Medeia Magazine 10 - Março e Abril 2014

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Grand Budapest Hotel

Os extraordinários hóspedes de Wes Anderson

The Wind Rises

Beleza e destruição no último filme de Miyazaki

a dois passos do estrelato

Glória tardia para alguns dos maiores prodígios da música

Actrizes atrás das câmaras

Os novos filmes de Fanny Ardant e Valeria Golino

A IMAGEM QUE FALTA

Março | Abril 2014

MARÇO | ABRIL 2014 1 O comovente documentário de Rithy Panh


editorial A Primavera está finalmente a chegar e, com ela, grandes e aguardadas estreias. Prepare-se para voltar a mergulhar no inconfundível imaginário de Wes Anderson, com Grand Budapest Hotel. O realizador reuniu um dos mais ilustres elencos de sempre, neste que é considerado o mais sombrio e mais europeu dos seus filmes. Não perca também as incursões de duas espantosas actrizes no mundo da realização: Fanny Ardant com o seu segundo filme, Cadências Obstinadas, e a estreia de Valeria Golino com Mel. O primeiro, filmado inteiramente em Portugal, conta com interpretações inesquecíveis de Asia Argento, Nuno Lopes e Franco Nero. Em Mel, Golino discorre sobre o suicídio assistido com uma maturidade impressionante. Chega-nos a possível despedida de Miyazaki, uma visão tocante do Japão entre as duas guerras, contada através dos olhos de um jovem aficionado da aeronáutica, que viria a construir uma das maiores máquinas de destruição da História. A Dois Passos do Estrelato revela, através da lente de Morgan Neville, as histórias das vozes escondidas nos coros de ídolos tão célebres como Bruce Springsteen, Stevie Wonder ou Ray Charles. Em A Imagem Que Falta, Rithy Panh regressa à sua difícil infância e recria, utilizando pequenas figuras de barro e imagens de arquivo, o genocídio do povo cambojano pelo regime do Khmer Vermelho. O filme será exibido exclusivamente no Espaço Nimas.

Programação sujeita a alterações de última hora. Confirme sempre em www.medeiafilmes.com Equipa Director: Paulo Branco Edição e Textos: Teresa Pires Design: André Carvalho e Catarina Sampaio Colaboração: Frederico Batista Capa: Grand Budapest Hotel

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MARÇO | ABRIL 2014

Grand Budapest Hotel DE

Wes Anderson

ESTREIA 10 abril

Duração: 99 min

com Ralph Fiennes, Tony Revolori, F. Murray Abraham, Mathieu Amalric,

Adrien Brody, Jeff Goldblum, Bill Murray, Tilda Swinton, Edward Norton, Jude Law, Owen Wilson, Willem Dafoe, Jason Schwartzman, Saoirse Ronan

Wes Anderson, cineasta destemido, traz-nos uma nova e refrescante comédia com cores vivas, personagens extraordinárias e o paradoxo surrealista do enredo e da seriedade com a qual os actores o desenvolvem. Um imaginário que atravessa qualquer um dos lugares, situações ou piadas.

A trama desenrola-se na república ficcionada de Zubrowka, no período entre as duas Guerras Mundiais. Monsieur Gustave H. (Ralph Fiennes), concierge do Grand Budapest Hotel, seduz as clientes idosas enquanto oferece conselhos de vida dúbios a Zero Moustafa (Tony Revolori), o seu jovem discípulo. Quando uma das suas conquistas (Tilda Swinton irreconhecível debaixo de camadas de maquilhagem) morre repentinamente, Gustave torna-se detentor de uma obra de arte de valor inestimável. Segue-se uma longa e frenética caça ao homem, com situações surpreendentes que envolvem um filho possessivo, um polícia céptico convencido de que Gustave cometeu o crime, tias diabólicas e um vilão terrível. Tudo isto num mundo impregnado de nostalgia de uma época passada. E, como estamos na casa de Wes Anderson, a história conta-se em voz off, com os acontecimentos a sucederem-se a alta velocidade, no meio de uma mise en scène hiper-estilizada. Jessica Kiang, da IndieWIRE, questiona-se: “Onde é que, no mundo real, poderíamos encontrar tanto ofício, tanta dedicação à beleza e atenção ao detalhe? Provavelmente em lado nenhum, excepto num filme de Wes Anderson.” Em mãos incautas, esta narrativa complexa e labiríntica podia resultar num filme confuso, mas para o The Guardian, “a disciplina de Anderson como contador de histórias (…) faz com que o filme nunca fuja do seu controlo”. Para além de Ralph Fiennes e Tony Revolori nos principais papéis, o filme conta com um dos elencos mais recheados de estrelas da história do cinema: F. Murray Abraham, Mathieu Amalric, Adrien Brody, Willem Dafoe, Jeff Goldblum, Harvey Keitel, Jude Law, Bill Murray, Edward Norton, Saoirse Ronan, Jason Schwartzman, Tilda Swinton, Léa Seydoux, Tom Wilkinson e Owen Wilson. Até as personagens mais secundárias são interpretadas por grandes actores.


estreias programação cinema ESTREIAS cinema

Grand Budapest Hotel foi o filme de abertura do Festival de Berlim, em Fevereiro passado, no qual arrecadou o Prémio Especial do Júri. Na conferência de imprensa que o realizador e o elenco deram em Berlim, Anderson afirmou que a sua ideia era fazer um filme com a sua própria versão do universo dos livros de Stefan Zweig. Romancista, dramaturgo, poeta e biógrafo, Zweig foi o autor mais traduzido dos anos 20 e 30, acabando por suicidar-se no Brasil – onde viveu depois de decidir exilar-se da Áustria, então sob domínio alemão. Para além de Zweig, a inspiração de Anderson veio também de grandes nomes do cinema dos anos 30, como Ernst Lubitsch, Rouben Mamoulian ou Frank Borzage. Para Justin Chang, da Variety, o filme “é um tributo orgulhosamente analógico às alegrias dos filmes antigos, da literatura esquecida, decoração vintage e tecnologia ultrapassada”.

Ralph Fiennes “Como experiência de actor, foi fantástico. É muito raro participar num filme onde o realizador tem a liberdade de fazer aquilo que quiser.”

