Nº1 | Setembro Outubro 2012
Linhas de Wellington A derrota de Napoleão
ESPAÇO NIMAS Uma nova programação
Women are heroes
O primeiro documentário de JR
Selvagens Sexo, Stone e Rock and Roll
Adeus, Minha Rainha
Benoît Jacquot com pés e cabeça (ainda)
De Rouilles et d’OS
O amor deformado de Jacques Audiard
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estreias cinema
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ESPAÇO MEDEIA ZONA LOUNGE GRATUITO WI-FI . . . . . . . . . . . . . . ...................
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Aberto todos os dias das 14h às 22h facebook.com/espacomedeia
www.medeiafilmes.com
estreias cinema
editorial O sector da exibição cinematográfica está a atravessar um momento particularmente difícil — um dos mais delicados na sua história. Motivos bem diversos têm contribuído para a agudização desta situação de crise mas a sua discussão não passará, no entanto, por este espaço. Neste contexto de impasse, onde a qualidade e a diversidade da oferta cinematográfica nas salas de cinema portuguesas se reduz gradualmente, a MEDEIA FILMES decide apostar num sentido claramente oposto. A criação e o lançamento da MEDEIA MAGAZINE, sob a forma de uma magazine bimensal em cujas páginas se reflecte o que de mais importante se passa nas salas de cinema da MEDEIA FILMES, surge como um novo esforço de proximidade com os nossos espectadores. Tendo uma atenção não só muito particular à produção mainstream mas também e sobretudo às cinematografias independentes, tanto europeia como dos restantes continentes, tentando ser um espelho do que de melhor se produz e divulga na indústria cinematográfica. Paralelamente, um trabalho de reflexão sobre a evolução do cinema, os novos meios de difusão, a radicalidade das suas propostas e o relacionamento com outras formas de expressão artística estará também presente nas nossas salas. O Director
Equipa: Director: Paulo Branco Edição e textos: Ágata Xavier Design: Catarina Sampaio Colaboração: André Dias, Frederico Batista, André Carvalho
Linhas de Wellington de
valeria sarmiento
com Nuno Lopes, Soraia Chaves, Marisa Paredes, John Malkovich, Carloto
Cotta, Vitória Guerra, Marcello Urgeghe, Jemima West, Mathieu Amalric, Melvil Poupaud, Afonso Pimentel, Filipe Vargas, Adriano Luz, Miguel Borges, João Luís Arrais, Elsa Zylberstein, Vincent Perez, Albano Jerónimo, Joana de Verona, Catherine Deneuve, Isabelle Huppert, Michel Piccoli, Chiara Mastroianni, Malik Zidi, Maria João Bastos, Paulo Pires
O filme de Valeria Sarmiento, que conta com um elenco de luxo, estreia no dia 4 de Outubro. Antes disso vai a Veneza lutar pelo Leão de Ouro. Não há spoilers em recriações históricas — a menos que se tenha faltado à aula sobre as investidas de Napoleão ao território português. Trata-se de um filme ambicioso sobre o período das invasões francesas, mais concretamente a terceira e última incursão liderada pelo General Massena. Os portugueses, aliados dos britânicos comandados por Arthur Wellesley, Duque de Wellington, acabam por vencer na Batalha do Buçaco. O filme acaba por ser “um pouco como o nosso Guerra e Paz, um retrato dos dramas que essas populações viviam”, sintetizou o produtor Paulo Branco na apresentação do filme à imprensa. Napoleão escreveu nas suas Memórias que a queda do seu império se iniciou com a vitória anglo-portuguesa na Batalha do Buçaco. “Essa guerra infeliz destruiu-me...tudo...os meus desastres estão ligados a esse nó fatal”, confessou. A Câmara Municipal de Torres Vedras contactou o produtor Paulo Branco a propósito das comemorações do bicentenário das Linhas de Torres. Na altura, Branco pediu a Carlos Saboga, argumentista de Os Mistérios de Lisboa para escrever um guião. Saboga, que já tinha escrito um argumento sobre o mesmo tema para a televisão francesa centrado na primeira invasão, liderada pelo general Junot, não hesitou. “É a primeira vez que escrevo para algo desta dimensão.”, contou o argumentista à Medeia Magazine, “Utilizei a receita habitual: leituras de textos históricos, memórias, romances, documentários, iconografia diversa e consulta de especialistas. No entanto, quis contar um episódio guerreiro sem pôr a tónica nas peripécias propriamente bélicas e dar um relevo particular às personagens femininas”. O rigor valeu-lhe a recomendação do filme por parte do Ministério da Educação que o utilizará no programa dos ensinos básico e secundário. setembro | outubro 2012
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receita bife wellington
preparação • Grelhe um quilo de lombo de vaca durante 15 minutos. Tempere com sal e pimenta e deixe repousar durante 20 minutos. • Corte 250g de cogumelos e cozinhe-os em lume médio com uma colher de sopa de azeite e um ramo de tomilho. Junte 100 ml de vinho branco até o líquido ser absorvido. Esta mistura deve ficar bem seca. • Estenda uma folha de película aderente. Coloque 12 fatias de presunto e a pasta de cogumelos no meio da folha. Posicione o lombo em cima da mistura e enrole. Ponha o rolo no frigorífico durante 30 minutos. • Coloque o rolo de carne em cima da massa folhada e enrole. Vá pincelando o interior com gema de ovo. • Aqueça o forno a 180 graus. Pincele a superfície da massa com ovo e cozinhe durante 30 minutos.
