Área: 190m² Localização: Córdoba, Argentina Categorias e conceitos analisados:

Figura 10: Materialidade e portas camarão da residência Carmela. Fonte: Archdaily, 2020.

1 Pátios

3

2 Modularidade e racionalidade 3 Materialidade aparente

Figura 11: Materialidade, portas camarão e pátio da residência Carmela. Fonte: Archdaily, 2020.

56

4 Esquadrias com abertura completa (tipo camarão)

4 1

5 Setorização do social ao íntimo


HABITAÇÃO UNIFAMILIAR COM ÊNFASE NA SUSTENTABILIDADE DE MATERIAIS

5 2 1

Externo Social Serviço Circulação

1

Íntimo

1

Figura 12: Planta baixa nível térreo da Residência Carmela. Anotações/ diagramas adicionados pela autora. Fonte: Archdaily, 2020.

2

Figura 13: Planta baixa nível superior da Residência Carmela. Anotações/ diagramas adicionados pela autora. Fonte: Archdaily, 2020.

1

1

Figura 14: Corte da Residência Carmela. Anotações/diagramas adicionados pela autora. Fonte: Archdaily, 2020.

57


INVESTIGANDO Casa Lite SP, 2019 A Casa Lite é uma residência que possibilita a expansão através de estudo modular, com a adição de dormitórios. Foi escolhida como referência por, além de ser racional, integra o espaço interno ao externo, utilizando poucas paredes de vedação, com esquadrias que seguem de piso a forro.

3

Arquitetos: Duda Porto Arquitetura Área: 190m² Localização: São Paulo, Brasil Categorias e conceitos analisados: 1 Modularidade e racionalidade 2 Possibilidade de expansão 3 Esquadrias do piso ao forro

Figura 15: Esquadrias de piso ao forro da Casa Lite SP. Fonte: Archdaily, 2019.

3

Figura 16: Casa Lite SP. Fonte: Archdaily, 2019.

58


HABITAÇÃO UNIFAMILIAR COM ÊNFASE NA SUSTENTABILIDADE DE MATERIAIS Externo Social Serviço Íntimo

1 Acesso principal 2 Deck 3 Jardim 4 Sala 5 Suíte 6 Banho/SPA

Figura 17: Planta baixa da Casa Lite SP. Anotações/diagramas adicionados pela autora. S/Escala. S/Norte. Fonte: Archdaily, 2019. Figura 18: Corte da Casa Lite SP. S/Escala. Fonte: Archdaily, 2019. Figura 19: Expansão da Casa Lite SP. S/Escala. S/Norte. Fonte: Archdaily, 2019.

2

2

2 1

59


60


edifício verde paisagismo saúde biofilia meio

ambiente projeto proteção regionalidade sociedade

economia água empatia ser humano paisagem

natureza

reutilização coleta de resíduos reciclagem

infraestrutura eficiência energética conservação

preservação Arquitetando

construção civil conforto flora e fauna

acessibilidade fontes renováveis permeabilidade vegetação

desenvolvimento comunidade biodiversidade bemestar

sustentabilidade

qualidade reabilitação

compromisso conforto energia

lar

segurança

arquitetura responsabilidade iluminação natural

61 desempenho energia renovável boas práticas planejamento


ARQUITETANDO

Diretrizes projetuais As diretrizes foram embasadas nas necessidades ambientais anteriormente mencionadas, bem como nos critérios da certificação e referências projetuais. Necessitou-se o agrupamento das mesmas em duas categorias: Diretrizes da certificação - auxiliarão no cumprimento dos parâmetros da certificação GBC Brasil Casa®, categoria “Materiais e Recursos”; Diretrizes de projeto - contribuirão em solucionar tanto as necessidades da tipologia escolhida, como o conforto ambiental, quanto as dos possíveis usuários da habitação, como a acessibilidade e a flexibilidade.

62


HABITAÇÃO UNIFAMILIAR COM ÊNFASE NA SUSTENTABILIDADE DE MATERIAIS

Condicionantes / diretrizes

CERTIFICAÇÃO

Modularidade e desmontabilidade estrutural e não estrutural

Redução na geração de resíduos da construção

Materiais sustentáveis

Características

Definição

Aplicação dos créditos 06.1 e 06.2 (desmontabilidade e redução de resíduos). Ver Anexo I.

A sistematização da construção e inserção de sistemas construtivos modulares minimiza a geração de resíduos e facilita futuras reformas/demolições na edificação. Uma obra contém diversas etapas, desde sua idealização até a demolição. É dever do (a) arquiteto (a) projetar o edifício pensando em todo seu ciclo de vida. A modularização estrutural requer a repetição da estrutura, de preferência pré-fabricada e com dimensões que facilitem os usos no projeto. A modularização do sistema não estrutural requer o projeto de desmonte de, no mínimo, 60% dos elementos como forros, coberturas e esquadrias.

Aplicação do pré-requisito 01 (plano de gerenciamento de RCD) e crédito 01 (gerenciamento de resíduos da construção). Ver Anexo I.

O gerenciamento de resíduos numa construção requer o conhecimento de seus destinos, bem como a possibilidade de reutilizar e reciclar, de forma a desviar os resíduos dos aterros e contribuir com a sustentabilidade. Para tanto, devese prever em projeto a correta destinação tanto em fase de obra quanto em operação e demolição, a exemplo da inserção de lixeiras para separação dos resíduos e a reciclagem de, no mínimo, 40% dos resíduos Classe A e B gerados.

Aplicação do pré-requisito 02 (madeira legalizada), crédito 02 (madeira certificada) e créditos 03, 04 e 05 (rotulagem ambiental). Ver Anexo I.

A sustentabilidade dos materiais está presente desde a utilização de madeiras legalizadas e/ou certificadas até materiais em geral com selos verdes, não-tóxicos e com redução de emissão de dióxido de carbono (CO2), que contribuem para, principalmente, a redução da poluição e extração de recursos naturais não renováveis. A diretriz também visa à inserção de materiais recicláveis e regionais. 63


ARQUITETANDO

Condicionantes / diretrizes

Descrição

Aplicação dos aprendizados do livro Lições de Arquitetura, de Herman Hertzberger, 2015.

Como não foi determinado nenhum “estilo de vida” aos usuários da habitação, refletiu-se sobre a diversidade de atividades nos ambientes. Segundo Hertzberger (2015, p. 146), um ambiente flexível pode se adaptar a qualquer situação, mas nunca poderá apresentar a melhor solução para nenhum problema. Portanto, é necessária uma arquitetura capaz de despertar associações de identidade nos usuários, oferecendo possibilidades de interpretação de forma a prever a maior variedade de soluções adequada. “[O arquiteto] deve criar espaço e deixar espaço, nas proporções adequadas e com o equilíbrio adequado” (HERTZBERGER, 2015, p. 169).

Estudo de insolação, implantação no terreno.

A procura pelo conforto ambiental aos usuários da habitação se estende à demanda da sustentabilidade referente à economia de energia, com a inclusão de fatores como a iluminação, ventilação natural e sombreamento/proteções solares. Localizado na região nordeste, a implantação da edificação no terreno deve facilitar entradas de ar provindo do sul, sudeste e leste e dificultar a entrada da insolação no lado oeste. Deve-se prever sistemas de troca de ar passivos.

PROJETO

Possibilidade de associações de identidade

Características

Conforto ambiental

64

ventilação

e


HABITAÇÃO UNIFAMILIAR COM ÊNFASE NA SUSTENTABILIDADE DE MATERIAIS

Condicionantes / diretrizes

Usuários e programa

Características

Aplicar o perfil de usuários e programa já definido no estudo Táticas de Infiltração, de Bruno Caniello, 2018.

Definição

Unipessoal - 1 pessoa Anaparental (filhos sem pais) - cuidadores / responsáveis + filhos - mín. 2 pessoas Monoparental - 1 pai ou mãe + filhos - mín. 2 pessoas Casais sem filhos - 2 pessoas Mosaico (família constituída por ‘pedaços”, ou seja, pais, padrastros e filhos de uniões distintas) - 1 casal + filhos - mín. 3 pessoas

PROJETO

1 - 2 pessoas: 1-2 dormitórios + 1 banheiro 2-3 pessoas: 2 dormitórios + 1 banheiro até 4 pessoas: 2-3 dormitórios + 2 banheiros

Acessibilidade

Aplicar a ABNT 9050 para facilitar a locomoção de pessoas com deficiência (PcD) e contribuir para a sustentabilidade social na arquitetura.