Jeff Goldblum “É a experiência Wes Anderson, que é um encantador e delicioso projecto de arte invulgarmente bela.”

Saoirse Ronan

Visualmente deslumbrante, este é, para a Time Out, o filme do realizador que oferece mais gargalhadas e mais energia desde Rushmore (1998). Na IndieWIRE pode ler-se ainda que: “Ao longo dos anos, os filmes de Wes Anderson têm vindo a criar um mundo exuberante e excêntrico que opera na sua própria lógica e Grand Budapest Hotel é excelente a explorá-la. Este filme de época reflecte as sensibilidades de um criador no auge da sua confiança artística.”

“Todos os filmes do Wes fazem-te chorar, rir, ter esperança. Não consigo dizer precisamente como é que ele faz o que faz, mas é um mestre nisso.”

Willem Dafoe “Uma das coisas de que eu gosto mais nos filmes do Wes é que, de certa forma, eles pairam no ar e depois aterram. O que é surpreendente é quão emocionante é essa última parte.”

Bill Murray

Prémios e Festivais: Festival de Cinema de Berlim – Prémio Especial do Júri

“Acho que [os filmes de Anderson] estão cada vez melhores. Neste filme, a história agarra-nos completamente. Não temos a opção de aceitá-la ou rejeitá-la, ela agarra-nos sem darmos conta”.

MARÇO | ABRIL 2014

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ESTREIAS CINEMA

LIÇÕES DE HARMONIA de

Emir Baigazin

ESTREIA 6 março

EXCLUSI

CINEM VO AS

MEDEI a

Duração: 120 min

com Timur Aidarbekov, Aslan Anarbayev, Mukhtar Andassov

CURTA-metragem em complemento do filme:

Primária de Hugo Pedro

Duração: 19 min

Lições de Harmonia centra-se no quotidiano de Aslan, um solitário rapaz de 13 anos que vive com a avó nos arredores de uma pequena localidade do Cazaquistão. Frequenta uma escola onde a violência contrasta com a sua obsessão pelo perfeccionismo. Humilhado em frente aos colegas durante um exame médico escolar, é depois ostracizado e vítima de bullying. Decide elaborar um diabólico plano de vingança contra os seus agressores, tombando numa espiral de violência que vai pôr a sociedade em xeque.

Antes do filme, será exibida o documentário Primária, de Hugo Pedro, vencedor do Prémio MEO no último Lisbon & Estoril Film Festival, que contou com Paul Auster, Siri Hustvedt, J.M. Coetzee, Don DeLillo e Gonçalo M. Tavares como júri. A curta retrata o dia-a-dia de uma turma do quarto ano que inicia o terceiro período escolar e se prepara para os exames nacionais.

Prémios e Festivais: Festival de Cinema de Berlim – Urso de Prata LEFFEST – Prémio Especial do Júri

Prémios e Festivais: LEFFEST - Prémio MEO Festival Córtex - Melhor Curta e Prémio do Público

Yves Saint Laurent Não Há Duas Sem Três de

Jalil Lespert

ESTREIA 3 ABR

Dur: 106 min

de Nick

Cassavetes

ESTREIA 24 abr

com Pierre Niney, Guillaume Gallienne, Charlotte Le Bon

com Cameron Diaz, Leslie Mann, Kate Upton

Com apenas 21 anos, Saint Laurent assume o lugar do seu falecido mentor, Christian Dior, numa das mais prestigiadas casas de alta-costura do mundo. Durante o seu primeiro desfile, conhece Pierre Bergé, de quem se torna amante e, três anos depois, sócio na criação da marca Yves Saint Laurent. Apesar dos seus demónios interiores e da dependência do álcool e das drogas, o icónico estilista está prestes a revolucionar o mundo da moda.

Depois de descobrir que o homem com quem tem uma relação é casado, uma advogada (Cameron Diaz) tenta estabilizar a sua vida. Mas quando conhece a mulher que ele traiu (Leslie Mann), percebe que têm muito mais em comum do que ela poderia pensar e as duas tornam-se grandes amigas. Quando descobrem uma segunda amante (Kate Upton), juntam-se a ela e planeiam uma vingança contra o homem que as enganou.

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MARÇO | ABRIL 2014


estreias cinema

Cadências Obstinadas de

Fanny Ardant

ESTREIA 27 MARÇO

EXCLUSI

CINEM VO AS

MEDEI a

Duração: 96 min

com Asia Argento, Nuno Lopes, Ricardo Pereira, Franco Nero, Gérard Depardieu

A segunda longa-metragem realizada por Fanny Ardant, musa do cinema francês, trata o fim do amor, a desilusão e o desespero com uma honestidade rara.

Produzido por Paulo Branco e filmado inteiramente em Portugal, Cadências Obstinadas conta com um elenco de actores de, pelo menos, cinco nacionalidades diferentes, entre grandes estrelas do cinema mundial, como Asia Argento e Gerárd Depardieu, e actores portugueses consagrados. Carmine (Franco Nero) propõe a Furio (Nuno Lopes), um arquitecto brilhante, que restaure, em apenas quatro meses, um antigo hotel em ruínas. A sua mulher, Margo (Asia Argento), que por ele abandonou uma carreira promissora como violoncelista, apoia-o incondicionalmente, pensando que esta pode ser uma oportunidade de fazer renascer a paixão. Mas, ao contrário do que esperava, Furio perde-se no trabalho e negligencia-a, levando Margo a pensar que ele já não a ama. Cada vez mais desesperada, conhece Gabriel (Tudor Istodor), um jovem artista que a faz sentir-se valorizada. À medida que o grande dia da inauguração se aproxima, as tensões acumulam-se e o drama está está latente. Cadências Obstinadas teve a sua estreia mundial no Lisbon & Estoril Film Festival, em Novembro passado. Na apresentação do filme, no Cinema Medeia Monumental, Fanny Ardant afirmou que, curiosamente, os actores sempre lhe meteram medo. “Não gosto de um realizador que quer controlar tudo. Gosto de um que me dê confiança e me deixe voar. Fiz isso, ao mesmo tempo que tentei revelar-lhes algo que lhes estava a passar ao lado”. Para Nuno Lopes esta foi “uma experiência difícil, muito intensa e, ao mesmo tempo, uma grande aprendizagem”. “Quando trabalhamos um personagem, somos também realizadores.

