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TCC
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Túnel Ângela Fernandes e espaço residual - Av. Marquês do Paraná Foto: Douglas Macedo, 17.06.2017 (OFLUMINENSE Online)
Análises [de campo]
Feitas as reflexões a partir do distanciamento do objeto para compreensão do fato, partiu-se para análise empírica e afim verificar de que forma é utilizada para identificação das necessidades dos frequentadores e então marcar os pontos positivos e negativos do espaço potencial para melhor prever os efeitos dos resultados e compor o partido da proposta.
da manhã e final da tarde. Em frente ao HUAP, em média, 15 pessoas de cada lado da via fazem a travessia ao longo do dia.
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Na frente do outro hospital, o Hospital Icaraí, também notou-se a permanência de pessoas na calçada que esperam por suas caronas e serviços de entrega de comida sendo feitos a pé ao hospital Antônio Pedro, de lanchonetes que localizam-se na Amaral Peixoto.
Av. Amaral Peixoto
Em visita a campo, foi realizada uma abordagem dos pedestres da região onde tentou-se identificar como o espaço era apreendido por eles, quais atividades costumam exercer no espaço analisado e quais críticas possuíam sobre o mesmo. Segundo as entrevistas, a área é caracterizada como “feia”, as principais reclamações se voltavam para a demora do sinal de trânsito que resultava em longa espera e que faltavam lugar para “estabelecerse”. Os usuários que praticam esportes relataram achar o espaço bom para as práticas esportivas por ser livre de obstáculos e amplo. Muitas pessoas não demonstraram ter opinião sobre o espaço.
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As visitas a campo ocorreram em diferentes dias da semana (segunda, quinta e sábado) em horários variados com duração de observação de 20 minutos a cada visita.
Foi percebido durante vista a campo que o principal destino dos pedestres que cruzam a área é em direção ao Hospital Universitário Antônio Pedro (HUAP). A maioria das pessoas que acessam o local tem como origem a Av. Amaral Peixoto.
Do lado externo do hospital foi verificado a permanência de pessoas, que aparentemente aguardavam atendimento. As pessoas usavam os degraus das escadas, e muretas que tinham sombra para sentar. Na calçada do HUAP, há uma banca de jornal que vende bebias e oferece serviço de xerox. Foi improvisado um bicicletário nas estruturas de um painel informativo.
Foi observado que moradores do bairro caminham com seus animais de estimação pelas calçadas nos turnos
Os moradores do bairro, cruzam área principalmente devido aos pontos de ônibus localizados na rua Dr. Celestino e também tem como destino estabelecimentos comercias de supermercado (Hortifruti e Guanabara), Academias esportivas, localizados na Av. Marquês de Paraná e na rua Miguel de Frias.
Com base em relatório 1 produzido pelo programa Niterói de Bicicleta da Prefeitura Municipal de Niterói juntamente com a ONG Transporte Ativo foi-se feito um mapa com os dados relativos ao fluxo de ciclistas nas Av. Ernani do Amaral Peixoto e Av. Roberto Silveira em Niterói, obtidos através de contagem automática realizada nos dias 13 e 14 de dezembro de 2017.
Biciletas em frente ao HUAP fonte das imagens: arquivo pessoal
Foram contabilizadaS 2489 bicicletas totais no dia 14/12/17 e 56,4% das pessoas que passaram pela Av. Amaral Peixoto foram em direção a Av. Marquês do Paraná, principalmente no turno da manhã de 7h às 9h.
E no dia 13/12/17 foram contabilizadas 2914 bicicletas totais, onde 54,8% que passaram da Av. Roberto Silveira foram em direção a Av. Marquês do Paraná, também majoritariamente no turno da manhã.