O projeto da habitação deve considerar a adaptabilidade dos ambientes para pessoas com deficiência sem a necessidade de mudanças que gerem desperdício de elementos. Portanto, é necessária a adoção de dimensões e inclinações acessíveis à PcD, principalmente em rampas, banheiros, corredores e acessos.

65


ARQUITETANDO

Escolha do terreno e condicionantes A localização do terreno para inserção do estudo se deu através de dois importantes parâmetros: o trabalho final de graduação “Táticas de Infiltração: aplicações em João Pessoa-PB” por Bruno Cantalice Caniello (2018) e a categoria “Implantação” da certificação GBC Brasil Casa®. Caniello (2018) realizou um estudo baseado na pesquisa do arquiteto, pesquisador e crítico argentino Fernando Diez, sobre a atuação do arquiteto perante o mercado imobiliário, afirmando que o profissional se depara com dificuldades para adquirir terrenos em áreas consolidadas com preços acessíveis. Portanto, utiliza táticas de infiltração para encontrar brechas no mercado e encontrar terrenos “que possuem dimensões reduzidas, topografia irregular ou formatos inusitados [que] não despertam o interesse das grandes incorporadoras” (CANIELLO, 2018, p. 11).

Mapas 03, 04 e 05: Localização do bairro Cruz das Armas na cidade de João Pessoa, Paraíba, Brasil. Fonte: elaborado pela autora.

66

Seu estudo revelou que o bairro Cruz das Armas, em João Pessoa - PB, é um dos locais menos explorados pelo mercado imobiliário, mas que apresenta características que o tornam consolidado, como a avenida Cruz das Armas, importante corredor viário da cidade, comércios, serviços e escolas (CANIELLO, 2018, p. 31).

A partir de então, Caniello (2018) elencou alguns lotes, inserindo as táticas de infiltração definidas em seu estudo, indicadas no mapa 06. O segundo parâmetro, a categoria “Implantação” da certificação GBC Brasil Casa®, foi utlizado para auxiliar na delimitação dentre os lotes. Vale ressaltar que a categoria não trata apenas da escolha do lote, mas também de seu paisagismo. Porém, como o estudo é centrado na categoria “Materiais e recursos”, serão utilizados apenas os créditos que auxiliarão na seleção do terreno. Pré-requisito 04: Seleção do terreno “a) Priorizar a seleção de terrenos próximos a áreas que já possuam rede de infraestrutura existente”1 - o bairro Cruz das Armas, como já mencionado, é um bairro consolidado que possui infraestrutura. “c) Não construir edificações ou pavimentações impermeáveis a menos de 30 metros de áreas alagáveis”1 - todos os terrenos escolhidos distam mais de 30 metros da área alagável mais próxima, o rio Jaguaribe.


HABITAÇÃO UNIFAMILIAR COM ÊNFASE NA SUSTENTABILIDADE DE MATERIAIS Legenda

Mapa com a primeira redução crédito 5 - onibus

Mapa mostrando todos os terrenos do tcc

Mapa 06: Terrenos elencados por Caniello (2018). Mapa 07: Terrenos escolhidos para obtenção do crédito 05 da categoria “Implantação” da certificação GBC Brasil Casa®. Mapa 08: Terrenos escolhidos para obtenção do crédito 06 da categoria “Implantação” da certificação GBC Brasil Casa®. Fonte: elaborados pela autora.

67


ARQUITETANDO Crédito 03: Localização preferencialmente desenvolvida “Opção 3: Previamente desenvolvido2: construir em um terreno desenvolvido anteriormente dentro de um prazo mínimo de 10 anos.”1 - o bairro Cruz das Armas foi fundado no final da década de 1920 e início de 1930, portanto, sua urbanização se deu há mais de 10 anos. Crédito 05: Proximidade a recursos comunitários e transporte público

1 Citações retiradas do Guia Rápido - Certificação GBC Brasil Casa®, 2017 2 “Terreno Previamente Desenvolvido – são terrenos próximos a comunidades existentes e locais previamente urbanizadas.” (GBC BRASIL CASA, 2017) 3 Somatória das rotas de ônibus e seus deslocamentos diários, disponível em http://www. onibusdaparaiba.com/p/horariose-linhas.html. Acesso em 29 nov. 2019.

68

“Localizar, dentro de uma distância de 1.000 metros percorridos, serviços de transporte que ofereçam 125 ou mais deslocamentos por dia da semana (combinado ônibus, trem, metrô e balsa).”1 - de acordo com o mapa 06, existem rotas de ônibus na avenida principal - Av. Cruz das Armas - e em outras vias que adentram o bairro, fazendo com que toda a área tenha possibilidade de transporte público. Em relação aos deslocamentos, existem 990 viagens diárias em dias úteis, 782 aos sábados e 664 aos domingos3, números superiores ao solicitado. Crédito 06: Acesso a espaço aberto “Escolher um local que possua dentro de uma distância percorrida de 1.000 metros (1km), bases comunitárias ao ar livre, e que possuam somatória mínima total de 1.500m² de área. O

requisito de área aberta pode ser atendido por uma única grande área ou diversas pequenas áreas, totalizando sempre 1.500m².”1 - existem dois espaços abertos no bairro, a Praça General Lavanery Wanderley, com aproximadamente 1.600m² e o Estádio Leonardo Vinagre da Silveira, com aproximadamente 2.100m², ambos localizados ao norte. A partir de todos estes parâmetros, ainda se descartou os terrenos que já estavam ocupados ou que não integravam a Zona Residencial 2 única zona residencial presente no bairro. Diante disso, realizou-se pesquisa em campo, visitando todos os lotes para, a partir da topografia e do formato favorável ao projeto, fosse escolhido a área próxima ao DNIT e à Vila Militar, que abrange o Estádio Leonardo Vinagre da Silveira, a Praça General Lavanery Wanderley e as rotas de ônibus presentes no bairro, como se observa no mapa 08. A legislação local compreende parâmetros como recuos e usos, observados a seguir.

Macrozoneamento Zona Adensável Não Prioritária (ZANP) Zoneamento Zona Residencial 2 (ZR2)


Praça Semeão Leal Praça General Wanderley Estádio Leonardo da Silveira DNIT Av. Alcides Bezerra Vila Militar

Av. Cruz das Armas

Rio Jaguaribe

Raio de abrangência 1km

Figura 20: Fotografia do terreno escolhido. Fonte: fotografado pela autora

Legenda

Mapa 09: Mapa com o terreno escolhido e seu entorno. Fonte: elaborado pela autora

69


ARQUITETANDO O Código de Urbanismo de João Pessoa (2001) define:

PRODUCED BY AN AUTODESK STUDENT VERSION

Uso R1 unifamiliar

PRODUCED BY AN AUTODESK STUDENT VERSION

70

1/2 da divisa lateral

Limite do recuo Extensão da edificação quanto ao limite do recuo

1/2 da divisa lateral 3/5 da divisa de fundo

PRODUCED BY AN AUTODESK STUDENT VERSION

4 JOÃO PESSOA. Código de Urbanismo (jul de 2001). Institui o Código de Urbanismo integrante do Plano Diretor físico do município de João Pessoa. João Pessoa, PB, jul 2001.

Limite do lote

PRODUCED BY AN VERSION AUTODESK STUDENT VERSION PRODUCED BY AN AUTODESK STUDENT

PRODUCED BY AN VERSION AUTODESK STUDENT VERSION PRODUCED BY AN AUTODESK STUDENT

N

Diagramas 04 e 05: Terreno escolhido com demonstrações diagramáticas da legislação local. Fonte: elaborados pela autora

Limite do recuo

Afastamentos da Ocupação edificação (m) máxima (%) Frente Lateral Fundo 70

4.00

1.50

2.00

Em relação ao uso unifamiliar, o Código de Urbanismo (2001) ainda dispõe, no que diz respeito aos afastamentos: Afastamento frontal

Deve ser mantido tal qual a zona pertencente.