Com a Fanny, senti a liberdade de trabalhar o Furio em conjunto, através das repetições que íamos fazendo das cenas.” Para Fanny Ardant, a inspiração para Cadências Obstinadas surgiu de uma frase de Marguerite Duras: “Esperar pelo amor já é o amor”. “Aquilo que existe para além do que se acredita, esta distância entre o ideal e a realidade”, explica a realizadora. Este é um filme de contrastes: o fim de um sentimento e a reconstrução do hotel, a dedicação de Furio ao trabalho e a persistência inabalável de Margo em amar e ser amada, o passado feliz e promissor e o presente angustiante. Ao sacrificar a música, a violoncelista exige que a sua relação funcione como recompensa pela sua perda e é essa imposição que acaba por criar tensões entre o casal. A arte e o amor tornam-se opostos. Ardant afirma que “Margo acreditou no amor. Ela traiu a música. Carrega essa traição como uma ferida pela qual é a única responsável”. Sobre a participação de Gerárd Depardieu, a realizadora e argumentista revela que ele “apareceu, mesmo assim, numa noite de Inverno. Interpretou o papel de um padre que é como um Anjo da Guarda, que ouve, que compreende sem julgar, que espera”. “Melhor do que Cinzas e Sangue, o primeiro filme da actriz, Cadências Obstinadas, um mosaico barroco à volta da arte e da paixão, mistura violência e lirismo num impressionante tornado pictórico e sonoro. Um belo exercício de estilo”, escreve Marie-Elisabeth Rouchy, do Le Nouvelle Observateur. MARÇO | ABRIL 2014

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ESTREIAS CINEMA

NOé de

ESTREIA 10 abril

Darren Aronofsky

Dur: 132 min

com Russell Crowe, Jennifer Connelly, Anthony Hopkins

Fascinado pela figura de Noé desde criança, o realizador do premiado Cisne Negro vê concretizado o épico que sempre quis fazer. Quando, depois da sua aclamada estreia com Pi (1998), Aronofsky falou acerca deste projecto à produtora Lynda Obst, ela perguntou de imediato se ele sabia em que é que se estava a meter. Realizar um épico desta dimensão, pegar num tema bíblico e tentar agradar a crentes de várias religiões, assim como a ateus, é, no mínimo, uma tarefa árdua. Como tal, mesmo antes da sua estreia, o filme já está a gerar polémica junto das comunidades católicas e judaicas dos Estados Unidos, devido às imagens de promoção e a algumas projecções teste que foram realizadas. Em entrevista ao The Guardian, em Abril de 2007, o realizador confessou que a figura de Noé o fascina desde os 13 anos. Quando andava na escola em Brooklyn, uma professora inspirou-o a escrever um poema sobre a paz, contando a história da pomba que guia o caminho da arca de Noé. O poema venceu uma competição das Nações Unidas, o que fez com que o futuro cineasta começasse a levar mais a sério as suas capacidades

Jovem e Bela de

François Ozon

criativas. Aronofsky conseguiu encontrar a professora que despertou o seu interesse por Noé e convenceu-a a desempenhar um pequeno papel no filme. Na mesma entrevista ao jornal inglês, o realizador explicou que o seu interesse por Noé advém do facto de esta ser “uma personagem obscura, complicada” que experienciou “a culpa real do sobrevivente”, depois do dilúvio. O actor principal, Russel Crowe, considera que “a imagem de Noé sempre foi a de um homem benevolente. Não concordo: ele viu a população da terra ser completamente devastada, foi escolhido porque conseguia fazer aquele trabalho, não por ser um homem bom. O filme vai surpreender muita gente”. Aronofsky garante que, se as pessoas tiverem abertura para comunicar com os temas do filme (a esperança, as segundas oportunidades e a família), esta vai ser uma experiência incrível.

EXCLUSI VO

CINEM

MEDEIAS a

ESTREIA 17 ABR

com Marine Vacth, Géraldine Pailhas, Frédéric Pierrot Dur: 95 min

Depois de Dentro de Casa, o realizador assina um filme perturbador sobre uma jovem que se prostitui sem razão aparente. Não há respostas fáceis no cinema de Ozon. Em Jovem e Bela, observamos a história de Isabelle (a estreia de Marine Vacth), uma adolescente de 17 anos proveniente de uma família burguesa, que decide tornar-se uma prostituta de luxo. Isabelle não é pobre, não existem provas evidentes de qualquer tipo de abuso e todos os problemas que tem em casa são normais naquela idade. Mesmo assim, percebe-se desde o início do filme que tem uma relação estranha com o sexo, a intimidade, o seu corpo e os homens. A revista francesa Next tenta explicar: “Jovem e Bela não nos dá uma lição de moral e não afirma nada acerca de uma geração que é muitas vezes definida levianamente como desencantada. No fundo, Isabelle ignora as razões pelas quais se submete àquela violência, a não ser o facto de, pela primeira vez na sua vida, ela não ter de prestar contas a ninguém que não a si mesma”. As quatro estações do ano pontuam o filme, do Verão à Primavera, e a cada uma 6

MARÇO | ABRIL 2014

é atribuída uma canção de Françoise Hardy. Na primeira parte, vemos Isabelle perder a virgindade durante as férias com a sua família; no Outono, inscreve-se numa agência de acompanhantes de luxo através de um site e começa a encontrar-se com homens em quartos de hotel; o Inverno mostra-nos as consequências das suas acções. Jovem e Bela termina na Primavera, tempo de renovação. Com este filme, que esteve em competição no último Festival de Cannes, Ozon continua a explorar a adolescência como uma idade de descobertas inquietantes, um dos seus temas predilectos. Nas palavras do realizador, esta é uma tentativa “de tentar compreender uma personagem, acompanhá-la, descobrir os seus mistérios e, mesmo que pareça escandaloso, não a julgar”. Prémios e Festivais: Festival de Cannes - Selecção Oficial (Competição)


estreias cinema

Prince Avalanche Fim-de-Semana de David Gordon Green com Paul Rudd, Emile Hirsch

ESTREIA 3 ABR

EXCLUSI VO

CINEM

MEDEIAS a

Dur: 94 min

O realizador norte-americano regressa às origens do seu cinema com uma história protagonizada por Paul Rudd e Emile Hirsch.