PRINCIPAIS festivais
29 ago - 8 set
21 - 29 set
TIFF - Festival
International de cinema de
Toronto 2012 6 - 16 set
Festival de cinema de
Nova iorque 2012 SELECÇÃO OFICIAL
28 SET - 14 OUT
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O guião foi apresentado a Raúl Ruiz que, apesar de estar fragilizado, aceitou. Contudo, em Agosto de 2011, o realizador viria a morrer deixando o destino do projecto em aberto. A produção foi retomada pela viúva de Ruiz, Valeria Sarmiento. Demorou algum tempo a aceitar o convite mas decidiu que o faria. “Tive medo mas nunca dúvidas, tinha que o fazer pelo Raúl”, contou à Medeia Magazine,“Vi o filme como um desafio e um dever. Tinha que o fazer. O resultado final foi de satisfação”. Valeria Sarmiento, em declarações à Lusa durante a rodagem, afirmou a importância de “recordar, num momento difícil em que está a Europa, que ela foi construída a partir de muitas guerras.” Palavras de uma realizadora que fez do documentário a sua arte e que encontra na recriação histórica resquícios da realidade. Com um elenco internacional de luxo, o filme conta com as interpretações de John Malkovich, no papel de General Wellington, Nuno Lopes, Marcello Urgeghe, Soraia Chaves, Marisa Paredes, Mathieu Amalric, Melvil Poupaud, Carloto Cotta e Adriano Luz nos restantes papéis. Conta também com as participações especiais de Catherine Deneuve, Michel Piccoli, Isabelle Huppert e Chiara Mastroianni. O cenário é a zona Oeste de Portugal, região fustigada pelas invasões anteriores. Várias pessoas — entre soldados, ricos e pobres — juntam-se e caminham lado a lado para escapar à guerra, à fome e à morte. Um cenário dantesco que leva o abade, interpretado por Albano Jerónimo, afirmar que “O Inferno não existe. O Inferno é isto”. Sobre a riqueza da história, Valeria Sarmiento disse à Medeia Magazine que “Trabalhar com o Carlos [Saboga] é uma delícia. Tanto o guião de Linhas de Wellington, como o de Os Mistérios de Lisboa são excelentes e obedecem mais a uma estrutura de As Mil e Uma Noites que a uma estrutura de Hollywood”. Sarmiento, realizadora chilena que vive em Paris desde 1974, assume que o episódio das invasões francesas não poderia estar mais distantes do seu mundo. “Ao ler o guião dei-me conta que poderia encontrar algumas semelhanças entre o êxodo das populações [forçadas a abandonar a terra por indicações militares] e o meu exílio [enquanto opositores ao regime de Pinochet o casal viu-se forçado a emigrar]. Eu não conhecia a história e sei que muitos franceses também a desconheciam”. Já o cinema português é algo que a Valeria acompanha e conhece bem. “Conhecia muitos actores portugueses porque fiz a montagem de muitos filmes que o Raúl filmou em Portugal e, logicamente, pela montagem de Os Mistérios de Lisboa. São actores admiráveis, sérios e com muita imaginação”. Quanto a realizadores há vários que
estreias cinema admira mas em primeiro lugar está “Don Manoel de Oliveira”. A produção nacional continua a surpreender lá fora e a prova disso é a escolha de Linhas de Wellington para a competição do Festival de Cinema de Veneza. “O filme Os Mistérios de Lisboa começou a provar internacionalmente que se podia fazer uma ficção que pudesse circular no mundo inteiro, em português e com actores portugueses”, explicou Paulo Branco. Para já, Linhas de Wellington segue-lhe as pisadas, estando para além do Festival de Cinema de Veneza integrado nos Festivais de Toronto, San Sebastián (em que será exibida pela primeira a vez a versão televisiva de três episódios) e Nova Iorque – onde participa na Selecção Oficial.
«Durante o meu trabalho com a Valeria, o Raul esteve constantemente presente » Carlos Saboga
«O major Jonathan Foster [personagem que interpreta] tem uma família que está ligada desde muito cedo aos vinhos do Porto. É um tipo que gosta dos seus soldados e que apesar da situação de risco que é uma guerra, tem muito prazer no seu trabalho. O filme é dinâmico e funciona em tempos históricos muito plausíveis e credíveis » Marcello Urgeghe, i
Sabia que... o elenco tem 41 actores 5200 figurantes 300 armas 500 uniformes militares 320 animais 120 carruagens 3500 peças de guarda-roupa
Informações: Título: Linhas de Wellington Género: Drama Duração: 151 minutos Estreia: 4 Outubro
Oslo, 31 de Agosto de
Joachim Trier
Duração: 95 min
com Anders Danielsen Lei, Hans Olav Brener e Ingrid Olava
Nomeado para o prémio Un Certain Regard, em Cannes, põe a nu a fragilidade de uma geração sem rumo
Um homem, uma cidade, um dia. É a premissa do segundo filme de Joachim Trier, dinamarquês nascido entre grandes do cinema mundial: é filho de um sonoplasta, neto do realizador Erik Lochen e primo afastado do polémico Lars von Trier. Oslo, 31 de Agosto conta a história de Anders (Anders Danielsen Lei) um jovem toxicodependente que aproveita a saída da clínica de reabilitação em que se encontra, a propósito de uma entrevista de emprego, para passar o dia a vaguear pela cidade e a conviver com os amigos. Rapidamente se apercebe que o mundo fora da assepsia terapêutica é tão ou mais violento do que julgava. O filme mostra-se como um “documentário improvisado entre uma cidade cheia de sonhos, o inconsciente colectivo, e Anders. A conversa é mais sensorial do que estritamente verbal” descreve a Les Inrockuptibles. Joachim Trier homenageia, ainda que de forma pouco clara, Oslo — que ele considera ser “os subúrbios da Europa” pelo seu lado provinciano. Contou à Les Inrockuptibles que se sente “fascinado pela sua aparência esquizofrénica. Uma cidade rica mas cheia de drogados, que se traduzem num bando de noruegueses entediados”. Confronta essa realidade, a decadência humana, com a beleza natural da cidade. É a nódoa entranhada dos países tidos como o exemplo de sociedade moderna — o pódio da supremacia escandinava treme perante a acutilância de Trier. Foi essa mesma sociedade que criou outro Anders (Breivik), desta vez nada ficcional, que viria a cometer um dos crimes mais bárbaros do novo século. O filme foi gravado antes do massacre da ilha de Utoya mas a partir do que conhecemos é impossível não encontrar analogias. Principais Festivais: Festival de Cinema de Sundance 2012 Prémio Un Certain Regard, Festival de Cannes 2011 Menção Honrosa Lisbon & Estoril Film Festival 2011
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Uma vida melhor o gebo e a sombra de
Cédric kahn
Duração: 110 min
com Guillaume Canet, Leila Bekhti e Slimane Khettabi
O realizador premiado em Cannes regressa com um filme sobre a crise conjugal e financeira.