No térreo, “será obrigatório uma extensão de pelo menos 1/2 da extensão da Afastamentos divisa. Consequentemente a laterais construção poderá colar na divisa, no máximo até 1/2 da sua extensão”4

Afastamento de fundo

No térreo, “será obrigatório uma extensão de pelo menos 2/5 da extensão da divisa. Consequentemente a construção poderá colar na divisa, no máximo até 3/5 da sua extensão”4


HABITAÇÃO UNIFAMILIAR COM ÊNFASE NA SUSTENTABILIDADE DE MATERIAIS N João Pessoa está localizada no nordeste brasileiro, caracterizado como clima quente5 e úmido, com 3 meses secos6.

Observa-se que no terreno, inclinado em relação ao norte, duas “fachadas” recebem ventilação proveniente do sudeste e outras duas, insolação intensa pelo oeste (poente). Algumas soluções para este clima são o uso de árvores e beirais para sombreamento, ventilação cruzada abaixo do telhado, janelas orientadas para a orientação de maior ventilação, entre outros.

O

Condicionantes climaticas

O estudo de insolação e ventilação são necessários para locar os ambientes no terreno, bem como as proteções no edifício para gerar o conforto ambiental.

L

Ventilação

S

Ventilação intensa proveniente do sudeste

Diagrama 06: Diagrama de ventilação. Fonte: elaborado pela autora

N Diagrama 07: Diagrama de insolação. Fonte: elaborado pela autora

Nascente L 5 média de temperatura maior que 18° em todos os meses do ano

O Poente

Insolação

S

6 Mapa de Clima do Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, 2002. Disponível em: https://geoftp.ibge.gov. br/informacoes_ambientais/ climatologia/mapas/brasil/Map_BR_ clima_2002.pdf. Acesso em 28 out. 2020.

71


ARQUITETANDO

Coordenação modular “Para que a construção civil torne-se apta a desempenhar o papel a que é exigida pela realidade moderna, é necessário que esteja capacitada a produzir edificações que, além de respeitarem condições indispensáveis - como habitabilidade, funcionalidade, durabilidade, segurança e acabamento -, também apresentem características relacionadas à produtividade, construtividade, baixo custo e desempenho ambiental” (GREVEN e BALDAUF, 2007, p. 12)

A coordenação modular é um sistema de medidas que facilita a aplicação de materiais industrializados nas construções, inserindo uma malha padronizada que organiza todo o projeto, otimizando-o e reduzindo a geração de resíduos (GREVEN e BALDAUF, 2007, p. 35).

7 multimódulo é o módulo inteiro do módulo básico (ABNT NBR 15873, 2010, p. 03).

72

coordenação modular como “coordenação dimensional mediante o emprego do módulo básico ou de um multimódulo” (ABNT NBR 15873, 2010, p. 01). O módulo básico é a “menor unidade de medida linear da coordenação modular, representado pela letra M, cujo valor normalizado é M=100mm” (ABNT NBR 15873, 2010, p. 02). A ABNT NBR 15873/2010 afirma ainda que o espaço de coordenação é constituído pelo elemento construtivo e suas folgas perimetrais (dilatações, deformações, componentes de instalação, etc), devendo ter medidas iguais ao módulo básico ou ao multimódulo7 (ABNT NBR 15873, 2010, p. 04).

De acordo com Greven e Baldauf (2017, p. 12), a coordenação modular contribui com a sustentabilidade no momento em que há o máximo proveito dos elementos construtivos, valorizando toda a energia incorporada dos materiais. Diante disso, houve a necessidade da introdução deste sistema para melhor compreensão dos materiais e de como empregá-los ao projeto.

Para a aplicação da norma nos componentes construtivos de vedação do projeto, utilizouse o multimódulo 30M para altura e 12M para medida linear em planta, com base em estudo realizado para encontrar o melhor módulo que se adequasse às vedações e estrutura. Consequentemente, a medida utilizada corresponde aos sistema monolítico, evitando a quebra/recortes do mesmo.

A ABNT NBR 15873/2010, responsável por estabelecer os requisitos da “Coordenação modular para edificações”, conceitua a

Vale ressaltar que os outros sistemas construtivos (sistema ARXX e tijolo ecológico)


HABITAÇÃO UNIFAMILIAR COM ÊNFASE NA SUSTENTABILIDADE DE MATERIAIS

M+

M/ 2,5

12M

=

cm

M+ =

120

14c

m

/4= +M

m

1

5c 12,

www.autodesk.com/r

M/ 4=

M+

12,

5c

m

11M

cm

12M

20 =1

M/ 2,5

=1

4c

m

Consultor Endereço Endereço Telefone Fax e-mail

C E E T F e-

Consultor Endereço Endereço Telefone Fax e-mail

C E E T F e-

Fig. 21

Fig. 22

28M = 280cm

29M+M/2,5 = 294cm

30M = 300cm

www.autode

Fig. 23

Consultor Endereço Endereço Telefone Fax e-mail Consultor Endereço Endereço Telefone Fax e-mail

Descrição

Figura 21: Multimódulo do sistema monolítoco de EPS. Figura 22: Multimódulo do tijolo ecológico. Nº Descr Figura 23: Multimódulo do sistema ARXX. Proprietá Fonte: elaborados pela autora

Nome do pr

Sistema monolítico Medida do módulo de projeto

Tijolo ecológico

O conjunto de tijolos é praticamente similar ao módulo de projeto. Deve ser realizado, ainda, espessamentos em sua largura (7,5cm) e altura (6cm).

Sistema ARXX

O conjunto dos blocos se assemelha em largura, mas é necessário um preenchimento de 20cm na altura.

Não nome Número do projeto

Data de

Data Desenhadas por Verificado por

Escala

V Propri

A101 Nome do

73

Não no

Número do projeto


ARQUITETANDO seguem dimensões distintas do sistema monolítico, como demonstrado nas figuras 22 e 23. Para tanto, deverão ser realizadas juntas de dilatação/espessamentos a fim de atingir o módulo de projeto especificado.

habitação (definindo, por exemplo, largura de banheiros, circulações, altura geral da edificação, entre outros).

Os multimódulos 12M (em planta) e 30M (em corte) denominam-se módulos de projeto, sendo utilizados para auxiliar no projeto geral da

1 .2 0 Figura 24: 3D com os módulos de projeto e de estrutura. Fonte: elaborado pela autora

74

3.00

A alocação da estrutura da residência também é realizada através da multiplicação do módulo básico, denominado de módulo estrutural.

0 1 .2


HABITAÇÃO UNIFAMILIAR COM ÊNFASE NA SUSTENTABILIDADE DE MATERIAIS

1,20

1,20

Recuo Módulo de projeto Módulo estrutural Planta baixa: Planta baixa mostrando a coordenação modular utilizada. Escala: 1/200. Fonte: elaborado pela autora

N

Limite do terreno

Caixa d’água Módulo de projeto 3,00

Laje Viga

Terreno

Módulo estrutural Corte: Corte esquemático mostrando a coordenação modular utilizada. Escala: 1/200. Fonte: elaborado pela autora

75


ARQUITETANDO

Proposta projetual O programa arquitetônico da habitação refere-se às necessidades básicas do ser humano, como alimentação, repouso e higiene. A tabela ao lado traz tanto as atividades que serão realizadas na edificação, quanto as características necessárias para sua realização. A análise de cada atividade resulta em ambientes, podendo ser abertos ou fechados, privados ou públicos.

76


ATIVIDADES

USO

Alimentar

Frequente

Armazenar

Frequente

Conviver

Frequente

Cozinhar

Frequente

Descartar

Esporádico

Dormir

Esporádico

Estacionar

Esporádico

Higiene pessoal

Frequente

Lavar

Lazer

Frequente

Esporádico

Necessidades Frequente fiisiológicas

Repousar

Esporádico

CARACTERÍSTICAS EQUIPAMENTOS/ USUÁRIOS ESPACIAIS/ SETOR AMBIENTE MOBILIÁRIO TÉCNICAS Amplo, limpo, Mesa Coletivo Social Sala de jantar iluminado e ventilado Cadeira Armário Fechado, limpo e Refrigerador Serviço Cozinha Coletivo organizado com Dispensa pontos elétricos Guarda-roupa Íntimo Dormitório Amplo, iluminado e Coletivo Assentos Social Sala de estar fácil acesso Limpo e organizado Bancada Coletivo Serviço Cozinha com pontos elétricos Fogão Amplo, salubre, Lixeiras de Área de Coletivo Serviço iluminado e ventilado reciclagem reciclagem Individual Privativo e ventilado Cama Íntimo Dormitório Amplo, fácil acesso e Coletivo Bicicletário Externo Garagem externo Privativo, iluminado, Chuveiro Individual limpo, acessível com Serviço Banheiro Pia pontos hidráulicos Pia Banheiro Pontos hidráulicos e Tanque Coletivo Serviço Lavanderia elétricos Máquina de lavar Cozinha roupas Sala de estar Amplo, iluminado e Coletivo Social ventilado Área externa Privativo, iluminado, limpo, ventilado Individual Bacia sanitária Serviço Banheiro e acessível com pontos hidráulicos Íntimo Dormitório Individual Ventilado Assentos Varanda Social Sala de estar

PRÉDIMENSIONAMENTO 9,35m² 7,60m² 13,40m² 20m² 7,60m² 2,20m² 13,40m² 12,50m² 5m² 5m² 3,60m² 7,60m² 20m² 5m² 13,40m² 20m²

77


ARQUITETANDO O primeiro estudo realizado para definição do layout dos ambientes foi a setorização no terreno.