Dois homens com personalidades bem diferentes têm de trabalhar juntos na renovação da sinalização de algumas estradas rurais no estado do Texas. E assim está lançado o promissor ponto de partida para o novo filme de David Gordon Green, baseado no filme islandês Á annan veg (ou Either Way). Com a sua longa-metragem de estreia, George Washington, Gordon Green foi premiado nos festivais de Toronto e Turim e recebeu ainda o prémio de Melhor Primeiro Filme da Associação de Críticos de Nova Iorque. Tornou-se, num instante, um dos nomes a seguir na cinematografia independente norte-americana. Depois de um desvio pelas comédias mainstream (como a divertida Alta Pedrada – ou Pineapple Express), Prince Avalanche marca um regresso à escala íntima e humana que caracterizava os seus filmes iniciais. No coração deste filme existencialista mas bem-humorado está uma história sobre dois homens que, em etapas diferentes da sua vida, se debatem com as variações desse processo melindroso chamado crescimento. O próprio realizador reconhece a dificuldade: “Eu ainda tenho 11 anos. De vez em quando, tento fingir que tenho 39, mas isso não funciona muito bem.” O crítico Tom Huddleston, da Time Out London, não tem dúvidas em considerar Prince Avalanche como “um dos mais intrigantes e profundos filmes americanos do ano”. Sabia que... A música do filme conta com a colaboração dos Explosions in the Sky, que estiveram na origem do filme. O realizador partilhou com o grupo a ideia de fazer um filme pequeno. O baterista falou-lhe do Parque Bastrop, no Texas, devastado por um incêndio florestal. “Fui lá no dia seguinte e disse ‘Quero fazer um filme aqui’”, revelou o realizador.

Prémios e Festivais: Festival de Berlim - Urso de Prata: Melhor Realizador Festival de Sitges – Selecção Oficial

em Paris ESTREIA 6 MARÇO

de Roger

Michell

Dur: 93 min

com Jim Broadbent, Lindsay Duncan, Jeff Goldblum

O realizador de Notting Hill e o argumentista Hanif Kureishi reúnem-se pela quarta vez nesta que é, para a Time Out, a sua colaboração “mais forte até agora”.

Tão impregnado de realidade que chega a ser desarmante, Fim-de-Semana em Paris explora as complexidades de um casamento longo, as tensões corrosivas, a intimidade e a cumplicidade de uma vida partilhada. Nick (Jim Broadbent) e Meg (Lindsay Duncan) Burrows são um casal de académicos que viaja para Paris, com o objectivo de celebrar 30 anos de casamento e tentar reavivar o romance e a paixão na mesma cidade onde passaram a lua-de-mel. A viagem corre mal desde o início. Nick reserva um quarto no mesmo hotel onde tinham ficado trinta anos antes, mas Meg rejeita sumariamente o quarto por ser demasiado bege. Continuam nesta dança entre a harmonia e a discordância feroz, ao mesmo tempo que fazem um balanço de metade de uma vida inteira em comum. A tensão é exacerbada quando encontram Morgan (Jeff Goldblum), um colega de Cambridge de Nick. “Kureishi e Michell desenham um contraste irónico e astuto entre o casal de resmungões e o amigo americano, um escritor bem-sucedido e charmoso. Este último aparentemente tem tudo – uma esposa jovem, dinheiro, estatuto –, mas ainda assim inveja a sua muito britânica miséria”, escreve Geoffrey Macnab no The Independent. Para a Time Out, Fim-de-Semana em Paris é “muito engraçado e filmado um pouco por toda a cidade com energia e inteligência, impulsionado pelas excelentes interpretações de Broadbent e Duncan. O filme encara de frente este tema triste, sem se apoiar em sentimentalismos e sem apresentar soluções gratuitas”. Prémios e Festivais: Festival de San Sebastián – Melhor Actor

MARÇO | ABRIL 2014

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programação

espaço nimas

SACRO GRA

a sua sala de cinema independente

de

Já pode visitar o café e o novo Espaço Medeia, que apresenta, desde 1 de Março, no Espaço Nimas, uma selecção dos melhores DVD, os últimos lançamentos e promoções exclusivas. No início de Abril, estreia-se A Imagem Que Falta, de Rithy Panh, uma recriação dos anos de terror em que o Camboja foi governado pelo regime do Khmer Vermelho, responsável por um genocídio que vitimou cerca de dois milhões de pessoas entre 1975 e 1979. Sacro GRA, o primeiro documentário a vencer o Leão de Ouro no Festival de Veneza, chega no mesmo mês ao Espaço Nimas. Ao volante da sua carrinha, Gianfranco Rosi foi conhecer as histórias incríveis dos habitantes do GRA (Grande Raccordo Anulare de Roma), a auto-estrada que circunda a capital italiana. Ambos os filmes são exibidos em exclusivo no Espaço Nimas.

ciclo ingmar bergman Se ainda não foi ver com os seus próprios olhos o “fenómeno” que está a acontecer no Espaço Nimas, desde Janeiro, pode fazê-lo até ao final de Abril. Com várias sessões esgotadas, o ciclo Ingmar Bergman já levou mais de 15 000 espectadores ao cinema da Avenida 5 de Outubro. Pode consultar a programação completa do ciclo em www.medeiafilmes.com

Programação sujeita a alterações de última hora. Confirme sempre em www.medeiafilmes.com 8

MARÇO | ABRIL 2014

Gianfranco Rosi

ESTREIA 17 abr

EXCLUSI

CINEM VO AS

MEDEI a Dur: 93 min

O primeiro e imperdível documentário a vencer o Leão de Ouro, distinção mais importante do Festival Internacional de Cinema de Veneza, chega em Abril ao Espaço Nimas.