Tema actual, tão actual que nos entra pela casa mesmo quando não há ninguém para abrir a porta. Nádia e Yann apaixonam-se e decidem reconstruir uma casa nos subúrbios e fazer dela um restaurante. Quando o restaurante está pronto a estrear uma equipa de avaliação fiscal chumba o negócio alegando que não respeita as regras de segurança. Yann não tem mais dinheiro para investir e os bancos não lhe concedem crédito. Desesperada, Nádia aceita um emprego no Canadá e deixa o filho Slimane com Yann. O que parecia uma manobra de recurso torna-se uma certeza, Nádia vai para longe e ninguém sabe se volta. Cédric Kahn, escreve o Le Monde, “não trabalha a bondade humana. O seu ingrediente de eleição é a violência, seja a dos criminosos (Roberto Succo) ou da que se aninha na infância (Arrependimentos) ou na privacidade dos casais (Sinais Vermelhos). Desta vez é o dinheiro que servirá como um instrumento contundente. O dinheiro para uma causa, que se esgota no momento crucial.” É um cenário muito diferente do que é transmitido no cartaz, com um casal sorridente e apaixonado a lembrar uma comédia romântica. A razão é simples. “É difícil convencer alguém hesitante a escolher um filme que flirta com a miséria. No entanto, a proposta é muito menos deprimente do que parece à primeira vista.”, explica o Le Monde. E esclarece, “Cédric Kahn e Guillaume Canet conseguem conjugar de forma exemplar a indignação e emoção de um drama que sempre atravessou a existência do Homem ”.
Principais Festivais: Festival Inter. de Cinema de Toronto 2011 Festival Inter. de Cinema de Tóquio 2011 Festival Inter. de Roma 2011 Prémio Especial do Júri - João Bénard da Costa no Lisbon & Estoril Film Festival 2011
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de manoel de oliveira com Claudia Cardinale, Michael Lonsdale, Jeanne Moreau,
Ricardo Trêpa, Leonor Silveira e Luís Miguel Cintra Duração: 95 min
O novo filme do cineasta de 103 anos vai ser exibido no Festival de Cinema de Veneza. O novo filme de Manoel de Oliveira encabeça a lista criada pelo blogue da TCM, Moviemorlocks, dos filmes a não perder caso o mundo termine em Dezembro deste ano, como professavam os Maias. O autor da lista, R. Emmet Sweeney, escreve que “não há melhor maneira de enfrentar o juízo final do que ver o último filme dessa maravilha sem idade, Manoel de Oliveira, o único homem capaz de sobreviver ao armagedão”. Adaptado de uma peça de teatro homónima de Raul Brandão, escrita em 1923, fala da pobreza extrema e na dificuldade em manter a honra em tempos difíceis — situações que podem ser transportadas até aos dias de hoje. O filme conta a história de um cobrador, Gebo, que assume os crimes cometidos pelo filho João. Alvo de chacota e injúrias por parte de quem o rodeia, Gebo reflecte sobre a importância da honra e da justiça na formação do Homem acabando por confrontar esses sentimentos nobres com a cobiça, a ganância e a procura do enriquecimento a qualquer preço. “Perfeição de cenário e iluminação ao serviço dessas almas e vozes que aparecem para lhes dar um eco.”, escreve a revista francesa clapmag, “A começar pelo inimitável Michael Lonsdale, que interpreta Gebo, e que dá ao texto um sabor especial. Citamos igualmente Claudia Cardinale, inquietante, e Jeanne Moreau, irresistível na sua curta passagem. Numa sucessão de longos planos estáticos, que instala um teatro permanente, cada personagem é um actor e director do seu próprio sofrimento”.
Estreia Mundial: Festival de Veneza 2012 - Fora de Competição
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Selvagens de
oliver stone
Duração: 131 min
com Aaron Johnson, Taylor Kitsch, Blake Lively, Salma Hayek, John Travolta
e Benicio Del Toro
Oliver Stone estreia Selvagens, um filme que está explicado no título: indomável, agressivo e violento. Pelo meio, também há espaço para um amor a três.