Externo Pátios Garagem

Cozinha Serviço Área de serviço Banheiro Área de reciclagem

Na primeira evolução, preveu-se para o serviço um espaço maior, mas se manteve os pátios. Entretanto, havia um questionamento: o último pátio seria exclusivamente do setor íntimo ou haveria algum acesso de integração com a área social?

N

Social Sala de jantar Sala de estar

O primeiro zoneamento estudado foi literal em relação à hierarquia de setorização. Buscou inserir pátios que conectassem todos os setores.

N

A setorização foi realizada de modo que os ambientes estivessem em contato com a área externa, para facilitar a entrada de luz e ventilação natural. O diagrama ao lado (08) mostra a evolução do zoneamento, sempre buscando manter conexão com os pátios.

N

Para tanto, as referências projetuais foram utilizadas como base para a locação dos setores, de forma que, do acesso aos fundos do lote, houvesse uma hierarquia que sequenciasse do público ao privado.

Na segunda evolução, a dificuldade anterior foi solucionada: rotacionou-se o setor íntimo, gerando um pátio íntimo e um pátio social.

Íntimo Dormitório N

Diagrama 08: Evolução da setorização no terreno. Fonte: elaborado pela autora

78

Na setorização final, inseriu-se um corredor de acesso aos dormitórios e aumento do setor social.


HABITAÇÃO UNIFAMILIAR COM ÊNFASE NA SUSTENTABILIDADE DE MATERIAIS N

Insolação maior proveniente do oeste: fachada frontal com prolongamento da laje de cobertura para proteção, pergolados no recuo dos dormitórios, manta térmica acima da laje de cobertura para amenização do calor interno

L

O

Estrategias de conforto

Maior ventilação proveniente do sudeste: esquadrias venezianas com a possibilidade de abertura total, tanto na entrada quanto na saída da ventilação na edificação; telhado com inclinação e abertura favorável à circulação da ventilação entre a telha e a laje para amenização do calor interno

Diagrama 09: Diagrama de ventilação. Fonte: elaborado pela autora

Ventilação

S

N

L

O

Insolação

S

Diagrama 10: Diagrama de insolação. Fonte: elaborado pela autora

79


Adaptação de imagem retirada do Google Earth, 2020

80


esquadrias de piso à viga

permeabilidade visual

materialidade aparente

elementos de proteção (veneziana e tela tipo otis)

FACHADA

posicionamento do telhado que auxilia na ventilação, melhorando o conforto térmico

81


SALA DE ESTAR/JANTAR

piso com conforto acústico tijolo ecológico com espaços vazios para permeabilidade visual / ventilação

82

esquadrias venezianas para auxiliar na ventilação


piso resistente à água

esquadrias venezianas tipo camarão com abertura completa, com integração do espaço interno e externo

SALA DE ESTAR/ÁREA EXTERNA

83


DORMITÓRIO

84

esquadrias venezianas tipo camarão com abertura completa, com integração do espaço interno e externo

venezianas favoráveis à entrada de ventilação provinda do sudeste


edifício verde paisagismo saúde biofilia meio

ambiente projeto proteção regionalidade sociedade

economia água empatia ser humano paisagem

natureza

reutilização coleta de resíduos reciclagem

infraestrutura eficiência energética conservação

preservação Considerações Finais

construção civil conforto flora e fauna

acessibilidade fontes renováveis permeabilidade vegetação

desenvolvimento comunidade biodiversidade bemestar

sustentabilidade

qualidade reabilitação

compromisso conforto energia

lar

segurança

arquitetura responsabilidade iluminação natural

85 desempenho energia renovável boas práticas planejamento


CONSIDERAÇÕES FINAIS O anteprojeto da habitação unifamiliar transcendeu a ação projetual como um meio de reflexão sobre o papel da certificação ambiental na inserção da sustentabilidade na construção civil, com ênfase nos materiais e recursos construtivos. No decorrer da análise da categoria “Materiais e Recursos” da certificação, observouse preocupação por parte da GBC Brasil com o gerenciamento de resíduos da construção, desde a reciclagem até o despejo correto do material no meio ambiente. Percebe-se que, pelo fato de muitas construtoras de João Pessoa desconhecerem/não utilizarem a Política Nacional de Resíduos Sólidos, a introdução deste pensamento é de extrema importância. O estudo da modularidade dos materiais (créditos 06.1 e 06.2) proposto pela certificação contribuiu tanto na concepção projetual quanto na disposição dos elementos construtivos, tornando a proposição da coordenação modular, que é normatizada, o principal partido para alcançar os objetivos apresentados, colaborando com o conhecimento profissional e revelando a importância do estudo dos materiais antes de projetar. Mas, vale ressaltar que a coordenação modular, bem como a preocupação com a escolha e a disposição dos componentes construtivos no projeto, já faziam parte do processo de concepção antes das certificações. 86

Em relação à escolha dos componentes construtivos, há a solicitação da utilização de materiais certificados, tanto pela Declaração Ambiental de Produto (crédito 05) quanto pela ISO 14024 (crédito 03). Para a primeira, existem poucos fabricantes no Brasil com produtos específicos para a construção civil, mas que, apesar disso, conseguiu-se obter o crédito. Para a segunda, a dificuldade foi maior, visto que não se encontrou um sistema catalogado como no caso da Declaração Ambiental de Produto. Constata-se a ausência de informação por parte das organizações certificadoras, que atribuem o Selo Verde aos materiais, bem como falta de divulgação por parte dos fabricantes. Por este motivo, o crédito 03 não foi obtido. Neste caso, a GBC Brasil falha ao inserir um critério que ainda precisa ser evoluído no Brasil. Outra dificuldade encontrada foi os Materiais Ambientalmente Preferíveis (crédito 4). Nesta etapa, a certificação solicita a porcentagem de materiais (reutilizáveis, com conteúdo reciclado, recicláveis, regionais e de rápida renovação) referente ao custo total de produtos. Através da dificuldade de orçar todos os materiais utilizados, levantou-se o seguinte questionamento: por que os relacionar ao custo, e não ao volume total? Desta forma, como exemplo, obter-se-á a porcentagem volumétrica de materiais que poderão ser reciclados em relação ao volume de todos os componentes inseridos na construção.


HABITAÇÃO UNIFAMILIAR COM ÊNFASE NA SUSTENTABILIDADE DE MATERIAIS No caso da relação ao custo, poderá existir grande quantidade de material reciclável com valor pouco influente na porcentagem, que causará uma falsa percepção de que aquele produto está sendo utilizado em pouca quantidade. Portanto, optar pelo cálculo do volume concedeu uma melhor informação sobre os materiais escolhidos no projeto e a preocupação com a sustentabilidade.

otimização na utilização de materiais. Em meio a estes desafios, a certificação ainda precisa melhor se compatibilizar à realidade brasileira.