Gianfranco Rosi é um perfeccionista que conta as histórias daquilo que não é possível observar à primeira vista. Entre 1985 e 2014, realizou apenas 5 filmes porque “o documentário só se pode filmar quando se reproduz à frente da câmara exactamente aquilo que imaginámos que podia acontecer”. Sacro GRA foca-se nas vidas marginais dos habitantes do GRA (Grande Raccordo Anulare de Roma), a auto-estrada urbana mais extensa de Itália. Este não é um motivo de orgulho: todos os desafortunados que têm de entrar em Roma de carro sabem que vão gastar pelo menos uma hora no trânsito do temível GRA. Rosi passou mais de dois anos numa carrinha a percorrer os 68,2 quilómetros, de um lado para o outro, e a filmar o que ia encontrando: Drag queens, um aristocrata falido, um botânico que tenta combater os parasitas que atacaram as palmeiras, um pescador que se queixa dos jornalistas. O protagonista é, de alguma forma, um jovem paramédico que frequentemente tem de percorrer o GRA para prestar auxílio às vítimas de acidentes de aviação. “As personagens recorrentes, quase todas engraçadas duma forma absurda e delicada, fazem deste filme inteligente um curioso outsider no panorama do cinema italiano”, escreveu Deborah Young, do The Hollywood Reporter. Aquando da sua presença no Lisbon & Estoril Film Festival, em Novembro passado, Rosi afirmou que “3 milhões de pessoas vivem, hoje em dia, à volta desta estrada, que se tornou a nova Roma. Foi muito difícil começar a encarar este novo mundo… era esmagador. O que fiz foi tentar criar um vazio e depois começar a preenchê-lo com pequenas histórias”. Rosi inspirou-se no livro Cidades Invisíveis, de Italo Calvino, no qual o autor imagina Marco Polo a descrever as suas viagens ao imperador Kublai Khan. Como no livro, o filme deixa muito espaço para o espectador interpretar o que vai acontecendo e para fazer os julgamentos que pretender. Prémios e Festivais: Festival de Veneza - Leão de Ouro Lisbon & Estoril Film Festival - Selecção Oficial - Fora de Competição


PROGRAMAÇÃO

A Imagem Que Falta de

Rithy Panh

ESTREIA 3 abr

EXCLUSI

CINEM VO AS

MEDEI a

Dur: 92 min

Um dos mais tocantes documentários de 2013 vai chegar em Março aos cinemas portugueses, em exclusivo no Espaço Nimas.

O realizador Rithy Panh, um dos mais notáveis documentaristas da actualidade, tem erguido uma obra assombrosa que tem o genocídio do povo cambojano pelo regime do Khmer Vermelho como tema central. Em A Imagem que Falta, o seu mais recente filme que agora chega aos cinemas, Panh debateu-se com uma nova questão sobre este crime que vitimou milhões de cambojanos, incluindo a sua família mais próxima. “[Foi] um homicídio em massa que não deixou imagens. Eu estava à procura da ‘imagem que falta’. No entanto ela existe sobretudo na minha cabeça”, afirmou o realizador. “Pedi a um escultor para me fazer um pequeno homem utilizando a terra como material. Quando vi nascer aquela personagem a partir do barro soube que essa

‘imagem que falta’ estava ali. Foi surgindo o universo terrível desses anos. Fiquei perturbado ao ver a vida brotar da mesma terra onde repousam os mortos.” Durante o Festival de Cannes, o crítico de cinema João Lopes escreveu que “raras vezes se terá visto um filme que, através de matérias tão candidamente artificiosas, consiga gerar um tão intenso e perturbante efeito de verdade.”

Prémios e Festivais: Óscares - Nomeado para Melhor Filme Estrangeiro Festival de Cannes - Prémio Un Certain Regard European Film Awards - Nomeado para Melhor Documentário

Espaço Nimas ...............

Abertura

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Visite o novo Espaço Medeia no Espaço Nimas Um café e uma loja de DVD com os últimos lançamentos e promoções exclusivas www.medeiafilmes.com Confirme sempre em www.medeiafilmes.com

facebook.com/espaconimas MARÇO | ABRIL 2014 9


10 MARÇO | ABRIL 2014


estreias cinema

Mãe e Filho de

Calin Peter Netzer

EXCLUSI VO

CINEM

MEDEIAS a

ESTREIA 27 MAR

com Luminita Gheorghiu, Bogdan Dumitrache, Natasa Raab Dur: 112 min

A terceira longa-metragem de Calin Peter Netzer, Urso de Ouro em Berlim, atesta a decadência humana da Roménia e, ao mesmo tempo, o excelente estado do seu cinema. Com 60 anos, Cornelia (Luminita Gheorghiu) é uma arquitecta pertencente à alta sociedade da cidade de Bucareste e, aparentemente, a vida parece sorrir-lhe. Tudo seria perfeito se não fosse a relação controladora e tempestuosa que tem com o seu filho, Barbu (Bogdan Dumitrache). Numa noite particularmente fria de primavera, Barbu conduz o seu carro, vagueando pelas ruas a 50 km/h acima do limite legal, e atropela uma criança, que morre imediatamente após o acidente. Barbu incorre numa pena de três a quinze anos de prisão. Cornelia decide intervir e começa uma campanha para salvar o filho, pensando que, assim, pode voltar a ganhar o seu amor. Para Peter Bradshaw do The Guardian, “a história vai além do thriller, para algo muito mais profundo: a narrativa cheia de suspense revela uma crise espiritual. Cornelia

tem de lidar com um tipo terrível de perda, de fracasso e com a necessidade de confrontar-se com a sua própria culpa. Um trabalho desafiante e inteligente”. Mãe e Filho esboça um retrato de uma Roménia à beira do caos, da qual Cornelia se torna o símbolo decadente. Luminita Gheorghiu desempenha este papel de uma forma fenomenal, concedendo à sua personagem uma réstia de humanidade. O Le Monde afirma que o filme de Calin Peter Netzer oferece “um conflito moral agudo, uma descrição mordaz da decadência das elites nacionais, um cenário equilibrado, grandes actores e, finalmente, um twist que o irá deixar sem fôlego”. Prémios e Festivais: Festival de Berlim – Urso de Ouro