A primeira impressão de quem olha para Selvagens é que algo de tarantinesco se passou na vida de Stone. A violência, o sexo, o sangue, a saturação das cores, os corpos bronzeados a escorrer vontade de viver depressa. Depois lembramo-nos de “Assassinos Natos” e tudo volta a fazer sentido. Dois amigos, Chon (Taylor Kitsch) e Ben (Aaron Johnson), partilham o cultivo de marijuana trazida por Chon do Afeganistão quando esteve numa missão militar no terreno. Para além do negócio ilícito partilham também a namorada. O (Blake Lively), a tal mulher no meio de um bromance (interacção homossocial masculina), é raptada por um cartel de droga poderoso, encabeçado por Elena (Salma Hayek) que faz uma proposta indecente à dupla: juntam-se a ela ou a cabeça de O vai separar-se do corpo. Para uma rapariga tão bonita, é pena. Os jovens vêem-se obrigados a negociar com um polícia corrupto na tentativa de reaver O intacta. Começa a saga de um ménage colectivo, em
que ninguém quer ficar por baixo. Oliver Stone, numa entrevista para a Film Comment, confessou a importância da droga na sua vida. “Começou no Vietname, eu era um soldado. Estar pedrado era um antídoto para a loucura que nos rodeava. Sou muito sério quanto a isso. Quanto a música e a droga” diz. Polémico e sem papas na língua, o realizador admite comparações a Assassinos Natos e Sem Retorno. A culpa é das cores. “Era para ser um filme com sol, que é como dizer México, o Sul”, adiantou. “Era suposto as cores serem primárias e levei as pessoas à loucura por causa disso. A uma dada altura, entrei no set e gritei que queria toalhas, o máximo de amarelas e azuis possíveis, para me livrar das cores deslavadas que estavam a aparecer”. Stone não procurava o meio da balança mas o excesso: areia, guarda-sóis, flores, quadros, roupa garrida e caliente.
Oliver Stone
Em Sem Retorno trabalhou com Ennio Morricone para criar uma sonoridade de western spaghetti. “Cheguei a mostrar-lhe os desenhos animados do Road Runner (Bip Bip e Coiote) e disse-lhe, Este é o tipo de música que quero que escrevas”, conta. Em Selvagens não usou o mesmo registo. Na cena de sexo ouve-se Brahms contrariando toda a violência que vemos a seguir. Mas há uma razão. “Queria que o filme tivesse alguma doçura e romance”, explica, “eles são jovens, são doces, estão à mercê do mundo, estão em perigo, e estão apaixonados”. Selvagens é mais uma das batalhas de Oliver Stone que se vê neste momento a braços com a produção histórica The Untold History of the United States para a cadeia americana Showtime. “Sempre que se dirige, é um esforço tremendo. É como planear o dia D. Já fiz 19 filmes e eles foram 19 batalhas”. setembro | outubro 2012
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programação
espaço nimas WOMEN ARE HEROES a sua sala de cinema independente A par desta nova publicação, emerge também uma oferta cinematográfica exclusiva, materializada numa nova etapa do ESPAÇO NIMAS. O cinema da Avenida 5 de Outubro volta a renovar-se, assumindo-se definitivamente como um espaço dife-rente de coabitação entre a memória cinéfila e a permanente reflexão sobre o cinema. Por esta sala passarão filmes clássicos (muitos deles dificilmente vistos de outra forma), chamando a atenção para autores marcantes através da exibição da sua obra, mas também revelando o que de mais experimental e radical se faz actualmente no domínio do Cinema. Em suma, um espaço com regras de programação diferentes e uma oferta única dedicada à arte cinematográfica e, portanto, um caso raro nos nossos dias.
JR - Perfil JR tem nome de personagem de série dos anos 70 mas é bem real. Artista de rua, deu nas vistas quando colou retratos de palestinianos e israelitas sorridentes na Faixa de Gaza em 2007. Face2Face, o nome do projecto, foi considerada a maior exposição ilegal de fotografia alguma vez feita. A revista Time chegou mesmo a considerálo o artista de rua mais bem sucedido depois de Banksy. Em 2011, recebeu o TED Award e durante a entrega deu início ao seu mais recente projecto Inside Out.
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de Jr
Duração: 80 min
O Espaço Nimas estreia Women are Heroes, o primeiro documentário do artista de rua JR. Arrojado, indigente ou o “Cartier-Bresson do século XXI”, como lhe chamou o jornalista e escritor Fabrice Bousteau. Veja o filme e decida.
Women are Heroes começou por ser mais um projecto fotográfico. JR entrou nos bairros que foram apagados dos mapas turísticos e fotografou e entrevistou mulheres que apesar de viverem em condições extremas mantêm o sorriso, a energia e a esperança numa vida melhor. As favelas do Rio de Janeiro e os bairros degradados do Quénia, Índia, Sudão, Serra Leoa ou Cambodja foram os locais escolhidos. JR fotografou a mulheres e espalhou os seus retratos pelas ruas, casas, escadas e comboios. “Este filme reúne as imagens e as palavras das mulheres, a sua rotina diária e as experiências criadas através da arte, mostrando uma realidade diferente da apresentada pelos media.”, diz JR no documentário. E continua, “As pessoas questionavam porquê o preto e branco? Não há cor em França? Estas pessoas estão mortas? O que é que estão a fazer? E eu respondia, isto é arte”. Women Are Heroes foi exibido no Lisbon & Estoril Film Festival o ano passado. Para além da exibição houve também uma masterclass com JR. O director de fotografia Christopher Boyle não descansou enquanto não cumprimentou o artista, saltando da sua cadeira mal viu JR entrar na sala. “Fizeste uma coisa incrível. Isto é absolutamente incrível”, disse. JR agradeceu e começou a conversa, sem tirar os óculos escuros.