Vale ressaltar que as organizações responsáveis pelas certificações ambientais estão conectadas às grandes empresas, que inserem no mercado produtos que auxiliam na obtenção dos critérios elaborados. Muitas dessas parcerias são divulgadas pelas próprias organizações certificadoras, formando um processo de interesse lucrativo acerca dos produtos. Por que, por exemplo, a certificação exige de certa forma, que os sistemas estruturais e de vedação sejam realizados de forma modular, com padrões industriais? Diante disso, materiais considerados naturalmente ecológicos, como a taipa, encontram-se fora dessa lista, sendo que, em muitos casos, poderia ser a opção mais adequada. Todos os desafios encontrados acerca da certificação revelaram que existem muitos pontos importantes abordados pela organização que precisam ser incorporados na indústria da construção civil, visto que há uma ampla demanda por parte do planeta de que haja mudança na gestão dos recursos naturais e 87


88


edifício verde paisagismo saúde biofilia meio

ambiente projeto proteção regionalidade sociedade

economia água empatia ser humano paisagem

natureza

reutilização coleta de resíduos reciclagem

infraestrutura eficiência energética conservação

construção civil conforto flora e fauna preservação Referências Bibliográficas

acessibilidade fontes renováveis permeabilidade vegetação

desenvolvimento comunidade biodiversidade bemestar

sustentabilidade

qualidade reabilitação

compromisso conforto energia

lar

segurança

arquitetura responsabilidade iluminação natural

89 desempenho energia renovável boas práticas planejamento


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Agenda 2030. A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. 201-. Disponível em: http://www.agenda2030.org.br/ sobre/. Acesso em: 21 nov. 2019. ARCHDAILY. Casa Lite SP / Duda Porto Arquitetura. 2019. Disponível em: https:// www.archdaily.com.br/br/919238/casa-litesp-duda-porto-arquitetura/5d07a3b1284 dd17f30000200-casa-lite-sp-duda-portoarquitetura-planta-pavimentoterreo?next_ project=no. Acesso em: 24 out. 2020. ARCHDAILY. Casa Vila Matilde / Terra e Tuma Arquitetos Associados. 2015. Disponível em: https://www.archdaily.com. br/br/776950/casa-vila-matilde-terra-e-tumaarquitetos. Acesso em: 24 out. 2020. ARCHDAILY. Residência Carmela / Fae + NOMADA. 2020. Disponível em: https://www. archdaily.com.br/br/934804/residencia-carmelafae-plus-nomada?ad_source=search&ad_ medium=search_result_projects. Acesso em: 24 out. 2020. Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE) (2018/2019). Panorama dos resíduos sólidos no Brasil 2018/2019. BLUMENSCHEIN, R. N. Introduzindo sustentabilidade na cadeia produtiva da 90

indústria da construção. Revista Mosaico, v.2, n.1, p.17-25, jan./jun., 2009. BRASIL. Lei n° 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Brasília: Casa Civil, [2010]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm. Acesso em: 01 fev. 2020. BUENO, Cristiane. ROSSIGNOLO, João Adriano. Análise da aplicação da certificação ambiental de edificações habitacionais LEED for Homes no contexto brasileiro. Revista Risco, v.13, n.1, p. 65-117, 2011. CANIELLO, Bruno Cantalice. Táticas de Infiltração: Aplicações em João Pessoa-PB. Trabalho Final de Graduação (Graduação em Arquitetura e Urbanismo) – Universidade Federal da Paraíba. João Pessoa, 2018. CARVALHO, A. L. L. Análise do desempenho de concretos com adição de sílica ativa em simulação da agressividade marinha. 2018. 83 f. Monografia (Graduação em Engenharia Civil), Universidade Estadual do Maranhão. São Luís, 2018. Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. (1991). Nosso Futuro Comum. Rio de Janeiro: FGV. DINIZ, Tatiana. Obra por conta própria


HABITAÇÃO UNIFAMILIAR COM ÊNFASE NA SUSTENTABILIDADE DE MATERIAIS concentra riscos. Folha de S. Paulo. 2001. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/ fsp/construcao/cs1803200101.htm. Acesso em: 24 fev. 2020.

Acesso em: 06 de julho de 2020.

Ellen MacArthur Foundation (EMF) (2015). Towards a circular economy: Business rationale for an accelerated transition.

GREVEN, Hélio A.; BALFAUD, A. S. F. Introdução à Coordenação Modular na Construção no Brasil: Uma abordagem atualizada. Porto Alegre: ANTAC, 2007.

Ellen MacArthur Foundation (EMF) (2017). Uma Economia Circular no Brasil: Uma abordagem exploratória inicial. FERNANDES, Maria da Paz Medeiros; DA SILVA FILHO, Luiz Carlos Pinto. Gestão de Resíduos: construção e desconstrução de conceitos no canteiro de obras. Encontro Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído, v. 13, 2010. Global Alliance for Buildings and Construction (GlobalABC), International Energy Agency (IEA) and the United Nations Environment Programme (UNEP): 2019 global status report for buildings and construction: Towards a zero-emission, efficient and resilient buildings and construction sector. 2019. GOING GREEN. Cresce o úmero de projetos registrados LEED no Brasil em 2018. 2019. Disponível em: http://goinggreen. com.br/2019/03/28/cresce-o-numero-deprojetos-registrados-leed-no-brasil-em-2018/.

GREEN BUILDING COUNCIL BRASIL. Guia de Certificação GBC Brasil Casa®. 2017.

International Resource Panel (IRP). Global Resources Outlook 2019: Natural Resources for the Future We Want. United Nations Environment Programme (UNEP). Nairobi, Kenya, 2019. MANTOVANI, Marcela Teixeira. Análise da sustentabilidade no mercado imobiliário residencial brasileiro. 2010. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo). Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010. ONU Brasil. A ONU e o meio ambiente. 201-. Disponível em: https://nacoesunidas.org/ acao/meio-ambiente/. Acesso em: 21 nov. 2019. Pesquisa CAU/BR Datafolha. CAU/BR. 2015. Disponível em: https://www.caubr.gov.br/ pesquisa2015/. Acesso em: 24 fev. 2020. ROAF, Sue; FUENTES, Manuel; THOMASREES, Stephanie. Ecohouse: A Casa Ambientalmente Sustentável. Bookman Editora, 2014. 91


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ROMÃO, Bruna. Pouca informação prejudica autoconstrução de moradias. USP. 2012. Disponível em: http://www.usp.br/ agen/?p=123697. Acesso em: 02 jun. 2020. SILVA, Demétrios Antônio. RIBEIRO, Helena. Certificação ambiental empresarial e sustentabilidade: desafios da comunicação. Saúde e Sociedade. v.14, n.1, p.52-67, jan-abr 2005. UNEP. Towards a green economy: Pathways to Sustainable Development and Poverty Erodication - A Synthesis for Policy Makers. France: UNEP, 2011. VIEIRA, Jeann. Evolução da sustentabilidade na construção civil e dos sistemas de certificação. SustentArqui. 2014. Disponível em: https://sustentarqui.com.br/evolucao-dasustentabilidade-na-construcao-civil-e-dossistemas-de-certificacao/. Acesso em: 18 nov. 2019. WASSOUF, Micheel. Da casa passiva à norma: A arquitetura passiva em climas quentes. 1. ed. Barcelona: Gustavo Gili, 2014. Todos os ícones foram extraídos do site Freepik. Disponível em: https://br.freepik.com/.

92




Anexo I CERTIFICAÇÃO AMBIENTAL GBC BRASIL CASA® CATEGORIA “MATERIAIS E RECURSOS”

1


ANEXO I

Este anexo é composto pelo Guia Rápido da Certificação GBC Brasil Casa®, categoria Materiais e Recursos, e os detalhamentos de cada critério relacionados ao anteprojeto proposto. A certificação compreende tanto o projeto arquitetônico quanto a fase de construção da edificação. Como este trabalho é apenas um estudo, os pré-requisitos/créditos serão detalhados em forma de previsão da fase de construção.