A DOIS PASSOS DO ESTRELATO de Morgan Neville EXCLUSI VO

CINEM

MEDEIAS a

ESTREIA 10 ABR

Dur: 91 min

No novo documentário de Morgan Neville, os holofotes são pela primeira vez apontados para as backup singers de algumas das maiores lendas da história da música. “Há um poder naquilo que nós fazemos, mas ninguém reconhece isso”, afirma a certo ponto a cantora Janice Pendarvis. Ninguém, até agora. O realizador reuniu entrevistas, excertos de concertos, imagens de arquivo espectaculares, neste que, para a Hollywood Reporter, é “mais que um tributo. É o reconhecimento do talento e sacrifício que muitas destas vocalistas investiram nas suas difíceis carreiras”. Foram entrevistadas mais de 50 pessoas, incluindo grandes estrelas da música como Mick Jagger, Stevie Wonder, Bruce Springsteen, Sting e Sheryl Crow (também ela uma antiga backup singer). Mesmo assim, o que fica na memória são os maravilhosos depoimentos daquelas de quem conhecemos as vozes, mas não os nomes: Darlene Love, Lisa Fischer, Merry Clayton, Claudia Lennear, Tata Vega, Judith Hill, entre tantas outras. Sem elas, grandes êxitos como Young Americans, de David Bowie, ou Walk on the Wild Side, de Lou Reed, nunca teriam alcançado o seu nível de perfeição. Sem a magnífica contribuição vocal de Merry

Clayton, Gimme Shelter, música icónica dos Rolling Stones, ficaria tão despida como se retirassem a guitarra de Keith Richards. Entrevistado no mesmo estúdio onde gravaram o álbum de 1969, Mick Jagger recorda a sua reacção quando ouviu aquela voz: “Era tudo simplesmente prodigioso.” A distância entre o coro e o vocalista é curta, mas são dois passos que representam o abismo que separa a glória da sombra, os milhões de euros na conta bancária das remunerações ocasionais, o estatuto de lenda imortal do anonimato total. O New York Times escreve: “Este generoso e fascinante documentário sobre as carreiras de backup singers, a maior parte mulheres afroamericanas, procura rescrever a história da música pop, focando a atenção nas suas vozes que são, ao mesmo tempo, marginais e vitais.” Prémios e Festivais: Óscares - Nomeado para Melhor Documentário

MARÇO | ABRIL 2014 11


ESTREIAS CINEMA

MEL

de

Valeria Golino

com Jasmine Trinca, Carlo Cecchi

Dur: 96 min

EXCLUSI VO

CINEM

MEDEIAS a

ESTREIA 13 mar

Depois de Maio de Olivier

Assayas

EXCLUSI VO

CINEM

MEDEIAS a

ESTREIA 24 ABR

Depois de muitos anos dedicados à representação, a estreia de Valeria Golino como realizadora prova que está pronta para brilhar também neste papel.

com Clément Métayer, Lola Créton, Félix Armand

Irene (Jasmine Trinca) vive sozinha numa casa à beiramar, não muito longe de Roma. Viaja uma vez por mês para o México para comprar barbitúricos ilegais. Usando o nome de código Miele, ou “Mel”, Irene entrega as drogas a pacientes em estados terminais, oferecendo-lhes uma morte sem dor, em troca de um envelope cheio de dinheiro. Acredita que cada um tem o direito de acabar com o seu próprio sofrimento, se assim o entender. Depois de entregar os comprimidos a um arquitecto de idade avançada, Grimaldi (Carlo Cecchi), descobre que ele não está doente, mas apenas aborrecido com a vida. Enfurecida com o homem por utilizar os seus serviços para cometer suicídio, ela visita-o e tenta retirarlhe as drogas mortais. A partir desse momento, Irene e Grimaldi ficam reféns de uma amizade tensa e invulgar. Para Kevin Jagernauth, da IndieWIRE: “A morte e o direito de escolher morrer irão sempre provocar um debate aceso e Mel não tenta resolver essa discussão. Em vez disso, enfatiza tranquilamente que pode existir graciosidade na morte, não interessa em que circunstância. Para aqueles que ficam, a aceitação de que, por vezes, não podemos controlar a partida das pessoas que nos são próximas é uma lição que pode inspirar-nos a abraçar a vida que temos à nossa frente”. A cineasta justifica o seu interesse por esta história com facto de, de alguma forma, o assunto dizer respeito a toda a gente. Golino considera que já trabalhou com grandes realizadores e que cada um deles lhe ensinou algo. À actriz principal deu tudo o que gostaria de ter recebido enquanto actriz, como afirmou em entrevista à Filmmaker Magazine: “Penso que a fiz sentir-se protegida e nunca julgada, de modo a dar-lhe uma sensação de liberdade. Isso foi o que sempre quis de um realizador: liberdade e protecção”.

O realizador tinha apenas 13 anos quando se deu o Maio de 68 e não estava em Paris nessa altura. Viveu a sua juventude na década seguinte: aquela que não teve de lidar com a revolução, mas sim com a sua ressaca, com o que ficou quando as pedras da calçada voltaram a assentar. “Sê realista: exige o impossível” era o mote de 68 e os adolescentes do filme de Assayas, demasiado jovens para terem participado na revolução, confrontam-se com as contradições latentes de um impulso utópico que falhou. O antigo crítico de cinema partiu para o filme com as suas experiências bem vívidas na memória: “Muitos dos acontecimentos são reais, muitas personagens são inspiradas em pessoas concretas. Mesmo o diálogo com o pai é bastante parecido com o tipo de conversas que tinha com o meu, na altura”. Depois de Maio é, assim, uma representação, uma visita guiada a uma recriação da juventude do cineasta. O elenco do filme é composto por um conjunto de jovens actores praticamente desconhecidos do grande público. Numa entrevista à IndieWIRE, Assayas revelou ter–se apercebido de uma grande diferença no que diz respeito ao envolvimento político da sua geração e da dos seus actores. “Eles não acreditam na política. Mas é natural. Como é que podem acreditar se os políticos não param de dizer que não conseguem fazer nada? Não podem fazer nada contra o aquecimento global, não podem fazer nada contra a crise financeira, não podem fazer nada contra a especulação imobiliária…” Depois de Maio é “uma ode formidável à juventude de todas as épocas, de todos os tempos”, escreveu o crítico Serge Kaganski, na revista Les Inrockuptibles. “Magnificamente escrito, elegante e classicamente filmado”.