«Eu não posso salvar o mundo, ninguém pode. O mundo está lixado. Não é suposto a arte mudar o mundo mas mudar percepções. A arte pode criar analogias» JR No dia 30 de Setembro, será exibida na sessão das 21h a Masterclass que o artista deu na edição de 2011 do Lisbon & Estoril Film Festival. Haverá um debate depois da projecção do documentário.
programação programação
espaço nimas ESTREIAS
Filmes que não foram ainda exibidos mas que pela qualidade cinematográfica e presença nos circuitos internacionais merecem ser mostrados.
espaço nimas ciclo BENOÎT JACQUOT EM COLABORAÇÃO COM CINECoA
De 1-3 Outubro no seguimento da estreia do filme
JERICHOW 13 SET
Christian Petzold DE 2008, 93’ Tomas é um veterano de guerra de regresso à cidade natal, Jerichow. Aí, apaixona-se pela mulher do patrão e dá início a outra guerra. Em Competição no Festival de Cinema de Veneza 2008 Selecção Oficial no Festival de Cinema de Toronto 2008
Adeus Minha Rainha • L’assassin Musicien FR 1976 124’
• Les Enfants du Placard FR 1977 105’
• La Fille Seule
THE HUNTER 20 SET
Rafi Pitts IR/DE 2010, 90’ Um homem mata dois polícias e refugia-se na floresta. Lá, é perseguido por outros dois agentes. Começa o jogo do gato e o rato no bosque.. Selecção Oficial do Festival de Cinema de Berlim 2010
FR 1985 90’
ciclo JACQUES AUDIARD EM COLABORAÇÃO COM FESTa do CINEMA FRANCÊS
11-17 Outubro CIRCUS COLUMBIA 27 SET
Danis Tanovic BA 2010, 113’ Divko regressa à Bósnia e Herzegovina 20 anos depois de lá ter deixado a mulher e o filho. O reencontro não será pacífico. Selecção Oficial no Festival de Cinema deToronto 2010 Melhor Filme Estrangeiro no Festival de Antalya 2010
no seguimento da estreia do filme
De Rouille et d’Os
e masterclass com entrada livre
• Regarde Les Hommes Tomber FR 1994 90’
• Nos Meus Lábios FR 2001 115’
SESSÕES ESPECIAIS
• De Tanto Bater o Meu Coração Parou
SAMSON AND DELILAH
• Um Profeta
Warwick Thornton AU 2009, 101’ Dois jovens vivem muma comunidade isolada no deserto australiano. Um dia são obrigados a partir e iniciar uma viagem pela sobrevivência. Melhor Filme segundo a Crítica no Festival de Dublin 2009 Vencedor do Golden Camera Award em Cannes 2009
LONDON RIVER
Rachid Bouchareb BE 2009, 88’ A amizade entre dois estranhos que se conhecem enquanto procuram os filhos, durante os atentados de Londres de 2005. Urso de Prata para o Melhor Actor no Festival de Berlim 2009 Prémio Ecuménico do Júri no Festival de Berlim 2009
FR 2005 108’ FR 2009 155’
ciclo CHANTAL AKERMAN 24 Outubro Antestreia do filme
La Folie Almayer • A Cativa FR 2000 118’
• Amanhã Mudamos de Casa FR 2004 110’
DE LA GUERRE
Bertrand Bonello FR 2008, 130’ Bertrand visita uma funerária e fica preso num caixão durante a noite. Da experiência nasce a vontade de mudar de vida. Prémio Cutting the Edge no Festival de Miami 2009 Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes
Outras estreias 18 SETEMBRO SHUT UP AND PLAY THE HITS Will Lovelace e Dylan Southern UK 2012 108’
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estreias cinema SE ALGUMA COISA É DEMASIADO BOA PARA SER VERDADE, PODES APOSTAR QUE NÃO EXISTE
EXCÊNTRICOS OU EGOCÊNTRICOS Woody Allen e Tim Burton estão de regresso. Damos-lhe a conhecer os novos filmes e fazemos uma viagem pela filmografia de ambos. Escolhemos frases de personagens que coincidem no tempo — cujos filmes estrearam no mesmo ano — e que poderiam ter contracenado. Frases reais para encontros surreais.
WOODY ALLEN
PARA ROMA COM AMOR
FRANKENWEENIE
ALGUMA VEZ TE DISSERAM QUE TENS UNS LÁBIOS MUITO SENSUAIS?
PARA ROMA COM AMOR
OH, OBRIGADO. TU CHEIRAS A... PESSOAS VELHAS. E SABONETE. GOSTO DISSO. MATCH POINT
“O novo filme de Woody Allen, Para Roma com Amor é leve e rápido, com alguns dos diálogos e representações mais desafiantes que ele põe no ecrã em anos”, escreveu a The New Yorker. Depois de Londres, Barcelona e Paris chegou a vez de Roma. Allen dá-nos quatro histórias: um anónimo que se torna uma celebridade, um jovem casal em lua-de-mel, um arquitecto que regressa à rua onde viveu quando era estudante e um director de ópera que descobre talentos.