2


HABITAÇÃO UNIFAMILIAR COM ÊNFASE NA SUSTENTABILIDADE DE MATERIAIS Pré-requisito/ Crédito

Nome

Pontuação máxima

Pontuação atingida

Pré-requisito 01

Plano de Gerenciamento de Resíduos da Construção e Operação

Obrigatório

Realizado

Pré-requisito 02

Madeira legalizada

Obrigatório

Realizado

Crédito 01

Gerenciamento de Resíduos da Construção

1a3

3

Crédito 02

Madeira Certificada

1a2

2

Crédito 03

Rotulagem Ambiental Tipo I - Materiais Certificados

1

0

Crédito 04

Rotulagem Ambiental Tipo II - Materiais Ambientalmente Preferíveis

1a3

3

Crédito 05

Rotulagem Ambiental Tipo III - Declaração Ambiental do Produto

1a3

3

Crédito 06.1

Desmontabilidade e Redução de Resíduos - Sistemas Estruturais

1

1

Crédito 06.2

Desmontabilidade e Redução de Resíduos - Elementos Não-estruturais

1

1

14

13

Total

3


ANEXO I

PLANO DE GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO E OPERAÇÃO “OBJETIVO Reduzir o volume de resíduos sólidos dispostos em aterros (rejeitos) e preparar a unidade residencial para a destinação diferenciada dos resíduos gerados nas atividades domésticas. REQUISITOS Apresentar um Plano de Gerenciamento de Resíduos da Construção e Operação visando a reutilização e destinação correta dos resíduos, contendo os seguintes elementos: a. Caracterização do empreendimento, descrevendo sua localização, sua finalidade, as estruturas físicas básicas que comporão a construção, o quadro de áreas, posicionamento no terreno, os processos construtivos a serem empregados e o cronograma de sua implantação; b. Caracterização dos resíduos que serão gerados, identificando tipologias e classes, além de apresentar as respectivas estimativas de geração; c. Apresentação das iniciativas de projeto e dos processos de execução das atividades nas obras que permitirão a redução do volume gerado ou a reutilização interna dos resíduos; d. Identificação e qualificação dos agentes de mercado que atuam no recebimento de resíduos, possibilitando a destinação ambientalmente compromissada, com a reutilização e a reciclagem para o atendimento das metas pretendidas de desvio dos resíduos para aterros; e. Qualificação dos transportadores de resíduos que atendam aos requisitos operacionais estabelecidos em leis e regulamentos e que destinem os resíduos de forma diferenciada aos destinatários também qualificados; f. Descrição dos fluxos internos de triagem, transporte interno, definindo e delimitando fisicamente os espaços reservados ao acondicionamento final dos resíduos, considerando a necessidade de coleta e destinação diferenciada, respectivamente, por transportadores e destinatários previamente 4


HABITAÇÃO UNIFAMILIAR COM ÊNFASE NA SUSTENTABILIDADE DE MATERIAIS

qualificados. E Prever em projeto espaços destinados para o acondicionamento e acúmulo dos resíduos, considerando pelo menos 2 lixeiras com capacidade de 50 litros cada, para a separação dos resíduos em úmidos (recicláveis) e secos (orgânicos), que serão coletados pela rede pública de coleta de resíduos, conforme detalhado no Plano de Gerenciamento de Resíduos e Manual de Operação, Uso e Manutenção.”1

PROPOSTA a. Empreendimento: Residência unifamiliar Localização: Av. Alcides Bezerra, S/N, Cruz das Armas – João Pessoa, PB Estruturas físicas básicas da construção e processos construtivos: Sistema de vedação monolítico EPS/ Sistema ARXX Veda/ Tijolo ecológico, em estrutura de concreto pré-fabricado. Quadro de áreas e posicionamento no terreno:

Setor

Social

Serviço

Ambiente

Sala de estar

Sala de jantar

Cozinha

Área de serviço

Área

15,00m²

13,60m² 10,10m²

3,60m²

Área do setor

28,60m²

Íntimo

Área de Banheiro Banheiro reciclagem Social Suíte 2,20m² 24,50m²

1 GBC Brasil. Guia Rápido Certificação GBC Brasil Casa. 2017, p. 57-69.

5,60m²

3,00m²

Suíte

Dormitório 01

Dormitório 02

15,20m²

13,40m²

13,40m²

Circulação e acessos

Área externa

31,05m²

121,00m²

42m²

5


ANEXO I 1,28

5,67

b. Resíduos que serão gerados – tipologia e classe

3,05

Na fase de construção/reforma: Classe A argamassa, placas de revestimento.

11,13

Na fase de uso: resíduos orgânicos e inorgânicos 14,45

Na fase de demolição: Classe A - argamassa, placas de revestimento; Classe B - EPS, madeira, vidro. Estimativa de geração dos resíduos

3 PINTO, Tarcísio de Paula. Metodologia para a gestão diferenciada de resíduos sólidos da construção urbana. São Paulo, 1999.

6

7,13

10,45

5,29

2 Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE) (2018/2019). Panorama dos resíduos sólidos no Brasil 2018/2019.

5,53

Planta baixa: Locação da edificação em relação ao terreno. Esc 1/200. Fonte: elaborado pela autora.

De acordo com ABRELPE2 (2018/2019, p. 23), foram gerados, no ano de 2018, 0,951kg diários de resíduos sólidos urbanos por habitante, na região nordeste. Com isso, prevê-se que a residência gere, aproximadamente, 336,65kg de resíduos sólidos anuais para cada morador.

10,00

N

Já em relação aos resíduos da construção mencionados acima, PINTO3 (1999, p. 34) determinou uma metodologia indireta para o cálculo, onde se estima que, para cada metro quadrado construído, há 150kg de materiais residuais da construção. A área construída da habitação projetada é de 149m². Portanto, prevê-se que a obra gerará cerca de 22.350kg de resíduos sólidos. Entretanto, como se trata de uma estimativa indireta e são inseridas no estudo técnicas de redução de resíduos (como a modularidade, a preocupação com a utilização


HABITAÇÃO UNIFAMILIAR COM ÊNFASE NA SUSTENTABILIDADE DE MATERIAIS do componente construtivo integralmente, o uso de estrutura pré-fabricada e a paginação de piso), o valor é bem mais abaixo que o indicado.

c. Iniciativas de projeto para redução do volume de resíduos e sua reutilização As iniciativas de projeto para redução residual são desde a escolha dos materiais de vedação até o projeto de esquadrias. Para a vedação, foram utilizados sistemas que, além de ecológicos, são modulares e requerem menos material para sua instalação que o sistema de alvenaria comum. A coordenação modular foi estudada no projeto com o intuito de auxiliar na disposição dos painéis e da estrutura, também como forma de redução do volume de resíduos. As esquadrias também foram projetadas para seguirem a modulação proposta, sem necessitar de contra-marco, sendo fixadas através de parafusos, evitando possíveis quebras e possibilitando a fácil instalação/remoção. Pelo fato da estrutura ser de concreto pré-fabricado, não há a necessidade de formas de madeira e desperdícios com concreto.

d. Agentes do mercado que destinam corretamente os resíduos em João Pessoa A USIBEN4 é uma usina destinada ao tratamento de resíduos da construção e demolição (classe A, B e C), localizados em João Pessoa-PB, onde há a reciclagem e reaproveitamento dos entulhos, transformando-os em pedrisco, bica corrida, rachão, além de realizar o descarte correto dos materiais. O complexo foi instalado pela Prefeitura Municipal de João Pessoa através da Autarquia Especial Municipal de Limpeza Urbana (EMLUR) (DIAS5 et al., 2017, p. 95). Portanto, a USIBEN será utilizada como agente de mercado para devida reciclagem.

4 Usina de Beneficiamento de Entulho 5 DIAS, Icaro Yuri Pereira. et al. Gestão de resíduos sólidos na construção civil com o uso de séries temporais. InterScientia, v. 5, n 1, p. 92-105, 2017.

7


ANEXO I

WC

e. Qualificação dos transportadores de resíduos

REFEITÓRIO

ESCRITÓRIO

As empresas que são licenciadas pela EMLUR que realizam a coleta dos resíduos da construção são: Atrevida, Urban, Via Limpa, Redsan, Cidade Limpa e Maranata.

ALMOXARIFADO

f. Fluxos internos de coleta de resíduos Segregação dos resíduos orgânicos e inorgânicos

Transporte interno com carrinho de mão e guincho

Acondicionamento em sacos de lixo ou caçamba

ÁREA EDIFICADA CAÇAMBA

Transporte externo em empresa contratada licenciada pela EMLUR Diagrama: Planta baixa do terreno com diagrama de locação das construções provisórias de apoio aos trabalhadores em fase de obra Esc 1/200. Fonte: elaborado pela autora.

8

Destinação final: complexo USIBEN

L.O.