Prémios e Festivais: Festival de Cannes - Secção Un Certain Regard Finalista - Prémio LUX

12 MARÇO | ABRIL 2014

Dur: 122 min

Assayas regressa à década de 70 para o retrato de uma geração que é também a sua.

Prémios e Festivais: Festival de Veneza – Melhor Argumento


estreias cinema

The Wind Rises de

Hayao Miyazaki

ESTREIA MARço

Duração: 126 min

com vozes de Hideaki Anno, Miori Takimoto, Hidetoshi Nishijima

O 11º e, alegadamente, último filme de Hayao Miyazaki, génio japonês da animação, oferece um retrato vívido e fantástico do Japão entre as duas guerras, devastado pela Grande Depressão, uma epidemia de tuberculose e o terrível terramoto que, em 1923, destruiu Tóquio.

The Wind Rises conta a história de Jiro Horikoshi, um engenheiro aeronáutico cujos projectos levaram à construção do Mitsubishi A6M Zero, o principal caça da marinha japonesa. Este avião provocou um efeito devastador durante a II Guerra Mundial, nomeadamente no ataque a Pearl Harbor e em missões kamikaze. Apesar de o filme conter uma forte mensagem pacifista, Miyazaki foi alvo de críticas brutais no seu país e no estrangeiro. Na Coreia do Sul, o realizador – mundialmente adorado por criar animações como O Meu Vizinho Totoro e A Viagem de Chihiro (vencedora de um Óscar, em 2003) – foi acusado de fazer a apologia de armas de guerra, glorificando o criador de um dos símbolos mais poderosos da II Guerra. No Japão, Miyazaki foi apelidado de “traidor” e “anti-japonês”. Ainda assim, The Wind Rises foi o filme mais lucrativo no seu país, em 2013. Muito antes da estreia, o realizador já estava plenamente consciente da polémica que iria desencadear, mas tinha as suas razões, como explicou à Cut Magazine, em 2011: “Jiro Horikoshi era o homem mais talentoso do seu tempo”. “Ele não estava a pensar em armas – tudo o que queria era fazer aviões espantosos”. Questionado acerca da contradição entre ser declaradamente anti-guerra e, ao mesmo tempo, um apaixonado pelo Zero, que é essencialmente uma máquina de destruição, Miyazaki afirmou que o amor por armamento é uma manifestação de traços da infância num adulto. Enquanto criança, tinha uma saúde muito frágil, o que fez com que ficasse fascinado por tudo aquilo que expressasse força

e poder. Desenhava quase exclusivamente aviões, tanques e navios de guerra. Para o cineasta, aquele modelo simboliza a psique colectiva de uma geração de homens que, como ele, cresceram durante um certo período e têm sentimentos complexos em relação à II Guerra Mundial. Considera que o seu país partiu para a guerra por arrogância insensata, mas que, apesar das dificuldades e da humilhação que daí advieram, o Zero representa uma das poucas coisas de que os japoneses se podem orgulhar. Para Fran Krause, professor de cinema de animação no Instituto de Artes da Califórnia, “a maior preocupação é que as pessoas façam julgamentos sobre o filme antes de o verem. Existe muita subtileza no trabalho de Miyazaki e este filme em particular requer o benefício da dúvida que hoje em dia as pessoas raramente possuem”. Jean-Baptiste Morain, da revista Les Inrockuptibles, afirma que este é o filme “mais realista e, sem dúvida, mais pessoal” do realizador. “A complexidade de sentimentos expressos diversas vezes nesta verdadeira obra-prima deverá reconciliar-nos a todos com o cinema, convencer-nos da sua modernidade total e da sua capacidade de nos fazer sonhar”, acrescenta.

Prémios e Festivais: Óscares - Nomeação para Melhor Filme de Animação Festival de Veneza – Selecção Oficial

MARÇO | ABRIL 2014 13


programação

TEATRO CAMPO ALEGRE O destaque na programação da Medeia Filmes no Porto nos meses de Março/Abril vai para o ciclo dedicado a Ingmar Bergman, iniciado ainda durante o mês de Fevereiro, e que lhe dará a ver, ao longo de várias semanas, 17 filmes do realizador sueco, 10 deles em cópias restauradas. No hall do cine-estúdio poderá visitar uma exposição de fotografias dos filmes, da colecção do Museu do Cinema de Melgaço Jean-Loup Passek. Em Abril regressam as “Terças-feiras Clássicas”, com um ciclo dedicado a Marguerite Duras, no centenário do seu nascimento, numa colaboração com o Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa, da FLUP, no âmbito do programa “Cem Anos de Marguerite Duras: Palavras e Imagens da Insistência”. Teremos ainda, em exclusivo, as estreias dos filmes de Fanny Ardant, Olivier Assayas, Valeria Golino, Emir Baigazin, Rithy Pahn, Denis Côté e Gianfranco Rosi.

Programação sujeita a alterações de última hora. Confirme sempre em www.medeiafilmes.com 14 MARÇO | ABRIL 2014

ESTREIAs TEATRO CAMPO ALEGRE LIÇÕES DE HARMONIA de Emir Baigazin CADÊNCIAS OBSTINADAS de Fanny Ardant DEPOIS DE MAIO de Olivier Assayas MEL de Valeria Golino A IMAGEM QUE FALTA de Rithy Pahn VIC E FLO VIRAM UM URSO de Denis Côté SACRO GRA de Gianfranco Rosi