1 DE BICILETA, Niterói. Relátorios e pesquisas. disponível em: <http://www.niteroidebicicleta.rj.gov.br/index.php/biblioteca/relatorios-e-pesquisas> acessado em 28/04/2018
Legenda:
Tarde: Fluxo baixo
Tarde: Fluxo alto
Manhã: Fluxo alto
Manhã: Fluxo baixo
Direção à Av. Roberto Silveira
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fonte: Geoff Mcfrietge
Não se trata apenas de uma somatória de espaços residuais à espera de serem preenchidos por coisas, mas se tanto, por significados. Não se trata de uma não cidade a ser transformada em cidade, uma área desprovida de sentido à qual atribuí-lo graças a um qualquer tipo de colonização, mas de uma cidade paralela com dinâmicas e estruturas próprias, com uma identidade formal própria, inquieta e palpitante de pluralidades, dotada de redes de relações, de habitantes, de lugares, de monumentos, e que deve ser compreendida antes de ser saturada ou, no melhor dos casos, requalificada. (CARERI, 2017. p.23)
A pausa em um percurso
Pode-se dizer que o espaço em análise encaixa-se
na definição dada por Francesco Careri — arquiteto, professor e pesquisador do Departamento de Arquitetura da
Università degli Studi Roma Tre — a respeito dos “Territórios Atuais”
Aquelas áreas esquecidas que formam o negativo da cidade contemporânea, que contêm em si mesmas a dupla essência de refugo e de recurso. Lugares difíceis de serem compreendidos e, consequentemente, de serem projetados. Isso pelo fato de eles não possuírem uma localização no presente, de não conhecerem as linguagens do contemporâneo. (...) cuja única forma de cuidado é o abandono. (CARERI, 2017 p.15)
Careri diz que esses espaços que muitas vezes são chamados de “não lugares”, espaços difusos e “vazios”, não são tão vazios como podem parecer, e tratam-se na verdade de espaços esquecidos e apagados por nossos mapas mentais, no qual chama de amnésias urbanas. 1 Ele propõe a atuação no espaço por meio de ações poéticas e não ações apenas funcionais, mas uma modalidade lúdica capaz de dar voz a toda aquela complexidade da qual o espaço é portador.
Essas áreas são, segundo Careri, zonas onde a cidade tira sua máscara e se mostra nua devido àquilo que ainda não se sabe que ela é.
São zonas que recusam os projetos homologantes e que, a cada dia, acham a energia e a inteligência para se autodefinir, inventando regras para suas convivências e para suas relações espaciais. 2
1 CARERI, Francesco. Caminhar e Parar. 2017. p.21 2 p.29 3 p.30 4 p.56
E defende o nascimento de uma disciplina híbrida entre a arquitetura e a public art, inventando instrumentos de atuar sem produzir necessariamente objetos, nem projetos, mas procurando produzir percursos, relações. 3
Pretende-se então, usar o espaço analisado, para se valer de sua energia potencial que seu fenômeno oferece para cultivar novas apropriações e atividades, onde possa-se mostrar a sua capacidade criativa e relacional, a ser
projetada —como Careri descreve — de forma lúdica, interdisciplinar e participante.
O espaço de integração não se produz, apenas, pelos mobiliários e funcionalidades do projeto mas sim por meio de um ato de criação coletiva e principalmente pela identificação que a população possa estabelecer com o plano. A relação com o espaço se dá envolvendo o contexto de cada indivíduo que ali habita. A forma como ele se relaciona, reflete como enxergam o lugar, seu espírito de vizinhança e zelo.
Portanto, a partir das possibilidades reais do espaço, almeja-se “liberar o possível” e “produzir o inesperado” 4 , abrindo espaço para os acontecimentos, deslocamentos, e misturas culturais presentes na complexidade do entorno.
Careri defende que a arte, induz a participação e construção no espaço e na cidadania, e que tem a capacidade de produzir curiosidade, entender valores simbólicos e produzir ações imateriais.
Então mais do que propor ações projetuais determinantemente funcionais, procura-se melhorar a qualidade da ambiência e preenchê-lo de sentido. Abrindo espaço para o ócio, para improvisações, para o inesperado, para os fluxos existentes e criação de relações.
A partir de todas as reflexões quanto a apropriação dos vazios e da observação das práticas e atividades presentes no local, procurou-se associar as práticas
relacionadas aos fluxos com as atividades referentes à permanência e apropriação dos espaços.
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Partido
Duas vertentes emergem como principais linhas de partido:
[ ]
Melhorar a ambiência e qualidade do espaço, gerando oportunidades de permanência, explorando os sentidos durante o percurso de quem passa. E para aqueles que param e estabelecem-se — os moradores do bairro, famílias, crianças, adolescentes, namorados, etc — propõe-se lugares de ócio, estar, interação e recreação lúdica criativa.
o ato de passagem: de todos aqueles que cruzam o espaço como caminho para chegar ao destino que legitimam a requalificação da ambiência sensorial;
o ato de deter-se: dos curiosos e daqueles que residem no entorno legitimam a criação de espaços de convívio, permanência, recreação e ócio;
caminhar perder-se descobrir i n t e r a g i r parar
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Despertar o olharDespertar a curiosidadeProvocar a interação com o espaçopela exploração dos sentidos
visual sonoro tátil olfativo
Em oposição ao uso do tempo não produtivo ao sistema de consumo capitalista, onde as experiências recreativas estão diretamente relacionadas ao processo de espetacularização do espaço e o tempo de espairecimento torna-se tempo de consumo passivo 3 , busca-se a criação de ambientes que possam dar suporte aos acontecimentos de sociabilização e liberdade fora da lógica do consumo. A intenção é, a partir da criação de espaços lúdicos criativos, despertar o olhar, da curiosidade como um convite a interação a cidade.