L.S. ENTRADA/SAÍDA

N


HABITAÇÃO UNIFAMILIAR COM ÊNFASE NA SUSTENTABILIDADE DE MATERIAIS

MADEIRA LEGALIZADA “OBJETIVO Inibir a extração de madeira de florestas primitivas e a comercialização de madeiras ilegais. REQUISITOS Utilizar 100% de madeira legalizada, incluindo as madeiras reutilizadas e de uso temporário, com a apresentação do Documento de Origem Florestal (DOF), e nota fiscal de compra. Este pré-requisito será avaliado para todas as madeiras utilizadas na obra (incluindo madeiras de uso temporário, como: tapumes, formas, canteiro de obras, estande de vendas, etc). Serão abertas exceções apenas para madeiras que sejam comprovadamente de reuso. A lista a ser apresentada antes do início da obra deve ser atualizada durante todo o período de construção, de maneira que, ao final da obra, o documento finalizado possa assumir caráter oficial para a comprovação do pré-requisito.”1

PROPOSTA Todas as madeiras utilizadas na habitação (permanentes - estrutura da cobertura) serão certificadas e, consequentemente, legalizadas.

9


ANEXO I

GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO “OBJETIVO Fomentar a reutilização ou a reciclagem dos resíduos da construção, em substituição aos agregados naturais e propiciar a redução da necessidade de utilização de aterros para a disposição final de resíduos. REQUISITOS Atender aos dois itens abaixo: a) Reciclar ou reutilizar pelo menos 40% (1 ponto), 60% (2 pontos) ou 80% (3 pontos) dos resíduos Classe A e B (CONAMA) gerados na construção. E b) Comprovar destinação correta de todos os resíduos Classes A, B e C (CONAMA).”1

PROPOSTA Como não é possível a reutilização ou reciclagem dos resíduos da construção, nem comprovar suas destinações corretas pelo fato da obra ser apenas um estudo, será previsto a reciclagem de seus componentes. Todos os resíduos gerados pela construção serão destinados ao complexo USIBEN, como informado anteriormente, onde serão reciclados para produção de material agregado ou para pavimentação de ruas e avenidas.

10


HABITAÇÃO UNIFAMILIAR COM ÊNFASE NA SUSTENTABILIDADE DE MATERIAIS

MADEIRA CERTIFICADA “OBJETIVO Incentivar a utilização da madeira certificada, por meio do emprego de produtos provenientes de espécies nativas devidamente legalizadas ou de espécies exóticas de rápido crescimento (reflorestamento), e, consequentemente, promover o manejo sustentável em toda a cadeia produtiva madeireira. REQUISITOS Utilizar madeira certificada pelos selos FSC ou CERFLOR, oriunda de florestas corretamente manejadas. Atender a um dos itens abaixo: a) Apenas Madeira permanente: 50% de toda a madeira utilizada permanentemente na obra (excluir madeiras temporárias) é certificada por selos ambientais (1 ponto). OU b) Todas as Madeiras: 50% de toda a madeira utilizada na obra (temporária e permanente) é certificada por selos ambientais (2 pontos).”1

PROPOSTA As madeiras utilizadas para o estruturamento do telhado e esquadrias podem ser oriundas de diversas partes do Brasil. Para o estudo projetual, foi analisado a distribuidora de madeira certificada mais próxima de João Pessoa-PB.

11


ANEXO I

Estrutura do telhado Empresa: J.A. Fronteira Comercio de Moveis Eireli Localização: Fronteira, Minas Gerais Código da certificação: APCER-COC-150789 Código de Licença da certificação: FSC-C148944 Material: W11.14 Treliças e telhados Tipo: Pinus taeda

Esquadrias e/ou madeiras temporárias Empresa: Agregue Indústria, Comércio e Transporte de Madeira Ltda Localização: Belém, Pará Código da certificação: SCS-COC-005955 Código de Licença da certificação: FSC-C135000 Material: W1.1 Madeira redonda (toras) Tipo: Dipteryx odorata

12


HABITAÇÃO UNIFAMILIAR COM ÊNFASE NA SUSTENTABILIDADE DE MATERIAIS

ROTULAGEM AMBIENTAL TIPO I – MATERIAIS CERTIFICADOS “OBJETIVO Estimular que fornecedores, patrocinadores e licenciados ofereçam materiais certificados de acordo com a norma ISO 14024 – Rotulagem Ambiental do Tipo I (conhecidos como Selos Verdes). REQUISITOS Instalar na residência 5 materiais certificados por terceira parte de acordo com a norma ISO 14024 (1 ponto). Nota: Válido somente para materiais permanentemente instalados na residência.”1

PROPOSTA Devido à ausência de divulgação, tanto pelas certificadoras, quanto pelos fabricantes, houve dificuldade para encontrar materiais permanentes na residência certificados de acordo com a ISO 14024. Portanto, o critério não foi utilizado.

13


ANEXO I

ROTULAGEM AMBIENTAL TIPO II – MATERIAIS AMBIENTALMENTE PREFERÍVEIS “OBJETIVO Utilizar materiais incorporados ou não à construção que sejam regionais, provenientes de reuso, com conteúdo reciclado, de rápida renovação e recicláveis, visando reduzir as emissões de dióxido de carbono (CO2) e a extração de recursos naturais não renováveis. REQUISITOS Baseando-se no custo total e no atendimento dos percentuais mínimos descritos nas tipologias dos materiais, atender um item abaixo (1 ponto), dois itens (2 pontos) ou três itens (3 pontos). a) Materiais de reuso - 2,5% do custo total de materiais b) Materiais regionais - 20% do custo total de materiais c) Materiais e produtos com conteúdo reciclado pré e pós-consumo - 10% do custo total de materiais d) Materiais de rápida renovação - 1% do custo total de materiais e) Materiais recicláveis – 20% do custo total de materiais É necessário apresentar o custo total da obra e o custo referente à aquisição dos materiais (se não for possível definir o custo total com materiais, considerar a porcentagem de 55% do custo total na obra). Para todo produto empregado preferível do ponto de vista ambiental, apresentar tabela explicativa que contenha, quando aplicável: - Descrição do material/produto/insumo; 14


HABITAÇÃO UNIFAMILIAR COM ÊNFASE NA SUSTENTABILIDADE DE MATERIAIS

- Quantidade adquirida; - Custo unitário; - Nome do fabricante/fornecedor; - Tipo de cada material existente no produto final; - Porcentagem, em peso, de cada material no produto final (reutilizado, regional, reciclado, rapidamente renovável e reciclável); - Declaração ambiental do produto e/ou laudos técnicos; - Comprovação de autenticidade/origem das informações referentes ao produto preferível do ponto de vista ambiental.”1

PROPOSTA Para o estudo realizado, observou-se a inviabilidade de efetuar o orçamento total do projeto. Para tanto, utilizou-se como parâmetro o volume total de componentes construtivos da residência (desde a fundação até a cobertura), a fim de comparação das categorias de materiais expostas em relação ao volume total. As especificações dos materiais se localizam no caderno temático.

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ANEXO I MATERIAIS REUTILIZÁVEIS

Tijolo ecológico Muro de placas pré-moldadas Madeira (estrutura da cobertura e esquadrias) Piso intertravado

83,83%

Piso vinílico Aquaclic Estrutura de concreto pré-fabricado

MATERIAIS REGIONAIS

22,01%

Tijolo ecológico Piso intertravado Muro de placas pré-moldadas

MATERIAIS E PRODUTOS COM CONTEÚDO RECICLADO

Tijolo ecológico Telha Ecológica Onduline

33,42%

ISOVER Solarmaxxi Revestimento em pastilhas Módulo para jardim vertical

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HABITAÇÃO UNIFAMILIAR COM ÊNFASE NA SUSTENTABILIDADE DE MATERIAIS MATERIAIS DE RÁPIDA RENOVAÇÃO6 5,13%

Madeira (estrutura da cobertura e esquadrias)

MATERIAIS RECICLÁVEIS

Módulo para jardim vertical Cimento Madeira (estrutura da cobertura e esquadrias)

52,75%

Muro de placas pré-moldadas Revestimento em pastilhas Estrutura de concreto pré-fabricado 6 Materiais de rápida renovação podem ser colhidos anualmente sem causar prejuízos à natureza. Geralmente, as madeiras são os principais materiais de rápida renovação. Fonte: PENSAMENTO VERDE. Disponível em: https:// www.pensamentoverde.com.br/ arquitetura-verde/confira-saomateriais-alternativos-utilizadosconstrucao-civil/. Acesso em: 15 nov. 2020.