CHARLIE E A FÁBRICA DE CHOCOLATE
A CASA ESTÁ UM NOJO, SE SOUBESSE QUE VINHAS TINHA REORGANIZADO A SUJIDADE EU SABIA, ÉS DO TIPO SENSÍVEL. UMA QUALIDADE RARA NUM HOMEM
A LENDA DO ESCORPIÃO DE JADE
Tim Burton
PLANETA DOS MACACOS
AS PESSOAS COMUNS E OS INTELECTUAIS ACHAM O TEU TRABALHO INCOERENTE. SIGNIFICA QUE ÉS UM GÉNIO
FRANKENWEENIE
NÃO, NÃO, SOU APENAS UM TRAVESTI BALAS SOBRE A BROADWAY
ED WOOD
TENS UMA ÓPTIMA PERSONALIDADE, E SABES DE CAMISOLAS
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HMM, NÃO ESTOU COMPLETO
ALICE
EDUARDO MÃOS DE TESOURA
o egocentrismo de woody allen leva-nos a colocar a sua cara em todas as personagens.
ILUSTRAÇÃO: CARLOS MONTEIRO
Remake de uma curta que Burton fez em 1984, Frankenweenie conta a história de um rapaz que faz várias experiências para ressuscitar o cão, Sparky. Clara homenagem a Frankenstein, de Mary Shelley, o filme marca o regresso de Tim Burton ao cinema de animação, desta vez em 3D, e à colaboração com o actor Martin Landau e a actriz Winona Ryder. Um conto de fadas de aquecer o coração com a assinatura da Disney.
estreias cinema
killer joe de
William Friedkin
Duração: 103 min
com Emile Hirsch, Matthew McConaughey, Juno Temper e Thomas Haden Church
William Friedkin é um homem habituado a exorcismos. O realizador que pôs a cabeça da jovem Regan Macneil a rodar no filme O Exorcista, regressa aos temas pesados que nos revolvem as entranhas com Killer Joe.
Pode estremecer só de ler o nome. William Friedkin, o mestre do cinema de terror tem um novo filme descrito pela Indiewire como perigoso, obsceno, hilariante e extremamente divertido. Killer Joe está longe de ser pacífico — como o próprio Friedkin. “Eu não sou mesmo nenhuma das minhas personagens, mas todas elas me fascinam de uma maneira ou outra.” revelou à Indiewire, “Já tive o impulso de matar pessoas, mas nunca o fiz, tinha o impulso sobretudo quando era mais novo. Percebo o impulso e percebo que exista uma batalha constante entre os nosso anjos interiores e os nossos espíritos maus para nos controlarem”. Em Killer Joe, Chris (Emile Hirsch) é um traficante de droga com dívidas que vê na morte da mãe uma maneira de as liquidar — matando-a
tem acesso à choruda apólice do seguro. Para isso, e com a ajuda do pai (separado da mãe) e da irmã, contratam Joe Cooper (Matthew McConaughey), um assassino profissional que também trabalha como detective. Incapaz de pagar o serviço antecipadamente, Chris oferece a irmã como garantia. Para que tudo funcione e termine bem para o rapaz uma das mulheres vai ter de morrer. Friedkin volta a adaptar uma peça de Tracy Letts, autor premiado com o Pulitzer em 2008, depois de já o ter feito com Bug. O realizador deu uma entrevista ao Lisbon & Estoril Film Festival em que falou sobre os seus gostos pessoais e as suas motivações cinematográficas. “Gosto de histórias de pessoas que vivem sem alternativas, que têm as costas encostadas à parede.” E continua:“Só faço coisas que
me interessam”. E que material de outros lhe interessam? “Quero muito ver The Master de Paul Thomas Anderson, e tudo o que os irmãos Coen façam é do meu interesse. Não há muitos mais”. Pouco amigo do cinema que se faz actualmente não deixa de ter um desejo que gostaria de ver cumprido: filmar um James Bond.
O realizador foi homenageado em 2011 no Lisbon & Estoril Film Festival.