A proposta deseja dar oportunidade ao inesperado, à apropriação espontânea e a fruição pela sensibilização dos sentidos. E entende-se que o sucesso, ou não, do projeto pauta-se principalmente no alcance da atribuição —de mais do que funções, mas— estabelecimento de significado e identificação com seu público.
A intenção seria a criação de espaços outros que não são nem a proposição ambientalista de uma falsa natureza rústica, nem a exploração consumista do tempo livre 4 mas um espaço que se possa interagir e brincar, como as crianças 5 através da sobreposição de atividades e usos, que também permitam a geração de novos usos, com disponibilidade à indeterminação.
3 CARERI, Francesco. Walkscapes. 2013. p.98 4 CARERI, Francesco, Walkscapes. p .159 5 171
manter-sesentirf r u i r
Jogar com o acaso e o imprevisível é, com efeito, a única maneira de surpreender a cidade, de modo indireto, lateral, lúdico, não funcional, de acabar se encontrando em territórios inexplorados em que nascem novos questionamentos. A exploração não necessita tanto de lugares a serem alcançados quanto de tempo a ser gasto, tempo não funcional, tempo de recreação lúdico-construtiva. (CARERI, 2017. p.104)
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A Proposta
O estudo de massas anterior serviu como base para algumas reflexões e compreensão do espaço objeto de intervenção. A forma da área foi conformada como consequência da sedimentação dos tempos. Assim, o espaço que inicialmente apresentava-se como área residual e ao longo do trabalho se mostrou na verdade como área potencial para a proposta.
Assim como essa sedimentação ocorreu de maneira gradativa e de tempos em tempos desenhou o espaço, a intervenção a ser proposta se desenvolverá sob a perspectiva de diferentes tempos de implementação.
3 apropriação social
vegetação consolidada + consumação da apropriação ideal e seus deslocamentos, atividades mistas e acontecimentos inesperados
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Com isso em mente, o projeto terá 3 etapas de implantação:
2 elementos construtivos +
mobiliários
implantação do projeto de praça: ciclovia, elementos de paginação de piso, mobiliários urbanos e iluminação
1 instalação urbana
com o intuito de chamar atenção para o espaço que ainda não é nada, mas a intervenção atua para o despertar visual do espaço que vai acontecer
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#2 ETAPA: elementos construtivos + mobiliário
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A segunda etapa da implementação do projeto se caracteriza pela concretização dos elementos da praça em si. A proposta tem como intuito ser um convite para a vida urbana.
E ser um ponto de encontro multifuncional capaz de acomodar uma ampla variedade de atividades, com espaço cotidiano dinâmico criado tanto para os grandes eventos quanto para as pequenas atividades cotidianas.
A fim de melhorar-se a ambiência é dado tratamento à pavimentação sendo revestida com novo material e a cor vermelha é aplicada para atrair o olhar.
O uso de topografia é aplicado com o intuito de criar espaços recreativos e ambiências mais interessantes brincando com alturas e criando novos espaços.
Apropriando-se das fachadas cegas dos muros, foi proposto uma arquibancada que convida o usuário a subir e instalar-se.
Árvores foram propostas tanto ao longo da arquibancada, quanto ao longo caminho, para melhoria do bem-estar e gerar sombras.
Recursos de água são propostos no piso com a finalidade de criar situações recreativas, principalmente para crianças.
Outro aspecto que se tentou melhorar na área foi a ausência de sombras, por isso, foi criado coberturas tensionadas ao longo do passeio para amenizar o desconforto do calor e ofuscamento visual.
O projeto visa integrar o fluxo tanto de pedestres quanto de ciclistas, e por isso foram alocadas bicicletários para estimular a parada e desfrute do espaço pelos mesmos.
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#3 ETAPA: apropriação social
E por fim, a terceira etapa se caracteriza pela consumação das atividades de interação, passagem e fruição, assim como a consolidação da vegetação que terá atingido seu crescimento desenvolvido.
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Baseando-se nesta ideia, a proposta é que seja um local onde a população esteja integrada com o meio e utilize-o de maneira a melhor atender suas necessidades diárias e demandas.
Um lugar para os cidadãos se reunirem nas arquibancadas para aproveitar os dias, realizarem feiras, ou para experimentarem pequenos shows e apresentações ou atuar como espaço para as crianças brincarem.
Entende-se que o projeto deve funcionar como um espaço de oportunidades. O projeto atua como um todo visual onde os elementos individuais se complementam em uma composição coerente reforçando as atividades do dia a dia e também desenvolvendo novos usos ao longo dos horários do dia e ano.
Portanto, entende-se como local para liberar o possível e produzir o inesperado, onde o espaço é aberto para os acontecimentos, deslocamentos, e misturas culturais presentes na complexidade do entorno.
Através de representações foram criadas simulações de possíveis maneiras de apropriação.
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