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ANEXO I

ROTULAGEM AMBIENTAL TIPO III – DECLARAÇÃO AMBIENTAL DE PRODUTO “OBJETIVO Incentivar o uso de produtos e materiais que possuam informação sobre seu ciclo de vida disponível e que possuam baixo impacto ambiental, social e econômico. A equipe de projeto deve selecionar produtos de fabricantes que tenham verificado melhorias no impacto de ciclo de vida de seus produtos. REQUISITOS Instalar permanentemente produtos que possuam Declaração Ambiental de Produto (DAP) validada por uma terceira parte conforme a norma ISO 14025 – Rotulagem Ambiental do Tipo III. Atender uma das opções abaixo: Opção 1: 3 produtos com DAP específica ou setorial (1 ponto) OU Opção 2: 4 produtos com DAP específica ou setorial (2 pontos) OU Opção 3: 5 produtos com DAP específica ou setorial (3 pontos)”1

PROPOSTA Produto 01: Telha Ecológica Onduline Clássica Empresa: Onduline SA Telhas e lâminas de betume ondulado 18


HABITAÇÃO UNIFAMILIAR COM ÊNFASE NA SUSTENTABILIDADE DE MATERIAIS Número de declaração: EPD-OND-20160087-CAD1-EN

Produto 02: SOLARMAXXI Pro Empresa: ISOVER - Saint-Gobain do Brasil Produtos Industriais e para Construção Ltda Feltro de lã de vidro para isolamento térmico Número de registro: S-P-1322

Produto 03: Concreto FCK 30 MPA Empresa: Votorantim Cimentos Número de registro: S-P-00896

Produto 04: Cimento CP II E 40, CP III-40 RS e CP V-ARI Empresa: Votorantim Cimentos Número de registro: S-P-00896

Produto 05: Argamassa 2202 Matrix Revestimento Fachada Empresa: Votorantim Cimentos Número de registro: S-P-00897

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ANEXO I

DESMONTABILIDADE E REDUÇÃO DE RESÍDUOS – SISTEMAS ESTRUTURAIS “OBJETIVO Utilização de projetos modulares e sistemas desmontáveis para minimizar os resíduos gerados pelos sistemas estruturais na construção civil. REQUISITOS Projetar considerando a possibilidade de desmontagem futura de forma a reduzir a geração de novos resíduos. As estratégias escolhidas deverão representar na obra, pelo menos, 80% do total desse item. Comprovar o atendimento de pelo menos 2 opções descritas abaixo. a) Modularidade/repetição da estrutura: dimensionamento em medidas facilmente reaproveitáveis em novos projetos; b) Modo de aplicação/fixação: estruturas metálicas parafusadas e não soldadas; c) Estruturas de concreto pré-moldadas ou pré-fabricadas; d) Coberturas estruturais pré-fabricadas. O arquiteto deverá elaborar um plano, demonstrando o sistema construtivo e detalhando como será feita a modularidade, a aplicação da estrutura e o detalhe da cobertura, que servirá de base para o desenvolvimento do projeto. Deverá apresentar tais informações em desenhos (planta baixa, cortes, elevações etc.) e documentos, além de especificar dimensões, modelos, materiais dos principais elementos etc., bem como demonstrar o método de desmontagem (maquinário utilizado, destinação dos resíduos), indicando o potencial de reuso, de reciclagem e de degradabilidade (caso sejam dispostos em aterros).”1 20


HABITAÇÃO UNIFAMILIAR COM ÊNFASE NA SUSTENTABILIDADE DE MATERIAIS PROPOSTA Dos requisitos, foram atendidos: “a) Modularidade/repetição da estrutura: dimensionamento em medidas facilmente reaproveitáveis em novos projetos; E c) Estruturas de concreto pré-moldadas ou pré-fabricadas.” A estrutura da residência foi projetada para ser pré-fabricada, com pilares com seção de 0,20x0,20m; vigas com altura de 0,40m; e laje alveolar com 0,15m de altura. A modularidade da estrutura, na região dos dormitórios, são de 4,80x3,60m e no setor social, 4,80x4,80m. Todos os desenhos técnicos da estrutura estão localizadas no Anexo II (pranchas arquitetônicas). O material principal da estrutura é o Concreto FCK 30 MPa do fabricante Votorantim. Para a desmontagem da estrutura, será necessário quebrar a solidificação entre lajes e viga/ pilar com o auxílio de britadeira, cinzel e martelo. A desmontagem, após a desconexão entre peças, é realizada por caminhão munck e o transporte para a USIBEN é de responsabilidade da empresa contratada licenciada pela EMLUR. Toda a estrutura pode ser reutilizada em projetos que necessitem de estrutura similar. Em caso de reciclagem, todo o concreto, enviado para a USIBEN, será submetido ao processo de trituração para, posteriormente, ser vendido como agregado ou ser utilizado em pavimentação de ruas e avenidas.

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ANEXO I

DESMONTABILIDADE E REDUÇÃO DE RESÍDUOS – SISTEMAS NÃO ESTRUTURAIS “OBJETIVO Adoção de técnicas de projeto e procedimentos para minimizar os resíduos gerados na construção pelos elementos não estruturais. REQUISITOS Projetar o desmonte de, pelo menos, 60% de elementos não estruturais dos sistemas de pisos, forros, coberturas, divisórias internas, revestimentos de paredes e de pisos, identificando as formas de desmontagem e os destinos finais de cada um dos componentes, e indicando seu potencial de reuso, reciclagem e degradabilidade, caso sejam dispostos em aterros. Comprovar o atendimento de pelo menos 3 opções listadas abaixo (1 ponto). a) Vedações: deverão ser utilizadas divisórias reaproveitáveis e removíveis, blocos modulares etc.; b) Revestimentos de paredes e pisos internos: deverão ter paginação compatível com as dimensões do local; c) Pavimentações e pisos externos: deverão ser utilizados pavimentos intertravados e/ou removíveis; d) Fachadas: deverão ser constituídas por elementos removíveis; e) Esquadrias: fixadas com parafusos, em vez de usar chumbadas, contra marcos etc.; f) Forros: deverão ser utilizados forros removíveis.”1

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HABITAÇÃO UNIFAMILIAR COM ÊNFASE NA SUSTENTABILIDADE DE MATERIAIS PROPOSTA Dos requisitos, foram atendidos: “a) Vedações: deverão ser utilizadas divisórias reaproveitáveis e removíveis, blocos modulares etc.; c) Pavimentações e pisos externos: deverão ser utilizados pavimentos intertravados e/ou removíveis; e) Esquadrias: fixadas com parafusos, em vez de usar chumbadas, contra marcos etc..” Em relação às vedações, todos os três sistemas estudados são modulares, de fácil execução e baixa quantidade de resíduos. Já os pisos externos, o projeto prevê o uso de pavimento intertravado. As esquadrias foram projetadas para serem fixadas com parafusos, contendo a modularidade dos painéis de vedação. A desmontagem dos componentes não estruturais citados acima ocorre da seguinte forma: Vedações: no sistema monolítico e ARXX Veda, haverá quebra da argamassa e, consequentemente, gerará resíduo. A argamassa residual poderá ser enviada para a USIBEN, que realizará o descarte correto do material. Os painéis de EPS poderão ser inteiramente reciclados. Já o tijolo ecológico, deverá ser removida a argamassa ou cola de assentamento com ferramentas como cinzel, martelo e espátula, e lixadeira7. O tijolo poderá ser reutilizado. Pavimentações e pisos externos: a remoção do piso intertravado pode ser realizada facilmente, utilizando-se alavancas8. A remoção dos bloquetes inteiros possibilitarão a reutilização e, em último caso, serão destinados à USIBEN. Esquadrias: as esquadrias deverão ser desparafusadas com o auxílio de parafusadeiras e/ou chaves. A reciclagem da madeira é possível se enviadas à USIBEN ou marcenarias. Suas peças também podem ser reutilizadas em painéis decorativos ou forros.

7 MAPA DA OBRA. Como remover a argamassa em diferentes situações. Disponível em: https:// www.mapadaobra.com.br/gestao/ remover-argamassa/. Acesso em: 02 nov. 2020. 8 PORTLAND, Associação Brasileira de Cimento. Manual de Pavimento Intertravado: Passeio Público. Associação Brasileira de Cimento Portland – ABCP, São Paulo, 2010.

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