Principais Festivais: Em Competição no Festival de Veneza 2011 Festival de Cinema de Toronto 2011
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estreias cinema
De Rouille et d’Os de
Jacques Audiard
Duração: 120 min
com Marion Cotillard, Matthias Schoenaerts e Armand Verdure
Depois de O Profeta, galardoado em Cannes em 2009, Jacques Audiard traznos De Rouille et d’Os. Com estreia marcada para 18 de Outubro, o filme será exibido antes, a 14 de Outubro, na Festa do Cinema Francês. O espaço Nimas promove, em parceria, um ciclo dedicado ao realizador. Alain (Matthias Schoenaerts), ex-boxeur, muda-se para casa da irmã com o seu filho Sam. Numa noite conhece Stéphanie (Marion Cotillard) uma treinadora de orcas no Marineland. Deste encontro casual nasce uma amizade que será reforçada quando Stéphanie sofre um acidente violento e torna-se dependente de Alain para regressar à vida normal. Jacques Audiard teve como ponto de partida os contos de Craig Davidson, autor canadiano comparado muitas vezes a Chuck Palahniuk pelo tom sarcástico e negro com que narra as suas histórias. O realizador acha que Davidson consegue descrever muito bem as convulsões do seu tempo. A partir disso, diz ao L’Express, “quisemos fazer um filme sobre duas personagens que não são feitas para amar”. Se num lado da balança está Stéphanie, personagem frágil, doce e de uma densidade emocional inversa à sua estatura; no outro está Alain, um brutamontes de abdominais definidos com bom coração. Audiard, escolheu uma estrela internacional, Marion Cotillard e um actor praticamente desconhecido, Matthias Schoenaerts. A escolha de Cotillard foi fácil: “Há muito que queria trabalhar com ela pela sua força de atracção e sensualidade. Pensei pôr à sua frente um amador, um boxeur real. Mas não havia tempo para prepará-lo e acredito que as cenas mais físicas fossem difíceis de filmar. Principais Festivais: Em Competição no Festival de Cannes de 2012 Festival de Cinema de Cabourg 2012 Festival Internacional de Cinema de Toronto 2012
12 setembro | outubro 2012
Vi Bullhead, com o Matthias. Para mim foi evidente”. A história parece mais convencional que os filmes anteriores, mas para o realizador este é um melodrama que se passa no limite do excessivo. Em conversa com a Cineuropa contou que “estas personagens vêm de uma sociedade que se tornou bárbara, em que as pessoas comem do lixo. Não há nada mais a mostrar que não corpos e violência”. Audiard questiona num elenco pequeno e de narrativa aparentemente simples (mas intensa) algumas das questões mais sensíveis da realidade humana – a deformação, o estigma, o reaprender das emoções e o reiniciar da vida quando esta esteve por um fio. Por vezes, Audiard sente-se cansado, incapaz de combater a indústria cinematográfica, saturada em imagens. Mas depois desdramatiza. “Encontrar maneiras de renovar as formas estéticas ainda é excitante. Basicamente, estou cansado porque fiz 60 anos há pouco tempo”.
estreias cinema
adeus, minha rainha de
Benoît Jacquot
Duração: 100 min
com DIANE KRUGER, LÉA SEYDOUX E VIRGINIE LEDOYEN
Benoît Jacquot vem a Portugal para a antestreia do seu mais recente filme, Adeus, Minha Rainha, no Cinecoa — Festival Internacional de Cinema de Foz Côa. Passa também por Lisboa a propósito do ciclo que lhe é dedicado no Espaço Nimas.
BenoÎt Jacquot
Principais Festivais: Em competição no Festival de Cinema de Berlim 2012 Festival São Francisco 2012 Selecção Oficial de Colcoa 2012
Sabia que... Diane Kruger, actriz que faz de Maria Antonieta, mora em França, a sua língua materna é o alemão e tem uma mãe chamada Maria Teresa tal como a rainha que interpreta.
Adeus, Minha Rainha estreia a 27 de Setembro na abertura do Cinecoa. O realizador francês Benoît Jacquot mostra os últimos dias de Maria Antonieta (Diane Kruger) através do olhar de uma das suas leitoras — amas que liam para os nobres. Geoffrey Macnab, crítico de cinema do The Independent, a propósito do filme de Jacquot diz que este “não tem grandes declarações políticas a fazer. Também não está a querer fazer um melodrama extenso. A sua abordagem é semelhante à de um antropólogo, estuda a tribo nos seus últimos momentos. O resultado é inquietamente fascinante”. Conhecido por filmar períodos históricos de forma exemplar, já o tinha feito em Sade, Le septième ciel e Au fond des bois, o realizador utiliza o passado para, de forma cinematográfica, espelhar o presente. Em entrevista à New York Press afirmou que “por definição, o presente está sempre em combustão. Aproximando-nos do passado conseguimos mostrar coisas que se passam actualmente no mundo.” Quando confrontado sobre a inevitável comparação com outros filmes que abordam o mesmo tema, como Marie Antoinette de Sofia Coppola, Benoît Jacquot é peremptório, “O que tentei fazer no meu filme foi evitar tudo o que remetesse para recriação. É claro que é uma recriação porque não está a desenrolar-se no presente, mas eu queria mesmo evitar a sensação de antigo para que a audiência sentisse que estava a ver aquelas personagens pela primeira e última vez.”. O realizador adaptou o livro homónimo de Chantal Thomas, um premiado manifesto feminino que aborda a aproximação amorosa de Maria Antonieta a duas mulheres. Por causa disso há quem considere 1789 o ano erótico para Benoît Jacquot (Le Monde). Mas a história vai para além do pretenso romance homossexual da rainha. Há uma trama que se desenrola nos bastidores da revolução e nos é dada a ver pela criada, sem juízos morais ou acusadores. Como refere a crítica do The New York Times. “O sr. Jacquot não procura piedade para aqueles mortos-vivos — o filme não é um argumento político nem uma fantasia trivial— mas, tal como faz com Maria Antonieta, ele garante às personagens alguma absolvição pelo facto de lhes reconhecer humanidade”. setembro | outubro 2012 13
estreias cinema
La Folie Almayer DE
Chantal Akerman