ingmar bergman 1 MAR > 2 ABR A MÁSCARA às 15h30, 18h30 e 22h00 2 Março O SÉTIMO SELO às 15h30, 18h30 e 22h00 3 Março EM BUSCA DA VERDADE às 18h30 e 22h00 4 Março O SILÊNCIO às 18h30 e 22h00 5 e 6 Março CENAS DA VIDA CONJUGAL às 18h15 e 21h30 7 Março O RITUAL às 18h30 e 22h00 8 Março DA VIDA DAS MARIONETAS às 15h30, 18h30 e 22h00 9 Março SORRISOS DE UMA NOITE DE VERÃO às 15h30, 18h30 e 22h00 10 Março UMA LIÇÃO DE AMOR às 18h30 e 22h00 11 e 12 Março LÁGRIMAS E SUSPIROS às 18h30 e 22h00 13 e 14 Março MORANGOS SILVESTRES às 18h30 e 22h00 15 Março MÓNICA E O DESEJO às 15h30, 18h30 e 22h00 16 Março SONATA DE OUTONO às 15h30, 18h30 e 22h00 17 Março O OLHO DO DIABO às 18h30 e 22h00 18 Março O SILÊNCIO às 18h30 e 22h00 19 e 20 Março FANNY E ALEXANDRE às 18h00 e 21h30 21 Março A PRISÃO às 18h30 e 22h00 22 Março UM VERÃO DE AMOR às 15h30, 18h30 e 22h00 23 Março CENAS DA VIDA CONJUGAL às 15h00, 18h15 e 21h30 24 Março O RITUAL às 18h30 e 22h00 25 Março UMA LIÇÃO DE AMOR às 18h30 e 22h00 26 e 27 Março A MÁSCARA às 18h30 e 22h00 28 Março DA VIDA DAS MARIONETAS às 18h30 e 22h00 29 Março EM BUSCA DA VERDADE às 15h30, 18h30 e 22h00 30 Março LÁGRIMAS E SUSPIROS às 15h30, 18h30 e 22h00 31 Março SORRISOS DE UMA NOITE DE VERÃO às 18h30 e 22h00 1 e 2 Abril O SÉTIMO SELO às 18h30 e 22h00 1 Março

Bilhetes: 5

euros (na compra de 4 bilhetes oferecemos o quinto)


estreias estreias programação cinema cinema

últimos lançamentos em dvd A VIDA DE ADÈLE: CAPÍTULOS 1 E 2 edição especial 2 dvd

um filme de Abdellatif Kechiche com Adèle Exarchopoulos e Léa Seydoux

Aos 15 anos, Adèle nem sequer questiona este facto: uma rapariga namora com rapazes. A vida dela vai dar uma volta quando conhece Emma, uma rapariga jovem e de cabelo azul, que lhe vai permitir descobrir o desejo e afirmar-se como mulher, e como adulta. Adèle cresce, procura-se a si mesma, perde-se e eventualmente reencontra-se... A Leopardo Filmes edita em DVD o filme vencedor da Palma de Ouro 2013 numa edição de luxo de dois discos: cenas cortadas inéditas, entrevista ao realizador e a Adèle Exarchopoulos, masterclass de Abdellatif Kechiche no Lisbon & Estoril Film Festival, no passado mês de Novembro, e ainda uma galeria de fotografias e clipping. Mais de uma hora de extras sobre o filme que a crítica seleccionou unanimemente como um dos melhores do ano 2013.

O DESCONHECIDO DO LAGO

EXCLUSI VO

Vic + Flo Viram Um Urso MCINEMAS EDEI De Denis Côté Victoria acabou de sair da prisão. Sob a supervisão de um jovem agente que vigia a sua liberdade condicional, ela muda-se para uma cabana na floresta, enquanto aguarda a chegada de Florence, sua amante e ex-colega de cela. Acontece que Victoria e Florence, tal como todos os heróis de Denis Côté, têm uma personalidade particular e a sua reintegração social revela-se difícil.

ESTREIA 20 MARÇO

Marretas Procuram-se

um filme de Alain Guiraudie

De James Bobin

com Pierre Deladonchamps, Christophe Paou

A confusão segue os Marretas para o outro lado do oceano. Quando vão em digressão pela Europa, envolvem-se involuntariamente num grande roubo de jóias, encabeçado por Constantine, sósia do Cocas e o criminoso número um do mundo, e o seu malvado parceiro Dominic. Há ainda Nadya, uma guarda prisional espirituosa, e o agente da Interpol Jean Pierre Napoleon.

Verão. Um lago é um local de engate de vários homens. Franck apaixona-se por Michel. Um homem bonito mas mortalmente perigoso. Franck sabe disso. Mas deseja viver essa paixão. Considerado um dos filmes do ano, O Desconhecido do Lado, que no festival de Cannes recebeu o Prémio de Melhor Realizador da secção Un Certain Regard, é editado em DVD com um extra exclusivo, a masterclass de Alain Guiraudie no Lisbon & Estoril Film Festival 2013.

O GRANDE MESTRE um filme de Wong Kar Wai com Tony Leung, Ziyi Zhang

No mundo das artes marciais existem muitos Mestres, mas o título de Grande Mestre pertence apenas a uma lenda. O professor de Bruce Lee, de nome Ip Man, era um homem de acção que sabia que o último homem a ficar de pé seria o escolhido. Ele acreditava ser esse homem até conhecer uma verdadeira rival; um génio das artes marciais vindo da Manchúria chamada Gong Er que era considerada uma lenda... e uma linda mulher. O filme foi nomeado para dois Óscares: Melhor Fotografia e Melhor Guarda-roupa.

NINFOMANÍACA VOL. 1 + VOL. 2 um filme de Lars von Trier com Charlotte Gainsbourg, Stellan Skarsgård, Stacy Martin,Shia LaBeouf

Ninfomaníaca é a história selvagem e poética da viagem de uma mulher desde o nascimento até aos 50 anos, contada pela personagem principal, Joe. Numa noite fria de Inverno, um solteiro velho e encantador, Seligman, encontra Joe num beco, espancada. Leva-a para o seu apartamento onde cuida das suas feridas enquanto procura saber mais da sua vida. Escuta atentamente enquanto Joe, durante 8 capítulos, revela a multifacetada história da sua vida.

ESTREIA 24 ABRIL

RIO 2 De Carlos Saldanha A vida torna-se uma verdadeira selva para Blu, Jóia e os seus três filhos, quando trocam a cidade maravilhosa pela Amazónia selvagem. Como um peixe fora de água, Blu terá de enfrentar o mais temível dos adversários - o seu sogro –e evitar os diabólicos planos de vingança de Nigel.

ESTREIA 3 ABRIL

MARÇO | ABRIL 2014 15

a


16 MARÇO | ABRIL 2014


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