Duração: 120 min
com Stanislas Merhar, Aurora Marion, Marc Barbé e Zac Andrianasolo
O filme tem antestreia marcada no espaço Nimas no dia 24 de Outubro. A exibição integra uma retrospectiva dedicada à realizadora belga. Aurora Marion
Chantal Akerman já tinha adaptado palavras de Marcel Proust em A Cativa. O francês, que fazia da cama escritório, questionava-se muito sobre as ideias que surgem quando estamos prestes a adormecer. Agora adapta livremente Almayer’s Folly de Joseph Conrad, um pesadelo agonizante do qual não se consegue acordar. . “Chantal Akerman é uma cineasta, uma videasta, uma designer de instalações de arte contemporânea, uma escritora de ficção e uma documentarista.” Quem faz esta listagem de profissões é Jean-François Rauger, crítico do Le Monde. Mas diz mais. “Não incarnou ela o cinema de hoje que, para se afirmar se tornou uma arte “geneticamente modificada”?”. Almayer é um homem preso a uma terra que não é sua, à filha que adora fruto de uma relação que não quis ter e à inércia que cresce sem que se dê conta. Vive na Malásia à procura de ouro que não existe. Tem uma filha, Nina, com uma in14 setembro | outubro 2012
dígena que enlouqueceu. Tudo vai mal no melhor dos mundos de Almayer. O seu benfeitor envia Nina para um colégio interno europeu para “aprender a ser branca” o que deixa o pai inconsolável. A rapariga regressa enfurecida pelos anos passados longe de casa. O bem mais precioso de Almayer (o ouro que teima em não aparecer é tão insignificante ao pé da filha) acaba por se afastar. “La Folie Almayer aborda os temas “conradianos”: o desenraizamento colonial do homem ocidental, a absorção lenta pela distância, a busca de identidade que não pode ser encontrada, miscigenação, sensações e emoções facilmente associados ao movimento principal e essencial do filme: o amor desmesurado de um homem pela sua filha.”, escreve Rauger. O método de Chantal mantém-se: os planos fixos de longa duração — com um belíssimo pormenor nos minutos finais a confirmar isso —,
um sobe e desce permanente entre abstracção e figuração, um olhar desinteressado sobre o comportamento humano sem julgamentos ou condenações à priori. “Atravessar a fronteira, ou conjecturar sobre estar do outro lado da fronteira, tem sido um tema chave dos filmes da Sra. Akerman. Ela geralmente transparece a força da memória do exílio nos seus movimentos de câmara e enquadramentos, mas aqui a inércia da existência de Almayer é sentida intensamente.”, diz o The New York Times. Almayer não tem a densidade de Kurtz de O Coração das Trevas, o mais conhecido livro de Conrad, sobre a exploração de homens e marfim no Congo. No entanto, partilha com ele o isolamento, de corpo e espírito, de homens perdidos num mato que não é o seu. Principais Festivais: Festival de Veneza - Fora de Competição
Homenagem no Festival de Veneza
OUTRAS estreias programação ESTREIAS cinema
BREVEMENTE em dvd kore-eda Hirokazu Pack 2 Filmes
• Ninguém Sabe 2004 • Andando 2008
o meu maior desejo um filme de Kore-eda Hirokazu com Kiko Maeda, Ohshirô Maeda, Hosinosuke Nagayosi e Kara Uchida.
Koichi tem doze anos e uma curiosidade imensa acerca do mundo. Vive com a mãe em Kagoshima, uma cidade que vive sob a ameaça de um enorme vulcão que emite regularmente nuvens de cinza.
era uma vez na anatólia um filme de Nuri Bilge Ceylan com Muhammet Uzuner, Yimaz Erdogan, Taner Birsel, Ahmet Mumtaz Taylan.
Misterioso e cativante, o filme acompanha, durante uma longa noite, um grupo de polícias e detectives numa busca impiedosa por um cadáver enterrado nas estepes da Anatólia.
COLECÇÃO WOODY ALLEN LANÇAMENTO DE 10 FILMES COM o correio da manhã e a REVISTA SÁBADO
elles Malgorzata Szumowska Anne (Juliette Binoche), é uma jornalista parisiense da Elle, que decide investigar a prostituição estudantil. Depois de conhecer duas estudantes destemidas e desinquietantes, Anne dá por si a repensar a sua relação com o dinheiro, sexo e família. Actores: Juliette Binoche, Anais Demoustier e Joanna Kulig.
ESTREIA 11 OUT astérix e obélix: ao serviço de sua majestade
laurent tirard A dupla de bigodes mais conhecida da banda desenhada volta a ganhar carne e osso. Júlio César invade a “Britannia” e a rainha inglesa, pede ao oficial Anticlimax para procurar ajuda na Gália. Solidários, Astérix e Obélix fazem as malas e atravessam o Canal da Mancha. Actores: Gérard Depardieu, Edouard Baer, Fabrice Luchini e Catherine Deneuve.
ESTREIA 18 OUT
A partir de 27 de Setembro Todas as 5ª feiras por apenas 4.95€
007 skyfall sam mendes
setembro nO TEATRO CAMPO ALEGRE •
JR - WOMEN ARE HEROES
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10 FILMES DE WOODY ALLEN
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TERÇAS-FEIRAS CLÁSSICAS Homenagem a Jean Rouch
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O MEU MAIOR DESEJO
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JERICHOW
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FORA, SATANÁS
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ELENA
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CIRCUS COLUMBIA
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THE HUNTER
No 23º filme da saga, James Bond volta incólume do mundo dos mortos, algo que até era útil para um agente que se quer manter secreto. Em Skyfall, é testada a lealdade de Bond a M — que se vê a braços com o passado — ao mesmo tempo que o MI6 é alvo de ataques. Actores: Daniel Craig, Ralph Fiennes, Helen McCrory, Javier Bardem, Judy Dench e Naomie Harris
ESTREIA 25 OUT
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setembro | outubro 2012 15
9 -18 novembro 2012
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Programa disponĂvel a partir de 15 de Outubro Parceiros Institucionais
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16 setembro | outubro 2012
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